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1 INTRODUÇÃO

1.1 DISCUSSÕES METODOLÓGICAS EM MARX

Este debate esta presente, sobretudo:

(1845-46) A Ideologia Alemã: primeiro capítulo, sobre Feurbach,


encontram-se algumas páginas sobre discussão metodológica;
(1847) A miséria da Filosofia: dedica-se cerca de 20 ou 30 páginas à
discussão metodológica;
Grundrisse: retoma-se a discussão metodológica expostas em suas
obras anteriores na abertura dos Grundrisse, onde é discutido o método
da Economia Política;
(1859) Prefácio à Crítica da Economia Política
(1859) Para a Crítica da Economia Política(1982, p. 3-21): Marx pode
enfim determinar precisamente, em sua plena maturidade, o seu objeto
de estudo e o seu método de investigação. É, pois, ao fim de quase 15
anos de pesquisa, que ele escreve, entre agosto e setembro de 1857, a
célebre " Introdução", onde a sua concepção teórico-metodológica surge
nítida
(1859) Contribuição á Crítica à Economia Política
No prefácio e, sobretudo, no Posfácio à segunda edição do capital
Marx faz observações metodológicas.

1.2 Evolução Intelectual e Encontro de seu Patamar


Metodológico

Desenvolvimento Elaboração teórico-científico do método


marxiano (NETO, 2011, p. 28). Evolução intelectual de marx e o
encontro de seu patamar metodológico
O trato Prático mental com o objeto

1.3- FUNDAMENTO DO MÉTODO EM MARX

Interdisciplinariedade entre História, Sociologia e Economia

Produção material da vida social

Descobrimento do procedimento fundante para se ter acesso à sociedade capitalista: Uma


teoria social da sociedade burguesa, portanto, tem que possuir como fundamento análise teórica da
produção das condições materiais da vida social. Este ponto de partida não expressa um juízo ou
uma preferência pessoais do pesquisador: ele é uma exigência que decorre do próprio objeto de
pesquisa - sua estrutura e dominância só serão reproduzidas com veracidade no plano, ideal a partir
desse fundamento; o pesquisador só será fiel ao objeto se atender a tal imperativo (é evidente que o
pesquisador é livre para encontrar explorar outras vias de acesso ao objeto que é a sociedade e
pode, inclusive, chegar a resultados interessantes; entretanto tais resultados nunca permitirão
articular uma teoria social que dê conta dos níveis decisivos e da dinâmica fundamental da sociedade
burguesa). (NETO, 2011, p. 39).

(produção material da vida social é uma porta de acesso, não um determismo)

Mas - por todo o acúmulo teórico que realizou com suas pesquisas anteriores - ele está
igualmente convencido de que o passo necessário e indispensável para apreender a inteira riqueza
dessas relações sociais consiste na plena compreensão da produção burguesa moderna. Sem esta
compreensão; será impossível uma teoria social que permita oferecer um conhecimento verdadeiro
da sociedade burguesa como totalidade (incluindo, pois, o conhecimento – para além da sua
organização econômica – das suas instituições sociais e políticas e da cultura). Para elaborar a
reprodução ideal (a teoria) do seu objeto real (que é a sociedade burguesa), Marx descobriu que o
procedimento fundante é a análise do modo pelo qual nele se produz a riqueza material. A questão
da riqueza material - ou, mais exatamente, das condições materiais da vida social -, porém, não
envolve apenas a produção, mas articula ainda a distribuição, a troca (e a circulação, que é "a troca
considerada em sua totalidade") e o consumo (...). (NETO, 2011, p. 38-39).

