Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
RESUMOS
Márcia Maria Menendes Motta
Raquel Alvitos Pereira
Thiago de Souza dos Reis
(orgs.)
Caderno de Resumos
do Encontro Internacional e
XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio:
História e Parcerias
Rio de Janeiro
Anpuh-Rio
2018
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA
SEÇÃO REGIONAL DO RIO DE JANEIRO
(Biênio 2016-2018)
Conselho Diretor
Presidenta
Márcia Maria Menendes Motta (UFF)
Vice-presidente
Ricardo Figueiredo de Castro (UFRJ)
Secretário-geral
Edmar Checon de Freitas (UFF)
Primeira secretária
Claudia Beltrão (UNIRIO)
Segunda secretária
Silvana Cristina Bandoli Vargas (CP II)
Primeira tesoureira
Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ)
Segunda tesoureira
Tânia Salgado Pimenta (FIOCRUZ)
Conselho Consultivo
Presidenta
Ismênia de Lima Martins (UFF/IHGB)
Secretária
Vânia Leite Fróes (UFF)
Relatora
Lucia Maria Paschoal Guimarães (UERJ)
Conselho Fiscal
Presidenta
Beatriz Kushinr (AGCRJ)
Secretário
Marcus Ajuruam de Oliveira Dezemone (UFF)
Relatora
Mônica de Souza Nunes Martins (UFRRJ)
Secretaria Administrativa
Juceli Silva
Assessor da Diretoria
Thiago Reis
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Reitor
Sidney Luiz de Matos Mello
Vice-reitor
Antonio Claudio Lucas da Nóbrega
Pró-Reitoria de Graduação
José Rodrigues de Farias Filho
Instituto de História
Norberto Osvaldo Ferreras
Departamento de História
Edmar Checon de Freitas
SUMÁRIO
ST 01. 7 ensaios de interpretação da realidade peruana - Mariátegui & História: 90
Anos de Parcerias. Coordenação: Ricardo José de Azevedo Marinho
(UNIGRANRIO), Renata Bastos da Silva (IPPUR/UFRJ)....................................10
ST 11. Diálogos sobre a cidade a partir de Michel Foucault: saber, poder e sujeito.
Coordenação: Fernando Augusto Souza Pinho (UFRJ).......................................116
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
ST 41. Igreja, Sociedade e Poder na Alta Idade Média. Coordenação: Paulo Duarte
Silva (UFRJ), Rodrigo dos Santos Rainha (UERJ)..............................................398
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
ST 57. Uma Idade Média para o século XXI – parcerias e colaborações acadêmicas
na escrita da História. Coordenação: Raquel Alvitos Pereira (UFRRJ), Vânia Leite
Fróes (UFF) ......................................................................................................569
Índice de autores..........................................................................................587
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
10
ST 01. 7 ensaios de interpretação da
realidade peruana - Mariátegui &
História: 90 Anos de Parcerias
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
De acordo com a obra de José Carlos Mariategui, no Peru, assim como no Brasil,
a transição da colonização para a república não se deu em termos de rupturas com
o antigo modo de organização social, antes “a república se sente e até se confessa
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
José Carlos Mariátegui e Caio Prado Junior: a questão agrária como objeto
14
de evolução política nacional - José Marcio Figueira Junior (CPDA/UFRRJ)
Em face aos 90 anos do clássico de José Carlos Mariátegui, Los siete ensayos de
interpretación de la realidad peruana (1928), nosso trabalho busca compilar um dos
ensaios presente no clássico do autor, El problema de la tierra, juntamente com uma
análise recortada do texto publicado cinco anos depois por Caio Prado Junior,
Evolução política do Brasil (1933), de modo a cruzar dois autores marxistas que
escreviam em tempos próximos no Peru e no Brasil e buscavam interpretar os
respectivos quadros, o que nos leva, em relação a Mariátegui, às características
“fundamentalmente econômicas” da sociedade peruana fundamentadas pelo modo
no qual o processo de colonização hispânica, ao ser processado mediante a já
existência de povos em terras que viriam a ser colonizadas e o posterior uso desses
povos em força de trabalho, gerou resultados objetivos no arranjo da sociedade
peruana, inserindo a questão da terra como problema concreto de formação política
da mesma, vide que os processos históricos ocorridos após a Independência não
foram ainda suficientes para gerar desenvolvimento capaz de cancelar esses efeitos
nocivos, o que aproxima Mariátegui de Caio Prado Junior no que tange o
argumento, visto que, ao analisar o processo de colonização de terras do Novo
Mundo e o Império Brasileiro nascido no processo de Independência, o autor busca
argumentar, convocando diversos episódios ocorridos neste recorte, sobre o modo
como a sociedade brasileira, incluindo a formada e residente do campo, evoluiu
politicamente ao longo do tempo, tendo estes anseios sido traduzidos ou não pela
figura estatal, primeiro portuguesa, depois brasileira. Assim sendo, este exercício
procura transversalizar os dois autores doravante a questão agrária como objeto
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O presente trabalho tem como objetivo analisar os atuais desafios para efetivação
da gestão democrática da educação (Constituição federal de 1988) no cotidiano de
uma escola estadual do Rio de Janeiro, a luz das contribuições analíticas de José
Carlos Mariétegui, em sua obra “7 ensaios de interpretação da realidade peruana”.
Publicada em 1928 no Peru, nos deteremos no ensaio “El proceso de la instrucción
pública”. Momento que o autor se debruça com maior intensidade no entendimento
da realizada da educação peruana. Perú e Brasil, inseridos no contexto da sociedade
moderna ocidental, se aproximam em suas características de sociedade pós-
colonial, em relação com o sistema mundo. Com isso, em ambos os países a
educação como instituição sustentadora da empresa colonial, ganha sua dualidade.
Sendo um tipo de educação e instituição escola destinada ao pequeno grupo da
elite, pautada inicialmente no pensamento moderno acidental dos colégios
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
alimentos), pois a falta de comida seria quase impossível no sistema peruano, sua
organização abolia um sistema individualista e a população sempre se dedicava em
prol da comunidade (evitando acumulação de riquezas). E mostra também nesse
trecho como a conquista espanhola desconfigurou o sistema e a cultura de
coletividade e como a independência manteve o sistema econômico espanhol e
quais foram os resultados desta atitude.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
21
ST 02. A história da loucura e dos
saberes médico-psicológicos:
instituições, teorias, atores e práticas
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este texto tem por objetivo descrever e analisar o conteúdo dos discursos de
médicos, sobretudo psiquiatras e médicos legistas, e juristas cerca da pena de
morte. O contexto dos anos 1930 e início dos anos 1945, a chamada Era Vargas,
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A presente pesquisa tem por objetivo analisar o uso da fotografia como ferramenta
científica no campo da psiquiatria no Rio de Janeiro, entre os anos de 1906 e 1944,
no âmbito do Hospício Nacional de Alienados. Neste sentido, este projeto pretende
investigar a documentação fotográfica produzida no Hospício Nacional de
Alienados, buscando compreender como essas imagens constituíram-se como um
dispositivo fundamental para a prática do saber psiquiátrico e fizeram parte do
impulso modernizante da Primeira República. Nossa questão central é investigar
como o Hospício buscava se representar e como os loucos eram representados
através do dispositivo fotográfico, buscando analisar o repertório de fotografias que
foram produzidas tanto institucionalmente como pela imprensa do período até 1944
ano de encerramento do HNA.
26
Médicos e Psiquiatras na fundação da Revista Brasileira de Psicanálise
(1967) - Lourdes Madalena Gazarini Conde Feitosa (Universidade do Sagrado
Coração), Roger Marcelo Martins Gomes (Universiade Sagrado Coração)
27
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
28
ST 03. A Literatura de Cordel e suas
relações com a História, as Migrações,
os Territórios e a Educação
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este artigo tem como proposta mostrar como a cultura popular nordestina, expressa
no cordel, ainda se faz tão presente dentro da cidade do Rio de Janeiro, mais
especificamente na Feira de São Cristóvão. A literatura do cordel – objeto aqui em
estudo – será usada como base para se perceber o quanto traços dessa tradição
materializam-se nos espaços da Feira. Pretende-se a partir da observação dos
espaços e de entrevistas com os comerciantes mensurar as razões para a escolha de
traços da tradição cordelista presentes na ordenação e na ornamentação da Feira
como um todo. Em suma, esse trabalho tem como objetivo mostrar como o cordel
dialoga com os espaços físicos presente nesse patrimônio e resgatar, dessa forma,
as permanências e rupturas que marcam os seus mais de 70 anos de existência.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este artigo visa apresentar o projeto de extensão que vem sendo realizado na
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro intitulado “Identidades e Expressões
Populares no Rio de Janeiro: Territórios da Literatura de Cordel” e que tem como
objetivo compreender a produção e a manutenção da Literatura de Cordel na
cidade, levando em conta, principalmente, o papel da Academia Brasileira de
Literatura de Cordel, da Feira de São Cristóvão e da Fundação Casa de Rui Barbosa
como locais de produção, divulgação e preservação do cordel brasileiro. Como
metodologia de trabalho adota-se a análise de fontes, a produção de fichas
informativas sobre a maior parte dos cordéis em arquivos, a visitação e as
entrevistas diretas com os produtores e divulgadores do cordel na atualidade da
capital fluminense. Antes, contudo, de expor os caminhos que o projeto segue e os
resultados que espera alcançar, pretende-se aqui uma reflexão sobre o papel
fundamental da categoria de Patrimônio Imaterial para a perpetuação, ainda que
com transformações, dessa forma de expressão literária no contexto cultural
brasileiro.
32
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
33
ST 04. A pesquisa de iniciação
científica: experiências e práticas
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A vingança era uma prática recorrente entre os vikings, envolvia questões de honra
e coragem e ressaltava o valor do principal núcleo social da sociedade germânica,
a família. Na Islândia pré-cristã (870-1000), a resolução de conflitos por meio da
vingança violenta ocorria, porém, devido a fatores que envolviam o tamanho
territorial da ilha, distanciamento do continente e a intenção de se evitar um
confronto generalizado incontrolável. A vendeta entre pequenos grupos, ou
36
exercida de maneira individual em casos isolados, eram as formas predominantes.
Com o cristianismo consolidado na região, no ano 1000, e com o Estado Livre
Islandês já estabelecido desde o ano de 930, as resoluções dos conflitos passaram
a ser promovidas cada vez mais através de acordos em que as compensações
financeiras se tornaram correntes. Esta tentativa de controle da violência sofreria
um forte abalo com o início da guerra civil em 1220, que se estenderia até 1264,
configurando-se um período de violência deflagrada na Islândia. A proposta do
projeto de Iniciação Científica que desenvolvo na UFF, sob orientação do prof. Dr.
Mário Jorge da Motta Bastos, está centrada em utilizar os atos de vingança
realizados pelos deuses presentes nas fontes mitológicas nórdicas com o intuito de
estruturar o ethos violento presente nas práticas de vingança que se articulavam na
Islândia do período pré-cristão até o fim do Estado Livre em 1264. Para a
abordagem em questão utilizamos, além das fontes mitológicas, compilados de leis
islandesas de conteúdo variado que abarca o período pré e pós-cristianização. A
pesquisa tem por objetivo problematizar a utilização das fontes mitológicas
nórdicas para o estudo da religiosidade e da sociedade islandesa da Era Viking,
além de contribuir com a crescente expansão do interesse pela produção de
materiais voltados à Escandinavística em língua portuguesa. Ademais, as análises
da religiosidade e da vingança privada em contexto viking auxiliam no
entendimento não só das relações circunscritas aos países escandinavos, mas
também de casos intrínsecos a outros recortes espaço-temporais. Nesta
apresentação, pretendemos, ainda, refletir sobre a importância da iniciação
científica na formação profissional do graduando em História. Para tal, buscaremos
apresentar o processo de seleção e tratamento das fontes primárias por nós
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho tem por objetivo identificar quem eram os pobres da cidade do Rio
de Janeiro na virada do século XIX para o século XX. Para tal, irei estudar o perfil
da infância abandonada e, na medida do possível, caracterizar a família que
abandonava a criança – através da leitura dos bilhetinhos que cada vez mais
acompanhavam as crianças deixadas na roda dos expostos da Santa Casa da
Misericórdia do Rio de Janeiro. O período estudado é marcado pela chegada
significativa de imigrantes no Brasil e pelo processo de Abolição da escravatura.
