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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

Marcella Belluomini
Maristella Kalil Victoriano Silva
Pedro Tiné

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
UMA ANÁLISE DA VARIEDADE DA LÍNGUA PORTUGUESA NA PUBLICIDADE

São Paulo
2019
Marcella Belluomini
Maristella Kalil Victoriano Silva
Pedro Tiné

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
UMA ANÁLISE DA VARIEDADE DA LÍNGUA PORTUGUESA NA PUBLICIDADE

Trabalho de análise das variações linguísticas


na publicidade para a disciplina de Introdução
aos Estudos da Língua Portuguesa I, orientado
pela professora Ieda Maria Alves, para
obtenção de nota parcial referente ao primeiro
semestre de 2019.

São Paulo
2019
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................4
2. A PUBLICIDADE E A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA...........................................6
3. ANÁLISE DOS TEXTOS..................................................................................7
3.1. VARIAÇÃO DIACRÔNICA/HISTÓRICA.....................................................7

3.1.1 GALAK - NESTLÉ (1960).......................................................................8


3.1.2 CEREAIS NESTLÉ (2007)......................................................................8
3.1.3 ESCRAVOS (1880).................................................................................9
3.1.4 LACTA – CRIANÇAS VADIAS (1918)..................................................10
3.2 VARIAÇÃO GEOGRÁFICA.......................................................................11
3.2.1 PORQUE O MEU DENTE DÓI COM ALGO GELADO? (2016)............11
3.2.2 NOVO 1, 2, 3 DA ECONOMIA – EXTRA (2016)....................................12
3.3 VARIAÇÃO SOCIAL..................................................................................13
3.3.1 SEXOLETO...........................................................................................13
3.3.1.1 JEQUITI #SELFIE (2018).................................................................13
3.3.1.2 RISQUÉ COLEÇÃO OUTONO INVERNO 2015..............................15
3.3.1.3 LIQUIDIFICADOR PHILLIPS WALITA (1961).................................16
3.3.2. TECNOLETO.......................................................................................17
3.3.2.1. SENSODYNE EXTRA FRESH (2013)............................................17
3.3.2.2. ASPIRINA MICROATIVA (2019)....................................................18
3.3.3. CRONOLETO......................................................................................18
3.3.3.1. DONOS DA P**** TODA (2018)......................................................18

3.3.3.2. CONTE COM A GVT PARA VIVER SUAS AVENTURAS (POR


CELLBIT) (2015)...............................................................................................19
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................21
5. REFERÊNCIAS.............................................................................................22
1. INTRODUÇÃO

