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INSTITUTO DE TECNOLOGIA
Belém-Pará
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE TECNOLOGIA
2014
Aprovada em:______/______/______
BANCA EXAMINADORA
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Profa. Dra. Celma Chaves Pont Vidal/UFPa.
Orientador
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Membro da Banca
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Membro da Banca
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Membro da Banca
Dedico aos meus filhos Ramon, Gabriel e Lucian, seres que Deus me entregou com a
missão de educar e que me ensinaram que a maternidade é uma grande fonte de
energia e amor incondicional.
AGRADECIMENTOS
A minha professora orientadora, Celma Chaves Pont Vidal, por ter me aceitado como
orientanda no Mestrado, por me permitir participar de sua equipe de trabalho, por todos os
ensinamentos transmitidos ao longo deste aprendizado e pela compreensão nos momentos
difíceis.
À bibliotecária Marina Matos Farias, que se mostrou sempre atenciosa e disponível para
atender minha solicitações.
Ao Grande Arquiteto do Universo que me deu a Vida em corpo, mente e espírito, permitindo
usá-los na aquisição do conhecimento.
Ao amigo Pedro Mergulhão, um agradecimento todo especial por ter me mostrado o caminho
da Pós-Graduação e à minha comadre e amiga Carmen Lúcia Leal, a maior incentivadora ao
longo dos meus estudos e pesquisas.
This dissertation aims to examine the constitution of the urban history of the built
environment of Sao Bras Market in Belem do Para, in the period from 1950 to 1970, an
eclectic construction dating from the end of the rubber boom in the Amazon and the
management of the Superintendent Antonio Lemos. The market is a monument which belongs
to the patrimonial collection of the State and is active nowadays. From the notion of the urban
fabric, we established relationships between the architectural and historical facts in order to
investigate how they have progressed over time, resulting in a space where architecture
contributes to the development of social and business relationships. Assuming that
geographical proximity and economic importance of two urban facilities, the Sao Bras Market
and the Belem-Bragança Iron Station, have generated a dynamic that attracted other
architectures, we investigated the influence of public policies of modernization and progress,
which is reflected in the appearance of the built environment and typological relations with
the market. Using the methodology of case study and the combinations of interpretive /
qualitative history strategies, this paper attempts to present that the intrinsic features of the
buildings fulfilled their role and that events in their spaces produced perceptual phenomena in
existential place. The public market and its surroundings condense social practices that
associated to these phenomena ensure their continuity in the city, given the context of
contemporary society.
INTRODUÇÃO 12
1 – Escolha e definição do objeto de estudo 14
2 – Revisão da literatura 17
2.1 – O Mercado Público como objeto de investigação
2.1.1 – A relação mercado público e cidade
2.1.2 – O mercado público em Belém 21
3 – Metodologia 22
4 – Estrutura da Dissertação 23
INTRODUÇÃO
A primeira metade do século XIX foi marcada pela tentativa de emancipação política
do império português, com o movimento popular denominado Cabanagem (1835-1840) que
se seguiu à Independência do Brasil, em 1822. Penteado (1968) afirma que a documentação
do período não atesta grandes estragos provocados pelo conflito na cidade, mas destaca o
problema de saneamento como a falta d’água, entulhos pelas ruas, valas entupidas e prédios
em ruínas. Viajantes como Alfred Wallace, ao final de 1840, e Henry Bates, por volta de 1850,
descrevem a Belém como um lugar ausente de asseio e ordem, praças cobertas de mato,
trechos alagados e intransitáveis, com aparência de relaxamento, decadência apatia e
indolência, mas destacam a beleza dos edifícios públicos e a higiene das boas lojas da cidade.
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Desta forma, o bairro de São Brás passou a vivenciar outra dinâmica, a partir da
combinação estrada de ferro/ mercado público, dando um novo direcionamento à expansão
urbana da cidade, mas com uma configuração diferenciada dos bairros centrais. Se o Mercado
do Ver-o-Peso havia possibilitado uma relação bairro/floresta/rio/mar/continente, o novo
Mercado de São Brás criaria, ao longo do tempo, uma articulação bairro/estrada/região/país.
A cidade tinha assim, em meados do século XX, duas vias de comércio que possibilitariam
integração do Estado e da região amazônica aos grandes centros do país e do mundo,
excluindo a imagem histórica de isolamento vivenciada durante mais de quatro séculos,
conforme descrição dos historiadores e atores sociais.
Este trabalho pretende analisar como o Mercado de São Brás contribuiu para a
história urbana do seu entorno, a partir das transformações arquitetônicas e urbanísticas
ocorridas, entre 1950 e 1970, resultantes das políticas públicas voltadas para o
desenvolvimento das capitais brasileiras, dentro de um ideal de modernização. Num segundo
momento, pretende-se examinar os fenômenos produzidos em seus espaços interior e exterior
que possam ter conferido os sentidos de lugar e permanência. O mercado foi tombado como
patrimônio pelo Estado, sendo considerado um monumento histórico, e se encontra em
funcionamento até os dias atuais.
O tempo passa para a cidade e seus habitantes e a memória individual adormece até o
momento em que um fato exterior lhe faça despertar do mais profundo sono. Ao revisitar o
espaço do mercado, durante a pesquisa empírica, as imagens, cores, odores e sabores saltaram
de dentro da memória, conduzindo uma significante viagem ao passado e a uma
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Depois de um longo hiato temporal que não possibilitou o retorno àquele espaço e
sem nenhuma reflexão de cunho científico, a primeira indagação após a pesquisa “in loco”:
“como e por que este mercado está assim?”. A primeira razão envolve a inobservância do
significado que as construções antigas têm para a memória da cidade e que justifica seu
pronto restauro. Por outro lado, acredita-se também que os valores da sociedade
contemporânea estejam petrificados em práticas globalizadas, como a cultura do shopping
center, do supermercado e na pior das hipóteses, no fato de que ir às compras no mercado
público não seja um dos melhores programas em família, salvo exceções, consumidores mais
antigos que ainda mantém esta prática. O desconforto, a insalubridade, a má conservação e a
insegurança conduzem ao esquecimento e ao abandono pela grande maioria da população.
analisar a influência que a construção possa ter exercido na decisão de se construir edifícios
de representatividade para a cidade, no seu entorno.
2. Revisão da literatura
Viena, Barcelona, Budapeste estão entre os casos analisados, assim como as reformas
realizadas nos mercados dos Estados Unidos, no Período Progressista (1894-1922), então sob
a influência da experiência europeia.
O mercado público como fruto das novas concepções higienistas do século XIX e
primeira metade do século XX é tema Murilha e Salgado (2011). O objetivo geral da pesquisa
foi entender como estas teorias e concepções influenciaram os campos da engenharia e da
arquitetura nos períodos mencionados. A partir das definições clássicas de Durand,
Quatremère de Quincy e Argan sobre o tipo, os autores analisam os projetos arquitetônicos
dos primeiros mercados públicos na Europa e traçam um paralelo com as tipologias utilizadas
em alguns mercados no Brasil, entre eles o Mercado de Carne e o Mercado do Ver-o-Peso, em
Belém. Há igualmente a intenção de chamar a atenção, a partir do levantamento físico, sobre
as edificações existentes em algumas cidades do Estado de São Paulo, enquadrados nesta
tipologia.
De maneira geral, a temática possui pontos de interseção que não devem ser
negligenciados. O primeiro e talvez o mais importante, seja o papel do mercado público
21
Com teor mais descritivo Leitão (2013) nos fala do mercado mais importante de
Belém o Ver-o-Peso, evidenciando sua importância histórica, geográfica, arquitetônica e
turística. A beleza da edificação é exaltada não apenas do ponto de vista da história da
arquitetura, mas sobretudo pela riqueza de detalhes referente aos produtos comercializadas no
espaço interior e exterior, à organização dos pontos de venda, à vida pulsante do entorno, e à
beleza da paisagem circundante. Um texto que exala “cheiro” de mercado pelas sensações que
22
3. Metodologia
1 - Revisão da literatura
2 - Levantamento documental
Histórico interpretativa
- legislação municipal
- Relatórios de gestão
- matérias de imprensa
- fotografias de época
- projetos arquitetônicos
- cartografia de Belém nos períodos estudados
(1910, 1950-1964)
3 - Estudo das edificações em seus respectivos contextos históricos e
arquitetônicos: o mercado de São Brás, o conjunto habitacional IAPI, a escola
Benvinda de França Messias e a estação rodoviária Hildegardo Nunes.
O restante das imagens foi extraído de páginas da internet que vem, aos poucos,
disponibilizando imagens antigas e os mapas da cidade de Belém, entre os séculos XIX e XX,
foram extraídos dos álbuns históricos (CACCAVONI, 1899). Durante a pesquisa empírica
foram realizados registros do Mercado de São Brás e seu entorno, focalizando as construções
e seus espaços internos e externos e entrevistas com moradores antigos do Largo de São Brás,
vendedores, consumidores e servidores municipais.
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4. Estrutura da Dissertação
Falar dos mercados é a rigor fazer uma observação metodológica. Nesse termo se
encerram muitos significados; na realidade é um indicador fictício de coisas muito
diversas. Pode referir-se a fenômenos estritamente arquitetônicos – como o mesmo
edifício que abriga a atividade que denominamos mercado –, à própria atuação de
intercâmbio de compra e venda de produtos de alimentação ou ao papel desta ação
no sistema mais geral de abastecimento urbano e assim sucessivamente. A
polissemia da palavra oferece suas vantagens. Devido a seus muitos significados, o
mercado brinda numerosas possibilidades de análise. Isto o torna um observatório
privilegiado da arquitetura, da cidade e da sociedade do seu tempo, (GUÀRDIA &
OYÓN, 2010, p.12). 1
Figura 1: Les Halles, no início do século XX, por Durand. Museu Carnavalet, Paris.
