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O aprender

ARTIGO Educação
na DE Superior
REVISÃO

Abordagem psicopedagógica do
aprender na Educação Superior
Sílvia Maria de Oliveira Pavão; Carmen Rosane Segatto e Souza

RESUMO - Objetivo: O objetivo desse estudo consiste em evidenciar


a construção do vínculo autorizante da aprendizagem nas relações de
professor e estudante na Educação Superior. Método: O estudo foi de­sen­
volvido por meio do método de revisão integrativa centrada em dois eixos:
Psicopedagogia e Educação Especial. Resultados: Constatou-se que são
diversas as variantes que envolvem as práticas desenvolvidas pelas áreas
de conhecimento em evidência. Entretanto, foram identificados pontos de
coalizão entre elas: o aprender dos sujeitos e a concepção interdisciplinar.
Essa compreensão consiste em uma certa autorização, inequivocamente,
uma vez que o sujeito aprende com quem ele autoriza ensinar. Conclusão:
A complexidade do ato de aprender implica no entendimento dos processos
individuais e particulares em associação com as afetações sociais.

UNITERMOS: Educação Superior. Aprendizagem. Psicopedagogia.


Educação Especial.

Sílvia Maria de Oliveira Pavão - Doutora em Educação, Correspondência


Universidad Autonoma de Barcelona; professora ad­ Carmen Rosane Segatto e Souza
junto, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rua Mario Quintana, 544 – Santa Maria, RS, Brasil –
San­ta Maria, RS, Brasil. CEP: 97110-751
Carmen Rosane Segatto e Souza – Doutoranda em E-mail: carmenrssouza@gmail.com
Educação, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
Santa Maria, RS, Brasil.

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INTRODUÇÃO área de conhecimento “marcada pelo pensamento


A tarefa de ensinar é culturalmente dele- contemporâneo que valoriza a inter/transdiscipli-
gada ao professor, à pessoa que trabalha com naridade e seus modos de complexidade”3. Isso
o conhecimento produzido pela civilização. O vem ao encontro do entendimento das relações de
professor é um vetor importante para o progresso aprendizagem estabelecidas entre os sujeitos em
e desenvolvimento de uma sociedade, mas para processos de desenvolvimento e aprendizagem.
que ele exerça sua atribuição profissional uma São as atitudes entre os sujeitos que definem a
série de arranjos é essencial para a efetividade aprendizagem, por isso, repercute na prática pro-
de sua tarefa. Entretanto, ao abordar a profissão fissional, tendo os sujeitos nesses processos res-
professor, frente ao cenário do paradigma da in- ponsabilidades e competências compartilhadas4.
clusão, questiona-se: todos os professores estão Os profissionais que atuam na área da Edu-
autorizados a ensinar seus estudantes? cação Especial, por sua vez, primam pela efe-
Neste sentido, evidencia-se esse problema de tiva inclusão de estudantes com deficiência à
investigação a partir da constituição do campo sociedade, espaço em que a regra ainda é uma
da Educação Especial e Psicopedagogia, expli­ exceção. A cada ano se tem ampliado a impor-
citando os conceitos que originaram as diferen­ tância de oportunidades para todos, criando
tes áreas de atuação. Trata-se de abordar a condi- condições para o desenvolvimento pleno das
ção de aprendizagem e o estabelecimento de um po­tencialidades das pessoas com deficiência.
vínculo positivo entre professores e estudantes, Nas últimas duas décadas a área da Educação
cuja relação permita a aprendizagem. Especial passou por mudanças consubstanciais,
Compreender como tudo está relacionado é haja vista que os processos de inclusão educa-
fundamental para que sejam possíveis a convi- cional e social ganharam força5, em especial por
vência e a interação entre estudante e professor meio dos documentos legais e políticas educa-
e o fato de se ter claro que todos são diferentes cionais vigentes.
possibilitará um olhar ao sujeito que aprende, Expressões conceituais tais como Atendimen-
mas que estes se constituam enquanto sujeitos to Educacional Especializado (AEE), sala de re-
em processos de aquisição do saber. cursos, tecnologias assistivas, entre outros, foram
O surgimento da Psicopedagogia como área pouco a pouco ocupando o cenário educacional,
de conhecimento e práticas data do século XIX modificando completamente a prática escolar. O
na Europa, em um contexto de incandescência paradigma da inclusão já pode ser considerado
política associada à democratização e acesso aos um marco na história da educação6-8.
processos de escolarização para outras camadas Essas políticas, embora tenham se ocupado
da sociedade1. A Psicopedagogia é conceituada inicialmente da Educação Básica, foram tam-
como uma área de conhecimento e práticas bém projetadas para todos os níveis de ensino,
interdisciplinar, por agregar correntes teóricas de forma que abarcam de modo transversal a
como da Pedagogia, Psicologia, Fonoaudiologia, Educação Superior6. Essas mudanças no cenário
Neurologia, Educação Especial; áreas estas que, educacional, impulsionadas pelas políticas de
reunidas, compõem a episteme psicopedagógica inclusão, focalizam a ação entre professores e
com o objetivo de entender o processo de apren- estudantes, pois remetem à reflexão e neces-
dizagem de todos os indivíduos, e os problemas sidade de compreensão diferenciada sobre a
dele recorrentes com vistas a solucionar e/ou aprendizagem e o desenvolvimento em espaços
minimizar as dificuldades do aprendente. A formativos. Cada pessoa se constrói a partir de
principal direção que se estabelece nessa área suas necessidades, características, contexto
interdisciplinar é a da aprendizagem humana2. cultural e social9.
A Psicopedagogia é, portanto, uma área do Destarte, tendo como mote de investigação
conhecimento e de prática profissional. É uma duas importantes área de conhecimento –