Neste trabalho, busca-se observar a variação linguística no português


brasileiro, oral e escrito, dentro do contexto dos anúncios publicitários.
É necessário, no entanto, que se façam algumas ressalvas sobre o alcance
dessa análise. De acordo com Marli Quadros Leite (p. 184), a língua não configura
uma “entidade monolítica”, e sim, “um mosaico de normas, um leque de
possibilidades de realização da língua (...)”. Tendo em mente essas possibilidades,
Rey (1972) estabelece que a norma linguística está sempre presente, pertencente
à cada grupo social, e que portanto existem tantas normas quanto grupos; à norma
tida pelos falantes como “modelo ideal” de realização, ele chama norma subjetiva.
Aléong (1983) se volta para o aspecto social, estabelecendo como normal o
que Rey chama de norma. Já a norma subjetiva, ou seja, o dialeto de prestígio, que
“se impõe por meio de um código rígido, escrito, elaborado a partir de certos valores
de beleza e perfeição”, ele chama normativa. Dadas as propriedades de cada uma,
ele designa o normal como norma implícita e o normativo como a norma explícita,
“codificada e divulgada por um aparelho de referência, integrado, sobretudo, pela
escola, gramática e dicionários”.
Assim, analisaremos como a norma explícita modificou-se ao longo das
últimas décadas, tanto em seus registros falados quanto escritos.
Tratando dos registros escritos, é essencial ressaltar a importância que
possuem em relação à língua falada. Para Saussurre (1916), há grande prestígio
da primeira sobre a segunda, provocado não apenas pelo influência social, visto
que o acesso à tal modalidade é restrito à classes mais altas, mas também porque:
“1°- Primeiramente, a imagem gráfica das palavras nos impressiona como um objeto
permanente e sólido, mais adequado do que o som para constituir a unidade da
língua através dos tempos (...)”.
“2° Na maioria dos indivíduos, as impressões visuais são mais nítidas e mais
duradouras que as impressões acústicas; dessarte, eles se apegam, de preferência,
às primeiras. A imagem gráfica acaba por impor-se à custa do som.”
“3°- A língua literária aumenta ainda mais a importância imerecida da escrita. Possui
seus dicionários, suas gramáticas; é conforme o livro e pelo livro que se ensina na
escola; a língua aparece regulamentada por um código; ora, tal código é ele próprio
uma regra escrita, submetida a um uso rigoroso: a ortografia, e eis o que confere à
escrita uma importância primordial. Acabamos por esquecer que aprendemos a
falar antes de aprender a escrever, e inverte-se a relação natural.”
Tal posição de prestígio possibilita à linguagem falada diferenciar - se da
escrita, visto que a segunda existe em função da primeira, sendo portanto natural
que ela não acompanhe todos os processos dinâmicos que a oralidade está
constantemente sofrendo. Dessa maneira, a grafia nem sempre representa
efetivamente os fonemas. Como exemplo, podemos citar o processo de
aportuguesamento de algumas palavras estrangeiras antes importadas. Quando
enfim atingem um conhecimento popular, tais palavras são adaptadas ao nosso
sistema ortográfico.
2. A PUBLICIDADE E A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Para o anúncio publicitário, a linguagem é ferramenta fundamental na hora de


vender um produto. Para Carvalho (1995, p. 12) o discurso publicitário traz
consigo as características da sociedade a que pertence e revela o imaginário
coletivo de seu contexto social. A campanha publicitária trabalha para
comunicar-se da melhor forma possível com o consumidor tentando, assim,
vender um determinado produto ou serviço. Carvalho diz que, como o emissor,
ou seja, o anunciante, não tem o poder para obrigar o receptor (consumidor) a
comprar, ele persuade, usando deste imaginário para sugerir uma solução a uma
insatisfação; e o meio utilizado para efetuar essa persuasão é a linguagem. A
peça publicitária deve mostrar que compreende e conhece a realidade do
comprador, que está inserida nela. Para obter essa aproximação, são explorados
uma série de recursos linguísticos para atingir a nível pessoal o público-alvo do
produto; como afirma Camacho (p. 33), o desempenho da língua pode se
modificar para atingir uma finalidade específica em uma ação determinada.

Assim sendo, com a existência de produtos de todos os tipos e para todos os


públicos, é possível observar nos anúncios publicitários uma sorte de variedades
condicionadas por essas necessidades. que, de acordo com Camacho, são
quatro modalidades específicas:

 Variação histórica ou diacrônica: observação de dois ou mais estados


distintos de uma língua. Essa variação se explicita a partir do estudo de
duas variantes: ou a substituta e a substituída, ou duas variantes
substituídas pertencentes a diferentes períodos; o importante é realizar
um recorte temporal para que seja feito o estudo. Faraco (p. 20) diz que
os níveis mais estudados da linguística histórica são o fonético-fonológico,
embora existam outros aspectos a serem estudados, como mudanças
morfológicas e semânticas.
 Variação geográfica ou espacial: variações no modo de falar dentro de
uma comunidade linguística específica inserida numa comunidade
linguística maior. Essas variações ocorrem principalmente pois nativos de
uma localidade limitada estão concentrados e voltados a um centro
cultural, político e econômico que os polariza e que não necessariamente
se mantém uniforme em relação à comunidade maior.
 Variação social: a variação social compreende ao que é próprio do
contexto sociocultural do falante e a tendência do mesmo a compartilhar
de certas manifestações linguísticas com outros membros da mesma
comunidade. Também abrange outras condições que não apenas a
classe social do indivíduo: também causam variação a idade, o grau de
instrução e o gênero do falante, que podem influenciar isolada ou
conjuntamente.
 Variação estilística: esta última é principalmente situacional: o falante
adaptará sua fala conforme a situação em que se encontra, adaptando-
se conforme o contexto de fala em que está inserido. Se assemelha muito
à descrição de nível de linguagem, ou registro, vista em Leite.

