EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 1ª VARA
DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ALTAMIRA DO ESTADO DO PARÁ
Proc. Ref. 2008.39.03.000248-0
APELADO: SELEONE CARLOS DE MOURA
APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
SELEONE CARLOS DE MOURA, já devidamente qualificado
nos autos do processo em epígrafe, por intermédio de seus advogados in fine signatários, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO, com fulcro no art. 600, caput, do Código de Processo Penal.
Requer, por fim, sejam remetidos os autos ao Egrégio Tribunal
Regional Federal da 1ª Região.
Termos em que, pede e espera deferimento.
Altamira, 17 de abril de 2019.
Cândido Lima Júnior
OAB/PA 25.926-A
Ângelo Sousa Lima
OAB/PA 26.226 CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO
Apelante: Ministério Público Federal
Apelado: Seleone de Carlos Moura
Egrégio Tribunal Regional Federal,
Colenda Turma,
Doutos Desembargadores Federais,
Excelentíssimo Senhor Relator,
A respeitável sentença prolatada pelo Ilustre Magistrado a quo
não deve ser modificada, senão para melhorar a situação do Apelado, em que pese o inconformismo manifestado pelo Apelante, pelas razões de fato e fundamentos de direito a seguir escandidos.
I – BREVE RELATO DOS FATOS
Trata-se aqui de Ação Penal em desfavor do Apelado, que foi
denunciado e processado pela suposta prática dos delitos tipificados pelo art. 149, por vinte e três vezes c/c § 2º, I, por duas vezes; do art. 297, § 4º, e do art. 203, § 1º, todos do Código Penal Brasileiro.
A denúncia teve como base Relatório de Fiscalização do
Ministério do Trabalho e Emprego após autuação ocorrida no período de 19 a 26 de outubro de 2007, que aconteceu na Fazenda Serra Dourada, situada no município de Novo Repartimento, de propriedade do Apelado. A ação de fiscalização foi realizada pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho, acompanhados de agente da Polícia Federal e de membro do Ministério Público do Trabalho, através da qual afiram que foram encontrados 23 (vinte e três) trabalhadores laborando em condições degradantes, análogas à escravidão.
Alega ainda o Ministério Público que o Apelado frustrou os
direitos trabalhistas e previdenciários assegurados aos empregados, omitindo-se do das obrigações de anotar a CTPS dos trabalhadores e em documentos contábeis que deveriam ser remetidos à Previdência Social.
Cumpre destacar que a propriedade do Apelado possui
dimensão territorial de 20 (vinte) alqueires, sendo de pequeno porte e, consequentemente, absolutamente inviável a manutenção de 23 (vinte e três) trabalhadores naquela terra.
Destaque-se que os fatos alegados pelo MPF em sede de
denúncia não se coadunam com a realidade, isto porque, conforme amplamente sustentado pelo Apelado em sua defesa, este último apenas contratou terceiro para serviço de empreita, não possuindo qualquer vínculo com os trabalhadores encontrados em sua terra.
O Ilustre Magistrado a quo, ao prolatar a sentença, em que pese
seu indiscutível saber jurídico, declarou extinta a punibilidade em relação ao delito tipificado no art. 203, § 1º do Código Penal, e condenou o Apelado pelo crime do art. 149 do CP ao quantum de 06 (seis) anos e 02 (dois) meses de reclusão e pagamento de cem dias-multa, bem como condenou-o pela crime previsto no art. 297, § 4º do CP a uma sanção de 02 (dois) anos e 06 (seis) meses de reclusão. Ocorre que, a respeitável sentença merece ser reformada, senão para absolver o acusado, no mínimo para que sejam reduzidas drasticamente às sanções impostas, já que o MM. Juiz a quo levou em conta na dosimetria causas de aumento que não deveriam incidir, bem com fixou as penas-base dos delitos imputados acima do mínimo legal, mais um erro, visto que inexistem circunstâncias judiciais ou pessoais desfavoráveis ao réu que ensejem a fixação exacerbada da pena-base.
II – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
II.a – Da possibilidade de reformatio in mellius
Insta ressaltar a possibilidade de aplicação da reformatio in
mellius em caso de recurso de apelação da acusação, notadamente em virtude de uma interpretação literal do art. 617 do Código de Processo Penal, que proíbe única e exclusivamente o agravamento da situação do acusado quando somente este tenha apelado, não mencionado o órgão acusatório.
