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Home > Cultura > Fernando de Azevedo e a defesa da educação para todos
Cultura - 10/06/2019
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E
ducador, sociólogo, administrador, escritor e jornalista, com formação em Direito pela
USP, Fernando de Azevedo (1894-1974) é considerado figura-chave da educação.
Participou de momentos emblemáticos no âmbito educacional, como a criação do
Ministério da Educação – na época Ministério da Educação e Saúde –, em 1930, a
elaboração do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, de 1932, a concepção da primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, em 1961, e a promoção da Reforma Universitária de TOPO
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13/06/2019 Fernando de Azevedo e a defesa da educação para todos – Jornal da USP
1968. Também elaborou o anteprojeto e o projeto que deram origem à Universidade de São
Paulo, em 1934.
Para relembrar sua trajetória, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, que possui a
salvaguarda de seu acervo, promove nesta semana, entre os dias 12 e 14 de junho, o
evento Educação no IEB: Interfaces Possíveis com o Acervo Fernando de Azevedo, reunindo
especialistas da USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Taubaté (Unitau), Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp). Além desse encontro, será
inaugurada na ocasião a exposição Em Defesa da Educação Pública: Fernando de Azevedo
no IEB (1927-1968), que ficará em cartaz até 18 de outubro.
O acervo de Fernando de Azevedo foi doado ao IEB em 1970, ainda em vida, pelo próprio
educador. Ele contém mais de 16 mil documentos que retratam a trajetória do intelectual. A
professora Diana Gonçalves Vidal, diretora do IEB, conta que a coleção
inclui correspondências, fotografias e recortes de jornal, além de manuscritos e datiloscritos
originais. “Há documentos preciosos, muitos deles presentes na exposição”, afirma Diana, que
durante quatro anos, entre 1996 e 2000, investigou o acervo de Fernando de Azevedo, como
uma das primeiras bolsistas do Programa Jovens Pesquisadores, da Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
As folhas inicial e final do decreto de criação, em 1934, da Universidade de São Paulo, que contou com a elaboração de Fernando de
Azevedo, estarão na exposição Em Defesa da Educação Pública: Fernando de Azevedo no IEB (1927-1968) – Foto Marcos Santos / USP
Imagens
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Entre as raridades, há vários originais, como o datiloscrito de A Cultura Brasileira (1943), obra
emblemática de Fernando de Azevedo, com mais de 500 páginas. Como ele mesmo dizia:
“Para entender o Brasil é preciso entender a cultura brasileira”. Encontra-se no acervo também
o datiloscrito original do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. O original do
manifesto de educadores Mais uma Vez Convocados, de 1959, e nove álbuns de recortes
sobre a Reforma Educacional empreendida por ele no Rio de Janeiro, entre 1927 e 1930,
fazem parte do acervo.
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“Fernando de Azevedo aparece no debate público, ele se faz público. Ele assume a instrução
pública em São Paulo e no Rio de Janeiro, e tem uma atividade política, como liberal, que não
é pouco expressiva”, diz. O acervo reúne documentos importantes, todos em defesa da
concepção de uma educação pública, laica e gratuita, informa Diana. Para ele, educação era
um direito do cidadão e um dever do Estado. Ele luta por uma educação igualitária, comum
para a elite e para o povo. “A ideia é que as pessoas vão ascender aos postos de comando
pela meritocracia, colhendo dentro da população os melhores talentos”, afirma Diana.
A diretora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, Diana Gonçalves Vidal (à esquerda), e Mônica Aparecida G. da Silva Bento,
supervisora técnica de serviço do Laboratório de Conservação e Restauro, trabalharam, respectivamente, na seleção e restauração dos
documentos – Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Segundo Diana, trata-se de um discurso poderoso porque ainda hoje é pouco conquistado.
“Atualmente, a educação pública no Brasil não atende a toda a população, não é igual para
todos e não dá igual oportunidade a todos. Fernando de Azevedo defendia que todos os níveis
da educação fossem gratuitos, do ensino primário à universidade. É por isso que ele se engaja
na criação da USP. Ele acredita em uma universidade que também seja pública, ou seja,
esses talentos vão tendo oportunidade de florescer e o País vai ser governado pelos melhores.
Esse é o pensamento liberal, que hoje voltou, de certa forma, a ser atual”, comenta Diana.
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“Era um projeto de Brasil e um projeto de educação para o Brasil. É claro que existiam vozes
dissonantes, havia um embate entre católicos e liberais que dominou toda a discussão sobre
educação entre os anos 30 e 70, enquanto Fernando de Azevedo está presente no cenário –
ainda nos dias de hoje esse embate continua –, e o tempo todo ele vai defender que é dever
do Estado dar a educação.”
