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FORMAÇÃO DE
PROFESSORES NA
R O
EDUCAÇÃO BÁSICA
R
P UTO
TRABALHANDO AS
LINGUAGENS
VERBAIS E
A
CORPORAIS
D O
VA
R O R
P UTO
O A
D
Juliana Bertucci Barbosa
Regina Simões
(organizadoras)
VA
FORMAÇÃO DE
R O
PROFESSORES NA
R
EDUCAÇÃO BÁSICA
P UTO
TRABALHANDO AS
LINGUAGENS
VERBAIS E
A
CORPORAIS
O
D
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
ISBN 978-85-7591-477-9
Índices para catálogo sistemático:
O R
Coleção Perspectivas e Desafios na Formação de Professores da Educação Básica
R
P UTO apopio
UFMT
A
DIREITOS RESERVADOS PARA A LÍNGUA PORTUGUESA:
© MERCADO DE LETRAS®
VR GOMIDE ME
O
Rua João da Cruz e Souza, 53
Telefax: (19) 3241-7514 – CEP 13070-116
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1a edição
OUTUBRO / 2017
IMPRESSÃO DIGITAL
IMPRESSO NO BRASIL
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Prefácio
Váldina Gonçalves da Costa
A
Apresentação
Juliana Bertucci Barbosa e Regina Simões
O
DREFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A
Carlos Francisco de Morais
O V
Arte e experiência na Educação Infantil
R
Deolinda de Jesus Freire e Carolina Freire Antunes
R
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Histórias em quadrinhos na Educação
Integral e mediação do professor
Maria Eunice Barbosa Vidal e
A
Maíra Sueco Maegava Córdula
O
D
Memórias inventadas: do menino leitor
ao mediador de leituras
Bruno Curcino Mota e Patrícia Soares Batista Teixeira
VA
A corporeidade e a expressividade
O
corporal no esporte
P UTO R
Jean Carlo Ribeiro
R
Expressões corporais e educação: os fenômenos
jogo e esporte na escola de tempo integral
Luiza Lana Gonçalves-Silva, Marcus Vinicius Simões de
A
Campos e Wagner Wey Moreira
O
D
Expressões corporais e cultura popular
a Educação Integral
Henrique Campos Freitas e Nubia Nogueira Cassiano
Sobre os autores
VA
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P UTO
O A
D
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PREFÁCIO
A
para mim, em particular quando, nesse caso, os organizadores
são amigos que se destacam como especialistas na área.
D
o convite de apresentar este livro que traz uma importante
contribuição para a área de educação. Importante porque aborda
de uma forma concreta questões da formação de professores
para a Educação Básica e também sobre as Linguagens nesse
contexto.
Em tempos que nos defrontamos com a implantação
de diversos programas, de intervenções por meio de avaliações
e outros controles governamentais, em que muitas vezes os
professores da educação básica são meros expectadores e os
professores universitários executores de propostas, destaca-
se, por oposição a esse modelo, a implantação do Programa
Mais Educação na Universidade Federal do Triângulo Mineiro
(UFTM) por meio de Cursos de Aperfeiçoamento. Esse
programa trouxe significativos resultados ora expressos por
meio de artigos, livros, materiais pedagógicos, entre outros,
tanto pelos cursistas quanto pelos professores que participaram
da organização. Este livro é um dos produtos que reflete o
quanto o curso foi significativo não só para quem cursa, como
VA
por meio de teorias e práticas e num processo de socialização.
Uma formação de professores numa perspectiva interativa da
R O
teoria com a prática e da prática com a teoria, num movimento
R
em que não só os saberes acadêmicos são necessários ou só a
P UTO
prática é que dá sentido à profissão docente. Uma formação que
busque dar sentido a prática, um sentido teórico, para que não
se torne uma simples execução de atividades propostas em que
A
se aprende fazendo, mas que tenha uma teoria que a justifique.
Há de se considerar ainda, que não se faz formação
O
sem o querer do profissional, esse desejo de ir em busca de
D
conhecimento, de trocas de experiências. A motivação é interna,
deve partir do sujeito, de sua necessidade de busca, de se
profissionalizar, pois por melhor que seja o curso, que procure
motivar as pessoas, querer depende do sujeito. Quanta formação
continuada se tem/teve nesse País! Por mais que se tente
oferecer cursos, que os professores frequentem “sem querer”, o
sentido do que está sendo feito é dado pelo sujeito que vivencia
a experiência. No andamento de um curso frequentado “sem
querer”, por exemplo, a motivação pode sim, aparecer e fazer
sentido para o sujeito ao longo do curso. Assim, dar voz, na
formação continuada, aos professores significa considerar o
sujeito diretamente nele envolvido, o que aconteceu no curso
ofertado pela UFTM com a implantação do Programa Mais
Educação, os professores cursistas se empenharam, estiveram
presentes, produziram um livro, além de vários materiais
didáticos.
Nesse sentido, a formação de professores envolvidos
diretamente no ofício de formar outras pessoas exige um olhar
VA
profissional possa contribuir para o desenvolvimento do grupo
de professores.
R
apresentadas, o que não me surpreendeu. Os textos refletem
P UTO
algumas experiências dos autores, de pessoas que fazem a
educação acontecer em diferentes espaços/níveis de ensino
e/ou formação. São capítulos que revelam originalidade de
A
seus autores na criação de novas direções para a formação
de professores da educação básica, elaborados a partir das
O
experiências vividas. Experiências entendidas no sentido
D
larossiano, como aquilo que nos passa, perpassa, acontece, e
a partir das quais se estabelecem “conversações reflexivas” e
que, com certeza, promovem conhecimentos mais substanciais,
significativos para aquele que lê. Entretanto, o leitor não
encontrará nesse livro nenhum pacote de receitas ou técnicas
para se ensinar linguagens corporais, verbais e tecnológicas,
ou ainda como trabalhar com a formação de professores.
Encontrará sérias e profundas experiências sobre formação
de professores e linguagens. É nesta linha de proposições e de
perspectivas que se situa o presente livro.
Como produto de um curso, o livro reflete as concepções
de formação continuada e linguagens das organizadoras,
bem como dos autores. Ou seja, uma formação continuada
que pressupõe a adesão pessoal dos professores, que ajude
compreender a profissão docente, que seja situada, personalizada
e em colaboração, além de, principalmente, promover a reflexão.
No contexto da linguagem – verbal, corporal e tecnológica, a
ênfase é na comunicação do pensamento, numa relação dialógica,
VA
construída e reconstruída ao longo da vida, a partir de várias
socializações as quais são permeadas pela linguagem.
R
necessidade da linguagem corporal, da relação corpo-educação
P UTO
como promotora da aprendizagem, da aprendizagem de uma
cultura e na busca por uma consciência corporal, por uma
pedagogia do movimento. Em relação à linguagem tecnológica
A
os autores defendem uma mudança na forma como se ensina,
oportunizando práticas letradas mais significativas em sala de
O
aula, por meio da Pedagogia dos Multiletramentos.
A
(Teixeira 1994)1
1. Teixeira, A. (1994). Educação não é privilégio. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ (Ori-
ginal publicado em 1957).
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apresentou dez capítulos, totalizando 290
páginas, apresentando as seguintes partes: 1 – O
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Programa Mais Educação e a Escola em Tempo
Integral. 2 – Comunicações e Expressões Verbais.
3 – Comunicações e Expressões Corporais. Na
A
contracapa do livro está escrito o que poderíamos
dizer ser o alvo de todo o projeto e da publicação
R O R
módulos. Esta obra (ISBN 978-85-62599-50-7),
denominada Mais Educação: Investigações na Educação
P UTO
Integral, foi editada pela UFTM em 2015 e organizada
pelas Professoras Doutoras Regina Simões e Juliana
Bertucci Barbosa. Contém vinte e sete capítulos, em
A
um total de 369 páginas. Recebeu a contribuição
não só dos professores pesquisadores e formadores
O
Barbosa e Regina Simões, está dividido em dezessete capítulos,
R
P UTO R
incorporando a presença dos professores pesquisadores,
formadores e tutores dos módulos, além de convidados
palestrantes como o Prof. Dr. Edson do Carmo Inforsato da
Universidade Estadual Paulista – Unesp, campus da Araraquara/
SP, Prof. Dr. João Wanderley Geraldi da Universidade Estadual
A
de Campinas – Unicamp e do Prof. Dr. Pedro Paulo Maneschy
da Universidade Federal do ABC. Todos os autores, de alguma
O
forma, contribuíram com o nosso curso.
R
A FORMAÇÃO DE
P UTO
PROFESSORES
O A
D
VA
R O R
P UTO
O A
D
VA
1
R O Que esperar como pesquisa no
R
mestrado profissional da área de Letras?1
P UTO
A
João Wanderley Geraldi
D O ... construir a experiência como uma categoria vazia, livre, como uma espécie
de interrupção, ou de quebra, ou de surpresa, como uma espécie de ponto
cego, como isso que nos acontece quando não sabemos o que nos acontece e
sobretudo como isso que, embora nos empenhemos, não podemos fazer com
que nos aconteça, porque não depende de nós, nem de nosso saber, nem de
nosso poder, nem de nossa vontade.
(Jorge Larrosa. Tremores. Escritos sobre experiência)
Introdução
VA
compreensões no futuro. É aceitar que não dominamos a
totalidade e mesmo não a dominando, não temos escapatória
R O
porque agimos no presente para o qual não temos qualquer
R
álibi. Enquanto não se pode dizer “não estou aqui”, pode-se
P UTO
dizer “não estou nem aí...”. Mas esta segunda fórmula é já uma
escolha dentre o leque de possibilidades que o horizonte visto
do presente nos oferece.
A
Por isso ele propõe a experiência como uma categoria
vazia cujos preenchimentos de sentidos somente realizamos
O
quando estamos abertos a ela, quando não somos conduzidos
D
por uma técnica ou por uma prática repetitiva, meios com que
rotinizamos a vida para evitar seus acontecimentos. Apesar
de nossos cuidados, apesar dos cuidados extremos da ordem
estabelecida para que a experiência do acontecimento jamais se
concretize, porque sua ocorrência desloca nossos modos de ser
e desmorona nossas certezas, a experiência se dá e nos ocupa por
inteiro: no amor, no êxtase diante de uma obra de arte, na falta
de fôlego depois de um filme, no espanto diante da insensatez,
na lágrima que assoma aos olhos no momento da perda, na falta
de palavras diante da vida que surge
É difícil responder,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, Severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
VA
teimosamente, se fabrica.
(João Cabral de Melo Neto)
R O R
Como recuperar e expressar estes momentos, tão nossos
P UTO
e tão profundamente marcantes? Uma experiência que não se
reduz à prática, mas que ensina para além das práticas a que
estamos submissos, enquanto homens de habitus, tal como
aparece na sociologia bourdieuana. Como fazer render e extrair
A
destes acontecimentos que nos ocorrem, que nos surpreendem
e que nos deslocam lições para outro futuro, a fim de que a
O
experiência não se desperdice e morra com o sujeito que a viveu?
D
É possível que o que “não pode fundamentar nenhuma técnica,
nenhuma prática, nenhuma metodologia; [...] que pertence aos
próprios fundamentos da vida, quando a vida treme, ou se
quebra, ou desfalece; e em que a experiência, que não sabemos o
que é, às vezes canta” (Larrosa 2014, p. 13) seja compartilhada,
seja transmitida, seja espraiada entre iguais, que não tendo
tido a experiência, passam a ter a experiência de enxergar na
experiência vivida por outrem caminhos para orientar os passos
indecisos com que trilhamos sempre o presente, condicionados
pelo passado e orientados pelo futuro?
Esta pergunta-chave que poderia orientar, visando um
futuro próximo, toda resposta que se espera seja apresentada
por um mestrando da área profissional de letras, não como
produto de um curso, disponível para o mercado de consumo
das plataformas de aulas pré-dadas e preparadas ou de materiais
didáticos aplicáveis a aulas como práticas, como técnicas, enfim
como conformadoras de rotinas, ainda que novas rotinas. Trata-
se de pensar esta resposta muito mais como resultado de uma
VA
descartar a sensibilidade em nome da racionalidade.
O enciclopedista Diderot disjunge racionalidade/
O R
sensibilidade, e descarta a sensibilidade em seu Paradoxo do
R
Comediante e nos conselhos “úteis” com que brinda os atores e
P UTO
poetas, sugerindo-lhes que abandonem o que a natureza oferece
para bem representar:
VA
contemporâneas, o esquecimento permanente desta caminhada
nos faz crer que as verdades construídas no presente sempre
R O
foram verdades e, segundo a perspectiva universalista que
R
adotamos, como se o presente fosse o fim da história, e que as
P UTO
verdades de hoje serão também verdades no futuro. No entanto,
D
mutuamente religiosos e magos, artesãos e filósofos,
engenheiros e comerciantes, matemáticos e experimentadores,
aristotélicos e neoplatônicos, místicos e racionalistas, numa
verdadeira orgia de pensamento-ação-percepção-criação.
(Denise Najmanovich. O feitiço do método)
VA
conhecimento positivo: aquela da política e aquela da pedagogia.
Freud, mais tarde, reconhecerá que a psicanálise também não se
R O
deixa reduzir à cientificidade a que estávamos habituados.
R
O segundo grande mito que nos trouxe a ciência moderna
P UTO
foi o da predição do que acontecerá, em seus raciocínios
implicativos. Tudo prever, tudo prescrever. Sempre que as condições
X ocorrem, ocorrerá Y (X Y). Esta preditibilidade na ciência é
A
produto da sua forma de construção do conhecimento: para cada
Y há uma causa (ou um conjunto de causas), independentemente
O
de qual Y se trata.
VA
terapêuticas aconselháveis dados os signos que fazem interpretar
“o não silêncio dos órgãos”, já que uma das definição tradicional
R O
de saúde é “o silêncio dos órgãos”. Embora a utilização de signos
R
tenha alterado as relações entre paciente e médico, aumentando
P UTO
o poder deste de decidir, como observou Canguilhem
D
transforman. El enfermo, al no poder diferenciar él mismo
los signo de los síntomas, se inclia a considerar natural
cualquier conducta adoptada exclusivamente en función de
los síntomas. (Canguilhem 2004, p. 29)
VA
até mesmo o objeto que estudamos pelos instrumentos que
usamos. Foi preciso que as questões ecológicas aparecessem
R O
para que a consciência da irreversibilidade começasse a emergir
R
também no senso comum.
VA
de tal modo que a conclusão final também será expressa na
mesma fórmula: “se Y, X”. O raciocínio que se impõe hoje,
R O
diante da complexidade, dos acasos e dos acontecimentos é da
R
ordem da adição: “p & q & r & …”. Toda vez que adicionamos
P UTO
nova informação, o produto final de nossa análise pode se alterar
ou pode se confirmar com maior peso.
Cada novo aspecto do sentido resulta da adição no
A
presente de uma informação antes não disponível. A referência à
intrepidez no conhecimento faz abandonar qualquer imagem da
O
segurança de um método. E mais, “a resignação do cognoscente;
D
a reverência” são atitudes daqueles que sabem que a verdade
jamais receberá um carimbo de “causa finita”.
VA
a tentativa de uma descrição de base causal, para elaborar
categorias analíticas capazes de explicar certo “mal-estar” diante
R O
de textos que não preencham certas condições que lhe são
R
próprias: informatividade, coesão, coerência, referencialidade e
P UTO
correferencialidade são princípios e não regras que se devem
seguir para produzir um texto. É possível ver problemas de
informatividade de um texto, uma vez ele tenha sido elaborado.
A
Mas não há uma regra que permita ao produtor do texto
comportar-se de modo tal que seu texto tenha a informatividade
O
necessária! Esta a diferença entre um princípio que se deve ter em
D
conta e uma regra que se deve seguir (como a da concordância
de gênero ou número, na sintaxe).
A análise do discurso vai além: exige que o estudo de
um discurso, superficializado num texto, se faça tendo presente
as condições de sua produção, o que acarreta aproximar de
forma muito profunda a relação entre linguagem e sociedade,
mais ao estilo da “sociologia da linguagem” (cujos autores mais
importantes são Bourdieu, Bernstein, e entre nós Gnerre) do
que ao estilo da sociolinguística (em que pontifica Labov).
Com a análise do discurso retorna aos nossos estudos um
conjunto de questões que a Linguística moderna havia deixado
de lado: as questões da retórica e da argumentação, as questões
do estilo, as questões das afiliações ideológicas dos discursos.
Qual o “custo” desta virada? O abandono da “língua”
(no sentido saussureano) como objeto de estudos e a
aproximação com a linguagem e seu funcionamento social. O
custo é a perda das seguranças e das afirmações de verdade; a
vantagem é uma compreensão melhor do fenômeno que se quer
VA
E tratando da linguagem, é possível construir uma
metodologia (não um método) capaz de orientar o pesquisador
R O
no emaranhado de complexidades que a linguagem comporta,
R
evitando descaminhos que podem conduzir ao tratamento de
P UTO
questões que não lhe dizem respeito (ainda que nada no mundo
humano esteja isolado), mas podendo assumir como próprio o
que é próprio de outros campos (por exemplo, usar categorias
A
sociológicas na análise da linguagem não é fazer sociologia, mas
se aproximar da linguagem com ferramentas fornecidas por
O
outras áreas do conhecimento, o que permite iluminar pontos
D
escuros, focar algo ainda não visto etc.).
Em verdade, a relação do pesquisador não se dá
diretamente com as “coisas”, mas com seus Outros. Entre
estes, obviamente há os sujeitos de sua própria pesquisa, para
quem os resultados chegarão apenas na forma de tecnologias
que venham a ser “inventadas” a partir das descobertas. Mas
há os sujeitos que sobredeterminam a sua prática – os outros
cientistas – e que lhe cobrarão a “metodologia”, a explicitação
do método empregado para chegar aos resultados obtidos.
No entanto, Leibniz já havia dito que Descartes, seguindo
seu método, descobriu coisas interessantes, mas se outro
pesquisador seguir as mesmas regras somente descobrirá o que
Descartes já descobrira: será preciso, para fazer descobertas
surpreendentes, desobedecer ao método metodicamente porque
outros são os objetos sobre os quais se debruça o pesquisador.
Ora, a sobredeterminação metódica seguida à risca somente
permitirá que se diga o dizível, o previsível. Por isso é necessário
propugnar por uma metodologia aberta, a cujos princípios
devem se associar as astúcias do pesquisador.
VA
para chegarmos não a conhecimentos seguros, mas irrelevantes,
e sim para arriscarmo-nos por outros percursos de produção de
R O
conhecimento relevante. Como ensina Bakhtin
R
P UTO A interpretação das estruturas simbólicas tem de entranhar-
se na infinitude dos sentidos simbólicos, razão por que não
pode vir a ser científica na acepção de índole científica das
A
ciências exatas.
A interpretação dos sentidos não pode ser científica, mas é
VA
estudo. O resultado apresentado é uma “tese” no sentido de
que contém um ponto de vista argumentado em que se sustenta
R O
a interpretação construída. Mas aceitando com humildade que
R
uma tese não tem qualquer valor absoluto de verdade. Verdade
P UTO
se define dentro de uma teoria, como já ensinou Foucault.
Para além do “cotejo de textos”, que outros caminhos
seriam possíveis para a pesquisa contemporânea em linguagem?
A
Certamente continuarão a existir os estudos da linguística
moderna e eles podem ser úteis, mas a eles não se pode reduzir o
O
todo complexo do funcionamento da linguagem. Este caminho
D
já tão percorrido, no entanto, parece-me praticamente inútil
para aqueles que se debruçam sobre fenômenos mais amplos
como aqueles envolvidos no processo de ensino/aprendizagem.
Para estas questões, as metodologias que a Linguística
clássica moderna construiu são praticamente inúteis. Nossos
lugares de inspiração talvez devam ser aqueles da Linguística
Textual e da Análise do Discurso, que assumiram que seus
estudos produzem categorias analíticas que auxiliam os
processos de produção e compreensão de textos, e não “regras”
para compreender ou produzir textos.
Para estudar estas questões, temos que nos aproximar da
sociologia e da história. Caminhos possíveis nos são indicados
pela “investigação narrativa” (construção de sentidos), pelo
“paradigma indiciário” (no cotejo de textos e de seus valores
sociais), pela pesquisa histórica do cotidiano (onde história e literatura
se aproximam), pelos estudos culturais (onde nossos objetos
adquirem uma avaliação social).
VA
objeto de estudo, nas múltiplas formas em que a investigação
com narrativas pode assumir.
R
produções com base em narrativas: 1) A narrativa como
P UTO
ressignificação da História; 2) a narrativa (auto)biográfica; 3)
a narrativa de experiências planejadas para serem pesquisas;
4) a narrativa de experiências do vivido. O primeiro grupo
A
corresponde fundamentalmente às pesquisas em história oral.
Nelas as narrativas feitas pelos sujeitos envolvidos possibilita
O
a rememoração das histórias pessoais e sociais. O foco dessas
pesquisas recai sobre fatos/eventos históricos que emergem da
D
memória dos narradores. Uma pesquisa sobre a participação
popular na campanha das eleições diretas para presidente no
Brasil, por exemplo, poderia se valer das histórias/memórias
narradas por diferentes sujeitos comuns, em vez de recorrer
exclusivamente aos dados documentados da época. Nesse
caso, a história é recontada a partir de um lugar e de uma
versão não oficial. De modo geral, o que importa neste tipo
de pesquisa é saber “o que ocorreu segundo aqueles que
viveram os fatos”. Importa reconstituir os fatos com base nas
memórias. Obviamente um subproduto deste tipo de pesquisa
é que os informantes (testemunhas) também se mostram pelas
compreensões que construíram sobre os fatos de que falam.
Quer dizer, as histórias pessoais e sociais aparecem junto à
reconstituição dos fatos. Na pesquisa em educação, pode-se
imaginar projetos como a reconstituição histórica de uma escola,
desde sua fundação. Ou pensar os diferentes momentos do
ensino de uma disciplina com base na memória dos professores
e suas compreensões sobre os métodos utilizados neste ensino.
VA
tornam os próprios objetos de estudo e fazem uma escrita de
si e sobre si no processo de sua formação. Essas pesquisas
O
permitem produzir uma compreensão do sujeito e de sua
R
P UTO R
formação, por meio das narrativas de vida. Essas pesquisas
apresentam semelhanças com os depoimentos da história oral,
mas em vez dos fatos, fazem emergir os sujeitos. Os fatos
rememorados são subprodutos das histórias dos sujeitos. Uma
pesquisa em que emerge o sujeito, e ao mesmo tempo, como
A
seu subproduto, todo um modo de ensinar e aprender de uma
época, é exposta no trabalho de Magnani (1990).
D
experiências planejadas para serem relatadas e analisadas. Há
neste grupo uma gama de variedades possíveis, mas o que as
caracteriza é o fato de que a experiência que se relatará/narrará é
previamente planejada e por isso mesmo é orientada de fora para
dentro. A prática pedagógica subjacente à pesquisa possui uma
intencionalidade prévia. O planejamento das ações é concebido
de modo a responder a determinadas questões postas já de saída
nos projetos de pesquisa. Nesse grupo de pesquisas pode haver,
ou não, coincidência entre o pesquisador e o sujeito que realiza
a ação pedagógica a ser validada. A concepção do material ou
das estratégias de ensino ou ainda da prática pedagógica pode
ser feita em coautoria, e a análise pode mesmo abranger as
atitudes dos sujeitos envolvidos no trabalho de campo, e não só a
validade do material utilizado. As pesquisas em que há coautoria
na concepção ou na prática pedagógica costumam ser nomeadas
de colaborativas ou participantes. No caso em que o pesquisador
é também o aplicador, a experiência realizada é controlada e o
relato dela costuma recorrer à ideia de professor-reflexivo.
VA
fato de que o sujeito da experiência a narra para, debruçando-
se sobre o próprio vivido e narrado extrair lições que valem
O
como conhecimentos produzidos a posteriori, resultando do
R
P UTO R
embate entre a experiência e os estudos teóricos realizados depois
da experiência narrada. A pesquisa que pode ser deflagrada a
partir da narrativa da experiência não é uma construção anterior
à experiência. É da experiência vivida que emergem temas e
perguntas a partir dos quais se elegem os referenciais teóricos
A
com os quais vem a dialogar e que, por sua vez, fazem emergir as
lições a serem tiradas. Como o objeto empírico aqui é a experiência
O
vivida, há muito de autobiografia mas diferentemente desta não
D
faz emergir o sujeito e sim a lição que se extrai da experiência,
lição no sentido de conselho a que se referia Benjamin (1994).
Por isso, em geral, elas apresentam também uma “novela de
formação” como referência para que se conheça como o fato
narrado marcou o narrador, mas não é esta novela de formação
de base autobiográfica que a caracteriza. Contrariamente
à autobiografia, não é o todo do passado que aqui interessa,
mas somente um (ou vários) acontecimento significativo, que
se tornaram experiência no sentido que apontamos no primeiro
item deste texto. Aqui pesquisador e objeto de pesquisa não
inseparáveis.
São pesquisas deste tipo que se esperaria como pesquisa
de professores que, tendo uma experiência de trabalho em sala de
aula, retornam à universidade para nela realizarem um mestrado
profissional. Destes profissionais, espera-se que a experiência,
ainda que seja do insucesso num trabalho de sala de aula que o
tenha marcado, seja o ponto de partida de sua formação como
professores-pesquisadores de sua própria prática.
A
BENJAMIN, Walter (1994). “O Narrador”, in: BENJAMIN,
V
Walter Obras escolhidas, vol. I. 7ª ed. São Paulo: Brasiliense.
R O
CAIXETA, Maria Emília et alii. (2014). “Trabalhar com
R
narrativas na investigação em educação.” Educação em
P UTO
Revista, Faculdade de Educação da UFMG, dezembro.
CANGUILHEM, Georges (2004). Escritos sobre Medicina. Buenos
Aires: Amorrortu Editores.
O A
COUTO, Mia (2009). Jesusalém. Alfragide: Caminho.
DIDEROT, D. (1769[2006]). Paradoxo sobre o comediante. São
D
Paulo: Escala.
FOUCAULT, M. (1996). A ordem do discurso.São Paulo : Edições
Loyola.
GERALDI, João Wanderley (2012). “Heterocientificidade nos
estudos linguísticos”, in: Grupo de Estudos de Gêneros
Discursivos Palavras e Contrapalavras: Enfrenando questões da
metodologia bakhtiniana. São Carlos: Pedro & João Editores,
pp. 19-39.
________. (2013). “Promesas y mitos de la ciencia moderna”,
in: UNTOIGLICH, Gisela. En la infancia los diagnósticos se
escriben con lapiz. Buenos Aires: Colección Conjunciones.
LAROSSA, Jorge (2014). Tremores. Escritos sobre experiência. Belo
Horizonte: Autêntica.
MAGNANI, Maria do Rosário M. (1990). Em sobressaltos. Tese
de Doutorado em Educação. Campinas: Faculdade de
Educação, Unicamp.
VA
SANTOS, Boaventura de Sousa (1987). Um discurso sobre as
ciências. Porto: Edições Afrontamento.
R O R
P UTO
O A
D
P UTO
O A Edson do Carmo Inforsato
D
O subdesenvolvimento é uma obra de séculos (Nelson Rodrigues)
Introdução
VA
por estudiosos, antigos e contemporâneos, como uma formação
em crise (Azevedo 2010; Gatti 2013). Desde os anos 1930, o
R O
traço bacharelesco marcante que a inaugurou – e, como pesquisas
R
recentes apontam, continua a caracterizá-la neste quarto de
P UTO
século presente (Gatti 2013) – é um dos principais fatores de
alimentação dessa espécie de crise congênita. Por bacharelesco,
entende-se que o preparo dos professores tem ocorrido no Brasil
A
de acordo com uma estrutura formativa pouco integrada às suas
práticas nos níveis de ensino aos quais essa preparação deveria
O
atender (Mello 2000). Embora esse defeito formativo também
D
se verifique na quase totalidade das profissões brasileiras, a
incidência das críticas é muito maior sobre a formação dos
professores do que sobre aquelas destinadas a outras áreas. Uma
das hipóteses para essa assimetria de críticas reside no fato de
que os fracassos da educação, exibidos ad nauseam nos meios
de comunicação social têm maior repercussão na sociedade,
atribuindo-se esses fracassos, muitas vezes, à má formação
dos professores, enquanto que, por exemplo, o fracasso da
saúde, não apontado com resultados de instrumentos aplicados
sistematicamente como o é na educação, mais raramente se
atribui à má formação dos médicos. Principalmente pelos
próprios médicos, classe corporativa e auto protetora por
tradição, ao contrário dos professores.
Registre-se, a bem da verdade, que as maiores
responsabilidades pelo fracasso ou pela crise da educação nem
sempre esteve sobre as costas da formação de professores. Esse
fardo desloca-se dependendo do enfoque com que a crise é
tratada. Infortunadamente, no entanto, ao invés de soluções,
VA
e é sobre ela que se pretende discutir com o propósito de abordar
sua crise e as oportunidades que ela tem ensejado, a partir do final
R O
do século passado, para a sua superação. Ou, então, os fatores
R
que a tornam perene e que por isso, causam desalentos em quem
P UTO
a pratica como formador ou como formador de formadores.
O incômodo pelo sentimento do “tudo demorando em ser tão
ruim” ou pela constatação de que “o subdesenvolvimento é uma
A
obra de séculos” é muito presente no autor, mas o desejo ardente
é de que tudo melhore e que a crise seja mais oportunidade de
D O
superação do que a impossibilidade de mudanças.
VA
verdadeiros redutos de combate à ditadura vigente, em primeiro
lugar, e à ideologia capitalista em segundo lugar. Dessa maneira,
R O
a formação de professores, continuava a transcorrer de acordo
R
com o modelo bacharelesco da sua origem, pois a universidade
P UTO
não se curvou às determinações da ditadura e, portanto, não
orientou seus licenciandos na perspectiva gerencialista dos
comportamentos dos alunos. Se, por um lado, se pode elogiar
A
essa resistência, por outro, não se pode omitir também a
influência doutrinária da visão reprodutivista da escola, gerando
O
denúncias que ou negavam o papel da escola como realizadora
D
de um direito social importante ou, então, propunham
mudanças na escola que só poderiam acontecer dentro de um
processo revolucionário. Quanto à formação de professores,
o pensamento educacional dominante da época, com os
vieses reprodutivistas ou histórico críticos, não demonstrou
preocupações expressivas com o bacharelismo nela presente.
Mesmo porque para esses pensadores, os problemas da crise
educacional brasileira não estavam na formação de professores
e sim na estrutura capitalista da sociedade, determinadora de
todos os seus processos sociais. Além do que, para eles, o
problema da formação não é a sua parca referência à prática,
mas a carência de uma formação teórica, de preferência, de base
materialista dialética (Saviani 1987[1995]).
Em que pese esse movimento de resistência à abordagem
comportamentalista e, também pragmática, da formação de
professores, o fato é que, nesses anos 70, houve uma presença
expressiva da psicologia comportamentalista em algumas
disciplinas da formação de professores, sobretudo nas disciplinas
VA
hoje se diz (Sucupira 1964; Saviani 2008; Romanelli 2007).
Embora curtas, bacharelescas e sem alteração dos esquemas
R O
tradicionais de formação. Esses rearranjos, aliás que pouco
R
duraram, evidenciavam o pouco apreço que a política da época
P UTO
tinha em relação aos professores como agentes formados com
competência e que poderiam ser atores autônomos de suas
práticas, como o são os profissionais de nível superior. Sendo
A
os esquemas para a transmissão dos conteúdos elaborados por
equipes especializadas, ao professor somente caberia o papel
O
de aplicador e controlador desse processo. Os próprios livros
D
didáticos se apresentavam com instruções detalhadas para as
ações do professor, obviamente com as respostas dos exercícios
que eles propunham. Curiosamente, passados quase 40 anos
dessas condutas direcionadas, a secretaria da educação do estado
de São Paulo, instituiu essa mesma prática nas escolas paulistas.
Além da adesão ao chamado tecnicismo na educação, o
que orientava o Ministério da Educação da ditadura para essa
visão formativa era o fato de que as escolas passaram a receber
uma quantidade numerosa de alunos. A expansão da educação
básica se fazia de maneira vertiginosa. Embora se construíssem
muitos prédios escolares, a demanda de alunos superava a
oferta, fazendo com que o ensino oferecido não encontrasse
as bases propicias para o aprendizado escolar. Expansão do
alunado acarretou a expansão do professorado (Saviani 2008;
Germano 2008).
Com esse quadro de explosão do número de alunos e,
consequentemente, de muitos professores, a solução para o
enfrentamento, na perspectiva dos ditadores e apoiados por uma
VA
professores. Nos anos de 1960, os professores tinham salários
e condições de trabalho similares às categorias profissionais de
R O
prestigio (Rabelo 2010). Portanto a crise, em tema aqui neste texto,
R
estava aumentando seus tentáculos nesse período de vigência
P UTO
da ditadura, devido à expansão do número de professores ao
mesmo tempo da diminuição do seu status profissional. Era um
dos ovos da serpente da crise que se expressaria em profusão
A
nos anos posteriores
D O
A crise dos 80 – reformas em gestação
VA
categoria consistia numa das maiores do país, saíram às ruas em
movimentos de protesto e de greve contra o estado precário de
R O
trabalho em que se encontravam.
R
A ditadura saiu formalmente de cena em 1985 deixando
P UTO
um legado de dívidas econômicas do estado e, na educação, um
contingente significativo de professores no ensino básico com
baixos salários e atendendo uma população escolar numerosa
A
mas em grande parte carente de prontidões necessárias para o
aprendizado dos domínios letrados. Uma vez que os estados da
O
Federação puderam se organizar em termos de uma república
D
democrática já no inicio dos anos de 1980, mais especificamente
em 1982, e tendo sob a sua responsabilidade quase toda a oferta
da educação básica, os seus representantes eleitos tentaram
responder às demandas dos professores ampliando o escopo
dos seus direitos como servidores públicos e, em muito menor
proporção, o aumento de seus salários. Mas a defasagem destes
era tanta que raramente satisfazia as reivindicações dos docentes.
Desse modo, o cenário era composto por uma sociedade
plena de demandas reprimidas, por um forte anseio de
participação política, por um estado (incluindo – se aqui todos os
níveis da federação) endividado e por uma economia recessiva.
No que se refere à formação de professores, a maioria
a realizava nas instituições privadas, uma vez que embora
a ditadura tenha criado uma rede de universidades federais
elas foram insuficientes para responder ao contingente de
professores de que se necessitava para o atendimento da
expansão massiva da escolaridade que se dera nos anos de 1970.
Os estados federados, de maneira geral, não ampliaram na mesma
VA
o setor público estava sob um controle econômico ortodoxo,
portanto sem possibilidades de investir em formação inicial
R O
(Saviani 2008).
R
A referência insistente à supremacia da formação de
P UTO
professores em instituições privadas, na opinião do autor, é
justificável porque ela é um indicador forte do trato que os
agentes ocupantes do estado brasileiro dispensavam à formação
A
educacional das nossas crianças e jovens (Saviani 2008). Uma
instituição privada, qualquer que seja ela, visa ao lucro. Elas
O
devem para isso produzir mercadorias ou bens que venderão no
D
mercado. A educação das pessoas, porque se trata de um direito
social dos mais importantes, não deveria ser submetida a esses
mesmos desígnios empresariais.
