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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL

Nome: Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Des. Regional


Número: 0176/07 Data: 20/3/2007

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL


EVENTO: Audiência Pública N°: 0176/07 DATA: 20/3/2007
INÍCIO: 15h14min TÉRMINO: 20h16min DURAÇÃO: 05h02min
TEMPO DE GRAVAÇÃO: 05h01min PÁGINAS: 87 QUARTOS: 61

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
MAURO SPÓSITO - Representante do Departamento de Polícia Federal. Coordenador de
Operações Especiais de Fronteira.
MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - General-de-Exército. Secretário de Política, Estratégia
e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa.
MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência — ABIN.

SUMÁRIO: Debate sobre Relatório de Situação, elaborado pelo Grupo de Trabalho da Amazônia
— GTAM.

OBSERVAÇÕES
Há oradores não identificados.
Houve exibição de imagens.

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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Declaro aberta a


presente reunião de audiência pública, promovida pela Comissão da Amazônia,
Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional em atendimento ao
Requerimento nº 4, de 2007, de minha autoria, destinada à discussão do Relatório de
Situação elaborado pelo Grupo de Trabalho da Amazônia — GTAM.
Inicialmente, cumprimento todos os presentes, em especial os expositores,
que convido para compor a Mesa: Sr. Márcio Paulo Buzanelli, Diretor-Geral da
Agência Brasileira de Inteligência — ABIN; Sr. Maynard Marques de Santa Rosa,
General-de-Exército e Secretário de Política, Estratégica e Assuntos Internacionais
do Ministério da Defesa; Sr. Mauro Spósito, Delegado, representante da Polícia
Federal e responsável pela Coordenação-Geral de Operações Especiais de
Fronteira.
Agradeço também às Sras. e aos Srs. Deputados a presença.
Dando continuidade à presente reunião, informo que a lista de inscrição para
os debates encontra-se sobre a mesa. O Parlamentar que desejar interpelar os
expositores deverá dirigir-se primeiramente à Mesa para registrar o seu nome.
Esclareço aos Srs. Parlamentares e expositores que a reunião está sendo
gravada para posterior transcrição. Por isso, solicito a todos que, durante as
exposições e interpelações, manifestem-se ao microfone.
Informo ainda que os convidados não poderão ser aparteados no decorrer de
sua exposição. Somente após os Deputados poderão fazer as suas interpelações,
tendo cada um o prazo de 3 minutos, e o interpelado, igual tempo para resposta,
facultadas a réplica e a tréplica pelo mesmo prazo. Os apartes e as interpelações
deverão ser feitos estritamente quanto ao assunto objeto da convocação, nos termos
regimentais.
Solicito às senhoras e aos senhores presentes que façam silêncio para que
possamos dar início à audiência pública.
Deputado Marcio Junqueira, muito obrigada pela presença.
Dou início a esta reunião de audiência pública.
De acordo com acerto prévio feito com os convidados, darei início às
exposições na ordem inversa da chamada para a composição da Mesa.

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Informo o recebimento de comunicado assinado pelo Deputado Marcio


Junqueira, solicitando o registro da presença da Deputada Estadual Aurelina
Medeiros, representante do Governador do Estado de Roraima, bem como do Dr.
Washington Pará de Lima, que representa o ITERAIMA — Instituto de Terras e
Colonização de Roraima. Muito obrigada a V.Sas. pela presença.
De acordo com o Regimento, cada expositor dispõe do prazo de 20 minutos
para as suas manifestações. Assim, concedo a palavra imediatamente ao Dr. Mauro
Spósito, representante da Polícia Federal.
O SR. MAURO SPÓSITO - Sra. Presidenta, antes de mais nada, em nome do
Departamento da Polícia Federal, agradeço a V.Exa. o convite recebido.
Vou tentar apresentar em alguns slides como a instituição verifica os
problemas amazônicos no que tange às suas atribuições constitucionais. É uma
série de slides que tentarei apresentar o mais rapidamente possível. (Pausa.)
(Segue-se exibição de imagens.)
Seria até didático falar acerca da Amazônia, posto que temos a Amazônia
Continental, a Amazônia brasileira, a Amazônia Legal. Assim, apenas a título de
exemplificação, estamos falando pura e unicamente da Amazônia brasileira; não
estamos querendo verificar os reflexos em outros países.
O primeiro problema com que nos defrontamos na Amazônia refere-se ao
narcotráfico, não pela ação naquela região, mas, sim, pela influência dos países
produtores de cocaína. No mundo, apenas 3 países produzem coca: Peru, Bolívia e
Colômbia, com os quais a Amazônia tem fronteira. Portanto, quando falamos de
narcotráfico na América do Sul, falamos do tráfico organizado de cocaína.
O Brasil possui 8 mil quilômetros de fronteira com os países produtores de
coca, o que significa pelo menos 2 vezes a fronteira dos Estados Unidos com o
México, isso para que V.Exas. tenham a dimensão da distância que temos a cobrir.
Os plantios de coca estão todos situados na banda oriental da Cordilheira dos
Andes, nas cabeceiras dos rios que formam a Bacia Amazônica. Portanto,
verificamos, nestas manchas amarelas, tanto na Bolívia quanto no Peru e na
Colômbia, a situação dos plantios de coca existentes na América do Sul.

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Este é o quadro que formulamos acerca dos plantios de coca em toda a


região. Como podemos ver, nos últimos 10 anos, sempre estamos oscilando na
média de 200 mil hectares de folhas de coca plantados no continente sul-americano.
É importante também mostrar o sistema básico de produção da cocaína.
Temos de ter em mente que existem 2 derivados da folha de coca, utilizados para
produção de entorpecente: a pasta-base de cocaína e o cloridrato de cocaína.
A pasta-base de cocaína é feita na etapa anterior ao refino da coca. Colhem-
se as folhas, que posteriormente são transformadas em pasta de coca; que é
transformada em pasta-base de cocaína, até transformar-se, se refinada, em
cloridrato de cocaína, o sal da cocaína, elemento que pode ser aspirado e absorvido
pelas mucosas.
Quanto à exploração mineral, o que verificamos? Além dos garimpos e das
empresas mineradoras, essas atividades são utilizadas tanto para a lavagem de
dinheiro quanto para a evasão de divisas. Mas, fundamentalmente, se analisarmos o
quadro de exploração mineral na Amazônia, verificaremos que 80% das empresas
que fazem exploração mineral são estrangeiras, acobertadas por nomes de
empresas nacionais. Posso garantir que pelo menos 20% do território amazônico
estão cobertos por títulos minerários em nome de empresas brasileiras, que, na
realidade, pertencem a estrangeiros. Por exemplo: em Rondônia, o Garimpo
Roosevelt, bem comentado, está totalmente loteado em nome de empresas
estrangeiras.
A Polícia Federal trabalha fundamentalmente na proteção das áreas
indígenas, em defesa da conservação de suas tradições e de sua cultura. Porém, há
muita influência externa. Em 2005, a Declaração de Mar del Plata nos deu clara
dimensão de que o desejo dos povos indígenas é o de alcançar livre determinação
de constituição política. Isso é patrocinado por algumas entidades que vêm de fora.
Quem dá condição aos índios de se mobilizarem são organismos estrangeiros, que
geralmente pouco conhecem a realidade amazônida.
Outro aspecto: o extrativismo. A população ribeirinha, que lá está por opção,
fixa as nossas fronteiras. Costumo dizer que nós, da Polícia Federal, lá estamos
porque recebemos verba do Governo, que nos paga diárias e condução; mas aquela
população ribeirinha realmente demarca a nossa fronteira. E não recebe nenhuma

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benesse por isso; paga os mesmos impostos e não é reconhecida por isso. Então, é
fundamental levar a presença do Estado àquela comunidade ribeirinha.
Outro ponto: as ONGs. O que vem a ser uma ONG? Num contexto de
inúmeras organizações, algumas com as melhores intenções, outras com péssimas
intenções, a ONG nada mais é do que o agrupamento de pessoas que visam influir
em políticas públicas, ou seja, fazer lobby. Se não tivermos regulamentação básica a
respeito disso, não poderemos diferenciar o joio do trigo. E, fundamentalmente,
ONGs que fazem um trabalho maravilhoso terão seus nomes manchados por outras
que praticam o mal.
Outro aspecto relevante é o da Zona Franca de Manaus. Instituída para
impulsionar o desenvolvimento regional, ela é o principal pólo de desenvolvimento
de toda a Amazônia Ocidental. Mas a série de fraudes perpretada contra o programa
pode transformar a Zona Franca num paraíso fiscal. Se houver a sua
desconstituição, teremos enormes prejuízos. Alguns dizem que voltaremos a ser
porto de lenha e que todos os grileiros, para ocupar a terra, secarão a água.
Portanto, é fundamental a permanência da Zona Franca de Manaus e a criação de
instrumentos que fiscalizem qualquer desvio naquela área.
Outra questão: o terrorismo. Não há terrorismo em território brasileiro. Porém,
temos problemas em nossas fronteiras. Há um movimento insurgente na Colômbia,
que há mais de 40 anos sobrevive naquela região e de cujo componente militar
temos claro conhecimento. Todos sabemos quem é o líder do componente militar e
onde se encontra, mas sabemos também que é uma organização político-militar,
cujo efetivo político está diluído em movimentos indígenas, camponeses, sindicais,
partidos políticos e organizações não-governamentais.
Contudo, essa insurgência junto à Colômbia não nos interessa. Se querem
tomar o poder naquele país, é problema deles. O que nos preocupa é que eles
dominam as áreas de produção de cocaína, bem junto à nossa fronteira. É para isso
que está voltada a nossa atenção, assim como para o recrutamento indiscriminado.
Tenho aqui algumas imagens que mostram o recrutamento de crianças indígenas
pelas FARC.
Outro problema é o movimento insurgente, porém emergente, do
Tawantinsuyu, a reformação da pátria inca, que dá margem ao movimento

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revolucionário tawantinsuyana e engloba diversos movimentos insurgentes, tanto da


Bolívia quanto do Equador, da Colômbia e do Peru. Esse movimento visa à
reconstituição do território inca, com fracionamento.
A outra questão é política, basicamente a origem do dinheiro que financia
campanhas eleitorais. Já tivemos problemas com financiamentos de campanha
feitos por organizações do narcotráfico. Portanto, damos atenção especial a essa
questão.
A questão do meio ambiente, se não é a fundamental, é uma das mais
relevantes para nós. Hoje, vive-se período de choque entre o antropocentrismo e o
ecocentrismo na Amazônia, onde está a maior floresta tropical do planeta, além de
ser um dos maiores ecossistemas mundiais; uma reserva de energia limpa,
reguladora dos efeitos climáticos e que passou a fazer parte da agenda global,
sendo eixo fundamental da segurança internacional. Este novo tema — “segurança
internacional” — tem de ser avaliado com muito cuidado e, em termos práticos,
muito bem definido. Por exemplo: se eu não cuidar do meu quintal e nele deixar
crescer mato, meu vizinho vai julgar-se com legitimidade para vir limpá-lo. Portanto,
essa é uma preocupação muito grande.
Um professor nos apresenta a segurança ecológica como princípio de
segurança coletiva e nos dá clara demonstração do que é o meio ambiente para a
comunidade internacional. Temos aqui a reprodução de uma entrevista concedida
por Thomas Barnett à revista Época, em dezembro de 2004, em que mostra, neste
novo desenho, se há algum risco de o Brasil perder a Floresta Amazônica.
Ele diz o seguinte:
“Não vejo risco. Muito pelo contrário. O Brasil
precisa — e está bem-sucedido nisso — gerar
transparência na Bacia Amazônica para impedir tráfico de
drogas, pilhagem ambiental e que terroristas busquem
refúgio na floresta”.
Essas são basicamente as palavras do Pentágono.
Outro problema que enfrentamos, relacionado à questão ambiental, é o da
biopirataria, da qual até agora não temos definição clara. É grande a dificuldade de
combater o que não está conceituado. Então, necessitamos desse instrumento.

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O último dos 10 problemas que enfrentamos diz respeito às questões


fundiárias e aos projetos da região amazônica. O choque cultural com a expansão
das fronteiras agrícolas na região ocasiona uma série de conflitos fundiários,
responsáveis por 61% das mortes havidas em conflitos fundiários em todo o território
brasileiro.
Quando há expansão da fronteira agrícola, quando há maior projeção para
aquela região, encontramos ainda a área com ausência do Poder Público. Fizemos
um levantamento para traduzir o porquê disso e daquilo e não encontramos
nenhuma novidade.
Em 1991, a Universidade de Nova Iorque patrocinou um estudo para 7
universidades colombianas, para saber por que a Colômbia tinha aquela cultura de
violência . As 7 universidades concluíram que a ausência do Poder Público foi o
fomento para que tudo acontecesse.
Então, para eliminar o problema, nada mais é preciso do que a presença do
Poder Público em 61% do território brasileiro.
Esses são os problemas verificados pela Polícia Federal.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Agradecemos a
participação ao Dr. Mauro Spósito, que não usou nem o tempo integral. Muito
obrigada pela colaboração.
Na seqüência, passo a palavra ao General-de-Exército Maynard Marques de
Santa Rosa, que aqui representa a Secretaria de Política, Estratégica e Assuntos
Internacionais do Ministério da Defesa.
V.Sa. dispõe de 20 minutos.
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Tenho muita satisfação em
poder contribuir para o debate de temas amazônicos, que nos são muito caros.
Agradeço, então, o espaço proporcionado pela Sra. Presidenta, nobre Deputada
Vanessa Grazziotin, para que isso fosse possível.
Para obedecer, então, ao princípio da objetividade, vou seguir raciocínio
montado em slides, conforme a mesma orientação seguida pelo Delegado Mauro
Spósito.
(Segue-se exibição de imagens.)

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O objetivo desta minha breve e singela apresentação é o de comentar


aspectos da agenda amazônica sob o enfoque da Defesa Nacional.
Vou começar invocando uma idéia-força transplantada dos Pampas para o
Médio Amazonas. O índio Sepete Araju, no ano de 1755, resistindo à ordem de
despejo das populações indígenas emitida pelas Coroas de Espanha e Portugal,
quando dos acertos do Tratado de Madri, revoltou-se ante a imposição do
estrangeiro. Então, na presença do Comandante português, quando feito prisioneiro,
declarou: “Esta terra tem dono”.
A 16ª Brigada de Infantaria Motorizada, sediada no Rio Grande do Sul, foi
transferida na década de 90 para a Amazônia e levou junto a idéia-força que hoje
anima todos os soldados brasileiros que servem na Bacia Amazônica: “Esta terra
tem dono”.
Inicialmente, vamos ver alguns aspectos que podem ter efeitos geopolíticos.
Sob a égide do art. 142 da Constituição, vamos abordar apenas aqueles que podem
requerer intervenção da Defesa Nacional.
O primeiro: a questão ecológica, o aquecimento global.
Mais de 90% do dióxido de carbono, o gás causador do efeito estufa, são
lançados na atmosfera pelos países desenvolvidos e pela China. Segundo as
medições recentemente publicadas, o Brasil é responsável por 6% das emissões,
sendo que 3% decorrem das queimadas e 3% da produção industrial nacional.
Somente o pool dos 7 países desenvolvidos é responsável por 91,9% do lançamento
de dióxido de carbono na atmosfera.
O Protocolo de Kyoto, ratificado por 84 países e em vigor desde que a Rússia
a ele aderiu, instituiu o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo — MDL, que consiste
numa série de pré-requisitos para investimentos e nos créditos de carbono,
potencialmente favoráveis na medida em que serviriam de fonte de captação de
recursos para o Brasil, desde que não implicassem a perda da soberania nacional.
É nesse ponto — e aí está a maior causa de polêmicas — que mais importa o
papel desempenhado pela hiléia, a Floresta Amazônica. Procurei extrair aspectos
cientificamente comprovados.
Segundo o pesquisador Flávio Luizão, que trabalha em Belém, a hiléia já foi
savana há 14 mil anos. Essa constatação científica decorre da evolução das

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mutações climáticas. A vegetação evita a desertificação do solo quaternário, o que


também é cientificamente comprovado, de tal modo que florestas em terreno
sedimentar em solo quaternário têm de ser preservadas ou, de outra forma, haverá a
desertificação da área.
Ficou igualmente comprovado — aliás, depois de muitos debates na CPI da
Amazônia, do Senado — que a floresta não é fonte emissora de gás carbônico.
Estudos recentes comprovaram que ela funciona como sumidouro de parte do
excesso de CO² atmosférico, absorvendo 25% do dióxido de carbono existente na
atmosfera.
Segundo o cientista alemão Harold Sioli, a proporção de absorção é de 1 a 6
toneladas de carbono por hectare/ano.
Infelizmente, essa comprovação científica nos obriga a uma consideração
sobre o papel da hiléia no clima mundial.
A Constituição Federal, em seu art. 225, §4º, diz que a Floresta Amazônica é
patrimônio nacional, e sua utilização deve obedecer a diretrizes de manejo
ambiental. Ora, se o Brasil, por intermédio da floresta, absorve 25% e apenas polui
6%, tem crédito de 19% para poluir a atmosfera do planeta. Ou, então, alguma
contrapartida tem de ser proporcionada para que nós a preservemos para os outros.
Outras agressões ambientais são desmatamento, degradação do solo,
devastação das nascentes, assoreamento dos rios e contaminação da água. Já há
legislação reguladora, mas é preciso que se dê eficácia ao seu cumprimento.
Também interfere nesse tema a pressão migratória.
Eu procurei copiar um mapa do IBGE que tivesse a distribuição filiforme da
população na Bacia Amazônica.
A população está desdobrada ao longo dos rios e das estradas, concentrada
em pólos que são os núcleos urbanos e os grandes centros urbanos: Manaus,
Belém e demais Capitais.
O interland é desse povoado; essa é uma característica do ambiente. No
entanto, desde que se criou Brasília e passou a haver o povoamento do
Centro-Oeste, formou-se pressão migratória que, desta região, segue os vales dos
rios afluentes da margem direita do Rio Amazonas e as estradas abertas. Essa
pressão migratória requer atenção e preocupação porque é inexorável. Não é

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possível detê-la. No entanto, é possível acompanhá-la, apoiá-la e controlar as


condições em que ocorre, sobretudo no sul do Pará, na direção do Vale do Rio
Madeira e dos vales amazônicos orientais, na direção do Tocantins e do Araguaia.
Aqui foram apresentadas, portanto, algumas sugestões para embasar
possíveis políticas públicas ligadas ao problema que estudamos.
Para a política de ordenamento territorial, sugere-se substituir o conceito de
preservação pelo de equilíbrio. Preservar, sim, quando impositivo, como no caso
daquelas florestas desdobradas em solo quaternário. Quanto às demais, quando
necessário. Não se pode quebrar o equilíbrio; o equilíbrio tem de ser preservado,
mas a floresta não necessariamente — depende do efeito político que se pretenda.
Repito: essencial é a preservação das florestas de solo quaternário.
Temos aqui outra sugestão: interiorizar os órgãos federais. Em vez de se
concentrar em Manaus, Belém, Porto Velho e Boa Vista, a burocracia deve ser
interiorizada, sobretudo na faixa de fronteira demográfica, em pontos que requerem
atenção pela dinâmica da evolução do processo.
Pela experiência já obtida no campo da segurança, sugere-se também ação
integrada mediante gabinete de gestão.
Outro ponto que também interfere, já citado pelo Delegado Mauro Spósito, é o
da ideologia, principalmente manifestada por intelectuais que nunca moraram na
Amazônia e que, de Ipanema, do Leblon ou de Belo Horizonte, postulam idéias
conservacionistas.
Cito um pensamento do grande filósofo alemão Nietzsche: “As convicções
são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.
E, como curiosidade, a respeito da intrusão em assuntos amazônicos,
sobretudo sob o enfoque ideológico, informo que 250 mil ONGs operam no Brasil,
sendo que 29 mil recebem recursos governamentais e, destas, 320 foram
cadastradas na Amazônia. Há estimativas de até 100 mil ONGs operando hoje na
região amazônica. O problema são as motivações ocultas: existem as que se
interessam em estar presentes; mas muitas estão a serviço dos interesses
internacionais. Sabe-se, por exemplo, que existem ONGs patrocinadas por recursos
de órgãos de inteligência dos países centrais. Temos certeza de que existem
patrocínios de ONGs. Então, quando um órgão de inteligência patrocina uma delas,

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visa a benefício na forma de busca de informações para alimentar o sistema. E as


ONGs têm acesso à mídia.
Estou fazendo constatações e não vou aprofundar o debate porque o assunto
já foi abordado pelo Delegado Mauro Spósito.
Quanto ao problema ecológico, surge o seguinte dilema: desenvolvimento
versus preservação in natura. O conceito de desenvolvimento sustentável indica a
necessidade de exploração dos recursos naturais com respeito ao meio ambiente.
Os projetos sempre devem ser precedidos do Estudo de Impacto Ambiental.
A ideologia do interesse da humanidade, patrocinada por um pool de ONGs
bastante atuantes no exterior, sobretudo na Alemanha e no Reino Unido, postula a
preservação in natura, o que corresponde ao desenvolvimento zero da região.
Citamos o exemplo de desenvolvimento sustentável que tem sido dado como
exemplo pelo respeito que inspira em organismos internacionais: o Projeto Urucu, da
PETROBRAS. Referência internacional pela eficiência, prova que se pode
tranqüilamente explorar o recurso natural sem ameaçar o meio ambiente.
Também suscita preocupação a problemática indígena, a demarcação de
terras principalmente, assunto bastante polêmico e que é sensível aos aspectos de
segurança nacional.
O art. 231 da Constituição Federal estabelece que são reconhecidos aos
índios os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União
demarcá-las.
Em função desse preceito, cria-se a motivação para pressionar os Governos
quanto à demarcação de terras indígenas. Hoje, temos 294 terras indígenas
demarcadas, a demarcar ou em processo de demarcação na Região Norte. São 80
milhões e 229 mil hectares, o que corresponde a 83% do total de terras indígenas do
território nacional.
A Constituição Federal, no art. 91, §1º, estabelece as atribuições do Conselho
de Defesa Nacional. Especificamente no inciso III prevê o seguinte:
“Art.
231.....................................................................
§ 1º. ..........................................................................

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III - propor os critérios e condições de utilização de


áreas indispensáveis à segurança do território nacional e
opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de
fronteira e nas relacionadas com a preservação e a
exploração dos recursos naturais de qualquer tipo”.
No entanto, o Decreto nº 1.775, de 1996, que regula a demarcação de terras
indígenas, omite a necessidade de parecer do Conselho de Defesa Nacional,
mesmo na faixa de fronteira. Esse ponto merece atenção.
Outro ponto também merece atenção: os índios têm direito a usufruto e não à
posse nem à propriedade da terra.
Quanto às reservas indígenas demarcadas na faixa de fronteira, são estas
aqui no mapa. É preocupante para a Defesa Nacional a dificuldade de controle do
que se passa no interior destas vastas áreas, algumas de enorme potencial.
Procurei incluir aqui a sobreposição das áreas restritas, os corredores
ecológicos e as terras indígenas, a áreas de interesse estratégico, principalmente na
faixa de fronteira.
Reservas minerais e faixa de fronteira: a imagem é auto-explicativa. Há
coincidência, inclusive, com algumas províncias minerais.
Outro ponto a respeito da problemática indígena é o da integração versus a
segregação de populações indígenas. A população amazônica é resultado de
miscigenação e de movimentos migratórios, sobretudo de nordestinos.
Publicação do IBGE, atualizada, diz o seguinte quanto à população
amazônica: mestiços — quase 70%, principalmente de etnia indígena e mesclada
com o branco; população branca — menos de 25%; negros — 3,9%; índios —
apenas 2,7%.
A composição da sociedade amazônica indica a tendência de assimilação dos
brancos pelos nativos. Tal fenômeno sociológico deve ser considerado, até porque,
em alguns países, inclusive da América, a população indígena foi extinta. Ao longo
da história, eles absorveram os contingentes brancos que vieram posteriormente.
A Constituição Federal omite o preceito de integração do índio que constava
das anteriores. No entanto, o Estatuto do Índio — Lei nº 6.001 — prevê a integração
progressiva e harmoniosa das comunidades indígenas à comunhão nacional.

