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Nota - Usamos neste estudo a classificação de Hipócrates (450 AC). André Le Gall
e René Le Senne apresentaram uma subdivisão dessa classificação, que é talvez
mais conhecida [primário, secundário, emotivo, não emotivo] porém menos
compreendida, por ser mais complicada.
1
O terceiro, Miguel, não fala muito...É difícil falar na presença dos outros dois! Mas
ele ouve com atenção e reflete bastante. Quando intervém, é com propósito, peso e
profundidade. Porém, infelizmente, é o profeta das desgraças, está mais pessimista
quanto aos bons resultados do projeto.
Por último há o Felipe, calmo e tranquilo, inclusive nos momentos mais tensos da
disputa. Prefere assistir ao debate. Faz uma ou duas perguntas e acrescenta, às
vezes, um comentário engraçado. Quando lhe pedem a opinião, responde,
invariavelmente: “como vocês queiram”.
No auge do debate Felipe boceja e propõe que a discussão termine. Bertrand, o
colérico, concorda, pois está seguro de que tem a chave do problema em mãos. Faz
os colegas prometerem que, no dia seguinte, executarão suas ordens para preparar a
documentação administrativa, a publicidade, etc.
Sérgio, o sanguíneo, está tão entusiasmado quanto Bertrand, e continua a falar com
ânimo e otimismo ao único que ficou na sala: Miguel. O entusiasmo de Bertrand é
tão contagiante que consegue até animar seu amigo. Sérgio sai da sala assobiando.
Então Miguel fica sozinho, e se alegra com isso, pois pode enfim refletir... “Não” –
conclui – “não é uma boa solução. Não vai dar certo”.
Na manhã seguinte, Miguel, o melancólico, chega antes de todos, cansado. Não
dormira bem, pois matutara no espírito a discussão da noite anterior. Sérgio chega, e
apesar de sério e muito afetado pela discussão, está cantarolando. Dormiu bem, é
um dia bonito e ele tem fome. Esquece os problemas da noite anterior. Felipe, o
fleumático, não se levanta, pois adora dormir.
Chega Bertrand, o colérico, e se põe a trabalhar. Seu entusiasmo continua muito
vivo. Ele vê Sérgio e lhe pergunta: “O que está fazendo? Há trabalho a se fazer! ”
Sérgio responde, enquanto toma o café: “Por que essa pressa toda!? Temos que
comer! ” Bertrand sai chateado e bate a porta! “Não se pode contar com ninguém
nessa casa! Tenho que fazer tudo sozinho! ” Miguel, o melancólico, observa e fica
impressionado com a frivolidade de Sérgio. Miguel tinha razão: não dissera que não
ia dar certo!?
Essas reações estão caricaturadas, é claro, mas são típicas. Descrevem quatro
gêneros de comportamento, quatro tipos de personalidade que encontramos entre os
homens. Mas por quê? Por que reações tão diferentes: reações vivas e espontâneas
de longa duração (Bertrand), vivas e espontâneas de curta duração (Sérgio) ou lentas
(Miguel e Felipe)? Aliás, por que eu mesmo não reajo como meu marido em
determinadas situações ou problemas? Por que ele não entende que...? Por que
reagimos de maneira tão diferente em relação aos estímulos externos?
Esses quatro tipos de comportamento descrevem os quatro temperamentos. É bom
estudá-los para melhor se conhecer e melhor conhecer os outros. Assim poderemos
entender melhor a nós mesmos e ao próximo, as crianças em particular. Poderemos
entender melhor nossas reações aos acontecimentos, conhecer melhor nossos traços
dominantes. Descobriremos, entre outras coisas, nosso defeito e nossa virtude
dominantes. Pois todo temperamento contém uma riqueza e uma pobreza.
Portanto é muito útil entender como funcionamos, como nosso próximo funciona,
em relação ao mundo exterior. Assim poderemos agir de maneira a utilizar o mundo
exterior como um auxílio e não como um obstáculo à nossa salvação.
Vejamos primeiramente a nossa constituição.
2. A NATUREZA DO HOMEM
O homem é um animal racional. Possui uma alma espiritual e um corpo animal.
Esse conjunto faz o homem. Não somos uma alma enferma dentro de um corpo,
esperando a morte para nos livrarmos dessa prisão carnal, como sugeriu Descartes.
Somos corpo e alma. E por isso Deus ressuscitará nosso corpo, para estarmos
completos para a eternidade.
Nossa alma possui as faculdades da inteligência, para conhecer a verdade, e da
vontade, para nos conduzir ao bem. A verdade suprema e o bem último são Deus.
Somos feitos para conhecer e amar a Deus.
Nosso corpo, como todo corpo animal, possui um aparelho cognitivo e um aparelho
apetitivo. E eles são necessários – permitem ao homem entrar em contato com o
mundo sensível no qual vive, comunicar-se e administrá-lo.
3
O aparelho cognitivo animal – comum a homens e animais – encontra-se nos cinco
sentidos externos e nos quatro sentidos internos 1. Através desses sentidos, tanto o
animal como o homem conhecem de maneira sensível o mundo exterior.
O aparelho apetitivo animal chama-se apetite sensível.
O apetite sensível é composto de diversas paixões e são essas paixões que se
movem e agem quando nossos sentidos apreendem alguma coisa que percebemos
ser um bem ou um mal, e que desejamos ou nos afastamos automaticamente. Por
exemplo: o cachorro vê o seu dono (em quem reconhece a fonte de muitos bens) e
abana o rabo.
Portanto as paixões são parte da natureza animal 2 e, por conseguinte, da natureza
humana. Elas são naturais, existentes por vontade de Deus, boas em si mesmas. Elas
são os movimentos do nosso apetite sensível. Constituem nossos estados afetivos,
nossos sentimentos. Dividem-se em paixões concupiscíveis e paixões irascíveis.
As paixões concupiscíveis nos levam em direção a um objeto sensível desejável,
porém difícil de conseguir, ou indesejável e difícil de evitar. A percepção do árduo
suscita as paixões necessárias para vencer ou evitar o obstáculo percebido.
Eis a ordem dos movimentos ou paixões do apetite sensível 3: em relação a um bem
considerado em si mesmo, existe amor. Se este bem não é possuído, e está ausente,
o amor torna-se um desejo. Se o bem está presente, possuído, há deleite, alegria.
Em relação a um mal considerado em si mesmo, existe ódio. Se este mal está
ausente, existe o contrário do desejo, a aversão. Se o mal está presente, há o
contrário da alegria, a dor ou a tristeza.
Em relação à ordem dos movimentos ou paixões do irascível: em vista de um bem
penoso que está obrigatoriamente ausente – pois um bem possuído deixa de ser
penoso – o desejo suscita duas paixões. Se o bem parece ser possível de se alcançar,
há esperança; se parece impossível, vem o desespero.
Em vista de uma grande dificuldade, as coisas se complicam. Este mal pode estar
presente ou ausente, e se está ausente, pode ser possível ou impossível de ser
1
Senso comum, imaginação, memória, estima.
2
Os anjos, não tendo corpo, não têm paixões.
3
Ver quadro anexo.
vencido. Suscitam-se então as seguintes paixões: no primeiro caso, a raiva. Luta-se
contra o mal presente. No segundo caso, a audácia. O sujeito se aproxima do mal
pois crê poder vencê-lo. No terceiro caso, o medo. O sujeito se afasta do problema
porque acredita que não pode vencê-lo.
O PECADO ORIGINAL
O pecado original introduziu no homem uma desordem, inclusive na parte física.
Estamos sujeitos às doenças e à desordem das paixões.
Somos ao mesmo tempo seres espirituais e animais, e a parte animal deve ser
submissa à parte espiritual: a razão deve guiar todas as nossas ações e reações. Ora,
depois do pecado original, os movimentos do nosso apetite sensível tornaram-se
selvagens e desordenados. Não estão mais submissos ao império da razão.
