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plástico bolha

@OPlasticoBolha | jornalplasticobolha.com.br | jornalplasticobolha.blogspot.com | apoia.se/plasticobolha Distribuição Gratuita Ano 12 - n o 38

poesia agora

O menos vendido

Custa muito
pra se fazer um poeta.
Palavra por palavra,
fonema por fonema.
Às vezes passa um século
e nenhum fica pronto.
Enquanto isso,
quem paga as contas,
vai ao supermercado,
compra sapato pras crianças?
Ler seu poema não custa nada.
Um poeta se faz com sacrifício.
É uma afronta à relação custo-benefício.

Ricardo Silvestrin

TEXTOS DE LUANA CARVALHO, FERNANDO


ANDRADE, ALICE SOUTO, LÉO VINCEY,
ROBERTA ATTILI, ANA CHIARA, OTÁVIO
CAMPOS, PRISCILA MERIZZIO, MONIQUE
NIX, FLAVIO CASTRO, JAMILE CAZUMBÁ,
ROSÂNGELA MUNIZ, ONDJAKI, LOZ (CHIU YI
CHIH E IRAEL LUZIANO), RENATO TORRES,
RICARDO DOMENECK, MARIANA BOTELHO,
ANDRÉ CAPILÉ, ALLAN JONNES, CHARLES
MARLON, MARCIO JUNQUEIRA, MARIANA
PAIVA, OSVAN COSTA, SAULO DOURADO,
JUSSARA SANTOS, LAURA CASTRO, DÊNIS
RUBRA, KELSON OLIVEIRA, VIVIEN KOGUT,
THIAGO LOBÃO, GUAIAMUM, ALEXANDRE
BRUNO TINELLI, KARINA GERCKE
BOLHETIM
POESIA AGORA E SEMPRE strador
balada de un hombre en el mo A cidade é um
corpo
Após três meses de estadia em Salvador, Bahia, voltamos banhados de sal e axé. A exposição Poesia Agora (na Caixa Cultural de Salvador, Bahia, do
atraso dos cometas, Javier
dia 14/03/2017 ao 28/05/2015), uma criação do jornal Plástico Bolha, mais uma vez promoveu o encontro de diversos talentos da nossa poesia aquelas tuas queixas sobre o sa
Em um rosto
e pra meia-noite quando a coi
contemporânea. As páginas desta edição apresentam parte do conteúdo exposto, além de alguns registros fotográficos do evento. E isso o incômodo palerma às quinz s
Uma via respir
atória;
os pra manter-se enxuto às sei
tudo fazemos já embarcando para realizar a versão carioca da Poesia Agora (na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, Centro, do dia 11/06/2017 de novo se anuncia, os esforç Um canal audit
ivo;
os os dias e todos os dias
ao 06/08/2017). em que o sol sai-se gatuno tod Uma entrada d
e estórias;
rece
de uma cor que nunca te pa é
Uma ponte en
tre
Se a exposição se propõe a ser espaço de apresentação e concentração de dic- formigas no açúcar do teu caf
ções poéticas, de poetas debutantes e consagrados de todos os estados do Bra- os avanços inexplicáveis das Os órgãos com
petentes
tudo isso, camarada E a saída para
sil (além de alguns poetas estrangeiros), paralelamente seguimos tecendo nossa a rua.
tudo aquilo Teu rosto é um
teia de distribuição de literatura no jornal físico e nas mídias sociais. Descobrindo a cidade;
acabou Ele envelhece
e publicando novos poetas e trabalhando na formação de um público leitor. En- se como um tenen
as, os corações dos trópicos te da polícia
tre eventos e publicações, poesia para nós é um fluxo contínuo em constante agora quando disparam as arm Que te encarc
era entre os den
es à morte pelo fogo tes;
retroalimentação. imediatamente tornam imun Deixo te falar,
a cidade é um
nam-se co rpo
os corações dos trópicos tor Com círculos-ca
pilares
Esta edição também marca o início da campanha de financiamento coletivo do jornal. Agora a partir de R$ aí
3,00 por mês você pode contribuir para a manutenção deste projeto. Somente com a sua ajuda será possível o próprio fogo
aprofundar este trabalho e trazer muitas novas edições como esta que está em suas mãos. Conheça e participe! Fernando Andra
de
Luana Carvalho
Enfim, nesta edição #38, feita com carinho para o público carioca, saudamos as energias baianas e tudo o que é imen-
surável na terra da África brasileira, epicentro de intermináveis terremotos culturais. Uma singela homenagem a quem
tão bem nos recebeu.