1
Tradução da autora
27
grega, o forum romano, o bazaar árabe e a feira da Idade Média foram os primeiros espaços
públicos onde o homem vivenciou a relação de troca direta produtor/comprador, resguardadas
as diferenças culturais, econômicas e arquitetônicas entre os espaços (figura 2). A ágora ou
praça pública, onde transcorria a vida pública dos gregos, reunia os edifícios destinados ao
bem público, entre eles, o mercado. O forum, a expressão máxima da magnificência
arquitetônica de Roma, reunia os palácios, os templos, as termas, os anfiteatros, os circos e os
mercados e o bazaar árabe, o mais importante espaço de trocas do Oriente Médio que traduzia
em si mesmo a própria noção de espaço de intercâmbio comercial, ao lado de casas de banho,
cafés e mesquitas.
Figura 2: A ágora grega, século VIII A.C.(canto superior esquerdo); o Grande Bazar de
Isfahan, atual Irã, século X A.C (canto superior direito); o mercado no forum romano, século VI
A.C (canto inferior esquerdo) e a feira do medievo, século XII D.C, (canto inferior direito).
Figura 4: Ilustração em "Monografia dos Halles Centrais de Paris”, construídas sob o reinado de
Napoléon III e sob a administração do Barão Haussmann, senador, prefeito do departamento do
Sena”, por Victor Baltard e Félix Callet, Paris: A. Morel, 1863.
A cidade industrial se tornou dessa forma uma dicotomia, um espelho que refletia a
sociedade e seus indivíduos. A cidade desarmada de Goitia (1982) era composta de homens
igualmente “desarmados”, pois sua real configuração retratava o caos provocado pelo
progresso não planejado e “na primeira metade do século XIX, os defeitos da cidade industrial
parecem por demais numerosos e incomuns para que possam ser eliminados completamente.
Entre a realidade e o ideal, a diferença parece impossível de ser preenchida” (BENEVOLO,
2011, p. 552).
Com efeito, a cidade industrial era um campo de luta entre forças antagônicas
representadas por grupos que buscavam melhorias, cada um a seu próprio modo. Se por um
lado os burgueses visavam o enriquecimento, por outro, o proletariado lutava pela melhoria
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das condições de trabalho e melhores salários e no centro desta luta surgia a inovação
tecnológica e o aperfeiçoamento de materiais como o ferro, o vidro e o concreto, que
possibilitariam a transformação da paisagem urbana no lapso de um século, com o
aprimoramento das técnicas construtivas.
O mercado público se encontra em um momento da cidade, expressando a concepção
do grande espaço coberto que encontra sua sustentação nas estruturas em ferro e vidro (figura
5). Neste espaço pulsam a ânsia por nutrição, o desejo de encontro e sociabilidade e de
controle da ordem na distribuição dos alimentos. Um organismo que alimenta a cidade, mas
que também se alimenta do exterior, pelo fluxo que se desencadeia em seu espaço interno e
periférico, como “um observatório privilegiado da cidade e da sociedade do seu tempo”
(GUARDIA & OYON, 2010, p. 12).
O mercado Les Halles, em Paris, foi tema central do romance Le Ventre de Paris
(Émile Zola, 1873). O título que remete e à ideia do mercado como um estômago é
rapidamente apreendido com a descrição da profusão de cores e odores dos alimentos. A
trama e os personagens apresentados que coexistem sob os tetos do mercado, comprovam as
relações e as tensões inerentes ao ambiente de um mercado público.
População
Anos Pará Belém
1872 275.237 61.997
1900 445.356 96.560
1920 983.507 236.402
Fonte: IBGE – Sinopse do Recenseamento de 1920, Rio de Janeiro, 1926 in SARGES, 2002.
O resultado das ações de Antonio Lemos comprovam que vontade política e bons
profissionais, aliados ao capital, conseguem produzir transformações no espaço urbano. A
segregação social utilizada como instrumento de “limpeza” visual da cidade (SARGES, 2010)
é um traço da mentalidade de uma época em que os homens valorizavam a nobreza
conquistada pela linhagem de sangue, pelas posses e pelos títulos, um traço da história de
longa duração que atravessou as Idades Antiga e Média e se consolidou na Idade Moderna
com o advento da máquina e ascensão da burguesia comercial.
2
Anglicismo: charme, encanto (HACHETTE, Dictionnaire Encyclopédique Illustré, 1997).
37
[...] na passagem do século XIX para o XX, movimentos de ordem literária, artística
e religiosa reclamam-se ou são rotulados de "modernismo" – termo que marca o
endurecimento, pela passagem a doutrina, de tendências modernas até então difusas;
o encontro entre países desenvolvidos e países atrasados (LE GOFF, 1990, p.179).
3
Fonte: Relatório apresentado ao Conselho Municipal de Belém, em 07.03.1910.
39
Eternit, alternando losangos nas cores preta e cinza (DERENJI, 2010, p.9). A riqueza dos
materiais se destaca nos elementos de composição: mármore Carrara em todas as portas e
soleiras e nas pilastras ornadas de diamantes talhados, lanternins cobertos com chapas em
cristal, grades e escada helicoidal interna em ferro forjado e azulejos decorados com motivos
Art-Nouveau.
autor destaca a rapidez de montagem dos kits pré-fabricados de ferro/vidro e o início de sua
exportação para o mundo inteiro, em meados do século XIX, ainda que não se possa afirmar
que esta operação ocorreu no caso do Mercado de São Brás.
Sua utilização está presente nos lanternins da cobertura (figura 8), nas escadas, nos
quiosques de vendas (figura 9), nas grades das portas e janelas, expressa nas formas
decorativistas do Art-Nouveau, dando ao ferro mais que uma função estrutural, uma função
estética.
Figura 7: Mercado de São Brás, cartão postal do início do século XX, com a fachada norte, seus
pórticos e pilastras abrindo sobre a futura Avenida Tito Franco, hoje Almte. Barroso e a fachada oeste,
com a entrada principal ladeada por portas que davam acesso ás salas de administração e fiscalização do
mercado. Abrindo para a Praça Floriano Peixoto.
Fonte: a autora
Antonio de Carvalho
Figura 10: antiga Estação de São Brás da Estrada Ferro de Bragança, na década de 1950, com os
carregadores de bagagens e seus carrinhos de mão em São Brás, por Dmitri Kessel, 1957.
4
Fonte: Jornal A Província do Pará, de 21.05.1911.
43
Figura 12: área destacada da planta, com o Largo de São Brás, em verde. À direita, a Estrada de
Bragança, com indicação dos trilhos de ferro e à esquerda, o ramal do canal-doca ligando o Largo
até o rio Tucunduba.
O bairro de São Brás começou a ser ocupado na década de 1920, do século passado,
e seu crescimento está relacionado à expansão urbana da cidade em direção ao bairro vizinho,
o Marco. De 1950 a 1960, o crescimento demográfico ficou estabilizado, mas era um bairro
dos menos expressivos em termos de crescimento populacional, representando apenas 4,15%,
em razão de alguns edifícios de apartamentos existentes nos bairros de Nazaré e São Brás
(PENTEADO, 1968, p.208).
Figura 15: vista aérea do Mercado de São Brás, com a fachada principal abrindo sobre a Praça
Floriano Peixoto, à entrada da Avenida Almirante Barroso. Na área posterior, se encontram o
estacionamento, a feira, o mercado de carne e o pavilhão de lanches construído, em 1922. Outros
estabelecimentos comerciais margeiam o lado direito da avenida.
Para este estudo, adotamos o conceito de entorno histórico, com objetos desenhados
e construídos ao longo do tempo, com tipologias arquitetônicas diferenciadas e significados
sócio-ideológicos que se tangenciam numa “trama de relações” (WAISMAN, 1972, p. 52). O
conjunto mercado/entorno integrou a paisagem urbana da cidade de 1911 a 1950 e assistiu a
chegada progressiva de uma nova expressão arquitetônica modernizante que se estendeu até a
década de 1970.
Houve, neste momento, uma tentativa de ruptura com o passado, e lograda, em busca
de inovações na infraestrutura da cidade: a substituição dos trilhos de ferro pela estrada de
asfalto com a desativação da estação de trem, para dar lugar a uma estação rodoviária, a
implantação de supermercados e a consequente mudança na forma de relação comercial direta
comerciante/comprador, assim como a implantação de novos equipamentos urbanos voltados
para habitação e educação. Trata-se de uma ação que já havia ocorrido em outras áreas da
cidade, implementada por meio das intervenções arquitetônicas ou urbanísticas, motivadas
principalmente pelo ideário de modernização.
O Mercado de São Brás, enquanto coisa edificada se configura como elemento
polarizador e se integra ao entorno edificado, desempenhando sua função ao lado dos
pequenos e grandes estabelecimentos comerciais que se disseminaram no inicio dos anos 70,
os supermercados, e seu modelo inovador estruturado em cadeias de distribuição de alimentos.
50
Belém que já deixara de ser “a capital da borracha” ia conhecer uma das piores fases
de sua existência que corresponde aos anos que se situam entre as duas grandes
guerras mundiais, quando chegou inclusive a sentir acentuada decadência
demográfica (PENTEADO, 1968, p. 161).