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Psicopedagogia e Educação Especial em pro- específico: Psicopedagogia e Educação Superior.


jeção comparativa e explicativa à Educação Nessa base de dados, foram encontrados apenas
Especial – o objetivo desse estudo consiste em dois artigos com referência a psicopedagogia e
evidenciar a construção do vínculo autorizante educação superior.
da aprendizagem nas relações de professor e 3º passo – ao definir as informações dos
estudante na Educação Superior. estudos selecionados, deparou-se com a neces-
sidade de buscar referenciais atualizados que
MÉTODO pudessem colaborar com a interpretação e o
O estudo teórico do tipo revisão integrativa se estabelecimento de relações entre as áreas do
pauta fundamentalmente pela busca de evidên- conhecimento. Exemplares nesse sentido são os
cias em torno das temáticas Educação Especial e documentos que regem a atuação do profissional
Psicopedagogia ao reunir os materiais colhidos da pedagogia e, da área da educação especial, a
da base de dados Scielo e da literatura impressa legislação e políticas de inclusão vigentes.
específica da área. O método de revisão integra- 4º passo – com a leitura do material selecio-
tiva sintetiza os principais resultados da inves- nado, os construtos e inferências passaram a
tigação e com a análise desses dados amplia e constituir o texto e o hipertexto do estudo.
aprofunda o tema objeto da investigação8,10. 5º passo – na interpretação dos resultados
O processo de coleta de dados ocorreu no obtidos uma descrição comparativa foi realizada.
período compreendido entre julho/2016 e feve- 6º passo – a apresentação da revisão/síntese
reiro/2017. Ao proceder o percurso do método do conhecimento possibilitou a identificação
de revisão, os seis passos propostos (Figura 1) de poucos estudos na área Psicopedagogia,
para realizar a revisão integrativa foram siste- Educação Especial e Educação Superior. A apre-
matizados: sentação dos resultados utilizou o princípio da
1º passo – o tema foi identificado a partir da descrição explicativa.
constituição do binômio: educação especial e
psicopedagogia. Esse tema constituído de duas URGÊNCIA DE UMA NOVA PRÁTICA
áreas do conhecimento distintas encaminhou É impossível não se reportar a algumas situa-
para a construção da hipótese básica: o sujeito ções do cotidiano que representam, muitas vezes
só aprende quando e somente quando autoriza com naturalidade, as desigualdades sociais,
o outro para ensinar. culturais, econômicas, educacionais ocorridas
2º passo – os critérios para inclusão e exclusão na contemporaneidade. A constatação de que
de leituras realizadas pautaram-se pela utili- elas existem estão rodeadas de momentos de
zação de obras clássicas da área, documentos desencanto, deixando de acreditar em uma
legais e a base de dados Scielo. Essa última prio- educação social como promessa de futuro. Não
rizou a busca por periódicos cujo escopo fosse se nega que ocorreram evoluções ao longo dos

