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P O DE R J UD IC I Á RI O

T RI BUN A L DE J UST IÇ A D O DI ST RIT O FE DE RA L E DO S T E RRIT Ó RI OS

HBC n. 2004 00 2 005451 - 1

Poder Judiciário
T RI BU N AL DE J U STI Ç A DO DI S TRI TO F ED E RAL E DO S
T E RRI TÓ RI O S

Órgão : 1ª TURMA CRIMINAL


Classe : HBC – HABEAS CORPUS
Num. Processo : 2004 00 2 005451-1
Impetrante : EDUARDO DE VILHENA TOLEDO e OUTRO
Paciente : DANIEL DE MELLO E SOUZA
Presidente : Desembargador LECIR MANOEL DA LUZ
Relator : Desembargador MARIO MACHADO

EMENTA: HABEAS CORPUS. ADMISSIBILIDADE


CONTRA ERRO DE PROCEDIMENTO COM
REPERCUSSÃO NA LIBERDADE DO PACIENTE. ERRO
MANIFESTO NO PROCEDIMENTO IMPRIMIDO À
EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO, IMPEDITIVO DE SEU
CONHECIMENTO PELO TRIBUNAL ANTES DA
REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E
JULGAMENTO PELO JUIZ EXCEPTO. RELEVÂNCIA DAS
RAZÕES DE SUSPEIÇÃO. POSSIBILIDADE, EXPRESSA
NO ARTIGO 101 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, DE
NULIDADE DOS ATOS DO PROCESSO PRINCIPAL.
CONCESSÃO DA ORDEM COM A SUSPENSÃO DO
PROCESSO PRINCIPAL ATÉ O JULGAMENTO DA
EXCEÇÃO PELO TRIBUNAL.

Admite-se o habeas corpus quando investe contra erro


de procedimento em matéria processual penal que tenha
repercussão na liberdade do paciente.

Manifestamente malferido o procedimento da exceção

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de suspeição, resultando atraso impeditivo de que o tribunal


dela conheça antes da audiência de instrução e julgamento,
em contexto de inegável relevância das razões de suspeição,
e diante da possibilidade, expressa no artigo 101 do Código
de Processo Penal, de que, “julgada procedente a exceção,
ficarão nulos os atos do processo principal”, impõe-se a
concessão da ordem, com a suspensão do processo principal
até o julgamento da exceção de suspeição pelo Conselho
Especial deste Tribunal.

Ordem concedida.

ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores da 1ª Turma Criminal do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (MARIO MACHADO, EDSON
ALFREDO SMANIOTTO e LECIR MANOEL DA LUZ), sob a presidência do
Desembargador LECIR MANOEL DA LUZ, em CONCEDER A ORDEM. UNÂNIME,
conforme ata de julgamento e notas taquigráficas.

Brasília-DF, 12 de agosto de 2004.

Desembargador LECIR MANOEL DA LUZ


Presidente

Desembargador MARIO MACHADO


Relator

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RELATÓRIO

Cuida-se de habeas corpus impetrado em favor de DANIEL DE MELLO E


SOUZA, alegando-se, em resumo, na inicial de fls. 2/14: que cabe o habeas corpus para
coibir desvios procedimentais que possam repercutir sobre a liberdade do réu; que o
paciente é réu em ação penal perante a 3ª Vara de Entorpecentes do Distrito Federal, sendo
o feito conduzido pelo MM. Juiz titular, Dr. Luís Gustavo Barbosa de Oliveira; que, em
18/06/2004, a defesa opôs exceção de suspeição, questionando sua imparcialidade na
condução do processo, eis que reiteradamente vem demonstrando interesse no julgamento
da causa em desfavor do ora paciente; que, conclusa a petição de exceção, seguiu-se
procedimento inusitado, que contraria as regras do processo penal, a começar pela
determinação de distribuição, feita no despacho de 21/06/2004; que esse procedimento
errado, afrontando o rito célere imposto pela lei à exceção, teve o propósito de manter o
excepto na condução do processo, inclusive para realizar a audiência de instrução e
julgamento marcada para 06/08/2004, antes de que o Tribunal julgue a exceção; que os
autos se encontram em primeiro grau, aguardando a decisão do excepto sobre se aceita ou
recusa a exceção; que o paciente tem direito a uma ampla defesa e a ser julgado por juiz
imparcial; que a realização da audiência trará prejuízos irreparáveis. Pede-se liminar para
sobrestar a audiência designada para 06/08/2004, até que seja apreciado o mérito da
exceção de suspeição pelo Tribunal. Pede-se, afinal, a concessão da ordem, confirmada a
liminar, com o sobrestamento da ação penal até o julgamento da exceção de suspeição pelo
Tribunal. Instruem a inicial os documentos de fls. 15/158.

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Distribuído o habeas corpus ao eminente desembargador Estevam Maia,


integrante do Conselho da Magistratura, S. Exa., em face da data designada para a
audiência, 06/08/2004, considerou precipitada a distribuição e determinou a redistribuição,
após as férias forenses (fls. 161/162).

Foram-me redistribuídos os autos (fl. 164).

