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CADERNO DE

RESUMOS
Márcia Maria Menendes Motta
Raquel Alvitos Pereira
Thiago de Souza dos Reis
(orgs.)

Caderno de Resumos
do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio:
História e Parcerias

Rio de Janeiro
Anpuh-Rio
2018
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA
SEÇÃO REGIONAL DO RIO DE JANEIRO
(Biênio 2016-2018)

Conselho Diretor

Presidenta
Márcia Maria Menendes Motta (UFF)

Vice-presidente
Ricardo Figueiredo de Castro (UFRJ)

Secretário-geral
Edmar Checon de Freitas (UFF)

Primeira secretária
Claudia Beltrão (UNIRIO)

Segunda secretária
Silvana Cristina Bandoli Vargas (CP II)

Primeira tesoureira
Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ)

Segunda tesoureira
Tânia Salgado Pimenta (FIOCRUZ)

Conselho Consultivo

Presidenta
Ismênia de Lima Martins (UFF/IHGB)

Secretária
Vânia Leite Fróes (UFF)

Relatora
Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ)

Conselho Fiscal

Presidenta
Beatriz Kushinr (AGCRJ)

Secretário
Marcus Ajuruam de Oliveira Dezemone (UFF)

Relatora
Mônica de Souza Nunes Martins (UFRRJ)

Secretaria Administrativa
Juceli Silva

Assessor da Diretoria
Thiago Reis
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Reitor
Sidney Luiz de Matos Mello

Vice-reitor
Antonio Claudio Lucas da Nóbrega

Pró-Reitoria de Graduação
José Rodrigues de Farias Filho

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação


Vitor Francisco Ferreira

Instituto de História
Norberto Osvaldo Ferreras

Instituto de Ciências Humanas e Filosofia


Alessandra Siqueira Barreto

Departamento de História
Edmar Checon de Freitas

Programa de Pós-Graduação em História


Giselle Martins Venancio

Coordenação do Curso de Graduação em História


Alexandre Santos de Moraes

Coordenação do Curso de Graduação em História


Carolina Coelho Fortes
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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Comissão Organizadora Geral Beatriz Kushinr (AGCRJ)


Claudia Beltrão (UNIRIO)
Márcia Maria Menendes Motta Edmar Checon de Freitas (UFF)
(UFF – Coordenação-geral) Ismênia de Lima Martins (UFF/IHGB)
Beatriz Kushinr (AGCRJ) Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ)
Claudia Beltrão (UNIRIO) Márcia Maria Menendes Motta (UFF)
Edmar Checon de Freitas (UFF) Marcus A. de Oliveira Dezemone (UFF)
Elizabeth Santos de Souza (Anpuh-Rio) Mônica de Souza N. Martins (UFRRJ)
Ismênia de Lima Martins (UFF/IHGB) Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ)
Juceli Santos da Silva (Anpuh-Rio) Ricardo Figueiredo de Castro (UFRJ)
Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ) Silvana Cristina Bandoli Vargas (CP II)
Marcus A. O. Dezemone (UFF) Tânia Salgado Pimenta (FIOCRUZ)
Mônica de Souza N. Martins (UFRRJ) Vânia Leite Fróes (UFF)
Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ)
Ricardo Figueiredo de Castro (UFRJ) Comissão Científica Internacional
Silvana Cristina Bandoli Vargas (CP II)
Tânia Salgado Pimenta (FIOCRUZ) António Manuel Botelho Hespanha
Thiago S. Reis (UVA/UNESA) (Universidade Nova de Lisboa – Portugal)
Vânia Leite Fróes (UFF)
Eugénia Rodrigues
Comissão Organizadora Local (Universidade de Lisboa)

Andréa Casa Nova Maia (UFRJ) Fernando Manuel Paulo Cunha


Edmar Checon de Freitas (UFF) (Universidade da Beira Interior)
Ismênia de Lima Martins (UFF/IHGB)
Juniele Rabêlo de Almeida (UFF) Hal Langfur
Larissa Moreira Viana (UFF) (University at Buffalo)
Márcia Maria Menendes Motta (UFF)
Marcus A. O. Dezemone (UFF) Maria Margarida Sobral da Silva Neto
Maria Letícia Corrêa (Uerj/FFP) (Universidade de Coimbra)
Marina Monteiro Machado (Uerj)
Mauro H. B. Amoroso (Uerj/FEBF) Teresa Cribelli
Mônica de Souza N. Martins (UFRRJ) (University of Alabama)
Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ)
Renata Torres Schittino (UFF) Secretária-geral
Ricardo Figueiredo de Castro (UFRJ)
Silvana Cristina Bandoli Vargas (CP II) Elizabeth Santos de Souza (UFF)
Paulo Cruz Terra (UFF)
Vânia Leite Fróes (UFF)

Comissão Científica Nacional


Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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Caderno de Resumos do Encontro Internacional e


XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias

Márcia Maria Menendes Motta


Raquel Alvitos Pereira
Thiago de Souza dos Reis
(orgs.)

1ª Edição – 2018. Anpuh-Rio

Editor-chefe: Thiago de Souza dos Reis


Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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SUMÁRIO
ST 01. 7 ensaios de interpretação da realidade peruana - Mariátegui & História: 90
Anos de Parcerias. Coordenação: Ricardo José de Azevedo Marinho
(UNIGRANRIO), Renata Bastos da Silva (IPPUR/UFRJ)....................................10

ST 02. A história da loucura e dos saberes médico-psicológicos: instituições,


teorias, atores e práticas. Coordenação: Allister Dias (UFRJ), Daniele Corrêa
Ribeiro (Instituto Municipal Nise da Silveira).......................................................21

ST 03. A Literatura de Cordel e suas relações com a História, as Migrações, os


Territórios e a Educação. Coordenação: Elis Regina Barbosa Angelo (UFRRJ)....28

ST 04. A pesquisa de iniciação científica: experiências e práticas. Coordenação:


Fábio Afonso Frizzo de Moraes Lima (Universidade Estácio de Sá), José Ernesto
Moura Knust (IFFluminense)................................................................................33

ST 05. A produção da História e o marxismo. Coordenação: Wanderson Fabio de


Melo (UFF/PURO), Demian Bezerra de Melo (UFF)............................................46

ST 06. Anarquismo em questão: conceitos, práticas, circulação e trajetórias.


Coordenação: Angela Maria Roberti Martins (UERJ / UNIGRANRIO), José 5
Damiro de Moraes (UNIRIO)................................................................................55

ST 07. As Direitas, suas bases intelectuais, expressões e vertentes contemporâneas


no Brasil e no mundo. Coordenação: Marcia Regina da Silva Ramos Carneiro
(UFF), Cícero João da Costa Filho (USP)..............................................................64

ST 08. Construções e representações de gênero: abordagens multidisciplinares e


parcerias acadêmicas. Coordenação: Lana Lage da Gama Lima (UENF), Miriam
Cabral Coser (UNIRIO).........................................................................................73

ST 09. Cultura Visual e História: as imagens em debate. Coordenação: Maria


Teresa Bandeira de Mello (APERJ), Carlos Eduardo Pinto de Pinto (UERJ).........86

ST 10. Da construção dos patrimônios ao acesso às cidades: direitos, negociações


e conflitos. Coordenação: Vivian Luiz Fonseca (UERJ/ CPDOC - FGV), Daniel
Roberto dos Reis Silva (CNFCP-CRIA/ISCTE)..................................................106

ST 11. Diálogos sobre a cidade a partir de Michel Foucault: saber, poder e sujeito.
Coordenação: Fernando Augusto Souza Pinho (UFRJ).......................................116

ST 12. Dimensões da Propriedade e o campo interdisciplinar de debates.


Coordenação: Carol Teresa Cribelli (The University of Alabama), Mônica de
Souza Nunes Martins (UFRRJ)............................................................................122

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Universidade Federal Fluminense


Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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ST 13. Dimensões do Regime Vargas e seus desdobramentos. Coordenação:


Thiago Cavaliere Mourelle (UERJ) ....................................................................130

ST 14. Ditaduras, regimes autoritários e processos de transição no século XX:


história e memória. Coordenação: Janaina Martins Cordeiro (UFF), Livia
Goncalves Magalhaes (UFF)...............................................................................139

ST 15. Entre caminhos, trajetórias, vilas e cidades: Políticas e tramas de ocupação


e representação das conquistas e territórios portugueses no ultramar. Coordenação:
Maria Fernanda B. Bicalho (UFF).......................................................................168

ST 16. Estudos étnico-raciais: compatibilidades e particularidades dos movimentos


sociais em suas lutas por liberdade, direitos e cidadania. Coordenação: Lucimar
Felisberto dos Santos (UFRJ)...............................................................................177

ST 17. Experiências negras no pós-Abolição: entre parcerias e saberes


compartilhados. Coordenação: Clícea Maria Augusto de Miranda (USP), Lívia
Nascimento Monteiro (Centro Universitário Celso Lisboa).................................189

ST 18. GT Mundos do Trabalho: Novos temas e debates na História do trabalho


(Século XIX- década de 1950). Coordenação: Paulo Cruz Terra (UFF), Anna
Beatriz de Sá Almeida (COC/Fiocruz).................................................................201
6
ST 19. Habitação e direito à cidade: favelas, subúrbios, periferias e assentamentos
informais no Brasil. Coordenação: Mario Sergio Ignácio Brum (FEBF-UERJ),
Rafael Soares Gonçalves (PUC-Rio)...................................................................209

ST 20. História & Educação – Abordagens Gramscianas. Coordenação: Sonia


Regina de Mendonça (UFF), Rodrigo de Azevedo Cruz Lamosa (UFRRJ).........219

ST 21. História & Teatro. Coordenação: Henrique Buarque de Gusmão (UFRJ),


Elza Maria Ferraz de Andrade (UNIRIO E UNESA)...........................................242

ST 22. História Comparada enquanto método: suas abordagens, limites e


possibilidades. Coordenação: Carolina Arouca Gomes de Brito (CEDERJ /
UNIRIO), Ingrid Fonseca Casazza (PPGHC/UFRJ)............................................258

ST 23. História da alimentação, da gastronomia e suas interfaces. Coordenação:


Thaina Schwan Karls (UFRJ), Cleber Eduardo Karls (UVA)..............................264

ST 24. História da Baixada Fluminense: pesquisa, ensino e parcerias no Rio de


Janeiro. Coordenação: Nielson Rosa Bezerra (UNIRIO).....................................273

ST 25. História e História da educação e a formação de professores: práticas,


políticas e registros históricos. Coordenação: Desire Luciane Dominschek Lima
(UNICAMP/UNINTER), Alexandre Ribeiro Neto (UERJ/FEBF)......................280

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ISBN: 978-85-65957-09-0
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ST 26. História da Educação: fronteiras entre o local, o regional, o nacional e o


global. Coordenação: Carlota Boto (FE/ USP), Washington Dener dos Santos
Cunha (UERJ)......................................................................................................293

ST 27. História Pública e Educação: saberes compartilhados. Coordenação:


Rodrigo de Almeida Ferreira (UFF), Samuel Silva Rodrigues de Oliveira
(CEFET)..............................................................................................................303

ST 28. História do crime, da polícia e da justiça criminal. Coordenação: Cândido


Gonçalo Rocha Gonçalves (UNIRIO), Marcos Luiz Bretas da Fonseca
(UFRJ).................................................................................................................314

ST 31. História e Ciências Humanas – dimensões epistêmicas, éticas e estéticas.


Coordenação: Pedro Spinola Pereira Caldas (UNIRIO), Francine Iegelski
(UFF)...................................................................................................................324

ST 32. História e Direito. Coordenação: Marco Aurélio Vannucchi Leme de Mattos


(CPDOC-FGV), Gustavo Silveira Siqueira (UERJ)............................................340

ST 34. História e memória das periferias brasileiras, africanas e latino americanas:


cidadania, invisibilidade social e silêncio. Coordenação: Linderval Augusto
Monteiro (UFGD)................................................................................................345
7
ST 35. História econômico-social nos séculos XIX/XXI: diálogos
interdisciplinares entre História, Economia e Relações Internacionais.
Coordenação: Almir Pita Freitas Filho (UFRJ), Leonardo Leonidas de Brito
(Colégio Pedro II)................................................................................................351

ST 36. História Militar: Práticas e saberes. Coordenação: Ricardo Pereira Cabral


(Escola de Guerra Naval), Francisco Eduardo Alves de Almeida (Escola de Guerra
Naval)..................................................................................................................365

ST 37. História, Arquivologia e Biblioteconomia: fronteiras, embates e diálogos.


Coordenação: Luciana Quillet Heymann (FGV/CPDOC), Vitor Manoel Marques
da Fonseca (UFF).................................................................................................375

ST 39. História, Educação e Memória: interfaces e diálogos. Coordenação: Renata


Rodrigues Brandão (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro), Teresa
Vitória Fernandes Alves (Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro).......................385

ST 40. Histórias das mulheres negras no Brasil Republicano (1889-2017).


Coordenação: Júlio Cláudio da Silva (Universidade do Estado do Amazonas),
Cláudia Maria de Farias (Universidade Estácio de Sá).........................................393

ST 41. Igreja, Sociedade e Poder na Alta Idade Média. Coordenação: Paulo Duarte
Silva (UFRJ), Rodrigo dos Santos Rainha (UERJ)..............................................398

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ST 42. Igreja, Sociedade e Poder na Baixa Idade Média (séculos XI-XV).


Coordenação: Andreia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ), Marta de Carvalho
Silveira (UERJ)....................................................................................................411

ST 43. Imagens da Morte: saberes e investigações interdisciplinares sobre a morte,


os mortos e o morrer. Coordenação: Cláudia Rodrigues (UNIRIO), Mara Regina
do Nascimento (UFU)..........................................................................................422

ST 44. Indígenas, camponeses e quilombolas: caminhos para os (des)encontros


com novas e outras narrativas. Coordenação: George Leonardo Seabra Coelho
(UFT)...................................................................................................................432

ST 45. Livros, bibliotecas, cartas e outros escritos: apropriações e representações.


Coordenação: Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira (UERJ), Beatriz Pìva
Momesso (UFF)...................................................................................................448

ST 47. Militares, poder e sociedade: métodos de história e parcerias. Coordenação:


Fernando da Silva Rodrigues (UNIVERSO)........................................................466

ST 48. Mundos do trabalho e ditaduras no Brasil republicano. Coordenação: Felipe


Augusto dos Santos Ribeiro (UFRRJ), Claudiane Torres da Silva (Secretaria
Municipal de Educação do Rio de Janeiro)..........................................................475
8
ST 49. Novos temas e debates sobre a imprensa e circulação de impressos no século
XIX: interseções entre a história cultural e a cultura política. Coordenação: Camila
Borges da Silva (UERJ), Gladys Sabina Ribeiro (UFF).......................................483

ST 51. O Vale do Paraíba, a Segunda Escravidão e a Civilização Imperial.


Coordenação: Ricardo Salles (UNIRIO), Mariana de Aguiar Ferreira Muaze
(UNIRIO)............................................................................................................497

ST 52. Pesquisas em estudos africanos: parcerias e perspectivas interdisciplinares.


Coordenação: Regiane Augusto de Mattos (PUC-Rio), Marina Berthet (UFF-
ICHF)...................................................................................................................509

ST 53. Políticas públicas no Brasil: trajetórias e debates. Coordenação: Marcello


Rodrigues Siqueira (Universidade Estadual de Goiás).........................................519

ST 54. Por um século XIX ampliado: constituições e modernizações de práticas e


saberes diversos. Coordenação: Iuri Bauler Pereira (PPGHIS/UFRJ), Eduardo
Wright Cardoso (UFRRJ)....................................................................................527

ST 55. Práticas de parcerias e epistemologia interdisciplinar: sobre história do


poder, das instituições e das ideias políticas. Coordenação: Ana Paula Barcelos
Ribeiro da Silva (UERJ), Jefferson de Almeida Pinto (IF Sudeste MG)...............535

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ST 56. Rural no Brasil: História & Parcerias. Coordenação: Marina Monteiro


Machado (UERJ), Marcus Dezemone (UFF).......................................................553

ST 57. Uma Idade Média para o século XXI – parcerias e colaborações acadêmicas
na escrita da História. Coordenação: Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ), Vânia Leite
Fróes (UFF) ......................................................................................................569

ST 58. “A classe trabalhadora vai ao paraíso?” O Ensino de História e diferentes


sujeitos em processos formais e não formais de escolarização. Coordenação:
Alessandra Nicodemos Oliveira Silva (UFRJ), Fabiana de Moura Maia Rodrigues
(UFF)...................................................................................................................579

Índice de autores..........................................................................................587

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ST 01. 7 ensaios de interpretação da
realidade peruana - Mariátegui &
História: 90 Anos de Parcerias

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A Crítica da Economia Política nos Sete ensaios - Renata Bastos da


Silva (IPPUR/UFRJ)

Sete ensaios de interpretação da realidade peruana cuja primeira edição foi


publicada em novembro de 1928 foi escrito pelo pensador peruano José Carlos
Mariátegui. Observa-se que Sete ensaios de interpretação da realidade peruana
expõem um movimento de transformação que aglutina certas forças da tradição em
seu processo, sendo ciente das vantagens e desvantagens do moderno e do atraso
para uma sociedade como a peruana. Um dos temas dos Sete ensaios, tal como em
O Capital de Marx, é o desenvolvimento das forças produtivas e das relações
sociais de produção. Assim, entendemos que Mariátegui em seus Sete ensaios parte
da análise da estrutura econômica do Peru, desde a economia colonial até o caráter
da economia peruana nos anos de 1920. Por conseguinte, iniciou seu exame da
realidade peruana com uma interpretação sobre a economia, ou seja, o primeiro dos
sete ensaios é sobre a economia. É este ensaio que iremos aproximar da crítica que
John Maynard Keynes fez aos desdobramentos da política econômica do fim da
primeira guerra mundial.

A educação em Mariátegui e Anísio Teixeira como agente de


transformação - Bárbara Rosalino Pinheiro Matos (Unigranrio)

O presente artigo tem como finalidade além de analisar o sistema educacional


peruano através da obra, os 07 ensaios da realidade peruana, de um dos principais
11
intelectuais latino-americano, José Carlos Mariátegui (1894-1930), dialogar
também com a realidade educacional brasileira segundo a visão de seu
contemporâneo, latino americano e pedagogo, Anísio Teixeira (1900-1971)
partindo da leitura de sua obra, Educação não é privilégio. O artigo foi dividido em
três partes. Na primeira, busquei situar como as ideias de Mariátegui e Anísio
apesar de países diferentes poderiam ser tão próximas. Na segunda, a importância
de tais autores para o âmbito educacional. Na terceira, como seus ideais podem ser
ainda melhor explorados e se são ou não postos em prática na atualidade.
Mariátegui em sua obra afirma que por haver uma influência espanhola, francesa e
norte-americana, a educação possuía um espirito colonial e não nacional sendo,
portanto, excludente e elitista tal como Anísio Teixeira que via as instituições de
ensino brasileiras como aristocráticas. Por essa razão, ambos em suas próprias
realidades, compartilhavam um ideal comum: Uma escola que incluísse toda a
sociedade. Temos então, tanto em Mariátegui quanto em Teixeira, a ideia de que
somente a educação seria capaz de ultrapassar as barreiras impostas pelos níveis
das classes sociais e que dessa maneira, haveria uma aproximação social findando
com o processo de exclusão.

A educação pública e sua herança colonial: uma interpretação brasileira a


partir da obra de Mariategui. - Fabíola de Cássia Freitas Neves (UFRJ)

De acordo com a obra de José Carlos Mariategui, no Peru, assim como no Brasil,
a transição da colonização para a república não se deu em termos de rupturas com
o antigo modo de organização social, antes “a república se sente e até se confessa
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solidária com o vice-reinado” (MARIATEGUI, 2008, p.116). As consequências


disto são percebidas na manutenção das posições sociais ocupadas pelos indivíduos
em ambas as nações: os Estados se referiam à índios (no Peru) e a negros (no
Brasil), mas não à cidadãos, como se esperaria de uma República. A cultura de
manutenção de privilégios herdadas das coroas espanhola e portuguesa nos
respectivos países permanecia como prioridade. Neste sentido, após discorrer sobre
as três influências educacionais que influenciaram o processo da educação pública
no Peru, no final de seu texto Mariategui afirma que “a cada dia mais se comprova
que alfabetizar não é educar. A escola elementar não redime o índio moral e
socialmente. O primeiro passo para sua redenção tem que ser o de abolir sua
servidão” (IDEM, p.161). Em outras palavras, “à medida que existem desadaptados
no âmbito da sociedade, pede-se que a educação desempenhe o papel de adaptar,
de integrar os indivíduos na sociedade” (SAVIANI, 1991, p.42), porém, isto não é
possível já que quando não se alteram as bases socioeconômicas de uma sociedade
não se pode acreditar que uma instituição educacional será capaz de redimir por si
própria estes indivíduos. José Carlos Mariategui nos apresenta a origem do
processo da educação básica no Peru, atentando para o fato que através da
influência espanhola “o privilégio da educação persistia pela simples razão de que
persistia o privilégio da riqueza e da casta” (MARIATEGUI, 2008, p.112), de
modo que o povo não tinha direito à educação. Já Marcelo Burgos, ao discutir sobre
a Base Nacional Comum no Brasil, vê na obrigatoriedade da socialização de
conteúdos básicos à todas as instituições públicas nacionais uma possibilidade de
se lançar bases para um Estado, de fato, mais democrático, haja visto que é
12
imprescindível garantir a publicização do “conhecimento já acumulado
principalmente na vida escola e nas universidades; para transmitir uma herança,
mas também para forjar nas novas gerações a capacidade de se emanciparem dela”
(BURGOS, 2005, p.26). Desta forma, o presente artigo pretende abordar a herança
colonial nos processos de formação da educação pública no Brasil, atentando para
as similaridades com o Peru através da obra de José Carlos Mariategui, sob a
perspectiva de que o modo como a sociedade brasileira se organiza sócio e
economicamente aponta tanto para as fraquezas contidas em nosso sistema público
de educação quanto para as potencialidades que a democracia apresenta à
construção do mesmo.

Breve resumo de um homem Latino-americano, peruano e de vigor. Breve


resumo de Mariátegui - Rafael dos Santos Gomes (UNIGRANRIO)

São interessantes as observações de Mariátegui, destaca-se a sua principal obra, 07


Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana, onde fez uma análise do período
colonial até o momento em que escreveu, ele conseguiu capitar os alicerces
fundamentais para se compreender como foi o crescimento e desenvolvimento de
seu país. Dentre seus estudos nesse período, trago como exemplo, a visão sobre a
extração de matérias primas, não só pelo seu valor, mas também pela facilidade
encontrada, e com isso desde seus colonizadores aos primeiros burgueses regionais,
foi um elemento decisivo para se investir ou não, devido à localização e a
necessidade de escoar via mar para a Europa o seu produto. Este elemento serve de
contemplação e estudos para se aplicar a outros países da América Latina, como o
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Brasil. A importância de se estudar Mariátegui parte inicialmente do fato que este


intelectual não se fecha aos conhecimentos adquiridos na Europa e nem fica apenas
com a dele de origem, ou seja, não busca ter uma única visão, mas a expande,
unindo ao conhecimento adquirido e aplicando em sua terra. Foi um homem que
marcou a história sendo um marxista-leninista latino-americano, e com um
marxismo incomum ao que se tinha em crescimento no início do século XX. Ele
traça uma perspectiva materialista na história econômica peruana não sendo
somente teórico. Ele foi afetado pelos grandes eventos que ocorreram durante sua
vida, o rechaço ao imperialismo norte-americano, a Primeira Guerra Mundial e o
fato das classes médias estarem conseguindo entrar entre os intelectuais. Por fim
pode-se afirmar que a Revolução Russa de 1917 também colaborou com seus
pensamentos, se tornando um intelectual orgânico e tido como um dos frutos da
Reforma Universitária de Córdoba (Argentina) – 1918. Um homem intenso e firme,
pois bateu de frente com algumas acusações, não se dobrando e defendendo seu
ponto de vista, não só contra antigos companheiros como da Internacional
Comunista (IC). Enfim, assim como a história não para, e ela favorece aos que
como Mariátegui se empenham em construir algo, deixar algum legado, dar o
sangue por um ideal, e se desgastar durante a vida por um trabalho. A vida sobre
está terra é como um dia, tem seu começo, meio e fim. Agora o que pode
transcender a este dia, e perdurar por mais tempo que a existência material, são as
ideias e as obras que se constroem aqui. Ele foi um dos ideólogos Peruanos de
maior importância e um dos maiores pensadores marxista latino-americano de sua
época, Mariátegui é um dos fundadores do Partido Socialista do Peru.
13
Burocracia Oligárquica nas Universidades Peruanas e a Reforma
Universitária - Adriano de Carvalho Mendes (Universidade Federal do Rio de
Janeiro), Ana Flávia Merlim Dias (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A partir dos estudos de Mariátegui, percebeu-se o fenômeno em a que educação


pública, não somente no Peru como em toda a América Latina, era necessariamente
uma educação universitária que se restringia apenas a uma classe, a dominante,
tornando-se um privilégio oligárquico. Desta forma, a educação fechava suas
portas para classe mais pobre, fazendo-a sustentar um objetivo de determinar que
o ensino público superior fosse provedor de doutores apenas para classe dominante,
já que o ensino elementar público se mostra deficitário às camadas sociais mais
baixas. Contudo, o tal fenômeno só foi prolongado por conta de um histórico
estrutural econômico semifeudal, que de acordo com o autor, a vontade de mudança
e transformação do ensino se deu tardiamente nas universidades latino americanas,
não somente no Peru, um exemplo claro foi a citação sobre as universidades
argentinas. Destas reflexões, entendeu-se a necessidade de atacar a estrutura
conservadora das universidades, começando a se estruturar um movimento de
reforma. As ações em prol da reforma no âmbito estudantil, geraram reações
conservadoras como: uma união com os professores incompetente que eram
rejeitados pelos alunos e uma resistência própria de docentes de valores não
universitários. Em grande parte, os docentes obtiveram uma atitude contra a
maioria dos princípios da reforma universitária. Desta forma, para que a reforma
seja efetivada, é necessário que haja aceitação de dois princípios: o voto dos alunos,
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impulso intrínseco de atitude e visão ao progresso em detrimento da burocracia


oligárquica; e as cátedras livres, que seriam ineficazes sem o movimento estudantil.

El Problema del índio - Suas raízes e heranças - Ramon da Conceição


Fagundes (UFRJ)

No segundo ensaio de 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana, a questão


esboçada por José C. Mariátegui é a temática indígena, tópico esse que é trabalhado
com um diagnostico marxista em relação ao cenário peruano. Apesar desse ensaio
ser o mais curto do livro, apresenta extensa importância para problemática
indígena, não só no contexto peruano, mas para toda América Latina. El problema
del índio, em resumo apresenta dois semblantes, um a qual a face da América
Latina está habitada por milhares de indígenas, e outra instituída com a essência do
quase aniquilamento total desta raça e de suas raízes. Mariátegui em suas viagens
para Europa e adjunto aos seus estudos, visualizou que a exploração indígena tem
inúmeras matrizes, e que os indígenas só poderiam constituir e usufruir da estrutura
social a partir da veiculação da perspectiva capitalista na sociedade nacional. A
solução para a questão indígena é complexa, já que está atrelada a El problema de
la tierra. Esse ensaio, estiga de maneira confrontacional a busca pelo enfrentamento
contra o opressor, doravante depende apenas da solidariedade e da força dos
movimentos de emancipação das massas indígenas.

José Carlos Mariátegui e Caio Prado Junior: a questão agrária como objeto
14
de evolução política nacional - José Marcio Figueira Junior (CPDA/UFRRJ)

Em face aos 90 anos do clássico de José Carlos Mariátegui, Los siete ensayos de
interpretación de la realidad peruana (1928), nosso trabalho busca compilar um dos
ensaios presente no clássico do autor, El problema de la tierra, juntamente com uma
análise recortada do texto publicado cinco anos depois por Caio Prado Junior,
Evolução política do Brasil (1933), de modo a cruzar dois autores marxistas que
escreviam em tempos próximos no Peru e no Brasil e buscavam interpretar os
respectivos quadros, o que nos leva, em relação a Mariátegui, às características
“fundamentalmente econômicas” da sociedade peruana fundamentadas pelo modo
no qual o processo de colonização hispânica, ao ser processado mediante a já
existência de povos em terras que viriam a ser colonizadas e o posterior uso desses
povos em força de trabalho, gerou resultados objetivos no arranjo da sociedade
peruana, inserindo a questão da terra como problema concreto de formação política
da mesma, vide que os processos históricos ocorridos após a Independência não
foram ainda suficientes para gerar desenvolvimento capaz de cancelar esses efeitos
nocivos, o que aproxima Mariátegui de Caio Prado Junior no que tange o
argumento, visto que, ao analisar o processo de colonização de terras do Novo
Mundo e o Império Brasileiro nascido no processo de Independência, o autor busca
argumentar, convocando diversos episódios ocorridos neste recorte, sobre o modo
como a sociedade brasileira, incluindo a formada e residente do campo, evoluiu
politicamente ao longo do tempo, tendo estes anseios sido traduzidos ou não pela
figura estatal, primeiro portuguesa, depois brasileira. Assim sendo, este exercício
procura transversalizar os dois autores doravante a questão agrária como objeto
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fundamental de interpretação concreta dos respectivos cenários nacionais do ponto


de vista econômico, social e político, dado este que evidencia a inovação no modo
de produzir história como contribuição prima dos mesmos. Em outras palavras,
buscamos destacar interpolações que, dada a aproximação temporal entre os textos,
posiciona os dois autores na busca intelectual pelo modo tal qual as duas sociedades
peruanas e brasileiras, em suas configurações campesinas, se constituíram e se
constituem enquanto sujeitos integrados aos processos de formação política dessas
nações, de modo a ser impossível realizar leitura correta sem a inserção dos dois
autores no contexto recortado, tal qual figuravam enquanto interpretes e figuras
políticas ativas.

Literatura e Escrita em José Carlos Mariátegui: A Pedra Angular da


Construção Identitária da Nação Peruana - Annelyse Guedes
Ramos (UNIGRANRIO)

A literatura para José Carlos Mariátegui era um importante estratagema no quesito


de construção do Peru, em todos os aspectos que compõem a estruturação de um
povo, especialmente no âmbito de fundamentação da identidade nacional. Tanto
que ao estudo literário foi dedicado um espaço maior em o “Siete Ensayos de
Interpretación de la Realidad Peruana”. No ensaio literário, desde seu início, nota-
se que a literatura peruana passou por fases até possuir sua própria base,
características e personalidade. O autor menciona didaticamente no trecho a seguir
a respeito dessas fases: “Una teoría moderna –literaria, no sociológica– sobre el
15
proceso normal de la literatura de un pueblo distingue en él tres períodos: un
período colonial, un período cosmopolita, un período nacional.” (MARIATEGUI,
1975, p. 200) Durante o período colonial, a escrita era de profundo cunho espanhol;
Ainda não possuíam raízes nacionalistas. O período cosmopolita há a assimilação
de elementos de diversas literaturas estrangeiras. E no período nacional, alcança-
se o ideal de escrita peruana, com raízes nacionais e sentimentos próprios. Foi uma
evolução gradual da literatura com seu país, onde o mesmo evoluía enquanto nação
e sua literatura conjuntamente. A respeito do período colonial, existe uma
peculiaridade interessante a ser trabalhada, com o escritor Inca Garcilaso de la
Vega. Filho de pai espanhol e mãe inca, nascido em Cuzco, Garcilaso é uma figura
que representa sucintamente o que é a cultura peruana, atendo-se aqui na literatura.
Uma miscigenação, fusão de dois universos em um. Segundo Mariátegui: “O
primeiro peruano”. Por suas obras, nota-se que devido às influências que tivera ao
estudar fora de seu país natal, ao retornar, trouxe o início da revolução identitária
ao povo. Poderia apenas classificá-lo como escritor colonialista, mas sua forma de
trazer o Peru para os papéis e registrar a história da nação, pode-se colocá-lo nas
três fases da literatura peruana, pela sua atemporalidade e por seus escritos
conseguirem ter características que se enquadram nos três momentos. Tanto no
relato da colonialidade da época de forma com inspiração na escrita hispânica,
quanto em trazer influências estrangeiras para seus escritos, como a exaltação da
nacionalidade, as primeiras raízes de identificação como peruano sendo moldadas
em seus escritos. A linguagem é um dos fatores principais que une os seres
humanos desde os primórdios, seja esta verbal ou não-verbal. E no ensaio literário
de Mariátegui, esta afirmação é vista com muita clareza e relatada com a devida
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importância e magnitude pelo autor ao longo da leitura realizada pelo capítulo,


sendo reforçada na figura de Inca Garcilaso de la Vega.

Literatura popular e identidade nacional no Brasil - Hendie Tavares


Teixeira (UFRJ)

O presente trabalho tem como objetivo analisar as contradições entre os esforços


de estabelecer critérios de nacionalidade na consagração dos romances brasileiros
na virada do século XIX, hoje canônicos, e as características dos romances que
fizeram sucesso, hoje ignorados. Utilizaremos como eixo interpretativo a leitura do
capítulo O processo da literatura na obra 7 ensaios de interpretação da realidade
peruana, de José Carlos Mariategui, publicado em 1928. Grande parte da obra
destina-se a preocupação sobre a literatura, pois o autor afirma que a concepção
estética está ligada diretamente a concepções morais, políticas e religiosas. A
literatura nacional surge a partir do idioma e uma política de afirmação nacional.
Os países colonizados, ao adquirirem o idioma metropolitano, acabam por importar
e se tornar dependente não só dos modelos, mais também dos temas e sentimentos
da metrópole. Mesmo depois que a América, em realidades diferentes, passou pelos
processos de independência e a experiência da república, seu maior desafio em
relação a sua produção estética foi sair de sua condição colonial. Ainda que o autor
estabeleça as dificuldades da realidade peruana, no Brasil, também com seu
passado colonial e presente mestiço passou por projetos de afirmação de identidade
nacional em que foram estabelecidos parâmetros nos quais a literatura deveria ter
16
a função de interpretação do país. Em contrapartida, os romances que vendiam, que
atingiam várias edições em uma época de escassos leitores, apresentam temas que
divergem desse projeto explícito de “brasilidade”, mas são exatamente eles que
apresentam os sentimentos do povo, a miscigenação, a sensualidade, a vivacidade,
características que Mariategui entende como fundamentais na construção de uma
literatura independente, pois é somente no contato com o povo que é possível
extrair as raízes e o sentimento nacional.

Mariátegui e as influências na busca de organização da instrução pública


peruana - Dheane de Oliveira Dias (Universidade do Grande Rio Professor José
de Sousa Herdy)

7 ensaios de interpretação da realidade peruana mostra que o início das colônias da


América espanhola foram habitadas inicialmente com o intuito de demarcar
território conquistado e exploração das riquezas naturais para custear o poderio da
metrópole. Após alguns anos um contingente de crioulos se consolidará nas
colônias e houve a necessidade de tornar-se independentes. A visão de 7 ensaios
de interpretação da realidade peruana nos remete a perceber que a raiz do Peru são
seus nativos, mas para o colonizador, a instrução pública refere-se a eles como
indígenas e inferiores e não parte integrante da política da instrução pública, negam
as raízes do país e sua própria história. Maior choque é a depreciação dos nativos
do Peru (o que é natural do Peru) a República apesar de impulsionada pela
valorização e igualdade entre o povo peruano não contemplou este propósito, em
suma, o povo instrumentalizado como contingente revolucionário continuou de
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fora das políticas e decisões sociais como no tempo da colônia. Na instrução


pública a herança espanhola (princípio do privilégio) o conhecimento científico-
social trazido por eles tornou-se uma necessidade a partir de uma nova
configuração de sociedade após a colonização e independência. A instrução pública
institucionalizada é meio da apropriação dos conhecimentos sóciohistoricamente
acumulados que permite a concentração do poder econômico e político com os que
a detém, neste processo, início de uma República, mostra que os fundamentos
foram sobrepostos a ideologia de classes. O pensamento demoburguês de Manuel
Vicente Villarán citado por Mariátegui no livro coloca que a decadência de um país
através da educação pode vir pela supervalorização das atividades intelectuais em
detrimento das atividades braçais embora as duas sejam unificadas, pois não se
pode apenas pensar e não agir e nem agir sem pensar. o problema aparece quando
o trabalho braçal se torna subjugado, inferiorizado e ratificado como apropriação
dos menos favorecidos demonstrando um fator de causa e consequência, o pobre
não precisa pensar e sim trabalhar com esforço físico, pensamento é coisas para os
favorecidos economicamente. Manuel Vicente Villarán dá o exemplo do
surgimento das treze colônias da América que ergueu-se com através da mão de
obra da sociedade que ali se estabeleceu. Essa supervalorização do trabalho
intelectual que vem da herança medieval espanhola criou e consolidou um
estranhamento ao trabalho braçal, oportunizando discussões e pensamentos a
respeito do trabalho braçal e sua importância na construção da sociedade, sua
desvalorização e tendência a servidão e o desprezo por ele até mesmo de quem
precisa dele para subsidiar sua vida em sociedade.
17
O Silenciamento da Historiografia Latino-americana - Andreia Nunes da
Silva (UNIGRANRIO)

José Carlos Mariátegui, um pensador revolucionário, porém, fora do meio


acadêmico ainda pouco conhecido. Por que desse silenciamento a propósito de sua
obra?

Os desafios da gestão democrática da educação no cotidiano escolar, à luz de


José Carlos Mariétegui - Cleber Ribeiro de Souza (Pré Vestibular Comunitário
da Rocinha)

O presente trabalho tem como objetivo analisar os atuais desafios para efetivação
da gestão democrática da educação (Constituição federal de 1988) no cotidiano de
uma escola estadual do Rio de Janeiro, a luz das contribuições analíticas de José
Carlos Mariétegui, em sua obra “7 ensaios de interpretação da realidade peruana”.
Publicada em 1928 no Peru, nos deteremos no ensaio “El proceso de la instrucción
pública”. Momento que o autor se debruça com maior intensidade no entendimento
da realizada da educação peruana. Perú e Brasil, inseridos no contexto da sociedade
moderna ocidental, se aproximam em suas características de sociedade pós-
colonial, em relação com o sistema mundo. Com isso, em ambos os países a
educação como instituição sustentadora da empresa colonial, ganha sua dualidade.
Sendo um tipo de educação e instituição escola destinada ao pequeno grupo da
elite, pautada inicialmente no pensamento moderno acidental dos colégios
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parisienses. Uma outra destinada as grandes massas de trabalhadores, pautada por


seu caráter “assimilacionista” e alienador dos saberes dos povos indígenas,
africanos em situação de exploração no “novo continente”. Mariétegui, ao dar luz
a superposição de elementos estrangeiros na formação do sistema público
educacional do Perú, bem como na formação da sociedade peruana, salienta que a
educação vigente em seu período trabalha na manutenção do privilégio de castas
sociais. (Re) produzindo, com isso, a mentalidade colonial nos indivíduos da
sociedade Peruana. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 (resultante de
conquistas da sociedade civil organizada), representou importantes marcos de
rupturas da educação colonial que Mariétigui desvela em seu país. A Constituição
garante legalmente a educação como direito social, sendo dever do Estado e da
família promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, é um dessas
conquistas (Art. 6º. CF 88). A gestão democrática do ensino público é um dos
princípios que define o caminho para se garantir o direito a educação e estabelecer
sua qualidade, a partir do diálogo entre os sujeitos da sociedade. Por mais que a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, (Art. 12 e 14) tenha legitimado
mecanismos de gestão democrática, como a participação na elaboração do PPP, os
sujeitos de territórios periféricos, seus interesses, temáticas e práticas, ainda são
negados de participarem da construção do projeto de educação de sua escola. Com
isso, a luz de Mariétigui, o texto propõe analisar os desafios vividos para a
efetivação da gestão democrática da educação no cotidiano da escola CIEP 358
Alberto Pasqualini.
18
Reflexão sobre o processo histórico do livro sete ensaios de interpretação da
realidade peruana - Rayssa Porto de Araujo Cruz (Universidade do Grande Rio
- Unigranrio)

No senso comum o termo “processo histórico” costuma transmitir uma mensagem


de progresso, o que leva a uma visão isolada dos fatos históricos. E para preencher
as lacunas deixadas por um “possível” distanciamento dos acontecimentos
históricos, a historiografia moderna exerce seu papel de expor o constante
movimento histórico, porém com a sensibilidade de compreender rupturas e
estagnações. O objetivo é problematizar os fatos de média e longa duração para
assimilar os fatos de curta duração. E neste trabalho sobre o livro “sete ensaios de
interpretação da realidade peruana” de José Carlos Mariatégui, devemos refletir
sobre a perspectiva da historiografia. Os fatos políticos e econômicos citados na
obra indicam uma nova fase para o país peruano, mas o autor destaca como as
rupturas na sociedade também são carregadas de permanências do sistema anterior,
que geram desigualdades no tempo presente. O livro foi publicado no início do
século XX, em um momento que o país estava presenciando movimentos
socialistas no Peru. Foi nesse contexto, o Mariategui se tornou fundador do partido
socialista peruano. E através de suas obras o mundo acadêmico dá o titulo de um
dos maiores marxistas da américa latina. Sete ensaios de interpretação da realidade
peruana faz uma crítica ao sistema republicano que sequenciou a situação da
exploração do índio. No primeiro capítulo do livro, o autor descreve o sistema
econômico Inca, mostrando como a política era voltada para o coletivo. Faz uma
pequena ironia a teoria Malthusiana (teoria na qual prever uma escassez de
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alimentos), pois a falta de comida seria quase impossível no sistema peruano, sua
organização abolia um sistema individualista e a população sempre se dedicava em
prol da comunidade (evitando acumulação de riquezas). E mostra também nesse
trecho como a conquista espanhola desconfigurou o sistema e a cultura de
coletividade e como a independência manteve o sistema econômico espanhol e
quais foram os resultados desta atitude.

Religião e política nos 7 ensaios de interpretação da realidade


peruana - Ricardo José de Azevedo Marinho (UNIGRANRIO)

Para Mariátegui nos seus 7 ensaios de interpretação da realidade peruana, o que


confere valor a uma religião não é a importância de seu fundador, o conteúdo dos
ensinamentos, a verdade dos dogmas ou a significação dos mistérios e ritos.
Importa não a essência da religião e sim sua função e importância para a vida
coletiva. A religião ensina a reconhecer e a respeitar as regras políticas a partir do
mandamento religioso. Essa norma coletiva pode assumir tanto o aspecto coercivo
exterior da disciplina militar ou da autoridade política quanto o caráter persuasivo
interior da educação moral e cívica para a produção do consenso coletivo. A
sociedade peruana constitui um exemplo interessante de fator religioso e político,
ou seja, um exemplo de como a dimensão política de uma sociedade pode adquirir
um aspecto religioso próprio, assumindo um caráter decisivo na disputa da
hegemonia. No início da experiência peruana acentua-se no Peru a religião do
tawantinsuyu. Na memória peruana, previamente, se entende o tawantinsuyu como
19
uma sedimentação ativa do passado. O tawantinsuyu, a Cidade-Estado não fica fora
da história e/ou remonta ao início dos tempos. Ao contrário, é um acontecimento
histórico. Existiu. Tem governantes: os Incas. Uma capital: Cusco. Por isso ter sido
desde sempre típico de Mariátegui o rigor dispensado à cultura popular, ao costume
difuso, ao folclore. Ao mesmo tempo, era grande seu olhar - como é natural para
um intelectual preocupado com a política - às instituições do Estado e da sociedade,
e, portanto, o fator religioso. Diante do fator religioso, Mariátegui coloca-se
segundo sua concepção marxista, segundo uma visão histórica e política. O fator
religioso é um fenômeno histórico, político e cultural, profundamente motivado,
rico de significado. O fator religioso é uma tentativa de conciliar sob forma
mitológica as contradições reais da vida histórica. Compreende-se, então, a
distância de Mariátegui em relação ao anticlericalismo superficial do seu tempo.
Assim como o Estado oligárquico nunca soube encontrar um equilíbrio na sua
relação com a Igreja Católica, também deve encontrá-lo os proponentes de uma
política moderna para o Peru. Desta forma, nossa comunicação mostrará como
Mariátegui analisou quando e como as características distintivas dos processos
históricos que levaram à formação do Estado nacional no Peru determinaram a
conformação particular de seu fator religioso. Demonstraremos que para
compreender o que define as peculiaridades do fator religioso é preciso considerar
a hegemonia histórica da ainda pervasiva cultura cristã em sua sociedade e de suas
complexas relações com o tawantinsuyu. E, por fim, como a perspectiva de
Mariátegui era incorporadora do fator religioso para se pensar os rumos
democráticos para o Peru.

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Um ensaio de intepretação da saúde nas questões agrárias do Brasil - Tiago


Martins Simões (CPDOC - FGV)

O viés interpretativo de Mariátegui acerca da economia e sociologia agrárias


perpassam pelas marcas históricas do processo de colonização no Peru,
atravessando a Conquista e a Independência, em chave de longa duração. Os
elementos nacionais estariam, a partir de uma internacionalização crescente das
trocas comerciais daquele país (desde a chegada dos espanhóis), em movimento de
transformação e acomodação, criando uma passagem para a modernidade
tipicamente peruana e conciliando ritmos de desenvolvimento aparentemente
contraditórios. A questão agrária, marcada naquela chave pela figura dos feudos,
estaria, portanto, em sintonia distinta do espírito do capitalismo europeu clássico.
Propomos, neste trabalho, a abordar as inflexões teóricas de Mariátegui sobre o
alcance da questão agrária na conformação de um mercado de trabalho, cotejando
este tema com a experiência brasileira de configuração de um sistema sanitário que,
conforme iremos argumentar, fora fruto de sedimentações passivas de um passado
rural esquecido em nossa história. Em diversas matrizes teóricas, o campo é lido
como face constitutiva do Brasil e a intermediação política de grupos locais,
detentores de poder econômico, permanece como uma lógica revigorada em
relações diretas ou indiretas com a política. Estas teses possuem profundas relações
com as interpretações de Mariátegui sobre sua época, e é sobre esses aspectos que
vamos nos debruçar.
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ST 02. A história da loucura e dos
saberes médico-psicológicos:
instituições, teorias, atores e práticas

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A decadência do Hospital Nacional de Alienados na imprensa carioca nos anos


de 1920 - Monica Cristina de Moraes (Fiocruz/COC)

Esta comunicação versa sobre a decadência sanitária, na década de 1920, do


Hospital Nacional de Alienados (HNA) – versão republicana do Hospício Pedro II,
inaugurado em 1852, na cidade do Rio de Janeiro –, enquanto tema pertinente à
minha tese de doutorado (PPGHCS/COC/Fiocruz), que investiga a problemática
da tuberculose no âmbito da sua história institucional e, em particular, o setor de
isolamento de pacientes tuberculosas. A tuberculose é citada como um contínuo
óbice administrativo nos relatórios enviados ao Ministério da Justiça e Negócios
Interiores, pela Direção Geral do HNA e da Assistência a Alienados no Distrito
Federal – nas mãos do psiquiatra Juliano Moreira desde 1903. Paralelamente, entre
outros tópicos, há registros do declínio das condições sanitárias do HNA e de
sucessivos pedidos de apoio estatal para melhorar a estrutura hospitalar de
atendimento aos doentes mentais e de ampliação da assistência pública a alienados
na cidade do Rio de Janeiro, com o fim de sanar o problema da superpopulação de
loucos que crescia continuamente, entre outros desafios enfrentados no cotidiano
nosocomial. Aprofundando a investigação das condições sanitárias do HNA,
observamos inúmeras e diferentes notícias sobre o HNA na imprensa carioca, no
período mencionado. Desse vasto material, optamos por reunir e analisar alguns
artigos que se destacam pelo aspecto da denúncia de problemas administrativos,
sanitários e de inadequada assistência aos loucos, que saíram em jornais como O
Brasil, A Razão e o Diário Carioca. Para tanto, julgamos importante: pensar a
22
imprensa dentro do jogo de forças políticas e sociais da época, situando brevemente
os periódicos em análise; confrontar o quadro sanitário e assistencial do HNA,
pintado pela imprensa, com o discurso institucional; e, por fim, refletir sobre sua
influência nos rumos da assistência pública aos alienados do Distrito Federal.
Assim, do conjunto de fontes analisadas, destacaremos os principais resultados
encontrados.

A Formação da Psicanálise no Brasil: relações entre Adheleid Koch e Durval


Marcondes - Marcio Lucas Moreira Rodrigues (Colegio Rembrandt COC), Pedro
Ernesto Miranda Rampazo (Colégio Galileu Mackenzie)

Em 1933 a ascensão do Partido Nazista ao poder resulta no controle e repressão de


toda a sociedade alemã a partir da ideologia de raça. No campo intelectual, o
nazismo realizou a arianização das ciências e dos saberes, como a psicanálise, que
neste caso, levou ao expurgo dos analistas judeus, inclusive de Sigmund Freud,
fundador da psicanálise, e Adheleid Koch, analista didata judia, que foi
fundamental na implementação da psicanálise no Brasil. No mesmo período,
Durval Marcondes, psiquiatra brasileiro e grande entusiasta dos saberes
psicanalíticos, se dedica ao processo de institucionalização da psicanálise no Brasil
junto ao IPA (Internacional Psychoanalytical Association), esforço que começara
na década anterior. Dentro do contexto apresentado, esta pesquisa pretende discutir
a atuação profissional de Adheleid Koch e Durval Marcondes, a relação intelectual
entre ambos nesse ofício, bem como suas ideologias, ressaltando a importância
desse vínculo para a institucionalização da psicanálise no Brasil.
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A loucura Espírita e o Espírito da loucura no Rio de Janeiro da República


Velha - Marcos Moreira Marques (UNIRIO)

Desde os primeiros documentos produzidos na França por Allan Kardec, para


configuração da doutrina que o autor batizou de espiritismo, este conjunto de
pensamentos e práticas foi acusado de provocar o suicídio e a loucura. As
acusações iniciais foram proferidas essencialmente pela Igreja, mas, logo se
transformaram em matéria de interesse de médicos e psiquiatras que, já no Brasil
dos anos 1880, pela pena do Dr. Nuno de Andrade, ganhava a classificação
psiquiátrica de loucura vesanica, reconhecida pelos delírios e ideias fixas que
provocava. Essas acusações não impediram que ainda na década de 1880 houvesse
no Rio de Janeiro cerca de trinta casas totalmente dedicadas ao tratamento espírita
das doenças mentais. A base teórica para esses tratamentos provinha de O Livro
dos Médiuns, que classificava a doença mental como obsessões, sendo estas
divididas em três tipos: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação, todas elas
oriundas da ação de espíritos sobre o encarnado. Na década seguinte, este conjunto
explicativo será aprofundado pelo médico e político Adolfo Bezerra de Menezes
que, através da obra A loucura sob Novo Prisma, classificará a doença mental em
dois tipos: àquelas resultantes de algum defeito do cérebro, às quais caberá à
medicina o tratamento, e aquelas resultante da ação dos espíritos, que será
responsabilidade do espiritismo o seu tratamento. Com a promulgação do Código
Penal de 1890, qualquer tipo de ação curativa realizada pelos seguidores da
23
doutrina passa a ser encarado como crime, mas nem mesmo a criminalização fez
com que os seguidores do espiritismo deixassem de atender doentes, sendo que,
entre 1902 e 1911 o número de pacientes atendidos na Federação Espírita Brasileira
ultrapassará a quantidade de 1.600.000 pessoas, entre elas, vários doentes mentais,
que serão atendidos por médiuns, diagnosticados por espíritos e tratados a base de
remédios homeopáticos e sessões de desobsessão. Já nas primeiras décadas do
século XX, a doutrina espírita sofrerá pesados ataques da classe médica, em
particular de médicos ligados à Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro
e à Liga Brasileira de Higiene Mental, de onde médicos como os doutores Leonídio
Ribeiro, Henrique Roxo, Oscar Faria e Carlos Fernandes, entre outros, procurarão
demonstrar que o espiritismo seria um dos principais fatores responsáveis pelo
desenvolvimento de distúrbios mentais entre a população da cidade do Rio de
Janeiro. Desta forma, entre os últimos anos do século XIX e as primeiras décadas
do século XX, o espiritismo tanto procurou desenvolver técnicas de tratamento para
as doenças mentais quanto foi acusada pela classe médica como causador dessas
doenças. Sendo assim, este trabalho procura discutir esse duplo aspecto na relação
espiritismo e doença mental.

A pena de morte no discurso médico-criminológico na Era Vargas (1930-


1945) - Allister Dias (UFRJ)

Este texto tem por objetivo descrever e analisar o conteúdo dos discursos de
médicos, sobretudo psiquiatras e médicos legistas, e juristas cerca da pena de
morte. O contexto dos anos 1930 e início dos anos 1945, a chamada Era Vargas,
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justifica-se pelo maior densificação do debate sobre o assunto na ambiência


intelectual do período em decorrência do tensionamento e da polarização política
que marcou o mesmo, o que trouxe também a recorrência do tema dos “crimes
políticos”, ainda mais a partir de 1935. O decreto-lei n° 431, de 18 de maio de 1938,
previu a pena de morte em alguns casos. Em vista disso, centraremos nossa análise
no livro do advogado Jurandyr Amarante, “A Pena de Morte”, do mesmo ano do
decreto supracitado. Tal análise é complementada com a inscrição e cotejamento
de seus posicionamentos em meio a ideias veiculadas pelos membros da
comunidade de debate da qual fazia parte: a Sociedade Brasileira de Criminologia,
fundada em 1933. Nosso acesso aos termos deste debate se dá por meio da Revista
de Direito Penal, periódico da instituição. A posição geral daquela sociabilidade
intelectual era de repúdio à pena capital. Porém, surgiram posicionamentos
destoantes, às vezes pautados por racionalidades eugênicas, como os do psiquiatra
Jefferson Lemos, reconhecido por sua militância positivista. Procura-se, com este
estudo, perceber quais as ideias e noções biológicas e psicológicas mobilizadas na
oposição à pena de morte. Além desta questão, testamos a hipótese de que tal tema
abria flancos importantes para debates acerca de questões historicamente muito
caras ao discurso criminológico da primeira metade do século XX: o nível de
cientificidade do conhecimento médico-criminológico para afirmar a
“incorrigibilidade” de certos criminosos; o tema das “personalidades psicopáticas”;
a crítica ao lombrosianismo e ao neolombrosianismo; a relação entre as penas e a
civilização; as raízes da etiologia criminal; entre outras.
24
A questão do louco criminoso nas primeiras legislações penais do Brasil e da
Argentina - Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos (UERJ)

A loucura no âmbito do Direito foi abordada de forma diversa ao longo das


elaborações dos códigos penais tanto do Brasil quanto da Argentina. O dito “louco
criminoso” representava, muitas vezes, um perigo social, sendo então necessárias
ações ou medidas de segurança que o mantivessem afastado da sociedade. No caso
do Brasil, o primeiro Código Penal – o Código Penal do Império do Brazil, de 1830
foi elaborado sob os preceitos da escola clássica do direito penal, fundamentado no
livre arbítrio e na responsabilização penal definida de acordo com a moralidade dos
fatos, sendo a loucura uma questão ambígua para os fundamentos deste Código.
Embora houvesse indicação para que os considerados “loucos criminosos” fossem
enviados para casas destinadas especificamente para eles, só em 1841 foi criado o
Hospício Pedro II no Rio de Janeiro destinado estritamente à assistência e
tratamento dos doentes mentais. A criação do hospício corresponde ao grande
projeto civilizatório em curso durante o Império, que implicava, entre outras coisas,
a colocação da loucura sob a égide médica, como doença mental. Na Argentina,
diferentemente do Brasil, as primeiras leis penais não tinham abrangência nacional,
estando limitadas às províncias, o que conferiu certa heterogeneidade ao âmbito
penal. O Código Penal da Argentina foi elaborado em 1863 e ficou conhecido como
Código Tejedor. Na Argentina os primeiros hospitais psiquiátricos implementados
eram administrados por sociedades filantrópicas e de beneficência. A situação das
mulheres dementes foi uma das primeiras preocupações da Sociedade Filantrópica,
pois estas ou viviam acorrentadas em prisões ou vagando pelas ruas da cidade.
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Diante disso, em 1852 a Sociedade Filantrópica solicitou ao governo que a polícia


deixasse de levar as mulheres para a prisão e as encaminhasse ao Hospital General
de Mujeres onde se criou um pavilhão de dementes. É importante apontar que no
final do século XIX e início do século XX na Argentina as políticas estatais
visavam ações com o objetivo de ordem e controle social devido ao grande fluxo
migratório europeu que resultou em um aumento populacional neste período. Em
1863 foi criada uma Casa dos Dementes que recebeu o nome de Hospicio de Las
Mercedes em 1873. Em 1887, após o hospício passar por obras para a criação de
novos espaços para alojar os internos, começaram a funcionar alguns
departamentos, dentre eles um específico para os alienados delinquentes. Assim
como no Brasil, a criminologia se desenvolveu neste período com o objetivo de um
ordenamento social.

Cem anos de Assistência a Alienados na cidade do Rio de Janeiro: Uma


história entre rupturas e continuidades (1852-1930) - William Vaz de
Oliveira (CAp-UERJ)

Propõe-se aqui analisar a Assistência a Alienados na cidade do Rio de Janeiro no


período compreendido entre 1852- ano de inauguração do primeiro
estabelecimento destinado ao tratamento dos alienados no Brasil, Hospício de
Pedro II, que se configura como um espaço de desenvolvimento dos saberes e
práticas psiquiátricas na cidade do Rio de Janeiro e no Brasil - e 1930 - ano do
afastamento de Juliano Moreira da direção da Assistência a Alienados e o início de
25
um período de fragmentação e especialização dos saberes e práticas psi no Brasil -
, atentando para as rupturas e continuidades observadas nesse processo de
consolidação da medicina mental, marcadas, especialmente, pela convergência de
caridade religiosa, ciência e filantropia.

Gênero e sexualidade no Hospício Nacional de Alienados (década de


1920) - Ygor Martins da Cruz (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A pesquisa “Gênero e sexualidade no Hospício Nacional de Alienados (década de


1920)” integra-se, como subprojeto, à pesquisa “Do Hospício de Pedro II ao
Hospital Nacional de Alienados: cem anos de história (1841 – 1944)”, coordenada
pela professora e pesquisadora Drª. Cristiana Facchinetti (COC/FIOCRUZ).
Associa-se também ao grupo de pesquisa do CNPq “O físico, o mental e o moral
na história dos saberes médicos e psicológicos”. A partir da documentação
disponibilizada – essencialmente os Livros de Observação Clínica dos Pacientes –
pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(IPUB/UFRJ) essa pesquisa propõe-se a identificar como as categorias gênero e
sexualidade influenciaram nos diagnósticos oferecidos por psiquiatras e estudantes
de psiquiatria aos pacientes que ingressavam no Hospital Nacional de Alienados,
durante a década de 1920. É de nosso interesse compreender como funciona a
relação entre os comportamentos sociais e sexuais desviantes com os diagnósticos
psiquiátricos a partir das avaliações médicas feitas dos pacientes. Como já
mencionado, a documentação pesquisada encontra-se no IPUB, que tem sua origem
vinculada ao Pavilhão de Observação. Esse Pavilhão era a porta de entra-da para
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os doentes – suspeitos de alienação mental – enviados pelas autoridades públicas.


A documentação analisada são as observações clínicas desta instituição, portanto,
tratam da primeira avaliação oferecida aos pacientes em relação aos 15 dias, em
média, que estiveram in-ternados sob supervisão ali. Além disso, por meio dos
registros disponíveis, propõe-se traçar o panorama histórico dos indivíduos que
ingressaram no Hospício Nacional. Idade, origem sócio profissional, estado civil,
história da doença e, principalmente, diagnóstico, encaminhamento, tratamentos e
saída são as informações que serão buscadas nos livros de observação.

Imagens da loucura: as fotografias no Hospital Nacional de Alienados (1906-


1944) - Raisa Monteiro Capela (Unirio)

A presente pesquisa tem por objetivo analisar o uso da fotografia como ferramenta
científica no campo da psiquiatria no Rio de Janeiro, entre os anos de 1906 e 1944,
no âmbito do Hospício Nacional de Alienados. Neste sentido, este projeto pretende
investigar a documentação fotográfica produzida no Hospício Nacional de
Alienados, buscando compreender como essas imagens constituíram-se como um
dispositivo fundamental para a prática do saber psiquiátrico e fizeram parte do
impulso modernizante da Primeira República. Nossa questão central é investigar
como o Hospício buscava se representar e como os loucos eram representados
através do dispositivo fotográfico, buscando analisar o repertório de fotografias que
foram produzidas tanto institucionalmente como pela imprensa do período até 1944
ano de encerramento do HNA.
26
Médicos e Psiquiatras na fundação da Revista Brasileira de Psicanálise
(1967) - Lourdes Madalena Gazarini Conde Feitosa (Universidade do Sagrado
Coração), Roger Marcelo Martins Gomes (Universiade Sagrado Coração)

Desde a fundação da psicanálise por Sigmund Freud, a medicina e, em especial a


psiquiatria, envolveram-se na produção e publicação do saber psicanalítico. Vários
periódicos psicanalíticos desde o início da psicanálise contemplaram estudos
médicos e psiquiátricos. Neste trabalho propõe-se avaliar a participação dos
médicos e psiquiatras na Revista Brasileira de Psicanálise de 1967, especificamente
o que publicaram e qual o sentido destas publicações no discurso psicanalítico da
revista. Foram analisados quatro números da primeira revista em 1967 – sua
materialidade, Diretores e Conselho Editorial e os conteúdos temáticos tratados.
Com efeito, verificou-se que a parceria entre médicos e psiquiatras nas páginas da
revista contribuiu para os psicanalistas conferirem à psicanalise o estatuto de
ciência entre os saberes médico-psicológicos.

O significante em Jacques Lacan e sua contribuição para uma história da


loucura - Danieli Machado Bezerra (Universidade Federal Fluminense)

O significante para Jacques Lacan é um modo de produção. Neste artigo


identificamos como ele opera na teoria lacaniana e como ele foi importante no
ensino de Lacan e contribuiu com a discussão sobre a loucura. Antes de entrarmos,
propriamente, na temática dessa operação, faz-se necessário estabelecer o que é a
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linguagem como articulação do significante a partir de uma compreensão lacaniana


sobre a linguística, pois as reflexões em Jacques Lacan são possíveis porque ele se
apoia em uma crítica constante, dentro de seu ensino, ao que foi proposto pela
linguística moderna através de Ferdinand de Saussure e Roman Jakobson. Em Meu
Ensino [2005/2005] Lacan mostra que a sua transmissão da Psicanálise lida com a
linguagem desde o início quando ele propõe a fazer uma releitura da obra freudiana.
Concorda com Heidegger [1889-1976] quando afirma que o "o homem habita a
linguagem". Ele pensa com Heidegger [1889-1976] que formula a teoria do Dasein.
Essa frase aponta para a questão sobre a linguagem existir mesmo antes de o
homem ser, ou seja, de o homem ser constituído por ela, de ser invadido por ela.
Para Lacan, o homem nasce na linguagem precisamente como nasce no mundo,
como também nasce pela linguagem. Isso é a origem para ele. A questão sobre a
operação significante atravessa essa questão sobre a linguagem e com ela
articulamos uma discussão original em Jacques Lacan, pois vemos como ele
elabora a releitura da obra de Freud, pois ele formula a relação do inconsciente e a
linguagem e inicia uma investigação sobre os pormenores inerentes à língua através
de questionamentos sobre a função que ela exerce no sujeito e assim, inaugura sua
construção teórica sobre o significante.

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ST 03. A Literatura de Cordel e suas
relações com a História, as Migrações,
os Territórios e a Educação

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A ditadura militar contada a partir da literatura de cordel: contribuições para


o ensino de História - Maria Isaura Rodrigues Pinto (Faculdade de Formação de
Professores da UERJ), Rejane Rosa do Amaral Monteiro (UERJ)

Este estudo examina a maneira como a ditadura militar é contada através da


Literatura de Cordel. Nesse contexto, destaca-se o folheto O Golpe: de 1964 a
1985, no qual o poeta J. Victor,de forma instigante e esclarecedora, narra
acontecimentos que marcaram esse momento histórico. Busca-se, a partir disso,
ressaltar que a presença do cordel na escola constitui uma boa oportunidade de o
aluno ter contato com a experiência cultural que emana dessa literatura e também
com a riqueza expressiva de sua linguagem, tanto em relação aos recursos poéticos
que lhe são específicos quanto aos diversificados temas significativos que aborda.
A construção do conhecimento, por meio do trabalho com o cordel, seja no espaço
da Cordelteca Gonçalo Ferreira da Silva, na Faculdade de Formação de Professores
da UERJ, ou em escolas, por meio de atividades externas desenvolvidas a partir do
acervo da Cordelteca, permite uma aprendizagem significativa, pelo fato de essa
literatura se apresentar no contexto sociocultural como rica fonte de pesquisa,
despertando nas pessoas, quando bem trabalhada, um interesse maior pela
aquisição de saberes. Ao se valer de temas variados, os escritos contidos nos
folhetos tornam as aulas mais dinâmicas. Seu uso também pode abarcar atividades
como: contação de histórias, apresentação de pequenas peças teatrais e
planejamento de oficinas de desenho. Destaca-se, aqui, a importância do trabalho
com os folhetos na escola para dinamizar o ensino de história, assim como quebrar
29
a exclusividade do uso de livros ou manuais em detrimento de outros materiais.
Como conclusão, verifica-se que a literatura de cordel é uma forma de produção de
conhecimento que, ao ser levada para a sala de aula, enriquece o processo
educativo. É preciso analisar os fatos históricos não somente a partir das versões
oficiais, da fala dos políticos e das informações veiculadas em jornais, mas também
através das representações dadas pelos poetas de cordel, através dos folhetos,
mostrando visões de momentos históricos vivenciados por eles.

As expressões da literatura de cordel nos aspectos materiais da Feira de São


Cristóvão. - Letícia Moura Gomes Rosa (UFRRJ)

Este artigo tem como proposta mostrar como a cultura popular nordestina, expressa
no cordel, ainda se faz tão presente dentro da cidade do Rio de Janeiro, mais
especificamente na Feira de São Cristóvão. A literatura do cordel – objeto aqui em
estudo – será usada como base para se perceber o quanto traços dessa tradição
materializam-se nos espaços da Feira. Pretende-se a partir da observação dos
espaços e de entrevistas com os comerciantes mensurar as razões para a escolha de
traços da tradição cordelista presentes na ordenação e na ornamentação da Feira
como um todo. Em suma, esse trabalho tem como objetivo mostrar como o cordel
dialoga com os espaços físicos presente nesse patrimônio e resgatar, dessa forma,
as permanências e rupturas que marcam os seus mais de 70 anos de existência.

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As Transformações e Permanências da Literatura de Cordel nos Territórios


do Rio de Janeiro - Carolina Mariano de Oliveira (UFRRJ)

Este artigo visa apresentar o projeto de extensão que vem sendo realizado na
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro intitulado “Identidades e Expressões
Populares no Rio de Janeiro: Territórios da Literatura de Cordel” e que tem como
objetivo compreender a produção e a manutenção da Literatura de Cordel na
cidade, levando em conta, principalmente, o papel da Academia Brasileira de
Literatura de Cordel, da Feira de São Cristóvão e da Fundação Casa de Rui Barbosa
como locais de produção, divulgação e preservação do cordel brasileiro. Como
metodologia de trabalho adota-se a análise de fontes, a produção de fichas
informativas sobre a maior parte dos cordéis em arquivos, a visitação e as
entrevistas diretas com os produtores e divulgadores do cordel na atualidade da
capital fluminense. Antes, contudo, de expor os caminhos que o projeto segue e os
resultados que espera alcançar, pretende-se aqui uma reflexão sobre o papel
fundamental da categoria de Patrimônio Imaterial para a perpetuação, ainda que
com transformações, dessa forma de expressão literária no contexto cultural
brasileiro.

Mole não se mete: violência, masculinidade e "identidade nordestina"


discurso do cordel - Valdinar da Silva Oliveira Filho (UESPI)

Era “tempo de política”, 12 de setembro de 1976. A cidade de Caicó se vê abalada


30
por um grande crime. Um corpo é achado e desenterrado próximo ao Parque de
Exposições do município. Constata-se ser o corpo da menor Rita Reges, que por
estar desaparecida há alguns dias, vinha sendo insistentemente procurada por seus
familiares. A polícia prende, então, a última pessoa a ser vista na companhia de
Ritinha, como era mais conhecida. Trata-se de Wilson Roque, seu namorado, que,
após interrogatório, confessa ter sido o autor do assassinato. Conta que matou sua
namorada e prima após estuprá-la, enforcando-a com a sua camisa, já que esta
resistiu ao “atentado à sua honra”. O acontecimento, parece, só teria vindo a
confirmar as suspeitas dos pais de Ritinha que já a alertara para não mais sair com
o rapaz. A violência e a masculinidade e, obviamente, o sofrimento da família que
perdeu sua filha narradas através dos folhetos de cordel Nos parece, inclusive, que
a violência é constitutiva das relações sociais. A "identidade nordestina" na corda
bamba dos folhetos cordelistas.

O cordel em movimento: diálogos Brasil - França - Sylvia Regina Bastos


Nemer (UERJ)

O presente trabalho tem como objetivo pensar a literatura de cordel no quadro da


história das idéias, abordando, primeiramente, um problema que ocupa número
expressivo de estudiosos: a questão das origens. Em seguida, serão discutidos os
processos de circulação de saberes envolvendo pesquisadores brasileiros e
estrangeiros, com destaque para Raymond Cantel cujas pesquisas com folhetos
populares nordestinos abriram caminho para um fértil diálogo entre Brasil e a
França em torno desse tema. A análise se baseia no conceito de circularidade
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cultural, de Carlo Guinzburb, que permitirá uma aproximação entre os campos da


História e da literatura de cordel em torno da qual as mais variadas perspectivas
teórico conceituais foram traçadas nos últimos cem anos.

Representações de religiosidades afrobrasileiras em folhetos de


cordel - Arthur Gomes Valle (UFRRJ)

A presente comunicação discute as diversas maneiras (poéticas e imagéticas) como


as religiosidades afrobrasileiras foram representadas na literatura de cordel a partir
da análise de um corpus de folhetos pertencente ao Centro Nacional de Folclore e
Cultura Popular e à Fundação Casa de Rui Barbosa. A pesquisa nas “cordeltecas”
dessas duas instituições cariocas por termos como “candomblé,” “macumba” ou
“umbanda” revelou centenas de referências às religiosidades afrobrasileiras.
Embora a maioria dessas referências seja ligeira e pontual, alguns folhetos - com
destaque para os produzidos pelo poeta Rodolfo Coelho Cavalcanti (1919-1987) -
tem como seu tema central religiões afrobrasileiras específicas e/ou seus
praticantes. Nos cordéis que analisaremos, é possível observar a proposição de
representações que exaltam as religiosidades afrobrasileiras como um patrimônio
cultural a ser valorizado, mas também de representações que reiteram esterótipos
preconceituosos e negativos, cujas origens remontam ao menos às primeiras
décadas da República no Brasil.

São Paulo entre identidades e signos: o cordel e outras representações em


31
territórios culturais - Elis Regina Barbosa Angelo (UFRRJ)

O objetivo dessa análise se concentra na representação de elementos que definem


os territórios culturais formados e mantidos fora do nordeste, nos quais a
religiosidade, a festividade e as imagens em forma de signos, são palcos
privilegiados de processos simbólico-territoriais alocados na cidade de São Paulo,
especialmente quanto aos elementos identitários. Entre esses territórios,
encontram-se o centro de tradições nordestinas- CTN e a biblioteca Belmonte, nos
quais se percebe imagens e demais representações de sentidos na cidade,
sacralizadas em temporalidades e territórios culturais de memória. Dessa forma,
serão privilegiadas para análise e interpretação, as formas de concepção desses
lugares, suas definições e diferenças no que tange à missão de abraçar e acolher os
traços da cultura do Nordeste, incluindo sotaques, cores, sabores, memórias, e
religiosidade, nas maiores concentrações de nordestinos fora do seu lugar de
produção de sentido. A partir desses territórios de tradições, espaços de memórias
e mantenedores de representações culturais de religiosidade, alimentação e
entretenimento, serão vislumbradas suas principais relações de afetividade, e
identificação dos seus colaboradores e visitantes. Como metodologia será
enfatizada a relação entre a história oral, a imagem sacralizada como fonte de
memórias, além de documentos sobre a fundação e continuidade desde as
festividades e formas de retenção da história em ícones culturais, até suas relações
de poder e implicações sociais resguardadas. Também será aplicada pesquisa
quantitativa para compreender a média de visitas aos lugares como representantes
dos nordestinos nestes estados a partir da visitação a estes territórios. Como
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resultado constrói-se discussões sobre os elementos formadores de memórias


acerca das imagens sagradas e consagradas pela perspectiva do patrimônio cultural,
sobre como estes lugares se fundamentam na missão de agregar e manter as
identidades.

Um estudo Afroperspectivista para além da narrativa de Cordel:


Ressignificando Tradições e Heranças - Luiza Helena Dias Braga (UFRRJ)

Este trabalho fundamenta o Cordel como estudo do campo do Patrimônio.


Entendemos o Cordel como baluarte da memória, sobretudo ao se tratar de
narrativas históricas orais, para além da expressão popular. Essas narrativas
carregam elementos das heranças e das tradições e por isso podemos afirmar que a
prática de contar e narrar histórias cria uma perspectiva de história, pois possibilita
recontar o passado sobre o ponto de vista do que são os grupos sociais. Desta forma,
é possível resgatar heranças e tradições vinculadas à tradição africana no sentido
afroperspectivista. O Cordel pode ser utilizado para inscrição de elementos desta
tradição em sua perspectiva narrativa, significando desta forma, elementos desta
herança e desta tradição que também integram a identidade brasileira.

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ST 04. A pesquisa de iniciação
científica: experiências e práticas

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A composição do livro didático: forma e análise das iconografias sobre Egito


Antigo - Jerrison Patu de Melo Alves (Universidade Estácio de Sá)

O conhecimento histórico escolar é percebido cada vez mais como distinto do


conhecimento acadêmico. Neste processo, ganha importância o estudo do papel
dos livros didáticos na construção escolar dos relatos do passado humano,
considerando-se, ainda, a inserção de tais livros como mercadoria num circuito que
movimenta milhões de reais. No caso especifico da história antiga, o debate sobre
conhecimento escolar tornou-se mais intenso com os projetos de sua exclusão nas
primeiras versões da BNCC, enfatizando perspectivas lineares, progressivas e
eurocêntricas do passado histórico. Neste sentido, o trabalho proposto irá
demonstrar as características do conhecimento histórico escolar sobre o Egito
Antigo a partir da analise das representações iconográficas presentes nos livros
didáticos do 6° ano do ensino fundamental.

A Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha através da mídia:


Análise de discursos - Wanderson Oliveira (Uerj)

Durante trabalho, são utilizados arquivos de universidades, jornais e livros para


entender como foi a construção da imagem do "gaúcho" até a realização da
Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha em 1935, no Governo de
Getúlio Vargas, e como a mídia da época tratou do evento. Para o desenvolvimento
a pesquisa propus a abordagem do assunto em dois enfoques: o primeiro
34
privilegiando um exame dos trabalhos produzidos nos meios acadêmicos, como
monografias, artigos e livros que discutiram a formação da imagem do gaúcho,
desde o século XIX até os anos 1930 e outro apresentando e analisando as notícias
veiculados no Diário de Notícias e Correio do povo em setembro de 1935 que
davam conta da Exposição do Centenário Farroupilha e a valorização dos ideais da
Revolução Farroupilha.

A influência do futebol amador nas particularidades dos bairros de


Iporá - Valtuir Freitas Silva Júnior (Universidade Estadual de Goiás-Iporá)

Esta pesquisa busca compreender como o futebol amador fomentou a rivalidade


entre bairros na cidade de Iporá - GO, com destaque para o embate que existia entre
o Umuarama e o Atlético, sendo o primeiro localizado no centro da cidade e o
segundo na periferia. Para tanto, o método de investigação utilizado tomou como
princípio uma abordagem qualitativa, valendo-se especialmente dos postulados
metodológicos da História Oral, uma vez que se utilizou de relatos de sujeitos que
vivenciaram a rivalidade em questão, dentro e fora de campo. Por conseguinte, ao
longo desta investigação se tomou como ponto de reflexão as considerações de
Norbert Elias (1992). Desta feita, esta pesquisa possibilitou um entendimento
acerca das relações estabelecidas em determinado contexto no ambiente urbano
local.

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A Influência Neoliberal na Reforma do Ensino Médio (MP 746/16) - Bruno


Martins dos Santos (Universidade Estácio de Sá)

A proposta deste artigo é investigar a influencia neoliberal na reforma do ensino


médio estabelecida pela medida provisória 746/16 e aprovada pelo senado e
sancionada pelo Presidente Michel Temer em 2017. Busca também mapear a
influência neoliberal na educação brasileira até a reforma e também entender a
ideologia que mantém o modelo neoliberal de sistema e como a educação é usada
para a manutenção de tal sistema através de leis e modelo de ensino organizado
pelas elites. Sendo assim, a discussão nos leva a refletir sobre a postura que
tomamos mediante os problemas políticos e sociais e enxergar a verdadeira
intenção do modelo neoliberal e dessa reforma.

A iniciação científica na educação básica – problematizando o lugar dessa


reflexão a partir da experiência da Escola Politécnica de Saúde Joaquim
Venâncio/Fiocruz - Ana Lucia de Almeida Soutto Mayor (Pesquisador em Saúde
Pública)

Os processos de indagação, pesquisa, investigação, sistematização e difusão


constituem etapas fundantes do processo de construção do conhecimento e,
sobretudo, de modos de compreender, pensar e indagar o mundo em que vivemos.
Nesse sentido, é necessário sublinhar o lugar privilegiado e central que a “iniciação
científica” – ou, de maneira mais ampla, uma “educação científica” - deve ocupar
35
nos currículos de educação básica de todo o país e, de modo mais específico, nos
currículos de educação básica dos sistemas públicos de ensino brasileiros. A Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), unidade que atua, em nível
médio de ensino, na formação de jovens trabalhadores em saúde, além de ocupar
um lugar importante na formação de alunos trabalhadores que buscam dar
continuidade à sua formação (EJA/PROEJA), possui duas formas distintas de
iniciação científica/iniciação à pesquisa: uma de natureza não curricular, em espaço
de educação não formal – o Programa de Vocação Científica (PROVOC) – e o
Projeto Trabalho, Ciência e Cultura (PTCC), integrado à grade curricular
obrigatória dos alunos dos cursos de Educação Profissional de Nível Técnico em
Saúde, da EPSJV. O objetivo central deste trabalho é discutir, de modo
comparativo, como se organizam essas duas experiências formativas de iniciação,
à luz da premissa da pesquisa como princípio educativo. A relevância das
experiências formativas acima descritas, desenvolvidas no âmbito da Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)/FIOCRUZ, ratificam o
entendimento de que esses processos devem assumir um lugar central e sistemático
nos currículos de educação básica dos diferentes sistemas e redes de ensino de todo
o país, na certeza de que esses processos se constituem em frentes decisivas e
fundantes de uma formação integral, humanista e emancipadora, capaz de
contribuir para as transformações políticas, econômicas e sociais, tão necessárias à
sociedade brasileira. Além disso, de modo particular, pretende-se problematizar de
que maneira as linguagens artísticas e as experiências estéticas participam desses
processos, partindo do entendimento de que a Arte - como a Ciência - se constitui
em um modo singular de indagar o mundo e refletir sobre ele.
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A Pesquisa de Iniciação Científica no Ensino de História Antiga: experiências


e práticas - Fábio Afonso Frizzo de Moraes Lima (Universidade Estácio de Sá)

Nos últimos anos, trabalhamos em conjunto com diversos discentes em projeto de


Iniciação Científica, com apoio da Universidade Estácio de Sá e da FAPERJ,
destinados a analisar o estado atual do ensino de História Antiga no país através de
livros didáticos adotados em escolas do estado do Rio de Janeiro, tanto em seus
aspectos textuais quanto iconográficos. Esta comunicação tem por objetivo discutir
algumas destas experiências, demonstrando as dificuldades e a importância de
debater o tema do Ensino de História Antiga no país, em especial a partir do diálogo
com as diferentes formas da consciência histórica de senso comum acerca da
Antiguidade.

Análise Estrutural da Vingança na Mitologia e na Sociedade Nórdica (Séculos


X-XIII) - Caio de Amorim Féo (UFF)

A vingança era uma prática recorrente entre os vikings, envolvia questões de honra
e coragem e ressaltava o valor do principal núcleo social da sociedade germânica,
a família. Na Islândia pré-cristã (870-1000), a resolução de conflitos por meio da
vingança violenta ocorria, porém, devido a fatores que envolviam o tamanho
territorial da ilha, distanciamento do continente e a intenção de se evitar um
confronto generalizado incontrolável. A vendeta entre pequenos grupos, ou
36
exercida de maneira individual em casos isolados, eram as formas predominantes.
Com o cristianismo consolidado na região, no ano 1000, e com o Estado Livre
Islandês já estabelecido desde o ano de 930, as resoluções dos conflitos passaram
a ser promovidas cada vez mais através de acordos em que as compensações
financeiras se tornaram correntes. Esta tentativa de controle da violência sofreria
um forte abalo com o início da guerra civil em 1220, que se estenderia até 1264,
configurando-se um período de violência deflagrada na Islândia. A proposta do
projeto de Iniciação Científica que desenvolvo na UFF, sob orientação do prof. Dr.
Mário Jorge da Motta Bastos, está centrada em utilizar os atos de vingança
realizados pelos deuses presentes nas fontes mitológicas nórdicas com o intuito de
estruturar o ethos violento presente nas práticas de vingança que se articulavam na
Islândia do período pré-cristão até o fim do Estado Livre em 1264. Para a
abordagem em questão utilizamos, além das fontes mitológicas, compilados de leis
islandesas de conteúdo variado que abarca o período pré e pós-cristianização. A
pesquisa tem por objetivo problematizar a utilização das fontes mitológicas
nórdicas para o estudo da religiosidade e da sociedade islandesa da Era Viking,
além de contribuir com a crescente expansão do interesse pela produção de
materiais voltados à Escandinavística em língua portuguesa. Ademais, as análises
da religiosidade e da vingança privada em contexto viking auxiliam no
entendimento não só das relações circunscritas aos países escandinavos, mas
também de casos intrínsecos a outros recortes espaço-temporais. Nesta
apresentação, pretendemos, ainda, refletir sobre a importância da iniciação
científica na formação profissional do graduando em História. Para tal, buscaremos
apresentar o processo de seleção e tratamento das fontes primárias por nós
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utilizadas, o que significa escolher ou descartar uma determinada fonte de acordo


com o seu objeto de estudo.

Análise social da infância abandonada na Casa dos Expostos do Rio de Janeiro


(1870-1885) - Beatriz Virgínia Gomes Belmiro (UERJ)

Este trabalho tem por objetivo identificar quem eram os pobres da cidade do Rio
de Janeiro na virada do século XIX para o século XX. Para tal, irei estudar o perfil
da infância abandonada e, na medida do possível, caracterizar a família que
abandonava a criança – através da leitura dos bilhetinhos que cada vez mais
acompanhavam as crianças deixadas na roda dos expostos da Santa Casa da
Misericórdia do Rio de Janeiro. O período estudado é marcado pela chegada
significativa de imigrantes no Brasil e pelo processo de Abolição da escravatura.
Interessa perceber de que maneira essas mudanças influenciaram no perfil (cor e
estado de saúde) das crianças enjeitadas no Rio de Janeiro, analisando os registros
e as cartas deixadas junto aos recém-nascidos.

As faces do Diabo, uma análise da composição das diferentes concepções sobre


a ideia do adversário durante o medievo - Victoria Gonçalves
Lisboa (Universidade Estácio de Sá)

O presente trabalho tem como intento analisar as diferentes ideias que compõem o
conceito do Diabo durante o período conhecido como medievo. Partindo do
37
pressuposto que diferentes entidades tomam posteriormente a forma de um único
adversário, o Diabo, dentro do próprio contexto teológico cristão. Para
fundamentar esse pressuposto será analisado e exposto textos de monges católicos
que escreveram sobre a figura do Diabo e seus mitos, durante o medievo, onde será
analisado as descrições das características individuais e específicas de cada
entidade relacionada ao Diabo; tais como Lúcifer, Satanás, Besta, Dêmonio e
Satan(Shaitan) e posteriormente será analisada a questão do maniqueísmo católico
durante o medievo, tendo suas origens na filosofia religiosa sincrética e dualística
fundada e propagada por Manes ou Maniqueu no século III, estabelecendo assim
as bases para a formação final da concepção de um único adversário opositor ao
Deus cristão, e sua também utilização para controle social, político e religioso.
Demonstrando assim um paralelo entre as diferentes noções sobre as entidades
relacionadas a figura do Diabo e sua posterior e intencional, dada as influencias e
contexto social da época, reunião em uma única figura opositora que se opõe aos
propósitos e ideias representados pela Igreja e seu credo.

As relações de trabalho e o sindicato na Companhia Nacional de Álcalis entre


o período 1964-68 - Thadeu Mendonça Martins Correa (Universidade Estácio de
Sá)

Esta pesquisa tem como objetivo compreender as consequências do golpe civil


militar de 1964 para os trabalhadores da Companhia Nacional de Álcalis (CNA),
principalmente os trabalhadores sindicalizados, em tempo de modernização de leis
trabalhistas e mudanças na contribuição aos sindicatos. Busca-se também mostrar
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como foi a atuação do governo provisório instaurado para desfazer um sindicato


bem combativo antes do golpe, que além de fazer reivindicações para melhores
condições de trabalho, também foi fundamental para a defesa da companhia,
atacada por trustes desde o início de sua produção. Partiremos de fontes relativas
aos arquivos do DOPS e do SNI, além da documentação produzida pelo próprio
sindicato e os relatos orais das memórias de ex-funcionários da empresa, que
trabalharam no período abordado.

As vozes femininas do Império e da República - Patrick Fernandes


Abêlha. (Universidade Estácio de Sá)

Período em que teve a contribuição de pioneiras em diversas áreas, as tendo como


espelhos, para mostrar que as mulheres também podem ser sujeitos históricos,
seguindo suas diretrizes como literárias, educadoras, militares, líderes políticas e
herdeiras de fazendas.

Bolsista de iniciação científica: experiências, práticas e resultados de pesquisa


no campo da história da Educação - Eliane de Mesquita Sabino dos Reis (UERJ)

O presente trabalho tem como objetivo relatar as experiência, práticas e os


resultados de pesquisa como bolsista de iniciação científica no campo da História
da Educação. Graduanda do 7º período no curso de Pedagogia, da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), encontro-me vinculada ao Núcleo de Ensino e
38
Pesquisa em História da Educação (NEPHE), coordenado pelo professor José
Gonçalves Gondra. Foi durante as reuniões deste grupo, entre leituras,
apresentações e eventos que o projeto de pesquisa se iniciou, focalizando a
assistência à infância pobre no Brasil durante os primeiros anos da República. O
projeto contou inicialmente com o apoio da UERJ durante quatro semestres, após
este período recebeu durante dois semestres o apoio da Faperj. E no momento
presente está em tramitação na citada fomentadora, a solicitação de renovação da
bolsa, que muito contribuirá para a conclusão do trabalho, a ser apresentado como
monografia. O primeiro passo da pesquisa foi fazer o levantamento bibliográfico
sobre a temática escolhida. Diante dos resultados, o estudo ancorou-se num
conjunto de autores que nos ajuda apresentar e discutir como a infância pobre do
início do século XX tornou-se um problema social e alvo de práticas reeducativas
em internatos. Neste sentido, tendo como objeto da pesquisa a Escola Quinze de
Novembro (1905-1925), instituição para meninos abandonados no Rio de Janeiro,
reunimos diversas fontes documentais que nos permite investigar e compreender a
citada escola como um espaço de reeducação dos menores abandonados,
estruturada em três eixos: trabalho, disciplina e educação elementar. Assim,
prosseguimos à análise de ofícios de entrada e saída de alunos, folhas de
gratificações concedidas aos menores, mapas, periódicos, iconografias, legislação
referente à instituição e relatórios do Ministério da Justiça e Negócios, ao qual a
escola estava subordinada. Como resultado parcial da pesquisa, compreendemos a
escola e seu projeto de reeducação como uma experiência perpassada por uma rede
de discursos, de variados atores sociais da época, que institucionalizou a infância
pobre como aquela que precisava ser reprimida, vigiada e recuperada.
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Bonequinhas Karajás: Objeto de Poder e Construção Social - Carla Cristina


da Silva Lavinas (UERJ), Janaina Santana Alves da Silva (UERJ)

Parafraseando a pergunta do autor Roger Chartier, na obra “A História Cultural –


entre Práticas e Representações”, seria possível detectar “os hábitos e práticas dos
habitantes dos campos [ou de outras civilizações], que não são de modo algum os
das nostalgias citadinas, mas os de carne e osso que povoam o país comum? . A
ideia desta pergunta traz luz a vários questionamentos quanto ao objeto escolhido
pelo grupo para fazermos uma análise dentro de dois museus; Objeto este que
iremos analisar, as “bonequinhas Karajás”. Dentro dos museus, essas bonequinhas
são representadas como brinquedo e descobrimos que, na aldeia, ela é um objeto
de transição, ou seja, as bonecas Karajás são dadas às crianças (meninas) na idade
entre 5 e 7 anos. Para cada menina é dada cinco bonecas Karajás com diferentes
formas, para que ela compreenda desde cedo a sua origem, religião e os costumes
da sua tribo. Ao pesquisarmos nas teses, dissertações, sites e nos dois museus, o
Museu Nacional e no Museu Histórico Nacional, encontramos diferenciações
quanto à sua representação. Ao longo do texto iremos ilustrar o lugar social em que
as bonequinhas estão inseridas dentro dos dois museus, além de delinear o seu lugar
social, dentro da aldeia e, por último, fazer um cotejo das ideias entre as
representações nos museus e na aldeia; enfatizando que os brinquedos somente
ganharam tal proporção, como conhecemos hoje em dia, no final do século XVIII
e início do XIX, quando foram criadas as primeiras fábricas de brinquedo.
39
Culturas ancestrais sob o olhar do Walt Disney Studios - Barbara Maria França
Gomes (UNESA)

As animações produzidas pelo Walt Disney Studios tendem a abranger e explorar


variadas culturas, apresentando-as para um público geral encantando adultos e
crianças. Dentre essas, o estúdio abordou cultos à ancestralidade de forma
expositiva, causando interesse sobre a cultura ancestral de determinado povo
protagonista da trama. Façamos um tour pela África, China, Estados Unidos,
Polinésia, e México, conhecendo diferentes formas de contato com os ancestrais.
O objetivo deste artigo é comparar os métodos de se transmitir tais conhecimentos
para as telas com a realidade vivenciada em cada cultura.

Entre Arquétipos e Narrativas: História das Identidades Sociais - Paulo


Fernando Araujo de Melo Cotias (Universidade Estácio de Sá)

A Pós-Modernidade é um conceito polissêmico, em processo contínuo de


construção. Entretanto é notável a influência desse paradigma em diversos campos
do conhecimento, a história em especial, o que ensejou novas maneiras de se
constituir o fazer científico e a sua comunicação. No campo da História, que é de
nosso interesse, após a terceira geração dos Annales e com a fragmentação da
perspectiva das mentalidades em diferentes campos que tangem o simbólico,
observamos um interesse maior nas questões relacionadas aos modos de pensar,
sentir, agir e ser. Em nosso estudo, em especial, postulamos investigar sob
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diferentes ângulos e perspectivas a historicidade do processo de construção de


identidades sociais de modo comparativo entre as visões monolíticas, típicas da
modernidade e os novos arranjos identitários contemporâneos. Desse modo, nossa
trajetória de pesquisa vai percorrer de modo a exemplificar nossa proposta, as
temáticas de identidade da instituição familiar, da infância abandonada, do ser
professor e das identidades arquetípicas na construção de categorias sociais na
historiografia. Através delas, esperamos demonstrar como essas dimensões
processuais foram se modificando ao longo da transição de um paradigma para o
outro, com suas rupturas e permanências, identificando as possíveis influências de
fenômenos históricos de ordem geral ou os particulares a cada contexto sociais
específico. Nos concentraremos prioritariamente no recorte que estabelece como
campo de análise a história e a sociedade brasileira sem, no entanto, deixarmos de
estabelecer as necessárias conexões, quando o caso, com fenômenos históricos
mais amplos.

IHGB e a contrução de uma identidade nacional - Sara Pereira dos Santos


Bragança (Estácio de Sá)

A composição do povo brasileiro sabemos que é formada por três matrizes: a do


português, o negro e o índio. Essa miscigenação proporcionou novas culturas, que
são diferentes costumes, tradições, rituais, línguas, religiões, vestimentas, danças
entre outras manifestações que formam um determinado povo e que também está
interligado a identidade. A ideia de nação pode se dizer que é uma construção
40
simbólica e materiais, que possui características similares, algo que os integram.
Surgiu no Brasil assim uma diversidade cultural que foi construída ao longo do
tempo com essas multiplicidades por conta da miscigenação. Mas a identidade
nacional brasileira não foi gerada tão facilmente, com a criação do IHGB houve
uma tentiva de construção de uma identidade nacional totalmente forjada para dar
uma ideia de unidade e pertencimento da nação brasileira. O IHGB foi um projeto
político centralizador pois no período regencial e até antes havia regionalismos.
Somente com criação de um sentimento nacional acabaria com as revoltas.

A FEB “de baixo para cima” e seus efeitos sobre a sociedade - Rodrigo Alberto
Alves Marques (Universidade Estácio de Sá)

Com a necessidade de um estudo de abordagem mais plana nas escolas e


faculdades, quando se trata da Segunda Guerra Mundial, brevemente estudamos
sobre quem compunha o lado dos Aliados acompanhando a Inglaterra, URSS e
Estados Unidos contra o Eixo. Rapidamente lemos em materiais escolares ou
escutamos em seminários a participação brasileira da FEB durante o período da
guerra e suas ações na Itália. Seria isso por falta de documentos, pela falta de
importância, por ser ofuscada pela vitória das duas superpotências ou por fatores
sociais? Os soldados, por sua maioria humildes, que batalhavam na FEB pelo Brasil
na Itália sem experiência e pouco treinamento, conseguiram cumprir a sua missão
e voltaram ao seu país com referências sobre a guerra que evocam o heroísmo e
glorificam vitórias, porém, devido a uma quantidade pequena de veteranos em
relação a população do país, não se consolidou a ideia de grande participação do
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Brasil em nossa sociedade a ser reconhecida, restando apenas frustrações, “neurose


de guerra” e a morte para se enfrentar. A guerra mudou.

Imperialismo e novas fontes energéticas: a experiência de uma sala de aula


compartilhada entre História e Química numa escola técnica - Pâmella Santos
dos Passos (IFRJ-Campus Rio de Janeiro), Pedro Henrique Souza dos
Santos (Universidade Federal Fluminense)

A presente comunicação tem como objetivo dar visibilidade a uma pesquisa de


iniciação científica que busca compreender o lugar da História num curso de
Ensino Médio e Técnico, realizada no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio de Janeiro – IFRJ. Compreender a relação que perpassa o
cotidiano escolar torna-se fundamental para que haja a compreensão do papel da
História dentre tantas disciplinas, tanto do eixo técnico quanto do propedêutico.
Para tanto realizamos uma atividade interdisciplinar entre História e Química
Orgânica, uma roda de conversa que buscava compreender a temática do
Imperialismo do século XIX e as novas fontes energéticas. Assumimos assim o
desafio da sala-de-aula compartilhada, momento no qual o aluno de iniciação
científica, licenciando em História, preparou e conduziu esta aula/debate
conjuntamente com a professora de História, sua orientadora, e o professor de
Química Orgânica. Tal experiência mostrou-se enriquecedora não apenas para os
alunos, que viram como assuntos que parecem estanques quando abordado em
disciplinas isoladas, podem ser interligados de maneira muito produtiva, mas
41
também para nós, professores, incluindo o bolsista. Ao discutir as implicações
políticas das disputas territoriais entre Nações pudemos abordar, ainda que de
forma rápida, temáticas das duas disciplinas, tais como: contexto de criação da
Petrobrás, crise na Venezuela, qualidade do petróleo do pré-sal, importância do gás
dentre outros. Do diálogo entre essas disciplinas, podemos repensar o lugar das
Ciências Humanas na formação técnica e assim afirmar uma escola politicamente
engajada, que prepare para o mundo do trabalho e que faça sentido para as
juventudes. Romper os muros da escola é fazer deste espaço-tempo um local de
encontros e de sociabilidades, e apostar em temáticas transversais contribui nesse
objetivo. Entre perguntas que circulavam desde a queda do morro do Bumba no
Município de Niterói pela produção do gás metano e o descaso do poder público,
até o poder energético de países como Rússia e Venezuela e como isso implica em
desavenças com os EUA, transitamos entre o local e o global problematizando os
aspectos técnicos e políticos existentes em cada um desses casos. A todo momento
refletíamos: o que isso diz respeito a minha formação de Ensino Médio Técnico
em Química? O tocar do sinal nos impunha o final do tempo para uma discussão
que teria muito a avançar. A implicação de todos com a atividade e a auto avaliação
feita pelos alunos indicava o sucesso da atividade. Vários afirmaram que queriam
saber mais sobre o assunto antes do encontro para poderem perguntar mais. Ou
seja, uma História e Química que fazem sentido para nossos jovens.

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Industrialização do Samba - Thaís Maria Cruz de Moura (Universidade Estácio


de Sá)

Por que o samba passou a ser comercializado? Em 1920, se alguém fosse visto
dançando, ou cantando samba era preso por vadiagem. Então irei responder como
algo tão descriminado se tornou hoje em dia patrimônio cultural do Brasil, sendo o
Brasil um país ainda tão racista, porque uma música que antes era considerada de
“preto” por ter origem africana, com músicas que serviam como forma de
resistência para expor , para expressar a opressão que os mesmos sentiam na época
colonialista consegue agradar todas as etnias e consegue gerar tanto lucro ao Brasil
na indústria fonográfica.

Justiniano José da Rocha: Jornalista, Político e Cidadão - Gilson dos Reis


Melo Filho (Universidade Federal Fluminense), Olavo Passos de
Souza (Universidade Federal Fluminense)

José Justiniano da Rocha, considerado pelo Barão do Rio Branco como o primeiro
dos jornalistas do seu tempo, demonstrou mais que nenhuma outra figura, o peso
que a imprensa adquiriu no ambiente político imperial, na qual pôde participar e
ser reconhecido durante sua estreia em 1836, como um dos redatores do jornal O
Atlante, e em pouco tempo, do O Cronista. Desde sua entrada no mundo
jornalístico, se viu solidamente posicionado no Conservadorismo, se aproximando
42
do Emergente Partido Conservador e logo se elegendo Deputado. Incessante em
sua produção, Justiniano continuou a analisar e moldar o pensamento brasileiro
desde a Regência até a década de 1860, quando faleceu ainda com três obras ainda
inacabadas. Buscamos nesta pesquisa, através da leitura dos Anais do Parlamento,
e do jornal O Regenerador, observar a trajetória ideológica e politica de Justiniano,
de Jornalista para Político para Jornalista novamente. Esta trajetória, encaixada
dentro de uma cultura política que marcou a década de 1850, definida em grande
parte por figuras próximas de Justiniano, como o Marques de Paraná e Nabuco de
Araújo, teve imenso impacto no pensamento conservador de sua época, assim
como em décadas tardias. Ao utilizar a Imprensa como uma ferramenta para a
transmissão de seu posicionamento Político, Justiniano provava a capacidade desta
de influenciar as sociedades civis e políticas de qualquer época. O autor poderia
elevar uma figura ao ponto do martírio, e ao mesmo tempo atacar outra
impiedosamente. O jornal O Regenerador esteve envolvido em questões políticas
que concernem a meados da década de 1850 e ao início da década de 1860,
situando-se em um ambiente político marcado pelo chamado “Gabinete da
Conciliação”. Formado em 1853 e dissolvido em 1856, e composto por ditos
Conservadores e Liberais, a Nona Legislatura atraiu destaque por sua longa lista de
realizações e reformas. Este “Gabinete da Conciliação é popularmente descrito
como a tentativa Imperial de preservar o equilíbrio político da nação. Gabinete ao
qual Justiniano da Rocha pertenceu, foi liderado por figuras como o Marques de
Paraná e o Ministro da Justiça Nabuco de Araújo, sendo responsável por uma série
de reformas que transformaram o panorama político brasileiro. Conceitos como
Monarquia, Municipalidade, Federalismo, democracia, e religião seriam
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amplamente debatidas por Justiniano, tanto em seus jornais e periódicos, como em


seus discursos diante do Gabinete. Todos esses analisaremos em nossa
apresentação.

Lideranças femininas e juventude negra - Edilma Soares da Silva (UNESA)

O interesse pelo tema, Lideranças femininas e juventude negra, se dá durante a


graduação em Serviço Social, quando apresentei o trabalho de conclusão de curso
- “Mãe pode tudo! – Um estudo sobre lideranças femininas”, ao tentar encontrar
respostas para as questões de violência vivenciadas por mulheres e crianças no
núcleo familiar decidi dar continuidade a essa discussão na pós-graduação onde
discuto a família e o espaço lúdico como aprendizado para uma cultura de não
violência, partindo da compreensão que parte dos lares monoparentais no Brasil,
são femininos e de etnia não-branca. Prossigo com a temática, Crianças e Relações
Familiares: Experiência de uma Assistente Social em um Centro Social (Silva,
2008), neste trabalho, relato minha experiência como Assistente Social em um
Centro Social que atende a crianças entre 03 e 06 anos e seus respectivos familiares,
buscando fazer uma crítica à falta de oportunidade de formação e capacitação com
a ausência de políticas públicas destinadas à juventude. Os jovens ocupam, hoje,
um quarto da população do País. Isso significa 51,3 milhões de jovens de 15 a 29
anos vivendo, atualmente, no Brasil, sendo 84,8 % nas cidades e 15,2 % no campo.
Os dados do Censo de 2010 mostra que 53,5% dos jovens de 15 a 29 anos
trabalham, 36% estudam e 22, 8% trabalham e estudam simultaneamente de acordo
43
com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que os
jovens entre 14 e 24 anos são os mais afetados pelo desemprego. No 4° trimestre
de 2015 o índice era de 15,25% e passou para 26,36% no 1° trimestre no ano de
2016. Em pesquisa feita pela SNJ (Secretaria Nacional de Juventude) constatou
que a juventude brasileira é grande diversa e ainda muito atravessada por
desigualdades. De acordo com o sexo, 49,6 % são homens e 50,4% são mulheres,
desses, seis em cada dez entrevistados declararam-se de cor parda (45%) ou preta
(15%) e 34% da cor branca. No levantamento da SNJ, a proporção de jovens que
se diz preta é maior (15%) do que a identificada pelo Censo (7,9%), e a Secretaria
acredita em uma tendência de crescimento, na população jovem, de auto declaração
como da cor preta. Uma das hipóteses é que o aumento da visibilidade da questão
racial no País e os papeis importantes que os negros vêm conquistando ultimamente
estejam estimulando os jovens a afirmar sua identidade por cor e etnia. Atualmente
atuo com supervisora de estágio em uma organização que atua com famílias
moradores da Vila Operária Confiança em Vila Isabel. As famílias são basicamente
monoparentais femininas. São jovens mães, que enfrentam diariamente o desafio
de cuidar dos filhos, crianças e adolescentes e dos idosos doentes.

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O ensino de História da Grécia e Roma Antigas na Educação Básica brasileira


em um projeto de integração pesquisa-extensão - José Ernesto Moura
Knust (IFFluminense)

Esta apresentação busca socializar resultados e impressões do primeiro ano de


desenvolvimento de um projeto de integração pesquisa-extensão desenvolvido no
IFF-Macaé com a participação de bolsistas de extensão e de Iniciação Científica
Júnior. O projeto pretende, a partir de um estudo de caso específico, o ensino de
história da Grécia e Roma antigas, desenvolver reflexões e práticas que colaborem
para o desenvolvimento do atual debate sobre o currículo de história na educação
básica. Através de uma pesquisa sobre a presença de temas destas histórias nos
currículos (prescritos e reais) da educação básica, da constituição de um fórum de
professores da rede básica da região que trabalham com estes temas em suas
turmas, e da produção de metodologias e materiais inovadores sobre tais temas para
serem utilizados em sala de aula, este projeto pretende ir além do mero debate sobre
o currículo prescritivo e propor novos caminhos para o trabalho pedagógico destes
temas. Neste início de projeto começamos uma pesquisa curricular mais geral,
usando currículos prescritos e livros didáticos como objeto de estudo, e o início de
articulação com as escolas da região para a montagem do fórum de professores.

O inconsciente coletivo e Luís XIV: influências arquetípicas na construção da


imagem do "Rei Sol" da França - Fábio Dias Júnior (Universidade Estácio de
Sá)
44
O presente trabalho busca novas formas de analisar o campo simbólico na história
apoiado na psicanálise de Carl Gustav Jung. Através de seus conceitos de
inconsciente coletivo, arquétipos, consciência e Eu, é feito uma análise da
construção da imagem do Rei Luís XIV da França, o rei Sol, com foco nos
conceitos e nas personificações da vitória e da glória, para a época. Para isso se faz
uso das fontes artísticas e literárias. Este último é dado importância para o discurso
da glória de Scudery, e quanto ao primeiro às pinturas e esculturas feitas do rei com
as personificações de tais substantivos. Para isso procura-se usar as próprias formas
de como os contemporâneos do rei expressavam as pinturas e esculturas, suas falas
quanto ao significado, descrição das palavras no dicionário da época e suas
descrições nos jornais. Esse material é encontrado em acervos online da própria
França e suas referências tiradas do livro A Fabricação do Rei de Peter Burke. Os
textos, tal como jornal Le Mercure Galant e o Discurso da Glória, são analisados
na língua materna para, assim, evitar os problemas da tradução no tocante a
semântica, importante para análises simbólicas. Além dos conceitos teóricos a
metodologia analítica e sintética de Jung também é utilizada. Então é feito,
primeiramente, uma análise decompondo os símbolos que se apresentam nas
fontes, e, posteriormente, a unificação das partes decomposta para compreender o
todo da fonte, ligando os símbolos agora analisados. Por fim, interpreta-se o todo
para assim compreender quais arquétipos influenciaram na construção da imagem
real, tentando demonstrar que a política e sua propaganda não se faz unicamente
de forma racional, mas também por meio das influências inconscientes sobre a
consciência humana.
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Os cantos negros do Rio de Janeiro - Thaise Rezende Lima (Universidade do


Estado do Rio de Janeiro)

A região de Madureira, que inclui a Favela da Serrinha, Congonha e Cajueiro, e


também os bairros de Oswaldo Cruz, Bento Ribeiro e Marechal Hermes, é
localizada nos arredores do Rio de Janeiro. Essa região é habitada por uma enorme
população negra que foi expulsa dos locais centrais da cidade do Rio no início do
século XX. Ela abriga uma herança cultural rica e intangível, composta
principalmente por canções e mantida quase invisível para o resto da cidade. Em
2015, iniciamos uma pesquisa sobre os espaços de memória nesta localidade com
o objetivo de construir uma cartografia poética-musical registrando diversas
práticas celebratórias tradicionais produzidas a partir da diáspora africana, com
ênfase nas celebrações do jongo, folia de reis, choro, samba de gafieira, samba de
quadra e samba enredo. Nelas, os participantes cantam e dançam em um exercício
intenso de atualização e de manutenção da memória que se mantém viva em seus
corpos e em suas vozes. Para realizar a pesquisa, construímos um suporte teórico-
empírico, realizamos uma ampla revisão bibliográfica, analisamos estruturas
musicais e registros fonográficos e as memórias de músicos e seus familiares,
utilizando como apoio a musicologia histórica, os estudos de memória e a história
oral. Tudo isso culminou com a produção de um documentário que está em
execução. Assim, pretendemos, aqui, apresentar o projeto e sua história, bem como
os conflitos e tensões em torno da memória musical da cidade.
45
Passados distantes passados presentes: o ensino de História do Egito Antigo
nos livros didáticos - Matheus Da Silva Lima (Universidade Estácio de Sá)

Vivemos em um país visivelmente miscigenado e com contribuições histórico-


culturais fundamentais de diversas etnias de origens africana e indígena. Com a
aprovação de uma lei federal (10.639/03), que obriga o ensino de contribuições das
culturas indígenas e africanas na nossa sociedade, que houve um progresso no que
tange o ensino dessa temática. Tendo isso, percebemos que há a necessidade de
analisar a real importância dada a esse recorte nos materiais didáticos. Por isso
julgamos importante o debate e a pesquisa do tema a partir do suporte dos Livros
Didáticos para tentar compreender as escolhas do saber escolar no ensino da
história do Egito Faraônico.

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46
ST 05. A produção da História e o
marxismo

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A Fundação Getúlio Vargas: intelectualidade orgânica e modernização


conservadora (1951-1969) - Rafael do Nascimento Souza Brasil (PPGHIS-
UFRJ)

Nossa pesquisa objetiva, fundamentalmente, examinar o papel cumprido pela


Fundação Getúlio Vargas, na conjuntura histórica das décadas de 1950 e 1960,
enquanto um importante aparelho privado de hegemonia dedicado à formulação e
propagação de propostas que garantissem a organicidade do projeto burguês para
o país. Através do mapeamento e da análise das trajetórias político-institucionais
de empresários e intelectuais ligados à Fundação Getúlio Vargas pretendemos
investigar as mediações entre sociedade civil e sociedade política no Brasil. A
delimitação temporal da pesquisa situa-se entre os anos de 1951 e 1969, pois
abrange o período em que diferentes forças político-sociais, ligadas à FGV,
engendraram um conjunto de diretrizes reformadoras do Estado brasileiro e a sua
efetiva implantação sob um novo regime político no país. Diversas esferas da vida
social foram remodeladas após 1964: as relações e direitos trabalhistas, o
arcabouço da administração pública, a previdência social, além dos sistemas
eleitoral, bancário, tributário e fiscal. No centro desses eventos históricos, a FGV
não apenas participou como instituição em alguns momentos, como também
forneceu personagens que atuaram vigorosamente no palco e nos bastidores dessa
remodelagem estatal. Em 1951, nasceram duas poderosas agências da sociedade
civil, sob o crivo da FGV: o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e o Instituto
Brasileiro de Administração (IBRA), enquanto o Instituto de Direito Público e
47
Ciência Política (IDPCP) surgiria em 1952 – unidades que desde cedo elaboraram
e veicularam estratégias para a construção de um consenso em torno da
“modernização conservadora” das estruturas capitalistas do país. A conquista das
metas política (arrefecimento do conflito) e econômica (início da recuperação do
crescimento) e a consolidação de medidas que asseguravam o triunfo das reformas
modernizadoras do capitalismo brasileiro, ao final da década de 1960, encerram o
período histórico abordado nesse trabalho, posto que se alteraria o sentido das
reformas, na direção de um regime democrático restrito, e a atuação de efegevianos
no interior do regime ditatorial seguiria novos rumos. Em termos teórico-
metodológicos, nossa preocupação é analisar a FGV enquanto um aparelho privado
de hegemonia, desvendando as estratégias utilizadas para a inscrição de seu
programa no âmbito da sociedade política (através da ocupação de efegevianos nas
agências do Estado restrito) e os laços empresariais que tecia no âmbito da
sociedade civil. Trata-se assim, de investigar o(s) projeto(s) hegemônico(s)
elaborado(s)/veiculado(s) pelos intelectuais orgânicos vinculados à fundação e
examinar as modalidades de pressão engendradas pela FGV através de ações
institucionais e/ou por meio de seus quadros individuais.

A historiografia e a participação dos Estados Unidos no golpe empresarial-


militar de 1964 - Martina Spohr (CPDOC/FGV)

A produção historiográfica sobre a participação dos Estados Unidos no golpe


empresarial-militar de 1964 tem focado, em grande parte, na referida Operação
Brother Sam. Alguns autores, como René Dreifuss, Luiz Alberto Moniz Bandeira
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e Ruth Leacock, apontam mais diretamente para o envolvimento do empresariado,


brasileiro e norte-americano, no golpe. É preciso deixar claro um ponto: quando
indicamos a existência de algo para além da Operação Brother Sam, estamos
apontando para um processo histórico pautado pela comunhão de interesses de uma
elite orgânica transnacional. Procuramos demonstrar essa comunhão ao longo desta
tese. Perguntas mais diretas podem aparecer nesse momento: os Estados Unidos
financiaram o golpe? Os empresários norte-americanos atuaram diretamente na
tomada de poder? Estavam fisicamente presentes, como nos indica a possibilidade
de uma operação militar? São esses e outros apontamentos que trataremos nesse
artigo.

A leitura política de "O Capital" (Karl Marx) apresentada por Raniero


Panzieri nos Quaderni Rossi (1961-1964) - João Alberto da Costa
Pinto (Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás)

Apresento nesta comunicação uma breve reconstituição historiográfica da trajetória


política e intervenção intelectual de Raniero Panzieri (1921-1964) nas páginas da
revista italiana Quaderni Rossi, primeira expressão institucional do marxismo
dissidente operaísta. Para descrever a proposta teórico-política do marxismo de
Panzieri desenvolvo uma sumária análise de dois dos seus mais importantes textos
teóricos, seminais na organização e caracterização ideológica do movimento
operaísta italiano: “Sobre o uso capitalista da máquina no neocapitalismo” (1961)
e “Mais-Valia e planificação: notas sobre a leitura de ‘O Capital’” (1964). Com
48
estes textos o autor dialogou com as limitações teóricas e políticas da tradição
leninista italiana que lhe era coetânea resgatando outras perspectivas de análise
junto à obra de Marx (enfatizadas especialmente na reinterpretação da Parte IV d’
O Capital – “A produção da mais-valia relativa”). Ao considerar que o capitalismo
nas suas crises estruturais tem como marca fundamental a capacidade de
recuperação por parte do capital das lutas sociais dos trabalhadores através da
imposição do planejamento tecnológico como instrumento de controle da força de
trabalho também estendido ao tecido social em geral (a cidade percebida como
fábrica social, por exemplo), Raniero Panzieri organizava com a sua intervenção
intelectual a ação política do movimento operaísta. Conjuntamente com as
intervenções de Cornelius Castoriadis na revista Socialismo ou Barbárie (na
França), as de Cyril Lionel Robert James e Raya Dunayevskaia com a Tendência
Johnson-Forest (nos EUA), as de Guy Debord na revista Internacional
Situacionista (na França), as de Alfredo Margarido e o grupo português exilado em
França reunido em torno da revista Cadernos de Circunstância e as de João
Bernardo junto ao coletivo Combate (em Portugal), o movimento operaísta de
Raniero Panzieri nos Quaderni Rossi apresentou-se como um dos protagonistas
fundamentais no quadro geral das práticas dissidentes do marxismo conselhista das
décadas de 1960 e 1970.

A saúde pública como tema da historiografia marxista: o trabalho e a saúde


dos/as trabalhadores/as. - Ivan Ducatti (UFF)

A saúde pública nasce com o desenvolvimento do modo de produção capitalista,


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em especial a partir da formação da classe operária na Inglaterra, que configura o


proletariado urbano no cenário político, entre 1830 e 1840. A industrialização
emergente requeria uma urbanização com planejamento, para garantir condições
sanitárias não ameaçadoras à população com seus surtos epidêmicos. O Estado,
ainda que idealizado mínimo para os liberais, investigou e supervisionou a
execução das medidas para regulamentar a situação sanitária de comunidades
urbanas. No Brasil, fenômeno com alguma semelhança somente ganhará corpo
com o governo varguista. Trata-se de uma conjugação entre economia política e
história social que ainda urge pesquisas aprofundadas.

As revoluções sociais do pós-guerra: algumas reflexões sobre suas dinâmicas,


sujeitos políticos e sociais - Marcio A. Lauria de M. Monteiro (Universidade
Federal Fluminense)

As revoluções sociais ocorridas no pós-guerra na Iugoslávia, Albânia, China,


Coreia do Norte, Vietnã, Cuba e Laos podem, em certo sentido, serem
caracterizadas como socialistas. Todavia, caracterizá-las dessa forma, sem mais
qualificações, apaga não só seu isolamento a nível nacional e os regimes não-
democráticos que elas originaram, como também uma série de peculiaridades do
processo de tomada do poder que marcaram profundamente seus rumos
posteriores. Mais especificamente, refere-se aqui aos seus sujeitos sociais – as
classes sociais que impulsionaram os processos, sendo, no primeiro momento, de
derrubada dos regimes então vigentes, uma heterogênea força de trabalho rural
49
(frequentemente reduzida de forma simplista a uma “campesinato pobre”) e, no
segundo momento, de liquidação das relações sociais capitalistas, o proletariado
urbano (largamente ignorado pela literatura especializada); aos seus sujeitos
políticos – as organizações que lideraram os processos, partidos-exércitos que
(diferente da caracterização simplificadora, frequentemente utilizada, de
“socialistas”) almejavam que eles fossem revoluções “democrático-burguesas” ou
“nacional-libertadoras”; e à sua dinâmica – o percurso efetivamente seguido pelas
revoluções até o momento da mudança social qualitativa e sua consolidação na
forma de novas instituições estatais, marcado por guerras revolucionárias de longa
/ média duração, programas nacional-democráticos (reforma agrária, república
democrática e soberania nacional) e tentativas iniciais de preservar as relações
sociais capitalistas e governar em conjunto com setores “liberais” das burguesias
nativas. A partir de pesquisa bibliográfica e análise crítica de fontes secundárias, a
presente comunicação apresentará dados e reflexões acerca desses três aspectos,
buscando uma compreensão mais apurada do que foram essas revoluções sociais,
detendo-se de forma mais detalhada sobre os casos chinês e cubano, cujas
semelhanças talvez sejam extensíveis aos demais. Com isso, buscará trazer à tona
e concatenar aspectos pouco conhecidos e debatidos dessas revoluções que,
todavia, são fundamentais para compreendê-las e, mais ainda, às formações sociais
e regimes políticos que delas se originaram. Ademais, espera-se contribuir para
jogar alguma luz sobre as divisões no seio de diferentes tradições do socialismo
revolucionário e surgimento de novas, ocasionadas pelas peculiaridades desses
processos, bem como contribuir para a compreensão dos tantos outros processos

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revolucionários ocorridos no mesmo período, mas que não seguiram os mesmos


rumos anticapitalistas destes que se transformaram em revoluções sociais.

Da proibição do tráfico escravista à organização do Estado burguês -


atualização histórica e dependência econômica no Brasil. 1850-1891 - Pedro
Guimarães Pimentel (UERJ)

Nenhum outro tema despertou maior interesse entre os marxistas brasileiros que o
do "desenvolvimento". Pelo olhar histórico, debateu-se qual modo de produção
vigorou no país durante o período colonial e imperial, além da forma como a
economia brasileira se vinculou ao mercado mundial em expansão a partir do
século XVI. Como proposição política, debruçaram-se tais teóricos na
compreensão do "atual estágio de desenvolvimento" com o intuito de elaborar
alternativas autônomas ou - de forma menos radical - uma melhor integração ao
capitalismo internacional. A segunda metade do século XIX é palco da
efervescência tanto da economia cafeeira quanto - paradoxalmente - da rebelião
escrava, culminando na derrocada de uma relação de produção (fundada num modo
específico de produção). No entanto, o assentamento das relações de trabalho em
novas formas jurídicas (“livre” contrato de compra e venda da força de trabalho)
não levou à extinção da “lavoura nacional”. Ainda assim, a superação do
escravismo colonial não significaria imediata e obrigatoriamente o
desenvolvimento da economia industrial. Antes disso, serviu para a diversificação
e incremento de uma economia agrária baseada em formas não capitalistas (muitas
50
delas semi servis ainda que parcialmente assalariadas) durante significativo
período de tempo. Por outro lado, é impossível negar, mesmo para a temporalidade
em questão, que o Brasil “se desenvolveu”: ferrovias foram implantadas
transportando o café com maior velocidade e deslocando a força de trabalho
(escravizada ou colonata) para a lavoura, cidades vislumbraram rápidos
crescimentos demográficos e reformas urbanizadoras e o aparato jurídico-
normativo foi emparelhado com o das sociedades “desenvolvidas”. Optamos por
afirmar, no entanto, que o Brasil sofreu um processo de atualização histórica
assentado em sua condição de dependência econômica, o que resultou numa
modernização reflexa. O que isto difere das explicações tradicionais é o que
queremos dissertar neste trabalho, debatendo o período que nos parece decisivo
para a polêmica em questão, através de um instrumental teórico distinto do
usualmente aceito pela historiografia tradicional. Este aporte é fornecido
fundamentalmente por três conjunto de autores: Darcy Ribeiro e os conceitos
elaborados em torno da ideia de um “processo civilizatório”; Jacob Gorender em
seu “escravismo colonial” e José de Souza Martins a respeito do colonato como
regime de trabalho; e a Teoria Marxista da Dependência edificada por Theotonio
dos Santos, Vânia Bambirra e Ruy Mauro Marini.

História e Revolução na interpretação marxista de Caio Prado Jr - Bruno


Borja (UFRRJ)

Caio Prado Jr foi um dos pioneiros a tratar da história econômica do Brasil. Nas
décadas de 1930 e 1940 produziu trabalhos que, posteriormente, seriam
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consagrados como fundantes deste campo de pesquisa no país. Os estudos sociais


desta época, entendidos como intérpretes do Brasil, vão colocar a formação da
nação em perspectiva histórica. Estes trabalhos expressam a transição da sociedade
brasileira, passando de agrário-exportadora a urbano-industrial, sendo portadores
desta particularidade e influenciados pelas teorias difundidas à época no mundo.
Caio Prado será um dos primeiros a introduzir o materialismo histórico no país,
para fazer uma interpretação marxista do Brasil, a partir de uma visão de mundo
atenta às questões da classe trabalhadora. Por este caminho partirá do estudo do
Estado em Evolução Política do Brasil (1933) e chegará à pesquisa sobre a estrutura
econômica e social em Formação do Brasil Contemporâneo – colônia (1942), para
finalmente fazer sua síntese em História Econômica do Brasil (1945). Esta
interpretação será a base sobre a qual avançará a possibilidade de superação do
capitalismo em A Revolução Brasileira (1966). O autor vai apresentar respostas
diferentes para perguntas comuns à época, dentre as quais talvez a principal seja:
por que tomaram rumos tão distintos Brasil e Estados Unidos? Se ambos tiveram
uma origem histórica comum na colonização americana pelos europeus, qual seria
a razão dos EUA se firmarem como a principal nação industrial do século 20,
enquanto o Brasil era uma das maiores áreas atrasadas, subdesenvolvidas ou
dependentes do mundo? Outro tema central, que o distingue da historiografia até
então produzida, será a caracterização da economia colonial brasileira como
capitalista, se opondo às teses feudais prevalecentes. Escapando à forma jurídica
da propriedade da terra, vai buscar na estrutura produtiva, nas relações comerciais
e nas relações sociais de produção elementos que definam a economia colonial.
51
Neste sentido, faz história econômica no intuito de captar a formação da economia
brasileira, isto é, interpretar o passado para compreender o presente e propor uma
intervenção política consistente rumo ao futuro. A proposta desta comunicação é
apresentar os principais trabalhos do autor no campo história econômica do Brasil,
entrelaçados com sua trajetória política e intelectual, de acordo com a historicidade
e a processualidade de seu pensamento. Assim, pretende-se apontar os vínculos
desta interpretação do desenvolvimento do capitalismo no Brasil – e de sua prática
política – com a defesa da revolução brasileira.

Marx e a questão sindical na Associação Internacional dos Trabalhadores:


avanços e limites do sindicalismo - Wanderson Fabio de Melo (UFF/PURO)

A presente comunicação versa sobre as posições de Marx na Associação


Internacional dos Trabalhadores relacionadas à questão sindical. Busca-se discutir
a ascensão da luta sindical nos anos 60 do século XIX, as diferentes tendências
entre os sindicalistas e as posições de Marx naquele período. Defende-se que Marx
constituiu o trabalho teórico e prático em diálogo com esses trabalhadores, sendo
assim, a intervenção de Marx na Primeira Internacional não foi a aplicação de
formulações previamente estabelecidas, tampouco seus escritos na organização
expressaram meramente a disputa de frações. Portanto, frisa-se que o espaço da
Associação Internacional dos Trabalhadores foi um momento importante para a
constituição da obra marxiana. As fontes da reflexão estão formadas pelos escritos
de Marx realizados no período, as resoluções da Internacional e os trabalhos de
adversários.
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O Golpe de 2016 e a autocracia no Brasil - Gelsom Rozentino de


Almeida (UERJ)

O presente trabalho tem como proposta identificar os elementos da fragilidade do


sistema político brasileiro que permitiram a ruptura democrática de maio e agosto
de 2016, com a deposição da presidente Dilma Rousseff. Pretende ainda analisar
as contradições dos governos petistas de Lula e Dilma que contribuíram ou
possibilitaram as condições para o golpe. Analisar o governo oriundo do golpe,
presidido por Michel Temer e a sua agenda de retrocesso de direitos e restrição às
liberdades, relacionando com as desigualdades sociais e econômicas da formação
social brasileira. Contribuir para a construção de cenários a partir dos
desdobramentos da crise em curso, as possibilidades de reorganização de
movimentos sociais e resistência popular, bem como do restabelecimento do
Estado de direito e da democracia no Brasil. Destaca-se a relação entre a crescente
judicialização da política, desde o processo do “Mensalão” até as presentes
operações midiáticas desenvolvidas pela “Lava-Jato” e outras, e a desmobilização
e desorganização promovida pelo PT ao longo dos seus governos. O governo
enfrentou disputas internas crescentes na própria base aliada, por disputa de espaço
e interesses, que resultaram na divisão do grande arco de alianças. Diante do
crescimento do descontentamento e manifestações populares, das lutas ainda em
aberto nas ruas, as escolhas do governo Dilma e do PT possibilitaram o sucesso do
golpe de 2016. A perda da base social tornou o PT um partido da ordem, semelhante
52
aos demais. Assim sendo, não é mais uma “esquerda” para o Capital. Resta a
liderança carismática e as ambiguidades conciliatórias de Lula. Mas que,
aparentemente, não cabem mais na autocracia burguesa.

Segurança nacional e indústria: a aliança empresarial- militar no Brasil, 1949-


1967 - Renato Luís do Couto Neto e Lemos (UFRJ)

A comunicação tem como objetivo discutir as bases materiais e ideológicas das


aproximações entre setores empresariais e segmentos militares brasileiros no
período que vai da criação da Escola Superior de Guerra (1949) ao fim do governo
do marechal Castelo Branco (1967). Parte-se da hipótese de que tais aproximações
se dirigiram para a constituição de um programa econômico, ideológico e político
que se tornou uma das principais forças dos processos de disputa pelo poder de
Estado no país. A aliança empresarial-militar constrangeu o regime político
democrático vigente até 1964 e atuou como um dos elementos estratégicos da
conformação do regime ditatorial que se instituiu a partir do golpe que depôs o
presidente João Goulart (1961-1964). O governo Castelo Branco é tomado como
emblemático desta aliança, tanto pelos seu membros constituintes quanto por
importantes políticas de Estado adotadas no seu interior.

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Semear consenso com adubo e linha: dominação e luta de classes na extensão


rural no Brasil (1974-1990) - Pedro Cassiano Farias de Oliveira (Secretaria de
Educação do Estado do Rio de Janeiro)

O trabalho é o resultado da tese de doutoramento sobre a política de extensão rural


no Brasil. O recorte cronológico é de 1974 a 1990, período em que esta política
esteve sobre a coordenação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e
Extensão Rural (EMBRATER). Abordaremos também a origem do extensionismo
na década de 1950 para enfatizar as continuidades e rupturas das ações
extensionistas. Baseado no pensamento de Antonio Gramsci sobre Estado
ampliado podemos definir nosso principal objetivo da seguinte forma: analisar a
relação entre Estado restrito e sociedade civil, tomando a extensão rural como parte
integrante de projetos de hegemonia do patronato rural que transbordavam para
iniciativas de convencimento e dominação de setores subalternos. Sabemos que na
história rural brasileira as relações entre classes são permeadas por intensa
violência. Assim, a extensão rural pode ser inserida como uma política de
convencimento e expropriação de saberes, típica de uma relação de dominação que,
apesar de tentar produzir o consenso entre classes, não deixava de exercer uma
violência simbólica com suas práticas de crédito rural, clubes de juventude 4-S,
produção de líderes rurais e campos de demonstração de insumos agrícolas.
Percorremos alguns agentes e agências que influenciaram a política extensionista
tais como o Banco Mundial e a Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA).
A primeira financiou com empréstimos milionários a EMBRATER e imprimiu
53
diretrizes da revolução verde na empresa enquanto que a segunda veiculava críticas
ao extensionismo e teve um de seus membros como presidente da empresa. Durante
a década de 1980, nas discussões sobre o Plano Nacional de Reforma Agrária
(PNRA) e na Constituinte de 1986-88, a extensão rural foi atravessada pelas
disputas intra e entre classes que tiveram como principais protagonistas a
Confederação Nacional de Agricultura (CNA), a Organização das Cooperativas
Brasileiras (OCB) e o Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Convém finalizar lembrando que este trabalho faz parte de uma série de pesquisas
de historiadores fluminenses que visam entender a correção de forças das classes
dominantes no Brasil recente nas mais diversas áreas no período republicano e
possuem como norteador crítico o materialismo histórico, tais como André Guiot,
Rodrigo Lamosa, Pedro Campos, Flavio Casimiro, Melissa Natividade, entre
outros.

Trabalhadores na encruzilhada: A conspiração, o golpe e a trajetória do


sindicalismo dos Trabalhadores Rurais na Bahia - Marcelo da Silva
Lins (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Este texto está dividido em duas partes. Na primeira parte, tratei de como alguns
autores abordam a conspiração e o papel do complexo IPES-IBAD no golpe de
1964, bem como as motivações do golpe. Na segunda parte, abordo a trajetória do
sindicalismo de trabalhadores rurais no sul do Estado da Bahia, especificamente de
um grupo de sindicalistas inicialmente ligados ao Partido Comunista do Brasil
(PCB) que em 1952 fundaram o sindicato de Trabalhadores Rurais de Ilhéus e
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Itabuna, que se tornaria o maior sindicato de trabalhadores rurais do Brasil, e que


depois de saírem do partido em 1957 em função dos impactos do “Relatório
Kruschev”, se vincularam ao Movimento de Renovação Sindical (MRS), que
estabeleceu ligações com setores conservadores da Igreja Católica, com o Instituto
de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e Instituto Brasileiro de Ação Democrática
(IBAD), contribuindo com a campanha de desestabilização de João Goulart e com
a conspiração que levou ao golpe de 1964. É uma tentativa de, com base na
trajetória desse grupo, demonstrar algumas das teses defendidas por Dreyfuss em
A Conquista do Estado (1981) sobre o caráter de classe do golpe de 1964 e algumas
iniciativas e setores envolvidos na conspiração. Revela aspectos pouco conhecidos
da trajetória do movimento sindical dos trabalhadores rurais na Bahia, suas relações
e posicionamentos políticos.

Uma Revolução Mineira e Operária: Bolívia 1952 - Alexandre Elias da


Silva (IF FLUMINENSE)

Em 1952 a Bolívia passou por uma das mais marcantes transformações sociais do
continente. Sob a liderança dos trabalhadores mineiros. A tradição de organização
sindical boliviana remonta à década 1940 com a organização da Central Obrera
Boliviana (COB) e a Federação Sindical dos Trabalhadores Mineiros Bolivianos
(FSMTB) que, dentre outras organizações sociais e partidos políticos de esquerda.
Nosso trabalho pretende traçar um panorama das organizações envolvidas na
Revolução de 1952, bem como iluminar aspectos por vezes esquecidos pela
54
historiografia brasileira.

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55
ST 06. Anarquismo em questão:
conceitos, práticas, circulação e
trajetórias.

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"Minha Pátria é o mundo intierio": Neno Vasco e o anarquismo no Brasil e


Portugal. - Alexandre Ribeiro Samis (Colégio Pedro II)

A presente trabalho tem como objetivo analisar a trajetória pessoal e política do


anarquista português Neno Vasco. Este libertário, ao atuar no movimento operário
no Brasil e em Portugal, contribuiu sobremaneira para a formação do patrimônio
teórico que caracterizou a corrente geralmente identificada como sindicalista
revolucionária, e mesmo os setores anarquistas vinculados a mesma. Além disso, a
investigação permite entender as relações entre os anarquistas estrangeiros e os que
no Brasil formaram círculos de sociabilidade política, sem hierarquias ou
ascendência intelectual de determinado grupo étnico sobre o contingente de
militantes brasileiros. De uma forma geral, a apresentação pretende lançar luz sobre
a formação dos anarquistas em um contexto de forte coloração ideológica, no qual
o internacionalismo representou um importante eixo de orientação com o objetivo
de unir esforços em favor de uma única “pátria de trabalhadores”.

"Uma caretinha para todos". Escritos de Domingos Ribeiro Filho nas páginas
da revista Careta. - Mariana da Silva Rodrigues de Lima (UERJ)

A pesquisa que se expõe nessa proposta toma a revista Careta, um periódico


semanal ilustrado que circulou no Rio de Janeiro a partir de junho de 1908, como
fonte privilegiada de investigação. Nessa revista pretende-se identificar, selecionar
e organizar os textos do escritor libertário Domingos Ribeiro Filho (1875-1942)
56
publicados até 1934, época em que ele se afastou da publicação deixando de ser
editor da revista. Enquanto esteve ligado à Careta, Ribeiro Filho publicou textos
dos mais diversos gêneros literários, com destaque para as quase seiscentas
crônicas que foram publicadas entre 1919 e 1934. Nessa perspectiva, pretende-se
abordar a dimensão política de seus escritos, tomando-os como espaço não só de
crítica social, mas de projeção de uma certa visão de mundo. Explorar, portanto,
nos textos, as possibilidades históricas e documentais, exige encará-los como
campo de tensão, no qual podem estar explicitadas tanto as condições materiais de
vida e os modos de viver quanto os valores e as ideias, os sentimentos e as
sensibilidades, os projetos e as expectativas inerentes à experiência do autor num
tempo e espaço determinados.

A literatura como estratégia de luta e resistência: Domingos Ribeiro Filho e as


letras anarquistas (Rio de Janeiro, 1904-1919) - Angela Maria Roberti
Martins (UERJ / UNIGRANRIO)

Nesta comunicação os romances de Domingos Ribeiro Filho (DRF) emergem


como importante documento de referência para os estudos da chamada “literatura
anarquista”, pois neles encontram-se dados que marcam as intenções do autor no
sentido de fazer larga semeadura dos princípios libertários. Pretende-se explorar os
traços da “literatura de combate” e dos “romances de escândalo”, que evidenciam
um certo perfil ideológico, ilustrado por cultivar o “gênero da literatura social” e o
clamor à “propaganda das ideias libertárias”. Os registros de sua literatura de
ficção, representados, sobretudo, por romances, contos e peças de teatro, alinham-
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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
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ISBN: 978-85-65957-09-0
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se ao projeto de transformação social, moral e sexual dos libertários nos primeiros


anos de vida republicana no país, época em que as ideias e práticas anarquistas no
Brasil tiveram maior repercussão. O escritor oportunizou-se da literatura não só
para analisar e criticar os valores da sociedade estabelecida, mas também expressar
seus desejos e sentimentos. A partir da análise das peças literárias do autor e do
contexto social da época, é possível traçar o perfil político-literário de DRF, as
características e os elementos de sua literatura, bem como a contribuição que
deixou no campo das ideias e das lutas com as quais se envolveu. Deve-se registrar
que o trabalho decorre de uma investigação, ainda em andamento, sobre a trajetória
política e intelectual do escritor libertário Domingos Ribeiro Filho (1875-1942), e
sua contribuição tanto para a vida literária no país quanto para o movimento
anarquista que se desenvolveu na cidade do Rio de Janeiro, seu lócus de atuação,
no alvorecer do século XX. Nesse sentido, o trabalho converge com uma tendência
que se verifica nos últimos tempos, na qual há uma aproximação cada vez maior
entre História e Literatura, com uma profusão de pesquisas utilizando textos
literários como documento para o estudo do processo histórico. Assim fazendo,
pretende-se, entre outros, perscrutar a militância anarquista a partir de textos de
ficção, para refletir sobre a posição ocupada pelo autor e sua “literatura de
combate” no cenário político e literário brasileiro.

Anarquistas te convidam à barbárie: Cultura libertária nas páginas da revista


Barbárie de Salvador-BA (1979-1982) - Verônica Santos Borba (Universidade
do Estado da Bahia)
57
Essa comunicação parte de um pré-projeto de trabalho de conclusão do curso de
Licenciatura em História pela Universidade do Estado da Bahia, onde analisa a
trajetória da imprensa alternativa anarquista da Bahia no contexto ditatorial. A
pesquisa ainda em andamento busca refletir acerca da cultura libertária na Bahia
nos anos de 1970/80 destacando o papel da revista para o contexto da época. Ao
analisar as ideias libertárias impressas nas páginas da revista, será possível discutir
aspectos importantes da historiografia sobre a imprensa alternativa da Bahia, tais
como a disseminação das ideias anarquistas no movimento estudantil de Salvador,
entendendo sua movimentação e relação com outros periódicos anarquistas, como
também o ressurgimento dos ideários libertários num período de repressão e
autoritarismo que representava a negação dos direitos civis e políticos no país. A
revista Barbárie é uma revista cooperativa idealizada e organizada por estudantes
dos cursos de filosofia, ciências sócias, psicologia e letras da Universidade Federal
da Bahia, rodou entre os anos de 1979 a 1982 possuindo cinco números, apesar de
aparentemente o quantitativo ser pequeno, as páginas que variavam entre sessenta
a quarenta por revista, carregam uma enorme contribuição crítica, política e
ideológica sobre o regime e sobre outros movimentos correntes do período. As
fontes até então encontradas são três números da revista, algumas entrevistas com
os escritores e um acervo considerável de obras relacionadas a prática anarquista
no Brasil.

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Em tempos de sombra, matutemos uma educação completa - Silvério Augusto


Moura Soares de Souza (Faculdade de Educação - Gragoatá)

De fato, em tempo de recrudescimento do fenômeno da escola dual pelas políticas


marcadas pelo produtivismo e eficientismo para a educação básica, há de se pensar
numa educação completa. Isto é, numa educação integral não resultante de
correlação de forças antagônicas reguladas pela economia e pelo mercado, mas
alinhada à compreensão humana de que a liberdade é de todos e construída
socialmente, a partir de relações antiautoritárias e solidárias; obstaculizando,
portanto, o individualismo e a competitividade. Ademais, proporcionar uma
educação completa, significa, em grande medida, colapsar o fenômeno da
dualidade educacional no processo educativo, ao romper o fosso entre trabalho
manual e trabalho intelectual. Por Bakunin, “não deverão existir nem operários
nem intelectuais, mas tão-somente homens”. Aliás, é preciso trazer a
contemporaneidade de sua questão, já secular, levantada em seu escrito sobre A
Instrução Integral: “a emancipação das massas operárias poderá ser completa
enquanto receberem instrução inferior à dos burgueses ou enquanto houver, de um
modo geral, uma classe qualquer, numerosa ou não, mas que por nascença tenha os
privilégios de uma educação superior e mais completa?”. Por outro lado, é tempo
de autocrítica por todos os sujeitos envolvidos no processo educacional, assim
como é tempo de refletir/agir, em coletivo, em favor da humanização do chão da
escola, em particular, da escola pública: sua realidade, suas necessidades, seus
desejos, seus impedimentos e suas regulações. Afinal, uma escola é “reflexo
58
constante e variante da sociedade que nos rodeia”, reafirma Luengo, em A escola
da Anarquia. Pois o que temos, diz ela, é o sistema e as educações conservadoras
fragilizando as pessoas desde a sua primeira infância, quer seja pela dependência,
egocentrismo, exibicionismo, agressividade, com as quais elas se voltam contra si
por distorcerem a própria luta pela emancipação. É premente a elucidação da
relação entre o indivíduo e o coletivo para que se possa compreender a essência da
pedagogia anarquista. Em suma, para possibilitar a educação integral, há de se
considerar, como o verdadeiro papel social da escola, o impedimento da
reprodução da hierarquia das funções sociais a partir das desigualdades sociais. Ou
seja, tem-se um trabalho complexo que envolve transformações sociais profundas.

Emma Goldman: Trajetória, Anarquismo e Feminismo - Nilciana Alves


Martins (Universidade Federal de Juiz de Fora)

Emma Goldman (1869-1940) foi uma revolucionária anarquista de origem russa,


que em 1886 emigrou para Rochester (EUA), e assim como a maioria dos
imigrantes do leste europeu que chegavam a solo norte-americano, tornou-se
funcionária de uma indústria têxtil e passou por diversas dificuldades. O fato de ser
uma trabalhadora fabril, sua trajetória pessoal, como também os acontecimentos
daquele contexto, foram fatores que marcaram profundamente Emma Goldman,
fazendo com que ela se aproximasse do Anarquismo. Em 1889, a jovem já militava
pela causa socialista libertária, proferindo palestras por diversas cidades
americanas, tornando-se rapidamente alvo de perseguições encorajadas pela
“opinião pública”, sendo presa diversas vezes. Em 1906, fundou a revista Mother
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Earth, que funcionou até o ano de 1917, momento no qual Emma - juntamente com
seu companheiro Alexandre Berkman - foi deportada para a Rússia. Goldman
participou de importantes eventos históricos, entre eles a Revolução Russa e a
Revolução Espanhola e também desenvolveu uma série de interpretações sobre
esses eventos. Entretanto, a visão desenvolvida pela militante, mesmo mostrando-
se em convergência com a historiografia mais recente, foi, por muito tempo,
obscurecida e/ou negligenciada nos estudos históricos e sociais. Ainda no início do
século XX, Emma foi capaz de defender ideias que se aproximam das concepções
feministas da geração de 1970, chamando a atenção, em seus artigos, para o caráter
“cultural” da opressão que as mulheres sofriam/sofrem, e o intuito do presente
trabalho é retratar, tendo como base artigos escritos por Emma e publicados,
inicialmente, na revista Mother Earth, os apontamentos que a revolucionária faz
sobre o movimento feminista da época, como também compreender o que ela
acreditava ser necessário para a verdadeira emancipação da mulher. Por isso, o
objetivo desse trabalho é retratar parte da trajetória pessoal de Goldman, com base,
na sua autobiografia Vivendo Minha Vida, mas, principalmente, abordar o caráter
singular do feminismo de Emma Goldman.

Espaços de sociabilidade e a circularidade das ideias anarquistas no Rio de


Janeiro da Primeira República - Eduardo Carracelas Lamela (UFF)

Pretende-se discutir as formas de circulação, apropriação e ressignificação das


ideias libertárias no Rio de Janeiro, então capital da República, entre finais do
59
século XIX e início do XX, mais especificamente entre 1889 e 1930, momento
considerado por grande parte da historiografia como de formação do mercado de
trabalho capitalista no Brasil, mas também como um período de sindicatos livres e
associações autônomas, ainda não tocadas pelas posteriores medidas
centralizadoras e hierárquicas do Estado. Neste período, foi presente a circulação
de ideias anarquistas, o que segundo muitos estudos que tratam sobre o tema seriam
oriundas principalmente de imigrantes estrangeiros, que teriam trazido consigo as
experiências de luta e resistência dos seus países de origem – não sendo portanto
apenas aqueles clássicos opositores políticos dos movimentos libertários, como a
polícia e o empresariado, que as definiam como “plantas exóticas”, ou “sementes
importadas”, pesquisadores do movimento operário brasileiro também o fizeram.
É importante destacar que neste momento, dentro de um contexto de pauperização
e de degradação das condições sociais, características estas inerentes ao modelo de
transição para o capitalismo que marcou a formação do mercado de trabalho no
país, podemos repensar a circularidade das ideias anarquistas entre os trabalhadores
e intelectuais do período como um fenômeno relacionado às péssimas condições
de trabalho, onde a cultura associativa se tornava necessária, manifestando-se em
experiências aglutinadoras dos trabalhadores empobrecidos como práticas de
promoção de solidariedades horizontais e de resistência contra as injustiças da
exploração no trabalho. Não há dúvidas que, entre a última década do século XIX
e as duas primeiras décadas do século XX, o anarquismo foi aqui a principal
corrente organizatória entre os trabalhadores. Sendo assim, o que propomos é
tensionar estas interpretações sobre a circulação dos ideais libertários, que
acreditamos envolver não apenas sua “chegada”, mas também as diferentes
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reapropriações realizadas pelos indivíduos na cidade, em outros termos, ideias estas


que foram ressignificas pelos cariocas que às utilizaram conforme as demandas
específicas da região. Analisaremos, portanto, a atuação dos militantes libertários
em alguns importantes locais de sociabilidade no Rio de Janeiro, dentro da
delimitação temporal proposta, onde verificamos referências às ideias e práticas
anarquistas. Espaços estes que, assim como os jornais operários da época, também
contribuíram para a divulgação/construção das ideias revolucionárias e, com isso,
para a mobilização para a luta.

Francisco Ferrer y Guardia nos periódicos anarquista no Rio de Janeiro nos


anos 1909-1920: propaganda e polêmicas - José Damiro de Moraes (UNIRIO)

Esse estudo tem como objetivo apresentar a propaganda do pensamento


educacional de Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) no Rio de Janeiro nos anos
1909-1920, destacando as polêmicas e as críticas voltadas para as escolas e
educação do período. A comunicação faz parte do projeto que pesquisa a
circularidade de ideias anarquistas no Brasil, com o objetivo de perceber as trocas
entres países europeus bem como das Américas, não entendemos os ativistas no
Brasil como receptores de discursos e teorias “vindas de fora”. Pelo contrário,
compreender como esses militantes percebem as reflexões que ocorriam no
movimento anarquista mundial e suas atuações (escritos teóricos) no
desenvolvimento das ideias e práticas no Brasil. Também perceber como essas
ideais chegaram e quais foram seus impactos. Com isso, procurar compreender a
60
pluralidade do anarquismo a partir de suas estratégias e táticas no cotidiano das
lutas sociais/sindicais, sem se apegar a definições que procuram engessar as
interpretações históricas. Nesta direção, problematizar a “presença” de Ferrer y
Guardia no campo do discurso e das práticas educacionais de ativistas anarquistas
no Rio de janeiro. Francisco Ferrer criou o conceito educacional “Racionalismo” e
aplicou em sua criação, a Escola Moderna em Barcelona nos anos 1901 – 1906.
Essa experiência educacional foi fechada e reprimida pelo governo espanhol e
Ferrer acusado de participar no atentado à vida do Rei Afonso XIII, absolvido,
Ferrer deu inicio a Liga Internacional para o Ensino Racionalista na França com
diversos educadores europeus. Entretanto, em 1909, Ferrer foi preso na Catalunha
e acusado de envolvimento em manifestações populares denominadas de Semana
Trágica que protestavam contra o envio de tropas da Espanha para o Marrocos,
última colônia espanhola. Rapidamente um tribunal militar o condenou ao
fuzilamento, ocorrido em 13 de outubro. Esse motivo impulsionou a propaganda
em torno do seu projeto educativo em diversos lugares do mundo, inclusive no
Brasil. Assim se espalharam Escolas Modernas ou que advogavam a defesa do
racionalismo no Estado de São Paulo e Rio de Janeiro, bem como em outros locais.
Nosso estudo procura analisar como o Racionalismo e o nome de Ferrer aparecem
entre os anos 1909 até 1920 em críticas à educação/escola, na criação/defesa de
uma nova educação/escola presentes nos periódicos anarquista no Rio de Janeiro.
Também apresentar as polêmicas com religiosos católicos e outros grupos que
combatiam o pensamento anarquista na educação representado pelo racionalismo.
A divulgação de Ferrer e o Racionalismo nos periódicos é analisada em torno do

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“mito Ferrer y Guardia” e procura indicar como se deu sua apropriação no campo
das experiência educacionais no Rio de Janeiro pelos ativistas anarquistas.

José Oiticica como colunista do Correio da Manhã (1921-1927): o anarquismo


e seus possíveis caminhos para manutenção da ideologia nos campos de
luta - Aden Assunção Lamounier (Universidade Federal Fluminense)

O presente artigo pretende analisar a participação do anarquista José Rodrigues


Leite e Oiticica como colunista no periódico carioca Correio da Manhã, entre os
anos de 1921 a 1927. Desse modo, busca-se perceber se a atuação neste jornal
liberal pode ser entendida como apropriação de um novo espaço para propagação
do ideal libertário após perderem o protagonismo em meio ao proletariado para as
correntes comunista e nacional estadista. Assim como, investigar sobre as
motivações que possibilitaram a coexistência de ideias tão dissonantes, as teorias
anarquistas e as práticas liberais, nas mesmas páginas de um jornal. Para tanto,
acredita-se ser necessário dar relevância às transformações político-econômicas no
contexto internacional, após a Primeira Guerra Mundial, e, também, às
continuidades e rupturas dentro do movimento operário subsequente à Revolução
Russa. Esta abordagem, juntamente às análises dos textos publicados por Oiticica,
pode levar à compreensão, em via de duas mãos, da publicação de críticas
libertárias em um periódico de seguimento divergente. Da mesma forma que
contribui para percebermos os caminhos que os militantes anarquistas trilharam na
defesa de suas ideias.
61
Por uma consciência libertária -Piotr Kropotkin nas páginas da Impresa
Anarquista do Rio de Janeiro (1900-1920) - Barbara Cristina Soares Pessanha
Araripe (UERJ)

Nesta apresentação, pretendemos refletir sobre a ação dos militantes libertários que
atuaram no Rio de Janeiro, nas duas primeiras décadas do século XX, priorizando
a reflexão sobre a importância da obra de Piotr Kropotkin, e de seus conceitos
primordiais, como a importância da solidariedade e a da ajuda mútua nas
sociedades no seu processo evolutivo. Na percepção doutrinária do movimento,
especialmente nos seus espaços de produção e análise do conhecimento, como as
revistas, jornais e centros de estudos, as discussões teóricas, em grande parte eram
influenciadas por conceitos decisivos do período analisado, como o evolucionismo
e o cientificismo. Essas ideias legitimavam a defesa inconteste dos libertários, de
que a Revolução Social estava a caminho, e que para essa etapa evolutiva da
sociedade se estabelecesse, era necessária uma melhor formação dos explorados,
para se formar e consolidar uma consciência libertária. A visão de que era
necessário elevar a formação racional e científica dos explorados para se alcançar
uma sociedade igualitária, onde a emancipação dos trabalhadores também estaria
vinculada a sua emancipação intelectual foi muito intensa nessa militância
libertária carioca, e um autor em especial exerceu uma forte influência, o
pesquisador, geógrafo e anarquista, Piotr Kropotkin. Não só no Rio de Janeiro, mas
em outros centros econômicos e industriais que se estabeleciam na América Latina,
nas duas primeiras décadas do século XX, como Buenos Aires, nos meios
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libertários dessa importante capital, também havia uma constante preocupação


doutrinária com a formação intelectual dos explorados, e da necessidade
permanente de promover a evolução cultural destes, como defendia Kropotkin. De
acordo com o importante historiador argentino, Juan Suriano, a versão Kropotkiana
predominava na Argentina. Pretendemos refletir como essa versão Kropotkiana se
apresentou em alguns veículos da imprensa libertária, através das revistas “Kultur”
e “A Vida” que circularam nas primeiras décadas do século XX na cidade do Rio
de Janeiro, e como esses libertários construíram seus discursos nesses espaços de
formação e mobilização desses ideais defendidas pelo movimento.

Transnacionalismo e pluralidade de ideias: circularidade do anarquismo


italiano na América do Sul - Carlo Maurizio Romani (UNIRIO)

As redes transnacionais criadas pelos ativistas anarquistas, especialmente entre o


fim do XIX e início do XX são bastante conhecidas da historiografia. No caso do
anarquismo italiano, dado as perseguições políticas, a transnacionalidade do
movimento constitui-se em regra. A vinda de imigrantes anarquistas para o cone
sul americano e sua circulação fazem parte dessa história transatlântica. Entre
Buenos Aires, Montevidéu e São Paulo, Brasil, o encontro de anarquistas italianos
permitiu a criação de grupos de afinidade articulados em rede que foram muito
profícuas para a propaganda. Em São Paulo, um desses esforços gerou o periódico
La Battaglia (1904-1913), o principal meio de difusão da propaganda anárquica no
Brasil no início do século XX. Através da análise biográfica dos anarquistas mais
62
atuantes nesse periódico, Oreste Ristori, Alessandro Cerchiai, Angelo Bandoni,
Tobia Boni e Gigi Damiani, queremos mostrar como as relações de afinidade foram
mediadas pelo componente sócio-identitário dos ativistas. Em comum nesses
nomes, a origem ou o crescimento no centro da Itália, na Toscana para os 4
primeiros, o que tornou esse núcleo o mais coeso, e Damiani, em Roma. Os
aspectos sociais pintam um quadro mais ou menos comum. Todos provêm de
classes subalternas da sociedade, com poucos ou nenhum recurso material, Ristori
era filho de boia-fria, entraram em contato com o anarquismo muito jovens,
passaram pelas prisões do Reino, formaram sua concepção política em contato com
os mestres do anarquismo nas prisões em ilhas, foram adeptos de ações
individualistas típicas dos extratos sociais mais baixos, migraram para as posições
do anarco-comunismo no decorrer da vida, tiveram forte aversão às autoridades,
inclusive aquelas sindicais que se constituíam entre os trabalhadores. Nos últimos
anos o heterodoxo grupo de La Battaglia foi classificado como individualista por
uma historiografia específica do anarquismo que não se deteve em investigar as
singularidades de cada caso. Esta comunicação quer mostrar que dentro do quadro
geral do anarquismo internacional e de sua transnacionalidade, há dezenas de casos
que somente podem ser compreendidos a partir da análise particular de cada um
deles.

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¡Viva el Amor Libre! ¡Viva la unión libre! Discursos sobre amor e sexualidade
no periódico La Voz de la Mujer (Buenos Aires, 1896-1897) - Ingrid Souza
Ladeira de Souza (UNIRIO)

Esta comunicação é parte da dissertação de mestrado que vem sendo desenvolvida


no âmbito do Programa de Pós-Graduação em História da UNIRIO e tem como
proposta analisar os discursos sobre amor, matrimônio, maternidade voluntária e
sexualidade presentes no periódico La Voz de la Mujer. Este periódico anarquista
circulou em Buenos Aires entre os anos de 1896-1897, sendo lançando como o
primeiro jornal de mulheres para mulheres da América Latina. Os artigos que
versam sobre esses temas íntimos femininos fazem parte de uma série de textos
contestatórios que tinham como objetivo final o levante feminino em busca de sua
própria emancipação. O amor livre, a união livre e a sexualidade feminina foram
os pilares do periódico La Voz de la Mujer. O amor livre era a prática voluntária
do amor, sem a opressão física do homem, sem as condições impostas pela
sociedade e sem a obrigação religiosa. As libertárias procuravam, com a divulgação
do amor livre, defender o direito de amar; o direito à liberdade individual de cada
um escolher o companheiro e a companheira. Faziam da defesa do amor livre uma
crítica ao modelo burguês de família, de casamento; uma crítica às obrigações
sociais da mulher que a transformavam em objeto de trabalho e prazer do homem.
Na concepção das redatoras do periódico o amor livre contribuía para a construção
de uma nova sociedade, e com a formação da nova mulher. O matrimônio estava
diretamente relacionado com o amor livre e, para elas, significava a livre união dos
63
seres. As libertárias faziam uma crítica ao casamento burguês baseado em uma
união contratual, na qual a mulher era subordinada ao homem, muitas vezes sem
que houvesse um sentimento verdadeiro por ele. A união livre seria a alternativa a
esse modelo de casamento monogâmico indissolúvel controlado pelo Estado e
sacramentado pela Igreja. Agregada ao amor livre e a união livre, a sexualidade da
mulher também foi motivo de discussão entre as colaboradoras e redatoras do La
Voz de la Mujer, essa questão, porém, aparecia de forma comedida por conta das
convenções da época, principalmente quando a discussão envolvia práticas sexuais.

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ST 07. As Direitas, suas bases
intelectuais, expressões e vertentes
contemporâneas no Brasil e no mundo

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A Monarquia e o Fascismo: reflexões sobre a direita portuguesa nas primeiras


décadas do século XX - Luiz Mário Ferreira Costa (Universidade de São Paulo)

O objetivo deste ensaio é analisar os “caminhos” trilhados pela direita portuguesa,


sobretudo, em duas de suas principais vertentes históricas, a primeira monárquica
e a segunda fascista, por meio do estudo da produção intelectual de Francisco de
Barcelos Rolão Preto. Primeiramente, como nota introdutória, apresentaremos
alguns aspectos da trajetória individual de Rolão Preto, tendo em vista “momentos
chaves”, que contribuíram para o seu amadurecimento político-intelectual. Logo
em seguida, analisaremos a versatilidade e a flexibilidade do modelo teórico,
denominado de “sindicalismo orgânico”, para a organização do novo Estado
português que se pretendia construir. Finalmente, demonstraremos o papel do
moderno “messias” político, o “Chefe histórico”, diante de um duplo desafio, de
um lado, a modernização da relação capital/trabalho e, de outro, a recuperação
moral da nação portuguesa.

A trajetória anticomunista do psiquiatra Antônio Carlos Pacheco e


Silva - Luiza das Neves Gomes (UFRJ)

A proposta desta comunicação é realizar uma breve apresentação da tese de


doutorado que está sendo desenvolvida dentro do Programa de História Social da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. O objetivo é analisar a trajetória do médico
psiquiatra Antônio Carlos Pacheco e Silva bem como sua importância na esfera
65
política do Brasil por meio do exame de seu posicionamento e atuação político-
ideológica nas mais variadas instituições em que passou, tendo como recorte suas
representações e ações anticomunistas no âmbito nacional e internacional.
Atentando-se sobre como Pacheco e Silva se relacionava com seus pares e com o
poder iremos ao longo deste estudo verificar como este médico inseria em suas
discussões científicas e políticas os assuntos que permeavam a doutrina guerra
revolucionária (DGR): o avanço do comunismo, a guerra psicológica e as questões
relacionadas à segurança e desenvolvimento nacional. A intenção desta tese
também é observar que o estudo e a disseminação da DGR não era apenas feita por
militares e assim poderemos observar como este médico conseguiu transpor as
doutrinas militares para o meio civil, seja por meio da imprensa seja por suas
palestras. A ampla atuação de Pacheco e Silva no meio científico, político e social
revela o impacto de suas formulações e a sua legitimidade com o papel de
representante ativo da ciência psiquiátrica no debate sobre profilaxia mental dos
indivíduos mentalmente deficientes, perturbados e delinquentes que precisavam ser
identificados, diagnosticados para que não atentassem contra segurança e
desenvolvimento do país. Seus discursos médicos faziam uma articulação entre
anticomunismo e valores morais conservadores e reacionários que tentou assim
classificar os que fugiam da moralidade e aos bons costumes. A partir do
mapeamento de suas redes de sociabilidade com militares, políticos, empresários e
médicos de grande renome irá se perceber sua configuração como intelectual
orgânico, que por meio de um discurso científico conseguiu encontrar espaço no
projeto da grande burguesia brasileira que visava a consolidação de um país
industrial, desenvolvimentista e anticomunista. Iremos priorizar nesta
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comunicação as atuações e discursos anticomunistas de Pacheco e Silva nas


décadas de 1960 e 1970, apontando que por diversas vezes este médico mostrou
grande preocupação com as “personalidades psicóticas” e “desajustadas” que
estariam suscetíveis à influência dos comunistas e das táticas soviéticas. Essas
ideias circularam em instituições como a USP, a FIESP, o Fórum Roberto
Simonsen, o IPES, o Wolrd Anti-Communist League e diversos veículos de
imprensa, como os jornais Folha de S. Paulo e O Globo.

Do feixe à pena, um “fascista democrata”: uma análise do Estado brasileiro


na Obra Política de Miguel Reale (1931-1937) - Cícero João da Costa
Filho (USP)

Miguel Reale aparece no cenário político brasileiro ligado ao fecundo movimento


do Integralismo, criado por Plínio Salgado, em 1932. De curta duração, o
integralismo é extinto com a implantação do Estado Novo de Vargas. Formado por
valores cristãos, como o sentimento, a alteridade e comunhão (“Deus, Pátria e
Família”), com a máxima de que “Deus rege o destino dos Povos”, uma verdadeira
revolução ideológica tomou conta do rico momento histórico do Brasil da década
1930. Uma verdadeira assepsia tomava conta desse rico momento histórico que viu
nascerem as mais fecundas interpretações brasileiras. Reale discutia a espoliação
do brasileiro frente um estado das elites, suas leituras reabilitam clássicos como
Platão, Aristóteles, Bodin, Rousseau, Locke (liberais contratualistas), dentre tantos
outros, passando pelo crivo de Kant e Hegel, mostrando a inviabilidade do que
66
considera democracia pelas vias do constitucionalismo, caminho necessário
conforme as regras do liberalismo. De cultura enciclopédica, Reale rechaça
alternativas políticas como o socialismo, o marxismo, e tantas outras formas
democráticas, por ferir a liberdade em si, subjugando o homem, aprisionando-o
sempre num sistema que beneficia sempre pequenos grupos. Reconhecido pela
historiografia, filosofia, e ciência jurídica, como formulador de uma Teoria de
Estado, Reale é o intelectual de passagem pela academia, de uma tradição clássica
no campo das ciências sociais. Em sua Obra Política se detém detalhadamente na
crítica ao modelo liberal do estado brasileiro. Estudar a Obra Política de Miguel
Reale, especificamente, sua concepção sobre o estado brasileiro (e suas
particularidades, como partidos, soberania popular, liberdade, democracia, etc), é
antes de tudo reabilitar alguns destes problemas que são bastante atuais, como por
exemplo, a corrupção das elites brasileiras, a forma como se realiza a democracia,
e acima de tudo reconhecer um estado que diz democrático cerceando cada vez
mais a população. Miguel Reale é um teórico do estado, que pensa uma organização
sócio-política capaz de gerar a “verdadeira” democracia, daí seu combate ao
liberalismo (demo-liberalismo), ao marxismo, ao capitalismo, somente possíveis
em razão do pensamento natural (direito), que nunca questionou a tutela do estado,
fazendo deste uma espécie maquiavélica, donde suas análises no plano político
sobre soberania e vontade geral; no plano econômico sobre os males provocados
pela não intervenção do estado na economia, sem moral; e no plano filosófico, o
importante tema da liberdade humana, da moral e da gnosiologia.

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ISBN: 978-85-65957-09-0
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Edmund Burke, Reflexões sobre a Revolução Francesa e o Conservadorismo


Britânico do Século XVIII - Eraldo da Silva Duarte (UFF)

O trabalho busca expor o pensamento e as considerações do Filósofo Escocês


Edmund Burke na obra "Reflexões sobre a revolução francesa", assim como
mostrar a ligação e a importância deste autor ao pensamento conservador
britânico

Espíritos do século XX na composição do pensamento Integralista


Brasileiro - Marcia Regina da Silva Ramos Carneiro (Universidade Federal
Fluminense)

Em fins do século XIX e inícios do século XX, o pensamento ocidental passou por
inflexões acerca da sua própria capacidade de produzir conhecimento. Romper-se-
ia, segundo Henry Kariel, a lógica da filosofia política tradicional. Para Kariel, três
pensadores seriam responsáveis por tais rupturas: Nietzsche, Freud e Mannheim.
A transição dos séculos esteve impregnada por importantes mudanças no mundo
civilizado pela racionalidade: a emergência do proletariado; a tentativa de
adequação da Igreja Católica às condições de desigualdade social que faziam
transparecer as contradições das questões sociais, enquanto a expansão imperialista
moldava as relações econômicas, sociais e políticas mundiais sob a lógica do
mercado. No início do século XX, alguns intelectuais, críticos do que consideravam
o ceticismo do século XiX, defendiam a possibilidade de constituírem um novo
67
pensamento capaz de recuperar a crença numa possível nova síntese equilibrada e
harmoniosa do conhecimento. Nesta perspectiva, punham-se contra o pensamento
liberal e comunista. Reivindicavam, ante ao cosmopolitismo e avanços
tecnológicos, a “rehumanização” do homem. Neste sentido, correntes intelectuais
e políticas que consideram a necessidade de uma “revolução espiritual”, tomariam
forma como condição alternativa às chamadas interpretações materialistas das
possibilidades de organização da humanidade. Este artigo pretende discutir o
projeto integralista brasileiro de Revolução espiritual, construindo um debate com
as influências do pensamento de Popper e Jaspers na constituição da “Doutrina do
Sigma

Invisibilidade palestina como projeto de Estado israelense - Luana Rodrigues


Mota (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho tem como objetivo discutir um dos maiores conflitos da


atualidade, a chamada “Questão Palestina”, abordando-o sob o enfoque da
construção da hegemonia do modelo ocidental/burguês, no qual o Estado de Israel
seria incluído como Estado-Nação e Sociedade afim. Este estudo pretende abordar
os aspectos econômicos e sociais, especialmente ao que se refere à Educação,
buscando refletir sobre as condições criadas pelos fundadores do Eretz Israel, que
se adequando às estratégias ocidentais, impôs aos habitantes não judeus do
território palestino uma política segregacionista que pretende eliminar vestígios de
representações religiosas, principalmente muçulmanas, deste território
reconhecido pela Organização das Nações Unidas como Israel. Desde o século
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XIX, a região da Palestina vinha sendo disputada pelos Estados-Nações com fins
estratégicos. A expansão imperialista impulsionou os conflitos como forma de
atribuir importância estratégica aos interesses capitalistas e encontrou no
movimento sionista um aliado ideológico e político. Deste modo, as condições de
reordenamento geopolítico após a Segunda Guerra consideravam reconhecimento
do nacionalismo judaico com apoio ao alinhamento ao bloco capitalista no contexto
da Guerra Fria, enquanto o nacionalismo árabe era visto com desconfiança pelo
Ocidente. A região disputada teria impulsionado o sistema de distinções entre os
povos semíticos palestinos, de origens variadas, mas, principalmente, judias e
árabes. Assim sendo, sob a hegemonia judaica, as propostas da Educação dos
estudantes israelenses vêm sendo definidas com o objetivo de tornar “invisíveis”
as regiões ocupadas pelos palestinos com a intenção de educar gerações de jovens
israelenses insensíveis às condições desumanizadoras que o Estado lhes impõe. A
política israelense de segregação humana do residente palestino muçulmano pode
ser interpretada dentro do espectro das definições de Direita por seu viés autoritário
e antipopular, de violência desumanizadora de um Estado sobre parcela do seu
povo.

Licenciatura em História - Marta Valéria Ribeiro dos Santos Martins (UFF)

O presente trabalho tem como proposta abordar aspectos da história da educação


brasileira e de como ela foi organizada no período de 1930-1945, sob a égide de
uma ordem político-autoritário no então governo Getúlio Vargas. O Estado
68
varguista, principalmente, via na educação uma forma de desenvolver o país e
conduzi-lo à modernidade. A partir das primeiras décadas do século XX, a
educação seria tema recorrente nos discursos políticos e isso aconteceria com mais
frequência à medida que o caráter autoritário do regime iria se acentuando. O
Estado via na educação uma forma de propagar o seu projeto autoritário. Dessa
forma, a educação passaria a ser um problema de ordem nacional. A ligação entre
educação e saúde e a ênfase na educação moral, foram uns dos desafios do
Ministério da Educação e Saúde da Era Vargas. Neste sentido, considera-se que,
enquanto proposta autoritária e de ordenação da sociedade brasileira sob a bandeira
da educação ordenadora de uma sociedade brasileira nacionalista e obediente ao
Estado.

O "MBL - Movimento Brasil Livre" e o seu papel na direita


brasileira - Matheus Henrique Marques Sussai (Universidade Estadual de
Londrina)

Esta comunicação traz algumas reflexões iniciais sobre o grupo “MBL –


Movimento Brasil Livre” e o papel que estes representam na direita contemporânea
brasileira. Tal reflexão faz parte de uma pesquisa de mestrado que investiga os usos
do termo “nazismo” pelo grupo do MBL em sua página da rede social online
Facebook. O presente trabalho tem o intuito de apresentar brevemente a discussão
teórica tomada para a pesquisa, e focar na reflexão sobre o movimento e suas
principais características. Tal comunidade é bastante acessada, na medida em que
possui aproximadamente 2,6 milhões de curtidas. Esse dado nos faz discutir a
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História Pública (LIDDINGTON, 2011) e a Didática da História (BERGMANN,


1989/1990; RÜSEN, 2011), a fim de embasar teoricamente a nossa pesquisa.
Também apresentamos o MBL e suas ideias, dialogando com autores que discutem
a direita política e suas atuações contemporâneas. Para isso, nos utilizaremos de
Norberto Bobbio (2011), Michael Löwy (2015), Joan Antón-Mellón (2011), Dilton
Cândido Santos Maynard (2013), entre outros. Para nos auxiliar com a pesquisa
sobre o MBL, recorreremos ao estudo de Maria da Glória Gohn (2017), que dedica
páginas analisando o grupo e suas principais ideias e embasamentos. Até o
momento, podemos considerar que o MBL utiliza do termo “nazismo” para
difundir ideias contra o PT (Partido dos Trabalhadores), contra movimentos gerais
de esquerda, partidos de esquerda, e qualquer intelectual ou pessoa pública que
defende ideias ligadas à esquerda. Assim, o grupo acaba difundindo noções na
maioria das vezes não especializadas/fundamentadas, sem a anuência da
historiografia.

O Caminho Para a Servidão: Considerações de Hayek Acerca da Planificação


Econômica e da Liberdade Individual e a Apropriação de Suas Ideias Pelas
Correntes Conservadoras Atuais - Letícia Gonçalves de Mattos (UFF)

O trabalho visa expor os pensamentos e argumentos do economista austríaco


Friedrich Hayek acerca do liberalismo de mercado e de que modo ações no sistema
econômico acarretam consequências quanto a liberdade do indivíduo, descritas em
seu livro O Caminho da Servidão, lançado em 1944, salientando as críticas e os
69
pensamentos deste liberal durante a Segunda Guerra Mundial e suas apropriações
por correntes conservadoras na atualidades.

O Fracasso do Liberalismo no Brasil - Alex Conceição Vasconcelos da


Silva (Uerj)

Este trabalho, tendo como base o segundo capítulo da minha tese de doutoramento,
intitulado a busca pelo “poder moderador”: o fracasso do liberalismo no Brasil, tem
como meta analisar profundamente o pensamento de Golbery do Couto e Silva, em
seu lócus de atuação no período recortado em nossa pesquisa: a ESG, cuja atuação
tanto quanto estagiário e logo em seguida como professor seria determinante para
a estruturação de uma corrente política dentro das Forças Armadas, que seria
denominada de “esguianos”, contando com militares de renomes como Cordeiro
de Farias, Juarez Távora e Humberto de Castello Branco. A atuação desse
segmento marcou profundamente os acontecimentos da História Política Brasileira,
tais como o suicídio de Vargas (1954), a tentativa de impedir a posse do presidente
eleito Juscelino Kubitschek (1955), a tentativa de impedir a posse do vice-
presidente João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros (1961), a
queda do presidente Goulart e a instauração do Regime Militar (1964). Para
analisar a atuação de Golbery na ESG, temos que adentrar em sua obra intelectual
para compreender a sua formação e atuação política, que marcou o país durante
duas décadas (1961-1981), período compreendido entre a luta pelo poder, ou
melhor, a luta contra o simbolismo representado pelo ideário do “trabalhismo”, e
consequentemente contra as “ideias exóticas” que contaminaram o sistema
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representativo, tornando a democracia frágil e incipiente, de certo modo, até


mesmo perigosa dentro da perspectiva desse segmento, conforme podemos
observar nas fontes coletadas. A feitura deste artigo exige a análise dos conceitos
de Segurança, Desenvolvimento, Tecnocracia e Estado para que possamos
compreender a visão de mundo de Golbery e dos “esguianos”, as suas propostas
para os desafios que o Brasil de sua época viveu, e qual método que o país deveria
empregar para a consecução de seu engrandecimento econômico e social.
Analisaremos o desenvolvimento do ideário da Segurança Nacional como proposta
para o desenvolvimento brasileiro, tendo como referência as diretrizes do estado
brasileiro, ou seja, a formação e a atuação de uma burocracia que fosse imune as
oscilações sociais e políticas que marcaram a conjuntura do Brasil, ou seja, uma
tecnocracia que fosse imune a instabilidade institucional do sistema representativo.

O leão e o sigma: a crítica de Plinio Corrêa de Oliveira ao movimento


integralista - Victor Almeida Gama (UFF)

O crescente interesse pelo estudo dos movimentos de Direita despertado


recentemente pela forte atuação política de grupos alinhados ao pensamento
Liberal e Conservador no Brasil, coloca novamente em destaque e discussão a
atuação e o ideário de movimentos que tiveram uma grande atividade política de
influencia na opinião pública no século XX, como é o caso da TFP de Plinio Corrêa
de Oliveira e de sua particular compreensão dos limites do conceito de Direita, bem
como o Integralismo de Plinio Salgado, combatida intensamente por Plinio Corrêa
70
de Oliveira por alinha-se ao que ele compreendia como "falsa-direita", cujo
propósito era desviar os setores influenciáveis pelo pensamento contra-
revolucionário, consignado no ideario tefepista. Para tanto, em colaboração com
setores eclesiásticos, elaborou uma carta pastoral assinada por dom Gastão Liberal
Pinto, bispo de São Carlos - SP visando uma condenação explícita dos bispos
brasileiros ao integralismo por não acordar ele com a fé católica. Além disso, Plinio
Corrêa de Oliveira e Plinio Salgado disputaram em artigos de jornais em debates
ideológicos tentando demonstrar a possibilidade ou não de adequar-se o
Integralismo à um ideal de sociedade católico. No momento em que o debate sobre
a ascensão de movimentos conservadores, muitos eles com ligações ou que
reclamam uma herança ideológica da TFP ou do Integralismo, se faz importante
colocar em debate a atuação e a força de ambos os movimentos na política do
século XX.

Skinheads do ABC paulista e memória: o que eles querem lembrar (e o que


eles querem esquecer) - Alexandre de Almeida (USP)

Esta proposta de comunicação tem como objetivo discutir, na perspectiva de Joel


Candau, quais os episódios eleitos por indivíduos que pertenceram a primeira cena
(final da década de 1970 e primeira metade da década de 1980) e a segunda cena
(segunda metade da década de 1980 até o início da década de 1990) do grupo
"Carecas do ABC", consideradas relevantes para a elaboração de sua identidade
coletiva. Como contraponto, serão apresentados os episódios considerados menos
relevantes ou que merecem ser relegados ao esquecimento. A questão norteadora
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desta comunicação é a seguinte: quais são os critérios de seleção e qual imagem do


grupo se pretende perpetuar? Os dois eixos norteadores serão: o orgulho de
pertencer à classe operária (memorável) e a decepção da aproximação com
organizações Integralistas (esquecimento). Essa discussão surgiu durante as
gravações, ainda em andamento, de um documentário sobre a cena Skinhead no
ABC paulista.

Uma possível aliança entre direita e esquerda? Os Libertários norte-


americanos e a sua união com a Nova Esquerda nas páginas da revista Left
and Right A Journal of the Libertarian Thought - Vinicius Patrocínio Pereira
Costa (Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro)

Os anos 60 nos EUA foram marcados pela efervescência política e cultural. Esta
agitação se fez presente em todos os lados do espectro político, abarcando tanto a
direita quanto a esquerda. Em um período de surgimento de novos atores políticos
dentro da sociedade civil estadunidense, onde as atividades do movimento negro,
o movimento feminista, os protestos estudantis e as manifestações contra a guerra
do Vietnã estão ganhando cada vez mais notoriedade dentro da arena política. O
segmento libertário rompe com os demais setores que compõe a direita norte
americana, por causa de discordâncias ideológicas internas. Esta cisão fez com que
os Libertários procurassem por novos potenciais aliados, enxergando no
surgimento da Nova Esquerda uma possibilidade de união. A revista Left and Right
A Journal of the Libertarian Thought, foi fundada justamente com o objetivo de
71
aproximar os Libertários da direita com os grupos constituintes da Nova Esquerda
e a partir disso consolidar uma nova aliança que integrasse ambos os grupos. Este
trabalho tem como objetivo traçar as linhas editoriais gerais da revista para
descobrir de que forma esta aliança com a esquerda influenciou a direita libertária.

“Porta-Vozes da direita” e “Apóstolos” do regime Civil-Militar Brasileiro:


reflexões historiográficas sobre as trajetórias intelectuais de Gustavo Corção
e Julio Fleichman entre as décadas de 1970 e 1990 - Glauco Costa de
Souza (FFLCH/USP)

O trabalho tem por objetivo apresentar o resultado das reflexões teóricas e


metodológicas, oriundas do campo historiográfico denominado História dos
Intelectuais, tendo por perspectiva a minha tese de doutorado, com seus objetos e
fontes. A tese procura avaliar a trajetória de dois intelectuais representantes do
catolicismo carioca, Gustavo Corção e Julio Fleichman, que, em 1968, fundam o
grupo e a revista homônima Permanência, onde iniciam um projeto político e
religioso de apoio ao regime civil-militar brasileiro e, ao mesmo tempo, em defesa
dos valores de uma cultura ocidental com base nos dogmas da Igreja Católica
Apostólica Romana. A partir disso, na década de 1970, ambos intelectuais passam
a participar de Congressos Internacionais, escrevem na imprensa católica francesa
e, além disso, Gustavo Corção tem três livros publicados na França entre as décadas
de 1980 e 1990. São dessas fontes que se defende a ideia de que Corção e
Fleichman são “porta-vozes da direita” e “apóstolos” católicos do regime civil-
militar brasileiro no exterior. A análise desses documentos permite identificar um
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discurso compartilhado por grupos da direita política e católica do Brasil que, a


partir das denúncias feitas no exterior por Dom Hélder Câmara contra os abusos do
regime, defenderam ideias e imagens de um governo ditatorial preocupado com a
ordem social cristã abalada pelos males do pensamento moderno, representado na
prática pelo combate ao comunismo pelos militares no país. São representações e
práticas desse projeto político e religioso, esquematizado pelos intelectuais
católicos cariocas no exterior, que serão apresentados nesse trabalho, em que
conceitos e ferramentas metodológicas provenientes da História dos Intelectuais
auxiliarão na estruturação e no desenvolvimento da tese. Sendo assim, procura-se
descrever o Itinerário da vida desses dois personagens e, a partir disso, apresentar
as reflexões provenientes do campo historiográfico em estudo com a trajetória
intelectual dessas duas figuras do laicato católico brasileiro.

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73
ST 08. Construções e representações
de gênero: abordagens
multidisciplinares e parcerias
acadêmicas

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A disputa sobre os Direitos Reprodutivos: uma análise na Câmara dos


Deputados (séc. XX-XXI) - Aline Beatriz Pereira Silva Coutinho (UNIRIO)

O objetivo da comunicação é expor parte da pesquisa do Mestrado. Dessa forma,


será apresentada uma análise das tensões e disputas existentes sobre a temática do
aborto dentro da Câmara dos Deputados, a partir de um recorte de projetos
legislativos propostos do século XX até presente momento e que
promoveram/promovem impacto nas discussões sociais e políticas no Brasil. Será
contextualizado, portanto, os protagonistas dessa disputa pelo discurso da "vida"
dentro do âmbito legislativo: atores políticos como a Igreja Católica, os deputados
federais pentecostais e o movimento feminista; com o intuito de mostrar que a
entrada dos pentecostais na esfera política e principalmente dentro da Câmara,
quando relacionado ao tema de sexualidade, família e reprodução; tem o objetivo
de minar as conquistas promovidas pelo movimento feminista desde a década de
1960 – e particularmente, as relacionadas aos Direitos Reprodutivos e Sexuais dos
anos 1990. O embate sistemático entre essa bancada conservadora religiosa e o
movimento feminista avança durante o século XXI e propicia contestações,
demandas e mobilizações sociais, as quais serão brevemente analisadas.

A História Estética da Mulher Maravilha: Vestuário e Padrões de Beleza


Refletidos nas Histórias em Quadrinhos - Savio Queiroz Lima (UNIVERSO)

O proposto artigo tem por intento a análise da história estética da Mulher Maravilha
74
enquanto reflexo de uma dinâmica cultural. A super-heroína, criada em 1941,
mudou o uniforme, algumas vezes sutilmente e noutras radicalmente, em processos
historicamente localizados de expectativas e adequações sobre a imagem feminina.
Através de contextualizações históricas e de análise crítica, a história da ficcional
personagem Mulher Maravilha reflete, através de suas vestimentas, as mudanças
nos discursos e imaginários sobre o corpo da mulher e nos socialmente construídos
padrões de beleza e estética. Durante mais de 70 anos de mercado de
entretenimento, as diversas equipes que ocuparam-se com as narrativas e as
imagens buscaram atualizar a personagens para os públicos femininos de cada
geração, entre erros e acertos. Este trabalho pretende resgatar as mudanças mais
significativas e as motivações sociais sobre a estética feminina e os
comportamentos baseados em gênero que fomentaram tais alterações.

A saída da mulher brasileira pela política - Análise acerca da atuação do


Movimento Sufragista Brasileiro e a Constituinte de 1934 - Sofia Alvarez
Dias (UFF)

Neste trabalho, se tem como proposta revisitar um dos mais importantes momentos
de luta por representação do movimento tanto de mulheres como o feminista na
desde o final do século XIX, canalizado pelo embate travado na conquista do
sufrágio feminino. Trata-se, mais especificamente, da atuação do movimento
sufragista, que ganha novo fôlego em meados do século XX, conquistando novos
espaços na agenda política brasileira. Essa ascensão participativa num cenário de
grande turbulência política para o país, aqui se coloca em três momentos: o Estado
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Provisório, as eleições de 1933 e a Constituinte de 1934. Nesses três processos


houve engajamento político direto – e indireto – do movimento sufragista, através
de negociações com políticos e instituições, com o propósito de além de incluir
temáticas de suas agendas dentro do ambiente político efervescente da época,
conseguir atingir de fato a concretização dessas demandas, especialmente na esfera
parlamentar. A análise dessa participação será feita a partir do conceito de ‘saída’,
desenvolvido pela historiadora Michelle Perrot, referência no estudo da história das
mulheres. Tal conceito, após uma seção explanatória, será explorado aqui a partir
de um viés político, da transição das mulheres no início do século XX no âmbito
de tomada de poder e decisão de, ainda hoje, tão difícil acesso. Este estudo de caso,
elaborado através de uma metodologia histórica, leva em consideração a
consolidação da história coletiva obtida pelo movimento social que buscava a
evolução da cidadania brasileira através da conquista do voto, porém ressalto que
toda história coletiva é constituída a partir da atuação de sujeitos. Essa ressalva é
feita no sentido de enaltecer algumas trajetórias específicas dentro da elaboração
do trabalho, como é o caso de Leolinda Dastro, Carlota Pereira de Queirós, Natércia
da Silveira, Bertha Lutz e algumas outras mulheres cujas vozes fizeram ser ouvidas
na luta pela conquista de direitos não apenas para sua geração, mas para tantas
outras gerações de mulheres que as seguiram.

A trajetória profissional de Marialzira Perestrello: uma história da


psicanálise no Rio de Janeiro a partir do viés de gênero (1934-1977) - Vanessa
de Almeida Moura (Fundação Oswaldo Cruz/ Casa de Oswaldo Cruz)
75
O objetivo da minha pesquisa de mestrado é investigar a trajetória profissional da
médica e psicanalista Marialzira Perestrello (1916-2015). Perestrello teve uma
carreira ativa ao formar-se em medicina (1939) e participar, em 1953, da fundação
da Clínica de Orientação Infantil do Instituto de Psiquiatria da Universidade do
Brasil (COI-IPUB) e do processo de institucionalização que resultou, em 1959, na
fundação da SBPRJ, quando esta foi reconhecida pela Internacional
Psychoanalytical Association (IPA), durante o XXI Congresso Psicanalítico
Internacional, em Copenhague. Mais precisamente, ela fez parte da primeira
geração de psicanalistas, formada em medicina, dos quais alguns integrantes
receberam financiamento do governo brasileiro para se especializar em psicanálise
no exterior ao longo das décadas de 1940 e 1950, chegando a fundar no país
sociedades filiadas à IPA. A pesquisa pretende circunscrever a trajetória de
Marialzira Perestrello em uma sociedade em transformação lenta e parcial de
modernização nas relações de gênero. O interesse nesse objeto é ainda maior
quando se considera a incompletude dessas mudanças e os obstáculos e hesitações
que surgem no caminho profissional de nossa personagem. A proposta
metodológica procura integrar a trajetória profissional e a obra da personagem
dentro de um campo mais amplo de debates e embates sobre as novas posições que
as mulheres alcançaram no processo de modernização da sociedade brasileira do
século XX. Iremos trabalhar a trajetória profissional de Marialzira Perestrello na
encruzilhada da história das profissões, da história da psicanálise e da psiquiatria e
dos estudos de gênero. O recorte cronológico proposto é de 1934 a 2001. Este
período abrange desde a entrada de Marialzira na Universidade do Brasil até às
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contribuições de Marialzira Perestrello junto à Sociedade Brasileira de Psicanálise


do Rio de Janeiro (SBPRJ). Entre suas funções na SBPRJ, destacam-se seu papel
como presidente da instituição (1976-1977) e como historiadora oficial da
instituição (1984- 2001).

A Vida Elegante - A invenção das damas na sociedade da Belle Époque


Carioca (Rio de Janeiro - 1903 a 1914) - Laíne Soares Mendes (UFRRJ)

O meu trabalho tem como objetivo identificar e analisar as relações e as hierarquias


entre as damas da alta sociedade carioca, bem como a invenção das mesmas pela
imprensa nos tempos Belle Époque. Isso significa dizer que nem toda mulher é uma
dama, mas toda dama é mulher. Deste modo, darei ênfase à Belle Époque no
contexto Carioca, originada a partir do advento do início da República no Rio de
Janeiro, através da análise dessas damas da alta estirpe com a moda. Essa última
atuará como um fator social de mudança fundamental na vida coletiva, além de
possuir significação e distinção social, ou seja, se transformará em uma
problemática para a sociedade e para a modernidade, sendo cumprida tanto no
âmbito público, quanto no privado. Propondo uma relação entre a moda masculina
e a feminina, apresentando que mesmo que a ostentação e a ousadia fizessem parte
da feminina, a masculina em nenhum momento deixou de estar sob influência da
tirania da moda. Já a análise sobre as altas damas trarei gênero como uma
ferramenta analítica para se compreender o meio social da época introduzindo um
método de investigação capaz de transformar determinadas dimensões da
76
sociedade. Nesse caso, será proposto um misto metodológico de análise conceitual
com análise de discurso de periódicos da época, utilizando como fonte principal a
revista chamada “A Vida Elegante – O Jornal das Senhoras”. Portanto, esse
trabalho proporcionará uma articulação, através da intersecção dos conceitos de
Belle Époque Carioca, Moda e Condição Feminina.

Arte e gênero na China de Mao: Os pôsteres de propaganda e a construção da


"nova mulher" socialista (1949-1976) - Edelson Costa Parnov (Universidade
Federal Fluminense)

Os esforços de construção do socialismo na China ocorridos entre o triunfo da


revolução, em 1949, e o falecimento da principal liderança daquele processo, Mao
Zedong, em 1976, foram marcados por profundas modificações na situação das
mulheres chinesas, como, por exemplo, a sua entrada massiva na esfera da
produção, a conquista de direitos políticos e o fim do pátrio poder. Neste sentido,
a pesquisa em questão possui como intuito compreender qual o conjunto de
características femininas considerado pelo Estado chinês como estando em
consonância com a transição ao socialismo naquele país. Para isso, utilizamos
como fontes primárias os cartazes de propaganda chineses da coleção de Stefan
Landsberger, produzidos ao longo do período supracitado. Esse material encontra-
se disponível no website chineseposters.net, mantido pela Chinese Posters
Foundation e pelo International Institute of Social History (IIHS) da Leiden
University, situada em Amsterdã. Em termos metodológicos, realizamos a
filtragem do acervo a partir das palavras-chave family (família), girl (menina)
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marriage (casamento), woman (mulher) e women (mulheres), de modo a obtermos


somente os pôsteres de propaganda úteis aos objetivos do trabalho. Em seguida,
classificamos as fontes de acordo com os seguintes atributos: o período histórico
em que foram produzidas (Período I: 1º Plano Quinquenal – 1949-1957; período
II: Grande Salto Para Frente – 1958-1960; período III: Reajustamento Conservador
– 1961-1965; período IV: Revolução Cultural I – 1966-1968; e período V:
Revolução Cultural II – 1969-1976), se a(s) mulher(es) é/são representada(s)
sozinha(s) ou acompanhada por um ou mais homens; a classe ou fração de classe à
qual ela(s) pertence(m), além da atividade que estava(m) desempenhando ou da
qual participavam no cartaz. A partir das análises já realizadas, obtivemos como
resultados preliminares que nos períodos I, II e III há alta representação de
camponesas e no período II também de operárias, demonstrando um forte estímulo
do Estado chinês à entrada em massa das mulheres no mundo do trabalho, de modo
a aumentar a produção do país, fator entendido como fundamental para a transição
ao socialismo; no período IV há grande representação de mulheres estudantes em
atividade política, indicando um encorajamento à sua participação na Grande
Revolução Cultural Proletária (GRCP); enquanto no período V se eleva a
representação de mães e de esposas, apontando um esforço para restabelecer
padrões tradicionais de gênero, num momento de domesticação movimentos
sociais que foram a base da GRCP.

As Evas de Molière - Yohanna de Moraes Guimarães (UNIRIO)


77
O presente projeto trata a importância da vida das mulheres francesas no século
XVII a partir da análise de peças de Molière. Há uma tentativa de compreender
como se dá a mobilidade de ação das personagens – principalmente femininas –
numa sociedade de caráter fortemente hierarquizado.

Entre “bem” e “mal” comportadas: feminismo(s) na Era Vargas (1930-


45) - Yasmin Bragança (UFF)

A presente comunicação tem como base o projeto de mestrado apresentado ao


Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. O
tema dessa pesquisa são o(s) feminismo(s) durante a Era Vargas. Os diferentes
grupos serão identificados, assim como suas atuações, embates e posicionamentos
perante problemáticas da época, como o voto feminino, a legislação trabalhista
feminina, a questão materna e a emancipação da mulher. Para tanto, serão
examinados artigos de periódicos como Correio da Manhã, A Noite, A Manhã, A
Batalha, O homem do povo, A Plebe e O homem livre, alguns de autoria de
mulheres, relatos ou entrevistas sobre posicionamentos de feministas.

Ermelinda Lopes de Vasconcellos: a Repercussão do Ingresso Feminino na


medicina no final do século XIX - Thaís Marcello de Almeida (UFRRJ)

A pesquisa que desenvolvo no mestrado tem como proposição discutir o ideal de


mulher proposto no final do século XIX e início do século XX – pautado nas ideias
positivistas e no higienismo – com a finalidade de “normalizar” a sociedade
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brasileira e levá-la ao “progresso”. (SANTOS, 2010, s/n.) Diante disso, propõe-se


o modelo “imaginário de mulher, voltada para a intimidade do lar.” A figura
feminina aparece como o sexo frágil, pois, suas características biológicas
atestariam a fragilidade, a delicadeza e o descontrole emocional em virtude de seu
aparelho reprodutor. (ROHDEN, 2003, p. 202) Sendo assim, à mulher caberia o
papel de mãe e dona-de-casa, visto que, essa era a “ordem natural”. Contudo, em
meu trabalho historiográfico, dedico-me a investigar o ingresso feminino de
Ermelinda Lopes de Vasconcellos na medicina, em 1888, num momento cuja área
era marcadamente masculina. Assim, nessa comunicação, meu principal objetivo é
demonstrar que a despeito do ideal de mulher como esposa e dona-de-casa, diversas
mulheres não concordaram com tal pressuposto e defendiam os direitos femininos.
Intenciono, portanto, desconstruir a ideia de passividade feminina por apontar
diversas mulheres que ingressaram em universidades no final do século XIX e
sustentaram, através de discursos e ações, a “emancipação da mulher”. Ademais,
considero importante desconstruir a interpretação que compreende o passado como
sinônimo de atraso, isto é, retirar o julgamento de que as mulheres foram submissas
e aceitaram o patriarcado sem questionar ou se manifestar de alguma forma. Busco
recuperar a agência das mulheres a partir de suas experiências – tal como o
historiador inglês Edward Palmer Thompson propõe – e enfatizar que existiam
diversos ideais de mulheres em variados contextos sociais. Desse modo, minha
intenção é apontar, através de periódicos correntes no Rio de Janeiro, na década de
1890, figuras femininas que, de certa forma, romperam com o ideal de mulher
proposto. Busco, portanto, ressaltar o gênero no processo de investigação, todavia,
78
admitindo a necessidade de entrecruzá-lo com a raça, a etnia e a classe. Tal
abordagem permite-nos perceber que as experiências femininas variam de acordo
com o contexto em que estão inseridas. Do mesmo modo, o feminismo proposto
no período não era homogêneo. Existia uma disputa sobre o “feminismo”, ou seja,
seus significados e ações modificavam dependendo de quem utilizava o termo e de
quem era seus e suas agentes.

Gênero e quotidiano medieval: algumas observações sobre soldadeiras e


jograis ibéricos (séculos XIII – XIV) - Douglas Santos Bastos (SEEDUC RJ)

Jogral e Soldadeira eram categorias sociais comumente encontradas por toda


Península Ibérica ao longo da Idade Média. Vinculadas ao entretenimento, viviam
de forma itinerante transitando das praças às cortes, presença de tamanha
recorrência que cidades e reis direcionaram leis e recomendações para o exercício
de suas atividades. Contudo, as fontes nas quais estas categorias sociais figuram
com maior intensidade são as cantigas, em especial as de escárnio e maldize.
Partindo das perspectivas de Joan Scott de que as relações de poder seriam
significadas primariamente através do gênero e da concepção de Pierre Bourdieu
do poder (Poder Simbólico) como algo invisível capaz de conformar, de
homogeneizar noções como tempo, espaço, valores, etc., esta comunicação
pretende realizar uma breve análise das relações de gênero através da observação
das diferenciações representativas e legais verificáveis entre jograis e soldadeiras
(masculino e feminino).

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Gênero, condição feminina e relações de poder nas revistas: Brasil Feminino


e Momento Feminino (1930- 1950) - Vívian Marcello Ferreira (UERJ)

Refletiremos acerca das falas das mulheres que publicaram artigos ou contos nas
revistas Brasil Feminino e Momento feminno entre os anos de 1930-1950. Este
corte cronológico foi feito por acreditarmos que durante este período, é possível
encontrar vestígios de mudanças na condição feminina da sociedade brasileira.
Analisaremos o contexto da conquista do voto feminino nos anos 30 e o processo
para a sua autonomia política, econômica e social até os anos 50. Partindo das
análises feitas dos escritos femininos presentes nas revistas, refletiremos sobre a
visão destas em assuntos como o divórcio, a educação superior, a inserção da
mulher no mercado de trabalho e o sufrágio feminino. Afinal, o ideal feminino
seguia em oposição ao feminismo.

Gênero, origem étnica e religiosa no Tribunal do Santo Ofício de Goa (1560-


1620) - Luiza Tonon da Silva (Secretaria de Educação do Estado de Santa
Catarina)

Bibeasilá, muçulmana que com seu cavalo entrava nas terras portuguesas de Goa -
então capital do Estado da Índia , seria acusada de impedir conversões ao
catolicismo, e por esse motivo, seria banida dos territórios. Assim como Maria,
cristã-velha, que teria buscado curas com feiticeiros nativos, ou Isabel, cristã-nova
que em acusada de blasfemar contra a fé católica, foi presa e sentenciada pelo
79
Tribunal do Santo Ofício de Goa, o único tribunal inquisitorial português existente
para além das terras do Reino. Essas mulheres foram algumas dentre as centenas
de condenadas nas primeiras décadas de funcionamento dessa singular Inquisição,
situada no difuso Estado da Índia, onde uma grande parte da população permanecia
hindu ou islâmica, e para onde diversos homens e mulheres, por variadas razões,
migravam. Este trabalho, portanto, originado a partir de questões levantadas em
minha pesquisa sobre a Inquisição de Goa, com base em registros de processos do
Tribunal, visa analisar as trajetórias de mulheres condenadas no período: como
demais cristãs-novas, como Isabel, eram processadas? Mulheres que foram presas
por desafiar a ordem colonial e cristã como Bibeasilá são frequentes nos
documentos? É possível perceber através deles como os contatos entre diferentes
culturas e práticas religiosas se expressaram no cotidiano feminino no Estado da
Índia? E ainda, como ser homem e ser mulher poderia acarretar em diferentes
tratamentos e julgamentos enquanto réus e rés do Santo Ofício no contexto
asiático? Como isso se atrelava às origens étnicas e religiosas desses sujeitos? Essas
questões, amplas, mas que podem ser abordadas através das fontes manuscritas
disponíveis, objetivam fazer refletir acerca do gênero no colonialismo português
na Ásia, e perceber de que modo a voz do outro lado da mesa inquisitorial, mesmo
se abafada, deixou vestígios.

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Mulheres cristãs-novas no século XVIII (Identidade, gênero e religião) - Lina


Gorenstein (USP)

Mulheres portuguesas de origem judaica constituíram um dos grupos mais visados


pelo Santo Ofício da Inquisição de Portugal. A razão que inspirou essa
desconfiança foi o fato de serem consideradas o principal e mais poderoso foco de
heresia, centro transmissor do Judaísmo - a casa e a família. Transferindo-se para
o Novo Mundo, a Inquisição portuguesa continuou, através de seus agentes, a
investigar a conduta das mulheres cristãs-novas. As atividades inquisitoriais no
Brasil atingiram seu ápice no século XVIII, quando dentre 225 mulheres presas,
205 eram cristãs-novas. Destas, 165 eram ou naturais ou moradoras no Rio de
Janeiro, e foram levadas para os cárceres inquisitórias, acusadas do crime de
Judaísmo. É esse capítulo da história do Brasil que abordaremos nessa
comunicação A história dessas mulheres, que em sua maioria, pertenciam as
camadas mais abastadas da sociedade fluminense, filhas ou esposas de
proprietários de engenhos e possuidores de inúmeros escravos, sua vida cotidiana,
familiar, os casamentos, o sentimento religioso e a perseguição que sofreram serão
aqui discutidos, com ênfase especialmente as relações entre gênero, identidade e
religião.

Mulheres de Axé: Feminismo, etnia e religião - Lana Lage da Gama


Lima (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro)
80
No final dos anos de 1970 e início da década de 1980, surgiu no Brasil o feminismo
das mulheres negras, que articulou às lutas feministas o enfrentamento ao racismo,
inspirando-se, sobretudo, nas experiências norte-americanas. Atualmente, um novo
feminismo negro vincula a questão racial e de gênero à defesa da liberdade religiosa
para os adeptos das religiões afro-brasileiras, que vem sendo particularmente
ameaçada com o crescimento da intolerância que tem acompanhado a
multiplicação das igrejas neo-pentecostais no país. O movimento, denominado, de
um modo geral, Mulheres de Axé, propõe a construção de um feminismo dialógico
e interseccional. Projetos feministas vem sendo implantados em terreiros de
umbanda e candomblé, voltados sobretudo para o enfrentamento da violência
contra as mulheres. O trabalho focaliza um desses projetos, implantado em um
terreiro do Rio de Janeiro, analisando as relações entre feminismo e religião. A
pesquisa vem sendo realizada por meio de visitas ao terreiro e entrevistas com seus
membros.

O amor cortês em Dom Quixote como subversão das relações de gênero nas
narrativas cavaleirescas - Caio Rodrigues Schechner (UNIRIO)

O presente trabalho pretende discutir a figuração do amor cortês, forma idealizada


de amar e relacionar-se, típica das narrativas medievais, no romance Dom Quixote
de La Mancha, escrito por Miguel de Cervantes e publicado em dois volumes (1605
e 1615). Como objetivo principal, busca-se compreender a tópica do amor cortês
no âmbito da narrativa mencionada - especificamente sob a forma da relação do
protagonista Dom Quixote e sua pretensa dama Dulcinéia d'el Toboso - como uma
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possível subversão das relações de gênero consagradas pelas novelas de cavalaria


de até então. Dessa forma, almeja-se tanto contribuir com os estudos de gênero, ao
evidenciar uma quebra parcial no paradigma da representação feminina, quanto
reforçar a parceria entre História e Literatura, ao fazê-lo a partir da análise de uma
fonte de caráter literário.

O conceito de gênero na obra de Joan Scott e suas contribuições para a


História Medieval - Miriam Cabral Coser (UNIRIO)

Os estudos de gênero na área de História Medieval produzidos no Brasil são


tributários, em sua grande maioria, do conceito tal como proposto por Joan Scott
no artigo “Gênero, uma categoria útil de análise histórica”, publicado em 1996.
Sendo assim, a compreensão de gênero como a organização social da diferença
sexual tem embasado uma série de trabalhos da área. No entanto, a historiadora em
questão vem há algum tempo revisitando o próprio conceito e ponderando sobre
sua aplicabilidade. A proposta deste trabalho é analisar as nuances do conceito de
gênero para Joan Scott e refletir sobre suas potencialidades para o estudo do
medievo.

O estudo de gênero e o Holocausto no livro "Paisagens da Memória", de Ruth


Klüger - Maria Eliza Moreira Zahner (UNIRIO)

O intuito deste trabalho é analisar a importância dos estudos de gênero dentro do


81
estudo do Holocausto. Uma figura essencial para esse tema é Ruth Klüger, que em
seu livro “Paisagens da Memória” conta as memórias de sua vida e tem sua
identidade como tema recorrente. Mulher, austríaca, judia, sobrevivente do
Holocausto e professora de Estudos Germânicos, ela luta para encontrar sua
identidade, que muitas vezes lhe é negada. Dentro desse tema, vemos em evidência
o apagamento de sua experiência e vivência enquanto mulher. “As guerras
pertencem aos homens, e assim também as lembranças de guerra”, nesta frase, logo
no primeiro capítulo de Paisagens da Memória, vemos a mensagem de Ruth
Klüger. Ela não tem o direito de ter sido protagonista na guerra. Não tem voz para
falar sobre isso, não importa o que a ela tenha acontecido, suas memórias não têm
o mesmo valor das memórias de um homem. Usando o artigo “What do studies of
women, gender and sexuality contribute to understanding the Holocaust?” de Doris
L. Bergen, dentro da coletânea Different Horrors, Same Hell: Gender and the
Holocaust, pretendo analisar a contribuição do estudo de gênero para a história do
Holocausto e tentar entender o seu apagamento, aplicando suas ideias a “Paisagens
da Memória”.

O exército em perspectiva: a consagração de Maria Quitéria na Semana de


Caxias de 1953 - Raphael Pavão Rodrigues Coelho (UFF)

Este trabalho busca analisar como as questões relacionadas ao debate de gênero


estão introduzidas nas Forças Armadas brasileiras. Para contemplar esse objetivo,
escolhemos analisar a consagração de Maria Quitéria, heroína brasileira da Guerra
de Independência, considerada a primeira mulher a ingressas nas fileiras do
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Exército, no ano do centenário de sua morte, incutido na semana de homenagens


ao 150º aniversário de nascimento do Duque de Caxias, patrono do Exército
brasileiro. A proposta deste trabalha perpassa demonstrar que, apesar de ser uma
das instituições mais conservadoras, o Exército brasileiro, em meados do século
XX (década de 1950), homenageia uma mulher por seus feitos em batalha; contudo,
e aqui se encontra o cerne da questão, é do nosso interesse demonstrar como esta
homenagem é feita, e principalmente, em qual contexto ela é promovida.

O Lampião da Esquina: expressão e voz dos homossexuais através das cartas


ao jornal (1978-1981) - Marília Miranda Alves Carvalho (UERJ- FFP)

A comunicação tem como objetivo apresentar os resultados parciais da pesquisa de


mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História Social da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E que tem como objetivo analisar a
sessão “Cartas na Mesa” do jornal Lampião da Esquina, periódico destinado ao
público gay, que circulou entre 1979 e 1981. O periódico, de distribuição nacional,
embora tenha sido editado no contexto da “transição”, ainda estava inserido no
contexto de repressão e censura às diferentes formas de expressão pela ditadura
civil-militar brasileira (1964-1985). Sendo assim, através do estudo das cartas
enviadas pelo público leitor ao jornal, procuraremos investigar os principais
assuntos relacionados às questões de gênero e da sexualidade relacionada ao
universo homossexual.
82
O patrimônio do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda do Rio
de Janeiro dos séculos XVIII-XIX: A santa riqueza por meio do sistema de
dotes e doações das religiosas (1765-1800) - Amanda Dias de Oliveira (UFRJ)

Planeja-se neste artigo, fazer uma análise das características econômicas do


Convento da Ajuda, entre os anos de 1762-1800. Procura-se entender o
gerenciamento e transações econômicas da instituição, por meio dos bens
adquiridos por doações, dotes e empréstimos. Veremos mediante as fontes, que este
tipo de acordo, proporcionou um contato com o mundo externo e um laço de
dependência frente à família das religiosas que, de certa forma, contribuíram para
o fortalecimento econômico da instituição. O dote, bem como a propina e outras
formas de contribuições, foram realizadas pelos responsáveis das donzelas, que
almejavam uma carreira religiosa em período colonial. Desta maneira, a principal
fonte a ser explorada, foi a Série de Congregação Religiosa, cód. 081, depositado
no Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, e para este artigo, separamos
o volume que contém vinte e seus registros de pedidos oficiais. Compreendemos,
que no aspecto institucional, o bispo diocesano em união com as madres
fundadoras, buscaram delinear um perfil bem preciso, a fim de que mulheres
brancas, de bom cabedal e puras de sangue, fossem aptas a prosseguir uma carreira
dentro do convento. E obviamente, que o perfil estipulado, foi concedido a
mulheres de bom cabedal, que sem dúvida, contribuíram com a formação da Santa
Riqueza do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda do Rio de Janeiro.

