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TERÇA-FEIRA, 11 DE JANEIRO DE 2011

A fé dos Demónios

1. Poderá um Sacerdote ou um Bispo aconselhar em quem votar ou desaconselhar de


votar. Segundo o Cardeal Pell, que recentemente se pronunciou sobre o assunto,
qualquer um deles tem plena legitimidade de o fazer, em circunstâncias habituais, pois
qualquer um deles é cidadão, como todas as outras pessoas.

Em Maio do ano passado escrevi dois pequenos textos sobre as presidenciais[1]


nos quais sugeria que não se votasse em Cavaco Silva, em virtude das “leis”
injustas, iníquas e criminosas que promulgou, cooperando desse modo
formalmente com o mal intrínseco das mesmas e tornando-se moralmente
responsável por todos os males, previstos e imprevistos, cometidos ao abrigo
dessa mesmas “leis” [2] . Neles propunha, uma vez que os restantes candidatos
padecem do mesmo mal, uma abstenção generalizada, com um propósito
determinado. O facto de não sugerir o voto branco não se deveu somente ao
facto de ele não contar como voto expresso mas também à circunstância de me
parecer praticamente impossível persuadir um número significativo de pessoas
a saírem de casa para irem votar desse modo. Continuo pois a favorecer a
desmobilização eleitoral, pela abstenção.[3]

2. Desde então, e agora com maior frequência, tem-se advogado a escolha de


Cavaco Silva em nome do “mal menor”. Este mal dito menor é defendido
fundamentalmente por dois motivos. O primeiro consiste em pensar que Cavaco
Silva é uma garantia que muito poderá ajudar na resolução do grave crise
económica. Mutatis mutandi essa seria uma razão para votar em Hitler em vez
de Estaline, caso a eleição se disputasse entre os dois. Julgue o leitor se seria
oportuno e lícito escolher o primeiro. Eu, por mim, recusar-me-ia,
evidentemente, a votar em qualquer um deles. O segundo motivo prende-se com
a Fé. Cavaco diz que acredita em Deus e que é um católico praticante. Alegre
pelo contrário professa o ateísmo. Ora, segundo alguns sempre será melhor
eleger alguém que acredita em Deus do que quem n’ Ele não crê. Esta afirmação,
porém, parece esquecer duas coisas. A primeira prende-se com o que o Papa
Bento XVI e toda a história da Igreja têm ensinado, a saber, que os piores
inimigos da mesma se encontram dentro dela e não fora. E a segunda de que há
uma fé que é pior do que a ausência dela. Trata-se da fé dos demónios, de que
fala S. Tiago na sua Carta. O P. António Vieira, desenvolvendo este tema num
dos seus sermões acusa, num tempo dado à perseguição dos judeus, os cristãos
de serem piores do que esses nossos irmãos mais velhos, precisamente, por
terem uma fé como a dos demónios[4]. Essa fé acredita em todas as verdades
acerca de Deus, de Cristo, da Igreja, etc., mas não se conforma com a vontade de
Deus, não é operante, ignorando não só a Caridade e a Justiça mas indo mesmo
contra elas. É uma fé cadavérica, morta, aquela que não tem obras. E se as que
tem são contra o Amor e a Justiça é escabrosa, macabra, pestilencial, diabólica.
E essa fé, segundo um filósofo judeu, que era ateu e se converteu ao catolicismo,
Fabrice Hadjadj, é pior do que o ateísmo[5].
Alguém tem dúvidas, do tipo de fé que é revelado pelas leis promulgadas pelo
actual presidente da república? As árvores conhecem-se pelos seus frutos, diz o
Senhor no Evangelho.

3. Dantes, alguns manuais de moral, nos dias de hoje superados pela Encíclica O
Esplendor da Verdade, diziam que entre dois males inevitáveis devia-se
escolher o menor. Ora ninguém é obrigado a votar em qualquer um dos
candidatos pelo que não está perante uma escolha má inevitável. A verdade,
porém, é que nunca se pode escolher o mal e mesmo que alguém pense em
consciência que deve escolher entre algum deles terá de fazê-lo por um bem e
nunca por um mal.

De qualquer modo, parece-me claro que nas últimas décadas os eleitores têm
vindo a escolher de “mal menor” em “mal menor” caindo sucessivamente nos
piores males.

4. Uma vitória à primeira volta e retumbante do actual presidente-candidato


constituiria uma consagração triunfal de todas as infâmias e crueldades de que
foi cúmplice, uma sagração das políticas anti-vida, anti-família, anti-liberdade
de ensino e de educação, anti-liberdade religiosa, anti, enfim, princípios e
valores inegociáveis. Seria uma validação e premiação do maquiavelismo, da
mais baixa imoralidade do falso e pernicioso axioma de que os fins justificam os
meios. Seria uma proclamação de que tudo é permitido e nada impedido. Se
desta vez não é penalizado nem punido nas urnas quem tanto mal fez em tão
breve tempo, será imparável e irreversível, por muitos anos, a degradação e
estragação dos católicos na política.

Nuno Serras Pereira

11. 01. 2011

Cavaco e as Presidenciais e Ainda as Presidenciais


[1]

Procriação medicamente assistida (2006):


[2]

http://dre.pt/pdf1sdip/2006/07/14300/52455250.pdf
Aborto (2007):
http://dre.pt/pdf1sdip/2007/04/07500/24172418.pdf

Divórcio (2008):
http://dre.pt/pdf1sdip/2008/10/21200/0763307638.pdf
Educação sexual (2009):
http://dre.pt/pdf1sdip/2009/08/15100/0509705098.pdf
Casamento homossexual (2010):
http://dre.pt/pdf1sdip/2010/05/10500/0185301853.pdf
(Apoio do Estado aos estabelecimentos do ensino particular e cooperativo (2010):
http://dre.pt/pdf1sdip/2010/12/25001/0001300014.pdf)

[3] Nos artigos em questão explícito a finalidade de tal escolha.


[4] Num outro sermão chega a dizer que os cristãos podem ser piores do que os demónios.
[5] Vale a pena ler: Fabrice Hadjadj, La Fede Deis Demoni, ovvero il superamento dell’ ateísmo,

Marietti 1820(Casa Editrice Marietti S.p.A – Genova-Milano), Julho 2010, pp. 255

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