Figura 1- Passos da revisão integrativa.

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séculos, mas estão ainda engessadas a conceitos para interagir em uma sociedade cada vez mais
criados na sua origem que se transformaram em complexa e dinâmica, marcada pelo desenvol-
paradigmas. vimento social e econômico dos novos tempos,
A educação no Brasil e no mundo esteve, depositando nestes profissionais da educação
a partir da Declaração de Salamanca11 e da esperanças de mudanças de suas atividades
publicação de outras documentações legais12, diante das contingências das relações sociais,
em um cenário reconstruído pelo paradigma da políticas e econômicas. Diante disso, também
inclusão. A inclusão proporcionou visibilidade existe a preocupação de entender a identidade
às pessoas com deficiência que antes circula- profissional dos educadores, as características e
vam muito pouco nos espaços educacionais, ou, necessidades dos estudantes e, também o papel
podendo-se mesmo dizer que não circulavam. A social das instituições de ensino.
inserção de estudantes com deficiência aumenta Em análise comparativa, se percebe que os
gradativamente a cada ano nas instituições de diferentes elementos postos – professor, estu-
Educação Superior e, de forma geral, essas insti- dante e instituição educacional – não gozam de
tuições não foram planejadas para trabalhar com iguais características e necessidades. Destaca-se
a diversidade de pessoas que a elas recorrem. assim, segundo Zeichner, citado por Sacristan e
A forma como a sociedade interage com as Gómez15, “[...] preparar professores que tenham
pessoas com deficiência1 modificou-se e vem se perspectivas críticas sobre as relações entre a
transformando ao longo da história. Incluir todas escola e as desigualdades sociais é um compro-
as pessoas, com ou sem deficiência, requer da misso moral para contribuir para a correção de
sociedade contemporânea importantes modifi- tais desigualdades [...]”. Enfim, necessita-se de
cações capazes de criar alternativas possíveis professores que assumam uma atitude reflexi­
de superar a exclusão. Sassaki13 apontou as va quanto a sua forma de ensinar as condições
di­ferentes fases em que a sociedade praticou a sociais que o influenciam, com consciência e
exclusão social, destacando os marcos históricos sensibilidade social.
da segregação e integração até a contemporânea Necessário, igualmente, é o compromisso
inclusão social. ético profissional, que permite a compreensão
A sociedade atual passa por um momento de diferentes âmbitos, não só de conhecimentos
em que reconhece direitos e deveres de pessoas sistematizados, mas também de habilidades,
com deficiência e muitas vezes forçando-os a hábitos, atitudes, convicções, valores que o au-
adaptarem-se a uma sociedade já existente, en- xiliarão, por meio de sua trajetória profissional,
quanto o ideal, acredita-se que todos a favor de a tornar os sujeitos mais livres, menos depen-
uma sociedade inclusiva entendam assim, seria dentes sob a perspectiva de uma sociedade
o processo inverso. inclusiva. Esse entendimento é corroborado por
Carvalho14 afirma que um dos desafios do Arroyo16 quando reflete sobre o ser professor de
milênio é conscientizar a sociedade de que as hoje, dizendo que, “[...] às vezes, diante da figura
limitações impostas pelas múltiplas manifesta- do professor (a), sinto-me como se tivesse diante
ções de deficiência não devem ser confundidas de um velho e apagado retrato de família. Com
com impedimentos. Esses desafios têm origem o tempo perderam-se cores e apagaram-se os
na própria sociedade, em suas formas e nos detalhes e traços”.
estereótipos que cria, prejudicando o desenvol- Assentir que são muitas as atribuições dire-
vimento individual que depende das interações cionadas aos professores, em certa medida, dan-
com os outros, posto o caráter essencialmente do a entender que somente a ele são delegadas
social da natureza humana9. as responsabilidades do processo de aprender
Incontestável, é a máxima sobre a urgência e ensinar, pode parecer ilógico, principalmente
de professores com habilidades e competências quando se compreende que o aprender depende