Interessa perceber de que maneira essas mudanças influenciaram no perfil (cor e
estado de saúde) das crianças enjeitadas no Rio de Janeiro, analisando os registros
e as cartas deixadas junto aos recém-nascidos.
O presente trabalho tem como intento analisar as diferentes ideias que compõem o
conceito do Diabo durante o período conhecido como medievo. Partindo do
37
pressuposto que diferentes entidades tomam posteriormente a forma de um único
adversário, o Diabo, dentro do próprio contexto teológico cristão. Para
fundamentar esse pressuposto será analisado e exposto textos de monges católicos
que escreveram sobre a figura do Diabo e seus mitos, durante o medievo, onde será
analisado as descrições das características individuais e específicas de cada
entidade relacionada ao Diabo; tais como Lúcifer, Satanás, Besta, Dêmonio e
Satan(Shaitan) e posteriormente será analisada a questão do maniqueísmo católico
durante o medievo, tendo suas origens na filosofia religiosa sincrética e dualística
fundada e propagada por Manes ou Maniqueu no século III, estabelecendo assim
as bases para a formação final da concepção de um único adversário opositor ao
Deus cristão, e sua também utilização para controle social, político e religioso.
Demonstrando assim um paralelo entre as diferentes noções sobre as entidades
relacionadas a figura do Diabo e sua posterior e intencional, dada as influencias e
contexto social da época, reunião em uma única figura opositora que se opõe aos
propósitos e ideias representados pela Igreja e seu credo.
A FEB “de baixo para cima” e seus efeitos sobre a sociedade - Rodrigo Alberto
Alves Marques (Universidade Estácio de Sá)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Por que o samba passou a ser comercializado? Em 1920, se alguém fosse visto
dançando, ou cantando samba era preso por vadiagem. Então irei responder como
algo tão descriminado se tornou hoje em dia patrimônio cultural do Brasil, sendo o
Brasil um país ainda tão racista, porque uma música que antes era considerada de
“preto” por ter origem africana, com músicas que serviam como forma de
resistência para expor , para expressar a opressão que os mesmos sentiam na época
colonialista consegue agradar todas as etnias e consegue gerar tanto lucro ao Brasil
na indústria fonográfica.
José Justiniano da Rocha, considerado pelo Barão do Rio Branco como o primeiro
dos jornalistas do seu tempo, demonstrou mais que nenhuma outra figura, o peso
que a imprensa adquiriu no ambiente político imperial, na qual pôde participar e
ser reconhecido durante sua estreia em 1836, como um dos redatores do jornal O
Atlante, e em pouco tempo, do O Cronista. Desde sua entrada no mundo
jornalístico, se viu solidamente posicionado no Conservadorismo, se aproximando
42
do Emergente Partido Conservador e logo se elegendo Deputado. Incessante em
sua produção, Justiniano continuou a analisar e moldar o pensamento brasileiro
desde a Regência até a década de 1860, quando faleceu ainda com três obras ainda
inacabadas. Buscamos nesta pesquisa, através da leitura dos Anais do Parlamento,
e do jornal O Regenerador, observar a trajetória ideológica e politica de Justiniano,
de Jornalista para Político para Jornalista novamente. Esta trajetória, encaixada
dentro de uma cultura política que marcou a década de 1850, definida em grande
parte por figuras próximas de Justiniano, como o Marques de Paraná e Nabuco de
Araújo, teve imenso impacto no pensamento conservador de sua época, assim
como em décadas tardias. Ao utilizar a Imprensa como uma ferramenta para a
transmissão de seu posicionamento Político, Justiniano provava a capacidade desta
de influenciar as sociedades civis e políticas de qualquer época. O autor poderia
elevar uma figura ao ponto do martírio, e ao mesmo tempo atacar outra
impiedosamente. O jornal O Regenerador esteve envolvido em questões políticas
que concernem a meados da década de 1850 e ao início da década de 1860,
situando-se em um ambiente político marcado pelo chamado “Gabinete da
Conciliação”. Formado em 1853 e dissolvido em 1856, e composto por ditos
Conservadores e Liberais, a Nona Legislatura atraiu destaque por sua longa lista de
realizações e reformas. Este “Gabinete da Conciliação é popularmente descrito
como a tentativa Imperial de preservar o equilíbrio político da nação. Gabinete ao
qual Justiniano da Rocha pertenceu, foi liderado por figuras como o Marques de
Paraná e o Ministro da Justiça Nabuco de Araújo, sendo responsável por uma série
de reformas que transformaram o panorama político brasileiro. Conceitos como
Monarquia, Municipalidade, Federalismo, democracia, e religião seriam
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
46
ST 05. A produção da História e o
marxismo
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Nenhum outro tema despertou maior interesse entre os marxistas brasileiros que o
do "desenvolvimento". Pelo olhar histórico, debateu-se qual modo de produção
vigorou no país durante o período colonial e imperial, além da forma como a
economia brasileira se vinculou ao mercado mundial em expansão a partir do
século XVI. Como proposição política, debruçaram-se tais teóricos na
compreensão do "atual estágio de desenvolvimento" com o intuito de elaborar
alternativas autônomas ou - de forma menos radical - uma melhor integração ao
capitalismo internacional. A segunda metade do século XIX é palco da
efervescência tanto da economia cafeeira quanto - paradoxalmente - da rebelião
escrava, culminando na derrocada de uma relação de produção (fundada num modo
específico de produção). No entanto, o assentamento das relações de trabalho em
novas formas jurídicas (“livre” contrato de compra e venda da força de trabalho)
não levou à extinção da “lavoura nacional”. Ainda assim, a superação do
escravismo colonial não significaria imediata e obrigatoriamente o
desenvolvimento da economia industrial. Antes disso, serviu para a diversificação
e incremento de uma economia agrária baseada em formas não capitalistas (muitas
50
delas semi servis ainda que parcialmente assalariadas) durante significativo
período de tempo. Por outro lado, é impossível negar, mesmo para a temporalidade
em questão, que o Brasil “se desenvolveu”: ferrovias foram implantadas
transportando o café com maior velocidade e deslocando a força de trabalho
(escravizada ou colonata) para a lavoura, cidades vislumbraram rápidos
crescimentos demográficos e reformas urbanizadoras e o aparato jurídico-
normativo foi emparelhado com o das sociedades “desenvolvidas”. Optamos por
afirmar, no entanto, que o Brasil sofreu um processo de atualização histórica
assentado em sua condição de dependência econômica, o que resultou numa
modernização reflexa. O que isto difere das explicações tradicionais é o que
queremos dissertar neste trabalho, debatendo o período que nos parece decisivo
para a polêmica em questão, através de um instrumental teórico distinto do
usualmente aceito pela historiografia tradicional. Este aporte é fornecido
fundamentalmente por três conjunto de autores: Darcy Ribeiro e os conceitos
elaborados em torno da ideia de um “processo civilizatório”; Jacob Gorender em
seu “escravismo colonial” e José de Souza Martins a respeito do colonato como
regime de trabalho; e a Teoria Marxista da Dependência edificada por Theotonio
dos Santos, Vânia Bambirra e Ruy Mauro Marini.
Caio Prado Jr foi um dos pioneiros a tratar da história econômica do Brasil. Nas
décadas de 1930 e 1940 produziu trabalhos que, posteriormente, seriam
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este texto está dividido em duas partes. Na primeira parte, tratei de como alguns
autores abordam a conspiração e o papel do complexo IPES-IBAD no golpe de
1964, bem como as motivações do golpe. Na segunda parte, abordo a trajetória do
sindicalismo de trabalhadores rurais no sul do Estado da Bahia, especificamente de
um grupo de sindicalistas inicialmente ligados ao Partido Comunista do Brasil
(PCB) que em 1952 fundaram o sindicato de Trabalhadores Rurais de Ilhéus e
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Em 1952 a Bolívia passou por uma das mais marcantes transformações sociais do
continente. Sob a liderança dos trabalhadores mineiros. A tradição de organização
sindical boliviana remonta à década 1940 com a organização da Central Obrera
Boliviana (COB) e a Federação Sindical dos Trabalhadores Mineiros Bolivianos
(FSMTB) que, dentre outras organizações sociais e partidos políticos de esquerda.
Nosso trabalho pretende traçar um panorama das organizações envolvidas na
Revolução de 1952, bem como iluminar aspectos por vezes esquecidos pela
54
historiografia brasileira.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
55
ST 06. Anarquismo em questão:
conceitos, práticas, circulação e
trajetórias.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
"Uma caretinha para todos". Escritos de Domingos Ribeiro Filho nas páginas
da revista Careta. - Mariana da Silva Rodrigues de Lima (UERJ)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Earth, que funcionou até o ano de 1917, momento no qual Emma - juntamente com
seu companheiro Alexandre Berkman - foi deportada para a Rússia. Goldman
participou de importantes eventos históricos, entre eles a Revolução Russa e a
Revolução Espanhola e também desenvolveu uma série de interpretações sobre
esses eventos. Entretanto, a visão desenvolvida pela militante, mesmo mostrando-
se em convergência com a historiografia mais recente, foi, por muito tempo,
obscurecida e/ou negligenciada nos estudos históricos e sociais. Ainda no início do
século XX, Emma foi capaz de defender ideias que se aproximam das concepções
feministas da geração de 1970, chamando a atenção, em seus artigos, para o caráter
“cultural” da opressão que as mulheres sofriam/sofrem, e o intuito do presente
trabalho é retratar, tendo como base artigos escritos por Emma e publicados,
inicialmente, na revista Mother Earth, os apontamentos que a revolucionária faz
sobre o movimento feminista da época, como também compreender o que ela
acreditava ser necessário para a verdadeira emancipação da mulher. Por isso, o
objetivo desse trabalho é retratar parte da trajetória pessoal de Goldman, com base,
na sua autobiografia Vivendo Minha Vida, mas, principalmente, abordar o caráter
singular do feminismo de Emma Goldman.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
“mito Ferrer y Guardia” e procura indicar como se deu sua apropriação no campo
das experiência educacionais no Rio de Janeiro pelos ativistas anarquistas.
Nesta apresentação, pretendemos refletir sobre a ação dos militantes libertários que
atuaram no Rio de Janeiro, nas duas primeiras décadas do século XX, priorizando
a reflexão sobre a importância da obra de Piotr Kropotkin, e de seus conceitos
primordiais, como a importância da solidariedade e a da ajuda mútua nas
sociedades no seu processo evolutivo. Na percepção doutrinária do movimento,
especialmente nos seus espaços de produção e análise do conhecimento, como as
revistas, jornais e centros de estudos, as discussões teóricas, em grande parte eram
influenciadas por conceitos decisivos do período analisado, como o evolucionismo
e o cientificismo. Essas ideias legitimavam a defesa inconteste dos libertários, de
que a Revolução Social estava a caminho, e que para essa etapa evolutiva da
sociedade se estabelecesse, era necessária uma melhor formação dos explorados,
para se formar e consolidar uma consciência libertária. A visão de que era
necessário elevar a formação racional e científica dos explorados para se alcançar
uma sociedade igualitária, onde a emancipação dos trabalhadores também estaria
vinculada a sua emancipação intelectual foi muito intensa nessa militância
libertária carioca, e um autor em especial exerceu uma forte influência, o
pesquisador, geógrafo e anarquista, Piotr Kropotkin. Não só no Rio de Janeiro, mas
em outros centros econômicos e industriais que se estabeleciam na América Latina,
nas duas primeiras décadas do século XX, como Buenos Aires, nos meios
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
¡Viva el Amor Libre! ¡Viva la unión libre! Discursos sobre amor e sexualidade
no periódico La Voz de la Mujer (Buenos Aires, 1896-1897) - Ingrid Souza
Ladeira de Souza (UNIRIO)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
64
ST 07. As Direitas, suas bases
intelectuais, expressões e vertentes
contemporâneas no Brasil e no mundo
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Em fins do século XIX e inícios do século XX, o pensamento ocidental passou por
inflexões acerca da sua própria capacidade de produzir conhecimento. Romper-se-
ia, segundo Henry Kariel, a lógica da filosofia política tradicional. Para Kariel, três
pensadores seriam responsáveis por tais rupturas: Nietzsche, Freud e Mannheim.