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Rainhas Medievais em Cerimônias de Coroação na França e na Inglaterra


(século XII) - Letícia Saldanha Simmer (UNIRIO)

Durante a Idade Média, cerimônias de coroação para marcar a ascensão de um rei


foram se tornando cada vez mais necessárias. Aqui, noa voltamos para a coroação
de suas consortes. Sabe-se que coroações de rainhas ocorriam em diferentes
circunstâncias, podendo se processar junto à coroação do rei ou separada, no caso
do casamento de uma rainha com o rei só ocorrer após a coroação deste, por
exemplo. Se considerarmos que desde o século IX, a necessidade de um ritual de
coroação para marcar a posição de uma rainha cresceu em vários reinos na Europa,
pode-se levantar a questão sobre o que tornava uma rainha, de fato, rainha. Assim,
a partir dessa questão, que considera qual era o poder de uma rainha dentro de sua
esfera de atuação, observa-se a rainha em suas diversas funções: como modelo,
intercessora e parceira de seu marido, como benfeitora que realizava grandes
doações para Igrejas, ou regentes para seus filhos, quando estes ainda não tinham
idade para assumir o trono, também não esquecendo a função de assegurar a
continuação da linhagem com a produção de herdeiros. Em geral, procura-se notar
qual era a esfera de atuação dessas rainhas, bem como sua posição dentro de um
reino, associando essas posições com os rituais de coroações e com o termo que
em inglês aparece como queenship, indicando uma espécie de qualidade, dignidade
ou status de uma rainha; portanto, relacionando a esfera de poder e atuação legítima
dessas rainhas, e quanto de poder ela guardava em cada um desses reinos a tais
rituais.
83
Rainhas, infantas e aias : as mulheres no matrimônio - Richardson Herculano
Santiago (UNIRIO)

No medievo tardio o matrimônio entre nobres não era motivado por razões do
coração, mas sim pelos interesses da linhagem, como firmar alianças e estabelecer
tréguas entre reinos. Os acordos para efetivação do casamento poderiam perdurar
por longo tempo e envolvia, durante o processo, desde os procuradores até os reis
e rainhas. Depois de realizada toda a transação do consórcio, as infantas podiam
partir para o novo reino na companhia de suas aias. Contudo, era bastante comum
essas infantas serem preteridas pelos reis ou infantes e terem seus casamentos
anulados quando estes optavam por outra mulher que oferecesse mais recursos e
privilégios políticos, ou a quem eles se enamorassem. Neste presente artigo, a partir
das discussões de gênero e das imbricações entre a antropologia e a história,
almeja-se tecer uma breve análise acerca do casamento, a importância das rainhas
no decorrer das negociações e o papel das infantas durante esse processo de ida a
esses reinos estrangeiros.

Revisitando a Idade Média Portuguesa: o conceito de gênero pensado por


Judith Butler - Suzane Mayer Varela da Silva (UNIRIO)

Revisitar a Idade Média portuguesa com um novo olhar, um olhar do século XXI,
é uma tentativa cheia de esforços para não cometer anacronismos. Nossa tentativa,
então, é observar e analisar seres humanos, representações de suas ações,
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sentimentos e toda a sua estrutura de vida, formas de poder e instituições. A partir


da crônica de D. João I, de Fernão Lopes, podemos entender a cidade de Lisboa
como um organismo em constante movimento. Organismo esse formado tanto
pelos citadinos como por suas ruas, praças, igrejas, comércio. Isso nos permite
analisar o “corpo” da cidade. Desse modo, a construção da cidade de Lisboa em
nossa análise é construída pelo discurso de Lopes. Mesmo como metáfora a cidade
tem que nascer como mulher, possuir determinadas características femininas. Se
aceitamos que o corpo não pode existir fora do discurso “generificado”, devemos
admitir também que não existe nenhum corpo que não seja, já e desde sempre,
“generificado”. Isso não significa que não exista essa coisa que é o corpo material,
mas que só podemos apreender essa materialidade através do discurso. Trata-se do
corpo como significado e como significação, um corpo que só pode ser conhecido
por meio da linguagem e do discurso – em outras palavras, um corpo que é
construído linguística e discursivamente. Dessa forma, o conceito de
performatividade, pensado por Judith Butler, deve ser entendido como aquele
aspecto do discurso que tem o poder de produzir o que nomeia. O corpo
discursivamente construído não pode ser desvinculado dos atos linguísticos que lhe
dão nome e constituição.

Um relato de uma vicentina no Novo Mundo: ideias e perspectivas - Melina


Teixeira Souza (UFF)

A Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo estabeleceu sua


84
primeira casa brasileira em meados do século XIX, no município de Mariana, em
Minas Gerais. A empreitada das freiras não era nada simples, já que para fundar o
primeiro colégio católico feminino do Império têm de enfrentar meses de travessia
marítima de Paris até o Rio de Janeiro e, logo depois, prosseguir viajando a cavalo
pelo interior do país. Sabendo da densidade da missão, Irmã Dubost, madre
superiora da congregação no Brasil, começa um diário de bordo para relatar o
cotidiano da viagem, e, ao chegar ao seu destino, prossegue escrevendo. A freira
envia correspondências mensais para seus superiores franceses, tratando da
fundação do Colégio Providência entre os anos de 1849 e 1858. Este artigo visa o
precioso contato com a produção de si da religiosa, em uma perspectiva que destaca
sua identidade de freira missionária em um ambiente hostil à conquista de novos
espaços socais pelo gênero feminino, buscando classificar a escrita de madre
Dubost e refletir se o material se aproxima de um relato autobiográfico em sua
essência, ou se tem características mais próximas de um relatório institucional
orientado pelo objetivo de publicação e divulgação dos feitos da companhia
vicentina. Para tanto, é salutar discutir o conceito de subjetividade, relacionando-o
à ascensão do individualismo moderno, bem como é necessário conferir
importância a própria figura de irmã Dubost: quem era, o que a fizera optar pela
vida religiosa, seus anseios e inquietações cotidianas, quais expectativas e
motivações relacionavam-se à mudança para o Novo Mundo em novo patamar
hierárquico dentro da congregação das Filhas da Caridade. Seria a freira um
exemplo de crente fervorosa, portadora de uma religiosidade sentimental e
inspiradora? Ou poderia ser, do contrário, uma burocrata a serviço da expansão da
empresa católica no Oitocentos?
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Violência obstétrica no Brasil: um conceito em questão - Larissa Velasquez de


Souza (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)

Esta investigação pretende apresentar uma análise sobre a configuração atual do


conceito de violência obstétrica, no Brasil, considerando os atores e cenários
históricos envolvidos nessa construção. O debate sobre este tipo de violência contra
a mulher, que é vivenciada em instituições de saúde e no contato com profissionais
dessa área de assistência, vem sendo desenvolvido no âmbito do movimento de
mulheres e feministas. Como fruto das pressões exercidas por tais grupos, o debate
tem se desdobrado em leis e políticas públicas de assistência humanizada à
gestação e ao parto, como a lei de garantia de acompanhante no parto, de 2005 e a
Política de Humanização ao Pré-Natal e Nascimento, de 2000. No entanto, o debate
não alcança todas as mulheres da mesma forma, havendo a necessidade de ressaltar
as questões de gênero e classe que interferem no cenário da assistência à gravidez,
ao parto e nascimento no Brasil, assim como as questões de âmbito sócio culturais
que influenciam na compreensão e vivência, individual ou coletiva, do que seja
violência obstétrica. Tais questões abrangem, também, o acesso a saúde e, de certa
forma, a questão da compreensão da saúde como um bem a ser adquirido. Assim,
a questão também nos impele a pensar sobre a estrutura econômica no âmbito
macro em que estamos imersos e que, de certa forma, dita as regras de consumo,
ou a impossibilidade dele no âmbito da assistência à saúde. A temática do processo
de medicalização do parto perpassa este estudo, assim como a violência de gênero.
85
Para este estudo, nos utilizamos da análise da narrativa dos principais grupos de
mulheres e feministas na definição do termo, apresentados em documentos oficiais,
em websites, jornais, revistas da área científica, tendo como referencial teórico os
estudos sobre a construção de conceitos, considerados sob a perspectiva histórica
em questão, sobre violência e saúde, violência de gênero, movimentos sociais e
medicalização do parto no Brasil.

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86
ST 09. Cultura Visual e História: as
imagens em debate

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A chegada da peste bubônica no Brasil expressa nas charges (1899) - Dilene


Raimundo do Nascimento (Fundação Oswaldo Cruz/Casa de Oswaldo Cruz)

Este artigo pretende analisar a chegada da peste bubônica no Brasil, mais


especificamente na cidade portuária de Santos, a partir das charges de Angelo
Agostini, publicadas na revista ilustrada Don Quixote, na segunda metade do ano
de 1899. Em que pese a representação de terror e medo da peste, difundida em
todas as sociedades a partir das grandes epidemias do século XIV, na Europa,
Agostini se utiliza da peste de forma mordaz e sarcástica, nas suas charges, para
realizar sua crítica política.

A fotografia nos arquivos e a memória pública - Maria Teresa Bandeira de


Mello (Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro)

O objetivo da comunicação é desenvolver uma reflexão sobre a noção de fotografia


pública no universo dos arquivos institucionais. Considerando as fotografias
existentes nos arquivos públicos como documentos de arquivo, pretende-se analisá-
las enquanto uma das expressões da fotografia pública. Desde sua invenção, a
fotografia tornou-se objeto de registro e colecionamento por parte de indivíduos,
famílias e instituições. Para alguns autores, como André Rouillé, apesar da
fotografia, em si, não ser um documento, ela está provida de um forte valor
documental baseado no seu dispositivo técnico, no âmbito de um regime
documental da sociedade industrial. No universo dos arquivos, é fundamental
87
investigar e tornar explícitos tanto o contexto de produção quanto os vínculos e
relações que ligam as imagens fotográficas às funções que desempenham ao longo
de sua trajetória como documento. Nesse sentido, não tratamos da discussão sobre
a imagem em si, mas do estatuto do documento arquivístico que lhe dá suporte. A
noção de fotografia enquanto documento de arquivo implica que ela está inserida
na trama das relações da sociedade da qual faz parte e que não pode ser isolada do
contexto histórico cultural do qual ela é ao mesmo tempo produto e fator
constituinte. Por sua vez, a fotografia pública – conceito que vem sendo trabalhado
por Ana Maria Mauad – é criada por agências de produção da imagem que
desempenham papel importante na elaboração da opinião pública tais como os
meios de comunicação e o Estado. Ela é o suporte de agenciamento de uma
memória pública que registra, retém e projeta no tempo histórico, uma versão dos
acontecimentos. Uma das principais vertentes da fotografia pública desde o século
XIX é sua utilização associada a projetos governamentais enquanto estratégia para
dar visibilidade à ação do Estado. Nosso universo de análise incidirá sobre as
fotografias do acervo do Arquivo Público do Estado do Rio Janeiro, com o intuito
de interpretá-las a partir da perspectiva da fotografia pública. Provenientes de
diversos órgãos do executivo estadual, essas imagens possuem características
diferenciadas quanto à sua natureza bem como às suas formas de produção e
acumulação. Ao nos debruçarmos sobre as imagens do APERJ, buscamos
compreendê-las como parte integrante do arquivo produzido pela administração
pública estadual, constituindo-se enquanto documentos resultantes das atividades
realizadas por esses órgãos e ligadas às práticas institucionais envolvidas em sua

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produção. Tal prática constitui uma peça fundamental para a compreensão e leitura
dos significados dessas imagens.

A “Belém Moderna” nas páginas da revista A Semana 1920-1925 - Raimundo


Nonato de Castro (Instituto Federal do Pará)

A Cidade de Belém, no início do século XX, marcava-se pela ideia de uma


sociedade moderna. Os diversos elementos urbanísticos reforçaram esse
imaginário. A arquitetura e os rituais republicanos contribuíram para que a
sociedade paraense se visse como tal. Neste contexto, a República produziu novos
valores que considerados modernos sofreram diversas críticas, seja pelos textos
publicados em jornais e semanários, seja pelo lápis dos caricaturistas, na medida
em que o regime republicano se consolidava. Mas neste cenário pintores,
jornalistas, caricaturistas e intelectuais manifestavam-se ora a favor ora contrários
ao novo momento político, num debate constante. Vale ressaltar que a cidade de
Belém, no inicio do século XX, passou por um profundo processo de alteração
urbana, e o principal responsável foi o intendente municipal Antônio Lemos, que
promoveu uma espécie de revolução urbana. O contexto de transformações se devia
aos recursos advindos da economia da borracha. Diante deste quadro, a cidade foi
considerada a "Paris dos trópicos", haja vista que um conjunto de atividades
ocorriam na cidade quase que diariamente como, por exemplo, a presença
constante de companhias artísticas que vinham apresentar-se nos teatros da Paz e
Amazonas. Portanto, ainda nos anos 20 a ideia de cidade moderna continuava
88
ocupando o imaginário dos paraenses. É justamente neste cenário que a Revista A
Semana ocupa seu espaço, reforçando um imaginário que colocava a cidade na
codinção de moderna. Não a toa que em várias páginas o semanário publicava
imagens de lugares considerados elegantes de Belém.

Alô Alô Carnaval (Adhemar Gonzaga, 1936): a modernidade urbana carioca


nos traços Art Déco de J. Carlos - Carlos Eduardo Pinto de Pinto (UERJ)

A proposta do trabalho é analisar a representação do Rio de Janeiro realizada em


Alô Alô Carnaval (Adhemar Gonzaga, 1936), um dos filmes carnavalescos da
Cinédia. Embora não veicule imagens da cidade – num sentido estrito –, as
conexões entre o enredo, as canções e os cenários formam um painel capaz de dar
sentido à urbe e a seus habitantes. Entre essas coordenadas, se destaca a atuação de
J. Carlos, responsável pelos cenários dos números musicais. Os traços do
cartunista, atuante desde o início do século XX, associavam a estética Art Déco aos
cenários e personagens cariocas em revistas ilustradas com grande circulação no
Brasil, alimentando sobre a capital um imaginário calcado na modernidade e no
cosmopolitismo. No enredo, uma dupla de malandros inofensivos conduz a
narrativa através de situações cômicas, entremeadas aos números musicais de um
cassino. Entre estes, “Molha o pano” (Getúlio Marinho, Cândido Vasconcelos) traz
Aurora Miranda cantando os conflitos entre os pagodes elegantes e os barracões
desprezados. Dircinha Batista entoa “Pirata” (João de Barro, Alberto Ribeiro),
alertando as mocinhas para o perigo do “pirata” de Copacabana e suas falsas
promessas de casamento. Carmem e Aurora Miranda se apresentam como as
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“Cantoras do rádio” (Alberto Ribeiro, João de Barro, Lamartine Babo), reunindo


“corações de norte a sul” com suas canções. Embora a cidade não seja explicitada
aqui, subjaz a leitura de que o rádio une o país, tendo como centro de conexão o
lugar de onde partem as vozes – o Rio de Janeiro. Vale ter em conta que a
capitalidade do Rio passava por um momento de reelaboração, em que o Art Déco
ganhava vulto. Tal escolha simbolizava um ideal de cidade e, por sinédoque, de
país, agregando valores como industrialização e modernidade – afinal, as linhas
geométricas das fachadas, produzidas com material bruto, rescendiam a um futuro
objetivo e mecanicista. Mas não só, pois o design Art Déco, num sentido amplo,
também apontava para a liberação sexual e o empreendedorismo. A presença dessa
estética no filme, convivendo com as outras leituras da urbe comentadas acima,
formava uma rede complexa, em que o Rio surgia como uma cidade cosmopolita,
simultaneamente afeita às tradições populares. Exatamente a mesma operação
simbólica que o Estado Novo faria nos anos subsequentes. Estas reflexões são fruto
da pesquisa (Quase) sem perder a majestade: a produção de uma história pública
sobre o Rio de Janeiro em filmusicais e chanchadas entre o Estado Novo e a
inauguração de Brasília, desenvolvida no Núcleo de Estudos sobre Biografia,
História, Ensino e Subjetividades (Nubhes/UERJ), com apoio da Faperj.

Antonio Lemos e a imprensa: as representações visuais e escritas sobre sua


atuação política (1908-1912) - Maria de Nazaré Sarges (Universidade Federal do
Pará)
89
A pesquisa consistiu no estudo das representações visuais e verbais divulgadas na
imprensa local (Pará) e na do Rio de Janeiro durante o período da administração de
Antonio Lemos e, sobretudo após o acirramento da disputa entre lemistas e
lauristas, no período de 1908 a 1912. É importante captar o olhar da imprensa
nacional (RJ) e suas ligações com as disputas políticas nacionais e sua vinculação
com a imprensa paraense. É uma possibilidade de se apreender o jogo político desse
período, visto que Antonio Lemos constituía-se em uma ligação com o grupo
político que era desafeto de Lauro Sodré, em nível nacional. O corpus documental
escolhido para dar suporte à pesquisa constituir-se-á dos jornais paraenses Folha
do Norte e A Província do Pará, justamente por estarem politicamente, em lados
opostos, sendo a Folha uma ferrenha “laurista” enquanto A Província defendia seu
proprietário Antonio Lemos. Nos acervos do Rio de Janeiro consultamos as revistas
Fon-Fon, A Semana, O Malho e o jornal Correio da Manhã e ainda o acervo do
IHGP que possui uma coleção de panfleto do período.

As hierarquias do crime de O invasor em perspectiva: do melodrama social à


generalização do mal - Guilherme Muniz Safadi (UFF)

Este trabalho propõe um estudo das hierarquias sociais do crime construídas no


filme O invasor (2001), de Beto Brant, considerando sua singularidade no contexto
de representações da violência urbana que marca a chamada “Retomada” do
cinema brasileiro, a partir de meados dos anos 1990, bem como em relação a
formas pelas quais as hierarquias do crime foram representadas em momentos
anteriores. É conhecida a predominância de imagens do crime e da violência urbana
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no âmbito do cinema brasileiro, a partir dos anos 1990, sobretudo, autocentradas


na construção de visualidades periféricas e das camadas populares. O invasor opera
um deslocamento ao abordar a violência urbana no contato entre atores de
diferentes procedências sociais, tomando setores e espaços sociais abastados como
âmbito privilegiado de ação. Em outros momentos do cinema brasileiro, narrativas
do crime articularam hierarquias sociais a partir de enfoques melodramáticos, nos
quais oposições entre atores envolvidos no crime foram estabelecidas a partir de
convenções do bem e mal, articuladas a tensões sociais (Assalto ao trem pagador ,
de Roberto Farias e Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, de Hector Babenco).
Através da análise da construção das imagens dos espaços e dos personagens do
filme, aventa-se a hipótese de que o afastamento do modo imaginação
melodramática se faz pela conservação de convenções de representação do mal,
configurando-se representações de uma generalização do crime como associada a
uma generalização do mal.

Aspectos do Movimento New Age (MNA) no filme Doctor Strange


(2016) - Bruno Rodrigues Pimentel (UERJ)

Este trabalho tem como proposito realizar uma breve análise do filme "Doctor
Strange", de 2016, e evidenciar aspectos característicos do Movimento New Age
(MNA), Nova Era, presentes no filme. O objetivo é identificar os principais
aspectos dessa nova consciência religiosa, que estão presentes no filme, e
relacioná-los a análises existentes sobre esse movimento religioso. Anthony Albert
90
D´Andrea, sobre o movimento, diz que a “sua invisibilidade, tal qual um iceberg,
oculta números expressivos sobre aqueles que, em graus variados, se envolvem
com o New Age hoje”, para comprovar tal afirmação o autor expõe dados que
demonstram os números expressivos de pessoas que tem ligação com o movimento
nos Estados Unidos, no Canadá, na Grã-Bretanha e em países em desenvolvimento
como o Brasil. No Brasil, por exemplo, cerca de 2 milhões de pessoas estão ligadas
ao movimento de acordo com os dados, que, cabe ressaltar são anteriores ao ano
de 2000. D'Andrea diz que em geral, não são pessoas que se identificam como tais,
mas certamente são as que apresentam um habitus e disposições ao estilo New Age.
Para destacar quais dos principais aspetos do MNA podem ser percebidos no
decorrer do filme serão destacados alguns momentos específicos do longa-
metragem e as falas serão transcritas, com o intuito de destacar os principais
aspetos do movimento que podem ser percebidos. A análise do filme será realizada
levando em consideração dois pontos. Um dos pontos consiste em decompor o
filme, ou seja, em descrevê-lo, uma descrição geral para apresentar o filme e em
algumas vezes uma descrição de momentos mais específicos. O segundo ponto
consiste em estabelecer e compreender as relações existentes entre os elementos
decompostos do filme, ou seja, o segundo ponto consiste em interpretar o que foi
descrito. No que diz respeito a decomposição este artigo não tratará de detalhes
referentes à imagem (enquadramento, composição, ângulo, etc ...), ao som (por
exemplo, off e in) e à estrutura do filme (planos, cenas, sequências). Algumas cenas
serão descritas e suas sequências mencionadas. O objectivo da análise aqui é o de
explicar/esclarecer o como no decorre do filme elementos do MNA são
representados e isso só é possível por meio da interpretação. Para isso será
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necessário, acima de tudo, realizar uma atividade de separação de determinados


elementos e para a identificação desses elementos é necessário perceber a
articulação entre eles.

Brasília e "brasília": a perspectiva de um periódico sertanejo no


desenvolvimento do Brasil - Alexandre Pinto de Souza e Silva (UERJ)

Nos anos 1950, a construção de Brasília gerou uma nova perspectiva para o interior
brasileiro, conhecido como "sertões", desvinculando de uma imagem associada à
barbárie e a doenças para uma nova ideia de modernidade e civilização, indo de
acordo com a perspectiva progressista do então presidente Juscelino Kubitschek
(1956-1960). Nisso, a oposição política ao governo se manifestava contrariamente
à transferência da capital, sobretudo por meio de veículos de imprensa, criando
uma imagem negativa sobre ao então centro de poder da nação. Como resposta, o
presidente organizou um periódico para mostrar uma visão positiva da mudança,
utilizando Brasília como símbolo da modernidade e do desenvolvimento que
Kubitschek buscava para todo o país. Sendo assim, a revista "brasília" (1957-1960)
é fundado e contava com a contribuição de políticos, intelectuais, cientistas sociais,
engenheiros, arquitetos e muitos outros profissionais que estavam engajados na
transferência. O acervo iconográfico também registrava as mudanças, bem como
as publicidades da revista. Desse modo, procuro ressaltar a importância desse
periódico na influência do imaginário social e como seu conteúdo fortalecia os
debates regionais naquele período.
91
Carros, “currais” e “vagalumes”: representações visuais do trânsito de Belém
na década de 1960 - Anderson Rodrigo Tavares Silva (Secretaria de Educação do
Estado do Pará - SEDUC)

Esta proposta tem como objetivo analisar algumas representações visuais do


trânsito de Belém publicados pela grande imprensa paraense durante a década de
1960. Vistas enquanto fonte e objeto de pesquisa, de acordo com as contribuições
teórico-metodológicas de Rodrigo Motta e De Luca, as fotoreportagens são
recorrentes nos jornais de maior circulação do estado neste período (“O Liberal”;
“Folha do Norte” e “A Província do Pará”) e possibilitam discutir aspectos do
cotidiano de Belém no contexto da década de 1960. Muitas dessas imagens
destacam alguns problemas que afligem a cidade durante o período como o
significativo aumento do fluxo de veículos nas áreas centrais da cidade, as
tentativas por parte do DET (Departamento Estadual de Trânsito) de melhorar o
trânsito nessas áreas e os conflitos com grupos sociais decorrentes de suas ações.
Diante disso, esse conjunto de fotografias foi visto como um tipo particular de
narrativa visual, com um potencial tão relevante quanto os editoriais para o debate
historiográfico em torno de questões relativas ao contexto pré-golpe de 1964 e
ditadura militar no Pará.

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Discursos jurídicos y visuales en la construcción social de la infancia. Una


articulación entre cultura visual, historia y sociología jurídica - Federico
Eduardo Urtubey (FAHCE/UNLP), Verónica Capasso (Instituto de
Investigaciones en Humanidades y Ciencias Sociales, Universidad Nacional de La
Plata)

En el presente trabajo se aborda la construcción social de la infancia en Argentina


a principios del siglo XX, desde la perspectiva de la cultura visual. En torno al año
1919, cuando se sanciona la Ley de Patronato en Argentina, se deja atrás la
igualdad de juzgamiento para menores y adultos, y se configura un régimen
especial destinado a la “infancia desviada” que cometiese hechos delictivos. Sin
embargo, la nueva legislación estaba destinada a regir no sólo ante la comisión de
delitos, sino también ante situaciones de “peligro moral y/o material”, cuestión que
posibilitaba una intervención judicial de tipo asistencial hacia la infancia pobre o
en situación de calle. En este punto, el presente trabajo se interroga por aquellos
discursos que circulaban en torno a los últimos años del siglo XIX y primeras
décadas del XX, que colaboraron en la construcción de un imaginario en torno a la
“infancia desviada”. Para ello, se analizan una serie de dispositivos visuales,
gráficos y literarios de esa época, que desplegaron un repertorio de imágenes
destinado a tematizar las características de la infancia marginal. La hipótesis del
presente trabajo es que además de los discursos científicos y jurídicos, es posible
detectar un discurso eminentemente anclado en elementos visuales y literarios, que
significó un soporte para las nuevas ideas en torno al control social de la infancia.
92
Se presenta una metodología de corte cualitativo, con énfasis en una perspectiva
interdisciplinaria, articulando herramientas conceptuales provenientes del campo
de la historia, del derecho y la cultura visual.

Do gesto à palavra - Mariarosaria Fabris (Universidade de São Paulo)

"Imputazione di omicidio per uno studente" ("Assassinato de um inocente", 1972)


é um filme aparentemente estranho à trajetória de Mauro Bolognini, por se inserir
no filão do "poliziottesco", que se afirmou na Itália na década de 1970, trazendo ao
gênero policial uma forte carga política, de contestação do "establishment".
Durante um violento choque entre policiais e estudantes que apoiam uma
manifestação por moradias populares, cada um dos lados sofre uma baixa, mas a
investigação só se dedica a descobrir quem matou o agente da lei. A acusação recai
sobre o estudante errado, uma vez que o verdadeiro culpado é o filho do juiz
encarregado do caso. Dessa forma, vários embates acontecem ao longo do filme:
esquerda-direita, magistratura-polícia, sistema-contestação, pai-filho. O pano de
fundo desses confrontos são os conturbados anos de chumbo na Itália, que os
roteiristas Ugo Pirro e Ugo Liberatore esquadrinham, no calor da hora, com um
olhar carregado de intenções políticas e sociológicas. Depois de uma carreira
dedicada a servir o sistema, o juiz resolve interessar-se pelos ideais dos jovens e se
dispõe a tentar entender o gesto do filho, embora saiba que ele é culpado, pois o
diálogo lhe parece o melhor caminho para resolver a situação explosiva que o país
está vivendo. Apesar de o filme terminar sobre uma possível abertura para dias
melhores, os fatos históricos posteriores sufocarão essa tênue esperança, porque o
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ápice da violência na Itália ainda estava por vir. Essa polêmica obra de Bolognini
oferece vários dados para uma abordagem didática do período em tela.

Entre o disforme e o monstro: o corpo espetáculo - Juçara de Souza


Nassau (FAV-UVG)

Se a maioria das doenças pode ser detectável, possui uma organicidade,


visibilidade, enfim, constitui-se de dados a partir dos quais se pode desenvolver
uma ação médica, compreendemos que não é mera casualidade que as
deformidades do corpo enfermo apreendem a atenção do olhar médico e foram
historicamente representadas. Desde o período renascentista esse corpo disforme,
tido como imperfeito, começou a ser considerado monstruoso e foi amplamente
ilustrado. Embora, muitas dessas ilustrações não tenham sido consideradas
relevantes para o entendimento e estudo da anatomia humana, foram divulgadas
em obras especializadas ou publicadas apenas a título de curiosidade, satisfazendo
a mera exploração visual de uma aparência física, considerada diferente e, portanto,
perturbadora. A partir dessas observações, propomos uma reflexão sobre a
visibilidade das deformidades do corpo através das fotografias médicas produzidas
pelo médico/fotógrafo Konstantin Christoff (1923-2011) na Santa Casa de
Misericórdia de Montes Claros-MG, em meados do século XX. Assim,
refletiremos a respeito das imagens das lesões das patologias dermatológicas, como
foi o caso das epidemias como a varíola, das graves deformidades, dos
hermafroditas, dos indivíduos afetados por gigantismo, entre outros que
93
historicamente receberam atenção visual e promoveram a Cultura Visual da
Medicina.

Entre símbolos e tradições: o imaginário clássico e a invenção da justiça no


Palácio do Supremo Tribunal Federal (1889-1930) - Douglas de Souza
Liborio (UFRJ)

O presente artigo se propõe analisar a relação entre a decoração com símbolos


romanos da Sala de Sessões do Palácio do Supremo Tribunal Federal (STF) e o
ideal de construção de uma tradição nacional para a Justiça Federal, ancorada na
Iustitia romana. Para tal, foi utilizado o conceito de invenção das tradições de Eric
Hobsbawm, a fim de compreender o processo de afirmação das instituições
republicanas brasileiras, nos moldes dos padrões europeus, e que se propunha
estabelecer uma continuidade com a Antiguidade, para expressar suas práticas
civilizatórias. O advento da República em 1889 e a nova Constituição promulgada
em 1891 trouxeram significativos impactos sobre o Brasil, em especial sobre a
cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal. O Rio do início do século XX
emergiu com uma estrutura radicalmente alterada, inspirada na estética legada por
Eugène Haussmann a Paris do XIX, e trazendo embutida em si um discurso
civilizatório e racional. No bojo de tais mudanças, as instituições da República
recém-instaurada também se enquadraram em tal contexto de afirmação. O STF
teve sua instituição prevista na Constituição de 1891 (arts. 55 e 56). Em 3 de Abril
de 1909, sua sede foi inaugurada no número 241 da nova Avenida Central
integrando o conjunto arquitetônico da Cinelândia. O STF funcionou neste
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endereço até a transferência do Distrito Federal para Brasília, em 1960. Após várias
reformas e mudanças, passou a sediar, a partir de 2001, o Centro Cultural da Justiça
Federal. A arquitetura do edifício, projetado pelo arquiteto espanhol Adolfo
Morales de los Rios, foi concebida com grande influência dos padrões ecléticos em
voga no período, trazendo um ideal de equilíbrio estético. A Sala de Sessões possui
inúmeras referências à Iustitia romana, remetendo a um esforço da Justiça
Brasileira, e, por conseguinte, da República, de afirmar uma tradição nacional de
continuidade da autoridade e do fausto de grandes personalidades da Antiguidade
Romana. A tradição da Antiguidade se associou ao referencial de modernidade e
progresso representado pela Constituição dos Estados Unidos, que irá influenciar
diretamente a Carta Magna brasileira e a organização jurídica de então. Tal
preocupação refletiu o elo entre a tradição e a modernidade. A bibliografia
selecionada forneceu as bases teórico-metodológicas para compreender as
inspirações estéticas predominantes no Palácio. A utilização de elementos clássicos
e ecléticos assume caráter político-cultural quando inserido num contexto de
invenção de uma identidade nacional a partir da associação de elementos nacionais
com a cultura clássica, recuperada em nível internacional. O Palácio do STF
compreende um exemplo material e histórico dessa reinvenção, eternizado no
coração do Rio de Janeiro.

Fotografia e gênero: Judith Munk e o Rio de Janeiro dos anos 1940-


1960 - Lorena Fernandes Antunes (UNESA), Paula Ribeiro (UNESA)
94
O presente projeto inscreve-se no campo de estudos da história da fotografia
brasileira e objetiva elaborar um ensaio biográfico sobre a trajetória de Judith
Munk, imigrante húngara, de origem judaica, que chegou ao Rio de Janeiro em
1949 e se tornou uma das primeiras mulheres do fotojornalismo carioca. Pretende-
se, com esta pesquisa, investigar tanto a trajetória de Judith, cuja importância no
contexto da história da fotografia brasileira ainda é pouco conhecida e, portanto,
pouco valorizada, como também, relacionar sua trajetória com o lugar ocupado por
mulheres no fotojornalismo no Rio de Janeiro. A importância de analisar a obra
produzida por Judith Munk justifica-se pela eclética documentação da fotógrafa,
que guarda muitas relações com a vida cultural, social e política do Rio de Janeiro
dos anos 1940, 1950 e 1960

Garrincha, alegria do povo (1962): documento, filme verdade, invenção - Luís


Ricardo Araujo da Costa (UFRJ)

Este trabalho pretende discutir os sentidos da produção do documentário


"Garrincha, alegria do povo" (Joaquim Pedro de Andrade, 1962) no contexto da
invenção de uma identidade nacional como proposta programática do cinema novo.
Por invenção, compreendemos a feição de uma iconografia simbólica captada pela
câmera e concatenada pela montagem, no curso de uma narrativa que traduzisse
uma ideia de Brasil embebida pela estrutura de sentimento romântico-
revolucionário, na acepção dada por Marcelo Ridenti. "Garrincha" inscreve-se no
itinerário da renovação de um cinema que punha em movimento uma interpretação
do Brasil a partir de referenciais de imagem e som em que se conjugavam retratos
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de uma realidade social subdesenvolvida e de uma cultura popular que, a um só


tempo, era vertida sob signos ambíguos de autenticidade e alienação. Em 1962, o
filme inaugurava no Brasil a experiência do chamado cinema direto. Era a ideia da
câmera como um captador de uma realidade fugidia, em ambiência de produção
próxima à de uma reportagem. O "filme verdade" recuperava a experiência
soviética de Dziga Vertov para filmar a vida em movimento. O carioca Joaquim
Pedro de Andrade já filmara em documentário a intimidade doméstica de dois
fazedores e intérpretes da cultura brasileira: "O poeta do castelo" e "O mestre de
Apipucos", rodados em 1959 com Manuel Bandeira e Gilberto Freyre em tomadas
fora do círculo formal da Academia. "Garrincha", em sentido talvez semelhante, é
um exercício de criação icônica de um herói do povo, com quem divide o
protagonismo no argumento da fita: o gênio travesso e pouco afeito às exigências
da disciplina de atleta é tratado como um brasileiro simples, fagueiro, criativo.
Garrincha é uma metonímia para o homem brasileiro; o futebol, um fenômeno de
êxtase coletivo ainda pouco compreendido, mas tratado como espécie de força
motriz do espírito popular, num movimento de afirmação de uma cultura brasileira
que se arrogava autêntica, em contraposição ao retrato menos abonador que
"Subterrâneos do Futebol" (Maurice Capovilla, 1965) faria ao filmar o futebol
como índice de alienação.

Imagem, história e política: imprensa caricata, estética da subversão ou quer


que eu desenhe? - Rogéria Moreira de Ipanema (UFRJ)
95
Pela proposição geral do tema Parcerias para o XVIII Encontro de História -
Anpuh/Rio, queremos pensar as possibilidades do encontro pelas parcerias
epistemológicas de campos e áreas do conhecimento que, subescritas pela imagem,
dissolvem enquadramentos disciplinares, cortam durezas de cátedras, atravessam
fronteiras desmanchando limites e, ao se articularem, convocam à reflexão
conteúdos e programas mais inclusivos; temas, objetos, sujeitos, ideias. História,
estética e poder são partes constitutivas da compreensão das formas de
apresentação do pensamento social brasileiro. Integradas em nossa pesquisa, esta
comunicação temporaliza uma inserção na primeira década da Primeira República,
mediada pelas imagens da imprensa político-caricata do Brasil dos Oitocentos. Das
pensabilidades sensíveis, sob a denominação de Jacques Rancière, podemos
levantar a crítica histórica da imagem impressa deste jornalismo oitocentista,
problematizada em três frentes que iremos desenvolver: como problema social da
história, como problema visual da arte e como problema cultural da política. Como
problema social da história, uma vez que, ao apresentarem as criações visuais das
realidades de seu tempo, os artistas-jornalistas da imprensa transgressora,
subvertendo a lógica das representações por uma estética satírica, reafirmavam o
seu lugar e papel na mediação crítica social do país. Como problema visual da arte,
pois as caricaturas são desenhos litografados e o campo do desenho é um campo
da arte, assim como a litografia e a serialidade reprodutível das imagens estão para
a interface gráfico-artística e à cultura visual. Como problema cultural da política,
não como representações históricas, mas pela prática das folhas engajadas,
fundamentalmente nos movimentos do poder, do governo, estado e seus atores,

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quando forjaram uma avaliação discursivo-visual e exerceram culturalmente a


história da política nas imagens da imprensa ilustrada brasileira.

Imagens e representações do socialismo soviético: a construção de uma


História a partir da leitura de posters e fotografias da União Soviética em sala
de aula - Fabrício Augusto Souza Gomes (CPDOC - FGV)

A compreensão do significado das imagens pelos alunos pode ser uma importante
ferramenta de aprendizagem. Imagens são instrumentos poderosos, porque
despertam e instigam a curiosidade e o interesse no receptor. O socialismo soviético
- e suas complexidades - merecem especial atenção nesta comunicação, através da
análise de posters e fotografias produzidas durante o esforço de guerra, como forma
de afirmação do regime socialista em oposição aos países do Eixo. Essas imagens
tinham o propósito de construir uma narrativa favorável ao regime comandado por
Stálin. A comunicação também tem como objetivo analisar como essas imagens
são (e podem ser) trabalhadas em sala de aula, com alunos do ensino fundamental
e ensino médio.

Letramento em História para alunos surdos: construção do conhecimento


histórico em Libras a partir da produção de sequências didáticas
visuais - Camilla Oliveira Mattos (UFRRJ)

O presente artigo tem por objetivo analisar a construção de um material didático


96
(sequência didática visual) voltado para o ensino de tempo histórico para surdos.
Este material é fruto de pesquisa empreendida no Mestrado Profissional em Ensino
de História (PROFHISTORIA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Nesta produção operamos conceitualmente com quatro campos do conhecimento,
em especial: tempo histórico, surdez, linguagem e letramento. Entendendo como
fundamental o respeito à cultura surda, sobretudo no que diz respeito à sua língua,
a Língua Brasileira de Sinais – Libras, todo o material histórico produzido foi
construído em Libras, utilizando imagens e vídeos, materiais estes que, devido ao
caráter visual, acreditamos serem os mais adequados para o ensino de História para
crianças surdas. Tendo estas preocupações como ponto de partida, construímos
uma sequência didática articulada em quatro eixos: ferramentas do tempo, medição
temporal, distinção entre tempo histórico e tempo natural e, por fim, permanências
e rupturas no tempo. Ressaltamos que neste material todo o conhecimento histórico
foi construído em Libras, com o auxílio de uma intérprete, possibilitando o
letramento destes alunos surdos.

Marcas e significações de uma Boa Vista do Recife : imagens em


debate - Fabiana Bruce da Silva (UFRPE)

Esta comunicação tem por objetivo revisitar imagens da cidade do Recife,


reconstituindo, verbal e visualmente, algumas marcas e significações que teriam
legitimado e conferido historicidade à paisagem local. Ao eleger « plataformas de
observação privilegiadas » de cultura visual, pretendemos fazer aparecer alguns
esquemas narrativos, manifestos e latentes, perguntando, também, como estas
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visualidades foram colocadas em debate e escolhidas. Os recortes selecionados da


paisagem - cartográfico, iconográfico, fotográfico -, informam um percurso visual
e compõem o arquivo repertoriado.

O Estúdio Disney vai à guerra - Annateresa Fabris (USP)

Desde o ingresso dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, o Estúdio


Disney engaja-se ativamente na produção de animações, tiras em quadrinhos,
livros, bônus de guerra e outros artigos de propaganda. O Estúdio realiza filmes de
encomenda para os governos dos Estados Unidos e do Canadá, além de produções
mais livres, nas quais os personagens dos quadrinhos e das animações estão direta
ou indiretamente envolvidos no esforço bélico. Dentre os filmes de encomenda,
podem ser lembrados os realizados para o Departamento do Tesouro ("The new
spirit", 1942; "The spirit of ’43", 1943), para a Aeronáutica ("Victory through air
power", 1943) e para o governo ("Der Fuerher’s face", 1942; "Reason and
emotion", 1943; "Education for death. The making of a nazi", 1943). Para o
governo canadense, o Estúdio realiza animações como "The thrifty pig" (1941),
"All together" (1941) e "Stop that tank!" (1942). Nas produções mais livres, os
personagens participam de diversas maneiras do esforço bélico: 1 – encorajando o
alistamento: uma série de curtas protagonizados pelo Pato Donald entre 1942 e
1944; o desenho de animação "Private Pluto" (1943); tiras diárias protagonizadas
por Pateta, entre outros; 2 – convidando os cidadãos a adquirir bônus de guerra e a
pagar os impostos: "Donald’s decision" (1942); 3 – despertando o empenho cívico
97
da população pela divulgação da necessidade de ações relativas ao engajamento em
trabalhos que beneficiariam a produção agrícola e industrial (tiras diárias com
Mickey, Pateta e Minnie), ao uso consciente de matéria-prima e de fontes de
energia ("Out of the frying pan into the firing line", 1942; "Donald’s tire trouble",
1943), à vigilância constante contra o inimigo ("Home defense", 1943; "Chicken
little", 1943), ao combate a espiões nazistas (tiras da série "Mickey Mouse and the
nazi submarine", 1943), entre outras. Desse modo, Disney afasta de si a pecha de
ser um simpatizante do nazi-fascismo, como alguns aspectos da produção do
Estúdio e seu comportamento pessoal pareciam atestar. No primeiro caso,
inscrevem-se a presença de um isqueiro com suástica na casa de Minnie na
animação "The wayward canary" (1932), o disfarce caricatural do Lobo Mau como
um mascate judeu numa cena de "The three little pigs" (1933) e as referências
germânicas de filmes como "Branca de Neve e os sete anões" (1937) e a sequência
“O aprendiz de feiticeiro” de "Fantasia" (1941). O segundo caso envolve uma visita
a Benito Mussolini (1936), o encontro com Leni Riefenstahl em Hollywood (1938)
e a participação de Disney em algumas reuniões do equivalente norte-americano
do Partido Nazista.

O lugar da obra de Paulo Menten na gravura artística brasileira do século


XX - Priscilla Perrud Silva (UFF)

Neste escrito buscamos apresentar e problematizar o mapeamento que executamos


em meio à história e a historiografia da gravura artística brasileira no século XX,
com a finalidade de localizar o gravador Paulo Menten (1927-2011) e sua obra. Tal
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procedimento de pesquisa foi realizado com o intuito de se estabelecer não somente


o estado da arte da gravura artística brasileira, mas também a demarcação do
estatuto social e artístico do referido gravador ante sua época, assinalando desta
maneira sua importância para o estudo das artes gráficas no país. Em comparação
a outros artistas, Paulo Menten trilhou uma trajetória peculiar por ter sido bem
sucedido logo no início da carreira artística que terminou no ostracismo.
Possivelmente por causa de seu afastamento dos grandes circuitos de arte nos anos
1970 e sua fixação no interior do Paraná em meados dos anos 1970 e 1980, sua
atuação como artista por fim se tornou uma lacuna considerável nas narrativas
sobre a gravura artística brasileira, dada sua importância não somente por sua
extensa produção artística por efeito de sua participação em diversas exposições
desde o final dos anos 1950, mas também por seu testemunho dos acontecimentos
do cenário artístico-cultural da época, seus contatos com nomes importantes do
meio artístico brasileiro e seu desempenho na formação de inúmeros artistas,
principalmente gravadores, não só em um grande centro cultural como a cidade de
São Paulo, mas também nos circuitos menores do interior dos estados de São Paulo
e do Paraná. Com isso, compreendemos que Paulo Menten alcançou um
determinado posicionamento como artista no espaço artístico e cultural da gravura
de arte no país e desta maneira foi reconhecido por seus pares, contudo, este artista
ainda não foi devidamente localizado na história da gravura artística brasileira pela
historiografia, e constatamos que mesmo a gravura em si desloca-se entre
diferentes esferas de discussão, por vezes carecendo de identidade própria,
tensionada como uma intersecção entre arte expressiva e técnica de impressão e
98
reprodução. Assim, se faz necessário ressaltar a importância deste mapeamento
para a devida localização da obra de Paulo Menten em meio à história e a
historiografia da gravura artística brasileira no século XX, a fim de “resgatar” este
artista esquecido, mas que foi relevante para a produção da gravura no Brasil para
além da produção dos estados de São Paulo e do Paraná, de maneira que possamos
demarcar nossa contribuição para a historiografia da gravura.

O Parque Ibirapuera e a construção da imagem de um Brasil moderno - Laura


de Souza Cury (PUC-SP)

Este trabalho analisará imagens fotográficas do Parque Ibirapuera, inaugurado em


1954 para os festejos do IV Centenário da cidade de São Paulo, entre as décadas
de 1950 e 1970, década esta em que foi construída a última obra do complexo (a
Assembleia Legislativa). Objetiva-se situar um conjunto diversificado de
fotografias do Parque em seus contextos promocionais históricos e compreender os
papéis que as representações de modernidade contidas nelas desempenharam no
imaginário paulistano e brasileiro. A leitura das imagens conduz à importância de
compreender o interesse de grupos dominantes na construção de determinado
discurso no qual o Ibirapuera deveria representar uma nova imagem de São Paulo
no contexto mais amplo do país. As obras arquitetônicas do Parque, assim como
suas representações fotográficas, refletem projetos estéticos e políticos e revelam
diferentes leituras sobre o modernismo, almejado como característica determinante
para a nova identidade que se pretendia para o Brasil. A apresentação tratará da
vontade das elites dirigentes de, no contexto das comemorações para o IV
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Centenário, projetar São Paulo enquanto modelo de desenvolvimento no Brasil por


meio do Ibirapuera apesar de, inicialmente, o Parque ter sido construído em uma
várzea que abrigava uma favela. Assim, portanto, também será possível observar
como memórias foram apagadas em nome de um discurso e como novas memórias
foram criadas, principalmente com o aparecimento de imagens – selecionadas - do
Ibirapuera na mídia impressa. Em conclusão, a apresentação buscará compreender
como as imagens fotográficas do Ibirapuera foram capazes de criar, utilizando
terminologia foucaultiana, “construções heterotópicas”. A reflexão acerca desse
termo será utilizada como filtro para a análise do espaço “natural” dentro do espaço
urbano. Dessa maneira, será possível perceber como foram criadas determinadas
imagens relacionadas com a memória seletiva de momentos pretéritos da história
e como, simultaneamente, foram criadas novas imagens, que apontam para o futuro
na constituição de uma nova identidade para a cidade e para o país. A análise
apresentada combinará contextualizações e análises históricas e visuais (formais),
assim como discussões sobre arquitetura e urbanismo, relacionadas ao Parque
Ibirapuera. As imagens serão compreendidas como registros, mas também como
interpretações, que ajudaram a construir e a divulgar uma imagem mental, geral e
sintetizante, referente a uma nova identidade, moderna, para São Paulo e para o
Brasil.

Os impactos da revolução de São Domingos ao abolicionismo britânico e à


segunda escravidão através das gravuras de Marcus Rainsford (1789-
1815) - Amanda Bastos da Silva (UFF)
99
A pesquisa se propõe a compreender os efeitos da Revolução de São Domingos à
segunda escravidão e ao abolicionismo britânico, sob a luz da historiografia e das
obras e gravuras de Marcus Rainsford. Utiliza como base metodológica a História
Comparada Integrada, lança mão da Cultura Visual e dos conceitos de Haitianismo,
Primeira e Segunda Escravidão, Antiescravismo e Revolução. Ao final do século
XVIII, São Domingos era uma das colônias mais visadas do Novo Mundo.
Altamente lucrativa e explorada pela sua metrópole, a França. Em 1791, em meio
à Revolução Francesa, os escravos da região iniciaram um intenso processo
revolucionário, que se estendeu por mais de treze anos. Esses eventos não possuem
precedência na história da humanidade - acentuaram as tensões iluminismo,
inverteram os princípios dos Direitos do Homem e redefiniram o significado de
liberdade. O nascimento do Haiti deixou medo, mas também um espaço econômico
em aberto e se converteu em elemento do discurso abolicionista. Em outras
palavras, o escravismo demonstrou a sua adaptabilidade e a segunda escravidão
tomou forma, com a ascensão de Brasil, Cuba e sul dos Estados Unidos.
Simultaneamente, a Grã-Bretanha consolidou a argumentação a respeito da
imoralidade da escravidão e iniciou uma intensa campanha antiescravista, que
perduraria até o final do século XIX. Marcus Rainsford foi um soldado britânico
que visitou São Domingos em 1799. Em 1798, os britânicos foram expulsos da ilha
e Rainsfrod precisou fingir ser um americano. Por algum tempo funcionou, mas
acabou descoberto e salvo por Toussaint Louverture, um dos principais líderes do
movimento revolucionário. Os trabalhos de Rainsford, A memoir of transactions
that took place in St. Domingo, de 1802, e An historical account of the Black
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empire of Hayti, de 1805, expressam a devastação de São Domingos e a ascensão


de Cuba, refletem a iminência da lei britânica de fim do tráfico de escravos, de
1807, e trazem à tona as limitações do soldado ao retratar São Domingos de forma
europeizada - os negros mostraram-se tão receptivos, humildes e inteligentes, que
Rainsford se sentiu como em Londres. Apenas a segunda obra contém ilustrações.
Trata-se de 09 gravuras elaboradas a partir dos rascunhos de Rainsford e
relacionadas à estadia e à prisão do britânico e às cenas do conflito final entre
França e São Domingos, ocorrida entre 1801 e 1804. As imagens se estabelecem
como ilustrações ao texto escrito, mas Rainsford possuía o desejo de que
funcionassem, também, de forma autônoma, com o auxílio máximo da legenda, a
fim de que pudessem circular pelas sociedades europeias. O resultado é uma
curiosa experiência de visualidade, com imagens intuitivas, que constituem uma
situação histórica e apresentam múltiplas camadas e possibilidades de
interpretação.

Os indesejáveis à modernidade: representações populares e humoristas no


Brasil Republicano (1889-1930) - Leonardo de Freitas Onofre (CIEP 358
Alberto Pasqualini)

O presente trabalho tem como recorte temático a análise das representações de


populares no trabalho ilustrado de Calixto Cordeiro, J.Carlos e Raul Pederneiras
entre outros caricaturistas em diferentes semanários de humor das primeiras
décadas do século XX, como a Fon-Fon!, O Malho, Revista da Semana, O
100
Tagarela, O Mercúrio, Kosmos e etc. Capital do país e palco principal dos conflitos
políticos e sociais do início da República, a pesquisa busca na obra de tais
ilustradores, o Rio de Janeiro dos antagonismos, dos libertos, dos criados, das festas
populares, das gafieras, dos insalubres cortiços, do comércio ambulante, do
pensionato, das remoções urbanas e das novas aglomerações domiciliares, cada vez
mais distantes do centro da cidade, que ganham vida através de representações
como Zé Povo, do sertanejo, dos capoeiras, malandros entre outros. Ainda no final
do século XIX e início do XX, o período conhecido como a Belle Époque traz à
tona o desejo da elite republicana: “civilizar” os modos “bárbaros” da população
citadina subalterna, tocando em pontos fundamentais das sociabilidades populares,
procurando disciplinar suas festas, sociabilidades e modos de vida. Nesse contexto,
a modernidade almejada pelo projeto político em questão, constitui-se repleta de
contradições e distanciamentos dos ideais parisienses, uma vez que o Brasil ainda
trazia no tecido social as feridas da abolição recente, com uma ampla camada
populacional alijada do acesso à cidadania. Após a Primeira Guerra Mundial (1914-
1918), o modelo europeu de civilização passa a encontrar questionadores,
possibilitando outros olhares internos para os elementos da vida social brasileira.
Nesse momento, a questão racial e a identidade nacional são mescladas através de
discussões que tocavam em pontos como a racialização das relações sociais, da
mestiçagem e do incentivo à imigração européia. Através de seus traços, o trio trava
diálogos com intelectuais e debates de seu momento, trazendo à tona, novas
reflexões sobre nacionalidade brasileira, não isentas das contradições e
preconceitos de sua época, todavia, contrastando com marcos ilustrativos
anteriores, como o índio vigoroso de Ângelo Agostini (Revista Illustrada, de 1876-
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1898), que perde a vez para o povo das ruas: os capoeiras, o Zé-Povo, o português
do pequeno comércio, as representações da mulata, do malandro entre outros
populares.

Pintura mural modernista e a imprensa no Brasil - Luciana de Fátima Marinho


Evangelista (UFF)

Igualmente muito antiga e muito valorizada, tendo em vista as pinturas rupestres e


os afrescos renascentistas, a pintura em muros e paredes ganham novos contornos
e ampla difusão no interior do movimento modernista brasileiro. Tanto que se
tornou recorrente nos depararmos com os mais diversos estilos e concepções de
pinturas murais proliferadas por metrôs, escolas, bibliotecas, residências, e muitos
outros locais. Por outro lado, toda a diversidade dessa expressão artística também
se reverberou na impressa, ora pelo registro da realização de algumas obras, como
pela manifestação da opinião da comunidade em geral sobre as imagens artísticas,
ora pela veiculação da crítica de arte travada por nomes como Mário Pedrosa,
Quirino Campofiorito e Frederico Morais. Nesse sentido, esta comunicação aborda
a atuação da mídia impressa no registro das intenções e negociações inerentes ao
processo de elaboração e difusão do muralismo no Brasil, mas no seu protagonismo
no engendramento de uma nova cultura visual.

Postais para ver - Clarissa Ramos Gomes (Universidade Federal Fluminense)


101
O trabalho aborda o colecionismo e discute a cartofilia durante a Era de Ouro dos
postais no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro. Para isso é realizado um
estudo de caso da prática de colecionar na Coleção Estella Bustamante, integrante
do acervo do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ). Seus itens
são em grande parte de fabricação francesa e alemã, nos quais fotografias
apresentam modelos em poses encenadas, característica do período. São
examinadas a coleção e a materialidade de seus itens conduzindo a uma análise
iconográfica dos cartões-postais. A pesquisa ainda se debruça sobre os postais
observando a representação da mulher em suas imagens conciliada a um discurso
de feminilidade construído nas primeiras décadas do século XX.

Propaganda e representações escritas e visuais da Amazônia na Revista


Brasil- Portugal (1899-1900) - Anna Carolina de Abreu Coelho (Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará)

A pesquisa consiste na análise das representações discursivas e imagéticas visando


à divulgação da Amazônia que foram utilizadas na revista Brasil-Portugal durante
os anos de 1899 e 1900 (posteriormente os números publicados nos outros anos
serão objeto de uma acurada leitura). O periódico Brasil-Portugal era uma revista
ilustrada quinzenal que foi publicada entre os anos de 1899 a 1914, tinha por
objetivo estreitar as relações entre os Brasil e Portugal ou nos dizeres dos redatores
“tornar o Brasil conhecido em Portugal e Portugal conhecido no Brasil”; tratava de
assuntos diversos era ilustrada e alguns de seus colaboradores eram figuras
conhecidas da política e intelectualidade paraense como Paes de Carvalho e Barão
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de Marajó. Encontramos entre os anos de 1899 e 1900 vários artigos e referências


à Amazônia relacionados a economia, as cidades de Belém e Manaus, biografias
de homens ilustres e muitas propagandas de casas comerciais das duas capitais da
Amazônia. Pretendo entender essa as representações amazônicas dentro de uma
política relacionada ao processo de afirmação nacional e regional ligado
intrinsecamente ao olhar estrangeiro.

Redenção de Cã: uma história de apropriação - Elaine Cristina Ventura


Ferreira (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O objetivo da presente comunicação é traçarmos uma reflexão sobre o trabalho


iconográfico “Redenção de Cã” de autoria do pintor espanhol Modesto Brocos y
Gómez e saber como o autor leu o pensamento social que o circundava, do qual, se
apropriou e, criou sua obra “Redenção de Cã”. Não se trata de um estudo
biográfico, mas de uma reflexão sobre formas de apropriação para entender como
o pensamento social de uma época foi reproduzido na obra aqui analisada.
Entendemos que esta obra, está ligada a vários processos sociais, o pensamento de
uma época, a construção da imagem do país e ao debate sobre a identidade
nacional.

Santa Maria em perspectiva: possibilidades de extensão universitária


(RS) - Roselâine Casanova Corrêa (UNIFRA)
102
Entende-se que a obrigatoriedade (pelo MEC) da curricularização da extensão nas
IES fez com que as mesmas (re) pensassem seu tripé "ensino/pesquisa/extensão" e
passassem a pensar de fato na extensão universitária como uma das formas de
compartilhar e adquirir conhecimento, a partir das demandas da sociedade em que
se insere. A maioria das Instituições Comunitárias de Ensino Superior foi criada a
partir da década de 1940. A Faculdade Imaculada Conceição (FIC), criada em
1955, transformou-se em Centro Universitário Franciscano (1998) e, ainda em
2018, passará a Universidade Franciscana (UFN). Trata-se de uma universidade
comunitária que, a partir do o Encontro Nacional de Dirigentes de Ação
Comunitária em Campinas (1995), deu início com maior ênfase na discussão para
a articulação da IES em torno da extensão. Destaca-se que essas discussões em
torno da extensão tem sua origem na preocupação dispensada pelas IES
Confessionais em relação às questões sociais, considerando-se os elevados índices
de desigualdade social no país. Em se tratando do Centro Universitário
Franciscano, tal IES confessional possui três conjuntos de prédios, chamados
Conjunto I, II e III. Da comunidade acadêmica, somam 4.760 estudantes de
graduação; 532 estudantes em cursos lacto sensu e 219 em cursos stricto sensu. O
número atual de professores é de 410 e de técnicos-administrativos somam 240.
Trata-se, portanto, de uma IES de médio porte em termos locais. Sobretudo a Área
de Ciências da Saúde sempre se privilegiou a extensão pela missão inerente aos
cursos atrelados a tal área. Na Área de Ciências Humanas esse caminho ocorreu
mais recentemente, porém não com menor empenho. O Projeto de Extensão sobre
o qual se apresenta neste breve artigo, possui como objetivos recuperar a história
sociocultural do município, atualizando sua formação política em alusão aos 160
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anos de emancipação, a ser comemorado em 2018; priorizar a valoração dos


campos de memória; a problematização da temporalidade, expressa nas artes
visuais, na literatura, na religiosidade, na arquitetura, na historiografia, no teatro,
no vestuário, na culinária, na música, no mobiliário e nos espaços de sociabilidade;
promover a interconexão entre os eixos de extensão acadêmica do Centro
Universitário Franciscano, em especial, os de Educação, Cultura e comunicação e
Cidadania, Identidades e Direitos. As ações ocorrerão em espaços formais e não
formais de educação. As atividades contemplam shows, apresentação de teatral,
seminários, desfiles de moda, brechós, todas elas voltadas para a história da cidade,
em comemoração aos seus 160 anos de emancipação político-administrativa.

Trabalhadoras em fotografias 3x4: as mulheres e a carteira profissional no


Rio Grande do Sul, 1933-1943 - Aristeu Elisandro Machado Lopes (UFPel)

No ano de 1933 foi instalada no Rio Grande do Sul a Inspetoria Regional do


Trabalho, órgão ligado ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio que em
seguida passaria a ser identificada como Delegacia Regional do Trabalho. A
DRT/RS tinha por principal função recolher os dados dos trabalhadores para a
confecção das carteiras profissionais, documento recém criado pelo governo
provisório de Getulio Vargas. As informações recolhidas eram anotadas em uma
ficha de qualificação profissional e informavam dados antropométricos, pessoais e
profissionais dos trabalhadores. Uma fotografia no formato 3x4 com a imagem da
cabeça do trabalhador tomada de frente também era fornecida. Parte das fichas de
103
qualificação preenchidas no estado no período entre os anos de 1933 e 1968 foi
preservada e está salvaguardada no Núcleo de Documentação Histórica da
Universidade Federal de Pelotas. O objetivo principal desta proposta de
comunicação é apresentar o trabalho de pesquisa que está sendo realizado com uma
parte deste material destacando um tema em particular: a presença da mão de obra
feminina no mercado de trabalho do Rio Grande do Sul entre os anos de 1933 e
1943. Os mundos do trabalho sempre foram marcados pela presença masculina,
mas as mulheres também estiveram presentes, mesmo que sua história fosse
negligenciada ou suplantada em favorecimento de uma história dos homens. Dessa
forma, averiguar a presença das trabalhadoras no acervo da DRT/RS é uma maneira
de fortalecer a sua história e colocar as mulheres como parte ativa e integrante do
mercado de trabalho. Até o momento, a pesquisa já localizou fichas de 9.911
mulheres, o que representa 21,74% do total de trabalhadores e os outros 78,26%
correspondem aos 35.678 homens. As trabalhadoras exerciam profissões variadas
como serventes, costureiras, domésticas, cozinheiras, professoras, camareiras,
fiandeiras, atividades comerciais, entre outras, constituindo um multifacetado
universo de ocupações. Com a análise desenvolvida a partir dos dados soma-se a
fotografia 3x4 dessas mulheres. Os seus registros fotográficos constituem uma
parte importante das suas histórias profissionais e o conjunto das fotografias é
considerado como um documento que permite compreender aspectos do passado,
ou seja, a presença feminina no mercado de trabalho e a busca por seus direitos,
como, por exemplo, as solicitações da carteira profissional.

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Uma reflexão histórica da intensificação da reificação humana no capitalismo


contemporâneo representada no filme Futuro da História, de Fiona
Tanto - Cíntia Medina de Souza (USP)

A atual conjuntura histórica de crise estrutural do capitalismo é marcada pela


extensão global da acumulação flexível do capital às diversas práticas
sócioculturais do cotidiano. Nesse caso, assistimos a uma intensificação dos
processos de reificação que alteram as relações sociais e os comportamentos
individuais na experiência contemporânea. Estes processos, por sua vez,
demandam cada vez mais por uma compreensão histórica de seus impactos,
impelindo a reelaboração do próprio conhecimento social. Nesse sentido, as
imagens cinematográficas, enquanto objeto cultural constituído por sujeitos
atuando nas relações sociais, podem ser um importante instrumento analítico de
compreensão histórica da realidade contemporânea. Sua linguagem artística,
estruturada pela técnica de montagem, reconstrói eventos históricos em segmentos
e combinações de um modo que não os vemos no mundo objetivo, retirando-lhes,
assim, a sua imediaticidade. Diante disso, sob uma perspectiva histórico-dialética
e com base na montagem de teor dialético de Eisenstein, propomos, a partir do
filme Futuro da História (2016), de Fiona Tan, discutir o papel das imagens
cinematográficas em suscitar conceitos que permitam investigar as medições e
determinações históricas da experiência do sujeito contemporâneo.

“A lembrança de um acontecimento”: A fotografia na Exposição Colonial


104
Portuguesa de 1934 - Marcus Vinicius de Oliveira da Silva (UFF)

Em 1934, na cidade do Porto, ocorreu a Primeira Exposição Colonial Portuguesa,


uma das primeiras celebrações públicas do recém-instaurado Estado Novo. O
evento foi uma plataforma de propaganda da “nova política colonial” imposta pelo
regime salazarista, a qual já tinha sido elaborada e exposta no Ato Colonial de
1930, como também foi uma grande vitrine das empresas que atuavam nas colônias
que expuseram seus produtos e divulgaram informações das suas ações. Além
disso, havia também o desejo de promover uma “lição do colonialismo” na
população metropolitana parafraseando as palavras de Henrique Galvão, diretor
técnico do certame. A exposição mobilizou as diversas partes do país com
caravanas para visitar os stands e as pessoas expostas no Palácio de Cristal (local
do evento), as quais consumiam notícias e informações sobre o acontecimento nos
jornais e revistas que apresentavam cada aspecto do evento com ilustrações ou
fotografias dos espaços coloniais recriados na localidade. As imagens fotográficas
produzidas por fotógrafos comunicavam, informavam, educavam e
monumentalizavam aquele episódio para uma população que tinha um regime
interessado em reconfigurar a política colonial e angariar novos partidários para
seus objetivos coloniais. Além de um concurso de fotografia com diferentes
temáticas que participaram fotógrafos e amadores, as fotografias também tiveram
um grande circuito social que perpassava as publicações em revistas e jornais, a
produção de postais e a elaboração de souvenir que eram consumidos durante os
meses de execução da Exposição Colonial Portuguesa. No entanto, a organização
queria “eternizar” aquele acontecimento tão marcante para a “nova política
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colonial” e promoveu a confecção de um álbum comemorativo com 101 fotografias


produzidas pela Casa Alvão. Segundo Henrique Galvão aquela a publicação era a
“que mais expressivamente manterá a lembrança de um acontecimento que
interessou profundamente todo o País”. A edição comemorativa foi caracterizada
por Galvão como a principal guardiã da memória do acontecimento que durante
meses mobilizou os portugueses. A “eternização” de uma narrativa visual alinhada
ao ideal mítico do novo regime era o desejo expresso na confecção da publicação
oficial, mas haviam outras funções desempenhadas pela fotografia neste cenário.
Portanto, pensar os usos e funções da fotografia, assim como as ideias que essas
imagens fotográficas mobilizavam e criavam na sociedade portuguesa, são os
objetivos da presente comunicação, reconhecendo que essas questões fazem partes
de um conjunto inscrito no âmbito da produção da fotografia pública no mundo
contemporâneo.

105

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106
ST 10. Da construção dos patrimônios
ao acesso às cidades: direitos,
negociações e conflitos

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A Fazenda Praia Grande: Entre estradas a identidade inquieta de um


patrimônio fantasma em Mangaratiba - João Vitor Hugo Menezes do
Nascimento (UFF)

Essa comunicação busca reunir elementos que resgatem a história da fazenda Praia
Grande por meio da noção de patrimônio fantasma de Márcia Motta, ratificando a
importância da memória na história, lançando um novo olhar sobre ela. Localizada
na Vila de Mangaratiba no século XIX, a história da fazenda se assemelha com a
trajetória da região diante do crescimento da cafeicultura do Vale do Paraíba, visto
que a construção da Estrada Imperial em 1857 possibilitou a consolidação de uma
aristocracia e um maior desenvolvimento da área. Durante esse período, a Vila
pôde funcionar como apêndice do empreendimento cafeeiro, escoando a produção.
Contudo com a construção da Estrada de ferro Dom Pedro II, a região perde boa
parte de sua importância na logística do principal negócio do país. Juntamente com
isso, a atividade escrava está em decadência no país desde meados do século,
levando Mangaratiba a ter sua estrutura fundamental desmantelada. Nesse
contexto, será analisada a trajetória da fazenda, enquanto área dominada por uma
aristocracia, até o momento em que a região sucumbe, e o momento posterior de
loteamento do local para servir como residências de veraneio, juntamente com a
emergência da Estrada de Ferro Central do Brasil. De fato, torna-se importante
abordar essa memória da história, visto que essa identidade corre o risco de se
obliterar diante de uma identidade que não cessa de se manifestar ao mesmo tempo
que é reprimida. Dessa forma, o conceito de patrimônio fantasma faz-se necessário
107
para averiguar os traços de amnésia social, patrimônio e história que se relacionam,
entendendo a memória como uma questão humana envolta pelo inexorável
elemento da mudança.

A História Pública e a educação patrimonial: saindo da academia e chegando


aso cidadãos. A importância da “publicização” das pesquisas patrimoniais na
formação da cidadania na cidade de Bauru. S.P. - Fabio Paride
Pallotta (Universidade Sagrado Coração)

Bauru, no estado de São Paulo, foi fundada devido ao café, na passagem do século
XIX para o século XX (1º de agosto de 1896), em terras indígenas invadidas por
colonos e tomadas aos índigenas Caingangues. A cidade se desenvolveu devido a
um importante entroncamento ferroviário que reunia as três principais ferrovias de
São Paulo à época: Estrada de Ferro Sorocabana – 1905, Estrada de Ferro Noroeste
do Brasil – 1905 e a Cia. de Estrada de Ferro Paulista – 1910. Apesar da sua
importância, as ferrovias paulistas e brasileiras foram paulatinamente abandonadas
devido a “preferência” dos políticos do Partido Republicano Paulista pelo
automóvel, tendência esta aprofundada, a partir do governo de Juscelino
Kubitschek (1956-1961). Transporte fundamental para a economia, a ferrovia
deixou de ser um modal importante e se transformou em Arqueologia Industrial
Ferroviária a partir da década de 1990, com as privatizações. Hoje, a cidade de
Bauru, possui o maior acervo do interior do Brasil desta Arqueologia, que nos
remete ao café, a política das oligarquias, aos indígenas Caingangues, aos
ferroviários e sua cultura, a Era de Vargas, temas históricos de suma importância
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para a formação da cidadania dos brasileiros e, em especial dos bauruenses. Como


estes temas podem chegar às pessoas comuns? Através das descobertas históricas
feitas pelas pesquisas de Patrimônio Cultural Material dentro das universidades. A
partir delas foi elaborado um Roteiro de Visita Urbana onde há o diálogo entre o
Estilo Eclético, ligado ao Café-com-Leite e o Art Deco, ligado à Revolução de
1930 e a Era de Vargas, com o pano de fundo da ferrovia. Estas descobertas são
compartilhadas com os alunos e a população em geral pela “publicização” proposta
pela História Pública.

Chafariz do Lagarto (RJ): Patrimônio Para Quem? - Daniel Levy de


Alvarenga (Universidade Autonoma de Lisboa)

Este trabalho pretende abordar alguns aspectos da constituição patrimônio cultural


utilizando-se do caso concreto do Chafariz do Lagarto, uma singela obra projetada
pelo Mestre Valentim no século XVIII, situada entre a ruas Frei Caneca e Salvador
de Sá, próximo ao Sambódromo, no Rio de Janeiro. Entendemos que através da
exposição do caso do Chafariz do Lagarto é possível fornecer elementos que
auxiliem na reflexão a respeito da interlocução entre aqueles que definem os bens
que devem compor um patrimônio cultural de uma coletividade e aqueles que, em
tese, seriam os destinatários desta atribuição de valor, considerando as diferentes
percepções possíveis. Atualmente o Chafariz do Lagarto encontra-se em péssimo
estado de conservação. Além disso, sua área foi ocupada por uma família que
utiliza as suas estruturas como moradia fixa, inclusive com instalações elétricas,
108
telefônicas e hidráulicas. Tanto o estado de conservação do Chafariz quanto esta
sua ocupação para moradia foram questionadas através de ações judiciais distintas
ainda em curso perante a Justiça Federal do Rio de Janeiro. A primeira delas foi
proposta pelo Ministério Público Federal em face da Superintendência do
Patrimônio da União e do IPHAN para obriga-los a realizar obras de restauro no
bem e a segunda ação foi proposta pela União/SPU contra a ocupante do Chafariz,
para forçar a sua retirada do local. No primeiro item serão expostos, em linhas
gerais, os critérios de escolha dos bens tombados pelo IPHAN no início de sua
existência institucional para, então, inserir o Chafariz do Lagarto nestes critérios.
Faremos algumas anotações biográficas sobre o Mestre Valentim bem como uma
descrição mais detalhada a respeito da materialidade do Chafariz e sua trajetória
desde o século XVIII até o presente momento. No item seguinte serão abordados
os mencionados processos judiciais que envolvem o Chafariz, indicando quais
foram as suas motivações e as estratégias argumentativas utilizadas tanto pelos
autores quanto pelos réus. Pretende-se, com esta análise, obter algumas pistas a
respeito das significações produzidas pelas diferentes leituras relacionadas ao
patrimônio. Por fim, apresentaremos as noções de referencia cultural e de
ressonância relacionando-as com o caso do Chafariz do Lagarto. As fontes
utilizadas para a composição deste trabalho foram os Processos de Tombamento
n.º 0101-T-38 e n.º 0154-T-38 disponibilizados na versão digital pelo Arquivo
Central do IPHAN/RJ; os processos judiciais em curso na Justiça Federal no Rio
de Janeiro, especificamente a Ação Civil Pública proposta pelo MPF e a Ação de
Reintegração de Posse proposta pela União/SPU; além de diversas notícias

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veiculadas pelos periódicos da cidade do Rio de Janeiro a respeito do Chafariz do


Lagarto ao longo dos séculos XIX, XX e XXI.

Cidade, patrimônio imaterial e cultura esportiva popular: o caso do registro


do futebol amador de Belo Horizonte - Raphael Rajão Ribeiro (CPDOC-FGV)

A presente comunicação objetiva apresentar o caso do registro do futebol amador


em Belo Horizonte que se encontra em sua fase final de aprovação. Pretende-se
apresentar o contexto de criação da iniciativa, seus pressupostos metodológicos e
os resultados alcançados até momento pelo projeto desenvolvido pela Fundação
Municipal de Cultura em parceria com a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer.
Em um cenário de formulação de novos marcos legais para a utilização de terrenos
pertencentes ao erário público, espaços historicamente ocupados por práticas
esportivas de caráter popular enfrentam riscos de manutenção de suas atividades.
A partir daí, é possível discutir as possibilidades e os limites de ações de
salvaguarda, especialmente frente a outros movimentos recentes da gestão
governamental, baseado em pressupostos de desoneração do poder público em
relação às políticas sociais, e às dificuldades de articulação intersetorial.

Constituição Cidadã e Patrimônio Cultural: nenhum direito a menos e por


mais direitos! - Maria Helena de Macedo Versiani (Museu da República)

Há trinta anos, a Constituição Federal de 1988 definiu avanços importantes no


109
campo dos direitos culturais. O Estado assumiu a responsabilidade de garantir o
exercício dos direitos culturais a todos os cidadãos brasileiros, de garantir acesso
generalizado às fontes de cultura e operar para a valorização e difusão da
diversidade de manifestações culturais presentes na sociedade brasileira.
Especificamente, o conceito de patrimônio cultural passou a ser reconhecido como
domínio relacionado aos bens materiais e imateriais. Ou seja, a tese de que houve
avanços culturais a partir do marco regulatório promulgado com a chamada
Constituição Cidadã justifica-se, entre outros pontos, em função da ampliação
democrática do conceito de patrimônio cultural e pelo seu reconhecimento como
um campo que constitui o direito à memória. Por outro lado, é importante ter em
consideração que tais avanços no texto constitucional não estão desconectados do
tempo e do espaço, como aliás nada está. Ao final dos anos 1980, já se tinha muito
aquecida no Brasil toda uma discussão em torno do patrimônio cultural e de suas
práticas. Nesse debate ganha importância a ideia de que preservar acervos é uma
ação que deve ser expressiva da multiplicidade étnica, regional e cultural das
sociedades. E uma questão central que então se coloca é a de buscar compreender
de que forma o patrimônio cultural impacta e pode enfrentar a desigualdade de
direitos no mundo, e como pode fortalecer e afirmar uma cultura igualitária. O
entendimento é que o esforço de dotar as instituições públicas que se dedicam à
preservação de bens culturais com acervos mais expressivos da multiplicidade de
experiências presentes no mundo social tem profunda relação com o esforço de
universalizar os direitos de cidadania. Porque a universalização de direitos não diz
respeito exclusivamente às questões de ordem econômica, mas também ao fato de
que parcelas da população são marginalizadas, esquecidas e não há sequer interesse
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em sua representação simbólica. Esse debate repercute no texto constitucional, e


repercute também nas práticas institucionais, por exemplo, renovando as formas de
atribuir valor de patrimônio aos bens culturais. O propósito desta comunicação é
iluminar alguns aspectos desse debate, a partir da experiência concreta do Museu
da República. Intenta-se apontar para inovações levadas a efeito nesse museu, a
partir de fins dos anos 1980, no tocante às formas de justificar a formação e
preservação do seu acervo, a partir do estreito diálogo com noções contemporâneas
de museu e com a afirmação dos direitos culturais garantidos no texto
constitucional.

Do reconhecimento da luta a ilegalidade do processo: tombamento da sede da


Associação dos Empregados do Comércio de Juiz de Fora - Dalila Varela
Singulane (Universidade Federal de Juiz de Fora)

Desde de sua instituição, o tombamento é uma instancia que gera tempestivos


conflitos entre proprietários de imóveis considerados de interesse cultural e a
administração pública. Isso se deve primordialmente ao desconhecimento que a
maior parte da população tem em relação ao que é e como funciona a preservação
legal de bens juntamente com a falta de políticas públicas que efetivamente
desobscureçam essa instancia legal para a comunidade, frisando continuamente que
o tombamento, antes que qualquer outra coisa, é uma forma de reconhecimento
oficial e geral do quão importante é determinada coisa para a população. A
Associação dos Empregados do Comércio de Juiz de Fora foi uma importante
110
instituição para a conquista de direitos de classe no fim do século XIX e primeira
metade do XX, sendo esta uma das mais antigas da cidade e que influenciou
diversas outras categorias a empreenderem lutas em favor de seus direitos. Sua sede
foi construída em uma das ruas centrais da cidade em estilo eclético e contava com
espaços de lazer e prestação de serviços para seus associados, sendo que, segundo
documento anexado ao processo, sua fundação contaria com a presença do
presidente Washington Luís e do governador de Minas Gerais Antônio Carlos,
mostrando a estreita e interessante relação existente entre essa aglomeração
proletária e o governo. O processo de tombamento do prédio foi aberto em 1997 e
até hoje se encontra sem resolução. Entre muitas impugnações e memoriais, a
análise dessa pesquisa concentrar-se-á sobretudo na sentença judicial que no ano
de 1999 concedeu a Associação um Mandado de Segurança contra a Prefeitura
Municipal e declarou nulos ou ilegais todos os imóveis tombados na cidade até
aquele ano, em virtude, segundo o juiz, da inconstitucionalidade da Lei Municipal
7.282/88, que dispõe sobre o tombamento de bens a nível municipal. Este estudo
de caso busca discutir como vem se dando processos de tombamento e seu
desgaste, bem como o despreparo de magistrados, advogados, conselheiros e, de
forma geral, profissionais que lidam com o patrimônio. Esta pesquisa é parte do
trabalho de conclusão de curso orientado pelo Prof. Dr. Rodrigo Christofoletti.

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Hibridismo Cultural no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos – Congonhas


– MG - Pamela Mota Bastos (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, é considerado referência da arte


brasileira no período colonial. Trabalhou em Congonhas, Minas Gerais, de 1776
até 1779, encarregado de esculpir as imagens em madeira dos Passos da Paixão e,
entre 1800 e 1805, empenhou-se com sua equipe na elaboração das doze estátuas
em pedra sabão que compõem o adro dos profetas do Santuário do Bom Jesus de
Matosinhos. O Santuário, assim como o adro dos doze profetas de Aleijadinho –
referência máxima de seu trabalho – além de terem sido tombados pelo IPHAN,
em 1939, também foi reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela
UNESCO, em 1985. Tendo em vista a importância deste Santuário, dentro e fora
do território nacional, essa pesquisa propõe analisar algumas inscrições feitas nas
áreas em pedra sabão nos muros e nas estátuas do adro dos 12 Profetas de
Aleijadinho, demonstrando a ligação entre o ato de registrar a pedra sabão e a
prática dos ex-votos, relacionando-as às tradições locais, em especial ao Jubileu do
Bom Jesus de Matosinhos, que acontece, anualmente, no Santuário. As
comemorações religiosas locais fazem parte de um conjunto de tradições mistas,
parte oriunda de Portugal, que chegou até Congonhas através de exploradores
portugueses, e parte constituída por tradições desenvolvidas ao longo do tempo, na
própria região. Essas tradições que podem ser analisadas dentro do conceito
antropofágico de Oswald de Andrade, o qual enaltece o caráter híbrido da cultura
brasileira e ao conceito de hibridismo cultural de Homi K. Bhabha.
111
Narrativas da escravidão, patrimônio e memória pública - Iohana Brito de
Freitas (PUC-Rio)

Nas décadas de 1980 e 1990, o circuito de fazendas do Vale do Paraíba fluminense


buscou na experiência do tempo transcorrido (que atribui ao espaço valor
documental) e na chancela do Estado, através dos órgãos responsáveis pelo
patrimônio histórico, a legitimidade de suas narrativas e o combustível para sua
divulgação enquanto corredor turístico comercial. A ideia de patrimônio aparece
ligada ao território e à memória pública, transformando as fazendas em fontes de
conhecimento e referências da história. Seus espaços são apropriados
cenograficamente, requalificados para o circuito turístico de memória. A
transformação das casas sede em museus-casas, o colecionismo de objetos que
remetam ao imaginário dos séculos XVIII e XIX, a construção de senzalas
cenográficas, a caracterização dos guias de turismo que integram o receptivo como
barões e baronesas e de funcionários ou grupos artísticos que compõem a
programação da fazenda como escravizados são recursos à construção de memórias
que atuam na constituição de um universo simbólico onde o patrimônio histórico
não é observado do passado e sim como categoria de ação do presente e sobre o
presente. Proponho então pensar como as narrativas tecidas sobre os escravizados
nas visitas às fazendas históricas do Vale do Café e as representações daí
decorrentes contribuem para a construção e valoração de discursos em torno do
passado histórico que perpassam a construção de saberes do público em geral. Em
outras palavras, como a memória da escravidão está sendo moldada, exibida e
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construída na arena destas fazendas? Qual a importância do diálogo entre o que é


produzido na academia e a divulgação histórica promovida nestes espaços e como
pensar uma ponte com a recepção social do trabalho acadêmico pelo grande público
que problematize esta cultura histórica? O espaço público é a arena onde se
enfrentam as memórias, onde se instituem formas de compartilhar a experiência, o
dever da memória e o reescrever da história. É a vivência, as formas de apropriação
do passado e a vontade de sua transmissão às gerações vindouras que dão o norte
interpretativo do que se quer valorar. Os museus – e aqui incluo as fazendas
históricas com seus museus casa – são peças importantes neste jogo, pois são
validados socialmente como locais de memória, legitimam narrativas, possuem
autoridade de fala, são fiadores do contrato da memória pública. E aí reside sua
potencialidade: oferecer novas e múltiplas narrativas.

O Belo do Moderno Amplia o Horizonte: Análise do processo de


patrimonialização do “Conjunto Moderno da Pampulha” – Belo Horizonte
(MG), entre 1984 e 2016 - Walkiria Maria de Freitas Martins (Unirio)

Nesse artigo analisaremos narrativas relacionadas ao patrimônio moderno


brasileiro e, mais especificamente, ao “Conjunto Moderno da Pampulha”,
localizado em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. Em 2016 o
conjunto projetado por Oscar Niemeyer na década de 1940 foi incluído à lista do
Patrimônio Mundial da UNESCO. Os intelectuais modernos que estiveram à frente
das questões patrimoniais no Brasil, desde a primeira metade do século XX,
112
consideraram a arquitetura como elemento expressivo da identidade nacional e
elegeram o colonial e o moderno como expressões de períodos importantes da
trajetória do país. Em certa medida, percebe-se ainda hoje uma continuidade
discursiva no âmbito das instituições patrimoniais, como é o caso do IPHAN.
Tendo em vista tal contexto, propomos uma análise do processo histórico que
culminou com a declaração do “Conjunto Moderno da Pampulha” como um
patrimônio mundial. Tal contexto abarca a esfera nacional, em todas as instâncias
nas quais o instrumento de tombamento foi utilizado para proteger o bem. Além do
contexto nacional, abordaremos também o processo encaminhado à UNESCO,
pelo governo brasileiro, para que o conjunto fosse reconhecido, como um
patrimônio mundial. O primeiro tombamento do conjunto foi a nível estadual,
promovido pelo IEPHA-MG, no ano de 1984. O reconhecimento pela UNESCO
viria em 2016, sendo este, portando, o recorte cronológico sobre o qual incidirá a
análise. Como fontes foram utilizados os processos de tombamentos ocorridos
dentro do Brasil e o dossiê enviado à Unesco em 2014. Consideramos que tal
análise contribui para compreensão das políticas patrimoniais brasileiras bem como
de suas conseqüências.

O Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico: O Tombamento de


Cáceres – MT - Elzira dos Santos Matos (UNEMAT)

O presente artigo é fruto da dissertação de mestrado em Direito que teve por objeto
a análise da legislação do tombamento do Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e
Urbanístico de Cáceres-MT e as ações empreendidas para sua preservação e
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conservação pelo Ministério Público, após seu tombamento, além daquelas


especificadas no Inquérito Civil efetuado pelo Ministério Público Estadual e
Federal. Ainda que o tombamento tenha sido efetuado nas esferas municipal,
estadual e federal, muito há de ser realizado, continuam as demolições e abandono
dos imóveis pelos proprietários e pouca fiscalização do poder público municipal e
estadual. Percebe-se que a esfera do tombamento municipal, estadual e federal não
alterou a conservação do Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e Urbanístico de
Cáceres-MT. Há muito a realizar. Acredita-se no tombamento como instrumento
fundamental para a preservação da memória e cultura brasileira, cujas mudanças
socioeconômicas são importantíssimas e devem ser compreendidas, mas a
preservação é o objeto fundamental do tombamento.

O debate em torno da música popular e da "cultura popular" brasileira dos


anos de 1960-1970 sob a luz do Museu da Imagem e Som do Rio de
Janeiro - Letícia Freixo Pereira (UERJ/FFP)

Esta pesquisa se propõe a trabalhar com o envolvimento do Museu da Imagem e


do Som (MIS) do Rio de Janeiro nos debates que ocorreram nos anos de 1960-1970
entre a intelectualidade sobre a música popular e a “cultura popular” brasileira. Irei
analisar a complexidade deste debate em que os intelectuais do MIS estão
envolvidos, mostrando que tais problematizações não se restringem aos muros do
museu, ela abarca um contexto social mais amplo. Neste período havia uma luta
em torno da classificação do que seria a “autêntica” música popular brasileira, e
113
sobre quem seriam os representantes da nossa “cultura popular”. Até mesmo entre
os intelectuais do museu havia divergências de posicionamentos. Mas, o que é
preciso ressaltar é que o diretor do museu Ricardo Cravo Albin, que esteve a frente
da instituição de 1965 a 1971, se posicionava frente a este debate, e realizava
esforços, projetos e estratégias para fazer valer seus interesses. Ricardo Cravo
Albin era adepto da linha de pensamento que acreditava que a música popular
“autentica” seria aquela realizada pelos velhos sambistas da Primeira República,
sambistas estes que eram herdeiros de africanos, netos das tias baianas, o diretor
levava em conta a origem destes sujeitos, e a forma espontânea que segundo ele
produziam suas músicas. Cravo Albin, neste sentido, criou o Conselho de Música
Popular Brasileira (MPB), este órgão demonstra a complexidade deste debate em
torno da musica popular, já que não há unanimidade entre os seus membros. O
diretor do museu também criou a série Depoimentos para Posteridade, onde este
conselho escolhia que sujeitos deixariam suas memórias registradas em forma de
entrevistas ao museu. A transcrição das entrevistas dos sambistas Donga,
Pixinguinha e João da Baiana foram publicadas em um livro intitulado As Vozes
Desassombradas do Museu de 1970, a escolha destes intérpretes não foi por acaso.
O museu também produziu cursos e palestras sobre a música popular. Todo este
material será utilizado neste trabalho como fonte, além das atas das reuniões do
Conselho de Musica Popular Brasileira. Esta pesquisa irá se focar na gestão do
Ricardo Cravo Albin, mas também não deixarei de abordar um cenário social mais
amplo, como a relação destes debates com a Ditadura Militar e o contexto da
Guerra Fria, já que este panorama nacional e internacional influenciaram estas
discussões. Também não deixarei de abordar as características do museu enquanto
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instituição, as artimanhas da memória utilizadas em seus projetos e a luta que está


por traz de cada programa realizado no MIS. E, para melhor entender este museu
pontuarei sobre o seu histórico brevemente, a sua relação com os projetos políticos
do então governador do Estado da Guanabara Carlos Lacerda e com a cidade do
Rio de Janeiro.

Paredes de memórias, ausência de sentidos - Giovanni Codeça da Silva (UFRJ)

As cidades históricas brasileiras, em sua grande maioria, congregam patrimônios


materiais e imateriais. Algumas cidades como Diamantina, Ouro Preto, Tiradentes
e Paraty possuem ações educativas e preventivas reconhecidas e premiadas, porém
a maior visibilidade destas cidades esta na capacidade de seus patrimônios atraírem
turistas, e assim incrementarem a economia local. Um outro olhar sobre estas
cidades pode nos revelar que bens materiais e imateriais patrimoniados podem se
apresentar como espaços de exclusão para as populações locais. Num processo de
exclusão social e de sentimento de não pertencimento, a população passa a
estranhar parte da cidade onde vive, como espaços de não ocupação e legitimação.
Nosso trabalho buscou analisar a relação entre o patrimônio e os moradores da
cidade de Paraty tendo como objeto a memória, os sentidos e a ocupação. Durante
o período de 2017 e 2018 analisamos três variantes diferentes: o dia-a-dia; as festas
religiosas e as festas laicas; sobre três grupos de atores sociais: estudantes, turistas,
trabalhadores dos setores de: serviços e da construção civil. Esta perspectiva
perpassa a noção de cidade educadora onde não só a escola, mas todo o território
114
passa a ser percebido e vivenciado como espaço de educação. Assim a cidade ganha
um outro protagonismo, onde seus espaços históricos e sua população são atores
do no processo educacional. Utilizamos métodos que coadunaram o método
quantitativo, a partir de questionários fechados estruturados, o método qualitativo
com questionários semiestruturados e entrevistas focais. A partir de duzentos
questionários aplicados, sendo cinquenta questionários para cada categoria de
atores sociais (quatro categorias), mapeamos a percepção sobre a cidade histórica
edificada e os sentimentos que a mesma suscita. A partir dos dados coletados
estabelecemos uma discussão sobre os currículos escolares, as práticas educativas
nas escolas e os caminhos de uma cidade patrimônio em processo de
(des)educação.

Peregrinações da folias de reis em João Pinheiro (MG): análise do significado


simbólico desses dramas e metáforas - Maria Célia da Silva
Gonçalves (Universidade Católica de Brasília)

Esse trabalho tem por objetivo analisar as peregrinações (giros) da Folias de Reis
de João Pinheiro (MG) pelos caminhos da cidade e da zona rural do município. As
Folias de Reis são autos natalinos de origem ibérica muito presentes na cultura
popular brasileira, que se aportaram no Brasil quando do início de sua colonização
e ao longo do tempo ganhou significados, características e contornos muito
próprios e foi sendo (re) significada de acordo com as regiões, necessidades e
recursos dos praticantes desse ritual. Esses autos natalinos são compostos por
cantores e instrumentistas populares que peregrinam, normalmente entre os dias 24
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de dezembro e 6 de janeiro (dia de Reis), entoando músicas e fazendo orações ao


Menino Deus. Ao mesmo tempo em que o grupo canta o nascimento de Jesus vai
recolhendo as “esmolas”, (donativos) dos fiéis para a realização da festa dedicada
a Santos Reis, são compostas normalmente por um grupo composto de 14 a 16
pessoas, no passado era exclusivamente masculino, porém na atualidade já é
possível perceber a presença das mulheres no ritual das peregrinações. A
metodologia utilizada nessa pesquisa se assenta na Etnografia orientada na
perspectiva do antropólogo Victor Tuener (2008) junto aos grupos de Folia de Reis
do referido município

115

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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
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XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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116
ST 11. Diálogos sobre a cidade a
partir de Michel Foucault: saber,
poder e sujeito

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A filosofia de Michel Foucault como uma caixa de ferramentas - Fernando


Augusto Souza Pinho (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O pensamento do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) teve nas análises


históricas um pilar fundamental. Isto pode ser facilmente observado ao
acompanharmos o seu percurso intelectual, desde “História da loucura” (de 1961),
o seu primeiro livro, até o seu último livro em vida, o “História da sexualidade: o
cuidado de si” (de 1984), inclusive a mais recente publicação do quarto volume de
História da sexualidade, cujo subtítulo é “Confissões da carne” (2018). A riqueza
de temas e abordagens que caracterizou a trajetória filosófica foucaultiana
influenciou outros campos de saber para além da filosofia, em debates e
territorializações nem sempre tranquilos. No campo da história, Paul Veyne já
defendeu que Michel Foucault havia revolucionado a história. No Brasil, trabalhos
de historiadores, tais como a professora Margareth Rago e o professor Durval
Muniz Júnior, entre outros, podem ser vistos como exemplos dessa influência. A
comunicação aqui apresentada tem por objetivo fazer um apanhado geral da
trajetória filosófica de Michel Foucault (situando suas fases e principais categorias
e objetos) e a importância da história em suas investigações, para, por fim, apontar
a atualidade de seu pensamento e as possibilidades de uso de sua abordagem para
análises históricas e contemporâneas sobre a cidade e a vida urbana. Esta
apresentação servirá, fundamentalmente, como elemento de introdução para as
comunicações a serem apresentadas no Simpósio Temático “Diálogos sobre a
cidade a partir de Michel Foucault: saber, poder e sujeito” e também como
117
elemento de promoção dos debates.

Diálogos Interculturais no Ensino de História e a Lei 11.645-08: entre saberes


e poderes - Maria de Fátima Barbosa da Silva (UFRJ)

Com base na teoria da interculturalidade, intenciona-se refletir sobre a


problemática cultural brasileira, especialmente no tocante as questões indígenas e
africanas com o objetivo de contribuir para implementação da lei 11.645-08. A
relevância desta lei para o campo do Ensino de História, diz respeito ao seu
potencial mobilizador de saberes outros, capazes de romper com a lógica
eurocêntrica. Neste sentido, a seleção de conteúdos materializada nos currículos, é
reveladora das relações de poder, que na acepção foucaultina impactam as nossas
subjetividades, nos constituindo como sujeitos, bem como, no modo como nos
enxergamos e ao outro. Considerando-se estas relações, é possível negociar
sentidos entre os saberes já prefixados, em busca de caminhos que possam enunciar
os silenciamentos históricos e, simultaneamente, inverter as narrativas
eurocêntricas para outras tramas plurais. Niterói (RJ), um cenário, como tantos
outros, nos possibilita abordagens replicáveis a outros contextos, por meio de
histórias entrecruzadas para entonação de vozes, outrora silenciadas. É importante
considerar, que para Foucault, as relações de poder não emanam apenas de um
centro, dissipam-se, ao longo do tecido social. Neste cenário, convivem por meio
de suas marcas desarticuladas no tempo, os efeitos destas relações de poder. Como
teoria que visa, intervir para empoderar, a interculturalidade, possui interfaces com
o pensamento de Foucault: as relações de poder podem ser alteradas a partir de
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micro realidades. A proposta do "diálogo" não é apenas conciliatória. Trata-se de


uma alternativa para empoderamento dos nossos estudantes, na medida em que
busca ampliar a visão de mundo, no intercâmbio entre saberes. É ainda, um dever
de memória em relação à(s) histórias desses grupos culturais, que ao longo do nosso
percurso histórico, vem lutando por sua representatividade nos discursos, que
compõem o nosso modo de ver o mundo. Narrativas plurais que operem com os
saberes dominantes, no lugar de apenas substituir o currículo eurocêntrico a fim de
evitar-se novos silenciamentos. Tendo a alteridade como horizonte, serão
apresentadas propostas para enfrentamento da problemática cultural, evitando-se a
compartimentalização entre as culturas com vistas a uma abordagem de modo
contínuo e não apenas em momentos pontuais.

Discursos da cidade: modernidade e produção espacial na cidade de


Garanhuns-PE (1937-1951) - José Eudes Alves Belo (UFF)

A partir de 1937 a cidade de Garanhuns - PE passa por reformas urbanísticas que


tentam dotar a cidade de aspectos modernos numa época em que a mesma busca
novas vocações. A partir da produção discursiva que são produzidas para a cidade,
anseia-se apreender as práticas espaciais que emergem de diversas fontes cruzadas
e fazem a cidade ser revelada além dos discursos oficiais que a produzem de forma
moderna e progressista. A partir de conceitos de Foucault, discurso, disciplina,
poder, estabelecendo diálogo com outros autores como Canclini e Certeau na
perspectiva de melhor compreensão das variadas faces de transformações da Urbe
118
iniciadas durante o período do Estado Novo varguista.

O dispositivo de sexualidade na literatura: uma análise de discurso sobre o


feminino nas obras de José de Alencar e sua perpetuação no
contemporâneo. - Beatriz Izabelli Zumba Elihimas (Faculdade Damas da
Instrução Cristã)

As categorizações de gênero e os padrões pré-estabelecidos às identidades do


homem e da mulher são construídos a partir das interações socioculturais entre os
sujeitos e as relações de poder. Assim, as expectativas de gênero são representações
formadas também por uma construção histórica e que, por serem fruto do
pensamento social, acabam se expressando em espaços como o literário. A partir
disso, utilizando as obras “Lucíola” e “Cinco Minutos” de José de Alencar,
pretende-se analisar como os perfis de mulheres forjados pelo autor, condizentes
com um modelo de gênero do passado, ainda refletem na construção de modelos
de subjetivação do feminino no contemporâneo. Os romances revelam-se como
instrumento capaz de apresentar a construção histórica da expectativa de gênero,
tendo em vista as descrições do autor sobre o feminino e os destinos de vida e morte
das personagens. Tal demarcação reflete no contemporâneo, retroalimentando
modelos de gênero, como observado na marca “bela, recatada e do lar” ou na
culpabilização de gênero em casos de violência. Ademais, é fundamental analisar
como essa naturalização de expectativas corrobora para a produção de corpos
sujeitados, em um processo de subjetivação do feminino, tendo em vista que perfis
de mulheres que fogem a um padrão submisso são colocados de forma menos
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valorativa. Em meio a esses discursos permeados por uma expectativa, há a


formação e atuação do dispositivo de sexualidade que normaliza os sujeitos e
mantém as relações de poder. Para tanto, será utilizada a literatura como
ferramenta, através da análise dos discursos contidos nas obras supracitadas, em
cotejo com observação crítica a luz da “História da Sexualidade” de Michel
Foucault e possíveis relações com o pensamento de Judith Butler. Desse modo,
com a observação paralela do campo literário e social, é possível vislumbrar o
modus operandi do dispositivo de sexualidade, fazendo imperar com força similar
as concepções do período pretérito em relação ao gênero.

O Homo Oeconomicus como habitante da cidade educativa: estratégias


biopolíticas na formação vitalícia - Haroldo de Resende (UFU)

A espacialidade contemporânea é desenhada por um mapa diagramado por redes


de intercomunicações de pontos que entrecruzam sua complexa trama. Esse espaço
afeta diretamente o tempo, produzindo efeitos sobre os sujeitos que habitam tal
espaço e circulam nesse tempo. É na superfície desse espaço que se inscreve a
cidade educativa, em que o jogo político se concentra na noção da aprendizagem
vitalícia e suas vinculações com a formação ao longo da vida, como uma maneira
de estabelecer parâmetros normativos que conformam um modo de viver
circunscrito por mecanismos de formação, no continuum educacional dessa
“cidade da aprendizagem”. Desse modo, tendo os conceitos foucaultianos de
biopolítica e de governamentalidade, busca-se discutir aspectos da constituição do
119
sujeito que deve habitar essa cidade educativa, que Popkewitz chama de
cosmopolita inacabado ou ainda, tomando formulações de Foucault, o homo
oeconomicus. Como fontes, são utilizados dois relatórios da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), nos quais é
cunhada a expressão cidade educativa: o primeiro, de 1973, é intitulado Aprender
a ser, e o segundo, de 1996, tem como título Educação, um tesouro a descobrir.
Discute-se, então, pontos da teoria do capital humano como racionalidade do
comportamento que norteia esse habitante da cidade educativa, encarnado no
homem econômico, no cosmopolita inacabado, de modo que leva-se em conta a
economia como análise da programação estratégica das atividades e dos
comportamentos dos indivíduos dimensionados na massa populacional. Entende-
se, por fim que, mesmo com a preconização da cidade educativa, como espaço e
tempo em que a aprendizagem deve ser constante e por toda a vida, numa espécie
de inflação educativa em todo o corpo social, ainda se atribui à escola a tarefa de
desenvolver a capacitação dos sujeitos, tornando-a um ponto catalisador da
formação de competências e capacidades, de maneira a exercer uma regulação da
conduta dos sujeitos. O homo oeconomicus torna-se, assim, o correlato dessa
governamentalidade, e se caracteriza como sujeito eminentemente governável, de
modo que os efeitos da condução de suas condutas frente à invenção das demandas
de capacitação acabam por consubstanciar um projeto de sociedade e de educação
que, ao mesmo tempo em que recorta o espaço social, dispõe a população,
regulando-a por critérios biopolíticos, através da educação escolar inserida num
regime de racionalidade econômica que opera com a virtualidade da função e dos
desdobramentos da formação vitalícia para que o aprendiz permanente, indivíduo
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habitante da cidade educativa, se torne um empreendedor de si mesmo pela via da


escolarização.

O Olhar e os dizeres: imagens decifrando códigos de um passado - Cecilia de


Fátima B. Macedo (Colégio Estadual Luiz Viana Fº), Marysther Oliveira do
Nascimento (Secretaria de Educação do Estado da Bahia)

Uma das características da modernidade (ou pós-modernidade) são os processos de


re-significação dos espaços e sujeitos. No início do século XX, Durkheim afirmava
que a educação é uma socialização da geração jovem. Através do processo
educacional nos tornaríamos humanos. Com o passar do tempo a escola, suas
estruturas e atores começaram a ser questionados em relação aos seus papéis. Que
tipo de ser humano as escolas têm preparado? Na perspectiva de uma escola como
espaço sociocultural que valoriza os diversos sujeitos que compreendem essa trama
propusemos uma análise do espaço da cidade. O projeto buscou usar e ampliar o
conhecimento fotográfico dos alunos e o direcionou para a temática da cidade. É
nessa cidade que esses jovens inscrevem seu fazer. Na atividade de andar pela
cidade, registrar suas ações cotidiana eles se reconhecem, ou não, nesse espaço.
Como afirma De Certeau "Os passos tecem lugares, moldam espaços, esboçam
discursos sobre a cidade." Partimos da abordagem histórico discursiva da cidade
propondo os seguintes questionamentos: qual a representatividade da cidade para
esses sujeitos? Quais mudanças são percebidas? Desta forma conduzimos estes
sujeitos a questionarem o seu local, sua representatividade e seu papel. Esses
120
questionamentos levam a uma reflexão em relação ao conceito de memória. Em
uma perspectiva Filosófica memória “...pode ser entendida como a capacidade de
relacionar um evento atual com um evento passado do mesmo tipo, portanto com
uma capacidade de evocar o passado através do presente”. A necessidade de se
discutir o conceito de memória está relacionado a própria dificuldade em se
construir identidades no atual contexto. Para Canclini, vivenciamos um momento
de hibridismo cultural onde os sujeitos estão indissociáveis da urgência do
presente, onde a cultura erudita, a cultura popular e a cultura de massa fazem suas
interfaces. Desta forma, como se processa a construção de identidades destes
jovens? Le Goff afirma que a memória é um elemento essencial na construção da
identidade. Ao promovermos essa trajetória reflexiva em torno da cidade
observamos nos questionamentos dos nossos alunos a construção de outros
discursos. Utilizando o pensamento de Foucault que afirma ser o saber uma
construção histórica produtora de verdades que legitimam uma determinada
estrutura de poder o projeto se insere nesta perspectiva de se ampliar o
conhecimento, a memória coletiva e demostrar a esse sujeito que verdades são
construções e a cada dia podemos (ou não) construir a nossa.

O tempo da subjetivação: Etnografia comparada em Comunidades


Terapêuticas - Matheus Caracho Nunes (Unicamp)

O presente artigo discute, a partir de etnografias, a questão do tempo e de sua gestão


na subjetivação. A pesquisa empírica foi realizada em três Comunidades
Terapêuticas (CTs): uma em Pernambuco e duas no estado de São Paulo.
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Atualmente, as Comunidades Terapêuticas desempenham papel fundamental na


gestão de usuários de crack e outras drogas no âmbito das políticas públicas
vigentes. O objetivo central deste texto é compreender as relações entre tempo e
subjetivação a partir das Comunidades Terapêuticas. Os objetivos específicos são:
1) analisar, através de perspectiva comparada, como o tempo vivido
institucionalmente é ligado ao tempo do mundo exterior, atentando-me às
circulações e porosidades institucionais; 2) refletir sobre as relações do pesquisador
com os residentes, que, em alguns casos, já se conheciam antes da internação,
criando um clima de cumplicidade nas narrativas das ilegalidades. O artigo é
amparado por trabalho etnográfico, que compreende: a) Imersão de quinze dias em
Comunidades Terapêuticas em tempo integral; b) Comparação do modo como o
pesquisador era percebido nas diferentes CTs como pesquisador individual e como
pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Este texto é
resultado parcial de investigação mais ampla sobre os cotidianos de grupos
fortemente marginalizados no Brasil.

Vigiando no bairro de Vila Kosmos (RJ): Circulação e Segurança no subúrbio


carioca - Fabio Costa Peixoto (UERJ)

A temática da Segurança e aquelas relacionadas como a violência e o crime, por


exemplo, se tornaram questões importantes na dinâmica das grandes metrópoles.
Derivado desta centralidade, estimulou-se inúmeras preocupações acerca das
formas de obtenção de segurança pelos moradores cariocas. Nesta direção,
121
selecionou-se o estudo de caso de o “fechamento” de 13 ruas no bairro de Vila
Kosmos. Este “fechamento” foi colocado em destaque, por não consistir de a
instalação de um “condomínio fechado”, mas sim em uma forma de controle de
circulação de pessoas e de veículos, como forma de alcançar o objeto proposto.
Neste processo, apresentou-se dois elementos importantes nesta dinâmica: a
Vigilância e a Circulação. Baseado na relação entre a Segurança e os caminhos
para a sua obtenção, neste caso, a adoção da Vigilância e do controle de Circulação,
motivou-se a elaboração do título desta reflexão a partir do caso singular destas
ruas em questão. A partir da utilização da técnica da Vigilância, por meio do
controle da circulação e do objetivo da Segurança representam três questões caras
a Foucault (2008), especialmente quando ele se dedicou a compreender a dinâmica
da Segurança e da Biopolitica. Por meio desta abordagem, destaca-se a justificativa
para inserção da reflexão no âmbito deste Simpósio. Complementarmente, a
abordagem teórica será realizada a partir dos pontos anteriormente destacados por
Foucault e com interfaces com representantes da sociologia pragmática francesa
como Boltanski e Thevenot (1991) e Ogien e Queré (2005). A contribuição destes
autores, curiosamente também franceses como Foucault, indicam para o foco no
sujeito e na análise dos cenários sobre os quais eles são deparados. Para tanto,
selecionou-se trabalhar com os conceitos de momento crítico e situação para
compreender o processo de “fechamento”, por meio do exercício do controle de
circulação de pessoas e de veículos. Logo, o resultado desta reflexão constituiu na
preocupação em ofertar a Segurança por meio do controle da circulação e
indiretamente, da população, ou melhor, a Vigilância sobre esta população.

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122
ST 12. Dimensões da Propriedade e o
campo interdisciplinar de debates

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A contribuição de Marx para uma discussão atual sobre propriedade


intelectual - Leandro Miranda Malavota (Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística)

A consolidação de uma economia baseada no conhecimento é um fenômeno


facilmente observável nas últimas décadas. O dinamismo de estruturas
socioprodutivas tecnologicamente complexas e/ou criativas impõe aos seus agentes
novos problemas e desafios, dentre os quais os concernentes às relações de
trabalho. Autores como Don Tapscott, William Mitchel, Nicholas Negroponte,
entre outros, interpretam a emergência das tecnologias de informação e
comunicação (TICS) como base de uma verdadeira revolução social, marcada pela
extrema expansão dos fluxos de informação e pela consagração do conhecimento
como fator de produção. Nessa economia de novo tipo, o valor seria criado mais
pelo cérebro do que por músculos, isto é, a capacitação e as habilidades específicas
do trabalhador assumem protagonismo no ambiente produtivo. Em consequência,
se no modelo da sociedade industrial os meios de produção estavam apartados do
trabalhador, constituindo-se como propriedade do capitalista, nessa nova etapa do
capitalismo (a chamada era da informação) a propriedade dos meios de produção
migra para o trabalhador. Em tal viés interpretativo, essa nova realidade cria
condições para a autonomização do trabalho frente ao capital. Ao contrário do
ocorrido na revolução industrial, o trabalho agora se individualiza, as hierarquias
funcionais tornam-se mais fluidas e as relações de trabalho tendem a ser mais
complexas, livres e equilibradas. Neste estudo buscaremos analisar esse modelo
123
interpretativo à luz do conceitual marxista. Partindo das reflexões de Ellen Wood
e Christopher May, buscaremos problematizar o suposto “empoderamento” do
trabalhador em uma economia baseada no conhecimento. Nossa crítica passa pelo
exame do papel exercido pelos objetos de propriedade intelectual como
ferramentas para manutenção e exercício do controle sobre os bens de produção e
sobre a mercadoria conhecimento, geralmente em favor da grande empresa
capitalista. Defendemos o argumento de que o surgimento de novas ferramentas
tecnológicas e a valorização do trabalho intelectual não produziram mudanças
estruturais significativas, posto que o reforço dos direitos de propriedade
intelectual assegura a separação entre o indivíduo e o resultado do seu trabalho
intelectual, garantindo a captura, pelo empregador, do valor gerado pelo
conhecimento aplicado à produção.

A farra do boi! A construção do Matadouro Industrial na Imperial Fazenda


de Santa Cruz e os conluios entre a empreiteira e o governo imperial. 1874-
1881 - Edite Moraes da Costa (SEEDUC)

A grande empreitada para a construção do Matadouro Industrial na Imperial


Fazenda de Santa Cruz foi marcada por escândalos e desperdícios de verbas dos
cofres públicos, sendo considerada como a "farra do boi", apesar das denúncias e
relatórios, do engenheiro fiscal e as publicadas no jornal Gazeta de Notícias. Os
escândalos começaram a partir da chamada pública para os concorrentes a obra,
pelo pouco tempo de prazo, menos de 30 dias, o que impediu de empresas de outras
províncias, ou até mesmo de outros países, participassem. A empreiteira vencedora,
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além de preparar o terreno para a construção dos 24 prédios previstos no projeto,


teria que expandir a Estrada de Ferro D. Pedro II até a Fazenda, encanar água para
o abastecimento de Matadouro, construir sistema de escoamento dos detritos e a
compra de todos os maquinários necessários para o funcionamento das atividades
do Matadouro e os vagões apropriados para o transporte das carnes verdes ao
mercado de São Diogo. Após 3 anos do início das obras, 3\4 da verba, destinada a
todo o empreendimento, já haviam sido utilizadas, mas a obra ainda continuava no
estagio de terraplanagem e preparo do terreno, operários em greve por falta de
salários e alimentação, sendo necessário o aumento do efetivo de policiais para
conter as manifestações de reivindicação de direitos pelos operários.

A proteção de ativos por Desenho Industrial no Brasil: o que é e como veio a


ser - Eduardo Rodrigues Rio (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)

O objetivo deste trabalho é apresentar um breve levantamento histórico com


relação a alguns dos diversos decretos e legislações promulgados sobre o tema da
Propriedade Industrial, tanto no âmbito mundial quanto nacional, buscando
identificar como, a partir de distintas formas de proteção, inicialmente por meio da
concessão de privilégios e, posteriormente, de monopólios patentários, chegamos
ao que possuímos hoje com respeito à proteção de ativos de propriedade industrial
por Desenho Industrial no Brasil. De algo inexistente, quando a forma de um
produto era dada de acordo com a função por ele desempenhada, passando por uma
proteção ambígua, quando uma simples mudança na ornamentação de produtos
124
conhecidos (e, em muitos casos, similares) bastava para reivindicar sua proteção,
até chegarmos a um ponto em que, mesmo ainda sendo considerada uma proteção
menor quando comparada a suas irmãs mais velhas, as marcas e patentes, o
Desenho Industrial surge como uma opção para proteger uma inovação
incremental, ao tornar necessária, como parte da sobrevivência desses produtos em
um mercado competitivo, a sua diferenciação por meio de uma mudança na forma,
ou em seu design, ainda que tais produtos cumpram com uma mesma função
primária. A partir da Lei 9.279/96, Desenho Industrial, para este fim, passou a ser
denominado como a forma ornamental de um objeto, além da configuração de
padrões de linhas e cores que possam ser aplicados a um objeto. Seu registro é
concedido sem que seja realizado nenhum exame de mérito, desde que o pedido
não se enquadre nas proibições legais ou não constitua um Desenho Industrial nos
termos da Lei, e é válido por 10 anos a partir do depósito, prorrogáveis por até 3
períodos de 5 anos cada. Apesar de não ser mais considerado uma “patente”, muito
de sua regulamentação remete aos artigos do título de patentes dentro da lei. E,
como uma patente, comunga com o estipulado em acordos internacionais, como o
tratamento nacional, o direito a prioridade e a validade territorial e temporal de seu
registro. Embora não seja a situação ideal, é o que temos. Vários paradigmas quanto
à forma de se enxergar a proteção por Desenho Industrial no país são necessárias.
De qualquer modo, nenhuma mudança poderá ser radicalmente implementada sem
uma alteração na legislação vigente. E, para isso, é necessário que o país veja a
Propriedade Industrial não apenas como forma de se proteger ativos intangíveis,
mas como verdadeira força inovadora, capaz de transformar e servir à sociedade.

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Análise dos impactos econômicos da participação brasileira nas exposições


universais: indústria e propriedade - Laryssa Muniz do Amaral (UFRRJ)

O presente trabalho dedica-se à análise dos impactos sociais e econômicos da


participação do Império do Brasil nas Exposições Internacionais do século XIX e
suas consequências diretas no processo de proteção à propriedade industrial. A
análise da participação brasileira nesses certames internacionais contribui para a
compreensão da inserção do país nas relações de comércio de caráter internacional,
das estratégias econômicas que motivaram a sua participação e suas implicações
no processo de proteção às novidades construídas, a partir da regulamentação das
patentes de invenção. Diversos debates discutiram acerca dos retornos positivos e
negativos da participação brasileira nessas Exposições. No entanto, demonstra-se
evidente que a participação brasileira nas relações econômicas se apresentava pela
exportação agrícola. Tal fator, aliado às técnicas rudimentares aplicadas à
agricultura e pecuária e à escravidão, se constituía como um entrave para um
retorno positivo da exibição brasileira, como defendiam liberais da época e
instituições do Império. Mesmo diante de vozes destoantes, o Brasil foi partícipe
assíduo nas Exposições Universais, no que diz respeito à exibição de produtos nos
países anfitriões que sediavam as exposições, mas também pela movimentação
financeira que perpassou a realização de exposições prévias nacionais e
provinciais. Algumas hipóteses preliminares têm norteado os rumos deste trabalho.
Dessa forma, pudemos reconhecer que apesar do propósito primeiro das
Exposições em difundir ao mundo novos ideais de modernidade e civilidade a partir
125
da exibição de produtos industriais, abriam-se espaços para as nações agrícolas
demonstrarem ao mundo seus recursos internos. A partir dessa perspectiva, o Brasil
se insere nas Exposições Universais de forma estratégica, com o fim de divulgar
ao mundo a sua produção predominantemente agrícola, diante da latente
necessidade do país pela inserção no comércio internacional. É importante ressaltar
que a escolha do Brasil na exibição de sua dimensão agrícola foi resultado da
decisão da classe dominante em um projeto agrário-exportador, que melhor se
adequava aos seus interesses. Diante disso, pode-se depreender que apesar das
Exposições impulsionarem ao Brasil um novo ideal de modernidade, que se refletia
em novos questionamentos sobre a industrialização ou não, conservadorismo ou
inovação, ecoados principalmente pelas vozes liberais, não se traduzia em políticas
reais de fomento à industrialização. A partir disso, questiona-se qual seria o papel
do Brasil como signatário da CUP e quais as consequências dessa escolha no plano
econômico interno.

Artesãos fluminenses e Governo Imperial: a formação e a prática profissional


em debate (1824-1860) - Daiane Estevam Azeredo (UFRRJ)

Este estudo tem por objetivo analisar o processo de formação profissional dos
trabalhadores de ofício mecânico e a relação entre esses agentes e o governo
imperial no Rio de Janeiro entre 1824 e 1860. Dessa maneira, questionamo-nos
quais foram as estratégias utilizadas por esses trabalhadores para se organizar
frente a extinção das corporações de ofício em 1824 e como teria sido a relação
entre eles e o governo imperial sem o auxílio dessas entidades, ou mesmo sem a
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força de outrora, e como os trabalhadores passaram a ter acesso à formação


profissional. Verificaremos essas questões mais precisamente do período que vai
de 1824 até o ano de 1860. Escolhemos esse marco inicial, porque foi o ano em
que as corporações de ofício foram legalmente extintas, além ter sido o momento
a partir do qual teriam se perdido os vínculos obrigatórios entre a formação
profissional, a produção manufatureira, o monopólio sobre produção, distribuição,
preços e controle sobre os trabalhadores, e os elos religiosos com uma irmandade
leiga. Propomos realizar as análises até o ano de 1860, porque a partir dessa ocasião
foi oficializado ser de competência do Conselho de Estado a autorização para o
funcionamento das associações de auxílio mútuo que surgiram em meados da
década de 1830, fossem elas de trabalhadores ou não. De modo geral, a pesquisa
está sendo realizada com base em vasta bibliografia referente ao tema e fontes
manuscritas. Essas últimas são formadas basicamente pela documentação
pertencente à Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação, ao
Conselho de Estado (CE) e à Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda
(SENF), além das edições do Almanak Laemmert, de processos judiciais de ofícios,
de licenças comerciais, de estatutos, de petições de ofícios, de cartas, de relatórios,
de alvarás e de provisões. Ressalta-se que a pesquisa está em fase inicial de
desenvolvimento. Desse modo, serão apresentadas as reflexões desenvolvidas até
o presente momento.

Autorias encarnadas: dança cênica, propriedade e dramaturgias em


movimento - Beatriz Cerbino (UFF)
126
Esta comunicação tem por objetivo trazer para o debate as relações entre dança
cênica, propriedade intelectual e bem comum. A partir da discussão sobre a noção
de autor, e como a autoria é construída no corpo, realizar-se-á uma reflexão acerca
da dança. Trata-se de estudar como se dá, no mundo contemporâneo, a
aproximação entre estes campos de conhecimento. O acesso à cultura e às
informações sobre a dança cênica são fundamentais para que coreógrafos e
bailarinos possam criar, assim como o público possa usufruir de obras
coreográficas. Logo, a dança precisa circular. Trata-se de garantir o acesso a um
tipo de informação essencial para a produção artística no campo da artes cênicas:
entender como se dá no corpo, em movimento, em seu sentido mais amplo, a
produção de sentido. A relação entre autoria e dramaturgia no corpo surge aqui
como um profícuo caminho para se estudar tais questões: como o corpo se apropria
de um movimento, de uma ideia, de uma técnica? No sentido contrário, e
igualmente importante: como a dança se instala no corpo? E para refletir sobre a
dramaturgia do movimento, no corpo, é fundamental que acessar tais informações
aconteça ao vivo, e não apenas por meio de vídeos ou notações, como a
Labanotation ou Benesh notation. Atualmente, contudo, são muitos os fundos e
fundações que cuidam de acervos de coreografias, em especial de criadores do
século XX, tais como George Balanchine (1904-1983) e Martha Graham (1894-
1991), entre outros, o que tem restringindo essa circulação em nome da preservação
das obras e dos direitos do autor. Vivemos hoje em um novo contexto de criação
artística e intelectual, no qual barreiras impostas pelas normas de propriedade
intelectual, em especial direitos autorais, estão em processo de transformação.
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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
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ISBN: 978-85-65957-09-0
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Outra importante questão surge quando falamos das diferentes propostas de dança
contemporânea, já que não há uma só técnica para uniformizar e habilitar os corpos
que as realizam, como no balé. As implicações dessa questão podem ser percebidas
nos processos de remontagem/reconstrução/apropriação de coreografias com
bailarinos que são atravessados por diferentes marcas e registros. A questão central
é como articular estes distintos aspectos da criação artística – autoria e acesso à
cultura e informação – e entender como a dança pode ser criada e usufruída neste
contexto de proteção autoral.

Brazilian and US Frontiers of Progress: Powell’s Arid Lands and Taveres-


Bastos’ O Vale do Amazonas - Carol Teresa Cribelli (The University of
Alabama)

The natural resources and wilderness landscapes of the “two giants of the Western
Hemisphere” —Brazil and the United States—played a crucial role in the
construction of narratives of progress in the nineteenth and early twentieth
centuries. Beyond machines and technology (railroads in particular)
representations of progress included the cataloguing of natural resources and
wilderness geographies. Indeed, renderings of frontier landscapes were essential to
the then peripheral nations of Brazil and the U.S. in projecting modern national
images on the international stage. This project seeks to understand how particular
U.S. and Brazilian geographies came to represent progress and modernity over
others. For example, U.S. expeditioner John Wesley Powell’s 1879 report on
127
settlement in the U.S. West and Aureliano Tavares Bastos’1866 treatise on the
Amazon provide an entryway to understanding how these regions – one arid and
one tropical – were understood by statesmen and settlers as landscapes of progress.
Though vastly different, in the minds of contemporaries each held the key to the
future development of the nation. At the same time, the U.S. West and the Amazon
Basin posed formidable challenges to Euro-American expansion. In the former, the
lack of water necessitated ambitious irrigation projects and transportation
networks, while the latter depended on short-lived cycles of slash-and-burn
cultivation that stymied the monetization of agricultural land. Nonetheless, both
regions remain powerful symbols of progress in Brazil and the U.S. today,
underscoring the place of nature in the creation of nationhood.

Ciência, técnica e progresso: a dimensão urbanística das exposições


internacionais e as dimensões da propriedade no Rio de Janeiro na passagem
dos séculos XIX e XX - Maria Letícia Corrêa (UERJ/FFP), Mônica de Souza
Nunes Martins (UFRRJ)

A historiografia das exposições internacionais realizadas nos principais centros


urbanos europeus e também nas Américas, a partir de meados do século XIX, tem
enfocado as diferentes dimensões desses eventos, com importantes contribuições
no campo da História Econômica e também na História Cultural. Seguindo
sugestão de Nelson Sanjad (2017), apresentamos, nessa comunicação, uma
investigação sobre aspectos tecnológicos, científicos e do planejamento urbano das
grandes exposições como espaços de divulgação de invenções e inovações e do
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processo de modernização, a que se associam as diferentes dimensões da


propriedade, o que implica o exame de intervenções de homens públicos, sobretudo
arquitetos e engenheiros, no planejamento e na construção e montagem de
infraestrutura, tendo em vista a preparação desses grandes eventos. Nosso foco se
dirige, primeiramente, às importantes obras de construção e reformas da cidade do
Rio de Janeiro, a partir de finais do século XIX, e ao conjunto de intervenções
materializadas na reforma do porto e da zona adjacente, voltadas, sobretudo, a
garantir uma melhor e mais adequada integração desse centro às rotas de comércio
internacional e de expansão do capital financeiro do período. Em seguida,
apresentamos o exame da relação desse conjunto de reformas com a preparação de
dois importantes eventos, a Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário
da Abertura dos Portos do Brasil, em 1908, e a Exposição Internacional do
Centenário da Independência, em 1922.

História e patrimônio na produção intelectual do engenheiro Ernesto da


Cunha de Araújo Viana (1852-1920) - Lorhan Lascolla de Souza (UERJ)

Na passagem do século XIX para o XX, no Rio de Janeiro, grupos de intelectuais


brasileiros salientavam a obsolescência da herança colonial e defendiam a
necessidade de reformas para colocar o país na marcha da civilização ocidental. Na
égide da república, especialmente, essa visão de mundo se tornou mais recorrente,
pois surgia a necessidade de demonstrar que o novo regime inaugurava tempos
novos. Na contramão de tais ideias, que pautaram o conjunto de obras públicas
128
empreendidas pelo governo republicano, destaca-se a produção intelectual do
engenheiro Ernesto da Cunha de Araújo Viana (1852-1920), que se notabilizou
pela defesa da existência de uma essência brasílica inscrita nos edifícios coloniais,
lamentando a “monotonia” do ecletismo reinante na arquitetura de seu tempo.
Contrapôs-se, assim, à visão imperante entre seus pares na profissão, que
vilipendiavam a arquitetura colonial em favor dos estilos belle époque de matriz
francesa. Sócio do Instituto Politécnico Brasileiro e membro fundador do Clube de
Engenharia, Viana transitou entre diferentes instituições, imbricando-se em outras
áreas de atuação, tendo professado na cadeira de História e Teoria da Arquitetura
na então Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, que, após a reforma
republicana de 1890, transformou-se em Escola Nacional de Belas Artes. O
engenheiro colaborou ainda com o jornal A Notícia, entre 1901 e 1908, e contribuiu
coma revista mensal Renascença, entre 1904 e 1907, dentre outras folhas diárias,
onde tratou de assuntos vários, sendo sempre sua particular predileção as questões
de arte colonial. Tais escritos foram condensados no curso ministrado no Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1915. Dividido em cinco lições, o
curso deu-lhe entrada no grêmio do Instituto, que o elegeu sócio efetivo no ano
seguinte. Araújo Viana pode ser considerado, portanto, como um dos precursores
na defesa do “patrimônio nacional”, que, de acordo com Márcia Chuva (2017, p.
49) adquiriu o estatuto de projetos legislativos a partir da década de 1920,
fomentando, mais tarde, a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN). Diante disto, o presente trabalho tem por objetivo analisar a
produção intelectual do engenheiro Ernesto da Cunha de Araújo Viana,
contribuindo para o conhecimento do embate entre as propostas de modernização
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republicanas, que visavam tanto a ordenação do espaço urbano como o progresso


material do país, e suas objeções, que frisavam a necessidade de proteger e
conservar o que era entendido como “patrimônio nacional”.

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130
ST 13. Dimensões do Regime Vargas e
seus desdobramentos

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A "era Vargas" e a capoeira enquanto "simbolo de identidade


nacional" - Roberto Augusto A. Pereira (UFRJ)

É consenso entre os historiadores da capoeira a importância do período que se


convencionou chamar de "era vargas" para a constituição e desenvolvimento da
capoeira contemporânea, particularmente no que se refere as suas vertentes mais
conhecidas: a “angola” e a “regional”. Tal confluência se deve em parte a que este
período é marcado, dentre outras coisas, pelo registro oficial da primeira academia
de capoeira, pelo baiano Manoel dos Reis Machado, o mestre Bimba, assim como
pela descriminalização da prática, não incluída no novo do código penal de 1940.
Todavia, a despeito da inegável mudança de posicionamento do Estado em relação
à capoeira, particularmente à capoeira com características desportivas que emergia
– haja vista que a de rua continuava sob a vigilância policial – não se pode deduzir
que houve por parte do governo Vargas uma política de apoio ou incentivo à
prática, e menos ainda afirmar que a sua desmarginalização esteve associada a um
projeto do Estado brasileiro de nacionalizá-la. Neste sentido, este trabalho tem
como objetivo questionar esta perspectiva que aponta a "era Vargas" como um
período de consecução de políticas públicas orientadas a difundir a prática da
capoeira ou de promovê-la ao status de “símbolo de identidade nacional”. Como
metodologia utilizamo-nos da comparação histórica entre a política estatal do
governo Vargas direcionada ao samba e à capoeira no mesmo período. A utilização
do samba como parâmetro de comparação se deve, mutatis mutandis, às
semelhanças históricas entre as duas manifestações, além de que, no período
131
discutido, o samba e a capoeira passam por grandes transformações.Como
resultado, constatamos que na "era Vargas", em meio a um cenário marcadamente
nacionalista, em que o Estado buscava inventar símbolos de identidade nacional, o
samba, de fato, obteve claro apoio político e financeiro do Estado, desde o início
dos anos 1930, sendo alçado a "símbolo de identidade nacional". Enquanto isso, a
capoeira permaneceu na ilegalidade até a entrada em vigor do novo código penal
(1942), sem receber qualquer atenção especial do estado varguista no sentido de
incentivar sua prática em escolas ou outras instituições civis ou militares, como
prática desportiva ou mesmo “luta nacional”. Sua perpetuação enquanto prática e
“nacionalização”, por sua vez, ocorreram efetivamente devido a um longo e
complexo processo que teve como protagonistas os próprios capoeiras.

A campanha eleitoral de 1950 no Estado do Rio de Janeiro: uma análise da


(re)organização político-partidária fluminense - Rafael Navarro Costa (UERJ)

As eleições de 1950 no Estado do Rio de Janeiro foram determinantes para a


reconfiguração do jogo político estadual. Em 1947 tomou posse como governador
Edmundo Macedo Soares e Silva, eleito por uma ampla aliança entre os principais
partidos (PSD, PTB e UDN), contando com o apoio do ex-Interventor Ernani do
Amaral Peixoto e do Presidente Eurico Dutra, candidato indicado por Getúlio
Vargas. Todavia, logo nos primeiros meses de governo, o governador eleito rompe
com o ex-Interventor. A partir de então, iniciou-se uma disputa entre estes dois
importantes personagens da política fluminense. Tanto Macedo Soares quanto
Amaral Peixoto pertenciam aos quadros do PSD-RJ, e a opção do partido pela
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candidatura de seu Presidente (Amaral Peixoto) ao Governo do Estado do Rio de


Janeiro em 1950 acirrou a disputa em curso. Mesmo filiado ao PSD-RJ, Macedo
Soares utilizava-se da imprensa, em particular do jornal "O Fluminense", para
criticar seu adversário e promover a candidatura do udenista Prado Kelly, a quem
apoiou, ao cargo de governador. A campanha eleitoral de 1950 estava além da
disputa pelo cargo de chefe do executivo fluminense, pois tinha como pano de
fundo o controle do maior partido político do estado e, por conseguinte, o controle
da política estadual. Vale lembrar que a disputa ocorrida no Rio de Janeiro insere-
se em um contexto nacional de reorganização partidária que ainda estava em curso.
Por isso, e também pela proximidade entre Amaral Peixoto e Getúlio Vargas (que
era candidato a presidência pelo PTB), as questões nacionais estiveram muito
presentes na campanha eleitoral fluminense.

Campos dos Goytacazes nos anos 1930/1950: Reflexões sobre Modernidade


Urbana e Poder Político por meio de Registros Fotográficos - Heloiza de Cacia
Manhães Alves (UENF)

A expressão da modernidade urbana de Campos dos Goytacazes, nos anos 1930-


1950, pode ser percebida através dos registros fotográficos. Imagens de edifícios,
praças, avenidas, novos espaços dentro de uma linguagem arquitetônica e
urbanística que expressavam a modernidade no país, propiciadas por uma elite que
buscava um modo de vida fundamentado no quadro da singularidade das práticas
sociais demarcadoras do seu prestígio social e político na região norte fluminense.
132
Neste sentido, proponho uma discussão das mudanças no espaço urbano e seu
particular significado durante a gestão do prefeito Salo Brand (1942/45), indicado
pelo interventor Amaral Peixoto, que tinha por incumbência o de habilitar o
município dentro de uma racionalização e eficiência administrativa atendendo as
demandas do projeto político do governo varguista – Campos dos Goytacazes,
metrópole regional em perfeita sintonia política com o governo estadual e federal
além de representar a força política e econômica na região norte fluminense.
Destarte, as representações da cidade moderna expressavam ações com fins
propagandísticos do progresso do município, de modo a garantir o lugar das elites
na política fluminense, contribuindo para a percepção dos atributos do poder.

Cartas de Pedro Ernesto: relatos de repressão e articulação política às


vésperas do golpe de 1937 - Thiago Cavaliere Mourelle (UERJ)

O presente trabalho versa sobre o trabalho realizado atualmente no pós-doutorado


sobre 92 cartas encontradas pela neta de Pedro Ernesto Baptista no sótão de sua
casa. As cartas são escritas por Pedro Ernesto, prefeito do Rio de Janeiro de 1931
a 1936, da prisão para seu filho, Odilon, que estava fugindo da perseguição política
do Governo Vargas aos comunistas e colaboradores dos eventos revolucionários
de novembro de 1935. Encontramos a sofrimento de uma família e informações
importantes sobre articulações envolvendo as eleições que se realizariam em 1938
e a eclosão de um possível golpe de Estado, que acabaria ocorrendo.

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Como se coloca a direita no poder - A narrativa de Paulo Schilling sobre o


Golpe de 1964 - Laura Vianna Vasconcellos (Uerj)

Como se coloca a direita no poder é o livro mais famosos de Paulo Shilling. Na


obra, os acontecimentos e a trama golpista são revelados do ponto de vista de quem
participou ativamente dos acontecimentos políticos do golpe. Assessor de Leonel
Brizola durante o governo no Rio Grande do Sul e editor-chefe de O panfleto, jornal
brizolista que ganhou as ruas nos anos 1960, Paulo Schilling foi também o principal
ideólogo do nacionalismo revolucionário - designação do brizolismo de primeiros
tempos. A obra entrelaça uma acurada interpretação da conjuntura política
(primeiro volume) a uma interpretação de Brasil que parte dos tempos coloniais até
o contexto do golpe (segundo volume), revelando em primeiro plano o racha do
trabalhismo brasileiro: de um lado a vertente radical, liderada por Brizola e
Schilling, e de outro, o trabalhismo pragmático e conciliador de Jango e San Tiago
Dantas. Escrito no contexto do exílio, nos anos de 1970, Como se coloca a direita
no poder revela um intenso diálogo do militante com a intelectualidade latino-
americana e o marxismo. Manuseando conceitos como subimperialismo,
bonapartismo, populismo e subdesenvolvimento, Shilling é com frequência
lembrado por seu testemunho político, mas surpreendentemente pouco valorizado
por suas interpretações de Brasil. A obra de Schilling pode ser vista como a
expressão primeira da base intelectual do brizolismo.

Entre a salvação e a perdição: Getúlio Vargas pelas páginas de O Estado de


133
S. Paulo (OESP) - Thiago Fidelis (Universidade Estadual Paulista - campus
Assis)

A presente comunicação tem como objetivo problematizar como o jornal paulista


O Estado de S. Paulo (OESP), publicação de maior tiragem da capital paulista na
primeira metade do século XX, retratou a figura de Getúlio Vargas, abrangendo o
período desde o processo eleitoral de 1929, quando o então presidente da província
do Rio Grande do Sul candidatou-se pela Aliança Liberal, até 1940, ano em que o
interventor de São Paulo, Ademar de Barros, ocupou o jornal e tirou-o do controle
da família Mesquita e, em especial, de seu diretor, Júlio de Mesquita Filho, que era
o principal nome por trás dos editoriais e da orientação política do jornal e que, de
simpático à Vargas na campanha presidencial, passou a ser um de seus críticos e
opositores mais ferozes, sendo um dos principais organizadores da Revolução
Constitucionalista de 1932 e um dos principais opositores do Estado Novo,
instituído em 1937. Dentro dessa perspectiva, passaremos pelos principais
acontecimentos e as mudanças de enfoque do jornal, desde as primeiras
movimentações que viam em Vargas uma espécie de salvador da pátria do país, até
à perspectiva construída de Vargas como o principal fator de desagregação política
e moral do Brasil.

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Getúlio Vargas na ótica do Jornal O Globo (1953-1954) - Mauro de Oliveira


Tavares Junior (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O presente trabalho tem por intuito estabelecer a conexão entre a imprensa


brasileira e os acontecimentos políticos transcorridos, no Brasil, no início da
segunda metade do século XX. Busca-se compreender como os meios de
comunicação ganharam uma capacidade, sobretudo, na década de 1950, de
interferir efetivamente nas ações governamentais e no cenário político nacional.
Há, no Estado, uma gestão que não se apresenta pautada apenas pela vontade das
urnas ou de tradicionais lideranças políticas e que sofre, inclusive, com a ação dos
interesses orientados pelas redações dos jornais, em que empresários do ramo de
comunicação têm cada vez mais voz ativa e influência política nos rumos seguidos
pela nação. Pretende-se entender como o jornal O Globo, um dos representantes da
chamada “nova imprensa brasileira”, entre agosto de 1953 e agosto de 1954,
desenvolveu os temas relacionados à crise política responsável por inviabilizar o
governo Vargas, e quais os efeitos provocados pela atuação desse meio de
comunicação na vida política do presidente – Vargas – e do próprio país. Não é
demais lembrar que a narrativa que o jornal transcreve, em suas páginas, está longe
de representar a expressão, real, dos acontecimentos, mas uma leitura particular
sobre todas as situações vivenciadas pelo presidente Vargas e seus auxiliares.

O aeromodelismo como fator estratégico para o desenvolvimento aéreo


durante o governo Vargas - André Barbosa Fraga (Secretaria de Estado de
134
Educação do Rio de Janeiro)

O primeiro governo Vargas (1930-1945) mostrou-se um período marcado por


consideráveis mudanças e inovações provenientes de iniciativas públicas e
privadas no campo da aviação. O grupo político que chegou ao poder por meio da
Revolução de 1930, e se fortificou com a implantação do Estado Novo, identificou
no fortalecimento do setor aéreo, principalmente a partir de 1940, algo fundamental
à própria legitimação do regime. Diante disso, o caminho mais seguro encontrado
pelo governo para empreender alterações profundas no setor foi o de investir na
elaboração de um projeto de Estado voltado à construção do que foi chamado na
época de uma mentalidade aeronáutica. Ela consistia na tentativa de se generalizar
a compreensão e o interesse da população pelo desenvolvimento da navegação
aérea, despertando em cada brasileiro o interesse de colaborar com a causa. Tal
investimento tinha por intuito, inclusive, estimular nos jovens o interesse de seguir
futuramente alguma das ocupações militares ligadas à aviação. Salgado Filho, o
primeiro ocupante do cargo de ministro da Aeronáutica, a partir de janeiro de 1941,
passou a empregar três estratégias para viabilizar a conscientização popular acerca
de tudo o que dizia respeito à navegação aérea: o aumento do número de pilotos
civis, o crescimento da quantidade de aviões disponíveis para treinamento dos
atuais e futuros condutores e a elevação na proporção de jovens interessados nas
profissões técnicas, como as de engenharia e mecânica para a aviação. O presente
trabalho foca principalmente na terceira estratégia descrita. Dessa forma, procurar-
se-á demonstrar como o Ministério da Aeronáutica logo percebeu que o melhor
caminho para atingir seu objetivo de despertar nas novas gerações uma consciência
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a respeito das ocupações técnicas do setor aéreo provinha principalmente do ato de


se incentivar na juventude escolar brasileira o interesse pelo aeromodelismo:
conjunto de atividades que envolvem a construção e o voo de modelos em escala
reduzida, levando o construtor a adquirir noções de tempo, distância, desenho,
cálculo, pintura, marcenaria, funilaria, métrica, aerodinâmica, manuseio de
ferramentas e de combustíveis, funcionamento de motores e também de paciência
e de disciplina. Ou seja, a construção de pequenos modelos de aviões exige
conhecimentos técnicos, estimulando os praticantes a aprenderem sobre as leis
básicas da aviação. Sendo assim, a pesquisa mostrará de que maneira Salgado Filho
colocou em prática esse importante aspecto do projeto do governo que almejava
criar uma mentalidade aeronáutica na população.

O Departamento Nacional da Criança em seu primeiro quinquênio de


funcionamento, a assistência e educação à infância (1940-1945) - Cláudio
Amaral Overné (UERJ)

O objetivo desta comunicação é compreender o funcionamento do Departamento


Nacional da Criança (DNCr) em seu primeiro quinquênio, sem deixar de analisar
a sua criação e os mecanismos de assistência e educação à infância por ele
acionados. O período eleito para análise, 1940 a 1945, demarca a criação de
instituições públicas que atuaram na produção e execução de políticas sociais, além
das intensas discussões relacionadas à infância. Tais medidas eram parte das ações
do Estado Novo (1937-1945) que intencionava a formação do cidadão civilizado
135
devidamente higienizado. Como metodologia efetuar-se-á o exame das fontes
documentais, dos materiais impressos junto aos arquivos e documentos de
instituições arquivísticas como CPDOC-FGV, Biblioteca Nacional e Arquivo
Nacional. No exame da criação e do funcionamento do DNCr, bem como de suas
ações serão utilizadas como fontes documentais as publicações do Periódico
Boletim Trimensal do Departamento Nacional da Criança, o Decreto-Lei 2.024 de
1940, o documento institucional intitulado “Departamento Nacional da Criança:
objetivos e realizações”. Assim, questiona-se: que razões levaram a criação do
DNCr? Como o DNCr veio a acionar mecanismos de assistência e educação à
infância em seus cinco primeiros anos de existência? Os resultados iniciais
assinalam que o DNCr, emergiu como instituição privilegiada organizando,
centralizando e orientando medidas de assistência e proteção dirigidas à infância.
Em seu primeiro quinquênio de existência as ações promovidas estavam assentadas
sob a bandeira das concepções das ciências, no desejo de promover a construção
da infância higienicamente saudável concorde com os ideais nacionalistas e as
concepções de país civilizado.

O Prefeito de Juiz de Fora durante a Segunda Guerra Mundial: intolerância


e perseguição a estrangeiros e seus descendentes durante o Estado
Novo. - Luiz Antonio Belletti Rodrigues (Universidade Federal de Juiz de Fora)

O objetivo deste artigo é analisar a perseguição sofrida pelo prefeito de Juiz de


Fora, Minas Gerais, durante a Segunda Guerra Mundial e sob o regime do Estado
Novo. Neste período os estrangeiros e seus descendentes residentes no país,
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oriundos dos países com o qual o país estava em guerra, Itália, Japão e Alemanha
passaram a ser hostilizados e perseguidos. As perseguições aconteceram de
diversas formas e em diversos locais. O estudo mais amplo, em que se insere este
artigo, analisa como os mecanismos de repressão e perseguição a estes estrangeiros
aconteciam, tanto explicitamente como de forma tácita. Este artigo apresenta parte
deste estudo, a perseguição feita ao prefeito da cidade de Juiz de Fora, descendente
de italianos e que não se posicionou publicamente a favor das manifestações
públicas contra o afundamento dos navios na costa brasileira pelos alemães. O
presente estudo foi feito através de análise de dois processos no Arquivo do Crime
do Arquivo Histórico de Juiz de Fora em que o prefeito aparece como vítima,
pesquisa em jornais da época e documentos do Arquivo da Polícia Política,
existentes no Arquivo Público Mineiro. O período estudado abarca o período entre
1939 e 1943, os anos de guerra em que o prefeito esteve no cargo.

Paulo Duarte e a memória de oposição a Getúlio Vargas (1933-


1945) - Carolina Soares Sousa (Universidade Estadual de Campinas)

O presente trabalho tem como objetivo pensar sobre a atuação política de Paulo
Alfeu Junqueira Duarte, membro do grupo político liderado por Armando de Salles
Oliveira entre os anos de 1933 e 1945. Paulo Duarte se considerou protagonista do
jogo político regional e nacional naquele período, com uma atuação intensa na vida
política e cultural brasileira, sobretudo no cenário paulista. Rememorou sua vida
pessoal e política, detalhadamente, ao longo de nove tomos de memórias, mais de
136
três mil páginas, publicados entre os anos de 1969-1974. A escrita dessas memórias
teve como suporte um arquivo cuidadosamente montado por Duarte ao longo de
sua carreira como político, advogado, jornalista, intelectual e, também, durante
dois exílios enfrentados. Com efeito, na historiografia e na memória social, a
experiência política de Getúlio Vargas entre 1930 e 1945 é representada como uma
continuidade, um bloco coeso, que reduz ou silencia a importância da experiência
de outros grupos políticos. Desnaturalizar a leitura de continuidade naquele período
é imperativo para compreender a atuação política de Paulo Duarte. É em São Paulo,
com o pensamento e ação de Duarte e de seu grupo político, que será desenvolvida
com maior expressividade uma cultura política de oposição ao varguismo.

Revista Letras Brasileñas: o pensamento do Estado Novo na América


Latina - Maria Margarida Cintra Nepomuceno (PROLAM-USP-CESA-
Sociedade Científica de Estudos da Arte)

Dentre as muitas publicações editadas no período Vargas, oficiais e não oficiais,


destacamos um periódico, em especial, editado em 1936 que circulou no Brasil,
países europeus e América Latina. Boa parte dos artigos era escrito em espanhol e
tinha como objetivos difundir as realizações e o pensamento do novo governo e
firmar uma posição no cenário regional. Chamava-se Revista Letras Brasileñas.
Cuadernos de Divulgación en idioma español de Literatura, Artes y Ciencias del
Brasil e reuniu destacados intelectuais das artes, literatura, música bem como os
principais ideólogos do governo Getúlio Vargas, tais como Francisco Campos e
Oliveira Viana. Teve também como assíduos colaboradores Rubens do Amaral,
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Cecília Meireles, Menotti del Picchia, Luiz da Câmara Cascudo, dentre dezenas de
outros. Getúlio Vargas concebia a cultura como um braço ideológico de sua política
de desenvolvimento econômico e social. Os intelectuais brasileiros foram
determinantes para difundir a imagem de uma nação moderna e
desenvolvimentista, vanguarda de grandes reformas sociais. Letras Brasileñas faz
parte de uma estratégia de propaganda do governo que busca mostrar às sociedades
dos países da América Latina que não havia incompatibilidade política alguma
entre o desenvolvimentismo e o regime autoritário instalado a partir de 1937.

Turismo e imigração no Brasil durante o governo Vargas - Senia Regina


Bastos (Universidade Anhembi Morumbi)

A obrigatoriedade do visto como uma das condições para o ingresso de turistas é


estabelecida no governo Vargas (1930-1945), resulta do incremento da demanda
de ingresso no país, decorrente da situação política e econômica que antecede a
Segunda Guerra Mundial. A partir da perspectiva histórica, propõe-se a
investigação da influência da política imigratória de caráter eugênico na
regulamentação do turismo e no estabelecimento do perfil do turista desejado
socialmente durante as décadas de 1930 e 1940.

Usos do passado na Coleção “Decenal da Revolução Brasileira” do


Departamento de Imprensa e Propaganda - Ana Paula Leite
Vieira (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)
137
Integrando a ampla gama de iniciativas em comemoração aos dez anos de governo
do Presidente Getúlio Vargas em 1940, o Departamento de Imprensa e Propaganda
publicou uma coleção destinada a realizar um balanço das realizações do regime
desde 1930. A partir da mobilização do passado mais remoto e mais recente do
país, procura-se construir um discurso de “revolução em marcha”, que apresenta o
movimento político que levou Vargas ao poder como um momento de ruptura e
início da construção de um novo e moderno Brasil.

“Jovens do Brasil sentido!” - A Juventude Brasileira e a Segunda Guerra


Mundial (1942-1945) - Aline de Almeida Hoche (Secretaria Municipal de
Educação de Queimados)

Em janeiro de 1942, o Brasil tornou oficial o seu apoio aos Estados Unidos da
América e aos aliados na Segunda Guerra, neste mesmo período, navios brasileiros
sofreram ataques de submarinos alemães. Esta situação levou o governo brasileiro
a declarar guerra ao Eixo e a participar efetivamente do confronto mundial. Ainda
em 1940, foi criado através do Decreto-Lei n. 2.072 um movimento de
arregimentação juvenil denominado Juventude Brasileira, que tinha como objetivo
cuidar da educação cívica, moral e física dos jovens de todo o país. Esta mocidade
esteve presente em desfiles comemorativos e em eventos organizados pelo governo
ou por estabelecimentos privados. A criação da Juventude Brasileira esteve pautada
em alguns objetivos, como o interesse em organizar uma parcela da sociedade que
apoiasse as medidas do governo, a exaltação da figura do Presidente da República
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e de suas ações e o cuidado com a instrução dos jovens brasileiros para que
permanecessem alinhados com os ideais do Estado Novo. Com a entrada do Brasil
na Segunda Guerra Mundial, este movimento adquiriu novo fôlego com as
atividades voltadas para os esforços de guerra e o governo reforçou o cuidado com
a formação dos jovens através da criação de mais três Decretos-Leis relacionados
à Juventude Brasileira. As ações da Juventude Brasileira, no período em que o
Brasil participou da Segunda Guerra Mundial, nos ajudam a compreender as
intenções por trás da criação de um movimento de arregimentação juvenil. A busca
de apoio popular, manifestações, espontâneas ou não, que se colocavam como
favoráveis às ações de Getúlio Vargas e a exaltação do regime eram bem recebidas
em um momento delicado como o que se viveu a partir de 1942.

“Não é a ditadura que está em jogo: é o país todo contra um estado rebelado”:
o alistamento voluntário para a defesa do Governo Provisório durante a
Guerra de 1932 - Raimundo Hélio Lopes (Instituto Federal Fluminense)

O presente trabalho se propõe a analisar o processo de alistamento voluntário para


a defesa do Governo Provisório varguista (1930-1934) durante a Guerra de 1932.
Amplamente conhecida na historiografia como Revolução Constitucionalista de
32, esse evento foi bem mais que um conflito meramente regional. Na verdade, o
compreendo como uma guerra civil de proporções nacionais, que mobilizou e
agitou todo o país, quer seja a favor da chamada “causa paulista” pela
constitucionalização, quer seja em prol da defesa do governo instaurado pelo
138
movimento de outubro de 1930. Mesmo reconhecendo que os fronts de batalha
mais bélicos tenham se concentrado no território de São Paulo e em suas fronteiras,
o país inteiro esteve envolvido no conflito. Uma das principais formas de
participação na luta foi através da formação de batalhões voluntários, formados por
diversos sujeitos que se alistaram nas tropas que se destinavam a defender, de
armas nas mãos, o Governo Provisório. Vale notar que os líderes paulistas do
movimento que se rebelou contra o governo central utilizaram igualmente a
estratégia de formação de batalhões voluntários, o que mostra que tal iniciativa
deve ser pensada como algo bem maior do que um mero artifício bélico. Assim,
defendo que a opção do Governo Provisório em autorizar e estimular a formação
de batalhões de voluntários sofreu resistências dentro do próprio governo, tendo
sido a determinação de próprio presidente Getúlio Vargas fundamental para a
efetivação de tais tropas. Para analisar esse percurso, privilegiarei o diálogo e
aproximações do Governo Provisório com Juarez Távora e a corrente política que
liderava naquela conjuntura, os revolucionários nortistas.

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ST 14. Ditaduras, regimes autoritários
e processos de transição no século XX:
história e memória

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"Juventude Torcedora". As torcidas jovens cariocas e a sociabilidade juvenil


nos anos de chumbo. - Nathália Fernandes Pessanha (UFF)

A proposta de apresentação é discorrer sobre o surgimento das torcidas jovens no


Rio de Janeiro, entendendo-as como um espaço de sociabilidade da juventude
carioca em um momento de repressão de direitos e liberdades, que se tornam ainda
mais ferozes com a promulgação do AI 5 pela ditadura militar. As torcidas são
entendidas também como um espaço de formação de identidade, individual e
coletiva, a partir do contato com o outro e do processo de alteridade e de
reconhecimento das diferenças. Por tanto, é objetivo desta apresentação, em
primeiro lugar, estabelecer o contexto de surgimento dessas torcidas, realizando
um breve panorama da sociedade brasileira à época. Sociedade essa que vivia sob
um regime de exceção que solapava as liberdades individuais e de grupos,
permitindo entender os espaços das torcidas jovens formadas naquela época como
também produto de seu tempo e espaço de encontro das juventudes.
Posteriormente, será necessária uma breve introdução teórica sobre juventude, para
situar os ouvintes a respeito do grupo social sobre o qual está se referindo. E por
fim, tratarei sobre o nascimento das organizadas jovens em si, sempre que possível
mencionando as particularidades de cada torcida.

A História da Comissão Parlamentar de Inquérito da União Nacional dos


Estudantes - CPI DA UNE (1964) - William Marcos Botelho (SME-SP)
140
Esta comunicação tem como objetivo apresentar as conclusões da dissertação de
mestrado que descreveu e analisou a trajetória da Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) da União Nacional dos Estudantes (UNE) e seus desdobramentos
para os projetos educacionais e para o movimento estudantil brasileiro. A CPI foi
aberta pela Resolução No 25/1963 para investigar as aplicações de CR$
1.726.000.000,00 (um bilhão, setecentos e vinte e seis milhões de cruzeiros, em
1962) e CR$ 2.146.450.000,00 (dois bilhões, cento e quarenta e seis milhões e
quatrocentos e cinquenta mil cruzeiros) no ano de 1963, supostamente utilizadas
para as atividades estudantis vinculadas à UNE. Analisa a CPI da UNE de 1964, a
partir das observações de E. P. Thompson e do seu entendimento sobre a
importância dos rituais jurídicos como desdobramentos das práticas sociais,
entendendo-os como um diálogo constante e contínuo, que torna as normas e atos
jurídicos, não como procedimentos isolados da sociedade, neutros, mas como ações
feitas na dialética entre a política e os desejos sociais. As fontes principais foram
os processos de sua instalação, relatórios, atas de depoimentos, provas e resoluções
emitidas pela relatoria da Comissão Parlamentar de Inquérito da UNE gerados
durante o processo, que foram encontrados no Centro de Documentação e
Informação (CEDI) da Câmara Federal dos Deputados em Brasília – DF. A CPI da
UNE de 1964 foi parte de um processo amplo de disputa política e de projetos de
país que aconteceu dentro e fora do Congresso Nacional, durante a década de 1960.
Foi organizada com o intuito de enfraquecer a entidade estudantil que, em 1962 e
1963, possuiu um papel importante na luta pelo projeto Nacional
Desenvolvimentista em apoio às Reformas de Base, por meio de ações no cenário
político como a luta pela participação estudantil nas instâncias de poder dentro das
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instituições de ensino; pela reforma universitária e por reformas amplas para o país.
De acordo com a documentação analisada, a UNE passou por um processo de
restruturação para atender as necessidades de grupos ligados ao Diretório
Estudantil da União Democrática Nacional (DE -UDN), os quais, desde o final da
década de 1950, ensaiavam uma volta ao controle da maior entidade estudantil do
Brasil. Não conseguindo resultados positivos nas eleições realizadas nos
Congressos Nacionais Estudantis da UNE, utilizaram-se dos meios legais, a seu
favor, como uma das estratégias para ocupação da direção da UNE e coordenar os
movimentos estudantis universitários no país.

A maison du Brésil nos anos 1960: local de resistência estudantil, vigilância


militar e disputa diplomática em terras francesas - Angelica
Müller (Universidade Federal Fluminense)

Esta exposição terá por objetivo apresentar, um primeiro olhar, sobre a história da
Casa do Brasil na cidade universitária de Paris na década de 1960. A Maison, uma
criação dos arquitetos Lucio Costa e Le Corbisier, foi inaugurada em 1959 e, em
seus primeiros anos, jogou um importante papel não apenas na recepção dos
estudantes brasileiros que chegavam na Franca, como também se tornou um polo
de difusão da cultura brasileira naquele país. A partir do golpe civil-militar de 1964,
a Casa passou a ser alvo da vigilância militar devido aos inúmeros indivíduos
considerados “subversivos” que faziam propagandas contrarias ao regime e que lá
habitavam e que eram, em sua maioria, bolsistas do próprio governo. O regime de
141
administração da Maison, que respeitava as normativas que regiam a própria Cité
Universitaire e os acordos estabelecidos entre o governo brasileiro e a instituição,
revela a ação de três atores (não necessariamente uniformes) na mediação: a
administração da Cité, os funcionários do Itamaraty e os militares. Da mesma
maneira que os documentos das agências de vigilância revelam a tentativa de
cerceamento do movimento estudantil nos anos 1960 e o crescimento do “medo”
militar pela atividade destes “subversivos”, os documentos também apresentam a
preocupação dos militares, a partir visão de mundo anticomunista e autoritária que
marcam a caserna naquele momento, com os acontecimentos em Paris e atuação e
influencia que podiam exercer sobre os brasileiros que la estudavam. O agitado ano
de 1968 não passa imune a Casa que é ocupada entre maio e junho. A cogestão, um
dos temas chave do movimento estudantil francês e de grupos de esquerda, passa a
ser a grande bandeira dos moradores da Cité e essa questão leva a uma difícil
relação entre os três atores mencionados e chegando ao abandono da Casa por parte
dos militares no início dos anos 1970. Os eventos referentes a Casa do Brasil na
Franca demonstram os limites e possibilidades de atuação das forças de repressão
e resistência no exterior durante a ditadura brasileira e a preponderância do
pensamento militar nas decisões diplomáticas. O presente trabalho é uma primeira
aproximação com a documentação oriunda de uma pesquisa realizada em arquivos
franceses e que resultará na construção de um projeto de pesquisa sobre a temática.

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A memória institucional e os impactos da repressão na UFRJ (1964-


1985) - Andrea Cristina de Barros Queiroz (Universidade Federal do Rio de
Janeiro)

Este estudo tem como principal objetivo apresentar a importância do Projeto


Memória, Documentação e Pesquisa da Divisão de Memória Institucional do
Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) e as suas pesquisas referentes à memória e à história institucional.
Desde o ano de 2014, quando se completou 50 anos do golpe civil-militar no Brasil,
as pesquisas desenvolvidas se destinaram à análise e à disseminação do acervo
universitário referente a esse período da história nacional, em que houve vários
expurgos de professores, discentes e servidores técnico-administrativos da UFRJ,
a invasão do campus da Praia da Vermelha pelas forças armadas e a perseguição
de vários estudantes universitários ligados direta ou indiretamente ao movimento
estudantil, além de outros mecanismos institucionalizados de cerceamento, como a
censura às obras bibliográficas e à pesquisa; a criação de Agências Especiais de
Informação (as AESI) para vigiar a comunidade universitária; ao mesmo tempo em
que percebemos que foi no período autoritário que as obras do campus da Cidade
Universitária foram concluídas e que vários Programas de Pós-Graduação foram
criados, por tudo isso, tornou-se necessário rememorar e analisar essa conjuntura
na trajetória da UFRJ. Como destacou Rodrigo Patto (2014), o intento reformista,
de feição autoritária e conservadora, influenciou as políticas do regime militar para
as Universidades. Lembramos que um ponto culminante do governo autoritário e a
142
sua principal legislação de exceção para as Universidades foi a criação do decreto-
lei nº 477, de 26 de fevereiro de 1969, também chamado de “AI-5 das
universidades”, que punia professores, estudantes e servidores técnico-
administrativos das universidades acusados de subversão ao regime e punidos com
a expulsão e outras sanções. Este trabalho mantem um diálogo com a Comissão da
Memória e Verdade da UFRJ (CMV-UFRJ), criada, em Julho de 2013, com o
intuito de investigar os impactos do regime militar e das violações dos direitos
humanos no interior da Universidade, e os debates em torno do chamado “dever de
memória”.

A narrativa da Shoah: cultura judaica e literatura de testemunho - Sabrina


Costa Braga (Universidade Federal de Goiás)

A partir da palavra Zakhor (lembrar), significativamente presente na bíblia


hebraica, buscamos compreender a relação entre a memória e o compromisso
existencial do judeu, que culturalmente é sempre conclamado a se lembrar de seu
passado, rememorando suas catástrofes. Assim, para além da necessidade de narrar,
geralmente presente em vítimas de eventos traumáticos, percebemos nos judeus
sobreviventes da Shoah um sentimento de dever em narrar os acontecidos, um
compromisso judeu com a memória que se mostra presente ainda no momento mais
catastrófico de sua história. A literatura de testemunho vem sendo utilizada como
componente essencial da análise do século XX, em especial dos horrores da
Segunda Guerra Mundial e dos campos de concentração e extermínio nazistas. O
testemunho de vítimas não é exclusividade do caso judaico, contudo, ao objetivar
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perscrutar os nexos entre a cultura judaica e os testemunhos produzidos por


sobreviventes judeus dos campos de concentração nazistas, partimos da premissa
de que a memória constitui elemento basilar dessa cultura. Apresenta-se então o
problema a ser respondido da relação entre a cultura judaica e a literatura de
testemunho produzida pelos judeus após a experiência nos campos de concentração
e extermínio e quais as implicações dessa relação para a escrita da história.

A trajetória de João Havelange na FIFA (1974-1998) - Livia Goncalves


Magalhaes (Universidade Federal Fluminense)

Esta comunicação é parte de um projeto que propõe como objeto de reflexão o


estudo da biografia e da trajetória de vida de João Havelange (1916-2016),
empresário e dirigente esportivo brasileiro, ex-presidente da Confederação
Brasileira de Desportos (CBD), da Federação Internacional de Futebol Associado
(FIFA) e ex membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). A trajetória de
Havelange, como atleta, empresário e dirigente esportivo percorre quase todo o
século XX, atravessando ditaduras e períodos democráticos, momentos de euforia
desenvolvimentista e nacionalista e enfrentamentos de crises políticas e
econômicas. Ao mesmo tempo, sua biografia entrelaça-se de maneira íntima aos
processos de institucionalização das práticas esportivas no Brasil e no mundo, os
quais em muitos momentos, levaram a marca do dirigente, mas principalmente,
refletem muitas vezes questões caras aos projetos políticos em disputa em suas
épocas. A proposta é, portanto, a partir do estudo de sua biografia, discutir questões
143
políticas, sociais e do mundo esportivo brasileiro e internacional ao longo deste
centenário.

A “vida comum” sob regimes autoritários: os trabalhadores da Rede


Ferroviária Federal e a Ditadura Civil-Militar no Brasil (1968-1974) - Isabella
Villarinho Pereyra (Universidade Federal Fluminense)

A renovação de uma historiografia preocupada em analisar as relações entre


sociedade e regimes autoritários no século XX trouxe aos pesquisadores novos
caminhos para se pensar o político não mais separado do social, utilizando
conceitos como a memória, cotidiano, cultura política, consenso e consentimento.
Em meio a esta temática, podemos ainda observar o reduzido número de pesquisas
realizadas sobre o movimento operário em contextos ditatoriais, como o caso da
ditadura civil-militar no Brasil. Grande parte das pesquisas abordam a questão da
resistência da classe operária ao regime. Sendo assim, aponto a necessidade de se
tomar o cotidiano da classe trabalhadora – e as construções de memória do homem
comum – sob regimes autoritários como uma forma de se compreender melhor não
só as relações entre sociedade e ditadura civil-militar no Brasil, mas as
consequências do projeto modernizador e autoritário impostos pela ditadura aos
trabalhadores. Para este trabalho, “o homem comum” compreende o trabalhador
não pertencente a grupos de resistência e combate à ditadura. Por mais que fizessem
parte de algum sindicato, muitos desses operários não exerciam um papel de
destaque e combativo dentro desses espaços, demonstrando muitas vezes
indiferença ao processo político, preocupados apenas em trabalhar e garantir o
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sustento de sua família. Dito de outra forma, se trata de cidadãos preocupados com
a retomada da normalização da vida cotidiana, que não se viam atingidos
diretamente pela ditadura militar, mas apenas como homens comuns. Além disso,
para um trabalho que se dispõe a analisar as relações entre mundos do trabalho e
ditadura, torna-se central observar como a memória dos trabalhadores comuns da
RFFSA lida com as questões relativas à alteração do cotidiano e dos diversos
comportamentos sociais em torno dos benefícios materiais e simbólicos adquiridos
por parcela da população com o milagre econômico. Dito de outra forma, cabe
observar, particularmente, como o período de governo Médici – no qual se inserem
as modificações impostas pelo Milagre Econômico e repressão estatal – é lembrado
ou silenciado pela sociedade. É, portanto, tendo em vista estas articulações entre
lembrança e esquecimento que deve ser compreendida a memória sobre a ditadura
civil-militar brasileira.

Ação Integralista Brasileira: reconstrução histórica - Vinícius da Silva


Ramos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão historiográfica acerca da Ação


Integralista Brasileira. Através de obras clássicas e do que de mais recente é
produzido na Academia, procuramos situar o leitor na trajetória desse grupo, mais
especificamente dos anos anteriores à sua fundação, até seu fechamento em 1938.
Nosso trabalho é parte da tese, que construímos sobre as relações entre a AIB e o
Partido de Representação Popular com a imprensa fluminense. Consideramos
144
importante essa digressão para que haja um melhor entendimento das implicações
práticas na qual a AIB estava inserida, seus aspectos doutrinários e organizacionais,
além de um panorama de sua atuação. A Ação Integralista Brasileira foi um
movimento de extrema-direita, de inspiração fascista, que atuou no Brasil de 1932
a 1937, quando teve sua nomenclatura oficial modificada para Associação
Brasileira de Cultura, e extinta definitivamente em 1938. A história do movimento
integralista se inicia no começo da década de 1930, mas a formação do pensamento
radical e conservador têm suas raízes desenvolvidas ainda na década de 1920, com
a formação de alguns grupos com a matriz ideológica semelhante à AIB, tais como
a Legião Cearense do Trabalho, a Ação Patrionovista Brasileira e o Partido
Nacional Sindicalista. Da efervescência política e cultural da década de 1920 sairão
as sementes para a formação do representante da extrema-direita brasileira. Ao
pensarmos na AIB, invariavelmente o nome de Plínio Salgado está ligado
umbilicalmente a este grupo político. É impossível dissociar o partido do seu
fundador, e isso se manteve mesmo após o período de exílio do líder, que retornou
ao Brasil em 1945. Mesmo com a fundação do Partido de Representação Popular
(agremiação que congregava as principais lideranças da AIB), após a
democratização do pós-guerra, Plínio Salgado continuou a ser a mais importante
referência do integralismo no Brasil. Dessa forma, antes de tratarmos dos eventos
que antecederam a criação da AIB, necessitamos fazer uma retração no tempo para
observamos rapidamente a atuação de seu fundador que viria a redundar na
fundação da Sociedade de Estudos Políticos (SEP), embrião da AIB.

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As controvérsias públicas em torno da Comissão Nacional da Verdade:


ditadura, história e memória pública - Karina Avelar de Almeida (UFJF)

O presente trabalho se baseia na pesquisa de mesmo título, da qual sou bolsista de


iniciação científica, conduzida sob orientação do Prof. Dr. Fernando Perlatto no
Laboratório de História Política e Social da Universidade Federal de Juiz de Fora.
O século XX na América Latina foi marcado pela instauração de regimes militares
de exceção, pela supressão de direitos políticos e pela sistematização de práticas de
perseguição e aniquilamento. A despeito da singularidade com que essas
experiências autoritárias se efetivaram em diversos países, é possível traçar
paralelos entre elas, bem como entre os movimentos desencadeados após o seu
término. De maneira geral, a abertura dos respectivos processos de
redemocratização deu início a lutas pela memória, disputas históricas e políticas
pela reelaboração desse passado. No Brasil, essa luta teve início tardiamente e
culminou com a instituição da Comissão Nacional da Verdade (CVN), que trouxe
à tona debates sobre a efetividade da democracia e a aplicação dos direitos humanos
e inseriu o Brasil no rol de países que constituíram comissões dessa natureza a fim
de enfrentar questões relacionadas à justiça de transição. A CNV produziu muitas
controvérsias públicas, as quais polarizaram debates e discussões entre diferentes
segmentos da sociedade brasileira. Assim, o presente trabalho busca identificar as
principais temáticas de tais controvérsias, bem como compreender os principais
argumentos mobilizados para a defesa e contraposição ao desenvolvimento das
atividades da CNV. Ademais, procura-se analisar de que maneira esse debate
145
repercutiu na sociedade brasileira e em suas instituições, problematizando-se o
esvaziamento gradativo de seu caráter público– ao contrário do que ocorreu com
comissões de outros países, como Argentina e África do Sul – e o exíguo
envolvimento das instituições da sociedade civil em seus trabalhos. Busca-se,
portanto, estudar as dimensões públicas de um debate que foi paulatinamente
perdendo espaço na esfera pública, a fim de possibilitar uma compreensão
renovada da forma como segmentos importantes da sociedade compreendem e se
relacionam com a memória pública de aspectos vinculados à ditadura e contribuir
com a reflexão teórica sobre as relações entre passado e presente, tomando como
base as disputas em torno da memória pública. Para tanto, foram analisadas
matérias de jornais de circulação nacional sobre o assunto, partindo do
entendimento de que, apesar da pretensa imparcialidade, os meios de comunicação
detêm papel preponderante na determinação e enquadramento de debates em torno
de questões públicas. Ademais, objetiva-se fazê-lo através de uma perspectiva
comparada com os debates públicos relacionados à criação de comissões com
perfis semelhantes que tiveram curso em outros países.

Bispo Progressista x Bispo Conservador: Caricaturas de membros da Igreja


Católica em tempos de Ditadura - Grimaldo Carneiro Zachariadhes (Secretaria
Municipal de Educação do Rio de Janeiro)

Esta apresentação pretende discutir a relação dos membros da Igreja Católica com
a Ditadura Militar, para além de uma visão dicotômica de "conservador" x
"progressista", que prevaleceu nos estudos sobre os católicos durante o período
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ditatorial. Priorizando os estudos sobre os prelados, tentaremos problematizar a


visão dos "bispos resistentes" e "bispos apoiadores" da Ditadura que ficou
cristalizada na memória das pessoas sobre este período autoritário do Brasil. A
relação dos prelados com a Ditadura não pode ser vista por um viés simplista de
apoio ou adesão. Devemos ter em conta que, entre os extremos de prelados
opositores e apoiadores incondicionais da Ditadura Militar, centenas de bispos, sem
procurar entrar em choque definitivo com o Governo, comandaram suas dioceses
tendo que dialogar, divergir, resistir e criar estratégias de atuação em um período
em que as garantias democráticas estavam suspensas.

Black Rio Contra o Sistema - Considerações Sobre Autenticidade e Combate


à Ditadura Civil-Militar (1973-1977) - Carlos Eduardo de Freitas Lima (UFF)

Este trabalho investiga o surgimento dos bailes de música negra americana nos
subúrbios do Rio de Janeiro, no fim dos anos 1960, procurando identificar suas
características, sua transformação ao longo das décadas de 1970 e 1980 para avaliar
como eles assumiram traços de celebração do orgulho negro em plena ditadura
civil-militar. A ideia é identificar os momentos de tensão surgidos a partir do
crescimento do cenário dos bailes, quando organizá-los e frequentá-los significou
assumir um posicionamento diferente sobre o ser negro no Rio (e no país) até então.
Utilizaremos embasamento teórico de autores como Paul Gilroy, Stuart Hall,
Paulina Alberto, Hermano Vianna e Carlos Fico, entre outros, procurando respaldar
as provas dessa circunstância, bem como que tensões surgiram em relação ao
146
conceito de “democracia racial”, então dominante. Ao longo do trabalho, buscarei
expor evidências que confirmarão o surgimento de vários indícios de uma cultura
diferente da existente até então, formada por influência e contato com elementos
estrangeiros (americanos) referentes a gêneros musicais novos – Soul, Funk – e
uma série de signos – roupas, gírias, penteados – que destacarão os frequentadores
e organizadores dos eventos do resto da população carioca de então, assumindo
ares identitários. O trabalho também mostrará como a participação nestes eventos
significou um ato de resistência ao racismo e à ditadura, mostrando que a repressão
aos frequentadores dos bailes e para os que os promoviam estava associada à uma
política mais ampla de vigilância social, que se amparava na ideologia da segurança
nacional, cujo objetivo principal era identificar e eliminar os “inimigos internos”
do Estado brasileiro. Fazer parte deste universo passava a ser um motivo palpável
e legítimo para que as forças de repressão investigassem da forma que achasse mais
conveniente e eficaz o funcionamento dos eventos. Em tempos de ditadura civil-
militar, isso significava desde a repressão ostensiva à infiltração de informantes e
observadores nos bailes. Por fim, utilizando evidências e documentos obtidos pela
Comissão da Verdade/RJ, este trabalho visa provar que os bailes do Movimento
Black Rio foram atos de resistência à ditadura civil-militar no Brasil.

Cadernos do Terceiro Mundo e os desafios de uma mídia


alternativa - Alessandro Léccas Marçal Neves (UERJ)

A Revista Cadernos do Terceiro Mundo notabilizou-se pela produção de uma série


de entrevistas com personalidades políticas e culturais da África, América Latina e
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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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Oriente Médio, que foram publicadas nos anos 1980 e 1985. Entrevistas com atores
significativos dentro das regiões de abrangência da Cadernos, dialogam com a
história contemporânea e com a atuação dos integrantes do eixo SUL-SUL, que
praticamente não apareciam na mídia convencional lograda unicamente pelas
demandas do eixo Norte. Portanto, através da análise das entrevistas e dos
respectivos personagens, o trabalho intenciona refletir sobre como a Revista impôs-
se numa conjuntura marcada pela bipolaridade neste recorte temporal específico.

Classes populares, cultura política e Constituinte (1984-1988) - Charleston


José de Sousa Assis (Universidade Federal Fluminense)

A presente comunicação tem por objetivo investigar a cultura política dos


brasileiros nos anos da transição para a democracia a partir das sugestões da
população à Assembleia Nacional Constituinte, encaminhadas por carta ao
Congresso Nacional. As cartas analisadas no presente artigo integram um conjunto
documental composto por 72.719 missivas encaminhadas entre os anos 1986 e
1987, nas quais ficaram registradas as queixas, as reivindicações, as sugestões, os
elogios, as decepções e os sonhos dos brasileiros que, em maior ou menor grau,
acreditavam estar participando da construção de novo um país. Tais registros foram
cotejados com outros contemporâneos seus oriundos de outros espaços, como as
empresas de comunicação, de entretenimento e partidos políticos. Na análise dos
discursos dos missivistas considera-se que os mesmos integram a categoria de
classes populares, entendida enquanto uma conformação social não alinhada aos
147
projetos hegemônicos que atua de modo classista, sem que, contudo, seus
integrantes sejam percebidos como pertencentes a uma única classe social. Dessa
forma, procurou-se compreender os vínculos que as pessoas comuns -
trabalhadores, estudantes, donas de casa, profissionais liberais etc. - estabeleceram
entre democracia e justiça social nas cartas, assim como identificar a perspectiva
classista que aparece naqueles discursos e analisar as correspondências dos
mesmos com outros discursos enunciados em diferentes espaços e por distintos
atores sociais.

Clausura e gênero: fotografia do debate sobre o encarceramento de presos


políticos durante a Ditadura Militar (1964-1985) - Ayssa Yamaguti
Norek (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

A historiografia produzida até o presente momento sobre a Ditadura Militar (1964-


1985) tem se concentrado, quase majoritariamente, na construção das memórias
dos presídios políticos masculinos e daqueles que neles foram encarcerados, como
trabalhos que retratam os presídios Ilha das Flores, Tiradentes, Milton Dias
Moreira e outros. Sobre as presas políticas e a sua experiência no cárcere, muito
pouco tem sido escrito, e este pouco se concentra em torno da reconstrução da
memória dessas mulheres, sem, no geral, uma perspectiva voltada, de forma mais
circunscrita, à análise de gênero. Por esse motivo, o presente trabalho se propõe a
construir uma fotografia do debate proposto pelas mencionadas produções, a fim
de demonstrar a lacuna que existe na historiografia quanto ao estudo do
encarceramento de presas políticas sob um viés de gênero. Por gênero, entendemos,
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assim como Joan Scott, os papeis sociais atribuídos aos sexos, sendo este conceito
socialmente construído sobre interações fundadas nas diferenças percebidas entre
os sexos e como uma primeira forma de dar significado às relações de poder. No
que concerne ao olhar de gênero sobre o encarceramento de presas políticas,
entende-se que existem diferenças de tratamento dispensado às mulheres
encarceradas em relação a um universo masculino que engloba, numa configuração
mais imediata, o próprio espaço prisional e, depois, as relações simbólicas
estabelecidas dentro da prisão. Entre esses pontos está a adaptação da mulher a um
espaço não exatamente construído para o sexo masculino, mas para uma
idealização que, década após década, tem sido projetada na figura do homem; assim
também, as diferenças de experiências (anteriores ao cárcere) e vivências (relativas
ao cárcere) – físicas e psicológicas – que não se aproximam, nem na realidade mais
imediata, nem em termos simbólicos, daquelas experimentadas pelos homens na
condição de presos políticos.

Conexão Berlim-Istambul: parceria otomano-alemã no extermínio dos


armênios - Pedro Bogossian Porto (Université Paris Diderot - Paris 7)

Entre 1915 e 1917, em meio à Primeira Guerra Mundial e imbuído de um projeto


de modernização do Estado, o Império Otomano promoveu a perseguição e o
massacre da população armênia que habitava os seus territórios, em uma série de
eventos que podem ser definidos como “o genocídio dos armênios”. De acordo com
a memória coletiva armênia, entre os responsáveis por esses massacres estariam
148
não apenas a população civil e as autoridades otomanas, mas também as potências
internacionais, que ou colaboraram ou observaram com indulgência o que ocorria
no interior do Império. Em relação a esses agentes externos, as principais acusações
recaem sobre o Império Alemão, mais importante aliado do governo otomano e que
muitas vezes é referido como o verdadeiro formulador do projeto de limpeza étnica
aplicado no Oriente Médio. Este trabalho pretende analisar a colaboração otomano-
alemã, adotando para tanto uma dupla ótica. Por um lado, pretende-se compreender
o cenário em que essa parceria se desenvolveu e os mecanismos através dos quais
ela se concretizou. Por outro, busca-se interpretar o registro dessa ação combinada
na memória coletiva da população armênia e a força discursiva dessa narrativa.
Trata-se aqui não apenas de avaliar se houve ou não um planejamento em conjunto
entre os dois Estados, mas também de lançar luz sobre a preservação e os usos
dessa memória entre a população armênia. No que concerne à reflexão acerca da
memória, uma compreensão mais profunda da colaboração entre os impérios
otomano e alemão se torna ainda mais relevante à medida que permite elucidar o
discurso, bastante frequente entre os armênios, que os inclui na mesma categoria
das populações perseguidas pelo nazismo. A narrativa armênia evoca essa
colaboração para afirmar que armênios e vítimas do holocausto seriam semelhantes
não apenas por estarem igualmente submetidos a uma ação desmedida de regimes
autoritários, mas se irmanariam também por serem alvo de um projeto genocida
protagonizado pela Alemanha. Cumpre, portanto, observar os usos e os limites
dessa memória.

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De lo próximo a lo lejano. Representaciones actuales de la gente corriente


sobre las víctimas de la represión estatal durante la última dictadura militar
en Argentina (1976-1983) - Ana Inés Seitz (Universidad Nacional de La Plata)

En el presente trabajo nos proponemos analizar las representaciones actuales de la


gente corriente sobre las víctimas de la represión estatal de la última dictadura en
Argentina (1976-1983). Concretamente, abordaremos la indagación de dichas
percepciones y sentidos tomando como punto de partida las nociones de lejanía y
proximidad y reflexionando acerca de los modos en que los distintos grados de
distancia social que tuvieron estos sectores sociales respecto de los afectados por
los mecanismos represivos del régimen militar configuran en la actualidad las
valencias de las interpretaciones construidas acerca de éstos. Todo ello como un
insumo para reflexionar sobre los vínculos entre estas representaciones actuales,
dicha distancia social y determinadas narrativas que circularon en la sociedad
(como la de la “lucha contra la subversión”) durante los años del “Proceso de
Reorganización Nacional”. Nos proponemos examinar esta problemática desde una
perspectiva microanalítica, centrándonos en el estudio de un espacio institucional
específico: la Escuela Nacional de Educación Técnica N°1 “Ingeniero César
Cipolletti” de la ciudad de Bahía Blanca (Argentina). Ello en tanto los derroteros
que siguió la historia institucional de dicho colegio durante las décadas de los
setenta nos permiten explorar los distintos modos en que se expresaron en dicha
historia la movilización política y social de esta década y los procesos de
radicalización de algunos sectores juveniles, así como las maneras en que se
149
manifestaron en ella los procesos de avance de la violencia represiva paraestatal y
estatal. Concretamente, a partir del análisis de relatos construidos en entrevistas en
profundidad, nos proponemos explorar las percepciones actuales de los antiguos
integrantes de la comunidad educativa del colegio sobre aquellos alumnos y
profesores que fueron víctimas de la represión estatal durante la última dictadura
militar argentina.

De O Berço do Herói (1963) a Roque Santeiro (1975 e 1985): a trajetória de


Dias Gomes na ditadura militar brasileira - Natasha Moreira Piedras
Ferreira (UFF)

A trajetória político-intelectual de Dias Gomes (1922-1999) foi marcada pela


militância junto ao Partido Comunista (PCB). Durante o período ditatorial, o
dramaturgo e teatrólogo teve, inclusive, algumas de suas peças e novelas
censuradas, como foi o caso de O Berço do Herói (1963) e sua primeira adaptação
para televisão, Roque Santeiro (1975). A partir destas obras censuradas e de suas
repercussões, assim como da novela Roque Santeiro finalmente exibida em 1985,
esta comunicação pretende realizar um panorama a respeito trajetória de Dias
Gomes nos anos de regime ditatorial brasileiro. O rompimento do dramaturgo com
o PCB e sua posterior contratação pela Rede Globo, ambos nos limiares dos anos
de 1970, não são aqui enxergados com uma relação de causalidade. Ao contrário
disso, pretende-se compreender a complexidade da ação e dos dilemas do
intelectual nesse contexto. Os enredos, diálogos, continuidades e rupturas do
original de O Berço do Herói (1963) e da suas duas versões televisivas emergem,
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deste modo, como um mecanismo para compreender a atuação de Dias Gomes em


três conjunturas distintas para o intelectual engajado: o início da década de 1960,
período de efervescência política e cultural das esquerdas; a década de 1970, após
a promulgação do AI-5, e meados dos anos de 1960, já no período da
redemocratização. Através das narrativas de Dias Gomes nessas conjunturas, assim
como do que foi veiculado na grande imprensa e na imprensa alternativa, pretende-
se refletir a respeito de alguns dos principais anseios, frustrações e embates
vivenciados por Dias Gomes e pelos intelectuais de sua geração durante a ditadura
militar brasileira.

Dever de memória e ensino de história: o ensino da ditadura militar no Brasil


situado no processo de justiça de transição - Licia Goms Quina (Prefeitura
Municipal de Areal)

O conceito de dever de memória, surgido na França, se referindo à segunda guerra


mundial e ligado à memória dos soldados franceses resistentes, foi ressignificado
na década de 1970 e passou a tratar da memória das vítimas, se referindo ao
holocausto. A partir daí “fazer memória” se tornou sinônimo de “fazer justiça”. Na
América Latina, essa questão ocupou o espaço público se relacionando às ditaduras
ocorridas no Brasil, Uruguai, Argentina e Chile. Dessa forma, o holocausto serviu
de modelo para aqueles que, através de suas memórias, denunciaram os crimes
perpetrados pelas Ditaduras. Fechando o enfoque sobre o caso da Ditadura
inaugurada pelo golpe de 1964 no Brasil, a questão do dever de memória hoje
150
representa não só o direito à memória, à verdade e à justiça, mas as iniciativas para
a não repetição. Trata-se de remover o chamado “entulho autoritário”, as práticas
autoritárias que persistem na atualidade. O processo de transição democrática no
Brasil, com todas as características peculiares que lhe garantiram o, assim
designado, “acordo pelo alto”, esbarra em diversos entraves à garantia de uma
democracia plena e efetiva. Entretanto, fica a cargo da Justiça de Transição,
garantir a consolidação dessa democracia e a superação desses “entraves” herdados
da experiência de autoritarismo. Entendendo a Justiça de Transição como um
conjunto de medidas jurídicas, políticas e sociais, nossa proposta é situar o ensino
de história, e mais especificamente o ensino da ditadura, como um braço da Justiça
de Transição, uma importante ferramenta de reparação social. Nessa perspectiva, o
ensino de história permitirá ao professor/historiador, analisar a construção da
memória sobre a ditadura militar no Brasil e, no limite, promover reflexões que
possibilitem uma reconstrução dessa memória, no sentido de seu questionamento.
E isso se faz necessário sob pena de nunca se atingir a consolidação da democracia
em nosso país, e, mais ainda, de continuarmos a construir, todos os dias, uma
memória histórica que tem como naturalizados elementos de coerção, autoritarismo
e repressão. Finalmente, vale ressaltar que, somente enxergamos ser possível situar
o ensino de história nesse contexto, se partirmos das premissas da história pública,
enxergando o conhecimento histórico construído dentro do espaço escolar e fora
dele como produções circulares e complementares.

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Diretas Já x Carapintadas: Relação entre Estado e sociedade - Gabriel


Cheleiro Justino (Universidade Estácio de Sá)

O presente trabalho tem por objetivo realizar o debate sobre a relação entre e Estado
e sociedade através das manifestações sociais ocorridas no final da Ditadura Militar
(Diretas Já) e durante o governo Collor (Carapintadas), procurará compreender
também o contexto e como se deu o pós-movimentação, se houve permanências,
se houve rupturas, quais foram e como se deram. A partir da análise individual de
cada um dos principais movimentos sociais desse período, as manifestações serão
confrontadas para que possamos compreender o que a sociedade buscava com esses
movimentos e como o Estado, a partir de suas instituições, lideranças e legislação
puderam perceber as ações populares, tendo em vista que, as Diretas Já, tinham
como foco central, o acesso ao voto para o executivo por parte da população
enquanto que o movimento Carapintada, buscava retirar o presidente eleito pelo
povo. Ao confrontar essas duas manifestações, observaremos as permanências e
rupturas nessa relação Sociedade x Estado, se existiam anseios em comum, como
se deu sua organização e como o Estado brasileiro reagiu a esses movimentos
sociais, ou seja, de que forma essa relação foi se atualizando de acordo com novos
anseios da sociedade, com novas perspectivas. O que podemos observar através
dessa relação, é a fragilidade de nossa Republica e o quão complexa seria o seu
fortalecimento, tendo em vista uma sucessão de golpes e de políticas que acabavam
por privilegiar grupos restritos, como foi o caso da política Café-com-leite, do
governo de JK, da própria ditadura civil-militar e do governo Collor. As
151
mobilizações surgem nesse contexto, como um elemento de coesão social, tendo
em vista que as camadas da sociedade são interdependentes e buscam ao mesmo
tempo evitar uma ruptura em sua formação . Ou seja, a sociedade, procura sempre
se preservar e se manter como agente vital no desenvolvimento do Brasil e como
base do mesmo, fazendo com que ao perder o poder de decisão (ditadura) e ao fazer
valer os direitos (Impeachment de Collor), ela busque a sua unidade para que seus
esforços sejam ouvidos e atendidos. As manifestações de 1984 e 1992, serviram
como parâmetro para os novos protestos, seja como se organizar, seja como uma
referencial em como a população pode exercer seu poder, exigindo o exercício
pleno de sua cidadania e isso passa na forma pela qual o sistema irá atender as
demandas populares e como a redemocratização foi sendo aprimorada e aplicada
para uma sociedade que se diversifica a cada geração e anseia por novas demandas.
Considerando a peculiaridade de cada contexto, as razões que levaram a população
a exigir tal participação passam por uma tentativa de recuperar direitos perdidos,
como na ditadura e no exercício dos direitos recém conquistados, como no caso do
Collor.

Entre a barbárie e a cultura: disputas na construção das memórias do antigo


1º Batalhão de Infantaria Blindada de Barra Mansa (2013-2017) - Eminny Aly
Carmel Ghazzaoui (ISEIB - Instituto Superior de Educação Ibituruna)

As discussões em torno dos lugares que têm suas memórias imbricadas à violação
dos direitos humanos, à barbárie, têm crescido no Brasil e serão norteadoras para
as reflexões que se pretende realizar nesta comunicação. Especificamente,
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considera-se as disputas entre 2013 e 2017 na construção das memórias no lugar


que abrigou o antigo 1º Batalhão de Infantaria Blindada (BIB) na cidade de Barra
Mansa, no sul do estado do Rio de Janeiro. O 1º BIB foi apontado como um centro
de tortura e morte principalmente durante a ditadura militar pelas pesquisas das
comissões da verdade. Atualmente, além da instalação do Exército com o Tiro de
Guerra, o espaço é ocupado por departamentos da Prefeitura de Barra Mansa,
setores da cultura e também é utilizado para a realização de eventos, shows, feiras
e outras atividades. As investigações conduzidas pelos pesquisadores da Comissão
Municipal da Verdade de Volta Redonda abriram possibilidades para iniciativas de
ações e reflexões pelo direito à memória, à verdade e à justiça acerca do passado
sensível do lugar, antigo 1º Batalhão de Infantaria Blindada, ocupado hoje pelo
Parque da Cidade. O Ministério Público Federal emitiu no ano de 2016 um Termo
de Ajustamento de Conduta (TAC) para o cumprimento de algumas medidas com
relação ao uso das dependências do Parque da Cidade. Diante das reflexões sobre
cultura, barbárie, disputas de memória, patrimonialização e violação dos direitos
humanos pretende-se consolidar uma análise crítica da experiência em construção
na cidade de Barra Mansa, que tem como principal diferencial a intervenção do
MPF na proposta de memorialização e patrimonialização das antigas instalações
do 1º Batalhão de Infantaria Blindada. Walter Benjamin (1987) em “Sobre o
conceito de História”, através das categorias monumentos de barbárie e
monumentos de cultura, considera a relação não dicotômica, dividida, opositiva e
ou separada das noções de cultura e barbárie. Construindo uma concepção dialética
de que na cultura está também a barbárie, assim como também a barbárie está no
152
processo de transmissão da cultura, pesando sobre aqueles que não venceram e
foram silenciados nas narrativas da história oficializada. Neste sentido, o
historiador precisa saber “de que também os mortos não estarão em segurança se o
inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer”. Seguindo as reflexões
do autor, entende-se que a luta por memória, verdade e justiça se faz cada vez mais
necessária na atual conjuntura brasileira, cujos discursos autoritários e opressivos
contra os direitos de ser humano permanecem.

Festivais da Canção: Música, media e censura durante os regimes autoritários


em Brasil e Portugal - José Fernando Saroba Monteiro (UFRRJ)

Os Festivais da Canção iniciados na década de 1960 em Brasil e Portugal e que


encontraram seu auge entre este período e a década seguinte, foram responsáveis
pela renovação do cenário musical e até hoje considerados um dos períodos mais
férteis da produção musical destes países. Malgrado, os festivais se inserem em um
momento conturbado, no qual ambos os países se encontravam sob regimes
autoritários vigentes, nomeadamente, a ditadura civil-militar, no Brasil, e o Estado
Novo, em Portugal. A produção cultural, amplamente dominada pelos setores de
esquerda, buscava visibilidade e encontraram nos palcos dos festivais, que também
contavam com a transmissão televisiva e exposição na imprensa, o palanque
perfeito para a difusão de suas ideias. Entretanto, os regimes autoritários faziam
pleno uso dos meios de comunicação para sua propaganda ideológica e passaram a
controlar estes meios, tal como a produção musical, através da censura, seja ela
prévia ou a posteriori. Deste modo, instaurou-se uma rivalidade e uma série de
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embates pelo espaço midiático que, se gerou grandes danos à indústria cultural e
até mesmo aos artistas, compositores e intérpretes, também possibilitou a criação
de grandes obras ainda hoje lembradas na história destes países.

Frei Betto - Memórias do Batismo de Sangue. Os dominicanos e a morte de


Carlos Marighella - Fabiano Dias Azevedo (UNIVERSO)

Frei Betto, autor brasileiro com grande publicação editorial, atualmente, trabalha
em pastorais populares, assessora movimentos sociais, escreve artigos e ministra
palestras mundo a fora. “A vida é curta para todos os meus projetos. E não cabe
nos meus sonhos, afirma Frei Betto”. A proposta do artigo científico é discutir o
conceito de memória, através da obra de Frei Betto. Memória entendida como
passado que nasce da oralidade e é, posteriormente, desenvolvido por meio da
escrita. Construções individuais e coletivas. Percepções pretéritas que organizam
presente e projetam futuro. Para tanto utilizaremos algumas reflexões de David
Lowenthall, Jacques Le Goff e Gilberto Velho. Além disso, analisaremos a
memória enquanto formadora das personalidades, identidades coletivas e projetos
futuros. Por fim, discutiremos como Frei Betto constrói sua memória. Nosso autor
possui ampla produção literária. Por isso, escolhemos obra que represente sua
memorialística. Separamos Batismo de Sangue- os dominicanos e a morte de
Carlos Marighella. A obra debate a relação dos dominicanos com a luta armada
durante a ditadura militar, marcando de forma expressiva a trajetória da Ordem
Dominicana no Brasil.
153
Gatekeepers x censores: a luta pelo controle da informação jornalística
durante a transição política brasileira - Ana Lucia Vaz (UFRRJ)

Este artigo se insere na pesquisa de doutorado que tem por objetivo desconstruir o
mito da polaridade entre resistentes e colaboradores na análise da atuação da
imprensa frente à censura de Estado durante a ditadura militar brasileira. Não
apenas identificar as dicotomias criadas nas narrativas sobre o tema, mas buscar
identificar elementos que nos ajudem a compreender como o trabalho de memória
produz e reproduz esta dicotomia. Este artigo apresenta alguns resultados da
investigação sobre os sistemas de controle da informação dentro das redações
jornalísticas entre a segunda metade da década de 1970 e a primeira metade da
década de 1980. O período escolhido se baseia na identificação de um período de
grandes transformaações e intensa atividade no campo do jornalismo. Este período
se abre após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do
DOI-CODI paulista e se encerra com o fim dos governos militares. O objetivo da
pesquisa aqui apresentada é desnaturalizar um pressuposto presente na
historiografia sobre a imprensa que opõe o jornalismo à censura. O conceito de
gatekeeper, desenvolvido no campo das teorias de comunicação, é utilizado aqui
apenas com a função de destacar o lugar de controle da informação ocupado por
jornalistas profissionais. Para tanto, será analisada a construção da memória do
período de transição política com foco na imprensa, vista como instituição
constituinte e constituída no processo político mais amplo das relações de poder no
campo da luta pela verdade. Dentro desse contexto, discutiremos a noção de
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imprensa, as relações de poder internos e externos à redação, os procedimentos


técnicos de produção e controle da informação e os hábitos que conformam os
agentes institucionais, ampliando a noção de sistemas de controle para além das
ações do Estado. Apesar de um contexto teórico mais abrangente, o foco é a
construção da memória sobre o funcionamento desses sistemas. Portanto, as fontes
utilizadas nesta parte da pesquisa são os relatos de jornalistas que atuaram nas
redações cariocas nesse período, colhidos pela autora e por outros estudiosos do
tema.

Gaúchas de direita”: a história da Ação Democrática Feminina Gaúcha


(ADFG) nos os primeiros anos da ditadura civil-militar - Eduardo dos Santos
Chaves (Instituto Federal de Santa Catarina)

A comunicação pretende discutir a formação e atuação da Ação Democrática


Feminina Gaúcha (ADFG), organização criada em março de 1964, na cidade de
Porto Alegre, com objetivos de desestabilizar o governo Jango e “conscientizar” a
população dos perigos que o comunismo representava. Cabe destacar que a ADFG
fazia parte de uma rede de organizações femininas constituídas no Brasil a partir
do início dos anos 60, tais como a CAMDE (Rio de Janeiro, 1962), a UCF (São
Paulo 1962), a LIMDE (Belo Horizonte, 1964) e a CDF (Recife, 1964). A partir
dos livros de atas da organização e o pequeno material divulgado na imprensa da
época, o trabalho apresentará as primeiras ações da ADFG, após o golpe civil-
militar de 1964, voltadas para o assistencialismo e o voluntarismo, bem como a
154
tentativa de colaborar com o “governo revolucionário”. Nesse sentido, o trabalho
pretende analisar a atuação da ADFG em um cenário de construção social da última
ditadura, no qual foram tecidas complexas relações entre o regime e a sociedade
brasileira.

Governo Geisel e o MDB (1974-1978): um debate sobre abertura - Tamires


Mascarenhas Pecoro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O governo do general Ernesto Geisel ficou reconhecido por muitos pesquisadores


do período da ditadura civil-militar como o começo do processo de abertura desse
sistema político, principalmente pela revogação ao Ato Institucional de nº.5 (AI-5)
ao final de seu mandato. Marcado pelo ideal da distensão lenta, gradual e segura,
esse governo precisou lhe dar com a ascensão do partido de oposição a nível federal
e também nas principais assembleias legislativas do país. Após a vitória eleitoral
em novembro de 1974, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) passou a
requerer maior participação na vida política, utilizando o parlamento como
instrumento de defesa de sua bandeira democrática e espaço de debate com o
governo. Mas algumas medidas foram adotadas por Geisel que diretamente
interferiram nas ações emedebistas, como a Lei Falcão e o Pacote de Abril, sendo
considerado por alguns autores um período de “avanços e recuos”. Assim sendo,
este artigo pretende debater a relação entre as ações da oposição e do governo
durante a presidência de Geisel sob a insígnia da abertura, bem como discutir a
utilização do termo “avanços e recuos” para denominar esse processo político.

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Guerrilheiras, biografias e memória: a construção da figura da mulher


militante nos ciclos de memória sobre a Ditadura - Juliana Marques do
Nascimento (Universidade Federal Fluminense)

A pesquisa tem por objetivo analisar como foram construídas as imagens das
mulheres guerrilheiras em suas biografias, produzidas e publicadas no pós-
redemocratização. As militantes selecionadas foram: Iara Iavelberg, com biografia
publicada em 1992, de autoria da jornalista Judith Patarra; Carmela Pezzuti, livro
publicado em 1996, por Maurício Paiva, ex-guerrilheiro e amigo da biografada; e
Dilma Rousseff, obra de 2011, pelo jornalista Ricardo Batista Amaral. As datas de
elaboração das biografias são importantes para o estudo, pois permitem a realização
de um mapeamento da memória social sobre o período ditatorial: o momento de
produção influencia diretamente na narrativa construída e, consequentemente, na
maneira de recordar a Ditadura. Pretende-se, portanto, produzir uma história da
memória, localizando cada obra em sua "fase" (Napolitano, 2015) e, através disso,
será possível observar as permanências e continuidades da memória, a memória
hegemônica e as subterrâneas, inserindo nesse contexto a perspectiva da atuação
feminina na política. O conceito de Daniel Lvovich e Jaquelina Bisquert (2008) de
"memoria cambiante" é fundamental para o desenvolvimento do trabalho: a forma
de lembrar uma determinada época não é definitiva, mas sim muda com o tempo,
a partir das demandas do presente.

História e reminiscência: o Chile nas tramas da justiça de


155
transição - Leonardo de Oliveira Souza (Universidade Federal de Goiás)

Acerca das experiências dos regimes autoritários na América Latina, a maior parte
do continente foi abalada por golpes militares armados que violaram as
democracias nacionais em construção, construindo, por meio do lema da Doutrina
de Segurança Nacional, um aparato institucionalizado de repressão, que, em linhas
gerais, elegeram inimigos, suprimiram as garantias constitucionais da sociedade e
recorreram à práticas de terror como instrumento de estabilidade política do Estado,
cometendo, assim, graves violações aos direitos humanos. Em se tratando do caso
chileno, a superação desse regime exigiu muita disposição política e um conjunto
de esforços marcados por intensas lutas sociais, que foram essenciais na soma dos
esforços que conduziram a sociedade à difícil tarefa da negociação. Uma vez
reestabelecida as vias democráticas, o país deparou-se com algumas questões
cruciais: como lidar com a herança autoritária? Como afirmar-se democraticamente
em meio a tantas fraturas sociais e institucionais ainda tão vivas na transição? Quais
medidas de reparação e de justiça deveriam ser tomadas? Quais medidas eram
possíveis de serem tomadas? As recentes liberdades eleitorais e civis não eram
garantias de estabilidade democrática nem de garantias jurídicas em nenhum país
do Cone Sul. Essa proposta de pesquisa visa compreender esse processo
transicional partindo da análise das narrativas dos relatórios finais produzidos pelas
duas Comissões da Verdade instauradas no país em momentos distintos, a primeira
entre 1990 e 1991, e a segunda ente 2004 e 2005, e que foi novamente reaberta e
concluída em 2011. Pretende-se discutir a maneira como o Chile lida com esse
passado recente de violações e como o relaciona com os mecanismos de memória,
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de reparação e de justiça de transição, considerando a cultura política do país e


comparando as produções das Comissões em seus diferentes momentos ao longo
do tempo. Portanto, lança-se um olhar interdisciplinar, relacionando a história e o
campo do direito a partir da perspectiva da justiça de transição, cujo conceito está
inserido na primazia dos direitos humanos e versa sobre cinco pilares básicos:
esclarecimento da verdade sobre as violações; reparação às vítimas; punição aos
envolvidos; reforma das instituições promotoras das violações e produção de
memória. De todo modo, é importante destacar que não existe um único modelo
para que um Estado se redemocratize, cada sociedade desenvolve procedimentos
de acordo com sua realidade e conjuntura sócio política. A construção e o manuseio
dos relatórios representam um importante instrumento de (re)construção do
passado a partir do presente, constituindo-se como um elemento essencial para o
modelo de justiça e de democracia adotado pelo país.

Ler para não esquecer: denúncia e resistência à ditadura civil-militar


brasileira no romance O pardal é um pássaro azul de Heloneida
Studart - Ioneide Maria Piffano Brion de Souza (UFJF)

A literatura teve um papel importante entre as artes de resistência tanto no


diagnóstico da violência e da experiência social sob o autoritarismo, quanto no
exame das contradições e impasses dos intelectuais de esquerda que se opunham
ao regime. Este artigo objetiva refletir sobre a relação entre história e literatura a
partir da análise do romance O pardal é um pássaro azul que compõe a Trilogia da
156
Tortura de Heloneida Studart. O romance aborda a ditadura civil-militar brasileira
a partir da ótica do militante de esquerda. A escolha da temática do artigo se deu
não porque a literatura imitou a realidade nos livros, mas porque, em muitos casos,
só a reflexão propiciada pela ficção, pela imaginação ou pela memória poderia dar
conta de compreender uma realidade política, cultural e social tão multifacetada e
complexa. Assim, partindo do livro em questão, busca-se compreender de que
maneira a narrativa literária, quando colocada em diálogo com pesquisas
acadêmicas recentes, contribuem para uma compreensão desse período da história
brasileira

Memória vista de cima: a construção da narrativa histórica do ocaso soviético


a partir das memórias de Mikhail Gorbachev - Cesar Augusto Rodrigues de
Albuquerque (Universidade de São Paulo)

O presente trabalho se insere no âmbito de pesquisas em andamento desenvolvidas


pelo autor durante o desenvolvimento de sua tese (Re)New Thinking: A Evolução
do Pensamento Político e Econômico de Mikhail Gorbachev Antes e Depois do
Fim da URSS, sob orientação do Prof. Dr. Angelo Segrillo, no PPG em História
Social da USP. Nestas pesquisas, as memórias – individuais e coletivas -
constituem uma das principais fontes a partir das quais desenvolvemos nossa
análise. Uma vez que nosso recorte temporal permite desfrutar das vantagens
obtidas a partir do avanço dos meios de comunicação e difusão da informação,
dispomos de um vasto material disponível em diversos formatos (escritos, áudios
e imagens) composto por entrevistas; artigos e declarações publicadas nos meios
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de comunicação; livros e ensaios publicados no mercado editorial; surveys e


bancos de dados com pesquisas de opinião; além, é claro, de livros autobiográficos
ou de “memórias” propriamente ditos. Para este trabalho, propomos apresentar um
artigo com alguns dos resultados preliminares de nossa análise, focado aqui na
construção da narrativa histórica da perestroika e da dissolução do regime soviético
a partir das memórias de Mikhail Gorbachev. Ao nos referimos às memórias, não
estamos nos limitando apenas a livros de caráter autobiográfico ou pensados com
essa finalidade – embora Gorbachev tenha publicado pelo menos três obras dessa
natureza desde 1991 –, mas incluímos também uma série de outras manifestações
do ex-líder soviético, sobretudo após o fim da URSS, em que ele trava uma batalha
para expor a sua versão dos acontecimentos e processos ocorridos desde sua
ascensão ao cargo de Secretário-Geral do Partido Comunista da URSS. Seu embate
se dá principalmente com as outras versões que aos poucos se constituem e vão se
tornando majoritárias na narrativa histórica da memória coletiva russa, e que
tendem a vê-lo de forma bastante negativa – como responsável pela “destruição”
da URSS ou como uma liderança derrotada. Ao iniciar o título desse artigo com a
expressão “Memória vista de cima”, fazemos alusão aos debates historiográficos
da segunda metade do século XX, sobretudo em relação às críticas à chamada
History from above. Seguindo tais movimentos, nosso trabalho não pretende um
retorno a História Política Tradicional, mas propõe um diálogo interessante entre
as novas abordagens – incluindo aqui as considerações quanto o uso da memória
como fonte e sua relação com a História – e as temáticas tradicionais,
especialmente neste caso em que a narrativa construída pela memória do ex-líder
157
parece tão distante daquela de seus outrora liderados.