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dos sujeitos que participam verdadeiramente A Psicopedagogia, área que se debruça na


de um processo ativo, dinâmico e com variantes compreensão e na intervenção na aprendizagem,
funcionais. e que tem como objeto o processo de apren­
Entretanto, é o professor, com conhecimento dizagem de um sujeito contextualizado, surge
de suas atribuições profissionais, que certamen- para evidenciar a necessidade da prática da
te pode possibilitar esse encontro de saberes a inter­venção psicopedagógica na relação de quem
serem construídos. Mas, também os estudantes ensina (um orientador, uma pessoa que partilha
têm suas atribuições e tarefas, como se se pode com os outros conhecimentos) e de quem aprende
compreender e explicar a partir de uma concep- (sujeito aberto à aquisição de novas aprendiza-
ção de aprendizagem mediada9. E, embora não gens e capaz de compartilhar saberes).
se faça distinção entre quem ensina e aprende, A aprendizagem é compreendida como um
e, por isso, tampouco se delega o ensinar ao processo, ou vários e diferentes processos, uma
professor e o aprender ao estudante, em alguns vez que pode ocorrer em todo momento e em di-
momentos esses papeis podem ser identificados ferentes espaços, por isso, compreendida a partir
com vistas à compreensão do processo. da ação que repercute inevitavelmente em uma
Quanto às ações e tarefas dos estudantes mudança de comportamento. Quando o sujeito
na relação da aprendizagem, o vínculo que se apresenta dificuldades para aprender, a psico-
estabelece entre quem ensina e quem aprende, pedagogia entra em cena: “sem conseguir su-
especificamente na Educação Superior com es- perar suas fragilidades sozinhos, o sujeito e sua
tudantes com deficiência, foco do texto, requer história chegam ao espaço psicopedagógico”20.
de quem ensina um olhar especial, proporcio- Na busca de uma base explicativa a todo esse
nando sua integração social por meio de suas complexo processo que envolve a aprendizagem
potencialidades, preparando para a vida em na Educação Superior em vista das políticas
sociedade e para um futuro profissional. “[...] de inclusão educacional, recorre-se à Psicope-
O papel do professor passa a ser fundamental dagogia enquanto área de conhecimento e de
para que o aluno não negue simplesmente os práticas, e se reconhece que ela vem assumindo
desequilíbrios, mas incorpore-os no seu sistema um papel significativo nas instituições de En­
e tente resolvê-los, tornando-se mais capaz”17. sino Superior e o trabalho dos profissionais que
Se o profissional que acolhe o estudante atuam tem como objetivo compreender melhor
consegue perceber além do que está claro e o sujeito, em tudo que possa influenciar na sua
evidente, situações que expressem o que este aprendizagem, assim, o psicopedagogo tem
indivíduo quer manifestar e que não está tão ex- como tarefa trabalhar e orientar os profissionais
plícito, conseguirá compreender o que realmente que auxiliam na compreensão e no desenvolvi-
está por trás de suas angústias e manifestações, mento das potencialidades desse sujeito.
podendo assim investir nas capacidades, opor- Tem a tarefa de “[...] compreender os dife-
tunizando uma aquisição de aprendizagem18. rentes estilos de aprendizagem, tendo como
É nesse sentido que o professor pode deter foco sua potencialização e prevenção aos pro-
algum tipo de poder sobre aquilo que os estu- blemas de aprendizagem e, quando necessário,
dantes aprendem. Para Perrenoud19, o professor de uma intervenção dirigida”21. Nesse sentido,
contemporâneo “[...] conserva poderes que se recursos e estratégias de apoio à aprendiza-
estendem às vezes às atitudes, aos valores, às gem precisam ser desenvolvidos e ofertados,
crenças mais pessoais dos estudantes [...]”, podendo o professor e o estudante recorrerem
não cabendo desprezar oportunidade tão real à orientação necessária a cada caso, em vista
de desenvolver uma pedagogia que permita que o próprio sujeito pode, com seus recursos
desmascarar processos de aprendizagem tão internos, reconhecer e minimizar os possíveis
engessados e ineficientes. obstáculos no aprender22.