A transição dos séculos esteve impregnada por importantes mudanças no mundo
civilizado pela racionalidade: a emergência do proletariado; a tentativa de
adequação da Igreja Católica às condições de desigualdade social que faziam
transparecer as contradições das questões sociais, enquanto a expansão imperialista
moldava as relações econômicas, sociais e políticas mundiais sob a lógica do
mercado. No início do século XX, alguns intelectuais, críticos do que consideravam
o ceticismo do século XiX, defendiam a possibilidade de constituírem um novo
67
pensamento capaz de recuperar a crença numa possível nova síntese equilibrada e
harmoniosa do conhecimento. Nesta perspectiva, punham-se contra o pensamento
liberal e comunista. Reivindicavam, ante ao cosmopolitismo e avanços
tecnológicos, a “rehumanização” do homem. Neste sentido, correntes intelectuais
e políticas que consideram a necessidade de uma “revolução espiritual”, tomariam
forma como condição alternativa às chamadas interpretações materialistas das
possibilidades de organização da humanidade. Este artigo pretende discutir o
projeto integralista brasileiro de Revolução espiritual, construindo um debate com
as influências do pensamento de Popper e Jaspers na constituição da “Doutrina do
Sigma
XIX, a região da Palestina vinha sendo disputada pelos Estados-Nações com fins
estratégicos. A expansão imperialista impulsionou os conflitos como forma de
atribuir importância estratégica aos interesses capitalistas e encontrou no
movimento sionista um aliado ideológico e político. Deste modo, as condições de
reordenamento geopolítico após a Segunda Guerra consideravam reconhecimento
do nacionalismo judaico com apoio ao alinhamento ao bloco capitalista no contexto
da Guerra Fria, enquanto o nacionalismo árabe era visto com desconfiança pelo
Ocidente. A região disputada teria impulsionado o sistema de distinções entre os
povos semíticos palestinos, de origens variadas, mas, principalmente, judias e
árabes. Assim sendo, sob a hegemonia judaica, as propostas da Educação dos
estudantes israelenses vêm sendo definidas com o objetivo de tornar “invisíveis”
as regiões ocupadas pelos palestinos com a intenção de educar gerações de jovens
israelenses insensíveis às condições desumanizadoras que o Estado lhes impõe. A
política israelense de segregação humana do residente palestino muçulmano pode
ser interpretada dentro do espectro das definições de Direita por seu viés autoritário
e antipopular, de violência desumanizadora de um Estado sobre parcela do seu
povo.
Este trabalho, tendo como base o segundo capítulo da minha tese de doutoramento,
intitulado a busca pelo “poder moderador”: o fracasso do liberalismo no Brasil, tem
como meta analisar profundamente o pensamento de Golbery do Couto e Silva, em
seu lócus de atuação no período recortado em nossa pesquisa: a ESG, cuja atuação
tanto quanto estagiário e logo em seguida como professor seria determinante para
a estruturação de uma corrente política dentro das Forças Armadas, que seria
denominada de “esguianos”, contando com militares de renomes como Cordeiro
de Farias, Juarez Távora e Humberto de Castello Branco. A atuação desse
segmento marcou profundamente os acontecimentos da História Política Brasileira,
tais como o suicídio de Vargas (1954), a tentativa de impedir a posse do presidente
eleito Juscelino Kubitschek (1955), a tentativa de impedir a posse do vice-
presidente João Goulart após a renúncia do presidente Jânio Quadros (1961), a
queda do presidente Goulart e a instauração do Regime Militar (1964). Para
analisar a atuação de Golbery na ESG, temos que adentrar em sua obra intelectual
para compreender a sua formação e atuação política, que marcou o país durante
duas décadas (1961-1981), período compreendido entre a luta pelo poder, ou
melhor, a luta contra o simbolismo representado pelo ideário do “trabalhismo”, e
consequentemente contra as “ideias exóticas” que contaminaram o sistema
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Os anos 60 nos EUA foram marcados pela efervescência política e cultural. Esta
agitação se fez presente em todos os lados do espectro político, abarcando tanto a
direita quanto a esquerda. Em um período de surgimento de novos atores políticos
dentro da sociedade civil estadunidense, onde as atividades do movimento negro,
o movimento feminista, os protestos estudantis e as manifestações contra a guerra
do Vietnã estão ganhando cada vez mais notoriedade dentro da arena política. O
segmento libertário rompe com os demais setores que compõe a direita norte
americana, por causa de discordâncias ideológicas internas. Esta cisão fez com que
os Libertários procurassem por novos potenciais aliados, enxergando no
surgimento da Nova Esquerda uma possibilidade de união. A revista Left and Right
A Journal of the Libertarian Thought, foi fundada justamente com o objetivo de
71
aproximar os Libertários da direita com os grupos constituintes da Nova Esquerda
e a partir disso consolidar uma nova aliança que integrasse ambos os grupos. Este
trabalho tem como objetivo traçar as linhas editoriais gerais da revista para
descobrir de que forma esta aliança com a esquerda influenciou a direita libertária.
72
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
73
ST 08. Construções e representações
de gênero: abordagens
multidisciplinares e parcerias
acadêmicas
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O proposto artigo tem por intento a análise da história estética da Mulher Maravilha
74
enquanto reflexo de uma dinâmica cultural. A super-heroína, criada em 1941,
mudou o uniforme, algumas vezes sutilmente e noutras radicalmente, em processos
historicamente localizados de expectativas e adequações sobre a imagem feminina.
Através de contextualizações históricas e de análise crítica, a história da ficcional
personagem Mulher Maravilha reflete, através de suas vestimentas, as mudanças
nos discursos e imaginários sobre o corpo da mulher e nos socialmente construídos
padrões de beleza e estética. Durante mais de 70 anos de mercado de
entretenimento, as diversas equipes que ocuparam-se com as narrativas e as
imagens buscaram atualizar a personagens para os públicos femininos de cada
geração, entre erros e acertos. Este trabalho pretende resgatar as mudanças mais
significativas e as motivações sociais sobre a estética feminina e os
comportamentos baseados em gênero que fomentaram tais alterações.
Neste trabalho, se tem como proposta revisitar um dos mais importantes momentos
de luta por representação do movimento tanto de mulheres como o feminista na
desde o final do século XIX, canalizado pelo embate travado na conquista do
sufrágio feminino. Trata-se, mais especificamente, da atuação do movimento
sufragista, que ganha novo fôlego em meados do século XX, conquistando novos
espaços na agenda política brasileira. Essa ascensão participativa num cenário de
grande turbulência política para o país, aqui se coloca em três momentos: o Estado
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Refletiremos acerca das falas das mulheres que publicaram artigos ou contos nas
revistas Brasil Feminino e Momento feminno entre os anos de 1930-1950. Este
corte cronológico foi feito por acreditarmos que durante este período, é possível
encontrar vestígios de mudanças na condição feminina da sociedade brasileira.
Analisaremos o contexto da conquista do voto feminino nos anos 30 e o processo
para a sua autonomia política, econômica e social até os anos 50. Partindo das
análises feitas dos escritos femininos presentes nas revistas, refletiremos sobre a
visão destas em assuntos como o divórcio, a educação superior, a inserção da
mulher no mercado de trabalho e o sufrágio feminino. Afinal, o ideal feminino
seguia em oposição ao feminismo.
Bibeasilá, muçulmana que com seu cavalo entrava nas terras portuguesas de Goa -
então capital do Estado da Índia , seria acusada de impedir conversões ao
catolicismo, e por esse motivo, seria banida dos territórios. Assim como Maria,
cristã-velha, que teria buscado curas com feiticeiros nativos, ou Isabel, cristã-nova
que em acusada de blasfemar contra a fé católica, foi presa e sentenciada pelo
79
Tribunal do Santo Ofício de Goa, o único tribunal inquisitorial português existente
para além das terras do Reino. Essas mulheres foram algumas dentre as centenas
de condenadas nas primeiras décadas de funcionamento dessa singular Inquisição,
situada no difuso Estado da Índia, onde uma grande parte da população permanecia
hindu ou islâmica, e para onde diversos homens e mulheres, por variadas razões,
migravam. Este trabalho, portanto, originado a partir de questões levantadas em
minha pesquisa sobre a Inquisição de Goa, com base em registros de processos do
Tribunal, visa analisar as trajetórias de mulheres condenadas no período: como
demais cristãs-novas, como Isabel, eram processadas? Mulheres que foram presas
por desafiar a ordem colonial e cristã como Bibeasilá são frequentes nos
documentos? É possível perceber através deles como os contatos entre diferentes
culturas e práticas religiosas se expressaram no cotidiano feminino no Estado da
Índia? E ainda, como ser homem e ser mulher poderia acarretar em diferentes
tratamentos e julgamentos enquanto réus e rés do Santo Ofício no contexto
asiático? Como isso se atrelava às origens étnicas e religiosas desses sujeitos? Essas
questões, amplas, mas que podem ser abordadas através das fontes manuscritas
disponíveis, objetivam fazer refletir acerca do gênero no colonialismo português
na Ásia, e perceber de que modo a voz do outro lado da mesa inquisitorial, mesmo
se abafada, deixou vestígios.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O amor cortês em Dom Quixote como subversão das relações de gênero nas
narrativas cavaleirescas - Caio Rodrigues Schechner (UNIRIO)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
No medievo tardio o matrimônio entre nobres não era motivado por razões do
coração, mas sim pelos interesses da linhagem, como firmar alianças e estabelecer
tréguas entre reinos. Os acordos para efetivação do casamento poderiam perdurar
por longo tempo e envolvia, durante o processo, desde os procuradores até os reis
e rainhas. Depois de realizada toda a transação do consórcio, as infantas podiam
partir para o novo reino na companhia de suas aias. Contudo, era bastante comum
essas infantas serem preteridas pelos reis ou infantes e terem seus casamentos
anulados quando estes optavam por outra mulher que oferecesse mais recursos e
privilégios políticos, ou a quem eles se enamorassem. Neste presente artigo, a partir
das discussões de gênero e das imbricações entre a antropologia e a história,
almeja-se tecer uma breve análise acerca do casamento, a importância das rainhas
no decorrer das negociações e o papel das infantas durante esse processo de ida a
esses reinos estrangeiros.
Revisitar a Idade Média portuguesa com um novo olhar, um olhar do século XXI,
é uma tentativa cheia de esforços para não cometer anacronismos. Nossa tentativa,
então, é observar e analisar seres humanos, representações de suas ações,
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
86
ST 09. Cultura Visual e História: as
imagens em debate
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
produção. Tal prática constitui uma peça fundamental para a compreensão e leitura
dos significados dessas imagens.
Este trabalho tem como proposito realizar uma breve análise do filme "Doctor
Strange", de 2016, e evidenciar aspectos característicos do Movimento New Age
(MNA), Nova Era, presentes no filme. O objetivo é identificar os principais
aspectos dessa nova consciência religiosa, que estão presentes no filme, e
relacioná-los a análises existentes sobre esse movimento religioso. Anthony Albert
90
D´Andrea, sobre o movimento, diz que a “sua invisibilidade, tal qual um iceberg,
oculta números expressivos sobre aqueles que, em graus variados, se envolvem
com o New Age hoje”, para comprovar tal afirmação o autor expõe dados que
demonstram os números expressivos de pessoas que tem ligação com o movimento
nos Estados Unidos, no Canadá, na Grã-Bretanha e em países em desenvolvimento
como o Brasil. No Brasil, por exemplo, cerca de 2 milhões de pessoas estão ligadas
ao movimento de acordo com os dados, que, cabe ressaltar são anteriores ao ano
de 2000. D'Andrea diz que em geral, não são pessoas que se identificam como tais,
mas certamente são as que apresentam um habitus e disposições ao estilo New Age.
