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SAUDADE: UM ESTUDO ETIMOLÓGICO

M.S.P. FREITAS¹; S.C. LOURENÇO ²; S.C. PITTA³

¹ Graduanda em Letras pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro –


UNIÍTALO – São Paulo – SP. Área da Educação. Bacharel em
Direito pela Universidade Católica de Salvador (UCSal) – Salvador
– BA

² Graduanda em Letras pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro –


UNIÍTALO – São Paulo – SP. Área da Educação. Bacharel em
Comunicação Social – Jornalismo pela Faculdade da Cidade – Rio
de Janeiro – RJ.

³ Mestre em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade


Católica de São Paulo – PUCSP. Professora do Centro Universitário
Ítalo Brasileiro – UNIÍTALO e da Universidade Anhembi Morumbi

E-mail para contato: caldaslourenco@gmail.com

FREITAS, M.S.P; LOURENÇO, S. C.; PITTA, S.C. Saudade: um


estudo etimológico. UniÍtalo em Pesquisa. URL:
http://www.italo.com.br/portal/cepesq/revista-eletronica.html São
Paulo SP,
RESUMO

O presente artigo retrata um estudo exploratório da palavra


Saudade na Língua Portuguesa, nos campos histórico-etimológico,
observando sua origem no Latim e no Árabe. Busca compreender
as divergências e possíveis convergências entre as duas correntes
de pesquisa sobre o tema: a primeira, na qual se encontram o
investigador brasileiro José Antônio Tobias e o ensaísta português
Antônio Borges de Castro, foca-se na origem árabe da palavra, ao
passo que a segunda, mais aceita entre filólogos, etimologistas e
historiadores da gramática da língua, como Ismael de Lima
Coutinho, propõe a origem latina do termo. No entanto, este estudo
toma, como base primeira, as colocações de historiadores da
Língua Portuguesa, a exemplo de Paul Teyssier, Lima Coutinho e o
etimologista Deonísio da Silva.

Palavras-chave: Saudade. Etimologia. Filologia. História.


ABSTRACT

This article presents a study about the Portuguese word Saudade,


giving emphasis on the historical and etymological fields, observing
its origin in Latin and Arabic. This study intends to understand the
differences and the possible similarities between the two research
lines about this theme: the first one, conducted by the Brazilian
researcher José Antônio Tobias and the Portuguese writer Antônio
Borges de Castro, has its focus on the Arabic origin of the word. The
second one is accepted among philologists, etymologists and
historians of the language, as Ismael de Lima Coutinho, who
proposes the Latin origin of the word. Our study is based, at first, on
Portuguese language historians such as Lima Coutinho, Paul
Teyssier and the etymologist Deonísio da Silva.

Keywords: Saudade. Etymology. Philology. History.


RESUMEN

El presente artículo retrata un estudio de exploración histórico-


etimológica con respecto a la palabra “Saudade” en la Lengua
Portuguesa. Intenta comprender los puntos divergentes y las
posibles convergencias entre las dos líneas de investigación sobre
el tema en cuestión: la primera, en la cual se encuentran el
investigador brasileño José Antônio Tobias y el ensayista portugués
Antônio Borges de Castro, se foca en el origen árabe de la palabra,
mientras que la segunda, y la más aceptable entre filólogos,
etimologistas e historiadores de la gramática de la lengua
portuguesa, como Ismael de Lima Coutinho, que propone el origen
latino del mismo término. Sin embargo, este estudio tiene como su
base principal el posicionamiento de autores como Paul Teyssier,
Lima Coutinho y el etimologista Deonísio da Silva.

Palabras-clave: Saudade. Etimología. Filología. Historia.


INTRODUÇÃO

Ao longo dos tempos, pesquisadores ligados às áreas de


etimologia, filologia e literatura, como o brasileiro José Antônio
Tobias e o ensaísta português Antônio Borges de Castro, bem
como investigadores ligados às Ciências Sociais, a exemplo de
Leonardo Lucena Pereira Azevedo da Silveira, mestre em
Sociologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro –
PUC-Rio, tem envidado esforços em estudos mais detalhados sobre
a palavra Saudade na Língua Portuguesa, tanto no que diz respeito
a sua origem etimológica quanto ao seu campo semântico.

O tema vem suscitando reflexões sobre este léxico,


efetivamente no que concerne a sua etimologia, seja pela origem
latina ou pela origem árabe na construção desta palavra,
ocasionada pela mescla de diversos povos e culturas na formação
de Portugal e Espanha, principalmente a partir da invasão
mulçumana na Península Ibérica, no século VII.