Nas propagandas destinadas a materiais impressos é facilmente observável a


variação do uso da norma entre culta e popular, como descrita por Leite (p. 200).
Apesar de a autora explicitar que “apenas em termos” essa classificação é
aceitável, a adotaremos aqui para expor da melhor forma as diferenças entre o
prestígio que a propaganda busca causar no consumidor.

O corpus coletado para análise engloba tanto peças publicitárias escritas quanto
em vídeo, que serão descritas aqui conforme formos explicando cada variação.
Quaisquer transcrições feitas respeitaram variações de toda a natureza para que
a análise pudesse ser efetuada com maior exatidão.

3. ANÁLISE DOS TEXTOS

3.1 VARIAÇÃO DIACRÔNICA/HISTÓRICA

As línguas estão em constante processo de renovação, se configurando como


um objeto dinâmico, em que a mudança é natural. As variantes históricas são as
versões anteriores de determinada língua. O conhecimento atual de algumas
variantes é acessível somente pela conservação de textos antigos, como em
casos em que a ortografia sofreu alterações. Tais exemplos serão abordados.
Isso ocorre porque a modalidade escrita tende a ser mais conservadora. O
campo lexical também pode sofrer mudanças, entre elas, a palavra permanecer
inalterada ortograficamente, mas possuir significações diferentes diante de
períodos históricos distintos. Finalmente, na fala, há certas tendências que
alteram a pronúncia de alguns sons específicos. Nesse caso, sabemos da
existência de uma pronúncia diferente porque as variantes em desuso coexistem
com as variantes de prestígio atuais. De acordo com Camacho (p. 30), até serem
completamente eliminadas, tais variantes continuam sendo utilizadas pelas
gerações mais velhas, em contraposição com as gerações mais novas, que
estão constantemente buscando novidades.

3.1.1 GALAK - NESTLÉ (1960)

Vídeo: <https://youtu.be/CrB0wb951bg>

Transcrição: “É novo. É diferente. É branco. É suave. É leve. Sim, é Galak


Nestlé. Chocolate branco inconfundivelmente delicioso. Um produto Nestlé
garantido. Galak chocolate branco fórmula original suíça. Hmm, é delicioso!”

Neste anúncio, utiliza - se o fonema lateral velar vozeado, representado pelo


símbolo [ɫ], como na pronúncia do l em inconfundivelmente. Apesar de se
manter até hoje em alguns dialetos, ele deu lugar em sua maioria a semivogal
[w], que tem som de u.
Ocorre também o uso da oclusiva alveolar desvozeada [t], em chocolate e
inconfundivelmente. Ainda presente nos dialetos do Sul, teve seu uso reduzido
em favorecimento da africada alveopalatal desvozeada [ʧ] em regiões como
São Paulo.

3.1.2 CEREAIS NESTLÉ (2007)

Vídeo: <https://youtu.be/-4cBy5i62ls>

Transcrição: “Todos os cereais para café da manhã Nestlé são feitos com
cereal integral, e a garantia é este símbolo verde. O cereal integral é mais
completo porque mantém todas as partes do cereal. Por isso, contém fibra e
muito mais. Mais vitaminas e minerais essenciais para a sua família. Gostoso
mesmo! Como sempre! Nem todos os cereais matinais são feitos com cereal
integral. Todos os da Nestlé são. E cereal integral é muito mais que fibra. Leve
o melhor para sua família, procure o símbolo verde e garanta cereais integrais
no seu café da manhã.”