Para destacar quais dos principais aspetos do MNA podem ser percebidos no
decorrer do filme serão destacados alguns momentos específicos do longa-
metragem e as falas serão transcritas, com o intuito de destacar os principais
aspetos do movimento que podem ser percebidos. A análise do filme será realizada
levando em consideração dois pontos. Um dos pontos consiste em decompor o
filme, ou seja, em descrevê-lo, uma descrição geral para apresentar o filme e em
algumas vezes uma descrição de momentos mais específicos. O segundo ponto
consiste em estabelecer e compreender as relações existentes entre os elementos
decompostos do filme, ou seja, o segundo ponto consiste em interpretar o que foi
descrito. No que diz respeito a decomposição este artigo não tratará de detalhes
referentes à imagem (enquadramento, composição, ângulo, etc ...), ao som (por
exemplo, off e in) e à estrutura do filme (planos, cenas, sequências). Algumas cenas
serão descritas e suas sequências mencionadas. O objectivo da análise aqui é o de
explicar/esclarecer o como no decorre do filme elementos do MNA são
representados e isso só é possível por meio da interpretação. Para isso será
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Nos anos 1950, a construção de Brasília gerou uma nova perspectiva para o interior
brasileiro, conhecido como "sertões", desvinculando de uma imagem associada à
barbárie e a doenças para uma nova ideia de modernidade e civilização, indo de
acordo com a perspectiva progressista do então presidente Juscelino Kubitschek
(1956-1960). Nisso, a oposição política ao governo se manifestava contrariamente
à transferência da capital, sobretudo por meio de veículos de imprensa, criando
uma imagem negativa sobre ao então centro de poder da nação. Como resposta, o
presidente organizou um periódico para mostrar uma visão positiva da mudança,
utilizando Brasília como símbolo da modernidade e do desenvolvimento que
Kubitschek buscava para todo o país. Sendo assim, a revista "brasília" (1957-1960)
é fundado e contava com a contribuição de políticos, intelectuais, cientistas sociais,
engenheiros, arquitetos e muitos outros profissionais que estavam engajados na
transferência. O acervo iconográfico também registrava as mudanças, bem como
as publicidades da revista. Desse modo, procuro ressaltar a importância desse
periódico na influência do imaginário social e como seu conteúdo fortalecia os
debates regionais naquele período.
91
Carros, “currais” e “vagalumes”: representações visuais do trânsito de Belém
na década de 1960 - Anderson Rodrigo Tavares Silva (Secretaria de Educação do
Estado do Pará - SEDUC)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
ápice da violência na Itália ainda estava por vir. Essa polêmica obra de Bolognini
oferece vários dados para uma abordagem didática do período em tela.
endereço até a transferência do Distrito Federal para Brasília, em 1960. Após várias
reformas e mudanças, passou a sediar, a partir de 2001, o Centro Cultural da Justiça
Federal. A arquitetura do edifício, projetado pelo arquiteto espanhol Adolfo
Morales de los Rios, foi concebida com grande influência dos padrões ecléticos em
voga no período, trazendo um ideal de equilíbrio estético. A Sala de Sessões possui
inúmeras referências à Iustitia romana, remetendo a um esforço da Justiça
Brasileira, e, por conseguinte, da República, de afirmar uma tradição nacional de
continuidade da autoridade e do fausto de grandes personalidades da Antiguidade
Romana. A tradição da Antiguidade se associou ao referencial de modernidade e
progresso representado pela Constituição dos Estados Unidos, que irá influenciar
diretamente a Carta Magna brasileira e a organização jurídica de então. Tal
preocupação refletiu o elo entre a tradição e a modernidade. A bibliografia
selecionada forneceu as bases teórico-metodológicas para compreender as
inspirações estéticas predominantes no Palácio. A utilização de elementos clássicos
e ecléticos assume caráter político-cultural quando inserido num contexto de
invenção de uma identidade nacional a partir da associação de elementos nacionais
com a cultura clássica, recuperada em nível internacional. O Palácio do STF
compreende um exemplo material e histórico dessa reinvenção, eternizado no
coração do Rio de Janeiro.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A compreensão do significado das imagens pelos alunos pode ser uma importante
ferramenta de aprendizagem. Imagens são instrumentos poderosos, porque
despertam e instigam a curiosidade e o interesse no receptor. O socialismo soviético
- e suas complexidades - merecem especial atenção nesta comunicação, através da
análise de posters e fotografias produzidas durante o esforço de guerra, como forma
de afirmação do regime socialista em oposição aos países do Eixo. Essas imagens
tinham o propósito de construir uma narrativa favorável ao regime comandado por
Stálin. A comunicação também tem como objetivo analisar como essas imagens
são (e podem ser) trabalhadas em sala de aula, com alunos do ensino fundamental
e ensino médio.
1898), que perde a vez para o povo das ruas: os capoeiras, o Zé-Povo, o português
do pequeno comércio, as representações da mulata, do malandro entre outros
populares.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
105
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
106
ST 10. Da construção dos patrimônios
ao acesso às cidades: direitos,
negociações e conflitos
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Essa comunicação busca reunir elementos que resgatem a história da fazenda Praia
Grande por meio da noção de patrimônio fantasma de Márcia Motta, ratificando a
importância da memória na história, lançando um novo olhar sobre ela. Localizada
na Vila de Mangaratiba no século XIX, a história da fazenda se assemelha com a
trajetória da região diante do crescimento da cafeicultura do Vale do Paraíba, visto
que a construção da Estrada Imperial em 1857 possibilitou a consolidação de uma
aristocracia e um maior desenvolvimento da área. Durante esse período, a Vila
pôde funcionar como apêndice do empreendimento cafeeiro, escoando a produção.
Contudo com a construção da Estrada de ferro Dom Pedro II, a região perde boa
parte de sua importância na logística do principal negócio do país. Juntamente com
isso, a atividade escrava está em decadência no país desde meados do século,
levando Mangaratiba a ter sua estrutura fundamental desmantelada. Nesse
contexto, será analisada a trajetória da fazenda, enquanto área dominada por uma
aristocracia, até o momento em que a região sucumbe, e o momento posterior de
loteamento do local para servir como residências de veraneio, juntamente com a
emergência da Estrada de Ferro Central do Brasil. De fato, torna-se importante
abordar essa memória da história, visto que essa identidade corre o risco de se
obliterar diante de uma identidade que não cessa de se manifestar ao mesmo tempo
que é reprimida. Dessa forma, o conceito de patrimônio fantasma faz-se necessário
107
para averiguar os traços de amnésia social, patrimônio e história que se relacionam,
entendendo a memória como uma questão humana envolta pelo inexorável
elemento da mudança.
Bauru, no estado de São Paulo, foi fundada devido ao café, na passagem do século
XIX para o século XX (1º de agosto de 1896), em terras indígenas invadidas por
colonos e tomadas aos índigenas Caingangues. A cidade se desenvolveu devido a
um importante entroncamento ferroviário que reunia as três principais ferrovias de
São Paulo à época: Estrada de Ferro Sorocabana – 1905, Estrada de Ferro Noroeste
do Brasil – 1905 e a Cia. de Estrada de Ferro Paulista – 1910. Apesar da sua
importância, as ferrovias paulistas e brasileiras foram paulatinamente abandonadas
devido a “preferência” dos políticos do Partido Republicano Paulista pelo
automóvel, tendência esta aprofundada, a partir do governo de Juscelino
Kubitschek (1956-1961). Transporte fundamental para a economia, a ferrovia
deixou de ser um modal importante e se transformou em Arqueologia Industrial
Ferroviária a partir da década de 1990, com as privatizações. Hoje, a cidade de
Bauru, possui o maior acervo do interior do Brasil desta Arqueologia, que nos
remete ao café, a política das oligarquias, aos indígenas Caingangues, aos
ferroviários e sua cultura, a Era de Vargas, temas históricos de suma importância
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O presente artigo é fruto da dissertação de mestrado em Direito que teve por objeto
a análise da legislação do tombamento do Conjunto Arquitetônico, Paisagístico e
Urbanístico de Cáceres-MT e as ações empreendidas para sua preservação e
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Esse trabalho tem por objetivo analisar as peregrinações (giros) da Folias de Reis
de João Pinheiro (MG) pelos caminhos da cidade e da zona rural do município. As
Folias de Reis são autos natalinos de origem ibérica muito presentes na cultura
popular brasileira, que se aportaram no Brasil quando do início de sua colonização
e ao longo do tempo ganhou significados, características e contornos muito
próprios e foi sendo (re) significada de acordo com as regiões, necessidades e
recursos dos praticantes desse ritual. Esses autos natalinos são compostos por
cantores e instrumentistas populares que peregrinam, normalmente entre os dias 24
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
115
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
116
ST 11. Diálogos sobre a cidade a
partir de Michel Foucault: saber,
poder e sujeito
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
122
ST 12. Dimensões da Propriedade e o
campo interdisciplinar de debates
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este estudo tem por objetivo analisar o processo de formação profissional dos
trabalhadores de ofício mecânico e a relação entre esses agentes e o governo
imperial no Rio de Janeiro entre 1824 e 1860. Dessa maneira, questionamo-nos
quais foram as estratégias utilizadas por esses trabalhadores para se organizar
frente a extinção das corporações de ofício em 1824 e como teria sido a relação
entre eles e o governo imperial sem o auxílio dessas entidades, ou mesmo sem a
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Outra importante questão surge quando falamos das diferentes propostas de dança
contemporânea, já que não há uma só técnica para uniformizar e habilitar os corpos
que as realizam, como no balé. As implicações dessa questão podem ser percebidas
nos processos de remontagem/reconstrução/apropriação de coreografias com
bailarinos que são atravessados por diferentes marcas e registros. A questão central
é como articular estes distintos aspectos da criação artística – autoria e acesso à
cultura e informação – e entender como a dança pode ser criada e usufruída neste
contexto de proteção autoral.
The natural resources and wilderness landscapes of the “two giants of the Western
Hemisphere” —Brazil and the United States—played a crucial role in the
construction of narratives of progress in the nineteenth and early twentieth
centuries. Beyond machines and technology (railroads in particular)
representations of progress included the cataloguing of natural resources and
wilderness geographies. Indeed, renderings of frontier landscapes were essential to
the then peripheral nations of Brazil and the U.S. in projecting modern national
images on the international stage. This project seeks to understand how particular
U.S. and Brazilian geographies came to represent progress and modernity over
others. For example, U.S. expeditioner John Wesley Powell’s 1879 report on
127
settlement in the U.S. West and Aureliano Tavares Bastos’1866 treatise on the
Amazon provide an entryway to understanding how these regions – one arid and
one tropical – were understood by statesmen and settlers as landscapes of progress.
Though vastly different, in the minds of contemporaries each held the key to the
future development of the nation. At the same time, the U.S. West and the Amazon
Basin posed formidable challenges to Euro-American expansion. In the former, the
lack of water necessitated ambitious irrigation projects and transportation
networks, while the latter depended on short-lived cycles of slash-and-burn
cultivation that stymied the monetization of agricultural land. Nonetheless, both
regions remain powerful symbols of progress in Brazil and the U.S. today,
underscoring the place of nature in the creation of nationhood.
129
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
130
ST 13. Dimensões do Regime Vargas e
seus desdobramentos
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
oriundos dos países com o qual o país estava em guerra, Itália, Japão e Alemanha
passaram a ser hostilizados e perseguidos. As perseguições aconteceram de
diversas formas e em diversos locais. O estudo mais amplo, em que se insere este
artigo, analisa como os mecanismos de repressão e perseguição a estes estrangeiros
aconteciam, tanto explicitamente como de forma tácita. Este artigo apresenta parte
deste estudo, a perseguição feita ao prefeito da cidade de Juiz de Fora, descendente
de italianos e que não se posicionou publicamente a favor das manifestações
públicas contra o afundamento dos navios na costa brasileira pelos alemães. O
presente estudo foi feito através de análise de dois processos no Arquivo do Crime
do Arquivo Histórico de Juiz de Fora em que o prefeito aparece como vítima,
pesquisa em jornais da época e documentos do Arquivo da Polícia Política,
existentes no Arquivo Público Mineiro. O período estudado abarca o período entre
1939 e 1943, os anos de guerra em que o prefeito esteve no cargo.
O presente trabalho tem como objetivo pensar sobre a atuação política de Paulo
Alfeu Junqueira Duarte, membro do grupo político liderado por Armando de Salles
Oliveira entre os anos de 1933 e 1945. Paulo Duarte se considerou protagonista do
jogo político regional e nacional naquele período, com uma atuação intensa na vida
política e cultural brasileira, sobretudo no cenário paulista. Rememorou sua vida
pessoal e política, detalhadamente, ao longo de nove tomos de memórias, mais de
136
três mil páginas, publicados entre os anos de 1969-1974. A escrita dessas memórias
teve como suporte um arquivo cuidadosamente montado por Duarte ao longo de
sua carreira como político, advogado, jornalista, intelectual e, também, durante
dois exílios enfrentados. Com efeito, na historiografia e na memória social, a
experiência política de Getúlio Vargas entre 1930 e 1945 é representada como uma
continuidade, um bloco coeso, que reduz ou silencia a importância da experiência
de outros grupos políticos. Desnaturalizar a leitura de continuidade naquele período
é imperativo para compreender a atuação política de Paulo Duarte. É em São Paulo,
com o pensamento e ação de Duarte e de seu grupo político, que será desenvolvida
com maior expressividade uma cultura política de oposição ao varguismo.