Assim, o presente estudo pretende apresentar uma reflexão


adicional ao tema, sob um viés diferente do que tem sido
apresentado até o momento explicitando, através de uma
abordagem histórica, etimológica, em que oportunidade as
correntes latina e árabe divergem e em que ponto elas podem ser
complementares, guardadas as peculiaridades de cada uma.
HISTÓRIA E LÍNGUA: ELEMENTOS INDISSOCIÁVEIS

Antes de mergulhamos nas questões da língua, como o


surgimento de uma palavra ou seu funcionamento prático no
idioma, é necessário conhecermos um pouco sobre a história do
país que a detém como língua materna.

A palavra Saudade tornou-se, na formação de Portugal no


decorrer dos séculos, um elemento de identificação do povo
lusitano bem como seu patrimônio cultural, assim como o Fado, por
exemplo, arte musical de maior expressão da saudade portuguesa.

A Península Ibérica, onde hoje se compreendem Portugal e


Espanha, nada mais era do que uma região constituída por diversos
condados e reinos, sendo os principais Leão, Castela, Aragão e
Navarra, comandados pelo rei Afonso VI.

No século XI, período a partir do qual nos centramos nesse


estudo, surge na Lusitânia (antiga província do Império de Roma), o
Conde Dom Henrique de Borgonha.

Segundo Ferreira1, Dom Henrique de Borgonha, de origem


húngara, recebe em casamento a princesa Teresa, filha de Afonso
VI, rei de Aragão. Por conta do matrimônio, Dom Henrique ganha
como dote, em 09 de abril de 1097, o território de Portucale, antigo
posto fiscal romano:

1
Em, “A Ordem de Cristo e o Brasil”. Ibrasa. São Paulo, 1980.
(...) situado na foz do rio Douro, estendido entre os rios
Minho e Tejo. Conserva-o até que seu filho Afonso
Henriques, após a morte do pai, ao chegar à maioridade,
conquista-o guerreando as tropas de sua mãe, D. Teresa,
sem qualquer intervenção estrangeira. Feita a
independência, o Rei D. Afonso I funda o reino de Portugal
e cria a Monarquia Lusitana, em 1140, em pleno século XII
(FERREIRA, 1980, p.30).

Naquele período, a língua predominante era o romance


galaico-português – na região noroeste da Península, onde se
incluía a atual Galícia espanhola – e também onde estava surgindo
o castelhano, próximo ao país Basco.

Ambas as línguas se originaram do Latim Vulgar, falado na


Península desde as invasões e domínio romanos. Vale lembrar que
entre o domínio romano da Península e a independência de
Portugal, houve o período das invasões árabes, que caminharam do
sul para o centro-norte da região. No entanto, a influência árabe,
tanto no que concerne ao idioma quanto à cultura daquele povo, se
colocou com maior força no sul, por meio dos chamados moçárabes
(palavra árabe que significa “submetido aos árabes”): termo pelo
qual os mulçumanos designavam os cristãos subjugados.

(...) Foram se mesclando à chamada “língua moçárabe” –


uma língua românica fortemente marcada por arabismos e
falada pelos habitantes do Sul, onde a influência árabe era
muito forte. Essas línguas trabalhadas em adequações e
fusões deram origem ao português e ao castelhano
(VENTURA, 2012, p. 14).
Devido à mescla de povos, culturas e dialetos, própria da
formação de novas nações, como era o caso de Portugal,
entendemos que a língua portuguesa sofreu, ao longo do tempo,
diversas transformações. Assim, o período da Reconquista
(aproximadamente entre os anos 722 e 1492) serviu não apenas
para o desenvolvimento de um imenso caldeirão de culturas, mas
também o aparecimento de novas palavras seja por influência latina
ou árabe, bem como a consolidação destas no novo idioma que
surgia, o português moderno.

SOLITATE, SUIDADE, SOEDADE, SOIDADE, SAUDADE:

A EVOLUÇÃO DA PALAVRA NA LÍNGUA

Toda língua passa por mutações. Cientificamente, esses


fenômenos, denominados metaplasmos, são transformações
fonéticas sofridas pelas palavras no decorrer de sua evolução
dentro de uma língua. De acordo com Coutinho2 (2011), os
fonemas, que são o material sonoro da língua, estão sempre
sujeitos às transformações naturalmente sofridas pelo idioma:

É que cada geração altera inconscientemente, segundo as


suas tendências, as palavras da língua, alterações essas
que se tornam perfeitamente sensíveis, só depois de
decorrido muito tempo (COUTINHO, 2011, p.143).