Por ser mais atual, a pronúncia de cereal nessa propaganda se contrapõe à


pronúncia antiga, ao utilizar a semivogal [w], no lugar do tradicional fonema
lateral velar vozeado [ɫ].

3.1.3 ESCRAVOS (1880)

Fonte: <https://1.bp.blogspot.com/-
LQEeB41Xm4U/UUqErocsCUI/AAAAAAAARuI/PlvBAoPnQzc/s1600/escravos+1880.jpg>

Texto: Vende-se um perfeito cosinheiro de forno e fogão e bolieiro; pode - se dar


para experimentar; dous lindos moleques para lavoura, de 11 a 15 annos; uma
rapariga para mucama, perfeita; tres cosinheiras que lavam e engommam. Para
vêr e tratar, rua de S. José, 27.

Não apenas apresentando uma escrita bem diferente da atual, esta é uma
publicidade de cunho bastante controverso. Nela, é anunciada a venda de
escravos: dois garotos, uma “mucama”, termo racista do período da escravidão
que se referia a uma moça jovem que acompanhava a senhora e, quando exigido,
satisfazia o desejo sexual de seu senhor, que, devido ao contexto inserido, caiu
em desuso; e três cozinheiras. O que chama a atenção neste texto, além da
grafia de “cosinheiro”, escrito com “s” ao invés de “z”, e “dous” em oposição à
grafia atual “dois”, as palavras com consoantes duplas, como “engommam” e
“annos”. A língua portuguesa aproximava a grafia da grafia latina, conforme
proposto no compêndio “Orthographia ou Arte de Escrever e Pronunciar com
Acerto a Língua Portuguesa”, publicado por João de Moraes Madureira Feijó em
1734; uma proposta para a simplificação da língua só se efetivaria com o
Formulário Ortográfico de 1911, que, inclusive, decretaria a queda das vogais
duplas.

3.1.4 LACTA – CRIANÇAS VADIAS (1918)

Fonte: <https://1.bp.blogspot.com/-
14pJ0SPIXEw/U1ciHotoylI/AAAAAAAAgkg/RtFpnCM2WqM/s1600/propaganda+do+chocol
ate+lacta+1918.jpg>

Texto: As crianças são geralmente vadias, e só gostam da escola por causa das
aulas de recreio. Mas se lhes offerece o LACTA como premio, todas se tornam
estudiosas e comportadas. E’ inutil, pois, facilitar o ensino por meio de methodos
apropriados: o LACTA como premio e estimulo, vale por todos os methodos.
Linguagem não-verbal: A professora atrai a atenção dos alunos com uma barra
de chocolate LACTA.

Aqui, é possível observar também a consoante duplicada, em “offerece”. A


palavra “methodos” também se destaca por sua grafia com a consoante “h”
dentro da palavra, que cai com o Formulário de 1911, bem como o uso em
posição inicial, final e dos grupos como “rh” e “th”; o grupo “ch” passou a ser
expresso por “qu” (architecto > arquitecto) e o grupo “ph”, expresso em “f”
(philosophia > filosofia). A palavra “premio” e “estimulo” estão desacentuadas e
passam a serem acentuadas após o acordo, porém se encaixam em diferentes
circunstâncias: “premio” torna-se “prêmio”, acentuada pois possui a
antepenúltima sílaba tônica. Já “estimulo” é acentuada não apenas por ser
proparoxítona, mas também para a diferenciação do substantivo “estímulo” da
forma verbal no presente do indicativo “eu estimulo”. “Inutil” também não
apresenta acento gráfico. No campo semântico, é possível comentar sobre a
palavra “vadias”, que passou por mudança de significado ao longo do tempo. No
período do texto, significava “preguiçoso, desocupado”. Hoje, apesar de manter
seu significado entre as pessoas mais velhas, é usado principalmente para
ofender mulheres quanto à sua liberdade sexual, humilhando-a por se relacionar
com vários homens.