Na mira dos militares: a UFMG como laboratório do projeto autoritário


(1964-1968) - Alexander da Silva Braz (UFF)

A proposta deste artigo consiste em analisar como surge e se desenvolve um espaço


de vigilância e repressão institucional dentro da UFMG ainda nos primeiros meses
do Golpe de 1964. Partindo da premissa de que havia a construção de um projeto
autoritário em curso destinado a promover a limpeza nos espaços universitários
mineiros. O estudo da documentação produzida pelo aparato repressivo do Regime
Militar nos mostrará a grande atuação e vigilância de dois atores políticos atuando
naquela universidade: a Infantaria Divisória da 4ª Região Militar (ID-4) e a agência
de vigilância, do Serviço Nacional de Informação (SNI), estabelecendo contato
direto com o Reitor e os diretores das Unidades Universitárias, autorizando o início
do ano letivo, ordenando a instalação de Comissões de Inquérito para investigar
atividades subversivas envolvendo docentes, discentes e funcionários públicos da
Casa; assim como interferindo na autonomia universitária por meio da intenção
militar da Faculdade de Filosofia e, posteriormente, da Reitoria da UFMG. Além
da interferência direta destes dois atores, mostraremos, também, o estreitamento
das comunicações do aparato repressivo - por meio da indicação de um nome para
estabelecer contato diretamente com o SNI – assim como o aumento da vigilância
e da repressão sob o movimento estudantil. Sobre este último, a documentação
aponta para como a vigilância sobre o movimento estudantil da UFMG foi intenso
já nos primeiros anos do regime. Alunos brasileiros e estrangeiros acusados de
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atividades subversivas foram investigados pelas Comissões de Inquérito,


Diretórios Acadêmicos (DAs) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) tiveram
seus direitos de representação suspensos e suas instalações fechados inúmeras
vezes por não criarem um Regimento nos moldes da Lei Suplicy. Além das práticas
de censura e cassação da representatividade dos órgãos estudantis mineiros,
mostraremos como os estudantes reagiram a implementação deste projeto
autoritário. Dessa forma, buscaremos mostrar por meio da documentação
produzida pelos órgãos de informação que entre os anos 1964 - 1968 a UFMG teve
sua autonomia ferida pelos atentados que sofrera ao longo dos primeiros anos com
as intervenções militares e ao ter de seguir os ordenamentos dos agentes da
máquina repressiva, assim como mostrar como os órgãos de representação
estudantil e o próprio movimento estudantil foram censurados e perseguidos
politicamente durante esse período.

Nem rebeldes, nem revolucionários: o outro lado das juventudes brasileiras


de 1968 - Rafaela Mateus Antunes dos Santos Freiberger (UFF)

1968 ficou conhecido na História como o ano das juventudes. Foi um período
caracterizado por manifestações em diversas partes do mundo, principalmente,
contra os padrões culturais vigentes, marcados pelo o conservadorismo e o
autoritarismo. No Brasil não foi diferente. 1968 foi o ano auge das manifestações
juvenis que, além de expressar a rebeldia aos padrões dá época, lutavam pelo fim
da ditadura e pela Reforma Universitária, demanda dos estudantes desde o final da
158
década de 1950. As atuações juvenis em 1968 contribuíram para a construção de
um imaginário baseado na premissa que os jovens possuem uma natureza rebelde
e revolucionária. Dessa maneira, a juventude seria uma fase da vida de um
indivíduo que, necessariamente, traz à tona uma postura de rebeldia e contestação
aos padrões sociais e políticos estabelecidos. Essa afirmação é largamente
empregada, principalmente, nos estudos relacionados aos movimentos juvenis da
década de 1960. Porém, nem todos os jovens participaram ou foram favoráveis aos
protestos estudantis de 1968. No meio estudantil, a disputa era intensa, pois havia
diversas organizações com variadas matizes ideológicas. Desse modo, não é
possível compreender nem a juventude, nem a sua atuação no movimento
estudantil de uma forma homogênea. Na historiografia brasileira, ao se fazer um
balanço dos trabalhos relacionados a atuação juvenil, se percebe a falta de estudo
acerca de grupos estudantis que possuíam projetos e visões políticas diferentes dos
grupos de esquerda. Esse quadro se deve em parte pela memória construída em
relação aos anos chaves - 1964 e 1968- e, o período ditatorial como todo, de que a
população foi resistente ao regime. Esse ponto de vista foi construído, sobretudo,
a partir das experiências vividas pelos jovens nas décadas de 1960 e 1970,
particularmente, em regimes políticos conservadores ou autoritários. A proposta
deste trabalho é mapear alguns exemplos de manifestações e posicionamentos
políticos das juventudes em 1968, desde a oposição à ditadura ao apoio ao regime
militar, principalmente, através do Projeto Rondon. Desse modo, será possível
perceber a pluralidade de comportamentos, as visões de mundo e os projetos
políticos de outras parcelas juvenis, que estiveram distantes da luta armada e de
outras estratégias de atuação das esquerdas.
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O Banco "Quinta-Coluna" do Brasil. O Processo de Exoneração de Raimundo


Padilha - Diego da Silva Ramos (UERJ/FFP)

O trabalho apresentado é parte de uma pesquisa mais ampla que busca construir a
trajetória política do ex-integralista e ex-governador do Rio de Janeiro, Raimundo
Padilha. Em seu atual estágio o trabalho está focado na reconstrução da atuação de
Padilha nos anos de 1940. Em um dos momentos mais interessantes da pesquisa,
nos deparamos com a documentação do processo de exoneração do ex-integralista
da “Carteira de Crédito do Banco do Brasil”. A principal acusação que pesou sobre
Padilha foi o fato de agir repetidas vezes contra a campanha de captação de bônus
de guerra feita pelo banco durante o conflito mundial na metade do século XX.
Num dos episódios narrados, Padilha ordenou a retirada do material de propaganda
da venda dos bônus na agência que trabalhava. Ampliando o foco do trabalho
podemos perceber que Padilha sempre contou com uma rede de contatos que
acreditamos ter sido fundamental para o seu trânsito por diversas etapas da política
brasileira. Utilizaremos, para buscar um entendimento conceitual sobre as ligações
que Padilha mantinha, o conceito de "redes" trabalhado no artigo de Gabriela de
Lima Grecco intitulado “Redes de Intelectuales de Deerechas Durante El Estado
Novo Brasileño”, que pressupõe a existência de redes de contatos políticos que
puderam interferir na forma como figuras proeminentes dos anos de 1930 e 1940
transitaram por vários "mundos políticos" e se utilizaram disto como ferramenta de
sobrevivência política. O episódio da exoneração do Banco do Brasil mostra a ação
159
de Estllac Leal, figura de destaque na política brasileira, tentando alertar Padilha
sobre possível investigação que já estaria em curso para demiti-lo do banco.
Munidos de tais documentações acreditamos ser esta uma passagem interessante
de sua trajetória, não só pelo fato de expor o furor "quinta colunista" de Padilha em
tentar evitar o esforço de guerra dos Aliados, como reforça a nossa hipótese de que
Padilha possuía uma rede de contatos importantes que foram essenciais para livrá-
lo de possíveis retaliações ao seu trabalho em favor do Eixo. Tal episódio não foi
suficiente para inibir o apoio de Padilha aos fascistas. Como em trabalhos
anteriores apresentados a partir de resultados da mesma pesquisa, o ex-integralista
foi reincidente em seu intento de auxiliar na formação de uma "Quinta Coluna" no
Brasil.

O Festival Internacional da Canção de 1972 – conflitos, disputas e inovação


musical - Ulisses Monteiro Coli Diogo (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho pretende analisar o Festival Internacional da Canção (FIC) em


suas especificidades. Como afirma o pesquisador Zuza Homem de Mello, o FIC de
1972 representou o fim de uma era de festivais, iniciada na década de 1960 e que
marcou e ajudou a definir o sentido do que se tornou a MPB. O festival em questão
foi marcado por confusões e a tentativa de impulsionar o modelo, que já
apresentava certo desgaste em relação a público e crítica. Neste evento, ainda
surgem diversos nomes que durante a década de 1970 irão almejar carreiras de
destaque no cenário artístico/musical do período, mas que por diversos motivos
não concomitantes ou sempre presentes, como baixa vendagem, comportamento
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transgressor, aproximação com elementos do rock e da contracultura e relação ruim


com público, mercado e crítica, tiveram carreiras não tão sólidas ou problemáticas.
Tais artistas foram rotulados como malditos e/ou marginais, e tiveram suas
carreiras permeadas por esta pecha. Por fim, o presente trabalho pretende relacionar
como este momento, onde os grandes festivais se encerram, relaciona-se com o
mercado de música, público e comportamento do período e também como os
artistas denominados malditos se posicionam em relação às condições vivenciadas.

O General Médici entre memória e história:escrever a biografia de líderes


autoritários? - Janaina Martins Cordeiro (Universidade Federal Fluminense)

O General Emílio Garrastazu Médici (Bagé, 1905 – Rio de Janeiro, 1985) tornou-
se o terceiro militar a presidir o Brasil depois do golpe de 1964. Assumiu o poder
em 1969 e o exerceu até 1974. Os anos do governo Médici são, não sem razão,
identificados como o período mais duro de toda a ditadura civil-militar. Neste
momento, o aparelho repressivo funcionava de maneira extremamente eficaz na
caça aos inimigos do regime, prendendo, torturando, matando, desaparecendo. Ao
mesmo tempo, sabe-se que este é o período do Milagre brasileiro, de grande
crescimento econômico, da construção de grandes obras, do triunfo da seleção
brasileira de futebol na Copa do Mundo do México, em 1970, dos slogans ufanistas
da propaganda oficial e da euforia nacionalista fruto desta conjuntura. Médici foi,
nesse momento, um presidente extremamente popular. A partir do fim de seu
mandato, no entanto, foi muito rapidamente, à medida em que o país caminhava
160
para redemocratização, relegado ao silêncio e ao ostracismo. A comunicação aqui
proposta pretende levantar algumas questões importantes para a compreensão dos
processos de construção de memória sobre a ditadura civil-militar brasileira
tomando como referência o estudo da biografia do General Emílio Garrastazu
Médici. Sua vida cobre boa parte do século XX, perpassando momentos
importantes da História nacional, sendo, sob muitos aspectos, representativa das
complexas relações estabelecidas entre militares e política ao longo da República
brasileira. De maneira mais ampla, o trabalho concentra-se em três aspectos
distintos porém complementares: 1) o estudo da biografia de um chefe político
como forma de compreender a sociedade que produziu tal liderança; 2) a memória
social construída em torno dessa figura; 3) as problemáticas que envolvem a escrita
biográfica de líderes autoritários. Em sentido similar ao que o historiador Ian
Kershaw propõe em sua biografia sobre Adolf Hitler, o estudo da trajetória de vida
do General Médici pretende ser, antes de tudo, uma investigação sobre o seu poder.
Nesse sentido, debruçar-se sobre a biografia de líderes autoritários deve contribuir
para compreender, mais que uma trajetória pessoal, o tipo de sociedade que
originou e sustentou aquele tipo de poder.

O golpe de 1964 e a repressão aos sindicatos e lideranças trabalhistas em


Parnaíba-PI - Francisco José Leandro Araújo de Castro (UFF)

O trabalho em questão pretende analisar os efeitos repressivos produzidos pelo


Inquérito Policial Militar aberto em 1964, a partir da nomeação dos trabalhadores
sindicalizados e lideranças políticas na cidade de Parnaíba-PI, como elementos
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"agitadores", “subversivos” e “comunistas”. Pretende-se evidenciar as


perseguições políticas como cassação de mandatos no legislativo e a repressão
sobre os grupos ligados ao trabalhismo petebista em Parnaíba, bem como aos
sindicatos urbanos. Evidenciando também a repressão às recentes experiências das
associações dos trabalhadores rurais, que começam a ganhar corpo no final dos
anos 1950, nos povoados ao redor da cidade de Parnaíba, que questionam a posse
de terra, a expulsão de camponeses da região, bem como as condições degradantes
de vida a que estão submetidos os trabalhadores rurais e urbanos. O trabalho em
questão, é parte da pesquisa de Doutorado, que desenvolvemos no Programa de
História da Universidade Federal Fluminense, sobre o contexto de experiência
liberal democrática (1945-1964) e sobre as culturas políticas oriundas desse quadro
histórico no espaço norte piauiense. Pretende-se ainda perceber como o golpe de
1964, adquire uma nuance local marcada pelo conservadorismo dos grupos
oligárquicos tradicionais contra as formas e propostas políticas emergentes nos
anos 1950 e 1960, como o trabalhismo, que encontrou grande viabilidade eleitoral,
em fins dos anos 1950, integrando grupos plurais da sociedade local, mas que
incomodou os setores oligárquicos, justamente por trazer para a legenda petebista
as figuras dos arrumadores, marítimos, estivadores, trabalhadores urbanos e rurais
os mais diversos. O golpe, portanto, adquire um caráter político-partidário a nosso
ver, ao buscar inviabilizar um projeto político ligado às massas de trabalhadores e
a grupos políticos não tradicionais, caracterizados genericamente como
“comunistas”, pois pretendiam instaurar uma “ditadura síndico comunista” no
Brasil, junto ao presidente João Goulart, segundo o IPM. Esta narrativa vai ser
161
coerente com a lógica dos grupos conservadores brasileiros, que por meio de uma
longa tradição anticomunista, junto a setores do exército, derrubam um regime
democrático. Usamos, portanto, o IPM, instaurado em 1964 e jornais de circulação
local – tais como Gazeta do Piauí, O Paladino, Jornal do Piauí, etc. – que falam
sobre as batidas policiais nos sindicatos, na Estrada de Ferro Central do Piauí, nas
residências dos trabalhadores, etc. no sentido de perceber as nuances políticas
envolvidas no quadro histórico do golpe de 1964 em um âmbito local. O trabalho
é relevante pelo seu pioneirismo na cidade, bem como por apontar questões
relegadas ao esquecimento ao longo do tempo, pela memória política parnaibana.

O refúgio latino-americano no Brasil: contexto e possibilidades em tempos de


transição - Bárbara Geromel Campanholo (Universidade Federal Fluminense)

Na América Latina, o século XX ficou marcado pela experiência autoritária. Desde


a década de 1950, com a chegada de Alfredo Stroessner ao poder no Paraguai, o
continente assistiu ao desfecho de uma sequência de golpes e à ascensão de
ditaduras. Em 1964 era a vez do Brasil. A década de 1970 se caracterizou pela
derrocada em cadeia de regimes democráticos: Uruguai, em junho de 1973; Chile,
em setembro do mesmo ano; e Argentina, em março de 1976. Os novos governos
não se furtaram ao uso da violência para eliminarem seus opositores e se
consolidarem no poder. A realidade imposta pela sua institucionalização,
configurando uma situação de terrorismo de Estado praticado contra a sociedade,
gerou uma atmosfera de constante e crescente insegurança onde fugir, deixando
para trás a terra natal, projetos e militância, tornou-se um meio de garantir a
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sobrevivência. É nesse contexto que muitos exilados/refugiados chegam ao Brasil,


em um fluxo que se intensificaria sobremaneira a partir de 1976. A chegada dos
exilados latino-americanos coincide com o movimento de partida de muitos
brasileiros aos caminhos do exílio. Além disso, o país compartilhava o status quo
de seus vizinhos do Cone Sul e integrava a rede de repressão colaborativa
materializada pela Operação Condor. Nesse sentido, qualquer atitude com vistas
ao tratamento da questão imposta pela presença dos grupos estrangeiros exigia
cautela. É para este momento de tomada de decisões e estabelecimento de
estratégias para lidar com a realidade imposta pela presença dos refugiados no país
que se volta o esforço analítico do presente trabalho. Compreender o contexto e as
possibilidades desse refúgio, principal objetivo desta exposição, implica analisar o
momento particular de uma ditadura que dava passos em sua transição para a
democracia, a legislação brasileira para o tema e, sobretudo, a recepção e discussão
da problemática nas esferas do governo e as resoluções daí advindas.

Os bons companheiros: tensão e colaboração no interior do governo de Arthur


Cezar Ferreira Reis (1964-1967) - Vinicius Alves do Amaral (SEEDUC/RJ)

O historiador Arthur Cezar Ferreira Reis foi o primeiro governador indicado para
comandar o Estado do Amazonas após o Golpe Civil Militar de 1964. As poucas
narrativas sobre seu mandato atribuem a ele total crédito à série de mudanças
implantadas na região, tanto para o bem quanto para o mal. O propósito do presente
trabalho é problematizar esse discurso identificando seus principais colaboradores
162
civis e militares, analisando o papel que cada um desempenhou durante seus quatro
anos de governo. Tal empreitada pode iluminar muitos aspectos da constituição do
regime autoritário no Amazonas, como a articulação entre os interesses regionais e
as diretrizes da cúpula militar.

Os Lugares do Discurso na Memória: uma análise comparada da inserção de


testemunhos nos relatórios das Comissões da Verdade da Argentina, Paraguai
e Brasil. - Cecília Riquino Heredia (Universidade de São Paulo)

Os relatos acerca das violações cometidas ao longo das ditaduras militares latino-
americanas, ocorridas a partir da segunda metade do século XX, causaram e ainda
causam grande impacto na construção da memória acerca deste período, sobretudo
nos próprios países que foram palco de regimes autoritários. Estas narrativas
envolvendo sequestros, prática de tortura e desaparecimento, apesar de em comum
possuírem as vítimas ou seus familiares como principais porta-vozes, diferenciam-
se pela pluralidade de suportes e objetivos com os quais são realizadas, dentre os
quais destaca-se os testemunhos realizados a Comissões da Verdade, depoimentos
concedidos durante processos jurídicos, entrevistas a periódicos, cartas de
denúncias à comunidade internacional e obras pertencentes à literatura de
testemunhos. Dentro deste quadro, esta apresentação tem como objetivo mapear o
lugar do testemunho na produção dos relatórios finais das Comissões da Verdade
instauradas na Argentina, Paraguai e Brasil, identificando operações relacionadas
ao campo da memória presentes na implantação e desenvolvimentos das citadas
Comissões. A escolha, por sua vez, destas três experiências específicas relaciona-
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se à hipótese de elas se configurarem em exemplos paradigmáticos de diferentes


contextos de transição observados na América Latina, conferindo à busca pela
verdade, empreendida em cada um destes países, especificidades na maneira como
se relaciona com os outros ramos da justiça de transição (justiça, memória,
reparação e reformas institucionais). Em contrapartida, pretende-se, no presente
trabalho, analisar um importante paralelo observado nas três experiências em
questão, que seria a constante influência das disputas, no campo da memória,
presentes tanto na gênese das Comissões quanto na conclusão das mesmas. Estas
disputas seriam originadas, por sua vez, a partir do tensionamento entre uma
incipiente – ou ausente – memória nacional acerca das ditaduras militares; a
memória hegemônica, forjada pelas elites políticas que se encontravam no poder
durante a transição tendo por objetivo a conciliação; uma grande pluralidade de
memórias coletivas, construídas tanto pelas vítimas diretas/indiretas da ditadura
quanto pelos seus agentes; e, por fim, as memórias individuais, trazidas com a
subjetividade do testemunho, principal substrato narrativo no qual se pautaram as
conclusões das Comissões.

Os militares e a opinião pública - entre a crítica e a prática (1964-


1979) - Raphael Oliveira da Silva (Universidade Federal Fluminense)

Esta pesquisa tem como objetivo compreender os mecanismos da ditadura civil-


militar brasileira (1964-1985) para propagar, restringir informações e criar uma
opinião pública. Tal processo gerou, em sua contemporaneidade e a posteriori, um
163
desconhecimento de atos praticados pelo governo que violaram as liberdades e
direitos individuais. De acordo com pesquisa, elaborada pelo IBOPE e enviada a
Presidência da República, 76% dos 600 entrevistados no Rio e em São Paulo, os
dois maiores centros urbanos do país, desconheciam o que era Ato Institucional nº
5 (AI-5) em 1975, ou seja, sete anos depois de ser decretado. A ignorância sobre
uma legislação que trazia uma série de violações aos direitos humanos não foi uma
escolha da sociedade civil brasileira. Ela faz parte de um processo que alia
diferentes setores e órgãos governamentais, sem necessariamente vínculos
institucionais ou um projeto conjunto. Ainda assim, seu resultado é tão consolidado
que perpassa os próprios anos do regime chegando até os dias atuais. Neste objeto,
foi destrinchado que há pelo menos três esferas que mantém este processo de
desinformação: uma propaganda patriota que se negava como tal e dizia ser um
serviço cívico, uma censura com práticas divergentes de acordo com o veículo a
ser analisado e um projeto de integração nacional que modificou não só a técnica,
mas também o conteúdo a ser transmitido para todo o país através da difusão da
televisão. Estas áreas serão analisadas através de uma discussão historiográfica e
também por pesquisa de fontes que possam contribuir com o debate tendo como
principal indagação a forma como esta sociedade, majoritariamente, desconhecia
atos da ditadura que eram vistos como negativos para o regime. A partir disto, a
questão da formação da opinião pública será discutida. A concepção de que existe
uma opinião pública diverge historiadores e pesquisadores das Humanidades.
Neste trabalho, trabalha-se com a ideia de Pierre Bourdieu de que não existe uma
opinião pública e sua crítica as sondagens porém apresenta-se a visão dos próprios
militares sobre o tema. Com rubricas orçamentárias fixas, a busca pela (construção
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da) opinião pública foi uma das metas dos governos militares ao fazer sondagens
periódicas e mudanças de gestão após seus resultados. O interessante é que estes
mesmos governos, publicamente, reafirmavam que não trabalhavam pautados na
opinião pública. Essa dualidade de discurso somada com a ideia de construção de
uma narrativa que enaltece os militares e permanece até hoje é o objeto a ser
discutido neste trabalho.

Os valores tradicionais da nova mulher ariana: O lugar da mulher alemã no


Terceiro Reich - Yasmin Trindade Machado (Universidade Federal Fluminense)

Em 1933, o nazismo chega ao poder na Alemanha, com promessas de criação de


um “novo homem”. A identidade deste novo homem nazista traz consigo também
implicações acerca do papel feminino no Reich. O ideal da mulher nazista vai
sendo construído de forma articulada com medidas pró-natalistas e a construção da
ideia da “mãe do Volk”. Partindo de um estudo da ascensão do conservadorismo
na Alemanha do século XIX e das mudanças e permanências que sofre até os anos
da Alemanha nazista, procurou-se estabelecer em que medida figura da “nova
mulher” nazista é uma mulher tradicionalmente conservadora. Buscou-se, de forma
semelhante, entender o que há de novo no ideal feminino do nazismo. A partir da
análise de artigos e imagens da revista nazista NS- Frauen Warte, dedicada ao
público feminino, pôde-se observar o uso de linguagem que articula e associa ideias
tradicionalmente conservadoras à “verdadeira libertação” da mulher alemã. Este
trabalho foi produzido como trabalho monográfico de conclusão de curso, tratando-
164
se de uma temática a que procuro também me dedicar ao curso de meu mestrado.

Os “Guardiões da História”: a atuação política e intelectual do IHGB durante


a ditadura (1964-1985) - Fernanda Coelho Mendes (UFRJ)

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), com sede no Rio de Janeiro,


comemora em outubro deste ano seu 180º aniversário, constituindo-se em uma das
instituições intelectuais mais antigas do país. Ao longo deste período, o IHGB
conviveu com diferentes regimes políticos, desde o Império até a recente
redemocratização, interagindo de variadas formas com os grupos no poder. Desde
o golpe civil-militar de 1964 até o fim da ditadura, em 1985, os intelectuais do
IHGB mantiveram uma postura favorável e de proximidade com o governo,
elegendo os presidentes militares como Presidentes Honorários do Instituto,
organizando eventos e festividades de datas comemorativas do calendário nacional
em parceria com o governo e com o Exército, recebendo políticos e militares que
ocupavam cargos importantes na ditadura em suas instalações e publicando artigos
na imprensa em defesa do regime. Tendo como fonte principal os exemplares da
Revista do IHGB, este trabalho, ainda em fase inicial, se propõe a analisar a atuação
política e intelectual do Instituto durante o período autoritário de 1964 a 1985, com
o objetivo de aprofundar as questões sobre sociedade, intelectuais e regime militar
e compreender como o Instituto colaborou para a legitimação da ditadura no Brasil.

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Petebismo Fluminense - Andressa Cristina de Miranda do Carmo (UFF)

O presente trabalho tem por objetivo analisar as disputas e as alianças políticas


petebistas no estado do Rio, entre os anos de 1962-1964; e discutir os
desdobramentos do golpe civil-militar de 1964, em Niterói, utilizando como
principais fontes de pesquisa: imprensa e fontes orais. Entre 1946-1964, instaurou-
se efetivamente no Brasil um regime de democracia representativa, no qual as
cidadãs e os cidadãos brasileiros obtiveram acesso aos seus direitos políticos e
puderam exercitar seus direitos civis, a partir da promulgação da Constituição de
1946. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi o partido que mais cresceu
eleitoralmente, durante esse período, principalmente devido ao seu projeto político
partidário, o qual visava prioritariamente às questões trabalhistas e sociais,
capitalizando, assim, o apoio da classe trabalhadora. O antigo estado do Rio de
Janeiro, sobretudo sua capital Niterói, foi um importante reduto político petebista,
isso se devia as organizações sindicais, já que, entre a década de 1950 até o golpe
civil-militar de 1964, foram grupos de grande articulação política e mobilizatória
no estado do Rio. No entanto, com a deflagração do golpe, sua autonomia e suas
principais conquistas foram suprimidas pelo novo governo golpista que agiu de
forma autoritária e violenta com os sindicalistas por todo o Brasil. Na capital
fluminense, o estádio Caio Martins chegou a ser transformado em uma prisão
política, abrigando presos, de vários municípios fluminenses, acusados de
subversão. Em abril de 1964, o governador petebista Badger da Silveira – eleito
em 1962, após a morte trágica do irmão Roberto da Silveira – foi preso no Palácio
165
do Ingá (antiga sede do governo fluminense) por um grupo apoiador da
“Revolução”, autointitulado “Comando Revolucionário Civil do Estado do Rio de
Janeiro”, chefiado pelo tabelião Antônio Schueler que, por sua vez, autonomeou-
se interventor do estado do Rio. Essa “interventoria” durou menos de 24 horas, já
que, Badger foi solto e retornou às suas atividades no Palácio do Ingá. Durante sua
curtíssima permanência no governo após o golpe, Badger dialogou com as forças
golpistas, ao mesmo tempo em que sofreu forte pressão de grupos civis e de
parlamentares que exigiam a sua saída, pois o acusavam de ser comunista. Só após
o governador contrariar as ordens do novo Comandante da 1ª Infantaria
Divisionária, General Manuel Rodrigues Lisboa, que o seu impeachment foi
aprovado na Assembleia Legislativa Fluminense, em maio de 1964. Badger foi o
último governador fluminense democraticamente eleito, vide a efetivação da fusão
do estado do Rio com o estado da Guanabara, em 1975.

Reforma e repressão: a atuação de Wilson Choeri na Universidade do Estado


do Rio de Janeiro (UERJ) - Leonardo Faria Cazes (UFF)

O presente trabalho apresenta e analisa a trajetória do professor Wilson Choeri na


Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) entre as décadas de 1960 e 1970.
Neste período, que abrange a ditadura civil-militar brasileira, Choeri teve papel
fundamental no processo de reforma pela qual passou a universidade, tendo
ocupado altos cargos na burocracia universitária. Por sua posição na hierarquia da
instituição e também por laços pessoais construídos ao longo de sua vida, o
professor manteve um relacionamento próximo ao aparato repressivo do regime
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instaurado a partir de 1964. Choeri ocupou, em sequência, a partir de 1962, os


cargos de diretor do Departamento Cultural, Secretário-Geral, Sub-Reitor de
Assuntos de Planejamento e Coordenação Executiva e, por fim, vice-reitor, em
1976. Foi destes lugares que ele se envolveu com os debates internos acerca da
reorganização da instituição e, também, externos, mantendo um diálogo com as
discussões nacionais e internacionais, particularmente com os militares da Escola
de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Além de participar das
formulações da reforma universitária, Choeri foi responsável por efetivá-la na
UERJ, sendo a construção do campus do Maracanã, obra da qual o professor esteve
à frente, o principal marco da reorganização da universidade. No que tange à
repressão política, Choeri foi ele próprio alvo dos órgãos de informação e, também,
atuou como “mediador” entre o aparato repressivo estatal e o corpo docente da
UERJ, tendo ocupado um lugar ambivalente ao abrir investigações contra colegas
e, ao mesmo tempo, agir para preservá-los. Isso só foi possível porque, na própria
estrutura do aparato repressivo, a universidade ocupava uma posição particular:
sendo uma autarquia estadual, o alcance do Serviço Nacional de Informações (SNI)
era significativamente menor, como será demonstrado no trabalho.

Sangrando História: Maus e uma narrativa do holocausto a


contrapelo - Danilo Nagib Queiroz de Mattos (UFF - Campos dos Goytacazes)

Toda manifestação artística é uma fonte histórica. Partido desta ideia, estamos
propondo neste trabalho uma análise historiográfica a partir da história em
166
quadrinhos Maus: A história de um sobrevivente. Esta produção de Art
Spiegelman, além de sua grande relevância no meio dos quadrinhos alternativos
dos EUA do pós-underground, tem como epicentro contar a história de Vladek
Spiegelman, pai de Art, judeu sobrevivente de Auschwitz. Maus se conta a partir
das entrevistas de Art com seu pai, em uma mistura de ficção e não-ficção. O
primeiro elemento fica às custas dos personagens antropomorfizados, estratégia
clássica dos quadrinhos. O segundo, pelo conteúdo autobiográfico, metalinguístico
e histórico. Seguindo estas ideias, este artigo se centra em identificar a relevância
deste quadrinho acerca do polêmico tema do holocausto. Além disso, nos
atentamos em como o relato deste sobrevivente se mostra como um fragmento
único para reconstrução deste momento crítico da história contemporânea, a partir
da perspectiva do oprimido, suas tradições e sutis formas de resistência. Para tal,
foi necessário também analisarmos a obra através das metáforas e dos símbolos
utilizados por Art Spiegelman, entendendo que eles traduzem, de forma densa,
porém lúdica, a tática fascista de estereotipação e desumanização do “outro”,
tornando possível uma assimilação profunda de tal problemática por parte do leitor
de Maus. Para esse trabalho, Walter Benjamin foi bastante utilizado em vista de
seu conceito da História a contrapelo o que é diretamente ligado à seu cuidadoso
tratamento acerca da memória dos vencidos. Com isso, tivemos como objetivo
principal, trazer a tona uma tradição que está distante daquela que é dia-a-dia
recontada pelos vencedores neste processo histórico. Também buscamos
aproximar este trabalho da "microhistória", uma vez que Vladek e Art são pequenos
retalhos nesse imenso tecido social e, exatamente por isso, eles nos mostram

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detalhes de tamanha profundeza deste momento histórico, que seriam impossíveis


de acessar a partir da pura visão do "macro".

Sobre lembrar Marc Bloch na França: lugares de memória e a síndrome de


Vichy (1945-2015) - Jougi Guimarães Yamashita (UFRRJ)

Dentre os debates historiográficos mais controversos no contexto francês pós-


Segunda Guerra Mundial, a França de Vichy é um dos destaques. Entre tabus,
constrangimentos e um certo comportamento “obsessivo”, a experiência
colaboracionista sempre mobilizou esforços acadêmicos bastante peculiares. A
busca pela pacificação/domesticação narrativa dos eventos ligados à participação
francesa na guerra acabou por gerar, em diversos contextos, a busca pela criação
de espaços de memória e a valorização de heróis que de certa forma legitimassem
esse discurso almejado. A proposta do trabalho é a de analisar os lugares de
memória construídos em homenagem ao historiador Marc Bloch, morto em 1944
nesse problemático contexto. O crescimento de menções ao seu nome a partir de
determinados momentos, a persistência em lembrar de sua figura por membros dos
mais distintos espectros políticos – ainda hoje –, e a luta de seus familiares por uma
lembrança “legítima” do intelectual serão os aspectos abordados a fim de
problematizar essa dificuldade dos franceses em lidar com a colaboração.

167

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ST 15. Entre caminhos, trajetórias,
vilas e cidades: Políticas e tramas de
ocupação e representação das
conquistas e territórios portugueses
no ultramar.

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A cidade do Rio de Janeiro vista pelas lentes de sua Alfândega (XVII-


XVIII) - Helena de Cassia Trindade de Sá (UNIRIO)

A proposta deste trabalho é mostrar a evolução econômica da cidade do Rio de


Janeiro, desde sua inserção no mercado atlântico, quando ainda era uma pequena
vila rural, até se transformar em uma das principais praças mercantis do Império
português. Para tal utilizar-se-á como lente de observação a Alfândega do Rio de
Janeiro em dois períodos distintos: a primeira metade do século XVII, durante o
governo filipino, no alvorecer do sistema colonial, com a imposição do exclusivo
metropolitano e a segunda do XVIII, já no reinado de D. José I e seu secretário, o
futuro Marques de Pombal, e de D. Maria I, quando se dá o inicio a crise do Antigo
Regime. A Alfândega era uma das principais instituições da Coroa, responsável
pela cobrança das mercadorias que entravam e saiam dos portos e ainda pelo
controle do contrabando que sempre pairou na costa brasileira. Assim, a aduana
fluminense acompanhou o crescimento da cidade, buscando se adequar ao
incremento da movimentação comercial e aos novos ares vividos tanto na colônia
americana lusa, quanto na metrópole.

A Formação da Cidade do Rio de Janeiro na Criação da Freguesia Rural de


Irajá - 1644/47 - Maria Celeste Ferreira (SME/RJ e SEEDUC/RJ)

O nome da cidade e do município é Rio de Janeiro, fato que merece atenção, seja
no senso comum ou no mundo acadêmico, pois esta forma físico-geográfica
169
deveria reafirma-se como objeto de preciosa atenção e estudo, não obstante essa
importância em geral é redimensionada para o mar. A importância turística e a
construção histórica , que adquiriu os “bairros atlânticos”, consolidados na primeira
metade do século XX, confirmam uma intensa valoração dos bairros banhados pelo
Oceano Atlântico, fora da baía de Guanabara. A historiografia oficial consagrou
espaços geográficos fora da baía de Guanabara, em detrimento de um “palco
histórico” chamado de Recôncavo da Guanabara e de territórios ao fundo da baía
de Guanabara de grande relevância social, política e econômica nos séculos XVI,
XVII e XVIII. . O artigo chama atenção para a necessidade de uma
desnaturalização de qualquer processo de valorização espacial, em si, e serve de
alerta para as escolhas feitas em sociedade, isto é, para a construção coletiva dessa
cidade ao longo do tempo. É certo que, como diz o dito popular : “todos os rios
correm para o mar”, e no caso do “Rio”, ironicamente correm também os olhares e
os investimentos (históricos e patrimoniais) para a costa atlântica, esquecendo-se
dos rios ao fundo da baía de Guanabara. Os caminhos fluviais são fundamentais
para entender a história da cidade. Fatos lembrados por vários autores como
Maurício de Abreu, Fânia Fridman, Carlos Lessa, Nelson da Nóbrega Fernandes,
entre outros, que destacam a morfologia estratégica da baía de Guanabara e seus
inúmeros rios que nela deságuam como caminhos viáveis de expansão e
desenvolvimento da colonização portuguesa, além de enfatizarem as
transformações na formação da cidade carioca, parte de uma vasta área do
município do Rio de Janeiro ao longo de sua história. O rio Irajá juntamente com
o rio Meriti , entre outros, próximos a localização da primeira freguesia rural do
Rio de Janeiro, e alguns portos fluviais da época colonial relacionam-se com a
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criação da paróquia e matriz de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá – 1644/47


- conservando em sua história, centralidades e sociabilidades que devem ser
ampliadas em novas pesquisas acadêmicas.

Arraial de São Luiz e Sant´Ána das Minas de Paracatu: A configuração do


espaço urbano e o fortalecimento local e regiobal - Giselda Shirley da
Silva (Universidade De Brasilia e Universidade de Évora)

O estudo apresenta como objeto a configuração do espaço urbano do Arraial que


deu origem a Paracatu do Príncipe no período colonial. Localizada no noroeste de
Minas, seu surgimento está ligado a descoberta do ouro no sertão das Minas Gerais
e a exploração desse minério no período colonial, exercendo grande influência na
ocupação do território. Buscou-se perceber a modalidade de povoamento,
formação do Arraial, posse e uso da zona mineradora e a instalação do poder civil
local. O estudo foi realizado em um viés qualitativo com pesquisa documental
realizada no acervo do Arquivo Público Michael Olímpio Gonzaga em Paracatu e
no Arquivo Publico Mineiro. A fundamentação teórica foi redigida a partir dos
referenciais da História Cultural e com o diálogo com outras áreas do saber.
Procurou-se perceber os sentido possíveis atribuídos a História e memória,
contribuindo para a escrita da história local e regional.

As trajetórias de Francisco de Sousa Guerra Araújo Godinho e Paulo


Fernandes Viana: coesão entre magistrados, associações comerciais ou
170
amizade? - Nara Maria de Paula Tinoco (UFRRJ)

A presente comunicação tempo por objetivo analisar a trajetória conjunta de dois


magistrados entre o final do século XVIII e a primeira década do século XIX.
Ambas, as carreiras de Francisco Godinho e Paulo Fernandes Viana, naturais da
América Portuguesa, começam a se entrelaçar durante suas nomeações,
respectivamente, como Ouvidor e Intendente do Ouro na Comarca do Sabará, entre
1790 a 1799. No ano de 1798, após algumas denúncias de atividades ilícitas na
localidade são nomeados a desembargadores do Tribunal da Relação do Rio de
Janeiro, ou seja, suas ações comprovadas ou não pelo Conselho Ultramarino não
influenciaram na progressão de suas carreiras. Durante os anos de 1800 a 1813,
observamos diversas relações entre eles, desde a indicação de Francisco Godinho
por Paulo Fernandes Viana para efetuar em seu lugar a residência do Governador
de Angola a compra em sociedade de um engenho na Capitania do Rio de Janeiro.
Inclusive, observamos um parecer favorável efetuado por Fernandes Viana quanto
a solicitação de um primo de Francisco Godinho para que se retirasse ao Reino. A
influência de Paulo Fernandes Viana na trajetória de Francisco Godinho é nítida
nas documentações analisadas, pois, até no ato de sua morte, em 1813, está anexada
no processo de inventário uma carta precatória endereçada para Mariana quanto ao
envio dos bens do falecido para o local. Assim, pretendemos entender até que ponto
suas atividades conjuntas e as consequências de suas decisões em prol de cada um
foram resultado de um processo de coesão entre magistrados, associações
comerciais ou somente amizade.

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Cartas de liberdade passadas na Aldeya de São Jozê de Mosamedes - Igor


Fernandes de Alencar (PPGH/UFG)

Nossa pesquisa tem-se arrolado sobre as estratégias de liberdade desempenhadas


por sujeitos escravizados no início do século XIX, no Sertão do Guayazes. As fugas
e revoltas, importantes dentre as dinâmicas de resistência, têm tido acentuada
lembrança por parte dos pesquisadores que se enveredam nos estudos sobre
escravidão nas Américas. Em nossa empreitada, nos dispomos em analisar as
Cartas de Liberdade passadas no Cartório do 1º Ofício de Registro Geral de
Imóveis e Tabelionato de Villa Boa, a primeira capital do atual estado de Goiás. O
processo de povoamento colonial do território goiano, é iniciado ainda no século
XVIII, em função da mineração. As alforrias, comumente descritas na
documentação como cartas de liberdade, formalizava um acordo selado no âmbito
particular, entre senhor e escravizado. Grande parte dos documentos manuseados,
correspondem a circunscrição de Villa boa, mas, também temos nos deparado com
cartas registradas em outras localidades suburbanas e mesmo rurais, coadunando
com a assertiva de que as alforrias não se restringiram aos centros urbanos. Dentre
outras espacialidade contidas nas fontes em análise, encontramos cartas de
liberdade que subscreviam a aldeia São José de Mossâmedes. Este foi um
aldeamento, que iniciou-se com os Akroâ, em 1775, e serviu posteriormente de
modelo e suporte na criação de outros aldeamentos. Consequentemente outras
diversas nações para ali também foram deslocadas. Imerso ao processo de expansão
colonial sobre outros territórios nas Américas, muitas outras formações étnicas
171
nativas foram extintas. Pela persistência algumas se mantiveram, enquanto outras
se reinventaram. Envolta da engenhosa expansão e manutenção do poder colonial,
os aldeamentos se consolidaram enquanto instituições essenciais. A exemplo do
aldeamento de São José de Mossâmedes, como o Maria I, serviram no arrimo de
Villa Boa no combate aos Kayapó, bem como na proteção de estradas que serviam
de passagem de impostos destinados ao reino. Não menos importante, resguardava
sobre os aldeamentos a função de manter os aldeados produtivos, civilizados na fé
cristã. Guardando as devidas proporções quanto ao poder do empreendimento
colonial sobre a idealização dos aldeamentos e suas dinâmicas, estes espaços se
convencionaram enquanto locais de multo intercâmbio. Inter-fluxos culturais
dentre um mesmo território, com práticas territoriais diversas. Nesta mesma
jurisdição, habitado por sujeitos de distintas “qualidades”, que se
reterritorializavam no fluxo contínuo das frágeis fronteiras na convergente zona de
lugar de intersecção.

Devoção e Conquista no Além-mar Português: a construção da fortaleza de


São Jorge da Mina no reinado de D. João II - Ieda Avenia de Mello (UFF)

A devoção a São Jorge é presente na monarquia lusitana desde a Reconquista. Com


a ascensão da Dinastia Avis este santo converte-se em seu panteão. D. João II, em
1482, leva São Jorge ao além-mar nomeando a primeira fortaleza portuguesa na
costa ocidental da África sob seu signo e proteção. Em 1486, São Jorge da Mina
recebe carta de foral, o que contribui para que as populações locais se coloquem ao
serviço da feitoria, auxiliando os portugueses no comércio, nas incursões no
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interior e na luta contra a pirataria. Além disso, a Mina torna-se o principal


estabelecimento português em África, por meio da qual se escoa a produção
aurífera. E, posteriormente, torna-se o primeiro entreposto de escravos da era
Moderna. Nesse sentido, propõe-se analisar o papel da construção desta fortaleza
no contexto da política ultramarina joanina, bem como seu papel seu simbólico na
expansão portuguesa.

Dinâmica e prática governativa: a comunicação política entre Governo-Geral


e a Câmara de Pernambuco (1663-1675) - Michelle Samuel da Silva (UERJ)

A proposta do trabalho visa analisar a comunicação política entre o Governo-Geral


e a Câmara de Pernambuco na segunda metade do século XVII. Pretende-se
identificar a dinâmica política dessas duas instâncias de poder – do Governo-Geral
com a Câmara – no contexto posterior a Restauração Bragantina. Procuramos por
meio das correspondências trocadas entre esses poderes identificar a atuação do
governador-geral para manter a governabilidade no Estado do Brasil, contexto este,
em que a coroa necessitava criar mecanismos para retomar a administração no
ultramar. Nas últimas décadas, as Câmaras Municipais tornaram-se um tema
fundamental para pensar o processo de centralização política e administrativa das
monarquias do Antigo Regime. A Câmara Municipal tinha funções político-
administrativas, judiciais, fazendárias e de polícia. Dentre as várias instituições
portuguesas transplantadas para o ultramar, a municipalidade colonial regia-se
pelas mesmas leis metropolitanas – as Ordenações – que regulamentaram
172
legalmente os concelhos em seu funcionamento no Reino. Nesse sentido, o trabalho
tem como proposta analisar as relações políticas exercidas pelo Governo-Geral –
sendo este um representante do monarca no ultramar – e a Câmara, com o objetivo
de identificar as questões, conflitos e seus interesses.

Fingindo que representam o bem comum: relações sociais e poderes invisíveis


nos caminhos do sertão - Marcos Guimarães Sanches (UNIRIO)

O título apropria uma afirmativa do Governador Gomes Freire de Andrada ao


avaliar junto ao Rei a disputa entre interesses de grupos vinculados as Freguesias
do Pilar e da Estrela, ambos em caminhos que levavam as minas no início do século
XVIII. No início do século XVIII, o interior da Capitania do Rio de Janeiro foi
desbravado por vias de comunicação que interligavam a capitania fluminense as
recém-descobertas áreas mineradoras, nelas se constituíram localidades integradas
aos novos circuitos econômicos. A constituição do espaço, resultante do complexo
das relações sociais deram vida a diversas localidades, que mesmo quando sem
desfrutar de status administrativos específicos, por exemplo, como Vilas, tiveram
papel relevante no processo de conquista e colonização A comunicação analisa as
relações entre indivíduos e grupos com interesses ou auto definidos como
“moradores” das Freguesias do Pilar do Iguassu e Piedade da Estrela, ambas pontos
de partida de caminhos para as minas, nas primeira décadas do século XIII, no
apogeu da exploração mineradora. Os conflitos são conhecidos, assim como a
documentação utilizada, mas se pretende pensar o processo no contexto da política
metropolitana de controle e extração sobre a colônia ao qual se juntava um amplo
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conjunto de interesses dos diversos grupos sociais e suas respectivas atividades


econômicas em permanente disputa, produzindo uma dinâmica na qual interagiam
as resistências ao controle colonial e, ao mesmo tempo, o seu reforço como possível
instrumento de apoio a determinados interesses privados. As localidades,
reconhecidas como Freguesias na última década do século XVII, mas de pequena
expressão urbanística, pois só foram eretas Vilas na década de 1840, estavam “as
margens do poder visível”, na expressão de António Manuel Hespanha, pois
mesmo sem status administrativo, interagiam por seus sujeitos num processo
dialético na regência da governação da conquista.

Ideias para a urbanização: as práticas de defesa propostas em documentos


régios e o estudo de plantas de fortificação do Rio de Janeiro (1700-
1750) - Luiza Nascimento de Oliveira da Silva (UFRJ)

Para o estudo das ideias que integram uma série de documentos oficiais da corte
portuguesa, do Arquivo Histórico Ultramarino (cartas, pareceres e ofícios), acerca
da defesa da cidade do Rio de Janeiro, propomos reflexão a partir da teoria da
ciência da arquitetura militar de dois tratados escritos em língua portuguesa, da
primeira metade do século XVIII, quais sejam, "Exame Militar" (1703) e "Tratado
da Arquitetônica, ou Arquitetura Militar, ou Fortificação das Praças" (ca. 1705) .
O que denominamos de uma cultura política de defesa ajudou a forjar a urbanização
da dita cidade, fato que pode ser observado no modo como os parâmetros
defensivos foram ensinados. Através das experiências vitruviana e celestial
173
ensinadas pelos tratadistas, a compreensão dos aspectos do processo de
urbanização e a interpretação do território são factíveis. A confecção das plantas
de fortificação nos permite questionar intenções, estamos nos referindo às
interpretações do desenho. Os agentes envolvidos nas decisões em relação à defesa
do território, engendravam estratégias políticas que podem ser identificadas no
estudo conjunto da documentação ultramarina e dos textos da ciência de defesa.
Plantas de fortificação das fortalezas da entrada da barra do Rio de Janeiro
(Fortalezas de Santa Cruz, da Lage e de São João) e o processo de urbanização dos
domínios portugueses, em especial a cidade do Rio de Janeiro, na primeira metade
do século XVIII, serão cotejados na medida em que, havia a proposta de um sistema
de defesa mútuo, como mostram os tiros conexos entre as ditas edificações no
"Plano da situação das três principais fortalezas" (ca. 1764).

O caminho das pedras, as águas boas e os novos portugueses - Renata Klautau


Malcher de Araujo (Universidade do Algarve)

Na Relação Sumaria das Cousas do Maranhão (1624), Simão Estácio da Silveira


identifica o rio Itapecuru como um dos “cinco rios caudalosos” que desaguam na
baía de São Luís, acerca dos quais dizia que “em todos e cada um destes se pode
fundar um reino opulentíssimo”. O Itapecuru foi dos primeiros que se procurou
ocupar. Ali se fez uma fortaleza, à sombra da qual instalaram-se vários engenhos
de açúcar. Era uma das áreas mais produtivas da capitania. Chegou-se mesmo a
pensar transferir a capital do Estado do Maranhão para o rio Itapecuru,
determinando-se fundar ali uma nova vila em sítio tipo por inexpugnável. Mas nem
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a capital mudou de lugar, nem se fez a vila. A partir da segunda metade do século
XVII todo um conjunto de dificuldades, em especial a feroz resistência indígena,
tornou inviável a continuidade da ocupação do vale. Os moradores reivindicaram
que se fizesse uma nova vila na costa, onde estariam mais seguros, e assim de se
fundou, em 1687, a vila de Icatu. Também aqui levantou-se uma série de problemas
e a nova vila mudou a sua localização mais de uma vez. No entanto, coincidindo
com a cronologia da criação da vila de Icatu, assiste-se, entre os anos finais do
século XVII e os primeiros do século XVIII, uma mudança no modo de pensar a
ocupação do sertões do Maranhão, em que aos engenhos se vão somando (ou vão
sendo substituídos por) fazendas de gado. Na literal confluência destes processos,
volta a surgir como elemento importante o rio Itapecuru, que se estabelece como
eixo de condução das manadas que transitavam entre o Maranhão e o Brasil. De rio
da guerra, o Itapecuru passa a rio do gado e volta a povoar-se. Na segunda metade
do século XVIII os moradores voltam a reivindicar a fundação de uma vila no rio.
Nessa ocasião, o governador do Estado do Grão Pará e Maranhão, Francisco Xavier
de Mendonça Furtado, empenhou-se para que a nova vila do Itapecuru finalmente
se fundasse. O governador tinha projetos especiais para esta vila, que partilhou com
o irmão Sebastião José de Carvalho e Melo. Na língua Tupi, Itapecuru significa
“caminho das pedras” e Icatu “águas boas”. A intenção da comunicação é tomar o
exemplo destas vilas para refletir acerca dos processos de criação de novas vilas no
Maranhão e, por extensão, no Brasil. Importa ter em conta não apenas o conjunto
de dificuldades que tais projetos necessariamente envolvem, mas sobretudo as
expectativas que a criação urbana em si engendra.
174
Ocupação e instalação do poder eclesiástico na Paracatu setecentista:
Instituição das Igrejas e Irmandades - Vandeir José da Silva (Universidade de
Évora)

Este trabalho teve por finalidade investigar o processo de ocupação e instalação do


poder eclesiástico na Paracatu do século XVIII e a relação com as irmandades
religiosasas e como estas foram se isntituindo neste território. O objetivo da
pesquisa foi contribuir com dados da história local e regional e a formação da Vila
mineradora, importante centro regional. Apresentamos alguns questionamentos:
Como aconteceu a ocupação e instalação do poder eclesiástico na Vila do Paracatu
do Príncipe? Quantas Igrejas foram construídas neste território e quais as de maior
importância? Qual a relação da construção e manutenção destas Igrejas com as
irmandades religiosas? A investigação foi realizada através de pesquisa
bibliográfica embasando em altores que discutem a história colonial e cultural. A
pesquisa documental foi realizada no acervo do Arquivo público local, arquivo da
diocese e livros de compromissos das irmandades. Compreendemos ao final do
trabalho, que exitiu uma política de interesse econômico que permitiu a entrada no
sertão das Minas Gerais em Paracatu século XVIII.

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Os aspectos que levaram a urbanização de Muriaé - MG - Arthur da Costa


Orlando (Universidade Salgado de Oliveira - Niterói)

Compreendendo a importância de se entender as características sobre a urbanização


nos mais variados locais do pais no passar dos anos. O presente trabalho busca
debater as políticas de consolidação territorial fundamentais para o início de
desenvolvimento urbano de São Paulo do Muriahé (atual Muriaé), freguesia essa
localizada no sertão leste da zona da mata mineira que começa a receber seus
primeiros sinais de povoamento entre o final do século XVIII e XIX, com a
influência de políticas indigenistas ocorridas no período enfocado, além da
concessão de privilégios, isenções fiscais e doação de sesmarias as quais
procuraremos entender as mudanças ocorridas no espaço geográfico, evidenciando
ainda mais a interdisciplinaridade entre Geografia e História na busca de uma
reflexão ainda maior sobre as relações sócio - espaciais ocorridas no passar dos
anos.

Processos locais e globais envolvidos na elevação da freguesia da Campinas à


condição de vila - Felipe Rodrigues Alfonso (FFLCH-USP)

O presente trabalho propõe-se uma investigação dos processos locais e globais


envolvidos na elevação da freguesia de Campinas (1774) à condição de vila (1797).
Não raro a historiografia subavaliou o período em que a região era ainda freguesia,
valendo-se do fato de sua indústria açucareira e sua lavoura cafeeira terem-se
175
expandido somente nas décadas subsequentes. Contudo, a portaria que alterou o
estatuto administrativo de Campinas foi inicialmente estimulada pela pressão da
nascente elite local por maior autonomia. Dessa inferência derivam duas
conclusões: foi nos quadros da unidade “freguesia” que (i) os interesses da futura
elite campineira construíram-se; (ii) os processos locais e globais já se mostraram
transformadores. O recorte deste trabalho será, portanto, os 23 anos em que
Campinas foi uma das freguesias da vila de Jundiaí. A estratégia de exposição dos
resultados percorrerá três níveis escalares: (i) provincial, ao tratar da infra-estrutura
agrícola criada pelo Império Português em São Paulo após a restauração da
capitania; (ii) sistêmico, ao considerar as transformações no mercado internacional
de artigos tropicais, sobretudo após a Revolução de Saint-Domingue, que levaram
à expansão da fronteira mercantil do açúcar em direção ao Oeste Paulista; (iii)
regional, ao abordar a maneira pela qual Campinas, agora parte de uma capitania
em condições de desenvolver atividades agroexportadoras, respondeu à nova
conjuntura de mercado. Julga-se que a referida estratégia de exposição – que parte
do local, passa pelo global e, finalmente, retorna ao local – permite abarcar um
espectro mais amplo de variáveis na busca por compreender a alteração do estatuto
administrativo pela qual passou Campinas. A nível regional, o enfoque de análise
considera quatro processos: (i) o incremento da especulação fundiária; (ii) a
montagem e expansão da indústria açucareira; (iii) o crescimento demográfico,
sobretudo da população escrava; (iv) o surgimento de uma elite açucareira no seio
das duas famílias mais poderosas da região, com estratégias de manutenção e
reprodução das riquezas adquiridas. Esses quatro processos reiteram a afirmação
de que, ainda enquanto freguesia, Campinas já se encontrava inserida no circuito
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de interesses locais e de transformações globais. Em síntese, este trabalho


considera, a partir de múltiplos níveis escalares – provincial, sistêmico e regional
– e múltiplas estratégias analíticas – sócio-econômica, demográfica e política –, a
elevação da freguesia de Campinas à condição de vila como um sintoma de
processos das mais diversas naturezas em curso ao longo das três primeiras décadas
do longo século XIX (1765-1797). Assim como a própria freguesia enquanto
unidade de análise válida para que se apreendam tais processos.

“Em espaço breve, a grandeza e a superfície da terra e do mar”:


representações políticas no espaço cartografado (séculos XV-XVII) - Marcello
José Gomes Loureiro (UFF)

Tradicionalmente, as “cartas náuticas” e roteiros de navegação produzidos entre os


séculos XV e XVII foram interpretados pela historiografia como fontes que
poderiam aduzir conhecimento dos mares e territórios. Frequentemente, a história
da cartografia procurou nas representações desses espaços elementos de verdade
ou de incorreção, debruçando-se exaustivamente sobre os graus de acurácia ou de
precisão das informações por elas oferecidas. Subsumidas a uma rigorosa história
da técnica, as representações não foram (ou pouco foram) referenciadas à cultura
política a que pertenciam, de tal modo que normalmente foram vinculadas de modo
exclusivo às concepções contemporâneas (e por isso anacrônicas) de cartografia e
de geografia. É preciso, contudo, verter as leituras de tais imagens, substituindo a
compreensão de que são mapas primitivos ou rudimentares por outra que as
176
comporte como papeis políticos que ofereciam conselhos, advertências ou arbítrios
a navegantes e governantes. A partir de alguns exemplos, esta comunicação
pretende não apenas demonstrar como alguns arbítrios figuravam nessas
representações, como também discutir alguns de seus possíveis significados.

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177
ST 16. Estudos étnico-raciais:
compatibilidades e particularidades
dos movimentos sociais em suas lutas
por liberdade, direitos e cidadania

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A Guerra à Pobreza e o movimento pelos direitos civis: repensando o welfare


norte-americano (1964-1968) - Barbara Maria de Albuquerque Mitchell (UFRJ)

O objetivo deste trabalho é analisar a Guerra à Pobreza de Lyndon Johnson


focalizando os conflitos entre o governo federal, os estados e o movimento afro-
americano, especialmente o pelos direitos civis. Utilizando o conceito de
Jaqcquelyn Hall de “long civil rights”, nesta análise pensaremos no movimento
pelos direitos civis para além de seu período “clássico”, ou seja, desde Brown v.
Board of School (1954) até a aprovação do Ato pelos Direitos Civis em 1964. Nesse
sentido, pensaremos o movimento pelos direitos civis em uma ação política e social
desde o contexto da Segunda Guerra Mundial e sua luta pelos direitos civis, pelo
voto e na denúncia das desigualdades sociais e econômicas experimentadas pela
população afro-americana nos Estados Unidos em consequência da segregação e
exclusão social, política e econômica. Em um cenário de renovação do Partido
Democrata desde o governo Roosevelt e o projeto de welfare inaugurado pelo New
Deal, Frances Piven e Cloward demonstram como o welfare foi utilizado em várias
partes do mundo como artifício de controle social ou redução de conflitos sociais.
Nesse sentido, os autores entendem que a postura do Partido Democrata e das
políticas de welfare na década de 1960 tinham sim como base as demandas do
crescente movimento pelos direitos civis, de camadas progressistas e liberais
radicais, de intelectuais progressistas, mas, além disso, pretendiam resolver as
tensões e conflitos urbanos que preocupavam cada vez mais as camadas médias
norte-americanas. Por outro lado, a legislação da Guerra à Pobreza atacou
178
diretamente a autonomia dos estados ao tentar federalizar, pela primeira vez,
considerável parte da estrutura de welfare norte-americano e, com seus projetos de
ação direta comunitária, abriu uma brecha para a entrada de atores e lideranças
sociais que desafiaram a estrutura oficial do projeto e pressionaram por mudanças
em sua concepção e execução. Considerando a utilização do diálogo direto com
membros do governo por grupos afro-americanos para exigir o aumento de
programas sociais, é também importante entender os diferentes meios de inserção
dos atores sociais durante a Guerra à Pobreza. Ademais, planejo investigar como
tais métodos influenciaram as disputas por poder e recursos locais disponibilizados
pelo governo ao financiar os programas da Guerra à Pobreza. Com isso em mente,
esta apresentação enfatizará a dinâmica de operação da Guerra à Pobreza, assim
como as tensões existentes entre as forças oficiais e os movimentos sociais durante
o projeto.

A legislação e os modos operantes de resistência - Lucimar Felisberto dos


Santos (UFRJ)

O status quo da História tem mudado nos últimos anos. Destacadamente, em função
de contendas sobre a memória coletiva e o dever de memória de específicos grupos
humanos. A questão da memória tem, assim, ganhado espaços públicos, do que se
vê reflexo na vasta produção editorial, audiovisual, museológica, entre outras, que
mobiliza saberes históricos, articulando demandas por esse tipo de conhecimento
vindas de diversos setores da sociedade civil e do Estado. A proposta de reflexão
com a pretendida comunicação passa por analisar essa chamada história pública
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que vem recebendo visibilidade nos últimos anos. Mas são principalmente dois os
eixos de análise com os quais se quer dialogar – ambos envolvendo uma
denominada cultura legal. O primeiro diz respeito aos novos sujeitos do imaginário
acadêmico – incluindo as novas identidades étnicas investigadas a partir do
conceito de etnogênese. O segundo tem o sentido de refletir a luz de novos
argumentos sobre o conceito que, em verdade, propiciou a propagação de uma
metodologia de análise das fontes que, a contrapelo, revisitou leis e acordos
assinados que deixaram entrever os modos operantes de resistência.

A Liga Cristã Umbandista e a luta contra a intolerância religiosa em Campos


dos Goytacazes - Luiz Gustavo Guimarães Aguiar Alves (UENF)

Objetiva-se nesta pesquisa, resultante de um trabalho de conclusão de curso,


compreender como se deu a luta pela liberdade religiosa no município de Campos
dos Goytacazes - cidade que possui uma formação afrorreligiosa muito peculiar -,
e ainda abordar acerca do trânsito entre o poder político e o poder religioso, no qual
os adeptos dos cultos afro-brasileiros legitimam sua defesa político-jurídica através
da formulação de associações, federações e demais órgãos criados no seio dos
movimentos sociais locais, enfatizando a Liga Cristã Umbandista, e observando a
criação do Fórum Municipal de Religiões Afro-brasileiras. Para tanto, a
metodologia se constrói em diálogo com a história oral através de entrevistas,
contando ainda com a análise do catálogo As Religiões Afro-brasileiras em
Campos dos Goytacazes: preservar, dar visibilidade e combater a discriminação –
179
cedido pelo NEEV (Núcleo de Estudos da Exclusão e da Violência) da UENF
(Universidade Estadual do Rio de Janeiro), e de documentos destas associações.
Considera-se que o foco desta discussão perpassa pelas religiosidades e seus
sistemas de signos, e ainda pela vida em comunidade, valorizando o imaginário
social acerca da intolerância religiosa. As associações afrorreligiosas,
fundamentadas no poder religioso, puderam construir e fomentar, ao longo da
história, estratégias contra a opressão às outras expressões religiosas que não a
católica. Deve-se ressaltar que a perseguição foi fundamentada no poder político,
através de leis, códigos, e as próprias constituições, que tinham como objetivo
cercear os direitos deste povo. Desse modo, observa-se que as irmandades
católicas, muito presentes na região de Campos, puderam iniciar, asfaltando o
caminho da luta contra a intolerância religiosa, uma vez que foram focos de
perpetuação de expressões religiosas africanas junto ao sincretismo com doutrinas
do catolicismo ibérico, e serviram como as primeiras organizações de viés
afrorreligioso. No início do século XX, com a proliferação das casas de Candomblé
na Bahia e o surgimento da Umbanda no Rio de Janeiro, o povo de axé criou
federações, confederações, ligas e demais organizações que funcionaram enquanto
redes de solidariedade entre os adeptos destes cultos. É notável, desta forma, que,
em Campos, a Liga Cristã Umbandista foi capaz de desenvolver atividades,
propiciar documentações e lutar contra a intolerância religiosa neste município. De
acordo com os depoimentos coletados durante a pesquisa, foi observado que a luta
da Liga foi extremamente relevante, posto que se deu no contexto da Ditadura
Militar, no qual diversas casas foram invadidas e fechadas pela polícia.

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Alfabetização, letramento e emponderamento no terreiro de Umbanda: Da


leitura da vida para a vida na leitura - Paula dos Reis Moita (UFRRJ)

O presente projeto surge a partir da interseção do trabalho Do texto ao contexto:


Ler e escrever com prazer, apresentado como Trabalho de Conclusão do Curso da
graduação em Pedagogia com a observação da rotina e estrutura das relações
interpessoais tecidas durante as diversas ações de educação formal e informal
efetivadas no cotidiano do Centro Espírita Justiça e Amor. No cenário atual de
pesquisas educacionais, cada vez mais se busca proporcionar aos indivíduos mais
do que um ensino quantitativo, mas aprendizagem significativa para a vida,
incentivando e promovendo o desejo por aprender mais, inserindo o sujeito como
protagonista de sua própria aprendizagem e utilizando sua realidade como
mecanismo do desenvolvimento de seu processo de alfabetização e letramento.
Nesse sentido, é fundamental direcionar o olhar e reflexões para os diversos
espaços de convívio social dos indivíduos, observando suas influências no processo
de cognição e sua contribuição, ou não, na promoção de seu desenvolvimento
global e de seu processo de empoderamento de espaços e identidades
socioculturais. O Terreiro de Umbanda, mais especificamente o Centro Espírita
Justiça e Amor, observado no presente estudo, oportuniza dentro de sua rotina
espaços de crescimento e desenvolvimento das múltiplas linguagens inseridas em
seu contexto, inclusive através de estudo sistematizado e projetos de
educação/escolarização.O trabalho tem por objetivo analisar práticas educacionais
formais e informais dentro do cotidiano da Instituição e suas implicações no
180
letramento, alfabetização, na formação da consciência e no processo de
empoderamento dos indivíduos. A Discussão traz como referencial teórico
norteador básico os estudos de Magda Soares, Vigotsky e Paulo Freire . A
investigação tem por metodologia o estudo de caso, privilegiando para coleta de
dados a observação participante, a entrevista em profundidade e a revisão
bibliográfica. Destacar e legitimar esta prática educativa inclusiva, que acolhe a
diversidade, que abriga valores democráticos, se consolida como espaço de
formação do exercício da cidadania, construção crítica dos conhecimentos e na
formação do leitor/autor proficiente e letrado nesse LOCUS pouco explorado pela
Academia, constitui elemento relevante, de contribuição significativa para que se
efetive e expanda mais práticas educacionais que possibilitem ao indivíduo
descobrir o que querer, aprender o sentir, construir maneiras diferentes de pensar e
dessa forma, agir e proceder com alegria e coerência, paixão e entusiasmo,
abnegação e consciência.

As abordagens étnico-raciais nas provas do ENEM e ENADE:


interdisciplinaridade, ensino de História e ações afirmativas - Siméia de
Nazaré Lopes (Universidade Federal do Amapá)

A obrigatoriedade da lei Nº. 11.654/08, também pode ser pensada como uma
política de valorização das identidades e da memória de grupos sociais ausentes
nos currículos da educação básica. Após a implementação dessa lei, firmou-se a
necessidade de se discutir sobre a desigualdade racial e social e sobre as práticas
de discriminação presentes na cultura escolar, entretanto como essas questões estão
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sendo aferidas em sociedade é o que se busca nessa pesquisa. Como o SINAES


percebe seus objetivos de diagnosticar as políticas de ações afirmativas no ensino
básico e superior? Através das questões das provas do ENEM e ENADE para os
alunos do Ensino Médio e Superior será feita a seleção das perguntas que envolvam
as relações étnico-raciais dentro das diversas temporalidades históricas abordadas
nos Temas Transversais dos PCN´s. O objetivo dessa comunicação é apresentar as
observações iniciais referentes às questões das provas de História do organizadas
pelo INEP. Com base na produção acadêmica e dos movimentos sociais buscar-se-
á perceber como as provas elaboradas pelo SINAES articulam essas demandas em
suas questões, bem como perceber como as pluralidade cultural é entendida pelo
governo, tendo em vista que essa perspectiva de análise não situa o debate para a
superação do racismo e das desigualdades raciais na educação. Nesse sentido,
entende-se que a análise das questões das provas possibilitam observar como o
MEC entende a relação entre as diretrizes propostas para o ensino (os eixos e temas
transversais dos PCN´s, as ações afirmativas) e a aferição dessas competências
pelos alunos e futuros professores da educação básica. A pesquisa elegeu como
recorte temporal as avaliações realizadas de 2008 a 2015 e utilizará as provas
disponíveis na internet.

Cartografias Juvenis (Tecendo identidades negras periféricas no território


das aulas de História) - Eleonora Abad Stefenson (UFF), Everardo Paiva de
Andrade (UFF)
181
O presente trabalho é parte de uma pesquisa de doutorado em desenvolvimento no
âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF. Seu objetivo é
compreender os processos de subjetivação de jovens estudantes do Ensino Médio
de uma escola da Rede Estadual do Rio de Janeiro nas aulas de História, em meio
a processos de construção e ressignificação identitários que emergem em um
contexto de profundas transformações curriculares,provocadas pela Lei 10639/03
e suas respectivas diretrizes, que estabelecem a obrigatoriedade do ensino da
história e cultura afro-brasileiras e africanas na educação básica.As transformações
sentidas na sala de aula nos oferecem pistas sobre estes múltiplos sentidos
negociados e disputados no que tange às histórias e culturas negras pelos jovens
estudantes. As diversas formas de (se) narrar neste processo nos apontam para
possibilidades de leituras políticas sobre as suas realidades e sobre o mundo. Nesse
sentido, pesquisadores do campo de Ensino de História nos apontam a
possibilidade de pensarmos o saber histórico escolar enquanto um espaço profícuo
para a construção de diálogos interculturais em função da sua própria
especificidade epistemológica de profundas relações com outros saberes sociais –
um saber de fronteira, portanto. Atentos a esta característica da pesquisa, enquanto
espaço de cruzamentos de diferentes saberes, como é a pesquisa em ensino de
História e, em especial a pesquisa a ser construída no interior da escola com os seus
atores (no caso, os estudantes), neste território comum ao pesquisador e aos
pesquisados, buscamos na metodologia da pesquisa-intervenção, mais
especificamente, na pesquisa cartográfica, as pistas que orientam nosso percurso
investigativo.No presente trabalho, portanto, anunciaremos as primeiras pistas
construídas neste percurso investigativo. Para tal, nos utilizaremos das anotações
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do caderno de campo produzidas durante duas oficinas realizadas nas aulas ao


longo dos anos de 2016 e 2017, assim como do próprio material construído durante
as oficinas. A partir dessas primeiras pistas, podemos perceber que a reflexão sobre
a emergência dos movimentos multiculturais perpassa a própria elucidação das
redes que os constituem, ou seja, dos múltiplos sujeitos que compõem estes
rizomas: os estudantes da escola, a pesquisadora, os movimentos sociais, a escola
e a academia.

Da cor e das associações negras: educação, lazer e identidade (1949 e


1970) - Stephane Ramos da Costa (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A presente pesquisa tem como objetivo versar acerca do papel de projetos


educacionais no Brasil que não necessariamente perpassam pelas mãos do Estado,
através dos intitulados clubes sociais negros. O contexto histórico a qual o objeto
circula é o do pós-abolição, mais especificamente entre as décadas de 40 e 70 do
século XX. Não se trata aqui de ter um olhar completamente salvacionista da
educação e nem tanto romantizar todas essas experiências dos sujeitos, mas sim de
se utilizar da educação desses associados para entender suas expectativas e
projetos. O processo que construiu as diversas formas de educação escolar no Brasil
não foi uniforme e nem mesmo indiferenciado para toda a população. Pretende-se,
diante disto, problematizar os processos dos modelos de educação, que já na
Primeira República tinham como objetivo a civilização e o progresso, dando um
enfoque prioritário nas experiências históricas dos indivíduos que aqui pretendem
182
ser estudados. Pretende-se aqui também mobilizar os conceitos de "associativismo
negro" de Petrônio Domingues, "experiência histórica" de Edward Thompson e
"dupla-consciência" de Paul Gilroy.

Diálogos de saberes e fazeres tradicionais em uma perspectiva


intergeracional - Elaine Monteiro (Universidade Federal Fluminense)

A partir de conhecimentos compartilhados em atividades de ensino, pesquisa e


extensão com comunidades negras da região sudeste, este trabalho apresenta o
processo que levou à criação de uma Rede de Jovens Lideranças Jongueiras e
destaca duas questões que emergiram no trabalho com a Rede: o surgimento de
novos grupos de Jongo e a inserção dos saberes e fazeres jongueiros na
universidade. Ambas as questões são analisadas por uma perspectiva
intergeracional. A geração é a idade processada pela história e pela cultura. Cada
geração alude ao tempo em que os indivíduos se socializam e incorporam
linguagens e formas de perceber, de apreciar, classificar e distinguir. Desta forma,
diferenças entre lideranças adultas e jovens lideranças jongueiras são identificadas
no trabalho, assim como as diversas compreensões e posicionamentos com relação
às duas questões citadas. A partilha de saberes e fazeres com a Rede de Jovens
Lideranças Jongueiras tem levado à identificação de questões relevantes no recente
processo de reconhecimento e de valorização do patrimônio cultural imaterial,
como a própria concepção de salvaguarda do patrimônio imaterial e sua vinculação
a políticas de ações afirmativas como forma de reparação.

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Diante da liberdade , uma Lei: a reforma eleitoral de 1881 e a educação na


Corte - Leandro Duarte Montano (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O presente trabalho abordará historicamente o contexto que deu origem as reformas


político-eleitorais, a questão educacional e a questão servil a partir da década de
1870 na cidade do Rio de Janeiro como um forma resgatar debates e experiências
sociais que ajudem na compreensão dos processos complexos que levaram às
tentativas de exclusão e/ou controle social e político dos setores populares
mediante a tentativa de capitalização e monopólio dos debates e atos pelos setores
da elite, materializados na reforma eleitoral de 1881. Será apresentado o resultado
preliminar das pesquisas/leituras sobre o tema ainda em desenvolvimento no meu
doutoramento em História da Educação pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFRJ.

Direito à liberdade: protagonismo escravo na política de emancipação


gradual - Cátia da Costa Louzada de Assis (UERJ)

O ano era 1872. O reitor do Externato do Imperial Colégio de Pedro II, Dr. Manoel
Pacheco da Silva, teve que explicar-se ao Inspetor Geral da Instrução Primária e
Secundária do Município da Corte, Dr. Antonio Joaquim Ribas, por conta de uma
subscrição realizada entre os alunos do Externato para a libertação de uma escrava.
O episódio aconteceu alguns meses após a aprovação da Lei de 1871 e, segundo
Pacheco, a mulher foi até a instituição pedir ajuda para sua libertação e contou com
183
o apoio de um professor que exortou todos os alunos a participarem da subscrição.
Havia suspeita, porém, de que a escrava pertencia a uma parente do dito professor.
Iniciativa da própria cativa ou uma subscrição arquitetada para atender aos
interesses de sua suposta senhora, a alforria poderia ser efetivada, nos termos da lei
de 1871, desde que atendida a condição de pagamento à proprietária. Os
mecanismos legais serviam aos interesses senhoriais, mas também de escravos que
se mobilizavam, ainda que nos limites de sua condição jurídica, para efetivar suas
expectativas de liberdade.

Do bairro do Alto do São Sebastião à Paris: a luta dos congadeiros de Oliveira


(MG) 1950-2010 - Fernanda Pires Rubião (SEEDUC/RJ)

O bairro do Alto do São Sebastião faz parte da periferia da cidade de Oliveira


(MG). Lá moram pessoas pobres e afrodescendentes, e muitos deles participam da
Festa de Nossa Senhora do Rosário ou Congado. Essa festa acontece desde o
período escravista e seus integrantes - os congadeiros-, através do seu ritual,
homenageiam seus santos de devoção -Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e
Nossa Senhora das Mercês, Santa Ifigênia e Nossa Senhora Aparecida, rememoram
à África e escravidão. E também expressam suas lutas políticas e o combate ao
racismo. Suas lutas estão intimamente associadas à consciência que eles possuem
que são portadores de direitos, e assim, desejam conquistar e ampliar sua cidadania.
Ao longo dos anos, muitos foram os obstáculos que os congadeiros tiveram que
enfrentar para continuarem manifestando sua devoção aos santos padroeiros, em
especial com representantes da Prefeitura Municipal e da Igreja Católica.
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Entretanto, mesmo com diversas barreiras, os congadeiros foram convidados para


irem à Paris no ano de 2005 no evento “Ano do Brasil na França”, considerado
pelos integrantes da festa como o maior reconhecimento de sua expressão cultural.
Mas, mesmo com esse reconhecimento internacional continuam a enfrentar o
racismo na sociedade oliveirense. Desse modo, o objetivo dessa apresentação é
analisar as diversas lutas enfrentadas pelos congadeiros; como a proibição de
realizarem sua festa na Praça XV de Novembro, local nobre da cidade, e sua missa
no interior da igreja assim como a discriminação racial; como uma forma de
conquistarem e ampliarem sua cidadania na sociedade oliveirense.

Identidade na perspectiva de Kabengele Munanga - Francielly Nunes


Silva (Universidade Estadual de Goiás)

O presente trabalho propõe-se a discutir a identidade negra dentro da perspectiva


de Kabengele Munanga. O objetivo da pesquisa é destacar os aspectos
psicológicos, linguísticos e históricos que são essenciais para a construção de uma
identidade negra consciente, perceber como ocorre o processo de construção da
identidade negra e quais são suas dificuldades enfrentadas durante tal processo.
Para desenvolvimento da pesquisa, a metodologia a ser utilizada é a pesquisa
bibliográfica, como base nos autores Munanga (2012), Hall (1992) e Gomes
(2012). Ao longo da História e do desenvolvimento do Brasil, tudo o que se
relaciona com a origem negra sofreu um processo de folclorização e domesticação,
principalmente no que diz respeito a cultura e religiões. Assim ao se tratar da
184
identidade negra vale ressaltar a história a partir da diáspora forçada de muitos
africanos para o Brasil para serem submetidos à escravidão durante mais de
trezentos anos, porém ao alcançar a libertação sofreram com a alienação da cor da
pele e sua inferiorização resultou na construção social de submissão negra em
relação ao branco, ocasionando o sufocamento e o aprimoramento de ideologias
racistas que causam até hoje sofrimento e impõe dificuldades para o negro. Essa
ideia de hierarquização racial enraizada em nossa sociedade dificulta os
movimentos de (re)afirmação identitária, já que a cultura negra é tratada no
imaginário social como inferior. De forma geral, a identidade, bastante complexa,
é constituída a partir de diversas esferas, das quais apresentam-se pela política, pelo
social, pela cultura e pela economia. Consequentemente, a identidade negra traz
uma complexidade maior ainda, pois ela não pode ser julgada a partir somente de
suas características físicas, mas também por sua contribuição cultural e social ao
longo do tempo. Assim, a cada dia mais, há uma valorização da história dos
diásporos e, consequentemente, da história que aqui ficaram.

Irmandades católicas leigas formadas por africanos e afrodescendentes e a


educação dos negros na transição Império-República no Rio de
Janeiro - Edna Braga Pereira (UNIRIO)

Irmandades são instituições religiosas formadas por leigos com o objetivo de


auxiliar seus membros tanto material quanto espiritualmente. Duas irmandades se
destacam nesse trabalho por serem formadas por negros, escravos e ex-escravos. A
Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia e a Irmandade de Nossa Senhora do
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Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Tais irmandades eram compostas por
negros escravos e alforriados, e era voltada para dar assistência aos seus membros.
Para os negros trazidos dos continentes africanos e escravizados as irmandades
serviam para a “manutenção de sua identidade cultura como forma de resistência”.
Esse trabalho fica como objeto de estudo a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário
e São Benedito dos Homens Pretos, pois em meio a pesquisa descobriu-se que a
instituição fundou e manteve uma escola para educar os filhos dos seus membros.
A Irmandade nasceu da fusão entre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e a
Confraria de São Benedito, no século XVII. Formada em sua maior parte por
negros forros, ela se empenhava em comprar a alforria de seus irmãos. Uma de suas
características era sua vocação para a caridade. Um dos atos de caridade
promovidos pela instituição seria cuidar de seus membros, principalmente na sua
morte, sepultando-os dignamente, e cuidando de suas famílias. Esse cuidar também
era expresso na forma de escolarização. A pesquisa para esse trabalho se deu a
partir de material bibliográfico e a análise de publicações de jornais referentes à
escola. Buscamos artigos e livros que abordassem temas como educação dos negros
no Brasil e também que falassem sobre irmandades negras no Brasil para construir
a base do nosso pensamento. Também pesquisamos através de diferentes palavras
chaves notícias sobre nosso objeto em periódicos da época através do arquivo da
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. A Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário e São Benedito dos Homens Pretos funcionou - e ainda funciona - como
um espaço de comunhão, apoio e solidariedade entre o povo negro. Também é um
local em que esses podem se manter conectados às suas raízes e manter a sua
185
identidade étnica. A escola de São Benedicto possibilitou que crianças negras não
ficassem desamparadas e fossem cuidadas e educadas por pessoas que não somente
queriam ofertá-las uma educação impessoal, mas que se importavam e se
identificavam com elas, se importavam com suas famílias, e queriam que elas
tivessem oportunidades além das que eles mesmos tiveram. A irmandade nos
mostra como a população negra protagonizou sua própria luta mesmo em meio a
resistência social.

Mulheres negras e intelectualidade: transgredindo fronteiras - Marisangela


Lins de Almeida (UFSC)

Houve, como fruto da militância negra do século XIX, notável aumento na


visibilidade das produções de mulheres negras a partir de 1980. Apesar disso, o
campo intelectual, historicamente, vem se desenhando como um não lugar para as
mulheres negras. Introduzindo a variável raça às questões de gênero, essa
comunicação tem por objetivo refletir sobre a intelectualidade das mulheres negras,
utilizando, para isso, os debates de Hooks (1995;1989), West (1985), Bairros
(1995), Carneiro (2001;2003), Gonzalez (1984), Collins (20017), Crenshaw (2002)
e Gois (1996). Busca-se refletir sobre o silenciamento e a invisibilidade do
pensamento de mulheres negras no meio acadêmico e intelectual, investigando os
modos que o sexismo e o racismo atuam nesta relação. Essa demarcação de
espaços, apesar das lutas destas por representação, tem significado concreto sobre
suas vidas. Segundo Carneiro (2001), o racismo estabelece a inferioridade social
dos segmentos negros da população em geral e das mulheres negras em particular.
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Para Hooks (1995), o sexismo e o racismo atuando juntos perpetuam uma


iconografia de representação da mulher negra que imprime na consciência cultural
coletiva a ideia de que ela está neste planeta principalmente para servir aos outros,
onde, desde a escravidão até hoje, o corpo da negra tem sido visto pelos ocidentais
como o símbolo de uma presença feminina natural orgânica mais próxima da
natureza animalística e primitiva, lendo-a socialmente como um corpo sem mente,
tornando o domínio intelectual como um lugar interdito. Desse modo, procura-se
compreender a dinâmica social e histórica que invisibiliza e afasta as mulheres
negras do campo intelectual. Para tal, o conceito de interseccionalidade será uma
ferramenta de análise, contribuindo para a compreensão dessas dinâmicas
históricas também no interior do movimento feminista.

O Club da Lavoura e do Commercio e a Lei do Ventre Livre - Antonio Carlos


Higino da Silva (PPGHC-UFRJ)

Em 16 de julho de 1871 foi organizado o Club da Lavoura e do Commercio, ou


seja, pouco mais que dois meses antes da promulgação da Lei do Ventre Livre. Seu
objetivo era organizar agricultores e comerciantes contra a tramitação do projeto
de lei. Para eles a comissão especial adotara uma “celeridade despótica”, uma
“exaltação frenética”, expusera “theorias perigosas” que atropelavam “regras
parlamentares” contra aqueles “cujos os hombros possantes repousa a fortuna
pública” a fim de ludibriar a opinião pública “sobre a questão mais grave que pode
agitar este Império”: “a proposta relativa ao estado servil”. Proposições e
186
posicionamentos como esses eram prontamente respondidos por aqueles que
procuravam apelar para o “patriotismo” e desinteresse dos dirigentes do Club, pois
entendiam que não havia mais sobre o que se deliberar e nem mais tempo a perder.
Nesse contexto de disputas nasceu a Lei do Ventre Livre que procurava definir o
processo de libertação dos filhos e das filhas das escravas, juntamente, as formas
de indenização de seus proprietários. Todavia identificamos que os aspectos
presentes neste processo litigioso revelam a reprodução de mecanismos
exploratórios por parte de associações estabelecidas, pelo híbrido exercício de
atividades públicas e privadas e de uma circunscrita rede de representação que
privilegiava repetidos atores. Sendo assim, nos propomos trazer à tona elementos
e parte de um tecido social que por meio de uma rede restrita procurava interditar
o acesso a liberdade e a cidadania.

Rascunhos da liberdade: iniciativas escolares negras e instrução no Rio de


Janeiro, século XIX - Higor Figueira Ferreira (UFRJ)

No intuito de obter o aprendizado básico das letras – ler e escrever –, os segmentos


sociais subordinados direta ou indiretamente à lógica do cativeiro – escravos,
libertos e livres de cor – procuraram constituir estratégias que pudessem tornar
possível o acesso à instrução. Com efeito, do ponto de vista simbólico, o ingresso
no mundo letrado representaria, dentre outras coisas, o afastamento do mundo do
cativeiro, marcado predominantemente por restrições e impedimentos de toda
ordem. Neste sentido, portanto, a mobilização em favor do acesso à instrução
letrada compunha uma luta de caráter mais amplo, dialogando com os próprios
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sentidos de liberdade constituídos por meio da luta abolicionista no século XIX.


De modo a compreender mais profundamente as estratégias acionadas por estes
segmentos, bem como as subversões e arranjos necessários para que obtivessem
sucesso nas suas empreitadas educacionais, temos promovido pesquisas no intuito
de localizar e perscrutar ambientes escolares, ou mesmo iniciativas educacionais
de caráter informal, em que se possa identificar o comparecimento de escravos,
libertos e livres de cor na Corte na segunda metade do século XIX. Neste sentido,
apresentaremos numa perspectiva comparada duas experiências educacionais que
foram conduzidas diretamente por negros e para negros. São elas a escola do
professor Pretextato dos Passos Silva, professor que se afirmava preto e que
lecionava meninos pretos e pardos na freguesia de Santíssimo Sacramento, e o
curso noturno oferecido por Israel Antônio Soares, ex-escravo e filho de africanos
islamizados que – diferentemente de Pretextato – não era e tampouco se reconhecia
enquanto professor, mas que de forma militante organizou na sua casa um curso
noturno no intuito de atender a escravos e ex-escravos. Cotejar essas duas
iniciativas educacionais, ambas feitas por negros e para negros, pode permitir de
algum modo a melhor compreensão acerca do caráter variado que as experiências
educacionais poderiam adquirir neste contexto, o que, por fim, poderá descortinar
novos caminhos para a construção de reflexões a respeito das formas de
organização, dos significados e intenções que as populações negras tinham para
com a instrução naquela época.

Representações de protestos indígenas na mídia brasileira:um estudo de caso


187
sobre o jornal O Globo - Ana de Melo (Uerj), Silene Orlando
Ribeiro (SEEDUC/RJ)

Este trabalho é o resultado preliminar de uma pesquisa que estamos desenvolvendo


sobre o processo de construção de representações de protestos indígenas na mídia
brasileira no tempo presente. A invisibilidade e os esteriótipos construídos sobre
as populações indígenas no Brasil nas últimas décadas são elementos de um projeto
político partilhados por grupos hegemônicos com diferentes interesses
econômicos, políticos e sociais no âmbito da sociedade brasileira. A mídia escrita
e televisionada tem um importante papel neste processo por sua capacidade de
produção de discursos e representações e a imensa penetração que tais discursos
alcançam. A disputa por imaginários,representações e discursos, tornou-se a
principal função dos meios de comunicação de massa após a segunda metade do
século XX. Assim sendo, em um país perisférico como o Brasil e com uma longa
história de violência contra as populações indígenas, a imprensa tornou-se parte
das estratégias das elites econômicas na produção de discursos sobre os indígenas
no Brasil e na representação dos protestos e organizações políticas indígenas.

“É official de ferreiro e desconfia-se que tenha vindo para esta Côrte”: O


Ofício de ferreiro em Minas Gerais e no Rio de Janeiro em uma perspectiva
comparativa (Século XIX) - Antonio Ramos Bispo Neto (Instituto de História)

Continuando uma reflexão iniciada em trabalho de conclusão de curso buscarei


investigar, neste trabalho, um momento da longa história da industrialização
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brasileira, mais especificamente entre as décadas de 1840-1870, em que houve


relativo crescimento de indústrias e manufaturas na província do Rio de Janeiro,
mais especificamente a Corte e seus arrabaldes e na província de Minas Gerais, em
suas regiões voltadas para o abastecimento interno e cafeicultura. A pesquisa girará
em torno da chamada escravidão industrial, ou seja, sobre o uso de escravos em
empreendimentos industriais ou manufatureiros, no século XIX.

“Um canto libertário” contra “o cativeiro social”: um desfile da Nenê de Vila


Matilde e do Paraíso do Tuiuti e o combate ao racismo em sala de
aula - Emerson Porto Ferreira (PUC-SP)

A proposta de apresentação para a ANPUH - RJ tem como proposta cruzar dois


desfiles e sambas de duas escolas de samba, uma de São Paulo e outra do Rio de
Janeiro, como fonte histórica a discussão do racismo e da desigualdade social. A
seguinte apresentação é um desdobramento da pesquisa de mestrado na PUC-SP,
no Programa de Educação: História, Política, Sociedade, sobre os sambas afro-
brasileiros da Nenê de Vila Matilde, como um recurso ao material didático, no
ensino de história em sala de aula atendendo a discussão da Lei 10.639/03.
Entendemos que a música seja um importante campo a ser descoberto no ensino de
história devido ao seu caráter imaginativo e simbólico, existente em suas letras e
na sua produção, e que no caso da escola de samba, o próprio desfile e suas
simbologias são fortes representações de uma prática de “ouviver”: ouvir e viver,
que atingem a escuta na emoção, da intelectualidade e do corpo. Para isso trazemos
188
a discussão dois desfiles: o da Nenê de Vila Matilde, escola da Zona Leste de São
Paulo, de 2013 sobre a busca de igualdade tendo como ponto de partida a Revolta
dos Búzios, e a busca de direitos dos diversos movimentos sociais no Brasil ao
longo da história; e o da Paraíso do Tuiuti de 2018, escola do Morro de São
Cristóvão, que abordou a problemática do trabalho escravo e das permanências de
tal prática em nossa sociedade, que se refletem no atual contexto de golpe e de
retiradas de direitos do atual “des”governo brasileiro. Sendo assim, os dois sambas
se complementam em suas narrativas, uma vez que a busca da liberdade é um
"canto libertário" a ser buscado, para a quebra do cativeiro social ainda enfrentado
pelo negro em sociedade. Assim, o samba enredo se torna um discurso potente em
sala de aula junto ao desfile, uma vez que, a escola de samba é um locutor de ações
da história do Brasil, sendo uma produção de origem afro-brasileira que dentro de
São Paulo e do Rio de Janeiro foram palco de resistência e permanência do negro
em sociedade. Os dois desfiles ainda possuem uma quebra da visão colonial do
"outro" (Carlos Skliar, 2003), que dentro do campo da história e do ensino ainda
são colocados à margem da sociedade em uma visão rasteira e ainda pouco crítica
dentro do nosso currículo. Ao trazer a Revolta dos Búzios e os movimentos sociais
e a continuação do trabalho escravo e do cativeiro social do negro em sociedade,
os dois desfiles agem como uma força que transita entre o conhecimento acadêmico
e o escolar, como um conhecimento de um grupo de origem negra, na produção de
um currículo transgressor (Vera Candau, 2008, 2012), para abordar, alertar e
denunciar o racismo em sala de aula. Portanto, tal proposta visa contribuir no
campo da educação e da história, como recurso de ação ao professor em sala de
aula.
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189
ST 17. Experiências negras no pós-
Abolição: entre parcerias e saberes
compartilhados

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"O maxixe é sinceramente humano!”: dança e moralidade no Rio de Janeiro


(1900-1915) - Juliana da Conceição Pereira (Universidade Federal Fluminense)

O trabalho tem por objetivo o analisar os códigos de moralidade adotados nos bailes
realizados pelos clubes dançantes carnavalescos. Frequentados por homens e
mulheres de maioria negra essas associações são resultado de um fenômeno
dançante que tomou o Rio de Janeiro entre o final do século XIX e as primeiras
décadas do século XX. Os diretores dessas associações adotaram regras de conduta
e comportamento como uma importante estratégia de afirmação social, garantia de
respeitabilidade e proteção feminina.

1° Festival Mundial de Artes Negras no Senegal: a negritude entre Brasil e


Dakar - Maybel Sulamita de Oliveira (Universidade Federal Fluminense)

Em 1966 realizou-se no Senegal, na cidade de Dakar, o 1° Festival Mundial de


Artes Negras (FESMAN) promovido pela República do Senegal com o apoio e
suporte da UNESCO. O festival pretendia atrair diversos artistas ligados as “artes
negras” promovendo integrações artísticas e contatos entre diversos países com o
continente africano dentro um eixo cultural. O país que outrora havia sido colônia
francesa e obteve sua independência em 1960, contou com o apoio do reconhecido
poeta da Negritude, Léopold Sédar Senghor, que posteriormente elegeu-se como
presidente por unanimidade da nova República, vindo a desempenhar o cargo até
o final de 1980. Nesse sentido, a ideia de um país africano sediar um evento de
190
porte internacional dialogava com as intenções de demonstrar o caráter
cosmopolita de Dakar, ao mesmo tempo em que fortaleceria os ideais acerca da
negritude e do socialismo africano de Léopold Sédar Senghor. O contato do Brasil
com os ideais da negritude podem ser percebidos desde a Frente Negra Brasileira
(FNB) na década de 1930, movimento que pode ser considerado como um primeiro
impulso do movimento negro no Brasil, mas a influência do movimento da
Negritude francês de Léopold Sédar Senghor, só ganhou destaque no Brasil durante
um segundo impulso: o Teatro Experimental do Negro (TEN). A relação do TEN
com o movimento da Negritude e, consequentemente, com Leopold Sédar Senghor
e a realização do 1° FESMAN, fez com que o grupo – através de Abdias
Nascimento –, tivesse interesse em participar do evento realizado em Dakar. Tal
objetivo foi frustrado pela não participação de nenhum dos integrantes do TEN na
delegação brasileira, de acordo com Nascimento (1966), a “exclusão” do TEN era
consequência da “censura aos esforços de afirmação do negro e de sua tomada de
consciência”, o governo brasileiro nessa compreensão tentava não “perder sua
imagem de democracia racial”, vale ressaltar que neste momento o Brasil vivia a
realidade de um regime militar, onde violentas repressões atingiam setores político-
sociais que pudessem estar em desacordo com o governo. A exclusão do TEN,
porém não impediu diversos desdobramentos e debates políticos tanto no Brasil,
quanto no Senegal, dentro desse breve panorama a presente comunicação se propõe
a discutir as diversas concepções de negritude entre fronteiras intelectuais de
pensamentos situados tanto no continente africano como na diáspora durante a
realização 1° Festival Mundial de Artes Negras (FESMAN), demonstrando como
o evento artístico obteve grande importância simbólica e política para o Senegal,
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assim como revelou a presença da ideologia da negritude em outros países do


Atlântico Negro.

A formação de médicos negros nas escolas médicas brasileiras - Helber Renato


Feydit de Medeiros (Colégio Militar do Rio de Janeiro)

Essa pesquisa procura realizar um levantamento sobre o número de médicos negros


formados pelas faculdades de medicina, do final do século XIX até metade do
século XX, o que acaba por abordar duas questões muito debatidas na historiografia
brasileira: a formação médica e a questão racial no Brasil. Em pesquisa preliminar,
foi realizado um levantamento do número de negros formados pela Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro a partir de álbuns de formatura. Tal pesquisa mostrou
um resultado inesperado. Álbuns da década de 20 do século passado registram um
número significativamente maior de negros que álbuns da década de 70. A busca
das pastas de alunos correspondentes também mostra aspectos interessantes, como
casos em que os registros iniciais indicam que o aluno é pardo e no final do curso
o mesmo aluno é registrado como branco. Aparentemente a primeira metade do
século XX tem um registro maior de negros no curso médico do que nos anos pós-
Segunda Guerra. Esta pesquisa se dedicará a observar o problema da formação
médica e o pensamento médico sobre a inferioridade dos negros. Poucos são os
trabalhos sobre a vida de médicos negros formados nas faculdades de medicina da
Bahia e do Rio de Janeiro no século. A Bibliotheca Gonçalo Moniz, da Faculdade
de Medicina da Bahia, promoveu, entre os dias 20/11 a 31/12 de 2017, a exposição
191
“Presença negra na Faculdade de Medicina da Bahia: alunos e docentes (1808-
1946)”. Tal evento teve o objetivo de, no mês da consciência negra, dar visibilidade
à personalidades afrodescendentes que se destacaram na sociedade brasileira e que
lecionaram ou tiveram sua formação acadêmica na Faculdade de Medicina da
Bahia, como Juliano Moreira, célebre psiquiatra. Na Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro encontra-se documentação sobre negros no curso médico no século XIX,
tais como José Maurício Nunes Garcia e Francisco de Menezes Dias da Cruz.
Existem ainda retratos a óleo de ambos de ambos, uma vez que além de alunos
foram também professores daquela escola. Além disso, existem registros sobre um
escravo da Fazenda Real mandado matricular no terceiro ano da Escola Médica em
1815 pelo Príncipe Regente D. João - registro que consta do livro de matrículas de
1815. Essa pesquisa também pretende acessar as teses de médicos franceses das
faculdades de Paris e Montpellier, arquivadas na biblioteca do Centro de Ciências
da Saúde da UFRJ, e os registros dos primeiros congressos internacionais de
eugenia a fim de verificar o pensamento de europeus e americanos sobre o
movimento eugênico brasileiro e seus representantes. Existem ainda fotografias de
turmas de medicina do início do século XX. Não há fotografias do século XIX e a
maior parte da documentação de alunos, presentes nas pastas, não traz registro de
cor.

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A invisibilidade da questão racial no cenário musical: contribuições para uma


reflexão - Caroline Moreira Vieira Dantas (UERJ)

O campo artístico-cultural representou uma possibilidade de inserção profissional


para músicos pobres e negros desde o início do século XX, com a fonografia e,
posteriormente, com a radiofonia no Rio de Janeiro. Apesar de poucos, alguns
artistas conquistaram prestígio e fama nacional e internacional. Contudo, esse
processo não excluiu hierarquizações e tensões raciais, mesmo diante do sucesso
artístico. A trajetória do cantor e violinista Patricio Teixeira (1893-1972)
demonstra a contradição entre uma sociedade que valoriza as habilidades artísticas
de músicos negros e os trata de forma preconceituosa e depreciativa. Muitos
músicos tiveram que lidar com situações de discriminação racial ao longo de suas
carreiras, recebendo apelidos pejorativos e racializados. Brancura, Blecaute e
Príncipe Pretinho são apenas alguns deles. A cor da pele determinando seus nomes
artísticos. Patricio, negro retinto, além do pomposo apelido de “O seresteiro
incorrigível”, também foi chamado de a “voz branca do rádio”, a “voz branca de
brasileiro” e o “negro de alma branca”. A ludicidade do ambiente artístico e o
constrangimento com uma temática tão espinhosa, fez com que muitos músicos
preferissem o silêncio. Afinal, o Brasil seria, na concepção de muitas pessoas, o
país da harmonia racial. Apesar de episódios de racismo no campo musical já terem
sido narrados, o que é extremamente relevante, é preciso ir além e enfrentar esse
debate sobre latentes conflitos e tensões raciais que atingiram grandes ídolos. À luz
da trajetória de Patricio Teixeira, enfocarei situações de preconceito racial a que
192
este foi submetido ao longo de sua longa e estável carreira de cantor de rádio.
Acredito que o enfoque não pode se limitar a curiosidades biográficas, mas debater
as representações do artista e como ele se relacionava com as questões do seu
tempo. Em se tratando de músicos negros, a questão racial, em especial, com o
advento da radiofonia, não pode se restringir a meros apontamentos dentro da
narrativa sobre sua história de vida. Os próprios nomes artísticos e apelidos revelam
que a questão racial nem sempre era velada. Portanto, um tema debatido no campo
das ideias, mas que precisa ser demonstrado como processo histórico, o que já vem
sendo realizado por alguns pesquisadores, aos quais me proponho a somar
reflexões.

A representação dos negros no cordel e nos censos demográficos - Nadya


Maria Deps Miguel (IBGE)

O presente trabalho examina a maneira como a história dos negros é contada


através da Literatura de Cordel e como os censos demográficos decenais do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apresentam a variável cor ou raça
entre 1940 e 2010. No estudo sobre o Cordel, destaca-se o folheto A linha do tempo
dos negros no Brasil, que integra a coleção da Cordelteca Gonçalo Ferreira da
Silva, na Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, onde o poeta Ivamberto Albuquerque de Oliveira, narra de forma
instigante e esclarecedora, a trajetória dos negros em território nacional. Através
do arcabouço teórico da Análise de Discurso (AD) da vertente francesa, a variável
cor ou raça presente nos questionários dos censos demográficos é analisada para se
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traçar um retrato da população, do contexto sócio-histórico e das preocupações e


dilemas que marcam o pensamento social de uma época, constituindo uma
memória em conformidade com os fins e os meios de sua construção. Com isso,
pretende-se contribuir para uma melhor compreensão do papel e do modo como o
negro era visto ao longo da história, de modo a estabelecer uma cronologia dos
caminhos trilhados pelos negros no Brasil. Para tanto, promover-se-á uma
discussão delineada da representatividade numérica da população negra brasileira
atrelada à análise de cordéis. Percebe-se que a construção do conhecimento, por
meio do trabalho com o cordel, permite uma aprendizagem significativa, pelo fato
de essa literatura se apresentar no contexto sociocultural como rica fonte de
pesquisa, despertando nas pessoas, quando bem trabalhada, um interesse maior
pela aquisição de saberes. Seu uso também pode abarcar atividades como: contação
de histórias, apresentação de pequenas peças teatrais e planejamento de oficinas de
desenho. Como conclusão, verifica-se que a literatura de cordel é uma forma de
produção de conhecimento que, ao ser levada para a sala de aula, enriquece o
processo educativo.

Abolição Americana: imprensa e as interpretações sobre o pós-abolição


americano no Brasil - Clícea Maria Augusto de Miranda (USP)

Em 1865, com a vitória dos estados da União sobre os estados confederados do


Sul, terminava a guerra Guerra Civil e a escravidão nos Estados Unidos. Os jornais
brasileiros obviamente não deixaram de veicular notícias a respeito do conflito,
193
especialmente aqueles assuntos relacionados a emancipação. Ao acompanhar os
jornais da corte do Rio de Janeiro entre 1861 (ano que dá início a Guerra de
Secessão) e 1888 (fim da escravidão no Brasil), procurando identificar o conteúdo
das matérias nos órgãos de notícia sobre os desdobramentos da guerra civil e da
abolição americana, buscou-se entre outros fins, verificar as representações sobre
a sociedade americana, suas relações raciais e de que forma se apresentam, mas
sem perder de vista seu diálogo com os projetos sobre o destino da escravidão no
Brasil. Ao longo destas três décadas, o tema da Guerra Civil e da abolição da
escravidão foram veiculados por alguns jornais no Brasil, entre eles o Correio
Mercantil, A Pacotilha, A Pátria, A Reforma, Atualidades, Correio da Tarde
(Campos dos Goitacazes), Correio da Tarde (Rio), Diário de Notícias, O Nacional,
O Parlamentar e O Século XIX, no que se refere ao Rio de Janeiro. A imprensa
carioca era particularmente importante em virtude de sua posição nacional, uma
vez que era sede da Corte imperial, mas também pela quantidade de jornais que lá
circularam durante esse período. De uma maneira mais ampla, podemos verificar,
a partir desta fonte, as polarizações políticas em torno do debate sobre o cativeiro
e o destino da população escravizada a partir do episódio americano.

Badia, a dona do Carnaval de 1985 - ela é de festa, ela é de religião! - Augusto


Neves da Silva (Universidade Federal de Pernambuco)

ano, a festa foi em homenagem a Babia, uma afamada mãe de santo pernambucana.
Diante disso, este trabalho investiga as relações históricas entre a yalorixá Badia e
o Carnaval do Recife. Buscamos entender os caminhos que levaram essa
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personagem a tornar-se símbolo do Carnaval recifense. Para tanto, procura-se


compreender como, em torno da figura de Badia, é possível vislumbrar discussões
relevantes sobre tradição, festas, religiosidade popular, identidade e cultura negra
no Recife. Interpretar os caminhos desse acontecimento é possibilitar conhecer um
pouco mais a respeito de memórias invisualizadas sobre o Carnaval recifense e
sobre a própria capital pernambucana.

Da identidade religiosa a uma identidade cultural: as CEB's e os quilombos


no Litoral Sul Fluminense - Maria do Carmo Gregório (UFF)

Os municípios definidos para o texto são Paraty e Angra dos Reis onde ocorreu no
período delimitado para a pesquisa um intenso conflito de terras. Esses dois
municípios pertenciam à diocese de Volta Redonda e estavam sob o bispado de
Dom Waldyr Calheiros. São áreas de ocupação tradicional. Estou classificando de
áreas de ocupação tradicional: áreas de quilombos ocupados pelos negros,
descendentes dos povos escravizados e áreas de terras demarcadas, reservas
ocupadas pelos povos originários. Onde dentro de uma perspectiva arqueológica
observamos diferentes camadas de processos históricos. Realizamos entrevistas
com o Sr. Valentim no território de Paraty e o Sr. Manoel Moraes e o Sr. Argemiro
da Silva, em Angra dos Reis. Buscávamos nas entrevistas informações sobre a
importância da presença da diocese de Itaguaí e de D. Vital para a região. A riqueza
das entrevistas nos permite identificar o processo de construção da identidade
religiosa que acionou outras identidades: a de classe e a cultural. Foi dentro das
194
Comunidades Eclesiais de Base na região que parte da população, ainda na década
de 1960, começou a se organizar, a principio o objetivo foi viver, propagar e
consolidar a fé cristã católica diante dos temores da Igreja que objetivava conter o
avanço do protestantismo e suprir a escassez de sacerdotes. Em 1970 as CEB’s
passam a representar uma renovação dentro da estrutura institucional da Igreja
Católica. Internamente rompeu com uma concepção religiosa fundamentada na
valorização da centralização hierárquica, formal e autoritária e possibilitou formas
internas democráticas de participação popular. Externamente no período em que
vigorou o regime civil-militar no Brasil significou canais abertos onde diferentes
concepções de religião e de politica puderam se expressar. Nesse artigo utilizo
como fonte os depoimentos orais para com eles registrar a memória da experiência
vivida. O objetivo é examinar a partir da memória construída como, em diferentes
fases demarcadas, ocorreu o “deslizar da Igreja católica” rumo aos movimentos
sociais, aos sindicatos e ao Partido dos Trabalhadores no Litoral Sul Fluminense.
A memória da experiência vivida ofereceu à Igreja Católica uma identidade como
Igreja popular na região. Nas entrevistas encontrei uma delimitação de tempo
histórico diferente da que construímos a partir do arquivo memória da Comissão
Pastoral da Terra. Vou explorar as entrevistas a partir da demarcação apresentada
pelos entrevistados. As entrevistas foram realizadas em algumas áreas de conflito
pela posse da terra, acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra na região.

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Dos grilhões aos guizos: história pública, memórias e saberes


compartilhados - Lívia Nascimento Monteiro (Centro Universitário Celso
Lisboa)

O objetivo dessa apresentação é debater os limites e caminhos percorridos durante


a pesquisa de doutorado, defendida em 2016 na Universidade Federal Fluminense,
sobre as festas de Congada e Moçambique em Piedade do Rio Grande, Minas
Gerais, minha cidade natal, na qual utilizei fontes orais e audiovisuais no decorrer
da pesquisa, e que resultou num vídeo documentário, feito em parceria com a Narre
Produções. "Dos Grilhões aos Guizos. Festa de Maio e as narrativas do passado"
foi lançado na festa de maio de 2017, como é carinhosamente conhecida a festa que
celebra os santos católicos Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora das Mercês
e São Benedito, agregando também elementos simbólicos das religiões de matrizes
afro-brasileiras. A festa que acontece desde a década de 1920, tem em sua formação
inicial famílias de ex-escravos que moravam na zona rural de Piedade. Durante os
festejos, os congadeiros-moçambiqueiros rompem com o silêncio ao som da
sanfona, da caixa e dos guizos, revelando orgulho pelo passado e ancestralidade
negra. A relação entre História Pública e Oralidades está nas pautas das reflexões
desse produto da tese, tendo em vista também as relações que a História Pública
pode e vem sendo desenvolvida com a memória da escravidão e da liberdade no
país, em diversos projetos divulgados atualmente e ligados à reparação e aos
direitos de memória. Desse modo, pretendo contar como esse trabalho tem se
tornado um importante instrumento para a divulgação da festa enquanto patrimônio
195
imaterial e a articulação que o grupo de jovens congadeiros e moçambiqueiros vem
promovendo em suas redes sociais na luta contra o racismo. Ao compartilhar essa
experiência, pretendo discutir os espaços das narrativas audiovisuais na História e
o quanto a História Pública foi e tem sido importante arcabouço teórico para esse
projeto.

E eu, não sou mulher? Violência e Crime contra a Mulher Negra no Pós-
Abolição - Elaine P. Rocha (University of the West Indies)

Este artigo propõe uma análise sobre o status da mulher negra no pós-abolição, a
partir do caso de Barbados, um país com uma extensão territorial reduzida e
consequentemente uma população que há décadas se mantém na faixa dos 280 mil
habitantes, a maioria descendentes dos africanos escravizados. Ainda que abundem
estudos sobre as condições de vida da classe trabalhadora, predominantemente
negra nas ilhas do Caribe, existe uma lacuna que demanda por investigações acerca
da trajetória das mulheres desta região. No caso de Barbados, a existência de
acervos e de documentação referente ao período da passagem entre os séculos XIX
e XX, permitem uma apreciação das pressões sociais e econômicas sofridas pelas
mulheres negras, bem como de elementos culturais que alimentavam sua alienação
dentro da sociedade. A base para este estudo é a documentação existente sobre dois
crimes praticados contra mulheres barbadianas, um na ilha de Barbados em 1916 e
outro na nascente cidade de Porto Velho em 1924. O que ambos crimes têm em
comum é o anseio das vítimas em escaparem de uma vida de pobreza e opressão e
a forma possessiva e violenta como seus algozes – ambos homens negros – as
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mataram. Complementam o estudo o panorama sócio-econômico das mulheres


negras em Barbados e o cenário das migrações femininas negras, uma vez que se
trata de analisar o lugar de expulsão e o lugar de recepção. A moldura teórica que
fundamenta a análise combina a produção bibliográfica sobre a história econômica
e social de Barbados e do Caribe ingles, com a historiografia brasileira sobre o
racismo, além de utilizar elementos dos estudos feitos nos Estados Unidos sobre a
vulnerabilidade da mulher negra e sua vitimização nas mãos de homens da mesma
condição racial e social.

Emancipação e pós-abolição no Maranhão: entre negociações e


conflitos - Carolina Christiane de Souza Martins (UFF)

Em fins do século XIX, São Luís do Maranhão estava entre as principais cidades
que se destacavam pela concentração de população afrodescendente, juntamente
com o Rio de janeiro, Salvador, Recife e Porto Alegre. O entrecruzamento de fontes
como jornais, portarias de policia e ocorrências policiais permitem observar como,
às vésperas da abolição, as ruas da cidade eram cotidianamente tomadas por
práticas culturais associadas à população negra que habitava a cidade. Entender
como esta população se organizava no espaço urbano, principalmente com relação
à fé, às festas, às redes de solidariedade mais especificamente no período pós-
abolição é umas das principais questões que norteiam esta pesquisa que se encontra
em desenvolvimento. Através das licenças policiais, das notícias de jornal sobre
estas festividades, dos documentos de policia que tratam da repressão às práticas
196
consideradas desordeiras, e também com relação às notícias referentes às moradias
populares, a presente pesquisa suscita pensar estes espaços da cidade de são Luís
como sendo territórios negros, ou seja, espaços ocupados por uma população negra
que estabelecia redes de sociabilidade e solidariedade entre si. O desafio que se
coloca é olhar para além das fontes, produzidas a partir dos estereótipos e
preconceitos das elites e visualizar o universo de possibilidades que se apresenta
para que seja possível um olhar sobre as práticas de sociabilidade da população
negra ludovicense, contribuindo, dessa forma, com os estudos referentes ao pós-
abolição no Brasil, mais especificamente na região norte e nordeste do país.

Mãos negras em solo hostil: a utilização do Habeas Corpus no processo de


ocupação da terra na Primeira República em Santo Antônio do Rio Abaixo -
Mato Grosso - Cristiane dos Santos Silva (UFMT)

Na Primeira República, muitos trabalhadores rurais negros permaneceram no


campo, após a Abolição em 1888. Uma parte, nas propriedades dos coronéis, no
caso, nas usinas de açúcar situadas em Santo Antônio do Rio Abaixo, às margens
do Rio Cuiabá. Outros trabalhadores rurais, aspiravam e conseguiram um pedaço
de chão, seja por ocupação ou doação, visando o cultivo da terra com a família,
constituindo uma agricultura familiar negra e mestiça. O fato dos lavradores
possuírem uma propriedade era tratado como afronta à elite agrária da região, pois
simbolizava a ascensão e a autonomia individual e coletiva, de negros e mestiços,
ainda mais quando produziam excedente, garantindo a comercialização entre
produtores e/ou cidades vizinhas, simbolizando uma independência econômica
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indesejada. O estudo sobre o processo de ocupação da terra pelos negros e mestiços,


enquanto produtores e não apenas trabalhadores rurais, desnuda uma mentalidade
escravagista que permaneceu no pós-Abolição. Uma mentalidade que não aceitou
um novo modelo de sociedade, advindo com a emancipação, para os filhos do 13
de Maio, as ações dos coronéis eram denunciadas como parte de um “projeto
escravagista”, no qual não reconheciam a presença do Estado, e tampouco
respeitavam a lei vigente. O projeto escravagista imposto pelos usineiros, não
reconhecia a cidadania das pessoas, por isso, dispunham de bandos armados para
efetivação de seus desmandos, não medindo esforços para alcançar seus objetivos
em busca da obtenção de mão de obra barata, ou mesmo, gratuita. De acordo com
o interesse dos coronéis foram praticadas invasões em propriedades, com o intuito
de impor trabalhos forçados aos trabalhadores livres, através de rapto, tortura e
cárcere privado. Em contrapartida, os trabalhadores rurais lutaram por seus
direitos, denunciando em jornais as práticas abusivas e utilizando do poder
judiciário à seu favor, através do Habeas Corpus, para garantir proteção e o direito
de ir e vir.

Mundo do Trabalho e Pós-Abolição: A Freguesia do Pilar como base de


análise - Sabrina Machado Campos (SME - Duque de Caxias)

Este artigo pretende analisar a estrutura socioeconômica da freguesia Nossa


Senhora do Pilar, um dos primeiros núcleos populacionais da atual cidade de
Duque de Caxias – Rio de Janeiro, tendo como fonte os dados apresentados em
197
1847-48, 1872 e 1890, registros eclesiásticos e inventários. Seu embasamento
teórico será fundamentado em E.P. Thompson e Eric Hobsbawm, utilizando os
trabalhos de Flavio Gomes, Alvaro Nascimento, Marcelo Badaró, Sidney
Chalhoub, Antonio Negro, Nielson Bezerra e Marlucia Santos de Souza como
arcabouço analítico. Para tal terá três pontos de reflexão, iniciando com uma
consideração acerca do debate entre as pesquisas do Mundo do Trabalho e de
escravidão/pós- abolição, diálogo ainda incipiente, principalmente no que tange as
pesquisas acerca da Baixada Fluminense, mas profundamente relevante. Em
seguida, serão apresentadas algumas ponderações sobre o tema na Baixada
Fluminense no Rio de Janeiro. E por último, a análise da Freguesia de N. S. do
Pilar para compreender como essa interlocução pode ser aplicada.

O Asilo de Órfãs São Benedito (1901-1930): atuação da comunidade negra em


prol das meninas desvalidas - Jeane dos Santos Caldeira (UFPel)

O texto proposto tem por finalidade destacar a atuação da comunidade negra em


prol das meninas desvalidas, junto ao asilo de órfãs situado em uma cidade da
região sul do Brasil. O foco de análise corresponde ao período de 1901, ano de
fundação do referido asilo, até 1930, ano em que faleceu uma das principais
idealizadoras para fundação da instituição. Para a presente investigação, foram
utilizadas atas, estatutos, relatórios e excertos de jornais locais, tendo a análise
documental como principal metodologia de pesquisa (CELLARD, 2012;
SAMARA; TUPY, 2010). Sobre a infância desvalida, cabe explicitar que entre o
final do século XIX e início do século XX, o governo republicano elaborou
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estratégias para solucionar o problema de abandono moral da sociedade, do


analfabetismo e preparar os excluídos sociais para constituírem mão de obra mais
qualificada, uma vez que o país estava passando pelo processo de urbanização e
industrialização. Considerando esse quadro, a cidade de Pelotas/RS também
necessitava de alternativas para garantir a educação modelar, disciplinadora e
higienista destinada às crianças das classes populares, pois o número de crianças
abandonadas e em situação de pobreza era assustador e precisava de iniciativas
para amenizar essa situação. Logo, ressalta-se como problema de pesquisa, o
estudo de como a comunidade negra daquele período se comportava diante desses
fatos. Em prol da infância desvalida, Luciana Lealdina de Araújo (1870-1930) teve
a iniciativa de criar uma instituição que abrigasse meninas sem distinção de cor.
“Mãe Preta” como era conhecida, filha de escrava, era uma mulher dotada de
bondade e de extrema determinação, com vontade de praticar o bem e fazer
caridade junto às crianças abandonadas. Para a fundação do asilo, Luciana contou
com a colaboração de membros da sociedade pelotense, em especial homens
negros, que constituíram as primeiras diretorias da instituição. A fundação do asilo
foi considerada uma conquista da etnia negra tão rejeitada e discriminada e que,
mesmo após a abolição oficial da escravatura no país, ainda enfrentava dificuldade
para suprir suas necessidades básicas, entre elas, emprego, saúde e educação. Além
disso, naquele período, outro importante asilo em funcionamento na cidade não
estava acolhendo meninas negras e/ou filhas de pais desconhecidos. O Asilo São
Benedito é um exemplo que ratifica a atuação da comunidade negra pelotense em
diferentes espaços sociais. Esse grupo étnico-racial deixou suas marcas no cenário
198
educativo, político e até mesmo na imprensa, com a fundação do jornal pelotense
A Alvorada (1907-1965), mais duradouro jornal da imprensa negra do Brasil
(MELLO, 1995). Por isso, a importância deste estudo, pois busca valorizar sujeitos
excluídos e ausentes da visibilidade histórica.

Para uma nova abordagem das relações entre músicos populares e o


compositor Heitor Villa-Lobos - Lurian José Reis da Silva Lima (UFF)

Os encontros e as parcerias de setores da elite com músicos populares negros


constituem, segundo apontou Hermano Vianna, episódios frequentes na vida
cultural brasileira. Não é, nessa interpretação, nada historicamente excepcional que
Heitor Villa-Lobos, Gilberto Freyre, Prudente de Moraes Neto e Sérgio Buarque
de Holanda (a elite) se reunissem com Donga, Pixinguinha e Patrício Teixeira
(músicos negros) na década de 1920, uma vez que essa partilha de experiências
musicais e o desejo de construir elos simbólicos inter-raciais já eram realidade
desde o tempo do Império. A elevação do samba a símbolo nacional a partir da
década de 1930 não significava uma ruptura, portanto, mas um episódio marcante
de um projeto difuso, e vivo há muito tempo, de conciliação nacional. Entretanto,
dois conjuntos de textos nos quais a relação de Villa-Lobos com a música popular
carioca é posta em discussão subtraem o compositor da tese de Vianna por
caminhos opostos. De um lado, os trabalhos de Ermelinda Paz e Hermínio Bello de
Carvalho, ampliando a vereda aberta pela musicologia brasileira da tradição
modernista, enfatizam a integração total e absolutamente excepcional com a
música popular que caracterizaria a vida e a obra de Villa-Lobos. De outro, um
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vasto corpus de produções mais recentes, centrado na trajetória educacional do


compositor na Era Vargas, sustenta que Villa-Lobos foi um nacionalista autoritário
e demagogo, para quem a música popular, senão como matéria-prima para música
de concerto, não tinha valor e constituía um empecilho à elevação do gosto artístico
do país. No presente trabalho, procuro discutir os limites dessas duas
interpretações, relacionando-os às fontes documentais que lhes dão lastro, e propor
uma nova abordagem para esse tema. Argumento: 1) que a relação de Villa-Lobos
com os músicos populares cariocas exige um olhar atento tanto aos dissensos e
conflitos, quanto aos consensos colaborações surgidas entre eles; 2) que isso
implica uma observação em escala reduzida e a utilização de uma variedade maior
fontes documentais; 3) que é preciso nominar e ouvir os próprios músicos
populares, para não encará-los como um grupo homogêneo e não inferir uma
postura supostamente coerente deles em relação a Villa-Lobos e vice-versa; 4) que
mais do que “consertar” a historiografia sobre Villa-Lobos, essa nova perspectiva
analítica deve procurar por em evidência a dinâmica cultural no Brasil Pós-
Abolição procurando também inverter o ângulo de observação de Hermano
Vianna: enfatizando a agência dos músicos populares, negros em sua maioria, em
seus encontros e desencontros com setores da intelectualidade.

Saúde Pública e Justiça na primeira República: práticas populares de curas e


legislação em vigor - Glícia Caldas Gonçalves da Silva (UNIRIO)

Ao longo da Primeira República coube aos cultos religiosos não reconhecidos


199
como religiões institucionalizadas o ônus de demonstrar aos aparatos sanitários,
policiais e judiciais que eram religiões. Diferenciar o que era religioso e legal do
que era “magia” e ilegal, cabendo muitas vezes aos aparatos jurídicos e policiais
esse embate de diferenciação. O artigo visa uma discussão acerca da repressão ao
curandeirismo/feitiçaria, no Rio de Janeiro, de 1889 a 1927. O Código penal de
1890 criou mecanismos reguladores de combate às categorias, instituídos nos
artigos 156, 157 e 158. No novo instrumento penal a prática da magia foi incluída
entre os crimes contra a saúde pública. As fontes são os processos criminais do
Arquivo Nacional e do Arquivo Central do Tribunal do Júri, na tentativa de
reconstruir trajetórias desses personagens “ocultos”. Caminhos que nos levam a
conhecer alguns agentes de curas, seguindo por estradas que pudessem ser
diferentes, mas que em algum momento das suas trajetórias houvesse pontos de
interseção, para melhor “se pensar” esses misteriosos trajetos. Os processos
criminais são uma das fontes de combate a feitiçaria à época. A necessidade de
incorporar e tornar visíveis outros sujeitos políticos menos “legítimos”
oficialmente, silenciados no discurso sobre as diversas medicinas do Brasil, revelou
os terapeutas de curas negros e seus descendentes, além da estreita ligação desses
praticantes com as religiões praticadas por eles.

Secos e Molhados: A construção de esteríotipos raciais no teatro do Rio de


Janeiro no pós abolição; Decáda de 1920. - Lissa dos Passos e Silva (UFF)

Este trabalho vislumbra analisar as representações dos personagens do roteiro de


Secos e Molhados, de autoria de Luis Peixoto, de 1924. Esta peça faz parte da
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forma conhecida como teatro de revista, e foi encenada no Theatro São José, que,
entre os anos de 1903 a 1926, recebeu espetáculos de grande impacto na vida
cultural carioca. Localizava-se na praça Tiradentes, lugar de maior concentração
de teatros na Primeira República. A pesquisa visa pensar a construção do
estereótipos raciais de seus personagens compreendendo-a como objeto de
interesse de intelectuais brasileiros que refletiam sobre a brasilidade, em uma
sociedade recém-saída de um regime escravocrata e monárquico. Dando maior
enfoque na análise dos personagens negros trás o questionamento de como esses
personagens da cultura se inserem nos debates raciais vigentes no período de pós
abolição, mostrando o quanto esses debates construídos transparecem nas
construções de personagens carregados de estereótipos com o objetivo de provocar
o riso.

200

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201
ST 18. GT Mundos do Trabalho:
Novos temas e debates na História do
trabalho (Século XIX- década de
1950)

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"Eu trabalhei também": as trabalhadoras nos seringais do Amazonas (1940-


1950) - Agda Lima Brito (PPGH-UERJ)

Por meio de fontes orais, periódicos e fontes oficiais, buscamos pesquisar a história
de trabalho das mulheres que viveram nos seringais. Em 1940 milhares de famílias,
foram atraídas para o trabalho nos seringais, uns através do alistamento e outros
vinham seduzidos pelas propagandas que eram divulgadas pela imprensa, uma
forte arma usada pelo governo varguista, esses trabalhadores acabaram
encontrando um universo de trabalho bem diferente daquele oferecido nas
propagandas e contratos. Percebemos que as mulheres realizavam inúmeras tarefas
em meio as matas, evitando consumir nos barracões, tentavam garantir a
sobrevivência de sua famílias, com isso destacamos a importância do trabalho
feminino nos seringais entre 1940-1950.

Apregoando sabores pelas ruas de Minas Gerais: um estudo sobre a atuação


das quitandeiras no mundo do trabalho no século XIX - Juliana
Bonomo (USP)

Essa pesquisa busca refletir acerca do destino das quitandeiras nas Minas Gerais
do século XIX, assim como levantar uma discussão sobre a interação das mesmas
com o mundo do trabalho. Embora haja um grande número de estudos que abordem
a atuação das quitandeiras no abastecimento alimentar da capitania mineira no
século XVIII, observamos que há uma falta de estudos sobre essas agentes
202
comerciais no período que abrange a decadência da produção aurífera até o final
do século XIX. Sabemos que há uma ampla bibliografia sobre as quitandeiras dos
Oitocentos para as cidades de Salvador, São Luís do Maranhão, Rio de Janeiro e
São Paulo. Contudo, a historiografia mineira dedicou-se exclusivamente ao estudo
das quitandeiras no contexto da mineração, deixando a incerteza sobre a presença
delas nos Oitocentos. Em vista disso, elaboramos três hipóteses sobre o destino das
quitandeiras no século XIX, baseando-nos nos estudos sobre a economia mineira,
nos documentos históricos, nos relatos memorialísticos e nas bases de dados
Poplin-Minas 1830 e o Recenseamento Populacional de 1872. Para o ano de 1804,
contamos com as informações do estudo realizado por Luna & Costa (1982), no
qual os autores analisaram os dados empíricos de Herculano Gomes Mathias
relativos ao levantamento populacional efetuado em Minas Gerais naquele ano, na
área que corresponderia, atualmente, ao perímetro urbano de Ouro Preto.
Encontramos outras informações, para a década de 1830, na base de dados Poplin-
Minas 1830, compilada pela pesquisadora Clotilde Paiva do CEDEPLAR/UFMG.
Baseada nas Listas Nominativas de 1830/1832, a base de dados revelou-se uma
fonte confiável e fundamental para atestarmos não só a presença das quitandeiras
em grande parte da província mineira, como também a inserção de mulheres
brancas e homens nessa atividade, ainda que a participação deles fosse pequena.
No total, foram encontradas 111 quitandeiras vivendo em Minas Gerais na década
de 1830. Outra fonte utilizada foi o Recenseamento Imperial de 1872, através do
qual foi possível apreender as ocupações dos escravos e ex-escravos a uma década
e meia da abolição da escravatura, o que nos ajudou a levantar uma discussão sobre
o destino das quitandeiras no final do século XIX. Relatos memorialísticos como
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os de Ciro Arno (1979) e de Helena Morley (2016) constituíram-se, também, fontes


importantes para essa análise. Em suma, essa pesquisa atestou não só a existência
de quitandeiras nas Minas Gerais do século XIX, como também a diversidade racial
e social entre elas. Tudo isso facilitado pela contínua expansão urbana ocorrida ao
longo do século e a diversificação da produção de alimentos, possibilitando o
surgimento de novas quitandeiras, enquanto outras possam ter migrado para outros
tipos de ocupação ou retornado à África.

Nos currais, roças e lidas da casa: escravidão no sertão do Piauí - São


Raimundo Nonato (1850 – 1888) - Nayanne Magna Ribeiro Viana (UEFS)

O presente trabalho tem o objetivo de discutir a utilização da mão de obra escrava


em São Raimundo Nonato-PI, com enfoque na distribuição dos escravos por
propriedades e no perfil da população escravizada. O local em análise era uma
pequena vila do sertão do Piauí, que no século XIX possuía economia voltada para
o mercado interno. Caracterizada por pequenas propriedades cuja principal
atividade econômica era a criação do gado (vacum e cavalar) e agricultura, na qual
a maior parte da produção era destinada para subsistência das famílias, a mão de
obra escravizada era utilizada sobretudo nas atividades agrícolas, nos serviços
domésticos e na criação do gado. Na região predominava microproprietários, com
um a quatro escravos por propriedades e não havia concentração de muitos
escravos por fazendas. A documentação que tem permitido essa análise são os
dados obtidos por meio dos inventários post-mortem, livros de notas, da Matrícula
203
geral de escravos de 1886, no Censo Geral de 1872, informações estatísticas da
Delegacia de Polícia e os Relatórios dos Presidentes da Província do Piauí, através
de uma metodologia comparativa para estabelecer padrões de mudanças ou
continuidades. A utilização do trabalho escravo nas pequenas propriedades de
criação de gado e lavoura do sertão do Piauí configurou de maneira distinta de
outras regiões do Brasil, sobretudo das zonas de plantations, tanto na estrutura de
posse como no perfil populacional.

O trabalho de ama de leite no Brasil Republicano: a amamentação como


questão de saúde e como serviço doméstico - Caroline Amorim
Gil (COC/Fiocruz)

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a ama de leite no início do século XX,
chamando atenção para a presença e circulação de mulheres que trabalhavam com
a venda do leite materno. Um dos objetivos deste trabalho é a construção do perfil
desta mulher que ofertava seus serviços como ama em um momento caracterizado
pela mobilização política em prol da fiscalização do leite, enquanto atividade
doméstica, e de médicos e intelectuais preocupados com a saúde infantil. As fontes
para este trabalho são censos, plantas da cidade, discursos médicos, anúncios de
amas de leite em periódicos correntes como o Jornal do Brasil, além de teses de
alunos da Faculdade de Medicina (FMRJ) que se apresentam como documentos
importantes para compreender o cenário. Em fins do século XIX a utilização de
amas era um hábito corriqueiro entre as camadas médias e altas na cidade do Rio
de Janeiro. Esta época foi marcada por uma geração de intelectuais preocupados
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com a mortalidade infantil e o desenvolvimento das crianças cujas mães buscavam


se desprender do aleitamento materno. Temos um quadro marcado pela recente
abolição da escravidão, ocorrida em 1888, a expansão da cidade para os subúrbios
e o crescimento da mulher no mundo do trabalho. Este é o pano de fundo deste
estudo.

Os funcionários públicos e a Câmara Municipal do Rio de Janeiro (1891-


1900) - Mariana Kelly da Costa Rezende (UFF)

O presente trabalho faz parte de um projeto de iniciação científica que busca


analisar as relações entre os trabalhadores e as leis no Rio de Janeiro nas primeiras
décadas republicanas, entre 1889 e 1906. Nessa apresentação, pretende-se analisar
a relação do funcionalismo público com a Câmara Municipal, destacando a
regulamentação do papel desses funcionários e a conquista de direitos, tal como
licença médica, aposentadoria e aumento salarial. Além disso, é importante
perceber o jogo político no qual se insere tais negociações: os funcionários públicos
eram uma parte influente nas eleições, e, como eleitores, se impunham nas
demandas.

Queer Work e o mundo do trabalho artístico no Brasil na primeira metade do


século XX - Flavia Ribeiro Veras (CPDOC-FGV)

A relação entre os conceitos de artistas e trabalhadores é complexa. Ao analisarmos


204
a consolidação do mercado artístico na cidade do Rio de Janeiro é possível perceber
que a moralidade é um dos elementos que tensionava a relação dos artistas com o
mundo do trabalho. Facilmente identificados com o lume proletariado os artistas e
empresários do ramo das diversões, a partir do primeiro quarto do século XX,
começaram a pleitear direitos trabalhistas produzindo a invisibilidade de
personagens que, embora muito presentes nos espaços de diversões, não
correspondiam ao padrão de respeitabilidade e moralidade em vigor na época.
Vários artistas que trabalhavam legalmente como transformistas, por força da lei
registraram-se no sindicato profissional. Além desses, que dificilmente poderiam
camuflar sua sexualidade, muitos outros viviam em uma dualidade entre resguardar
sua orientação sexual e pleitear sucesso profissional nos meios comerciais. O
mundo do trabalho artístico com sua multiplicidade de espaços como teatros
populares, circos, cassinos, bares e bordeis mostrava-se como um universo muito
mais aberto à diversidade do que outros espaços na cidade. No entanto, a
emergencia da cultura comercial de massas atuou reordenando o mundo de trabalho
artístico e transformando a vida pessoal do artista em material para seu
personagem.

Revista Typographica e o debate operário sobre a República (1889) - Igor


Soares Rodrigues (UERJ)

O presente trabalho procura analisar os debates que ocorreram na Revista


Typographica no final do ano de 1889, tendo como tema a República e a posição
dos trabalhadores no novo contexto político. A Revista tem início na Corte em 1888
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e tinha por objetivo defender os interesses dos tipógrafos, entretanto acaba por se
inserir nos principais assuntos políticos e sociais da época. Desde seus primeiros
números mostra o apoio a abolição e retrata com entusiasmo os festejos após o 13
de maio, destacando a participação dos tipógrafos e sua relação com a imprensa. O
seu dono e redator principal era Luiz da França e Silva, que seria personagem
importante na criação dos primeiros partidos operários. Podemos observar pela
Revista a trajetória de lutas, que começa na abolição e se estende até os debates
sobre a República, representação e papel dos trabalhadores no novo sistema
político. Pretendemos nos limitar a analisar os últimos números da Revista, em
dezembro de 1889, momento em que houve um debate entre Silva e Elpidio de
Castro – secretário do Centro Tipográfico Treze de Maio – sobre a posição dos
operários diante o novo regime que se inaugurava.

Sob olhar de Netuno - Memórias e narrativas como forma de compreender a


verticalização do litoral sul de São Paulo e seus impactos - Rafael da Silva e
Silva (Prefeitura Municipal de Praia Grande)

O presente trabalho tem como objetivo analisar o início da verticalização do Litoral


Sul do Estado de São Paulo como forma de compreender os impactos culturais que
a região sofreu a partir da segunda metade do século XX com base em memórias e
narrativas de moradores do Bairro Cidade OCIAN, no município de Praia Grande-
SP. Este bairro deu início à verticalização das regiões balneárias do Litoral Sul,
com grandes transformações culturais e impacto direto nas comunidades caiçaras.
205
Isso porque o projeto da Cidade OCIAN, previa a construção de vinte e dois
prédios, mais de mil e trezentos apartamentos, com sistema próprio de esgoto,
coleta de lixo, clube para associados e luz elétrica; em uma época em que os bairros
ainda estavam sendo loteados e era comum a presença de sítios que mais tarde
deriam origem aos loteamentos das cidades litorâneas. Na ocasião foram realizadas
vinte e duas entrevistas de História Oral coordenadas pelo Centro de Memória de
Educação de Praia Grande para compor o livro “Sob Olhar de Netuno”, sendo que
a proposta partiu da própria comunidade em virtude da comemoração dos sessenta
anos do bairro. Esse material, porém, carecia de uma análise mais profunda, apesar
da sua riqueza historiográfica para a região. Além das entrevistas de História Oral,
utilizou-se também outras fontes apresentadas pela própria comunidade durante a
realização do projeto, tais como fotografias e objetos biográficos. As entrevistas de
história oral foram realizadas com base nos trabalhos dos autores José Carlos Sebe
B. Meihy, que define alguns caminhos possíveis para a aplicação das entrevistas;
na autora Verena Alberti, que apresenta experiências da Fundação Getúlio Vargas
em realizar entrevistas de História Oral, experiência interessante uma vez que o
presente trabalho foi coordenado pelo Centro de Memória da Educação de Praia
Grande e Zeila de Brito Fabri Demartini, que propõe o estudo com migrantes e
imigrantes utilizando também a história oral. Por fim, foi possível perceber que o
litoral sul teve sua paisagem transformada pela verticalização e urbanização na
segunda metade do século XX. Essa transformação refletiu grande impacto cultural
que a construção civil trouxe para a região, uma vez que atraiu mão de obra de
outros estados, trouxe influências externas e transformou decisivamente o estilo de
vida litorâneo da cultura caiçara.
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Trabalhadores escravizados e livres na legislação municipal (Rio de Janeiro,


século XIX) - Paulo Cruz Terra (Universidade Federal Fluminense)

A história social do trabalho produzida no Brasil tem passado por importantes


transformações nos último anos. Uma das principais delas diz respeito ao diálogo
necessário entre os historiadores da escravidão e os estudiosos das práticas políticas
e culturais dos trabalhadores urbanos pobres e do movimento operário. A presente
comunicação pretende contribuir nesse sentido ao apontar a importância do poder
municipal para analisar o trabalho livre e escravo nos espaços urbanos no século
XIX, sendo aqui privilegiada a capital do Império. Além disso, busca-se investigar
como os trabalhadores agiam diante das medidas que incidiam sobre suas
ocupações e os sentidos atribuídos por eles às leis.

Trabalhadores negros no processo de formação da classe trabalhadora


carioca: A Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em Trapiche e
Café - Livia Cintra Berdu (UFF)

O presente trabalho tem como objetivo refletir acerca do processo de formação da


classe trabalhadora na cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente sobre a
organização e a sindicalização dos trabalhadores portuários ligados ao setor
cafeeiro no início do século XX. A categoria dos carregadores de café, chamados
de "trabalhadores de tropa", são conhecidos pela historiografia pela sua
206
composição étnica fortemente marcada pela escravidão negra, além de possuir
alguns elementos de continuidade desse momento histórico em relação ao espaço
de trabalho e suas formas de organização. Por outro lado, também é de
conhecimento dos historiadores que nos últimos anos do século XIX e início do
século XX, havia um cenário político nacional e internacional que possibilitava
uma forte influência de distintas correntes ideológicas no movimento operário que
se formava, sobretudo no setor portuário por conta de seu constante intercâmbio
entre trabalhadores do mundo todo. O socialismo e o anarco-sindicalismo eram
amplamente difundidos no cotidiano desses sujeitos, além de suas idéias serem
parte orgânica de suas lutas, incluindo as várias greves ocorridas na primeira
década. E é nesse contexto que se situa a criação da "Sociedade de Resistência em
Trabalhadores em Trapiche e Café", fundada em 15 de abril de 1905 na zona
portuária do Rio de Janeiro, abarcando de forma ampla os carregadores e
arrumadores de café, bem como os chamados "capitães de tropa", se destacando
pela sua organicidade e sua combatividade.

Trabalho e Loucura: internos da Colonia Juliano Moreira (1830-1945) - Anna


Beatriz de Sá Almeida (Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz)

A pesquisa tem como objetivo analisar a história de homens internados na Colônia


Juliano Moreira (CJM), os quais apresentaram indícios em suas documentações
internações relacionadas com o campo do trabalho, no período de 1930 à 1945. São
questões que nos norteiam: o estudo das políticas públicas e do conhecimento
científico nos campos da psiquiatria, da saúde do trabalhador e da sexualidade. A
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metodologia de trabalho foi o levantamento e seleção do grupo de internos


analisando as principais fontes documentais: prontuários dos internos e as fichas
de observação e a posterior análise das histórias, sempre que possível, do grupo de
internos selecionado, destacando: características e dados sociais, causas da
internação, diagnósticos e tratamentos recebidos, dados de constituição física e
temperamento, entre outros aspectos. Casos selecionados: Alfredo, pardo, natural
de Rio Preto, MG, nascido em 1909 e casado. Ingressou na CJM, aos 35 anos, em
março de 1944. Informou ao médico ter “bebido um pouquinho”, quando ficou
desatinado e foi detido. Apresentando tremor na língua e nos dedos, afirmou ser
foguista e musico e “que por causa dessas funções, bebe quando trabalha”.
Diagnosticado com alcoolismo crônico e psicose hetero-tóxicas. Orlando, branco,
casado, ingressou na CJM com 34 anos, em fevereiro de 1932, apresentando tremor
generalizado e estando muito assustado. Dias depois, ainda tremulo, mostrou-se
mais calmo e bem orientado. Afirmava que seu alcoolismo resultara de problemas
no trabalho e do desemprego.“Chegou às lágrimas e emoção ao narrar a sua
história”. Inteligente e culto, informou ter sido guarda–livro e vendedor, com o que
conseguiu atingir boa situação financeira. Habituado ao álcool nas refeições e
quando em “farras”, ao ver seu trabalho improdutivo, entregou-se ao vício. Viveu
com a ajuda dos irmãos que o convenceram a buscar ajuda médica. “Perante nós,
emocionadamente pede que o ajudemos a vencer este transe difícil, pois que deseja
curar-se, a fim de poder dedicar-se a sua filha hoje com cerca de um ano”.
Designado para catalogar os livros da biblioteca, recebeu alta em julho do mesmo
ano, quando não mais manifestava necessidade de álcool.
207
Volta Redonda em Preto e Branco: relações raciais, desenvolvimentismo e
modernização no “calor do fogo” e na raça (1941-1980) - Leonardo
Silva (UFRRJ)

O presente trabalho tem por objetivo o estudo da relação entre raça e classe em um
dos grandes centros industriais do pós-guerra brasileiro, analisando o lugar desta
questão no sistema político populista. Propomos que para a localidade de Volta
Redonda os ideais do nacional desenvolvimentismo e do desenvolvimentismo
utilizaram do discurso racial, positivando e ou negativando determinados grupos.
Em determinados momentos o contexto foi agudizado por questões de caráter mais
econômico que cultural (como o desmonte da Família Siderúrgica), ajudando na
formatação de determinadas identidades que se mesclaram à de classe trabalhadora,
tal qual a de trabalhadores negros. Ademais, à época, mesmo tendo em Volta
Redonda um símbolo de cidade de novo tipo (urbanizada, planejada e repleta do
“novo” trabalhador brasileiro) e o centro da cadeia produtiva do aço, a pesquisa
demonstra que outras áreas geográficas foram envolvidas tanto na produção como
na disseminação de determinados ideais. A constante, para além do processo
migratório e da transformação de trabalhadores rurais em urbanos, era que na
cadeia produtiva da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) a disparidade racial
era estrutural entre grupos de trabalhadores.

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“A alma da mulher brasileira explodiu em vibrante protesto”: formas de


atuação e resistência das operárias têxteis do Distrito Federal no início do
século XX - Isabelle Cristina da Silva Pires (Fundação Getulio Vargas)

No âmbito da historiografia brasileira, é a partir dos anos 1970 que emergem


pesquisas que focalizam a presença das mulheres no cotidiano da vida social,
sobretudo, aquelas que centralizam a temática da inserção das mulheres no
mercado de trabalho e a denúncia das péssimas condições de trabalho que
enfrentavam. Tais estudos preocuparam-se em identificar as mulheres
trabalhadoras como produto das determinações econômicas e sociais, vítima do
sistema capitalista, e davam pouca relevância à sua dimensão de sujeito histórico.
A partir dos anos 1980 são elaborados trabalhos que procuram atentar para a
experiência de mulheres pobres e marginalizadas, trabalhadoras ou não, e
focalizam suas capacidades de questionar os discursos elaborados pelos homens
públicos em relação ao sexo feminino. Tais estudos além de destacarem a
experiência das mulheres enquanto agentes de suas histórias, ainda exerceram forte
contribuição na desconstrução das imagens tradicionais das mulheres como
passivas e frágeis. Nos anos 1990, emerge a categoria analítica de “gênero”, que
nos permite desviar a atenção da “mulher” ou das “mulheres” e focalizar as relações
entre homens e mulheres, mas também entre mulheres e entre homens. São nessas
relações que o gênero se constitui. Sabendo que ao analisar as relações de gênero
em um determinado contexto, torna-se possível perceber também as relações de
poder presentes em tais circunstâncias, acredito que a perspectiva de gênero
208
possibilite novas análises no campo da História Social do Trabalho. Tal perspectiva
nos permite perceber as relações de poder na construção das representações de
gênero. Posto que, na utilização dos jornais como fontes, por exemplo, é importante
atentar para o fato de que sendo as notícias e artigos da imprensa escritas,
majoritariamente, por homens, eram as trabalhadoras registradas pela perspectiva
masculina e, portanto, observadas a partir de noções de feminilidades, o que
poderia apagar suas agências e menosprezar suas participações, visto que, na maior
parte das vezes, elas não eram as líderes dos movimentos grevistas, devido a
diversos motivos, tais como, dupla jornada de trabalho, criação dos filhos,
dificuldade de ingressar em associações de classe, posturas de menosprezo por
parte dos operários, etc. Assim, utilizando a perspectiva de gênero e fazendo uso
de periódico como fonte, esta apresentação procurará analisar as formas de atuação
e as reivindicações implementadas por operárias têxteis no Distrito Federal no
início do século XX e, com isso, procurar desconstruir a imagem, muitas vezes
propagas por militantes operários, de que as mulheres trabalhadoras eram passivas
em relação às explorações que sofriam e não tinham consciência política.

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209
ST 19. Habitação e direito à cidade:
favelas, subúrbios, periferias e
assentamentos informais no Brasil

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A Cultura Urbana nos Subúrbios Cariocas: Uma análise das relações de


sociabilidade suburbanas ao longo do século XX - Rafael Mattoso (UFRJ)

O uso da expressão cultura urbana, em nosso título, procura balizar o que este
estudo centralmente se propõe a interpretar. Tendo como foco as relações de
sociabilidade estabelecidas em meio aos espaços públicos e privados dos Subúrbios
cariocas. Para tal, compreendemos o conceito de cultura como o conjunto de modos
de vida, tradições, costumes e experiências vivenciadas por um determinado grupo
social dentro de um contexto histórico. Esta proposta de pesquisa tem como
objetivo aproximar-se, por meio da História da Cidade e do Urbanismo, de uma
investigação da vida social e das experiências cotidianas de um grande número de
moradores dos arrabaldes da cidade do Rio de Janeiro. Buscando promover uma
análise mais detalhada dos particulares mecanismos de habitação e sociabilidade,
pretendemos nos aprofundar no cotidiano de parte dos agentes sociais que
edificaram suas moradias nos bairros suburbanos, entre 1900 e 1960. Priorizando
analisar o processo de edificação de residências populares, assim como, da
formação de redes de identidade e sociabilidade suburbanas e visando propiciar os
limites territoriais necessários a esta investigação histórica, delimitamos
espacialmente nosso foco em parte do bairro do Engenho Novo, que compunham
a antiga freguesia de Inhaúma. Adotaremos como corte temporal um grande
período da história republicana, em que a cidade do Rio de Janeiro foi sede da
capital federal, pois sabemos que neste contexto estudado um profundo conjunto
de transformações socioespaciais estiveram em curso. Contribuindo para a
210
intensificação de um processo de deslocamento populacional em direção às áreas
tidas com periféricas. De fato, acreditamos que nosso trabalho poderá revelar que
os subúrbios cariocas são multifacetados e plurais, pois cada área chamada de
subúrbio deve ter suas particularidades, assim como suas próprias relações
socioculturais.Acreditamos que as edificações suburbanas, principalmente as casas
populares, podem ser objetos legítimos para a compreensão da história da cidade.
Assim, admitimos que a arquitetura suburbana nos proporciona um vasto campo
de estudo das representações, ou seja, das formas como as pessoas compreendem
a sua sociedade.

A UPP sob a ótica do jornal O Globo: a construção midiática do discurso da


pacificação (2008-2017) - Cintia de Lourdes Martins Araujo (Município do RJ)

A mídia é constantemente citada nas pesquisas sobre favelas e periferias cariocas,


sendo colocada como grande colaboradora no reforço do estigma desses espaços
geográficos e da população que ali reside. E, atualmente, segundo autores de grande
relevância no meio acadêmico como: Márcia Leite (2012), Luiz Antonio Machado
da Silva (2010), João Pacheco de Oliveira (2014) entre outros, ela teve grande
participação na implantação da Política de Segurança Pública para o Estado do Rio
de Janeiro, as chamadas UPPs, ou até mesmo é considerada "como peça chave da
sua própria montagem" como afirma Burgos, Pereira, Cavalcanti, Brum e Amoroso
(2011, p.55). A apresentação visa contribuir com o debate sobre o impacto que a
forma de noticiar do referido jornal gera na opinião pública, colaborando para a
perpetuação do senso comum na sociedade. E a partir da análise das reportagens
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sobre as Politicas de Segurança Públicas demostrar como as escolhas do que deve


ser noticiado e a forma de como essas informações chegam a população é
determinante para que algo se torne tema central numa sociedade, podendo,
inclusive, interferir na política, na economia, na cultura, bem como em outras
esferas de um país. Isto porque, de acordo com Bourdieu (1997), as empresas de
telecomunicações possuem um monopólio real sobre os mecanismos de produção
e propagação, em grande escala, da informação. Desse modo, é notável não apenas
a importância que a mídia recebe de diferentes setores da sociedade, mas também
a força que exerce na construção de realidades sociais, podendo apresentar visões
positivas ou negativas em suas representações e repercussões. Este é um debate que
atualmente atinge a sociedade, causando, inclusive polarização em torno do
assunto. Portanto, entender essa questão é um importante meio para se
compreender a relação direta da comunicação com o estímulo de práticas
preconceituosas a determinados grupos étnicos, sociais e a espaços da cidade.

A Vila Operária e a Estrada de Ferro: No entre-lugar das territorialidades da


Cidade Rio (1889-1917) - Paulo Cesar dos Reis (IPPUR/UFRJ)

A Cidade do Rio de Janeiro do século XIX é, por excelência, o grande paradigma


de cidade no Brasil. A partir da Cidade Rio, o poder imperial da família Bragança
emanou com toda força, havia a vontade de construir um país moderno e civilizado.
Este foi o grande impulsionador do projeto conservador do Estado iniciado em
1808, com a chegada da Família Real Portuguesa, entrepassando o Império do
211
Brasil e a Primeira República e findando apenas no golpe civil e militar de 1930,
no que nomeio de O longo século XIX brasileiro. Projeto este que está balizado na
superação da sociedade pré-capitalista, cujos fundamentos encontram-se
hegemonicamente na produção agrícola exportadora e nas relações senhoriais em
todos os sentidos, da matriz de trabalho à organização da sociedade. A formação
de uma classe dominante ou senhorial foi crucial para o sucesso deste projeto, a
partir da cooptação das elites senhoriais regionais que formaram a Corte brasileira,
base do empresariado nacional e da elite política e cultural. A Vila Operária de
Bangu pode ser colocada como um topos deste projeto de modernização
conservadora que se operou neste longo século XIX. Portanto, cumpre-se neste
texto, a tarefa de analisar a Vila Operária de Bangu em consonância com o projeto
de estruturação do Estado Brasileiro, que colocou a modernização das relações
econômicas, políticas, jurídicas, sociais e culturais como fator preponderante desta
jovem Nação que emerge das estruturas de dominação do Império Atlântico
Português.

Conflitos territoriais e pesca artesanal: as zonas de exclusão de pesca como


expressão da sobreposição de usos do espaço – O caso da Ilha da Madeira
(Itaguaí - RJ) - Milaysa de Oliveira Cabral Paz (FFP/UERJ)

Os processos de modernização, tendo como base as atividades industriais e


portuárias em áreas costeiras geram alterações, tanto no ambiente quanto no modo
de vida de populações que vivem nessas áreas. Na Ilha da Madeira, bairro do
município de Itaguaí (RJ), banhado pela baía de Sepetiba, essa situação é presente.
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Esse bairro passa por intensas transformações, e as populações que ali vivem,
destacando nesse contexto os pescadores artesanais, por problemas e dificuldades
ocasionados por essas atividades. Diferentes forças e leituras estão presentes e
atuantes no mesmo recorte territorial, caracterizando assim, uma situação de tensão
e conflito. A leitura hegemônica das empresas e a lógica de trabalho e vida dos
pescadores artesanais marcam a presença do conflito entre os diferentes modos de
ler o espaço e produzi-lo. A Ilha da Madeira passou por momentos de intensas
transformações, no que concerne aos processos de modernização: na década de
1960, com a construção da Ingá; na década de 1980, com a construção do Porto de
Sepetiba (atualmente, Porto de Itaguaí), e a partir dos anos 2000, com a
modernização do Porto de Itaguaí, a instalação da Usiminas (onde anteriormente
funcionava a Ingá), a construção do Estaleiro e Base Naval da Marinha e do Porto
Sudeste. Em todos esses momentos, a população teve seu modo de vida e trabalho
alterados, em especial, como é o caso da pesquisa desse trabalho, os pescadores
artesanais. Impactos ambientais, desapropriações e zonas de restrição de pesca são
alguns dos problemas/impactos que permeiam o cotidiano desses pescadores
artesanais. Diante desse contexto, esse trabalho tem como objetivo analisar os
processos de modernização na Ilha da Madeira, partindo das ações do Porto
Sudeste, e seus impactos no cotidiano dos pescadores artesanais, a partir de 2010,
ano de inicio da construção do Porto. Nesse trabalho a atenção será concentrada
para a questão das zonas de restrição de pesca, pois verifica-se claramente uma
sobreposição de usos territoriais. Para tanto, serão usados entrevistas realizadas em
estudos de campo, documentos e dados secundários oficiais (estudos de impacto
212
ambiental, dados do IBGE, entre outros) e analise bibliográfica.

Direitos de ser e de viver: novos sentidos e dimensões na luta de jovens


lideranças de favelas - Mario Sergio Ignácio Brum (FEBF-UERJ)

O artigo apresenta a hipótese que nos últimos anos jovens lideranças de favelas do
Rio e Grande Rio, sob impacto de várias transformações econômicas, sociais e
tecnológicas, vêm desenvolvendo novos eixos de lutas e novas formas de
mobilização, configurando uma ‘nova geração’ de lideranças e/ou ativistas que se
distingue radicalmente das anteriores. Sem pretender tomar isso como uma
classificação rígida ou estática, aprofundamos-nos nos discursos dessas jovens
lideranças (a própria classificação como jovem de algumas é discutível) que,
diferente das gerações que a precederam, lidam como uma nova forma de
sociabilidade na cidade, em que a presença do tráfico de drogas como fator de
estigmatização põe as favelas como territórios em que o controle através da
violência do Estado sem se importar com a vida dos seus moradores,
principalmente os mais jovens. Se isso não constitui em si uma novidade, a
distância entre o discurso de cidadania a partir do fim da década de 1970, e
principalmente sob os governos petistas, e o cotidiano real de violência estatal e
estigmatização social, é o contexto em que essas novas lideranças se deparam e
reivindicam o direito de serem moradores de favela em discurso aos seus
semelhantes (articulando para isso diversas ações pedagógicas), enquanto exigem
da sociedade que respeitem seu direito à vida.

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Educação, políticas públicas e cultura na favela da manguerinha - Sidney


Silva dos Santos (Febef/Uerj)

O presente trabalho pretende tratar de aspectos relevantes no que tange a educação,


cultura e as políticas públicas de fato eficazes no interior de uma FAVELA da
baixada fluminense situada em Duque de Caxias, onde a realidade não é diferente
de outras FAVELAS do Rio de janeiro, no entanto cabe aqui salientar que é a
primeira favela fora do Estado do Rio de Janeiro a receber uma unidade de polícia
pacificadora, UPP. Trataremos também de um projeto de educação infantil que
chega a favela na década de 80 onde através do estado em parceria com os
moradores, a saber país e mães de crianças em fase escolar se dispunham a
participar ativamente desse processo e projeto. Responder a perguntas como, quais
eram as espectativas dos moradores na década de 80 com relação a um programa
que visava a retirada de crianças da rua viabilizando a educação das mesmas e
também possibilitando suas mães ao trabalho que viria a ser o sustento da família
ou mesmo uma renda extra na família? Quanto ao projeto de polícia pacificadora
qual a eficácia do mesmo, o que de fato veio de relevância para os moradores com
a chegada da upp, como teria sido num primeiro momento e qual a situação atual?
A relação polícia versus moradores, a escola e seus momentos de embate frente ao
tráfico e as incursões policiais? É bem verdade que essa é uma pesquisa ainda em
andamento que resultará na dissertação de mestrado a ser defendida no próximo
ano, mas através de documentos, depoimentos e observações traremos os
resultados e as abordagens teóricas que dão base a esse trabalho.
213
Empresariado e remoções de favelas (1962-1973) - Marco Marques
Pestana (UFF)

Esse trabalho busca apresentar os resultados de pesquisa desenvolvida em torno da


participação empresarial na formatação das políticas públicas de remoções de
favelas no Rio de Janeiro, vigentes ao longo do período 1962-1973. São destacas
as ações do empresariado do capital imobiliário e construtor, além dos intelectuais
organicamente vinculados a eles, no âmbito do aparato estatal (Estado restrito, em
termos gramscianos), onde ocuparam inúmeras posições estratégicas, seja
chefiando órgãos públicos, seja participando de comissões ad hoc montadas pelo
poder executivo. A partir dessas posições, os representantes daquelas frações do
capital puderam atuar diretamente nas diversas etapas de produção da referida
política pública, desde a concepção à execução final, passando pela organização.
A hipótese central defendida é a de que a atuação política desses agentes foi
fundamental para que as políticas de remoções sistemáticas de favelas ocupassem
a condição de alternativa prioritária do poder público ao longo do período
abordado.

Fincando raízes. Memória e Cidade. Alguns casos de luta pela moradia em


São Domingos, Niterói. (1980-2017) - Vinícius Rocha do Nascimento (UFF)

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre os acontecimentos que envolvem o
processo de “consolidação” de uma habitação irregular. Tratando como
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“consolidação” a averiguação prática, ou seja, sua condição de automanutenção,


organização e sobrevivência, e não a sua realidade jurídica. Para tal, a pesquisa
dispôs da observação participante e das fontes orais. E através destes métodos,
obteve informações sobre o dito processo em uma favela, uma ocupação e alguns
cortiços localizados no entorno do campus da Universidade Federal Fluminense
(UFF), no bairro de São Domingos em Niterói. O recorte temporal do estudo
abrange o período entre 1980 e 2017. Esta escolha deve-se ao fato de que todos os
locais estudados remontarem o início de sua ocupação aos meados dos anos 80. É
necessário mencionar que neste período a cidade de Niterói sofria os reflexos da
perda de seu status de capital do então Estado da Guanabara, além disso, o capital
imobiliário passava a apontar suas ações em direção a região oceânica o que
colocava o bairro no meio do caminho. O bairro de São Domingos deste período
perdia, sua importância como local de moradia das elites que compunham a antiga
estruturação social do bairro. Que aos poucos o abandonaram, deixando vazios que
foram aproveitados ora pelo capital imobiliário, ora pelo Estado, ora por aqueles
que não tinham onde morar. Desta maneira, o estudo trata objetivamente do
processo de “consolidação” da ocupação de três casarões, o “27”, localizado no
número 27 da rua General Osório, e a “Ocupação Mama África”, localizada na rua
Passo da Pátria, números 48 e 50 e mais conhecido pelos moradores do bairro como
“48 e 50.” Além do estudo destes casarões, a pesquisa aborda o crescimento do
morro do 94, localizado na rua Professor Lara Vilela. Um dos resultados mais
notórios do estudo foi o levantamento de informações de uma série de locais que
não são mais. Obtida através de uma espécie de arqueologia da memória, que
214
enumera lugares e práticas do antigamente. Revela praias, favelas, fontes e
casarões. Mostra uma praia onde hoje é uma universidade, uma favela onde hoje é
um cinema, mostra uma ocupação onde hoje é um prédio, uma fonte e um campo
de futebol onde hoje são bancos de cimento e uma favela que começou através da
ocupação do terreno de um casarão em ruínas. Aos poucos a antiga paisagem foi
perdendo para o moderno e em meio a isso pessoas buscavam um lugar para morar.
Os relatos demonstram sobretudo a persistência em ficar no bairro, entre algumas
remoções e reintegrações de posse, estas pessoas foram ficando e ainda hoje
resistem. Esta temática, para além de repercutir em reflexões acerca da habitação
informal, contribui para pensar o trabalho informal, assim como a supressão dos
locais de públicos de lazer.

História urbana da ocupação habitacional do Jardim Nova Esperança em


Goiânia (1979-1982): O estudo de caso da imprensa comunitária e
corporativa - Lucius Fabius Ben Jah Jacob Gomes (Faculdade de História-UFG-
Campus Goiânia)

Neste artigo será evidenciado os jornais comunitários Comunicados e Boletins, e


os jornais corporativos Cinco de Março e O Popular que possuem notícias sobre a
origem da ocupação habitacional do Jardim Nova Esperança, em Goiânia (1979-
1982). O objetivo desse artigo é problematizar a construção narrativa de uma
história urbana contida nos jornais e ao mesmo tempo historicizar seus
pressupostos discursivos que geraram, por parte dos jornais e jornalistas, suas
motivações e intenções na escolha de suas opiniões. Ao mesmo tempo, será
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trabalhado algumas historiografias sobre esse objeto de pesquisa, articulados ao


conceito de espoliação urbana de Lúcio Kowarick. A hipótese deste artigo é de que
é possível identificar com mais precisão a vida cotidiana experenciada pela
ocupação habitacional tendo como vestígio os jornais comunitários.

Legislação Urbana Contemporânea: O direito à cidade como


possibilidade - Marcos Aguiar (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

As formas de moradia popular produzidas ao longo do tempo constituem marcas


integrantes das principais cidades brasileiras, estas em grande medida
caracterizadas pelas condições de precarização em relação às necessidades
habitacionais das massas urbanas. Cortiços, favelas, loteamentos periféricos
clandestinos e/ou irregulares, numa ordem sucessiva no tempo, expressam distintas
saídas possíveis encontradas pela população trabalhadora frente aos desafios de se
viver em meio urbano. O presente artigo tem por objetivo situar a conformação das
tipologias de moradia popular no país porém tendo em vista sua conexão com os
processos mais abrangentes que envolvem a produção da cidade e os imperativos
da acumulação urbana. Embora a cidade seja produto dos mais diversos agentes e
atores, inclusive daqueles subalternizados, é inegável o papel central
desempenhado particularmente pelo Estado e por frações do capital imobiliário
cujas ações muitas vezes convergem a favor dos processos de valorização do solo
urbano e da apropriação das rendas fundiárias urbanas. Se a cidade é entendida e
disputada essencialmente enquanto valor de troca pelos agentes e grupos
215
hegemônicos privados, inúmeros atores - contrários às formas predominantes de
sua mercantilização - a afirmam enquanto valor de uso, tendo por horizonte o
direito à cidade, noção norteadora da legislação urbana que emerge a partir da
Constituição Federal de 1988.

Megaeventos esportivos no Rio de Janeiro: uma perspectiva histórica sobre as


remoções - Ingrid Gomes Ferreira (UFF)

A pesquisa sobre as remoções realizadas no município do Rio de Janeiro vem sendo


realizada pelo Núcleo de Estudos sobre Território e Conflitos Sociais na
Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes. O estudo encontra-
se em fase intermediária de seu desenvolvimento, tendo iniciado suas atividades
nos primeiros meses de 2016, apresentando uma problematização acerca do
processo de remoção na cidade do Rio de Janeiro por conta das intervenções
urbanas para a realização dos megaeventos esportivos como: os jogos Pan-
Americanos, a Copa do mundo e as Olimpíadas, buscando compreender de que
forma a confluência dos interesses entre essas as esferas pública e privada acarretou
num conflito social e demolição de diversas comunidades, localizadas em áreas de
interesse do setor imobiliário e ampliação da malha viária, espalhados em variados
pontos da cidade carioca. A metodologia empregada utiliza-se de fontes para o
levantamento dos dados como os materiais produzidos tanto pela mídia
hegemônica quanto por ativistas/ alternativa ou, até mesmo, a mudança jurídica
direcionada para a legitimação das intervenções urbanísticas. As informações após
serem coletadas passaram por um processo de análise e sistematização dos
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conflitos em uma tabela de classificação que contém a localidade, protagonistas e


antagonistas, além das formas de contenção estatal e resistência popular.
Posteriormente, está sendo promovido um detalhamento dos atributos expostos por
esses conflitos urbanos como a produção de material escrito, gráficos, mapas e
tabela de informações. Vale ressaltar que concomitantemente ao trabalho com as
fontes ocorre uma discussão bibliográfica que fornece o embasamento teórico para
o desenvolvimento dos resultados obtidos. Os objetivos da pesquisa são de
compreender as consequências das relações de poder que se constituem na esfera
do público e privado, visando à realização das intervenções na cidade para os
megaeventos desde o ano de 2005, principalmente na questão das reformas
voltadas para a mobilidade urbana e revitalização da área central. Contudo,
destacando de forma imprescindível o papel da luta social pelo espaço na cidade
com sua forte relevância e necessidade de ser afirmada seja por meio de um
ativismo ou movimento social organizado, no processo de resistência, buscando
romper com a estrutura urbana ligada à ordem hegemônica que sendo a detentora
do capital financeiro acaba por ditar, muitas vezes, o processo de urbanização da
cidade. Enfatizando que, do lado oposto, os movimentos sociais dão a possibilidade
dos sujeitos se tornarem ativos na disputa pelo cenário urbano.

Memória, propriedade e direito à cidade: resistência e mobilização nos


depoimentos orais dos moradores da favela Vila Operária - Mauro
Amoroso (UERJ/FEBF)
216
Na comunicação analisaremos a memória sobre a propriedade dos moradores da
favela de Vila Operária como forma de resistência urbana e estratégia de alcance
ao direito à cidade. A partir de suas habitações, esses sujeitos constroem seus laços
de sociabilidade de diversas formas, da mobilização contra tentativas de remoção
ao alcance de serviços urbanos básicos, como saneamento e acesso à luz elétrica.
Ou seja, é possível ver práticas cotidianas se tornarem estratégias de resistência e
alcance de direitos. Desse modo, através da análise da narrativa memorial da
construção e função das propriedades faveladas, pretende-se refletir sobre como
estas se constituem em ferramentas de busca pelo direito à cidade. Vila Operária é
localizada no bairro Vila São Luís, no município de Duque de Caxias. Essa cidade
se encontra na região conhecida como Baixada Fluminense, que reúne diversos
municípios marcados por estigmas negativos, não raros associados à violência, e
carência de serviços de infraestrutura urbana. Vila Operária é uma favela cujo
surgimento se dá entre o final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Sua ocupação
é ligada a loteamento promovido por atores políticos locais, e a organização de seu
movimento associativo contou com participação de militantes do Partido
Comunista Brasileiro (PCB). A partir do uso da metodologia da História Oral,
pretende-se colher depoimentos de famílias há muito residentes no local, para
traçar a trajetória de construção e consolidação de suas moradias. Com essas fontes,
se refletirá sobre as formas de sociabilidade desenvolvidas nesse processo,
privilegiando a visão dos moradores de favelas como atores sociais e políticos
autônomos, bem como seus processos de luta coletiva. A apresentação será
encerrada com uma breve reflexão metodológica sobre a importância da fonte oral
para a preservação e acesso às narrativas sobre o passado dos moradores de favelas.
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Memórias e disputas de um bairro que nasceu rural e virou operário na cidade


do Rio de Janeiro: o caso do Jardim Botânico - Luciene Pereira Carris
Cardoso (PUC-RIO)

De um bairro originalmente rural e proletário em fins dos Oitocentos, o Jardim


Botânico tornar-se-ia décadas depois num bairro bucólico e de passagem para
outros, nas proximidades do mar, entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Floresta da
Tijuca. Na esteira dessa invenção simbólica de zona sul, o Jardim Botânico foi
concebido. Com o declínio das empresas fabris na região e com o fechamentos
delas na década de 1960, a concepção de “zona de sul” já está difundida
metaforicamente. Na evolução urbana da cidade nos últimos cem anos, uma parcela
da população carioca enfrenta a segregação e a gentrificação do tecido espacial. A
organização de megaeventos na cidade, ao lado da revitalização de certas áreas,
vêm contribuindo para o processo de supervalorização imobiliária, e
consequentemente para remoção de tradicionais moradores em vários pontos da
cidade. As batalhas por direito à moradia e à circulação engendram revoltas, lutas,
mobilizações civis, ganhando ampla midiatização. Nesse sentido, há cerca de três
décadas está em pauta a polêmica questão fundiária, ou seja, a ocupação das áreas
da União que compreendem uma extensa área de vegetação da mata atlântica na
região, até então habitada em conveniência do Estado. A região em disputa
localiza-se na região do Horto, um recanto do Jardim Botânico, com características
de uma cidade ou vila do interior.
217
Vivências e saberes produzidos em escolas da periferia do Rio de Janeiro – os
caminhos da aprendizagem no chapadão, pedreira e arredores - Rosana
Mendonça Ferreira Muniz (UERJ /FEBEF)

O presente trabalho insere no campo das discussões sobre o Ensino Público


Fundamental, no que se refere aos anos iniciais, um olhar sobre as escolas de
Periferia, a fim de identificar traços e horizontes de aprendizagem comuns ao
cotidiano escolar. Nesse sentido, situamos como eixo a cidade do Rio de Janeiro,
em sua multiplicidade de bairros considerando também a existência dos complexos
e comunidades que configuram alguns espaços periféricos. Esta investigação tem
como proposta analisar as relações entre aprendizagem e violência no cotidiano de
algumas comunidades de periferia que são recortadas por traços e marcadas por
uma rotina de tiroteios e operações policiais. A análise é recortada no cenário de
duas escolas da Rede pública do Município do Rio de Janeiro, considerando o
desempenho, as atividades implementadas nas Unidades escolares, bem como a
fala dos alunos, gestores e professores, na configuração de especificidades comuns
às escolas da região do Chapadão e arredores. Cabe-nos compreender como são
afetadas as práticas pedagógicas e o planejamento das mesmas no curso destas
circunstâncias. O intuito é o de trazer informações que possam colaborar para
grandes questões que cercam a Educação no Ensino Fundamental, entre elas: De
que maneira as rotinas de aprendizagens são afetadas em regiões marcadas pela
ostensiva criminalidade? Quais as alternativas possíveis para o professor quando o
“ir e vir” (seu e do aluno) à escola se mostra tão comprometido pela violência da
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região? O objetivo geral seria o de analisar a existência de possíveis especificidades


no processo de afirmação de identidades e na aprendizagem de crianças que
estudam em um cenário marcado pela violência urbana. Bem como, identificar as
marcas e os traços da violência do entorno (bairros e comunidades afins) que
invadem o espaço escolar; além de desenvolver ou propor estratégias facilitadoras
de aprendizagens para a atuação dos professores para este cenário. As rotinas de
aprendizagem tem sido o caminho escolhido para o desenvolvimento do trabalho.

“SOMOS MAIS QUE MEIA-DÚZIA!” Os atingidos pela tragédia de 2011, na


Região Serrana do Rio de Janeiro, e a luta por moradia e dignidade! Um
resgate de suas memórias! - Ronaldo Sávio Paes Alves (UNIFESO)

A presente comunicação apresenta os resultados do Projeto de Extensão (PIEx)


intitulado “Resgatando memória com arte! Dando voz às vítimas sobreviventes da
tragédia de janeiro de 2011. Um esforço de sensibilização e cidadania”,
desenvolvido junto ao Núcleo de Direitos Humanos (NDH) do Centro
Universitário Serra dos Órgãos – UNIFESO, em Teresópolis/RJ. O Projeto em
questão pretendeu contribuir com a necessária visibilidade das demandas sociais e
estruturais das vítimas sobreviventes da tragédia em questão. Em Teresópolis,
1.599 famílias que perderam suas residências dependeram do inconstante
pagamento do benefício “Aluguel Social” por parte do Governo do Estado do Rio
de Janeiro, enquanto esperavam a entrega dos apartamentos prometidos pelas
autoridades da época. Diante daquilo que classificam como “descaso das
218
autoridades”, representantes destas famílias decidiram lutar por seu direito a
moradia, denunciando o que chamam de “continuação da tragédia”. Assim,
apoiados por membros isolados da sociedade civil – professores, advogados,
estudantes – resolveram protestar em momentos simbólicos como aniversário da
cidade, concentração da Seleção Olímpica de Futebol, passagem da Tocha
Olímpica, abertura dos jogos olímpicos e o “Grito dos Excluídos” no dia sete de
setembro. A proposta de contribuição social do Projeto de Extensão passou pelo
esforço de sensibilização das autoridades locais e da sociedade civil teresopolitana.
Sua ação midiática de denúncia foi o resgate da memória dos atingidos
sobreviventes, materializada em produção artística, em particular a pintura. Ao
levarmos para as ruas a exposição das obras resultantes, pretendemos encetar um
esforço de cidadania, acolhimento e respeito por estas pessoas, cumprindo o papel
cidadão da academia, de equalizar a voz daqueles que se sentem preteridos na
sociedade em que vivem.

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ST 20. História & Educação –
Abordagens Gramscianas

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A ampliação do tempo escolar sob a hegemonia do capital - Nívea Silva


Vieira (UERJ)

Este trabalho visa analisar a participação ativa da holding Itáu, através do Centro
de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), na
formulação e difusão de um modelo de educação de tempo integral, materializado
no o Programa Mais Educação, instituído pela Portaria nº17 de 24 de abril de 2007
e regulamentado pelo Decreto 7.083/10. O CENPEC se define como uma
organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com ações voltadas para escola
pública, espaços educativos e políticas públicas destinadas à resolução de
problemas sociais. Esta organização, criada em 1987, reúne atualmente um
conjunto de associados que vêm influindo nas principais políticas públicas
direcionadas à Educação Básica e, destacadamente, aquelas que se referem à
Educação de tempo integral. O CENPEC compõe a estratégia de atuação do Banco
Itaú que, desde o recente processo de fusão com outra entidade financeira, passou
a ser denominado como Itaú Holding S/A. Com presença em mais de vinte países
e um lucro superior aos quinze bilhões de reais em 2014, a holding multinacional
promoveu ao longo nos últimos anos uma intensa atuação junto às políticas
públicas educacionais, destacadamente através do CENPEC, produzindo inúmeros
documentos de referência visando à gestão pública, utilizados por diversos
municípios e estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, São Paulo e
Belo Horizonte. Desde 2000, o CENPEC passou a cumprir o papel de entidade
responsável pela coordenação técnica de todos os projetos da Fundação Itaú Social,
220
criada no mesmo ano. O objetivo deste artigo é verificar a capacidade da entidade
em organizar politicamente a atuação empresarial e inserir seus interesses no
interior do Estado Ampliado, especialmente na formulação das políticas
educacionais direcionadas a ampliação do tempo escolar. São utilizados como
fonte desta investigação a produção intelectual do CENPEC e de instituições da
sociedade política, como o Ministério da Educação. O recorte temporal deste
trabalho abrange o momento da fundação do CENPEC, em 1987 e o ano de 2015,
que antecede a reformulação do programa Mais Educação e sua transformação no
“Novo Mais Educação”. Sob a luz do referencial teórico metodológico
desenvolvido pelo marxista italiano Antônio Gramsci, buscou-se verificar a
capacidade da entidade em organizar politicamente a atuação empresarial e inserir
seus interesses no interior da Sociedade Política, especialmente na formulação das
políticas educacionais direcionadas a Educação de Tempo Integral. Concluímos
que a holding Itaú Unibanco, através do CENPEC não só integrou o bloco no poder
que define e redefine as políticas educativas, como dirigiu as politicas de fomento
a ampliação do tempo escolar.

A atuação da Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial na


ampliação do Estado brasileiro (1946-1962) - Talita Francieli
Bordignon (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo)

Entre 1946 e 1962 atuou no Brasil a Comissão Brasileiro-Americana de Educação


Industrial, criada especificamente para administrar os acordos bilaterais entre
Brasil e Estados Unidos que, por sua vez, foram firmados também para o
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desenvolvimento das escolas técnicas industriais no país, uma vez que a opção pela
substituição de importações gerou a demanda pela formação de mão de obra
qualificada. Com representantes de ambos os países, a comissão investiu na
formação técnica e ideológica dos recursos humanos que tiveram vínculo direto
com o ensino nestas escolas. Por meio de seu periódico mensal – o Boletim da
CBAI – o grupo difundiu o escolanovismo e a proposta de democracia liberal
apregoada pelos intelectuais orgânicos da burguesia, cujo princípio fundamental
era a diferenciação unificadora, com o fim último de manter a ordenação social
baseada na divisão em classes. A CBAI atuou como um partido interessado em
ampliar o Estado brasileiro, de modo que a somatória da sociedade civil com a
sociedade política no Brasil, se estendesse em articulação com a burguesia norte-
americana. As elites brasileiras consentiram a interferência estadunidense nos
negócios do Estado brasileiro, colocando-se em posição periférica no
desenvolvimento do modo de produção capitalista – situação dada pelos contornos
que assume o Estado no país e no seu comportamento a nível internacional. Sob o
ponto de vista do materialismo histórico e dialético, pretende-se identificar a CBAI
como um dos partidos a operar a ampliação do Estado brasileiro por meio da
educação técnica industrial, ao mesmo tempo em que se identificam os intelectuais
orgânicos que se empenharam com a manutenção da hegemonia burguesa. Para
tanto, propõe-se a análise de alguns dos Boletins da CBAI, tomados, neste caso,
como fonte histórica.

A Fundação Roberto Marinho e seu projeto de formação do trabalhador de


221
novo tipo: reflexões gramscianas sobre o papel da sociedade civil no
capitalismo global - Amanda Rodrigues (UFRRJ)

Uma das principais consequências da superação das crises cíclicas do capitalismo


– essas inerentes a sua natureza – é a rearticulação da estrutura produtiva e,
consequentemente, de todo bloco histórico no sentido de reestabelecer a
acumulação de capital e o crescimento dos lucros por parte dos capitalistas. Em
especial, a crise de 1970 foi um marco histórico importante porque a saída
representou a superação do modelo fordista-keynesiano, o qual tinha na
superprodução de mercadorias e no incentivo ao pleno emprego seus marcos
estruturais para o modelo toyotista japonês de produção flexível e descentralizado.
O predomínio do modelo de produção flexível em escala global foi um duro golpe
aos trabalhadores organizados, uma vez que para modificar o modelo de produção
fundado no pleno emprego para o de relações flexíveis de trabalho, foi preciso
golpear duramente as resistências trabalhistas e tal golpe foi articulado tanto no
nível da repressão às organizações propriamente ditas – como os sindicatos -
quanto na instituição de novas formas de convencimento, ou seja, novas ideologias.
Nesse sentido, o trabalho do pensador marxista Antonio Gramsci é uma ferramenta
valiosa de compreensão das articulações traçadas entre governos e sociedade civil
no sentido de implementação do seu projeto de hegemonia sem que, contudo, haja
a necessidade de uso puro da violência e coerção. A sociedade civil, portanto,
ganha ainda mais relevância nos momentos os quais a crise demanda dos
capitalistas novas formas de exploração dos trabalhadores. Por meio das suas
instituições chamadas por Gramsci de Aparelhos Privados de Hegemonia, são
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capazes de introduzir no seio das classes subalternas não apenas a aceitação, mas
adesão espontânea aos princípios ideológicos das classes dominantes. Por tal razão,
faz-se imperiosa a tarefa de aprofundamento dos estudos sobre os mecanismos
ideológicos de dominação, uma vez que é na superestrutura onde a luta de classes
se desvela. Assim, o presente trabalho pretende apresentar um breve estudo sobre
o projeto de educação da Fundação Roberto Marinho, um Aparelho Privado de
Hegemonia da principal rede de telecomunicações do país, conectado às novas
demandas de mão-de-obra do capitalismo de tipo dependente, tal qual o brasileiro.
Para cumprir tal tarefa, será discutida a influência do referencial marxiano na obra
de Gramsci e as principais adequações ao contexto italiano do início do século XX.
Serão abordados também elementos da reestruturação produtiva pós 1970 e o
desdobramento no neoliberalismo de terceira via típico dos anos 1990/2000.

A Ofensiva Ultraconservadora na Educação Brasileira - reflexões sobre as


origens do movimento Escola Sem Partido - Luiza Rabelo
Colombo (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Após as chamadas jornadas de junho de 2013 é possível observar uma ofensiva


ultraconservadora no cenário político brasileiro, que decorre a partir de um longo
processo transnacional de crescimento do conservadorismo-liberal, que surge nos
anos 1970, no contexto em que desponta a crise estrutural do capital. No Brasil,
uma das expressões deste fenômeno no âmbito educacional é movimento Escola
Sem Partido (ESP), que vem emergindo desde 2014 como protagonista e
222
aglutinador de frações de classe contrárias a pautas historicamente defendidas por
movimentos sociais de trabalhadoras e trabalhadores da educação, como o direito
a educação laica, plural e democrática, o direito a participação e organização
política dos estudantes e profissionais da educação. O objetivo geral da pesquisa,
neste sentido, foi desvendar e analisar os interesses no discurso difundido pelo
movimento ESP, assim como sua organização e atuação. As fontes de pesquisa
incluíram levantamento bibliográfico em livros, páginas na internet, artigos em
jornais e revistas – tanto documentos produzidos pelo próprio movimento
amplamente divulgados em seu site e redes sociais quanto por pesquisadores da
Educação que tem debatido de maneira crítica sobre o tema – seguido de análise
das fontes, sua organização e sistematização. A pesquisa partiu da hipótese de que
o movimento atua como um típico “aparelho privado de hegemonia”, nos termos
gramscianos, uma vez que: no âmbito da sociedade civil, apresenta-se como um
canal de elaboração e difusão de uma determinada concepção sobre a dimensão
educativa do Estado, ou seja, na conformação de consenso sobre a sua concepção
de educação; e no âmbito da sociedade política ele busca atuar através da criação
de legislações e da consolidação de “bancada” de políticos eleitos que vêm
defendendo o seu projeto educacional, ou seja, por meio do fortalecimento do
aspecto coercitivo. Neste sentido, o arcabouço teórico-metodológico gramsciano
tem apontado importantes possibilidades de interpretação sobre a representação do
movimento ESP, portanto, a partir dos conceitos de “Estado ampliado”,
considerando as noções interdependentes de “sociedade civil” e “sociedade
política”, para a compreensão da dimensão da organização das classes sociais,
relacionando-as no âmbito das superestruturas do Estado.
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A Onda Conservadora e a Militarização das Escolas no Estado de


Goiás - Paula Cristina Pereira Guimaraes (UFRRJ)

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa sobre o recente e aligeirado


processo de militarização da gestão das escolas da rede estadual de ensino do estado
de Goiás. A militarização das instituições públicas de educação básica vem
ocorrendo em outros estados do país (Rondônia, Minas Gerais, Amazonas, Bahia,
entre outros), sendo o estado de Goiás aquele que mais avançou até o momento
neste movimento. Este processo ocorre em um contexto caracterizado por uma
onda conservadora no país em que aparelhos privados de hegemonia que atuam na
sociedade civil vêm defendendo junto às agências da sociedade política a
militarização das escolas públicas. O referencial teórico-metodológico utilizado
neste artigo se apoia nos estudos gramscianos e, destacadamente, os conceitos
Estado Ampliado, contrarreforma, consenso e coerção. Para coleta de dados foi
utilizada revisão de literatura de análise de fontes bibliográficas primárias e
secundárias, além de entrevistas com diretores-coronéis que vêm protagonizando a
política de militarização da gestão das escolas públicas. A pesquisa identificou que
nos últimos anos as escolas que foram militarizadas na rede pública estadual de
ensino de Goiásdespontaram nos principais indicadores que medem a qualidade do
ensino no país e que estes resultados têm sido divulgados como estratégia de
convencimento do conjunto da sociedade pelo governo do estado e os apoiadores
da militarização das escolas. A gestão militarizada vem remodelando as escolas à
223
imagem e semelhança dos quartéis, com todas as regras e ditames militares. Os
princípios de ordem e disciplina militar que norteiam as instituições públicas de
segurança e, destacadamente, às polícias militares têm sido introduzidos no interior
das escolas públicas. A militarização da gestão das escolas é dispersa e têm
ocorrido de forma desigual entre os diferentes bairros, embora a justificativa esteja
associada ao combate à violência escolar e no entorno das comunidades escolares
situadas em regiões com índices altos de criminalidade identificados pelos órgãos
de segurança do governo do estado. A reserva de vaga aos filhos de policiais
militares e a cobrança de taxas, apesar de ser enunciada como “voluntária”, são
outros componentes de distinção entre os discentes.Este artigo conclui que a
militarização da gestão das escolas públicas do estado de Goiás é uma expressão
da onda conservadora na educação, inserindo no interior das escolas um ensino
“interessado” e valores que objetivam conformar por meio de instrumentos de
disciplinamento militar toda a comunidade escolar.

A reação do SEPE-RJ aos novos modelos de gestão do trabalho escolar:


hegemonia e contra-hegemonia no Rio de Janeiro. - Carlos Mauricio Franklin
Lapa (UFRRJ)

Este artigo apresenta os resultados de investigação acerca da insurgência de novos


modelos de gestão do trabalho escolar e a ação sindical na organização e luta dos
trabalhadores da educação contra a reforma gerencial do Estado brasileiro, tendo
como referência o pensamento gramsciano, O objetivo foi verificar a pertinência
de suas categorias para a compreensão da reação sindical ao sistema de “Gestão
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Integrada da Escola” (GIDE). A pesquisa realizada teve como delimitação a reação


do sindicato docente do Rio de Janeiro ao processo de desenvolvimento e
implementação do modelo denominado Gestão Integrada da Escola na Secretaria
Estadual de Educação e Cultura do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ), entre os anos de
2010 e 2017. A investigação tratou-se de uma pesquisa básica, análise qualitativa,
de caráter explicativo, que se insere na categoria de pesquisa de tipo documental.
Na coleta de dados, utilizou-se de revisão de literatura e análise de fontes
bibliográficas primárias e secundárias em materiais de referência da GIDE e aos
cadernos de deliberações dos congressos sindicais, os jornais sindicais e outros
materiais impressos e produzidos pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de
Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEPE), no período de 2011 a 2016.
Concluímos que a reação sindical tem se limitado à crítica aos fenômenos
reflexivos do novo modelo de gestão do trabalho escolar. Essa limitação está
evidenciada nas formulações presentes em diversas teses congressuais que
centraram suas críticas nos aspectos fenomênicos da GIDE: Plano de Metas,
Programa “Conexão”, Sistema de Avaliação da Educação, Programa de
Bonificação, expressados nos materiais oficiais, tais como o Jornal Diário de
Classe e panfletos produzidos pelo SEPE/RJ. Assim sendo, o SEPE não conseguiu
realizar, nesse contexto, mais do que travar a luta econômico-corporativa,
reproduzindo o papel histórico e limitado dos sindicatos na ordem burguesa.
Conclui-se que a pesquisa que resultou neste artigo identificou que a reação
sindical ao novo modelo de gestão do trabalho escolar, embora crítica e combativa,
não apresenta contribuição substantiva para uma ação contundente e bem
224
fundamentada, capaz de apresentar para a sociedade, um projeto contra-
hegemônico de gestão do trabalho escolar alternativo à GIDE, voltado para os
interesses históricos da classe trabalhadora.

A Reforma Gerencial do Estado na Educação de Jovens e Adultos na Rede


Estadual de Ensino do Rio de Janeiro - Sergio Vieira da Silva (SEEDUC RJ /
SME RJ)

A reforma gerencial promovida pelo governo do estado do Rio de Janeiro para


ajustar a máquina estatal a um novo modo de regulação social não poupou a gestão
educacional. A evidência disto é a implantação do Programa Gestão Integrada da
Escola (GIDE) por parte da Secretaria de Estado de Educação (SEEduc/RJ). Por
meio desse Programa de reforma gerencial, a SEEduc/RJ tem buscado contemplar
aspectos estratégicos, políticos e gerenciais com foco em resultados, a pretexto de
melhorar os indicadores da educação, especialmente aqueles relacionados ao
desempenho do estado do Rio de Janeiro no IDEB. Esse conjunto de medidas
alteram significativamente o cotidiano das escolas, na medida em que estabelece a
lógica mercantil como referência de gestão do trabalho escolar. Esse impacto nos
parece ser mais intenso na Educação de Jovens e Adultos (EJA), justamente por
suas especificidades e contradições. Por esta razão, tomamos como objeto de
estudo as mudanças determinadas pela GIDE na EJA desenvolvida na educação
pública do estado do Rio de Janeiro, analisando o Centro Integrado de Educação
Pública (CIEP) Brizolão 175 José Lins do Rego, localizado, em São João de
Meriti/RJ. Nosso objetivo foi avaliar se em algum aspecto a implantação da GIDE
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trouxe alguma melhoria no trabalho pedagógico desenvolvido na EJA ofertada pela


instituição de ensino investigada. Com o desenvolvimento desta pesquisa,
avançamos em apresentar o real impacto da reforma gerencial do Estado na EJA
desenvolvida no Brizolão 175 – José Lins do Rego. Trata-se de uma pesquisa
documental, de análise qualitativa e de caráter explicativo, sem abrir mão de fontes
bibliográficas primárias. Com o desenvolvimento deste trabalho investigativo,
conseguimos perceber que de fato, existe um impacto de influencia muito grande
do setor privado na formulação e efetivação na política pública da EJA, por dentro
da reforma gerencial do Estado na EJA do Estado do Rio de Janeiro. Analisamos
essas relações de tensões existentes no mundo da escola, por dentro dos conceitos
desenvolvidos por Antônio Gramsci: hegemonia e contra hegemonia; crise do
bloco histórico fordista, e de Sociedade civil. Essa investigação contribuí não
apenas para o desenvolvimento dessa política pública da Educação, mas também
para a reflexão de profissionais da educação pública do Estado do Rio de Janeiro
desenvolverem suas atividades na EJA acerca de sua própria realidade, seja pelas
similitudes, seja pelas distinções.

A restruturação universitária, a ditadura e o projeto de desenvolvimento


econômico - Ludmila Gama Pereira (SEEDUC/RJ)

Nesta apresentação discutirei os projetos para o ensino superior em disputa após o


golpe empresarial militar de 1964 até a materialização da reforma universitária de
1969 desenhada pela ditadura. Para isso, demonstraremos a circulação de
225
formulações por membros da Escola Superior de Guerra, do Instituto de Pesquisa
e Estudos Sociais (que também ocupariam cargos nos ministérios e em comissões
institucionais), a atuação dos membros da Escola Superior de Guerra nos assuntos
educacionais, os relatórios de consultores americanos independentes (relatório
Atcon) ou contratados pelos acordos firmados entre o Ministério da Educação e a
United States Agency for International Development (USAID), e finalmente, os
resultados do grupo de trabalho que formulou a reforma universitária de 1969.
Analisaremos, portanto, como a reforma aglutinou ou rejeitou os pressupostos de
todas as formulações das entidades citadas assim como a participação direta de seus
membros no grupo de trabalho convocado pelo MEC.

Aparelhos Privados de Hegemonia dos novos modelos de gestão escolar: uma


análise da atuação do Instituto de Desenvolvimento Gerencial na Educação
Básica - Fabrício Fonseca da Silva (UFRRJ)

Os novos modelos de gestão escolar que emergiram no Brasil, no contexto da


contrarreforma do Estado, foram formulados por um conjunto de Aparelhos
Privados de Hegemonia (APH’s), responsáveis pela difusão do gerencialismo em
toda administração pública, incluindo as instituições de ensino. O APH,
identificado para análise em tela, foi Instituto de Desenvolvimento Gerencial
(INDG), atualmente Falconi Consultores de Resultado, criado, em 2003. Esse
Instituto possui vínculo orgânico com a classe burguesa, visto que seu quadro de
conselheiros é formado por diferentes frações do empresariado. Para esta
comunicação, em especial, investigou-se o sistema de Gestão Integrado da Escola
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(GIDE) que vem sendo implantado em sistema públicos de ensino. Como


referencial, utilizou-se o conceito gramsciano de Estado Ampliado como
instrumento teórico-metodológico para análise das transformações que vêm
correndo nas políticas públicas na área da educação, realizadas pelas agências do
estado estrito. A escola pública tem sido a principal instituição responsável pela
reprodução das relações sociais de produção capitalista e na difusão da
sociabilidade burguesa. A pesquisa identificou que a introdução da GIDE nas
escolas públicas tem sido realizada por meio da incorporação de trabalhadores da
educação às estratégias de conformação das comunidades escolares (professores,
pais e alunos) promovendo cursos de formação e até ações de marketing em murais
das próprias escolas. Conclui-se que esse sistema GIDE foi inserido nas redes
públicas de ensino pelo INDG com o objetivo de garantir a qualidade e a eficiência
das escolas sem, portanto, aumentar os recursos financeiros, materiais e humanos
destinados para as mesmas. Esse modelo de gestão também introduziu nos sistemas
de ensino público básico a privatização de novo tipo que está relacionada ao
desenvolvimento organicamente articulado de difusão e legitimação de princípios
das organizações privadas na administração das instituições públicas.

As agências e os agentes do Patronato São Bento (1955-1961) - Márcia Spadetti


Tuão da Costa (Prefeitura Municipal de Duque de Caxias)

Apresentamos resultados de pesquisa em história da educação acerca da instituição


do Patronato São Bento, fundada em 25 de novembro de 1955, em Duque de
226
Caxias, no Rio de Janeiro para atender a uma demanda urbana. No estado do Rio
de Janeiro, no pós-1930, nas associações que os sucessivos governos estabeleceram
entre agrarismo e instrução, a zona rural foi idealizada como espaço detentor da
identidade fluminense, lócus de formação do trabalhador requerido para o
progresso econômico do estado e da pátria. Enquanto o Distrito Federal
representava o centro político e urbano, o estado do Rio de Janeiro era agrário e
campesino, assim como parte da Baixada Fluminense, que teve parte do território
destinado às funções rurais. Essa instituição educativa criada dentro do Núcleo
Colonial São Bento emerge da diversidade de instituições destinadas a abrigar e
instruir a infância nos moldes do projeto ruralista. A educação elementar básica e
a iniciação profissional agrícola marcaram esse equipamento. As fontes
garimpadas possibilitaram conhecer o projeto de educação para a infância pobre no
município de Duque de Caxias e a inserção desses meninos no campo do trabalho
sem nenhuma reflexão da exploração do homem sobre o homem. Através das
atividades desenvolvidas pelo Centro de Pesquisa, Memória e História da
Educação da Cidade de Duque de Caxias e Baixada Fluminense (CEPEMHEd),
identificamos parte do acervo do Patronato. Como referencial teórico, utilizamos
Antonio Gramsci para entender as diferentes agências e agentes que conformaram
o perfil de Estado em Mendonça (2005). Quanto ao entendimento do projeto
ruralista, Mendonça (2007) e Souza (2014) que ajudou a compreender esse projeto
local. Esse estudo permitiu o entendimento sobre as peculiaridades perpassadas por
diferentes disputas, relacionadas com a função social desse território, os
comprometimentos com o projeto ruralista e urbano-social.

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As instituições educacionais no Império podem ser estudadas como aparelhos


privados de hegemonia? - Isabella Paula Gaze (UFF)

Na concepção gramsciana, a sociedade civil é espaço de luta de classes (inter e


intra), de disputas, de projetos, onde os agentes sociais se organizam e se associam
em torno de suas concepções de mundo e interesses, onde se constrói consensos e,
portanto, se estabelece a hegemonia de classe. Compreendendo como processo
relacional a convivência entre sociedade civil e estado restrito, destaco a
importância de estudar a segunda metade do período imperial através da concepção
de estado ampliado, ou melhor, através das relações estabelecidas entre sociedade
política e sociedade civil, considerando seus próprios conflitos sociais, a
organização de suas formas educativas e a participação delas na construção da
hegemonia. As concepções de Gramsci ganham importância quando relacionadas
a análises desenvolvidas como resultados de pesquisas empíricas. Nesta
perspectiva, seria possível usá-las para compreender a organização e a inserção de
instituições de ensino no império. Os critérios usados para afirmar que a sociedade
civil imperial era gelatinosa e primitiva não correspondem aos esforços de pesquisa
de historiadores para ampliar o conhecimento sobre a organização da sociedade
civil no império. Assim, na busca permanente do diálogo entre conceito e
evidência, não poderia desconsiderar o quê os documentos pesquisados tem
sinalizado aos historiadores, e vislumbrar a categoria gramsciana de sociedade
civil, no período imperial. Se a materialização da sociedade civil encontra-se nos
aparelhos privados de hegemonia, então, acredito ser possível usar a categoria
227
gramsciana para analisar o império, considerando alguns pontos: não buscar
critérios de organização na sociedade imperial, tendo como referência as formas de
organização surgidas, posteriormente, quando a sociedade burguesa e o capitalismo
brasileiro se encontravam consolidados; considerar que a classe senhorial
conquistou a hegemonia do Estado Imperial, a partir de um projeto sustentado em
torno da coroa e do imperador; considerar que os aparelhos privados de hegemonia
se organizaram através do consenso estabelecido pela hegemonia saquarema ou de
algum outro projeto contra-hegemônico; considerar a complexidade da sociedade
civil imperial a partir de sua própria formação e não pela inexistência de elementos
atemporais e anacrônicos. Assim, escolas e colégios, fundados neste período,
podem ser caracterizados como aparelhos privados de hegemonia, principalmente,
após 1854, quando se institui a Reforma Couto Ferraz e multiplicam-se as
instituições de ensino particulares como sustentáculos da ordem monárquica
religiosa, contribuindo para disseminar a cultura hegemônica. Neste trabalho
apresentarei algumas dessas instituições educacionais para sustentar minhas
reflexões.

As políticas de ampliação da jornada escolar e o Estado: problemas de


análise - Regis da Costa Argüelles (Universidade Federal Fluminense)

O objetivo deste estudo é criticar determinados modelos de análise das políticas


educacionais utilizados na literatura acadêmica contemporânea, e apresentar uma
abordagem teórico-metodológica diversa do problema. Mais especificamente,
buscamos nos acercar das determinações que atravessam o Estado capitalista
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quando se trata de analisar as políticas para a educação. Partimos da premissa de


que as concepções de Estado, enunciadas ou não, são determinantes nos resultados
de pesquisas sobre políticas educacionais. Daí a importância de um estudo que
exponha as fragilidades de certas abordagens do Estado, as quais obstam a
compreensão crítica das políticas educacionais, seja a respeito das suas origens,
seja quando se busca discutir os seus resultados. Neste artigo voltaremos nossas
atenções para as políticas de ampliação da jornada escolar. Estas políticas estão
presentes no debate educacional nacional há mais de 3 décadas, sendo que, nos
últimos 20 anos, novos atores sociais vêm ditando o rumo a ser tomado pela
ampliação do tempo de escola. Dentre estes novos atores, se destacam as
instituições voltadas para ações de responsabilidade social do empresariado em
direção às camadas mais desfavorecidas da classe trabalhadora (MARTINS, 2009).
A proeminência do empresariado na definição dos rumos da política de ampliação
da jornada é tratada muitas vezes de forma superficial pela literatura, ao considerar
o Estado ator neutro e acima dos conflitos presentes na sociedade civil, ou
considerando-o como mais um ator dentre outros (MENEZES, 2009; GADOTTI,
2009). Por outro lado, ao fazer uso dos conceitos de Estado ampliado, bloco
histórico e hegemonia civil de Gramsci (2012), buscaremos desvelar a
intencionalidade prática do empresariado no sentido de sistematizar e mobilizar a
sociedade civil e política para a construção de um tipo de educação em jornada
ampliada de acordo com sua agenda. Já as análises de Poulantzas (1977), que
tratam do exercício do poder político em uma sociedade capitalista de classes,
permitem uma abordagem justa da relação que os aparelhos educacionais do Estado
228
estrito mantêm com a sociedade civil cindida em classes e suas frações. No caso da
ampliação da jornada escolar, a valorização da descentralização da gestão e das
parcerias da escola pública com a “sociedade civil” podem ser compreendidas a
partir da posição que estes aparelhos ocupam na correlação de forças em uma
formação capitalista dependente. Por último, propomos que a apreensão crítica das
políticas públicas em educação passa pela análise dos aparelhos privados de
hegemonia voltados para educação que atuam na sociedade civil e no Estado
estrito, seguindo o caminho metodológico desenvolvido por Mendonça (2010).

Congressos Brasileiros de Agronegócio: a Educação do Consenso - Sonia


Regina de Mendonça (UFF)

Baseado na documentação produzida pelos Congressos Brasileiros do


Agronegócio (CBAs), anualmente patrocinados pela ABAG - sobretudo seus Anais
-, o trabalho discute como tais eventos podem ser considerados, além de espaços
de construção das redes de sociabilidade entre agricultura, indústria e capital
financeiro, como práticas educativas, destinadas a “domesticar” o consenso em
torno das propostas e ideias-força emanadas da Associação Brasileira do
Agronegócio. Levando em conta que, tanto a organização dos Congressos – que
têm seus temários previamente definidos nos Fóruns ABAG de cunho trimestral –
, quanto sua realização mobilizam intelectuais orgânicos do setor, da academia,
além dos mais distintos agentes das sociedades civil e política, creio possível
estabelecer que as práticas, estratégias e argumentos político-ideológico-culturais
apresentados durante os CBAs têm, na repetição permanente, papel visceral para a
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afirmação hegemônica da ABAG. Mais que isso, eles contam com aquilo que
Antonio Gramsci sinaliza como fulcral para esta tarefa: o caráter pedagógico –
logo, educativo – da construção do consenso. Sob tal ótica e seguindo o filósofo
italiano, a Educação extrapola sua dimensão escolar - formal e formalista -
constituindo-se em noção estruturante da hegemonia de uma dada classe ou fração
dela.

Construindo um lugar social para a música: Heitor Villa-Lobos - história,


memória e mito - Maria das Graças Reis Gonçalves (UFF)

Ao considerar que toda relação de hegemonia é uma relação pedagógica, Gramsci


concebeu o controle da consciência como uma área de luta política, onde o Estado
atua como educador, na medida em que lança mão de todos os canais possíveis
para conseguir o consentimento político. Daí o interesse, por exemplo, pela
educação, religião, pelo rádio, pela música, dentre outros. Nesta perspectiva,
Getúlio Vargas (1882-1954), enquanto líder de um governo autoritário, não
desprezou as oportunidades de buscar convencer através da cultura, a fim de
ampliar sua base de apoio. Foi assim que os instrumentos culturais, como a música
de Villa-Lobos (1887-1959), vieram a ocupar um espaço importante dentro da
proposta política do Estado Novo, como um dos caminhos possíveis para alcançar
a harmonia social. O maestro foi uma das figuras mais polêmicas do meio musical
brasileiro. Autor de uma produção musical reconhecida nacional e
internacionalmente, ele se projeta no cenário musical do século XX, tornando-se
229
um dos ícones da escola nacionalista de música. Além disso, teve um papel
importante no campo educacional na década de 1930, com a proposta do ensino do
canto orfeônico nas escolas de ensino primário e secundário que, ao cultivar a
disciplina e despertar o civismo, inseriu-se no nacionalismo e na articulação de um
projeto de (re)construção da nação que envolvia a criação de uma vontade coletiva.
Este trabalho tem como objetivo apontar os aspectos políticos que envolveram a
atuação de Villa-Lobos e sua posição de autoridade máxima em relação à educação
musical, tendo em vista os cargos que assumiu no governo Vargas. O maestro
acreditava no caráter socializador da música e que a prática escolar desse ensino
contribuiria para a construção de um ambiente de solidariedade e de consciência
coletiva, importantes para convivência em grupo. Ao reconhecer no movimento de
1930, a chance de realização de um programa de educação estética, social e
artística, instrumento de promoção de novos hábitos de disciplina, de civismo entre
os escolares, o canto orfeônico veio a ocupar um espaço importante dentro dessa
proposta política, ao viabilizar uma pedagogia da mobilização, através da música.
Pensar a música dessa forma é considerá-la, sobretudo, resultado de um processo
histórico, onde diversos discursos, aspirações, sentimentos e crenças se
entrelaçaram. As concentrações orfeônicas demonstraram a possibilidade de
manter unidas, não pelo medo, mas pelo sentimento, em cerimônias marcadas pela
emoção, milhares de vozes sob o comando do maestro. A imagem de força do chefe
da nação podia se associar à imagem do grande maestro: um regendo as
concentrações do Dia da Pátria; o outro regendo a Pátria todos os dias. Nessa
perspectiva, cabia manter a afinação entre música e política.

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Educar mulheres: o curso de Economia Doméstica da UREMG (1952-


1962) - Camila Fernandes Pinheiro (Universidade Federal Fluminense)

A partir da matriz gramsciana de Estado, discutiremos a perspectiva de educação


feminina veiulada pelo curso de Economia Doméstica da então Universidade Rural
do Estado de Minas Gerais (UREMG). Criado em 1952, o curso de graduação teve
uma origem fundamentalmente ligada ao extensionismo rural e, portanto,
congregou interesses locais, nacionais e internacionais na formação de mulheres
que atuariam como difusoras de modelos de comportamento para comunidades
rurais, associando o feminino ao trabalho doméstico e de cuidados. Para esta
análise utilizaremos o currículo da Escola Superior de Ciências Domésticas da
UREMG durante a primeira década de seu funcionamento, com o intuito de mapear
as influências sobrepostas nessa nova matriz de ensino superior e o projeto
pedagógico que acabaria por construir um ideal de mulher rural.

Entre a Educação para Todos e o Todos pela Educação: o direito à educação


e o projeto de concertação nacional - Renata Spadetti Tuão (UERJ)

Na “Década da Educação para Todos”, o “direito à educação” ganha centralidade


na busca da conformação social ao projeto burguês. Os discursos hegemônicos
assumem um sentido mercantil e uma essência conservadora em conexão com a
pedagogia da hegemonia que vem sendo atualizada desde a formação do bloco
histórico toyotista/neoliberal. O papel educador do Estado, em sua concepção
230
ampliada, concebe o surgimento de aparelhos privados de hegemonia fundados em
“acordos” intercorporativos que estabelecem a conciliação de classes como
caminho para a conformação social. O “direito à educação” entoado pelo conjunto
das organizações internacionais tem expressão, na década de 1990, nos diversos
encontros, conferências e fóruns interclassistas criados com o objetivo de conferir
materialidade ao projeto de concertação nacional em curso. Este artigo analisa a
atuação da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE) no avanço do
projeto neoliberal em curso no Brasil, encampado pelo bloco no poder e
materializado através da formulação de políticas públicas educacionais. Nossa
pesquisa tem base no levantamento de fontes bibliográficas primárias e
secundárias, entre as quais: documentos institucionais disponibilizados pela CNDE
em seu arquivo digital e físico, na legislação educacional e em entrevistas semi-
estruturadas com os representantes do comitê diretivo e da coordenação geral da
CNDE. Buscamos identificar quais as estratégias de educação política utilizadas
pela CNDE se destinam a reorganizar tanto a dinâmica da sociedade civil quanto
dos aparelhos do Estado na materialização de um novo padrão de sociabilidade. A
CNDE é dirigida por um conjunto heterogêneo de organizações da sociedade civil,
composto por onze instituições, entre elas encontramos a Fundação ABRINQ, a
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, o Movimento Social dos
Trabalhadores Sem Terra e a Confederação Nacional dos Trabalhadores da
Educação. A interlocução teórica se dá através dos estudos produzidos por Gramsci
(2011), Neves (2010; 2005), Mendonça (2014), Lamosa (2016) e Martins (2009)
nos ajudando no entendimento das formas utilizadas pela classe dominante que
objetivam manter e ampliar o seu domínio na contemporaneidade. Concluímos
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com esse artigo que a CNDE se propõe a reorganizar os mecanismos de mediação


dos conflitos de classe, a partir da criação de um consenso ampliado em torno da
defesa, inicialmente, do lema “Educação Para Todos”, materializado na década
seguinte sob o movimento “Todos Pela Educação” no processo de consolidação da
hegemonia. Assumindo o protagonismo na representação política da sociedade
civil e difundindo uma nova pedagogia da hegemonia, tendo em vista a formação
de trabalhadores adaptados aos requisitos do século XXI.