Saravá!
Lapa careta
Poesia dos pés à cabeça
Apoia.se Plástico Bolha — seja um colaborador O Estado tenta
Cobre a cal
Contamos com a colaboração de você que nos acompanha: entre no link https://apoia.se/plas- Passa tinta
ticobolha, conheça nossa campanha de financiamento coletivo e participe. Além das várias re-
compensas diretas do jornal, você estará contribuindo para a continuidade de um trabalho de O Estado tenta
valorização e disseminação da poesia contemporânea. Manda o choque
Ordena e pinta

te
Mas a mancha insis
DIREÇÃO Lucas Viriato tinge
Matizes que a rua
EDIÇÃO João Moura Fernandes
CONSELHO EDITORIAL Yasmin Barros | Yassu Noguchi | Marilena Moraes O tempo picha
DIAGRAMAÇÃO Mariana Castro Dias Arte cinza
REVISÃO Marilena Moraes | Yasmin Barros No arco limpo
FOTOS DA EDIÇÃO Ulisses Dumas — Que dizem suja
WEBDESIGN Henrique Silveira
Agradecimentos a André Cortez, Carmem Guerra, Regina Cassimiro, Ricardo Cavalcanti, ViaPress, Museu da Língua Portuguesa, Lapa Careta
Branco no preto
equipe e poetas da exposição Poesia Agora
EDIÇÃO de junho de 2017 | dedicada a memória de Jorge Leão Teixeira
DISTRIBUIÇÃO Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Piauí, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso
O Estado tenta
do Sul, Goiás, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
TIRAGEM 13.000 | IMPRESSO na ZM Notícias | ISSN 2318-972X O Estado tenta
e representa
Mas esta sujeira m

Envie seus textos através do nosso site ocupar Alice Souto


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contato@jornalplasticobolha.com.br resistir do Plástico Bolha no site www.piratasart.com

