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CURSO DE
ESPECIALIZAÇÃO
EM ENSINO DE
ARTES VISUAIS
1
curso dE
EsPEcialização
Em Ensino dE
artEs Visuais
1
curso dE
EsPEcialização
Em Ensino dE
artEs Visuais
Pós-graduação da
Escola de Belas Artes
Coordenadora Dra. Maria do Carmo de Freitas Veneroso
Sub-coordenadora Dra. Maria Angelica Melendi
Curso de Especialização
em Ensino de Artes Visuais
Juliana Gouthier
Lucia Gouvêa Pimentel
Maria do Carmo Freitas Veneroso
Sâmara Santana
Yacy-Ara Froner
Belo Horiozonte
Escola de Belas Artes da UFMG
2009
Copyright © 2009 by Direitos reservados a Escola de Belas Artes da UFMG
Ficha técnica
ISBN:
CDD: 707
Proibida a reprodução desta obra sem prévia autorização dos detentores dos direitos
Apresentação
pág.9
1
HISTÓRIA DO ENSINO DA
ARTE NO BRASIL
[ Juliana Gouthier
pág.10
2
Metodologias do Ensino
de Artes Visuais
Lucia Gouvêa Pimentel ]
pág.24
3 Fundamentos de Ensino
de Artes Visuais
[ Sâmara Santana
pág.38
4
Crítica das Artes Visuais
Moderna e Contemporânea
Maria do Carmo Freitas Veneroso ]
pág.48
5
Pesquisa em/sobre Ensino
de Artes Visuais
Yacy-Ara Froner ]
pág.70
APRESENTAÇÃo
A marca colonial
Os jesuítas, que organizaram o primeiro sistema de ensino formal do Brasil, deixaram
profundas marcas da sua intenção de disseminação da fé, dos princípios da Igreja
Católica. Por um lado valorizavam os estudos retóricos e literários, “separavam, a
exemplo de Platão, as artes liberais dos ofícios manuais e mecânicos, próprios dos
trabalhadores escravos” (BARBOSA, 2006 p.22). Por outro, o trabalho não era bem
visto, como registra Holanda (1995), lembrando que entre as nações Ibéricas pre-
dominava a concepção antiga de que o ócio importava mais que o negócio e que a
atividade produtora era, em si, menos valiosa que a contemplação e o amor (p.38).
“Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore” (p.44).
Vale citar novamente Holanda (1995), apenas como sinalização das referências de
Freire (1979) sobre a noção de sujeitos históricos e a valorização do conhecimento de
cada um, do aprendizado construído pelos portugueses a partir dos conhecimentos
dos índios brasileiros.
Onde lhes faltasse o pão de trigo, aprendiam a comer o da terra (...) Habi-
tuaram-se também a dormir em redes, à maneira dos índios (...) aos índios
tomaram ainda instrumentos de caça e pesca, embarcações de casca ou
tronco escavado (...) o modo de cultivar a terra alteando primeiramente fogo
aos matos. (p .47)
Ares republicanos
A organização do ensino de arte no nível superior antecedeu sua organização nos
níveis primário e secundário, mas no início do século XX havia uma grande preo-
cupação com o ensino da Arte – que até então se resumia ao ensino do Desenho.
Nas escolas primárias e secundárias, o movimento nesse sentido tem suas raízes
antes mesmo da Proclamação da República, e sua defesa era baseada no desenho
como linguagem técnica e da ciência. Um dos primeiros textos que registram essa
preocupação, segundo Barbosa, foi o artigo publicado por André Rebouças, em
1 Jornal, em português, novembro de 1878, no jornal O Novo Mundo1, no qual ele defende a “necessidade
publicado em Nova de generalizar o ensino do Desenho por todas as classes da sociedade”.
York pelo brasileiro
José Carlos Rodrigues. A implantação de arte como disciplina nas escolas primárias e secundárias, e mesmo
sua obrigatoriedade, estão baseadas principalmente nas idéias de Rui Barbosa, expres-
sas em 1882 e 1883, nos seus projetos de reforma do ensino primário e secundário,
e no ideário positivista divulgado a partir da segunda metade do século XIX.
Mas a reforma que tem sido considerada a mais revolucionária e sofisticada das pro-
movidas nos anos 1920 foi a do Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal (DF), em 1927,
elaborada por Fernando de Azevedo. A reforma do DF enfatizou as tarefas sociais do
sistema escolar e sugeriu os meios necessários para o seu cumprimento.
Prerrogativas Nacionais
Os modelos estrangeiros continuam a servir como referência, mas se intensifica
a preocupação com a identidade nacional. Na década de 1920 entra em cena o
pensamento de Jonh Dewey, que chega ao Brasil via Anisio Teixeira, seu aluno no
Teacher College da Columbia University. Teixeira foi um dos principais articuladores
da modernização da educação brasileira e personagem fundamental no Movimento
Escola Nova, (1927-35).
Ainda no início dos anos 1930, também começam a ganhar espaço no Brasil as escolas,
para crianças e adolescentes, especializadas em arte, como a Escola Brasileira de
Arte, segundo os registros de Ana Mae Barbosa. Coordenada por Theodoro Braga,
essa escola recebia, gratuitamente, crianças entre 8 e 14 anos, oferecendo aulas de
música, desenho e pintura. Também é dessa mesma época o curso da Biblioteca
Infantil Municipal de São Paulo, instituído pelo Departamento de Cultura de São
Paulo, na gestão de Mário de Andrade. Se o curso de Theodoro Braga era pautado na
“estilização da flora e fauna brasileiras”, o da Biblioteca de São Paulo, ministrado por
Anita Malfatti, era baseado “na livre expressão e no espontaneísmo”. Em seu curso,
Malfatti coloca o professor no lugar de “espectador da obra de arte da criança, ao qual
competia, antes de tudo, preservar sua ingênua e autêntica expressão” (p.114).
Nesse contexto, ficam evidentes dois pólos no ensino da Arte. De um lado, a valo-
rização do desenho como técnica e, de outro, “a exaltação dos elementos internos
expressivos como constituintes da própria forma”, como diz Barbosa (2005). Em sua
análise ela aponta este momento como fundamental para que “no Brasil, fosse pos-
sível, após a Segunda Guerra Mundial, sob influência da Bauhaus, o desdobramento
dialético das tensões entre o Desenho como Arte e o Desenho como Técnica, entre
a expressão do eu e a expressão dos materiais” (p.115).
Recuo
Com o país imerso na ditadura de Vargas, a educação perde fôlego. Com o ensino
da arte não é diferente. Barbosa (2002) detecta uma “sensível redução do interesse
pela arte-educação, comprovada pela diminuição de artigos e informações sobre
o assunto nos jornais diários e nos jornais sobre educação e pela valorização dos
estereótipos do nas salas de aula”(p.43).
De 1937 a 1945 o estado político ditatorial implantado no Brasil, afastando das
cúpulas diretivas educadores de ação renovadora, entravou o desenvolvimento
da arte-educação e solidificou alguns procedimentos, como o desenho geo-
métrico na escola secundária e na escola primária, o desenho pedagógico e a
cópia de estampas usadas para as aulas de composição em língua portuguesa.