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Atualmente, o acesso ao Ensino Superior tem professores, coordenadores, família e com os


sido garantido por meio de políticas afirmativas pró­prios estudantes com as devidas intervenções
e programas estatais. Mas, juntamente com este para motivar o sujeito às mudanças necessárias
acesso universal, surgem outras situações que que incidirão no aprendizado e, consequente-
precisam ser enfrentadas3. mente, na sua qualidade de vida.
Diante disso, se pode dizer que muitos jo- A transformação exige uma adequação das
vens chegam à Educação Superior, entre eles os estratégias pedagógicas “[...] que retomem ca-
estudantes com deficiência. Mas a dúvida que minhos de integração entre sentimento, ação,
ora se apresenta é se a aprendizagem será de pensamento, linguagem e aprendizagem cultu-
qualidade, permitindo a sequência do percurso ral [...]”25. Consiste em um processo complexo,
de suas vidas por caminhos diferentes e próprios que possibilitará a reconstrução de ações peda-
de cada um. gógicas capazes de minimizar os contrastes tão
As instituições de ensino se caracterizam por evidentes nas instituições de Ensino Superior.
ser um espaço de convivência e com objetivos Com base nessas explicações em torno da
de potencializar o desenvolvimento de cada su- ação psicopedagógica, Libâneo26 corrobora “[...]
jeito, mas talvez nem todas as pessoas que nela novas exigências educacionais pedem às univer-
ingressam consigam usufruir com plenitude. sidades um novo professor capaz de ajustar sua
Este movimento de aprendizagem e convivên- didática às novas realidades da sociedade, do
cia com a diversidade e diferenças exige “[...] conhecimento, do estudante [...]”. Esse professor,
uma reforma radical nas escolas em termos de melhor preparado, realizará um trabalho que
currículo, avaliação, pedagogia e formas de transita entre o ensinar e o aprender no espaço
agrupamento dos estudantes nas atividades em acadêmico, respeitando a diversidade e dando
sala de aula [...]”23. espaço para as diferenças, pois estas se somam
Por isso que novamente entra em cena a e enriquecem o universo acadêmico.
ação psicopedagógica, como um dispositivo A igualdade de oportunidades pode ser consi-
legítimo, capaz de auxiliar nos processos de derada e a educação inclusiva direcionada para
aprendizagem. A Psicopedagogia, de acordo com todos os estudantes, com ou sem deficiência,
o Código de Ética da Associação Brasileira de dessa forma, estar-se-ia garantindo um percurso
Psicopedagogia (ABPp 1995/1996), reformulado com vistas à superação ou à minimização de difi-
pelo Conselho da ABPp, gestão 2011/2013, e culdades apresentadas assegurando os preceitos
aprovado em Assembleia Geral em 5/11/2011, inclusivos. Entretanto, considerando a fragilida-
em seu Capítulo I – Dos princípios, Art. 1º: “é um de de nossas políticas públicas, sabe-se que o
campo de atuação em Educação e Saúde que caminho a percorrer é demasiadamente longo,
se ocupa do processo de aprendizagem conside- isso levando em consideração que os primeiros
rando o sujeito, a família, a escola, a sociedade passos foram dados ainda no ano de1994 com a
e o contexto sócio-histórico [...]”24. Declaração de Salamanca11, que foi um reflexo
A intervenção psicopedagógica, auxiliada da Conferência Mundial de Educação para todos
por conhecimentos constituídos por outras no ano de 199027.
áreas do conhecimento, trabalha na descoberta Ao constatar a morosidade desses processos
dos obstáculos que estejam interferindo nas inclusivos, se evidencia a necessidade das dis-
possibilidades de uma aprendizagem signi- cussões em torno da inclusão educacional. A
ficativa, apresentando caminhos que possam celeridade das ações decorrentes da inclusão
descortinar estas dificuldades, impedindo que dependerá em grande medida da diminuição do
o sujeito avance e se torne independente com distanciamento entre o que se pensa e o que se
relação a sua aprendizagem. Em decorrência faz, criando ações de permitam a permanência de
destas descobertas, trabalhará em parceria com estudantes com deficiência na Educação Superior