A linguagem usada pelo anúncio, referindo-se às crianças em terceira pessoa e


apontando para seu desempenho escolar, busca atingir seus pais, com a
promessa de que, caso a criança esteja aguardando uma recompensa, o
chocolate Lacta, ela se dedicará mais aos estudos. Isso encaixa-se no que diz
Carvalho, como citado acima, que a publicidade busca, usando a linguagem
como ferramenta de persuasão, oferecer uma solução a um problema do
consumidor.

3.2 VARIAÇÃO GEOGRÁFICA

3.2.1 PORQUE O MEU DENTE DÓI COM ALGO GELADO? (2016)

O vídeo “Por que o meu dente dói com algo gelado? | Sensodyne ®” da marca
Sensodyne, publicado no dia 17/11/2016, traz a doutora Thaís Di Paula para
destacar situações em que ocorre a sensibilidade dental e a solução, que seria
a pasta de dentes Sensodyne.
Vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=6UPzZW8RaZQ>

Dra Thaís Di Paula: “Não vou tomar chopp porque dói, não vou beber água
gelada porque dói, não vou compartilhar um sorvete com meu filho porque dói.
Porque quando tá saudável a gente nem sente que tem, né? Agora quando dói
a gente lembra, o dente fala assim: “eu tô aqui, eu tô aqui!”. Eu recomendo que
o paciente use Sensodyne diariamente... usando Sensodyne, essa sensação
dolorosa toda da hipersensibilidade, ela... não existe mais. Como é bom não ter
sensibilidade. Como é bom poder tomar um sorvete quando eu quero!

É possível perceber, no falar da doutora, o /R/ típico carioca, representado pelo


fone [x]. Também é perceptível na sua fala uma africada alveopalatal
desvozeada, [t͡ʃ], que está presente no falar da população do sudeste do Brasil.

3.2.2 NOVO 1, 2, 3 DA ECONOMIA – EXTRA (2016)

Fonte: < https://grandesnomesdapropaganda.com.br/wp-


content/uploads/2017/06/DANADO-DE-BOM-696x348.jpg>

Título: Extra – NOVO 1, 2, 3 DA ECONOMIA

Texto: É o Malucoco no arraiá da economia.

Slogan: São João Danado de Bom


Elementos da imagem: um coco humanizado, vestindo um chapéu temático da
cultura nordestina.

Para esta campanha, o Extra teve vários enfoques diferentes para várias partes
do país. Nesta peça, parte da campanha para o nordeste divulgando as ofertas
feitas durante a época de festas juninas, é usada grafia observada na fala de
dialetos interioranos, em que há a supressão do “r” em final de sílaba. É de
escolha do anunciante também usar o slogan “São João Danado de Bom”, se
apropriando da expressão “danado de bom”, que significa muito bom, de uso
comum dos falantes nordestinos.

3.3 VARIAÇÃO SOCIAL

Dentro da variação social, como citado anteriormente, existem vários fatores que
influenciam a fala de um indivíduo socialmente. Vamos nos referir aqui por seus
tipos. Os abordados serão tecnoleto (registro técnico) e sexoleto (variação
conforme o gênero) e cronoleto ou bioleto (variação conforme a idade).

3.3.1 SEXOLETO

3.3.1.1 JEQUITI #SELFIE (2018)

O anúncio, protagonizado pelas atrizes teen Larissa Manoela e Maisa Silva, foi
publicado no canal oficial e veiculado na emissora de televisão SBT em
18/10/2018 para promover a linha de perfumes “#Selfie”, para a Jequiti.

Vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=KXlcVf70IH0>

Transcrição:

Larissa Manoela: “Olha eu e a Maisa aqui juntas na Jequiti pra apresentar o


nosso novo crush.”

Maisa: “Nosso, nada, né? Meu!”

Larissa Manoela: “Seu?”


Maisa: “É brincadeira! Tem um pra cada um! São os perfumes hashtag selfie!
Vai ser difícil escolher um só, né? Quer uma dica? Escolhe os dois!”