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Aqui temos alguns preceitos que interferem na avaliação desse problema.


O art. 3º da Constituição Federal reza o seguinte:
“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil:
..................................................................................
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação”.
E o art. 5º diz:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza (...)”.
Conseqüentemente, a preservação dos grupos indígenas que se quer impor
— in natura, deixando-os intocados — é discriminatória, contrária ao princípio de
que todos os seres humanos têm direito ao progresso e ao livre arbítrio. Quem tem
de optar entre continuar no estágio civilizatório ou avançar são as comunidades
indígenas e não antropólogos ou outras figuras, principalmente do exterior. À luz da
Constituição Federal, há uma única nação e um único povo. Não existem povos nem
nações.
O ponto seguinte, que suscitou comentários, diz respeito a contradições da
Reserva Ianomâmi, demarcada em 1991. Após pressões internacionais, o Governo
do Reino Unido manifestou a intenção de boicotar a ECO-92, se a reserva não fosse
demarcada de forma contínua. Estava prevista a demarcação descontínua. A área
representa 1.600 quilômetros de fronteira; 9,6 milhões de hectares para 6.700 índios
— o que significa 1.432 hectares por índio, segundo o que foi previsto. Fazendo uma
comparação, podemos dizer que Portugal, Áustria, Holanda, Bélgica e Hungria são
menores do que a Reserva Ianomâmi.
A edição do Jornal do Brasil do dia 27 de janeiro de 2007 diz o seguinte:
“Uma área ianomâmi plantada de dendê equivale a 1,3% da bioenergia da Arábia
Saudita”.
A respeito da problemática indígena, a maior preocupação incide no Estado
de Roraima. Aqui estão destacadas as áreas que o Estado não pode utilizar para o
seu desenvolvimento econômico e social — as áreas indígenas estão em vermelho.

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Neste mapa, coincidentemente, estão as incidências minerais já comprovadas. Há


muitas reservas não comprovadas, como é o caso do urânio que existe na Reserva
Raposa Serra do Sol e que ainda não consta dos relatórios do Departamento
Nacional de Produção Mineral — DNPM.
Outro ponto que merece atenção é o do interesse estrangeiro. Incluí alguns
dados representativos, entre eles o parecer do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente — PNUMA. Em 2004, o Diretor do PNUMA fez pronunciamentos
agressivos ao Brasil, defendendo que a biodiversidade da floresta é patrimônio
comum da humanidade.
Motivo de preocupação também foi a Cúpula de Haia que ocorreu em março
de 1989, convocada pelo então Primeiro-Ministro da França, Michel Rocard, a fim de
ser discutida a proteção da atmosfera. Participaram do evento 24 países. O Brasil foi
representado pelo Embaixador Paulo Tarso Flexa de Lima.
Os objetivos ocultos da cúpula eram a criação de uma entidade supranacional
para administrar a questão ambiental amazônica e sanções contra os países que
apresentassem má conduta em matéria de proteção ambiental. O texto final previa a
criação de uma entidade supranacional, mas a diplomacia brasileira conseguiu diluir
a proposta, ficando todos os trópicos úmidos e não apenas a Amazônia, e tendo as
decisões caráter congênito, por meio do Tribunal Penal Internacional.
Os Estados Unidos não são signatários da Cúpula de Haia.
Extraí um trecho do relatório final da CPI da Amazônia:
“A Floresta Amazônica como pulmão do mundo é
uma falácia originada de um erro de jornalista e mantida
graças à ignorância generalizada de botânica e de
geofisiologia. Ao contrário das florestas, são os oceanos,
por suas algas e fitoplânctons, os grandes responsáveis
pela produção e acúmulo do oxigênio na atmosfera
terrestre”.
Outro ponto que também merece atenção é o seguinte: o ex-Secretário-Geral
da ONU tem postulado que a Amazônia, enquanto patrimônio da humanidade, deve
ser submetida a um sistema internacional de tutela, baseado na Carta das Nações

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Número: 0176/07 Data: 20/3/2007

Unidas. Sugere que os países amazônicos voluntariamente coloquem o território sob


a jurisdição do Conselho de Tutela.
Feita essa abordagem, vou rapidamente citar a integração sul-americana, que
constitui preocupação dos países condôminos da Bacia Amazônica e da América do
Sul.
Neste mapa estão desdobrados os principais centros de poder do Brasil, os
pólos regionais e os corredores de integração, de forma esquemática. O problema
está aí: a integração só pode ser feita se atravessar áreas sob restrição, como as
reservas indígenas apresentadas no mapa.
Ou o Brasil faz a integração, ou não faz. Só existirá o mercado sul-americano,
se houver integração. E, para fazê-la, é preciso resolver as restrições artificiais.
Passando à questão da defesa, gostaria de falar sobre algumas tendências.
Está estabelecida pelo Governo, desde 1995, a série histórica que congelou os tetos
orçamentários das instituições militares. Por outro lado, o esforço que o estamento
militar vem fazendo para cumprir o seu dever de casa na Amazônia está desdobrado
ali à direita: a evolução dos efetivos do pessoal. Aqui foi incluído apenas o do
Exército. Em 1986, tínhamos 6 mil homens na Bacia Amazônica; hoje, temos 27 mil.
Apesar de o orçamento estar decrescendo, o efetivo está aumentando, o que
comprova o esforço militar para ocupar a Amazônia.
Finalmente, vamos ver os aspectos do Programa Calha Norte. A área de
jurisdição do programa inclui a Calha Sul também. Os Estados de Rondônia e Acre e
todos os seus municípios foram inseridos no Programa Calha Norte.
Está é a evolução do orçamento do Calha Norte. Vejam V.Exas. que, de 2005
para 2007, houve um pico, principalmente da vertente desenvolvimentista do
programa.
Este é o resumo geral das vertentes civil e militar. A parte menor representa
os investimentos militares, e a parte maior, os civis.
Observem que, para 2007, a previsão é de 275 milhões de reais de
investimento no Programa Calha Norte, a serem aplicados na construção de infra-
estrutura econômica e social na faixa de fronteira.

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Concluindo, vou lançar uma pergunta: qual é o futuro que o Brasil deseja para
a sociedade amazônica, os índios e os recursos naturais? O Brasil deseja manter a
Amazônia subdesenvolvida?
A Amazônia contribuiu com 6% do PIB nacional. Como disse o Dr. Spósito,
61% do território nacional contribuem com 6% do PIB. Desejamos congelar essa
situação? E os índios? E os recursos naturais?
Transcrevi a seguinte frase de Euclides da Cunha, dita em 1908:
“Se as nossas autoridades não se preocuparem
com a Amazônia, mais cedo ou mais tarde, ela se
destacará do Brasil natural e irresistivelmente, como se
desprega uma nebulosa de seu núcleo, pela expansão
centrífuga de seu próprio movimento”.
Também aproveitei uma citação do Jornal do Brasil, edição de 28 de janeiro
de 2007:
“A tribo dos brasileiros não aprendeu com os índios
do passado que uma vastidão abandonada desperta a
cobiça de invasores e aventureiros”.
Finalmente, a frase que está fixada na frente de todos os quartéis do Exército
na região amazônica, de autoria do General Rodrigo Octávio, Comandante Militar da
Amazônia de 1969 a 1971, é a seguinte:
“Árdua é a missão de desenvolver e defender a
Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos
antepassados em conquistá-la e mantê-la”.
Encerro a minha participação. Procurei destacar os pontos que podem
produzir efeitos geopolíticos do interesse da Defesa Nacional.
(Não identificado) - Sra. Presidenta, peço a palavra pela ordem apenas para
sugerir que, da apresentação dos slides, seja feita uma encadernação, para que
todos possamos ter acesso ao material. O General Santa Rosa, com certeza, vai
nos ceder o material.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Perfeito. Já
solicitamos isso e obtivemos a permissão. Estávamos somente aguardando a
conclusão da palestra.

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Vamos providenciar cópias da apresentação do Sr. Mauro Spósito e do


General Santa Rosa, para distribuí-las às Sras. e aos Srs. Deputados.
Dando seqüência aos nossos trabalhos, passo a palavra ao Sr. Márcio Paulo
Buzanelli, Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência.
Peço a permissão de meus pares para, em nome da Comissão, cumprimentar
o Sr. Buzanelli pelo transcurso do seu aniversário, hoje. (palmas) Receba os nossos
cumprimentos e, ao mesmo tempo, o agradecimento pela presença.
O Deputado Jair Bolsonaro encaminhou-me bilhete avisando do aniversário,
mas nós já sabíamos e íamos fazer a homenagem ao convidado, em nome da
Comissão.
V.Sa. dispõe de 20 minutos, Sr. Márcio Paulo Buzanelli.
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Muito obrigado, cara Deputada
Vanessa Grazziotin, Srs. Deputados.
Aproveito o ensejo para agradecer a menção que fez ao nosso natalício a
Deputada Vanessa Grazziotin e também para anunciar a todos que amanhã faz
aniversário o Deputado Jair Bolsonaro. A festa vai ser de S.Exa. amanhã.
É uma satisfação muito grande estar aqui. Agradeço à Comissão a
oportunidade que oferece à ABIN de se apresentar. O serviço de inteligência foi
criado há somente 8 anos, embora a atividade já tenha 80 anos no Brasil, que
também se completam neste ano que estamos vivendo.
Nesta oportunidade vou falar um pouco sobre a ABIN na Amazônia, sobre a
visão que tem sobre essa área tão importante que corresponde a 60% do território
nacional e que tem dados os mais expressivos. Todos os números que tratam da
Amazônia são expressivos.
A grande concentração de biodiversidade está na Amazônia, onde está
localizada a maior floresta tropical do planeta. Isso naturalmente atrai a atenção e o
interesse de pesquisadores estrangeiros e de outras pessoas que utilizam o
mimetismo dessa denominação para, com objetivos não declarados, executar ações
que qualificamos como de agressão à biodiversidade, que a lei brasileira ainda não
tipifica. A Convenção da Diversidade Biológica não tipifica isso, e temos de nos
remeter sempre à Lei de Crimes Ambientais.
Agradeço novamente e com bastante ênfase esta oportunidade.

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A Agência Brasileira de Inteligência, embora tenha chegado à Amazônia


talvez por último entre as instituições brasileiras, atua com grande ênfase. Desde o
ano passado, promoveu um processo de reforma estrutural e hoje está presente em
toda a Amazônia. Atualmente, existem superintendências estaduais em todos os 9
Estados amazônicos e subunidades estaduais em longínquos rincões da nossa
Pátria, naquela tão importante parte do território nacional. Desde Pacaraima, ponto
fulcral da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima; até Brasiléia e
Cruzeiro do Sul, no Acre; passando por Tabatinga, Tefé, São Gabriel da Cachoeira e
outras localidades do nosso grande espaço amazônico.
Além disso, a Agência Brasileira de Inteligência trabalha na Amazônia em
uma área essencial. Desenvolveu, porque tem competência legal para tal, o
Programa Nacional de Proteção ao Conhecimento, que visa a diagnosticar situações
de grave ameaça a conhecimentos sensíveis — lá na Amazônia temos os
conhecimentos derivados de métodos tradicionais relativos à biodiversidade — e
promover palestras de sensibilização. Seus integrantes trabalham em parceria com
algumas Organizações Não-Governamentais, visando a orientá-las a se
autoprotegerem.
Temos feito levantamentos sobre biopirataria e verificado que, em lugares
como o Vale do Javari, por exemplo, onde o ecoturismo vem se desenvolvendo com
bastante amplitude, ela é praticada intensivamente, por vezes empregando hotéis de
selva. Visitantes estrangeiros, sob a capa do turismo de selva, têm tido contato com
indígenas das regiões próximas sem o conhecimento e a autorização da FUNAI —
que, devo dizer aqui, embora atuando bastante positivamente, tem dificuldade de
executar o seu trabalho naquela região e também tem acesso a espécies da
biodiversidade.
Este é um tema fundamental: nós ainda não temos a tipificação do crime de
biopirataria. Acredito que deveria haver um esforço do Parlamento no sentido de
buscar a tipificação dessa figura criminal. Nós sempre nos reportamos à Lei de
Crimes Ambientais ou à convenção já mencionada pelo General Santa Rosa,
estabelecida após a realização da ECO-92.
Da mesma forma, quero deixar frisada — porque cabe a ênfase nesse sentido
— observação sobre a atuação das Organizações Não-Governamentais. São

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organizações de direito privado, sem fins lucrativos, mas com alcance e objetivos
sociais. Muitas delas trabalham positivamente em lugares em que o Estado não está
presente, e na Amazônia nós constatamos isso amiúde.
Dada a grande dimensão territorial, há rarefação da presença do Estado
brasileiro. Então, algumas Organizações Não-Governamentais instituídas em
convênio com setores competentes do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério
da Justiça, por intermédio da FUNAI, vêm realizando ações de Estado. E o fazem
muito bem. Mas existem ONGs que poderiam muito bem responder por crime de
falsidade ideológica, biopirataria — insisto, se estivesse prevista em lei —, evasão
de divisas, lavagem de dinheiro e outros.
A Agência Brasileira de Inteligência, em parceria com outros órgãos
governamentais, em especial a Polícia Federal e o IBAMA, com quem fizemos um
convênio há 2 anos, vem atuando de maneira bastante efetiva nesse sentido,
embora seja um grão de areia na imensidade amazônica. O Estado brasileiro,
embora possua disposição, ainda não tem capacidade de estar presente ali
integralmente.
Quero lembrar um momento importante para a tese. Muito se fala da
internacionalização da Amazônia. Hão de se lembrar todos os amazônicos e
amazônidas aqui presentes que um dos primeiros pensadores brasileiros a tratar da
questão foi o ex-Governador do Amazonas Arthur Cezar Ferreira Reis, que nos anos
1950 escreveu um livro que ainda hoje é básico — está na sua quarta edição;
deveria haver mais — na compreensão desse fenômeno: A Amazônia e a Cobiça
Internacional.
Hão de lembrar todos os que têm memória histórica — uma parte, vejo, é de
jovens, mas refiro-me a todos aqueles que têm interesse na história recente do
Brasil — que na mesma época se deflagrava, a partir da Capital Federal, então Rio
de Janeiro, a campanha O petróleo é nosso. Essa campanha rendeu a pujança que
o Brasil tem hoje na área dos combustíveis minerais, a grande empresa que é a
PETROBRAS. Mas idêntica campanha, no mesmo período histórico, não aconteceu
a partir de um movimento de conscientização, como mencionado, pelo
ex-Governador Arthur Reis.

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Vivemos isso neste momento. Muito se discute a internacionalização, e


deveríamos discutir a “nacionalização” — entre aspas —, ou seja, nacionalização no
sentido de integração. Por vezes, o Centro-Sul não conhece a Amazônia, não
entende a Amazônia, e precisa compreendê-la para perceber que ali não estão os
problemas, mas as soluções. Uma delas, a do biodiesel, como mencionado pelo
General Santa Rosa. Ali talvez tenhamos a resposta às grandes necessidades de
combustível limpo, de auto-suficiência e de presença maior do Brasil nesse mercado
nos próximos anos, mediante cultivos extensivos de palma de dendê.
Temos pesquisas relevantes feitas por um instituto dos mais importantes do
Brasil e alvo de ações insidiosas de cooptação, de infiltração, por vezes de
espionagem, que é a EMBRAPA. Pesquisas e estudos feitos pela EMBRAPA
demonstram que nós temos essa real capacidade. E a Amazônia, naquele espaço
entre o cerrado e a floresta, fornece o elemento natural para isso. Talvez tenhamos
ali a resposta.
Há outras questões que trago aqui de forma complementar à que já foi
exposta pelos debatedores e expositores que me antecederam. Uma delas é a
questão do crime transnacional, uma das grandes ameaças ao Estado Democrático
de Direito. Nós o temos no nosso subcontinente de maneira tangível, concreta. O
Brasil tem 16 mil quilômetros de fronteira. Mais de 9 mil dos limites fronteiriços do
Brasil pertencem a porções amazônicas que dividimos com países vizinhos. Tal
como mencionado anteriormente, 4 desses países são produtores de drogas de
origem natural. O Paraguai não corresponde à região amazônica, naturalmente, mas
entra nesse contexto porque por lá transita droga que vem também da Bolívia.
Então, Bolívia, Peru e Colômbia são países que resultam para o Brasil, embora não
o façam de moto próprio, em graves problemas, devido às dificuldades de fiscalizar
e controlar tão extensa fronteira.
A nossa fronteira mais controlada e mais fiscalizada, que não fica na região
amazônica, é uma das nossas 10 tríplices fronteiras, a mais comentada: e é onde
ocorre o maior número de ilícitos. Imaginem então todos os senhores e senhoras os
que ocorre nessa extensa, grande e porosa linha de fronteira, particularmente
porque na Amazônia nós temos os rios de penetração, que nascem nas encostas
orientais dos Andes e vêm atravessando o território brasileiro para desaguar no

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Oceano Atlântico. Temos o caso do Rio Caquetá, que é o nosso Juruá; do Rio
Putumayo, que é o nosso Içá; o Negro; o Maranhão, que é o nosso Solimões. Enfim,
esses rios todos, além daqueles que fazem fronteira natural particularmente com o
Rio Javari, são pontos de entrada de drogas de origem natural produzida nesses
países. Refiro-me em especial à cocaína.
Embora exista o Plano Colômbia, o Plano Consolidación, embora exista o
pesado e grande investimento financeiro que fazem os Estados Unidos em apoio à
contenção da guerrilha e do narcotráfico, hoje as áreas de cultivo de coca na
Colômbia se ampliaram e estão em áreas sob controle das FARC.
Uma das principais frentes de atuação das FARC, que é a Frente 16, atua em
espaço próximo ao território brasileiro na Cabeça do Cachorro, nas proximidades da
Serra do Caparro. Ali ocorre um fenômeno que vem acontecendo também em outros
lugares nessa extensa faixa de fronteira, que é o fenômeno do escambo, da troca de
drogas por armas, que vão alimentar a guerrilha, fortalecê-la na Colômbia, enquanto
a droga que dali se origina entra em território nacional e vai para os países
consumidores.
Apesar da Lei do Abate, apesar da presença das nossas Forças Armadas, em
especial da Força Aérea Brasileira, em regiões de trânsito dessa droga, o fenômeno
ainda ocorre porque os narcotraficantes se utilizam de modelos intermodais de
tráfico, combinando o transporte aéreo com o fluvial e o rodoviário. Com essa
combinação, eles conseguem burlar, iludir a vigilância que com muita dificuldade a
Polícia Federal, as polícias estaduais e, por vezes, as Forças Armadas vêm fazendo
nessas regiões. Em conseqüência disso, hoje verificamos aumento da criminalidade
no Brasil em níveis nunca antes considerados.
Quero aduzir a questão da Bolívia. Desde janeiro de 2006, quando foi eleito o
Presidente Evo Morales, foram adotados procedimentos conjuntos entre Estados
Unidos e Bolívia para a erradicação de coca não-autorizada, visto que a Bolívia tem
áreas em que a coca é produzida de forma legal para uso ritual, nativo, cultural. A
área do Chapare, que é próxima ao território brasileiro, no Trópico de Cochabamba,
vem aumentando sua porção, sua área de cultivo de coca.
Quero lembrar que Evo Morales foi eleito Presidente da Bolívia, mas que
ainda assim continua presidente das 6 confederações de produtores de coca

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naquele País. E não poderia deixar de sê-lo, porque daí advém parte de seu poder
político. Ocorre que o controle sobre a produção de coca na Bolívia é bastante
insignificante, e a área de cultivo vem aumentando, com um fim único: a produção
de cloridrato de cocaína.
Entretanto, dada a ocorrência de uma operação internacional de grande efeito
e sucesso, que é a chamada Operação Púrpura, hoje o acesso a determinados
reagentes químicos que entram na produção do cloridrato de cocaína é dificultado.
Um deles é o permanganato de potássio — daí o nome da operação, pela sua cor.
Em conseqüência, a qualidade da cocaína proveniente da Bolívia é
baixíssima em termos de alcalóide de cocaína. Essa cocaína que não tem acesso
aos grandes mercados internacionais é a que fica em nosso País para abastecer o
consumo local, por vezes e quase sempre mesclada com todo tipo de pó branco. Aí
temos o consumo mais deletério possível, uma abundância de oferta de drogas nas
Regiões Sul e Sudeste, particularmente.
Outro aspecto muito importante que cabe frisar é a atenção que devemos dar
à estabilidade política, econômica e social nesses países vizinhos.
Comentava o primeiro expositor, o Delegado Mauro Spósito, sobre a questão
do Tahuantisuyo. O que é Tahuantisuyo? O Império Inca foi um dos grandes impérios
indígenas da América, e era chamado de Tahuantisuyo. Correspondia à área
geográfica que hoje compreende vários países. Tinha sua sede em Cuzco, a capital
imperial, e se estendia pela Bolívia, pelo Peru, pelo Equador, enfim. Há um
movimento étnico indigenista que busca recuperar o antigo fausto desse império
com uma proposta diferente, igualmente socialista como era então. Isso está
produzindo uma série de reverberações, o fortalecimento de organizações de
partidos dessa natureza e a construção de um sistema de alianças que pode vir a
produzir reflexos nas relações entre países da América do Sul. Isso também atrai o
interesse das grandes potências no sentido de melhor conhecer esse fenômeno.
Nesse sentido, a aliança Venezuela/Bolívia é algo que devemos levar em
consideração até para evitar situações possivelmente mais delicadas ao interesse
nacional nesses países.
Gostaria de falar um pouco sobre outras questões. Uma delas — e aqui cabe
mencionar, talvez tenha sido o moto e certamente fortaleceu a intenção de realizar

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esta audiência pública, que julgo fundamental — foi a publicação do relatório do


GTAM pela imprensa, no dia 29 de janeiro; aquele mencionado pelo General Santa
Rosa.
A ABIN tem várias iniciativas voltadas para a Região Amazônica, uma delas
no âmbito SISBIN. O grupo de trabalho da Amazônia não é da ABIN, mas do
SISBIN. Outros órgãos atuam nisso, e os relatórios são feitos com base na
observação do que coletam os que viajam, os que participam, os que testemunham,
os que entrevistam autoridades e técnicos nessas regiões. Então é uma visão muito
pessoal, subjetiva, por vezes, da situação.
Esses relatórios, tal como publicados na imprensa, nos mostram alguns
aspectos que também gostaria de abordar. Um deles é relativo à presença
norte-americana na área. E fico à vontade, sinto-me confortável para tratar disso,
porque em recente passado fui Oficial de Ligação Brasileiro junto a um órgão de
controle e combate a drogas e terrorismo nos Estados Unidos, onde tive
oportunidade de visitar algumas dessas bases que antes nos aguçavam o
conhecimento. Percebi e me manifesto de maneira clara que elas são
exclusivamente voltadas à atuação contra o narcotráfico. Após o 11 de setembro as
prioridades de política externa, a agenda de política externa americana,
particularmente em termos de segurança, se modificaram bastante. O combate ao
narcotráfico reduziu-se bastante, embora se mantenha pontual, em especial na
Colômbia, em detrimento da agenda de combate ao terrorismo. Então essas bases
mencionadas, que a imprensa também noticiou, são voltadas para o narcotráfico.
Algumas já deixaram de existir. O convênio com os países hospedeiros já está
sendo denunciado. Mas isso não significa menor ou maior capacidade de os
Estados Unidos atuarem na região. No entender da ABIN, significa, simplesmente,
que elas estão voltadas para a luta contra o terrorismo. E não vemos, pelo menos
agora, nenhuma tentativa de cerco estratégico ao Brasil, tal como foi mencionado.
Há que se ter equilíbrio na análise de todas essas questões.
Entendo que as questões mais significativas de interesse nacional estão
ocorrendo hoje na Amazônia. Nós — e aqui a responsabilidade é da Câmara, e por
isso saúdo a Deputada Vanessa Grazziotin pela iniciativa — precisamos fazer essa
discussão. É fundamental iniciar uma ampla discussão sobre a Amazônia, inseri-la