(BARBOSA, 2002)
Mas, em meio a esse período, Lúcio Costa propõe, a pedido do então Ministro da
Educação, Gustavo Capanema, um programa de reformulação do ensino de Desenho
no curso secundário (COSTA, 2007). Como um dos desafios postos ao autor, estava
a necessidade de conciliar a introdução de uma metodologia abordando alguns
conceitos teóricos que considerava importante para os alunos e a “livre expressão”
vigente na época. Lúcio Costa vai contra o laissez-faire e propõe um curso com
modelos de atuação para os professores, com recomendações tipo passo a passo,
O ensino da arte também conquista mais espaços fora dos muros da escola.
Ganham corpo, em vários pontos do país, as Escolinhas de Arte, um movimento
iniciado no final dos anos 1940. Independentemente do lugar, na escola ou esco-
linhas, o ensino da arte é pautado na livre-expressão, como um rumo alternativo
na busca de uma identidade ainda desconhecida.
Noêmia Varela, que fundou a Escolinha de Arte do Recife, assumiu mais tarde a
direção da Escolinha de Arte do Brasil, criada por Augusto Rodrigues, em parceria
com a professora de arte Lúcia Alencastro Valentim e a escultora norte-americana
Margareth Spencer. A Escolinha de Arte do Brasil começou suas atividades em 1948,
nas dependências da Biblioteca Infantil do Rio de Janeiro. Segundo Ana Mae Barbosa,
a Escolinha de Arte, em parceria com o governo, promoveu vários cursos de forma-
ção de professores, com “uma enorme influência multiplicadora, chegando a haver
32 Escolinhas no país ” (BARBOSA, 2003) Entre as premissas do que se chamou de
“movimento das Escolinhas” estava a idéia de “contaminar” as práticas pedagógicas
escolares, convencendo as professoras da “importância de deixar a criança se expressar
livremente usando lápis, pincel, tinta, argila etc.”
Currículo
Na década de 1950, a influência americana aumentou significativamente. Em 1956
foi criado o Programa de Assistência Brasileiro-Americana à Educação Elementar
(PABAEE), a fim de treinar supervisores e professores e produzir, adaptar e distribuir
Tomada de posse
O amadurecimento da retomada democrática pode ser percebido no período entre
1958 e 1963, quando a educação começa a conquistar sua autonomia, fase de
afirmação de um modelo nacional que traz em seu bojo os movimentos populares
educacionais, políticos, culturais e artísticos. É também nesse momento que as
concepções de Paulo Freire começam extrapolar as fronteiras de Recife. Além
da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, publicada, em 20 de
dezembro de 1961, pelo então presidente João Goulart, outro registro importante
é a criação a Universidade de Brasília.
No contexto brasileiro, quatro movimentos são apontados por Góes (2002) como
“fundacionais”: o Movimento de Cultura Popular (MCP), no Recife, criado em maio
de 1960; a Campanha De Pé no Chão também se Aprende a Ler, em Natal, defla-
grado em fevereiro de 1961; o Movimento de Educação de Base (MEB), também
de 1961, fundado a partir de um convênio entre a Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil e o governo federal, e o Centro Popular de Cultura (CPC), criado em abril
de 1961 pela União Nacional dos Estudantes (UNE).
A discussão era promissora, mas naquele momento não foi possível prosseguir.
“O desenlace é o Golpe de Estado de 1964, bem conhecido por todos” (GÓES,
2002 p.101).
Tecnicismo
Nos anos 1970, a apresentação dos programas reflete a influência da tendência tecni-
cista. A divisão do trabalho didático em quatro grandes blocos separados – objetivos,
conteúdos, métodos e avaliação – parece ser aceita sem questionamento, embora
o detalhamento de cada um desses blocos nem sempre seja preciso. O ensino da
arte é fortemente influenciado pelas idéias de Lowenfeld e Herbert Read, o que
levará ao espontaneísmo, ao laissez faire, na maioria das escolas.
Desse período, que se manteve sombrio até 1985, ficaram alguns sobreviven-
tes. No que diz respeito ao ensino da arte, ficou a Lei 5692/71, que instituiu a
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. A Imagem do Ensino da Arte. São Paulo: Perspectiva, 1991.
__________. Para que história?. Revista Ar’te. São Paulo: Livraria e Editoria Polis Ltda.
Ano II, 1983, p.2-4.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo : Companhia das Letras,
1995
MOREIRA, A. F.; SILVA, T.T. (org.) Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo: Cortez,
1994.
Conhecer métodos e criar metodologias é o grande desafio d@1 professor@ de 1 A grafia @, neste
Arte. Cabe a el@ a decisão para cada processo proposto, com direito a desvios e trabalho, refere-se a
masculino/feminino.
retomadas sempre que preciso. O ensino de arte não é linear. Ao se ensinar e apren-
der arte é preciso que se assegure continuidade e ruptura, garantindo uma prática
artística/pedagógica consistente, responsável e respeitável. As pessoas possuem
inteligência e percepção, desenvolvidas em maior ou menor grau, dependendo
das oportunidades que lhes foram oferecidas. O ensino de arte deve ir além da
inteligência e da percepção já instituídas. É necessário trabalhar um outro nível de
pensamento. Ao se lidar com arte, lida-se não somente com conhecimento espe-
cífico, com sensibilidade e com emoção, com identidade e com subjetividade, mas
também e certamente com o pensamento em outro nível que não é o comumente
utilizado no dia-a-dia na escola.
Nos séculos que se seguiram à Antiguidade Grega (séculos II a.C. a V d.C.), houve
pouco progresso na concepção da ciência e dos métodos de constituição do saber.
Os romanos eram mais práticos que teóricos, sobretudo nos domínios da agricultura,
arquitetura e guerra.
Na Idade Média encontramos a reflexão filosófica dominada pela religião e pelo desejo
de conciliar os saberes adquiridos dos filósofos com os dogmas do cristianismo. A
teologia é o carro-chefe. Na Baixa Idade Média, a filosofia Escolástica (considerada
precursora do humanismo) procurou harmonizar razão e fé. Para essa corrente filo-
sófica, o progresso do ser humano dependia não apenas da vontade divina, mas
também do esforço desse mesmo ser humano.
O Renascimento, que marca uma renovação nas artes e nas letras, não conhece
equivalente no domínio do saber científico. Superstições, magia e bruxaria concorrem
para explicar o real: a alquimia2 prospera. O elemento central do Renascimento (XIV 2 Ciência oculta que
ao XVI) é o humanismo: o homem como centro do universo (antropocentrismo), a pretende transformar em
ouro metais sem valor.
valorização da vida terrena e da natureza.
3 A CONSTRUÇÃO DA METODOLOGIA
Metodologia é uma construção conceitual, elaborada pela intervenção do método.
Podemos dizer que é uma espiral de conjugação de métodos aliados à inovação de
ações que criam novos métodos, que por sua vez se integrarão a novas metodolo-
gias, e assim por diante.
A metodologia tem como premissa ser objetiva e pertinente. A objetividade diz res-
peito à realização dos objetivos pretendidos. A pertinência diz respeito à adequação
dos procedimentos para a realização dos objetivos. Como critérios para avaliar a
pertinência da metodologia podemos considerar:
A racionalidade criativa aponta a arte como disciplina fundamental para uma escola
que tem como fim desenvolver a capacidade criativa.
Considerações finais
Nossas escolhas no campo da arte, seu ensino, sua aprendizagem, sua pesquisa
e sua ação são fatores determinantes para que determinemos os rumos do que
pretendemos seja o ensino de Arte neste início de século. Somos fruto do que
vivemos no presente, mas também de toda a herança do passado. Vamos, portanto,
influenciar em nossos sucessores, quer seja por nosso imobilismo, quer seja por
nossa ousadia e compromisso com mudanças.