Larissa Manoela: “É isso mesmo! Pra comprar, procure uma consultora Jequiti
ou acesse a loja online. Eu tenho certeza que vocês vão amar!”

Maisa: “Tá esperando o quê? Peça já o seu!”

Larissa Manoela & Maisa: “Beijo!”

Voltada para mulheres jovens, a propaganda da Jequiti usa de linguagem


descontraída e termos usados pelas garotas jovens para vender seu produto.
Essa descontração, o vocabulário fácil, como se fosse uma conversa e o uso da
segunda pessoa do singular contribuem para a aproximação do consumidor com
as garotas, que tentam convencer por meio desta pessoalidade, desta suposta
proximidade.

Também há o uso de gírias específicas das garotas jovens: O termo ”crush”,


vindo do inglês, que significa paquera, interesse romântico, é usado aqui para
falar do perfume, para mostrar que as atrizes estão apaixonadas por ele. O nome
do produto, “#Selfie” ou “hashtag selfie” pega emprestada a linguagem das
redes sociais, o “hashtag”, marcador usado para separar uma postagem em
temas nas redes sociais e o “selfie”, termo usado para designar uma foto tirada
com a câmera frontal do celular, pela própria pessoa que aparece na foto, tudo
para se comunicar com o público-alvo a qual o produto é destinado, levando
ainda em consideração que as atrizes são muito populares entre as jovens, para
as quais o perfume é destinado.
3.3.1.2 RISQUÉ COLEÇÃO OUTONO INVERNO 2015

Fonte: < https://www.revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2015/03/image-1.jpg>

Slogan: Risqué: homens que amamos

Texto: O assunto número 1 das nossas conversas, em 6 cores que vão dar o
que falar.

Esta peça publicitária, ainda que atual, reflete um valor ainda muito enraizado na
sociedade: o machismo. A escolha do léxico procura persuadir a mulher a
comprar os esmaltes, que possuem nomes de personalidades masculinas,
sugerindo que os homens são prioridade em suas vidas. O slogan, “homens que
amamos”, também marca a associação do desejo de agradar uma figura
masculina à mulher, que busca atrair atenção por meio dessa vontade. Hoje,
embora criticados, anúncios de cunho machista voltados para um público-alvo
feminino ainda são comuns.
3.3.1.3 LIQUIDIFICADOR PHILLIPS WALITA (1961)

Fonte: < https://4.bp.blogspot.com/-


DWNHzAja7tU/XHya0Qpii3I/AAAAAAABv0E/k9DKuw5godIQicqXd3CXMhKAK_oGhm9-
wCLcBGAs/s1600/propaganda%2Bliquidificador%2Bwalita%2B1961.jpg>

Título: GANHEI… GANHEI MEU LIQUIDIFICADOR

Slogan: Walita – perfeição absoluta!

Texto: Sinto-me a mulher mais feliz sóbre a terra! Ganhei do meu marido um
liquidificador Walita - Perfeição Absoluta. Sempre desejei um. É lindo, mais
moderno e mais bonito do que qualquer outro liquidificador. Agora posso
preparar ótimas receitas, com a velocidade Toquepluma… e sem perigo de
trincar o copo de vidro "PYREX". E Walita mói carne sem nenhum acessório. De
fato, tenho bons motivos para me sentir tão feliz!

Linguagem não-verbal: Uma mulher em uma varanda de um apartamento


mostrando aos vizinhos o liquidificador que ganhou do marido de presente.

O anúncio é totalmente voltado para o público feminino, sendo narrado por uma
mulher e direcionado à outras. Nele, a narradora busca atrair a atenção para o
produto ao detalhar a maneira como se sentiu ao adquiri-lo. O excesso de
adjetivação, marca de linguagem culturalmente relacionado ao gênero feminino,
devido ao papel social que lhes é atribuído, destaca a persuasão, concentrada
na tentativa de mostrar à interlocutora que sua felicidade depende do produto,
sendo, em seu cerne, machista como a anterior; entretanto, é um machismo mais
descarado e ainda mais limitador para com a figura da mulher, automaticamente
a designando para a cozinha.