Marx está convencido, em função dos estudos históricos que já realizara, de que "a
sociedade burguesa é a organização histórica mais desenvolvida, mais diferenciada da produção". E
deixa bem claro que o conhecimento rigoroso da sua produção material não basta para esclarecer a
riqueza das relações sociais que se objetivam no marco de uma sociedade assim complexa; por
exemplo, no trato da cultura, Marx enfatiza a existência de uma "relação desigual do desenvolvimento
da produção material face à produção artística" e assinala ainda a dificuldade para clarificar "de que
modo as relações de produção, como relações jurídicas, seguem um desenvolvimento. (NETO, 2011,
p. 38).
Uma teoria social da sociedade burguesa, portanto, tem que possuir como fundamento a
análise teórica da produção das condições materiais da vida social. Este ponto de partida não
expressa um juízo ou uma preferência pessoais do pesquisador: ele é uma exigência que decorre do
próprio objeto de pesquisa - sua estrutura e dinâmica só serão reproduzidas com veracidade no plano
ideal a partir desse fundamento; o pesquisador só será fiel ao objeto se atender a tal imperativo (é
evidente que o pesquisador é livre para encontrar e explorar outras vias de acesso ao objeto que é a
sociedade e pode, inclusive, chegar a resultados interessantes; entretanto tais resultados nunca
permitirão articular uma teoria social que dê conta dos níveis decisivos e da dinâmica fundamental da
sociedade burguesa)10 . (NETO, 2011, p. 38???).

Prefácio [Para a Crítica da Economia Política] Estruturado da seguinte maneira: - Neste


percurso destaca-se o trabalho por ele elaborado de revisão crítica da Filosofia do Direito em Hegel
da qual retirou em síntese as seguintes conclusões: “relações jurídicas, tais como formas de Estado,
não podem ser compreendidas nem a partir de si mesmas, nem a partir do assim chamado
desenvolvimento geral do espírito humano, mas, pelo contrário, elas se enraízam nas relações
materiais de vida, cuja totalidade foi resumida por Hegel sob o nome de “sociedade civil”.  Marx
informa que, após ter terminado o trabalho de Crítica da Filosofia do direito em Hegel, compreende
que a anatomia da sociedade burguesa deveria ser procurada na Economia Política. E que, tendo
como indicativo este caminho, inicia seus estudos em Paris, continuando-os em Bruxelas. Explicita
então neste prefácio a conclusão geral que serviu de fio condutor a estes estudos.

3 MÉTODO DE PESQUISA E MÉTODO DE


EXPOSIÇÃO
Como se vê, para Marx, os pontos de partida são opostos: na investigação, o pesquisador parte de
perguntas, questões; na exposição, ele já parte dos resultados que obteve na investigação - por isso,
diz Marx," é mister, sem dúvida, distinguir formalmente o método de exposição do método de
pesquisa" . (NETO, 2011, p. 27).

3.1 MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO


(INVESTIGAÇÃO: apoderar-se da matéria, analisar diferentes
formas de seu desenvolvimento, analisar conexões entre estas)
O percurso do método de investigação é mais amplo, detalhado, e o método de exposição
representa uma síntese da análise concreta que pode ser apresentada de forma seqüencialmente
diferente do método de investigação, pois a forma de expor as conclusões de um estudo precisa ser
minuciosamente bem elaborada, a fim de que os resultados sejam melhor compreendidos por outros
indivíduos. (Masson, 108)

O papel do sujeito é fundamental no processo de pesquisa. Marx, aliás, caracteriza de modo


breve e conciso tal processo: na investigação, o sujeito "tem de apoderar-se da matéria, em seus
pormenores, de analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e de perquirir a conexão que há
entre elas" (Marx, 1968, p. 16). Neste processo, os instrumentos e também as técnicas de pesquisa
são os mais variados, desde a análise documental até as formas mais diversas de observação,
recolha de dados, quantificação etc.4 Esses instrumentos e técnicas são meios de que se vale o
pesquisador para "apoderar-se da matéria", mas não devem ser identificados com o método:
instrumentos e técnicas similares podem servir (e de fato servem), em escala variada, a concepções
metodológicas diferentes. Cabe observar que, no mais de um século decorrido após a morte de Marx,
as ciências sociais desenvolveram um enorme acervo de instrumentos/ técnicas de pesquisa, com
alcances diferenciados – e todo pesquisador deve esforçar-se por conhecer este acervo, apropriar-se
dele e dominar a sua utilização. . (NETO, 2011, p. 26).
Kozik (2002, p.37) alerta para o fato de que, apesar da afirmação de Marx, é comum ocorrer
a equiparação do método de investigação ao método de exposição. Por isso esse autor apresenta os
três graus do método de investigação para que não seja confundido com o método de explicitação: 1)
minuciosa apropriação da matéria, incluindo todos os detalhes históricos aplicáveis; 2) análise de
cada forma de desenvolvimento do próprio material; 3) investigação da coerência interna. (Masson,
107, nota)

