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Governo Thatcher

Em 1979, Margaret Thatcher torna-se primeira ministra, com o objetivo de quebrar o


consenso pós-guerra entre Conservadores e Trabalhistas. Sua estratégia foi, segundo Mouffe,
claramente populista: ela desenhou uma fronteira política entre, de um lado, as forças do
establishment – o Estado inchado, o funcionalismo, etc.; os sindicatos; aqueles que se
beneficiavam de ajuda estatal -; de outro, as pessoas “trabalhadoras” que eram vítimas das
forças burocráticas que impediam seu sucesso.

Seu principal alvo foi os sindicatos. A greve dos mineiros de 1984-85 foi um ponto de
virada nesta trajetória. A vitória do governo permitiu a imposição de seu programa econômico
neoliberal quase sem resistência. Mouffe chamou este momento de “revolução neoliberal”
(MOUFFE, 2018, s/p). O uso do termo revolução é péssimo.

Stuart Hall chama de “populismo autoritário” e nota que se trata de uma combinação
inusitada: de um lado, os velhos temas conservadores (família, dever, autoridade, padrões,
tradicionalismo); de outro, a agenda agressiva do neoliberalismo: auto-interesse,
individualismo competitivo e anti-estatismo. [MAIS PRÓXIMO DE BOLSONARO]

Amplos setores foram seduzidos pela retórica thatcheriana, que prometia libertá-los da
opressão estatal e garantir sua liberdade individual (MOUFFE, 2018, s/p). A forma burocrática
de implementação do Estado de Bem-Estar Social – ou seja, de cima para baixo, sem
participação popular, de uma forma técnica, etc. – permitiu que o discurso thatcherista ressoasse
e ganhasse amplitude nas massas. Além disso, a dama de ferro conseguiu ganhar a simpatia de
alguns setores da classe trabalhadora ao opor seus interesses à vinda de imigrantes que foram
apresentados como aqueles responsáveis pelo desemprego (MOUFFE, 2018, s/p).

“Por eso en mi último libro le doy tanta importancia a Margaret Thatcher, porque su
ejemplo muestra claramente cómo se puede transformar profundamente en el plano de la
hegemonía el sentido común, sin poner en cuestión la base de las instituciones liberal-
democráticas. Con Thatcher hubo una transformación hegemónica que rompió el modelo
socialdemócrata y el Estado keynesiano. El neoliberalismo es una ruptura que no acaba con las
instituciones pluralistas del Estado. Para la izquierda, se trata de operar, como Thatcher lo hizo,
una ruptura hegemónica, pero en la dirección opuesta. Eso es lo que llamo reformismo radical:
sin poner en cuestión las instituciones propias del régimen democrático, hay que operar una
transición hegemónica. Eso es lo que cierta izquierda radical no acepta: según su lógica, o bien
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se mantiene el Estado y no cambia nada o bien se lo derriba por completo. Hay que entender
que el Estado es una cristalización de relaciones de fuerzas” (MOUFFE, 2019).

Queda do Muro e anos 1990

Outra fase desta transição tem início em 1989, com a queda do Muro de Berlim. Duplo
consenso que se estende pelas décadas de 90, 00 e 2010 a respeito da organização das
sociedades ocidentais: os líderes políticos deveriam ser eleitos (“regime liberal-pluralista”?) e
as economias deveriam ser administradas segundo as regras de Friedman. Trata-se do “fim da
história”, o “ponto final de uma evolução ideológica da humanidade” (FUKUYAMA, 1989).
O consenso de Washington se difunde.

A capitulação neoliberal foi apresentada como uma “terceira via”, além da esquerda e
da direita, a concepção mais avançada de “política progressiva” (progressive politics)
(MOUFFE, 2018, s/p).

O consenso no centro parecia não precisar mais de uma divisão “nós” e “eles” e o novo
modelo político parecia prescindir do antagonismo. Temos a transformação da
socialdemocracia em social-liberalismo (MOUFFE, 2018, s/p).

É o reinado da pós-política: a consolidação da hegemonia neoliberal na Europa


ocidental. De acordo com Mouffe, a consolidação da hegemonia neoliberal se deu pela
incorporação de diversos temas da contra-cultura [neoliberalismo progressista? Texto Fraser].
Neoliberalismo em resposta a maio de 1968. Cf. BOLTANSKY; CHIAPELLO, 2005. Ideia de
um “novo espírito do capitalismo” faz mais sentido do que algo qualitativamente distinto.
Poder-se-ia complementar “novo espírito do capitalismo-modernidade”, ou da “modernidade-
capitalista”.

Deste modo, Thatcher foi bem-sucedida em consolidar um bloco histórico neoliberal,


que modificou profundamente a configuração econômica, social, cultural, ideológica e política
da sociedade britânica e que teve, de certo modo, uma ressonância em todo o Ocidente. A visão
neoliberal foi tão profundamente enraizada no senso comum que, quando o Partido Trabalhista
voltou ao poder, em 1997, com Tony Blair, ele nem tentou desafiar a hegemonia neoliberal
(MOUFFE, 2018, s/p).

A pós-política: a negação de qualquer fronteira na política. Desde que Tony Blair


ressignificou a socialdemocracia como terceira via, abandonou-se a ideia de que era preciso
enfrentar o neoliberalismo. Com isso, generalizou-se a tese propalada por Thatcher segundo a
qual não haveria alternativas (TINA) a este modelo e que era preciso aceitá-lo e implementá-lo
o quanto antes. No máximo, considerava-se que os socialdemocratas poderiam manejar a
economia de forma mais humana, com um pouco de redistribuição. A esquerda não considerava
que deveria oferecer uma estratégia de ruptura contra o neoliberalismo. Essa situação dura até
os anos 2011 e 2012 (MOUFFE, 2019).

Como apontou Hall, o discurso trabalhista passou a integrar todas as figuras discursivas
do Tatcherismo:

The ‘taxpayer’ (hard-working man, over-taxed to fund the welfare ‘scrounger’) and
the ‘customer’ (fortunate housewife, ‘free’ to exercise limited choice in the
marketplace, for whom the ‘choice agenda’ and personalized delivery were
specifically designed). No-one ever thinks either could also be a citizen who needs or
relies on public services. (HALL, 2015, p. 25)

Transição do fordismo para o pós-fordismo. De acordo com Mouffe (2013; 2018), teria
sido o que em termos gramscianos é designado por “revolução passiva”.

O filósofo favorito de Thatcher era Friedrich Hayek, que insistia que a “verdadeira”
natureza do liberalismo era buscar reduzir ao máximo o poder do Estado, minimizando sua
influência no mercado e permitindo, com isso, maximizar seu objetivo político central: a
liberdade individual. Outro movimento embasado na filosofia hayekiana foi o de ressignificar
a ideia de democracia, subordinando-a à de liberdade. Democracia era, para ele, uma noção
secundária, que deveria estar ligada à ideia de liberdade individual. A defesa da liberdade
econômica e da propriedade privada substituem a defesa da igualdade como o valor privilegiado
por uma sociedade liberal. Hayek opunha liberdade (individual) à democracia e dizia que esta
deveria, em último caso, ser abolida, a fim de preservar aquela. (cf. Hayek, 1944; 1960).

Momento populista

Crise da formação hegemônica neoliberal e a possibilidade de construção de uma ordem


mais democrática, a partir da esquerda.

Qual a natureza das transformações dos últimos trinta anos? Quais suas consequências
para a política democrática?

Incapacidade por parte da “esquerda tradicional” de compreender os novos movimentos


surgidos a partir de 1968, que pautaram suas lutas não em termos de classe, mas de gênero
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(segunda onda do feminismo), de sexualidade (o movimento queer), de raça (as lutas anti-
racistas) e de ecologia (ecossocialismo?) (MOUFFE, 2018, s/p).

Tais questões motivaram a redação da brochura Hegemony and Socialist Strategy:


Towards a Radical Democratic Politics, por Chantal Mouffe e Ernesto Laclau, publicada em
1985.

O problema da perspectiva tradicional seria um “essencialismo de classe”, segundo o


qual a identidade política e os interesses dos agentes seriam definidos por sua posição nas
relações de produção (MOUFFE, 2018, s/p).

Proposta de redefinir o projeto socialista em termos de uma “radicalização da


democracia” (MOUFFE, 2018, s/p).