51
Por isso, mesclam-se nas correntes modernistas (grifo do autor), muitas vezes de
maneira confusa, motivos materialistas e espiritualistas, técnico-científicos e
alegórico-poéticos, humanitários e sociais. Por volta de 1910, quando ao entusiasmo
pelo progresso industrial sucede-se a consciência da transformação em curso nas
próprias estruturas da vida e da atividade social, formar-se-ão no interior do
Modernismo as vanguardas (grifos do autor) artísticas preocupadas não mais apenas
em modernizar ou atualizar, e sim em revolucionar radicalmente as modalidades e
finalidades da arte (ARGAN, 1993, p.185).
subida de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, e a implantação do Estado Novo deram início a
uma nova era pautada em ações que legitimassem o poder do governante. As intervenções na
paisagem urbana, na infraestrutura dos serviços à disposição da coletividade e na
modernização de edifícios públicos assumiram o ideal de modernização, pois o “governo de
Vargas deseja imprimir sua marca nas formas da capital federal, e elege como uma de suas
prioridades a construção de palácios para abrigar ministérios e órgãos públicos da nova
administração” (CAVALCANTI, 2006, p.12).
Lúcio Costa que havia sido nomeado diretor da Escola Nacional de Belas Artes e
outros arquitetos, nomeados na Secretaria do Patrimônio Histórico, se reúnem com Le
Corbusier, à ocasião da elaboração do projeto para a sede do Ministério da Educação e Saúde,
“marco e divisor de águas da revolução moderna na construção” (CAVALCANTI, 2006,
p.12) e do início da difusão da arquitetura nacional, a começar pela esfera acadêmica.
Neste sentido, criou-se um eixo de edifícios na Avenida Presidente Vargas, como nas
grandes capitais do sudeste que associavam modernidade à verticalização, desenvolvimento à
constituição de uma área central com ar metropolitano, capitais que por sua vez reproduziam
um estilo internacional, “uma característica bem geral da mentalidade do latino-americano, da
parte sul do continente – característica que começa a ser revertida – o desprezo pelo passado e
o entusiasmo pela modernidade, por tudo o que represente, de modo superficial – o progresso
54
(WAISMAN, 2011, p.65). O entusiasmo continuou a partir de 1950, “quando a região sofre os
influxos das políticas de desenvolvimentistas e de industrialização adotadas a partir desta
década” (CHAVES, 2009, p.65), como a construção da rodovia Belém-Brasília. Waisman
(2011) se refere à dificuldade em definir periodizações no século XX, apontando a pluralidade
e coexistência de orientações arquitetônicas diversas na América Latina que dificultam uma
delimitação e assinalando décadas relevantes:
Na cidade de Belém, a década de 1950 foi o momento máximo das expressões com
referências modernas quando “as transformações também incidiriam na construção de outras
tipologias, como escolas e edifícios institucionais“ (CHAVES, 2009, p.66), a exemplo do Sul
do país, a partir de “uma cadeia de valores político-sociais que potencializa a obra pública
com a imagem do progresso” (GORELIK, 2011, p.11). Neste momento, as políticas
habitacionais do Estado Novo alcançam o Estado do Pará e sua capital, momento em que o
arquiteto Edmar Pena de Carvalho, funcionário do Instituto de Aposentadorias e Pensões-IAP,
órgão federal, apresenta suas concepções para habitações populares, incorporando elementos
da Arquitetura Moderna Brasileira.
Esta nova arquitetura que pretende ser moderna segue o princípio da reelaboração
das correntes universais arquitetônicas (WAISMAN, 2011), assumindo suas particularidades
que para Müller (2011) é o produto resultante das condições híbridas nos processos de
modernização na América Latina. Assim, para compreender a arquitetura realizada em Belém,
no período definido nesta dissertação, 1950-1970, é necessário considerar alguns fatores,
como as particularidades econômicas, geográficas e políticas do contexto latino-americano,
brasileiro e amazônico.
Durante o período entre guerras, no qual Belém conheceu uma das suas piores fases
(PENTEADO, 1968), o mercado de São Brás continuou recebendo produtos da zona
bragantina para comércio e abastecimento das feiras locais. Em 1939, na gestão do prefeito
Abelardo Condurú, é inaugurado um pavilhão anexo (figura 16), destinado à venda de peixes
e mariscos. A imprensa local destaca a iniciativa da gestão municipal, a arquitetura de traços
neoclássicos, as condições satisfatórias de higiene das instalações e a importância da
construção para o desenvolvimento da cidade:
5
Fonte: Jornal A Folha do Norte, de 05.06.1939.
56
Figura 16: construção anexa ao mercado, destinado à venda de peixe e mariscos, publicada à data da
inauguração.
de Setembro de 1979, onde se encontram a caixa d’água em ferro (1898), o mercado de São
Brás (1911), o conjunto IAPI (1950) e a escola Benvinda de França Messias (1951):
A área de entorno tem por delimitação, a área limitada pela poligonal, que tem início
na interseção da Av. Governador José Malcher com a Trav. Praça da Leitura; dobra
à direita e segue por esta, até sua interseção com a Avenida Cipriano Santos; dobra à
esquerda e segue por esta, até sua interseção com a Rua Dr. Deodoro de Mendonça;
dobra à direita e segue por esta, até sua interseção com a Rua Farias de Brito, dobra
à direita e segue por esta, até sua interseção com a Av. José Bonifácio; dobra à
esquerda e segue por esta, até sua interseção com a Av. Gentil Bittencourt; dobra à
direita e segue por esta, até sua interseção com a Trav. Castelo Branco; dobra à
direita e segue por esta, até sua interseção com a Av. Gov. José Malcher; dobra à
direita e segue por esta, até sua interseção com a Trav. Praça da Leitura, início da
poligonal. 6
Figura 17: área delimitada pela poligonal de abrangência do entorno histórico, contendo a caixa
d’água em ferro (1898), o mercado de São Brás (1911), o conjunto IAPI (1950) e a escola Benvinda
de França Messias (1951).
6
Fonte: Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Pará, Processo: Nº 407/81 – 06 de Março de 1981 Lei:
Nº 4855-03 de Setembro de 1979 Diário Oficial: 02 de Julho de 1982 Livro de Tombo nº 03 – Livro de Bens
Imóveis de valor histórico, arquitetônico, urbanístico, rural, paisagístico, como: obras, cidades, edifícios e sítios
urbanos ou rurais. Termo de Aditamento e Ratificação: Diário Oficial nº 28.988 de 18.06.99 Termo de
Retificação de Entorno: Diário Oficial nº 30.011 de 20.08.2003
58
Figura 18: área onde está situado o Terminal Rodoviário de Belém, no mesmo local onde funcionava
a Estação Ferroviária Belém-Bragança, desativada em 1965.
Assim, foram selecionadas, para esta análise, o Mercado de São Brás (1911), o
conjunto habitacional do IAPI (1950), a Escola Municipal Benvinda de França Messias
(1951) e o Terminal Rodoviário (1970), como referências da arquitetura pública moderna em
Belém, localizadas numa zona distante dos bairros centrais.
7
Fonte: <http://www2.camara.leg.br/>, acesso em 10.07.014.
61
concretizado em 1941, por meio das ações do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Comerciários - IAPC, como assinala Freitas (2012):
Figura 19: conjunto IAPI Belém, em fase de construção no ano de 1950. No canto superior esquerdo,
pode-se ver a caixa d’agua em ferro do século XIX e no canto inferior esquerdo a atual Praça da
Leitura, no Largo de São Bras.
O bairro de São Brás apresentava uma diminuição em seu quadro populacional entre
1950 e 1960, que o colocavam em 19 o lugar, com aumento populacional de apenas 4,15%, a
menor taxa perante os demais, segundo estatísticas apresentadas por Penteado (1968). Ao
final da década, o mapa indicativo da concentração urbana indicava uma tendência de
62
crescimento que se efetivou, elevando o bairro à 9ª. posição. Esta variação mostra que a
expansão urbana em direção ao Largo de São Brás mostrava resultados demográficos,
associados à implantação de novas construções como o IAPI, próximo à Estação de Ferro
Belém-Bragança (figura 20).
Figura 20: imagem do Largo de São Brás no início da década de 1960, onde é possível ver o conjunto
IAPI Belém, a Estação de Ferro Belém-Bragança, duas praças públicas, as atuais Praça do Operário e
da Leitura, nos círculos em verde, separadas pela Avenida Almirante Barroso, linha amarela.
Vim prá cá com dois anos de idade, em 1952. Tenho 74 anos de idade. Quando eu
tinha 5 anos, lembro que ainda estavam construindo algumas casas. Meu pai foi um
dos pioneiros aqui do IAPI. Aqui tudo era mato e esta vila era considerada um lugar
para pessoas de condição financeira bem baixa, porque era bem barato. Era um lugar
onde as pessoas tinham medo de morar porque era rodeado de mato. Era a matinha.
Essa vila do IAPI era considerada o fim do mundo de Belém (Graça Martins,
moradora do conjunto habitacional do IAPI, desde a década de 1950).
63
[...] a moradia era excelente porque era tudo aberto. Não tinha grades, muros, as
luzes dos postes eram aquela luzinha amarela. Vinha um senhor com um pedaço de
madeira, acendia a luzinha lá em cima. Eu em criança e adolescente brincava. Eram
muitas crianças. Tinham as festas juninas. Não havia ladrões, estupradores... (Graça
Martins, moradora do conjunto habitacional do IAPI, desde a década de 1950).
[...] meu pai era funcionário da estação de trem. Eu ia pequeno prá lá quando ele
tinha que fazer serviços ordinários. Lembro bem dela. Andei no trem, fomos prá
Castanhal. Mas era muito longe prá eu lembrar de tudo. Tenho uma leve lembrança
das histórias que meu pai contava prá gente porque ele viajava muito. Ele era da
Tesouraria. Viajava para fazer pagamentos. (Guilherme Souza, morador do IAPI,
nas décadas de 1950 a 1960).