Cecília Meireles, Menotti del Picchia, Luiz da Câmara Cascudo, dentre dezenas de
outros. Getúlio Vargas concebia a cultura como um braço ideológico de sua política
de desenvolvimento econômico e social. Os intelectuais brasileiros foram
determinantes para difundir a imagem de uma nação moderna e
desenvolvimentista, vanguarda de grandes reformas sociais. Letras Brasileñas faz
parte de uma estratégia de propaganda do governo que busca mostrar às sociedades
dos países da América Latina que não havia incompatibilidade política alguma
entre o desenvolvimentismo e o regime autoritário instalado a partir de 1937.
Em janeiro de 1942, o Brasil tornou oficial o seu apoio aos Estados Unidos da
América e aos aliados na Segunda Guerra, neste mesmo período, navios brasileiros
sofreram ataques de submarinos alemães. Esta situação levou o governo brasileiro
a declarar guerra ao Eixo e a participar efetivamente do confronto mundial. Ainda
em 1940, foi criado através do Decreto-Lei n. 2.072 um movimento de
arregimentação juvenil denominado Juventude Brasileira, que tinha como objetivo
cuidar da educação cívica, moral e física dos jovens de todo o país. Esta mocidade
esteve presente em desfiles comemorativos e em eventos organizados pelo governo
ou por estabelecimentos privados. A criação da Juventude Brasileira esteve pautada
em alguns objetivos, como o interesse em organizar uma parcela da sociedade que
apoiasse as medidas do governo, a exaltação da figura do Presidente da República
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
e de suas ações e o cuidado com a instrução dos jovens brasileiros para que
permanecessem alinhados com os ideais do Estado Novo. Com a entrada do Brasil
na Segunda Guerra Mundial, este movimento adquiriu novo fôlego com as
atividades voltadas para os esforços de guerra e o governo reforçou o cuidado com
a formação dos jovens através da criação de mais três Decretos-Leis relacionados
à Juventude Brasileira. As ações da Juventude Brasileira, no período em que o
Brasil participou da Segunda Guerra Mundial, nos ajudam a compreender as
intenções por trás da criação de um movimento de arregimentação juvenil. A busca
de apoio popular, manifestações, espontâneas ou não, que se colocavam como
favoráveis às ações de Getúlio Vargas e a exaltação do regime eram bem recebidas
em um momento delicado como o que se viveu a partir de 1942.
“Não é a ditadura que está em jogo: é o país todo contra um estado rebelado”:
o alistamento voluntário para a defesa do Governo Provisório durante a
Guerra de 1932 - Raimundo Hélio Lopes (Instituto Federal Fluminense)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
139
ST 14. Ditaduras, regimes autoritários
e processos de transição no século XX:
história e memória
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
instituições de ensino; pela reforma universitária e por reformas amplas para o país.
De acordo com a documentação analisada, a UNE passou por um processo de
restruturação para atender as necessidades de grupos ligados ao Diretório
Estudantil da União Democrática Nacional (DE -UDN), os quais, desde o final da
década de 1950, ensaiavam uma volta ao controle da maior entidade estudantil do
Brasil. Não conseguindo resultados positivos nas eleições realizadas nos
Congressos Nacionais Estudantis da UNE, utilizaram-se dos meios legais, a seu
favor, como uma das estratégias para ocupação da direção da UNE e coordenar os
movimentos estudantis universitários no país.
Esta exposição terá por objetivo apresentar, um primeiro olhar, sobre a história da
Casa do Brasil na cidade universitária de Paris na década de 1960. A Maison, uma
criação dos arquitetos Lucio Costa e Le Corbisier, foi inaugurada em 1959 e, em
seus primeiros anos, jogou um importante papel não apenas na recepção dos
estudantes brasileiros que chegavam na Franca, como também se tornou um polo
de difusão da cultura brasileira naquele país. A partir do golpe civil-militar de 1964,
a Casa passou a ser alvo da vigilância militar devido aos inúmeros indivíduos
considerados “subversivos” que faziam propagandas contrarias ao regime e que lá
habitavam e que eram, em sua maioria, bolsistas do próprio governo. O regime de
141
administração da Maison, que respeitava as normativas que regiam a própria Cité
Universitaire e os acordos estabelecidos entre o governo brasileiro e a instituição,
revela a ação de três atores (não necessariamente uniformes) na mediação: a
administração da Cité, os funcionários do Itamaraty e os militares. Da mesma
maneira que os documentos das agências de vigilância revelam a tentativa de
cerceamento do movimento estudantil nos anos 1960 e o crescimento do “medo”
militar pela atividade destes “subversivos”, os documentos também apresentam a
preocupação dos militares, a partir visão de mundo anticomunista e autoritária que
marcam a caserna naquele momento, com os acontecimentos em Paris e atuação e
influencia que podiam exercer sobre os brasileiros que la estudavam. O agitado ano
de 1968 não passa imune a Casa que é ocupada entre maio e junho. A cogestão, um
dos temas chave do movimento estudantil francês e de grupos de esquerda, passa a
ser a grande bandeira dos moradores da Cité e essa questão leva a uma difícil
relação entre os três atores mencionados e chegando ao abandono da Casa por parte
dos militares no início dos anos 1970. Os eventos referentes a Casa do Brasil na
Franca demonstram os limites e possibilidades de atuação das forças de repressão
e resistência no exterior durante a ditadura brasileira e a preponderância do
pensamento militar nas decisões diplomáticas. O presente trabalho é uma primeira
aproximação com a documentação oriunda de uma pesquisa realizada em arquivos
franceses e que resultará na construção de um projeto de pesquisa sobre a temática.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
sustento de sua família. Dito de outra forma, se trata de cidadãos preocupados com
a retomada da normalização da vida cotidiana, que não se viam atingidos
diretamente pela ditadura militar, mas apenas como homens comuns. Além disso,
para um trabalho que se dispõe a analisar as relações entre mundos do trabalho e
ditadura, torna-se central observar como a memória dos trabalhadores comuns da
RFFSA lida com as questões relativas à alteração do cotidiano e dos diversos
comportamentos sociais em torno dos benefícios materiais e simbólicos adquiridos
por parcela da população com o milagre econômico. Dito de outra forma, cabe
observar, particularmente, como o período de governo Médici – no qual se inserem
as modificações impostas pelo Milagre Econômico e repressão estatal – é lembrado
ou silenciado pela sociedade. É, portanto, tendo em vista estas articulações entre
lembrança e esquecimento que deve ser compreendida a memória sobre a ditadura
civil-militar brasileira.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Esta apresentação pretende discutir a relação dos membros da Igreja Católica com
a Ditadura Militar, para além de uma visão dicotômica de "conservador" x
"progressista", que prevaleceu nos estudos sobre os católicos durante o período
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho investiga o surgimento dos bailes de música negra americana nos
subúrbios do Rio de Janeiro, no fim dos anos 1960, procurando identificar suas
características, sua transformação ao longo das décadas de 1970 e 1980 para avaliar
como eles assumiram traços de celebração do orgulho negro em plena ditadura
civil-militar. A ideia é identificar os momentos de tensão surgidos a partir do
crescimento do cenário dos bailes, quando organizá-los e frequentá-los significou
assumir um posicionamento diferente sobre o ser negro no Rio (e no país) até então.
Utilizaremos embasamento teórico de autores como Paul Gilroy, Stuart Hall,
Paulina Alberto, Hermano Vianna e Carlos Fico, entre outros, procurando respaldar
as provas dessa circunstância, bem como que tensões surgiram em relação ao
146
conceito de “democracia racial”, então dominante. Ao longo do trabalho, buscarei
expor evidências que confirmarão o surgimento de vários indícios de uma cultura
diferente da existente até então, formada por influência e contato com elementos
estrangeiros (americanos) referentes a gêneros musicais novos – Soul, Funk – e
uma série de signos – roupas, gírias, penteados – que destacarão os frequentadores
e organizadores dos eventos do resto da população carioca de então, assumindo
ares identitários. O trabalho também mostrará como a participação nestes eventos
significou um ato de resistência ao racismo e à ditadura, mostrando que a repressão
aos frequentadores dos bailes e para os que os promoviam estava associada à uma
política mais ampla de vigilância social, que se amparava na ideologia da segurança
nacional, cujo objetivo principal era identificar e eliminar os “inimigos internos”
do Estado brasileiro. Fazer parte deste universo passava a ser um motivo palpável
e legítimo para que as forças de repressão investigassem da forma que achasse mais
conveniente e eficaz o funcionamento dos eventos. Em tempos de ditadura civil-
militar, isso significava desde a repressão ostensiva à infiltração de informantes e
observadores nos bailes. Por fim, utilizando evidências e documentos obtidos pela
Comissão da Verdade/RJ, este trabalho visa provar que os bailes do Movimento
Black Rio foram atos de resistência à ditadura civil-militar no Brasil.
Oriente Médio, que foram publicadas nos anos 1980 e 1985. Entrevistas com atores
significativos dentro das regiões de abrangência da Cadernos, dialogam com a
história contemporânea e com a atuação dos integrantes do eixo SUL-SUL, que
praticamente não apareciam na mídia convencional lograda unicamente pelas
demandas do eixo Norte. Portanto, através da análise das entrevistas e dos
respectivos personagens, o trabalho intenciona refletir sobre como a Revista impôs-
se numa conjuntura marcada pela bipolaridade neste recorte temporal específico.
assim como Joan Scott, os papeis sociais atribuídos aos sexos, sendo este conceito
socialmente construído sobre interações fundadas nas diferenças percebidas entre
os sexos e como uma primeira forma de dar significado às relações de poder. No
que concerne ao olhar de gênero sobre o encarceramento de presas políticas,
entende-se que existem diferenças de tratamento dispensado às mulheres
encarceradas em relação a um universo masculino que engloba, numa configuração
mais imediata, o próprio espaço prisional e, depois, as relações simbólicas
estabelecidas dentro da prisão. Entre esses pontos está a adaptação da mulher a um
espaço não exatamente construído para o sexo masculino, mas para uma
idealização que, década após década, tem sido projetada na figura do homem; assim
também, as diferenças de experiências (anteriores ao cárcere) e vivências (relativas
ao cárcere) – físicas e psicológicas – que não se aproximam, nem na realidade mais
imediata, nem em termos simbólicos, daquelas experimentadas pelos homens na
condição de presos políticos.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O presente trabalho tem por objetivo realizar o debate sobre a relação entre e Estado
e sociedade através das manifestações sociais ocorridas no final da Ditadura Militar
(Diretas Já) e durante o governo Collor (Carapintadas), procurará compreender
também o contexto e como se deu o pós-movimentação, se houve permanências,
se houve rupturas, quais foram e como se deram. A partir da análise individual de
cada um dos principais movimentos sociais desse período, as manifestações serão
confrontadas para que possamos compreender o que a sociedade buscava com esses
movimentos e como o Estado, a partir de suas instituições, lideranças e legislação
puderam perceber as ações populares, tendo em vista que, as Diretas Já, tinham
como foco central, o acesso ao voto para o executivo por parte da população
enquanto que o movimento Carapintada, buscava retirar o presidente eleito pelo
povo. Ao confrontar essas duas manifestações, observaremos as permanências e
rupturas nessa relação Sociedade x Estado, se existiam anseios em comum, como
se deu sua organização e como o Estado brasileiro reagiu a esses movimentos
sociais, ou seja, de que forma essa relação foi se atualizando de acordo com novos
anseios da sociedade, com novas perspectivas. O que podemos observar através
dessa relação, é a fragilidade de nossa Republica e o quão complexa seria o seu
fortalecimento, tendo em vista uma sucessão de golpes e de políticas que acabavam
por privilegiar grupos restritos, como foi o caso da política Café-com-leite, do
governo de JK, da própria ditadura civil-militar e do governo Collor. As
151
mobilizações surgem nesse contexto, como um elemento de coesão social, tendo
em vista que as camadas da sociedade são interdependentes e buscam ao mesmo
tempo evitar uma ruptura em sua formação . Ou seja, a sociedade, procura sempre
se preservar e se manter como agente vital no desenvolvimento do Brasil e como
base do mesmo, fazendo com que ao perder o poder de decisão (ditadura) e ao fazer
valer os direitos (Impeachment de Collor), ela busque a sua unidade para que seus
esforços sejam ouvidos e atendidos. As manifestações de 1984 e 1992, serviram
como parâmetro para os novos protestos, seja como se organizar, seja como uma
referencial em como a população pode exercer seu poder, exigindo o exercício
pleno de sua cidadania e isso passa na forma pela qual o sistema irá atender as
demandas populares e como a redemocratização foi sendo aprimorada e aplicada
para uma sociedade que se diversifica a cada geração e anseia por novas demandas.
