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DOSSIÊ
SOCIAL CONTEMPORÂNEA
INTRODUÇÃO
http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v32i85.27764 9
QUESTÕES TEÓRICAS NA DESIGUALDADE SOCIAL ...
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Angela de Randolpho Paiva, Patrícia Mattos
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QUESTÕES TEÓRICAS NA DESIGUALDADE SOCIAL ...
analisa dez abordagens teóricas reconhecidas apesar das políticas de transferência de renda
no que diz respeito à participação social, com adotadas pelos governos do PT, o programa de
o intuito de debater a contribuição dessas te- reformas instituído pelo partido ficou aquém
orias para tratar das desigualdades sociais. A de realizar transformações mais profundas, ca-
autora reconhece que a maioria das aborda- pazes de atacar as persistentes desigualdades
gens subestima a dimensão econômica das sociais no Brasil, sendo muito mais uma “polí-
desigualdades sociais, dando especial ênfase tica de social-liberalismo com viés populista”,
ao plano sociocultural, de inclusão cultural a limitada à “redução de danos”. Para reatualizar
partir das diferenças. Dessa forma, identifica a agenda da esquerda, Josué Pereira da Silva
um déficit nessas abordagens para a reflexão apresenta as características principais de um
mais acurada sobre as mudanças estruturais programa de esquerda, dialogando com auto-
necessárias para se pensar em formas de supe- res que veem a radicalização da democracia,
ração das desigualdades no plano econômico. a crítica ao capitalismo, a defesa da ecologia
Mesmo identificando as limitações dos movi- e da ética como bases desse projeto. Inspirado
mentos sociais para dar conta das variadas ex- no diagnóstico feito por Alain Caillé, que con-
periências de injustiça social, Maria da Glória sidera a desigualdade social e a corrupção en-
Gohn acredita que o movimento feminista e as dêmica como os principais problemas a serem
teorias feministas podem servir de inspiração, tratados por aqueles que “lutam por emanci-
uma vez que as feministas têm logrado êxito pação”, o autor argumenta que a esquerda não
em estabelecer diálogo com diferentes formas deve ter seu foco exclusivamente nas desigual-
– simbólicas e econômicas – de manifestação dades sociais, sendo condescendente com os
das desigualdades sociais. desvios éticos e a corrupção.
Para finalizar, Josué Pereira da Silva em Assim, convidamos os leitores e leito-
seu artigo “What is Left? Nota crítica sobre ras a apreciarem os textos descritos acima. Os
desigualdade e justiça”, recorre, provocativa- artigos apresentados demonstram inquietação
mente, à ambivalência da expressão What is epistemológica e empírica a respeito das novas
Left para discutir, tanto a definição de esquer- agendas para a teoria social contemporânea.
da apresentada na teoria política, quanto o que Tomando emprestada a citação de Isaac New-
se perdeu ou sobrou da agenda política de es- ton usada no final do texto de Maria Glória
querda nos dias de hoje. Seu objetivo é identi- Gohn, reforçamos a convicção da importância
ficar, no debate político e teórico contemporâ- do diálogo acadêmico:
Caderno CRH, Salvador, v. 32, n. 85, p. 9-13, Jan./Abr. 2019
neo, temas e propostas que possam revigorar a “Se vi mais longe foi por estar de pé so-
agenda da esquerda. Apoiando-se na definição bre ombros de gigantes”.
de Norberto Bobbio de que o fundamento da
esquerda é a luta contra a desigualdade social,
Recebido para publicação em 22 de agosto de 2018
o autor aponta as propostas de combate às de- Aceito em 03 de dezembro de 2018
sigualdades sociais implementadas ao longo
do século XX por governos socialdemocratas
e socialistas, indicando as variações internas REFERÊNCIAS
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Angela Randolpho Paiva – Doutora em sociologia pelo IUPERJ, com pós-doutorado na UNICAMP.
Professora associada do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais do Departamento de Ciências
Sociais (PPGCIS) da PUC-Rio. Desenvolve pesquisas nas áreas de direitos humanos e cidadania, relações
raciais, ação afirmativa e movimentos sociais. Os resultados de suas pesquisas estão publicados em
artigos em periódicos e livros, dentre esses últimos Juventude, cultura cívica e cidadania (Garamond)
e Ação Afirmativa em questão – Brasil, África do Sul, Estados Unidos e França (Pallas). É também a
coordenadora central de cooperação internacional da PUC–Rio.
Patrícia Mattos – Doutora em sociologia pela Universidade de Brasília, com pós-doutorados na
Fachhoschule Bielefeld (Alemanha) e na PUC-Rio. Professora do Programa de Pós-graduação em História
da UFSJ. Desenvolve pesquisas nas áreas de teoria sociológica, desigualdades sociais e estudos de gênero.
Publicou o livro A sociologia política do reconhecimento (Editora Annablume) e organizou, junto com
Jessé Souza, o livro A teoria crítica no século XXI (Editora Annablume).
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