Frequentemente agimos de maneira irracional, e isso constitui o pecado.
5
Dessa forma, nosso temperamento não é totalmente inocente e bom. Não está mais
equilibrado. O buquê das nossas paixões não está mais em perfeita harmonia. Há
desordem, como em uma manada em que uma parte dos cavalos se separa e segue
para um lado diferente do resto. Nossa alegria e nossa vontade de ser feliz podem
tornar-se excessivas. Nossa tristeza e nossa raiva podem tornar-se desordenadas, ou
nem sequer se manifestar.
Por isso a educação deve cumprir o papel de reintroduzir a harmonia em nós, a fim
de realçarmos nossas boas inclinações e reprimirmos as más. A ascese nos é
necessária. São Paulo nos fala do “velho homem” do qual é preciso se desfazer, para
nos vestirmos do “homem novo”.
Portanto, nossos temperamentos já não são inocentes. É preciso vigiá-los de perto
para que não nos arrastem para o mal.
Sanguíneo: olhar feliz, acolhedor, despreocupado. Passo rápido e leve. Ele dança.
Colérico: olhar franco, agudo, enérgico. Passo firme, certo, apressado.
4
Quando nos fazemos essas questões, temos de analisar como reagimos espontaneamente, e
não como reagimos devido à nossa boa educação, ou depois de passado algum tempo, ou
como gostaríamos de reagir.
7
Melancólico: olhar mais ou menos triste e embaraçado, ansioso. Passo lento e
pesado.
7. EXTRA:
O que cada um dos temperamentos pode vir a ser:
Aspectos positivos Aspectos negativos
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Magnânimo, entusiasmado, Autoritário, agressivo,
Colérico carismático, intuitivo, condescendente,
visionário, decisivo. É um líder. dominador, insistente.
O TEMPERAMENTO SANGUÍNEO
É um temperamento muito rico, pois está completamente voltado para tudo o que
lhe é externo. Possui os sentidos muito desenvolvidos. A tendência dominante em
um sanguíneo é o prazer (sem conotação moral). Ele ouve tudo, vê tudo, fala de
tudo. Daí sua presença de espírito e sua vontade de tudo compartilhar. É sensível à
beleza física e moral. Cuida de si, de seus modos e hábitos e procura sempre passar
uma boa impressão através da sua aparência. Tem um espírito detalhista.
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conhecer alguém com profundidade. Gosta dos trabalhos leves, que não exijam
muito esforço, mas que, entretanto, sejam visíveis.
Um exemplo dessa inconstância e influência pode ser visto em São Pedro. Ele diz:
“Senhor, aonde vais?” E Jesus responde: “Onde Eu vou tu não podes ir agora, mas
seguir-me-ás mais tarde”. E Simão Pedro pergunta: “Mas por que não posso seguir-
Te agora? Eu daria minha vida por Ti”. E Jesus lhe diz: “Tu darás a vida por mim.
Mas em verdade, em verdade te digo, antes de o galo cantar tu me negarás três
vezes”. Sabemos que São Pedro deu provas dessa fidelidade, até o martírio, e
também que, influenciado pelo ambiente e pela hostilidade manifestada contra
Nosso Senhor, negou-O três vezes. Também conhecemos a passagem em que, às
margens do Lago Tiberíades, Nosso Senhor lhe pergunta “Pedro, tu me amas?”, e
ele responde “Senhor, tu sabes que Te amo”. “Apascenta minhas ovelhas”, responde
Jesus. E quando Este lhe pergunta pela terceira vez “Pedro, tu me amas?”, Pedro se
entristece e diz “Senhor, Tu conheces todas as coisas, tu sabes que Te amo”. Passa-
se de uma promessa de fidelidade, que vai até a morte, à negação, a uma traição
seguida de amor incomparável. Eis o temperamento do sanguíneo, personificado em
São Pedro.
Da superficialidade e inconstância:
O sanguíneo fala muito, embeleza suas conversas chegando até a mentir; falta-lhe
discrição e facilmente revela um segredo. Fala no lugar dos outros, interpreta
erroneamente as palavras ou gestos alheios.
Possui muitos amigos, mas pouquíssimos amigos de verdade, talvez nenhum. Como
não há profundidade no que diz, pode facilmente ferir o outro com um comentário
irrefletido.
Vaidade e vã glória:
O orgulho está em todos nós, porém manifesta-se diferentemente em cada um. O
colérico é ambicioso, o melancólico teme a humilhação e o sanguíneo possuiu uma
forte inclinação à vaidade e à vã glória. Gosta muito de cuidar da aparência, se olha
muito no espelho, gosta de receber elogios. Assim, está inclinado a bajular para em
seguida ser bajulado. Também pode se tornar egoísta, devido à necessidade de ser o
centro das atenções.
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Presunção:
O sanguíneo tem pavor a tudo que contrarie seus sentidos. A penitência lhe é muito
difícil, devido a essa inclinação geral ao que é prazeroso e agradável. A oração
também lhe é muito penosa devido à hiperatividade de sua imaginação. Vive
geralmente de acordo com suas emoções, pois procura sentir-se bem antes de fazer
o bem.
Felicidade
Está sempre feliz e sorri com frequência. Este sorriso, junto com seu otimismo e
alegria constantes, irradia calor e luz onde quer que passe. É uma grande vantagem
tê-lo por perto, em qualquer ocasião (caso o sanguíneo desenvolva seu lado positivo
e lute contra seus defeitos, é claro).
Sua alegria contagiante permite que o sanguíneo pule de alegria logo após uma
derrota ou uma decepção, diferentemente do colérico, em quem a raiva perdura e
queima, ou do melancólico, que sempre rumina suas decepções.
Muito sensível, carrega em si até mesmo os sentimentos dos outros, e pode então
adaptar suas ações e seu comportamento em função dos outros, sem querer adular.
Sociabilidade
É o traço dominante desse temperamento. O sanguíneo faz com que a vida em
sociedade seja possível, pois a torna agradável. Se fôssemos todos melancólicos, a
raça humana já teria se suicidado há muito tempo, desesperada; se fôssemos todos
coléricos, a raça humana estaria constantemente em guerra; se fôssemos todos
fleumáticos, a raça humana não se levantaria de manhã; se fôssemos todos
sanguíneos, a raça humana seria muito desorganizada, mas cheia de alegria e
sorrisos. Seu otimismo infinito, sua energia, seus talentos e sua bondade lhe atraem
muitos amigos.
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É muito animado, querido por todos, afetuoso, e expressa suas afeições com
facilidade (fisicamente: carinhos, afabilidade, necessitam do contato físico) 5.
Plano profissional
O sanguíneo é um grande trunfo em uma equipe. Sabe encorajar, conduzir e alegrar
o trabalho a ser feito. É um bom chefe, pois os outros gostam de segui-lo. Sabe
apontar os erros dos outros com tato e humor. Oferece-se facilmente como
voluntário, e em seguida delega o posto para outro a quem soube encantar. Se o
sanguíneo se disciplina, pode vir a ser um ótimo líder, pois tem o dom da
comunicação.
Vida espiritual
A alegria do sanguíneo oferece um terreno excelente para a aquisição das virtudes.
Ele sempre enxerga o lado positivo da cruz: não reclama nem se lamenta diante de
uma dificuldade ou tristeza. Sua animação e loquacidade também lhe são úteis na
oração. Visto que deseja agradar, é dócil quando corrigido. É franco e aberto com
seu confessor e não apresenta grandes problemas em revelar sua alma,
5
Exemplo: A mãe encontra sua filha no mercado. Elas se abraçam, se beijam, como se não se
vissem há anos. A mulher do caixa pergunta: “Desde quando?” – “Há duas horas!”