Um dos nove álbuns de recortes sobre a Reforma Educacional empreendida por Fernando de Azevedo no Rio de Janeiro, entre 1927 e
1930 – Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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No período de 1934 a 1938, o Instituto de Educação é tido como uma das unidades
pertencentes à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), hoje Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas (FFLCH). “A partir de 1938, durante o Estado Novo, o embate
pende para o lado dos católicos e não dos liberais, e um movimento tanto no Rio de Janeiro
quanto em São Paulo vai tirar de dentro das universidades essas escolas de formação para
professores – no Rio, ligada à então Universidade do Distrito Federal e, em São Paulo, à USP
–, voltando a ser uma formação de nível médio”, como relata Diana.
Em 1939, uma lei cria os Departamentos de Educação dentro das universidades, em âmbito
nacional. Na USP, ele fica ligado novamente à FFCL, mudando a característica. Diana explica
que na Escola de Professores todo aprendizado era aplicado e testado no jardim da infância e
na escola primária, mas quando se cria o departamento é retirada essa formação de longa
duração, restando só uma formação profissionalizante. Somente em 1959, com a criação da
Escola de Aplicação da USP, é que se volta a ter uma escola associada ao nível primário.
Nesse momento, Fernando de Azevedo tem uma atuação muito importante, como diz Diana,
com a instalação do Centro Regional de Pesquisas Educacionais. Em 1956, o Ministério da
Educação (MEC) cria o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, com sete polos
espalhados pelo Brasil, e um deles está em São Paulo. Constituído por um convênio entre a
FFCL e o MEC, o prédio é construído na USP, onde funciona hoje a Faculdade de Educação.
O centro é construído em 1956 e três anos depois se torna uma escola de demonstração,
originando mais tarde a Escola de Aplicação da USP – que vai trabalhar desde o nível primário
até o ensino médio. TOPO
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Carta de Fernando de Azevedo enviada a Antonio Candido, em 18 de março de 1973, agradecendo pelas palavras do amigo durante um
evento no Instituto de Estudos Brasileiros da USP -Foto: Marcos Santos USP Imagens
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Apesar de inaugurada em 1969, a Faculdade de Educação é tão antiga quanto a própria USP,
defende Diana, porque ela vai sendo conformada a partir de vários eixos, desde o Instituto de
Educação, o Departamento de Educação e o Centro Brasileiro de Pesquisas Brasileiros até a
própria Faculdade de Educação. “Ela passa a existir como faculdade em 1969, mas como
formação para o magistério existe desde 1934. Então, ela tem 85 anos, como a USP, e isso é
importante não pela efeméride em si, mas para mostrar o compromisso da USP com o ensino
público”, afirma.
Diana ainda lembra um fato curioso: uma entrevista em que o professor Antonio Candido –
que foi um dos assistentes de Fernando de Azevedo – cita um episódio ocorrido no final da
década de 30, em que Armando Salles de Oliveira questiona como fazer para aumentar o
número de alunos na FFCL. Fernando de Azevedo respondeu: “Fácil, é só dar um
comissionamento aos melhores professores que estão atuando no ensino público, dando a
eles a possibilidade de continuar recebendo um salário e frequentar a faculdade, que encho
essas salas”. “E realmente isso acontece, demonstrando desde então a preocupação da
Universidade com a educação básica”, diz. “Ele também tem um papel importante na
construção do pensamento dentro da Universidade, sempre ligado à sociologia, área que
ajuda a implementar na USP.”
Em defesa da educação, seu maior ideal, Fernando de Azevedo redigiu, em 1965, durante a
ditadura militar, um documento – que está presente no acervo e estará em exposição – em
que se manifesta contra a prisão dos professores da USP Mario Schenberg, Fernando
Henrique Cardoso e Florestan Fernandes e também contra a perseguição a intelectuais pelas
suas ideias. Nas suas próprias palavras: “Se na ordem do dia está realmente uma política de
reconstrução nacional, não é perseguindo, por suas ideias, professores, cientistas, escritores e
artistas, não é humilhando-os nem mantendo-os sob constantes ameaças que se conseguirá
promovê-la, sejam quais forem as forças materiais com que possam contar. Pois o que reside
à base e é fator preponderante dessa reconstrução em qualquer de seus setores é a
educação, a ciência e a cultura.”
TOPO
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13/06/2019 Fernando de Azevedo e a defesa da educação para todos – Jornal da USP
Recorte do jornal A Revolta dos Jovens, de 2 de julho de 1968, sobre o movimento estudantil, em que Fernando de Azevedo afirma que as reivindicações relativas à
reestruturação das universidades são inteiramente justas – Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Mais informações podem ser obtidas na página do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)
da USP.
Linha do tempo
TOPO
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Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo. TOPO
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