2 3
As revoluções
depois da Laura

Você pode estar agora


fissura no cóccix da poesia pensando na língua que eles falam chegando
Tributo à estrada de ferro Madeira Mamoré à conclusão que eles falam a mesma língua que você fala
(a partir de um verso de “esposar a
você pode pensar que sua mão de repente não serve para pegar refúgio
O medo escorre no labirinto da selva agarrar uma coisa pequena quem sabe
noção”, de Mallarmé)
Angústia de sonhos ansiados a fuligem a palavra lamaçal os deuses protegem meu corpo
Tentativas pelo Mal atrapalhadas meter na bolsa uma palavra dessas qualquer como o tapume circunscreve a catedral gótica
como te dizer?
você pode imaginar a língua que eles falam lambendo
Humildade em tudo humilhada assim nu e cru a minha pele por seis meses e meio, a língua que eles falam múmias apoteóticas
Veio o mundo aos teus pés socorrer-te algo se partiu ovulando a nossa dislexia, a sintaxe quebrada e os sinais opostos via régia de papiros a.C.
Cantam-te e arrependidos constroem sobre ti os curativos entre nós, então a minha pele vermelha e negra árida como a sua pele
Fica na História a tua glória (no nó da coluna? refúgio do bardo pagão
tremendo ao contato da língua deles
E em teu túmulo lamentam os sacrificados no cuco? no bico você pode estar agora pensando na sua pele
Símbolo de união entre corações que só quiseram usupar-te pássaro?) na abóbada
em todas as fronteiras que atravessaram a sua pele toda negra
Sob o tempo resiste tua sina onde o corpo o gosto ocre da língua estrangeira no primeiro encontro longe das trincheiras da revolução francesa
De viver quando muito restaurada se sustenta, ou me imaginar de repente chegando por uma rua à esquerda homens verdes urinam
Pelos outros cada vez mais esquecida o peso da vida trabalhando o acaso das pequenas superstições,
— E enquanto isso lamentam os apaixonados senta... os detalhes azuis dos meus óculos redondos de mármore, rezas, artilharia e gana
De serem cúmplices do teu eterno sofrimento como te dizer, os detalhes azuis das pedras portuguesas faz-se o caos
assim os processos de escrita de certos nomes
Léo Vincey sem apontar o lugar? nos mantendo ocupados por dias inteiros os deuses protegem meu corpo
como se encontrássemos um revólver na gaveta antiga irrevogavelmente politeísta
sem ser vulgar...
e discutíssemos Deus com o revólver na cabeça como os índios costuram
lá, onde a porca torce o rabo,
palmeiras nas ocas
a raiva grita agudo
Otávio Campos
onde o mundo se perde
NIX espectros melífluos batizados no círculo mágico
em defender-se guardar-se
desmistificação de aporias
virgem só para um, Submundo das trevas jesuítas poluíram rios amazônicos com água benta
não mais teu poema, Fantasia, ilusão botos-cor-de-rosa engravidaram índias com sêmen europeu
nunca mais.
Nuvens pálidas a envolvem na escuridão os deuses protegem meu corpo
Ana Chiara Nua com longas asas de morcego,
com o apetite irascível
Fanal na mão
dos elefantes africanos que
acossam as fêmeas
Destino, sonho, e desespero
Símbolo de beleza e maldição.
Da minha banda avançam com peso e presas
Mãe dos deuses, Filha do Caos estraçalham carros e pessoas
da banda de Seo Tranca Rua Dos mistérios profundos trombas bramindo:
de Seo Sete Encruza Rainha das trevas “afastem-se do que é meu”.
de Seo Calinô Profeta da vida
cheguei da banda de lá Profeta da morte, Priscila Merizzio
molhada de chuva Respeitada e temida.
e trazendo uma flor
vim mordendo um sorriso Arrastada, por cavalos negros,
sabendo que o mundo Segurando a papoula
é feito de dor Na orelha minguante ou
Tatuagem na testa
Roberta Attili
Leva o céu, leva o véu – a noite
Toda vez que a vejo,
Olho seu reflexo no espelho.

Monique Nix
4 5
Desatino

Sinto o bom dia leve da Brisa


Que diz que de mim faz cobiça
Me tomas de leve atino
Penso em você. Desatino.
Etla3
Deságuo no mar das tuas curvas
Da mesma primeira e última .....deixa que a tarde
Férias passadas
Me aqueço com o calor dos teus poros seja amarela e as janelas
E inevitavelmente não para de olhar-te nos olhos. tenham vista para a madrugada.
não te vejo por aqui faz
algum tempo. como você
Os olhos que já me prenderam assim poderás, sempre,
vai? espero que bem. talvez
E as lagrimas que deles desceram abrir as mãos
não se recorde de nós. falo
Disseram que de alegria saltaram e receber os pássaros.
daquela vez em que estivemos
E pro doce amor me levaram
juntos. lembra quando pisávamos
eu estarei mais longe
as poças frias, naqueles dias
Atiro-me sem medo, como quem se joga no mar perto da aspereza do silêncio
que pareciam não acabar
Atiro-me em ti, como quem não quer mais voltar na lentidão do peixe
[tão logo quanto um picolé
Atiro-me sem paraquedas na pedra depois do voo
mordido por uma criança
Atiro-me para quedas.
melando cada um dos dedos?]
entre duas borboletas
não? eu te entendo. tá tranqüilo.
Jamile Cazumbá e esse amarelo
da vida leva o quanto pesa.
nocturno, vago
bagagens correm com o rio.

que às vezes sopro André Capilé


Raça extinta para ressuscitar andorinhas.

Onde está o meu povo? Ondjaki


Eu não os vejo.

Nos programas de televisão.


Nas profissões liberais.
E nos comerciais.

Estão invisíveis? Abstrato


Eu não os vejo.
eu nunca beijei um poema.