Estado, Políticas Públicas e Educação do Campo: reflexões históricas acerca


do PROCAMPO e PRONACAMPO - Rita de Cássia Gomes
Nascimento (IFMA)

O presente texto trata sobre problematizações históricas acerca de políticas de


educação do campo, através de reflexões sobre Programa de Apoio às Licenciaturas
em Educação do Campo (PROCAMPO), no contexto do Programa Nacional de
Educação do Campo (PRONACAMPO), surgido em 2012. Parte-se das
contradições e correlações de forças hegemônicas e contra hegemônicas no seio da
mediação entre Estado, políticas públicas e capital, no contexto do campo e da
Educação do Campo. Partir-se-á do quadro teórico de Antônio Gramsci (2001;
1980) para se pensar a Categoria Estado. Este é tomado como Estado Integral
composto por um todo complexo que inclui sociedade civil e sociedade política e,
portanto, uma multiplicação de vontades coletivas organizadas de forte caráter
classista no embate pela hegemonia (GRAMSCI, 2001). Assim, as análises
231
permeiam a educação superior em Educação do Campo, e suas relações e
mediações entre Estado, políticas públicas e sociedade civil no contexto da
materialidade do capital no campo. O Programa de Apoio à Formação Superior em
Licenciatura em Educação do Campo (PROCAMPO) constitui-se enquanto
política aprovada no ano de 2006, pelo MEC, em consonância com a Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD, Secretaria de
Educação Superior – SESU e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação –
FNDE para responder a demanda de reinvindicações e articulações engendradas
pelos movimentos sociais e sindicais do campo, em especial, o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, relativa à necessidade de oferta de cursos
qualificados à formação inicial de professores e professoras para as escolas do
campo nos anos finais do ensino fundamental e médio, que tenham como objeto de
estudo e práticas as escolas da educação básica do campo (MOLINA & SÁ, 2011).
Como segunda fase, a partir de 2012, o PROCAMPO fora inserido ao Eixo II do
Programa Nacional de Educação do Campo (PRONACAMPO). O
PRONACAMPO foi lançado em março de 2012e se configura em um conjunto de
ações já existentes no âmbito nacional, só que com maior abrangência e articulação
institucional no planejamento e acompanhamento do desempenho das ações que
devessem dar suporte ao sistema de ensino e implementação da política de
Educação do Campo. Para França (2016), o PRONACAMPO pode ser definido
como uma política híbrida, uma vez que seu próprio contexto de surgimento realça
essas contradições, já que se insere nesse momento de disputa ampla do Estado,
para a efetivação de projetos distintos. De um lado as agências internacionais e a
frações agrárias dominantes lutando para sua hegemonia e de outro os movimentos
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sociais e populares campesinos, que no acirramento das contradições do modelo


capitalista lutam por políticas, dentre elas as de educação.

Influência estadunidense na Educação e Pesquisa para o campo: a Aliança


para o Progresso no Brasil (1961-1970) - Melissa de Miranda
Natividade (Universidade Federal Fluminense)

O tema central deste trabalho é a Aliança para o Progresso, programa de


cooperação técnica e financeira, direcionado aos países da América Latina, lançado
por John F. Kennedy logo no início de seu mandato como 35° presidente dos
Estados Unidos, em 1961. O Brasil foi o país do hemisfério que mais recebeu
investimentos do programa estadunidense, ademais, o único também na região a
contar com duas missões da USAID, uma no Rio de Janeiro e outra em Recife. A
United States Agency for International Development (USAID), pensada e criada
pela equipe de Kennedy, era o braço operacional do programa, onde figuravam
importantes empresários e intelectuais acadêmicos que deram o tom e o
direcionamento do programa de “ajuda”. A Aliança para o Progresso perdurou pelo
período compreendido entre 1961 e 1969/1970, estando integrada à conjuntura da
Guerra Fria. Nesse contexto, os programas de assistência financeira e técnica
oferecidos pelos países do centro capitalista, traziam a promessa de abundância e
desenvolvimento econômico para as nações da periferia do capital, a partir de uma
“nova” atuação, menos militarizada e mais “racional” e “científica”. Nosso
trabalho debruça-se sobre a operação da Aliança direcionada à agricultura
232
brasileira, a partir do estudo das várias iniciativas perpetradas por meio da Aliança,
direcionadas às áreas de pesquisa e educação rural. Buscamos entender o
funcionamento de uma das estratégias utilizadas para influenciar na forma de
produzir, de se alimentar e de viver da população das áreas rurais brasileiras.

Instituto Ayrton Senna: Uma análise da sua atuação como Aparelho Privado
de Hegemonia - Aline Carla Batista de Laia (UFRRJ)

O artigo apresenta os resultados preliminares da pesquisa sobre as determinações


históricas da emergência e difusão de entidades “filantrópicas” fundadas pelos
empresários na sociedade civil com grande influência sobre as políticas
educacionais na década dos anos de 1990 até a década atual, em destaque o Instituto
Ayrton Senna. O objetivo deste trabalho é apresentar o contexto histórico onde se
formou o Instituto Ayrton Senna (IAS) e que favoreceu sua participação nos
arranjos da Reforma e Contrarreforma da Educação Básica e atuação no interior do
Estado Ampliado no Brasil, tanto em sua atuação na Sociedade Civil, como em sua
influência na Sociedade Política. A pesquisa utiliza o conceito gramsciano de
Estado Ampliado como ferramenta teórico-metodológica, compreendendo a
sociedade civil como instância superestrutural em que um conjunto heterogêneo de
Aparelhos Privados de Hegemonia disputa a hegemonia e a inserção de sua
concepção de mundo na sociedade política, especialmente nas agências
responsáveis pelas políticas públicas de seus interesses. A pesquisa identifica o IAS
como um Aparelho Privado de Hegemonia que atua nas formulações das políticas
educacionais, por meio da inserção de intelectuais orgânicos no interior de agências
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XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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da sociedade política responsável pela educação brasileira, através da oferta de


programas e pesquisas que são aplicados nas escolas públicas das redes municipais
e estaduais de ensino. Destaca-se que a pesquisa vem identificando a existência de
diferenciações entre as empresas que organizam e dirigem o IAS, bem como
camadas distintas de intelectuais que se dividem entre a formulação, sistematização
e difusão da concepção de mundo representada no interior do aparelho. Neste artigo
foram analisados os programas e ações do IAS no período que compreende os anos
entre 1994 e 2016. O artigo conclui que o IAS, por meio de uma intensa agenda de
atividades produzida por seus intelectuais orgânicos, realiza uma pedagogia da
hegemonia que difunde metodologias educacionais adequadas à formação dos
trabalhadores para o trabalho simples, atendendo às emergências da recomposição
burguesa, que retira das escolas a centralidade da produção do conhecimento
escolar e proletariza os docente que são expropriados, tornando-se executores de
uma pedagogia interessada.

Instituto Brasileiro de Petróleo: a construção da hegemonia sobre a economia


de petróleo brasileira - Thiago Vasquinho Siqueira (UFRJ)

Este artigo realiza uma análise de informações de uma pesquisa de doutorado em


andamento que objetiva entender a atuação pedagógica dos Aparelhos Privados de
Hegemonia (APHs) na manutenção dos interesses do capital multinacional sobre a
exploração de petróleo no Brasil. Busca-se, sobretudo, entender a forma de
consolidação e atuação institucional do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e
233
Biocombustíveis (IBP), maior e mais antigo APH do setor, na sedimentação
pedagógica de sua concepção de mundo na sociedade civil e suas reverberações na
estrutura econômica nacional. A análise dos APHs e seus principais intelectuais, à
luz do conceito ampliado de Estado em Gramsci, possibilita entender as correlações
de forças entre as classes e suas frações existentes em um determinado período
histórico, orientando as construções ideológicas, concepções de mundo, políticas
públicas e outras ações concretas do Estado em seu sentido estrito. Formado em
maio de 1957, o IBP teve suas atividades originais, supostamente, vinculadas ao
ambiente técnico e científico, sendo vedada qualquer atividade de natureza política
ou partidária. Contudo, o histórico de atuação política de seus fundadores aponta
em outra direção. Suas atividades foram diversificadas ao longo dos anos,
consolidando-se como o principal representante do setor e autodenominando-se a
“Casa da Nossa Indústria”. O Instituto atua como amortecedor e neutralizador de
conflitos internos entre os agentes da indústria e as instituições estatais na busca
por consolidar os interesses do bloco industrial. A vasta área de atuação do IBP faz
deste um intelectual coletivo que atua pedagogicamente na consolidação da
hegemonia burguesa constituída pelo capital multinacional. No Brasil, estes
interesses se tornaram força socioeconômica dominante no período de fundação do
IBP, criando uma estrutura de poder político de classe do bloco multinacional,
corporificado em uma “intelligentsia empresarial”. Este artigo conclui que os
intelectuais que compunham o IBP seguiram a mesma tendência de diversos outros
APHs conformados no período, acumulando cargos de dirigência de companhias
privadas e estatais, desenvolvendo um “complexo financeiro-industrial estatal
integrado de produção e domínio” que criou raízes na década de 1950 e se expandiu
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no governo de Juscelino Kubistchek. Nesse sentido, o IBP parece ter transitado


suas formas de atuação conforme as necessidades historicamente determinadas no
desenvolvimento brasileiro, mantendo a hegemonia também através de relações
pedagógicas, nas quais a classe ou frações dominantes subordinam os grupos
sociais através da persuasão, organizando um suposto consenso social em torno da
concepção dominante de mundo.

O caráter educativo de um aparelho privado de hegemonia da classe


trabalhadora: a experiência de organização da Ação Popular junto as
castanheiras (CIONE, Fortaleza-CE, 1967-1969) - Marcelo Henrique Bezerra
Ramos (UFF)

Em finais de 1968 centenas de castanheiras (operárias da indústria da extração de


óleo da castanha de caju) da Companhia Industrial de Óleos do Nordeste – CIONE
(Fortaleza-CE) organizaram uma greve para reivindicar melhores salários e
condições de trabalho desenvolvendo-se numa crítica à lógica da exploração
sofrida pelas trabalhadoras e ao papel do patrão e do Estado na opressão de classe.
Este é um período de ditadura empresarial militar no Brasil, marcado pelo aumento
da coerção na sociedade, cerceamento das liberdades políticas, perseguição aos
movimentos sociais e arrocho sobre os salários e a vida dos e das trabalhadoras, a
fim de garantir melhores condições para a produção e reprodução do Capital no
Brasil. Portanto, buscamos entender o processo de organização política e
construção de consciência de classe entre estas trabalhadoras, identificando a ação
234
de aparelhos privados de hegemonia para organização dessa ação política,
especificamente o caráter educativo destes. Abordamos a organização destas
mulheres que enfrentaram o projeto hegemônico e a coerção aplicada pelo Estado,
contribuindo no movimento contra-hegemônico que marcou 1968 como o ano de
maior resistência dos subalternos ao regime militar, tais como as greves dos
metalúrgicos de Osasco-SP e Contagem-MG, e a greve dos trabalhadores rurais da
zona da mata pernambucana. Nós, por escolha temática e metodológica a partir do
que achamos mais importante a destacar no momento a partir do nosso trabalho
com as fontes, nos esforçamos para dar um maior aprofundamento a um aspecto
em si da greve, os processos de transformação da consciência de classe no processo
de construção do movimento e da greve, relacionando as questões de raça e gênero
com o processo de formação de classe. Como as operárias se conscientizaram da
necessidade de se organizarem e empreenderem luta contra o patrão? Quem eram
os aparelhos de classe que agiram na greve? Qual papel desses aparelhos na
construção de uma consciência política de classe? Qual a caráter educativo dos
aparelhos de classes e quais impactos deste caráter educativo na conscientização
das trabalhadoras? Entendemos a Ação Popular como um aparelho privado de
hegemonia da classe trabalhadora que busca na atuação junto ao Sindicato do Óleo
e na organização de base na CIONE, construir a organização de um segmento dos
subalternos no Brasil em 1968, uma parte da vontade coletiva organizada em luta
de greve, fazendo avançar a consciência de um conjunto de trabalhadores dos
problemas imediatos, na direção dos problemas políticos nacionais.

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O Enraizamento do Capitalismo no Campo Brasileiro Através da Educação


de Jovens Rurais: Dos Clubes Agrícolas Educacionais aos Clubes 4-S (1942 –
1980) - Nathalia dos Santos Nicolau (Universidade Federal Fluminense)

O trabalho em questão conta com apontamentos iniciais do meu objeto de


Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em História na Universidade Federal
Fluminense, iniciado nesse ano de 2018. O referente projeto dá continuidade a
minha Dissertação de Mestrado defendida em 2016 no PPGH-UFF, sob o título
“Clubes Agrícolas: Um projeto de educação, trabalho e cooperação para jovens
rurais (1842-1958)”, porém ampliando não só a analise como refletindo sobre uma
nova instituição de ensino: Os Clubes 4-S. Dessa forma, Tendo como referencial
teórico para análise das questões subjacentes à temática da Educação de Jovens
rurais em geral, e dos tipos de Clubes Agrícolas em particular, adoto a perspectiva
marxista de Antonio Gramsci, ou seja, analiso o Estado como Ampliado no período
proposto, através do estudo de Aparelhos Privados de Hegemonia que pretenderam
ganhar espaço e ter seus projetos educacionais inseridos junto ao Estado restrito. A
principio, o plano de pesquisa se baseia em examinar o processo de consolidação e
as sucessivas redefinições sofridas pelo ensino agrícola/rural de nível primário no
Brasil viabilizado por práticas de extensão rural - que se fez presente no campo
entre inícios da década de 1940 e da de 1980, através das duas instituições aqui
235
analisadas: dos “Clubes Agrícolas” (1940-1950) e dos “Clubes 4-S” (1950-
1970/80). Ao observar a educação rural, aqui vista a partir dos dois tipos de Clubes,
nota-se que foram marcadas por embates políticos e, simultaneamente,
produtora/reprodutora de hierarquias sociais que sanciona de fato a subalternidade
do trabalhador rural aos projetos que visavam o aumento da produtividade,
legitimado sob o discurso de modernização. A pesquisa também investigará as
inflexões sofridas pelo Ensino rural - por meio do Ministério da Agricultura - via
Extensionismo, já que os dois tipos de Clubes respondiam a projetos distintos, mas
que perpassavam direta ou indiretamente pela Extensão Rural, seja pela
“ruralização do ensino” e/ou por um conjunto de práticas e de agências voltadas
para a “assistência técnica” e social da juventude rural, tendo como modelo o
Clubismo estadunidense. aqui veiculado por inúmeras instituições de cooperação
norte-americanas. Assim, ao refletir sobre os Clubes, levando em conta suas
semelhanças e suas diferenças, procuro demonstrar que esses projetos de educação
tem como objetivo a disseminação do capitalismo no campo com sua ideologia de
priorizar a técnica enquanto instrumento da negação dos conflitos sociais no campo
e a neutralização de potenciais mobilizações de trabalhadores rurais.

O estudo do SEBRAE enquanto difusor junto a noção de "educação


empreendedora" - Felipe da Silva Duque (UERJ)

O presente trabalho tem como proposta investigar o papel do Serviço Brasileiro de


Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) reconhecendo-o como um Aparelho
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Privado de Hegemonia (APH) na difusão da noção recente de “educação


empreendedora”. A compreensão de tal condição se faz fundamentada num breve
resgate da entidade a partir de sua fundação enquanto setor da sociedade política
em 1972 sob o nome de Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena e
Média Empresa (CEBRAE), ligada naquele momento ao Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico (BNDE). O exame dos principais autores envolvidos
na reivindicação da entidade - representantes de algumas frações da burguesia
brasileira no período - torna fundamental a análise das metamorfoses desse APH e
suas relações com as mudanças no bloco histórico transformadas na
contemporaneidade diante do avanço conservador-liberal.

O ideal de desenvolvimento sustentável presente na construção da política


municipal de educação ambiental PMEA - Eduardo da Costa Pinto
d'Avila (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia)

Este artigo tem como tema o processo de institucionalização da política municipal


de educação ambiental do Rio de Janeiro (PMEA/RJ), entre 2006 e 2016, objeto da
Lei Nº 4.791, promulgada no dia 02 de abril de 2008 e regulamentada por decreto
236
em 2013. O objetivo do estudo foi entender como a PMEA/RJ foi materializada
mapeando os sujeitos coletivos envolvidos. O quadro teórico-metodológico
consistiu na concepção gramsciana de Estado integral e de sociedade civil,
envolvendo os procedimentos técnicos tais como levantamento de pesquisas no
banco de teses e dissertações da Capes, análise de conteúdo documental, entrevistas
e revisão bibliográfica. A educação ambiental, no Brasil, é resultado de um embate
travado desde os anos 1970 e 1980, no campo do ambientalismo e no campo da
educação, que resultou na Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA, 1999)
e, desde então, a institucionalização da educação ambiental se desdobrou em
legislações estaduais e municipais. No Rio de Janeiro a PMEA/RJ resultou de uma
política pública educacional do município do RJ submetida a uma influência direta
dos governos do Estado do RJ e federal, em função da coligação partidária PMDB-
PT. Os resultados preliminares envolveram a influência do ideal da gestão
gerencial, bem como a inserção da educação ambiental em projetos formulados por
empresas em parceria com a prefeitura. A pesquisa vem confirmando a hipótese de
que a institucionalização da PMEA/RJ opera na lógica da administração gerencial
de políticas educacionais. A pesquisa vem identificando os sujeitos coletivos
organizados na sociedade civil e sua atuação no Estado strictu.

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O Movimento Escola Sem Partido e as disputas por um sentido conservador


de educação: luta pela hegemonia nos debates educacionais - Diogo da Costa
Salles (UERJ)

Esse trabalho trata do Movimento Escola Sem Partido (MESP), da história de sua
criação e desenvolvimento e dos interesses político-ideológico que ele representa.
O objetivo aqui é reconstituir como o movimento se tornou um veículo para
difundir junto à sociedade civil de discursos e perspectivas conservadoras sobre a
educação escolar e a função social da escola. A proposta que guia esse trabalho é a
de que o MESP, através da sua associação com outros partidos, aparelhos privados
e intelectuais orgânicos, visa consolidar um consenso hegemônico em torno do
papel da escola e das relações de ensino-aprendizagem com o objetivo de converter
esses espaços em ferramentas para a reprodução de valores e paradigmas político-
ideológicos conservadores

Os mestrados profissionais em educação: uma nova arena em


expansão - Luciane da Silva Nascimento (UFRJ)

A política sinalizada para a pós-graduação brasileira no atual Plano Nacional de


Pós-Graduação (PNPG 2011-2020) revela a necessidade de ajustamento dos cursos
stricto sensu à formação de recursos humanos para as empresas, da
internacionalização desses cursos com vistas à cooperação internacional e define
um perfil para os cursos voltados à formação para mercados não acadêmicos. A
237
redefinição das políticas de ensino superior notadamente está inserida nesse projeto
em que a educação para formação de capital humano acontecerá com o
fortalecimento de um ensino terciário, incluindo, a pós-graduação. Não se pode
ignorar o fato de que as formulações dos organismos internacionais associadas às
demandas das frações burguesas que ocupam maior proeminência no bloco de
poder do Estado brasileiro configuram as matrizes conceituais e operacionais dos
projetos educacionais em curso. Apesar, de situar que essa discussão ultrapasse as
fronteiras da pós em educação, o PNPG busca redimensionar as problemáticas no
campo da educação, afirmando a necessidade da produção de estudos com
resultados mais visíveis, atrelando-os sempre a dinâmica de ajuste da educação aos
macros planejamentos. Portanto, dada a natureza recente desses cursos, tornou-se
focal compreender a dinâmica que os envolve e a política que direciona a expansão
dos mesmos numa perspectiva de compreensão histórica do tempo presente. Para
analisar a complexa configuração do Estado na atualidade, na busca de entender a
sociedade civil como instância que altamente organizada e composta por aparelhos
privados de hegemonia tem os instrumentais para disputar as concepções e os
direcionamentos políticos nas políticas educacionais, Gramsci constitui-se em uma
das categorias teórico-metodológica focais desta pesquisa em andamento. A defesa
dos organismos internacionais e das instituições nacionais ligadas à
regulamentação da pós-graduação pela modalidade profissional como indutora de
desenvolvimento, devido ao caráter de otimização de processos produtivos e
econômicos, revelou a complexidade do objeto desta pesquisa. Afinal, não basta
desmascarar o discurso como forma de simplificação do conhecimento humano e
social no campo acadêmico. É preciso apreender a discussão conceitualmente por
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meio de suas contradições dialéticas. Por isso, olhar metodologicamente os


mestrados profissionais como categoria analítica tem contribuído para desvelar o
caráter ideológico subjacente ao discurso defensor da modalidade. A utilização dos
microdados da pós-graduação, disponibilizados no portal CAPES (extraídos da
base Sucupira) tem corroborado para o mapeamento e caracterização desses cursos
em território nacional.

Recomposição Burguesa, Ampliação do Estado e as Novas Sociabilidades do


Capital: o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis -
IBP - Marcio Douglas Floriano (UFRJ)

O presente trabalho buscou analisar, ainda que de forma preliminar, o Instituto


Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), na medida em que este se
configura em um poderoso intelectual orgânico coletivo burguês com forte
capilaridade no Estado Restrito e capacidade de educar o consenso em torno das
atividades de produção e exploração (P&E) do petróleo. O arcabouço conceitual
de Antônio Gramsci, sobretudo as categorias estado integral ou estado ampliado,
hegemonia e bloco histórico subsidiaram teoricamente nossa investigação. A
metodologia baseou-se em pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, envolvendo
análise de projetos de Responsabilidade Social/Educação Ambiental de empresas
associadas ao IBP e que compõem a Refinaria Duque de Caxias (REDUC), polo
industrial situado no Município de Duque de Caxias – RJ. Nossa análise se
desmembra em dois eixos: a) a influência de seus intelectuais orgânicos sobre a
238
legislação que rege a exploração do petróleo no Brasil e b) as formulações do IBP
sobre Responsabilidade Social (RS), que influenciam decisivamente as relações
das empresas associadas com as comunidades do seu entorno. As empresas ligadas
ao IBP configuram seus departamentos de RS para educar o consenso e formar um
cidadão de novo tipo, com projetos que abaram aspectos desde o voluntarismo e o
empreendedorismo, permeados por uma mentalidade mercadológica e até uma aura
de civismo e conservadorismo. Some-se a isso seu discurso de sustentabilidade,
utilizando tal conceito como um termo mágico capaz de unir as classes
hegemônicas e subalternas nas regiões de seu entorno. Concluiu-se,
preliminarmente, que o IBP se configura num Aparelho Privado de
Hegemonia(APH) que, simultaneamente, subsidia tecnicamente as decisões do
estado estrito atuando na consolidação de uma mentalidade neoliberal no país e na
“frente de humanização” da indústria do petróleo a partir da educação do consenso
entre as classes e das novas sociabilidades do capital, representadas pelo
neoliberalismo de Terceira Via. As práticas de Responsabilidade Social das
empresas cumprem uma dupla função: conformar as populações circunvizinhas das
empresas em relação ao risco socioambiental trazido pelas atividades de produção,
exploração do petróleo e aumentar o valor de mercado das empresas, visto que, a
RS se configura como um ativo de mercado atualmente.

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Reformas educacionais na América Latina na década de 1990 - Graciella


Fabrício da Silva (Universidade Federal Fluminense)

No ano de 2016, o governo Temer anunciou a reforma do ensino médio brasileiro,


promovendo alterações na estrutura e na oferta deste segmento de ensino no Brasil.
Recentemente, foi apresentada a versão final da Base Nacional Curricular Comum
(BNCC), o qual prevê a obrigatoriedade de Português e Matemática nos três anos
do ensino médio, constando as demais disciplinas no currículo apenas de forma
opcional, inseridas nos chamados itinerários formativos. Toda a polêmica em torno
do projeto do governo - que despertou críticas de diversos segmentos da sociedade
brasileira - torna propícia a reflexão sobre as reformas nos sistemas educacionais
latino-americanos. Na década de 1990, países como Brasil, México, Chile e
Argentina realizaram modificações em seus sistemas de ensino. Apesar das
especificidades de cada país, as "reformas" realizadas têm diversos pontos em
comum. A principal delas reside no fato de que as alterações na educação tomavam
como base as orientações de instituições como o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional. De um modo geral, elas foram marcadas pelo
enfraquecimento do financiamento público da educação, pela instituição de
currículos pré-definidos a serem seguidos pelas unidades de ensino, pela realização
de avaliações externas com vistas a avaliar o desempenho de estudantes e
professores e pelo estipulação de critérios pautados nas ideias de competitividade
e meritocracia para remunerar os docentes. O propósito por trás dessas "reformas"
era o de promover a hegemonia econômica e ético-política da burguesia na
239
educação. No entanto, elas não foram aplicadas sem que houvesse resistência das
classes populares, especialmente dos atores e trizes diretamente afetados pela sua
implementação (profissionais da educação, estudantes, mães, pais). A finalidade
deste trabalho é, portanto, promover uma reflexão sobre o sentido e os impactos
dessas reformas nos sistemas educacionais nos países em que foram aplicadas, bem
como as resistências de professores e estudantes à sua implementação.

Todos Pela Educação: a hegemonia empresarial sobre a formação dos


trabalhadores na América Latina e Caribe - Rodrigo de Azevedo Cruz
Lamosa (UFRRJ)

A reforma educacional ocorrida nos países latino-americanos e caribenhos nas três


últimas décadas vem sendo realizada a partir de uma intensa mobilização e
articulação de aparelhos privados de hegemonia. Este artigo tem como objetivo
geral analisar a articulação empresarial latino americana, considerando sua atuação
na região por meio da Rede de Organizações da Sociedade Civil pela Educação
(REDUCA) e seus associados: Proyecto Educar 2050 (Argentina); Movimento
Todos Pela Educação (Brasil); Educación 2020 (Chile); Empresarios por la
Educación (Colômbia); Grupo Faro (Equador); Fundación Empresarial para el
Desarrollo Educativo – Fepade (El Salvador); Empresarios por la Educación
(Guatemala); Fundación para la Educación Ernesto Maduro Andreu – Ferema
(Honduras); Mexicanos Primero (México); Foro Educativo Nicaragüense
"Eduquemos" (Nicarágua); Unidos por la Educación (Panamá); Juntos por la
Educación (Paraguai); Empresarios por la Educación (Peru); Acción por la
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Educación – Educa (República Dominicana). Tem ainda como objetivos


específicos verificar a composição deste movimento, tomando como referência
empírica a constituição das organizações em cada país, revelando as frações de
classe, seus intelectuais orgânicos e sua articulação. O trabalho se caracteriza por
ser uma pesquisa básica, de análise qualitativa, de caráter explicativo, que se insere
na categoria de pesquisa de tipo documental. Este trabalho compreende a atuação
das classes sociais no interior do Estado Ampliado, tanto na sociedade civil, onde
estas organizam seus intelectuais, individuais e coletivos, quanto na sociedade
política onde as mesmas inserem seus projetos e interesses nas agências estatais. O
instrumento de coleta de dados utilizado tem sido a busca por documentos
produzidos pela REDUCA e seus associados. Em ambos os casos as fontes
pesquisadas têm sido coletadas nas páginas oficiais disponibilizadas ao público na
internet. Por meio destes documentos tem sido possível identificar as frações do
capital e suas respectivas empresas que configuram entre os associados, a agenda
destes movimentos, suas pautas e slogans anunciados. O artigo conclui que a rede
tem tido grande relevância para a definição das diretrizes da reforma educacional,
possuindo uma composição em que se destacam distintas frações do capital, com
grande protagonismo da fração financeira e empresas de telecomunicação, e uma
atuação que lhe confere o papel de partido, no sentido ampliado, conforme
formulação gramsciana, sendo decisivo para a produção do consenso, passivo e
ativo, da sociedade.

Tradições e Resistência: terreiros, sindicatos e consensos na formação da


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classe trabalhadora negra carioca (1905-1940) - Camila Pizzolotto Alves das
Chagas (UFF)

Este trabalho tem como tema as relações raciais e a formação da classe trabalhadora
brasileira, em especial a carioca, entre os anos 1906 e 1930. Pretendemos aqui nos
aprofundar em dois espaços de sociabilidade dos trabalhadores no Rio de Janeiro,
suas redes de solidariedade e de sociabilidade: A Sociedade de Resistência dos
Trabalhadores de Trapiche e Café, fundada em 1906 e a Tenda Espírita Cabana de
Xangô, situada no subúrbio da cidade, que tinha como mãe de santo Vovó Maria
Joana Rezadeira, que se mudou para Madureira no ano de 1916. Neste trabalho nos
interessa investigar de que maneira os conceitos de raça e classe, no Brasil, se
mostram indissociáveis. Além disso, nos interessa buscar compreender como as
organizações da classe trabalhadora podem contribuir para a formação de
consensos contra-hegemônicos, seja na manutenção de tradições, seja em suas
redes de solidariedade, nos fazer-se dessas entidades. Desse modo, tanto o
sindicato, como o terreiro se apresentam como organizações das classes subalternas
em disputa por trabalhadores negros, na luta pela consolidação e pela formulação
de consensos. Diversos sócios do sindicato frequentavam o terreiro de Vovó Maria
Joana, um espaço também dedicado ao Jongo e à manutenção da tradição jongueira
como elementos de resistência, dentre eles Mano Elói, Sebastião Molequinho e
João Grandim. Mano Elói, foi um importante quadro da Resistência, tendo seu
nome em destaque no atual Sindicato dos Arrumadores do Rio de Janeiro, foi
frequentador do terreiro de Vovó Maria Joana e um dos fundadores do Império
Serrano, escola de samba localizada em Madureira. Os que haviam sido
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escravizados e os libertos abriram caminhos para a fundação e estruturação do que


viria a ser o sindicato. Nesse sentido, a Resistência se mostrou um espaço de
trabalhadores negros. As redes de solidariedade que dariam origem ao sindicato e
firmaram muito antes de sua fundação. Dessa maneira, as práticas de auto-
organização dos grupos de trabalho não começaram após a abolição. Essas redes
de solidariedade e sociabilidade construídas desde os tempos da escravidão são
muito semelhantes àqueles laços fundados nos terreiros de candomblé e tendas de
umbanda, tendo esse papel fundamental na formação da fração negra da classe
trabalhadora. A Tenda de umbanda liderada por Vovó Maria Joana se firmou como
um espaço de grande importância nesse sentido, tanto pelos cultos realizados,
quanto pela participação e perpetuação da tradição jongueira. Ali estabeleciam-se
redes de sociabilidade e solidariedade, tomadas de decisão sobre a comunidade e a
organização de movimentos para a preservação do jongo. Vovó Maria Joana
também esteve envolvida na fundação da escola de samba Império Serrano,
juntamente com outras lideranças já mencionadas.

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ST 21. História & Teatro

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"Aquenda essa mala, Nicole!": O figurino de uma transformista no teatro de


revista dos anos 1950 - Calori de Lion Antonio Ricardo (UFU)

Este trabalho propõe analisar a indumentária criada para compor o figurino da


transformista Ivaná, como parte da proposição estética de sua persona feminina, no
teatro da Companhia Walter Pinto, nos anos 1950. Estabelece-se uma parceria entre
estudos históricos e estudos queer no objetivo de refletir sobre tal sujeita/o,
partindo da compreensão de que apresentou/representou ambiguidades em sua(s)
existência(s). A persona era performada pelo ator Ivan Monteiro Damião numa
estética glamourizada do feminino do período. O contraponto, neste caso, são as
próprias representações femininas das vedetes que atuavam ao lado de Ivaná na
Companhia. Pensa-se esta questão a partir das prospecções de Judith Butlher no
que se refere ao sistema sexo-gênero e as regulações impostas aos corpos, não só
disciplinadoras, mas impostas como maneiras de existências forjando, assim,
padrões. Debates sobre a moda como o de Gilda de Mello e Souza em “O espírito
das roupas” (1987) possibilitam a discussão entre indumentária, história e relações
de poder (gênero). A análise se dá a partir de imagens da transformista em cena e
em material de divulgação das peças teatrais nas quais fora estrela, neste âmbito as
suas representações são o foco analítico, pensadas a partir de suas práticas
artísticas. Entende-se, deste modo, que: a) houve uma regulação de gênero na
construção estética da transformista Ivaná a partir de elementos que destoavam da
feminilidade das vedetes brasileiras, já que o ator Ivan Damião viera da França para
atuar no Rio de Janeiro, e trazia a nacionalidade francesa na esteira de seu cartaz;
243
b) a disciplinarização de uma dada estética “travesti” sobre o corpo do performer
mostra a construção de um padrão de transformismo no Brasil daquele período,
colocando em evidência elementos femininos tidos como belos, atrativos, do
mundo cinematográfico e civilizado da mulher europeia.

A cena iluminada - a importância da Haskalá russa para o nascimento de um


teatro yiddish não-folclórico - Thiago Herzog (PPGAC/ UNIRIO)

Esta apresentação se propõe a apresentar e discutir a Haskalá russa, o movimento


de Ilustração judaica em sua versão produzida no Império Russo, menos analisada
pelos historiadores, assim como demonstrar sua importância para o nascimento de
um teatro de cultura yiddish não-folclórico no leste europeu. Embora a Haskalá
alemã, seja o foco principal dos estudos judaicos, em sua vertente russa, o
iluminismo judaico caminhou no sentido de criar espaços de diversão, arte e
discussão filosóficas seculares de forma definitiva, moldando o que chamaremos
com a diáspora para as américas, de cultura judaica propriamente dita. Esse espaço
permite que o teatro yiddish, até então sufocado pelas leis rabínicas, possa trilhar
novos caminhos, primeiramente pelo pioneirismo textual dos iluministas e, mais
tarde, pela prática de Abraham Goldfaden. Além disso, é nesta versão que o yiddish
ganha alcunha de língua judaica, permitindo que as produções em sua dimensão
ganhem atenção. Essa conexão entre iluminismo judaico e o teatro não-folclórico
que nasce, principalmente, a partir de 1976, segundo historiadores como Jacó
Guinsburg, pode demonstrar, associado com as características de continuidade de
sua vertente folclórica que, além de um teatro de língua yiddish, esse é um teatro
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de uma cultura particular, produzida por judeus do leste europeu, bastante


sedimentada, elevada, compreendida e valorizada no século XIX.

A dramaturgia como fonte para história da iluminação cênica, questões de


abordagem para uma pesquisa em andamento - Berilo Luigi Deiró
Nosella (UNIRIO)

A presente comunicação pretende apresentar algumas questões e proposições de


ordem teórica e metodológica quanto ao uso da dramaturgia como fonte para uma
história da iluminação cênica. Tais questões foram levantadas e vivenciadas no
desenvolvimento da pesquisa de pós-doutoramento “Capocomicato e metateatro: o
fazer e o pensamento da iluminação na dramaturgia pirandelliana” em
desenvolvimento (conclusão prevista para julho de 2018) no Programa de Pós-
Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro,
na linha de pesquisa em História e Historiografia do Teatro e das Artes, sob
supervisão da Profa. Dra. Maria de Lourdes Rabetti (Beti Rabetti). Procuraremos
demonstrar como a relação, que consideramos orgânica, entre o olhar pretendido
para o passado, pelo fazer do historiador, e a fonte por ele inquirida, definiu-se e
definiu os objetivos da pesquisa. Assim, o caráter fluido do objeto escolhido como
fonte – a dramaturgia enquanto narrativa ficcional – possibilitou a revelação de
dados sobre o fazer e o pensamento da iluminação mais ligados à um contexto
abstrato, mas mais amplo, do imaginário de uma época quanto ao fazer da
iluminação cênica. Revelando, mais do que apenas um possível, e intangível, fazer
244
da época, aquilo que se animou tanto enquanto potencial quanto aspiração, pela
concretude das realizações da época, no caso, o desenvolvimento tecnológico da
iluminação elétrica em fins do século XIX e início do século XX.

A História do Teatro Político Indiano no século XX: reflexões e diálogos


socioculturais e políticos - Ana Beatriz Pestana Gomes (Programa de Pós-
graduação em História da UERJ)

Na primeira metade do século XX na Índia, principalmente nas décadas de 1930 e


1940, as manifestações teatrais com ideais políticos se fortaleceram com a chegada
no país de ideologias revolucionárias que defendiam a importância do engajamento
da arte com lutas políticas em prol da transformação social e assim artistas
militantes iniciaram um movimento cultural de esquerda que almejava desenvolver
uma arte marginal e revolucionária através da criação de diferentes movimentos
políticos culturais, como por exemplo, a Indian People’s Theatre Association. O
contexto da Segunda Guerra Mundial e a intensificação das sanções da Coroa
Britânica aos movimentos de emancipação colaboram para o fortalecimento do
teatro político indiano e para um direcionamento diferente do teatro praticado nos
séculos anteriores, que desvalorizou a cultura nacional com criações colonizadoras,
direcionadas para a classe privilegiada do país e não comprometidas com a
formação do pensamento crítico e reflexivo. Após a independência da Índia em
1947 e da instauração do governo nacional novas complexidades sociopolíticas
eclodiram (o término do regime colonial, novas políticas de liberalização e
globalização, o processo de reconstrução da nação, a marginalização dos
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movimentos artísticos de esquerda, discordâncias entre políticos, intelectuais e


artistas, etc.) e desapontaram ideologicamente e enfraqueceram os movimentos
revolucionários e o teatro político indiano. Estes e outros conflitos fizeram com
que na década de 1960 o movimento de teatral político indiano se descentralizasse
dando origem a teatros políticos independentes, que continuaram a lutar por
transformações socioculturais e políticas aliando a isso experimentações artísticas
mais livres de ideologias políticas partidárias. Atualmente estes teatros trabalham
questões da contemporaneidade em comunidades através de projetos em prol da
justiça social, da educação, da participação democrática do povo, dos direitos das
minorias e em muitos outros âmbitos. Desta forma, a presente comunicação visa
analisar a história do teatro político indiano no século XX, que apresenta-se como
um interessante campo de investigação e pesquisa histórica e teatral, visto que ela
é repleta de fatores e complexidades socioculturais, históricas, políticas, teatrais e
artísticas que estabelecem reflexões dialógicas com manifestações de movimentos
de teatro político em distintas partes do mundo e momentos históricos.

Bumba-meu-boi e Teatro: diferentes critérios de aproximação - Weslley


Fontenele Frota (UERJ)

Mário de Andrade em Danças Dramáticas do Brasil (1959) já havia aproximado do


Teatro as manifestações culturais brasileiras definidas como danças dramáticas,
dentre as quais aparece o Bumba-meu-boi. Diferentes autores trataram de
aproximar por distintos critérios estéticos Bumba-meu-boi e Teatro. Folcloristas,
245
antropólogos, diretores teatrais e dramaturgos. Todos relacionando, com diferentes
perspectivas, o Bumba-meu-boi e o universo do Teatro. As diferentes
interpretações encontradas dialogam com o contexto histórico, com os métodos e
com as técnicas das disciplinas a partir da qual discorrem os autores (Antropologia,
Teatro, História, Literatura). Neste trabalho analisamos como foi sendo formado
um entendimento que vê o Bumba-meu-boi como possuidor de elementos estéticos
que o aproximariam do Teatro, apresentando uma discussão que envolve os
seguintes questionamentos: o que o Bumba-meu-boi tem de teatral? O que é o
teatral para cada um dos autores com os quais estamos dialogando? Este trabalho
aponta por meio da discussão sobre a relação entre Teatro e Cultura Popular:
aproximações pelos autores Mário de Andrade, Maria Laura Viveiros de Castro
Cavalcanti, Edson Carneiro, e Marlyse Meyer, envolvendo o Bumba-meu-boi e
tipos teatrais bastante diversos, como o teatro grego, o teatro de revista e a
commedia dell’arte italiana. Os resultados iniciais desta pesquisa deram a ver que
por vezes aspectos muito distintos do Bumba-meu-boi são utilizados pelos autores
mencionados para compará-lo com o Teatro, como também que tipos teatrais
muitos distintos e de contextos históricos variados são trabalhados na aproximação
entre Bumba-meu-boi e Teatro.

Canudos, Glauber Rocha, Teatro Oficina & a Epifania Final - Josafá


Veloso (Universidade Federal Fluminense)

A partir da análise crítica do filme A Luta II – O Desmassacre, dirigido por Eryk


Rocha, (quinta e última parte da transcriação teatral de Os Sertões de Euclides da
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Cunha levada a cabo pelo Teatro Oficina), pretende-se evidenciar o diálogo deste
com a estética do cineasta Glauber Rocha. O gosto pela alegoria, o anseio de
totalização, o ritual entre o mito e a história, o sagrado e profano nos trabalhos do
Oficina e de Glauber. Essas aproximações são elaboradas a partir de um mergulho
imanente nos procedimentos de montagem de Luta II que, como se verá, dialoga e
reflexiona o trabalho de montagem da filmografia glauberiana. Proponho exercitar
um olhar crítico que escave as especificidades fílmicas de uma obra magnífica: A
Luta II – O Desmassacre. Um livro que vira peça que vira filme que vira DVD
sobre aquilo que foi, na significação integral da palavra, um crime. Ou melhor, uma
tragédia. Um ato de tragédia. De 2001 a 2007, o Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona
dedicou-se à épica adaptação, ou melhor, transcriação de Os Sertões de Euclides
da Cunha. Dividida em cinco partes, A Terra, O Homem I, O Homem II, A Luta I
e A Luta II – O Desmassacre, o espetáculo durava ao todo 26 horas. Um feito
artístico extraordinário. As cinco partes construídas sob direção geral de Zé Celso
Martinez Corrêa e com a colaboração de mais de 60 técnicos e atuadores viraram
também filmes, exibidos poucas vezes nas salas de cinema e agora disponíveis em
DVD. A Luta II - O Desmassacre narra a quarta e derradeira expedição do exército
brasileiro ao sertão nordestino, com o envio de 12 mil soldados, canhões, armas
modernas e estrategistas, como o Marechal Bittencourt, que pela primeira vez na
história do exército brasileiro criou uma base de operações distante do front, de
onde comandou as manobras, chefiadas pelo general Arthur Oscar e secundada
pelo sanguinário general Barbosa. O filme discorre sobre os últimos dias da guerra
civil de Canudos, que resultou no massacre de mais de 25 mil sertanejos.
246
Carlo Goldoni e a Commedia Dell'Arte: Modos de produção de
comicidade - Elza Maria Ferraz de Andrade (UNIRIO E UNESA)

Duzentos anos separam a assinatura do estatuto da “Fraternal Companhia” em


fevereiro de 1545, referência histórica que marca o início da comédia dell'arte, da
escritura de O Teatro Cômico, peça manifesto de Carlo Goldoni, uma espécie de
poética da nova comédia italiana. Durante cerca de dois séculos os atores da
comédia dell'arte improvisaram a partir de um “canovaccio”, (“scenario”), que
mostrava uma sucessão de cenas e de situações-chaves, e algumas vezes também a
ação mímica-gestual correspondente. Goldoni, escreve em 1743, para a grande
atriz florentina, Anna Boccherini, La donna di Garbo, sua primeira comédia regular
totalmente escrita, entregando aos atores o texto completo, da primeira à última
palavra. Em 1750 cria a peça O Teatro Cômico, manifesto em forma de teatro,
representada pelos atores da Companhia de Girolamo Medebach em Veneza, no
Teatro de Sant’Angelo. Os atores-personagens discutem a passagem da antiga
comédia dell'arte para um teatro “reformado”, novo, moderno. Ou seja, a
transformação da comédia de improviso numa comédia “premeditada”. Depois de
dois séculos, os atores eram convocados a ensaiar e decorar. Sem dúvida, uma
radical mudança nos hábitos dos intérpretes veteranos. Aparecem neste texto-
manifesto os elementos fundamentais da poética goldoniana. Goldoni utiliza a
técnica dramatúrgica do “teatro no teatro” (que Pirandello vai utilizar em 1916, no
seu texto Seis personagens a procura de um autor) e que já havia sido proposta por
Molière no seu O Improviso de Versailles (1663), quando também coloca em cena
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a companhia para expor suas teorias sobre a arte dramática e responder aos críticos.
Em O teatro cômico aparecem propostas para um teatro “reformado”, uma nova
comédia, e também indicações para uma reforma da postura do intérprete. Uma
espécie de “comédia de tese”, onde o autor expõe uma outra maneira de
compreender a comédia. Este trabalho pretende destacar e comentar algumas destas
novas propostas goldonianas sobre o modo de produzir a comédia, contidas no seu
texto O teatro cômico.

Concepções de temporalidade nas peças Amor (1933), de Oduvaldo Vianna e


Vestido de noiva (1933), de Nelson Rodrigues - Isabella Santos
Pinheiro (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

As proximidades entre Vestido de noiva e Amor já foram sinalizadas por alguns


especialistas, entretanto, esta análise tem a pretensão de examinar, por meio do
texto das peças e de suas indicações cênicas, a forma como esses dois dramaturgos
constroem a temporalidade de suas narrativas a partir de planos e quadros. A peça
Amor estreou em 1933 em São Paulo e inaugurou o Teatro Rival, no Rio de Janeiro,
em 22 de março de 1934. Amor foi dirigida por seu autor, Oduvaldo Vianna, e pela
Companhia Dulcina-Durões-Odilon. A peça contribuiu para o movimento de
modernização do teatro nacional por meio de inovações na linguagem, temática,
estrutura do texto e relações entre espaço e tempo. Vestido de noiva foi escrita por
Nelson Rodrigues e dirigida por Zbigniew Ziembinski. A peça foi consagrada
como obra inaugural do teatro brasileiro moderno e estreou no dia 28 de dezembro
247
de 1943, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em Vestido de noiva, assim como
citado acima sobre a peça Amor, é possível encontrar inovações relacionadas a
linguagem dos diálogos, a temática da narrativa e o jogo entre espaço e tempo.
Ressaltando que na peça de Rodrigues, as novidades relacionadas a temporalidade
são mais aprimoradas do que na peça de Vianna, sobretudo, em relação aos
dispositivos utilizados para construir e representar a passagem do tempo e os
acontecimentos simultâneos. As duas peças estrearam em um período de disputas
pela modernidade teatral. Assim como Oduvaldo Vianna, que terá uma de suas
peças examinada na presente análise, outros dramaturgos que escreviam peças nas
décadas de 1930 e 1940, também estavam em busca de novas formas de construir
a narrativa cênica. No entanto, somente a partir da estreia da peça de Nelson
Rodrigues que os críticos teatrais consideraram que a modernidade do teatro
brasileiro havia começado. Uma averiguação das elaborações temporais das duas
peças, pode contribuir na compreensão de como alguns dispositivos em circulação
no ambiente teatral podem ter sido apropriados e aprimorados por Nelson
Rodrigues.

Elementos de antissemitismo na dramaturgia de Shakespeare: o caso do


personagem Shylock em "O Mercador de Veneza" - Andre Luis Prudencio
Sena (Universidade Veiga de Almeida)

O fenômeno do antisemitismo atravessou os séculos, marcadamente no ambiente


europeu ocidental. Apesar da antiguidade pré-cristã deste tema, sua prática ganhou
um fôlego novo e mais consistente na transição da Europa medieval para a
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moderna, tal como aponta Gerard Messadié, um dos maiores estudiosos desta
questão. Os tempos modernos, iniciados a partir dos séculos XV/XV trariam a
população judaica européia novos ares persecutórios e genocidários, ilustrados nos
guetos italianos, no isolamento dos vilarejos judaicos posteriores (sthetls) e
culminando com os libelos de sangue e Pogroms de fins do século XIX e inícios
do XX na Boêmia e no sul da Rússia. Entre os anos de 1596 a 1599 a peça O
Mercador de Veneza foi escrita por um dos maiores dramaturgos de todos os
tempos: William Shakespeare. O vilão da trama desta peça, o judeu Shylok,
provocou e provoca ainda hoje um sério debate sobre a questão do antissemitismo
presente na obra shakespereana, mas também na apropriação do mesmo para
manifestações de natureza antissemita por parte de grupos de extrema direita no
presente. Este trabalho pretende analisar as imagens estereotípicas que o
personagem expressa na construção de suas falas, e de que maneira será possível
relacionar a trama do texto onde ele aparece com um subjacente discurso
antissemita difuso na sociedade européia dos tempos do autor de Romeu e Julieta.

História Urbana e Teatro: uma parceria entre a dramaturgia de Wilson Sayão


e a história do Rio de Janeiro - Evelyn Furquim Werneck Lima (Unirio), Natália
Gadiolli Carneiro da Silva (Unirio)

Este artigo é uma investigação das representações e transformações da cidade do


Rio de Janeiro, a partir da obra dramatúrgica de Wilson Sayão. Esta é a quarta etapa
da pesquisa Espaço e Memória Urbana, que se propõe estudar um momento da
248
história do patrimônio urbano e sociológico de algumas áreas do Rio de Janeiro.
Em especial, o centro e suas adjacências e a zona sul da cidade, enfatizando a
questão da memória coletiva e das identidades que assumem estes espaços na
história social, por meio das referências presentes na obra de Sayão, escritas entre
os anos de 1970 e 1980. Nas peças analisadas, Sayão apresenta imagens da cidade
contemporâneas a sua escrita, contudo, também retoma, em algumas delas,
momentos históricos anteriores. Em ambos os casos é possível notar que há
inúmeras imagens aludidas pela dramaturgia que hoje não encontramos mais e
outras que permanecem vivas no tecido urbano, bem como aspectos sociológicos
que também sofreram transformações e outros que se aproximam do contexto atual
da cidade. É uma revisita urbanística e sociológica do centro da cidade e bairros
vizinhos, bem como bairros da zona sul, ora enquanto cenários para as histórias,
ora por meio das percepções que manifestavam no discurso e comportamento
social das personagens. A esse artigo, interessa, especialmente, desvendar os
lugares de memória, aludidos por Sayão, para compreender de que maneira a
cidade representada em sua obra sofreu ou não transformações na paisagem
urbano-social e nas relações de sociabilidade. Existe, portanto, uma parceria entre
as produções dramatúrgicas analisadas e a história urbana da cidade do Rio de
Janeiro, na obra de Sayão, que ganha valor de uso arquivístico, ao fazer referência
a uma memória viva e espontânea da cidade por meio de seus bairros, ruas, pontos
turísticos e históricos. São peças que resgatam, portanto, lugares materiais e
imateriais que se tornaram símbolos do patrimônio memorial da cidade do Rio de
Janeiro, de forma que se faz possível um diálogo entre a história urbana e a história
do teatro. Dessa forma, as peças de Sayão, são utilizadas nessa pesquisa como
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fontes legítimas de memória da cidade do Rio de Janeiro e, portanto, colaboram


para o estudo da história urbana e do patrimônio cultural.

Luzes e formas animadas, teatro na Belle Epoque carioca - Ana Paula Brasil
de Matos Guedes (Faetec)

A pesquisa reconhece os gêneros teatrais híbridos como lugares privilegiados de


interseções técnicas e estéticas da cena, na cidade do Rio de Janeiro, na virada do
século XIX para o século XX. Comprova que estes gêneros, em especial a Mágica,
foram espaços de experimentação e aproveitamento dos mecanismos rudimentares
da cena e da alta tecnologia. Propõe uma cartografia dos agenciamentos sociais e
estéticos da época, para analisar a circularidade dos saberes em diálogo com a
história da cidade e os fatores catalizadores de transformações culturais. A
localização dos teatros, o histórico do tecido urbano e a implantação de sistemas
de iluminação na via pública e nos edifícios teatrais proporcionaram os percursos
de análise. Por meio da investigação do papel da mecanização e da eletricidade na
época, procedeu-se à observação da variabilidade do olhar do espectador
finissecular na relação com as visualidades da cena. Por ora recupera a história do
uso de experimentos com luz, projeções de imagens, formas animadas e
maquinarias cenográficas, dispositivos que produziam as imagens cênicas destes
espetáculos. O levantamento e posterior análise das imagens cênicas, dos truques
cenográficos e da iluminação considerou o edifício teatral e seus recursos técnicos.
Entre os aspectos observados o sucesso de público e os altos investimentos
249
evidenciam o vulto dos gêneros, sua complexa rede de dispositivos cênicos e
modos de produção teatral. A pesquisa realizada até o momento revelou que estes
espetáculos foram importantes na expressão cultural nacional, apontando traços
precursores e processos de rupturas e persistências das técnicas operadas. A
discussão insere-se no campo das narrativas historiográficas do teatro no Brasil e
permite reconhecer as visualidades e formas animadas na cena do passado.

O ator e a Estética de Resistência: Arena e Oficina trazem Stanislavski para o


Brasil - Denise Pires de Andrade (UFRJ)

Esse artigo trata de pesquisa iniciante sobre a chegada do Método de Constantin


Stanislavski no Brasil e a apropriação e adaptação de seus ensinamentos pelos
grupos de teatro Arena e Oficina para a construção de suas propostas estéticas no
período do final do anos de 1950 e início de 1970. Os grupos Teatro de Arena de
São Paulo e Teatro Oficina buscavam produzir uma dramaturgia genuinamente
brasileira que levasse para a cena a discussão de questões sociais tendo como base
o trabalho do ator. O Método de Constantin Stanislavski - ator, diretor, professor e
escritor nascido na Rússia no século XIX, fundador do Teatro de Arte de Moscou
em 1896 - contribuiu para o desenvolvimento dos projetos artísticos do Arena e do
Oficina durante o período compreendido entre o final da década de 1950 e início
dos anos 1970. A pesquisa se concentra sobre a investigação das trajetórias
percorridas pelos pelos grupos Teatro de Arena e Teatro Oficina, suas escolhas
estéticas, sua produção artística e os desdobramentos políticos e sociais das
propostas realizadas. Observar e compreender de que maneira as ideias
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stanislavskianas foram recebidas, apropriadas e reconfiguradas por esses grupos


para alcançar seus objetivos é um dos objetivos da pesquisa.

O embate entre o bem e o mal: a dramaturgia santense e o contexto histórico


literário do séc. XIX - Marcus Vinicius Fritsch de Almeida (Universidade
Estácio de Sá)

Apresentação do contexto histórico-literário brasileiro onde se insere a produção


dramatúrgica de José Joaquim de Campos Leão, Qorpo-Santo. A apresentação
tenta traçar e entrelaçar a criação teatral de Qorpo-Santo com o panorama literário
da época, notadamente o realismo do Ginásio Dramático, cujo autor referencial é
José de Alencar e as comédias farsescas de um Martins Penna. Tendo como
horizonte uma revisão de certa tendência da crítica em considerar a dramaturgia
santense deslocada de seu contexto histórico.

O Parateatro de Rena Mirecka - Evelin Reginaldo e Silva (UNIRIO)

O Parateatro foi uma das fases do percurso de Jerzy Grotowski iniciada em 1970.
O foco desta fase está no encontro, na reunião de pessoas com diferentes culturas
que possuíam o objetivo de ultrapassar seus limites pessoais. Este trabalho pretende
estudar a continuidade do Parateatro liderado não mais por Grotowski e sim por
Rena Mirecka. Rena Mirecka, foi atriz do Teatro Laboratório e esteve ao lado de
Grotowski desde 1959, quando se juntou ao grupo no Teatro das Treze Fileiras em
250
Opole. Durante muito tempo Rena Mirecka foi a única atriz do Teatro Laboratório,
e a única atriz que se manteve desde o início da Companhia. Mirecka teve uma
participação fundamental na construção do Teatro Laboratório. Em 1970, Mirecka
passou a ser assistente de Grotowski e começou a acompanhá-lo em sua nova fase,
o Parateatro. Segundo Grotowski, os primeiros anos do Parateatro, onde o grupo
trabalhava minuciosamente durante horas na floresta, aconteciam coisas que
estavam como que na fronteira de um milagre. Mirecka explicou que “para”, em
sânscrito, significa alto, então Parateatro seria um alto teatro, um nível mais
elevado de teatro, perto da origem, um teatro ainda ritualizado. Com o fim do
Teatro Laboratório em 1984, Mirecka deu início a um novo momento, desta vez
sem Grotowski. Para ela, era extremamente necessário dar continuidade à pesquisa
que haviam começado. Em uma entrevista ela diz que as experiências ainda viviam
nela. Mirecka montou um grupo com Ewa Benesz. Elas se conheceram quando
Benesz participou do Teatro Laboratório entre 1966 e 1968 no trabalho “The
Gospels (Ewangelie)”. Ela voltou a colaborar com o grupo em 1981 durante as
experiências parateatrais. Segundo ela, Grotowski a chamou de volta para o grupo,
pois tinha medo que ela fosse pega pela “lei marcial” que conduziu vários
opositores do governo socialista à prisão. Quando Grotowski deixou o grupo, as
duas continuaram as experiências parateatrais. Os primeiros encontros começaram
em Brzezinka, floresta perto de Wroclaw, cidade sede do Teatro Laboratório.
Depois foram para uma casa de campo chamada Casa Blanca na Sardenha, Itália,
essa casa recebeu o nome de uma flor que Rena Mirecka ganhou dos participantes
do laboratório, os italianos chamavam a flor de casa blanca, por isso batizaram o
lugar com o mesmo nome. Lá criaram um centro de estudo chamado “International
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Center Prema Sãyi”. Este nome tem origem na filosofia de Sri Sathya Say Baba.
Mirecka havia estado na Índia onde conheceu o mestre Say Baba e segue sua
filosofia até hoje. O objetivo deste trabalho é colocar em foco o Parateatro
desenvolvido por Rena Mirecka, pensando não só a importância destes encontros
no momento histórico em que eles estão inseridos, como também o que reverbera
ao teatro contemporâneo.

O povo na obra de Maria Bethânia: uma análise do espetáculo


Opinião - Marlon de Souza Silva (Universidade Federal de Minas Gerais)

O espetáculo Opinião foi o primeiro evento cultural de contestação ao regime


ditatorial instaurado no ano de 1964. A partir de aspectos da vida dos atores-
personagens, o roteiro colocou em primeiro plano o morro e o sertão como locais
de resistência. O espetáculo tinha como norte a vida e obra de três representantes
da sociedade brasileira: João do Vale, um nordestino; Zé Ketti, um "favelado" dos
morros cariocas; e Nara Leão, uma garota zona sul. Portanto, buscava-se, dessa
forma, demonstrar o que os três personagens tinham em comum: a resistência ao
regime militar. A substituição de Nara Leão por Maria Bethânia permite pensar
sobre questões relacionadas à proposta do espetáculo. Tal fato implicou uma
mudança no roteiro, retirando a zona sul carioca e, inserindo assim, o recôncavo
baiano. A partir das mudanças ocasionadas pela estreia de Maria Bethânia no
espetáculo Opinião, esse trabalho tem como objetivo analisar de que forma o
Opinião representou o povo brasileiro. Ou seja, em um período em que os
251
intelectuais de esquerda realizaram uma busca no povo brasileiro com intuito de
enfrentar o regime instaurado, demonstrar qual era o povo que estavam falando.
Para tanto, tomamos como ponto de partida a carreira de Maria Bethânia iniciada
no Opinião, ao substituir Nara Leão. A análise comparativa dos roteiros nos
permitem entender a mudança geográfica provocada a partir da substituição.
Entendemos que a busca no povo ocorrida no Opinião marcará a trajetória artística
de Maria Bethânia.

O presente e o passado da pátria em Joaquim Manuel de Macedo - João


Cícero Teixeira Bezerra (FACULDADE-CAL/ SENAI -CETIQT)

O trabalho discute o procedimento de volta ao passado defendido pela tese médica


Considerações sobre a Nostalgia de Joaquim Manuel de Macedo (1847) cotejando
os usos da temporalidade passadista nas obras de crônica Um passeio pela cidade
do Rio de Janeiro (1861) e de dramaturgia Amor e Pátria (1859) do mesmo escritor.
O objetivo da comunicação é o de compreender como o autor edifica sua práxis de
intelectual público do Império por meio do sentimento de “nostalgia” alçado à
categoria crítico-moralizante. Assim, mais do que interpretar a obra de Macedo
vinculada às leis poéticas de gênero vigentes no oitocentos, conforme estudos
tradicionais da historiografia teatral, busca-se o nexo de sua poética por meio de
uma hermenêutica das ideias formuladas pelo autor.

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O teatro de Georg Fuchs - Beatriz Magno Alves de Oliveira (UNIRIO)

O alemão Johann Georg Peter Fuchs (1868-1949) foi encenador, dramaturgo e


pensador do teatro moderno. Viveu a maior parte de sua vida em Munique onde
construiu o Münchener Künstlertheater (Teatro dos Artistas de Munique), que
abriu as portas em 1908, com a encenação do Fausto, de Goethe. Contemporâneo
de Adolphe Appia e Edward Gordon Craig, Fuchs repensou os fundamentos do
teatro e sua obra foi de grande relevância para as transformações ocorridas no
âmbito do espaço cênico, da iluminação e da arquitetura teatral no início do século
XX. Foi uma forte influência para encenadores modernos importantes como
Vsévolod Meierhold e Max Reinhardt. O ponto de partida da presente comunicação
é o livro A Revolução do Teatro publicado por Fuchs em 1909, pouco após a
abertura do teatro concebido por ele. Nesse livro, o autor apresenta as suas
propostas teóricas e como elas influenciaram na construção do teatro (qual teatro?)
e na elaboração de aparatos técnicos. Assim como outros modernos, suas ideias
partem da crítica ao teatro vigente na época, um teatro de ênfase literária e
naturalista. Suas propostas de transformação caminham em direção a uma essência
teatral, originada na potente força da multidão dos antigos ritos religiosos,
considerada a própria essência da vida. Para alcançar as transformações desejadas,
Fuchs repensou diferentes aspectos da encenação, sempre considerando o
movimento do corpo do ator como o elemento gerador do espetáculo teatral. A
proposta desta comunicação é apresentar e discutir as ideias de Fuchs e suas
contribuições para a transformação do teatro moderno. Nesse sentido, pretende-se
252
analisar os fundamentos do seu Teatro Festival, seus principais referenciais e
objetivos. Alguns aspectos mais relevantes desse teatro estarão em destaque, sendo
eles a criação de um novo espaço cênico, suas descobertas técnicas e, ainda, as
questões que envolvem a relação palco / platéia e a recepção. Pode-se fundamentar
o pensamento de Fuchs em dois pilares: o da crítica teatral que pensa um novo
teatro afinado com as inovações feitas em outros gêneros artísticos, ligados às
experiências das vanguardas e das primeiras ideias simbolistas; e o segundo pilar
seria ligado à função do teatro, pensando-o por um viés ideológico. Desta maneira,
pretendo ao longo desta discussão pensar suas ideias sempre abordando esses dois
lados. Para Fuchs, o sentido do teatro é proporcionar um encantamento na multidão
que participa do evento teatral. Em uma tentativa de retomar o verdadeiro sentido
do teatro, seria necessário reconectar essa multidão que foi separada e
individualizada pelo teatro que coloca o texto dramático como o centro da cena. O
teatro como festival é, portanto, origem e meio para a sua revolução no teatro.

Os teatros de bairro no Recife da década de 1930: efervescentes e


fugazes - Leidson Malan Monteiro de Castro Ferraz (UFPE)

A capital pernambucana foi palco de uma profusão de novos espaços teatrais nos
anos 1930, exatamente quando o teatro profissional local galgou ocupar a mais
importante casa de espetáculos da cidade, o Teatro de Santa Isabel, com o
surgimento do Grupo Gente Nossa, intimamente atrelado àquele palco. Em
paralelo, os chamados “teatros dos arrabaldes”, espalhados por bairros do subúrbio,
dinamizaram ainda mais o campo teatral recifense, ampliando a geografia do fazer
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teatral daquela época. Além de possibilitarem o exercício da sociabilidade a


diferentes públicos que os frequentavam, tornaram-se pontos de encontro e
convívio de moradores das redondezas, criando um circuito alternativo para a
fruição teatral. Lutando contra o apagamento destes centros de cultura e diversão,
esta comunicação/artigo procura dar visibilidade sobre seus perfis e práticas, temas
abordados, artistas e técnicos em atividade e plateias envolvidas, como uma
possibilidade a mais de enxergar o teatro e a cidade para além dos palcos oficiais
em busca de uma construção identitária de negociação de ideias sobre a realidade
cotidiana pelo viés artístico.

Pensamento material: corpo-profanação no treinamento do Teatro


laboratório - Dinah de Oliveira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O artigo expõe um breve estudo sobre as potencialidades do pensamento, ou de


modos de pensar, suscitados por meio de uma prática de treinamento de atores. O
treinamento em questão é o training desenvolvido por Jerzy Grotowski e Ryszard
Cieslak na época do Teatro Laboratório na Polônia. Nossa hipótese alia as noções
de profanação de Giorgio Agamben e a escrita imagética de Walter Benjamin para
compor um quadro de possibilidades sobre o objeto – o training físico – e o trabalho
atorial pré-criativo, partindo justamente de sua fatura.

Pontuações para estudo histórico comparativo entre traduções: a de Jacy


Monteiro (1965) e a Guilherme Figueiredo (1980) da peça Le Tartuffe, de
253
Molière - Camila Freitas Santos (UNIRIO)

O presente texto insere-se em proposta de trabalho no campo dos estudos de


personagem e discute fundamentalmente questões relacionadas à história do teatro
e a tradução teatral. É fruto de minha pesquisa de mestrado em andamento,
orientada pela prof. ª Dra. Maria de Lourdes Rabetti, junto à linha de pesquisa HTA
(Historia do Teatro e das Artes) do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), cujo objeto é a
personagem Dorine, criada doméstica da peça Le Tartuffe, de Molière, em seu
trânsito ou trajeto entre uma edição do “original” em francês, uma tradução e uma
adaptação brasileiras. Nesse trabalho, e sempre com o olhar voltado para o estudo
do personagem Dorine, opta-se por apontar algumas questões a respeito da
tradução de Guilherme Figueiredo – por se tratar de um tradução canônica e
apresentar, na terceira edição publicada pela Civilização Brasileira, um ensaio
sobre a poética da tradução do teatro em verso; e a de Jacy Monteiro – pela
consagrada excelência dessa tradução no Brasil, publicada pela Difusão Europeia
do Livro. O objetivo seria o de traçar um viés comparativo entre as duas traduções,
de autores e épocas distintas, e verificar o caminho percorrido pela personagem
Dorine em cada tradução, e, assim, entre elas. Neste sentido, interessa tentar
identificar as mudanças e permanências de sentido e função que a criada doméstica
da referida peça adquire nas duas traduções, apontando diferenças e semelhanças
entre elas e considerando, inclusive, o espaço temporal de uma tradução para a
outra. Dorine é uma criada localizada na categoria dos servos da comédia popular
italiana, gênero bastante explorado em novas adequações por Molière. Pertence à
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galeria de personagens – tipo em que se insere: atrevimento nos assuntos da família,


embora seja uma das únicas a demonstrar certa lucidez diante das maquinações de
Tartufo, personagem título; posiciona-se ao lado do casal de jovens, auxiliando a
construção da relação amorosa; é responsável por boa parte da dimensão cômica
da peça, etc. E, no entanto, percebe-se que é “traduzida” ou “recriada” de maneira
distinta nas traduções de Jacy Pinheiro – onde Dorine é caracterizada como dama
de companhia de Mariane - e Guilherme Figueiredo – onde é qualificada como
criada de Mariane. Assim como esse dado, outros tantos serão apontados à luz de
estudos sobre o personagem cômico molièresco e tradução teatral.

Teatro amador no Rio de Janeiro: da escolha dos repertórios à grande estreia


(1871-1920) - Luciana Penna Franca (Estado do Rio de Janeiro e Prefeitura de
Teresópolis)

Esta comunicação propõe uma reflexão sobre as escolhas dos repertórios pelas
sociedades dramáticas amadoras procurando compreender critérios e motivações
envolvidas na montagem dos espetáculos teatrais encenados e apresentados pelos
amadores. Os caminhos traçados após a decisão sobre o texto teatral a ser encenado,
os atores e atrizes que tiveram destaque nos periódicos, a dedicação dos amadores
nos ensaios, o que diziam os críticos teatrais sobre seus cenários e figurinos e, por
fim, a estreia, demonstram a dedicação e a paixão pelo teatro daqueles que, muitas
vezes, trabalhavam durante o dia e faziam teatro à noite. Busco traçar o caminho
dos textos teatrais aos palcos e, dessa forma, entender o teatro como uma prática
254
social tanto do grupo que atua, como de quem assiste, e perceber se e em que
medida essa prática se constituía como um elemento identitário daquele grupo.

Teatro e cotidiano no Portugal Quinhentista: corpo e vestuário nas peças da


Escola Vicentina - Vanessa Gonçalves Bittencourt de Souza (UFF)

Dos serões da corte às festas litúrgicas, o teatro foi parte importante das principais
celebrações em Portugal ao longo do século XVI. Gil Vicente, maior expoente
desse teatro, colocou em evidência os costumes e o cotidiano da sociedade
portuguesa. Entre os poetas quinhentistas classificados pela historiografia
tradicional como continuadores ou imitadores do teatro de Gil Vicente, destacam-
se nomes como Afonso Álvares, António Prestes, António Ribeiro Chiado e
Baltasar Dias. A chamada Escola Vicentina explorou temas de fundo religioso,
como a fixação de condutas cristãs ideais e as cenas de martírio dos santos, e temas
da vida doméstica e familiar, como o casamento, a gravidez, as doenças. Seus
personagens eram tipos construídos a partir de características atribuídas a um
determinado grupo social e, portanto, facilmente reconhecidos pelo público, fosse
pela linguagem, pelo gestual ou pela vestimenta. Considerando a importância das
representações do cotidiano no teatro quinhentista, o objetivo deste trabalho é
analisar as referências ao corpo e ao vestuário em peças da Escola Vicentina.

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Teatro e poder na corte do Brasil Império - Suzana Regina Camillo de


Abranches (UNIRIO)

Após dezoito anos ministrando aulas de interpretação, fui convidada, em 2012, a


lecionar História do Teatro Ocidental, no Curso Regular de Formação do Ator da
Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Ao estudar o teatro no Brasil, no século XIX,
um recorte foi se revelando quase que naturalmente, e ele apontava para a
frequência com que homens do métier teatral estavam envolvidos em atividades
públicas e políticas durante o Primeiro e o Segundo Reinados. Assim ‘nasceu’ o
projeto de pesquisa “Teatro e poder na Corte do Brasil Império: as relações entre
autores de teatro e o poder vigente, e sua repercussão nos rumos da produção teatral
da época”, que está sendo desenvolvido no curso de Mestrado em História e
Historiografia do Teatro e das Artes, do Programa de Pós - graduação de Artes
Cênicas – PPGAC, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro –
UNIRIO, com orientação da Professora Maria de Lourdes Rabetti. Nele, traçamos
um paralelo entre a presença de autores de teatro em cargos públicos e políticos,
dentre os quais, Martins Pena, Gonçalves de Magalhães, José de Alencar, Artur
Azevedo e Joaquim Manuel de Macedo, e a possível consequência dessa
proximidade com o poder nos rumos da produção dramática da época. O poder
vigente será entendido, tanto como as instituições que regulavam as publicações e
encenações teatrais - por meio de cessão de verbas ou espaço -; a censura; e as
figuras pessoais dos imperadores D. Pedro I e D. Pedro II, ou personalidades
diretamente ligadas a ambos. Com a vinda da Coroa portuguesa, sob a ordem de
255
D.João VI, foi construído o Real Theatro São João, que, desde a sua inauguração,
em 1813, assumiria um protagonismo na vida artística, política e social da cidade.
Sua importância se confirma quando observamos a disposição, prevista em
contratos, que obrigava seus gestores a apresentar grandes espetáculos em noites
de gala ligadas a datas cívicas. Em 1833, a produção dramática passou contar com
um órgão de censura próprio, o Conservatório Dramático, e alguns homens de
teatro chegaram a ocupar cargos dentro da instituição, como Joaquim Manuel de
Macedo, o que não impediu que sua Antonica da Silva fosse proibida, em 1880.
Quanto à crítica teatral, esta se misturava com crônica social, e, não raro, era feita
por dramaturgos, poetas e romancistas, como Olavo Bilac, Machado de Assis e
Artur Azevedo, ou seja, homens que assumiam uma tripla função social, como
servidores públicos, criadores e críticos. Este é o ponto de partida de nossa
pesquisa, que gostaríamos de compartilhar com os participantes do XVIII Encontro
de História da ANPUH.

Um demo malpensante cai sobre ti: vozes corais – imagens da


história - Larissa Cardoso Feres Elias (UFRJ)

A performance "Um demo malpensante cai sobre ti" foi criada no ano de 2017
pelas artistas Larissa Elias, Marília Martins e Vanessa Teixeira de Oliveira, com o
objetivo de integrar a ocupação cultural "Que Legado", realizada nos espaços
culturais Oduvaldo Vianna Filho (Castelinho do Flamengo) e Sérgio Porto, e nas
universidades PUC e UERJ, na cidade do Rio de Janeiro, durante o mesmo ano de
2017. A performance tem como estrutura básica três faixas cênico-sonoras: 1. voz
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da atriz em cena, que fala textos de três personagens trágicas ficcionais, cujo traço
em comum é o caráter profético de seus discursos – Cassandra, da "Oresteia" de
Ésquilo (458 a.C.), Calpúrnia, de "Júlio Cesar" de William Shakespeate (1599), e
Camila, de "Horácio" de Pierre Corneille (1640); 2. vozes e músicas gravadas e
reproduzidas eletronicamente, sendo estas vozes, em sua maioria, vozes do “mundo
real”, captadas em “situações reais”, de natureza diagnóstica ou prognóstica sobre
o Brasil, o mundo e a política; 3. voz gravada da atriz, ouvida apenas por ela, que
funciona como uma espécie de ponto eletrônico. O conceito chave da cena é a
interseção entre estas três instâncias, realizada pela atriz, através da manipulação
de dois celulares e de uma mesa de som. Se poderia considerar que a performance
se organiza por meio de uma série de subestruturas formadas por esta inter-relação
entre voz da atriz/textos trágicos versus conjunto sonoro de gravações. A trama
entre as vozes dramáticas ficcionais e as vozes discursivas reais, como em uma
montagem, forma, por assim dizer, uma espécie de tecido histórico. As gravações
redimensionam e atualizam as tragédias, expandindo-as para fora dos limites do
drama. As tragédias, por sua vez, impregnam as gravações de sentidos além do
ordinário. A dramaturgia cênica coloca em relevância a sonoridade e as vozes
coralizadas, procurando evidenciar uma articulação histórica, mas não uma
cronologia. Como se do confrontamento entre os textos trágicos e o conjunto
sonoro das gravações emergisse a “imagem mesma da história”, valendo-me do
entendimento do ensaísta e crítico teatral Jan Kott acerca das crônicas históricas de
Shakespeare. A partir destes imbricamentos convida-se o espectador a visitar o
passado para dali lançar-se de volta para o presente e, na trilha das visões
256
premonitórias das personagens reais e fictícias, projetar o futuro, dimensionando
historicamente os temas tratados. Esta comunicação objetiva decompor os
elementos em jogo nesta performance e pensar a relação entre sua engenharia
cênica e a produção de uma percepção e de um pensamento históricos.

Um Rei Negro ... Construção Identitária em La Tragèdie du Roi Chistophe,


de Aimé Césarie - Maria Helena Valentim Duca Oyama (UFRR)

Nesta comunicação, pretende-se apresentar uma releitura da peça La Tragédie du


roi Christophe do poeta, ensaísta e dramaturgo martinicano Aimé Césaire, escrita
nos anos 1960 e que aborda os desdobramentos dela decorrentes da Revolução de
Saint Domingue (Haiti,1804) com relação à construção da nova nação. Este estudo
elege o personagem Henri Christophe, revolucionário que se proclamou rei após a
referida Revolução, como emblema desta construção que, repleta de ambiguidades,
ora tende a seguir o modelo metropolitano de língua, religião e política, ora quer
fazer emergir a africanidade inerente à própria Revolução, retomando a temática
da identidade afro-caribenha, à luz das características da negritude proclamada por
Césaire, em defesa dos elementos culturais africanos, o que se revelou como uma
tomada de consciência para alavancar a literatura na região. O estudo tem o
objetivo de discutir os possíveis caminhos sugeridos pelo autor/ensaísta a serem
percorridos pelos haitianos, diante da metrópole que ainda se impunha na nova
nação.

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Zumbi entre golpes: em cena dois momentos da história - Carina Maria


Guimarães Moreira (UFSJ)

A presente comunicação – um dos resultados da pesquisa de pós-doutorado


(PNPD/CAPES) “Zumbi e Madame Satã: a cultura afro-brasileira e as formas de
produção na cena política” (2018), desenvolvida no Programa de Pós-Graduação
em Artes da Cena da Universidade de Campinas-UNICAMP sob supervisão da
Professora Doutora Larissa de Oliveira Neves Catalão – pretende, a partir do
conceito de cultura popular negra em Stuart Hall, tecer uma análise da peça Zumbi,
dirigida no ano de 2012 pelo artista João das Neves. Zumbi é inspirado no musical
Arena Conta Zumbi (1965), de Boal e Guarnieri, que tendo por base o romance de
João Felício dos Santos, Ganga Zumba (1962), trouxe uma narrativa da história do
Quilombo dos Palmares. A montagem do Teatro de Arena foi considerada uma das
primeiras respostas no campo cultural ao Golpe de 1964. Para a montagem atual,
João das Neves propõe a formação do elenco com atores negros, deslocando o foco
central da resposta política ao momento histórico da obra (golpe militar de 1964)
para um debate, não menos político, sobre a cultura afro-brasileira e sua história,
trazendo à tona uma discussão acerca do racismo e das desigualdades sociais
presentes em nossa sociedade desde sempre.

257

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ST 22. História Comparada enquanto
método: suas abordagens, limites e
possibilidades.

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Caderno da Bahia (1948-1951), Joaquim (1946-1948) e Revista Branca (1948-


1961): redes de sociabilidade em revistas culturais independentes após
1945. - Tiago Santos Groba (UFRJ)

Sob uma abordagem social da arte, focando em estratégias discursivas e


apropriações, pesquiso três revistas literárias e culturais: Caderno da Bahia (1948-
1951), de Salvador, Revista Branca (1948-1961), do Rio de Janeiro, e Joaquim
(1946-1948). As três constituíram-se em empreendimentos editoriais
independentes, idealizados e organizados por jovens ‘vintanistas’, muitas vezes
com recursos próprios, unindo artes plásticas, poesia e prosa. Recorro à
sistematização dos enunciados discursivos presentes no conteúdo propriamente
dito das três revistas, assim como recorro aos enunciados presentes na atuação de
seus membros fundadores e colaborados mais assíduos, para além de suas páginas,
como na criação de editoras homônimas e na organização de palestras e
conferências sobre arte moderna. Procuro cruzar estes enunciados criticamente
com correspondências, depoimentos, memórias, biografias, obras, entrevistas e
outras fontes de natureza pessoal, familiar, afetiva e profissional dos artistas e
escritores ligados aos periódicos. Dentro das redes de sociabilidade artística e
intelectual surgidas em torno das três publicações, problematizo, numa perspectiva
comparativa, sensibilidades da geração modernista de 1945: escolhas temáticas,
efeitos estéticos e de estilo, posicionamento político e filosófico diante da realidade
social brasileira, entre outras características. Trata-se de três cidades, três
historicidades, diferentes ritmos de renovação artística e distintas realidades
259
políticas, sociais e culturais. Apresentam distintas percepções sociais, diferentes
preocupações estéticas e mesmo de comportamento enquanto grupo, enquanto
movimento cultural. Ao comparar campos artísticos e intelectuais de diferentes
regiões do Brasil por meio de periódicos independentes, pretendo inscrever a
produção destas revistas e da atuação de seus fundadores dentro do curso maior das
transformações modernistas ao longo do século XX. Iniciada na década de 1920,
uma genealogia do moderno se abre e se desdobra em diferentes conjunturas
históricas, nacionais e regionais, tendo como fio condutor dos galhos dessa árvore
a busca pelo elemento autenticamente brasileiro e ao mesmo universal. Este fio
condutor modernista chega na conjuntura das décadas de 1940 e 1950, onde estão
situadas as revistas ora estudadas, e prossegue ainda pelas décadas de 1960 e1970.
Para a pesquisa, situada na primeira conjuntura, pergunto qual o lugar social que
as revistas culturais do pós 1945 ocupariam neste curso? De fato ocupam? Que tipo
de relações sociais guardariam em suas redes de sociabilidades? Que jogo de força
social poderia representar? Que estratégias discursivas poderiam oferecer? São
questionamentos que, numa perspectiva comparativa, podem fazer surgir novos
problemas e caminhos.

Comparar para compreender: A História Comparada como ferramenta


metodológica para a compreensão do tempo presente e os seus traumas
coletivos - Paulo Roberto Alves Teles (UFRJ)

O presente artigo é fruto de investigações iniciais sobre os atentados terroristas


ocorridos na Argentina contra a Associação Mútua Israelita Argentina (1994) e nos
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Estados Unidos contra os World Trade Center e o Pentágono (2001). Nosso


trabalho tem como objetivo analisar a ação do fundamentalismo islâmico nos
países citados e para isso, utilizaremos como metodologia as ferramentas
epistemológicas propiciadas pela História Comparada e pela História do Tempo
Presente para abordar os relatórios oficiais produzidos sobre os mesmos. Os
documentos foram publicados por organismos oficiais e independentes. No caso
dos EUA, foi criada uma comissão denominada Comissão Nacional sobre os
Ataques Terroristas nos Estados Unidos, também conhecida como Comissão 11/9
ou Comissão do 11 de Setembro em 27 de novembro de 2002. Já no caso argentino,
o relatório fora apresentado em 25 de outubro de 2006 pela Unidade de
Investigações do Ministério Público liderada por Alberto Nisman (Procurador
Federal) e Marcelo Martinez Burgos (Procurador Distrital). O documento
produzido por ambos acusou formalmente o governo iraniano e o grupo extremista
libanês Hezbollah, além de apontar o Governo Kirchner pelo encobrimento dos
autores do responsáveis pelo planejamento e ataque a Associação Mútua Israelita
Argentina. Em virtude do que fora posto, pretendemos ao longo desse, discutir
alguns pontos: 1) Ambos os atentados foram promovidos por grupos vinculados ao
extremismo islâmico; 2) Ambos foram ataques coordenados contra símbolos de
grupos considerados inimigos do Islã; 3) Ambos são considerados ataques de
projeção internacional e por fim, 4) Ambos os casos são suspeitos políticas
equivocadas de segurança pelos governos argentino e estadunidense
respectivamente. O trabalho se dedica a retomar o debate acadêmico sobre o
nascimento do fundamentalismo islâmico como uma ferramenta de ativismo
260
político sem desconsiderar os aspectos geopolíticos e o cenário interno como
elementos potencializadores para ambos os atentados.

História conectada: Instituições negras nas Américas - Caroline dos Santos


Guedes (Universidade Federal Fluminense)

Esta apresentação pretende demonstrar como as formas negras de associar-se


mudaram nas cidades negras das Américas - Rio de Janeiro e Buenos Aires, entre
os séculos XVIII e XIX. No século XVIII os negros das cidades propostas para
estudo se reuniam em instituições católicas, as irmandades, obviamente devido a
influência de seus colonizadores ibéricos. As irmandades eram entidades
mutualistas, onde os negros fortaleciam seus laços de identidade e criavam redes
de solidariedade através das famílias espirituais. Já no século XIX os negros
começaram a abandonar as irmandades e se agrupar em torno de instituições
igualmente mutualistas, onde também eram fortalecidas suas identidades e
formadas famílias extensas. Dentre essas corporações destaco as naciones
bonarenses, as associações fluminenses e os grêmios existentes em ambas as
cidades. É importante ressaltar que pensar em conectar historicamente territórios
como Rio de Janeiro e Buenos Aires é possível pois durante o século XVIII Buenos
Aires recebeu muitos escravos provenientes do Brasil, em especial do Rio de
Janeiro e da Bahia. O que nos permite pensar que os escravos habitantes do Brasil
puderam levar consigo práticas, costumes e identidades formadas no país que
influenciaram em sua vivência em Buenos Aires. Uma das formas de identificar a
presença de negros do Brasil em Buenos Aires é através das naciones que os
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abrigam, como: Nación Protectora Brasilera e Nación de los Brasileros Bahianos.


Além disso vale destacar a similiridade de seus processos históricos, por exemplo,
ambas as cidades são portuárias, foram colônias ibéricas influênciadas pelo
catolicismo, são meios urbanos, escravocratas e se encontraram ao longo do século
XIX em meio à confusão política que o processo de independência carregava, assim
como passaram pelo processo de abolição lenta, gradual e tardia.

História e Literatura: abordagens e possibilidades do fato e da ficção - Rosana


de Oliveira Prado dos Santos (UFGD)

Este trabalho tem por objetivo analisar a possibilidade de se tomar a literatura como
fonte histórica, tendo em vista que alguns romances fornecem uma incisiva
interpretação de acontecimentos sociais, culturais e políticos no Brasil. Este é o
caso da obra "Chão do Apa: contos e memórias da fronteira" de Brígido Ibanhes,
objeto de estudo desta pesquisa. O autor constrói uma representação histórico-
literária desde o início da obra através de fatos, processos e detalhes históricos que
deixam entrever de forma ficcional, uma interpretação da história. Ibanhes constrói
uma espécie de informações históricas no tecido textual da obra ao representar a
Guerra do Paraguai, abordando os aspectos sociais e culturais da fronteira entre
Brasil e Paraguai. Desta forma, à luz de uma bibliografia teórica dedicada ao
assunto entende-se que a presente obra traça abordagens comparativas neste
diferentes campos do saber que é a História e a Literatura, permitindo-nos um
intenso diálogo entre a ficção e a História na literatura brasileira.
261
Identidade Nacional: As interpretações de Oliveira Vianna, Gilberto Freyre e
Sérgio Buarque de Holanda - Iara Andrade Senra (UFRJ)

O presente artigo busca uma análise comparativa entre as propostas de identidade


nacional formuladas por Oliveira Vianna, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de
Holanda. Para tanto realizo uma leitura exploratória das obras clássicas dos autores
em questão, publicadas na década de 1930 - Raça e Assimilação, Casa Grande e
Senzala e Raízes do Brasil - e de artigos dos jornais Diário de Notícias, Correio da
Manhã e A Manhã que discutem a identidade brasileira e a ação do Estado,
publicados na década de 1940. Através do levantamento de divergências e de
convergências entre suas teorias, o presente trabalho pretende esclarecer possíveis
relações entre as propostas identitárias baseadas em critérios étnicos e suas
ressonâncias sobre a formação de uma identidade cívico-nacional.

O esporte enquanto forma de se pensar a nação no cenário latino-americano:


um estudo comparado entre os Jogos do Centenário (Rio de Janeiro, 1922) e
os Jogos Bolivarianos (Bogotá, 1938) - Eduardo de Souza Gomes (UFRJ)

Este estudo tem como objetivo a análise comparada de dois eventos esportivos. O
primeiro, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, foi
organizado no contexto de festejos do centenário da independência do país e ficou
conhecido como Jogos Olímpicos Latino-Americanos (ou Jogos do Centenário de
1922). Já o segundo, ocorrido em 1938 em Bogotá, capital da Colômbia, foi
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organizado nos festejos de comemoração do quarto centenário da capital


colombiana. Considero que ambos os eventos são objetos possíveis para se pensar
como foram, nesses cenários, formuladas ideias de nação, tanto para Brasil quanto
para Colômbia. Ao mesmo tempo, se faz possível inferir que o contexto latino-
americano se fez importante, tendo diferentes países da região participado dos
eventos em questão e dialogado, tanto de formas negativas quanto positivas, com
as noções nacionalistas construídas nos países anfitriões. A partir da análise de
fontes periódicas (notadamente jornais do Rio de Janeiro e Bogotá nos períodos
analisados), busca-se neste trabalho analisar como os discursos de nação
construídos por Brasil e Colômbia pelo esporte nesses eventos, se relacionou com
o cenário das relações internacionais em que ambos os países estavam inseridos.

Parques nacionais e projetos de desenvolvimento: uma análise comparativa


da criação do Parque Nacional de Itatiaia no Brasil e do Parque Nacional
Nahuel Huapi na Argentina - Ingrid Fonseca Casazza (PPGHC/UFRJ)

Este trabalho propõe uma análise comparativa dos processos de criação de dois
parques nacionais na América Latina, o Parque Nacional Nauhel Huapi, na
Argentina, e o Parque Nacional de Itatiaia, no Brasil. O objetivo principal é
compreender a criação destas duas áreas de proteção em contextos de
desenvolvimento regional e nacional. O primeiro, apontado como o primeiro
parque nacional latino americano, foi criado em 1903, porém, efetivado por uma
política oficial de parques nacionais, apenas em 1934. Está localizado no Noroeste
262
da Patagônia argentina, na divisa com o Chile e a região na qual foi criado era
habitada até fins do século XIX somente por índios nativos e animais selvagens.
Na ocasião de sua consolidação, na década de 1930, a região remota e pouco
habitada ainda representava um risco para o governo e a consolidação do parque
ocorreu como estratégia de ocupação do território e desenvolvimento de alternativa
econômica a partir da associação entre conservação e turismo. O segundo, primeiro
parque nacional brasileiro, foi criado em 1937. Está localizado na divisa entre os
Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, em uma área de extrema
raridade ecológica e paisagística. A criação do Parque Nacional de Itatiaia deve ser
compreendida a partir de suas relações com a política governamental de gestão da
natureza então implementada e atrelada ao projeto de desenvolvimento da Era
Vargas. Sigo uma tendência de trabalhos recentes que sugerem a necessidade de
abandonar o modelo de exportação do parque nacional americano e considerar a
proteção da natureza como um produto de imperativos nacionais. A análise de
outras experiências nacionais, como a que proponho nesse trabalho, permitem a
complexificação e o entendimento de como diferentes países atentaram para
resolver algumas das tensões na proteção da natureza- como um balanceamento
entre turismo, pesquisa científica, interesses locais e nacionais, democracia e
autoritarismo ou preservação e conservação. Deste modo, pretendo, a partir da
análise comparativa proposta, discutir essas duas experiências históricas,
identificar aproximações e distanciamentos entre elas e estabelecer especificidades
que configurariam a criação dessas áreas protegidas na América Latina.
Problematizar a história da criação de parques nacionais e demais medidas
conservacionistas permite escapar da visão romantizada de proteção da natureza
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que produz heróis e ofusca o entendimento das relações entre os homens e a


natureza produzindo uma idealização da separação entre ambos. A historicização
das políticas de proteção à natureza facilita a elaboração de soluções possíveis para
o dilema entre conservação e desenvolvimento.

Saúde indígena em perspectiva histórica comparada: O Serviço de Saúde do


SPI de 1947 e a Lei Arouca de 1999 - Carolina Arouca Gomes de Brito (CEDERJ
/ UNIRIO)

As décadas de 1940 e 1950 foram marcadas por novas iniciativas no campo da


saúde indígena, sobretudo no âmbito do Serviço de Proteção aos Índios – SPI. Uma
dessas investidas refere-se ao “Plano para um Serviço Médico do SPI”, estruturado
por Herbert Serpa em 1947, que apresentava um caráter diferenciado em torno da
especificidade da atenção à saúde das populações indígenas. Em perspectiva
comparada, levando em conta as múltiplas realidades sociais e políticas brasileiras
ao longo do tempo, é aprovada em 1999 a lei “Arouca” que criou o subsistema de
atenção à saúde indígena no Brasil, que também valorizava as especificidades
culturais e estruturais dos grupos indígenas. Nesse contexto, esse trabalho tem por
objetivo propor uma análise comparada, em perspectiva histórica, desses dois
projetos, em torno da questão da saúde das populações indígenas brasileiras.

263

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264
ST 23. História da alimentação, da
gastronomia e suas interfaces

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"Cozinha tradicional paulista" (1963) e "Fogão de lenha" (1977): livros de


receitas regionais como fontes para a história dos imaginários
culinários - Viviane Soares Aguiar (FFLCH-USP)

Esta comunicação propõe apresentar parte dos resultados de uma pesquisa de


mestrado em andamento, que aborda o processo de formação de uma culinária
regional por meio não de práticas cotidianas, mas de representações construídas no
âmbito intelectual. Nosso estudo de caso é a culinária tida como “caipira” e a forma
como ela foi percebida, valorizada e/ou rechaçada nos discursos a respeito da
existência de uma cozinha típica associada à região de São Paulo. Embora o sistema
culinário “caipira” tenha se formado e se espalhado a partir da expansão
bandeirante por um amplo território – que compreenderia, atualmente, os estados
de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, além de trechos do Rio de Janeiro, do Espírito
Santo, do Mato Grosso e do Paraná –, é notória a maneira discrepante como essa
“cozinha” foi apropriada pelas diferentes regiões, algo que pode se tornar visível
nos discursos propagados por livros de receitas, guias de turismo ou projetos de
registro dos órgãos de patrimônio cultural. Discutir os meandros de construção
simbólica de uma identidade culinária está no cerne de nossa pesquisa. Para este
simpósio temático, trataremos especificamente do exercício metodológico
pertinente ao uso de livros de receitas como fontes históricas para acessar não
apenas o cotidiano culinário de um período e um local e suas transformações, como
também os mecanismos que envolvem a formação ou a afirmação de imaginários
culinários relacionados a determinadas regiões brasileiras. O foco estará em um
265
livro de receitas lançado em 1963 com a explícita intenção de definir a culinária
típica de São Paulo. "Cozinha tradicional paulista" foi organizado pela folclorista
Jamile Japur (1920-1979), dentro do contexto intelectual do movimento folclórico
brasileiro, que esteve em intensa atividade sobretudo entre 1947 e 1964, e será
analisado tanto como fonte textual quanto como objeto agente da cultura material,
em sua visualidade e tridimensionalidade e, ainda, em sua trajetória “biográfica”
(sua relação com estudos que o antecederam, com a atuação da autora junto ao
movimento folclórico e com os discursos de “paulistanidade”). Para efeito
comparativo, será analisado da mesma forma o livro "Fogão de lenha: quitandas e
quitutes de Minas Gerais", publicado em 1977 pela pesquisadora Maria Stella
Libanio Christo. O que se conclui é que, apesar da semelhança de técnicas e receitas
de base caipira, as cozinhas paulista e mineira propostas pelas publicações em
análise se revelam de formas bastante distintas. Enquanto a primeira é construída
como uma alteridade ou como um “souvenir” do passado, embasada em uma
marginalização do elemento “caipira” e no conceito de uma tradição esquecida, a
segunda parece se consolidar como patrimônio que deve ser, acima de tudo,
vivenciado e cultuado.

"Voduns também comem": alimentação ritual, educação da atenção e saberes


em uma cozinha candomblezeira. - Franciliete S. Campos
Souza (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ)

O presente trabalho é um desdobramento da dissertação de mestrado e parte da


seguinte problemática: como nas práticas rotineiras da cultura alimentar em uma
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roça jeje savalu percebe-se a circulação e mediação de saberes culturais? Em vista


desse problema a pesquisa possuiu como objetivo geral analisar de que forma os
saberes culinários ressaltam a memória do candomblé Jeje e evidenciam uma
cosmologia do sagrado, e dessa forma, também, analisar como a mediação desses
saberes que circulam a comida de Vodun no candomblé Jeje revelam o legado da
culinária sagrada, vislumbrada a partir de uma educação da atenção e dos sentidos.
Caracterizou-se, metodologicamente, como uma pesquisa de campo do tipo
etnográfica, com base nos pressupostos da história oral. O lócus da pesquisa, foi
um terreiro de candomblé jeje Savalú, em Belém-PA. Havendo, portanto, a
necessidade de tecermos algumas reflexões que permitam desvelar de que forma é
cabível inferir que a presença dos símbolos da cultura afrobrasileira são mantidos
e transmitidos na feitura dessa comida que é situação sine qua non para uma prática
de representação social e de pertencimento de crenças, hábitos e costumes
peculiares da cultura afrobrasileira. Analisar a alimentação não somente em seu
papel fisiológico, mas, sobretudo, por seu papel agregador de capital simbólico,
exige um esforço de implementar considerações sobre o processo de
comensalidade e destacar produções acerca do tema, presentes em obras que
discutem teorias da História Cultural social e em específico no campo da História
e Antropologia da alimentação. Os procedimentos metodológicos utilizados para a
produção de dados foram: levantamento bibliográfico; observação; entrevistas
semidirigidas com membros permanentes e esporádicos da cozinha savaluana;
registros audiovisuais dos adeptos e a partir de conversas com praticantes e
visitantes do terreiro. As categorias analíticas em diálogo com a pesquisa foram:
266
educação da atenção; comida como cultura; saberes da experiência; memória e
identidade, as mesmas foram perpassadas e alinhavadas a luz da Historiografia da
alimentação e de uma percepção mais ampla da Educação, para além da perspectiva
cientificista e escolacentrista. O processo educativo investigado gira em torno das
figuras responsáveis e proeminentes da cozinha do terreiro, as senhoras da cozinha,
que tem o maior posto hierárquico da alimentação da casa. Elas orientam todos os
postos de menor hierarquia na cozinha e têm a condição de educadoras e
mediadoras da memória, detêm, portanto, a maior experiência e conhecimento a
respeito dos inúmeros saberes que circulam a culinária votiva em uma roça Jeje
Savalú. Saberes, culinários e ritualísticos, encarados aqui como os conteúdos a
serem ensinados no terreiro.

A Cozinha Brasileira e suas panelas de barro - Ursulina Maria Silva


Santana (PUC = SP)

As panelas de barro brasileiras apresentam em seu contexto toda história e


experiencia de um fazer culinário. Cada uma delas apresenta-se em formatos e
utilidades especificas e tem como marca os locais onde são confeccionadas e as
comidas que acondicionam apresentando-se em momentos festivos, sociais ou
religiosos. Reconhecer o saber fazer das paneleiras é proteger o utensilio tão
representativo da cozinha brasileira. Entretanto sabemos que várias regiões do
Brasil ainda produzem suas panelas de barro com suas técnicas de busca do barro
no barreiro, manipulação, feitura e queima da peça, especificidades de uso e suas
comidas identitárias, que não se aparentam com as panelas capixabas, restringindo-
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se muitas vezes apenas aos locais de origem. A cozinha brasileira se mescla nesse
elemento cultural, a panela de barro, ao mesmo tempo que organiza e elabora a
celebração da comensalidade. São vários os sítios que ainda produzem essas
panelas como: as Cerâmicas de Coqueiros em Maragogipe que preparam as panelas
de barro para servir as moquecas, as panelas de Pasmado e Pasmadinho no norte
de Minas que servem o frango com quiabo, em Morretes no Paraná com as panelas
que acondicionam e cozinham o barreado, em Irará na Bahia com seu barro
vermelho para preparar o ensopado de carne seca, e em outros locais que continuam
a produzir suas panelas, feitas ainda por mulheres. A pesquisa será desenvolvida a
partir de inventários dos sítios, o tipo de utensilio culinário que é confeccionado e
a receita que é preparada nessa panela.

Alimentação, Utopia e imigração finlandesa em Penedo – RJ (1929 –


1940) - Diego Uliano Rocha (UFF)

As questões alimentares estão para além de uma necessidade biológica humana.


Elas fazem parte da cultura e história da sociedade. Investigar este elemento
cultural pode contribuir para o entendimento aprofundado da organização dos
grupos sociais, ideias e políticas do passado e presente. Este estudo busca seguir
este direcionamento na medida em que pretende investigar a construção do
comportamento alimentar dos finlandeses entre 1929 à 1940 na colônia finlandesa
em Penedo – RJ. Especificamente buscou-se investigar a saída da Finlândia, a
vinda ao Brasil, o projeto utópico de Toivo Uuskallio e a relação destes elementos
267
a escolha de uma restrição alimentar durante o funcionamento do projeto
colonizador no Brasil.Para este trabalho foram consultados livros de memória
escritos por imigrantes que vivenciaram a colônia assim como obras científicas
sobre a temática.

Câmara Cascudo e Josué de Castro - um diálogo sobre a linguagem da


alimentação - Adriana Salay Leme (Universidade de São Paulo)

Essa comunicação pretende, a partir das cartas trocadas entre Luis da Câmara
Cascudo e Josué de Castro, olhar a formação epistemológica e a linguagem
utilizada na pesquisa sobre alimentação em dois campos de estudo que estavam
ainda incipientes no Brasil na primeira década do século XX - respectivamente a
etnografia e a nutrição. As correspondências, de conteúdo inédito, são utilizadas
para jogar luz sobre a vida e obra de cada autor, delimitar suas áreas de atuação e
os termos utilizados em seus textos. Quem conhece os dois autores não imagina
quão próxima parece ser esta relação intelectual. Apesar das nítidas diferenças de
suas bases de estudo, os dois aparentemente mantiveram contato maior do que nos
mostram suas obras. Essa conclusão se dá depois de analisar as cartas trocadas que
perpetuaram ao longo do tempo e estão disponíveis no Instituto Câmara Cascudo,
em Natal, e na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife. Para tal análise será utilizada
a base teórica da escola dos conceitos alemã, principalmente as ideias de Reinhardt
Koselleck. A conversa travada ao longo dos anos explicita que os pontos de vistas
eram mutuamente articulados. Assim, a linguagem no campo da alimentação,
apesar de mostrar as diferentes áreas do pensamento que estavam em formação
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naquela época, também revelam o desejo comum de entender os hábitos


alimentares na sociedade brasileira.

Chocolate: reflexões sobre o desenvolvimento do cacau cabruca no sul da


Bahia - Marcella Sulis (Universidade Anhembi Morumbi)

O chocolate na América pré-colombiana representava divindades, moeda de troca,


riqueza, poder, reciprocidade e distinção social. Compreender o chocolate como
um alimento que, ao longo da história, foi carregado de expressões simbólicas,
permeado de representações de hospitalidade, dádiva e reciprocidade é o objetivo
deste trabalho. Para tanto, apoiar-se-á essa compreensão através da análise e
reflexão sobre a história do cacau no Brasil. As relações de trocas, ambíguas e
muitas vezes evidenciadas pela hostilidade existente no modelo de cultivo inicial
do cacau no Brasil colônia, são características dessa história. No Brasil,
inicialmente o cacau estava ligado a uma cultura baseada na agricultura de
exploração, através do trabalho em condições de escravidão, condições hostis de
relação entre trabalhador e proprietário, além da cultura da exportação do produto
de qualidade. Nas duas primeiras décadas do século XX, o Brasil era o maior
produtor mundial das amêndoas de cacau, responsável pela riqueza de municípios
como Ilhéus e Itabuna. Entretanto, os próprios trabalhadores que produziam o
cacau não tinham acesso ao chocolate. Ao contrário, inicialmente a produção nem
mesmo era para o consumo local, sendo quase toda destinada à exportação. Poucos
eram os privilegiados a provar o chocolate, destinado às classes mais altas. Fica
268
evidente que no Brasil não existia uma cultura de valorização com relação ao
chocolate e sua história. Como exemplo, é possível citar o descaso relacionado ao
processamento e à legislação relativa ao fabrico do chocolate. Diferente de outros
países da América, como México, que possui uma legislação detalhada. Entretanto,
existe um movimento atual de pequenos produtores de cacau e chocolate em prol
da valorização desses alimentos. Movimento que começou no sul da Bahia e preza
pela produção sustentável do chocolate de qualidade superior e a conscientização
do consumidor. Uma característica importante desse cultivo, é o modelo cabruca
de produção, sistema agroflorestal onde se combina a produção do cacau com a
conservação das matas nativas, respeitando todas as etapas de produção. Neste
contexto, foi possível considerar que essas relações envolvidas na cultura do
chocolate e o modo de produção atual, influenciaram de alguma forma o consumo
e a valorização relacionada ao chocolate. Paralelamente, mudanças acontecem
também no plano sociocultural. Pouco a pouco, o chocolate tem seu consumo
difundido em todas as classes sociais, constituindo cada vez mais, ao lado do café
e da cachaça, um elemento presente na cena hospitaleira doméstica e nas trocas de
presentes, sobretudo na Páscoa e no Natal.

Comida, Bebida e Entretenimento: As confeitarias no Rio de Janeiro do


Segundo Império (1850-1889) - Thaina Schwan Karls (UFRJ)

A partir de 1850 se tornou mais perceptível o processo de modernização na cidade


do Rio de Janeiro, o que já vinha ocorrendo de maneira mais enfática desde a
chegada da família real e a independência do Brasil. Foi também a partir deste
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período que a busca pelo espaço público como local de vivência social e
valorização das atividades de lazer começou a melhor se conformar, inclusive com
o crescimento e diversificação do mercado do entretenimento. Dentre estes se
destacam os teatros, circos, bailes, práticas esportivas e ginásticas e uma estrutura
pública de alimentação que também se relacionava com esta nova configuração
urbana, como as confeitarias. Estas casas disponibilizavam frequentemente
atividades de diversão para seus clientes através de exposições de retratos, plantas,
animais e bebidas, campeonatos de tiro ao alvo, jogos como xadrez, bilhares,
bagatelas e espaços com jardim. As confeitarias, em geral, exerciam funções muito
mais amplas que o simples preparo e venda de doces, se portando também como
padarias e até armazéns, com comércio de frutas, bebidas, pães, biscoitos,
guloseimas e até presentes. Da mesma forma, atendiam a outro segmento, que era
o fornecimento de gêneros alimentícios prontos, sem serem preparados no interior
dos seus espaços e que poderiam ser adquiridos e consumidos nas residências.
Acreditamos que os maiores frequentadores destas eram os integrantes de camadas
sociais de maior poder aquisitivo, ou componentes de fatias medianas em ascensão.
No entanto, não é possível descartar que houvesse clientes menos remediados que
comparecessem a esses lugares cada vez mais comuns e diversos. Frequentar
confeitarias poderia ser interpretado como a representação de hábitos modernos,
evoluídos e requintados, adequados a um país e a uma cidade que buscavam
progredir, se civilizar. Este estudo tem por objetivo apresentar o perfil destes
espaços de alimentação no Rio de Janeiro do Segundo Império (1850-1889). Para
alcance do objetivo foram utilizados como fontes, periódicos publicados no
269
período estudado na cidade do Rio de Janeiro. Este trabalho é fruto da minha tese
de doutorado.

Consumo alimentar como sujeito da cultura material - Jadir Peçanha


Rostoldo (Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo - IHGES)

O propósito deste trabalho é analisar a relação entre cultura material e consumo


alimentar por meio de uma análise amplificada da disciplina de cultura material, e
não apenas pela visão materialista. O consumo alimentar aqui assume o papel de
sujeito histórico alimentador da cultura material, e não de destruidor dessa cultura.
Defende que cultura material e consumo alimentar não são antagônicos, mas
importantes peças para se entender as sociedades e suas transformações.

Da América para o mundo: O sabor picante da capsaicina - Marcia Narcizo


Borges (Universidade Federal Fluminense)

Rozin e Schiller , que estudam a evolução cultural e impacto psicológico de


alimentos, consideram um verdadeiro enigma tentar compreender como a pimenta
chili, uma importação do “Novo Mundo” tornou-se tão disseminada e popular ao
ponto de seu consumo ter sido firmemente enraizada em Sichuan, uma pequena
província litorânea localizada na fronteira sudoeste da China. Investigando as
informações publicadas na literatura que vão desde a domesticação das pimenteiras
nas planícies americanas até os estudos mais recentes que investigam os impactos
das trocas colombianas no velho mundo, buscamos compreender como uma
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resposta inata às propriedades irritantes da pimenta podem se transformar numa


sensação de prazer viciante, que leva seus consumidores a quererem sempre mais?
Nesse trabalho pesquisamos a origem da pimenteira e suas variedades, todas
americanas, seus aspectos biológicos e propriedades químicas, ressaltando a
importância da substância chamada capsaicina, que dá o sabor peculiar a todos os
tipos de pimenta americana, como as trocas columbianas popularizaram a pimenta
americana do outro lado do Atlântico e respondemos à pergunta de partida
interpretando contexto social, químico e fisiológico porque a pimenta agrada tanto
ao paladar.

Muito mais do que se põe no prato: os Arquivos Brasileiros de Nutrição e o


projeto de educação alimentar no Brasil (1940-1950) - Marcela Martins
Fogagnoli (IFRJ)

A proposta desse trabalho é fazer uma breve análise sobre o surgimento da nutrição
enquanto um campo de conhecimento e profissional específico no Brasil,
destacando os principais fatores que contribuíram para tal processo, assim como os
atores e instituições que surgiram e fizeram surgir nesse contexto. Sobretudo nos
anos de 1940, a nutrição como um saber ganhou contornos mais definidos com o
surgimento dos primeiros cursos e das primeiras políticas de melhoria da condição
de alimentação do trabalhador. Nesse contexto surgiu a revista Arquivos
Brasileiros de Nutrição, considerada como o veículo de difusão das ideias e
propostas de nutricionistas e nutrólogos a respeito da alimentação dos brasileiros.
270
Buscaremos nesse trabalho identificar e analisar as principais ideias e propostas
dos intelectuais ligados à revista, bem como suas leituras sobre os problemas da
alimentação no Brasil.

O acidente com o CÉSIO 137 em Goiânia e suas consequências - Larisssa


Mendanha Cabral (UFG)

Este trabalho é sobre o acidente com o césio 137 que ocorreu em Goiânia em 1987.
Por conta do abandono de uma cápsula contendo césio-137, de aparelho de
radioterapia em um prédio abandonado, antes hospital, onde pessoas puderam ter
contato com essa cápsula e ao manuseá-la, fez causar todo esse transtorno para as
vítimas e também os moradores da cidade e estado. Pretende-se, explicar como
ocorreu o acidente bem como o processo de descontaminação do material
radioativo e da descontaminação simbólica.

O doce e a história: Brigadeiro ‘di cumê’ “Ô Mainha”, uma doce experiência


universitária de empreendedorismo pautada no chocolate e no leite
condensado - Guilherme Lima Silva Junior (Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia)

O presente artigo tem como objetivo analisar a introdução do doce no gosto da


sociedade europeia e a incorporação desses hábitos por parte da comunidade
brasileira, além de apresentar uma experiência empreendedora vinculada à
produção desse tipo de iguaria com a realidade acadêmica. Compreende-se
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brigadeiro como a junção de chocolate, leite condensado e manteiga, além de


outros ingredientes que podem ser acrescentados. Por ser um item de grande
aceitação por indivíduos das demais idades, tornou-se um produto incorporado à
culinária brasileira, e ganha adeptos ao seu consumo todos os dias. Este artigo
apresenta o empreendedorismo pautado na criação da marca Brigadeiro ‘di cumê’
“Ô Mainha”, evidenciando a percepção de uma oportunidade, destacando: a
aplicação, a tenacidade e o atrevimento como condutas necessárias neste processo,
objetivando alcançar os propósitos pretendidos dentro do meio acadêmico.

O Regional como Conceito Gastronômico: Região Norte, regionalização,


percepções e realidades - Ricardo Núñez Amin Dick (UNISUAM)

Breve ensaio sobre a conceitualização do processo de regionalização na


Gastronomia, com enfoque na Região Norte e seus pertencentes. São expostos
pontos conceituais, teóricos e práticos, assim como interpretações, críticas e
proposições sobre a temática. Além disso pretende instigar um diálogo mais
abrangente entre a sociologia, história, cultura, antropologia e Gastronomia sobre
as possíveis interpretações do fenômeno da regionalização gastronômica (produtos,
produtores e origens).

Os aparatos de mesa e o consumo do chá no cotidiano doméstico do Rio de


Janeiro oitocentista (1800-1840) - Renata Jardim Quadros (UNIRIO)
271
A historiografia frequentemente discute a propagação de padrões estéticos e
intelectuais franceses no Rio de Janeiro oitocentista na medida em que foram
fortemente presentes por mais de um século. Mesmo contemporâneos reconheciam
a influência francesa que ditava quais os hábitos ‘civilizados’ a os costumes a serem
seguidos, ou mesmo clamavam por um maior afrancesamento cultural, em todas as
instâncias da vida pública e privada do Brasil. A materialidade revelada por
projetos de arqueologia histórica em sítios datados do século XIX, por outro lado,
demonstra a penetração expressiva de produtos ingleses, em especial, os de pasta
cerâmica de pó de pedra ou earthenware. Pesquisas que se debruçaram sobre a
presença dos produtos ingleses, frequentemente, privilegiam o enfoque econômico-
industrial, relacionando essa presença inglesa à busca por novos mercados e à
abertura dos portos às nações amigas. Qual seria a participação inglesa na definição
de tais padrões comportamentais e ritos cotidianos? Gilberto Freyre (2000) chegou
a voltar seu olhar antropológico para a questão das trocas culturais entre Brasil e
Inglaterra, argumentando que sem um estudo do impacto dos aspectos materiais e
imateriais da cultura britânica na nossa formação seria impossível compreender a
história e o ethos da cultura brasileira; porém, ainda assim, a presença inglesa vista
sob este viés do cotidiano permaneceu tópico marginal na historiografia brasileira.
Acervos produzidos durante a realização de projetos de arqueologia de resgate tem
entre as louças a categoria de maior incidência. Bules, xícaras, malgas e pires são
um convite a se pensar qual o papel do consumo do chá em um projeto civilizatório
mais amplo da cidade, que então, abrigada uma corte européia.

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Os prazeres da mesa: um debate sobre o conceito de gastronomia no Rio de


Janeiro imperial - Cleber Eduardo Karls (Universidade Veiga de Almeida)

O Rio de Janeiro oitocentista foi o palco de um intenso trânsito de ideias e de


modificações em diversas esferas, sustentadas, principalmente, por concepções de
modernidade que buscavam reorganizar e adaptar a mais importante cidade
brasileira à época a um ideal civilizacional pautado, majoritariamente, no modelo
europeu. Deste paradigma faziam parte novas práticas relativas ao lazer,
divertimento, esportes e a progressiva e iminente indústria do entretenimento que
com o desenrolar do século XIX se demonstrava cada vez mais consolidada e
relevante no cotidiano urbano da capital do Império. Neste contexto, a
“gastronomia” passou a fazer parte deste ambiente de modernização e a se
relacionar com as diferentes variáveis destas esferas. Para esta apresentação,
analisamos a aplicação do termo “gastronomia” nos periódicos publicados na
cidade do Rio de Janeiro no período Imperial e traçamos alguns considerações
acerca do seu conceito. Buscamos, portanto, elaborar um debate conceitual sobre
este termo no período em tela.

Sexualidade, Gênero e Gastronomia - Lívia Batista da Costa (Faculdade


Cambury)

A associação entre comida e sexo enquanto fonte de diversos prazeres está presente
em diversas culturas. Da mesma forma, a definição dos papéis sexuais diante do
272
espaço da cozinha nos remete a uma análise da construção histórica cultural entre
os sexos. Nesse sentido, pretende-se analisar a relação entre alimentação,
sexualidade e prazer, a partir de referências bibliográficas que abordam essa
temática e das percepções de gênero dos alunos de um curso de gastronomia da
cidade de Goiânia. Foi realizada uma pesquisa com questionários abertos e
fechados, na qual, discentes de gastronomia responderam sobre a definição dos
papéis sexuais na cozinha e a relação entre sexualidade e comida. A pesquisa tem
como objetivo contribuir para a produção científica de trabalhos que associam
gênero e alimentação.

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ST 24. História da Baixada
Fluminense: pesquisa, ensino e
parcerias no Rio de Janeiro

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Universidade Federal Fluminense


Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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A Vila de Santo Antonio de Sá: população e configuração político-territorial


(1697-1877) - Gilciano Menezes Costa (UFF)

Este trabalho tem como proposta desenvolver um estudo sobre a Vila de Santo
Antonio de Sá, dentro do período iniciado com a fundação da Vila, em 1697, até a
sua dissolução definitiva em 1877. Através da análise da configuração político-
territorial desta Vila, e de sua população, busca-se dialogar com os trabalhos dos
memorialistas da década de 1930, como José Matoso Maia Forte, e com as
pesquisas atuais que sustentam suas hipóteses. O presente estudo apresenta novas
interpretações sobre os fatos principais desta Vila, inserindo este espaço no âmbito
das mudanças da Capitania, e posteriormente Província, do Rio de Janeiro. Entre
as fontes primárias utilizadas destacam-se as anotações dos viajantes, relatórios dos
Vice Reis, decretos, estatísticas demográficas, periódicos, anotações de visitas
pastorais e descrições oficiais da produção da Vila. No início do último quartel do
século XVIII, a Vila de Santo Antonio de Sá era composta por seis freguesias, são
elas: Santo Antônio de Sá (sede da Vila); Santíssima Trindade; Nossa Senhora da
Ajuda de Cernambitigba (Guapimirim); Nossa Senhora da Conceição do Rio
Bonito; São João Batista de Itaboraí e Nossa Senhora do Desterro de Itambi. A
Vila, com suas seis freguesias, possuía uma dimensão territorial tão extensa, que
ao ser desmembrada no decorrer do século XIX se dividiu nos atuais municípios
de Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Itaboraí e Guapimirim. Por fim, esta
pesquisa apresenta um estudo que prioriza a desconstrução da história única e
aponta novos caminhos para o entendimento da decadência da região que um dia
274
foi chamada de Vila de Santo Antonio de Sá.

Compadrio: alargando a família entre os escravos de São Bento (séc.


XIX) - Vitor Hugo Monteiro Franco (Universidade Federal Fluminense)

Os estudos sobre a família escrava têm sido de suma importância para


compreendermos a Escravidão no Brasil. Assim, o presente trabalho busca não só
dialogar com o debate já feito sobre esta dimensão do passado escravista, como
contribuir para ele, concentrando-se no âmbito de propriedades de ordens
religiosas. Sendo assim, viso estudar a formação familiar e os laços comunitários
entre os escravos da Ordem de São Bento, no Recôncavo da Guanabara, no século
XIX. Para isso, analisei arquivos paroquiais: assentos de batismos, casamentos e
óbito, da Capela de Nossa Senhora do Rosário. Tais fontes me permitiram realizar
uma análise mais acurada da vida desses indivíduos que vivenciaram o cativeiro,
os então chamados: Escravos da Religião.

Dos Rios aos Trilhos: Trajetórias e Representações para o estudo da História


Local na Baixada Fluminense - Ivonete Cristina Silva Campos (SEMED-
Belford Roxo)

A proposta é suscitar construções e/ou reconstruções significativas de


aprendizagem para os alunos do 6º ao 9º anos de escolaridade do ensino
fundamental da disciplina escolar de História sendo o CEMBF Centro de Memória
da Baixada Fluminense do Centro Universitário – UNIABEU o lugar de registro
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para estas pesquisas, com vistas à região e à localidade da Baixada Fluminense no


Rio de Janeiro. Estes espaços primordiais – a sala de aula – ganham visibilidade na
metodologia da oralidade que passa a ser o norte de “fontes múltiplas” para novas
reflexões e abordagens dialéticas, no sentido de promover uma educação histórica
sócio-interacionista de pertencimento deste passado histórico, através da narrativa.
Portanto, para nós professores de História, a prática da interlocução de saberes é
vivenciada dentro e fora da escola e tem como resultado, a mudança de ótica da
leitura do mundo contemporâneo dos aprendizes enquanto sujeitos de sua própria
história.

Educação de terreiro e o ensino de história - saberes/memórias étnico raciais


em diálogo na Baixada Fluminense - Marta Ferreira da Silva (UNICAMP)

Este texto é parte inicial da pesquisa que se propõe a analisar 244 páginas
manuscritas com histórias de orisás, Ìtàn, coletadas nos cotidianos de terreiros de
candomblé por uma mãe de santo e a produção de conhecimentos nos
espaçostempos em que esses Ìtàn circulam. Esses escritos de Aṣé, recebidos como
herança por seu filho de santo (hoje pai de santo) e as influências dessas heranças
servem como fio condutor para essas reflexões iniciais, que tem como base
fundante as dinâmicas de repasse e ressignificações dos saberes contidos nessas
fontes e na sua própria constituição, tecendo redes de saberes muito além dos muros
do terreiro, tendo em vista principalmente as crianças e jovens candomblecistas,
que levam consigo esses saberes para as escolas e, especificamente nos interessa
275
nesse texto, para as aulas de história. Construções orais e escritas realizadas em um
terreiro de candomblé, no município de Duque de Caxias - RJ, que dialogam com
oralidades e escritas desses espaçostempos.

Ensino Superior na Baixada Fluminense (RJ) os Impactos da Reforma


Universitária de 1968 no território Fluminense - Debora Luisa de Freitas da
Silva (UFRRJ)

O presente trabalho é parte parcial da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós


Graduação em História da UFRRJ. Tem por objetivo relacionar a implantação de
Universidades Privadas na região da Baixada Fluminense, que é uma área
metropolitana do Rio de Janeiro, com a Reforma Universitária implantada pelo
Regime Militar em 1968. Na tentativa de acalmar os ânimos e silenciar a UNE,
além de atender uma demanda da classe média em ascensão, o Governo de Costa
e Silva promove uma Reforma nas Instituições de Ensino Superior Públicas no país
em 1968. Porém o efeito não é o aclamado pelos movimentos sociais, a reforma
somente aumentou o abismo entre a massa e o acesso a universidade, além de
promover a multiplicação de iniciativas privadas no ensino. Acarretando a
transformação de um ensino crítico e filantrópico em um ensino produtivista que
atendia as necessidades dos industriais. Nesta perspectiva foi implantada três
faculdades de portes consideráveis, em uma região antes não atendida por nenhuma
instituição, já nos primeiros anos da década de 70. Observamos que este
movimento não foi isolado e pontual, houve uma crescente aceleração na criação
de IES pela iniciativa privada em todo o país. Partindo deste ponto pretendemos
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analisar o enlace entre as reivindicações sociais por educação superior democrática,


formação do sistema educacional na Baixada Fluminense. Levando em
consideração as dinâmicas políticas e econômicas da região.

Exercício farmacêutico em Iguassú entre os finais do século XIX e início do


século XX através das trajetórias de José Manoel de Santa Rita e Joaquim
Nery Cotrim de Santa Rita - Ticiana Santa Rita (COC/Fiocruz)

Este trabalho analisa o exercício da profissão farmacêutica por práticos, boticários


e farmacêuticos na periferia da capital do Rio de Janeiro, entre o final do século
XIX e início do XX, a partir do Livro de Assento deixado pelo prático de farmácia
Joaquim Nery Cotrim de Santa Rita. Procurando entender a inserção destes agentes
ligados às artes de curar neste universo, identificamos e analisamos a rede de
sociabilidade em que estavam inseridos, levando em consideração a história do
grupo familiar e as práticas farmacêuticas desenvolvidas. Destacamos além da vida
profissional do prático, a de seu pai José Manoel de Santa Rita, boticário desde a
década de 1850. Procuramos analisar como o prático e o boticário estavam
inseridos nas localidades em que atuavam. Assim como outros farmacêuticos
locais, José Manoel e Joaquim Nery estiveram envolvidos com as ações voltadas
de alguma forma para o saneamento da região. José Manoel foi vacinador em
Iguassú na época da epidemia de varíola de 1895, aplicando as linfas vacínicas na
população local. Porém, trabalhar para a Câmara Municipal não era novidade para
o boticário que já estivera ligado a de Capivary (atual Silva Jardim) em meados do
276
século XIX, fornecendo medicamentos a população carente local. Junto a ele
estavam mais dois boticários contratados para o mesmo fim. Quanto a Joaquim
Nery, constatamos que o prático esteve envolvido em movimentos de caráter
nacionalista que se espalharam pelo país, tendo como objetivos o saneamento dos
sertões. Seu envolvimento com O Centro Pró-Melhoramentos de Merity do qual
foi presidente comprova esse engajamento. Já sua participação na Liga Contra o
Analfabetismo através da fundação da Escola Noturna Gratuita de Merity, nos leva
a crer que permitiu a sua aproximação com Armanda Álvaro Alberto e mostra como
as relações de sociabilidades em que estava inserido lhe conferiam capital social.
Porém, é importante ressaltar que, desde o início não tínhamos a pretensão de
construir um estudo propriamente biográfico. Pretendíamos que as anotações
deixadas por um prático de farmácia norteassem os caminhos da pesquisa sobre o
exercício da farmácia e suas transformações ao longo do tempo e, fazer uma
apresentação do Joaquim Nery e José Manoel era fundamental para o
desenvolvimento do trabalho. Contudo, é importante ressaltar que apenas alguns
pontos na história do prático e do boticário foram destacados, buscando não
produzirmos uma trajetória autoexplicativa, encadeada e homogênea.

História e Memória da Primeira Escola Municipal do Parque Beira-Mar,


Duque de Caxias: Escola Municipal Aline Gonçalves de Lima - Fernando
Rodrigo dos Santos Silva (Prefeitura Municipal de Duque de Caxias)

Este artigo toma como objeto a história da primeira escola municipal alojada dentro
da comunidade Dois Irmãos, localizada no Parque Beira-Mar, Primeiro Distrito da
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cidade de Duque de Caxias/RJ, a saber: a Escola Municipal Aline Gonçalves de


Lima, inaugurada em 2004, no final do mandato do ex-prefeito José Camilo Zito
dos Santos. O interesse pela investigação tomou como ponto de partida, a escolha
do nome da escola. Compreende-se que o gesto de nomear não é algo
desinteressado, mas um ato deliberado repleto de significados, quem dá nome
disputa a memória. Aline Gonçalves de Lima, 16 anos, foi executada em uma
operação da Polícia Civil na comunidade, junto com o pastor Marcelo Salgueiro
Soares de Menezes, 31 anos. Embora ambos tenham sido mortos na mesma
operação, Aline foi escolhida para dar nome à escola. Que razões teriam levado à
escolha de um nome em detrimento do outro? Para responder a esta pergunta, o
artigo articula distintas fontes e metodologias de pesquisa. Utiliza-se a análise
documental, a partir da coleta de documentos pela Secretaria Municipal de
Educação do referido município; periódicos cariocas do período, em especial o
jornal O Dia, cuja cobertura privilegia reportagens do estado; e depoimento oral. O
trabalho articula três escalas: O local, o regional e o nacional, a partir dos seguintes
eixos: a "luta" popular pelo direito à educação, a carência de escolas municipais, a
expansão do número de matrículas, a representação da cidade como violenta a
política de segurança pública no combate ao narcotráfico dos governos estadual e
federal.

Iguaçu em transe: as transformações de uma cidade a partir do campo


jornalístico (Nova Iguaçu, 1946-1964) - Maria Lúcia Bezerra da Silva
Alexandre (CPDOC/FGV)
277
A comunicação tem por objetivo discutir o papel desempenhado pela imprensa nas
disputas do campo político iguaçuano, durante a transição do regime do Estado
Novo para a ordem democrática, assim como seus posicionamentos e
enfrentamentos a respeito do desenvolvimento de uma categoria formada por
industriais e comerciários, e a permanência de uma classe constituído por
lideranças ligadas ao ruralismo, movimento político consolidado no início do
século XX, responsável por catalisar a citricultura, principal atividade econômica
de Nova Iguaçu, nos anos 1920 e 1930. Com base nestas inquietações, o estudo
pretende situar historicamente o jornalismo desempenhado pelos semanários locais
Correio da Lavoura (CL) e Correio de Maxambomba (CM), durante a
redemocratização do país, em Nova Iguaçu. Isto se dará tanto pela política definida
pela retomada da representação pluripartidária, como jornalística, quando as
redações dos principais jornais da Capital Federal redirecionaram seu fazer para o
padrão empresarial. Entender as razões que movimentaram estes semanários a
promoverem agentes e instituições vinculadas a uma nova ou velha ordem política,
pode esclarecer as tensões provocadas pelo intenso contexto de transformações
políticas, mas também, socioeconômicas e territoriais em curso na região
metropolitana do Rio de Janeiro. Trata-se, entre outras motivações, compreender
como os editoriais destes jornais nos indicam a formação ou continuidade de
núcleos de poder, uma vez que a guinada dos industriais, durante o pós-guerra na
Baixada Fluminense, mobilizou novas demandas e setores de atuação, como
comércio. A modernização do município já não passava somente pelo campo, mas
pelo desenvolvimento da indústria, do comércio e urbanização da cidade. Para isto,
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serão analisados colunas e matérias produzidas por Luiz Martins Azeredo e


Dionísio Bassi, sobretudo, nos anos 1950. Representante do Correio da Lavoura, o
jornalista Luiz Azeredo ocupou lugar de destaque entre as lideranças políticas e
proprietários de terra. Editor do CL, foi membro-fundador da Arcádia Iguassuana
de Letras e manteve-se atento aos principais acontecimentos da cidade. Na
contramão deste perfil, o fundador do Correio da Maxambomba, o jornalista
Dionísio Bassi, ganhou proeminência ao se intitular “emissário” dos interesses do
empresariado modernizador e delator das mazelas das classes populares. Inquisidor
dos “desmandos” das forças arcaicas, o proprietário consolidou-se enquanto
liderança na câmara legislativa e “Arauto das reivindicações da Baixada
Fluminense”. Com base no jornalismo fomentado por estes dois personagens, esta
breve análise investigará como imprensa integrou as disputas capazes de formar
uma nova ordem política, mas sobretudo cultural, a partir do jornalismo e das letras.

Marcas e expressões: o que o africano livre deixou revelar - Juliana Santos de


Lima (UFF)

Esta comunicação pretende analisar a condição jurídica dos africanos que


desembarcaram em portos brasileiros após a proibição do tráfico de escravos,
tornando-os africanos livres. As legislações que abrangem sua existência previam
que tais pessoas deveriam cumprir um período de 14 anos de trabalho compulsório,
afim de que aprendessem a dinâmica social e fossem capazes de “viver sobre si”.
Compreendemos que a historiografia sobre os africanos livres tem avançado no
278
sentido de problematizar sua existência, as contradições desta liberdade, o número
de pessoas que compuseram este grupo e a tutela na qual foram submetidos. Nossas
fontes são os anúncios dos periódicos: Diário do Rio de Janeiro e Jornal do
Comércio. Por meio delas, é possível perscrutar biografias de africanos livres.
Utilizamos informações acerca das fugas, repartição de polícia e obituário, com
foco em suas idades, gênero, nações, características físicas, ofícios, nomes de seus
tutores, local de moradia. Com essas informações é possível perceber suas
experiências coletivas, assim como a criação de redes de sociabilidade, o
mapeamento de identidades, culturas e estratégias para livrar-se da tutela.

O recenseamento de 1872: perfil populacional do Porto das Caixas - Mirian


Cristina Siqueira de Cristo (Prefeitura Municipal de Itaboraí)

O presente artigo utiliza do Recenseamento de 1872 para analisar o perfil social e


econômico da Freguesia de Nossa Senhora Imaculada Conceição do Porto das
Caixas. Porto das Caixas, atual distrito do município de Itaboraí, RJ, possuiu uma
grande importância econômica, social e política durante o século XIX, para a
província e para o próprio Império, sendo considerado o terceiro porto fluvial em
importância comercial para a província do Rio de Janeiro pertencente ao recôncavo
da Baía de Guanabara.

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Um encontro geracional no Instituto Histórico de Duque de Caxias: primeiros


achados (1973-2001). - Eliana Santos da Silva Laurentino (UERJ)

O presente trabalho se propõe apresentar os primeiros achados sobre alguns agentes


do Instituto do Instituto de Duque de Caxias, desde sua criação em 1973 até o ano
de 2001, e os vínculos com outros institutos na região. A partir do banco de dados
elaborado com as fichas cadastrais dos membros da Associação de Amigos dos
Instituto Histórico de Duque de Caxias serão apresentados os agentes ligados
diretamente ao Instituto e os membros do encontro geracional vivido em uma das
fases da instituição. Nesse sentido, partimos da ideia que o Instituto Histórico
representa um lugar de destaque e articulação dos agentes para ações e produções
na/e para região, possibilitando identificar as relações entre a produção local e as
perspectivas historiográficas, a partir dos jogos de escala. Desse modo, sendo o
Instituto de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que permanece em
atividades sem interrupções, desde de sua criação, é possível identificar quais
autores se vincularam e quais permanecem. Assim, pensar as escritas a partir desse
espaço e as atuações dos agentes dessa instituição é considerar que essas escritas
são parte da construção do território. Vale lembrar, que o próprio conceito de
Baixada Fluminense é polissêmico, possuindo múltiplas definições. No que tange
os recortes geográficos, ora são incluídos determinados municípios, considerando
a extensão entre o litoral e a Serra do Mar, ora são excluídos outros, restringindo a
região do entorno da Baía de Guanabara. Essas e outras abordagens da definição
geográfica não excluem os significados da apropriação dos homens no espaço, ou
279
seja, o espaço é socialmente produzido. E o Instituto também faz parte dessas
apropriações, o que indica que sua importância e significado não se restringe a
municipalidade, mas a própria Baixada Fluminense.

O Gerencialismo Como Proposta de Gestão Da Educação no Estado do Rio de


Janeiro - Léo Manso Ribeiro (Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro)

O modelo de gerenciamento da educação apresentado pelo governo do Estado do


Rio de Janeiro, denominado Gestão Integrada da Escola (GIDE) transfere aos
professores toda a responsabilidade pelos problemas enfrentados na educação. A
lógica deste paradigma fundamenta-se numa visão produtivista e não estabelece
uma proposta de educação orientada por uma prática emancipadora, demonstrando
apenas preocupação com a melhora nas avaliações estabelecidas pelo Ministério
da Educação (MEC). Definimos como objeto de estudo, a precarização ocorrida no
trabalho docente após a implantação da GIDE que foi extremamente polêmica em
razão da adoção de pressupostos neoliberais na educação, que buscam diminuir a
autonomia dos docentes de pensar e organizar suas ações pedagógicas, tendo como
consequência na precarização do seu trabalho.

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ST 25. História e História da educação


e a formação de professores: práticas, 280
políticas e registros históricos

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A formação do professor através da revista “A Escola Primária” (Distrito


Federal, 1916 – 1938) - Mariza da Gama Leite de Oliveira (Prefeitura Mun. de
Duque de Caxias)

O trabalho interpreta como os inspetores escolares da cidade do Rio de Janeiro


utilizaram a Revista “A Escola Primária” como canal de acesso aos professores
primários da então capital federal nas primeiras décadas do século XX, e abriram
seu espaço para que políticos e educadores traduzissem os princípios legais e
práticos da Escola Nova - a grande esperança de renovação educacional para a
emergente nação; também investiga os projetos de formação em disputa e a
mobilização desses agentes históricos pela conquista de reconhecimento social,
através de associações como a Associação de Professores Primários do Distrito
Federal, e da atuação da Associação Brasileira de Educação (ABE) para que a
categoria adquirisse visibilidade política e social, através dos inquéritos,
conferências e congressos que promovia na cidade nas décadas de 1920 e 1930. As
novas abordagens historiográficas a partir da Nova História, causaram verdadeira
revolução no campo, permitindo aos pesquisadores de História da Educação (re)
descobrir novos documentos, relê-los sob nova perspectiva, sob a influência da
Escola dos Annales. Nesse sentido, seguindo esta renovação metodológica, o
estudo utiliza fontes como os jornais O Paiz e Correio da Manhã, cujo acesso é
facilitado pelas novas tecnologias digitais, a partir de um dos inovadores projetos
da Biblioteca Nacional: a hemeroteca digital, a qual digitalizou recentemente a
coleção da revista supracitada. Além da fonte primária, o estudo fundamenta-se em
281
estudos desenvolvidos por diversos autores que, embora alguns deles tenham
concentrado suas investigações na Primeira República, fornecem bases para a
identificação de continuidades e rupturas identificáveis na Era Vargas. A
materialidade dos impressos e seus suportes nos fornece elementos para historicizar
a fonte, tendo em conta suas condições técnicas de produção e funções sociais; e
isto nos permite analisar criticamente a pressão política exercida sobre a categoria
de professores, especialmente no Estado Novo, quando Vargas extinguiu a
Associação de Professores Primários do Distrito Federal, a Liga dos Professores e
a Ordem dos Professores, formando uma única entidade, a União Nacional de
Educadores (UNE). A última revista do acervo da Biblioteca Nacional é datada de
março de 1938. O fato de ter sido extinta a Associação dos Professores Primários,
dá pistas de que este foi o último ano da revista, pois não agradaria a Vargas a ideia
da circulação de um periódico para um segmento específico de profissionais, que
pudesse quebrar a “coesão nacional” por ele engendrada.

A trajetória de uma escola centenária na formação de professores: O PIBID


no Instituto de educação do Paraná - Luciana Correa Barbosa
Botelho (UNINTER)

Este texto apresenta o projeto Pibid Uninter – Pedagogia. Que está vinculado ao
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid, junto a Capes –
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior. O programa tem
como objetivo a valorização do magistério, portanto, para que isso ocorra é
fundamental o aperfeiçoamento e a elevação da qualidade na formação dos
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professores que atuam na educação básica. Participam do projeto os alunos que


estão cursando pedagogia, ou seja, alunos da licenciatura, na modalidade presencial
e à distância, recebendo uma bolsa auxilio. O projeto visa promover a inserção dos
estudantes no contexto das escolas públicas. Podendo a instituição oferecer oficinas
de língua portuguesa, enfatizando o estudo de textos acadêmicos e científicos,
produções de relatórios e textos escritos, comunicação verbal própria para a
educação básica. A inserção dos estudantes (bolsistas) nas escolas, se dá pela plena
integração a todos os espaços pedagógicos. A organização da pesquisa está
subdividida em grupos de pesquisa, sendo elas: Contexto histórico, Documentação
escolar e observação. Participam dos grupos, três docentes, três pedagogas
orientadoras das escolas e alunos da graduação em pedagogia presencial e a
distância. Está pesquisa está diretamente vinculada ao contexto histórico da escola.
Assim, a presente pesquisa tem por objetivo investigar o contexto histórico da
escola Instituto de Educação do Paraná “Professor Erasmo Pilotto”, em Curitiba,
com foco no nosso objeto de estudo que é o curso de formação de docentes
(magistério) em nível médio. O problema se dá pela preocupação da qualidade da
formação de docentes no magistério. A importância da pesquisa deu-se em
compreender o contexto histórico da escola. A pesquisa envolve o levantamento
bibliográfico, pesquisa documental e pesquisa de campo.

A “classe dos professores adjuntos”: sujeitos, tensões e agências na formação


docente pela prática na Corte Imperial (1854-1889) - Angelica
Borges (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
282
Este estudo visa analisar aspectos da “formação pela prática” instituída legalmente
pela Reforma Couto Ferraz, em 1854, na Capital do Império Brasileiro, por meio
da criação da “classe dos professores adjuntos”. A reflexão enfoca os sujeitos, as
tensões geradas pelo funcionamento deste mecanismo de formação e as agências
empreendidas por professores regentes na condição de responsáveis pela formação
de novos quadros para atuarem nas escolas primárias, ou seja, de seus futuros
colegas de profissão. A chamada “classe dos professores adjuntos”, segundo o
Regulamento da Instrução Primária e Secundária da Corte de 1854, era composta
por alunos das escolas públicas maiores de 12 anos de idade, com bom rendimento
escolar e “propensão para o magistério”. Atuavam nas escolas como ajudantes para
se “aperfeiçoarem nas matérias e pratica de ensino”. Ao final de cada ano de
exercício (eram previstos três anos), passavam por exames para avaliar “o grau de
seu aproveitamento”. Mas quem eram os adjuntos e as adjuntas que exerceram a
função? Tais aprendizes de professores seguiram a carreira do magistério público
após o período de formação pela prática? Quem foram os professores e professoras
regentes responsáveis por formar docentes no espaço das escolas primárias? Que
contribuições tais professores deram para o processo de profissionalização
docente? Para realizar a pesquisa recorri a um conjunto variado de fontes:
Relatórios da Inspetoria Geral de Instrução Primária e Secundária (IGIPSC);
Relatórios dos Ministros do Império; Coleção de Leis do Império; edições do
Almanak Laemmert; documentos manuscritos do Arquivo Geral da Cidade do Rio
de Janeiro (AGCRJ); e uma grande coleção de jornais da imprensa oitocentista,
disponibilizada pela Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. O estudo aponta
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que no grupo de professores regentes vários eram conhecidos por terem um


destacado conhecimento pedagógico – alguns analisados por pesquisadores como
parte de um grupo de intelectuais. Tal fato poderia conferir à chamada “formação
pela prática” a aprendizagem de um conjunto significativo de saberes pedagógicos.
Desse modo, a teoria tão preconizada na formação científica dos professores e que
era atribuída ao ensino pela Escola Normal como único espaço possível de
aprendizagem desse saber, também poderia, de alguma forma, fazer parte da
formação do adjunto, a depender do professor regente. Tal hipótese não
desconsidera a importância dos debates em favor das escolas normais, dos quais
tais professores também participaram, mas visa redimensionar a formação dos
adjuntos frente a uma perspectiva fortemente pragmática atribuída a ela.

Conhecimento compartilhado: parcerias e desafios educacionais na


atualidade - Suzana Bitencourt (Uniasselvi)

No mundo contemporâneo é lugar comum afirmar que o conhecimento


compartilhado e em rede seduz e proporciona um significado diferenciado para o
ensino e a aprendizagem. No âmbito da formação de professores, tal possibilidade
renovou as estratégias de ensino e reforçou a emergência de compreender o
universo onde se encontram mergulhadas as novas gerações de estudantes. Nesta
direção o professor precisa refletir sobre seus próprios paradigmas e referenciais,
pois compete a este profissional conduzir sua atividade docente no âmbito do
processo de ensino e aprendizagem dando a ver as implicações presentes no
283
cotidiano escolar. Na modalidade EaD, os fenômenos tecnológicos empregados na
formação ganham relevo. Esta proposta de apresentação de trabalho baseia-se em
pesquisa realizada junto aos acadêmicos da Uniasselvi, Centro Universitário
Leonardo Da Vinci, no qual a proponente atua como professora. Nesta
oportunidade, pretende-se mostrar alguns resultados para que contribuam com o
debate e suas reflexões nas configurações dos níveis de ensino e formação em uso
no Brasil.

Corpo docente: instrução, formação e composição no Colégio Luiz Viana


(1970-1979) - Maryana Gonçalves Souza (Universidade Estadual Da Bahia
(UNEB)- Campus VI)

O presente trabalho, sob a orientação da professora Antonieta Miguel, objetiva


investigar e conhecer a composição e a formação dos professores do Colégio
Estadual Governador Luiz Viana Filho, localizado em Guanambi- Bahia, sob o
recorte temporal de 1970-1979, trazendo discussões sobre instrução, formação
docente e movimento educacional durante o regime militar. A escolha em realizar
este estudo foi decorrente da incipiência de pesquisas no campo da História da
Educação no interior da Bahia. O corpo docente foi escolhido como objeto diante
da grande quantidade de fontes remetentes a ele encontradas no colégio e que ainda
não foram usadas pela historiografia local, como também pelo fato do exercício da
docência ter sido drasticamente alterado durante a ditadura militar, período que
abrange o recorte temporal desta produção. Em primeiro momento, foi feito um
levantamento bibliográfico sobre a temática da História da Educação, arquivos
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escolares, instituições escolares, corpo docente, ditadura militar em livros, revistas,


teses e dissertações. Após isso, foram realizadas visitas ao Colégio Luiz Viana,
especificamente nos locais onde a instituição acondiciona os seus documentos, que
são o seu arquivo e um depósito, em que foi realizada a investigação, análise,
levantamento e catalogação das fontes encontradas. As fontes utilizadas nesta
pesquisa foram Ofícios, Correspondências, Planejamentos de Trabalhos,
Relatórios, Regimentos, Atas, Livros de Ponto, Pasta de Professores. As discussões
propostas por este trabalho veem acompanhadas de tabelas contendo dados
numéricos adquiridos através da análise das Pastas de Professores encontradas no
colégio. A pesquisa desenvolvida permitiu adentrar no campo educacional
brasileiro do período da ditadura militar, especificamente na situação de aspectos
da educação do Colégio Luiz Viana nos anos de 1970 e 1979, dando ênfase ao
corpo docente da instituição, como também permitiu visualizar a riqueza de caráter
social, cultural, histórica contida nas instituições escolares a partir da sua
documentação.

Domínio das Letras: profissão docente e a reformava do Ensino Primário e


Secundário da Província do Rio de Janeiro em 1849 - Alexandre Ribeiro
Neto (UERJ/FEBF - Faculdade de Educação da Baixada Fluminense)

Nosso trabalho apresenta as reflexões iniciais do nosso projeto de pós-doutorado


que analisa a educação na província do Rio de Janeiro. Tomamos como ponto de
partida o Regulamento que reformava o Ensino Primário e Secundário escrito por
284
Luiz Pedreira do Couto Ferraz em 1849. Buscamos pistas nesse documento sobre
a origem étnica dos professores, ao mesmo tempo, que procuramos descobrir se
havia algum impedimento para que negros e pardos lecionassem nas escolas
destinadas ao Ensino Primário e Secundário na Província do Rio de Janeiro. Para
atingir nosso objetivo intencionamos dialogar com Gondra e Sacramento (2002)
autores do verbete sobre o legislador em tela, para conhecer e problematizar a
trajetória do mesmo. São igualmente importantes as reflexões de Castanha (2013),
que se detém na análise da legislação educacional da corte do Rio de Janeiro.
Levantamos a hipótese de que o Regulamento da Província do Rio de Janeiro de
1849, para ser melhor compreendido, precisa ser inserido dentro do conjunto de
reformas propostas pelo seu autor. Entendemos os recortes estabelecidos pelos
pesquisadores, que privilegiaram a análise da legislação proposta para a Corte do
Rio de Janeiro, devido ao seu caráter modelar. Contudo, podemos incorrer um risco
de tomar as medidas propostas para a Corte como únicas, quando elas fazem parte
de um processo de uniformizar a Instrução Pública. No momento da apresentação
do Relatório de 1849, Luiz Pedreira do Couto Ferraz estava a pouco tempo no
cargo, para ser exato pouco mais de quatro meses. Para juntar as informações sobre
a província e apresentar a Assembleia e ao Imperador, foram necessários a ajuda
dos antecessores no cargo, neste caso o senador Aureliano de Souza e Oliveira
Coutinho que ocupou o cargo de 1846 a 1848. Couto Ferraz ao introduzir a
estatística, reconhecia a dificuldade de realizar o recenseamento da população da
Província do Rio de Janeiro. Pretendemos dialogar também com Saviani (2007),
Gondra e Schueler (2008) e Cardoso (2014) para compreender o contexto da

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História da Educação, sobretudo os aspectos relacionados a formação docente no


período imperial.

Estudo Dos Trabalhos De Conclusão Do Curso De Licenciatura Em História


Da Universidade Estadual De Goiás – Câmpus Iporá (2001-2016) - Luiza
Melo Fortunato (UEG - IPORÁ)

O referido projeto tem por finalidade analisar a produção historiográfica


empreendida na Universidade Estadual de Goiás (UEG) – Câmpus Iporá referente
aos anos de 2001 a 2016, com atenção especial aos trabalhos desenvolvidos no
âmbito do curso de Licenciatura em História. O objetivo é identificar os temas
escolhidos, orientadores dos trabalhos e referências bibliográficas utilizadas, a fim
de traçar o perfil de pesquisa desenvolvido pelos graduandos do curso ao longo
desse período. A problemática se dá pela falta de investigação nesta área de
produção historiográfica realizada pelos acadêmicos em processo final de
formação. Então cabe a pergunta: até que ponto as monografias contribuem para a
percepção acerca dos tipos de trabalhos de conclusão de curso na área de História?
Os resultados preliminares mostram que ao traçar um panorama da distribuição de
monografias, a relação dos temas propostos e os professores orientadores, é
possível analisar os resultados em áreas específicas, e a partir daí um levantamento
pode ser realizado acerca dos temas mais adotados pelos formandos em História.
Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico
denominada “estado da arte”, voltada para classificação e análise de monografias
285
da área de História, disponíveis na Biblioteca Pio Vargas da UEG, já catalogadas
pelo ano de aprovação do projeto.

Ideia e finalidade da Universidade: gênese e desenvolvimento - Zuleide


Silveira (Universidade Federal Fluminense)

A universidade moderna têm sido importante instrumento de construção do Estado-


Nação, sendo assumida, primeiro, como aparelho de reconstrução nacional e de
formação de “elites burocráticas” (GOMES, 1994) voltada para o serviço da
máquina estatal e, depois da Segunda Guerra Mundial, como instrumento de
desenvolvimento econômico e modernização. A partir da década de 1970, com a
chegada ao poder de governos conservadores, marcadamente neoliberais, que as
políticas do campo da educação superior passam a: alterar as regras tradicionais de
financiamento universitário, separar as universidades de ensino das de pesquisa,
promover a hierarquização do ensino e de instituições com base em processos de
avaliação padronizados, intervir não só na liberdade acadêmica em nome da
eficiência e da produtividade, mas também, na autonomia universitária que passa
a ser entendida como atributo de um movimento de aproximação ao setor
empresarial. Neste período de implantação das políticas neoliberais, as críticas em
torno dos modelos de universidade humboldtiana e napoleônica parecem retomar
as orientações do Relatório Robbins e do Relatório Atcon, ambos produzidos no
início da década de 1960. Orientações estas que vêm e manifestando, desde o final
século XX, na universidade brasileira. Este é o presente histórico, marcado por
tensões em torno da função social da universidade, de cujo discurso ancora-se na
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visão do bloco no poder, em determinada conjuntura histórico-social do


capitalismo, o neoliberalismo. Neste trabalho, não pretendemos esgotar o debate
historiográfico do rico processo de criação e organização administrativo-
pedagógica das instituições. No entanto, o texto analisa as transformações pelas
quais vem passando a universidade brasileira, em relação à configuração
institucional, ao financiamento, à gestão e à produção do conhecimento. Primeiro
dá destaque aos modelos de universidade, humboldtiano, napoleônico e norte-
americano, de modo a captar o desenvolvimento dessas concepções, sua
convergência e materialização na universidade modernizada. Em seguida, desvela
que no decurso dos processos de internacionalização da economia, a ideia de
universidade passa a alinhar-se, historicamente, aos desígnios do desenvolvimento
econômico por mediação da política científico-tecnológica, sob a orientação de
organismos supranacionais e intelectuais orgânicos do capital. Por fim, aponta para
a contrarreforma universitária como triplo processo: integração subordinada da
educação à política de ciência, tecnologia e inovação; diversificação e
hierarquização institucional segundo a oferta e duração dos cursos; e,
empresariamento da educação.

O Colégio Pedro Segundo e as disciplinas de Ciências Naturais: um estudo


sobre a formação intelectual e atuação sociocultural de seu corpo docente
(1838-1889) - Luciana Borges Patroclo (UNESA)

Essa Comunicação se configura como um estudo acerca das trajetórias intelectual


286
e sociocultural dos professores que ministraram as disciplinas de Ciências Naturais
do Colégio Pedro Segundo no decorrer do século XIX. No tocante ao recorte
temporal foram estabelecidos como marcos delimitadores: 1838 – ano do início de
funcionamento da instituição - e 1889 – fim do Império e período anterior a
legislação que determinou a mudança da denominação do Colégio,
temporariamente, para Ginásio Nacional. Outro aspecto ressaltado nessa seleção,
fez-se presente no fato da referida instituição de ensino ter sido criada como parte
do projeto de nação da Monarquia. Para o desenvolvimento desse trabalho foram
realizadas pesquisas de cunho biográfico sobre o corpo docente de Ciências
Naturais. Nesse contexto, foram consultados impressos digitalizados da
Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Como também, foram examinados dicionários
biográficos e informações presentes em instituições como o Instituto Histórico
Geográfico do Brasil (IHGB). O estudo apresentado, foi realizado entre 2016 e
2017, como parte do projeto sobre a identidade docente do professor secundário do
Colégio Pedro Segundo realizado pelo grupo História da Profissão Docente do
Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-RIO.

O olhar da trajetória histórica da formação de professores a partir do


PIBID - Desire Luciane Dominschek Lima (UNICAMP/UNINTER)

Este estudo analisa os impactos do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à


Docência (PIBID) na educação básica a nível Nacional. O PIBID é uma política
pública brasileira que incentiva e valoriza o aprimoramento na formação dos
docentes para a educação básica. O objetivo central desse estudo é investigar a ação
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do programa na formação docente, bem como analisar como está sendo conduzida
a formação inicial dos professores. Optou-se em descrever o PIBID e apresentar os
dados de desempenho do programa entre os anos de 2007 a 2013, de forma a
ilustrar os benefícios do Programa. Como fonte de pesquisa foram utilizados os
estudos de Gatti, Pimenta, Saviani, Severino e Tardif, que tratam de forma
específica como se encontra a estrutura da formação inicial dos professores de
licenciatura, relacionada à prática docente. A partir da análise documental das
Portarias 038/2007, 122/2009, 096/2013, do Edital 061/2013, do Decreto
7.219/2010, do Relatório de Gestão (2009-2013) e do Relatório de Gestão (2009-
2014), os resultados apresentados revelam que uma política pública bem
estruturada, valoriza e fortalece a formação docente, traz melhoria em relação a
qualidade nas escolas de rede pública, integrando as universidades e escolas, e ao
mesmo tempo propicia a formação continuada dos professores da IES e dos
Supervisores da escola. O programa proporciona a articulação entre a teoria e a
prática, trazendo consigo a oportunidade do estudante se aproximar da realidade do
cotidiano escolar, e ao mesmo tempo incentiva a pesquisa, cria condições de uma
formação consequente, para que de fato os licenciandos possam participar
efetivamente do processo de formação, de maneira emancipadora por meio da
apropriação do conhecimento e dos saberes necessários para uma formação
transformadora. O século XXI tem discutido de forma bastante enfática, visto a
trajetória histórica da educação no Brasil, a formação de professores. Essas novas
discussões são motivadas pelo quadro desafiador em que se encontra a qualidade
da formação inicial docente, principalmente em relação as limitações na preparação
287
desse profissional em relação à prática. A formação inicial docente possui lacunas
que devem ser preenchidas. Uma delas é a falta de formação prática do docente,
diante dessa realidade é preciso desenvolver ações que ajudem a solucionar essa
situação. Diante destes debates, entra em cena o PIBID, como política pública para
a formação inicial de professores.

O significado da "Rebelião dos sutiãs" na formação de professores no


Instituto de Educação: Feminização e mobilização - Nahyá Soares
Nogueira (ISERJ)

A fim de entender singularidades do processo de feminização no magistério no


Instituto de Educação do Rio de Janeiro em sua dimensão politica de militância e
mobilização, esta comunicação apresenta e discute o significado da “Rebelião dos
Sutiãs”, conforme a imprensa, ocorrida em outubro e novembro de 1997,
protagonizada por um grupo de alunas em busca de visibilidade para uma questão
de gênero, sua vestimenta, atribui novo significado distante ao movimento das
feministas dos anos 1960. Com Sindicato Estadual dos Professores (SEP) e a
Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas (AMES) a seu lado, estas
rebeldes enfrentaram a direção do Instituto de Educação, sob impacto da mudança
da Secretaria Estadual de Educação (SSEDUC) para a de Ciência e Tecnologia,
integrado à Fundação de Apoio às Escolas Técnicas (FAETEC), enquanto as
demais escolas de formação de professores permanecem vinculadas à SEEDUC.
Orientada pela discussão de gênero (SCOTT, 1995), Memória (LE GOFF, 1990;
BOSI, 2013; GRUPO DE MEMÓRIA POPULAR, 2004) e como documentos o
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depoimento do professor Haroldo Teixeira, dirigente do SEP que atuou no


movimento e periódicos, a grande imprensa e publicação do SEP-AMES. Esta
pesquisa integra o projeto As Grandes Greves do Magistério Carioca e o Instituto
de Educação: Militância, Mobilização e Formação de Professores (1979-2016)
desenvolvido no Projeto Memória e História da Formação de Professores no
Instituto de Educação desde a Escola Normal (1880) à História Imediata
(PROMEMO) do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ).

PIBID História UFRJ (2011-2014): Uma “Casa Comum” para formação de


Professores? - Viviane Grace Costa (SEEDUC/RJ)

Esse trabalho apresenta-se como um dos caminhos investigativos da pesquisa


“Tempo Presente no Ensino de História, Historiografia, Cultura e Didática em
diferentes contextos curriculares”, coordenada pela Dr.ª Ana M. Monteiro,
vinculado ao LEPEH - Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino de História,
UFRJ. Desde 2009, quatro escolas públicas estaduais, foram contempladas com o
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e pela Faculdade
de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FE/UFRJ). Tem-se como
objetivo analisar a prática do PIBID HISTÓRIA UFRJ no período de 2011 a 2014,
com base nas proposições de Nóvoa (2017) sobre formação e profissionalização
docente. Suspeito que, o PIBID de História UFRJ, tem aspectos semelhantes na sua
proposta para formação de professores do século XXI. O recorte temporal se deve
a participação da autora, como Professora de História supervisora, com a
288
coordenação das professoras Dra Carmen Teresa Gabriel (2011-2013) e Dra Ana
Maria Monteiro (2013-2014). Em março de 2014 foi realizada com ex-bolsistas do
PIBID uma avaliação de impacto imediato da participação no Programa dentro do
colégio CIEP Brizolão 303 – Ayrton Senna. Dando seguimento a pesquisa, todos
os atores (Coordenadores, Professores de História, ex Licenciandos, ex Alunos)
através de outra avaliação de impacto após 4 anos, privilegiou-se investigar os
conceitos de “interposição profissional” e “exposição pública”. O PIBID
HISTÓRIA UFRJ pode ser considerado essa "Casa Comum"? Apresenta esse
formato contemplando os cinco eixos na formação inicial e continuada dos
professores proposto por Nóvoa? Os coordenadores, professores supervisores,
Licenciandos e escola trabalharam coletivamente centrados num processo criativo?
Foram realizadas pesquisas associando teoria e prática com problemas reais do
espaço escolar e da disciplina História? Os PIBID saem da sala de aula e discutem
problemas da profissão docente e políticas públicas da educação? Exploram a
cidade do Rio de Janeiro para abordar a História? Esses entre outros
questionamentos serão dialogados no trabalho.

Políticas Públicas Educacionais voltada para o Povo de Etnia Cigana - Estudo


de Caso da Escola Municipal Dom Velloso - Jordan Luiz Menezes
Gonçalves (Faculdade São Judas Tadeu)

A inclusão de crianças ciganas e de sua cultura em escolas regulares tem sido tema
de muitas reportagens em Goiás e em algumas outras regiões isoladas de nosso
país, em alguns locais não se encontra um estudo organizado sobre o tema voltado
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para as Políticas Públicas Educacionais aplicadas nessas regiões. Aqui vai uma
crítica ao meio acadêmico, tão engajado em políticas sociais como o que temos no
Brasil, não podemos “desmemoriar” uma população que têm tanto a contribuir com
nosso crescimento como nação. Antes, além da professora e da Equipe Gestora não
saberem como lidar com as características das crianças, elas não demonstravam
conhecimento o suficiente para entenderem a melhor forma de se trabalhar esse
aluno, o que foi compreendido e desenvolvido ao longo do processo. O maior
exemplo disso será abordado mais pra frente, quando for esmiuçar como funciona
e o dia-a-dia desses alunos. Sempre vi a educação como um objeto de mudanças
em nossa sociedade, o poder que exerce no combate da desigualdade e na melhoria
da qualidade de vida da população, mas, entendendo, é claro, que a mesma sozinha
não possui o poder de salvar a tudo e a todos, devemos então ter a ajuda e a
iniciativa de pessoas, como os profissionais da Escola Municipal Dom Velloso.
Dependemos também da ajuda familiar, ajuda essa que no caso estudado por nós,
não é de fácil percepção, já que os responsáveis Ciganos não fazem parte desta
sociedade letrada, vivendo assim na Marginalidade Social. Não ajudam a suprir as
necessidades afetivas e colaborativa que seus filhos precisam, fazendo com que a
escola cumpra com o além do papel de transmissão de conteúdos necessários para
a formação do cidadão e com uma visão voltada para o meio profissional. Não
devemos ter um olhar apenas “micro”, mas, também “macro” ao ver um exemplo
em uma região de baixo poder aquisitivo, dando um grande exemplo educacional
como este que estudamos que pode ser exportado para grandes capitais e/ou
grandes polos educacionais em nosso país. Se seguirmos as leis e/ou
289
acrescentarmos ao nosso dia a dia um pouco de amor e bom senso, podemos junto
a educação mudarmos o mundo e a sociedade em que vivemos. Daí vem a
necessidade de investir em uma formação continuada voltada para os profissionais
da educação. Formação essa que deve contemplar cada vez mais a necessidade de
sermos plurais em nossas ideias e também em nossa forma de agir para com o outro,
seja ele de origem não igual, de outra classe social, de uma cultura não igual e de
uma visão político-social diferente da nossa. Não podemos mais permitirmos que
dentro de uma sociedade tão plural, como a Brasileira, se encontre pessoas que vive
na marginalidade (à margem da nossa sociedade) como vemos ainda nos dias de
hoje.

Produção de Presença nas aulas de História (tempo, sentido e saberes no


trabalho docente) - Hosana do Nascimento Ramôa (UFF)

O presente trabalho é fruto de uma pesquisa de mestrado ainda em andamento,


vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação
da UFF. Delimitando o Ensino de História como o espaço de realização, a pesquisa
tem por objetivo geral compreender quais as maneiras de fazer mobilizadas pelos
professores de História em suas aulas que impulsionam a produção de presença
tendo por base os saberes docentes. Para isso, é preciso pensar duas
movimentações: a primeira é investigar como a constituição dos saberes docentes
é refletida nos modos de dar aula e a segunda se baseia em analisar quais as formas
de mobilização desses saberes produz presença no processo educativo. O objetivo
apresentado vai ao encontro da reflexão de que cada professor(a) possui
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experiências, comportamentos, gostos, modos de organizar as aulas e usar os meios


pedagógicos, de se relacionar com os alunos e de movimentação em sala próprios.
Ou seja, a sala de aula e os acontecimentos que ali se sucedem envolvem uma alta
complexidade, sendo impossível limitá-la a poucas variáveis, por isso, não
pretendemos traçar fórmulas ou estabelecer padrões para a presença, mas observar
as diferentes maneiras de seu desenrolar na atuação docente. É preciso salientar,
ainda, que ao tratar da produção de presença, não estamos desconsiderando a
produção de sentido nas aulas de História. Dessa forma, ao nos referirmos à
produção de presença, a compreendemos como os fenômenos que nos tocam, nos
marcam e nos impulsionam a agir, por meio de um encontro no qual os sujeitos
colocam-se na presença uns dos outros negociando e compreendendo o significado
do ensino. Dito de outra maneira, o professor não está isolado em sala de aula, mas
sua relação de ação coletiva e mútua com seus alunos proporciona o
desenvolvimento das individualidades num contexto plural, cerceado pelos
componentes ético e emotivo de uma sociedade baseada no sentido, mas com
recorrentes fenômenos da presença. Para alcançar o objetivo proposto, o caminho
metodológico a percorrer consiste na gravação em áudio de aulas de História e a
entrevista com três professores de distintos espaços: uma escola pública, uma
escola particular e um curso “Historiando as artes”, sendo os três situados na cidade
de São Gonçalo, RJ.

Raças e suas verdades: os discursos da psicologia educacional na formação dos


professores no século XX - Aline Aparecida Gama Vieira (USP)
290
Ainda hoje é possível encontrarmos discursos que buscam afirmar a desigualdade
entre grupos humanos valendo-se do controvertido conceito de raça, apoiados em
argumentos pretensamente científicos. Assumindo, com Foucault, que a formação
de um discurso está sempre submetida a um ordenamento, buscamos examinar os
discursos da psicologia, que adquiriu status de disciplina nuclear na formação
docente durante o século X, difundindo teorias psicológicas tidas como científicas
sobre a aprendizagem. Este trabalho se propõe a analisar enunciados relativos aos
saberes da psicologia quanto à raça nos capítulos dedicados ao estudo da
inteligência e das diferenças individuais, a partir do exame de três manuais de
psicologia educacional publicados entre o final da década de 1950 e 1960 no Brasil.
Pretende-se, assim, contribuir para o estranhamento das relações usualmente
estabelecidas entre faculdade inteligente e características inatas de indivíduos no
período de educação escolar.

Tempo e disciplina de trabalho no magistério na Bahia Imperial – 1834-


1881 - Antonio Barbosa Lisboa (UEFS)

Este trabalho tem o objetivo de analisar o tempo e disciplina de trabalho no


magistério baiano prescritos nos Regulamentos da Instrução Pública da Província.
Intercalado às experiências de professores primários nas Comarcas do Litoral Sul
intenciona demonstrar quais as relações se estabeleciam entre o prescrito e o
praticado. A base da instituição do tempo e disciplina de trabalho está associada ao
Ato Adicional (1834), à criação do Conselho de Instrução Pública (1842), da
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Escola Normal (1836) e da Diretoria Geral dos Estudos – DGE (1849). O Conselho
e a DGE eram os órgãos responsáveis pela fiscalização do ensino público, portanto,
porta-vozes do Governo para a efetiva implementação dos Regulamentos que
instituíam as normas quanto ao ingresso e trabalho dos professores. Por outro lado,
a Escola Normal era regida pelos mesmos órgãos e a despeito da intermitência das
políticas para formação de professores no período, cumpria – sobretudo na segunda
metade do XIX – papel fundamental, porque formava os normalistas visando a uma
disciplina de trabalho requerida e acompanhada pelas instituições supracitadas. A
análise do ordenamento jurídico permite verificar ações do Estado, já os usos
costumeiros, nos moldes da análise de E. Thompson quanto ao fato de que o direito
consuetudinário deriva dos costumes, possibilita inferir efeitos desse sobre a
constituição das legislações. É nesse sentido que acompanhar a trajetória de
professores permite o cotejamento entre o instituído e o vivido na instrução. Por
meio da metodologia indiciária e nominativa (micro-história) nas análises das
fontes sobre os sujeitos (inventários, batismo, processos, correspondências) e o
entrecruzamento com as Leis, Regulamentos e Relatórios da Instrução é possível
identificar atuações de professores fora do magistério e suas trajetórias revelam
oposição entre o prescrito e o praticado. Os professores condensavam e recriavam
os programas escolares, atuavam em outras atividades, faziam horários
convenientes à realidade da aula. A duplicidade de atividades – usualmente o
magistério e um ofício ou atividade urbana/rural – resultava na existência de um
único turno de aula. A instituição do turno único para as aulas em regiões mais
afastadas da capital elucida essas negociações e demonstra que tais reformas
291
acatam as práticas costumeiras, com intuito, dentre outras coisas, de efetuar o
controle. A disciplinarização através do estabelecimento das normas e fiscalização
do trabalho dos professores não ocorreu em mão única. As táticas e as atividades
costumeiras iam moldando, reconstruindo e resistindo a esse processo.

Trajetórias de vidas que se cruzam pelos currículos da História


Ensinada - Maria Helena Cavalcanti Virgulino (IFRN)

Como professora da Educação Básica, nosso objetivo nesse texto é a discussão dos
Referenciais do Ensino Médio da Paraíba (RCEM-PB/2007), constituindo-se no
caso de História como uma proposta com avanços no seu programa de ensino, já
que pela primeira vez rompia com a estrutura cronológica dos programas até então
em volga, programas esses seguidos pela maioria dos professores(as) através do
livro didático na maior parte do país, como ainda é muito comum, restringindo às
discussões em sala de aula, limitando a criatividade dos docentes e discentes. A
partir da proposta dos Referencias, foi elaborado um programa para o Processo
Seletivo Seriado (PSS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), forma de
ingresso nessa Universidade entre os anos de 1999-2014, que orientou o estudo de
História para o vestibubar. Na elaboração dos Referenciais as professoras-autoras,
Rosa Maria Godoy Silveira e Maria Luciana Calissi, partiram de uma reflexão
sobre os objetivos do ensino médio, sendo essa uma discussão importante no
sentido de construir uma proposta para o ensino de História nessa fase. O objetivo
da proposta formulada foi o de facilitar uma compreensão mais abrangente de
problemáticas sociais marcantes de cada momento histórico, procurando auxiliar
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professores(as) e alunos(as) na tomada de posição frente a essas situações, levando


também à sugestão de conteúdos (repertório de experiências históricas) que
possibilitassem o desenvolvimento dos Eixos Temáticos propostos. Na época da
implantação desse programa em uma das escolas em que trabalhávamos, ficamos
encarregada das discussões referentes ao 3º ano do programa, correspondente ao
eixo temático; “Diversidade Cultural”. Trazer essa discussão para o âmbito escolar
e, mais especificamente, para o espaço da sala de aula, ao nosso ver, teve como
implicações o enfrentamento de preconceitos, muitas vezes, vistos na escola como
coisas banais, brincadeiras de adolescentes, o que faz com que em muitas
circunstâncias esse tipo de comportamento termine sendo naturalizado e aceito pela
maioria dos alunos(as) e dos professores(as). Precisamos de mais propostas como
essa para a educação e para o ensino, precisamos de curriculos dinâmicos, flexiveis,
atenado as questões da contemporaneidade, da vida em movimento, da História
processo, que criem estratégias de enfrentamento aos desafios que a atual
conjuntura impõem.

292

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293
ST 26. História da Educação:
fronteiras entre o local, o regional, o
nacional e o global

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A circulação dos conhecimentos científicos e a Maison Deyrolle no Brasil:


história natural para os jovens - Elisangela Goulart Moreira (UNIRIO), Kaori
Kodama (Casa de Oswaldo Cruz-FIOCRUZ)

A cultura das ciências sofreu mudanças profundas em diversas partes do mundo a


partir da segunda metade do século XIX, em grande parte através das reformas do
ensino. Um dos elementos que se destaca nesse processo é o método de ensino de
ciências chamado de ‘objectteaching’, ou método do ensino intuitivo. No Brasil,
este método esteve presente nas propostas na reforma de 1879 de Leôncio de
Carvalho, e foi defendido por Rui Barbosa em seu “Parecer” de 1883, e, em sua
tradução do livro popular de Norman Calkins, o Primaryobjectlessons de 1886, sob
o título Lições de Coisas. A cultura dos museus e os materiais específicos que
fomentaram um mercado voltado para os produtos de História Natural foram em
boa parte o suporte para a ênfase no ensino científico calcado no método da “lição
de coisas”. Esta apresentação tem por objetivo esboçar um mapeamento da
circulação desses materiais de ensino de História Natural produzidos pela Maison
Deyrollede Paris no Brasil a partir da década de 1880, além de iniciar uma
investigação acerca das possíveis redes transnacionais de comercialização de
objetos escolares que contribuíram para a aproximação das ciências a um público
de massas. A circulação desses materiais nos remete à reflexão das maneiras como
a mediação de uma nova cultura científica se implementava em diferentes
contextos nacionais, nesse caso particular, no Brasil.Os materiais em questão
podem ser encontrados sob o abrigo de diferentes instituições no Brasil,
294
especialmente nos estados do Sul e do Sudeste, sendo alguns ainda utilizados em
aulas tanto para o Ensino Básico como para o Ensino Superior, ou mesmo como
acervo de museus, sejam eles escolares ou não.

A Educação Feminina no Discurso Político da Medicina (1838-


1913). - Washington Dener dos Santos Cunha (UERJ)

Várias teses no decorrer do século XIX e início do século XX apontaram a “missão


sagrada da mulher”: a sua vocação natural para a procriação e para a guarda do lar
e da família. Tal discurso tinha como base a questão moral que procurava, através
do discurso médico, moldar uma educação feminina de acordo com os países
“civilizados”, pretendendo fundar um novo modelo normativo de feminilidade e,
também, a instauração de um novo imaginário da família, ambos voltados para a
intimidade do lar. O discurso médico vai ser o responsável pela condução da
mulher burguesa à vida doméstica, utilizando-se da exaltação ao instinto natural e
ao sentimento de responsabilidade. Por outro lado, vamos ter uma certa resistência
feminina, que vai se dar através da não amamentação, da prática do aborto, da
contestação do papel de “boa filha/esposa/mãe/dona-de-casa”. A partir da leitura
das teses médicas sobre aleitamento materno, pretendemos identificar as várias
estratégias médicas para implementar um modelo de educação feminina, capaz de
romper e moldar a mulher entre o século XIX e início do século XX.

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A educação nas cartas: um estudo sobre a escrita autobiográfica das


princesas - Jaqueline Vieira de Aguiar (UERJ)

Cartas e bilhetes esquecidos em gavetas de arquivos e silenciados pelo tempo têm


aguçado cada vez mais o interesse de pesquisadores que privilegiam a escrita
autobiográfica como fonte histórica. O presente artigo tem por objetivo apresentar
a metodologia aplicada com as “escritas de si”, presente em cartas e bilhetes das
princesas Isabel e Leopoldina referente ao período em que foram instruídas sob a
orientação do pai, D. Pedro II, para que no futuro tivessem condições de assumir o
Trono do Brasil. Além disso, é demonstrada a importância da parceria entre o
historiador e o arquivista durante o processo de busca e investigação dos
documentos históricos. Trata-se de pesquisa histórico-documental e tem como
principal fonte as cartas e bilhetes das princesas Isabel e Leopoldina, oriundos do
Arquivo Grão Pará, pertencente aos descendentes da família imperial do Brasil,
cujos escritos possuem viés educativo e são testemunhos do vivido por suas autoras
durante a infância e adolescência. O texto dialoga com autores que trabalham o
processo de se “Fazer História” e a “Operação Historiográfica”. E ainda, obras que
abordam métodos e técnicas aplicadas na análise de cartas e documentos
autobiográficos. Ao término do trabalho foi possível concluir a relevância da
parceria entre historiador e arquivista no trato com o acervo, pois enquanto o
primeiro organiza e apresenta os documentos para a escrita da História, o segundo
realiza a análise crítica fundamental para a (re)construção da narrativa histórica.
Nessa perspectiva, os documentos autobiográficos mostraram-se fundamentais
295
para a recomposição histórica das personagens retratadas ao ampliar o olhar do
historiador sobre um mesmo acontecimento e tempo, como a educação das
princesas Isabel e Leopoldina ocorrida durante a regência política do segundo
Imperador do Brasil.

A Escolarização em Itaboraí – RJ no Período Imperial (1840 – 1888) - Regina


Coeli Alcantara Silva (Universidade Federal Fluminense)

Este estudo analisa o processo de ampliação e estabelecimento da escolarização,


referente ao ensino público primário, em Itaboraí – RJ, no período do Império. A
periodização adotada tem como objetivo analisar como a rede estava se
constituindo e como a mesma se desenvolveu. Buscou-se reconstruir o percurso de
constituição das escolas públicas primárias e de instituição do ensino sistemático e
graduado na cidade. Podendo descortinar como aconteceu esse desenvolvimento,
os motivos que levaram ao aumento quantitativo de escolas e como estava sendo
engendrado uma possível rede de instrução na localidade. É somente nos dois
últimos séculos que se processa uma “radical mudança em nossa sociedade”
partimos de uma sociedade sem escolas para uma quase totalidade da escolarização
(FARIA FILHO, 2003, p. 79). A natureza desta pesquisa é histórica de base
documental, pelo viés da micro-história e acompanhada de um levantamento
estatístico. A micro-história será utilizada como um recurso metodológico que
ajudará na distinção das complexidades sociais que estudos mais gerais comumente
ignoram. Sendo utilizada reduzindo a escala de observação e fazendo uso de “um
estudo intensivo do material documental” tomando o particular como ponto de
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partida “identificando seu significado à luz de seu próprio contexto” (LEVI, 1992:
pp. 136-154). Para reconstituir esse processo de escolarização é realizado um
diálogo entre as seguintes fontes: os Relatórios de Presidentes de Província; censos
do IBGE; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro; e
artigos de jornal, como “O Popular”, que estão na Hemeroteca. Os primeiros
resultados com a pesquisa foram: ter a possibilidade de tornar inteligíveis questões
sobre a escolarização no município que até então estavam retidas nos arquivos e
mostrar como estava, possivelmente, se delineando a constituição de uma rede de
escolas naquele município.

As reformas pombalinas dos estudos no ultramar: convivialidade, educação e


cultura material em Minas Gerais (séculos XVIII e XIX) - Luciane Cristina
Scarato (MeciLA - Cebrap - Universität zu Köln)

Qual era o mapa do ensino básico em Minas colonial? Como era a sua distribuição
ao longo da rede urbana da capitania? A presente comunicação analisa as reformas
pombalinas dos estudos sob uma perspectiva transatlântica que conecta o local e o
global. As reformas modificaram, de modo heterogêneo, as estruturas educacionais
em Portugal e seus territórios ultramarinos. O ponto latino-americano dessa trama
atlântica são as Minas Gerais durante os séculos dezoito e dezenove. As “geraes”
tornaram-se o centro do Império português após a descoberta de metais preciosos,
atraindo um número significativo de imigrantes. Nesse cenário, a instrução básica
era um dos meios mais eficazes de ascensão social e, ocasionalmente, de
296
renegociação das regras excludentes de pureza de sangue. Esta pesquisa busca nas
fontes primárias, principalmente nos inventários post-mortem de professores,
traços de um cotidiano escolar que revele os modos de convivialidade entre
mestres, alunos e seus familiares. Convivialidade, de modo geral, refere-se à
dinâmicas, práticas e representações do “viver junto” em um determinado contexto
histórico. Assim, convivialidade, enquanto conceito analítico, nos permite
compreender melhor como diversos atores partilhavam um mesmo espaço, ora
renegociando, ora subvertendo, através de redes de solidariedade e conflito, as
normas sociais vigentes. A cultura material nos permite apreender a convivialidade
engendrada pelas reformas pombalinas do ensino em Minas Gerais e será analisada
em três aspectos. Em primeiro lugar, a materialidade em si: a presença de bancos,
tinteiros e estantes de livros, por exemplo, nos permite reconstruir a infraestrutura
escolar colonial. Em seguida, serão analisados os livros inventariados. O exame
das bibliotecas pessoais dos professores elucida possíveis conteúdos administrados
nas salas de aula, bem como as teorias pedagógicas vigentes na época. Além disso,
uma comparação entre os livros listados e a bibliografia recomendada pelas
reformas nos permite avaliar até que ponto os professores mineiros aderiram às
reformas no que tange ao material didático. Finalmente, a materialidade da
convivialidade escolar possibilita a reconstrução dos laços entre professores e
alunos, tanto por meio do empréstimo de livros, quanto do rol de credores e
devedores. Ao final da apresentação, espera-se ter contribuído com o debate sobre
a história da educação no Brasil, cultura material, convivialidade e urbanidade.

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Fotografias da educação norte-americana: instituições e segmentos sociais na


cultura visual da revista Life (décadas de 1930/1940) - Cláudio de Sá Machado
Jr. (Universidade Federal do Paraná)

Esta comunicação tem por intenção apresentar os resultados parciais de pesquisa


de pós-doutoramento, tendo como objeto de estudo as fotografias de estudantes, de
professores e de instituições de ensino norte-americanas publicadas nas páginas da
revista Life. Editada na cidade de Chicago, a revista Life destacou-se
internacionalmente no âmbito da produção fotojornalística, tendo Henry Luce
como fundador do empreendimento, em 1936, no período que marca a sua segunda
fase de circulação. No âmbito político, as décadas de 1930/1940 marcaram não
somente a reestruturação da economia norte-americana, mas também a ascensão
dos estados fascistas na Europa e as políticas do Governo Vargas no Brasil. No
âmbito da história da educação, desenvolvem-se nos Estados Unidos os
pressupostos da denominada educação nova, de caráter pragmático, experimental
e em constante diálogo com modelos de escolas europeias. Dentre as diversas
temáticas presentes nas fotografias da revista Life, a educação pode ser entendida
por sua especificidade através da visibilidade de estudantes, de professores e de
edificações e espaços escolares. Partindo dos pressupostos teóricos da pluralidade
característica das culturas escolares e dos condicionamentos da cultura a partir da
experiência fotográfica, exercendo um papel duplo como vestígio de uma ilusão de
realidade e de referência, busca-se, para além de verificar as características
estéticas das fotografias, uma reflexão sobre seu papel como produto sensível de
297
cultura visual, da política pública ao entretenimento, da cotidianidade à exceção. O
estudo das fotografias da educação norte-americana na revista Life soma-se às
pesquisas realizadas em outras revistas da época, buscando aproximações e
distanciamentos nas formas de representação das práticas escolares e das
características estéticas perceptíveis, numa relação metonímica da
contemporaneidade em relação ao seu passado.

Inventariando o arquivo do grupo escolar Getúlio Vargas: possibilidades de


pesquisa - Velsa de Fátima Donato Teixeira Ferreira (UNEB)

Essa comunicação visa apresentar o projeto de catalogação do arquivo do Grupo


Escolar Getúlio Vargas - Guanambi/BA como fonte de pesquisa,sob a orientação
da professora Antonieta Miguel. O projeto considera as seguintes etapas:
levantamento do material existentes no arquivo, catalogação das fontes,
considerando sua tipologia, fotografia dos documentos escolares e tratamento
adequado para impressão, e por fim, apresentação do patrimônio educativo
encontrado na escola e suas possibilidades de pesquisa. A catalogação do arquivo
permitirá a conservação das fontes escolares, no intuito de manter o patrimônio
cultural e histórico do Grupo Escolar Getúlio Vargas, situado em Guanambi,
interior da Bahia, sendo ela criada inicialmente com o nome Escolas Reunidas
Getúlio Vargas. Esse projeto de catalogação de fontes primárias do Grupo Escolar
Getúlio Vargas é um desdobramento do Projeto Missões de Pesquisa: levantamento
e catalogação de fontes sobre a História da Educação da Universidade do Estado
da Bahia, DCH- Campus VI, do Núcleo de Pesquisa sobre História Social e Prática
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de Ensino (NHIPE) e do Laboratório de Pesquisa em Didática da História


(LAPEDHI) que já realizou outras ações em municípios circunvizinhos. Toda essa
ação possibilitará novas pesquisas no campo da História da Educação e da História,
já que a partir da nova historiografia, a História Cultural, houve a valorização do
sujeito, como sugere Aróstegui (2006), e a busca de novos fundamentos para a
interpretação da sociedade. Com essas mudanças significativas podemos eleger
novas fontes e novos objetos possibilitando novas abordagens de pesquisa, dentre
elas a história da educação. Como primeiros resultados percebemos que os
documentos históricos educativos encontrados na escola, em sua maioria, pápeis
de função burocrática, envoca o ofício dos grupos escolares, com a finalidade de
trasmitir valores e civilização para a massa e propagar os governos republicanos.
A abordagem historiografica permitirá entender informações do cotidiano escolar
da referida instituição e a catalogação das fontes do arquivo possibilitará novas
pesquisas no âmbito da História da Educação ou História, permintindo ainda a
conservação e divulgação dessas fontes.

Lenz, a comédia da educação privada e a miséria do professor - Cauê Cardoso


Polla (Universidade de São Paulo)

O cenário, Alemanha século XVIII, a protagonista, a educação, o coadjuvante, o


preceptor. Assim a peça de Jakob Michael Reinhold Lenz encena a comédia da
educação privada, retratando os males alemães – e por que não dizer, universais –
de que padeciam os preceptores domésticos no século XVIII. Nomes de não pouca
298
monta como os de Kant, Hegel e Schelling, para nos limitarmos ao âmbito
germânico, foram preceptores em casas burguesas e nobres. É certo que a figura do
preceptor participa do campo semântico daquela do tutor (de notável caráter
botânico) e também do gouverneur do Émile, cada qual recebendo suas nuances,
tal como o Hofmeister de Lenz. Sem entrar em uma possível tipologia dos tipos
ensinantes, bem como das questões de identidade docente que permeiam as
nomenclaturas, pode-se tomar a peça O preceptor ou vantagens da educação
particular (uma comédia), como um discurso acerca da prática docente,
historicamente considerada. Mas o que nos diz, afinal Lenz? Em sua peça, o
personagem do preceptor, Läufer, é retratado como um doméstico subalterno – não
era o pedagogo grego também um escravo? – que deve preparar os filhos de um
casal da alta burguesia, ensinando-lhes o necessário para estarem em sociedade. O
major deseja que sua filha, declarada preferida, seja uma fina flor; o filho, que siga
carreira militar. Para tal, contrata um preceptor, muito criticado por seu irmão, um
conselheiro titular (cargo de alta hierarquia). Encena-se um diálogo opondo
educação doméstica (privada) contra educação escolar (pública), ressaltando-se os
malefícios daquela e as agruras desta. Durante a peça, as peripécias dos
personagens ilustram a vida burguesa e pequeno-burguesa numa Alemanha do
XVIII, trazendo à tona o papel e o lugar da educação na compreensão dos
personagens, por vezes com imagens estereotipadas – nos personagens dos
estudantes universitários, por exemplo – mas sempre muito pungentes. A potência
da obra de Lenz é tal que Brecht, no século XX, reescreverá a peça, mostrando a
atualidade do questionamento. Pretendemos, com a leitura desta peça, propor um
questionamento acerca da figura emblemática do preceptor no seu poder
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fomentador de uma reflexão sobre a diatribe educação doméstica versus educação


pública, tema que vem ganhando cada vez mais relevância no cenário educativo
atual.

O conhecimento escolar pelo ritmo do livro didático - Carlota Boto (Faculdade


de Educação da USP)

O uso do livro didático, na fronteira entre meados do século XIX e princípio do


século XX, apresentava peculiaridades. A proposta do livro didático, antes de tudo,
é a de abarcar todos os alunos como se eles fossem, reunidos, um só. O método da
exposição, da lição magistral com que o mestre apresenta o conhecimento,
estrutura uma forma de agir que supõe indistintos entre os alunos, os padrões e os
ritmos de aprendizagem. O moderno modelo de escola,, que tomará o livro didático
como instrumento fundamental, terá a unidade da estrutura da aula como pilar
fundador dos princípios de gradação de conteúdos e materiais que regularão o
aprendizado. Nesse sentido, serão analisados textos de cartilhas e de livros de
primeira leitura de variados autores portugueses e brasileiros, de meados do século
XIX ao princípio do século XX. A análise dos textos será pautada pela
reconstitução de conteúdos didáticos, pedagógicos, relativos aos níveis de
alfabetização. Mas procuraremos identificar também alguns componentes
ideológicos que dizem respeito à configuração de uma certa imagem de criança, de
comportamento, de família e de padrões de civilidade. A escola primária tinha por
princípio o ensino de saberes e de valores. Para tanto ela forma conteúdos, mas
299
também comportamentos. Os autores de livros com os quais trabalharemos serão
basicamente J. I. Roquet, E. A. Monteverde, João de Deus, Antonio Feliciano de
Castilho Barreto e Noronha, Felisberto de Carvalho, Ulysses Machado, Thomaz
Galhardo e Duarte Ventura. Cada uma das obras analisadas possui similitudes com
as outras, mas possui também particularidades que fazem com que se constitua sua
singularidade frente às demais. O referencial teórico da abordagem dos textos nos
é dado pelas obras de Circe Bittencourt e Kazumi Munakata, além de Roger
Chartier e Anne-Marie Chartier.

O educador do século XVII, Jan Amos Comenius e a sua contribuição para


uma educação para todos.. - Renata Augusta Ré Bollis (UNICID)

O educador Jan Amos Comenius foi um dos importantes pensadores que ajudaram
a pensar em uma educação para todos. Opondo-se a práticas educacionais presentes
em seu tempo, mas seguindo o pensamento metódico da ciência moderna, propôs
uma Didática que tinha por objetivo central formar o bom cristão, ter fé verdadeira
em Deus, praticar ações virtuosas e preparar-se para uma outra vida, estendendo
esse objetivo a todos: os pobres, ricos, deficientes e mulheres. Almejamos abarcar
o desenvolvimento de alguns conceitos comenianos ao longo do amadurecimento
de seu pensamento. Na análise das obras comenianas, é possível perceber que
alguns temas e conceitos receberam um novo tratamento em seus textos mais
maduros. Aqui, apresentaremos o desenvolvimento do significado da noção de
“todos” nas obras comenianas. O educador tcheco viveu entre os séculos XVI e
XVII, um período de transição entre o medievo e a modernidade. Buscamos
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apresentar Comenius como um homem de seu tempo, que, por isso, forja um
pensamento fortemente impregnado de religiosidade, como também fundado no
ideário da nova ciência moderna e já ocupado com a valorização da infância e da
família. Procuramos também indicar de que modo alguns acontecimentos da vida
pessoal de Comenius influenciaram, em alguma medida, o desenvolvimento do seu
pensamento. Ao final, esperamos, ainda, ter esclarecido que Comenius ainda que
não almejasse a educação para todos no sentido de ascensão social no sentido
capitalista, ou ainda que tivesse cunho religioso a sua luta, ele buscava por uma
educação para todos, porque assim pretendia. Esta comunicação trará, portanto, à
luz, as especificidades da visão trazida por Comenius, em diálogo com João Luiz
Gasparin, Maria Lúcia Spedo Hilsdorf e Frances Yates. Nossa leitura das obras de
Comenius traduzidas para o português foram feitas nas reflexões metodológicas do
historiador Carlo Ginzburg. E, para isso, foram analisadas algumas obras dele
(Queijo e os Vermes e O fio e os rastros), tomadas como fonte e tratadas segundo
o paradigma indiciário (Ginzburg, 1976; 2001).

Parcerias imperiais: as relações construídas para a formação educacional de


D. Pedro II, o jovem monarca - Gilmara Rodrigues da Cunha Pereira (UERJ)

A proposta do presente trabalho é estudar a importância de Mariana Carlota de


Verna Magalhães Coutinho, Condessa de Belmonte, na formação educacional de
D. Pedro II, o futuro soberano do Brasil. Além disso, pretende-se compreender a
parceria firmada entre a referida Senhora e D. Pedro I, pai do pequeno Imperador,
300
visando alcançar o objetivo proposto. D. Mariana, mulher de muitas virtudes e
admirada por D. Pedro I, chegou ao Brasil em 1808, com sua família e, em pouco
tempo ficou viúva, após o falecimento repentino do marido. O Imperador D. Pedro
I percebia nessa mulher qualidades que a diferenciavam das outras damas da Corte
e, por isso, convidou-a para morar na Quinta da Boa Vista e ser aia do príncipe
herdeiro, que nasceria dentro de um mês. Após um ano exercendo suas funções,
desde o nascimento, assumiu o papel de segunda mãe, devido ao falecimento
precoce de D. Leopoldina, deixando-o órfão, e viveu ao seu lado até o casamento.
Nesse contexto, passou a ser responsável pela transmissão de uma educação moral
necessária para quem seria, no futuro, o sucessor no trono brasileiro. Para análise
da trajetória da Condessa de Belmonte junto ao príncipe D. Pedro II, serão
utilizados acervos localizados no Rio de Janeiro e em Petrópolis, entre eles
documentos inéditos pertencentes ao arquivo pessoal de um descendente de D.
Mariana, além de cartas pesquisadas no Museu Imperial e na Biblioteca Nacional.
A revisão bibliográfica sobre o tema propõe um diálogo com as obras de Lyra
(1977) e Schwarcz (2003), visando conhecer aspectos da vida de D. Mariana e sua
relevância para a formação educacional de D. Pedro II, porque ambos os autores
tratam da biografia do Imperador. O referencial utilizado como aporte teórico será
a obra de Vasconcelos (2005), para compreender a educação das elites oitocentistas
no Brasil e Gomes (2004) para contribuir com a análise e interpretação das cartas
selecionadas. Para análise histórico-documental utiliza-se como fontes as cartas
trocadas entre D. Pedro I e a Condessa de Belmonte e documentos do acervo
pessoal do descendente da D. Mariana. Conclui-se que a Condessa de Belmonte
fazia questão de manter o pai do jovem monarca a par do crescimento e
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desenvolvimento dos estudos do seu filho, o que fazia por meio de cartas. A
parceria firmada entre a Condessa de Belmonte e D. Pedro I foi fundamental para
a formação educacional de D. Pedro II, pois nota-se a dedicação da preceptora,
como por exemplo, na preparação do livro denominado “Introdução do Pequeno
Catecismo Histórico”, com a finalidade exclusiva de “tomar as lições” do príncipe,
cujo original, ainda não estudado, encontra-se em poder do seu descendente, e será
analisado, como fonte, neste estudo.

Primitivo Moacyr a caminho da Europa: a Rússia como destino - Guaraci


Fernandes (PROPED/UERJ)

Este autor é bem conhecido como um dispensário das leis e debates ocorridos no
parlamento brasileiro, lugar de onde operou por mais de 30 anos. Seu modo de
escrita dos acontecimentos da História da Educação no Brasil abrange desde a
instrução no Império à instrução na República até 1930, não sem antes pincelar
sobre a educação jesuítica. Apresenta os acontecimentos em ordem cronológica,
utilizando-se de classificação por províncias, ou por reformas e códigos. Lançou
seu primeiro livro em 1916 e os últimos no ano de sua morte (1942), totalizando
16 volumes. Tem sido considerado um sujeito partidário do governo brasileiro,
esfera política na qual trabalhou e organizou a série dos Documentos
Parlamentares. Entretanto, em contato direto com familiares se pode perceber
traços distintos dos até então apresentados, e entre estes o de sua viagem à Rússia
em 1926 com a clara intenção de avaliar as mudanças ocorridas com a revolução
301
bolchevistas. Tal viagem se tornou foco de 2 grandes reportagens em jornais de sua
época e que serão apresentadas nesta ocasião. Seu modo de compreender as
mudanças operadas naquele país são surpreendentes se considerarmos o seu locus
e também a compreensão de latinidade que o Brasil se inscrevia, ou seja, não
pertencente à chamada América Latina e sim mais próximo dos americanos do
Norte. Enfim, uma nova perspectiva se apresenta como revolucionária para este
sujeito que passa a se tornar polemico a partir dessa descoberta.

Yeshivá Colegial Machané Israel: Novas narrativas de uma longa


história - Vanessa dos Santos Novais (PROPED)

Em tempos de contemporaneidade porosos e líquidos, quem se atreveria a guardar


tradições milenares? Quais jovens buscariam tecer em suas vidas a de seus
antepassados, buscando, dessa forma, encontrar-se ao que é seu? O artigo proposto
estende o olhar e análise para uma pequena comunidade escolar chassídica,
localizada na cidade de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. A pesquisa é
composta por uma investigação qualitativa, de cunho etnográfico e apoia-se na
análise dos discursos presentes nas observações realizadas in loco. Busca-se
compreender as tessituras que permeiam uma vida em comunidade. A observação,
quando utilizada com o devido rigor, constitui-se importante ferramenta
metodológica, capaz de traduzir sons e silêncios, assim como valores polifônicos
de pertença, aos quais jovens perpetuam sua cultura e fé. O referencial teórico
encontra-se fundamentado em Martin Buber, para o qual, a relação dialógica é ato
imprescindível à vida. Os resultados prévios apontam para uma nova geração que,
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ao encontrar-se com conhecimentos e virtudes milenares, ressignificam suas


identidades e fé.

“O Ensino de História da África no Brasil: possibilidades e


experiências” - Marcela Moraes Gomes (Colégio Pedro II)

A partir da trajetória enquanto discente da especialização em ensino de História da


África no Programa de Pós Graduação do Colégio Pedro II pretende-se no presente
trabalho discorrer sobre propostas de atividades curriculares para disciplina de
História na educação básica a fim de incluir as demandas da lei 10.639/03. Tendo
em vista os debates curriculares que permearam o curso e as possibilidades de
atividades para articular a conexão entre Brasil e África, sobretudo no combate ao
racismo e estereótipos, pretende-se compartilhar de que forma as atividades
planejadas foram aplicadas na prática da sala de aula. Ao percorrer por temas como
a presença das mulheres negras no processo abolicionista, a resistência escrava pela
capoeira, o debate acerca das ações afirmativas, os processos de libertação na
África e a atuação da Frente Negra Brasileira durante a era Vargas, pretende-se
expor como a partir de tais temáticas é possível não só atender a lei 10.639/03, mas
também articular as dinâmicas culturais entre Brasil e África e o campo da História
com a Educação.

302

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303
ST 27. História Pública e Educação:
saberes compartilhados

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A Pequena África como patrimônio histórico cultural: uma reflexão sobre a


história do Cais do Valongo. - Jessica Silva Tinoco Gimenez (CEFET -RJ)

Este trabalho busca abordar o processo de patrimonialização da região portuária do


Cais do Valongo pela Unesco e sua relação com a educação anti-racista. O Cais do
Valongo fica localizado na região denominada Pequena África que também é
conhecida como Circuito Histórico Arqueológico de Celebração da herança
africana no qual o objetivo principal desta pesquisa é tratar sobre essa região como
um local de representatividade e identidade histórica e cultural, além de
caracterizar a luta, a força e a voz no resgate da memória dos afrodescendentes
brasileiros. Os objetivos a serem alcançados nesse trabalho são: abordar o
reconhecimento e redescoberta da Pequena África como espaço urbano e turístico
que necessita ser preservado; identificar esses espaços da Pequena África, dando
prioridade ao Cais do Valongo; analisar o espaço como resgate da memória e da
identidade afro-brasileira, assim como o reconhecimento como patrimônio da
humanidade pelo IPHAN e internacionalmente pela UNESCO/ONU; demonstrar
que esses espaços caracterizam a luta diária no combate ao racismo e a busca pelos
direitos e representatividade. A instituição relevante que será base para a
elaboração deste trabalho é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) foi um órgão institucional criado, em 1937, para cuidar da preservação e
conservação do patrimônio cultural brasileiro. Assim, a candidatura da região do
Cais do Valongo, pelo IPHAN, como Patrimônio da Humanidade aceita pela
UNESCO, órgão das Nações Unidas (ONU) nos remete aos diálogos sobre como
304
a relevância da memória e da identidade afro-brasileira buscam a preservação da
cultura presente na região da Pequena África por meio da patrimonialização da
região tendo um contexto histórico de herança africana na cidade do Rio de
Janeiro.

As perspectivas econômicas, territoriais e étnico-raciais através da proposta


do Turismo de Experiência na Região do Vale do Café - Uma análise sobre o
município de Vassouras - Carolina Mara Teixeira (UFRRJ)

O presente artigo visa abordar um estudo aprofundado sobre o projeto Tour da


Experiência Caminhos do Brasil Imperial na região turística Vale do Café,
especificamente no município de Vassouras, no estado do Rio de Janeiro. A partir
deste projeto pretende-se analisar qual experiência turística está sendo promovida,
em relação ao contexto étnico-racial nas fazendas do município. A metodologia
que será utilizada para a construção deste trabalho está baseada em uma pesquisa
bibliográfica e análise de fontes secundárias. O objetivo central desta pesquisa visa
contextualizar um possível processo de espetacularização e desvalorização do
negro em determinadas fazendas históricas de Vassouras a partir da criação do
Projeto Tour da Experiência, sendo este um produto fruto do sistema capitalista
que apropria-se de aspectos históricos como a abordagem e memória do período da
escravidão.

Como trabalhar com rigor histórico nas aulas do ensino básico? - Verena
Alberti (Uerj)
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É sabido que historiadores e historiadoras não podemos afirmar qualquer coisa


sobre o passado. Nas salas de aula da escola básica tampouco. Professores e
professoras de história precisam ter um forte compromisso com o rigor histórico.
Nossos alunos e nossas alunas fazem parte, evidentemente, da sociedade e integram
diferentes grupos, dentro e fora do espaço escolar. Estão, portanto, sujeitos e
sujeitas a diferentes ideias sobre o passado e sobre a disciplina história, as quais
são veiculadas das mais diferentes maneiras – nas redes sociais, nas mídias, nas
famílias, nas obras de arte, na literatura... Algumas vezes pressupomos que ideias
são essas; outras, nem cogitamos quais seriam. E muitas vezes cogitamos que
foram influenciados por determinada história, imagem ou outro recurso, do qual,
contudo, nem sequer tomaram conhecimento. Entre os princípios da aprendizagem
está o de partir das ideias que os estudantes trazem para a sala de aula. Não
saberemos como agir para ampliar seu conhecimento sobre o passado se não
soubermos o que já sabem ou já acham que sabem. Em muitos casos, o que já
sabem ou acham que sabem faz parte de um conhecimento difuso sobre o que
aconteceu e sobre o que é história. Como a narrativa sobre o passado não é e não
pode ser monopólio de historiadores e historiadoras, na sala de aula se evidenciam
as expectativas e as tensões decorrentes do encontro entre o conhecimento histórico
do professor ou da professora e aquele atualizado em diferentes grupos dos quais
os estudantes fazem parte. O presente trabalho tem como objetivo discutir essas
questões à luz de experiências com estudantes do ensino básico e com a formação
de professores e professoras no ensino superior.
305
História e cinema: apontamentos de uma pesquisa para um roteiro de
ficção - Vitoria A. Fonseca (Secretaria Estado da Educação)

A partir das reflexões desenvolvidas em tese de doutorado sobre os processos de


pesquisa para elaboração de roteiros originais, e considerando as potencialidades
educacionais de um filme de ficção, a proposta aqui é apresentar considerações
sobre uma pesquisa para um roteiro de ficção que envolve o povo indígena Bororo,
atualmente ocupando territórios do estado do Mato Grosso. O processo de
pesquisa, considerando a especificidade daquela voltada para construção de obras
cinematográfica, pode ser dividida em, basicamente, quatro tipos: pesquisa como
levantamento de dados e informações, pesquisa para construção de estrutura
narrativa, pesquisa para construção dramatúrgica e pesquisa para construção de
argumentos.Desta forma, a partir de reflexões sobre a especificidade da pesquisa
histórica para cinema, debates em torno das relações entre história e ficção, foi
proposta uma abordagem específica para assessoria de pesquisa de maneira que
pudesse embasar a roteirização. A proposta, assim, foi enfocar a pesquisa para
construção narrativa e dramatúrgica, bem como pesquisa de levantamento de
informações pontuais sobre espaços, formas de vida e situações cotidianas. Ao
valorizar informações referenciadas na experiência social, em pesquisas
desenvolvidas por outros pesquisadores, em abordagens e debates sobre a temática
do filme, podemos construir referenciais que possibilitem experiências de recepção
do filme que levem à “leituras documentarizantes”, conforme a definição de Roger
Odin, apesar de se tratar de uma obra ficcional. Ou seja, o expectador, ao identificar
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no filme referências à sua própria experiência social, a história narrada na tela passa
a ser lida de maneira documentarizante e não ficcionalizante (na qual o expectador
observa o enredo como parte de um mundo que não é o seu próprio). O roteiro foi
desenvolvido a partir de um diálogo constante e verossímil para a construção da
estrutura narrativa e dos conflitos dramáticos. A pesquisa histórica, a partir de
estudos acadêmicos e audiovisuais, entrevistas e artigos de jornais, colabora na
construção de uma dramaturgia mais rica e coerente. O elemento chave, mas não o
único, do processo de pesquisa está relacionado ao processo histórico de
configuração dos espaços da etnia Bororo, sua cosmologia, a concepção de
feminino e masculino, a relação entre vida e morte, laços familiares e, acima de
tudo, a riqueza estética e existencial do funeral bororo. O estreitamento da relação
entre cinema e história, enfocando também a potencialidade dos audiovisuais nos
processos de ensino e aprendizagem, começa, no nosso entendimento, na
construção do roteiro cinematográfico e a relação estabelecida com a produção do
conhecimento sobre o assunto abordado.

História Pública e Direitos Humanos: experiências a partir de discussões


virtuais - João Carlos Escosteguy Filho (IFRJ)

Esta comunicação busca apresentar algumas considerações sobre pesquisa em


desenvolvimento no campus Pinheiral do IFRJ. A pesquisa objetiva articular a
temática dos Direitos Humanos às discussões sobre o desenvolvimento de uma
Educação Histórica a partir das concepções de Jörn Rusen (2001), isto é, de um
306
Ensino de História que privilegie uma conexão entre a reflexão epistemológica
acerca dos fundamentos da disciplina ao uso da História para a vida humana
prática. A partir dessa concepção inicial, procuramos analisar algumas das várias
formas pelas quais diferentes abordagens históricas e conceituais sobre os Direitos
Humanos ganham vida nas redes sociais, analisando-as à luz das discussões acerca
do papel da História Pública na produção contemporânea de sentidos para o
passado. Educação Histórica, História Pública e Direitos Humanos articulam-se,
assim, na pesquisa ora apresentada. Tencionamos pesquisar os usos feitos dessa
expressão e os modos como o passado e o presente são transformados em
argumentos em debates e situações de discussão política no Brasil atual, tendo
como foco principal os usos em redes sociais. Em outras palavras, nosso objetivo
central é partir dos modos pelos quais a expressão "Direitos Humanos" e seus
elementos componentes têm sido utilizados nessas discussões virtuais do
Facebook, em páginas identificadas como “de esquerda” e “de direita”, para, a
partir de uma reconstituição dos Direitos Humanos em sua historicidade, buscar a
crítica de fundo histórico a essas compreensões. Entender as formas pelas quais a
História é utilizada nessas discussões permite uma reflexão sobre o papel do
próprio conhecimento histórico e do Ensino de História nessa dimensão, bem como
o papel da História Pública na construção de certos tipos de narrativa. A questão
dos usos conceituais e do alcance das contextualizações para abordagem da questão
dos direitos humanos também serão ressaltados. Ao final, esperamos que as formas
possíveis de tratamento histórico dos Direitos Humanos nessas discussões do
presente favoreçam novos olhares sobre o passado, resultando na ampliação dos
modos pelos quais a História pode ser ensinada e aprendida – e de que forma pode
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nos auxiliar na formulação de concepções de mundo que sirvam de orientação


prática no presente.

