PATRIMÔNIO INDUSTRIAL: UMA

POSSIBILIDADE DE TURISMO CULTURAL

Vania B.M. Herédia

A cidade industrial carrega consigo um passado de acontecimentos
históricos que a transformou naquilo que a constituiu e lhe deu nome. O
patrimônio industrial de uma localidade pode ser prova dessa caminhada
quando, evidencia de forma objetiva, as diversas conjunturas econômicas e
políticas que superou, e as formas que produziu para sua reprodução.

A história da cidade de Caxias do Sul é exemplo rico desse processo que se

fez pela sua vocação industrial, marcada por uma sociedade que
transformou seu território num dos espaços reconhecidos do país como
polo econômico.

O estudo traz como referência a história de algumas indústrias que foram

marco na economia do estado do Rio Grande do Sul e que colaboraram para
o seu desenvolvimento, cujo patrimônio possibilita visualizar a ação da
cultura e seu valor material e imaterial.
• O estudo utiliza como referências teóricas as obras de Beatriz Kühl (2008),
Giovanni Luigi Fontana (1985), Canclini ( ), Massimo Negri (1978),
documentos do IPHAN, estudos da cidade de Machado (2001), Herédia
(1997), Bergamaschi (2005) e Herédia& Peruzzo (1998).
• O estudo utiliza o método descritivo e traz para a discussão as principais
indústrias que se destacaram na história econômica e representam um
patrimônio industrial da cidade que se caracterizou historicamente pela sua
indústria. O estudo contextualiza a formação dessas indústrias, selecionando
alguns setores que foram relevantes no processo de industrialização da região.
• O estudo tem como referência Caxias do Sul pelo patrimônio industrial que a
cidade abriga. O estudo traz a história de algumas indústrias que foram marco
na economia do estado do Rio Grande do Sul e que colaboraram para o seu
desenvolvimento, cujo patrimônio possibilita visualizar a ação da cultura e seu
valor material e imaterial.
• Os estudos de patrimônio por serem carregados de memória e de história. São
tentativas de deixar viva uma história que carrega traços identitários, de longa data
e que não se restringem apenas a história do tempo presente. São marcas da
cultura que permaneceram presentes no patrimônio e que falam sobre feitos do
passado e de seus desdobramentos.
• O patrimônio industrial expressa a força de uma memória coletiva que foi
construída pelo trabalho de muitos e que permaneceu em suas lembranças não
querendo ser esquecida, nem apagada. Uma memória que se tornou um
sentimento de identidade por aqueles que vivenciaram a construção da fábrica e
por aqueles que a rememoram através das lembranças de seus antecessores.
• A discussão sobre “arqueologia industrial” ocorre quando muitos edifícios
industriais são destruídos e as localidades onde estão instalados perdem suas
identidades. A preservação do patrimônio industrial pode oferecer à sociedade a
história de um bem cultural do passado onde seja possível descrever como se dava
os processos de produção, inseridos na cidade.
• Patrimônio Industrial é definido como “aqueles restos de cultura industrial que
possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico”. (Carta de
Nizhny Tagil, 2003, TICCIH). Compreende não apenas os vestígios da cultura
industrial mas também os locais onde as atividades sociais aconteciam
relacionadas com as atividades fora da fábrica mas vinculada a ela.
• A vocação artesanal do imigrante italiano se fez presente, como bem demonstra o
surgimento das fábricas e oficinas que se especializaram na produção do vinho, no
trabalho da madeira, na conservação de alguns alimentos e no desenvolvimento
da fundição.
• O processo de industrialização nessa zona não surgiu apenas como processo de
substituição às importações. Os primeiros setores a se desenvolver foram a
indústria alimentícia (os moinhos, as cantinas) e a indústria extrativa (madeira). A
partir das necessidades de aperfeiçoar a produção agrícola, foram produzindo
artefatos manufaturados que abasteceram o mercado local, o mercado das
colônias, o regional e mais tarde o nacional.
• A partir de 1930, as principais indústrias eram a têxtil, a metalúrgica, a de
madeiras e a de alimentos. Excluindo a indústria de couro, a têxtil e a indústria
metalúrgica, que compreendia oficinas mecânicas, funilarias, ferrarias, máquinas
agrárias, telas de arame, balanças e as próprias fábricas metalúrgicas; as demais
estavam voltadas ao beneficiamento de produtos agrícolas.
• Quanto às indústrias rurais e extrativas, no município produziam aguardente,
álcool, banha, cera de abelhas, leite, mel, manteiga, ovos, pão, queijo, salame,
toucinho, vinagre, vinho, farinha de milho, de trigo e centeio.
• Na década de quarenta do séculopassado, ocorreu uma série de transformações
na composição industrial de Caxias do Sul. Junto às indústrias de perfil
tradicional, começaram a aparecer indústrias mais dinâmicas, que se
fortaleceram a partir dos anos de 1960-1970. O setor de bens intermediários
(metalurgia e siderurgia) foi um dos setores que se desenvolveu durante o
Estado Novo de Vargas.
• Em 1975, Caxias já apresentava um definido parque industrial, onde