Figura 21: bloco com unidades geminadas do conjunto habitacional do IAPI, com indicação dos
combogós de ventilação nas fachadas, como solução arquitetônica. Projeto: Edmar Penna de Carvalho
Com o passar dos anos, ocorreram intervenções dos proprietários nas unidades:
variação nas cores das fachadas, inclusão de garagens cobertas, grades de proteção nas janelas
e algumas delas transformadas em espaços comerciais (figura 22). Conforme relato de uma
64
antiga moradora, nos primeiros anos do conjunto, não era permitido fazer alterações no
projeto, mas atualmente é difícil encontrar uma unidade que tenha se mantido fiel ao projeto
original:
Eu já tenho quase 50 anos aqui. Quando cheguei, a vila era toda gramada. Era como
um condomínio. Você não podia mover nada do lugar, depois as casas foram
vendidas para os locatários, aí as pessoas começaram a modificar as casas, mas esta
é uma estrutura muito boa (Selma Vieira, moradora do conjunto desde o final da
década de 1960).
Figura 22: unidades geminadas do conjunto habitacional do IAPI que sofreram alterações em suas
fachadas e que se tornaram espaços de comércio
Figura 23: Escola Municipal Benvinda de França Messias, na atualidade, em frente ao mercado,
integrando o conjunto habitacional do IAPI (vista a partir do mercado).
8
O brise-soleil é um entre vários tipos de dispositivos de proteção solar. É um elemento construtivo constituído
por lâminas geralmente paralelas, externas à edificação. Pode ser classificado pela sua tipologia (horizontal,
vertical ou combinado), pela mobilidade (móveis ou fixos), e pela sua expressão arquitetônica. A função
primordial desses elementos é impedir que a incidência da radiação solar direta atinja as superfícies verticais da
edificação, principalmente as transparentes ou translúcidas, interceptando os raios solares (GUTIERREZ;
LABAKI, 2005, p.875).
66
modernidade do conjunto IAPI, com casas geminadas, formando um bloco contínuo; de outro,
no ponto extremo da rampa de acesso ao andar superior, a imagem do mercado de São Brás,
com sua linguagem clássica, sua grande cobertura, um espaço fechado, com colunas
simétricas e poucas aberturas de acesso.
A escola se encontra em atividade até os dias atuais, com 441 alunos em seu quadro
discente. O último Projeto Político Pedagógico desenvolvido pelos professores, em 2012,
define o tombamento da escola como o reconhecimento da gestão municipal à arquitetura do
século XX:
[...] comprávamos todos os dias (no mercado). Peixe, carne, frutas, verduras. A
estrutura era bem bonita, mas parecia um pouco abandonado. Depois fizeram uma
reforma, mas agora está precisando de uma grande reforma (Selma Vieira, moradora
do conjunto desde o final da década de 1960).
Lá não era só mercado. O meu pai, por exemplo, tinha conta nas mercearias do
mercado porque ali tinham lojas comerciais tipo mercearia e que vendiam arroz,
feijão, nos cantos do mercado e ainda tinha o mercado de carne que não era o que é
hoje. Me lembro bem. Todo mundo de São Brás tinha conta. Acho que nem existia a
feira da 25. Toda a população que morava no entorno fazia uso do mercado com
certeza. Só tinha ele ali (Guilherme Souza, morador do IAPI, nas décadas de 1950 a
1960).
9
Fonte: Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Benvinda de França Messias/2012
67
Na época da EFBB, eu ainda era menina e viajei no trem, mas não para Bragança,
para Icoaraci olhando toda a mata que tinha no caminho da Almirante Barroso. Era
uma diversão a estrada de ferro. Só mato lá por trás. A parte de trás da estação era
esconderijo de ladrão, mas não eram ladrões como hoje. Eram ladrões que roubavam
roupas, roubavam leite das portas das casas. Aqui em casa fomos agraciados com
alguns gatunos. Meu pai saia correndo atrás deles prá lá, pois era atrás da estação
que eles se escondiam. (...) eu convivi com a estação ainda menina. Era soturno, o
trem só rodava durante o dia. A noite não tinha mais. Era uma escuridão só. Não
tinha iluminação (Graça Martins, moradora do conjunto habitacional do IAPI, desde
a década de 1950).
Figura 25: trecho da Estrada de Ferro,em 1929, à esquerda, paralela à antiga Estrada do Marco.
Construiu uma estrada de rodagem no eixo da Avenida Tito Franco, desde a Praça
Floriano Peixoto, completamente macadamisada. Determinou que fosse
experimentado o asphalto conhecido sob a designação de “Road Oil” para
proteção e impermeabilisação da parte superficial dessa estrada10
10
Fonte: Jornal O Correio do Pará, 1929.
69
Mas os obstáculos de maior monta que se anteviam ainda não foram removidos,
como seja o da transferência da Estrada de Ferro de Bragança e sua estação para o
Entroncamento, pois é necessário que se saiba que não é de agora que o Governo do
Estado e os representantes deste no Congresso Nacional vêm se debatendo para
conseguir aquele objetivo, tanto mais quando a sua obtenção, atualmente, não irá
impedir que se escôem mais dois ou três anos para que as novas instalações
ferroviárias se vejam concluídas, ficando assim livres os terrenos da avenida Tito
Franco.11
As obras da Avenida Tito Franco envolviam interesses comuns entre Estado e União.
A transferência de domínio de propriedade da linha ferroviária, que havia passado do
Governo Estadual para o Governo Federal, em 1922, através do Decreto n. 15.563, de 13 de
julho de 1922, “com o propósito de encampá-la como ferrovia federal” (ANDRADE, 2010,
p.51), permitindo que a União tomasse decisões quanto a sua destinação:
EPITACIO PESSÔA.
J. Pires do Rio.
Homero Baptista.
11
Fonte: Jornal O Liberal, de 14.02.1952.
12
Fonte: http://www2.camara.leg.br
70
Um ano depois foi anunciado pela imprensa o projeto geral da nova estação
rodoviária na Praça Floriano Peixoto, próximo ao conjunto IAPI, objetivando abrigar os
passageiros das linhas de ônibus provenientes do interior do Estado. Pretendia-se alcançar
uma concepção arquitetônica com características similares às estações americanas. Procedeu-
se então a uma concorrência pública aberta pela Prefeitura Municipal de Belém, tendo a firma
71
Hoje, entretanto, para dar melhor idéia ao público paraense do que irá ser esse
grande empreendimento, ilustramos esta notícia com o cliché do projeto em
perspectiva da Estação, cujo início das obras terá lugar dentro de mais alguns dias,
na praça Floriano Peixoto, ao lado conjunto residencial do Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Industriários.13
13
Fonte: Jornal O Liberal, de 03.03.1953
72
Considerada uma das artérias mais bonitas da cidade, a avenida Almirante Barroso
terá a sua terceira pista concluída, num trabalho realmente destacado do
Departamento Municipal de Estradas de Rodagem. A terceira pista da Almirante
Barroso (antiga Tito Franco), virá dar maiores facilidades ao trânsito, quando
começar a receber um número de viaturas cada vez maior, por ser a única artéria de
escoamento para a zona da Estrada de Ferro e outras localidades, como, por exemplo,
Icoaraci, Aeroporto, etc.
A extinção da estrada de ferro, dando lugar a uma avenida, não representou somente
a substituição dos trilhos pelo asfalto, das locomotivas pelos automóveis, em nome do
14
Fonte: <http://presrepublica.jusbrasil.com.br>
15
Fonte: Jornal O Liberal, 28.06.1966
73
progresso almejado, mas uma parte significativa da história da relação comercial entre a
capital do Estado e zona bragantina se encerrava. A logística de transportes que vinha se
desenhando, aos poucos, anunciava o começo do intercâmbio com outras cidades do interior
do Estado e demais regiões do país, tendo a Belém-Brasília como eixo principal de
comunicação.
Figura 27: Avenida Almirante Barroso, no início da década de 1970, com quatro pistas em
funcionamento
As conveniências técnicas provaram que realmente São Braz era o ponto ideal para
a construção de uma estação de passageiros.
16
Jornal A Folhado Norte, de 29.07.1970.
17
Jornal O Liberal, de 29.07.1970
76
Figura 29: Terminal Rodoviário de Belém, no início da década de 1970, localizado à Praça do
Operário.
18
Jornal O Liberal, de 29.07.1970
77
Figura 31: vista aérea do Largo de São Brás, atravessado pela Avenida AlmiranteBarroso, no início
da década de 1970, com o Mercado de São Brás (no círculo em amarelo), o conjunto habitacional do
IAPI e a Escola Municipal Benvinda de França Messias, à direita da avenida, em frente ao mercado
e o Terminal Rodoviário de Belém, à esquerda, á Praça do Operário
Fonte: arquivo José Maria de Castro Abreu Júnior, disponível em < http://fauufpa.org,>, acesso em
09.07.2012.
79
Esta nova configuração foi o resultado das intervenções realizadas de forma pontual,
mas que ao seu término, criaram uma particularidade no contexto da cidade: o espaço urbano
tinha se tornado um conjunto arquitetônico formado espontaneamente, tendo a Avenida
Almirante Barroso como via de acesso em dois sentidos, em direçào à saída da cidade e as
áreas centrais de Belém, como mostra a imagem anterior (figura 31). O Largo de São Brás
havia se transformado, em 1970, num mosaico de peças distintas, a partir de sucessivas
intervenções, mas estas peças se relacionam, o que será analisado a seguir.