CAMPOS, Jorge Lucio de. Do simbólico ao virtual. São Paulo: Perspectiva; Rio de
Janeiro: UERJ, 1990.
DAVIES, T.; PIMENTEL, L.G.; WORRALL, P. Electric Studio. Londres: Anglia Multi-
media, 1999. Livro e CDROM.
DOMINGUES, Diana (org.). Arte no século XXI: a humanização das tecnologias. São
Paulo: UNESP, 1997.
EFLAND, Arthur D. Art and cognition: interating the visual arts in the curriculum. New
York: Teachers College and National Art Education Association, 2002.
FEIN, Sylvia. First Drawings: genesis of visual thinking. California: Exelrod Press,
1993.
JAMESON, Frederic. Espaço e imagem. Trad. Ana Lúcia A. Gazzola. Rio de Janeiro:
UFRJ, 1994.
PERKINS, David N. The intelligent eye: learning to think by looking at art. Santa
Mônica (California): Paul Getty Trust, 1994.
PIMENTEL, Lucia Gouvêa. Som, gesto, forma e cor: dimensões da arte e seu ensino.
Belo Horizonte: C/ARTE, 1995.
RUSH, Michael. New media in late 20th century art. London: Thames & Hudson,
1999.
VIRILO, Paul. Espaço crítico. Trad. Paulo R. Pires. Rio de Janeiro: ED 34, 1995.
Abordagem Triangular
A abordagem triangular sistematizada por Ana Mae Barbosa, pequisadora importante
por fazer considerações fundamentais e apontar novas diretrizes para a Arte/Educa-
ção, fundamenta o ensino de arte de forma consciente e coerente, principalmente
em sua relação com o conhecimento. Nessa concepção, a autora defende um ensino
que englobe o fazer, o fruir e o contextualizar a arte, todos no mesmo patamar de
importância. Ou seja, a elaboração de obras deve ter o mesmo valor da contextuali-
zação da obra de determinado artista, bem como da fruição estética dessa obra.
Para uma triangulação consciente, que impulsione a percepção da cultura do
outro e relativize as normas e valores da cultura de cada um, teríamos que
considerar o fazer (ação), a fruição estética da Arte e a contextualização, quer
seja histórica, cultural, social, ecológica etc. (BARBOSA, 1998, p.92)
Em sua pesquisa, Ana Mae traz à tona temas importantes sobre o ensino de Arte,
como as discussões políticas, ideológicas e sociais que perpassam toda a trajetória
desse ensino no Brasil. A própria abordagem triangular, proposta pela autora, já repre-
senta um carácter político. Ao inserir questões do fazer, do fruir e do contextualizar
a arte, Ana Mae defende a concepção de que um conhecimento construído em arte
pode ser realmente um conhecimento em si, recusando a utilização das aulas de
1- o respeito às diferenças;
Arthur D. Efland
Efland é historiador, pesquisador e professor. Suas pesquisas investigam a História
do Ensino de Arte, considerando inclusive suas relações com conceitos estruturados
como “pós-modernos”. O teórico ressalta a importância da imaginação e da metáfora
na cognição. Especificamente nesse campo, o autor tem como referência a História, a
Filosofia e a Psicologia.
Para Efland, essas teorias se relacionam com a metáfora na medida em que esta cria
possibilidades estruturais de pensamento e aprendizagem. Segundo ele, a imaginação
e a metáfora relacionam-se a conceitos contemporâneos filosóficos que funcionam
como base para vários estudos sobre Arte/Educação contemporânea.
A capacidade para fazer determinações e julgamentos (...) amadurece quando
o ensino intencionalmente organiza situações que provoquem o desenvol-
vimento do poder da mente, incluindo a imaginação por meio da criação e
da reflexão. Isso é o que de melhor a arte/educação pode prever, e é minha
crença que as compreensões cultivadas por meio do estudo da arte são
formas de deliberação que podem preparar as fundações para uma liberdade
cultural (EFLAND, 2005, p.187).
Dessa forma, o professor responsável pela disciplina Arte, possui uma responsa-
bilidade diferenciada, pois espera-se, atualmente, que ele tenha um conceito de
Arte/Educação que incentive e propicie ao sujeito uma oportunidade de executar
suas próprias idéias, ser capaz de fazer inter-relações, imaginar novas estruturas de
pensamentos e certamente construir conhecimento.
Partindo do pressuposto de que toda e qualquer obra de Arte, o artista quer “passar
uma mensagem”, ou o artista escolheu dessa forma para atingir esse resultado
específico, é limitar de forma drástica o território da arte. Em diversas obras, o artista
transborda qualquer explicação lógica ou racional.
BARBOSA, Ana Mae. (org). Arte/Educação: Leitura no subsolo. São Paulo: Cortez,
2005.
BARBOSA, Ana Mae, COUTINHO, Rejane, SALES, Heloisa. Artes Visuais: da expo-
sição à sala de aula. São Paulo. Edusp, 2005b. Encarte – diálogos e reflexões ver e
perceber arte. Banco do Brasil apresenta. 2004 – última citação.
referências Complementares
BARBOSA, Ana Mae (org). Arte/Educação contemporânea: consonâncias interna-
cionais. – São Paulo: Cortez, 2005a.
BARBOSA, Ana Mae. (org). Inquietações e mudanças no ensino de arte. São Paulo:
Cortez, 2002.
EFLAND, Arthur D. Art and Cognition: Integrating the visual arts in the curriculum.
New York: Teachers College and National Art Education Association, 2002.
PIMENTEL, Lucia Gouvêa (coord.) Som, gesto, forma e cor: dimensões da Arte e
seu Ensino. Belo Horizonte: C/Arte, 1995.
Enquanto o historiador da arte procura evitar os julgamentos de valor sobre uma obra,
o crítico analisa as obras e sua função é eminentemente seletiva. A crítica classifica
numa ordem de excelência, segundo critérios próprios, os objetos artísticos.
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 49
história humana. Preocupam-se também em Também a Crítica de Arte está profunda-
relacionar a obra de arte com outras obras mente vinculada à História da Arte. Como a
de arte da mesma escola, período e cultura. Estética, a Crítica é um esforço humanístico
que trabalha com todas as artes. O domínio
O termo Estética foi cunhado pelo filósofo
próprio de qualquer crítico é a descrição,
alemão Alexander Baumgarten (1714-1762).
interpretação e avaliação de obras de arte
Este ramo da Filosofia trabalha com problemas
em um determinado meio de expressão. A
de valores que se elevam acima da existência
Crítica de Arte pode ser descrita como uma
de obras de arte como entidades físicas. A
atividade em vários níveis, contendo três
Estética está relacionada com os processos
aspectos básicos: o histórico, o re-criativo
e habilidades envolvidas na criação, no uso
ou re-inventivo e o judicial ou judicativo.
e na apreciação da arte, e com a resposta do
observador às qualidades inerentes a obras A Crítica Histórica visa à compreensão his-
de arte. Em grande parte, a Estética trabalha tórica das obras de arte. A função do crítico
com modelos que se repetem e com padrões histórico é reconstruir as qualidades estéti-
de avaliação. Define termos como: beleza, cas únicas de uma obra ou grupo de obras
valor estético, verdade, significado. e analisar todos os documentos relevantes,
os fatores culturais e intelectuais que podem
O filósofo Benedetto Croce influenciou pro-
colaborar na produção de uma compreensão
fundamente a Estética do século XX. Partindo
mais completa da obra. Ele coloca suas evi-
de uma metafísica idealista, Croce defendeu
dências cronológica ou ideologicamente a
a unidade da obra de arte. Para o filósofo
fim de formular uma concepção do contexto
forma e conteúdo são inseparáveis. Cada
original da obra ou obras em questão. Está,
obra de arte é uma intuição-expressão única.
