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A ARBITRAGEM DOS DIREITOS INDIVIDUAIS TRABALHISTAS SOB

O ENFOQUE DE PLATÃO1

JANE DIAS DO AMARAL

Juíza do Trabalho Substituta no TRT da 3ª Região; Mestre em Filosofia do


Direito pela UFMG; Doutoranda em Direito Social na Universidad Castilla
La Mancha- Espanha.

1) PROBLEMÁTICA DA SOLUÇÃO DOS CONFLITOS LABORAIS

Embora os direitos sociais só tenham se consagrado constitucionalmente no


século XX, a igualdade material, base de sua concepção, sempre foi critério de
formulação da concepção da justiça.

A idéia de justiça social deita suas raízes, quanto à sua formulação lógica, à
concepção platônica de justiça distributiva, pela qual justo é distribuir os cargos e
funções na sociedade segundo o mérito de cada um, avaliado pela sua capacidade.2

Apesar da riqueza do pensamento encontrado na antiguidade sobre o


conceito de justiça, a realidade social não correspondia à preocupação demonstrada
pelos pensadores. As civilizações ocidentais antigas baseavam-se, muitas delas, em
conceitos de justiça, mas o trabalho escravo ainda era a base da sociedade.

1 Este artigo é uma síntese apertada da Dissertação de Mestrado da autora: A ARBITRAGEM


COMO CRITÉRIO DE JUSTA COMPOSIÇÃO DOS CONFLITOS TRABALHISTAS
INDIVIDUAIS SEGUNDO O MODELO PLATÔNICO, Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial
à obtenção do título de Mestre em Filosofia do Direito, em maio de 2004.
2 SALGADO, Joaquim Carlos. Os direitos fundamentais. Revista Brasileira de Estudos Políticos.

Pgs. 42,43.
1
Muito já se avançou na tutela dos direitos fundamentais em relação à
antiguidade. Entretanto, analisando a efetividade dos direitos hoje consagrados,
percebe-se que muitos dilemas da antiguidade ainda não foram solucionados.

É que, entre o reconhecimento dos direitos humanos e a sua efetiva garantia,


vai uma grande diferença. Se o século XX foi considerado como a era dos direitos, o
nosso século tem como primado essencial a questão da efetividade de direitos tão
amplamente enunciados.

Neste sentido, podemos dizer que a garantia legislativa e o aparato judicial,


embora necessários, restam insuficientes. O mundo contemporâneo passa por
profundas transformações políticas, sociais e econômicas, o que tem gerado a
necessidade de grandes mudanças jurídicas. O aumento dos conflitos modernos em
quantidade e complexidade exige, cada vez mais, soluções rápidas e eficientes.

Porém, o aparato jurídico estatal, marcado por um processo extremamente


formalista e burocratizado, apesar da entrada em vigor de algumas leis mais liberais,
não tem conseguido atender aos anseios da sociedade atual, ficando desacreditado.

No âmbito trabalhista, estas mudanças são ainda mais significativas. As


demandas empresariais de flexibilidade acentuam a prevalência das soluções de
autonomia (coletiva e individual) sobre as de heteronomia (Lei). Dentre as decisões
de autonomia, sobressai a autonomia em grau menor (individual). A autonomia
individual, nesta nova perspectiva, apresenta poderes ab-rogatórios sobre as normas
imperativas da Lei.

Assim, o que aqui se pretende, é a propositura da arbitragem como via


alternativa de solução dos conflitos trabalhistas individuais e coletivos salvo em
alguns casos específicos de direitos indisponíveis do trabalhador, tais como a vida, a
liberdade e a integridade física e moral. Para a adoção do sistema arbitral, necessário
se faz uma estruturação detalhada do sistema institucional, a fim de que este possa
atender às peculiaridades dos direitos laborais individuais, que partem do preceito da
desigualdade entre seus agentes, ao contrário dos direitos em que a via arbitral é

2
preferencialmente utilizada. A seguir, faremos uma explanação da tutela dos direitos
em Platão e preceitos aplicáveis ao direito laboral, a fim de se estabelecer os critérios
de formulação da Justiça em Platão e, sobretudo, da via arbitral para a solução dos
conflitos laborais.

2) OS PRECEITOS LEGAIS E OS CRITÉRIOS DO JUSTO EM PLATÃO

Platão delineia duas vertentes que se separarão no correr da história: a

justiça como idéia norteadora da conduta e definidora do direito e da lei e a justiça

como virtude norteada e determinada pela lei.3

No plano ideal não há diferença entre as leis e a justiça. As leis são justas

porque editadas por quem pratica a virtude da justiça e, por isso, contempla a idéia.

Surge aí um momento de convergência entre a concepção da justiça como idéia e

como virtude.4

Como Platão reconhece que não há um homem capaz de deter o poder

sem se corromper e se tornar injusto (Leis, 713a), os preceitos legais são

absolutamente necessários no Estado real.

Assim Platão, após enunciar o critério de justiça que norteará a criação

das leis justas, formula as leis que todos deverão obedecer, inclusive os governantes.