Apesar disso, não havia, e não há diferenças de modelo
formativo dos professores entre as instituições públicas e
privadas. Imperava, e ainda impera, em ambas, o caráter
bacharelesco de que se vem falando desde o inicio deste texto.
Feita essa ressalva e voltando à situação dos professores
nos anos 1980, a sua crise agora se expressava com mais ênfase
nos aspectos das condições de trabalho do que na formação.
Como foi referido no item anterior, o ovo da serpente germinava
a grande adversidade que explodiria assim que a ditadura ruísse.
A expansão desordenada do ensino, com professores mal pagos
e despreparados para enfrentar um contingente de alunos
carentes de repertórios e prontidão, ensejaria um colapso da
formação pública da educação básica que começou a dar seus
sinais vigorosos na “década perdida”.
VA
precisava de uma nova constituição que viria a ser promulgada
em 1988. Na educação, as correntes de pensamento assestaram
R O
suas baterias para fazer valer os seus pressupostos para uma
R
educação de base democrática. Na constituição, por causa dessa
P UTO
união advinda da resistência à ditadura, os embates da educação
não tiveram grandes divergências e, como ela, na carta magna,
foi abordada de maneira genérica, os grupos representantes
A
dos pensamentos de base construtivista e os de abordagem
histórico crítica não se digladiaram desta feita (Vieira 2007).
O
Assim, atravessaram-se os anos de 1980 sem que a formação
D
de professores tivesse alguma atenção especial. O bacharelismo
seguia incólume até então. As novas diretrizes da educação
viriam somente na segunda metade dos anos 90, com ares de
reforma que intencionavam dar novo ordenamento para uma
sociedade que continha muitos ingredientes para desfazer-se.
Nesse sentido, a educação teria a temeridade de ser apresentada
como a salvação da sociedade.
VA
elegeu um político que se propunha a acabar com a politicagem
e a corrupção. Em 1990, assumiu Fernando Collor de Mello,
R O
mas nem bem passados 2 anos de mandato, desgastado pelos
R
péssimos resultados econômicos de um plano radical de combate
P UTO
à inflação, pelos atos de corrupção e pelo seu isolamento político,
houve a renúncia. O vice Itamar Franco assumiria sem qualquer
esboço de violência. No meio do seu curto mandato, implantou
A
o plano monetário que viria a colocar a moeda, finalmente, num
patamar estável e, assim, domar a inflação que havia devorado
O
a base econômica da nação. Findado seu governo, em 1994,
D
assumiu Fernando Henrique Cardoso.
A descrição brevíssima desse cenário da primeira
metade dos anos 1990, teve a intenção de justificar o fato de
que a nova LDB, que deveria ser elaborada e promulgada tão
logo a constituição fosse estabelecida, somente conseguiu se
concretizar em 1996, oito anos após ao advento da nova carta
magna da nação. A ebulição econômica vivida pela sociedade
desde o final da ditadura, ocupou de forma tão ostensiva suas
instâncias políticas que a mobilização delas para as novas
diretrizes, que deveriam orientar os processos formativos,
apenas foi conseguida quando o cenário econômico pudesse
estar, de certa maneira, com relativa estabilidade (Freitas 2008).
Os atores políticos da educação sempre se movimentaram
desde o final da década de 1980, e os embates entre eles,
também tiveram vários lances ao longo dos anos turbulentos
aqui mencionados. As correntes antagônicas da pedagogia
histórico crítica e do construtivismo de base piagetiana travaram
suas batalhas para que suas ideias se corporificassem de forma
VA
ênfase nas práticas, sem exigências de construção de cursos em
bases da matriz disciplinar. Como se sabe, a segunda corrente foi
R O
a vencedora, até porque ela se afinava com o modelo econômico
R
de base neoliberal que o país adotou nos anos de 1990.
A
2000. Mas as reformas das graduações poderiam ser feitas com
base nos itens regulatórios da nova LDB (Brasil 1996), pois,
O
como ela não estabelece formas de organização do curso, a
D
menos das horas cumpridas, da qualificação dos docentes, dos
objetivos do ensino superior, tais reformas poderiam acontecer,
inclusive com propostas curriculares que não se seguissem a
tradicional matriz disciplinar.
Uma das influências significativas da nova LDB foi a
instituição das avaliações de toda a educação feita pelo MEC
e também seguida por outras instâncias estatais (estados e
municípios). Foram desenvolvidos instrumentos de avaliação
de produto sobre os três níveis de ensino: fundamental, médio
e superior. Os primeiros dois níveis, fundamental e médio,
desde que essas avaliações tenham sido feitas, final da década
de 1990, em quase todas as suas edições, anuais ou de períodos
mais longos, têm revelado um desempenho sofrível dos nossos
estudantes nos conteúdos básicos. Em avaliações internacionais,
os vários rankings exibidos nos situam nos últimos lugares, atrás
de países que desfrutam de situações econômicas bem inferiores
às nossas. Os índices de referência estabelecidos, combinando
desempenho do estudante e condições de estudo, exibem,
VA
e também não seguidas por tantas instâncias como o é o nível
básico, Não há tanto empenho em se medir o quanto os alunos
R O
do curso superior estão aptos nos seus níveis de desempenho
R
escolar. Portanto há uma assimetria entre os níveis de ensino em
P UTO
termos dos processos de avaliação externa.
A correlação entre o nível de desempenho dos alunos e o
dos professores, na educação básica, não tem sido feita, mesmo
A
porque não há avaliação dos professores em correspondência
àquela feita pelos alunos. Porém, o fator formação de
O
professores, obviamente repercute no desempenho dos alunos.
VA
seu modo de organização e, sobretudo, pelos valores sobre
escolaridade, não se desfizeram de seus esquemas de tradição
R O
bacharelesca; isto é, os cursos de formação de professores
R
continuam a acontecer dentro de atividades curriculares que
P UTO
pouco os preparam para o desempenho de sua profissão na
sala de aula. Somado a isso, pelos problemas acumulados em
décadas anteriores, fruto da expansão desordenada do ensino,
A
a motivação dos jovens para a escolha de serem professores
diminui cada vez mais. É esse quadro que se apresenta para se
D O
pensar se há oportunidades para se superar essa crise ou, então,
se ela prosseguirá fazendo tudo ser tão ruim.
Considerações finais
VA
com a cidadania em segundo plano.
A partir dos anos de 1990, a formação de professores
R O
assumiu maior relevo dentro do pensamento educacional
R
– pedagógico e também constituiu-se como uma das
P UTO
preocupações principais do estado brasileiro. Esse pensamento
mais contemporâneo, de base ativista vê a educação como uma
prática social, em que os professores são os agentes públicos
A
que a desenvolvem e o devem fazê-lo como uma tarefa crucial,
uma vez que a sociedade carece de se preparar para questões da
O
confiabilidade cívica e para enfrentar as mudanças.
VA
BRZEZINSKI, Iria (2014). LDB/1996 Contemporânea:
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R O R
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O V
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R
R
P UTO
O A
D
R
o que dizem os docentes?
P UTO
A
Maira dos Santos Mussato
Regina Simões
D O
Introdução
VA
educação, presente até hoje, quando o governo federal iniciou
o repasse da responsabilidade da educação para as empresas
R O
educacionais que buscavam o rápido atendimento das demandas
R
e a obtenção de lucro econômico (Martins 2009).
A
desapareceu, cedendo lugar à Habilitação Específica de 2º Grau.
Entretanto, as alterações não garantiram melhoras na formação
O
de professores como revela Saviani (2009), uma vez que a
D
formação no Curso Normal ficou reduzida a uma habilitação
ministrada de um modo precário e preocupante.
Diante das evidências da insuficiência dessa habilitação,
em 1980 acontece a I Conferência Brasileira de Educação
realizada em São Paulo, a qual gerou debate sobre o curso de
Pedagogia e os cursos de Licenciatura, na tentativa de superar
a fragmentação das habilitações e especializações do espaço
escolar, defendendo a necessidade da formação dos professores
em nível superior (Libâneo e Pimenta 1999).
A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB
9394/96) alterou a denominação das fases da Educação Básica
e definiu pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino
Médio. A formação dos professores, influenciada especialmente
pela política neoliberal, que julga que o Estado não é competente
para gerir a educação, passa a ter esse segmento ainda mais
privatizado, propiciando formação adequada para as elites
intelectuais, e ensino profissionalizante para as classes menos
A
Nesse âmbito surge a exigência por habilitação em
V
Licenciatura para atuar na Educação Básica (nas quatro últimas
séries do Ensino Fundamental e para o Médio) o que acaba por
O R
garantir maior qualidade do processo de ensino-aprendizagem,
R
por exigir legalmente que esses profissionais ingressem no
P UTO
ensino superior para continuar em suas atividades docentes.
(Borges, Aquino e Puentes 2011)
De acordo com Fusari e Franco (2005) formação inicial
A
é a que ocorre antes do profissional ingressar no mercado de
trabalho. São todos os cursos realizados durante a graduação,
O
que podem ser em magistério de nível superior, licenciatura ou
D
bacharelado.
Por muitos anos ela foi considerada suficientemente
preparatória para toda a vida profissional, contudo na era
do conhecimento instaura-se a necessidade de atualização
constante, principalmente para os professores por estarem em
contato com alunos que tem cada vez mais acesso à informação.
Esta realidade demanda a necessidade de pensar a formação
do professor, em vista de sua prática pedagógica com olhar
investigativo, para que ele não apenas reproduza o conhecimento
que lhe foi anteriormente repassado devido à formação técnico-
profissional baseada apenas no saber fazer (Shigunov Neto e
Maciel 2009).
Em vista da atual conjuntura, Maués e Camargo (2014)
analisaram o documento Antecedentes y Criterios para La
Elaboración de Políticas Docentes en América Latina y El
Caribe (2013), buscando identificar as conclusões sobre a
expansão dos cursos que formam professores e as orientações
VA
competentes.
Para isso propõe-se aumentar a exigência para o ingresso
R O
nos cursos de formação de professores e fortalecer os programas
R
com destaque para as questões curriculares e de estratégias para
P UTO
avaliação de aprendizagem.
Souza e Tozetto (2011) afirmam que a instituição escolar
tem histórico de reproduzir os interesses do contexto social em
A
que esta está inserida, o que leva os professores, atualmente,
a serem desafiados a acompanhar e a realizar as grandes
O
transformações da escola, assumindo um papel consciente de sua
D
importância na sociedade. Disso urgem mudanças na formação
docente, entre elas a necessidade da formação continuada.
Formação continuada
VA
necessidades das escolas e dos professores.
De acordo com Mendes e Romanowski (2006) tem início
R O
no Brasil nos anos 90, ainda deste século XX, uma mobilização
R
nacional para a elaboração do Plano Decenal de Educação para
P UTO
Todos, que culminou com o Pacto de Valorização do Magistério
e Qualidade da Educação, o qual pretendia estabelecer e
implantar uma política abrangente para a profissionalização do
A
magistério objetivando a elevação da qualidade da Educação
Básica. Além da aprovação da LDB 9394/96, há a definição das
O
Diretrizes para a Educação Básica e a instituição dos Parâmetros
D
e Referenciais Curriculares Nacionais em 1998. A partir dessas
ações surgem investimentos em programas de formação de
professores para instrumentalizá-los em serviço e se preparem
para por em curso as mudanças propostas.
São necessárias novas posturas que reflitam o momento
histórico na prática dos docentes, pois já não se pode ministrar
aulas como se fazia há tempos atrás. Desse modo a formação
continuada se mostra pertinente como um processo de constante
reflexão que pode enriquecer a prática pedagógica, aprimorando
a qualidade da atuação dos professores e, consequentemente,
propiciando uma satisfatória educação que encaminhe cada
vez mais os alunos a construção de criticidade e cidadania,
permitindo, que a escola desempenhe seu papel social.
Para Fusari e Franco (2005) essa formação pode ser vista
de três modos: compensação de deficiências da formação inicial;
atualização de conhecimentos envelhecidos e até aperfeiçoamento
do que o sujeito já sabe e precisa aprofundar-se.
VA
necessidade dessa busca se dar de modo contínuo, ao longo de
toda a carreira do profissional.
R
século XX, fortificou-se em variados setores profissionais
P UTO
e universitários, especialmente de países desenvolvidos, a
formação continuada como requisito para emprego, para
atualização constante e mudanças no mundo do trabalho.
O
não propiciava a base adequada para sua atuação profissional,
D
exigiu o desenvolvimento de políticas nacionais ou regionais
para solucionar o problema do sistema educacional.
Maués e Camargo (2014) destacam a importância da
formação continuada no desenvolvimento profissional, porém
os cursos têm se apresentado de maneira muito teórica e
generalista, desconectados da realidade da escola, sem abordar
questões pedagógicas que de fato auxiliariam no trabalho
dos professores, tendo pouco impacto no desempenho dos
professores, sem contribuir para a qualidade da educação.
Os autores elucidam que esses cursos devem estar
centrados no aprendizado dos estudantes, buscando melhorar
a capacidade dos professores, com critérios que sirvam de
referência para avaliar o desempenho deles, e assim garantir que
estejam preparados para encarar os novos desafios educacionais.
Com o avanço das leis e das pesquisas evidencia-se
também a preocupação com a emissão de certificados para esses
cursos, e a atenção com a qualidade que está sendo oferecida,
o que reflete positivamente no cenário do sistema educacional.
VA
programas de qualidade duvidosa, geralmente bancados por
eles. Isso transforma o processo de capacitação em processo de
R O
certificação apenas, e a formação em serviço passa a ser vista
R
como um negócio lucrativo para as instituições privadas.
A
dos profissionais: carência de incentivos formais; escassez de
tempo por parte dos professores; lacunas e baixa aplicabilidade
O
do conteúdo das ações oferecidas; preferência por ações de
D
curto prazo e de alta visibilidade; falta de alinhamento das
ações de formação continuada com os planos de carreira e
desenvolvimento profissional dos professores; além da alta
rotatividade do corpo docente.
O estudo sugere que sejam estimuladas ações para a
formação continuada melhorar o desempenho profissional
apresentando as seguintes macro-oportunidades: institucionalizar
a importância da formação continuada; estabelecer um ciclo de
desempenho e desenvolvimento; promover ajuste de conteúdo
e abordagens práticas customizadas; e elaborar uma legislação
que fomente a formação continuada.
Gatti (2008) analisando as politicas públicas para a
formação continuada no Brasil, afirma que o poder público
tem como obrigação valorizar e incentivar o aperfeiçoamento
profissional, desenvolver a veiculação de programas de ensino
a distância em todas as modalidades de ensino e incentivar os
municípios a realizar capacitação para todos os professores
em exercício. Além disto, é necessário prever programas
VA
caráter continuado e compensatório, destinados à formação de
professores leigos, em exercício a distância, em cooperação com
R O
os sistemas de ensino. São programas como a Rede Nacional
R
de Formação Continuada de Professores (RENAFOR); Pró-
P UTO
Formação; o Pró-Infantil e Pró-Letramento, que são importantes
parcerias entre Secretárias de Educação estaduais e municipais e
Universidades e tem propiciado formação gratuita de qualidade
A
para os profissionais da rede pública de ensino.
Fica evidente que houve intensificação dos programas
O
de aperfeiçoamento para professores nas últimas décadas,
D
promovendo universalização do ensino, especialmente porque
os governos se atentaram para a necessidade de buscar estratégias
para melhorar o sistema educacional, e assim ampliar o quadro
do número de professores para tornar a carreira mais atrativa,
beneficiando professores, alunos e sociedade.
Os cursos surgiram em diferentes modalidades, presencial,
extensão, técnico, à distância, profissionalizante, adquirindo
entre outras funções a atividade de ser compensatório, mais do
que de atualização ou aprofundamento. Entre eles o Programa
Mais Educação que está inserido em uma das ações do Plano
de Desenvolvimento da Educação do Governo Federal, iniciado
em 2008, o qual oferece, via universidades federais, cursos de
formação continuada com o objetivo de contribuir para a
educação integral de crianças, adolescentes e jovens, com projetos
e programas nas escolas da rede pública de ensino, que alterem
o ambiente escolar, ampliando a oferta de saberes, métodos,
processos e conteúdos educativos. Com cursos complementares
de formação em nível médio ou superior que passaram a ser
Buscando as percepções
VA
R O Considerando o incentivo em nível de governo federal,
R
a importância da formação continuada para contribuir com
P UTO
a melhoria da formação de professores e alunos. Optamos
aqui por perscrutar professores que participaram do Curso de
Aperfeiçoamento de Docência na Educação Integral. Com o
A
nome de Educação Integral: expressões verbais e corporais, o
curso foi desenvolvido de 2014 a 2015, na cidade de Uberaba-
O
MG. Fruto de parcerias contou com o apoio da Universidade
D
Federal do Triângulo Mineiro, da Prefeitura Municipal da
cidade e do Ministério da Educação (MEC), através da
Secretaria de Educação Básica (SEB) e do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE). Embasou-sse nos
pressupostos do Programa Mais Educação, tendo sido destinado
aos professores que atuam na Educação Básica.
Em relação aos objetivos, o curso visou atender a demanda
da região, com o propósito de dar continuidade à formação
acadêmica do profissional da Educação Básica, buscando refletir
sobre o desenvolvimento de práticas na Educação Integral, a
fim de proporcionar a continuidade da formação acadêmica do
profissional do magistério público. Desse modo estabelecendo
o diálogo entre a universidade pública federal e redes de ensino
municipal e estadual, levando o professor a refletir sobre sua
prática pedagógica, para desenvolver/implementar ações que
a enriqueçam, montando seu próprio material e atividades
relevantes a serem discutidas com os alunos.
Também foi meta consolidar a formação do professor-
pesquisador em condições de desencadear práticas que
R O
Continuada?”. As respostas foram transcritas e analisadas de
R
acordo com a Análise de Conteúdo: Técnica de Elaboração e
P UTO
Análise de Unidades de Significado de Moreira, Simões e Porto
(2005), a qual capta os relatos ingênuos dos sujeitos, identifica os
indicadores e estabelece as unidades de significado a partir das
A
falas, sendo que esse processo ajuda a compreender o sentido
das palavras dos sujeitos.
D O
A visão dos professores sobre Formação Continuada
Conhecimento 67 78,8
Atualização 61 71,7
VA
Melhoria da Prática
Troca de Experiências
23
15
27
17,6
R O R
Processo Continuo 15 17,6
O A
está associada a aprendizagem, a mais estudo e a maior ampliação
dos conhecimentos já apreendidos, como fala o P78: É ter
D
conhecimento, fazer trocas de experiências e aprender o que deu certo, fazer
diferente, com um olhar novo. Ou mesmo quando P34 diz: São horas
disponíveis para capacitação dos professores com o objetivo de aprimorar
melhor seus conhecimentos.
Chimentão (2009) destaca que é importante fazer a
diferença entre adquirir conhecimento e adquirir informação,
evidenciando que não se tratam de sinônimos. A informação
é tudo o que é disponibilizado para as pessoas, enquanto que
conhecimento é quando o sujeito interpreta a informação e lhe
atribui significado. A busca dos docentes participantes no curso
é adquirir informações, para transformá-las em conhecimento e
assim ampliar o desenvolvimento da profissão.
Algumas falas mostram a preocupação em mudar os
rumos da educação, abandonar o tradicionalismo, e esses cursos
capacitam-nos para isso. Há vontade de mudar as atitudes, fazer
a diferença, para tanto buscam aparatos para renovar a prática,
e assim atingir os objetivos propostos. É a formação que devemos
ter ao longo de nossa vida, relacionada ao nosso desenvolvimento, e a busca
constante do aprendizado. (P31).
VA
reflexões que ocorrem na academia.
Por isso Lima (2010) defende que o professor, enquanto
R O
sujeito em construção, precisa ampliar sua visão acerca do
R
conhecimento e dos saberes pedagógicos necessários para o
P UTO
desenvolvimento de suas atribuições. Deve aprender a conhecer
para ser o sujeito de possíveis transformações na medida em que
constrói seus saberes. O que vai ao encontro com a tendência
A
de abandono dos fundamentos behavioristas em que prezava-se
pela transmissão de conhecimento apenas.
VA
nossas atividades e não ficar presos ao tradicionalismo. Ou mesmo
entender que: É estar sempre buscando aprimorar o conhecimento.
R O
Buscar novas perspectivas para uma nova educação. (P30)
R
Mas capacitação como persuasão não, pois o educador,
P UTO
nas palavras de Altenfelder (2005) não deve ser persuadido ou
convencido sobre ideias, mas sim apresentado a elas, para que
possam conhecê-las, analisá-las, criticá-las, e então decidirem se
A
aceitam-na ou não.
Melhorar a Prática Pedagógica esteve presente nas respostas
O
de 23 docentes, como fala o P26: Busca de aprendizagem, conhecimento
D
para a prática pedagógica.
A busca por inovações na prática pedagógica se mostra
como outro cerne da formação continuada e a esse respeito
Wengzynski e Tozetto (2012, p. 4) discorrem que:
VA
aprendeu durante a sua prática em sala de aula.
De modo geral, podemos inferir que os professores
O R
participantes concebem a formação continuada como
R
atualização científica e didática do professor, para aprimorar a
P UTO
sua prática. É importante ressaltar que o objetivo maior não
se centra nos conhecimentos teóricos, mas sim nas questões
práticas da sala de aula.
O
buscar compreendê-la, por meio da articulação entre teoria e
D
prática, acaba por trazer um novo sentido à prática pedagógica
do professor, resignificando sua atuação em sala de aula,
abrangendo transformações até mesmo no contexto escolar.
A coleta de dados revela que para 17,6% dos cursistas a
formação continuada proporciona Troca de Experiências. [...] fazer
trocas de experiências e aprender o que deu certo, fazer diferente, com um
olhar novo. (P78), constitui a visão dos professores.
Esse conceito é defendido por Nóvoa (1997) pela
importância de cada professor valorizar seu saber, e partilhá-
los, propiciando a formação mútua, com seus colegas de curso,
desempenhando o papel de formador e de formando. Pois a
socialização é um fator decisivo de afirmação dos valores da
profissão docente, que acaba por desenvolver uma nova cultura
de autonomia de produção de saberes por esses profissionais.
Costa (2004) afirma que as contribuições teóricas que
concebem a escola como lócus de formação continuada, além
de valorizar os saberes docentes, reconhecem que os ciclos de
VA
contínua. De modo que a mesma nos ajude a renovar nossos atos e conceitos
diante da prática. (P29). É a formação que o profissional deve buscar
R O
constantemente para se manter atualizado sobre sua profissão. (P28).
R
Como já evidenciado anteriormente por Medina e
P UTO
Portilho (2012) o desenvolvimento profissional do professor,
por meio da aprendizagem, deve ocorrer ao longo de toda
a carreira profissional, pois é o que lhe dá competência para
O A
desenvolver um trabalho de qualidade na educação.
Pelos dados apresentados fica evidente a consciência
da formação docente ser um contínuo, que se não se propõe
D
à atualização constante, não garante a qualidade da atuação
profissional, ou seja, É aprimorar continuamente o processo de sua
formação profissional. (P32).
Considerações finais
VA
bem-sucedidos de mudanças nas práticas devido a capacitação
desses profissionais, beneficiando a toda a comunidade escolar.
R O R
Em um cenário em que a formação inicial tem se
mostrado insuficiente, urge a necessidade de constamente
P UTO
aperfeiçoar e atualizar os profissionais em serviço. Mas isso
depende de um conjunto de iniciativas, brevemente expostas
aqui, e principalmente, de incentivo e autonomia para que os
A
profissionais busquem qualificar-se continuamente.
O
D
Referências
A
Educação Física Escolar. Londrina. Universidade Estadual
V
de Londrina.
R O
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R
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O V
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R
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V
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maio.
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P UTO
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O A
PUCPR, vol. 10.
WENGZYNSKI, D. C. e TOZETTO, S. S. (2012). “A formação
R
linguística e materiais didáticos em séries
D
Contextualizando
Bruna Faria Campos de Freitas
VA
O dialeto (ou variedade regional) falado em uma região pobre
pode vir a ser considerado um dialeto “ruim”, enquanto o
dialeto falado em uma região rica e poderosa passa a ser visto
R O R
como um “bom” dialeto. (Bortoni-Ricardo 2004, p. 34)
A
pedagogia culturalmente sensível1 à variação linguística para
que, assim, possamos formar cidadãos conscientes e reflexivos,
O
que não tenham falsas crenças sobre a sua própria língua.
VA
realizadas no âmbito do curso de formação continuada
Educação Integral: Expressões verbais e corporais, da Universidade
R O
Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), ligado ao Programa
R
Mais Educação, com os alunos (professores da Educação
P UTO
Básica). Em um módulo desse curso e, consequentemente,
neste capítulo, buscamos: (i) ressaltar a importância de o
professor de língua portuguesa reavaliar sua postura em sala de
A
aula e já nas séries iniciais do Ensino Fundamental levar em
consideração a variação linguística; (ii) analisar como aparece o
D O
tema “variação linguística” em materiais didáticos, integrantes
do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), utilizados nas
séries iniciais da cidade de Uberaba.
VA
criança, no período de alfabetização e letramento, desenvolve
e estabelece relações com o meio, altera seu modo de ver e
R O
interagir com o mundo, criando sua própria identidade linguística
R
e cultural. Como afirma Bortoni-Ricardo (2004, p.74), ao chegar
P UTO
à escola, a criança traz um leque de informações linguísticas,
as quais são, na maioria das vezes, consideradas erradas em
comparação a outras ligadas a alguns grupos de maior prestígio
A
social. A estigmatização da linguagem popular como “errada”
é consequência do status inferior que os seus falantes ocupam
O
na sociedade, ou seja, a valoração linguística está baseada
D
numa valoração social (Gnerre 1998). E esse conflito pode
gerar dificuldades no processo de aquisição da norma culta2
– composta por variedades de prestigio social –, tanto em sua
modalidade escrita, como em sua modalidade falada.
Por isso, julgamos que essa maneira de compreender
e lidar com a diversidade linguística seja a primeira grande
contribuição da Sociolinguística ao ensino de uma língua
natural. Partindo desse pressuposto e focando nossas reflexões
ao ensino de língua portuguesa no Brasil, entendemos que um
dos maiores desafios do professor esteja relacionado à real
consideração e abordagem das diversidades cultural, étnica,
social e, sobretudo, linguística existentes em nosso país. Afinal,
A
aluno aquilo que ele “não tem”, ou seja, uma “língua”. Essa
V
pedagogia paternalista e autoritária faz tábua rasa da bagagem
linguística da criança, e trata-a como se seu primeiro dia
R
querer “ensinar” ao invés de “educar”. (Bagno 1997, p. 62)
A
desde as séries iniciais, ainda no período da alfabetização, a fim
de que possamos promover um ensino realmente produtivo
O
(Travaglia 2009), pautado na reflexão crítica e contextualizada
D
da língua em uso: real, dinâmica e multifacetada. E nesse ponto,
mais uma contribuição da Sociolinguística se evidencia ao
ensino de língua portuguesa, uma vez que o reconhecimento
natural das variedades da língua permite ao professor e ao aluno
estabelecer diversas semelhanças entre o que se convencionou
chamar de “norma culta” e “norma popular”.
O modo como o professor define e se relaciona com a
língua determinará como ele abordará as variedades linguísticas,
a norma culta, a gramática. O professor é um fator determinante
em todo o processo para colocar em prática e alcançar uma
pedagogia sensível à variação linguística, revisando e reavaliando
muitas concepções de ensino, desenvolvendo o senso crítico
dos alunos a respeito da diversidade linguística brasileira e
chamando-lhes a atenção para o monitoramento linguístico,
a fim de que se conscientizem da adequação de sua fala e/
ou escrita aos diferentes contextos comunicativos de uso da
língua. Só assim os alunos passarão a (re)conhecer e a respeitar
as variações linguísticas que constituem o Português Brasileiro.
A
vezes sem saber) lhe permite descortinar uma determinada
V
paisagem, mas o cega para outras. (Bagno 2007, pp. 15-16)
R
permitindo-lhes apropriarem-se dos recursos comunicativos
P UTO
necessários para se desempenharem bem, e com segurança,
nas mais distintas tarefas linguísticas [...] (Bortoni-Ricardo
2004, p. 74)
D
da Educação Básica o respeito às diferenças linguísticas. Mas
será que esse material utilizado pelos professores das séries
iniciais aborda a “variação linguística”? Buscando responder
a esse questionamento, analisamos alguns materiais didáticos
utilizados por professores da cidade de Uberaba no ensino de
língua portuguesa, nas séries iniciais do Ensino Fundamental
(do 1º ao 6º ano).
VA
o exercício da cidadania, direito inalienável de todos. Essa
responsabilidade é tanto maior quanto menor for o grau de
letramento das comunidades em que vivem os alunos”. (Brasil
R O R
1997, p. 21)
A
fundamental, cada aluno se torne capaz de interpretar
diferentes textos que circulam socialmente, de assumir a
O
palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais
variadas situações”. (Brasil 1997, p.21)
A
organização clássica de conteúdos na gramática escolar, mas
V
aos aspectos que precisam ser tematizados em função das
necessidades apresentadas pelos alunos nas atividades de
R
P UTO Além disso, é de suma importância, que os professores,
sobretudo os de língua portuguesa, (re)conheçam a “norma
culta” como um conjunto de variedades socialmente prestigiadas
A
que se realizam por meio de diferentes graus de monitoramento.
Ou seja, é fundamental que se compreenda que a norma culta
O
é heterogênea. E isso, por sua vez, é indispensável para que
D
os professores tenham mais cautela com juízos de correção,
a fim de que não contribuam para o fortalecimento da visão
maniqueísta de língua que, ao eleger “uma forma” como “a
correta”, desqualifica as outras por julgá-las incorretas.
A esse respeito, Faraco (2015) afirma que
VA
como se fossem desvios ou incorreções. (Brasil 1998, p. 82)
O
Por fim, é importante que o professor de língua portuguesa
R
P UTO R
perceba que a realização de atividades, sobretudo, epilinguísticas,
ou seja, atividades de reflexão sobre a língua voltadas para o uso,
no próprio interior da atividade linguística em que se realiza são
essenciais já nas primeiras séries do Ensino Fundamental. Só
assim este professor estará contribuindo efetivamente para o
A
desenvolvimento da competência comunicativa3 de seus alunos.
O
D
Análise de material didático
3. Cabe ressaltar que assim como Kleiman (2002, p. 4), entendemos que a
competência comunicativa “é construída na interação, pela participação
nas situações e, por isso, ela continua desenvolvendo-se ao longo da vida
do indivíduo, em função dos eventos de fala e de letramento situados nos
quais o sujeito participa”.
4. Os livros didáticos analisados neste capítulo foram sugeridos por profes-
sores da Educação Básica, por serem livros que eles utilizavam em suas
aulas.
VA
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), ao Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e integram a lista
R O
oficial do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
R
Inicialmente, observando o sumário de cada livro,
P UTO
verificamos que o assunto não é abordado explicitamente em
todas as séries. Apenas nos livros de 3º, 4º e 6º anos aparece um
único tópico dedicado à variação. Na coleção didática de séries
iniciais de 1º ao 5º ano, constatamos que, embora os autores
O A
façam referência à variação linguística, o tema está limitado
a situações de variação regional. Por exemplo, no livro do 3º
ano, são apresentadas, na seção “Para ler e escrever melhor”,
D
as variedades regionais relacionadas a estruturas lexicais ou
expressões típicas da fala menos monitorada de algumas regiões
brasileiras. Observe a gravura extraída do livro:
VA
as expressões apresentadas por outras de mesmo significado.5
Não estamos querendo dizer que, por serem superficiais,
O
não devem ser trabalhadas em sala de aula. Acreditamos que
R
P UTO R
abordagens como estas devem ser feitas sim, mas é necessário,
ainda, que se apresentem outros tipos de variações (como de estilo,
de faixa etária, social etc.), deixando evidente ao aluno que a variação
linguística não se restringe apenas à variação lexical e regional.
Além disso, nesse mesmo livro, há atividades em que
A
o aluno deve explicar o sentido das expressões destacadas ou
substituí-las por expressões equivalentes, como “tirar o cavalinho
O
da chuva”, “da pá virada” etc. Um dos problemas desse tipo de
D
atividade está no fato de que muitas dessas expressões acabam
sendo rotuladas como pertencentes a determinadas regiões e de
forma bastante generalizadora, tal como:
R O
estigmatizadora. Trazendo uma seção com o mesmo título que
R
o da série anterior (“Para ler e escrever melhor”), o livro didático
P UTO
apresenta como característica das “variedades da língua”,
a fala das personagens Chico Bento e de seu primo Zé Lelé.
Percebemos que a intenção é utilizar o falar dessas personagens
A
como exemplo do falar de pessoas oriundas da zona rural – por
meio de palavras grafadas como “ocê”, “tá”, “oiando”, “craro”,
O
“drumindo” “sabê” etc. E, como atividade, propõem-se aos
D
alunos que reescrevam o diálogo da tirinha de acordo com a
“norma urbana de prestígio”. Vejamos o fragmento do exercício
solicitado aos alunos:
Nessa tira, Chico Bento conversa com seu primo Zé Lelé. Eles
falam de um jeito próprio de muitas pessoas da zona rural. Imagine
como seria se eles falassem do jeito que você aprende na
escola e reescreva o diálogo no caderno. (Livro 4º ano, p. 90,
destaque nosso)
VA
as opções gráficas empregadas no Chico Bento (...) têm como
única finalidade criar uma atmosfera peculiar, inserir o leitor/
R O R
ouvinte num universo social e cultural diferente daquele que
vem convencionalmente representado pela ortografia oficial.
P UTO
(Bagno 2007, p. 123)
A
o exercício de “passar para a norma urbana de prestígio”.
Sabemos que se o Chico Bento falasse de acordo com a norma
O
culta, ele perderia sua “essência”, deixaria de ser o Chico Bento.
D
Essa atitude de pedir para que reescrevam as falas segundo a
norma culta, acaba sugerindo que, em algum momento, “algo
está errado” e por isso “deve ser corrigido”. A esse respeito,
cabe destacar que o livro utiliza explicitamente as expressões
“certo” e “errado”, como em:
VA
sociais e linguísticos. É necessário que se vá muito além disso;
é fundamental que durante as aulas de língua portuguesa os
R O
professores demonstrem que “a língua falada e escrita pelos
R
brasileiros chamados ‘cultos’ também varia e não corresponde
P UTO
[em sua totalidade] ao que está previsto na gramática normativa”
(Bagno 2007, p. 140, comentário nosso).
Outro livro alvo de nossa análise foi o do sexto ano,
A
pertencente a uma coleção diferente dos demais investigados,
também utilizado por alguns cursistas do projeto em suas aulas.
O
Tal livro, em relação à coleção anteriormente discutida, apresenta
D
uma abordagem mais ampla sobre o tema, já que constatamos
a incorporação dos novos conceitos de educação linguística,
mesmo que ainda tenhamos presenciado algumas abordagens
inadequadas. Inicialmente, o livro introduz o conceito básico
de “variedades linguísticas”, mostrando que além de variedades
dentro da própria Língua Portuguesa, no Brasil temos também
a existência de várias outras línguas, mostrando o quanto plural
é o nosso país, principalmente no que diz respeito às línguas
indígenas. Acreditamos que isso seja fundamental para que
“desnaturalizemos” a noção de país monolíngue que impera no
Brasil.