Os fatos não existem isoladamente, nesse sentido de que o tecido da história é o que
chamaremos de uma trama, de uma mistura muito humana e muito pouco “científica”
(grifo do autor) de causas materiais, de fins e de acasos, de um corte de vida que o
historiador tomou, segundo sua conveniência, em que os fatos têm seus laços
objetivos e sua importância relativa... um corte transversal dos diferentes ritmos
temporais, como uma análise espectral; ela será sempre trama porque será humana,
porque não será um “fragmento de determinismo”, (VEYNE, 1930, p.28).
Uma trama parte de um acontecimento inicial que desencadeia uma série de eventos
intercalados. Neste sentido, não se deve atribuir à construção do conjunto habitacional IAPI,
em 1950, como o marco da constituição do entorno, tanto urbano quanto arquitetônico, É
fundamental, para entender este adensamento construtivo, articular fatos anteriores e cortes
transversais que contribuíram para a referida constituição.
81
A escolha de sua localização se deu por decisão governamental, nos limites da Lei n.
658/1870, no marco da 1ª. Légua Patrimonial, com a denominação de Estação Central São
Brás, em posição geograficamente estratégica entre a zona central e o bairro do Marco, o
único bairro planejado até aquele momento. Esta ação seguia uma política de construção de
ferrovias que partiu da iniciativa de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá em
implantar a primeira estrada de ferro do país, no Rio de Janeiro. Andrade (2010) destaca os
interesses nacionais e internacionais na construção de ferrovias, como transporte moderno e
eficiente.
cobertos eram, no início do século XX, polos funcionais importantíssimos para estruturar os
bairros, para “construir cidade” (grifo do autor) (GUÀRDIA & OYÓN, 2010, p.53).
No início do século XX, a crise do progresso que se esboça, determina novas atitudes
em face do passado, do presente e do futuro. A ligação ao passado começa por adquirir
formas inicialmente exasperadas, reacionárias” (LE GOFF, 1990, p.220). Nesta exasperação,
o futuro já havia começado a perturbar sutilmente a acomodação confortável do passado e a
trama histórica fixa seu terceiro ponto. Em 1929, os trabalhos de abertura da Estrada de
Rodagem Tito Franco, como foi chamada inicialmente, já haviam iniciado no extremo oposto
do Largo de São Brás, em linha paralela à via férrea.
Sem luz pelas ruas, sem dispor de água em quantidade suficiente às suas
necessidades, sem energia para que houvesse um desenvolvimento industrial
razoável, a capital do Pará, paradoxalmente, não decaía: estava como estagnada na
sua evolução, `a espera de que um novo surto de progresso, consequência de fatores
que até então desconhecia, lhe trouxesse condições socioeconômicas para
transforma-la em uma grande cidade (PENTEADO, 1968, p.163).
Neste momento, a trama histórica fixa seu quarto ponto e os fatos parecem descer
numa espiral que envolve o mercado internacional, a política nacional e o contexto local, ou
seja, a crise pós-guerra, o populismo e o baratismo. Nem a população, nem a cidade estavam
preparadas para mudanças repentinas vindas do contexto externo. Lepetit (2001) analisa os
descompassos que se cruzam no tempo presente das cidades:
84
A afirmação de Lepetit (2001) de que a carga temporal se apoia nos atores sociais,
deve-se entender no âmbito deste objeto de estudo, que forças externas colocaram o Largo de
São Brás, numa situação antagônica. Um novo modo de habitar e de viver começava a se
impor sobre as práticas sociais oriundas do século XIX, dentre elas as relações comerciais no
mercado público e a forma de locomoção que ainda se desenvolvia nos trilhos de ferro.
A fala dos moradores do conjunto IAPI mostra o quanto seu cotidiano estava ligado
ao mercado e à estação de trem. Salgueiro (2001) destaca as consequências deste encontro de
práticas distintas na realidade:
A trama histórica e seus fatos desciam numa espiral, com sucessivas políticas
públicas progressistas, integracionistas, pontuais e desconexas entre si, mas a trama urbana e
seus fatos arquitetônicos se articulavam na horizontalidade espacial. A extinção da ferrovia,
na década de 60, por decisão do governo federal, impulsionou a ampliação da Avenida
Almirante Barroso, ex-Tito Franco. O progresso se aproximava da cidade, juntamente com o
asfalto, fruto de uma ação iniciada em 1929, com a abertura da avenida, avançando ao longo
do bairro do Marco.
85
Figura 32: articulação dos pontos da trama histórica e arquitetônica que no plano físico resultou num
adensamento construtivo, constituindo uma trama urbana
Fonte: mapa base extraído do Google Earth, 2014, com indicações da autora.
A trama histórica atinge seu objetivo: o avanço para o futuro por meio de
construções e intervenções superpostas no espaço da cidade. Uma trama urbana que no espaço
físico, como mostra a imagem anterior (figura 32), que se traduzia no adensamento de
86
O mercado permaneceu com sua história e sua relevância como equipamento urbano
de abastecimento e comércio do bairro e da cidade, depois de reunir em seu entorno, durante
duas décadas, exemplares representativos da arquitetura pública, praças, avenidas, com uma
dinâmica de fluxo que permanece até o presente (figura 33), o que motivou este estudo de
caso, no sentido de entender sua relação com o Largo de São Brás. Esta configuração
possibilita que a análise prossiga num nível inferior da trama urbana, estabelecendo relações
entre o mercado público e o entorno histórico.
87
Figura 33: o Mercado de São Brás e as construções com referências modernistas que se adensaram em
seu entorno, entre 1950 e 1970
Fonte: mapa base extraído do Google Earth, 2014, com indicações da autora.
Neste sentido, afirma-se que o Mercado de São Brás, um grande espaço fechado, se
tornou o foco do entorno histórico, para onde convergiram novas expressões arquitetônicas e
uma diversidade de atividades em novas relações, constituindo-se no que Waisman (1972)
define como “unidade cultural” do entorno histórico:
88
Uma unidade cultural, pois, estaria constituída por um conjunto de atividades, fatos,
problemas em termos gerais, de “objetos” (grifo do autor) do saber concernente ao
desenho e à construção do entorno –, que encontram sua unidade em sistemas de
valores e modos de ação e de pensamento suficientemente relacionados entre si como
para diferencia-los das outras unidades culturais. Quer dizer, sistemas e modos que
possuem um denominador comum, que surgem de atitudes vitais compartilhadas
(WAISMAN, 1972, p.47).
Fonte: mapa base extraído do Google Earth, 2014, com indicações da autora.
89
A primeira unidade cultural é o Mercado de São Brás, edificado entre 1910 e 1911, no
âmbito de iniciativas de transformações urbanas de áreas da cidade de Belém, utilizando a
estratégia de ordenar e embelezar a cidade, com o remanejamento da população menos
favorecida para a periferia, dando espaço para as belas obras de arquitetura (SARGES, 2010).
Ao decidir pela construção de um novo mercado público, quando seu poder declinava
juntamente com o ciclo da borracha, o Intendente fundamentou, em termos, as bases da força
política que desejava impulsionar. Para isto, contratou profissionais competentes como Filinto
Santoro, para que a tipologia do grande mercado coberto, estruturado em ferro e vidro e com
um novo modelo de ordenamento espacial interno, transmitisse a mensagem ideológica do
início do século XX: o progresso manifestado na realização de grandes obras.
Porém não se afirma que houve uma supremacia da ideologia sobre as necessidades do
homem, ao contrário, sem o poder político e econômico que impulsiona as intervenções
urbanas, não seria possível materializar bens e serviços públicos, e a arquitetura não cumpriria
seu papel com seu principal cliente: o usuário do espaço.
90
Figura 35: as unidades culturais com seu ponto de interseção, a ideologia de modernização e
progresso.
Fonte: mapa base extraído do Google Earth, 2014, com indicações da autora.
Esta posição vai ligada a uma atitude classificatória, baseada na crença de princípios
imutáveis e de formas que permanecem ao longo dos séculos e sobre as quais se
podem estabelecer critérios lógicos. Manifesta a importância da herança histórica e
sobretudo, a relação de toda tipologia com a trama urbana (MONTANER, 1997,
p.131).
séries são excludentes entre si, pelo contrário, a autora entende que a análise deve abordar
estrutura, forma e função de maneira integrada, expressando uma totalidade:
Se por outro lado levamos em conta o propósito deste trabalho, que não é, como já se
disse o de analisar obras isoladas, mas o de criar métodos que permitam estudar a
totalidade das construções que constituem o entorno, cujo estabelecimento de relações
estruturais é necessário, então o critério tipológico aparece efetivamente como o mais
apropriado para organizar a vasta variedade de fenômenos a considerar (WAISMAN,
1972, p. 67)
Estas antigas formas que permanecem em uso, ou que se repetem através do tempo
desempenham um papel conservador no entorno; ao dar um sentido de continuidade á
cultura em transformação ou em revolução, permitem assimilar grandes inovações
sem intranquilizar a comunidade em demasiado, sem que seu entorno lhes aparente, de
repente, estranho: atuam de um modo seguro contra a alienação (WAISMAN, 1972,
p.84).
econômico. As formas antigas eram familiares, mas a sociedade que se constituía aos poucos
causava estranhamento, pelas demandas urgentes de organização espacial dos espaços fechados
e abertos, para que as relações econômicas sociais não se desenvolvessem no caos.
