Vous êtes sur la page 1sur 9

Oftalmologia - Vol. 37: pp.

11-19

Artigo de Revisão

Queratocone: Diagnóstico e Terapêutica

Hugo Mesquita Nogueira1, José Maia Seco2


Assistente Hospitalar de Oftalmologia do Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto
1

2
Chefe de Serviço do Departamento de Córnea e Superfície Ocular Externa do Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto

prática clínica diária. É uma patologia cada vez mais reconhecida e cujo correcto e atempado

-
centes avanços no diagnóstico e terapêutica da doença, analisando os seus principais critérios

terapêuticas colocadas à disposição do médico Oftalmologista.

Palavras-chave
crosslinking, DALK, que-
ratoplastia penetrante.

in our daily practice. It is a well known disease and its precise and early diagnosis has a big re-
-

criteria, as well as discuss the therapeutic tools put at the Ophthalmologist disposal.

Key-words
Keratoconus, keratic topography, intracorneal ring segments, crosslinking, DALK, penetrating
keratoplasty.

a zona de menor espessura da córnea. É tipicamente bila-


teral, mas pode revelar-se bastante assimétrica. O cone
O queratocone é uma doença querática ectásica não geralmente tem uma localização paracentral temporal. É
uma patologia relativamente comum, com uma incidência
córnea associada a diminuição da sua espessura na zona de 0.05 a 5% consoante os diferentes estudos epidemioló-
do cone. Distingue-se das outras ectasias da córnea, como gicos consultados.1,2,3 Com o advento das novas tecnolo-
a Degenerescência Marginal Pelúcida ou o Queratoglobo, gias de imagem que permitem uma melhor detecção das
pela localização bastante típica do cone, coincidente com irregularidades da córnea, o queratocone tem-se tornado

Vol. 37 - Nº 1 - Janeiro-Março 2013 | 11


Hugo Mesquita Nogueira, José Maia Seco

uma patologia cada vez mais diagnosticada. A cirurgia DIAGNÓSTICO

O queratocone é diagnosticado conjugando critérios clí-


alerta para as doenças ectásicas da córnea, levando a que
sejam detectadas numa fase bastante precoce. O querato- ser difícil fazer um diagnóstico claro da doença pela pouca
cone é caracteristicamente uma doença progressiva na sua sintomatologia e semiologia que apresenta. É a denominada
fase inicial, durante na puberdade, com tendência a estabi- fase de queratocone fruste, com importância fulcral no pré-
lizar posteriormente. A sua causa é actualmente desconhe- -operatório da cirurgia querato-refrativa, nomeadamente
cida, mas pensa-se que está relacionada com uma fragili- no LASIK. Está demonstrada uma relação directa entre
dade do tecido conjuntivo e, consequentemente, do estroma a presença de sinais pré-operatórios de queratocone e um
querático. O trauma repetido da córnea, como acontece nas risco acrescido de ectasia pós-LASIK, pelo que tem sido

Em pelo menos 10% dos casos há história familiar conhe-


cida de queratocone,1,2 permitido um maior conhecimento da doença, levando a um
genéticas relacionadas com a sua etiologia. Estas ainda são aperfeiçoamento dos seus critérios de diagnóstico.
relativamente desconhecidas, apesar de já terem sido iden-