Após essa parte, os autores fazem uma distinção
entre norma-padrão e variedades de prestígio, algo bastante
evidenciado por Bagno (2007), já que são poucos materiais
didáticos que fazem tal distinção. Na maioria das vezes,
confundem-se esses dois termos. O livro de 6º ano (p. 38)
apresenta o conceito de norma-padrão como “uma espécie
de modelo ou de ‘lei’ que normatiza o uso da língua, falada ou
R O
relação “adequado vs. inadequado”. Sobre o preconceito
R
linguístico, ainda que de forma breve, ressaltam que a ideia de
P UTO
que o português falado em “tal Estado” ou em “tal cidade”
seja melhor ou pior que outro lugar é, na verdade, falsa. Para
tal, argumentam que mesmo que uma variedade seja bastante
A
diferente da outra, ela será “boa” se permitir que seus falantes
se entendam e realizem a comunicação. Além disso, não
O
observamos nesse livro a nomenclatura certo/errado, já que
D
os autores trabalham com a noção de adequado e inadequado,
demonstrando que todas as variedades têm seu valor, sendo
necessário sabermos empregar a variedade linguística mais
adequada a cada situação comunicativa.
Logo em seguida, apresentam os diversos tipos de
variação linguística, demonstrando que esta característica
constituinte das línguas naturais vai muito além das simples
variações lexicais e regionais. Os autores apresentam variações
ligadas à escolaridade, à classe social, a questões estilísticas
(formalidade e informalidade), a modalidades textuais (oral e
escrita), entre outras. Consideramos esse tipo de abordagem
altamente produtiva, uma vez que possibilita ao professor e
ao aluno refletirem, juntos, sobre o uso real e heterogêneo da
língua portuguesa.
Contudo, cabe mencionar que estes conceitos sobre
variação linguística aparecem apenas em uma seção do livro
do 6º ano. Ou seja, tal reflexão linguística não é retomada em
outras seções, muito menos são citadas em partes do livro que
VA
aluno aplicar a teoria estudada. Muitas das atividades restringem-
se ao “passe para a norma-padrão” ou, então, apenas a questões
R O
interpretativas.
R
Dessa forma, como podemos observar, se por um lado o
P UTO
livro do 6º ano, por nós analisado, apresente de forma pertinente
o tema “variação linguística”, por outro, acaba superficializando
o fenômeno ao propor atividades que se restringem a exercícios
A
de “reescrita/correção”, além de, implicitamente, reforçarem a
equivocada dicotomia do “certo vs. errado”.
7. Podemos citar dois exemplos de tópicos gramaticais visto sob uma pers-
pectiva variacionista. Marine (2009) aborda a questão da configuração do
sistema pronominal dos demonstrativos, apontando que tal sistema se
mostra binário no Português Brasileiro Contemporâneo (esse vs. aquele) e
não ternário (este vs. esse vs. aquele), como prescrito nas gramáticas nor-
mativas. Outro exemplo relevante é a reflexão sobre a nova configuração
dos pronomes pessoais do caso reto (sujeitos) no Português Brasileiro
Contemporâneo sugerido por Duarte (2013), representada pelas formas
eu/ tu, você/ ele, ela/ nós, a gente/ vocês/ eles, elas (em relação aos pro-
nomes pessoais “ensinados” nas salas de aula: eu/tu/ele/nós/vós/eles).
Como podemos verificar, de acordo com essas pesquisas, o quadro prono-
minal mudou e, assim, atualmente, podemos perceber que algumas estru-
turas da língua caíram em desuso, ao passo que outras foram incorporadas,
promovendo com isso, inclusive, uma redução no paradigma verbal. Essas
são reflexões linguísticas que devem ser levada para sala de aula, durante o
ensino do tópico gramatical pronome, por exemplo.
8. Letra da música extraída na intrega de: http://www.vagalume.com.br/
adoniran-barbosa/saudosa-maloca.html#ixzz47cnAZCgu
VA
Era uma casa velha
Um palacete assobradado
R O R
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
A
Veio os homi cas ferramenta
Que o dono mandô derrubá
VA
algumas variantes (como a ditongação na palavra “nóis”, o
apagamento do “r” final, troca do “l” pelo “r” etc.) se tornem
O
alvo de comentários na comunidade em geral, ou seja, temos que
R
P UTO R
atentar para as possíveis criações ou manutenções de estereótipos.
Afinal, esses estereótipos, como afirma o sociolinguista, são
frequentemente utilizados, sem conhecimento suficiente das
características de uma língua, pela mídia e pelos autores nos livros
didáticos. Isso ocorre, por exemplo, no português brasileiro, em
A
que características do dialeto mineiro, do dialeto caipira ou do
dialeto nordestino são constantemente alvos de piadas em textos
O
midiáticos, como os que circulam na internet.
Considerações finais
R O
em sala de aula diante à língua para poder trabalhar, de modo
R
consciente e adequado, o fenômeno da variação linguística
P UTO
em sala de aula. Além disso, tais reflexões demonstraram que
o docente deve ter um olhar crítico em relação ao material
didático adotado em suas escolas. Afinal, caso isso não ocorra, o
A
professor poderá, além de não abordar a questão da diversidade
linguística em sala de aula, reafirmar crenças equivocadas e pré-
D O
existentes acerca da língua, como a noção dicotômica do “certo
vs. errado”, a partir de uma ótica homogênea de língua. Como
bem esclarece os PCN,
VA
desenvolvimento de habilidades de produção de textos orais e
escritos em seus diversos contextos.
R O R
P UTO
Referências
O A
BAGNO, M. (1997). A língua de Eulália: novela sociolinguística. São
Paulo: Contexto.
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estudamos a língua que falamos. 2ª ed. São Paulo: Contexto.
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Tese de Doutorado. Araraquara: Universidade Estadual
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Ensino de português e sociolinguística. São Paulo: Contexto.
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Caderno de Pesquisa, nº 52, São Paulo, pp. 19-24.
________. (1986). Linguagem e escola: uma perspectiva social. São
Paulo: Ed. Ática.
R
IDENTIDADES E LINGUAGENS
P UTO
O A
D
VA
R O R
P UTO
O A
D
VA
5
R O Do Patinho Feio a Tom Jones, o enjeitado:
R
os contos de fadas na aula de literatura
P UTO
O A Carlos Francisco de Morais
D
os módulos “A linguagem dos arquétipos na educação
integral: dos contos de fadas à literatura infantil”, do curso de
aperfeiçoamento “Educação integral, linguagens e expressão
corporal: conceitos, procedimentos e atitudes” e “Literatura
infanto-juvenil” do curso de aperfeiçoamento “Docência
em tempo integral. Educação integral, expressões verbais e
corporais”, realizados em 2013 e 2014, respectivamente, pelos
cursos de Letras e Educação Física da UFTM – Universidade
Federal do Triângulo Mineiro, sob os auspícios do Programa
Mais Educação, do MEC.
Como resultado do primeiro, foi publicado, no livro
Escola em tempo integral: linguagens e expressões, organizado em
2014 por Juliana Bertucci Barbosa, Regina Simões e Wagner
Wey Moreira, nosso capítulo “A linguagem dos arquétipos na
educação integral: dos contos de fadas à literatura infantil”; do
segundo, já foi publicado, co-autoria com docentes da escola
pública que participaram do curso, o capítulo “A contribuição da
literatura no processo da alfabetização”, no livro Mais educação:
VA
contos de fadas pode contribuir para sua formação como
leitores literários interessados e eficientes.
R O R
Como nos capítulos previamente aludidos, os
fundamentos aqui são três: a assunção da contribuição específica
P UTO
e inestimável da literatura para a constituição de sujeitos não-
alienados, a concordância com as pesquisas que apontam para
a importância da leitura de contos de fadas e a consciência do
A
papel do professor como mediador da formação literária de seus
alunos em todos os níveis de ensino, dada a precariedade da
O
contribuição familiar para isso na atualidade brasileira.
VA
modalidades ligadas à comunicação pela imagem e à redefinição
da comunicação oral, propiciada pela técnica: fita de cinema,
radionovela, fotonovela, história em quadrinhos, telenovela.
R O R
Isto, sem falar no bombardeio incessante da publicidade, que
nos assalta de manhã à noite, apoiada em elementos de ficção,
A
manifesta a cada instante; aliás, ninguém pode passar um dia
sem consumi-la, ainda que sob a forma de palpite na loteria,
O
devaneio, construção ideal ou anedota. E assim se justifica o
interesse pela função dessas formas de sistematizar a fantasia,
VA
faz-se necessário e urgente o letramento literário: empreender
esforços no sentido de dotar o educando da capacidade de se
apropriar da literatura, tendo dela a experiência literária.
R O R
Estamos entendendo por experiência literária o contato
efetivo com o texto. Só assim será possível experimentar a
P UTO
sensação de estranhamento que a elaboração peculiar do texto
literário, pelo uso incomum de linguagem, consegue produzir no
leitor, o qual, por sua vez, estimulado, contribui com sua própria
A
visão de mundo para a fruição estética. A experiência construída
a partir dessa troca de significados possibilita, pois, a ampliação
O
de horizontes, o questionamento do já dado, o encontro da
D
sensibilidade, a reflexão, enfim, um tipo de conhecimento
diferente do científico, já que objetivamente não pode ser
medido. O prazer estético é, então, compreendido aqui como
conhecimento, participação, fruição. Desse modo, explica-se a
razão do prazer estético mesmo diante de um texto que nos
cause profunda tristeza ou horror (...) (Brasil 2006, p. 55)
VA
ocidental.
Fruto da cultura popular em incontáveis quadrantes
R O
da Terra, os contos de fada emanam, ao mesmo tempo, das
R
experiências vividas no cotidiano e das fantasias, medos e sonhos
P UTO
basilares do gênero humano, tão comuns a todos que se tornam
imagens arquetípicas, as quais, segundo Carl Gustav Jung, se
manifestam individualmente nos sonhos e coletivamente nos
A
mitos, fábulas e contos de fadas que todos os povos contam.
O contato com o potencial imagético, simbólico e anímico está
O
intimamente ligado ao que Antonio Candido, referido acima,
D
chama de “necessidade universal de ficção e de fantasia”,
ligando-se também, portanto, a nosso ver, à experiência com o
texto literário. Em outras palavras: a intimidade com os contos
de fadas pode contribuir para a formação da intimidade com os
textos literários de todos os gêneros.
Para Marie-Louise von Franz (1995), uma das principais
discípulas e continuadoras do trabalho de Jung no campo da
Psicologia Analítica estão no centro da expressão de processos
psíquicos ligados ao inconsciente coletivo:
VA
propostas do Romantismo como movimento artístico e cultural. Segundo
ele, citado em Bettelheim (2002, p. 12), “Há um significado mais
R O
profundo nos contos de fadas que me contaram na infância do
R
que na verdade que a vida ensina”.
A
a exemplificar como isso se dá e como essa ligação pode ser
utilizada em sala de aula.
D
Bruno Bettelheim aponta como esses contos enfeixam
ficcionalmente muitas das mais decisivas experiências que uma
criança precisa enfrentar para formar-se como pessoa:
VA
se olha para a cultura popular do século XX, magnificada em
seu poder de divulgação pelo advento de novas tecnologias
R O
de comunicação, o número cresce exponencialmente, pois são
R
órfãos, entre muitos outros, Tarzan, Super-Homem, Batman
P UTO
e Robin, o Homem Aranha, Lanterna Verde, Harry Potter,
Luke Skywalker e Han Solo, Capitão Marvel, Chaves, Vito
Corleone, o Demolidor, Dorothy, Poliana, Shena, a Rainha da
A
Selva, o Fantasma, Frodo Baggins, Wolverine, Professor X,
Eragon, Goku, Pegasus Seya, Naruto, o Príncipe da Pérsia,
O
Príncipe Caspian, e os irmãos Baudelaire, Klaus, Violet e Sunny,
D
protagonistas dos treze volumes das Desventuras em série.
Na literatura, também há órfãos para todos os lados: Tom
Jones (do romance homônimo de Henry Fielding), Tom Sawyer
e Huckleberry Finn (dos romances homônimos de Mark Twain),
Jane Eyre (da obra homônima de Charlotte Brontë), Heathcliff
(de O morro dos ventos uivantes), Cosette (de Os miseráveis, de Victor
Hugo), Quasimodo e Esmeralda (de Notre Dame de Paris ou O
corcunda de Notre Dame, também de Victor Hugo), Becky Sharp
(de A fogueira das vaidades, de William M. Tackeray), Jude (de Judas,
o obscuro, de Thomas Hardy), Carlos da Maia (de Os Maias, de
Eça de Queirós), Riobaldo e Diadorim (de Grande sertão: Veredas,
de João Guimarães Rosa).
Nenhum autor, provavelmente, utilizou com mais
destaque (ou quase obsessivamente) o tema da orfandade que
Charles Dickens (1812-1870): Oliver Twist e David Copperfield,
nos romances que levam seus nomes, assim como Pip (Grandes
esperanças), Sidney Carton (Um conto de duas cidades), Sloppy
(Nosso amigo mútuo) são órfãos, da mesma maneira que, em A
VA
contos de fadas e a formação de leitores de textos literários. Nos
estudos de Jung que resultaram na criação da Psicologia Analítica
R O
como alternativa à Psicanálise de Freud, esse é o conceito-chave
R
para explicar a vida humana, entendida como um processo
P UTO
chamado de “individuação”, que ocorre ao longo de toda a
vida e cujo objetivo é a construção da identidade específica de
cada indivíduo. É neste âmbito que Jung, conforme citado por
A
Marcondes conceitua os arquétipos:
A
Dei o nome de arquétipos a esses padrões, valendo-me de
V
uma expressão de Santo Agostinho: Arquétipo significa um
“Typos” (impressão, marca-impressão), um agrupamento
R O R
definido de caracteres arcaicos, que, em forma e significado,
encerra motivos mitológicos, os quais surgem em forma pura
P UTO
nos contos de fadas, nos mitos, nas lendas e no folclore. (Jung
2001, p. 34)
A
Uma professora que leva o Patinho Feio para sua roda
de leitura na Educação Infantil ou utiliza a estória da Bela
O
Adormecida em atividades criativas no Ensino Fundamental I
D
leva consigo também toda a multidão de órfãos que nomeamos
acima (conste que são oitenta e um, nessa lista não exaustiva).
Se fizer isso de maneira planejada e consciente, estará dando
vários passos na direção certa, ou seja, na construção de seus
jovens discentes como leitores de literatura, num dos sentidos
mais profundos que essa arte pode alcançar, ou seja, o encontro
do leitor com as verdades mais profundas da existência. Se,
como afirma Bettelheim, citado acima, o contato com os
contos de fadas prepara a criança para enfrentar as situações
traumáticas da existência, não menos a prepara para lidar como
as representações artísticas dessas mesmas situações, tal como
figuradas na literatura.
Vista de maneira mais reflexiva, no contexto de uma
visão mais ampla a respeito dos contos de fadas, que os entende
como muito mais do que material de passatempo, a saga do
Patinho Feio em busca de um lugar em que seja acolhido,
não abandonado por quem pensa ser sua mãe, é, na realidade,
uma jornada em busca do autoconhecimento. Ao fim de sua
VA
comovendo platéias do mundo inteiro com a profundidade de
sofrimentos em busca de catarse que apresenta, nenhum deles
R O
mais forte do que aqueles experimentados por um ser humano
R
que, abandonado à orfandade, busca se conhecer, conhecer sua
P UTO
origem para poder forjar seu destino.
Tom Jones, provavelmente o primeiro anti-herói da
literatura moderna, é o próprio Patinho Feio. No romance A
A
história de Tom Jones, um enjeitado, publicado em 1749 por Henry
Fielding (1707-1754), ele, ainda bebê, tendo sido abandonado
O
por pai e mãe, é acolhido pelo senhor Allworthy, um rico solteirão
D
pertencente à aristocracia rural do sudoeste da Inglaterra,
sendo criado em sua propriedade. Desde seu lançamento, foi
reconhecido como uma obra-prima revolucionária, sendo
considerado o primeiro romance, gênero que definirá a prosa
no ocidente a partir de finais do século XVIII. Recentemente,
Jonathan Yardley publicou uma reavaliação da obra, a qual
sumariza sua importância:
A
to this day. (Yardley 2003)
V
O
Em função de sua personalidade agitada, sensual, cômica,
R
P UTO R
mas também, em certas circunstâncias, arrebatada ao ponto
da violência, acaba por ser expulso de lá ao se apaixonar pela
filha de outro nobre local, que, pelas regras vigentes naquela
sociedade, estava fora dos limites de suas ambições. Peripécias
que preenchem, de maneira a mais variada possível, seja em
O A
tema, tom e forma, as seiscentas páginas da obra, levam Tom a
descobrir-se filho exatamente da irmã de seu antigo benfeitor,
que, ao saber-se tio do órfão, o recebe novamente e torna-o seu
D
herdeiro, o que lhe possibilita casar-se com sua grande paixão.
De enjeitado sem eira nem beira a proprietário rural não haverá
a mesma distância (e os mesmos perigos) que separam o patinho
feio do belo cisne? Quando todos os segredos são descobertos
e todos os reconhecimentos feitos e Tom e Sofia se casa, no
último capítulo do romance surgem reflexões do narrador que,
de maneira alguma, estariam deslocadas numa versão de “O
Patinho Feio”, mesmo que com outras palavras que não estas:
The evening was spent in much true mirth. All were happy,
but those the most who had been most unhappy before. Their
former sufferings and fears gave such a relish to their felicity as
even love and fortune, in their fullest flow, could not have given
without the advantage of such a comparison. (Fielding 2013)
VA
aproveitada por leitores que já conhecem as angústias do
Patinho; trazendo à sua consciência os paralelos, não em termos
R O
de peripécias, mas de vivências, que existem entre as duas
R
estórias, um docente terá mais material para ajudar a despertar e
P UTO
manter o interesse de seu alunado no texto mais longo, uma vez
que os estará ajudando a ver como ele trata de temas comuns a
todos os seres humanos. Para começar, o docente pode explorar
A
como em ambas as narrativas o percurso arquetípico do herói
é cumprido. Observe-se como as palavras de Petersen (2004) a
O
respeito do Patinho Feio se ajustam também a Tom Jones, se
D
tivermos em conta que ambos partilham a carência essencial,
que deflagra todo seu percurso de vida: a ausência, desde o
primeiro dia, do amor materno:
VA
demands of others (mother, siblings, geese, cat, hen and old
lady) without being able to care for his own needs. So the
child or the grown up individual with these inner dynamics
R O R
may end up with a depression, with feelings similar to the
duckling’s, especially as they are described in his loneliness in
A
de um paralelo entre os dois enjeitados é aquela em que o
narrador, pela primeira vez, se dedica a avaliar o caráter de se
O
protagonista:
VA
de que o Sr. Allworthy permitisse que um menino assim fosse
educado com o sogrinho, temendo-se que a moral deste
acabasse corrompida pelo exemplo daquele. (Fielding 1971,
R O R
p. 64)
A
social, malvisto por quem o cerca, tendo seu comportamento e
seu caráter descritos como negativos, inspirando desconfiança a
O
todos, sendo comparado desvantajosamente com outro jovem,
D
exatamente como acontece quando um cisne vive com uma
família de patos.
Contrastam vivamente com esse trecho outros dois da
narrativa, localizados quando da revelação da verdadeira origem
de Tom.
O primeiro surge quando o Sr. Allworthy, finalmente
informado de que o rapaz é filho de sua falecida irmã, se
reencontra com ele:
VA
pelas cruéis e injustas suspeitas, e por todos os padecimentos
que vos ocasionei? – E não estou eu compensado? – exclamou
Jones. – Não estariam agora ricamente compensados os meus
R O R
padecimentos, ainda que tivessem sido dez vezes maiores? Oh!
meu querido tio, esta bondade, esta ternura me subjugam, me
A
meu grande, meu nobre, meu generoso benfeitor. (Fielding
1971, pp. 598-599)
VA
Tendo-se completamente vestido, Jones acompanhou o tio
à residência do Sr. Western. Era ele, de fato, uma das mais
R O R
louçãs figuras que já se contemplaram, e a sua pessoa teria
bastado a enfeitiçar a maior parte do mundo feminino; mas
A
Sofia, que, embora zangada, também se apresentara da
maneira mais favorável, fato cuja explicação deixo a cargo
O
das minhas leitoras, surgiu tão extremamente bela, que o
próprio Allworthy, ao vê-la, não pode deixar de murmurar a
VA
ocasião do casamento, e não perdeu ensejo nenhum para
demonstrar a sua afeição a ele e à esposa, que lhe quer bem
como a um pai. (...)
R O R
Para concluir, assim como não se encontram um homem e uma
mulher mais merecedores do que esse afetuoso casal, assim
A
pela estima recíproca. Não é menos amável o procedimento
deles para com os parentes e amigos. E tal é a sua afabilidade,
O
a sua indulgência e a sua beneficência para com os inferiores,
que não há um vizinho, um rendeiro ou um criado que não
A
BRASIL (2006). Linguagens, códigos e suas tecnologias. Orientações
V
curriculares para o ensino médio: volume 1. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica.
O R
CANDIDO, Antonio (2002). “A literatura e a formação do
R
P UTO
homem”, in: DANTAS, V. (org.) Bibliografia Antonio
Candido – textos de intervenção. São Paulo: Ed. 34.
FIELDING, Henry (1971). Tom Jones. São Paulo: Abril.
O A
FRANTZ, Marie-Louise von (1995). Shadow and evil in fairy
tales. Boston: Shambhala. Apud BETTS, John A Jungian
interpretation of Grimm’s “The shoes that were danced
R
P UTO Deolinda de Jesus Freire
A
Carolina Freire Antunes
D O
Introdução
VA
(...) A pintura e a escultura tinham uma ligação orgânica com
R O R
a arquitetura, já que esta se harmonizava com a finalidade
social a que serviam as construções. A música e o canto eram
A
mesmo em Atenas é possível desprender essas artes de sua
inserção na experiência direta e, ao mesmo tempo, preservar
O
seu caráter significativo. Os esportes atléticos, assim como o
teatro, celebravam e reforçavam tradições raciais e grupais,
VA
meio e \ou objeto. Quando essa relação não é observada,
ambos acreditam que a experiência se enfraquece. Para Dewey,
R O
a separação entre a arte e a vida do indivíduo torna a experiência
R
menos vigorosa, o que pode dificultar o aprendizado, logo,
P UTO
a transformação. Já Larrosa acredita que as formas de
aprendizagem instituída pela sociedade, principalmente aquelas
em que predominam o acúmulo e\ou excesso de informação,
A
podem empobrecer as experiências que o indivíduo poderia
realizar com o meio e\ou contexto em que vive.
VA
grava nele o que é ouvido. Quando o ritmo do trabalho se
apodera dele, ele escuta as histórias de tal maneira que adquire
espontaneamente o dom de narrá-las. Assim se teceu a rede
R O R
em que está guardado o dom narrativo. E assim essa rede
se desfaz hoje por todos os lados, depois de ter sido tecido,
O
pelo encontro de gerações. Essa questão nos faz pensar sobre a
D
intervenção da educação nas disseminações de práticas em que
a experiência é fundamental. A educação, aqui, é compreendida
com uma forma escolar e não escolar de transmissão do
patrimônio da nossa cultura, tais como valores, costumes,
posturas, conteúdos etc. Esse aprendizado, comumente, envolve
a presença de um educador, que tem como função disponibilizar
ao educando instrumentos para que ele construa a si mesmo e
o seu conhecimento. O processo de educar deve ser de dentro
para fora e nunca o contrário. Como nos adverte Marcos Ferreira
Santos (2009, pp. 19-20), educar significa “conduzir para fora,
criar condições, preparar o terreno e cuidar para que o outro
possa ser ele mesmo e assim construir a humanidade de que é
portador como potência, como possibilidade”.
A educação deve ser pautada pela experiência do
aprendiz com o mundo e o ambiente. O diálogo da educação
com a experiência é uma forma de realçar a pertinência desta
última, principalmente seu caráter pessoal, para a constituição
do indivíduo, integrando corpo e mente sem a hierarquização da
A
se reaprender a ouvir.
V
R O R
A Educação Infantil e a experiência
A
básica, está pautada pela junção do cuidar e do educar. A escola
deve auxiliar a criança na construção de sua autonomia a partir
O
do conhecimento de sua identidade, de sua história, dos cuidados
D
com seu corpo e com o corpo do outro. O tempo de cada criança
deve ser valorizado e respeitado para que ela possa se apropriar
de valores, de atitudes e de costumes que representem nossa
cultura. Conforme o currículo da Educação Infantil:
VA
cotidiana de si mesma”. A criança, a partir de sua corporeidade,
percepção, imaginação, sensibilidade, intensidade e ludicidade,
R O
experimenta e investiga o mundo, fazendo descobertas e
R
criando uma relação peculiar com o conhecimento a partir de
P UTO
seus “muitos fazeres e saberes”, como afirma Renata Meirelles
(2009, p. 106). A experiência vivida pela criança permite que ela
se organize interna e externamente. Essa organização é marcada
A
por um tempo peculiar, como observa Larrosa (2002, p. 24):
VA
brincar como exemplo da inteireza do viver não fragmentado.
Quando a criança interage com o objeto ou o meio, ela o faz de
R O
corpo inteiro, que é o que define sua inteireza. Por essa razão,
R
a experimentação torna-se essencial no processo de educação,
P UTO
devendo fazer parte do currículo escolar.
A importância do diálogo entre a arte e a experiência na
Educação Infantil encontra eco nas reflexões de Herbert Read,
A
que propõe uma educação integrada em que haja espaço para
todas as formas artísticas de expressão, denominando-a como
O
uma “educação da sensibilidade estética”. Para Read (1963[2001,
D
p. 116]), o objetivo da arte na educação deveria ser idêntico ao
propósito da própria educação, ou seja, desenvolver na criança
um modo integrado de experiência em que a percepção e o
sentimento se movimentem num ritmo orgânico em direção a
uma apreensão mais completa e mais livre da realidade.
A partir dessas reflexões, vemos que a proposta de uma
“educação da sensibilidade estética” dialoga com os conceitos
de experiência, arte e Educação Infantil no que diz respeito
à valorização e legitimação da experiência da própria criança.
Essa sensibilidade aproxima a educação de um formato mais
humano, sensível e flexível, em que o indivíduo possa aprender
a partir de suas experimentações e que elas sejam significativas e
legitimadas. Ao mesmo tempo, é imprescindível que as crianças
possam construir um “tempo próprio” para as descobertas, a
exploração e o desenvolvimento cognitivo e corporal.
É nesse sentido que percebemos a Educação infantil, ou
seja, como um campo vasto para descobertas e experimentações,
que, por sua vez, compartilham aspectos com a arte em geral,
VA
R O R
P UTO
O A
D
VA
o mundo a partir das mãos: tocando, pegando, amassando,
rasgando e, até mesmo, guardando objetos e materiais. A escolha
R O
pela argila (barro) se deu em razão de este ser um elemento
R
natural que tem plasticidade e coloração, favorecendo, assim, a
P UTO
realização de um trabalho com a modelagem e a criatividade.
Ademais, o barro estimula o contato das crianças com a terra.
A primeira etapa da atividade – amassar o barro –
A
teve como intuito a exploração da argila pelas crianças,
principalmente para sentir a temperatura, o cheiro, a textura e o
O
peso do material. Assim que receberam seu pedaço de barro, as
D
crianças amassaram, bateram, jogaram no chão e deram “socos”
na argila. Essa sequência teve como objetivo explorar as técnicas
para retirar o ar e deixar a argila mais mole para a modelagem.
Para realizar essa primeira etapa, colocamos as crianças
em roda e passamos o saco fechado de argila com o peso de 1kg.
As crianças seguraram, fizeram comentários de que era pesado
e sentiram a temperatura, algumas expressaram suas sensações:
“que gelado!”. Abrimos o saco e, de imediato, as crianças
ficaram impressionadas com a cor do barro, tocaram com o
dedo e perceberam que ele ficava manchado. Cortamos pedaços
generosos de barro com o barbante, entregamos os pedaços e
mostramos que tínhamos de amassar, socar, bater e até jogar
no chão para que a argila ficasse molinha. Nesse momento,
percebemos que o contato com a argila tranquilizou o grupo,
tornando as crianças muito comunicativas, pois falavam muito
durante o contato de suas mãos com o barro. Na sequência
dessa etapa, com a modelagem, foram surgindo dragões, castelo
de dragão, cabanas, sorvetes, gira-gira etc. Algumas crianças
VA
R O R
P UTO
O A
D
VA
nomes diferentes da ideia inicial. Notamos que algumas crianças
foram deixando de lado os pincéis e começaram a pintar a peça
R O
com os dedos e as mãos e, aos poucos, algumas também foram
R
abandonando as peças e começaram a pintar os próprios dedos
P UTO
e braços, sempre com muito prazer.
O A
D
A
da brincadeira das crianças foi surgindo e se transformando.
V
R O R
P UTO
O A
D
Figura 5: As “cobrinhas” de argila e o formato dado pelas crianças.
VA
apresentar o relato individual de algumas das crianças que
participaram da atividade com o barro. Salientamos que cada
R O
criança teve um contado ou uma experiência singular com os
R
materiais propostos. Dessa forma, cada criança manipulou,
P UTO
compôs, desmanchou e brincou de forma peculiar.
A
experimentações com a argila,
sentiu o peso, cheirou, tocou,
VA
R O R
P UTO
O A
D A arte de Francisco demonstra que a experiência
intensa com o objeto proporcionou o envolvimento e a
intimidade com a argila, sendo observado que, na última etapa,
a criança buscou autonomamente suas formas de interagir com
o barro. Assim, Francisco escolheu a maneira de amassá-lo e
também de ficar cortando com o barbante, como se estivesse
investigando o material e suas possibilidades. A atividade
comprova que a experiência transformou a relação de Francisco
com o objeto, ou seja, com a argila.
VA
R O R
P UTO
O A
D
Com a experiência
e a arte de Ana, percebemos que
as crianças descobrem novas
possibilidades e relações
com a experimentação dos
materiais que disponibilizamos, pois Ana
gostou de brincar com as cascas de pistache no barro.
Além desse aspecto, a experiência de Ana comprova a relação
intrínseca entre arte e vida, pois, após a brincadeira com as formas
que inventava, ela finalizou sua “produção” representando sua
família, o que é de mais significativo e presente em sua vida.
Percebemos, assim, a importância de significar e ressignificar os
materiais a partir de sua identidade, do meio em que vive e de
seu contexto.
VA sentindo
de
necessidade
limpá-la com
O
frequência. Aos poucos,
R
foi se acostumando
R
P UTO
com a textura, com a
constância e a tem-
peratura da argila.
Na última etapa da
A
atividade, começou a
passar o peda-ço de
O
argila no braço e nos
D
pés. Depois de um
tempo realizando
esse movimento,
começou a pisar no barro, alegremente,
FIGURA 8: A descobrindo uma nova forma de amassá-lo. Após
experiência e
brincar muito com o barro, disse que estava
a arte de João.
fazendo um “castelo do dragão”, compondo a
arte com canudos plásticos.
VA com o material,
perguntou: “Por que
O
a argila não está mais
R
molinha?”. Gostou tanto
R
P UTO
do novo material que
sempre nos pedia para
modelar. Nas primeiras
atividades, conversava muito
A
com os amigos que estavam
próximos, comunicando o que
O
estava criando e recriando com
D
o mesmo pedaço de argila: “Tô
fazendo uma cabana”; “Agora
é um carrossel”; “Ah! Fiz um
FIGURA 9: A sorvete”. Infinita e intensa, tanto na
experiência e a pintura quanto na modelagem com
arte de Clara. o barro, seu tempo era maior, pois se dedicava com grande
envolvimento e prazer em tudo que fazia. Ao misturar cores de
tintas para pintar a peça, ficou impressionada com o aparecimento
da cor marrom, gritava e pulava pela sala querendo compartilhar
com os colegas: “é o marrom!”.
VA conseguiu fazer
potes pequenos,
O
que enfeitou
R
com cascas de
R
P UTO
pistaches. Durante
a pintura da peça,
resolveu
os dedos, mãos
pintar
A
e braços. Sempre
muito falante, comunicava
O
ao grupo que estava fazendo
D
um “gira-gira”, depois
mudou de ideia e, por
influência de comentários
dos colegas, disse que
estava fazendo sua família,
sinalizando que o pote era
a mamãe e o papai.
barro.
VA
corpo na arte da pintura, como se ele fosse uma extensão do
R O R
Considerações finais
O A
mais sensível, em que as experimentações e os sentidos sejam
valorizados. A partir da análise individual dos relatos de cinco
crianças e suas experiências com a argila, apresentamos uma
D
relação possível entre arte e experiência na Educação Infantil.
Ao longo das atividades, acompanhamos a singularidade
de cada experiência, que foi observada na expressão corporal e
gestual, no comportamento, na fala e no silêncio das crianças
enquanto modelavam, bem como nas tintas e nos materiais
que disponibilizamos para a interação com a argila. Além disso,
notamos a mudança na forma de interagir com o barro após a
frequência do contato com o material. As crianças construíram
intimidade e autonomia, e, por fim, diversificaram as formas e as
relações com a argila, trazendo, para o momento da experiência e
da arte, sua história de vida, que está marcada pela subjetividade.
A diversidade de reações na relação da criança com a argila
traduz o quanto é presente o caráter singular e subjetivo nas
atividades da Educação Infantil. Por essa razão, é imprescindível
estarmos atentos à necessidade de uma educação mais sensível
que consiga “olhar mais devagar” para o “tempo” peculiar das
crianças, que pode ser observado e estimulado na experiência
com as artes.
VA
Paulo: Brasiliense.
DEWEY, John (1912[2012]). Arte como experiência. São Paulo:
R O R
Martins Fontes.
P UTO
KAPLAN, Abraham (1912[2012]). “Introdução”, in: DEWEY,
John Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes.
FARIA, Vitória e SALLES, Fátima (2007). Currículo na educação
R
integral e mediação do professor
P UTO
O A Maria Eunice Barbosa Vidal
Maíra Sueco Maegava Córdula
D
Considerações iniciais
VA
daí decorreriam, caberia a pergunta: como esperar, então, que os
alunos detenham um conhecimento amplo de língua(gem)? É
R O
difícil responder.
R
Pensando nisso, buscamos discutir questões teórico-
P UTO
pedagógicas, no módulo intitulado “Escrita, Leitura e Tempo
Integral” – curso de aperfeiçoamento docente –, oferecido a
professores da Educação Básica em Tempo Integral da cidade
A
de Uberaba-MG e região, no qual se propuseram estratégias
voltadas para desenvolver competências básicas de leitura e
O
aumentar o letramento dos alunos de séries iniciais.
VA
percurso de construção dos sentidos do texto.
Verdade seja dita, a sala de aula ainda é, na nossa
R O
sociedade, um espaço genuíno de construção de conhecimentos.
R
É justamente aí, na interação dos sujeitos – professor e alunos –
P UTO
que é possível aumentar o interesse pela leitura e pelos sentidos
que veicula um texto. Sob essa inspiração, cabe menção a Masetto
(2000) para quem a mediação pedagógica aplica-se à atitude
A
e ao comportamento do professor, que se posiciona como
um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem,
O
colaborando, de maneira ativa, para que o aprendiz alcance os
D
seus objetivos.