Assim, a forma e estrutura do mercado interagem no espaço para que seja possível a
realização de sua função: receber um grande número de produtos e usuários, para a realização
de atividades comerciais, pois “a conformação do espaço e das funções no espaço constituem
um “recorte” (grifo do autor) tanto na realidade espacial quanto na realidade social”
(WAISMAN, 1972, p.106). O grande espaço coberto do mercado de São Brás respondeu à
realidade das demandas de abastecimento da cidade de Belém, cuja população aumentara no
ciclo da borracha, recebendo, estocando, comercializando e distribuindo, para as feiras locais,
os produtos que chegavam da zona bragantina, desde 1911 até a década de 1970.
década de 70, sugere a existência de uma feira livre adjacente à edificação e que permanece até
o presente, em outra configuração, lembrando que a intenção era de suprimi-la, à época da
construção do mercado.
Figura 36: Mercado de São Brás, no início da década de 1970, com fluxo comercial em seu entorno
Figura 37: Mercado de São Brás, na década de 1970, com indicação dos
transportes urbanos estacionados na lateral
Figura 38: Mercado de São Brás, na década de 1970, com indicação dos
transportes urbanos estacionados na fachada principal.
A partir da compreensão dos conteúdos das unidades culturais, pode-se partir para a
análise da influência do mercado, uma obra de arquitetura com traços clássicos, sobre o
entorno edificado num período de vinte anos, marcado por profundas mudanças na cultura do
país, o que se constitui no objetivo principal deste trabalho.
arbitrariamente um espaço na cidade e nele registrar suas ações, por meio de grandes obras, o
que de fato ocorreu, em 1911, e de 1950 a 1970.
A questão que se impõe agora é entender, por exemplo, como edifícios verticais
modernos se elevaram em torno de uma basílica, como é o caso do Largo de Nazaré ou como
praças e um centro comercial ao ar livre se fixaram em torno do Palácio Antonio Lemos, em
Belém do Pará. Estas situações são utilizadas como exemplo, para mostrar que o Mercado de
São Brás e seu entorno é um dos casos identificados no contexto da história urbana da cidade,
no qual edificações de expressão modernizante coexistem com as construções de expressão
eclética no mesmo espaço urbano.
O sentido de existência se dá na rua, por meio da interação entre os atores sociais que
ao utilizarem os espaços físicos dos edifícios, transformam o espaço urbano em um lugar de
encontro. Os moradores do conjunto, os frequentadores do mercado, os alunos da escola e os
usuários da estação rodoviária não utilizam somente os serviços públicos inerentes a um
edifício exclusivo, mas todos eles, de acordo com suas necessidades. É quando o diálogo se
estabelece, a partir de suas funções, pelo encontro de pessoas em seus espaços internos e
externos, avenidas, ruas, calçadas, praças e feira, tendo o usuário como vetor que cria o nexo
entre as construções.
99
Estas reflexões são pertinentes, no sentido de mostrar que não há supremacia de uma
arquitetura sobre a outra, mas que ambas pretendem guardar seu sentido de continuidade na
história, na união harmônica entre forma, estrutura e função. Sentido que se expressa na
prática, por sua estética, mas igualmente pelo uso permanente de seus espaços, pela dinâmica
e fluxos que se manifestam na rua como espaço público, a partir do interior das edificações, e
pelo reconhecimento da sociedade sobre seu caráter histórico, o que aconteceu efetivamente
com o tombamento da área pelo poder público.
Estudos apontam que “cada vez mais de interesse dos historiadores, a fotografia
ainda aponta problemas de ordem teórica e metodológica que cumpre enfrentar” (POSSAMAI,
2008, p.256), mas acredita-se, de maneira otimista, que o estudo da fotografia como
documento, possa dar novos rumos à construção metodológica, pois ao mesmo tempo em que
a cultura visual se expande na sociedade contemporânea, as imagens antigas vem
conquistando seu espaço, sendo disponibilizadas em mídia digital. Este fenômeno atesta a
importância da imagem para a compreensão da história social e urbana, principalmente, nos
séculos XIX e XX, pois “imagens assim como textos e testemunhos orais, constituem-se
numa forma importante de evidência histórica. Elas registram atos de testemunho ocular”
(BURKE, 2001, p.17).
histórica se torna relativa, pois não há como extrair verdades absolutas. Kossoy (2012)
esclarece sobre os limites de informação contida na fotografia:
No curso da história, o genius loci (grifo do autor) tem se mantido como uma
realidade viva, apesar de nem sempre ser designado por esse nome. Artistas e
escritores buscam inspiração no caráter local e tendem a “explicar” fenômenos da
vida cotidiana e da arte por referência a paisagens e ao contexto urbano
(NORBERG-SCHULZ, 1965 apud NESBITT, 2008, p.454).
Já aludi várias, no decorrer deste ensaio, ao valor do “locus”, entendendo com isso
aquela relação singular mas universal que existe entre certa situação local e as
construções que se encontram naquele lugar (grifo do autor). A escolha do lugar
tanto para uma construção como para uma cidade tinha um valor preeminente no
mundo clássico: a “situação”, o sítio, era governado pelo “genius loci”, pela
divindade local, uma divindade de tipo intermediário que presidia tudo o que ocorria
naquele lugar” (ROSSI, 1995, p.147).
105
É com base nesse conceito que no início do século XX, o lugar denominado Largo de
São Brás configurava um fato urbano, um entorno composto de elementos singulares: uma
caixa d’água em ferro, herança da era da borracha, um córrego que permitia o deslocamento
fluvial, uma estação de trem, servindo de conexão com o interior do Estado e uma feira. Um
lugar no qual o homem vivenciava a experiência da chegada e da partida, da troca e do
convívio social. O genius loci governava as atividades de transporte, comércio e as relações
interpessoais. A população da cidade era composta de comerciantes locais, de uma minoria de
imigrantes europeus e de imigrantes nordestinos, numa região de clima tropical e economia
baseada no extrativismo da borracha (SARGES, 2010, p.82).
Figura 39: cartão postal, provavelmente do fim do século XIX, mostrando a revista da tropa armada
no Largo de São Brás. Ao fundo, à esquerda, é possível identificar a caixa d’água em ferro (1884).
Um dos primeiros registros fotográficos do entorno do Largo de São Brás (figura 39),
um cartão postal, provavelmente do fim do século XIX, mostra o momento em que é realizada
a revista da tropa armada, um procedimento usual à ocasião de solenidades oficiais. Ao fundo,
à esquerda, pode-se ver a caixa d’água em ferro, erguida em 1884, e casas simples que
pertenciam supostamente à população menos favorecida. Ao centro, o bonde com passageiros,
cuja visualização se torna mais nítida na imagem seguinte (figura 40).
Figura 40: área central da figura 39, ampliada, com destaque para o bonde que trafegava na cidade de
Belém
Chegamos depois á vastíssima praça Floriano Peixoto, antigo largo de São Braz,
neste largo e no eixo da Avenida da Independencia eleva-se o bello edifício do
Mercado, servindo a toda essa zona urbana, que se acha muito afastada do mercado
municipal. O tramway (grifo do autor) volta-se para a esquerda, contornando a praça,
tendo deixado á esquerda, no ângulo, o grande reservatório d’agua potável. Esta
vasta praça ainda está sendo devidamente tratada; fica ella próxima do bairro de
canudos, habitado por trabalhadores. Ao deixar a praça, vamos entrar na extensa e
bellissima avenida Tito Franco; antes, porém, podemos admirar a estação central da
estrada de Ferro de Bragança (BRAGA, 1916, p.46).
O Largo de São Brás possuía seus elementos referenciais, a caixa d’água em ferro
(1884), o canal-doca que ligava a área ao rio Tucunduba, como mostra o mapa de Manoel
Odorico Nina Ribeiro 20 e a Estação de Ferro Belém-Bragança, originados da cultura local e
com a construção do mercado, os sistemas mentais de orientação mudariam, pois a partir de
1911 ele se tornaria o foco (NORBERG-SCHULZ, 1965) do entorno. Novos eventos e novos
atores ocupariam o lugar, criando uma nova identidade, pois “na verdade, proteger e
conservar o genius loci implica concretizar sua essência em contextos históricos sempre
novos” (NORBERG-SCHULZ, 1965, apud NESBITT, 2008, p.454).
A postura contida dos participantes não expressa a alegria característica deste tipo de
manifestação, provavelmente em razão das limitações impostas ao carnaval, no período do
20
Idem p. 43
109
Estado Novo, quando “as autoridades não proibiram diretamente o carnaval, mas buscaram
circundá-la, acredito que no intuito de prevenir possíveis irregularidades que pudessem
ocorrer nas ruas principalmente no que se refere à conjuntura vigente” (TEIXEIRA, 2011,
p.6). Assim, o espírito de lugar se manifestava em forma de festa com clima de ordem, diante
das restrições do poder de polícia e não supostamente pela ausência de motivação dos
participantes, como sugere a imagem.
21
Fonte: Jornal A Folha do Norte, de 11.06.1959.
110
Nas fotos de uma época determinada, as pessoas se parecem muito entre si. Não é só
uma questão de roupa ou penteado, mas também de poses e gestos e de sua maneira
de se comportar em geral. Nas memórias da mesma época descobrimos que a forma
de vida se harmoniza com a aparência exterior e também que os edifícios, as ruas e
os povos estavam no tom do ritmo dos tempos (RASMUSSEN, 1959, p.29).