em outras palavras, relacionando a obra de
O efeito total de uma obra de arte é uma
arte às condições históricas de tempo e
intuição, um saber livre de conceitos e mais espaço; sua perspectiva é sempre de um
simples que a assim chamada percepção do ponto de vista histórico.
real. Para Croce arte não é uma atividade
física, mas puramente uma matéria da mente; A Crítica Re-criativa ou Re-inventiva está
é um evento completamente interno. preocupada em determinar as característi-
cas específicas de uma obra de um mestre
A Teoria da Arte está estreitamente relacio- e relacionar essas características com os
nada à História da Arte. O teórico da arte está valores e necessidades do observador. Ela
preocupado com a compreensão da atitude e dispensa evidências históricas e toma a forma
das condições que prevaleceram no momento de expressão literária. A Crítica Re-criativa
em que a obra de arte foi produzida. O pro- traduz primeiramente a impressão pessoal
cesso criativo é condicionado por um número do crítico quanto à obra de arte.
de fatores entre os quais pode estar a teoria
da imitação da natureza, expressão e decoro, O terceiro aspecto da Crítica de Arte pode ser
isto é, não só a representação adequada de chamado judicial. A Crítica Judicial avalia a
aspectos típicos da vida humana, mas também obra de arte em relação a outras obras de arte,
o que é decente e próprio do ponto de vista assim como a valores humanos. Julgar a obra
do gosto, da moral e da religião. de arte explicitamente requer a aplicação de
um conjunto de regras gerais. Essa tarefa pode,
A matéria-prima do teórico da arte não é a obra mas não precisa, ser levada adiante depois de o
de arte nela mesma, mas as teorias que a per- crítico ter sido informado a respeito dos fatores
meiam. Elas equipam o historiador da arte com que deram forma a uma obra de arte e sobre
terminologias que ele requer para explicar seus suas principais características, como material
pontos de vista: chiaroscuro, sfumato, etc. e técnica, forma, função e expressão.
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 51
critério normativo, o crítico tenta distinguir a obra de arte trivial ou medíocre da obra
de arte realmente significativa. Esta é largamente condicionada pela sua significa-
ção ou referência a um ponto além dela mesma, formado a partir das experiências
e filosofia de vida do crítico. Portanto, significação artística não pode ser avaliada
somente por padrões estéticos. Os critérios para determinar esses valores incluiriam
forma artística, interpretação da temática, realização técnica, originalidade, verdade
artística, moralidade, ou a combinação de algumas dessas qualidades.
b) Idealismo
c) Expressionismo
Nesse item pretende-se abordar o estilo nas artes plásticas a partir da análise das
correntes estilísticas básicas: naturalismo, idealismo e expressionismo. Essas três
correntes caracterizam essencialmente os diversos estilos históricos assim como
os estilos individuais dos artistas, sendo que elas não se excluem mutuamente.
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 53
Se até os anos cinqüenta do século XX ainda era possível pensar a arte a partir dos
“ismos” (cubismo, futurismo, dadaísmo, etc.), a partir daí o que se vê, cada vez
mais, é uma ênfase nas linguagens individuais, fato que vai se intensificar nos anos
noventa. No ecletismo atual há uma enorme diversidade de tendências estilísticas,
por vezes contraditórias entre si. Assim, o que se nota é a possibilidade da análise do
estilo como traço diferenciador de cada artista, já que não se trata mais de grandes
movimentos da história da arte, como ocorria no passado.
3 As raízes do Modernismo:
o século XIX (Courbet, Daumier,
Manet, Degas, Impressionistas, Van
Gogh, Seurat, Gauguin e Cézanne)
O século XIX presenciou profundas transformações tanto sóciopolíticas quanto
artísticas. Na arte, as mudanças ocorridas a partir do século XIX apontam para
a passagem do espaço renascentista, que havia perdurado por cinco séculos
(desde o século XV até o século XIX), para o espaço moderno. No Renascimento
surge uma nova concepção espacial baseada nas leis da perspectiva linear. Nesse
período, o homem passa a crer na existência de um mundo com leis próprias e
acaba por acreditar na sua capacidade de representar este mundo baseando-se
em alguns princípios racionais e em certas descobertas capazes de dar ao espaço
a ilusão de profundidade.
Essa nova interpretação do espaço pode ser assim resumida: considerava-se que o
novo espaço tinha a forma de um cubo, que todas as linhas de fuga se reuniam em
um ponto único situado no interior do quadro, correspondente a um ponto de vista
único do olho humano. Acreditava-se que a representação dos objetos por valores
coloridos devia coincidir com a representação da linha. A transformação por que
passou a arte e levou ao surgimento da Arte Moderna teve início com a quebra da
temática clássica realizada pelo Romantismo e, principalmente, pelo Realismo,
que introduzem o cotidiano na pintura, antes povoada pela mitologia grega. Uma
profunda mudança na concepção espacial herdada do Renascimento, sintonizada
com as transformações que estavam ocorrendo no século XIX, levou ao surgimento
de uma nova concepção espacial.
Essas mudanças introduzidas pelo Realismo ainda vão encontrar resistência e até
mesmo perseguições, como foi o caso de Courbet. Apesar de terem sido consi-
Com Paul Cézanne, o processo, que vinha durante todo o século XIX na Europa apre-
sentando modificações constantes, vai atingir o seu momento decisivo. Para esse
artista a arte deixa de ter qualquer compromisso com a representação, passando
a temática a ser um mero pretexto. O tema pode ser um conjunto de maçãs (Fig.
11), um retrato ou uma montanha (Fig.12), pois o importante é o ato de pintar, a
materialidade da tela organizada por cores e formas. Há uma explosão definitiva com
o cubo renascentista, pois Cézanne começa a abandonar as regras da perspectiva,
usando a distorção em função da estrutura e da expressão da obra.
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 55
Cézanne pode ser considerado o destruidor de uma tradição e o indicador de novas
possibilidades de articulação do espaço plástico. Ele utiliza a cor como forma e não
como manifestação de luz, como os impressionistas. Abandona a fonte única de luz
renascentista, pinta os objetos em uma série de planos, cada um representado por
uma mudança de cor. Utilizando a teoria das cores que avançam e recuam, o pintor
cria paisagens compactas nas quais a limitação de espaço é deliberada. Além disso,
também abandona o uso do claro-escuro.
Este impulso decisivo dado por Cézanne iria ser complementado por Vincent Van
Gogh (Figs.13 e 14) e Paul Gauguin (Fig.15). Com esses três artistas o espaço renas-
centista encontra seu término e, em seu lugar, cria-se uma nova imagem, um outro
olhar. Seus trabalhos têm em comum a negação da representação. Em Van Gogh e
Gauguin novos elementos fazem sua aparição na pintura, e o tratamento que eles
dão à cor talvez seja o ponto mais significativo. Ambos liberam a cor de qualquer
compromisso com a representação sendo que ela ganha autonomia e passa a ser
tratada pelas suas qualidades visuais. Van Gogh trabalha as cores pelas suas qualida-
des emocionais. Utiliza violentos contrastes e realça a importância do gesto. Gauguin
rompe com a cor “culta” em proveito da cor “exótica”, ou seja, aquela ignorada pela
cultura ocidental. Nesta relação com a arte primitiva Gauguin antecipa um dos cami-
nhos posteriormente adotados na investigação estética por artistas modernistas.