predominavam as indústrias metal-mecânicas, com a fabricação especialmente
de implementos agrícolas, de transporte, motores e produtos metalúrgicos e
autopeças.
• Enfim, as indústrias que se destacaram no desenrolar da história econômica de
Caxias foram a indústria vinícola, a têxtil, a metalúrgica, a mecânica, a de
alimentos, a extrativa-manufatureira, a de couros e a moageira, sendo um dos
traços desse parque industrial a sua diversificação.
• Dois estudos de caso:
1) destaca-se a indústria metalúrgica que teve início com as oficinas de
funilaria e, em menos de trinta anos do início da colonização, despontava
como marco econômico do município e da região. A fundição e a indústria de
metal começaram “com a oficina de latoeiro de Amadeo Rossi que fabricava
artigos de montaria, caldeiras alambique”. A continuidade dessa atividade é
feita por Abramo Eberle em 1896, que transformara a pequena funilaria em
um complexo Industrial caracterizado pela diversidade de produção. No início
desta atividade econômica desenvolvida por Abramo Eberle, o seu
crescimento é decorrente da “capacidade da empresa de aliar as atividades
da funilaria com o comércio” que permitiram a esse grande industrial entrar
no mercado nacional. Eberle, Rossi, Gazola foram nomes de expressão na
história da metalurgia caxiense e refletem o exemplo de trabalho, poupança,
empreendimento e domínio de ofíc Esboço histórico da colonização. Álbum
comemorativo do 75º aniversário da colonização italiana. Op. cit. p. 155.
Indústria de Trilhadeiras De Antoni.Coleção Arquivo Histórico Municipal. Acervo: Arquivo
Histórico Municipal João Spadari Adami.
Indústria de Trilhadeiras De Antoni.Coleção Arquivo Histórico Municipal. Acervo: Arquivo Histórico Municipal
João Spadari Adami.
• A indústria do vinho foi por muitos anos a principal atividade industrial de toda a
zona colonial. Com o surgimento das cooperativas vinícolas, a produção do vinho
teve condições de enfrentar o mercado regional e solidificar o mercado nacional.
Apesar das dificuldades enfrentadas pela distribuição, circulação do produto,
transporte e pela sua comercialização, de forma generalizada no centro do País,
devido à falsificação do produto, o vinho sempre ocupou uma posição de destaque
na economia de Caxias do Sul e do Rio Grande do Sul.
• Esta atividade teve início como indústria doméstica, desenvolvida nas cantinas
onde o processo de elaboração era feito manual e a “pigiatura” da uva era feita
com os pés.
• O processo de modernização foi ocorrendo lentamente com a fundação de
estabelecimentos vinícolas. As grandes cantinas assumiram maiores proporções
pelos investimentos feitos em maquinários modernos que conduziram a um
elevado grau de tecnificação.
Fonte: Cantina Antunes. Caxias do Sul, s/data. Fotógrafo: Studio Geremia. Coleção Arquivo Histórico Municipal. Acervo: Arquivo
Histórico Municipal João Spadari Adami.
Fonte: Cantina Antunes. Caxias do Sul, s/data. Fotógrafo: Studio Geremia. Coleção Arquivo Histórico Municipal. Acervo: Arquivo
Histórico Municipal João Spadari Adami.
Fonte: Cantina Antunes. Caxias do Sul, s/data. Fotógrafo: Studio Geremia. Coleção
Arquivo Histórico Municipal. Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Fonte: Cantina Antunes. Caxias do Sul, s/data. Fotógrafo: Studio Geremia. Coleção Arquivo Histórico Municipal.
Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Fonte: Cantina Antunes. Caxias do Sul, s/data. Fotógrafo: Studio Geremia. Coleção Arquivo Histórico Municipal. Acervo: Arquivo
Histórico Municipal João Spadari Adami.
Fonte: Vinícola Mosele. Caxias do Sul, s/data. Fotógrafo: Studio Geremia. Coleção Arquivo Histórico Municipal.
Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Fonte: Demolição do prédio da Vinícola Mosele. Caxias do Sul, 1982. Fotógrafo: Liliana Alberti Henrichs. Coleção
Arquivo Histórico Municipal. Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Fonte: Vinícola Mosele. Caxias do Sul, s/data. Fotógrafo: Studio Geremia. Coleção Arquivo Histórico Municipal.
Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
A identificação das indústrias que marcaram a história da cidade e de como se
inseriram no mercado, mostra a riqueza do local e o seu potencial de transformação e
contribui para o entendimento da cultura. O patrimônio construído reflete a
importância do conhecimento da história para o desenvolvimento do turismo cultural
enquanto destino turístico.

Uma cidade sem seus velhos edifícios é como

um homem sem memória”.
(Smigielski)
Referências

Canclíni, Nestor. Imaginários Urbanos,

Carta de Nizhny Tagil sobre o patrimônio industrial, TICCIH, 2003.

Disponível em: www.ticcih.org. Acesso em 13 de setembro de 2018.

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo, Unesp; Estação Liberdade, 2001.

HERÉDIA, Vania B.M. O Processo de Industrialização na zona colonial italiana. Caxias do Sul:
Educs, 1997.

INSTITUTO ANDALUZ DEL PATRIMONIO HISTORICO.CONSEJERIA DE CULTURA Y DEPORTE.

Junta de Andaluzia. Qué es patrimonio industrial. p.2. In:
http://www.iaph.es/export/sites/default/galerias/patrimonio-cultural/documentos/gestion-
informacion/Que_es_patrimonio_industrial.pdf