Procurou-se mostrar, até este ponto, a dinâmica de eventos que envolveu o Mercado
de São Brás, porém é importante destacar um registro fotográfico da década de 1950 que
remete à questão do transporte urbano, a partir da estação de trem e posteriormente, com os
transportes públicos e automóveis, comprovando que os povos e as ruas estavam nos ritmos
dos tempos, como analisa Rasmussen (1959). O próximo registro (figura 43) recuperam um
meio de transporte que chegou em Belém na década de 1940, os zeppelins, que exerceram
fascínio na população pelo seu aspecto perolado. A chegada desse modelo de transporte está
relacionada historicamente com a presença de uma base aérea americana em Belém, após a
Segunda Guerra Mundial e com a existência de uma oficina local que realizava seu
acabamento externo (SOARES, 2014, p.7). Pode-se supor que havia uma estação de ônibus às
proximidades do mercado, mas a imagem não permite afirmar esta situação. O registro foi
feito em tempo chuvoso e não há, aparentemente, um fluxo de pessoas em seu entorno.
111
O espaço físico do mercado e seu entorno se consolidaram como lugar, a partir destes
registros, eventos e usos, mas os ritmos do tempo transformaram a arquitetura, os atores
sociais e os fenômenos que se produziram nas décadas seguintes, porque “a forma de um
lugar é sempre a forma de um tempo dos lugares; e existem muitos tempos na forma de um
lugar” (ROSSI, 1995, p.68).
Sua passagem cria outros sentidos e nas últimas décadas do século XX e no início
deste século, as atividades no entorno do mercado não se restringiam a eventos solenes
organizados pelo poder público. As mentalidades e as posturas mudaram, trazendo um novo
modo de expressão das massas que se apropriaram das praças públicas, organizando
manifestações populares. Estas experiências conservaram e renovaram, mais uma vez o
genius loci, (NORBERG-SCHULZ, 1965). Castello (2007) ao explorar as concepções de
lugar, na virada do milênio, sob a ótica das, busca aproximar o conceito de lugar da realidade
contemporânea, a partir da noção de urbanidade:
112
A complexidade não está apenas em seu nome, mas na dinâmica de sua urbanidade
que conduz a questionamentos sobre a resistência de uma construção e seus valores
intrínsecos, no contexto da cidade contemporânea, onde o consumidor mergulha num
universo de experiências sensoriais, a partir dos odores misturados entre camarão seco, ração
para animais, madeira e produtos químicos para a conservação de móveis. A variedade de
cores e produtos, na maioria não perecíveis (figura 44), desperta a curiosidade, mas ao mesmo
tempo contrasta com o tom branco amarelado e a umidade das paredes devido à falta de
conservação.
113
[...] frequento o mercado há mais de quarenta anos, tem semana que eu passo sem
vir, mas tem semana que eu venho todo dia e às vezes, três vezes ao dia... (Eurídice
Roterdan, 65 anos, moradora do bairro de São Brás).
[...] frequento o mercado há uns 33 anos; venho aqui sempre (Raimunda Lameira, 74
anos, moradora do bairro de Canudos).
[...] venho todos os dias, fazer compra prá minha patroa... (Jaqueline Teixeira, 25
anos, moradora da Terra Firme).
115
Todo mundo me trata bem, aqui todo mundo é feliz (Jaqueline Teixeira, 25 anos,
moradora da Terra Firme).
[...] aqui você não tem fila, aqui você é o freguês. Porque no supermercado você
enfrenta fila, ninguém quer saber quem é quem. Aqui eu passo até por cima da
cabeça do outro e digo: “Fulano! Paulinho, eu quero um prego, eu quero isso! Eu
quero aquilo!” A gente que não é bem de situação, de saúde, a situação financeira,
hoje a metade do povo vive desse jeito. Aí a gente é atendido mais rápido, tem a
amizade, todo mundo te conhece, você conhece todo mundo. (Eurídice Roterdan, 65
anos, moradora do bairro de São Brás).
Figura 46: estacionamento e feira situados na área posterior do Mercado de São Brás
Figura 47: a mesma área, vista sob outro ângulo, com a feira e o mercado de carne.
Se desordem e confusão são bons indicadores de sucesso comercial, por outro lado,
assumem um aspecto negativo. Ao longo da pesquisa empírica, se presenciou o
desentendimento entre uma vendedora e uma compradora, motivado por um suposto roubo da
segunda, episódio que exigiu intervenção policial. Gritos, agressões e ameaças foram
percebidos por todos que ali se encontravam e assim, com estas cenas supostamente
recorrentes, o mercado se transforma num espaço de caos, “o lugar dos pequenos furtos, das
palavras grosseiras e do ócio às vezes selvagem de uma multidão incontrolável” (GUÀRDIA
& OYÓN, 2010, p.18).
Até que aqui eu não tenho muito problema negócio de roubo durante o expediente
né, à noite não, eu não sei como é que funciona. É perigoso passar por essas áreas...
( Sr. Idenildo, servidor municipal e Administrador do Complexo de São Brás)
Aqui você tem que ver o horário. Depois de 1h ou 2h (da tarde), você tem que ter
mais cuidado aqui na feira. É um perigo. O final da tarde é melhor... (Tatiana Coelho,
35 anos, compradora, moradora do Bairro de São Brás).
[...] a praça ali está abandonada, cheia de meliantes. Você não pode nem ir por lá, os
caras ficam te atacando, querem dinheiro. Todas essas praças estão assim... (José
Maria Silva, 58 anos, morador do Coqueiro).
As praças são o local preferido dos meliantes. Sem vitalidade, são ocupadas nas
laterais por vendedores ambulantes e paradas de ônibus. A Praça Floriano, em frente ao
mercado, não possui atrativos, apesar dos bares que funcionam nas laterais do mercado. A
Praça do Operário, em frente à estação rodoviária, está envolta pela circulação de grandes
ônibus, caminhões, táxis, veículos particulares e pessoas, e a Praça da Leitura, subutilizada,
não cumpre o propósito que o nome indica, tendo a presença de indivíduos suspeitos
transitando e ocupando a área central.
118
O lugar vive assim entre dois tempos. O tempo do mercado e suas práticas
econômicas e sociais oriundas do século XIX, que ainda se reproduzem apesar das mudanças
na forma de consumo, e o ritmo acelerado de um grande centro urbano e seus problemas que
impactam no cotidiano da cidade e do Largo de São Brás.
A partir da década de 70, sob a influência das transformações mundiais nos modelos
de consumo, o país passou a receber a implantação dos supermercados, “o mais radical
desenvolvimento varejista” (VARGAS, 2001, p.241) que revolucionou o processo de compra
e venda. “Os supermercados nasceram revolucionários, uma espécie de marco do capitalismo,
e mudaram para sempre os meios de comercialização, tornando-se o símbolo máximo do
119
A gente lá dentro, a gente fazia boa venda lá dentro do mercado quando eu estava lá,
mas aqui com os supermercados elas caíram muito, as vendas... (D.Silvina dos
Santos, vendedora na feira desde 1952).
Isto aqui em outra época era um círio, um domingo, sábado, segunda, mas naquela
época não tinha supermercado, o supermercado hoje acabou com as feiras, por quê?
Na feira, o cidadão não tem cartão, ele vem, se ele não tiver dinheiro ele não compra,
a não ser que ele seja muito amigo, conheça mais... ”amanhã eu venho e pago”
(falando do cidadão)... no supermercado você leva o cartão, enche dois, três
carrinhos, você divide, paga em cinco, seis vezes e aqui não, então o supermercado,
ele tirou 60% das feiras (Geraldo Lisboa, vendedor na feira de São Brás, desde
1962)
Teve uma queda, devido as grandes redes... quando chegou as grandes redes o Líder,
o Grupo Yamada, o Grupo Formosa que entraram, e diminuiu antigamente
funcionava aqui todos os estado, hoje nós estamos num estado bem reduzido sentiu
muito pro pessoal que trabalha vendendo carne e peixe, porque devido as redes
grandes que chegaram nas proximidades, então devido a essa facilidade. Devido à
facilidade da conta, a forma de pagamento, parcelamento. E a segurança em si né, o
conforto, que o cliente quer o conforto, ele quer se sentir seguro onde ele vá comprar
(Sr. Idenildo, servidor municipal e Administrador do Complexo de São Brás).
Esta tentativa inicial de revitalizar este espaço corresponde ao que Castello (2006)
denomina como a clonagem de um lugar de urbanidade que se manifesta, em Arquitetura e
Urbanismo, quando “os projetos de lugar podem, também, se valer da tática de estimular uma
determinada percepção, introduzindo, de maneira intencional, novos elementos que irão
integrar e integrar-se à estrutura ambiental projetada” (CASTELLO, 2006, p.84) que neste
caso, objetivou atribuir novos usos ao mercado.
22
Jornal dos Bairros, Ano II, edição 348, de 09.01.1989.
23
Jornal dos Bairros, Ano III, edição 511, de 04.09.1989.
24
Jornal dos Bairros, Ano IV, edição 846, de 17.12.1989.
25
Jornal dos Bairros, Ano V, edição 936, de 22.04.1991.
121
permanência do mercado em nova situação de risco e desta vez, a responsabilidade não seria
do principal concorrente, o supermercado.
26
Jornal O Liberal, de 06.03.1993.
27
Jornal O Liberal, de 09.05.1998.
122
Para essas considerações, devemos ter presente também que a diferença entre
passado e futuro, do ponto de vista do conhecimento, consiste precisamente no fato
de que o passado é em parte experimentado agora e que do ponto de vista da ciência
urbana, pode ser esse o significado a dar às permanências: elas são um passado que
ainda experimentamos (ROSSI, 2001, p.49).
Quando eu vim prá cá, o conjunto ainda nem existia. Não tinha o IAPI, não tinha o
Lar de Maria, não tinha o Berço de Belém. Nada, (...) era cheio de carne aqui dentro
e as laterais eram mercearias. Tinha loja de fazenda (tecido), tinham as costureiras.