Neste sentindo, inclusive, Tourinho Filho, com sua sapiência
costumeira, ao tratar justamente desta questão e com ampla menção à doutrina estrangeira, estabelece, in verbis:
“se o Ministério Público apela para agravar a pena,
nada obsta possa o órgão ad quem agravá-la, mantê-la, diminuí-la ou, então, absolver o réu. Se este foi condenado pelo órgão de 1º grau por uma infração e absolvido por outra, num simultaneus processus, havendo apenas recurso do Ministério Público objetivando convolar a absolvição em condenação, nada impede possa o Tribunal, entendendo que a condenação foi iníqua, proferir decisão absolutória, malgrado a regra do tantum devolutum quantum appelatum ..explica-se tal particularidade. É que o Estado, por intermédio de seu órgão oficial acusatório, que é o Ministério Público, não teria, como não tem, nenhum interesse na manutenção de uma sentença iníqua”.
Neste norte, inclusive, cumpre destacarmos a jurisprudência
pátria :
STJ-0615654) PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA DO ART. 33, § 4º, DA LEI Nº 11.343/2006. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO PARA APLICAÇÃO DE FRAÇÃO DIVERSA DO MÁXIMO. MANIFESTA ILEGALIDADE VERIFICADA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. REFORMATIO IN MELLIUS. POSSIBILIDADE. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Verificado, de plano, na decisão impugnada, ao ser restabelecida a condenação do agravado pelo crime de tráfico de drogas, que não houve a indicação de qualquer elemento concreto para a incidência da redução do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, no patamar diverso do máximo, é possível a esta Corte o redimensionamento da pena, diante da manifesta ilegalidade evidenciada, sem qualquer violação do entendimento firmado na Súmula 7/STJ. 2. Esta Corte firmou compreensão no sentido de que "é admitida a reformatio in mellius, em sede de recurso exclusivo da acusação, sendo vedada somente a reformatio in pejus". (REsp 628.971/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, DJe 12.04.2010.) 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no Recurso Especial nº 1.186.155/PR (2010/0053367-1), 5ª Turma do STJ, Rel. Ribeiro Dantas. j. 05.05.2016, DJe 18.05.2016) (grifos nossos).
STJ-040558) RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL.
RECURSO EXCLUSIVO DA ACUSAÇÃO. OCORRÊNCIA DA REFORMATIO IN MELLIUS. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE VEDAÇÃO LEGAL. 1. O art. 617 do Código de Processo Penal veda, tão somente, a reformatio in pejus, sendo admissível a reformatio in mellius na hipótese sob exame, em que o Tribunal a quo, ao julgar o recurso da acusação, reconheceu a insubsistência do conjunto probatório e absolveu o réu, com fulcro no art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal. 2. Recurso especial desprovido. (Recurso Especial nº 753396/RS (2005/0080601-2), 5ª Turma do STJ, Rel. Laurita Vaz. j. 11.04.2006, unânime, DJ 08.05.2006). Nesta senda, percebe-se que se encontra pacificada pelo Superior Tribunal de Justiça a possibilidade de aplicação do instituto da reformatio in mellius em caso de recurso da acusação, visto que inexiste vedação legal pelo Código de Processo Penal.
II.b – Da absolvição do apelado
O art. 386, V, VI e VII do Código de Processo Penal, ao elencar
as possibilidades de absolvição do acusado, estabelece, ipsis litteris, que:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na
parte dispositiva, desde que reconheça:
[...]
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a
infração penal;
[...]
VII – não existir prova suficiente para a condenação.
Nesse desiderato, no tocante às hipóteses dos incisos V e VII
supra expendidos, a absolvição do réu ocorre com base na insuficiência de provas, seja a respeito de o réu ter concorrido para o crime, seja em relação à falta de provas em geral.
Nestes incisos vigora o princípio do in dubio pro reo, que é, na
realidade, uma manifestação, no que toca à valoração da prova pelo julgador, do princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade, previsto pelo art. 5º, LVII, da Constituição Federal. No caso ora discutido, importa ressaltar que nos autos do processo em epígrafe não existem provas suficientes de que o Apelado concorreu para a infração penal, dado que a responsabilidade por quaisquer atividades ilícitas encontradas em suas terras era do empreiteiro contratado para prestar serviços.
Em que pese a denúncia ter sido oferecida única e
exclusivamente em desfavor do apelado, um erro perpetrado pelo Parquet, àquele contratou serviço de empreita de terceiro e este último era o único responsável por angariar funcionários para cumprir com a empreitada.