É, sem dúvida, necessário distinguir o método de exposição formalmente, do método de


pesquisa. A pesquisa tem de captar detalhadamente a matéria, analisar as suas várias formas de
evolução e rastrear sua conexão íntima. Só depois de concluído esse trabalho é que se pode expor
adequadamente o movimento real. Caso se consiga isso, e espelhada idealmente agora a vida da
matéria, talvez (Masson, 107)

2 MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO

2.1 APARÊNCIA (pré-teórica)

2.1 Ponto de partida do conhecimento


O ponto de partida da investigação marxiana é a aparência
(expressão factual, empírica, fenomênica da realidade) que é um fato ou
conjunto de fatos e que constitui o ponto de partida do conhecimento.
Lembrar que a aparência é real; mas limitada.

2.2 Sistematização dos dados da aparência

A descrição, a sistematização, a organização e a evidência dos


fatos da empiria são absolutamente importantes para o conhecimento,
mas não constituem o conhecimento teórico, na ótica marxiana. Embora
esses elementos sejam indispensáveis para a construção teórica – um
conhecimento minucioso, rigoroso circunstanciado dos elementos
empíricos, a partir dos quais se constroem o conhecimento – isso não
constitui a especificidade da elaboração teórica, mas é sua preparação.

2.3 A aparência é sinal de processos


A aparência revela, mas também oculta. Isso se deve porque, para
Marx, a aparência é importante e o conhecimento parte da aparência,
mas este é só seu ponto de partida, pois ela não esgota a estrutura do
processo de que é sinal, ela é a coagulação de processos. A aparência
mostra, sinaliza, revela, mas ela também esconde, mistifica e oculta.

2.4 Detecção dos Processos

A elaboração teórica é uma negação da expressão empírica do


real.
Marx parte da aparência que para ele é um indicador de processos. P
Marx o factual, a empiria é a expressão coagulada de processos. Ser é
processo, é movimento. Toda expressão fática, toda coisa, são
expressões empíricas de processos.
Por isso conhecer é negar a aparência, a factualidade, empiria.
Negar não é, contudo, cancelar, ignorar; o conhecimento parte da
aparência para ultrapassá-la, ir além, superá-la. E ir além da aparência
consiste nessa negação da factualidade. A empiria ou fenômeno,
aparência, é o ponto de partida do conhecimento, mas ela não esgota a
estrutura do processo de que é sinal. Marx parte do pressuposto de que
se aparência e essência coincidissem não seria necessário ciência,
bastaria deitar os olhos no objeto;

3.1.2 ABSTRAÇÃO E DETECTAÇÃO DOS PROCESSOS (FASE


TEÓRICA)

(Mundo como um conjunto de processos)


Por estes anos, como Engels o recordará bem mais tarde, já
estavam - ele e Marx - de posse de "uma grande ideia fundamental", que
extraíram de Hegel: a ideia "de que não se pode conceber o mundo
como um conjunto de coisas acabadas, mas como um conjunto de
processos" (Marx-Engels, 1963, v. 3, p. 195).
É a partir desta "ideia fundamental" –prosseguirá Engels noutra
oportunidade – que se concebe o mundo da natureza, da história e do
espírito como um processo, isto é, como um mundo sujeito a constante
mudança, transformações e desenvolvimento constante, procurando
também destacar a íntima conexão que preside este processo de
desenvolvimento e mudança. Encarada sob este aspecto, a história da
humanidade já não se apresentava como um caos [ ... , mas, ao
contrário, se apresentava como o desenvolvimento da própria
humanidade, que incumbia ao pensamento a tarefa de seguir [ .. . ] até
conseguir descobrir as leis internas, que regem tudo o que à primeira
vista se pudesse apresentar como obra do acaso (Engels, 1979, p. 22).
(NETO, 2011, p. 32).

O primeiro passo do conhecimento teórico é tomar a factualidade


como indicadora de processos, cabendo à razão identificá-los (faculdade
racional, a faculdade da abstração). Destarte, cabe à razão, num
movimento de abstração, ir além da factualidade para a identificação
dos processos que a explicam e a implicam. A identificação dos
processos dos quais a factualidade é a aparência.