Também Georges Seurat (Fig.16) contribui para a instauração da arte moderna, ao
elaborar e experimentar uma teoria própria da pintura, baseada na ótica das cores,
à qual corresponde uma técnica cientificamente rigorosa – o Pontilhismo.
As bases lançadas por Cézanne, Van Gogh e Gauguin iriam repercutir de diversas
maneiras nos primeiros anos do século XX. O trabalho desses artistas tinha em
comum a negação da representação na arte, e cada uma das correntes surgidas em
seguida iria desenvolver aspectos diferentes dessa questão.
O espaço trabalhado pelos cubistas não é o espaço “real”, pois o que está em
questão é o próprio espaço da tela. O Cubismo incorporou, pela primeira vez na
arte ocidental, o princípio de que uma obra de arte, na concepção assim como na
aparência, na essência e na substância, não precisa se restringir à aparência do
objeto ao qual ela se refere. Esse movimento pode ser estudado através do trata-
mento que ele dá a um dos problemas contínuos da arte desde o Renascimento:
a relação do objeto com o espaço no qual ele é visto, e a representação desta
relação dimensional em uma superfície plana.
Enquanto o Cubismo explora o uso de eixos horizontais e verticais nas suas com-
posições, dando ênfase à construção estática, no Futurismo há uma tendência
ao dinamismo e à idolatria da civilização industrial e da máquina. A civilização
industrial é o elemento principal de sua investigação, e o ponto central da estética
futurista é a procura de uma expressão pictórica do dinamismo, além do repúdio
a toda a tradição. Um exemplo da ênfase dada pelos futuristas à representação
do movimento é a pintura de Giacomo Balla, “Dinamismo de um cão em uma
coleira”, de 1912 (Fig.19).
Entre 1913 e 1924 surgem três movimentos que darão prosseguimento à forma-
ção de um novo espaço e que serão determinantes na elaboração das principais
concepções da arte contemporânea. São eles: o Construtivismo, o Dadaísmo e
o Surrealismo.
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 57
por meio do niilismo artístico. Os artistas se pelo menos uma década depois. Esses artistas
colocam contra os valores vigentes da arte, rejeitam as tendências realistas e construti-
pois, para os dadaístas, a arte representava vas na arte e são atraídos pelo conteúdo do
uma sociedade que tinha promovido a guerra, Surrealismo e pela técnica do automatismo.
portanto a arte era falsa e hipócrita como essa Acreditam em suas visões e experiências parti-
sociedade. O Dadaísmo ataca os símbolos cul- culares, que pintavam tão diretamente quanto
turais de uma cultura que parecia estar à beira possível. Negavam-se a colocar limites para o
do suicídio. Sua arte tem um caráter espontâ- conteúdo emocional de suas pinturas.
neo, lúdico, irracional e muito individual.
Em vez de linhas retas experimentam o
No trabalho de Marcel Duchamp (Figs.23 e instável, indeterminado, dinâmico, aberto
24) há um alvo preciso: o sistema da arte. e inacabado. Exploram diretamente a
Para ele, atacar o sistema da arte significava expressividade do próprio meio – a pintura.
investir contra todo o aparelho cultural-ideo- A Action-painting é uma extensão e elabo-
lógico. Artistas e etnólogos chegam, simul- ração do expressionismo caligráfico, tendo
taneamente, a uma mesma conclusão: a de uma relação íntima com a caligrafia orien-
que arte é aquilo que um determinado grupo tal. Jackson Pollock (Fig.28) e Willem De
social considera como tal no seu sistema de Kooning (Fig.29) fazem parte do grupo de
valores. Na concepção de Duchamp, arte é expressionistas abstratos, também conhe-
aquilo que o artista (assim considerado pelo cido como Escola de Nova York.
grupo social) diz que é. Os artistas dadaístas
adotam linguagens diversas. Enquanto Hans 4.3 Arte Moderna no Brasil
Arp e Kurt Schwitters são abstratos, Francis No Brasil, o objetivo duplo do modernismo
Picabia (Fig.25) e Marcel Duchamp apropriam- pode ser sintetizado na busca pela atualiza-
se da temática da máquina. ção e pelo nacional. O sentido mais geral
Por sua vez, o Surrealismo busca liberar a das transformações da primeira metade do
imaginação que está atrás da racionalidade século XX aponta o rompimento com a norma
do ser humano, com seu esquema simbó- autoritária e unificadora da produção visual
lico hierarquizado e classificado, assim como que se impõe nos períodos anteriores. Assim,
sua ordem social. A imagem dos surrealistas o entendimento do objetivo da modernidade
vai ser tanto abstrata quanto figurativa. No passa pela pluralidade dos novos discursos.
primeiro caso ela trabalhará a questão do Podem ser apontados como antecedentes do
acaso e do inconsciente na criação artística, modernismo no Brasil os trabalhos dos artis-
explorando o desenho automático, o gesto e tas Lasar Segall e Anita Malfatti. As exposi-
o tratamento dado ao material utilizado, como ções de Segall em São Paulo e Campinas por
Joan Miró (Fig.26). Já a corrente figurativa volta de 1913 foram marcantes na adoção de
coloca para o olhar uma armadilha cujo funcio- uma nova visualidade pelo artista. Radicado
namento está justamente na evidência, como no Brasil desde 1923, o artista foi influenciado
nas pinturas de René Magritte (Fig.27). Aparen- pelo Cubismo Sintético de Georges Braque
temente, estamos dentro do espaço renascen- e Juan Gris, tendo mais tarde evoluído para
tista com suas perspectivas, seu claro-escuro. um certo Expressionismo (Fig. 30).
Mas, ao nele penetrarmos, constatamos ter
Pouco depois, em 1917, ocorre outro aconte-
sido surpreendidos em uma articulação cuja
cimento também significativo para a eclosão
lógica não se submete à razão.
da arte moderna no Brasil, a exposição de
A Action-painting refere-se a diferentes traba- Anita Malfatti (Fig. 31), artista que retornava
lhos de uma geração ou comunidade de artis- da Europa, onde estudou, e cujo trabalho
tas centrada em Nova York, dos anos 1940 até era de um Expressionismo mais fauve. A
Ao mesmo tempo, no final da segunda década do século XX, tinham formação con-
temporânea, paralelamente, John Graz, Antonio Gomide, Regina Gomide, Oswaldo
Goeldi (Fig. 32), todos procedentes da Suíça. Seria desses artistas, além de Vítor
Brecheret, aqui chegado após a guerra, de formação italiana, e Emiliano Di Caval-
canti (Fig. 33), que surgiria o núcleo que se desenvolveria em torno de Anita Malfatti
em dezembro de 1917, ao qual se juntaram também Oswald de Andrade, Mário de
Andrade e mais tarde Menotti del Picchia. Lado a lado com o movimento artístico,
tem lugar também um movimento literário, que sem ser propriamente novo, tem
traços modernistas. Foi nesse ambiente fértil, de contato entre artistas plásticos,
escritores e músicos, que surge a Semana de Arte Moderna, realizada entre 11 e
18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, com exposições de artes
plásticas, concertos, recitais poéticos e conferências.
