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ARTIGO ARTICLE
Concepções de gênero, masculinidade e cuidados em saúde:
estudo com profissionais de saúde da atenção primária

Concepts of gender, masculinity and healthcare:


a study of primary healthcare professionals

Rosana Machin 1
Márcia Thereza Couto 1
Geórgia Sibele Nogueira da Silva 2
Lilia Blima Schraiber 2
Romeu Gomes 3
Wagner dos Santos Figueiredo 2
Otávio Augusto Valença 4
Thiago Félix Pinheiro 2

Abstract This paper analyzes concepts of gender Resumo O trabalho analisa as concepções de gê-
and masculinity among Primary Healthcare pro- nero e masculinidades de profissionais de saúde da
fessionals in four Brazilian States (Pernambuco, Atenção Primária à Saúde em quatro estados do
Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo). país (PE, RJ, RN, SP) a partir de duas perspectivas:
It is based on two perspectives: the meanings asso- os significados associados a ser homem e a relação
ciated with being a man and the relations between masculinidade e cuidados em saúde. O estudo de
masculinity and healthcare. This qualitative study natureza qualitativa é parte de pesquisa multi-
is part of a multicentric investigation, which used cêntrica tendo por referência a triangulação de
triangulation methods as a benchmark. Sixty-nine métodos. Foram analisadas 69 entrevistas em pro-
in-depth interviews carried out among health pro- fundidade de profissionais de saúde com formação
fessionals with higher education were analyzed. de nível superior. Os relatos dos profissionais
The discourses (re)produce the notion that health (re)produzem a noção de que os serviços são “es-
facilities are “feminized spaces”. Within the daily paços feminilizados”, o que se traduz no seu cotidi-
routine, this notion is translated as reinforcing ano por um reforço à ideia do corpo masculino
the idea that the male body is not a locus of this como lócus do não cuidado em oposição ao corpo
care, as opposed to the female body which is con- feminino visto como lócus desse cuidado. Sobres-
sidered a locus of care. The presence of a hegemon- sai a representação dos profissionais sobre os ho-
ic pattern of masculinity is prominent among pro- mens centrados na forte presença de um padrão
fessionals’ representations of men and seems to hegemônico de masculinidade, que influencia o
1
influence the latter, in their lack of commitment pouco envolvimento destes com os cuidados em
Departamento Saúde,
Educação, Sociedade, with healthcare. The existence of a stereotyped saúde. A existência de um modelo estereotipado de
Universidade Federal de São gender model (re)produces disparities between men gênero acarreta a (re)produção de desigualdades
Paulo. Av. Ana Costa 95. and women in healthcare and compromises the entre homens e mulheres na assistência a saúde e
11060-001 Santos SP.
rosana.machin@gmail.com visibility of other meanings and expressions of gen- compromete a visibilidade de outros significados e
2
Departamento de Medicina der identities. expressões de identidades de gênero.
Preventiva, Faculdade de Key words Masculinity, Gender, Men’s health, Palavras-chave Masculinidade, Gênero, Saúde
Medicina, Universidade de
São Paulo Masculinity and health, Primary Healthcare do homem, Masculinidade e saúde, Atenção pri-
3
Instituto Fernandes mária
Figueira, Fundação Oswaldo
Cruz
4
Conselho Regional de
Medicina de Pernambuco
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Machin R et al.