Papel da abstração
No caso da pesquisa histórico-social, esse negar a empiria passa
obrigatoriamente pelo recurso da abstração. Sem processo abstrativo,
sem a capacidade de se abstrair do fato dado é impossível a construção
da elaboração teórica. É o processo da abstração (faculdade racional de
se descolar do imediato, que nos leva para além do dado) que nos é
possível identificar processos que são sinalizados por aquela forma
fenomênica.
É só pelo movimento da abstração que se pode abandonar o domínio do
abstrato. E através do movimento da abstração q se constitui aquilo que
é essencial ao método marxiano, q é a elevação do abstrato ao
concreto. É precisamente o processo de abstração q permite á razão
superar o caráter abstrato da expressão fática. Quando se dá esse
passo abandona-se o domínio da facticidade, pois o pensamento
detecta, localiza, explora, processos que a constituem.
A abstração é a capacidade intelectiva que permite extrair de sua
contextualidade determinada (de uma totalidade) um elemento, isolá-lo,
examiná-lo; é um procedimento intelectual sem o qual a análise é
inviável – aliás, no domínio do estudo da sociedade, o próprio Marx
insistiu com força em que a abstração é um recurso indispensável para
o pesquisador11• A abstração, possibilitando a análise, retira do
elemento abstraído as suas determinações mais concretas, até atingir
"determinações as mais simples". Neste nível, o elemento abstraído
torna-se "abstrato" (...) (NETTO, 2011, p. 44).

Detecção de outros processos ligados à esses processos


Todavia, esses processos não estão perdidos no espaço, estão
conectados a outros processos. Pelo caminho da abstração, esses
processos deve ser detectados, devem ser analisados pelos
investigador. Porém esses outros processos se expressam
empiricamente, tem sinais fáticos.
Ao lermos o Capital, percebemos que Marx não opera conceitos e
significados a priori ( como Weber e Dukheim), mas sim com a
saturação de terminações, como uma esponja encharcada. Quando eu
volto a observar o objeto, a minha reprodução ideal está cheia de
determinações. O conhecimento teórico tende a saturação máxima de
determinações e as determinações só são encontradas no processo da
pesquisa.
Portanto, conhecer algo é conhecer suas determinações q no
contato imediato com o objeto, com a empiria não são visíveis. Os fatos
nada nos dizem, não são eloquentes, mas o teórico pode apreender
sua voz que é inaudível na sua relação imediata com o objeto. O
conhecimento é conhecimento das determinações que são de múltiplas
naturezas, de múltiplas ordens.

3.1.3 MEDIAÇÃO OU ENCONTRO DAS INTERAÇÕES ENTRE


AS DETERINAÇOES
As determinações estão metamorfoseadas na constituição do
objeto. Contudo, passa-se de uma determinação a outra não num
processo de soma, nem de adição ou aglutinação. O que há é uma
imbricação e uma mutua interação entre essas
determinações. Encontrar as determinações e suas relações é buscar
as mediações.

Cabe também precisar o sentido das "determinações":


determinações são traços pertinentes aos elementos constitutivos da
realidade; nas palavras de um analista, para Marx, a determinação é um
"momento essencial constitutivo do objeto" (Dussel,1985, p. 32). Por
isso, o conhecimento concreto do objeto é o conhecimento das suas
múltiplas determinações - tanto mais se reproduzem as determinações
de um objeto, tanto mais o pensamento reproduz a sua riqueza
(concreção) real. As "determinações as mais simples" estão postas no
nível da universalidade; na imediaticidade do real, elas mostram-se
como singularidades – mas o conhecimento do concreto opera-se
envolvendo universalidade, singularidade e particularidade12. (NETTO,
2011, p. 45).

Também não oferecemos definições ao leitor. Porque procede pela


descoberta das determinações, e porque, quanto mais avança na
pesquisa, mais descobre determinações - conhecer teoricamente
é (para usar uma expressão cara ao Professor Florestan
Fernandes) saturar o objeto pensado com as suas determinações
concretas -, Marx não opera com definições. a "viagem em sentido
inverso", as "abstrações mais tênues" e as "determinações as mais
simples" vão sendo carregadas das relações e das dimensões que
objetivamente possuem e devem adquirir para reproduzir (no plano do
pensamento) as múltiplas determinações que constituem o concreto
real. (NETTO, 2011, p.54).