2
Em, “Gramática Histórica”. Imperial Novo Milênio. Rio de Janeiro, 2011.
Seguindo a lógica de Coutinho, podemos perceber que a
língua sofre variações conforme o tempo, o meio social, a região e a
comunidade em que é falada. A língua passa por mutações
decorrentes das interações vivenciadas nas situações reais de
comunicação e tais transformações podem ser amalgamadas, com
o passar do tempo, a partir do momento em que são registradas
(escritas) de modo a manter o seu uso normativo.

Há na língua o que se chama de formas convergentes ou


homeotrópicas e divergentes ou alotrópicas. As primeiras, de
acordo com Coutinho (2011, p. 208), “são as de feição ou aspecto
igual, mas de étimos diferentes.” Exemplo: libero/libru/livro. As
segundas são a coexistência de duas ou mais palavras oriundas de
uma só de outra língua.

Há, entretanto, muitos exemplos de formas divergentes,


oriundas de vocábulos de origem não latina. É o caso de
zero (árabe zifr) e cifra (através do francês), azimute e
zênite (árabe assemit), baluarte (germ. bolwerk) e bulevar
(através do francês boulevard) (COUTINHO, 2011, p.198).

No caso de nosso estudo, percebemos que a palavra


Saudade se adequa com mais propriedade na forma divergente,
cujas causas possíveis para a variação da palavra, segundo
Coutinho (2011, p.199), são seis: corrente popular, corrente erudita,
corrente estrangeira, as desinências casuais, a diferença de número
e a deslocação do acento tônico. Para efeito de nosso estudo,
destacamos aqui, como principais, apenas duas: a corrente popular
e a corrente erudita.

A corrente popular segue a espontaneidade dos falares


cotidianos da língua, ou seja, segue um curso natural variando
conforme a época e o meio social. De acordo com Coutinho, para
um idioma atingir um grau de estabilidade é necessário chegar à
fase escrita, pois, do contrário, estará à mercê de modificações
radicais e profundas.

Começa a corrente popular a exercer a sua ação desde a


época em que os sons latinos se foram transformando nos
portugueses, e estende o seu império até os nossos dias.
No século XIV, porém, surge a erudita, que contrasta a sua
influência (COUTINHO, p. 199).

A corrente erudita contribuiu para a existência de um grande


número de palavras cultas no nosso idioma, principalmente, a partir
das traduções de obras latinas. Nesse ponto, a Igreja teve um
papel preponderante para a consolidação de tais formas cultas na
Língua Portuguesa. No século XVI, ocorre o apogeu dessa corrente
com o movimento renascentista, em que as obras dos escritores
romanos e gregos se tornaram íntimas aos literatos portugueses.
Coutinho revela que os homens cultos eram, portanto, o veículo de
concretização do vocabulário erudito, composto por palavras
estranhas, latinas ou gregas, mantendo assim um clima de
arrogância influenciado pelas vozes de tom estrangeirado.

Se é fato que a língua sofre transformações naturais, ao longo


do tempo, é fato também que a palavra Saudade sofreu clara
modificação desde sua origem no Latim até encontrar-se com a
Língua Árabe. Assim, acreditamos que a Saudade, como a
conhecemos hoje, carregada de significados diversos, transformou-
se não apenas etimologicamente mas, principalmente, quanto ao
seu campo semântico.

No entanto, autores como José Antônio Tobias e Antônio


Borges de Castro, segundo Silveira (2010), acreditam na origem
árabe da Saudade opondo-se, assim, às indicações dicionarizadas
do termo, que apresentam o vocábulo como oriundo do termo latino
Solitate (solidão), o qual sofreu os metaplasmos naturais
ocasionados pelos falares cotidianos do Latim Vulgar pela
população da Península Ibérica, forjada a partir do caldeamento
cultural proporcionado, principalmente, pelas invasões romanas e
árabes nos territórios ocupados.

De acordo com o etimologista Silva3 (2009), em árabe, as


expressões suad, saudá e suaidá significam sangue pisado e preto
dentro do coração, além de serem metáforas de profunda tristeza.
Os árabes também designam o termo as-saudá para definir uma
doença do fígado, diagnosticada por aquele povo como uma
espécie de melancolia do paciente (SILVA, 2009, p.898).