História Pública e Educação: Um projeto extensionista de cinema no museu


do Ingá - Rodrigo de Almeida Ferreira (Universidade Federal Fluminense)

A presente comunicação decorre do projeto de extensão “Educação e História


Pública: o cinema no museu do Ingá”, realizado em diálogo com as disciplinas de
Pesquisa e Práticas Docentes em História e em Cinema, ofertadas nos respectivos
cursos de licenciatura da Universidade Federal Fluminense, em parceria com o
Museu do Ingá (Niterói/RJ), e voltado aos estudantes do ensino básico da rede
estadual. O projeto foi aplicado na cidade de Niterói, entre 2016-17. O objetivo
principal do trabalho foi propor uma reflexão referente ao desenvolvimento de
práticas didáticas voltadas a educação do conhecimento histórico em espaços não-
escolares – neste caso, os museus – que articule saberes interdisciplinares como o
cinema, a história e a educação. O desenvolvimento das atividades procurou
estabelecer diálogos entre as áreas do cinema-história (Rosenstone, 2008; Ferro,
1992), do audiovisual e da educação (Napolitano, 1995), do ensino de história
como mediação didática (Monteiro, 2007), da educação em espaços museológicos
(Menezes, 1994; Marandino, 2004) e da história pública (Almeida; Rovai; 2011;
Almeida; Mauad; Santhiago; 2016). Nesta comunicação, foi enfatizada a primeira
etapa do projeto de extensão, que consistiu em proporcionar aos estudantes do
ensino básico o contato com o museu do Ingá de modo que percebessem outras
307
possibilidades de seu uso como espaço cultural, de memória e produtor de
conhecimento. Nesses momentos, foram desenvolvidas atividades de exibição
fílmica tematizada e comentada. À equipe de licenciandos participantes coube o
planejamento temático, cujo eixo foram representações fílmicas da liberdade no
Brasil escravista, e metodológico de execução das atividades, sendo posteriormente
realizada a reflexão sobre as ações a partir do material gravado pela Unitevê como
parte da sua formação docente. Sob essa perspectiva, a pesquisa se desenvolveu no
âmbito da história pública não apenas por considerar suportes e narrativas sobre a
História para além da produção acadêmica. Mas, por entende-la como uma prática
de produção de conhecimento histórico compartilhado, considerando as
especificidades de saberes de áreas distintas, em diálogo com a participação ativa
de estudantes, cuja mediação didática favorece a circularidade dos saberes
históricos (Ferreira, 2014).

História pública, educação socioambiental e oralidade: um projeto de ensino


para educação básica em parceria com pescadores artesanais - Ademas
Pereira da Costa Junior (UFF), Juniele Rabêlo de Almeida (UFF)

O objetivo da proposta é refletir sobre a construção de um projeto de ensino, para


educação básica (fundamental), na interface “educação socioambiental e história
oral” – juntamente com pescadores artesanais da comunidade escolar local. A partir
desse objetivo é possível discutir formação docente e história pública (autoridade
compartilhada e espaços de educação não-formal). A docência em História, ao
integrar saberes escolares e comunitários, pode estimular a elaboração de ações
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educativas relacionadas à formação de professores da área de História que poderão


desenvolver (em parceria com os pescadores artesanais) projetos de história oral
que promovam espaços dialógicos entre “escolas e comunidades tradicionais” –
com a construção de roteiros, gravação de entrevistas e criação de acervos.
Sugerimos, para essa proposta, um projeto de história oral com os pescadores de
Itaipu - Niterói/RJ, atentando para os conflitos socioambientais dessa região.
Buscamos, dessa forma, oportunidade para criação de ações educacionais
preocupadas com as dimensões da educação socioambiental (com conteúdos
sequenciais: materiais para sensibilização e roteiros de visitação) para a prática
docente na educação básica. As reflexões propostas são destinadas para docentes
que irão atuar no 6º Ano do Ensino Fundamental. O projeto de ensino poderá ser
desenvolvido ao longo do ano letivo – vinculado a disciplina História de modo
interdisciplinar. Pensar o ensino-aprendizagem a partir de projetos faz parte das
orientações metodológicas da área de História no ensino fundamental – desde os
Parâmetros Curricu¬lares Nacionais é abordado o tema transversal “Meio
Ambiente”. O projeto de ensino é entendido aqui como um itinerário flexível para
elaboração e desenvolvimento dos eixos de ação construídos com a participação
direta dos alunos, professores e pescadores artesanais.

História Pública, história “além da academia”. História Pública história


“além da escola”? Isso é possível no Brasil? - Bruno Flávio Lontra
Fagundes (Universidade Estadual do Paraná - (UNESPAR) - Campus de Cam)
308
O propósito da presente comunicação é o de fazer algumas colocações sobre a
definição de História Pública feita por autores nacionais e estrangeiros e pensar até
que ponto são úteis para se pensar a realidade brasileira. A comunicação advoga a
ideia de que, no Brasil, a História Pública tem encontrado guarida preponderamente
no Ensino de História, campo pelo qual têm sido feitas tentativas de definição de
História Pública, mesmo que limitando o escopo de apreciação do conceito na
realidade de modo bastante diferente do que fazem autores internacionais,
principalmente anglo-saxões. Mas, ao mesmo tempo, aquelas tentativas de
definição circunscrevem e limitam a definição de História Pública como chave de
interpretação que indique encaminhamentos de outras atividades do historiador
público para além da escola. Se a História Pública pode ser pensada como “história
além da academia”, até onde é possível pensar História Pública como “história além
da escola” no Brasil? A comunicação vai explorar o fato de que, talvez, professores
estejam trazendo História Pública para dentro da escola sem saber que o estão
fazendo.

I Put a Spell on You: Raça, Gênero e Identidade na Autobiografia de Nina


Simone - Mariana Cardoso de Araujo (CEFET - RJ)

O trabalho analisa a autobiografia de Nina Simone levando em consideração as


representações de si que a cantora produz e os diferentes papeis sociais que assume.
Dada a relevância de sua figura e produção musical para as organizações políticas
conhecidas como “Civil Rights Movement” e a sua recente retomada às mídias e
às discussões feministas e raciais, buscamos neste “palco da memória” os relatos
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que, em múltiplos formatos narrativos, registram as vivências de racismo e


misoginia da cantora nas décadas que se sucedem à crise econômica de 1929
tornando-as parte da história púbica estadunidense. A pesquisa parte da discussão
da relevância da biografia nas pesquisas em História e Ciências Sociais e nas
práticas pedagógicas contemporâneas de escrita e leitura, tendo como pano de
fundo os Estudos Culturais e Decoloniais, os fenômenos da crise das identidades e
da fragmentação dos sujeitos modernos.

Lutas sociais para a consciência racial como prática de História Pública: Uma
inspiração em Mundinha Araújo - Geraldyne Mendonça de Souza (UFF)

Jill Liddington (2011) enfatizou que o entusiasmo por vasculhar memórias e


lembranças dominam a sociedade contemporânea, mas, mesmo assim, estas
escolhas geralmente ainda passam pelo crivo da colonialidade (evangelização,
civilização, modernização, desenvolvimento e globalização). O revisionismo
histórico nos mostrou que a extinção do colonialismo não foi capaz de emancipar
político e administrativamente os países [periféricos] africanos, há histórias que
permanecem silenciadas. Caminhando no sentido dos estudos da decolonialidade,
um padrão mundial de poder moderno que permanece em voga mesmo com a
descolonização. Implicando um posicionamento contínuo de insurgência e
transgressão. Me debrucei sobre a militância de Maria Raymunda Araújo, a
Mundinha. Esta maranhense marcou e mudou a forma como seus conterrâneos
enxergam e entendem sua racialidade. Ela buscou dar-lhes consciência do que é ser
309
negro. Ela acredita que está é a única forma de promover o sentimento de orgulho
das trajetórias e conquistas da população de cor. A partir de sua prática de
transformação da consciência e valorização racial da sociedade maranhense, na
década de 1980, fui em busca de mecanismos que pudessem ser utilizados junto à
comunidade escolar e sociedade em geral nos dias atuais. O objetivo maior consiste
em lançar luz a contribuição de personagens negros para a história, contribuindo
assim para que estas trajetórias se tornem um referencial positivado na construção
de identidades conscientes e orgulhosas de sua racialidade.

Lygia de Oliveira Santos, uma proposta biográfica abordando questões


étnico-raciais pautadas em projetos coletivos e individuais - Diogo Jorge de
Melo (CEFET)

Este trabalho tem como objetivo realizar um estudo biográfico, voltado para a
formação de Lygia de Oliveira dos Santos (1934-). Uma mulher negra de classe
média, que dedicou sua atuação nas questões culturais, integrando educação,
música popular e questões museológicas. O trabalho se estrutura a partir da
pesquisa de Sônia Giacomini, “A Alma da Festa”, e o conceito de “projeto” de
Gilberto Velho. A autora ao estudar o Clube Renascença, um espaço de
socialização construídos por e para negros, em que Lygia Santos foi uma de suas
entrevistadas, acaba por enquadra-la nos três principais projetos sociais coletivos
identificados no trabalho: o primeiro “Flor de Liz”, que se estrutura a partir da
construção de padrões de distinções sociais de uma elite negra, que ascendeu em
bairros do subúrbio do Rio de Janeiro; o segundo referente as questões da beleza
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negra, principalmente pela realização de concursos de beleza negra; e o último


vinculado ao movimento Black Power, movimento importado dos Estados Unidos
da América, que buscava a construção de uma identidade negra. Estes projetos
coletivos apontados podem ser entendidos como fortes estruturas, que se fizeram
presente na vida de Lygia Santos, mas que se articularam com os projetos
individuais da personagem. Lygia Santos é filha de Zaíra de Oliveira, cantora lírica,
com Donga, o primeiro sambista a registrar um samba. Seus pais participaram do
projeto “Flor de Liz” e sem dúvidas buscaram uma formação para sua filha
conforme os padrões sociais deste grupo e Lygia viveu os outros movimentos, por
ser frequentadora do Renascença. No entanto, identificamos alguns projetos
individuais que se articulam com esses projetos coletivos em sua trajetória
profissional. Lygia teve formação de professora no Instituto de Educação e realizou
duas graduações em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro e
Museologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Concursada pelo
Estado do Rio de Janeiro como professora primaria, área que atuou no inicio da sua
carreira, conseguiu ao longo de sua trajetória se deslocar para outro universo
profissional, o dos museus, onde atuou principalmente no Museu do Primeiro
Reinado e depois no Museu da Imagem do Som, local onde encontrou sua plenitude
profissional. Conseguindo coadunar suas raízes no samba, sua realidade de mulher
negra e suas paixões pela Museologia e música popular (Samba e Choro), atuou
com pesquisas sobre as origens do samba, em atividades educativas de museu,
como museóloga, comentarista e crítica do carnaval, como política, no magistério
do ensino superior, mas seu mote profissional de maior destaque foi ser
310
reconhecida como educadora em sentido amplo, formando novas gerações em
distintos espaços sociais, inclusive sendo chamada de “Dama da Sabedoria”.

Memória e narrativa no nono ano, um diálogo com a História Pública - José


Conceição da Silva (Universidade Federal Fluminense)

Partindo da experiência de contar histórias nas aulas de História, desenvolvi uma


prática didática baseada no uso de narrativas literáreas. Nesse trabalho apresento
uma determinada narrativa, objetivando: motivar a discussão de conteúdos como
escravidão, abolição e a condição dos afrodescendentes após a abolição e ainda
estimular a produção textual dos alunos. Essa discussão é enriquecida com a
reflexão dos conceitos de memória e narrativa. A narrativa proposta circula entorno
do personagem Julius, homem negro, que desaparece misteriosamente no centro da
cidade do Rio de Janeiro e após o seu reaparecimento é acometido por visões da
escravidão no século XIX. As visões inicialmente o atormentam até serem
relacionadas a um velho tio contador de histórias (tio Nestor), que conviveu com o
personagem em um período da sua infância. A partir desse momento, Julius tenta
ter controle sobre as imagens, a buscá-las, o que representa vivenciar mais uma vez
as histórias contadas pelo tio. Essas imagens se apresentam como uma “ponte
temporal” que permite levar os alunos ao conteúdo estudado, século XIX, sem a
tradicional viagem no tempo e sim através da memória. As reflexões sobre
memória e narrativa têm por base os trabalhos de Walter Benjamim e Paul Ricoeur.
Nessa prática o professor primeiro assume a postura do contador que busca
envolver os alunos no enredo narrado. Em um segundo momento os alunos passam
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a ter contato com o texto escrito, para em seguida, um terceiro momento, se


transformarem em produtores da narrativa a partir do conteúdo estudado. Nesse
sentido esse trabalho dialoga com as preocupações da História Pública, não só
utilizando a narrativa literária para motivar a reflexão histórica, como
possibilitando uma produção compartilhada, já que um dos principais objetivos a
serem alcançados é transformar os alunos em coautores da narrativa trabalhada. E
ainda dar voz a um velho contador de histórias, tio Nestor, e através da sua fala
alcançar o depoimento daqueles que vivenciaram o processo abolicionista no
Brasil, buscando como quer W Benjamim (2012, p.13) ”escovar a História a
contrapelo”. O que nos leva, como propõe a História Pública, a construção de
“‘consciência histórica’ ou uma história mais participativa e colaborativa com a
comunidade fora do espaço universitário” (Almeida; Juniele, 2013, p.3) e ainda, a
valorização “das narrativas orais, importantes para a construção de identidade
coletivas e do reconhecimento de “culturas subterrâneas” (Almeida; Juniele, 2013,
p.6). Resultado da minha experiência na Escola Pública Municipal esse trabalho é
a base da monografia, ainda em elaboração, a ser defendida em julho de 2018 no
Mestrado Profissional de História na Universidade Federal Fluminense.

O antimovimento “Escola Sem Partido” (ESP) e os impactos no ensino de


história: trajetórias docentes na prática da história pública em sala de
aula - Renan Rubim Caldas (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho tem como objetivo apresentar um recorte específico das


311
reflexões e das análises realizadas na dissertação de mestrado em História (PPGH-
UFF) “Narrativas em movimento – do ‘Escola Sem Partido’ à ‘Educação
democrática’: história pública e trajetórias docentes”. Vivenciamos na história do
tempo presente um intenso debate público em torno das condições da profissão
docente, do papel do professor em sala de aula e da função da escola na construção
da educação de uma sociedade. Esta pesquisa assume os desafios da investigação
dos “sujeitos coletivos” envolvidos nos debates públicos em torno dessas questões.
Dessa forma, analisa-se as narrativas públicas, os valores e as ações dos sujeitos
mobilizados na construção e consolidação do que entendemos por antimovimento
social “Escola Sem Partido” (ESP) e por movimento social “Professores Contra o
Escola Sem Partido” (PCESP): grupos que possuem diferentes orientações
valorativas e distintos repertórios de ação coletiva nos espaços públicos e que
colocam em jogo divergentes projetos de escola, de educação, de docência e de
sociedade (TOURAINE, 1994, 1998; TILLY, 2010). Tendo em vista o tema do
simpósio, é importante evidenciarmos como o antimovimento Escola Sem Partido
produz impactos negativos no processo de desprofissionalização docente
(NÓVOA, 1995) e no ensino de história como prática de história pública (FRISCH,
2016; FERREIRA e PENNA, 2017). Aqui, entendemos que o ESP aparece não
apenas como uma ameaça à autonomia docente do professor como sujeito, isto é,
no sentido de estimular a separação entre o “eu” pessoal e o “eu” profissional da
prática docente e negar a dimensão subjetiva de sua profissão, mas também como
uma ameaça à própria produção compartilhada de conhecimento histórico, de
saberes e experiências entre os professores e os alunos em sala de aula. Em meio a
essas “narrativas em movimento” e em disputa pelo ESP e pelo PCESP, estão as
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narrativas dos professores de História do ensino básico sobre suas próprias


experiências, trajetórias e práticas docentes, e que também se posicionam nesses
debates públicos sobre “Escola sem Partido”, tendo em vista que são questões que
lhes afetam diretamente. Desse modo, realizamos um trabalho de história oral
(PORTELLI, 1991, 1996) com esses professores e apresentaremos alguns trechos
das suas reflexões sobre suas maneiras de ser e agir como professores nesse
contexto de avanço do ESP. Aqui, esses professores apresentaram diferentes
posicionamentos políticos e ideológicos em relação ao ESP (tanto a favor quanto
contra) e diferentes concepções de história que estão intimamente entrelaçadas aos
seus saberes experienciais incorporados no decorrer de suas trajetórias vida
pessoal, intelectual, política e profissional (TARDIF, 2002).

O Museu Nacional como espaço de História Pública: O potencial da Educação


Museal para uma abordagem crítica da História - Aline Miranda e
Souza (Museu Nacional)

O Museu Nacional é o mais antigo do Brasil, teve papel fundamental no


desenvolvimento das ciências no país e completará 200 anos em 2018. Hoje está
localizado no Paço de São Cristóvão, que foi residência da família real durante o
Império. Como unidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é reconhecido
também por suas pesquisas. Há sobre essa história muito a ser explorado. Como
um Museu de Ciências Naturais e Antropológicas, a abordagem histórica do
Palácio e das coleções é pouco explorada nas exposições, apesar de ser uma
312
demanda frequente dos visitantes. Na construção desta proposta, trabalhamos na
interface entre Ciência, Educação Museal e História Pública. Refletimos
primeiramente acerca do processo histórico que levou à formação dos museus de
ciência. A conquista do caráter público e educativo dos museus como conhecemos
hoje é resultado de um processo. Discutimos a relação dos museus com as
instituições de ensino e as especificidades da educação museal, no que concerne a
conceitos, métodos e políticas. Este trabalho se insere no campo da História Pública
e da Educação Museal com um caráter essencialmente prático e reflexivo sobre o
potencial de um museu de ciências para, no bojo de sua inerente
interdisciplinaridade, oferecer ao público possibilidades de discutir o passado. É
feito um levantamento histórico do Palácio e do Museu, e são apontados aspectos
organizacionais do museu hoje que possibilitam compreender melhor as escolhas
apresentadas nas exposições. Propomos explorar o potencial das ações educativas
para uma abordagem crítica da História. Buscamos, assim, conexões entre o
Palácio e o Museu, duas instituições que se sobrepõem no mesmo local. A partir
dos objetos expostos hoje, surgem diferentes possibilidades de leitura, e aquela
proposta pela exposição é apenas uma delas. A história das coleções e dos objetos
nos suscitam questões sobre a própria formação do Museu e das Ciências no Brasil.
Junto ao público visitante, propomos que o objeto museal seja tomado como fonte
histórica, e estimula-se uma posição questionadora dos visitantes sobre as
permanências e apagamentos presentes no Museu. Pretende-se que este olhar
questionador, não se detenha sobre os objetos, mas que a partir deles, seja
questionada a própria realidade dos sujeitos.

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Zózimo Bulbul e o Centro Afro-carioca de Cinema: identidade, educação ani-


racista e história pública no filme “Renascimento Africano” (2010) - Samuel
Silva Rodrigues de Oliveira (CEFET)

Em 2007, Zózimo Bulbul – ator, artista plástico, produtor e diretor de cinema –


criou o Centro Afro Carioca de Cinema. Entre 2007 e 2013, quando esteve a frente
dos projeto do centro cultural, produziu um média metragem: “Renascimento
Africano” (2010). A comunicação analisa o filme e o projeto do Centro Afro
Carioca de Cinema analisando a noção de “cinema negro” no filme. Utiliza o filme,
entrevistas de história oral e vida, pesquisa bibliográfica e de jornais como corpus
de documentos. A partir de 2001, os manifestos “Dogma Feijoada” e “Manifesto
de Recife” marcam uma virada na produção cinematográfica nacional: fundam a
intenção de produzir um “cinema negro”. Festivais, filmes de curta e longa
metragem, e polêmicas atravessam as produções de uma classe média negra e uma
militância que se esforçam em produzir filmes que expressam a luta anti-racista no
Brasil. Zózimo Bubul foi um dos personagens centrais desse movimento. A
comunicação compreende que o filme “Renascimento Africano” (2010) insere-se
numa vasta produção do cineasta de produzir narrativas históricas e uma educação
anti-racista no Brasil.

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ST 28. História do crime, da polícia e
da justiça criminal

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"É prohibida a venda e uso do pito do pango": o proibicionismo da maconha


no Rio de Janeiro imperial, 1830. - Jorge Emanuel Luz de Souza (UFBA)

No dia 4 de outubro de 1830 a Câmara da Corte publicou o seu primeiro Código


de Posturas Municipais, decretando no artigo 7º do Título II da Seção Primeira que
daquele dia em diante estava proibida a venda e uso do "pito do pango" na cidade.
“Pito do pango” ou “pango” eram expressões utilizadas para nomear a cannabis
enquanto fumo psicoativo na Corte e desse dia em diante quem fosse pego em
desobediência seria punido pelo poder municipal: vendedores com multa de vinte
mil réis e usuários com oito dias de cadeia. O Código de 1830 foi dividido em duas
seções – Saúde Pública e Polícia – e dezesseis títulos que abordam variadas
questões da vida da cidade e ficaram a cargo da municipalidade administrar. A
Postura que proibiu o “pito do pango” fazia parte da seção que regulava a saúde
pública e, mais especificamente, da subseção sobre venda de gêneros e remédios e
o trabalho dos boticários. Dos seus doze artigos, onze definem penalidades: multas,
entre dez e trinta mil réis, e em dois casos apenas está prevista a prisão, uma delas
para o uso de maconha. Apesar do alcance limitado à Corte, a Postura apresenta
elementos de uma política proibicionista de drogas: proscreve o uso de uma
substância, proíbe o comércio a ele relacionado, estabelece punições para seus
comerciantes e usuários e se associa à esfera da saúde pública. A história dos usos
de substâncias psicoativas no Brasil é atravessada por proibições diversas desde o
período colonial até os tempos atuais, sendo a maconha, possivelmente, o objeto
mais longevo de tais medidas. Propõe-se aqui, então, analisar a proibição do uso
315
da maconha na Corte no ano de 1830. Primeiramente, será apresentada a Postura
Municipal que proibiu o “pito do Pango” na capital do Império, discutindo suas
características gerais e as relações com o contexto histórico na qual foi produzida.
A seguir, iremos visibilizar quem eram os usuários sobre os quais recaía agora a
proibição bem como evidenciar qual uso estava sendo condenado. Por fim,
destacaremos a dimensão econômica do processo, investigando a diversificada
exploração da Cannabis na cidade no século XIX, que ia da sua comercialização
como medicamento até a produção da sua fibra têxtil, o cânhamo.

A Comodificação da Desordem: Incêndios, Seguros e o Imaginário da


Insegurança em Portugal, 1910-1917. - Cândido Gonçalo Rocha
Gonçalves (Unirio)

A imagem de um prédio consumido pelas chamas na Avenida da Liberdade durante


a revolução é uma das imagens icónicas da instauração da República em Portugal.
Consequência direta dos movimentos revolucionários ou um simples fogo casual –
questão que chegou até à barra dos tribunais -, este incêndio constitui um exemplo
de uma faceta esquecida da sociedade portuguesa do início do século XX: o fogo
como consequência da instabilidade política e social e as estratégias de segurança
que se geraram a partir da perceção deste crescente risco. Em ambiente urbano e
industrial, com o incêndio de repartições públicas a emergir como estratégia de
protesto de correntes políticas mais à esquerda, ou em ambiente rural, onde o
fósforo era a “arma de 10 centavos” do trabalhador rural contra o proprietário, o
fogo atingiu neste período novos níveis de visibilidade pública. Como
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consequência direta desta situação, o engendrar de estratégias de segurança


públicas e privadas para prevenir e combater o risco da ocorrência de incêndios
causados por mão-humana ganhou um novo protagonismo, revelando todo o
significado social e político do fogo. Assim, se as estratégias públicas – bombeiros,
polícia, etc. – sofreram com a crise de autoridade do Estado que marcaram os anos
iniciais da república, o crescimento de estratégias privadas de proteção contra um
imaginário de insegurança que que atingia transversalmente a sociedade é um dos
efeitos mais relevantes do risco de incêndio. A indústria seguradora, que já vinha
a crescer antes da implantação da república e continuou a fazê-lo depois, aproveitou
as oportunidades que no novo contexto lhe proporcionava para crescer e prosperar,
fazendo-o também com ‘produtos’ que respondiam à desordem politica e social
que então se vivia. A transformação da ‘desordem’ em algo que podia ser
transacionado foi, neste contexto, um dos resultados da resposta criativa da
indústria seguradora às demandas da sociedade. Esta comunicação parte da análise
de dois grandes incêndios – o da Avenida da Liberdade em Outubro de 1910 e o
das Fábricas do Caramujo, em Almada, em Agosto de 1911, um fogo posto por
trabalhadores e ativistas políticos – para analisar a introdução e popularização do
“seguro contra greves e tumultos” em Portugal entre 1910 e 1917. Este ramo de
seguros, que surgiu de forma inovadora em Portugal – apenas companhias Inglesas,
Norte-Americanas e Portuguesas o ofereciam –, constituiu um sinal claro do
sentimento de insegurança, pouca confiança na capacidade das instituições
públicas para lidar com ele que emergiu na sociedade portuguesa e o prosperar de
dinâmicas privadas e individualizadoras de segurança.
316
A Guarda Fiscal e o contrabando na fronteira luso-espanhola (1885-
1941) - Mariana Reis de Castro (Instituto de História Contemporânea - NOVA
FCSH)

A história do sistema policial português tem conhecido, recentemente, uma


significativa evolução do número de investigações e investigadores interessados.
No entanto, o estudo da história da Guarda Fiscal, corpo criado com o intuito de
controlar, vigiar e reprimir o comércio ilícito, tem ficado à margem da
historiografia portuguesa, principalmente no que diz respeito à sua evolução
institucional e actuação. Deste modo, esta comunicação propõe abordar a acção da
Guarda Fiscal perante o contrabando realizado na fronteira luso-espanhola entre
1885 e 1941. A partir dos debates parlamentares (Câmara dos Senhores Deputados
da Nação Portugueza, Câmara dos Deputados e Assembleia Nacional) e o
cruzamento com diferentes fontes de informação, provenientes dos acervos
documentais depositados nos arquivos (Arquivo Nacional da Torre do Tombo,
Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Arquivo
Histórico da Guarda Nacional Republicana e Arquivo Contemporâneo das
Finanças) e a consulta de imprensa nacional e periódicos, depositados nas
bibliotecas, procurar-se-á entender a relação entre a evolução da Guarda Fiscal, a
prática do contrabando e a intervenção do Governo português, como entidade
reguladora. Numa primeira parte, pretende-se analisar a criação e organização da
Guarda Fiscal, desde a sua criação até à Reforma Aduaneira de 1941. Na segunda,
a sua distribuição no território português e, numa última parte, verificar as suas
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formas de actuação, como um corpo policial responsável por combater o crime,


assim como a relação com os contrabandistas. Interessa principalmente reflectir
sobre o papel que estas autoridades tiveram, não só apenas como cumpridoras das
leis, promulgadas pelo Governo, como também pela sua autonomia e envolvimento
com a sociedade.

Crime e punição no Rio de Janeiro: o Boletim Policial (1907-1918) - Rodrigo


Maia Monteiro (UERJ-FFP)

Este estudo propõe a reflexão da Criminalidade e Punição na cidade do Rio de


Janeiro, entre 1907 e 1918. A partir da análise do periódico do Gabinete de
Identificação e Estatística, o Boletim Policial, objetivamos pensar a maneira como
as idéias criminológicas e punitivas circulavam no campo intelectual fluminense
na passagem à modernidade. A escolha desse recorte se deve ao fato de simbolizar
um momento fértil no que toca ao estudo da delinquência e do controle social,
atualizando questões como da relação entre criminalidade e crescimento urbano, a
racialização do sistema penal, formas de punição e encarceiramento, criminalidade
e imigração, entre outros. A rigor, o início do século XX representa um momento
singular de sofisticação das instituições de controle social no Brasil, bem como
uma conjuntura de modernização e reestruturação jurídica articulada a um processo
de redefinição da espacialidade urbana na capital federal, assegurando que as
classes ditas perigosas fossem segregadas e vigiadas, pois representavam o avesso
dos ideais de ordem e higiene. O interesse pelo tema da criminalidade e pelas
317
notícias de crime vinham crescendo desde a segunda metade do século XIX. No
Boletim Policial, reflete-se o desejo de ordem, o temor pelo crime associado à
técnica e ao novo, a busca por resposta para o controle social que associavam a
criminalidade à presença do estrangeiro e ao contingente maciço de ex escravos
circulando pelas ruas, relatórios policiais identificam aglomerações no centro da
cidade como um risco à paz social, o que em muitos dos casos foi aparentemente
resolvido evitando a entrada desses indivíduos na zona central da cidade. Teorias
baseadas no criminoso se fortaleciam cada vez mais pela sua validade científica e
sobretudo pelas relações de poder que era capaz de justificar. Observamos no
periódico uma série de técnicas de identificação do corpo utilizados para medir o
delinquente e classificá-lo. Assim, fica claro no Boletim Policial uma exigência
cada vez maior das instituições de controle social em adotar métodos e técnicas de
identificação e classificação da população a fim de identificá-las e controlá-las,
valorizando e unindo saberes como a antropologia, as ciências médicas e jurídicas
na montagem de um aparato eficaz de identificação social.

Elysio de Carvalho e a Escola de Polícia : a circulação de saberes de polícia


científica no Rio de Janeiro (1911-1915) - Marilia Rodrigues de Oliveira (PUC-
RJ)

A Reforma Policial de 1907 trouxe como uma de suas preocupações a questão da


profissionalização e estruturação da carreira dos policiais brasileiros. Em meio ao
processo de modernização pelo qual passava tal instituição, a reforma apontava
para a necessidade de instrução dos agentes no que se referia às técnicas de filiação
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morfológica e de exame descritivo. Tal dispositivo regulamentar que não fora


colocado em prática foi recuperado cinco anos depois, com a criação da Escola de
Polícia do Distrito Federal. Fundada pelo chefe de polícia Belisário Távora, sob a
direção de Elysio de Carvalho, a Escola de Polícia tinha como intuito prover uma
educação profissional aos agentes de polícia, de acordo com os conhecimentos
científicos e as necessidades do contexto sócio-histórico brasileiro. Entre suas aulas
previam-se desde cursos sobre elementos do Código Penal relativos à organização
policial, até estudos de criminalísticos e de métodos de investigação criminal. Não
por acaso, na sessão de inauguração da escola de Polícia, Elysio de Carvalho
discursou sobre as formas de criminalidade modernas, defendendo a importância
tanto dos estudos científicos para formação dos agentes policiais, como também a
análise de perfis de personagens criminosos literários, como os presentes nas obras
de Tostoi e D’Annunzio. Literato, anarquista e policial, a trajetória de Elysio de
Carvalho nos indica a presença de membros de uma elite intelectual que buscavam
se familiarizar com os debates criminalísticos latino-americanos e europeus dentro
das sessões especializadas da polícia brasileira. Desta forma, este trabalho tem
como objetivo primeiro investigar como a atuação de Elysio de Carvalho favoreceu
a circulação, apropriação e trocas de saberes internacionais ligados ao campo de
polícia científica através da construção da Escola de Polícia do Distrito Federal. O
esforço de instrução e profissionalização dos agentes policiais implicava em um
processo tanto de compartilhamento de saberes que seriam capazes de criar uma
identidade de grupo coerente, como também, de obtenção de um reconhecimento
externo da capacidade destes funcionários de desempenharem suas funções. Logo,
318
também será um objetivo deste trabalho analisar os estudos ministrados na Escola
de Polícia sobre as formas de criminalidade moderna, assim como os saberes
necessários aos profissionais que desejavam combatê-las. Por fim, tendo em vista
o perfil intelectual que perpassava os membros que idealizaram tal Escola de
Polícia, a própria noção do caráter científico presente nas aulas ligadas ao campo
da polícia cientifica, também será objeto de análise deste trabalho.

Histórias de bandidos? Visões do crime no Rio de Janeiro - Marcos Luiz Bretas


da Fonseca (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O objetivo desse projeto é avaliar diferentes visões históricas sobre a categoria


bandido. Como eça é tratada no Rio de janeiro entre o final do século XIX e o final
do século XX

Iluminando a escuridão: Noite, guarda noturna e vigilância na capital no final


do século XIX e início do XX - Pedro Guimarães Marques (PUC-Rio)

O trabalho procura analisar como e porque foram formados os grupos de vigilância


privada denominados guarda noturna na capital carioca no começo da Primeira
República. A historiografia policial brasileira aborda comumente as relações entre
Estado - polícia - população. Esse trabalho visa inserir uma nova perspectiva - a de
modelos de policiamento privados que existem desde o Antigo Regime e foram
transportados para a época republicana brasileira com o intuito de auxiliarem a
polícia a controlar uma noite cada vez mais incontrolável. O trabalho procurará
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abordar um pouco da história da iluminação pública, sua associação com a atuação


da guarda noturna presente em países anteriormente a sua criação no Brasil, o
desenvolvimento da vida noturna carioca e a guarda noturna da candelária, o
primeiro grupo de guarda noturna carioca.

Insurgência prisional: genealogia da delinquência e política de


encarceramento em São Paulo, 1948-1961 - Dirceu Franco
Ferreira (Universidade de São Paulo)

O propósito desta comunicação é analisar uma faceta da política de encarceramento


em São Paulo, em meados do século XX, da perspectiva dos movimentos
articulados pela população prisional, com ênfase nas rebeliões e nos seus
desdobramentos na produção da delinquência cativa das prisões. Nessa conjuntura,
marcada pela insurgência prisional, destacam-se a articulação dos presos para
rebeliões de grande impacto político e social - via de regra visando a fuga -, a
contínua e acentuada expansão do encarceramento no estado e o recrudescimento
das formas de degradação da vida nos cárceres. Portanto, a insurgência deve ser
considerada tanto do ponto de vista dos movimentos articulados pelos presos como
das transformações operadas nos modos de tratamento da população prisional.
Nesse período, a Casa de Detenção de São Paulo, o Instituto Correcional da Ilha
Anchieta e a Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté foram os principais alvos
dessa dupla insurgência. Assim, nesta comunicação, vou apresentar os debates em
torno dos projetos para as prisões paulistas de meados do século XX, pontuando o
319
modo como as rebeliões foram percebidas pelas autoridades prisionais. Pretendo
demonstrar como a produção da delinquência constituiu-se peça principal dos
discursos mobilizados entorno da reforma das prisões do período.

Leis especiais, vigilâncias conectadas: a polícia de investigações na América


do Sul, 1890-1920 - Diego Antonio Galeano (PUC-Rio)

Este trabalho tem como objetivo analisar a emergência e consolidação de divisões


de investigação criminal nas polícias da América do Sul. Depois de ganhar um
lugar diferenciado na burocracia policial, entre finais do século XIXX e inícios do
século XX, estes gabinetes aumentaram o número de agentes e diversificaram suas
áreas de incumbência. Cada área dedicou agentes específicos a custodiar os
arquivos de prontuários criminais, policiar as atividades do incipiente movimento
operário, acumular informações sobre prostitutas, proxenetas, ladrões,
estelionatários e empresários do jogo clandestino. Além de realizar um
mapeamento geral dessas atividades, o trabalho se focará em uma seção específica,
conhecida como “Leis Especiais” ou “L.E.”, e que se ocupava da perseguição de
quadrilhas de falsários. Esta denominação derivava de uma nomenclatura da
Divisão de Investigações da polícia de Buenos Aires, que foi adotada em parte no
Brasil e no Uruguai. A dimensão transnacional do crime de falsificação de dinheiro
e, em particular, as conexões entre as redes de fabricantes e passadores de moeda
falsa no espaço atlântico sul-americano, fizeram com que as polícias de
investigação destes países estreitassem laços e compartilhassem informações. O
vínculo entre a construção de divisões de investigação e a cooperação policial sul-
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americana não se limita à problemática da falsificação de dinheiro, porém, o


trabalho escolhe esse ponto de observação para analisar os entrelaçamentos entre o
trabalho policial, as mudanças nos marcos normativos e as práticas criminais.

Libertários no banco dos réus: a influência das teorias lombrosianas no


processo de criminalização do anarquismo no Brasil (1906-1924) - Bruno
Corrêa de Sá e Benevides (UNIRIO)

A comunicação tem como proposta estudar a influência que a Criminologia


Positiva, desenvolvida no século XIX pelo médico italiano Cesare Lombroso,
exerceu sobre algumas instituições republicanas no Brasil entre os anos de 1906 a
1921, e que contribuíram no processo de criminalização da prática do anarquismo,
movimento que possuiu forte presença entre o proletariado, sobretudo no Rio de
Janeiro e São Paulo. Deste modo, por meio da análise de teses formuladas por
juristas renomados do país, de debates parlamentares do Legislativo Federal em
torno da edição de Leis destinadas a reprimir este movimento considerado
“subversivo”, pela análise de algumas decisões proferidas pela Suprema Corte e
por outras instâncias inferiores, e finalmente por meio da consulta dos principais
jornais da grande imprensa, pretende-se demonstrar como as teorias lombrosianas
do delinquente nato, principalmente aquelas formuladas no livro Os Anarquistas,
possuíram grande adesão entre juristas, bacharéis, magistrados e políticos,
influenciando diretamente na criação de legislações e na produção de decisões
judiciais (pelo STF e outros juízos) destinadas à repressão daqueles que
320
compartilhavam das ideias libertárias.

O deslocamento discursivo que enfrenta o "menor de idade" nos anos


20 - Érica Oliveira Fortuna (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O presente artigo busca refletir acerca das representações sobre o “menor de idade”
na década de 1920. Nosso objetivo é investigar em que medida os discursos jurídico
e midiático contribuem na construção de sentidos que estigmatizam jovens negros
e pobres. Nosso recorte recobre as notícias do jornal A Manhã, veiculadas nos anos
de 1926, 1927 e 1928, concentrando a nossa análise em narrativas importantes ao
tema. Nossa hipótese aponta para um discurso midiático que trata todos os meninos
como "menores", mas que contribui na estigmatização do negro e pobre por meio
dos artifícios sensacionalistas, seja pelo texto ou pelas fotos. Enquanto isso, o
discurso jurídico traz a "situação irregular do menor" para "cuidar" dos meninos
abandonados e/ou delinquentes com o Primeiro Código de Menores, promulgado
em 1927, que parece segregar e categorizar os menos favorecidos, vulneráveis
frente ao sistema penal.

O Diretório dos Índios de 1755: Economia, Trabalho e Polícia no Reformismo


Luso-Brasileiro - Bianca Racca Musy (UFF)

No século XVI emergem algumas das principais diretrizes intelectuais sobre o


papel positivo do trabalho e da utilidade das populações “pobres”, sistematizadas
de forma paradigmática na obra Da Razão de Estado do italiano Giovanni Botero
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(c.1544-1617). O diagnóstico proposto por Botero a respeito das causas da


grandeza e da ruína das monarquias influenciou a tratadística política ibérica desde
o século XVII, sendo ainda utilizada como uma das balizas para iniciativas tomadas
por Sebastião de Carvalho e Melo, a partir de 1750. O futuro marquês procurou
objetivar as ideias que a geração precedente havia elencado para gerar
desenvolvimento, dialogando com uma gama de intelectuais no intuito de colocar
em prática a “modernização” do mundo português. Dentre as várias tópicas
destinadas a promover o desenvolvimento do império, ganhou força a crítica aberta
à população “ociosa”, impingida a ser “útil” e produzir riqueza a partir do trabalho.
Esta comunicação analisará quais foram os principais argumentos retóricos
utilizados no Diretório dos Índios, a fim de compreender como o receituário
modernizador foi “testado” na região do Grão-Pará e Maranhão dando origem a
práticas que pretendiam minorar a pobreza, extinguindo vagabundos, vadios e
ociosos. O Diretório dos Índios foi elaborado em 1755 e entrou em vigor em todo
o território colonial a partir de 1757; possui 95 artigos que sumariam as diretivas
sobre o governo português para a região do Grão-Pará e Maranhão.
Frequentemente analisado como um instrumento de aculturação dos indígenas, o
Diretório partia de uma série de querelas mais amplas e menos contingentes, que
acabavam por conectar as distantes regiões do norte da América aos debates sobre
as formas mais acertadas de gerar riqueza em pauta nas cortes europeias. Foi a
partir de uma proposição de fundo econômico, que o governo pombalino condenou
a falta de “polícia” dos indígenas, inserindo-os em uma concepção mais larga de
pobreza, de modo a delinear novas formas de desenvolvimento por meio do
321
trabalho útil. É importante ressaltar que as medidas apresentadas no Diretório
precedem a criação da Intendência Geral de Polícia em 1760, que tinha o intuito de
zelar pela “segurança” e pela “tranquilidade” dos povos. Do ponto de vista legal,
as justificativas observadas no Diretório e na Intendência compartilham um
repertório comum de reflexões a respeito do aumento das populações e do trabalho
útil como maneiras eficazes de assegurar o crescimento e a segurança do Estado,
que se delineou em meados do século XVIII.

Os donos da banca e da folia - Os banqueiros do bicho e a criação da LIESA


(1974-1985) - Felipe Santos Magalhães (UFRRJ)

Natal da Portela pode ser considerado como o primeiro banqueiro do jogo do bicho
a ter se envolvido diretamente com uma escola de samba. Esta aproximação fez-se
de modo mais intenso a partir da década de 1970 quando outros banqueiros de
bicho, por diversos motivos, aproximaram-se e apropriaram-se de outras escolas
ou, se quisermos, do próprio desfile das escolas de samba, sendo a criação da
LIESA (Liga das Escolas de Samba) um marco deste processo. Para Natalino José
do Nascimento (Natal) o envolvimento com o Grêmio Recreativo Escola de Samba
Portela foi construído desde os primeiros momentos da escola. Ele viu a escola
nascer e crescer no quintal de sua casa. No ano de 1974 na cidade do Rio de Janeiro
ocorreu um evento que parece ter ligações diretas com o processo descrito acima.
Vários banqueiros do jogo do bicho se reuniram num estabelecimento chamado de
Ilha dos Pescadores para decretar a paz entre eles e delimitar a respectiva área de
atuação de cada um, na cidade, no Estado do Rio de Janeiro e, quiçá, no Brasil. O
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objetivo desta comunicação é discutir a relação construída pelos banqueiros do


jogo do bicho no período entre 1974-1984 quando vários deles assumiram controle
de escolas de samba e da organização do desfile que teve na criação da Liga das
Escolas de Samba, em 1985, um marco fundamental.

Polícia e escravidão nos discursos da imprensa oitocentista: entre a legalidade


e o costume - Joice Soares (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

O processo de construção do Estado ao longo do século XIX implicou a


transformação e/ou a criação de distintas instituições. No que se relaciona
especificamente à constituição do aparato policial, ganham destaque os debates e
ações empreendidas a partir, sobretudo, da segunda metade da década de 1820 com
o estabelecimento dos trabalhos da Assembleia Geral. Sob esse mesmo cenário, a
imprensa periódica – que ganhara destaque com as disputas em torno da
Independência – consolidava-se como elemento fundamental nas discussões
políticas do período. Neste trabalho, objetiva-se analisar alguns dos sentidos
atribuídos à relação entre as instituições policiais recém-criadas e a manutenção do
sistema escravista. Objetiva-se, assim, apreender alguns dos posicionamentos
correntes sobre as atividades policiais – ainda marcadas por inúmeras mesclas e
hibridizações entre a polícia do Antigo Regime e as instituições criadas sob o
ideário liberal e constitucional – e sua relação com a escravidão nas práticas
cotidianas.
322
Tragédias em Atos Diários: imprensa e violência na cidade do Natal (década
de 1960) - Wesley Garcia Ribeiro Silva (Universidade Federal do Pará)

Ao iniciar os anos de 1960, o periódico Diário do Natal, recém incorporado a rede


dos Diários Associados, passou a compor um cenário temoroso para a urbe,
figurada pela sua nova linha editorial. Os crimes passaram a se relacionar de modo
fundamental com a cidade e a serem noticiados diariamente, não apenas com
pequenas notas – ou fait divers – mas compondo uma parte estrutural do jornal,
com títulos chamativos na capa e páginas inteiras dedicadas ao caráter sensacional
dos assaltos, homicídios e tragédias cotidianas, cujos textos flertavam com uma
narrativa anedótica, para acentuar o tom extraordinário. Em 1961, os assassinatos
de três motoristas em um intervalo de tempo de sete meses foram publicados como
se fossem folhetins e mobilizaram a cidade, seguindo o rastro de medo que o perigo
carregava. Surgia daí o nome de João Rodrigues Baracho, que seria implicado não
só a tais crimes, mas também a uma série de fugas e outros delitos, que tiveram
lugar até o 1962, quando foi fuzilado em uma emboscada da polícia. A partir de
tais elementos, esta comunicação pretende discutir as relações entre imprensa,
espaço urbano e violência, problematizando a circulação de modelos e referências
editoriais sobre o sensacional nos jornais locais e a construção de representações
sobre a violência na cidade do Natal, com a emergência do bandido como
personagem de destaque nas narrativas dos jornais.

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Um processo criminal nos jornais do século XIX: o atentado contra Dom


PEDRO II - George Luiz de Abreu Vidipó (SEEDUC/RJ)

Quando o português Adriano Augusto Valle, na noite de 15 de julho de 1889, atirou


em direção ao Imperador Dom Pedro II, colocou em xeque a imigração, que estava
em curso no Império e o movimento republicano. Este artigo analisará como dois
jornais, Gazeta de Notícias e O Paiz, trataram o evento e seus desdobramentos. Os
dois periódicos optaram por acompanhar todo o processo criminal e serviram como
base para defesa do acusado pelor crime

“O Homem Delinquente”: Processo de socialização,com foco à reinserção do


indivíduo na sociedade - Andréia Gardênia Fernandes Oliveira Stival (Instituto
Wallom)

O objetivo do presente estudo é diagnosticar como deve ser conduzido o processo


de socialização dos presos através da educação e da oferta do trabalho dentro do
sistema penitenciário brasileiro. A Constituição Federal conjetura expressamente a
responsabilidade do Estado perante todos os cidadãos, garantindo-lhes direitos e
deveres fundamentais, abrangendo também a população prisional que ingressa no
sistema penitenciário. A estes condenados, devem ser proporcionadas condições
para a sua integração social dentro das penitenciarias, visando a não violação de
seus direitos que não foram atingidos pela sentença. Grande parte da inoperância
do atual modelo socializador decorre da forma como este é aparelhado, em relação
323
aos aspectos ligados ao ócio no cárcere e a não obrigatoriedade do trabalho e estudo
enquanto estes cumprem suas penas. Sendo assim, o conhecimento por parte da
instituição penitenciária da necessidade de uma organização do trabalho e
escolarização prisional que perpasse pela relação entre deleite e sofrimento no
trabalho que possibilite a mudança e que gere repercussões positivas no processo
de ressocialização e, consequentemente, na vida egressa dos apenados, bem como
na vida daqueles com quem esses se relacionam. Justifica-se este estudo em razão
da busca em indicar para a sociedade e para os presos que o melhor caminho para
a reinserção social e profissional dos mesmos está na educação e no trabalho, pois
a maioria deles não teve nem a oportunidade de estudar antes de entrar para o
mundo do crime. Iniciou-se o projeto de pesquisa a partir da escolha do tema e da
revisão bibliográfica, visto que, é uma pesquisa de cunho exploratória. Buscando
analisar a temática proposta, este trabalho será pautado na leitura da referência
bibliográfica do tema proposto. De forma a atingir a maior veracidade possível no
processo de conhecimento da problemática a ser estudada. O trabalho examinará
com um olhar investigativo situações referentes ao objeto estudado que no caso
desta análise refere-se a socialização do encarcerado no sistema prisional do Estado
de Goiás, mas especificamente na Casa de Prisão Provisória, localizada no
município de Aparecida de Goiânia e pautado nas políticas públicas que abordam
e abrangem os recursos no que tangem essa socialização. Assim podendo
evidenciar a validade e a confiabilidade do estudo através dos dados obtidos.

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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
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324
ST 31. História e Ciências Humanas –
dimensões epistêmicas, éticas e
estéticas

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A Crítica de Michel Foucault às Ciências Humanas - Kleverton Bacelar


Santana (FFLCH-USP)

Essa comunicação tem por objetivo examinar a ‘arqueogenealogia’ foucaultiana


das ciências humanas. A partir da análise do Nascimento da Clínica (1963)
pretendo mostrar a posição arquitetônica da medicina na constituição das ciências
humanas. Em seguida, mediante o exame da arqueologia foucaultiana das ciências
humanas efetuadas em As Palavras e as Coisas (1966), mostrar a forma e a
reduplicação dessas ciências. Por fim, discutir os efeitos normalizadores dessas
ciências na virada efetuada pela genealogia do poder a partir dos anos 70,
especialmente no Vigiar e Punir.

A febre amarela no Rio de Janeiro: história, ciência e literatura. - Cláudia


Santos Turco (UFRJ), Eduardo Nazareth Paiva (HCTE-UFRJ)

Epidemias são fenômenos que contêm uma certa carga dramática. Iniciam em
determinado tempo e local e, como se estivessem seguindo um roteiro, crescem,
após um período de negação, se revelam em crise coletiva e individual, depois se
encerram. Assim, mobilizam comunidades para a ação, explicitam valores sociais;
cada sociedade constrói suas respostas, alianças e parcerias. Cientistas se
mobilizam para encontrar explicações e possíveis estratégias de combate, enquanto
as consequências da doença e muitas vezes das medidas para seu controle se
refletem na produção cultural de uma época. No entanto, a própria construção da
325
ciência, fruto de práticas cotidianas de cientistas, está situada histórica e
geograficamente, o que se evidencia ainda mais em momentos de controvérsias,
nos quais muitas vezes ocorre uma disputa de diferentes estilos de pensamentos.
Por outro lado, a ciências, seus conceitos e impactos permeiam as produções
culturais. O presente trabalho busca capturar através de manifestações culturais -
romances, contos e marchinhas - a teia de relações, as texturas e percepções sobre
a febre amarela e seu combate no Rio de Janeiro. O período selecionado está entre
o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX; período no qual
surgiram controvérsias sobre a forma de transmissão da febre amarela e no qual se
estabilizou o Aedes aegypti (à época, Stegomya fasciata) como seu vetor. As
consequências deste consenso acarretaram mudanças intensas nas ações públicas,
na vida cotidiana das pessoas e na própria percepção da doença. Traremos
produções de autores da época nas quais a febre amarela foi incorporada como
elemento central ou apenas incidental: um romance, uma marchinha de carnaval e
um conto. Nestas obras, as dimensões de vivência da febre amarela no cotidiano
são abordadas; estas vão do drama individual até mesmo a um diálogo entre um
humano e o mosquito Aedes aegypti sobre as respostas coletivas à doença. A
análise realizada busca trazer como, nas narrativas selecionadas, estão refletidos
tanto a mudança de percepção da doença, de sua forma de transmissão e das
medidas de controle adotadas, quanto os elementos e acontecimentos da época.

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A porta está no chão. O uso de áreas verdes como extensão da sala de


aula - Camilla Agostini (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Um passeio por trilhas de fácil acesso em parques da cidade permitem vislumbrar


o encontro de temporalidades não apenas históricas - de diferentes épocas, algumas
mais, outras menos silenciadas, guardadas pela mata - mas da vegetação, da longa
duração das formações geológicas, dos animais, todos em relação. Partindo de um
ponto de vista arqueológico, as visitas têm como objetivo instigar o visitante a
reconhecer a tridimensionalidade da realidade histórica, das múltiplas
temporalidades e da coetaneidade. A porta, nesses encontros, está no chão onde se
pisa, quando o pesquisador olha para baixo e começa a reconhecer passados em
miudezas, estruturas e ruínas arqueológicas; para então, erguer a cabeça e ser capaz
de correlacionar outros tempos ao redor, memórias e experienciar, na prática,
conceitos complexos e abstratos que passam a ser acessíveis a públicos não
acadêmicos.

A relação entre história e sociologia no pensamento de Raymond


Aron - Murilo Gonçalves dos Santos (Universidade Federal de Goiás)

Trata-se de analisar a relação entre história e sociologia apresentada por Raymond


Aron ao longo de suas reflexões durante a década de 1930, as quais se encontram
presentes, sobretudo, na obra "Introduction à la philosophie de l'histoire". Os
aspectos constituintes de tal relação ligam-se, por um lado, à inspiração aroniana
326
no pensamento alemão, bem como, por outro lado, a uma espécie de renúncia à
sociologia francesa, especialmente aquela desenvolvida por Durkheim e sua escola.
Não obstante, para além da inspiração em filósofos e sociólogos como Weber e
Simmel, Aron apresenta uma forma original de tratar a relação entre história e
sociologia, a saber, mediante seu rearranjo das categorias da compreensão e da
explicação (causalidade), com efeito, a partir de uma perspectiva primordialmente
epistemológica.

Antigos contra Modernos: a querela francesa e a disputa pelo gosto no século


XVII - Juliana Timbó Martins (UNIRIO)

Conhecida, já no século XVII, como “querela dos Antigos e dos Modernos”, a série
de debates entre eruditos da Academia e da alta sociedade francesa opôs, em pleno
reinado de Luís XIV, os defensores da exemplaridade da Antiguidade e os
partidários da legitimidade do gosto e das técnicas modernas na produção artística
e literária do período. Entre aqueles que deram ensejo a tal embate, Charles Perrault
se destacou não apenas como porta-voz dos autointitulados Modernos, mas
também como o estopim da querela através da leitura solene de seu poema “Le
siècle de Louis, le Grand” (1687), onde ousou destacar, de forma passional e
parcial, a superioridade das diferentes áreas do conhecimento e das artes de seu
tempo em comparação ao legado da Era Clássica. De fato, reconhecendo o direito
ao gosto pessoal dos artistas modernos, bem como de um público em expansão, o
poeta e escritor francês esboçou em seus escritos publicados sob tal contexto uma
forte defesa da subjetividade na criação e no julgamento das artes e da literatura do
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período em detrimento de uma prática antiquária que estabelecia como de “bom


gosto” e “bom senso”, principalmente, obras que tinham nos clássicos antigos sua
inspiração ou até imitação. Nesse sentido, a comunicação tem como objetivo
discutir a “querela dos Antigos e dos Modernos” do século XVII como propulsora
de uma estética moderna onde a subjetividade, enquanto expressão da
individualidade do artista e de seu público, se torna o eixo definidor de um belo
que não é mais apreendido apenas pela razão, mas também pelo coração. Ora, se
por um lado, os Antigos concebiam cada obra de arte e literatura como um
microcosmo interligado e dependente de um macrocosmo maior e exterior, onde
os critérios do belo eram racionalmente preestabelecidos e rigorosamente seguidos;
por outro, os Modernos, tal como Perrault, concebiam a arte tendo como referência
a subjetividade, o sentimento e a individualidade de seu criador e receptor.

Decifrar Espaços em Branco: Mediações interdisciplinares na tessitura da


narrativa histórica - Maicon Mauricio Vasconcelos Ferreira (UFRRJ)

Assim como um tapete, a pesquisa histórica também é composta por fios, que vão
forjando uma tessitura que aumenta sua complexidade e caráter homogêneo ao
passo que os sinais vão sendo interpretados, como teorizou Ginzburg em “O Fio e
os Rastros”. E a direção do olhar define diferentes resultados, pois assim como num
tapete que com desenhos estampados trazem uma infinitude de leituras sobre si,
assim também é a história, ou seja, para compreensão da trama que a compôs é
necessário o entrecruzamento dos resultados desse olhar nessas diferentes direções.
327
Se quisermos ler os testemunhos históricos contra as intenções de quem os
produziu, ainda que seja fundamental levar em consideração suas intenções, é
imprescindível reconhecer que todo texto detém elementos incontrolados. Trata-se
de conjecturar (o que está dentro do documento, também está fora) o invisível a
partir do visível, dos indícios, do rastro. Atentando para o discurso ali contido
enquanto arma ideológica, com o cuidado para a não tomada das palavras textuais
como verdades, mas sim buscar elementos para indagar aos documentos, exteriores
ao próprio, entretanto que o compõem, como por exemplo: o contexto, quem o
escreveu, etc. Sendo caro para o Historiador construir sua metodologia com
princípios fundamentados na inquirição profunda que possibilite a transcendência
do aparente contido no documento. Como manifestou Ginzburg na sua obra
“Relações de Força”, é preciso aprender a ler os testemunhos às avessas. Só dessa
maneira será possível levar em conta tanto as relações de força quanto aquilo que
é irredutível a elas. Em “Combates pela História”, Lucien Febvre disse com todas
as letras o que hoje parece tão evidente, mas que não o era à época de seus escritos
e da Fundação da Escola dos Annales, pôr um problema é o começo e o fim de toda
história. Se não há problemas não há história. Assumindo a escrita da história como
uma narrativa resultante das tensões entre as fontes e as questões postas pelo
historiador, estamos convencidos, como tantos outros historiadores, que a
mediação desse processo criativo deve contar com o valioso auxílio de outras áreas
- tais como a antropologia e a literatura - sem por isso confundir-se com elas, afinal
o discurso histórico disciplinado da prova consiste no diálogo entre conceito e
evidencia, como alertou Thompson na sua obra “A Miséria da Teoria”. Pretendo
neste trabalho tratar desta questão da interdisciplinaridade no oficio do Historiador,
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sobremodo elementos com os quais tenho me deparado na pesquisa de doutorado


sobre as esquerdas armadas que desenvolvo no Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Entre o papel e a voz: professores de História e a imagem fílmica na sala de


aula - Rafael Monteiro de Oliveira Cintra (UERJ)

Em 2017 iniciamos uma pesquisa com o objetivo de entender de que modo os


professores de história relacionam-se com o objeto fílmico em sala de aula. Nossa
hipótese era a de que os professores de história não recebiam uma formação
adequada aos usos de tal objeto, tendo como consequência uma prática que não
desdobrava todas as camadas do filme. Dessa maneira, o filme era utilizado
somente como ilustração do conteúdo. À medida que o tempo foi passando e a
pesquisa seguindo seus rumos, descobrimos outras possibilidades de análise,
inserindo a prática dos professores e suas intenções no interior dessa discussão.
Hoje, reconsiderando nossas postulações iniciais, enxergamos a ação do professor
que utiliza o cinema como uma ação racional, quer dizer, por mais que o filme seja
utilizado como “ilustração”, esta ação é uma resposta ao cotidiano da sala de aula
e ao próprio ensino de História. Para isso, nos baseamos nas postulações teóricas e
metodológicas de Maurice Tardif, que inclui as “atitudes racionais” como uma
possibilidade de análise dentro do campo cauteloso dos saberes docentes. No
momento em que o professor consegue justificar suas ações, através de uma
argumentação discursiva, estas podem ser consideradas “racionais”. É claro que
328
mesmo estas atitudes são passíveis de críticas, como nos aponta o autor. Contudo,
apostamos que o professor de História, ao abrir mão deste recurso em suas aulas,
está atendendo a uma demanda contextual – que, por sua vez, pode ser exigida
pelos alunos e/ou por ele mesmo. Ainda, nossa aposta é a de que esta demanda se
relaciona diretamente a uma necessidade de “visualidade” do conteúdo histórico,
sendo o cinema o mecanismo através do qual estes se tornam visíveis e tangíveis.
Para isso, utilizaremos as contribuições de Hans Ulrich Gumbrecht sobre
“presença”, que não descarta a importância das experiências com o passado no
“mundo da vida” – termo que pega emprestado da fenomenologia, que caracteriza
uma existência humana esforçada em produzir experiências com aquilo é incapaz
de experimentar: o passado e o futuro. Por isso, nossa pesquisa volta-se diretamente
às práticas docentes, suas intenções e as circunstâncias que os rodeiam. A partir
disso, este trabalho tem o objetivo de apresentar parte das experiências em uma
escola estadual localizada no município de São Gonçalo - RJ, onde realizaremos
grupos focais e entrevistas com os professores de História, com a finalidade de
aferir nossas hipóteses e levantar reflexões sobre as relações entre estes objetos. O
lugar da experiência oferecida pelas imagens, das diferentes instâncias formativas
do professor – que acontece não somente nos espaços formais de formação – são
cruciais neste ensaio, que acredita no ensino de História como uma ação sensível e
múltipla.

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Experiências temporais na narrativa de Quentin Compson em "O som e a


fúria" - Maria Isabel Wang Boselli Rautenberg (UFF)

Sem fio condutor e sem cronologia claramente estabelecida, O Som e a Fúria


(1929) relata a degradação dos Compson na fictícia Yoknapatawpha County, no
Mississippi. No segundo capítulo da obra, a narrativa de Quentin acerca de seu
último dia de vida demonstra como as temporalidades se intercalam. Proposto o
intercâmbio entre a História e a Literatura, o trabalho tem como objetivo analisar a
relação estabelecida entre esta e a teoria da História. Por conseguinte, ao encarar a
obra literária como fruto de seu tempo, ainda que não expressamente determinada
pelo contexto de sua produção, a análise busca os sintomas de modificação na
maneira como os homens, a partir da experiência pós-Primeira Guerra e a quebra
da bolsa de Nova York, lidaram com as temporalidades e articularam o passado, o
presente e o futuro.

Ficção e verdade na literatura latino-americana (1940-1960) - Francine


Iegelski (Universidade Federal Fluminense)

A crítica literária costuma considerar que, a partir dos anos 1940, surge um novo
momento da literatura latino-americana, em que ficcionistas de diferentes países
passam a tratar, com profundidade e amplitude de enfoque originais, a herança
colonial e a violência da realidade histórica e social – revoluções, religião, luta pela
terra, miséria, explosões do crescimento das cidades – do continente americano no
329
século XX. Escritores como Miguel Ángel Asturias, Alejo Carpentier, Juan Rulfo,
García Márquez, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges e João Guimarães Rosa, foram
conhecidos por explorar em suas ficções, cada um a sua maneira, o que o crítico
brasileiro Davi Arrigucci chamou de “oscilação ambígua entre real e irreal em suas
narrativas”. Logo nos anos 1950, Ángel Flores considerou esse contexto como
sendo o da emergência de um “realismo mágico” genuinamente latino-americano.
Antonio Candido, por sua vez, entendeu que o “realismo mágico” de Guimarães
Rosa, por exemplo, deveria ser interpretado como um realismo. Ou seja, para
Candido, o “realismo mágico” de Rosa garantia um “sentimento de realidade” mais
eficaz ou profundo do que todas as técnicas que a literatura realista dispunha para
estabelecer uma impressão de real. Também vale mencionar, com Carlos Fuentes,
que a obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, considerada por muitos críticos
como fundadora do romance moderno, guarda fortes traços de parentesco literário
com o que se fez na América Latina em meados do século XX. Interessa-nos,
portanto, perguntar em que medida o “realismo mágico” pode servir como um
gênero definidor para se pensar uma literatura de vanguarda latino-americana a
partir dos anos 1940. Mas, para além de uma questão de gênero literário ou de
estilo, queremos pensar como uma literatura não-realista comunica experiências
históricas concretas. Em outras palavras, nossa intenção é investigar como, ao
transformar a opacidade que marca as relações entre não-ficção e ficção em matéria
literária, os escritores latino-americanos passaram a apresentar novas maneiras de
relacionar literatura e experiência histórica. Contudo, em vez de uma “dialética da
colonização”, marcada por relações de “diferença e repetição” da literatura latino-
americana com a literatura produzida na Europa, como já interpretou Alfredo Bosi,
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defendemos que a moderna narrativa ficcional da América Latina – e a dos Estados


Unidos, pela obra de William Faulkner, já nos 1920 – desenvolveu formas estéticas
próprias, relacionadas às singularidades históricas dos países de passado colonial,
o que nos trouxe um legado emancipado e emancipador num terreno importante da
história da cultura intelectual, o da literatura. Um modo desafiador de pensar, então,
nossa própria história e diferentes dimensões de sua escrita.

História Cultural e Historiografia: uma análise da trajetória de Robert


Darnton a partir de seu lugar e de suas práticas - Lucas Bagio Furtoso (UEL)

A história cultural poderia remontar, como demonstra Robert Darnton, até mesmo
a Heródoto, uma vez que a análise da cultura sempre esteve presente no trabalho
dos historiadores. Porém, como um paradigma acadêmico, ela se desenvolveu com
mais força a partir da segunda metade do século XX, tendo sua popularidade
institucionalizada com o movimento historiográfico da chamada “Nova História
Cultural”. Seu desenvolvimento liga-se com a história da historiografia, uma vez
que estudar certas correntes e autores é uma forma de buscar caminhos a respeito
das concepções teórico-metodológicas do fazer historiográfico. Dessa forma, este
trabalho tem como objetivo analisar a trajetória intelectual e acadêmica do
historiador americano Robert Darnton, a fim de compreender o desenvolvimento
de seu pensamento e de seu trabalho enquanto produtor do conhecimento histórico,
e suas contribuições para o campo da história cultural. Buscou-se analisar as obras
produzidas por Darnton, mais especificamente os livros O grande massacre de
330
gatos, e outros episódios da história cultural francesa, e O beijo de Lamourette –
mídia, cultura e revolução. Utiliza-se da perspectiva estabelecida pelo historiador
Michel de Certeau (2013), que trata da operação historiográfica com base em três
elementos: o lugar do historiador, suas práticas e sua escrita – este estudo foca nos
dois primeiros elementos, o lugar e as práticas. Através da análise de suas obras, e
relacionando-as com seu percurso profissional (instituições de trabalho), procurou-
se estabelecer a interpretação de seu pensamento. A partir dessa perspectiva,
observou-se, como um dos elementos principais, a influência da antropologia no
trabalho de Darnton, principalmente a desenvolvida pelo antropólogo também
americano Clifford Geertz.

Historicidade e Objetividade em Georges Canguilhem e Lorraine


Daston - Tiago Santos Almeida (USP)

Em seus estudos dedicados à história dos pensamentos médico e biológico,


Georges Canguilhem mostrou que o dado social e a historicidade - marcada pela
crítica, pelo erro e pelo abandono de certas concepções -, longe de entrar em
contradição com os valores de objetividade, são fundamentais para determinação
daquilo que faz da ciência uma ciência: a busca pela verdade. Já Lorraine Daston,
ao estudar as ciências em seu desenvolvimento histórico, buscou entender menos a
história de uma ciência específica e mais as ideias sobre o conhecimento que
articulam seus discursos, suas práticas e seus ideais de objetividade. Por meio de
noções como "virtudes epistêmicas" ou "economia moral das ciências", ela propõe
historicizar a ideia de objetividade, isto é, mostrar que conceitos epistemológicos
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como “observação” ou “experiência” mudam, evoluem e são culturalmente


definidos. Mas Daston não conclui, a partir daí, que escrever essa história
necessariamente desacredite a reivindicação de objetividade de uma determinada
ciência: assim como Canguilhem, não consegue esconder seu espanto diante dessa
ideia "tão estranha quanto difundida" segundo a qual historicizar equivale a
relativizar. Pretendemos, a partir dessa comparação entre os dois autores, tomando
um dos temas mais caros à historiografia das ciências, compreender melhor as
relações entre a "épistémologie historique" francesa e a "historical epistemology",
desenvolvida no Instituto Max-Planck para a História das Ciências, em Berlim.
Dessa maneira, poderemos pensar a atualidade da "epistemologia histórica" como
estilo de historiografia das ciências, naturais e humanas.

Literatura e história para além da representação - Manuela Rodrigues


Fantinato (PUC-Rio)

O século XX trouxe consigo não uma, mas várias pequenas (e grandes) revoluções
epistemológicas que varreram diversos campos de saber. Se ele parece começar
pendendo para uma excessiva profissionalização dos saberes, que pareciam
distanciar-se uns dos outros isolando-se dentro dos limites quadros e referências
teóricas de legitimação e diferenciação, logo foi possível observar o
atravessamento de saberes e disciplinas e a criação de novos espaços de
conhecimento que desestabilizaram muitas noções de verdade consideradas sólidas
e estáveis. Nas ciências humanas e sociais, a renovação veio encabeçada pela
331
antropologia e a literatura, que deslocaram o dito “real” para a criação de sentidos,
tendo a linguagem como espaço privilegiado para isso. Na história, a necessária
relação com o real e com o paradigma da verdade fez com que a renovação se
manifestasse sobretudo na escolha de objetos não tradicionalmente trabalhados
pelo historiador, mantendo-se, muitas vezes, uma abordagem ainda conservadora.
É o caso de muitos trabalhos históricos que usam a literatura ou textos literários
como representação ou documento. Este trabalho se propõe a pensar nas relações
entre história e literatura, do ponto de vista da história e do ofício do historiador,
para além da representação. Isso significa rejeitar aproximar-se do texto literário
como documento, buscando encontrar nele traços de seu tempo, mas encará-lo
como um corpo de experiências capazes de provocar no leitor percepções e
inspirações que incitem a produção de conhecimento sobre os vários tempos do
texto, desde sua produção até sua recepção. Nesse sentido, a noção de diálogo, de
Dominick Lacapra, parece especialmente cara. O papel da literatura para o
conhecimento histórico deve ser o de proporcionar o diálogo com o presente, na
medida em que apresenta outras perspectivas e sensibilidades que aproximam ou
tencionam aspectos da instável relação entre presente e passado.

Marx, Burckhardt, Fustel de Coulanges e Weber: quatro autores em torno


das origens da propriedade e da cidade antiga - Guilherme
Moerbeck (LABECA/MAE/USP)

Dentre os trabalhos mais relevantes da segunda metade do século XIX está A


Cidade Antiga, de Numa Denis Fustel de Coulanges, cuja influência na
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historiografia europeia até 1930 foi singular; tendo ainda, inspirado muitas
reflexões na segunda metade do século XX. A cidade antiga de Fustel, que começa
a ser delineada por volta do século VIII a.C., são as instituições citadinas que
incorporaram a religião, tornando-a, assim, esse binômio: estado-religião, ou, como
preferiu Fustel: uma cidade que era uma igreja. O que subsiste em grande parte dos
historiadores contemporâneos, ao se falar genericamente sobre a obra de Fustel, é
um entendimento correto, porém demasiado breve, a síntese: família-religião-
propriedade. Abertamente influenciado por Fustel, há o historiador suíço, Jacob
Burckhardt. Em sua História da Cultura Grega, Burckhardt abordou a emergência
da polis na Grécia antiga a partir de diálogos com a teoria política inerentes ao
decurso do século XIX. A Atenas de Burckhardt é caracterizada por meio de uma
avaliação francamente negativa para a democracia dos séculos V e IV a.C, uma
cidade-estado que foi degenerada por um governo popular corrompido. Em
Economia e Sociedade, Max Weber definiu a sua cidade a partir de três princípios:
da existência de uma sede senhorial, da realização de troca de bens regular e da
existência de um mercado. Ainda no século XIX, em 1857, Karl Marx escreveu os
Grundrisse, dos quais nos interessam as Formações econômicas pré-capitalistas.
Marx rompeu com a dicotomia gregos versus romanos e avaliou a origem das
comunidades tribais e cidades-estados em torno da guerra como a grande tarefa
partilhada entre os seus membros. A partir da guerra e da estrutura tribal, surgem
diferenciações e hierarquizações no tecido social. Em seu modelo para o mundo
antigo grego e romano, Marx tentou demonstrar que, a falta da necessidade de um
trabalho coletivo para se cultivar a terra fez surgir os proprietários privados em uma
332
sociedade de pequenos camponeses.

Michel de Certeau e a condição histórica como princípio ético da renovação


espiritual - Cristiano Ferreira de Barros (Universidade Federal Fluminense)

A produção intelectual do francês Michel de Certeau ultrapassou fronteiras


disciplinares. Um primeiro exame dessa trajetória é suficiente para dar-se conta da
facilidade com que transitava por diversas áreas do conhecimento pertencentes às
ciências humanas - história, antropologia, sociologia, psicanálise e linguística, por
exemplo. Contudo, ao averiguar mais atentamente, conclui-se que essa escrita
multidisciplinar emerge a partir de um momento específico no percurso trilhado
por Michel de Certeau: ela é fruto de uma inflexão ocorrida a partir de meados dos
anos 1960. Em linhas gerais, um primeiro momento de sua trajetória intelectual,
entre os anos 1950 e 1960, é marcado por um duplo interesse: desde 1956, ano de
sua ordenação junto aos jesuítas, atuou no âmbito do que ele designou “teologia
espiritual”, dedicando-se sobretudo ao fenômeno da experiência religiosa; em
seguida, com sua entrada no curso de doutorado em ciências da religião da
Sorbonne, iniciou suas pesquisas em história da espiritualidade e da mística cristã
dos séculos XVI e XVII, interesse que manteve ao longo de toda sua carreira
acadêmica. A partir de 1964, em grande medida motivado pelo desenrolar do
concílio Vaticano II, cresce seu interesse pelo problema da posição que os cristãos
deveriam assumir frente às novas experiências sociais e culturais do mundo
moderno. Progressivamente, referências a autores não associados ao universo
cristão vão recebendo maior destaque, processo acelerado a partir de 1968 com os
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protestos que tomam Paris em maio daquele ano, frente aos quais manteve posição
simpática, aprofundando um conjunto de reflexões relativamente autônomas ao
campo teológico e aos preceitos institucionais da Companhia de Jesus. No interior
desse processo, qual a função exercida pelos problemas relativos às ciências
humanas nas reflexões sobre a experiência religiosa? As rupturas do mundo
moderno acarretam novas dinâmicas sociais e culturais nas quais os cristãos são
constituídos e dos quais não podem se furtar. Desse modo, as disciplinas que tratam
dessas novas realidades informam sobre aspectos da experiência humana essenciais
à experiência religiosa. Segundo Certeau, a tradição religiosa, ao longo da história
do cristianismo, sempre esteve conectada à linguagem do presente. Em outras
palavras, na experiência religiosa, a presença do passado se atualiza num processo
de constante diferenciação. Portanto, essa condição histórica da renovação da vida
espiritual fundamenta-se num princípio eminentemente ético de abertura à
alteridade e de associação da caridade cristã ao clamor moderno por
democratização e justiça social.

O Fato, o Tempo e o Método: usos e interpretações da História nas Relações


Internacionais - Jéssica Cristina Resende Máximo (PUC-Minas)

Este artigo objetiva analisar o movimento de aproximação e debate entre as áreas


de Relações Internacionais e História e colocar em prática tal movimento ao refletir
sobre os usos e interpretações da História nas RIs. Chamado de “Virada
Historiográfica”, “Virada Histórica” ou “Retorno à História” das Relações
333
Internacionais, este movimento tem sido caracterizado por seu impulso a
historicizar os conceitos, as teorias e a própria história da área; isto é, há um esforço
pela temporalização da área e de seus pressupostos dentro deste movimento.
Datado do final da década de 1980 (tendo ganho mais força a partir da virada do
milênio), este movimento na área de Relações Internacionais coloca-se em
oposição ao “ahistoricismo” ou ao “mal uso” da História que a área de RI tem
cultivado durante sua institucionalização acadêmica, a partir da década de 1940.
Assim, a virada ansiaria por uma (re)aproximação das áreas de RI e História, de
maneira mais “apropriada” (distante do dito “mal uso” da História por
internacionalistas) e “consciente” (ciente das diversas possibilidades de uso e
interpretação da História). Ademais, seguindo o espírito da época, investiga-se
como três dimensões históricas – fato, tempo e método, têm sido pensadas dentro
das RIs. Se a primeira dimensão levanta a questão de como fatos históricos (ou o
passado) são compreendidos como correspondência ou narrativa; a segunda
interroga como pensar o tempo histórico – ou o arco temporal entre passado,
presente e futuro – como repetição, progresso e declínio; por fim, a terceira
investiga usos metodológicos da história. Assim, esse artigo é dividido em quatro
seções, para além da Introdução e Conclusão: 1) apresenta-se as diferentes visões
da virada historiográfica e posiciona-se em relação a estas; 2) introduz as
dimensões históricas em relação ao movimento da virada historiográfica; 3) analisa
as dimensões históricas face a Teoria de Relações Internacionais e a Teoria da
História; 4) reflete como os usos e interpretações da História aproximam ou
distanciam as duas áreas.

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O ficcionista como crítico: uma genealogia do procedimento crítico de


Vladimir Nabokóv (1889-1977) nas Lições de Literatura - Andressa Melo da
Fonseca (Programa de Pós Graduação em História Social - UFRJ)

Entre 1941 e 1959, período que residira nos Estados Unidos, Vladimir Nabókov
fora professor universitário de literatura e, antes de se tornar mundialmente
conhecido como o autor de Lolita (1955), ministrara cursos que se debruçavam
sobre contos e romances de língua inglesa, russa, francesa e alemã do século XIX
e XX, que seriam posteriormente editadas e transformadas nas Lições de Literatura
(1982). Dando especial atenção para “aos talentos individuais” dos escritores e “a
questões de estrutura" dos contos e romances analisados, e fundamentalmente
baseado em suas próprias experiências como romancista, Nabókov expunha em
suas aulas o que pensava ser indispensável sobre as obras discutidas, priorizando
uma análise desenvolvida concretamente na e através da forma e estrutura
daquelas, e percebendo as ferramentas de cada autor para alcançar determinados
efeitos estéticos ele delineia a “arquitetura” das obras. Grandemente influenciado
pelos movimentos simbolista e formalista russo, o presente artigo busca ressaltar a
influência da epistemologia formalista na crítica que Nabókov exerce durante a sua
crítica. Se por um lado, o émigrè russo propõe uma análise da estrutura que
despreza a historicidade das obras, por outro percebemos que, ao forjar seu cânone
pessoal, Nabókov, pelo contrário, não deixa de estar inserido nas dinâmicas do
campo literário e sobretudo, nas dinâmicas da Literatura Mundial, com suas disputa
de poder, hierarquias e determinações de valor estético, criados por atores social e
334
historicamente definidos.

O marxismo vai ao Império: Thompson e Gramsci em O Tempo


Saquarema - Vânia do Carmo (Universidade Federal Fluminense)

Originalmente apresentado como tese de doutoramento no ano 1985, O Tempo de


Saquarema de Ilmar Rohloff de Mattos é uma obra de leitura fundamental tanto
para quem estuda a formação do Estado Imperial brasileiro quanto para os que se
dedicam às relações sociais no século XIX do Brasil. Bebendo em Edward Palmer
Thompson, Mattos opera o conceito de classe senhorial como categoria histórica,
e ao tecer a relação dessa classe senhorial com a formação do Estado Imperial
entende a atuação da Coroa como papel de um Partido, conceito sustentado em
Antônio Gramsci. Desta forma, este trabalho dispõe-se a discutir as influências de
Thompson e Gramsci nO Tempo Saquarema, com o objetivo de compreender como
os conceitos de classe senhorial e partido político se inserem na obra de Mattos e
dão base para sua tese central.

O Nascimento da Cidade anti-higiênica: a experiência da epidemia no Rio de


Janeiro de 1870 - Claudio Vinicius Felix Medeiros (UFRJ)

De fato existiu a cidade anti-higiênica – a cidade do Rio de Janeiro na segunda


parte do XIX –, mas muito mais como produto ou efeito, não como origem. Como
foi possível algo que não existia concentrar tamanha consistência ontológica?
Como se elaboraram os sólidos contornos discursivos e mecanismos de poder tais
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capazes de fazer emergir sob a condição de coisa algo cuja clarividência não foi
manifesta? Nossa tarefa está próxima do que seria uma “topografia das condições
de possibilidade” para a elaboração de um dispositivo higienista que preencheu,
disputou narrativas, transmitiu ou procurou naturalizar nexos causais mais ou
menos notáveis. A questão é, portanto, refinando aqui os objetivos: como foi
possível que se assumisse de forma (aparentemente) irrefletida a ligação, o nexo
causal, entre o desalinho das ruas coloniais (a disposição, a fisionomia das nossas
ruas) e insalubridade pública (o anti-estético, o mau cheiro)? Ou: o que permitiu
que o traçado urbano herdado do período colonial fosse considerado insalubre pelo
discurso higenista da segunda metade do XIX? Propomos que não foram os
higienistas que lançariam as bases de percepção da rua como causa intransigente
da uma conveniência com mau cheiro da cidade. Interessa-nos de que modo o a
priori histórico que ativou a sensibilidade para a condição defeituosa da cidade de
S. Sebastião já estaria sendo preparado para que o discurso higienista objetivasse a
cidade como um campo potencial de intervenção. No máximo, a importância
preliminar do dispositivo médico-higienista foi ter institucionalizado, capturado
um ramo de competências em torno da rua e do cortiço como formas de
problematização quase que exclusivas, no contexto das epidemias de febre amarela
da década de 1870.

O sentido histórico e genealogia na última fase do pensamento


nietzschiano - José Nicolao Julião (UFRRJ)
335
Este ensaio está em intima conexão com os estudos que já vimos apresentando
resultados preliminares nos últimos anos. Nos trabalhos anteriores, víamos,
sobretudo, a crítica de Nietzsche ao historicismo, à consciência histórica, no
período de juventude , devido à sua exacerbação do sentido histórico como
capacidade de dar significação ao passado através da memória, ainda muito presa
às teses apresentadas em o Nascimento da Tragédia. Nessas, Nietzsche se
posicionou radicalmente crítico em relação à infecundidade criativa do que então
chamou de racionalismo socrático, ou metafísica racional, caracterizado pela
crença otimista na capacidade da razão em alcançar um conhecimento objetivo que
consolaria, deste modo, o ser humano da sua condição de finitude e fraqueza. Na
Segunda Extemporânea, ainda, repercute, consequentemente, essa crítica ao
racionalismo socrático, ao tratamento caudal, científico da história como um
rebento moderno da racionalização humana que pretende estabelecer, através da
capacidade de dar significação ao passado pela memória, uma narrativa
pretensiosamente verdadeira, comprometendo, por assim dizer, todo plano vital do
presente. Por isso, o diagnóstico de que os males da cultura se devem à
incapacidade do sentido histórico em dar significado ao passado através da
memória, apresentado nessa Extemporânea, depende da tese peculiar do NT,
segundo a qual, há na modernidade uma hipertrofia dos impulsos cognitivos que
impossibilita uma cultura autêntica e elevada de vida ativa. No que concerne à
questão do sentido histórico, embora já chamássemos atenção, em resultados
anteriormente apresentados, para o fato de que o tema permeia toda a obra de
Nietzsche, sofrendo novas significações de acordo com o texto e o contexto de
inserção do desenvolvimento do seu pensamento, efetivamente, nós pouco
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avançamos em nossas análises sobre o assunto, nas fases, intermediária e de


amadurecimento. O tema do sentido histórico na história universal é retomado,
posteriormente, tanto em obras editadas pelo filósofo quanto no espólio , nas fases
seguintes do seu processo de desenvolvimento intelectual, como, por exemplo, em:
Humano, Demasiadamente Humano I (HH I) I, 2; HH II, 17 e 223 (Miscelânea de
Opiniões e Sentenças); Gaia Ciência (GC), 337; Para Além de Bem e Mal (PBM),
224; Genealogia da Moral (GM), I 2, II 12; Crepúsculo dos Ídolos (CI) “A razão
na filosofia”, 1; Ecce Homo (EH), “As Extemporâneas”, 1. E ainda, aparecerá em
alguns póstumos, em muito especial, nos aqui destacados por nós, como: KSA, XI,
34(229); KSA, XIV, p.121 comentário ao HH I, 2. Contudo, a posição de Nietzsche
em relação ao tema nem sempre foi à mesma, variando quanto ao seu valor positivo
ou negativo nas obras publicadas e nos póstumos de acordo com o momento da sua
filosofia.

Primo Levi e o conceito de testemunho político - Pedro Spinola Pereira


Caldas (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)

Em “Os afogados e os sobreviventes” (1986), Primo Levi reflete densamente sobre


a necessidade, as condições e os limites do ato de testemunhar. Extremamente
rigoroso quanto às possibilidades do testemunho, Levi, porém, comenta que o
testemunho mais apropriado da experiência dos campos de concentração era aquele
produzido pelos antigos combatentes antifascistas, uma vez que eles, desde o
início, haviam percebido que o “Lager” era, acima de tudo, um fenômeno fascista
336
(cf. LEVI, Primo. “I sommersi e I salvati”. Torino: Einaudi, 2007, p.9) Embora
sempre muito criterioso, Levi não analisa detalhadamente casos particulares.
Embora mencione, ainda em “Os afogados e os sobreviventes”, os nomes de Eugen
Kogon, Hans Marsalek e, sobretudo, Hermann Langbein, o habitualmente conciso
Levi não esmiúça as obras destes autores. Meu objetivo, portanto, consiste em
propor uma possibilidade de investigação que leve em consideração a importância
da interlocução de Levi com seus contemporâneos, e, uma vez ampliando a
documentação, tentar identificar outros testemunhos de natureza política e
antifascista que acompanharam a obra de Levi ao longo de toda a sua trajetória.
Neste trabalho, todavia, pretenderei me deter apenas na obra “Menschen in
Auschwitz” (1972), de Hermann Langbein (1912-1995), membro do Partido
Comunista Austríaco e que esteve também em Auschwitz. Muito admirada por
Levi, a obra de Langbein pode ser um primeiro passo para uma definição do
conceito de testemunho político no âmbito da definição do conceito de testemunho
no âmbito das pesquisas sobre a obra de Primo Levi.

Uma imagem da subjetividade: a arte de Francis Bacon entre logos e


pathos - Letícia Pumar Alves de Souza (UFRRJ)

Por que produzimos conhecimento? Como isso é feito? Afinal, o que é conhecer?
A pesquisa de pós-doutorado que venho desenvolvendo tem como objetivo
promover uma reflexão sobre o ato de conhecer, dando especial atenção às questões
sobre a produção e usos das imagens. Focando, inicialmente, no processo de
trabalho do artista Francis Bacon (1909-1992), proponho analisar de que forma
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esse artista usou referências da cultura visual científica de sua época em suas
pinturas. Suas pinturas devem ser compreendidas tendo em vista o
desenvolvimento da cultura visual do século XX que foi permeada pelas “imagens
mecânicas”. Essa nova cultura visual mudou a forma que o corpo humano era
representado até então, tanto nas artes, quanto nas ciências. Daston e Galison
(2007) buscaram demonstrar de que forma o que eles chamaram de objetividade
mecânica foi uma virtude epistêmica de meados do século XIX, que recorrendo à
fotografia ou aos métodos gráficos, supunha produzir conhecimentos científicos
independentes das subjetividades individuais. Como foi demonstrado recentemente
por Brain (2016), essas formas científicas de conhecer influenciavam artistas que
usavam algumas dessas práticas para os seus próprios objetivos. Quando eu tomei
conhecimento das fontes que o pintor Francis Bacon usava para pintar (imagens
retiradas de manuais médicos, de atlas científicos e de revistas de ampla
circulação), considerei que o processo de trabalho desse pintor poderia ser
analisado de forma mais detalhada. O chamado “realismo perturbador” de Bacon
poderia demonstrar como algumas imagens consideradas “imagens objetivas”
poderiam ser usadas como fontes para um artista que procurava expressar
sensações e “reinventar o realismo”. Qual virtude epistêmica esse processo de
trabalho revela? Procuro, portanto, analisar de que forma a produção de
conhecimento pode ocorrer no entrecruzamento de diferentes campos disciplinares
como as artes, as ciências e as tecnologias, enquanto um posicionamento
epistemológico, ético e estético. Os trabalhos de Georges Didi-Huberman sobre a
produção de conhecimento por montagem serão particularmente uteis para esse
337
debate, assim como uma produção crescente no campo da história das ciências
sobre a questão das imagens.

Verbete da "enciclopedia audiovisual da cultura popular": um estudo sobre o


filme "A cantoria" (1970) - Ana Caroline Matias Alencar (PPGH - Unirio)

Durante a década de 1960, no Brasil, em torno da figura de Thomaz Farkas, reuniu-


se um grupo de cineastas preocupados com a definição do que poderia ser
compreendido como a especificidade nacional. Ao primeiro projeto realizado pelo
grupo, justamente por ter sido pautado por essa pesquisa sobre a "realidade
brasileira", foi oferecido o nome de "Brasil verdade". Já para a realização do
segundo projeto, denominado posteriormente como "A condição brasileira", a
participação do cineasta baiano Geraldo Sarno ganhou destaque incontestável, uma
vez que essa segunda fase da produção cinematográfica da "Caravana Farkas" toda
ela foi alicerçada sobre trabalho de pesquisa anterior sobre cultura popular
nordestina que já vinha sendo desenvolvido por Sarno nos limites do Instituto de
Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP). Com o auxílio do
então diretor do instituto, José Aderaldo Castello, a proposta inicial de filmagem
de dez documentários que explorassem diversos aspectos das manifestações
culturais nordestinas pôde ganhar corpo de forma a resultar nos dezenove filmes,
em sua maioria curtas-metragens, que foram produzidos pelos cineastas da
Caravana a partir das imagens gravadas durante as duas viagens feitas pelo grupo
ao interior do Nordeste. A questão norteadora da pesquisa que venho
desenvolvendo ao longo do mestrado é a de que maneira, para a elaboração e para
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a execução deste projeto cinematográfico que contou com a parceria institucional


do IEB, Geraldo Sarno reelaborou temas recorrentes nas reflexões de intelectuais
como Euclides da Cunha, Luís da Câmara Cascudo, José Aderaldo Castello e
Manoel Cavalcanti Proença, pertencentes a três gerações de intérpretes do Brasil
distintas, mas com aos quais o cineasta recorreu para o estabelecimento do que
deveria filmar e do porquê de fazê-lo: uma vez que as manifestações culturais
consideradas por ele como autenticamente brasileiras estariam correndo iminente
risco de desaparecimento, caberia à nossa intelectualidade o registro dessas
manifestações vistas como tão imprescindíveis para qualquer definição que se
tentasse estabelecer sobre o Brasil. Este trabalho, em especial, enfocará as
reapropriações feitas por Geraldo Sarno da obra de apenas um destes intérpretes do
país mencionados: Luís da Câmara Cascudo. Nas reflexões elaboradas pelo
etnógrafo norte-rio-grandense o cineasta baiano procurou reforços para melhor
definir sua própria função como intelectual, o que de maneira exemplar se
expressou na identificação estabelecida por Sarno dos seus curtas-metragens como
verbetes de uma “enciclopedia audiovisual da cultura popular brasileira”, como
forma de oferecer continuidade ao esforço que ocupou toda a vida de Câmara
Cascudo. Para tanto, será examinado o filme A cantoria (1970).

Vítima, testemunho e a “perversão historiográfica”: uma leitura de Marc


Nichanian - Alexandre de Sá Avelar (Universidade Federal de Uberlândia)

Em suas reflexões mais recentes sobre a “fenomenologia do sobrevivente”, Marc


338
Nichanian, um teórico franco-armênio ainda muito pouco traduzido no Brasil, tem
se esforçado para estabelecer um estatuto epistemológico para o testemunho de
situações traumáticas. Por paradoxal que possa parecer, é a partir da própria
impossibilidade do testemunho que funciona como ponto de partida para esta árdua
tarefa intelectual. Na esteira de autores como Giorgio Agamben, Nichanian afirma
que a vontade genocidiária é aquela que procura retirar a factualidade do genocídio
e que obriga a vítima a fornecer a prova. As testemunhas, ao procurarem relatar a
verdade do ocorrido, apenas confirmariam a vontade do perpetrador. Este realismo
frágil ou a “lei do arquivo”, conforme expressão de Nichanian, evidencia, mais do
que a impossibilidade do testemunho, uma “perversão historiográfica”. Em nossa
perspectiva, trata-se de perceber como tais situações-limite ou eventos traumáticos
atestam uma profunda crise da historiografia. Dois são os principais propósitos da
minha apresentação: inicialmente, tento discutir o estatuto da vítima – operando
uma crítica aos usos desta categoria – e definir em termos mais precisos tal
“perversão historiográfica”. Em seguida, apresento as bases do que Nichanian
compreende ser o estatuto do testemunho, chamando a atenção, sobretudo, para o
que ele define como “poética do resto” (reliquat).

Wolfgang Schluchter, um olhar sobre a categoria de Racionalização - Rafael


Martins de Marcelo Fallone (Universidade Federal de Goias)

Wolfgang Schluchter é considerado uma das maiores autoridades acerca da obra


de Max Weber. Os aportes criados por este pensador alemão, que aposentou-se
recentemente, continuam lançando luz sobre o papel da epistemologia nas
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definições formais das disciplinas. A partir da análise das obras: ‘A Ascensão do


Racionalismo Ocidental’ (Die Entwicklung des okzidentalen Rationalismus) e
‘Paradoxos da Modernidade ( Paradoxes of Modernity. Culture and Conduct in the
Theory of Max Weber), utilizo do conceito de Racionalização (Rationalisierung)
como fio condutor e proponho uma relação de tal entre a produção de conhecimento
histórico/sociológico e esta relação como tema da Filosofia da História.

339

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340
ST 32. História e Direito

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Arquitetura das Subvenções: Desvendando a Política de Fomento do Estado


Brasileiro. - Fabíola Amaral Tomé de Souza (UFRRJ)

O tema das subvenções, apesar de extremamente relevante para pensarmos


importantes aspectos da política brasileira, até o presente momento não se via
prestigiado no campo das Ciências Humanas. Estudar, analisar, debater e
conceituar as subvenções é um significativo avanço para compreender de forma
interdisciplinar os mecanismos de financiamento de obras e de serviços
incentivados pelo Estado, suas legalidades e ilegalidades. Analisando a legislação
do Império Brasileiro e a legislação do período republicano até 1964, verificamos
a ausência de matérias legais que tratassem especificamente de o tema apesar das
subvenções serem presença constante na atividade do legislativo e executivo
brasileiro pesquisada. Ao pensar o tema é importante atentarmos de estarmos,
inicialmente, tratando de conceitos jurídicos e que, portanto, pensar o Direito
enquanto objeto de análise histórica faz-se necessário. Pensar a historicidade do
direito é imprescindível já que não podemos recusar a devida atenção ao modo
histórico de pensar o direito, as leis e sua aplicabilidade. O direito não nasce isolado
da sociedade, insere-se sempre num certo contexto histórico constituinte e
reconstituinte, conforme a própria natureza do direito reclama que se entenda
vinculado à existência cultural e histórica do homem. Evidentemente que a
historicidade do direito não vive sufocada sob o império do passado e não se afere
apenas pelas objetivações histórico-culturais estáticas, já que o direito que vivemos
em cada época nunca constitui obra definitiva. Devemos analisar a legislação e o
341
direito assumindo um princípio de reflexão crítica e problemática, a partir das
diversas camadas que determinada legislação recebe ao longo do tempo,
desenhadas em relações flutuantes, porque, em direito, as coisas são historicamente
fluidas. O direito é uma norma social, instituída de forma hierárquica e forçosa por
membros de uma classe política capaz de impor seu respeito através de um sistema
de repressões e sanções. Salientando que nas mais diversas atividades da sociedade
essa regra também se aplicaria, como os códigos morais, profissionais e sociais.
Não obstante, é correto afirmar que a noção de fato jurídico é distinta das outras.
Diante do exposto este trabalho discutirá a arquitetura das subvenções. Igualmente,
atribuímos mais ênfase e primazia à questão política e a posição do Estado em
relação as subvenções, deixando num plano abaixo o discurso propriamente das
funções caritativas e/ou filantrópicas que foram assumidas e combinadas pela
sociedade civil diante da necessidade de auxiliar os cidadãos carentes.

As relações de gênero no sudeste escravocrata brasileiro: perspectivas


historiográficas e jurídicas no estudo das famílias escravas
oitocentistas - Daniel Camurça Correia (Universidade de Fortaleza)

Busca-se com este artigo discutir às relações de gênero dentro dos estudos da
escravidão do sudeste brasileiro. Ao analisar a produção historiográfica desde os
anos de 1970 até o presente momento, observa-se intenso debate a respeito do papel
das mulheres negras e escravas, dentro da estrutura paternalista e provinciana da
sociedade brasileira em tempos coloniais e imperiais. Viver, amar e casar são
categorias de análise que nem sempre foram sinônimos para muitas mulheres que
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lutaram pela sobrevivência, nos campos e nas cidades. Pelo contrário, ao


estabelecerem ações para viver, de acordo com suas compreensões da realidade, as
cativas permitiram que os historiadores indagassem sobre os significados do amor
e do casamento, bem como da constituição familiar em tempos de escravidão.

Decisões judiciais no STF da Primeira República: Elementos para


compreensão em casos políticos - Leonardo Seiichi Sasada Sato (UERJ)

O presente trabalho constitui um passo para a propositura da história política do


Direito enquanto método para a compreensão de decisões judiciais em cortes
superiores, em especial no Supremo Tribunal Federal. Acredita-se que decisões
judiciais constitucionais possam ser melhor compreendidas através da história
política do Direito, abordagem capaz de conferir inteligibilidade a decisões
colegiadas em instância superior, mormente em casos de alta controvérsia política.
Ao mesmo tempo é necessário aprofundamento no pensamento político que
envolvia tanto os ministros do STF quanto a Corte em si: os casos políticos
impunham debates sobre as funções, os limites, e o papel da atuação do STF no
equilíbrio entre poderes. É proposto um caso específico, o habeas corpus nº 3548
julgado pelo STF no ano de 1914, referente à intervenção federal no Ceará e às
decretações de estado de sítio no Distrito Federal, Niterói e Petrópolis. As
peculiaridades do caso estão justamente em a decisão ter destoado de outras sobre
os mesmos eventos, e não obstante isso ter alcançado um lugar nos precedentes
citados à época, como se ilustrativo fosse. Revelam-se assim facetas acerca de
342
como os casos poderiam ser compreendidos à época, e como podem ser
apreendidos na pesquisa histórica. A despeito de ter fugido à regra comum, o caso
representou o que era o uso político dos julgados do STF. Essas percepções
dependem de uma minúcia que só a análise atenta sobre a fonte histórica, tratada
como tal, é capaz de captar. Será apontado, entretanto, que nenhuma abordagem é
suficiente, se tomada de forma isolada: nem a História, nem a Ciência Política, nem
o Direito. Procura-se assim uma compreensão através de uma história política do
direito.

Inocêncio Serzedelo Corrêa: Pensamento financeiro e tributário na Primeira


República - Priscila Petereit de Paola Gonçalves (UFF)

O tema de pesquisa tem como objetivo debater as ideias de Inocêncio Serzedelo


Corrêa em torno das questões fiscais e econômicas que permearam o início da
Primeira República. Serzedelo Corrêa, nascido no estado do Pará, teve um papel
relevante na política econômica da recém República brasileira, sendo um dos
principais porta-vozes do debate sobre os rumos da economia no país. Em 1890 foi
eleito deputado constituinte, representando o estado do Pará no Congresso
Constituinte de 1890-1891. Já neste primeiro momento teve um papel de destaque
quando o tema em discussão tratava da temática financeira e tributária do país.
Posteriormente, passou a integrar importantes cargos no cenário político como, por
exemplo, de Ministro das Relações Exteriores e Ministro da Fazenda, ainda no
governo de Floriano Peixoto. Pode-se observar que a sua política econômica e
financeira se pautou no estímulo à industrialização, com tarifas protecionistas e
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facilidades de crédito, sem perder de vista o controle da especulação e da inflação.


Na qualidade de Ministro da Fazenda também empreendeu a reforma bancária, com
a fusão dos bancos da República e do Brasil, bem como iniciou uma campanha
para a instalação do Tribunal de Contas. Neste sentido, a partir da análise do texto
“O problema econômico no Brasil”, produzido por Serzedelo Corrêa em 1903, bem
como através da leitura de seus Relatórios, na qualidade de Ministro da Fazenda, e
de seus discursos preferidos no Congresso Constituinte de 1890-1891, pretende-se
investigar a produção intelectual e a trajetória política de Inocêncio Serzedelo
Corrêa. Desta forma, acredita-se que o estudo aprofundado do citado político
brasileiro, bem como de sua produção na área econômica e em torno do Direito
Tributário possa nos revelar uma vertente do pensamento político-econômico
nascente na Primeira República, mostrando, assim, a permeabilidade e a
necessidade de estudos que relacionem Política, Direito e História.

Intervenção na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro - Algumas


reflexões - Rafael Peçanha de Moura (Universidade Estácio de Sá)

O presente artigo traz contribuições, sob a ótica do Direito Constitucional, às


reflexões sobre o decreto presidencial anunciado no dia 16 de fevereiro de 2018,
referente à intervenção federal no setor de segurança pública do estado do Rio de
Janeiro. Por tratar-se de fato recente, a metodologia da abordagem utilizará fontes
jornalísticas, acrescidas de bibliografias jurídicas e legislações anteriores, tendo
como objetivo esclarecer os principais pontos do tema sob a égide da técnica
343
legislativa e das Constituições (Federal e Estadual), sem deixar de apresentar
hipóteses sobre os aspectos políticos, sociológicos e históricos da discussão.

Um olhar sobre o acervo judiciário da Casa da Suplicação do Brasil: Notas de


Pesquisa - Elizabeth Santos de Souza (UFF)

O presente trabalho tem objetivo de apontar a importância e potencialidade do


acervo judiciário do Tribunal da Casa da Suplicação do Brasil, indicando algumas
fontes históricas cujo uso permitirá escrever um novo capítulo sobre a história da
administração da justiça no Brasil oitocentista e sobre alguns temas caros aos
historiadores. Este trabalho trata-se de um exercício preliminar de análise sobre as
fontes inventariadas, até o momento, para a pesquisa do doutorado em andamento.
A Casa da Suplicação era o tribunal judicial mais importante da coroa portuguesa
e tinha competência para despachar apelações e agravos de ações cíveis e criminais.
As raízes desse tribunal encontram-se no medievo, quando era considerado
itinerante devido sua localização estar atrelada ao lugar de residência do monarca.
No Brasil, um congênere desse tribunal foi instalado no Rio de Janeiro em 1808,
funcionando até o ano de 1833.

O processo inquisitorial 8064 à luz da Micro-história - Guilherme Marchiori de


Assis (Universidade Federal do Espírito Santo)

A seguinte proposta se inscreve na relação entre a História e o Direito, buscando


avaliar de que forma um indivíduo específico, sua trajetória e sua teia de relações
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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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e significados sociais nos informam sobre as transformações na relação entre as


instituições seculares e a Igreja no Portugal do Setecentos. Seu personagem central
é o jesuíta italiano Gabriel Malagrida, religioso inaciano que dedicou grande parte
de sua vida às missões nos quadros da colonização, tendo atuado como missionário
no Brasil por trinta anos. Assim como Domenico Scandella, vulgo Menocchio, da
obra O queijo e os vermes do historiador italiano Carlo Gizburg, Malagrida foi réu
em processo inquisitorial, o qual saiu condenado à morte do mesmo modo. A
sentença do processo inquisitorial de Menocchio era vasta e com atributos própios,
tal qual o processo de Malagrida foi bem distribuído, vez que seguiu o Regimento
de 1640, aprovado ao tempo de D. João IV (1640-1656), “o Restaurador”, sob a
ordenação de D. Francisco de Casto, inquisidor-geral nesse período. Outro ponto
de equiparação é a relação que a micro-história fornece: o mundo é equiparado ao
queijo e aos vermes. Isso porque este, por atributos próprios, consome aquele. Sob
foco similar, Malagrida afirma que o terremoto de primeiro de novembro de 1755
fora fruto do pecado atribuído ao povo lisboeta. Ao contrário de Menocchio que
não deixou escritos, apenas suas palavras nos autos inquisitoriais, Malagrida
redigiu o opúsculo denominado O Juízo da verdadeira causa do terremoto que
padeceo a côrte de Lisboa no primeiro de novembro de 1755, além da Heróica e
admirável vida da gloriosa Santa Anna mãe de Maria Santíssima, ditada pela
mesma Santa, com assistência, aprovação e concurso da mesma Soberaníssima
Senhora e seu Santíssimo Filho e Tractus de vita et Imperio Antichristi, todos os
escritos anexados aos autos 8064 de 1761. O ponto mínimo de sua argumentação,
qual seja, ligação direta entre o pecado e o terremoto, gera um processo de 2033
344
laudas. Processo esse sob o Tribunal da Inquisição durante o reinado de D. José I
(1750-1777). De outro modo, Menocchio faz apontamentos vistos como contrários
aos dogmas da Igreja e ao Cristianismo. Condenado ao garrote vil e queimado na
Praça do Rossio, em Lisboa, Malagrida é publicamente supliciado em 1761. O
moleiro filósofo foi condenado a passar o resto dos seus dias na prisão, usando o
sambenito. Partindo assim da análise dos autos inquisitoriais 8064, tal como
Ginzburg empreendeu sua análise da sentença em face de Domenico Scandella, é
possível verificar quais os componentes histórico e jurídicos previstos nos autos e
no Regimento de 1640, a fim de apresentar como se deu esse julgamento que é
ponto crucial na análise historiográfica lusa.

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345
ST 34. História e memória das
periferias brasileiras, africanas e
latino americanas: cidadania,
invisibilidade social e silêncio.

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A brasa fora do braseiro: implicações identitárias de uma igreja histórica em


processo de pentecostalização - Pâmella Ferreira Campos (UNIRIO)

O trabalho em questão visa compreender o processo denominado como


pentecostalização das igrejas protestantes históricas, mais especificamente o caso
da Igreja Batista Novo Horizonte (IBNH), situada em São João de Meriti, Rio de
Janeiro, fundada no ano de 1968, ativa na comunidade de Parque Tiete até os dias
de hoje. O interesse sobre essa pesquisa surgiu no momento em que fui convidada
a realizar o levantamento histórico desta instituição, a fim de salvaguardar a
memória de sua fundação e sua relevância enquanto participante da história da
comunidade de Parque Tiete, Baixada Fluminense. Por ser detentora de um modelo
de culto mais rígido e racional, dando ênfase na leitura bíblica e na não abertura
para êxtases espirituais e tampouco para testemunhos íntimos, a mensagem batista
não é caracterizada por ter um discurso acessível que agregue as massas populares.
Desde sua instalação no Brasil, ela prioriza uma postura ascética e tem como base
o distanciamento da cultura popular católica, assim como as influências africanas
e indígenas. Em IBNH não era muito diferente, modelos de cultos com maiores
demonstrações emocionais e elementos pentecostais, não só eram mal vistos, como
poderiam render exclusão de membros. Entretanto, há mais de uma década esta
igreja tem não só aceitado o “batismo no Espírito Santo”, como também tem
incentivado a busca frequente pelo “dom de línguas” por parte dos membros, a fim
de que tenham uma vida espiritual mais avivada e íntima com Deus. Algo
impensável até a década de 1990, estritamente condenado pelos diáconos e pastores
346
veteranos tradicionais, o incentivo e a prática de elementos pentecostais,
atualmente tomou posse da organização de culto de IBNH. Os congressos voltados
para o aprofundamento bíblico e o estudo teológico de maneira mais pragmática e
rígida, foram substituídos por retiros espirituais com temáticas sobrenaturais tais
como: “Encontro com Deus”, seminários sobre “maldição hereditária”, “libertação
e cura espiritual”, e diversas programações carismáticas voltadas para o público
jovem. Juntamente com essa transformação litúrgica, houve uma mudança quanto
ao corpo de membros e suas estruturas familiares.Nessa perspectiva, comparando
o fluxo e o histórico de famílias que frequentavam IBNH no período batista
tradicional, e no momento mais recente admitindo elementos pentecostais, pude
ver a diferença de raça, renda e escolaridade da membresia, mudança perceptível
que se intensificou nos períodos de maior violência e expansão do tráfico de drogas
na região. O objetivo final deste trabalho é a análise da expansão pentecostal
associada à realidade periférica de seus fiéis, bem como o espaço de atuação social
que essas pessoas, sobretudo mulheres pobres e negras, exercem através de
lideranças nestas igrejas.

As interpretações da encantaria e da pajelança no Estado do Maranhão na


primeira metade do século XX - Rayssa Sampaio Teixeira (UFRJ)

O presente artigo tem como objetivo descrever de que modo os rituais religiosos
conhecidos como “Encantaria” e a “Pajelança” eram interpretados no Estado do
Maranhão. Para o desenvolvimento da pesquisa foi realizado em fevereiro de 2018
o levantamento documental dos Periódicos Nacionais localizados na Hemeroteca
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Digital da Biblioteca Nacional no período entre 1890-1930, utilizando os


descritores “curandeiros”, “pajelanças”, “feitiçaria”, “demônios”, “encantaria” e
“macumba”. O estudo retrata o cenário da Primeira República e o protagonismo
negro e indígena o que justifica o recorte temporal escolhido. A partir das fontes
Jornal Pacotilha (MA) e Diário do Maranhão (MA) analisadas, nota-se que as
denúncias contra os praticantes dos rituais religiosos afro-brasileiro e indígena
provocou a distorção e o silenciamento dos testemunhos, bem como a memória
coletiva sobre os mitos. Também foi possível relacionar as denúncias feitas contra
estes rituais com o evento pós-abolição da escravatura no Brasil. Além disso,
apesar da maioria dos autores atribuírem uma perspectiva pejorativa aos mitos na
literatura dos Folhetins, percebeu-se a existência de uma minoria que adaptava a
figura de Caboclos em seus personagens, ressignificavam os rituais nas histórias e
exaltavam os orixás. Por fim, diante dos achados, ocorreu a reflexão acerca dos
conceitos bibliográficos da filosofia e da antropologia que debatem a interferência
da religião e da religiosidade na vida dos indivíduos e como isso reflete no coletivo.

Cabo Verde como paraíso do Atlântico colonial - Agata Bloch (Academia


Polonesa das Ciências)

No século XVI, Cabo Verde tornou-se o coração responsável pelo percurso das
ideias, pessoas, mercadorias e conhecimentos através de todo o Império colonial
português, envolvendo várias heranças e tradições culturais. Foi um lugar de
transplantação de inúmeras espécies vegetais e animais, um verdadeiro campo de
347
experimentação e um lugar estratégico no cruzamento das mais importantes rotas
marítimas. Tudo o que foi enviado de África para a América ou para a Ásia, passou
por um processo de adaptação em Cabo Verde. Plantas e animais foram sendo aí
preparados para a reexportação, enquanto os escravos foram submetidos a um
processo de adaptação, sendo batizados no porto da Ribeira Grande, sede da missão
cristã em África, onde lhes era ensinada a língua portuguesa e onde eram obrigados
a aceitar as matrizes culturais básicas dos Europeus. As novas circunstâncias
permitiram o nascimento de uma sociedade distinta e mista, que foi obrigada a
aprender tudo a partir do zero. Surpreendentemente rápido, conseguiram
ultrapassar as suas fronteiras, contribuindo para a difusão cultural e comercial da
Europa, da América, da África e da Ásia, sendo o Cabo Verde um ponto de
encontro de quatro continentes. Na fronteira de vários mundos, aproveitou um
pouco de cada um deles. Cabo Verde é um pedacinho do Brasil ou o Brasil é um
pedação de Cabo Verde? Cabo Verde foi um espaço de oportunidade para ideias
místicas, permanecendo o local favorito para os sonhos e medos ocidentais. Porém,
foi verdadeiramente um paraíso para todos?

Em busca da ocupação dos subúrbios e áreas rurais de São Paulo entre os


séculos XIX e XX. - João Paulo França Streapco (USP)

O presente trabalho tem por objetivo apresentar aspectos da transição rural-urbana


ocorrida na cidade de São Paulo entre os séculos XIX e XX, que gerou o padrão
periférico de urbanização, tendo por referência alguns dos elementos daquilo que
o sociólogo Gabriel Bolaffi definiu por variáveis menos evidentes e mais profundas
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do processo de formação das periferias paulistanas. Entre estes elementos de


referência, buscaremos apresentar algumas evidências de um processo de ocupação
das áreas suburbanas e rurais do município, a partir do estabelecimento de chácaras,
fazendas e pequenas propriedades, onde a produção agrícola, de subsistência ou
para o fornecimento aos mercados da cidade, tinha uma função estratégica para a
alimentação dos grupos mais pobres da cidade, inclusive no período de
industrialização da primeira metade do século XX. Paradoxalmente, a
historiografia sobre a cidade de São Paulo pouco se atentou aos processos
históricos de ocupação de suas periferias e com aqueles que estiveram envolvidos
com este processo. Apresentaremos algumas das fontes que referenciam nossa
pesquisa e os desafios colocados para encontrar dados estatísticos acerca desta
produção, em alguns períodos históricos e o trato com os dados encontrados em
algumas estatísticas.

Hip Hop de leste a oeste de Manaus: quatro cabeças de uma Hidra Urbana e
um bumerangue africano - Sidney Barata de Aguiar (UFAM)

Este artigo tem por objetivo principal resgatar a história recente do Hip Hop
organizado na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, através da
trajetória de quatro personagens exponenciais. Para tanto, coletei os depoimentos
destes fundadores e protagonistas do que chamamos M.H.M. (Movimento Hip Hop
Manaus). Com uma escrita didática, apresento e represento esta cultura gestada,
criada e desenvolvida nas ruas como uma Hidra Urbana, pela sua capacidade de
348
renovação e envolto pela teoria do Bumerangue Africano que subsidia com a
circularidade de informações regionais e culturais e que contribui com o
enfrentamento dos problemas sociais e políticos das periferias locais e que utiliza
os espaços urbanos para sobreviver, criar-se e recriar-se nas “quebradas”, nas vielas
e arrabaldes manauaras.

O caso do astrólogo racista - Linderval Augusto Monteiro (UFGD)

Trata-se da narrativa e análise de um caso de justiçamento popular ocorrido em


1970 no município de Nova Iguaçu. O caso chamou a atenção da imprensa
fluminense e carioca principalmente por envolver um astrólogo branco que vivia
em um bairro periférico iguaçuano e seus vizinhos quase todos negros. Após alguns
anos de uma convivência conflituosa ao extremo, alguns dos vizinhos do "professor
Sousa" resolveram justiça-lo. Intento nessa comunicação pensar as formas como,
ao longo do que chamo colonização proletária da Baixada Fluminense, deram-se
as relações entre vizinhos e as identidades populares.

O Museu de Favela no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo: potencialidades e


limites dos agenciamentos da memória - Aline dos Santos Portilho (IFF)

A Organização Não-Governamental Museu de Favela foi fundada em 2008. Sua


existência resulta da mobilização de parcela dos moradores do Pavão-Pavãozinho
e do Cantagalo em torno das ações do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC), fruto de parceira entre governo federal e estadual e iniciado em novembro
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de 2007. No âmbito do PAC, propunha-se realizar investimentos em infraestrutura


e no desenvolvimento econômico e social local, razão pela qual foi criada a Base
de Inserção Social e Urbana (BISU)1. Dentre outras atividades, a BISU realizava
cursos de qualificação profissional com o objetivo de criar um “legado do PAC”
para aquelas favelas. Este legado consistia na criação de uma empresa, associação
ou cooperativa que, após o término da execução do PAC, permanecesse no
território gerando trabalho e renda para a população. Como resultado dos debates
realizados entre moradores, gestores públicos e empresários, parte considerável das
ações foi direcionada para a criação de um museu que operasse também o turismo.
Neste sentido, foram realizados dois cursos em parceria com a Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) para moradores interessados em se
engajar na criação daquele museu, um de Museologia e outro de Turismo. A
articulação dos moradores em razão das ações sociais do Programa de Aceleração
do Crescimento no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo concorreu de forma decisiva
para a instalação do MUF. O cruzamento de ações governamentais desenvolvidas
naquele território abriu o campo de possibilidades no qual os moradores envolvidos
em torno do MUF produziram outras estratégias para relacionar-se com o governo.
Utilizavam-se da memória como capital para movimentar estas relações,
produzindo agenciamentos que não se limitaram a acionar o governo. Mobilizavam
também a iniciativa privada, bem como foram utilizados para se aproximar de
moradores das duas favelas que não participavam diretamente da gestão do museu.
O objetivo central desta apresentação é refletir sobre as potencialidades e limites
impostos a esta ação realizada pelos moradores mobilizados em torno do MUF.
349
Entendo que a possibilidade de utilizar a memória como capital nas relações
estabelecidas pelo MUF está colocada em um quadro mais complexo. Sujeitos
diversos, mobilizados no campo político, se utilizaram da memória como capital
em suas disputas e assim produziram o léxico que permite novas mobilizações que
articulam política e memória. Compreender as ações que tinham o MUF como foco
passa, assim, por compreender como a memória se tornou recurso legítimo no
agenciamento de demandas por direito e reconhecimento naquela localidade.

Uma região esportiva: os subúrbios do Rio de Janeiro no início do século


XX - Glauco José Costa Souza (Universidade Federal Fluminense)

O futebol é o nosso principal objeto de análise no presente trabalho, todavia, ele


não é o único, haja vista a existência de diversas práticas esportivas nos subúrbios
do Rio de Janeiro no início do século XX. Inseridas em uma verdadeira febre
esportiva que acometia a Capital Federal no início do século passado, as regiões
suburbanas precisam ser vistas como sujeitos ativos deste período. Inicialmente,
optamos por trazer a definição do que conceituamos como subúrbio e de que
maneira os esportes se desenvolveram na região. Para tanto, faremos uso da
interdisciplinaridade ao longo desta reflexão sobre a definição de que subúrbios
estamos falando. Por meio da leitura de trabalhos na área de geografia,
apresentamos definições variadas sobre as transformações deste espaço geográfico
nos séculos XIX e XX. Tal procedimento se mostra de extrema importância para
entendermos o cenário em que a prática esportiva é recebida pelos suburbanos.
Neste sentido, também aproveitamos o espaço para apresentar a região do Engenho
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de Dentro, a qual trabalharemos com mais intensidade ao falarmos do Engenho de


Dentro A.C., clube esportivo fundado na localidade e que conquistou o
tricampeonato da Liga Suburbana de Futebol nos anos de 1916, 1917 e 1918.
Região que serviu de moradia para muitos trabalhadores devido a instalação da
oficina da Estrada de Ferro Dom Pedro II/Central do Brazil, é nesta localidade que
são fundados os Fantasmas Azuis e, sem os quais, o presente trabalho não poderia
ser realizado. Ao escolhermos analisar este processo nos deparamos com um
cenário interessante pelo qual o esporte se desenvolveu na região a tal ponto que
permitiu o estabelecimento de contatos com outros grupos inicialmente fora deste
círculo. Assim, é importante reforçarmos a ideia de que a Liga Suburbana de
Futebol foi uma das várias formas de competição que surgiram na então Capital
Federal no início do Século XX. Não obstante, ao fazer uso do termo suburbano,
seus praticantes trouxeram para si uma noção de identidade que começava a ganhar
forma. Paralelamente, a concepção do que seriam os subúrbios encontrava-se em
franca construção inserida em uma gama de complexidade e diversidade que
esperamos explorar nas linhas que se seguem abaixo. Ainda que hoje em dia haja
um senso comum sobre o perfil dos moradores dos subúrbios cariocas, esta
unicidade de concepção não se fazia presente no início do século passado,
sobretudo quando nos deparamos com os mais variados sujeitos e veículos que
falavam sobre os subúrbios do Rio de Janeiro. Estes, por sua vez, são objetos de
grande complexidade e que exigem um olhar atento para que se possa dar conta
disso.
350

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351
ST 35. História econômico-social nos
séculos XIX/XXI: diálogos
interdisciplinares entre História,
Economia e Relações Internacionais

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"O Comendador Mandou Construir" - Antônio Martins Lage e a Atividade


Construtora na Ilha das Enxadas (1857-1882) - Thiago Vinícius Mantuano da
Fonseca (PPGH-UFF)

O objetivo dessa comunicação é explorar uma perspectiva importante, mas


relegada à segundo plano, para a História Urbano-Portuária, trata-se das
construções hidráulicas, terrestres, de assentamento de equipamentos e maquinário
nos portos. Na segunda metade do século XIX, o porto do Rio de Janeiro sofria
pronunciados gargalos de infraestrutura, criados pela progressiva integração
brasileira à Divisão Internacional do Trabalho através do Mercado Mundial, para
corresponder à demanda, uma série de obras foram realizadas nas praias e encostas
da Corte. As infraestruturas construídas e reparadas, longe de romper com a lógica
produtiva do porto pré-capitalista, ampliavam, fortaleciam e dotavam de novos
materiais, técnicas e tecnologias a antiga lógica de operação portuária dominada
pelos trapiches. O poder público, através especialmente da Alfândega do Rio de
Janeiro, há muito já não conseguia dar conta do fluxo de cargas e pessoas dos portos
do Reino, assim como os trabalhos de carregamento/descarregamento,
armazenagem, guarda, etc, especialmente intensos no porto da Corte. Por conta
disso, desde o período Joanino, a solução encontrada foi realizar esse serviço
através de agentes privados, os conhecidos Negociantes da praça do Rio de Janeiro.
Neste trabalho, procuraremos debater a expansão física do complexo produtivo no
Porto do Rio de Janeiro oitocentista. A proposta aqui é de nos concentrar na faceta
privada dessa expansão. Para isso, como estudo de caso, demonstraremos a
352
transformação da Ilha das Enxadas num dos três principais Entrepostos
Alfandegados do porto do Rio. Nas Enxadas, o Comendador Antônio Martins Lage
construiu duas dezenas de armazéns em 25 anos de atividade como responsável
pelas empresas da família, além de muitas outras infraestruturas. Os armazéns de
carvão da família Lage ficaram internacionalmente conhecidos e eram de suma
importância para o abastecimento da cidade, suas fábricas e, especialmente, das
diversas frotas mercantes que carregavam/descarregavam e abasteciam no
principal porto do Atlântico Sul. Desta forma, constitui estudo de caso
representativo do processo que buscamos aclarar. Nesse sentido, pretendemos
expor as condições de construção de todo aparato produtivo e comercial dos Lage
na referida Ilha. Trabalharemos com alguns aspectos cruciais das diversas
empreitadas deste negociante na Ilha, a saber: a magnitude/variedade das obras e
as finalidades das construções, a força de trabalho utilizada, os materiais e técnicas
de construção, as tecnologias implementadas, o maquinário utilizado nas obras e
assentado para operação, o financiamento e o impacto destas obras na operação
portuária da Corte. Com isso, buscaremos provocar uma discussão sobre como os
serviços públicos criados e se expandiam no Segundo Império.

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A Dicotomia Imperial: Os Estados Unidos entre uma América de nações iguais


e a supremacia norteamericana nos discursos de Joel Roberts Poinsett sobre
a Independência do México (1821-1825) - Kaio Tavares Rodrigues (UFF)

O político, diplomata e latifundiário da Carolina do Sul, Joel Roberts Poinsett foi


um dos maiores representantes da relação paradoxal dos Estados Unidos com a
América Latina na primeira metade do século XIX. Se, por um lado, a república
norte-americana apoiava as independências das ex-colônias espanholas, desejando
constituir um mercado para seus produtos e uma zona de influência política, por
outro, os norte-americanos colocavam seu experimento republicano, e suas
declaradas: pureza racial, liberdade civil e religiosa, como características
superiores. A partir de 1810, o governo dos EUA enviou missões consulares ou
comerciais para reunir informações sobre as independências, bem como criar
vínculos comerciais com os novos países. Poinsett, na qualidade do Cônsul,
participou dos processos de independência de Buenos Aires e do Chile e, ao
retornar a seu país, foi considerado um especialista no assunto. Eleito para a
Câmara de Representantes dos EUA (1819-25), o sulista foi um dos principais
defensores do apoio e reconhecimento das independências durante os primeiros
anos de seu mandato, numa espécie de prévia das ideias evocadas pela Doutrina
Monroe em 1823. Salientava sobretudo os princípios revolucionários das
independências, tecendo comparações com a Revolução Norte-Americana. O caso
do Império Mexicano, todavia, despertava insegurança, tanto por seu regime
monárquico, como pela ameaça da reconquista espanhola. Assim, Poinsett foi
353
enviado ao México em 1822, como agente especial encarregado de avaliar a
situação política e econômica do país para julgar as possibilidades de um
reconhecimento. O antigo Vice-Reino da Nova Espanha se tornou independente
em 1821, após 11 anos de uma sangrenta guerra, que ampliou uma crise econômica
proveniente ainda do século XVIII, e potencializou as dívidas do novo país. Num
contexto de fortalecimento da legitimidade e ameaça às independências, em razão
da Santa Aliança, o novo governo mexicano urgia por reconhecimentos que
pudessem garantir a sua autonomia e integração no concerto das nações. Durante
sua viagem ao México, em 1822, Poinsett escreveu “Notes on Mexico”, publicação
na qual adota um discurso bastante diferente daquele que havia defendido no
Congresso, criticando assim o sistema político, a mistura racial, a Igreja e outros
pontos da sociedade mexicana. Esta comunicação promoverá uma análise
comparativa entre discursos de Poinsett em favor do reconhecimento das
independências, e seu livro “Notes on Mexico”, entendido como um relato de
viagem e um discurso político sobre a suposta superioridade dos EUA.

A Escravidão Atlântica e os Debates sobre Imperialismo - Gustavo Alvim de


Góes Bezerra (PUC-Rio)

O trabalho busca analisar a História da Escravidão atlântica como um complemento


para os debates sobre imperialismo. Esse esforço busca ser uma contribuição para
o campo da História das Relações Internacionais ao mostrar um engajamento com
um silêncio desse campo dos estudos históricos. Parte-se da importância da
escravidão para a constituição do espaço atlântico como um espaço dinâmico de
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trocas e contatos e busca-se, através de recente bibliografia sobre a escravidão


produzida sob o espectro da História Global, identificar as possibilidades de
diálogo com a bibliografia sobre Imperialismo. Assim, o trabalho tem por objetivo
responder a pergunta: é possível fazer uma leitura do Sistema Atlântico de
Escravidão do final do século XIX a partir de debates sobre o Imperialismo? Nesse
sentido, será mobilizada a literatura sobre Segunda Escravidão para, não apenas
diferenciá-la da escravidão colonial na sua significação econômica para o sistema
atlântico, mas sobretudo para situa-la, contextualmente, no debate originário do
imperialismo. Essa crítica será feita à luz de debates contemporâneos sobre
imperialismo que apontam para as práticas de silenciamento inerentes à expansão
europeia através da constituição de espaços coloniais. Vincular a escravidão aos
debates constitutivos sobre a expansão econômica europeia tem por consequência
problematizar a hierarquia entre centro/periferia, ao discutir a relevância de pessoas
marginalizadas e espaços periféricos na compreensão da dinâmica econômica
europeia expansiva do final do século XIX.

A Sudene e o Desenvolvimento do Nordeste: notas sobre os Planos


Diretores - Alexandre Black de Albuquerque (UFPE)

A Superintendência do desenvolvimento do Nordeste – SUDENE foi criada como


autarquia em 15 de dezembro de 1959 pela Lei 3.692/59 e tinha como objetivo
acelerá o desenvolvimento da região considerada “problema” na visão do Sudeste.
O planejamento integrado, que previa investimentos conectados entre várias áreas,
354
de forma a sanar os gargalos produtivos da região, seriam baseados nos Planos
Diretores, que dariam as diretrizes para a atuação da SUDENE por determinados
períodos de tempos. Na década de 1950 não parecia haver dúvidas, mesmo entre
os liberais (Bielschowsky, 1988), que a construção de uma indústria dinâmica e
diversificada era preponderante para alcançar bem-estar social para a maior parte
da população. Na América Latina esse processo pela busca do desenvolvimento
dará origem ao estruturalismo econômico, também conhecido como escola (ou
ideias) “cepalinas”, por ter sido desenvolvido, inicialmente, nos corredores da
CEPAL – Comissão Para América Latina e Caribe pelas mãos do economista
argentino Raul Prebisch. As ideias da CEPAL tiveram grande importância na
formulação, em 1956, do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste
– GTDN, e mais tarde da SUDENE, com Celso Furtado a frente, e tendo como
objetivo formular uma política de desenvolvimento para a região que resultaria no
“documento GTDN”. Também não nos esqueçamos que esse documento é filho
direto de Furtado, o maior expoente do estruturalismo junto com Prebisch, e,
portanto, a análise feita pelo GTDN dos problemas e possíveis soluções para o
desenvolvimento da região Nordeste do Brasil é formulada sob uma ótica cepalina,
que versava sobre a dicotomia centro periferia, advogava reformas estruturais
(como a agrária) visando aumentar a dinamismo econômico através da melhora da
distribuição de renda e do incremento da produtividade, como forma de engendrar
o desenvolvimento, tudo isso sob a égide da atuação do Estado na economia, que
seria o promotor e motor da industrialização. Como dito acima, defender a atuação
do Estado não era algo proveniente apenas do campo dito progressista, mas, ao
contrário da vertente neoliberal do pensamento econômico, a CEPAL considerava
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que o Estado sempre teria funções importantes na regulação do sistema econômico


e não compactuavam com a visão dos economistas ortodoxos que considera que o
desenvolvimento econômico é variante natural de uma política fiscal
“responsável”, e, por tanto, a criação da SUDENE, filha do GTDN, tinha por base
uma intervenção estatal relativamente profunda, pelo menos em teoria, na
economia nordestina como forma de promover o desenvolvimento regional. Logo
a SUDENE adotou alguns dos principais pressupostos da CEPAL, no entanto, o
golpe de estado de 1964 traria mudanças para autarquia que seriam expostas nos
Planos Diretores.

As indústrias de alimentos e químico-farmacêuticas da cidade do Rio de


Janeiro na primeira metade do século XX: estrutura e dinâmica de
crescimento - Almir Pita Freitas Filho (UFRJ)

O principal objetivo dessa comunicação é o de traçar o painel da estrutura da


indústria da cidade do Rio de Janeiro ao longo da primeira metade do século XX,
destacando a participação e as mutações verificadas em dois importantes ramos do
setor: o de alimentos e o químico-farmacêutico. Parto da constatação de que uma
das principais características do setor foi a persistência de ramos tradicionais da
indústria, presentes desde o final do século XIX, dentre os quais se destacaram o
de alimentos, têxteis e químico-farmacêutico. A fabricação de alimentos, para se
ter uma ideia, foi uma das principais atividades desde os primórdios da indústria
brasileira, até o inicio da década de 1950. Os dados censitários indicam que, ainda
355
em 1950, os alimentos e têxteis chegaram a representar 50, 71% do total do valor
da produção industrial do País naquele ano. Esses ramos, por um longo tempo,
também moldaram o perfil industrial da cidade, convivendo com indústrias
consideradas mais modernas, as de bens de capital e consumo duráveis, originadas
do processo de industrialização pesada. Buscar possíveis explicações para tal
persistência é outro objetivo desse estudo, que parte de uma proposta que considera
estar diante de situações de concentração de capital e de estratégias protecionistas
voltadas para preservação dos mercados. Utilizo a seguinte documentação como
principais fontes de informações: a) dados dos inquéritos industriais realizados no
país até o inicio da década de 1960; b) publicações específicas de organizações dos
ramos industriais selecionados, assim como informes da imprensa em geral; c)
textos e estudos gerais sobre a situação atual e/passada de empresas dos ramos
pesquisados.

Benjamim Franklin e a imigração: a elaboração de um mito semiológico para


a política imigratória brasileira - Sergio Luiz Monteiro
Mesquita (SEEDUC/RJ)

Dentre os debates levados a efeito na segunda metade do século XIX, a respeito da


condução da política imigratória brasileira, enfocamos o discurso imigrantista dos
partidários do uso da imigração para a colonização das áreas rurais do Brasil num
sistema de pequenas propriedades. Nessa vertente, o discurso veiculado pela
Sociedade Central de Imigração (1883-1891) foi um dos que apresentou maior
elaboração e sofisticação, voltando-se para a propaganda de seus ideais de
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colonização e povoamento do Brasil, a ser realizado por imigrantes europeus,


destinados a formar uma forte classe média rural, em contraposição ao tradicional
latifúndio, mal aproveitado e pouco ou nada produtivo. Uma das estratégias do
discurso enunciado pela Sociedade Central de Imigração, em seu periódico A
Imigração, foi a utilização de exemplos de sucesso dessa prática imigrantista em
outros países, especialmente nos Estados Unidos, onde se processava a ocupação
populacional e fundiária nas vastas extensões a oeste de seu território. Um exemplo
da argumentação utilizada é a identificação histórica da pessoa de Benjamin
Franklin, um dos "pais fundadores" da república norte-americana, com o ideal da
imigração para povoamento e desenvolvimento do território. Em nossas
considerações sobre essa utilização, baseadas na análise de discurso, vimos um
caso de tentativa de elaboração de um mito semiológico, tal como é articulado por
Roland Barthes, vide sua obra Mitologias. Essa tentativa mostra o empenho da
Sociedade Central de Imigração em recorrer à história para construir uma base
ideológica para defender seu projeto imigrantista.

Central de Medicamentos - Estado, Multinacionais e as disputas pelo mercado


farmacêutico nacional da ditadura civil-militar (1971-1985) - Matheus Santos
Santana (Fiocruz)

O presente trabalho busca tratar de parte dos eventos transcorridos nas indústrias
química e farmacêutica brasileira entre as décadas de 1970 e 1980, destacando
principalmente as áreas de pesquisa biológica estratégica, desenvolvimento
356
tecnológico e produção de medicamentos. Nestas áreas, historicamente relevantes
para a integração política e econômica das regiões mais recônditas do território
brasileiro, ocorreram importantes reordenamentos produtivos, tendo o governo
militar chefiado pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici passado a utilizar
variados instrumentos econômicos e políticos a fim de reduzir o domínio das
referidas áreas por empresas multinacionais. Tal intervenção do Estado visava
estabilizar o rápido processo de desnacionalização do setor iniciado em 1964 e que
acabou por entregar noventa por cento do mercado brasileiro de medicamentos aos
oligopólios farmacêuticos internacionais. Neste contexto a Central de
Medicamentos - CEME –, empresa estatal criada em 1971, foi uma das mais
importantes ferramentas utilizadas pela ditadura civil-militar a fim de frear a
ampliação da participação estrangeira na referida indústria e evitar a total
dependência tecnológica brasileira em relação ao capital multinacional,
problemática que o presente estudo intenta abordar. Sendo financiada inicialmente
com verbas de origem pública, a Central de Medicamentos era considerada pelos
técnicos do Ministério da Previdência e Assistência Social como “produto da
constatação de que a indústria farmacêutica nacional encontrava-se em franca
desnacionalização e que era necessário conter ou mesmo reverter este processo”.
O governo brasileiro buscou ressaltar o caráter pretensamente nacionalista de sua
intervenção, visto que uma das justificativas mais coerentes para a criação da
CEME era o interesse de auxiliar na reconstrução econômica e produtiva da
indústria nacional especializada no campo da química e da farmacologia. É
possível perceber assim a importância da CEME como instrumento de mediação
dos interesses entre o Estado e uma fração do setor industrial nacional e
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multinacional presente no Brasil entre os anos 1970 e 1980. O órgão traz consigo
a temática das disputas políticas e empresariais entre diversos setores do capital
brasileiro e estrangeiro, no intuito de construir através do intermédio do Estado um
consenso entre a iniciativa privada do setor farmacêutico, sendo necessário relevar
nessa conjuntura variáveis que considerem a condição periférica ocupada pelo país
no sistema capitalista e na divisão internacional do trabalho.

Do neoliberalismo de terceira via ao “novo desenvolvimentismo”- o réquiem


“social-liberal” revisitado - Leonardo Leonidas de Brito (Colégio Pedro II)

O artigo tem como escopo a crítica ao neodesenvolvimentismo na obra recente do


economista e ex-ministro da Fazenda e da Reforma do Estado, no Brasil, Luiz
Carlos Bresser-Pereira. Modelo societário apresentado como estratégia de
desenvolvimento por uma miríade de intelectuais pertencentes, ou que se
aproximaram posteriormente, do bloco orgânico que chegou ao aparelho de Estado
nas eleições presidenciais de 2002. A chegada do Partido dos Trabalhadores e
aliados ao governo federal buscou se apresentar como uma inflexão (ainda que
muito limitada) ao modelo neoliberal da década anterior. Na prática, começava-se
a se desenhar um amplo campo de aliança de classes, sem rupturas fundamentais
com o modelo econômico dos anos FHC e que construiu no país um longo e
vigoroso debate, em parte da intelectualidade brasileira, acerca desta nova
estratégia de desenvolvimento. Inicia-se, portanto, o debate acerca de um
desenvolvimentismo de novo tipo: o novo desenvolvimentismo. Termo que, nos
357
meios acadêmicos e fora deles encontrou abrigo na obra recente do economista e
ex-ministro da Reforma do Estado, no 1º governo FHC, Luiz Carlos Bresser-
Pereira. Nossa hipótese primacial é a afirmação de que o novo desenvolvimentismo
nada tem de novo e muito menos de desenvolvimentismo. Na prática, se tornou
uma espécie de requiém social liberal buscado por intelectuais que tentaram se
alinhar com o chamado neoliberalismo de terceira via, tanto nos anos FHC, quanto
nos anos Lula e Dilma Rousseff.

Empresariado e ditadura no Brasil: o caso da obra da usina hidrelétrica de


Tucuruí - Pedro Henrique Pedreira Campos (Departamento de História e
Relações Internacionais da UFRRJ)

A apresentação pretende problematizar os interesses empresariais em torno do


projeto da usina hidrelétrica de Tucuruí, construída durante a ditadura civil-militar
brasileira. A partir da indagação acerca dos beneficiários do projeto
desenvolvimentista posto em prática no período, analisamos os diferentes
interesses em jogo, no que tange a aspectos como o financiamento, a realização da
obra, a exploração da madeira da área inundada e o consumo da energia subsidiada
por indústrias eletro-intensivas. Para proceder os argumentos, acessamos fontes
primárias produzidas por diversos agentes envolvidos no empreendimento.
Concluímos que a usina de Tucuruí expressa em boa medida o perfil da ditadura
brasileira, que, ao advogar por um discurso desenvolvimentista e nacionalista,
escondia, por trás dele, interesses capitalistas que se beneficiavam de seus projetos

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e do próprio caráter autoritário do regime, que garantia, dentre outras coisas, uma
alta exploração da força de trabalho e elevadas margens de lucro aos empresários.

Empresariado e Ditadura no Brasil: o caso dos banqueiros - Rafael Vaz da


Motta Brandão (UERJ/FFP)

O trabalho tem como objetivo apresentar os resultados parciais da pesquisa em


andamento acerca da relação entre empresariado e ditadura no Brasil, mais
especificamente, o caso do empresariado ligado ao setor bancário. O período da
ditadura foi marcado por um forte movimento de centralização de capital,
responsável pela formação de grandes grupos empresariais, inclusive no setor
financeiro.

Empresariado Fluminense e transição do seu padrão de acumulação de


capital - Julio Cezar Oliveira de Souza (UERJ-FFP)

As discussões sobre a transição do Brasil para a nova ordem mundial coincidiram


com o fim da ditadura militar e o início do governo civil de José Sarney ,em 1985.
Embora o novo governo fosse composto por uma coalizão de diferentes matizes
ideológicos, liberais, antiliberais, nacionalistas e internacionalistas, era
hegemônica a ideia de crescimento econômico e combate à pobreza e à
desigualdade social. Para tal, a agenda pública tinha como objetivos o resgate da
dívida social, o combate à inflação e a instauração de uma ordem democrática . O
358
desmonte do Estado desenvolvimentista não era consensual dentro governo. A
nova agenda empresarial era controvertida do ponto de vista da liberalização
comercial. Havia resistência de alguns setores, que era reforçada pela própria
fragmentação representativa dos grupos empresariais. Na esteira de uma lógica
organizativa fragmentada, uma parcela extremamente influente do empresariado
nacional, presentes no Rio de Janeiro, se organiza a partir de projetos econômicos
voltados para a região. Havia a contraposição dos setores ligados ao capital
especulativo. Contudo, observamos ao longo do governo Sarney, a disposição, e
formação de poupança interna. Nesse sentido, nosso objetivo é realizar uma breve
discussão sobre o comportamento dos empresários do Rio de Janeiro num cenário
de transição para um novo ordenamento de acumulação de capital, pautado
majoritariamente pelo capital financeiro.

Globalização e os Desafios dos Blocos Econômicos: o Caso da Aliança do


Pacífico - Bruno Souza Duarte Lima (UFRRJ-IM), Igor Acácio Corrêa
Guimarães (UFRRJ-IM)

A América Latina já conhece tentativas de integração econômica datando desde a


década de 50. Contudo, é a partir dos anos 1990 que começam a se consolidar os
blocos econômicos mais efetivos em promover a integração entre os seus países.
Isto se dá após a economia mundial ter experimentado profundas transformações
no cenário geopolítico e econômico. Com isso, veio a necessidade de se criar
mercados cada vez mais fortes e integrados. Assim, é nesta mesma década em que
boa parte da América Latina passa por uma guinada. Adotam ou aprofundam esses
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países, como no caso do México e Chile, uma série de políticas de cunho neoliberal,
onde se realizaram aberturas comerciais e de fluxo de capitais, múltiplas
privatizações e desregulamentações de diversos setores. Tendo em mente estas
grandes mudanças nas economias latino-americanas, o presente trabalho objetiva
explorar a dinâmica e o funcionamento das experiências de integração econômica
na América Latina, no contexto de liberalização financeira pós 1990, com ênfase
no novo bloco Aliança do Pacífico. O projeto visa também ser um subsídio para
identificar o significado da criação do bloco e seus reflexos na América Latina. A
pesquisa é realizada a partir de um levantamento bibliográfico em livros,
publicações, revistas, artigos e sites especializados para fundamentação teórica
sobre integração regional e de produções analíticas, ao mesmo que se realiza a
análise de dados econômicos e estatísticos dos países-membros e do bloco em si.
Como resultados preliminares, podemos apontar que é visível o efeito positivo da
formação do bloco para os países envolvidos. Os países-membros do bloco ocupam
as primeiras posições no ranking de facilidade para fazer negócios na América
Latina. Também, na medida em que outros blocos da região, como o MERCOSUL,
perdem força, a Aliança do Pacífico vai ganhando espaço. Em relação ao
aprofundamento da integração intra-bloco, em 2016, entrou em vigor Protocolo
Comercial, este aplicando uma redução das tarifas de 92% dos produtos
comercializados entre os participantes. Esse conjunto de fatores tem dado ao bloco
ganhos, tanto pela possibilidade de diversificação das pautas de exportações, como
também pela atração de investimentos externos diretos. Por fim, a Aliança do
Pacífico continua avançando na implementação de seus acordos e aprofundando
359
sua integração.

O Banco dos Pobres: O mercado de penhor na cidade do Rio de Janeiro (1820-


1850) - Clemente Gentil Penna (UFRJ)

Esta comunicação pretende levantar alguns pontos que contribuam para uma
discussão mais ampla a respeito do crédito por penhor e o mercado de segunda mão
na cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1820 a 1850. Apesar de tema pouco
analisado pela historiografia brasileira, algumas pesquisas têm, recentemente,
chamado a atenção para importância das operações de penhor para as economias
urbanas do XIX. Se aliarmos isto ao já conhecido incremento das atividades
comerciais e crescimento urbano da capital Fluminense no mesmo período, uma
investigação mais detalhada sobre o tema se faz pertinente e necessária. Através de
uma análise dos bens apreendindos pelo não pagamento de dívidas, dos leilões
judiciais e dos anúncios de jornais é possível percebermos que o penhor era
operação corriqueira na vida financeira das classes populares cariocas ao longo do
século XIX. A venda, troca e empenho de bens usados e e venda por consignação
da produção doméstica, faziam parte do dia a dia dos trabalhadores cariocas e
foram, ao que tudo indica, uma das formas mais comuns de acesso ao crédito
durante o período estudado. Durante períodos de recessão e escassez de emprego,
empenhar alguns parcos objetos de valor em troca de insumos destinados a
produção doméstica voltada ao mercado foi, muita vezes, uma das poucas opções
de trabalho disponível à libertos e livres pobres. A busca por crédito junto à
armazéns de secos e molhados e casas de penhor criou o que poderíamos chamar
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de “economias subterrâneas”, que além de cruciais para a sobrevivência dos


trabalhadores pobres, foi também fonte constante de preocupação por parte das
autoridades municipais.

O Brasil na mira do Império do Capital: a atuação do Dep. de Estado dos EUA


no Brasil durante o governo Lula (2003-2010) - Gabriel Lecznieski
Kanaan (UFSC)

Esta pesquisa irá analisar as "relações perigosas" entre o Brasil e os Estados Unidos
durante o governo Lula a partir dos documentos da embaixada e dos consulados
estadunidenses no Brasil de 2003 e 2010, publicados pela Wikileaks em 2010 no
vazamento de telegramas secretos que ficou conhecido como Cablegate.
Analisaremos a construção das relações dos diplomatas e businessmen
estadunidenses com os agentes estatais brasileiros, com o objetivo de mapear as
redes associativas tecidas entre estes atores e traçar os interesses, táticas e
estratégias dos agentes do imperialismo estadunidense, a fim de compreender o
papel desempenhado pelo Estado norte-americano no processo histórico de
subordinação do capital-imperialismo brasileiro ao "império do capital".

O Império no Prata: a dinâmica da diplomacia após o conflito cisplatino


(1825-1828) - Luan Mendes de Medeiros Siqueira (UFRJ)

O presente trabalho pretende abordar nesse simpósio o discurso diplomático


360
brasileiro sobre a região do Rio da Prata após à guerra da Cisplatina (1825- 1828).
Interessado durante a guerra na anexação da província Cisplatina aos seus domínios
territoriais, o Império tinha como base o princípio da doutrina das fronteiras
naturais e do uti- possidetis, utilizados como pilares de sua política externa não
apenas nessa guerra como também ao longo de todo o século XIX. Pretendemos
dar ênfase na análise de algumas correspondências diplomáticas entre os próprios
representantes brasileiros e dos mesmos com os ministros das Províncias Unidas
do Rio da Prata e do novo país formado, fruto do desfecho do conflito: a república
Oriental do Uruguai. O referido conflito criou novos atores políticos e sociais em
face do Prata e promoveu um alargamento das relações diplomáticas na região do
cone- sul. Sabemos também que uma guerra não resolve de maneira definitiva os
problemas suscitados entre os países beligerantes. Um dos elementos discutidos
entre as autoridades diplomáticas foi a questão das fronteiras. Os interesses
limítrofes entre os governos vizinhos nos mostram a profundidade de o quanto a
fronteira não é algo dado, um simples critério geográfico, natural e mero divisor de
territórios. Para além dessas características, ela é reflexo das relações políticas
locais que também se estabelecem nesses espaços. Entre o macro e o micro,
pensarmos a fronteira nessas distintas configurações é enunciarmos as diferentes
concepções existentes nas áreas de litígio. O campo diplomático é caracterizado
sobretudo por estratégias de coalizão e interesses que vão além das formalidades e
negociações que se dizem definitivas ou preliminares. Analisar essas nuances
torna-se fundamental a fim de entendermos, de maneira geral, os reais objetivos de
uma política externa. Além disso, perceberemos o quanto esse campo é marcado

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como um espaço de legitimidade de um discurso político mas também por


contradições.

O pensamento econômico-social de Valentim Fernandes Bouças: organização


político-empresarial, 1930-1945 - Maurício Gonçalves Margalho (Magistétio
Estadual)

O presente trabalho analisará a trajetória social do empresário Valentim Fernandes


Bouças. Tal empresário foi vinculado a grupos econômicos estadunidenses, a
exemplo da International Business Machines Corporation – of Delaware,
Companhia Goodyear do Brasil, Cia Serviços Hollerith, Panair do Brasil e
Adressograph-Multigraph do Brasil S/A. Além das atividades características de um
agente econômico, representante do capital estrangeiro, Bouças participou
ativamente das agências que formam o complexo superestrutural do Estado
capitalista no Brasil. Tornou-se bastante influente e, durante o Governo Vargas,
participou de importantes órgãos técnicos e consultivos como, por exemplo, a
Comissão de Estudos Financeiros e Econômicos de Estados e Municípios
(CEFEM), o Conselho Técnico de Economia a Finanças (CTEF), o Conselho
Federal do Comércio Exterior (CFCE) e a Comissão de Planejamento Econômico.
Na sociedade civil, Valentim Bouças era vinculado à Associação Comercial do Rio
de Janeiro – da qual foi Vice-Presidente em 1943 e 1944. Ele também era associado
ao Instituto de Organização Racional do Trabalho, da qual também participavam
os empresários Euvaldo Lodi, Roberto Simonsen e Horácio Lafer – p. ex. Devido
361
a seu conhecimento em economia e também a seus contatos com empresas
estadunidenses, Valentim Bouças acumulou um capital social e político que
permitiu a apresentação dele como bastante credenciado em assuntos econômicos
e financeiros. Pesou ainda o fato de ter acumulado, no campo das relações sociais,
conhecimentos dos trâmites e circuitos financeiros internacionais, assegurando-lhe
confiança como interlocutor do governo junto a credores externos. Assim sendo,
propomos avaliar as interconexões entre pensamento social, organização e ação
política de classe na trajetória econômico-social do referido empresário em sua
condição de intelectual orgânico e, portanto, representante de interesses de
corporações estrangeiras.

Ocupação e ressignificações do espaço urbano em Nova Friburgo: o caso do


Palácio Barão de Nova Friburgo (1871-1988) - Maria Ana Quaglino (Fundação
Dom João VI de Nova Friburgo (antigo Pró-Memória))

O prédio sede da Prefeitura de Nova Friburgo é um dos imóveis tombados da


cidade. No estudo que empreendemos, o consideramos como uma fonte histórica,
ou seja, como o ponto de partida para uma das análises possíveis que qualquer
documento, tornado objeto de pesquisa, permite. Escolhemos explorar a trajetória
do espaço onde ele se localiza, desde o momento da sua primeira ocupação,
focando mais especialmente nos processos de mudança que lhe conferiram novos
usos e significados no contexto histórico social da cidade. Identificamos ao longo
desse percurso quatro momentos decisivos que trouxeram novas identidades e/ou
usos ao mesmo. No período considerado, o espaço conheceu três usos — estação
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ferroviária, estação rodoviária e sede do poder executivo municipal — e se tornou,


pelo menos, cinco lugares diferentes: I – Estação ferroviária de Nova Friburgo
(Estação do Chalé) – de 1873 até 1887, estação da estrada de Ferro Cantagalo; de
1887 até 1898, estação da Estrada de Ferro Leopoldina; e de 1898 a 1933, estação
da estrada de ferro Leopoldina Railway; II – Estação de passageiros de Nova
Friburgo (Estação da Leopoldina) – de 1935 a 1950, nova estação da Leopoldina
Railway; de 1950 até 1964 – estação da Estrada de Ferro Leopoldina, sob controle
direto do governo federal até 1957, e da Rede Ferroviária Federal S.A., daí em
diante, até a sua venda a prefeitura, em 1968; III e IV – Palácio Barão de Nova
Friburgo – prédio reformado da antiga estação de passageiros, sede da prefeitura,
desde 1969; e também, monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio Cultural
do Estado do Rio de Janeiro, a partir de 1988; V – Estação Rodoviária Leopoldina
– de 1971 a 1994, prédio construído em parte do terreno da extinta estação de
passageiros e reincorporado, em 1995, ao complexo de prédios da prefeitura,
edificados no terreno original. Consideramos este tipo de análise relevante para
construção de narrativas sobre a história ferroviária brasileira, as políticas públicas
de transporte, quer no âmbito federal, quer no estadual e a história da cidade.

Patrimônio da União: Discutindo as fontes - Cezar Honorato (UFF)

O objetivo de nosso trabalho é apresentar de maneira crítica o quadro de fontes


presentes no Arquivo da Superintendência do Patrimônio da União. FRuto do
Projeto Acervo da SPU (UFF-BID-SPU), buscaremos problematizar acerca de suas
362
possibilidades para o avanço da História Econômico-Social

Reforma institucional e o declínio do Império Otomano - Pedro Rocha Fleury


Curado (UFRJ)

O presente trabalho objetiva compreender o declínio do Império Otomano a partir


do enfoque sobre a relação entre elementos geopolíticos e institucionais. Para tanto,
toma-se como fio condutor as sucessivas estratégias de "europeização" das
principais instituições otomanas a partir do século XVIII, conferindo especial
ênfase à transformação do aparato militar. Eventos geopolíticos são aqui
entendidos como fatores desencadeadores de novos ciclos de reformas estatais
empreendidos pelo sultanato otomano, cujos resultados variados demonstraram ser
insuficientes para contrapor-se à pressão competitiva externa. Como método,
propõe-se uma ordenação temporal a partir de ciclos reformadores entre o final do
século XVIII e início do século XX. Em cada ciclo, evidencia-se a tentativa de
reforçar a capacidade bélica do império que apresenta, como resultado, a gradual
“importação” de diferentes instituições europeias. Para fins de sistematização, tais
instituições serão aqui divididas em três categorias principais: a) conscrição
forçada e renovação das técnicas de guerra; b) maior centralização burocrática para
fins de arrecadação, e c) homogeneização da população.

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Sementes e Raízes cheirosas amazônicas no mercado mundial: As Relações


entre comunidades de ilhéus, empresas e natureza - João Marcelo Barbosa
Dergan (UFPA)

Um longo processo de apropriação de saberes sobre a flora e as essências vegetais


das ilhas estuarinas na Amazônia foi se dando, com continuidades, rupturas,
descontinuidades, contradições, esquecimentos e congruências, desde ‘as drogas
do sertão’ e a colonização da região. A narrativa sócio-econômica-ambiental
ressaltou a apropriação desses saberes por comunidades das ilhas estuarinas e
empresas de biocosméticos no final do XX e início do XXI, com rupturas,
continuidades, descontinuidades, esquecimentos, lembranças e contradições no uso
e comercialização no mundo global das essências vegetais das ilhas estuarinas de
Cotijuba, Paquetá, Das Onças, Combu e Grande, com empresas como a Natura e a
Beraca, que trazem embutido nos produtos ‘o valor tradicional’ das comunidades
e a ‘sustentabilidade’ da produção. Nessas apropriações a sustentabilidade
ambiental ganha ‘um valor’ como discurso e como prática tanto pelas empresas
como pelas comunidades dos ilhéus, mesmo que inseridas nas contradições do
mercado global atual. Revelaram-se aspectos do discurso da valorização e
apropriação de saberes e conhecimentos sobre essas espécies vegetais e a flora das
ilhas, como as sementes Ucuuba- Virola Surinamenses e as raízes de Priprioca –
Cyperus Articulatus, que foram inseridas na cadeia e comercialização
internacional, sob a forma de biocosméticos. Compôs-se uma narrativa que cruzou
fontes orais e escritas, em que se revelaram os múltiplos saberes e interesses sobre
363
a flora estuarina das ilhas amazônicas e a manipulação e apropriação desses saberes
por ilhéus e empresas na produção de biocosméticos, como os sabonetes e perfumes
de priprioca, ao mercado e na busca da sustentabilidade. Na dominação do natural
pelo cultural, ainda como opostos e duais, escondiam-se e escamoteavam-se as
utilizações e subjetividades envolvidas nos usos, manipulações, coletas e plantios
que eram dados a flora das ilhas estuarinas pelos ilhéus, comuns, que foi possível
reler e rever. Mesmo sem querer fazer generalizações abruptas e que possam apagar
outros detalhes de outras realidades, há no processo de construção histórica da
sociedade global uma tentativa de naturalizar relações sociais de poder, e de
domesticação da natureza, construída na longa geração do processo de
modernidade, que nas ilhas estaurinas perto de Belém, as comunidades significam
e ressignificam suas tradições inseridas na contradição do próprio comércio e
mundo sustentável global na atualidade.

Sentidos e limites para Democracia nas páginas do Correio da


Manhã - Daiana Maciel Areas (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Nosso objetivo é fazer uma reflexão sobre o discurso editorial midiático,


observando a relação entre as escolhas enunciativas e o lugar social do sujeito do
discurso. O editorial, enquanto signo ideológico e gênero jornalístico, representa o
posicionamento do grupo de mídia sobre assuntos de ressonância na esfera pública.
Analisaremos os sentidos e limites de "Democracia" nos editoriais do Correio da
Manhã nos anos de 1954-1955, em especial a crise política pós suicídio de Vargas
até as eleições de 1955. Para interpretar os sentidos elaborados a partir dessa
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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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atividade comunicativa, relacionaremos a Análise do Discurso à teoria social da


mídia, para a reflexão de como o poder simbólico dos meios de comunicação
reverbera assuntos, reitera teses, ressemantiza sentidos, na tentativa de influenciar
a opinião pública e defender projetos para manutenção do status quo da classe que
o jornal representa.

Turismo de Base Local: uma alternativa de desenvolvimento econômico e


social - Valéria da Conceição Chaves (UFRRJ)

Este projeto constitui-se num instrumento de reflexão sobre Turismo de Base Local
(TBL), uma modalidade turística que propõe a geração de emprego e renda, em
pequenas comunidades, utilizando-se dos recursos disponíveis, com a minimização
dos impactos. Observou-se que grande parte dos estudos publicados no Brasil,
acerca desta temática, assenta-se sobre Estudos de Caso, muitas vezes, limitados
às suas peculiaridades. Houve, por parte do governo federal, a implantação de dois
programas relacionados à municipalização e a regionalização do Turismo, porém
ambos ocorreram sem o devido monitoramento e foram desvinculados da
implementação do programa desenvolvido pelo Ministério do Turismo conhecido
como “65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico” (2007-20014), que
timidamente apoiaram a promoção das comunidades do entorno turístico. Desta
forma, a pesquisa, pretende apresentar uma análise bibliográfica sobre o TBL no
Brasil, no período de 1990-2010, ponderando-o como uma alternativa de
desenvolvimento econômico e social. O estudo se justifica na medida em que
364
reconhece a importância econômica do turismo e de seus impactos, apontando o
TBL como uma alternativa de desenvolvimento, em comunidades que,
normalmente, iriam usufruir apenas dos aspectos negativos da dimensão turística.
A pesquisa, ainda em desenvolvimento, tem apresentado uma análise
crítica/reflexiva do turismo e do TBL, nos destinos turísticos e nas comunidades
quem compõem o seu entorno.

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365
ST 36. História Militar: Práticas e
saberes.

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"Na paz cumpre-se preparar a guerra": Atuação da Armada Imperial na


defesa da província de Mato Grosso contra a República do Paraguai (1852-
1865) - Jéssica de Freitas e Gonzaga da Silva (Fundação Getúlio Vargas)

Entre 1852 e 1864, as relações diplomáticas entre o Império do Brasil e a República


do Paraguai foram marcadas por um conflito político devido às disputas por poder
na bacia do Prata, território fronteiriço e a livre navegação do rio Paraguai. Diante
da ineficácia das missões diplomáticas, o Estado brasileiro considerou recorrer à
violência contra os paraguaios para alcançar os seus interesses. A ameaça de guerra
implicava na defesa da fronteira de Mato Grosso para assegurar a soberania
brasileira e sua integridade, além da modernização da esquadra para atuar no teatro
de operações. O Estado mobilizou o Ministério da Marinha para atuar na defesa do
território e preparar a guerra. Nossa proposta é apresentar a análise realizada sobre
os seguintes ministérios: José Maria da Silva Paranhos (1853-1854; 1856-1857);
Barão de Cotegipe (1855-1856) e José Antônio Saraiva (1857-1858), destacando
as principais estratégias para defesa da fronteira: Trem Naval e Estação Naval do
Mato Grosso; Modernização da Esquadra e o Estabelecimento Naval do Itapura e
Colônia Militar. Além disso, apresentar os principais problemas enfrentados pela
Marinha de Guerra para implantar tais estratégias que resultaram diretamente na
invasão bem-sucedida das tropas de Solano López entre 1864-1865, contribuindo
com novas interpretações para historiografia.

A Classificação de Marinhas de Guerra na atualidade: um desafio para os


366
estudos da História do Tempo Presente - Francisco Eduardo Alves de
Almeida (Escola de Guerra Naval)

A presente pesquisa tem o propósito de classificar as marinhas de guerra no tempo


presente, tendo em vista só existirem no meio acadêmico classificações que se
limitam a critérios numéricos absolutos ou critérios qualitativos sem
correspondência com a realidade. Pesquisadores como Geoffrey Till, Eric Grove e
Hervé Coutau Begarie procuraram classificar as marinhas do tempo presente porém
sempre esbarraram nos parâmetros norteadores, recorrendo a avaliações
qualitativas. Procura-se com essa investigação determinar critérios comparativos
quantitativos e qualitativos segundo o número de navios, tipos de meios, efetivos
navais, razão efetivos/população, bases e estaleiros, nível tecnológico, capacidade
nuclear, experiência de combate, capacidade financeira, recursos naturais estatais
e capacidade de construção naval. Com esses dados compilados pretende-se
comparar essas marinhas de guerra, estabelecendo um ranking mundial de poder
naval. Com essa pesquisa poder-se-á confrontar poderes navais determinando o
quanto um é mais "poderoso" que o outro segundo uma escala comparativa.

A Guerra e a Ética da Guerra na longa duração evolucionária: atualidade e


ancestralidade - Daniel de Pinho Barreiros (UFRJ)

O objetivo desta comunicação é o de estabelecer uma narrativa macrohistórica


acerca da emergência da guerra e da ética social como condições simplesiomórficas
na linhagem de Homo sapiens. Isso significa que esses dois aspectos
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comportamentais, que representam um ramo bastante seleto na árvore filogenética


da ordem dos Primatas, são compartilhados por duas linhagens de grandes símios
africanos que divergiram de um ancestral comum por volta de seis milhões de anos
atrás, resultando em humanos e chimpanzés extantes. Dessa forma, o artigo propõe
uma interpretação etológica para a guerra e para a ética social, sendo ambas inatas
de uma mente social modular altamente especializada, presente tanto nas espécies
do gênero Homo quanto do gênero Pan. Não obstante essa interpretação, o artigo
conclui que restrições comportamentais à violência interssocietária coalizacional
parecem ser um aspecto exclusivo da cognição modular transdominial que
caracteriza os humanos modernos. Assim, se na longa duração evolucionária, a
guerra e as restrições à violência intrassocial aparecem em certa medida como traço
etológico comum a humanos e chimpanzés, uma ética da guerra – e a capacidade
cognitiva para a paz interssocietária – parece ser uma capacidade exclusivamente
humana

A medicina do Cirurgião-Mor Soares de Meirelles - A formação do Corpo de


Saúde da Armada (1849-1868) - Ricardo George Muller (COC/FIOCRUZ)

A formação dos Corpos de Saúde dos exércitos e marinhas aparece como fenômeno
tardio em praticamente todo o mundo ocidental, isto é, por volta da segunda metade
do XIX. O objetivo do trabalho é apresentar aproximação ao tema com vistas à
Dissertação. O papel desempenhado pelos físicos e cirurgiões militares é conhecido
na formação da Assistência no Brasil; ligados a dispositivos tais como a Fisicatura-
367
mor; a Junta do Protomedicato; docentes nas escolas médicas e suas relações com
as Misericórdias; sobretudo a partir da vinda de 1808; na Academia Imperial de
Medicina e Junta Central de Higiene; além dos conflitos militares – em particular
a Guerra da Tríplice Aliança e de Canudos. O recorte deste trabalho, contudo,
restringe-se à Corte no Rio de Janeiro, no período entre 1849, quando o primeira
chefia do corpo de saúde naval é conferida ao Dr. Soares de Meirelles, cargo que
exerceu até 1868, ano de sua morte. Não dirigiu o Hospital Central da Marinha,
mas conduziu uma enfermaria no O Hospital Militar da Corte, no alto do Morro do
Castelo. Apenas a partir de 1890, ano do terceiro Regulamento dos Corpos de
Saúde do Exército e da Armada, é que configurariam de cada qual as suas políticas
de saúde. O Cirurgião-Mor da Armada Joaquim Cândido Soares de Meirelles foi
um dos fundadores da Academia Imperial de Medicina, ao lado do médico
brasileiro Cruz Jobim (que seria diretor da Faculdade de Medicina por cerca de três
décadas), dos médicos franceses Fauvre e Sigaud e do médico italiano De-Simoni.
Mais tarde Soares de Meirelles seria partrono tanto da Academia Nacional de
Medicina quanto do Corpo de Saúde da Marinha. Sua trajetória é representativa da
medicina dos Oitocentos: formado na Academia Médico-cirúrgica do Rio de
Janeiro em 1823, em seguida doutorou-se em Paris em medicina e em cirurgia. Sua
prática foi marcada pelo sistema médico climatológico, pela anatomopatologia e
pelo higienismo. Enquanto o Exército tem sido atenção de diversos estudos, o
mesmo não ocorre com a Marinha; bem como Soares de Meirelles ainda não tenha
tido tratamento acadêmico; o que justifica o trabalho.

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A Racionalidade Profunda da Guerra: um possível diálogo entre os objetivos


políticos e a ancestralidade biológica - Daniel Ribera Vainfas (UFRJ)

As guerras são, essencialmente, fenômenos políticos, o que significa dizer que por
trás de uma disputa violenta entre duas sociedades há alguma expectativa de
resultado político (seja de expansão, ou de manutenção das condições materiais das
sociedades em conflito) que justifica sua execução. Por sua vez, esse fenômeno
político não ocorre no éter, pois quem faz a guerra são pessoas. Mais
especificamente, a motivação política encontra-se assentada sobre um leito
biológico, posto que os seres humanos são animais e compartilham uma herança
evolutiva, assim como todas as criaturas vivas. Por mais que as interpretações
tradicionais da guerra tendam a enfatizar um aspecto técnico e cultural como
elemento explicativo das causas e dos direcionamentos tomados pelos conflitos, os
avanços nas ciências biológicas nos colocam face a um desafio: uma vez que a
natureza humana existe e que nossas ações sejam em grande medida condicionadas
(embora não sejam completamente determinadas) por estímulos oriundos da nossa
condição biológica, como formular o problema fundamental da guerra? A resposta
para essa pergunta precisa levar em conta tanto os avanços na nossa compreensão
sobre a natureza humana quanto os condicionantes políticos e culturais aos quais
as sociedades encontram-se historicamente submetidas. O objetivo desse trabalho
é explorar a interface entre esses dois elementos, partindo de uma abordagem geral
sobre a chamada ‘guerra primitiva’ e seu contraponto, a ‘guerra estatal’, e de uma
leitura focada sobre as guerras tupi e seus elementos sócio-políticos. A ideia de
368
uma racionalidade profunda busca compreender como o universo instintivo
(subjacente à arquitetura mental humana) se faz presente no campo político da
guerra, associado ao pensamento racional, no qual meios e fins encontram-se
constantemente relacionados. Dito de outra forma, a racionalidade profunda traz a
ideia de que a guerra pode funcionar como uma solução técnica, politicamente
viável, para problemas oriundos das nossas limitações humanas. Assim, busca-se
construir uma narrativa que se aproxima da Grande História e que adiciona uma
dimensão ao problema da guerra, transformando-o simultaneamente em uma
questão biológica, social e política.

Breves considerações sobre o emprego da força naval na política nacional


brasileira em face da Bacia do Prata A Passagem de Tonelero (1850-
1852) - Edina Laura Costa Nogueira da Gama (Diretoria do Patrimônio Histórico
e Documentação da Marinha)

O Primeiro-Almirante Lord Cochrane em suas Sugestões para o Adiantamento da


Marinha Imperial, ainda durante a consolidação da independência do Brasil, traçou
as linhas-mestras de uma política naval somente implantada de fato pelo governo
imperial ao final da guerra contra Oribe e Rosas. Conforme artigo publicado pelo
historiador Max Justo Guedes na Revista Navigator (1971, pp. 3-8), dizia o
Almirante britânico que devido aos “mares pacíficos” do litoral brasileiro, os
navios da Esquadra poderiam ser dotados de mais velocidade e manobra, e com
propulsão a vapor, acrescentando que a potência que primeiramente adotasse essa
nova forma de condução da guerra naval teria enormes vantagens sobre as demais
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nações marítimas; também se referia ao emprego de poucos canhões de grosso


calibre, em vez de várias peças pequenas com menor concentração de fogo.
Thomas Cochrane enfatizou a necessidade de adoção imediata de novas
tecnologias, principalmente aquelas que implicassem mudanças nos conceitos
estratégicos; quanto à construção dos navios a vapor, sua nacionalização deveria
ser processada de forma paulatina. Caso houvesse guerras no Brasil, seriam sempre
de caráter defensivo, com operações limitadas ao sul do Atlântico. Vinte e cinco
anos depois dessas Sugestões ..., o Governo Imperial comprava o Vapor D. Afonso,
o capitânia da Passagem de Tonelero, episódio que simbolizou o término da era a
vela na mentalidade marítima brasileira. Assim, a proposta deste trabalho reside
numa breve análise das ações empreendidas pela Marinha Imperial no conflito
contra Oribe e Rosas, e sua contribuição para a vitória militar, contextualizando-as
como representativas da instrumentalização política da Armada Nacional aplicada
na região platina à época do II Reinado.

Da “Volante” à Radiopatrulha: As Comunicações na Polícia Militar da Bahia


(1930-1967) - Andrea Reis de Jesus (Governo do Estado da Bahia)

Este trabalho tem como objetivo analisar as comunicações modernas na polícia


militar da Bahia em momentos decisivos da história brasileira contemporânea,
especialmente durante o combate ao banditismo no interior da Bahia entre os anos
de 1930 e 1938, no contexto da Segunda Guerra Mundial e da experiência
democrática brasileira e, no processo de implantação do serviço de radiopatrulha
369
da polícia militar no regime militar. A abordagem do tema partirá do conjunto de
fontes reunidas durante a pesquisa sobre as comunicações na Secretária da
Segurança Pública da Bahia, cuja finalidade foi localizar o acervo de imagens e
documentos escritos sobre as comunicações policiais e registrar as informações em
um texto. Os principais locais pesquisados foram o arquivo do centro de
comunicação e memória da polícia militar, sediado no quartel do comando geral da
polícia militar da Bahia, bem como, a biblioteca da academia da polícia militar
baiana. O projeto contou ainda com depoimentos orais que colaboraram para
profundar o conteúdo das fontes escritas. A partir da leitura e interpretação dos
documentos, observou-se que as comunicações são um fator preponderante no
emprego de estratégias militares. No âmbito da polícia militar, a utilização da
radiotelegrafia foi crucial para dar suporte aos grupos que combateram o cangaço,
bem como, serviu para integrar a capital, Salvador, às regiões mais longínquas do
estado, especialmente as mais afetadas pelo banditismo e pela seca. É a partir da
utilização da radiotelegrafia no suporte às volantes que as comunicações policiais
militares irão se expandir nas décadas posteriores. Se, durante a Segunda Guerra
Mundial, a conjuntura econômica difícil pela qual passava o Brasil e a Bahia, afetou
o serviço de comunicação policial, o fim da guerra representou a retomada de
investimentos do estado baiano nesse setor. As cidades mais estratégicas do interior
passaram a contar com uma estação de rádio, que não só estabelecia comunicações
militares, mas mantinham uma intensa atividade de troca de informações com a
sociedade, por intermédio de transmissão de conteúdo de interesse social. O
incremento tecnológico terá como ponto alto o uso do rádio VHF para distâncias
curtas e SSB para comunicações de longa distância. A implantação dos rádios VHF
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será fundamental para o serviço de radiopatrulha realizado pela polícia militar a


partir do final da década de sessenta.

Geoestratégia Brasileira no Atlântico Sul: A importância da utilização militar


das ilhas oceânicas brasileiras - Vitor Deccache Chiozzo (Escola de Guerra
Naval)

O projeto de pesquisa se propõe a contribuir com a questão da defesa e segurança


marítima do Atlântico Sul contíguo ao Brasil, com o objetivo de dotar o Estado
brasileiro de pontos avançados para a defesa de seu território continental, bem
como dos limites exteriores da Amazônia Azul. Seria importante o Brasil possuir
uma geoestratégia de utilização militar dos pontos mais externos da ZEE brasileira,
quais sejam as ilhas oceânicas brasileiras (IOB) de Fernando de Noronha (26 km²),
Trindade e Martim Vaz (10,4 km²) e do Arquipélago de São Pedro e São Paulo. As
ilhas de Fernando de Noronha e Trindade e Martim Vaz são trampolins para
operações nos segmentos central e meridional do Atlântico e dão segurança para o
tráfego de cabotagem e das linhas de comunicação marítima por onde circulam
90% do comércio exterior brasileiro, e que atualmente, encontram-se menos
privilegiadas ou até mesmo negligenciadas pelo Estado Brasileiro, em sua política
de defesa para o Atlântico Sul. Dessa forma, por meio dessa geoestratégia
contribuiríamos, com a consecução de três das quatro tarefas básicas do poder naval
brasileiro, exercendo um maior controle da área marítima de interesse do Brasil,
projetando o poder sobre terra, no caso de o território continental brasileiro for
370
ocupado e ou invadido, e ao fim, promovendo a dissuasão, garantindo a vontade
brasileira no mar.

Malvinas: escalada e guerra no Atlântico Sul - Felipe Malachini Maia (Escola


de Guerra Naval)

Iniciada em 2 de abril de 1982 com a Operação Rosário, a Guerra das Malvinas se


desenvolveu por três fases: Guerra Naval; Guerra Aeronaval; e Guerra Terrestre.
Ao longo das quais, importantes operações foram realizadas, testando a força
militar e o prestígio dos dois Estados envolvidos. Mais do que isso, em jogo estava
a permanência e a aceitação dos governantes que estavam no poder. Se por um lado
a junta militar argentina enfrentava um período de forte instabilidade econômica e
política, pondo em risco a permanência do governo dado a falta de apoio papular,
no Reino Unido a situação de Margareth Thatcher não era muito diferente
(CARVALHO et. al., 2009). Foi neste contexto que a Argentina iniciou a
formulação de um plano para a retomada das Malvinas/Falkland, a ser usado caso
as medidas diplomáticas falhassem. A chegada de Constantino Davidoff às Ilhas
Geórgias do Sul foi a primeira peça responsável pelo início do confronto. Tão logo
seus funcionários hastearam a bandeira nacional argentina nas ilhas, ao som do seu
hino nacional, se deram os protestos britânicos e o envio do HMS Endurance à
região, com ordens para remover os trabalhadores que lá se encontravam.
Imediatamente o governo argentino autorizou o envio de um de seus navios,
devidamente guarnecido, à ilha. Suas ordens determinavam que deveria chegar às
Geórgias antes do navio britânico e proceder um desembarque de modo a proteger
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seus nacionais. Em resposta, a Câmara dos Comuns autorizou o envio de uma série
de navios e submarinos ao Atlântico Sul. A partir deste momento a margem de ação
da junta militar argentina ficou bastante reduzida. Se recuasse sua já debilitada
imagem seria profundamente abalada. Por outro lado, se atacasse as
Malvinas/Falkland poderia manter o ânimo de sua população, mas teria de
antecipar os planos, o que prejudicaria sua estratégia. Apesar dos contras decidiu-
se pela segunda opção. Às 9h e 15min do dia 2 de abril de 1982 os soldados
britânicos se renderam e o arquipélago passou às mãos argentinas. Ao ser
informada do que ocorrera em seu território além-mar, Margaret Thatcher
discursou à Câmara dos Comuns que autorizou o envio de uma força tarefa de 93
navios, entre embarcações de guerra e logísticas. No dia 1º de maio o combate pelas
ilhas começou. Setenta e quatro dias após a realização da Operação Rosário e 49
dias de intensos combates, chegou ao fim a Guerra das Malvinas, com o saldo de:
890 mortos; 1.845 feridos; 97 aviões abatidos; e 17 navios afundados (FORÇA
AÉREA ARGENTINA). Observando a sequência de acontecimentos que levou a
eclosão do conflito, concluiu-se que esta foi a principal causa da eclosão do conflito
e não fruto exclusivo do desejo do governo argentino de se manter no poder, como
habitualmente se crê.

O marquês do Lavradio e a atuação do general Böhm no conflito militar com


os espanhóis no Sul (1770-1777) - Estevao Barbosa Damacena (UERJ)

Durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), quando Portugal se viu invadido
371
pelos exércitos do Pacto de Família, abriram-se discussões acerca da situação
militar no reino e nas conquistas ultramarinas. Em virtude da situação de extrema
fragilidade das tropas regulares portuguesas, o então secretário de Estado do Reino
e Mercês, Sebastião José de Carvalho e Melo, viu-se na necessidade de reformular
os quadros militares em Portugal, com base nos novos padrões modernos de
disciplina e organização dos exércitos da Europa. Essas reformas ficaram sob a
responsabilidade do conde de Lippe, de origem austríaca, contratado pelo governo
português para tornar o Exército mais profissional e técnico. Como consequência
dessas reformulações, o governo de Lisboa enviou ao Brasil em 1767 chefes
militares estrangeiros, entre eles o tenente-general alemão João Henrique de Böhm,
visando adaptar os regimentos da colônia aos novos padrões europeus. O objetivo
deste paper consiste em narrar os avanços e retrocessos das experiências militares
na luta contra os espanhóis pelas possessões meridionais na América portuguesa.
As fontes que servem a esse trabalho consistem na comunicação materializada nos
ofícios enviados pelo vice-rei da época, o 2° marquês do Lavradio, a Lisboa com
destaque para as ações empreendidas pelo general Böhm.

Os Pensamentos e Decisões da Marinha do Brasil, durante a transição da vela


para a mecanização - Claudeniz Fernandes Guimarães (Escola de Guerra Naval)

A partir de artigos da Revista Marítima, serão descritos e analisadas as decisões


que guiaram o rumo da mecanização naval.

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Rito de Formação Guerreira no mar e a representação da morte entre os


cidadãos Thetes - Alair Figueiredo Duarte (LSC/EGN/MB - NEA/UERJ -
CEHAM/UERJ)

Qual a relação entre helenos e o mar? Não poderemos cuidar de tão complexa tarefa
sem trazer a luz de nossas reflexões a atuação política do segmento social ateniense
thete, como agente ativo na idealização das fronteiras marítimas atenienses. A
concepção de fronteira marítima passou a interagir entre os cidadãos atenienses a
partir do século V a.C., no recorte temporal de 483 a 404 a.C., houve uma prática
cotidiana permitindo proximidade com a thalassa. Através de documentações
escrita e cultura material do período Clássico, buscamos nessa abordagem destacar
o processo de especialização guerreira do nautai (marinheiro) ateniense e sua
contribuição na manutenção das fronteiras marítimas atenienses.

Sunzi e Vegetius: Comparando o Incomparável - Manuel Rolph


Cabeceiras (Universidade Federal Fluminense)

Sunzi (544-496 a.C.?), mais conhecido no Ocidente como Sun Tzu, autor de "A
Arte da Guerra" (孫子兵法 "Bingfa", mais apropriadamente "A Lei da Guerra") e
Publius Flavius Vegetius Renatus, mais comumente Vegetius ou Vegécio, autor do
"Epitoma rei militaris" ou "De re militari", o "Compêndio da Arte Militar", escrito
muito provavelmente em torno de 390 d.C., tiveram com as suas obras tal sucesso 372
que atravessaram as épocas, chegando até os nossos dias ainda com aplicação e
estudo no campo das ciências militares. Frequentemente este caráter prático tem
suscitado comparações entre estas obras tomando-as como comparáveis em
detrimento de suas singularidades mais profundas. O nosso propósito aqui é
justamente acentuar estas singularidades, destacando o clássico chinês e o romano
como obras incomparáveis a partir de suas marcas civilizacionais.

Terrorismo no Mar e a partir do Mar - Análise do Panorama Internacional e


as consequentes Implicações para o Brasil - Vanessa da Costa Lamas (UNIRIO)

O denominado Terrorismo Marítimo - ou Terrorismo no Mar - representa uma das


questões mais pertinentes no tocante a possíveis incursões por parte de
organizações de cunho extremista cujos objetivos, para além das abordagens
ideológicas, ilustram quadros que podem converter-se em significativos distúrbios
tanto de ordem política - no que tange às práticas imprevisíveis onde a base mater
é o uso da violência no seu estágio mais visceral - como - e substancialmente - de
foro econômico. Propor uma abordagem mais específica acerca da importância que
a prática do Terrorismo no Mar representa especialmente no contexto do Tempo
Presente, onde a utilização das rotas marítimas e a intercomunicação entre os mais
diferentes Estados existentes no globo respondem por um perfil majoritário no que
concerne às transações comerciais, destacando a evidência do Brasil como potência
marítima além da necessidade ímpar da proteção da faixa que comporta a
Amazônia Azul. O tema proposto encontra no tempo presente uma possibilidade
latente de impactos significativos frente à vulnerabilidade das embarcações - ainda
que as mais sofisticadas tecnologicamente - e das instalações portuárias ao redor
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do globo, representando, assim, uma ameaça intermitente não só à soberania dos


Estados como às suas estruturas como um todo, já que o comércio marítimo
representa cerca de 90% das transações econômicas nos cinco continentes. A
metodologia elencada para a elaboração da pesquisa é que faz uso de bibliografia
específica e procura desenvolver um objeto que busca apresentar tanto dados
quantitativos - por meio de gráficos e planilhas estatísticas - quanto qualitativos a
partir do desenvolvimento do tema proposto, dada a relevância da abordagem e sua
inserção num contexto prático e de significância ímpar no que concerne as áreas da
Defesa e da Estratégia ao se abordar eventos que representam ônus de grande
relevância não só no âmbito econômico como também no campo político.

Um Castelo da Polícia: as conjunções históricas do lendário Regimento


Marechal Caetano de Faria desde sua criação até os dias atuais - Leonardo
Fernandes Hirakawa (Exército Brasileiro)

Quem frequenta o centro do Rio de Janeiro já viu ou ouviu falar da sede do Batalhão
de Polícia de Choque sediado ao lado do Sambódromo. Muitos admiram sua
arquitetura e desconhecem a importância que aquele aquartelamento teve no
período da República Velha e até hoje desempenha relevante serviço na segurança
pública de nosso Estado. Nossa análise parte do contexto histórico da função de
Polícia atribuída ao Corpo Policial do então Distrito Federal numa jovem
República, passando pelo fastígio da Ditadura Militar e encerrando com o
enfrentamento ao poder dos narcotraficantes no início da década de 80. Intenciona-
373
se demonstrar através de análise documental e pesquisa bibliográfica a mutação do
imaginário policial militar fluminense desde a República Velha e Ditadura Militar,
sendo nesses dois momentos, caracterizados pela forte beligerância na garantia do
status cor do Governo e nos anos 80 o início da narcoguerrilha que perdura até
hoje. Demonstraremos as mudanças com análise da tática empregada em assuntos
militares e a estética policial militar personificada em uniformes e veículos,
gerando consequentemente o afastamento do ethos militar e a aproximação com
meio civil já na segunda metade do século XX.

Uma visão comparada sobre a Missão Militar Francesa e a Missão Naval


Americana - Ricardo Pereira Cabral (Escola de Guerra Naval)

No início do século XX, as Forças Armadas Brasileiras estavam defasadas em


relação a maioria dos países europeus, aos Estados Unido e até mesmo a alguns
vizinhos como a Argentina. As Forças operavam equipamentos desatualizados e
obsoletos, utilizavam concepções táticas e estratégicas ultrapassadas. A fim de
superar esse atraso o governo Epitácio Pessoa (1919-1922) contratou em 1920, uma
Missão Militar Francesa para o Exército e em 1922 a Missão Militar Americana
para a Marinha. A contração de estrangeiros era vista com desconfiança e tinha a
oposição de uma parte da oficialidade das Forças. Esta comunicação tende
comparar a atuação das duas missões no período de 1920-1930 e suas principais
contribuições para a modernização da Marinha e do Exército Brasileiro.

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ISBN: 978-85-65957-09-0
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“Dossiê Operação Crossroads”: Um militar brasileiro observando os testes


nucleares no Atol de Bikini em 1946 - Elias da Silva Maia (MAST - MCTI)

Após a Segunda Guerra Mundial a questão da energia nuclear tomou boa parte dos
debates e das ações em torno desse novo tema. Sua relevância está inclusive no
fato da ONU ter criado através de sua primeira resolução estabelecida pela
Assembléia Geral, a Comissão de Energia Atômica para mediar os problemas
causados com a descoberta da energia atômica. A Operação Crossroads consiste
nos preparativos da Joint Task Force One dos Estados Unidos para a realização de
duas explosões atômicas que ocorreram em julho de 1946, na região hoje conhecida
como Atol de Bikini, nas Ilhas Marshall. Estas ainda eram a 4º e 5º explosões
atômicas realizadas no mundo e geraram um custo que ultrapassou 5 bilhões de
dólares. Esse acontecimento teve grande repercussão em todo mundo na época e
21 representantes dos países da Comissão de Energia Atômica da ONU
acompanharam os testes. Entre esses, dois militares brasileiros: o Capitão de
Fragata Carlos Almeida da Silva e o Major do Exército Orlando Rangel. Orlando
da Fonseca Rangel sobrinho Rangel (1907-1976) foi um engenheiro químico
militar que chegou ao posto de General, tendo uma formação ampla e exercido
diversos cargos importantes no Ministério da Guerra, na Comissão de
Planejamento Econômico e na Comissão de Energia Atômica da ONU. Participou
da fundação do CNPq, ocupando o cargo de diretor na área de Pesquisas Químicas
de 1951 a 1956. Após esse período, foi presidente da Academia Brasileira de
Ciências e diretor da Vale do Rio Doce, além de participar ativamente dos debates
374
sobre Energia, Indústria Química e Defesa Nacional. O cientista acumulou no
decorrer das observações em seu arquivo pessoal um conjunto variado de registros
sobre essa experiência, sendo estes que comporão as fontes para realizar o resgate
desse acontecimento. Tem se buscado com base nessa documentação entender o
interesse e a participação dos brasileiros nos testes nucleares, questões que não
foram sequer apontadas em outras investigações. Entende-se que Rangel pertenceu
a um contexto social amplo, partindo para o conhecimento e interpretação de suas
redes de relações e obrigações, inclusive fora do meio no qual estava inserido.
Porém, não desconsideramos que sua atuação se fez presente num determinado
sistema social e político que era culturalmente e socialmente determinado, que
indicava suas ações, mas possibilitava brechas para suas pretensões. Os elementos
biográficos sevem para a compreensão das atitudes individuais dentro de um
contexto mais complexo, indicando o posicionamento destes indivíduos frente a
sua realidade. Esses registros devem estar inseridos nas contradições que nascem
entre as normas e práticas efetivas, entre o indivíduo e seu grupo, entre limitação e
liberdade.

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375
ST 37. História, Arquivologia e
Biblioteconomia: fronteiras, embates
e diálogos

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A contribuição do Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II


na formação da memória histórica da instituição - Luana Pires de
Arantes (Universidade Federal Fluminense)

O trabalho discute a formação do NUDOM - Núcleo de Documentação e Memória


do Colégio Pedro II - e seu papel na preservação da memória histórica do colégio,
instituição de ensino criada no século XIX e que foi durante muitas décadas
referência para a educação nacional. Objetiva verificar com quais concepções de
memória a entidade se alinha e de que forma tais concepções implicam nos
processos de seleção e organização dos documentos que compõem os seus acervos.
Destaca ser a memória institucional o reflexo da trajetória de uma instituição e que
sua construção expressa as relações que esta mantém com a sociedade e com os
sujeitos que dela fazem parte. Desnaturalizar esse processo permite-nos conhecer
a instituição e a identidade que quer propagar frente aos diferentes grupos sociais
com os quais se relaciona, no caso de um colégio, mais especificamente, seus
alunos, professores e funcionários. Nesse processo nota-se que diversos tipos de
memórias se perpetuam ou se apagam. No campo simbólico, significa a produção
de ideologias que se manifestam nos discursos das autoridades e no conteúdo dos
documentos institucionais que são organizados e dispostos ao público por meio de
suas coleções e instrumentos de pesquisa (guias catálogos, etc.). Tem como
referencial teórico os estudos de Pierre Nora, Maurice Halbawchs, Michael Pollak
sobre os conceitos de memória, lugar de memória e identidade, além das análises
de Ana Maria Camargo e Silvana Goulart sobre memória e centros de memória.
376
Usa como aporte metodológico a pesquisa qualitativa do tipo exploratória pautada
em revisão de literatura sobre o NUDOM, sua criação, a formação de suas coleções
e os instrumentos de pesquisa gerados. Conclui ressaltando a importância dos
centros de memória na preservação e difusão da memória de uma instituição,
possibilitando a consolidação de uma identidade para o grupo, garantindo-lhe
coesão e sentimento de pertencimento. Destaca que o acesso a diferentes fontes de
informação disponíveis no acervo tem possibilitado aos pesquisadores re(construir)
a memória dessa instituição secular. Por meio do mapeamento de suas coleções
demonstra que a entidade tem cumprido seu papel de reconstituir, em diferentes
momentos históricos, as ações e a cultura desta escola, possibilitando àqueles que
consultam seus acervos novas interpretações da história do Colégio Pedro II e de
sua inserção na história da Educação no Brasil.

A doação da coleção Benedicto Ottoni para a Biblioteca Nacional: a


repercussão pública de um gesto - Iuri Azevedo Lapa e Silva (Cpdoc-FGV)

A presente comunicação se insere numa pesquisa mais ampla que aborda o caso da
doação da coleção Benedicto Ottoni, em 1911, para a Biblioteca Nacional a partir
de um olhar que explora a biografia de coleções. O caso em pauta se caracteriza
por um longo e multifacetado processo, a saber: a formação da coleção ao longo de
décadas e o que ela significava para a “escrita de si” do colecionador, José Carlos
Rodrigues, homem ligado à imprensa periódica e com profundo lastro de relações
com o campo da política; sua simultânea venda e doação – dando à coleção uma
dupla “paternidade”; e os frutos simbólicos obtidos pelo destino dado ao capital
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econômico oriundo de sua venda. A culminância dessa trajetória – a venda da


coleção para terminar a construção e auxiliar na manutenção de um hospital para
crianças em situação de vulnerabilidade – revelaria a percepção, por parte de José
Carlos Rodrigues, de um deslocamento das fontes de honra e prestígio social,
saindo da esfera de certos tipos bens culturais – livros e papéis ligados à “história
pátria” – para um plano mais “republicano”, ligado ao “bem comum”. O recorte
aqui selecionado busca analisar a maneira como a doação reverberou na esfera
pública e quais foram os mecanismos discursivos utilizados para tornar o gesto
simbolicamente eficaz.

A história das práticas musicais e os estudos Musicologia histórica: saberes e


diálogos interdisciplinares na pesquisa arquivística da música no
Brasil - Fernando Lacerda Simões Duarte (UFPA)

Apesar de diversos autores terem dirigido críticas ao dito trabalho positivista da


Musicologia – dentre os quais, Joseph Kerman, Alberto Ikeda e Maria Alice Volpe
–, fato é que a pesquisa documental tem profunda relevância neste campo do
conhecimento e carece ainda de trabalhos voltados à preservação e inventário dos
acervos. Considerando que os profissionais da Arquivologia não raro têm
limitações em relação às informações musicais contidas nas fontes, a realização
dos trabalhos de salvaguarda dos acervos musicais acaba por ser realizado muitas
vezes por musicólogos. O presente trabalho tem como objetivo abordar a pesquisa
musicológica de vertente histórica a partir de suas interfaces com a História,
377
Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia e outras abordagens voltadas ao
patrimônio cultural, a partir de referenciais comuns a estas áreas. Para tanto, serão
discutidos casos concretos observados em pesquisa de campo em acervos
brasileiros, abrangendo cerca de noventa cidades, nos vinte e seis estados.
Questiona-se como têm sido tratadas as fontes musicais em distintos processos de
arquivamento, como foram constituídos os acervos musicais mais representativos
do Brasil, a aplicabilidade das noções de arquivo, acervo e coleção aos conjuntos
de documentos musicais produzidos em distintas situações, bem como da teoria das
idades documentais aos documentos musicográficos, o papel dos arquivos
pessoais, as limitações das fontes musicais na produção de histórias da música e as
novas possibilidades de abordagem destes acervos, inclusive por meio da
etnografia de arquivos. As temáticas são abordadas a partir de referenciais
interdisciplinares: as fontes para o estudo da Musicologia, em Pedro José Gómez
González; a taxonomia do patrimônio musical, por Antonio Ezquerro Esteban;
teorias e definições arquivísticas, em Heloísa Bellotto; estudos sobre a memória,
em Pierre Nora e Joël Candau; e a etnografia dos arquivos pessoais proposta por
Luciana Heymann. Os resultados apontam para a diversidade de situações de
recolhimento de documentos musicográficos no Brasil, que ocorreram, sobretudo,
a partir da década de 1940, a partir da atuação de clérigos e musicólogos. Observa-
se ainda a necessidade de tratamento arquivístico em grande parte dos acervos
brasileiros, bem como a necessidade de se considerarem as peculiaridades deste
tipo de fonte nos processos de inventário e estudo. A existência de grupos de
pesquisa voltados aos acervos musicais e de eventos acadêmicos voltados a esta
temática também representam avanços. Finalmente, as limitações das informações
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contidas nestes documentos aponta para a possibilidade de pesquisa arquivística de


caráter mais amplo, abrangendo inclusive a história oral e a etnografia dos
arquivos.

Arquivos históricos escolares: uma proposta de organização dos fundos das


escolas do trabalho de Niterói, RJ - Elisabete Gonçalves de Souza (UFF)

Discute e analisa a importância dos fundos arquivísticos nas pesquisas sobre a


memória da educação profissional no Brasil tendo como marco histórico a criação
das escolas do trabalho na década de 1920. Destaca a função social dos arquivos
históricos escolares identificando-os como fontes de informação essenciais para a
história e historiografia da educação, pois arrolam dados fundamentais sobre a
gestão escolar, como o número de matriculas, níveis de repetência, evasão, etc.,
além de documentos que relatam as práticas pedagógicas, como os currículos e
planejamentos escolares, documentos técnicos essenciais para conhecermos a
identidade dessas escolas, as formas como foram construídas e reconstruídas e sua
relação com as políticas de educação em curso no país em diferentes períodos.
Relata as diretrizes usadas para a identificação e organização dos documentos sob
a custódia de duas instituições de ensino: a Escola Técnica Estadual Henrique Lage
e o Colégio Estadual Aurelino Leal, primeiras escolas profissionais do município
de Niterói, RJ. Caracteriza-se como pesquisa exploratória, sendo o seu principal
caminho investigativo a pesquisa bibliográfica e o trabalho de campo feito nos
arquivos, cujo objeto empírico foram os dossiês dos alunos. Seus procedimentos
378
metodológicos são oriundos das ciências documentárias, em especial a
Arquivística, tendo em vista desenvolver metodologias adequadas para inventariar
e identificar a documentação produzida pelas escolas com o objetivo de representar
e descrever o conteúdo informacional de seus fundos. Envolve ações como:
contextualização, descrição e identificação das espécies e tipos documentais. Traz
análises preliminares sobre os conteúdos dos documentos relacionando-os com o
contexto sócio-político-econômico nos quais foram produzidos, cenários marcados
por reformas no âmbito do ensino profissional como a Reforma Nilo Peçanha
(1909), Reforma Fernando de Azevedo (1928) e Lei Orgânica do Ensino Industrial
(1942), que trouxeram mudanças significativas nas relações entre o mundo do
trabalho e a educação face às necessidades impostas pelo projeto industrialista em
curso.

Arquivos Municipais e História Oral: A busca pelo acesso à informação em


Angra dos Reis - Martha Myrrha Ribeiro Soares (FCRB)

Articula os estudos teóricos e metodológicos da História Oral com os estudos de


identificação de instituições com acervo arquivístico com o objetivo de construir
uma referência para a aplicação e verificação de hipóteses e análises no trabalho de
campo. Discute os arquivos municipais considerando o campo teórico sobre
memórias e acervos. Reconstitui, através de entrevista oral, a história do acervo da
secretaria municipal de saúde de Angra dos Reis. Considera a trajetória do
entrevistado e sua relação identitária com a instituição, a Prefeitura Municipal de
Angra dos Reis. Reconhece a gênese do acervo documental arquivístico
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acumulado. Proporciona um mergulho mais profundo e qualificado no campo de


investigação dos arquivos públicos municipais. Oferece alicerces para identificar a
situação atual de organização e conservação dos documentos arquivísticos.
Verifica a pertinência do uso da História Oral como metodologia para a elaboração
da história administrativa e da história do acervo arquivístico, observando o
conceito e os atributos do documento de arquivo. Relaciona e reflete sobre o uso
da História Oral como subsídio para a organização da informação arquivística e
aplicação da norma internacional ISDIAH. Demonstra a importância dos espaços
de salvaguarda e dos lugares de memória como os que preservam o que há de
fundamental para as sociedades democráticas, a informação.

As disputas de memória no Arquivo Público do Estado do Espírito


Santo - Tiago Braga da Silva (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Através da descrição de documentos, o arquivo pode ampliar as possibilidades de


acesso aos seus conjuntos documentais. Isso porque os instrumentos de pesquisa
resultantes do processo de descrição, configuram dispositivos importantes para se
conhecer o que se tem nos acervos dos arquivos, além de ser uma ferramenta que
possibilita o acesso. Isso posto, o presente estudo buscou compreender as
dinâmicas que ocorrem no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APPES)
para definir os fundos documentais prioritários a serem descritos. Entendo que as
práticas realizadas pelos diversos agentes inseridos no campo dos arquivos
representam uma estratégia de luta entre agentes diversos para definir que
379
memórias para determinar que memórias serão conservadas e acessadas. Mesmo
diante dos diferentes conflitos de memórias que envolvem o arquivo, foi possível
verificar ações determinantes de diversos agentes. As escolhas em relação a
produção de instrumentos de pesquisa no APPES, não fica condicionada apenas
por uma vontade institucional e unilateral, mesmo não tendo acesso a documentos
que demonstrem os debates e os jogos de interesse que acontecem no interior dos
arquivos, foi possível perceber uma abertura da instituição em considerar as
necessidades de informação dos agentes, sobretudo, os consulentes dos arquivos,
que ao apresentarem sua demandas determinam as prioridades que o arquivo deve
ter. Além disso, a produção dos instrumentos de pesquisa não é exclusividade da
instituição. Através de leis de fomento à cultura é possível produzir instrumentos
de acordo com os interesses de diferentes agentes, sem necessariamente ter
anuência de interesse da instituição. Podemos perceber isso em dois instrumentos
de pesquisas do APPES. No interior do arquivo há fortes tensões nas escolhas,
sobretudo, aquelas que envolvem processos e práticas de visibilidades de acervo.
Mas é possível destacar que os agentes externos, usando de diferentes estratégias
para priorizar fundos documentais e temáticas que não teriam preferência no
âmbito da gestão institucional, conseguem operar mudanças e interferir na prática
da instituição em questão. O que fica claro nesse debate é a importância da atuação
dos diferentes agentes na configuração das práticas operadas no arquivo. E nessa
direção, para as reflexões futuras, vale destacar algumas intenções de pesquisas :
Ampliar o debate sobre as noções de habitus e campo em Pierre Bourdieu, com o
objetivo de entender as relações de poder/disputas/conflitos que ocorrem nos
arquivos públicos; e aprofundar o debate sobre os usos políticos do passado; e
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analisar e problematizar as possíveis relações entre a noção de patrimônio cultural


e o entendimento do documento de arquivo como patrimônio.

Entre a pesquisa histórica e o tratamento arquivístico: a organização dos


arquivos pessoais do CEDOC como um estudo de caso - Dayane Ponciano de
Lima (MAST), Paulo Vitor Sauerbronn Airaghi (UFRN)

Analisa a relação entre a Arquivologia, a História e a Biblioteconomia na


organização de arquivos pessoais. Empiricamente o trabalho se concentra na
experiência realizada por historiadores que, desde 2011, atuam na organização de
arquivos pessoais que compõem o acervo do Centro de Documentação Cultural
Eloy de Souza (CEDOC), instituição inaugurada em 2003 com a proposta de ser
um local destinado a preservar a memória potiguar. Desde 2011, os arquivos
pessoais se tornaram o principal foco do CEDOC, que passou a abrigar arquivos
de personagens que se destacaram na sociedade potiguar ao desenvolver ações
ligadas à política e às artes. Neste texto, serão analisadas as experiências com os
arquivos pessoais dos ex-governadores Sylvio Pedroza (que organizou em vida seu
acervo) e Dix-Sept Rosado Maia (que teve seu arquivo criado décadas após a sua
morte, a partir de documentos doados por familiares e amigos), enfatizando as
dificuldades para a organização de um arquivo que reúne documentos textuais,
livros e objetos tridimensionais. O trabalho dos historiadores é o de situar
historicamente os personagens e a documentação, e estando diante de arquivos de
tanta diversidade documental, foi procurada a parceria com arquivistas,
380
museólogos e bibliotecários. O trabalho discorrerá sobre o que foi feito para juntar
diferentes suportes documentais em um mesmo acervo. Teoricamente o texto está
calcado na ideia de que nas últimas décadas, há um profícuo diálogo estabelecido
entre os historiadores e profissionais que lidam com documentos arquivísticos: os
historiadores, por um lado, passaram a se interessar cada vez mais pela formação
de arquivos, especialmente no que diz respeito aos arquivos pessoais, que passaram
a se tornar não só fonte, mas o próprio objeto de pesquisas históricas (GOMES,
2004); por outro lado, os arquivistas passaram a perceber, com os historiadores,
que os acervos pessoais constituem uma determinada narrativa sobre a vida dos
sujeitos cujos documentos estão arquivados (VENÂNCIO, 2015). Dividiu-se o
texto da seguinte forma: inicialmente será discutido o papel do CEDOC como
centro agregador de arquivos pessoais; num segundo momento se analisará como
os historiadores envolvidos no processo de organização dos acervos dessa
instituição têm trabalhado; depois disso, serão analisadas as diferenças e
semelhanças no trabalho com os dois acervos supracitados; por fim, será discutida
a utilização dessa documentação para desenvolver estudos sobre esses
personagens. Concluímos que é possível organizar arquivos pessoais relacionando
documentos textuais, livros e objetos tridimensionais, e que para um trabalho
eficiente é necessária a interação entre profissionais das diferentes aqui
mencionadas.

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História digital: o uso de #hashtag para recuperação de informações - Taciana


Sene Lúcio (FGV/ CPDOC)

Na era da informação a sociedade passou a organizar-se em um novo espaço. A


internet ou a ‘rede’, como prefere Castells (2001), é palco da elaboração de uma
cultura digital constituinte de suas próprias técnicas, práticas e valores (LEVY,
2010). Aliada às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) a internet
possibilitou a constituição de novos espaços para o compartilhamento de
documentos. Instituições de memória cada vez mais tem se adaptado a essa
realidade. Ao organizarem as informações, nesse ‘novo’ espaço, tais profissionais
utilizam de conhecimento e normas científicas adequando-se as capacidades e
limitações da rede. Por outro lado, fora das arestas normativas das instituições
científicas, diferentes plataformas tem se transformado em uma espécie de
repositórios informais de documento. Através das TIC’s e das ferramentas
disponibilizadas pela web 2.0 “[c]om as câmeras de nossos celulares, capturamos
o comum e o mundano, bem como o traumático e jornalístico (...). Publicamos
conversas e pensamentos online que se tornam memórias em sites de redes sociais”
(GARDE-HANSEN, et al. 2009, p.1). Os usuários da rede passaram de meros
receptores a produtores de informação. Partindo desse contexto e considerando que
a história digital aborda questões de preservação, coleta e difusão de documentos
on-line (COHEN & ROSENZWEIG, 2005; JAH, 2008) nota-se a necessidade de
diálogo entre profissionais da informação e historiadores que utilizam da rede para
realizarem seus estudos. Nesta comunicação, pretendemos acionar um diálogo
381
focado no campo prático dos profissionais de informação e o exercício da história
digital. Refletindo, em especial, sobre os processos de indexação e recuperação que
influenciam na pesquisa do historiador usuário de informações da rede. Para isto,
traremos os resultados parciais de um estudo ainda em desenvolvimento na
FGV/CPDOC sobre as possibilidades de recuperação de informações utilizando
#hashtag.

O arquivo e a escrita da história: a propósito do acervo pessoal de Thales de


Azevedo - Mabel Meira Mota (UFBA)

A princípio, deve-se dizer este trabalho insere-se no âmbito da pesquisa de


mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação,
da Universidade Federal da Bahia, a qual se propõe a analisar as tipologias
documentais decorrentes da atividade historiográfica empreendida por Thales de
Azevedo, em torno da temática do cotidiano. Thales de Azevedo produziu e
acumulou diversos documentos em razão dos papéis sociais que desempenhou ao
longo de sua vida. Dentre estes, destacam-se aqueles exercidos na Universidade
Federal da Bahia, na qual ocupou cargos como gestor, conselheiro, professor e
pesquisador. Enquanto professor universitário atuou na Faculdade de Medicina da
Bahia e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, onde ensinou entre 1943 e
1969. Nessa última, fora encarregado da 1ª Cadeira de Antropologia e Etnografia,
cuja matéria estava prevista nos currículos dos cursos de Geografia, História e
Ciências Sociais. Foi através dela que Thales de Azevedo aproximou antropologia
e história, dedicando-se a construção de diferentes ciclos de trabalho em
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historiografia, dentre os quais se destaca aquele que culminou na obra Povoamento


da Cidade do Salvador. O referido ciclo contempla uma série de documentos
originários do labor historiográfico de Thales de Azedo, o que permite
aproximações com o conceito de “arquivos da ciência” ou “arquivos científicos”
(Charmasson, 2006), pois apontam para uma prática científica e seus registros
documentais. É sobre as tipologias documentais advindas da prática científica
desenvolvida no âmbito da pesquisa historiográfica desenvolvida pelo titular que
discorreremos neste trabalho. Conciliando as áreas da História, da Arquivística, em
específico da Diplomática Arquivística/Tipologia Documental, objetiva-se
apresentar as circunstâncias de produção e usos dos documentos referentes ao ciclo
de pesquisa historiográfica, destacando as peculiaridades estruturais de alguns
desses documentos, que não estão previstos pela Diplomática, uma vez que ela está
alicerçada, fundamentalmente, nos documentos advindos do exercício de funções
administrativas ou jurídicas (BELLOTTO, 2005). Destaca-se, por fim, o valor
informativo destes documentos para uma reflexão sobre a memória da pesquisa
científica desenvolvida por Thales de Azevedo e para construção de historias da
História através dos acervos pessoais de historiadores.