Tais relações nunca são diretas; elas são mediadas não apenas
pelos distintos níveis de complexidade, mas, sobretudo, pela estrutura
peculiar de cada totalidade. Sem os sistemas de mediações (internas e
externas) que articulam tais totalidades, a totalidade concreta que é a
sociedade burguesa seria uma totalidade indiferenciada - e a
indiferenciação cancelaria o caráter do concreto, já determinado como
"unidade do diverso"16• (NETTO, 2011, p.58).
3.1.4 RETORNO À APARÊNCIA

Em suma, o pensamento parte do dado fático, abstrai-se dele, localiza


(identifica) os processos que esse dado sinaliza, vincula este a outros
processos. Depois disso, retorna ao domínio de empiria e identifica os
fatos, os fenômenos, a formas empíricas que sinalizam esses outros
processos. Então o pesquisador retorna a forma empírica da onde
partiu. É claro que essa forma empírica continua a mesma – na ótica
marxiana, a teoria nada produz, ela reproduz.
Retomada da realidade em outras dimensões
Contudo, essa realidade é agora tomado pelo pensamento em
dimensões absolutamente não assumidas ou apreendidas pelo
pensamento, no seu ponto de partida. O fenômeno está do mesmo jeito,
mas depois dessa longa viagem o investigador pode ver no fato – na
expressão empírica – aquilo q, inscrito no fato, não é evidente ao olhar,
que não se sustenta nesse circuito analítico [contradição?].
No caminho de retorno à empiria, ao factual, encontramos suas
determinações. Por conseguinte, investigação e pesquisa na ótica de
marx é a busca, a procura das suas determinações.

3.1.5 CONCRETO PENSADO: AGORA O OBJETO É A


EXPRESSÃO DE PROCESSOS

Quando eu utilizo um objeto minha relação com ele é imediata, quando


eu faço o trajeto do conhecimento o objeto não se me põe mais como
imediato. O processo do conhecimento dissolveu a imediaticidade do
objeto; que não é mais um fato mas a expressão de um processo.
Em suma, o conhecimento teórico é o encontro das
determinações, a localização das mediações. O conhecimento teórico é
a ultrapassagem do imediato, é a elevação do dado imediato – que é o
abstrato. É aquilo q dissolvida sua imediaticidade é a síntese de muitas
determinações, o concreto.
Quando eu tomo o objeto concretamente, esse concreto aparece como
resultado do movimento do pensamento, pensamento que localizou
determinações mediações.
Parece que foi meu pensamento que construiu essa concreção, mas ñ e
verdade; ela já estava dada, só foi reconstruída. A imediaticidade da
relação com o objeto impedia que essa concreção emergisse. Logo, o
pensamento não gesta o concreto; o pensamento o reproduz, reconstrói
o processo de constituição do concreto: o concreto pensado e produto
do movimento do pensamento, não o concreto real.

CATEGORIAS EM MARX
Ora, o objetivo da pesquisa marxiana é, expressamente,
conhecer "as categorias que constituem a articulação interna da
sociedade burguesa". E o que são "categorias", das quais Marx cita
inúmeras (trabalho, valor, capital etc.)? As categorias, diz
ele, "exprimem [ ... ] formas de modo de ser, determinações de
existência, frequentemente aspectos isolados de [uma] sociedade
determinada" - ou seja: elas são objetivas, reais (pertencem à ordem do
ser, são categorias ontológicas); mediante procedimentos intelectivos
(basicamente, mediante a abstração), o pesquisador as reproduz
teoricamente (e, assim, também pertencem à ordem do pensamento-
são categorias reflexivas). Por isso mesmo, tanto real quanto
teoricamente, as categorias são históricas e transitórias: as categorias
próprias da sociedade burguesa só têm validez plena no seu marco (um
exemplo: trabalho assalariado). E, uma vez que, como vimos, para
Marx "a sociedade burguesa é a organização histórica mais
desenvolvida, mais diferenciada da produção" –vale dizer: a mais
complexa de todas as organizações da produção até hoje conhecida -, é
nela que existe realmente o maior desenvolvimento e a maior
diferenciação categorial.
Logo, a sua reprodução ideal (a sua teoria) implica a apreensão
intelectiva dessa riqueza categorial (o que significa dizer que a teoria da
sociedade burguesa deve ser também rica em categorias13). Depois de
anotar que a sociedade burguesa apresenta a mais desenvolvida
organização da produção, Marx, numa argumentação que interdita
qualquer procedimento de natureza positivista, observa: (NETTO, 2011,
p. 46-47).