PUBLIQUE SEU LIVRO


Calaram sua voz?
Eu não os escuto. no entanto ele está aqui
roçando leve minha
Onde está o meu povo? boca
Será que estão nas favelas?
POESIA NOVELA CONTO HQ ARTE ENSAIO
Onde, ainda nas senzalas? nas horas dos
mais
Onde está o meu povo? doídos
ROMANCE BIOGRAFIA ZINE DISSERTAÇÃO
Eu não os vejo. silêncios

Rosângela Muniz Mariana Botelho Publique com a OrganoGrama Livros! Saiba mais em: www.organogramalivros.com.br | facebook.com/OrganoGramaLivros

6 7
Pela elipse confundir caça e fuga
The lovers A luta
Objeto aberto estabelece
aprender uma língua ela há os que escolhem fugir. há os que se refugiam à sombra.
a perda onde
dizia lendo W Blake
antes o
na varanda é quanto a mim, quanto a mim,
núcleo e ela
um ato solitário tenho o peito à mostra revolvo a terra em pleno sol,
olha-se no
em pleno calor da luta. com meus cascos de touro.
espelho e diz “Vossa
in the forests of the night
Iminência”. A mão
cheguei a vestir perguntas, sem dizer: és capaz de o ouro dos tolos é a cega esperança.
dirige-se ao
um terno cinza e no altar sustentar à mão o caule delgado do tempo?
telefone para fazer
declamei W Blake eu, que nada sei de respostas ao invisível a que tenho
uma chamada mas
estremeço apenas, franco, e tanto quero. enxerga no escuro, e
um segundo
e bem imaginei um Mundo chega perto do precipício.
antes ele toca,
em um pequeno grão um Céu o calor do verão exalta os autos.
como se
em uma flor selvagem pegar prefiro o ofício do voo, e o ninho
perder a consciência
o Infinito com as mãos prender relincham e guincham lunar dos teus cabelos de ouro
fosse apenas
no Agora a Eternidade as ruelas exterminadas e ao choro sem peixes do decoro, à
o primeiro após 97
inóspitas ao meio-dia. pedra sem sonhos da incerteza.
dias de
mas invisível um véu
inverno em que
sobre seu rosto impedia Renato Torres
os cafés põem
o enlaço amoroso como
de novo
nas calçadas as mesas.
numa tela de magritte
Que delícia usa
o prazer como
desperdício?
meu amor todo caminho Arboreus
é ela dizia
Dizer estômago e
também um exílio sob a eternidade de uma sombra sem asas circula o pássaro dos candelabros de seus beiços
pensar de imediato:
infames e a cada pausa redobrada dessa claridade cinzenta se descortinam os tentáculos daquela
“quão vermelho?”
dor e alegria em um mesmo tecido planície esganiçada como se todos os espelhos suplicassem com a navalha de suas penugens
ou o terror do
(eis o caminho de um verso batido) brumosas assim quando os olhos começam a regurgitar as tapeçarias da impetuosa caverna
trem entre
enquanto involuntariamente ainda se recolhem as mãos das flores sudoríferas desenfaixando
estações e a dança
uma coisa ela não disse a concha dos rastros vaticinadores por meio da escoriação inumana de seus ouvidos onde em
que estaciona
raras ocasiões até as bandeiras imprecatórias pareceriam irromper de dentro do suspiro das
em meio
in the forests of the night constelações em desalinho desfolhando sem nenhum remorso o grumo das sereníssimas
ao dançarino,
sob toda dor conspirações
não, dançarino
e todo pinheiro
que estaciona
LOZ
em meio à
brilham os olhos de um tigre
dança.

Alexandre Bruno Tinelli


Ricardo Domeneck

8 9
eca
Para Carolina Fons

“Não avan
ç am os na ava no bloco.
como num linguagem Volto à janela. Mor meço se faz.
caminho” ap roxi m a, vejo. Um novo co
O fim se um laço.
ap roxi m am , co mo se fossem dar
Encontras n Réveillon Os lados se
o teu e-ma
palavras qu il
e vem —
quiçá, por m Falando sério, acho certa falta de sensibilidade Volto ao passado.
eio de coisa
alguma — naqueles cartões de fim de ano Não salvo nada.
.
dos amigos que desejam tudo de novo para o ano seguinte Confio na máquina
que conhe
só pelas pró ces quando mal sabemos o que fazer do velho .
prias palav jo. Escrevi foi vida
Começas a ras. Fico na dúvida se tomo raiva Escrevi um livro, ve
imaginar no cabide.
ou se acho bonito Muita coisa coube da.
ainda não caibo to
como lerão Enquanto não decido, guardo dentro da agenda Me despi inteira e
tua respost
que voz fic a, com suas páginas datadas
tícia te atrib uido
qual rosto ti u irão, e confesso que até me diverte um pouco Daqui o bloco é líq .
rarão de tu e evapora feito rio
a sin- o desejo misturado com o que aconteceu O blogue escorre
taxe; e sabe o futuro vivendo dentro do passado
s, agora, qu tra ordem,
isto seja talv e O blogue impõe ou
ez, ainda,
o que há de Mariana Paiva A nova ordem.
mais real