“Lo que tengo en común con Bobbio es la insistencia en la necesidad de unir el


socialismo –aunque tal vez no utilizaría ese término, sino «proceso de radicalización de la
democracia»– y el respeto a las instituciones del liberalismo político. Desde el principio, hubo
unos malentendidos sobre la posición expresada con Laclau en Hegemonía y estrategia
socialista, porque algunos pensaron que para lograr la democracia radical hay que romper con
la democracia liberal-pluralista. Nosotros abogábamos por una radicalización de las
instituciones democrático-liberales, pero en ningún momento hablamos de romper con ellas.
Nunca se trató de poner en cuestión el liberalismo político. El socialismo liberal, que defendía
Bobbio, iba por ahí: el socialismo, decía, solamente puede existir articulado al liberalismo
político. Eso corresponde a lo que llamo «reformismo radical». Respecto de la compatibilidad
con el populismo, si uno concibe el populismo como una estrategia de construcción de la
frontera política y no como un régimen, se puede entender por qué es necesario, en ciertas
coyunturas, adoptar una estrategia populista para poder operar una ruptura hegemónica que
permita recuperar y profundizar la democracia” (MOUFFE, 2019).

Trata-se de estabelecer uma “cadeia de equivalentes” capaz de articular as demandas da


classe trabalhadora àquelas dos novos movimentos, para construir um “desejo comum”
(common will) que pudesse criar uma “hegemonia expansiva” (expansive hegemony). Mas qual
o conteúdo do projeto de radicalização da democracia?

Classe trabalhadora x novos movimentos? Mas os novos movimentos são compostos


por quem? Eles confundem a “classe trabalhadora” com os órgãos que supostamente a
representam (partidos e sindicatos da esquerda tradicional). Ou então limitam a noção de
“classe trabalhadora” ao trabalhador branco, operário de fábrica, sindicalizado e com uma vida
relativamente confortável. Proletariado x precariado?

Os autores sublinham a necessidade de uma política de esquerda que articule as lutas


sobre as diferentes formas de subordinação, sem atribuir, a priori, centralidade a alguma delas
(MOUFFE, 2018, s/p).

Porém, não é a “política de esquerda”, nem os “intelectuais” que irão articular as


diferentes demandas, mas o próprio movimento revolucionário deverá indicar este caminho.

Segundo os autores, “a extensão e a radicalização das lutas democráticas jamais


alcançariam uma sociedade completamente liberada e o projeto emancipatório não poderia mais
ser concebido como a eliminação do Estado” (MOUFFE, 2018, s/p). Isto porque sempre haverá
“antagonismos, lutas e opacidade parcial (partial opaqueness) do social”, de modo que o “mito
do comunismo” como uma “sociedade transparente e reconciliada”, o que implicaria o fim da
política, “tinha de ser abandonado” (MOUFFE, 2018, s/p).

Contexto do livro: crise da formação hegemônica social democrata estabelecida durante


os anos do pós-guerra; valores socialdemocratas estavam sendo questionados pela ofensiva
neoliberal, embora ainda tivessem influência em moldar o senso comum da Europa ocidental
[espaço bem delimitado: por que? Especificidade da Europa do leste (passado burocrático,
política cultural distinta) e da América Latina. Necessidade de apreender cada populismo em
sua especificidade conjuntural e estrutural.]. O objetivo do livro era vislumbrar como defendê-
los e radicalizá-los (os valores socialdemocratas) (MOUFFE, 2018, s/p).

Na introdução à segunda edição, de 2000, os autores notam um retrocesso: sob o


pretexto de se modernizar, a maior parte dos partidos socialdemocratas havia abandonado sua
identidade de “esquerda”, se definindo como “centro-esquerda” (MOUFFE, 2018, s/p).

Mouffe analisa esta conjuntura em On the political, de 2005, focando na chamada


“terceira via”, liderada no Reino Unido por Tony Blair e seu “Novo Partido Trabalhista” (New
Labour Party) e teorizada por Anthony Giddens. Segundo a autora, ao aceitar o terreno
hegemônico (hegemonic terrain) estabelecido por Margaret Thatcher, de acordo com o qual
não haveria alternativa à globalização neoliberal [perspectivas do fim da história; TINA – There
Is No Alternative; etc.], o governo de “centro-esquerda” teria implementado o que Stuart Hall
chamou de “versão socialdemocrata do neoliberalismo”.
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Pressupostos da “terceira via”: a oposição direita/esquerda e o modelo de política


baseado no conflito teriam se tornado obsoletos; a constituição de um “centro radical” (radical
centre), ou um “consenso no centro” (consensus at the centre) entre a centro-direita e a centro-
esquerda, responsável pela implementação de uma política tecnocrata, não baseada na disputa
partidária, mas na gestão neutra dos assuntos públicos (MOUFFE, 2018, s/p).

O momento populista seria aquele advindo após a crise de 2008, quando as contradições
do modelo neoliberal vieram à tona [desregulamentação exacerbada?] e permitiram que
inúmeros movimentos anti-establishment, de direita e de esquerda, questionassem a formação
hegemônica neoliberal.

O argumento central do livro é que, para intervir na conjuntura de crise hegemônica,


recuperando e aprofundando a democracia, é preciso estabelecer uma fronteira política entre “o
povo” e “a oligarquia”. Segundo Mouffe, esta fronteira política deve ser traçada de um modo
populista transversal (populist transversal mode), de modo a incluir as reivindicações que
ganharam força a partir dos movimentos de 1968 – a defesa do meio ambiente e as lutas contra
o sexismo, o racismo e outras formas de dominação – e consubstanciar um populismo de
esquerda. Esta estratégia populista de esquerda faria ressoar, tendo como significante
hegemônico a democracia, as aspirações múltiplas deste novo momento, estabelecendo uma
cadeia de equivalentes em torno do significante da democracia que possa abarcar as várias lutas
contra a subordinação (MOUFFE, 2018, s/p).

Os próximos anos serão marcados pelo conflito entre o populismo de esquerda e o de


direita, este defendendo políticas xenofóbicas e aquele, mobilizando afetos comuns em defesa
da igualdade e da justiça social [o que significam, concretamente, estes termos? O que o
populismo de esquerda propõe para a questão do Estado?].

O momento populista permite apresentar alternativas à crise da hegemonia neoliberal.

Daí a necessidade, de acordo com Mouffe, de adotar uma estratégia populista de


esquerda, capaz de construir uma nova hegemonia que visa a recuperar e aprofundar a
democracia. Essa estratégia precisa dar conta da construção de um “povo”, combinando a
multiplicidade de resistências democráticas contra a pós-democracia, a fim de estabelecer uma
formação hegemônica mais democrática. Para tanto, é necessária uma ampla transformação das
relações de poder existentes e a criação de novas práticas democráticas, o que não implica uma
“quebra revolucionária” (revolutionary break) com a democracia liberal. Segundo ela, o
exemplo de Thatcher demonstra que é possível, nas sociedades da Europa ocidental, modificar
a ordem hegemônica existente sem destruir as instituições da democracia liberal [isto não está
em contradição com o que ela afirmou anteriormente? De fato, o neoliberalismo não estaria
minando inclusive estas instituições? Texto da Brown. Ou seria uma radicalização delas? Uma
manifestação dos limites do “liberal-pluralismo” que não é plural e é falsamente liberal..].

Movimento necessário: estabelecer uma fronteira política que quebre com o consenso
pós-político do centro. Este passo os partidos socialdemocratas, convertidos ao neoliberalismo,
não podem dar, uma vez que eles acreditam que a democracia deve objetivar o consenso e que
é possível haver política sem um adversário.

Segundo Mouffe, “antes de ser possível radicalizar a democracia, é preciso recuperá-la”


(MOUFFE, 2018, s/p). Isto abre espaço para pensar que tipo de democracia queremos. Da
forma que Mouffe coloca as coisas, seriam graus, ou etapas, de democracia. Precisamos, antes
de tudo, estabelecer o que tínhamos antes, para depois buscar radicalizar aquilo. Pensamento
pobre. Inclusive, permanece explicitamente nos limites da democracia liberal, os quais levaram
justamente ao neoliberalismo. Esclarecer a relação entre as instituições que Mouffe defende e
o neoliberalismo.