O lugar do arquivo, da biblioteca e da documentação na reforma


administrativa do Governo Vargas (1935-1945) - Paulo Roberto Elian dos
Santos (Fundação Oswaldo Cruz)

Aborda, em uma perspectiva histórica, a atuação do Departamento Administrativo


382
do Serviço Público – DASP, criado em 1938, durante o Estado Novo, com a tarefa
de empreender um projeto modernizador capaz de viabilizar a separação entre
política e administração no contexto de forte centralização do poder na Presidência
da República, Considera que o departamento foi gente promotor de ações que
configuram a gênese da fase moderna do conhecimento arquivístico, traduzido em
técnicas, métodos e práticas da arquivologia e destinado a encontrar lugar na
administração pública reformada. Apresenta, no contexto da reforma
administrativa do governo Getúlio Vargas, essa fase da arquivologia, que só pode
ser compreendida se forem analisadas suas relações com as áreas da
biblioteconomia e documentação, em processo de institucionalização, e
contempladas no projeto modernizador do novo órgão. A institucionalidade dos
arquivos e da arquivologia alcançada ao fim do período estudado é o que se propõe
a apontar o trabalho. Para tanto, utiliza como principal fonte de pesquisa os
documentos do fundo DASP depositado no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.

O projeto de educação patrimonial de Santa Teresa (ES): Diálogos entre


História, Memória e Arquivolgia - Margarete Farias de Moraes (UFES)

O objetivo principal do projeto foi fomentar a educação patrimonial,


principalmente, do patrimônio documental, particular e público da Cidade de Santa
Teresa (ES), através de oficinas e atividades para estudantes, educadores da rede
pública municipal e estadual, profissionais da informação e comunidade em geral.
O projeto foi desenvolvido entre os meses de março e julho de 2017 e foi
patrocinado pelo edital 12/2016 do Funcultura (Fundo de cultura do ES). Santa
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Teresa foi a primeira cidade do Espírito a receber imigrantes italianos. Encravada


nas serras capixabas, a cidade conservou sua arquitetura, cultura e sua beleza
natural, que a tornou uma das mais importantes cidades turísticas do estado. O
projeto foi estruturado em forma de oficinas de educação patrimonial e atividades
de resgate de memória. As oficinas foram de 8 horas de duração, com temáticas
que puderam provocar o entendimento da importância do tratamento e divulgação
do patrimônio documental da cidade e de seus cidadãos, além de proporcionarem
a vivência coletiva da identificação, coleta, tratamento, reflexão, divulgação e
provocação do sentimento de pertencimento à cultura e história da cidade. As
oficinas tiveram temáticas como: História Oral: Como fazer; Organização e
tratamento de acervos fotográficos; Preservação e Conservação de documentos
histórico; Prática culturais e Mediação da Informação; Arquivos pessoais:
organização e uso cultural; Arquivos Familiares e sua importância para a história
local; Tecnologia da informação no ensino da história local; Elaboração de projetos
culturais, entre outras. Além das oficinas, duas importantes atividades compuseram
o projeto. A primeira foi a participação do arquivo itinerante do Arquivo Público
do Estado do ES, onde a equipe de arquivistas do Arquivo Público, de posse de um
ônibus, atenderam a população na praça principal da cidade e emitiram certidões
de entrada de imigrantes aos seus descendentes, que por ventura não sabiam desta
possibilidade ou não tiveram oportunidade de irem ao Arquivo Público recuperá-
las. A segunda atividade foi o mapeamento dos patrimônios culturais da cidade
pelos próprios cidadãos. Esta atividade fez com que cidadãos percorressem a sua
própria cidade de uma forma que nunca haviam experimentado. O projeto atingiu
383
todos os resultados esperados, como a satisfação da população, o aumento do
sentimento de pertencimento à cultura local, a instrumentalização de professores
das escolas locais nas aulas de história, o fomento turístico, o empreendedorismo
na área do turismo, na medida que o projeto pode revelar mais aspectos culturais
típicos da cidade, antes desconhecidos. Os documentos coletados produziram uma
exposição, que pode fortalecer ainda mais as atividades do projeto na população.

O saber-fazer arquivístico nas páginas da revista Arquivo &


Administração - Jacqueline Ribeiro Cabral (UFF), Suzanne Mendonça dos
Santos (UFF)

A presente comunicação pretende apresentar um breve panorama dos anos iniciais


da produção arquivística brasileira a partir das páginas da revista “Arquivo &
Administração”. Editada desde 1972 pela Associação de Arquivistas Brasileira
(AAB), – entidade civil voltada para o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos
profissionais de arquivo e da Arquivologia –, a revista “Arquivo & Administração”
tornou-se o mais destacado periódico brasileiro na área, tendo sido publicada de
forma intermitente entre os anos de 1972 a 2014. Trata-se de uma pesquisa em
estágio incipiente, mas que ambiciona abranger os principais atores (articulistas
mais frequentes, colaboradores institucionais, dirigentes responsáveis) e roteiros
(temáticas recorrentes, abordagens privilegiadas) ao longo de quatro décadas de
existência da revista em suas 50 edições. Desta forma, nosso intuito é tentar
contribuir para o debate em torno da constituição da Arquivologia enquanto campo
de conhecimento autônomo e interdisciplinar na área dos estudos sociais aplicados.
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XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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“Nenhum dia sem linha”: experiência cristã e sua memorialização nos diários
de Thomas Merton - Marcelo Timotheo da Costa (PPGH em História da
UNIVERSO)

A presente comunicação analisa os journals/diários do monge trapista, místico,


escritor e ativista social norte-americano Thomas Merton (1915-1968). Deseja-se
ilustrar como Merton, pela consignação detalhada de seu cotidiano, buscou
equilibrar pulsões dicotômicas: o apagamento do self, objetivo final da vida
religiosa contemplativa, e intensa atuação na sociedade contemporânea. Pela
escrita de journals, exercício que constituiu acervo de 7 alentados volumes, nosso
autor buscou também equilibrar permanência e câmbio. Assim, refletindo pelo uso
da pena, por décadas, dia após dia, Thomas Merton procurou organizar sua
trajetória, mantendo-se fiel ao estado monacal, mas cambiando em seu
entendimento das implicações sociais da fé cristã. Desta forma, logrou abraçar
eclesiologia e atuação pública bem mais progressistas do que as adotadas quando
de sua conversão ao catolicismo, na juventude.

384

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385
ST 39. História, Educação e Memória:
interfaces e diálogos

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A Educação a Distância nas décadas de 1940 e 1970 na perspectiva do ensino


pelo rádio e pelos centros de estudos supletivos - Cinthya de Oliveira
Nunes (Faculdade de Formação de Professores FFP/UERJ), Niely Natalino de
Freitas Leyendecker (UERJ), Rosa Maria Garcia Monaco Paiva (SEEDUC-RJ)

A História da Educação no Brasil é marcada por projetos desenvolvidos na


Educação a Distância (EAD), advindos do governo federal, especialmente nos
períodos de regimes arbitrários. O objetivo do estudo será o de analisar três dessas
alternativas educacionais, disseminadas em período de regime coercitivo, através
dos projetos de educação pelo rádio e nos Centros de Estudos Supletivos (CES),
nas modalidades totalmente à distância e semipresencial de ensino: a Universidade
do Ar (UAR) (1941-1945) e a educação rural no Serviço de Radiodifusão
Educativa (1943-1951); e o CES (1973 até os dias atuais), respectivamente. Tal
estudo justifica-se pela ausência de trabalhos que dialoguem essas alternativas da
EAD de ordem pública federal aqui propostas. O recorte temporal da análise
compreende aos anos a partir das vigências de cada projeto. A micro-história nos
dá a sustentação metodológica necessária, colocando em jogo as oposições micro
e macro, no intuito de redimensionar as certezas. Na abrangência dos projetos, a
Universidade do AR, programa radiofônico transmitido pela Rádio Nacional, tinha
como objetivo, a formação pedagógica de professores do ensino secundário de todo
o Brasil. O caráter da UAR não era o de suprir o ensino superior, mas sim, o de dar
aos professores atuantes na educação secundária, o contato com a metodologia do
ensino nas disciplinas em que lecionavam. Nesse bojo, o Serviço de Radiodifusão
386
Educativa no período de implementação, possibilitou a integração entre os diversos
brasis pela sua concepção de Educação Rural. Criado pelo Ministério da Educação
e Saúde, durante a vigência do Estado Novo (1937-1945), o Serviço de
Radiodifusão Educativa foi concebido como parte do movimento civilizatório que
pensava a educação e a saúde como elemento capaz de unificar o país, regenerando
o povo assolado pelas doenças e o analfabetismo. Já os Centros de Estudos
Supletivos foram criados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) com a
intenção de escolarizar o povo adulto brasileiro no 1º e 2º Grau, mediante o uso de
módulos de ensino estudados em casa, junto à outras mídias tecnológicas. In lócus,
os alunos eram orientados pelos professores de disciplinas (Orientadores de
Aprendizagem) e realizavam os testes de aprendizagem, para a aprovação por
disciplina. Embora com públicos-alvo distintos, tanto os programas em EAD, como
o serviço de radiodifusão educativa, compunham uma estrutura sobre a qual
buscou-se influenciar a nação como um todo, tendo cada uma das iniciativas, uma
intenção. Diante das três concepções de ensino aqui apresentadas, observa-se que,
em distintos momentos históricos, a instauração de um país fortalecido enquanto
nação e unificado através da Educação foi o carro-chefe dos governos coercivos.

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A Era Vargas e o modelo de educador (1937-1945) - Janaina Pamplona


Ribeiro (Faculdades São Judas Tadeu), Nielma Nunes Dantas de Lima (Faculdades
São Judas Tadeu)

A organização da política de educação no Brasil tornou-se uma temática central em


fins do século XIX e no decorrer do século XX vários estudos e modelos de ensino
foram pensados, criticados e instituídos em nosso país. Em especial na cidade do
Rio de Janeiro, que durante muito tempo foi capital da colônia, império e república.
A ideia de uma escola nova para a formação de um novo homem se articulou com
as exigências do desenvolvimento industrial e o processo de urbanização como,
também, as transformações sociais, ideológicas, políticas e culturais.No Brasil o
século XIX, a escola pública surge como elemento de uma condição redentora da
nação, além se tornar em um espaço de difusão dos conceitos de modernidade,
civilização e progresso vinculados à todas as mudanças que nossa nação estava
passando. Posteriormente, no século XX, identificamos que nas décadas de 1930 e
1940 inúmeras medidas para renovação do modelo de ensino em todos os níveis
(primário, secundário e universitário) e que vão ser pensadas e instituídas pelo
chamado Estado Novo Varguista. Até que ponto essas mudanças metodológicas
ultrapassam a questão curricular e chegam na formação dos professores primários
e secundários, e como elas vão ou não forjar um novo perfil de professor. A
proposta de nosso trabalho é identificar através de fontes com jornais, diários e
documentos das instituições de ensino que dialoguem com e as mudanças
legislativas e refletir como esses profissionais se veem e são vistos em seus
387
afazeres.

Campo de histórias e a batalha pela memória: o curioso caso da Praça da


República - Lenna Carolina da Silva Solé Vernin (UFRJ)

O trabalho tem como objetivo traçar a trajetória das disputas pela memória da
região do Campo de Santana no Centro do Rio de Janeiro. De arrabalde depósito
de detritos no século XVIII ao Jardim romântico amputado por Vargas utilizado
como passagem e despertador dos temores dos transeuntes contemporâneos, o
Campo de Santana mudou inúmeras vezes sua toponímia. No entanto, a memória
do Carioca jamais incorporou os nomes para além daquele que remete a pequena
igreja construída por escravos em devoção à avó de Jesus. Atualmente seu nome
oficial é Praça da República, porém muitos visitantes não reconhecem o como tal
e seguem perdidos em seu entorno buscando o Campo de Santana. Diante de tal
impasse, esta pesquisa, além de analisar as tensões acerca do lugar de memória, as
múltiplas camadas de tempo sobrepostas no espaço, é proposta também uma
atividade pedagógica a fim de se apropriar do patrimônio histórico urbano. A partir
da crítica às demandas memoriais e apropriação do conhecimento histórico é
oferecido subsídios para a forma de uma identidade para o estudante do ensino
médio, sobretudo os moradores das comunidades vizinhas, em especial o Morro da
Providência, tão visceralmente ligado a história republicana.

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Entre o educar e o moralizar: o desafio das professoras do IPF Orsina da


Fonseca - Teresa Vitória Fernandes Alves (Pref. da Cidade do Rio de Janeiro)

Os anos que se seguiram após a proclamação da República foram circunscritos por


inúmeras mudanças, dentre elas destaca-se a transformação urbanística e
moralizante da sociedade brasileira. Da mesma forma que em boa parte do mundo
ocidental, espaços como hospitais, escolas e prisões brasileiras começam a sofrer
remodelações radicais, com base numa proposta de limpeza e novidades calcadas
em métodos científicos e na crença de que o país estava passando por uma etapa de
desenvolvimento material e do progresso social. Na tentativa de disciplinar, educar
e curar a população pobre dos grandes centros urbanos brasileiros inicia-se uma
mobilização entre o poder público – Estado – e os intelectuais. Nesse momento o
Estado criou condições para a participação feminina no magistério de forma
remunerada o que gera uma grande procura pelo ofício. Atrelado a isso o discurso
ideológico que envolvia a participação da mulher no magistério ganha destaque em
decorrência da ideia de que essa seria a profissão que conciliaria as atividades
domésticas e de mãe, pois cuidar e educar crianças eram missão feminina. Partindo
dessa premissa é que dirigimos nosso olhar para a formação profissional das
professoras concursadas ou não que chegam para trabalhar no Instituto profissional
Feminino Orsina da Fonseca. O que ensinavam, qual a sua formação e como se
relacionavam com as meninas e moças que ali estudavam são alguns dos nossos
questionamentos.
388
Museus pedagógicos: preservação da memória escolar - Cristiane Bomfim
Cruz do Nascimento (Faculdade São Judas Tadeu)

O presente trabalho consiste em uma revisão de literatura a respeito da função


patrimonial dos museus, articulando-a a preservação da memória escolar nos
Museus Pedagógicos. Uma reflexão no campo da cultura escolar, a partir da
construção de identidades nos Centros de Memórias nas escolas, relacionando este
resgate da cultura escolar específica de cada instituição com a preservação do
patrimônio escolar dentro da história da educação.

O (entre)lugar do pensamento intelectual de Manoel Bomfim para a educação


no Brasil - Marcela Cockell Mallmann (UERJ)

Manoel Bomfim (1868-1932) foi um intelectual brasileiro (escritor, médico,


professor e político) engajado em sua autenticidade: era um intérprete e um
observador do país, em especial, da transformação urbana, social, política e
econômica que se desenvolveram a partir início do século XX. Suas críticas em
torno dos atenuantes problemas sociais e educacionais existentes no Brasil também
se voltaram para a América Latina, especialmente a partir de sua obra A América
Latina: males de origem (1905). A obra, escrita na França, demonstra toda a
preocupação do autor em relação à formação social brasileira de uma perspectiva
diferenciada: do continente europeu enxergou o Brasil e a América Latina com
outra silhueta, como se esta distância acentuasse o seu olhar em relação às suas
proximidades latinas. Em seu ponto de vista, os latino-americanos, como os
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brasileiros, sofriam do que denominou “parasitismo social” em relação às nações


ibéricas, estabelecendo uma relação de submissão entre classes dominadas e
dominantes. Nesta obra, seu contradiscurso foi evidenciado ao ir de encontro à
teoria do branqueamento e das etnias inferiores do povo brasileiro, afirmando que
a questão do atraso não era um problema racial, mas social e que apenas a educação
seria capaz de “curar” os atrasos brasileiros e das demais nações latinas.
Consideramos a obra de 1905 como o ato inaugural do pensamento intelectual de
Bomfim, seguido por seus escritos posteriores, até 1932 quando viria a falecer. Em
sua última obra Cultura e educação do povo brasileiro (1932), o autor levou ao
debate suas preocupações com a educação pública, e a urgência de se estabelecer
uma ideia de nação. O entre-lugar (Santiago, 2000) do autor no cenário da Primeira
República (1889-1930), e atravessando a Belle Époque tropical (1898-1914), se
revela num movimento vanguardista ao não se ancorar num simples discurso de
modernidade, mas também de procurar estabelecer a educação como uma ciência,
em contato com a pedagogia e a psicologia. Nesta proposta, parte de uma pesquisa
ainda em andamento, apontaremos alguns vestígios significativos em torno do
autor pelos seus escritos (Ginzburg, 1987), na perspectiva de traçar a fermentação
intelectual de seu pensamento sobre o Brasil, a educação, a América Latina e
também dar potência às questões que permeiam à sua produção na história da
educação, que de certa forma nos leva a analisar o seu silenciamento, a tradição às
dualidades (de presente e passado; antigo e moderno) e o discurso (ou
contradiscurso) como ação intelectual.
389
O ensino de passados traumáticos: as relações entre história, memória e
educação no desenvolvimento de uma pedagogia da memória - Ana Lima
Kallás (Universidade Federal Fluminense)

O objetivo do trabalho é apresentar e discutir as origens e desdobramentos do


debate sobre uma "pedagogia da memória" a partir da experiência alemã com o
Holocausto e sua reelaboração para o ensino das ditaduras civil-militares do Cone
Sul. A expressão é usada para tratar de políticas educacionais específicas que
abordem passados considerados traumáticos entre as gerações que não o viveram
diretamente ou não o viveram em fase adulta. O desenvolvimento de experiências
de "pedagogia da memória" está relacionado com a ideia de elaboração de uma
memória exemplar, tal como discutido pelo linguista búlgaro Tzvetan Todorov
(2000), na qual, diferentemente da memória literal, a lembrança é usada para
entender situações similares no presente, mesmo que com sujeitos históricos
distintos. Trata-se de um processo que visa a transferir algo do plano individual e
privado para a esfera pública, permitindo seu uso para analogias, mas sem perder
por completo a singularidade da memória. Nesse caso, o passado se converte em
princípio para a ação no presente, constituindo elemento central para a construção
da contra hegemonia. O sentido de uma "pedagogia da memória" também está
relacionado à ideia de "transgeneracionalidade do trauma", isto é, quando o dano
produzido pelas experiências traumáticas é multigeracional, afetando muitas
gerações de forma sincrônica; e quando é intergeracional, ou seja, traduzido em
conflitos entre gerações; bem como transgeracional, pois seus efeitos reaparecem
de diversos modos nas gerações seguintes, de modo diacrônico. A origem deste
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debate esteve presente nos estudos de Sigmund Freud, e foi desenvolvido


posteriormente, a partir das experiências de violência extrema após a Segunda
Guerra Mundial. Em situações traumáticas de origem social, a dificuldade para
dotar de sentido a experiência está estreitamente relacionada com a inadequada
elaboração social do acontecido marcada pelo silenciamento do Estado diante das
violações de direitos humanos ocorridas, provocando uma dissociação entre
sofrimento e dano produzido por uma violência de Estado, além de uma
deshistoricização e uma descaracterização da questão como problema social. Tal
debate deve ser encarado, portanto, de uma perspectiva interdisciplinar,
possibilitando diálogos profícuos entre história, memória, educação e psicanálise
social. Na América Latina, a discussão está referida na ideia do Nunca Mais, uma
atitude de vigilância, repúdio e resistência de uma volta à barbárie do terror de
Estado.

Os livros didáticos de História e as religiões afro-brasileiras: perspectivas para


a construção da tolerância a partir do Ensino de História - Rodrigo de Souza
Goulart (UFRJ)

Esta pesquisa apresenta como tema de investigação a presença/ausência de


narrativas e representações sobre as religiões afro-brasileiras nos livros didáticos
destinados ao ensino médio. Pretende problematizar os conteúdos da história do
Brasil selecionados em unidades e capítulos dos livros didáticos mais distribuídos
no país, identificando permanências de perspectivas eurocêntricas, a reprodução de
390
silenciamentos, invisibilidades e subalternizações que são impostas aos
referenciais culturais de origem africana e que afetam de maneira singular os cultos
religiosos afro-brasileiros e seus praticantes. As religiões afro-brasileiras, como o
Candomblé e a Umbanda, estiveram presentes e trouxeram importantes
contribuições para o processo de formação social e cultural do Brasil. Constituíram
importantes espaços de resistências para muitos africanos escravizados e
preservaram para o presente um repositório de tradições sagradas e cosmologias
que remontam aos vínculos mais afetivos com a origem africana. No entanto, suas
histórias, memórias e referenciais indenitários têm sido negados e silenciados
historicamente. Nas últimas décadas, movimentos de resistência e luta por direitos,
conquistaram a implantação de importantes políticas públicas e dispositivos legais
que pretendem dar conta das demandas históricas das populações negras por
dignidade, igualdade e reconhecimento de suas expressões culturais. A educação
foi o principal alvo dessas políticas de reconhecimento e reparação, que trouxeram
para o debate público a urgência da desconstrução de preconceitos e do
enfrentamento das discriminações. Nesse contexto, o ensino de história foi
reconhecido como disciplina escolar formidável para a implementação das medidas
legais, uma vez que é construtor de identidades e divulgador de memórias que
informam e produzem coesão social. Na mesma perspectiva, os tradicionais livros
didáticos, meios de divulgação fundamentais de conteúdos, ideologias oficiais e
que informam a sociedade sobre os saberes considerados canônicos, também
passaram a ser objeto de questionamento nos termos dos conteúdos e abordagens
que legitimam. Tais circunstancias nos permite identificar a necessidade de que os
conteúdos sobre a história e cultura africana e afro-brasileiras não contornem o
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tratamento das expressões religiosas, oferecendo conteúdos qualificados e que


forneçam contribuições significativas para erradicar estereótipos, desconstruir
preconceitos e promover a tolerância. Atendendo as demandas históricas, políticas,
sociais e éticas na garantia do direito à história, e na construção de memórias e
identidades religiosas afro-brasileiras positivadas.

Percursos pela memória: história local e ensino de história - Evelyn Morgan


Monteiro (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFRJ)

Os currículos escolares não dedicam espaço para a História Local. Continuamos


apresentando nas salas de aula as narrativas historiográficas que destacam grandes
acontecimentos do país e do mundo. Conteúdos fundamentais para a formação de
qualquer educando, contudo quando explicamos que “somos todos sujeitos
históricos” onde eu, você, seu avô, alguém do bairro, algo que aconteceu na sua
cidade aparece na História? A falta de fontes, de material didático ou de lugares de
memória faz com que esses conteúdos sejam subtraídos das práticas de ensino
cotidianas, sendo alegorias lembradas em datas comemorativas. Este é um relato
de experiência de um trabalho realizado com a turma INF161, do Instituto Federal
do Rio de Janeiro, campus Arraial do Cabo. No primeiro semestre de 2017
realizamos um jogo de escala entre a micro e a macro história ao buscar pontos de
interesse histórico, e turístico, nas cidades de Arraial do Cabo e Cabo Frio. Ao
elaborarem percursos a pé pelas cidades, os grupos compartilhavam as memórias
recolhidas com os moradores ou as diferentes versões históricas que encontraram.
391
O projeto ficou rico. Em uma avaliação coletiva do trabalho um aluno relatou que
nunca tinha ido ao Forte São Matheus, que fica na praia mais famosa de Cabo Frio,
afinal para que ir ao Forte se temos a praia? Outro estudante resumiu o sentimento
de todos: “eu não sabia que tinha tanta História onde eu moro”. Jacques Le Goff
ressalta que não existe sociedade sem história. O sentimento de pertencimento
escapa as narrativas historiográficas e está em cada indivíduo em seu tempo e seu
espaço. O Ensino de História se torna potente, ganha sentido na vida cotidiana dos
estudantes quando dialoga com sua realidade, com a memória do seu lugar.

Práticas educativas e construções de masculinidades no Instituto


Profissionalizante João Alfredo - Renata Rodrigues Brandão (Secretaria
Municipal de Educação do Rio de Janeiro)

As mudanças nas estruturas do ensino revelam um olhar diferenciado acerca do


papel das escolas/ institutos na construção da cidadania e, no caso em particular, o
lugar a ser ocupado por homens e mulheres neste reordenamento social, o qual vai
concretizar a ideia de uma Nação que se alicerçava com base em um projeto de
nacionalidade frente as transformações de uma “nova” sociedade que precisava
responder às demandas do processo de industrialização que o país estava iniciando.
O ensino passa a reproduzir os ideais de nacionalidade, criando cidadãos e os
hierarquizando de acordo com as necessidades do Estado. A proposta de
profissionalização de meninos pobres, órfãos e desvalidos vem acompanhada por
mudanças nas estruturas das escolas, o que nos leva a perceber que o olhar
direcionado a essas instituições transforma-se e passa a ser relacionado ao
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progresso da Nação. Este trabalho tem como objetivo traçar a trajetória do Instituto
Profissional Masculino João Alfredo dedicado a meninos/rapazes pobres e
desvalidos no Rio de Janeiro da virada do século XIX até 1940. O objetivo consiste
em analisar através dos documentos disponíveis, tais como: atas de diretores,
cadernetas de alunos, currículos, fotografias e arquitetura, a forma como o governo
da capital da república geria a formação de crianças e jovens a partir do sistema
sexo/gênero. Buscamos por meio desses documentos compreendidos como fontes
históricas, analisar a forma como se engendrava ideias de masculinidades. A
história do Instituto Profissional Masculino João Alfredo contribui para a reflexão
sobre o governo dos corpos e das almas a partir do sistema sexo/gênero.

Professoras suburbanas: memórias de uma fragmentação docente - Renata


dos Santos Soares (Faculdade São Judas Tadeu), Shirlei Rodrigues Lourenço da
Silva (Faculdade São Judas Tadeu)

No processo de urbanização ocorrido na gestão do então Governador Pereira


Passos, na cidade do Rio de Janeiro, no início do século XX, ganhou força um
movimento de deslocamento das populações que viviam nas encostas e nos cortiços
da cidade para áreas consideradas mais rurais, denominadas “Subúrbios”. As zonas
suburbanas eram representadas pelas antigas zonas de ocupação rural que se
desenvolveram a partir da inauguração da estrada de ferro D. Pedro II em 1858.
Ladeadas pelos trilhos dos trens de passageiros que começaram a circular em 1883,
freguesias como Irajá e Engenho de Dentro passaram a demandar serviços e atrair
392
a atenção e investimento da iniciativa privada e dos poderes públicos.
Acompanhando essa ocupação, prioritariamente de operários e trabalhadores
rurais, fez-se necessária a implementação de Escolas dentro dessas áreas
suburbanas e o destacamento de professoras especialmente destinados a essas
instituições. Este artigo busca analisar o perfil dessas professoras que enfrentaram
situações precárias de infraestrutura das escolas e as péssimas condições das
estradas de ferro com seus numerosos acidentes para o deslocamento entre as áreas
urbanas e suburbanas. Pretendemos ainda analisar o aparato legal presente em
decretos e normatizações que deram sustentação a existência das professoras
suburbanas como parte fragmentada do corpo docente da cidade do Rio de Janeiro.
A pesquisa se desenvolve por meio da análise da imprensa periódica, publicações
oficiais e correspondências dos professores a Diretoria Geral de Instrução Pública.

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393
ST 40. Histórias das mulheres negras
no Brasil Republicano (1889-2017)

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A líder das nagô de Belmonte/Ba: fragmentos de uma biografia - Joceneide


Cunha dos Santos (UNEB)

A biografia tem retornando ao debate da história com muita ênfase desde os anos
setenta da centúria passada. No entanto, os autores que têm se dedicado a esse
gênero não tem descolado o indivíduo da sociedade, dessa forma é percebido que
o indivíduo esta inserido em um emaranhado social, mas que também há espaço
para o acaso e escolhas individuais. Um alerta sobre o fazer biografia é pontuado
por Pierre Bourdieu, sobre buscar o todo no individuo e as razões para as escolhas
dos mesmos. A biografia também precisa ser conduzida por um problema,
seguindo a tradição da terceira geração dos Annales. Belmonte é uma cidade
localizada ao sul/extremo sul da Bahia que ainda possui alguns grupos de samba
liderados por mulheres e em sua maioria por mulheres negras. Ressalta-se que há
registros de samba na antiga Vila de Belmonte desde o final dos Oitocentos. E é
nesse cenário que vive a nossa biografada, a “D. Dezinha”. Essa pesquisa objetiva
traçar aspectos da biografia da líder do grupo de samba, as nagôs, a citada D.
Dezinha. Partindo das aproximações que essa personagem tem e teve com as
manifestações afro culturais, principalmente o samba. Para isso será utilizado
entrevistas, recortes de jornais, poemas, memórias dentre outros. Esses documentos
serão analisados e cruzados entre si, incluindo as entrevistas. Também operaremos
com o conceito de gênero para analisar alguns aspectos da trajetória dessa líder.
Ela narra que desde a sua infância convive com o samba através da sua mãe,
descreve rodas de samba com usos de instrumentos que se assemelham aos citados
394
em um processo crime do século XIX. Essas memórias remetem a primeira metade
do século XX. Em suma, através da biografia de D. Dezinha, conheceremos a líder
de uma manifestação afro cultural de grande importância de Belmonte e
perceberemos as estratégias que ela utilizou e utiliza para a sua sobrevivência bem
como a do grupo das nagôs.

História das mulheres negras no Teatro Experimental do Negro (1945-


1957) - Júlio Cláudio da Silva (Universidade do Estado do Amazonas)

Nossa comunicação versa acerca da História da luta dos negros no Brasil,


resgatando a contribuição do povo negro na área social, econômica e política e
pertinentes à História do Brasil. Para isso tomamos como referência a história de
vida das atrizes de teatro, cinema e televisão, Ruth de Souza e Léa Garcia. A partir
dos relatos orais das atrizes, seus pares na comunidade artística e dos recortes de
periódicos investigamos, em perspectiva histórica a contribuição dessas mulheres
egressas do Teatro Experimental do Negro, ao processo de criação e ampliação da
presença de atores, personagens e temáticas negra nos palcos brasileiros. Ao
mesmo tempo buscamos iluminar as relações raciais no universo das artes cênicas
no Brasil face a conjuntura política das décadas de 1940 e 1950. Iluminar aspectos
da História do Movimento Negro, em especial do Teatro Experimental do Negro,
a partir das trajetórias de atrizes que surgem em espetáculos montados para
denunciar o racismo nos palcos brasileiros e posteriormente se profissionalizam,
aparenta ser uma abordagem inovadora, na historiografia sobre o tema (SILVA,
2017).
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Irenice Maria Rodrigues, o esquecimento de uma atleta olímpica


brasileira - Cláudia Maria de Farias (Universidade Estácio de Sá)

Em diferentes momentos da história republicana do Brasil, as relações entre


política e esporte foram evidenciadas em diversos estudos acadêmicos recentes,
muitos dos quais abordam as relações de gênero nos esportes. Neste sentido, o
trabalho em questão pretende abordar a trajetória da atleta negra Irenice Maria
Rodrigues, revelando a invisibilidade e o esquecimento público que pesam sobre
sua história. Desse modo, ao incorporar o gênero como categoria de análise
histórica, sem desconsiderar a importância dos conflitos de classe e raça/etnia, a
pesquisa pretende verificar como se opera a construção das concepções dos corpos
feminino/masculino e da feminilidade/masculinidade no campo esportivo
brasileiro, durante a vigência da ditadura civil-militar no Brasil. Para além desta
questão, o trabalho também tem como objetivo reconstruir as experiências vividas
por Irenice Rodrigues durante este contexto, evidenciando seu protagonismo nas
lutas das mulheres brasileiras por sua emancipação e afirmação no interior do
“campo esportivo”, espaço de poder atravessado por disputas, conflitos e tensões
sociais.

Mulheres negras e Ditadura Militar no Brasil: Guerrilheiras, camponesas e a


Guerrilha do Araguaia - Janailson Macêdo Luiz (Universidade de São Paulo)
395
As trajetórias de mulheres negras que participaram da Guerrilha do Araguaia
(1972-1974) têm muito a nos dizer não apenas em relação aos contornos assumidos
nesse importante episódio da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), mas também
sobre os lugares sociais ocupados por mulheres negras durante o período
republicano, em especial aquelas que assumiram um lugar em organizações de
esquerda e na luta armada contra a Ditadura ou, mesmo sem pertencer a tais
organizações, acabaram vivenciando na pele o conflito, na condições de moradoras
da região em que ele ocorrera. Serão problematizadas mais detalhadamente as
trajetórias das guerrilheiras Helenira Rezende de Souza Nazareth (1944-1972),
Lúcia Maria de Souza (1944-1973) e Dinalva Oliveira Teixeira (1945-1974), que
vieram a perder as vidas nas matas paraenses, onde ganharam destaque junto a
população local dadas suas ações durante o combate, e cujo destino dos corpos até
hoje não fora elucidado. Entre as fontes apropriadas constam desde relatos orais de
memórias reunidos na região através de entrevistas de História Oral ou veiculados
em documentários que tratam do conflito, até documentos e informações presentes
em obras que abordam a história da Guerrilha, lidas à contrapelo, dadas as
estratégias de silenciamento e esquecimento lançadas sobre o tema.

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Ser Negra, Trans e Ativistta Política em Manaus: transições e transfigurações


políticas em história de vida. (1980-2017) - Israel Pinheiro (Universidade
Federal do Amazonas)

O presente trabalho busca construir uma reflexão em torno da experiência de vida


transexual no percurso da construção de identidades políticas na cidade de Manaus,
buscando analisar a trajetória de vida de militantes transexuais, tanto os processos
de transição de gênero, sexualidade, como a construção de uma transfiguração
política na construção de suas identidades enquanto mulheres trans, negras e
militantes na cidade de Manaus. Tendo como ponto central a narrativa de suas
experiências em diversos contextos, como a família, a escola, a rua, o trabalho e a
política. A metodologia desenvolvida ao longo desse trabalho é a história oral,
compreendendo o potencial que esse campo disciplinar nos oferece, buscou-se
extrair o recorte temporal a partir de nossas interlocutoras, recompondo o espaço e
o tempo central de suas narrativas na construção desse trabalho.

Vozes Negras: professoras de História no interior da Bahia e a


profissionalização docente (1980-1986) - Célia Santana Silva (UDESC)

Esse resumo apresenta algumas reflexões sobre as memórias de duas mulheres


negras, professoras de História que participaram do processo de implantação do
curso de Licenciatura em História no interior da Bahia, na década de 1980, do
século XX. Vale informar que essas reflexões são parte de uma pesquisa que se
396
encontra em andamento . As reflexões sobre a categoria memória ganham
densidade na pesquisa histórica através de discussões e debates sobre a presença e
os usos da História Oral em pesquisas que envolvem o ensino de História, a
formação de professores e também práticas pedagógicas que fazem uso de fontes
orais. Por conta disso, pesquisas relacionadas às práticas, vivências e trajetórias
docentes têm utilizado fontes orais como recurso metodológicos que valorizam
memórias. Através das entrevistas com essas mulheres negras, professoras de
História, que atuaram nas Faculdades de Formação de Professores nos Municípios
de Fera de Santana e Alagoinhas, respectivamente, foi possível conhecer e analisar
o cenário político baiano, bem como as propostas e politicas voltadas para a
formação de professores de História. As professoras relataram suas memórias sobre
a década de 1980 no interior da Bahia, apresentando os embates, disputas e
conflitos não só sobre a constituição da disciplina História, mas também sobre o
ser professora, negras, num contexto conturbado politicamente. As narrativas
dessas professoras, sobre o que vivenciaram nesse período, possibilitam reflexões
que dizem muito sobre práticas culturais e relações de gênero, questões étnicas,
bem como sobre o mundo do trabalho e as experiências pedagógicas acerca da
profissionalização docente em História. As narrativas dessas professoras, sobre o
que vivenciaram em seu ambiente de trabalho, as reflexões que trazem acerca da
profissionalização docente em História, constitui um dos objetivos da pesquisa.
Como formadoras, essas professoras agenciaram o processo de formação frente às
demandas institucionais e políticas que necessitam ser escutadas, para se conhecer
o processo de formação na Bahia. A partir das duas entrevistas, objetivou
identificar quais memórias elas apresentam sobre o período analisado, sobre sua
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condição de mulher, negra e qual o significado deste momento para cada uma delas.
Conhecer as memórias das professoras que fizeram parte de um universo comum,
e compartilharam um momento histórico significativo para sua profissionalização,
um universo de significados que conduziram suas experiências na condição de
grupo social e instituição e mesmo agentes da memória, possibilita compreender o
processo de profissionalização dessas professoras, as lutas e embates que travaram
para formar novos profissionais.

“E a trabalhadora negra, cumé que fica?”: uma análise dos escritos de Lélia
González no jornal Mulherio (1981-1983) - Marjorie Nogueira
Chaves (Universidade de Brasília)

Lélia Gonzalez é umas das intelectuais mais importantes da diáspora negra na


América Latina. No Brasil, sua produção teórica e atuação política foram
fundamentais para a consolidação dos estudos das relações raciais e a organização
dos movimentos negros contemporâneos. Sua trajetória perpassa as primeiras
organizações de mulheres negras brasileiras e descortina a invisibilidade das suas
experiências pelo feminismo hegemônico. No sentido de evidenciar as demandas
das mulheres negras das classes populares no debate político mais amplo, como
também no espaço acadêmico, ela cria a categoria da amefricanidade como forma
de pensar o seu lugar na sociedade patriarcal-racista. Em sua produção política e
acadêmica, publicou livros e artigos, contribuindo também com a imprensa
feminista da década de 1980 por meio do jornal Mulherio. O periódico se destaca
397
como o que mais tempo circulou em comparação a outros da mesma época, foram
36 edições entre os anos de 1981 e 1988. Produzido por um grupo de pesquisadoras
feministas da Fundação Carlos Chagas, o jornal abordava questões de gênero e
pautava as lutas das mulheres em diversas instâncias que vão desde a divisão do
trabalho doméstico e de cuidados ao direito ao aborto. Destacam-se também outras
pautas políticas como a mobilização pelas “diretas já’ e as discussões a respeito da
Constituinte. Como colaboradora do jornal entre os anos de 1981 e 1983, Lélia
González levou a discussão sobre a representatividade das mulheres negras e suas
demandas, ainda invisibilizadas pelo feminismo hegemônico, a outro patamar, ao
pautar a luta contra o racismo como fundamental para o enfrentamento das
desigualdades. O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise da agenda das
mulheres negras, a partir de seus escritos distribuídos em cinco artigos publicados.

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398
ST 41. Igreja, Sociedade e Poder na
Alta Idade Média

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'Povo de espinhos, coroa de espinhos': considerações sobre a condenação aos


judeus na pregação de Cesário de Arles (502-542) - João Victor Machado da
Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O amplo corpus documental de Cesário de Arles figura como uma das principais
referências para o estudo da atividade pastoral e do poder episcopal na região da
Gália na Alta/Primeira Idade Média, ao lado de figuras como Martinho e Gregório
de Tours. Contudo, no que se refere ao estudo de sua pregação, relativamente pouca
atenção foi dada a seu conjunto de sermões exegéticos, em comparação com a
maior ênfase conferida aos sermões ad populum e de tempore. O interesse por essas
parcelas do corpus é compreensível, já que delas podem-se extrair indícios sobre o
("mau") comportamento das comunidades cristãs, evidências da continuidade de
práticas pagãs, dentre outros temas. Porém, atentando para o fato de que mais que
um terço da produção homilética atribuída ao bispo consiste em trabalhos
exegéticos, optamos por nos centrar no estudo dos sermones de scriptura - com isso
buscamos explorar a maneira como o bispo se vale do texto bíblico para organizar
a comunidade cristã em torno de si e de sua instituição. A partir deste recorte
documental definimos um recorte temático: a condenação aos judeus, que
pretendemos analisar a partir do conjunto de sermões baseados no livro de Êxodo
(sc. 95-104). Neste trabalho pretendemos fazer breves indicações sobre a
documentação utilizada, seu contexto de produção e questões de autoria. Em
seguida nos voltaremos para a pregação de Cesário, buscando analisar seu papel
em nível mais amplo, assim como o lugar da condenação aos judeus em meio ao
399
projeto de poder episcopal.

A afirmação do poder da Igreja - uma análise dos primeiros concílios


ecumênicos - Fernanda Mattos da Silva (UNESA)

A associação do Catolicismo ao Império Romano não garantia a esta nascente


instituição a legitimidade necessária. A análise proposta visa ressaltar a
importância das determinações realizadas nos primeiros Concílios Ecumênicos
para a definição dogmática e ainda, para sua afirmação enquanto espaço de poder.
A comunicação será realizada a partir do estudo dos documentos de Niceia I,
Constantinopla I, Éfeso e Calcedônia considerados como a pedra angular da Igreja
Católica. Para além da observação das definições doutrinárias definidas nestes
séculos, nos interessa compreender a percepção dos grupos que passaram a ser
entendidos como sectários em razão destas propostas.

A construção do poder eclesiástico entre os séculos III-VI: Império, Papado e


os dilemas do ofício episcopal - Paulo Duarte Silva (UFRJ)

No que concerne aos estudos históricos referentes à passagem do período antigo ao


medieval (s. III-VI), um dos temas mais profícuos diz respeito à expansão do
cristianismo no Ocidente, associada ao fortalecimento do episcopado. Nesta
apresentação, discutimos alguns dos desdobramentos da aproximação entre Igreja
e Império Romano, considerando como a historiografia tem reconsiderado tal
processo, à luz de novas interpretações, enfoques e documentações. Além disso,
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debatemos como a ideia de um Papado aplicada a este período vem sendo


rediscutida pelos pesquisadores. Por fim, apresentamos alguns dos aspectos
componentes do ofício episcopal nas cidades, o debate referente ao “fardo
episcopal” e ao eventual recurso à violência pelos bispos. Esta apresentação remete
ao projeto de pesquisa “Pregação e Poder na Primeira Idade Média: O papel do
bispo e os inimigos da ecclesia nos sermões de Leão de Roma (440-461), Cesário
de Arles (502-543) e Martinho de Braga (550-580)”, contemplado no CNPq
(Universal/2016).

A perpetuação do ideal de pureza feminina pela memória coletiva a partir da


análise das Regras de San Leandro - Fernanda Blaso de Miranda
Rodrigues (UERJ)

Na pesquisa recém iniciada no Programa de Estudos Medievais da UERJ, uma das


abordagens centrais tem sido a discussão sobre gênero, em especial uma discussão
que aproxime uma parte do grupo em relação a esses discursos de controle,
estrutura e percepção do feminino em cada um dos momentos. Nesse sentido, a
Regra monástica de Leandro de Sevilha ao ser apresentada demonstrou, ainda nessa
fase inicial de pesquisa, elementos relevantes que nos permitem pensar como, ao
longo de outros períodos da história, nos deparamos com processos muito
semelhantes. A partir disso, esse trabalho possui o objetivo de buscar observar qual
o tipo ideal constituído por San Leandro de Sevilha de uma Regra, que a priori,
aparenta não somente definir a representação de uma monja ideal, mas também
400
construir um discurso da imagem ideal de mulher e como a mentalidade no qual
estava inserido, ainda que tenha sofrido mutações, perpetuou de certa forma até a
contemporaneidade. Além disso, pretende-se iniciar uma pesquisa em busca de
referências bibliografias femininas para debater o tema em questão e também tentar
analisar da perspectiva da mulher as consequências dessa memória tanto no
cotidiano da sociedade em que está inserida como no âmbito acadêmico.

As Regras Monásticas e as Percepções de Gênero - Ana Karina Cordeiro Alves


Sorrentino (Uerj)

A proposta do trabalho visa comparar as questões da mentalidade medieval


perpassadas no conceito de homem e mulher. Isidoro e Leandro de Sevilha vão ser
fundamentais nessa pesquisa, pois por meio de suas regras monásticas, isto é
planamente exposto.

Aspectos da dominação muçulmana na Península Ibérica: uma releitura


literária da história - Rossana Moreira do Espirito Santo Teixeira (UNESA)

Os entornos dos anos de 711 – 715 são representativos, especialmente, para o


imaginário ibérico pelo fato de boa parte de sua literatura heroica ter se pautado
nos movimentos de reconquistas e as lutas entre Cristãos e Muçulmanos. No
entanto este imaginário tem um componente menos visível, a percepção de que
durante os anos de domínio muçulmano no território ibérico, essas conquistas não
são marcadas exclusivamente pela força militar, mas também por uma cultura
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pungente e que deixou muitas de suas marcas nas tradições literárias posteriores.
Esta comunicação, que ainda é a fase inicial de nossa pesquisa, visa analisar e
mapear as representações literárias referentes aos aspectos da dominação islâmica
na península ibérica paragonando as representações de tradição portuguesa e
espanhola, que representaram a invasão e o heroísmo, com as de tradições ibéricas
medievais, buscando realizar o levantamento e as relevâncias das percepções destas
tradições, investigando os discursos literários em contrapartida com os fatos
historicamente consagrados. Para isso iremos estudar textos literários que contam
as batalhas árabes e suas conquistas, assim como os que possuem como plano de
fundo os acontecimentos que se passam neste mesmo período, buscando traçar um
perfil histórico e literário dos acontecimentos.

Considerações iniciais sobre o perfil e funções episcopais nas atas dos


Concílios de Toledo no Século VII - Renan Costa da Silva (UFRJ)

A presente comunicação está integrada à pesquisa de mestrado recém iniciada no


âmbito do Programa de Estudos Medievais (PEM) da UFRJ, sob a orientação da
Profª. Drª. Leila Rodrigues da Silva. Este trabalho objetiva o estudo sobre as
determinações e atributos do episcopado nas atas dos Concílios de Toledo no
século VII, especialmente as celebradas entre os anos de 633 a 653, abrangendo
assim dos Concílios IV de Toledo ao VIII. Desse modo, tomamos como marco o
IV Concílio de Toledo para esta comunicação, tendo em vista o grande esforço
empreendido pelo bispo Isidoro de Sevilha com vistas ao fortalecimento da
401
instituição eclesiástica, ao que se associava a consolidação do cristianismo niceno
na região. É válido ressaltarmos sobre este ponto, que tal movimento de
reestruturação do episcopado remonta ao final do século VI, a partir da conversão
da monarquia àquela vertente do cristianismo. Partindo desse contexto, e sabendo
que os concílios foram convocados em conjuntura política específica, refletiremos
acerca do perfil e funções dos bispos nessas reuniões.

Considerações sobre a santidade de Brígida de Kildare na Vita Sanctae


Brigitae, de Cogitosus (Irlanda, século VII) - Clarissa Mattana de
Oliveira (SEEDUC - RJ)

As hagiografias irlandesas mais antigas que sobreviveram até os dias atuais datam
da segunda metade do século VII. Sua produção está relacionada à disputas
territoriais e políticas entre grandes comunidades monásticas locais, como Kildare,
Armagh e Iona. Em um cenário marcado por conflitos eclesiásticos, glorificar o
santo patrono significava também engrandecer o monastério cuja fundação lhe era
atribuída. Nesse contexto foi escrita a Vita Sanctae Brigitae, cuja autoria é atribuída
ao hagiógrafo Cogitosus e é considerada a mais antiga das hagiografias conhecidas
sobre Brígida de Kildare. Esse documento foi bastante estudado pela historiografia,
de forma a ampliar o conhecimento sobre a Alta Idade Média irlandesa, o que
incluía temas como santidade, monacato, o papel social da mulher e relações entre
igreja e sociedade. O objetivo desta comunicação é analisar a santidade de Brígida
a partir da vita de Cogitosus. Devemos considerar que a tradição hagiográfica
esteve relacionada com o fenômeno do culto aos santos, uma das características
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mais expressivas da religiosidade medieval. Os santos são mortais que atuam como
intermediários do divino junto às comunidades, e por isso são capazes de realizar
obras extraordinárias, como milagres, profecias e visões. São homens e mulheres
que levavam uma vida religiosa exemplar, e assim se constituíam como modelos
de perfeição cristã. Dessa forma, a construção da figura do santo pelo hagiógrafo
perpassa uma seleção de fatos, temas e topoi literários, de forma a construir uma
mensagem não apenas edificante, mas também política, relacionada com as
motivações do autor que fomentaram a produção de sua obra. Para além da análise
da hagiografia de Cogitosus, pretendemos discutir, à luz da historiografia, sobre a
maneira com que os temas, milagres e estereótipos contribuem para construir a
imagem da santa e como se articulam com o contexto no qual a obra foi produzida.

Dioceses, bispos e territorialização do poder no reino suevo: um debate


historiográfico acerca do Parochiale Suevum - Nathalia Agostinho
Xavier (UFRJ)

O reino suevo foi convertido ao cristianismo em meados do século VI. Analisando


a produção escrita desta época, observamos um esforço de cristianização e o
estabelecimento de um vínculo entre clero e monarquia. Posicionados na região da
Galiza, os suevos promoveram uma organização religiosa, normativa e territorial
junto à hierarquia eclesiástica, o que podemos observar, dentre outros documentos,
pela lista de sedes e paróquias intitulada Parochiale Suevum. Provavelmente escrita
entre 572 e 582, tal lista fornece dados sobre o crescimento/reordenação de
402
dioceses e a formação de um quadro administrativo para o reino e para a hierarquia
eclesiástica. Debatida por sua autenticidade e lida, geralmente, em comparação às
organizações imperiais anteriores e/ou visigóticas posteriores, acreditamos que a
fonte ainda careça de atenção que privilegie aspectos das demandas locais Portanto,
abordamos e contrapomos, nesta comunicação, os debates historiográficos
realizados acerca do Parochiale, objetivando investigar tendências e possíveis
lacunas de análise, bem como propor questões para sua leitura.

Isidoro de Sevilha e seu projeto de educação para o reino visigodo: uma


análise da Regula Monachorum - Pâmela Torres Michelette (Universidade
Estadual Paulista)

Nesta comunicação pretendemos analisar a formação educacional monástica, a


partir da Regula Monachorum, no reino visigodo pós conversão ao catolicismo
niceísta (589), sob a perspectiva do bispo Isidoro de Sevilha (560-636). Aqui
entendemos, portanto, que os ambientes escolares foram espaços de poder, que
ultrapassavam a questão educacional. Neste sentido, a Igreja, monopolizadora
desta área, terá mais um elemento de reforço de sua autoridade, ainda mais se
considerarmos que o período em questão se dá logo após a consolidação desta
instituição no reino visigodo. Desta forma, ao mesmo tempo em que a Igreja
conquistou relativa legitimidade e autonomia, ela se deparou, por outro lado, com
a necessidade de manter a coesão dos seus membros e de se fazer presente perante
a sociedade. Assim, compreendemos que o controle do campo educacional serviu
como diretriz para o fortalecimento da supracitada instituição, bem como, da
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cristianização das populações (hispano romanas e visigodas) e da continuidade do


clero.

O deserto na cidade. O movimento monástico no epistolário


jeronimiano - Marcus Silva da Cruz (Universidade Federal de Mato Grosso)

O movimento monástico se apresenta como um das grandes novidades e inovações


do momento histórico que denominamos de Antiguidade Tardia que estende-se ao
longo dos séculos III ao VIII em torno da bacia do Mar Mediterrâneo. A opção dos
monges para se retirar das cidades rumo ao deserto renegando assim os ideais e
princípios da civilização romana se configura, em certo sentido, como uma
singularidade ou mesmo um comportamento extravagante. No entanto, essa atitude
alcançará um significativo prestígio social e uma ampla difusão na sociedade tardo
antiga. Diversos autores cristãos ou não contemporâneos dedicaram a discorrer e
analisar o movimento monástico. Um desses letrados foi Jerônimo. O Estridonense
foi um dos mais importante intelectuais cristão entre o final do IV século e o início
V século, tendo sido secretário de Dámaso, bispo de Roma (366-384) assim como
assumiu a titânica tarefa de traduzir as Escrituras diretamente de suas línguas
originais, hebraico e grego, para o latim, trabalho que ficou conhecido como
Vulgata. Jerônimo foi um grande entusiasta do movimento monástico tendo
abraçado a vida monacal em duas ocasiões. Neste trabalho nosso objetivo é refletir
acerca tanto das concepções monásticas bem como das práticas monacais presentes
nas Epístolas de Jerônimo, buscando compreender como um intelectual formado
403
dentro dos moldes e parâmetros da paideia romano-helenística faz interagir esse
universo simbólico com os preceitos do monacato.

O deserto nas epístolas de São Jerônimo - Eduardo Silva Leite (UFMT)

Munidos de doutrinas de impacto social como a do pecado, da disciplina, do


inferno, entre outras, nos finais do IV século, o poder do discurso cristão ascético
sobre a sociedade foi além de algumas pretensões e tensões que trazia estoicismo
a tempos. O poder do discurso cristão, sobretudo dos anacoretas não tiveram êxitos
somente pela extraordinária elaboração. Estes estiveram em posição privilegiada
em relação aos demais intelectuais cristãos, em virtude do processo histórico
cultural que o império sofreu desde o III século. Em grande medida, a valoração
moral dos bispos e ascetas cristãos do IV século os transformaram em
“missionários morais”, sem dúvida, um reflexo histórico que tem suas origens em
diversas culturas antigas. O discurso do asceta cristão cobriu os espaços e pôde dar
novos significados a eles. Assim, o deserto, um lugar que não há civilização passou
também a significar um lugar não somente de protesto, mas uma espécie de estágio
para santificação, um lugar para purificação do homem e da mulher de Deus.
Tornou-se com o tempo um lugar de desprendimento do mundo e uma escola para
o autoconhecimento onde homens e mulheres ao entrarem ali nunca mais seriam
os mesmos. O deserto passou a ser o espelho da alma, o local de encontrar com a
verdadeira natureza humana e com o tempo transformou-se, sobretudo onde
eremitas mantinham suas vidas, em rotas de peregrinações, lugar de culto e
veneração. O deserto foi atravessado por centenas de pessoas em busca da verdade,
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da espiritualidade, e de outros problemas a resolver. Essa construção do deserto foi


possível graças às investidas dos Pais da Igreja gregos e latinos. Nos finais do IV
século as vozes que concorriam para aliciarem pessoas ao cristianismo foram
ouvidas com maior evidência desde o deserto. É dentro desse contexto que
Jerônimo está inserido. Para nós, ele é um grande propagador do cristianismo
ascético nos finais do IV século. Jerônimo esteve em Roma, após sua estadia em
Calcis (deserto) exercendo uma função importante junto ao líder da igreja romana,
o bispo Dâmaso, uma espécie de consultor bíblico, o que lhe proporcionou
aproximar-se de figuras importantes para o fortalecimento de sua autoridade.
Algumas dessas pessoas constituíram-se como alvos para o monge estridonense
cooptar para seu círculo de discípulos inclinados ao ascetismo. Contudo nosso
trabalho visa percorrer suas correspondências a procura das representações que faz
do deserto. As epístolas foram escritas durante um período de aproximadamente 45
anos, isto é, de 374/75 d.C., até a morte de Jerônimo em 419 d. C. Endereçadas às
mais diversas pessoas, o epistolário tem 125 cartas suas. É possível que Jerônimo
durante sua passagem pelo deserto apresente-nos um e ao sair e passado algum
tempo mostre-nos outro deserto.

O discurso eclesiástico acerca do binômio erro-castigo em atas conciliares do


reino visigodo de Toledo (séculos VI-VII) - Nathália Cardoso Rachid de
Lacerda (UFRJ)

Entre o final da Antiguidade e nos primeiros séculos da Idade Média podemos


404
definir a Igreja cristã como uma instituição em franca organização, tanto
doutrinária quanto institucional, e perceber uma busca de hierarquização dos
cargos, bem como de definição dos papéis assumidos pelos clérigos em meio a
novas dinâmicas políticas, econômicas e sociais. Vemos que, por mais que não
houvesse um só plano produzido pelo conjunto clerical, existiam estratégias de
conversão e manutenção dos fiéis que caracterizavam as igrejas cristãs, tanto no
Ocidente quanto no Oriente, em meio a um esforço de legitimação frente às
populações. Dentre as ações e preocupações associadas a tal esforço, destacam-se
as veiculadas nos textos produzidos pelo episcopado. Com enfoque no reino
visigodo de Toledo, propomos uma reflexão acerca da dinâmica estabelecida pelo
discurso eclesiástico entre erro/pecado e castigo, a partir da análise de um conjunto
documental formado pelas atas de dois concílios, reunidos entre os séculos VI e
VII na capital régia, o III e o IV. Objetivando compreender as nuances desse
discurso, comparamo-las entre si a fim de identificar aspectos da normatização
social empreendida pelo clero em uma conjuntura de formação de alianças entre
monarquia e Igreja, que busca a estabilidade dessas duas instituições em meio às
disputas político-religiosas internas do regnum.

O Império e o Poder da Igreja Cristã: os bispos e os homens santos nas cortes


do IV ao V século - Kelly Cristina da Costa Bezerra de Menezes
Mamedes (Universidade Federal de Mato Gosso)

A corte imperial tardo romana era formada por um agrupamento social e político
composto por pessoas heterogêneas. Suas diferenças não estavam marcadas apenas
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em seus credos, etnias e línguas, mas estava também nos diferentes postos
ocupados por eles dentro do espaço cortesão, quer fossem membros da
administração civil, militar ou da esfera religiosa, porém algo unificava esses atores
políticos, todos orbitavam ao redor daquele que era a figura central para onde todos
convergiam, qual seja o imperador. Dentro dessa complexa malha cortesã, essa
grande profusão de agentes, sejam burocratas palatinos, componentes do exército
ou homens da igreja buscavam não apenas exercer seus ofícios, mas também buscar
benefícios, ascensão social e prestígio, o que tornava esse ambiente um lugar de
constante efervescência política. Entre as inúmeras figuras que circulavam ao redor
do imperador, pretendemos nesse trabalho discutir a respeito do papel
desempenhado pelos membros da Igreja Cristã, em especial as figuras dos bispos
e dos homens santos. À medida que o Império Romano se cristianiza, sobretudo
após o Édito de Milão em 313, temos um crescimento dos privilégios da religião e
consequentemente o aumento do poder de seus membros, assim cada vez mais
temos a presença de bispos e monges transitando e exercendo influência dentro do
ambiente cortesão, bem como junto ao monarca. Diante disso pretendemos expor
o papel que desempenhavam os bispos e os homens santos e qual era a performance
desses religiosos no cenário político romano tardio.

O papado e as instâncias de poder bizantina no Ocidente: Gregório I (590-


604) e os exarcas - João Paulo Charrone (Universidade Federal do Piauí)

No Ocidente, o mais imediato contato papal com o poder imperial deu-se por
405
intermédio das relações com os funcionários imperiais. Frequentemente, esses
pareciam ter atuado com um objetivo em vista, ou seja, aqueles que foram
nomeados para governar pretendiam obter o máximo de lucro possível. Gregório
percebeu que, como bispo de Roma, deveria exercer algum grau de hegemonia
sobre tais indivíduos. Os postos do exarca da Itália e da África foram
essencialmente novas criações imperiais, durante a segunda metade do sexto
século. Fundamentalmente, o cargo de exarca reunia a administração civil, jurídica
e religiosa. Tal cargo era ocupado, em geral, por um combatente de alta patente.
Por conseguinte, sempre havia grande possibilidade, ainda mais considerando tais
características – grande concentração de poder hegemônico gerido por uma pessoa
com perfil militar –, de o exarca atuar de maneira despótica. Somam-se a esse
quadro as invasões vândalas no Norte da África e as invasões lombardas na
Península Itálica. O permanente estado de guerra naquele tempo, em muitas
daquelas conturbadas províncias ocidentais, impelia o Império, se quisesse reter
parte ou todo o território, a adotar medidas ainda mais centralizadoras, usando,
portanto, os principais mecanismos da sociedade política. Roma estava dentro da
jurisdição estatal do exarca da Itália. Enquanto Gregório foi papa, houve três
ocupantes desse cargo: Romanum (590-596) , Callinico (596-603) e Smaragdo
(603-608) . No exarcado da África, o conhecimento é escasso, mas dois exarcas
podem ser identificados: Gennadio (591-598) e Heraclio. Porém, Gregório I não se
corresponde com esse último.

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O rito batismal nas atas conciliares visigóticas (619- 653) - Nathália Serenado
da Silva (Programa de Pós-Graduação em História Comparada-UFRJ)

Esta apresentação pretende abordar as referências documentais sobre o rito


batismal nas atas de concílios visigóticos, especialmente, aqueles celebrados entre
os anos de 619 e 653. Tal seleção temporal se baseia em uma análise preliminar
dos referidos documentos, por meio da busca de menções ao batismo, bem como
pelo interesse nas participações conciliares do bispo Isidoro de Sevilha. Sendo
assim, os documentos selecionados para análise nesta apresentação são as atas do
Concílio de Sevilha II celebrado em 619; as de Toledo IV, ocorrido em 633; e, por
fim, aquelas referentes ao sínodo de 653 — Toledo VIII. Cabe apontar que, mesmo
que o bispo Isidoro de Sevilha não tenha participado da reunião episcopal de
Toledo VIII, a ênfase acerca da sua atuação se associa aos interesses futuros desta
pesquisa, que se encontra em estágio preliminar. Nesta apresentação, portanto,
tendo como referência a conjuntura em questão, buscamos identificar as
características argumentativas utilizadas para afirmação do rito batismal, litúrgica
e teologicamente, nos domínios visigóticos presentes nas atas conciliares.

O texto hagiográfico, a santidade das mulheres merovíngias e a trajetória da


rainha Radegunda - Juliana Prata da Costa (UFRJ)

Esta comunicação tem como objetivo principal apresentar uma discussão


historiográfica sobre a santidade feminina, particularmente na Gália, no período
406
merovíngio. Desta forma, procuramos estabelecer um diálogo entre os principais
autores que têm se dedicado a estudar a documentação hagiográfica e as santas do
período, incluindo especificamente os estudos que tratam sobre Radegunda de
Poitiers, nosso objeto de estudo no doutorado, iniciado esse ano. Além disso, cabe
mencionar a importância de analisarmos os trabalhos que se preocuparam também
com a hagiografia dedicada a esta santa, atribuída a Venâncio Fortunato, um dos
principais membros do episcopado do reino dos francos ao longo do século VI. Ou
seja, nossa proposta está vinculada a três grandes eixos de discussão: o texto
hagiográfico, a santidade das mulheres merovíngias e a trajetória da rainha
considerada santa, Radegunda.

Os conflitos entre Hipácio de Rufiniana e a hierarquia eclesiástica de


Calcedônia (426-435) e Constantinopla (428): a liderança monástica tardo-
antiga em perspectiva - Lucas Moreira Calvo (UFRJ)

A historiografia tem dado cada vez mais atenção ao envolvimento monástico em


conflitos com seus episcopados, principalmente em contexto de controvérsia
religiosa. Como pesquisamos a atuação do monacato na controvérsia cristológica
do século V, o estudo do poder monástico diante dos bispos é um assunto que tem
mobilizado nossa atenção, no esforço de entender o papel assumido pelos monges
nesse tipo de embate com a hierarquia eclesiástica. Inserido em nossa pesquisa de
mestrado, o presente trabalho discute a relação conflituosa entre Hipácio de
Rufiniana (366-446) e a hierarquia eclesiástica da localidade, representada por
Eulálio, bispo de Calcedônia, e Nestório, bispo de Constantinopla, descrita na Vida
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de Hipácio. Nosso objetivo é, a partir deste documento, examinar a capacidade do


monge de Rufiniana em sobrepujar a autoridade de seus superiores no campo
religioso. No documento hagiográfico escrito por Calínico, Hipácio é colocado em
confronto com a hierarquia eclesiástica em três momentos da narrativa, quando: a)
abriga Alexandre e seus monges (426-428); b) se opõe à ascensão de Nestório ao
trono episcopal de Constantinopla (428); c) contesta a realização dos jogos
olímpicos em Calcedônia (434-435). Acreditamos que a insubordinação descrita
na hagiografia estava associada à complexa teia de relações que o monge
conservava no período em que fora abade do mosteiro de Rufiniana, localizado, na
margem asiática do Bósforo, a sudeste da cidade de Calcedônia. Baseados na
sociologia de Pierre Bourdieu, nos propomos a analisar na obra Vida de Hipácio
aquilo que identificamos como composição dos capitais específicos detidos pelo
abade de Rufiniana e seus efeitos simbólicos e práticos no jogo político-
eclesiástico. Assim, acreditamos ser possível explicar o poder exercido por Hipácio
nos conflitos com a hierarquia eclesiástica narrados por Calínico.

Os Germanos e a Igreja entre Crônicas e Histórias: poder e memória na Alta


Idade Média - Luciana Araújo de Souza (PPGHC/UFRJ)

Acerca da aproximação entre grupos germânicos e Igreja na chamada Alta Idade


Média, podemos observar a inserção de tais grupos dentro de um entendimento que
os propõe como componentes de uma visão de mundo cristã. Associada à nossa
pesquisa de mestrado recém-iniciada, nessa comunicação propomos a discussão
407
acerca da inserção de tais grupos em âmbito textual, principalmente no que diz
respeito às Crônicas e Histórias: assim, são compreendidas como ferramentas
eclesiásticas de manutenção do poder simbólico e inserção no tempo histórico,
legitimando as dinastias germânicas ocidentais. Para tanto, apontamos para as
qualificações propostas aos grupos germânicos ao adentrar o limes romano durante
os séculos IV e V, observando tais relatos como documentos essenciais para o
entendimento das relações entre tais grupos e a Igreja – sendo esta a responsável
pela configuração memorial em relação aos germanos. Com base nas reflexões
acerca dos dois gêneros textuais, propomos a reflexão acerca da concepção
qualificatória sobre os grupos germânicos e o uso de tais documentos na pesquisa
sobre a Volkerwanderung e estabelecimento dos reinos romano-germânicos
cristãos, objeto de nossa pesquisa de mestrado.

Reflexões Sobre o Papel da Mulher na Idade Média, Um Estudo Sobre a


Construção do Ideal Feminino por Leandro de Servilha e Seus Ecos no
Pensamento Medieval. - Amanda da Cruz Xavier (UERJ)

Esse é um primeiro trabalho de movimentação de iniciação científica em que


estamos nos aproximando das primeiras trocas relativas a educação, nessa primeira
comunicação buscaremos uma primeira observação do documento da regra
monástica, escrita por Leandro de Servilha em especiais itens tais como: VI, XI é
XV; na busca de compreender a relação de humildade, a modéstia e as práticas de
leituras e orações constantes que eram estabelecidas entre a igreja e a mulher, tal
como fazer o primeiro reconhecimento dos principais tipos e elementos, dialogar
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com outras discussões teóricas sobre a proeminência da representatividade da


mulher na idade média, que foi marcada por um discurso marjoritariamente
masculino, em que muitas vezes as próprias mulheres assumiam identidades
masculinas, algumas conseguiam permanecer e marcar presença na história. Boa
parte dos discursos são construídos por homens entretanto outros por mulheres,
nosso objetivo é de perceber um tipo ideia de sobre essa associação, tal como do
que deveria ser esperado de uma mulher, partindo de um documento simples da
idade média escrita por Leandro de Servilha, bem como temos o objetivo de
comparar e observar como essas práticas são alicerçadas no início da idade média
e como manifestava em diferentes figuras representativas tais como, a monja
Hildegard de Bingen e a Rainha Isabel de Castela.

Religião e a Escola: iluminando o debate contemporâneo a partir das relações


pedagógicas na Primeira Idade Média - Rodrigo dos Santos Rainha (UERJ)

A presença oficial da religião na escola pública por meio de uma disciplina


específica não é um assunto novo, também não é algo ultrapassado e tão pouco
superado, mas sim tema de calorosos debates e que se mantém em alta na
atualidade. A oferta desta disciplina pelo poder público voltou à tona nas últimas
décadas por conta de legislações estaduais e municipais que trouxeram inovações
e retomaram temas e discussões que se encontravam adormecidos. Sempre que
estes debates se manifestam a primeira reação é a da generalização sobre um
retorno, permanência ou prática vinculada a Idade Média. A relação construída
408
fácil e não problematizada pelo senso comum foi o caminho que procuramos
construir de forma mais elaborada para a recém inaugurada linha de pesquisa sobre
Educação e Religião iniciada pela professora Amanda Mendonça e Rodrigo Rainha
na Universidade Estácio de Sá. Partindo das propostas de História Comparada de
Vernant & Detienne, buscamos "Comparar o Incomparável", de modo que as
percepções diversas sobre a temática nos permitam a partir da iluminação das
práticas perceber melhor seus processos e principalmente as suas relações de poder
envolvidas. Nesta comunicação, o primeiro de uma série de trabalhos que
abordaremos essa temática, apresentaremos em linhas gerais o debate recente sobre
a inserção do ensino religioso confessional nas escolas, e em seguida
explicitaremos o papel da Ação Pedagógica de características religiosas nos
espaços dos reinos na Primeira Idade Média, no século VII, explicitando como o
discurso religioso transforma esses espaços em bases fundamentais para difusão e
dispersão do "habitus" e a difusão do "Poder Simbólico" da Ecclesia.

Superstitio, paganiae, idolatria: Combate às práticas pagãs nos penitenciais


de Finnian séc. VI e Cânones Irlandeses séc. VII - Maria Júlia Dutra
Rabelo (UFRJ)

O presente trabalho apresenta considerações sobre a pesquisa iniciada no ano 2015,


sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Duarte Silva a respeito da trajetória do
cristianismo na Alta Idade Média. Aqui, temos como objetivo analisar as
estratégias de combate às práticas consideradas pagãs descritas, respectivamente,
nos penitenciais de Finnian e dos Cânones Irlandeses (séculos VI e VII), na Irlanda.
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A cristianização da Irlanda se dá no século V, através dos monges Palladius e


Patrício. Não se sabe com clareza qual parte da Irlanda cada um dos monges
realizou seu trabalho missionário, mas após suas respectivas mortes o território da
Irlanda continua quase que inteiramente pagão. As penitências eram sacramentos
disciplinares impostos pelos eclesiásticos desde ao menos o século III. Na Alta
Idade Média, as penitências foram descritas em penitenciais, documentos que
indicavam um novo método de disciplina empregado pela igreja com o objetivo de
converter povos ditos pagãos ao cristianismo. Autores como Ian Wood, Abrahams,
Le Goff e Schmitt ressaltam que a construção do cristianismo empreendida pelo
corpo eclesiástico ao norte europeu, nunca foi uniforme e nem monolítica, onde
são constituídas uma série de adaptações ressaltando-se a continuidade de
elementos pagãos. Durante a cristianização da Irlanda, os penitenciais exerceram
um papel fundamental. Com a finalidade de facilitar a adoção do cristianismo,
incluíam acomodações de certos costumes e práticas locais, ao mesmo tempo em
que denunciavam outros aspectos. Embora imprecisos em sua datação e anônimos,
os penitenciais por nós estudados apresentam tais esforços eclesiásticos. No
trabalho a seguir serão comparados e analisados os penitenciais de Finnian e os
Cânones Irlandeses com o objetivo principal de demonstrar as estratégias
empreendidas nos respectivos penitenciais para a cristianização da população
irlandesa de crenças célticas.

Uma análise da mentalidade e influência do cristianismo no cidadão Romano,


no início do século IV - Diogo Nunes dos Santos (Universidade Estácio de Sá)
409
Os problemas de ordem material assolavam o Império Romano desde o século III,
imperadores como Diocleciano, Constantino, Justiniano, entre outros, já estavam
preocupados com as condições sócias e econômicas a qual o Império Romano vivia
do século III ao IV. Na tentativa de centralizar o poder os imperadores tomam uma
série de medidas, como até mesmo o diálogo com a nova religião que está em
crescente expansão no Império Romano, o cristianismo, que com seu caráter de
vida pós morte e alivio para o homem romano, cumpri um papel importante nesse
processo. Esse caráter cristão faz com que o império, em certos períodos em
especifico, consiga apaziguar conflitos e rebelião na sociedade Romana. Nesse
trabalho pretendo discutir e analisar a cooperação do cristianismo na sociedade
Romana no início do século IV, logo após as perseguições proporcionadas pelo
imperador Diocleciano. Analisando de que forma essa religiosidade influencia a
mentalidade do homem romano da época, trazendo assim, benefícios para o
império Romano.

Virtudes, milagres e adversidades: os topoi na Vita Sancti Amandi - Leila


Rodrigues da Silva (UFRJ)

Produzida em circunstâncias de expansão do cristianismo, ao que se vinculava


interesses políticos merovíngios, Vita Sancti Amandi, de autoria desconhecida, foi
escrita em princípios do século VIII, poucos anos após o falecimento do
hagiografado, o bispo Amando, em 675. Como outras vidas de santos, a narrativa
evidencia a tensão entre duas dimensões. Por um lado, ressalta aspectos
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diretamente relacionados ao seu contexto de produção com destaque para


especificidades da conjuntura em que foi escrita. Por outro, mas nem sempre em
dissonância com tal perspectiva, reproduz um conjunto considerável de topoi.
Neste texto, tendo como referência o reconhecimento de que o o autor compartilha
de um habitus que lhe permite reproduzir lugares-comuns da literatura
hagiográfica, interessa-nos identificar os topoi por ele eleito, com destaque para a
relação que estabelece com a conjuntura específica na qual ele próprio e o
hagiografado se inserem. Assim, de um modo geral, importa-nos realçar a trajetória
do santo no que concerne às suas virtudes, aos milagres realizados e às
adversidades superadas.

410

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411
ST 42. Igreja, Sociedade e Poder na
Baixa Idade Média (séculos XI-XV)

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A cruzada albigense e o modelo de papado de Inocêncio III - Marcus Vinícius


de Souza (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Inocêncio III (1198-1216) não foi o primeiro papa que enfrentou a heresia dos
cátaros, porém foi em seu pontificado que foi instituída uma cruzada espiritual na
região de Albi. A perseguição aos hereges não era nenhuma novidade, mas o
papado de Inocêncio estabeleceu uma forte ligação entre o poder papal e a
repressão ao herege. Cabia ao líder da cristandade, e vigário do próprio Cristo,
eliminar os males das heresias e inimigos da fé. Para isso acontecer seria necessário
extirpar do mundo as lideranças do mundo que não cumprissem a vontade do
sucessor de Pedro e não seguissem corretamente as palavras dirigidas pela Igreja.
Nesse sentido a cruzada albigense foi um modelo do que este papa tentou realizar
em seu pontificado, destituindo hereges de suas terras e livrando seus vassalos de
suas obrigações, pois nenhum poder temporal poderia existir se este fosse de
contrário a ortodoxia romana. A perseguição herética em Albi, dava inicio a
teocracia papal de Inocêncio III.

A Fé nos Astros: o Conceito de Macrocosmo e Microcosmo nas Ilustrações


Medievais - Jefferson de Albuquerque Mendes (UERJ)

Esta apresentação tem o intuito de investigar o impacto das categorias de


macrocosmo e microcosmo na produção das ilustrações medievais e seu embate no
cotidiano do homem entre a fé nos astros, de origem pagã, e a fé teológica, de cunho
412
judaico-cristã. Os conceitos de microcosmo e macrocosmo tem uma longa e
profícua trajetória na relação e tentativa do homem estabelecer algum parâmetro
com o universo. Na verdade, num determinado grau, podemos considerar como um
campo de investigação que possibilita criar panoramas sobre a visão do homem
como uma porção do universo, como uma escala que simboliza a união – sempre
numa relação hierárquica – entre o cosmo e o próprio homem. Esses conceitos
estarão, ora colocados no cerne de problematizações ora mais escondidos, sempre
envolvidos, dissecados e colocados a luz de teorizações, por parte de filósofos,
filólogos, teólogos, enfim, eruditos de diversos campos de estudos sempre no
intuito de dispor de um aparato complexo e cheio de significações que tentam, a
todo custo, entender o que vem a ser o conhecimento do cosmo. Assim, o tema da
astrologia e sua importância na compreensão dos processos sociais, políticos,
artísticos e culturais, numa época de notória efervescência como o período
medieval, deve ser encarado como uma tentativa de racionalização do mundo e, ao
mesmo tempo, compreensão do incognoscível. Assim sendo, os estudos sobre a
astrologia e suas ramificações se coloca como lugar necessário ao entendimento
desse homem que estava entre a religião e a concepção natural de mundo, entre o
pensamento pagão e a teologia cristã, e, enfim, entre a magia e o pensamento
racional. Com isso, a existência deste tipo de ilustração que retrata as
correspondências harmônicas entre macro e microcosmo, revelava um fascínio
perante as antigas crenças na magia, e também a capacidade de assimilação de
conteúdos advindos da cosmologia pagã e da astrologia, revestindo-os de uma
caráter estritamente cristão. De todo fato, essas imagens relatam o impacto da teoria

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pagã, através das relações entre a origem do homem e o universo, sobre a doutrina
cristã.

A Vita et miraculi sancti Rudesindi face à restauração do arcebispado e à


formação do Reino de Portugal - Andreia Cristina Lopes Frazão da
Silva (UFRJ)

A Vita et miraculi sancti Rudesindi narra a biografia, a morte e os milagres de S.


Rosendo, que viveu no século X. Segundo registram os documentos, ele era
membro da alta nobreza galega. Foi bispo de Mondonhedo, promotor da vida
religiosa na Galiza e fundador e, posteriormente, abade de Celanova. Seu culto foi
oficialmente reconhecido por volta de 1173, pelo Cardeal Jacinto Bobone-Orsini,
que foi legado papal na Península Ibérica. Esta Vita foi elaborada em etapas, no
mosteiro de Celanova. O núcleo básico foi composto no século XII, pelos monges
Estevão e Ordonho. É provável que a motivação para a redação desta obra esteja
relacionada ao reconhecimento da santidade de Rosendo, em 1172, pelo cardeal
Jacinto, ocasião em que seu corpo foi trasladado para a igreja abacial. Durante o
século XIII outras narrações de milagres foram acrescidas. Em sua forma atual,
pode ser dividida em cinco partes. Na primeira é narrada a sua vida; seus milagres
estão divididos em três livros, finalizando com um apêndice. Ela foi transmitida
por seis manuscritos, alguns somente com partes do texto. Os mais antigos são
datados entre os séculos XIII-XIV e o mais recente, do XV. Em minha
comunicação pretendo apresentar conclusões parciais de uma pesquisa
413
desenvolvida com o financiamento do CNPq, discutindo como esta Vita repercutiu
dois eventos ocorridos na Galiza no século XII: a restauração do arcebispado de
Braga e a formação do Reino de Portugal.

África Medieval e suas representações no Ensino de História - Larissa Nobre


de Souza (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

A Lei 11.645/08 tem por caráter promover a introdução obrigatória do ensino de


História da África no sistema educacional brasileiro, explorando principalmente as
relações existentes entre a cultura africana e brasileira, permeando todos os níveis
educacionais. Sabendo-se que o continente africano é caracterizado por uma
multiplicidade cultural, política, religiosa e econômica que transcende a questão
escravista do século XVI, acreditamos ser necessário ao estudante brasileiro
compreender como a cultura africana esteve presente também na formação do
Ocidente desde a Idade Média. Portanto, este trabalho tem como objetivo analisar,
através de alguns títulos didáticos utilizados nas salas de aula brasileiras do
segundo segmento do ensino fundamental, as representações estruturais e as
caracterizações neles existentes acerca das sociedades africanas no período
cronológico medieval.

As Acta Capitulorum Generalium Ordinis Praedicatorum: notas sobre uma


tradução - Carolina Coelho Fortes (UFF)

Ao longo do século XIII, os frades pregadores construíram para si um extenso


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corpus legislativo, concretizado no que se passou a conhecer como as atas dos


Capítulos Gerais da Ordem dos Frades Pregadores. Essas atas são registros de
encontros que, a princípio, ocorriam anualmente e tinham como objetivo discutir e
decidir acerca de todas as instâncias da vida comum dos frades dominicanos. Tais
decisões foram compiladas pela primeira vez no início do século XIV pelo
dominicano Bernardo Gui, é só editadas em 1898, pelo também frade Benedito
Reichert, na coleção Monumenta Historica Fratrum Ordinis Praedicatorum. Até
hoje, não há tradução do texto para Nenhuma língua vernácula. Daí a necessidade
premente de traduzi-lo como forma de viabilizar o alargamento do campo de
estudos da Ordem Dominicana e, consequentemente, das ordens mendicantes
medievais. Nessa comunicação pretendemos realizar alguns apontamentos sobre o
processo de tradução das atas do latim para o português, detendo-nos, sobretudo,
nas características gerais do texto e em seu conteúdo.

As práticas religiosas dos povos da Guiné por meio das narrativas de cronistas
e viajantes (século XV e início do XVI). - Kátia Brasilino Michelan (IPHAN)

Os povos que estavam situados na costa africana ao sul do Cabo do Bojador,


ultrapassado pelos portugueses em 1434, mereceram grande atenção por parte dos
cronistas e viajantes. Dada a preocupação com a expansão do cristianismo e com o
combate à religião islâmica, que era preponderante no Magrebe, a questão religiosa
foi uma temática recorrente das narrativas, sendo a aptidão ou não à conversão um
traço fundamental na descrição desses povos. Assim, o objetivo da comunicação
414
proposta é pensar quais traços das práticas religiosas dos habitantes da chamada
Guiné são destacados pelas crônicas portuguesas e pelos relatos de viagem de
viajantes que estavam sob a tutela da coroa portuguesa. Tais escritos, produzidos
entre meados do século XV e o princípio do século XVI, tentaram dar forma a esses
povos desconhecidos para seus possíveis leitores e foram responsáveis por
construir aproximações e distanciamentos descritivos entre os povos do Magrebe e
da Guiné.

Aspectos Eticos no Livro da Ordem de Cavalaria de Ramon Llull - Augusto


Leandro Rocha da Silveira (Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo
Lulio)

No Livro da Ordem da Cavalaria (1279-1283), Ramon Llull pretende sistematizar


e orientar os novatos interessados no ofício de Cavaleiros pleiteantes a ocupar uma
vaga na Ordem da Cavalaria e, para tanto, elenca valores de ordem espiritual, moral
e éticos. Desta maneira, o Doutor Iluminado invoca valores cristãos para expor as
características deste ofício destinado a poucos durante o Medievo Europeu. A
referida sistematização expôs o caráter divino do Cavaleiro, que, para Llull, deve
estar a serviço da fé cristã em sua luta contra os infiéis, pacificando os homens. A
presente Obra foi uma contribuição de Llull para normatizar e instituir à Cavalaria
seu próprio código de ética através das polaridades, virtudes/vícios, bem como à
definição de Cavaleiro, seus costumes e às questões envolvidas neste tão nobre
ofício.

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Considerações parciais sobre o conceito de demonização e as hagiografias


castelhanas do século XIII - Thalles Braga Rezende Lins da Silva (Programa de
Pós-graduação em História Comparada - UFRJ)

Este trabalho é um balanço intermediário, de uma tese de doutorado em construção,


sobre a demonização nas representações medievais castelhanas do século XIII
constantes nas hagiografias: Milagros de Nuestra Señora, de Gonzalo de Berceo;
Liber Mariae, de Juan Gil de Zamora; e Cantigas de Santa Maria, de Alfonso X, o
Sábio. As constatações aqui apresentadas tratam-se de um recorte das
considerações parciais da minha pesquisa em História Comparada, desenvolvida
no âmbito do PPGHC e do PEM da UFRJ, desde 2016. Iniciarei pelo conceito de
demonização, conforme estabelecido na bibliografia das Ciências Sociais e
Políticas. Ou seja, como negação integral que Outrem possua quaisquer qualidades
morais valendo-se da associação, seja de que tipo for, deste Outrem com entidades
sobrenaturais diabólicas. No entanto, deve-se ter cuidado para que essa simples
definição não esconda todas as nuances e possibilidades conceituais da
demonização. As hagiografias selecionadas permitem justamente explorar muitas
delas, sendo assim, essa será a meta a ser atingida ao fim desta apresentação.

Construção do saber médico na Idade Média e suas relações com os poderes


instituídos - André Silva Ranhel (Secretaria de Educação de Batatais/SP)

O presente trabalho visa analisar o desenvolvimento do saber médico na Idade


415
Média, principalmente no contexto do Renascimento do século XII e da formação
das Universidades no século XIII, e quais as relações estabelecidas entre os poderes
instituídos, majoritariamente com relação a Igreja, mas também percorrendo os
poderes seculares. Pretende-se fazer um panorama, baseado principalmente em
uma revisão bibliográfica sobre o tema, sobre como o saber médico se construiu
no Ocidente Medieval, em meio ao controle social e intelectual promovido pela
Igreja e as tensões entre clérigos e laicos. Como campo de saber, entendemos que
tal análise se enquadra como um ramo da História do Corpo, visto isso os autores
selecionados dialogam com o campo da História Cultural, guiando nosso trabalho
nessa vertente historiográfica. O objetivo dessa empreitada é estabelecer uma visão
geral sobre como o saber médico se desenvolveu e traçar suas relações, tanto de
harmonia como de conflito, com seu contexto político, social e religioso,
procurando superar certos conceitos de senso comum, como por exemplo a ideia
de sua total inexistência em tal período. Percorreremos desde o controle
estabelecido pela Igreja em relação ao trato com o corpo, atribuindo a si e a Deus
a única possibilidade de cura efetiva, até a instituição de faculdades de medicina
dentro de Universidades por ela controladas. Dentro desse contexto, insere-se a
querela entre o saber médico universitário e o saber dos cirurgiões, barbeiros, etc.,
que muitas vezes eram recorridos pelos reis e príncipes para servir nas cortes, como
o caso dos cirurgiões da dinastia dos Capetos na França medieval. Ao final,
pretendemos contribuir para a construção de uma análise mais ampla e crítica de
como o saber médico se desenvolveu durante a Idade Média, dando base para sua
formação científica nos séculos posteriores.

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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
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ISBN: 978-85-65957-09-0
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D. Afonso Henriques: uma análise sobre as representações do primeiro rei de


Portugal nas crônicas medievais (séc. XII-XIV) - André de Faria Silva (UERJ)

A imagem do primeiro rei e fundador do Reino de Portugal, D. Afonso I, ou D.


Afonso Henriques, se apresenta através das fontes históricas sob uma série de
representações de caráter político, religioso, mítico e ideológico, que se
desenvolveram e se ampliaram ao longo do tempo, através dos textos que se
dedicaram a contar a sua história. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho consiste
em analisar de que forma os cronistas medievais representaram a imagem de D.
Afonso Henriques com base nas duas principais fontes portuguesas deste período:
a ‘Crônica dos Godos’, escrita no século XII, e a ‘Crônica Geral de Espanha de
1344’, produzida no século XIV pelo conde D. Pedro de Barcelos; relacionando
tais representações com os fundamentos políticos e ideológicos das monarquias
medievais ibéricas, derivados do contexto histórico da Reconquista.

Lancelote e os ideais de cavalaria e amor cortês do século XII: O potencial da


literatura para a compreensão do imaginário medieval - Rafael Farias dos
Reis (UERJ)

Este trabalho tem por objetivo analisar as potencialidades da literatura, em


particular da obra do trovador francês Chrétien de Troyes “Lancelote, O Cavaleiro
da Carreta”, para compreensão do imaginário medieval. Neste sentido, o trabalho
almeja identificar os ideais de cavalaria e amor cortês presentes na obra de Chrétien
416
de Troyes e os elementos constitutivos da sociedade feudal do século XII. Pode-se
dizer que o texto em questão retrata a súmula bem-acabada do ideal cavalheiresco
representado através da figura de Lancelote, o melhor cavaleiro e amante do
mundo, que agrega em torno de si a personificação do fine amor tão admirado na
época. Assim, para esta comunicação, pretende-se estudar as relações de poder
feudo-vassálicas e os ideais de cavalaria presentes no romance bem como os seus
desdobramentos na constituição do amor cortês.

Liderança feminina e a hierarquia eclesiástica na Penísula Itálica durante a


Baixa Idade Média - Andréa Reis Ferreira Torres (UFRJ)

O presente trabalho visa discutir as possibilidades de liderança religiosa feminina


a fins da Idade Média, tendo como recorte espacial a Península Itálica. A partir das
considerações finais de nossa dissertação de mestrado, que versou sobre santidade
feminina com a análise de fontes que traziam os relatos sobre Clara de Assis e
Guglielma de Milão, procuramos, nesse momento, expandir a pesquisa e buscar
novas fontes. O objetivo central será avaliar a presença feminina em posições
destacadas na vida religiosa medieval, levando em consideração os limites e as
possibilidades resultantes das relações de poder do contexto.

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O bordão, a cabaça e a escarcela: a peregrinação e os peregrinos nos séculos


XII e XIII - Gabriel Braz de Oliveira (UFRJ)

Nossa pesquisa se vincula ao projeto coletivo Hagiografia e História: um estudo


comparativo da santidade, coordenado pela professora Andreia Cristina Lopes
Frazão da Silva e desenvolvido junto ao Programa de Estudos Medievais (PEM)
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O objetivo principal do projeto
é estudar o fenômeno da santidade nos séculos XI a XIII nas Penínsulas Ibérica e
Itálica. Como proposta individual de pesquisa monográfica, optamos pelo estudo
do fenômeno da peregrinação na Idade Média Central. Durante esse período, boa
parte das igrejas por toda a Europa procurou se estruturar como centros de
peregrinação, locais tidos como sagrados por conservarem relíquias de uma pessoa
cultuada como santo e aptos a receberem um contingente significativo de visitantes.
Quanto maior fosse a fama de santidade do santo que tinha os seus restos mortais
preservados, mais preparado deveria ser o local para receber o número de fiéis que
esse santo atraísse. A peregrinação aos principais centros cristãos se tornou, com o
tempo, uma etapa quase obrigatória na vida de todo fiel, o que resultou na
transformação dos centros de peregrinação em fontes altamente rentáveis para o
grupo eclesiástico responsável pela gestão do espaço. Para a nossa comunicação,
selecionamos como objetos da pesquisa o ato de peregrinar e a figura do peregrino,
mais especificamente o peregrino dos séculos XII-XIII. Quem peregrinava, quais
eram os propósitos de uma peregrinação, o que diferenciava uma romaria de uma
peregrinação, quais eram os preparativos da viagem, como era a aparência de um
417
peregrino e o que carregava consigo e com quais adversidades poderia se deparar
na viagem são algumas das questões a serem respondidas no decorrer do trabalho.
Como corpus documental da comunicação selecionamos três documentos: o livro
V da coletânea Liber Sancti Jacobo, conhecido como Guia do Peregrino de
Santiago de Compostela, escrito em meados do século XII; a Vita Sancti Martini
ou Vida de São Martinho escrita por Lucas de Tui no início do século XIII, que
retrata a vida de Martinho de Leão, um cônego regular que antes de ser ordenado
clérigo realizou uma longa peregrinação pelos principais centros da época; e por
fim, o título XXIV da Primeira Partida – Dos Romeiros e dos Peregrinos – das Siete
Partidas, um conjunto normativo redigido durante o reinado de Afonso X (1252-
1284).

O Espelho, o Processo e o Concílio. Uma reflexão sobre a biografia e a


influência do processo inquisitorial de Marguerite Porete (1250-1310) na
condenação do movimento beguinal - Danielle Mendes da Costa (UFRJ)

O presente trabalho relaciona-se às reflexões da minha pesquisa de mestrado em


História Comparada (PPGHC-UFRJ), iniciada em 2017. Após a década de 1940,
quando Romana Guarnieri associou o Espelho das Almas Simples e Aniquiladas à
um processo de inquisição realizado na França, entre 1309 e 1310, houve uma
profusão de estudos sobre Marguerite Porete, considerada como autora da obra, em
diversas áreas do conhecimento. Embora haja muitas lacunas acerca de sua vida e
dos procedimentos que conduziram a sua à morte por heresia, os/as
pesquisadores/as não tem dúvidas com relação à importância do seu papel no
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Concílio de Vienne (1311-1312), para a proibição do modo de vida beguinal. O


meu objetivo nesta comunicação será apresentar e tecer algumas considerações a
respeito das hipóteses sobre a trajetória de vida e a elaboração do processo
inquisitorial desta personagem. Em vista disso, pretendo refletir a respeito das
circunstâncias do caso de Porete, apontando questões sobre a atuação da instituição
eclesial e da monarquia francesa no controle de uma espiritualidade laica, cuja
forma de vida original proporcionou uma certa autonomia econômica e religiosa
das mulheres, entre meados do século XII e o início do XIV, no Ocidente Medieval.

O Exordium Magnum de Conrad d’Heberbach (+1221): entre crônica


histórica e hagiografia monástica - Ana Paula Lopes Pereira (UERJ)

O Exordium Magum de Conrad d’Heberbach (+ 1221) narra a origem da Ordem


de Cisterciense. Trata-se de um relato histórico, mas também é uma obra
apologética que incita os monges a imitarem o exemplo dos fundadores. Nesse
sentido, o autor empreende uma narrativa que se estrutura como uma narrativa
hagiográfica uma vez que utiliza o Livro de Milagres de Herbert de Clairvaux (+
1198). Nossa intenção, no presente trabalho, é escrutar os exempla que compõem
os relatos dos personagens emblemáticos da Ordem, mas também dos simples
conversos para compreender o modelo perfeito de monge cisterciense
considerando de forma mais sistemática suas relações afetivas e a manifestação das
emoções, dando sequência à nossa pesquisa sobre a Caridade e a amizade na
antropologia monástica cisterciense.
418
O Leal Conselheiro de D. Duarte: propostas analíticas - Cleiton Batista de
Oliveira (UERJ)

Durante a Idade Média a literatura tipificada como espelho dos príncipes passou a
ser difundia entre os monarcas. Como forma de conselhos e manuais de etiquetas,
esses espelhos ensinavam como um rei deveria agir e se comportar para governar
e manter seu poder. O Leal Conselheiro, escrito por D. Duarte (1391-1438) é um
desses manuais, mas seu caso se torna um tanto singular, pois a pedido de sua
esposa Leonor de Aragão, o próprio monarca escreve o manual direcionando-o aos
seus súditos. Nele temos um compilado de conselhos sobre, por exemplo a soberba,
a inveja e o amor. D. Duarte justifica a guerra em “A guerra contra os mouros” e
descreve a sua própria experiência contra a melancolia, em o “Humor
melancólico”. Este trabalho busca fazer uma pesquisa inicial sobre o Leal
Conselheiro, discutindo sua singularidade e a relação com o gênero literário
espelho dos príncipes, tentando perceber as potencialidades de pesquisa que esta
fonte pode oferecer aos seus estudiosos.

O Livro das Bestas: Uma Alegoria da Sociedade Medieval - Camila da Silva


Santanna Figueiredo (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O Livro das Bestas, escrito pelo religioso Raimundo Lúlio, é considerado um dos
melhores textos de prosa catalã medieval. Compõe a sétima parte da obra chamada
Livro das Maravilhas do Mundo, constituído pelos temas: Deus, Anjos, Céu,
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Elementos, Plantas, Metais, Bestas, Homem, Paraíso e Inferno. A obra é


considerada uma das primeiras novelas de cunho filosófico-social da Europa
medieval e foi escrita durante a primeira visita de Raimundo à Paris. Embora a obra
tenha sido escrita entre 1288-89, a sétima parte foi redigida anteriormente e
acrescentada ao livro. Nesta sétima parte o personagem principal, Félix, é
convidado a participar de uma assembléia de animais que tem como objetivo eleger
seu novo rei. O objetivo deste trabalho é identificar o potencial analítico desta obra
como uma alegoria da sociedade medieval construída neste universo literário.

O Livro das Leis e Posturas: uma proposta de análise - Marta de Carvalho


Silveira (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O Livro das Leis e Posturas é uma compilação jurídica organizada no final do


século XIV e início do XV que se referia a um conjunto de leis proclamadas pelos
reis portugueses da dinastia de Borgonha a partir do reinado de Afonso II (1185-
1223), o primeiro monarca a mandar redigir as primeiras leis escritas em uma corte
reunida na capital do reino, Coimbra, com a participação de representantes do clero
e da nobreza. É justamente por tratar-se de uma compilação de leis que transcende
os diversos reinados portugueses onde o desafio de manter a centralidade do poder
monárquico e organizar o processo de reconquista do território português, que esta
fonte se mostra particularmente interessante. O objetivo deste trabalho é, portanto,
fazer uma leitura crítica da fonte buscando contextualizá-la e identificar o seu
potencial analítico.
419
O pensamento goliárdico em Carmina Burana - Mayara Ramos
Saldanha (UERJ)

A obra Carmina Burana é considerada uma das maiores representações das poesias
goliárdicas e foi escrito entre os séculos XII e XIII, momento marcado por intensas
transformações sociais, culturais, comerciais e religiosas que muito influenciaram
o pensamento desse grupo. Oriundos do ambiente universitário, sendo clérigos em
sua maioria, os goliardos se destacam pelo estilo de vida boêmio e pelos escritos
profanos, que iam de encontro à moral e aos bons costumes pregados pela Igreja.
O objetivo deste trabalho consiste em apresentar o manuscrito Carmina Burana,
analisando seu contexto de produção e algumas de suas poesias com vias de melhor
compreender o pensamento goliárdico e sua influência na sociedade medieval.

O sábado do Espírito de Joaquim de Fiore (1135-1202) - Valtair Afonso


Miranda (Faculdade Batista do Rio de Janeiro)

Joaquim de Fiore foi um monge italiano conhecido especialmente por suas


contrições para a filosofia da história e a hermenêutica de textos bíblicos. Esta
comunicação analisa parte de uma de suas obras, o Expositio in Apocalypsim. Nela,
ele rompe com a tradição agostiniana que identificou o milênio joanino com a
história da Igreja, e propõe em seu lugar um período de felicidade na terra para toda
a humanidade, sob a direção do Espírito Santo. O abade esperava algum tipo de
continuidade entre o presente e o futuro, mas com a transformação de suas
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instituições sociais, especialmente da Igreja. Este período de descanso e


contemplação não teve como ponto de partida, entretanto, diretamente o milênio
do Apocalipse, mas sim as as reflexões históricas de Joaquim e a tradição do
“refrigério dos santos”, que esperava uma fase histórica de felicidade na terra
anterior à parousia. A emergência histórica deste tipo de milenarismo pode estar
relacionada com a conjugação de fenômenos como o apocalipsismo e a reforma
monástica.

Os sermões de santo Antônio de Pádua: análise de alguns elementos


retóricos - Emili Feitosa de F. Olenchuk (UERJ)

Santo Antônio, nascido em Lisboa, mas sendo Pádua seu local de atuação
missionária, viveu entre 1191 e 1231, estudou nos centros de ensino mais
proeminentes de Portugal em sua época, Mosteiro de São Vicente e Mosteiro de
Santa Cruz de Coimbra, o que lhe possibilitou assimilar vasto conhecimento que
seria usado posteriormente na pregação e no combate aos hereges, sobretudo os
cátaros. Em uma época de efervescência religiosa, em que os fiéis exigiam maior
participação na vida eclesiástica, e de crescentes críticas, os movimentos
mendicantes foram o sustentáculo de Roma: os dominicanos com os estudos e com
a pregação, e os franciscanos com a pregação por meio sobretudo da vida exemplar.
É também nesse período que tem início o estabelecimento de uma arte de pregar
medieval, que possui como referência a própria prédica dos primórdios do
Cristianismo, baseando-se principalmente em Jesus Cristo e no apóstolo Paulo; nos
420
Padres da Igreja, sobretudo Santo Agostinho e Gregório Magno; e, enfim, em
diversos preceptores do século XIII. Santo Antônio valeu-se de todo o
conhecimento adquirido nos mosteiros pelos quais passou e da ars praedicandi do
período, mostrando-se bastante familiarizado com as questões de seu tempo.
Critica severamente aos sacerdotes iníquos, organiza de forma sistemática a
teologia da Trindade e se põe como eco estrondoso do IV Concílio de Latrão. Em
seus sermões é possível verificar a presença de vários elementos persuasivos que
possuem como objetivo alcançar a benevolência do ouvinte e, assim, atingir o
propósito máximo, no dizer de Santo Agostinho: instruir para convencer e
comover. Para alcançar tal propósito, fez amplo uso das cláusulas, das Ciências
Naturais, dos Pais da Igreja, de escritores pagãos e dos bestiários medievais. Este
último foi de vital importância principalmente na pregação contra os hereges
cátaros, que negligenciavam a natureza como algo puro e de onde se poderia retirar
preceitos espirituais ocultos. São esses os objetos, textuais e contextuais, a serem
observados no presente artigo.

Um olhar sobre o Itinerário de Benjamin Tudela - Rayane Araujo


Lopes (UERJ)

O Itinerário de Benjamin Tudela é uma obra considerada importante para literatura


hebraica, pois permite um olhar sobre a cultura das comunidades judaicas
medievais, além de contribuir para o estudo geográfico do próprio período,
abordando trajetos importantes na configuração da história medieval. Como muitos
judeus, Benjamin Tudela tinha gosto pelas viagens e pelo comércio, práticas
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comuns ao seu povo. Esta obra foi realizada durante o séc. XII e contém valiosas
informações a respeito de diferentes regiões na qual se encontra as comunidades
judaicas, no entanto é interessante notar que a atenção de Benjamin não é voltada
apenas para a observação do seu povo, já que existem muitos detalhes em seu diário
de bordo sobre as diversas comunidades com as quais teve contato comercial. O
presente trabalho traz uma análise de O Itinerário de Benjamin Tudela, visando
entender o contexto de sua produção e as pesquisas atualmente levantadas em torno
dela, reconhecendo o seu potencial analítico em relação à história das comunidades
judaicas.

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ST 43. Imagens da Morte: saberes e
investigações interdisciplinares sobre
a morte, os mortos e o morrer

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A crença no Purgatório e sua recusa no "Manual do Conforto para pessoas


angustiadas e doentes", do teólogo luterano Johann Gerhard, de 1611 - Mara
Regina do Nascimento (Universidade Federal de Uberlândia)

Dentro de um conjunto de obras de mesmo estilo e preocupações, o Manual do


Conforto, de J. Gerhard, pode ser localizado como mais um dentre aqueles da linha
dos ars morendi medievais. Segundo o seu primeiro tradutor do latim para língua
vulgar, o pastor evangélico luterano Carl Julius Boettcher, “o Manual de Conforto
é, na área da literatura luterana de edificação espiritual, uma obra primordial” e
comparou o Manual “a um jardim com ervas medicinais, no qual a pessoa que
necessita de cura pode encontrar as mais diferentes plantas”. Um jardim que
fortaleceria a alma, onde o conforto estaria na medicina da palavra de Deus. Para
Boettcher, “o livreto nunca deixará em apuros o pastor ou o leigo que precisam
consolar almas aflitas. Aqueles que cuidam de doentes encontram neste livreto
respostas preciosas às perguntas e dúvidas que podem afligir uma alma e com as
quais as pessoas se debatem”. Tomando este livreto, em particular, e os manuais
de preparação para a morte, no geral, esta comunicação pretende analisar os
significados dos manuais como peças literárias de objetivo pedagógico, que
educavam para o verdadeiro cristianismo, por meio das palavras de conforto às
pessoas com necessidades espirituais. O alvo eram os que se encontravam doentes,
à beira da morte, ou que eram vistos sob forte perigo diante das tentações do
demônio sempre às espreitas, rondando os que ainda não haviam se deixado
sensibilizar pela verdadeira Graça de Cristo, fonte única da salvação. Apelos ao
423
exercício da consciência interior, voltados à libertação da alma e à compreensão da
Graça, o manual da boa morte luterano é expressão dos debates teológicos do
período, em torno da liberdade do cristão, do amor ao outro, da Graça e da crença,
ou não, no Purgatório.

A monumentalização do cemitério público do Caju: o mercado funerário nos


Campos dos Goytacazes na segunda metade do XIX - Maria da Conceição
Vilela Franco (UNIRIO)

O cemitério público de Campos dos Goytacazes foi criado na segunda metade do


século XIX. Nasceu como um cemitério fracionado entre o espaço público e as
necrópoles privadas a exemplo dos cemitérios da irmandades, ordens e confrarias
que poderiam erguer catacumbas ou outro qualquer gênero de sepulturas dentro dos
terrenos que lhes fossem concedidos para esse fim. Apesar de afastado das igrejas
e do centro urbano, por ser bento, o cemitério público mantinha características de
um campo santo o que indicava que era um lugar de sepultamentos destinado aos
católicos e de jurisdição eclesiástica. Com base nesta perspectiva, este artigo tem
por objetivo analisar a seu processo de monumentalização o que ocorreu através do
implemento de um mercado funerário na urbe campista.

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A morte à venda: o comércio fúnebre de Antonio Alexandre Manoel no


interior fluminense, RJ (séc. XIX) - Aguiomar Rodrigues Bruno (Cooperativa
Educacional Contruir LTDA)

O artigo tem como objetivo discutir a morte e o morrer a partir da presença dos
comerciantes fúnebres no interior fluminense, em especial na cidade de Piraí, no
Segundo Império. Para tal intento, utilizaremos a metodologia micro
historiográfica para analisarmos a casa fúnebre do comerciante Antonio Alexandre
Manoel. A partir desse caso singular podemos reconstruir suas redes de comércio,
mas, principalmente sua dinâmica comercial, no centro da cidade de Piraí. Por
outro lado, podemos perceber que tal prática comercial estava difundida tão
somente entre os cidadãos piraienses, mas, sobretudo, pelo interior fluminense.
Assim, trazer à baila esses agentes históricos da morte ajuda-nos a compreender
através da cultura material as sensibilidades mortuárias e suas respectivas práticas
fúnebres entre os viventes.

A morte de D. João V (1689-1750) e as manifestações fúnebres no Rio de


Janeiro - Anne Elise Reis da Paixão (UNIRIO)

O trabalho tem como proposta analisar duas orações fúnebres em homenagem ao


rei Dom João V ditas no Rio de Janeiro em 1751. Enquanto encômios, as orações
apresentavam as virtudes e as qualidades do monarca, ressaltando não apenas suas
realizações políticas, como também seus feitos para elevar a fé católica em todos
424
os seus domínios. Dessa maneira, as orações fúnebres serão analisadas a partir de
duas ideias principais, a saber, como um instrumento político de exaltação da
monarquia e como um momento de meditação sobre a morte individual, servindo
de exemplo aos súditos católicos.

A pena de morte na Legislação do Antigo Regime Luso - Bárbara Alves


Benevides (UNIRIO)

O trabalho em questão explora a presença da pena de morte na legislação penal


lusitana, dando destaque para as Ordenações Manuelinas e para as Ordenações
Filipinas. Sendo assim, são analisados os contextos de criação das Ordenações
mencionadas, bem como, as respectivas determinações referentes à pena de morte
em cada uma das Ordenações, buscando estabelecer uma comparação entre as duas
compilações legais. Além disso, o texto realiza uma reflexão a respeito da presença
marcante da distinção social identificada nas delimitações de condenação e
aplicação da pena última e do caráter severo da legislação estudada.

A Polêmica dos Mortos-Vivos na França Moderna (1693-1751) - Gabriel


Elysio Maia Braga (UFPR)

Esta comunicação é fruto da dissertação de mestrado “O Natural e o Sobrenatural


na Modernidade: A Polêmica Erudita sobre os Mortos-Vivos (1659 – 1751)”. Em
nossa pesquisa, buscamos produções fontes que não tratassem somente dos relatos
de ataques de vampiros provenientes dos Bálcãs, mas também aquelas que
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propusessem algum tipo de esclarecimento sobre tal fenômeno. Para esta


apresentação, propomos focar no debate público ocorrido no periódico Le Mercure
Galant e nas posteriores produções datadas da primeira metade do século XVIII. A
primeira publicação data de 1693, um artigo anônimo publicado no referido
periódico francês. Nesta mesma revista há ainda outras duas produções do
advogado do Parlamento de Paris, Marigner. Quanto às produções setecentistas,
selecionamos a dissertação de Michaël Ranft, filósofo alemão, a qual circulou no
meio letrado francês, e a dissertação do monge beneditino Dom Augustin Calmet.
A pesquisa buscou as mudanças de sentido nas categorias de natural e sobrenatural
e suas relações com a morte e a imaginação. Consideramos os mortos-vivos e os
vampiros como elementos integrantes da obsessão pela morte do século XVII.

A representação da morte e suas modificações no seculo XX - Ingara


Carolinne (Universidade AGES)

Visando as diferentes atitudes diante da morte, os rituais relacionados aos mortos


identificados como ritos de passagens adquirem significados expressivos onde a
morte é vista como momento de transição. O panorama histórico é traçado
paralelamente, às suas práticas e significações expressas na memória coletiva das
sociedades da época, cujos resultados são apresentados através da análise sobre as
relações estabelecidas entre os vivos e os mortos nessas sociedades. Para tanto,
buscou-se autores é entrevista de cunho oral que abordam o fenômeno da morte
nas suas pesquisas e que tratam tais práticas mortuárias inseridas na sociedade pós-
425
moderna. No mundo hoje, consagrado á ciência e a técnica, atinamos a importância
dessa posição: falar da morte é talvez o meio mais eficaz para superar nossa
angustia.

Afirmação do poder régio na Dinastia de Avis: a morte de D. João I e suas


representações nas crônicas oficiais do reino - Nathália de Ornelas Nunes de
Lima (Universidade Federal Fluminense)

Em trabalhos divulgados nas últimas décadas, pesquisadores têm apontado que a


partir dos séculos XII e XIII começa a ser operada no Ocidente Europeu uma
mutação da concepção de morte, em que o fenômeno é experienciado de forma
cada vez mais individualizada e, já nos séculos finais do período medieval, passa a
ser utilizado para legitimar o poder dos príncipes. Nesse sentido, nossa principal
hipótese de trabalho é a de que as representações dos membros da casa de Avis em
seus cerimoniais fúnebres funcionaram como estratégias que contribuíram para a
legitimação da dinastia e para a construção de uma memória oficial do reino de
Portugal, ancorada na sacralização dos integrantes da família real. As crônicas
compostas pelos cronistas oficiais do reino, que indicam um momento de
transformações na historiografia produzida na Idade Média e são o tipo de fonte
privilegiado em nossa análise, parecem-nos ter servido também a este propósito de
legitimação do poder e de sacralização da segunda dinastia da monarquia
portuguesa. Nestes textos, encomendados pelos próprios reis de Avis, é possível
encontrar descrições pormenorizadas dos rituais funerários e de todo o aparato
religioso, administrativo e militar que mobilizavam, além de referências à comoção
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pública que tais cerimônias e cortejos teriam suscitado no reino. Na análise a ser
empreendida, centraremos nossas atenções sobre os mecanismos envolvidos no
processo de legitimação do poder régio durante a fase inicial da Dinastia de Avis,
entre os séculos XIV e XV, momento que, para diversos historiadores, representa
uma crise geral na Cristandade europeia ocidental, mas em que, ao mesmo tempo,
estava em curso a formação do estado português. Assim, os cerimoniais fúnebres,
bem como as crônicas régias, são elementos que adquirem grande importância, ao
promoverem o culto a figuras da monarquia e se prestarem à construção de uma
memória do reino. A partir da Crônica da Tomada de Ceuta por El-Rei D. João I,
de Gomes Eanes de Zurara, e da Crônica de El-Rei D. Duarte, de Rui de Pina,
procuraremos verificar como os dois cronistas relatam o episódio da morte de D.
João I, de forma a investigar como os funerais régios foram utilizados como
maneiras de consolidar o poder e a sacralidade da Dinastia de Avis.

Artes Musicais e Ciências Sociais - Representações musicais na morte de


crianças. Do ciclo das crianças mortas, kindertolieder, de Gustav Mahler ao
orixá Abikú do candomblé Ketu - Vandelir Camilo Neves Deolindo
Mario (Theatro Municipal)

Essa comunicação pretende problematizar a representação e o legado de músicas


em homenagens a crianças e adolescentes mortos em diferentes contextos sociais.
Em um primeiro momento, teremos como o objeto o ciclo das crianças mortas,
Kindertotenlieder de Gustav Malher,(1860-1911), compositor judaico checo-
426
austríaco, maestro e ativista influente em seu tempo, a obra foi composta no início
do século XX, e representou um protesto ao elevado índice de mortalidade infantil
na Europa – até o século XIX, na mentalidade ocidental prevalecia a naturalidade
e aceitação elevadíssima de mortes de crianças. Da mesma forma, o povo Ioruba
recorre a rituais e músicas, para demonstrar seu descontentamento na morte de
crianças em sua sociedade, o orixá Abikú representa aquele que é “nascido para
morrer” na tenra idade na cultura desse povo, que, através de canções de protesto
com usos satíricos, e de louvação buscam consolo na morte de suas crianças e
adolescentes (AJIBADE). A comunicação não pretende abordar aspectos da
semiologia, suas relações interpretativas ou composicionais, e nem aspectos da
etnomusicologia, ou seja, a relação dos símbolos e suas subjetividades com as
obras. Atendendo a proposta desse encontro, pretende-se dialogar essas músicas,
com as ciências sociais, entendendo- as como obras de arte, na medida em que
diferentes significados são atribuídos no imaginário e na trajetória dessas músicas,
assim sendo, buscaremos referenciais teóricos nas ciências sociais para
contextualizaremos essa comunicação, a partir dos sentidos relacionadas ao
conceito de representação e legado. No caso especifico dos sentidos de
representação busca-se compreender as condições sociais, simbólicas e históricas
que compõe esse quadro; no conceito de legado, busca-se analisar como essas obras
vem sendo atualizadas e constantemente projetadas em rememorações em
contextos diversos. Trata-se de um estudo de caso que buscou identificar os
agentes, as temporalidades e as diferentes atribuições que alimentam o capital
social dessas obras artísticas.

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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
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ISBN: 978-85-65957-09-0
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Caronte e a representação da morte em Atenas no periodo Clássico - Maria


Regina Candido (UERJ)

Os mitos e ritos relacionados a morte fazem muito mais do que organizar


sincronicamente o conjunto social dos atenienses, podemos argumentar que através
deles, apreendemos as mudanças e inovações presentes na sociedade de Atenas.
Além da figura do morto, ser representado nos lécytos de fundo branco,
encontramos junto a representação do morto, o barqueiro Caronte, personagem
mítico ausente na poesia de Homero. A percepção da sua ausência nos leva a
argumentar a possibilidade de Caronte ser uma construção tardia cuja existência
restringia-se ao Hades. A indumentária de Caronte nos leva a supor que um
segmento social emergente buscou construir a sua jornada para o Hades sob uma
outra orientação, ou seja, uma nova maneira de usar os símbolos referentes a morte,
que deixa de representar a bela morte dos aristhoi para se aproximar do cidadão
emergente das atividades comerciais e mercantis do espaço urbano.

Da Igreja ao Campo Santo: o nascimento dos cemitérios e o monopólio da


morte no Brasil do século XIX - Leonardo Oliveira Silva (UFRGS)

O espaço cemiterial público conquistou seu lugar definitivo no Brasil após décadas
de debate e muito esforço do discurso médico higienista. A proibição do
sepultamento intramuros, prática herdada dos colonizadores portugueses, foi o
motivo principal para o surgimento dos cemitérios, uma vez que impôs a
427
transferência do espaço de enterro da igreja para o campo santo a partir de 1850. A
transferência da moradia dos mortos implicou a configuração de um novo espaço
da morte dentro da cultura funerária dos vivos e, consequentemente, a perda do
domínio eclesiástico sobre a morte, uma vez que, durante séculos, os mortos foram
inumados no interior de igrejas ou em suas circunjacências, prática adotada por
grande parte da população brasileira no século XIX. O presente estudo visa
reconstruir a trajetória dos mortos no período em questão, com especial atenção ao
esforço eclesiástico de manutenção do monopólio da morte no interior de seus
espaços intramuros.

ENTRE A VIDA E A MORTE: Tráfico, escravidão, doença e morte entre a


África e o Brasil - Cláudio de Paula Honorato (UNIRIO)

O presente trabalho tem como objetivo analisar o tráfico, escravidão, doença e


morte entre a África e o Brasil, com ênfase no Rio de Janeiro, para tanto
utilizaremos as memórias do intelectual baiano Antonio Oliveira Mendes,
apresentadas à Real Academia de Ciências de Lisboa, em 1793, seu texto trata da
natureza e clima das regiões africanas, o modo de vida, liberdade, os costumes dos
povos africanos e como eram transformados em escravos, as diversas doenças em
que estavam sujeitos, assim como as formas de tratamento e morte. Aqueles que
venciam essas etapas eram finalmente entregues aos compradores brasileiros e
transportados pelo Atlântico e entregues aos senhores no Brasil que os utilizariam
até a morte. Utilizaremos também o relatório do provedor-mor da saúde, que
descreve o estado de saúde em que os africanos escravizados chegavam ao porto
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do Rio de Janeiro, como era feito o controle da saúde e higiene no sentido de


prevenção das doenças, como era feito o tratamento dos cativos nos lazaretos, e os
embates entre a Provedoria-Mor da Saúde e os negociantes de africanos novos
escravizados na cidade.

Hierarquia nas senzalas: a morte como demonstrativo de status


social - Michele Helena Peixoto da Silva (UNIRIO)

Um casamento, uma moradia separada ou um pedaço de terra para cultivo próprio


são benfeitorias que durante o período colonial da América portuguesa poderiam
representar o status social dos cativos de um engenho. Mas para além desses
benefícios apresentados, a morte também poderia ser responsável pela
representatividade que um escravo tinha dentro de sua comunidade, pois a posição
social de um indivíduo nesta época também poderia ser refletida através dos ritos
fúnebres e pelos locais de sepultura, demonstrando que mesmo depois da morte seu
status social poderia ser identificado. Este é o objetivo desta comunicação, apontar
a existência de uma hierarquia entre os cativos através dos ritos fúnebres e dos
locais de sepultamento. A ideia é mostrar que mesmo na condição de cativo,
pertencendo a camada mais inferior da sociedade colonial, ainda existia a
possibilidade de um escravo receber um sepultamento considerado digno e em
local privilegiado pela população colonial devido a boa relação que tinha com seu
próprio senhor.
428
Morte em São Cristóvão: Uma breve análise sobre a morte e o morrer na
cidade de São Cristóvão no século XIX (1864-1886) - Márcia Oliveira
Gama (Universidade Federal de Sergipe)

A cidade de São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do Brasil, fundada por
Cristóvão de Barros no ano de 1590 é localiza-se em Sergipe, estado em que foi
capital até o dia 17 de março de 1855, quando o presidente da província de Sergipe,
Inácio Barbosa elevou o povoado Santo Antônio do Aracaju a posição de cidade
de Aracaju e realizou a mudança da capital da província. O presente trabalho faz
parte da pesquisa em andamento “Morte em São Cristóvão: Estudo sobre a história
da morte na Cidade de São Cristóvão de 1864 a 1886.” (título provisório) do
mestrado Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de
Sergipe e tem como objetivo apontar as primeiras impressões da morte e do morrer
na cidade de São Cristóvão no século XIX (1864-1886), pontuando temas como
principais causas de morte, rituais fúnebres e locais de inumação. Para tal, serão
utilizados testamentos, inventários e o livro de assentamento óbito número 1 da
Paróquia Nossa Senhora da Vitória, que é a Igreja Matriz da cidade.

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Os cativos e suas covas: um estudo sobre a hierarquização das práticas de


sepultamento entre os escravos do Rio de Janeiro setecentista - Cláudia
Rodrigues (UNIRIO)

A partir da análise das práticas de inumação entre escravos do Rio de Janeiro


colonial, buscarei compreender as hierarquias existentes entre os cativos, expressas
nas variadas localizações de suas covas nas igrejas católicas de diferentes
freguesias. Ao contrário do que parte da historiografia costumou afirmar sobre o
sepultamento dos escravos se localizar do lado de fora das igrejas, buscarei
demonstrar a existência de covas nas quais alguns escravos “privilegiados” foram
sepultados não só no interior dos templos, mas em sepulturas mencionadas como
sendo de sua propriedade.

Os testadores libertos e suas irmandades por ocasião no Rio de Janeiro


setecentista - Marcus Vinicius Rubim Gomes (UNIRIO)

Este trabalho esta sendo desenvolvido a orientação da Profª Drª Claudia Rodrigues
e esta vinculado ao projeto “As reformas pombalinas e a prática testamentária no
Rio de Janeiro colonial”, desenvolvida pela mesma professora. O papel das
Irmandades religiosas no período colonial no contexto da morte era cuidar do corpo
do irmão falecido, prepararem o velório de acordo com seus pedidos, realizarem
procissões em sua memória, entre outras atividades requisitadas pelo morto. A
justificativa de todo esse aparato era a necessidade daquele, cuja morte se
429
aproximava, de buscar a salvação de sua alma no além-túmulo, quando esta partisse
do seu corpo. Em minha pesquisa terei como foco a relação de homens de cor com
as suas Irmandades. Farei isto a partir da análise de óbitos e testamentos, onde
consigo encontrar passagens que transmitem direitos e deveres de ambas as partes.
É possível, através destas fontes, determinar vários aspectos desta relação, como o
pagamento de anuidades, o pedido e a execução de Missas e demais sufrágios em
nome do confrade, a necessidade de o corpo ser acompanhado por membros da
associação no cortejo fúnebre, entre outras disposições. É importante também para
o prosseguimento do trabalho entender a devoção desses irmãos. A devoção aos
santos nos mostram tendências que expressam também relações com uma
africanidade na relação dos membros com os mortos por meio de suas confrarias.
A partir disso, através da perspectiva do testador, é possível estabelecer perfis de
membros de determinadas Irmandades, ou seja, grupos que se identificam por
alguma razão as devoções que as ligavam as ditas confrarias e assim entender a
relação entre libertos e as Irmandades de homens de cor na iminência da morte.

Planejamento no decurso da vida para uma “boa morte”: testamentos e ritos


fúnebres de alforriados (Mariana, Minas Gerais, Século XVIII) - Felipe Tito
Cesar Neto (UFRRJ)

Esta comunicação versa a respeito do estudo sobre a prática testamentária e ritos


fúnebres de alforriados, moradores no termo de Mariana, Minas Gerais, no século
XVIII. Para esta pesquisa, utilizaremos os testamentos desses egressos do cativeiro
com a premissa de compreender suas ações e estratégias utilizadas como forma de
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conseguir dispor de suas últimas vontades, tendo em vista obter a salvação da alma.
Por meio dos testamentos desses alforriados, tornar-se-á possível analisar os
vestígios de suas preocupações em vida com o momento da morte, especialmente
no que tange os preparativos para o sepultamento, pois uma morte inesperada era
o medo que motivou muitos a planejarem seus momentos finais. A Igreja, desde o
Concílio de Trento, orientava seus fiéis a redigirem os testamentos em perfeita
saúde como forma de refletirem sobre o derradeiro momento. Todavia, boa parte
dos testadores solicitavam suas disposições testamentais estando de proximidade
com a morte – mas em perfeito juízo e entendimento – por estarem com alguma
moléstia ou ferimento grave. Essa escolha, de preparar-se para a morte nas horas
finais, era devido à crença de que, por estarem mais fragilizados e ameaçados pelo
Demônio, seria mais adequada a realização dos ritos e solicitações à Corte Celestial
contra a condenação eterna, no Inferno. Devido à necessidade de realizar tal prática
por almejarem uma “boa morte”, esses indivíduos agiram conforme seus interesses,
recursos e orientações valorativas, com o intuito de lograrem sucesso em suas
ações. Acreditamos que as estratégias desses alforriados nesses documentos de
últimas vontades não estavam somente restritas à salvação da alma. Podendo
demarcar as hierarquias presentes em vida e na morte, a prática testamentária
também se constituiu como um importante discurso de poder no Antigo Regime,
frente às características de uma sociedade estamental e escravista – como era a
América Portuguesa –, viabilizando o estudo de outros subtemas inseridos tanto na
fonte testamental, quanto na temática da história da morte. Nesta apresentação,
apontaremos os rumos que esta pesquisa de mestrado tem seguido, bem como as
430
possibilidades que podemos ainda percorrer nos estudos sobre a prática
testamentária e os ritos fúnebres, envolvendo os alforriados, nas minas
setecentistas.

Presença sulamericana no Brasil ( Rio de Janeiro 1950/2018) - Maria Teresa


Toribio Brittes Lemos (UERJ)

A presente comunicação trata do fenômeno migratório andino para o Brasil e


especialmente para o Estado do Rio de Janeiro. A presença de imigrantes
sulamericanos no Estado do Rio de Janeiro, é recente faz parte dos deslocamentos
populacionais contemporâneos para o Brasil, atraídos pelo seu desenvolvimento.
Em comum, essas duas correntes migratórias optaram pela saída de seus países para
reconstruir suas vidas em outros espaços sociais, devido à instabilidade econômica,
conflitos políticos, miséria, diferenças sociais e perseguições políticas, sem contar
com os grupos de estudantes e profissionais liberais atraídos pelos acordos
bilaterais. O estudo visa a assinalar as dificuldades que esses imigrantes
enfrentavam para se instalar nos novos territórios, sofrendo toda sorte de
discriminações, preconceitos, sentimento de xenofobia, indiferença dos governos
locais em recebê-los e dificuldades de obter vistos de permanência. Também
apresenta questões culturais fundamentais para análise, como a identificação das
marcas culturais, memória coletiva, práticas e permanências culturais,
representações simbólicas e ressignificações, confrontos de imaginários e
cosmovisões, contribuições essenciais para a construção das novas identidades nos
países em que chegam.
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Reescrituras de la muerte. La proliferación discursiva como modo de re-


actualizar-(la) - María Cecilia Colombani (Universidad de Morón/Universidad
Nacional de Mar del Plata)

El proyecto de la presente comunicación consiste en analizar la producción


discursiva en torno a la muerte que cierto sector de la sociedad salteña parece
desplegar como ritualización funeraria y que toma cuerpo material en el periódico
seleccionado. A partir de la fuerte impronta discursiva que analizaremos en la
práctica, tomaremos algunos aspectos teóricos de M. Foucault, presentes en El
Orden del Discurso, donde el autor problematiza la alianza entre poder y discurso
y entre discurso y deseo; intentaremos pensar en qué medida el discurso constituye
una herramienta de poder para re-actualizar la muerte, hacerla presente y
mantenerla en acto y en qué medida el discurso constituye la vehículo del deseo
para conjurar la presencia de la muerte. Excavar la sección denominada Obituarios,
permite ver qué efectos de sentido emergen de la práctica social. Los efectos de
sentido emergentes de esa arquitectura discursiva permiten visibilizar un orden del
discurso tendiente a poner en palabras el estatuto de la muerte como modo de
hacerla presente y visible en el marco de una arquitectura discursivo-afectiva que
su presencia parece exigir. De este modo, la muerte encuentra su logos y el
dispositivo discursivo que la nombra y la contiene dentro de unos límites precisos
y legitimados, también. Acercamiento foucaultiano al territorio del discurso, en la
medida en que es, precisamente a través de su materialidad, cómo se visibilizan los
431
juegos de construcción de la identidad social y cómo se construyen las fronteras
entre la vida y la muerte, entre lo Mismo y lo Otro.

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432
ST 44. Indígenas, camponeses e
quilombolas: caminhos para os
(des)encontros com novas e outras
narrativas

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A historiografia indígena e a possibilidade de novas interpretações - José


Fernandes Neto (Universidade Estadual de Goiás)

Este trabalho tem como intuito analisar as abordagens historiográficas acerca dos
povos indígenas brasileiros, do processo de formação do mundo colonial ao pós-
colonial. Produzido através de pesquisas bibliográficas, o mesmo visa fomentar
uma análise historiográfica que compreende o indígena como personagem histórico
ativo na construção da história do Brasil. Dando enfoque as novas perspectivas
históricas acerca das relações de poder entre nativos e colonizadores, far-se-á uma
análise sobre a visão obsoleta e errônea de que os povos indígenas eram totalmente
sem interesses e sempre submissos ao colonizador. Nas novas abordagens, a
perspectiva do indígena acerca das relações travadas com o colonizador é objeto
de interesse, o aldeamento, por exemplo, passa a ser analisado também sobre a
visão do indígena. O aldeamento era importante para a manutenção da colônia e
para os índios, os quais, a partir desse espaço, construíam uma relação de
pertencimento à colônia, além, é claro, de espaço de resistência. As novas
abordagens históricas percebe que a cultura dos povos indígenas não foi eliminada,
apesar de toda a violência no processo de colonização, muitas foram
ressignificadas.

A organização do trabalho no espaço rural da região do Vale do rio Tocantins


no século XVIII - Carlos Eduardo Costa Barbosa (Universidade Federal do Pará)
433
O objetivo deste artigo é evidenciar, através das correspondências com o Governo
da Capitania, deste com diversos agentes coloniais e com a Metrópole, o processo
de ocupação da calha do rio Tocantins, observando a organização territorial que
possibilitou o rearranjo das unidades familiares em estruturas relativamente
autônomas de produção e consumo, como parte do projeto agrário, que foi
caracterizado pela introdução de novas técnicas produtivas, incorporação de novas
terras à agricultura seguida de novos gêneros e métodos de cultivo. O projeto
agrário implantado pela administração colonial refletiu sobre os diversos sujeitos
que compuseram o mundo rural paraense ao longo dos Setecentos, principalmente
na região do Vale do rio Tocantins devido à proximidade de Belém. Nesta região,
observamos a migração de colonos, a miscigenação, e o processo de dispersão
populacional, como fatores que contribuíram para gestar famílias com pré-
condições endógenas para viver e produzir sem dificuldades no meio ambiente
amazônico, reproduzindo-se apenas pelo trabalho de seus membros. Nesse sentido,
essa população dispersa vai se apropriar dos espaços possíveis e desenvolver
atividades agroextrativistas. O que precisamos compreender de forma clara é que
a agricultura colonial se equilibrava dentro de uma diversa gama de influências que
determinavam suas condições e características, assim como perceber a múltipla
composição do mundo rural. Dessa forma, este trabalho procura enfatizar a
participação dessa população dispersa, contribuindo para uma compreensão da
complexidade de organização da sociedade colonial e do dinamismo existente na
região do Vale do rio Tocantins setecentista.

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A transferência dos Guarani Mbya para Carmésia - Kalna Mareto


Teao (IFES)

Este trabalho tem por objetivo principal compreender o processo histórico da


trajetória do povo guarani mbya do Espírito Santo no período de 1973 a 1979. Este
artigo visa analisar o período no qual os Guarani Mbya se estabeleceram
forçadamente na Fazenda Guarani, em Carmésia, em Minas Gerais. Tal local era
uma espécie de reformatório indígena do período da ditadura militar que buscava
inserir os índios considerados “desajustados” dentro da lógica do trabalho e da
integração nacional. Índios de diversas etnias, como Guarani mbya, Tupinikim,
Krenak, Karajá, dentre outros, foram agrupados no mesmo espaço, sem levar em
conta suas características histórico-culturais e eram considerados um problema no
período militar. Dessa história podemos constatar que os índios eram considerados
um entrave ao projeto de desenvolvimento econômico do Espírito Santo e do
período da ditadura, pois seus modos de vida contrastavam com o modelo que
queria se estabelecer no Brasil, de um Estado atrelado ao capital internacional,
produtor e exportador de matéria prima, marcado por um período de forte censura
e repressão, que inclusive cerceava as culturas indígenas de se expressarem e
controlavam fortemente os movimentos de deslocamentos dos povos indígenas.
Além disso, a história do povo Guarani Mbya é entrelaçada aos demais povos,
como os Tupinikim e os Krenak. Desses entrelaçamentos de encontros, se
estabelecem relações de amizade, apoio mútuo, alianças políticas pelas conquistas
territoriais e de direitos coletivos. As fontes utilizadas são jornais, relatos orais e
434
relatórios da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

A Vitória a Minas e os índios dos Sertões do Leste - Marina Mônica de


Freitas (Universidade Federal Fluminense)

Os estudos sobre os povos indígenas brasileiros têm despertado o interesse de um


número cada vez mais significativo de historiadores nas últimas três décadas. No
entanto, ainda são poucos os trabalhos que tratam das interações entre indígenas e
ferrovias nos sertões do Brasil republicano, temática que será focada na
comunicação. A partir de fragmentos da história da Estrada de Ferro Vitória a
Minas, extraídos, principalmente, do relato do engenheiro ferroviário Ceciliano
Abel de Almeida, e de informações sobre os Krenak, constantes em documentos
produzidos por funcionários do Serviço de Proteção ao Índio, a comunicação
pretende apontar entrelaçamentos entre as histórias da ferrovia e dos Krenak,
sinalizando modificações que o caminho de ferro imprimiu à trajetória de grupos
indígenas que, até o início do século XX, eram senhores dos Sertões do Leste,
território este que compreendia os vales dos rios Doce, Jequitinhonha e Mucuri,
abrangendo áreas dos atuais estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. Um
dos elementos analisados no apontamento daquelas interações será a destruição
ambiental provocada pela ferrovia, obra sustentada pelo ideário de uma época que
entendia as matas virgens e os indígenas como obstáculos à civilização, ao
progresso e à modernidade.

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Aldeamentos em Goiás: Politicas, resistência e formação de


identidade - Braulio Taruel da Rocha Fonseca (Universidade Estadual de
Goiás), Ronan Bezerra de Araújo (Universidade Estadual de Goiás)

A escolha do tema se justifica pela atual necessidade compreender as abordagens


dadas pela historiografia acerca dos indígenas do Brasil. Do período colonial os
povos indígenas até meados da década 1980 eram vistos apenas sob a ótica do
colonizador, do europeu. Sendo que a visão dos próprios índios ignorada e por
muito tempo se proclamou que as populações indígenas não teriam sequer uma
história própria. Partindo da premissa que todo homem é um sujeito histórico, as
etnias indígenas no Brasil, assim como os colonizadores têm sua cosmovisão de
mundo e percepção própria de seu passado e presente. Como medida da coroa
portuguesa a fim de integrar as populações indígenas dentro do território colonial
foram criados os aldeamentos, que basicamente serviram como um local onde as
populações indígenas eram agrupadas independentemente da etnia com o proposito
de serem catequizados, assim como de trabalharem para a coroa. Embora os
aldeamentos tenham sido criados através do interesse de Portugal em suprir mão
de obra para a colônia, os índios também tinham seus interesses que variava de
aceitar o aldeamento, quanto em empreender resistência. Os aldeamentos na
capitânia de Goiás são tardios em relação aos de outras como do Rio de janeiro ou
Pernambuco, embora suas trajetórias se assemelhem em diversos aspectos é
importante destaca como cada região recebeu a políticas de aldeamento e sua
aceitação e formas de resistência, em relação às medidas empregadas pela coroa a
435
fim de estabelecer a “ordem”. Então buscando compreender o aldeamento como
esse espaço de resistência indígena, partimos seguintes indagações, qual o
proposito da criação de aldeamentos, sobretudo em Goiás? Como foi a recepção
deste para a população indígena, assim como sua eventual resistência e aceitação?
Motivos de sucessos e insucessos desses aldeamentos? É correto dizer que foi
criado dentro dos aldeamentos uma nova identidade, a do índio aldeado? Portanto
cabe ao historiador buscar problematizar essa relação de poder que envolve o
colonizador e as populações indígenas, ao invés de enxergar a história do processo
de aldeamento somente pela ótica do colonizador europeu. Através de estas novas
perspectivas, visamos demonstrar que, longe de serem totalmente submissos e
impotentes, os povos originários do Brasil agiam de acordo com seus próprios
interesses.

Educação e memória: a trajetória da Escola Municipal do Albino - Maria


Sebastiana Reges da Silva (Universidade Federal do Tocantins)

Este trabalho tem o intuito de analisar a trajetória da Escola Municipal Albino,


navegando entre o passado e o presente, por meio de memórias, bem como das
experiências pedagógicas dos professores responsáveis pelo surgimento e pelo
funcionamento atual dessa instituição de ensino, localizada no campo. A referida
unidade escolar fica em uma Comunidade remanescente quilombola/Kalunga, na
região do Mimoso-Albino, aproximadamente a 100 km da cidade de Paranã-TO.
Segundo informações de moradores da Comunidade, a Escola Municipal Albino
foi fundada em agosto de 1972. Sem prédio próprio, a escola funcionou durante
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muitos anos na residência do docente da instituição, em classe multisseriada. No


final de 2009, foi construída pela prefeitura uma sala de aula, em um único cômodo.
Nessa estrutura, funcionava sala de aula e cantina. Em 2014, o município construiu
a sede da escola, em alvenaria, porém não foi realizado o acabamento da
construção. Também não houve a entrega dos móveis necessários, o transporte
escolar não foi devidamente organizado, as estruturas necessárias para o sistema
de saneamento básico, energia elétrica não foram devidamente construídas. Diante
desse contexto, para a produção desta pesquisa, que está em andamento, a
abordagem metodológica utilizada é a pesquisa qualitativa, com a finalidade de
buscar compreender a memória da escola em questão no âmbito da Educação
Quilombola e do Campo. Questionários semiestruturados, na modalidade oral,
serão aplicados com o primeiro professor e fundador da unidade escolar, meus pais
e pais de alunos. Minhas memórias como aluna e como atual docente da referida
instituição de ensino também serão arroladas neste estudo. Serão discutidos, nessa
perspectiva, se os direitos dos educandos quilombolas estão sendo respeitados. Para
tanto, a pesquisa fundamenta-se nos pressupostos da Educação do Campo
(ARROYO, 1999), nas concepções de Freire (2005), nos estudos acerca da
Educação Escolar Quilombola (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Escolar Quilombola. Resolução nº 08/2012 CNE/CEB Brasília, DF) e em conceitos
gerais de Memória (TEIXEIRA & FREIXO, 2010). Enfim, fica claro que já houve
mudanças no decorrer destes 45 anos de existência da Escola Municipal Albino,
considerando sua fundação e permanência. Contudo, é evidente que há a
continuidade de situações precárias no que concerne à educação escolar desses
436
quilombolas/camponeses. É preciso discutir a realidade em tela em prol da garantia
de direitos.

Escravidão e cultura política no médio São Francisco - José Ricardo Moreno


Pinho (Universidade do Estado da Bahia)

Trata das estratégias de conquista de liberdade. Região de fronteira e formas de


invisibilidade quilombola, alianças sociais, reelaboração da condição social.

Estudo do currículo do curso de licenciatura em educação do campo/campus


Arraias - Joélia dos Santos Rodrigues (Universidade Federal do Tocantins)

O presente trabalho tem por objetivo apresentar os dados de uma pesquisa em


andamento, cujo objetivo é o estudo sobre a formação de professores, tendo como
objeto de estudo, o currículo do curso de Licenciatura em Educação do Campo
Códigos e Linguagens – Artes Visuais e Música, da Universidade Federal do
Tocantins – Campus de Arraias, especificamente em aspectos relacionados às
habilitações Artes Visuais e Música, tendo como base o processo de formação dos
primeiros graduandos. Para isso, foram selecionados a partir da análise
documental, o Projeto Pedagógico do Curso, Ementas das disciplinas, Diretrizes
Nacionais de operacionalização para a Educação do Campo, Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCNs/2015) para a formação inicial e continuada dos
profissionais do magistério da educação básica, o Plano Nacional de Educação
(2014/2024) e revisões bibliográficas. O referencial teórico-metodológico
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fundamenta-se em autores das áreas da educação, currículo, Artes e Música:


Apple(2011), Sacrístan(2000), Santomé(1998), Queiroz e Marinho(2005),
Dozza(2009); Pereira e Silva(2017). Estudos apontam que a partir da década de 90,
suscitaram inúmeras indagações e reflexões acerca do currículo no contexto da
política educacional. Ressaltam a importância do professor e da comunidade
escolar na organização e materialização do currículo, pois os mesmos são agentes
principais na construção do currículo que se materializa nas escolas e nas salas de
aulas, portanto o currículo associa-se ao conjunto de esforços pedagógicos
desenvolvidos com intenções educativas. Logo, é fundamental compreender de
forma crítica como o currículo e as práticas pedagógicas se fazem na escola, visto
que as instituições e seus agentes distribuem valores ideológicos mantendo
conhecimentos necessários à manutenção das composições econômicas, políticas e
culturais de uma minoria (APPLE, 2011). Nessa direção, os dados iniciais do
estudo apontam a necessidade de uma reestruturação do projeto pedagógico do
curso, no sentido de discutir e promover alterações no que diz respeito à fusão,
desmembramento, inclusão e/ou exclusão de disciplinas, assim como uma revisão
criteriosa das ementas. Assim, este estudo se reveste de importância devido à
necessidade que se tem de estudar a estrutura curricular, como uma alternativa
propositiva para uma possível reformulação do PPC, propiciando de certa forma a
resolução de possíveis problemas encontrados, como forma de garantir um melhor
desempenho do curso.

Fiando memórias: uma cronologia das técnicas de tecelagem no Brasil


437
colônia - Erica Barros de Almeida Araujo (UFRRJ)

A presente pesquisa, ainda em andamento, tem como objetivo apresentar uma


cronologia das técnicas de tecelagem no Brasil Colonial. A manufatura têxtil, uma
das poucas permitidas pela metrópole portuguesa na colônia, devido ao
exclusivismo comercial, se desenvolve na América portuguesa a partir do encontro
das culturas indígenas e portuguesa na utilização de técnicas distintas de tecelagem,
assim como também, o uso de fibras diversas como algodão e a lã na confecção de
roupas e artefatos. O ofício do tecelão buscava produzir volume considerável para
suprir a necessidade da população da colônia e implicava um trabalho árduo, sendo
executado principalmente pela mão de obra escrava indígena em diversas regiões
do Brasil.

Folia do Divino em Arraias -To na Perspectiva da Identidade


Cultural - Flavio Alexandre Martins Xavier (UFT)

Nesta pesquisa discutiremos a religiosidade popular através da análise


antropológica das Folias nas regiões: do Sertão do Governo, do Sertão da Terra
Nova e das Caatingas. Essa festa de caráter popular anuncia a presença do Espírito
Santo, tendo como ponto de encontro a praça da Matriz da cidade de Arraias. É
uma cerimônia estudada, com cruzamento das bandeiras que percorrem as regiões
da caatingas e sertões. O presente trabalho se justifica em reforçar os aspectos
históricos, mostrando a riqueza e a dimensão de uma festividade tão importante
para a comunidade. Sabemos que a democratização da cultura é um meio através
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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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do qual podemos integrar as pessoas em torno de atividade educativas e formativas.


Nosso estudo também é relevante para as ciências sociais, no caso a antropologia,
pois acreditamos que ao compreender uma manifestação da cultura popular tão
importante para as comunidades rurais, podemos contribuir com os projetos de
resgate cultural. Esse estudo servirá para o reconhecimento da religiosidade da
comunidade local e valorização da cultura como caminho para enfrentar os desafios
da modernidade. Em relação aos pontos de vista metodológicos da pesquisa, a
estratégia utilizada será de cunho de base qualitativa, já que esse tipo de abordagem
valoriza o discurso e as especificidades das experiências vividas, em torno do
processo identitário das Folias. Para isso, serão utilizadas entrevistas, que buscam
abordar respostas, pensamentos e anseios dos indivíduos. Para que possamos
investigar esse assunto, utilizaremos as contribuições da História Oral como
metodologia de pesquisa, pois consideramos que a abordagem em torno da
oralidade é fundamental para a compreensão das experiências sociais vividas pelos
Foliões. A utilização das fontes orais será a base de nosso estudo, uma vez que as
fontes escritas são quase inexistentes. Como vemos, temos o intuito de valorizar os
saberes histórico culturais e colaborar para o resgate cultural da folia já, que essas
experiências foram silenciadas durante muito tempo. Acreditamos que esta
pesquisa contribuirá com os estudos das festas religiosas que marcam a identidade
e memória coletiva. Neste sentido, buscaremos preservar o patrimônio cultural
religioso de pessoas simples que contribuirão efetivamente para o processo
histórico cultural das comunidades rurais.
438
Formação de professores e o fortalecimento da identidade
campesina - Wellison da Silva Rocha (UFT)

Na presente comunicação discutiremos sobre a formação de professores dentro do


Curso de Licenciatura em Educação do Campo. Para tanto, trabalharemos com o
contexto da criação e a implantação desse curso na Universidade Federal do
Tocantins no município de Arraias. A metodologia para essa pesquisa será através
pesquisa bibliográfica e a História Oral. A pesquisa será realizada com os alunos
da primeira turma do curso de 2014, os quais se encontram hoje no 8º período. É
sabido que para ameniza a grande deficiência na formação dos docentes, o Governo
Federal elaborou programas vinculados à formação de professores, onde propõe
um desenvolvimento para que o docente que atua no campo tenha mais capacidades
formativas. Nesse sentido, trataremos sobre os benefícios que o curso trouxe para
as pessoas que já tinham uma atividade direta com a docência no campo, pois de
acordo com os dados recolhidos durante a pesquisa podemos perceber a grande
deficiência na formação dos professores que estão dentro das salas de aula.
Veremos, também, o quanto a formação de professores para o campo aborda as
questões características da identidade do campo. Sendo assim, essa pesquisa tem o
objetivo de dar voz aos alunos do curso, onde os mesmos podem falar sobre suas
experiências, vivências e projetos futuros.

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Fragmentos históricos da resistência ameríndia no Posto Indígena Bananal –


São Paulo (1923-1967) - Vladimir Bertapeli (UNESP)

Desde o século XIX, os grupos Tupi que habitavam a costa litorânea de São Paulo
foram considerados extintos por pesquisadores e autoridades políticas. Mas, no
limiar do século XXI, eis que surgem famílias indígenas que se autodenominam,
como também são assim identificadas, como Tupi ou Tupi Guarani. A presente
comunicação versa sobre as possibilidades de uma etnografia histórica acerca do
processo de identidade destes Tupi que vivem na costa meridional atlântica do
continente. Para isso, parte-se de uma articulação entre a memória oral destes
indígenas, bem como os documentos escritos que podem ser encontrados nos
acervos do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), na Fundação Nacional do Índio
(FUNAI), Arquivo Público do Estado de São Paulo e nos arquivos municipais e
cartórios particulares das cidades litorâneas paulistas. Deste modo, partindo de uma
crítica à etnonímia compósita Tupi, Guarani e Tupi Guarani, trata de apontar os
caminhos para uma reconstituição genealógica das relações entre parentelas e
grupos locais Tupi, Guarani e Tupi Guarani em suas múltiplas articulações
identitárias nuançadas no tempo e no espaço. Para isso, a reconstituição remonta
ao final do século XIX, referenciada ao alcance da memória oral Tupi e Tupi
Guarani, por um lado e, por outro, aos primeiros registros destes etnônimos nas
fontes documentais disponíveis, e abrange o processo de retomada territorial que
culmina na primeira década do século XXI. Tem como marcador temporal a
memória oral dos Tupi e Tupi Guarani quanto ao processo de retomada e o
439
momento em que surgem os primeiros registros documentais relacionados ao uso
dos mencionados etnônimos.

Movimentos, Redes De Relações E Práticas Culturais Chané-


Guaná/Kinikikau Em Fronteiras (1767 – 1864): Uma Primeira
Abordagem - João Filipe Domingues Brasil (UNIVERSO)

A etnia indígena Kinikinau, que após ter sido declarada extinta habita hoje a Aldeia
São João, no Mato Grosso do Sul, tem uma etno-história que remonta à ocupação
de diversos territórios nas regiões denominadas como Chaco e Pantanal. Sua
origem identitária é associada aos Chané (Guaná), povo indígena que migrou em
tempos pré-coloniais para as regiões supracitadas e esteve intricada nas lógicas
coloniais inerentes a elas, como nas disputas fronteiriças entre Portugal e Espanha,
por exemplo. O presente artigo pretende, através de uma primeira abordagem,
compreender as redes de relações estabelecidas pelos Chané-Guaná/Kinikinau com
os diferentes sujeitos históricos em variados contextos sociais, que marcam os
trânsitos e deslocamentos da etnia do Chaco para o Pantanal entre os séculos XVIII
e XIX. Tal perspectiva de análise permite colocar em evidência o protagonismo
Kinikinau frente à história da região e compreender aspectos fundamentais acerca
do seu processo de etnificação. A pesquisa, portanto, está baseada em uma
incipiente análise acerca da ocupação da região pantaneira pelos Chané-
Guaná/Kinikinau, investigação acerca das redes de relações estabelecidas por eles
e do processo de etnificação Kinikinau, entre a expulsão dos Jesuítas da América
Espanhola (1767) e o início da Guerra do Paraguai (1864).
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Música caipira e identidade cultural nas perspectiva de Paul Ricoeur - Angela


Maria da Silva (UFT)

Na presente comunicação, temos o intuito de mostrar que a proposta metodológica


do ensino de história através da música sertaneja de raiz pode levar o aluno para
uma postura reflexiva frente ao conteúdo, pois essa didática pode relacionar sua
vivência com o mundo globalizado, por isso, é necessário que o sujeito se
reconheça pertencente a uma identidade ligada ao meio. Sendo assim, acreditamos
que as representações sociais dos traços refletidos pela realidade local através da
memória, possibilita pensar a lembrança do ausente na memória presente. Para
tanto, devemos ter em mente que a música com elementos descritos na composição
das letras e no estilo melódico trazem elementos do espaço geográfico e sócio
históricos, os quais a memória discente pode ser associada ao processo de ensino e
aprendizagem. A partir dessa perspectiva, acreditamos que a lembrança serve como
caminho para uma compreensão crítica das situações sociais, pela qual os seres
dentro do seu contexto e dos grupos vivenciaram. A História é uma das ciências
que também trabalha com conceitos sociais e temporais de espaços que influenciam
e foram influenciados pelas ações humanas. Indo ao encontro dessa afirmação, a
música sertaneja de raiz é um dentre os estilos musicais que retrata de forma
marcante o modo e a caracterização cultural do sujeito do campo e possibilita aos
que convivem com sujeitos que viveram ou vivem nesse contexto possam
reconhecer elementos de identidade e de memória. Associando os elementos da
440
identidade cultural proposto por Stuart Hall, podemos construir um diálogo entre a
música sertaneja de raiz e aos conteúdos da disciplina de História no Ensino Médio.
Em nossa metodologia é o professor que deve levar o aluno a relacionar a sua
memória aos dos próximos e aos dos outros, identificando que a relação entre a
tríplice memória está interligada. Por meio dessa proposta, podemos trabalhar
conceitos que servirão de base para a compreensão da memória social discutida por
Paul Ricoeur. Portanto, a proposta de trabalho nas aulas de história com os alunos
do ensino médio – na escola estadual Coronel José Francisco de Azevedo na cidade
de Conceição do Tocantins – demonstrará o quanto a memória social desses
sujeitos – que são ou estão ligados ao campo – os ligam a identidade do homem do
campo, uma vez que a música é peça chave para que os sujeitos ativem suas
lembranças.

O Índio Descoberto No Caminho Para Às Índias: leitura interdisciplinar da


Carta de Caminha - Renato Pereira Brandão (Universidade Federal Fluminense)

A Carta de Caminha é considerada por nossa historiografia como fidedigna fonte


de informação, não só da descoberta da Terra de Santa Cruz, como também da
relação estabelecida pelos primeiros portugueses aqui desembarcados com uma
etnia nativa. Em sintonia com a proposta do presente simpósio da Anpuh-RJ ao
privilegiar a parceira da História com outras esferas de saber, temos a proposta de
analisar pela ótica interdisciplinar as informações presentes na Carta de Pero Vaz
de Caminha, referentes aos primeiros nativos contatados pelos viajantes
portugueses. Nesse trabalho analítico procuramos nos aproximar do enfoque
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proposto pelo antropólogo João Pacheco de Oliveira Filho, sob a denominação


“Sociologia dos Viajantes”. Assim, relacionamos as narrativas expressas nessa
fonte historiográfica primária com registros etnográficos e etnohistóricos referentes
aos nativos e à etnia diretamente contatada. Desse modo, procuramos descortinar
as pertinências e as incongruências presentes entre a narrativa expressa nessa
conhecida fonte documental primária e o conhecimento antropológico a respeito
dos indígenas envolvidos nesse que teria sido o primeiro contato de uma etnia
nativa com o “branco” europeu.

O negro na literatura modernista brasileira - George Leonardo Seabra


Coelho (Universidade federal do Tocantins)

Nos últimos anos a relação entre literatura e política vem ganhando destaque nas
pesquisas de cunho histórico. Nesse texto pretenderemos realizar um esboço a
partir da análise do poema Martim Cererê escrito pelo poeta paulista Cassiano
Ricardo. Essa análise crítica torna-se importante para demonstrar como o escritor
insere o negro em seu texto com o intuito de estabelecer a formação do brasileiro
a partir da união entre três raças. Uma segunda importância desse estudo de cunho
comparativo é a análise das três primeiras versões dessa obra. Por último, esse
estudo pode levantar questões no campo do Ensino de Literatura e na formação de
professores para comunidades quilombolas, não no sentido de que esse poema seja
uma obra de exaltação do negro, mas como esse sujeito coletivo foi apropriado em
uma produção literária modernista. Por mais que o poeta fundamente a “fusão” das
441
raças e a criação de algo novo nas três versões analisadas, somente a ação do branco
– trazer a “noite africana” para o “país das palmeiras” – insere o país das palmeiras
no tempo histórico. O poema deixa entrever que, se não fosse a chegada do branco,
o “país das palmeiras” continuaria em um “tempo mítico” e permaneceria na
barbárie, assim como não se daria o encontro racial que formaria o tipo brasileiro.
Ao abordar a “fusão racial” no poema, não podemos apontá-la como uma visão
menos (ou mais) racista do que as teorias do branqueamento, isso porque – reitero
− Cassiano Ricardo está em diálogo com seu tempo. O que permeia a miscigenação
racial proposta pelo poeta é a desqualificação das outras raças e a valorização do
branco como o grande responsável pela Nação, pois a posição do branco é
fundamental em todos os momentos de conflitos na trama elaborada por Cassiano
Ricardo. Como podemos perceber, Cassiano Ricardo apropria-se do negro na
formação da sociedade brasileira enquadrando-o como elemento subalterno e de
pouca contribuição, a não ser pelo trabalho servil. Essa constatação é de suma
importância para que o professor de Literatura possa demonstrar aos seus alunos
como em obras literárias modernistas o negro foi construído imaginariamente e,
não como elemento real. Sendo assim, cabe uma análise crítica para problematizar
as distorções produzidas por autores que pretendiam construir representação
identitárias do brasileiro a partir do viés racista dos primeiros anos do século XX.

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Os saberes e práticas agrícolas nas memórias da comunidade Quilombola de


São Roque - Praia Grande/SC - Talita Daniel Salvaro (IFC - Instituto Federal
catarinense - campus Sta Rosa do Sul)

Este trabalho é resultado de um projeto de extensão intitulado “Os saberes e


práticas agrícolas de ontem e de hoje na comunidade Quilombola de São
Roque/Praia Grande - SC”, desenvolvido com bolsistas do curso Técnico em
Agropecuária Integrado ao Ensino Médio, do Instituto Federal Catarinense,
campus Santa Rosa do Sul/SC. O Quilombo São Roque está localizado nos atuais
municípios de Praia Grande (litoral sul do estado de Santa Catarina) e Mampituba
(litoral norte do Rio Grande do Sul), sendo reconhecido como tradicional
quilombola em 2004 pela Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da
Cultura e, encontra-se incluso dentro do Parque Nacional Aparados da Serra, o que
limita a agricultura no local, umas das principais atividades quilombola. O tema de
trabalho envolveu a memória dos moradores mais velhos, onde foram obtidas
entrevistas realizadas pela Metodologia da História Oral, visando relatos e aspectos
ligados ao conhecimento sobre a agricultura desenvolvida na localidade no passado
e presente, no intuito de identificar em ambas temporalidades: as práticas agrícolas
utilizadas, alimentos produzidos, a comercialização e destino dos produtos, a
preparação da terra, coleta de alimentos, instrumentos e demais fatores que
englobam essa atividade. O local que abriga o quilombo foi escolhido para a
formação de um refúgio dos escravos que trabalhavam nos campos de Cima da
Serra, por ser um espaço de água abundante, muita mata e terra agricultável, além
442
de ser um local de difícil acesso. A agricultura sempre foi a principal fonte de
subsistência e renda para a população, entretanto, atualmente as cerca de 26
famílias, vivem de pequenas plantações de subsistência. Por meio dos relatos
obtidos, foi possível perceber juntamente com as observações de campo, que, no
vai e vem das memórias, a forma de trabalhar com a agricultura está muito presente
no dia a dia da comunidade, assim como a importante ligação com a terra
tradicional. Na retomada de práticas ancestrais por meio da memória, registrando
a oralidade da comunidade, foi perceptível a identidade e o pertencer étnico que
cada membro tem em relação aos seus familiares e ao espaço de vivência. O
resultado do trabalho é a produção de um livreto que registra as memórias
quilombolas visando a divulgação da comunidade, que ainda é desconhecida até
mesmo pelo entorno.

Por uma história das ruínas: levantamento de fontes sobre a região do Sahy
nos periódicos da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional – (Mangartiba/
XIX-XXI) - Daniela Paiva Yabeta de Moraes (Universidade Federal de
Rondônia)

Durante mais de uma década, observei Mangaratiba a partir do local no qual


pesquisava: a Ilha da Marambaia. Por mais que a história da família Breves e do
tráfico ilegal de africanos escravizados ultrapassasse essa fronteira, eu decidi não
desbravar o continente. Meu interesse eram os quilombolas. Até que, em 2015,
durante minhas atividades de campo no projeto “Passados Presentes”, eu tive a
oportunidade de conhecer a praia do Sahy, localizada exatamente ao lado oposto
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da praia da Armação na Ilha da Marambaia. No Sahy existe um complexo de ruínas


com cerca de 40mil metros quadrados à beira mar. Pesquisas realizadas pela
arqueóloga e historiadora Camilla Agostini, apontaram indícios de um cais, um
cemitério e provavelmente um pequeno canal em seu interior. Como bem destacam
Hebe Mattos e Martha Abreu: “Para olhos leigos, as ruínas passam a impressão de
uma pequena vila fortificada, bem perto do mar”. No mesmo ano, tive a
oportunidade de iniciar uma nova pesquisa de pós-doutoramento financiada pela
FAPERJ que tinha o objetivo de realizar entrevistas com lideranças das
comunidades remanescentes de quilombo do sul fluminense e incorporá-las ao
acervo do LABHOI. Eram as comunidades de Santa Rita do Bracuí (Angra dos
Reis); Campinho da Independência (Paraty); Cabral (Paraty); Alto da Serra (Rio
Claro) e finalmente, Ilha da Marambaia e Fazenda Santa Isabel e Santa Justina, em
Mangaratiba. Porém, ao compartilhar o movimento pela “busca” de uma “história
do Sahy”, decidi incluir na pesquisa a elaboração de um banco de dados com todas
notícias sobre a localidade encontradas nos periódicos da Hemeroteca Digital da
Biblioteca Nacional. Para essa comunicação, apresento parte da realização desse
trabalho, que incluiu a consulta à mais de cento e vinte periódicos. Através dessa
pesquisa, encontramos discussões que vão do desembarque de africanos
escravizados no século XIX, até a criação de um Parque Arqueológico no século
XXI.

Possíveis vestígios da Aldeia de Araribóia, em São Cristóvão - Marcelo


Sant´Ana Lemos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
443
O trabalho mostra o estado atual da pesquisa que pretende relacionar uma urna
funerária encontrada na antiga praia de São Cristóvão, em 1890, com a aldeia de
Araribóia, ali instalada no final da década de 60, do século XVI. As fontes apontam
a breve existência dessa aldeia, construída com intuito de defender a cidade do Rio
de Janeiro das incursões de povos indígenas do interior, em terras cedidas pelos
jesuítas. Dali a aldeia mudou para Niterói, no sítio localizado em São Lourenço,
onde permaneceu até ser extinta na segunda metade do século XVI.

Rede Caiçara de Cultura - Bruno Tavares Magalhães Macedo (PPGH/UFF)

O presente trabalho de História Oral destaca a memória da luta travada pelas


comunidades caiçaras nos territórios de mata atlântica compreendidas entre os
estados do Rio de Janeiro e o Paraná. A organização destas comunidades está
inserida na resistência política aos efeitos do plano estratégico do II PND para o
litoral sudeste, da Baia da Ilha Grande - RJ ao Vale do Ribeira- SP, que previa a
construção de três centrais nucleares. Uma no litoral entre Angra do Reis e Paraty,
em Itaorna, e duas na região da Jureia, litoral sul de São Paulo. Junto com elas
vinha o projeto da expansão da BR 101 Sul, entre o Rio e a Baia de Paranaguá no
Paraná. A estratégia era unir polos de tecnologia de ponta a um turismo de elite,
em torno de cidades históricas decadentes do tempo da colônia. Paraty, Iguape,
Cananeia, Guaraqueçaba, todas fundadas na tradição católica escravista da
civilização portuguesa no Brasil. O processo de formação da Rede Caiçara de
Cultura é fruto do encontro em parceria de um fluxo de agentes sociais ligados ao
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mundo científico, das artes e à organização poplítica da localidades envolvidas na


transformação acelerada de um território culturalmente constituído. Trabalho os
vestígios de experiências heterogêneas de organização social, resistência popular,
lutas políticas, manifestações pela cidadania em registros sonoros de canções sobre
caiçaras. Proponho-me a descortinar limites na articulação entre projetos e
contextos, através do desafio de analisar documentos produzidos por diversos
agentes e instituições sociais envolvidas com práticas da experiência cotidiana
representada através da música, dança e poesia sobre a Paraty contemporânea. O
que procuro desenvolver em minha pesquisa é uma análise da formação da
identidade caiçara em Paraty. Esta identidade se constrói como resistência cultural
ao movimento de desapropriação e transformação do espaço territorial comum.
Minha pesquisa histórica traz novos subsídios para a análise da circulação de
agentes do conhecimento (saberes) envolvidos no processo, através de documentos
audiovisuais inéditos produzidos em minha parceria de dez anos com o Instituto
Silo Cultural José Kleber.

Reflexões sobre o estágio supervisionado no curso de licenciatura em educação


do campo: entre a teoria e a prática - Lilia Reijane Ribeiro dos Santos
Menezes (Universidade Federal do Tocantins)

O presente estudo traz reflexões sobre a experiência de estágio curricular


supervisionado do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade
Federal do Tocantins Campus de Arraias. Nossas reflexões pretendem oferecer
444
subsídios à práxis educacional que possa alicerçar ações pedagógicas junto a
comunidade acadêmica. As incursões teóricas realizadas pelo tema e as
experiências em campo possibilitaram entender como se dá o estágio
supervisionado, em seu fazer/acontecer, identificando os modos como ele se
processa. Para a realização deste estudo, optou-se pela pesquisa bibliográfica e de
campo e partimos de estudos de Selma Garrido Pimenta (2006) e Maurice Tardiff
(2002) dentre os principais autores. Este estudo faz-se importante considerando que
a educação do campo discute políticas de formação de cidadãos, onde os sujeitos
sociais serão capazes de aproximar a realidade local do próprio sujeito,
proporcionando uma educação de qualidade e capaz de atender as necessidades de
cada indivíduo do campo considerando suas especificidades. Para tanto, a educação
do campo transforma o sujeito a partir do momento em que o mesmo começa a
construir novas representações sociais dentro de uma proposta contextualizada com
à realidade do campo, a qual busca uma aproximação entre os conhecimentos
tradicionais e conhecimentos acadêmicos.

Roça de Toco Kalunga: resistência, saberes e tradição quilombola - Domingas


Nathália Moreira dos Santos Rosa (UFT)

A comunidade quilombola Engenho II, localizada no município de Cavalcante –


GO, integra o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, um dos maiores
quilombos em extensão do país. Seu território é composto por diferentes
fitofisionomias do Cerrado, elemento fundamental para a sobrevivência das
populações dessa região. O modo de produção agrícola do povo kalunga revela
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técnicas e saberes que fazem parte da trajetória ou história de vida das gerações
antepassadas, mas que, numa perspectiva sincrônica, ainda permanecem vivos por
meio da oralidade e do próprio registro escrito das novas gerações que passaram a
ter acesso à escola/educação formal. Nesse sentido, esses sujeitos têm buscado
muito mais do que seu sustento material, oriundo do trabalho na terra, mas em
processo de luta pela garantia de seus direitos e melhores condições de vida em seu
território. Cumpre ressaltar que o reconhecimento e a valorização dos saberes dos
povos tradicionais evidenciam a necessidade de novas metodologias, estudos e
pesquisas que estejam, de alguma forma, associados às atividades
transdisciplinares e mais participativas, assim como protagonizadas pelos próprios
sujeitos históricos desse processo: indígenas, camponeses e, para fins deste
trabalho, os quilombolas. Diante disso, este estudo busca investigar se a “roça de
toco”, uma das práticas de produção agrícola empregada pela comunidade
quilombola Engenho II, permanece presente no cotidiano das gerações atuais (mais
jovens) e qual a visão desses sujeitos a respeito dos saberes que envolvem tal
técnica. A metodologia utilizada na pesquisa é de base qualitativa, apoiada,
sobretudo, na etnografia (observação, registro, geração e análise dos dados a partir
da vivência em campo). Como resultado, temos o registro das práticas vivenciadas
pelos jovens kalunga, assim como o relato de experiência da própria pesquisadora,
graduanda do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade
Federal do Tocantins/Campus Arraias, quilombola e membro da comunidade em
pauta. O trabalho fundamenta-se nos pressupostos da Educação do Campo, vista
aqui como área do saber que tem possibilitado o reconhecimento e a ampliação do
445
olhar para as práticas sociais dos povos do campo, como sujeitos responsáveis pela
sua própria trajetória, mesmo diante do permanente cenário de esquecimento que
as comunidades tradicionais vivenciam no âmbito do contexto político-econômico
brasileiro.

Saberes do artesanato do campo: como cultura material, oralidade e história


de si - Edivaldo Barbosa de Almeida Filho (UFT)

Nosso campo de investigação objetiva-se no estudo de saberes do homem do


campo na sociedade contemporânea. Para tanto, apresentaremos como o artesanato
é compreendido como parte da cultura material dos camponeses do interior do
estado do Tocantins, onde esses sujeitos apropriam-se de matérias primas extraídas
da natureza encontrada nessas localidades. Além de ser um importante ponto de
referência da cultura local, o artesanato também tem a possibilidade de fortalecer
o comércio e subsidiar a renda familiar. Nos últimos anos, a atividade do artesanato
vem paulatinamente se degradando por falta de mão de obra devido ao desinteresse
dos mais jovens pelo artesanato tradicional. Como fonte de pesquisa, usaremos
como referência metodológica a história Oral, pois ela é um importante caminho
para dar voz as pessoas consideradas “sem história”; E para que possamos ouvir as
experiências desses sujeitos, optamos pelo caminho da trajetória de vida de um
desses sujeitos. Para os limites desse trabalho, entrevistamos o senhor Miguel
Chaves Almeida, o qual é um importante artesão que reside no povoado Altamira
no município de Taguatinga região sudeste do Estado do Tocantins. Esse artesão
utiliza “braço” do buriti – árvore típica do cerrado – , na qual o estipe da palha
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quando seco se usa no “centro” do material para fabricação de objetos do meio


rural como carro de boi, pilão, engenho de pau etc. Lembrando que essa pesquisa
ainda está em fase inicial, acreditamos que nossa abordagem da trajetória de vida
de artesão pertencente a comunidade rural pode ser de grande valia para o registro
das “histórias de si”, da cultura material do homem do campo e para a preservação
do artesanato.

Saberes e práticas docentes: um estudo sobre a formação continuada em


escolas quilombolas do municipio de Arraias-TO - Silvaneide Gonçalves
Ferreira (Universidade Federal do Tocantins)

Partindo de reflexões acerca dos saberes e práticas docentes, a presente


comunicação tem por objetivo apresentar um estudo sobre a relação entre a
formação continuada e a Educação Escolar Quilombola. Ensejamos também
compreender como os profissionais da educação tratam a Educação Escolar
Quilombola nas formações no município de Arraias Tocantins. Nessa perspectiva
fica evidenciada que apesar do avanço na Educação Escolar Quilombola, e da busca
em trabalhar saberes culturais nas práticas educativas oriundos do povo quilombola
pelos professores, ainda falta apoio da Secretaria Municipal de Educação, não
apenas no que tange a formação continuada mas sim de maneira geral, para que os
professores dessas escolas consigam realizar um trabalho conforme o que está
previsto na legislação educacional. Portanto a Educação Quilombola como uma
política educacional, oriunda das lutas do movimento negro carrega em si não
446
apenas um contexto de prática educativa, mas um elemento que representa os
saberes do espaço físico e social chamado Quilombo.

Taki Ongoy e Santidade de Jaguaripe: uma análise comparada das idolatrias


e resistências indígenas no Peru e no Brasil coloniais - Natalia de Souza
Miranda (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A presente pesquisa, ainda em desenvolvimento, tem como objetivo analisar o


impacto das chamadas idolatrias indígenas na organização política, econômica e
social do sistema colonial luso-espanhol, levando em consideração as possíveis
relações entre a pregação religiosa e as sublevações anticoloniais armadas.
Pretende-se aqui fazer um estudo comparativo entre o movimento messiânico
conhecido como Taki Ongoy ou Taqui Oncoy (1564-1572), cujo epicentro foram
as províncias de Lucanas e Parinacochas, no Peru, e a Santidade de Jaguaripe, que
atuou no sertão da Bahia entre 1585 e 1586. O enfoque principal é a forma como
essas idolatrias abalaram as estruturas coloniais, bem como a possibilidade de
relação entre a pregação dos profetas andinos e Tupinambá e os movimentos
armados anticoloniais, especificamente a sublevação inca de Vilcabamba e as
revoltas Tupinambá no litoral da América Portuguesa. Contrariando as
interpretações que consideram o processo de colonização da América como
imposição de uma cultura sobre a outra, ou ainda, como choque entre dois blocos
culturais rígidos, busca-se refletir sobre as estratégias de dominação, adaptação e
resistência dos sujeitos envolvidos frente à realidade imposta pelo contato entre
culturas distintas. Para tal, os conceitos de “tradução” e “idolatrias insurgentes”,
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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
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ISBN: 978-85-65957-09-0
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desenvolvidos respectivamente pela antropóloga Cristina Pompa e pelo historiador


Ronaldo Vainfas, são fundamentais. A comparação feita entre os dois movimentos
indígenas é norteada pelas noções de “histórias conectadas” e de “histórias
emaranhadas”, de Serge Gruzinski e Jorge Cañizares-Esguerra, visto que considera
a inserção desses eventos no quadro de expansão ibérica e de colonização da
América, destacando os processos de “tradução” e redefinição dos espaços “locais”
no seio de uma história “global”. Desse modo, busca-se compreender as
peculiaridades de cada movimento, mas sobretudo analisá-los sob a ótica das
transformações empreendidas pelo período de expansão ibérica.

Vozes Silenciadas: representação de negros/as e índios/as nas fontes do


Arquivo Histórico Ultramarino - Alexia Shellard (UFRJ)

No presente trabalho, serão examinados os documentos disponibilizados pelo


Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal referentes a populações negras e índias
no Mato Grosso do século XVIII. Busca-se discutir as possibilidades e
impossibilidades do estudo de grupos humanos historicamente explorados, através
de fontes, cujos produtores – individuais e coletivos – contribuíram para construir,
disseminar e perpetuar hegemonias de poder que hierarquizaram relações de acordo
com origem e fenótipo de populações. Em que pesem as complexidades inerentes
a tão abrangentes categorias, pode-se afirmar categoricamente que havia, na
dinâmica social da América Portuguesa, onipresente discriminação negativa em
relação a negros/as e índios/as. As fontes disponibilizadas pela instituição refletem
447
essa desigualdade, que ainda hoje, rende agudas injustiças no Brasil.

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448
ST 45. Livros, bibliotecas, cartas e
outros escritos: apropriações e
representações

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A chegada das luzes tipográficas: dedicatória impressas nas primeiras


tipografias oficiais do Brasil - Ana Carolina Galante Delmas (UERJ)

O ambiente que recebeu a Corte Portuguesa em 1808 era uma sociedade em que
predominavam os laços de cordialidade e muitos aspectos funcionavam mediante
uma política de troca de favores, da qual os elogios como forma de atrair as boas
graças foram essência. A América Portuguesa apresentava-se geográfica, política
e economicamente fragmentada e, com a chegada de D. João, aconteceram
tentativas de unificação para a construção de um império luso-brasileiro. O Rio de
Janeiro que recebeu a Família Real, por sua vez, estava longe de ser uma notável
sede de monarquia, apresentando-se como o de uma simples colônia, carente de
uma ampla reorganização administrativa. Como foi dito por Oliveira Lima, o Rio
de Janeiro era “capital mais no nome do que de fato". A presença da Corte
contribuía, assim, decisivamente para alterar o estilo de vida no Brasil, uma vez
que trazia grande parte da administração portuguesa, personalidades e funcionários
que continuaram a desembarcar nos anos seguintes, contabilizando milhares de
pessoas chegadas ao Brasil ao longo desse período. A transferência da burocracia
real precisou contar com medidas diversas, como a nomeação de ministérios e a
instalação de secretarias e repartições vindas de Lisboa. A recriação do aparelho
central do Estado português em terras americanas despertou a antiga colônia para
uma modernização segundo padrões europeus. Inaugurava-se, em 1808, um novo
cenário no Rio de Janeiro, no qual não estava ausente a necessidade básica de
criação de uma sociedade culta e ilustrada ao seu redor. A abertura de tipografias,
449
antes proibidas, foi marco representativo de mudanças, ao mesmo tempo em que
abriu espaço para a perpetuação de hábitos e costumes europeus. Ávida pelo que a
cultura europeia poderia oferecer, a nova corte se fez campo fértil para o caráter
espetacular das sociedades do Antigo Regime, cultural e politicamente. Sendo
assim, com a permissão de funcionamento de duas casas impressoras, uma oficial
e uma particular, houve um despertar da vida cultural da colônia. Além dos
inevitáveis documentos oficiais, cuidaram da publicação de jornais, folhetos
políticos e de muitas obras de cunho científico e literário. Com isso, fervilhou
também a prática das dedicatórias impressas, representativas das relações de
mecenato, símbolos das relações políticas apoiadas na hierarquia vigente, e das
trocas efetuadas na busca por poder e influência. É proposta do presente trabalho
analisá-las nos primeiros anos da presença da Família Real no Brasil, trabalhando
assim questões da política no Brasil oitocentista, além de contribuir para os estudos
de história do livro e da imprensa.

A coleção Biblioteca Básica Brasileira da editora da Universidade de Brasília


e o seu contexto na década de 1960 - Ana Regina Luz Lacerda (UNB)

Este trabalho visa apresentar a coleção editorial “Biblioteca Básica Brasileira”,


uma coleção de livros sobre o Brasil e escritos por brasileiros, publicada pela
editora da Universidade de Brasília, coleção esta criada para o estudo e diagnóstico
da realidade brasileira. Faz um breve histórico da criação da Editora da
Universidade de Brasília (UnB); e fala do idealizador da coleção BBB, e também
um dos pioneiros e criador da própria UnB, o então reitor Darcy Ribeiro. São
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apresentados os 10 títulos da coleção que foram publicados em 1963 e 1964.


Através desta pesquisa pretende-se buscar conhecer as origens destas preocupações
e das motivações para a geração de diversas coleções Brasilianas existentes no
mercado editorial brasileiro, aborda os aspectos que provocaram tais debates tais
como: econômicos; culturais; sociais; e outros. Fala sobre quais são as definições
para o termo “coleção brasiliana”. Esta pesquisa, também, elenca e apresenta
algumas considerações a respeito das principais coleções Brasilianas organizadas
e publicadas durante o século XX, notadamente nas décadas de 1930, 1940 e 1950,
dando especial atenção àquela editada na década de 1960. No entanto, identificar
as fontes para estabelecer as origens destas publicações, da coleção, da Biblioteca
Básica Brasileira, configura-se como um problema, porque nos arquivos
administrativos constam poucos documentos relativos aos primeiros anos da
Universidade, a partir de sua fundação em 1962. Nessas circunstâncias, a pesquisa
teve como base a leitura das fontes bibliográficas disponíveis, de manuais de
serviço, regulamentos e regimentos e de documentos recuperados nos arquivos da
BCE (biblioteca central), do ACE (arquivo central) e do arquivo da editora, além
de algumas informações orais, que se consagraram no quotidiano da Universidade.

A Gazeta do Rio Janeiro e a imprensa periódica no início do século


XIX - Vanessa Batista da Silva (UNIRIO)

Sabe-se que antes do surgimento da imprensa oficial no Brasil, Antônio Isidoro da


Fonseca chegou a instalar uma oficina tipográfica, em 1747 no Rio de Janeiro. No
450
entanto, por ordem régia de 10 de maio de 1747, foi vedado de prosseguir. Durante
o século XVIII aconteceram tentativas de estabelecer casas tipográficas, mas todas
fracassaram. Havia troca de informações, mas não imprensa. Houve um demorado
período de aceitação das ideias que circulavam na corte após o fim da censura da
Real Mesa Censória. Com a chegada da família Real em 1808, destacam-se a
abertura dos portos e a instalação da Impressão Régia. Oportunidade de expansão
econômica, política e cultural. Tipos distintos de periódicos do início do século
XIX: as gazetas e os jornais divulgavam informações que circulavam nos jornais
estrangeiros. As gazetas representavam caráter oficial limitando seu conteúdo às
notícias de interesse do Estado, os jornais publicavam o que era de interesse
público. Nesse contexto chegamos aos dois jornais pioneiros do século XIX no
Brasil: A Gazeta do Rio de Janeiro e o Correio Braziliense; um de modelos áulico
(com o apoio a família real portuguesa) e outro combativo, respectivamente. Esse
trabalho aborda como A Gazeta do Rio de Janeiro (publicado pela primeira vez em
10 de setembro de 1808) formou redes de informações importantes para um público
específico: a Corte. Distribuído duas vezes por semana, com um total de 1.413
edições durante os anos de 1808 e 1821 e tinha características semelhantes à Gazeta
de Lisboa, exceto o fato de seu redator realçar sua tendência opinativa. Estruturada
em duas partes: seção noticiosa e de. Colocando-se ao lado dos que detinham o
poder, publicava fatos e informações do interesse da Coroa. Foi um importante
veículo para estabelecimento da palavra impressa. O Correio Braziliense começou
a circular em 1 junho de 1808, publicado por Hipólito José da Costa e editado de
Londres. Exercia duras críticas ao regime político da época, considerado o primeiro
jornal brasileiro. As notícias impressas no início do século XIX tinham como
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exemplo de fontes jornais de outros países e cartas escritas a bordo dos navios.
Essas informações formavam um circuito da comunicação. Publicavam fatos,
notícias de interesse a Coroa Portuguesa e assim formaram um sistema de
comunicação na cidade do Rio de Janeiro. O fim do monopólio da Impressão Régia
no Rio de Janeiro, em 1821, abriu espaço para um maior número de editores e
ofertas de impressão. A história dos livros e da leitura no Brasil, após a vinda da
família real, proporcionou de forma mais intensa a circulação de pensamentos e
ideias no século XIX.

A presença de uma ausência: a escrita epistolar e sua historiografia - Luiz


Felipe Vieira Ferrão (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Vasco Luis da Gama, Marques de Nisa e Conde da Vidigueira, nunca escreveu um


livro de sua autoria. Ajudou a publicar muitas obras, patrocinou trabalhos que
estavam relacionados diretamente a sua história familiar. Fez publicar um numero
considerável de peças de "propaganda", mas nunca ofereceu a sua rede de editores
e livreiros algo que pudesse ser publicado. Mesmo nunca tendo publicado uma
linha se quer, Vasco Luis da Gama se notabilizou por ser um prócere escritor de
cartas. De um conjunto epistolar vastíssimo o Marques vai marcar o seu tempo com
esta prática revelando uma necessidade de se comunicar muito comum para sua
época. Essa prática tem o nome de epistolografia e estava restrita a um corpo de
pessoas que conheciam bem as regras e as cerimonias que cercavam o simples ato
de escrever. Segundo Antonio Castillo Gomez "Uns e outros aspectos convertiam
451
a carta em um artefato capaz de representar as regras de um pacto social e que por
tanto podia projetar uma determinada imagem de quem havia escrito e de sua
posição na sociedade" Também podiam transcrever laços de confiança entre o
remetente e destinatário mesmo sem nunca os dois se encontrarem. Assim foi a
relação entre Vidigueira e Nogueira que mesmo estando um em Paris/Lisboa e o
outro em Roma nunca lhes faltou a confiança mutua. A historiografia sobre esse
gênero em Português é diminuta sendo a análise destes documentos muito comum
em língua espanhola. Esse comunicado tem por objetivo apresentar a historiografia
deste gênero centrando a análise nas principais correntes historiográficas que tem
como objeto a arte de escrever uma carta nos séculos XVI e XVII.

As cartas da professora de primeiras letras: os intercâmbios intelectuais e


afetivos nas trajetórias de José Américo de Almeida e Júlia Verônica dos
Santos Leal - Luiz Mário Dantas Burity (PPGH/UNIRIO)

Os intelectuais costumam guardar, em suas autobiografias, um espaço destacado


para os professores e, no caso específico das primeiras letras, as professoras, que
marcaram as suas trajetórias. O ritual diz muito dos significados que atravessam a
imagem pública de um homem de letras e dos caminhos que ele trilhou na longa
tradição do conhecimento. Em seu livro de memórias Antes que me esqueça
(1976), José Américo de Almeida dedicou um capítulo para aqueles dias em que
aprendeu a leitura e a escrita, mas também os números com suas operações básicas,
e descobriu a sua miopia. A professora era uma prima de sua mãe, D. Júlia Verônica
dos Santos Leal, que, àquela altura, começava a sua carreira como docente.
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Algumas décadas mais tarde, o jovem estudante se tornou um literato e político


reconhecido em âmbito nacional; ela se inscreveria como professora do estado,
função da qual reclamaria o parco ordenado. A partir de então, as missivas eram
remetidas com constância cada vez maior entre as residências. O objetivo desse
texto é discutir como a memória das aulas de primeiras letras foi agenciada por
ambos ao longo das correspondências e de seus relatos autobiográficos. Isso
significa observar os diferentes espaços sociais atribuídos aos intelectuais
criadores, como os literatos, e às intelectuais mediadoras, no caso da professora de
primeiras letras, conforme definem Angela de Castro Gomes e Patrícia Hansen
(2016). Ainda nessa esteira, é preciso pensar como essas personagens se inscrevem
nesses gêneros textuais que privilegiam a escrita de si, como as cartas e as
autobiografias, de acordo com Angela de Castro Gomes (2004), o que equivale a
observar não só o que está escrito, mas como foi escrito, com que caligrafia, tinta,
papel, remetido em que envelope, como dizia Brigitte Diaz (2002). Consideradas
essas circunstâncias, foi possível observar um intercâmbio constante de memórias
entre o político e a professora, o qual perdurou, em dezenas de cartas trocadas, por
mais de duas décadas. Em ambos os casos, as vantagens eram flagrantes. Enquanto
o sucesso do outrora estudante na vida pública legitimava a trajetória profissional
da professora, além do recebimento ocasional de alguma quantia que a ajudasse na
despesa, o contato com a professora de primeiras letras era um ponto afetivo
importante na trajetória do homem de letras, que, de alguma maneira, a situava
como evento fundador da sua ascensão na carreira intelectual e política.
452
As cartas jesuíticas do Oriente do século XVI - Célia Cristina da Silva
Tavares (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Os jesuítas que chegavam ao Oriente no século XVI eram estimulados a escrever


uma carta para os irmãos da Companhia de Jesus na Europa com as suas primeiras
impressões. As dificuldades da viagem pela rota do Cabo; o estranhamento de
cheiros, cores, sons de uma nova terra; os usos e costumes dos habitantes locais,
tudo isso era alvo dos olhares destes religiosos que nesta pesquisa são vistos como
"viajantes", ou seja, como testemunhas privilegiadas do encontro de culturas. A
presente comunicação tem como objetivo refletir sobre as representações que estes
missionários consolidaram sobre a visão da Europa em relação ao Oriente,
especificamente em relação a Goa portuguesa.

As coleções do Instituto: o Instituto Nacional do Livro e as produções


bibliográficas de divulgação cultural - Mariana Rodrigues Tavares (UFF)

Este trabalho procura apresentar a trajetória editorial do Instituto Nacional do


Livro, o INL, destacando um pouco de que maneira se estruturou no Brasil um
órgão dedicado a cuidar do livro, da leitura e das bibliotecas públicas do país. As
publicações do Instituto Nacional do Livro (1937-1990) mobilizaram as bibliotecas
públicas e escolares do Brasil ao longo de seus mais de cinquenta anos de
existência. Pelo menos é o que demonstram alguns excertos publicados em
periódicos jornalísticos e literários que circulavam, sobretudo, na capital federal
entre as décadas de 1940-1960. O Instituto Nacional do Livro procurava
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desempenhar com afinco algumas de suas funções, a saber: a de “Editar toda a sorte
de obras raras ou preciosas para a cultura nacional” e “promover medidas para
aumentar, melhorar e baratear a edição de livros”, dois lemas que movimentaram
a Instituição. No entanto o que se procura nesta apresentação é a análise da
circulação de algumas de suas coleções bibliográficas que se intitularam
“Biblioteca de divulgação cultural” e “Biblioteca popular brasileira”, destacando-
se de que maneira estruturaram publicações responsáveis por canonizar uma visão
acerca dos conceitos de “popular” e “cultural” no Brasil.

As leituras de frei Caneca - Pedro Henrique Duarte Figueira Carvalho (UFF)

Esta comunicação faz parte de um esforço maior para analisar o


"constitucionalismo histórico" de frei Joaquim do Amor Divino Caneca (1779-
1825). Em termos gerais, parte-se da hipótese de que o religioso não pode ser
qualificado como um moderno. Ainda que parcialmente, o escrito analisado neste
trabalho, a Dissertação sobre o que se deve entender por pátria do cidadão e deveres
deste para com a mesma pátria, não foge de tal caracterização pelo fato de Caneca
utilizar-se do humanismo cívico para embasar sua argumentação. Por outro lado,
quando Caneca faz menção ao direito de tiranicídio, é possível detectar também
outras influências, como a da segunda escolástica. Assim sendo, o objetivo deste
trabalho é delinear algumas das referências do pensamento político do religioso e
procurar avaliar em que medida ele pode ter acesso às obras que presumivelmente
utilizou. Para tal, recorre-se ao "Catálogo" da Biblioteca do Oratório de São Filipe
453
de Néri, elaborado em 1770, pois sabe-se que frei Caneca esteve ligado à
Congregação, que talvez dispusesse da melhor coleção de livros de Pernambuco na
época e constituía importante local de sociabilidade.

Conde de Azevedo e Camilo Castelo Branco: quando a epistolografia revela


afetos e formação de uma Biblioteca - Fabiano Cataldo de
Azevedo (UERJ), Stefanie Cavalcanti Freire (UNIRIO)

O trabalho tem objetivo de evidenciar a participação discreta e silenciosa de


Francisco Lopes de Azevedo Velho, o 1º Conde Azevedo, na literatura e história
portuguesa. Após algumas incursões na política, esse miguelista e católico
extremo, recolheu-se em sua casa em Póvoa do Varzim e deu continuidade a
formação da biblioteca iniciada por seu avó. Revelando uma argúcia típica de um
bibliófilo e um equilibrio diante de seus critérios de escolha na compra, incomum
a seus pares, tornou sua coleção de impressos e manuscritos tão famosa quanto sua
própria reputação de intelectual. Graças aos seus conhementos históricos e
literários alguns de seus coetanos, como Garrett, Herculano, Inocêncio e Camilo
Castelo Branco fizeram dele um estimado consultor. A comunicação terá como
foco principal as informações cotejadas num conjunto de 67 cartas de sua autoria
contidas no espólio de manuscritos e autógrafos do Real Gabinete Português de
Leitura. Essas missivas, trocadas com Camilo, durante dez anos revelam a prática
da bibliofilia portuguesa no século XIX. Ilustra igualmente alguns aspectos do
mercado e circulação de impressos antigos em Portugal. O suporte teórico para
compreender a antropologia do consumo e do modus faciendi do bibliofilo está
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alicerçado em textos de Walter Benjamim, sobretudo “Desempacontando a minha


biblioteca” e em Russel Belk (1988).

Diálogos Epistolares entre Maria Graham e D. Leopoldina: Sensibilidades,


Tramas e Intrigas na Corte de D. PedroI.1823-1824 - Denise Maria Couto
Gomes Porto (Universidade Salgado de Oliveira)

Neste artigo pretendemos investigar o diálogo interativo estabelecido entre a


ilustrada Europa e o Brasil Imperial no século XIX, analisando dialeticamente, a
fontes documentais: Correspondência entre Maria Graham e a Imperatriz Dona
Leopoldina (1997) e ainda, Diário de Uma Viagem ao Brasil (1990), no recorte
temporal compreendido entre os anos de 1823 e 1824. Nossa análise, revela-nos
tensões, conflitos e rivalidades na vida cotidiana da corte do Rio de Janeiro, a partir
da problematização do que teria determinado a estreita amizade entre Maria
Graham e a Imperatriz D. Leopoldina e por que a viajante inglesa fora tão
hostilizada pelos demais serviçais portugueses da corte, determinando sua curta
permanência no Paço de São Cristóvão, como governanta da princesa Maria da
Glória. Graças às fontes examinadas, nossa hipótese, é que entre Maria Graham e
a Imperatriz D. Leopoldina estabeleceram-se laços de amizade para além do
aspecto prático da educação da princesa D. Maria da Glória. E que estrangeiras às
realidades tropicais, essas duas europeias fizeram da troca epistolar, um campo de
observação sobre a diversidade cultural, política e mesmo paisagística em que se
viram inseridas. Entendemos que a relevância da presente análise, se insere na
454
perspectiva teórica da Nova História Cultural por sua pertinência aos diversos
estudos contemporâneos acerca da contribuição das mulheres viajantes, nos
processos de transferências de mentalidades e das práticas socioculturais, no Brasil
do Oitocentos.

Diálogos interdisciplinares sobre a arte epistolar na sociedade fluminense


oitocentista (1811-1821) - Simone Aparecida Fontes (UFRRJ)

Nas últimas décadas, a reorientação do conceito de patrimônio e de novas políticas


de preservação vem abrindo espaços para uma gama de bens e manifestações
culturais, cujos artefatos e valores simbólicos teriam desaparecido, sem qualquer
vestígio na memória coletiva. No entanto, pouca ênfase vem sendo dada à natureza
dos objetos, sua forma, o material com que são produzidos, as técnicas de produção
adotadas, seus usos e ritos sociais. A interação entre a materialidade do social e a
historicidade dos objetos podem revelar as funções identitárias que se
concretizavam em papel e tinta. Nesse sentido, lançamos um novo olhar para a
prática epistolar, não apenas como fonte, mas também como objeto, especialmente
em uma sociedade pautada na instantaneidade da informação, cujos projetos
políticos de destruição dos documentos originais e técnicas de preservação
equivocadas ameaçam o direito constitucional à identificação, proteção,
conservação, valorização e transmissão do patrimônio documental às futuras
gerações. A comunicação instântanea e relações cada vez mais efêmeras despertam
para a importância da preservação do patrimônio histórico e cultural, bem como de
políticas públicas que atendam a necessidade de salvaguardar as formas de
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expressão, modos de criar, fazer e viver de nossa identidade cultural. O estudo


sobre a arte de escrever cartas implica em extrapolar o texto como mera
comunicação entre ausentes, compreendendo que os objetos não estão à parte da
vida social, que o documento tem uma história e que ela deixa marcas materiais em
sua estrutura, além de outras imateriais. Manuais epistolares ensinavam a técnica
da boa pena. Escolher a asa direita de uma ave, pois melhor se acomodavam aos
dedos; saber cortar sua ponta em várias formas diferentes, de acordo com o tipo da
letra a ser escrita; preparar as tintas a partir de algumas receitas básicas, entre outros
instrumentos e acessórios que exigiam não só um profundo conhecimento
linguístico, mas também um vasto domínio técnico. Mais do que um lugar de
memória, a prática epistolar se transformou em um instrumento de poder, capaz de
mudar a maneira de pensar e de viver o lugar social da sociedade fluminense
oitocentista, lócus da cultura grafocêntrica que produz efeitos até hoje.

Edmund Burke e Silva Lisboa: escritos políticos, diferentes


leituras - Rosemary Saraiva da Silva (UFF)

Os escritos de Edmund Burke, em especial, a obra mais conhecida, "Reflexões


sobre a Revolução na França", foram objetos de interesse de José da Silva Lisboa,
o futuro Visconde de Cairu, quando esse, por influência de D. Rodrigo de Sousa
Coutinho, traduziu partes da obra do irlandês e a essa juntou a tradução de outros
textos que compunham discursos proferidos no Parlamento britânico. Esse trabalho
de tradução foi publicado em períodos diferentes: em 1812, pela Imprensa Régia,
455
no Rio de Janeiro, e em 1822, pela Nova Impressão da Viúva Neves e Filhos, em
Lisboa. Interessante foi observar que as duas publicações ocorreram em períodos
políticos diferentes, o que pode indicar que a intenção para isso pudesse também
ser diferenciada, ou seja, um mesmo texto conservador e desfavorável a qualquer
tipo de movimento revolucionário, foi usado na defesa de um "status quo" que se
apresentava relativamente diferente (Brasil Monárquico, pré-Reino Unido e Brasil
Reino, em processo de separação de Portugal). A investigação da releitura ou
apropriação do texto de Burke por Silva Lisboa leva ao encontro de novas obras,
cuja leitura pode ser direcionada a dois fins diversos, defendendo dois monarcas
diferentes que se encontravam pressionados por uma nova forma de governo,
aquele guiado por uma Constituição. Os dois personagens apresentam semelhanças
e diversidade em suas vidas particulares e políticas, com atuações de destaque na
atividade parlamentar e em cargos de governança. O trabalho em questão buscou
identificar o uso dos textos de Burke numa realidade diversa, como o da Monarquia
Luso-brasileira, frente a um mundo político pós-Revolução Francesa e Napoleão
Bonaparte. Discute-se também a prática da tradução, da apropriação e da
representação de ideias produzidas na Europa e adaptadas a realidade luso-
brasileira no início do século XIX.

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Ensino de História e Harry Potter: a narrativa ficcional como formadora de


concepções - Jenifer Cabral (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Em 1997 foi lançado o primeiro livro da série Harry Potter, tornando-se um


fenômeno de vendas mundial. A série é composta por sete (7) livros: Harry Potter
e a pedra filosofal, Harry Potter e a câmara secreta, Harry Potter e o prisioneiro de
Azkaban, Harry Potter e o cálice de fogo, Harry Potter e a Ordem da Fênix, Harry
Potter e o enigma do Príncipe e Harry Potter e as relíquias da morte. Criada por
J.K. Rowling teve alcance mundial, este traduzido em números espetaculares, com
mais de 500 milhões de exemplares vendidos até o momento em que nasce esta
pesquisa e tendo sido traduzido para mais de 70 idiomas, além do sucesso de
bilheteria que as oito adaptações da saga para o cinema obtiveram. Sucesso capaz
dar origem inclusive a peças teatrais, novos livros e filmes, como o recente
publicado “Harry Potter e a criança amaldiçoada” e a nova marca “Animais
Fantásticos e Ondem Habitam”. O enredo conta a história de um menino órfão,
chamado Harry Potter, que aos onze anos descobre ser um bruxo, possuindo uma
vaga garantida em uma das melhores escolas do novo mundo a qual irá pertencer,
a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Em um currículo eletivo, a única
disciplina obrigatória durante os anos de escolarização é a disciplina conhecida
como História da Magia, que retrata a história do Mundo bruxo, sua fundação e
seus grandes nomes, marcando assim, uma singularidade na relação com a história,
marcando uma evidente importância. Neste ambiente escolar do espaço ficcional,
que possui organização similar a que conhecemos, é possível perceber a
456
concepções de Escola, história e ensino de história, que também se fazem presentes
no cotidiano escolar do mundo não ficcional, contemporâneo. Está característica
particular do enredo tem impacto nas concepções formadas por seus leitores sobre
estes temas justamente por tais proximidades. Sabendo disto, cabe a análise da
narrativa ficcional, entendo que ela produz significados e significâncias acerca da
História e do conhecimento sobre ela.

Entre as Luzes e a ortodoxia católica: relações entre Estado e Igreja nas


disputas por um projeto reformista do ensino para o Convento de Nossa
Senhora de Jesus de Lisboa (1769-1780) - Natália de Fátima de Carvalho
Lacerda (UFRJ)

Em 1769, D. Frei Manuel do Cenáculo (1724-1814), recém nomeado Provincial da


Ordem Terceira da Penitência, aplicou o seu Plano dos estudos, que reformou os
estudos de sua Ordem para emprestar-lhes sentido moderno ao preconizar a
exegese dos textos sagrados e das fontes da Teologia Positiva, por meio do método
crítico-filológico histórico. O Plano de Cenáculo é tido como um dos primeiros
esforços entre religiosos para conformar o estudo das ciências sagradas às Luzes
portuguesas e como inspiração para reformas subsequentes empreendidas por
outras congregações e para a reforma dos Estatutos da Faculdade de Teologia da
Universidade de Coimbra em 1772. Malgrado os muitos sucessos que logrou à sua
Ordem ao alinhar-se ao regalismo pombalino, o Plano foi revogado em 1780 por
Alvará régio após Fr. José Mayne (1723-1792), à época Geral da Ordem Terceira,
remeter à rainha D. Maria I, uma petição apelando por este fim. Logo após a
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confirmação da revogação, um manuscrito anônimo e inflamado percorreu a


congregação: a Dissertação Theologica, que contestava veementemente a reforma
cenaculana em função dos livros que recomendava – posto que eles constavam no
Index romano – e fazia uma erudita defesa da prerrogativa da Igreja sobre a censura
de livros e escritos, rechaçando textos como o Dedução Cronológica e Analítica
(1767), central para o pombalismo, cuja política regalista, desde 1760, substituíra
o sistema de tríplice censura em vigor – realizada pelo Desembargo do Paço, pelo
episcopado e pelo Santo Ofício – pelo órgão censor da Real Mesa Censória,
inteiramente subjugado a autoridade secular, apesar de ter admitido entre seus
membros, religiosos como Cenáculo e Mayne. Apesar de aparentemente estarem
em lados opostos quanto ao projeto de ensino para o noviciado de sua Ordem,
Mayne e Cenáculo compartilhavam o interesse pelos modernos paradigmas
científicos da Ilustração. Mayne planejou a aula mayense, uma aula de História
Natural Teológica, que em 1792, vai ser inaugurada sob coordenação da Real
Academia de Sciencia de Lisboa, no Convento de Nossa Senhora de Jesus de
Lisboa, cuja biblioteca-museu, que reunia moderna bibliografia e artefatos de
História natural, fora construída pelo colecionismo tanto de Cenáculo, quanto de
Mayne. Essa comunicação pretende investigar a partir do diálogo entre os textos
do Plano dos Estudos e a Dissertação Theológica, as novas relações entre Igreja e
Estado estabelecidas pelas reformas do ministério pombalino, levando em
consideração o papel que Cenáculo e Mayne tiveram na introdução de uma
bibliografia sobre os modernos paradigmas científicos e filosóficos, ao atuarem
ambos como reformadores do ensino, membros da Real Mesa Censória e
457
construtores de bibliotecas-museus típicas do século XVIII ilustrado.

Machado de Assis crítico - Renata William Santos do Vale (UFF)

Este trabalho propõe fazer uma análise da produção crítica de Machado de Assis,
especialmente os textos dedicados a discutir os significados da crítica, o papel do
crítico, e a expressão da nacionalidade na literatura brasileira de final dos
Oitocentos. O período no qual Machado escreve o coloca em posição privilegiada
para observar a passagem do predomínio do pensamento romântico para um novo
conjunto de ideias que procurassem dar conta de entender e explicar a modernidade
vivida e sentida naquele tempo e contexto. Os artigos de crítica de Machado são
preciosos porque revelam a visão de um autor particularmente atento e sensível às
mudanças e com rara capacidade de observação e articulação do pensamento com
o tempo vivido. Machado é um dos primeiros a observar e registrar que a formação
da literatura nacional brasileira não se daria tal como a independência, com um
“grito do Ipiranga”. Seu argumento foi sendo desenvolvido com a publicação de
textos como “O passado, o presente e o futuro da literatura brasileira” (1858), “O
ideal do crítico” (1865), “Notícia da atual literatura brasileira: instinto de
nacionalidade” (1873), e “A nova geração” (1879), só para citar alguns, nos quais
discutia a constituição da literatura brasileira e qual o sentido de nacionalidade que
essa deveria expressar. Esse seria um processo lento que não havia muito começara
a se desenvolver, e merecia incentivo, análises e discussão, para estabelecer as
bases de uma tradição literária nacional. No Brasil recém-independente, o
Romantismo foi o sistema de ideias que favoreceu a organização de um projeto
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nacional, tanto no campo da história quanto na literatura. Ao admitir a importância


das duas gerações românticas, apesar de constatar que os novos tempos careciam
de novas formas de expressão, Machado de Assis reforçava uma tradição do
pensamento e o reconhecimento de que as experiências acumuladas ao longo da
história literária fizeram surgir as novas gerações de escritores e uma nova maneira
de entender o mundo moderno. Entretanto, tinha a clareza de perceber que o
indianismo, as descrições da natureza, do exótico tropical, temas clássicos dos
românticos, não mais bastavam para caracterizar a nacionalidade da literatura
brasileira. Era preciso dar um novo sentido para a identidade nacional, não mais
fundada em algo exterior ao homem, mas no que chamou de “sentimento íntimo”,
que caracterizaria o homem de seu tempo, sem que ele precisasse descrever o
espaço ao seu redor para afirmar-se brasileiro. Desse modo, Machado propunha
que o sentimento nacional deixasse de ser identificado exteriormente aos homens,
passando para a esfera do íntimo, no qual os escritores seriam nacionais
simplesmente por expressarem as ideias de seu tempo.

O Colégio Atheneu Sergipense e a Cidade de Aracaju Estudo das Identidades


Locais para a Formação da Escola Pública Secundária 1872 - 1926 - Dayse
Araujo Lapa (UNIT)

Neste trabalho, entrelaçam-se acontecimentos que moldaram, no período 1872-


1926, o espaço-tempo do Colégio Atheneu Sergipense e da cidade de Aracaju e
configuraram os mecanismos de organização da instrução pública secundária. O
458
objetivo deste trabalho é explorar novas conexões, tendo como referências as
dinâmicas relações da cidade em formação, a consolidação de nova sociedade
urbana e pré-industrial, o fortalecimento e a expansão da Educação Pública. A
cidade múltipla e contraditória impôs aos condicionantes naturais sua força técnica,
mudou seu traçado e a ele se adaptou; evoluiu de forma lenta, mas significativa;
rompeu em vários momentos o traçado ortogonal do Quadro de Pirro; articulou-se
com o antigo núcleo de moradores, situado na colina do Santo Antônio; afastou as
classes mais pobres do seu centro político-administrativo e criou seus primeiros
signos assentados nos conceitos de modernidade e civilidade das cidades europeias
do século XVIII. A localização e a configuração do espaço arquitetônico das
escolas instituíram novas relações entre alunos, professores e inspetores. Assim,
descortina-se o papel da arquitetura e do urbanismo e se analisam o repertório de
soluções técnicas, o programa de necessidades e os aspectos higienistas;
constroem-se as analogias com a vida urbana e se identificam o papel do Estado,
as condições de oferta da educação, as leis, os códigos e os regulamentos que
contribuíram para a configuração da civitas, do lugar com pouca ou nenhuma
tradição. O olhar centra-se na pesquisa histórica e documental e na formação do
hábito. Utilizaram-se registros fotográficos, desenhos, mapas, leis, códigos e os
registros escritos de alguns memorialistas e historiadores sergipanos que
produziram informações aqui apresentadas. A pesquisa fundamenta-se na revisão
bibliográfica de Porto (2011); França e Falcon (2005); Franco (2015) e Nunes
(1984) e nos conceitos teórico-metodológicos de Foucault (1975), Bourdieu (2008)
e Chartier (2002). Como a forma e a localização dos edifícios escolares na malha
urbana da cidade demarcaram seu lugar e se traduzem em espaços adequados para
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o ensino? Como responder esta pergunta? Existe uma única pergunta, uma única
resposta? Assim, o nexo entre as perguntas e suas respostas pode ajudar o
pesquisador a articular saberes, expandindo as possibilidades de análise, de
compreensão e de visibilidade das fontes, com aproximação ou não das correntes
filosóficas que alicerçaram esta pesquisa e, desse modo, apresentar nova narrativa
dessa organização.