3.3.2 TECNOLETO

3.3.2.1 SENSODYNE EXTRA FRESH (2013)

No vídeo, de 16/06/2013, a dentista Gisele Versannio explica o porquê o


consumidor deve optar pela pasta Sensodyne Extra Fresh e seus benefícios.

Vídeo: < https://www.youtube.com/watch?v=E4gW63LC_HQ>

Transcrição:

Dra. Gisele: “O meu objetivo, quando eu atendo um paciente que tem


sensibilidade dental, é isentá-lo dessa dor. Eu recomendo Sensodyne porque
Sensodyne é especialista no tratamento da sensibilidade. Vai ter prevenção
contra a cárie, vai ter um hálito fresco que vai se manter a cada escovação e a
manutenção das gengivas saudáveis. Sensodyne é o creme dental de escolha!
Além de todos os benefícios no tratamento da sensibilidade e de um creme
dental regular, tem um ótimo sabor de menta.”

Usando da figura de uma especialista no assunto, a marca busca conferir


credibilidade ao ter os benefícios de seu produto anunciados por uma figura de
autoridade. A dentista usa dos termos cárie, sensibilidade e hálito que, por mais
que sejam do conhecimento comum, pertence ao vocabulário da profissão dos
dentistas. Por se tratar de uma pasta de dente, um produto de saúde bucal, o
vocabulário faz parte do tema.
3.3.2.2 ASPIRINA MICROATIVA (2019)

Para essa publicidade da marca Bayer, publicada em 15/08/2016, é feito o


anúncio de uma nova tecnologia para os comprimidos Aspirina.

Vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=EoHYKcpB70g>

Transcrição: “Quando você tem dor de cabeça, tudo que você quer é eliminá -
la o mais rápido possível. A Bayer sabe disso, e está lançando a nova aspirina
microativa. A nova aspirina é duas vezes mais rápida contra a dor. Graças a
exclusiva tecnologia microativa, as micropartículas da nova aspirina são
absorvidas rapidamente para um alívio da dor de cabeça. Por que esperar?
Nova aspirina microativa: ainda aspirina, mas agora duas vezes mais rápida.
Se é Bayer, é bom. Não use este medicamento em caso de gravidez, gastrite
ou úlcera do estômago e suspeita de dengue ou catapora.”

Aqui, há o uso simultâneo de dois registros: o de tecnicidade e o de sintonia.


Embora palavras de dialeto mais técnico estejam presentes, como
micropartículas e tecnologia microativa, a adaptação e simplificação do
vocabulário objetiva alcançar o ouvinte sem a necessidade de um “tradutor”,
como um médico. Assim, a propaganda procura vender seu produto diretamente
ao consumidor, sem a intermediação de um profissional.

3.3.3 CRONOLETO

3.3.3.1 DONOS DA P**** TODA (2018)

A campanha “Donos da p**** toda”, de 19/032018, da Fanta, foi feita em parceria


com diversos YouTubers e digital influencers especialmente mirada no público
jovem que acompanha esses canais na plataforma YouTube. Nela, participam
nomes como Pyong Lee, Christian Figueiredo, MrPoladoFul, entre outros. O
vídeo usa de jingle promocional para a campanha.

Vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=olWmXj1WhOk>

Transcrição:
Ator: E aí? Se prepararam pra mandar em Fanta?

Christian Figueiredo: Amigão...!

(Música)

É na batida envolvente que a gente vai tomar

Refri de fruta tá no bonde de quem sabe refrescar

É cada gole que congela a rapêize vai pirar

Somo dono da p**** toda

Na fanta vamo mandar

Locutor: Acompanhe a saga dos donos da p**** toda nas redes sociais de
Fanta!