Desde o fim do modelo soviético, afirma a autora, muitos setores da esquerda se


mostraram incapazes de vislumbrar uma visão de política alternativa à liberal, que não fosse
aquela revolucionária, que eles haviam descartado (MOUFFE, 2018, s/p). Mouffe saúda a
perspectiva de que o modelo político pautado numa visão “amigo/inimigo” é incompatível com
uma democracia pluralista e que a democracia liberal não é um inimigo a ser destruído. Porém,
isso os teria levado a negar a existência de todo e qualquer antagonismo e a aceitar a concepção
liberal que reduz a política a uma competição entre elites em um terreno neutro [teria como ser
diferente, partindo das concepções que ela parte?]. A “democracia liberal” defendida por
Mouffe, as instituições republicanas, o liberal-pluralismo são vazios de significado. Na prática,
representam uma competição entre elites.

Mouffe defende a possibilidade de uma política agonística, baseada no conflito e


orientada para o estabelecimento de uma ordem hegemônica distinta, porém dentro, ainda, no
horizonte da democracia liberal. Mesmo em Hegemonia e Estratégia Socialista, afirma, não
defendia uma ruptura com a democracia liberal e a consequente criação de um regime novo. Na
verdade, Mouffe advoga por uma radicalização dos princípios ético-políticos do regime
democrático-liberal, “liberdade e igualdade para todos” (MOUFFE, 2018, s/p).
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Exemplos da estratégia populista de esquerda: Jeremy Corbyn e movimento Momentum.


[Qual é o programa radical de Corbyn?]

Radicalização da democracia

Segundo Mouffe, o discurso democrático garante o vocabulário político por meio do


qual as relações de subordinação podem ser questionadas (MOUFFE, 2018, s/p).

O imaginário democrático seria formado por dois princípios: liberdade e igualdade. A


mudança decisiva no imaginário político das sociedades ocidentais ocorreu quando da chamada
“revolução democrática”. O momento definidor teria sido a Revolução Francesa e sua
afirmação do poder absoluto do povo. Criação de uma ‘paixão pela igualdade’ (passion for
equality).

Clearly articulating democracy with equal rights, social appropriation of the means of
production and popular sovereignty will command a very different politics and inform
different socioeconomic practices than when democracy was articulated with the free
market, private property and unfettered individualism. (MOUFFE, 2018, s/p)

Importância da transição de uma formação hegemônica para outra e sua distinção para
uma ruptura revolucionária.

Distinção metodológica entre dois níveis de análise: os princípios ético-políticos da


politeia liberal-democrática e suas diferentes formas hegemônicas de inscrição. Ou seja, haveria
uma variedade de possibilidades de formações hegemônicas compatíveis com a democracia
liberal.

A democracia liberal pressupõe a existência de uma ordem institucional baseada nos


princípios ético-políticos que constituem seus princípios de legitimidade. A transformação
hegemônica que busca Mouffe envolve a constituição de um novo bloco histórico, baseada
numa articulação diferente entre os princípios políticos constitutivos do regime democrático
liberal e as práticas socioeconômicas nas quais eles são institucionalizados. Assim, a
radicalização preconizada pela autora mantém os princípios políticos da democracia liberal,
porém interpretando-os e institucionalizando-os de uma forma diferente. Segundo ela, este não
seria o caso com uma revolução, que seria a ruptura total com um regime político e a adoção
de novos princípios de legitimidade. Desse modo, afirma,
The strategy of left populism seeks the establishment of a new hegemonic order within
the constitutional liberal-democratic framework and it does not aim at a radical break
with pluralist liberal democracy and the foundation of a totally new political order. Its
objective is the construction of a collective will, a ‘people’ apt to bring about a new
hegemonic formation that will reestablish the articulation between liberalism and
democracy that has been disavowed by neoliberalism, putting democratic values in
the leading role. (MOUFFE, 2018, s/p)

Tal estratégia recusa visa modificar as instituições políticas por meio de procedimentos
democráticos e rejeita o falso dilema entre reforma e revolução.

Seu objetivo: a transformação profunda da estrutura das relações de poder


socioeconômicas. Reivindica um “reformismo radical” ou um “reformismo revolucionário”,
cujo conteúdo das reformas seja subversivo.

Três tipos de política na esquerda:

(i) Reformismo puro: aceita tanto os princípios de legitimidade da democracia


liberal, quanto a formação hegemônica social neoliberal atualmente existente. [o
fato de Mouffe considerar essa posição como “de esquerda” é assustador]
(ii) Reformismo radical: aceita os princípios de legitimidade, mas pretende
implementar uma formação hegemônica diferente;
(iii) Política revolucionária: busca uma total ruptura com a ordem sociopolítica
existente (leninismo, anarquismo e promotores de ‘insurreição’ que exigem a
total rejeição do Estado e de instituições democráticas liberais).

A principal diferença reside na apreensão da natureza e do papel do Estado.

(i) A perspectiva reformista enxerga o Estado como uma instituição neutra, cujo
papel é reconciliar os interesses dos vários grupos sociais;
(ii) O reformismo radical, partindo de Gramsci, considera o Estado como a
cristalização das relações de força e como o terreno de luta. Não se trata de um
meio homogêneo, mas de um conjunto desigual de ramos e funções, apenas
relativamente integradas por práticas hegemônicas que tomam lugar dentro dele
(parece retomar as posições da II Internacional);
(iii) Os revolucionários veem o Estado como uma instituição opressiva que deve ser
abolida.
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O objetivo do reformismo radical é fazer do Estado um veículo para a expressão das


várias demandas democráticas, uma profunda transformação das instituições por meio das quais
o pluralismo é organizado colocando-as a serviço de um processo de radicalização da
democracia. O objetivo não é a tomada do poder do Estado, mas “tornar-se Estado” (becoming
state).

Duplo engano: os defensores do status quo acusam os reformistas radicais de


apresentarem um perigo para a democracia, por eles defenderem uma reorganização dos
princípios de legitimação da democracia liberal; como se a escolha fosse limitada entre aceitar
a atual formação hegemônica neoliberal como única forma legítima de democracia liberal, ou
rejeitar a democracia liberal como um todo. Os reformistas liberais consideram os
revolucionários um perigo para a democracia, como se não houvesse possibilidade democrática
para além da democracia liberal.

Confusão entre as instituições políticas da democracia liberal e o modo de produção


capitalista. Há uma articulação entre eles, mas ela é contingente.

É dentro da estrutura de princípios constitutivos do Estado liberal – a divisão do poder,


o sufrágio universal, o sistema multipartidário e os direitos civis – que será possível defender
em todo o seu escopo as demandas democráticas atuais. Lutar contra a pós-democracia, na visão
de Mouffe, consiste em defender esses princípios e radicalizá-los.

É possível questionar as relações de produção capitalistas por meio do reformismo


radical. O processo de radicalização da democracia necessariamente inclui uma dimensão
anticapitalista, pois muitas das formas de subordinação que precisam ser desafiadas são
consequências das relações capitalistas de produção.

Mouffe defende que a classe trabalhadora não tem, a priori, um papel privilegiado na
luta anticapitalista.

Existe uma dimensão afetiva necessária para motivar as pessoas a agirem politicamente.

A diferença da Mouffe para uma concepção mais radical é a avaliação da democracia


liberal. O método que ela propõe pode ser posto em prática de uma forma revolucionária. A
distinção é teórica.

Mouffe não quer descartar o liberalismo político.


Reconhece que a ‘democracia’ deve ser um significante hegemônico capaz de articular
as diversas lutas. Proposta de nome: socialismo liberal – uma formação social que combine
instituições liberal-democráticas e uma estrutura econômica com diversas características
socialistas.

Bobbio entende o socialismo como a democratização do Estado e da economia.

De certo modo, o programa de radicalização da democracia compartilha algumas


características com o projeto socialdemocrata, antes deste se tornar social liberal. Não se trata,
porém, de um simples retorno ao compromisso do pós-guerra.

Isto porque a questão ambiental foi deixada de lado no compromisso keynesiano. De


fato, o grande crescimento econômico motivado pelo consumo levou a aceleração da destruição
do meio ambiente. Para enfrentar a crise ecológica, é preciso analisar em paralelo as duas
questões: a social e a ecológica. É necessário imaginar uma nova síntese entre aspectos-chave
das tradições democrática e socialista e propor um novo modelo de desenvolvimento.