Nesse interim, não há que se falar em responsabilidade do
apelado, isto porque tal imputação importaria em condenar o Réu com base em responsabilidade objetiva do agente, o que não é aceito pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Lênio Streck, do alto de seu notável saber jurídico, ao tratar do
tema aqui posto, dispõe que “nenhum delito admite responsabilidade penal objetiva. Somente o caso concreto é que pode levar ao enquadramento. Direito penal não pune tabula rasa. Um Estado Democrático de Direito não convive com responsabilidade penal objetiva. O Estado jamais se exime de provar que há um bem jurídico concreto em perigo.
Destarte, imputar objetivamente responsabilidade penal ao
apelado simplesmente por ser o proprietário da terra onde foram encontrados os trabalhadores importaria em olvidarmos a presunção constitucional de inocência e passarmos a presumir culpabilidade do agente com base exclusivamente na propriedade da terra. É fundamental destacar que a natureza dos serviços a serem prestados pelos trabalhadores que atuavam nas terras do apelado, era de “roço”, ou seja, não se trata de atividade econômica que visa ao lucro, ao contrário, o apelado desembolsou alto valor monetário para contratar os serviços do empreiteiro.
Uma espécie de terceirização dos serviços, notadamente uma
modalidade muito utilizada na região, já que tratam-se de serviços temporários, sem prazo, que dependem única e exclusivamente da agilidade do empreiteiro em concluir o trabalho.
E, assim como na terceirização, é discutível a responsabilidade
trabalhista do empregador, talvez até mesmo uma responsabilidade civil. Contudo, ao entrarmos na esfera penal, não podemos admitir que subsistam condenações com base em uma objetividade que não é cabível a esta seara do direito.
O Estado, representado pelo Ministério Público Federal, não
pode presumir. Tem o dever constitucional de provar a culpabilidade do agente. E mais, a obrigação estatal se perfaz em apresentar prova cabal da existência da infração penal e da responsabilidade do réu, sem as quais não pode existir sentença condenatória.
Nesta toada, é imprescindível destacar que, in casu, não
existem nos autos do processo elementos suficientes ou provas cabais de ter o apelado cometido a infração penal, de tal maneira que sua absolvição é impositiva ao Estado, com fulcro no princípio da presunção de inocência constitucional e no art. 386, V e VII do Código de Processo Penal. II.c – Da dosimetria da pena aplicada do crime previsto no art. 149 do Código Penal
O Juízo a quo, ao analisar o conjunto probatório dos autos
epigrafados, reconheceu a materialidade e autoria do crime tipificado no art. 149, § 2º do Código Penal, que supostamente teria vitimado 23 (vinte e três) trabalhadores, sendo dois adolescentes, aplicando pena de 06 (seis) anos e 02 (dois) meses de reclusão como reprimenda.
Entretanto, percebe-se que a pena imposta pelo Juízo de 1º
Grau é injusta, exacerbada e inadequada para o caso concreto que se discute. A sentença de base dispõe da seguinte maneira:
“ [...] Em relação ao crime tipificado no art. 149 do Código
Penal, a culpabilidade, considerada como grau de reprovação à conduta praticada, é exacerbada na espécie, diante da estrutura e poder econômico do réu, quer com todo conhecimento e Poder Econômico explorou deliberadamente os trabalhadores. Não possui registro de maus antecedentes; conduta social aparentemente dentro da normalidade; a personalidade não pode ser aquilatada pelos elementos constantes dos autos; motivos e circunstâncias do crime inerentes à espécie; as consequências do crime não ultrapassam a normalidade típica; não que se falar no caso em comportamento da vítima. Assim, fixo a sua pena base em 02 (dois) anos e 09 (nove) meses de reclusão” [...]
Destarte, em que pese o acerto do Juízo a quo no que diz
respeito à maioria das circunstâncias judiciais e extrajudiciais incidentes na primeira fase de dosimetria da pena, ao analisar a culpabilidade do agente, considerada como grau de reprovação da conduta praticada, houve erro do Ilustríssimo Magistrado, devendo este ser prontamente corrigido por este Egrégio Tribunal Regional Federal. Notadamente, ao considerar a culpabilidade elevada em virtude da estrutura e Poder Econômico do apelado, o Nobre Magistrado desconsiderou a natureza do serviço prestado pelos trabalhadores.
Isto porque os trabalhadores que foram encontrados na
Fazenda de propriedade do apelado, prestavam serviço de “roço”, serviço este que não importa em exploração de atividade econômica, mas unicamente tem o caráter de manutenção da própria terra.