O anúncio busca atingir os jovens conectados às redes sociais e que fazem parte
da comunidade de fãs de YouTubers. A escolha do léxico é cheia de gírias,
abreviações. Como “refri”, “rapêize”, “batida”, “pirar” e até o uso de um palavrão,
censurado no vídeo, que passa a ideia de que os jovens são descolados,
imprudentes, como representados, causando no consumidor até mesmo um
contraste entre eles e a figura do senhor inicial. A fala também é descomplicada,
com a supressão dos “s” finais vistos em “somo” e “vamo”, o uso de “tá” ao invés
de “está” e a construção sintática é pouco rica: há a ocorrência de sujeito oculto
na frase “somo dono da p**** toda”, o uso de “a gente” em oposição a “nós”, de
conforme com a norma popular dos jovens nas ruas.

3.3.3.2 CONTE COM A GVT PARA VIVER SUAS AVENTURAS (POR


CELLBIT) (2015)

Para essa peça, de 04/11/2015, a GVT, junto com o YouTuber Cellbit, promovem
um serviço de banda larga de alta velocidade para o público jovem gamer
(aficionado por jogos), que segue o popular YouTuber de canal focado em
gameplays.

Vídeo: < https://www.youtube.com/watch?v=uwYqQY4uTM0>


Transcrição:

- Se tem uma coisa que eu não faço é ficar sem jogar videogame.

- Só confia, só confia!

- Good one, dude!

- Stop, run! Relaxation…

- Ringo!

- Que que é isso? Tem uma vaca aqui?

- Não, ou-

- Pra mim, num tem essa de “Game Over”, não.

- Por que que eu tô fazendo isso comigo mesmo...?

- Nossa eu sou muito bom! Meu deus, eu sou- eu sou o deus dos games, eu sou
o melhor.

- Conte com a GVT pra viver as aventuras que você quiser. Mude pra melhor
banda larga do brasil. Vinte e cinco mega por vinte e cinco reais no combo.

Também para um público jovem, mas mais nichado que o do anúncio anterior, o
YouTuber faz uso de um termo específico do universo daqueles que gostam de
jogos, os gamers: “game over” – “game over” é a tela que aparece quando um
jogador esgota as vidas do seu personagem e perde o jogo; ao dizer que para
ele não existe game over, ele sugere que não existe um fim de jogo, por conta
da velocidade de sua conexão. Falando consigo mesmo, ele refere a si mesmo
como "deus dos games”, apelido dado a ele por sua base de seguidores, que
são, em sua maioria, jovens da mesma idade. Ao fim, convidando o consumidor
a assinar o serviço de internet, também há o convite para “viver as próprias
aventuras”, como dentro de um jogo. Presente também está o falar
desembaraçado do jovem, construção sintática pobre (“que que isso?”, opondo
“o que é isso?”), que comunica-se diretamente com o público para qual o produto
é destinado, sem a presença de um terceiro, como, por exemplo, um pai ou
parente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De maneira geral, pudemos, a partir da observação e de comparações


diacrônicas, comprovar a existência das variações linguísticas em contextos de
anúncios. Formas ortográficas ou fonéticas consideradas únicas hoje em dia,
são, na realidade, variações históricas adotadas pelas gerações atuais, e essas
muitas vezes coexistem com formas em desuso, mas que ainda se mantém vivas
através do conhecimento das gerações mais antigas. A ocorrência da
diversidade dentro das propagandas se torna ainda mais visível com os novos
meios de comunicação de massa, por representarem novas maneiras de levar a
mensagem à seus interlocutores. Assim, partindo das inúmeras possibilidades
representadas por tais variações, as propagandas têm como função optar pela
linguagem que os levará à melhor compreensão e popularidade entre o público
alvo visado. O corpus de anúncios, em relação ao corpo geral da língua, é algo
produzido por uma classe dominante, e funciona também como um aparelho de
referência, responsável por disseminar a norma explícita. As variações na
modalidade escrita foram importantes objetos de análise ao configurar os
principais exemplos da norma explícita, já que quanto mais antigos e redigidos,
mais próximos da norma padrão.
5. REFERÊNCIAS

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