A principal divergência entre a perspectiva da Mouffe e a de outros teóricos


democrático-radicais é a questão da democracia representativa, que constituiria um oximoro
para muitos destes teóricos. Estes afirmam que os movimentos de protesto que temos visto nos
últimos anos apontam para um esgotamento da democracia representativa e para a necessidade
de uma democracia não-representativa, uma democracia em ato (a democracy in actu). Mouffe
critica esta visão argumentando que não estamos enfrentando uma crise da democracia
representativa per se, mas de sua encarnação pós-democrática atual (MOUFFE, 2013)

Esta crise tem sua origem na falta de confrontação agonística e esta não seria resolvida
com o estabelecimento de uma democracia não-representativa. A solução, para Mouffe, é o
engajamento com o Estado e com as instituições representativas, com o objetivo de transformá-
las profundamente.

Negri e Hardt, por sua vez, defendem a estratégia da deserção e do êxodo. Tal estratégia
se modifica no Assembly, onde eles defendem que a Multidão não pode evitar tomar o poder,
mas que ela precisa tomá-lo “diferentemente” (NEGRI; HARDT, 2017 p. 288).

Além disso, eles defendem que a Multidão pode se auto-organizar e que o papel da
liderança é meramente tático: as decisões estratégicas devem ser tomadas pela Multidão:

‘Leadership’ must be constantly subordinated to the multitude, deployed and


dismissed as occasion dictates. If leaders are still necessary and possible in this
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context, it is only because they serve the productive multitude. This is not an
elimination of leadership, then, but an inversion of the political relationship that
constitutes it, a reversal of the polarity that links horizontal movements and vertical
leadership. (NEGRI; HARDT, 2017, p. xv)

Hardt e Negri recusam a representação e a soberania, baseados numa ontologia


imanentista que está em contradição com aquela que utiliza Mouffe para teorizar sua concepção
de democracia radical.

O objetivo das instituições representativas para Mouffe é institucionalizar a dimensão


conflitiva da democracia, os antagonismos e as relações de poder que perpassam a sociedade.

No fundo, é uma visão bem idealista: um pluralismo efetivo supõe a confrontação


agonística entre projetos hegemônicos. Uma competição entre dois projetos e o que ganhar mais
corações e mentes merece gerir a sociedade. No fundo, no fundo, não vai muito além disso.

Os sujeitos políticos coletivos são criados por meio da representação; eles não existem
de antemão.

A condição de uma democracia vibrante é a confrontação agonística entre diferentes


projetos de sociedade.

O objetivo de uma estratégia populista de esquerda é tornar as instituições mais


representativas. Na verdade, trata-se de construir uma nova formação hegemônica, dentro da
estrutura democrática-liberal. Esta nova formação hegemônica, por sua vez, deve criar as
condições para recuperar e aprofundar a democracia. O que Mouffe advoga é por uma estratégia
específica de construção da fronteira política, uma estratégia de esquerda que reestabeleça a
fronteira política de uma maneira populista. O populismo é uma estratégia de construção da
fronteira política (MOUFFE, 2019).

A estratégia populista para Mouffe é sempre uma guerra de posição (Gramsci). Ela
nunca implica fazer uma guerra de movimento.

“Sé que hubo mucha gente en Podemos, como por ejemplo Juan Carlos Monedero, que
dijo que como no se llegó al poder, la estrategia populista no funcionó” (MOUFFE, 2019).

Segundo Mouffe, os marxistas e a esquerda radical consideram que a fronteira política


deve ser construída segundo a clivagem proletariado/burguesia. Para a autora, a estratégia
populista estabelece uma fronteira sobre a dicotomia povo/oligarquia (ou establishment).
Duas perspectivas dentro da esquerda contra as quais Mouffe se coloca: a da
socialdemocracia ou da centroesquerda que não enxerga fronteiras políticas bem delimitadas e
dentro da qual pode-se fazer apenas pequenas reformas e a revolucionária, a qual implicaria, de
acordo com Mouffe, acabar com o regime liberal-pluralista (MOUFFE, 2019). O que é o regime
liberal-pluralista que a estratégia revolucionária visa acabar? Onde se localiza este pluralismo?
É preciso resgatar o vínculo que liga o regime representativo-liberal ao neoliberalismo para
criticar Mouffe.

Sua estratégia, por outro lado, é a de um reformismo radical, que afirma que é possível
mudar as coisas sem por em questão o sistema de maneira revolucionária e que sim podem
oferecer alternativas à globalização neoliberal.

Mouffe advoga por uma radicalização da democracia liberal por meio de reformas.

Agonismo: impede que o antagonismo se desdobre em guerra civil: um adversário


reconhece a legitimidade do oponente e o conflito se conduz por meio das instituições. Mas e
quando as instituições têm lado na luta? Como o conflito pode ser conduzido por meio das
instituições quando estas estão diretamente implicadas no conflito – isto é, elas não são neutras,
tal como reza a cartilha liberal.

É uma luta pela hegemonia. Para evitar que as demandas democráticas do povo sejam
articuladas pelos populismos de direita, é preciso construir populismos de esquerda.

Populismo de esquerda: Podemos, France Insoumise, trabalhismo de Jeremy Corbyn

Atual momento: uma crise da hegemonia neoliberal, a ideia de que o neoliberalismo é


a solução perdeu a credibilidade. A crise de 2008 desencadeou este processo. Até então, a
globalização neoliberal era considerada como destino e o capitalismo anglo-saxão, a resposta
definitiva. Esta crise abre a via para duas soluções: de um lado, o populismo de direita, a formas
mais autoritárias de gestão do capitalismo; de outro, ao populismo de esquerda e à possibilidade
de uma recuperação radical da democracia. O populismo de esquerda não pode oferecer
soluções demagógicas. Quando propõe alternativas à ordem neoliberal, deve fazê-lo com
propostas que façam sentido. A populismo de esquerda precisa oferecer uma alternativa
concreta ao neoliberalismo, um programa econômico coerente. A equipe de Corbyn (em
especial John McDonnel) está fazendo um trabalho sério, pensando alternativas ao
neoliberalismo.
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Um dos obstáculos é que o sistema neoliberal apresenta as alternativas populistas de


esquerda como anti-democráticas, extremistas, etc. No caso da França, os meios de
comunicação mainstream fazem críticas muito mais duras a Jean-Luc Mélenchon do que a
Marine Le Pen. Eles também têm lado. Fazem parte das instituições, do regime liberal que na
verdade não é pluralista.

“No sé si el de Vox es un populismo de derecha. Según un artículo que acabo de leer,


Vox es mucho más parecido al caso de Jair Bolsonaro en Brasil. Estoy de acuerdo con eso. Y
al de Bolsonaro personalmente no lo veo como un populismo de derecha. Yo por lo general no
hago una equivalencia entre fascismo y populismo de derecha, y no es cierto que Bolsonaro sea
un «Trump tropical»: es mucho peor que un Trump tropical. Es una especie de protofascismo
y hay que hacer la diferencia. De la misma manera, Vox me parece que no es un populismo de
derecha. El populismo de derecha es un populismo que da respuestas o una articulación
xenófoba a demandas democráticas. Pero si no son demandas democráticas, no hablaría de
populismo de derecha. En el caso de Vox, es tal vez un poco apresurado porque todavía no hay
muchos análisis, pero una cosa que queda clara es que se trata en gran parte de una ofensiva
contra el feminismo. Eso no es lo mismo que el populismo de derecha. En el caso de Bolsonaro,
es complicado pero tampoco veo que haya demandas democráticas, en su mayoría se trata de
un rechazo total, más que una articulación de demandas democráticas. Alt-Right (derecha
alternativa) no es lo mismo que populismo de derecha” (MOUFFE, 2019).