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Dentre as virtudes morais, Aristóteles aponta uma que leva o homem a ter graça, bom
humor, leveza no falar e no agir, de modo a tornar o convívio humano descontraído,
acolhedor, divertido e agradável. Definida como eutrapelia, ela está para a alma assim como a
agilidade está para o corpo. É a virtude da flexibilidade e o desembaraço da alma, a
aprazibilidade no proporcionar divertimento. O vício por excesso é o gracejo atrevido e o
vício pela falta é rusticidade.
contrariamente ao melancólico que tem grande dificuldade em falar sobre o seu
interior, sobre suas necessidades espirituais.
Eles amam o próximo, e é preciso que cultivem isso. Não se pode exigir de um
sanguíneo, por exemplo, que deixe suas atividades, seus amigos; ele tem
necessidade deles. Não se pode forçar um sanguíneo a extinguir sua energia e sua
exuberância. É preciso, ao contrário, ensinar-lhe a governá-la. Um marido
sanguíneo precisa sair, não se pode impedi-lo. Uma esposa de temperamento
sanguíneo necessita falar com as amigas ao telefone, e por horas a fio!
O sanguíneo muitas vezes fala sem pensar, sem refletir. Não nos impacientemos. Os
outros pensam, e depois falam. O sanguíneo fala para saber o que pensa, para
descobri-lo. Lembremo-nos, sobretudo, que o sanguíneo sempre quer, no conjunto,
fazer o bem, mesmo não conseguindo conceder todos os cuidados necessários.
Ajude-o a dizer “não”, a ser realista em relação a suas capacidades.
Não nos esqueçamos, enfim, de que o sanguíneo tem dificuldade em cumprir suas
tarefas (nunca chega na hora certa, esquece seus compromissos), em permanecer em
um projeto, em terminá-lo (as crianças sanguíneas têm uma dificuldade tremenda
17
em fazer o dever de casa!). É bom felicitar o sanguíneo por qualquer atividade
realizada e terminada, mesmo que tenha demorado dias e dias para cumpri-la.
Muita atenção à sua grande capacidade de adulação. Eles são experts. As mães
devem ser inflexíveis quando uma criança sanguínea chega toda afetuosa, boazinha,
querendo escapar de um trabalho.
É preciso ensinar-lhes a frear a língua, a organizar seus pertences, o quarto, a
mochila, etc.
7. CONCLUSÃO
Os sanguíneos acrescentam sol, luz e tempero à vida. Tornam a vida agradável.
Refletem a alegria de Deus. São Francisco de Assis, Santa Teresa d’Ávila, São
Felipe Neri, São João Bosco (que tinha por divisa “santidade é cumprir o dever
alegremente”), e Padre Miguel Pró são alguns exemplos de sanguíneos.
19
O TEMPERAMENTO MELANCÓLICO
A V IS O P R É V IO – N Ã O H Á N A D A D E P E S S O A L N E S T A C O N F E R Ê N C I A .
N E N H U M M E L A N C Ó L IC O D E V E S E N T IR - S E V IS A D O .
Antes de iniciar, retomo alguns pontos chave sobre os quatro temperamentos, para
não perdermos a visão do todo.
21
melancólico é alguém que não demonstra nas expressões faciais sua reação a algo
que lhe foi dito ou mostrado. Entretanto quando se insiste, acaba-se por tocá-lo no
mais profundo do seu ser, provocando uma reação “nuclear”, quase definitiva. Se
fizermos um ato de caridade para com ele, ele se recordará, mas não reagirá
imediatamente. Se lhe demonstrarmos grande caridade, repetidamente, ele nos
amará por toda a vida. Se o ofendermos, se lhe dermos as costas, uma, duas, três
vezes, ele não se importará. Mas se fizermos isso continuamente, ele irá nos odiar e
desconsiderar para sempre.
Sob essa reserva e calma, o melancólico possui uma sensibilidade tão viva quanto
discreta. Pensa-se que o melancólico não é sensível, pois não demonstra de maneira
imediata sua sensibilidade, ao contrário do sanguíneo e do colérico. Mas o
melancólico é muito sensível, tem um grande coração, grande demais às vezes, no
qual ressoa o trabalho de toda a criação que geme e sofre como que em dores de
parto, esperando a conclusão da redenção7. Daí seu amor pela Verdade, pelo Bom,
pelo Belo, pela inteligência. É um artista, e a sua sensibilidade lhe dá um ar muitas
vezes nostálgico, triste e resignado diante da imperfeição desse mundo carnal.
O melancólico não gosta de multidão. Prefere o silêncio e a solidão. Quando está
com outras pessoas, só ouve a metade do que dizem, pois está focado em seus
próprios pensamentos. É tímido e duvida de si. Tem dificuldade em aceitar os
elogios que lhe são dirigidos. “Você gosta mesmo dessa roupa velha?”, “Só está
dizendo isso para me agradar! Não está tão bom assim”. “Não tenho o menor jeito
para isso”. Com uma imagem negativa de si, tende a dizer: “Sabia desde o começo
que não ia dar certo”. “Com a sorte que tenho, vai tudo por água abaixo!” “Sabia
que não me vestiria direito”. Está persuadido de que as pessoas só o procuram por
que sentem pena dele.
Possui uma concepção séria da vida. No mais íntimo do seu ser, o melancólico
guarda certa tristeza. Pode-se dizer que é o temperamento que mais sente nostalgia
do paraíso perdido. Não são os bens que lhe interessam, mas O Bem. É por isso que
se resigna a nunca ser plenamente feliz aqui na terra. Sem saber, o melancólico tem
saudades do céu! E essas saudades do céu, saudades do fim último, do paraíso
perdido foram expostas, me parece, nos versos extraordinários de poetas como
7
Rom 8, 22-23.
Thompson, Oscar Wilde, Verlaine, Baudelaire, Mallarmé, que certamente possuíam
grande dose desse temperamento.
Centro do mundo
É deste modo que o homem-velho surgirá. Se não o conseguir através do desespero,
agirá sobre o orgulho, presente em todos nós. O orgulho do sanguíneo o conduz a
procurar sempre o pedestal. O orgulho do colérico o conduz a impor sua vontade
sobre os outros, pois gosta de comandar, mas também porque acredita ser o único
capaz de fazê-lo. No fleumático, o orgulho se manifesta através da preguiça e da
impertinência. O orgulho, no melancólico, o incita a erigir-se como referência e a
medir os outros sempre em relação à sua elevada e ampla percepção da realidade. O
egoísmo é inato em todos nós, porém especialmente no melancólico. Ele tem então
a tendência de se ver como o centro do mundo. Diz não ser frívolo, como o
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sanguíneo, nem estar devorado pela ambição, como o colérico, nem ser preguiçoso,
como o fleumático. É mais ou menos o homem perfeito. E esse amor pelo perfeito,
juntamente com a preferência pela solidão, pode gerar no melancólico a impressão
de estar bem avançado no caminho da santidade e de que é humilde. Sente-se
humilde afastando-se das conversas, das atividades em grupo. Mas é porque ele não
gosta disso, não procura esse tipo de coisa! Então acha normal que seja
incompreendido, e, como é preciso ser humilde, como isso é a melhor coisa que
pode acontecer a alguém, resigna-se com a situação de ser incompreendido. Cai-se
em um círculo vicioso: para justificar seu mau jeito em público, erige, em teoria, a
necessidade de recolhimento, de solidão.
Se uma mulher melancólica não quiser sair, ela criará mil desculpas: dor de cabeça,
cansaço, preocupações. Ela busca provocar piedade nos outros, e, o que é ainda
pior, o sentimento de culpa. No fim das contas, o marido não só a compreende, mas
acaba se sentindo responsável. E a esposa ainda faz mais! “Mas você, querido
(culpado que é), saia assim mesmo. Não posso impedir que você se divirta. Minha
presença lhe será incômoda”. A resistência passiva é uma de suas armas mais
eficazes!