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favorecendo a aprendizagem, diminuindo o olhar rias, seja com seus pares ou com outros especia-
assistencialista para com estes sujeitos. listas que se debruçam sobre o ato de aprender,
A articulação entre os envolvidos no processo como o psicopedagogo, poderá transformar a
de ensinar e aprender é substancial, “[...] não se relação pedagógica, resultando na interação com
pode entender um processo somente a partir do seu estudante, todos com expectativas, próprias
aprendente, sem recorrer ao ensinante [...]”28, de uma caminhada com objetivos e desejos úni-
pois ao realizar um trabalho com função media- cos. Mas, também o estudante é comprometido
dora9, com uma dedicação envolvente e conta- para a essa ação. Partindo do conceito da própria
giante, compreendendo como o outro se sente, Psicopedagogia, não se pode conceber o ato de
é possível proporcionar ambientes facilitadores aprender de forma unilateral, ou seja, quando
à aprendizagem que exigem, por parte de quem somente um dos lados é responsável pelo movi-
aprende, condições específicas que precisam mento seguinte.
emergir de dentro para fora em um processo A Psicopedagogia, como área de conhecimen-
dinâmico, que não é linear, complementando to e como prática, pode colaborar com os estu-
sua vivência acadêmica. Para todas essas ações, dantes para que estes compreendam o seu papel
é necessário que exista um tipo de autorização, como estudantes universitários, pois os mesmos
permissão. se deparam não só com atividades cognitivas e
Desse modo, ao buscar evidenciar a constru- curriculares, mas precisam se sentir parte do
ção do vínculo autorizante da aprendizagem nas universo universitário, se identificarem com o
relações de professor e estudante na Educação ambiente, estabelecendo relações interpessoais
Superior, remete-se ao vínculo autorizante com
fortes, estabelecendo uma filosofia de vida15.
condição para aprender algo.
No que tange ao vínculo autorizante na
CONSIDERAÇÕES FINAIS
aprendizagem, as contribuições de Alicia Fer-
Ao tecer algumas considerações finais sobre
nández28 mostram que existe um determinado
momento na relação do aprender, entre sujeitos a Psicopedagogia na Educação Superior em
e objetos de conhecimento em que fatalmente se tempos de inclusão educacional, fio condutor
remete a um tipo de autorização, para o apren- para estas reflexões, verifica-se a importância
der, para o ensinar, para o criar, entre outros. do professor na ação do ato de ensinar, res-
Na relação professor e estudantes, há que se peitando a diversidade e a diferença humana,
desenvolver a confiança necessária para que um pois fica evidenciada nas pesquisas desta nova
e outro possam ensinar e aprender em tempos era a necessidade da quebra de preconceitos,
e movimentos sincronizados com o desejo que objetivando a inclusão para todos em todos os
os levou a esse encontro. Fernández traz à tona espaços sociais.
o conceito de sujeito aprendente, desejante ou A ação psicopedagógica, que atualmente
aquele sujeito cognoscente e cognoscível. Esse avança sobre espaços formativos, conquistando
último, apenas possível a partir de uma lógica em sua importância como mediadora da aprendi-
que autorize o outro a aprender dele e com ele. zagem, fortalece as relações e potencializa as
Nesse sentido talvez a inovação, para além aprendizagens. Seu caráter interdisciplinar
de se constituir como um desafio, é uma ação compreende os sujeitos, com ou sem deficiência,
elementar no âmbito das instituições educacio- a partir de suas características, necessidades
nais que, para continuar desenvolvendo a ação e principalmente desejos de aprender. Pessoa,
social que lhes originou, precisam planejar e professores, estudantes, sujeitos do aprender
agir pensando no futuro29. e do ensinar podem se permitir, se autorizar a
O desacomodar-se está diretamente ligado à compartilhar as diferenças e respeitar a forma
atuação do professor que, ao estabelecer parce- de pensar de cada um acerca do mundo.