Obviamente, afirmando-se que o presente ilumina o passado (ou,


noutras palavras: que a forma mais complexa permite compreender
aquilo que, numa forma menos complexa, indica potencialidade
de ulterior desenvolvimento), não se descura a necessidade de
conhecer a gênese histórica de uma categoria ou processo - tal
conhecimento é absolutamente necessário. Mas dele não decorre o
conhecimento da sua relevância no presente – sua estrutura e sua
função atuais. Ambos, estrutura e função, podem apresentar
características inexisten-tes ou atrofiadas no momento da sua
emergência histórica. Assim, as condições da gênese histórica não
determinam o ulterior desenvolvimento de uma categoria. Por isso
mesmo, o estudo das categorias deve conjugar a análise diacrônica (da
gênese e desenvolvimento) com a análise sincrônica (sua estrutura e
função na organização atual)14• (NETTO, 2011, p. 49).
Entretanto, retornemos à última citação de Marx. Adicionalmente, e
dando consequência à observação que acabamos de fazer, ele adverte:
se a economia burguesa fornece a chave da economia da Antiguidade,
isto não significa a inexistência de diferenças históricas - as categorias
não são eternas, são historicamente determinadas e esta determinação
se verifica na articulação específica que têm nas distintas formas de
organização da produção. Esta é a conclusão de Marx: no estudo
da sociedade burguesa, [ ... ]seria, pois, impraticável e errôneo
colocar as categorias econômicas na ordem segundo a qual tiveram
historicamente uma ação determinante.[ .. . ) ão se trata da relação
que as relações econõmicas assumem historicamente na
sucessão das diferentes formas de sociedade. [ ... ] Tratase da sua
hierarquia no interior da moderna sociedade burgueSa. E foi neste
sentido que se desenvolveu a pesquisa de Marx: encontrar a articulação
específica
que a organização burguesa, organização da produção, confere às
(suas) categorias econômicas. (NETTO, 2011, p.50).

TEORIA EM MARX

O conhecimento teórico não é o conhecimento prático-mental, q


implica a instrumentalização e a manipulação: “os homens não sabem,
mas fazem.”
Teoria: reprodução ideal, reconstrução no plano das ideias, do
movimento do objeto real. Todavia, reprodução não é espelhamento,
não é copia.
A empiria ou fenômeno, aparência, é o ponto de partida do
conhecimento, mas ela não esgota a estrutura do processo de que é
sinal. Marx parte do pressuposto de que se aparência e essência
coincidissem não seria necessário ciência, bastaria deitar os olhos no
objeto; em oposição ultra empirista pós-moderna. Contudo, essa
reprodução não se faz independe da natureza do objeto, ela lhe deve
ser fiel.
O ponto de partida de qualquer teoria é sempre a pergunta, a
duvida, o reconhecimento de uma insuficiência sobre o conhecimento
de conhecimento de algo.
As categorias não são criações da cabeça dos homens, mas sim
traços constitutivos do movimento desse objeto, do capital.
O bom pesquisador não é o sujeito q bota 4 categorias na sua
cabeça e sai caçando o objeto. O pesquisador extrai as categorias do
objeto q ele pesquisa. Marx desenvolveu um arsenal categorial.

Assim, a teoria é o movimento real do objeto transposto para o


cérebro do pesquisador - é o real
reproduzido e interpretado no plano ideal (do pensamento).
Prossigamos: para Marx, o objeto da pesquisa (no caso, a sociedade
burguesa) tem existência objetiva; não depende do sujeito, do
pesquisador para existir. O objetivo do pesquisador, indo além da
aparência fenomênica, imediata e empírica-por
onde necessariamente se inicia o conhecimento, sendo essa
aparência um nível da realidade e, portanto,
algo importante e não descartável-, é apreender a essência (ou
seja: a estrutura e a dinâmica)
do objeto. Numa palavra: o método de pesquisa que propicia o
conhecimento teórico, partindo da aparência, visa alcançar a essência
do objeto2• Alcançando a essência do objeto, isto é: capturando a sua
estrutura e dinâmica, por meio de procedimentos analíticos e operando
a sua síntese, o pesquisador a reproduz no plano do pensamento;
mediante a pesquisa, viabilizada pelo método, o pesquisador reproduz,
no plano ideal, a essência do objeto que investigou NETO 21-
22
LEIS E CRITÉRIO DE VERDADE DA TEORIA