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no contexto nacional, por meio de processos educativos; falar sobre a Amazônia;


envolver o cidadão brasileiro na questão da Amazônia; fazer com que os cidadãos
brasileiros tenham a compreensão do que hoje ocorre na Amazônia; discutir a
presença ou não de imensas jazidas de minerais estratégicos, tais como o nióbio, o
urânio, em áreas que coincidentemente correspondem a terras indígenas, nos
limites, nas terras altas.
Se olharmos desde a Serra do Caparro, na Cabeça do Cachorro, até o
oriente, passando pela Serra do Tumucumaque até as proximidades do Oiapoque,
vamos ver evidências, apontadas pelo DNPM e outros órgãos, da existência de
jazidas de minerais da mais alta importância estratégica. Limitar o tamanho dessas
terras indígenas talvez seja o momento de fazê-lo. Talvez seja o momento de iniciar
uma discussão nesse sentido. Sei que o Senador Mozarildo Cavalcanti tem um
projeto que propõe diminuir o tamanho da reserva indígena Raposa Serra do Sol.
Temos recebido relatórios bastante importantes sobre esse tema. Temos
informações de que indígenas do lado de lá da fronteira da Guiana vieram para o
Brasil antes da demarcação. Temos informações de que algumas malocas,
conhecidas como malocas da homologação, foram ocupadas por indígenas que
eram do lado de lá da Guiana. Há evidências de que o laudo antropológico que deu
origem a isso teria sido falseado também.
Cabe — e a ABIN e outros órgãos federais se dispõem a fazê-lo —, fazer uma
investigação maior nesse sentido. A discussão “desenvolver ou preservar” tem de
estar presente no cotidiano de cada brasileiro, não só do amazônico ou do
amazônida, mas também de todos os brasileiros.
Em 22 de março comemora-se o Dia da Água. Cada vez mais cresce a
discussão sobre a gestão internacional dos bens comuns: as florestas e os recursos
hídricos. Todos sabem que um dos grandes fatores de contencioso entre países é a
falta de fontes d’água, tão abundantes no Brasil.
O Rio Eufrates, que é o rio que deságua em Basra, no Golfo Pérsico, sai da
Turquia e vai para a Síria. A Turquia construiu algumas hidrelétricas e diminuiu a
vazão desse rio, o que levou a uma situação de fricção tão grande entre esses
países que, devido à simetria de poder entre eles, a Síria teve de recorrer ao que
não admite tê-lo feito, ou seja, a grupos que atuam de maneira insurgente, fazendo

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terrorismo mesmo dentro da Turquia — curdos, armênios e outros. Talvez amanhã o


mundo tenha de entrar em conflito pela questão da água. Relatórios da ONU
apontam nesse sentido. E o Brasil tem essa benevolência que Deus nos deu em
termos de recursos hídricos de toda ordem. Cabe-nos preservá-los.
A Agência Brasileira de Inteligência — e falo isto com grande orgulho — é dos
poucos serviços de inteligência que têm “brasileira” no nome. Podem observar KGB,
Mossad, CIA, nenhuma dessas tem o nome do país. A Agência Brasileira de
Inteligência tem no seu símbolo assim escrito “Em defesa do Brasil”. A ABIN é um
daqueles órgãos que se junta aos demais, ao Exército Brasileiro, à Marinha, à Força
Aérea, à Polícia Federal, ao IBAMA, ao DNPM, ao INPA e a outros e empunha essa
bandeira. Temos de marcar muito claramente que quem defende os interesses dos
brasileiros não é uma organização não-governamental, que é financiada pelo
exterior; somos nós, brasileiros.
Muitos se lembram de Bismarck, que é conhecido por uma frase muito
importante, um de seus pensamentos: “Leviano é aquele aprende à custa de sua
própria experiência e não da experiência alheia.” Ele mencionava isso, porque era o
Chanceler de uma Alemanha que se unificava à custa da pressão de adversários
poderosos, da França de então. E ele aprendeu isso com a unificação italiana, que
foi muito dolorosa.
Há outra frase de Bismarck que não é tão conhecida: “Riquezas minerais em
poder de Estados que não podem ou não querem utilizá-las se transformam não em
benefício, mas em ameaça, ameaça a si próprio”. O Brasil tem imensas riquezas que
ainda não estão mapeadas. Vamos protegê-las, vamos preservá-las?! Quem está
preservando para nós?! As ONGs, mas em nome de que interesse?! Para usá-las no
futuro?!
Essas questões são muito candentes.
Para finalizar, quero cumprimentar a todos, especialmente a Presidenta da
Comissão, pela iniciativa de ter convocado esta audiência.
O Brasil precisa conhecer a Amazônia, precisa discuti-la. Só assim vamos
efetivamente ocupá-la, mais do que com a presença humana, com o conhecimento
sobre esse pedaço que, como disse o General Santa Rosa, é nosso, é do Brasil.
Muito obrigado.

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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - A Mesa agradece ao


Dr. Paulo Buzanelli a participação.
Passaremos para a próxima fase da nossa reunião.
Informo aos Parlamentares que ainda não se inscreveram que a lista de
inscrição se encontra sobre a mesa. V.Exas. podem fazê-lo neste momento.
Passaremos a palavra aos oradores inscritos.
O SR. DEPUTADO ÁTILA LINS - V.Exa. é autora do requerimento, tem
prioridade.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Sou autora do
requerimento, mas, como estou na Mesa, vou abrir mão, temporariamente, dessa
prioridade.
Passo a palavra ao primeiro inscrito, que é o Deputado Márcio Junqueira.
Deputado Márcio, antes gostaria que aprovássemos uma nova metodologia
de trabalho.
De acordo com o Regimento, cada Parlamentar tem direito a 3 minutos para
fazer seus questionamentos e igual tempo, os expositores, para fazerem a réplica e,
em seguida, a tréplica.
Como já temos 13 Parlamentares inscritos, sugiro que os questionamentos
sejam feitos em 3 blocos, com 4 ou 5 Parlamentares em cada um. Ao final de cada
bloco os expositores teriam a palavra para responderem às perguntas. Seriam, no
máximo, 5 minutos. Mais do que isso é exagero, diante de uma relação de
Parlamentares inscritos tão extensa!
Todos concordam com essa metodologia?
O SR. DEPUTADO CARLOS SOUZA - Deputada, depois dos
questionamentos de 3 Parlamentares ouviríamos as respostas?
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Aí haveria 5 blocos,
Deputado Carlos Souza.
O SR. DEPUTADO CARLOS SOUZA - Um bloco com mais do que 3
Parlamentares fica muito confuso, Deputada. Perdem-se as perguntas.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Vamos ver a
quantidade de questionamentos.

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Os senhores têm capacidade de anotar os questionamentos? Vamos ver, com


o andamento dos trabalhos. Às vezes, não são tantos questionamentos, mas, sim,
uma oportunidade a mais para os Deputados se pronunciarem. Vamos fazer esse
monitoramento.
Todos concordam em levar os trabalhos dessa maneira, por blocos de
Parlamentares? (Pausa.)
Perfeito.
Depende da quantidade das perguntas. A princípio, 4 Parlamentares
comporão um bloco, para não ficarem nem 5 nem 3. A princípio fazemos de 4. A
base do sucesso é a negociação.
Deputado Márcio Junqueira, V.Exa. dispõe, regimentalmente, de 3 minutos.
São 16h47min.
O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Deputada Vanessa Grazziotin,
primeiro, eu quero agradecer a V.Exa. pela maneira positiva e responsável com que
está tratando do assunto.
Nós queríamos aproveitar a presença das autoridades que se encontram aqui
para mostrar algumas situações do nosso Estado e assim começarmos a tratar da
problemática da Amazônia, para que não caiamos na repetição e aqui haja só mais
uma audiência pública.
Vejo homens e mulheres verdadeiramente imbuídos do sentimento de iniciar
um processo, como muito bem disse o Dr. Márcio Paulo Buzanelli, de
nacionalização.
Se V.Exa. permitir, gostaria de exibir aqui um vídeo de 4 minutos.
Posteriormente, os Deputados poderão avaliar. Entendo de suma importância a
exibição desse vídeo, até porque há aqui Deputados de outros Estados. Depois, eu
vou tecer alguns comentários, muito rapidamente.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Segundo o Deputado
Átila Lins, V.Exa. abriria mão do seu tempo, uma vez que seria gasto com o vídeo.
V.Exa. já havia me apresentado essa solicitação.
Como estamos numa reunião de audiência pública, penso que cabe aos
Parlamentares a decisão. V.Exa. iria dispor de todo o seu tempo para passar o
vídeo. É isso?

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O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - São 4 minutos. Se os


companheiros entenderem que tem que ser consumido o meu tempo...
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Algum Parlamentar é
contrário à solicitação do Deputado?
Deputado Praciano, V.Exa. tem a palavra.
O SR. DEPUTADO PRACIANO - Não, muito pelo contrário. Não tem sentido
passar o vídeo sem que haja uma complementação por parte do Deputado. Acho
que, além dos 4 minutos, 2 ou 3 minutos seriam necessários para S.Exa. comentar.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Perfeito.
Dois minutos, a Mesa concede a V.Exa.
O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Obrigado, Deputado Praciano.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Está tudo pronto para
que o vídeo seja passado? (Pausa.)
Enquanto os técnicos preparam o aparelho, vou passar a palavra ao próximo orador
inscrito, o Deputado Ilderlei Cordeiro.
O SR. DEPUTADO ILDERLEI CORDEIRO - Primeiramente, quero agradecer
a Deus por mais este grande dia, aos Deputados Federais e aos nossos convidados
que vieram aqui nos passar um pouco de seu conhecimento sobre a Amazônia,
principalmente para os Deputados novatos.
Tenho uma pergunta para cada palestrante. A primeira pergunta é para o
General Mayanard Marques de Santa Rosa. Faço essa pergunta em nome do meu
Estado. No Acre, o batalhão que vai para as fronteiras é muito pequeno. Enquanto
isso, ouvimos várias denúncias de exploração ilegal de madeira, que sai do País
pela fronteira com o Peru. Contrabandistas peruanos são presos, mas não temos
como trazer a madeira de volta para beneficiar nosso povo com casas populares.
Com isso, cada vez mais ficamos à mercê da destruição da nossa Amazônia. Há
vários corredores de passagem de drogas na região do Juruá. Pergunto: como o
Exército, com toda sua estrutura montada na região do Juruá, pode fortalecer a
fiscalização nessas passagens?
Outra pergunta. Com certeza, temos tanto medo de tropas estrangeiras, mas
a qualquer momento podemos ter a próxima guerra contra nós. Existem tropas

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estrangeiras fazendo curso e aprendendo a conhecer nossa Amazônia? Esse é um


problema muito sério. Temos que tomar uma posição contra essa situação.
A outra pergunta é para nosso querido companheiro Dr. Mauro Spósito, da
Polícia Federal. O efetivo da Polícia Federal no Acre é muito pequeno,
principalmente nas fronteiras. Hoje, na região do Juruá, não chega a 20 policiais
federais trabalhando naquela região. O que nós, Deputados Federais pelo Acre,
podemos fazer para que a Polícia Federal aumente seu efetivo no nosso Estado?
A outra pergunta é dirigida ao Márcio Paulo Buzanelli. A ABIN tem
conhecimento do problema da biopirataria na Amazônia? Tudo quanto é tipo de
espécie animal ou vegetal, o que quer que seja, está sendo levado para fora do
nosso País. Por que não se toma uma atitude?
Quero comentar um pouco sobre o que nosso amigo acabou de falar do
Secretário da PNUMA, que deu depoimento de que a Amazônia é de toda a
Humanidade. Por que os Estados Unidos e os países ricos da Europa não dividem
seu potencial econômico conosco? Por que eles querem tanto entrar na nossa
Amazônia? Por que as riquezas deles não são divididas conosco? Temos que
mostrar para eles que a Amazônia é do Brasil, é brasileira. E que estamos dispostos
a preservá-la.
É um grande erro aprovar leis que dispõem sobre o arrendamento de nossas
terras para empresas estrangeiras explorarem nossa madeira. Eles já vêm aqui,
usando de ONGs, para explorar a nossa Amazônia. Imaginem uma empresa dessas
fazendo projetos de manejo na região! Lá dentro eles conseguem colocar, com
certeza, um laboratório e, livremente, vão pesquisar mais a fundo as nossas
riquezas.
São essas questões que temos de analisar. Não podemos aprovar leis sem
antes fazer uma análise mais profunda do que nos pode acontecer, no futuro, com a
aplicação dessa lei.
Outro caso é o da integração entre os países sul-americanos. Hoje houve a
reunião do ISA, quando se discutiu todas essas ligações sul-americanas. Eu e o
Deputado Urzeni Rocha participamos dessa reunião. Fiz um requerimento
solicitando uma audiência pública, para ouvir como está sendo resolvido esse
problema, quais as prioridades. O nosso povo não está sabendo o que é prioridade.

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E nós somos prejudicados na região amazônica. Em Cruzeiro do Sul, temos uma


ligação com Pucallpa, no Peru, a menos de 250 quilômetros. Para passarmos para
Pucallpa, temos que atravessar a fronteira com a Serra do Divisor e os
ambientalistas não deixam. Mas vamos trabalhar. Precisamos da ajuda de toda a
bancada federal da Amazônia para nos ajudar a desenvolver a região.
Outra questão. A Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, somente serve
para cobrar proibições na Amazônia. Enquanto isso, não vemos um igarapé ser
despoluído no Acre para beneficiar a população. Pergunto: o que a Ministra está
fazendo para a proteção da Amazônia? Tudo indica que somente há influência
internacional no Ministério do Meio Ambiente para proteger a Amazônia, porque
nada é feito em favor do desenvolvimento na nossa região. Trago só um exemplo.
Por causa da proibição do herbicida da malária, há mães-de-família perdendo seus
filhos, e nada é feito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Gostaria de fazer uma
sugestão aos demais Parlamentares. Precisamos adotar um critério para que o
debate seja um pouco mais rápido, em virtude de já ter começado a Ordem do Dia. A
qualquer momento o Presidente da Casa poderá determinar o encerramento dos
trabalhos. Isso representará um prejuízo para todos os que querem participar.
Não adianta, Deputado Asdrubal Bentes, fazermos blocos e apenas 1
Deputado fazer 8, 10 perguntas. Isso traz prejuízo para todos os que querem
participar.
Com a palavra o Deputado Asdrubal Bentes.
O SR. DEPUTADO ASDRUBAL BENTES - Sr. Presidente, Srs. expositores,
Srs. Deputados, General Santa Rosa, vou começar com uma expressão de alívio:
Ufa! Até que enfim, já no meu quinto mandato, vejo nesta Casa representantes do
Governo falar da realidade amazônica.
Vínhamos alertando — V.Exa., Presidente, é testemunha — para o perigo da
internacionalização da Amazônia, o que já ocorre, não através da força, mas de
subterfúgios legais. O próprio Governo vem se sucumbindo com a criação de
excessivas áreas de unidades de conservação, áreas essas que engessam o oeste
do Pará. Enquanto isso, áreas indígenas não cumprem o preceito constitucional —
art. 231, § 1º — que exige 4 condições, cumulativas, para que a posse seja

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efetivamente indígena. Eles não preenchem sequer uma, que é a ocupação em


caráter permanente. E mesmo assim são criadas novas áreas. Até nossos tribunais
se sucumbem às pressões externas. Esta é a dura realidade. Eles dão uma
interpretação diversa ao que consta na Constituição. Por sua vez, a FUNAI — já
disse aqui nesta Comissão, em reuniões passadas — já deveria ter sido extinta,
porque não cumpre seu papel constitucional.
Vejam bem. A FUNAI também usou de subterfúgio. Se não me falha a
memória, o art. 67 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias diz que a
União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de 5 anos a partir da
promulgação da Constituição. Em vez de concluir, distorce o texto constitucional, ela
baixando novas portarias, sobrepondo-se à Lei Maior. Assim, ampliou essas áreas
desmesuradamente, criando conflitos onde não existia. É o caso típico de Roraima.
Aliás, V.Sas. disseram que a ausência do Estado é que ocasiona isso.
Em Roraima, General Santa Rosa, presenciamos aquilo que foi o maior crime
que se poderia cometer contra uma unidade da Federação! Participei de uma
Comissão Externa que foi ao Estado e pude verificar que há ameaça de conflito. O
que se repete hoje, conforme está divulgado pela imprensa nacional, é o provável
conflito entre arrozeiros e índios. Essa demarcação não devia ser contínua, mas, por
pressões externas, foi feita de forma contínua. Existem municípios dentro de áreas
indígenas e a Constituição diz que eles têm de sair. Ora, como vamos resolver esse
problema?
Creio que chegou o momento de nos unirmos. Uma coisa estranha,
perdoem-me a franqueza: V.Sas. pertencem ao Governo. Já conhecemos o
Delegado Mauro Spósito há muito tempo e acompanhamos o seu trabalho. O
General Santa Rosa já o conhecia de nome. V.Sas. representam a inteligência, a
segurança na área da Justiça Federal e das Forças Armadas. Que medidas V.Sas.
sugeriram ao Governo para evitar esse desenfreado avanço de nações, usando ou o
meio ambiente ou áreas indígenas, ou servindo-se de outros subterfúgios, para
internacionalizar a Amazônia? Quero saber o que existe no âmbito da área de
segurança. Não tenho receio algum de conflitos armados. A Inteligência certamente
já detectou que são as grandes potências que estão investindo dinheiro em ONGs,
organizações essas que prestam um desserviço ao Brasil, recebendo em euros ou

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dólares, para entregar nossas riquezas. Aliás, é muita coincidência ser justamente
nas áreas indígenas que existem minérios estratégicos. É muita coincidência que
justamente nessas unidades de conservação é que existam as maiores riquezas da
Amazônia. Nós é que temos de preservar essa riqueza toda para os brasileiros.
Hoje, lamentavelmente, o macaco vale mais que o ser humano. Se eu tiver
uma discussão com V.Sa., General, e lhe der um tiro e, desgraçadamente, V.Sa.
morrer, como sou réu primário, de bons antecedentes, tenho domicílio certo,
ocupação, certamente vou responder ao processo em liberdade. Mas, se eu matar
um macaco, vou para o xilindró e não há quem me tire de lá! Creio que há uma
distorção muito grande. A ecologia tem que ter como objetivo maior o ser humano.
Parabéns a todos pela exposição. Hoje estou gratificado por ter encontrado
pessoas de bom senso, pessoas que comungam do nosso sentimento de
brasilidade.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Passo a palavra agora para
a Presidenta da Comissão, Deputada Vanessa Grazziotin.
A SRA. DEPUTADA VANESSA GRAZZIOTIN - Muito obrigada, Sr.
Presidente.
Sras. e Srs. Deputados, nobres convidados, vou fazer um enorme esforço
para ser sucinta em minha intervenção. Agradeço aos senhores que aqui vieram
para debater um assunto importante não só para a bancada da Amazônia ou para
aqueles que lá vivem, mas também para todo o País. Agradeço ao Dr. Mauro
Spósito, ao General Santa Rosa e ao aniversariante do dia, Dr. Buzanelli. Obrigada
pela presença dos senhores aqui.
Não sou daquelas que considera delírio o fato de a Amazônia ser cobiçada
internacionalmente. Isso não é delírio. Em minha opinião, essa é uma realidade.
Também não considero exagerado qualquer discurso que anteveja um futuro conflito
internacional em torno do interesse da água. O conflito de hoje é em torno da posse
do petróleo, e todos sabemos disso. Os Estados Unidos não estão preocupados
com os direitos humanos do Iraque, das mulheres do Oriente. Não é esse o
problema. A questão é econômica.