em nós. Ah
eu bloco na rua.
Eu quero é botar m
Laura Castro
Charles Marl
on

esgotos todos abertos


e a cidade inteira fede
nas artérias
paisagem o sol agora expostas
p e ç a n a foice d
orpe tro estrada (agora em postas)
manhã t e r il a m lama da
s esm as
operário â m a g o das poç circula:
o
vados n lesca maço amassado de cigarro
céus gra g u a anima
m a lí n onoro camisinha esporrada
rezas du d a s n o escuro s
patas de
smaia bsurda lata vazia de molho
r la te s n a trilha a ticos
sca estos viá
rastros e v ir a m r
urvos re no osso dos dias
dorsos c stro
Flavio Ca os agudos dentes
procuram a lasca de carne-alegria

Marcio Junqueira

 10   11 
Tatuagem

Quando me mostrou a tua tatuagem


Perguntei como tinha coragem
Marcar assim na pele por toda a vida
Uma coisa que mais parece uma ferida

Tu, num rompante de mau humor


Bembé da liberdade Ergueu o dedo em riste e retrucou:
“Antes a ferida eterna no tornozelo direito
Os pretos todos novos Do que, como tu, no interior do peito”
Jogados à terra em flor
Foram aterrados aos poucos Saulo Dourado
Não como gente de valor
Ben Ben Bembé
As ruínas do cais do Porto Ben Ben Bembé
O Valongo que se mostrou
Vem revelar um passado Dá licença que me vou
Que nos é constrangedor Ben Ben Bembé
Ben Ben Bembé
São camadas e camadas Vou pro Bembé bater tambor
De terra, tempo, rancor Ao pé do ouvido
Tentativas e descasos A história permanece
Pra se esconder o horror Não prescreve uma dor se pudesse silenciar-me
Deixa rastro sobre o lastro frente a acontecimentos
Congo, Angola e Benguela Do chão em que se pisou silenciaria
Pedra do Sal testemunhou mas todos os dias melancolicamente acon-
A diáspora africana Hoje eu canto a minha graça teço.
Roma Negra Salvador O meu credo, o meu valor se pudesse dizer diariamente
Não vou deixar barato não a sentimentos
Ben Ben Bembé Qualquer preconceito de cor diria
Ben Ben Bembé mas todos os dias absurdamente amanheço.
Dá licença que me vou Reafirmo a minha presença digo não à cidade, deixo-a em paz
Ben Ben Bembé Com toda glória e vigor mas todos os dias revelo-me equívoco
Ben Ben Bembé Grito forte, canto alto diante de seus ecos.
Vou tocar meu Agogô Foi o Bembé que me ensinou “... não tires poesia das coisas
elide sujeito e objeto...”
Osvan Costa grita Drummond,
mas todos os dias dramatizo,
invoco,
indago,
aborreço,
e minto,
minto muito
ouvinte no reino silencioso da palavra
que não me quer Surda.