Visto assim, e, embasado este trabalho em abordagens
que concebem a leitura como prática de interação social, mais
especificamente voltado para a mediação leitora, resta destacar a
seguinte definição de andaime:
VA
aula do curso de aperfeiçoamento docente, por meio de uma
breve descrição da atividade de mediação da autora que, para
R O
começar, solicita a seus alunos a leitura de uma história em
R
quadrinhos. Para continuar, convida-os, apenas e tão somente, a
P UTO
completarem um balão em branco – propositalmente apagado –
com um enunciado coerente com a história. Nessa etapa, obteve,
da maioria dos alunos, enunciados desconectados da história.
A
Motivo: foi desprezada a imagem, código não verbal, na leitura
dos quadrinhos, decorrendo daí enunciados representativos de
O
uma leitura parcial. Ou, dizendo-o de outra maneira: seus alunos
D
se mantiveram atrelados apenas ao que estava representado
pela escrita, de sorte que a compreensão leitora não abrangeu a
totalidade dos sentidos.
Em uma nova etapa da atividade, a autora conduz a
mediação da leitura, fazendo com que seus alunos confrontem
suas suposições iniciais com outros entendimentos e construam
enunciados mais adequados. Questiona: (i) a localização
das personagens nos quadrinhos; (ii) o que fazem essas
personagens; (iii) quais emoções se expressam em seus rostos,
entre outras preguntas... Ao final, confere-lhes novamente a
tarefa de completar o balão em branco e, como resposta, obtém
enunciados bastante adequados.
A partir desse recorte, então, propusemos uma
reprodução da atividade de Silva e simulamos a preparação de
uma aula pelos professores-cursistas que, se quisessem, poderia
ser aplicada a alunos de Escolas em Tempo Integral.
Elegemos o trabalho pedagógico, acima descrito, como
suporte e modelo das nossas atividades, uma vez que nos pareceu
VA
explorassem de modo complementar os elementos verbal e não
verbal, a serem apresentadas aos professores do Ensino Básico.
R O
A intenção era que, com base na experiência de Silva, pudessem
R
utilizar o recurso dos andaimes, de modo a motivar com
P UTO
questionamentos seus alunos a quem se exporiam, a posteriori, os
quadrinhos escolhidos.
A
Sugestões de atividade didático-pedagógica: algumas reflexões
O
D A seguir uma amostragem com considerações de
professores que, reunidos em pequenos grupos, aceitaram a
tarefa de simular a preparação de uma aula a ser apresentada
a seus alunos, usando a estratégia de mediação da leitura de
quadrinhos:
Atividade1 – Grupo A
– Quem aqui gosta de historinha?!
– O cachorrinho da tirinha aparece em que gibi? Qual é o
nome dele?
– Observem bem a imagem! O que as personagens estão
fazendo? Seu comportamento é natural para o caso de um
pedido de namoro? Por quê?
– Vamos ler o balãozinho (nuvenzinha) do primeiro
quadrinho: (Bidu: “Que tal me namorar, Anaiá?” / “Sou um
cachorro bacana, simpático. Tenho uma porção de ossos
VA
anteriormente!
– Então: qual seria uma fala que ficaria bem, no balão em
O
branco posicionado no meio da tirinha, indicando a pergunta
R
da cachorrinha para o Bidu?
R
P UTO Escolhemos HQs,2 cujos temas se aproximassem do
cotidiano dos alunos de seriação básica, e delineou-se a proposta
de atividade na perspectiva interacionista de leitura, de modo a
A
explorar o conhecimento prévio dos discentes, fazendo com que
aventassem hipóteses que, ao final, pudessem ser confirmadas
O
ou refutadas no encalço dos sentidos.
VA
narrativa, cuja compreensão exige considerar a leitura dos
quadros e as inferências que se produzem, muitas vezes, na
R O
“sarjeta” que é como se denomina o espaço entre os quadrinhos.
R
Também conviria lembrar que, de acordo com Cirne
P UTO
(2014), aconteceram mudanças no comportamento e na moral
das pessoas. Os próprios quadrinhos também mudaram:
renovação gráfica, narracional e conteudística. Ressalte-se que
A
culminou, ainda nos anos 60, com a instauração da “novela
gráfica”. Depois vieram as bédés e, mais recentemente, os
O
mangás de extração japonesa.
VA
os conhecimentos que já possui. Considere-se a antecipação
das hipóteses acerca do conteúdo do texto, que vão sendo
R O
submetidas à verificação. O leitor seleciona pistas – elementos
R
linguísticos do texto – e produz inferências que preenchem as
P UTO
lacunas do texto ou desfazem ambiguidades, com base em seu
conhecimento de mundo.
Para as autoras, a leitura de um texto exige mais que
A
o simples conhecimento linguístico compartilhado pelos
interlocutores: o leitor é levado a mobilizar estratégias tanto
O
de ordem linguística, como cognitivo-discursiva, com o fim de
D
levantar hipóteses, preencher as lacunas que o texto apresenta
e participar, de forma ativa, da construção do sentido. Autor
e leitor devem ser vistos, portanto, como “estrategistas” na
interação pela linguagem.
Nessa linha de pensamento, a leitura é uma atividade
em que pesam as experiências do leitor. O sentido “não está
no texto”, é construído por “sinalizações” textuais fornecidas
pelo autor e pelos saberes prévios do leitor que deve assumir,
de acordo com Bakhtin (1979[2000]), uma atitude “responsiva
ativa”.
Por conseguinte, a proposta de atividade de leitura
mediada, elaborada pelo Grupo A, contempla a intenção de
trabalhar conjuntamente com os alunos das séries iniciais
que, no caso, poderão se sentar em círculo na sala de aula ou
num espaço reservado da biblioteca da escola. E a mediação,
que nela se pretende, permite aos aprendizes identificar as
sinalizações dos quadrinhos para a produção de sentidos e,
O R
(satisfatórios, diga-se) obtidos junto aos alunos das escolas em
R
que lecionam.
P UTOAtividade3 – Grupo B
– Alguém conhece essas crianças dos quadrinhos? Como se
VA
A exemplo do trabalho de Silva (2011), as perguntas
destinadas aos alunos também partiram do texto para o leitor,
O R
chamando a atenção para o letreiro nos balõezinhos e para
R
as feições das personagens. Além de levar os alunos a trazer
P UTO
informações para o texto.
A fim de chegar à construção de um enunciado coerente
para o último quadrinho, era necessário dispor da informação
A
de que o Floquinho é um cachorro de estimação do Cebolinha,
de criação de Mauricio de Sousa. De incomum, possui uma
O
vasta pelagem verde em que se escondem, por vezes, diferentes
D
objetos.
Considerações finais
VA
a leitura como um processo de interação em que leitor e autor
se aproximam por intermédio do texto, torna-se fundamental a
R O
mediação docente no sentido de garantir que o aluno não perca
R
de vista nenhuma das linguagens constitutivas dos quadrinhos
P UTO
que vierem a ler.
O recurso dos andaimes fortalece nos alunos suas
habilidades leitoras, instigando-os a articular as suas experiências
A
de mundo com a construção dos sentidos. Trabalhando nessa
linha, o professor medeia a leitura de modo mais completo,
O
uma vez que estimula o aprendiz a interagir com os textos e a
D
considerar as marcas linguísticas, os propósitos comunicativos
e, especialmente no caso das HQs, os elementos visuais que, por
ventura, houver neles. Eis, portanto, uma prática que favorecerá
a ampliação do letramento de alunos do Ensino Básico e,
seguramente, daqueles em seriações mais adiantadas.
Para finalizar, façamos nossas as palavras do editorial
publicado pela Folha de S. Paulo, em 17/01/2015: “Sendo tantos
os problemas da educação brasileira, fez bem a presidente
Dilma Rousseff em alçar a educação à condição de prioridade
de seu segundo mandato. Resta torcer, infelizmente sem muita
credulidade, que sua proclamação não se esgote na retórica”.
Referências bibliografias
A
Acesso em: 26/07/2014.
O V
GREGOLIN, Maria do Rosário Valencise (1993). “Linguística
textual e ensino de língua: construindo a textualidade
R
R
na escola.” Alfa: revista de linguística, vol. 37. São Paulo:
P UTO
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KOCH, Ingedore G. Villaça e ELIAS, Vanda Maria (2006[2010]).
Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto.
O A
MASETTO, Marcos Tarciso (2000). “Mediação pedagógica e o
uso da tecnologia”, in: MORAN, J. M.; MASETTO, M.
T. e BEHRENS, M. A. (orgs.) Novas tecnologias e mediação
P UTO
trabalho com os alunos.
• Esta atividade prática deverá guiar a percepção dos
elementos superficiais da quadrinização, bem como
A
daqueles que explorem o conhecimento prévio dos
alunos.
R
leitor ao mediador de leituras
P UTO
A
Bruno Curcino Mota
Patrícia Soares Batista Teixeira
D O O professor domina a arte de uma atividade que não dá nada; por isso, não
pretende amarrar os homens a si mesmos, mas procura elevá-los à sua altura
ou melhor levá-los mais alto do que eles mesmos. O professor puxa e eleva,
faz com que cada um se volte para si mesmo e vá além de si mesmo, que cada
um chegue a ser aquilo que é. (Larrosa 2000)
Introdução
A
Literatura e experiência
V
R O R
Nas várias oportunidades que tive de atuar como
P UTO
professor de Literatura infantil nos cursos de Graduação da
UFTM (Universidade Federal do Triangulo Mineiro) e nas ricas
experiências realizadas nos módulos de Ensino e Literatura no
A
Projeto Mais Educação (parceria MEC – UFTM), sempre narro
aos meus alunos três experiências marcantes, que reenceno
O
como momentos de constituição do meu corpo-leitor.
VA
durou, para a maioria, mais do que vinte minutos, o professor
parecia folhear um jornal, alheio ao que os alunos falavam. Não
R O
era o que se passava, um olhar atento perceberia tratar-se de uma
R
tática para talvez não intimidar adolescentes nos idos anos 80.
A
minutos, cinquenta e eu não havia terminado a apresentação.
Intervalo e depois eu ainda a retornaria por mais uns quinze
O
minutos. Quando ultrapassei os vinte minutos, Prof. Vilmar
D
depositou o jornal na mesa e passou a observar atentamente
a exposição daquele menino de quinze anos. Ao final ele falou
por cinco minutos; não lembro com perfeição as palavras mas
era expressão de um desejo e vaticínio: eu deveria escolher
essa carreira, falar de linguagem, de literatura, ali estava a
minha vocação. Crítico como era, já prevenia que recompensas
materiais não viriam, elas seriam de outra natureza. Se sou hoje
professor, se escolhi a carreira acadêmica, essa escolha tem o
sinete desse educador-emancipador que encarnava a paixão pela
Literatura.3
VA
Lembro-me vagamente de citar Manuel Bandeira e Sartre; de
repente tive um pequeno sartori.4
R
paixão pelo poder da fábula, pelo lírico, por uma fome insaciável
P UTO
de leitura. Quem despertara primeiro esse gosto pela literatura,
sucedânea da realidade (que na infância fora um tanto cruel
ao deixar-me a mim e meu pequeno irmão, desamparados, de
A
tempos em tempos, da presença materna, visto que minha mãe
foi várias vezes internada em sanatórios psiquiátricos).5 Na falta
O
dos “murmúrios afreudisíacos” da figura materna, meu pai,
D
grande contador de “causos”, embalava-nos, com seu linguajar
de timbre sertanejo com deliciosas estórias de Malazarte, relatos
orais de sua infância(que eram tão belos como a estória de Robinson
Crusoé), contos de assombração e magia do imaginário rural e
versões deliciosas que só na Universidade eu viria a saber que se
tratavam dos clássicos dos irmãos Grimm, Perrault, Andersen.
Na verdade a família maior, tios, tias, avós, praticamente todos
de origem rural, eram grandes contadores de “causos”, que
tantas vezes bebíamos encantados nas rodas que se formavam.
No segundo ano primário, uma perspicaz bibliotecária
descobriu um menino que sabia (re)contar estórias, e as vezes
era mesmo retirado de alguma aula de ciências, matemática –
“cumes da alegria” –, e colocado sentado numa plataforma um
VA
precoce exigia que a conversão se desse por escolha e não
por imposição. Algo que marcaria indelevelmente a formação
R O
protestante foi a leitura das escrituras. Se a Bíblia é, como diz
R
o grande crítico Northrop Frye – parafraseando Willian Blake
P UTO
–, “o grande código” da literatura ocidental, sempre a oferecer
temas, motivos, símbolos, e sobretudo frestas por onde o leitor
faça entradas interpretativas, então a leitura contínua do Velho e
A
Novo Testamentos se tornaria uma fonte primorosa para se ler
melhor os grandes escritores e poetas brasileiros e estrangeiros;
D O
tanto que na dissertação de Mestrado e sobretudo na Tese de
Doutorado, a leitura de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, se
fez em cotejo com livros bíblicos.
VA
saber mais, caso contrário não sacrificariam seus sábados para
um exercício dialógico com o saber da Universidade que pode
R O
enriquecer suas práticas pedagógicas.
R
O conceito de dialogismo, que já vai ficando tão
P UTO
repisado, precisa ser aqui recuperado em sua dimensão ética de
compromisso com o outro. O professor, em qualquer instância,
não é fonte do dizer; sua voz é resposta, concordância ou
A
discordância em relação ao que foi dito antes; ao mesmo tempo
tem em vista um interlocutor, que se realmente compreendeu,
O
oferecerá contrapalavras. Círculo, labirinto infinito; em se
D
tratando da circulação de saberes literários entra ainda o lúdico,
o imaginário, a força dos afetos, como vim assinalando através
da minha própria experiência de aprendiz-de-leitor.
VA
é fundamental, que não se trata de mera fruição (ainda que essa
dimensão não deva ser descartada), então não existe, sobretudo
R O
no mundo moderno, prática de leitura “pura”, sem mediadores,
R
ou seja, a forma como o sujeito se torna leitor está bastante
P UTO
condicionada pelos modos como se deu seu letramento literário
escolar (Cosson 2010, p. 26). Daí a necessidade de preparação
e compromisso ético envolvido no ato de ensinar/mediar o
A
processo de leitura. Ainda com o mesmo teórico, discutimos
com ao professores do Ensino Fundamental um elemento que
O
às vezes se coloca como enorme desafio para educadores do
D
público infantil: como escolher, diante da imensa e eclética
oferta de obras pelo mercado, aquelas que seriam adequadas
a um público que nem sempre possui critérios para fazer suas
próprias escolhas. Cosson (2010, pp. 31-36), com extrema
habilidade recomenda aos professores a seguinte combinação:
textos canônicos, diversidade e contemporaneidade. O cânone
pela tradição cultural que carreia, a diversidade (que não
equivale a um vale-tudo, mas busca democratizar as escolhas) e
o contemporâneo, não no sentido da mera atualidade, mas do
que impacta e faz sentido no e para o universo dos leitores.
No caso de fábulas, narrativas, contos, romances há de
fato um número infindável de obras à disposição e uma pressão
midiática movimentada pelas grandes editoras que tenta ditar o
que deve ou não ser lido. Atualmente alguns jornais e revistas
trazem nas suas listas de mais vendidos um tópico dedicado à
literatura infanto-juvenil, visto que talvez nessa faixa etária se
7. Para os que não estão familiarizados com o conceito, remeto para as duas
obras. A bibliografia completa encontra-se no final desse trabalho.
VA
bases em Bakhtin para dizer que vivemos no tempo da
prosaicização dos gêneros poéticos, que não haveria lugar para a
R O
linguagem (auto) centrada da poesia. Discordamos parcialmente
R
dessa explicação pois também a prosa, por mais “transparente”,
P UTO
democrática na distribuição das vozes, heteróclita, se for de um
Graciliano, de um Machado, de um Dostoiévski, também não
está entre os livros mais lidos pelo público não especializado.
A
Se os poemas escritos para o público adulto tendem às
vezes a auto referência, ou se são cerrados em sua significação, há
D O
de se reconhecer que no caso da poesia para o público infanto-
juvenil, que recursos manipulados no gênero lírico podem se
constituir num atrativo a mais para o exercício lúdico da leitura.
VA
material oferecido pela cultura popular como parlendas, lendas,
trocadilhos, danças, trovinhas, entre outros.
R
se deu da seguinte forma. Nas aulas presenciais discuti aspectos
P UTO
teóricos e práticos do exercício pedagógico com ênfase na
mediação da leitura. Fundamentado na prática dialógica, convidei
os professores/alunos do Curso a oferecerem contrapalavras aos
A
textos teóricos a às minhas próprias ideias, para que avaliassem
se de fato compreenderam as propostas de letramento literário.
O
Via de mão dupla, professores-alunos trouxeram para sala de aula
D
exemplos do que fazem, da experiência acumulada, já que alguns
educadores tem mais de uma década de exercício no magistério.
A troca de experiências, a disposição de ouvir o saber-fazer do
outro podem ser fundamentais para a (re)orientação de práticas
que porventura estejam equivocadas, sobretudo aquelas que
insistem em repetir experiências frustradas.
Tendo em vista as limitações orçamentárias das escolas
públicas no Brasil e a precariedade das bibliotecas, outra
vantagem que o trabalho com poemas pode oferecer é o fato
de ser possível recolher vários textos numa folha de papel
impressa/xerocada. Selecionei, inclusive acatando sugestões
dos próprios professores-alunos, um número de poemas, letras
e músicas para que em conjunto exercitássemos o que poderia
ser feito posteriormente nas respectivas escolas com as crianças.
O público como qual trabalhei não era assim tão homogêneo,
ou seja, havia professores/alunos que ministravam aulas para
discentes de séries diferentes, daí a necessidade de organizar um
corpo de poemas que pudesse contemplar essa heterogeneidade
VA
mato que em livro homônimo assim se expressa: “A gente queria
o arpejo. O canto. O gorjeio das palavras. (...) Pra meu gosto a
R O
palavra não precisa significar– é só entoar (Barros 2010[2012,
R
pp. 11 e 41]).
P UTO Não nos escapou em tempo algum que o intuito aqui era
fisgar os leitores-meninos pela melopéia poética. E já não nos
preocupa que o texto literário seja utilizado como “pretexto”
A
para o desenvolvimento de outras habilidades. Isso porquê nas
séries iniciais, pelo menos nas escolas públicas que foram palco
O
dos exercícios de ler-saber-fazer, os infantes tem quase sempre
D
um único(a) professor(a).9 Daí que a leitura de um poema possa
ser trabalhada de forma interdisciplinar.
As muitas pesquisas que tem sido feitas sobre o processo
de aprendizagem, sobre os mecanismos psicossociais envolvidos
na leitura, sobretudo literária, revelam que se há risco de prejuízo
na leitura da ficção e poesia, isso se dá quando essa leitura é
feita somente como pretexto: para memorização fonêmica, para
ensinar normas gramaticais, para incutir/reforçar valores do
status quo. Se o professor tem maestria no trabalho e afeto
para com o texto literário, certamente que um dos principais
efeitos de sentido visados –o prazer de ler por ler–, será
alcançado. E ainda, incentiva-se aí a busca por parte das crianças
e adolescentes por outros textos. Veja o que diz Bocheco (2002,
p. 14) a propósito:
VA
paixão pela leitura se fortalece e é comum que elas desejem ler
outros textos poéticos.
R O R
Do saber ouvir/dialogar na Universidade ao
P UTO
saber/ouvir/fazer no chão da escola
O
teórico para uma prática efetiva. Penso que as dificuldades estão
D
fincadas sobretudo em dois fatores, na verdade interligados. Um
é a dificuldade e a desconfiança de alguns professores em abraçar
práticas mais democráticas nas relações de ensino-aprendizagem.
O costume, o ”conforto” que o exercício monológico da fala dá,
parece assegurar um lugar de poder frente as “indisciplinadas almas”
dos infantes. O segundo reside no fato de a própria autonomia
do professor estar constantemente sob o constrangimento de um
aparato pedagógico que inibe a inovação, a ousadia.
Dentre os vários tipos de poemas que foram trabalhados
com os docentes, no módulo Ensino e Literatura, do Projeto Mais
Educação, escolhi três, para mostrar como foram interpretados
no ambiente acadêmico e como as professoras reinventaram
os saberes ali construídos, levando-os para o chão da escola.
Trabalhei com uma gama variada de poemas, não primando
necessariamente pela quantidade, mas pela qualidade e tentando
vislumbrar como as diversas formas-conteúdos, poderiam fisgar
a atenção do público infantil. Cito aqui a composição “O pato”,
de Vinícius de Moraes:
O pato pateta
VA Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
R O R
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
A
De jenipapo
Ficou engasgado
O
Com dor no papo
Caiu no poço
D Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela
(Moraes 1970[2004, p. 40])
VA
Ficou claro para os alunos do Curso que esse é um
saber que pode ser útil para o professor, até porque, a qualquer
R O
momento ele pode ser transferido para outras séries, em que a
R
explicação dos recursos deixará claro para seus alunos o papel
P UTO
de artífice do poeta, desconstruindo um mito que persiste
em ser alimentado – a imagem do poeta como ser inspirado.
Segundo relatos das professoras, essa composição foi muito
A
bem recebida pelo público infantil e motivou várias atividades
lúdico-cognitivas.
VA
só com saberes de área de Língua Portuguesa, mas também
Matemática, Ciências, Geografia, História, entre outros. Dessa
R O
forma, segundo relatos10 das professoras, a leitura de “O pato”
R
deu ensejo a discussão sobre a fauna brasileira (e espécies
P UTO
estrangeiras), rudimentos sobre Geografia, aspectos climáticos,
que ajudam a explicar o porquê de não haver determinados
bichos em nosso país. Abriu-se inclusive espaço para a discussão
A
a respeito da preservação da fauna e da flora. Sendo constelação
de sentidos, o poema, o texto literário pode ser trabalhado numa
O
dimensão mais autônoma, no seu jogo interno de sonoridades,
D
de intertextualidade com outros escritos, como jogo de
significantes; mas também se abrir para revelar seus liames com
o mundo, com a vida, o contexto que o fez brotar.
Para esse curso levei também alguns poemas de Manoel
de Barros, que, tal como já desconfiava, devido a experiências
com alunos de Literatura Infanto-juvenil na Universidade,
ainda é pouco conhecido pelo público em geral. O poeta
mato-grossense que se delicia, e aos leitores também, com suas
traquinagens verbais é um verdadeiro cultor da infância. Uma
leitura acurada de sua poética revela a cultura letrada de Manoel
de Barros, seus conhecimentos literários, filosóficos, das artes
plásticas, da fauna e flora abundante do Pantanal; mas, ao
VA
uma linguagem pré-lógica, edênica e adâmica e, nesse sentido,
como todo grande poeta, na verdade, tenta dar concretude à
R O
linguagem, encostar as palavras nas coisas; (re)nomear o mundo
R
e, nesse “fiat-lux”, reinventá-lo. Entre os poemas trabalhados,
P UTO
trago aqui o seguinte: “Menina avoada”:
D
As rodas ficavam cambaias debaixo do caixote:
Uma olhava para a outra.
Na hora de caminharas rodas se abriam para o lado de fora.
De forma que o carro se arrastava no chão.
Eu ia pousada dentro do caixote com as perninhas encolhidas.
Imitava estar viajando.
Meu irmão puxava o caixote por uma corda de embira.
Mas o carro era diz-que puxado por dois bois.
Eu comandava os bois:
– Puxa, Maravilha!
– Avança, Redomão!
Meu irmão falava
que eu tomasse cuidado
porque Redomão era coiceiro.
(...)
(Barros 2010, pp. 470-471)
VA
O poema de Manoel de Barros, debitário das conquistas
modernistas, tem um tom de prosa, mescla o lírico, o narrativo
R O
e até marcas do dramático, como a estrutura dialogada. Flui
R
como invenção memorialística de um dos brinquedos em que
P UTO
certamente o poeta foi coprotagonista. Acompanha-se um
saber-fazer das crianças do início do século XX, um caixote com
rodas de latas de goiabada (não se vê aí a generosidade do irmão
A
mais velho em inventar um simulacro de carrinho para divertir
o mais novo?). O poético vai estalando por todo o poema, pois
O
a simples brincadeira é uma viagem. Dupla viagem na verdade,
D
aquela em que o irmão arrastava o caixote com o poeta menino,
“perninhas encolhidas”, simulando o passeio, e a viagem da
memória. Lembro Fernando Pessoa: “E eu era feliz? Não sei:/
Fui-o outrora agora” (Pessoa 1999, p. 141).
Poesia como “consagração do instante”, na bela
terminologia de Octavio Paz. E há mais: no poder transfigurador
da imaginação infantil, o carro não era um qualquer, mas carro
de bois. O eu lírico não se contém: “Puxa, Maravilha”. Note-se
a plurissignificação; trata-se de uma expressão de prazer intenso,
como puxa vida!, ou a ordem, o comando para uma , imaginária
parelha de bois formada por uma vaca chamada Maravilha e o
boi Redomão? Esse último, além do mais, fala, e avisa ao caçula
para tomar cuidado com possíveis coices. A poética de Barros é
um incessante convite para “desver” as coisas, olhar visionário,
dessacralizador de normas, que evita “palavras bichadas de seus
próprios costumes” (Barros 2010[2012, p. 67]).
As professoras leram esse e outros poemas para crianças
para as quais o poema poderia produzir maior rendimento.
VA
Assim, ouvi relatos e vi fotos de carrinhos, bonecas, bandeirolas,
feitos pelos “artesãos-meninos” com garrafas pet e outros
O
materiais recicláveis. Esse brincar renova um imperativo clássico:
R
P UTO R
deleitar e instruir.
As docentes também incentivaram os alunos a entrevistar
seus pais e/ou pessoas mais velhas, para saber quais eram suas
diversões, seus brinquedos. Esses exercícios, além de reabilitar
uma prática que vem se perdendo, o diálogo filhos e pais, crianças
A
e contadores de “causos”, substituída pela ditadura do silêncio
diante da TV ou computador, pode permitir aos professores
O
mostrar aos alunos a historicidade do brincar e a entender que
D
até mesmo o tipo de infância que vivenciam nem sempre foi
vivenciado por seus pais ou, sobretudo avós, submetidos que
eram ao serviço braçal, pesado, desde a mais tenra idade.
Outro poema com o qual trabalhamos e que obteve boa
acolhida junto aos professores do Curso e alunos das escolas
públicas foi “Guaraná com canudinho”, de Sérgio Capparelli.
Como ficará claro na análise de aspectos do mesmo, nesse texto
conjugam-se ludismo e nonsense, que desde Alice no País das
Maravilhas tem sido um filão literário que capta, em sua rede
de maravilhamento, “peixes grandes e pequenos”. Eis o poema:
O garçom, um gafanhoto,
tinha cara de biscoito.
VA
– E que esteja geladinho
pra eu tomar de canudinho!
R O R
Na gravata borboleta,
gafanhoto fez careta.
Da gravata, a borboleta
sai voando satisfeita.
VA
e que portanto essa tessitura de musicalidade, o prosaismo da
linguagem e o insólito das situações funcionam perfeitamente
R O
para enredar o leitor. Manoel de Barros (2010, p. 301) produz
R
versos sob os quais podemos ler o poema de Caparelli: “Em
P UTO
poesia que é a voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos /
o verbo tem que pegar delírio.”
Delícia, delírio é o que nos serve Caparelli no jocoso
A
poema. Se seduz o adulto, pois remete à nostalgia do pré-lógico,
aproxima-se do universo infantil por dar soltura ao pensamento,
O
por realizar via imagem as associações travessas que a mente
D
infantil é capaz de fazer, pois ainda não foi escravizada pelo
impositivo do lógico e do analítico.
O nonsense é uma das provas mais cabais do jogo que
a linguagem é capaz de produzir. Sem compromisso com a
verossimilhança, com a funcionalidade é o jogo na sua gratuidade,
tão-somente submetido a “regras” internas, que são aquelas do
fazer poético (métrica, rimas, musicalidade) que já pontuamos.
Esse poema deu lugar a que os alunos infantes criassem novas
composições em que o insólito, o absurdo tivesse direito à plena
existência. Se um dos papéis da poesia é subverter, estava dada
aí a oportunidade para o exercício da criação – o eu que escreve
cria mundos. Muitos hão de se lembrar da “menina amarela
de medo” que, ao vencer o lobo que nem havia, por um passe
de significantes transforma o Dragão, a Bruxa e o Diabo em
Gãodra, Xabrú e Bodiá (Hollanda 1979[2010, pp. 27-30]) numa
mostra do poder que a palavra tem.
VA
processo de troca de saberes, de aperfeiçoamento de práticas
escolares, de mediação de leitura, sobretudo no nosso módulo,
O
a leitura literária.
R
P UTO R
A conclusão que aqui se enuncia é tão-somente uma
pausa, não acreditamos em processos totalizadores de saber, em
receitas ou fórmulas que deem conta dos tremendos desafios
que se colocam para os docentes do Ensino Básico.
A
Apontamos veredas, colocamo-nos como ouvintes
de falas às vezes angustiadas, pois a realidade vivenciada
O
pelos docentes é adversa sob vários aspectos. O que temos a
oferecer são concepções da relação professor-aluno menos
D
hierarquizadas (uma consciência profundamente dialógica,
segundo a concepção bakhtiniana), a ideia de Letramento
Literário como prática social emancipatória, pois coloca crianças
e adolescentes como coautores das estórias/poemas que leem
e possíveis sujeitos de suas próprias histórias. E coadunando-
se com essas concepções a crença da que a poesia é lugar de
resistência. A chispa do(s) sentido(s) dos textos só pode brotar
do encontro feliz entre o texto e seu intérprete.
Somos mediadores que formamos mediadores; se nossa
presença e voz não forem um estorvo ao encontro do leitor e o
texto, cumprimos parte da tarefa.
Referências
A
mágico. Chapecó: Argos.
V
O
BUARQUE, Chico e Ziraldo (2010). Chapeuzinho amarelo. 26ª ed.
R
P UTO R
Rio de Janeiro: J. Olympio.
CAPARELLI, Sérgio (1983). Boi da cara preta. Porto Alegre:
LP&M.
COSSON, Rildo (2006). Letramento literário: teoria e prática. São
O A
Paulo: Contexto.
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D
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São Paulo: Companhia das Letrinhas.
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Horizonte: Autêntica.
TEZZA, Cristovão (2003). Entre a prosa e a poesia: Bakhtin e o
formalismo russo. Rio de Janeiro: Rocco.
R
P UTO Marinalva Vieira Barbosa
A
Jossiane Cristina de Jesus
D O
Introdução
VA
na linguagem e sempre está orientada para outro sujeito, este
um interlocutor socialmente organizado, inserido em um
R O
determinado contexto. Portanto, a produção de discursos é
R
sempre envolta em relações de forças simétricas e assimétricas.
P UTO
Estas ganham materialidade na língua(gem), na forma de
organização e produção de um discurso. Saber trabalhar com a
linguagem e compreender esse trabalho é condição fundamental
A
para que o sujeito transite pelos universos de discurso. O
trabalho com os recursos linguísticos e extralinguísticos tem
O
como resultado o discurso.
VA
demonstrar, neste artigo, um conjunto de fragilidades na escrita
que reforçam a necessidade do ensino da argumentação durante
R O
diferentes momentos de escolarização. Não como uma atividade
R
esporádica, mas como uma ação de linguagem necessária ao agir e
P UTO
transitar nos universos de discursos. Assumiremos que aprender
a escrever envolve argumentar, uma vez que exige muito mais
que conhecer as formas de funcionamento da língua; é preciso
A
saber mobilizá-las nas condições de produção discursivas.
D O
Argumentação e discurso cotidiano
VA
interlocutores precisam assumir uma posição, um ponto de vista
em relação de antagonismo claramente definido.
R
os enunciados surgem sempre no interior de um universo
P UTO
discursivo preexistente e, por isso, responde, confirma, refuta
posições antecedentes e futuras. Ou seja, todo enunciado é uma
resposta a outro enunciado. Assim, pela concepção dialógica de
A
linguagem e de sujeito, a argumentação não está presente somente
em produções discursivas que visam promover a aceitação de
O
uma tese e/ou responder a uma situação de antagonismo. A
D
argumentação se faz presente nas ações discursivas que visam
partilhar ponto de vista, reforçar valores, orientar reflexões e
compreensões.
Nas interações verbais, o discurso ganha materialidade
em palavras que marcam a dessimetria, a não-reciprocidade
da relação eu-outro. Isso faz com que a produção de discurso
cotidiano não seja algo tranquilo. A palavra alheia é sempre
carregada de ponto de vista, sentidos e valores diferenciados.
Isso, nas interações verbais, exige que os interlocutores trabalhem
sempre para firmar seus posicionamentos, seus pontos de vista.
Diante disso, a noção de oposição precisa ser vista
como um elemento que compõe as práticas cotidianas de
linguagem. Leitão (2011) afirma que o discurso argumentativo
surge em situações nas quais mais de uma ação discursiva são
articuladas ou mais de um ponto de vista atuam em situação de
oposição. Assim, oposição, nos usos cotidianos da linguagem e,
principalmente, nas situações de ensino e aprendizagem, surge
sempre em função da existência de mais de uma compreensão
VA
R O R
Tendo em vista que a discussão e a análise propostas neste
artigo visam à reflexão para o ensino da escrita argumentativa,
P UTO
é importante abordar, mesmo que de forma sucinta, a dinâmica
enunciativa da argumentação (Martinez 2005) – que será
compreendida como o trabalho com os recursos linguísticos
A
e extralinguísticos com vistas à produção de um discurso. A
dinâmica enunciativa ganha materialidade em função das
O
condições de produção do discurso. Dito de outro modo, ganha
D
materialidade na mobilização dos recursos linguísticos, porém
tais recursos só são mobilizados quando o sujeito da escrita
trabalha em um projeto de dizer que responde a demandas dos
contextos de produção nos quais está inserido.
Para pensar o ensino da argumentação, é importante
considerar que em um mesmo discurso podem-se encontrar
diferentes situações de enunciação. Por exemplo, em um texto
que aborda a importância do tempo e do espaço para o estudo da
geografia, dentro do discurso pedagógico, é necessário apresentar
uma dinâmica enunciativa diferenciada se os interlocutores são
alunos do ensino fundamental, médio ou do ensino superior.
Consequentemente, o trabalho com os recursos linguísticos
exige conhecimento acerca das possibilidades ilimitadas de
combinações que oferecem quando em relação às condições de
produção e aos recursos extralinguísticos.
As diferenças enunciativas ficam marcadas pela forma
de posicionamento do “eu” na interlocução com o outro. O
“eu”, nesses casos, pode apresentar diferentes formas de
VA
de proximidade e/ou aos distanciamentos são estratégias
enunciativas que podem se fazer presentes ou não nos discursos.
R
discursos: pedagógico, religioso, cotidiano familiar, publicitário,
P UTO
televisivo; sendo que cada um desses discursos apresenta diversos
modos de organização, uma vez que o trabalho do sujeito com os
recursos linguísticos e extralinguísticos não é idêntico. Assim, o
A
conteúdo temático, o assunto abordado, o estilo construído por
meio do léxico utilizado, a organização sequencial e referencial,
O
a organização sintática, tudo isso, relacionado às condições de
D
produção, é fundamental para a compreensão e/ou produção
do discurso argumentativo.