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 59
sileiro foi influenciado pelo construtivismo russo, pelo Neo-Plasticismo holandês, pela
Bauhaus e por Max Bill, escultor suíço premiado na Bienal de 1951. Proliferou num
momento de otimismo econômico, de vivência democrática e do novo surto industrial
de São Paulo, culminando com a construção de Brasília. (Fig. 40).
Pelo que foi mostrado, percebe-se que como pontua Carlos Zílio:
5 Arte Contemporânea
Desde o Dadaísmo, a arte tem oscilado entre dois pólos: um deles valoriza a
arte racional, formalista, hermética enquanto o outro faz uma exploração da
emoção, traduzida em formas e cores espontâneas, sendo que as duas corren-
tes em alguns momentos se unem. A primeira metade dos anos 1960 assistiu
ao surgimento de movimentos como a Pop Art, a Pós-Abstração, a Op-Art e a
Arte Mínima, que tinham em comum uma fria sensibilidade racional oposta ao
emocionalismo da Action-painting.
O artista pop não re-cria, ele escolhe imagens que já foram processadas, como foto-
grafias impressas, como é o caso de Andy Warhol (Fig. 46) que explora imagens reci-
cladas, retiradas do mundo da cultura de massa e da propaganda. Assim, ele prefere
utilizar não um modelo vivo, mas a fotografia de uma pin-up tirada de uma revista, não
uma embalagem real, mas aquela vista em uma propaganda colorida. Esses artistas
se apropriam da cultura em substituição à natureza em seus trabalhos.
Já o Novo Realismo floresceu na Europa nos anos 1960, mesmo período em que
a Pop Art se desenvolvia nos EUA. Enquanto naquele país a Pop Art desenvolveu
uma atitude crítica contra a sociedade de consumo e tudo o que ela envolve, na
Europa, os artistas do Novo Realismo enfatizaram aspectos filosóficos, visando
despertar a sensibilidade do espectador para aspectos como espaço, tempo e
material, como o artista Yves Klein (Fig. 47).
A Arte Mínima (1965) surge como uma reação ao impasse a que tinha chegado a
pintura. Nela há uma exploração de aspectos esculturais e uma busca pela terceira
dimensão. Ao trabalhar com o espaço “real” os artistas minimalistas eliminam o
problema do ilusionismo. A Arte Mínima busca a qualidade do objeto de arte do
século XX com um conteúdo mínimo de arte. Suas características são: total abstra-
ção, ordem, simplicidade, clareza, fabricação industrial, alto grau de acabamento,
anti-ilusionismo. Há principalmente um retorno da forma à sua estrutura primária,
uma tendência redutiva tanto na escultura quanto na pintura, e procura-se chegar às
qualidades puras da cor, da forma, do espaço e dos materiais (Fig. 50). As origens
desse movimento remetem a Cézanne, ao Cubismo e ao Construtivismo.
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 61
5.3 Redefinição da arte: ultrapassando as
noções tradicionais de objeto de arte, a
morte das especificidades artísticas e seus
desdobramentos (Arte Conceitual, Body art,
Earth art, Happenings, Vídeo art, etc.)
Nos anos 1970 há uma reação ao Minimalismo, à estabilidade estrutural de suas obras,
através de uma busca pela impermanência, por formas variáveis e pela exploração
de matérias orgânicas na arte. Na chamada estética pós-mínima há uma tendência
a ultrapassar o objeto, e a arte conquista novos espaços. É decretada a morte da
pintura e a morte da modernidade.
Na Body Art, artistas voltam-se para seu próprio corpo como assunto e meio de
expressão, como Yoko Ono na obra Cut Piece (Fig.54). Suas ações são inevitavelmente
transitórias, sendo documentadas em forma de fotografias e vídeos.
Há na arte atual uma grande exploração da video art, na qual os artistas valendo-se
do aparato tecnológico do vídeo produzem obras que combinam essa mídia com
instalações envolvendo objetos ou até mesmo performances (Fig.56).
Sem dúvida, o campo da arte foi ampliado e há uma maior liberdade por parte do
artista para escolher como se expressar. Com a desmaterialização da arte, ocorrida
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 63
nas décadas anteriores, o objeto artístico não é mais imprescindível e, a partir dos
anos 1990, assiste-se a um foco maior nas linguagens individuais, em detrimento
dos grandes movimentos artísticos.
Nada mais é estanque e a interação entre as expressões artísticas está cada vez
se tornando mais complexa. A partir dos ready-mades de Duchamp, que rompem
com a concepção da arte direcionada para a valorização do produto artesanal e
decorativo, o que passa a ser discutido nas obras são questões relativas à natureza
e à função da arte no seu contexto. A questão da integração entre as diferentes
linguagens artísticas já podia ser vislumbrada nos happenings futuristas, dadaístas
e surrealistas, também numa tentativa de fundir arte e vida, além de estimular o
envolvimento do público.
Ao mesmo tempo, outra característica da arte atual é não impor tendências, o artista
tem também a opção de escolher um único meio e nele permanecer e se aprofundar.
O surgimento de novas tecnologias é outro fator que tem levado a uma dissolução de
limites rígidos entre as linguagens tradicionais e a uma maior aproximação entre arte
e vida. A arte tecnológica, assumindo uma relação mais direta com a vida através da
interatividade possibilitada pelo espaço nômade das redes, faz com que o espectador
possa participar virtualmente da obra de arte, até mesmo modificando-a. Tudo isso
provoca também uma alteração no conceito de “obra”. Com a arte tecnológica inte-
rativa, a participação do espectador leva ao fim as verdades acabadas, o imutável, o
linear. Na “cultura das redes”, as tecnologias a serviço da arte possibilitam a interação
dinâmica da experiência artística, com a proposta do diálogo, da colaboração entre
parceiros, e com o fim do autor único de uma obra.
Percebe-se atualmente uma retomada das idéias das vanguardas dos anos 1960,
acrescidas de todas as conquistas na arte das últimas décadas. Os fortes traços
conceituais nas obras de arte contemporânea, paralelamente ao uso cada vez maior
das novas tecnologias na arte (Fig.68), também são evidentes. E, ao mesmo tempo
em que há artistas fiéis às linguagens tradicionais como a pintura e a gravura, há Fig. 69
muitos outros que têm trabalhado dentro de um campo ampliado da arte, onde as Rosângela rennó
linguagens não são mais estanques e dialogam umas com as outras (Fig.69), num
movimento que aponta cada vez mais para a expansão dos limites da arte.
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 65
Lista de Figuras
1. Dürer. Cabeça de jovem. Desenho s/ papel. OSTROWER, Fayga. Universos da
arte. Rio de Janeiro: Campus, 1983. p.195.
4. Gustave Courbet. Bom dia Senhor Courbet, 1854. Óleo s/ tela, 129 x 149 cm.
Musée Fabre, Montpellier. www.latribunedelart.com
5. Honoré Daumier. Tiens, peuple, tiens, bom peuple, en veux tu, en voilà, sem
data. Litografia. Brandeis University Library. www.areditions.com
6. Édouard Manet. O piquenique na grama, 1863. Óleo s/ tela, 208 x 264 cm. Musée
d’Orsay, Paris. www.esec- josefa-obidos.rcts.pt
7. José Ferraz de Almeida Júnior. O violeiro, 1899. Óleo s/ tela – 141 x 172 cm.
Pinacoteca do Estado de São Paulo. www.overmundo.com.br
8. Edgar Degas. Ballet (L’Étoile), 1871. Pastel s/ papel, 58 x 42 cm. Musée d’Orsay,
Paris. www.pbs.org
9. Claude Monet. Ninfeas, sem data. Óleo s/ tela, 79 x 168 pol. National Gallery,
Londres. www.cs.nthu.edu.tw/~sheu/Monet.htm
10. Eliseu Visconti. Gioventù, 1898. Óleo s/ tela, 65 x 49 cm. M.N.B.A, Rio de
Janeiro.