Considerando a peculiaridade de cada contexto, as razões que levaram a população
a exigir tal participação passam por uma tentativa de recuperar direitos perdidos,
como na ditadura e no exercício dos direitos recém conquistados, como no caso do
Collor.
As discussões em torno dos lugares que têm suas memórias imbricadas à violação
dos direitos humanos, à barbárie, têm crescido no Brasil e serão norteadoras para
as reflexões que se pretende realizar nesta comunicação. Especificamente,
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
embates pelo espaço midiático que, se gerou grandes danos à indústria cultural e
até mesmo aos artistas, compositores e intérpretes, também possibilitou a criação
de grandes obras ainda hoje lembradas na história destes países.
Frei Betto, autor brasileiro com grande publicação editorial, atualmente, trabalha
em pastorais populares, assessora movimentos sociais, escreve artigos e ministra
palestras mundo a fora. “A vida é curta para todos os meus projetos. E não cabe
nos meus sonhos, afirma Frei Betto”. A proposta do artigo científico é discutir o
conceito de memória, através da obra de Frei Betto. Memória entendida como
passado que nasce da oralidade e é, posteriormente, desenvolvido por meio da
escrita. Construções individuais e coletivas. Percepções pretéritas que organizam
presente e projetam futuro. Para tanto utilizaremos algumas reflexões de David
Lowenthall, Jacques Le Goff e Gilberto Velho. Além disso, analisaremos a
memória enquanto formadora das personalidades, identidades coletivas e projetos
futuros. Por fim, discutiremos como Frei Betto constrói sua memória. Nosso autor
possui ampla produção literária. Por isso, escolhemos obra que represente sua
memorialística. Separamos Batismo de Sangue- os dominicanos e a morte de
Carlos Marighella. A obra debate a relação dos dominicanos com a luta armada
durante a ditadura militar, marcando de forma expressiva a trajetória da Ordem
Dominicana no Brasil.
153
Gatekeepers x censores: a luta pelo controle da informação jornalística
durante a transição política brasileira - Ana Lucia Vaz (UFRRJ)
Este artigo se insere na pesquisa de doutorado que tem por objetivo desconstruir o
mito da polaridade entre resistentes e colaboradores na análise da atuação da
imprensa frente à censura de Estado durante a ditadura militar brasileira. Não
apenas identificar as dicotomias criadas nas narrativas sobre o tema, mas buscar
identificar elementos que nos ajudem a compreender como o trabalho de memória
produz e reproduz esta dicotomia. Este artigo apresenta alguns resultados da
investigação sobre os sistemas de controle da informação dentro das redações
jornalísticas entre a segunda metade da década de 1970 e a primeira metade da
década de 1980. O período escolhido se baseia na identificação de um período de
grandes transformaações e intensa atividade no campo do jornalismo. Este período
se abre após o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do
DOI-CODI paulista e se encerra com o fim dos governos militares. O objetivo da
pesquisa aqui apresentada é desnaturalizar um pressuposto presente na
historiografia sobre a imprensa que opõe o jornalismo à censura. O conceito de
gatekeeper, desenvolvido no campo das teorias de comunicação, é utilizado aqui
apenas com a função de destacar o lugar de controle da informação ocupado por
jornalistas profissionais. Para tanto, será analisada a construção da memória do
período de transição política com foco na imprensa, vista como instituição
constituinte e constituída no processo político mais amplo das relações de poder no
campo da luta pela verdade. Dentro desse contexto, discutiremos a noção de
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A pesquisa tem por objetivo analisar como foram construídas as imagens das
mulheres guerrilheiras em suas biografias, produzidas e publicadas no pós-
redemocratização. As militantes selecionadas foram: Iara Iavelberg, com biografia
publicada em 1992, de autoria da jornalista Judith Patarra; Carmela Pezzuti, livro
publicado em 1996, por Maurício Paiva, ex-guerrilheiro e amigo da biografada; e
Dilma Rousseff, obra de 2011, pelo jornalista Ricardo Batista Amaral. As datas de
elaboração das biografias são importantes para o estudo, pois permitem a realização
de um mapeamento da memória social sobre o período ditatorial: o momento de
produção influencia diretamente na narrativa construída e, consequentemente, na
maneira de recordar a Ditadura. Pretende-se, portanto, produzir uma história da
memória, localizando cada obra em sua "fase" (Napolitano, 2015) e, através disso,
será possível observar as permanências e continuidades da memória, a memória
hegemônica e as subterrâneas, inserindo nesse contexto a perspectiva da atuação
feminina na política. O conceito de Daniel Lvovich e Jaquelina Bisquert (2008) de
"memoria cambiante" é fundamental para o desenvolvimento do trabalho: a forma
de lembrar uma determinada época não é definitiva, mas sim muda com o tempo,
a partir das demandas do presente.
Acerca das experiências dos regimes autoritários na América Latina, a maior parte
do continente foi abalada por golpes militares armados que violaram as
democracias nacionais em construção, construindo, por meio do lema da Doutrina
de Segurança Nacional, um aparato institucionalizado de repressão, que, em linhas
gerais, elegeram inimigos, suprimiram as garantias constitucionais da sociedade e
recorreram à práticas de terror como instrumento de estabilidade política do Estado,
cometendo, assim, graves violações aos direitos humanos. Em se tratando do caso
chileno, a superação desse regime exigiu muita disposição política e um conjunto
de esforços marcados por intensas lutas sociais, que foram essenciais na soma dos
esforços que conduziram a sociedade à difícil tarefa da negociação. Uma vez
reestabelecida as vias democráticas, o país deparou-se com algumas questões
cruciais: como lidar com a herança autoritária? Como afirmar-se democraticamente
em meio a tantas fraturas sociais e institucionais ainda tão vivas na transição? Quais
medidas de reparação e de justiça deveriam ser tomadas? Quais medidas eram
possíveis de serem tomadas? As recentes liberdades eleitorais e civis não eram
garantias de estabilidade democrática nem de garantias jurídicas em nenhum país
do Cone Sul. Essa proposta de pesquisa visa compreender esse processo
transicional partindo da análise das narrativas dos relatórios finais produzidos pelas
duas Comissões da Verdade instauradas no país em momentos distintos, a primeira
entre 1990 e 1991, e a segunda ente 2004 e 2005, e que foi novamente reaberta e
concluída em 2011. Pretende-se discutir a maneira como o Chile lida com esse
passado recente de violações e como o relaciona com os mecanismos de memória,
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
1968 ficou conhecido na História como o ano das juventudes. Foi um período
caracterizado por manifestações em diversas partes do mundo, principalmente,
contra os padrões culturais vigentes, marcados pelo o conservadorismo e o
autoritarismo. No Brasil não foi diferente. 1968 foi o ano auge das manifestações
juvenis que, além de expressar a rebeldia aos padrões dá época, lutavam pelo fim
da ditadura e pela Reforma Universitária, demanda dos estudantes desde o final da
158
década de 1950. As atuações juvenis em 1968 contribuíram para a construção de
um imaginário baseado na premissa que os jovens possuem uma natureza rebelde
e revolucionária. Dessa maneira, a juventude seria uma fase da vida de um
indivíduo que, necessariamente, traz à tona uma postura de rebeldia e contestação
aos padrões sociais e políticos estabelecidos. Essa afirmação é largamente
empregada, principalmente, nos estudos relacionados aos movimentos juvenis da
década de 1960. Porém, nem todos os jovens participaram ou foram favoráveis aos
protestos estudantis de 1968. No meio estudantil, a disputa era intensa, pois havia
diversas organizações com variadas matizes ideológicas. Desse modo, não é
possível compreender nem a juventude, nem a sua atuação no movimento
estudantil de uma forma homogênea. Na historiografia brasileira, ao se fazer um
balanço dos trabalhos relacionados a atuação juvenil, se percebe a falta de estudo
acerca de grupos estudantis que possuíam projetos e visões políticas diferentes dos
grupos de esquerda. Esse quadro se deve em parte pela memória construída em
relação aos anos chaves - 1964 e 1968- e, o período ditatorial como todo, de que a
população foi resistente ao regime. Esse ponto de vista foi construído, sobretudo,
a partir das experiências vividas pelos jovens nas décadas de 1960 e 1970,
particularmente, em regimes políticos conservadores ou autoritários. A proposta
deste trabalho é mapear alguns exemplos de manifestações e posicionamentos
políticos das juventudes em 1968, desde a oposição à ditadura ao apoio ao regime
militar, principalmente, através do Projeto Rondon. Desse modo, será possível
perceber a pluralidade de comportamentos, as visões de mundo e os projetos
políticos de outras parcelas juvenis, que estiveram distantes da luta armada e de
outras estratégias de atuação das esquerdas.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O trabalho apresentado é parte de uma pesquisa mais ampla que busca construir a
trajetória política do ex-integralista e ex-governador do Rio de Janeiro, Raimundo
Padilha. Em seu atual estágio o trabalho está focado na reconstrução da atuação de
Padilha nos anos de 1940. Em um dos momentos mais interessantes da pesquisa,
nos deparamos com a documentação do processo de exoneração do ex-integralista
da “Carteira de Crédito do Banco do Brasil”. A principal acusação que pesou sobre
Padilha foi o fato de agir repetidas vezes contra a campanha de captação de bônus
de guerra feita pelo banco durante o conflito mundial na metade do século XX.
Num dos episódios narrados, Padilha ordenou a retirada do material de propaganda
da venda dos bônus na agência que trabalhava. Ampliando o foco do trabalho
podemos perceber que Padilha sempre contou com uma rede de contatos que
acreditamos ter sido fundamental para o seu trânsito por diversas etapas da política
brasileira. Utilizaremos, para buscar um entendimento conceitual sobre as ligações
que Padilha mantinha, o conceito de "redes" trabalhado no artigo de Gabriela de
Lima Grecco intitulado “Redes de Intelectuales de Deerechas Durante El Estado
Novo Brasileño”, que pressupõe a existência de redes de contatos políticos que
puderam interferir na forma como figuras proeminentes dos anos de 1930 e 1940
transitaram por vários "mundos políticos" e se utilizaram disto como ferramenta de
sobrevivência política. O episódio da exoneração do Banco do Brasil mostra a ação
159
de Estllac Leal, figura de destaque na política brasileira, tentando alertar Padilha
sobre possível investigação que já estaria em curso para demiti-lo do banco.
Munidos de tais documentações acreditamos ser esta uma passagem interessante
de sua trajetória, não só pelo fato de expor o furor "quinta colunista" de Padilha em
tentar evitar o esforço de guerra dos Aliados, como reforça a nossa hipótese de que
Padilha possuía uma rede de contatos importantes que foram essenciais para livrá-
lo de possíveis retaliações ao seu trabalho em favor do Eixo. Tal episódio não foi
suficiente para inibir o apoio de Padilha aos fascistas. Como em trabalhos
anteriores apresentados a partir de resultados da mesma pesquisa, o ex-integralista
foi reincidente em seu intento de auxiliar na formação de uma "Quinta Coluna" no
Brasil.