Julgamento do próximo
Essa falsa humildade e esse amor do ideal o levam a julgar os outros, a dificilmente
confiar em alguém. Seu pessimismo o faz enxergar o que há de pior no próximo.
Torna-se uma companhia triste, não muito entusiasta. Diante disso, os outros
temperamentos têm mais o que fazer. E eis que o melancólico sente-se abandonado,
sozinho, etc.
Vejamos uma ilustração do que digo: Uma elegante senhora da paróquia vem ao
encontro de uma viúva que está sentada em um canto, sozinha, e lhe pergunta:
“Como vai a senhora? Tudo bem? ” A viúva, melancólica, começa então a lhe
descrever todas as mil e uma tristezas que lhe afligem há um mês. Ela fala, fala,
conta tudo com os mínimos detalhes. E conclui: “Ninguém vem me visitar...” A
elegante senhora, cheia de gentileza, retoma seu caminho dizendo que esta é a
última vez que fala àquela viúva; por sua vez, a viúva adiciona o nome dessa
senhora à longa lista daqueles “que nunca vão conversar com ela”. E retoma-se o
círculo vicioso.
Aliás, tão logo os melancólicos se dão conta de que ninguém gosta de gente triste,
começam a adotar uma atitude mais sorridente.
Sua solidão moral o torna tímido. Não fala com facilidade. O melancólico gostaria
de abrir-se aos outros, mas tem grande dificuldade, pois há sempre medo do que os
outros pensam dele. Quando fala (e ele precisa falar, para desabafar), arrepende-se
de imediato, persuadido de que não explicou direito, de que não disse do jeito que
deveria ter dito. Seu interior é tão profundo e tão complexo que não consegue
traduzi-lo em palavras. Arrepende-se de ter se aberto. “Da próxima vez ficarei
calado”. Nota-se a constante presença do “eu” em seu espírito. O melancólico tem
muito medo do que o próximo pensa dele. É uma fraqueza que precisa ser vencida.
25
obstáculo que poderia ultrapassar sem grandes problemas. A criança melancólica
tem medo de se oferecer como voluntário, pois tem medo de não fazer direito. É
vista então como uma preguiçosa, quando a verdade é justamente o contrário. O
medo do fracasso está presente o tempo todo. Por exemplo, a criança não termina
seus deveres, pois gasta muito tempo com isso, achando que ainda não está bem
feito.
Enfim, o melancólico sofre de todas essas dificuldades e da solidão moral que delas
resultam. Se não se esforça, fecha-se cada vez mais, tornando-se desconfiado e
complexado, mesmo diante das provas de gentileza dos outros. “Querida, como
você está linda hoje! ”, “Ah, é?! Quer dizer que ontem não estava?”
Quando criança aprecia jogos que exigem concentração e análise, ou que terminam
em resultados que alimentam sua imaginação e inteligência. Montará um Lego ao
invés de brincar de caubói. E é por isso que na escola será muitas vezes um aluno
que gosta dos trabalhos e apresentações que lhe exijam reflexão e pesquisas
continuadas, que terminem em uma verdadeira assimilação de novos conhecimentos
que eles sabem ser importantes para os outros.
O melancólico é alguém que presta muita atenção aos detalhes e que, em busca da
perfeição, procura corrigir os seus erros. Caso esteja em posição de liderança,
buscará corrigir os outros. Não porque os persegue, mas porque tem um verdadeiro
amor pelo perfeito. Então, caso você tenha um chefe, um marido, uma esposa, um
pai ou uma mãe que responda às características do temperamento melancólico e lhe
faça muitas advertências, saiba que ele não está contra você, não faz isso para lhe
aborrecer. Ele deseja que você aproveite melhor suas próprias capacidades, pois
quer ver triunfar o bem em nós e à nossa volta.
27
mais os benefícios espirituais e intelectuais do que os benefícios materiais. É uma
grande vantagem!
Possui uma inclinação natural para a oração e a contemplação. Seu coração está
naturalmente dirigido ao Belo e possui bons e generosos sentimentos para com
Deus. Mais que os outros temperamentos, compadecem-se com os sofrimentos de
Nosso Senhor. O sanguíneo, por sua vez, distrai-se muitas vezes. Tem dificuldade
em se concentrar devido à vivacidade de sua imaginação. O colérico também tem
dificuldade na vida de oração – apesar de se beneficiar de uma resolução mais tenaz
que o sanguíneo – pois tem sempre em mente um projeto de trabalho que lhe rouba
a atenção. O melancólico, mais uma vez, tende mais facilmente a cuidar de sua
alma.
Seu olhar interior, seus esforços exteriores estão concentrados no que é essencial.
Não tem tempo para o acidental. Se você tem algo a dizer, ele lhe ouvirá; mas só
falará se tiver algo a comunicar. Por isso as futilidades não lhe interessam,
diferentemente do sanguíneo (que não escuta, e fala, não porque tem algo sério a
dizer, mas porque quer lhe contar alguma coisa).
Os melancólicos apreciam o Belo, em todas as suas formas, e por isso sofrem com o
mal, em todas suas formas. Isso explica um pouco o caráter intempestivo de alguns
dos artistas que conhecemos. Penso em Dostoievski, por exemplo, que em sua obra
consegue pôr lado a lado imagens de santidade sublime e de depravação infernal.
Leiam Os irmãos Karamazov, Crime e Castigo. Leiam Tolstói, Anna Karenina,
Guerra e Paz, entre outros.
Metódico
Sua seriedade pode levar o melancólico a ser também bastante metódico. Se o
sanguíneo não tem paciência para o método e prefere resolver os problemas
diretamente, conforme apareçam, o melancólico é apaixonado pela teoria e pela
precisão8. É metódico, organizado, prevenido.
8
Reproduzo aqui uma anedota para ilustrar essa necessidade de precisão. Pedi a um grupo de
pessoas que se dividissem em quatro grupos segundo seus temperamentos. Em seguida pedi
que contassem quantos músicos havia em cada um deles.
No grupo dos sanguíneos, depois de conversarem sobre tudo, menos sobre quem era músico,
chegaram a um resultado. Nos coléricos, um deles tomou logo a iniciativa e perguntou ao
grupo: “Quantos de vocês são músicos? Um, dois...” E contou as mãos erguidas. Os
fleumáticos se perguntaram: “Que importância tem essa pergunta? ” Mas fizeram sua
contagem sem dificuldade.
Não foi tão simples assim com os melancólicos. Para fazer a contagem, primeiramente foi
preciso saber o que se entendia por músico. Pois alguns deles achavam que músico é alguém
que possui certo talento para a música. Outros achavam que a palavra músico incluía toda e
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Por exemplo: abra a mochila de um sanguíneo. É uma bagunça! A do colérico, a
mesma coisa. A do melancólico estará arrumada, com tudo o que precisa. O
sanguíneo abre, vasculha, procura, encontra enfim, feliz da vida, objetos que há
muito tempo havia perdido e acaba esquecendo o que inicialmente estava
procurando. O colérico saberá exatamente se possui ou não o objeto procurado. Se
não o tiver, tomará emprestado do colega, sem pedir!
Quando era diretor de uma escola, vivenciei uma situação que também exemplifica
as diferenças de temperamento: ao final de um passeio escolar a Turim, notei as
diferentes apreciações de alunos de temperamentos distintos. O colérico mediu o
sucesso pela rentabilidade financeira e alcance da meta procurada. O sanguíneo
mediu o êxito contando os bons momentos passados com os amigos. O fleumático,
em relação ao conforto da viagem. O melancólico, em relação ao número de
monumentos visitados, de catástrofes evitadas, de orações rezadas, etc. Muito mais
metódico. Tudo o que se queria fazer nesta viagem foi feito, tudo o que se tinha
previsto foi realizado.
qualquer pessoa que apreciasse música. Depois de discutirem durante alguns minutos,
resolveram contar em duas etapas: uma levando em conta o apreço pela música, e outra, o
talento. Quando perguntei quantos apreciavam a música, dezoito mãos se ergueram.