Introdução se contrapõem a comportamentos baseados no


cuidado em saúde5. Assim, homens revelam mai-
Os estudos relativos a homens e masculinidades or dificuldade de busca por assistência em saúde
ganharam relevância nas abordagens de gênero em razão de sua autopercepção de necessidades
nas últimas duas décadas no país. A relação ho- de cuidados e pela noção de que esta é uma tarefa
mem e saúde é objeto de atenção nos meios aca- do feminino. Demandar cuidados de saúde é algo
dêmicos e também no contexto dos serviços, es- que desmerece sujeitos criados para assistir e pro-
pecialmente, nas análises da sexualidade e da saú- ver3,8,11. Essa imagem masculina do “ser forte”
de reprodutiva. pode acarretar em práticas de pouco cuidado com
Os trabalhos têm abordado os homens por o próprio corpo, tornando o homem vulnerável
meio de distintas perspectivas: de forma instru- a uma série de situações.
mental como apoio à saúde das mulheres; pelo A estrutura de identidade de gênero, ao cons-
reconhecimento de suas necessidades de infor- truir a noção de invulnerabilidade, força e virili-
mação ou de saúde; de responsabilização por prá- dade como um valor da própria cultura, dificul-
ticas sexuais de risco e de afirmação da necessi- taria o reconhecimento nos homens de suas ne-
dade de sua participação nas questões de saúde cessidades de cuidado à saúde, convergindo com
reprodutiva e sexual como integrante dos direi- a imagem que têm dos serviços como um espaço
tos reprodutivos1-4. feminino por excelência, destinado às mulheres,
Com relação à saúde dos homens o referencial crianças e idosos12.
das masculinidades numa perspectiva de gênero A abordagem da relação homens-saúde, da
contribui para maior visibilidade dos processos de perspectiva das instituições e dos profissionais da
saúde e adoecimento da população masculina5-7. saúde, é mais recente13. É, em parte, tributária das
Destacam-se estudos como o de Courtenay5, reflexões sobre a tradicional estrutura e organiza-
que assinala a importância em considerar ele- ção dos serviços, bem como da oferta de ações
mentos relativos às práticas e comportamentos educativas e de práticas de saúde visando a higie-
não saudáveis adotados pelos homens a partir ne e a puericultura, as quais, historicamente, pri-
de uma perspectiva de gênero que considere as vilegiaram o binômio mãe-filho e acabaram por
dimensões de iniquidade social e poder, na medi- estabelecer uma influência significativa na manei-
da em que essas são manifestações visando de- ra como o gênero se relaciona com o cuidado em
monstrar padrões hegemônicos de masculinida- saúde. Na lógica dos serviços, a organização des-
de reconhecidos como característicos do ser ho- se cuidado em torno do eixo materno-infantil é
mem, como viril, forte, invulnerável e provedor8. fruto de um processo histórico que articulou a
Nesse sentido, o gênero, enquanto princípio produção de ideias médicas com ações políticas
ordenador do pensamento e da ação, constrói voltadas seja ao corpo feminino seja às institui-
atributos culturais aos sexos desde uma pers- ções elegidas para estes fins. Neste processo cola-
pectiva relacional. As masculinidades (e as femi- boraram também a Igreja e o Estado regulando
nilidades) constituem espaços simbólicos que esferas da vida no plano da reprodução huma-
estruturam a identidade dos sujeitos, modelam na14,15. No caso da igreja prevalece à ideia da ma-
comportamentos e emoções que passam a ter a ternidade vinculada à natureza feminina e à práti-
prerrogativa de modelos a serem seguidos6,5. No ca do sexo somente voltado à procriação. No
tocante à saúde, os homens muitas vezes negam âmbito do Estado, a partir dos anos 1920, a assis-
a existência de dor ou sofrimento, de vulnerabi- tência à saúde foi alvo de ações sistematizadas,
lidades, para reforçar a ideia de força do mascu- que visavam à saúde materno-infantil16.
lino demarcando a diferenciação com o femini- Esse enfoque, por parte das políticas públi-
no. Como observa Welzer-Lang9, na socialização cas, permaneceu até os anos 1960, embora, nessa
do masculino é preciso combater possíveis asso- mesma época, também tenha se iniciado a disse-
ciações com a mulher sob pena de ser assimila- minação de práticas voltadas à anticoncepção16.
do, identificado e tratado como esta. Interessan- Contudo, igualmente, revelam outra face da mes-
te considerar que este processo não se limita ao ma ênfase. É somente com o desenvolvimento
contexto de construção do tornar-se homem em do Programa de Assistência Integral à Saúde da
contraposição ao feminino, mas é reatualizado Mulher (PAISM), nos anos 1980, que este pano-
constantemente por meio de provas de sua mas- rama foi reorientado por meio da articulação do
culinidade inclusive entre seus pares10. referencial de gênero com o campo da saúde ao
As construções de masculinidades, por se es- afirmar a mulher como um sujeito de direitos,
tabelecerem em oposição ao universo feminino, com necessidades de saúde e de individualidade
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própria17. No entanto, essa inflexão conceitual de baseados em modelos ideais de masculino e
ainda enfrenta dificuldades de ser incorporada feminino que, ao mesmo tempo em que permiti-
na rotina dos serviços, em particular, na pers- ram reconhecer necessidades especificas com re-
pectiva da integralidade proposta14,16. lação à saúde das mulheres, normalizando-as na
Retomando a ideia dos serviços de saúde direção da reprodução biológica, dificultam visi-
como um espaço feminino, vemos que essa fa- bilizar determinadas demandas relativas aos ho-
miliaridade foi construída por meio de um longo mens, por não serem identificadas com a lógica
processo de apropriação do corpo da mulher, orientadora da assistência em saúde24,25.
visto como corpo reprodutivo, objeto de estra- A atenção primária à saúde (APS) é a porta
tégias de controle do saber biomédico15, e nisto de entrada do sistema de saúde e representa o
isolando este corpo do domínio da sexualidade. espaço no qual grande parte das demandas pode