Os estudos realizados até o presente momento em nossa


pesquisa nos levam a crer que não se trata aqui de optarmos por
uma ou outra linha de pensamento quanto à origem do vocábulo
Saudade, mas sim de observar o ponto de convergência entre
ambas, visto que tanto os defensores da origem latina quanto os da
origem árabe não chegaram a qualquer conclusão definitiva sobre o
assunto.
3
Em, “De onde vêm as palavras”. 16ª edição. Novo Século. São Paulo, 2009.
Assim, seguindo o exposto por Coutinho, quanto às correntes
popular e erudita, aliado ao pensamento de Silva, ambos
explicitados nos parágrafos anteriores, percebemos a possibilidade
da influência de uma vertente sobre a outra. Em outras palavras, o
vocábulo Saudade pode ser, etimologicamente, oriundo do Latim,
tendo passado naturalmente pelas transformações fonéticas
(metaplasmos), devido aos falares populares, que lhe incutiram
mudanças profundas, em decorrência da presença árabe em
território lusitano.

A história nos deixa claro que todo povo conquistado sofre


influência de seu conquistador, seja nos âmbitos religiosos, sociais,
gastronômicos, culturais, enfim, e principalmente linguísticos. É fato
que a Língua Portuguesa absorveu inúmeras palavras árabes em
seu vocabulário, incorporando-as tanto no campo semântico quanto
pragmático, conforme a conveniência dos usuários da língua.

Sendo assim, do vocábulo latino solitate – declinação de


solitas (solidão) – tem-se, por referência no galego-português
(séculos IX a XIII), o termo soedade, evoluindo para soidade,
posteriormente suidade.

Segundo Teyssier4 (2004), não é possível determinar períodos


na história da Língua Portuguesa que esclareçam sua evolução de
forma satisfatória. Contudo, alguns estudiosos demarcam a
evolução do português em dois grandes períodos: anterior a
Camões (século XVI), período arcaico, e posterior ao grande poeta
português, que inicia o período moderno.

4
Em, “História da Língua Portuguesa”. Digital Source. Martins Fontes. São Paulo, 2004.
Outros baseiam a sua periodização nas divisões
tradicionais da história – Idade Média, Renascimento,
Tempos Modernos – ou nas escolas literárias, ou
simplesmente nos séculos (...) (TEYSSIER, 2004, p.31).

Diante das informações aqui expostas, seguindo uma seleção


cronológica do material disponível, entendemos que a palavra
Saudade pode ser fruto da fusão dos termos árabes suad, saudá e
suaidá, que contribuíram, inicialmente, para a mudança fonética dos
termos galaico-portugueses soedade, soidade, e suidade,
adquirindo, no decorrer do tempo, uma ampliação no seu campo
semântico, consolidado a partir do século XVI.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estudo exploratório da palavra Saudade, aqui


apresentado, focamos especificamente no campo filológico e
etimológico. Debruçamo-nos na evolução histórica do termo objeto
do estudo, seguindo os critérios científicos de pesquisa, a partir dos
fatos cronológicos averiguados.

Deparamo-nos com duas vertentes distintas a respeito da


origem etimológica do léxico em questão: latina e árabe.

Percebemos, a princípio, um embate entre ambas as teorias.


Ao longo do trabalho de pesquisa, observamos que elas se
apresentavam, aparentemente, como ideias divergentes. Porém,
constatamos que na realidade são teorias complementares, uma
vez que a palavra Saudade pode ser fruto da fusão dos termos
árabes e latinos, amalgamados pelo fenômeno do metaplasmo,
comum na evolução de toda e qualquer língua.

Verificamos, ainda, a contribuição do povo árabe no processo


de transição sofrido pela Língua Portuguesa desde o galaico-
português, passando pelo português arcaico até chegar ao que hoje
conhecemos como português moderno.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática Histórica. Imperial Novo


Milênio. Rio de Janeiro, 2011.

FERREIRA, Tito Lívio. A Ordem de Cristo e o Brasil. Ibrasa. São


Paulo, 1980.

SILVA, Deonísio da. De onde vêm as palavras. 16ª edição. Novo


Século. São Paulo, 2009.

SILVEIRA, Leonardo L.P.A. da. Para além da origem da palavra


saudade (ou antropologia de um sentimento coletivo). Revista
Litteris. N.4. PUC-RJ. Rio de Janeiro, março, 2010.

TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. Digital Source.


Martins Fontes. São Paulo, 2004.

VENTURA, Susana. Convite à Navegação: uma conversa sobre


literatura portuguesa. Peirópolis. São Paulo, 2012.

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