Enquanto anotava o resultado, um jovem perguntou: “Quando você fala de apreciar, quer
dizer só música clássica ou posso incluir música contemporânea também? ” Como era
impossível chegar a um consenso, decidimos separar em duas outras partes. Uma para os que
apreciavam a música clássica e outra para os que gostavam de outros tipos de música.
Voltando então ao início, perguntei quantos tinham algum talento para a música. Quinze
pessoas ergueram a mão, mas uma senhora interrompeu a contagem e perguntou: “Ainda é
preciso tocar algum instrumento, hoje em dia? Eu tocava clarineta quando jovem”. Os
esforços para responder corretamente a esta senhora deram origem a uma discussão intensa. E
antes mesmo de se propor a contagem em duas etapas, uma para os que ainda tocam um
instrumento e outra para os que não tocam mais, um senhor pergunta: “E se for começar a ter
aula de piano amanhã? ” Depois dessa pergunta, esgotou-se todo o tempo disponível para a
contagem e eu decidi abandonar a tarefa!
melancólico pensará, naturalmente, nas questões e nos detalhes que exigem
prudência: onde, quando, como, quanto, com quem, por quê...
Organizado, ordenado
O sanguíneo quer rir. O melancólico, arrumar. Detesta a bagunça. Está geralmente
bem vestido e arrumado. Aprecia a ordem tanto nele quando ao seu redor. Por
exemplo, em casa, o marido melancólico lava a louça de maneira metódica, e
gostaria que os outros assim o fizessem para que o resultado final fosse o melhor
possível. Não hesita em insistir para que sua mulher, que tem uma experiência mais
vasta na cozinha e se resolve muito bem, faça como ele!
A cozinha de uma senhora melancólica está sempre limpa e arrumada, cada coisa
em seu lugar. De forma automática, ela lava as panelas e pratos à medida que
cozinha. A gaveta de talheres está arrumadíssima. Não há poeira sobre seus móveis.
Econômico
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Meticuloso, preocupado e sério, o melancólico é necessariamente econômico. Não
gosta de gastar à toa. Não desperdiça. Poupa, guarda. Conheci um homem que
guardava em seu ateliê um vidro escrito tirinhas curtas demais. Só um melancólico
poderia guardar tirinhas curtas demais!
A compaixão pelo próximo é muito forte nos melancólicos. É normal. Eles próprios
são frequentemente ansiosos e sofrem com as dificuldades da vida. Por isso,
conseguem entender facilmente os sofrimentos alheios e compadecer-se. São bons
conselheiros, pois sabem escutar, analisar e em seguida propor soluções. Todos nós
temos necessidade de um amigo melancólico para o dia em que estivermos em
apuros. Ele nos ajudará a resolvê-los.
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Conheço um casal no qual o marido tem uma boa dose de temperamento melancólico, e ele
choca as outras famílias da paróquia (sim! Pois numa paróquia tem muita gente que cuida da
vida dos outros em vez de se preocupar com a própria!) pelo fato de duas vezes por semana
chegar tarde em casa, não porque trabalhou muito, mas porque foi ao clube, nadar. Dizem
então que ele é egoísta, busca seu próprio conforto, que deixa sua esposa arrumar tudo
sozinha em casa até às nove horas da noite, quando deveria ajudar, sendo pai de uma família
numerosa. Mas é porque sua esposa é sábia, generosa, e é ela quem diz: “Querido, vá. Você
precisa”. Assim ele consegue relaxar, trabalhar melhor. Notem a sabedoria dessa esposa, pois
ela antecipa a necessidade do marido. O melancólico é consciencioso, atencioso,
perfeccionista, não gosta de desamparar sua esposa, seus filhos. Ele não gosta de chegar
tarde. Ele renunciará a suas próprias necessidades para melhor servir a sua família, mas a
longo prazo isso não é uma boa solução, pois ele acaba se desgastando. Sua esposa percebe
que ele precisa de exercícios físicos. Encoraja-o, alivia sua consciência, e ele vai então
praticar suas atividades.
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Mais um conselho, que diz respeito particularmente ao convívio com mães e
mulheres melancólicas: impeça-as de se tornarem a escrava da família. Uma
senhora melancólica deve se fazer violência e delegar o trabalho doméstico às
crianças. Não se importe se não ficar perfeito. É um erro das mulheres não deixar
que os filhos participem das atividades domésticas e do bom andamento da casa,
alegando que as crianças não fazem o trabalho bem feito e que é muito cansativo
ficar correndo atrás delas para checar tudo o que fazem ou mandando-as terminar o
que começaram. Uma mãe melancólica vai então assumir todo o trabalho da casa,
seguindo o desejo de que tudo esteja excelentemente bem feito. Deixe de lado o
excelentemente bem feito, e às vezes até o bem feito. Quando a coisa está feita, isso
é o excelente. Insisto nesse ponto, isso é muito importante! Uma senhora, mãe, pode
sentir-se deprimida porque trabalha muito. Mas trabalha muito porque não quer
delegar, com medo de que fique mal feito.
O mesmo conselho vale para um homem melancólico. Se há algo a ser consertado
em casa, ele deve chamar seu filho. “Ah, mas ele me atrasa, não faz direito”.
Paciência. É preciso que o filho aprenda também. O pai melancólico deve transmitir
esse ofício.
Último conselho: mostre que necessita do melancólico. Ele tem um grande coração
que se esquece e se abre quando lhe pedimos ajuda. É preciso lhe dar uma razão
para se extroverter. Peçamos sua ajuda e forcemo-lo a superar seus medos e sua
pusilanimidade para que venha, em seguida em nosso auxílio. Para que não chore
sobre si mesmo, façamo-lo chorar sobre os outros, e pelos outros.
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tempo para se ocupar de uma criança com características melancólicas. Exige-se
paciência e muita delicadeza também.
É preciso tato, pois o melancólico tem muita dificuldade em se abrir. É preciso
mostrar-lhe uma amizade e um amor muito sinceros, encorajando-o a confiar em
você. Para aconselhá-lo, é necessário primeiramente conquistar seu coração. Isso é
muito importante para as crianças.
Lembre-se portanto que você tem porcelana em mãos, mas também não eduque a
criança em um mar de rosas. Isso não resolverá. É preciso endurecer um pouco esse
temperamento. Combatam, por exemplo, seu espírito lúgubre. A criança deve
compreender que o espírito sombrio e triste não tem vez na casa. Ela precisa
aprender a guardar um sorriso em qualquer circunstância.
7.CONCLUSÃO
Terminamos assim as considerações sobre o temperamento melancólico. Em
seguida analisaremos o colérico, o temperamento dos gauleses, por excelência.
O TEMPERAMENTO COLÉRICO
Início esta conferência com uma pequena história já que somos grandes crianças
diante do eterno. Mas não posso lhes contar uma história como faria às crianças do
jardim de infância, pois esta não é a minha intenção.
Bem que gostaria de lhes apresentar contos de Oscar Wilde em vez do que vou
contar agora, mas precisamos instruir nosso espírito.