Deferi a liminar em 02/08/2004, determinando a suspensão do processo


principal, inclusive vedando a realização da audiência designada, até ulterior deliberação do
relator ou do órgão colegiado (fls. 166/167).

Informações prestadas em 03/08/2004, esclarecendo o MM. Juiz: “O paciente


apresentou exceção de suspeição neste Juízo, contudo deixou de efetuar a sua devida
distribuição, nos termos do art. 152 do Provimento Geral da Corregedoria. Determinada a
sua distribuição e após regular tramitação, procedeu-se a sua conclusão. Nesta data,
procedi a análise dos fundamentos ventilados pelo excipiente. E após rejeitá-los,
determinei a remessa da respectiva exceção do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
Era o que me cabia informar. ...” (fls. 170/171).

O pronunciamento da ilustrada Procuradoria de Justiça é pela concessão da


ordem, confirmando-se a decisão em liminar já proferida (fls. 172/174).

É o relatório.

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VOTOS

O Senhor Desembargador MARIO MACHADO. Relator.

Considerando, de um lado, a amplitude constitucional do writ, que visa a coibir


qualquer restrição à liberdade de locomoção, fruto de ilegalidade ou abuso de poder, e, de
outro, que se afirma que o MM. Juiz argüido suspeito imprimiu procedimento
flagrantemente errado à exceção para realizar a audiência de instrução e julgamento, com
possível condenação do paciente em sentença, antes de que o Tribunal pudesse julgar a
exceção, e frisando que o ocasional reconhecimento da suspeição pelo Tribunal implica
nulidade dos atos do processo principal (art. 101 do CPP), admito o processamento do
habeas corpus.

Ao deferir a liminar, expendi os seguintes fundamentos:

“1. Relevante a argüição de suspeição, merece a imediata


apreciação do julgador, como determinam os artigos 99 e 100 do
Código de Processo Penal. A petição, reclamada pelo artigo 98 do
Código de Processo Penal, com data de 18/06/2004, que coincide
com o primeiro protocolo (fl. 19), foi despachada pelo MM. Juiz
excepto em 21/06/2004, com equivocada determinação para
distribuição “em três dias, sob pena de sequer ser processada”.
Feita a distribuição em 23/06/2004 (fl. 19), houve encaminhamento
dos autos ao Ministério Público em 28/06/2004 (fl. 16), após
abertura de vista em 25/06/2004 (fl. 115). Devolvidos os autos em
05/07/2004 (fl. 16), ficaram aguardando o retorno das férias do
MM. Juiz excepto, titular (fl. 158).

2. Sucede que, recebida a petição pelo MM. Juiz pelo


menos em 21/06/2004, cabia-lhe, de logo, reconhecer a suspeição
(artigo 99 do CPP) ou recusá-la, mandando-a autuar em apartado,
respondendo em três dias e remetendo os autos ao tribunal em vinte

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e quatro horas (artigo 100 do CPP). Como assim não fez,


retardando a decisão devida, e, de outra parte, foi designada
audiência de instrução e julgamento no processo principal para o
próximo dia 06/08/2004, inviabilizando o julgamento da exceção,
se por este Tribunal, antes do referido ato, a ser presidido pelo
MM. Juiz excepto, o que acentua a relevância da exceção, e ainda
considerando que se cuida de processo contra réus que se
encontram em liberdade, defiro, em parte, a liminar, e determino a
suspensão do processo principal, inclusive vedando a realização da
audiência designada, até ulterior deliberação deste relator ou do
órgão colegiado.

3. Comunique-se para imediato cumprimento e


solicitem-se informações.

4. Após, ao Ministério Público.

I.” (fls. 166/167).

Prevalecem tais razões, às quais, pedindo licença, acrescento as aduzidas pela


Exma. Procuradora de Justiça, Dra. Marinita Maria da Silva, verbis:

“(...)

II. Sabido é que por máxima de justiça, valor legitimador da


ação invasiva do Direito, deve o órgão julgador postar-se
eqüidistante das partes envolvidas na lide, de modo que, assim
procedendo, tenha condições de efetivamente representar a
realidade que se procura densificar nos autos e, então, possibilitar
que cada um receba o que de fato é seu.

Esta é a razão da exigência, inclusive de ordem


constitucional, da imparcialidade. O Pacto de San José da Costa
Rica, vigente entre nós desde 1992, vem reforçar esse cânone da
justiça.

Compulsando os autos, aliás, como bem pontuado na decisão


concessiva da liminar pleiteada, a autoridade impetrada não se
ateve ao procedimento do CPP para o processamento exceção em

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tela, fazendo com que a decisão que a lei entendeu dever ser
célere, somente fosse proferida após a interposição do presente
writ.

Veja-se que nesta via mandamental não é possível, até mesmo


por ser defeso exame aprofundado do acerco probatório, perceber-
se mácula sequer na postura adotada pela autoridade indigitada
coatora, mas ante a possível nulidade do feito principal, forçoso é
convir que convém suspendê-lo.