Através do serviço prestado o Apelado não iria auferir lucro,
justamente o contrário, teve que desembolsar grande quantia dinheiro para pagar o empreiteiro contratado para realizar o trabalho, àquele mesmo que é o verdadeiro responsável por trazer os trabalhadores para realizar serviço de sua competência.
Desta forma, em virtude de tal valoração errônea por parte do
Magistrado, acabou por majorar erradamente a pena base do apelado, de tal maneira que o erro deve ser imediatamente reparado, passando-se a considerar a culpabilidade dentro da normalidade do próprio tipo penal, fixando-se assim a pena base em 02 (dois) anos de reclusão.
A posteriori, destaque-se que o Juízo de base também não
considerou a atenuante genérica do art. 66 do Código Penal, visto que o apelado reparou o dano e cumpriu com todos os encargos trabalhistas devidos.
Neste sentido, a jurisprudência é pacífica no reconhecimento
da aplicação da atenuante genérica nestas situações, conforme vejamos:
PENAL. REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE
ESCRAVO. BENS JURÍDICOS TUTELADOS. DIGNIDADE E LIBERDADE DO TRABALHADOR. CONDIÇÕES DEGRADANTES. CRIME CONFIGURADO. FALTA DE ANOTAÇÃO EM CTPS. FALSIDADE DEMONSTRADA. PENA DE MULTA. CONCURSO FORMAL. SOMA DAS SANÇÕES. ATENUANTE GENÉRICA. RECONHECIMENTO. 1. A nova redação do art. 149 do Código Penal, ao discriminar expressamente as ações que configuram o tipo, acabou por proteger dois bens jurídicos distintos, a saber: a dignidade e a liberdade do trabalhador. O primeiro, por meio das condutas trabalho forçado, jornada exaustiva e sujeição a condições degradantes de trabalho e, o segundo, através de restrições à liberdade, seja em razão de dívida contraída, seja por meio do cerceamento de transporte, vigilância ostensiva ou retenção de documentos ou objetos pessoais. Doutrina. 2. Nesse contexto, a demonstração cabal das péssimas condições dos alojamentos e das instalações sanitárias, bem como a falta de equipamentos de proteção individual em número adequado, é suficiente para configurar o delito de redução a condição análoga à de escravo, na modalidade sujeição a condições degradantes de trabalho. 3. A emissão de vales para compra em mercado sem vínculo com o réu e sem demonstração da efetiva restrição da locomoção dos empregados em razão das dívidas contraídas subsume-se, em tese, ao tipo previsto no art. 203, § 1º, I, do Código Penal (frustração de direito assegurado por lei trabalhista). 4. Configura o delito descrito no art. 297, § 4º, do Código Penal, a falta de registro, nas respectivas carteiras de trabalho, dos contratos daqueles que prestavam serviços ao denunciado. 5. No caso de concurso formal, afigura-se imprescindível a fixação de cada uma das penas, notadamente porque as multas são aplicadas distinta e integralmente. Inteligência do art. 72 do Código Penal. 6. A circunstância de o réu ter, logo após a fiscalização, reparado, na forma do possível, o dano causado, seja quitando os débitos trabalhistas, seja firmando Termo de Ajustamento de Conduta, autoriza o reconhecimento da atenuante genérica prevista no art. 66 do Código Penal. (processo: 5001045-51.2010.404.7211 UF: SC, data da decisão: 04/09/2012; Orgão Julgador: OITAVA TURMA)
Neste sentido, aplicando-se a redução de 1/6 em virtude da
atenuante, restaria uma pena de prisão fixada em 1 (um) ano e 08 (oito) meses de reclusão.
Contudo, o Juízo a quo ainda deixou de considerar a causa de
diminuição da pena do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do Código Penal, conforme vejamos: Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
O apelado cumpriu com todos os cargos trabalhistas que lhe
foram impostos pelo Grupo de Fiscalização, VOLUNTARIAMENTE.
Importante ressaltar que a figura do arrependimento posterior
não exige espontaneidade, apenas voluntariedade, de tal sorte que o fato de o apelado ter cumprido com todos os encargos que lhe foram impostos, de forma a reparar o dano e minorar as consequências do delito, de forma voluntária, deve ser reconhecido e, consequentemente, a pena deve ser reduzida de um a dois terços, nos termos do que impõe a lei.
Destarte, em virtude de ter cumprido com absolutamente tudo
que lhe foi imposto e solicitado pelo Grupo de Fiscalização, à época, bem como pagou todos os direitos que eram devidos aos trabalhadores, ainda que não fossem de sua responsabilidade, deve incidir a diminuição de dois terços à pena imposta, resultando assim em uma pena imposta de 06 (seis) meses e 20 (vinte) dias de reclusão.