Para o colérico já não há nenhum problema. Não é uma perna quebrada que
atravancará seu trabalho. Mas se perguntarmos a ele o que fez para quebrar a perna
ele dirá categoricamente: “ Nada! Não fui eu. Foi a escada, faltava um degrau. ” E
se fizermos uma observação do tipo: “ Ah! Você não viu a placa? ”, ele responderá:
“ Placa? Não! Não havia placa, a placa estava no lugar errado. A placa não substitui
o degrau quebrado”
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1. DESCRIÇÃO GERAL DO COLÉRICO
Se tivesse que simbolizar esse temperamento utilizaria o fogo. O temperamento
colérico é certamente o mais rico de todos. Consideram-no frequentemente como
temperamento ideal. É do homem ou da mulher de ação.
O colérico não se satisfaz com o ordinário; aspira sempre ao melhor. Suas virtudes
dominantes são a ambição, em seu sentido neutro, e também a audácia. O
quotidiano não lhe interessa muito; o que quer é escrever a História. Dependendo de
suas escolhas mortais – virtudes ou vicíos - será dominado pelo heroico e pelo
ideal, ou pelo tirânico e diabólico. Não há ‘ mais ou menos’ para um colérico puro,
não há mediocridade nem coisas pela metade.
Não tem tempo para sentimentos, e isso faz com que seja visto como alguém sem
coração, rude e severo com suas relações. Se deixar a barba crescer, parecerá um
homem das cavernas.
Continuando essa descrição geral, o colérico pode ser vingativo. Não tem tempo de
se preocupar com os pequenos detalhes, mas cuidado! Não obstrua seu caminho.
Seu espírito gira em torno de grandes projetos e se alegra quando os outros
reconhecem suas empreitadas.
O colérico possui uma vontade de ferro. Quando se lança em um projeto parece uma
bela Mercedes. Sejamos honestos: Quem nunca invejou, pelo menos um milésimo
de segundo, uma bela Mercedes? Por que uso essa imagem? Porque esse é um carro
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magnífico e gosto do que representa. É uma imagem do que é seguro, firme, capaz
poderoso, rápido, adaptando-se ao terreno à medida que avança, transmitindo
segurança (a seus subordinados passageiros), inquebrantável, aconteça o que
acontecer. O colérico parece essa bela Mercedes! Nada lhe assusta.
Relembro que aqui descrevo o colérico puro, que se deixa levar completamente
pelas paixões.
O colérico recusa a ajuda dos outros, em parte porque acha que não precisa de
ajuda, em parte porque não gosta de precisar de ajuda. Está muito cheio de si
próprio para aceitar criar uma dívida com o próximo. Quer ser autossuficiente.
Hitler é um exemplo típico de um colérico que foi até as últimas consequências dos
defeitos de seu temperamento. Não é muito politicamente correto recomendar o
filme A Queda – As últimas Horas de Hitler (2002), mas nele nos deparamos com
uma descrição fantástica, em imagens e sons, da decomposição desse
temperamento. Talvez Hitler fosse louco, mas era muito capaz. Certamente possuía
esse temperamento, quase em seu estado puro; infelizmente, por causa de suas
escolhas morais, transformou-se em um tirânico diabólico. Poderia ter tido uma vida
heroica e ideal. No filme percebe-se claramente o quanto ele atribui aos outros tudo
o quanto está indo mal, e recusa a ajuda dos companheiros.
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Os grandes dons que acompanham esse temperamento podem fazer com que o
colérico despreze os que são menos dotados que ele. Para alcançar seus fins, não
hesita em passar acima dos outros, onde crê ser seu ligar natural, mas também por
cima dos outros! O fim que inspira sua ação grandiosa e magnifica, justifica
completamente os meios empregados. Dessa maneira é que pode tornar-se um
tirano.
A raiva
O colérico é um apaixonado. Reage com rapidez e veemência as impressões
externas. A cólera (por si neutra), essa paixão que faz superar os obstáculos, é
dominante da sua psique.
Essa cólera requer grande controle, pois pode torna-se devoradora. Comparemos
esse temperamento com o fogo. Ora, é preciso manter o fogo em uma chaminé, caso
contrário toda a casa queimará. O mau colérico está sujeito a proferir palavras
agressivas que podem ferir profundamente. Sua Crítica é acida e corrosiva,
sobretudo porque sabe lança-lá com com muita precisão, graças à sua inteligência
viva e seu talento para oratória.
A decepção e a hipocrisia
Corruptio optimi péssima! A corrupção do ótimo é o pessimismo.
Frieza, Descortesia
Desembaraçado, impaciente, o colérico pode ser duro e frio com os outros. Ele não
entende como é possível que alguns percam tempo choramingando e se dando
atenção quando a tanto a se fazer. Capaz de dar muito de si, tende a exigir o
equivalente dos outros, forçando-os, desestabilizando-os, amedrontando-os e
inclusive magoando-os. Muito cuidado com isso!
Um pai ou uma mãe colérico deve atentar para que esteja psicologicamente presente
para seu esposo, esposa e filhos. Insisto neste ponto pois é muito importante. Uma
mãe colérica será uma dona de casa muito eficaz; ela elabora listas, divide o
trabalho, acompanha cada um em sua tarefa de casa e da escola, dá atividades a
todos – música, bordado, desenho – mas atenção. Não é assim que ela é mãe. Isso
faz parte, sim, do cargo materno. Mas a tarefa essencial de uma mãe é estar presente
para amar, cuidar e conversar! Uma mãe colérica deve prestar muita atenção a isso,
para que os filhos e o marido saibam que ela a ama. Estar psicologicamente
presente.
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O mesmo vale para um pai colérico. Este já é naturalmente mais ausente, sai cedo
para trabalhar e volta tarde, vê menos os filhos. No sábado quer passar o tempo com
eles. Vai leva-lo ao zoológico, ao parque, a milhões de atividades ao invés de
simplesmente estar presente para brincar e conversar, folhear na companhia deles os
livros que estão lendo. Cuidado pais e mãe de temperamento colérico. Estejam
psicologicamente presente aos seus cônjuges e filhos, e não simplesmente presente
na agitação física.
Nota: Esta descrição do colérico parece ser um pouco sombria. É verdade, mas não
nos esqueçamos de que o colérico não se aborrece com as questões ordinárias da
vida. Seus talentos e sua determinação levam-no ao primeiro lugar e fazem com que
lhe sejam confiadas questões de grande importância. Assim, os alvos das suas
atividades são decisivos e determinantes. De maneira alguma se dá o direito de
errar. Daí vem a forte tentação de justificar os meios para realizar o fim proposto.
Sejamos então indulgentes com os coléricos. Eles não vivem no mesmo mundo que
a maioria. Arriscam -se mais e talvez derrapem mais também.
Magnânimo
Em conformidade com seus dons de inteligência e força de vontade, o colérico
possui a grandeza d’alma, isto é, uma inclinação para o que é grande. Recorrendo
mais uma vez a Santo Tomás, lemos que o maior bem aqui na Terra é a honra. O
magnânimo é então aquele que em todas as coisas procura não as honras, mas a
honra, que é a prova viva de todas as virtudes. Possui honra o homem que possui
todas as virtudes.
Percebe-se então que o colérico, um homem forte, é capaz de todas as virtudes. Isso
não é pouca coisa! Por isso pensa-se que este temperamento é o mais propício a
santidade.
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provações e o sofrimento físico, sabe sacrificar-se, rechaçar tudo que é uma desonra.
A pureza lhe é mais fácil que os outros temperamentos. Coléricos agradeçam ao
bom Deus pelos ‘cinco talentos’ que receberam! Multipliquem-nos com outros
cinco.
Trabalhador
Já ressaltamos que o colérico é um trabalhador ferrenho. Seu repouso está na
concepção e execução de projetos. Seus sucessos vêm cascata, pois ele nunca para e
é extremamente competente.
