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As 4 + 1 Condições da análise

Cap. 1 - As funções das entrevistas preliminares


A retificação subjetiva

1. É nesse tempo preliminar à análise propriamente dita que podemos incluir um tipo de
interpretação do analista designado por Lacan como retificação subjetiva. Ao criticar os
autores que têm como meta da análise a relação com a realidade, ou seja, o fim da análise
como adaptação à realidade, ele chama a atenção para o fato de Freud proceder com o
Homem dos Ratos na ordem inversa: “Ou seja, ele começa por introduzir o paciente a um
primeiro discernimento (repérage) de sua posição no real, ainda que este acarrete uma
precipitação, não hesitemos em dizer, uma sistematização dos sintomas.”30
2. A retificação subjetiva que Freud provoca no Homem dos Ratos, considerada por Lacan
como interpretação decisiva, encontra-se na parte F, “A causa precipitadora da doença”,
quando ele lhe diz que o conflito entre seu projeto de casar com uma moça pobre e o
projeto familiar de casá-lo com uma moça rica, como o pai, é resolvido pela doença:
“caindo doente evitava a tarefa de resolvê-lo na vida real”. Freud retifica assim a ordem
das coisas modificadas pelo sujeito, cuja neurose impedia a decisão da escolha entre seu
amor (liebe) pela dama e a vontade (wille) do pai, mostrando-lhe que esta foi a solução
encontrada para não escolher, e portanto, não agir. “Na realidade, diz Freud, o que parece
ser a conseqüência é a causa ou o motivo de ficar doente.” Esta retificação introduz a
causalidade da neurose na não escolha entre a moça rica e a moça pobre, apontando a
divisão do sujeito. O comentário de Freud nessa retificação, de que “os resultados de uma
doença dessa natureza nunca são involuntários”, promove ainda a responsabilização do
sujeito na escolha da neurose. Na retificação subjetiva há, portanto, a introdução da
dimensão ética — da ética da psicanálise, que é a ética do desejo — como resposta à
patologia do ato que a neurose tenta solucionar escamoteando-a.
3. Outro exemplo de retificação subjetiva de Freud, qualificado por Lacan de notório, é
“quando ele obriga Dora a constatar que, dessa 32 As 4+1 condições da análise grande
desordem do mundo de seu pai cujo dano é o objeto de sua exclamação, ela fez mais do
que participar, que ela se constituíra como a cavilha dessa desordem, e que esta não
poderia ter continuado sem sua condescendência”. Mais adiante, Lacan continua:
“Sublinhei há muito o procedimento hegeliano desse reviramento das posições da bela
alma à realidade que ela acusa. Não se trata de adaptá-la a esta, mas de mostrar-lhe que
está justamente adaptada demais, visto que concorre para sua fabricação.”
4. Essa referência concerne ao texto “Intervenção sobre a transferência”, de 1951, no qual
Lacan define a experiência analítica a partir da intersubjetividade — a “relação de sujeito
a sujeito” — como experiência dialética, privilegiando o discurso na medida em que é
constituinte do sujeito graças à presença do analista, alvo do seu endereçamento.31 A
partir da dialética hegeliana, Lacan se dedica no caso Dora a escandir as estruturas onde
se transmuta a verdade para o sujeito através de “reviramentos dialéticos”. A retificação
subjetiva corresponde ao primeiro reviramento dialético operado por Freud. Dora se
queixa de ser vítima do assédio do Sr. K. propiciado pela relação amorosa de seu pai com
a Sra. K., situação que é apresentada por ela como um fato objetivo da realidade, que
Freud não pode mudar. A retificação subjetiva de Freud consiste em perguntar “qual é
sua participação na desordem da qual você se queixa?”.
5. Na situação descrita por Dora, encontramos a afirmação da situação deplorável na qual
está metida, a negação implícita de que tenha qualquer participação na determinação
dessa desordem, ou seja, negação de sua posição subjetiva (de sujeito desejante),
apresentando-a como ipso facto, e a negação da negação operada por Freud por
intermédio da retificação subjetiva. Seu efeito é a emergência da participação de Dora no
assédio do Sr. K. e de sua cumplicidade como propiciadora do romance do pai com a Sra.
K., desvelando a estruturação de seu desejo.
6. A partir dessas intervenções de Freud, podemos inferir duas vertentes da retificação
subjetiva segundo o tipo clínico.
7. Com o neurótico obsessivo, ela se situa no plano da retificação da causalidade, que se
apresenta como conseqüência: sua impossibilidade de agir que é correlata à sua
modalidade de sustentação do desejo como impossível. Esta correlação é ilustrada por
outra retificação de Freud ao Homem dos Ratos em que ele supõe uma interdição do pai
ao amor. As funções das entrevistas preliminares 33 do sujeito pela dama, fazendo surgir
a dimensão do Outro como o pai absoluto.
8. Com a histérica, a retificação subjetiva visa à implicação do sujeito em sua reivindicação
dirigida ao Outro, fazendo-o passar da posição de vítima sacrificada à de agente da intriga
da qual se queixa, e que sustenta seu desejo na insatisfação. “O que deve efetuar o sujeito
para se desvencilhar de seu papel da ‘bela alma’ é precisamente, diz Zizek, um tal
sacrifício do sacrifício: não basta ‘sacrificar tudo’, é preciso ainda renunciar à economia
subjetiva em que o sacrifício traz o gozo narcísico.”32
9. Nessas duas modalidades, trata-se de introduzir o sujeito em sua responsabilidade na
escolha de sua neurose e em sua submissão ao desejo como desejo do Outro. A retificação
subjetiva aponta que, lá onde o sujeito não pensa, ele escolhe; lá onde pensa, é
determinado, introduzindo o sujeito na dimensão do Outro.

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