No tocante à causa de aumento de pena observada e aplicada
pelo Juízo de base, prevista no art. 149, § 2º, I do CP, mais uma vez nos deparamos com um equívoco de dosimetria, que não merece prosperar.
Importa ressaltar que os menores que foram encontrados junto
ao grupo de trabalhadores não exerciam qualquer atividade laboral, estavam apenas acompanhando seus pais e, por esta razão, não há que se falar na causa de aumento imposta, devendo esta ser desconsiderada por este Egrégio Tribunal. Desta forma, aplicando-se a causa de aumento do concurso formal, em virtude da orientação jurisprudencial de que seja adotado o critério da quantidade de infrações praticadas, deve-se majorar a pena imposta pela metade.
Desta forma, aumentando-se o quantum de 08 (oito) meses de
reclusão pela metade, teríamos como resultado uma pena final de 10 (dez) meses de reclusão para o delito tipificado pelo art. 149, caput, do Código Penal, devendo esta ser a sanção final imposta.
II.d – Da dosimetria de pena aplicada em relação ao crime do art.
297, § 4º do Código Penal
O Juízo a quo, ao analisar o conjunto probatório dos autos
epigrafados, reconheceu a materialidade e autoria do crime tipificado no art. 297, § 4º, condenado o apelado ao quantum de 02 (dois) anos e 06 (seis) meses de reclusão como reprimenda.
Contudo, percebe-se que a pena imposta pelo Juízo de 1º Grau
é injusta, exacerbada e inadequada para o caso concreto que se discute. A sentença de base dispõe da seguinte maneira:
“ Em relação ao crime tipificado no art. 297, § 4º do CP, a
culpabilidade, considerada como grau de reprovação à conduta do réu, verifico que é elevada à espécie, diante da estrutura e poder econômico do réu. Não possui registro de maus antecedentes; conduta social aparentemente dentro da normalidade; a personalidade não pode ser aquilatada pelos elementos constantes dos autos; os motivos e circunstâncias do crime são inerentes; as consequências do crime não ultrapassaram a normalidade típica; não há falar no caso concreto em comportamento da vítima”. Note-se que, na prolação da sentença pelo Douto Magistrado de primeiro grau, este considerou a culpabilidade do agente como elevada à espécie, dado o suposto poderio econômico do réu, fato este que não condiz com a realidade.
E mais, a natureza das atividades prestadas pelos
trabalhadores não era econômica, ao contrário, tratava-se apenas de “roço”, limpeza de terra, sem quaisquer ganhos lucrativos por parte do apelado.
Desta forma, não há que se falar em elevado grau de
culpabilidade, devendo-se a pena base ser fixada no mínimo legal de 02 (dois) anos de reclusão.
Nesse desiderato, embora não existam agravantes e
atenuantes, no que se refere às causas de diminuição da pena, o Juízo a quo deixou de considerar àquela prevista pelo art. 16 do Código Penal, o arrependimento posterior.
Insta ressaltar que o apelado cumpriu com todos os encargos
trabalhistas que lhe foram impostos, VOLUNTARIAMENTE, na busca de reparar o dano, mesmo não sendo responsável pelos trabalhadores que foram encontrados em sua Fazenda.
Desta forma, na forma do apregoa o dispositivo do Código
Penal, já colacionado anteriormente, deve incidir a redução de pena de dois terços, resultando assim em uma pena privativa de liberdade de 08 (oito) meses de reclusão. II.e – Do concurso material de crimes
Nesta senda, se este Egrégio Tribunal considerar que o apelado,
mediante mais de uma ação ou omissão, praticou crimes diversos, aplicariam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade cominadas, motivo pelo qual devem ser somadas as reprimendas, totalizando o quantum de 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão como sanção final imposta.
III – DA SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS
O art. 44 do Código Penal, ao tratar da substituição da pena,
estabelece que:
Art. 44. As penas restritivas de direitos são
autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior
a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta
social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
No presente caso, dado que o réu cumpre todos os requisitos
impostos por lei e, conforme já amplamente demonstrado no corpo destas contrarrazões, impõe-se a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos.
IV – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, são as presentes contrarrazões para requerer
que seja conhecido e improvido o presente recurso, devendo a sentença a quo ser reformada para MELHORAR A SITUAÇÃO DO RÉU, nos termos dispostos acima.