Entretanto, essa característica não exclui a objetividade do


conhecimento teórico: a teoria tem uma
instância de verificação de sua verdade, instância que é a prática
social e histórica. Tomemos um exemplo: da sua análise do movimento
do capital, Marx (1968a, p. 712-827) extraiu a lei geral da acumulação
capitalista, segundo a qual, no modo de produção capitalista, a
produção da riqueza social implica, necessariamente, a reprodução
contínua da pobreza (relativa e/ou absoluta); nos últimos 150 anos, o
desenvolvimento das formações sociais capitalistas somente tem
comprovado a correção de sua análise,
com a "questão social" pondo-se e repondo se, ainda que sob
expressões diferenciadas, sem solução de continuidade. E ainda outro
exemplo: analisando o mesmo movimento do capital, Marx (1974, 1974a
e 1974b) descobriu a impossibilidade de o capitalismo existir sem crises
econômicas; também, no último século e meio, a prática social e
histórica demonstrou o rigoroso acerto dessa descoberta. Essas e
outras projeções plenamente confirmadas sobre o desenvolvimento do
capitalismo não se devem a qualquer capacidade "profética'' de Marx:
devem-se a que sua análise da dinâmica do capital permitiu-lhe extrair
de seu objeto "a lei econômica do movimento da sociedade moderna"
(Marx, 1968, p. 6) - não uma "lei" no sentido das leis físicas ou das leis
sociais durkheimianas "fixas e imutáveis", mas uma tendência histórica
determinada, que pode
ser travada ou contrarrestada por outras tendências3 Neto p. 23-
24
ASPECTO SINCRÔNICO E DIACRÔNICO DO MÉTODO
Como Marx opera no Capital com o salário, há varias
determinações que determinam o salario. Achando um conjunto de
determinações ele começa o processo novamente localizar outras,
procedendo assim indefinidamente, por saturação de determinações.
Marx utiliza esse método com todos os componentes do seu objeto. Ele
o faz em duas óticas concomitantes. Quando Marx toma o fato, ele o
toma numa dupla perspectiva. A perspectiva do aqui, o que q é o salário
agora, o q ele representa hoje, ou seja, qual é a sua dimensão
sincrônica; trabalhando com o eixo da simultaneidade, com um corte
vertical. Ele trata de identificar a estrutura desse fenômeno.
Simultaneamente, Marx acompanha seu desenvolvimento histórico, ele
vai para a Grécia e tenta identificar esse fenômeno. Ele não o identifica,
acha sua origem na sociedade romana. Localizando sua gênese e
comparando sua significação original com a contemporânea, percebe
que o significado desse fenômeno mudou no seu desenvolvimento
histórico. Portanto, Marx trabalha não somente no sentido da sincronia.,
mas também no da diacronia, no corte horizontal. Marx faz as duas
coisas simultaneamente.
Todavia, conhecer a gênese do processo não me garante
conhecer sua estrutura contemporânea, sua significação sócio-histórica
atual. Um fenômeno pode ser o mesmo, mas seu significa sócio
histórico muda, ou seja, a sua função econômica social, como no caso
da escravidão. Por isso a pesquisa histórica, a pesquisa genética e
necessária para a compreensão da estrutura e do papel contemporâneo
do fenômeno estudado. O trato marxiano de quaisquer fenômenos ou
processos é sempre diacrônico e sincrônico, histórico e sistemático,
genético e estrutural.
Mas a pesquisa de Marx não para aí, sua pesquisa é sempre
documental, tanto para os tempos antigos quanto para o seu presente;
confrontando esses documentos com a realidade. Foi a partir dessas
descobertas metodológica e registros, que estão sobretudo nos
Manuscritos, que Marx começa a redação do capital.
É a partir disso tudo q Marx forma seu patamar teórico
metodológico em 1857. Que ele vai usar como ponto de partida p suas
analises seguintes.