Dentro da construção da dinâmica enunciativa, é
fundamental considerar também o uso dos conectores como
recurso para a construção da argumentação, sobretudo quando
se coloca o ato de argumentar como um objeto de ensino sob a
justificativa de que se integra a práticas discursivas cotidianas. De
acordo com Ducrot (1980), os conectores estabelecem ligação
entre enunciados, entre dois lexemas, entre o implícito e explicito,
entre enunciação e enunciado. Para esse autor, os conectores são
marcas linguísticas fundamentais para desencadear das ações, os
efeitos de sentidos, os direcionamentos e as conclusões.
No que se refere ao ensino da língua portuguesa, pode-
se nomear como conectores uma série de classes gramaticais:
conjunção, preposição, advérbio, pronome e outras palavras
que, conforme alguns gramáticos, não se enquadram nas
referidas classes. Esses elementos marcam a subjetividade no
discurso, marcam principalmente os movimentos de regulação
VA
(2011), assumir que a argumentação é o resultado do trabalho
do sujeito com e sobre a linguagem para produzir discurso
R O
significa assumir também que a argumentação é uma prática
R
de linguagem que deve ser ensinada. É comum, nas práticas
P UTO
de ensino, professores cobrarem de seus alunos que ajam ou
demonstrem procedimentos argumentativos em relação aos
objetos de ensino. Dessa forma, inclusive a aula precisa ser
A
entendida como um espaço passível de surgimento de opiniões
divergentes, seja em relação aos saberes teóricos ou em relação
D O
aos pontos de vista sobre determinados temas de discurso.
VA
alunos do curso de “Leitura e Produção de textos” durante o
período de desenvolvimento da pesquisa. As duas produções
R O
transcritas a seguir são expressivas porque apresentam cerca
R
de 90% das dificuldades de escrita que aparecem nas demais
P UTO
produções que compõem o banco de dados. Vejamos o texto
de base e, em seguida, as produções dos alunos.
VA
posicionamento e, ao mesmo tempo, de como registrar esse
posicionamento por meio da linguagem escrita. Ou seja, no caso
R O
da proposta de escrita apresentada, está posto o imperativo para
R
que o aluno apresente um posicionamento, favorável ou contra,
P UTO
fundamentado sobre o tema da crônica. Da leitura da crônica,
surgiram as seguintes produções:
O A Texto 1
Texto 2
VA
Portanto, estimado Veríssimo, fique tranquilo, não será dessa
vez que o jornal publicará manchetes sobre suicídios coletivos
O
de sem-terra, isso eu garanto enquanto a sociedade estiver sã
R
e basta ler Freud para entender meu raciocínio.
R
P UTO Nas duas produções, faltam operações textuais e
discursivas necessárias à construção de um texto coeso e
coerente, tais como: pontuação, adequação ortográfica, uso de
A
conectores, organização temática local e global, desenvolvimento
do tema, articulação das ideias, adequação à variedade padrão. As
O
duas produções também apresentam problemas relacionados à
D
elaboração de argumentos, de inferências e de pressuposição,
dentre outros.
Porém, o que mais desperta atenção é a leitura literal
feita da crônica a despeito dos indícios que interditam esse tipo
de leitura. Literal, de acordo com Marchuschi (2008), é “um
sentido básico que entendemos quando usamos a língua em
situações naturais. Não se trata do sentido dicionarizado nem de
uma oposição ao sentido figurado e sim daquele sentido que é
construído como preferencial” (p. 235). Por essa perspectiva, a
leitura literal exige um contexto como base para sua realização.
Exige a realização de interpretação a partir da atribuição de
sentidos ao que foi dito. Nas produções anteriores, as palavras de
Veríssimo foram lidas pelo avesso, ao contrário do proposto no
texto. Isso pode ser percebido, pois o termo “suicídio coletivo”
não foi lido como uma ironia, mas como uma proposta para
solucionar o problema dos Sem-Terra.
Nas duas produções, os alunos assumem um
posicionamento claro: são favoráveis a causa dos Sem-Terra.
VA
falso para as produções. Trata-se de uma falsa argumentação.
Porém, mesmo que não houvesse um equívoco
R O
interpretativo e, de fato, a crônica apresentasse uma posição
R
contra os Sem-Terra, as produções apresentariam falsa
P UTO
argumentação porque não há fundamentação (em termos
de construção e desenvolvimento) para os argumentos. Na
primeira parte do texto 1, por exemplo, tem-se um conjunto de
A
argumentos que (além dos problemas relacionados à construção
linguística) não responde ao tema do texto, mas ataca o autor.
O
Isso porque o tom sentimental perpassa os enunciados pela
D
manifestação de decepção, pela tentativa de retornar para o
autor a sua irracionalidade. Na segunda parte, há uma confusão
entre argumentos que tentam repor o aspecto social do tema e
os que se mantêm presos a leitura de que o problema está no
indivíduo Veríssimo.
O texto 2 também está baseado na interpretação de que
o autor da crônica está contra os Sem-Terra; tem como foco
o ataque ao indivíduo no mundo e não o seu posicionamento
no texto. A análise feita da crônica é expressa por meio de
uma confusão de pontos de vista sobre diversos problemas
relacionados às minorias – “Veja só, que sem essas massas
sócias, mulheres negras, gays, protestantes não teriam seus
direitos garantidos por lei, estes foram discriminados e hoje
são reverenciados por suas lutas”. O aluno coloca em um curto
parágrafo uma série ampla de temas: intolerância e arrogância
de Veríssimo, política latifundiária, divisão democrática da terra,
direitos das minorias e concepções (não explícitas) de Freud.
VA
noções totalizadoras compromete a coerência do texto, uma vez que
elas aparecem sem uma explicação que as contextualize e, ao mesmo
R O
tempo, que as articule com a temática do texto.
R
Embora tenham recebido explicações sobre os conectores
P UTO
argumentativos, chama atenção o pouco uso de conectores
nas produções. Aliás, essa é uma característica presente em
muitas produções do banco de dados. Soma-se a isso a falta
A
de observância à estrutura organizativa da carta, à estrutura
de parágrafos e à importância de as partes do texto estarem
O
relacionadas. De fato, as produções analisadas são compostas por
D
um apanhado de enunciados que não podem ser caracterizados
como argumentos. Trata-se de produções que demonstram o
grau de dificuldade dos alunos para mobilizarem a linguagem
escrita com vistas à produção de um discurso que demarque
opinião e modo de pensar sobre um determinado tema.
Considerações finais
VA
as palavras para construir conhecimento. Como esse diálogo não
pode ser assumido a partir de uma posição passiva, o aluno precisa
se contrapor, questionar e assumir posicionamentos. Por isso, é
O R
importante que saiba argumentar com a palavra outra que chega por
R
meio da voz do professor e/ou por meio das leituras teóricas.
A
As dificuldades para construir argumentos-respostas que, de
fato, representam uma reação apreciativa à palavra do outro,
O
enfraquecem as disposições para os enfrentamentos verbais
D
com vistas ao convencimento do outro. Nas produções
analisadas, esse enfraquecimento ganha materialidade por meio
da apresentação de um conjunto de argumentos desconexos,
sem diálogo entre si e também sem diálogo com o tema do
texto base. Mediante essa dificuldade, a transformação e a
reconstrução do conhecimento se tornam tarefas extenuantes
para o sujeito dessa escrita.
Dessa maneira, é fundamental ensinar a escrever e,
consequentemente, ensinar a argumentar. Além disso, diante das
dificuldades presentes nas produções analisadas neste artigo, é
fundamental que aquele que aprende a escrever também aprenda
a reconhecer, nos textos que lê para escrever, as estratégias
argumentativas. Esse processo é o que possibilita a construção de
conhecimento – compreendida aqui como as ações de linguagem
(escrever, ler e interpretar) – que permite aos alunos se apropriarem
dos sentidos existentes, produzir novos sentidos e, a partir disso,
compreender e agir sobre o contexto em que está inserido.
Acessar e produzir conhecimento, ação que atravessa
sempre a produção escrita nas diferentes etapas de escolarização,
VA
pela sociedade e, sobretudo, aprende a interpretar, organizar
tudo isso em uma peça textual constituída e constitutiva de sua
O
própria linguagem a respeito do objeto de conhecimento.
R
P UTO R
Referências
O A
Paulo: Hucitec.
DUCROT, O. (1980). Les echelles argumentatives. Paris: Minuit.
D
LEITÃO, S. (2011). “O lugar da argumentação na construção
do conhecimento em sala de aula”, in: LEITÃO, S. e
DAMIANOVIC, M. C. (orgs.) Argumentação na escola: o
conhecimento em construção. Campinas: Pontes Editores.
MARCUSCHI, L. A. (2008). Produção textual, análise de gêneros e
compreensão. São Paulo. Parábola.
MARTINEZ, M. C. (2005). La construción del processo argumentativo
en el discurso. Cali: Cátedra Unesco.
OSAKABE, H. (1999). Argumentação e discurso político. 2ª ed. São
Paulo: Martins Fontes.
PERROTA, C. (2004). Um texto pra chamar de seu – preliminares sobre a
produção do texto acadêmico. São Paulo: Martins Fontes.
PLANTIN, C. (2008). A argumentação: história, teorias, perspectivas.
São Paulo: Parábola Editorial.
VERISSIMO, L. F. (1998). “Provocação.” O Estado de São Paulo,
24/04/1998, Caderno 2, p. 2.
R
P UTO Diego Lopes de Campos
A
Iara Aparecida Garcia
Marcelo Alexandre Teodoro
D O
Introdução
Elioenai Amuy da Silva
Juliana Bertucci Barbosa
VA
acreditamos que as escolas devem contribuir no processo
de conscientização e do resgate de patrimônios culturais e
R O
linguísticos da nossa sociedade.
R
Para o desenvolvimento de nossas reflexões, inicialmente
P UTO
discutimos sobre a concepção de Educação Patrimonial e sua
relação com a escola. Em seguida, apresentamos uma proposta
de atividade realizada por meio do uso de um recurso visual:
A
fotografias na cidade de Uberaba, MG. O objetivo dessa atividade
é exercitar não só olhar dos alunos para o reconhecimento e
D O
valorização do patrimônio cultural, mas também para despertar
a visão crítica sobre a arte e a cultura.
VA
Como podemos observar a partir dessa definição,
a Educação Patrimonial inserisse dentro de políticas de
R O
preservação, que, geralmente, tem como objetivo principal
R
reforçar uma identidade coletiva, visando o fortalecimento da
P UTO
educação e a formação de cidadãos críticos. Entretanto, ainda
é preciso criar mecanismos que estabeleçam e proporcionem
de fato a relação entre o “patrimônio” e a “sociedade”. Só
assim estaremos realmente atingindo o verdadeiro o papel da
O A
Educação Patrimonial.
Cabe ainda destacar a importância dos “Arquivos Públicos”
D
nesse contexto, ou melhor, entender a finalidade desse órgão.
O “Arquivo Publico” de uma cidade, de acordo com Fratini
(2002, p. 2), tem por função “recolher, custodiar, preservar e
organizar documentos da área governamental, transferindo-lhes
informações de modo a servir ao administrador, ao cidadão”.
Por isso, é relevante que a escola estreite a sua relação com
o Arquivo Público de sua cidade, incentivando e realizando
visitas e aulas que valorizem a importância desse local para a
preservação da memória de uma sociedade.
Quando nos referimos a Educação Patrimonial, cabe ainda
relembrar um documento antigo, o Decreto-lei nº 25, publicado
em 30 de novembro de 1937, que aborda o tombamento de bens,
definido, em seu artigo 1º, Patrimônio Histórico e Artístico Nacional:
“[...] conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no País e cuja
conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a
fatos memoráveis da história do Brasil. [...]” (www.senado.gov.
br, 2014). Ressaltamos que a conceituação atual do patrimônio
acabou estabelecendo a existência de duas categorias distintas
VA
diferentes tipos de “patrimônios culturais” (material e imaterial)
podem e devem ser explorados nas escolas em busca de uma
R O
efetiva Educação Patrimonial.
R
Horta (2000) ainda complementa que a Educação
P UTO
Patrimonial pode ser realizada por meio da valorização do
patrimônio cultural local. Esse movimento, de levar o patrimônio
local para dentro da sala de aula, deve ser considerado como um
A
processo de construção do conhecimento a partir do contato
do aprendiz com o objeto cultural. Sob essa perspectiva,
O
apenas passar uma informação em aulas teóricas não oferece
D
uma possibilidade de trocas de vivências e experimentações.
É necessário colocar o aluno em contato com seu patrimônio
local, oferecer a descoberta e a possibilidade de um mergulho no
universo das expressões culturais e linguísticas, de tal modo que
o sujeito seja capaz de apropriar e incorporar essas informações.
Focalizando a questão específica do patrimônio
em Uberaba, no âmbito do Programa Mais Educação, da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), buscamos
mostrar aos professores da Educação Básica que é possível
desenvolver no aluno a percepção sobre a preservação do
patrimônio por meio diversas linguagens construídas em
diferentes épocas. Neste capítulo, apresentamos uma proposta
realizada a partir de fotos do Arquivo Público1 dessa cidade e de
fotos das ruas da cidade.
VA
prática, ainda há muito a ser realizado. A área necessita de
estudos e a literatura nacional sobre o assunto deve ainda ser
O
muito ampliada por professores, com produções no âmbito da
R
P UTO R
educação, e no âmbito patrimonial, por especialistas nas diversas
áreas que tangem o patrimônio histórico-cultural e linguístico.
Essa escassa valorização e preservação do patrimônio
histórico da humanidade no Brasil pode ser observada, nos dias
atuais, até mesmo quando estamos andando pelas ruas das cidades.
O A
É comum caminharmos pelas cidades e nos depararmos com
uma grande parte de nossos prédios, igrejas, praças em estado
de depredação ou demolidas. Poucos (re)lembram que esses ricos
D
bens materiais são um pouco da história de cada um de nós.
Esta situação poderia começar a ser mudada se desde
a escola nossas crianças já fossem incentivadas a valorizar e
preservar o patrimônio. Como argumenta Castro (2010, p. 1), o
trabalho com patrimônio nas escolas pode ser
VA
[...] “uai” que vem do vocábulo inglês why que significa
porque, mas pouquíssimos sabem que pode ter surgido na
O
época de Juscelino Kubtschek quando os inconfidentes
R
P UTO R
mineiros patriotas, mas, considerados subversivos pela coroa
portuguesa se reuniam em porões e tinham uma senha que
era a palavra UAI, União, amor e independência. (http://
pt.wiktionary.org/wiki/uai, 2014)
A
Dessa forma, destacamos a importância de conhecer e
estudar a cultura de nossa região para que os alunos conheçam
O
sua história, antes que ela se perca por completo. Sob esta
D
perspectiva, a escola ganha um espaço fundamental: o da
conscientização do patrimônio histórico-cultural de um povo.
Os documentos federais voltados para o ensino, como
os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), já contemplam
as questões culturais tanto nos temas transversais quanto ao
elencar como eixo temático o estudo e valorização sobre os
aspectos locais. Porém, na prática, nem sempre encontramos,
nas escolas, a preocupação com a preservação do patrimônio
cultural. O reconhecimento da importância da Educação
Patrimonial aparece até mesmo na Matriz de Referência do
ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), como podemos
ver nas habilidades 17 e 20 das competências 5 (de Literatura) e
6 (Língua Portuguesa), respectivamente:
VA
R O Nossa proposta parte da estratégia de utilização de
R
recursos visuais (linguagem não verbal), como a fotografia, para
P UTO
o desenvolvimento de atividades ligadas à Educação Patrimonial.
Por meio do uso de fotografias antigas e atuais de uma cidade
– em nosso caso, da cidade de Uberaba –, podemos abordar
A
conteúdos históricos não somente analisando o local visual em
si, mas também discutindo seus conteúdos, potencializando as
O
informações presentes nas imagens, produzindo leituras de um
D
“texto” que podem ser compartilhadas por todos na sala de aula.
Dessa forma, as fotografias devem ser interpretadas
para além da sua dimensão histórica, devem ser levados
em consideração diferentes significados sociais, políticos,
culturais, econômicos e linguísticos ali representados. Para
o desenvolvimento da nossa proposta, buscamos algumas
fotografias que representassem parte da memória da cidade de
Uberaba. Tais imagens, como já mencionado, foram ou cedidas
pelo Arquivo Publico de Uberaba ou captadas nas ruas da cidade
de Uberaba.
Para este capítulo, fizemos um recorte das atividades
desenvolvidas, e apresentamos as realizadas com patrimônio
material, mais especificamente, com monumentos da cidade de
Uberaba. Em uma das atividades, durante o curso e formação
continuada, sugerimos aos professores da Educação Básica
(os cursistas) selecionarem fotos antigas e atuais de diferentes
monumentos da cidade, que pudessem proporcionar a
comparação de distintas épocas, de sua arquitetura e de sua
história. Para ilustrar, temos as seguintes imagens:
VA
R O R
P UTO
O A
D
FIGURA 2: foto atual da
Catedral de Uberaba/MG.
VA
sobre as imagens analisadas.
Após essa etapa, focalizamos os olhares na percepção
O R
do estilo de construção presente na igreja, o estilo gótico. Esta
R
estética marca um período histórico da arte no ocidente e,
P UTO
consequentemente, implica características muito próprias
de contexto social, político e religioso que se opõe ao estilo
romântico. Sugerimos que tais características pudessem ser
A
abordadas em sala de aula, promovendo a reflexão e a ampliação
de conhecimento de mundo do aluno.
D
percepção das alterações, ao compararmos a Figura 1 com a
Figura 2, que foram realizadas ao longo do tempo na igreja.
Essas mudanças também são pontos a serem discutidos em
sala de aula com alunos, durante a atividade, com o intuito
de aguçar a curiosidade sobre tais alterações. Sugerimos,
inclusive, que os professores fizessem os alunos pesquisar na
biblioteca da cidade e/ou no Arquivo Público informações
sobre o monumento.
Concluída essa etapa da atividade, em uma segunda parte,
sugerimos comparar o primeiro monumento escolhido com
outro da cidade. Nesse caso, escolhemos a igreja de Santa Rita,
também da cidade de Uberaba. Vejamos as fotos:
VA
promover questionamentos a partir do contato visual, discutindo
com os alunos assuntos que se debrucem em questões culturais,
O R
sociais, etc.
P UTO
descritas, os recursos visuais podem ser um aliado na Educação
Patrimonial, levando os alunos a apreender valores que têm sido
esquecidos como a valorização da historia da própria cidade.
O A
Últimas palavras
VA
Referências
R O R
P UTO
BARRETO, E. A. et al. (orgs.) (2008) Patrimônio cultural e educação:
artigos e resultados. Goiânia: Marque e Bueno.
BRASIL (1998). Referencial curricular nacional para a educação infantil,
A
Q. (1999). Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília:
V
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
Museu Imperial.
R O R
ORIGEM DA EXPRESSÃO MINEIRA “UAI”. Disponível
P UTO
em: www.obreirosdeiraja.com.br/origem-da-epressao-
mineira-uai. Acesso em: 10/08/2015.
PATRIMÔNIO CULTURAL (2014). Disponível em: http://
O Aportal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.Patr
imonioCultural&retorno=paginaIphan. Acesso em:
02/09/2015.
R
do professor de Língua Portuguesa
P UTO
A
Jauranice Rodrigues Cavalcanti
Breno Rafael Martins Parreira Rodrigues Rezende
D O
Considerações iniciais
VA
assim como sua rejeição por aqueles que consideram as aulas
de gramática normativa (leia-se o ensino de) obrigatórias na
R O
formação do aluno, uma vez que o levariam a ter êxito na vida
R
pós-escolar (como passar em concursos e vestibulares).
A
tratam de seu ensino? Trata-se (apenas) de uma dificuldade de
entender as teorias que os fundamentam? De uma lacuna na
O
formação dos docentes? Sem negar que dificuldades existam,
D
defendemos a ideia de que tal distância pode ser explicada se
levarmos em conta as representações sobre “saber português” e
“ser professor de português” que (ainda) circulam na sociedade
brasileira atual, um discurso sobre a língua, sobre aquele (a) que
a ensina, com o qual os professores se identificam, em relação
ao qual constroem sua identidade de professor.
É importante ressaltar que refletir sobre a construção da
identidade do professor não significa restringir a discussão em
torno da questão “ensinar ou não ensinar gramática normativa”.
Acreditamos que tal reflexão envolve aspectos diretamente
relacionados aos modos de interação desse profissional com
seus alunos, seja não estigmatizando variedades linguísticas
diferentes daquela considerada única, seja constituindo-se como
leitor privilegiado dos textos produzidos na escola e não apenas
como um “caçador de erros”.
Para proceder à discussão, apresentamos a seguir o
conceito de identidade, hoje fortemente presente no quadro
teórico dos Estudos Culturais e da Linguística Aplicada.
VA
discute o conceito e sua estreita relação com o conceito de
diferença. Para o estudioso, identidade e diferença não são
R O
“criaturas do mundo natural ou de um mundo transcendental,
R
mas do mundo cultural e social” (2000, p. 76). Além disso, Silva
P UTO
afirma que ambas são o resultado de atos de criação linguística,
isto é, criadas por meio da linguagem.
A ideia de que a(s) identidade(s) é (são) criada(s) na/pela
A
linguagem é um pressuposto assumido também por estudiosos
de outras áreas. Moita Lopes (1998) emprega “discurso” para
O
fazer referência aos atos de linguagem, concebendo-o como um
D
processo de construção social de significados por meio do qual
os sujeitos agem no mundo e constroem sua realidade e a si
mesmos, suas identidades, portanto.
Para o linguista aplicado, quando se assume que os
significados são uma construção social duas questões se tornam
centrais, a saber, a alteridade e o contexto. Sobre a primeira,
Moita Lopes recorre às reflexões de Bakhtin acerca da interação
para afirmar que
VA
fenômenos sociais e históricos”, afirma citando Markova (1990,
apud Moita Lopes 1998, p. 306).
R
não acabado da construção de identidades, o que também
P UTO
é destacado por Silva. Para esse último, as identidades são
marcadas pela instabilidade e pela indeterminação, seu processo
de produção oscila entre movimentos que procuram fixá-las e os
A
que tendem a desestabilizá-las, sendo a fixação “uma tendência
e, ao mesmo tempo, uma impossibilidade” (2000, p. 84).
O R
atribui a esse docente traços como o de conhecer minúcias, julgar
R
o certo e o errado em relação à língua, defendê-la de quaisquer
P UTO
“impurezas”. Em artigo publicado em 1992, Ilari e Possenti
destacavam que havia um consenso de que esse profissional
deveria ter um conhecimento de gramática, aquilo que os
A
autores chamaram de “domínio de certos conteúdos tipicamente
escolares”, isto é, saber particularidades gramaticais, como a
O
D ortografia de palavras que nunca se escrevem, coletivos
e femininos raros, vozes de animais extintos, a conjugação
do verbo explodir, a etimologia de paquete, as vinte e sete
funções sintáticas da palavra que, o quarto sentido do verbo
assistir, o nome vernáculo do sinal &. (1992, p. 9)
VA
aqueles elaborados por especialistas do campo dos estudos da
linguagem” (2013, p. 20).
R
são múltiplas e provêm de perspectivas políticas, culturais e
P UTO
econômicas específicas. Como exemplo, lembra a polêmica em
torno dos estrangeirismos suscitada, de acordo com ele, por
crenças puristas que valoram de forma negativa os empréstimos
A
de uma língua para outra.
Valendo-se dos estudos de Kroskrity (2004, apud Moita
O
Lopes 2013, p. 23), Moita Lopes discorre sobre as dimensões
D
das ideologias linguísticas, lembrando que essas se sobrepõem.
Dentre as apontadas, está aquela que relaciona as ideologias
linguísticas aos interesses de um grupo social específico. Moita
Lopes lança mão de um dos exemplos utilizados por Kroskrity,
qual seja, o da ideologia linguística da norma, “que desampara
sociolinguisticamente aqueles que não dominam a língua
considerada legítima” (2004, apud Moita Lopes 2013, p. 23).
Ao defender a ideia de que é necessário operar com
diferentes construtos teóricos (incluindo o conceito de língua)
para dar conta de novas práticas sociais, de identidades cada
vez mais fluidas e mutantes, Moita Lopes afirma que a ótica
de “língua pura” ainda impera na formação de professores da
área de Letras no Brasil, inclusive nos grandes centros. Além
disso, menciona a quantidade de “purificadores de língua” que
assinam colunas jornalísticas, atores cujas vozes reforçam a
ideologia de língua pura.
No entanto, ao discutir os lugares privilegiados de geração
de ideologias linguísticas, o estudioso enfatiza aquele ocupado
VA
mesmo que fazem jornalistas e “especialistas”.
Dessa forma, consideramos que investigar as razões de
R O
a ótica de uma língua pura imperar na formação de professores
R
(retomando as palavras de Moita Lopes), o que nos propomos
P UTO
a fazer neste capítulo, é reconhecer a supremacia do lugar
ocupado por jornalistas, pela maioria dos escritores e por
“gramáticos” na difusão da ideologia da norma, na construção
da identidade de um professor defensor dessa norma. Nesse
O A
sentido, a ideologia linguística da norma, que se materializa nas
práticas linguísticas desses atores sociais, reflete os interesses de
grupos que desconsideram, avaliam negativamente variedades
D
linguísticas que não as prestigiadas (e também seus usuários).
Entretanto, reconhecer a supremacia de um grupo
no processo de propagação e manutenção de uma ideologia
linguística não é suficiente para explicar o processo de
identificação, uma vez que os sujeitos sociais podem ou não se
reconhecer no discurso da pureza da língua, no discurso que
atribui ao professor o papel de “mero funcionário da língua”.
Surge, assim, a questão: como se dá a construção da identidade
do professor de Língua Portuguesa, daquele responsável por
seu ensino? Para discuti-la, recorremos ao conceito de ethos
discursivo, elaborado pelo analista do discurso D. Maingueneau.
O ethos discursivo
R O
dimensões do discurso, assim como o vocabulário, o modo de
R
coesão, a intertextualidade etc., o que significa dizer que está de
P UTO
acordo com a semântica que rege esse discurso, isto é, com seu
“esquema construtor”. Assim, o ethos não decorre de uma instância
individual, que selecionaria o melhor tom para enunciar, mas sim do
discurso no qual o sujeito se inscreve, do posicionamento a que adere.
D
de análise. Em relação ao ethos, podemos observar que o analista
precisa e refina o conceito em “Problemas de ethos” (2006) e “A
propósito do ethos” (2008), em que discorre acerca de aspectos
que aqui nos interessam, dentre eles o efeito de incorporação.
Após fazer considerações sobre o ethos retórico,
Maingueneau elenca algumas dificuldades ligadas à noção.
A primeira advém da constatação de que o público constrói
determinadas representações do locutor antes mesmo que ele
enuncie, o que faz com que o analista proponha uma distinção
entre ethos discursivo e ethos pré-discursivo. Mesmo em momentos
ou tipos de discurso em que não se espera que o destinatário
disponha de representações prévias do locutor, Maingueneau
observa que o simples fato de um texto pertencer a um gênero
de discurso ou a um certo posicionamento ideológico permite
que se criem expectativas em termos de ethos.
Uma segunda ordem de problemas provém do fato de
que, quando da elaboração do ethos, fatores diversos interagem.
Nas palavras de Maingueneau
O R
do locutor ou do destinatário, remete a coisas bem diferentes,
R
isto é, “o ethos visado não é necessariamente o ethos produzido”
P UTO
(2006, p. 58). Por exemplo, um professor que quer construir de
si a imagem de sério pode ser percebido como monótono, ou o
indivíduo que quer passar a imagem de aberto e simpático pode
A
ser percebido como demagogo: “os fracassos, em matéria de ethos,
são moeda corrente” (2006, p. 58), afirma o analista.
D
unívoco, mesmo em Aristóteles recebe tratamentos diversos na Política e na
Retórica. No entanto, limitando-se à última obra, destaca algumas
ideias com as quais afirma não ser impossível concordar. São elas:
VA
demanda a reelaboração do conceito de ethos retórico na medida
em que esse último é relacionado apenas a textos orais. O analista
R O
parte do princípio de que os textos escritos também podem ser
R
associados a um tom, a uma voz que remete à figura do locutor,
P UTO
à imagem que o destinatário dele constrói. Outro ponto destacado
por Maingueneau é que sua perspectiva ultrapassa o quadro da
argumentação, porque “além da persuasão pelos argumentos, a
A
noção de ethos permite refletir sobre o processo mais geral da
adesão dos sujeitos a um certo posicionamento” (2006, p. 61,
O
grifo do autor).
VA
comportamentos. Os textos publicitários são um bom exemplo:
o fiador aparece associado ao mundo dos executivos, das
R O
celebridades etc., capaz de dar acesso a esses mundos.
R
Assim, o termo “incorporação”, proposto por
P UTO
Maingueneau, designa “a maneira pela qual o destinatário em
posição de intérprete – ouvinte ou leitor – se apropria desse
ethos” (2006, p. 62). Assim, o ethos de um discurso decorre
A
da interação de diversos fatores: ethos pré-discursivo, ethos
discursivo (mostrado), ethos dito. Essa última dimensão pode
O
ser exemplificada por fragmentos de textos em que o locutor
D
evoca sua própria enunciação diretamente (“é um amigo que
lhes fala”) ou indiretamente, por meio de alusões a outras cenas
de fala.
Para exemplificar a noção, Maingueneau analisa a
propaganda de uma máquina fotográfica (Canon), que fecha
com o seguinte enunciado “Mostre do que você é capaz”.
Embora o fiador não apareça explicitado (o texto é construído
na terceira pessoa), ele é mostrado por sua maneira de dizer, por
seu ethos, que “convida” o leitor a fazer parte de “um mundo
mítico viril de matriz tecnológica e de espírito de aventura”
(2006, p. 63). Maingueneau lembra que o discurso publicitário
contemporâneo mantém um laço privilegiado com o ethos, uma
vez que procura persuadir os consumidores associando os
produtos anunciados a uma maneira de habitar o mundo.
Outra observação interessante feita pelo analista: é
preciso considerar a distância entre o ethos que um dado texto
pretende que seja elaborado por seus destinatários e o ethos que
esses efetivamente elaboram em função de sua identidade ou das
VA
incorporando a voz fiadora da propaganda, não se identificando
com ela. Nesse caso, o efeito de incorporação não se produziria.
R
daquele pretendido pelo texto decorre em função da
P UTO
identidade do destinatário, Maingueneau toca em uma questão
importante, qual seja, a de que o sujeito ouvinte/leitor, quando
de sua interação com os textos, já se encontra inscrito em
A
determinados posicionamentos, o que significa dizer que sua
leitura será orientada por um dado posicionamento. Assim, o
D O
efeito de incorporação se produz caso exista harmonia entre o
posicionamento da voz fiadora e aquele do destinatário.
Um exemplo
VA
Ferreira Gullar detonou a língua nos versos finais de “A Luta
Corporal”, ao escrever “Urr verõens/ Ôr/ Túfuns/ Lerr desvéslez
O
várzens”. Mas, nos anos seguintes, trouxe-a de volta aos cânones,
R
para usá-la como ninguém. E João Cabral de Melo Neto, no
R
P UTO
poema “Uma Faca Só Lâmina”, rimou “faca” com “bala” e
“ávida” com “lâmina”. Se lhe dissessem que essas palavras
não rimam, ele diria que, nos poemas dele, rimavam, sim.
No fox-nonsense “Canção Pra Inglês Ver”, Lamartine Babo
A
misturou citações em português e inglês, resultando em “I love
you/ Forget sclaine/ Maine Itapiru”. E, antes dele, Juó Bananére
O
já tinha feito paródias em dialeto ítalo-caipira de poemas
D
conhecidos, tipo “Che bruta insgugliambaçó/ Che troça, che
bringadêra/ Imbaixo das bananêra/ Na sombra dos bambuzá”.
Rosa, Adoniran, Gullar, João Cabral, Lalá e Bananére não
fizeram escola, nem esta era sua intenção. Continuaram
únicos. Artistas podem e devem fugir da norma. Já os
professores e linguistas têm de aderir a ela, como meros
funcionários da língua que são.
Fonte: Ruy Castro. “Meros funcionários.” Folha de S. Paulo,
20/05/2011.
VA
prestígio, nome (re) conhecido não só no meio jornalístico.
Observe-se que, logo no início do texto, o colunista faz
R O
referência ao livro de Heloísa Ramos, mas não o nomeia (“certo
R
livro didático”). A indeterminação contribui para a construção
P UTO
do contraste a ser apresentado na sequência da coluna, um
contraste desigual, no qual aparece, de um lado, o que seria
proposto por “certo livro didático” e, de outro, o que figura em
A
obras de autores renomados (Guimarães Rosa e Ferreira Gullar,
entre outros).
VA
que o leitor constrói uma imagem do locutor apoiando-se em
diferentes índices, como a seleção do registro e das palavras. No
R O
que diz respeito à coluna, podemos dizer que a construção do
R
ethos da voz que enuncia apoia-se em determinados elementos
P UTO
textuais, dentre eles os exemplos e citações que proliferam no
texto. O conjunto apresentado permite elaborar a imagem de
um sujeito singular, que conhece profundamente a língua e seu
A
patrimônio cultural, tendo, portanto, plenas condições para
defendê-la.
VA
atribuição do papel de “mero funcionário da língua” ao professor
de português inviabilizaria a identificação, a incorporação
R O
do ethos da voz fiadora. No entanto, é preciso considerar que
R
a identificação pode ocorrer também pela falta, o que se dá
P UTO
quando o ethos responde a uma carência do leitor. Levando em
conta que a imagem de professor carente, pouco preparado, é
aquela que circula de forma predominante nas práticas verbais
A
ligadas à mídia, podemos dizer que a um ethos seguro e assertivo
corresponde uma imagem de leitor inseguro, pouco ou nada
O
conhecedor da língua e de seu patrimônio cultural. Assim, esse
D
último incorpora o ethos pois nele reconhece traços positivos
que deseja para si, uma adesão que pode ser vista em termos de
“eu também quero ser assim”.
Nesse sentido, a voz fiadora dá acesso a um mundo ético
habitado por aqueles que conhecem muito bem a língua, que
sabem defendê-la com erudição e segurança. São esses sujeitos
singulares que podem e devem preservar a pureza da língua. Sua
preservação demanda um professor atento, exigente em relação
às regras, pouco tolerante com os “erros”.
Como vimos, Silva (2000) considera que a fixação de
uma identidade resulta da eleição arbitrária de uma específica,
que passa a figurar como a natural. A leitura da coluna revela
que a identidade do professor de Língua Portuguesa constrói-se
no interior do discurso purista da língua, é nesse discurso que
(ainda) o professor se reconhece. Além disso, permite constatar
que o processo de adesão pode ser explicado levando em conta
o conceito de ethos e o efeito de incorporação.
VA
Linguística Aplicada em relação ao conceito de identidade e
suas relações com o poder. Da mesma forma, as reflexões de
R O
Maingueneau sobre o ethos discursivo foram consideradas, uma
R
vez que avaliamos serem fundamentais para responder questões
P UTO
como a que apresentamos no início: o que pode (ria) explicar
a adesão do professor de Língua Portuguesa ao discurso de
pureza da língua?