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Essa autorização para ser no mundo, ser sem sua contrapartida, nos modos de ser, apren-
no plano de relações interpessoais subsiste à der e perceber.
necessidade de se emancipar, libertar-se de con­ Essa investigação, com o intuito de dialogar
ceitos que não mais correspondem aos atuais sobre a autorização para aprender, destaca a
desejos de desenvolvimento, apostando em complexidade da construção desse processo
novas e gratificantes práticas de conviver com que envolve diferentes sujeitos. Se de um lado
a diferença, em especial nos espaços formativos se analisa o professor, de outro surge o estu-
da sociedade. dante. Estão os dois em um cenário formativo,
Nesta perspectiva, reitera-se que a educa- que é a instituição educacional. Todos convivem
ção é um direito de todos, quando cada um se em uma sociedade, cujos paradigmas vigentes
permite e se autoriza a crescer e se desenvolver estão paulatinamente sendo questionados e
na relação com o outro, em igual processo de transformados.
aprendizagem. Em um universo repleto de di­ A análise a partir das características indivi-
ferenças, cada um, professor ou estudante, pode duais desses elementos pode garantir, por meio
manter a atenção sobre os outros seres que ha­ da comparação e explicação, a compreensão de
bitam um mundo em constantes mutações. possíveis dificuldades ou dispositivos asserti-
Se relacionar com o público acadêmico, em vos para a que a aprendizagem ocorra. Mas, é
especial o universitário nos dias atuais, sugere somente quando esse microprocesso é lançado
uma formação voltada para o acolhimento e em projeção com a sociedade que se pode per-
para a humanização, um movimento de ir e vir, ceber quão longe ainda se está de uma educação
aberto para a diversidade e para a diferença, com inclusiva.
projetos ancorados em uma qualificação profis- Começar por algum lugar, por algum espaço
sional permanente. Do mesmo modo, também entre as características, necessidades, diferenças
o estudante, aquele que ingressa na Educação e desejos de si e do outro. Começar por permitir e
Superior, deve se comprometer com seu apren- autorizar a construção de um processo que pode
dizado, posto que ao vigorar uma perspectiva levar uma coletividade a possuir mais legitimi-
inclusiva não há como ocorrer a aprendizagem dade de seu viver.

¹- Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas13.

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SUMMARY
Psychopedagogical approach for learning in college education

Objective: The purpose of this study is to highlight the construction of


the authorizing link of learning in the relationships between teacher and
student in college education. Methods: The study was developed through
the method of integrative review centered on two axes: Psycho-pedagogy
and Special Education. Results: It was verified that there are several
variants that involve the practices developed by the areas of knowledge
in evidence. However, coalition points were identified among them: the
subjects’ learning and the interdisciplinary conception. This understanding
consists in a certain authorization, unequivocally, since the subject learns
with whom s/he authorizes to teach. Conclusion: The complexity of the act
of learning implies in understand the individual and particular processes
in association with social affectations.

KEYWORDS: Education, Higher. Learning. Psychopedagogy. Special


Education.

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Trabalho realizado na Universidade Federal de Santa Artigo recebido: 24/1/2018


Maria, Santa Maria, RS, Brasil. Aprovado: 16/2/2018

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(106): 51-60

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