Em ultima análise, para Marx, o conhecimento teórico é a caça, o


encontro das determinações que constituem aquilo q se expressa como
fenômeno. Mas o q são as determinações? São traços constitutivos do
movimento sinalizado pela existência empírica do fenômeno. São traços
efetivos, reais e não empíricos, q existem. As determinações
expressam-se na efetividade do ser social, elas expressam formas de
ser do real. As determinações são traços constitutivos desse movimento
que constitui o real. Isso significa que mesmo q eu não conheça elas
existem e operam. O que a consciência teórica faz é apreendê-las.
Como esses traços constitutivos são captados teoricamente? São
captados como categorias. Q são o produto da analise do real pela
razão. É impossível as pesquisas sem as categorias, q são um traço
constitutivo do objeto. As categorias expressam formar de ser da
realidade.

A concepção de realidade de Marx é a de realidade sócio-historica, não


e válida p realidade natural. Todo pensamento social da modernidade e
de uma historia e sociedade moventes. A realidade p Marx tem um
caráter dinâmico-processual. Em Marx essa dinâmica é uma dinâmica
imanente, constitutiva do mundo histórico social, e ela é determinada
pelas contradições e antagonismos que são gestados nas instancia
constitutivas da realidade sócio-histórica.

MÉTODO DE EXPOSIÇÃO EM MARX


É só quando está concluída a sua investigação (e É sempre
relevante lembrar que, no domínio cienífico, toda conclusão é sempre
provisória, sujeita a com?rovação, retificação, abandono etc.) que o
pesqmsador apresenta, expositivamente, os resultados a que chegou. E
Marx, na sequência imediata da última citação que fizemos, agrega: Só
depois de concluído este trabalho [de investigação] é que se pode
descrever, adequadamente, o movimento real. Se isto se consegue,
ficará espelhada, no plano ideal, a vida da realidade pesquisada (id.,
ibid.).
NOTA O ~róprio Marx recorreu à utilização de distintas té<:nicas
de pesquisa
(hoje caractenzadas como análise bibliográfica e documental análi
de conteúdo, observação sistemática e participante, entrevista;,
instru~
~en~os quant1tat1vos etc.); conhece-se, inclusive, um minudoso
questJOnano
que elaborou, disponível em Th.iollent (1986). Neto 26

3.1.6 A RAZÃO NUNCA ESGOTA O OBJETO

A razão nunca esgota o real por causa da sua complexidade e


dinamicidade, ele é móvel e dinâmico. Sua complexidade de hoje não é
a complexidade de amanhã. Mas isso não impede que a razão apanhe a
riqueza estrutural do real, por isso o método marxiano também é
conhecido como método das aproximações sucessivas.

17:49 Resumo do método de marx:

CONCLUSÃO MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO EM MARX


O método de investigação em Marx caracteriza-se por desvelar as
determinações de um objeto que está num circuito de coisas q o
determinam.
O concreto verdadeiro não reside no sensível, no imediato; o
sensível é a primeira forma de abs-tração e é, também, o primeiro
concreto. Represen-ta a apreensão global, confusa, sincrética do real
concreto, caracteriza-se como uma apreensão abs-trata. Marx alerta que
não podemos esquecer que o todo já existe na realidade objetiva antes
de ser reproduzido no plano do pensamento. Com a limita-ção presente
na identidade sujeito-objeto, o idea-lismo hegeliano não concebe a
realidade indepen-dente da consciência. 108
ABRANGENCIA DAS CATEGORIAS MARXIANAS
Qual é a abrangência da teoria de Marx? Ela é instigante para
pesquisarmos formas societais pré-capitalista, mas as determinações
teóricas de Marx têm um objeto bem definido. Ela é uma teoria social
referida a ordem burguesa: isso põe claramente seu limite e
universalidade. A sua universalidade, contemporaneidade e poder de
análise de suas categorias são válidas nas formas societas nas quais o
capital é o comando do trabalho. Só quando se esgotar historicamente o
objeto de Marx, suas categorias analíticas, seus potencial analítico de
Marx também vai se esgotar. Portanto, enquanto for vigente a ordem
burguesa, as categorias de marxianas serão válidas.

BIBLIOGRAFIA

NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método em Marx.


1. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

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