O
apreendemos um ethos decidido e seguro. A essa voz foi possível
D
atribuir sentidos altamente positivos, a ela associar um mundo
ético habitado por aqueles que conhecem bem a língua, que
a defendem com sabedoria e erudição. O leitor inseguro (o
professor) incorpora a voz fiadora, pois nela se reconhece pela
falta, por traços que deseja partilhar. Dessa forma, a leitura da
coluna produz o efeito de incorporação, permite a adesão do
leitor ao discurso da pureza da língua.
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A
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V
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identidade: elementos para uma discussão no campo aplicado.
R O R
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4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes.
R
NA EDUCAÇÃO BÁSICA
P UTO
O A
D
VA
R O R
P UTO
O A
D
12
VA
R O R
Esporte e recreação na educação integral
D
Introdução
VA
que, na maioria das vezes, não se fazem presentes no cotidiano
das crianças. Além disso, estas práticas deveriam ser utilizadas
R O
como meio de educar.
R
Neste contexto, o Curso de Aperfeiçoamento Docência
P UTO
em Tempo Integral – Educação Integral: expressões verbais e
corporais, teve como uma das propostas preparar os professores
para ensinar o esporte e os jogos na intenção da formação do
A
aluno, não como atleta, mas aprendendo valores que sejam ser
importantes na educação para a cidadania, além dos demais
O
benefícios proporcionados pela prática de atividades físicas
D
orientadas.
VA
A escola é uma instituição universal, que está presente
na maioria das cidades, e costuma ser um dos primeiros lugares
R O
que a criança tem contato com o esporte, seja na Educação
R
Física escolar ou nas Práticas Esportivas Educacionais (PEEs),
P UTO
presentes na Escola de Tempo Integral (ETI), pois a maioria
das cidades não dispõe de espaços que permitam sua prática de
maneira adequada.
O
Esta atividade é caracterizada pela iniciação esportiva, e por
D
estar vinculada a organização educacional, tendo, portanto, a
finalidade de contribuir para a educação dos indivíduos. Desta
forma, o esporte neste contexto não deve ser abordado sob o
mesmo enfoque das aulas de Educação Física, nem do Esporte
de Rendimento.
Vários estudos (De Marco e Melo 2002; Korsakas 2002;
Korsakas e De Rose Jr 2002; Bassani e Torri; Vaz 2003; Sartori
2003; Soares 2003; Barreto e Gruppi 2013) abordam a relação
entre a Educação e o Esporte e reafirmam a contribuição da
atividade esportiva na socialização e na formação das crianças.
Através do Esporte, podem aprender a conviver com vitórias
e derrotas, a vencer por meio do esforço pessoal, desenvolver
a autonomia e a confiança em si mesmas, além do sentido de
responsabilidade, entre outros aspectos. Porém, é imprescindível
que o objetivo educativo seja, neste contexto, uma das prioridades
no ensino do esporte.
O Esporte Educacional é uma possibilidade de prática do
esporte na escola, de forma mais sistematizada, e que pretende
VA
a repetição do modelo do Esporte de Rendimento, fazendo com
que muitas crianças desistam da prática esportiva ou continuem
R O
por imposição, gerando assim, uma experiência negativa da
R
prática esportiva.
P UTO
Para que o objetivo educativo seja priorizado, as PEEs
devem estar coerentes com o projeto pedagógico da ETI, embora
o esporte nem sempre seja abordado. Além disso, é necessário
que os professores e as estratégias busquem a participação
O A
ativa dos alunos, promovendo um clima ambiental da prática
esportiva direcionado para os aspectos educacionais, auxiliando
assim no desenvolvimento de uma educação de qualidade.
VA
esta se estenderá a círculos ambientais cada vez mais amplos.
Além disso, vale destacar, que o Esporte Educacional
R O
se baseia nos princípios apresentados no Quadro 1. Estes
R
princípios deveriam nortear as atividades esportivas propostas
P UTO
nas ETI.
O A
Princípio
Participação
Definição
D
Inclusão
Cooperação
ticipação de todos.
VA
Nesta perspectiva, proporcionamos aos participantes
do Curso de Aperfeiçoamento Docência em Tempo Integral
O R
– Educação Integral: expressões verbais e corporais, o
R
conhecimento de conceitos relacionados ao Esporte Educacional
P UTO
e a vivência de atividades práticas que priorizassem os princípios
educativos deste conteúdo, que estão demonstradas a partir de
algumas atividades a seguir.
O A
• Sinal verde e vermelho
D
Objetivo Desenvolver a atenção e a velocidade de reação, aprendiza-
gem dos sinais de trânsito.
Desenvolvimento da Atividade
Quando o professor falar “verde”, os alunos deverão se deslocar andando, e
quando for “vermelho” deverão parar. Aquele que se movimentar no “ver-
melho” ou parar no “verde” deverá retornar à linha inicial. Vence aquele
que deslocar até o final do local demarcado.
Variações
Alterar o movimento utilizado no “verde”, pode ser correndo, saltando com
os dois pés, com apenas um pé.
• Gato e Rato
Objetivo Desenvolver a atenção e a velocidade de reação, corrida,
mudança de direção.
Material Nenhum
utilizado
A
sicionadas no centro da quadra. Dois alunos ficarão fora das
filas, um será o gato e o outro o rato.
O V
Desenvolvimento da Atividade
Os alunos em fila deverão manter os braços abertos, formando uma espécie
R
R
de labirinto. Ao sinal do professor “trocou”, estes deverão virar o corpo la-
P UTO
teralmente, mudando o posicionamento do labirinto. Enquanto isso o gato
deverá pegar o rato.
gato
X X X X X
X X X X X
O A X X X X X
X X X X X
rato
D
Variações
O professor deverá oportunizar a participação enquanto gato e rato para
aqueles que desejarem.
• Corrida do bambolê
Objetivo Desenvolver a coordenação motora, consciência corporal
e agilidade.
Princípios Cooperação; Participação; Coeducação; Corresponsabilida-
Pedagógicos de; Inclusão; Desenvolvimento do Espírito Esportivo.
Material Bambolê
utilizado
Disposição Alunos em filas (de preferência várias para evitar que fiquem
muito parados).
Desenvolvimento da Atividade
O primeiro de cada fila receberá um bambolê, que será colocado no chão,
à frente do alunos, que deverá saltar dentro do mesmo e retira-lo passan-
do pelo tronco e retirando pela cabeça. Em seguida, deverá recoloca-lo no
chão e realizar o mesmo movimento até o local estabelecido pelo professor.
Quando chegar ao local determinado voltará correndo até o próximo da fila
que fará o mesmo procedimento até que todos participem.
• Escuta e corre
A
Objetivo Desenvolver a atenção, agilidade, velocidade de reação e
deslocamento.
O V
Princípios
Pedagógicos
R
Cooperação; Participação; Coeducação; Corresponsabilida-
de; Inclusão; Desenvolvimento esportivo; Desenvolvimen-
R
to do Espírito Esportivo.
P UTO
Material Giz ou bola
utilizado
Disposição Alunos sentados no chão, dispostos em quatro filas, forman-
do um quadrado, e no meio uma bola ou uma marcação.
O A
Desenvolvimento da Atividade
O professor deverá numerar os alunos, de forma que as quatro filas tenham
os mesmos números. Quando chamar, por exemplo, o nº3, todos que forem
esse número deverão correr até o centro e o primeiro que chegar marcará
D
ponto para sua equipe.
X1 X2 X3 X4 X5
X5
X4
X3 *
X1
X2
X3
X2 X4
X1 X5
X5 X4 X3 X2 X1
Variações
O professor poderá também fazer operações matemáticas e o resultado de-
verá ser o aluno que correrá. Ou ainda, citar uma pergunta sobre a regra
de um esporte antes e ao chamar o número, aquele que tocar primeiro ao
centro terá a oportunidade de responder e marcar ponto para sua equipe,
caso ele erre, o que tocou em segundo tem a chance e assim por diante.
Neste caso, se o aluno que correu não souber, alguém da sua equipe poderá
ajudar respondendo.
Pode-se variar também, formando apenas duas filas e aquele que pegar a
bola primeiro executa um movimento, como um arremesso para o gol, um
arremesso do basquete, um saque com alvo para ser acertado... e assim
marcará ponto aquele que acertar.
VA
Material
utilizado
Giz; elástico; cones; bolas de meia; dardos de jornal; mar-
telos de meia; frisbee.
R O
Disposição
R
Alunos em fila (de preferência várias para vivenciarem mais
vezes os movimentos).
P UTO
Desenvolvimento da Atividade
Para todos os movimentos propostos, exceto o salto em altura (que deverá
ir aumentando a altura do elástico), haverá uma “régua” com numeração à
medida que afasta o do local de início do exercício.
A
Arremesso de bola de meia;
Lançamento do dardo de papel;
O
Lançamento de frisbee;
Lançamento do martelo adaptado;
D
Salto em altura (dois cones e um elástico);
Salto em distância.
X 1 2 3 4 5
Primeiro todos irão passar por estas atividades, tentando aumentar a distân-
cia alcançada. Posteriormente, os alunos serão divididos em grupos de seis
e entre eles definirão qual atividade que cada um irá participar, de acordo
com suas habilidades e vontade. E assim, o professor fará uma competição
somando os pontos que cada aluno tiver alcançado no seu movimento.
Variações
O professor poderá solicitar que depois os alunos de cada equipe troquem
entre si de movimento, ou até colocar outras atividades na brincadeira.
R O poderia viver. O menino que não brinca não é menino, mas o homem que não
R
brinca perdeu para sempre o menino que vivia nele e que lhe fará muita falta.
P UTO
Pablo Neruda
O A
de carros, comércio ou de vazio. Reflexo de uma sociedade
cada vez mais violenta em que os pais sentem-se cada vez mais
inseguros, em deixar seus filhos brincar livremente.
VA
de pessoa para pessoa, advindo de suas experiências positivas ou
negativas anteriores. Se para uns o jogo é considerado como
R O
uma atividade de pouca relevância para sua vida, para outros é
R
parte essencial de seu viver (Castellano 2014).
P UTO
Os professores, então, necessitam se apropriar do jogo
como uma ferramenta lúdica para mediar às aprendizagens e as
relações interpessoais para a construção de práticas de ensino
mais significativas e felizes.
VA
adultos para a arte de saber viver e conviver com as diversidades.
Pelo jogo a criança desenvolve as possibilidades que
O
surgem de sua estrutura particular, concretiza as potencialidades
R
virtuais que afloram de seu ser, assimila-as e as desenvolve, une-
R
P UTO
as e as combina, coordena seu ser e lhe dá vigor (Chateau 1987).
No decorrer do Curso de Aperfeiçoamento Docência em
Tempo Integral, desenvolvemos reflexões acerca do universo do
jogo e da expressão corporal, a fim de ampliar as possibilidades
A
de aplicação, bem como apresentar e ou reafirmar a utilização
de uma abordagem inclusiva que permita evocar a natureza
O
verdadeira do jogo. A seguir, alguns jogos/vivências serão
D
demonstrados.
• Luxo do lixo
Objetivo Desenvolver a agilidade, criatividade, capacidade de pre-
servação ambiental e trabalho em equipe.
Princípios Participação; Coeducação; Corresponsabilidade; Inclusão;
Pedagógicos Desenvolvimento do Espírito Esportivo; Corporeidade.
Material Sucata diversa (garrafas pet, papelão, tampinhas, toquinhos,
utilizado etc.), sementes, folhas, pneus, etc.
Disposição Alunos divididos em dois grupos separados pela linha cen-
tral da quadra.
Desenvolvimento da Atividade
Os alunos em filas deverão estar divididos em equipe em que ao primeiro
sinal do professor deverão criar o nome da equipe. Na sequência os alunos
irão buscar diferentes materiais nos diferentes espaços da quadra ou pátio.
Ao sinal do professor os mesmos não mais poderão buscar os materiais dis-
postos na quadra e deverão construir algum item de luxo a partir das sucatas
que cada equipe recolheu. Após a construção deverão contar uma história
sobre o produto construído.
Variações
Pontuar quanto ao número de objetos recolhidos por cada equipe.
A
Material Bolas plásticas coloridas (N de bolas = N de participantes)
utilizado
O V
Disposição
R
Alunos divididos em três grupos separados por linhas no
pátio ou na quadra.
R
Desenvolvimento da Atividade
P UTO
Os alunos segurando uma bola plástica colorida estarão dispostos em seus
respectivos espaços. Ao sinal do professor deverão lançar as bolas plásticas
no espaço de jogo de seus adversários. Sendo que ao cair alguma bola em
sua área de jogo deverão rapidamente lançar para o chão de uma das equi-
A
pes adversárias. Após 3 minutos o professor apitará e todos deverão manter-
se como estátuas, para então contabilizar o número de bolas na área de jogo
O
de cada equipe. Vence a equipe que possuir o menor número de bolas em
sua área de jogo.
D
Variações
Estabelecer pontuações distintas perante a cor de cada bola, de modo que
não necessariamente a quantidade de bolas levará uma equipe a perder e
sim será determinada pela pontuação de cada cor.
• Teia Dançante
Objetivo Desenvolver a expressão corporal, a flexibilidade, laterali-
dade, coordenação motora, estruturação espacial e tempo-
ral e trabalho em equipe.
VA
que encostaram nas fitas e posteriormente troca-se de posição: os alunos
que eram teias, tornam-se aranhas e vice-versa. Ao final contabiliza-se qual
grupo teve menos aranhas encostadas nas teias.
O
Variações
R R
Apenas explorar os diferentes movimentos ao som da música em que os
P UTO
alunos que estão segurando as fitas irão realizar movimentos mais amplos
no plano alto e os demais alunos irão realizar movimentos explorando o
plano baixo.
A
• Jogo dos Gestos Humanos
O
Objetivo Desenvolver a expressão corporal, a tonicidade muscular,
coordenação motora, estruturação espacial e memória.
D
Princípios
Pedagógicos
Material
utilizado
Participação; Coeducação; Inclusão; Desenvolvimento do
Espírito Esportivo; Corporeidade.
2 cadeiras
• Tocobol
Objetivo Desenvolver a destreza, agilidade, velocidade, atenção, for-
A
ça de membros inferiores, tonicidade muscular, coordena-
V
ção motora, estruturação espacial.
Princípios Participação; Coeducação; Inclusão; Desenvolvimento do
O
Pedagógicos Espírito Esportivo; Corporeidade.
Material
R
utilizado
P UTO R
Disposição
Um pedaço de pano, 4 pedaços de madeira (cabo de vassoura
cortados medindo 50 cm) cada e 4 garrafas pet cheias de areia.
Alunos divididos em duplas na quadra ou no pátio
Desenvolvimento da Atividade
Dividir a turma em duplas e por cores (azul e vermelho). O jogo inicia-se na
A
área central da quadra o pátio com piso liso, em que serão colocadas duas
garrafas simbolizando as áreas de gol de cada equipe. O jogo consiste em
O
tentar conduzir o pedaço de pano para área da equipe adversária e realizar
o gol entre as duas garrafas pet. Os jogadores deverão passar o pano para
D
seu parceiro e tentar conduzir o pedaço de pano até o gol do seu adversário.
Vence quem realizar o maior número de gols no período de 3 minutos. Os
vencedores pontuam para a cor que defendem que pode ser demarcada com
tinta de pintura facial no rosto ou nos braços. Ao final desse tempo iniciam
o jogo outras duas duplas diferentes, até que toda a turma tenha participado.
Vitória: 4 pontos; empate: 2 pontos; derrota: 1 ponto
Variações
Realizar o jogo um contra um.
A
em que os alunos sejam instigados a resolver coletivamente.
V
Um exemplo claro são as construções das regras norteadoras
específicas a partir de conflitos vivenciados durante o jogo.
R O R
Nas vivências dos módulos foi notório o desenvolvimento
P UTO
dos professores a partir do diálogo com seus pares bem como,
ao serem instigados a criar, elaborar jogos e brincadeiras
coletivamente por meio dos objetos provocadores.
A
Acreditamos que a criatividade é uma capacidade a ser
estimulada permanentemente entre alunos e professores na
O
belíssima arte de ensinar e aprender mutuamente. Nesses módulos
D
tivemos a oportunidade de sensibilizar os professores para arte de
criar e ser feliz na busca da superação e maior a autonomia para
melhor desenvolver aprendizagens e talentos na ETI.
Considerações finais
A
Integral: expressões verbais e corporais uma vivencia de jogos,
V
atividades práticas e conhecimentos especializados, a expectativa
é que os participantes apliquem o conhecimento adquirido
O R
durante essa experiência, com seus alunos na ETI.
R
P UTO
Esperamos formar cidadãos mais conscientes, críticos e
participativos, que consigam compreender não só o jogo mas
também a sociedade e o mundo que vivem como resultado.
A
Referências
O
D
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R
corporal no esporte
P UTO
A
Jean Carlo Ribeiro
D O
Introdução
VA
solidariedade, a amizade a cooperação a participação e o prazer.
Entendemos que a atração do esporte está circunscrita
R O
nas competições, na execução de seus conteúdos técnicos e
R
táticos, assim como no desenvolvimento das habilidades e
P UTO
aptidões inerentes a cada modalidade esportiva. Esses elementos
são indispensáveis na caracterização do esporte como este
elemento atrativo. A preocupação surge ao pensarmos a forma
A
de abordagem destes elementos. Quais princípios e valores
humanos implícitos no ensino destas práticas? Qual metodologia
O
garantiria uma verdadeira educação esportiva? Ou, como
D
nos propôs Moreira (2002, p. 127), abordando o fenômeno
corporeidade: “Como empreender conteúdos e estratégias que
visem ao desenvolvimento do rendimento atlético a par da
consciência corporal?”.
É partindo destas reflexões, afirmações e questionamentos
que delineamos o objetivo deste estudo em refletir sobre a
expressividade corporal no ensino do esporte considerando a
corporeidade como fundamento principal no trato do corpo e
do movimento nas práticas esportivas.
VA
humano? O professor passou a ser apenas um técnico? Será que
a competição de alto nível em determinadas modalidades tem
R O
relação com a Educação Física? A atividade esportiva deixou
R
de ser um meio de formação e valorização do ser humano para
P UTO
ter um fim nela mesma? E finalizando, pergunta se não será o
momento de criarmos novos modelos.
Santin (1987[2003]) nos informava que desde que a
Educação Física encontrou na escola, enquanto curso acadêmico,
O A
um lugar privilegiado para seu desenvolvimento, os laços com
o esporte têm se estreitado. Percebendo que a Educação Física
tem sido entendida quase como sinônimo de esporte, propôs
D
uma reflexão filosófica assumindo dois papéis fundamentais.
O primeiro seria o de afirmar que a Educação Física
não deve compactuar com o uso do esporte para explorações
políticas e econômicas. Sem propor o abandono ao esporte,
sugeria uma prática benéfica aos seus praticantes, voltada a uma
melhoria da qualidade de vida.
O segundo papel é fundamentado na busca dos
pressupostos antropológicos, epistemológicos e pedagógicos
que legitimam a Educação Física e as práticas esportivas
enquanto práticas educativas, tanto na escola, quanto nos outros
locais em que ela acontece. Para tal, Santin (1987[2003]) se
inspirou em três pontos:
VA
entendimento diferente sobre a vivência corporal no esporte.
Fica clara a proposta de superação do entendimento e
R O
identificação do corpo enquanto máquina, transcendendo a
R
própria compreensão do movimento humano como gesto
P UTO
mecânico, mensurável, explicado unicamente pelas leis da Física.
Partindo para a discussão sobre corporeidade como
suporte teórico, todos os questionamentos ganham força,
A
à medida que, propomos uma inversão da ordem lógica
de abordagem do corpo no esporte, entendendo que,
O
necessariamente, deva haver uma prevalência da corporeidade
D
sobre a técnica e sobre o gesto esportivo. Em outras palavras,
metaforicamente, o esporte deve ser “incorporado” e não o
corpo “vestir” o esporte.
Cabe ressaltar que a experiência corporal no esporte
tem sido, em muitos casos, reduzida a uma condição de
instrumentalização em busca do rendimento máximo. Percebido
como objeto, ao corpo é reservada a condição de manipulável,
submisso e desumanizado. Moreira et al. (2010, p. 123), nos
alertam que a “Corporeidade deve denunciar as formas que
caminham para a criação de novos dualismos os quais distanciam
corpo e pessoa, corpo e indivíduo. [...] Não se pode abrir mão
do sensível, do inteligível, da presença, da pertença ao gênero
humano”.
Exemplificando este distanciamento e a condição de
objeto imposta ao corpo na prática esportiva, podemos citar
um discurso que se tornou muito comum no universo da
modalidade futebol. Treinadores, entre outros profissionais da
área, frequentemente utilizam o termo “peça” ao se referirem
VA
Outro termo muito comum usado na mesma situação e
que da mesma forma desvaloriza o humano na prática esportiva,
R O
é o termo “plantel”. O significado deste termo está relacionado a
R
“grupo de animais de raça fina, selecionada”. Até quando o corpo
P UTO
será menosprezado através destes termos? Por que reprimir
características do humano como a criatividade, a sensibilidade e
a própria inteligência dos praticantes de esportes com esse tipo
A
de associação? De quanto tempo ainda precisaremos para elevar
o ser humano a uma condição de sujeito nas práticas corporais
O
esportivas? Quando daremos ao corpo a atenção e o valor de
D
que necessita?
Bento (2010) apresenta o esporte como uma
manifestação da ordem da cultura, que auxilia na construção
humana de acordo com sua condição social, cultural e moral,
em determinado local e data, sendo passível, a todo o momento
de reflexão e redimensionamento. No desporto (denominação
utilizada pelo autor), o corpo biológico e motor é promovido
a corpo cultural e simbólico e este corpo qualificado, portador
de sentidos, participa na construção do que temos por dentro,
preenchendo nossos vazios, construindo nossa alma.
O conceito apresentado pelo autor retrata ampliação e
aprofundamento do entendimento sobre o esporte, ao mesmo
tempo em que associa fortemente esta prática à ideia de unicidade
corporal, existencialidade e dinamicidade, humanizando a
prática esportiva.
Mesmo com a evolução percebida, entendemos que um
longo caminho ainda há de ser trilhado na valorização, enquanto
corporeidade, do ser humano que pratica esporte. A nosso ver,
A
Ser humano e esporte
V
R O R
Para entendermos o esporte a partir do sujeito que o
P UTO
pratica, além de considerar a importância e a grandeza deste
fenômeno, já nos é imposto estabelecer que esta relação seja
complexa, o que impede uma análise separada que objetive
A
facilitar esse entendimento. Outra imposição seria a de colocar
os dois fenômenos (ser humano e esporte) numa ordem
O
apropriada, jamais evidenciando o esporte como se este fosse
D
uma entidade autônoma, independente de quem o pratica
(Moreira, Pellegrinotti e Borin 2006).
Já estabelecendo essas balizas para nossa análise,
afirmamos que a imagem mais conhecida do esporte é
proveniente da divulgação nos meios de comunicação, ou seja,
a imagem do esporte de alto rendimento. Tani (2002, p. 108),
ressalta que:
VA
sendo difundida em decorrência desta maior visibilidade do
esporte de alto rendimento.
R
deve ser questionado. Como conceber o gesto, o movimento sem
P UTO
a sensibilidade e a consciência? O sentir e o pensar desaparecem
durante o agir? Por que a sensibilidade é colocada em segundo
plano, se o grande prazer do esporte reside no conhecimento
A
vivencial da corporeidade durante o gesto, assim como no ato
de superação presente na execução do movimento?
VA
fundamentais, que corroboram com o tipo de percepção que
defendemos ao abordar o fenômeno esportivo. O primeiro
R O
deles se refere à forma como os corpos são colocados à
R
serviço de interesses econômicos e políticos, que atropelam
P UTO
as características humanas do esporte e anulam a intenção do
praticante desvalorizando-o enquanto corporeidade. Estas
características são facilmente visíveis no esporte de alto nível
que, ao mesmo tempo em que apresenta o discurso da beleza do
O A
movimento, da saúde e da confraternização, subordina o atleta a
esquemas de treinamento e de competições, em que os valores
presentes contradizem esse discurso. Valores que retratam uma
D
sociedade em que a prioridade é o capital, em detrimento até
mesmo do corpo enquanto corporeidade. Nas palavras de
Gonçalves (1994[2005, pp. 138-139]).
VA
onde as relações humanas estão violentadas. Uma sociedade
violenta gera a prática de um esporte violento”. Exemplificando
R O
a afirmação, um dos autores relata uma experiência durante um
R
debate em uma conferência sobre violência no esporte. Ao dizer
P UTO
que desconhecia violência do esporte, projetou um filme em
que índios do alto Xingu e monges tibetanos jogavam futebol.
Comprovou sua afirmação ao demonstrar que nenhuma
A
manifestação de violência aconteceu durante a prática esportiva,
retratando assim, os valores que constituem as relações sociais
O
desses dois grupos. Podemos entender então a partir deste
D
exemplo que a violência não “é” do esporte, mas sim “está” no
esporte.
Sob a mesma análise, outra situação surge em nossa
reflexão: a exclusão. O mesmo processo que anula as
oportunidades e restringe o acesso de grupos menos favorecidos
seja intelectual, social ou economicamente a inúmeros ambientes,
também exclui do esporte corpos que não se encaixam em
determinados perfis corporais, entendidos como essenciais para
a prática esportiva.
O agravante deste quadro surge através de várias
modalidades que se tornaram altamente elitizadas pelo alto
custo dos materiais, e/ou dos locais para sua prática. Esse duplo
processo de exclusão se concretiza então, tanto nas restrições
impostas a corpos menos habilidosos, abaixo ou acima do
peso, abaixo ou acima da altura, deficientes etc., quanto na
impossibilidade de acesso de grupos menos favorecidos
economicamente que por motivos óbvios, estariam impedidos
de vivenciar tais modalidades.
VA
da política atual, apenas à formação de atletas e de campeões
(Santin 1987[2003, p. 87])”.
R
determinista, simplista, unidirecional e pragmático, por
P UTO
um modelo que facilite o acesso ao esporte e que, além de
valorizar o praticante enquanto pessoa humana, oportunize
uma prática prazerosa, buscando um equilíbrio entre racional
A
e sensível, respeitando a diversidade dos corpos. Esse modelo
de pensamento sugere um reconhecimento das diferentes
O
dimensões que o esporte oferece, e suas implicações concretas e
D
simbólicas na vida de quem vivencia esse fenômeno.
Percebemos que a superação de um entendimento
reduzido em relação ao esporte e ao corpo esportista, não se
traduz em tarefa fácil, já que tal percepção habita fortemente o
imaginário social. Teixeira (2001), objetivando um entendimento
do discurso sobre o corpo em praticantes de esporte, tanto
escolar, como de lazer e alto nível, realizou uma pesquisa
neste sentido e identificou um forte dualismo que privilegia o
inteligível em detrimento do sensível, prevalecendo a ideia do
corpo controlado e subjugado pela mente/espírito.
Esse dualismo presente no discurso dos praticantes
entrevistados, segundo esse autor, remete o corpo a uma condição
maquinal de constante aperfeiçoamento, instrumentalizando-o
e promovendo uma imagem corporal fragmentada, no qual
determinadas partes devem ser aprimoradas, de acordo com a
modalidade praticada. A funcionalidade do corpo é enaltecida
na ênfase dispensada aos aspectos físicos, técnicos e táticos
específicos, o que imprime uma característica de alienação tanto
VA
se movimenta. Direcionar as práticas esportivas por meio
de modelos corporais alienados, difundidos pelos meios de
R O
comunicação é negar o sentido da própria corporeidade. É
R
negar a própria vida.
P UTO
Considerações finais sobre corporeidade e esporte
D
a necessidade da análise do esporte acontecer vinculada a uma
análise do próprio ser humano que o pratica, entendemos a
discussão de corporeidade como o paradigma que mediará uma
nova relação do ser humano com a prática corporal esportiva,
entendendo que é através do corpo que essa relação se dá.
A sensibilidade, as necessidades, os desejos e as emoções
presentes no corpo, seriam considerados como fundamentais
no trato com este, despertando a autonomia, a liberdade e a
criatividade de quem vivencia a prática esportiva. O movimento
é entendido como intencional e possuidor de sentido e
significado, e que parte de um corpo vivo. São sujeitos, criando
e recriando sua história e sua cultura também através do esporte.
VA
sentido individual quanto coletivo. (Moreira et al. 2010, pp.
129-130)
R O R
Buscando uma melhor compreensão de corpo através
P UTO
da prática esportiva nos dias atuais, encontramos uma melhor
compreensão da nossa própria cultura, da nossa própria história,
pois é através do corpo que nos relacionamos e construímos
nossa identidade pessoal e social.
D
percebermos que:
VA
vivência que considere as dimensões globais do ser humano,
poderá preencher o vazio existente entre a crítica e a criatividade.
R O
Para isso, precisamos buscar mais do que nos é oferecido, ver
R
além do que nos é mostrado, fazer mais do que nos é imposto, e
P UTO
assim, resgatar a unicidade e a sensibilidade humana.
A
Referências
O
D
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obesidade: papel do desporto e da escola”, in: MOREIRA
W. W. et al. (orgs.) Educação Física, esporte, saúde e educação.
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VA
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R
TEIXEIRA, D. (2001). O corpo no esporte escolar, de lazer e de alto
P UTO
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O A
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R
os fenômenos jogo e esporte
D
Introdução
Wagner Wey Moreira
VA
Escola de Tempo Integral (ETI): Uma novidade não tão nova!
R O R
P UTO As tentativas de elaboração de Escolas em Tempo Integral
– ETI no Brasil não são recentes. Algumas experiências já foram
efetivadas no país em busca da realização de projetos ideológicos
A
de diversas naturezas.1 Podemos dividir estas experiências em
três fases. A primeira que concentra as iniciativas anarquistas,
O
integralistas e escolanovistas de 1920 até 1962 (quando se encerra
D
a última experiência de Anísio Teixeira em Brasília2); a segunda que
engloba o período de 1983 (quando se inicia o governo de Leonel
Brizola no Rio de Janeiro) até 2007 e a última que se inaugura
em 2007 (com o lançamento do Plano de Desenvolvimento da
Educação – PDE) e chega até os dias atuais.
A iniciativa anarquista via na educação um meio de se
pleitear a liberdade político-econômica e lutar pela transformação
da sociedade, por isso, primavam por uma educação completa
VA
projeto de tomada do poder político pela Ação Integralista
Brasileira - AIB. Este grupo tinha em seus preceitos a necessidade
R O
de afirmação das facetas mais conservadoras da sociedade
R
brasileira. Assim, embasavam suas ações no tripé Deus – Família
P UTO
– Pátria e, por isso, nos aspectos físicos, cognitivos, espirituais
e morais dos sujeitos. A concepção de trabalho desta iniciativa
partia do assistencialismo e da educação, na qual a última tinha
A
como pilares a alfabetização e a formação do homem a partir do
movimento higienista brasileiro (Coelho 2004, 2005, 2006).
VA
século passado até o início dos anos 2000, diversas iniciativas
que primavam uma ampliação de jornada escolar foram
R O
inauguradas,3 todas elas partindo da mesma premissa, de fazer
R
tal extensão com outros conteúdos culturais que não só aqueles
P UTO
que já habitavam o currículo escolar.
São Paulo (Programa de Formação Integral da Criança
– PROFIC; Centros Educacionais Unificados – CEUs), Belo
A
Horizonte (Programa Escola Integrada), Curitiba (Centros de
Educação Integrada – CEIs), Santa Catarina (Projeto Escola
O
Pública Integrada), inseriram em algumas escolas projetos que
D
ofereciam jogos, esportes, dança, música, reforço escolar, dentre
outros, para os alunos que permaneciam naquele ambiente por
mais tempo ou até que iam para outros lugares para realizar
estas atividades (Cavaliere 2009).
Esta segunda fase também foi marcada pelo encerramento
das atividades dos CIEPs, visto que os mesmos, e os que haviam
derivado deles como os Centros de Atenção Integral à Criança
– CAICs, foram considerados caros e inviáveis para o poder
público. Até 2007 poucas experiências de ETI resistiram no
país, sendo estas, em sua maioria, concentradas no Sudeste.
A partir de 2007 o Governo Federal começou a incitar
propostas de ETI no Brasil a partir da implementação do
VA
Cultura e Meio Ambiente que se organizam em macrocampos
de acompanhamento pedagógico, educação ambiental, esporte
R O
e lazer, direitos humanos e cidadania, cultura e artes, cultura
R
digital, prevenção e promoção da saúde, comunicação e uso de
P UTO
mídia, investigação no campo das ciências da natureza, educação
econômica (Brasil 2009; Moll 2012).
O Programa Mais Educação (PME) tem algumas
A
características marcantes, como a defesa da territorialidade,
intersetorialidade e a necessidade de vivência do tempo de
O
escola como Kairós (Leclerc e Moll 2012).
A
Entendemos que a concepção de ETI por vezes se
V
distancia da ideia de uma educação integral. Já dissemos que
nas experiências vivenciadas anteriormente na história do país,
O R
considerava-se uma ETI aquela que tinha atividades para a
R
dimensão cognitiva, física e moral dos indivíduos e, que fazia
P UTO
isso, em tempo maior do que a escola de tempo parcial.
Mas aqui defendemos, na mesma direção do que parece
propor o PME, que em uma ETI (assim como uma escola de
O A
tempo parcial) só se pode pleitear uma educação integral de seu
aluno. Ou seja, a ETI em sentido amplo é aquela que abrange a
D
educação integral (Leclerc e Moll 2012).
Mas então a pergunta seria: no que consiste uma
educação integral? E a resposta parece estar evidentemente
próxima a educar o Ser Humano para a sua vida, logo envolve
compreender a totalidade do ser e suas necessidades existenciais.
Para educá-lo integralmente é preciso compreendê-lo de forma
holística, completa, complexa e única e não como a soma de
partes facilmente separadas e unidas numa simples sirene
escolar. “Agora, vamos para a sala, momento da mente funcionar! Agora,
já para o pátio, o corpo precisa se movimentar!”.
A dicotomia corpo e mente, mesmo que iniciada na Grécia
de Platão, ganhou força na modernidade quando Descartes, em
seus estudos sobre a racionalidade humana (Descartes 2012),
caracterizou o dualismo psicofísico entre matéria (corpo ou
coisa extensa – res extensa) e espírito (alma ou coisa pensante –
res cogitans), reforçando a separação entre o mundo material e o
espiritual.
VA
mesmo é compreendido como “físico” e não no sentido da
corporeidade por nós defendida.
R O R
A compreensão sobre o corpo assumida neste texto, e
que baliza nossa análise, é proposta por Merleau-Ponty e seus
P UTO
estudos acerca da fenomenologia (Merleau-Ponty 1994). Para
esse estudioso, o corpo não pode ser visto como uma soma
das partes e a alma como algo que comanda esse conjunto. O
A
corpo humano só pode ser percebido e conhecido por meio da
vivência e da experiência do mesmo, portanto, entendido em
O
sua integralidade.
VA
quase tudo o que é necessariamente humano, como aprender,
crescer, evoluir e amar. Quando falamos em relações, nos
R O
referimos a tudo o que está diante de nós, como a convivência, a
R
manipulação de objetos, o sonhar. Nossas relações são infinitas,
P UTO
umas mais íntimas e outras mais abertas, sempre no sentido de
convivência e desenvolvimento do sentido humano. Ao falar de
educação integral, as relações que formamos devem ser ponto
A
de partida para qualquer ensino.