11. Paul Cézanne. Fruteira e maçãs, 1879-82. Óleo s/ tela, 21.45 x 28.9 pol. www.
primeirodrt.blogspot.com
12. Paul Cèzanne. O Monte Santa Vitória, 1885-95. Óleo s/ tela. www.ninhodogaviao.
zip.net
13. Vincent Van Gogh. Auto-retrato, 1889. Óleo s/ tela, 51 x 45 cm. Coleção Niarchos.
www.kavorka.wordpress.com
14. Vincent Van Gogh. A noite estrelada, 1889. Óleo s/ tela, 29 x 36 pol. MOMA,
Nova York. www.arttoheartweb.com
15. Paul Gauguin. Arearea, 1892. Óleo s/ tela, 75 x 94 cm. Musée d’Orsay, Paris.
www.ibiblio.org
16. Georges Seurat. Um domingo à tarde na ilha de La Grande Jatte, 1884-86. Óleo
s/ tela, 205 x 305 cm. Art Institute of Chicago. www.ibiblio.org
18. Pablo Picasso. As senhoritas de Avignon, 1907. Óleo s/ tela, 244 x 233 cm.
MOMA, Nova York. www.moma.org
19. Giacomo Balla. Dinamismo de um cão em uma coleira, 1912. Óleo s/ tela, 35 x
43 pol. Albright-Knox Gallery, Buffalo. www.mat.ucsb.edu
21. Ernst Ludwig Kirchner. Cinco mulheres na rua, c. 1914. Óleo s/ tela. www.casoual.
worpress.com
22. Wassily Kandinsky. Esboço para a Composição VII, 1913. Óleo s/ tela, 78 x 100 cm. Col.
Felix Klee, Berna. www.es.easyart.com
23. Marcel Duchamp. Roda de bicicleta, 1913. Ready-made. Madeira e metal, 126 cm de
altura. www.docentes.uacj.mx
24. Marcel Duchamp. L.H.O.O.Q. (Mona Lisa de bigode), 1919. Ready-made. Lápis sobre
reprodução da Mona Lisa de Leonardo da Vinci, 20 x 13 cm. Col. particular, Paris. www.
docentes.uacj.mx
26. Joan Miró. Cifras e constelações amorosas de uma mulher, 1941. Óleo s/ tela. Cgfa.
sunsite.dk
27. René Magritte. Valores pessoais, 1952. Óleo s/ tela. 80 x 100 cm. www.casoual.com
28. Jackson Pollock. Lavender mist n.1, 1950. Óleo, esmalte, tinta aluminizada s/ tela, 86.5
x 119 pol. National Gallery of Art, Washington DC. www.harley.com
30. Lasar Segall. Pogrom. 1937. Óleo com areia s/ tela. 184 x 150 cm. Museu Lasar Segall/
IPHAN. São Paulo. www.iberecamargo.org.br
31. Anita Malfatti. A boba. 1917. Óleo s/ tela, 61 x 50,6 cm, col. MAC-USP. www.mac.usp.br
32. Oswaldo Goeldi. Céu vermelho. 1955. Xilogravura em cores, 22 x 29,5 cm. www.
mamam.art.br
33. Emiliano Di Cavalcanti. Cinco moças de Guaratinguetá. 1930. Óleo s/ tela, 92 x 70 cm,
col. MASP. www.guggenheim.org
35. Ismael Nery. Baía da Guanabara. Sem data. Aquarela e grafite s/ papel. www.frm.org.br
36. Cícero Dias. Sonho de prostituta. 1930. Aquarela, 55 x 50 cm, col. Gilberto Chateuabriand,
Rio de Janeiro. www.cicerodias.com.br
38. Alberto da Veiga Guignard. Paisagem imaginária. 1950. Óleo s/ madeira, 110 x 180 cm.
www.vitruvius.com.br
39. Alfredo Volpi. Bandeirinhas com mastro. Década de 1970. Têmpera s/ tela, 32 x 48 cm.
www.dhnet.org.br
40. Brasília. Palácio do Planalto. 1957. Projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. www.viajeros.
com
41. Waldemar Cordeiro. Movimento. 1951. Têmpera s/ tela, 90,2 x 95 cm, col. MAC-USP.
www.mac.usp.br
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 67
42. Amílcar de Castro. Sem título. Década de 1980. Ferro, 40 x 60 x 55 cm. (Foto
Roberto Chauri). www.comartevirtual.com.br
44. Tomie Ohtake. Vermelha. 1985. Acrílica e óleo s/ tela, 170 x 170 cm. www.
macvirtual.usp.br
46. Andy Warhol. 200 latas de sopa Campbell, 1962. Óleo s/ tela, 72 x 100 pol. Col.
Particular. www.albrightknox.org
47. Yves Klein. Anthropométrie sans titre (ANT 148), 1960. 104 x 68 cm. www.blog.
couleurs-eternite.com
50. Carl André. Equivalente III, 1978. Técnica mista, 5 x 27 x 90 pol. Tate Gallery,
Londres. www.tate.org.uk
53. Walter de Maria. The lightening field, 1971-77. Escultura na natureza, 1 milha x 1
quilômetro. Foto: Dia Art Foundation, Nova York. www.royalacademy.org.uk
56. Bill Viola. Vista da instalação Las Horas Invisibles. Museu de Belas Artes de
Granada, 2000-2005. www.expressarte.weblog.com.pt
63. Hélio Oiticica. Nilo da Mangueira com Parangolé. 1964. Capa de tecidos diversos.
www.arede.inf.br
67. Ana Horta. O Chafariz. 1986. Tinta acrílica sobre tela, 165 x 140 cm. www.arte-
brasileira1980.blogspot.com
68. Ana Tavares. Meddelburg Airport lounge com Parede Niemeyer. 2001. Aço inox,
vidro, couro, Madeira, animação 3D para DVD, fone de ouvido e áudio, 432 m2.
(De Vleeshal, Meddelburg, Holanda). www.comartevirtual.com.br
69. Rosângela Renó. Sem título (Little Balls), da Série Vermelha (Militares). 1996/2000.
Fotografia digital (processo lightjet) em papel Fujy Crystal Archive, laminada, 180
x 100 cm. www.comartevirtual.com.br
REFERÊNCIAS
ARCHER, Michael. Arte Contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins
Fontes, 2001 (Coleção a).
RIBEIRO, Marília Andrés. Neovanguardas: Belo Horizonte, anos 60. BH: Editora
C/Arte, 1997.
ZANINI, Walter (org.). História Geral da Arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther
Moreira Salles, 1983. 2 v.
Maria do Carmo Freitas Veneroso Crítica das Artes Visuais Moderna e Contemporânea 69
70
Pesquisa em/
2 Processos de leitura
3 Leitura crítica
Art. 10º - A tese de doutorado deverá ser elaborada com base em investigação ori-
ginal devendo representar trabalho de real contribuição para o tema escolhido.