a esta doença.3 Conhecem-se ainda associações a várias CRITÉRIOS CLÍNICOS


doenças oculares e sistémicas, como a amaurose congénita
de Leber, a queratoconjuntivite vernal, o síndrome Os critérios clínicos para o diagnóstico do queratocone
eyelid, a retinopatia pigmentada, as doenças do tecido con- consistem na sintomatologia típica apresentada pelo doente
juntivo como o síndrome de Marfan e Ehler-Danlos, e ainda e nos sinais queráticos característicos observáveis dire-
ao síndrome de Down. O queratocone terá, provavelmente, tamente pelo médico Oftalmologista. Os sintomas que os
uma origem multifactorial. Clinicamente o queratocone doentes geralmente referem são de diminuição da acuidade
manifesta-se por uma diminuição da acuidade visual asso- visual progressiva, principalmente durante a puberdade,
ciada a elevada ametropia, nomeadamente a um astigma- e que pode ser mais marcada num olho relativamente ao
tismo miópico irregular de difícil correcção com óculos. outro. Esta resulta de um astigmatismo miópico irregular,
Apesar do seu carácter bilateral, pode haver bastante assi- por vezes de elevado grau e de difícil correcção óptica. É
metria entre os dois olhos, com acuidades visuais e ametro- a formação do cone paracentral querático que condiciona
pias dispares. O queratocone é uma patologia comum, cada este astigmatismo, que corresponde a uma aberração de
3ª ordem principalmente na forma de coma, com assime-
tria dos raios luminosos provenientes de lados opostos da
pupila levando à formação de uma imagem em cometa.
aparelhos de detecção de irregularidades da córnea cada vez Este tipo de aberração é particularmente incomodativo para
- os doentes. Este cone querático muitas vezes leva também
nóstico cada vez mais precoce desta doença. Alem disso, as a intolerância à utilização de lentes de contacto, devendo
opções terapêuticas para o queratocone também têm vindo esta situação levantar sempre suspeita da presença de uma
a aumentar a um ritmo elevado, sendo neste momento pos- -
sível oferecer uma visão de qualidade à maior parte destes cos que podem ser directa e facilmente observáveis pelo
doentes, com um incremento bastante importante na sua Oftalmologista, sem necessidade de recurso a aparelhagem
qualidade de vida.
desta doença numa simples consulta de rotina, recorrendo
a material básico usado em Oftalmologia. Estes sinais são
provocados pelo cone central ou paracentral e, como é
obvio, são mais evidentes quanto maior for o seu tamanho.
Neste artigo vamos fazer uma revisão dos mais recen-
tes avanços no diagnóstico e terapêutica do queratocone, que resulta de um abaulamento marcado da pálpebra infe-
sabendo no entanto que muito ainda há por fazer pela comu- rior quando o doente faz infraversão. O sinal de Rizzuti é
observável pela aplicação de uma fonte luminosa tempo-
abordagem a esta doença.

12 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia


Queratocone: Diagnóstico e Terapêutica

Fig. 1 | Sinal de Munson. Fig. 3 | Estrias de Vogt

lado nasal. À biomicroscopia é possível observar o anel de


situação é facilmente diagnosticada pela sintomatologia
de cobalto, e que resulta da deposição epitelial de ferro (dor e diminuição abrupta da acuidade visual) e semiologia
na base do cone. Podem ainda ser observadas umas linhas
verticais centrais a nível do estroma, denominadas estrias

globo ocular, e que resultam de stress mecânico aplicado


ao estroma/descemet pela formação do cone. À retinos-
copia sob midríase farmacológica pode observar-se um
diagnóstico de queratocone. Este fornece informação qualita-
tiva e quantitativa pormenorizada do contorno, poder refrac-
tivo e espessura da córnea, criando mapas de queratometria,
em gota de óleo. Nas fases mais avançadas da doença pode
muito útil, que permite detectar pequenas irregularidades da
aguda consiste num aumento abrupto da espessura da cór- superfície da córnea, sendo particularmente importante para
nea (edema) provocada por quebras na descemet, resultando diagnóstico precoce e monitorização da progressão do que-

-
tante variada. Alguns aparelhos recorrem aos ultrassons de
elevada frequência (VHF Artemis®) ou à tecnologia LASER
(OCT Visante®) para a obtenção destes mapas. Os mais

por varrimento em fenda (Orbscan II®) ou a câmaras rotativas


®
e o Ziemer Gali-
lei®
-

(sem contacto). Apesar de haverem diferenças entre os vários


topógrafos, todos eles fornecem os mesmos parâmetros bási-
cos que ajudam ao diagnóstico do queratocone. O primeiro

1998, e estes consistiam na queratometria média (k>48.7


Fig. 2 | Anel de Fleischer. D) e diferença S/I (>1.9 D).1,4

Vol. 37 - Nº 1 - Janeiro-Março 2013 | 13


Hugo Mesquita Nogueira, José Maia Seco

Fig. 4 |

Fig. 5 |

parâmetros que devem ser analisados e que se baseiam nos atrás referidos, sendo característico do queratocone um mapa
mapas queratométricos, paquimétricos e de elevação poste- bow-tie assimétrico)
rior (quadro nº 1).4,5,6 Deve ser feita também uma avaliação
qualitativa da regularidade e simetria dos mapas de cores está localizado na ponta do cone paracentral. O diagnóstico

14 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia


Queratocone: Diagnóstico e Terapêutica

Quadro 1 | Sinais de alarme para o diagnóstico de suspeição


abordagem terapêutica depende de vários factores, nomeada-
do Queratocone
mente da acuidade visual, do grau do queratocone e também
Queratometria média: >47 D da presença ou ausência de progressão documentada.11 É
Diferença Sup/Inf: >1.9D geralmente considerado que a terapêutica deve ser instituída
Ponto + fino: <470 µm de modo progressivo, partindo de abordagens mais conserva-
Diferença entre ponto + espesso (7mm) e o + fino: >100 µm
doras e reservando as mais agressivas para os estadios avan-
Localização do cone: paracentral temporal inferior
Elevação posterior: >56 D; diferença >50 µm para a Best Fit çados da doença. O objectivo primordial das terapêuticas
Sphere (BSF) menos agressivas consiste em corrigir a ametropia, quer atra-
vés da adaptação de óculos ou lentes de contacto, quer regu-
(Efkarpides): >1.21 larizando a superfície da córnea, tornando-a mais prolata,
através da colocação de segmentos de anel intraestromais ou
crosslinking).
só pode ser considerado após uma análise ponderada destas As abordagens consideradas mais agressivas consistem
na substituição de tecido querático anormal por tecido de
- dador, quer parcial (queratoplastia lamelar anterior profunda
nóstico do queratocone. Ultimamente tem sido dada cada vez - DALK) quer total (queratoplastia penetrante), sendo estas
mais importância aos mapas de elevação posterior relativos à últimas opções as únicas potencialmente curativas. A escolha
, principalmente para detecção das fases mais da melhor opção terapêutica deve ser ponderada de acordo
precoces de queratocone, ou queratocone fruste.5 com o queratocone em causa, e sempre de acordo com as
vários índices quantitativos de probabilidade de queratocone

dos topógrafos, e que podem constituir uma ajuda importante


na sua detecção e monitorização de progressão. A topogra-

- Nas fases mais precoces da doença pode ser possível a


correcção da ametropia apenas com óculos, sendo contudo
2),16 uma situação pouco comum. É mais frequente que o astig-
- matismo seja de tal modo irregular que a correcção com
gressão do queratocone, sendo este parâmetro essencial para
a escolha da melhor terapêutica a aplicar. visuais dos doentes. O mesmo se passa com as lentes de

Quadro 2 | uma correcção astigmática elevada. Como tal, é muitas


vezes necessário o recurso à adaptação de lentes de con-
Estadio 1 Estadio 2 tacto semi-rígidas. Estas devem ser adaptadas através da
Miopia: <5 D Miopia: 5-8 D
Medições do K <48 D Medições do K 48-52 D
plano como referência, e recorrendo ao teste da distribui-
Ausência de fibrose; Estrias Ausência de fibrose; Estrias
Vogt +- Vogt ++
Paquimetria >480 micras Paquimetria 400-460 micras próprias para Queratocone, com uma curvatura mais acen-
Estadio 3 Estadio 4
tuada no centro relativamente à periferia, como as lentes
Miopia: 8-10 D Miopia: não mensurável das marcas Menicom KRC® ou Rose K2®. Estas são geral-
Medições do K 53-55 D Medições do K >55 D mente bem aceites pelos doentes, sendo possível a obten-
Ausência de fibrose; Estrias Fibrose ção de uma visão aceitável durante um prolongado período
Vogt +++ Paquimetria <200 micras de tempo. Na adaptação destas lentes é muito importante
Paquimetria >200 micras
doença e localização dos picos e zonas planas da córnea.

KC®) potencialmente mais confortáveis para o doente,


apresentando uma zona central semi-rígida que se adapta
Após o diagnóstico do queratocone surge a necessi- ao cone e uma zona periférica gelatinosa. Para melhorar o
dade de responder às necessidades e anseios dos doentes. A conforto do doente, mantendo uma visão aceitável, há ainda

Vol. 37 - Nº 1 - Janeiro-Março 2013 | 15


Hugo Mesquita Nogueira, José Maia Seco

a possibilidade da realização de piggy-back com lentes de Como tal, para os queratocones mais avançados são esco-
contacto, com a colocação de uma lente semi-rígida sobre lhidos os segmentos mais espessos (até 450 micras) e colo-
-
dos dois segmentos simétricos, dois segmentos assimétricos
ou apenas um segmento. Estas duas últimas opções geral-
SEGMENTOS DE ANEL INTRAESTROMAIS mente estão reservadas aos casos em que o cone se encontra
mais descentrado, sendo que os segmentos são geralmente
A colocação de segmentos de anel intraestromais que- -
ráticos tem vindo a generalizar-se nos últimos anos, sendo mentos e o local da sua colocação são escolhidos após a
obtenção de um nomograma que se baseia na refracção
os doentes que não podem ou conseguem utilizar lentes de
contacto. Os segmentos de anel são colocados a uma pro-
fundidade de cerca de 80% da córnea e na zona óptica dos da análise dos resultados obtidos. O efeito visual destes
segmentos intraestromais demora pelo menos 3 meses a
um “esticador”, trazendo a córnea para uma forma mais estabilizar. Colin e Malet apresentaram um estudo em que
prolata e regular, funcionando muitas vezes como “ponte” o poder dióptrico médio da córnea foi reduzido em 3.7D
para uma abordagem mais agressiva, que pode deste modo após 1 ano e 3.3D após 2 anos da colocação dos segmen-
ser adiada ou mesmo cancelada. É uma cirurgia feita em tos de anel. A espessura central da córnea reduziu de 471
ambulatório e sob anestesia local, e é reversível. É funda- para 421 micras, um efeito provavelmente relacionado
mental que não haja compromisso da transparência central com o estiramento provocado pelos segmentos e/ou com
da córnea e que a espessura da mesma na zona da incisão a progressão natural da doença. Kyomionis et al demons-
- trou estabilidade refractiva com este procedimento até aos
cado, nomeadamente os Kerarings®, os Intacs® e os anéis 5 anos de pós-operatório.7,8 Estudos recentes avaliaram os
de Ferrara® - resultados visuais e queratométricos da associação dos seg-
damente na forma do anel em corte transversal (triangular, mentos de anel ao crosslinking, realizado antes, durante ou
depois (geralmente 6 meses) da colocação dos mesmos.23,24
dos 5 a 7 mm) e ainda na técnica de colocação (manual vs.
assistida a vácuo). O efeito na regularização da superfície acção sinérgica entre estas duas abordagens na redução da
anterior da córnea é directamente proporcional à espes- curvatura da córnea, associada a uma estabilização da evo-
lução da ectasia, sem aumento substancial dos riscos para
o doente. Num estudo de Chan et al analisaram-se 25 olhos
com queratocone, tendo concluído que houve uma redução

e astigmatismo comparando um grupo tratado com Intacs


seguido de Crosslinking com outro grupo tratado apenas
com Intacs.10

CROSSLINKING DE COLAGÉNIO

Nos últimos anos têm surgido múltiplos artigos que com-

à córnea, após colocação de um agente fotossensível (ribo-

Crosslinking).
As córneas com queratocone apresentam uma fragilidade
intrínseca a nível do tecido conjuntivo que parece ser con-
trariada com este procedimento. Apesar desta vantagem
-
cone em progressão, vários autores defendem que todos os
Fig. 6 | Segmentos de anel intraestromais.

16 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia


Queratocone: Diagnóstico e Terapêutica

este tratamento. Wollensak et al demonstrou que, no seu são substituídas apenas as camadas epitelial, Bowman e
grupo de doentes com queratocone, o crosslinking realizado estroma, com preservação do endotélio e descemet do recep-
isoladamente resultou numa redução média de 2.01D do tor. Esta é uma das grandes vantagens relacionadas com o
Kmédio.9,10 O crosslinking pode ser conjugado com a colo- DALK, visto que resulta numa ausência de risco de rejeição
cação de segmentos de anel intraestromais parecendo haver
uma acção sinérgica na redução dos valores da queratome- penetrante.22,25,26,27 Para além disso, parece haver também
tria e na estabilização da progressão da doença.19,20 A téc- um risco menor de falência endotelial a longo prazo, com-
parativamente a esta última técnica. O facto de não haver
durante cerca de 30 minutos, após desepitelização da cór- entrada no globo ocular faz com que os riscos decorrentes
nea, seguida da aplicação de uma fonte de radiação UVA 3 de qualquer intervenção intraocular, como a endoftalmite e
mW/cm2 durante mais 30 minutos (protocolo Dresden). A o descolamento de retina, estejam virtualmente ausentes no
córnea deve ter uma espessura superior a 400 micras antes DALK. Tendo em conta estas vantagens, e sendo os resul-
da aplicação da radiação para reduzir o risco de lesão endo- tados visuais e refractivos semelhantes à queratoplastia
penetrante, percebe-se porque é que o DALK tem vindo a
ser uma técnica cada vez mais considerada na abordagem
intraestromal, levando a córnea para valores de paquimetria ao doente com queratocone. A principal desvantagem deste
seguros para este procedimento. É um procedimento apa-
rentemente seguro, com perda ligeira de acuidade visual relativamente frequente a necessidade de conversão para
demonstrada em apenas 1 a 3% dos casos.17,18,21 As desvan- queratoplastia penetrante por entrada inadvertida na câmara
tagens principais são o tempo cirúrgico relativamente ele- anterior. Para além disso, para que os resultados sejam
bons, é necessário que o endotélio e a descemet do doente
álgicas no pós-operatório provocadas pela desepitelização -
da córnea. Têm surgido várias técnicas e protocolos que cia. As principais complicações pós-operatórias, embora
tentam obviar estes problemas. Vários autores têm testado
alternativas à desepitelização, procurando realizar o proce-
dimento com epitélio intacto (Crosslinking transepitelial). Na abordagem ao doente com queratocone o DALK tem-se
Estas alternativas variam desde a aplicação de micropun- revelado uma alternativa à queratoplastia penetrante pelo
ções epiteliais à colocação de fármacos que potencialmente
-
Numa
12,13,14,15
tante avançados, em que haja certeza da integridade e trans-
tentativa de reduzir o tempo cirúrgico, têm sido testados parência endotelial e da membrana descemet.23 As técnicas
novos protocolos em que é aplicada uma radiação mais mais utilizadas são a de Anwar e de Melles, parecendo ter
resultados visuais e refractivos semelhantes.28
cm2 durante 3 minutos – Avedro KXL®), sendo distribuída
à córnea a mesma energia que no protocolo standard (5.4 J/
cm2). A utilidade do crosslinking na abordagem terapêutica
ao queratocone ainda se encontra em fase de estudo e aná-
lise, mas parece tratar-se de uma boa opção principalmente Este é um procedimento realizado há mais de 50 anos
na estabilização da doença, podendo funcionar como ponte e que consiste na substituição de toda a espessura da cór-
para abordagens mais agressivas que podem assim ser retar-
dadas ou mesmo evitadas. No queratocone é considerada uma cirurgia potencialmente
curativa, mas geralmente está reservada como última abor-
dagem devido às suas potenciais complicações graves. Está
DALK indicada nos queratocones avançados, geralmente com opa-

A queratoplastia lamelar anterior profunda (DALK) possíveis outras abordagens mais conservadoras. Está tam-
consiste na substituição parcial de tecido querático anor- bém indicada nas hidrópsias agudas que não resolvam em
mal por tecido de dador saudável. Nesta cirurgia populari- 3 meses com tratamento conservador. Para a queratoplastia
zada por Anwar em 1999 com a técnica de injecção de ar penetrante é particularmente importante uma rigorosa ava-
(Big Bubble) para dissecção da interface estroma/descemet, liação pré-operatória e um apertado seguimento no período

Vol. 37 - Nº 1 - Janeiro-Março 2013 | 17


Hugo Mesquita Nogueira, José Maia Seco

artigos que avaliam os possíveis parâmetros clínicos e topo-

mais importante nesta área fornecendo informações que,


conjugadas com a clínica, permitem ao médico Oftalmolo-
gista a construção de um grau de suspeição bastante preciso
para o diagnóstico do queratocone. Como a abordagem do
médico não termina com o diagnóstico da doença, têm sido
estudadas várias alternativas terapêuticas para estes doen-
-
dos, é transversal a noção de que a abordagem terapêutica
aplicada aos doentes com queratocone deve ter um trajecto
progressivo, em escalada, inicialmente mais conservadora,
Fig. 7 | Pós-operatório da Queratoplastia Penetrante. e posteriormente mais agressiva. Apesar dos últimos anos
se terem revelado bastante profícuos na investigação cien-
-

inerentes a esta intervenção. As complicações oftalmológi- surjam novas técnicas e procedimentos, permitindo uma
cas principais são a hemorragia supracoroideia, a falência -
-
a endoftalmite e as rejeições epitelial, estromal ou endo- sional dos doentes com queratocone.
telial (até 30% dos casos). O astigmatismo pós-operatório
é geralmente elevado, com uma média de 5 a 6 dioptrias,
-
gião.22,23 Na escalada da decisão terapêutica do querato-

último recurso. Com o advento do LASER fentosegundo, 1. Yaron S. Rabinowitz, MD; Keratoconus Major Review;
que pela sua precisão de corte permite a obtenção de um Survey of Ophthalmology Volume 42, number 4,
melhor resultado visual e refractivo pós-operatório, asso- January-February 1998.
- 2. Charles W. McMonnies, MSc; Mechanisms of Rub-
pêutica das complicações associadas a esta cirurgia, é de bing-Related Corneal Trauma in Keratoconus; Cornea
esperar que a queratoplastia penetrante continue a ter um 2009;28:607–615.
papel importante na terapêutica do queratocone. Apesar de 3. Li X, Bykhovskaya Y, Canedo AL, Haritunians T, Sis-
- covick D, Aldave AJ, Szczotka-Flynn L, Iyengar SK,
dagens anteriormente referidas, não deve ser subestimado Rotter JI, Taylor KD, Rabinowitz YS; Genetic asso-
o potencial curativo da queratoplastia penetrante no trata- ciation of COL5A1 variants in keratoconus patients
mento do queratocone. -
ning and keratoconus; Invest Ophthalmol Vis Sci. 2013
Mar 19. pii: iovs.13-1160.
4. Ugo de Sanctis, MD, PhD,1 Carlotta Loiacono, MD,1
Lorenzo Richiardi, MD, PhD,2 Davide Turco,1 Ber-
- nardo Mutani, MD,1 Federico M. Grignolo, MD, PhD1;
nológica abrangendo todas as áreas da Oftalmologia. Esta -
evolução tem permitido o diagnóstico mais preciso e pre- tion Measured by Pentacam in Discriminating Kera-
coce de múltiplas patologias, entre elas o queratocone. A toconus vs. Subclinical Keratoconus; Ophthalmology
importância do seu diagnóstico precoce surge particular- 2008;115:1534–1539.
mente com o aparecimento do LASIK, já que se percebeu 5. Xiaohui Li, MD, MS, Huiying Yang, MD, PhD, Yaron
que constitui uma contra-indicação absoluta para a sua
realização. Como tal, têm vindo a ser publicados múltiplos scheme based on videokeratography and clinical signs;

18 | Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia


Queratocone: Diagnóstico e Terapêutica

J Cataract Refract Surg 2009; 35:1597–1603 Q 2009


ASCRS and ESCRS.
6. Tracy Swartz, Lisa Marten and Ming Wang; Measuring Opin Drug Saf 2010;9:949 –957.
the cornea: the latest developments in corneal topogra-
phy; Curr Opin Ophthalmol 18:325–333. ß 2007 Lip-
pincott Williams & Wilkins. channel for combined collagen crosslinking and intras-
7. Leonardo Torquetti, MD, PhD, Rodrigo Fabri Berbel, tromal corneal ring segment implantation; J Cataract
MD, Paulo Ferrara, MD, PhD; Long-term follow-up Refract Surg 2012; 38:878–883 Q 2012 ASCRS and
of intrastromal corneal ring segments in keratoconus; ESCRS.
J Cataract Refract Surg 2009; 35:1768–1773 Q 2009 20. Colin C.K. Chan, MD, FRANZCO, Munish Sharma,
ASCRS and ESCRS.
8. Aylin Ertan et al; Intracorneal ring segments for kera- inferior-segment Intacs with and without C3-R on kera-
toconus; J Cataract Refract Surg 2007; 33:75–80 Q
585-591. 2007 ASCRS and ESCRS.
9. Tobias Koller, MD, Michael Mrochen, PhD, Theo 21. Vinciguerra P, Albé E, Frueh BE, Trazza S, Epstein D.
Seiler, MD, PhD; Complication and failure rates after Two year corneal cross-linking results in patients youn-
corneal crosslinking; J Cataract Refract Surg 2009; ger than 18 years with documented progressive kerato-
35:1358–1362 Q 2009 ASCRS and ESCRS. conus. Am J Ophthalmol 2012;154(3):520–526.
10. Gregor Wollensak; Crosslinking treatment of progres- 22. Han DC, Mehta JS, Por YM, Htoon HM, Tan DT.;
sive keratoconus: new hope; Curr Opin Ophthalmol Comparison of outcomes of lamellar keratoplasty and
17:356–360. ß 2006 Lippincott Williams & Wilkins. penetrating keratoplasty in keratoconus.; Am J Ophthal-
11. Donald T.H. Tan and Yong-Ming Por; Current treat- mol. 2009 Nov;148(5):744-751.
ment options for corneal ectasia; Curr Opin Ophthalmol 23. Cassidy D, Beltz J, Jhanji V, Loughnan MS; Recent
18:284–289. ß 2007 Lippincott Williams & Wilkins. advances in corneal transplantation for keratoconus;
12. Kissner A, Spoerl E, Jung R, Spekl K, Pillunat LE,
- 24. Shigeto Shimmura and Kazuo Tsubota; Deep anterior
thelial permeability by benzalkonium chloride in UVA/ lamellar keratoplasty; Curr Opin Ophthalmol 17:349–
355. ß 2006 Lippincott Williams & Wilkins.
Res. 2010 Aug;35(8):715-21. 25. Feizi S, Javadi MA, Rezaei Kanavi M.; Recurrent
13. Morrison PW, Connon CJ, Khutoryanskiy VV.; Cyclo- keratoconus in a corneal graft after deep anterior
- lamellar keratoplasty.; J Ophthalmic Vis Res. 2012
lity and corneal permeability.; Mol Pharm. 2013 Feb Oct;7(4):328-31.
4;10(2):756-62. 26. Mashor RS, Rootman DB, Bahar I, Singal N, Slomovic
- AR, Rootman DS.; Outcomes of deep anterior lamellar
thelial corneal collagen crosslinking; J Cataract Refract keratoplasty versus intralase enabled penetrating kera-
Surg. 2012 Jul;38(7). toplasty in keratoconus; Can J Ophthalmol. 2011 Oct;
46(5):403-7.
27. Watson SL, Ramsay A, Dart JK, Bunce C, Craig E.;
Curr Eye Res. 2012 Mar;37(3):234-8. Comparison of deep lamellar keratoplasty and penetra-
16. Alió Jorge; Corneal Higher Order Aberrations: A ting keratoplasty in patients with keratoconus; Ophthal-
Method to Grade Keratoconus. J Refract Surg. Vol. 22, mology. 2004 Sep;111(9):1676-82.
No. 6, June 2006. -
17. Eberhard Spoerl, PhD, Michael Mrochen, PhD, David diari H, Karimian F.; Anwar versus Melles deep ante-
Sliney, PhD, Stephen Trokel, MD, and Theo Seiler, rior lamellar keratoplasty for keratoconus: a prospec-
tive randomized clinical trial.; Ophthalmology. 2013
the Cornea; Cornea 2007;26:385–389. Feb;120(2):252-9.

Vol. 37 - Nº 1 - Janeiro-Março 2013 | 19

Vous aimerez peut-être aussi