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All content following this page was uploaded by Jaqueline Gomes de Jesus on 22 May 2014.
RESUMO
1
Doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações. Universidade de Brasília – UnB.
E-mail: jaquelinejesus@unb.br / Site: http://lattes.cnpq.br/0121194567584126
2
Trecho da música “Teco-Teco”, composição de Pereira da Costa e Milton Vilela, conhecida na
voz de Gal Costa.
3
GALINKIN, 2003.
1
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
15 a 17 de Maio de 2013
Universidade do Estado da Bahia – Campus I
Salvador - BA
Nós nos tornarmos alguém porque nos vemos dessa ou de outra forma, em um
contexto de semelhanças e dessemelhanças constituído por nossas relações sociais4.
A identidade das pessoas pode tanto ser pessoal quanto social, enquanto “parte
do autoconceito dos indivíduos que deriva do seu conhecimento de pertencimento a um
grupo social, associado à significância emocional desse pertencimento”5.
A diversidade humana não pode ser vista apenas como uma variável, um
mosaico composto por identidades estanques e independentes. As múltiplas dimensões
de nossa diversidade são estruturantes de nossa identidade como seres humanos: sem
diversidade não há identidade6. A diversidade humana é:
o conjunto de relações interpessoais e intergrupais explícitas ou
implícitas, em um determinado sistema social, que são
intermediadas pela relação entre as identidades sociais e a
dominância social presentes nesse sistema7.
4
ALLPORT, 1937; ROTTER, 1993; BANDURA, 1994.
5
TAJFEL, 1982, p. 24.
6
ALLPORT, 1954.
7
JESUS, 2013, p. 224.
8
HALBWACHS, 1990.
9
THOMPSON, 1992.
10
FLICK, 2009.
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Universidade do Estado da Bahia – Campus I
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11
JESUS, 2012.
12
KENNEDY, 2010, p. 22.
13
KENNEDY, 2010, P. 22.
14
KENNEDY, 2008.
15
GIBBS, 1993; CRESSWELL, 2007.
16
FRAGOSO, RECUERO & AMARAL, 2012.
17
Pessoas que reivindicam o reconhecimento social e legal como homens.
18
Pessoas que reivindicam o reconhecimento social e legal como mulheres.
19
Pessoa que se veste, usa acessórios e/ou se maquia diferentemente do que é socialmente
estabelecido para o seu gênero, sem se identificar como travesti ou transexual.
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15 a 17 de Maio de 2013
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Metodologia
Instrumento e procedimentos
Sujeitos
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STAKE, 2011, p. 189.
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Resultados
Com relação à lembrança de quantos anos tinham quando, pela primeira vez,
teriam sentido que a sua identidade de gênero estava em desacordo com a designada
socialmente, configurando-se assim a idade da epifania, os respondentes indicaram uma
idade média entre 6 e 7 anos (média igual a 6,75), com moda (valor mais frequente) de
5 anos, idade mínima de 4 e máxima de 12 (Tabela 1).
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7 Tive uma convivência muito grande com meninos, na rua onde vivi,
todas as crianças da minha faixa etária, eram meninos. Isso facilitou
muito para que eu tivesse uma sociabilização com o mundo masculino,
o que me resultava bem mais natural, que o feminino.
8 Nossa, ainda pequeninha, acompanhava as chamadas da “Globeleza” na
Rede Globo, onde enfiava a cueca como se fosse uma calcinha e
colocava os saltos de minha mãe, ahhh, e ainda usava o lençol como
cabelo, sempre brinquei com bonecas da minha irmã, gostava de coisas
cor-de-rosa, e admirava os meninos, nunca até hoje quis saber de
menina!
9 Eu comecei a contar histórias para minha família que sempre
começavam com a frase “no tempo que eu era garoto...”. Da mesma
forma, comecei a me identificar cada vez mais com brinquedos
considerados masculinos e a sonhar em viver as mesmas coisas que
meus primos (garotos) viviam naquela época e a sonhar com um futuro
em que me tornasse um homem.
10 No momento em que eu percebi, foi na escola.
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Discussão
As breves histórias que foram contadas cumprem um papel: dar forma à epifania
da autodescoberta como pessoa trans; e apesar de virem de gente com vidas
independentes, elas se entrelaçam como subtramas, apresentam argumentos que se
encaixam mutuamente.
Uma leitura das narrativas sobre as memórias da infância como crianças trans, e
de alguns de seus fragmentos, aponta para experiências comuns da vivência da
transgeneridade entre os diferentes sujeitos, com aspectos negativos, como o sentimento
do “estranho”, remetendo a uma internalização, pelas crianças, do discurso binarista de
gênero que busca controlar e evitar que os limites atribuídos aos sexos biológicos sejam
rompidos, e que sua falibilidade seja evidenciada.
Aqui não é possível deixar de notar que funcionam os mesmos mecanismos da
performatividade, apontados por Butler (2003), que incorrem para as pessoas não-trans,
ou cisgênero: o gênero, como algo que é performado, “feito”, mais do que apenas
“sido”, precisa ser reiterado, para que a identidade não caia no campo da dúvida sobre a
fixidez dos gêneros.
Desse modo, identifica-se nos relatos que, apesar de, mais velhos, os
respondentes verem sua infância como ingênua ou inocente (tal qual as demais
infâncias), eles reiteram que as crianças trans reconhecem, desde a mais tenra idade, que
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enfrentam intensas ameaças e pressões sociais para que não performem o gênero da
forma que lhes soa mais “natural”, outro termo frequente nas falas.
Por outro lado, também se identifica a existência de sentimentos de satisfação e
realização decorrente de pequenos instantes de auto-reconhecimento quando crianças,
num toque que traz uma leitura afetiva ou no uso de uma vestimenta, os quais se
refletem no jovem e no adulto que deles se lembra.
A aparência é um aspecto fundamental de toda essa discussão, e se evidencia nos
relatos. Ela, como marcador físico de gênero, é considerada muito importante no
discurso das pessoas trans, que desde muito jovens são levadas, mais do que pessoas
que não são trans, a perceberem os paradoxos entre suas vivências e as noções
prevalecentes de masculinidade, feminilidade, masculino e feminino21.
Nesse sentido, questões de gênero se evidenciam: se para as mulheres
transexuais, as travestis e o crossdresser (que vivenciam feminilidade em diferentes
níveis, tanto quantitativos quanto qualitativos) a aparência se torna um elemento central
na constituição da própria identidade, remetendo à constatação de Sant’Anna (1995)
sobre embelezamento como prática historicamente associada à feminilização; já para os
homens transexuais pesam mais as questões relacionais, a convivência com outros
homens, a projeção da possibilidade de uma vivência masculina.
Também está presente, em algumas falas, a estereotipia de uma relação direta
entre gênero (ser mulher) e orientação sexual (ser heterossexual) que parece repetir
discursos normativos que visam controlar a transgeneridade, principalmente a
transexualidade, dentro de moldes heteronormativos que tentam negar a possibilidade
de vivências sexuais homoafetivas ou biafetivas para aquelas pessoas trans cujos afetos
as orientem para essas sexualidades.
Considerações finais
Este estudo, parte de uma pesquisa mais ampla sobre memórias sobre a infância
de pessoas trans, foi orientado por breves narrativas sobre momentos no tempo, que
apesar de contribuírem pouco para o entendimento da experiência da transgeneridade na
21
LEWINS, 1995.
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Referências bibliográficas
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Bento, 2006.
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