O General Emílio Garrastazu Médici (Bagé, 1905 – Rio de Janeiro, 1985) tornou-
se o terceiro militar a presidir o Brasil depois do golpe de 1964. Assumiu o poder
em 1969 e o exerceu até 1974. Os anos do governo Médici são, não sem razão,
identificados como o período mais duro de toda a ditadura civil-militar. Neste
momento, o aparelho repressivo funcionava de maneira extremamente eficaz na
caça aos inimigos do regime, prendendo, torturando, matando, desaparecendo. Ao
mesmo tempo, sabe-se que este é o período do Milagre brasileiro, de grande
crescimento econômico, da construção de grandes obras, do triunfo da seleção
brasileira de futebol na Copa do Mundo do México, em 1970, dos slogans ufanistas
da propaganda oficial e da euforia nacionalista fruto desta conjuntura. Médici foi,
nesse momento, um presidente extremamente popular. A partir do fim de seu
mandato, no entanto, foi muito rapidamente, à medida em que o país caminhava
160
para redemocratização, relegado ao silêncio e ao ostracismo. A comunicação aqui
proposta pretende levantar algumas questões importantes para a compreensão dos
processos de construção de memória sobre a ditadura civil-militar brasileira
tomando como referência o estudo da biografia do General Emílio Garrastazu
Médici. Sua vida cobre boa parte do século XX, perpassando momentos
importantes da História nacional, sendo, sob muitos aspectos, representativa das
complexas relações estabelecidas entre militares e política ao longo da República
brasileira. De maneira mais ampla, o trabalho concentra-se em três aspectos
distintos porém complementares: 1) o estudo da biografia de um chefe político
como forma de compreender a sociedade que produziu tal liderança; 2) a memória
social construída em torno dessa figura; 3) as problemáticas que envolvem a escrita
biográfica de líderes autoritários. Em sentido similar ao que o historiador Ian
Kershaw propõe em sua biografia sobre Adolf Hitler, o estudo da trajetória de vida
do General Médici pretende ser, antes de tudo, uma investigação sobre o seu poder.
Nesse sentido, debruçar-se sobre a biografia de líderes autoritários deve contribuir
para compreender, mais que uma trajetória pessoal, o tipo de sociedade que
originou e sustentou aquele tipo de poder.
O historiador Arthur Cezar Ferreira Reis foi o primeiro governador indicado para
comandar o Estado do Amazonas após o Golpe Civil Militar de 1964. As poucas
narrativas sobre seu mandato atribuem a ele total crédito à série de mudanças
implantadas na região, tanto para o bem quanto para o mal. O propósito do presente
trabalho é problematizar esse discurso identificando seus principais colaboradores
162
civis e militares, analisando o papel que cada um desempenhou durante seus quatro
anos de governo. Tal empreitada pode iluminar muitos aspectos da constituição do
regime autoritário no Amazonas, como a articulação entre os interesses regionais e
as diretrizes da cúpula militar.
Os relatos acerca das violações cometidas ao longo das ditaduras militares latino-
americanas, ocorridas a partir da segunda metade do século XX, causaram e ainda
causam grande impacto na construção da memória acerca deste período, sobretudo
nos próprios países que foram palco de regimes autoritários. Estas narrativas
envolvendo sequestros, prática de tortura e desaparecimento, apesar de em comum
possuírem as vítimas ou seus familiares como principais porta-vozes, diferenciam-
se pela pluralidade de suportes e objetivos com os quais são realizadas, dentre os
quais destaca-se os testemunhos realizados a Comissões da Verdade, depoimentos
concedidos durante processos jurídicos, entrevistas a periódicos, cartas de
denúncias à comunidade internacional e obras pertencentes à literatura de
testemunhos. Dentro deste quadro, esta apresentação tem como objetivo mapear o
lugar do testemunho na produção dos relatórios finais das Comissões da Verdade
instauradas na Argentina, Paraguai e Brasil, identificando operações relacionadas
ao campo da memória presentes na implantação e desenvolvimentos das citadas
Comissões. A escolha, por sua vez, destas três experiências específicas relaciona-
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
da) opinião pública foi uma das metas dos governos militares ao fazer sondagens
periódicas e mudanças de gestão após seus resultados. O interessante é que estes
mesmos governos, publicamente, reafirmavam que não trabalhavam pautados na
opinião pública. Essa dualidade de discurso somada com a ideia de construção de
uma narrativa que enaltece os militares e permanece até hoje é o objeto a ser
discutido neste trabalho.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Toda manifestação artística é uma fonte histórica. Partido desta ideia, estamos
propondo neste trabalho uma análise historiográfica a partir da história em
166
quadrinhos Maus: A história de um sobrevivente. Esta produção de Art
Spiegelman, além de sua grande relevância no meio dos quadrinhos alternativos
dos EUA do pós-underground, tem como epicentro contar a história de Vladek
Spiegelman, pai de Art, judeu sobrevivente de Auschwitz. Maus se conta a partir
das entrevistas de Art com seu pai, em uma mistura de ficção e não-ficção. O
primeiro elemento fica às custas dos personagens antropomorfizados, estratégia
clássica dos quadrinhos. O segundo, pelo conteúdo autobiográfico, metalinguístico
e histórico. Seguindo estas ideias, este artigo se centra em identificar a relevância
deste quadrinho acerca do polêmico tema do holocausto. Além disso, nos
atentamos em como o relato deste sobrevivente se mostra como um fragmento
único para reconstrução deste momento crítico da história contemporânea, a partir
da perspectiva do oprimido, suas tradições e sutis formas de resistência. Para tal,
foi necessário também analisarmos a obra através das metáforas e dos símbolos
utilizados por Art Spiegelman, entendendo que eles traduzem, de forma densa,
porém lúdica, a tática fascista de estereotipação e desumanização do “outro”,
tornando possível uma assimilação profunda de tal problemática por parte do leitor
de Maus. Para esse trabalho, Walter Benjamin foi bastante utilizado em vista de
seu conceito da História a contrapelo o que é diretamente ligado à seu cuidadoso
tratamento acerca da memória dos vencidos. Com isso, tivemos como objetivo
principal, trazer a tona uma tradição que está distante daquela que é dia-a-dia
recontada pelos vencedores neste processo histórico. Também buscamos
aproximar este trabalho da "microhistória", uma vez que Vladek e Art são pequenos
retalhos nesse imenso tecido social e, exatamente por isso, eles nos mostram
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
167
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
168
ST 15. Entre caminhos, trajetórias,
vilas e cidades: Políticas e tramas de
ocupação e representação das
conquistas e territórios portugueses
no ultramar.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O nome da cidade e do município é Rio de Janeiro, fato que merece atenção, seja
no senso comum ou no mundo acadêmico, pois esta forma físico-geográfica
169
deveria reafirma-se como objeto de preciosa atenção e estudo, não obstante essa
importância em geral é redimensionada para o mar. A importância turística e a
construção histórica , que adquiriu os “bairros atlânticos”, consolidados na primeira
metade do século XX, confirmam uma intensa valoração dos bairros banhados pelo
Oceano Atlântico, fora da baía de Guanabara. A historiografia oficial consagrou
espaços geográficos fora da baía de Guanabara, em detrimento de um “palco
histórico” chamado de Recôncavo da Guanabara e de territórios ao fundo da baía
de Guanabara de grande relevância social, política e econômica nos séculos XVI,
XVII e XVIII. . O artigo chama atenção para a necessidade de uma
desnaturalização de qualquer processo de valorização espacial, em si, e serve de
alerta para as escolhas feitas em sociedade, isto é, para a construção coletiva dessa
cidade ao longo do tempo. É certo que, como diz o dito popular : “todos os rios
correm para o mar”, e no caso do “Rio”, ironicamente correm também os olhares e
os investimentos (históricos e patrimoniais) para a costa atlântica, esquecendo-se
dos rios ao fundo da baía de Guanabara. Os caminhos fluviais são fundamentais
para entender a história da cidade. Fatos lembrados por vários autores como
Maurício de Abreu, Fânia Fridman, Carlos Lessa, Nelson da Nóbrega Fernandes,
entre outros, que destacam a morfologia estratégica da baía de Guanabara e seus
inúmeros rios que nela deságuam como caminhos viáveis de expansão e
desenvolvimento da colonização portuguesa, além de enfatizarem as
transformações na formação da cidade carioca, parte de uma vasta área do
município do Rio de Janeiro ao longo de sua história. O rio Irajá juntamente com
o rio Meriti , entre outros, próximos a localização da primeira freguesia rural do
Rio de Janeiro, e alguns portos fluviais da época colonial relacionam-se com a
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Para o estudo das ideias que integram uma série de documentos oficiais da corte
portuguesa, do Arquivo Histórico Ultramarino (cartas, pareceres e ofícios), acerca
da defesa da cidade do Rio de Janeiro, propomos reflexão a partir da teoria da
ciência da arquitetura militar de dois tratados escritos em língua portuguesa, da
primeira metade do século XVIII, quais sejam, "Exame Militar" (1703) e "Tratado
da Arquitetônica, ou Arquitetura Militar, ou Fortificação das Praças" (ca. 1705) .
O que denominamos de uma cultura política de defesa ajudou a forjar a urbanização
da dita cidade, fato que pode ser observado no modo como os parâmetros
defensivos foram ensinados. Através das experiências vitruviana e celestial
173
ensinadas pelos tratadistas, a compreensão dos aspectos do processo de
urbanização e a interpretação do território são factíveis. A confecção das plantas
de fortificação nos permite questionar intenções, estamos nos referindo às
interpretações do desenho. Os agentes envolvidos nas decisões em relação à defesa
do território, engendravam estratégias políticas que podem ser identificadas no
estudo conjunto da documentação ultramarina e dos textos da ciência de defesa.
Plantas de fortificação das fortalezas da entrada da barra do Rio de Janeiro
(Fortalezas de Santa Cruz, da Lage e de São João) e o processo de urbanização dos
domínios portugueses, em especial a cidade do Rio de Janeiro, na primeira metade
do século XVIII, serão cotejados na medida em que, havia a proposta de um sistema
de defesa mútuo, como mostram os tiros conexos entre as ditas edificações no
"Plano da situação das três principais fortalezas" (ca. 1764).
a capital mudou de lugar, nem se fez a vila. A partir da segunda metade do século
XVII todo um conjunto de dificuldades, em especial a feroz resistência indígena,
tornou inviável a continuidade da ocupação do vale. Os moradores reivindicaram
que se fizesse uma nova vila na costa, onde estariam mais seguros, e assim de se
fundou, em 1687, a vila de Icatu. Também aqui levantou-se uma série de problemas
e a nova vila mudou a sua localização mais de uma vez. No entanto, coincidindo
com a cronologia da criação da vila de Icatu, assiste-se, entre os anos finais do
século XVII e os primeiros do século XVIII, uma mudança no modo de pensar a
ocupação do sertões do Maranhão, em que aos engenhos se vão somando (ou vão
sendo substituídos por) fazendas de gado. Na literal confluência destes processos,
volta a surgir como elemento importante o rio Itapecuru, que se estabelece como
eixo de condução das manadas que transitavam entre o Maranhão e o Brasil. De rio
da guerra, o Itapecuru passa a rio do gado e volta a povoar-se. Na segunda metade
do século XVIII os moradores voltam a reivindicar a fundação de uma vila no rio.
Nessa ocasião, o governador do Estado do Grão Pará e Maranhão, Francisco Xavier
de Mendonça Furtado, empenhou-se para que a nova vila do Itapecuru finalmente
se fundasse. O governador tinha projetos especiais para esta vila, que partilhou com
o irmão Sebastião José de Carvalho e Melo. Na língua Tupi, Itapecuru significa
“caminho das pedras” e Icatu “águas boas”. A intenção da comunicação é tomar o
exemplo destas vilas para refletir acerca dos processos de criação de novas vilas no
Maranhão e, por extensão, no Brasil. Importa ter em conta não apenas o conjunto
de dificuldades que tais projetos necessariamente envolvem, mas sobretudo as
expectativas que a criação urbana em si engendra.