O corpo masculino, por sua vez, restou, como ser solucionada, se constituindo numa priorida-
corpo reprodutor, um “desconhecido”, e por re- de na organização do sistema de saúde. Os servi-
ferência a esse domínio da reprodução não foi ços de APS enfrentam vários desafios, na medida
investido como objeto de práticas. Ao contrário, em que precisam responder a demandas patolo-
o foi a partir de uma natureza sexual, a qual, gicamente simples que, contudo, necessitam de
isolada da reprodução, permaneceu reconhecida uma complexidade assistencial que supera uma
como dotada de maior liberdade no exercício sem ação curativa individual26.
contenção dessa sexualidade, ainda que, no mo- A primeira maneira que foi feita referência à
delo de masculinidade hegemônica18, essa sexua- abordagem de gênero nas práticas de saúde, con-
lidade seja estruturada em torno da heterosse- siderando a perspectiva da integralidade na APS,
xualidade e da dominação19,20. correspondeu à formulação do PAISM, nos anos
Nesse sentido, toma-se a categoria gênero 80. Nesse contexto os homens foram incorpora-
como construto que condiciona a percepção do dos por meio do atendimento de suas mulheres,
mundo21 e (re)produz as distinções relativas ao contudo, muitas vezes, identificados mais como
masculino e ao feminino alimentando a ideia de problemas para a assistência integral à saúde da
pares em oposição. Estes pares podem ser enten- mulher do que como parceiros7. Posteriormente,
didos como esquemas voltados à compreensão o avanço da epidemia HIV/AIDS impulsionou a
da ordem das coisas, funcionando no âmbito da necessidade de incorporação dos homens nas
percepção, do pensamento e da ação21. Durkheim ações de prevenção e promoção da saúde, devido
e Mauss22 mencionam os pares opostos no estu- ao aumento dos casos de transmissão por via
do das classificações primitivas ao considerarem heterossexual3,27.
que as formas mais rudimentares de classificação A temática da violência também se configu-
social ou mental começam por ser dicotômicas22. rou como campo para inserção do homem na
Posteriormente, Bourdieu21 incorpora a teoria das área da saúde numa perspectiva de gênero. Nesse
formas primitivas de classificação em sua elabo- contexto, a partir dos anos 1980, a atenção à vi-
ração sobre a noção de habitus e no estudo sobre olência na área da saúde ganhou destaque em
a dominação masculina. Segundo Bourdieu21, a razão da mobilização do movimento feminista
diferença entre os sexos está presente no conjunto em dar visibilidade à violência contra a mulher.
das oposições, que organizariam todo o cosmo Desse panorama resultaram ações de atendimen-
mesmo não sendo explicitamente manifestada. Ela to que se efetivaram, especialmente, no campo
modularia esquemas de pensamento de âmbito dos direitos sexuais e reprodutivos7,23,28. Esse en-
universal considerados como traços distintivos foque colaborou, muitas vezes, com uma associ-
que tendem a ser naturalizados. ação naturalizada entre violência e masculinida-
No âmbito da construção de gênero as opo- de ao identificar o homem como agressor, em
sições instituem os pares como opostos, exclu- razão da violência ser vista como um atributo da
dentes e fixos em suas diferenças, sendo o mas- masculinidade7,24.
culino associado à força/razão/ativo em oposi- A partir desse contexto levantamos questões
ção ao feminino tido como frágil/emotivo/passi- sobre saúde da população masculina na APS. Que
vo23, promovendo a fusão de identidade de gêne- concepções de gênero e masculinidade têm os
ro com identidade sexual4. profissionais de saúde? De que maneira estas
As identidades sociais de homens e mulheres podem construir especificidades e iniquidades no
elaboradas nas relações sociais constroem não cuidado em saúde? Investigar essas questões é
só modos de conceber o corpo, a saúde e a doen- importante para identificar como o gênero, ao
ça, mas, igualmente, produzem serviços de saú- constituir relações sociais e a condicionar a per-
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cepção de mundo dos sujeitos, pode promover guintes características sociodemográficas: faixa
mecanismos potencialmente geradores de desi- etária de 26 a 45 anos, cor autorreferida branca,
gualdades entre homens e mulheres no cotidia- ensino fundamental completo, situação conju-
no da assistência à saúde. gal casado ou em união estável.
O roteiro da entrevista em profundidade para
Percurso Metodológico os profissionais de saúde compreendeu tópicos
relativos a necessidades de saúde, acesso e uso
Este trabalho aborda concepções de gênero, dos serviços; relação dos homens usuários com
masculinidade e cuidado em saúde tendo por os serviços; e, diferenças de homens e mulheres
objeto os depoimentos de profissionais de saú- quanto à saúde e cuidado.
de, a partir de dados de pesquisa multicêntrica As entrevistas foram gravadas e posterior-
realizada em quatro estados do país (Pernam- mente transcritas na íntegra. O uso da entrevista
buco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São em profundidade se mostrou adequado por per-
Paulo)29. O estudo de natureza qualitativa teve mitir o resgate da dimensão da subjetividade, já
como referência a proposta de estudo de caso que a fala dos entrevistados é reveladora de siste-
utilizando-se da triangulação de métodos30. Fo- mas de valores, crenças, normas, sendo signifi-
ram escolhidas seis cidades (Natal, Recife, Olin- cantes mesmo sem a intenção de significar31.
da, Rio de Janeiro, São Paulo e Santos), com a A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
inclusão de serviços de APS, por meio de uma em Pesquisa da UNIFESP. Para garantir o anoni-
amostra de conveniência, totalizando oito uni- mato, os entrevistados são identificados pela ati-
dades de saúde. A pesquisa multicêntrica explo- vidade desempenhada e pela sigla do estado de
rou tendências da APS voltada para a população seu serviço.
masculina em contextos urbanos e regionais di- Conforme apontado, os oito serviços são
versos que serviram ao debate acerca das respos- orientados para a APS e, portanto, caracterizam-