Hoje em dia não tem mais. É só roupa feita né? O mercado era bonito, tudo de
mármore, piso de mármore, o telhado com telhas francesas, não tinha esse forro. No
centro do mercado, tinha um chafariz, com uma águia que jogava água e de lá, a
gente tirava água para lavar o mercado. O mercado era lavado todos os dias.
expressa na luta dos vendedores pela sua permanência, no sentido de solucionar os problemas
de infraestrutura do Complexo, aos quais está sujeito há pelo menos duas décadas.
Em 2013, quando o mercado completou 102 anos, foi realizado um café da manhã
com a presença de autoridades e usuários, momento em que foram anunciadas sua inclusão no
Plano Plurianual “Belém 2014/2017” e a indicação para restauração, dentro do projeto “PAC
Cidades Históricas” do Ministério da Cultura e posterior transformação em polo gastronômico
e cultural.28 Esta ideia foi contestada, num pronunciamento na Assembleia Legislativa, de um
ex-prefeito de Belém e deputado estadual, sob argumento de que ao se fazer um investimento
público num imóvel tombado para depois repassar sua administração à uma Organização
Social, a população mais humilde deixa ter a possibilidade de acesso ao espaço público, como
aconteceu em outros espaços da cidade. 29
O Brasil tem um exemplo similar de intervenção bem sucedida, como a que foi
realizada no Mercado Central de Belo Horizonte. O projeto de revitalização foi pactuado entre
os poderes público e privado, resultando na privatização do mercado, perpetuando assim um
equipamento urbano na paisagem da capital mineira, como mostra Filgueiras (2006):
[...] quando se intervém no espaço urbano, principalmente nas áreas urbanas centrais
consolidadas, em processo contínuo de transformação, abandono e resgate, a
compreensão desta origem e miscigenação de tempos e práticas deve-se apresentar
como premissa para o projeto (VARGAS, 2009, p.92).
28
Fonte: site da Prefeitura Municipal de Belém, disponível em http://<ww3.belem.pa.gov.br>, acesso em
19.09.2014.
29
Fonte: disponível em www.edmilsonbritorodrigues.com.br, acesso em 19.09.2014.
125
A alternância entre abandono e resgate está na origem dos problemas que colocam o
mercado e o entorno frente a frente. De um lado, existe a dinâmica envolvendo o conjunto
habitacional e a estação que se desenvolvem no contexto da cidade contemporânea. De outro,
o mercado público com suas práticas que ainda se encontram fundadas no século XIX, com
reflexos no tecido urbano: a falta de higiene, o fácil acesso de pessoas de classe menos
favorecida, como os meliantes e pedintes, que induz e à falta de segurança.
[...] porque São Brás não pode desaparecer, a feira, porque o mercado foi criado pro
feirante, pro mercado municipal mesmo pra ser o feirante, o elemento, porque hoje o
mercado aqui, eu considero o shopping do dia-a-dia do povão, por que aí vem do
governador ao gari, e você entra aí e têm tudo; tem sapateiro, tem relojoeiro, a única
coisa que falta aí é uma Caixa Eletrônica que é pro pessoal ter mais movimento, tem
tudo, só isso que não tem (Geraldo Lisboa, vice-presidente da Associação de
Vendedores do Mercado de São Brás e vendedor na feira de São Brás, desde 1962).
30
Jornal O Diário do Pará, de 27.04.2014.
31
Jornal O Diário do Pará, de 27.04.2014.
127
Uma ação cultural vem sendo realizada quinzenalmente, desde 2013, o Batuque do
Mercado de São Brás (figura 49). São artistas que buscam incentivar a conscientização do
público sobre o cuidado com a praça, estimulando a coleta de resíduos produzidos no evento e
cultivando a valorização cultural e artística dos ambientes urbanos; “acreditamos que pela arte
podemos contribuir com a construção de sociedade mais justa, mais inclusiva, onde as pessoas
se reconheçam no espaço público urbano e queiram transformá-lo no lugar de uma verdadeira
cidade (nia)”.32
Fonte: <https://www.facebook.com/batuquecanalha/info>,
acesso em 16.08.2014.
32
Fonte: página do evento Batuque do Mercado de São Brás, disponível em
https://www.facebook.com/batuquecanalha/info, acesso em 16.08.2014.
128
CONSIDERAÇÕES FINAIS
pela renovação da estética e dos usos que impuseram um novo modo de viver, sinalizando a
modernidade futura.
O descaso público abriu, desta forma, um espaço para ações espontâneas como os
eventos e as manifestações populares. Isto significa que o lugar permanece para quem o
valoriza arquitetonicamente e socialmente. Ao longo da pesquisa empírica e analisando os
testemunhos orais, percebeu-se que apesar do avanço das grandes redes de supermercado,
com sua organização, conforto e apelo publicitário, ainda assim esses atributos não distanciam
definitivamente os consumidores da forma primeira de consumo, sob o grande espaço coberto
e nos caminhos da feira livre.
Mesmo com o tombamento da área pelo poder público, a situação em que se encontra
o Mercado de São Brás, atualmente, se assemelha a uma administração “doméstica”, aquela
130
que se faz rotineiramente sem grandes inovações, sem acrescentar qualquer elemento que
possa resgatá-lo do seu mundo de abandono e incertezas quanto ao futuro.
O complexo de São Brás configura-se como um lugar cujas práticas comerciais não
se vinculam totalmente ao tempo presente, por não estar em consonância com o modelo de
consumo preconizado, nem ao passado, pela ausência de um trabalho que restaure sua função
original, sua arquitetura e consequentemente sua relação com o entorno, como se efetivou no
século XIX até a década de 1970.
Poderá ser de grande valia, uma análise antropológica que permita interpretar como a
transição transformou a vida dos habitantes do Largo de São Brás, mas os testemunhos orais
apontam para uma fase tranquila entre a vida em coletividade e as relações no mercado
público, além de que este último alcançou o ápice, no período analisado, com a chegada de
novas construções e novos atores sociais, a partir de 1950.
expressões arquitetônicas ao seu entorno, cujo diálogo merece uma interpretação. Este foi o
procedimento adotado no segundo capítulo que se considera o eixo principal da análise.
Como a temática permite abordagens múltiplas, espera-se também que esta análise
possa contribuir para o desenvolvimento da temática “Mercados Públicos”, lembrando da
multiciplidade de que a tipologia encerra entre arquitetura, comércio, sociedade, gestão
pública e espaço da cidade como abordado no início desta Dissertação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRAGA, Theodoro. Guia do Estado do Pará. Typographia do Instituto Lauro Sodré, Belém-
Pará-Brazil, 1916.
GIEDION, Sigfried. Espaço, Tempo e Arquitetura. Editora Martins Fontes, São Paulo,
2004.
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New York, 2002
GUÀRDIA, Manuel; OYÓN, José Luís. Hacer ciudad a través de los mercados. Europa,
siglos XIX y XX. Museu d’Història de Barcelona, MUHBA, 2010
LEPETIT, Bernard. Por uma nova História Urbana; seleção de textos, revisão crítica e
apresentação Heliana Angotti Salgueiro. Editora da Universidade de São Paulo, 2001.
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ROCQUE, Carlos. Antonio Lemos e sua época, História Política do Pará. Editora Amada,
1973
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. Martins Fontes, São Paulo, 2001.
SINGER, PAUL. Economia Política da Urbanização. Editora Brasiliense, São Paulo, 1973.
135
WAISMAN, Marina. La estructura histórica del entorno. Buenos Aires, Nueva Visión, 1972
Capítulo de Livros
DISSERTAÇÕES E TESES
ROMANO, Leonora. Edifícios de Mercado Gaúchos: uma arquitetura dos sentidos. 2004.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
FONTES
Matérias de imprensa
Jornal O Correio do Pará, 1929, Trecho da reportagem sobre as obras na Avenida Tito
Franco disponível em www.haroldobaleixe.blogspot.com.br, acesso em 20.07.2014.
Jornal O Liberal, 28.06.1966, Com construção de mais duas pistas, Alm. Barroso será
uma das mais belas do Norte
Jornal A Folhado Norte, de 29.07.1970, Ministro entrega ao público hoje 3º. maior
Terminal Rodoviário do país
Jornal O Liberal, de 29.07.1970, Terminal: DER supre uma necessidade para o povo
Jornal A Folhado Norte, de 29.07.1970, Ministro diz que Médici vem à Belém.
Jornal dos Bairros, Ano II, edição 348, de 09.01.1989, Reinaugurado o Mercado de São
Brás.
Jornal dos Bairros, Ano III, edição 511, de 04.09.1989, Padronização já não corresponde e
feirantes reclamam.
Jornal dos Bairros, Ano IV, edição 846, de 17.12.1989, Obras para o Complexo de São Brás.
Jornal dos Bairros, Ano V, edição 936, de 22.04.199, Espaço do Mercado volta a ser
ocupado pelos artesãos.
138
ARTIGOS DE REVISTA
BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil. Revista Análise Social l, vol.
xxix (127), 1994 (3.°), 711-732, disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/, acesso em
08.07.2014.
FREITAS, ML. Habitação Social, Cidade jardim e Standard, A busca por um ideário
pitoresco e racional-construtivo para o comerciário, Ulysses Hellmeister e a Cidade
Jardim dos Comerciários, 2012 disponível em www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/,
acesso em 08.07.2014.
NORA, Pierre. Entre memória e História: a problemática dos lugares. Revista do Programa de
Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História-PUC/USP, n.10,
dez/1993.
<http://noticiasuol.com.br>, 14.09.2014
143
APÊNDICES
144
Data: 17.12.2013
N. de entrevistados: 05 vendedores
N. de entrevistados: 07 consumidores
Nome: Idade: