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Quanto cobra uma Doula?

MATEUS CLOVIS·TERÇA-FEIRA, 24 DE MAIO DE 2016

1. APRESENTAÇÃO

Olá, sou Mateus Clóvis e acredito que somente duas informações sobre a minha pessoa são
necessárias neste momento para minha apresentação: sou contador e ativista pela humaniza-
ção do parto e do nascimento. Toda vez que vejo uma questão que envolve dinheiro, vou logo
fazendo cálculos. Sendo ativista, posso afirmar que tenho conhecimento sobre a abordagem
que faço em relação à atividade desempenhada pela Doula.

2. MOTIVAÇÃO DO TEXTO

Com alguns anos de ativismo pela humanização do parto e do nascimento, sempre ouvi ab-
surdos sem fundamentos sobre o valor cobrado pelo acompanhamento especializado da Doula
às gestantes/parturientes/puérperas. Tais falácias sempre me incomodaram, porque se tratam
de mais uma das inúmeras mentiras contadas quando o assunto é Doula.

Não é que não podemos perguntar sobre o valor cobrado, afinal, é um serviço prestado como
qualquer outro, cuja precificação se dá pela relação de mercado entre oferta e demanda, que
considera a restrição orçamentária que a pessoa que contrata possui, além do nível de rele-
vância que a contratante atribui em ter uma Doula. Contudo, o que não pode acontecer é criar
uma celeuma totalmente desnecessária por conta disso.

Tenho ciência de conjecturas em relação à Doula, como: cobram 5 mil só para segurar a mão
da parturiente, são mercenárias, ganham mais que médicos, ganham mais que enfermeiros,
ganham mais que técnicos de enfermagem, é muito dinheiro e isso é um absurdo, etc... etc...
etc... (e nunca tem um ponto final!).

É estarrecedor saber que um trabalho tão relevante, respaldado por evidências científicas só-
lidas, demandado pelas mulheres, indicado por médicos e enfermeiras obstetras humanizados
(que prestam assistência baseada em evidências), recomendado pela Organização Mundial de
Saúde e pelo Ministério da Saúde, sofre tanta resistência em ambiente hospitalar, também
(entre outros motivos) pelos devaneios em relação ao valor cobrado pela Doula mediante o
serviço prestado. A atuação da Doula acaba não sendo compreendida em sua plenitude pelos
críticos que, na maioria das vezes, nunca estiveram num parto com presença de Doula.
Diante disso, resolvi trazer esclarecimentos sobre este assunto para que, talvez, essa rusga
possa ser encerrada de uma vez por todas. Porém, como tentar precificar ou fazer juízo de
valor pelo serviço cobrado, sem ter ideia de como se dá a prestação de serviço? Então, vamos
falar sobre a Doula e depois sobre a precificação.

Informo que estou aberto para realizar esclarecimentos e reflexões sobre o texto.

3. COMPARAR PARA ILUSTRAR

Para poder seguir uma linha de raciocínio e tentar explicar de uma forma bem didática, vou
utilizar a estratégia de comparar a ocupação da Doula que acompanha a mulher com a ocupa-
ção de um Acompanhante Cuidador de Paciente – ACP.

4. CARACTERIZANDO A DOULA E O ACOMPANHANTE CUIDADOR DE PACI-


ENTE

Vale esclarecer que a caracterização da Doula aqui apresentada não tem como objetivo limitar
os diversos tipos de Doulas, mas desenhar o perfil no qual o cálculo de remuneração irá se
basear. Acredito que contemple a maioria!

4.1. Quem pode ser Doula?

Qualquer mulher maior de idade que tenha interesse em contribuir para um dos momentos
mais sublimes da vida de uma mulher, o nascimento de um filho. Não é necessário ter curso
superior ou ser profissional da área da saúde. O trabalho exige uma carga pesada de dedicação
de tempo, leitura e estudo autônomo, pois parte do trabalho exige troca e fornecimento de
informação fidedigna e baseada em evidências científicas sólidas.

4.2. Quem pode ser acompanhante cuidador do paciente?

Qualquer pessoa maior de idade que tenha interesse em cuidar de pacientes em ambiente do-
miciliar ou hospitalar, que podem ou não estar acamados e que demandam cuidados dos mais
diversos tipos. Não é necessário ter curso superior ou ser profissional da saúde.

4.3. A profissão é regulamentada?

Não existe um conselho de classe que regulamente ou represente as Doulas e nem os ACPs.
Em algumas localidades existem associações que buscam congregar os profissionais.
Com relação às Doulas, acredito que, num futuro próximo, irão se organizar a ponto de terem
um órgão representativo de classe, mas considerando que a profissão é relativamente nova no
Brasil, há um chão a ser percorrido até que isso aconteça.

A preocupação com a regulamentação das Doulas por parte de médicos, enfermeiros e insti-
tuições de saúde é completamente desnecessária e não possui caráter de urgência. Na maioria
das vezes, ocorre pelo medo de ter alguém desconhecido em ambiente hospitalar, que supos-
tamente estaria responsável pelos cuidados com a mulher. Porém, a grande questão é que,
assim como o ACP, a Doula é uma espécie de acompanhante de parto que não tem qualquer
responsabilidade técnica, dado que não realiza qualquer procedimento médico ou de enfer-
magem. E a questão do desconhecimento é facilmente resolvida por um cadastro institucional.

4.4. O conteúdo na formação é regulamentado/padronizado?

O conteúdo da formação é bem diversificado em ambas as ocupações (Doula e ACP), po-


dendo variar conforme a instituição que os capacita.

No caso do curso de Doula, existem conteúdos básicos que tendem a ser discutidos, como: o
cuidado com a parturiente, noções de fisiologia e anatomia, recomendações dos organismos
de saúde, história e atuação da Doula, relação da Doula com a gestante e a família, código de
ética e normas de conduta, atuação no pré-parto, parto e pós-parto, modelos de assistência
obstétrica no Brasil e no mundo, assistência ao parto baseada em evidências científicas, téc-
nicas não farmacológicas de alívio à dor, tipos de intervenções no parto, indicações de cesa-
riana, condutas em ambiente hospitalar, respeito à autonomia da mulher, etc.

Doulas e ACPs não finalizam a formação num curso de curta duração (seja qual for a carga
horária). A busca por capacitação e atualização de conhecimentos exige periodicidade e mul-
tidisciplinariedade, uma vez que o cuidado, seja para o parto ou para um paciente com outras
demandas, exige do profissional que o acompanha uma visão holística e sistêmica para estar
à disposição de outro ser humano.

Você perceberá que a Doula é uma acompanhante de parto treinada ou especializada, con-
forme definição endossada pelo Ministério da Saúde, que pode atuar em ambiente hospitalar
ou domiciliar. Do mesmo modo, o ACP é treinado para acompanhar e realizar cuidados com
o paciente, seja em ambiente hospitalar ou domiciliar.
5. ATRIBUIÇÕES/ATUAÇÃO DA DOULA E DO ACP

5.1. Como é a atuação da Doula?

A Doula está presente na vida da mulher desde a gestação, passando pelo trabalho de parto,
parto e pós-parto, fornecendo apoio informacional, emocional e físico.

5.1.1. Quando as mulheres procuram a Doula? É possível traçar um perfil des-


sas mulheres?

A busca pelo trabalho da Doula tem acontecido cada vez mais próxima do início da gestação.
Existem mulheres que mesmo antes de engravidar já possuem afinidade com uma Doula.

Para a realização do cálculo sobre os valores cobrados pela Doula, é necessário estabelecer
um tempo de prestação de serviços. Estimo que, na maioria dos casos, o acompanhamento se
dá durante aproximadamente 10 meses, perfazendo o 2º mês de gestação até o fim do primeiro
mês de puerpério.

Na tentativa (talvez fracassada) de traçar um perfil, afirmo que a maioria das mulheres que
procuram a Doula sabem que querem parir, porém, precisam se preparar e não sabem como
fazê-lo ou querem otimizar tempo de preparação, tendo um apoio contínuo de quem se dedica
a auxiliar mulheres nesta situação e que pode ter conhecimento mais profundo sobre o as-
sunto. Vale ressaltar que Doula não obriga (nem faz a cabeça de) nenhuma mulher para ter
parto normal. Se isso acontecesse, feriria o primeiro princípio da humanização, que é a auto-
nomia da mulher.

É aconselhável que a mulher procure várias Doulas, faça uma entrevista sem compromisso,
para ver com qual ela terá mais empatia e vice-versa, afinal, a Doula será a pessoa que verá a
mulher em seu instinto mais primitivo, pelo avesso, com coragens e medos inerentes a uma
gestação, parto e pós-parto.

Ainda sobre o perfil da mulher, vale ressaltar que a busca pelo acompanhamento da Doula
ocorre devido a alguns aspectos subestimados por muitas pessoas:

a) Pressão familiar e social quando a mulher escolhe parir: (i) muitas mulheres precisam
superar desafios como serem chamadas de loucas/índias; (ii) há um tabu cultural em relação
ao ato de parir; (iii) há dificuldade de encontrar equipe assistencial que respeite o seu prota-
gonismo; (iv) a família teme que ela sofra no parto e não apoia; (v) o companheiro não apoia,
algumas vezes, por questões machistas e falta de conhecimento; (vi) há o medo do desconhe-
cido; entre outras questões não citadas.

b) Pressão após o nascimento do bebê: (i) a maioria das mulheres passam por dificuldades
na amamentação; (ii) são atormentadas para dar chá para cólica, bico para calar a boca, não
amamentar sob livre demanda, deixar o bebê chorando no berço para não ficar mimado; (iii)
são acusadas de não produzirem leite e que o leite não sustenta; (iv) tristezas do pós-parto;
(v) primeiros cuidados com o recém-nascido; entre outras dificuldades do puerpério que de-
mandam apoio para que ela consiga seguir com seu propósito.

Considerando as demandas apresentadas, um perfil não muito comum de mulher que procura
a Doula é aquela que, mesmo tendo decidido por uma cesariana eletiva, quer informações que
não estão relacionadas com a via de nascimento. Algumas podem até querer para poderem
confirmar sua escolha, afinal, estamos falando de um processo de escolha livre e informada.
Nesses casos, a Doula tende a contribuir mais em assuntos do pós-parto e de cuidados com o
bebê, assim como alguns medos durante a gestação. Mas a atuação da Doula nestes casos é
bastante restrita, uma vez que não haverá parto normal. Atenção, pois não estou falando dos
casos de cesariana intraparto, que é uma outra discussão que, na maioria das vezes, a mulher
demanda a presença da Doula como um grande apoio emocional!

Em todas estas etapas, a mulher conta com o apoio da Doula, que está integralmente disponí-
vel para ajudá-la a superar os desafios.

5.1.2. Doula na gestação

Nesta etapa inicial, a Doula faz um trabalho informacional e de preparação com a mulher e o
acompanhante. São fornecidos diversos materiais para leitura, vídeos, textos técnicos que uti-
lizam artigos científicos como fonte ou os próprios artigos na íntegra.

Em qualquer momento a mulher pode acionar a Doula para trocar ideias e tirar dúvidas. É
também durante este período que a Doula é acionada como um grande apoio para superação
dos desafios apresentados no item 5.1.1.a sobre as dificuldades durante a gestação.

Faz parte da preparação da mulher e do acompanhante uma aula introdutória de fisiologia do


parto, para que possam ter ciência do que provavelmente acontecerá com o corpo no momento
do parto. Também são reforçadas as intervenções que podem ser necessárias durante o parto,
assim como as reais necessidades de cesariana (conforme literatura científica vigente) uma
vez que a cirurgia pode ser necessária e salvará a vida do binômio mãe-bebê.
A comunicação entre a gestante e sua Doula se dá pelos diversos meios existentes atualmente
(com disponibilidade integral) e com visitas presenciais agendadas.

5.1.3. Doula no parto

Sempre que a mulher sente algo diferente no seu corpo, costuma entrar em contato com a
Doula para compartilhar o ocorrido. Isso é normal, principalmente na primeira gestação, em
que tudo é novo. Acontece que algumas vezes ela está em pródromos (e não em trabalho de
parto), pode perder o tampão e ele se refazer (ou não), mas ambas ficam de sobreaviso como
um sinal de que a hora do parto esteja chegando.

Sem a devida informação, a mulher tenderia a se descolar para um serviço de saúde precoce-
mente e até desnecessariamente, o que contribui para a sobrecarga do sistema, devido ao
“alarme falso”, de algo que é normal e fisiológico para a fase da gestação em que ela se en-
contra. Vale ressaltar que não estou afirmando que a Doula faz uma avaliação clínica da mu-
lher que pode estar entrando em trabalho de parto, mas apenas exemplificando casos em que
a mulher, inclusive, seria mandada para casa por não estar em trabalho de parto e que qualquer
pessoa com o mínimo de informação sobre fisiologia do parto compreenderia o que está acon-
tecendo.

Quando a mulher entra em trabalho de parto, a Doula vai ao seu encontro ao ser demandada.
Neste momento inicia o trabalho de utilização de técnicas não farmacológicas de alívio à dor.
A mulher estabelece contato com o profissional que a acompanhou no pré-natal, independente
de ter escolhido parir com ela ou com plantonista, para que possa receber orientações técnicas
necessárias e deixa-lo ciente caso seja necessário (por exemplo uma avaliação em caso de
trabalho de parto “prolongado”, ou porque a bolsa estourou há X horas e precisa ir para o
hospital, etc.). Nenhuma avaliação ou procedimento médico ou de enfermagem é feito pela
Doula, mesmo que ela seja uma enfermeira obstetra, uma vez que ela está naquele cenário
como Doula e não assumindo tecnicamente o trabalho de parto ou parto.

Ao irem para o hospital, no trabalho de parto e parto, a Doula continua no papel fundamental
de utilizar técnicas não farmacológicas para alívio da dor. Isso contribui significativamente
para redução do efeito cíclico medo-tensão-dor, que pode atrapalhar o trabalho de parto.

A Doula está no cenário para auxiliar a mulher. Numa assistência adequada ao parto e nasci-
mento, a mulher pode caminhar, usar bola de pilates, ir ao chuveiro tomar ducha quente,
receber massagens, alimentar-se, ouvir música, acocorar-se, adotar a posição que desejar, gri-
tar e em todos esses momentos a Doula está ali para ajudar com o apoio físico e emocional.

Em caso de indicação de cesariana intraparto, a Doula está no cenário para apoiar a mulher
que, mesmo sabendo das chances de ser necessária a cirurgia, pode não saber lidar bem com
isso e demanda apoio emocional.

Vale ressaltar que, na maioria das vezes, quando há uma cesariana a atenção fica toda para a
criança após o nascimento, o acompanhante vai para o berçário (quando é protocolo do hos-
pital) ou para o local onde o bebê está recebendo os cuidados (quando o protocolo não permite
que seja realizado perto da mãe). A mãe fica sozinha com a equipe que na maioria das vezes
é composta por maioria de pessoas desconhecidas. Ao ir para a sala de recuperação, antes de
ir para o quarto ou enfermaria, a mãe tende a ficar sozinha. Já ouvi tristes relatos de sentimento
de solidão e a presença da Doula pode ser demanda nestes casos para reduzir o sentimento.

5.1.4. Doula no pós parto

Os desafios apresentados no item 5.1.1.b podem ser superados mais facilmente com o auxílio
da Doula. Os primeiros cuidados com o recém-nascido podem ser difíceis para a mulher,
ainda mais quando é primípara, além das próprias dificuldades inerentes ao puerpério.

Normalmente esse acompanhamento é realizado durante o primeiro mês, sempre que deman-
dado pela parturiente, através dos diversos meios de comunicação e visita presencial.

5.1.5. Doula realiza procedimento médico ou de enfermagem?

Em hipótese alguma a Doula realiza qualquer procedimento médico ou de enfermagem, seja


no período em que a mulher está em casa, seja no período em que a mulher foi para o hospital.
Isso implica não avaliar batimento cardíaco fetal, não fazer exame de toque, não alterar a
dosagem da ocitocina, não interferir na conduta da equipe que está assistindo o parto, etc.

Mesmo sendo enfermeira, enfermeira obstetra ou até mesmo médica, se a acompanhante está
no cenário no papel de Doula, não é responsável técnica pelo parto, portanto, não há o que se
falar em fazer procedimento.

Ainda que a equipe assistencial esteja fazendo procedimentos de rotina considerados desne-
cessários sob o ponto de vista científico, desatualizados, extremamente invasivos ou condutas
chamadas atualmente de violência obstétrica, a Doula não pode interferir. E aqui é preciso
esclarecer, não só para profissionais da saúde, como para mulheres que pretendem ser acom-
panhadas, que Doula não é guardiã da mulher que a salvará de violência na assistência obs-
tétrica.

Mesmo que a Doula seja contratada pelo hospital, sendo ou não profissional da saúde, ela não
poderá realizar qualquer procedimento médico ou de enfermagem.

O mesmo vale para quando a Doula está com a mulher em casa, enquanto as contrações estão
irregulares e espaçadas e não há necessidade de se deslocar para o hospital. Se a profissional
de saúde, por exemplo a enfermeira, está no cenário como Doula, não poderá fazer nenhum
procedimento.

5.2. Como é a atuação do ACP? Ele realiza procedimento médico ou de en-


fermagem?

O Acompanhante Cuidador de Paciente, assim como a Doula, não realiza qualquer procedi-
mento técnico ou de enfermagem. Seu acompanhamento, na maioria das vezes, se limita a
auxiliar na alimentação, higiene pessoal, atividades que demandam locomoção, promovem
interface entre o paciente e a equipe hospitalar, etc.

5.3. Toda mulher precisa de uma Doula?

Definitivamente não! Cada mulher possui um conjunto específico e particular de demandas.

Uma vez, refletindo sobre a contribuição da Doula para a etapa de preparação e empodera-
mento para o parto, veio à minha mente a seguinte frase: a plenitude do trabalho informaci-
onal da Doula, que consiste em auxiliar na preparação da mulher, não está em fazer da
gestante sua dependente, mas contribuir para que ela seja tão autônoma e protagonista do
seu parto, que a Doula será só mais um dos recursos que à sua disposição.

Estou falando de um nível de empoderamento, autonomia e protagonismo que quando a mu-


lher expressa “sem minha Doula eu não teria conseguido”, o que ela coloca em suas palavras
é a força da gratidão pela contribuição do trabalho da Doula e não a dependência da pessoa
da Doula. Isso é profundo e precisa ser entendido.
6. DESAFIOS COMPARADOS

6.1. Agendamento de horário

A profissão de Doula possui a mesma disponibilidade integral que a de um médico ou enfer-


meira obstetra que assiste parto vaginal. Normalmente a Doula é a primeira a chegar e a última
a sair do cenário.

O exercício desta atividade exige muita renúncia pessoal inerente a qualquer profissional
deste ramo. Podemos citar como exemplo a profissional que ingere bebida alcoólica para o
lazer e que adota a prudente postura de suspender o consumo assim que a gestante entra no
período a termo. A confirmação de presença em eventos sociais e familiares é sempre condi-
cional a não ter parto. Isso implica também restringir o passeio de fim de semana a um deter-
minado raio de distância e nunca ir para um local sem os meios tecnológicos de comunicação
(mínimo sinal de celular e internet). Não existe horário programado, pois qualquer momento
a mulher pode entrar em trabalho de parto e esteja a Doula onde estiver, deverá ir ao encontro
da mulher quando solicitada. Um parto não tem dia e nem hora para começar, como também
não tem hora para acabar.

Um ACP poderá programar os dias e turnos que deseja trabalhar, de modo que tende a não
haver imprevistos dessa natureza descrita para o caso da Doula.

6.2. Recepção da equipe hospitalar

Um tema delicado é a recepção da equipe hospitalar.

Em geral, um ACP tende a ter uma ótima recepção por toda a equipe e é visto como alguém
que pode aliviar o volume de alguns serviços não técnicos (como o caso de vigilância, virar
na cama, suspender o encosto do leito, etc.).

No caso da Doula, quando a equipe já entende, respeita e vê benefícios no trabalho, que já


foram comprovados pelas evidências científicas, a recepção é calorosa. Sei de médicos que já
usaram frases como: “se a Doula é boa para parturiente, melhor ainda para o médico”. Isso
acontece porque a mulher tende a se comportar de uma forma mais tranquila, ativa e tende a
estar mais preparada para todo o processo ao qual está se submetendo, em especial no que
tange ao tempo de trabalho de parto e a forma de lidar com a dor.

Quando o trabalho da Doula ainda não é compreendido pela equipe, infelizmente há hostili-
dade no ambiente na maioria das vezes, o que acaba gerando desconforto para ambas as
partes. Os profissionais tendem a pensar que a Doula está ali para vigiá-los, principalmente
por causa da polêmica violência na assistência. Estratégias para impedimento da presença da
Doula tendem a ser adotadas. Já soube de profissionais que deixaram claro, falando em alto e
bom som para toda a equipe que “se vier com Doula, levo para o bloco e acabo com a festa”
(se referindo a indicar cesariana). Existem profissionais que acham que a Doula que chegou
no hospital com uma gestante com 14-16 horas de bolsa rota (protocolo para profilaxia que
pode variar), é porque tentou um parto domiciliar e desistiu. Enfim, fato é que práticas hostis
e preconceitos existem.

Mas se esse é o preço a pagar para que a mulher possa ter o benefício de uma Doula, elas
estão dispostas, afinal, é preciso um chamado vocacional e não é qualquer coisa que irá abalar
ou impedir o trabalho que também é uma missão para com a outra mulher.

Espero que no dia-a-dia, experimentando o trabalho da Doula, o preconceito possa se extin-


guir definitivamente.

7. COMPARANDO A REMUNERAÇÃO DA DOULA E DO ACP

Cheguei no ponto polêmico do texto e que motivou tudo o que foi escrito até agora: a cobrança
de honorários que é vista como “injusta” por alguns profissionais da saúde.

Antes de iniciar a análise, quero lembrar e saudar as inúmeras Doulas que dedicam parte do
seu tempo ao trabalho voluntário, especialmente com mulheres carentes que vão parir no SUS.
Fazer isso não é uma questão profissional, mas de motivação pessoal.

Algumas Doulas precificam separadamente o serviço de informação e preparação na gesta-


ção, parto e pós-parto. No exemplo que será dado, a precificação será de todo o período de 10
meses que estimaremos e que acredito, por informações já obtidas, contemplar a maioria das
Doulas.

7.1. Pesquisando os preços

Após uma pesquisa rápida com algumas Doulas que atuam em várias regiões do país, foi
possível apurar que o preço comumente praticado pode variar entre R$700 a R$1.500 para
todo o período de 10 meses de acompanhamento. Farei simulações com os valores de R$1.000
e R$1.500, o que resulta em R$100 e R$150 por mês.
Atenção: isso não quer dizer que não existem aquelas que cobram menos ou mais, mas preciso
assumir um valor para realizar o cálculo.

Comparando com o ACP, em uma pesquisa com alguns conhecidos da área, estimei que é
cobrado R$120 por dia para acompanhar no turno diurno e R$150 por dia para acompanhar
no turno noturno.

Atenção: isso não quer dizer que não existe ACP que cobra menos ou mais que isso.

7.2. Quantificando a rotina de trabalho da Doula

Conforme explicado no item 5.1.1, estimei que o acompanhamento da Doula à mulher ocorre
por 10 meses, em média.

Como é subjetivo estimar as horas trabalhadas pela Doula, diante da rotina de disponibilidade
integral para tirar dúvidas via meios de comunicação, passar materiais para leitura, entre ou-
tras atividades, assumirei que a Doula realiza 1 encontro por semana com a gestante com
duração de 1 hora. Isso equivale a uma rotina de consulta para estudo em conjunto e esclare-
cimento de dúvidas. É fato que este período pode estar subestimado, contudo, será o ponto de
partida para a análise.

Além da assistência informacional e emocional prestada semanalmente durante a gestação e


o puerpério, estimei 20 horas para o trabalho de parto, que iniciam no momento em que a
mulher começa a sentir contrações do trabalho de parto, ou que a bolsa rompe, passando pelo
trabalho de parto em si e o pós-parto imediato. Fato é que este número também pode estar
subestimado, pois a Doula tende a estar envolvida com a mulher um pouco antes do trabalho
de parto (em que ela começa a sentir algumas cólicas) e após o nascimento do bebê (até que
ela esteja tranquila e segura em relação ao processo de amamentação e outras questões).

A tabela de valor unitário de 1 dia de serviço prestado demonstra o valor estimado cobrado
de encontro (Doula) e acompanhamento (ACP).
7.3. Elaborando cenários e estimando tempo e preço semanal de trabalho

Elaborei 6 cenários para podemos “brincar” com os números.

Uma Doula, geralmente, acompanha até 3 gestantes a termo dentro de um intervalo de perí-
odo. Isso quer dizer que a Doula precisa calcular uma margem de erro da DPP, uma vez que
a estimativa da data provável do parto tende a se verificar somente 4% dos casos.

Para facilitar o cálculo e entendimento, suponha que dentro de um determinado mês as DPPs
das gestantes A, B e C são para os dias 10, 20 e 30, respectivamente, respeitando a margem
de erro de 10 dias, para mais ou para menos, que a Doula irá considerar para não coincidir o
parto.

Um ACP irá trabalhar no turno diurno ou noturno. No exemplo, se ele trabalhar 8 horas,
escolherá 5 dias na semana. Se trabalhar 12 horas, escolherá trabalhar somente 3 dias na se-
mana.

Diante do preço diário apresentado no item 7.2 e dos cenários aqui apresentados, é possível
estimar o valor mensal cobrado pela Doula e pelo ACP.

Para estimar a cobrança mensal foi multiplicado o valor unitário cobrado por dia (item 7.2)
pelo número de dias trabalhados no mês. Assim o valor cobrado mensalmente é:
7.4. Igualando os períodos para análise e estimando a cobrança de 10 meses

Como o período total de acompanhamento pela Doula para cada mulher foi estimado em 10
meses, irei estimar a remuneração para o período de 10 meses (ambos profissionais) conforme
segue:

• Cenário 1: 3 gestantes pagando R$100 por mês durante 10 meses

• Cenário 2: 3 gestantes pagando R$ 150 por mês durante 10 meses

• Cenário 3: 3 pacientes por semana pagando R$ 120 por dia durante 10 meses

• Cenário 4: 5 pacientes por semana pagando R$ 120 por dia durante 10 meses

• Cenário 5: 3 pacientes por semana pagando R$ 150 por noite durante 10 meses

• Cenário 6: 5 pacientes por semana pagando R$ 150 por noite durante 10 meses
7.5. Igualando as horas trabalhadas por 10 meses

Para estimar as horas totais trabalhadas durante os 10 meses, temos:

• a) Doula atendendo 3 gestantes por semana, durante 1 hora cada, em 10 meses. Soma-se ainda
20 horas de acompanhamento conforme explicado no item 7.2 (subestimadas de trabalho de
parto e parto).

• b) ACP acompanhando 3 dias na semana, por 12 horas, durante 10 meses.

• c) ACP acompanhando 5 dias na semana, por 8 horas, durante 10 meses.


7.6. Valor cobrado pela hora da Doula comparado com acompanhante hospi-
talar de paciente

É possível observar que os valores da hora da Doula não são tão distintos dos valores cobrados
pelo acompanhante cuidador do paciente.

Se a pequena diferença na cobrança é tão relevante para você que está lendo este texto, pense
que:

• - há diferença de disponibilidade entre ambos acompanhantes, uma vez que o ACP tem ampla
possibilidade de organizar sua agenda, enquanto a Doula tem que ficar de sobreaviso a partir
do momento em que a gestante está a termo.

• - o tempo de acompanhamento durante a gestação e no pós-parto pode estar subestimado, uma


vez que varia conforme a demanda da gestante (pois a Doula está sempre disponível).

• - o tempo de acompanhamento durante o trabalho de parto e parto pode estar subestimado.


8. CONCLUSÃO

• a) Acredito que seja prudente pensar e sempre analisar este texto antes de criar ou replicar
lendas sobre a remuneração da Doula;

• b) O valor cobrado não deveria ser motivo de polêmicas, uma vez que existe uma relação
entre oferta e demanda dos serviços prestados que determina o preço;

• c) Espero que este texto tenha servido para ilustrar como é o trabalho da Doula e que ele não
se resume em “segurar a mão da mulher” e ganhar “rios de dinheiro” com isso;

• d) A remuneração da Doula equivale à remuneração do Acompanhante Cuidador de Paciente,


levando em consideração as diferentes rotinas de trabalho inerentes às demandas dos diferen-
tes acompanhados (paciente e parturiente), assim como as oportunidades de formação, limites
de atuação e perfil das pessoas que podem exercer a atividade;

• e) Espero ter realizado estimativas que representem a maioria dos casos;

• f) Independente da rotina de atendimento estipulada e da variação do período, o valor total


por mulher atendida tende a ser próximo dos utilizados nesta simulação.

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