O requisito que as torna justas é, não apenas o preceito da justiça proporcional, que

leva em conta as desigualdades de cada um a fim de que possam ser equiparados,

3 SALGADO, 1995, p. 28.


4 SALGADO, 1995, p. 26.
3
mas também o preceito de que as leis devem ser formuladas no interesse dos

governados e não dos governantes. Tal preceito é confirmado nas Leis, quando

Platão afirma que só são justas as leis feitas em favor do interesse comum de todo o

Estado (Leis, 715a).

Em Platão, a idéia de liberdade surge como escolha consciente da prática da


virtude, seja no Estado, seja no indivíduo, no sentido de proporcionar a tutela do
mais fraco e promover a igualdade substancial. 5 Assim, a realização da justiça parte
de um pressuposto de desigualdade entre aqueles a que se destina e, com este
objetivo, deverá equilibrar as diferenças entre os sujeitos.

A função tutelar do Estado é muito bem ressaltada no trecho a seguir:

“- Portanto nenhuma ciência procura ou prescreve o que é vantajoso ao


mais forte, mas sim ao mais fraco e ao que é por ela governado (...) todo
governo, como governo, não tem por finalidade velar pelo bem de mais
ninguém, senão do súdito de que cuida, quer este seja uma pessoa
pública ou particular. (...) é desde já evidente que nenhuma arte nem
governo proporciona e prescreve o que é útil a si mesmo, mas, como
dissemos há muito, proporciona e prescreve o que é útil ao súdito, pois
tem por alvo a conveniência deste, que é o mais fraco, e não do mais
forte. Ora é por isso, meu caro Trasímaco, que eu disse há bocado que
ninguém quer espontaneamente governar e tratar de curar os males
alheios, mas antes exige um salário, porquanto aquele que pretende
exercer bem a sua arte jamais faz ou prescreve, no exercício da sua
especialidade, o que é melhor para si mesmo, mas para o seu cliente.”
(República, 342c-346e)

“- Portanto, Trasímaco, nenhum chefe, em qualquer lugar de comando,


na medida em que é chefe, examina ou prescreve o que é vantajoso a ele
mesmo, mas o que o é para o seu subordinado, para o qual exerce a sua
profissão, e é tendo esse homem em atenção, e o que lhe é vantajoso e
conveniente, que diz o que diz e faz o que faz.” (República, 342e)

Estes delineamentos estão em consonância com a idéia basilar do Direito

do Trabalho, do direito de resistência e da teoria do abuso do direito, além disto

5PENNA, J. O. de Meira. Introdução ao Górgias de Platão. Revista Brasileira de Estudos Políticos. Belo
Horizonte, n. 84., jan. 1997, p. 108.
4
estão de acordo com o moderno direcionamento do direito ao coletivo, que

consagra a função social da propriedade e dos contratos.6 O Estado atual, assim

como o platônico, leva em conta a dignidade de cada um, formulando-se nos

preceitos do direcionamento para o bem comum, para a função social dos direitos.

E por falar em função social, não se pode deixar de observar a

extraordinária formulação que Platão dá à função social da propriedade. Mesmo no

Estado real, não mais pautado no compartilhamento integral de bens, como ocorre

na República, não é atribuído aos cidadãos um número ilimitado de posses capaz de

prejudicar a unidade do Estado. Na prevenção de conflitos sociais, Platão formula

os seguintes preceitos:

“Os bens dos cidadãos terão que estar distribuídos de uma maneira a não
suscitar conflitos intestinos, caso contrário no caso da presença de
pessoas que mantém antigas disputas entre si, os indivíduos humanos de
livre e espontânea vontade não progredirão na construção política se não
tiverem um mínimo de senso.” (Leis, 733a-b)

Uma vez estabelecido o Estado legal - inteiramente pautado na justiça

como idéia – todos deverão obedecer às leis, inclusive os governantes. Aquele que

se desvia dos preceitos legais deve ser responsabilizado pela prática do injusto. Além

disto, nenhum funcionário do Estado poderá realizar sua função sem prestar contas

(Leis, 759c-760c), o que está de acordo com o princípio da moralidade da

administração pública e com as teorias modernas de responsabilização do Estado e

do funcionário (este em caso de dolo ou culpa). Nenhum juiz ou magistrado poderá

cumprir mandato sem prévia prestação de contas, salvo os juízes da corte de

6 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Teoria Geral dos Contratos no Novo Código Civil. São Paulo: Editora Método,

2003, p. 47-58.
5
apelação (Leis, 761e). São também responsáveis pelas lesões que causarem aos

cidadãos ou ao Estado e, inclusive, pelas sentenças injustas (Leis, 767c-d).

O ponto de aproximação entre o Estado real e o ideal é o sistema

educacional, pois só depois de contemplar a justiça como idéia, poderá o homem

realizá-la como virtude, criando um Estado pautado em leis que a concebam e que

possam realizá-la para toda a sociedade.