Educador
Naturalmente líder, muito competente, vivo, paciente e tenaz, o colérico é um
educador nato. Seu temperamento concentra além da paciência e da perseverança,
outras virtudes necessárias à educação da juventude. Sua palavra viva e incisiva,
seu brilhantismo e sua virilidade, lhe concedem uma autoridade incontestável e
relação a seus subordinados (alunos)). Sabendo ouvir e mostra compaixão, ganhará
facilmente a confiança dos outros.
Os coléricos são grandes educadores. Acredito que é por isso que os jesuítas tendem
a ser grandes educadores, seguindo o bom colérico que era Santo Inácio. É
certamente uma congregação de coléricos. Todos nós sabemos o quanto foram
excelentes em sua missão de ensinar a elite do Ocidente.
Está exposto o lado positivo do colérico. Exposição bem mais curta que a do lado
negativo, mas quando se diz magnânimo e forte já não há mais nada a ser dito.
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Sejam menos polêmicos. Vocês sempre tem certeza de estar com a razão.
Isso é bom, mas procurem não a impor aos outros, sobretudo quando o
assunto não for de suma importância. Casso contrário isso pode lhes gerar
uma reputação de criadores de problema, o que é muito desagradável.
Respeitem a competência dos outros. Mecânico não é automaticamente
sinônimo de vigarista! Ao deixarem seu carro para consertar, não saiam
gritando “Faça o trabalho direito, viu? ” Acreditem no que diz o mecânico
ou pelo menos o interroguem; não vociferem logo no primeiro minuto!
Saibam admitir seus erros. Aceitem suas fraquezas e reconheçam que
vocês caem como todo mundo! Se alguém lhes fizer uma observação
pensem que talvez seja válida e necessária. Aprendam a pedir desculpas.
Quando fazem algo errado, não basta dizer que foi um incidente
lamentável. Pedimos desculpas e pronto! Pais e mães de adolescentes
coléricos, insistam nisso. Eles têm que aprender a pedir desculpas.
Finalmente, cuidado para não procurar a perfeição buscando não ter
defeitos. Procuramos a perfeição cristã não para sermos perfeitos, mas
por amor a Deus, que nos pede que assim sejamos. Para o colérico, a
santidade muitas vezes se resume a leitura de um livro. Ele lê rapidamente,
acha interessante, diz que meditou sobre o assunto, e passa para outra
coisa. Não! Não é isso! Buscamos a perfeição por amor a Deus e não para
estarmos livres de qualquer defeito. É uma nuance fina.
Entretanto, insista junto ao colérico que as vias de comunicação andam nos dois
sentidos, e não em mão única! Faço-o saber que em uma conversa você também tem
algo a dizer, e ele deve aceitar isso. NA argumentação, seja cortês, firme, preciso e
claro. A emoção de nada adiantará; é preciso tratá-lo com uma linguagem que ele
entenda e respeite: a dele!
Mas não é necessariamente orgulhoso que a pessoa age dessa forma. Ao falar do
magnânimo, Santo Tomás explica (S.T. II-II q.129ª 3, ad 5):
As referidas propriedades enquanto atribuíveis ao magnânimo não sã
repreensíveis, mas, dignas, por excelência, de louvor. – Assim, quando
Aristóteles diz, em primeiro lugar, que o magnânimo não guarda na
memória os nomes daqueles de quem recebeu benefício, devemos entendê-lo
como significando que não lhe é agradável receber benefícios de outrem sem
poder pagá-los com outros ainda maiores. O que implica a perfeição da
gratidão, na prática da qual quer ser excelente, como na das outras virtudes.
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Quando, em segundo lugar, diz, que é ocioso e lento, não significa que deixe
de praticar os atos que deve praticar, mas, que não se põe a fazer quaisquer
atos que lhe fiquem bem, mas, só os grandes como lhe cabe.
Quando, em terceiro lugar, diz que usa de ironia, não é no sentido em que
ela se oponha à verdade, como quando o magnânimo se atribui defeitos que
não tem, ou nega alguma grande que tem; mas no sentido que não mostre
toda sua grandeza, sobretudo e relativamente à multidão inferior; porque,
também no dizer do Filósofo, é próprio do magnânimo ser grande com os
constituídos em dignidade e riqueza; mas, moderado, com os de situação
média.
Em quarto lugar, diz, que não pode conviver (familiarmente) senão com os
amigos, porque o magnânimo evita de todo qualquer adulação e simulação,
que manifestam pequenez de alma. Mas, convive com todos, grandes e
pequenos, na medida do necessário, como dissemos.
E por fim, em quinto lugar, diz, que quer ter, antes, coisas que não lhe
tragam vantagem; não porém qualquer coisa, mas, as boas, i.e, honestas.
Pois, sempre antepõe o honesto ao útil, como um bem maior; pois, as coisas
úteis são buscadas para suprir algo que falta, o que repugna à
magnanimidade.
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solenidade particular. Intuitivamente, a criança entenderá que a punição é a
consequência de uma falta objetiva da parte dela, e não simplesmente uma reação
colérica da sua parte.
Ensine desde cedo a doçura e a compaixão pelo próximo, pois o colérico
naturalmente tenderá a não perder tempo com os que são menos brilhantes que ele,
ou usá-los para alcançar seus fins.
Inspire na criança um santo horror à presunção e exija sempre que peça
desculpas pelas faltas cometidas contra o próximo. Isso a ajudará a cultivar a
humildade, que não lhe vem naturalmente.
O TEMPERAMENTO FLEUMÁTICO
É com muita alegria que inicio o último capítulo, que espero lhes seja de grande
utilidade em seu caminho para o céu. Detalharemos agora o temperamento
fleumático, o quarto e último da nossa série. Iniciaremos com uma história
ilustrativa, como fizemos anteriormente.
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1. DESCRIÇÃO GERAL
Vale ressaltar antes de tudo que um mundo composto unicamente por coléricos
seria insuportável. Desculpem-me os coléricos, mas de fato seria ruim. Só haveria
chefes, e nenhum subordinado. Haveria guerras intermináveis. Também acredito
que um mundo só de sanguíneos seria divertido por cinco minutos, porém
rapidamente se tornaria chato, cansativo e de uma desorganização sem igual.
Quanto a uma população inteira de melancólicos, penso que terminaria em uma
depressão nervosa de escala mundial. Não seria muito agradável. Portanto é
benéfica a existência desses três temperamentos, e a de um quarto para ajudar nas
relações mútuas entre eles. Pois o fleumático atenua o comportamento excessivo do
sanguíneo, não se deixa impressionar pelo colérico e lembra ao melancólico que ele
não precisa levar tão a sério seus problemas – estas são as primeiras características
que o distingue dos outros temperamentos.
O fleumático é como o óleo lubrificante de um motor, possibilitando que a
operação das diversas peças aconteça com o mínimo de emperro e desgaste.
Ao se vestir, o fleumático escolhe suas roupas pelo conforto que lhe proporcionam,
e não pelo look, pelas cores, pela moda, como o sanguíneo. Suas roupas variam
pouco e ele as continua usando, mesmo velhas. Aquele casaco furado, ele o veste
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todo sábado de manhã, e gosta disso. “Quando se está bem, por que mudar?” O
status quo ou a monotonia, desde que ela se mostre eficaz, lhe cai muito bem. Sabe
que é preguiçoso, e isso não lhe causa remorso!
Necessita de pouca coisa para se acalmar: suas pantufas, uma boa refeição, uma
poltrona e alguns poucos amigos íntimos, um cachimbo, um bom tabaco e um bom
livro. Não gosta de sair sem um objetivo definido, está perfeitamente confortável
em sua casa, junto aos seus.
2. FORÇAS DO FLEUMÁTICO
Suas forças advêm principalmente de sua tendência para a calma e o conforto físico
e emocional, sobretudo. Detalharei mais adiante. Essa tendência para a calma é uma
força e não um defeito. Tender para a calma é tender para o céu – onde estaremos
eternamente na calma.