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Vi o General Santa Rosa fazer alguns comentários sobre afirmações do


Secretário do PNUMA, órgão de meio ambiente das Nações Unidas. Há alguns dias,
esteve no Brasil o Diretor-Executivo do PNUMA, Sr. Achim Steiner, que se reuniu
com o Governo brasileiro e com o setor privado. Ele concedeu uma longa entrevista
ao jornal Folha de S.Paulo. O Sr. Steiner disse: “Talvez os bens da Amazônia
possam ser muito mais produtivos e viáveis se ela continuar em pé”. Concordo
plenamente com ele. Acho que a nossa riqueza é maior se a floresta permanecer em
pé.
Em seguida, ele disse: “Claro que há questões sensíveis, pois o Brasil, de
maneira correta, vê aquela parte da Amazônia dentro de suas fronteiras nacionais, e
não como um bem internacional sobre o qual outros possam tomar decisões”. Isso é
o que ele chamaria o ponto de partida na defesa dessa discussão. E continua: “Se
for possível lidar com a preocupação da soberania enquanto se lida com as
oportunidades do mercado global, talvez existam formas de desenvolver essas
oportunidades sem contradizer os interesses soberanos do Brasil”.
Li na imprensa, com muito cuidado, tudo o que foi divulgado pelo relatório.
Por isso, achei que esta audiência seria não só importante, mas também necessária
para os Parlamentares terem a oportunidade de debater com os senhores questões
tão sensíveis levantadas no relatório: terra indígena, presença de ONGs de origem
estrangeira, bases militares estadunidenses que avançam não só na Amazônia
brasileira, mas na Amazônia continental; enfim, ausência do Estado.
Vou destacar somente uns pontos porque não tenho tempo para falar de tudo.
Primeiro, o relatório serve para subsidiar o Conselho Consultivo do Sistema
Brasileiro de Inteligência.
Primeira pergunta: qual a eficácia na elaboração das políticas públicas, não
só nas de defesa, que tem um relatório como esse do GTAM? Ele não é o único. O
nosso sistema de inteligência aborda aspectos que vão muito além da Amazônia.
Há uma segunda questão que levanto, quando se fala de ONGs. Primeiro,
não podemos generalizar o que seria um erro. Eu fico muito triste quando ouço —
infelizmente, é o que mais ouvimos — que todo Parlamentar é corrupto, que a
Câmara é corrupta. A Câmara não é corrupta; os Parlamentares não são corruptos.
Talvez entre os Parlamentares haja alguns cuja conduta não seja aceitável. O

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mesmo acontece com entidades governamentais. Na minha opinião, não podemos


incorrer no erro de generalizar e dizer que nenhuma entidade presta. Existem
entidades de todo tipo.
Participei da CPI da Biopirataria. Estive com o Dr. Mauro Spósito e sei que
existem várias entidades não-governamentais que se utilizam dessa fachada para
remeter, ilegalmente, recursos genéticos do Brasil para o exterior.
Por outro lado, as ONGs, na minha opinião, se proliferam porque o Estado
consente. E não é só isso, mas também porque chama. Dou como exemplo o que
ocorreu no Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando quem
assistia a saúde da população indígena era o Estado brasileiro. Hoje, a assistência a
saúde indígena está terceirizada, e ninguém diz nada. O Estado tem que voltar a
assistir a população indígena. É dele a tarefa de assistir a saúde dos indígenas.
Esse é um ponto que tem de unir todos nós. Não basta ficarmos falando mal de
entidade não-governamental; temos que chamar a atenção do Estado.
Quanto às terras indígenas, acho incorreto dizerem que tem muita terra para
pouco índio. Hoje os índios estão se miscigenando. Aliás, eu sou um exemplo disso.
A minha filha é uma cabocla nascida naquela região. O Brasil era dos índios. Eram
mais de 7 milhões e hoje temos menos de 500 mil índios.
A questão da extensão das terras não deve ser o centro da nossa
preocupação. Digo isso com todo o carinho pelo pessoal de Roraima, que vive um
problema sério. Precisamos resolver esse problema. O problema não é a extensão
da demarcação. Na minha opinião, esse é um problema menor do que a questão
das terras que estão nas mãos de grileiros.
Imagina, Dr. Buzanelli, se essa terra, rica em minérios, não fosse demarcada
e estivesse na mão de um grileiro? Quantos grileiros existem na Amazônia? De
acordo com a CPI, somente 1 grileiro detinha 13 milhões de hectares. Não era 1
milhão, mas 13 milhões de hectares! Há estrangeiros que também estão se
apossando de grandes extensões de terra. Como o próprio General Santa Rosa
disse, terra indígena é de usufruto do índio, mas de propriedade da União.
Acho que a nossa obrigação — e não sou mais Deputada de Oposição — é
regulamentar o uso econômico das riquezas existentes na terra indígena, discutir a

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mineração, ou seja, como os índios podem utilizar essa riqueza para melhorar a sua
qualidade de vida.
Alguém pode querer mantê-los segregados. O índio quer estudar na
universidade e também quer continuar vivendo na sua terra. Ele não quer ser
expulso do interior para as metrópoles. E nós temos que propiciar isso a eles.
Para concluir, quero falar sobre os conflitos fundiários, um problema. A
Campanha da Fraternidade tem como tema Amazônia e Fraternidade e se preocupa
com os conflitos. Acho que o nosso sistema de inteligência tem que se preocupar
mais com essa questão.
Muito obrigada, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Deputado Marcio Junqueira,
vamos assistir ao vídeo. Tudo está pronto; o áudio já está funcionando.
O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Perfeito. Obrigado.
(Segue-se exibição de imagens.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Deputado Marcio Junqueira,
como bem disse o Deputado Praciano, não teria sentido mostrarmos este vídeo que
V.Exa. trouxe do Estado de Roraima se V.Exa. não tivesse oportunidade de fazer
algumas observações. Portanto, a Mesa lhe concede 2 minutos.
O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Obrigado, Deputado Carlos
Souza.
Entendo que ficou claro, Dr. Mauro Spósito, a forma como a Polícia Federal
atua no Estado. Fica complicado ouvir suas afirmações aqui hoje, em defesa da
Amazônia, enquanto vemos que a Polícia Federal instrumentaliza sua absurda força
a serviço de interesses escusos. Não sou eu que estou dizendo isso, mas as
imagens aqui mostradas. Se o senhor quiser, vamos lhe mandar, com mais detalhes,
imagens do absurdo cometido no meu Estado, um ente da Federação.
Tenho aqui — vou repassar também aos senhores — um ofício datado em 22
de janeiro de 1979. Nele, o encarregado do INCRA em Roraima pede: “Tendo em
vista a deflagração da discriminatória administrativa da gleba Caracaranã,
considerando a insuficiência da informação precisa a respeito das áreas indígenas
naquela localidade e por se tratar de uma ação administrativa com prazos fatais,

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solicitamos o vosso pronto atendimento no sentido de nos informar quais são


exatamente as pretensões desta fundação na gleba supracitada”.
Esmiuçando o assunto. Nesse ofício, o INCRA pede que a FUNAI informe
qual é a área pretendida, em Raposa Serra do Sol, Caracaranã. A FUNAI, no dia 23
do mesmo ano, responde: “Atendendo à solicitação do ofício, devolvo o mapa — ele
está ali com o Dr. Waldemar, se for preciso. Vamos encaminhar cópia dele para os
senhores também. A área de interesse dessa fundação é de aproximadamente 150
mil hectares.” Isso ocorreu em 1979. Estranhamente, os 150 mil hectares se
transformaram em 1,7 milhões de hectares na área de fronteira.
Como é que vamos falar em Defesa Nacional — está aí em suas costas —,
se “nós”, entre aspas, se os dirigentes do País, que são eleitos, entregamos o
Brasil? A História vai mostrar que houve maus brasileiros que o entregaram. A
ocupação no Brasil começa em Roraima. Portanto, na Comissão da Amazônia,
nesta tarde, a História também vai lembrar que homens e mulheres se reuniram para
falar de forma verdadeira sobre o que está acontecendo no meu Estado.
Lógico que eu poderia passar o dia todo aqui tratando deste assunto, mas
sem ofender ninguém, porque estou aqui para clamar, para pedir como brasileiro.
Como disse a nobre Deputada Vanessa Grazziotin ainda há pouco, não existe aqui
Deputados de Oposição ou de Situação. Não vejo nenhum partido aqui dentro; vejo
a necessidade de brasilidade. Esqueçam a discussão partidária. Esta é uma
discussão nacional.
Está aqui: “Para preservar a Amazônia — que tristeza ler e ouvir isso! — o
Brasil depende do dinheiro estrangeiro. Só a Alemanha colocou 85 milhões de reais.
O total de investimento estrangeiro...” Será por quê? Já ouvi isso antes. Já li algo na
História da Borracha no Amazonas, do Deputado Carlos Souza. Foi a benevolência
dos ingleses que nos tiraram a seringa e o poder de crescer, e levaram a borracha
para a Malásia. Essa benevolência eu não quero!
Para concluir, aqui diz o seguinte: “O Presidente do país da Alemanha, Horst
Köhler, esteve na semana passada no Amazonas para conferir o investimento”. Eles
estão vindo constantemente para ver o que estão aplicando. Então, será que a
Polícia Federal não deveria correr atrás, quebrar correntes desses que vêm aqui só
para nos tirar?

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Faço, nesta tarde, uma reflexão e peço que todos façam também: a Amazônia
é nossa?! Se é nossa, então vamos lutar por ela. Peço encarecidamente que não se
esqueçam que o nosso Estado depende desta reunião de hoje. Precisamos
encontrar uma saída para um Estado que está à beira da extinção!
Muito obrigado! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Muito obrigado, nobre
Deputado Marcio Junqueira.
O primeiro bloco já foi concluído. Passo a palavra, agora, aos debatedores.
Vamos começar ouvindo o Dr. Mauro Spósito, que foi questionado agora pelo
último Parlamentar, Deputado Marcio Junqueira. S.Sa. dispõe de 3 minutos para a
resposta.
O SR. MAURO SPÓSITO - Sr. Presidente, gostaria de responder aos
questionamentos dos Deputados.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Souza) - Pois não, à vontade.
O SR. MAURO SPÓSITO - Pela ordem, a primeira pergunta foi feita pelo
Deputado Ilderlei Cordeiro, acerca do efetivo da Polícia Federal.
Realmente, temos uma carência de efetivo muito grande. Um estudo feito, em
1973, demonstrava que o efetivo da Polícia Federal seria de 17 mil homens. Hoje,
temos 11 mil. A partir da Constituição de 1988 tivemos inúmeras outras atribuições
atreladas. Quer dizer, esse é nosso grande calcanhar de Aquiles. Agora, perguntar
por que não se aumenta o efetivo... Tudo isso está atrelado à questão do
Orçamento, algo que não podemos definir. O problema é que realmente precisamos
ampliar o efetivo. Mas o efetivo só pode ser aumentado em decorrência de
orçamento prévio.
O Deputado Asdrubal Bentes pediu o seguinte: quais seriam as medidas
sugeridas para neutralizar essa situação carente que constatamos?
Pelo programa de metas da Polícia Federal, identificamos 3 tópicos utilizados
pelos países em desenvolvimento que são usados como pressão não só contra nós,
mas contra todos os países em desenvolvimento: narcotráfico, meio ambiente e
direitos humanos. Nossa sugestão tem sido sempre no sentido de que devemos tirar
essas bandeiras das mãos de quem nos pressiona e passar a atuar com mais
eficiência nesses campos.

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A Sra. Deputada Vanessa Grazziotin pergunta sobre a eficácia do relatório.


Ora, esse relatório é um documento interno da ABIN; ele ainda não nos chegou às
mãos. Portanto, não é um documento que faça parte do nosso conjunto de
atividades.
Quanto a ONGs, concordo plenamente: elas proliferam diante da ausência do
Estado. Mas não devemos extingui-las, e sim controlá-las. Toda e qualquer atividade
que não tenha controle tende a cair no abuso.
Quanto à pergunta do Deputado Marcio Junqueira sobre a forma de a Polícia
Federal atuar, esse é um direito que nos é assegurado. O que é inviolável, segundo
a Constituição, é o domicílio. Nenhuma terra, seja pública ou privada, pode ser
vedada por correntes para se evitar a fiscalização policial.
O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Dr. Mauro Spósito, meu
questionamento é outro. Como o senhor iniciou sua exposição fazendo uma série de
observações contra a internacionalização, estranhei que a Polícia Federal tenha
essa atitude num Estado da Federação. Não questiono se o senhor estava ou não
cumprindo a lei. O caso é que aquelas pessoas eram brasileiras. Acho que eu terei
de mostrar o vídeo mais detalhadamente para o senhor. Minha pergunta é esta: o
discurso é um e a ação é outra?
O SR. MAURO SPÓSITO - Deputado, o senhor me desculpe, mas o que eu vi
foi a Polícia Federal rompendo a cerca de uma fazenda porque estava sendo
impedida, pelo proprietário ou posseiro da terra, de entrar na propriedade. Isso foi o
que eu vi. Quem quer que seja o responsável pela área — o proprietário, o posseiro,
um pequeno lavrador ou um grande detentor de terras —, esse não tem
competência para fazer isso. Necessitamos de mandado judicial para ingressar no
interior de residências, de domicílios, mas para fiscalizar terras, sejam elas públicas
ou privadas, não necessitamos de mandado judicial.
O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - A Polícia Federal usa claramente
a expressão “vamos entrar à força”. Volto a dizer que não me dou por satisfeito,
porque meu questionamento não obteve resposta. No início de sua apresentação, à
qual todos assistimos atentamente, sentados, o senhor manifestou toda uma
preocupação, mas não vejo a Polícia Federal dizer, por exemplo, que reconhece que
está errado o que está fazendo por lá. Aquilo lá é Brasil, é área de fronteira. Isso

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ninguém questiona. Não vejo nenhuma ação no sentido de tirarmos um Estado


brasileiro do perigo da extinção.
Vamos debater a tarde toda. Só quero registrar que não meu dou satisfeito
com a sua resposta, porque entendo que o senhor não focou na pergunta que eu lhe
fiz.
O SR. MAURO SPÓSITO - Sr. Deputado, permita-me pedir-lhe que formule a
pergunta novamente.
O SR. DEPUTADO MARCIO JUNQUEIRA - Em outra oportunidade. Vamos
tentar marcar uma reunião.
O SR. MAURO SPÓSITO - Terei o maior prazer.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Perpétua Almeida) - Senhores, sei que o
assunto é efervescente e mexe com o sentimento dos representantes de Roraima,
mas vamos em frente, porque não há previsão para tréplica. Se formos permitir a
réplica e a tréplica, os outros Parlamentares inscritos não vão conseguir falar.
Vamos então suspender as réplicas e tréplicas. Cada um faz suas perguntas e
ouve as respostas.
Vamos ouvir outro expositor também questionado.
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Vou responder às perguntas que
foram formuladas diretamente a nós, se me permite a nossa Presidenta.
Nosso Deputado Ilderlei Cordeiro, do Estado do Acre, perguntava o que fazer
para que o Exército Brasileiro fiscalize nossas fronteiras. Pois bem, precisamos
esclarecer que existem as destinações legais. O Exército não é uma instituição
policial. Nós não temos, segundo o art. 144 da Constituição Federal, os encargos
afetos aos órgãos de segurança pública. No caso específico da faixa de fronteira,
cabe ao Exército, subsidiariamente, sem prejuízo da sua destinação constitucional,
exercer algumas ações em benefício da segurança, da garantia da lei e da ordem. É
isso o que está especificado na Constituição. E penetrar em atividades estranhas à
destinação constitucional implica crime de usurpação de função pública, tipificado, o
que nos expõe ao arbítrio do Ministério Público de primeira instância. Por conta
disso, temos de obedecer ao ordenamento jurídico e à destinação constitucional.
Existem orientações estratégicas do exterior no sentido de desprofissionalizar
as Forças Armadas latino-americanas. Nós não podemos desviar nossa preparação,

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nosso preparo para a defesa nacional, para atividades afetas a outros órgãos. É
esse o esclarecimento que eu poderia dar sobre esse assunto.
Quanto à atuação do 4º Batalhão de Infantaria de Selva, devo dizer que essa
é uma unidade com efetivo de 800 homens para cobrir uma fronteira de mais de 2
mil quilômetros. Ou seja, mesmo que desdobrássemos toda a unidade, seria difícil
obtermos rendimento satisfatório.
Quanto à sugestão de que militares estrangeiros não fizessem cursos no
CIGS, quero esclarecer ao nosso Deputado que seguimos o princípio diplomático da
reciprocidade. Nós, brasileiros, fazemos cursos no exterior, e temos, portanto, de
proporcionar aos povos amigos acesso aos nossos cursos. Por esse motivo, muitos
Exércitos fazem cursos no CIGS. Assuntos que sejam, digamos assim, suscetíveis
de proteção, os que têm divulgação contra-indicada pela contra-inteligência, são
vedados ao currículo desses militares que fazem aqui cursos de guerra na selva,
além de outros cursos. Esse é o esclarecimento que posso dar ao Deputado.
Também indagaram por que os Estados Unidos e alguns povos europeus não
dividem seu território. Na semana passada, numa exposição como esta, porém feita
para 47 adidos militares estrangeiros credenciados no Brasil, acreditados pelo
Governo brasileiro, foi apresentada a seguinte frase: a Amazônia, assim como a
Louisiana, a Prússia, a Bretanha e a Escócia, é território nacional, isto é, não
pertence ao patrimônio comum da humanidade. Todas têm a mesma soberania.
Quanto à afirmação de que somos representantes do Governo, eu preferiria
dizer que somos representantes do Estado. Nós, as Forças Armadas,
representamos o Estado, e o Estado transcende o Governo, que muda
periodicamente. Não somos institucionalmente representantes do Governo. Nós
representamos o Estado nacional.
Quanto às medidas sugeridas para que o Governo se contraponha às
pressões internacionalizantes, posso afiançar ao nosso Deputado que existem
inúmeros relatórios, mas o princípio da disciplina nos impede de apresentá-los,
porque eles não iriam contribuir para a harmonia dos Poderes.
Quanto à afirmação da nossa Deputada de que existiam 7 milhões de índios
no princípio, eu diria que as estimativas em que se baseiam os historiadores estão
calcadas no relatório de Frei Carvajal, que foi o relator da expedição de Pedro

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Teixeira que explorou o Rio Amazonas, realizada em 1645, se não me engano.


Nesse relatório, o Frei Carvajal estimava em 3 milhões o número de pessoas, ou de
almas, como ele dizia, e em 150 o número de nações indígenas.
Era isso o que eu podia esclarecer neste momento.
Muito obrigado pela atenção.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Perpétua Almeida) - Com a palavra o Sr.
Márcio Paulo Buzanelli.
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Seguindo a ordem, o Deputado Ilderlei
Cordeiro nos perguntou o que fazer a respeito da biopirataria. Como eu mencionei
anteriormente, uma lei específica ainda é inexistente, então nos reportamos à Lei de
Crimes Ambientais. Vou me referir a uma menção que fez o Deputado Marcio
Junqueira quando tratava da seringueira.
Em 1876, um cidadão britânico chamado Henry Wickman levou, primeiro para
o Tapajós, depois para o Kew Gardens, onde fica o Jardim Botânico Real Britânico,
70 mil sementes de seringueiras, de Hevea brasiliensis. Naquele momento, o
monopólio brasileiro de cultivo exclusivo da borracha deixou de existir. Em 30 anos,
os britânicos desenvolveram um espécime resistente a mudanças climáticas e a
determinados fungos que assolam a seringueira e passaram a plantá-la na Malásia,
no Ceilão, na Indonésia, suas antigas colônias. Foi quando o Brasil deixou de ser o
principal exportador dessa importante commodity.
Esse é o exemplo mais marcante de biopirataria. Não há outro melhor. Mas
alguns anos antes, exemplares da casca amargosa, de onde se extrai o quinino,
também foram levados por cidadãos ingleses, que o patentearam. Se relacionarmos
outros episódios do gênero, veremos que, desde o final do século XIX, o Brasil, em
especial a Amazônia, tem sido vítima e alvo de uma série interminável de ações de
biopirataria.
Como eu disse, a lei ainda não contempla a biopirataria, que fica como uma
infração administrativa inscrita na Lei de Crimes Ambientais: transferir ou tentar
transferir patrimônio genético. E a pena é mínima, muito pequena. Vejam o que
aconteceu com o nosso País, a decadência que as grandes cidades amazônicas
experimentaram nesse período.

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Outro problema questionado também pelo Deputado Ilderlei Cordeiro são os


corredores de droga no Acre. O Deputado referiu-se especificamente ao Rio Amônia.
Hão de se lembrar todos que o Amônia percorre a Terra Indígena Kampa do Rio
Amônia. E o Amônia, assim como o Azul, são afluentes de um grande rio, o Juruá.
Esse é um grande corredor de drogas, particularmente de pasta base, que entra em
território brasileiro passando pela terra indígena Kampa. Aliás, a etnia kampa vivia
do lado de lá, às margens do Ucayali. Kampas e ashaninkas são índios que vieram
do Peru e ganharam uma terra indígena aqui.
Outra questão que cumpre responder, a da Deputada Vanessa Grazziotin, é
sobre o relatório do GTAM. O relatório do GTAM foi feito por componentes de um
grupo de trabalho multidisciplinar, multiagencial. Fazem parte desse grupo vários
órgãos de inteligência que estão, de acordo com a Lei nº 9.883, de 7 de dezembro
de 1999, sob a coordenação da Agência Brasileira de Inteligência. Cada órgão
desse grupo, ao voltar das viagens, faz o seu próprio relatório. E esse relatório,
assim como outros relatórios de inteligência, compõe um grande caudal que,
examinados por vários especialistas na questão, se transformam nos conhecimentos
que irão influenciar ou assessorar os responsáveis pela edição de políticas públicas.
O que é detalhado no relatório do GTAM é um dos afluentes desse
mencionado grande caudal.
Não devemos generalizar o trabalho das ONGs. Como disse, há ONGs e
ONGs. Há várias organizações que realizam um trabalho bastante produtivo na área
da saúde e de integração educacional junto aos índios, e há outras que, conforme
mencionei anteriormente, poderiam ser muito bem enquadradas em crimes de várias
natureza, a começar pela Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998, que dispõe sobre os
crimes de lavagem de dinheiro.
Há também a questão de o Serviço de Inteligência preocupar-se com
questões fundiárias, para evitar conflitos fundiários. Quero responder, de maneira
oficial, que o Serviço de Inteligência brasileiro preocupa-se com essa questão
principalmente para evitar que conflitos com base em questões de origem fundiária
ocorram em nosso País, que soluções com base na discussão política e no diálogo
sejam adotadas.

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Internacionalização. Há que compreender que internacionalização talvez não


seja ocupação do território. Embora falte uma definição mais adequada, poderíamos
apresentar uma tentativa. Internacionalização talvez seja a baixa capacidade de o
Estado controlar atividades estrangeiras em seu território. Talvez assim cheguemos
a um consenso e, com base nesse entendimento, à adoção de medidas necessárias
para evitar que esse processo continue se ampliando.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Agradecemos aos
expositores. Vamos devolver a palavra a mais um grupo de 4 Parlamentares. Peço,
em nome da Mesa, a todos que sejam sucintos, pois hoje a Comissão está muito
concorrida, pela importância do tema.
Concedo a palavra à Deputada Maria Helena, lembrando que os Deputados
dispõem de 3 minutos para as perguntas. Peço aos expositores que também sejam
concisos nas respostas.
A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - Quero cumprimentar nosso
Presidente e todos os convidados. Prometo que vou tentar fazer minha exposição
em 3 minutos. Agradeço a todos a presença, especialmente ao Dr. Márcio, que
compareceu a esta Comissão no dia de seu aniversário.
Represento o Estado de Roraima. Acho que já deu para sentir que Roraima é
o Estado que vive a maior problemática no que se refere à demarcação de reservas
indígenas.
Hoje, com a demarcação de Anaro e Trombetas/Mapuera, 60% das terras do
Estado estão destinadas aos índios. Roraima comunica-se com a fronteira em área
não indígena apenas por um corredor. À esquerda, temos a Reserva Ianomâmi;
pouco mais à direita, a Reserva de São Marcos, fechando o leste do Estado com a
Reserva Raposa Serra do Sol, que tem mais de 1 milhão e 600 mil hectares. Como
bem disse o Dr. Mauro Spósito, a Reserva Ianomâmi tem mais de 9 milhões e 600
mil hectares. Nessa área encontra-se a maior reserva de minerais do Brasil e uma
das maiores reservas minerais do planeta.
Temos grandes recursos hídricos, belezas naturais que atraem o turismo.
Paradoxalmente, Roraima é um Estado pobre, com uma economia cada vez mais
fraca, com um solo extremamente fértil para a produção de grãos e palmas

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oleaginosas, hoje fonte do biodiesel. Portanto, é um Estado que tem tudo para
crescer e participar do crescimento do País.
Vou tentar ser concisa nas minhas abordagens.
Corredor do narcotráfico. Estamos vulneráveis ao tráfico de combustíveis e de
drogas. E o pior é que malocas de Sorocaima estão sendo usadas, constantemente,
para contrabandistas esconderem combustíveis trazidos da Venezuela. Estamos na
rota do narcotráfico, que vem da Colômbia pela Venezuela, e numa área hoje cada
vez mais desabitada, porque o não índio pode ali penetrar.
Ainda temos nessa área 96 famílias, que serão retiradas. O representante da
Polícia Federal está aqui e sabe muito bem que elas serão retiradas. Infelizmente,
os compromissos do Governo Federal não foram cumpridos. O Presidente da
República assumiu, em cadeia nacional — foi um ato público e divulgado por toda a
imprensa —, que todos os produtores desse região receberiam uma área
equivalente à que estavam ocupando, com solo propício ao cultivo de grãos, se
fosse possível, com irrigação; e que ele destinaria uma área de 150 mil hectares no
Estado para a implantação de pólos de desenvolvimento agropecuário. Infelizmente,
isso não aconteceu. Não houve uma avaliação justa, conforme preconiza a
Constituição Federal, nem indenizações a essas famílias, algumas centenárias na
região.
O que disse o Diretor-Geral da ABIN é verdade. Quando da demarcação, para
povoar a região vieram índios da Guiana que não falavam uma palavra de
português. Havia um laudo antropológico assinado por uma antropóloga que
declarou na Comissão Especial Externa desta Casa que não acompanhou a
demarcação. Portanto, trata-se de um laudo frágil e que sequer foi acompanhado
pelo Governo do Estado à época.
Temos de assumir nossa culpa também, porque alguns representantes da
Comissão nunca compareceram a uma reunião, portanto, não acompanharam o
trabalho de demarcação. Quando a Câmara e o Senado, por intermédio das
Comissões Especiais, propuseram a exclusão da Reserva Raposa Serra do Sol de
áreas importantes para o desenvolvimento do Estado, esses laudos, essas
recomendações do Legislativo não foram seguidas, observadas, nem consideradas.