A educação recebe valorização extraordinária em Platão, pois é a única

forma de se atingir o bem, e por conseqüência, todas as virtudes, seja no plano

individual, seja no plano coletivo. No Críton, Platão afirma ser o saber o maior bem

da humanidade (Críton, 103b).

A educação é uma forma de preparação na virtude, na cidadania, na luta

pelos direitos e na inserção social. Tal como na sociedade grega de sua época, Platão

enuncia que o cidadão em seu Estado tem inteira participação nos destinos do

governo, não apenas na eleição dos governantes, como também nos próprios

julgamentos, como se verá na estrutura de solução de conflitos. Também para a

alteração da legislação, deverá haver participação popular (Leis, 767d-768a).

O ensino visa à formação do cidadão perfeito, sábio, virtuoso, preparado

para a função que realiza e para a concretização de seus direitos, enquanto membro

da comunidade e também nas suas relações individuais. Platão enuncia a solução

para os conflitos complexos que o moderno Direito do Trabalho gerou, já que não

se pode mais falar apenas em flexibilização voluntária, opcional, mas em uma

tendência mundial excludente, que nem mesmo o sistema protecionista

6
pode solucionar. Pela educação o trabalhador se torna não apenas mais qualificado e

apto a negociar, mas também a reivindicar seus direitos de forma individual ou

através de seu sindicato.7

Não só os escolhidos são educados para governar, aqueles que os

escolhem também, sob pena de não terem como discernir sobre a melhor escolha, o

que lhes tolhe o exercício da cidadania, como extensão da educação para cumprir

sua função, incluindo esta a busca da democracia, da conquista de direitos e

enquadramento na perfeita unidade do Estado.

3) A ESTRUTURA PARA A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS EM PLATÃO

Sobre as decisões das lides e a estrutura do judiciário, Platão diz que,

inicialmente os queixosos nas demandas particulares devem dirigir as ações dos

juízes “...eleitos em conjunto pelo reclamante e o acusado, e que serão chamados de

árbitros, que constitui um nome mais adequado do que juízes.” (Leis, 956b-c)

Segundo ele: “A forma mais elementar de corte é a que as partes arranjam para si

mesmas, escolhendo juízes segundo acordo mútuo” (Leis, 767a).

Esta seria a primeira corte encarregada da função jurisdicional, mas não

pertencente à estrutura estatal. As cortes do Estado só seriam acionadas quando não

satisfatória esta decisão(Leis, 767a).

7 Para um aprofundamento neste tema e na solução apontada, cf: ÁLVARES DA SILVA, Antônio.

Flexibilização das relações de Trabalho. São Paulo: LTr, 2002. (b)


7
Os que devem em primeiro lugar tomar contato com a causa para decidi-

la são os que conhecem a ação em litígio. Platão sugere então que as partes se

dirijam aos vizinhos e amigos para a decisão arbitral (Leis, 767a).

O fato de Platão ter remetido as partes aos vizinhos é fundado no

preceito antes lançado de que os que devem decidir são os que têm maior

conhecimento da causa e por isso estão mais aptos a dar uma solução justa. Embora

tenha se referido aos vizinhos, isto não quer dizer que os que vão decidir a causa

estão dispensados da formação adequada para a decisão, pois tal contrapõe-se à sua

concepção de justiça. Ora, a busca pela justiça é uma das grandes preocupações de

Platão em todas as fases de seu pensamento, como verificamos no Críton, em que a

concepção abordada ainda é a socrática, de viver conforme as leis da cidade; no

Górgias, onde a justiça não se identifica com a legislação, mas dá-lhe fundamento; na

República, em que é desenvolvida como idéia e como virtude, traçando o modelo de

Estado ideal; e, por fim, nas Leis, onde é concebido o Estado real, cuja legislação e

estrutura só são justas porque delineadas sob o modelo de justiça já formulado.

Retomando, Platão afirma que o ideal é que as causas, sobretudo as de

menor relevância social, sejam decididas apenas na primeira instância – a instância

arbitral – sendo as demais cortes reservadas aos recursos nas causas mais relevantes.

Se tais preceitos não forem obedecidos, ele prevê multa ao litigante, traçando os

delineamentos para a punição da litigância de má-fé e para a interminável busca

pelas instâncias superiores quando não tem o litigante direito ao pleiteado:

“A Segunda corte será formada pelos habitantes dos povoados e das


tribos (estas divididas em doze partes). Se a causa não for decidida na
primeira corte, as partes em disputa comparecerão perante esses juízes
para um caso de litígio que envolve uma ofensa maior; e
8
se no segundo julgamento, o acusado for derrotado, pagará como
penalidade complementar a quinta parte da quantia estimada para a
penalidade registrada; e, se insatisfeito com seus juízes, desejar entrar em
litígio perante uma corte pela terceira vês, deverá apelar para os juízes
selecionados, e se perder o caso novamente pagará uma vez e meia a
quantia estimada. Do mesmo modo, se o reclamante, quando derrotado
na primeira corte não se julgar satisfeito e comparecer à Segunda corte,
em caso de vitória receberá a quinta parte, mas em caso de derrota,
pagará a mesma fração da penalidade. E se, devido à insatisfação com o
veredito anterior, procederem até a terceira corte, o acusado (como já
asseveramos) pagará, se derrotado, uma vez e meia a penalidade e o
acusador a metade da penalidade.” (Leis, 956b-957a)

Com tais preceitos, Platão veda a protelação do litígio, velando pela

solução ágil da controvérsia.

A segunda corte a que as partes poderão recorrer são os tribunais das

tribos cujos juízes serão escolhidos por sorteio (Leis, 767c-d).

Se não for possível a definição da causa pelo árbitro e pela corte das

tribos, recorrerão os queixosos à terceira instância, que é comum a todos os

cidadãos, não pertencendo, como a segunda, às unidades em que se fracionam o

Estado, mas a seu todo organizacional.

A estrutura judiciária deve ser organizada da maneira “mais incorruptível

que seja humanamente possível.” (Leis, 767c-d) A terceira corte compõe-se de juízes

eleitos e aprovados em teste realizado pelos que os elegeram, que atuarão, no caso

de ofensas de natureza privada, como revisores (Leis, 767a-d).

Se a ofensa for contra o Estado, a instrução deverá ocorrer diante de três

dos magistrados supremos, que se não forem capazes de chegar ao consenso,

passarão a decisão ao conselho (Leis, 767c-d). Assim, apenas as causas de maior

relevância social devem passar pela análise dos magistrados supremos.

9
Todo o povo poderá participar do julgamento, sobretudo nas ofensas

contra o Estado, já que sendo lesado o interesse deste, todos são indiretamente

atingidos:

“No que concerne às ofensas feitas contra o Estado, é necessário, em


primeiro lugar, que a multidão participe do julgamento, pois quando um
delito é cometido contra o Estado, todo o povo é atingido, o qual se
sentiria lesado se não participasse desses julgamentos; porém, se por um
lado é correto que o começo e a conclusão de tais julgamentos sejam
entregues às mãos do povo, a instrução deverá ocorrer diante de três dos
magistrados supremos, escolhidos sob acordo mútuo do réu e do
queixoso, que se não forem capazes de chegar a um consenso, passarão
ao conselho, o qual decidirá em última instância para cada uma das
partes.” (Leis, 767c-d)

Tanto nas lides particulares, quanto nas ofensas contra o Estado, os

cidadãos deverão participar (Leis, 767c-d).

Platão prevê a instância arbitral8, a responsabilidade direta do julgador, a

multa em caso de litigância de má-fé ou quando representa a protelação indevida do

feito, a limitação à recorribilidade ampla9 - o que reforça a necessidade da celeridade

da decisão10 - e a participação popular nas decisões11, traçando os parâmetros para

um sistema judicial que, ainda hoje, são considerados revolucionários por grande

parte da doutrina, o que prova que o ateniense, além de atual está muito a frente até

mesmo do nosso tempo.

8 ÁLVARES DA SILVA, Antônio, Procedimento sumaríssimo na justiça do Trabalho. São Paulo: LTr, 2000. p. 37.
9 ÁLVARES DA SILVA, Antônio, Reforma do Judiciário. Belo Horizonte: Sitraemg, 2003. p. 06. ÁLVARES
DA SILVA, Antônio, A transcendência no recurso de revista. São Paulo: LTr, 2002 (a).
10 ÁLVARES DA SILVA, Efetividade do Processo do Trabalho e a reforma de suas leis. Belo Horizonte: Editora

RTM Ltda, 1997.


11 ÁLVARES DA SILVA, Antônio. Eleição de juízes pelo voto popular. Belo Horizonte: Movimento Editorial da

UFMG, 1998.
10
4) A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS PROCESSUAIS EM PLATÃO

A lei é soberana aos seus servidores, mesmo àqueles que as criam (Leis,

751a et seq.). Os parâmetros que dão validade às leis e à própria estrutura do

Estado, são a idéia de justiça e os valores superiores da República. São também a

fonte material das normas criadas pela cúpula legislativa do Estado, denominada nas

Leis de Conselho Noturno. Segundo Platão, este é o órgão que conhece, em

primeiro lugar, a meta da polis e qual a melhor maneira de atingi-la. Para que a

unidade do Estado seja preservada, este conselho deverá ter em mente todas as

virtudes e sua principal tarefa será a de mantê-las no Estado (Leis, 962e-963c).

Assim, podemos inferir que os valores superiores a serem positivados norteiam a

estrutura social e as leis que regem o Estado. Tais preceitos são os paradigmas do

constitucionalismo moderno, que consagra o conselho constituinte e a Lei Maior de

toda a ordem nela estruturada, pois valida as demais leis criadas, desde que

obedientes aos valores superiores nela consagrados.

O princípio da igualdade integra o conceito de justiça e traz inerente o

tratamento desigual aos desiguais, na medida de sua desigualdade, a fim de que se

possa atingir a igualdade substancial. Realizando cada um sua tarefa para si e para o

outro, todas as funções são de suma importância, pois sem qualquer delas não

poderia o Estado sobreviver em sua unidade. Até mesmo na estrutura fundante do

Estado, Platão consagra a igualdade, já que concebe um Estado estruturado na

autoridade e na liberdade, um Estado pautado na justa medida e na igualdade

11
proporcional.12 Este Estado se legitima na medida em que tem a plena aceitação de

todos, já que são educados nos preceitos supremos do Estado, elegem o conselho

superior e interferem diretamente na modificação legislativa. A democracia direta e

o pluralismo são a fonte de integração e legitimação do Estado.

O princípio da segurança jurídica se enuncia a partir da estabilidade

criada no Estado, decorrente de uma legislação criteriosamente formulada com o

intuito de manter as virtudes nela consagradas e a unidade da sua estrutura. Após a

regulamentação suficientemente elaborada de cada matéria, as leis devem ser

codificadas e só poderão ser alteradas com aprovação popular. A segurança jurídica

também se revela na estrutura judiciária, através da seleção daqueles que são os mais

virtuosos para que a Lei e a justiça não sejam corrompidas, quando de sua aplicação.

Quanto à aplicabilidade dos princípios processuais, o devido processo

legal está enunciado a partir de um procedimento anteriormente estabelecido para a

solução das controvérsias. Assim é que Platão estabelece que a legislação e a

definição nas suas minúcias no que trata aos processos sejam colocadas num código

de leis (Leis, 767c-d). Este procedimento varia conforme a natureza da controvérsia,

de interesse público ou privado, mas contém rigorosos critérios a serem observados.

A celeridade e economia processuais e a vedação à litigância de má-fé estão

realizadas na solução da demanda pelo juízo arbitral, sendo que a recorribilidade aos

tribunais das tribos e, posteriormente, ao tribunal do Estado, pode gerar uma multa,

caso a primeira decisão seja confirmada e não haja fundamento para a protelação da

12 DORÓ, Tereza. O Direito Processual Brasileiro e As Leis de Platão. Campinas: Edicamp, 2003, p.127.
12
demanda. Apenas se insatisfatória a primeira decisão, há legitimidade para suscitar o

conflito perante os tribunais. Esta idéia está em consonância com os contornos

modernos do devido processo legal, que não mais se restringe à observância de um

procedimento anteriormente estabelecido, mas um processo célere, cujo escopo é

uma decisão que põe fim à lide em tempo razoável. Aqui se afigura também a

importância do acesso à justiça, não mais como direito de propor a lide, mas como

direito de obter um provimento justo, rápido e adequado, a fim de que o bem

tutelado não pereça em formalidades excessivas. O processo é instrumental ao

direito que visa realizar e, como tal, deve ser observado.

A divisão entre as causas de interesse particular e as de interesse público,

merecendo estas uma apreciação mais acurada pelo conselho dos magistrados,

registra a preocupação com as questões de ordem pública, de interesse de toda a

sociedade. Legitima também a apreciação arbitral das demandas particulares,

reconhecendo que os árbitros, como pessoas mais próximas às partes, têm maior

conhecimento dos fatos que geraram a lide, sendo hábeis a apreciá-las. Aqui há uma

extraordinária valorização do princípio da verdade real.

Platão enuncia o princípio da publicidade, já que os julgamentos são

públicos e contam com a participação popular. O princípio da verdade real está

consagrado no julgamento pelo juízo arbitral, que se fundamenta justamente em ter

a demanda solucionada por aqueles que acompanham a demanda mais de perto e

têm conhecimento sobre os fatos controvertidos. A livre condução do processo e a

ampla instrução probatória também estão delineadas, visando à busca da verdade

13
real, já que “ a matéria em disputa de cada lado tem sempre que ser esclarecida e

para a elucidação do ponto em questão o tempo que se arrasta, a deliberação do

ponto em questão e as instruções frequentes são úteis.” (Leis, 766e-767a)

A imparcialidade está consagrada porque no juízo arbitral o escolhido

detém a confiança de ambas as partes e nos tribunais os juízes são eleitos para os

cargos sob uma criteriosa seleção, para que só possam exercer a função aqueles que

sejam o mais incorruptíveis dentro do humanamente possível.

5) A JUSTIÇA COMO VIRTUDE DO JURISTA SEGUNDO PLATÃO

Além de consagrar no ordenamento os critérios do justo, para não

perverter a aplicação dos princípios consagrados é que não podemos nos esquecer

da seleção dos juristas com base na justiça como virtude, já que os princípios são

conceitos jurídicos vagos e como tais podem ser desvirtuados se desconsiderarmos

que devem ser aplicados apenas pelo homem justo.

Temos, então, dois vetores em Platão: a justiça ideal a pautar o nosso

comportamento na formulação dos critérios do justo e também na sua aplicação – o

modelo; e o Estado real sintetizado nas Leis, criado como ordem justa porque

pautada no modelo, tendo a justiça como imanente, sintetizado-a no ordenamento

jurídico e partindo então para a preocupação da justiça como virtude, a fim de que o

modelo positivado no ordenamento não seja pervertido por quem jamais teve

acesso aos critérios do justo.

14
De acordo com Platão, o homem justo é aquele que possui em perfeita

harmonia as virtudes da sabedoria, coragem e temperança. A própria ordenação das

virtudes da alma implica a justiça no seu âmbito interno. Para externalizá-la

enquanto virtude, é preciso concretizar a idéia que a justiça consagra, na direção do

outro, com a finalidade de concretização do bem e da ordenação que a prática da

justiça implica em toda a comunidade.

Assim, é preciso mais que um sistema formal que garanta os princípios

de um julgamento justo. É necessário que este julgamento seja realizado por alguém

que tenha a compreensão dos valores que estes critérios implicam. Daí a

importância de se ter contato com a justiça como idéia e com os valores por ela

consagrados, a fim de realizá-la no plano concreto. A virtude da sabedoria implica

no conhecimento jurídico, sobretudo no Direito do Trabalho, em que além dos

critérios formais de justiça, há também necessidade de conhecimento dos princípios

que consagram a igualdade material entre empregado e empregador.

O conhecimento da justiça vai além do saber jurídico, já que a justiça é

um valor e só será possível realizá-lo se além do saber técnico, o julgador for

também um homem justo, pelos critérios delineados por Platão, o que implica,

necessariamente que este seja probo, equilibrado, isento e que possua vasto

conhecimento jurídico, para que seja possível atender às regras e princípios

processuais consagrados no ordenamento e aos valores do justo, que implicam a

observância do outro enquanto sujeito de direitos e o respeito à dignidade,

igualdade, liberdade, solidariedade, utilidade, paz social e segurança.

15
O homem temperante é aquele que é equilibrado e discreto, que sabe

manter o sigilo que a sua função implica e tem uma conduta ética condizente com a

relevância de sua função pública.

Por fim, a coragem implica não ceder aos ditames da platéia, estar

comprometido exclusivamente com o valor da justiça e não com a opinião pública

ou com o desejo de promoção pessoal.

Embora o trecho a seguir não seja de Platão, podemos inferir em seus

ensinamentos, todas as virtudes de Platão no sentido da realização da justiça:

“Bom caminho para o juiz é o culto profundo do direito, o


aprimoramento do senso de imparcialidade, de responsabilidade e de
justiça, a preocupação com os direitos e faculdades, deveres e obrigações
das partes em conflito e com a solução adequada e à necessidade de paz
social (...) O juiz deve ser estudioso dos autos e do direito, trabalhador
infatigável, corajoso, independente, enérgico, quando necessário, mas
também prudente, sereno, equilibrado. O juiz tem um poder tão grande,
dentro de limites constitucionais e legais, que deve cuidar sempre e
sempre de não incidir em abuso. Não deve o juiz ceder à tentação de
ganhar notoriedade, à custa de decisões temerárias e injustas. Ou apenas
para suscitar polêmica e obter destaque pessoal.”13

O juiz deve ter o respeito popular pela sua postura e saber e não pela sua

prepotência e arrogância. Os mesmos critérios delineados para o juiz, são válidos

integralmente para o árbitro. Não há nada que nos faça inferir que seja necessária a

burocracia estatal para a observância dos princípios próprios ao Direito do

Trabalho, o importante é a correta seleção do arbítrio que consagra estas virtudes.

Note-se que a arbitragem historicamente representa não uma solução alternativa de

conflitos, mas a principal e às vezes até exclusiva forma de resolvê-los.

13 SILVA, Dalmo Lima. A psicologia aplicada ao Direito e à justiça no seu dia-a-dia. Rio de Janeiro: BVZ,

1996, p. 113.
16
Platão, que elevou tão sábias considerações acerca da justiça como idéia e

como virtude, considerava a arbitragem uma forma de solução justa e legítima,

desde que observados os critérios de seleção dos árbitros dentre aqueles que

estivessem imbuídos no valor do justo, ou seja, que recebessem a educação

adequada para se atingir a idéia da justiça e, assim, fossem capazes de praticá-la.

Virtuoso é quem participa, conhece a essência da justiça e a tem como paradigma.

6) A JUSTIÇA COMO VIRTUDE DA INSTITUIÇÃO NO MODELO DE

PLATÃO

De acordo com Mauro Cappelletti:

“... a justiça ditada por um ‘centro de justiça vicinal’(...) pode ser mais
eficaz, mais informada e em definitivo, mais justa do que aquela ditada
por um Juiz togado, destacado, longínquo, incompreensivo para as
partes de uma controvérsia entre vizinhos, partes as quais os seus votos
possam ser incompreensíveis ao Juiz mesmo.”14

Platão prevê a solução das controvérsias particulares pelos vizinhos, ou

seja por aqueles que estão mais próximos da lide. Apenas nos casos das ofensas

maiores, ou se não for possível uma decisão satisfatória da primeira corte, estarão as

partes legitimadas à propositura da demanda perante o tribunal das tribos e tribunal

do Estado, sob pena de pagamento de uma multa caso confirmada a primeira

decisão em segunda e terceira instâncias (Leis, 953a).

14CAPPELLETTI, Mauro. O acesso à justiça e a função do jurista em nossa época. Revista de


Processo Civil, São Paulo, jan.-mar. 1991, p. 153.
17
Platão distingue as ofensas entre particulares, que comportariam a

apreciação acima descrita e aquelas nas quais esteja sendo lesado o próprio Estado.

Para as últimas, em que se tutela o interesse comum da sociedade, previu um

sistema de apreciação diverso, já que instruídas perante magistrados supremos,

passarão à apreciação de um conselho, que decide em última instância (Leis, 767a).

É indubitável que as lides trabalhistas são causas entre particulares e o

interesse tutelado não diz respeito a toda a sociedade. Além disto, os direitos são,

em sua maioria, disponíveis, a comportarem a apreciação arbitral tanto no sistema

platônico, quanto no nosso sistema (lei 9307/96). Os bens indisponíveis tais como a

vida, a honra, a integridade física, a dignidade humana, não comportam a via arbitral

(lei 9307/96), mas são raras as hipóteses em que tais bens estejam sendo pleiteados

em reclamações trabalhistas. Nestes casos, a pactuação coletiva deverá excluir-lhes a

apreciação.

O apelo à corte das tribos e ao tribunal superior ocorre nas ofensas

maiores. Afinal, o que são as ofensas maiores senão aquelas que revelam interesse

para toda a comunidade e não apenas para os demandantes? Assim, se entende, que

apenas os bens tutelados no interesse também da sociedade comportam o mais

amplo sistema recursal, estes são, por exemplo, os passíveis de gerar a nulidade da

sentença arbitral pela apreciação judicial.

A apreciação arbitral, nos moldes platônicos, não implica o fato de que

os árbitros não devam conhecer e praticar a justiça delineada de acordo com o seu

modelo fundante, critérios criados para toda solução justa, mas apenas que aqueles

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que solucionarão as controvérsias propostas terão melhores condições de julgar o

caso em razão de lidarem mais de perto com os fatos que deram origem às

controvérsias.

Ora, quem são os vizinhos dos trabalhadores senão os sindicatos que

lhes representam? No entanto, a fim de que seja observada a paridade e a

imparcialidade, também os empregadores deverão estar representados na solução da

qual são partes. É por isso que diversos países e até mesmo as organizações

internacionais pautam-se pelas soluções através dos conselhos tripartites. A

proposta que aqui se delineia, a fim de que empregados e empregadores vejam suas

lides resolvidas por quem mais de perto acompanha as suas controvérsias, é o

julgamento através das instituições intersindicais criadas pela pactuação coletiva de

seus sindicatos. Estas instituições estabelecerão os critérios da via arbitral e também

a forma de solução dos árbitros.

Mesmo que não haja instituições para tal fim criadas, poderão os

sindicatos prever a arbitragem para os conflitos individuais. Neste caso, o árbitro

pode ser um membro do Ministério Público do Trabalho, já que de acordo com a

Lei complementar 75/93, art. 83, XI, está é uma de suas funções. Poderá também

ser escolhido criteriosamente, mas neste caso a própria pactuação deverá prever o

procedimento arbitral e a escolha do árbitro.

A necessidade de previsão expressa da possibilidade de recurso à

arbitragem em convenção coletiva nem sempre é necessária, podendo ser esta a via

escolhida, pelo empregado e empregador, desde que após a instauração do dissídio,

19
já que neste caso não prevalece mais a situação de inferioridade ocorrente no curso

da lide. Tal consideração leva em conta o princípio constitucional da livre iniciativa

(art. 1º, inc. IV da CF), que é fundamento do Estado Democrático de Direito, sem

desconsiderar a desigualdade do trabalhador em relação ao empregador. Ora,

havendo instituição arbitral que preserve os interesses trabalhistas ou possibilidade

da solução da lide por um membro do Ministério Público do Trabalho sem entraves

e burocracias, porque não privilegiá-la?

Algumas considerações devem ser observadas a fim de que se leve em

conta a desigualdade entre as partes. Assim, para a adoção da arbitragem nas lides

individuais e seleção dos árbitros é preciso:

• que em regra a arbitragem deve seja prevista por instrumento


coletivo15, salvo no caso da extinção do contrato, optando as partes por
esta via (como ressaltado anteriormente);
• que seja realizada no âmbito dos sindicatos ou nos núcleos
intersindicais ou ainda do Ministério Público do Trabalho;
• que a pactuação coletiva que a preveja também estabeleça o
procedimento arbitral, sendo ideal que se crie um órgão para
implementá-la e institucionalizá-la, observando-se a paridade entre
empregado e empregador;
• a arbitragem nestes conflitos deve ser sempre de direito a fim de que
não represente inobservância da legislação imperativa trabalhista e nem
renuncia de direitos;
• que haja seleção dos árbitros conforme os seguintes critérios:
→ reputação ilibada;
→ notório saber jurídico;
→ isenção;
→ eqüidistância.

15 Convém lembrar, que mesmo no caso da previsão em negociação coletiva, a adesão do empregado e

empregador à solução arbitral é livre, sob pena de representar vedação do acesso à justiça.
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As instituições arbitrais poderão ter funções mais amplas, tais como a

conciliação ou mediação, além da importante missão de prevenir conflitos. Estando

próximas às partes e ao dia a dia laboral, poderão ter função consultiva e até mesmo

repressiva, caso previsto multa na negociação coletiva para aquele que tentar frustrar

os seus fins. Na sua função preventiva de conflitos poderão evitar rupturas de

vínculos, exaltação de ânimos enfim, evitar que se busquem direitos apenas após a

ruptura do contrato, o que prima pelo princípio da continuidade. A observância do

que ocorre no dia a dia da relação laboral poderá dar maior efetividade também para

o princípio da primazia da realidade, dentro e fora do processo, caso, por exemplo

as multas também sejam previstas para a reiteração do descumprimento dos

preceitos negociais e normativos.

A arbitragem pode ser o último dos meios de solução do impasse.

Primeiro há a prevenção dos conflitos. Caso se instaurem, pode ser prevista uma

tentativa conciliatória, ou mediadora. O importante e que esta proposta só seja

viável após a inicial e defesa, com os documentos que as acompanham, podendo

aquele que a preside saber quando há renúncia (vedada no Direito do Trabalho) ou

efetiva transação. Havendo representação paritária, devem os sindicatos dos

empregados velar pelos seus direitos.

Também o empregador será beneficiado já que, não tendo o empregado

nenhum direito, não terá que pagar para ficar livre da demanda. A solução madura

de avaliação dos instrumentos probatórios inibe tanto as conciliações com valores

muito inferiores ao direito que se tem, quanto a cultura demandista, de se postular

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sem nenhum direito. Assim, longe da ânsia imatura da conciliação judicial, que se

estabelece sem a fixação dos pontos controvertidos e em tempo extremamente

reduzido pelas pautas lotadas, a solução aqui proposta atende melhor à tutela do

empregado.

Frustrada a mediação e não sendo possível a solução da controvérsia já

neste momento (art. 330 do CPC), serão produzidos as demais provas pertinentes.

Quem perder a demanda arcará com as despesas processuais, salvo no caso da

justiça gratuita, caso em que fica a cargo do sindicato da parte sucumbente.

A pactuação coletiva preverá também as peculiaridades a cada tipo de

controvérsia, em cada ramo diverso de atividades e de acordo com as situações que

lhe são típicas ou ainda prevendo a situação de cada empresa que mereça particular

consideração. As situações que a realidade congrega são muito ricas para serem

instrumentalizadas em poucas linhas.

O que aqui se pretende não é a instituição da arbitragem obrigatória,

condenada pela OIT, mas uma via facultativa de apreciação das controvérsias

trabalhistas e até um meio eficaz de preveni-las. No entanto, se na prática esta

solução se legitimar como célere e justa, não haverá quem não queira por ela optar.

Livres deverão ser os sindicatos, na forma da convenção 87 da OIT, a fim de que

sejam de fato representativos daqueles que tutelam. Se assim se consolidarem as

soluções, porque vedar esta opção? Afinal, a democracia não implica em pluralidade

de escolha?

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Havendo um meio de aproximar as partes, prevenir litígios e ainda dar-

lhes condições justas para a solução de suas próprias controvérsias, esta solução é

preferível ante a enorme burocracia e demora das demandas judiciais e das

conciliações que representam renúncias mascaradas. Tal proposição se conforma

totalmente com a democracia participativa, platônica e contemporânea, com a

cidadania, com o pluralismo, com a busca da solução pacífica e ainda com o acesso à

justiça, em seus novos contornos, primando pela solução justa e rápida, não

necessariamente estatal.

O que se faz necessário é acabar com o preconceito contra as novas

soluções, preferíveis à pura lamentação dos direitos trabalhistas cada vez mais

reduzidos e com as soluções judiciais demoradas ou com acordos injustos (até

mesmo pela pressão da demora sobre o trabalhador que já perdeu o emprego e não

tem como esperar pelo decorrer do processo para receber seu crédito). Caso não

convencido dos argumentos apresentados e, antes que se pergunte: Mas porque

deve se adotar a arbitragem? A resposta vem na forma da dialética socrática: Porque

não?

Longe lançar uma solução pronta e inquestionável, pretende-se aqui o

debate em torno de soluções alternativas mais hábeis à composição justa e célere das

controvérsias individuais trabalhistas.

7) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ÁLVARES DA SILVA, Antônio. A transcendência no recurso de revista. São Paulo:

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8. DORÓ. Tereza. O Direito Processual Brasileiro e As Leis de Platão. Campinas:


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Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 82, p. 15-69, jan 1996.

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18. SILVA, Dalmo Lima. A psicologia aplicada ao Direito e à justiça no seu dia-a-dia. Rio
de Janeiro: BVZ, 1996.

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