O grau genérico dessas formulações, quando ainda não existia nenhum curso
de mestrado ou doutorado em artes no país – 1965 – deixa descoberta a área de
produção em arte: caso contrário, toda pesquisa em poética deveria ser direcio-
nada imediatamente ao doutorado devido ao caráter original do processo criativo.
O grau de relevância da pesquisa em Arte não é medida pelos avanços técnicos;
será mensurável, quem sabe, pela capacidade de reflexão.
2 PROCESSOS DE LEITURA
2.1. O MEIO
Por onde começar? Muito simplesmente pelo meio. É no meio que convém
fazer a entrada em um assunto. De onde partir? Do meio de uma prática, de
uma vida, de um saber, de uma ignorância. Do meio desta ignorância que é
bom buscar no âmago do que se crê saber melhor. (LANCRI, 2002, p.18)
Começar pelo meio é partir do princípio de que já se está preparado para desenvolver
uma pesquisa com base em experiências e inquietações próprias. Dentre as áreas de
conhecimento acadêmico/científico, o campo que abarca os saberes em Arte – Teoria
Crítica e Histórica, Produção em Poética e Ensino em/sobre Artes Visuais – esbarra em
um problema epistemológico (da teoria do conhecimento) importante: como tratar o
processo criativo enquanto um processo cognitivo? Jean Lancri afirma:
um pesquisador em artes plásticas, com efeito, opera sempre, por assim dizer,
entre o conceitual e o sensível, entre teoria e prática, entre razão e sonho. Mas
que a palavra entre, aqui, não nos iluda, pois para nosso pesquisador, se trata
de operar no constante vaivém entre esses diferentes registros. (2002, p:19)
Antes de tudo, mesmo que o projeto parta de uma singularidade – a escolha individual –
nenhuma produção é alheia ao meio social e hermeticamente fechada em si própria.
Para material em novas mídias, como fitas magnéticas, CD-Rom etc., as informações
podem vir impressas na capa ou invólucro externo.
5 NUMERO DA EDIÇÃO: O número abreviado da edição vem logo após o título (não
é número ordinal), entre dois pontos finais.
Cada caso é um caso, portanto recomenda-se que todo aluno tenha disponível um
manual atualizado para consulta (as regras da ABNT relacionadas às normatizações
de publicação têm mudado muito ultimamente em função das adequações da pro-
dução científica nacional ao cenário internacional). EX:
Para o recurso das citações, é necessário dar destaque que possibilite diferenciar o
texto próprio do texto de outro autor que pode ser citado:
Até cinco linhas, a citação literal pode manter-se no próprio parágrafo, como conti-
nuidade do texto autoral, destacando a sentença por meio do itálico ou de aspas.
O uso das aspas delimita a citação direta. Caso o texto citado já contenha sinal de
pontuação encerrando a frase, as aspas finais são colocadas após este sinal; caso
contrário, as aspas delimitam o final da citação (UFRP, 2000, V.7: p.2). Recomenda-se
a pontuação final após o uso do modelo autor-data-página para a referência escrita
entre parênteses logo após a citação.
O ponto final vem ao final, após o fechamento da referência, para não prejudicar
a continuação eventual do parágrafo e manter a lógica seqüencial de atribuição
das idéias. Não deixe de destacar, por meio de grafia distinta, textos pessoais
dos textos de outros autores.
A citação com mais de cinco linhas ou citação longa é transcrita em parágrafo distinto.
Inicia-se com configuração de margem em recuo de 4cm, sem tabulação ou deslo-
camento na primeira linha e com finalização na margem direita. O entrelinhamento
No caso de leitura de outras obras, deve-se efetuar uma leitura sistemática. Entende-
se por “leitura sistemática” uma leitura subsidiada por outros textos, que auxilie no
processo de interpretação de seu significado.
O Resumo é a base de uma Resenha, e por essa razão ambas as estruturas estão
fundamentadas na construção lógica, na concisão das idéias, na abordagem das
questões significativas e no desenvolvimento de um texto pautado pela clareza
das proposições. Cabe ressaltar que o estilo do discurso é individual, mas pode
atentar para essas orientações básicas.
MÉTODOS DE PESQUISA
O conceito teórico-metódológico de uma pesquisa distingue-se do método definido
para a realização da pesquisa: o primeiro compreende os fundamentos teóricos que sub-
sidiam a escolha dos procedimentos (as bases epistemológicas), e o segundo trata das
ferramentas específicas definidas para alcançar os objetivos (gerais ou específicos).
Para a pesquisa em/sobre Ensino de Artes Visuais, a metodologia pode ser direcio-
nada por meio de alguns parâmetros ou modelos de investigação.
Estas relações tão caras às pesquisas sobre o Ensino de Artes Visuais também
são indispensáveis às investigações em Ensino de Artes Visuais.
REGISTRO
Ao longo das discussões levantadas, vários tópicos foram abordados com o intuito
de dar sustentação às relações de pesquisa em/sobre Ensino de Artes Visuais:
5 ESTRUTURA DO PROJETO
E DA MONOGRAFIA
A monografia é uma das primeiras experiências de relato científico e, portanto,
constitui-se numa preparação metodológica para futuros trabalhos de investiga-
ção. Para uma especialização – pós-graduação lato sensu – o tema selecionado
pode ser um desdobramento de pesquisas da graduação – iniciação cientifica
ou TCC – e poderá ser ampliado como objeto para dissertações de mestrados e
teses de doutorado para cursos ao nível stricto sensu. A NBR-14724 da ABNT
é a que define a nomenclatura para a monografia para cursos de especialização
ou aperfeiçoamento. Para efeito de classificação:
Monografia é a exposição exaustiva de um problema ou assunto específico,
investigado cientificamente. O trabalho de pesquisa pode ser denominado
monografia quando é apresentado como requisito parcial para a obtenção de
título de especialista, ou pode ser denominado trabalho de conclusão de curso,
quando é apresentado como requisito parcial para a conclusão de curso. A
monografia pode ser defendida em público ou não. A monografia publicamente
comunicada em congressos, encontros, simpósios, academias, sociedades
científicas, segundo normas estipuladas pela coordenação dessas reuniões e/
ou entidades, é denominada memória. (UFP, 2001, 2: p.2)
A proposta será utilizada pelo aluno como parâmetro para a elaboração do exercício
desta aula: a confecção do projeto de pesquisa. Inclusa nesse texto encontra-se
uma proposta de estruturação de monografia que o aluno deverá utilizar ao longo
da preparação de seu ensaio monográfico.
• Abra uma pasta resumos e salve o documento de maneira que você o localize
pelo nome (o nome do autor ou o tema é uma boa dica).
• Abra pastas específicas para textos colhidos na internet e salve com a identificação
da data de acesso.
• Sempre identifique o texto lido e faça seu enunciado conforme indicação da ABNT.
DERDYK, Edith. Linha de horizonte: por uma poética do ato criador. São Paulo:
Escuta, 2001.
SALOMON, Décio Vieira. Como fazer uma monografia. 6. ed. Belo Horizonte: Inter-
livros, 1978.
ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em arte: um paralelo entre ciência e arte. 3ª ed. Cam-
pinas: Autores Associados, 2006 (Coleção Polêmica do Nosso Tempo, 59).
90
Yacy-ara Froner Como se faz um projeto de pesquisa 91