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Consulto o Diretor-Geral da ABIN e o General Santa Rosa, Secretário de


Assuntos Internacionais, uma vez que se trata de uma região estratégica em
questões internacionais, área de fronteira com 2 países: a ABIN e o Exército foram
ouvidos pelo Governo Federal quando da homologação dessa demarcação realizada
no Governo Fernando Henrique Cardoso?
Consultamos também o Dr. Mauro Spósito: como a Polícia Federal, o
Comando do Exército e o Serviço de Inteligência poderão nos auxiliar a encontrar
uma solução pacífica para a retirada das 96 famílias que ainda lá estão, mesmo que
o Governo não esteja disposto a cumprir o compromisso assumido por ocasião da
homologação? Que apoio esses órgãos federais poderão nos dar neste momento?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Agradeço à
Deputada Maria Helena.
Concedo a palavra ao Deputado Átila Lins, do Amazonas.
O SR. DEPUTADO ÁTILA LINS - Sr. Presidente, senhores convidados — Dr.
Mauro Spósito, General Santa Rosa e Dr. Márcio Paulo Buzanelli —, creio que a
discussão desta tarde leva em conta um fator preponderante: o relatório do Grupo
de Trabalho da Amazônia — GTAM, divulgado amplamente pela imprensa brasileira,
em que finalmente determinados órgãos do País reconheceram a existência de atos
que ferem a soberania nacional na região amazônica.
Essa é, sem dúvida, a linha mestra da nossa discussão. Evidentemente, há
muitas variáveis não só nos problemas de Roraima, mas também nos problemas da
Amazônia, do Amapá. Todavia, no cômputo geral, o que se discute hoje é a
apuração, feita por entidades governamentais, da movimentação estrangeira
propiciada por ONGs.
Quero também, como outros companheiros, não generalizar, pois há ONGs
que prestam relevantes serviços, mas há ONGs que, lamentavelmente, deixam
muito a desejar em suas ações na nossa região.
Em 1991, no meu primeiro mandato nesta Casa, presidi a CPI da
Internacionalização da Amazônia. Nessa CPI apuramos a atuação das missões
religiosas — católicas, protestantes, evangélicas. Examinamos o comportamento
dessas missões, como também a existência de aeroportos clandestinos — o Dr.
Mauro Spósito se lembra muito bem disso, muitos deles foram dinamitados —, o

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contrabando e a pressão econômica, porque àquela altura já se percebia que não


haverá uma invasão armada; será uma invasão econômica.
Os governos estrangeiros, interessados no engessamento econômico da
região, não permitiram que nenhuma ação do Governo, nenhuma obra, nenhuma
rodovia, nada pudesse ser financiado por organismos internacionais, alegando a tal
preservação ambiental. Depois dessa CPI, percebemos que algo mudou com a
criação do SIVAM, do SIPAM e da Lei do Abate, que viabilizaram um comando maior
sobre nosso espaço territorial.
Hoje se percebe que a ação estrangeira na Amazônia está sendo feita pelas
ONGs e ainda pela pressão econômica. Criou-se uma CPI no Senado para apurar a
atuação das ONGs no Brasil inteiro. Tentei negociar no sentido de que fosse uma
CPI Mista, mas entendi que o exame que o Senado está-se propondo a fazer não
está direcionado à questão amazônica, mas ao âmbito mais geral — ONGs que
recebem dinheiro do Governo. Não é bem isso que queremos apurar na região
amazônica. Trata-se de um tema que pode evoluir para uma CPI sobre a atuação
das ONGs na nossa região. Então, o Senado está avançando nessa direção.
Há poucos dias, na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional,
apresentei um requerimento de convite a autoridades — Ministros Celso Amorim,
Waldir Pires e Marina Silva e o Diretor-Geral da Polícia Federal —, a fim de que
S.Exas. nos informem quais as providências estão sendo tomadas pelo Governo em
relação ao relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho da Amazônia. A denúncia e a
apuração já foram feitas. O que o Governo está pretendendo fazer? Faremos esse
debate na Comissão de Relações Exteriores.
Antes de formular minha pergunta, destaco a louvável iniciativa da Deputada
Vanessa Grazziotin. Realmente, era necessário debater na Comissão da Amazônia,
o fórum adequado, o relatório do Grupo de Trabalho, a fim de verificarmos
exatamente quais são os envolvidos. A ABIN, a Secretaria de Assuntos Estratégicos,
o Ministério da Defesa e a Polícia Federal têm tido atuação relevante na região.
Registro também o trabalho sempre fecundo do Delegado Mauro Spósito, que
conheço há muito tempo. Sei da sua luta a favor da manutenção da brasilidade da
nossa região, do nosso território.

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Formulo uma pergunta aos 3 convidados: quais as providências tomadas


pelos órgãos que os senhores representam depois da divulgação do relatório do
GTAM?
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada,
Deputado Átila Lins.
Antes de conceder a palavra ao Deputado Urzeni Rocha, informo a V.Exas.
que foi concluída a sessão do plenário. Todos podem ficar tranqüilos, porque temos
tempo. Foi encerrada a sessão para que a Comissão de Constituição e Justiça
pudesse continuar seus trabalhos.
Agradeço a presença ao Senador Augusto Botelho. S.Exa. participou desta
nossa audiência até poucos instantes.
Com a palavra o Deputado Urzeni Rocha, pelo prazo de 3 minutos.
O SR. DEPUTADO URZENI ROCHA - Muito obrigado.
Amigos Parlamentares, público presente a esta Comissão, o que motivou o
chamamento desta audiência pública foi o relatório do Grupo de Trabalho da
Amazônia — GTAM, que fez graves denúncias sobre a presença de ONGs naquela
região e sobre a possibilidade de sua tomada, devido à cobiça internacional.
Confesso aos Srs. Parlamentares que nunca tinha ouvido tantas verdades
como as que ouvi hoje, proferidas pelo General Santa Rosa. General Santa Rosa,
V.Exa. é um brasileiro, tem o verde-amarelo no coração, percebemos isso. Oxalá
tivéssemos muitos brasileiros como V.Exas. As verdades têm de ser ditas sem
emoção, mas com a razão, falando do que se conhece.
Digo a V.Exa.: a realidade é tão nua e crua com relação à Amazônia que,
nessa disputa de tomada da região, até proibir a construção de um batalhão do
Exército na fronteira do Brasil com a Guiana as ONGs tentaram por muito tempo
fazer. Isso ocorreu no Município do Uiramutã, em Roraima. E V.Exa., com muita
precisão, diz quais são os motivos da presença dessas ONGs na Amazônia.
Fui Relator de uma CPI na Assembléia Legislativa de Roraima. Chegamos às
mesmas conclusões a que o GTAM chega hoje. Apresentamos o relatório a todas as
autoridades do País, mas nenhuma providência foi tomada com o objetivo de salvar
a Amazônia brasileira.

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Em 1993, estivemos com o Ministro Maurício Corrêa e com todas as cores


partidárias de Roraima. Viemos aqui para salvar o Estado de Roraima, quando da
proposição da demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol. Dissemos que eles
não tinham dinheiro para o processo de indenização. Sabem o que o Ministro disse?
“Deixe que nós arrumamos, nós falamos com o Vaticano.” — palavras do Ministro
Maurício Corrêa, na frente do Governador de Roraima e do Prefeito da Capital.
Para que serve o SIVAM? Um general esteve em Roraima e questionou esse
sistema. Ele disse que foram gastos milhões de dólares na instalação do SIVAM e só
há um satélite brasileiro — o resto é americano, japonês ou alemão. Será que as
informações do SIVAM servem para o Brasil e para a Amazônia ou servem para os
países estrangeiros?
IBAMA, INCRA, FUNAI e FUNASA, qual o papel desses órgãos em todo esse
questionamento? A FUNAI presta-se única e exclusivamente a servir a organizações
não-governamentais, impedindo, proibindo, dificultando, como também fazem o
INCRA e a FUNASA. Esses são os grandes atos dos órgãos governamentais com
relação à Amazônia.
A maioria das demarcações de área indígena, Srs. Parlamentares, é feita por
antropólogos internacionais, que não conhecem a região, a não ser pelas imagens
de satélite. Conheço vários processos de demarcação assinados por antropólogos
estrangeiros. Por que isso?
Os índios do meu Estado são usados como pretexto, porque são totalmente
sociáveis, aculturáveis. Há índios que são Prefeitos, Vereadores, Secretários.
Nossos índios, em Roraima, estão em perfeita sintonia. E sempre foi assim,
historicamente. Nunca houve conflito. O conflito foi fomentado pela FUNAI, pelas
organizações não-governamentais e pela Igreja Católica. Tanto é que hoje, nas
comunidades indígenas, não há Igreja Católica, mas só Igreja Evangélica. Nem os
índios aceitam a presença da Igreja. E ainda são usados pelos traficantes, pelos
contrabandistas, como ocorre em Pacaraima, no marco BV-8, na fronteira da
Venezuela. Muitas vezes, os coitadinhos dos índios são usados para esconder o
combustível, o descaminho de combustível da Venezuela. Nem eles sabem o que é
isso e são usados pelos bandidos, em troca de pequenos favores.

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Na região, há muito crime de biopirataria, como bem disse o Sr. Márcio Paulo
Buzanelli. Não temos uma legislação que tipifica o crime da biopirataria, e essa, Srs.
Deputados, é uma função desta Casa, do Congresso Nacional. Precisamos legislar
nesse sentido, para que os criminosos que praticam a biopirataria, que roubam o
que temos no País possam ir para a cadeia e pagar por seus crimes. Essa é a
realidade da Amazônia.
A Amazônia tem de ser discutida não nos escritórios de Washington, da
Alemanha ou da França. A Amazônia tem de ser discutida pelos brasileiros e, se
possível, in loco, com os amazônidas, como a Deputada Vanessa Grazziotin, que
tem filha cabocla e sabe qual é a realidade da nossa região.
Portanto, para finalizar, para não ser prolixo, quero que me respondam qual é
a política do Governo Federal para a nossa Amazônia: é desenvolver ou
desaparecer? Será que vamos ter de mudar o mapa do Brasil? Como? Quando?
Essa é a primeira pergunta.
Segunda pergunta: diante das graves denúncias feitas pelo GTAM, quais as
providências imediatas que o Governo Federal tomou até agora para que sejam
apuradas e providências imediatas possam ser tomadas com relação ao Brasil, à
Amazônia e aos brasileiros?
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada, Deputado
Urzeni Rocha.
Com a palavra o Deputado Mauro Nazif, do Estado de Rondônia.
O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Cumprimento a Deputada Vanessa
Grazziotin e a parabenizo por esta iniciativa, ao mesmo tempo em que saúdo o Dr.
Márcio Spósito, o General Santa Rosa e o Dr. Mauro Buzanelli.
Para nós, que somos da região amazônica, este assunto tem grande
relevância, porque, como foi dito pelos convidados, quando se discute isso em um
bar da Praia de Copacabana, a discussão é feita de uma maneira. Quando o
assunto é discutido por quem mora na região, o tema é abordado de forma
totalmente diferente.
Um ponto me chamou muito a atenção. Sou médico, e uma das primeiras
coisas que aprendemos na faculdade de Medicina é tentar diagnosticar a causa. E,

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pelo que foi abordado pelos palestrantes, várias causas foram apresentadas. Hoje
nos deparamos com as conseqüências, mas agora somos sabedores das causas
que colocam em risco a nacionalização da região amazônica.
Há vários pontos importantes para a questão da nacionalização. Lembro que,
em 1970, no Governo Médici, usava-se muito o lema: “Integrar para não entregar”.
Isso fez com que brasileiros de todas as partes — das Regiões Sul, Sudeste,
Nordeste e Centro-Oeste — fossem para a Amazônia, assim como eu, que sou do
Estado do Rio, também fui. E vários trabalhos foram feitos. Depois, medidas
provisórias, uma atrás da outra, certamente não representaram um incentivo àqueles
agricultores que para lá foram trabalhar em prol do desenvolvimento dos Estados da
Região Norte, porque em vez de a ação governamental incentivar, adotou medidas
contrárias.
A nacionalização parte de princípios importantes. Se não me engano, foi o
General Santa Rosa que citou o projeto de gás natural, em Urucu, um exemplo para
o mundo, um projeto que se alavanca no Brasil e que trata do aquecimento global e
do desenvolvimento. Simultaneamente, observamos a Bolívia propor ao Brasil um
reajuste de mais de 300% no preço do gás. Questiono se vem sendo feita alguma
tratativa para que a extensão do gasoduto de Urucu chegue a Rondônia e dali se
prolifere, haja vista que a agressão ambiental é mínima em relação a outras
substâncias.
Todos sabemos que a instalação de um gasoduto em qualquer região gera
desenvolvimento. Se fomos ficar preocupados com a nacionalização e com o
desenvolvimento daquela região, teremos de pensar no que pode ser feito para
melhorar a condição de vida das pessoas que ali residem.
Preocupa-me também a interiorização de organismos federais. Pude observar
nessa discussão, além de ser um grande mérito desta Comissão, a participação de
Parlamentares de todos os Estados da Amazônia e constatar que o nosso grande
entrave não está somente em Rondônia, mas também no Acre e em Roraima, ou
seja, é o mesmo em todos os Estados amazônicos.
Quanto à FUNASA, entendo que ela possui uma ação social vinculada à
saúde, mas quando se discute IBAMA, INCRA e FUNAI, pergunto: o trabalho desses
órgãos tem como objetivo trazer bem-estar àqueles que precisam desses

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organismos ou serve apenas para atender determinadas necessidades


internacionais?
Constatamos a existência de apenas um órgão repressor para o meio
ambiente e para outros setores considerados supérfluos até por nós, que lá vivemos,
mas que certamente trazem enormes prejuízos àquela população.
Ficamos satisfeitos quando se faz um diagnóstico tendo como base as
causas. Pude observar, conforme o mapa apresentado, que há hoje no Brasil cerca
de 320 mil ONGs e, segundo estimativa mais atualizada, aproximadamente 100 mil
cadastradas na Amazônia.
Existem aqui órgãos competentes que certamente fazem todo tipo de
investigação. Sabemos também que muitas dessas ONGs são mecanismos
utilizados por estrangeiros para se infiltrarem no nosso País.
Foram feitos diversos diagnósticos, mas pergunto: o que tem sido feito pelas
nossas autoridades — entendo que já devem ter detectado a situação dessas ONGs
— para retirar essas organizações do nosso País?
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada, Deputado
Mauro Nazif.
Vou passar a palavra à Deputada Bel Mesquita, mas antes quero solicitar a
S.Exa. que observe o tempo, pois vamos ouvir ainda 10 Parlamentares. Se todos se
restringirem aos 5 minutos, encerraremos esta audiência pública com um quorum
elevado.
Tem V.Exa. a palavra, Deputada.
A SRA. DEPUTADA BEL MESQUITA - Parabenizo a nossa Presidenta
Vanessa Grazziotin pela iniciativa e agradeço aos nossos convidados, Dr. Márcio
Paulo Buzanelli, General Maynard Marques de Santa Rosa e Dr. Mauro Spósito, a
participação.
Não vou fazer muitos questionamentos, mas quero deixar registrado que
nasci em São Paulo e só comecei a ter a noção do que é a Amazônia quando para
lá fui em 1984. Moro no sul do Pará, em Parauapebas, mas morei também em
Cachoeira Porteira, entre Mapuera e o Rio Trombetas.

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Mantive vários contatos com índios da região. Conseguia conversar com eles
porque eu sabia falar inglês. Nenhum deles sabia falar português.
A região amazônica é imensa, linda e portentosa. Somos 57 Deputados
amazônidas, 11% dos Deputados desta Casa. Na Comissão da Amazônia,
Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional, apenas 5 Deputados não são
representantes da Amazônia. Talvez seja mesmo, como disse o Deputado Nazif, a
síndrome do “isso não é problema meu”. O que já foi devastado no resto do Brasil é
discutido hoje como algo que já aconteceu, e nada mais pode ser feito. Mesmo
assim, a Amazônia não pode ser vista só como mancha verde no mapa do Brasil.
Se o verde votasse, como um eleitor, talvez houvesse mais Deputados para
defender a nossa região. Na verdade, quando se fala em espaço de poder, vê-se a
Amazônia também discutindo o seu próprio espaço.
Nessa situação, que poder nós da Amazônia, os nascidos e os que adotaram
a Amazônia como o seu lar, podemos ter para discutir diante do processo da
internacionalização da Amazônia?
Faço essa indagação à ABIN, ao Secretário de Política, Estratégia e Assuntos
Internacionais e ao representante da Polícia Federal. São questões vitais para a
nossa região, mas acho que precisamos introjetá-las nesta Casa quando das
discussões sobre políticas de integração nacional e desenvolvimento regional, o que
não é apenas um problema da Amazônia, mas de todo o Brasil.
Faço das suas perguntas as minhas e agradeço muito por estar aqui e ouvir
suas respostas e principalmente a apresentação do relatório do GTAM. Não se deve
ficar apenas no relatório, é preciso que alguma coisa seja feita.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Obrigado, Deputada
Bel Mesquita.
Registro a presença do Prefeito Ivan Severo, do Município de Caroebe,
Roraima, e do ex-Prefeito de Pacaraima, também de Roraima, Paulo César
Quartiero. Sejam bem-vindos à nossa Comissão.
Vamos ouvir o Deputado Praciano. Depois, concederemos a palavra aos
Deputados Carlos Souza, Neudo Campos, Perpétua Almeida, Dalva Figueiredo,
Eduardo Valverde e Zequinha Marinho.

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Tem a palavra o Deputado Praciano, do Amazonas.


O SR. DEPUTADO PRACIANO - Sr. Presidente, companheiros convidados,
amigos, Sras. e Srs. Deputados, membros da Comissão da Amazônia, quero
lembrar um amazonólogo, bem conhecido em toda a Amazônia, chamado Samuel
Benchimol.
Na época em que a lua era a vedete do programa espacial americano, ele
conta num de seus livros que um general americano faz uma pergunta para um
general brasileiro: “Por que vocês no Brasil, onde há tanta violência na rua,
indicadores sociais dos piores, fome, miséria por todos os lados, estão preocupados
com a Amazônia? Por que se preocupar com a Amazônia se há tanta coisa com que
se preocupar?” O general brasileiro respondeu: “General, a Amazônia é nossa lua”.
Quis dizer o sociólogo que temos de considerar a Amazônia como uma região
estratégica. Se é estratégica, devemos convencer o Brasil disso. Aliás, acho um erro
que, nesta Comissão, quase todos os seus integrantes sejam representantes da
Amazônia. Precisamos falar com São Paulo, Rio de Janeiro. Não podemos falar
somente para nós mesmos. São Paulo precisa entender que a Amazônia é
estratégica e que algumas atividades econômicas precisam ser dirigidas para a
Amazônia. A Zona Franca tem de ser protegida, porque também é uma atividade
estratégica.
Portanto, temos de convencer o Brasil e o mundo de que a Amazônia é
estratégica, repetindo o que disse o Samuel Benchimol. Devemos criar um clube,
similar ao Clube de Roma, em que um grupo de cientistas trabalhava com grandes
variáveis — demografia, energia, ecologia —, mostrando a todos, por meio de
modelos matemáticos, qual é o comportamento do mundo, qual o modelo de
crescimento do mundo, que variáveis o homem deveria levar em consideração para
proteger o planeta. Era o Clube de Roma. Foi sugerida a criação um clube da
Amazônia, ou algo parecido com isso. Para quê? Para pensar a Amazônia grande,
para criar um plano diretor da Amazônia.
O que se vê hoje nas pautas de discussão da Amazônia? Se a BR-319 é ou
não importante? Se tal hidrelétrica deveria ser ou não instalada? Se há ou não
conflito de terra ali ou acolá? Temos tratado pontualmente a Amazônia, uma região
de complexidade e de diversidade ecológica, biológica, social e econômica

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reconhecidas. Se, em relação à Amazônia, consideramos o SIVAM ali, uma BR


acolá, um conflito de terra ali, outra atividade acolá, vamos comer pela beirada toda
a Amazônia.
A Amazônia entra muito pouco na pauta real do Congresso. Ele aparece em
discursos feitos da tribuna, mas não no Orçamento da União, nem no dos Estados.
Verifiquem quais dos nossos Estados, os que têm interesse em proteger e defender
a Amazônia, o seu meio ambiente ou as cidades em que moramos, constam de
orçamentos regionais?
A cidade em que moro passou a ter, num período de 30 anos, 2 milhões de
habitantes — antes tinha 500 mil habitantes. Não é só culpa do Governo Federal. É
falta de visão e de responsabilidade. Em Manaus não há um igarapé em que eu
possa lavar o rosto. Todos os mananciais da cidade estão poluídos. Temos uma
atividade chamada Zona Franca, uma atividade sem fumaça, fábrica sem fumaça e
sem chaminés. Ainda assim, conseguimos acabar com o meio ambiente daquela
cidade.
Como dissemos antes, temos de convencer o País de que Amazônia é
estratégica. Há que se ter um plano global, com visão ampla e horizontes mais
largos em relação à Amazônia.
Não há dúvida, General Santa Rosa, de que este País matou muito índio. Não
tenho dúvida alguma sobre isso. O índio tem de fazer parte desse plano diretor.
Ainda podemos preservar a arara-azul e a onça-pintada, que estão desaparecendo.
São vários os animais em extinção, como também as tribos indígenas. Há povo com
apenas 6 integrantes, sem macho — desculpem-me a expressão —, e, em se
perdendo o homem dessa etnia, não se reproduz mais aquela raça.
Moral da história: perdemos experiências acumuladas milenarmente,
perdemos línguas. O desaparecimento de uma língua é uma perda muito grande.
Um dos maiores patrimônios de um povo é a sua língua. Perdemos línguas,
perdemos gente e, por fim, perdemos experiência acumulada.
O índio tem de fazer parte desse plano diretor. Não há dúvida sobre isso.
Quando se faz a relação entre quantidade de terra e índio, o resultado é de 4
pessoas por quilômetro. E aquilo que sobra não é dado ao índio porque é muito.
Vamos entregar para quem? Que projeto temos para as terras que estão sobrando

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na Amazônia? Está faltando terra no restante do Brasil para a reforma agrária ou há


excesso de terras na Amazônia?
Vamos substituir floresta por cana-de-açúcar, por conta do etanol? Faz parte
desse plano. Trocaremos isso por mamona? Faz parte do plano. Vamos substituir as
florestas por dendê, em nome do combustível limpo? Faz parte do projeto da
Amazônia? A minha pergunta é esta: existe no País, por parte do Governo, dos
Estados e do Congresso, um plano para a Amazônia?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Obrigado, Deputado
Praciano.
Vamos ouvir os nossos convidados.
Com a palavra o Dr. Mauro Spósito, representante da Polícia Federal, que
poderá cingir-se aos temas que considerar pertinentes, de acordo com as perguntas
ou pelas análises feitas pelos membros da Comissão.
O SR. MAURO SPÓSITO - Sra. Deputada Maria Helena, como poderemos
ajudar na retirada das 96 famílias? Deputada, esse é um assunto muito complexo.
Primeiro, porque decisão judicial se cumpre. Não há apenas uma situação. Vivemos
hoje o Estado de Direito.
A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - Só uma informação. Não há uma
decisão judicial. O que existe é uma homologação feita pelo Governo Federal. O que
se tenta judicialmente é reverter essa situação, porque ainda não obtivemos uma
decisão favorável do Judiciário. Portanto, não há uma decisão judicial exigindo a
retirada. A retirada é conseqüência de uma homologação em área contínua.
Reconhecemos a necessidade da homologação e que os índios recebam as terras
que habitualmente ocupavam, mas não onde não havia índios. A própria ABIN
reconhece que vieram populações indígenas até da Guiana para auxiliar no
povoamento dessa área demarcada.
O SR. MAURO SPÓSITO - Agradeço a observação. Eu iria referir-me
justamente a esse tópico. A causa está sub judice. O que está sub judice? A posição
do Governo Federal de promover a retirada, inclusive com a avaliação das terras.
Não é 1 ação; na verdade, tramitam diversas ações. Neste momento, no caso,
qualquer ação está sob a égide do Poder Judiciário. O que podemos fazer? Só
podemos dar seguimento àquilo que está previsto. Não tenho dúvida de que foi