O hinário português e brasileiro e a música militar no Brasil: similitudes e


singularidades na produção, recepção e circulação dos hinos e músicas
militares no final do século XIX e início do século XX - Anderson de Rieti Santa
Clara dos Santos (Universidade Nova de Lisboa)

O propósito deste trabalho é estabelecer comparações entre o hinário lusitano do


fim do século XVIII e início do século XIX permeado pela cultura política deste
contexto, em comparação com o nascente hinário brasileiro do início do século
XIX, identificando similitudes e singularidades nos processos de produção,
recepção e circulação destes hinos. Os hinos desta época são o marco para a música
militar, não somente por serem compostos na expectativa de que fossem
executados pelas bandas militares. A partir de então, os seus códigos musicais
incorporavam elementos da cultura política de então, em que conceitos como pátria
e liberdade ressiginifcavam a monarquia lusitana e eram o prólogo de novos ares
de autonomia por parte dos que tomaram parte no processo de Independência do
Brasil em 1822, impactando na produção e circulação desses hinos. As bandas
459
militares, a partir desse contexto, farão parte desse circuito, reverberando, portanto,
esses novos códigos que traduziam essa nova cultura política. Para o trabalho em
lide, o estudo tem como fontes partituras como a que traz inscrita a composição
"Hino Patriótico" (1809) de Marcos Portugal (1762-1830), músico que, à época,
atuava na corte do regente D. João, e depois para D. Pedro I. Mais emblemáticas
ainda são as composições musicais do "Hino da Independência do Brasil" que,
embora com a mesma letra de Evaristo da Veiga (1799-1837), trazem distintas
versões musicais: uma de Marcos Portugal e outra de seu aprendiz, D. Pedro I

O júbilo em ser perseguido: perseguição e intolerância religiosa nos escritos


missionários presbiterianos acerca do Brasil oitocentista - Sérgio Willian de
Castro Oliveira Filho (Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da
Marinha)

As missões transculturais desenvolvidas por comunidades protestantes


estadunidenses durante o século XIX propiciaram o desenvolvimento de um corpus
documental vastíssimo por parte dos milhares de missionários que se engajaram
nesta empreitada. Vários foram os tipos de produção escrita, como: cartas privadas;
Reports sobre as atividades da missão e que eram enviados aos comitês
missionários; jornais de cunho missionário; panfletos propagandísticos; estudos
sobre aspectos socioculturais dos povos tidos por alvo; ficções. Uma das
características recorrentes em grande parte desses escrito era a existência de um
júbilo implícito na temática alusiva à perseguição, pois, ao mesmo tempo em que
se denunciava o outro (perseguidor) como intolerante e ignorante, a literatura
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missionária fazia a ligação de sua perseguição à concretização dos escritos


sagrados, indicando a legitimidade de suas ações. No caso do Brasil Monárquico,
durante o século XIX, estava claro a estes missionários quem seria o agente
perseguidor: a Igreja Católica alinhada ao Estado. Assim, a presente comunicação
tem por objetivo discutir o papel da perseguição religiosa presente nos escritos
missionários presbiterianos acerca do Brasil oitocentista enquanto construção de
aspectos identitários do protestantismo que se tentava estabelecer neste país.

Os catálogos e manuscritos na escrita da História Política do Brasil no século


XIX - Beatriz Pìva Momesso (Universidade Federal Fluminense)

As representações e práticas constituintes de certa cultura política podem ser


pensadas para mais além de vertentes intelectuais europeias ou americanas que
exerceram sua influência no mundo das ideias de leitores contemporâneos
brasileiros do século XIX. O campo político também é o lugar onde o cultural se
apresenta como ferramenta para a forja de projetos e programas partidários ou
burocráticos do Estado. Nesse sentido, a história política oitocentista em sua
subárea cultura encontra-se ainda a caminho de discutir novos métodos de pesquisa
para que possa ser escrita. Catálogos de livros e manuscritos de ministros,
jornalistas e líderes de partidos ou correntes ideológicas, sobretudo, do Segundo
Reinado apresentam grande potencial historiográfico, que ao que tudo indica ainda
são pouco explorados. Tal dificuldade, se deve em parte, a pouca colaboração entre
a atividade arquivística e a historiográfica. De modo comparativo, e sem dúvida
460
com um olhar teórico e metodológico, serão discutidas algumas experiências
historiográficas já consolidadas em que fontes de natureza cultural revelaram traços
da identidade nacional em paralelo com uma variedade de catálogos da livraria
Garnier que eram frequentados por políticos e manuscritos onde grandes
estrangeiros serviam de inspiração para os projetos políticos brasileiros.

Os Mystérios de Paris sob o prisma da sociedade carioca


oitocentista - Danielle Christine Othon Lacerda (UFRJ)

Reconhecido como um dos grandes escritores de romances populares franceses,


um dos precursores do romance-folhetim do século XIX, o escritor francês Eugène
Sue moldou sua escrita e sua imagem para dar voz ao povo marginalizado,
discutindo os problemas sociais da cidade de Paris, por meio de suas longas e
volumosas obras literárias. O fenômeno social alcançado pelo inovador Les
Mystères de Paris mobilizou não apenas a imprensa, o mercado editorial, como
também o meio social, político e religioso. Não restrito à sociedade francesa, o
romance ultrapassou rapidamente as fronteiras nacionais, alcançando inúmeros
países na Europa e na América. No Brasil, a proeminência dos romances de Eugène
Sue, motivou o Jornal do Commercio, no Rio de Janeiro, a publicar em folhetim, a
versão traduzida para o português, Os Mystérios de Paris, entre 1844 e início de
1845. Embora a temática abordada tratasse de questões típicas da cidade de Paris,
a intensa circulação dos romances de Sue na imprensa, livrarias, gabinetes de
leitura, nos debates públicos demonstram a sua aceitação e repercussão,
contribuindo para imprimir diferentes marcas nas formas de pensar, na circulação
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de novas ideias e nos modos de representação. Neste sentido, o objetivo deste


trabalho foi investigar as gêneses do fenômeno em terras tropicais do romance Os
Mystérios de Paris, em que se busca compreender, sob uma perspectiva comparada,
as circunstâncias editoriais que envolveram esta publicação em suas diferentes
materialidades (folhetins, folhetos, livros, gravuras, teatro) o trânsito das ideias de
Eugène Sue, considerando as percepções do escritor acerca de sua própria realidade
e como tais percepções foram apropriadas por uma sociedade distinta da realidade
do autor, mobilizando os costumes, hábitos, pensamentos políticos e sociais na
cidade do Rio de Janeiro, em meados do século XIX.

Pela Voz de José Campello D'Albuquerque Galvão: Diários íntimos como


fonte de estudos da Guerra do Paraguai - Janyne Paula Pereira Leite
Barbosa (UFF)

Após a declaração da Guerra do Paraguai em fins de 1864, brasileiros e aliados se


uniram para enfrentar um inimigo comum, o governo Paraguaio. O Império
Brasileiro iniciou um processo de reorganização das forças do exército para
compor as tropas e consecutivamente vencer o conflito. Nesse contexto, homens
de várias partes do país foram recrutados ou voluntariados para ocupar as fileiras
do Corpo da Armada Imperial. Muitos desses cidadãos, de origem pobre ou
membros de uma elite social se dirigiram para o sul do país com funções
estabelecidas e com o dever de prestar seus esforços a “nação”. Dentre eles,
destacamos a presença dos diaristas, homens que registraram o dia a dia da guerra,
461
e que tiveram essas memórias organizadas e impressas para a divulgação pública
posteriormente. Os debates historiográficos vêm ao longo dos últimos dez anos
analisando esse conflito como uma guerra que foi além do front, ressaltando as
práticas sociais, a cultura, a saúde e as doenças, assim como uma rede de
sociabilidades que se constituiu nos campos de batalha e nos acampamentos. Nesse
trabalho, tenho como objetivo pensar a história do cotidiano deste conflito por meio
da análise do “Diário da Guerra do Paraguai” de José Campello d’Albuquerque
Galvão, observando-o como um recurso metodológico para pensar os personagens
históricos e as práticas socioculturais. José Campello d’Albuquerque Galvão serviu
como Voluntário da Pátria na Guerra do Paraguai como tenente da 1º Companhia
do Batalhão nº 5 de guerra da Paraíba do Norte, atuando como secretário. Em março
de 1865, Campello se apresentou ao governo da Paraíba para prestar seus esforços
na frente de batalha e assim o fez, narrando histórias do cotidiano e fatos que se
passaram nos acampamentos e no front. As fontes documentais disponíveis para as
pesquisas acerca da guerra são diversas: revistas, jornais, documentos oficiais do
governo imperial, relatórios, cartas e diários, compõe um grande acervo
disponibilizado nos arquivos públicos e privados espalhados pelo país. Assim,
pensarei o diário como um recurso metodológico e como uma fonte documental
pertinente para compreender a guerra por suas vertentes ainda pouco discutidas,
como o estudo das mulheres, dos enfermos, do cotidiano, da cultura e da sociedade.
Para isso, observarei os escritos de José Campello d’Albuquerque Galvão como
uma escrita de si, onde o ato de narrar as memórias da guerra foi uma prática
cultural que traduziu expressões e pensamentos do memorialista por meio da
vivência de tal conflito. Partindo desse pressuposto, compreenderei as memórias
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como uma representação do vivido, como um ato desenvolvido por uma prática,
onde o oficial do exército, diarista e memorialista, registrou aspectos do real.

Reflexos de pena e tinta: houve uma literatura de Espelhos de


Artistas? - Fernanda Deminicis de Albuquerque (PUC-Rio)

Originalmente, os “espelhos de príncipes” eram obras que procuravam fomentar


virtudes exemplares nos príncipes. Apresentavam conselhos diversos desde a
filosofia natural até recomendações de higiene; insistiam na importância do
exercício articulado das virtudes e o bom uso da religião; explicitavam a oposição
daquilo que era o “bom governo” e a tirania. A partir do renascimento, esses
elementos foram incrementados por conhecimentos de guerra, artes e letras, com
alguma tendência de secularização. Em conjunto, esse gênero literário incorporou
os parâmetros de uma educação humanista, moral e religiosa, contribuindo para a
difusão de uma espécie de modelo ideal de governante na Europa moderna. A
abrangência dos “espelhos” também foi alargada, com a produção de obras
destinadas a conselheiros, militares, prelados e até artistas. Os autores de
“espelhos” não somente consignavam uma finalidade pedagógica para suas obras,
já que procuravam transmitir cânones moralizantes, mas também demandavam a
atenção do príncipe ou dos governantes para a importância de serem reconhecidos,
a partir da outorga de mercês régias. Entretanto, especialmente as obras de artistas
foram compreendidas até o momento como fontes válidas para investigações
adstritas às biografias de pintores ou ainda para a escrita de uma história da técnica
462
(tipos de telas e pinceis, pigmentação, produção geométrica de perspectivas,
processos de produção, etc). A própria renovação da história política e da história
da arte, contudo, exige uma reinterpretação dessas obras, inserindo-as em uma
cultura política condizente com o universo de seus autores. É pertinente lembrar
que os conselhos agrupados nos "espelhos" eram também um modo de
“representar” o trabalho destes artistas. Nesse sentido, o propósito desta
comunicação é não apenas analisar uma “literatura de espelhos”, mas sobretudo
discutir as possibilidades de enquadrar as obras de artistas (para não citar mais de
um exemplo, as “Vidas de Artistas”, de Giorgio Vasari) nesse gênero.

Tradução e circulação das ideias de Alexander Pope no mundo luso-brasileiro


(ca. 1769-1819) - Gabriel de Abreu Machado Gaspar (UFF)

A presente comunicação advém do projeto de mestrado apresentado ao Programa


de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. O tema desta
pesquisa é a recepção e circulação das obras e ideias do poeta inglês Alexander
Pope no mundo luso-brasileiro no contexto do projeto reformista ilustrado de
Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812) e da subsequente transmigração da Corte
para a América. O Ensaio sobre a Crítica e os Ensaios Morais do poeta foram
traduzidos por Fernando José de Portugal e Castro (1752-1817) e publicados,
respectivamente, em 1810 e 1811 pela Impressão Régia do Rio de Janeiro.
Inspirada pela História do Pensamento Político, a problemática da investigação
pode resumir-se em algumas questões: De que modo as traduções portuguesas das
obras de Alexander Pope em 1810 e 1811 se relacionam com o momento histórico
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em que foram realizadas? Qual a relação entre estas traduções e a recepção das
ideias do poeta inglês no mundo luso-brasileiro do primeiro quarto do século XIX?
Quais as intenções de Fernando José de Portugal ao traduzi-las? Para respondê-las,
serão utilizadas, principalmente, as traduções de Fernando José de Portugal, os
pedidos de licenças e pareceres de censores da Mesa do Desembargo do Paço,
referências alusivas e anúncios de vendas em periódicos e obras de referências.

Um guia para interpretar o país: o caso do Manual Bibliográfico de Estudos


Brasileiros - Maro Lara Martins (Universidade Federal do Espírito Santo)

No final da década de 1940, Rubens Borba de Morais e Willian Berrien


organizaram o Manual Bibliográfico de Estudos Brasileiros (MBEB). A intenção
dos organizadores era propiciar um levantamento da bibliografia básica sobre
diferentes áreas do conhecimento das ciências humanas, que tiveram o Brasil como
objeto de análise e apreciação. A listagem das obras incluiu áreas como filologia,
etnologia, literatura, folclore, sociologia, geografia, história, arte, direito, teatro e
educação. O Manual contou com o suporte do Comitê de Estudos Latino-
americanos da Universidade de Harvard, foi financiado pela Fundação Rockfeller,
e utilizou como modelo de publicação, o Handbook of Latin American Studies, que
fora publicado pela primeira vez, em 1936. A publicação do Manual estava prevista
para o ano de 1943, mas foi adiada devido a vários fatores, sobretudo à entrada dos
Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, dando-se sua publicação apenas seis
anos mais tarde. Por isso, a data das publicações coletadas foi até o ano de previsão
463
do lançamento do Manual. Segundo Berrien, esta publicação “trata(va)-se de breve
histórico sobre o desenvolvimento e a situação das disciplinas selecionadas,
acompanhado de uma bibliografia crítica e seletiva de itens, que deve(ria)m ser
básicos para o estudo do assunto.” Os organizadores estavam cientes que este tipo
de publicação, apesar das eventuais limitações e lacunas, era fundamental por
propiciar um panorama geral dos estudos publicados que versaram sobre o Brasil.
Além disso, os organizadores tiveram o cuidado de incluir antes de cada listagem
de obras, estudos introdutórios escritos por diversos intelectuais do período, como
José Honório Rodrigues, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado
Junior, Otávio Tarquínio de Souza, Alice Canabrava, Mário de Andrade, Manuel
Bandeira, Astrojildo Pereira, Francisco de Assis Barbosa, Robert Smith, Pierre
Monbeig e Donald Pierson.

Ver e contar: narrativas de viagem à União Soviética por médicos brasileiros


(décadas de 1930 e de 1950) - Gabriela Alves Miranda (Casa de Oswaldo Cruz)

A dimensão da União Soviética como concretude do modelo socialista no mundo


despertou o interesse e o imaginário de muitos ocidentais, embalando curiosidades,
sonhos e esperanças. Essa comunicação irá tratar do encontro de brasileiros com
soviéticos por meio de alguns relatos de viagem que foram publicados com a
finalidade de divulgar tal experiência de viagem a públicos mais amplos. Tais
narrativas foram, particularmente, escritas por médicos nos anos 1930 e nos anos
de 1950. Maurício de Medeiros lançou “Rússia: impressões de viagem e aspectos
da medicina soviética” (Calvino Filho/ RJ, 1931), Osório César publicou “Onde o
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proletariado dirige” (edição do autor/ SP,1932); e fruto de uma mesma excursão,


Milton Lobato e Reinaldo Machado lançaram um relato a 4 mãos com o título de
“Médicos Brasileiros na União Soviética: impressões de viagem e aspectos da
medicina soviética” (Editorial Vitória/ RJ, 1955) e Raul Ribeiro da Silva publicou
“Rússia vista por um médico brasileiro” (Civilização Brasileira/ SP, 1956). O
turismo era uma esfera importante da política soviética, repercutindo interna e
externamente, e era visto como crucial nas relações internacionais com o Oeste.
Nesse sentido, os estudiosos que se dedicam ao tema dos relatos de viagem com
fins políticos, consideram dois grandes momentos. Um deles entre 1917 e 1939 –
que foi seguido de estagnação, consequente ao conflito da Segunda Guerra Mundial
– e outro momento, após os anos 1950. Além de explorar a diferença dos contextos
das viagens, irá se apresentar aspectos das narrativas, do mundo editorial de
orientação comunista e das percepções da ciência e medicina soviéticas. A ideia do
livro como ator, assim como da relação entre o livro, seus autores e a cultura
política de esquerda estarão presentes nessa discussão, à luz de contribuições
historiográficas recentes.

“Mulheres em Revistas no Rio de Janeiro”: A Educação Feminina nas Páginas


da Revista Popular (1859-1862) - Adriana Aparecida Pinto (Universidade
Estadual Paulista - UNESP - Assis), Gabriella Assumpção da Silva Santos
Lopes (Universidade Federal da Grande Dourados)

O que liam as mulheres? O que ler para as mulheres? Como educá-las? Essas
464
questões, dentre outras, movimentam a pesquisa de mestrado em curso, que
objetiva compreender formas de educação postas em circulação, por meio dos
impressos, e nesse estudo a fonte privilegiada é a Revista Popular. Primeiro
empreendimento no ramo dos periódicos do francês Baptiste Louis Garnier no
Brasil, circulou quinzenalmente entre os anos de 1859 a 1862, podendo ser
considerado um importante registro do pensamento científico e literário dos
intelectuais que residiram no Rio de Janeiro (PINHEIRO, 2002). Trouxe uma
pluralidade de seções que pretendiam satisfazer e instruir um público diverso,
dentre ele, as mulheres, que por volta dos anos de 1830, puderam contar com alguns
periódicos como “O Espelho Diamantino (1827)”, “Correio das Modas (1839)”, “
O Espelho das Brasileiras (1831)”, “Novo Correio de Modas (1852)”, “ A Marmota
(1857)”. Vale ressaltar que em meados dos oitocentos, a relação entre o universo
feminino, a literatura e a imprensa foram se tornando mais próximas (OLIVEIRA,
2011). Sendo assim, interessa para esse trabalho, a partir da compreensão do
cenário da época, evidenciar e analisar os modelos de educação e conduta
recomendados ou sugestionados à mulher do Rio de Janeiro, de modo direto e
indireto, apresentados pelo periódico, na segunda metade do século XIX, com
aporte teórico assentado no âmbito da História Cultural em diálogo com o campo
educacional e os estudos históricos sobre Mulheres. Nessa percepção, tomamos
para exame as seções “Crônicas da Quinzena”, “Instrução e Educação”, bem como
a seção de biografias “Brasileiras Célebres”. A seção de “Instrução e Educação”
constituiu-se, em parte, de conselhos sobre a educação das moças e crianças. Já a
seção “Crônicas da Quinzena”, de possível autoria de Carlos José do Rosário e
Joaquim Manuel de Macedo, trouxe figurinos femininos acompanhados de sua
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descrição e recomendação de uso, como também relatos da vida social da Corte,


fornecendo indícios das formas de sociabilidade feminina consideradas apropriadas
para o período. A seção “Brasileiras Célebres”, de autoria de Joaquim Norberto,
reuniu um conjunto de biografias de mulheres consideradas ilustres, de acordo com
os ideais de boa esposa, boa mãe, patriotismo e fé cristã. Os processos de
mapeamento, localização e levantamento da documentação, ao lado das análises
preliminares realizadas até o momento, permitem afirmar que a Revista Popular
esteve atenta a relevância do público leitor feminino, reservando algumas seções
destinadas a ele e a sua educação. Embora nesse período, as mulheres alfabetizadas
constituíssem um quantitativo reduzido, acompanhavam os periódicos de forma
assídua.

465

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466
ST 47. Militares, poder e sociedade:
métodos de história e parcerias

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A Guerra do Contestado (1912-1916) e seus reflexos para a tomada de decisões


no campo militar e das relações internacionais - Eduardo Rizzatti
Salomão (Escola Superior de Guerra)

Percebida por muitos como um evento de impacto regional, por ter ocorrido em
terras do Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, poucos pesquisadores
reconheceram que a Guerra do Contestado (1912-1916) promoveu desdobramentos
de repercussão mais ampla. Dos esforços para a modernização do Exército
brasileiro as políticas no âmbito nacional e internacional no campo militar, muitos
foram os assuntos onde a Campanha Militar do Contestado foi lembrada para a
tomada de decisões. O objetivo da apresentação é discutir o papel da Guerra do
Contestado nas políticas de reorganização do Exército no séc. XX e seus possíveis
desdobramentos no campo das políticas de guerra/defesa adotadas pelo Estado
brasileiro para com seus vizinhos sul-americanos. Visando subsidiar a reflexão
proposta, foram consultados documentos do Congresso Nacional brasileiro, do
Ministério da Guerra e do Estado-Maior do Exército, jornais, revistas e obras de
época, em particular as produzidas por observadores do conflito. No tocante ao
estado da arte atual sobre o tema, destacam-se as produções de Frank McCann e
Rogério R. Rodrigues. O propósito mais amplo da apresentação é promover
discussões sobre em que medida o Contestado repercutiu para a tomada de decisões
estratégicas no campo militar e das relações internacionais.

A linha dura nacionalista e a "nasserização frustrada" do regime militar


467
brasileiro. - Guillaume Azevedo Marques de Saes (Universidade de São Paulo /
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas)

Ao longo da História encontramos uma série de fenômenos políticos que se


manifestaram em determinados contextos nacionais, mas cujo impacto fora de suas
fronteiras geográficas foi tão grande que eles deixaram de ser apenas um
acontecimento histórico em seus respectivos países para dar origem a expressões
do vocabulário político universal; é o caso do jacobinismo e do bonapartismo na
França, do fascismo na Itália, entre outros. Já dentro do universo dos movimentos
políticos de base essencialmente militar, temos o nasserismo, que marcou a vida
política do Egito na segunda metade do século XX e que serviu de inspiração para
outros regimes militares reformistas do mundo em desenvolvimento. O regime
militar do coronel Nasser (1952-1970) se caracterizou por um nacionalismo não-
alinhado que pregava a independência em relação aos dois blocos, assim como por
uma série de reformas (reforma agrária, modernização e militarização do aparelho
estatal, industrialização acelerada) cujo objetivo era transformar o Egito numa
potência regional moderna sob a autoridade de uma elite tecnocrática de origem
militar. Este modelo nacionalista e reformista militar de caráter pequeno-burguês,
que passou a ser designado como nasserismo, acabou sendo exportado para outras
nações do mundo árabe e serviu de inspiração para alguns regimes militares sul-
americanos como o de Velasco Alvarado no Peru e os regimes efêmeros de Ovando
e Torres na Bolívia. No caso brasileiro, o maior exemplo de intervenção militar de
tipo nasserista foi sem dúvida o da linha dura nacionalista (Albuquerque Lima e
Sílvio Heck, entre outros) que participou do movimento golpista de 1964 mas que
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pouco depois passou a contestar as orientações políticas e econômicas do regime


militar (compromisso com elites financeiras, oligárquicas e corruptas, submissão
ao imperialismo norte-americano, política econômica antinacional) e a defender
um projeto de aprofundamento do processo ditatorial, de política externa
independente e de reorientação do regime no sentido do nacionalismo econômico.
O nosso objetivo aqui será o de analisar esta tentativa frustrada de “nasserização”
do regime militar – isto é, a tentativa malsucedida de trazer o regime para o campo
do nacionalismo e do reformismo autoritário – e situá-la no contexto de um conflito
dentro das próprias classes dominantes brasileiras, entre um setor financeiro
privilegiado pelo regime e um setor industrial que se sentia prejudicado pelas
políticas vigentes e que esboçava uma tímida oposição.

A pesquisa no National Archives e a existência de documentos originais e


secretos - Giovanni Latfalla (Ministério da Defesa - EB - Colégio Militar de JF)

Este trabalho tem o objetivo de mostrar a importância da pesquisa histórica sobre


o Brasil no National Archives II, em Maryland, Estados Unidos, local com
excelentes condições de trabalho, com uma enorme quantidade de fontes sobre o
Brasil, sendo que algumas delas, são documentos originais e secretos do Exército
Brasileiro.

As Forças Armadas nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem na


Perspectiva da Escola Superior de Guerra – 2006/2016 - Luiz Claudio
468
Duarte (Universidade Federal Fluminense)

O fim da guerra fria, com a dissolução do chamado “campo socialista”, retirou dos
militares a missão de combate à “ameaça comunista”, em torno da qual os militares
brasileiros foram doutrinados desde, ao menos, a década de 1930, após a
denominada Intentona Comunista de 1935. Na consolidação do anticomunismo
como ideologia unificadora das correntes militares, papel destacado coube à Escola
Superior de Guerra. Após a “queda do comunismo” os militares passaram a viver
uma dupla “crise de identidade”. Por um lado, a falta de um inimigo a ser
combatido, a ausência de uma missão e de uma doutrina unificadora; por outro, a
sensação de desprestigio à medida que o modelo macroeconômico de cariz
neoliberal posto em prática pelo Estado desde o início da década de 1990 implicou
em restrições orçamentárias que, nos discursos de vários representantes da cúpula
militar, estavam levando ao sucateamento das FFAA e submetendo os militares a
dificuldades financeiras pela compressão dos salários. Simultaneamente o Estado
passou a demandar a intervenção das FFAA na repressão a movimentos e protestos
sociais e, mais diretamente, no combate ao chamado crime organizado em centros
urbanos como o Rio de Janeiro, por meio das ações de GLO. Se inicialmente alguns
representantes da cúpula militar expressaram preocupações e mesmo oposição ao
emprego das FFAA no combate à criminalidade, com o tempo as resistências
diminuíram. Constatou-se a boa receptividade da opinião pública à presença dos
militares nas ruas, auxiliando os aparelhos repressivos estaduais. As ações de GLO
tornaram-se frequentes o que tem levantando preocupações quanto a essa
recorrente intervenção das FFAA em uma questão de ordem interna: a segurança
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pública, que se tornou uma questão sensível na agenda política dado seu impacto
na opinião pública. Serão as ações de GLO a nova missão, a nova base doutrinária,
o novo sentido para a existência das FFAA em um país periférico como o Brasil?
Que consequências podem advir para a democracia e para as relações entre o poder
civil e os militares dessa presença frequente dos militares em assuntos internos
como a segurança pública? Pode a autorização presidencial para o emprego da
GLO tornar-se uma ferramenta de barganha política entre o Executivo Nacional e
os governos estaduais que recorrem ao seu uso? A recorrência das missões de GLO
pode levar a uma nova doutrina militar onde os grupos criminosos e movimentos
sociais substituam os comunistas como o “inimigo interno”? O trabalho que
proponho para é parte da pesquisa de estágio pós-doutoral que realizo no Instituto
de História da UFRJ e no qual busco perquirir como a ESG se coloca diante dessa
crescente presença das FFAA em missões de segurança pública.

De Monte Caseros à Tríplice Aliança - Pedro Gustavo Aubert (História Social


FFLCH/USP)

Com a derrota de Juan Manoel de Rosas em 1852 pelas tropas aliadas do Império
do Brasil, Corrientes e Entre-Ríos, e Montevidéu, a monarquia sul-americana
passou a disputar protagonismo e supremacia regional com as grandes potências da
época. Passou o Império a contar com uma estação naval no Rio da Prata, passou
a ser credor da Confederação Argentina e da República Oriental do Uruguai. Os
Tratados de 1851 impostos à República Oriental mediante ameaça de guerra
469
colocaram aquele estado sob a tutela do Império. Tal situação não passou
desapercebida pelos governos europeus que buscaram neutralizar a influência
política adquirida pelo Império. No tocante ao Paraguai, mais de uma década antes
de rebentar a guerra foi iniciado um período de pax armada caracterizado por
relações políticas beligerantes e pela iminência constante de conflito armado
devido ao impasse em torno da navegação fluvial brasileira no Rio Paraguai.
Justamente nesse período houve uma forte associação entre os ministérios da
Marinha e dos Negócios Estrangeiros sendo em diversos períodos as duas pastas
cumuladas pelo mesmo ministro.

Diálogos entre mediadores políticos: a relação entre o Visconde de Pelotas e o


Marquês do Herval através de suas correspondências - Guilherme de Mattos
Gründling (UFRRJ)

Este trabalho de pesquisa integra um conjunto de estudos que estão sendo


desenvolvidos junto ao Programa de Pós-Graduação em História (PPHR) da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Linha de Pesquisa:
Relações de Poder, Linguagens e História Intelectual, sob orientação da Prof. Dr.ª
Adriana Barreto de Souza. O estudo aborda a análise das trocas epistolares do
militar e político José Antônio Correa da Câmara, o II Visconde de Pelotas, com o
também militar e político, Manoel Luís Osório, o Marquês do Herval, nos anos
finais do Império (1870-1879). Sabendo que Manuel Luís Osório, indivíduo de
extrema influência em assuntos políticos e militares na Província de São Pedro do
Rio Grande do Sul, apesar de ter sido nomeado ao Senado apenas em 1877, exerceu
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influência sobre boa parte das localidades sul-rio-grandenses após sua atuação na
Guerra do Paraguai. Correa da Câmara, homem de confiança de Osório, também
alcançou cargos políticos importantes no governo imperial após seu retorno do
conflito em terras paraguaias. Sua ascensão política levou-o a ocupar posição de
liderança e de prestígio na sociedade política local e dentro do Partido Liberal.
Acredita-se que, após esse largo período convivendo e atuando em conflitos
bélicos, especialmente na Guerra do Paraguai (1864-1870), mediando situações,
organizando tropas e estratégias militares, o crescimento dos vínculos sociais entre
esses indivíduos aumentaram seus respectivos núcleos de sociabilidade dentro e
fora de suas localidades, levando-os a ascender ao estreito cenário político
imperial. Partindo-se da relevância dos vínculos estabelecidos por esses dois
indivíduos, o problema que norteia esta pesquisa é conhecer quais as estratégias e
os fatores que permitiram a ascensão de Correa da Câmara à esfera política e a sua
atuação como mediador político entre a província do Rio Grande do Sul e o Império
a partir dos vínculos constituídos em sua relação com Manuel Luís Osório. Em
outras palavras, esse estudo tem por objetivo, portanto, compreender as formas de
inserção política e as estratégias articuladas pela elite sul-rio-grandense no
processo de ascensão à esfera política imperial, analisando-se os diálogos
epistolares estabelecidos entre José Antônio Correa da Câmara (Visconde de
Pelotas) e Manuel Luís Osório (Marquês do Herval).

Góes Monteiro e o emprego do Poder Aéreo durante a guerra civil de


1932 - Carlos Roberto Carvalho Daróz (Universidade Salgado de Oliveira)
470
Durante a guerra civil de 1932 ocorreu, pela primeira vez no país, o emprego
considerável da arma mais temida do período entreguerras (1918-1939): o avião.
A aviação federal, na época a Aviação Militar do Exército e a Aviação naval da
Marinha, e a Aviação Constitucionalista espalharam o terror nas trincheiras e nas
áreas de retaguarda, bombardeando e atacando alvos de interesse militar e
apavorando combatentes e civis. Homem de confiança de Getúlio Vargas, o general
Pedro Aurélio de Góes Monteiro comandou o Exército Leste e utilizou a aviação
como arma estratégica e psicológica no enfrentamento da sedição paulista. A
presente pesquisa tem o propósito de analisar o uso da aviação por Góes Monteiro
e o debate ocorrido na imprensa acerca dos bombardeios aéreos.

O processo de criação e consolidação da primeira Companhia de Aprendizes


Marinheiros do Brasil Imperial (1840) - relatos de uma pesquisa - Jorge
Antonio Dias (CPDOC/FGV)

No trabalho procuramos destacar os momentos históricos e políticos percorridos


para que fosse criada a Companhia de Aprendizes discutindo e examinando esse
processo com base nas diferentes ideias que permeavam as ações de diferentes
Ministros da Marinha e as legislações específicas referentes à criação e
regulamentação da Companhia. Procuramos desenvolver nesse trabalho a ideia de
que as Companhias de Aprendizes foram fundamentais no processo, ainda que
parcial e incompleto, de instrução e educação formal dos marinheiros iniciado em
meados do século XIX. Servindo ainda para apontar as contradições históricas
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entre recrutamento e composição das praças; um relativo protagonismo dos


Oficiais e Ministros da Marinha militares em diferentes momentos na formulação
de uma conduta política institucional que colocasse em prática uma efetiva
institucionalização e enfardamento para os marinheiros; uma instituição pública
para jovens que pudesse fornecer educação, tão rara aos “indivíduos do comum”;
e, por fim, a custódia e guarda desses jovens.

O projeto militar pombalino na América portuguesa: alcance, técnicas e elites


locais - Christiane Figueiredo Pagano de Mello (UFOP)

A finalidade desta exposição é refletir sobre as experiências de defesa e


militarização no Império Ultramarino Português. O contexto espacial delimitado
compreende duas áreas: o Norte e o Centro-Sul da América Portuguesa.
Utilizaremos uma perspectiva comparativa a fim de obter uma compreensão mais
ampla sobre a política militar utilizada pela Coroa Lusitana nas suas possessões
ultramarina, na segunda metade do século XVIII. A partir do período pombalino
(l750-1777) se passa a reforçar o princípio da interdependência entre os domínios
portugueses da América, no que se referia ao encargo da defesa do território. No
projeto militar pombalino a forma de batalha e de pensar a guerra foram
modificadas: não se tratava mais de um sentimento de defesa local dos governos
das capitanias, criando suas guarnições, debaixo das impressões do momento.
Tratava-se de organizar um exército debaixo das mesmas leis, da mesma direção e
da mesma disciplina. Sob essa perspectiva, o trabalho analisa o processo de
471
incorporação das áreas em estudo - Norte e Centro-Sul da América Portuguesa - na
nova lógica militar implantada em Portugal a partir de 1750, bem como os seus
efeitos nos grupos armados das elites locais.

O projeto político do estado brasileiro sobre vigilâncias das fronteiras para a


defesa territorial durante a primeira metade do século XX - Fernando da Silva
Rodrigues (Universidade Salgado de Oliveira)

Esta investigação tem como proposta analisar o projeto político do Estado


brasileiro no processo intervencionista de ocupação do sertão Norte brasileiro, face
aos interesses de defesa e de vigilância das fronteiras. A pesquisa apoiou-se no uso
de documentação produzida pelo Ministério da Guerra, articulando essa produção
documental com os interesses modernizadores na primeira metade do século XX,
com os interesses do Brasil republicano, na ocupação do território através da
intervenção regional e de uma política relacionada à defesa do espaço. Fortalezas,
militares, cidades, colonização, e fronteiras são temas importantes para se entender
a formação de parte do território brasileiro. Articulados, esses temas sinalizam a
dinâmica da política de Estado implementada nessa parte da América, para
defender o território.

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Os criados e seus amos nos navios da Armada Imperial: aspectos parciais do


“efeito disciplinar global” entre os subalternos - Pierre Paulo da Cunha
Castro (Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha)

As análises em torno da disciplina na Marinha, no período em que vigorou a prática


dos castigos corporais, foram durante muito tempo vinculadas às abordagens sobre
o processo da Revolta dos Marinheiros de 1910. Devido a curta distância temporal
em relação ao evento, muitas pesquisas foram afetadas pelos períodos autoritários
que dominaram o Estado brasileiro, contribuindo para que, também, refletissem as
disputas ideológicas em torno da revolta. Somente no atual período democrático,
surgiram pesquisas que ampliaram o estudo da disciplina a bordo dos navios para
o período do século XIX, apresentando novos olhares que compreenderam, de
diferentes formas e variados aspectos, a manutenção da disciplina em um período
onde não há registros de revoltas contra os castigos. De maneira geral, esses
trabalhos preocuparam-se em compreender as causas da revolta analisando os
rígidos códigos disciplinares que estavam em vigor. Considerando a necessidade
de abordar como foi possível o mais elementar espaço da Marinha, o navio, operar
segundo uma lógica de aplicação de castigos corporais adotada para manter a
disciplina, a pesquisa que se segue é a ampliação de um dos resultados parciais da
busca de uma fonte que reunisse os registros de todos os indivíduos que
embarcaram no mesmo navio em um determinado período – o Livro de Socorros.
Assim, ao nos afastarmos das abordagens que propuseram o entendimento do
castigo corporal, a partir da análise dos Artigos de Guerra, como um suplício
472
proveniente dos regimes absolutistas, buscamos entender como a “vigilância
hierárquica” e a “sansão normalizadora” se consolidaram, concomitantemente com
a complexificação das atividades nos navios híbridos (movidos à vela e à vapor),
atuando no estabelecimento das relações entre comandantes, oficiais, grupos
intermediários e setores subalternos, a fim de perceber como aqueles homens agiam
em torno do sistema disciplinar a que estavam submetidos, estabelecendo
complexas relações que sustentaram a manutenção de uma disciplina aparente,
enquanto estavam submetidos aos regulamentos disciplinares que previam a
aplicação de castigos corporais. Este primeiro e parcial trabalho considera os
aspectos das relações entre os indivíduos que embarcaram nos navios como criados
dos oficias, e seus amos, relacionando-os com os diferentes grupos embarcados,
possibilitando o entendimento do “efeito disciplinar global” sobre estes indivíduos,
bem como da institucionalização específica deste grupo, que ocorreu somente em
1908 com o novo regulamento ao Corpo de Marinheiros Nacionais, quando foi
instituída uma companhia de taifeiros, constituída pelas praças de bom
comportamento que desejassem empregar-se no serviço da taifa.

Os desafios educacionais de um século: a saga das transformações “contadas”


pelos comandantes da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (1919 –
1923) - Fabio da Silva Pereira (Universidade Salgado de Oliveira)

A investigação diz respeito ao período que compreende as mudanças ocorridas no


plano educacional com a introdução do aperfeiçoamento militar no Exército
Brasileiro (EB) a partir de 1920, com o apoio da Missão Militar Francesa (MMF).
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O referencial bibliográfico e empírico em que se apoia e com que trabalha este


estudo centra-se em documentos pessoais dos comandantes da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), em documentos educacionais gerados no
sistema de ensino militar, além da bibliografia especializada de autores militares e
civis. A partir da revisão histórica, foram analisadas as ações ocorridas no processo
de condução do ensino na EsAO, estabelecendo elementos essenciais para a
compreensão do objeto do estudo. Este estudo tem como objeto de pesquisa
contextualizar as transformações e os desafios enfrentados por esses comandantes
em momentos críticos da história nacional. O estudo biográfico de 53 (cinquenta e
três) chefes militares propicia a tônica do discurso, ora legalista, ora em prol de
mudanças nos destinos do país. O EB, sintonizado com as conjunturas, percebeu a
inadiável necessidade de promover um processo de atualização no seu Sistema de
Ensino e elevar a EsAO à condição de uma das escolas mais importantes da Força
Terrestre. Esta pesquisa justifica-se como contribuição à literatura acadêmico-
científica e técnica da área de História do Brasil.

Política de Esportes durante a Ditadura Militar: Educação Física, Moral e


Cívica - Fabiana Ortiz do Nascimento (Universidade de São Paulo)

O marco dos 50 anos do Golpe Militar trouxe à tona o tema do Golpe e da Ditadura
Militar para a ordem do dia. Diversas reações têm sido externalizadas, sejam
críticas ou saudosistas. Nas últimas décadas um debate revisionista vem, inclusive,
contestando a denominação do regime instaurado no Brasil no período de 1964 à
473
1985, e em detrimento da denominação ditadura militar, se achando conveniente o
uso do termo "ditadura civil-militar". Por outro lado, o esporte, quanto fenômeno
social, não passa a margem dos contextos sociais, políticos e econômicos que
compõem as sociedades que o acolhem. Tendo ele capacidade de penetrar
diferentes estruturas sociais, o esporte comporta interesses que envolvem o Estado,
o mercado e as organizações sociais ou sociedade civil, estando por vezes no
centro, como motivo ou como condutor, de determinados conflitos. O presente
trabalho trata das políticas púbicas de esporte durante a ditadura militar no Estado
de São Paulo, visto que o esporte foi um dos bastiões de busca de apoio popular ao
regime vigente no país. No Estado de São Paulo o Departamento dos Desportos
esteve sob o comando militar, e neste período houve um aumento significativo na
interferência do Estado no esporte, como o aumento substancial de equipamentos
públicos de Esporte. Também abordaremos a intersecção de agentes públicos e
dirigentes de entidades esportivas no Estado.

Regime militar autoritário de 1964: o aparelho repressivo - Aloysio Castelo de


Carvalho (Universidade Federal Fluminense)

O regime político que emergiu após o golpe de 1964 apresenta uma característica
marcante: o poder de decisão que as Forças Armadas adquiriram e expandiram em
relação aos outros atores políticos. Diferentemente das intervenções militares em
1945 e 1954, quando os governos foram depostos e o poder civil restaurado, o golpe
em 1964 redefiniu o papel das Forças Armadas. A organização militar, pela
liderança do Exército, passou a impor sua concepção do Estado Nacional.
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Orientados pela Doutrina de Segurança Nacional elaborada pela Escola Superior


de Guerra, os dirigentes militares organizaram um Estado com vasto aparato
repressivo de controle político e social. A violência política exercida pelo Estado
modifica-se de acordo com as circunstâncias históricas. A violência pode ser
considerada legal, constitucionalizada, como no caso dos Estados democráticos de
direito. Pode também atingir formas extremas de ilegalidade e até mesmo adquirir
características que a aproxime do terrorismo de Estado, quando a política está
submetida ao conceito de guerra. Foi o que ocorreu no Brasil a partir de 1964,
sobretudo entre 1968 e 1973. Com a justificativa de conter a desobediência de
setores oposicionistas da sociedade civil e sustar o crescimento de grupos de
esquerda, não foram poupados esforços na mobilização de recursos repressivos. O
Estado, nesse processo, ampliou seu perfil policial com relação às manifestações
sociais e suas leis de defesa ganharam maior potencial para intimidar os inimigos
internos. Os indivíduos e grupos sociais perderam por completo suas garantias
legais, ficando desprotegidos ante as ameaças das forças de segurança que não
conheciam limites para as suas operações. A eliminação dos oponentes do cenário
institucional, através de práticas repressivas, acabou favorecendo uma cultura
muito peculiar aos regimes autoritários: a do medo. Soma-se a isso o intenso
controle sobre as diversas mídias, desnorteando a sociedade quanto aos rumos que
o país tomava. Eis em síntese os componentes do esquema repressivo erguido após
1964. Na hierarquia do poder, de acordo com a responsabilidade de garantir a
ordem autoritária, a Polícia Política se encontrava em primeiro plano, constituindo
com a Justiça Militar e a Censura um sistema integrado, que era amparado
474
juridicamente pela Lei de Segurança Nacional. Analisamos as estruturas e os papéis
desempenhados pelos órgãos do aparelho repressivo, sobretudo entre 1968 e 1973,
período no qual aparecem como instrumentos privilegiados de defesa dos governos
militares. Para realizar a pesquisa, recuperamos nos arquivos da Escola Superior
de Guerra as conferências e palestras realizadas por militares, representantes
políticos e autoridades do governo.

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475
ST 48. Mundos do trabalho e
ditaduras no Brasil republicano

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"Movimentos subversivos no Alto da Serra": ferroviários de Petrópolis no pré


e no pós-1964. - Glauber de Oliveira Montes (PPGHIS/UFRJ)

Este resumo tem como objetivo apresentar uma pesquisa sobre os ferroviários da
cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, e seu papel nas lutas sociais e políticas
travadas na cidade, entre os anos de 1960 e 1969, com base na interpretação de
documentos de época da polícia política e da 67ª Delegacia de Polícia, livros de
memórias, entrevistas orais e também da imprensa local e carioca, além da
literatura acadêmica que tem relação com o assunto. A pesquisa concentra-se em
duas fases contíguas porém distintas: de fins de 1960 a abril de 1964 e daí até 1969.
O marco divisor na periodização da pesquisa é o golpe de 1964. O primeiro
momento estudado vai, portanto, de novembro de 1960, quando da Greve da
Paridade e criação do Pacto de Unidade e Ação, até o golpe de abril de 1964; e a
segunda fase, do golpe ao ano de 1969, em que ocorreram cassações de direitos
políticos como uma espécie de última etapa de perseguição a militantes
petropolitanos de esquerda envolvidos nas lutas do “pré-64” – entre eles,
ferroviários. Nesses marcos, a pesquisa dá maior ênfase ao período entre 1960 e
1964, buscando entender a importância dos ferroviários no processo de
radicalização política que culminou no golpe de 1964, como eles eram monitorados
pela polícia política e como essa vigilância acarretou em prisões e perseguições
logo após o golpe, supondo-se que a categoria tenha tido considerável importância
no processo descrito, sabendo-se que foi duramente impactada pelo golpe e pela
ditadura subsequente. As fontes levantadas têm permitido analisar o papel e a
476
relevância da categoria no processo descrito, bem como o monitoramento policial
sobre os sindicalistas ferroviários e em suas relações com outros ativistas políticos
no pré-1964, demonstrando a importância dessa vigilância prévia para as prisões e
indiciamentos após o golpe. Além disso, esses documentos são elementos para se
avaliar o impacto do golpe e da Ditadura Militar sobre o sindicalismo petropolitano,
especificamente quanto à categoria dos ferroviários, demonstrando a existência de
prisões, atos de violência física e psicológica, além de cassações de mandatos e
direitos políticos de ferroviários e suas lideranças; considerando ainda a extinção
da ferrovia em Petrópolis pela Ditadura, em 1964, e as consequências desses
diversos impactos para a categoria dos ferroviários.

A ditadura e os canavieiras de Guariba (SP) - Julia Chequer (FGV)

O presente trabalho se propõe a analisar os efeitos da ditadura militar, em especial


do Programa Nacional do Álcool, em Guariba, interior de São Paulo. O pequeno
município cresceu rapidamente sobretudo a partir do Proálcool, em 1975, atraindo
migrantes, sobretudo camponeses do Vale do Jequitinhonha e do Nordeste, para o
trabalho na lavoura de cana-de-açúcar. Em poucos anos de vigência do Programa,
o município se tornou, ao mesmo tempo, referência na produção de álcool, com
modernas usinas, e palco de um massivo movimento grevista, em 1984. O
programa está inserido no projeto de desenvolvimento nacional da ditadura militar,
em especial da modernização da agricultura, cujas intenções já estavam presentes
no Estatuto da Terra, lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964. Buscamos, assim,
compreender de que maneira as transformações no município fazem parte desse
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projeto, apresentando também uma breve análise de como estas questões aparecem
nas no jornal A Comarca de Guariba.

A greve dos trabalhadores do sal da Cabo Frio em 1960 e seus desdobramentos


políticos - João Henrique de Oliveira Christovão (CPDOC/FGV)

No período compreendido entre junho e julho de 1960 os trabalhadores da cadeia


produtiva do sal em Cabo Frio fizeram uma greve emblemática por seus direitos
que eram, até então, sistematicamente desrespeitados. A resposta dos donos de
salina e do governo foi uma fortíssima repressão que culminou com a invasão da
cidade por tropas do exército e uma verdadeira caça às bruxas aos líderes daquele
movimento. Esse trabalho busca analisar as condições que levaram ao movimento
grevista, a ação do Estado na repressão e os desdobramentos ocorridos a partir daí.
Uma das questões que se impõe nesse episódio é em que medida os acontecimentos
ocorridos ali dão mostras da dimensão do caráter autoritário do Estado e apontam
para a possibilidade de endurecimento do regime?

Desnaturalização dos discursos do terceiro governo da Ditadura Civil-Militar


(1969-1974): a construção da história a partir da imprensa - Jonathas Duarte
Oliveira de Souza (UFPE)

Este trabalho objetiva tornar público os resultados avançados de pesquisa realizada


no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).
477
Com intuito de investigar a relação entre os discursos jornalísticos e as propagandas
governamentais do terceiro governo da Ditadura Civil-Militar (1969-1974) que
estimularam a migração de trabalhadores pobres do Nordeste para a Amazônia, foi
movimentada uma série de documentos provenientes da imprensa e de publicações
oficiais a fim de desnaturalizar a ação e a positividade com que esses órgãos agiam.
Assim, analisando a bibliografia especializada no tema associada à robusta
produção discursiva sobre as políticas públicas do período em questão, foi possível
construir uma narrativa que demonstra a associação desses importantes setores para
construção da imagem revolucionária da ditadura de 1964, bem como os
dispositivos linguísticos que se utilizavam os jornais para convencimento da
população. A argumentação também terá por objetivo fazer um debate no campo
da historiografia, versando sobre o uso da imprensa como fonte histórica.

Grevismo e Repressão Judicial: Brasil, Anos 1980 - Richard de Oliveira


Martins (UNICAMP)

O trabalho que apresentaremos trata de agumas das diferentes modalidades de


repressão judicial com que se depararam lideranças metalúrgicas como
consequência de sua participação nos movimentos grevistas que marcaram o
período da chamada "abertura política". Partimos do fracasso da tentativa de
criminalização de alguns dos dirigentes metalúrgicos de São Bernardo do Campo,
na sequência da greve que conduziram em 1980, através de seu enquadramento na
Lei de Segurança Nacional. Aquele processo se encerraria em 1983 com um
veredito do Supremo Tribunal Militar que, na prática, reconhecia a incompetência
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da Justiça Militar para avaliar matérias relacionadas às greves, praticamente no


mesmo momento em que uma nova Lei de Segurança Nacional, supostamente mais
branda, era aprovada pelo governo Figueiredo. Dois anos depois, já sob Sarney,
quando ativistas e sindicalistas metalúrgicos de São José dos Campos também se
viram alvo de processos criminais como resultado de sua participação numa greve
com ocupação de fábrica, a nova LSN não foi mobilizada; a repressão promovida
pelo Governo do Estado de São Paulo contra os grevistas se amparou em artigos
do próprio Código Penal, numa evidente tentativa de caracterizá-los como simples
criminosos, despolitizando a greve e escamoteando o caráter também
eminentemente político da própria repressão.

No front interno: trabalhadores, esforço de guerra e lutas contra a carestia em


Niterói (1942-1945) - Luciana Pucu Wollmann do Amaral (Professora da rede
pública estadual e municipal do Rio de Janeiro)

Este trabalho tem como objetivo analisar como a experiência da carestia vivenciada
por milhares de trabalhadores durante a Segunda Guerra Mundial, acabou
colocando essa discussão no patamar do debate político nacional e da conquista de
direitos. Tratando-se de um período marcado por mobilizações populares em prol
da entrada do Brasil na guerra, aqueles anos também foram marcados por
sacrifícios impostos aos trabalhadores que foram convocados a servir na linha de
frente da “batalha da produção”. Desta maneira, se por um lado, o discurso
patriótico motivado pela conjuntura de guerra buscou justificar medidas como a
478
ampliação da jornada de trabalho, suspensão de direitos trabalhistas e espoliação
salarial; por outro, este também forneceu material discursivo para àqueles que se
engajaram nas lutas por melhores condições de vida e trabalho durante a guerra e
no período imediatamente posterior a esta. Em Niterói, o “esforço de guerra”
elevou os custos com alimentação a tal ponto, que a capital fluminense chegou a
registrar a maior alta de preços de gêneros alimentícios em relação às demais
capitais da região sudeste e até mesmo, das demais capitais brasileiras em alguns
períodos entre 1942 e 1944. No campo de batalha interno da cidade, a luta dos
preços X salários motivava denúncias contra os açambarcadores, os “tubarões” do
mercado negro e os antipatriotas que aumentavam preços e adulteravam produtos
vendidos à população. Neste cenário, as lutas contra a carestia e da alta no custo de
vida tiveram um impacto significativo na experiência de luta e na consciência de
classe dos trabalhadores da capital fluminense nos anos 1940 e também na década
seguinte. Logicamente, que esta não era uma exclusividade da cidade de Niterói e
nem tampouco uma novidade na vida dos trabalhadores brasileiros que com
frequência, precisam “esticar” o salário ao final do mês para garantir o mínimo
necessário para a sua sobrevivência e da sua família. Outras pesquisas ambientadas
em Santos, São Paulo, Amazonas e Rio Grande do Sul, ainda que não estejam
necessariamente centradas na temática da guerra, enfatizam a importância daqueles
anos para a experiência dos trabalhadores, seja pelas consequências da
superexploração ou pelas possibilidades de ação e/ ou (re)formulação do repertório
de lutas dos trabalhadores a partir das mudanças ocasionadas pela entrada do Brasil
na guerra. Desta maneira, buscaremos a partir de um estudo espacialmente
localizado – Niterói – perceber como as lutas e medidas tomadas contra a carestia
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conformam, em seu conjunto, um processo de politização da carestia que irá se


manifestar com força no cenário político fluminense (e brasileiro) no pós 1945.

O Ministério do Trabalho e Programa Especial de Bolsa de Estudos


(PEBE) - Heliene Chaves Nagasava (Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea)

O golpe militar de 1964 marcou uma profunda alteração no papel do Ministério do


Trabalho. A pasta, especialmente no período do intervalo democrático, tinha
galgado os primeiros postos da máquina burocrática, passando a ser um dos
principais ministérios do Poder Executivo. No entanto, a ditadura transferiu o poder
decisório de questões centrais para os trabalhadores para os ministérios da área
econômica e para os aparelhos repressivos, o que levou tanto ao desmantelamento
físico da sua própria estrutura, com a redução do seu orçamento e quadro de
funcionários, quanto à perda simbólica do seu papel de negociador com a classe
trabalhadora. A ditadura militar passou a promover uma nova política para os
trabalhadores que, definida como “novo trabalhismo”, termo cunhado por Roberto
Campos, ministro do Planejamento de Castelo Branco, visava promover a
democratização das oportunidades, ampliando as atribuições dos sindicatos e
deslocando o seu foco de atuação das reivindicações salariais para o
desenvolvimento, em associação com o governo, de projetos e programas de
investimentos nos setores sociais de produtividade indireta. O fato dessa política
ser criada, resumida e divulga pelo ministro do Planejamento já evidencia a pouca
479
influência do Trabalho. Carro chave dessa nova política foi o Programa Especial
de Bolsa de Estudos (PEBE), citado como uma importante ação governamental
para aumentar o número de sindicalizados, promover um alívio salarial para os
trabalhadores e estimular a sua educação. O programa, criado em janeiro de 1966
ainda sob a gestão do Ministro do Trabalho Walter Peracchi Barcelos, foi um dos
mais importantes para o governo Costa e Silva e visava fornecer bolsas de estudos
para filhos de trabalhadores sindicalizados. Uma das mais importantes fontes de
renda veio da Aliança para o Progresso e a sua repercussão foi aventada de tal
forma que se tornou vitrine para sindicalistas internacionais e membros da OIT que
visitariam o país. Um dos principais canais de divulgação do PEBE foi os Boletins
informativos da Agência Nacional, órgão de notícias do governo federal, que eram
distribuídos para a imprensa. No final dos anos 1960, enquanto o país
convulsionava em manifestações públicas contra a ditadura e a classe trabalhadora
se organizava em greves contra o arrocho salarial, o Ministério do Trabalho passou
a ignorar tais acontecimentos limitando-se a divulgar boletins quase
exclusivamente sobre o PEBE. Nesse sentido, nesse trabalho pretendo analisar os
boletins divulgados pelo Ministério do Trabalho, via Agência Nacional, para tentar
compreender qual modelo de trabalha e trabalhador a ditadura queria construir,
refletindo sobre a efetividade do PEBE e levantando hipóteses sobre o seu impacto
sobre a classe trabalhadora.

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Os prejulgados como instrumento de controle nas ações trabalhistas nos


acórdãos coletivos durante a ditadura civil-militar - Claudiane Torres da
Silva (Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro)

Cinquenta anos depois do golpe civil-militar, essa pesquisa colabora com as demais
pesquisas quando constata que as relações estabelecidas entre o Poder Executivo e
o Poder Judiciário colocou um peso enorme nas decisões proferidas pela Justiça do
Trabalho. Nesse sentido, proponho entender a Justiça do Trabalho como um espaço
de debates e ações jurídicas que possuem um apelo social imprescindível na
sociedade brasileira. Em momentos, de crise e golpes de Estado, os tribunais
trabalhistas atuam em defesa de um ramo do Direito que deve servir ao equilíbrio
de forças entre o capital e o trabalho. A análise buscou perceber como uma
instituição com características democráticas, o Tribunal Regional do Trabalho da
Primeira Região, sofreu intervenções através do Provimento n. 20/64 e viu suas
atividades serem atingidas com as leis, os decretos e os prejulgados que alteraram
sua estrutura atingindo aqueles que a utilizavam. Os caminhos para apresentar a
atuação da Justiça do Trabalho e dos sindicatos patronais e dos trabalhadores na
cidade do Rio de Janeiro ainda tem muito a esclarecer, mas proponho aqui resumir
um importante diagnóstico das ações coletivas peticionadas pelas entidades de
classe durante o período de 1964 e 1979. A atuação das turmas de magistrados no
Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região mostrou-se bastante
heterogênea ao longo desse período. Nesse sentido, o debate acerca do Direito do
Trabalho no tribunal, por um lado esbarrou em decisões mais ousadas em vista de
480
uma certa autonomia conquistada nas sentenças coletivas que fugiam das
orientações do regime, por outro lado, em momentos específicos, acatou a
legislação e atos administrativos impostos ao longo desse período.

Pastoral Operária: a experiência política e religiosa em Volta Redonda e no


ABC Paulista e (1978-1988) - Luiz Fernando Mangea da Silva (UFRRJ)

A presente comunicação faz parte da definição do objeto da minha pesquisa de


doutorado que tem como objetivo a análise da transformação das práticas sociais,
políticas, culturais e religiosas da Pastoral Operária (PO) e do movimento operário
de Volta Redonda, Sul do Estado do Rio de Janeiro, e do Grande ABC Paulista, no
período de transição da ditadura militar para o período de redemocratização do
Brasil, entre os anos de 1978 e 1988. A escolha espacial se dá pela importância
tanto de Volta Redonda quanto do ABC no cenário político nacional, já que essas
regiões geográficas serviram de relevantes espaços de experiências políticas
desenvolvidas não só pelos operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
instalada em Volta Redonda, mas também, pelos trabalhadores das diversas
fábricas situadas no ABC Paulista. Volta Redonda e o ABC, no final da década de
1970 e durante a década de 1980, foram importantes núcleos de experiências
política e social para o movimento operário e para os movimentos católicos. Foram
práticas de lutas desenvolvidas por esses atores sociais, e que se estenderam até a
promulgação da Constituição Brasileira de 1988. Entendemos que as
reivindicações da classe trabalhadora de Volta Redonda e do ABC Paulista foram
importantes não só para incluir uma pauta de interesse dos trabalhadores, mas
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também, como sendo fundamentais para criar um consenso de restauração da


democracia brasileira.

Resquícios do Estado Novo: greves de trabalhadores têxteis, repressão


policial, eleições municipais e cassações arbitrárias em 1948 - Felipe Augusto
dos Santos Ribeiro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

A presente comunicação pretende analisar o intenso ciclo de greves de


trabalhadores têxteis ocorrido no Estado do Rio de Janeiro, entre os anos de 1948
e 49, particularmente nos municípios de Magé, Niterói, Nova Friburgo e Petrópolis.
Simultaneamente, buscaremos relacionar essas mobilizações operárias com o
contexto da eleição municipal de 1947 (a primeira a ser realizada após o fim do
Estado Novo). Neste processo eleitoral, diversos trabalhadores têxteis foram eleitos
vereadores, a maioria cassada arbitrariamente no ano seguinte, sob a alegação de
"comunismo". Discurso similar foi utilizado para justificar a repressão às greves
de 1948 e 49, com a realização de "torturantes interrogatórios" dentro dos
escritórios das fábricas e depoimentos de trabalhadores "ditados por policiais".
Dessa forma, a comunicação busca refletir sobre as continuidades de práticas
características da ditadura do Estado Novo no contexto democrático após 1945.

Sindicalismo e Redemocratização: o sindicalismo metalúrgico de Volta


Redonda e Região, dos anos 70 até meados dos anos 80 - Eduardo Ângelo da
Silva (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
481
Essa apresentação examina o sindicalismo metalúrgico no Sul Fluminense após o
Golpe civil-militar de 1964, com maior foco nos anos 70, e suas transformações,
concomitantes ao processo de abertura política do regime militar, até 1985. A
análise tem como base o periódico de importância regional “Jornal Opção”.
Através do “Opção” buscamos as relações entre o tipo de sindicalismo existente e
a comunidade, num contexto de rápidas transformações sindicais e políticas.
Procuramos enredar as práticas sindicais em um panorama maior de intenções e
ações dos trabalhadores e da ditadura civil-militar. Assim, analisamos as práticas
das três gestões de Waldemar Lustoza (1974-1983), consideradas como
características de um sindicalismo assistencialista e burocrático. Destacamos suas
bases sociais, seu perfil como presidente e o processo de desgaste de sua liderança
relacionado à ascensão da Oposição Sindical Metalúrgica. Observamos ainda as
disputas eleitorais do período e o início da primeira gestão de Juarez Antunes, eleito
em 1983 para a presidência do sindicato. A cidade, Área de Segurança Nacional e
sede da Usina Presidente Vargas, principal unidade produtiva da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), foi alvo de grande atenção dos governos militares e
das forças opositoras ao regime. O sindicalismo local esteve em permanente
relação com as rápidas transformações contextuais e é esse panorama, relacionado
aos investimentos políticos de setores opostos, que se pretende destacar.

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Uma contestação à ditadura brasileira: o Movimento dos Trabalhadores


(1978-1985) - Isabella de Faria Bretas (UFG)

O Movimento dos Trabalhadores, surgido no final da década de 70 em Goiás,


defendia um projeto autonomista que, segundo documentos oficiais da própria
organização, revela a crença na possibilidade de as massas organizarem-se
autonomamente em função da transformação revolucionária da sociedade.
Evidentemente, a questão da autonomia é a questão do poder. O Movimento tem
autonomia na medida em que tem poder de se organizar e de se administrar por si
mesmo, e é tanto menos autônomo, quanto mais recebe de instâncias externas, as
normas as quais se submete. O Movimento dos Trabalhadores surge, portanto, a
partir da tentativa de autonomia das massas, da articulação global de todas as
organizações, sem a interferência externa do partido, pois o partido se organiza a
partir da própria organização das massas. O MT foi um dos movimentos que mais
aglutinou forças na formação de um partido de massas no campo popular e que se
concretizou no Partido dos Trabalhadores (PT). Em um primeiro momento, o
Partido dos Trabalhadores incorporou não só bandeiras populares, mas as formas
organizacionais dos movimentos populares no Brasil, como por exemplo a
formação de núcleos por local de trabalho e moradia, representação desses
mecanismos nos instrumentos de direção, etc. O PT foi possivelmente o único
partido que se aproximava de uma tipologia de “partido de massa”, nos moldes das
organizações socialistas cujas tentativas de implantação já haviam sido realizadas
em outros países. A temática sobre o Movimento dos Trabalhadores aborda
482
concepções leninistas sobre a formulação da independência dos trabalhadores que
discutem, sobretudo, a questão da autonomia. Essa questão é central na
problemática política do marxismo e envolve toda a discussão sobre revoluções,
estratégias de luta e ideologia dos trabalhadores e militantes de esquerda. As lutas
reivindicavam liberdades democráticas, resistência à ditadura, ainda que não fosse
o confronto direto, reforma agrária, direitos trabalhistas no campo e na cidade, uma
vez que o MT também tinha bases urbanas como, por exemplo, na construção civil,
na luta por moradias, etc. Por meio de organismos autônomos de trabalhadores,
ligados ao campesinato ou assalariados agrícolas uma dimensão revolucionária
destacou-se devido ao mérito próprio dessas organizações.

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483
ST 49. Novos temas e debates sobre a
imprensa e circulação de impressos no
século XIX: interseções entre a
história cultural e a cultura política

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"Princípios políticos acomodados à Capacidade dos Farroupilhas":


vicissitudes da linguagem política radical no tempo das Regências - Marcello
Otávio Neri de Campos Basile (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O trabalho aborda o pensamento político de Marcelino Pinto Ribeiro Duarte,


veiculado no jornal O Exaltado, que circulou no Rio de Janeiro entre os anos de
1831 e 1835. Concentra-se na análise do vocabulário político expresso por meio
das definições de 23 conceitos acerca dos fundamentos e tipos de governo e de
soberania, publicados nas páginas do referido jornal, em dezembro de 1831. Padre
e professor de origem capixaba, Marcelino esteve vinculado, durante a fase das
regências trinas, aos liberais exaltados da Corte. Suas ideias e práticas, no entanto,
revelam, ao mesmo tempo, sintonias e dissonâncias em relação ao projeto
predominante do grupo radical, lançando luz sobre as vicissitudes do debate
político transcorrido no período em questão.

A identidade politica regressista nas paginas do o Cronista e do o Brasil (1836-


1840) - Tatiane Rocha de Queiroz (UNIRIO)

Desenvolvemos uma reflexão baseada na premissa de que a imprensa periódica ao


longo dos anos de 1836 a 1842 tornou-se um importante instrumento de ação entre
os principais grupos políticos do império, que a utilizaram não só para divulgar e
delinear suas ideias, mais como um meio possível de delimitação e de conformação
de suas identidades. Ou seja, a imprensa passou a fazer parte do processo de
484
desenvolvimento de uma nova consciência política que visava interferir
diretamente no espaço público através dos seus projetos de ação. Era o momento
de construção de significados, de delimitação de espaços políticos. A imprensa
tornou-se uma ‘’arena’’ pública de apresentação de ideias, valores, significados e
interesses. Que passaram a ser politizados por seus expositores que encenavam suas
batalhas políticas numa espécie de palco, no qual personagens situados em campos
opostos de movimentavam em torno de seus posicionamentos, de suas escolhas e
de seus interesses pessoais e ou do grupo o qual eram coligados.

A imprensa a serviço da República: campanhas republicanas na imprensa


brasileira em fins do século XIX - Camila de Freitas Silva Bogéa (Unirio)

Nosso objetivo no presente trabalho é analisar as diferentes campanhas


republicanas veiculadas pelos jornais: A Província de S. Paulo – publicado em São
Paulo, O Paiz – publicado na Corte, e A Federação – publicado em Porto Alegre,
entre 1884 e 1889. Representantes do movimento republicano nas principais
províncias do país, formavam a trindade da propaganda republicana via imprensa
e seus editores e diretores Rangel Pestana, Júlio de Castilhos e Quintino Bocaiúva,
a frente do debate. Detentores das letras e produtores de discursos diretamente
relacionados às discussões públicas da cidade e do Estado, os jornalistas
constituíam um grupo de intelectuais cujas opiniões ecoavam na sociedade.
Conscientes de seus papéis, buscavam guiar a opinião pública através de artigos e
editoriais. Em momentos de mudanças eram os informantes da situação à
população. Era nas portas das edições que se reuniam grandes parcelas da
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população para descobrir ou se informar do que estava ocorrendo. Desta forma,


destacaremos a atuação destes importantes jornais, que ligados em diferentes níveis
ao movimento republicano, foram importantes instrumentos na construção de uma
opinião que, não só passa a atentar para a necessidade de reformas, como também
vai se tornando cada vez mais receptiva em relação à ideia de um governo
republicano no país. Ainda que estivessem, os três, empenhados na propaganda
republicana, esta se deu em muitas frentes e por diferentes grupos, com diferentes
projetos. É neste sentido que apontamos a existência de campanhas republicanas,
procurando ao longo do trabalho apresentar os debates e ideias de República
defendidas pelos jornais.

A imprensa e os pastores: a difusão do presbiterianismo no Brasil (1880-


1903) - Pedro Henrique Cavalcante de Medeiros (UFRRJ)

A intenção de nossa comunicação é fazer uma breve análise do uso da imprensa


pelos protestantes, principalmente os de confissão presbiteriana, no Brasil, no fim
do século XIX. Desde o início da missão presbiteriana no Brasil, em 1859, a
imprensa foi tomada como aliada para a difusão da nova religião entre os
brasileiros. Ao analisarmos a Imprensa Evangélica, fundada em 1864, vemos que
além da divulgação da mensagem propriamente evangélica, os presbiterianos
também procuraram formar uma opinião pública em favor dos direitos civis dos
não católicos, em questões relacionadas aos registros civis, ao casamento civil, à
secularização dos cemitérios e à liberdade de culto com proselitismo. A partir da
485
década de 1880 outros periódicos protestantes surgem. Entre os presbiterianos, a
grande mudança ocorre a partir de 1892, com o fim da publicação da Imprensa
Evangélica, e o surgimento, em 1893, do jornal O Estandarte como órgão oficial
da instituição. Essa mudança refletia o crescimento nacional da instituição com a
maior influência dos líderes nativos, dentre eles, principalmente, Eduardo Carlos
Pereira, fundador de O Estandarte. Ao fazermos um levantamento sobre a relação
entre os pastores nacionais presbiterianos e o uso da imprensa para divulgação da
mensagem evangélica, observamos que dos 47 pastores que foram ordenados até
1903, dezoito atuaram na imprensa diretamente, seja fundando ou escrevendo
nesses jornais. Em 1903, a instituição chega ao ápice da disputa com relação à
autonomia do trabalho brasileiro em relação à dependência das juntas missionárias
norte-americanas, resultando na primeira cisão denominacional de uma igreja
evangélica no Brasil. Essa disputa também se refletiu nos jornais, em 1901 foi
fundado O Puritano, de Álvaro Reis, que se opunha a O Estandarte, como novo
órgão oficial do presbiterianismo no Brasil. Portanto, nosso propósito será discutir
como a imprensa serviu como um campo de disputas religiosas no Brasil, no fim
do século XIX. Como referencial teórico, partimos dos conceitos de campo
religioso de Pierre Bourdieu. Como referencial metodológico, procuramos seguir
as orientações de John Pocock sobre o contextualismo linguístico.

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A luta contra o anonimato na imprensa brasileira do final do século


XIX - Raquel Machado Gonçalves Campos (Universidade Federal de Goiás)

Em fevereiro de 1885, o recém-lançado "A Semana", periódico de vocação literária


dirigido por Valentim Magalhães, publicou um artigo intitulado "Moralidade da
imprensa", em que se ataca o "Jornal do Commercio" por explorar o anonimato,
em particular em sua seção "A pedidos". O ataque, que teve continuidade nas
semanas seguintes", foi respondido pelo órgão atacado, conforme se pode
depreender dos textos saídos em "A Semana". Apenas alguns meses depois, em 04
de julho, o jornal de Magalhães trouxe um texto de Urbano Duarte, intitulado "O
anonymo na imprensa brasileira", no qual a publicação anônima era novamente
objeto de condenação. Vinculada a uma pesquisa em andamento e que conta com
o apoio do CNPq, esta comunicação visa analisar os termos dessa querela contra o
anonimato, investigando suas possíveis implicações políticas. Afinal, o "Jornal do
Commercio" era o principal bastião do pensamento conservador na imprensa
carioca e 1885 foi mais um ano chave da causa abolicionista, abertamente
defendida pelo grupo de literatos reunidos em "A Semana".

A mulher por ela mesma: vozes femininas no jornal "A Família" - Lívia
Assumpção Vairo dos Santos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

No Brasil da segunda metade do século XIX, começam a emergir ideias de


emancipação feminina em consonância com o pensamento europeu, especialmente
486
aquele suscitado por Mary Wollstonecraft e difundido por Nísia Floresta em terras
brasileiras. Neste contexto, impressos como A Família: jornal literário dedicado a
educação da mãe de família, fundado e dirigido pela professora e redatora-chefe
Josephina Álvares de Azevedo, atuam como um espaço democrático de voz para
as mulheres falarem sobre sua própria condição através das publicações de artigos
de uma rede de leitoras que também agiam como colaboradoras ativas. A partir
deste objeto, podemos ter um exemplo mais amplo do que representava ser mulher
– cultural e socialmente – bem como ter contato com opiniões femininas
divergentes no que concerne à subordinação em relação à figura masculina e à
necessidade de autotutela. Busca-se, deste modo, demonstrar que apesar das
limitações impostas ao belo sexo, dos poucos recursos que dispunha e de suas
escassas oportunidades de atuação no mundo público, a imprensa foi um
instrumento que colaborou significativamente para que as mulheres rompessem a
clausura da esfera privada e o silenciamento de suas vozes, passando a levar seus
anseios, angústias e desejos a público, ou melhor, à opinião pública, tentado
conferir visibilidade e reconhecimento às suas próprias demandas e a criar uma
rede de apoio e debate, onde as questões da vida feminina pública e privada se
entrelaçavam.

A recepção d'O mulato de Aluísio Azevedo a partir dos periódicos: crítica


literária e interlocução intelectual - Raick de Jesus Souza (COC/FIOCRUZ)

Umas das obras ficcionais de Aluísio Azevedo que mais geraram controvérsia entre
os intelectuais de seu tempo foi certamente O mulato; primeiro romance de cunho
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Naturalista do autor e segundo de sua carreira. Como é sabido a partir do estudo


biográfico Aluísio Azevedo: vida e obra publicado em 1989 por Jean Yves-Mérian,
este romance conheceu duas formas, uma primeira, publicada inicialmente em São
Luís do Maranhão em 1881 e uma segunda edição, com sensíveis alterações
realizadas por Aluísio Azevedo, publicada em 1889 no Rio de Janeiro. A partir do
cotejamento dos periódicos de circulação no Maranhão e no Rio de Janeiro entre
os anos de 1880 a 1890, entre eles O Pensador, Pacotilha e Revista Ilustrada, este
estudo analisa a crítica acerca da obra O mulato, percebendo quais sãos os eixos
fundamentais em que pairam as suas críticas, bem como analisar como Aluísio
Azevedo e seus defensores e colegas profissionais se posicionaram frente à crítica.
Aluísio Azevedo parecia estar sempre atento às críticas sofridas pela sua obra e se
esforçava ao máximo para responde-las. É sensível seu anticlericalismo e podemos
mesmo afirmar que diferente do que apontam alguns dos seus principais
interpretes, Josué Montelo e Gilberto Freyre, acreditamos que o eixo central da
obra O mulato é mostrar não apenas a condição do “homem de cor”, mas em
especial da corrupção do clero. Em sua participação na imprensa, fica evidente que
um dos temas que mais mobilizou o autor não foi a discussão racial e sim a questão
moral do clero. O que este estudo evidencia é que Aluísio Azevedo explorou
diversas outras temáticas tanto na edição de 1881, quanto na de 1889, e que seu
anticlericalismo vai sendo deixado de lado em prol de outros assuntos, sobretudo
após a separação da Igreja do Estado com o movimento republicano no final do
século XIX. O nosso autor parece ter incorporado as leituras que foram feitas
acerca de sua obra no processo de reelaboração, não apenas modificando algumas
487
trajetórias de suas personagens como valorizando pontos pouco explorados em sua
primeira edição. Como demonstraremos, Aluísio Azevedo parece ter se
aproveitado da crítica de sua obra para a correção das supostas “imperfeições”,
amputando-a de diversos pontos contraditórios e controversos. Foi curioso notar a
partir da análise dos periódicos do qual Aluísio Azevedo era colaborador seus
diversos mecanismos para promoção de sua obra e para respostas às críticas
sofridas. O jogo entre ficção e realidade é indelevelmente uma das principais
marcas presentes na escrita de sua obra e no conteúdo da resposta de suas críticas.

As visões sobre as hierarquias sociais nos jornais exaltados do final do


Primeiro Reinado e início do Período Regencial - Camila Borges da
Silva (UERJ)

O início da Regência, após a abdicação de d. Pedro I, foi marcado pela emergência


de projetos políticos que versavam sobre os modelos institucionais que o Estado
imperial deveria adotar e que foram sufocados durante o Primeiro Reinado, de
maneira que esse foi um momento de alargamento da opinião pública. O
fechamento da Assembleia Constituinte, em 1823, e a outorga da Constituição, em
1824, foram percebidos por alguns grupos como a imposição de um projeto político
não deliberado no espaço legítimo de representação: o Legislativo. Dentre as
polêmicas debatidas em 1823, no Parlamento e na imprensa, que emergiram com
força no final da década de 1820, estava o papel das condecorações honoríficas e
suas implicações políticas. Entendia-se que, por um lado, as condecorações
construíam uma nobreza e que, por outro, serviam como elemento de
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fortalecimento do poder central, em detrimento do Poder Legislativo. Dessa forma,


a discussão sobre esses instrumentos se interpenetrava com os debates acerca da
organização do poder e da hierarquia social. O objetivo da comunicação é perceber,
por meio da análise de periódicos ligados aos liberais exaltados - corrente política
que foi perseguida durante o governo do primeiro imperador -, as visões desse
grupo sobre a organização social do Império, compreendendo, deste modo, as
percepções sobre a manutenção das ordens honoríficas no Brasil independente.

Biografia, imprensa e política em Luís Augusto May: um redator


controvertido no Império do Brasil (1792-1833) - Myriam Paula Barbosa Pires
Gouvea (UFJF)

Este trabalho objetiva apresentar resultados parciais de pesquisa Doutoral que trata
de mapear e analisar aspectos da Biografia do político, militar e redator Luís
Augusto May. Seus periódicos foram A Malagueta e A Malagueta Extraordinária
circulados na Corte do Rio de Janeiro e constam das principais fontes para nossa
investigação que traz como recorte os anos de 1782 – nascimento de May – e 1850,
ano de sua morte.

Discursos republicanos na circulantes na imprensa de oposição do Rio de


Janeiro entre os anos 1870 e 1879 - Mariana Nunes de Carvalho (UERJ)

Este trabalho tem como objetivo principal analisar os sentidos que eram atribuídos
488
à palavra república e os projetos de república que veiculavam nos periódicos de
oposição à monarquia que circulavam na corte entre os anos 1875 e 1879. Aqui
apresentaremos um mapeamento de periódicos, entre jornais, folhas e folhetos, de
oposição ao regime monárquico, que foram levantados para serem analisadas ao
longo do doutorado. Portanto, este trabalho aqui apresentado é um breve recorte do
que desenvolverei nestes anos de pesquisa. A leitura e análise destas fontes
permitirá compreender não somente o discurso político circulante na imprensa
deste período e os projetos de república que eram propostos por estes homens em
um período de baixa atividade política liberal, mas trará ao debate historiográfico
fontes de pesquisa praticamente inéditas, e estes periódicos são três delas. Cânones
que estudaram a história da imprensa como Nelson Werneck Sodré e Rizzini não
citam em suas obras tais periódicos. Além do mais, este trabalho possibilitará a
descoberta de novos atores políticos atuantes na imprensa da corte de um período
crucial para a história do Brasil que é o da crise do segundo reinado. Parte-se do
pressuposto de que a fala contida nestes periódicos discute não apenas o conceito
de república, mas conceitos como democracia, liberalismo, cidadania, aí incluindo
o debate sobre a participação política e relações de trabalho. A análise do discurso
proferido nestes periódicos enfatizará as propostas políticas dos redatores em
substituição à monarquia e aprofundará a investigação dos sentidos que tais
conceitos ganharam nesse período. Acredita-se que estas expressões tiveram seu
sentido ampliado no âmbito das manifestações políticas que marcaram estes anos,
uma vez que a sociedade vinha sofrendo mudanças estruturais, oriundas da intensa
atividade econômica do período, quando surgiram bancos, indústrias, empresas de
navegação a vapor, e o país ia em direção a uma modernização capitalista.
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Entre cientistas e republicanos: o Boletim do Museu Paraense no final do


século XIX (1894-1907) - Igor Nazareno da Conceição Corrêa (COC/Fiocruz)

Durante a segunda metade do século XIX mudanças importantes estavam em


processo no mundo e por consequência no Brasil. O mundo científico já não era
mais o mesmo depois da nova visão trazida com a "Origem das Espécies" de
Darwin, o desenvolvimento industrial alcançava níveis muito maiores do que no
século anterior e a ideia de transformação política ainda se fazia presente em
sociedades insatisfeitas com seus regimes de poder. As palavras evolução,
progresso e transformação, ganhavam um sentido ímpar dentro daquele contexto
peculiar. No Brasil a monarquia dava lugar ao regime republicano instaurado no
ano de 1889 que, naquele momento ainda caminhava no sentido de se legitimar.
Muitos dos cientistas e instituições científicas brasileiros se inseriam dentro
daquele novo contexto recebendo benesses de um Estado que recorria a inúmeras
estratégias para se consolidar. No Pará, processava-se uma mudança não somente
no nome (que saíra de Província para Estado), mas também na esfera política e na
científica. O recém reformulado Museu Paraense (1894), ressurgiu exatamente no
contexto de instauração do governo republicano na região do Pará. Assim sendo,
as demandas de interesses políticos mostravam suas nuances dentro daquela
instituição científica que tinha "renascido" sob a égide progressista do governo
republicano paraense. Este ponto de tangência pode ser percebido no periódico
publicado pelo Museu Paraense que era conhecido como Boletim do Museu
489
Paraense. Este periódico tinha uma circulação ampla, alcançando níveis regionais
nacionais e internacionais e tinha o objetivo de apresentar para o público leitor, as
pesquisa que eram desenvolvidas pelo Museu Paraense. Contudo a chamada "seção
administrativa" do periódico serve como um "topoi" onde o científico e o político
dialogavam de acordo com os interesses mútuos. O presente trabalho se propõe a
analisar como que o Boletim do Museu Paraense funcionou como um espaço de
interseção entre a retórica científica mas também política, dentro de uma especie
de proto-cooperação que beneficiava a esfera científica formada pelo Museu
Paraense, mas também a política representada no jovem governo republicano
paraense.

Estampando o gosto: gênero e moda na imprensa feminina no Rio de Janeiro


Oitocentista - Everton Vieira Barbosa (Universidade Federal Fluminense)

Desde que os impressos periódicos voltados ao público feminino começaram a ser


publicados no Rio de Janeiro, no século XIX, um dos maiores assuntos tratados
pelos redatores no período era sobre a moda. Perpassada pelo universo feminino, a
moda consumida no Brasil, na maioria das vezes, tinha origem estrangeira.
Enquanto os tecidos e demais acessórios ligados à produção de vestimentas e
adereços utilizados no corpo tinham procedência inglesa, as gravuras com imagens,
as informações impressas sobre a moda, sobre os tipos de acessórios, sobre a
descrição de vestimentas e sobre os espaços adequados para o uso daquele traje
tinham procedência francesa. Tanto os tecidos e demais materiais da Inglaterra,
quanto as gravuras e os impressos periódicos sobre o universo da moda de origem
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francesa desembarcavam no porto do Rio de Janeiro, atendendo a demanda de


consumidores que crescia constantemente pela cidade e pelo país. No Rio de
Janeiro, estes objetos e as informações se cruzavam nos estabelecimentos de moda
espalhados pela cidade, acessado pelas modistas, pelos alfaiates e pelos demais
indivíduos ligados ao uso das roupas e dos acessórios corporais. Tal cruzamento
possibilitou a atualização de assuntos do mundo modista que pairava sobre a
Europa, mas também permitiu a construção de um determinado gosto sobre os tipos
de vestimentas adequados para serem utilizados por homens, mulheres e crianças
em distintos espaços de sociabilidade no Rio de Janeiro. Deste modo, temos como
objetivo dar visibilidade à circulação destes objetos, utilizados no Rio de Janeiro
para compor as vestimentas e acessório, e de informações que possibilitavam
instruir e moldar os comportamentos e os usos que deviam ser feitos destas roupas
por seus consumidores. Para alcançarmos tais objetivos, tomaremos como fonte de
análise o periódico Le Moniteur de la Mode (1843-1913), de origem francesa, O
Jornal das Senhoras (1852-1855), de origem brasileira, e outras fontes impressas,
além de algumas informações que permitam identificar parte dos materiais de
origem estrangeira que desembarcavam no porto do Rio de Janeiro. A partir desta
análise, será possível compreender como o circuito modista acontecia e como a
ligação entre o objeto e as informações disponibilizadas pelos impressos periódicos
circulava e forjava não apenas um estilo e um padrão apropriado de se vestir em
determinados locais, mas também se constituía como um ato político, na medida
em que instruía e construía o gosto modista entre o público leitor da imprensa
feminina na segunda metade do século XIX.
490
Imprensa, política e sociedade: o recrutamento de menores para Armada
Imperial nas páginas do Argos da Província de Santa Catarina e do Diário de
Pernambuco - Wagner Luiz Bueno dos Santos (UNIRIO)

Nas últimas décadas da primeira metade do século XIX, a Marinha Imperial


inaugurou um modelo de recrutamento que se consolidou como grande projeto de
arregimentar e formar praças no último quartel daquele século. Ampliar o número
de recrutáveis foi o objetivo das autoridades navais quando criaram, na Corte em
1840, a Companhia de Aprendizes-Marinheiros. A instituição combinava espaço
de aprendizagem para o ofício de marinheiro com o serviço de bordo nos vasos de
guerra. Dessa forma a Marinha Imperial buscou, assim, ampliar suas fileiras,
recrutando crianças e jovens nos mais variados recantos do território imperial.
Pretendemos verificar o alcance desse projeto em relação à população das vilas e
cidades e a reação dos indivíduos a essa nova forma de arregimentar homens para
a Armada. Pois, a medida que se elaborava e desenvolvia o novo modelo de
recrutamento nos corredores da política imperial, personagens, como Capitães do
Porto, Inspetores dos Arsenais de Marinha, Comandantes das Companhias de
Aprendizes-Marinheiros, Juízes, Presidente das Províncias, entre outras
autoridades locais, formavam uma rede bem costurada para arregimentar filhos,
netos, sobrinhos e tutelados para o serviço da Armada. Nesse processo de
consolidação do recrutamento para as Companhias de Aprendizes, foi importante
a atuação de alguns setores como o da imprensa. Sua contribuição para formação
da opinião pública durante aquele processo é o nosso objeto de análise, pretende-
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se verificar de que maneira a imprensa atuou para o equilíbrio entre força e


consenso, na medida em que estas duas categorias constituíam, de forma pendular,
a relação entre a rede de recrutamento e o tecido social. Nesta perspectiva,
buscamos compreender de que forma setores da imprensa atuaram no momento em
que foi colocado em prática o recrutamento de jovens e crianças para Marinha
Imperial na segunda metade do século XIX.

Monarchia-democracia: Justiniano e o seu projeto político final para a


Monarquia nos anos de 1860 - Gladys Sabina Ribeiro (UFF)

As últimas ideias de Justiniano foram registradas em um folheto de 1860, intitulado


Monarchia-democracia. Este reproduziu artigos no Jornal do Commercio, nos dias
23, 24 e 25 de maio desse mesmo. Ali expôs mais uma vez o seu projeto político
para a Monarquia. Fez uma análise minuciosa dos aspectos que o governo devia
seguir ao refutar o opúsculo Os cortesão e a viagem do Imperador, de José Joaquim
Landulfo da Rocha Medrado. Ao morrer em 10/07/1862, fazia dez dias que
começara a publicar, junto com Firmino Rodrigues da Silva, o novo Constitucional.
Neste jornal defendia o que julgava dever ser o norte do Partido Conservador. Se
anteriormente as ideias dos conservadores divergiam aqui e ali, agora então, na
conjuntura dos anos de 1860, estavam mais dispersas ainda. Apesar disso, as ideias
de Justiniano continuaram a fazer eco não só na historiografia que tratou da
primeira metade do século XIX, mas tornaram-se contraponto para os políticos que
nesses anos pensavam novas propostas para o Brasil, tanto desde o campo do
491
partido conservador, do partido liberal, e até mesmo dentre os que passaram a
formar a Liga Progressista, o partido do mesmo nome e o partido republicano, mais
adiante. Magalhães Júnior, seu biógrafo, afirmou que Justiniano foi um
contraponto a tudo o que Tavares Bastos escreveu nos anos seguintes. Dentro desta
perspectiva, em Os Males do Presente e a Esperança do Futuro, haveria uma crítica
expressa ao projeto de Justiniano quando dividiu esta obra em “Realidade, Ilusão
e Solução”. Joaquim Nabuco também teria lhe tomado emprestado a linha mestra
dos primeiros capítulos de Um Estadista do Império. São as ideias contidas neste
folheto, em opostas as de Landulfo, que serão apresentadas nesta comunicação.

O DEMOCRATA: Uma opinião da Imprensa no Pará no alvorecer da


República - Daniella de Almeida Moura (UFPA)

Nas últimas décadas do século XIX, o desenvolvimento das atividades relativas à


imprensa, pode ser observado com o número considerável de jornais diários
surgidos neste período. Examinando tal momento no Pará, o presente artigo tem
como objeto e fonte de pesquisa um dos periódicos da imprensa paraense do final
dos oitocentos – O Democrata, que começou sua circulação no alvorecer da
República em 01/01/1890, tendo como seu término o ano de 1895. Foi um jornal
de circulação diária, órgão do Partido Republicano Democrático, portanto
divulgava suas ideias objetivando aproximar os leitores do seu corpo político.
Diante disso, busca-se analisar a partir da materialidade deste impresso como se
constitua sua estrutura editorial, quanto custava, quem o escrevia, de que forma foi
construindo uma cultura política, como seus redatores se manifestaram sobre
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diversos assuntos, qual público leitor pretendia alcançar, como circulava na cidade
e no Estado, observando as diferenças regionais, partidárias e de classe, sem perder
de vista os contextos envolvidos e de que forma o espaço do jornal era utilizado
para polemizar e influenciar a opinião pública.

O I Congresso Internacional de História da América como parte da


Diplomacia Cultural no Centenário da Independência do Brasil: a circulação
de intelectuais no IHGB - José Lúcio Nascimento Júnior (UERJ)

O presente trabalho, resultado de pesquisa de mestrado, visa demonstrar como o


Primeiro Congresso Internacional de História da América, organizado pelo
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), realizado no Rio de Janeiro no
Centenário da Independência do Brasil, em setembro de 1922, fazia parte das
estratégias de diplomacia cultural do Ministério das Relações Exteriores. Voltado
não apenas para historiadores, ele reuniu intelectuais, homens de Estado e
diplomatas, tendo como objetivo debater a produção e estabelecer acordos sobre e
para a escrita da História da América. Partindo da análise das atas do Congresso,
demonstramos que a proposta de Conde de Afonso Celso de união dos países com
objetivo de escrever uma da História da América comum aos países do continente
tinham tanto um caráter de cooperação intelectual (e de produção historiográfica)
quanto diplomática, dialogando com os debates do pan-americanismo e com o
nacionalismo do pós-I Guerra Mundial (1914-18). Os debates sobre como elaborar
o projeto e os acordos realizados para que o mesmo fosse efetivado demonstram
492
que tanto os membros de IHGB como de outras delegações tinham objetivos
acadêmicos como diplomáticos, tais como ficou evidente na posição da delegação
canadense. Conclui-se que o Congresso deve ser visto como parte das estratégias
de diplomacia cultural brasileira na década de 1920 e como marco na produção
historiografia brasileira.

O Regresso e a formação do conservadorismo brasileiro - Luaia da Silva


Rodrigues (UFF)

"Reação centralizadora e monárquica"; "direita conservadora" ; "embrião do futuro


Partido Conservador". Assim foi definido o Regresso pela historiografia brasileira.
Sempre, ou quase sempre, associado ao projeto conservador Saquarema. Enquanto
seus precursores, os regressistas seriam uma espécie de os primeiros conservadores
brasileiros. No entanto, ainda no primeiro reinado, políticos defendiam ideias
próximas a famosa bandeira de ordem e de centralização política característica dos
regressistas. Nesse sentido, algumas perguntas se fazem necessárias. Será que o
conservadorismo no Brasil surgiu com o Regresso durante as disputas políticas
regenciais? As ideias regressistas eram realmente inéditas? Se não, de que maneira
elas se manifestaram e se desenvolveram no discurso político brasileiro?
Responder tais perguntas não é tarefa fácil, mas este esforço reflexivo se torna
indispensável para a compreensão tanto da formação do Estado brasileiro quanto
das construções historiográficas a este respeito. O principal objetivo deste trabalho
é discutir as possíveis aproximações e afastamentos entre o pensamento de duas
personalidades fundamentais em todo esse processo: José Joaquim Carneiro de
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Campos, o marquês de Caravelas, e Bernardo Pereira de Vasconcelos. O fio


condutor destas reflexões seriam as possíveis implicações desses políticos com a
formação de um campo conservador no Brasil.

O Visconde de Taunay e o elogio do Império na República - Isadora Tavares


Maleval (Departamento de História de Campos (CHT-UFF))

Os anos que se seguiram ao início de vida republicana foram de extrema agitação


no Brasil. A querela entre opositores e partidários do novo regime foi uma
constante, resultando em uma cultura letrada que acaba nos servindo como
testemunha daqueles momentos turbulentos. As opiniões destoantes em relação à
República eram apregoadas sobretudo por meio de escritos de ocasião, como a
imprensa periódica. Muitos homens de letras, assim, posicionavam-se frente aos
acontecimentos recentes e podem ser categorizados como “publicistas”: indivíduos
que, partícipes daqueles “novos tempos”, faziam o “uso público da razão”,
transformando-se em escritores políticos, que, portanto, agiam através da escrita
em seu tempo e interviam na coisa pública. Podemos perfeitamente localizar dentro
desse quadro a extensa produção de Alfredo d’Escragnolle Taunay (1843-1899).
Ao escrever artigos para periódicos com tiragem expressiva, tais como o Jornal do
Commercio, o visconde expôs incessantemente suas opiniões negativas a respeito
do regime republicano. É o caso da coletânea intitulada Império e República
(1933), um aglomerado de textos que haviam sido divulgados em jornais do Rio de
Janeiro e de São Paulo depois do golpe, mas também de escritos notadamente
493
memorialísticos, como sua autobiografia, publicada com o título de Memórias
(1948). No campo da literatura, é possível incluir no mesmo conjunto de textos
antirrepublicanos o romance O encilhamento (1894). Partindo de tais fontes, este
trabalho pretende demonstrar não só o posicionamento político do escritor, como
também colaborar com os debates historiográficos mais recentes, em torno do papel
da imprensa e dos impressos na construção da opinião pública e na consolidação
de determinadas culturas políticas. Por isso, a análise privilegiará determinadas
perspectivas que têm sido estimuladas pela história dos livros e dos impressos,
entendidos como relatos do tempo em que foram elaborados e como agentes que
intervieram nos processos e episódios que constituem a história.

Origens da Imprensa no Brasil: Estudo prosopográfico de redatores de


periódico editado entre 1808 e 1831 - Luis Otávio Silva Pincigher Pacheco
Vieira (USP)

Este projeto pretende o desenvolvimento de uma posopografia, - uma biografia


coletiva - dos redatores de periódicos no Brasil em atividade durante o processo de
Independência (1808 -1831) . Escolhemos uma amostra de 28 personagens,
contemplando, através dela, todas as províncias luso-americanas onde foram
produzidas folhas periódicas. Dentro desta amostragem, procuramos equilibrar o
número de indivíduos escolhidos de cada província em proporção com a
quantidade de periódicos surgidos nas mesmas. O objetivo deste trabalho é a
unificação parcial dessa multiplicidade de trajetórias distintas num quadro, a fim
de se fazer observável um panorama e um perfil de um grande ator coletivo
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formado pelos redatores de periódicos, sem, evidentemente, deixar de considerar


as especificidades das atuações de cada um.

Os "penny bloods" e a imprensa radical nos anos 1840 na


Inglaterra - Matheus Rodrigues da Silva Mello (UERJ)

A proposta de trabalho a ser exposto tem como tema principal a análise dos
impressos de tipo Penny Blood que circularam durante a década de 1840, nos
primeiros anos da Era Vitoriana. Tais impressos compreenderam uma nova forma
literária, identificada como subgênero do romance, inovadora tanto pelos seus
temas quanto pelo potencial de veiculação de ideias. Vieram ao público nos moldes
de narrativas sensacionais, serializadas em partes, frequentemente semanais, de
oito ou dezesseis páginas cada, contando com uma xilogravura em cada número,
vendidas a preços módicos de um penny e tendo o objetivo de alcançar, sobretudo,
os trabalhadores das camadas inferiores da sociedade. Deste modo, volta-se o olhar
para alguns penny bloods que alcançaram o sucesso e despertaram a atenção das
classes dirigentes por sua tônica radical, são eles: The Mysteries of London (1844-
1848) e Wagner, the Wehr-Wolf (1846-1847), ambos de autoria de George William
MacArthur Reynolds (1814-1879). Diversos outros autores ingleses também
tiveram seu espaço e produziram trabalhos expressivos, em grande medida
inspirados por diversas publicações estrangeiras. A década de 1840, em que os
penny bloods se afirmam e se multiplicam, deve ser tomada como momento
sensível no que tange às transformações da própria sociedade - a revolução
494
industrial inglesa deixava à mostra suas contradições, a miséria e a condição
degradante da working class são pontos relevantes -, mas foi ainda um momento
que experimentou o aumento das taxas de instrução (literacy) dos trabalhadores,
impulsionada pela profusão de impressos baratos. G. W. M. Reynolds, nesse
sentido, é pensado em um quadro de autores que enxergaram o potencial desta nova
forma como instrumento privilegiado de difusão de conceitos, fazendo uso deste
veículo para a exposição das condições de vida dos menos afortunados e
alimentando uma imprensa radical alinhada ao movimento Cartista.

Os embates nos bastidores da cesura joanina (1808-1821) - Maíra Moraes dos


Santos Villares Vianna (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Este trabalho se propõe fazer uma análise da censura durante o período joanino
(1808-1821), priorizando o papel dos censores régios no processo da censura. As
fontes utilizadas serão os pareceres dos censores referentes aos pedidos de licenças
encaminhados à Mesa do Desembargo do Paço, presentes no Arquivo Nacional do
Rio de Janeiro. Nesse trabalho, mais importante do que explorar os procedimentos
censórios serão abordados os embates, identificados a partir da leitura dos
pareceres, nos bastidores da censura, ou seja, objetiva-se compreender a atuação
dos censores dentro de tal local e as possíveis divergências entre eles e com o
escrivão da Mesa do Desembargo do Paço. A chegada da corte joanina ao Rio de
Janeiro acarretou em inúmeras mudanças para a cidade, a qual passa por
transformações no âmbito social, político e cultural. Adaptações estruturais passam
a ser fundamentais para acolher os novos habitantes, como aponta Kirsten Schultz
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na obra Versalhes Tropical, há uma reconstrução do Império Português. Dentro das


mudanças é possível destacar a reconfiguração dos aparelhos políticos e
administrativos, os quais passam a atuar em prol da coroa. Dentre eles, destaca-se
a instalação da Mesa do Desembargo do Paço, tribunal responsável pela realização
da censura. Apesar de já atuar em Portugal, no Brasil irá surgir com a chegada da
corte, pois é quando é concedia a permissão para a instalação da Impressão Régia,
demandando a existência de um tribunal para a fiscalização dos impressos,
evitando a propagação de ideias que fossem contrárias à coroa, a religião e os bons
costumes. Utilizando o estudo de Maria Beatriz Nizza da Silva A Corte no Brasil
e a distribuição de mercês honoríficas, propõe-se apresentar a inserção dos censores
régios dentro do grupo da nobreza, possibilitando assim caracterizar o espaço da
censura enquanto um local em que as relações desenvolvidas podem ser
apresentadas a partir da lógica de sociedade de corte, apropriando-se do conceito
de Norbert Elias e o adaptando a corte joanina. Partindo de tais questões, objetiva-
se apontar o espaço da censura como um local de embates entre os atores que lá
atuavam, vislumbrando o cargo exercido enquanto uma ferramenta que
possibilitava a reafirmação e distinção entre os demais, características marcantes
de uma sociedade marcada por privilégios e hierarquias, onde o reconhecimento
garantia status. Dessa forma, o aparelho censório pode ser compreendido além da
sua função de fiscalização dos impressos sendo, também, uma manifestação da
sociedade de corte.

Perióticos femininos: Lugar de resistência, embates e relações de


495
poder - Isadora de Mélo Costa (UERJ)

Na segunda metade do século XIX, no campo da cultura impressa, ocorreu uma


ampliação das produções culturais circulantes. Tais transformações promoveram
não somente uma diversidade de temas impressos, mas também de público leitor,
opiniões e construções de papéis sociais. Nesse contexto, periódicos voltados para
as mulheres afloraram em diversas regiões do Ocidente, como O Jornal das
Senhoras (1852-1855, Rio de Janeiro) e A Esperança: Semanário de recreio
literário dedicado às Damas (1865-1866, Porto). Esses periódicos abarcam
questões que nos permitem problematizar a representação feminina no período,
além dos projetos de mulher que se almejavam. Assim, o presente trabalha toma
esses impressos como fonte e objeto, ao mesmo tempo em que analisa a
representação feminina reproduzida e circulada pelos mesmos, colocando-os como
lugar de resistência, embates e, portanto, relações de poder. Para tanto, recorre-se
à história comparada, nos moldes de Marc Bloch e utiliza-se da abordagem da
história política e cultural como arsenal teórico-metodológico de compreensão
desses impressos que, de forma alguma, eram alheios ao seu contexto produtor.
Eram produtos e agentes de um tempo de incertezas, ambientes nos quais novos
papeis eram lançados ao universo feminino.

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Representações liberais do Governo na imprensa (1844-1846) - Juliana da


Silva Drumond (UFRRJ)

O trabalho tem a preocupação de perceber o primeiro gabinete do Quinquênio


Liberal a partir das suas relações com a imprensa da época, procurando inseri-lo
dentro do processo de consolidação monárquica. A comunicação trata da análise
do governo Liberal, durante o primeiro gabinete do quinquênio, através dos jornais
liberais: Conservador, Filho da Joanna, A Tribuna, O Novo Tempo e do jornal
conservador: O Brasil. Esses periódicos aparecem na imprensa no momento em
que o gabinete está no poder e de um modo geral assumem um discurso
ministerialista. Nenhuma dessas folhas mantém continuidade de circulação após o
período de governo do ministério de 2 de fevereiro. A análise dialoga essas
publicações liberais com as publicações dO Brasil, uma vez que este jornal era um
forte representante do Partido Conservador e sempre estava dialogando com os
jornais de oposição. Principal folha conservadora, fazia forte oposição ao gabinete
liberal no poder; permitindo um outro olhar sobre as posturas políticas adotadas
pelo gabinete. O presente trabalho tem a preocupação de entender as ações políticas
pelo olhar das folhas contemporâneas; como os jornais que surgiram para tratar dos
assuntos de governo identificavam o projeto político do ministério e se percebiam
a existência de uma agenda política própria. Assim como também analisar de que
modo as folhas ministerialistas enxergavam o ministério em relação a um projeto
político liberal, qual era a postura da oposição em relação a ele e como se dava o
diálogo entres essas folhas.
496

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497
ST 51. O Vale do Paraíba, a Segunda
Escravidão e a Civilização Imperial

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A acumulação e a concentração da propriedade escrava na Vila de


Cantagalo. - Rodrigo Marins Marretto (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho tem por objetivo analisar as estruturas escravistas da Vila de


Cantagalo, estabelecendo um padrão de posse de escravos. Para que possamos
cumprir tal objetivo contaremos com um conjunto de documentos que incluem um
acervo de 344 inventários post-mortem, compreendendo os anos de 1810 e 1880.
Tais documentos são essenciais ao buscarmos identificar o padrão de posse de
cativos e a estrutura escravista que compunha esta realidade. Para analisar esse
corpo documental partimos da seguinte metodologia: dividimos os documentos de
10 em 10 anos e para estes períodos dividimos os proprietários em 5 categorias –
micro proprietários, 1 a 4 escravos; pequenos proprietários, 5 a 19 escravos; médios
proprietários, 20 a 49; grandes proprietários, 50 a 99 e megaproprietários, com mais
de 100 cativos.Utilizaremos os documentos e a metodologia supracitados para
avaliar o impacto da segunda escravidão na Vila de São Pedro de Cantagalo,
localizada na área Oriental da Bacia do Rio Paraíba. O conceito de segunda
escravidão, forjado por Dale Tomich, refere-se, justamente, a atuação de um bloco
histórico composto por EUA, Cuba e Brasil, empenhados na reestruturação do
tráfico de escravos em escala e intensidade nunca antes aplicadas. Segundo o autor,
o sul dos Estados Unidos, o Brasil e Cuba passaram a compor o mercado
internacional em escala atlântica durante o desenvolvimento do capitalismo
industrial, sob a influência política e econômica da Inglaterra que passava àquela
época, a transformar a economia mundial. Cantagalo, apesar de sua povoação
498
tardia, finais do século XVIII e início do século XIX, foi dominada pelas
propriedades agroexportadoras, encaixando-se nos quadros do conceito de Tomich.
A escravidão em Cantagalo encontrava-se difundida pelos mais diversos estratos
sociais que residiam na localidade, devido fundamentalmente ao tráfico
internacional de escravos. Desta forma, o impacto do tráfico de escravos sobre a
Vila de Cantagalo vai conformar um perfil de proprietários que ao longo do tempo
vão acumular e concentrar um grande volume de cativos nas mãos de poucos
senhores de escravos.

A defesa por uma ideia de colonização africana nos jornais A Patria e O Paiz
pós abolição do tráfico de escravos na província do Rio de Janeiro, 1850 a
1860 - Alessandro Mendonça dos Reis (PPGH Universo)

A ideia de colonização africana no pós abolição do tráfico de 1850 provocou na


imprensa da província do Rio de Janeiro debates quanto a melhor forma de se fazer
a transição da mão de obra escrava para a livre. O governo vislumbrou o projeto de
colonização europeia previsto na Lei de Terras e fomentado em 1854 através da
Repartição Geral de Terras Públicas. Apesar do projeto ter apoio e um
encaminhamento concreto para a sua realização, dois jornais se manifestaram
contra ele, A Patria e O Paiz. Esses periódicos passaram a defender e propor que
ao invés de colonos europeus, colonos africanos livres nos mesmos moldes fossem
trazidos. Falar sobre o assunto colonização africana e defende-lo suscitou entre os
jornais que se colocaram contra a ideia o pensamento de que ali estaria um tráfico
disfarçado. Assim, as argumentações contra e a favor de europeus e africanos como
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colonos ganhou as páginas da imprensa da corte. Os questionamentos forma


muitos, no entanto, uma decisão naquele momento era concreta, o tráfico
finalmente estava abolido. Na visão sobre o africano como melhor mão de obra
estava argumentos que remetiam ao costume em lidar com este tipo de trabalhador.
Quanto aos europeus, pairava a questão de que finalmente o Brasil entraria e um
processo civilizatório. No momento da transição da mão de obra mutias perguntas
e afirmações se fizeram pertinentes para definir se a viabilidade do colono europeu
valia a pena ou mesmo que discretamente continuidade do africano como colono
livre seria a solução. Era necessário garantir que a riquezas advindas da lavoura no
fosse prejudicada.

A escravidão como representação pictórica – análise iconográfica de


litografias de viajantes europeus - Leila Cristina Gibin Coutinho (UERJ)

O presente trabalho trata-se de um resumo de tema da monografia, já em


desenvolvimento, no qual analiso as representações da escravidão urbana no Rio
de Janeiro, na primeira metade do século XIX, a partir dos álbuns Rio de Janeiro
Pitoresco (1845), de Louis Buvelot e Louis Auguste Moreau, e em Panorama de la
ville de Rio de Janeiro (1845), de Iluchar Desmons, em colaboração com outros
artistas. A chegada e permanência da sociedade de corte portuguesa ao Rio de
Janeiro, no início do século XIX, traria grandes modificações a cidade. Destaco a
abertura dos portos às nações amigas e ainda a vinda da Missão Artística Francesa
que, somadas, possibilitam a entrada de um grande número de estrangeiros,
499
majoritariamente europeus, na urbe carioca. Estes, por sua vez, deixaram inúmeros
relatos, expressos em vários formatos: textos, diários, cadernos, pinturas, desenhos,
entre outros. Estes europeus, registraram a cidade em seus diversos aspectos como
a vegetação, os morros, a população, seus hábitos e costumes. Portanto, é inevitável
que esses relatos evidenciem a experiência da escravidão, já que os escravos estão
presentes em toda a cidade, executando trabalhos de carregamento de água,
barbeiro, venda de quitutes e frutas, entre outros. Uma vez que o Rio de Janeiro é
um grande porto de chegada de escravos e também é uma cidade majoritariamente
negra, cerca de 40% da população no Rio é escrava. Assim, estes viajantes deixam
sua produção de herança aos historiadores, que representam diferentes visões sobre
a escravidão. Dito isto, para a realização do projeto, utilizo o conceito de
representação, tendo em mente, que a imagem não é mero reflexo do real, deste
modo, a apreensão da especificidade das fontes visuais será abordada através da
análise pautada pelo enquadramento escolhido pelo artista em relação a cidade e
seus personagens, além da distribuição das figuras no quadro, tal suas vestimentas,
suas posturas e os locais da cidade em que estão transitando. Ocorre, que a
repetição temas e elementos pictóricos é encarada como indício da
intencionalidade, por parte dos seus autores, de evidenciar dada representação dos
escravos e da urbe. Desta maneira, reforçamos a utilização da iconografia como
fonte histórica que possibilita ampliar a leitura sobre a escravidão e a cidade.

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A estrutura fundiária no Médio Vale do Paraíba (Bananal, 1800-


1860) - Breno Aparecido Servidone Moreno (FFLCH-USP)

O objetivo deste trabalho é investigar a evolução da estrutura fundiária em Bananal,


São Paulo, na primeira metade do século XIX. A partir do cruzamento de três fontes
primárias distintas – o Inventário de Bens Rústicos (1819), o Registro Paroquial de
Terras (1855-1858) e os Inventários post mortem (1830-1860) – pretende-se
mostrar que, nesse período, teria havido um processo de concentração de terras por
um grupo restrito de escravistas. Na passagem do século XVIII para o XIX, antes
da montagem da cafeicultura escravista em Bananal, a maior parte das terras já se
encontrava sob o domínio desses senhores de escravos, cuja maioria era de médios
escravistas (donos de 20 a 49 cativos). O controle prévio das terras em matas
virgens permitiu que eles adquirissem uma quantidade cada vez maior de mão de
obra cativa. Ao mesmo tempo, tais senhores iniciaram o processo de montagem da
planta produtiva de suas fazendas de café. No decurso desse período, os médios
escravistas se enriqueceram e tornaram-se megaproprietários (donos de 100 ou
mais cativos). E a cidade de Bananal se transformou em uma típica região de
plantation escravista, articulando-se ao mercado global a partir da produção de café
em larga escala.

A interiorização dos médicos no Vale do Paraíba Fluminense


Oitocentista - Anne Thereza de Almeida Proença (COC/FIOCRUZ)
500
Este trabalho tem como objetivo analisar a assistência à saúde fora das instituições
estabelecidas, como Santas Casas, na região do Vale do Paraíba fluminense. Para
tal, nos guiaremos pela chegada de médicos à região, com destaque para os
estrangeiros, e o desenvolvimento de estratégias comuns para se estabelecerem e
construírem seu campo profissional. O recorte temporal escolhido corresponde ao
enriquecimento do Vale, devido ao fortalecimento da região no mercado
exportador de café, e à análise das relações estabelecidas por estes profissionais.
Através da análise de trajetórias profissionais, observaremos as características
comuns aos clínicos que optavam por atuar neste interior, que moldavam e eram
moldadas pelas relações que eram construídas com os próprios colegas e com
importantes setores sociais. Destacaremos a forte presença de médicos nas
enfermarias estabelecidas em propriedades do Vale do Paraíba fluminense,
contratados pelos grandes fazendeiros, partindo da hipótese de que esta modalidade
de atuação seria a forma que lhes daria mais garantia em relação ao recebimento
dos vencimentos, estabilidade financeira e profissional, além de ser o caminho mais
seguro para alcançar as expectativas pretendidas para suas carreiras e de atingir o
reconhecimento da região.

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A política de obras públicas no Rio de Janeiro do século XIX e sua


contribuição para a expansão do Estado Imperial - Clarice de Paula Ferreira
Pinto (UNIRIO)

A comunicação tem como objetivo a análise da política de obras públicas na


Província do Rio de Janeiro, entre 1836, ano de criação da Diretoria de Obras
Públicas, e a década de 1860, quando os investimentos em infraestrutura de
transporte na província fluminense, antes direcionados prioritariamente para a
construção e melhoramento de estradas, pontes e canais, passaram a ser dirigidos
para a expansão das ferrovias. A transferência da Corte portuguesa para o Rio de
Janeiro, em 1808, demandou uma série de melhoramentos e ampliação dos
caminhos então existentes para atender ao crescimento do mercado fluminense.
Assim, durante o período joanino, foi estimulado o investimento na construção de
algumas estradas, entre elas as estradas do Comércio (1817) e da Polícia (1820),
que durante longo tempo figurariam como importantes vias da província. Apesar
dessas iniciativas, a comunicação entre o interior e o litoral continuou a se mostrar
insuficiente, apresentando inúmeras dificuldades para quem se arriscava a seguir
por esses caminhos. Assim, é somente a partir da década de 1830, quando a
expansão cafeeira já alcançara o Vale do Paraíba fluminense, que podemos
perceber com maior clareza uma política de obras públicas direcionada para a
construção e reformas de estradas, pontes e canais. Entre 1836 e 1840, os recursos
da província foram aplicados nos melhoramentos das estradas da Serra da Estrela,
da Polícia, do Comércio, de Itaguaí, além da Estrada de Angra a Rezende e da
501
construção da ponte sobre o rio Paraíba do Sul. Durante a década de 1840, os
recursos foram aplicados nas obras da Estrada de Cantagalo a Macaé, Estrada de
Porto das Caixas a Cantagalo, Estrada do Rodeio, Canal Campos - Macaé, entre
outras. As décadas de 1850 e 1860 assistiriam a um investimento maciço em obras
públicas. Tais investimentos estavam não só relacionados à estratégia de manter os
altos índices da produção cafeeira, mas também visavam garantir o apoio político
dos cafeicultores em relação ao Estado Imperial. Entre as obras realizadas no
período estão a Estrada do Presidente, entre a vila de Itaguaí e a da Barra Mansa; a
Estrada de Petrópolis até a ponte do Paraibuna; a Estrada do Porto das Caixas até
Nova Friburgo e Cantagalo; a Estrada de Campos a São Fidélis, prolongada até
Cantagalo; a Estrada da Serra do Paraty, além da Estrada Normal de Estrela e a
Estrada União e Indústria - essas últimas sendo consideradas como projetos de
maior importância.

As Companhias Têxteis Fluminenses e a Moralização das Classes Pobres pelo


Trabalho (1871-1888) - Gabriela Gomes Rodrigues de Souza Guerra (UNIRIO)

A presente comunicação pretende compreender as novas e complexas relações de


trabalho que foram tecidas na ainda incipiente indústria têxtil fluminense. Para isso,
serão analisadas as trajetórias das Companhias Brasil Industrial e Petropolitana
durante o período de transição da escravidão para o trabalho livre. A partir da
análise dos relatórios anuais dirigidos aos acionistas das fábricas e dos periódicos
que circulavam na imprensa da Corte, busca-se identificar as estratégias utilizadas

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pelos empresários têxteis para disciplinar e controlar sua mão de obra através da
chamada moralização pelo trabalho.

Compra e Venda de Africanos(as) na Corte do Império: ofícios e práticas


culturais na segunda metade do oitocentos - Larissa Bagano Dourado (UFF)

Durante séculos, milhões de africanos(as) foram escravizados(as) e levados de suas


terras para as Américas. Durante a travessia, suas práticas culturais já começavam
a se modificar diante da nova experiência. Os nomes dos africanos(as)
sequestrados(as), escravizados(as), e vendidos(as) foram deixados de lado, e novos
nomes dados, com intuito de separá-los de sua herança africana (BERLIN, 1996).
No entanto, atribuíam junto ao nome o lugar de origem (Maria mina, Paulo Angola,
João Congo), que não intencionalmente, fortaleciam seu lugar de pertencimento. A
cultura africana nas Américas então é construída a partir de suas heranças, mas
também a partir de novas experiências, pois a cultura de o povo não é formada
apenas pelas permanências, mas também como as pessoas se adaptam, reagem e
interagem diante de novas condições. É nesse sentido que pensamos em
fundamentar esse trabalho, não apenas com objetivo de visibilizar os africanos e as
africanas que foram comercializados no Rio de Janeiro, mas também pensar nas
suas práticas culturais advindas da África, bem como nas suas vivências e
resistências após o fim do tráfico Atlântico. Para isto, analisamos os registros de
africanos(as) escravizados(as) comercializados na corte do Império brasileiro,
entre o período de 1861 a 1863, além de notícias do jornal Diário do Rio de Janeiro.
502
Laura Congo e a família escrava do Barão do Tinguá: reflexões sobre a família
no Vale do Paraíba Fluminense (1830-1889) - Olívia Dulce Lobo (Programa de
Pós-Graduação em História/UNIRIO)

A presente apresentação propõe trazer o tema da família para as discussões sobre


a sociedade oitocentista do Vale do Paraíba fluminense, considerando a instituição
familiar como um elemento importante para se entender a formação e a
movimentação da fração da classe senhorial que habitou essa região histórica,
especialmente a cidade de Vassouras. Nesse intuito, farei uma breve exposição de
minha pesquisa, desenvolvida no mestrado acadêmico e que leva o mesmo título
desta proposta. Por meio da micro-análise da família Corrêa e Castro, abastada
proprietária de fazendas de produção do café, alcançamos a trajetória de Pedro
Corrêa e Castro (1785-1869), o barão do Tinguá, um dos seus membros mais
lembrados pelos memorialistas e pela memória local, que manteve uma vida
familiar guardada no âmbito privado com Laura Congo, sua escrava africana, com
quem tivera seis filhos reconhecidos e legitimados em testamento. A partir deste
caso, discutiremos o conceito de família senhorial, como modelo que fez parte de
um conjunto de representações da classe senhorial, e suas brechas. Em primeiro
lugar, tal modelo estipulava uniões entre famílias de mesma posição social ou
dentro da mesma família, a fim de expandir ou de manter o patrimônio e de
estabelecer linhagens prestigiosas, do ponto de vista senhorial. Em segundo lugar,
o homem de boa família deveria se mover para criar esses laços com pessoas de
prestígio, tanto sanguíneos quanto por amizades, e ocupar lugares de destaque
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social, como cargos políticos, e obter títulos de nobreza e condecorações. Ao não


se casar dentro de sua classe e gerar seis herdeiros com Laura Congo, o barão de
Tinguá não seguiu os referidos parâmetros familiares. Entretanto, em
compensação, ocupou vários cargos de prestígio – foi vereador, juiz de paz e
provedor das Irmandades locais – e obteve o título de barão com grandeza,
simultaneamente à convivência com sua escrava. Ele não foi o único senhor a
estabelecer relações com escravas, o que, inclusive, não era proibido, de acordo
com os códigos senhoriais, desde que fosse restrito ao âmbito privado. No entanto,
sua história guarda peculiaridades no que toca ao reconhecimento em testamento
dos seus seis filhos e menção à mãe deles, à durabilidade do convívio com Laura
e, por fim, ao êxito ao transmitir-lhes seus bens. Mesmo que o modelo de família
senhorial tivesse peso no funcionamento daquela sociedade e nas articulações do
interior da classe senhorial, havia dentro dele permissões, no âmbito das práticas
cotidianas e do vivido, para a existência de outras formas familiares, como a de
Laura e Pedro.

Migração e ocupação da Capela de Santana do Piraí: o processo de


povoamento e distribuição de terras na formação do Vale do Paraíba
fluminense (1781-1812) - Vladimir Honorato de Paula (Universidade Severino
Sombra)

A Capela de Santana do Piraí, na segunda metade do século XVIII, se transforma


numa importante área de ocupação colonizadora dentro dos limites da Freguesia de
503
São João Marcos. Muito antes da elevação da primitiva ermida dedicada a Nossa
Senhora de Santana à condição de capela curada na década de 1770, as férteis zonas
sediadas entre os rios Piraí e Paraíba do Sul se converteram em área de exploração
econômica assentada na produção agrícola. A partir do trabalho de viajantes,
cronistas, memorialistas e da leitura de fontes de pesquisa, temos que ao tempo da
elevação da ermida a capela curada, a prática agrícola se ampliava para abranger
uma serie de atividades, com destaque especial para a produção e beneficiamento
da cana de açúcar e o desenvolvimento de culturas de mantimentos para
subsistência e eventual comercialização dos excedentes no pequeno comércio de
abastecimento. Portanto, a possibilidade de obtenção de terras férteis situadas num
local de fronteira agrícola em processo de abertura e numa região favorecida pela
existência de condições ideais no fomento à prática da agricultura foi o incentivo
básico para a migração de indivíduos oriundos de diferentes partes do Império
Português e da América Portuguesa. Diante do que foi exposto, portugueses
naturais das mais distantes e distintas áreas se encontram na Freguesia de São João
Marcos dando início a formação e organização de uma sociedade colonial de base
estamental, escravista e assentada na posse e uso da terra na Capela de Santana do
Piraí. Tendo como interesse a formação da Capela de Santana do Piraí, o objetivo
principal do presente trabalho será o desenvolvimento de uma análise sobre essa
sociedade colonial em gestação. Assim, pretendemos analisar esse
desenvolvimento a partir de três objetivos secundários: pensar o deslocamento
espacial pelo Império Português como forma de ascensão social e econômica a
partir de novas possibilidades de investimento, articular a idéia da aquisição de
terras e a promoção de atividades econômicas em áreas de fronteira agrícola em
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expansão como forma primordial de acúmulo de riqueza material e o


estabelecimento de ligações familiares na sedimentação de núcleos familiares em
zonas de ocupação pioneira com objetivos previamente articulados.

Migrações e a segunda escravidão: encontros e desencontros da primeira trata


de colonos - José Juan Pérez Meléndez (University of California, Davis)

Com a consolidação do tráfico ilegal de escravos após 1831, o Rio de Janeiro e


outras cidades portuárias do Império do Brasil experimentaram também um reponte
em entradas de migrantes nominalmente livres. Como explicar essa simultaneidade
entre um crescente (e maior) comércio de escravos e o despontar, antes do tempo
consignado pela historiografia, de um mercado em colonos que sentou as bases
protocolares e políticas da era das migrações em massa? Os historiadores têm
explicado esse e outros fenómenos migratórios no Brasil oitocentista dentro de
marcos estruturais, ora através do tropo da “substituição” do trabalho escravo por
“braços para a lavoura” trazidos do além-mar, ora como manifestações análogas de
trabalho forçado dentro do marco da “segunda escravidão” ou de conjunturas no
âmbito do sistema-mundo. Esta comunicação examinará os contornos de um
negócio emergente em colonos com a intenção de salientar que alguns dos seus
atributos coincidiram com as transformações do tráfico de escravos graças às
parcerias entre traficantes e capitães de navios. Contudo, outras características
desse comércio incidiam em questões governamentais que nem sempre
enquadravam com os princípios descritivos da “segunda escravidão”. Quais foram
504
os modelos deste negócio em colonos, na sua maioria dos Açores? Quais os traços
e, através deles, os princípios operativos desse tráfico em migrantes? E quais, em
termos gerais, são algumas das dificuldades práticas e teóricas de pesquisar e
escrever essa história de cara aos pressupostos das aproximações interpretativas
recentes ao s.XIX, particularmente do díptico de capitalismo e escravidão?

Nas praias do tráfico: o contrabando de africanos no complexo


cafeeiro - Thiago Campos Pessoa Lourenço (Universidade Federal Fluminense)

Nessa comunicação desenvolveremos a hipótese de que o Vale do café se constituiu


vinculado ao reerguimento e reestruturação do tráfico negreiro na clandestinidade.
Entre meados de 1830 e início da década de 1850, praias, ilhas e enseadas do litoral
da Serra do Mar foram os espaços de finalização do comércio negreiro em boa parte
das antigas províncias cafeeiras. Muitos deles figuravam como fazendas, sítios e
chácaras da elite do café. Como resultado de pesquisa em desenvolvimento,
identificaremos alguns desses portos clandestinos, relacionando-os com seus
respectivos donos, no mar que segue do sul fluminense ao norte da antiga província
de São Paulo.

Notas sobre as bases geográfico-administrativas de estatísticas populacionais


nos séculos 18 e 19 - Heitor Pinto de Moura Filho (UNIRIO-PPGH)

Trataremos nesta apresentação de uma questão a que a historiografia quantitativa


pouco alude, que é a necessidade – preliminar a qualquer análise diacrônica ou
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mesmo a uma simples tabulação de dados – de compatibilizarmos as unidades


geográfico-administrativos que serviram de sucessivas referências às estatísticas
produzidas no passado. A afirmação de que a freguesia, o município ou a comarca
tal tinha x habitantes num ano e y habitantes noutro pode não ter qualquer sentido
comparativo, caso estas unidades geográfico-administrativas tenham tido seus
limites alterados no intervalo. Além disso, mesmo que, no período de interesse,
regiões mais abrangentes – como a província do Rio de Janeiro ou o conjunto de
municípios do Vale do Paraíba do Sul – não tenham sofrido alteração em seus
limites externos, é quase certo terem ocorrido, neste intervalo, omissões de registro
que invalidam as comparações desejadas. No Brasil, diversos sistemas
institucionais produziram fontes de interesse demográfico. No período colonial, as
estruturas militar, administrativo civil, administrativo eclesiástico, judicial civil e
judicial eclesiástico, acrescidas, no Império, dos sistemas policial, eleitoral e
hospitalar-sanitário, expandiram-se, adensando-se e promovendo sucessivas
alterações nos limites de suas respectivas circunscrições. Ao longo de toda este
período, devemos destacar a integração da burocracia eclesiástica católica às
burocracias dos poderes laicos. É importante atentarmos para a nomenclatura de
classificação das circunscrições eclesiásticas, utilizada para dar título às
estatísticas. Foi variada a terminologia de categorias que qualificavam as
circunscrições geográfico-administrativas dentro da estrutura eclesiástica e a
posição do clérigo que ali exercia o sacerdócio. Nem sempre as distintas situações
podem ser inferidas somente do contexto. Por fim, o termo “distrito” merece
destaque devido à grande variedade de seus significados, que evoluíram desde o
505
século XVIII até hoje em dia, em especial com relação a circunscrições estatísticas.
No século XVIII, a palavra traz referência genérica a certa região, sendo
simultaneamente empregada como designação de unidade geográfica militar.
Ainda no Império, vemos o termo mais frequentemente associado – no contexto de
estatísticas demográficas – aos distritos de paz e simultaneamente como subdivisão
de uma freguesia. Com a República, a palavra passa a ser adotada para nomear as
subdivisões administrativas formais de um município, substituindo as freguesias,
curatos, capelas e os “distritos de freguesias” da época imperial.

Ocupação do solo e trajetórias familiares: Vassouras e o café no século


XIX - Magno Fonseca Borges (UNIRIO), Thiago de Souza dos
Reis (UNIRIO/UVA/UNESA)

A colonização das terras que dariam origem a vila de Vassouras foi incrementada
no início do século XIX e foi seguida de perto pelo desenvolvimento da cultura do
café. A abertura das áreas florestais permitiu que houvesse a fixação de indivíduos
e ramos familiares, oriundos de diversas atividades econômicas, que investiram
seus capitais na construção de um complexo sistema cafeeiro que se tornaria um
dos mais destacados na produção do café ao longo daquele século. Nosso objetivo
com o presente trabalho é reconstruir a trajetória de alguns desses indivíduos e
ramos familiares, atentando para suas estratégias de reprodução social e de riqueza.
Entre eles, observaremos com especial atenção os Teixeira Leite, os Werneck, os
Ribeiro de Avellar e os Correia e Castro.

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Os negócios do tráfico: o comércio ilegal de escravizados através do negociante


Manoel Pinto da Fonseca (1838 - 1851) - João Marcos Mesquita (UNIRIO)

Em novembro de 1831 o império brasileiro promulgou a primeira lei de abolição


do tráfico de escravizados para o seu território. Seu sucesso inicial foi iminente,
com a aliança entre o Estado brasileiro e as forças repressivas britânicas, que
conseguiram reduzir o desembarque de escravos em números inexpressivos, em
comparação aos anos anteriores. Contudo, em meados da década, o comércio ilegal
de cativos dava os primeiros sinais de seu recrudescimento, devido à formação do
complexo cafeeiro na bacia do Vale do Paraíba e do dinamismo da região do sul
Fluminense. Nesse aspecto, o tráfico atlântico de escravizados, agora sob a forma
de contrabando, se tornou fundamental para as pretensões econômicas e políticas
da classe senhorial que se constituía ao longo da década de 1830. Assim, foi
necessária a reestruturação deste comércio, que havia sido deixado de lado por
muito dos traficantes tradicionais, já que o alto risco da operação negreira não era
compensado pelos lucros da empreitada. A renovação dos mecanismos de
funcionamento do tráfico de escravos ficou, então, na mão de novos agentes
comerciais – muitos dos quais já tinham funções menores nos meandros do tráfico
legal –, que viam a elevação dos preços dos cativos, devido ao aumento
exponencial da demanda pelo complexo cafeeiro que se instituía naquele momento.
Dessa maneira, muitos foram os novos aventureiros do tráfico, no entanto,
pouquíssimos receberam o mesmo destaque que Manoel Pinto da Fonseca. Manoel
Pinto da Fonseca, português, radicado no império do Brasil desde a década de 1820,
506
foi um dos mais proeminentes negociantes do infame comércio no período do
contrabando, sobretudo, na década de 1840. De caixeiro a dono de uma das
principais firmas da praça comercial do Rio de Janeiro, Fonseca estabeleceu
conexões que envolviam os dois lados da costa litoral africana ao centro-sul
brasileiro, garantindo sua ascensão econômica e social na Corte imperial, mesmo
com as suspeitas das autoridades brasileiras e do Foreign Office (órgão responsável
pela repressão ao tráfico do império britâico). Nesse sentido, este trabalho buscara
discutir empiricamente a atuação de Manoel Pinto da Fonseca no mercado ilícito
de escravizados para o Brasil ao longo da década de 1840, destacando as estratégias
por ele traçadas para garantir a continuidade de suas operações negreiras e sua
importância na sociedade carioca.

Racionalidade econômica e transição para o trabalho livre - Rodrigo Goyena


Soares (USP)

O artigo busca discutir a racionalidade econômica do emprego da mão escrava no


contexto da crise do Império. A análise é realizada considerando-se, para o Oeste
Paulista e a bacia do Paraíba, a produtividade cativa e livre e, ainda, o preço do
escravo apto a trabalhar na lavoura e os salários dos trabalhadores rurais. Conclui-
se que, em ambos os casos e do ponto de vista da racionalidade econômica, o
escravo continuava a ser mais vantajoso do que o trabalhador livre. O artigo indaga
então sobre os porquês da transição, ainda que lenta, para o trabalho livre no Oeste
Paulista. Apontam-se razões econômicas e políticas, ao discutir-se as políticas de
subvenção à imigração, o imposto sobre o tráfico interprovincial e a
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disponibilidade de mão de obra. Defende-se a posição que a transição para o


trabalho livre, no Oeste Paulista, foi antes política do que econômica. Para a
cafeicultura paulista, a abolição fazia sentido, não tanto pelo lado econômico, já
que o capital empatado na propriedade cativa seria perdido, mas pelo político,
considerando-se que o fim da escravatura poria definitivamente em xeque um
sistema partidário ancorada, em grande parte, na cafeicultura fluminense.

Segunda Escravidão e Capitalismo no Século XIX: um debate


necessário - Ricardo Salles (Unirio)

Nos últimos anos vem se travando um vigoroso debate em torno do conceito de


segunda escravidão e da relação entre escravidão e capitalismo no século XIX. A
apresentação visa traçar um panorama desse debate, relacionando-o com as
discussões sobre o tema nas décadas de 1960 e 1970, bem como discutir a
pertinência da retomada do debate.

Tráfico Ilegal no sudeste brasileiro, pós-1850 - Walter Luiz Carneiro de Mattos


Pereira (UFF)

O tema proposto é parte de um estudo sobre o tráfico ilegal de africanos no litoral


do sudeste brasileiro, mais precisamente, pela possibilidade de identificar os
principais agentes envolvidos no negócio, que atuavam entre as fronteiras
integradas do norte da província do Rio de Janeiro e o sul do da província do
507
Espírito Santo, ou seja, uma história social do tráfico ilegal. Abalados com o cerco
ao tráfico ilícito, traficantes e negreiros promoveram escapadas ao contínuo mar de
praias fluminenses capixabas, entre as barras dos rios Paraíba do Sul, Itabapoana e
Itapemirim, por enseadas e deltas entre as duas províncias. A insistência em
desembarques de africanos nessas áreas contíguas denunciava a abertura de rotas
que partindo do litoral de atingiam o interior das províncias, seja para chegar às
margens do rio Paraíba do Sul, em Campos dos Goytacazes, e daí acompanhando
o leito do rio Muriaé, em direção ao extremo norte fluminense; seja adentrando ao
sertão capixaba, ultrapassando Cachoeiro do Itapemirim. Os dois destinos iam dar
em Minas Gerais, penetrando na sua Zona da Mata. O café avançava pela tríplice
fronteira e fazia sua ocupação dilatar rapidamente. Portanto, a persistência do
tráfico ilegal de africanos por aquelas plagas, pode ser tomada como um importante
fator na composição ou recomposição da força de trabalho no espaço definido.
Assim, o trabalho investe na possibilidade de apontar estratégias individuais ou
coletivas, dentro da trama que enredou o tráfico ilegal de africanos, depois de 1850.
A redução da escala permite observar a articulação de pessoas envolvidas seja na
repressão e no combate, seja na ilegalidade do tráfico, cujas ações revelam as
dimensões históricas do contexto.

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“Para dar de mamar a nhonhô”: amas de leite e maternidade escrava no Rio


de Janeiro Imperial - Mariana de Aguiar Ferreira Muaze (UNIRIO)

Na sociedade imperial, as referências as amas de leite são múltiplas e, muitas vezes,


ambíguas. Sobre elas falam os anúncios de jornal, as cartas privadas, as alforrias
concedidas em inventários, as teses médicas, as fotografias, ora valorizando sua
limpeza, saúde, recato, fidelidade, obediência e paciência; ora denegrindo esse tipo
de função como ocorria com alguns médicos e cientistas, principalmente na
segunda metade do século, quando o discurso higienista se fortaleceu. De uma
forma ou de outra, essas fon-tes nos mostram que a prática da amamentação de
crianças brancas por amas de leite escravas foi recorrente entre as famílias da classe
senhorial do Império e que as mesmas resistiram, ao máximo, em abandona-la a
despeito das críticas. As relações escravistas exercidas na esfera privada entre amas
de leite e seus senhores, se por um lado acabavam por criar afetividades, dedicação
e fidelidades entre os sujeitos históricos envolvidos (bebês, amas de leite, mães,
etc); por outro eram gesta-das num ambiente de abuso, humilhação, violência física
e simbólica, característico da própria escravidão como instituição. Portanto, a
função dessas mulheres as inserias numa dinâmica privada extremamente
conflituosa. A elas era permitida a convivência e a par-ticipação direta na vida
senhorial, sem tampouco modificar seu status de propriedade e a condição de
violência física e simbólica a que todo escravo estava submetido. Na maioria das
vezes, esse trabalho implicava em abrir mão do aleitamento de seus próprios filhos,
para cuidar do de outra mulher. A análise proposta, pensa a agência escrava, a partir
508
de dois prismas relaciona-dos. Primeiro, a grande incidência de amas de leite
dependia fortemente do costume vi-gente da não amamentação dos filhos por parte
das senhoras da classe senhorial, que pensavam tal ato como diferencial social, um
elemento de prestígio, respaldado por habi-tus senhorial escravista pautado em
relações sociais discricionárias, autoritárias e hierár-quicas. Segundo, entender a
função das amas de leite depende da compreensão de quem eram essas mulheres
de forma mais verticalizada, ressaltando sua agência, considerando questões sobre
qual o destino de seus filhos, que relações continuavam mantendo com suas
famílias de origem durante o aleitamento e que estratégias eram capazes de tecer
no ambiente doméstico senhorial.

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509
ST 52. Pesquisas em estudos
africanos: parcerias e perspectivas
interdisciplinares

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A biografia histórica nos Estudos africanos: literatura e política na luta pela


independência de Cabo Verde e Guiné Bissau. - Gustavo de Andrade
Durao (UFRRJ)

A compreensão acerca dos processos de emancipação dos países africanos correu,


na maioria das vezes, sob uma ótima idealizada, demonstrando a independência
como algo consumado. O continente europeu foi o espaço em que se encontrou as
primeiras representações da História Colonial, para somente depois de algum
tempo se pensar em História da África. Apesar de tudo os contatos coloniais entre
os povos africanos e as civilizações europeias até hoje não estão totalmente
resolvidos. O colonialismo português carrega o estigma de ter sido um dos últimos
a aceitar a métrica imperial nas relações transnacionais e é nesse contexto que
Amílcar Cabral é um dos autores mais importantes, pois ocupa lugar privilegiado
no debate sobre o pós-colonial nas produções, relacionando-se com outras
manifestações literárias surgidas na década de 1980. Com isso é possível perceber
como os conceitos de liberdade e de cultura são, em parte, emblemáticos desse
novo intelectual africano, que é ao mesmo tempo militante, literato e personagem
líder nessas representações dos movimentos de independência. Amílcar Cabral é
um pensador fundamental, contudo, devido talvez a “ilusão biográfica” pode ter
permanecido durante muito tempo no campo das análises raciais (ainda hoje
extremamente importantes) mas que o não possibilitou uma análise mais
aprofundada do seu papel na teoria pós-colonial. Por conta dos seus escritos de
época, como o “Retorno às bases” (1973), seguido por “Unidade e Luta” (1974) e
510
ainda “A arma da teoria” (1976) ele nos auxilia a desvendar ainda muitas relações
entre a antiga colônia, entre o papel do “entre-lugar” do pensador africano e ainda,
os dilemas em fazer um único processo de independência para dois países tão
distintos.

A Conjuração dos Degredados em Angola, 1763 - Juliana Diogo


Abrahão (UFRRJ)

Em um episódio de 16 de Março de 1763, o governador de Angola, Antônio de


Vasconcelos (1758 e 1764), em carta ao secretário dos negócios ultramarinos,
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, se reportou a uma “conjuração de
degredados”. Como o governador, em 1763 o juiz de fora de Luanda e os
camaristas informam ao secretário ultramarino sobre o atentado dos degredados e
as “desordens que eles têm cometido”. Novamente, o governador reforçou o
lastimoso “atentado dos degradados” e descrevendo as lideranças e as penas
aplicadas. A partir daí, o governador rogou para que não se mandassem degredados
de “vil conduta”, incluindo o líder José Álvares de Oliveira, natural de Porto
Alegre. Segundo Elias Alexandre, militar que em 1782 foi voluntariamente para
Angola, o governador Antônio de Vasconcelos tomou posse em 14 de outubro de
1758, cujo “gênio circunspecto se inclinava á justiça: era mais Juiz; que Orador: o
suplício seguia-se imediatamente ao delito.” O governador condenara vários
degredados que participaram da conjuração que objetivava atentar contra a sua
vida. Era de conhecimento público, segundo as testemunhas do Juízo da
Inconfidência, que o réu José Alvares “tinha determinado surpreender a guarda do
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Governador, matando depois, e aos seus subalternos, fazendo o mesmo aos


Ministros, matando também depois aos mais moradores, que se lhe opusessem”,
tudo isto para fugir com destino ao Recife de Pernambuco. Contudo, uma
testemunha denunciante, afirma que estes degredados pretendiam voltar ao Reino
de Portugal, pois “ficavam perdoados por um Decreto que tinha saído do Rei, no
qual perdoava a todos os criminosos, que se quisessem recolher ao Reino”.
Podemos observar através deste decreto que ao perdoar o Rei demonstra a sua face
como pastor, como pai, segundo António Manuel Hespanha. Mesmo com a prática
do crime nunca se quebram os laços, “o rei nunca deixa de estar no horizonte de
quem prevarica; que se antes não se deixou impressionar pelas suas ameaças, se
lhe submete, agora, na esperança do perdão”. Nesse sentido, os degredados não
perdiam a esperança de participar do pacto político com o rei. A punição era para
orientar, dar parâmetros, não apenas castigar pessoas diante das demais, punir nesta
sociedade demonstrava um ato de amor, de graça, de misericórdia e justiça. O Rei,
personificação da lei, deveria agir como pai, que tem o dever moral de punir seus
súditos para educá-los. Deve-se lembrar de que estamos buscando analisar uma
sociedade católica, na qual a Igreja representava o papel da moral, uma função de
controle sobre o homem, exigindo que os homens obedecessem às leis, ou seja, que
as leis os guiem. O Estado existia, mas não representava o grande controlador da
sociedade e das relações estabelecidas.

A Política Externa Independente e os discursos sobre a Arte da África em um


mundo sem fronteiras - Gabrielle Nascimento Batista (Programa de Pós-
511
Graduação em Artes Visuais (UFRJ))

Impulsionado pelos impactos da crise do Ocidente, em meados do século XX, o


Brasil reconfigurou-se no âmbito da política, buscando adequar-se às novas
demandas mundiais. Nesse contexto, situa-se a descolonização de países africanos
e o estímulo na desconstrução das “falsas doutrinas da desigualdade das raças”,
bem como o encorajamento dos “princípios da igualdade”. A África, para o
presidente Jânio Quadros (1961), era o palco perfeito que possibilitaria a expansão
econômica do Brasil e o tornaria uma potência emergente. Para tal, o governo
brasileiro abriu embaixadas no oeste da África — nos planos da Política Externa
Independente — e nomeou Raymundo Souza Dantas, um jornalista negro, como
embaixador em Gana, no intuito de divulgar o país como uma “democracia racial”.
Gasparino da Mata e Silva serviu como adido de imprensa nesta embaixada, entre
1962-1963, e além de atuar como diplomata, exerceu também o papel de
colecionador de arte africana. A montagem dessa coleção compreende,
paralelamente, um cenário de transformações do mundo da arte, onde a Unesco
assumiu um importante protagonismo no estímulo da construção de narrativas
artísticas universais, em um mundo que se desejava horizontal. Nessa reinvenção
da história da arte, os críticos acreditavam que o cânone europeu estava esgotado
e, por isso, os museus deveriam renovar os seus acervos a partir das representações
identitárias dos países não-ocidental. Damata, aliás, relata que esse período foi
marcado por uma corrida entre os colecionadores, justamente porque os objetos
“primitivos” assumiram valores extraordinários no mercado de arte. O
colecionador também conta que recolheu as peças em diversas tribos africanas,
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dando preferência às culturas materiais utilizadas em práticas tradicionais. No seu


entendimento, os utensílios comprados em feiras eram produzidos em série e, por
isso, assumiam a categoria de souvenir, sem valor museológico. Apesar da
embaixada em Gana ter sido considerada pelo embaixador Souza Dantas como
“uma missão condenada”, para o adido Damata as experiências no outro lado do
Atlântico o possibilitou dialogar com prestigiosos agenciadores, inclusive com
críticos vinculados à AICA — associação artística criada no âmbito da Unesco.
Diante do destaque que assumiu na imprensa, a partir dos escritos em que
reconstrói paradoxalmente as culturas africanas à imagem do ocidente, vendeu a
coleção para o Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1964, por 2
milhões de cruzeiros, como “um acervo de arte de altíssimo valor”. Nesse sentido,
esse trabalho abordará dois aspectos: o projeto político do Brasil em Gana, na
política Externa Independente de Quadros; e os jogos de poder utilizados por
Damata, na consagração e na artificação dos objetos africanos.

Avassalamento, Justiça e alguns tributos e taxas cobrados na Angola


portuguesa de Fernão de Sousa (1624-1630) - Alec Ichiro Ito (USP)

Este texto discorrerá sobre o funcionamento de alguns tributos e taxas que eram
cobrados pelos capitães de presídios, moradores e demais agentes portugueses que
atuavam na Angola portuguesa dos séculos XVI e XVII. Para tal, analisaremos as
definições esboçadas para algumas práticas tributárias e taxativas que foram
incorporadas pelo oficialato régio, amiúde de maneira ilícita, durante o governo de
512
Fernão de Sousa (1624-1630). A princípio, essas práticas eram de origem mbundu,
sendo identificadas na escrita administrativa com os nomes de “infuta”, “loanda”,
“ocamba”, “infuca”, “baculamento” e outros mais. Nossas principais considerações
estão divididas em duas partes. Na primeira, argumentaremos que a experiência
histórica dos contatos luso-africanos atesta para a tentativa de fortalecer o sistema
tributário e os mecanismos de controle e fiscalização portugueses, cristalizando
com isso um espaço de ordenação judiciário gerido a partir de Luanda e dos
presídios do interior. Na segunda parte, comentaremos que o processo de tradução
e explanação dessas práticas, na medida que também eram vocábulos incorporados,
girava em torno da comparação semântica, da polissemia e da imposição de um
significado renovado ao empréstimo lexical, de sorte que o processo de
significação acabava infundido pela experiência colonial de dominação.
Concluiremos que as práticas de “infuta”, “loanda”, “ocamba”, “infuca” e
“baculamento” estavam relacionados à formação de uma nova tessitura
sociopolítica na Angola portuguesa, incontornavelmente influenciada pela situação
assimétrica dos contatos luso-africanos e pela imposição do avassalamento aos
sobas (chefes). No final das contas, os sobas vassalos acabavam relegados a um
contrato de comprometimento que, por um lado, abarcá-los-ia em uma só Justiça,
operante em função do Governo do corpo místico do rei; por outro lado, esse
mesmo contrato relegava-os ao estatuto de membros dessemelhantes e inferiores
da sociedade hierárquica e desigual da Angola portuguesa.

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Lugha ya Taifa: Abordagens sobre a formação do suaíli como língua franca


na África oriental - Felipe Barradas Correia Castro Bastos (UNICAMP)

Estimativas recentes apontam que a língua suaíli (kiswahili) é utilizada como


língua franca por aproximadamente 80 milhões de falantes numa vasta porção do
continente africano (ROY, 2013) numa dimensão territorial que compreende
Somália, Quênia, Tanzânia e Moçambique, na costa índica, e Ruanda, Uganda,
Burundi e a República Democrática do Congo na região lacustre da África central.
Este trabalho busca ponderar acerca das ambiguidades identificáveis no processo
histórico que conduziu à atual difusão do suaíli de maneira a elencar um conjunto
fundamental de perguntas, bem como apontar às respostas que lhes foram dadas
em diferentes períodos. Em primeiro lugar, como um conjunto de “dialetos”
relativamente intercomunicáveis e falados em diversas vilas costeiras da África
oriental séculos antes da invasão colonial foram alçados ao estatuto de língua
franca durante o colonialismo britânico na África oriental e no Katanga belga? Em
segundo lugar, quais foram as razões elencadas por colonialistas para proceder pela
deliberada seleção e manipulação linguística do dialeto zanzibari (Kiunguja) para
a criação de um “suaíli padrão” (kiswahili sanifu) a partir de 1930? E, por fim, por
quais maneiras a língua suaíli foi apropriada como elemento central no processo de
independência e construção de identidade nacional na atual República Unida da
Tanzânia? O objetivo principal da análise destas questões é situar historicamente a
apropriação da língua suaíli enquanto “língua nacional” (lugha ya taifa) da
Tanzânia independente como um ponto de partida para outras reflexões sobre o
513
componente linguístico dos processos de libertação do continente africano. Por
meio de perspectivas teóricas oriundas da sociolinguística, da antropologia e do
campo de estudos africanos e literários, buscamos argumentar que olhares atentos
às vicissitudes históricas que determinaram a promoção de determinadas línguas
em relação a (ou em detrimento de) outras podem ser elucidativos de fenômenos
de grande envergadura, tais como o estabelecimento de redes suaílis de comércio
caravaneiro, o advento do colonialismo na África oriental e a mobilização política
conduzida por movimentos anticoloniais. Por fim, propõe-se que a análise
diacrônica do contexto sociolinguístico tanzaniano – no qual se solidificou o
primado da língua suaíli – pode servir para refletir a respeito das “ideologias
linguísticas” produzidas e perpetuadas pela modernidade europeia, em particular a
correlação causal traçada entre diversidade linguística e instabilidade política.

Memória, cinema e império colonial: uma análise do documentário Angola -


no outro lado do tempo, de Mário Brito (1996) - Isabel de Souza Lima Junqueira
Barreto (Empresa Municipal de Multimeios)

O documentário Angola, no outro lado do tempo, de Mário Brito (1996), objeto do


presente texto, é um rico exemplo de como a seletividade da memória atua para
perpetuar uma determinada visão do passado. Apresenta-nos a Angola colonial nos
anos 1960 e 1970. A obra audiovisual em questão retrata uma vida e uma sociedade
que não mais existem: uma espécie de paraíso tropical em que tudo funcionava sem
maiores atritos, na visão de uma minoria privilegiada. Mário Brito, através de sua
película, buscou passar a ideia de uma sociedade pulsante, com riqueza e
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crescimento econômico, avançada nos costumes em relação à própria metrópole.


Imagens, entretanto, têm, não raro, uma força que extrapola intenções de
construção denotativa de uma dada memória coletiva. Ao longo da película, o que
se torna cristalino para o observador atento é a patente desigualdade e a exploração
na qual se assentava aquela sociedade. Busco, por meio de um quadro teórico que
se propõe a pensar a relação entre memória, cinema e império colonial, a partir das
obras de Marc Ferro, Michael Pollack e Patrícia Ferraz de Matos, entre outros,
mostrar como o filme ora analisado se insere na perpetuação de uma dada
representação do império colonial português. Visão difundida ainda nos dias atuais,
de que o colonialismo lusitano era soft em relação aos demais empreendidos por
nações europeias. O Portugal contemporâneo tenta se alhear sub-repticiamente das
máculas inoportunas de seu passado colonial, como bem demonstra o antropólogo
Miguel Vale de Almeida em passagem do último episódio da série Racismo à
Portuguesa, ao declarar de forma enfática e luminar: “metemos o racismo em baixo
da cama, metemos a escravatura em baixo da cama, metemos a violência em baixo
da cama, metemos a guerra colonial em baixo da cama”, tendo a Revolução dos
Cravos e os governos subsequentes fracassado em derrubar o sedutor, porém
ilusório, mito do “bom colonizador”. O filme em questão continua, portanto, a
despertar importantes e atualíssimos questionamentos para a análise da memória
social construída no pós-colonialismo. Isso faz com que o racismo, na atualidade
(que se quer mais instruída e integrada), seja também posto “em baixo da cama”,
como águas passadas que se deseja esquecer. Para contextualizar a memória
coletiva que Mário Brito buscou retratar, irei lançar mão de passagens de edições
514
da Revista Notícia publicadas entre Janeiro de 1974 e Fevereiro de 1975. Fazendo
um contraponto a elas recorro a estudiosos da guerra de libertação nacional e das
revoltas ocorridas em Angola às vésperas do princípio da guerra colonial, como a
ocorrida nas plantações de algodão da Baixa do Cassange em Janeiro de 1961.

Música e oralidade para compreensão das dinâmicas sociais no Congo-RD


(1930-1961) - Evelyn Rosa do Nascimento (PUC-Rio)

A comunicação tem por objetivo discorrer sobre importância da música popular no


cotidiano de sociedades africanas, tendo como recorte a sociedade colonial
congolesa, atual Congo-Kinshasa, analisando a rumba congolesa - gênero musical
de grande popularização na década de 1950 - como exemplar das múltiplas
determinações, trocas e relações existentes no período. Nesse sentido, nosso estudo
tem a música como documento histórico e como ponto de referência para uma
abordagem social sobre a influência da rumba congolesa. Dessa forma, propomos
apontar o impacto dessas canções nas interações sociais e na formação de uma
identidade congolesa urbana que se gestava durante o período de luta pela
libertação.

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O "messias" negro: Frantz Fanon e a luta revolucionária - Pedro Beja (PUC-


Rio)

Esta proposta de comunicação se propõe a analisar, ainda que de forma preliminar,


a atuação intelectual e revolucionária do ativista e teórico martinicano Frantz Omar
Fanon entre os anos de 1947 e 1952 a partir de um estudo de caso dos conceitos
trabalhados pelo autor na obra “Pele Negra, máscaras brancas” (1952). Adotando
o termo “messias negro” para caracterizar Fanon, tendo em vista o memorando de
1968 do COINTELPRO (Programa de Contrainteligência norte-americano
conduzido pelo FBI) que elaborou cinco necessidades de prevenção aos grupos
nacionalistas negros, o objetivo central desta comunicação será reconstruir
histórica e sociologicamente a atuação de um sujeito político que serviu de base
para todos os movimentos de luta por direitos civis nas décadas posteriores a 1950
até hoje.

O Ndongo e o envolvimento no tráfico atlântico de escravizados (século


XVI) - Luciana Lucia da Silva (PPGHIS/IH - UFRJ)

A comunicação proposta busca apresentar alguns aspectos da relação mantida entre


portugueses e povos Mbundu – denominação dada aos falantes do kimbundu que
ocupavam uma larga faixa da África Central Ocidental – no momento inicial da
presença estrangeira na região, que se deu já no século XVI, em decorrência da
associação do Ndongo ao tráfico atlântico de escravizados. O reino do Ndongo,
515
habitado por um subgrupo entre os Mbundu, se situava na região que ficou
conhecida como Angola a partir do início da presença portuguesa no local. Ao se
relacionar com europeus, em especial os portugueses, e enviar um enorme
contingente de pessoas para as Américas, o Ndongo esteve intimamente ligado ao
Atlântico e, portanto, exposto aos efeitos do contato com diferentes culturas. Dessa
forma, é necessário se pensar a história do Ndongo, no período aqui considerado,
em conexão com a existência de um Mundo Atlântico no qual os Mbundu não
apenas se inseriram, mas ajudaram a construir. Além disso, é preciso considerar
que nessa região foram mantidas relações bastante diferentes daquelas
estabelecidas pelos portugueses em outras localidades da costa africana até então.
Nela deram-se contatos, estabeleceram-se alianças e conflitos de forma bastante
intensa e peculiar entre portugueses e africanos; o que viria a resultar no
estabelecimento da futura colônia de Angola. Portanto, o objetivo deste trabalho é
pensar dinâmicas presentes nos primeiros contatos entre os portugueses e os
habitantes do Ndongo, que tinha como pano de fundo o tráfico atlântico de
escravizados. Buscaremos perceber nesse momento inicial o fator relacional entre
interesses portugueses e Mbundu – os quais certamente estiveram envolvidos nesse
processo, mas têm o seu papel muitas vezes negligenciado na escrita da história.
Portanto, questionamos quais teriam sido as motivações, os interesses e as
expectativas presentes no desejo do estabelecimento dessa relação tanto para
portugueses quanto, e principalmente, para africanos. Além de problematizar o
lugar e a importância da escravidão na sociedade Mbundu, pensando-a como fator
imprescindível para a inserção do Ndongo no comércio atlântico de escravizados.

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O olhar do jurista José Gonçalves Cotta sobre os ritos de iniciação: uma


análise do "Projecto Definitivo do Código Penal para os Indígenas de
Moçambique" - Cristiane Soares de Santana (UFBA)

O ato de codificar era uma estratégia de buscar normatizar os comportamentos


visando o combate das práticas culturais das populações indígenas. O lobolo, os
ritos de iniciação, as festas, as crenças religiosas e os cuidados de saúde, etc.
constituíram espaços de combate entre o poder do colonizador e a resistência dos
nativos. Compreendendo o “Projecto” definitivo do Código Penal dos Indígenas da
Colônia de Moçambique como instrumento jurídico elaborado por um jurista
português José Gonçalves Cotta a mando da administração colonial, buscaremos
apresentar nesta comunicação as representações sobre as práticas ritualísticas dos
nativos na obra supracitada.

O que é ser civilizado? O que é não ser civilizado? Representações coloniais


dos povos da Guiné "Portuguesa" - Isabelle Baltazar Cunha da Cruz (UFBA)

Resgatando brevemente a trajetória do conceito de civilização no decorrer da


Modernidade, é possível acompanhar os usos que são atribuídos no decorrer dos
séculos. Foi possível identificar durante o século XVI, XVII e XVIII, dois sentidos
para o termo: primeiro, levar à civilidade; e o segundo sentido está vinculado à
jurisprudência. Diante de uma série de novas experiências e transformações, e a
partir de diversas obras publicadas a significação relacionada à jurisprudência caiu
516
em um processo de desuso. Obtendo apenas um único uso no século XIX, formou-
se um conceito unificador. O termo passou a designar, primeiramente, o processo
que torna os homens civilizados, e posteriormente o resultado acumulativo deste
processo. É neste contexto que é possível notar e estabelecer a relação entre a
acepção de progresso e o conceito de civilização. Através desta relação surgem
variadas teorias científicas a fim de distinguir as etapas do processo civilizador e
os estágios do progresso das sociedades, com o intuito de criar um quadro dos
progressos do espírito humano e dos diversos estágios de aperfeiçoamento
sucessivos. Passando por teorias dos mais variados campos do conhecimento, tem-
se a busca por pensar e compreender os ciclos e etapas da civilização. Foi através
destas teorias e dos discursos construídos a partir delas que se legitimou a
justificativa da colonização em África. Mais, afinal de contas, o que é ser
civilizado, na Guiné "Portuguesa"? O que é não ser civilizado? Por quais caminhos
perpassam as significações e sentidos deste conceito nas classificações realizadas
sobre os Povos da Guiné? Ao se utilizar do termo de não-civilizado para representar
os Povos que habitavam a Guiné, é possível identificar a lógica como o Estado se
imagina (o civilizador) e a maneira como classifica as sociedades que "administra"
(os que necessitam de serem civilizados). Mais qual seria a ordem de classificação
que guia o olhar colonial? Estaria ela baseada na questão da língua e da
alfabetização? Através de dispositivos culturais, econômicos, religiosos? Ou até
mesmo a partir da concepção de raça? Causa estranheza notar que sociedades
desenvolvidas culturalmente e na esfera do comércio, tenham sido classificadas
como não civilizadas. Outro fator a ser observado neste artigo, é pensar como eram
classificados os "assimilados" da Guiné. Minha intenção é a partir destes
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questionamentos e da análise de distintos documentos (Acto Colonial, Censos, os


documentos originados a partir da Missão de Geografia à Guiné e fotografias)
provar como este conceito foi utilizado a partir da visão/ideologia eurocêntrica, e
se a partir das sociabilidades e relações existentes entre portugueses e os distintos
grupos da Guiné, houve a possibilidade de modificações nestas representações.

Podemos falar em África na Antiguidade Tardia? Um ensaio sobre os pós


coloniais e suas contribuições ao tema - Waleska Souto Maia (PUC-Rio)

Os estudos sobre a pluralidade do continente africano e as diversas representações


sobre a África, ao longo de inúmeros períodos históricos, vêm sendo expandidos e
enriquecidos desde a denominada, genericamente, teoria pós-colonial. Neste
campo teórico, complexificado e (re) significado pelos atuais estudos que
envolvem a História da África, destaca-se no que se refere a busca por uma
desnaturalização e a compreensão da representação de África V.Y. Mudimbe.
Amparada por sua reflexão desenvolvida em A ideia de África, de que a própria
denominação do continente deve ser problematizada, defendo que, a partir dos
documentos de Agostinho de Hipona, e fontes de sua época, precisamos considerar
e historicizar o que se entendia por África na Antiguidade Tardia, as relações de
conflito e poder , continuidades e descontinuidades em torno de tal representação
desde o Mundo Antigo, tendo meu recorte temporal específico no denominado
Baixo Império Romano. Objetiva-se assim, apresentar o que a historiografia e
Agostinho apresentam como África em meados do século V. A escolha de
517
Agostinho se faz na medida em que ele atuou em Hipona, uma das cidades púnicas
transformadas no processo histórico que ficou conhecido como Romanização,
assim como o autor nascera em Tagaste, atual Argélia. Apesar da relação do autor
com o espaço situado no Norte da África, suas ideias são muitas vezes apresentadas
desconectadas das tensões política, econômicas e sociais ali existentes, o que será
problematizado com base, fundamentalmente, na História Crítica e Social
desenvolvida por Neal Wood, The Social History of Political Theory e Ellen Wood,
Citizen to lords: The Social History of Westerns olitical Thought From Antiquity
to the Middle Ages. Finalmente busca-se apresentar a singular importância dos
estudos pós coloniais para a historiografia desenvolvida no Brasil, nas últimas
décadas, sobre o Baixo Império Romano. Dialogando com Brunno Oliveira Araujo,
Uma Introdução ao Baixo Império Romano: Pesquisa e Debate Científico no
Brasil, entre outros, desenvolverei uma análise sobre de que maneira os estudos
pós coloniais, impactaram o entendimento em torno de Imperialismo e a definição
clássica de Romanização, ruindo com a ideia de mera aculturação dos povos
dominados “subordinados” a cultura clássica romana. Ainda sob este prisma,
ocorre a ruptura com a percepção do expansionismo romano como meramente
defensivo e de aculturação. Assim busca-se assinalar a complexidade do processo
e as várias teias de alianças e poder ali instauradas.

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Representar, Testemunhar e Narrar: Raça e nação na literatura de


Pepetela - Carolina Bezerra Machado (UFF)

Para Pepetela a fronteira racial existente em Angola teria ficado mais evidente
quando deixou Benguela e foi dar continuidade aos seus estudos em Lubango,
cidade de maioria branca. De acordo com o escritor, lá as crianças negras ‘recebiam
tratamento diferenciado, sendo mais vigiadas e castigadas em sua disciplina”.
Portanto, para o escritor angolano, a vivência frente à essas diferenciações raciais
existentes em seu país, vão marcar as suas posições como intelectual. Os debates
acerca da questão racial estarão presentes na maior parte de suas obras, ressaltando,
sobretudo, o racismo do período colonial, mas apontando para os problemas
enfrentados pela sociedade angolana no período anterior e posterior a
independência. Essas primeiras percepções sobre o social influenciarão a sua
escrita, trazendo problemáticas que levarão ao desenvolvimento de uma concepção
nacionalista baseada na integração racial. A partir destas questões, o objetivo da
presente comunicação é problematizar as representações sobre raça e nação em
Angola a partir de alguns romances de Pepetela, destacando, sobretudo, a complexa
relação social que envolve os seus personagens.

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ST 53. Políticas públicas no Brasil:
trajetórias e debates

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A Constituição da Capital Imperial enquanto projeto unificado: O


Desenvolvimento do Saneamento (1843-1865) - Sandrine Alves Barros da
Silva (UFF)

Buscando compreender a forma como as políticas sanitárias se estabelecem na


cidade do Rio de Janeiro no período entre 1843 e 1865, o presente trabalho
analisará o processo de elaboração dos projetos de obras públicas, cruciais para a
construção da capital imperial, além de discutir a transformação na noção de
saneamento, vinculada inicialmente à intervenções higienistas, e relacionada às
políticas sanitárias ligadas à construção civil no período assinalado. Para tal,
recorreremos a noções de Estado, bem como as influências exercidas por este e
pelas frações intelectuais do período, seja por meio de medidas legais, ou ações
cotidianas. Sobre este aspecto, abordaremos o Decreto n° 598 de 1850, a partir do
qual são destinadas verbas e orientações administrativas de gerenciamento de uma
política sanitária, além de identificarmos que um eixo das medidas de saneamento
se junta à expansão da cidade, e também à “expulsão” das classes mais pobres para
fora do seu centro administrativo. Nos é fundamental observar que a análise de
marcos jurídicos, como o supracitado, sinaliza para o processo de formação de um
novo campo de saber com bases técnico-científicas, o da Engenharia Civil, que ao
se distanciar das funções e corporações militares, conforma-se enquanto espaço de
formulações e debates que expressarão interesses políticos e econômicos em
disputa no período. Como marco desse processo, cabe apontar a inauguração, em
1858, dos trajetos iniciais da Estrada de Ferro Dom Pedro II, que possibilitava a
520
ligação das áreas centrais da cidade às periferias, possibilitando a concretização do
projeto que se iniciou com os médicos higienistas, de remanejamento populacional,
além de marcar as maiores modificações do perímetro urbano que aconteceram na
capital.

A política penitenciária e o processo de construção de uma nova unidade


prisional em Iporá-GO - Marcello Rodrigues Siqueira (UEG)

Este trabalho trata da política penitenciária tomando como objeto de investigação


a unidade prisional do município de Iporá-GO no período compreendido entre 2014
e 2018. É um tema-problema que tem ocupado os estudiosos, preocupado as
autoridades e conquistado cada vez mais espaço nas mídias e redes sociais. Depois
da inspeção da Unidade Prisional de Iporá realizada pelo Conselho Penitenciário,
o Deputado Estadual Mauro Rubem, Presidente da Comissão de Direitos Humanos,
Cidadania e Legislação Participativa, encaminhou o relatório desta inspeção para
o Ministério Público de Goiás. O MP recebeu a representação e em 16/01/2014
entrou com uma ação civil pública com pedido liminar com obrigação de fazer
(Construção de nova unidade prisional, colônia agrícola/industrial e reforma em
construção para funcionamento como casa de albergado) contra o Poder Público
Estadual. Então, caberia perguntar: O Poder Judiciário pode intervir na política
criminal adotada? Seguindo a linha de pensamento adotada por Oliveira (2008),
parte-se do pressuposto de que o Poder Judiciário pode e deve intervir em políticas
públicas para conferir aplicabilidade aos direitos fundamentais, sobretudo, quando
se trata de controle e intervenção nas políticas penais, desde que voltada à
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salvaguarda dos direitos e garantias fundamentais. Nesse sentido, o objetivo é


conhecer e analisar as propostas e desafios da política penitenciária adotada e, mais
especificamente, avaliar a situação considerando a unidade prisional de Iporá-GO.
Para tanto, tomou-se como principais documentos de referência o Plano Nacional
de Política Criminal e Penitenciária de 2015, a Política Penal do Governo Federal
que trata da “Construção de Estabelecimentos Penais Estaduais”, o Plano
Plurianual (PPA) 2016-2019 do Estado de Goiás no que se refere ao Programa de
Estruturação e Modernização das Unidades de Segurança Pública e, mais
especificamente, a referida Ação Civil Pública. Nº. 18140-37.2014.809.0076
(201400181407). Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa
teórico-empírica realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e
eletrônicas.

A Tutela Jurídica Do Louco Infrator: Um Estudo Acerca do PAILI em


GOIÁS (2006-2019) - Tatiana de Freitas (UEG)

Neste trabalho busca-se realizar uma análise crítica acerca do instituto da tutela
jurídica no ordenamento brasileiro destinado aos “loucos” e, mais especificamente,
avaliar as possibilidades e limites do Programa de Atenção Integral ao Louco
Infrator (PAILI) em Goiás no período compreendido entre 2006 e 2019. Segundo
a Portaria Nº 019/2006-GAB/SES, o PAILI foi criado considerando a Lei nº
10.216/01, a resolução nº 5 do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, de 4 de maio de 2004, as propostas da III Conferência Nacional de
521
Saúde Mental e o relatório do Seminário Nacional para Reorientação do Hospital
de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. Nessa linha de tempo, a problemática
subjacente ao tema central diz respeito à própria regularidade do serviço, dinâmica
e funcionamento do PAILI. Então, caberia perguntar: O modelo tradicional de
tutela jurídica do louco infrator foi superado? Os interesses individuais e coletivos
foram respeitados? E a pergunta-chave: que benefícios reais o PAILI trouxe para
pacientes e familiares? A hipótese é que a inserção de direitos fundamentais sociais
tem por base a igualdade real de oportunidades aos diversos segmentos sociais,
inclusive do louco infrator, vindicando a realização de políticas públicas como
instâncias de acesso e de bem estar psicofísico social da pessoa. Para fundamentar
teoricamente esta pesquisa recorreu-se a Delgado (1992), As razões da tutela;
Gonçalves (2012), Tutela de interesses difusos e coletivos; Silva (2010), O desafio
colocado pelas pessoas em medida de segurança no âmbito do Sistema Único de
Saúde: a experiência do PAILI-GO; Soares e Diniz (2016), Os serviços
substitutivos em Saúde Mental e as alternativas à lógica manicomial: O Programa
de Atenção Integral ao Louco Infrator (PAI-LI) como prática inovadora; entre
outros. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa teórico-empírica
realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e eletrônicas por
meio de uma abordagem multidisciplinar abrangendo tanto os aspectos históricos
quanto os jurídicos. Entre os resultados, espera-se que o acompanhamento de casos
concretos possa evidenciar – ou não – a necessidade de adequação das políticas
públicas.

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As contradições público privado no discurso do governo de Goiás com base no


decreto 8469 de 2015 - Thalia Stéfany Lima Correia (UEG - Iporá)

O objetivo deste texto é analisar o decreto 8469 de 2015 que se trata da justificativa
para a implantação da gestão da educação básica compartilhada com Organizações
Sociais em Goiás. O governador do estado, Marconi Perillo (PSDB) apresenta, no
referido decreto, um discurso que eleva a educação privada e reduz a educação
pública. Nesse discurso aponta que a educação básica tem muito o que melhorar e
a iniciativa privada torna-se um exemplo a seguir ou pode prestar o devido serviço
para a melhoria do segmento público. Constatamos que, em vários casos, os
mesmos professores atuam nas instituições públicas e privadas. Também, que a
precariedade da escola pública, que sofre com a falta de valorização do professor,
falta de incentivo para gestores, falta de estímulo para alunos e professores, falta
de material que possa atender às necessidades educacionais e melhores estruturas
físicas da escola é responsabilidade do Estado que se exime da responsabilidade e
sinaliza para uma culpabilização dos profissionais do segmento público. A questão
metodológica que conduz essa pesquisa é a análise documental com vistas a uma
crítica social e análise do discurso de profissionais que atuam nos dois segmentos,
público e privado, para uma comparação com o discurso do governo.

Educação e migração nas escolas públicas estaduais do município de


Amorinópolis-GO (2014-2018) - Morgana Priscila Soares Vivaldo (UEG)
522
Esta pesquisa discute a relação entre educação e migração tomando como objeto
de investigação as escolas públicas estaduais do município de Amorinópolis-GO
no período compreendido entre 2014 e 2018. Por meio desta pesquisa foi possível
perceber que estudantes migrantes têm passado por diversos tipos de dificuldades
que, em última instância, tem levado à evasão escolar. Esta é a principal
problemática a ser tratada nesta pesquisa. Em relação aos objetivos, busca-se
discutir as relações entre educação e migração e, mais especificamente, conhecer a
situação dos estudantes migrantes nas referidas escolas, analisar o papel do Estado
e as transformações decorrentes de suas ações na formulação e implementação de
políticas públicas educacionais. Quanto a fundamentação teórica destaca-se os
trabalhos de Bartlett, Rodríguez e Oliveira (2015), Espinosa e Vendramini (2016),
Queiroz e Santos (2015), entre outros. Do ponto de vista metodológico, trata-se de
uma pesquisa teórico-empírica baseada em ampla pesquisa bibliográfica, eletrônica
e documental.

Estado, Políticas e História da Educação: dos processos de criação, expansão


e reestruturação da Universidade Estadual de Goiás (1999-2016) - Suzana
Rodrigues Floresta (FAI)

O objeto de investigação desta pesquisa foi delimitado considerando-se os


processos de criação, expansão e reestruturação da Universidade Estadual de Goiás
no período compreendido entre a sua criação em 1999, por força da Lei 13.456, de
16/04/1999, e o ano de 2016. Primeiro, a estruturação da UEG sempre foi uma
política para o desenvolvimento do Estado de Goiás? Segundo, a UEG já nasceu
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estrategicamente beneficiando todos os municípios do Estado? Para alguns autores


o desenvolvimento é frequentemente associado (e confundido) com crescimento
econômico e industrial. Além disso, pelo seu caráter difuso, é alvo de constantes
questionamentos, de sucessivas construções e desconstruções. Mais que um
conceito estático, é um processo dinâmico. Por isso, pensá-lo na atualidade é um
enorme desafio. Portanto, parte-se do princípio de que o desenvolvimento é um
processo complexo que não pode ser observado somente por meio de indicadores
agregados que escondem assimetrias e desigualdades, nem pode assentar em bases
frágeis que comprometam a sua continuidade. Serão adotados vários
procedimentos metodológicos necessários para se obter respostas aos
questionamentos e aos objetivos propostos. De certa forma, a intenção aqui é
realizar uma "análise de política". Trata-se de uma técnica de estudo e pesquisa que
permite formar uma opinião acerca de determinada política pública. De acordo com
os interesses e do ponto do qual se interpreta e analisa, podem-se obter diversos
julgamentos sobre a mesma, possibilitando comparações com outras. Na
perspectiva da "análise" serão considerados os discursos oficiais e não oficiais, ou
seja, os discursos explícitos e implícitos, considerando, inclusive, o estudo da
ausência de uma política, já que o silêncio acerca de uma determinada questão pode
ser uma estratégia de ação frente à mesma. Nesse sentido, entre os autores
escolhidos para analisar as políticas públicas no âmbito desta pesquisa destacam-
se: 1) em relação a fase da agenda, Kingdon (1984); 2) para a fase de formulação
de políticas foi selecionado os seguintes autores: Hoppe, Graaf e Dijk (1985); 3)
quanto a fase de implementação, Kiviniemi (1985); 4) finalmente, Franco e Cohen
523
(1988) vão subsidiar as discussões em torno da avaliação das políticas públicas.

O Direito Surdo: analises sobre a aplicação do Decreto 5626 nas escolas


publicas de segundo seguimento da região metropolitana do Rio de
Janeiro - Tuanny Dantas Lameirão (UFRRJ)

Até o início do século XX a surdez era vista apenas por uma perspectiva clínica, o
surdo era pensado como incapaz de adquirir autonomia, moralmente incompleto,
do qual era necessário tutelar e ensinar a pensar e comportar se. Nos anos
subsequentes houve grandes avanços quanto ao entendimento do surdo e da surdez
como uma diferença, lutas foram travadas em diversos meios: acadêmico, escolar
e social, buscando incorporar uma nova ótica que perceba o surdo como indivíduo
ativo na sociedade, porém, este ainda é um espaço em disputa. Se de um lado a
virada do século XX para o XXI é um marco da confirmação hegemônica do
capitalismo neoliberal que precariza os direitos trabalhistas e sociais e
consequentemente amplia a exclusão; por outro, este foi o momento de crescimento
do debate acerca do diferente na educação, do direito ao acesso e permanência de
grupos historicamente marginalizados ao ensino, incluindo os Surdos. As
Declarações Mundial de Educação para todos e de Salamanca, assinadas por
diversos países incluindo o Brasil, são marcos da significativa ampliação do
discurso em prol da inclusão. Em meio ao crescimento desse discurso e da
visibilidade internacional dos movimentos de universalização do acesso ao ensino
básico, o Brasil inicia um processo legislativo em diferentes setores da educação:
gestão, currículo, avaliação entre outros, incluindo o que aqui referenciamos: a
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inclusão. No que tange a inclusão de surdos essas mudanças legislativas se


intensificam a partir da posse do governo Lula, 2003. Dentro de uma pauta política
de investimentos em inclusão social e reivindicados por movimentos sociais e
populares da comunidade surda temos a criação de uma legislação que afirma
direitos aos surdos, entre as leis destacasse a Lei n° 10.436/02, que afirma a Libras
como língua materna dos surdos, e o Decreto nº 5.626 que garante às pessoas
surdas, o direito à educação inclusiva, com adequações necessárias para o acesso à
comunicação, à informação e à educação. Como consequência de processo os
tivemos o aumento exponencial de matriculas de alunos surdo em salas de aulas
regulares de ensino na rede pública. Dentro deste panorama é inegável os avanços
legislativos acerca da inclusão de surdos e uma mudança radical representação
política e cidadã do indivíduo surdo, mas com se dá a incorporação dessas políticas
públicas dentro do ambiente escolar? Nesse trabalho intentamos analisar a
incorporação da legislação vigente, sobre tudo o decreto n° 5.626 em diferentes
municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Os historiadores no debate sobre as cotas raciais: os sentidos da


disciplina - Matheus de Carvalho Leibão (UERJ)

O estudo pretende discutir o posicionamento de historiadores perante às diferentes


iniciativas de políticas de ação afirmativa em prol da entrada de estudantes negros
e índios nas universidades públicas brasileiras. A discussão se pautará a partir da
análise de textos de opinião publicados por profissionais do campo da História no
524
jornal "O Globo", além de entrevistas concedidas por eles ao mesmo veículo. Como
recorte cronológico da pesquisa, foi escolhido o período entre 2003 e 2012, que
compreendem o início das cotas raciais na UERJ e a aprovação da lei 12.711/2012,
também conhecida como "Lei de Cotas". Entende-se aqui que, apesar de não serem
o tipo de profissional mais constante nos debates promovidos pelo jornal, os
historiadores cumprem um papel importante na promoção do debate sobre esta
forma de politica pública ao aprofundarem discussões pertinentes sobre o passado
das relações raciais brasileiras. Portanto, o foco deste estudo está na forma como
os historiadores contribuíram para a formação de determinados entendimentos
acerca da relevância do racismo na composição social brasileira, de que forma ele
se entrelaça com a desigualdade social, e também de como se conformou um certo
consenso acerca da identidade nacional em torno da ideia da mestiçagem.

Políticas Públicas em Educação: A questão da violência escolar, capacitação


docente e segurança no ambiente escolar em Iporá-GO - Patrícia Machado
Alves (Universidade Estadual de Goiás)

Este trabalho tem como objeto de investigação a política pública em educação do


município de Iporá-GO. De acordo com o art. 7˚ da Lei nº 13.005, de 25 de junho
de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências,
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios atuarão em regime de
colaboração, visando ao alcance das metas e à implementação das estratégias
objeto deste Plano. Assim, o objetivo desta pesquisa é verificar se o município de
Iporá tem garantido as políticas de combate à violência na escola, inclusive pelo
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desenvolvimento de ações destinadas à capacitação de educadores para detecção


dos sinais de suas causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a
adoção das providências adequadas para promover a construção da cultura de paz
e um ambiente escolar dotado de segurança para a comunidade. Para tanto, tomou-
se como principais documentos de referência o Plano Nacional de Educação e a
Lei Complementar nº 06/2015 que institui o Plano Municipal de Educação. Do
ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa teórico-empírica realizada a
partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e eletrônicas.

Propostas e desafios da Política Criminal: Complexidade Constitucional e a


Conflitividade Social em Iporá-GO - Maiana Tainara Silva Dias (Universidade
Estadual de Goiás)

Este trabalho tem como objeto de investigação a criminalidade no município de


Iporá-Go. Trata-se de um tema-problema que tem afetado o meio urbano e rural,
preocupado as autoridades e ocupado cada vez mais espaço nas mídias e redes
sociais. Nesse sentido, o objetivo é analisar as propostas e desafios da política
criminal adotada e, mais especificamente, repensar a realidade socioeconômica de
Iporá-Go na sua relação com a criminalidade. Para tanto, a segurança pública é
encarada como objeto privilegiado para se pensar a complexidade constitucional e
a conflitividade social. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa
teórico-empírica realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e
eletrônicas.
525
Territórios da loucura: repensando o Programa de Assistência Integral ao
Louco Infrator no Estado de Goiás - Laressa Alves Moraes (UEG)

O presente trabalho busca conhecer e analisar os processos de territorialização do


louco infrator, tendo como ponto de partida o Programa de Assistência Integral ao
Louco Infrator – Goiás (PAILI - GO), no período compreendido entre 2006 e 2019,
na sua relação com o Ministério Público do Estado de Goiás, o Sistema Único de
Saúde (SUS), o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) e demais colaboradores.
Para tanto, recorreu-se a uma abordagem multidisciplinar abrangendo aspectos
históricos, geográficos e legais relacionados a temática em questão. Dentre os
principais documentos de referência destacam-se: O Programa de Atenção Integral
ao Louco Infrator do Estado de Goiás (PAILI-GO), o Plano Nacional de Política
Criminal e Penitenciária de 2015 e o Plano Plurianual (PPA) 2016-2019 do Estado
de Goiás. Quanto à fundamentação teórica, recorreu-se a várias obras, como
Foucault (2009; 2006; 2001; 1973),e Goffman (1987), Santos (2001; 2002),e
Haesbaert (2002). Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa
teórico-empírica, realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais
e eletrônicas.

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ISBN: 978-85-65957-09-0
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Um Olhar Atento e Crítico da Crise Política no Brasil


Contemporâneo - Anayce Adya Azevedo Marques (UEG), Sabrina Carlindo
Silva (Escola Estadual Edmo Teixeira)

A presente pesquisa se propõe, numa vertente geral, navegar sob a crise política
governamental e sob o sistema político nacional brasileiro contemporâneo, de
forma clara e objetiva, exibindo seus efeitos e suas configurações na política social,
institucional e principalmente, na política educacional (âmbito este que se encontra
visivelmente assoberbado e inserto). Com isso, será possível sinalizar a influência
da mídia a partir da segunda metade do século XX, principalmente a televisiva, que
se mantém incisiva neste tortuoso período em relação as questões políticas, e assim,
como essas informações são absorvidas pelos diferentes grupos que compõe a
sociedade brasileira. Por fim, analisar como as crianças e jovens de uma faixa etária
de 10 a 15 anos assimilam e filtram as informações explícitas e divulgadas
diariamente pelos diferentes tipos de mídias, nos grupos familiares e nas
instituições de ensino sobre a atual situação política do Brasil contemporâneo, esse
estudo será desenvolvido num recorte temporal de 10 anos (2008 a 2018). Como
metodologia geral, será realizado inicialmente um levantamento bibliográfico, com
leituras de teses, artigos e livros referenciados a proposta de estudo, em sequência,
será realizado ainda um estudo de campo, com aplicação de questionários a alunos
de 8º e 9°ano, com perguntas básicas sobre o atual cenário político do Brasil do
século XXI.
526
Uma floresta dentro da disputa do legal e ilegal: as várias facetas e desafios do
Mutirão de Reflorestamento na recuperação ambiental da Mata
Atlântica - Caroline dos Santos Souza (UERJ-FFP)

Este trabalho tem por objetivo analisar os desafios que englobam o Mutirão de
Reflorestamento, projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro, tendo em vista o processo
de recomposição da Mata Atlântica. A relação entre comunidade e Estado, os
deslizamentos de encostas, as relações de trabalho e o ecoturismo são peças
norteadoras da discussão. Neste trabalho usaremos como fontes as tabelas de
produtividade, gráficos e depoimentos tanto dos técnicos da prefeitura quanto dos
mutirantes que vão ilustrar o projeto na comunidade.

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527
ST 54. Por um século XIX ampliado:
constituições e modernizações de
práticas e saberes diversos

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A visualidade na história: autópsia na historiografia oitocentista


brasileira - Eduardo Wright Cardoso (UFRRJ)

Recurso fundamental para a escrita da história antiga, a visão não deixou de


participar da elaboração e do desenvolvimento do conhecimento histórico na
modernidade. É certo, todavia, que os pressupostos que nortearam o “ver”
passaram por profundas modificações. A visão é empregada não somente como um
expediente que determina o contato e a relação com eventos e tempos diversos,
mas ainda como recurso narrativo que atribui valores e resultados específicos para
a obra historiográfica. Como objeto de pesquisas, portanto, a visualidade permite
explorar inúmeras possibilidades analíticas que incluem a atuação do historiador a
partir da autópsia, o valor atribuído às fontes ou testemunhos nos relatos, a
legitimidade da história do tempo presente, a utilização de metáforas e recursos
visuais na narrativa historiográfica, bem como o lugar do leitor e a recepção da
obra. Nesse sentido, o texto “Dúvidas sobre alguns pontos da História Pátria”
(1862), de Joaquim Manuel de Macedo, orador do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB), possibilita abordar os contatos e diferenças entre a autópsia
antiga e sua versão moderna, além das variações da visibilidade que dizem respeito
não só ao tempo, mas também ao espaço. O presente trabalho, pois, tem como
escopo investigar o estatuto da visualidade como recurso epistemológico para a
historiografia brasileira durante o século XIX, momento no qual o ofício adquire
contornos mais precisos e definidos. Para abordar a visualidade como recurso à
escrita da história, emprega-se a noção de “distância histórica”, tal como concebida
528
por Mark Salber Phillips, como ferramenta heurística, na medida em que a
categoria oferece subsídios para a reflexão acerca da constituição do par sujeito e
objeto, cuja análise perpassa esse trabalho. Assim, a delimitação da “História
Pátria” e de um passado depurado de incertezas, depende do manejo e do emprego
da visibilidade direta das fontes ou do próprio historiador.

Asilo de Santa Leopoldina: um espaço de educação e caridade à infância


desvalida da capital do Estado do Rio de Janeiro (1854-1860) - Leonardo Dias
da Fonseca (ProPed - UERJ), Sônia de Oliveira Camara Rangel (UERJ)

Este artigo objetiva problematizar as iniciativas assistenciais à infância


empreendidas na cidade de Niterói, antiga capital da província do Rio de Janeiro a
partir da segunda metade do século XIX. Para este intento, elegemos como foco de
análise o Asilo de Santa Leopoldina que criado em 1854, por iniciativa da
Assembleia Provincial Fluminense tinha como intuito atender a meninos e meninas
órfãos e desvalidos da província. O movimento analítico empreendido visa
compreender a criação do Asilo como parte das ações educativas desenvolvidas
pelo Estado Imperial na promoção, criação e manutenção de instituições destinadas
a educar e prestar atendimento à infância pobre. A partir dos anos de 1850 previa-
se, como parte das inciativas estatais, a criação de asilos e casas de educandos e
artífices (CUNHA, 2000, p.91) nas capitais provinciais. Este movimento, em
grande parte, associou Estado, Igreja e iniciativa privada como parte de um esforço
conjugado no sentido de atuar na sociedade empreendendo atendimento à infância
pobre. No caso do Asilo de Santa Leopoldina, sua criação envolveu a ação
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articulada entre o Estado Imperial, os filantropos e a Irmandade Católica de São


Vicente de Paulo que fora criada, em 1854, a partir do Decreto da Presidência da
Província, número 4, com a finalidade de administrar o asilo, exercendo caridade
e educação à infância desvalida. Embora a Lei número 537 de 19 de junho de 1850,
estabelecesse a criação do asilo, a instituição somente foi criada em 1854 a partir
do Decreto número 5 da Presidência da Província. Esta tinha como finalidade
receber meninos e meninas abandonados, indigentes ou órfãos que educados nas
primeiras letras e na aprendizagem de um oficio deveriam ser "restituídos a
sociedade". Para isso, o asilo foi organizado em dois estabelecimentos: a casa de
educação e o instituto colegial a fim de promover caridade, proteção e educação.
Entre os anos de 1854 a 1860 o asilo de Santa Leopoldina mudou três vezes de
sede. Os motivos alegados assentavam-se na argumentação médico-higienista que
considerava as instalações do asilo inapropriadas e insalubres para atender,
proteger e educar à infância. Importa considerar que a periodização proposta
justifica-se tendo em vista ter sido o ano de 1854, constituída a sua criação e 1860,
ano em que o asilo passou a ser uma instituição destinada unicamente ao
atendimento das meninas desvalidas. O repertório documental acionado neste
artigo é constituído por exemplares dos periódicos A Pátria e Jornal do Commercio,
bem como de relatórios da Presidência da Província do Rio de Janeiro e de
relatórios da mesa administrativa da Irmandade São Vicente de Paulo.

Capitalismo, comunismo e a história do futuro: apontamentos de pesquisa


sobre a "A máquina do tempo" de H. G. Wells (1895) - Pedro Nogueira da
529
Gama (UFRJ)

Herbert George Wells (1866-1946), popularmente conhecido como H. G. Wells,


foi um dos autores mais importantes da literatura “científica” do seu tempo, o
complexo período que compreende o final do século XIX e o alvorecer do século
XX. Singular observador do seu tempo, Wells produziu obras em que procurou
entender as múltiplas transformações do homem e das sociedades humanas,
emitindo críticas e alertas. O escritor inglês frequentemente apresentou suas
aflições em sua literatura ficcional, com inúmeras referências e julgamentos sobre
o seu próprio tempo. O futuro da humanidade foi, indubitavelmente, umas das mais
urgentes preocupações de Wells. Entre as obras a abordar essa temática, encontra-
se A máquina do tempo, de 1895. Essa obra foi o primeiro romance de fôlego de
H. G. Wells. Ela faz parte desses casos singulares da literatura a inaugurar um
subgênero, o das histórias de “viagens no tempo”. Como lembra Bráulio Tavares,
no prefácio da edição brasileira de 2010, a obra de Wells e seu próprio autor eram
filhos da era industrial e da mentalidade racional que concebeu e produziu uma
infinidade de máquinas que revolucionaram, categórica e irremediavelmente, o
modo de viver humano. Com a locomotiva, o navio a vapor, a fotografia, o cinema,
entre muitas outras invenções, nada jamais seria como antes. De certa maneira,
essas máquinas representavam uma pretensão de controle do homem sobre o
Espaço e o Tempo e remetiam às ideias de individualismo e liberdade . Assim, essa
comunicação propõe explorar algumas possibilidades interpretativas a respeito das
críticas do autor presentes em A máquina do tempo, obra que se tornou icônica e
merecedora de atenção e cuidado. Como hipótese preliminar, entende-se que Wells
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lançou mão da distopia futurista para tratar de temas e questões relacionadas ao seu
tempo histórico e às suas próprias idiossincrasias. Nesse sentido, as distopias
alegóricas de Wells contribuem para interrogar epistemologicamente as aspirações
utópicas de alguns dos chamados “neologismos” da modernidade, como o
capitalismo e o comunismo, e sua inevitável relação com a dimensão temporal. Na
ficção de Wells, pode-se compreender que esses termos e ideias são empregados
de forma paradoxal, ora como um modelo de utopia, ora como o seu avesso, a
distopia, sendo ambos localizados no futuro.

Carlos Gomes: música e identidade no século XIX - Mariana Franco


Teixeira (UFF)

O presente trabalho tem como objetivo mostrar o papel da ópera Il Guarany de


Carlos Gomes, baseada no romance O Guarani de José de Alencar, para o processo
de formação de identidade nacional durante a política do Segundo Reinado. A partir
daí, pretendemos avaliar a conjuntura política do momento, tal como o processo de
construção de identidade nacional. O século XIX é marcado pela busca da
formação de uma identidade nacional que legitimasse o processo de independência
em 1822. A política do Segundo Reinado orienta-se nesse sentido. D. Pedro II
torna-se incentivador de uma arte, literatura, de uma produção cultural que
incentiva o sentimento de nacionalismo, de pertencimento, de exaltação da nação
brasileira. O romantismo chega ao Brasil no século XIX e é marcado pelo
sentimento nacionalista, ele será um instrumento de consolidação dessas ideias de
530
cunho nacionalista, buscando consolidar a ideia de sentimento de pertencimento
nacional utilizando-se da exaltação da pátria. É nesse cenário que surge a figura de
Antônio Carlos Gomes, o homem que irá revolucionar a música e a ópera brasileira,
elevando o Brasil ao âmbito internacional. Carlos Gomes nasceu em Campinas, em
1836. Seu pai também era músico, assim, desde jovem teve contato com a música
e já se inclinava no mundo artístico. Em junho de 1859, desembarcou no Rio de
Janeiro. Graças a sua experiência em São Paulo, ele chegou como artista já próximo
de sua afirmação definitiva e não como iniciante, instalando-se na capital do
império no momento em que a ópera nacional se encontrava em voga. Lá, ele foi
apresentado ao imperador, estendendo sua rede de contatos com as elites do
império. Em julho matriculou-se no Conservatório, dirigido por Francisco Manuel
da Silva, que veio a se tornar seu tutor intelectual. Ele sempre almejou viajar à
Europa a fim de alavancar sua carreira; esse era um plano existente quando iniciou
seus estudos no Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Em 4 de setembro de
1861, no Teatro da Ópera Nacional Carlos Gomes apresentou sua primeira ópera,
A Noite do Castelo. Foi aclamado pelo público e pela corte, sendo condecorado
pelo Imperador com a Ordem da Rosa. Em 1863 estreou sua segunda ópera, Joana
de Flandres. Foi a partir do sucesso no Rio de Janeiro que Carlos Gomes tornou-se
uma espécie de herói nacional, a figura que seria capaz de elevar o Brasil, através
da arte, à civilização e ao progresso. Em 1863, Carlos Gomes partiu para a Europa.
Ele conseguiu uma bolsa de estudos que o Conservatório de Música, financiado
pelo governo imperial, oferecia a um aluno a cada cinco anos. A política imperial
visava incentivar às artes e à ciência. Assim, partiu para Milão, a capital da ópera
italiana, elevando, a partir daí, a cultura brasileira no âmbito internacional.
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Catálogos Universais de Línguas: etnologia, linguística e projetos


transnacionais no oitocentos - Iuri Bauler Pereira (PPGHIS/UFRJ)

A proposta desta comunicação é explorar as possibilidades de abordagens


transnacionais da produção letrada oitocentista através do exame da circulação de
textos etno-linguísticos elaborados como projetos de escopo global. Tendo como
ponto de partida o Império da Brasil, explorarei os glossários, catálogos e atlas
linguísticos de Hervás y Panduro, Peter Simon Pallas e Karl Von Martius,
destacando suas conexões com o iluminismo e tradições humanísticas modernas, a
emergência da etnologia e linguística, e romantismo como movimento intelectual
transnacional.

Entre o Direito Natural e a sensibilidade romântica: História, progresso e


liberdade no XIX francês - Carlos Mauro de Oliveira Júnior (UERJ - FFP)

Nosso objetivo, nesta comunicação, é explorar as relações entre o vocabulário do


Direito Natural oriundo do Século das Luzes e alguns valores e modelos de uma
abordagem não universalista e romântica. Para realizarmos este objetivo, nos
valeremos de um texto de Benjamin Constant de Rebecque: De l’esprit de conquête
et de l’usurpation. Em nossa hipótese, o pensador suíço tentou conciliar em seu
opúsculo político uma ideia de progresso da sociedade civil, próxima ao chamado
Iluminismo escocês, e certos aspectos do pensamento conservador de Edmund
531
Burke, evitando os excessos dos Ultras. Neste sentido, Constant acabou ajudando
a criar uma forma diferente de narrativa da História em que os ditames da filosofia
eram “resguardados” de uma possível abstração, ou seja, “atualizados
historicamente”.

Industrialização e Imprensa na formação das salinas artificias da Região dos


Lagos Fluminense (1850-1900) - Hana Mariana da Cruz Ribeiro Costa (UFRRJ)

O presente trabalho tem por objeto de pesquisa a produção salineira no entorno da


Lagoa de Araruama, no Estado do Rio de Janeiro, entre os anos de 1850 e 1900.
Temos como ponto de partida a investigação da formação das salinas artificiais nas
terras salgadas da Baixada Fluminense, atualmente conhecida como Região dos
Lagos. A segunda metade do século é caracterizada por inovações importantes para
a salicultura na região. A investigação do discurso da industrialização presente no
final do século XIX e as instituições que o difundiam, como a extinta Sociedade
Auxiliadora da Indústria Nacional, servirão como base para traçar nossa exposição
acerca da disputa entorno da produção do sal pela classe dirigente dos donos de
salinas. Esses homens, que possuíam prestígio político e econômico, estenderam
seus investimentos à extração do sal, formando Sociedades Anônimas que
fomentavam o avanço tecnológico das manufaturas, da agricultura e de atividades
extrativistas. Através de periódicos como; O Auxiliador (Revista mensal da
Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional), o Jornal do Commércio e O jornal
do Agricultor será possível encontrar o discurso científico empregado na busca do
desenvolvimento econômico do Brasil Imperial e mais tarde Republicano. Também
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utilizaremos como fontes de pesquisa os pedidos de patentes e aperfeiçoamentos


de maquinários industriais (Privilégios Industriais). Trabalhando as fontes de forma
quantitativa e qualitativa, analisaremos a corrida pela modernização e
estabelecimento da salicultura. Além de seu desenvolvimento no âmbito político e
científico, em uma escala regional e nacional. Buscamos aqui os primórdios de uma
indústria que cresceu na região e teve seu apogeu e decadência durante o século
XX.

O Clube de Engenharia toma partido: intelectuais e a disputa por hegemonia


no Rio de Janeiro (1874-1910) - Fernanda Barbosa dos Reis Rodrigues (Mast)

Nosso trabalho se volta para o estudo da trajetória, atuação e conjunto de


intervenções e articulações definidas por engenheiros brasileiros que, através do
Clube de Engenharia, assumem um papel fundamental na reformulação da cidade
do Rio de Janeiro – do ponto de vista estético, econômico e cultural no período
assinalado. Nosso recorte histórico se justifica por episódios que julgamos
fundamentais para o estudo da consolidação do campo da engenhara no país, com
a fundação da Escola Politécnica no Rio de Janeiro, alcançando o mandato do
presidente Rodrigues Alves (1902 – 1906), que coexistiu com o governo e reforma
urbana de Francisco Pereira Passos no cargo de prefeito da então capital da
República, e com a grande obra de modernização do porto carioca sob a direção de
Francisco Bicalho – ambos membros proeminentes do Clube –, obras que foram
entregues, em grande parte, no ano de 1910 – quando se fecha, ao nosso ver, o
532
primeiro grande ciclo de ações dos engenheiros agremiados naquela entidade,
capilarizadas nos serviços e obras públicas. Dentro desse contexto histórico,
tornou-se possível, para nós, conceber a importância daqueles agentes como
“porta-vozes da modernidade”, condição viabilizada pelo seu capital intelectual,
chamando atenção para o saber técnico da Engenharia Civil enquanto um vetor da
modernidade no país, em particular, na cidade do Rio, em um período de
construção das ideias de “civilização” e “progresso”. Para tanto, reunimos algumas
referências importantes para o debate teórico acerca da compreensão do Estado na
literatura marxista e marxiana, confrontando-os com a interpretação liberal
hegemônica do mesmo presente em grande parte da historiografia do período,
expondo os conceitos-chaves com os quais operacionalizamos em nosso estudo,
presentes na obra de A. Gramsci. Não obstante, debruçamo-nos sobre o processo
de formação dos engenheiros civis brasileiros, que se dá em meio ao período de
expansão da produção cafeeira fluminense no Vale do Paraíba, cujo aparato
primordial será as obras públicas de “melhoramentos”, especificamente, as estradas
de ferro e sob a direção, inicialmente, de engenheiros ingleses. Buscamos
identificar o processo de institucionalização da profissão de engenheiro civil no
país, tornada possível dentro de uma agenda de obras de beneficiamento da
produção cafeeira pautada pelos interesses econômicos daquelas frações
hegemônicas identificadas aos setores agroexportadores. A partir da agenda de
eventos organizados pelo Clube logo nos primeiros anos de sua existência, é
possível identificar o processo de legitimação e fortalecimento político da entidade,
que, nessa espiral, abrigará disputas internas que se tonam mais expressivas com a
crise do bloco imperial agrário e escravista de finais do século XIX.
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O tradicionalismo nostálgico na Restauração Meiji (1868): percursos para a


concepção nacional japonesa moderna - Mateus Martins do Nascimento (UFF)

Neste ano a famosa Restauração Meiji (1868) completa aniversário de cento e


cinquenta anos e muitos festejos envolvem esta que é uma das datas mais
emblemáticas para o moderno estado japonês. Afinal de contas, remonta a sua
fundação e legitimidade. Assim intentamos destacar a inovação institucional que
significou o movimento Meiji e explicitar a sua possibilidade de ser um objeto dos
estudos históricos bem como dos estudos sobre o direito nas sociedades asiáticas,
especialmente aqueles que analisem o paradigma da construção discursiva das
identidades nacionais contemporâneas. No nosso entendimento, a famosa era é o
ponto alto de afirmação de um regime moderno de sociabilidade, responsável por
uma nova lógica nacional - ou concepção nacional - traduzida como “kokutai”,
tendo como pressuposto básico que o conceito seria (1) um caso de tradução
intercultural (Richter, 2007) realizado pela elite política Meiji no contexto da
modernização do Japão no oitocentos (tanto em função da sua entrada no cenário
internacional como também a partir das críticas internas em andamento desde o
final do séc. XVIII), (2) formadora de uma nova retórica de interação social, que
conceituamos como tradicionalismo nostálgico. Nosso olhar se voltou a este tema
na esperança de conseguir encontrar, nos fatos históricos concernentes, explicações
para a postura nacional japonesa evocada mesmo na atualidade: no processo
observamos que a construção histórica da sociabilidade nipônica moderna perpassa
533
uma relação de ressignificação de saberes antigos, os quais foram revisitados no
momento de consolidação da restauração (1868-1889) e mobilizados para se fundar
uma nova sociabilidade japonesa (Eisenstadt, 2010). Portanto, o objetivo principal
deste texto é analisar este processo. Desta forma, notamos a proeminência dos
textos fundacionais Kojiki (712) e Nihon Shoki (720) como fontes legitimadores
de uma noção moderna do que é ser japonês, ou seja, um paradigma de
niponicidade baseado numa suposta especificidade, reafirmado na Constituição do
Império do Japão de 1889. Partindo das análises de Hisayasu Nakagawa (2008),
Eiko Ikegami (1995), buscamos examinar os percursos da institucionalização da
cidadania nesses documentos e o processo como um todo no qual variáveis forças
sociais atuaram integradas, misturando as petições do público como discurso do
poder. É notório que o objetivo principal dessa operacionalização do discurso dos
documentos antigos buscou consolidar uma coerência, ou seja: fixar modelos e
referências, uma tradição ortodoxa e, no limite, um cânone literário e identitário
acessível a todo o corpo nacional. Portanto a análise desse processo se faz crucial
para entender a afirmação dessa canonicidade relacionando-a ao conceito de nação
moderna.

Um flerte à etnologia: Ladislau Netto e uma coleção africana no Museu


Nacional - Carolina Cabral Ribeiro de Almeida (UFF)

Em meio a curiosidade que rege o ser humano, estava Ladislau de Souza Mello e
Netto. Ao longo de sua jornada como diretor do Museu Nacional, o botânico
revelava alto interesse pela ciência em outros campos que não aquele de sua
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formação. No segundo quinquênio de 1870, podemos observar nos trabalhos


realizados pelo diretor que seu interesse pela etnologia havia começado. Junto a
publicações que tratavam da botânica brasileira, surgiam artigos voltados à cultura
indígena. Neste trabalho, retrataremos o interesse do cientista em colecionar
objetos apreendidos nas chamadas “casas de dar fortuna”, pela Polícia da Corte.
Deste modo, exporemos alguns dos motivos que levaram este homem ao seu
singular anseio pela etnologia, voltada para a cultura negra no Rio de Janeiro, ainda
na última década da escravidão.

534

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535
ST 55. Práticas de parcerias e
epistemologia interdisciplinar: sobre
história do poder, das instituições e
das ideias políticas

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A Alternativa Para o Progresso: O Nacionalismo-Desenvolvimentista, Seus


Intelectuais e o Planejamento Educacional nos Anos 1960 no Brasil - Lincoln
de Araújo Santos (UERJ)

Os anos de 1960 no Brasil despertam interesse não só pelo ato de descontinuidade


do regime democrático, mas também pelo cenário de profunda riqueza cultural,
num protagonismo de intelectuais que formularam, antes mesmo desta década, um
acervo de produções nas ciências sociais, na literatura e nas artes, promoveram
olhares diversos sobre o país e, na perspectiva de um despertamento, propondo em
seus debates e reflexões um projeto nacional de desenvolvimento.
Desta forma, na economia, na sociologia-antropologia e na educação, intelectuais
do status de Celso Furtado e Darcy Ribeiro, Paulo Freire e Anísio Teixeira, seja
como operadores de governo e de Estado ou como autores de obras sobre o país
que são as referências até hoje de análise da formação da sociedade brasileira,
sinalizaram possibilidades de um processo civilizatório autônomo latino-
americano e, em especial brasileiro. Estes intelectuais que marcaram as suas
presenças em ideias e projetos políticos, transitaram em espaços de atuação
comuns, lugares que frequentaram e conceberam como expressão de um tempo
histórico onde o desenvolvimentismo comprometia-se com um projeto de poder de
caráter nacional.

A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA): o nascimento do


primeiro movimento social ateu do Brasil? - Danilo Monteiro Firmino (UERJ-
536
FFP)

Embora seja uma realidade na sociedade, o ateísmo é um objeto pouco abordado


nas ciências humanas, ainda mais se for comparado com os estudos que existem
das religiosidades de maneira geral. Conforme demonstra o CENSO 2010, existe
um número significativo de ateus no Brasil, ateus esses que procuram,
principalmente em ambiente virtual, algum tipo de organização. Nesse sentido, a
Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) desponta como o principal
representante do ateísmo em terras brasileiras. Criada em 2008, a associação tem
como principal objetivo a “luta contra a discriminação que os ateus sofrem na
sociedade brasileira e pela verdadeira laicidade do Estado”. Com postagens
constantes e intensa movimentação nas redes sociais, a ATEA se coloca na “linha
de frente” da militância ateísta brasileira. Esse trabalho procura demonstrar que,
mais do que um grupo organizado de ateus no espaço virtual, a ATEA pretende
atuar na sociedade “real”, agindo principalmente através do poder judiciário. A
hipótese que se coloca é que estamos diante do surgimento do primeiro grande
movimento ateu no Brasil, que ganha contornos de movimento social. Para
demonstrar essa hipótese, o trabalho procura dialogar com aparatos teóricos
fornecidos principalmente pelos autores Alain Touraine e Pierre Bourdieu.