Uma das vertentes de projetos na ETI são as atividades
O
esportivas. O esporte é um fenômeno sociocultural polimórfico
D
e polissêmico, presente em todas as nações no mundo. A
Unesco (1978) publicou a Carta Internacional de Educação
Física e Desportos, sendo o esporte neste arquivo direito de
todas as pessoas e indispensável para o desenvolvimento de suas
personalidades. O mesmo documento também atesta o esporte
como elemento essencial para a educação e para a cultura. Já na
Constituição Brasileira ele é definido a partir de um direito de
todos os cidadãos brasileiros (Brasil 2015).
Segundo Tubino (2011), o esporte pode ser entendido nas
dimensões esporte-educação, esporte-participação e esporte-
performance. Mas, mais que o esporte em sua constituição e
caracterização, entendemos ser o ato de jogar um elemento
essencial para compor as experiências educacionais em uma
ETI, em especial na Educação Infantil e nos anos iniciais do
Ensino Fundamental.
As diversas manifestações de esporte traduzem-no a
partir da dinâmica cultural e dota-o de uma infinidade de jogos
e suas variações. Quando nos referimos a um esporte como o
VA
Segundo Scaglia (2003, 2005, 2011), juntos o futebol e os
jogos e brincadeiras populares brasileiros de bola com os pés
R O
formam a família dos jogos de bola com os pés. Jogos populares
R
como a rebatida e o bobinho guardam na sua estrutura elementos
P UTO
que podem ser transferidos de um jogo a outro no processo de
aprendizagem. Cada jogo tem sua tendência auto afirmativa e
integrativa.
O
brincadeiras populares para esta educação?
VA
das cidades as mazelas da urbanização configuraram um quadro
de afastamento do ser criança e adolescente da rua. Dentre
R O
elas podemos mencionar a insegurança, a falta de empregos, as
R
novas tecnologias midiáticas ao enfatizar o sentido individualista
P UTO
levando a possível perda do significado de comunidade.
É importante recuperar, com as devidas adaptações e em
especial no interior do aparelho estatal escola, os ensinamentos
A
do passado. Nas ruas aprendia-se através de “[...] uma pedagogia
popular, uma verdadeira escola em que crianças aprendiam com
O
crianças e com mais velhos, onde os jovens aprendiam a jogar
D
jogando” (Freire 2008, pp. 58-59). Sem cobiçar tais efeitos, a
pedagogia da rua envolvia seus alunos num processo de auto
e inter aprendizagem, possibilitando as crianças não somente
o conhecimento técnico das brincadeiras e esportes, mas, do
ponto de vista dos fatores positivos, a lidar com os outros, a
cooperar, a aceitar diferenças e a desenvolver personalidades.
Porém, é importante salientar que a pedagogia da rua também
tinha a capacidade de ser cruel, gerando frustrações, atestando a
incapacidade, confrontando desejos e menosprezando o ato de
perder (Freire 2003). Segundo este autor, os efeitos componentes
da pedagogia só são possíveis de identificar através de ser ela
sempre uma manifestação de jogo.
Os jogos e as brincadeiras populares tiveram grande
influência nos que se deixaram envolver pela pedagogia da rua.
Isso se deve ao caráter lúdico dessas manifestações culturais.
Entendido aqui como liberdade de expressão, o lúdico se
apresentava através dos jogos porque na rua não havia imposição,
mas a liberdade de escolha através do ato de jogar.
VA
os filhos tomam o lugar dos pais nas circunstancias fictícias
de uma brincadeira. Esse panorama confere ao jogo infinitas
R O
possibilidades. Para Huizinga (1999, p. 33):
R
P UTO
O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida
dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço,
segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente
obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado
VA
(2002), a fenomenologia é a melhor base epistemológica para
se compreender o fenômeno jogo, e ele chama a atenção para
R O
o que acreditamos ser a principal contribuição do jogo para a
R
educação: a possibilidade de liberdade do ser. Segundo o autor,
P UTO
por tudo atribuído à caracterização do jogo:
A
permanecer âncoras objetivas na realidade, como a criança que
escolhe, para brincar de cavalinho, um bastão comprido em vez
A
Que criança pode ser somente polida, imóvel, dócil,
V
inteligente, bondosa, silenciosa, enfim, dotada de todas as
virtudes que compõem o modelo ideal de aluno? Criança
R
amorosa e maldosa. Que pedagogia se dirige a essa criança?
P UTO
Que pedagogia investe na criança que fantasia, que corre,
que ri, que grita...? Talvez só uma pedagogia que ainda está
nascendo em parte, na educação física. Ou uma pedagogia
que não dê nomes a disciplinas, mas que admita que as
VA
Mas, será que esporte é sinônimo apenas desses problemas
mencionados? Não estaria no momento de revelarmos outro
R O
lado do fenômeno esportivo muito apropriado inclusive como
R
ferramenta do ato educacional?
P UTO Imaginamos que uma ETI deve ter como alvo a formação
do cidadão, possuidor por isso mesmo de pensamento crítico,
criativo e instado a viver, melhor dizendo, a incorporar valores
A
que permitam uma vida em comunidade. Isso poderia ser
propiciado aos alunos de uma escola pelo conhecimento e pela
O
prática de esportes?
VA
importantes a serem desenvolvidas pela educação em uma ETI.
O ser humano vive aspirando a ser mais. O conhecimento
R O
do esporte e sua prática podem colaborar com isto, pois ele é
R
lugar de descoberta e de revelação. O esporte nos ensina, se
P UTO
trabalhado de forma adequada na escola, a harmonia do pensar
e do agir, do ser e do ter.
Uma ETI, assumindo o fenômeno esportivo nos moldes
A
que estamos a trabalhar, contribuirá para o redimensionamento
inclusive da própria escola, como nos indica Bento (2012, p. 106):
O
D A escola carece de riscos, de entusiasmo, de dinamismo, de
palmas, de alegria e animação; precisa que se goste dela. E o
desporto é um meio primordial de renovar a educação, de lhe
emprestar uma cara de festa e convivialidade, de quebrar a
rotina escolar com competições internas e externas. Trata-se
de fundir a escola e a vida, de integrar mais uma na outra e de
consumar o desiderato de desportivizar a escola e a escolarizar
o desporto.
VA
escolar, lembramos mais uma vez Bento (2012, p.70) “No palco
desportivo abre-se ao homem a vivência do jogo, da competição,
R O
do rendimento, do risco, da configuração, da comunicação e
R
cooperação, da convivialidade, intimidade e sociabilidade”.
P UTO
Estes não são elementos constitutivos de uma formação moral
e, por isso mesmo, necessitam compor o conteúdo da escola
para a formação do cidadão?
O
e possui, através da cultura, significado. Por essa razão a relação
D
corpo-educação, na aprendizagem formal do esporte, significa
aprendizagem da cultura, enfatizando aqui os acontecimentos e
a aprendizagem da história, destacando sempre a relevância das
ações humanas.
Associando o sentido/atitude de corporeidade aos
ambientes da ciência e do esporte, podemos evitar que a primeira
seja a arte de manipular corpos para, com a ajuda do segundo,
habitá-los, caminhando na direção do estudo e vivência do
corpo-sujeito (Moreira 2012).
Corporeidade pode nos auxiliar a (re)significar o esporte,
entendendo este como razão de ser para o aprimoramento
corporal, gestual e comportamental do ser humano. Claro
que para se alcançar esse propósito devemos nos utilizar de
técnicas e estas também concebidas de forma diferente do senso
comum. Para Bento (2006) a técnica possibilita a criatividade e
a inovação. Ela é condição acrescida e não serve apenas para
a melhoria da eficácia. Ela pode nos levar para a elegância,
para a expressão de encanto. Sem ela não podem ser escritos
VA
ser apenas um espaço de maior permanência da criança e
do adolescente na escola; ela necessita ser revista em seus
R O
procedimentos, em seus valores, em sua concepção de gestar o
R
ato educativo e em suas formulações didático pedagógicas. Para
P UTO
tudo isto o esporte, (re)dimensionado em seus significados e
trabalhado no chão da escola, pode colaborar nas transformações.
A
Considerações finais
O
D No início deste escrito nos propusemos associar Escola
de Tempo Integral, Jogo e Esporte, perspectivando oferecer uma
argumentação a ser refletida pelos profissionais da educação,
esperando colaborar para estruturação do ato educativo numa ETI.
Ao encerrar, mais uma vez justificando a presença
dos fenômenos jogo e esporte na escola, nos lembramos de
frases de dois importantes educadores brasileiros, formados
em ambientes diferentes, mas aqui associados no respeito à
pluralidade do pensar filosófico.
Afirma Paulo Freire:
VA
Que o processo de implantação das ETIs, em nome de
uma educação integral de seus alunos, possa propiciar atitudes
R O
de desaprender do velho, de caminhar na procura do novo com
R
ousadia, de recuperar a importância da alegria e dos sentidos
P UTO
para o interior da escola. Nesta missão, temos a certeza de que
o jogo e o esporte enquanto componentes curriculares podem
colaborar.
O A
Referências
D
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R
popular na educação integral
P UTO
A
Henrique Campos Freitas
Núbia Nogueira Cassiano
D O
Considerações iniciais
VA
Educação, que constituiu-se a partir da Portaria Interministerial
no 17/07, fortificada pelo Decreto no. 7083/10, com o
R O
objetivo de promover a oferta da educação integral a crianças,
R
adolescentes e jovens, através de atividades sócio-educativas
P UTO
desenvolvidas no período de jornada escolar ampliada. A oferta
de diferentes atividades educacionais aos estudantes sustenta-
se pela necessidade de se considerar as múltiplas dimensões
A
formativas dos sujeitos e pela compreensão de que somente os
saberes acadêmicos e reconhecidos socialmente não englobam
O
a totalidade da formação humana.
VA
sobre a relação entre pessoas. (Brasil 1998, p. 22b)
O R
de sentimentos e na comunicação, pois:
R
P UTO A dimensão expressiva do movimento engloba tanto as
expressões e comunicação de ideias, sensações e sentimentos
pessoais como as manifestações corporais que estão
VA
deveriam ser, necessariamente, desenvolvida no âmbito escolar,
pois auxilia o aluno no desenvolvimento das habilidades motoras
R O
e cognitivas.
R
No campo das linguagens e expressões, percebemos
P UTO
a grande relação entre linguagem/sujeito, pois a linguagem é
processo de revelação do homem moderno que vislumbra sua
imensidão no mundo e é por meio dela que ele se comunica,
demonstra suas ideias, sentimentos, seja através da escrita, da
O A
fala ou de outros signos convencionais como o corpo, através
da expressão corporal.
D
Com isso, salientamos que a expressão corporal deve ser
introduzida, de fato, nas aulas das escolas públicas de todo país,
visto que esse conteúdo auxilia no desenvolvimento dos alunos
enquanto seres, pois é através do corpo, e seus movimentos,
que exteriorizamos sentimentos, sensações, posturas e atitudes
perante o mundo em que vivemos.
A prática a ser observada inicia-se na tomada de
consciência do meu “eu” na busca infinita do “nós” perante
a sensações corporais individuais, por meio da identificação e
reconhecimento do corpo nos contextos diversos que somos
inseridos, a todo momento.
Partindo desse pressuposto, Strazzacappa (2013, p. 116)
salienta que o primeiro aspecto a ser desenvolvido é a prática de
escutar o próprio corpo, sendo o ponto de partida e de chegada
para desenvolver uma consciência corporal.
R O
a (re)significação do ser humano enquanto sujeito corporal
R
que se posiciona no mundo, porque quando os indivíduos têm
P UTO
consciência do seu corpo, eles conseguem agir “no e sobre o
espaço” (ibidem). Essa ação poderia ser refletida em movimentos
e/ou deslocamentos para que, então, o corpo emirja e preencha,
com totalidade, a espacialidade corporal que encontramos em
O A
nossos contextos.
Porém, cada vez menos estamos formando cidadãos que
D
conseguem o desenvolvimento eficaz da sua capacidade crítica
e de, como mencionado, posicionar-se, verbal e corporalmente,
pois, até então, os currículos escolares não contemplavam
essa formação integral. Salientamos que essas capacidades são
materializadas através das linguagens verbal e corporal, haja
vista que são as duas formas de comunicação e interação entre
profissionais e/ou pessoas.
Vale lembrar também que, quando dizemos em
educação integral, corroboramos com as ideias do Ministério
da Educação (MEC) ao indicar a integralidade como extensão
da jornada escolar e para que os espaços escolares sejam
ampliados e aproveitados para vivência de novas oportunidades
de aprendizagem, reelaborando a noção de tempo-espaço para
que haja a expansão significativa entre os saberes, práticas
pedagógicas e linguagens que estão presentes, regularmente, no
contexto escolar.
Percebemos, então, a necessidade de trabalhar com a
linguagem do corpo, isto é, a expressão corporal dentro das
VA
O
Os profissionais de ensino devem ficar atentos a ela, além
R
incluí-la em suas práticas pedagógicas para explorar as
R
P UTO
possibilidades criativas e, consequentemente, para aumentar
o desenvolvimento motor e cognitivo de seus alunos, seja
através de danças, de teatros ou da música. (Silva 2012, p. 134)
O
consciência do indivíduo de forma integral que, conforme Freire
D
(2001, p. 51), seria a centralização entre corpo, mente e emoção,
podendo, também, facilitar o conhecimento do próprio corpo
através da interação social, levando em conta “a singularização
de cada corpo” (ibidem).
Esse tema, espelhado na educação, ainda não apresenta
grande evidência, mesmo porque, entre os docentes, não é
uma prática pedagógica decorrente. O que se observa é que a
expressão corporal pode ser uma importante ferramenta no
processo de ensino-aprendizagem, pois pode-se abordar não
só o trabalho com o corpo, na busca do desenvolvimento
de técnicas específicas, mas ensinar certas culturas, novas
simbologias, diversas formas de sociabilização e articulação dos
alunos com o mundo.
O movimento corporal deve ser visto, acima de tudo,
como uma forma de linguagem, de manifestação cultural humana,
ou seja, como possibilidades de ser e estar no mundo; uma
existência baseada em movimentos/expressões que é o resultado
VA
O sujeito, então, constrói discursivamente sua identidade,
imersos em formações discursivas, apontando seu lugar no
R O
mundo e mostrando que não se tem uma identidade fixa,
R
essencial ou permanente. Ao contrário, que esse sujeito se
P UTO
constitui pela multiplicidade de discursos, em um processo de
identificação.
Vemos, então, que é na escola que essas identidades
A
são construídas e, assim, passam por contextos em que os
sentimentos, sensações e opiniões coexistem como uma forma
O
de existencialismo, criando possibilidades para uma educação
D
integral e (trans)formadora. Porém, não devemos instrumentar o
corpo para que percamos a nossa autonomia corporal, conforme
o autor abaixo diz; precisamos (re)significar a consciência
humana e crítica de cada aluno a partir das manifestações das
duas manifestações de linguagens mais frequentes.
VA
Os docentes devem adotar práticas pedagógicas que
contemplem exercícios de reflexão sobre as possibilidades
R O
corporais dos alunos, de forma autônoma, para que eles exerçam
R
e valorizem as características naturais e situacionais de interação
P UTO
em que o corpo poderá encontrar, na busca (in)consciente de
manifestar, também, culturas, conhecimentos, demonstrando o
pensamento inovador e crítico de forma lúdica “para que possa
A
organizar e utilizar sua motricidade na expressão de sentimentos e
emoções de forma adequada e significativa” (Brasil 1997, p. 27a).
D O
Cultura popular na educação integral
R O
que permitem a comunicação. O processo de aprendizagem e a
R
apreensão do conhecimento são corporais, pois somos corpo
P UTO
com uma infinidade de possibilidades sensório motoras e
estamos envolvidos em múltiplos contextos vivenciais, portanto
a experiência humana é culturalmente incorporada. “Nosso
corpo traz marcas sociais e históricas, portanto questões
O A
culturais, questões de gênero, de pertencimentos sociais podem
ser lidas no corpo” (Nóbrega 2005).
D
A cultura popular brasileira é rica em expressões
corporais de extrema significância para nós, brasileiros. Retrata
toda a diversidade cultural do país que emergiu no período
de sua colonização, com as lutas pela ocupação da terra, pela
usurpação dos recursos naturais, pela exploração da mão de
obra e pela imposição da cultura europeia. Na resistência, os
povos indígenas e africanos criam momentos de folganças,
de descanso e devoção, misturando símbolos como forma de
expressão. Assim “foi criado um universo simbólico próprio,
formado pela influência de várias culturas, costumes, cores,
ritmos, poesias, odores e sabores” (Brasil 2012c, p. 9).
Em definição mais específica temos a cultura popular
como:
VA
participa de forma ativa com música, dança, literatura de cordel,
arte, samba, capoeira, brincadeiras entre outros elementos. No
R O
contexto educacional, a cultura popular abrange todas as áreas
R
do conhecimento e influencia no desenvolvimento da criança
P UTO
como um todo. Está presente como um processo ao longo
de toda a vida, por isso merece atenção especial no ambiente
escolar. Como afirma Arantes (1998):
D
no processo educacional, toda a riqueza de experiência de
diferentes formas de compreender e interpretar o real, a vida
e a condição humana. (Arantes 1998, p. 17)
VA
de culturas que durante longo tempo se manteve distante
do ambiente escolar. Até muito recentemente o Estado
R O
e a intelectualidade brasileira adotavam um pensamento
R
eurocêntrico, valorizando hegemonicamente a cultura europeia e
P UTO
desqualificando os saberes, valores e conhecimentos tradicionais
e populares, anulando com isso as contribuições dos povos
indígenas e das populações negras escravizadas.
O
cultura popular, com projetos e programas que se expandem
D
por diversos setores governamentais, incluindo aí, o ambiente
escolar.
Para que a vivência cultural na escola seja possível
é importante que o educador tenha a habilidade de criar sua
proposta a partir da estrutura cultural eminente no local e
ampliar, diversificar com o intuito de propiciar ao educando a
experiência também de outras estruturas culturais, contribuindo
para sua emancipação e autonomia, pois: “educar-se é aprender
a fazer história, fazendo cultura” (Moreira 2006, p. 140).
Considerações finais
VA
cultural brasileira e estejam dispostos a buscar estratégias
para concretizar propostas integradas e que explorem as
R O
possibilidades de expressão corporal.
R
Os projetos pedagógicos que norteiam escolas
P UTO
contempladas pelo Programa mais educação devem proporcionar
aos alunos vivências artísticas e culturais promovendo a
afetividade e a criatividade existentes no processo de ensino e
A
aprendizagem, ampliando o repertório cultural da comunidade
escolar e contribuindo com a formação de público para as artes
O
e cultura popular.
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P UTO
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O A
D
R
P UTO Pedro Paulo Araujo Maneschy
O A
Introdução
VA
particular. Neste sentido, busca-se uma reflexão segundo a qual as
concepções de cultura, fundadas sobre o princípio da identidade,
R O
acabam por tentar definir algo de primeiro e uno em que cada
R
grupo busca sua identidade. Tais grupos prosseguem vendo-
P UTO
se como representantes legítimos e primeiros de determinada
cultura, edificando uma certa “identidade sedentária” cristalizada
no tempo e no espaço, tendo uma perspectiva de preservação
A
baseada em elementos de imobilismo, isolamento e num diálogo
lacônico e unilateral com o outro, com o diferente. Nesse terreno
O
movediço, vislumbra-se a cultura amazônica como elemento
D
híbrido, lugar de intersecções aberto a quaisquer eventualidades
e linguagens que se corporificam no mestiço, fruto do encontro
conflituoso e sedutor dos diversos corpos que se entrelaçaram
durante a história da colonização. Desse universo, emerge uma
corporeidade que se mobiliza no espaço e no movimento da
natureza, produzindo expressões e linguagens que se tatuam no
corpo e se caracterizam pelo lúdico-erótico-ecológico, como
aparecem nas apresentações do Pássaro da Terra.
Finalizando em rizomas, pensar-viver a Educação Física,
nesse contexto sociocultural, implica na incorporação de uma
abertura a um saber tolerante e amigo da diferença, capaz de
associar/distinguir as linguagens da cultura regional como
componentes curriculares, a fim de produzir uma nova visão/
vivência da Educação Física na Amazônia. Ressalte-se que as
teorias, não são elementos metafísicos, imutáveis, perfeitos, mas
encarnações/encenações concretas, ambíguas, mutantes e, às
vezes, até brincantes do desejo humano de interpretar, intervir,
transformar, jogar e sonhar outra realidade.
VA
qual o “princípio da ‘unidade básica da humanidade’ não seja
transformado numa expressão vazia” (p. 48). Neste sentido, para
R O
debater as dimensões de corporeidade e da própria existência
R
humana, seria necessário articular, três aspectos fundamentais,
P UTO
que gostaria de citar, interpretando-os.
Primeiro, o descartar de uma perspectiva sequencial
das relações entre a evolução física e o desenvolvimento
A
cultural do homem em favor de uma justaposição de fases e
uma perspectiva interativa. Assim, afirma o autor que “há uma
O
superposição de mais de um milhão de anos entre o início da
D
cultura e o aparecimento do homem como hoje o conhecemos,
(...) isto significa que a cultura, em vez de ser acrescentada a um
animal acabado, foi um ingrediente essencial na produção desse
animal” (Geertz 1989, p. 59).
Morin (s/d) aporta nesse debate argumentando que
o processo de surgimento do “homo sapiens” é marcado
pela existência de uma protocultura concomitante com o
desenvolvimento e maturação da complexidade biológica
do cérebro humano. Dessa forma, diz que “o processo de
cerebralização é ontogenético (isto é, a complexificação
sociocultural impele ao uso pleno das aptidões cerebrais) e
filogenético (isto é, as mutações que produzem novas aptidões
começarão a ser exploradas pela complexificação sociocultural)”
(p. 87).
Aqui surge a segunda questão aludida por Geertz (1989).
A descoberta de que grande parte das transformações biológicas
que produziram o homem ocorreu no sistema nervoso central,
e especialmente no cérebro, ou seja, o que diferencia os homens
A
sua maior parte, em interação com a cultura, ele é incapaz de
V
dirigir nosso comportamento ou organizar nossa experiência
sem a orientação fornecida por sistemas de símbolos
R
P UTO Morin (s/d) indica que o processo de cerebralização,
responsável pelo aparecimento do homo sapiens, explica-se como
uma morfogênese multidimensional fruto de “múltiplas relações
A
mútuas, interações, interferências entre fatores genéticos,
ecológicos, práxicos (a caça), cerebrais, sociais e culturais” (p. 61).
O
E conclui que, “se o desenvolvimento da paleocultura exerce uma
D
pressão muito grande em favor da cerebralização (ontogenética e
filogenética), a cerebralização, inversamente, dá uma primazia de
desenvolvimento à complexidade sociocultural” (p. 87).
Desses princípios, baseados na noção de complexidade,
venho procurando abstrair elementos que deem maior riqueza ao
debate, sendo que, dessa forma, a tentativa de entender a natureza
humana, superando todos os reducionismos, está, também,
apoiada na instigante visão de Damásio (1996) quando diz:
VA
empilhar os diferentes sistemas culturais?
Aportando no terceiro aspecto fundamental apontado
R O
por Geertz (1989), vemos que “somando tudo isto, nós somos
R
animais incompletos e inacabados que nos completamos e
P UTO
acabamos através da cultura – não da cultura em geral, mas de
formas altamente particulares de cultura: dobuana e javaneza,
Hopi e italiana...” (p. 61). E, por consequência, poderíamos dizer
a brasileira, amazônica, passarinho-junina. Tal inacabamento,
O A
diz ainda o autor, é expresso principalmente em “sua extrema
dependência de uma espécie de aprendizado: atingir conceitos,
a apreensão e aplicação de sistemas específicos de significado
D
simbólico” (p. 61).
VA
basear-se na corporeidade/motricidade, através das quais o
homem é presença na história com o corpo, no corpo, desde o
R O
corpo e através do corpo.
R
P UTO Para o autor, a corporeidade/motricidade supõe: a existência
de um ser não especializado e carenciado, aberto ao mundo,
aos outros e à transcendência. E, porque aberto ao mundo,
D
E a corporeidade/motricidade constitui: o processo
adaptativo de um ser não especializado. O processo evolutivo
de um ser com predisposição à interioridade, à prática
humanizante e a cultura. O processo criativo de um ser em
que as práxias lúdicas, agonísticas, simbólicas e produtivas
traduzem a vontade e as condições de o Homem se realizar
como sujeito. (pp. 13-14)
VA
que buscam discutir a cultura, tanto em seu sentido mais geral,
como também na América Latina, no Brasil e na Amazônia, em
R O
particular.
R
É interessante observar estudo realizado por Matos
P UTO
(1996), refletindo a obra de Adorno. Neste trabalho, a autora
indica que o filósofo alemão advoga que as concepções de
cultura, fundadas no princípio da identidade e seu aliado (o de
A
origem), acabam por tentar definir algo de primeiro e uno em
que cada grupo busca sua identidade. Tais grupos prosseguem
O
vendo-se como representantes legítimos e primeiros de
D
determinada cultura, edificando o que, com ironia e genialidade,
Adorno chama de “identidade sedentária”. Dessa forma,
edifica-se uma “identidade cultural” cristalizada no tempo e no
espaço, cuja perspectiva de preservação baseia-se em elementos
de imobilismo, isolamento e num diálogo lacônico e unilateral
com o outro, com o diferente.
A dimensão que pretendo indicar é a das identidades
culturais entendidas como elementos não rígidos, híbridos,
mutáveis e como resultados movediços, transitórios e fugazes
de processos de identificação, ou como nos diz Santos (1994):
VA
É, pois, nesse terreno movediço que tento refletir a
O
cultura amazônica como elemento híbrido, lugar de intersecções
P UTO R
e aberto a quaisquer eventualidades e linguagens, que se
R
corporifica no mestiço-caboclo, fruto do encontro conflituoso
e sedutor dos diversos corpos que se entrelaçaram durante a
história da colonização, resultando no que Serres (1993) anuncia:
D
andrajo compósito dos tecidos que vestem minha vizinhança
real e virtual, o trapo onde mal se justapõem mil mímicas que
o meu tempo costurou e depois fundiu todas juntas, farrapo
destroçado, é verdade, mas farrapo transformado em minha
própria carne, meu sangue líquido misturado: quebequense na
ilha dos Coldres no meio do rio Saint Laurent, africano das
margens do Niger, chinês do Yang-Tsé, brasileiro, de Belém
aos confins da Amazônia... Mestiço, eu sou legião, eu não sou
o diabo, eu sou mapa-múndi e todo mundo ao mesmo tempo.
E todo mundo, creio, é uma mistura como eu, sangue cortado
em mil teores e partes, correndo de todos os riachos em
conjunto, exceto, talvez, daqueles que leram e acreditaram nos
livros que explicam o princípio da identidade, cuja abreviação
permite reinar. Mundo, eu sou legião; não, isso não é uma
doença. (p. 169)
VA
aí envolvidos.
Sem dúvida, um processo marcado pela violência física e
R O
simbólica, e como diz Salles (1980),
R
P UTOA nossa história é, por conseguinte, a história do modelo
europeu de cultura transplantado para a Amazônia. Uma
história de imposições culturais ora violentas, ora persuasivas,
D
Estruturando-se sob a fusão sincrética de traços indígenas
com europeus e africanos, sendo no ritmo das relações
sociais que as características culturais da Amazônia se foram
formando, integrada a uma nova organização social e de
trabalho. (p. 25)
VA
Há, no mundo amazônico, a produção de uma verdadeira
teogonia cotidiana. Revelando uma atividade cósmica, o
R O R
homem promove a conversão estetizante da realidade em
signos, através dos labores do dia-a-dia, do diálogo com as
P UTO
marés, do companheirismo com as estrelas, da solidariedade
dos ventos que impulsionam as velas, da paciente amizade
dos rios. É como se aquele mundo fosse uma só cosmogonia,
A
uma imensa e verde cosmo-alegoria. Um mundo único
real-imaginário. Foi-se constituindo nele uma poética do
O
imaginário, cujo alcance intervém na complexidade das
relações sociais. Vejam-se dois exemplos ilustrativos: o da
VA
mundial. Vemos pois, aí a revelação de um certo acentrismo que
se traduz numa
R O R
Dificuldade de diferenciação face ao exterior e numa
A
voracidade das apropriações e incorporações, na mimesis
cultural, no sincretismo e no translocalismo), uma certa
O
falta de preconceitos culturais, a ausência do sentimento de
D
superioridade que caracteriza de modo geral, os povos da
cultura ocidental. (Santos 1994, p. 48)
VA
O R
Pelas asas do Pássaro do Pará
R
P UTO O rumo que a viagem toma agora é o de poder traçar/
trançar tramas, ramos e redes de experiências/vivências
A
metodológico-epistemológicas. Antes, porém, a revelação/
tomada de uma atitude-postura: vivemos numa época em que é
O
muito difícil ser linear, estamos numa fase de radical revisão do
D
paradigma epistemológico da ciência moderna, e é bem possível
que seja sobretudo o olhar que está mudando. Para maior
complexidade, cabe discutir até que ponto se pode refletir sobre
qualquer objeto de análise, sem o olhar que o olha.
A
respeito às diferenças humanas. (p. 19)
V
O
Por isso, a análise dos fenômenos culturais de um
R
P UTO R
determinado grupo deverá ser considerada a partir de
inserção em um contexto, no qual valores diversos
confrontados, o que exige uma constante reordenação
práticas e representações sociais.
sua
são
das
O A
uma forma de conhecimento, não é uma questão de método, no
sentido convencional e restrito da palavra. Penso, com o autor
supracitado, que não são os métodos e as técnicas que definem
D
tal empreendimento. O que o define, tomando emprestado uma
noção de Gilberto Ryle, é o esforço intelectual para realizar
uma “descrição densa” (Geertz, 1989) da realidade estudada.
Este esforço enamora-se da abordagem cultural, cuja dimensão
principal, segundo Lovisolo (1994), é a observação participante
por meio da convivência com o grupo estudado, buscando
tornar “familiar” o estranho e
Os autores Ludke e André (1986) observam que
a pesquisa cultural pode fundamentar-se numa hipótese
qualitativo-fenomenológica que
VA
Portanto, a postura metodológica que empreendi na
pesquisa, tem a ver com o que Loureiro (1995) indica como o
R O
sentido de flânerie benjaminiana, de um vagar sem a finalidade de
R
um fim, uma vez que, para o autor
A
noites da floresta, procurar os vestígios e os sinais perdidos
pelas várzeas, vagar pelas ruas das cidades ribeirinhas”.
O
[Enfim, nesse processo, é necessário], experimentar o frêmito
D
de um caminhar errante que vai descobrindo com decoro a
irrupção perene da fonte da beleza. (p. 13)
VA
dos cordões juninos de Belém. Nesse ano, o grupo foi o
vencedor do concurso de Pássaros da Prefeitura Municipal de
R O
Belém, realizado num palco improvisado na tenda da Escola
R
Circo da capital paraense. Na Marcha Rancho de apresentação
P UTO
do Tem-Tem, identifico os já citados elementos lúdico-erótico-
ecológicos:
D
Lindas palmeiras que te fazem famosa.
Teu nome é cidade morena,
És o orgulho da cidade capital,
Teus filhos são também inteligentes
E contribuem com a grandeza nacional.
No teu solo tem muitos algodoeiros,
Tens a cana de açúcar e o feijão,
Dás o café, dás a borracha e a castanha,
Enfim tens tudo que precisa a nação.
Tu tens as noites das famosas serenatas
Que os seresteiros vão cantar com perfeição
E o Tem-Tem em tua homenagem te saúda
Na alegre quadra festiva de São João.
A
despediu assim:
V
R O R
Adeus, adeus, vamos embora,
Saudade vamos levar,
A
Se Deus quiser aqui vamos voltar,
O campeão da simpatia
O
É o tucano que vai se retirar.
Finalizando em rizomas
VA
ou “entreliçar” nestas considerações finais rizomáticas:
Corporeidade, Cultura e Sociedade. O que dizer/propor sobre/
R O
para cada uma delas? Acerca da Corporeidade, apesar de
R
ainda sermos reféns de uma tradição negativo/dicotômica em
P UTO
relação ao corpo, a cada dia encontramos evidências das suas
complexas conformações existenciais. Estudos/vivências sobre
as linguagens, ou sobre expressões corporais, nos ajudam a
compreender que o corpo é o primeiro elo de contato com o
O A
mundo. Com Cardoso (1997) vemos que, aos poucos, o corpo
vem se movendo da periferia para o centro das análises, pois que,
VA
mecanismo de publicidade e venda de fetiches e desejos virtuais
e a crescente incorporação de artefatos artificiais ou próteses
R O
mecânicas que se incorporam, em trans-mutação ao cotidiano
R
existencial das pessoas.
A
princípios para a Educação em geral e consequentemente para o
que se possa chamar Educação Motora:
VA
O engajamento na luta pelo reconhecimento da
Corporeidade/Motricidade como componente do currículo
R O
educacional passa pelo que o referido autor cunha como revisão
R
de valores em que:
A
corporeidade consciente; a busca frenética do rendimento
ceda lugar para a prática prazerosa e lúdica; a participação
O
elitista que reduz o número de envolvidos nas atividades
D
esportivas ceda lugar a um esporte participativo com grande
número de seres humanos festejando e se comunicando; o
ritmo padronizado e uníssono da prática de atividades físicas
ceda lugar ao respeito ao ritmo próprio executado pelos
participantes. (p. 101)
Pensar/viver a Corporeidade/Motricidade e em
especial a sua aplicação pedagógica na escola, no contexto da
cultura amazônica, implica, no dizer de Serres (1993), numa
desconfiança de uma razão asséptica, que aspira à imobilidade
de uma perfeição ilusória e, em contrapartida, na incorporação
de uma abertura a um saber tolerante e amigo da diferença,
capaz de incorporar os variados saberes e manifestações da
cultura corporal regional como temáticas de transversalidades
curriculares a fim de produzir uma nova visão/vivência da
Educação Física na Amazônia.
Caberia, pois, à Educação Física amazônida resgatar a
possibilidade de trabalhar/brincar com o corpo numa perspectiva,
VA
manifestações da cultura popular, como o Pássaro Junino, não
precisam de postulados técnico-científicos, melhor dizendo, o
R O
Pássaro não precisa de treinamento físico, aeróbico, anaeróbico,
R
flexibilidade, força etc. O que a cultura popular deseja é espaço/
P UTO
tempo para ser considerada pela Educação Física como uma
experiência corporal que resgate a beleza do corpo amazônida,
ou a beleza amazônica do corpo. Enfim, que a Educação Física
A
aprenda e apreenda fazendo e produzindo cultura.