Ademais, segundo o sistema de andamentos processuais deste


E. Tribunal, a exceção já foi remetida ao Conselho Especial
estando conclusa ao relator desde o dia 06/08/04.

III. Assim, o Ministério Público do Distrito Federal oficia


pela concessão da ordem, confirmando-se a decisão em liminar já
proferida.” (fls. 173/174)

Friso que não é dado a qualquer magistrado ignorar o procedimento que se deve
imprimir a uma exceção de suspeição. Está ele expresso nos artigos 99 e 100 do Código de
Processo Penal:

“Art. 99. Se reconhecer a suspeição, o juiz sustará a marcha do


processo, mandará juntar aos autos a petição do recusante com os
documentos que a instruam, e por despacho se declará suspeito,
ordenando a remessa dos autos ao substituto.

Art. 100. Não aceitando a suspeição, o juiz mandará autuar em


apartado a petição, dará sua resposta dentro em 3 (três) dias,
podendo instruí-la e oferecer testemunhas, e, em seguida,
determinará sejam autos da exceção remetidos, dentro em 24 (vinte
e quatro) horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento.

§ 1º - Reconhecida, preliminarmente, a relevância da argüição, o


juiz ou tribunal, com citação das partes, marcará dia e hora para a
inquirição das testemunhas, seguindo-se o julgamento,
independentemente de mais alegações.

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§ 2º - Se a suspeição for de manifesta improcedência, o juiz ou


relator a rejeitará liminarmente.”

Na espécie, foi manifestamente malferido o procedimento. Foi determinada


distribuição da exceção, o que contraria frontalmente o artigo 100 do CPP e não é previsto
no artigo 152 do Provimento Geral da Corregedoria, referido pelo MM. Juiz e que não
indica semelhante distribuição, e, se o fizesse, não prevaleceria diante de norma legal de
hierarquia superior, como o Código de Processo Penal. Houve indevida vista e remessa da
exceção ao Ministério Público. Tudo às vésperas das férias forenses, atrasando o
procedimento e inviabilizando o julgamento da exceção pelo Tribunal antes da realização
da audiência de instrução e julgamento, com repercussão na liberdade do paciente, na
hipótese de eventual sentença condenatória proferida em seguida à audiência pelo MM.
Juiz excepto.

Destaco que, cientificado da liminar em 02/08/2004 (fl. 168), o MM. Juiz, no


dia seguinte, 03/08/2004, como informa à fl. 171, rejeitou a argüição de suspeição e
mandou os autos ao Tribunal. Por que não o fez logo que recebeu a petição em 21/06/2004,
possibilitando que o relator da exceção, atempadamente, em juízo preliminar, deliberasse
sobre a realização ou não da audiência? Só há duas respostas: erro manifesto ou propósito
de realizar a audiência antes do conhecimento da exceção pelo Tribunal. O certo é que, no
contexto das circunstâncias, fica desenganadamente acentuada a relevância dos motivos
deduzidos na exceção e, diante da possibilidade, expressa no artigo 101 do Código de
Processo Penal, de que, “julgada procedente a exceção, ficarão nulos os atos do processo
principal”, impõe-se a concessão da ordem, com a suspensão do processo principal até o
julgamento da exceção de suspeição pelo Conselho Especial deste Tribunal, como, aliás,
preconizado pela ilustrada Procuradoria de Justiça.

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Esclareço que os réus respondem ao processo principal em liberdade, pelo que


não há prejuízo com a suspensão pelo lapso de tempo necessário ao julgamento da exceção
de suspeição.

Informo que já recebi os autos da exceção de suspeição, que me foram


distribuídos, tendo proferido despacho inicial nos seguintes termos:

“1. Relevante a exceção.

2. Citem-se as partes (art. 100, § 1º, do CPP).

3. Oficie-se à egrégia Corregedoria de Justiça do


Distrito Federal e Territórios, solicitando-se seu concurso para
obter, junto ao Juízo de Direito da 3ª Vara de Entorpecentes e
Contravenções Penais do Distrito Federal, e encaminhar cópias
dos livros de “carga ao IML – Instituto Médico Legal”,
abrangendo o período de 02/02/2004 até 1º/07/2004, e de pauta de
audiências, abrangendo o período desde 02/08/2004 até a última
audiência designada.

4. Oficie-se ao ilustre Senhor Diretor-Geral da Polícia


Civil do Distrito Federal, com cópia do OF nº 2353, de 07/06/2004
(fls. 94/95), solicitando-se informe se recebeu da mesma autoridade
judicial ofícios de idêntica natureza relativos a outros processos,
encaminhando, em caso positivo, cópias dos mesmos.

5. Para aferir a eventual pertinência de se colher prova


oral, decline o excipiente, em três dias, quais específicos fatos
pretende esclarecer com a oitiva de cada testemunha arrolada.

I.”

Pelo exposto, confirmo a liminar e concedo a ordem, suspendendo o processo


principal até o julgamento da exceção de suspeição pelo Conselho Especial.

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É como voto.

O Senhor Desembargador EDSON ALFREDO SMANIOTO. Vogal.

Com o Relator.

O Senhor Desembargador LECIR MANOEL DA LUZ. Presidente e Vogal.

Com a Turma.

DECISÃO

Concedeu-se a ordem. Unânime.

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