Jussara Santos

 12   13 
Oxumaré

O amigo mais proibido Senhor que une a terra


Suas cores incendeiam os céus
o amigo mais proibido Céus e terra
da rua da minha avó Terra e céus
Incongruências sensitivas
era Fernandinho filho de macumbeiro Serpentes que giram
Aqui dentro não passa setembro e a brincadeira mais proibida da rua de minha avó Entrelaçam mundo
apesar de lá fora era lavar pneu no quintal da casa da minha avó com Fio de contas amarelo e preto
dezembro já ter se esquecido de novembro. Fernandinho filho de macumbeiro preto perna Todas as cores Suas são
Tenho essas sutilezas incongruentes nas sensações. De Omolu entre-dedo de Omolu frieira Ri dos gêneros humanos
fazer um poema
Procurei num livro de personalidade: Feminino e masculino
não é como pintar um quadro.
não me encontrei, elevado ao quadrado. e jogar mortal-kombat com Fernandinho filho de macumbeiro Para Ele não há
Sou mais explicado pela lentidão de um felino também não era bom mas deus viu Apenas existir
é desfazer a tela,
que pela psicanálise de Sigmund Freud. foi só o tempo de ensinar outro fatality Infinitamente
é trocar as cores;
botou a combinação depois deu o controle Cobrarcoíris
refazer as formas
Kelson Oliveira aquele sorriso de Omolu neguinho Apenas É
que o pintor pensou.
Arroboboi Oxumaré!
o amigo mais proibido de uma pessoa querer No fim do arco-íris
fazer um poema
e o amigo menos proibido Tem riqueza
resignifica o mundo,
de uma pessoa bater um murro na cara até ele chorar Quem vai buscar?
transignifica tudo
Que é digno de ir lá?
Fernandinho de Omolu filho de macumbeiro Okê E se tudo mudar
mas não muda nada.
que teve uma festa mais proibida na rua de minha avó E se tudo muda
tudo continua
Deixe a roda girar
como tudo sempre foi:
de onze anos de aniversário de filho de A vida é pra dançar
como no fim da canção.
macumbeiro proibido de lavar pneu
Lá e aqui que morava na casa mais proibida de Guaiamum
como depois de comer,
a fome vem de novo. a pessoa ver da grade procurando
Lá o tempo e a fúria rasgam
como depois da eleição o bolo de uva e glacê
o pano escuro —
o mesmo povo! que a mãe macumbeira fez A hora
no fim do estouro
pra Fernandinho não passar
no chão, para ninguém
sem esperanças em branco. sem projetos objetos e mãos
as alças, sapatos, maçaneta, um pente
nem grandes realizações. os fazeres e os balões
reboco e correia, cabeça de boneca. Allan Jonnes
sem hipersignificações, apenas o revés e a dor
No meio dessa noite
fazer um poema é trovadores de nada
muito além do oceano
fazer um poema. lençóis de leite, mornos
a tristeza se acumula numa estrela
nos meus braços
Dênis Rubra também mar sorridente
boca mínima e olhos
pulsa
tua voz ecoa entre as paredes —
nosso refúgio de concha —
um soneto que não presta
e vai pelo espaço,
como amor
água primeira refazendo as margens.
inventação da brincadeira
a beira e a bobagem
Vivien Kogut
PÃES ANTEPASTOS MASSAS MOLHOS
coragem
PIZZAS SALGADOS DOCES TORTAS aqueles que agem
ao calarem mudez sólida
www.ettore.com.br | @EttoreCucinaIT | facebook.com/ettorecucinaitaliana

Av. Armando Lombardi, 800 - lojas C/D/E Condado de Cascais, Barra da Tijuca - RJ Tel.: 2493-5611 / 2493-8939
Thiago Lobão
Av. Vice Presidente José Alencar, 1350 - loja F - Cidade Jardim - Tel.: 2512-2226 / 2540-0036

 14   15 
Prece de areia

Ogum Beira-Mar Armadura prateada


corre maré solta búzio em flor
traz faísca no olhar água salgada
quebra a louça na ronda da Calunga Grande
Seu Beira-Mar faz morada
Ogum Beira-Mar
vem navegar Senhor dos encantos
no fio da navalha marola e arrebentação
nos olhos de Mãe Iemanjá onda quebra na praia
e vence batalha
Ogum Beira-Mar
vou contigo, não arrisco Como bravos navegantes
de destino incerto
caio no mar pedimos sua proteção
vou navegar nos caminhos dos mistérios

Sétima onda Ogum Beira-Mar


rajada de vento vou contigo, não arrisco
Iansã no terreiro
na água e no mar caio no mar
vou navegar
Dá passagem
Ogum Beira-Mar Karina Gercke

b c

 16 

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