No caso da raiz adventícia da Cultura, começo aportando
O
em Bosi (1989) que, em suas Reflexões sobre a Arte, aponta algumas
D
características que nos instigam a tentar inventar uma perspectiva
criativa no trato com as questões culturais que contemplem: o
fazer, o conhecer e o exprimir. O fazer no sentido de construção
e/ou produção cultural, que se configura nas múltiplas
possibilidades de experimentar/saborear práticas culturais pelas
quais “se muda a forma, se trans-forma a matéria oferecida pela
natureza e pela cultura” (p. 13). Portanto, poderíamos imaginar
uma política cultural que favorecesse o contato direto das pessoas
com variadas manifestações culturais de todos os matizes, no
sentido de ampliar seu universo de produção de linguagens que,
por sua vez, apontam para novas práticas sociais. O conhecer
porque “Sim, eu quero saber. Saber para melhor sentir, sentir
para melhor saber” (p. 27). Conhecimento aqui entendido como
representação da realidade, resultado da intervenção sensível-
cognitiva que formaliza, em sensações, imagens, ideias, valores,
a leitura do mundo. Dessa forma, a política cultural favorece a
ampliação do saber que terá reflexo sobre o viver. Conhecimento
que deveria ser capaz de apreender problemas globais, para
VA
cultural é a perspectiva mais digna de qualquer política cultural.
Estas três dimensões (fazer-conhecer-exprimir) aparecem
R O
na manifestação do Pássaro Junino de forma estimulante, seja na
R
construção cotidiana de todo o aparato estrutural da encenação,
P UTO
que exige, por conta das dificuldades materiais, um permanente
e coletivo recriar de formas(ô) e formas(ó) dos diversos
artefatos necessários à apresentação teatral; seja na “iniciação”
A
por que devem passar todos os brincantes para que apreendam
o significado da própria apresentação, que se acha modificada
O
em espaço-tempo-ritmo, rompendo com o espaço-minimizado-
D
opressor, o tempo frenético-esquizofrênico e ritmo-mecânico-
adestrador e deformando-se grotescamente em um espaço
livremente adaptado, um tempo lentamente parcimonioso, um
ritmo alegoricamente cadenciado; bem como na expressão
que a cada ano se renova e incorpora elementos/assuntos da
atualidade da cidade de Belém do Pará.
Penso que sonhar com uma política cultural nestes
moldes já nos remete, com esperança, à terceira raiz rizomática
que citei: a Sociedade e, neste rizoma, intenciono partir, em
tensão, da elucidação do que Morin (2000) coloca como os três
recortes caleidoscópicos constitutivos do humano: a espécie, o
indivíduo, a sociedade. Diz o autor que precisamos criar uma
ética do gênero humano capaz de conduzir a uma
VA
modo, todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve
compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias
individuais, das participações comunitárias e da consciência
R O R
de pertencer à espécie humana. (p. 17)
A
encostar numa ética/estética que repudia esta moral e está
ocupada com o cuidado de si, não como ideia universal, mas
O
como ação solidária concreta e corporal. Penso, também, que
D
esta construção se dará inserida em universos culturais múltiplos,
e aí quero resgatar o que diz Santana (2000) em seus comentários
finais sobre a manifestação sociocultural do Olodum brasileiro:
VA
Mas isso “é só um jeito de corpo, não precisa ninguém
me acompanhar” (Caetano Veloso).
R O R
P UTO
Referências
O A
ASSMANN, Hugo (1994). Paradigmas educacionais e corporeidade. 2ª
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poética do imaginário. Belém: Cejup.
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R
Papirus.
P UTO
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Paulo: Cortez.
O
SALLES, Vicente (1980). A música e o tempo no grão-pará. Belém:
R
NA EDUCAÇÃO BÁSICA
P UTO
O A
D
VA
R O R
P UTO
O A
D
17
VA
R O Pedagogia dos multiletramentos e novas tecnolo-
R
gias digitais de informação e comunicação na edu-
O A Beatriz Gaydeczka
Acir Mário Karwoski
D
Introdução
Jéferson Muniz Alves Gracioli
VA
natureza de cultura. Assim, a escola organizou-se de forma que
cada professor fosse responsável por uma parte (a disciplina)
R O
que, somada às demais, formaria o todo da formação escolar de
R
um sujeito.
A
e escrita tem dificuldades com cálculo e assim por diante. Por
consequência, tirar notas boas ou ruins em Geografia, Biologia,
O
Física, Química, Educação Física ou outra disciplina revela
D
maior ou menor grau de aptidão a certas profissões. O que por
um lado é visto como sinônimo de competência, por outro lado
gera exclusão e desigualdade. Por muito tempo essa tendência
levou as pessoas a acreditarem que só teriam sucesso – ou que
só fariam a diferença – se se tornassem experts em determinado
campo de atuação científica ou profissional.
Em contrapartida a esses processos de disjunção e
de excessiva disciplinarização, ao longo dos últimos anos, o
movimento apontando na direção da formação integral do
aluno tornou-se uma modalidade educativa a ser fortalecida,
aliada a tendências teóricas e metodológicas a fim de atender ao
grau de complexidade da realidade atual.
Nesse movimento de retorno ao que é inteiro, ao integral,
a noção de multiletramentos entendida como prática efetiva da
habilidade de leitura e escrita em diversos contextos sociais,
relaciona-se com a educação em tempo integral na medida em
que os professores podem elaborar projetos de ensino de forma
articulada entre as diferentes áreas do conhecimento, de acordo
VA
das novas tecnologias digitais de informação e comunicação nas
atividades de ensino.
R
design que se aplica para professores e estudantes. Os professores
P UTO
precisam identificar o alcance e a sequência das epistemologias
que fundamentam o processo de ensinar. Professores tornam-se
designers quando selecionam o conjunto de atividades que levam
A
para o ambiente de aprendizagem, planejando a sequência de
atividades e refletindo acerca dos resultados dos estudantes
O
durante e após o processo de aprendizagem. Quanto aos
D
alunos, quando os processos que levam ao conhecimento são
explicitamente nomeados pelos professores, os estudantes
desenvolvem a percepção consciente dos diferentes tipos
de coisas que podem saber fazer. Cada vez mais tornam-se
criadores de seu próprio conhecimento e tem maior controle
sobre a sua aprendizagem (Cope e Kalantzis 2015).1
Nesse contexto, a preocupação da escola não precisa ser
a mudança na seleção de conteúdos trabalhados. O que deve ser
levado em consideração é uma mudança de atitude em relação
ao “como se ensina”, fator responsável pela apropriação e uso
dos saberes em uma escola de ETI. Esse diferencial teórico-
metodológico está em convergência com a educação integral
numa concepção crítica e emancipadora. Na realidade, essa
modalidade de educação
VA
formação de modo crítico-emancipador, é necessário que
essas práticas sejam trabalhadas em uma perspectiva político-
filosófica igualmente crítica e emancipadora (Hora e Coelho
R O R
2004, p. 9)
A
a primeira apresenta os principais pontos da Pedagogia dos
Multiletramentos e algumas dificuldades na formação continuada
O
de docentes para atuar nessa proposta pedagógica teórico-
D
metodológica inovadora; ii) a segunda analisa as contribuições
das novas tecnologias digitais de informação e comunicação
(NTDIC) no ensino e em sala de aula; e iii) a terceira apresenta
o relato da experiência em uma oficina com professores que
atuam na ETI na rede municipal de ensino de Uberaba em 2014,
como programa de formação continuada dos profissionais da
educação básica e atividade de extensão da Universidade Federal
do Triângulo Mineiro – UFTM.2
VA
com todos os recursos que mobiliza a seu dispor, especialmente
os dispositivos digitais de acesso instantâneo à informação, busca
R O
aprender colaborativamente com seus colegas e professores.
R
Como o pressuposto da ETI é a junção de saberes,
P UTO
valores, fazeres e experiências (Moll 2014), as práticas de ensino
que respondem a esse tipo de demanda são as voltadas aos
novos letramentos e multiletramentos.
O
linguagem, monolinguísticas, monoculturais e governadas por
D
regras gramaticais, ortográficas e estruturais da escrita, tem sido
acrescida, para não dizer substituída, por algumas propostas
tais como a Pedagogia dos Multiletramentos, proposta pelo
Grupo de Nova Londres num manifesto publicado em 1996.
Ao projetarem numa tela e discutirem coletivamente os pontos-
chave do que viria a ser a proposta, os membros do grupo
puderam discutir a formulação de argumentos comuns, de modo
colaborativo e coletivo. Assim, após alguns anos de estudos
individuais, em diversos países, o grupo estudou coletivamente
e formulou a proposta diante da multiplicidade dos canais de
comunicação e mídias, bem como da crescente e proeminente
diversidade linguística e cultural.
O grupo propõe a discussão de seis elementos
significativos: linguístico, visual, auditivo, gestual, espacial
e multimodal. Acrescido a esses elementos, propõe quatro
componentes essenciais: prática situada, instrução reflexiva e
constante, enquadramento crítico e prática transformadora.
VA
consolidem na plena cidadania, numa sociedade em constante
desenvolvimento.
R
dos fenômenos sociais (políticos, econômicos, culturais,
P UTO
artísticos, científicos e outros) a escola pode promover o
desenvolvimento de atividades didáticas que simulem, ou que
oportunizem vivências de relações de trabalho cooperativo
A
com comprometimento e envolvimento criativo de estudantes
e professores. Esses, usando a escola como um local de acesso
O
à mídia de massa e de aprendizagem de uma leitura crítica da
D
mídia, recuperam o espaço de cidadania das comunidades e dos
discursos heterogêneos que compõem o contexto escolar. O
professor que assumir a proposta deve desenvolver ações em
que as relações constitutivas entre teoria e prática enriqueçam a
experiência humana.
Cabe situar de que maneira os princípios da Pedagogia
dos Multiletramentos relacionam-se com a ETI. Se fizermos
uma análise do prefixo “multi”, a etimologia carrega a
carga semântica de “muito”, de “abundância quantitativa e
qualitativa”, trazendo um matiz de abundância de elementos
heterogêneos. Portanto, os multiletramentos, por meio do
prefixo “multi” encaminham o entendimento de dois tipos
de “múltiplos” que as práticas de letramento envolvem: por
um lado, a multiplicidade de linguagens, semioses e mídias
envolvidas na criação (compreensão e produção) de significação
para os textos multimodais contemporâneos; e, por outro, a
pluralidade e a diversidade cultural trazida pelos autores/leitores
VA
mesclar novas mídias, tecnologias, línguas, variedades e
linguagens; se caracterizam por misturar o que antes eram
R O
contraditórios, erudito e popular, central e marginal, cânone e
R
de massa (Rojo 2012).
A
escritas) são postas num continuum com outras modalidades de
linguagem (imagens bidimensionais, tridimensionais fixas ou
O
em movimento, tipografias diversas, músicas, sons etc.) a fim de
D
constituir o todo de sentido do enunciado concreto.
O conceito multiletramentos abarca valores que têm
uma relação de complementaridade com a ETI. Nesse sentido,
os desafios e as responsabilidades inerentes ao ato educativo,
relacionados à leitura e escrita de textos, ganham outras
proporções, uma vez que a Pedagogia dos Multiletramentos é
“parte integral de uma cultura e de suas subculturas” (Lemke
2010, p. 455).
Para Cope e Kalantzis (2015), a Pedagogia dos
multiletramentos possui três componentes: Por quê? O quê?
Como? Em relação ao como, os autores propõem a metodologia
Learning by Design que consiste num processo pedagógico em
que as atividades são apresentadas aos estudantes num conjunto
de ações planejadas que levam à aprendizagem e produção de
conhecimentos. Para isso, recomendam que os professores
reflitam acerca das atividades propostas durante o processo de
aprendizagem, ampliem as atividades para complementar a prática
e planejem cuidadosamente a sequência de atividades de ensino.
VA
e aprender?
Tendo como base pesquisas, experiências educativas
R O
desenvolvidas nas últimas décadas, os professores não podem
R
ignorar a relevância da abordagem dos multi e novos letramentos,
P UTO
conforme atestam alguns estudos (Casey 2000; Siemens 2006;
Lemke 2010; Hagood 2010; Rojo e Moura 2012; Rojo e Barbosa
2015).
O
sobretudo no ensino de línguas e linguagens: leitura crítica e
D
produção colaborativa.
• Leitura crítica
VA
tendências e o consumo da informação –, até uma visão específica
do que selecionar e como trabalhar com a leitura de textos que
R O
emergem desse contexto em sala de aula, apresentamos algumas
R
possibilidades de trabalho para desenvolver a leitura crítica.
P UTO
dos enunciados lidos.
• Produção colaborativa
D
quanto a caneta, a tinta e o papel:
VA
envolvido com questões globais; menos dependente da cultura
impressa e mais consumidor de hipertextos. (Richardson 2008)
R O R
A produção colaborativa, do ponto de vista conceitual,
significa que todos os participantes compartilham o processo
P UTO
de produção de um texto (verbal e não-verbal) desde a sua
idealização até a revisão, formatação, finalização e veiculação, de
forma integrada e total. Ou seja, todos participam e dão a sua
A
contribuição em todas as fases de produção do texto. Este é o
“padrão esperado” de produção colaborativa de um texto, tal como
O
exemplifica a figura a seguir apresentada por Menezes (2014).
O
D A relevância dos critérios de leitura e de produção situa-
se em noções que estão implícitas nesse tipo de ação educativa.
Dentre essas noções está o “conectivismo”, princípio por meio
do qual o aluno desenvolve a habilidade fundamental de ver
conexões entre áreas, ideias e conceitos (Siemens 2006). Além
disso, a participação do aluno cujo senso de pertencimento
e de empoderamento o leva a valorizar e atribuir sentido aos
objetivos de aprendizagem na produção de um texto escrito.
O
eletrônicos digitais, bem como em que medida fazem uso das
R
P UTO R
redes sociais para enriquecer o trabalho em sala de aula. Visamos
também oportunizar aos participantes a produção de animações
e vídeos para o desenvolvimento de projetos educativos
que integrassem saberes (científicos, culturais e artísticos) às
tecnologias digitais de informação e comunicação na produção
A
de pequenos vídeos de animação.
Do ponto de vista metodológico, procuramos levar os
O
docentes a desenvolverem a atividade de discussão e reflexão no
D
Facebook. A intenção era fazer, durante a oficina e em tempo real,
os professores viverem a experiência de realizar a atividade de
respostas a duas questões usando seus recursos tecnológicos e
dispositivos móveis – laptops, smartphones e tablets. Nesse contexto
os professores tiveram:
5. Cabe destacar que, por problemas operacionais, a sala onde foram realizadas
as atividades não permitia acesso à rede sem fio da UFTM durante o curso.
Os professores cursistas tiveram de descobrir e aprender outras estratégias
de acesso à internet. Aqueles que possuíam smartphones e internet 3G, desen-
volveram a atividade usando o celular; os docentes e alguns cursistas liberam
acesso para que o aparelho celular funcionasse como modem nos laptops e
tablets, possibilitando aos demais colegas acesso à internet.
R O R
As respostas aparecem em forma de comentários, tal
como apresentamos a seguir:
P UTO
O A
D
Figura 1 –
Imagem da
atividade de
discussão
desenvolvida
durante o
curso usando o
Facebook.
Fonte: dos
autores.
R O R
Metodologicamente, para fazer uma análise dos
P UTO
comentários dos professores, optamos por fazer uso do
Wordle™. O “Wordle” é um brinquedo para geração de
“nuvens de palavras” a partir de um texto.6 As nuvens dão maior
destaque às palavras que aparecem com mais frequência no
O A
texto de origem, o que pressupõe serem as palavras-chave, as de
maior relevância. Para isso, os comentários foram transpostos
para um texto e criou-se a nuvem de palavras na qual analisamos
D
as perspectivas dos docentes a respeito do uso de tecnologias
em sala de aula e a percepção das contribuições das ferramentas
para a aprendizagem.
R O
promover a “autonomia” deve: a) partir da realidade dos alunos,
R
de seus interesses, hábitos e conhecimentos (textos, assuntos
P UTO
e temas); b) despertar o interesse dos alunos pela leitura em
ambiente digital; c) focar o aprendizado do aluno; d) desenvolver
atividades em que o aluno sinta necessidade de pesquisar para
A
aprender de forma autônoma; e) ir além... significa: adquirir
mais informações, transformando-as em conhecimento para
O
enriquecer a troca dentro da sala de aula; f) dar voz para que
D
os alunos negociem e opinem seus objetivos e juntos possam
desenvolver um trabalho integrado; g) motivar o aluno para
trabalhar com computador, usando os seus recursos com e,
principalmente, sem o acesso à internet, pois qualquer ferramenta
oferece uma variedade de opções de trabalho, sem a necessidade
de atrelar o trabalho com a tecnologia restrito a atividades on-
line, na internet, tal como redigir e formatar um documento de
texto, desenho, planilha eletrônica ou apresentação com slides.
Em relação à leitura e ao conhecimento, prepondera a
ideia de que é por meio da leitura que se adquire conhecimentos.
Assim, o professor deve incentivar o trabalho colaborativo,
oportunizando o desenvolvimento de práticas de leitura e
escrita.
Além dessas percepções, foi trazida para o debate a
necessidade de fazer com que os alunos percebam a importância
e a responsabilidade desses dispositivos dentro da escola de
forma a conscientizar tanto professores quanto alunos em
relação ao uso motivado e intencional dos dispositivos para
VA
adequação de um currículo ligado às realidades dos alunos fora
da escola.
R O R
No que se refere ao objetivo de produzir uma animação
em vídeo, os docentes foram desafiados a aprender de forma
P UTO
“autônoma” a lidar e manusear os recursos e ferramentas
disponíveis em seus computadores. Isso os levou a trabalhar
em equipe e de forma colaborativa, favorecendo a criação de
A
apresentações de qualidades que envolviam criação do texto,
criação, compartilhamento e edição de imagens, fotos e vídeos.
D
foram desafiados a desenvolver trabalhos similares em suas escolas
com os alunos, impactando a forma “como” passaram a desenvolver
o trabalho de produção de textos. Utilizamos o programa
“Movie Maker” no qual os professores desenvolveram habilidades
de diferentes edições relevantes para a sala de aula. Compreendemos
que mais importante que o aprendizado ou especialização do curso,
por parte dos professores participantes do programa de formação
continuada, é a importância de levar suas experiências do módulo
para as atividades didáticas nas escolas.
Foram oferecidas algumas opções de sites de criação
de animações ou produções de vídeos. O tema era escolhido
pelo grupo; porém, orientamos a desenvolverem trabalhos que
tivessem um impacto social nas escolas, de modo que poderia
ter como público-alvo tanto os alunos quanto os professores
e demais servidores, auxiliando também na montagem dos
vídeos. Esse tipo de produção requer competências relativas
às tecnologias de produção e uso como por exemplo entrar
R O R
P UTO
O A
D
Fonte: powtoon.com.
VA
R O R
P UTO
O A
D
Fonte: Dvolver Moviemaker: http://dvolver.com/moviemaker/make.html.
VA
Quando levamos essa ideia de trabalhar com
R
tivemos um espanto dos nossos alunos por não entenderem
P UTO
muito bem o que se tratava. A partir do momento em que os
levamos para a sala de informática (ainda presente as capas dos
computadores) e dividimos em grupos, a motivação dos alunos
foi clara. Antes de qualquer acesso ao computador, explicamos
VA
O
Conclusão
R R
P UTO Por meio da experiência deste módulo destacamos
a importância da interação e uso de ferramentas digitais
A
disponíveis para criar e reconstruir enunciados concretos nas
práticas de ensino e aprendizagem em sala de aula. O módulo
O
“Multiletramento e as TIC’s na escola de tempo integral”
D
possibilitou o contato com programas, a percepção de que
para construir um todo de sentido em um texto multimodal
e multissemiótico é preciso encadear os ritmos, as referências
e a relação entre diferentes sequências linguísticas, sonoras
e imagéticas. Lamentavelmente, muitas vezes, as práticas
acabam sendo deixadas de lado dando espaço ao marasmo e à
desmotivação dos alunos. Para inovar é necessário estar disposto
a mudanças, à abertura para dar voz aos alunos no dia a dia da
sala de aula.
Ao avançar nas práticas de ensino centradas na
aprendizagem ativa (motivação, atitudes, interesses, ética,
trabalho colaborativo) dos estudantes e, ainda mais, ao utilizar
os dispositivos digitais como ferramentas para o ensino,
os professores passam a ser mediadores do processo de
aprendizagem, tornando a sala de aula mais interativa. Enfim,
pensar a educação partindo do par experiência/sentido, como
defende Larossa (2014).
VA
letramentos. Há muito trabalho pela frente; mas não há dúvidas
de que os primeiros passos de um grande movimento de
R O
mudança foram dados (Hagood 2010).
R
P UTO
Referências
O A
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kid’s futures? Really”, in: BAUERLEIN, M. The Dumbest
VA
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self-amused? Disponível em: http://www.elearnspace.org/
Articles/connectivism_self-amused.htm.
P UTO
Acir Mário Karwoski – Licenciado em Letras, Português e Inglês pela
A
Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória
– PR (Unespar). Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade
O
de Taubaté (Unitau) e Doutor em Letras – Estudos Linguísticos pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Cursou especializações lato
D
sensu em literaturas de língua portuguesa na Universidade Estadual
do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro); língua e literatura portuguesa
na Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da
Vitória - PR (UnespAR) e Master Business Administration MBA em
Gestão Universitária no Centro Universitário Salesiano de São Paulo
(Unisal/Semesmp). Desenvolveu estágio pós-doutoral com apoio da
Capes (Processo 0015/15-6) na Gevirtz Graduate School of Education
da University of California em Santa Bárbara (UCSB) – Estados Unidos.
Atua nas áreas de letras e educação numa visão interdisciplinar
de assuntos como letramentos sociais e gêneros textuais digitais;
história regional da leitura e da escrita; escrita na educação superior.
Pesquisador do LabELFE – Laboratório de Ensino de Leitura, Fala e
Escrita (UFTM). E-mail: acirmario@gmail.com.
A
Nucorpo/UFTM e coordenadora do Projeto de Extensão Aqua. E-mail:
alinedessupoio@ig.com.br.
O V
Beatriz Gaydeczka – Graduada em Pedagogia pela Universidade do
R
Contestado (UnC), graduada em Letras - Licenciatura em Português/
R
Inglês pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União
P UTO
Vitória (UnespAR), mestre em Linguística Aplicada pela Universidade
de Taubaté (Unitau) e doutorado em Letras na Universidade de São
Paulo (USP). Atua nos cursos de Graduação em engenharias e na
Pós-Graduação Programa de Mestrado Profissional em Inovação
A
Tecnológica na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
Dedica-se a pesquisas voltadas para inovação tecnológica e mudanças
O
educacionais; linguagem, didática e comunicação; multiletramentos:
D
uso e desenvolvimento de tecnologias digitais de informação e
comunicação na educação; discurso acadêmico: análise, produção
e divulgação científica; propriedade intelectual: princípios, políticas
de inovação e de transferência de tecnologia. E-mail: biagaydeczka@
gmail.com.
VA
Universidade Federal de Uberlândia, MG, mestre em Linguística
pela mesma universidade e doutor em Estudos Literários pela
O
Unesp – Campus Araraquara. Atuou como professor temporário
R
nas Universidades Federais de Uberlândia e do Triângulo Mineiro.
R
Participou como professor, pesquisador e orientador entre os anos de
P UTO
2012 e 2014 do Programa Mais Educação, desenvolvido em convênio
UFTM/ MEC. Atualmente colabora como professor e orientador do
Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras) na Universidade Federal
do Triângulo Mineiro, UFTM, Uberaba, Minas Gerais, Brasil. E-mail:
O A
brcurcino@uol.com.br.
D
de São Paulo (1986), mestre em Letras (Literatura Portuguesa) pela
Universidade de São Paulo (1992) e doutor em Letras (Literatura
Portuguesa) pela Universidade de São Paulo (1997). Atualmente é
Pofessor Adjunto III do curso de Letras e professor permanente do
Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras) da UFTM –
Universidade Federal do Triângulo Mineiro, onde coordena o Grupo
de Pesquisas “Literatura em diálogo”. Tem experiência na área de
Letras, com ênfase em Literatura Portuguesa, Leitura e Intertextualidade
e Ensino de Literatura, atuando principalmente nos seguintes temas:
literatura portuguesa, diálogos entre a literatura e as outras artes,
formação de professores e literatura e ensino. E-mail: carlosfdemorais@
gmail.com.
A
principalmente a época colonial, e também em literatura e ensino.
E-mail: deofreire@uol.com.br.
O V
Diego Lopes de Campos – Graduado e Licenciado em História
R
pela Universidade Estadual Paulista – Unesp, Campus Franca-SP,
R
licenciado pela Universidade de Uberaba, Uniube. Especialista em
P UTO
Gestão Escolar pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão
Preto-SP. Mestrando em Análise e Planejamento em Políticas Públicas
em Educação, pela Universidade Estadual Paulista, Unesp, campus de
Franca-SP. Professor concursado de ensino médio e técnico do Centro
A
Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Professor Formador
do módulo – O patrimônio cultural e as suas metodologias de ensino
O
da escola de tempo integral no curso de Formação de Professores no
D
Programa Mais Educação oferecido pela UFTM. Foi tutor do curso de
aperfeiçoamento Gênero de Diversidade na Escola da Universidade
Federal de São Carlos, UFscar, polo de Igarapava-SP. Tem como
foco de estudo e pesquisa sobre metodologias de ensino de História,
História da educação, análise e planejamento de políticas públicas,
educação patrimonial, além de novas tecnológicas na educação.
E-mail: diegolopescampos@gmail.com.
VA
Henrique Campos Freitas – Mestrando em Estudos Linguísticos (Bolsista
Capes) do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos
O
(PPGEL) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). É especialista
R
em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Estrangeira pelo
R
Centro Universitário Internacional Uninter. Possui graduação em
P UTO
Letras-Português e Inglês (Licenciatura) pela Universidade Federal do
Triângulo Mineiro (UFTM) e Técnico em Secretariado pelo Senac/
Uberaba. Desde 1998, interessa-se, paralelamente, aos estudos
sobre expressão corporal e prática de danças, especificamente ritmos
A
brasileiros e dança de salão. De 2008 a 2010, participou do grupo
de dança de salão do Centro de Cultura José Maria Barra e como
O
convidado da Academia Arte e Movimento, em Uberaba/MG, nos
D
espetáculos de final de ano. Em 2012 e 2013, participou do grupo de
dança “DançArte”, sob supervisão da Profa. Roberta Miranda Ferreira,
participando de diversos espetáculos. Em 2014, ministrou o módulo
“Expressão Corporal e Dança”, no curso de Aperfeiçoamento em
Docência na Escola de Tempo Integral, na Universidade Federal do
Triângulo Mineiro. Também, possui experiência na docência de Língua
Portuguesa, no Ensino Fundamental, Médio e formação técnica de nível
médio, experiência com Língua Inglesa para o ensino fundamental,
médio, Inglês Instrumental/Técnico para formação técnica de nível
médio, rotinas administrativas de secretaria e biblioteca escolar. E-mail:
henrique1715@gmail.com.
A
monitora e tutora, de 2013 a 2015, Projeto Mais Educação. Trabalha
em projetos de pesquisa (iniciação científica) e extensão ligados
V
a estudos e montagem de banco de dados de documentos antigos,
O
entre eles, no “Projeto Hemeroteca”, realizado no Arquivo Público da
R
cidade de Uberaba, fomentado pela Fapemig, desde 2014. Participa do
R
P UTO
subprojeto de Língua Portuguesa do Pibid/Capes desde 2014, atuando
na escola parceira Escola Estadual Bernardo Vasconcelos. E-mail:
iarauftm@gmail.com.
A
doutorado e pós-doutorado em Linguística no IEL-Unicamp È
professora do Curso de Letras da Universidade Federal do Triângulo
O
Mineiro (UFTM). Suas pesquisas concentram-se nas áreas de Ensino
D
de Língua Materna e Análise do Discurso de linha francesa. E-mail:
jrodriguescavalcanti@terra.com.br.
A
Atualmente é aluno regular do Programa de Mestrado em Educação
pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM. E-mail: je_
O V
gracioli@hotmail.com.
R
João Wanderley Geraldi – Professor titular aposentado do Departamento
R
de Linguística da Universidade Estadual de Campinas, instituição em
P UTO
que fez sua carreira acadêmica: mestrado (1978), doutorado (1990),
livre-docência (1995), titularidade (2003). Dedicou-se aos estudos da
linguagem, nas áreas dos estudos bakhtinianos e da linguística aplicada
ao ensino de língua portuguesa. Autor de centenas de textos, publicados
A
em revistas, em capítulos de livros e em anais de eventos, alguns de
seus livros têm grande circulação entre professores e pesquisadores:
O
O Texto na Sala de Aula (Ática), Portos de Passagem (Martins Fontes),
D
Linguagem e Ensino (Mercado de Letras), Transgressões Convergentes
(Mercado de Letras, em co-autoria), A Aula como Acontecimento e
Ancoragens – Estudos Bakhtinianos (Pedro & João Editores). É membro
de Conselhos Editoriais de inúmeras revistas do Brasil e do exterior,
participando também de Conselhos de editoras da área. Foi Diretor
do Museu Antropológico “Diretor Pestana”, do Instituto de Estudos da
Linguagem e Pró-Reitor da Universidade Estadual de Campinas. E-mail:
jwgeraldi@yahoo.com.br.
A
descritivos no nível Sintático-Semântico. Também atua na constituição
de banco de dados (montagem de corpora) e pesquisas variacionistas
V
no Português Mineiro da cidade de Uberaba. Atualmente é professora
O
do Departamento de Linguística e Língua Portuguesa da Universidade
R
Federal do Triângulo Mineiro (UFTM/Uberaba) e líder do grupo
R
P UTO
de pesquisa Gevar (Grupo de Estudos Variacionistas) e professora
do Profletras. Suas pesquisas atuais estão concentradas na área de
Sociolinguística com interface ao ensino de Língua Portuguesa. E-mail:
juliana@ielachs.uftm.edu.br.
A
Luiza Lana Gonçalves-Silva – Graduada em Educação Física pela
Universidade Vale do Rio Doce, especialista em Educação Física
O
Escolar pela Universidade Gama Filho, Mestre em Educação Física
D
pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro. É docente no curso
de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. É líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física e
Esporte/UFMS, no qual desenvolve estudo sobre a corporeidade e
educação integral, e membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Corporeidade e Pedagogia do Movimento – Nucorpo/UFTM. E-mail:
luizalana@hotmail.com.
A
universidade. Tem experiência na área de Linguística e Letras, com
ênfase em Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas:
O V
prosódia, entoação, fonética, fonologia, línguas inglesa e portuguesa.
E-mail: mcordula@gmail.com.
R
R
Marcelo Alexandre Teodoro – Mestrando em Educação na
P UTO
Universidade Federal do Triângulo Mineiro, UFTM. Licenciado em
Letras Português/Espanhol pela Universidade Federal do Triângulo
Mineiro, UFTM. Faz parte dos grupos de pesquisa Gevar (Grupo de
Estudos Variacionistas) e Gedeles (Grupo de Estudos do Discurso e
A
Ensino da Leitura e Escrita no Ensino Superior) ambos cadastrados na
plataforma do CNPq e reconhecidos pela instituição. Atuou como
O
monitor e tutor, de 2013 a 2015, no Projeto Mais Educação. Participou
D
do subprojeto de Língua Portuguesa do Pibid/UFTM/Capes de 2012 a
2015. E-mail: marceloamil_8@hotmail.com.
A
docente e coordenadora do curso de Letras da Universidade Federal
do Triângulo Mineiro, UFTM. Também é docente permanente do
V
Programa de Mestrado Profissional em Letras – ProfLetras da UFTM.
O
Desenvolve estudos na área de Letras, com ênfase em morfologia da
R
língua portuguesa e ensino. E-mail: mariaeunice_vidal@yahoo.com.br.
R
P UTO
Marinalva Vieira Barbosa – Graduada em Letras pela Universidade
Federal de Rondônia, Mestre (2004) e Doutora (2008) em Linguística pela
Universidade Estadual de Campinas – este com Estágio no Laboratório
ICAR (Interactions, Corpus, Apprentissages, Représentations), ligado à
A
Université Lyon 2 e a Ecole Normale Superieure de Sciences Humaines
et Lettres de Lyon – L’ENS LSH. Pós-doutorado pela Faculdade
O
de Educação da Unicamp. Atualmente é professora adjunta IV do
D
Departamento de Linguística e Língua Portuguesa da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro. É organizadora de livros sobre leitura,
escrita e ensino de língua portuguesa e autora do livro O discurso
emotivo nas interações em sala de aula. É docente do Programa de
Mestrado em Educação e do Profletras da UFTM. E-mail: marinalvav@
gmail.com.
A
trabalha com educação em tempo integral no Instituto de Educação e
Pesquisa São José Operário. E-mail: paty.erivi@hotmail.com.
O V
Pedro Paulo Araujo Maneschy – Graduado em Educação Física pela
R
Universidade do Estado do Pará/PA, especialista em Educação e
R
Problemas Regionais pela Universidade Federal do Pará/PA, Mestre
P UTO
em Educação – Educação Motora pela Universidade Metodista de
Piracicaba/SP, Doutor em Educação Física – Pedagogia do Movimento
pela Universidade Estadual de Campinas. Foi professor da Universidade
do Estado do Pará/PA nos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
A
Foi docente na graduação e coordenador do Curso de Educação Física
da Universidade Metodista de São Paulo/SP. Atualmente é avaliador de
O
curso de Educação Física do INEP/MEC. É professor da Universidade
D
Federal do Pará/PA, há 27 anos, atuando nos cursos de Pedagogia
e Educação Física, especialmente na formação de professores e no
Parfor, e está cedido à Universidade Federal do ABC/SP para prestar
colaboração técnico-científica na área de Esporte e Lazer. E-mail:
ppmaneschy@gmail.com.
VA
física escolar e treinamento esportivo por dez anos e atualmente é
professora formadora na Casa do Educador/Secretaria Municipal de
O
Educação de Uberaba. Na Unimed Uberaba atua como professora
R
de educação física no Núcleo de Medicina Preventiva, com Grupos
R
Especiais e na organização de eventos de promoção à saúde. Ministrou
P UTO
os módulos – Jogos e Expressões Corporais (2013) e Jogos e Recreação
na Educação Integral (2014) no curso de aperfeiçoamento: Docência
em Tempo Integral/UFTM/Mais Educação. É membro do Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Corporeidade e Pedagogia do Movimento –
O A
Nucorpo/UFTM. E-mail: simonemcastellano@gmail.com.
D
e Língua Portuguesa do ILEEL (Instituto de Letras e Linguística da
Universidade Federal de Uberlândia – UFU). Possui graduação em
Letras (Licenciatura e Bacharelado) com habilitação em Português e
Alemão pela Unesp/Araraquara. Desenvolveu pesquisa de Iniciação
Científica fomentada pela Capes, como bolsista PET. Realizou
Mestrado – fomentado pela Capes – e Doutorado – fomentado pelo
CNPq – em Linguística e Língua Portuguesa na Unesp/Araraquara
com estágio PDEE financiado pela Capes (“Doutorado-sanduíche”) na
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) e no Centro de
Linguística da mesma universidade (CLUL). Suas pesquisas atuais estão
concentradas na área de Sociolinguística com interface ao ensino de
Língua Portuguesa. E-mail: talita.marine@gmail.com.
A
Pedagogia do Movimento, Nucorpo/CNPq. Atualmente é professor do
Curso de Graduação e de Mestrado em Educação Física e em Educação
V
da Universidade Federal do Triangulo Mineiro – UFTM e Bolsista de
O
Produtividade em Pesquisa na área da Educação. E-mail: weymoreira@
R
uol.com.br.
R
P UTO
O A
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