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Introdução:
Saviani afirma que as relações entre senso comum e filosofia assumem a forma de uma relação
de hegemonia baseada na estrutura da sociedade. Numa sociedade como a brasileira, ela é
marcada pelo antagonismo de classes, dessa forma as relações entre senso comum e filosofia
se travam na forma de luta (hegemônica). Luta hegemônica significa o processo de
desarticulação-rearticulaão, ou seja, trata-se de desarticular dos interesses dominantes aqueles
elementos que estão articulados em torno deles e rearticuá-los em torno dos interesses
populares. Dessa forma, considerando que “toda relação de hegemonia é necessariamente uma
relação pedagógica, entende-se a educação como um instrumento de luta para estabelecer
uma nova relação hegemônica que permita constituir um novo bloco histórico sob a direção da
calsse fundamental dominada da sociedade capitalista. Mas o proletariado não pode se erigir
em força hegemônica sem a elevação do nível cultural das massas.
Saviani afirma que a lógica dialética supera por inclusão/incorporação a lógica formal, pois a
formal está inserida na lógica dialética. O acesso ao concreto não se dá sem a mediação do
abstrato. Assim, aquilo que é chamado de lógica formal ganha um significado novo e deixa de
ser a lógica para se converter num momento de lógica dialética. A construção do pensamento
se dá partindo do empírico, passando pelo abstrato e chegando ao concreto. É um processo
porque o concreto não é o dado (empírico0, mas uma totalidade articulada, construída e em
construção. O concreto é, pois, histórico; revelado pela práxis. Portanto, a lógica dialética não
tem por objetivo as leis que governam o pensamento enquanto pensamento. Seu objetivo é a
expressão, no pensamento, das leis que governam o real. Categorias saturadas de concreto. A
lógica dos conteúdos em oposição a lógica das formas.
Saviani conclui que a passagem do senso comum à consciência filosófica é a condição necessária
para situar a educação numa perspectiva revolucionária. Sem a formação da consci~encia de
classe não existe organização e sem organização não é possível a transformação
revolucionária da sociedade. A elite que controlam os aparelhos de coerção relegam a educação
a uma questão que diz respeito meramente ao senso comum. Comportam-se como o jesuitismo
cuja preocupação era manter as massas ao nível do sincretismo que caracteriza o senso comum.
O autor tenta examinar em que a Filosofia pode ajudar a esclarecer os problemas da educação
e em que a História pode nos ajudar a entender esta problemática educacional. Se pegarmos,
por exemplo, a Filosofia, verificamos que o seu objeto são os problemas que surgem na
existência humana. Filosofia da Educação só terá sentido, portanto, na medida em que nos
permitir explicitar a problemática educacional. A atitude filosófica cumpre o desenvolvimento
de reflexão sobre os problemas que a nossa época está colocando; e se trata de assumir uma
atidude de reflexão sobre o que a situação concreta está nos colocando. A história serve para
entender os contextos e as forças históricas atuantes no indivíduo.
O desequilíbrio da sociedade brasileira é latenta, há uma fraqueza dos vínculos que unem os
diversos grupos e os conflitos e tensões daí decorrentes. É nesse quadro que o autor chama de
“desintegração cultural brasileira”, no qual deseja situar a educação como instrumento de
fortalecimento dos laços da sociedade. Tendo em vista que a organização social tende á
conservar a situação dominante, os desequilíbrios e tensões referidos tenderão também a
permanecer e se agravar. Nessa situação, o processo educativo só terá razão na medida em que
se revelar capaz de sistematizar a tendência à inovação solicitando deliberadamente o poder
criador do homem. O problema brasileiro é que a educação está presa a conservação e os
profissionais da educação, de modo geral, não estão instrumentalizados para abordar o
fenômeno educativo em termos do contexto que o configura, transitando com a desenvoltura
do processo em sua totalidade para as atividades específicas.