“¿Por qué esa gente vota por esos partidos? Son gente de clases populares, no es un
atavismo, esos partidos de alguna manera resuenan con las demandas de esa gente, hay que
comprender eso para dar una respuesta progresista a esas demandas. Es lo que ha hecho Francia
Insumisa y así logró los votos de distritos que eran muy lepenistas, lo cual desautoriza lo que
dice Fassin. En el distrito de Amiens, una parte desindustrializada y abandonada por el Partido
Socialista, el periodista y ahora diputado por Francia Insumisa François Ruffin logró acercar a
muchísima gente que hasta hace poco votaba masivamente por el Frente Nacional. No eran
intrínsecamente racistas, sino que hasta ese momento el único discurso que daba sentido a lo
que les estaba pasando era el discurso antiinmigrante. Ruffin iba y discutía con esta gente y
trataba de entender sus problemas y decirles que la culpa no la tenían los migrantes sino la
fuerzas neoliberales, y veía cómo la gente cambiaba de opinión. ¿Cuáles son las demandas
democráticas que tiene esa gente y por qué están articuladas así? Esa es la cuestión” (MOUFFE,
2019).
Esquerda radical europeia: teria desenvolvido uma certa fobia com relação ao Estado e
ao tema da soberania.

“Hoy en día movimientos marxistas, autonomistas e insurreccionalistas tienen en común


un fuerte rechazo al Estado. Es curioso cómo en ese aspecto comulgan con el neoliberalismo.
Del otro lado está la corriente socialdemócrata, pospolítica, que ya no imagina cómo se pueden
trasformar realmente las relaciones de poder en el interior de un Estado democrático. Para el
reformismo radical, dentro de las instituciones republicanas existe la posibilidad de lograr
distintas formas hegemónicas. Muchas veces no se distingue entre el régimen, el nivel de las
instituciones liberal-democráticas, que son una articulación entre el liberalismo político y los
valores democráticos de igualdad y soberanía popular, y lo que yo llamo el nivel de la
hegemonía, que corresponde a la manera como son interpretados e institucionalizados. Por eso
en mi último libro le doy tanta importancia a Margaret Thatcher, porque su ejemplo muestra
claramente cómo se puede transformar profundamente en el plano de la hegemonía el sentido
común, sin poner en cuestión la base de las instituciones liberal-democráticas. Con Thatcher
hubo una transformación hegemónica que rompió el modelo socialdemócrata y el Estado
keynesiano. El neoliberalismo es una ruptura que no acaba con las instituciones pluralistas del
Estado. Para la izquierda, se trata de operar, como Thatcher lo hizo, una ruptura hegemónica,
pero en la dirección opuesta. Eso es lo que llamo reformismo radical: sin poner en cuestión las
instituciones propias del régimen democrático, hay que operar una transición hegemónica. Eso
es lo que cierta izquierda radical no acepta: según su lógica, o bien se mantiene el Estado y no
cambia nada o bien se lo derriba por completo. Hay que entender que el Estado es una
cristalización de relaciones de fuerzas. Un ejemplo muy interesante es el trabajo de Nicos
Poulantzas, porque sus primeros libros son muy marxistas ortodoxos y él ve al Estado como
una máquina de opresión. Sin embargo, su último libro, Estado, poder y socialismo, es el
momento eurocomunista de Poulantzas, es decir cuando empieza a reconocer la importancia
del Estado y la posibilidad de transformarlo. Eso era lo más atractivo del eurocomunismo,
aunque luego ganó su variante de derecha que, lamentablemente, es de la que se acuerda la
mayor parte de la gente” (MOUFFE, 2019).

Mouffe identifica o rechaço ao Estado como uma característica que aproxima a esquerda
radical do neoliberalismo.
16

Defende a manutenção das “instituições republicanas” – traço do regime liberal-


pluralista?

Instituições liberal-democráticas: são uma articulação entre o liberalismo político e os


valores democráticos de igualdade e soberania popular.

O neoliberalismo é uma ruptura que não acaba com as instituições pluralistas do Estado.
É preciso investigar melhor qual a relação entre o neoliberalismo e as instituições republicanas;
as instituições liberal-democráticas. É possível que as instituições próprias do regime
democrático sejam as mesmas em um contexto neoliberal; que permaneçam intactas?

Concepção do Estado de Mouffe: uma cristalização de relações de força. Ai é uma


questão. Mouffe considera importante a instituição estatal, não a enxerga como intrinsecamente
opressora e considera essencial transformá-la.

“Con respecto a la soberanía, una de las cosas que me critican es la importancia que yo
doy a la necesidad de organizarse a escala nacional. Pero estoy plenamente convencida de eso:
hay que partir del nivel nacional. Esa fue una gran limitación del movimiento altermundialista.
¿Por qué se acabó y no tuvo un impacto muy importante? Porque eran elaboraciones que no
salían de organizaciones enraizadas en la escala nacional, sino de foros a donde iban
representantes de ong del mundo entero y se discutía de cosas importantes, pero los asistentes
regresaban a sus países y no había suficiente gente con la cual estuviesen realmente en contacto.
Si uno quiere transformar de verdad las cosas, eso no pasa en reuniones en el nivel internacional.
Por ahí va mi reticencia hacia experimentos como DIEM25 [Democracia en Europa
Movimiento 2025]. Es reproducir a escala europea los errores del altermundialismo. No se
puede organizar un movimiento comenzando desde arriba. Lo que hay que hacer es partir de la
organización a escala nacional y de ahí pasar al nivel internacional, porque tampoco creo que
se pueda luchar contra el neoliberalismo a escala puramente nacional. Hay que establecer una
sinergia a escala europea, pero eso no pasa si no se tiene un anclaje nacional a partir del cual se
van uniendo esfuerzos” (MOUFFE, 2019).

“[…] Todos los altermundialistas veían el Estado como una cosa negativa y Chávez les
dijo: «miren, nosotros somos el Estado». Las experiencias nacional-populares se hicieron a
través del Estado, y eso te dice cómo este puede ser un instrumento de transformación
importante, si se lo pone al servicio de los ciudadanos. Eso ha tenido una cierta influencia
incluso sobre Michael Hardt y Antonio Negri; después de un viaje que hicieron a Bolivia en el
que conocieron a Álvaro García Linera, cambiaron en parte su discurso. Ya no eran tan anti-
Estado como antes. Para mí, el populismo de izquierda es llegar al poder para transformar las
relaciones de fuerzas en el Estado y hacerlo también en la sociedad” (MOUFFE, 2019).

“Además, es solamente en el nivel del Estado-nación donde se puede ejercer la


soberanía. El enemigo fundamental del neoliberalismo es la soberanía popular. Si se quiere
luchar contra el neoliberalismo, eso se puede hacer solo fortaleciendo la soberanía popular.
Considerar que es peligroso o negativo ese terreno es dejarles el campo libre a nuestros
adversarios. Por eso soy crítica de los no border: la ilusión del neoliberalismo es exactamente
esa, una circulación ilimitada del capital y del trabajo. ¿Dónde van a poder ejercer sus derechos
democráticos los ciudadanos? En ninguna parte. Eso es el sueño del neoliberalismo: acabar con
la traba de la soberanía popular. A menudo, los que se presentan como los más radicales de la
izquierda son los que le están haciendo el juego al neoliberalismo” (MOUFFE, 2019).

“En Europa, la coyuntura ofrece un panorama que con Íñigo Errejón muchas veces
hemos estado de acuerdo en definir de «latinoamericanización» de Europa, en el sentido de que
nuestras sociedades se han convertido en sociedades oligárquicas” (MOUFFE, 2019).

“Hoy en día nosotros tenemos realmente una fractura entre un grupo cada vez más
pequeño de súper ricos, por un lado, y por el otro, clases medias pauperizadas. Hay una analogía
entre esta situación y lo que existía, y en muchos aspectos sigue existiendo, en varios países de
América Latina. Ahí la cuestión era hacer entrar a las masas populares en el Estado para
democratizarlo, lo cual en algunas partes ya había tenido antecedentes, como en Argentina con
el peronismo” (MOUFFE, 2019).

“El politólogo Edgardo Mocca muestra cómo el peronismo justamente representó el


equivalente del Estado de Bienestar keynesiano en ese país. Pero eso no se había dado en
Venezuela, en Ecuador, en Bolivia. Lo que está pasando en Europa ahora como consecuencia
de la hegemonía neoliberal es que los sectores populares han perdido los derechos que habían
conseguido, y se trata en un primer momento de recuperarlos para después extenderlos a través
de un proceso de radicalización democrática. Por eso me parece que la estrategia populista tiene
sentido en ambos casos, pero con la diferencia de que en América Latina se trataba en general
de la primera etapa de la democratización, mientras que en Europa ya había tenido lugar gracias
a la socialdemocracia” (MOUFFE, 2019).
18

“Dentro de América Latina, hay muchas diferencias entro los distintos casos. No sé si
ha sido el mejor, pero lo que yo no entiendo es por qué no se valora más el caso argentino. Me
parece que Cristina Fernández de Kirchner intentó ir mucho más lejos que Luiz Inácio Lula da
Silva, por ejemplo. En el conflicto del campo, ella quiso poner en cuestión esa dependencia de
Argentina de la producción de la soja, y cuando quiso aumentar las retenciones fue con el fin
de utilizar esas ganancias para redistribuirlas. No lo logró, pero sí hubo el intento7. También
pueden verse la Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual y lo que se hizo en el ámbito
cultural: las universidades del conurbano, en la periferia de Buenos Aires. Su gobierno fue
bastante radical en muchos aspectos. Otra cosa es que hubo una gran articulación entre
movimientos sociales y Estado: esa sinergia sí existió en Argentina. Sin embargo, la imagen
que hay aquí en Europa es la de un gobierno autoritario y corrupto, y no se reconocen todos los
avances sociales que se han dado bajo el kirchnerismo” (MOUFFE, 2019).

“Yo estoy a favor de más posibilidades de reelección. No entiendo por qué existe ese
fetichismo de que uno no puede ser candidato más de una o dos veces, en la medida, claro, que
las elecciones sean realmente democráticas. Estoy segura de que Cristina Fernández habría
ganado en primera vuelta en 2015 si se hubiera podido presentar. Entiendo las razones para
limitar los mandatos, se teme que alguien se instale y establezca algún régimen autocrático.
Pero si hay garantías democráticas, no veo el problema. Franklin D. Roosevelt fue elegido
cuatro veces en eeuu; en Alemania, Angela Merkel, a través de un sistema parlamentario, lleva
14 años en el poder y nadie lo ve como problema” (MOUFFE, 2019).

“El dilema de tener una política agonística es que requiere que tu adversario también te
trate así. En el caso de Chávez, las elites siempre lo trataron como un intruso y nunca aceptaron
su legitimidad. Cuando tienes un opositor que te trata como enemigo, ¿cómo lo puedes tratar
como adversario? Eso lleva a posturas más autoritarias, y en el caso de Fernández de Kirchner
fue parecido. Todo depende de cómo se ubica el oponente” (MOUFFE, 2019).

Limitações do populismo de esquerda na América Latina

“El problema es que en muchos casos no hubo una real lucha hegemónica y no se
construyeron de manera suficiente identidades ciudadanas. Los gobiernos se limitaron a
satisfacer demandas de consumo sin bregar por construir nuevas subjetividades. Otorgaron
bienes materiales a la gente, pero llegó un momento en el cual el boom de los commodities
cesó, la redistribución no pudo seguir en el mismo nivel, y entonces la gente se tornó en contra
del Estado ya que este no estaba en condiciones de cumplir como antes” (MOUFFE, 2019).
Voto popular na direita

“Para ellas, votar ese partido de alguna manera significaba valorizarse, era una cuestión
de identificación. Significaba conseguir una forma de dignidad y salirse de la condición de
«asistidas». De la misma manera, en Argentina votar por Macri podía hacerte sentir de clase
media. A la gente no le gusta esa condición de «asistida», es necesario crear formas de
subjetividad en que las personas se puedan valorar. A nosotros nos puede «valorizar» votar por
ciertos partidos porque es una forma de sentir que ayudamos a quienes lo necesitan, pero a
veces el pueblo se siente seducido por los partidos de derecha porque así siente que sale de su
condición. La cuestión es lograr un discurso para esas clases populares que las haga sentir
valoradas. Es un punto importante: hay que crear una conciencia de ciudadanos. Tal vez el que
ha ido más lejos es Chávez. Les procuró una identidad política a las masas venezolanas. De eso
queda algo y así es como podemos explicar el apoyo que aún sigue teniendo Nicolás Maduro.
Chávez les dio una dignidad que no tenían antes. La cuestión es crear un nuevo sentido común”
(MOUFFE, 2019).

“La crisis del neoliberalismo genera una multiplicidad de resistencias y de demandas.


La cuestión es ver cómo se pueden cristalizar, ver cómo ofrecer un proyecto que resuene con
esas demandas. Pero eso no es tan fácil y depende de varios factores. Hay que mirar a los
«chalecos amarillos» en Francia, que no se reconocen en Francia Insumisa a pesar del hecho de
que muchas de sus demandas aparecen en el programa de Mélenchon. Y eso es porque han
perdido confianza en la democracia representativa y rechazan a todo el espectro político. Dentro
del movimiento, hasta hay una lucha para impedir que haya personas que aparezcan como sus
portavoces” (MOUFFE, 2019).

Proximidade com a perspectiva socialista liberal de Bobbio (e Piero Gobetti, por


exemplo?)
20

Defende sempre, com convicção, o respeito às instituições do liberalismo político. Não


defende romper com a democracia liberal-pluralista. Nunca se tratou de pôr em questão o
liberalismo político.

“[...] o motivo revolucionário não deve nem se prender à particularidade tradicional


(permanecer nos rituais do ser judeu no caso do apóstolo Pedro ou, no caso dos renegados
contemporâneos, assumir como intransponíveis as leis da economia de mercado e a democracia
representativa) nem ter como único desafio a destruição dessas particularidades (como o
antissemitismo de origem cristão ou a execução dos defensores do velho mundo pelos khmers
vermelhos). A universalidade [...] pressupõe que resistamos simultaneamente ao fascínio dos
poderes estabelecidos e ao fascínio de sua destruição infecunda. Nem a continuação pacífica
nem sacrifício derradeiro” (BADIOU, 2012 [2009], p. 16).

A democracia contra o Estado

As tensões entre dinâmicas políticas e dinâmicas estatais, ou entre o 15M e o Podemos.

“[…] la democracia no es ningún régimen de gobierno, sino la manifestación, siempre


disruptiva y conflictiva, del principio igualitario. Por ejemplo, cuando los proletarios del siglo
XIX deciden no actuar como si fuesen simple ‘fuerza de trabajo’, sino personas iguales a las
demás en inteligencia y facultades, capaces de leer, pensar, escribir o autoorganizar su trabajo.
La democracia sería de ese modo lo ingobernable mismo en su manifestación, es decir, la
acción igualitaria que desordena el reparto jerárquico de lugares, papeles sociales y funciones,
abriendo el campo de lo posible y ampliando las definiciones de la vida común” (RANCIÈRE,
2015).

“‘No hay Estado democrático’ […]. Es decir, no hay traducción institucional posible de
este fondo disruptivo, expansivo, de la política. En todo caso pueden darse algunos efectos, en
términos de libertades o derechos. Pero ‘la democracia no se identifica con una forma de Estado,
sino que designa una dinámica autónoma con respecto a los lugares, a los tiempos, a la agenda
estatal’” (RANCIÈRE, 2015).

A relação entre democracia e representação

O debate entre Rancière e Laclau

Laclau
“¿Cuál es el problema, para mí, de la representación? La cuestión es la siguiente: si la
democracia y la representación se oponen es porque se piensa que la democracia representa una
identidad popular de la cual los mecanismos representativos están esencialmente excluidos.
Rousseau mismo pensaba que la única forma real de democracia era la democracia directa.
Estaba pensando en la Ginebra de su tiempo, de la cual tenía de todos modos una idea bastante
utópica. Pero la condición de los grandes Estados hacía aparecer el momento de la
representación como algo ineludible” (LACLAU, 2015).

“Entonces la cuestión que se abre ahí es la siguiente: ¿es el principio de la representación


un principio necesariamente oligárquico? Es decir, algo que se añade como un mal menor a un
principio democrático que representaría una voluntad popular homogénea. Yo creo que esto
sólo sería así si la voluntad popular pudiese ser enteramente constituida por fuera de los
mecanismos representativos. Y es ahí donde yo establecería una distancia. Yo creo que sin el
tránsito a través de los mecanismos representativos no hay posibilidad de constituir tampoco
una voluntad democrática, una voluntad popular” (LACLAU, 2015).

“¿Por qué? Porque el proceso de representación es un proceso doble. Jacques ha


señalado muy bien que el principio de representación implica la posibilidad de un poder
oligárquico. Pero puede representar también algo diferente. Si al nivel de las bases sociales de
un sistema encontramos sectores marginales con escasa constitución de una voluntad propia,
los mecanismos representativos pueden ser en cierta medida aquello que permita la constitución
de esa voluntad. El otro día, en la discusión que mantuvimos con Jean Luc Melenchon [líder
del Frente de Izquierdas] aquí en Buenos Aires, decíamos que el problema de las formas de
democracia anárquicas que vemos hoy en día (por ejemplo, el movimiento de los indignados
en España) es que si esa voluntad no tiene traducción en efectos de una reestructuración del
sistema político eso conduce a una dispersión de esa voluntad” (LACLAU, 2015). ¿CUALES
SON LOS EFECTOS REALES DE ESA VOLUNTAD PROPRIA DE LOS SECTORES
MARGINALES CUANDO ORGANIZADA EN FORMAS DE DEMOCRACIA
ANARQUICA?

“O sea que yo pensaría que no hay un principio democrático opuesto al principio de


representación, sino una construcción política que corta transversalmente el momento de
constitución básico de la voluntad popular y el momento representativo. Si nosotros pensamos
en la forma en que la cuestión de la universalidad y la totalidad se ha planteado en la teoría
política, vemos que Hegel pensaba que el Estado es el único punto en el cual la universalidad
de la comunidad se constituye. Porque la sociedad civil es el terreno de las lógicas de lo privado,
22

de lo que él llamaba “el sistema de necesidades”. Habría entonces un corte absolutamente claro
entre el momento de la totalidad (estatal) y el de la dispersión (privada). Marx respondió a eso:
no es verdad, el Estado es el campo de la particularidad porque es el instrumento de la clase
dominante y sólo si emerge una clase que es en sí misma y por sí misma el universal -es decir
que emerge al nivel de la sociedad civil- esta fragmentación y particularismo puede ser
superado. Para Marx esto implicaba el fin de la política y la extinción paulatina de las formas
estatales” (LACLAU, 2015).

“Si nosotros pensamos en Gramsci, vemos un punto intermedio que para mí es el


comienzo de una política adecuada en relación con esta cuestión. Gramsci decía que Marx tenía
razón en decir que la sociedad civil también es un punto de construcción de lo universal, pero
Hegel tenía razón en pensar que ese momento de lo universal es un momento político. Y por
eso Gramsci hablaba del Estado integral” (LACLAU, 2015).

Gramsci como ponto intermediário entre Marx e Hegel? A sociedade civil é um ponto
de construção do universal, mas o Estado também. Concepção de Estado integral. O momento
do universal é um momento político? O que isso quer dizer?

“El problema de la democracia para mí en este sentido, aceptando en parte argumentos


de Jacques pero con diferencias, es que son necesarias formas de mediación política que
atraviesen la distinción Estado/sociedad civil. Todo lo que sea radicalizar la distinción entre
estos dos términos conduce, o bien a un parlamentarismo socialdemócrata inane, si se enfatiza
el momento puramente estatal, o al ultra-libertarismo de una voluntad popular mítica
constituida enteramente fuera del Estado” (LACLAU, 2015).

Rancière

“‘No hay Estado democrático’ […]. Es decir, no hay traducción institucional posible de
este fondo disruptivo, expansivo, de la política. En todo caso pueden darse algunos efectos, en
términos de libertades o derechos. Pero ‘la democracia no se identifica con una forma de Estado,
sino que designa una dinámica autónoma con respecto a los lugares, a los tiempos, a la agenda
estatal’” (RANCIÈRE, 2015).

“Para mí no se trata en absoluto de plantear el principio de la democracia directa como


una voluntad popular homogénea. Yo no me coloco en realidad desde el punto de vista de esta
búsqueda de voluntad popular homogénea, ni tampoco exactamente de la oposición entre
representación y democracia directa. Fundamentalmente, lo que me he planteado en mi trabajo
es la pregunta de qué es un poder político y por qué un poder, para ser político, está obligado a
integrar en alguna medida el principio democrático de la igualdad” (RANCIÈRE, 2015).

O que é um poder político e por que um poder, para ser político, precisa integrar, em
alguma medida, o princípio democrático da igualdade?

Sobre o poder:

“Siempre hubo poder y hay muchas formas de poder que no son políticas: el poder del
jefe, el del maestro, el del patrón, el del amo... Son poderes privados, poderes de relación de
autoridad que funcionan socialmente. Lo que me interesa es pensar cómo se puede fundar de
modo general la idea misma de lo político. Y lo que me interesa verdaderamente es el modo en
que el principio democrático funciona en sí mismo siempre como un desafío con respecto al
principio estatal. Porque el principio estatal, a pesar de todo, siempre funcionó como un
principio de confiscación y privatización del poder colectivo” (RANCIÈRE, 2015).

O princípio democrático como um desafio ao princípio estatal. Princípio estatal: um


princípio de confiscação e privatização do poder coletivo. Compreensão do Estado mais
próxima de Marx. Estado como instrumento da classe dominante.

“Para pensar el tema de la representación hay que partir del hecho de que hoy, quizá sea
muy distinto y formidable en Argentina pero al menos en los países europeos es así, el principio
representativo del Estado está totalmente integrado en los mecanismos de una oligarquía que
se reproduce. No funciona en absoluto como una mediación para una construcción de voluntad
popular. Quizá fue así en el pasado de los Estados europeos, pero desde luego ya no es el caso.
La representación está casi vacía. Este sería el primer punto” (RANCIÈRE, 2015).

Ao menos na Europa, o princípio representativo do Estado está totalmente integrado aos


mecanismos de uma oligarquia que se reproduz. Historicamente, a despeito de ganhos pontuais
dos grupos subalternos, foi assim. A representação está virtualmente vazia.
24

“En segundo lugar, otro aspecto importante es que estamos de acuerdo en este aspecto
doble o bifaz del sistema representativo, pero hay que ver de qué lado va a caer la balanza.
Desde luego, yo prefiero un sistema representativo a otro, un sistema en el que los mandatos
sean cortos, no sean renovables, ni acumulables, etc. Y si hablamos de democracias
latinoamericanas, yo no puedo concebir un régimen democrático si cada seis años tenemos que
elegir al mismo presidente [en referencia a Venezuela]. Creo que un presidente demócrata es el
que hace su trabajo y se va. Y entrega el poder a otro que no sea sí mismo porque si no estamos
ante una privatización del poder” (RANCIÈRE, 2015).

“Por último, me pregunto si hay que continuar pensando en este esquema de


Estado/sociedad civil. En esta lógica hegeliana donde, por un lado, está la sociedad civil (lo
privado) y por otro el Estado universal, etc. Esto ya no funciona así. En alguna medida tu mismo
lo has dicho: a pesar de todo, el Estado es cada vez más un principio de privatización y el Estado
absorbe la representación. No se trata de oponer a la representación la presentación directa de
la gente en la calle. Lo que ocurre es que el único medio de oposición a esta privatización estatal
permanente son efectivamente las formas de manifestación autónoma del pueblo, una presencia
autónoma del pueblo. El único modo de que no sólo exista el Estado, de que no sólo exista el
modo representativo absorbido por el Estado, es que haya formas de existencia autónomas de
otro poder. No diría una multitud reunida por una voluntad homogénea, sino un movimiento
fuerte de acción que encarne un poder que es el poder de todos y de cualquiera. Ese el principio
mismo de la existencia de la democracia y de la política. Y para mí eso es lo que hoy es
fundamental” (RANCIÈRE, 2015).

Acto seguido, un par de preguntas vienen a cuestionar la distinción u oposición entre


lógica democrática y lógica estatal, poniendo ejemplos en ese momento actuales en Argentina
(recordemos, año 2012). Por un lado, la Ley de Medios por la cual se regula sobre los
monopolios de los servicios audiovisuales (por ejemplo, el monopolio del grupo Clarín). Por
otro, la ocupación de la calle por sectores conservadores o reaccionarios que protestaban contra
el gobierno Kirchner. Se citan esos ejemplos para mostrar situaciones en las cuales desde el
Estado se lucha contra la oligarquía mientras que desde la calle ocupada se la defiende, unos
ejemplos que supuestamente cuestionarían o complejizarían el análisis propuesto por Rancière.

“Pero lo que a mí me parece fundamental es discernir si el Estado se limita a tomar


medidas correctas o si realmente da en sentido amplio los medios para otra expresión, para una
expresión otra. Sólo así saldríamos del juego de la pelea entre grupos con poder y el Estado
como únicos actores de la política. Pero es cierto que hay especificidad en América Latina con
respecto a Europa, donde hay una integración casi total entre poder político (Estado,
representación parlamentaria) y poder financiero” (RANCIÈRE, 2015).

Na América Latina não há uma integração quase total entre poder político (Estado e
representação parlamentar) e poder financeiro? Onde isso não ocorre?

“¿Qué significa el poder de cualquiera? Significa orientar una acción según el


pensamiento de una capacidad que verdaderamente es de todos, de cualquiera. Si se baja a las
calle para defender los derechos del grupo Clarín, no se baja a la calle en nombre de ese
principio democrático, sino en nombre de otros principios: que hay quien sabe informar y quien
no, etc. No quiere decir que cualquiera que baje a las calles va a tener la razón. Hablar de poder
de cualquiera es tomar partido por lo universal. El poder de cualquiera quiere decir que hay una
capacidad que no puede ser acaparada por ningún grupo que diga que le pertenece. Ni por la
oligarquía ni tampoco por la “clase obrera”. Ningún grupo representa la capacidad universal, la
política. Hay principios de discriminación para pensar ese cualquiera. ¿Cuál es el principio de
la acción que se está desarrollando, aquí y ahora? Pues hay que poner en marcha una serie de
formas de investigación y de balance para poner a prueba este discriminante, para discernir si
ese cualquiera es una figura de lo universal o representa intereses privados” (RANCIÈRE,
2015).

Falar do poder de qualquer um é tomar partido pelo universal. O poder de qualquer um


= o universal. Trata-se de uma capacidade que não pode ser monopolizada por nenhum grupo
que diga que ela o pertence.

É possível viver em uma democracia real? Ou iremos sempre viver com oligarquias que
dominam e pequenos intervalos de manifestação popular?

“A lo que podemos llegar en el futuro, no tengo la menor idea. La cuestión para mí es


pensar que el presente abre o cierra futuros, pensar el presente como aquello que abre y cierra
futuros. Están los que piensan, como Tiqqun o el Comité Invisible, que sólo una especie de
26

catástrofe puede permitir la liberación. Está Toni Negri, por su lado, que piensa que el mismo
proceso de trabajo en condiciones capitalistas crea las condiciones del comunismo futuro. Hay
grupos que dicen que tienen que madurar las condiciones objetivas, que hay que crear instancias
de vanguardia y que en unos cinco mil años vendrá la revolución buena de verdad. Etc”
(RANCIÈRE, 2015).

“Yo a todo eso digo no. Insisto en esta presencia popular alternativa con respecto a la
confiscación del poder de todos por parte del Estado o de poderes vinculados a poderes
financieros. La primera condición de otro futuro es que ampliemos aquí y ahora esferas de
iniciativa de un pensamiento compartido, de modos de decisión compartida, de focos de
autonomía que den poder a cualquiera. ¿Dónde están las condiciones de otros futuros que no
sean la reproducción del presente? En el presente. ¿Dónde va a llevar esto? Yo no lo sé. Lo que
sí sé es que lo que puede llevar a otra cosa distinta al presente es la constitución de otros focos
de poder y expresión autónomos, de otras formas de uso de las capacidades de los anónimos.
Es decir, que mantengamos o renovamos las formas de existencia de un poder que no es un
poder oligárquico” (RANCIÈRE, 2015).

TIQQUN/Comitê Invisível: pensam que apenas uma espécie de catástrofe pode permitir
a libertação.

Negri: pensa que o mesmo processo de trabalho em condições capitalistas cria as


condições do comunismo futuro.

Rancière: insiste numa presença popular alternativa ao confisco do poder de todos por
parte do Estado ou de poderes vinculados a setores financeiros. A primeira condição de outro
futuro é que ampliemos, aqui e agora, esferas de iniciativa de um pensamento compartilhado,
de modos de decisão compartilhada, de focos de autonomia que deem poder a qualquer um. As
condições para construção de um futuro que não seja mera repetição do presente estão no
presente? O que pode levar a algo distinto do que vivemos no presente é a constituição de outros
focos de poder e de expressão autônomos, a outras formas de uso das capacidades dos
anônimos. Procurar construir as formas de existência de um poder que não seja um poder
oligárquico.
Laclau

“Derrida y Deleuze han centrado ambos parte de su análisis en la relación de


representación. Aparentemente dicen lo contrario, pero yo creo que dicen lo mismo. Deleuze
dice “la representación presupone la presentación, pero como esta presentación originaria nunca
se da, la representación también carece de sentido”. Derrida dice: “como no existe la
presentación originaria, sólo existen juegos de representación”. La presentación derridiana
presenta más posibilidades al análisis político. Encontramos que de alguna manera no hay
“afuera del texto” de la representación. No hay afuera radical del campo de la representación
política. La construcción de las oposiciones va a tener que darse dentro del campo de la lógica
de la representación” (LACLAU, 2015).

Não há um fora radical do campo da representação. A construção das oposições vai ter
que se dar dentro do campo da lógica da representação.

“Esa lógica de la representación puede conducir a formas oligárquicas. O bien, a través


de las estrategias que pueden desarrollarse dentro del campo representativo, puede inaugurarse
una democracia más radical. No comparto que la democracia es un afuera de lo político y que
lo político es algo que está opuesto al Estado. Al Estado bajo las formas actuales desde luego
que sí. Pero hay algo en la lógica estatal que escapa a los Estados cristalizados que estamos
enfrentando. Es “la parte de los sin parte” de que habla Jacques, es decir, la gente que está en
guerra con el sistema y a la que es necesario llevar a participar y a tener una voz de manera
distinta. Pero yo creo que esto pasa necesariamente por una construcción política y por los
mecanismos representativos” (LACLAU, 2015).

Segundo Laclau, haveria algo na lógica estatal que escapa aos Estados cristalizados que
enfrentamos hoje, ao “Estado sob as formas atuais”. Nesse sentido, levar em conta a parte dos
que não têm parte passa necessariamente por uma construção política estatal (?) e pelos
mecanismos representativos.

Rancière
28

“Pienso que no hay presentaciones originales, ni pueblos originales, ni voluntades


populares originales u homogéneas. Por supuesto. Pero siempre habrá gente que irá a la calle y
dirá “nosotros somos el pueblo” y esto es para mí la democracia. No que todo el pueblo esté
reunido allí literalmente, sino que allí se presente “una figura del pueblo”. Una figura del pueblo
es la puesta en acto de una capacidad que no es la de ningún grupo determinado, de ninguna
vanguardia determinada, de ninguna ciencia política determinada, sino la capacidad de todos,
de cualquiera” (RANCIÈRE, 2015).

“No hay ciencia de la política, sólo hay ciencias del gobierno. Y se piensa que la ciencia
del gobierno (o de las encuestas) es la ciencia de la política. Pero no hay ciencias de la política,
sólo presentaciones, presentificaciones de la política, casos. Lo podríamos llamar tal vez
representaciones pero mucho cuidado con los equívocos, porque lo que se llama representación,
esto es el juego electoral, sólo es una entre varias formas de presentación. Tiene que haber otras,
formas de presentación autónomas de un poder alternativo, sobre todo cuando la representación
de tipo parlamentario se convirtió en casi nada. Y esto hay que decirlo muy claro” (RANCIÈRE,
2015).

Bibliografia

LACLAU, Ernesto. “Discusión entre Jacques Rancière y Ernesto Laclau sobre Estado
y democracia”. Link: https://www.eldiario.es/interferencias/democracia-representacion-
Laclau-Ranciere_6_385721454.html. Acesso em 23 de junho de 2019. 2015

MOUFFE, Chantal. For a Left Populism. Londres: Verso, 2018 (versão ebook sem
paginação)

_______. Agonistics: Thinking the World Politically. London & New York: Verso, 2013

_______. “La apuesta por un populismo de izquierda”. Link: https://bit.ly/2YerEwi.


Acesso em 24 de junho de 2019. Maio-Junho 2019

NEGRI, Antonio. HARDT, Michael. Assembly. New York: Oxford University Press,
2017

RANCIÈRE, Jacques. “Discusión entre Jacques Rancière y Ernesto Laclau sobre Estado
y democracia”. Link: https://www.eldiario.es/interferencias/democracia-representacion-
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