tas singulares dos casos escolhidos e de suas con- se como porta de entrada para a rede de assis-
tribuições frente a um modelo geral de atendi- tência. Neste sentido, a diversidade observada em
mento na APS. termos de modelos assistenciais e de equipe de
Como critério de seleção das unidades foi profissionais não configurou diferenças marcan-
considerado: tempo de funcionamento de pelo tes no tocante às concepções dos profissionais
menos 10 anos; apresentarem volume de deman- sobre os usuários em termos das construções de
da maior de 1.000 atendimentos/mês; e, possuí- gênero, masculinidade e cuidado em saúde. Os
rem equipe multiprofissional. dados foram analisados considerando os seguin-
Neste trabalho analisa-se o contexto social tes procedimentos: leitura exaustiva de cada en-
da APS e as concepções dos profissionais de nível trevista, estabelecimento de categorias temáticas,
superior entrevistados nos oito serviços investi- organização e análise do material segundo estas
gados, totalizando 69 sujeitos, dentre os 92 en- categorias e cotejamento dos conteúdos das ca-
trevistados pela pesquisa maior, de diferentes tegorias com a literatura existente sobre a temá-
áreas de atuação (médica, enfermagem, fisiote- tica geral e com as referências teóricas que nor-
rapia, fonoaudiologia, nutrição, psicologia, odon- teiam a pesquisa. No contexto desta análise, ao
tologia, serviço social). Foram entrevistados 19 se trabalhar com modelos de cultura considera-
profissionais no RJ; 18 no RN; 14 em PE e 18 em se que estes atravessam os diferentes contextos32,
SP. Conforme a caracterização geral da APS, nos e, no caso do presente estudo, os diferentes servi-
oito serviços houve predomínio de mulheres en- ços investigados.
tre os profissionais, numa relação de 9 mulheres Na análise das entrevistas os depoimentos
para cada homem, sendo que a maior concen- foram organizados considerando-se a área de
tração ocorreu no Rio de Janeiro (16:3). Este dado formação profissional e situando-os no interior
também pautou a seleção dos entrevistados. Nos de sua posição em um habitus profissional32. A
quesitos idade e tempo de atuação profissional partir disto, e da leitura exaustiva do material,
no serviço as mulheres também apresentaram emergiu a manifestação de pares opostos que
diferenças em relação aos homens, seja pela mé- expressa as concepções de masculino e feminino
dia de idade mais avançada (48 anos) contra a no tocante às distinções relativas às esferas do
dos homens (37 anos), seja pelo maior tempo de campo da saúde e do cuidado no contexto da
atuação, com cerca de oito anos a mais. Na amos- APS, independente do estado pesquisado.
tra de usuários entrevistados (201), nos mesmos A distinção masculino/feminino que emerge
serviços pesquisados, houve predomínio das se- dos depoimentos foi analisada no âmbito dos
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significados de gênero sobre usos e efeitos das Feminilização dos serviços de saúde
práticas sociais e das relações de poder. Assim,
tal como Bourdieu tratou o habitus e a reprodu- As diferenças existentes entre homens e mu-
ção do hegemônico quanto aos agentes de práti- lheres nos serviços de saúde são tratadas pelos
ca32, não se trata de cristalizar a diferença entre profissionais como características da dimensão
os sexos negando as negociações e as flexibiliza- cultural no ser homem e ser mulher. Nos distin-
ções no jogo de poder que o caracteriza. Mas de tos eixos considerados relativos à APS como pro-
reconhecer esta distinção como orientadora de cura/acesso, comportamento/adesão e necessi-
valores e práticas sociais concretas e simbólicas dade/demanda essa dimensão é mencionada.
de homens e mulheres que, no campo da saúde, Contudo, a referência ao domínio cultural quan-
pode acarretar a invisibilidade de outros signifi- do se trata da identidade feminina acaba por re-
cados e expressões de identidades de gênero. meter, muitas vezes, para determinadas especifi-
cidades que por serem reconhecidas como do
As concepções de gênero e a saúde: campo biológico ou mesmo das patologias ten-
o olhar dos profissionais dem a reaproximar a mulher da ótica da nature-
za, naturalizando o que é referido como cultural.
Os depoimentos dos profissionais de saúde Há um reconhecimento dos profissionais de
relativos a características dos homens usuários que é pequena a procura dos serviços de APS
nos serviços nos quais eles atuam revelam ex- pelos homens, sendo delineadas algumas expli-
pressões que opõem o masculino ao feminino. cações. Estas revelam aproximação com uma
Interessante considerar que alguns pares de opos- concepção tradicional do homem como mais
tos surgem nas falas dos profissionais, mesmo próximo da cultura e a mulher da natureza, indi-
quando não instados a estabelecer distinções en- cando a incorporação de estruturas sociais de
tre homens e mulheres, nas diferentes esferas re- distinção entre os sexos, que fundamentam gê-
lativas ao atendimento nas unidades de saúde, neros construídos como “essências sociais hie-
revelando o quanto o imaginário social de gêne- rarquizadas”21.
ro e, muitas vezes, de seus estereótipos estão im- “Homem não adoece, homem não fica do-
pregnados no olhar e na vivência dos profissio- ente, homem não deixa de fazer coisas. E de algu-
nais de saúde. Nesse contexto, foi possível deli- ma forma o homem sempre foi gestor, Né? O...
near as distinções exibidas no Quadro 1, a partir homem nunca procura o serviço médico. Na
das entrevistas. minha opinião é só isso. Questão cultural, né?”
Na análise das entrevistas dos profissionais [médica, RN]
foram construídas categorias temáticas, articu- “...em função também da mulher ter diferen-
ladas com o quadro de distinções apresentado: ças biológicas, ela tem cuidados diferentes do ho-
feminilização dos serviços de saúde, corpo mas- mem, então isso influencia talvez a sociedade por-
culino como lócus do não cuidado/corpo femi- que, homem não fica grávido, não precisa de
nino como lócus do cuidado. maternidade. Então, essa questão biológica de al-

Quadro 1. Pares de opostos relacionados ao masculino e feminino manifestos nas falas dos profissionais de
saúde

Contexto de expressão Homens Mulheres

Procura/Demanda Ausentes nos serviços Presente nos serviços


Invisibilidade, questão cultural Visibilidade, questão biológica

Relação com atendimento Pouco paciente Muito paciente


Direto, objetivo Queixas vagas
Desconhece os códigos Conhecimento dos códigos

Uso do serviço Práticas curativas/doença Práticas preventivas/saúde

Adesão a tratamento Menor aderência Maior aderência


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guns agravos à saúde, que são privilegio das mu- ausência masculina motivada por saúde/doença
lheres e numa idade diferente da que o homem ou pelos homens evitarem assumir essa busca
adoece, porque homem vai tender a adoecer numa pelo receio de revelarem fragilidades no seu con-
idade mais avançada do que a mulher, enquanto texto social13,25. Já o trabalho da mulher, mesmo
a mulher, em função de gravidez, parto, puerpé- aquele remunerado, não é visto como uma for-
rio induzem a uma maior facilidade pra se con- ma socialmente justificada para explicar uma
trair determinadas doenças. Então, isso influen- possível indisponibilidade para o serviço de saú-
cia, no sentido de que uma maior oferta de servi- de. O tempo feminino parece ser visto como o
ço de saúde seja direcionada à mulher, mas não que está a serviço dos cuidados em saúde33. Con-
implica que o homem não precise” [médico, PE] sidera-se também que a flexibilização do horário
Nessa diferenciação a ausência dos homens é de trabalho das mulheres para frequentar os ser-
descrita como do âmbito da cultura, entendida viços indica haver, por parte dos empregadores,
por referência a uma identidade de gênero, en- a presença do imaginário social de que a mulher
quanto se atribui, por oposição, uma especifici- tem que se cuidar.
dade à mulher ancorada na biologia tendo por “Por uma questão cultural, ele vem mais obje-
referência questões ligadas à reprodução, contra- tivamente quando ele precisa de alguma coisa mais
cepção e gestação. O aspecto cultural é associado relacionada à saúde. Nem sempre à saúde, mas
a um ser homem, que tende a reforçar um mode- atrás de um atestado, atrás de um exame pro tra-
lo de masculinidade idealizada (força, virilidade, balho, atrás de, de uma avaliação porque faltou
objetividade, distanciamento emocional, compor- ao trabalho. Mas... ele vem mais objetivamente
tamento de risco), em oposição ao ser mulher atrás de uma coisa e não à busca de algum sub-
identificada com fragilidade e sensibilidade. Os terfúgio como a mulher vem... Eles não têm tem-
ciclos de vida são mencionados numa perspectiva po a perder de um modo geral... Ela fica todo dia
que diferencia os sexos, mas baseados no contex- vindo. Todo mesmo, sem ter nada” [médica, SP].
to reprodutivo (feminino), não considerando No entanto, de maneira contraditória, ao
outras dimensões sociais da vida que podem im- mesmo tempo em que os serviços reconhecem a
plicar em adoecimento para os homens como, mulher como alvo preferencial de suas interven-
por exemplo, a atividade profissional. ções e, como aquela que sempre comparece às
Assim, há menção a um padrão de masculi- unidades, identificam-na como uma figura pro-
nidade que reprime necessidades e cuidados de blemática que apresenta, muitas vezes, queixas
saúde, nega fraquezas ou vulnerabilidades, re- vagas e inespecíficas podendo ser descrita pelos
forçando a dimensão simbólica produzida e par- profissionais de saúde, de forma desqualificado-
tilhada socialmente pelas instituições5,8,12. Ainda ra como uma “poliqueixosa”, por apresentar sin-
no âmbito das distinções ancoradas na cultura, tomas consequentes de situações vividas no âm-
a força e a virilidade identificadas como atributo bito social e não imediatamente identificadas
do masculino são traduzidas no espaço do servi- como da ordem da saúde e da doença. Nesse
ço de saúde como elementos reveladores de uma contexto, as demandas masculinas, por oposi-
fraqueza e fragilidade do homem em face do cui- ção, serão reconhecidas como mais objetivas e
dado com o corpo, com a saúde. diretas referidas a determinadas patologias mé-
Ainda existe aquela questão do machismo, dicas33,34, e até mesmo quando fazem uso de “sub-
deles serem mais acomodados, eles realmente só terfúgios” relacionados ao trabalho, conforme
procuram a unidade, quando estão realmente mencionado no depoimento acima, seu compor-
doentes. “Você não vê assim, até mesmo para tamento é tomado como mais objetivo e, por-
um exame, uma dor de cabeça eles querem que tanto, legitimado.
as próprias mulheres venham se consultar no Ainda no interior das explicações ancoradas
lugar dele. Então eu acho que isso é uma cultura na cultura, o homem usuário é identificado de
já antiga né?” [enfermeira, RN]. forma negativa por revelar pouca paciência na
Quando referem menor presença dos ho- espera por atendimento em contraposição a pos-
mens nas unidades os profissionais apontam tura feminina de ser paciente, numa referência
questões que dificultam seu acesso aos serviços também ao seu domínio dos códigos prevalentes
de saúde. O trabalho é mencionado como um nesses espaços institucionais.
problema, seja pelas unidades não possuírem um Mais breves e objetivos, eles querem o remé-
horário mais amplo (terceiro turno) para o aten- dio, eles não querem conversa, eles querem: “’Dá
dimento, seja pela existência de uma cultura so- o remédio pra mim, a senhora não vai me dar o
cial e do mundo do trabalho que desvaloriza a remédio?’, se ele tiver com dor ... Ele não quer
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saber de conversa, ele quer o remédio, na cabeça ciam a noção de cuidado com uma característica
dele, ele tem um objetivo”. [enfermeira, SP] da mulher. Durante séculos a reprodução da exis-
Outro aspecto referido com relação à menor tência humana e o cuidado com os filhos foram
presença dos homens nas unidades de saúde é a reconhecidos como atividades relacionadas ao
ausência de profissionais, programas ou campa- feminino, acabando por naturalizar essa relação.
nhas voltados à sua saúde. Ademais, é impor- Assim, os depoimentos observam atitudes
tante considerar que o espaço das unidades é, distintas em relação à saúde: adoção de práticas
muitas vezes, organizado em torno do atendi- curativas pelos homens e adoção de práticas pre-
mento de mulheres e crianças sendo percebido ventivas pelas mulheres. Ainda que tenha havido
pelos profissionais como elemento que deixa os um progressivo acúmulo de reflexões no âmbito
homens “pouco à vontade”. da promoção da saúde sob uma perspectiva de
“[Há desigualdades] porque os programas gênero, o cuidar de si, no sentido da saúde, e
de saúde são mais voltados para a mulher, crian- também o cuidado dos outros continuam au-
ça e adolescente. E o sexo masculino, o homem, sentes do processo de socialização dos homens33.
o jovem adulto, já não existe tanta preocupação” Scavone35 observa que o fato da atribuição de
[fisioterapeuta, RJ]. cuidado em saúde pelas mulheres estar associado
A organização dos serviços por meio deste à expressão do afeto compromete sua visibilida-
enfoque reforça a ideia de que as mulheres domi- de como trabalho realizado no âmbito da família
nam os códigos desse espaço provocando nos e da sociedade. A designação de cuidadoras forta-
homens usuários a sensação de não pertencimen- lece o poder das mulheres no contexto familiar e
to ao mesmo34. Por princípio a assistência em amplia seu capital simbólico, contudo ela tam-
Saúde Pública é voltada a toda a população. Con- bém reforça padrões tradicionais de gênero natu-
tudo, é reconhecido que ao se privilegiar a mu- ralizando elementos da ordem da cultura.
lher como alvo da intervenção acabou por se es- A ideia dos serviços primários de saúde como
tabelecer uma cultura profissional vinculada a espaço feminilizado e do cuidado em saúde como
esse segmento populacional19. uma atribuição da mulher foi expressa pelos
Nesse contexto, um elemento importante é o profissionais ao referirem que, muitas vezes, os
fato das políticas de saúde historicamente esta- homens chegam às unidades trazidos pelas mu-
rem voltadas ao cuidado da saúde da mulher e lheres de suas relações (mães, esposas, irmãs),
da criança, não tendo se estruturado para rece- que já se encontram vinculadas ao serviço25. Esse
ber e acolher demandas masculinas, nesse nível expediente inclusive é mencionado pelos profis-
primário de atenção. sionais como uma estratégia de adesão, que che-
“Eu acho que isso é uma coisa até cultural né, gam a recorrer para mobilizarem os homens no
você vê que há anos é assim né, você só ouvia uso das unidades de saúde.
falar em ginecologista. Proctologista é coisa que “Então a gente percebe que a mulher tam-
só se veio falar há pouco tempo. É tanto que se bém já faz um pouco dessa triagem, a mulher
você chegar em algum canto e falar proctologista percebe em casa que ele ta sentindo alguma coisa,
vai ter muita gente que não sabe o que é. Mas se mas ele não quer dizer ou quer minimizar, e a
você falar ginecologista acho que até uma criança mulher por já ter essa noção, ela traz ele de casa,
sabe o que é” [enfermeira, RN]. a gente percebe que fica até aquele quadro meio
Mas, mencionam especificidades relativas à de dependência, o homem muitas vezes até senta
presença de homens nos serviços, considerando no consultório e não fala nada, quem fala é a
as diferentes etapas do curso de vida – jovens, mulher, então a gente percebe que mesmo em
adultos e idosos – que podem reproduzir a com- um quadro que ele chega é por outro motivo, se
preensão e a normatização já estabelecida com for por ele mesmo, ele protela” [médico, RN]
relação à saúde da mulher no serviço, numa ló- “Ela vem com ele, mas vem brigando, recla-
gica caracterizada pela ênfase na reprodução e na mando, é assim. Agora quando o marido traba-
sexualidade. lha o dia todo a mulher vem toda satisfeita”
[odontóloga, RN]
Corpo masculino: lócus do não cuidado Essa noção reforça o vínculo do cuidado em
X Corpo feminino: lócus do cuidado saúde como um atributo do feminino e acarreta
dificuldades para a visibilidade do homem e para
Os profissionais de saúde reconhecem a difi- a compreensão dos efeitos de poder que proces-
culdade dos homens usuários de buscarem cui- sos de diferenciação e hierarquização podem exer-
dados em saúde, ao mesmo tempo em que asso- cer em contextos de saúde.
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Machin R et al.

“Situação de prevenção, eu ainda percebo isso cessidade de saúde numa perspectiva de acesso
sim, né? porque a mulher, ela tem esse hábito da aos serviços, que tende a aproximá-los “borran-
prevenção dela... do cuidado né? Ela engravida, do” as diferenças de sexo e gênero e comprome-
ela faz o pré-natal, ela traz a criança, ela traz os tendo o princípio da equidade.
filhos né? Então, sempre ela se vincula mais né? E
daí ele vem quando já tem uma situação de está
incomodando, não é? Por uma dor” [médico, SP]. Considerações finais
Mas, há também o reconhecimento pelos
profissionais de saúde de algumas mudanças em A discussão aponta que gênero, como princípio
curso em razão de padrões familiares e de situa- ordenador e normatizador de práticas sociais,
ções de trabalho. estrutura percepções e condiciona a prática dos
“É, no meu caso aqui é pediatria, então quem profissionais de saúde investigados. A análise dos
vem realmente com a criança ao médico é a mãe, relatos revela que, no plano das representações,
só que a gente tem visto, de um tempo pra cá, os discursos remetem a pares de opostos assen-
que os pais têm vindo mais, estão frequentando tados no imaginário social de gênero, que repro-
mais, e têm alguns que vêm só eles. No consultó- duz estereótipos acerca do masculino e do femi-
rio também, algumas vezes é só o pai que vem... nino e reforça as distinções entre homens e mu-
Eu acho assim, que a visão daquele... do machis- lheres relativas ao cuidado em saúde. Nesse senti-
ta de que só a mulher que cuida, que só a mulher do, as concepções de gênero explicitadas pelos
que tem a responsabilidade pela a criança, acho profissionais não variaram nem em termos de
que ta mudando, né? Acho que por conta da mí- profissão, nem em termos do sexo do entrevista-
dia, e das próprias mulheres que saíram pra tra- do. Os homens são situados no polo do não cui-
balhar e acredito que as mulheres também estão dado (ausentes, pouco participativos, impacien-
incentivando um pouco os maridos, o compa- tes, desconhecedores dos códigos sociais que per-
nheiro a participar e eles, acho, que estão gostan- meiam o atendimento na AP, buscam práticas
do, né? Porque a gente busca bastante o aumento curativas, etc.), enquanto às mulheres é atribuído
da presença deles” [médica, SP] o lugar do cuidado (maior presença, maior ade-
Outra noção articulada a esse respeito é rela- são às propostas dos profissionais, conhecimen-
tiva a necessidades de saúde. Tomando-as redu- to e aceitação dos códigos sociais que permeiam
zidas a “patologias”, os profissionais de saúde o atendimento, pacientes, etc.). É também o ima-
referem, muitas vezes, não haver distinções com ginário social de gênero que conforma o discur-
relação a homens ou mulheres. Quando reco- so dos profissionais de saúde acerca das diferen-
nhecem diferenças estas também são localizadas ças entre homens e mulheres no tocante a aspec-
no campo do orgânico e não são entendidas como tos como procura/acesso; necessidades/deman-
socialmente construídas. da e comportamento/uso de serviços. Tal discur-
“Cada um tem as suas patologias, às vezes so remete a uma lógica de essencialização do
em algumas esferas específicas, mas, se você olhar masculino (atrelado à cultura) e do feminino
como um todo as patologias que acontecem são (atrelado à natureza) no que diz respeito ao cui-
as mesmas para ambos os lados e necessidade dar e ao prevenir em saúde e, pois, no uso dos
também” [médico, RJ] serviços de APS, bem identificado a um cuidar e
No campo da saúde, alguns estudos têm pau- prevenir. Essa essencialização leva à superposi-
tado as distinções de homens e mulheres com ção dos elementos que caracterizam o masculino
relação a padrões de morbimortalidade, uso de e o feminino, como modelos, aos homens e mu-
serviços e necessidades de saúde como relaciona- lheres, concretos e particulares, que se fazem pre-
dos a modelos de masculinidade5,8. Pinheiro et sentes no cotidiano dos serviços. É claro que à
al.36 revela que as mulheres buscam mais os ser- lógica essecializadora de gênero articula-se à da
viços para realização de exames de prevenção e medicalização, resultando, por vezes e contradi-
rotina e os homens procuram mais por doenças. toriamente, em discurso naturalizador das dife-
Uma das razões alegadas para esta distinção é renças de gênero no adoecimento e nas necessi-
por ambos possuírem necessidades de saúde dis- dades de saúde.
tintas. Tal assertiva é em parte compartilhada Considera-se que o conjunto de tais repre-
pelos profissionais da APS ouvidos nesse estudo, sentações tem implicações para a organização e a
na medida em que estabelecem distinções quan- rotina dos serviços, bem como nas relações entre
to a homens e mulheres relacionadas a patologi- profissionais-usuários no contexto assistencial.
as/adoecimentos, mas recorrem à noção de ne- Dentre as mais importantes, destacam-se a invi-
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Ciência & Saúde Coletiva, 16(11):4503-4512, 2011


sibilidade dos homens como sujeitos de cuidado realizado reforça que essas estratégias não estão
e como potenciais cuidadores, o reforço da mu- produzindo, efetivamente, ações que incorporem
lher na condição de cuidadora e de mediadora os cuidados para homens, especialmente quanto
da relação homens-serviços, a reprodução das ao segmento adulto, a partir de uma perspectiva
desigualdades de gênero no tocante às necessida- das masculinidades e da integralidade do cuida-
des, ao acesso e ao uso dos serviços na APS. do. Ou seja, embora vislumbrado, ainda está fora
Entende-se que, no âmbito da APS, as escas- do alcance dos serviços em APS a incorporação e
sas ações focadas nos homens são, em regra, a efetivação do pressuposto de gênero acerca das
voltadas a homens jovens, particularmente, en- masculinidades, que advoga a ampliação em
fatizando aspectos relativos à sexualidade ou a compreender os homens como sujeitos concre-
homens idosos tratando de contextos específi- tos e particulares nos diferentes sentidos atribu-
cos do envelhecimento ou de doenças crôni- ídos às masculinidades e às interações sociais
cas33,34. E, embora a APS venha sofrendo modifi- destes com outros homens e com as mulheres,
cações, desde meados dos anos 1990, por meio de forma articulada com referenciais de classe
da criação de programas de Agentes Comunitá- social, idade/geração, vivência da sexualidade,
rios e de Equipes de Saúde da Família, o estudo raça/etnia, entre outras.

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