O fleumático não aprecia a contradição nem a contrariedade. Ele as detesta, até
porque isso lhe tira a calma e o repouso (paz) interior e lhe exige esforços
suplementares de sociabilidade. Assim, é sempre muito complacente. Esta é sua
primeira qualidade. Os antigos atribuíam a esse caráter o símbolo da água, sempre
abraçando os contornos de seu caminho para encontrar sua posição de repouso.
Pode ser um excelente subordinado – seguir ordem não lhe incomoda, alem de
gostar de obedecer. Eis outra força do fleumático: não gosta de comandar. A chefia
lhe exige muito esforço. As responsabilidades trazem muitas preocupações que
atrapalham essa calma interior que o fleumático aprecia e busca. Além disso, sua
capacidade de relativizar faz com que minimize com facilidade, por exemplo, um
acontecimento inesperado (palavra ou comportamento irascível, irracional), que
deixaria o colérico estressado ou que preocuparia o melancólico. Graças a essa
capacidade de relativizar e graças a sua complacência, o fleumático pode viver e
trabalhar em um ambiente tenso, com um chefe ou um colega difícil; ele só recebe
as impressões externas muito superficialmente. Sabe trabalhar com um colérico
enraivecido, com um sanguíneo alterado. Eles não o atrapalharão muito.
Também é um subordinado leal, que procura tanto servir ao chefe como apreciá-lo.
Isso é uma grande qualidade. Se vocês tiverem subordinados fleumáticos, saibam
que de algum modo eles procuram estimá-los. Gostam de falar bem de seus chefes.
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Cuidado então para não desagradá-los com freqüência, pois sua lealdade se
transformará em um profundo rancor.
Sabe ser calmo e senhor de si, sobretudo quando cai uma tempestade. Quando o
sistema operacional de uma empresa entra em pane total, o sanguíneo grita e entra
em pânico: “E agora? Perdemos tudo!!” O colérico fecha a mão e ameaça – e eu
lhes poupo a linguagem esbravejada. O melancólico se fecha em sua tristeza e se
sente derrotado: “Eu sabia! Não tinha nada que usar esse sistema! Tínhamos que
usar papel e lápis...” O fleumático desdramatiza. Ele é pouco influenciado pelas
impressões e emoções do ambiente em que se encontra: “Ok, pessoal, parem de
gritar.” E vai consertar ou procurar um técnico, busca calmamente nas Páginas
Amarelas o telefone, pois a internet também caiu, etc.
É paciente e equilibrado. Sua personalidade é estável e previsível, pois seus gostos e
suas exigências são simples. Não pede grandes coisas, só um pouco de
tranqüilidade. Sabe-se sempre aonde se irá com ele. É naturalmente querido por
muitos e possui vários amigos.
Assim, quando cultiva suas virtudes, torna-se sociável, pois é uma pessoa de fácil
acesso. Não se tem medo dele. O colérico amedronta, o sanguíneo também assusta,
de tão volúvel que é, com sua enorme movimentação girando como um ventilador.
Além disso, esse temperamento é muito apto aos trabalhos que exigem precisão e
perseverança. O fleumático não se irrita, não se altera muito – continua seu bom e
velho caminho. Se o colérico parece uma bela Mercedes, o sanguíneo uma Ferrari
fosforescente e rápida, o melancólico um Senic comportado e frágil, que pode dar
defeito a qualquer momento, o fleumático parece um Peugeot antigo, dos anos 80:
menos veloz, mais pesado, mais sólido, que dura eternamente.
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criativos ou de impor sua vontade, Um trabalho apreciado por mulheres fleumáticas
é o de enfermeira: trabalho de formiga, delicado, que exige muita paciência,
humildade, know how, gentileza e afabilidade. É o trabalho do bom samaritano.
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acontecimentos somente a partir de suas observações e de tirar conclusões somente
através de suas próprias luzes. Isso faz com que erre mais vezes. E começa a pensar
que se não lhe pedem conselho é porque estão contra ele.
Parece que falta uma coluna vertebral no bravo fleumático. Mas há situações e, que
ele sabe reencontrá-la. É quando algo vai contra sua vontade. Paradoxalmente, o
fleumático é capaz de teimar como um burro empacado! Em situações de conflito
ou de contrariedade, se fecha como uma ostra. É um tipo de mecanismo de
autoproteção e de fuga.
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ocasião de lhe agradar, dando-lhe a oportunidade de fazer algo que tem certeza que
ele gostaria de comer. A segunda gafe é a resposta à pergunta “Querido, como foi o
trabalho?”. Resposta: “Ah... como sempre”. Veja bem, fleumático, sua esposa
compartilha sua vida com você e grande parte dessa vida é a profissional. Converse
com ela sobre suas experiências profissionais, mesmo que para você elas sejam
banais. Não! Para ela, qualquer palavra saindo de sua boca são pérolas, que ela ama.
Não desmoralize sua esposa com sua inércia! Seja indulgente, pelo menos às vezes.
Chegue em casa com flores, coloque uma música para tocar, faça um aperitivo,
distraia-se e divirta-se.
Confiem neles, pois se sua calma e constância são às vezes fruto de certo desleixo,
podem também ser sinal de sabedoria. O fleumático não se deixa levar por suas
emoções. Ele observa muito. Seus conselhos são preciosos. Não se esqueça de
pedir-lhe conselhos. Ele não os dará de imediato. O colérico irá impor sua opinião,
o sangüíneo irá falar sem parar, o melancólico se sentirá na obrigação de falar, com
toda caridade. Mas o fleumático não dará sua opinião enquanto você não pedir.
O sangüíneo é preguiçoso porque está absorto por mil e uma distrações. O colérico
é preguiçoso, pois não vê a utilidade da coisa a ser feita, e inclusive julga que seus
deveres são extremamente estúpidos e não servem de nada. O melancólico também
pode ser preguiçoso – uma chamada de atenção pode ofusca-lo. Já a criança
fleumática é preguiçosa. E ela o será toda a vida caso não aprenda a aplicar-se. É
preciso então empurrá-la, não com palavras, mas com atos.
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É importante que pratique esporte, é muito importante: esporte de equipe ou a dois.
E se a criança for pequena e gorducha, com um andar de ancião leve-a para
caminhar, com freqüência. É preciso forçá-la a gastar energia. A equitação, por
exemplo, é um excelente meio de forçar uma criança fraca a se mexer e controlar.
Caso contrário, é o cavalo quem a dominará.
Dêem-lhe muitas e pequenas responsabilidades práticas e variadas para força-la a
estar sempre acordada, animada e alerta, a se exteriorizar, a correr riscos. Por
exemplo, em um colégio interno, ter a responsabilidade de determinado trabalho é
excelente para um menino apagado e tímido, que não gosta ou teme colocar-se à
frente de uma ação.
7. CONCLUSÃO
Caros fiéis, chegamos ao final dessa série sobre os temperamentos, a qual passei em
sua companhia espiritual. Lembrem-se que não sou inspirado pelo Espírito Santo,
ou seja, posso cometer erros. Lembre-se também que não se pode catalogar as
pessoas. Na maioria das vezes as pessoas são uma mistura de todos os
temperamentos. Raramente uma pessoa encarnará em si um único temperamento.
Não rotulemos as pessoas, não a enquadremos neste ou naquele temperamento para
em seguida ficarmos em cima dela lhe apontando os defeitos. Isso é bastante
temeroso.
Espero que tudo que tenham aprendido com essas descrições possa lhes despertar a
curiosidade e ajudar a discernir certos tipos de comportamento, para que possam
reagir de maneira a guardar sempre e em tudo a caridade fraterna. É por isso que é
bom conhecer como são os outros, para melhor convivermos e manejarmos as
diferenças.
Caros amigos, que Deus lhes abençoe.
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