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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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A Cruzada das Mulheres Portuguesas atrás da linha da frente - Nulita Raquel


Freitas Andrade (Inst. de História Contemporânea/Universidade Nova de Lisboa)

A eclosão da Grande Guerra, em 1914, não se desenrolou apenas com homens na


frente. Ocorreu também behind the lines, onde as mulheres desempenharam vários
papéis. Na Ilha da Madeira (Portugal), pelo seu enquadramento numa zona
estratégica do Atlântico, as populações vieram a sentir um particular desassossego,
pois o flagelo dos mares, de que falava Basílio Teles, vinha reforçar,
simultaneamente, o isolamento natural e o pânico, sobretudo, após o
bombardeamento em Dezembro de 1916 e no ano seguinte, que ocasionaram o
afundamento de três navios surtos na baía do Funchal, a perda de vidas humanas e
alguns prejuízos na cidade. Num contexto pautado pela depressão colectiva,
insegurança, instabilidade e miséria, havia que dar resposta aos problemas que
afectavam os madeirenses. A Viscondessa da Ribeira Brava, D. Joana Isabel
Meneses e Macedo, como fundadora e presidente da delegação da Cruzada das
Mulheres Portuguesas (CMP), na Madeira, desempenhou um papel importante no
apoio aos mais carenciados e às famílias dos soldados expedicionários, entretanto,
enviados para África e Europa. A partir das notícias publicadas pela imprensa da
época, entre os anos de 1916 e 1917, e o cruzamento de diferentes fontes de
informação provenientes dos acervos documentais e jornalísticos, depositados em
diferentes arquivos e bibliotecas, designadamente no Arquivo Nacional da Torre
do Tombo, no Arquivo Regional da Madeira, na Biblioteca Nacional de Portugal,
na Biblioteca Pública Regional da Madeira, entre outras, procurar-se-á, em traços
537
largos, problematizar o papel desempenhado pelas mulheres na Grande Guerra,
sumariar os comportamentos e os traços da personalidade D. Joana Meneses e
Macedo e apresentar a actuação da Viscondessa da Ribeira Brava como presidente
da delegação da CMP e uma das protagonistas do poder local madeirense.

A missão Mitre no Brasil em 1872: disputas diplomáticas e na imprensa - Ana


Paula Barcelos Ribeiro da Silva (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Neste trabalho objetivamos analisar como o jornal La Nación, em Buenos Aires, e


o Jornal do Commercio, no Rio de Janeiro, trataram a missão diplomática de
Bartolomé Mitre no Brasil em 1872. Neste contexto, após a Guerra do Paraguai, o
general, historiador e ex-presidente argentino (entre 1862 e 1868) esteve no Rio de
Janeiro a fim de negociar o território do Chaco no Paraguai e a ratificação do
Tratado de Aliança, assinado no início da guerra. Inserido numa pesquisa mais
ampla na qual pretendemos compreender as motivações da sua influência nos
historiadores que na primeira metade do século XX defenderam a ruptura com as
rivalidades entre Brasil e Argentina, Mitre se torna uma instigante janela de
reflexão para a análise das relações diplomáticas entre a república e o império nas
décadas de 1870 e 1880. A missão no Brasil em 1872 trata-se de um dos episódios
mais destacados do período e permite uma reflexão sobre os olhares mútuos entre
os países, as tensões políticas e as disputas territoriais. Ao mesmo tempo, permite
pensar o porquê da escolha de Mitre pelo presidente Domingo Sarmiento para
representar a Argentina nas negociações, suas relações com políticos brasileiros
proeminentes como o Visconde do Rio Branco e o próprio imperador Dom Pedro
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II e a leitura mais amena, embora transpassada por interesses estratégicos, que ele
faz do império e reverbera em seu país, sobretudo a partir do La Nación, jornal por
ele fundado em 1870. No Brasil, o Jornal do Commercio, envolvido na defesa dos
interesses do império no Prata, também noticia o episódio em tom ácido contra o
país vizinho. É nesse sentido que os periódicos ganham destaque neste breve artigo,
em especial entre os anos de 1871 e 1872, embora outras fontes também possam
ser utilizadas. Pensamos, assim, de um lado, o olhar de Mitre sobre o Império e seu
papel neste momento de acirradas disputas políticas e territoriais, e de outro, a
forma como o Jornal do Commercio entende o conflito com a Argentina e a
chegada do seu representante no país. Lembrando que, por aqui, o jornal também
apresentou nas últimas décadas da monarquia um tom mais ameno nas referências
à república vizinha, como fez o La Nación no mesmo período em relação ao
império brasileiro. Acreditamos que estas relações e a aproximação de Mitre com
o Brasil tenham possibilitado que, décadas depois, ele fosse apropriado como
argumento de autoridade na defesa da ruptura com antigas rivalidades e da
integração entre Brasil e Argentina por meios diplomáticos, institucionais e
históricos.

A Política Externa de Artur Bernardes (1922-1926): História e


Historiografia - Jônatan Coutinho da Silva de Oliveira (SEEDUC)

O presente trabalho pretende analisar, de forma crítica e comparada, a


historiografia sobre a política externa brasileira na Primeira República com
538
enfoque nos anos sob a presidência de Artur Bernardes (1922-1926). Neste
período, o Brasil atuava na linha de frente da Liga das Nações, enfrentando
problemas de ordem política nas relações internacionais já estudadas por alguns
autores brasileiros. Na Liga, a política combativa e altiva do Brasil é entendida de
formas muitas vezes divergentes pela historiografia mais tradicional sobre o tema,
levando a diferentes questões. Internamente, a chancelaria de Félix Pacheco e o
início da crise da Primeira República serviam de ingrediente primordial nas
decisões e ações em política externa. Portanto, compreende-se que não há um
componente de política externa que não tenha uma dimensão interna. A política
externa de Artur Bernardes e Felix Pacheco é ilustrativa desse entendimento.

A revista Les Temps modernes e o Terceiro mundo (1945-2016) - Rodrigo


Davi Almeida (UFMT/Cuiabá)

Fundada em outubro de 1945, em Paris, e dirigida pelo prestigioso e já consagrado


grupo existencialista de filósofos e escritores de Saint-Germain-de-Prés, Jean-Paul
Sartre, Simone de Beauvoir e Maurice Merleau-Ponty, a revista Les Temps
modernes objetivava “posicionar-se nos eventos políticos e sociais de sua época no
sentido de produzir determinadas mudanças na condição social do homem e na
concepção que ele tem de si mesmo”. De fato, tanto antes quanto depois dela, outras
revistas que compõem o “campo da intelectualidade francesa de esquerda” estavam
– como Esprit, criada em 1932 por Emmanuel Mounier e relançada após a
Liberação, e La Nouvelle Critique, criada em 1948 pelo Partido Comunista Francês
– dispostas ao engajamento, não obstante suas “visões sociais de mundo”
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diametralmente opostas. Não por acaso, e em pouco tempo, Les Temps modernes
constituíram-se como privilegiado observatório mundial das publicações da
intelectualidade de esquerda dedicada ao estudo crítico de temas e problemas
contemporâneos da literatura, da filosofia, da história e da política. No entanto,
neste trabalho, objetiva-se estabelecer as posições políticas de Les Temps
modernes relacionadas ao Terceiro Mundo, a partir da análise de seus editoriais e
dossiês temáticos. A principal hipótese de trabalho considera que as posições
políticas de Les Temps modernes sobre o Terceiro Mundo têm um fundamento
histórico-social (segundo a perspectiva goldmanniana). Nessa esteira, pode-se
distinguir duas fases bem distintas na evolução da revista. A primeira fase
corresponde à trajetória de Sartre e, historicamente, com o processo de
descolonização, a emergência do Terceiro Mundo e as expectativas da revolução
social tricontinental. Eis o “período sartriano” (1945-1980), anti-colonialista e anti-
imperialista, sem dúvida, o mais engajado do periódico. A segunda fase
corresponde à direção assumida por Claude Lanzmann, após a morte de Sartre e,
do ponto de vista do contexto histórico, com o fim do “terceiro mundismo” e do
“socialismo real” e a imposição da agenda neoliberal em escala global. Eis,
portanto, o “período lanzmanniano” (1980-2016) durante o qual uma mudança na
periodicidade da publicação da revista terá impacto decisivo. Anteriormente
mensal, seus números serão bimestrais, trimestrais e até quadrimestrais. Na prática,
isso significa que ela se torna incapaz de registrar e de se posicionar sobre os
eventos históricos no momento em que eles se manifestam. Sendo assim, o
periódico adotará uma linha político-editorial que abandona suas características
539
originais e contradiz os objetivos inicialmente projetados por Sartre e pelo seu
núcleo diretor.

Afinidades eletivas: Alexandre Herculano, D. Pedro II e a secularização do


direito de família - Gizlene Neder (UFF)

Neste trabalho discutimos o processo de secularização dos casamentos (e do direito


de família) destacando as trocas intelectuais entre D. Pedro II e Alexandre
Herculano face à modernização das leis civis sobre casamento no Brasil e em
Portugal em meados do século XIX. O Iluminismo jurídico europeu avançou no
encaminhamento de reformas da legislação, à luz do constitucionalismo moderno
(o que para Portugal e para o Brasil implicou a limitação dos poderes absolutistas
de seus monarcas e a aprovação de constituições que implantaram monarquias
constitucionais). Este processo implicou idas e vindas e os monarcas bragantinos
(nas duas margens do Atlântico) equilibraram-se entre sentimentos políticos
absolutistas e as pressões políticas pelas reformas. O debate mais acalorado, e
também o mais difícil, foi o que implicou a substituição do Livro IV das
Ordenações do Reino de Portugal (as Ordenações Filipinas de 1603); justamente o
que reúne o conjunto de leis sobre direito de família. As dificuldades políticas dos
governantes e dos juristas reformistas situaram-se na imbricada relação entre o
Estado e a Igreja católica, pois tanto em Portugal quanto no Brasil vigia o regime
de Padroado, com forte presença do clero na política. Enfocaremos a sociabilidade
política e intelectual entre duas personalidades que refletiram e atuaram no para a
secularização dos casamentos.
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Após o enterro o renascimento - Flávia Beatriz Ferreira de Nazareth (UERJ)

Esse trabalho busca analisar a construção mítica da figura de Rui Barbosa tendo
como fonte histórica primaria as imagens de seu enterro em 1923. As imagens de
arquivo serão trazidas para demonstrar o esforço de manutenção da memória de
Rui Barbosa e em seguida vamos localizar este personagem na história nacional e
avançar nas interpretações históricas no que tange a sua contribuição para a
formatação do Brasil republicano contidas na Constituição republicana escrita por
ele em 1891 e outorgada pelo Marechal Floriano. A hipótese de trabalho é observar
no culto da memória de Rui Barbosa o escamoteamento da permanência dos
mecanismos políticos autoritários de dominação por ele defendido e transmutado
em normas jurídicas.

Artifícios da crítica modernista contra a dependência cultural - Marcelo


Neder Cerqueira (UFF)

A reflexão histórica e social em torno do tema centro / periferia motivou o


pensamento crítico latino-americano na virada para o século XX, eletrizando a luta
de classes naquele contexto específico de aceleramento das transformações
burguesas. Trata-se de um tema trabalhado com distintas variações pelas
vanguardas modernistas na América Latina, de norte a sul, e que pode ser
observado na obra de pensadores que foram influentes no pensamento latino-
540
americano no século XX, como Jorge Luis Borges, Alejo Carpentier, Mário de
Andrade, Machado de Assis, Leopoldo Zea, Néstor Taboada Terán e Sérgio
Buarque de Holanda – para dar alguns exemplos que viemos pesquisando.
Pretende-se nesse artigo realizar um breve panorama crítico em torno da questão
com o objetivo de desarmar algumas das armadilhas ideológicas que se fizeram
presentes na qualificação da condição periférica latino-americana. Para tanto, em
um primeiro momento, propõe-se uma visada política sobre a história das ideias e
a relação entre cultura política e cultura religiosa na virada para o século XX na
América Latina. Em seguida, pretende-se demonstrar alguns exemplos de análises
críticas inovadoras que foram ensaiadas por Jorge Luis Borges e Alejo Carpentier.

Conservadorismo e perspectiva varnhageniana: análise de um


conceito - Ingrid Silva Lucas (UNIRIO)

Francisco Adolpho de Varnhagen (1816-1878), chamado também pelo título de


Visconde de Porto Seguro, amplamente conhecido por sua contribuição à
historiografia brasileira, e por muitos tratado, por tal empenho, como “primeiro
historiador brasileiro”, é igualmente conhecido pela descrição e/ou característica
de conservador por aqueles que se debruçam sobre seu pensamento,
posicionamento político e obras. Neste contexto, o principal elemento que
abordaremos neste artigo é justamente a descrição pela qual que é vastamente
utilizada para caracterizá-lo: conservador. No entanto, ao mesmo tempo é de tão
imbricada compreensão no contexto em que se insere o historiador: o Brasil do

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século XIX. A partir desta discussão, buscaremos ampliar a abordagem do conceito


de conservadorismo para compreender o pensamento do historiador e seu período.

Crime e Castigo: Efeitos de longa duração na formação de operadores do


direito - Rosely Maria da Silva Pires (UFES e UFF)

A herança coimbrense produziu efeitos culturais e ideológicos de longa duração


sobre a formação política brasileira. Muitos foram os projetos e legislações
marcados pelo positivismo Jurídico. Os estudiosos da escola do Recife como
Tobias Barreto, Clovis Bevilacqua e Silvio Romero se destacam na reforma do
ensino do direito no Brasil ao formularem teses com conceitos filosóficos e
históricos. As produções desses autores desenvolvem críticas ao pensamento
hegemônico e contribuem para uma soberania intelectual. Embora na faculdade do
Recife estivesse ainda um ambiente coimbrense, também era muito forte um
liberalismo radical. Inúmeros são os autores que se dedicaram a destacar a
importância da escola do Recife como ruptura epistemológica com a cultura
jurídica e religiosa imposta por Portugal, dentre estes pesquisadores, destacamos
os trabalhos de Gizlene Neder, coordenadora do laboratório Cidade e Poder da
Universidade Federal de Niterói. Neste trabalho, nos propomos a pensar sobre a
reforma do ensino jurídico no Brasil, problematizando questões como: A retórica
do bacharelismo acerca da justiça com suas permanências históricas, no
pasqueanismo, autoritarismo, pragmatismo, e dogmatismos juridicistas; A
contradição do ser humano expresso em sentimentos, emoções e afetos
541
compreendido aqui afeto como política e; O crime como predestinação das
minorias. Concluímos o trabalho discutido as permanências e rupturas na formação
de operadores do direito considerando como objeto de estudos a escola do Recife.
Com objetivo de pensar como a lógica perversa das ideologias conservadoras opera
nos propomos a dialogar com paradigma indiciário de Carlos Ginzburg. O autor
nos sugere ficarmos atentos às pistas, indícios e sinais buscando ler as narrativas
às avessas, talvez até contradizendo as percepções daquele que a construiu. À
escuta de Gisálio Cerqueira Filho, nos apoiamos no método clínico em extensão,
direcionando nossa observação e análise para a narrativa de um personagem do
livro Crime e Castigo que servirá para problematização da formação de operadores
do Direito. Em Crime e Castigo, publicado inicialmente em 1866, Dostoiévski nos
apresenta o personagem Raskolnikov, que também foi alvo de estudos de
Nietzsche, Freud e alguns outros autores. O romance contém a narrativa da vida de
Rodka Raskolnikov, estudante de direito que comete um crime. A escolha do
método se dá pela intenção de observação das emoções e afetos, por vezes
inconsciente e contraditórios, presente nas relações sociais estabelecidas pelo
personagem.

De areia e de pedra: as duas construções do forte do Imbuhy - Henrique Cesar


Monteiro Barahona Ramos (Cândido Mendes)

O trabalho proposto versa sobre a polêmica em torno da construção do forte na


ponta do Imbuhy no século XIX, mediante uma metodologia indiciária, tendo como
fonte documental as notícias dos jornais e relatórios oficiais do Ministério da
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Guerra daquela temporalidade. A pesquisa se insere nas discussões sociojurídicas


sobre a Aldeia Imbuhy, uma comunidade tradicional de acordo com a Política
Nacional de Desenvolvimento dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída
pelo Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, da qual os seus moradores vêm
sendo expulsos pelo Exército Brasileiro com o pretexto de ser a área pública,
supostamente destinada à segurança nacional. Os dados até então levantados
durante a pesquisa em andamento nos revelam o contrário, isto é, que os pescadores
da Aldeia Imbuhy preexistem à construção da fortificação naquela localidade. Vem
daí o título deste artigo: “De areia e de pedra: as duas construções do forte do
Imbuhy”, introduzindo uma nova narrativa sobre a edificação do forte e sobre os
pescadores daquela comunidade tradicional, fazendo emergir novos personagens,
novos fatos, e com eles uma nova história social daquela região diferentemente da
versão oficial contada nas ações judiciais pelo Exército Brasileiro. Trata-se, em
suma, de uma análise do poder a partir da disputa de versões históricas sobre aquela
localidade que são moduladas e hierarquizadas pelo Poder Judiciário, encontrando
aderência com a temática do ST-55, sobre a história do poder e das ideias políticas
e suas apropriações nas políticas institucionais. As obras do forte do Imbuhy,
chamado de “Forte D. Pedro II”, foram iniciadas em dezembro de 1863, tendo sido
acompanhadas de perto pelo próprio Imperador que fez diversas visitas ao local.
Entretanto, quando chegou o ano de 1867, o pouco que havia sido feito parou. De
toda a dinheirama de 793:000$000 prevista para a construção do forte no Imbuhy
em 1865, o saldo que ainda restava recebeu outra destinação, mais apropriada aos
tempos de guerra o Paraguai. Esta fortificação teve a sua construção reiniciada
542
apenas no final da década de 1890, sendo inaugurado já no período republicano,
por Campos Sales, em 1901.

Dilemas e agruras na passagem à modernidade no Brasil: rede de


sociabilidade, teologia e política no pensamento do Barão do Rio Branco,
Oliveira Lima e Gilberto Freyre - Marcia Barros Ferreira Rodrigues (UFES)

Análise indiciária tendo como eixo da discussão os dilemas e agruras presentes na


passagem à modernidade no Brasil por meio da análise da rede de sociabilidade
entre José Maria da Silva Paranhos Júnior (Barão do Rio Branco (1845-1912);
Manoel de Oliveira Lima (1867-1928) e Gilberto Freyre (1900-1987). O ponto de
partida histórico é a Reforma Protestante no século XVI e o Concílio de Trento
(1545-1563) e as reações da Igreja católica frente à Reforma e as dissidências no
seu campo. Nesse contexto emergem debates calorosos entre duas tendências
teológicas e políticas do campo católico, a saber, o jansenismo e o jesuitismo, com
prolongamentos expressos no neotomismo na virada do século XIX para o XX.
Nosso recorte temporal é o debate teológico estendendo-se ao político entre o
jansenismo, tendência dissidente da Igreja Romana e o jesuitismo, vertente oficial
do vaticano desde Leão XIII (1878-1903) e suas repercussões no Brasil na
passagem à modernidade. O foco da análise é a atuação política e intelectual do
Barão do Rio Branco, Oliveira Lima e Gilberto Freyre como desdobramentos desse
debate e campo de disputa. Não nos interessa o debate religioso ou teológico
propriamente dito, mas as repercussões políticas ou os deslizamentos dessas ideias
para o campo político. Especificamente, a pista que interessa-nos interpretar a
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partir desta perspectiva são as ambivalências e contradições entre o pensar, o sentir


e o agir dos personagens históricos em suas ações e analisar a natureza complexa
da cisão: teológica, ideológica, política e psicológica provocada por este “cisma”.

El Mundo e o Correio da Manhã: o discurso da imprensa nacional argentina


e brasileira sobre as secas de Santiago del Estero e do Ceará (1932-
1937) - Leda Agnes Simões de Melo (UERJ/FFP)

O presente trabalho, fruto das pesquisas em andamento do doutorado, visa realizar


uma análise comparada da história das secas ocorridos no nordeste brasileiro e no
noroeste argentino,especificamente no Ceará e em Santiago del Estero, na década
de 1930. No semiárido cearense a seca de 1932-1933 foi mais uma estiagem que
atingiu a região e ocasionou uma onda de mortes, fome, sede e migrações tanto
para a capital de Fortaleza, como uma migração subsidiada pelo governo para áreas
da Amazônia. Em Santiago del Estero, a seca de 1935-1937 também levou a
população a migrar, pedir trabalho, alimentação, muitos morreram de fome, sede e
foram para as capitais em busca de assistência. Essas duas regiões do Brasil e da
Argentina, são acometidas pelas secas ao longo de suas trajetórias e o discurso em
torno delas é o ponto-chave deste artigo. Nesses dois países, a imprensa esteve
presente na construção de uma narrativa específica sobre essas localidades
semiáridas, principalmente os jornais das capitais como o Correio da Manhã – no
Rio de Janeiro e o periódico El Mundo – em Buenos Aires. El Mundo foi um jornal
de grande circulação na capital de Buenos Aires e em todo o mês de dezembro de
543
1937 ininterruptamente fez uma verdadeira campanha assistencial em prol dos
atingidos pela forte estiagem. Com notas pequenas, ou com reportagens que
ocupavam páginas inteiras – destaca-se um número significativo delas –, El Mundo
retratou a seca santiagueña, pelo viés assistencial em sua grande maioria. Une-se a
isso, o fato do periódico ter enviado a Santiago del Estero o escritor Roberto Arlt
que relatou a miserabilidade da seca de 1937 em suas crônicas chamadas “El
infierno santiagueño”. Diversas reportagens divulgadas no Correio da Manhã
noticiaram a estiagem cearense em todo o período de 1932 a 1933. Do mesmo
modo que o diário El Mundo, com notas pequenas, reportagens que ocupavam uma
página inteira sobre o problema da seca de 1932 ou mesmo refletindo a questão do
semiárido nordestino fizeram um tipo de representação sobre o Ceará sertanejo na
década de 1930, bem como sobre o que eram os sertões e o sertanejo,
reapropriando-se de falas de intelectuais nordestinos que abordavam o tema do
semiárido, ou mesmo também enviando correspondentes para região. Nesse
sentido, pretendemos fazer uma análise comparada das semelhanças discursivas
desses periódicos no que tange as secas ocorridas nos seus países, arraigadas,
muitas vezes, em velhas dicotomias como progresso/atraso, seca/falta de
desenvolvimento, litoral/interior, ou mesmo que viam a natureza e o clima como
problemas centrais dessas regiões e que justificavam, assim, a pobreza dessas
áreas.

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Ideias jurídicas e circulação intelectual: as revistas acadêmicas das


Faculdades de Direito (Brasil 1891-1931) - Gabriel Souza Cerqueira (UFF)

Neste trabalho, gostaríamos de analisar a circulação intelectual e a reprodução das


ideias jurídicas na conjuntura de criação e consolidação das Faculdades de Direito
nas primeiras décadas do regime republicano, através do periodismo jurídico. As
Faculdades de Direito como centro de formação jurídica, deixam marcas na
construção da cultura jurídica. As primeiras faculdades brasileiras foram criadas
em 1827, sediadas em Recife e São Paulo. Suas marcas são deixadas sob
perspectivas acerca do direito muito particulares. São Paulo com uma percepção
mais pragmática, tecnicista e liberal do direito. Recife, por sua vez, ilustrada, aberta
aos diálogos interdisciplinares e às inovações teóricas. Com o período republicano
no ocorre a abertura que possibilita o surgimento de diversos outros centros de
formação jurídica (e.g. as Faculdades Livres de Direito de Minas Gerais, Bahia e
Rio de Janeiro). Uma grande circulação de intelectuais e de ideias segue à essa
abertura. Por ser um período (entre 1889 e 1930) de discussões essenciais sobre a
formação social brasileira (controle social em um país pós-escravidão e em vias de
desenvolvimento de uma classe de trabalhadores livre, criação de um código civil
e de um direito de família diante da separação entre Igreja e Estado, construção do
aparato judicial soba forma republicana, entre outros) os juristas e bacharéis serão
chamados a se posicionar, ao mesmo tempo em que tem que lidar com uma
reorganização do campo jurídico nas respectivas faculdades. Seus
posicionamentos, ideias, debates serão expressos e publicados nas revistas
544
acadêmicas das respectivas faculdades. Essas revistas se configuram assim como
importantes lugar sociabilidade intelectual e circulação de ideias. Em tempos de
intenso protagonismo das discussões legais sobre a política no Brasil (e no mundo),
acreditamos que pensar com a história pode ajudar a compreender os caminhos do
presente.

Igreja e Sociedade no Discurso de Dom Frei José da Santíssima Trindade


(1820-1835) - Anna Karolina Vilela Siqueira (Ufop)

A presente comunicação tem por objetivo a discussão das representações e das


relações de Igreja e sociedade oitocentistas presentes no discurso religioso de D.
Frei José da Santíssima Trindade - Bispo de Mariana entre 1820 e 1835. Pretende
se desenvolver um estudo do Bispado, almejando a compreensão da ação de Dom
Frei José enquanto intelectual atuante, tentando identificar suas concepções
teológico políticas e como essas ideias circulavam em Minas Gerais num contexto
de processos de Independência, onde as ideologias liberais ganhavam força e a
monarquia se enfraquecia. Para isso, utilizamos como fonte os relatos deixados por
D. Frei José, como as visitas e cartas pastorais. A partir da análise das fontes,
juntamente com a discussão teórica, buscaremos identificar, a atuação do Bispo
frente ao Clero na Diocese de Mariana, pós reformulação do Seminário,
ponderando a tentativa de implementação e legitimação das suas ideias de ordem
no âmbito religioso, político e social.

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Memória, silêncio e cultura política em " Olhos d´água" de Conceição


Evaristo - Silvana Cristina Bandoli Vargas (Colégio Pedro II)

A obra “ Olhos d´água”, de Conceição Evaristo, é percebida como referência


cultural na literatura produzida por mulheres negras no Brasil. Para além dos
recortes de gênero ou etnia, é proposta uma leitura das recorrências e dos
apagamentos que se cristalizam na obra como dobras, trabalhando com os
operadores textuais derridianos, em que os arquivos da cultura política se
manifestam como memória silenciada ou reconstruída. As intercessões entre
passado e presente constroem um caminho poderoso de identificação na obra
literária da autora e, de forma recorrente, inspiram outras mulheres. De tal forma,
a memória reconstruída produz novos sentidos e investe na descoberta de um
mundo de permanências em que os signos religiosos são como pedras angulares
que marcam o caminho das lembranças da Mãe. Assim, a maternidade como
referência da origem do mundo encaminha significados e aponta descobertas do
que é necessário lembrar ou esquecer. A infância, ora da narradora e ora da filha, é
a junção de passado/presente como permanência e recorrência com o objetivo,
talvez pedagógico, de criar uma narrativa do mundo. A leitura e análise da obra
permitem, desta forma, a marcação dos caminhos em que a definição de fronteiras
entre o vivido, o imaginado e o narrado não se completa e deixa em aberto uma
vivência construída na escrita, escrevivência.

Metáforas da Modernidade - A Utopia de Brasil dos Anos JK nas transversais


545
do tempo - Ana Maria Cardoso Ribas (Colégio Pedro II)

Os Anos JK são um dos momentos mais expressivos da história contemporânea da


República brasileira. Discuti-lo, sob uma abordagem teórico-metodológica que
enfatiza os vínculos entre história, política e cultura, permite reconhecer as
articulações entre o projeto civilizatório de criação e difusão de um Brasil novo –
cuja materialidade envolveu, para além do econômico, recomposições político-
institucionais, ideológicas e estético-culturais – e a reconstrução do moderno entre
nós, enquanto metáfora do desejo de ruptura com o passado que começara a perder
as suas funções normativas para e no presente. Isso convergia para uma
preocupação maior que marca os anos cinquenta em diante – a “autoridade do
futuro” como eixo normativo das experiências humanas individuais e/ou coletivas
no tempo, recriando outras vivências e sociabilidades. Vale destacar que essa
enunciação discursiva do moderno associada à retórica do novo, para além de uma
visão binária, ampara-se em uma concepção de modernidade, que é apreendida
como algo que se inscreve nas dobras do social ao invés de um processo que se
supõe aquém do tempo, de lenta duração e de recepção defasada. A epopeia da
modernidade, auto designada como natural, foi imaginada como caminho possível
para superar díades aparentemente irreconciliáveis – desenvolvimento e
subdesenvolvimento; tradição e modernidade; antigo e novo; cosmopolitismo e
provincianismo; nacional e estrangeiro; campo e cidade. E a essa epopeia também
se vinculava, sob os auspícios do Estado, um ambicioso projeto modernizador que
se supunha capaz de reunir as forças e os talentos criativos dispersos da
coletividade e fazer com que os brasileiros não se sentissem mais “exilados” em
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sua própria terra. O projeto nacional desenvolvimentista representou a argamassa


que formatou a cultura política dominante nos Anos JK, além de se incorporar à
história como vocabulário político chave que materializou a utopia de um Brasil
novo. Tal projeto se edificou como “redentor da nação” e instrumento propulsor
das transformações históricas a serem realizadas em nome de uma modernização
conservadora, vista como rota principal para a indústria moderna. A nova capital
federal sintetizaria, nesse escopo, a utopia do Brasil novo, sob a promessa de virar
de ponta cabeça o país multissecularmente atrasado e dependente e ultimar um
“destino promissor” à comunidade nacional, ao integrar simbólica e
geopoliticamente as tantas territorialidades do litoral e do sertão. Porquanto se
julgava factível introduzir novos ordenamentos político-culturais que, por meio da
tríade desenvolvimento-trabalho-democracia, superassem o que era entendido
como imemorial atraso, alicerçassem as bases da tão almejada harmonia social e
conquistassem, material e culturalmente, a autonomia da nação.

Não blasfemarás contra Sua Santidade! Gilberto Freyre: trânsfuga para o


protestantismo, críticas ao papado e rejeição de sua obra pelo catolicismo
romano - Claudio Marcio Coelho (Professor SEDU/ES)

Nossa comunicação discute a repercussão da experiência protestante do jovem


Gilberto Freyre em sua formação intelectual, especialmente, os efeitos políticos de
suas críticas ao papado. A conversão de Gilberto Freyre ao protestantismo, na
adolescência, e suas responsabilidades religiosas na Primeira Igreja Batista do
546
Recife, PE, possibilitou-lhe a realização de diversas atividades como o estudo
intensivo da Bíblia, a evangelização de comunidades pobres na periferia do Recife
e proferir discursos no púlpito da Igreja. Entre estes discursos, o jovem batista, aos
16 anos, proferiu a mensagem “A Bíblia como uma força civilizadora” (1916), na
qual enaltecera o desenvolvimento econômico, político e moral dos Estados Unidos
como consequência de uma nação que construiu seus alicerces sobre a Bíblia
Sagrada. Segundo G. Freyre, contrariamente, o povo brasileiro, pobre e ignorante,
estava “corrompido pela fradaria” e “enfraquecido pela idolatria papal”. Tais
práticas, aliadas ao pouco conhecimento do texto sagrado resultaram no
subdesenvolvimento das nações latino-americanas. Muito embora G.Freyre tenha
retornado ao catolicismo aos 19 anos, buscando uma reconciliação com a religião
de seus pais, e tenha enaltecido a ação civilizatória da Igreja Romana na
colonização e na formação da sociedade brasileira, em obras como “Casa-Grande
& Senzala” (1933), a liderança católica pernambucana assumiu uma postura
categórica e intransigente, acusando-o de ser inimigo “embuçado” do catolicismo.
Considerando tal contexto e o esforço de tradução do acontecer social, nosso
trabalho está situado no campo da história das ideias políticas e religiosas, na
confluência entre cultura religiosa e política. Enfatizamos os efeitos políticos dos
sentimentos e das práticas religiosas na produção intelectual de Gilberto Freyre.
Assim, o problema que enfrentamos consiste na seguinte questão: Quais os efeitos
políticos e ideológicos da trânsfuga do jovem católico G. Freyre para o
protestantismo? Defendemos a hipótese de que a traição afetiva de Gilberto Freyre,
como consequência de sua conversão ao protestantismo batista e de suas críticas
ao papismo (ao que chamou de “idolatria papal”), bem como, a aliança política
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entre seu pai Alfredo Freyre e os missionários batistas em Pernambuco,


repercutiram na rejeição de sua obra pela Igreja Católica no Brasil. Esta rejeição
exacerbou-se pela ação predatória do movimento de Reação Católica e da liderança
jesuítica em Pernambuco.

O debate da censura na Nova República - Ana Carolina Cavalcante


Pinto (UFRRJ)

O presente trabalho tem como objetivo central discutir até que ponto a Constituição
de 1988 marca o fim da censura no Brasil. Recortando o período compreendido
entre 2000 e 2010 e utilizando como fonte o Jornal do Brasil, além da legislação
da Classificação indicativa instituída no lugar da censura e em vigência até hoje,
buscamos mostrar que ao contrário dos períodos em que vivíamos uma ditadura, e
que contávamos com uma censura pública, acreditamos que na Nova República
foram desenvolvidos novos mecanismos, mais discretos e indiretos, de censura.
Essas práticas se manifestam na perseguição a autores e obras sob forma de
processos judiciais, em leis de regulamentação do que pode ser ou não considerado
um insulto, no controle dos incentivos culturais e artísticos, que impedem amadores
de produzir sem apoio governamental, e cumprem o papel de definir o que é “moral
e correto” para a sociedade e/ou governantes. Tais práticas configuram uma
censura insubstancial, indireta.

O discurso médico brasileiro sobre as doenças hereditárias no pós II Guerra


547
Mundial - Raíssa Barreto dos Santos (UFF)

Neste trabalho analiso o discurso médico brasileiro sobre as doenças hereditárias


no pós- II Guerra Mundial para mostrar como ocorreram mudanças na prática
médica no Brasil após a repercussão das atrocidades cometidas pelos médicos
nazistas. Através de uma pesquisa feita na Hemeroteca Digital, na biblioteca de
Ciências Biomédicas de Manguinhos e no Acervo Especial de Obras Raras foi
possível entender como nos jornais estava circulando as notícias sobre as
experiências feitas em humanos nos campos de concentração durante o Nacional
Socialismo. O discurso sobre anemia falciforme mudou por conta dos debates sobre
relações raciais, impulsionados principalmente pela pesquisa feita pela UNESCO
no Brasil, considerado amplamente até então como um exemplo de democracia
racial. Diante da constatação da existência de um preconceito racial, os artigos
médicos científicos passaram a ter maior cautela ao referenciar indivíduos
marcados pelo racismo. Em relação as doenças hereditárias, foi possível perceber
que tal mudança se deu pela grande repercussão das atrocidades feita por médicos
nazistas. Nas notícias existe a tentativa de desvencilhar a medicina do projeto de
Estado, como se os abusos de autoridade só fossem possíveis graças ao nazismo.
Perpassando por temas como exame pré-nupcial e eugenia, busca-se entender como
medidas de controle tiveram espaço na sociedade brasileira mesmo no pós-II
Guerra Mundial.

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O lugar da política pública cultural: uma revisão bibliográfica - Rosely


Tavares de Souza (UFPE)

O levantamento bibliográfico é um assunto pertinente ao trabalho do pesquisador.


Desse modo, afirmamos que realizar essa tarefa é mapear um cenário que se
pretende pesquisar, ela nos permite angariar um repertório necessário para que
possamos debater e desenvolver estudos que cubram lacunas na literatura e apontar
novas contribuições para a historiografia sobre um tema ainda escassamente
discutido na área de História. Problematizamos textos publicados acerca da
elaboração da política pública cultural. Desse modo, toma-se como objetivo dessa
análise compreender como o tema foi tratado no Brasil e quais áreas do
conhecimento se dedicaram ao mesmo. A pesquisa parcial foi realizada em
consulta as dissertações e teses disponíveis nos repositórios das principais
universidades do país, depois de analisadas, consultamos quais as principais
referências citadas pelos autores das referidas pesquisas acadêmicas que discutiram
políticas públicas culturais. De pronto, identificamos que são raros os trabalhos
historiográficos que se dedicaram ao tema. Ao realizar a leitura e estudos dos
principais autores que pesquisaram a temática, como exemplo: Lia Calabre e Sergio
Miceli buscou-se obter o entendimento de qual “cultura” estava em disputa pelos
agentes culturais que pertenciam ao estado ou fora dele no processo de elaboração
da referida política entre as décadas 1970 e 1980.

O lugar dos Lazaristas na Igreja e na política portuguesa setecentista.


548
Apontamentos iniciais - Jefferson de Almeida Pinto (IF Sudeste MG)

Este trabalho de pesquisa busca traçar um panorama cultural e político da


Congregação da Missão, em Portugal, no século XVIII. Nosso recorte temporal vai
de sua instalação em Portugal no ano de 1717, ao tempo do reinado de Dom João
V, até 1777, quando se encerra o período em que Sebastião José de Carvalho e
Melo ― o Marquês de Pombal ― governou o país. Trabalhamos com a hipótese
de que a Congregação da Missão seria um ponto de equilíbrio entre a Congregação
do Oratório e a Companhia de Jesus. A Missão conciliaria duas características
teológico-culturais que marcariam as duas outras congregações, isto é, o
jansenismo e o ultramontanismo. Com a expulsão dos inacianos de Portugal e de
suas colônias, essas congregações começam a ganhar visibilidade no universo
político português e com a ruptura das relações entre Pombal e o Oratório, a
Congregação da Missão passa a ser o principal ponto de apoio no âmbito das
instituições religiosas à monarquia portuguesa.

O movimento abolicionista cearense: escrita da história, identidade e


alteridade em diálogo (1884-1956) - Camila de Sousa Freire (UERJ)

Em 25 de Março de 1884 a então província do Ceará obteve a libertação de todos


os escravos de seu território, a partir de um movimento abolicionsta que se iniciou
em 1881, e atuou de forma intensa a partir de então, alternando entre radicalismo e
conservadorismo, mas que conseguiu seus objetivos de ser a primeira província do
Império a libertar seus escravos e ter seu pioneirismo destacado na história da
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província. Naquele momento, o Ceará que era considerado como periferia - como
analisamos a partir da relação de centro e periferia trabalhada por Carlo Ginzburg-
passa a ser o centro das atenções do Império, tornando-se exemplo a ser seguido
não só pelas províncias próximas mas também pelas províncias do Sul, com seus
abolicionistas mantendo contato constante com os abolicionistas da Corte, com
trocas de informações e táticas de atuação próprias dos movimentos sociais de
então, como analisamos a partir de Tzvetan Todorov e Angela Alonso. Dessa
forma, o Ceará de certa forma dita o percurso do movimento abolicionista, que as
outras províncias buscam seguir, invertendo a relação de centro e periferia ao longo
do movimento e em seu desfecho, quando torna-se realmente um exemplo a ser
seguido pela forma pacífica com a qual se deu, ponto inclusive ressaltado pelos
próprios abolicionistas cearenses. Posteriormente, a historiografia cearense,
principalmente aquela escrita pelo Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico
do Ceará, buscou destacar aquele fato como o principal acontecimento da sua
história, baseando boa parte da sua identidade regional no fato de ter sido a primeira
província a libertar os escravos no Brasil. Dessa forma, buscamos entender todo
esse processo de escrita da história e formação dessa identidade regional cearense
baseada no movimento abolicionista, desde seu princípio, no desenrolar dos
acontecimentos, quando os abolicionistas já buscavam definir a memória que
desejavam que fosse legitimada para a posteridade; até o trabalho do próprio
Intituto do Ceará em reforçar esses elementos e costituir de fato a imagem da Terra
da Luz.
549
Pensamento político e econômico no Império Luso-Brasileiro: José Acúrsio
das Neves e José da Silva Lisboa (1798-1832). - Jônatas Roque Mendes
Gomes (UFF)

Este trabalho objetiva refletir de forma comparada sobre os escritos políticos e


econômicos, além das atuações de José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu (1759-
1835), e José Acúrsio das Neves (1766-1834), ambos juristas, historiadores,
economistas e políticos. Analisaremos como estes agentes históricos pensavam seu
tempo e as experiências sociais e políticas nas quais participaram. O recorte
cronológico abarcado neste projeto se situa entre os anos de 1798 e 1832,
abrangendo o período de atuação e de publicação dos personagens elencados. Neste
período, Acúrsio das Neves e Silva Lisboa participaram e extraíram experiências
de uma série de acontecimentos como a invasão napoleônica e a consequente
transferência da Corte lusa para a colônia americana, o período joanino, a
Revolução Pernambucana (1917), a Revolução do Porto (1920), as Cortes de
Lisboa, a independência do Brasil, a sucessão de D. João VI e a Abdicação de D.
Pedro I. Buscamos analisar como esses agentes, com suas trajetórias, seu
pensamento social, econômico e político e suas redes de sociabilidade refletiam
sobre questões do seu tempo, que se referem diretamente aos eventos apontados
acima.

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Representação e Ordem em Eric Voegelin - Pedro Damazio Franco (PUC-RJ)

Na teoria política moderna, representação é geralmente entendida como o meio


através do qual uma sociedade se articula para a ação institucional que efetivamente
reflete a vontade de seus membros. Na sua crítica das premissas subjacentes à
ciência política moderna, Eric Voegelin busca dar contado que ele enxerga como
um vasto campo de fenômenos políticos costumeiramente ignorado por tais teorias.
Preparar uma sociedade para a ação coletiva é certamente uma função
indispensável da ordem política mas, de acordo com Voegelin, ela é subordinada a
outra: Toda sociedade, das antigas às modernas, se incumbe da tarefa de justificar
sua própria existência através de símbolos que articulem a relação significativa
entre o homem, a sociedade, e a subjacente ordem do ser. Em outras palavras, uma
sociedade sempre buscará representar a Verdade em sentido existencial, e é essa
forma de representação que determinará a maneira pela qual ela se articulará para
a ação representativa. Foi essa premissa fundamental que fez com que Voegelin
abandonasse seu projeto de uma história das ideias e embarcasse em sua mais
ambiciosa história da Ordem. Nosso trabalho buscará apresentar pontos relevantes
da teoria da representação voegeliniana em três partes. Primeiro, concentraremos
nas teorias postuladas na sua ‘Nova Ciência da Política’ de modo a clarificar o
papel exercido por símbolos de representação existencial na manutenção de coesão
social ao longo da história de acordo com o autor. Segundo, tentaremos apresentar
a maneira pela qual, de acordo com Voegelin, símbolos são efetivamente
engendrados na história para representar a concepção de uma sociedade em
550
harmonia com a verdade existencial. Aqui focaremos na descrição do processo de
simbolização colocado no primeiro volume da magnum opus de Voegelin, Ordem
e História. O autor descreve o processo como sendo animado por certos anseios
existenciais presentes no ser humano conforme ele procura conferir um sentido à
própria existência que possa ser expandido ao resto da sociedade. Terceiro,
procuraremos mostrar a maneira pela qual, no contexto da teoria apresentada, tais
símbolos são sujeitos à atrofia, isso é, se tornam esvaziados de seu sentido
existencial - um processo que inevitavelmente torna as instituições que se
formaram em torno de tais símbolos sujeitas à crises e colapso.

Rigor, Sacrifício - expiação: o sofrimento psíquico – religioso como punição e


a cultura jurídica brasileira - Adriano Ribeiro Paranhos (UFF)

Nossa análise leva em consideração todas as dimensões da vida de José de Alencar


e da realidade brasileira para a investigação das obras Asas de um anjo e Expiação.
Duas peças que nos mostram as ideias de culpa como crime e expiação como pena.
Procuramos problematizar essas duas peças articulando as ideias de pureza, amor
como obra de arte e sacrifício/expiação. As partes se complementam, não apenas
por seus personagens, mas também pelo conteúdo envolvido. Não se trata,
portanto, de peças comuns do ponto de vista das influências que o autor deixou
evidente no transcorrer delas. É interessante observar que há questões enigmáticas
na realização das peças por Alencar, sobretudo, no que diz respeito ao casamento,
discutido amplamente desde a década de 1850, colocando no debate público os
limites do religioso e civil na sociedade. A perspectiva adotada aqui, levará em
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consideração o diálogo entre a obra e seu tempo, bem como as relações que
marcaram a subjetividade do seu autor. O fato de José de Alencar ter sido filho de
padre, que lhe custou tal apelido, está ligado ao fato de seu pai ter se mantido padre
com os poderes que a batina lhe dava, e também pela Igreja ter poder de estabelecer
que tipo de relação poderia ser considerada matrimônio. Entendemos que não foi
obra do acaso Alencar ter lutado contra o celibato, por exemplo. Para as peças que
ora analisamos, questionamos o seguinte: José de Alencar tentou de alguma
maneira desafiar o jogo social no tocante ao casamento? Essa pergunta nos ajudará
na condução dessa primeira incursão nesses textos, sobretudo pelo fato de o Brasil
ter experimentado durante o século XIX algumas vivências da modernidade
europeia, com relevo para aquelas pertinentes aos bens materiais. É preciso dizer
nessa parte introdutória que há uma defesa da cultura jurídica brasileira (com
ênfase no direito penal que privilegia o fato de a própria pessoa confessar seu crime
como parte da punição - penitência) e seu caráter autoritário, excludente, fundado
em práticas inquisitoriais (que também usavam a tortura física como instrumento
de obtenção de prova). Queremos, com isso dar espaço para investigarmos tais
peças como possíveis leituras do direito no Brasil. Essa observação se faz
necessária pelo fato de a peça fazer um julgamento de uma personagem em praça
pública. Há uma defesa por parte do autor da seguinte questão: punir uma pessoa
faria bem a ela, derivando daí uma suposta busca pela recuperação de uma pena
interminável e intermitente.

Teatro de sombras: a propaganda de guerra no Brasil durante o primeiro


551
conflito mundial - Livia Claro Pires (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Em 1914, França, Grã-Bretanha e Império Alemão romperam com as décadas de


paz no continente e lançaram a Europa nos campos de batalha. A declaração de
neutralidade feita pelo governo de Hermes da Fonseca, ainda em agosto daquele
ano, parecia ter resguardado o Brasil das intempéries da guerra, fazendo valer a
distância imposta pelo oceano Atlântico. No entanto, não tardou para que os
desdobramentos do conflito e sua transformação em uma guerra de âmbito global
rompessem as barreiras levantadas por decretos governamentais e relações
diplomáticas, alcançando a realidade brasileira. Nesse sentido, as necessidades
beligerantes de sobrepujar o inimigo não apenas militar, como moralmente,
angariando o máximo de apoio possível ao que se convencionou chamar de
“causa”, transformou a propaganda em peça vital do primeiro conflito de massa do
século XX. E, como instrumento de guerra, foi direcionada a diferentes regiões,
sobretudo aos países neutros. O presente trabalho tem por proposta analisar a
propaganda enviada tanto pelos Aliados, quanto pelo Império Alemão, ao Brasil,
sua recepção pelos grupos da sociedade e sua influência sobre a decisão, no ano de
1917, de tornar o país beligerante na Grande Guerra.

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Tratamentos para um Desvio: cura e profilaxia do "homossexualismo" no Rio


de Janeiro durante a Primeira República - João Gomes Junior (UFF)

O presente trabalho visa abordar o pensamento social e político a partir do discurso


médico acerca das formas de tratamento da homossexualidade e da prostituição
masculina, bem como das tentativas de reintegração e inserção daqueles
indivíduos, na cidade do Rio de Janeiro ao longo do período conhecido como
Primeira República, período que representou novas possibilidades e experiências,
resultado direto da mudança no clima político, que influenciou a vida social,
cultural e política dos homens envolvidos em práticas homoeróticas. A partir da
segunda metade do oitocentos, o indivíduo identificado em Foucault como “o
personagem do homossexual” deixou de ser criminalizado para ser definido a partir
e nas práticas médicas. A medicina-legal passou a reivindicar o direito de fala
“sobre os anormais” e a tratar como seu objeto particular as “sexualidades
perversas”. E foi o discurso desses médicos, que pode ser analisado como
interpelações absolutas constituintes dos aparelhos ideológicos , entre outros
fatores (como a opinião pública, o discurso literário e jurídico etc), que criaram as
possibilidades para a produção do corpo homossexual e a perseguição daqueles
indivíduos. Para os médicos aqui estudados, era necessário encontrar meios de
salvar aqueles homens e reabilitá-los para a sociedade enquanto cidadãos morais e
respeitáveis, tirando-os dos vícios e da marginalidade e colocando-os a serviço da
evolução e do desenvolvimento social, econômico e urbano do país e do Rio de
Janeiro. Ao entendermos que o espaço social é formado por diversos atores e que
552
esses encontram-se em disputa permanente, seja de maneira simbólica ou material,
visamos debater a questão da criminalização e da perseguição aos homossexuais
que se prostituíam ou não. Num diálogo multidisciplinar com áreas como a
antropologia, a sociologia e a filosofia, e partindo de nossa base de formação
historiográfica, temos como objetivo mais amplo compreender como aqueles
indivíduos se reconheciam, elaboravam suas redes de solidariedade e sociabilidade
a partir de suas apropriações dos discursos contrários a eles, desenvolviam
performances e resistiam às perseguições e pressões sociais e políticas do período.
Pensando igualmente segundo conceitos como o moderno e a modernidade, as
rupturas e as continuidades, destacamos que a importância de um trabalho com esta
temática, portanto, encontra-se no interesse acadêmico em derrubar tabus que ainda
cobrem e silenciam segmentos históricos importantes para a compreensão da
sociedade e da formação das identidades sociais contemporâneas.

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553
ST 56. Rural no Brasil: História &
Parcerias

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A busca pelo reconhecimento étnico e territorial dos Kanela do


Araguaia - Juliana Cristina da Rosa (Universidade Federal de Mato
Grosso), Paulo Sergio Delgado (UFMT)

A partir da primeira década do novo milênio, começam a surgir notícias com


diferentes narrativas e discursos sobre um “novo” grupo indígena que se
autodenomina Kanela do Araguaia que “incomoda” pelas estratégias e ações de
ocupações de áreas nos municípios de Canabrava do Norte e Santa Terezinha, ou
ainda, pelo simples fato de estarem reivindicando o reconhecimento de sua
identidade étnica junto a órgãos públicos como a Fundação Nacional do Índio ou
assistência médica por meio dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas. Em meio
ao processo de luta por reconhecimento étnico e territorial por parte dos Kanela do
Araguaia, pouco se divulgou pelos meios de comunicação locais sobre as origens
desse grupo e os motivos que os levaram a desenvolver tais estratégias e ações
depois de mais de cinquenta anos residindo nos municípios de Santa Terezinha,
Canabrava do Norte e Luciara. Diante disso, essa apresentação tem como objetivo
problematizar a trajetória desses grupos a partir da década de 1930, quando são
expulsos da aldeia do Morro do Chapéu, localizadas no estado do Maranhão, que
passavam por um intenso processo de conflito com fazendeiros. A partir de fontes
orais é possível identificar elementos narrativos dessa trajetória de expulsão de suas
terras e a busca pela sobrevivência diante da violência e ameaças por parte de
fazendeiros e jagunços desde suas aldeias de origem até as cidades por onde
passaram ao longo de sua trajetória até chegarem ao Araguaia, em busca da
554
Bandeira Verde. Essa situação de intensa violência e fuga da comunidade de
origem, assim como, a partir de uma nova expulsão violenta de uma área onde
haviam tomado posse em Miracema, Goiás resultou na ocultação consciente da
identidade indígena ao longo de uma trajetória de luta pela sobrevivência. Existem
relatos de que os mesmos não foram aceitos como trabalhadores ou posseiros pelo
fato de serem indígenas, e ao se estabelecerem no Araguaia, passaram a conviver,
casar e desenvolver atividades com ribeirinhos, retireiros e posseiros, silenciando
sobre sua origem e identidade indígena por medo de novas expulsões e violências.
Neste novo contexto, reconstruíram um modo de vida diferenciado, incorporando
o sistema local em seu cotidiano e igualmente fazendo parte dele por meio de
alianças num processo sinérgico no qual novas relações foram construídas. A partir
da construção narrativa dessa trajetória marcada por conflitos, é possível analisar
como a memória coletiva dos Kanela do Araguaia foi marcada pelo silenciamento
diante de uma história oficial, mas também como nas últimas duas décadas, houve
um movimento em que as memórias subalternas vieram à tona, que foram
incorporadas às estratégias de reconhecimento pela etnicidade e territorial
empreendidas pelos Kanela do Araguaia.

A cubanização do Brasil no governo João Goulart (1961-1964): uma


perspectiva de parte da imprensa fluminense - Pedro Henrique Barbosa
Balthazar (Colégio Andrews)

O trabalho pretende discutir o papel de parte da imprensa carioca na campanha de


desestabilização e na conspiração que contribuíram com a deposição do governo
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João Goulart (1961-1964). Para isso, se concentra nas representações sobre a noção
de "cubanização" do Brasil e sua relação com o mundo rural, a partir da análise de
temas como as Ligas Camponesas e as visões sobre a região Nordeste. Tal discurso
serviu para desqualificar movimentos sociais no campo e foi utilizado para
legitimar o golpe de 1964.

A legislação agrária do Pará e o acesso a floresta amazônica (1930-


1964) - Edilza Joana Oliveira Fontes (UFPA)

A comunicação pretende discutir como a Floresta Amazônica foi pensada pelos


governos federais e pelo governo estadual no período de 1930 a 1964, e que medida
a legislação agrária criada a partir da chamada Revolução de 30 tentou controlar o
acesso a floresta. Nesta comunicação pretendemos discutir os arrendamentos, os
castanhais, o acesso a floresta, o acesso aos seringais, o controle sobre as atividades
extrativistas feita pelos governos ditatoriais de 30 quando o interventor do Pará era
Magalhães Barata, tenente que assumiu o poder do estado a partir de outubro de
1930. Pretendemos discutir a legislação tentando perceber o texto legal e o controle
que os governos de Magalhães Barata e posteriormente de José Malcher queriam
estabelecer em relação ao acesso às terras devolutas, aos seringais e aos castanhais,
e como esta proposta de controle principalmente as terras devolutas entram em
colapso com a proposta de marcha para o oeste, e posteriormente com a proposta
de ocupação desses seringais devido a Segunda Guerra Mundial. Neste sentido, a
análise da legislação pode nos revelar os conflitos existentes dentro de uma elite
555
que estava perdendo poder e o nascimento de uma outra elite que a partir do
controle burocrático do estado começa a se estabelecer no Pará, e tentar ocupar o
espaço antes ocupados pelas elites agrárias, que na época do período da borracha
no estado controlavam os grandes seringais e com isso também controlavam os
governos estaduais. Trabalhamos principalmente com a legislação pós movimento
de 30, tentando analisar sua relação com os projetos governamentais para a
Amazônia a partir do governo de Getúlio Vargas.

A produção agrária e o mercado Imobiliário: A empresa Normandia S.A. nas


terras iguaçuanas. - Rubens da Mota Machado (Programa de Pós-Graduação em
História)

No início do século XX, a região de Nova Iguaçu vivenciou grandes


transformações em sua estrutura econômica, quando a produção agrária, até então
predominante no perfil econômico da região, passou a conviver com uma nova
prática econômica récem-chegadas nas áreas agrícola iguaçuana, a transformação
das tradicionais terras agrícolas em novas áreas de moradia. Neste comunicação
iremos tratar especificamente da atuação da Companhia Normandia S.A na
aquisição, transformação das áreas agrícolas em um novo mercado imobiliário em
franca expansão nas primeiras décadas do século XX em Nova Iguaçu.

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As Negociações da Terra no contexto social do rural carioca oitocentista:


fragmentações, transformações e negociações (Inhaúma-1830-1870) - Rachel
Gomes de Lima (UCAM)

O objetivo deste trabalho é debater brevemente a estrutura fundiária da freguesia


rural de São Tiago de Inhaúma compreendendo sua lógica de funcionamento e da
transformação de suas propriedades dentro do contexto histórico por qual passava
a cidade do Rio de Janeiro entre 1830 e 1880. Trata-se de uma análise de suas
propriedades agrícolas considerando, principalmente, as relações sociais e as redes
de sociabilidades constituídas pelos proprietários locais e a influência destas
relações nos mecanismos de transmissão das propriedades, nas negociações, nos
conflitos, nas diferentes formas de usos e nas diferentes concepções de direitos de
propriedade da terra.

Colonização, expansão agrícola e indigenismo no sul da Bahia Oitocentista: A


experiência da colônia nacional Cachoeira de Ilhéus - Ayalla Oliveira
Silva (UFRRJ)

Na segunda metade do século XIX, no sul da Bahia, tanto o governo provincial


quanto o local e os fazendeiros estavam envolvidos em expandir a fronteira agrícola
regional, pois as terras da região eram consideradas as melhores para o cultivo do
cacau, que estava em ascensão, naquele momento, como produto de exportação.
Nesse contexto, por iniciativa do governo provincial se iniciou na região sul da
556
Bahia, um projeto de implantação de colônias nacionais agrícolas cujos objetivos
eram acolher a população do norte, atingida pela prolongada seca, bem como tornar
aquela região colonizada, uma vez que o sul da Bahia, àquela altura, ainda se
encontrava pouco “habitado” e explorado pelo processo da colonização. Contudo,
as autoridades provinciais e locais tinham que lidar com o principal empecilho para
tornar exitoso o seu projeto, que se tratava das populações indígenas, a exemplo
dos botocudos e pataxós, que habitavam densamente o sul da Bahia e se colocavam
resistentes ao avanço da colonização em seus territórios. No desenrolar desse
processo, por decreto provincial de 1870 foi criada a colônia nacional Cachoeira
de Ilhéus localizada na estrada que ligava a vila da Vitória à vila de Ilhéus. Essa
região funcionava como corredor comercial entre a Bahia e Minas e também uma
faixa regional de extremo conflito entre particulares e indígenas não submetidos à
experiência dos aldeamentos de catequese. Portanto, a colônia Cachoeira devia
desempenhar um papel peculiar em relação às demais colônias agrícolas, aliás, ela
tinha como papel central “civilizar” os botocudos e pataxós que “infestavam” a
região. Além disso, a colônia deveria funcionar como suporte para a promoção do
desenvolvimento do comércio e o acesso de colonos à região. Consolidou-se
naquela zona, portanto, um corredor regional de suma importância para o trânsito
de pessoas, tropas e boiadas que desciam do centro para o litoral a fim de escoar os
seus produtos no porto de Ilhéus. Realidade na qual estavam envolvidos vários e
distintos atores: capuchinhos italianos, índios aldeados e índios não aldeados,
particulares, colonos, e autoridades dos governos locais e provinciais. Nessa
proposta de comunicação, através da análise das fontes compulsadas no Arquivo
Público do Estado da Bahia objetivo, portanto, recuperar a atuação da colônia
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Cachoeira enquanto experiência política de colonização e indigenista específica,


voltada para o sul da Bahia, na segunda metade do século XIX.

Colonização, Propriedade e Projetos Agrícolas no Paraná (Segunda Metade


do Século XX) - Marcos Nestor Stein (UNIOESTE)

Essa comunicação visa apresentar uma análise de material documental relacionado


a projetos de colonização e de desenvolvimento agrícola que foram
implementados, durante a segunda metade do século XX, em várias regiões do
estado do Paraná. O foco são discursos que procuram naturalizar e cristalizar
determinada concepção de propriedade privada da terra - desclassificando outras
formas de seu uso e posse - e a sua interface com a produção de determinados
sentidos identitários para os habitantes desse estado. A análise é um dos resultados
parciais da investigação, vinculada ao INCT Proprietas: história social da
propriedade, que aborda registros escritos por diversos pesquisadores - engenheiros
agrônomos, antropólogos, sociólogos, etc. -, ligados a empresas colonizadoras,
órgãos do governo brasileiro, como o Instituto Nacional de Desenvolvimento
Agrário (INDA), instituições internacionais de pesquisa, entre outros, que
permitem problematizar várias questões que estão relacionadas ao mundo rural
paranaense, como, por exemplo, o estabelecimento de agricultores estrangeiros e a
elaboração de projetos agrícolas.

Discutindo a morada na Zona da Mata de Pernambuco: a década de 1970 em


557
pauta - Clarisse dos Santos Pereira (Universidade Federal Fluminense)

O sistema de morada é analisado dentro das ciências sociais como um conceito para
denominar a complexa relação entre patrões e trabalhadores rurais assalariados que
estabeleciam sua moradia dentro das propriedades dos empregadores. Em parte da
historiografia convencionou-se falar que este sistema perpetuou-se, na Zona da
Mata de Pernambuco, até a década de 1950, momento no qual se deu início o
processo de contínua expulsão dos trabalhadores de suas casas. Tais trabalhadores,
instalados precariamente em cidades próximas às fazendas, passaram então a ser
chamados de pontas de rua. Contudo, outros estudos, especialmente na área da
antropologia, apontam que grande parte dos trabalhadores dos engenhos e usinas
de cana permanecia, ainda da década de 1970, morando nos locais onde
trabalhavam. Este artigo tem como objetivo discutir o tipo de morada observado na
Zona da Mata de Pernambuco, especificamente nos engenhos da cidade de Goiana,
em meados e fins da década de 1970. Tal fenômeno, apesar de guardar semelhanças
com o sistema de morada que existiu até a década de 1950, apresenta características
e questões muito específicas, que explicita um tipo específico de exploração
patronal e que está ligado também ao contexto de autoritarismo político pelo qual
passava o Brasil. A partir da análise de processos trabalhistas da Junta de
Conciliação e Julgamento do município de Goiana e de entrevistas com
trabalhadores rurais realizadas na década de 1970 pela antropóloga Lygia Sigaud,
é possível apontar questões e debater sobre as similitudes e diferenças entre estes
dois acontecimentos, criando assim novas interpretações e novos entendimentos

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sobre o modo de vida e as relações de trabalho dos trabalhadores rurais da zona


canavieira pernambucana.

Entre as curvas e as retas: a paisagem-mosaico e paisagem-poder - Ancelmo


Schorner (UNICENTRO - Campus de Irati/PR)

Esta comunicação é parte das pesquisas que desenvolvemos na Rede Proprietas, no


Pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal Fluminense e na pesquisa a respeito dos faxinais no Paraná, que conta com
apoio financeiro da Fundação Araucária, através do Convênio 17/2017. Os povos
tradicionais do Brasil, entre eles os faxinais, têm vivido um longo processo
histórico de conflitos no âmbito da manutenção do território, da preservação
ambiental e da conservação do patrimônio imaterial. Dessa forma, a prática de um
padrão alternativo, ou agroecológico, expressa uma luta contra processos
dominantes de homogeneização técnica (Brandenburg, 2005), o que quer dizer que
produção agrícola deixou de ser vista como uma questão puramente técnica,
passando a ser entendida como um processo condicionado por dimensões sociais,
culturais, políticas e econômicas (FLORIANI, 2011). A partir disso, podemos dizer
que a dinâmica e a maleabilidade da produção dos camponeses faxinalenses não é
vista como processos em estagnação ou atraso. Uma primeira consideração a fazer
é que a produção agrícola representa, para os camponeses, um de seus principais
campos de batalha, na qual eles “constróem, reconstroem e desenvolvem uma
combinação de recursos específica, equilibrada e harmonizada” (PLOEG, 2008).
558
A agricultura, dessa forma, implica, acima de tudo, criar ativamente coisas,
recursos, relações e símbolos. Nesta comunicação partimos da idéia que paisagem
não é o que se vê, mas o que se constrói, se destroi e se sente, isto é, elas são
realidades culturais percebidas através de representações, de valores e de pontos de
orientação que são de natureza cultural e não científica (LATARJET, 1997). Para
Deffontaines (2006), a produção da paisagem pelo agricultor é entendida como ato
de suas práticas a partir das quais ele mobiliza as proporções, as escalas, os ritmos,
as cores, as sombras e as luzes. Desse modo, o agricultor é também produtor de
formas, de uma linguagem visual da agricultura que resulta na maneira pela qual o
agricultor pensar sua atividade e a sua relação com o meio ambiente. Assim, por
um lado, as paisagens do agroextratismo expressam um regime de verdade do
agronegócio, de forma que as paisagens agrárias se convertem em espaços
hegemônicos marcados por linhas retas e por figuras quadrangulares, ou seja, se
transformam em uma ruralidade industrializada, o que chamamos de paisagens-
poder. Por outro lado, as tradições técnicas das economias camponesas são
atravessadas por elementos que indicam uma maneira de perceber, sentir, pensar e
ligar-se com o mundo de acordo com suas atividades cotidianas, em uma
continuidade entre o ser, o fazer e o conhecer que implica colocar, literalmente, as
mãos da terra para construir paisagens-mosaico.

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Espionagem e fontes para uma história rural da Amazônia durante a ditadura


militar - Thiago Broni de Mesquita (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

O objetivo do trabalho é apresentar fontes que foram produzidas pelo SNI entre
1968 a 1985 e que apresentam questões de conflitos relativos a posse da terra na
Amazônia a partir do olhar da espionagem do governo. Nesse período a Amazônia
foi alvo de múltiplas intervenções dentro de um projeto de integração nacional que
a pensava com um olhar de fora, mobilizando excedentes populacionais de diversos
estados e abrindo a região aos interesses do grande capital nacional e internacional.
Dentro de um cenário de conflitos no mundo rural que se espalhavam por todas as
regiões do país, parcerias foram firmadas no governo com a intenção de propor
soluções e tentar dirimir problemas. Tal parceria ficou conhecida no alto escalão
do governo como “Grupo de Trabalho Interministerial” (GTI) instituído através da
Portaria Secreta 325-B/74 e composto por funcionários indicados pelos ministros
das principais pastas. Os trabalhos eram coordenados pelo Ministro da Justiça e a
coleção de 51 atas de reuniões fazem parte do fundo de “Questões Fundiárias”,
uma vez que grande parte delas discutem questões relativas ao mundo rural
brasileiro e questões fundiárias. Em síntese, é possível afirmar que o principal
objetivo do GTI era a elaboração de um diagnóstico preliminar, a fim de que fossem
traçadas linhas de ação do respectivo programa e que fosse realizado o
levantamento das áreas onde ocorriam com maior frequência e de forma mais grave
os conflitos sobre a propriedade de terras. Entre outras questões levantadas através
da parceria entre os ministérios é possível citar o registro de um processo, datado
559
de 05/09/1974, que foi encaminhado por Ronaldo Rabello de Brito Poletti ao
Ministério da Justiça, abordando questões referentes à atuação de grupos
econômicos que se empenhavam, desabridamente, na venda de terras de domínio
da União, segundo essa documentação, tais grupos mantinham escritórios, filiais
ou agentes que operavam em vários pontos do território nacional, captando uma
clientela incauta constituída em imensa maioria por lavradores, anunciavam e
vendiam lotes e glebas que não lhes pertenciam, situadas em maior parte na
Amazônia legal, estimulando migração tumultuária e a ocupação irregular de
extensas áreas, provocando um sem número de problemas, a começar pela
perturbação da atividade dos órgãos de governo, o que inviabilizava toda tentativa
de racionalização do uso da terra. Outras documentações correlatas que fazem
referências a questões envolvendo a região amazônica, e que foram produzidas fora
do GTI, no ano de 1974, também compõem a série de “Questões Fundiárias”,
denotando a capilaridade de atuação dos órgãos de investigação junto à
administração pública, firmada a partir de parcerias que muito falam sobre o rural
no Brasil e em especial na região amazônica.

Fronteiras e Conquistas Territoriais: análise dos sertões da Comarca do Rio


das Mortes (1740-1808) - Marcelo do Nascimento Gambi (UFF)

Este trabalho visa analisar a conquista territorial nos sertões à oeste da Comarca do
Rio das Mortes, Capitania de Minas Gerais, entre os anos de 1740 a 1808. A partir
da descoberta dos veios auríferos, esta região atraiu um número significativo de
indivíduos desejosos pelo metal precioso. Entretanto, outras práticas foram se
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desenvolvendo concomitante a extração do ouro, em destaque, as atividades de


cunho alimentícia. Serão nas atividades agropastoris que focaremos as nossas
análises. Na medida em que cresciam o número de indivíduos nesta comarca, maior
foi a necessidade de ocupar novas áreas, portanto, as fronteiras se expandiram em
especial para as áreas compreendidas como os sertões. Neste embate com índios e
quilombolas, a conquista territorial foi se formando nestas áreas, juntamente com
a ampliação das atividades alimentícias. Dessa maneira, nossa proposta busca
analisar, por meio da utilização das cartas de sesmarias, a dinâmica das fronteiras
nesta comarca. A relação direta entre a conquista territorial e as interações
existentes entre os espaços das minas e dos currais moldariam esta região ao longo
de todo o século XVIII, na medida em que as fronteiras se mantinham abertas ou
fechadas. Ademais, ressaltamos que esta proposta de trabalho buscará também
identificar os aspectos sociais referentes aos sesmeiros que se deslocaram para
estas áreas, de forma a demonstrar uma racionalidade no processo ocupacional da
Comarca do Rio das Mortes.

Hipólito da Costa e os apontamentos sobre o Plano de Correios e


Colonização - Marieta Pinheiro de Carvalho (UNIVERSO), Vitória Fernanda
Schettini de Andrade (UNIVERSO)

O objetivo de nossa comunicação é apresentar algumas reflexões sobre uma


memória redigida por Hipólito da Costa entre os anos de 1822 e 1823, com o título
Apontamentos para um plano de Correios e Colonização no Brasil. Tal documento
560
integra uma correspondência entre Hipólito da Costa e José Bonifácio de Andrada
e Silva e tem como propósito contribuir sobre um tópico que seria enfrentado e
debatido durante muito tempo ao longo do período imperial: a questão da terra e
da colonização. Nessa memória, o personagem analisado deixou em evidência sua
contribuição para pensar seu projeto de ocupação da terra, apresentando propostas
para os problemas vividos, e se consagrando como um dos grandes letrados da sua
geração.

História e Geografia: aproximações conceituais para o estudo das fronteiras


políticas e do Império do Brasil - Alan Dutra Cardoso (UFF)

Consideradas parceiras de longa data, a História e a Geografia passaram por


processos de aproximação e afastamento ao longo da História. Cindidas pela
organização e especialização científica dos campos de conhecimento no oitocentos,
se acercaram teórica e metodologicamente, a partir da virada crítica inaugurada
pela Escola dos Annales. Mobilizado pelos matizes que reaproximaram os campos
– especialmente através das contribuições inaugurais de Fernand Braudel e Yves
Lacoste –, o presente trabalho elucidará as aproximações conceituais entre a
História e a Geografia, no que concerne aos estudos sobre a formação do Estado e
delimitação das fronteiras. Ao ter como problemática central a questão dos limites
territoriais do Império, advogamos que sua disputa e tentativa de demarcação
estiveram associados ao projeto conservador gestado neste período, cujas bases
eram a preservação do seu território e a legitimação de sua soberania. Dotadas de
historicidade, as fronteiras são tradicionalmente apresentadas como o espaço da
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interação e do movimento, ao mesmo tempo em que podem ser definidas como as


linhas que (de)limitam a soberania de um país frente outro. Balizados nesta segunda
definição e assentados na proposição de Demétrio Magnoli, nos preocuparemos em
estabelecer a relação entre o conceito e as novas interpretações da Geografia
política e da Geopolítica, materializados, especialmente, nos conceitos de “díade”
e “horogênese”.

Machado de Assis na Diretoria da Agricultura: Um informe de uma pesquisa


em andamento - Pedro Parga Rodrigues (UFF/UFRRJ)

Trata-se de apresentar nossa pesquisa atual sobre a atuação de Machado de Assis


no Ministério de Agricultura, Comércio e Obras Públicas nas décadas de 1870 e
1880. Nestes estudos, pretende-se perceber influência de sua atuação na Diretoria
da Agricultura em sua atividade literária. Esta repartição lidava com a questão
fundiária. O escritor escreveu um conto chamado “Três capítulos inéditos do
Gêneses”, no qual debochou dos conflitos de terras oitocentistas e da noção de
propriedade senhorial. O humor com o assunto foi retomado em “Memórias
Póstumas de Brás Cubas”.

Memórias de vidas no campo: a Revolução Verde e as transformações nas


“artes de fazer e conviver” dos trabalhadores de bairros rurais da serra
Fluminense (Nova Friburgo e Sumidouro) (1950-2000) - Gabriel Almeida
Frazão (Instituto Federal Fluminense)
561
A comunicação tem como objetivo apresentar os primeiros resultados do projeto
de pesquisa intitulado: Memórias de vidas no campo: a Revolução Verde e as
transformações nas “artes de fazer e conviver” dos trabalhadores de bairros rurais
da Serra Fluminense (Nova Friburgo e Sumidouro) (1950-2000). Iniciado no
segundo semestre de 2017, o trabalho é fruto do anseio de se entender melhor o
processo mais recente de ocupação e desenvolvimento econômico de duas regiões
rurais, que, segundo uma das possibilidades aventadas, teriam profundas ligações
históricas. Ele faz parte do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre as Ruralidades
Fluminenses (IFF/CNPq), tendo recebido apoio financeiro do CNPq por meio de 2
bolsas de iniciação científica. A pesquisa, composta por uma equipe
multidisciplinar, concentra-se sobre as práticas econômicas, sociais e culturais das
regiões citadas nos últimos 50 anos. Tal recorte se justifica pela hipótese de que as
maiores mudanças na produção dos trabalhadores rurais e, por consequência, no
seu modo de vida, ocorreram entre as décadas de 60 e 70, por conta da chegada do
pacote tecnológico da Revolução Verde. Tratando-se de uma pesquisa de caráter
qualitativo, a História Oral foi utilizada como um dos pressupostos teórico-
metodológicos mais fundamentais. Por meio dela, a memória social e coletiva dos
moradores dessas regiões foram analisas à luz dos conceitos de táticas, estratégias,
modos de ser, de fazer e de conviver elaborados por Michel Certeau (2008). Os
dados foram recolhidos por meio de entrevistas baseadas em um roteiro temático.
Tendo como referência os bairros rurais existentes nas regiões abrangidas pelo
projeto, optou-se por recolher informações de famílias com ascendência
portuguesa, consideradas, pelos agentes locais, como as mais antigas de cada
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localidade. Dessa forma, 1 representante de, no mínimo, 3 famílias de cada bairro


rural foi entrevistado, totalizando 33 inquéritos. Em um semestre de trabalho, os
dados já permitem confirmar as semelhanças entre o desenvolvimento dessas áreas,
que, apesar de hoje fazerem partes de diferentes municípios, possuem ligações
históricas. As entrevistas confirmam as alterações nos modos de vida dos
trabalhadores por conta da mecanização, do uso de adubos e de outras inovações
trazidas pela Revolução Verde. Ademais, os dados apontam para novas
possibilidades investigativas, como um estudo mais aprofundado sobre o processo
de ocupação das terras, no século XIX, o que pode ser feito a partir dos nomes dos
ascendentes citados pelas famílias. Por fim, a transcrição e disponibilização dos
dados para instituições de pesquisas locais contribuirão para outros estudos sobre
o rural fluminense.

O aforamento como uma das formas de aceso às terras públicas de São


Francisco do Sul, no nordeste do litoral catarinense - Eleide Abril Gordon
Findlay (Universidade da Região de Joinville- Univille)

O processo de ocupação do território do Núcleo de São Francisco do Sul, a partir


do século XVI, ocorreu de forma similar ao restante daquele adotado no restante
da colônia nacional, que por sua vez se configurou sob a égide das decisões e
ordenamento jurídico da Metrópole portuguesa. No inicio do povoamento da
Freguesia de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco (1656), e
posteriormente na Vila de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco (1662), a
562
forma de acesso à terra aos homens livres era a concessão de sesmarias, além da
posse de boa fé caracterizam a ocupação territorial até o inicio do século XIX. Com
a proibição da concessão de sesmaria pelo governo Imperial em 1822, as
autoridades governamentais catarinenses utilizaram a distribuição de terras
públicas como forma de ocupação e “manutenção” da ordem na Província. Ao final
do século XIX, na Vila de São Francisco do Sul, o aforamento de terras públicas
se transformou em um significativo instrumento de acesso à terra por parte dos
homens livres e pobres. De acordo com o ordenamento jurídico português e
posteriormente o brasileiro, o foreiro detém o domínio útil da propriedade, e o
domínio real continua a ser do poder público. A compreensão da importância do
aforamento para a conformação territorial da cidade, bem como a possibilidade de
o morador se transformar em proprietário de um terreno, ou data de terra, se
constitui em no principal objetivo do estudo, posto que, possibilitará entender o
significado de ser foreiro de terras públicas. Nesse sentido, além de analisar o
processo de aforamento do patrimônio público do município de São Francisco do
Sul, o estudo se propõe a identificar o sentido e significado do ser foreiro, a partir
da história de vida do próprio detentor do titulo de aforamento.

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O Castanhal de serventia pública no vale Amazônico do Baixo Tocantins:


Luta, Resistência e Permanência na terra (1930- 2005) - Adriane dos Prazeres
Silva (UFPA)

Os castanhais de serventia Pública no Pará, mais conhecido como castanhais do


povo, foram espaços dentro da floresta reservado a coleta livre de castanha,
segundo minhas pesquisas existiram 40 castanhais do povo no Pará, com advento
da república, houve a tentativa do Estado Legislar esses espaços e para tanto, era
necessário se inscrever na prefeitura do respectivo município, a ordem de entrada
nos castanhais ocorriam mediante pagamento de receitas as prefeituras municipais,
porém mesmo no século XXI, ainda existe resistência para permanência nessas
terras. A memória que os moradores da Amazônia possuíam desses castanhais era
de algo positivo, uma conquista desses sujeitos diante do estado. Entretanto, houve
a venda dessas terras ocasionada pela mudança da dinâmica de ocupação desses
espaços, proporcionado em parte pela entrada dos grandes projetos patrocinados
pelos governos militares. Uma das consequências foi à venda dessas terras e a
questão da instalação da propriedade privada, simbolizada pela cerca, impactando
diretamente no modo de vida dessas populações. Logo, a resistência e a negação
desse projeto que não condizia como o modo de vida dessas pessoas passou a ser
combatido e de maneira gradual as articulações desses habitantes da floresta foram
se fortalecendo e se adaptando para resistir e manter o costume de habitar a
floresta.
563
O engenheiro Beaurepaire Rohan e a questão agrícola no Brasil no final do
Império - Eveline Almeida de Sousa (Universidade Federal do Oeste do Pará)

Por meio das reflexões do engenheiro militar Henrique Beaurepaire Rohan (1812-
1894), este trabalho discute como as propostas para a organização do espaço rural
no Oitocentos estavam relacionadas com tentativas de reforma na lavoura brasileira
e na estrutura da grande propriedade. O Visconde de Beaurepaire Rohan atuou ao
longo de todo o Segundo Império na direção de obras públicas, na construção de
estradas, em atividades de mapeamento e exploração do território em diferentes
regiões. Assumiu ainda funções administrativas no governo Imperial e no
Comando do Exército, além de participar de agremiações e sociedades como o
IHGB e a Sociedade Central da imigração. A partir de suas experiências, elaborou
uma série de textos e relatórios que versaram principalmente sobre temas ligados
ao campo da engenharia e ao território, discutiu também questões como a
escravidão, a lavoura e a imigração. Nesta comunicação, pretende-se analisar como
as propostas elaboradas pelo autor, direcionadas para o abolicionismo, para a
assimilação de trabalhadores livres e criação de colônias agrícolas, eram pensadas
de acordo com a organização do território, a modernização das técnicas agrícolas e
modificações na estrutura da grande propriedade. Matérias examinadas por ele em
trabalhos como “O futuro da Grande lavoura e da grande propriedade no Brasil”
(1878) e “Emancipação do elemento servil considerada em suas relações morais e
econômicas” (1883), nos quais o argumento moral era fundamental. Busca-se ainda
relacionar estas questões com seu ofício de engenheiro, considerando seu
engajamento político enquanto membro desta categoria de profissionais. O que nos
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ajuda a pensar como os engenheiros, enquanto grupo social, debruçavam-se sobre


temas de interesse nacional mobilizando conhecimentos produzidos por eles e suas
experiências no território do Império.

O Maranhão no século XVIII: conflitos e questões - Amanda Cristina Araujo


de Oliveira (Universidade Federal Fluminense)

O presente trabalho faz parte do projeto de pesquisa desenvolvido no estágio em


Iniciação Científica no INCT Proprietas, realizado entre março de 2017 e março
deste ano. Dedico-me, portanto, ao estudo das trajetórias governativas no
Maranhão do século XVIII, tendo como centro da discussão a conturbada relação
entre governadores, magistrados, jesuítas, colonos e indígenas, que se evidencia,
principalmente, nas estratégias de enriquecimento pessoal e ascensão social que
envolve os indígenas como mão de obra e possuidores de terras. Uma população
que, apesar de colonizada e explorada, possuía terras e era protegida por uma lógica
salvacionista, ainda que esta proteção fosse consideravelmente frágil, e seus
limites, incertos, sobretudo quando o conceito de "guerra justa" se coloca em
debate.

O SPI e o Governo da Bahia em 1910: A Legislação fundiária e o avanço sobre


as terras indígenas do sul do estado - Talita Almeida Ferreira (UFRRJ)

Com o objetivo de prestar assistência aos índios do território brasileiro e


564
transformá-los em trabalhadores rurais que contribuíssem com o crescimento da
nação, foi criado, no Ministério da Agricultura, o Serviço de Proteção aos Índios e
Localização dos Trabalhadores Nacionais - SPILTN, em 1910. Este órgão, a partir
de 1918, passou a se chamar apenas SPI. A política indigenista do SPI foi
influenciada pelas ideias positivistas, que defendiam que os povos indígenas
estariam no estagio “primitivo” da escala “evolutiva” da humanidade. Portanto, era
preciso levá-los à “civilização” através de uma politica tutelar. Dirigido pelo militar
positivista Candido Mariano da Silva Rondon, a politica indigenista do SPI
caracterizou-se por seu caráter laico, tutelar e protecionista para com os indígenas.
O SPI foi instalado em várias regiões do Brasil e se estruturou a partir de um
conjunto administrativo, regimentos, decretos e código civil. Em dezembro de
1910 foi enviado ao sul da Bahia o primeiro inspetor regional, Pedro Maria
Trompowsky Taulois, que se dirigiu para a região com o objetivo de instalar a
inspetoria e iniciar os trabalhos de “pacificação e atração” dos diferentes grupos
indígenas que viviam dispersos nas matas e transitavam pelos rios Gongogi,
Colônia, Pardo e Jequitinhonha. A questão da terra estava no centro da política
indigenista inaugurada a partir do SPILTN, pois pressupunha obter terras para
agrupar essas populações em postos. Mas, a recém fundada República Brasileira
assegurou um alto grau de autonomia aos estados federativos para legislarem em
seus territórios e administrar suas terras devolutas. Diante disso, o Governo Federal
deveria entrar em acordo com os governos estaduais ou municipais para obter as
terras necessárias para o desenvolvimento da política indigenista. Assim, analiso
neste trabalho a política de terras na Bahia nas primeiras décadas da República,
onde leis e decretos impactaram de forma significativa os direitos de acesso à terra
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das populações indígenas. Neste sentido, insiro nesta problemática tanto as


populações indígenas aldeadas ou de antigos aldeamentos, como os grupos ainda
não conquistados e territorializados. De diferentes formas, esses povos tiveram
suas terras invadidas e expropriadas com o avanço das frentes agrícolas. Sendo
assim, problematizo como a Lei de Terras da Bahia nº198 foi utilizada por
fazendeiros para se apossar dos territórios indígenas nas primeiras décadas da
República e as tentativas de funcionários do Serviço de Proteção aos Índios de
dialogar com as autoridades estaduais para obter as terras necessárias para a
implementação da política indigenista tutelar.

Os livros de economia rural da Casa Literária do Arco do Cego: autores e


editores no final do século XVIII português - Nivia da Conceição
Pombo (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

A comunicação apresentará notas de uma pesquisa em andamento sobre as relações


entre o empreendimento editorial denominado Casa Literária do Arco do Cego
(CLAC) com os autores e tradutores que assinaram as obras integrantes de seu
catálogo. De vida efêmera – suas atividades tiveram início em 1799 e encerraram-
se em 1801 –, a CLAC voltou sua atenção para a publicação de estudos sobre os
temas da Agricultura e da História Natural, envolvendo nessa produção letrados,
artífices, entre outros profissionais do livro. Financiada pela Secretaria de Estado
da Marinha e Domínios Ultramarinos, o empreendimento foi idealizado pelo
ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho e dirigido pelo botânico Frei Veloso. O
565
apoio do poder régio à iniciativa, bem como os investimentos dos tipógrafos de
Lisboa no empreendimento, são aspectos que revelam uma lógica distinta dos
nossos dias no que tange à finalidade da produção do livro. Suas atividades
enquadram-se no chamado “sistema literário do Antigo Regime”, no sentido
proposto por Carla Hesse, conjugando práticas de proteção, mercês e privilégios
típicos da cultura política da monarquia portuguesa. Entre as finalidades da CLAC
encontram-se a seleção de textos voltados para o fomento agrário, as “trasladações
em português de todas as Memórias estrangeiras que fossem convenientes aos
estabelecimentos do Brasil” e a divulgação desses impressos entre os cultivadores
da América portuguesa. Atentos às transformações implementadas nos campos
europeus e nas Américas, D. Rodrigo e frei Veloso formaram uma biblioteca
voltada para o tema da produção agrícola, investindo não só na publicação, mas
também na compra de livros que pudessem atualizá-los sobre essa temática. Outro
aspecto que se destaca é a preocupação com a dispersão das memórias produzidas
pelos letrados acerca das potencialidades coloniais. Escritos que, de acordo com a
historiografia, seguiam para o centro do poder metropolitano com propósitos
distintos, inserindo-se tanto nas instituições de produção do saber, como a
Academia das Ciências de Lisboa, quanto na economia das mercês, como parte das
solicitações de ofícios e privilégios. Mais do que divulgar o saber, a CLAC
pretendia reunir e imprimir os escritos que pudessem colaborar, particularmente,
com o “melhoramento” da “economia rural” do Brasil. A discussão estará centrada
em dois objetivos principais: 1) problematizar a composição dessa livraria,
atentando para os mecanismos de aquisição e mapeamento primário das obras; 2)
contribuir para o debate sobre o papel das Luzes portuguesas, considerando a
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relevância do tema da agricultura no reformismo, tanto como estratégia de fomento


econômico, quanto como um tema nevrálgico para a estrutura social e política do
Antigo Regime luso.

Propriedades nas fronteiras: os projetos do ministro D. Rodrigo de Souza


Coutinho para os sertões fluminenses - Marina Monteiro Machado (UERJ)

O presente trabalho se debruça sobre o projeto luso, mediado pelo ministro d.


Rodrigo de Souza Coutinho para os sertões fluminenses, na passagem do século
XVIII para o XIX. Pensando o avanço da fronteira a partir de uma política de
desenvolvimento da então colônia. A análise volta-se para a transformação de
terrenos supostamente baldios em propriedades privadas sob o argumento de
superação do atraso na agricultura. O projeto justificava a individualização das
terras em nome do aumento da produção e da fixação populacional. Para o estudo,
destacamos propostas dos memorialistas do referido recorte, que buscam realçar a
eficácia produtiva da propriedade individual. Reafirmando a necessidade de
vedação das terras, os memorialistas procuravam garantir a segurança da
propriedade, evitando intromissões e violações do território, agora alheio.
Engessava a mobilidade e a independência de alguns setores campesinos, reunida
e transformada em mão-de-obra livre assalariada. O mesmo se pode reconhecer
para os grupos indígenas da colônia, que eram possibilidades reais para a
exploração da mão-de-obra nas fazendas. A reunião dos índios em um aldeamento,
e a territorialização destes grupos, antes nômades, revela uma mudança na
566
dinâmica da ocupação territorial e o novo valor que aos poucos se agregava às
terras até então ocupadas. A fronteira era aberta para o avanço de uma colonização
realizada por modelos idealizados, com pressupostos e interesses de indivíduos
europeus ou seus descendentes, com os esforços máximos na cultura da terra.

Quando o sertão manda na capital: História política e redes de clientela da


elite política de: Santa Cruz, Campo Grande e Guaratiba (1892-1917) - Igor
Estevam Santos de Oliveira (FGV)

O presente trabalho visa analisar as trajetórias, construção e consolidação de


algumas lideranças políticas de relevância na região de Santa Cruz, Campo Grande
e Guaratiba. Lideranças essas que obtiveram altos cargos nos primeiros anos da
república, algumas chegando ao senado federal e prefeitura da Distrito Federal. Os
mais notórios dessas elites políticas seria o grupo “triângulo” composto: Raul
Barrozo, Felipe Cardoso Pires e Augusto de Vasconcellos. Outros políticos
afiliados e aliados dessas lideranças também perpetuam-se como herdeiros da
influência delas. Como fonte são usados e analisados desde jornais, registros de
nascimentos e discursos parlamentares. A influência do grupo se fez em diversos
setores da sociedade carioca, até mesmo em grupos de carnaval.

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Vargas e os trabalhadores do campo: a construção de noções de justiça,


coragem e direitos - Marcus Dezemone (Universidade Federal Fluminense)

O objetivo desse trabalho é investigar a apropriação por trabalhadores no campo


dos processos de produção e de divulgação da legislação social, ambos ocorridos
nos governos liderados por Getúlio Vargas. Apesar de parte da historiografia ainda
considerar os trabalhadores rurais afastados dos benefícios materiais e simbólicos
da legislação trabalhista, diversas pesquisas têm chamado atenção para efeitos não
previstos pelos formuladores de tais políticas e seus impactos no campo brasileiro.
A partir de fontes como depoimentos orais, correspondências dirigidas à
presidência da república, processos administrativos e processos judiciais, nas
regiões sudeste e nordeste, o trabalho procura destacar a construção de categorias
nativas como “coragem” e “justiça” e os significados por elas assumidos. Pretende-
se com isso indicar uma relação entre a apropriação do discurso oficial e das leis
de um lado, e o processo de erosão da autoridade tradicional de proprietários rurais
no campo brasileiro, de outro. Defende-se que isso foi fundamental para as
mobilizações sociais observadas nos anos 1950 e 1960, aspecto explorado e
estimulado por diferentes atores que investiram na militância e na organização dos
trabalhadores rurais até o golpe de 1964.

Viuvez: caminhos e trajetórias de transmissão patrimonial através de


heranças nos Oitocentos - Yasmin Hashimoto Tonini (UFF)
567
Este trabalho recupera a nítida escassez teórica da discussão em torno do tema que
abrange a História das Mulheres e a História da Família, no que se refere ao lugar
da viúva nos processos judiciais e seu direito à propriedade da terra. Trata-se de
processos que envolviam conflitos fundiários entre as mulheres que se tornavam
beneficiárias, apenas por encontrarem-se no lugar de viúvas, e o litigante,
geralmente, indivíduos próximos à família, que questionavam a legitimação de
propriedade transmitida às mulheres, valendo-se do aparato jurídico de que
dispunham. Os objetivos do trabalho visam colaborar nos estudos sobre a História
das Mulheres, que têm se tornado mais abrangentes, adensando reflexões sobre os
mais diversos debates historiográficos. Dentro desta perspectiva, apresenta-se as
especificidades que o tema exige, como a discussão do aparelho jurídico nos
Oitocentos; o papel da mulher atuante na sociedade, mesmo que a partir de um
manto de tradições históricas e familiares, sendo tal forma de atuação de igual
relevância nas transformações sociais; as dificuldades e estratégias para
administrar uma propriedade recebida através da herança. Há ainda o recorte
econômico que se faz necessário no tratamento das fontes, considerando que não
eram todas as famílias a preparar inventários sobre seus bens; o comportamento
interno dos membros familiares diante da figura feminina como chefe de domicílio
e os impactos nas relações interpessoais. Dessa forma, apresentaremos as fontes
destacando a utilização dos processos judiciais, que expõem as contendas surgidas
e direcionadas à Coroa, a reguladora da concessão de sesmarias, que tinha como
base as Ordenações Reais. Além disso, pretende-se elaborar análises a partir do
mapeamento de inventários e testamentos relacionados às famílias, a fim de
mensurar de forma mais precisa níveis de riqueza, sem deixar de observar o recorte
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econômico, baliza essencial para as ponderações acerca do tema. Como recorte


cronológico, estabelecemos o ano de 1808, pela vinda da Corte Portuguesa para a
Colônia, marco temporal que desencadeia inúmeros processos sociais, inclusive o
estabelecimento de uma imprensa no Brasil, situação que anteriormente não era
permitida. A partir do estabelecimento da imprensa, será possível analisar casos de
viúvas que por ventura apareçam citadas em jornais da época. O projeto destaca-se
pelo potencial instigante de acompanhar diálogos multidisciplinares para o estudo
de famílias inteiras, diretamente afetadas pelo momento de transição entre colônia
e império. No mesmo sentido, acreditamos que contribui para a diversidade de
horizontes historiográficos, trazendo para o estudo da História das Propriedades
uma conexão inevitável entre História da Família e da Mulher e Direito das
Sucessões.

“Declaro que sou senhor e possuidor”: os registros de terras possuídas e seu


uso como fonte à pesquisa em História da Propriedade no Brasil - Flávia Paula
Darossi (Universidade Federal de Santa Catarina)

A Lei nº 601, de 18 de set. de 1850, que dispôs sobre as terras devolutas do Império,
promulgou em seu 13º artigo a obrigatoriedade do registro das terras possuídas no
Brasil; e o capítulo IX do Decreto nº 1.318, de 30 de jan. de 1854, regulamentou
sua execução por freguesia nas paróquias do Império. Atualmente, estes registros
tornaram-se fontes indispensáveis para a pesquisa em História da Propriedade
Brasileira e encontram-se conservados em Arquivos do Poder Público. Proponho
568
realizar uma investigação sobre suas dimensões teórica e metodológica, e
apresentarei os resultados iniciais da pesquisa sobre os registros das terras
possuídas de Lages, município correspondente à região do Planalto de Santa
Catarina no século XIX.

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569
ST 57. Uma Idade Média para o
século XXI – parcerias e colaborações
acadêmicas na escrita da História

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Alle in o lyveree of a solempne and a greet fraternitee: parcerias urbanas na


Baixa Idade Média - Viviane Azevedo de Jesuz (CULTURA INGLESA)

Muitas parcerias foram estabelecidas no contexto urbano do Baixo Medievo. Os


citadinos imaginavam-se, de fato, como membros de grupos mais amplos, assim
como também estabeleciam relações pessoais dentro dos diferentes grupos dos
quais participavam, criando várias esferas de influência. Dentre essas parcerias, as
principais formas de associação que se colocavam eram as guildas e as
fraternidades. Partindo do caso inglês, abordamos as principais linhas que
configuram as associações formadas no âmbito da cidade medieval, assim como as
relações construídas internamente nestes grupos de ordem profissional e religiosa.
Como chaves de acesso, lançamos mão da narrativa The Canterbury Tales,
atribuída a Geoffrey Chaucer em fins do século XIV, e do Parish Fraternity
Register: Fraternity Of The Holy Trinity And Ss. Fabian And Sebastian, da
Paróquia St. Botolph without Aldersgate, a fim de analisar as estratégias utilizadas
na construção de laços comunitários que corroboram para a legitimação da
identidade citadina.

As dores simonianas e os incunabulos: as nuances da narrativa escrita de um


culto antijudaico - Vinicius de Freitas Morais (UFF)

O culto ao menino de dois anos e meio, que morreu na cidade de Trento na semana
santa do ano de 1475, se formou a partir de uma estrutura narrativa da lenda de
570
crime ritual. As relações de conflito entre cristãos e judeus tornam-se mais
frequentes a partir do século IXI e alcançam o seu ápice na Baixa Idade Média.
Esta apresentação demonstrará como a importância atribuída ao dogma da
transubstanciação está associada com a devoção do beato Simão de Trento. Bisca-
se provar também como a narrativa escrita e imagética se constituíam como um
meio de rememoração das dores simonianas aos fiéis deste pequeno mártir

As Expressões do Medievalismo no Século XXI - João Batista da Silva Porto


Junior (Universidade Federal Fluminense)

Apesar de parecer inverossímil, em pleno alvorecer do século XXI a Idade Média


está em voga – quiçá na moda – essa afirmação é facilmente comprovada em uma
simples observação da quantidade de livros, filmes, séries televisivas e jogos
eletrônicos relacionados à temática. Cada vez mais popular, o medievo europeu
continua fascinando e influenciando. Por outro lado, crescem e se aprofundam, nas
diversas áreas do conhecimento, os estudos acadêmicos sobre este importante
período histórico, ajudando a desmistificar e contestar a equivocada ideia da longa
noite de mil anos. Não apenas em artigos científicos, na literatura, no videogame
e/ou na filmografia moderna de vultosas bilheterias que a Idade Média se destaca,
muitas das suas características ainda impregnam o cotidiano contemporâneo.
Diversos elementos e práticas socioculturais como música, danças, moda, lutas e
até mesmo algumas técnicas da culinária medieval que pareciam esquecidas, estão
sendo “recriadas”. O atualmente apelidado de “Recriacionismo Histórico” ou
“Reconstituição Histórica”, ou ainda “Reencenação Histórica”, do inglês
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“Historical Reenactment” ou “Living History”, associado à inovadora metodologia


da “Arqueologia Experimental” tem desempenhado um importante papel nas
pesquisas empíricas acerca das técnicas produtivas antigas. Centenas de objetos do
cotidiano medieval e até mesmo grandiosas obras arquitetônicas estão sendo
recriadas e reconstruídas por intermédio deste método que celebra o feliz
matrimônio entre a teoria e a prática. Ademais, em alguns casos, também vem
desenvolvendo um novo modus vivendi de imersão no passado, conseguindo
reproduzir experiências relativamente realistas e cultivando um número crescente
de admiradores e adeptos. Também são extremamente relevantes as feiras, os
festivais e outros espetáculos com temática medieval, que desde fins do século XX
proliferam-se em praticamente todo o mundo ocidental e conseguem reunir
milhares de pessoas. Na Europa, alguns desses eventos aliam-se a preservação do
patrimônio imaterial das tradições culturais e caíram rapidamente no gosto popular.
A cada ano, um novo evento desponta no já recheado calendário de festas
“medievais” europeias. Atraídos pelo som do alaúde e animados pelas brincadeiras
dos saltimbancos, malabaristas, fantoches e bobos da corte, muitos ainda hoje se
embriagam de hidromel, fartam-se com carne de javali, assistem e/ou participam
dos jogos de feitos de armas entre outras encenações históricas. Diante deste
vastíssimo proscênio, repleto de atores e cenas tão diversas, o grande desafio que
se descortina é conseguir traçar um panorama geral desta tendência passadista e,
até certo ponto, nostálgica pelo medievo em plena contemporaneidade.

As fronteiras historiográficas do "Ocidente Medieval" - Leandro César


571
Santana Neves (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

A redução drástica e quase extinção do conteúdo de História Medieval pela Base


Nacional Curricular Comum (BNCC) vem levando nos últimos meses os
medievalistas brasileiros a indagarem sobre a área no panorama acadêmico.
Inspirado nesta tentativa de relegitimação e no repensar da área, propomos nesta
apresentação discutir um tema pouco discutido pela medievalística brasileira: o
termo "Ocidente Medieval". Seguimos a tendência da medievalística
estadunidense, representada principalmente por Christian Raffensperger e Yulia
Mikhailova, os quais argumentam que a adoção da ideia de Idade Média como
somente a noção contemporânea de Europa Ocidental não só possui bases
modernas de construção de alteridade e identidade, mas também é prejudicial ao
estudo do próprio período, especialmente ao que concerne o medievo da categoria
"Europa Oriental", ignorando a visão identitária e espacial dos próprios medievais
ao perpetuar um isolamento entre ambas as partes.

As grandes transformações na escrita da História Medieval – as parcerias


entre a França e o leste europeu nas décadas de 60 e 70 do século XX - Vânia
Leite Fróes (Universidade Federal Fluminense)

A comunicação pretende trazer para discussão as mudanças historiográficas de


meados do século XX, analisando os diálogos entre os medievalistas do leste
europeu e a França, no momento em que as mudanças políticas no mundo eslavo
coincidem com os movimentos europeus de cunho social e com a emergência das
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discussões na antropologia histórica, na sociologia, nas comunicações e na


linguística. São exemplos marcantes os contatos de Georges Duby e Jacques Le
Goff com Geremek, W. Kula e outros.

As Livrarias dos Mosteiros e a interdisciplinariedade na Idade Média: os casos


de Santa Cruz de Coimbra e Santa Maria de Alcobaça (séculos XII-
XVI) - Carolina Chaves Ferro (UniCarioca)

Esta apresentação contempla uma análise das livrarias dos dois mosteiros mais
influentes, no que diz respeito à cultura letrada, durante a Idade Média portuguesa,
o de Santa Cruz de Coimbra e o de Santa Maria de Alcobaça. Busca-se um
inventário pormenorizado das obras com o objetivo de compreender quais eram os
exemplares e que alcance eles tiveram dentro de um reino português que
necessitava, cada vez mais, de preservar sua história, honrar seus monarcas e a
família real e reafirmar seu poder e sabedoria. Pretende-se demonstrar como este
tipo de pesquisa cuja temporalidade é a Idade Média jamais seria possível sem um
trabalho interdisciplinar. As áreas de Comunicação, Sociologia, Letras, Filosofia,
Arquivologia e Biblioteconomia são de suma importância para o estudo dos livros
na passagem do período medieval para o período moderno e constituem importante
exemplo de como é necessário mais parcerias e colaborações acadêmicas na área
de ciências sociais e humanas.

As mulheres em Beowulf: a condição feminina na sociedade anglo-saxã


572
(séculos VII e VIII) - Hayanne Porto Grangeiro (UFF)

Nas sociedades tribais germânicas tradicionalmente referidas por reis e guerreiros,


a figura feminina também se destaca. As mulheres anglo-saxãs atuavam de forma
muito mais efetiva e independente governando reinos poderosos, criando e levando
exércitos à batalha e fundando e governando importantes comunidades religiosas
quando comparadas às suas suas sucessoras no período normando. Além de líderes,
desempenhavam papeis de semelhante importância no cotidiano dessa sociedade.
Portanto, este trabalho se propõe a apresentar a fase inicial de uma pesquisa de
mestrado que analisa a condição feminina na sociedade Anglo-Saxã dos séculos
VII e VIII tomando por base o poema épico anglo-saxão Beowulf.

As narrativas do passado e a construção da memória Lancaster (Inglaterra -


século XV) - Caio de Barros Martins Costa (UFF)

Em 1399 após anos de instabilidades políticas, revoltas camponesas e problemas


com a aristocracia, o rei Ricardo II de Plantageneta é deposto do trono inglês,
ascendendo ao mesmo Henrique de Bolingbroke, então Duque de Hereford, como
Henrique IV de Lancaster. Com o surgimento da nova dinastia ao trono, novas
instabilidades atingiram o reino. Os anos de Henrique IV, entre 1399 e 1413 viram
um conjunto de revoltas contra a nova dinastia e um levante no País de Gales contra
o domínio inglês na região. Após sua morte, é elevado rei seu filho Henrique V,
que presenciou e combaterei os heréticos lollardistas e retomou os embates contra
os franceses em meio a Guerra dos Cem Anos, vencendo a Batalha de Agincourt
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em 1415, que garantiu a legitimação da nova dinastia ao trono. Após sua morte em
1422, seu filho Henrique VI com apenas nove meses de idade torna-se rei, iniciando
um contexto de extremas instabilidades, primeiro pelas brigas em torno da regência
e mais tarde, a eclosão da Guerra das Rosas entre Lancaster e York. O contexto
Lancaster foi marcado pelas guerras e embates pela legitimação do poder régio,
autoridade real e manutenção da ordem, sendo também uma era privilegiada para
a construção da imagem régia e construção da identidade inglesa. Em meio a tais
questões, multiplicou-se o número de crônicas, biografias sobre reis, contos e
poemas, muitos também feitos sob solicitação da monarquia. Nessas fontes
observamos os usos de narrativas do passado como instrumento de justificação do
presente, predileções de um futuro, como também uma forma de legitimar ou não
reis. O passado tornou-se um instrumento essencial na construção da imagem régia
inglesa no final da Idade Média, une elementos de uma tradição regional, histórica
e mitológica acerca da Inglaterra. Engloba ainda o passado da Cristandade e suas
heranças greco-romanas e céltico-germânicas, além, é claro, da influência das
narrativas bíblicas. Nesta comunicação, visamos apresentar as primeiras reflexões
acerca da importância das narrativas do passado para os cronistas do século XV,
na construção de uma memória de uma dinastia. É parte dos primeiros
questionamentos de uma pesquisa de Doutorado em fase embrionária. Tem-se um
foco teórico-metodológico em autores, sobretudo britânicos, que discutem de
alguma forma a questão do tempo e o poder régio na região no final do medievo.
Além claro, primordialmente, as crônicas do século XV. Discute-se os diálogos, as
possibilidades e novas formas de pensar o poder régio inglês.
573
Ensaios sobre uma Idade Média Oriental: Diálogos e parcerias acadêmicas na
construção de uma historiografia árabe medieval no século XXI - Dandara
Arsi Prenda (Universidade Federal Fluminense)

Este ensaio, pensado para a edição do encontro de historiadores pela ANPUH-RJ


com a temática parcerias visa traçar uma análise sobre a historiografia árabe
medieval e as suas iniciativas no século XXI através de diálogos e colaborações de
diversas áreas de conhecimento. Seguindo o caminho aberto pela escola dos
Annales, primeiramente nos estudos da História Política no século XX, este
balanço propõe uma exploração da historiografia árabe medieval através de
parcerias visando conteúdos relativos às linguagens, redes de poder e cultura
política, entre outros elementos que direcionaram a atenção de pesquisadores ao
longo do século XXI. Ao longo desta investida também estará em evidencia a
questão do arabismo medieval e as iniciativas em vigência nos meios acadêmicos
do Brasil e do mundo, assim como esboço estatístico dos estudos destas temáticas
estruturadas a partir do sistema de parcerias.

Lisboa Medieval – A grande "Çidade e de mujtas e desvairadas


gentes" - Priscila Aquino Silva (Unilassale RJ)

Lugar de troca, de grandes festas, dos especialistas, das feiras, do acúmulo, dos
negócios e do ócio, berço de uma nova lógica que foge a muitos valores feudais, a
cidade medieval é prenhe de significados e sentidos. Projeção do que se entende
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por mundo, espaço de utopias e idealizações, lugar de interação, de sociabilidades,


da vida comunitária, compartilhada, e também, da exclusão social. A cidade
medieval é um lugar em formação, policêntrico e multifacetado, permeado de
espaços não construídos e de enclaves rurais. Fechada, cercada por muralhas que
simbolizam o poderio militar e político dos citadinos, que protegem dos perigos
exteriores, mas que deixam em exibição as abissais diferenças sociais. Seus muros
aproximam e separam, unem e dividem, e se tornam os limites de um ambiente
social edificado por confrarias e fraternidades, comunas e Catedrais. Um lugar
onde a imponência das construções eclesiásticas revela o poder não só ideológico,
mas também político da Igreja; um espaço em ebulição, entrecortado de estradas e
caminhos – uma “encruzilhada de estradas” – que evidenciam o papel de destaque
que possui o comércio e os mercadores na vida citadina. Estamos também diante
de um não lugar, a parte de sonho e de imaginário que pode ser construído pelas
mãos humanas. Desde a Jerusalém celeste da Bíblia, modelo de paraíso, à cidade
dos mortos, passando por Dante Alighieri que espacializa céu, purgatório e inferno,
a cidade é uma referência fundamental – e representa a consolidação de um ideal.
Cidades que nascem e fazem nascer a Europa . E não se fala aqui de qualquer cidade
medieval. Fala-se de Lisboa, denominada por Fernão Lopes como a “a grande
çidade e de mujtas e desvairadas gentes”. As crônicas e narrativas do período nos
revelam feições distintas da Lisboa medieval. O humanista Damião de Góes , por
exemplo, nos descreve a topografia da cidade, dando detalhes das edificações, das
ruas, do imaginário marítimo e do termo da cidade. Fala dos reis e do oceano em
uma saborosa descrição salpicada com apontamentos satíricos. Já os escritos de
574
João Brandão sobre a Grandeza e Abastança de Lisboa em 1552 nos deixam antever
uma Lisboa repleta de números, de comércio, de produtos, ofícios e profissões,
cantando os louvores e as rendas de uma cidade rica e opulenta. Essas fontes
relatam sobre uma cidade em transformação constante. Narram também sobre o rei
D. João II (1481 a 1495) – não poderiam deixar de citar os feitos e os
empreendimentos do Príncipe Perfeito. Por isso são preciosas ao tentar desvendar
o rosto e as representações dessa cidade que é palco de constantes intervenções
sanitárias e de higiene do Príncipe Perfeito e da sua principal ação de centralização
hospitalar – o Hospital Real de Todos os Santos.

O "Thésaurus des images médiévales" e as bases de dados iconográficos como


ferramentas para o estudo das imagens medievais - Tereza Renata Silva
Rocha (Universidade Federal Fluminense)

O GAHOM (Groupe d'Anthropologie Historique de l'Occident Médiéval), fundado


pelo medievalista Jacques Le Goff, em 1978, possui como uma de suas linhas de
pesquisa a análise das imagens medievais. O grupo, além de discutir questões de
cunho teórico-metodológico, tem contribuído no campo empírico através de um
banco de dados, com o mapeamento de material iconográfico de várias partes do
Ocidente cristão, possibilitando o acesso dos pesquisadores a muitas fontes
iconográficas medievais. Esse material é disponibilizado aos pesquisadores na sede
do grupo. Já online, pode-se consultar o "Thésaurus des images médiévales", um
instrumento de indexação que permite construir um banco de dados de imagens. O
objetivo da indexação é duplo: permitir a busca fácil de imagens relevantes e dar
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informações básicas sobre as imagens. Nesta apresentação, pretendemos discutir a


importância desse tipo de ferramenta para a análise de imagens medievais,
procurando refletir sobre as possibilidades de se produzir bancos de dados de
imagens no Brasil. Além disso, apresentaremos nossa experiência com o
"Thésaurus" do GAHOM e o trabalho de indexação para a análise de imagens na
nossa Tese de Doutoramento.

O espaço do sagrado e o espaço do trabalho nos vitrais da catedral de Chartres


(França – Século XIII) - Debora Santos Martins (PPGH - UFF)

Ao longo das transformações profundas que tem lugar nos séculos XII e XIII, na
Europa, uma delas pode ser atestada em sua concretude: a mudança arquitetônica.
Nesse período, para além da intensificação no uso da pedra para a construção dos
edifícios de culto, há uma mudança muito mais sensível, de estilo, o advento do
gótico. A proposta do estudo é, portanto, tomar a Catedral de Chartres - um
exemplar do estilo gótico medieval e que abriga o maior conjunto de vitrais do
século XIII - em sua materialidade e, focalizando as representações dos ofícios
medievais nos vitrais doados pelas corporações da cidade, estabelecer relações
identificáveis entre a construção arquitetônica e as ideologias e mentalidades do
período e aproximar-se dos mecanismos internos de organização da sociedade, de
como ela se pensa, organiza, age e muda, concebendo a sociedade como produto
da ação humana e, portanto, as formas segundo as quais o homem continuamente
cria e recria a sua realidade. Considera-se a catedral em sua totalidade, como um
575
objeto, um artefato, uma fonte material dessa pesquisa. Sua construção “é o
resultado inegável da ação humana sobre a realidade física” inseparável de seu
contexto. Portanto, as representações contidas em seus vitrais são “uma espécie de
resíduo físico das relações sociais” . A catedral é o coração dentro do corpo
citadino, o locus da Concórdia, ela também uma representação do corpo, mas o de
Cristo. A relação da cidade com a catedral é a da Eucaristia, do corpo de Cristo no
corpo do homem, da catedral no corpo da cidade. Essa relação tem a marca da
transcendência, da comunhão entre o céu e a terra, do encontro da Jerusalém celeste
com a cidade dos homens, onde tem lugar a Eucaristia, a comunhão do material e
o imaterial que é o ponto máximo dessa relação entre o físico e o espiritual. A
catedral além de representar um espaço ordenado do Cosmos segundo dons,
hierarquias e lugares, mostra também através dos ofícios o aspecto funcional deste
espaço de trocas, o corpo unitário da cidade.

O mito afonsino no século XXI: o rei sábio em perspectiva


historiográfica - Leonardo Augusto Silva Fontes (Arquivo Nacional)

Afonso X, rei de Castela e Leão (1252-1284), foi um dos monarcas mais marcantes
do medievo e seu legado perdura até hoje – principalmente no campo da cultura
escrita. Mas nem sempre o rei sábio foi um tema historiográfico popular como nas
últimas décadas, nas quais diversos trabalhos (sobre os mais variados aspectos de
sua biografia e de seu reinado) vêm sendo desenvolvidos não apenas na Península
Ibérica, e com menos força em França e Inglaterra, mas também no além-mar da
Europa, como no Brasil e na Argentina. Assim, esse trabalho visa debater o mito
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afonsino que foi construído pela historiografia sobre o rei sábio, muitas vezes
buscando consolidar conceitos contemporâneos como propaganda régia,
tolerância, alteridade, poder simbólico e identidade nacional – um legado polêmico
e de longuíssima duração.

Os estudos medievais no Brasil: entre a ilha de Crusoé e a Ilha da


Fantasia - Edmar Checon de Freitas (Universidade Federal Fluminense)

A despeito de seu crescimento qualitativo e quantitativo dos estudos medievais no


Brasil nas últimas décadas os pesquisadores que atuam nesse campo convivem
ainda se ressentem de um certo isolamento acadêmico. É verdade que o intercâmbio
entre medievalistas brasileiros e de outros países tem se intensificado, sobretudo
neste começo de século. Mas as parcerias com outros setores da pesquisa em
História e com as ciências Humanas e Sociais no seu todo permanecem bastante
acanhadas. Nesta comunicação discutiremos algumas das dificuldades que a nosso
ver contribuem para esse estado de coisa, bem como buscaremos refletir acerca das
possibilidades de superação de tais problemas.

Paisagem, ambiente natural e Idade Média: contribuições e parcerias entre a


História, geografia e ciências naturais - Jonathan Mendes Gomes (Universidade
do Estado de Minas Gerais)

A presente proposta surge de algumas reflexões nascidas de minha pesquisa no


576
doutorado que envolve transformações nas relações dentre o homem e a natureza
no territorio portugues em finais da Idade Média. Trata-se de afirmar as
contribuições que podem surgir no campo da História com o incentivo a
abordagens interdisciplinares entre ciências naturais e ciências humanas e sociais.
Especialmente ao se considerar o espaço geográfico, em boa parte, como
construção do homem através da história, valorizando-o como objeto histórico (de
longa duração), bem como questionando os equívocos da perspectiva do
determinismo geográfico. Agregar análises sobre os efeitos dos impactos da
intervenção humana no modelo natural, nos mostra uma Idade Média cujo meio
natural já se encontrava em estado considerável de antropização, inclusive
tornando-se um período fundamental na transformação do ambiente em toda a
Europa. Enfim, apesar da perspectiva ambiental progredir como relevante questão
nos estudos históricos recentes, ainda se faz pertinente um reabastecimento dos
fundamentos da análise geográfica com elementos que lhe faltam, especialmente
quando voltada ao período medieval.

Para além da História: visões de tempo, espaço e cidade na construção dos


estudos em Idade Média - Josena Nascimento Lima Ribeiro (UFF)

No campo da História, a parceira com outras áreas do saber têm sido uma constante
na tentativa de encontrar novas evidências e questionamentos sobre documentos e
fatos já conhecidos. Assim sendo, conceitos como tempo, espaço e a visão da
cidade estão em pauta por meio da conversa da História com disciplinas tais como
a Filosofia, Geografia, Antropologia e Arquitetura. Pesquisadores sustentam-se na
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afirmativa de que tempo e espaço são categorias que devem ser analisadas como
termos pertencentes a processos históricos. Sob o ponto de vista de tais categorias,
os eventos encontram a sua raiz e só podem ser separados por via de abstração.
Deste modo, identificamos na cidade um denominador importante de tais
discussões pois, na medida em que se efetivam as relações humanas em ambientes
que os antepassados construíram monumentos, em que destacaram fatos históricos
e edificaram o cotidiano, coloca-se em cena a ferramenta da memória, tão essencial
para a construção dos conhecimentos históricos. Nesta comunicação temos por
objetivo demonstrar como as demais áreas do saber têm ajudado historiadores a
compreenderem e ressignificarem categorias já conhecidas dos estudos históricos,
em especial em relação à Idade Média. Apresentaremos como Jacques Le Goff,
Aaron Gourevitch, Jean-Claude Schmitt, Henri Pirenne, Luís Krus e outros já se
lançaram na tentativa de ressignificar os acontecimentos e as memórias por meio
da investigação das temporalidades e do espaço na medievalidade. Por fim,
apresentaremos como tais pesquisas encontram terreno fértil de análise nas
conjecturas sobre a cidade medieval e nas ações dos segmentos sociais que a
compunham nos séculos XIV e XV.

Perspectivas contemporâneas para o medievo: usos do passado, apropriações


e (re)significações - Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ)

Em torno do medievo e de seus referenciais inscrevem-se uma multiplicidade de


apropriações e (re)significações que dialogam, na atualidade, inclusive, com
577
perspectivas de poder. Refletir sobre o papel e os diferentes sentidos dessas
apropriações que reinscrevem traços do medievo em nosso campo político é um
dos propósitos desse trabalho. Para tanto essa reflexão se volta para questões que
não só pontuam a construção historiográfica da Idade Média na longa duração
como também se questiona o papel e o alcance dos “usos do passado” em torno
desse referencial de tempo-espaço que é a Idade Média.

Uma Idade Média 2.0: Parcerias virtuais para o ensino de história medieval
no Brasil - Douglas Mota Xavier de Lima (Universidade do Oeste do
Pará), Mariana Bonat Trevisan (UNINTER/UNIANDRADE)

O termo “web 2.0” costuma estar relacionado a serviços que promovem


participação e a produção de valor por parte dos usuários e de forma crescente tem
sido empregado em práticas educativas que visam quebrar o isolamento das
instituições de ensino e explorar redes de aprendizagem e colaboração nacionais e
internacionais que aproximam professores, pesquisadores e estudantes. O cenário
educacional brasileiro, tanto na educação básica, como no ensino superior, tem
demandado dos docentes e das instituições estratégias de ensino e aprendizagem
que incorporem as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), promovendo
uma formação conectada com as transformações em voga no mundo atual. Nesse
sentido, a comunicação tem como objetivo discutir a potencialidade da web,
especificamente da web 2.0, para o ensino, pesquisa e extensão de História
Medieval no Brasil. Para tal, parte-se das atividades de ensino desenvolvidas em
duas instituições nacionais e apresenta-se relato de experiência acerca da parceria
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entre a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), especificamente na área


de História Antiga e Medieval, e o Centro Universitário Internacional (UNINTER),
que consistiu na elaboração de uma videoaula especializada sobre o medievo,
material disponibilizado para os estudantes de ambas as instituições e ao público
em geral através de redes de relacionamento virtual. Compreende-se que esta
modalidade de parceria acadêmica oferece vias de trabalho colaborativo com base
na internet, articulando professores e alunos e permitindo a superação de barreiras
geográficas, logísticas, econômicas e de quadro profissional que marcam o meio
acadêmico brasileiro. Do mesmo modo, apontam-se limitações e desafios para a
implementação e a multiplicação destas experiências, assim como problematiza-se
a especificidade dos estudos medievais em meio a tais estratégias.

Viagens medievais em uma abordagem interdisciplinar: contribuições da


geografia para estudo das viagens e trocas no Mediterrâneo do século
XII - Anna Carla Monteiro de Castro (Universidade Federal Fluminense)

A comunicação estará centrada na interdisciplinaridade como elemento central


para a produção historiográfica no século XXI. Desde as contribuições da Escola
dos Annales, o campo historiográfico se expandiu consideravelmente e as
abordagens decorrentes, bastante frutíferas, atestam a relevância dessas parcerias.
A comunicação lidará especificamente com a maneira como o estudo histórico da
medievalidade tem se enriquecendo com o contato com a Geografia, sobretudo
através de obras como a de Braudel e a de Vidal de la Blache e de que maneira
578
estas temáticas convergem no desenvolvimento da pesquisa sobre viagens no
Mediterrâneo no século XII.

Viagens Medievais: Uma visão antropológica nas viagens de Jean de


Mandeville e Marco Polo. - Claudia Marilia Marques Espanha (UFF)

Estudo das viagens medievais ocorridas na Baixa Idade Média, especificamente no


período circunscrito do século XIII e XIV, através dos viajantes Jean de Mandeville
e Marco Polo, onde foram observadas as diversas formas em que o Oriente, nas
terras e povos além de Jerusalém, foi representado, a descrição do maravilhoso, do
diferente, ou seja, do "outro", do que foi observado pelos viajantes nas diversas
terras, ilhas e reinos e como essa alteridade relacionada ao Oriente, ao "outro" foi
sendo foi sendo construída, apresentando o Oriente no seu plano simbólico,
mostrando como o Oriente é essencialmente o lugar do "outro", descrevendo como
o "outro" é criado, como é visto e compreendido pelo Ocidente latino.

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579
ST 58. “A classe trabalhadora vai ao
paraíso?” O Ensino de História e
diferentes sujeitos em processos
formais e não formais de
escolarização.

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A comunidade vai à universidade: sobre os processos de identificação e


pertencimento dos licenciandos de origem popular no espaço
acadêmico - Warley da Costa (UFRJ)

Este artigo, elaborado para este evento, é desdobramento da pesquisa em


andamento sobre a trajetória de estudantes de origem popular na Universidade.
Considerando que o grupo de estudantes vinculados ao Programa Pet-Conexões de
Saberes Identidades são estudantes licenciandos, e entre eles, licenciandos do curso
de História, trataremos neste estudo das trajetórias, memórias e lutas desse grupo
para sua integração no espaço acadêmico. Deste modo, este texto situa-se em meio
aos embates travados acerca da democratização do ensino superior e em particular
da universidade pública no Brasil e como os nossos futuros professores de História
de origem popular enfrentam os desafios ao ingressarem nesta arena “paraíso”. A
Universidade pública enfrenta hoje uma crise institucional (CHAUÍ, 2003;
GABRIEL, 2003; MOEHLECKE, 2011; SANTOS, 2004) tendo em vista que não
conseguiu dar conta das novas demandas sociais. A ampliação do número de
estudantes de origem popular que ingressou nas universidades públicas nas últimas
décadas desestabilizou a universidade que passou a questionar a sua própria “razão
de ser”. À luz da modernidade, criada para formar a elite intelectual dirigente do
país, a universidade foi chamada a ressignificar o seu papel diante dos diferentes
grupos (formados maciçamente por negros, mulheres, trabalhadores) que
adentraram na universidade. Por outro lado, esses grupos, historicamente alijados
desse processo enfrentam também o desafio de ingressarem em um espaço que lhes
580
parece totalmente estranho, ao qual não se sentem pertencer, como se estivessem
em uma festa para a qual não haviam sido convidados. Esses estudantes, em sua
maioria, se percebem em posição de desvantagem em relação aos outros alunos
oriundos de escolas consideradas de “excelência”. É no bojo desse debate que o
presente artigo se debruça privilegiando os depoimentos sobre as trajetórias de vida
dos licenciandos participantes do Programa Pet-Conexões. O Projeto intitulado “A
comunidade vai a Universidade: sobre os processos de identificação e integração
dos estudantes de origem popular no espaço acadêmico” inserido no programa
citado anteriormente, se estendeu durante seis anos e envolveu 43 estudantes dos
cursos de licenciatura. A pesquisa em andamento é fruto deste projeto. Para o
presente artigo, foram selecionados entrevistas de licenciandos de História,
participantes do Projeto, a fim de compreender suas percepções sobre o espaço
acadêmico, suas perspectivas profissionais e a importância de sua participação nas
ações do projeto para sua formação acadêmica, profissional e pessoal. Espera-se,
dessa forma, contribuir para a superação dos desafios enfrentados pela luta para a
inclusão de grupos étnico-raciais até então sub-representados no espaço acadêmico.

A construção da democracia na escola - A experiência das ocupações - Cecilia


Rebelo de Oliveira Matos (Escola Eleva)

Com base em entrevistas feitas durante e depois das ocupações da rede estadual do
Rio de Janeiro, busco compreender quais modelos de escola foram propostos pelos
estudantes e o que mudou após aquela experiência. O conceito de Skolé pensado
por Masschelein e Simons e a ideia de espectro de Derrida são os pontos de partida
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para essa reflexão. Nos interessa discutir sobre as transformações que ocorreram
para os estudantes e professores dessas escolas, pensando sobre liberdade e
autonomia para ambos dentro do espaço escolar.

Com quantos gigabytes se faz o aperfeiçoamento de professores? : A


experiência com a disciplina online “Professor-pesquisador e suas escritas” no
âmbito do Curso de Aperfeiçoamento da UFRJ - Ana Carolina Oliveira
Alves (Universidade Estadual de Campinas), Henrique Dias Sobral Silva (UFMG)

O presente trabalho apresenta uma proposta de investigação da experiência docente


com a disciplina online “Professor-pesquisador e suas escritas” no âmbito do Curso
de Aperfeiçoamento para professores da Educação de Jovens e Adultos, proposto
pela Faculdade de Educação da UFRJ. Ministrada entre os meses de novembro de
2017 e março de 2018, o objetivo desta disciplina era colaborar com o
desenvolvimento e o aperfeiçoamento da escrita acadêmica na formação do
professor-pesquisador, no campo do conhecimento em Educação, sem negar a
necessidade de introduzir o professor-pesquisador aos métodos e nos instrumentos
de pesquisa, considerando o trabalho científico em toda a sua amplitude e, em
última instância, como uma ação teórica sobre uma determinada realidade. Diante
deste cenário, a presente comunicação, com base em um relato de experiência,
discute a aprendizagem na EAD, com o objetivo de analisar a produção escrita dos
sujeitos e seus percursos de aprendizagem no processo de formação online,
relacionada com uma nova forma de encarar a produção de textos acadêmicos.
581
Além do relato de experiência, nossa investigação de natureza quali-quantitativa
foi baseada nos comentários e atividades enviadas pelos cursistas pela plataforma
online e também pelos gráficos e relatórios de acesso e uso desta, emitidos pelo
website. Os resultados apontam que, a modalidade de Ensino a Distância, tem um
forte potencial facilitador e agregador e não pode ser menosprezada, tendo forte
potencial para colaborar com a melhoria da qualidade da formação continuada de
professores da EJA.

Construção de sentidos: representações e ensino de História na deficiência


visual - Mauro Marcos Farias da Conceição (IBC/RJ)

Este artigo tem por objetivo desenvolver estudos relativos à metodologia e


habilidades da prática docente a serem aplicadas no ensino de História, e na
cognição da disciplina, aos alunos com deficiência visual. Considera-se, sobretudo,
a associação que se estabelece, nesta área do conhecimento, entre palavras,
conceitos e imagens para a formação de sentidos. Objetiva-se investigar, analisar e
compreender os aspectos mentais que possibilitam a estes discentes empregar
modalidades reflexivas na conformação de entendimento, sentidos e compreensão.
As práticas culturais e representações simbólicas norteiam os estudos sobre as
palavras e imagens como instrumentos de comunicação no ensino de História. A
imagem configura-se como elemento dispensável aos alunos com deficiência
visual. As palavras são essenciais e transportam mensagens na comunicação a
pessoas com deficiência visual. Entretanto, quanto às palavras, reafirma-se a

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observação de Marc Bloch (2001), na obra “Apologia da História”, de que “... a


palavra, por sua vez, é equivoca.”

Ensino de história e extensão universitária - possibilidades emancipatórias


na/da educação de jovens e adultos - Alessandra Nicodemos Oliveira
Silva (UFRJ)

Esse resumo é um relato de experiência do Projeto de Extensão Os sentidos de


viver a cidade: o Rio de Janeiro como espaço vivido dos trabalhadores , que foi
desenvolvido ao longo do ano de 2015, no âmbito do Projeto Narrativas do Estado
do Rio de Janeiro: um estudo a partir de diferentes vozes. O referido projeto tinha
como objetivo principal mobilizar e articular uma ação extensionista na
modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na cidade do Rio de Janeiro,
procurando, principalmente, captar e registrar as vozes de um tipo especifico de
sujeito que circula pela cidade: os estudantes-trabalhadores; gerando ressonância,
visibilidade e valorização as suas percepções sobre a cidade, como espaço vivido
e ao mesmo tempo, como espaço de memória em suas experiências como sujeitos
de uma determinada classe social.

Ensino de história, educação de jovens e adultos e direitos do trabalho em


tempos de transição - Luciana Nery dos Santos (UERJ)

Esta comunicação tem como objetivo apresentar algumas possibilidades de


582
desenvolvimento de sequências didáticas de história para estudantes jovens e
adultos do ensino médio privilegiando o estudo dos direitos do trabalho no século
XX. O ponto de partida para a elaboração do material serão as entrevistas de
história oral realizadas nos anos 1980 por Ângela de Castro Gomes com
trabalhadores que exerceram militância política no início do século XX e que estão
reunidas no livro Velhos militantes (GOMES et al., 1988). Serão utilizadas também
fotografias, jornais e revistas de época, relatórios de associações de classe,
documentos de arquivos privados e documentação oficial. A opção pelo trabalho
com fontes diversificadas possibilitará o estímulo à leitura e interpretação de
documentos e temporalidades variadas e o reconhecimento do aluno como sujeito
ativo na relação de ensino-aprendizagem, e não como mero receptor de conteúdos.
As motivações para a escolha dessa temática estão relacionadas: à minha atividade
docente como professora de história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da
Secretaria do Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC/RJ), às inquietações
provocadas pelo avanço da precarização das relações de trabalho e da naturalização
das formas de exploração, à relevância da temática para os alunos e à identificação
de uma carência de materiais didáticos específicos que reconheçam as
especificidades e potencialidades do trabalho com alunos jovens e adultos. Este
trabalho constitui parte da pesquisa em andamento no mestrado profissional em
ensino de história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e no curso
de aperfeiçoamento em educação de jovens e adultos da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ).

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História e Língua Portuguesa: uma proposta de integração curricular a partir


da leitura e da escrita - Carolina Vianna Dantas (EPSJV/FIOCRUZ), Viviane
dos Ramos Soares (UFRJ)

Esta comunicação apresenta uma proposta de integração curricular entre as


disciplinas História e Língua Portuguesa tendo como eixos a leitura e escrita.
Partimos do princípio de que ler e escrever e seus processos de significação são
determinados historicamente. Tal proposta se materializou a partir do trabalho
realizado no Curso Técnico de Nível Médio em Saúde da Escola Politécnica de
Saúde Joaquim Venâncio (FIOCRUZ), que recebe um quantitativo significativo de
estudantes das periferias do Rio de Janeiro. Esse trabalho está estruturado sob duas
perspectivas derivadas da tese de que é imprescindível desenvolver uma relação
menos ingênua com a linguagem. A primeira perspectiva é a da educação
politécnica, que propõe educar os jovens no conflito e na contradição e que o
aprendizado, pela classe trabalhadora, dos saberes sistematizados pela humanidade
é uma estratégia de luta contra a dominação e a divisão social do trabalho. Já a
segunda perspectiva conjuga a integração curricular e o direito ao passado. Todo
texto é historicamente datado, trazendo referenciais da realidade social do seu
tempo. Leitura e escrita são fundamentais para a construção pelo jovem de uma
leitura histórica aprofundada do mundo. Nessa comunicação especificamente,
apresentaremos o relato de um trabalho desenvolvido, desde 2015, com alunos do
1º ano do ensino médio sobre a literatura e história africana. Língua como estrutura
e língua como acontecimento foram trabalhados de modo que a história e as
583
culturas da África e afro-brasileiras fossem problematizadas pelas vozes presentes
nesses textos, buscando, a partir do letramento racial, promover a identificação e a
valorização dos referenciais do passado africano e afro-brasileiro, e a
desnaturalização, no presente, dos estereótipos raciais e do racismo, associados à
problematização de diferentes formas de opressão. Desse modo, demonstraremos
algumas estratégias de aprendizagem que escapam de uma rede de sentidos
cristalizados, que podem ser complementados, negados, reafirmados e
questionados por meio da argumentação crítica, fundamentada, contextualizada, e
se possível, criativa. Numa perspectiva de luta pela emancipação do sujeito-aluno-
escolarizado, é preciso desconstruir o imaginário de que a leitura e a escrita
envolvem a atribuição de um sentido único e verdadeiro, e que, dominado o código,
todos têm condições inequívocas de ler e de escrever. Essas constituem estratégias
indispensáveis para o direito ao exercício da cidadania e da autonomia intelectual
e para a construção de projetos de transformação da sociedade.

Mulheres, Mulheres jovens, mulheres presas: desconstruindo preconceitos na


aula de História. - Fabiana de Moura Maia Rodrigues (UFF)

Esse trabalho é fruto da pesquisa do pós doutoramento na Universidade Federal


Fluminense e também de uma experiência vivida na escola estadual Maria
Montessori inserida na unidade prisional. Partimos do pressuposto de que a
educação escolar em unidades prisionais é um direito garantido por lei. Esse
trabalho teve como referenciais teóricos Julião (2016) que debate sobre os desafios
para a efetivação do direito à educação, Ferreira (2014) em seus estudos sobre o
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quantitativo de apenados na escola, Vieira (2012) sobre as especificidades da


educação em espaços de restrição e privação de liberdade e Freire (1968) que
aponta a reflexão sobre a prática e o processo dialógico. O trabalho foi
desenvolvido em na turma AF-201 EJA, formada por 08 alunas. A ideia foi discutir
a relação entre a África e o Brasil a partir de uma perspectiva histórica para
positivar nossas heranças culturais e atender ao que determina a Lei 11.645 de 2008
que criou a obrigatoriedade da História e cultura afro-brasileira e indígena. O
reconhecimento do conhecimento prévio das alunas e a reflexão sobre a temática
nortearam a prática. O filme escolhido para encaminhar o debate foi “Na Rota dos
Orixás: O Atlântico Negro”. O documentário resgata as influências de diferentes
culturas africanas no Brasil, destaca os diferentes laços que nos ligam, a
religiosidade, as manifestações culturais, a musicalidade, etc. Além de desconstruir
a ideia de história da África que se liga apenas a escravidão e a exploração, mas
ressalta os grandes reinos, suas manifestações culturais, suas conquistas e sua
imensidão. No entanto, não deixa de trabalhar com as lutas, resistências e a
escravidão. o debate foi rico e inesperado, as alunas que antes do trabalho
demonstraram alguma forma de preconceito foram sendo questionada por outras
de forma respeitosa e outras puderam assumir sua religiosidade até então
escondida. Acreditamos que esse foi o início de uma possibilidade de desvelar a
opressão e um convite a um comprometimento de na práxis transformar a realidade
como alerta Paulo Freire. Conseguimos desconstruir alguns preconceitos e
possibilitar que algumas alunas pudessem assumir suas religiões sem medo,
alcançamos nosso objetivo.
584
Reflexão sobre a Construção dos Centros de Estudos de Jovens e Adultos no
Rio de Janeiro: uma Perspectiva História (1960 até 2013) - Cacilda Fontes
Cruz (UNIRIO)

O elemento motivador para a escolha desse tema partiu da minha experiência como
professora de História num Centro de Educação de Jovens e Adultos, a Rede CEJA,
na cidade do Rio de Janeiro. Essa rede consiste em unidades escolares estaduais
que oferecem o ensino Fundamental (anos finais) e Médio, em regime
semipresencial na modalidade de Educação a Distância. A origem do CEJA
remonta aos Centros de Ensino Supletivos (CES) que foram fundados a partir de
1970. Os CES pretendiam ser uma alternativa para que alunos trabalhadores que
tinham abandonado o universo escolar ou nem mesmo iniciado a sua vida escolar
pudessem concluir seus estudos. Assim esses alunos encontravam no ensino
supletivo uma via compensatória para o ensino seriado regular. Essa concepção de
suplência ou de reposição a partir da Nova LDB – Lei n 9394/96 cai em desuso. A
constituição de 1988 reforça o conceito de Educação como um direito assegurado.
A história recente desses Centros reforça essa reformulação pois a Resolução n◦
4673/2011 publicada 25 de fevereiro de 2011, pela Secretaria de Educação do
Estado do Rio de Janeiro, SEEDUC-RJ que alterou a nomenclatura Centro de
Estudos Supletivos (CES) para Centro de Estudos de Jovens e Adultos (CEJA) e
estabeleceu uma parceria entre o Centro de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio
de Janeiro, Fundação CECIERJ e a SEEDUC-RJ para a gestão da referida Rede.
Um dos aspectos inovadores dessa reformulação foi a questão da tecnologia que
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passou a estar presente no cotidiano escolar da Rede CEJA, por exemplo, quando
professor utiliza o Sistema Acadêmico , ou quando um aluno se conecta com um
professor através de um fórum de duvidas disponível CEJA virtual – Plataforma
on-line, na qual se localiza o Ambiente Virtual de Aprendizagem, instalado na
Plataforma Moodle. Contudo, deve se analisar até que ponto essa mudança tornou
possível uma ressignificação da concepção inicial desses Centros de Estudo.

Tempos a Aprender: Ensino de História como condição de futuro - Renato


Coelho Barbosa de Luna Freire (UERJ/FFP)

Parte-se do entendimento de que o ensino de história tem como função servir de


orientação para a vida prática dos sujeitos. A didática da disciplina deve se ocupar
dos processos de aprendizagem que considerem as relações temporais do saber
histórico. Passado, presente e futuro se conjugam, fornecendo sentidos para o que
se ensina e se aprende. Paralelamente, o ensino de história carrega a duplicidade
do fazer político: genericamente, aprender é um ato político, como defendeu Paulo
Freire. Especificamente, o saber histórico permite a formação política para
intervenção na sociedade. Deste lugar, o ensino de história se volta para o futuro,
objetivando formar sujeitos conscientes da historicidade humana. O olhar das
práticas é para o futuro no fomento de utopias, definidas como projeto de futuro.
Logo, compreender as relações temporais passado – presente é ampliar o ensino de
história de uma perspectiva tradicional ainda persistente nas salas de aula, em que
apenas se detém no passado como recorte temporal privilegiado dos estudos
585
históricos, para incluir as relações temporais com ênfase no futuro enquanto
horizonte de expectativas. Possibilita-se a construção de diferentes projetos de
sociedade, pela abertura de novos regimes de historicidade. O diálogo entre o
ensino de história e a teoria da história permite abastecer os referenciais teóricos
específicos do saber histórico, sustentando as práticas educativas escolares de
formação básica. A compreensão do objeto “tempo histórico” e as ferramentas
operativas da história política possibilitaram abordarmos empiricamente a
aprendizagem histórica escolar nas reflexões sobre o tempo sóciohistórico e da
história política. A questão que norteou a pesquisa foi interrogar como os
professores, a partir de determinados conteúdos, mobilizaram saberes e práticas
para capacitar os aprendizes na construção de projetos de futuro, individuais e
coletivos?

Tornar-se professor de história: leitura e escrita no curso na formação do


professora no curso de Licenciatura Parfor/UFRRJ - Patricia Bastos de
Azevedo (UFRRJ)

O artigo que apresentamos é parte da pesquisa em desenvolvimento: Tornar-se


professor de História: correlações de poder e força nas práticas de letramento na
licenciatura de História PARFOR/UFRRJ. Buscamos apresentar o Plano Nacional
de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), assim como os
referenciais teóricos que mobilizamos para pensar este campo de pesquisa e seus
indícios. O foco principal de nossa pesquisa é compreender na formação do
professor de História/PARFOR as correlações de força e poder que constituem as
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práticas de oralidade e letramento neste processo formativo dos alunos. Para este
artigo analisaremos a produção da monografia de conclusão de curso. Utilizaremos
como indício as entrevistas realizadas com os professores/alunos que concluíram o
curso em 2016.2. O Decreto n.º 6.775, 29 de janeiro de 2009, instituiu a Política
Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica e
disciplinou a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), no fomento a programas de formação inicial e continuada. O
PARFOR possibilitou a entrada de um perfil de professores/alunos possuidores de
marcas identitárias e saberes acumulados ao longo de seus percursos no mundo da
vida e do trabalho sobre práticas de letramento diferenciadas dos alunos que
tradicionalmente ingressam na universidade. Esses professores/alunos carregam,
portanto, saberes que possuem concepções sobre validade e pertinência relativas às
práticas de oralidade, leitura e escrita. No processo de formação na graduação,
essas pretensões são questionadas e tensionam as tradições letradas constituídas na
universidade, abalando as certezas cristalizadas em alguns segmentos acadêmicos.
As tensões geram verdadeiras rachaduras epistémicas-pedagógicas, mais
evidenciadas em algumas licenciaturas que outras. Vale ressaltar que as práticas
pedagógicas, no âmbito acadêmico e nas Ciências Humanas, são marcadas pela
fala, pela leitura e pela escrita. No entanto, diferente das produzidas pelos
professores/alunos, são práticas de letramento que, ao longo do tempo, se
constituíram como legítimas e válidas na difusão do conhecimento gerado na
universidade e na formação por ela efetivada. Nesse sentido, a pesquisa que
fundamenta este artigo busca dialogar com os dois níveis da educação brasileira, a
586
Educação Básica e a Superior, já que a formação de professores se caracteriza como
um lugar de transmissão e consolidação de práticas letradas, as quais podem ora
promover a emancipação de indivíduos e grupos sociais, ora agravar as concepções
de letramento de caráter elitista e excludente e se configurar como um instrumento
de manutenção hegemônica do status quo.

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Índice de autores
A

Ademas Pereira da Costa Junior ............................................................................................................................................................................307


Aden Assunção Lamounier .................................................................................................................................................................................... 61
Adriana Aparecida Pinto .......................................................................................................................................................................................464
Adriana Salay Leme ..............................................................................................................................................................................................267
Adriane dos Prazeres Silva ....................................................................................................................................................................................563
Adriano de Carvalho Mendes ................................................................................................................................................................................. 13
Adriano Ribeiro Paranhos .....................................................................................................................................................................................550
Agata Bloch...........................................................................................................................................................................................................347
Agda Lima Brito....................................................................................................................................................................................................202
Aguiomar Rodrigues Bruno...................................................................................................................................................................................424
Alair Figueiredo Duarte.........................................................................................................................................................................................372
Alan Dutra Cardoso ...............................................................................................................................................................................................560
Alec Ichiro Ito .......................................................................................................................................................................................................512
Alessandra Nicodemos Oliveira Silva ...................................................................................................................................................................582
Alessandro Léccas Marçal Neves ..........................................................................................................................................................................146
Alessandro Mendonça dos Reis .............................................................................................................................................................................498
Alex Conceição Vasconcelos da Silva .................................................................................................................................................................... 69
Alexander da Silva Braz ........................................................................................................................................................................................157
Alexandre Black de Albuquerque ..........................................................................................................................................................................354
Alexandre de Almeida ............................................................................................................................................................................................ 70
Alexandre de Sá Avelar .........................................................................................................................................................................................338
Alexandre Pinto de Souza e Silva ........................................................................................................................................................................... 91
Alexandre Ribeiro Neto .........................................................................................................................................................................................284
Alexandre Ribeiro Samis ........................................................................................................................................................................................ 56
Alexia Shellard ......................................................................................................................................................................................................447
Aline Aparecida Gama Vieira ...............................................................................................................................................................................290
Aline Beatriz Pereira Silva Coutinho ...................................................................................................................................................................... 74
Aline Carla Batista de Laia ....................................................................................................................................................................................232
Aline de Almeida Hoche .......................................................................................................................................................................................137
587
Aline dos Santos Portilho ......................................................................................................................................................................................348
Aline Miranda e Souza ..........................................................................................................................................................................................312
Allister Dias ........................................................................................................................................................................................................... 23
Almir Pita Freitas Filho .........................................................................................................................................................................................355
Aloysio Castelo de Carvalho .................................................................................................................................................................................473
Amanda Bastos da Silva ......................................................................................................................................................................................... 99
Amanda Cristina Araujo de Oliveira .....................................................................................................................................................................564
Amanda da Cruz Xavier ........................................................................................................................................................................................407
Amanda Dias de Oliveira ....................................................................................................................................................................................... 82
Amanda Rodrigues ................................................................................................................................................................................................221
Ana Beatriz Pestana Gomes...................................................................................................................................................................................244
Ana Carolina Cavalcante Pinto..............................................................................................................................................................................547
Ana Carolina Galante Delmas ...............................................................................................................................................................................449
Ana Carolina Oliveira Alves .................................................................................................................................................................................581
Ana Caroline Matias Alencar ................................................................................................................................................................................337
Ana de Melo ..........................................................................................................................................................................................................187
Ana Flávia Merlim Dias ......................................................................................................................................................................................... 13
Ana Inés Seitz .......................................................................................................................................................................................................149
Ana Karina Cordeiro Alves Sorrentino ..................................................................................................................................................................400
Ana Lima Kallás....................................................................................................................................................................................................389
Ana Lucia de Almeida Soutto Mayor ..................................................................................................................................................................... 35
Ana Lucia Vaz.......................................................................................................................................................................................................153
Ana Maria Cardoso Ribas......................................................................................................................................................................................545
Ana Paula Barcelos Ribeiro da Silva .....................................................................................................................................................................537
Ana Paula Brasil de Matos Guedes........................................................................................................................................................................249
Ana Paula Leite Vieira ..........................................................................................................................................................................................137
Ana Paula Lopes Pereira .......................................................................................................................................................................................418
Ana Regina Luz Lacerda .......................................................................................................................................................................................449
Anayce Adya Azevedo Marques ...........................................................................................................................................................................526
Ancelmo Schorner .................................................................................................................................................................................................558
Anderson de Rieti Santa Clara dos Santos .............................................................................................................................................................459
Anderson Rodrigo Tavares Silva ............................................................................................................................................................................ 91
André Barbosa Fraga .............................................................................................................................................................................................134
André de Faria Silva ..............................................................................................................................................................................................416
Andre Luis Prudencio Sena ...................................................................................................................................................................................247
André Silva Ranhel ...............................................................................................................................................................................................415
Andrea Cristina de Barros Queiroz ........................................................................................................................................................................142
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Andrea Reis de Jesus .............................................................................................................................................................................................369


Andréa Reis Ferreira Torres ..................................................................................................................................................................................416
Andreia Cristina Lopes Frazão da Silva ................................................................................................................................................................413
Andréia Gardênia Fernandes Oliveira Stival .........................................................................................................................................................323
Andreia Nunes da Silva .......................................................................................................................................................................................... 17
Andressa Cristina de Miranda do Carmo ...............................................................................................................................................................165
Andressa Melo da Fonseca ....................................................................................................................................................................................334
Angela Maria da Silva ...........................................................................................................................................................................................440
Angela Maria Roberti Martins ................................................................................................................................................................................ 56
Angelica Borges ....................................................................................................................................................................................................282
Angelica Müller.....................................................................................................................................................................................................141
Anna Beatriz de Sá Almeida..................................................................................................................................................................................206
Anna Carla Monteiro de Castro .............................................................................................................................................................................578
Anna Carolina de Abreu Coelho............................................................................................................................................................................101
Anna Karolina Vilela Siqueira...............................................................................................................................................................................544
Annateresa Fabris ................................................................................................................................................................................................... 97
Anne Elise Reis da Paixão .....................................................................................................................................................................................424
Anne Thereza de Almeida Proença........................................................................................................................................................................500
Annelyse Guedes Ramos ........................................................................................................................................................................................ 15
Antonio Barbosa Lisboa ........................................................................................................................................................................................290
Antonio Carlos Higino da Silva .............................................................................................................................................................................186
Antonio Ramos Bispo Neto ...................................................................................................................................................................................187
Aristeu Elisandro Machado Lopes .........................................................................................................................................................................103
Arthur da Costa Orlando .......................................................................................................................................................................................175
Arthur Gomes Valle ............................................................................................................................................................................................... 31
Augusto Leandro Rocha da Silveira ......................................................................................................................................................................414
Augusto Neves da Silva.........................................................................................................................................................................................193
Ayalla Oliveira Silva .............................................................................................................................................................................................556
Ayssa Yamaguti Norek..........................................................................................................................................................................................147

Bárbara Alves Benevides.......................................................................................................................................................................................424


Barbara Cristina Soares Pessanha Araripe .............................................................................................................................................................. 61
Bárbara Geromel Campanholo ..............................................................................................................................................................................161 588
Barbara Maria de Albuquerque Mitchell ...............................................................................................................................................................178
Barbara Maria França Gomes ................................................................................................................................................................................. 39
Bárbara Rosalino Pinheiro Matos ........................................................................................................................................................................... 11
Beatriz Cerbino .....................................................................................................................................................................................................126
Beatriz Izabelli Zumba Elihimas ...........................................................................................................................................................................118
Beatriz Magno Alves de Oliveira ..........................................................................................................................................................................252
Beatriz Pìva Momesso ...........................................................................................................................................................................................460
Beatriz Virgínia Gomes Belmiro ............................................................................................................................................................................ 37
Berilo Luigi Deiró Nosella ....................................................................................................................................................................................244
Bianca Racca Musy ...............................................................................................................................................................................................320
Braulio Taruel da Rocha Fonseca ..........................................................................................................................................................................435
Breno Aparecido Servidone Moreno .....................................................................................................................................................................500
Bruno Borja ............................................................................................................................................................................................................ 50
Bruno Corrêa de Sá e Benevides ...........................................................................................................................................................................320
Bruno Flávio Lontra Fagundes ..............................................................................................................................................................................308
Bruno Martins dos Santos....................................................................................................................................................................................... 35
Bruno Rodrigues Pimentel...................................................................................................................................................................................... 90
Bruno Souza Duarte Lima .....................................................................................................................................................................................358
Bruno Tavares Magalhães Macedo........................................................................................................................................................................443

Cacilda Fontes Cruz ..............................................................................................................................................................................................584


Caio de Amorim Féo .............................................................................................................................................................................................. 36
Caio de Barros Martins Costa ................................................................................................................................................................................572
Caio Rodrigues Schechner...................................................................................................................................................................................... 80
Calori de Lion Antonio Ricardo ............................................................................................................................................................................243
Camila Borges da Silva .........................................................................................................................................................................................487
Camila da Silva Santanna Figueiredo ....................................................................................................................................................................418
Camila de Freitas Silva Bogéa ...............................................................................................................................................................................484
Camila de Sousa Freire..........................................................................................................................................................................................548
Camila Fernandes Pinheiro....................................................................................................................................................................................230
Camila Freitas Santos ............................................................................................................................................................................................253
Camila Pizzolotto Alves das Chagas .....................................................................................................................................................................240
Camilla Agostini ...................................................................................................................................................................................................326
Camilla Oliveira Mattos ......................................................................................................................................................................................... 96
Cândido Gonçalo Rocha Gonçalves ......................................................................................................................................................................315
Carina Maria Guimarães Moreira ..........................................................................................................................................................................257
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Carla Cristina Da Silva Lavinas.............................................................................................................................................................................. 39


Carlo Maurizio Romani .......................................................................................................................................................................................... 62
Carlos Eduardo Costa Barbosa ..............................................................................................................................................................................433
Carlos Eduardo de Freitas Lima ............................................................................................................................................................................146
Carlos Eduardo Pinto de Pinto ................................................................................................................................................................................ 88
Carlos mauricio Franklin lapa ...............................................................................................................................................................................223
Carlos Mauro de Oliveira Júnior ...........................................................................................................................................................................531
Carlos Roberto Carvalho Daróz.............................................................................................................................................................................470
Carlota Boto ..........................................................................................................................................................................................................299
Carol Teresa Cribelli .............................................................................................................................................................................................127
Carolina Arouca Gomes de Brito...........................................................................................................................................................................263
Carolina Bezerra Machado ....................................................................................................................................................................................518
Carolina Cabral Ribeiro de Almeida......................................................................................................................................................................533
Carolina Chaves Ferro ...........................................................................................................................................................................................572
Carolina Christiane de Souza Martins ...................................................................................................................................................................196
Carolina Coelho Fortes ..........................................................................................................................................................................................413
Carolina Mara Teixeira..........................................................................................................................................................................................304
Carolina Mariano de Oliveira ................................................................................................................................................................................. 30
Carolina Soares Sousa ...........................................................................................................................................................................................136
Carolina Vianna Dantas.........................................................................................................................................................................................583
Caroline Amorim Gil.............................................................................................................................................................................................203
Caroline dos Santos Guedes ..................................................................................................................................................................................260
Caroline dos Santos Souza ....................................................................................................................................................................................526
Caroline Moreira Vieira Dantas.............................................................................................................................................................................192
Cátia da Costa Louzada de Assis ...........................................................................................................................................................................183
Cauê Cardoso Polla ...............................................................................................................................................................................................298
Cecilia de Fátima B. Macedo.................................................................................................................................................................................120
Cecilia Rebelo de Oliveira Matos ..........................................................................................................................................................................580
Cecília Riquino Heredia ........................................................................................................................................................................................162
Célia Cristina da Silva Tavares..............................................................................................................................................................................452
Célia Santana Silva................................................................................................................................................................................................396
Cesar Augusto Rodrigues de Albuquerque ............................................................................................................................................................156
Cezar Honorato .....................................................................................................................................................................................................362
Charleston José de Sousa Assis .............................................................................................................................................................................147
Christiane Figueiredo Pagano de Mello .................................................................................................................................................................471 589
Cícero João da Costa Filho ..................................................................................................................................................................................... 66
Cinthya de Oliveira Nunes ....................................................................................................................................................................................386
Cintia de Lourdes Martins Araujo .........................................................................................................................................................................210
Cíntia Medina de Souza.........................................................................................................................................................................................104
Clarice de Paula Ferreira Pinto ..............................................................................................................................................................................501
Clarissa Mattana de Oliveira .................................................................................................................................................................................401
Clarissa Ramos Gomes ..........................................................................................................................................................................................101
Clarisse dos Santos Pereira ....................................................................................................................................................................................557
Claudeniz Fernandes Guimarães ...........................................................................................................................................................................371
Cláudia Maria de Farias.........................................................................................................................................................................................395
Claudia Marilia Marques Espanha .........................................................................................................................................................................578
Cláudia Rodrigues .................................................................................................................................................................................................429
Cláudia Santos Turco ............................................................................................................................................................................................325
Claudiane Torres da Silva......................................................................................................................................................................................480
Cláudio Amaral Overné.........................................................................................................................................................................................135
Cláudio de Paula Honorato ....................................................................................................................................................................................427
Cláudio de Sá Machado Jr. ....................................................................................................................................................................................297
Claudio Marcio Coelho .........................................................................................................................................................................................546
Claudio Vinicius Felix Medeiros ...........................................................................................................................................................................334
Cleber Eduardo Karls ............................................................................................................................................................................................272
Cleber Ribeiro de Souza ......................................................................................................................................................................................... 17
Cleiton Batista de Oliveira ....................................................................................................................................................................................418
Clemente Gentil Penna ..........................................................................................................................................................................................359
Clícea Maria Augusto de Miranda .........................................................................................................................................................................193
Cristiane Bomfim Cruz do Nascimento .................................................................................................................................................................388
Cristiane dos Santos Silva .....................................................................................................................................................................................196
Cristiane Soares de Santana ...................................................................................................................................................................................516
Cristiano Ferreira de Barros...................................................................................................................................................................................332

Daiana Maciel Areas .............................................................................................................................................................................................363


Daiane Estevam Azeredo.......................................................................................................................................................................................125
Dalila Varela Singulane.........................................................................................................................................................................................110
Dandara Arsi Prenda .............................................................................................................................................................................................573
Daniel Camurça Correia ........................................................................................................................................................................................341
Daniel de Pinho Barreiros......................................................................................................................................................................................366
Daniel Levy de Alvarenga .....................................................................................................................................................................................108
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Daniel Ribera Vainfas ...........................................................................................................................................................................................368


Daniela Paiva Yabeta de Moraes ...........................................................................................................................................................................442
Danieli Machado Bezerra ....................................................................................................................................................................................... 26
Daniella de Almeida Moura...................................................................................................................................................................................491
Danielle Christine Othon Lacerda .........................................................................................................................................................................460
Danielle Mendes da Costa .....................................................................................................................................................................................417
Danilo Monteiro Firmino.......................................................................................................................................................................................536
Danilo Nagib Queiroz de Mattos ...........................................................................................................................................................................166
Dayane Ponciano de Lima .....................................................................................................................................................................................380
Dayse Araujo Lapa ................................................................................................................................................................................................458
Debora Luisa de Freitas da Silva ...........................................................................................................................................................................275
Debora Santos Martins ..........................................................................................................................................................................................575
Denise Maria Couto Gomes Porto .........................................................................................................................................................................454
Denise Pires de Andrade .......................................................................................................................................................................................249
Desire Luciane Dominschek Lima.........................................................................................................................................................................286
Dheane de Oliveira Dias ......................................................................................................................................................................................... 16
Diego Antonio Galeano .........................................................................................................................................................................................319
Diego da Silva Ramos ...........................................................................................................................................................................................159
Diego Uliano Rocha ..............................................................................................................................................................................................267
Dilene Raimundo do Nascimento ........................................................................................................................................................................... 87
Dinah de Oliveira ..................................................................................................................................................................................................253
Diogo da Costa Salles............................................................................................................................................................................................237
Diogo Jorge de Melo .............................................................................................................................................................................................309
Diogo Nunes dos Santos ........................................................................................................................................................................................409
Dirceu Franco Ferreira ..........................................................................................................................................................................................319
Domingas Nathália Moreira dos Santos Rosa ........................................................................................................................................................444
Douglas de Souza Liborio ...................................................................................................................................................................................... 93
Douglas Mota Xavier de Lima ..............................................................................................................................................................................577
Douglas Santos Bastos ........................................................................................................................................................................................... 78

Edelson Costa Parnov ............................................................................................................................................................................................. 76


Edilma Soares da Silva ........................................................................................................................................................................................... 43
Edilza Joana Oliveira Fontes .................................................................................................................................................................................555 590
Edina Laura Costa Nogueira da Gama...................................................................................................................................................................368
Edite Moraes da Costa ...........................................................................................................................................................................................123
Edivaldo Barbosa de Almeida Filho ......................................................................................................................................................................445
Edmar Checon de Freitas.......................................................................................................................................................................................576
Edna Braga Pereira ................................................................................................................................................................................................184
Eduardo Ângelo da Silva .......................................................................................................................................................................................481
Eduardo Carracelas Lamela .................................................................................................................................................................................... 59
Eduardo da Costa Pinto d'Avila .............................................................................................................................................................................236
Eduardo de Souza Gomes ......................................................................................................................................................................................261
Eduardo dos Santos Chaves ...................................................................................................................................................................................154
Eduardo Nazareth Paiva ........................................................................................................................................................................................325
Eduardo Rizzatti Salomão .....................................................................................................................................................................................467
Eduardo Rodrigues Rio .........................................................................................................................................................................................124
Eduardo Silva Leite ...............................................................................................................................................................................................403
Eduardo Wright Cardoso .......................................................................................................................................................................................528
Elaine Cristina Ventura Ferreira ............................................................................................................................................................................102
Elaine Monteiro.....................................................................................................................................................................................................182
Elaine P. Rocha .....................................................................................................................................................................................................195
Eleide Abril Gordon Findlay .................................................................................................................................................................................562
Eleonora Abad Stefenson ......................................................................................................................................................................................181
Eliana Santos da Silva Laurentino .........................................................................................................................................................................279
Eliane de Mesquita Sabino dos Reis ....................................................................................................................................................................... 38
Elias da Silva Maia ................................................................................................................................................................................................374
Elis Regina Barbosa Angelo ................................................................................................................................................................................... 31
Elisabete Gonçalves de Souza ...............................................................................................................................................................................378
Elisangela Goulart Moreira ...................................................................................................................................................................................294
Elizabeth Santos de Souza .....................................................................................................................................................................................343
Elza Maria Ferraz de Andrade ...............................................................................................................................................................................246
Elzira dos Santos Matos ........................................................................................................................................................................................112
Emili Feitosa de F. Olenchuk ................................................................................................................................................................................420
Eminny Aly Carmel Ghazzaoui .............................................................................................................................................................................151
Eraldo Da Silva Duarte........................................................................................................................................................................................... 67
Erica Barros de Almeida Araujo............................................................................................................................................................................437
Érica Oliveira Fortuna ...........................................................................................................................................................................................320
Estevao Barbosa Damacena...................................................................................................................................................................................371
Evelin Reginaldo e Silva .......................................................................................................................................................................................250
Eveline Almeida de Sousa .....................................................................................................................................................................................563
Evelyn Furquim Werneck Lima ............................................................................................................................................................................248
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Universidade Federal Fluminense


Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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Evelyn Morgan Monteiro ......................................................................................................................................................................................391


Evelyn Rosa do Nascimento ..................................................................................................................................................................................514
Everardo Paiva de Andrade ...................................................................................................................................................................................181
Everton Vieira Barbosa .........................................................................................................................................................................................489

Fabiana Bruce da Silva ........................................................................................................................................................................................... 96


Fabiana de Moura Maia Rodrigues ........................................................................................................................................................................583
Fabiana Ortiz do Nascimento ................................................................................................................................................................................473
Fabiano Cataldo de Azevedo .................................................................................................................................................................................453
Fabiano Dias Azevedo...........................................................................................................................................................................................153
Fábio Afonso Frizzo de Moraes Lima .................................................................................................................................................................... 36
Fabio Costa Peixoto...............................................................................................................................................................................................121
Fabio da Silva Pereira............................................................................................................................................................................................472
Fábio Dias Júnior ................................................................................................................................................................................................... 44
Fabio Paride Pallotta .............................................................................................................................................................................................107
Fabíola Amaral Tomé de Souza.............................................................................................................................................................................341
Fabíola de Cássia Freitas Neves ............................................................................................................................................................................. 11
Fabrício Augusto Souza Gomes ............................................................................................................................................................................. 96
Fabrício Fonseca da Silva ......................................................................................................................................................................................225
Federico Eduardo Urtubey...................................................................................................................................................................................... 92
Felipe Augusto dos Santos Ribeiro ........................................................................................................................................................................481
Felipe Barradas Correia Castro Bastos ..................................................................................................................................................................513
Felipe da Silva Duque ...........................................................................................................................................................................................235
Felipe Malachini Maia...........................................................................................................................................................................................370
Felipe Rodrigues Alfonso ......................................................................................................................................................................................175
Felipe Santos Magalhães .......................................................................................................................................................................................321
Felipe Tito Cesar Neto...........................................................................................................................................................................................429
Fernanda Barbosa dos Reis Rodrigues...................................................................................................................................................................532
Fernanda Blaso de Miranda Rodrigues ..................................................................................................................................................................400
Fernanda Coelho Mendes ......................................................................................................................................................................................164
Fernanda Deminicis de Albuquerque.....................................................................................................................................................................462
Fernanda Mattos da Silva ......................................................................................................................................................................................399
Fernanda Pires Rubião...........................................................................................................................................................................................183 591
Fernando Augusto Souza Pinho.............................................................................................................................................................................117
Fernando da Silva Rodrigues .................................................................................................................................................................................471
Fernando Lacerda Simões Duarte ..........................................................................................................................................................................377
Fernando Rodrigo dos Santos Silva .......................................................................................................................................................................276
Flávia Beatriz Ferreira de Nazareth .......................................................................................................................................................................540
Flávia Paula Darossi ..............................................................................................................................................................................................568
Flavia Ribeiro Veras..............................................................................................................................................................................................204
Flavio Alexandre Martins Xavier ..........................................................................................................................................................................437
Francielly Nunes Silva ..........................................................................................................................................................................................184
Franciliete S. Campos Souza .................................................................................................................................................................................265
Francine Iegelski ...................................................................................................................................................................................................329
Francisco Eduardo Alves de Almeida....................................................................................................................................................................366
Francisco José Leandro Araújo de Castro ..............................................................................................................................................................160

Gabriel Almeida Frazão ........................................................................................................................................................................................561


Gabriel Braz de Oliveira ........................................................................................................................................................................................417
Gabriel Cheleiro Justino ........................................................................................................................................................................................151
Gabriel de Abreu Machado Gaspar........................................................................................................................................................................462
Gabriel Elysio Maia Braga ....................................................................................................................................................................................424
Gabriel Lecznieski Kanaan ....................................................................................................................................................................................360
Gabriel Souza Cerqueira........................................................................................................................................................................................544
Gabriela Alves Miranda ........................................................................................................................................................................................463
Gabriela Gomes Rodrigues de Souza Guerra .........................................................................................................................................................501
Gabriella Assumpção da Silva Santos Lopes .........................................................................................................................................................464
Gabrielle Nascimento Batista ................................................................................................................................................................................511
Gelsom Rozentino de Almeida ............................................................................................................................................................................... 52
George Leonardo Seabra Coelho ...........................................................................................................................................................................441
George Luiz de Abreu Vidipó ...............................................................................................................................................................................323
Geraldyne Mendonça de Souza .............................................................................................................................................................................309
Gilmara Rodrigues da Cunha Pereira.....................................................................................................................................................................300
Gilson dos Reis Melo Filho .................................................................................................................................................................................... 42
Giovanni Codeça da Silva .....................................................................................................................................................................................114
Giovanni Latfalla...................................................................................................................................................................................................468
Giselda Shirley da Silva ........................................................................................................................................................................................170
Gizlene Neder........................................................................................................................................................................................................539
Gladys Sabina Ribeiro ...........................................................................................................................................................................................491
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Glauber de Oliveira Montes...................................................................................................................................................................................476


Glauco Costa de Souza ........................................................................................................................................................................................... 71
Glauco José Costa Souza .......................................................................................................................................................................................349
Glícia Caldas Gonçalves da Silva ..........................................................................................................................................................................199
Graciella Fabrício da Silva ....................................................................................................................................................................................239
Grimaldo Carneiro Zachariadhes ...........................................................................................................................................................................145
Guaraci Fernandes .................................................................................................................................................................................................301
Guilherme de Mattos Gründling ............................................................................................................................................................................469
Guilherme Lima Silva Junior.................................................................................................................................................................................270
Guilherme Marchiori de Assis ...............................................................................................................................................................................343
Guilherme Moerbeck.............................................................................................................................................................................................331
Guilherme Muniz Safadi ........................................................................................................................................................................................ 89
Guillaume Azevedo Marques de Saes ...................................................................................................................................................................467
Gustavo Alvim de Góes Bezerra ...........................................................................................................................................................................353
Gustavo de Andrade Durao ...................................................................................................................................................................................510

Hana Mariana da Cruz Ribeiro Costa ....................................................................................................................................................................531


Haroldo de Resende...............................................................................................................................................................................................119
Hayanne Porto Grangeiro ......................................................................................................................................................................................572
Heitor Pinto de Moura Filho ..................................................................................................................................................................................504
Helber Renato Feydit de Medeiros ........................................................................................................................................................................191
Helena de Cassia Trindade de Sá ...........................................................................................................................................................................169
Heliene Chaves Nagasava .....................................................................................................................................................................................479
Heloiza de Cacia Manhães Alves ..........................................................................................................................................................................132
Hendie Tavares Teixeira......................................................................................................................................................................................... 16
Henrique Cesar Monteiro Barahona Ramos...........................................................................................................................................................541
Henrique Dias Sobral Silva ...................................................................................................................................................................................581
Higor Figueira Ferreira ..........................................................................................................................................................................................186
Hosana do Nascimento Ramôa ..............................................................................................................................................................................289

Iara Andrade Senra ................................................................................................................................................................................................261 592


Ieda Avenia de Mello ............................................................................................................................................................................................171
Igor Acácio Corrêa Guimarães ..............................................................................................................................................................................358
Igor Estevam Santos de Oliveira ...........................................................................................................................................................................566
Igor Fernandes de Alencar.....................................................................................................................................................................................171
Igor Nazareno da Conceição Corrêa ......................................................................................................................................................................489
Igor Soares Rodrigues ...........................................................................................................................................................................................204
Ingara Carolinne ....................................................................................................................................................................................................425
Ingrid Fonseca Casazza .........................................................................................................................................................................................262
Ingrid Gomes Ferreira ...........................................................................................................................................................................................215
Ingrid Silva Lucas .................................................................................................................................................................................................540
Ingrid Souza Ladeira de Souza ............................................................................................................................................................................... 63
Iohana Brito de Freitas ..........................................................................................................................................................................................111
Ioneide Maria Piffano Brion de Souza ...................................................................................................................................................................156
Isabel de Souza Lima Junqueira Barreto................................................................................................................................................................513
Isabella de Faria Bretas .........................................................................................................................................................................................482
Isabella Paula Gaze ...............................................................................................................................................................................................227
Isabella Santos Pinheiro ........................................................................................................................................................................................247
Isabella Villarinho Pereyra ....................................................................................................................................................................................143
Isabelle Baltazar Cunha da Cruz............................................................................................................................................................................516
Isabelle Cristina da Silva Pires ..............................................................................................................................................................................208
Isadora de Mélo Costa ...........................................................................................................................................................................................495
Isadora Tavares Maleval........................................................................................................................................................................................493
Israel Pinheiro .......................................................................................................................................................................................................396
Iuri Azevedo Lapa e Silva .....................................................................................................................................................................................376
Iuri Bauler Pereira .................................................................................................................................................................................................531
Ivan Ducatti ............................................................................................................................................................................................................ 48
Ivonete Cristina Silva Campos ..............................................................................................................................................................................274

Jacqueline Ribeiro Cabral......................................................................................................................................................................................383


Jadir Peçanha Rostoldo..........................................................................................................................................................................................269
Janailson Macêdo Luiz ..........................................................................................................................................................................................395
Janaina Martins Cordeiro.......................................................................................................................................................................................160
Janaina Pamplona Ribeiro .....................................................................................................................................................................................387
Janaina Santana Alves da Silva .............................................................................................................................................................................. 39
Janyne Paula Pereira Leite Barbosa .......................................................................................................................................................................461
Jaqueline Vieira de Aguiar ....................................................................................................................................................................................295
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Jeane dos Santos Caldeira......................................................................................................................................................................................197


Jefferson de Albuquerque Mendes.........................................................................................................................................................................412
Jefferson de Almeida Pinto....................................................................................................................................................................................548
Jenifer Cabral ........................................................................................................................................................................................................456
Jerrison Patu de Melo Alves ................................................................................................................................................................................... 34
Jéssica Cristina Resende Máximo..........................................................................................................................................................................333
Jéssica de Freitas e Gonzaga da Silva ....................................................................................................................................................................366
Jessica Silva Tinoco Gimenez ...............................................................................................................................................................................304
João Alberto da Costa Pinto ................................................................................................................................................................................... 48
João Batista da Silva Porto Junior .........................................................................................................................................................................570
João Carlos Escosteguy Filho ................................................................................................................................................................................306
João Cícero Teixeira Bezerra.................................................................................................................................................................................251
João Filipe Domingues Brasil................................................................................................................................................................................439
João Gomes Junior ................................................................................................................................................................................................552
João Henrique de Oliveira Christovão ...................................................................................................................................................................477
João Marcelo Barbosa Dergan ...............................................................................................................................................................................363
João Marcos Mesquita ...........................................................................................................................................................................................506
João Paulo Charrone..............................................................................................................................................................................................405
João Paulo França Streapco ...................................................................................................................................................................................347
João Victor Machado da Silva ...............................................................................................................................................................................399
João Vitor Hugo Menezes do Nascimento .............................................................................................................................................................107
Joceneide Cunha dos Santos ..................................................................................................................................................................................394
Joélia dos Santos Rodrigues ..................................................................................................................................................................................436
Joice Soares ...........................................................................................................................................................................................................322
Jônatan Coutinho da Silva de Oliveira...................................................................................................................................................................538
Jônatas Roque Mendes Gomes ..............................................................................................................................................................................549
Jonathan Mendes Gomes .......................................................................................................................................................................................576
Jonathas Duarte Oliveira de Souza ........................................................................................................................................................................477
Jordan Luiz Menezes Gonçalves ...........................................................................................................................................................................288
Jorge Antonio Dias ................................................................................................................................................................................................470
Jorge Emanuel Luz de Souza.................................................................................................................................................................................315
Josafá Veloso ........................................................................................................................................................................................................245
José Conceição da Silva ........................................................................................................................................................................................310
José Damiro de Moraes .......................................................................................................................................................................................... 60
José Ernesto Moura Knust ...................................................................................................................................................................................... 44 593
José Eudes Alves Belo...........................................................................................................................................................................................118
José Fernandes Neto ..............................................................................................................................................................................................433
José Fernando Saroba Monteiro ............................................................................................................................................................................152
José Juan Pérez Meléndez .....................................................................................................................................................................................504
José Lúcio Nascimento Júnior ...............................................................................................................................................................................492
José Marcio Figueira Junior ................................................................................................................................................................................... 14
José Nicolao Julião ................................................................................................................................................................................................335
José Ricardo Moreno Pinho ...................................................................................................................................................................................436
Josena Nascimento Lima Ribeiro ..........................................................................................................................................................................576
Jougi Guimarães Yamashita ..................................................................................................................................................................................167
Juçara de Souza Nassau .......................................................................................................................................................................................... 93
Julia Chequer.........................................................................................................................................................................................................476
Juliana Bonomo.....................................................................................................................................................................................................202
Juliana Cristina da Rosa ........................................................................................................................................................................................554
Juliana da Conceição Pereira .................................................................................................................................................................................190
Juliana da Silva Drumond......................................................................................................................................................................................496
Juliana Diogo Abrahão ..........................................................................................................................................................................................510
Juliana Marques do Nascimento ............................................................................................................................................................................155
Juliana Prata da Costa............................................................................................................................................................................................406
Juliana Santos de Lima ..........................................................................................................................................................................................278
Juliana Timbó Martins ...........................................................................................................................................................................................326
Julio Cezar Oliveira de Souza................................................................................................................................................................................358
Júlio Cláudio da Silva............................................................................................................................................................................................394
Juniele Rabêlo de Almeida ....................................................................................................................................................................................307

Kaio Tavares Rodrigues ........................................................................................................................................................................................353


Kalna Mareto Teao ................................................................................................................................................................................................434
Kaori Kodama .......................................................................................................................................................................................................294
Karina Avelar de Almeida .....................................................................................................................................................................................145
Kátia Brasilino Michelan .......................................................................................................................................................................................414
Kelly Cristina da Costa Bezerra de Menezes Mamedes .........................................................................................................................................404
Kleverton Bacelar Santana ....................................................................................................................................................................................325

Laíne Soares Mendes.............................................................................................................................................................................................. 76


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Lana Lage da Gama Lima ...................................................................................................................................................................................... 80


Laressa Alves Moraes............................................................................................................................................................................................525
Larissa Bagano Dourado .......................................................................................................................................................................................502
Larissa Cardoso Feres Elias ...................................................................................................................................................................................255
Larissa Nobre de Souza .........................................................................................................................................................................................413
Larissa Velasquez de Souza.................................................................................................................................................................................... 85
Larisssa Mendanha Cabral.....................................................................................................................................................................................270
Laryssa Muniz do Amaral .....................................................................................................................................................................................125
Laura de Souza Cury .............................................................................................................................................................................................. 98
Laura Vianna Vasconcellos ...................................................................................................................................................................................133
Leandro César Santana Neves ...............................................................................................................................................................................571
Leandro Duarte Montano.......................................................................................................................................................................................183
Leandro Miranda Malavota ...................................................................................................................................................................................123
Leda Agnes Simões de Melo .................................................................................................................................................................................543
Leidson Malan Monteiro de Castro Ferraz ............................................................................................................................................................252
Leila Cristina Gibin Coutinho ...............................................................................................................................................................................499
Leila Rodrigues da Silva .......................................................................................................................................................................................409
Lenna Carolina da Silva Solé Vernin.....................................................................................................................................................................387
Léo Manso Ribeiro ................................................................................................................................................................................................279
Leonardo Augusto Silva Fontes .............................................................................................................................................................................575
Leonardo de Freitas Onofre ...................................................................................................................................................................................100
Leonardo de Oliveira Souza ..................................................................................................................................................................................155
Leonardo Dias da Fonseca.....................................................................................................................................................................................528
Leonardo Faria Cazes ............................................................................................................................................................................................165
Leonardo Fernandes Hirakawa ..............................................................................................................................................................................373
Leonardo Leonidas de Brito ..................................................................................................................................................................................357
Leonardo Oliveira Silva ........................................................................................................................................................................................427
Leonardo Seiichi Sasada Sato................................................................................................................................................................................342
Leonardo Silva ......................................................................................................................................................................................................207
Letícia Freixo Pereira ............................................................................................................................................................................................113
Letícia Gonçalves de Mattos .................................................................................................................................................................................. 69
Letícia Moura Gomes Rosa .................................................................................................................................................................................... 29
Letícia Pumar Alves de Souza ...............................................................................................................................................................................336
Letícia Saldanha Simmer ........................................................................................................................................................................................ 83
Licia Goms Quina .................................................................................................................................................................................................150 594
Lilia Reijane Ribeiro dos Santos Menezes.............................................................................................................................................................444
Lina Gorenstein ...................................................................................................................................................................................................... 80
Lincoln de Araújo Santos ......................................................................................................................................................................................536
Linderval Augusto Monteiro .................................................................................................................................................................................348
Lissa dos Passos e Silva ........................................................................................................................................................................................199
Lívia Assumpção Vairo dos Santos .......................................................................................................................................................................486
Lívia Batista da Costa............................................................................................................................................................................................272
Livia Cintra Berdu .................................................................................................................................................................................................206
Livia Claro Pires....................................................................................................................................................................................................551
Livia Goncalves Magalhaes...................................................................................................................................................................................143
Lívia Nascimento Monteiro ...................................................................................................................................................................................195
Lorena Fernandes Antunes ..................................................................................................................................................................................... 94
Lorhan Lascolla de Souza......................................................................................................................................................................................128
Lourdes Madalena Gazarini Conde Feitosa ............................................................................................................................................................ 26
Luaia da Silva Rodrigues.......................................................................................................................................................................................492
Luan Mendes de Medeiros Siqueira ......................................................................................................................................................................360
Luana Pires de Arantes ..........................................................................................................................................................................................376
Luana Rodrigues Mota ........................................................................................................................................................................................... 67
Lucas Bagio Furtoso..............................................................................................................................................................................................330
Lucas Moreira Calvo .............................................................................................................................................................................................406
Luciana Araújo de Souza.......................................................................................................................................................................................407
Luciana Borges Patroclo........................................................................................................................................................................................286
Luciana Correa Barbosa Botelho ...........................................................................................................................................................................281
Luciana de Fátima Marinho Evangelista................................................................................................................................................................101
Luciana Lucia da Silva ..........................................................................................................................................................................................515
Luciana Nery dos Santos .......................................................................................................................................................................................582
Luciana Penna Franca............................................................................................................................................................................................254
Luciana Pucu Wollmann do Amaral ......................................................................................................................................................................478
Luciane Cristina Scarato........................................................................................................................................................................................296
Luciane da Silva Nascimento ................................................................................................................................................................................237
Luciene Pereira Carris Cardoso .............................................................................................................................................................................217
Lucimar Felisberto dos Santos...............................................................................................................................................................................178
Lucius Fabius Ben Jah Jacob Gomes .....................................................................................................................................................................214
Ludmila Gama Pereira...........................................................................................................................................................................................225
Luis Otávio Silva Pincigher Pacheco Vieira ..........................................................................................................................................................493
Luís Ricardo Araujo da Costa................................................................................................................................................................................. 94
Luiz Antonio Belletti Rodrigues ............................................................................................................................................................................135
Luiz Claudio Duarte ..............................................................................................................................................................................................468
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Luiz Felipe Vieira Ferrão ......................................................................................................................................................................................451


Luiz Fernando Mangea da Silva ............................................................................................................................................................................480
Luiz Gustavo Guimarães Aguiar Alves .................................................................................................................................................................179
Luiz Mário Dantas Burity ......................................................................................................................................................................................451
Luiz Mário Ferreira Costa ...................................................................................................................................................................................... 65
Luiza das Neves Gomes ......................................................................................................................................................................................... 65
Luiza Helena Dias Braga ........................................................................................................................................................................................ 32
Luiza Melo Fortunato ............................................................................................................................................................................................285
Luiza Nascimento de Oliveira da Silva..................................................................................................................................................................173
Luiza Rabelo Colombo ..........................................................................................................................................................................................222
Luiza Tonon da Silva ............................................................................................................................................................................................. 79
Lurian José Reis da Silva Lima .............................................................................................................................................................................198

Mabel Meira Mota .................................................................................................................................................................................................381


Magno Fonseca Borges .........................................................................................................................................................................................505
Maiana Tainara Silva Dias ....................................................................................................................................................................................525
Maicon Mauricio Vasconcelos Ferreira .................................................................................................................................................................327
Maira Allucham Goulart Naves Trevisan Vasconcellos ......................................................................................................................................... 24
Maíra Moraes dos Santos Villares Vianna .............................................................................................................................................................494
Manuel Rolph Cabeceiras......................................................................................................................................................................................372
Manuela Rodrigues Fantinato ................................................................................................................................................................................331
Mara Regina do Nascimento .................................................................................................................................................................................423
Marcela Cockell Mallmann ...................................................................................................................................................................................388
Marcela Martins Fogagnoli ...................................................................................................................................................................................270
Marcela Moraes Gomes.........................................................................................................................................................................................302
Marcella Sulis........................................................................................................................................................................................................268
Marcello José Gomes Loureiro ..............................................................................................................................................................................176
Marcello Otávio Neri de Campos Basile ...............................................................................................................................................................484
Marcello Rodrigues Siqueira .................................................................................................................................................................................520
Marcelo da Silva Lins............................................................................................................................................................................................. 53
Marcelo do Nascimento Gambi .............................................................................................................................................................................559
Marcelo Henrique Bezerra Ramos .........................................................................................................................................................................234
Marcelo Neder Cerqueira ......................................................................................................................................................................................540 595
Marcelo Sant´Ana Lemos ......................................................................................................................................................................................443
Marcelo Timotheo da Costa ..................................................................................................................................................................................384
Marcia Barros Ferreira Rodrigues .........................................................................................................................................................................542
Marcia Narcizo Borges ..........................................................................................................................................................................................269
Márcia Oliveira Gama ...........................................................................................................................................................................................428
Marcia Regina da Silva Ramos Carneiro ................................................................................................................................................................ 67
Márcia Spadetti Tuão da Costa ..............................................................................................................................................................................226
Marcio A. Lauria de M. Monteiro .......................................................................................................................................................................... 49
Marcio Douglas Floriano.......................................................................................................................................................................................238
Marcio Lucas Moreira Rodrigues ........................................................................................................................................................................... 22
Marco Marques Pestana ........................................................................................................................................................................................213
Marcos Aguiar.......................................................................................................................................................................................................215
Marcos Guimarães Sanches ...................................................................................................................................................................................172
Marcos Luiz Bretas da Fonseca .............................................................................................................................................................................318
Marcos Moreira Marques ....................................................................................................................................................................................... 23
Marcos Nestor Stein ..............................................................................................................................................................................................557
Marcus Dezemone .................................................................................................................................................................................................567
Marcus Silva da Cruz ............................................................................................................................................................................................403
Marcus Vinicius de Oliveira da Silva ....................................................................................................................................................................104
Marcus Vinícius de Souza .....................................................................................................................................................................................412
Marcus Vinicius Fritsch de Almeida .....................................................................................................................................................................250
Marcus Vinicius Rubim Gomes .............................................................................................................................................................................429
Margarete Farias de Moraes ..................................................................................................................................................................................382
Maria Ana Quaglino ..............................................................................................................................................................................................361
María Cecilia Colombani.......................................................................................................................................................................................431
Maria Celeste Ferreira ...........................................................................................................................................................................................169
Maria Célia da Silva Gonçalves.............................................................................................................................................................................114
Maria da Conceição Vilela Franco ........................................................................................................................................................................423
Maria das Graças Reis Gonçalves .........................................................................................................................................................................229
Maria de Fátima Barbosa da Silva .........................................................................................................................................................................117
Maria de Nazaré Sarges .......................................................................................................................................................................................... 89
Maria do Carmo Gregório .....................................................................................................................................................................................194
Maria Eliza Moreira Zahner ................................................................................................................................................................................... 81
Maria Helena Cavalcanti Virgulino .......................................................................................................................................................................291
Maria Helena de Macedo Versiani ........................................................................................................................................................................109
Maria Helena Valentim Duca Oyama ....................................................................................................................................................................256
Maria Isabel Wang Boselli Rautenberg .................................................................................................................................................................329
Maria Isaura Rodrigues Pinto ................................................................................................................................................................................. 29
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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018
Caderno de Resumos do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias
ISBN: 978-85-65957-09-0
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Maria Júlia Dutra Rabelo.......................................................................................................................................................................................408


Maria Letícia Corrêa .............................................................................................................................................................................................127
Maria Lúcia Bezerra da Silva Alexandre ...............................................................................................................................................................277
Maria Margarida Cintra Nepomuceno ...................................................................................................................................................................136
Maria Regina Candido...........................................................................................................................................................................................427
Maria Sebastiana Reges da Silva ...........................................................................................................................................................................435
Maria Teresa Bandeira de Mello ............................................................................................................................................................................ 87
Maria Teresa Toribio Brittes Lemos ......................................................................................................................................................................430
Mariana Cardoso de Araujo ...................................................................................................................................................................................308
Mariana da Silva Rodrigues de Lima...................................................................................................................................................................... 56
Mariana de Aguiar Ferreira Muaze ........................................................................................................................................................................508
Mariana Franco Teixeira .......................................................................................................................................................................................530
Mariana Kelly da Costa Rezende...........................................................................................................................................................................204
Mariana Nunes de Carvalho ..................................................................................................................................................................................488
Mariana Reis de Castro .........................................................................................................................................................................................316
Mariana Rodrigues Tavares ...................................................................................................................................................................................452
Mariarosaria Fabris................................................................................................................................................................................................. 92
Marieta Pinheiro de Carvalho ................................................................................................................................................................................560
Marília Miranda Alves Carvalho ............................................................................................................................................................................ 82
Marilia Rodrigues de Oliveira ...............................................................................................................................................................................317
Marina Mônica de Freitas ......................................................................................................................................................................................434
Marina Monteiro Machado ....................................................................................................................................................................................566
Mario Sergio Ignácio Brum ...................................................................................................................................................................................212
Marisangela Lins de Almeida ................................................................................................................................................................................185
Mariza da Gama Leite de Oliveira .........................................................................................................................................................................281
Marjorie Nogueira Chaves.....................................................................................................................................................................................397
Marlon de Souza Silva...........................................................................................................................................................................................251
Maro Lara Martins ................................................................................................................................................................................................463
Marta de Carvalho Silveira ....................................................................................................................................................................................419
Marta Ferreira da Silva ..........................................................................................................................................................................................275
Marta Valéria Ribeiro dos Santos Martins .............................................................................................................................................................. 68
Martha Myrrha Ribeiro Soares ..............................................................................................................................................................................378
Martina Spohr......................................................................................................................................................................................................... 47
Maryana Gonçalves Souza ....................................................................................................................................................................................283
Marysther Oliveira do Nascimento ........................................................................................................................................................................120 596
Mateus Martins do Nascimento .............................................................................................................................................................................533
Matheus Caracho Nunes ........................................................................................................................................................................................120
Matheus Da Silva Lima .......................................................................................................................................................................................... 45
Matheus de Carvalho Leibão .................................................................................................................................................................................524
Matheus Henrique Marques Sussai ......................................................................................................................................................................... 68
Matheus Rodrigues da Silva Mello ........................................................................................................................................................................494
Matheus Santos Santana ........................................................................................................................................................................................356
Maurício Gonçalves Margalho ..............................................................................................................................................................................361
Mauro Amoroso ....................................................................................................................................................................................................216
Mauro de Oliveira Tavares Junior .........................................................................................................................................................................134
Mauro Marcos Farias da Conceição ......................................................................................................................................................................581
Mayara Ramos Saldanha .......................................................................................................................................................................................419
Maybel Sulamita de Oliveira .................................................................................................................................................................................190
Melina Teixeira Souza............................................................................................................................................................................................ 84
Melissa de Miranda Natividade .............................................................................................................................................................................232
Michele Helena Peixoto da Silva ...........................................................................................................................................................................428
Michelle Samuel da Silva ......................................................................................................................................................................................172
Milaysa de Oliveira Cabral Paz .............................................................................................................................................................................211
Miriam Cabral Coser .............................................................................................................................................................................................. 81
Mirian Cristina Siqueira de Cristo .........................................................................................................................................................................278
Monica Cristina de Moraes..................................................................................................................................................................................... 22
Mônica de Souza Nunes Martins ...........................................................................................................................................................................127
Morgana Priscila Soares Vivaldo ..........................................................................................................................................................................522
Murilo Gonçalves dos Santos ................................................................................................................................................................................326
Myriam Paula Barbosa Pires Gouvea ....................................................................................................................................................................488

Nadya Maria Deps Miguel ....................................................................................................................................................................................192


Nahyá Soares Nogueira .........................................................................................................................................................................................287
Nara Maria de Paula Tinoco ..................................................................................................................................................................................170
Natália de Fátima de Carvalho Lacerda .................................................................................................................................................................456
Natalia de Souza Miranda......................................................................................................................................................................................446
Natália Gadiolli Carneiro da Silva .........................................................................................................................................................................248
Natasha Moreira Piedras Ferreira ..........................................................................................................................................................................149
Nathalia Agostinho Xavier ....................................................................................................................................................................................402
Nathália Cardoso Rachid de Lacerda .....................................................................................................................................................................404
Nathália de Ornelas Nunes de Lima ......................................................................................................................................................................425
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Nathalia dos Santos Nicolau ..................................................................................................................................................................................235


Nathália Fernandes Pessanha.................................................................................................................................................................................140
Nathália Serenado da Silva ....................................................................................................................................................................................406
Nayanne Magna Ribeiro Viana..............................................................................................................................................................................203
Nielma Nunes Dantas de Lima ..............................................................................................................................................................................387
Niely Natalino de Freitas Leyendecker ..................................................................................................................................................................386
Nilciana Alves Martins ........................................................................................................................................................................................... 58
Nívea Silva Vieira .................................................................................................................................................................................................220
Nivia da Conceição Pombo ...................................................................................................................................................................................565
Nulita Raquel Freitas Andrade ..............................................................................................................................................................................537

Olavo Passos de Souza ........................................................................................................................................................................................... 42


Olívia Dulce Lobo .................................................................................................................................................................................................502

Pamela Mota Bastos ..............................................................................................................................................................................................111


Pâmela Torres Michelette ......................................................................................................................................................................................402
Pâmella Ferreira Campos.......................................................................................................................................................................................346
Pâmella Santos dos Passos ..................................................................................................................................................................................... 41
Patricia Bastos de Azevedo ...................................................................................................................................................................................585
Patrícia Machado Alves.........................................................................................................................................................................................524
Patrick Fernandes Abêlha ....................................................................................................................................................................................... 38
Paula Cristina Pereira Guimaraes ..........................................................................................................................................................................223
Paula dos Reis Moita .............................................................................................................................................................................................180
Paula Ribeiro .......................................................................................................................................................................................................... 94
Paulo Cesar dos Reis .............................................................................................................................................................................................211
Paulo Cruz Terra ...................................................................................................................................................................................................206
Paulo Duarte Silva .................................................................................................................................................................................................399
Paulo Fernando Araujo de Melo Cotias .................................................................................................................................................................. 39
Paulo Roberto Alves Teles ....................................................................................................................................................................................259
Paulo Roberto Elian dos Santos .............................................................................................................................................................................382
Paulo Sergio Delgado ............................................................................................................................................................................................554 597
Paulo Vitor Sauerbronn Airaghi ............................................................................................................................................................................380
Pedro Beja .............................................................................................................................................................................................................515
Pedro Bogossian Porto ..........................................................................................................................................................................................148
Pedro Cassiano Farias de Oliveira .......................................................................................................................................................................... 53
Pedro Damazio Franco ..........................................................................................................................................................................................550
Pedro Ernesto Miranda Rampazo ........................................................................................................................................................................... 22
Pedro Guimarães Marques.....................................................................................................................................................................................318
Pedro Guimarães Pimentel ..................................................................................................................................................................................... 50
Pedro Gustavo Aubert ...........................................................................................................................................................................................469
Pedro Henrique Barbosa Balthazar ........................................................................................................................................................................554
Pedro Henrique Cavalcante de Medeiros ...............................................................................................................................................................485
Pedro Henrique Duarte Figueira Carvalho .............................................................................................................................................................453
Pedro Henrique Pedreira Campos ..........................................................................................................................................................................357
Pedro Henrique Souza dos Santos .......................................................................................................................................................................... 41
Pedro Nogueira da Gama.......................................................................................................................................................................................529
Pedro Parga Rodrigues ..........................................................................................................................................................................................561
Pedro Rocha Fleury Curado ..................................................................................................................................................................................362
Pedro Spinola Pereira Caldas.................................................................................................................................................................................336
Pierre Paulo da Cunha Castro ................................................................................................................................................................................472
Priscila Aquino Silva .............................................................................................................................................................................................573
Priscila Petereit de Paola Gonçalves ......................................................................................................................................................................342
Priscilla Perrud Silva .............................................................................................................................................................................................. 97

Rachel Gomes de Lima .........................................................................................................................................................................................556


Rafael da Silva e Silva...........................................................................................................................................................................................205
Rafael do Nascimento Souza Brasil ........................................................................................................................................................................ 47
Rafael dos Santos Gomes ....................................................................................................................................................................................... 12
Rafael Farias dos Reis ...........................................................................................................................................................................................416
Rafael Martins de Marcelo Fallone........................................................................................................................................................................338
Rafael Mattoso ......................................................................................................................................................................................................210
Rafael Monteiro de Oliveira Cintra .......................................................................................................................................................................328
Rafael Navarro Costa ............................................................................................................................................................................................131
Rafael Peçanha de Moura ......................................................................................................................................................................................343
Rafael Vaz da Motta Brandão................................................................................................................................................................................358
Rafaela Mateus Antunes dos Santos Freiberger .....................................................................................................................................................158
Raick de Jesus Souza .............................................................................................................................................................................................486
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Raimundo Hélio Lopes ..........................................................................................................................................................................................138


Raimundo Nonato de Castro................................................................................................................................................................................... 88
Raisa Monteiro Capela ........................................................................................................................................................................................... 26
Raíssa Barreto dos Santos......................................................................................................................................................................................547
Ramon da Conceição Fagundes .............................................................................................................................................................................. 14
Raphael Oliveira da Silva ......................................................................................................................................................................................163
Raphael Pavão Rodrigues Coelho........................................................................................................................................................................... 81
Raphael Rajão Ribeiro...........................................................................................................................................................................................109
Raquel Alvitos Pereira...........................................................................................................................................................................................577
Raquel Machado Gonçalves Campos ....................................................................................................................................................................486
Rayane Araujo Lopes ............................................................................................................................................................................................420
Rayssa Porto de Araujo Cruz.................................................................................................................................................................................. 18
Rayssa Sampaio Teixeira.......................................................................................................................................................................................346
Regina Coeli Alcantara Silva.................................................................................................................................................................................295
Regis da Costa Argüelles.......................................................................................................................................................................................227
Rejane Rosa do Amaral Monteiro .......................................................................................................................................................................... 29
Renan Costa da Silva .............................................................................................................................................................................................401
Renan Rubim Caldas .............................................................................................................................................................................................311
Renata Augusta Ré Bollis ......................................................................................................................................................................................299
Renata Bastos da Silva ........................................................................................................................................................................................... 11
Renata dos Santos Soares ......................................................................................................................................................................................392
Renata Jardim Quadros..........................................................................................................................................................................................271
Renata Klautau Malcher de Araujo........................................................................................................................................................................173
Renata Rodrigues Brandão ....................................................................................................................................................................................391
Renata Spadetti Tuão.............................................................................................................................................................................................230
Renata William Santos do Vale .............................................................................................................................................................................457
Renato Coelho Barbosa de Luna Freire .................................................................................................................................................................585
Renato Luís do Couto Neto e Lemos ...................................................................................................................................................................... 52
Renato Pereira Brandão .........................................................................................................................................................................................440
Ricardo George Muller ..........................................................................................................................................................................................367
Ricardo José de Azevedo Marinho ......................................................................................................................................................................... 19
Ricardo Núñez Amin Dick ....................................................................................................................................................................................271
Ricardo Pereira Cabral ..........................................................................................................................................................................................373
Ricardo Salles........................................................................................................................................................................................................507
Richard de Oliveira Martins ..................................................................................................................................................................................477 598
Richardson Herculano Santiago.............................................................................................................................................................................. 83
Rita de Cássia Gomes Nascimento ........................................................................................................................................................................231
Roberto Augusto A. Pereira...................................................................................................................................................................................131
Rodrigo Alberto Alves Marques ............................................................................................................................................................................. 40
Rodrigo Davi Almeida ..........................................................................................................................................................................................538
Rodrigo de Almeida Ferreira .................................................................................................................................................................................307
Rodrigo de Azevedo Cruz Lamosa ........................................................................................................................................................................239
Rodrigo de Souza Goulart .....................................................................................................................................................................................390
Rodrigo dos Santos Rainha....................................................................................................................................................................................408
Rodrigo Goyena Soares .........................................................................................................................................................................................506
Rodrigo Maia Monteiro .........................................................................................................................................................................................317
Rodrigo Marins Marretto.......................................................................................................................................................................................498
Rogéria Moreira de Ipanema .................................................................................................................................................................................. 95
Ronaldo Sávio Paes Alves .....................................................................................................................................................................................218
Ronan Bezerra de Araújo ......................................................................................................................................................................................435
Rosa Maria Garcia Monaco ...................................................................................................................................................................................386
Rosana de Oliveira Prado dos Santos ....................................................................................................................................................................261
Rosana Mendonça Ferreira Muniz .........................................................................................................................................................................217
Roselâine Casanova Corrêa ...................................................................................................................................................................................102
Rosely Maria da Silva Pires...................................................................................................................................................................................541
Rosely Tavares de Souza .......................................................................................................................................................................................548
Rosemary Saraiva da Silva ....................................................................................................................................................................................455
Rossana Moreira do Espirito Santo Teixeira..........................................................................................................................................................400
Rubens da Mota Machado .....................................................................................................................................................................................555

Sabrina Carlindo Silva...........................................................................................................................................................................................526


Sabrina Costa Braga ..............................................................................................................................................................................................142
Sabrina Machado Campos .....................................................................................................................................................................................197
Samuel Silva Rodrigues de Oliveira ......................................................................................................................................................................313
Sandrine Alves Barros da Silva .............................................................................................................................................................................520
Sara Pereira dos Santos Bragança ........................................................................................................................................................................... 40
Savio Queiroz Lima................................................................................................................................................................................................ 74
Senia Regina Bastos ..............................................................................................................................................................................................137
Sergio Luiz Monteiro Mesquita .............................................................................................................................................................................355
Sergio Vieira da Silva............................................................................................................................................................................................224
Sérgio Willian de Castro Oliveira Filho ................................................................................................................................................................459
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Shirlei Rodrigues Lourenço da Silva .....................................................................................................................................................................392


Sidney Barata de Aguiar ........................................................................................................................................................................................348
Sidney Silva dos Santos.........................................................................................................................................................................................213
Silene Orlando Ribeiro ..........................................................................................................................................................................................187
Silvana Cristina Bandoli Vargas ............................................................................................................................................................................545
Silvaneide Gonçalves Ferreira ...............................................................................................................................................................................446
Silvério Augusto Moura Soares de Souza ............................................................................................................................................................... 58
Siméia de Nazaré Lopes ........................................................................................................................................................................................180
Simone Aparecida Fontes ......................................................................................................................................................................................454
Sofia Alvarez Dias ................................................................................................................................................................................................. 74
Sonia Regina de Mendonça ...................................................................................................................................................................................228
Stefanie Cavalcanti Freire .....................................................................................................................................................................................453
Stephane Ramos da Costa......................................................................................................................................................................................182
Suzana Bitencourt .................................................................................................................................................................................................283
Suzana Regina Camillo de Abranches ...................................................................................................................................................................255
Suzana Rodrigues Floresta ....................................................................................................................................................................................522
Suzane Mayer Varela da Silva ................................................................................................................................................................................ 83
Suzanne Mendonça dos Santos ..............................................................................................................................................................................383
Sylvia Regina Bastos Nemer .................................................................................................................................................................................. 30

Taciana Sene Lúcio ...............................................................................................................................................................................................381


Talita Almeida Ferreira .........................................................................................................................................................................................564
Talita Daniel Salvaro .............................................................................................................................................................................................442
Talita Francieli Bordignon.....................................................................................................................................................................................220
Tamires Mascarenhas Pecoro ................................................................................................................................................................................154
Tatiana de Freitas ..................................................................................................................................................................................................521
Tatiane Rocha de Queiroz .....................................................................................................................................................................................484
Teresa Vitória Fernandes Alves .............................................................................................................................................................................388
Tereza Renata Silva Rocha ....................................................................................................................................................................................574
Thadeu Mendonça Martins Correa ......................................................................................................................................................................... 37
Thaina Schwan Karls.............................................................................................................................................................................................268
Thaís Marcello de Almeida .................................................................................................................................................................................... 77
Thaís Maria Cruz de Moura.................................................................................................................................................................................... 42 599
Thaise Rezende Lima ............................................................................................................................................................................................. 45
Thalia Stéfany Lima Correia .................................................................................................................................................................................522
Thalles Braga Rezende Lins da Silva ....................................................................................................................................................................415
Thiago Broni de Mesquita .....................................................................................................................................................................................559
Thiago Campos Pessoa Lourenço ..........................................................................................................................................................................504
Thiago Cavaliere Mourelle ....................................................................................................................................................................................132
Thiago de Souza dos Reis......................................................................................................................................................................................505
Thiago Fidelis........................................................................................................................................................................................................133
Thiago Herzog.......................................................................................................................................................................................................243
Thiago Vasquinho Siqueira ...................................................................................................................................................................................233
Thiago Vinícius Mantuano da Fonseca ..................................................................................................................................................................352
Tiago Braga da Silva .............................................................................................................................................................................................379
Tiago Martins Simões ............................................................................................................................................................................................ 20
Tiago Santos Almeida ...........................................................................................................................................................................................330
Tiago Santos Groba ...............................................................................................................................................................................................259
Ticiana Santa Rita .................................................................................................................................................................................................276
Tuanny Dantas Lameirão.......................................................................................................................................................................................523

Ulisses Monteiro Coli Diogo .................................................................................................................................................................................159


Ursulina Maria Silva Santana ................................................................................................................................................................................266

Valdinar da Silva Oliveira Filho ............................................................................................................................................................................. 30


Valéria da Conceição Chaves ................................................................................................................................................................................364
Valtair Afonso Miranda.........................................................................................................................................................................................419
Valtuir Freitas Silva Júnior ..................................................................................................................................................................................... 34
Vandeir José da Silva ............................................................................................................................................................................................174
Vandelir Camilo Neves Deolindo Mario ...............................................................................................................................................................426
Vanessa Batista da Silva ........................................................................................................................................................................................450
Vanessa da Costa Lamas .......................................................................................................................................................................................372
Vanessa de Almeida Moura .................................................................................................................................................................................... 75
Vanessa dos Santos Novais ...................................................................................................................................................................................301
Vanessa Gonçalves Bittencourt de Souza ..............................................................................................................................................................254
Vânia do Carmo ....................................................................................................................................................................................................334
Vânia Leite Fróes ..................................................................................................................................................................................................571
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Velsa de Fátima Donato Teixeira Ferreira .............................................................................................................................................................297


Verena Alberti .......................................................................................................................................................................................................304
Verónica Capasso ................................................................................................................................................................................................... 92
Verônica Santos Borba ........................................................................................................................................................................................... 57
Victor Almeida Gama............................................................................................................................................................................................. 70
Victoria Gonçalves Lisboa ..................................................................................................................................................................................... 37
Vinicius Alves do Amaral .....................................................................................................................................................................................162
Vinícius da Silva Ramos .......................................................................................................................................................................................144
Vinicius de Freitas Morais.....................................................................................................................................................................................570
Vinicius Patrocínio Pereira Costa ........................................................................................................................................................................... 71
Vinícius Rocha do Nascimento..............................................................................................................................................................................213
Vitor Deccache Chiozzo ........................................................................................................................................................................................370
Vitor Hugo Monteiro Franco .................................................................................................................................................................................274
Vitoria A. Fonseca.................................................................................................................................................................................................305
Vitória Fernanda Schettini de Andrade ..................................................................................................................................................................560
Vívian Marcello Ferreira ........................................................................................................................................................................................ 79
Viviane Azevedo de Jesuz .....................................................................................................................................................................................570
Viviane dos Ramos Soares ....................................................................................................................................................................................583
Viviane Grace Costa..............................................................................................................................................................................................288
Viviane Soares Aguiar...........................................................................................................................................................................................265
Vladimir Bertapeli .................................................................................................................................................................................................439
Vladimir Honorato de Paula ..................................................................................................................................................................................503

Wagner Luiz Bueno dos Santos .............................................................................................................................................................................490


Waleska Souto Maia..............................................................................................................................................................................................517
Walkiria Maria de Freitas Martins .........................................................................................................................................................................112
Walter Luiz Carneiro de Mattos Pereira ................................................................................................................................................................507
Wanderson Fabio de Melo...................................................................................................................................................................................... 51
Wanderson Oliveira................................................................................................................................................................................................ 34
Warley da Costa ....................................................................................................................................................................................................580
Washington Dener dos Santos Cunha ....................................................................................................................................................................294
Wellison da Silva Rocha .......................................................................................................................................................................................438
Wesley Garcia Ribeiro Silva .................................................................................................................................................................................322 600
Weslley Fontenele Frota ........................................................................................................................................................................................245
William Marcos Botelho .......................................................................................................................................................................................140
William Vaz de Oliveira ......................................................................................................................................................................................... 25

Yasmin Bragança ................................................................................................................................................................................................... 77


Yasmin Hashimoto Tonini.....................................................................................................................................................................................567
Yasmin Trindade Machado ...................................................................................................................................................................................164
Ygor Martins da Cruz ............................................................................................................................................................................................. 25
Yohanna de Moraes Guimarães .............................................................................................................................................................................. 77

Zuleide Silveira .....................................................................................................................................................................................................285

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Niterói, 23 a 27 de julho de 2018

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