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custosa a retirada dessas 96 famílias. Para se fazerem os laudos de vistoria,


ultrapassamos uma série de problemas. Não tenho dúvida de que é uma questão
traumática, mas temos de caminhar por esse trilho. Em relação a tudo o que se
tentou compor — houve negociações entre a FUNAI, arrozeiros e índios —, não
houve acordo entre as partes; houve, sim, litígio. Portanto, teve de se colocar isso
nas mãos do Judiciário, a única instância que as podem socorrer.
Não restam dúvidas de que vamos tentar contornar a situação. Estão em jogo
componentes religiosos e econômicos, de interesse dos próprios indígenas. Não é
algo simples. Tanto não é simples que, até agora, não houve condições de
composição.
Quanto à pergunta do Deputado Átila Lins e às providências adotadas pela
Polícia Federal depois da divulgação do relatório do GTAM, informo que só tivemos
conhecimento desse relatório através da imprensa. Ele não nos foi encaminhado e
não nos será encaminhado, porque se trata de objeto de estudo de um grupo. Ou
seja, não é um relatório efetivo feito por um órgão estatal.
Deputado Urzeni Rocha, o relatório do GTAM, elaborado por um grupo de
trabalho, ainda será analisado pela ABIN, que verificará o ponto de vista de cada um
dos participantes Ainda não o recebemos. Creio que nos será enviado como
documento oficial.
Quanto à política do Governo Federal, concordo com a Deputada Bel
Mesquita. Falar sobre isso é bater em cristais. A questão indígena é delicada em sua
essência. Temos diversas culturas indígenas, todas diferentes entre si, e desde o
Estatuto do Índio não temos uma legislação que nos oriente sobre como tratar a
causa indígena, o que é realmente uma lacuna imensa.
Como dizia, o tema é delicado e envolve diversos setores. Como orientação
legal para o cumprimento de algumas determinações, contamos hoje apenas com a
Constituição Federal e com o Estatuto do Índio, de 1961, se não me falha a
memória.
Houve avanço nas relações mundiais. Vivenciamos quanto vale o
ecossistema para a humanidade, mas continuamos paralisados no que diz respeito
à política indígena. Até hoje não definimos uma legislação para esse tipo de tutela. A
mesma tutela que nós — entre aspas — “civilizados” temos. E qual a tutela que cabe

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nesse caso? Há, portanto, um vácuo muito grande nessa área. Nesse sentido, vou
também ao encontro do que disse o Deputado Praciano: precisamos de um plano
diretor, precisamos encarar a Amazônia num contexto maior, mas precisamos saber
bem o que fazer.
Conheço os corubos, do Vale do Javari, os cintas-largas, da Reserva
Roosevelt, e os ianomâmis, de Roraima. São povos totalmente diferentes. São
situações totalmente diferentes. Se para nós já é difícil legislar para gaúchos e
nordestinos, porque são situações diferentes, imagine-se para um quadro de
tamanha variedade? Infelizmente, essa é a nossa realidade.
Falta-nos hoje direcionamento e política indigenista para a questão
indigenista, assim como nos falta o famoso plano diretor da Amazônia, sobre o que
falar e fazer com a Amazônia em sua totalidade. Pensar a Amazônia não é fácil. São
mais de 5 milhões de quilômetros quadrados — área do tamanho da Europa —, com
a maior floresta do mundo. A cobiça é um fato real.
Internacionalizar a Amazônia é um risco, sim. Vai faltar água no resto do
mundo? Onde estão as nascentes de água potável do mundo? Não estão
localizadas em território brasileiro, estão nas cabeceiras do Amazonas, que não
estão situadas no Brasil. A Amazônia é um pouco maior do que nossos limites. Se
faltar água no resto do mundo e só restar água potável aqui, vamos precisar de um
exército muito grande para tomar conta dessa água, e mesmo assim vamos ter de
fornecer água para o resto do mudo. É uma situação bem delicada.
Talvez seja este o momento de começarmos, como sugeriu o Sr. Márcio, a
campanha A Amazônia é nossa. Não há dúvida de que os riscos são grandes.
Por fim, a pergunta do Deputado Mauro Nazif, sobre o que foi feito para retirar
as ONGs do País. Novamente digo que as ONGs não são o bicho-papão. Médicos
Sem Fronteiras, com subsídios estrangeiros, levam assistência médica ao Vale do
Javari, onde o Estado brasileiro não se faz presente. Ao mesmo tempo, Médicos
Sem Fronteiras trabalham em Roraima com outras intenções. Precisamos exercer
mais controle. Vejam que ONGs são utilizadas para vários fins, até para não pagar
impostos: donos de empresas jogam dinheiro numa ONG para terem descontos no
Imposto de Renda. É um dos motivos por que se proliferam essas organizações.

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O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Sr. Mauro Spósito, se temos um serviço


de inteligência tão competente, devemos saber quais ONGs estão aqui com
interesses de desenvolvimento e quais têm interesses escusos. Contando com o
trabalho desenvolvido pelo serviço de inteligência, pela Polícia Federal, pelo Exército
e pelo Ministério da Defesa a respeito das ONGs é que faço meu questionamento.
Não quis generalizar.
O SR. MAURO SPÓSITO - Peço perdão pelo modo como me expressei. De
fato, generalizar induz ao erro.
A ONG é uma personalidade jurídica. O que nos cabe fazer quando
encontramos uma ONG que afronta a legislação? Pedir sua desconstituição, e é isso
o que nos falta. Compete-nos notificar o estrangeiro que esteja em situação irregular
no Brasil e até, se for o caso, tomar medidas para que deixe o País, mas não temos
instrumentos para coagi-lo a fazer isso.
Nesse sentido, precisamos dispor de mais instrumentos. Se uma ONG estiver
agindo de forma errada, deveríamos desconstituí-la como sociedade civil,
verificando em seu estatuto a parcela de responsabilidade de seu dirigente. Em
geral, o dirigente não tem nenhuma responsabilidade nesse tipo de conduta.
O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - E isso tem sido feito?
O SR. MAURO SPÓSITO - Sim, temos acompanhado praticamente todos os
estatutos das ONGs que se registraram em cartórios.
O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Pergunto se já houve alguma
desconstituição como sociedade civil.
O SR. MAURO SPÓSITO - Não, e não nos cabe fazê-lo. O órgão fiscalizador
é o Ministério Público Estadual.
O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Então se conhecem as causas, mas
elas não estão sendo tratadas. Sabe-se que há problemas, mas não tomam
providências.
O SR. MAURO SPÓSITO - Precisamos do remédio. Como disse V.Exa.,
sabemos a causa, sabemos o efeito, precisamos do remédio. Sem o remédio não
vamos nunca eliminar as causas e os efeitos. Enquanto não se regulamentarem as
ONGs, elas continuarão sendo um lobby, ou seja, um grupo de pessoas que

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desejam ter voz ativa em políticas públicas. Se forem regulamentadas, poderemos


dizer se isso ou aquilo é contrário à lei, por exemplo.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Com a palavra o
General Maynard Marques de Santa Rosa.
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Respondendo às
indagações da Deputada Maria Helena, de Roraima, inicio por afirmar que aqui não
represento o Comando do Exército, mas sim o Ministério da Defesa, que é uma
entidade civil. Ou seja, embora oficial-general, estou a serviço de um organismo civil,
o Ministério da Defesa, de modo que não posso responder nada sobre o Exército
Brasileiro.
A respeito das proteções para desmandos ou abusos relativamente a áreas
estratégicas, principalmente na faixa de fronteira, eu poderia resumir a situação da
seguinte maneira: a Constituição anterior previa o mecanismo do assentimento
prévio do Conselho de Segurança Nacional; assim, os órgãos que detinham o
conhecimento dos interesses estratégicos tinham o poder de influir na tomada
dessas decisões; com a Constituição de 1988, foi removido, como entulho
autoritário, o conceito de assentimento prévio.
Como citei aqui ao apresentar a legislação que dispõe sobre a delimitação de
terras indígenas, o decreto que regulamenta a matéria não se refere à imposição,
até constitucional, de que seja ouvido o Conselho de Defesa Nacional. Dessa forma,
os decretos que criaram reservas nos últimos 10 anos não tiveram a participação do
setor responsável pela defesa nacional, que não foi consultado.
A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - E isso é grave?
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Estou considerando a
legislação tendo em conta a evolução dos tempos.
Talvez o mecanismo do assentimento prévio não fosse um entulho autoritário,
mas um mecanismo de proteção da soberania nacional, ponto que submeto à
consideração dos Parlamentares responsáveis pela formulação da legislação
brasileira.
O nobre Deputado Átila Lins perguntou que providências foram tomadas
depois da divulgação do relatório do GTAM. Poderia dizer que, primeiro, não houve

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divulgação do relatório do GTAM porque é um relatório interno da ABIN e ainda não


foi elaborado um documento pela Agência. Tomamos conhecimento e estamos
abordando aqui aspectos que preocupam o Parlamento, mas que foram publicados
no Jornal do Brasil do dia 28 de janeiro de 2007. Então, não foi divulgado o relatório
do GTAM.
Eu poderia dizer que foi aprovada, pela primeira vez na história do Brasil, a
estratégia militar de defesa que contempla de maneira sistemática os aspectos de
defesa da região amazônica. Sendo documento sigiloso, só posso fazer essa
observação. E também foi aprovada a Doutrina Militar de Defesa, que regula o
modus operandi das forças militares no cumprimento das missões constitucionais de
defesa. São 2 documentos que não tinham precedentes na história do Brasil e que
agora estão devidamente publicados e em vigor na área de defesa.
Quanto à afirmação do Deputado Urzeni Rocha sobre a região do Uiramutã,
quero dizer que foi um promotor brasileiro que acionou a Justiça Federal para
impedir a instalação de um pelotão brasileiro nessa região. E foi um juiz brasileiro
que a deferiu, concedendo a liminar que suspendeu a construção. Felizmente,
depois foi derrubada a liminar e instalado o pelotão de Uiramutã. Mas foram os
brasileiros que fizeram isso. A defesa do Brasil não deve caber somente aos
militares, mas também a todos nós, que somos brasileiros antes de sermos
Parlamentares, médicos, militares etc.
O Deputado Mauro Nazif pergunta se está previsto passar por Rondônia o
gasoduto de Urucu. Infelizmente, não tenho essa informação. Só sei que está
previsto no projeto inicial o abastecimento do mercado de Manaus, porque a oferta
de gás não é suficiente. Então, não se justifica economicamente a extensão desse
gasoduto. É a informação que posso transmitir a V.Exa., Deputado.
O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - De acordo com a discussão na
PETROBRAS, é totalmente viável.
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Eu não vou aprofundar-me
nesse ponto porque não afeta a defesa nacional. Mas a informação que tenho é que,
por condições mercadológicas, ficaria para o consumo da Grande Manaus e de
regiões adjacentes ao longo do percurso do próprio gasoduto.

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O SR. DEPUTADO MAURO NAZIF - Essa discussão é diferente. O que


passa pela PETROBRAS é que existe uma grande quantidade de gás nessa região
e que seria viável fazer o repasse a outros Estados.
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Eu não contesto.
O Deputado Mauro Nazif fez uma pergunta a respeito de ONGs. Em relação a
esse tema, eu responderia que o que falta é legislação. Quem produz legislação é o
Parlamento. O problema está lançado. Tudo indica que há necessidade de resolvê-lo
o mais rápido possível, uma vez que 300 mil ONGs atuam livremente, protegidas por
direitos que a Constituição assegura a todos os brasileiros e entidades. É preciso
que seja elaborada uma legislação reguladora urgentemente, sem a qual os nossos
organismos de repressão não podem coibir os abusos. E legislação é encargo do
Parlamento.
Quanto à indagação da Deputada Bel Mesquita a respeito de uma política de
integração nacional, poderia fazer algumas considerações. Está em curso um
estudo, que já dura 1 ano, a respeito do plano de ordenamento territorial, da política
de ordenamento territorial. Isso inclui o Ministério da Integração e o Ministério da
Defesa. Estão em curso vários trabalhos com vistas a elaborar isso aí. É como se
fosse um zoneamento das diversas atividades econômicas e sociais no território
nacional.
Sei que não respondi completamente a sua pergunta, Deputada. Eu poderia
dizer, resumidamente, que a primeira grande política consistente para a Amazônia
foi feita por Marquês de Pombal. Graças a ele, consolidou-se a posse da região
amazônica pela Coroa portuguesa, e inclusive o ordenamento comercial, o
aproveitamento da produção amazônica. Para isso, teve de expulsar os jesuítas e
criar mecanismos pesados na época.
Depois de Marquês de Pombal, Getúlio Vargas, ao criar os Territórios
Federais de Rondônia, Amapá e Rio Branco — não se chamava Rondônia, mas
Território Federal de Guaporé, o Acre existia como Território Federal desde 1905 —,
criou efetivamente uma política visando a responder às pressões norte-americanas
pela revitalização da oferta de borracha. Os japoneses haviam ocupado as fontes
produtoras de borracha na Malásia, na Indonésia e nas Filipinas. A indústria mundial,
a fim de enfrentar o esforço de guerra, precisava da produção amazônica durante a

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Segunda Guerra Mundial. Isso foi feito, devido às pressões americanas, pelo
Presidente Getúlio Vargas.
Depois de Getúlio Vargas, os planos nacionais de desenvolvimento, que
objetivavam prioritariamente a integração nacional e o pólo da Amazônia, foram
implementados de 1966 a 1985.
Então, essas 3 etapas históricas configuram planejamentos para a região
amazônica. De lá para cá, desconheço planejamento sistemático para a gestão do
território amazônico.
Respondendo ao Deputado Praciano, a respeito da existência de um plano
para a Amazônia, um plano diretor que inclua os índios e que faça a gestão
adequada, diria que desconheço. Na área da defesa existe, posso assegurar-lhe.
Mas, nos setores de desenvolvimento, eu não tenho conhecimento, nem estou
autorizado a responder.
Então, é o que eu poderia dizer para responder as indagações.
A SRA. DEPUTADA BEL MESQUITA - Eu me referi ao plano de integração
porque somos membros da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de
Desenvolvimento Regional, e apenas 5 Deputados não são da Amazônia. Foi isso
que quis dizer.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada, Deputada.
Com a palavra o Deputado Praciano.
O SR. DEPUTADO PRACIANO - Sra. Presidenta, pelo exposto, entendi que o
plano de defesa da Amazônia é frágil.
V.Exa. acabou de dizer, se não estou enganado, que, para a Amazônia, há um
contingente de 800 pessoas.
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Não. No Exército há 27 mil
homens hoje.
O SR. DEPUTADO PRACIANO - E nas fronteiras?
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Em 1986, tínhamos 6 mil.
Hoje, há 27 mil no Exército. Somando-se as forças da Marinha e da Aeronáutica, há
mais de 40 mil homens na região amazônica.
O problema não é só de quantidade de homens, mas também de doutrina,
equipamento, comando de controle, sistema de armas. Quanto a esse aspecto,

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temos planos, mas faltam equipamentos de alta tecnologia, que os orçamentos não
têm contemplado. Planos, que é o nosso dever de casa, temos, e bem feitos.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Com a palavra o
Diretor-Geral da ABIN, Dr. Márcio Paulo Buzanelli.
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Respondendo às questões da
Deputada Maria Helena, tenho a dizer que a ABIN tem, sim, conhecimento do tráfico
de combustível da Venezuela, feito pelos pampeiros ali conhecidos, e também do
tráfico de drogas, particularmente de maconha cultivada na Guiana e de cocaína que
vem da Colômbia e vai para a Venezuela. A ABIN tem, sim, conhecimento e tem-se
informado.
Em relação a que apoio a ABIN pode oferecer relativamente à demarcação,
pelo que está estabelecido legalmente, ela tem como competência coletar, obter
dados e produzir informações visando ao assessoramento de uma autoridade de
âmbito decisório. Tem como incumbência também avaliar as ameaças aos
interesses nacionais e à segurança do Estado e, como competência, igualmente
avaliar, assinalar, levantar ações contrárias ao patrimônio, aos conhecimentos
sensíveis. Então, o que a ABIN pode fazer é cumprir sua atribuição legal, e é o que
vem fazendo, particularmente na Amazônia.
A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - Então, isso confirma que a ABIN
advertiu o Governo dos problemas de demarcações em áreas de fronteira.
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Isso quer dizer que a ABIN vem dando
informações regularmente sobre situações de possível potencial de conflito,
situações irregulares, como faz em todos os campos de atividade.
O Deputado Átila Lins perguntou que providências foram tomadas depois da
divulgação do relatório do GTAM? Como mencionei, o relatório do GTAM é um dos
que são produzidos no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência. Trata-se de uma
atividade compartilhada, de um grupo informal, um grupo de estudos. Um conjunto
de dados são coletados periodicamente. A ABIN tem várias atividades operacionais
na Amazônia, como a coleta, a busca de dados feita pelas Superintendências
Estaduais da Amazônia, pelas Subunidades Estaduais da Amazônia em locais
considerados de importância estratégica pelo GTAM, que os recebe, então, como
subsídio para completar todo o conhecimento do grande quadro.

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Então, que providências são tomadas depois disso? Basicamente, a


providência que se refere à competência legal da ABIN, que é a de informar. A ABIN
informa; a ABIN não tem lado; a ABIN não tem vinculação político-partidária com
sindicatos, com grupos, com nada. A ABIN é um órgão do Estado brasileiro à
disposição dos sucessivos governos. Por isso não se preocupa apenas com a
política da semana que vem, com o que vai acontecer nos próximos 15, 20 dias. Não
é somente isso. Preocupa-se com a sobrevivência do Estado brasileiro, com as
questões maiores que afetam inclusive sua soberania.
O Deputado Urzeni Rocha pergunta: “Qual é a política do Governo para a
Amazônia? Quais são as providências?” Posso tratar setorialmente do assunto,
falando sobre a política do órgão de inteligência para a Amazônia. A política setorial
do órgão de inteligência do Governo Federal...
(Não identificado) - Dr. Márcio.
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Pois não.
(Não identificado) - Especificamente sobre o SIVAM, apresentei informação
prestada por um general que tinha dúvidas sobre a participação do SIVAM no
Sistema de Proteção da Amazônia. Segundo as informações de S.Exa., havia 6
satélites estrangeiros e 1 brasileiro. Esse logicamente é um assunto pertinente à
ABIN. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Todos nos lembramos das dificuldades
para iniciar o projeto SIVAM, cuja concorrência foi vencida pela Raytheon,
americana. Ela é a provedora do material e faz a manutenção. Enfim, há
evidentemente um estado de dependência tecnológica em relação à provedora.
Então, isso é de todos conhecido.
Ocorre que o Estado brasileiro, por meio dos entes que utilizam o Sistema de
Vigilância da Amazônia, tanto no âmbito do SIVAM quanto no do SIPAM, adota uma
série de medidas cautelares de segurança para evitar uma intrusão, um
conhecimento não autorizado.
A ABIN, por exemplo, tem entre suas unidades uma muitíssimo conhecida de
todos os senhores e senhoras aqui, o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento para
a Segurança das Comunicações — CEPESC, que produz os algoritmos utilizados na
urna eletrônica, que assegura ao Brasil grande dianteira em termos de processo

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eleitoral e computação dos resultados eleitorais em relação a outros sistemas


existentes no mundo e, sobretudo, de inviolabilidade. Nós temos sistemas
criptográficos ali de alta qualidade, e é a indústria brasileira, vamos dizer assim, uma
unidade da ABIN.
Então, nosso CEPESC é um dos que produzem essa capacidade adicional de
obstruir, pelo menos até onde imaginamos que conseguimos, essa intrusão no
SIVAM. Evidentemente, os fornecedores têm capacidade tecnológica infinitamente
maior, e é possível que fiquemos até à mercê de algum tipo de controle. Eu não
descartaria essa hipótese. É possível, mas nós tomamos todas as medidas de
segurança devidas. O SIVAM e o CENSIPAM, órgão da Casa Civil, vem executando
um trabalho de amplo fôlego. Esse sistema deve ser considerado exemplar. Poucos
países têm isso. Adquiriu o Brasil a capacidade de controlar, pelo menos desde o ar,
o seu território.
Estou tentando responder à pergunta do Deputado Urzeni Rocha sobre a
política do Governo para Amazônia. Como eu mencionava, posso falar da política
setorial de inteligência. A política da ABIN para a Amazônia é buscar saber o máximo
possível sobre o que ali acontece, particularmente em termos de ameaças à
integridade e à soberania nacional, naquela vasta porção do território brasileiro.
Entretanto, a ABIN é extremamente pequena, sofre restrições e dificuldades
orçamentárias, o que todos compreendemos. A tarefa é hercúlea — são mais de “12
trabalhos”, nem sendo Hércules. É uma tarefa muito grande conhecer tudo que ali
ocorre, ter capacidade real de investigar organizações não-governamentais, tratar da
questão do narcotráfico, do tráfico de armas, do tráfico de animais silvestres, da
imigração desautorizada. É muito difícil, mas a ABIN vem tentando fazer isso, e uma
das prioridades de sua atuação é exatamente a Amazônia.
No que se refere à questão levantada pelo Deputado Mauro Nazif relativa às
organizações não-governamentais, quero lembrar que o Parlamento, por intermédio
do Senado Federal, em 2001, constituiu Comissão Parlamentar de Inquérito para
apurar a questão das ONGs. Fruto disso, o Projeto de Lei nº 3.877, de 2004, agora
em tramitação na Câmara dos Deputados, busca estabelecer mecanismos de
fiscalização e controle das ONGs.

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Estamos precisando disso. Como já foi mencionado, não devemos


generalizar. Algumas ONGs produzem resultados bastante positivos, mas seriam
muito mais facilmente obstadas aquelas que não o fazem se tivéssemos uma
legislação pertinente, efetiva, atual e operante. É incumbência da Casa, do
Parlamento, acompanhar e produzir esse tipo de inovação na legislação.
Finalmente, respondo ao Deputado Praciano, que nos lembra o nosso
amazonólogo Samuel Benchimol. Samuel fez alusão à lua. Para os Estados Unidos
a chegada à lua era uma questão estratégica. No nosso caso, a Amazônia é a nossa
lua, conforme a conversa, citada por Benchimol e lembrada pelo Deputado, entre um
general americano e um general brasileiro. Este quis dizer que a Amazônia para nós
é uma questão de Estado, não é uma questão de políticas meramente regionais,
municipais. A Amazônia é uma questão do Estado brasileiro.
E, como bem lembrou o General Santa Rosa, o Marquês de Pombal,
preocupado com a expansão da Coroa espanhola, no século XVIII, em 1777,
construiu o Forte Príncipe da Beira, em Rondônia. É por isso que o Brasil é tão
ocidental. Depois de Pedro Teixeira, a Coroa portuguesa esteve lá.
Bem lembrou o General Santa Rosa que, em 1941, o Presidente Getúlio
Vargas anunciou um plano governamental para a Amazônia.
O que há de comum entre esses 2 momentos históricos? O exercício de
pressões exógenas, de fora para dentro: o temor da expansão da Colônia espanhola
e, no segundo momento histórico, a pressão dos países aliados pela perda do
suprimento fundamental de borracha de origem natural.
O que posso dizer em termos de plano de governo para a Amazônia é o que
se refere basicamente a um plano de inteligência.
A nossa Agência Brasileira de Inteligência faz a sua parte na Amazônia: busca
conhecer o máximo e informar, com precisão e oportunidade, às autoridades o que
ali acontece. Tenta fazê-lo com competência.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada, Dr.
Buzanelli.
Vamos passar a uma próxima rodada de questionamentos dos Srs.
Parlamentares. Informo que são 6 o número de Parlamentares inscritos. Vamos

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procurar fazer com que os 6 falem nessa fase. Em seguida, passarei a palavra aos
nossos convidados.
Com a palavra o Deputado Carlos Souza, Vice-Presidente desta Comissão,
que disporá de 5 minutos.
O SR. DEPUTADO CARLOS SOUZA - Obrigado, Deputada Vanessa
Grazziotin, Presidenta da Comissão.
Senhores convidados, senhoras e senhores, na semana passada participei,
no Senado Federal, de um seminário promovido pela Subcomissão criada para
discutir sobre os gases que provocam o efeito estufa. Tive o privilégio e o prazer de
ter como debatedor o Prof. José Goldenberg, ex-Ministro da Ciência e Tecnologia e
Coordenador da Eco-92, um homem renomado, profundo conhecedor das questões
ambientais. Nesse debate, fiz alguns questionamentos ao Prof. José Goldenberg a
respeito de qual era a grande utilidade da floresta amazônica não só para o Brasil,
mas também, acima de tudo, para o mundo. Quanto à questão das emissões de
dióxido de carbono, atualmente o mundo todo discute o tema.
O Prof. José Goldenberg fez algumas considerações que me deixaram um
tanto alarmado, pela grande utilidade que a Amazônia tem para o Brasil e para o
mundo. Ele disse que, dos 280 milhões de toneladas de dióxido de carbono que o
Brasil produz, poluição que lança na natureza e que, conseqüentemente, prejudica o
mundo, 200 milhões de toneladas são de responsabilidade da Amazônia. Em
síntese: a Amazônia é a grande vilã da poluição no Brasil, da poluição no mundo. O
Brasil contribui, relativamente à poluição da atmosfera no mundo, com 4%. Desse
percentual, 3% são de responsabilidade da Amazônia.
Questionei-o a respeito do processo fotossintético. Todos sabemos que a
grande produção de oxigênio é feita pelas algas dos oceanos. Elas são as
responsáveis pela grande produção de oxigênio no mundo. Mas sabemos também
da grande importância que tem a floresta amazônica, através do processo
fotossintético. Alguns estudos realizados por entidades científicas internacionais
indicam que, de cada hectare da floresta amazônica — peço ao General Santa Rosa
para esclarecer essa situação —, em relação à fase clara e à fase escura do
processo fotossintético, há um saldo de meia tonelada de moléculas de carbono que
a floresta consegue retirar da natureza. Ora, se temos 550 milhões de hectares de

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floresta, multiplicando isso, temos 275 milhões de toneladas de moléculas de


carbono que retiramos da natureza.
Fiz esse questionamento ao Prof. José Goldenberg. Ainda assim, sendo a
floresta amazônica a grande vilã da poluição no Brasil e no mundo, teríamos um
saldo de 75 milhões de toneladas, levando em consideração os 200 milhões que
retiramos da natureza.
S.Exa. disse que isso não acontece porque a floresta amazônica, no seu
entendimento, na condição de pesquisador, de cientista, atingiu a sua plenitude,
atingiu seu clímax, não cresce mais. Entendo de maneira diferente. Sou caboclo da
região, vivo com o pé no chão. Desmatamos hoje, e daqui a 1 semana há uma
floresta novamente.
S.Exa. disse que a floresta não cresce mais, atingiu seu clímax —
considerando-se, no caso, a quantidade de oxigênio e a de gás carbônico, o
resultado é zero —, a floresta não tem utilidade nenhuma nesse sentido.
Perguntei qual é a importância da nossa floresta. Disse S.Exa.: “É um grande
armazém de carbono a floresta amazônica. Se a queimarmos, poluiremos o mundo”.
Fiquei triste.
Sei dos outros potenciais que a floresta amazônica tem: o pólo madeireiro
(são mais de 1 trilhão de dólares, se soubermos explorar esse potencial); o
manancial de água doce, levando-se em conta a liminologia; a pesca (mais de 2.500
espécies de peixe podemos explorar e exportar para o mundo). Do minério nem se
fale.
Dizer que a floresta amazônica não tem utilidade, porque absorve o que o
Primeiro Mundo polui — digo que somos os garis do mundo, prestamos esse serviço
à humanidade, pelo qual não somos remunerados —, deixou-me perplexo, general.
Temos alternativas de desenvolvimento para essa região, sim. Política
nacional ou política mundial voltada para a Amazônia não existe. Não deveria ser
uma política nacional, mas uma política mundial, porque a floresta amazônica é de
interesse do Brasil, mas também da humanidade.
Hoje, discute-se no mundo a produção da energia limpa, da energia verde.
Devemos aproveitar todas as áreas devastadas da Amazônia para plantarmos
dendê, cana, para produzirmos o etanol. Enfim, devemos utilizar esses espaços de

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terra que não estão sendo utilizados, estão sendo degradados. Não haveria
necessidade de se derrubar o restante da floresta.
General Santa Rosa, gostaria que V.Exa. prestasse esclarecimentos sobre a
utilidade da floresta amazônica na absorção do dióxido de carbono.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada, Deputado
Carlos Souza.
Concedo a palavra ao Deputado Neudo Campos, ex-Governador de Roraima,
que disporá de 5 minutos.
O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - General Santa Rosa, a Venezuela
está descobrindo petróleo cada vez mais próximo da fronteira com o Brasil — vou
falar da minha aldeia. E compete à Agência Nacional do Petróleo designar as áreas
onde haverá prospecção, pesquisa de petróleo. Estive presente em um evento, em
Puerto Ordaz, no qual o Presidente Hugo Chávez disse que a nova descoberta, na
bacia do Rio Orenoco, fazia da Venezuela a maior reserva mundial de petróleo — e
lá é petróleo pesado.
Por que a PETROBRAS e a ANP se recusam a incluir essas áreas como área
de prospecção, de pesquisa? A Bacia do Rio Itacutu, que faz a fronteira com a
Guiana, também é outro lugar que merece ser pesquisado, para se analisarem as
possibilidades de se encontrar petróleo e gás.
Qual é a posição do Governo, General Santa Rosa, no que diz respeito a
essa questão? Pretende deixar tudo à mercê da Agência Nacional do Petróleo ou
pretende absorver isso e tomar uma decisão de governo?
Outra pergunta diz respeito à importância que a Venezuela dá ao sul do
território venezuelano e à importância que o Governo brasileiro tem dado ao norte do
Brasil. Refiro-me à fronteira viva entre o Brasil e a Venezuela, em Pacaraima e
Santa Elena de Uairén.
A Venezuela instalou uma zona franca em Santa Elena de Uairén e lá
construiu um aeroporto, que, em meados de 2007, já estará operando. A Venezuela
modernizou as suas aduanas, de tal forma que, quando alguém sair da Venezuela e
entrar no Brasil, a impressão nítida, se a pessoa não conhecer aquele país nem tiver
uma idéia do que é o Brasil, será a de que se está saindo de um país desenvolvido e
entrando em um subdesenvolvido.

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Nossas aduanas são vergonhosamente ultrapassadas, os projetos são


ridículos. O posto da ANVISA de lá parece um boteco; da mesma forma o IBAMA,
com acomodações acanhadas. Não há um projeto maior. Na verdade, Pacaraima é
uma área indígena, irresponsavelmente demarcada como área indígena nos idos de
1991 e 1992.
Enquanto a Venezuela está cuidando da sua parte sul, o Brasil sequer tem
uma política para resolver um problema de uma cidade que cresceu ao longo de
uma rodovia transamericana, a cidade de Pacaraima. Existe a centenária Santa
Elena de Uairén. Isso não vai acabar. Em Pacaraima, há toda uma infra-estrutura
urbana, com os quartéis do Exército e da Polícia Militar. Só falta algo: índio. Lá não
existe índio, mas é uma reserva indígena. Enquanto não desatarmos esses nós,
enquanto o Governo ficar deixando o tempo passar e não tomar uma atitude firme, o
Presidente Hugo Chávez vai continuar fazendo as coisas e se tornando mais popular
do que o Presidente do Brasil.
Precisamos ter projetos maiores de integração, e a Secretaria de Política,
Estratégia e Assuntos Internacionais se enquadra perfeitamente nessa situação.
Deve-se pressionar o Governo para tomar uma atitude com relação àquilo. Não
pode ficar do jeito que está. Não nos podemos envergonhar de ser brasileiros na
fronteira.
Aliás, o Dr. Mauro Spósito fez uma referência que considero da maior
importância, com a qual concordo plenamente. Ninguém é mais patriota, ninguém se
sente mais brasileiro do que o homem de fronteira, que está, no dia-a-dia,
defendendo a condição de brasileiro, sem receber em troca disso absolutamente
nada. Muitas vezes é uma carga negativa, são as dificuldades que ele tem para
continuar naqueles lugares.
Portanto, gostaria de saber que políticas a Secretaria pensa em sugerir ao
Governo Lula para vencermos essa etapa, ou seja, resolvermos o problema de
Pacaraima e resolvermos um outro problema, que é a imagem do Brasil. Ali deveria
ser uma sala de entrada; como toda sala, deveria estar à altura do resto da
residência, que é muito grande. E o Brasil é muito maior e muito mais desenvolvido
do que a Venezuela.

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Número: 0176/07 Data: 20/3/2007

Muitas queixas foram constatadas aqui relativamente à demarcação das


áreas indígenas. O meu Estado é vítima disso. Se olharmos a oeste, não há nada,
está fechado. O lado sul, saindo de Manaus para entrar em Roraima, só funciona
durante 12 horas, porque se tem de passar na reserva dos uaimiris-atroaris. No lado
norte, tem de se passar na Reserva São Marcos. No lado leste, foi demarcada a
Reserva Raposa Serra do Sol. E há mais outras reivindicações, outras indicações da
FUNAI para demarcação também.
Tudo isso parece fazer parte de uma conspiração para sitiar Boa Vista e,
quem sabe, inviabilizar o nosso Estado. Mas isso não vai acontecer. Acreditamos na
boa-fé dos homens que dirigem o Brasil. Mais dia, menos dia, isso vai ter de mudar.
Uma das mudanças fundamentais refere-se à Constituição de 1988, que
atribuiu poderes excepcionais à FUNAI na identificação e demarcação das áreas. De
tal forma que a gleba São Marcos foi demarcada pela FUNAI quando não poderia
ser demarcada. Enfim, ela bateu o escanteio e fez o gol, jogando em várias
posições. Mas retirou da mesa de negociações, sem poder e sem voz, o Governo do
Estado.
Os Estados em que as áreas são demarcadas não têm voz, não podem se
defender, enquanto se elaboram essas demarcações que têm sido injustas. Algumas
são justas e outras têm sido profundamente injustas. O Estado de Roraima é um
caso realmente crítico, devemos tomar uma posição.
Então, General Maynard Santa Rosa e Dr. Márcio Buzanelli, qual a posição
sobre isso? Quais políticas podem, de alguma forma, ser implementadas? Qual a
receita que os senhores pretendem levar ao Governo Federal para conseguirmos
evitar isso?
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Agradeço ao
Deputado Neudo Campos a intervenção.
Com a palavra a Deputada Perpétua Almeida, do PCdoB do Acre, que disporá
de 5 minutos.
A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sra. Presidenta, em primeiro
lugar, entendo a preocupação da bancada de Roraima, embora não deva ser esse o
foco do nosso debate. Já me coloquei à disposição da bancada em alguns
momentos e gostaria de sugerir uma ajuda à bancada de Roraima para articular,

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Número: 0176/07 Data: 20/3/2007

dentro da Comissão da Amazônia, o cumprimento pelo Governo Federal de todos os


acordos firmados e negociados a partir da homologação da Raposa Serra do Sol.
Está na hora de parar de achar que o problema está na terra indígena Raposa Serra
do Sol, porque, enquanto estivermos batendo nessa tecla, assim como faz a
bancada de Roraima, não conseguiremos resolver o problema. Está faltando bater
na tecla do cumprimento do acordo, e entendo que a Comissão da Amazônia tem
que se dispor a ajudar, discutir e negociar com o Governo. Nesses termos, eu me
proponho a articular com a Comissão da Amazônia.
Outra questão. Exerci um mandato de 4 anos e vou exercer o próximo
defendendo a soberania nacional. Aliás, foi proposta nossa a presença do Exército
brasileiro nas fronteiras do Acre, por meio de emendas parlamentares, e também
para garantir da presença da Polícia Federal na região. Mas podemos ficar em
devaneios. Em minha opinião, parte do Relatório é devaneio, principalmente com
relação a algumas questões.
O Sr. Márcio Paulo refere-se à reserva indígena do Acre ocupada pelos
campas, achanincas como área de entrada e passagem de drogas a partir do Peru.
Ora, isso não é verdadeiro com relação à reserva, porque, afinal de contas, foram
aqueles povos indígenas que alertaram o Brasil e este Parlamento exatamente
sobre esses problemas. Fui porta-voz deles nesta Casa e alertei para a necessidade
da presença das Forças Armadas naquela fronteira, porque ali há um rio que serve
de passagem de drogas e retirada ilegal de madeira, algo que estava acontecendo
dentro da terra deles, mas com a participação de madeireiros peruanos.
Precisamos fazer essa referência, pois são os próprios indígenas que
realizam as apreensões de drogas e madeiras e as entregam nas mãos da Polícia,
pois são eles os conhecedores da região. Portanto, são os indígenas os defensores
das nossas fronteiras, não podemos deixar de reconhecer isso.
Queria registrar rapidamente que fiquei preocupada. É uma pena que o texto
tenha chegado à imprensa primeiro e não aos Parlamentares. Quero ouvir da ABIN
quais providências foram tomadas no que se refere ao vazamento desse relatório —
vazou o primeiro e vazou o segundo. Que providências internas foram tomadas com
relação ao vazamento do relatório para a imprensa nacional?

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O relatório se refere a conflitos étnicos. Eu gostaria que a ABIN pudesse


mostrar exatamente onde estão os conflitos étnicos e quais são as provas referentes
a isso.
Aliás, eu queria entender a convicção desse grupo ao afirmar que a defesa do
meio ambiente, definida como “ambientalismo”, é usada como pretexto para impedir
o progresso. Quero entender isso, porque não podemos elaborar um relatório e ficar
divagando sem colocar o dedo na ferida. Ou seja, vamos apontar fulano, sicrano,
beltrano, ONGs e vamos punir. Temos de levantar questões como essa, mas
também temos de tocar na ferida e punir. Caso contrário, ficaremos apenas
relatando.
Se existem ações contra o desenvolvimento da Amazônia, quais foram as
providências apontadas pelo grupo para evitarmos isso?
Outro aspecto que me preocupa são as referências às ONGs que, segundo o
relatório, atuam no Brasil de forma descontrolada e estão a serviço de governos
estrangeiros. O relatório não diz quais são essas ONGs. Se é um documento
produzido por um serviço de inteligência, o texto deveria apontar quais são. Embora
não exista uma legislação regulamentando a matéria, o relatório poderia citar
nominalmente quais são as ONGs que estão a serviço de governos estrangeiros e
quais são esses governos.
Vou ler um trecho do relatório: “Há crença generalizada de interferência
estrangeira praticada pelas ONGs, principalmente na região do Estado do Pará. A
atuação de Dorothy Stang foi um indício da existência dessas influências”. E o texto
continua mencionando as motivações. Quero saber se a ABIN sustenta a afirmação
de que a Dorothy, uma missionária dedicada ao trabalho de inclusão social das
comunidades rurais, estava de fato a serviço de governos estrangeiros.
Obrigada, Sra. Presidenta.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Com a palavra a
Deputada Dalva Figueiredo, do PT do Amapá, por 5 minutos. Em seguida, terão a
palavra os Deputados Eduardo Valverde e Zequinha Marinho.
A SRA. DEPUTADA DALVA FIGUEIREDO - Tenho observado que há sempre
nos debates uma discussão muito forte entre desenvolvimento e preservação.
Sempre se coloca a questão: desenvolvimento ou preservação? Essa discussão

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Número: 0176/07 Data: 20/3/2007

inclui a questão das terras indígenas, das reservas. Passei um tempo no Governo do
Amapá, justamente no período em que foi criado o Parque do Tumucumaque, e a
grande discussão era sobre a fácil aceitação no sentido de não ter havido a
reivindicação necessária em termos de compensações. Falamos sobre um Estado
com 98% do território em áreas de preservação, e até hoje se reivindicam benefícios
que fizeram parte da negociação da criação do Parque do Tumucumaque.
Ouço sempre essa discussão com a convicção de que nos preocupamos com
o desenvolvimento da Amazônia e com a cobiça de suas riquezas. Ao mesmo
tempo, fortaleço a convicção de que, se não dispusermos dos instrumentos
necessários para usar nossos recursos de forma sustentável, previstos em
legislação específica, chegará um momento em que não teremos o que explorar de
forma sustentável.
Em meio a esse debate, há sempre a posição de que a demarcação de terras
indígenas — com as respectivas atividades e riquezas — provoca disputas e causa
prejuízos para quem mora nas áreas urbanas. Venho de um Estado cujas terras
indígenas, felizmente, estão homologadas e demarcadas e posso dizer que não
temos esse tipo de conflito, embora existam outros problemas, a exemplo das
dificuldades nas áreas de saúde, transporte e agricultura. Em nosso Estado, há leis
sobre a floresta e o aproveitamento dos recursos hídricos. Estamos criando um
instrumental que nos permita utilizar nossas riquezas.
Repito que não há, de forma estanque, essa discussão sobre o futuro que
esperamos para a Amazônia, para os índios e para os recursos naturais da
Amazônia. As políticas devem ser integradas, até porque o desenvolvimento e o uso
sustentável desses recursos também vão contribuir para que não só as Forças
Armadas sejam responsáveis pela segurança do nosso País.
Aproveito a oportunidade para reiterar a questão levantada pela Deputada
Perpétua Almeida: como podemos afirmar que ONGs ou aqueles que defendem o
desenvolvimento em conjunto com o uso sustentável dos recursos e a preservação
do meio ambiente vão impedir o desenvolvimento da Amazônia?
Que medidas foram tomadas para apurar o vazamento de informações de um
relatório não oficial e que ainda não se transformou em instrumento de formulação
de políticas públicas e de acompanhamento? Até que ponto as ações desenvolvidas

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Número: 0176/07 Data: 20/3/2007

na Amazônia por organizações não-governamentais contribuem para os conflitos


étnicos?
Gostaria de ouvi-los sobre isso, além de dizer que foi muito proveitosa esta
tarde em que pudemos avaliar diversos posicionamentos.
Parabenizo a Presidenta da nossa Comissão pela oportunidade de conhecer
as posições dos Parlamentares da Amazônia.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Agradecemos a
valiosa contribuição de V.Exa., Deputada Dalva Figueiredo, que fez uso estrito do
tempo de 5 minutos. As mulheres estão mostrando-se disciplinadas (Risos.)
Estando ausente o Deputado Zequinha Marinho, o nosso último orador é o
Deputado Eduardo Valverde, a quem solicito seguir o exemplo das Deputadas Dalva
Figueiredo e Perpétua Almeida, ou seja, utilizar os exatos 5 minutos destinados a
cada Deputado.
O SR. DEPUTADO EDUARDO VALVERDE - Sra. Presidenta, espero ser
sucinto.
Ainda bem que o relatório é um instrumento interno e não um documento
oficial, porque, ao lê-lo, encontrei uma série de erros, como certa dose de xenofobia
e de preconceito.
Afirmar que as populações indígenas são essencialmente predatórias, que a
cultura indígena é, na sua essência, predatória, é algo descabido, já que a Amazônia
ainda preserva sua condição de grande floresta porque lá vivem povos indígenas.
É natural que a convivência e a cosmovisão desses povos estejam em
harmonia com o meio ambiente. Então, esse aspecto não é inerente à cultura. A
cultura da Amazônia moderna, essa sim é predatória. A pecuária e a monocultura da
soja é que são predatórias ao meio ambiente. Mas não é o índio, somos nós que
assim agimos.
O relatório tem aspecto muito economicista, parece que foi feito por arrozeiros
de Roraima — e desculpo-me com nosso colega Deputado Neudo Campos.
Parece-nos que tal documento foi pago ou financiado por arrozeiros, porque o texto
esquece que existe algo chamado etnodesenvolvimento, típico das populações
tradicionais, que lá conseguem sobreviver em harmonia com o meio ambiente e tirar

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Número: 0176/07 Data: 20/3/2007

o sustento da terra sem destruí-la, ou seja, aumentar sua qualidade de vida de


maneira correta.
Então, o aspecto economicista do relatório pressupõe um interesse contrário
à forma peculiar como as populações tradicionais da Amazônia sobrevivem há
séculos. Algumas lá estão há milênios, segundo dados antropológicos.
A Guerra Fria foi utilizada para justificar a corrida armamentista. Hoje se
buscam as ONGs para justificar que a Amazônia tem de ser tratada de maneira
diferente, como se a ONG chegasse ao Brasil e fosse direto para a reserva, como se
os representantes não passassem por aeroportos, por hotéis, pelo controle
aduaneiro, enfim, pelo controle do Estado. As ONGs têm que ser tratadas como
entidade civil e não como organismo internacional com projetos e estratégia de
tomada do Brasil — como se isso fosse possível.
Será que o País não tem instrumentos para combater as ONGs que se
desvirtuam da sua finalidade? Não é possível fazer um controle de fronteira ou
aeroportuário que impeça pessoas de levar produtos da floresta?
Portanto, não podemos imputar aos povos tradicionais a responsabilidade
pela inaptidão do Estado de controlar suas fronteiras. Não podemos culpar os índios
pela existência de contrabando.
O Dr. Mauro Spósito esteve em Rondônia e sabe que na Reserva Roosevelt,
que fica no Estado de Rondônia e não em área de fronteira, não há estrangeiros,
mas lá há contrabando de diamante. Não são os estrangeiros que contrabandeiam
na Reserva Roosevelt, são brasileiros que desrespeitam a lei, embora saibam que a
Constituição Federal estabelece que o território indígena é patrimônio da União, de
domínio público, ou seja, o usufruto é dos povos indígenas.
Enorme segurança tem o Brasil ao manter uma reserva indígena, tal como
previsto na Constituição Federal, pois o território permanece com a União. Isso
fortalece o sentimento de nacionalidade, de propriedade da terra, ao contrário do
que se prega, ou seja, que a criação de uma reserva desnacionalizaria o Brasil.
No tocante à declaração de que os índios não falam português, indago: onde
há essa obrigatoriedade? A Constituição Federal, no art. 231, estabelece que será
mantida a cultura desses povos. Eles podem falar a língua deles no Brasil, não
necessariamente têm que falar português e assimilar nossa cultura.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
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Número: 0176/07 Data: 20/3/2007

Além disso, há o impedimento de transitarem de um lado para outro. Isso é


algo que demonstra preconceito, porque na fronteira do Uruguai com o Brasil os
brancos vão para lá e para cá. No meu Estado de Rondônia, tanto o boliviano
quanto o brasileiro branco podem ir de uma cidade para outra sem qualquer
problema. Por que os índios não podem transitar nas suas áreas de reserva? Parece
que isso representa uma ameaça à soberania nacional.
E foram eles, os índios macuxis de Roraima, os únicos brasileiros que durante
muito tempo guarneceram a fronteira, assim como fizeram os quilombolas no
Guaporé, a população negra. Após serem abandonados à própria sorte pelos
portugueses, em função do medo da malária, durante quase 1 século e meio, esses
foram os únicos brasileiros que guarneceram a fronteira do Brasil no Estado de
Rondônia.
O conteúdo do texto revela um lado preconceituoso, ao se afirmar que o índio
tem que falar nossa língua e ter a nossa visão.
No tocante ao roubo de madeira e à destruição da floresta, os dados apontam
que o grande elemento predador da floresta amazônica foi o modo de ocupação,
que não foi projetado pelos índios, mas por nós. Houve uma política de ocupação
presencial, e, como a floresta era algo impeditivo à ocupação humana, trocava-se a
floresta pelo corte raso.
Hoje, sofremos em Rondônia e no Pará esse conflito social permanente, pois
aqueles que foram levados a ocupar áreas de floresta, destruindo-a, depois
abandonaram aquele pedaço de terra, que virou pasto, reocupando um novo pedaço
de terra. Trata-se de ocupação desordenada. Esse é o nosso modelo predatório.
Finalizo destacando uma preocupação que pode até ser correta no que diz
respeito ao tráfico de armas e drogas. Dados da própria Polícia Federal apontam
que o Porto do Rio de Janeiro e o Porto de Santos são as principais entradas do
contrabando de armas e drogas no Brasil. Então, não é o território indígena que
representa uma ameaça ao combate ao narcotráfico e ao tráfico de armas no País.
São Paulo e Rio de Janeiro são passagens, assim como os aeroportos brasileiros
são instrumento de passagem das drogas para a Europa.
O debate deveria envolver também a FUNAI e outros órgãos de Estado, para
construirmos uma verdadeira política indigenista que supere o preconceito étnico e

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Número: 0176/07 Data: 20/3/2007

racial, que construa uma idéia de estratégia de soberania brasileira que não refaça
aquela concepção antiga de um nacionalismo que foi frágil para o Brasil. E tal não
ocorreu pela presença dos povos indígenas, mas pela inoperância do Estado
brasileiro ao construir sua soberania.
Nossa economia foi quase toda desnacionalizada durante certo período da
fase republicana. Isso não se deveu a nenhuma invasão de tropa ianque no Brasil,
mas à opção que a classe dirigente naquele momento fez no sentido de aderir aos
preceitos do modelo liberal de Estado, hoje enfraquecido.
Vejo que a ABIN e a Polícia Federal se erguem e se fortalecem, mas durante
boa parte da história brasileira foram enfraquecidas. O aparato estatal foi
enfraquecido, e isso não ocorreu em razão da convivência, em território brasileiro,
de diversos povos, mas por uma política deliberada de Estado.
Peço desculpas pela ênfase, pois sou da Frente Parlamentar em Defesa dos
Povos Indígenas e enfrentei esse debate quando se discutiu a demarcação da
Raposa Serra do Sol, época em que um relatório muito similar foi feito.
Não se trata de ato isolado, desarticulado, mas sim de algo engendrado com
o objetivo de firmar uma convicção de que o modelo ideal para a Amazônia é a
pecuária e a ocupação humana branca, em total desrespeito às populações
tradicionais, que são minoria, populações pequenas, mas que têm o direito de ser
maioria daqui a mais 100 ou 200 anos, se dermos a elas condições de
sobrevivência.
Retiraremos delas essa condição de sobrevivência se não reconhecermos
sua ocupação no território, porque para as populações indígenas é fundamental a
existência dele. Índio sem território não é índio. Nós é que fazemos do território um
patrimônio. Território para as populações indígenas é a forma peculiar de viver. Por
isso, esse relatório é preconceituoso, pois sequer cita esses aspectos. Em outras
palavras, o texto afirma que índio tem muita terra.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada,
Deputado Eduardo Valverde.
O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - Sra. Presidenta, peço a palavra pela
ordem.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Pois não, Deputado.

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O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - Sra. Presidenta, quero fazer um


breve comentário. O Deputado Eduardo Valverde e a Deputada Perpétua Almeida,
com muita propriedade, citaram as questões de Roraima, meu Estado, e, portanto,
quero dizer que estou encaminhando requerimento exatamente para podermos
discutir essas questões de forma pertinente em uma subcomissão. Vamos enfrentar
essas questões, porque o Estado de Roraima precisa realmente ser objeto de
discussão mais detida. Rondônia já tem seu caminho econômico traçado, o Acre
também, mas o mesmo não acontece com Roraima.
Deputado Valverde, daqui a 4 anos teremos eleição, e V.Exa. poderá se
candidatar em Roraima, mas vai notar que esse discurso não vai soar bem àquela
população. O ex-Presidente de seu partido, reeleito agora, o Presidente Lula, perdeu
nos 2 turnos naquele Estado, exatamente porque a política econômica do Governo
Federal para Roraima está errada. Mas vamos discutir isso em uma subcomissão,
caso a Presidenta amanhã coloque em votação o meu requerimento.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Perfeito. V.Exa.
amanhã poderá apresentar o requerimento, contanto que apresente juntamente com
ele a lista de assinaturas da maioria absoluta dos Srs. Deputados, o que permitirá
que a matéria seja votada extrapauta.
O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - Já está na pauta, Sra. Presidenta.
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Sra. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Pois não.
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Como meu nome foi citado pelo
Deputado Eduardo Valverde, quero esclarecer um ponto. Sou absolutamente
favorável à demarcação das áreas indígenas. Penso que os índios têm que ter sua
própria terra, para viver de acordo com sua cultura. Mas sou contra os exageros, as
enormes glebas, algumas exageradamente grandes. Isso nos afronta, pois lá
estamos porque assumimos responsabilidades públicas de defender os interesses
do Estado. Quanto a esse aspecto não há diferença entre índio e branco: ambos são
cidadãos brasileiros que merecem a nossa defesa.
Quantas vezes já defendi os índios no meu Governo? Introduzi o magistério
indígena, que formou professores para ensinar e difundir idiomas que estavam se

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extinguindo. As aulas eram ministradas não só em português, mas em macuxi, em


wapixana, em ingarikó, na própria gíria de cada etnia.
Enfim, quero deixar claro que sou favorável à demarcação das áreas
indígenas, mas absolutamente contrário aos exageros praticados pela FUNAI.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Agradeço a V.Sa. a
participação. Na realidade, estamos dando seqüência — não estamos iniciando nem
concluindo — a um debate que é polêmico, mas necessário ao Parlamento,
sobretudo à Comissão da Amazônia, que trata de assuntos relativos à região que
tem a maior extensão de terras indígenas demarcadas.
Vamos entrar na última fase desta reunião de audiência pública.
Passo a palavra aos nossos convidados por um tempo máximo de 5 minutos
para cada um. Os convidados poderão responder os questionamentos, que não
foram muitos. Em seguida, ainda nessa fase, poderão todos fazer as considerações
finais para que possamos encerrar a reunião.
A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sra. Presidenta, peço a palavra
pela ordem.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Tem V.Exa. a palavra.
A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Terei menos de 10 minutos para
levar ao médico o meu filho, que já está há 1 hora me esperando no
estacionamento. Como fiz várias perguntas ao Diretor-Geral da ABIN, não gostaria
de ser indelicada e sair sem ouvi-lo. Se V.Exa. pudesse inverter a ordem dos
trabalhos, não haveria essa indelicadeza de um Parlamentar questionar e não ficar
para ouvir a resposta.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - É possível. Vamos
iniciar pelo Dr. Buzanelli, que será o primeiro a responder os questionamentos e, ao
mesmo tempo, fazer suas considerações finais, em 5 minutos.
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Obrigado, Sra. Presidenta, obrigado,
Deputada. Quero dizer inicialmente que concordo integralmente com o que V.Exa.
mencionou em relação à Terra Indígena do Rio Amônia, pois eu não disse que o
tráfico passava pela terra indígena, mas sim pelos Rios Amônia e Azul. Disse
também que os índios — e aqui concordo novamente com V.Exa. —, os habitantes
da região, foram os primeiros a denunciar a presença de madeireiros peruanos que

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atravessaram pelo Parque Nacional da Serra do Divisor para extrair mogno da terra
indígena. Portanto, concordo integralmente com as observações da Deputada.
Com relação ao relatório do GTAM que saiu na imprensa, quero mencionar
mais uma vez que o Grupo de Trabalho da Amazônia não pertence à estrutura da
ABIN. Trata-se de grupo informal que reúne pessoas que se revezam, viajam à
Amazônia e fazem contato com lideranças indígenas. No caso de Roraima, houve
contato com lideranças das várias etnias — ingarikó, wapixana, macuxi. Estiveram
na Capital do Estado e em Pacaraima. No caso desse relatório, conforme
mencionado, os componentes do grupo estiveram em outras regiões daquela vasta
porção do território brasileiro e fizeram contato com pessoas de vários extratos,
vários segmentos — políticos, não políticos, acadêmicos e profissionais de várias
áreas —, dali extraindo dados que passaram para o papel de maneira certamente
carregada, eivada de subjetividade.
Esse não é um documento da ABIN, insisto em dizer. Os documentos da ABIN
são passados para o Presidente da República, para o Ministro-Chefe do Gabinete de
Segurança Institucional e para os demais Ministros designados para recebê-los.
Esses textos são um produto de análise de vários documentos, de várias situações,
de vários trabalhos. Isto tem que ficar claro. Não é um documento final, nem
representa o pensamento da ABIN sobre essa questão dos conflitos étnicos. Que
isso fique bem claro.
Portanto, que fique bem claro que esse documento foi produzido por um
grupo de trabalho que reúne pessoas especialistas do SISBIN — Sistema Brasileiro
de Inteligência, que congrega vários órgãos.
A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sra. Presidenta, Dr. Márcio,
sem querer atrapalhar, permitam-me apenas uma pergunta: a quem devo cobrar a
responsabilidade sobre o que está no relatório?
O SR. MÁRCIO PAULO BUZANELLI - Estamos verificando quem participou
dessa viagem e quem produziu esse texto. A partir daí, V.Exa. poderá ser informada,
até porque foi V.Exa. a autora do requerimento formal e recebeu, formalmente, esse
documento.
Com relação a uma menção muito importante que a Deputada Perpétua
Almeida fez sobre a Irmã Dorothy Stang, quero mencionar que a ABIN foi a primeira

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a chegar a Anapu, em março de 2005. Fretou-se um avião, e pessoas de outras


localidades onde a ABIN tem presença para lá foram, exatamente no momento em
que não havia qualquer outra presença do Estado brasileiro.
No início das investigações, juntamente com a Polícia Federal e a Polícia
Militar do Pará, a ABIN estava lá e, desde o início, participou das investigações. Isso
não significa dizer que o que está escrito no relatório é a opinião da ABIN.
A questão da Irmã Dorothy Stang nada tem a ver com a intrusão de
estrangeiros.
Parece-me que abordei as questões.
Quero agradecer mais uma vez à Deputada Perpétua Almeida e ao Deputado
Eduardo Valverde, que levantaram esses questionamentos. Devo dizer que não vi no
relatório um conflito entre desenvolvimentismo e etnocentrismo. Não percebi isso,
embora em algumas passagens me tenha ocorrido que poderia estar tal conflito
evidente. Mas atribuo essa interpretação às entrevistas realizadas pelas pessoas
que fizeram esses relatórios. Refletem muito o momento vivido e a opinião das
pessoas com quem conversaram.
Por último, agradeço mais uma vez aos membros da Comissão o convite, em
especial à Deputada Vanessa Grazziotin, para participar desta importante audiência
pública. Lembro que a lei que criou a ABIN, Lei nº 9.983, tramitou por este
Congresso durante 27 meses e, entre outros atributos, recebeu o da criação de uma
comissão de controle das atividades de inteligência, a CECAI. Essa comissão ainda
precisa ser regulamentada. Trata-se de indicação do próprio Congresso.
Naturalmente, a Comissão é constituída pelos Presidentes das Comissões de
Relações Exteriores e de Defesa Nacional, do Senado Federal e da Câmara dos
Deputados, pelos Líderes da Maioria e da Minoria nas 2 Casas. Isso significa que a
ABIN tem relação muito especial com o Congresso, o que não é prerrogativa de
todos os serviços de inteligência. Mas isso nos mostra como a ABIN está inserida de
modo perfeito no Estado Democrático de Direito, pois tem relação muito especial
com o Parlamento. A ABIN se sujeita, por ser órgão do Estado, aos controles
externos do Parlamento e tem com este relação exponencial.

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A Agência Brasileira de Inteligência precisa, e muito, do apoio do Congresso


Nacional para melhorar sua capacidade de atuação nas áreas do território nacional e
com relação aos temas que lhe são atribuídos.
A ABIN terá maior capacidade — e aqui clamo por apoio do Congresso — se
o Congresso Nacional nos apoiar nesse sentido.
Muito obrigado, Sra. Presidenta. Obrigado a todos os Srs. Deputados.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada a
V.Sa., Dr. Buzanelli.
Passo a palavra ao representante do Ministério da Defesa, General Santa
Rosa, que disporá de 5 minutos.
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Quero começar
respondendo, dentro do possível, ao Deputado Carlos Souza, do Amazonas. Com
base em informações oficiais, sabe-se que nossa floresta amazônica é responsável
pela absorção de um quarto, ou seja, 25% do excedente de CO 2 — dióxido de
carbono — produzido artificialmente pelo homem. É isto o que se sabe: um quarto
desse CO2 é absorvido pela floresta. No entanto, foi quantificada a participação
brasileira nessa poluição em 6% do total desse lixo que se projeta na atmosfera,
sendo que 3% são oriundos de queimadas e 3% da produção industrial brasileira,
dos veículos etc. Quantificando matematicamente isso, teríamos um saldo de 19%.
O importante é caracterizar que quem gera a poluição deve diminuí-la.
O que não pode acontecer, a meu sentir, é preservarmos a floresta para
garantir o excedente de poluição dos Estados Unidos, do Japão e da China. Isso
não é justo. Se entendemos a função da floresta como absorvedora do excedente de
CO2, temos que ter uma compensação por esse esforço nacional de preservação.
Isso não exclui o aproveitamento racional da floresta. A sua devastação e extinção é
o que não deveria ocorrer. Até se questiona que em algumas áreas há maior
potencialidade econômica em outras culturas.
Portanto, só podemos contra-indicar a exploração na área geológica do
quaternário, porque a extinção da floresta ali geraria desertificação.
O SR. DEPUTADO EDUARDO VALVERDE - General, permita-me, por
gentileza. Não seria o momento, então, em nome dessa compensação por esse

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grande trabalho que a floresta amazônica presta à humanidade, de se criar um


fundo internacional de preservação com desenvolvimento da floresta amazônica?
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Perfeitamente.
O SR. DEPUTADO EDUARDO VALVERDE - Houve uma pesquisa em
Londres, e as famílias européias estão dispostas a participar da criação desse
fundo.
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - O importante é não
vincular isso com obrigações que comprometam a nossa soberania. No restante,
concordo com o senhor.
Quanto àquela outra observação sobre o Dr. Sardenberg, eu podia comentar
que mesmo os grandes cientistas cometem enganos. Quando o Dr. Sardenberg,
sendo Ministro do Governo Collor, viajou pela primeira vez e sobrevoou o Estado de
Roraima, na região de Boa Vista, ele comentou — com testemunho de
companheiros nossos que estavam presentes — que achava um absurdo aquela
área ter sido devastada. Isso demonstra que ele desconhecia que o lavrado nunca
foi floresta. Isso prova que nem sempre as afirmações dos nossos cientistas devem
ser levadas ao pé da letra, porque eles também cometem enganos.
Houve indagações do Deputado Neudo Campos a respeito da Venezuela e do
petróleo. Pelas informações que temos, o petróleo venezuelano é produzido nas
regiões de Guajira e de Zulia, no vale do Rio Orinoco. Não temos informações sobre
incidência com esse potencial todo de petróleo na área amazônica da Venezuela.
Essas são as informações que tenho. Por que a PETROBRAS exclui o Vale do
Tacutu? Isso é um problema de gestão da PETROBRAS. Lamentavelmente nada
posso afirmar.
Quanto ao problema de Pacaraima, a precariedade da aduana e a afirmação
de que os órgãos brasileiros de controle envergonham os brasileiros perante os
venezuelanos, o que posso dizer é o seguinte: todos os anos o comandante daquele
batalhão de selva de Santa Elena de Uairén visita pelo menos uma vez o nosso
pelotão de fronteira em Pacaraima para mostrar aos seus subordinados a maneira
competente de controlar a logística das suas forças.
Só por curiosidade, os venezuelanos não conseguem desdobrar pequenos
efetivos, tal como nós, brasileiros, fazemos. Eles só conseguem ter grandes efetivos,

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porque os pequenos efetivos ensejam o descontrole, o contrabando, a venda e a


perda de armamento, o que não acontece com a nossa cultura militar. Temos
pequenos destacamentos e um controle cerrado do nosso equipamento e da nossa
munição. Isso tem servido de exemplo para os companheiros venezuelanos de
Santa Elena de Uairén.
Quanto à sua pergunta sobre o que estamos fazendo, eu poderia dizer ao
senhor que o programa Calha Norte, gerido pela minha Secretaria, aplicou 60
milhões de reais no seu Estado, no ano passado. Para este ano, há previsão
semelhante. Então, estamos fazendo a nossa parte, dentro do possível, dentro dos
recursos previstos.
O SR. DEPUTADO NEUDO CAMPOS - Se me permite um aparte, general,
gostaria de perguntar qual a contribuição que a sua Secretaria pode dar para
sensibilizar o Governo Federal para essa questão. Quando se observa que do outro
lado da fronteira se dá maior importância ao desenvolvimento, como citei o caso da
Zona Franca de Santa Elena, devo dizer que temos do nosso lado, em Pacaraima,
previsão de área de livre comércio, cuja lei instituidora foi aprovada em 1991, mas
até hoje a área não foi instalada. Foi aprovada antes das de Macapá e Santana, mas
não foi instalada ainda. O Governo Federal está inerte com relação àquela região.
Falei especificamente de Pacaraima.
Conheço e elogio a atuação do Calha Norte, da sua Secretaria. É a primeira
vez que sou Deputado, mas os Deputados mais antigos têm feito referências
altamente elogiosas à forma rápida com que vocês decidem e resolvem as
questões.
O SR. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA - Eu poderia dizer que a
nossa Secretaria ou, no caso, o Ministério da Defesa, toma suas providências de
forma normativa e sob a forma de assessoramento. Como se diz na minha terra, não
podemos nos meter em assuntos dos outros. Sugerimos, orientamos, mas “cada
macaco no seu galho”. Não temos que fazer a gestão, apenas ajudar. Temos que
ajudar. Esse é o ponto.
Quanto ao comentário da Deputada Perpétua Almeida, de fato, temos
conhecimento de que os ashaninkas têm sido defensores da fronteira. O problema

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está na cobiça que tem despertado a existência de mogno naquelas áreas do Javari
nas empresas asiáticas que receberam concessões no Peru.
A dificuldade está em controlar o contrabando de madeira que sai da reserva
indígena brasileira para o território peruano. Conforme esclareci, esse é um
problema que deve preocupar nossas autoridades federais e os policiais federais.
Não é um problema das Forças Armadas, embora tenhamos contribuído para
estancar esse problema.
Finalmente, a respeito da questão do preconceito contra o índio, não tive
oportunidade de ler o relatório, mas queria manifestar a nossa posição. Achamos
que é justo que o índio seja protegido. O índio tem que ter condições. Como dizia o
Marechal Rondon: “Morrer, se for preciso; matar, nunca!”
E também devemos proteger a cultura, a língua e a sobrevivência do índio,
individualmente e em grupo, mas isso deve ser feito, porém, subordinado ao
interesse da soberania nacional. A soberania nacional é um valor inquestionável que
transcende todos os demais interesses. Esse é o nosso enfoque. É possível
compatibilizar os interesses da soberania com a preservação e o bem-estar dos
grupos indígenas nacionais. Os índios são brasileiros como todos nós.
Em São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, pode-se confirmar que 80% dos
soldados que se orgulham da profissão são índios. Aquela afirmação de que nossos
soldados estavam corrompendo as índias na região conhecida como Cabeça do
Cachorro esvaziou-se, na medida em que os soldados são índios da mesma tribo.
Se eles estivessem a se confraternizar com brancas, aí sim estaria estabelecida
uma área de contencioso.
Agradeço a oportunidade de aqui fazer esses esclarecimentos. Coloco-me à
disposição na condição de brasileiro e de profissional do Ministério da Defesa.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Obrigada a V.Sa.,
General Santa Rosa.
Por fim, passo a palavra ao Dr. Mauro Spósito, representante do
Departamento de Polícia Federal.
O SR. MAURO SPÓSITO - Creio que a pergunta dirigida especificamente à
Polícia Federal foi apenas uma referência da Deputada Perpétua Almeida.

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Se me permitem, desde 1991 venho acompanhando a questão das terras


indígenas. Na demarcação da terra indígena ianomâmi, também surgiram as
mesmas questões. Tudo parece que se renova. Os argumentos apresentados
naquela época sobre a localização da terra indígena junto à fronteira foram
combatidos. Falarei apenas sobre o que se passou na época, na minha opinião.
Falava-se que as terras do Amazonas e de Roraima eram terras da União.
Como tal, na condição de terras devolutas, passavam a ser patrimônio da União
quando fossem registradas em cartório como terras indígenas. Portanto, ali se
assegurava realmente a eficácia da fronteira, o limite da fronteira, passando a ser
patrimônio.
Na realidade, durante todo esse tempo, coube apenas à FUNAI legislar
acerca da matéria. Então, não caberia aqui falar da Raposa Serra do Sol. Em 1991
houve discussões, inclusive foi instalada uma CPI aqui no Congresso. O Deputado
Átila Lins foi Presidente de uma CPI sobre esse assunto. Passados 16 anos —
talvez 20 anos —, a discussão é a mesma: o que é interessante para a Amazônia?
O fato é que há diversas “Amazônias”. O Amapá não é igual ao Acre, que não é igual
a Rondônia. Mas o bloco amazônico é patrimônio da União.
Se me permitem novamente insistir nisso, temos que tratar desse assunto
como um bloco e verificar as características de cada região, para que não voltemos,
daqui a 16 anos, com a mesma discussão. Esse mesmo episódio ocorreu em 1991.
Estamos em 2007, e isso irá se repetir, se não tomarmos alguma providência.
Em nome do Departamento de Polícia Federal, gostaria de agradecer
sinceramente a oportunidade de expor as nossas preocupações com a Amazônia.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Vanessa Grazziotin) - Muito obrigada, Dr.
Mauro Spósito.
Gostaria de agradecer mais uma vez a presença aos nossos convidados: Dr.
Buzanelli, Diretor-Geral da ABIN, que, no dia do seu aniversário, está conosco até
agora, e já passamos das 20h; o general Santa Rosa; e nosso querido Mauro
Spósito, representante da Polícia Federal. Agradeço a V.Sas. a presença.
Para todos nós Parlamentares que aqui estivemos foi uma audiência pública
muito concorrida. Quinze intervenções de Deputadas e Deputados foram feitas. Esta

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audiência foi de fundamental importância para que todos pudéssemos ter contato
maior com o problema. Ouvimos a opinião dessas 3 instituições importantes, a
Agência Brasileira de Inteligência, o Ministério da Defesa e a Polícia Federal, acerca
da Amazônia.
Agradeço aos convidados a contribuição e os esclarecimentos prestados. Da
mesma forma, agradeço a presença aos colegas Parlamentares e aos demais que
aqui estiveram e que contribuíram para o êxito deste nosso evento.
Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a presente reunião, antes, porém,
convoco as Sras. e Srs. Deputados para reunião ordinária deliberativa a ser
realizada amanhã, às 10h, no Plenário 15.
Obrigada a todos.
Está encerrada a reunião.

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