174
Ocupação e instalação do poder eclesiástico na Paracatu setecentista:
Instituição das Igrejas e Irmandades - Vandeir José da Silva (Universidade de
Évora)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
177
ST 16. Estudos étnico-raciais:
compatibilidades e particularidades
dos movimentos sociais em suas lutas
por liberdade, direitos e cidadania
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O status quo da História tem mudado nos últimos anos. Destacadamente, em função
de contendas sobre a memória coletiva e o dever de memória de específicos grupos
humanos. A questão da memória tem, assim, ganhado espaços públicos, do que se
vê reflexo na vasta produção editorial, audiovisual, museológica, entre outras, que
mobiliza saberes históricos, articulando demandas por esse tipo de conhecimento
vindas de diversos setores da sociedade civil e do Estado. A proposta de reflexão
com a pretendida comunicação passa por analisar essa chamada história pública
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
que vem recebendo visibilidade nos últimos anos. Mas são principalmente dois os
eixos de análise com os quais se quer dialogar – ambos envolvendo uma
denominada cultura legal. O primeiro diz respeito aos novos sujeitos do imaginário
acadêmico – incluindo as novas identidades étnicas investigadas a partir do
conceito de etnogênese. O segundo tem o sentido de refletir a luz de novos
argumentos sobre o conceito que, em verdade, propiciou a propagação de uma
metodologia de análise das fontes que, a contrapelo, revisitou leis e acordos
assinados que deixaram entrever os modos operantes de resistência.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A obrigatoriedade da lei Nº. 11.654/08, também pode ser pensada como uma
política de valorização das identidades e da memória de grupos sociais ausentes
nos currículos da educação básica. Após a implementação dessa lei, firmou-se a
necessidade de se discutir sobre a desigualdade racial e social e sobre as práticas
de discriminação presentes na cultura escolar, entretanto como essas questões estão
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O ano era 1872. O reitor do Externato do Imperial Colégio de Pedro II, Dr. Manoel
Pacheco da Silva, teve que explicar-se ao Inspetor Geral da Instrução Primária e
Secundária do Município da Corte, Dr. Antonio Joaquim Ribas, por conta de uma
subscrição realizada entre os alunos do Externato para a libertação de uma escrava.
O episódio aconteceu alguns meses após a aprovação da Lei de 1871 e, segundo
Pacheco, a mulher foi até a instituição pedir ajuda para sua libertação e contou com
183
o apoio de um professor que exortou todos os alunos a participarem da subscrição.
Havia suspeita, porém, de que a escrava pertencia a uma parente do dito professor.
Iniciativa da própria cativa ou uma subscrição arquitetada para atender aos
interesses de sua suposta senhora, a alforria poderia ser efetivada, nos termos da lei
de 1871, desde que atendida a condição de pagamento à proprietária. Os
mecanismos legais serviam aos interesses senhoriais, mas também de escravos que
se mobilizavam, ainda que nos limites de sua condição jurídica, para efetivar suas
expectativas de liberdade.
Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Tais irmandades eram compostas por
negros escravos e alforriados, e era voltada para dar assistência aos seus membros.
Para os negros trazidos dos continentes africanos e escravizados as irmandades
serviam para a “manutenção de sua identidade cultura como forma de resistência”.
Esse trabalho fica como objeto de estudo a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário
e São Benedito dos Homens Pretos, pois em meio a pesquisa descobriu-se que a
instituição fundou e manteve uma escola para educar os filhos dos seus membros.
A Irmandade nasceu da fusão entre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e a
Confraria de São Benedito, no século XVII. Formada em sua maior parte por
negros forros, ela se empenhava em comprar a alforria de seus irmãos. Uma de suas
características era sua vocação para a caridade. Um dos atos de caridade
promovidos pela instituição seria cuidar de seus membros, principalmente na sua
morte, sepultando-os dignamente, e cuidando de suas famílias. Esse cuidar também
era expresso na forma de escolarização. A pesquisa para esse trabalho se deu a
partir de material bibliográfico e a análise de publicações de jornais referentes à
escola. Buscamos artigos e livros que abordassem temas como educação dos negros
no Brasil e também que falassem sobre irmandades negras no Brasil para construir
a base do nosso pensamento. Também pesquisamos através de diferentes palavras
chaves notícias sobre nosso objeto em periódicos da época através do arquivo da
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. A Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário e São Benedito dos Homens Pretos funcionou - e ainda funciona - como
um espaço de comunhão, apoio e solidariedade entre o povo negro. Também é um
local em que esses podem se manter conectados às suas raízes e manter a sua
185
identidade étnica. A escola de São Benedicto possibilitou que crianças negras não
ficassem desamparadas e fossem cuidadas e educadas por pessoas que não somente
queriam ofertá-las uma educação impessoal, mas que se importavam e se
identificavam com elas, se importavam com suas famílias, e queriam que elas
tivessem oportunidades além das que eles mesmos tiveram. A irmandade nos
mostra como a população negra protagonizou sua própria luta mesmo em meio a
resistência social.
189
ST 17. Experiências negras no pós-
Abolição: entre parcerias e saberes
compartilhados
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O trabalho tem por objetivo o analisar os códigos de moralidade adotados nos bailes
realizados pelos clubes dançantes carnavalescos. Frequentados por homens e
mulheres de maioria negra essas associações são resultado de um fenômeno
dançante que tomou o Rio de Janeiro entre o final do século XIX e as primeiras
décadas do século XX. Os diretores dessas associações adotaram regras de conduta
e comportamento como uma importante estratégia de afirmação social, garantia de
respeitabilidade e proteção feminina.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
ano, a festa foi em homenagem a Babia, uma afamada mãe de santo pernambucana.
Diante disso, este trabalho investiga as relações históricas entre a yalorixá Badia e
o Carnaval do Recife. Buscamos entender os caminhos que levaram essa
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Os municípios definidos para o texto são Paraty e Angra dos Reis onde ocorreu no
período delimitado para a pesquisa um intenso conflito de terras. Esses dois
municípios pertenciam à diocese de Volta Redonda e estavam sob o bispado de
Dom Waldyr Calheiros. São áreas de ocupação tradicional. Estou classificando de
áreas de ocupação tradicional: áreas de quilombos ocupados pelos negros,
descendentes dos povos escravizados e áreas de terras demarcadas, reservas
ocupadas pelos povos originários. Onde dentro de uma perspectiva arqueológica
observamos diferentes camadas de processos históricos. Realizamos entrevistas
com o Sr. Valentim no território de Paraty e o Sr. Manoel Moraes e o Sr. Argemiro
da Silva, em Angra dos Reis. Buscávamos nas entrevistas informações sobre a
importância da presença da diocese de Itaguaí e de D. Vital para a região. A riqueza
das entrevistas nos permite identificar o processo de construção da identidade
religiosa que acionou outras identidades: a de classe e a cultural. Foi dentro das
194
Comunidades Eclesiais de Base na região que parte da população, ainda na década
de 1960, começou a se organizar, a principio o objetivo foi viver, propagar e
consolidar a fé cristã católica diante dos temores da Igreja que objetivava conter o
avanço do protestantismo e suprir a escassez de sacerdotes. Em 1970 as CEB’s
passam a representar uma renovação dentro da estrutura institucional da Igreja
Católica. Internamente rompeu com uma concepção religiosa fundamentada na
valorização da centralização hierárquica, formal e autoritária e possibilitou formas
internas democráticas de participação popular. Externamente no período em que
vigorou o regime civil-militar no Brasil significou canais abertos onde diferentes
concepções de religião e de politica puderam se expressar. Nesse artigo utilizo
como fonte os depoimentos orais para com eles registrar a memória da experiência
vivida. O objetivo é examinar a partir da memória construída como, em diferentes
fases demarcadas, ocorreu o “deslizar da Igreja católica” rumo aos movimentos
sociais, aos sindicatos e ao Partido dos Trabalhadores no Litoral Sul Fluminense.
A memória da experiência vivida ofereceu à Igreja Católica uma identidade como
Igreja popular na região. Nas entrevistas encontrei uma delimitação de tempo
histórico diferente da que construímos a partir do arquivo memória da Comissão
Pastoral da Terra. Vou explorar as entrevistas a partir da demarcação apresentada
pelos entrevistados. As entrevistas foram realizadas em algumas áreas de conflito
pela posse da terra, acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra na região.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
E eu, não sou mulher? Violência e Crime contra a Mulher Negra no Pós-
Abolição - Elaine P. Rocha (University of the West Indies)
Este artigo propõe uma análise sobre o status da mulher negra no pós-abolição, a
partir do caso de Barbados, um país com uma extensão territorial reduzida e
consequentemente uma população que há décadas se mantém na faixa dos 280 mil
habitantes, a maioria descendentes dos africanos escravizados. Ainda que abundem
estudos sobre as condições de vida da classe trabalhadora, predominantemente
negra nas ilhas do Caribe, existe uma lacuna que demanda por investigações acerca
da trajetória das mulheres desta região. No caso de Barbados, a existência de
acervos e de documentação referente ao período da passagem entre os séculos XIX
e XX, permitem uma apreciação das pressões sociais e econômicas sofridas pelas
mulheres negras, bem como de elementos culturais que alimentavam sua alienação
dentro da sociedade. A base para este estudo é a documentação existente sobre dois
crimes praticados contra mulheres barbadianas, um na ilha de Barbados em 1916 e
outro na nascente cidade de Porto Velho em 1924. O que ambos crimes têm em
comum é o anseio das vítimas em escaparem de uma vida de pobreza e opressão e
a forma possessiva e violenta como seus algozes – ambos homens negros – as
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Em fins do século XIX, São Luís do Maranhão estava entre as principais cidades
que se destacavam pela concentração de população afrodescendente, juntamente
com o Rio de janeiro, Salvador, Recife e Porto Alegre. O entrecruzamento de fontes
como jornais, portarias de policia e ocorrências policiais permitem observar como,
às vésperas da abolição, as ruas da cidade eram cotidianamente tomadas por
práticas culturais associadas à população negra que habitava a cidade. Entender
como esta população se organizava no espaço urbano, principalmente com relação
à fé, às festas, às redes de solidariedade mais especificamente no período pós-
abolição é umas das principais questões que norteiam esta pesquisa que se encontra
em desenvolvimento. Através das licenças policiais, das notícias de jornal sobre
estas festividades, dos documentos de policia que tratam da repressão às práticas
196
consideradas desordeiras, e também com relação às notícias referentes às moradias
populares, a presente pesquisa suscita pensar estes espaços da cidade de são Luís
como sendo territórios negros, ou seja, espaços ocupados por uma população negra
que estabelecia redes de sociabilidade e solidariedade entre si. O desafio que se
coloca é olhar para além das fontes, produzidas a partir dos estereótipos e
preconceitos das elites e visualizar o universo de possibilidades que se apresenta
para que seja possível um olhar sobre as práticas de sociabilidade da população
negra ludovicense, contribuindo, dessa forma, com os estudos referentes ao pós-
abolição no Brasil, mais especificamente na região norte e nordeste do país.
forma conhecida como teatro de revista, e foi encenada no Theatro São José, que,
entre os anos de 1903 a 1926, recebeu espetáculos de grande impacto na vida
cultural carioca. Localizava-se na praça Tiradentes, lugar de maior concentração
de teatros na Primeira República. A pesquisa visa pensar a construção do
estereótipos raciais de seus personagens compreendendo-a como objeto de
interesse de intelectuais brasileiros que refletiam sobre a brasilidade, em uma
sociedade recém-saída de um regime escravocrata e monárquico. Dando maior
enfoque na análise dos personagens negros trás o questionamento de como esses
personagens da cultura se inserem nos debates raciais vigentes no período de pós
abolição, mostrando o quanto esses debates construídos transparecem nas
construções de personagens carregados de estereótipos com o objetivo de provocar
o riso.
200
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
201
ST 18. GT Mundos do Trabalho:
Novos temas e debates na História do
trabalho (Século XIX- década de
1950)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Por meio de fontes orais, periódicos e fontes oficiais, buscamos pesquisar a história
de trabalho das mulheres que viveram nos seringais. Em 1940 milhares de famílias,
foram atraídas para o trabalho nos seringais, uns através do alistamento e outros
vinham seduzidos pelas propagandas que eram divulgadas pela imprensa, uma
forte arma usada pelo governo varguista, esses trabalhadores acabaram
encontrando um universo de trabalho bem diferente daquele oferecido nas
propagandas e contratos. Percebemos que as mulheres realizavam inúmeras tarefas
em meio as matas, evitando consumir nos barracões, tentavam garantir a
sobrevivência de sua famílias, com isso destacamos a importância do trabalho
feminino nos seringais entre 1940-1950.
Essa pesquisa busca refletir acerca do destino das quitandeiras nas Minas Gerais
do século XIX, assim como levantar uma discussão sobre a interação das mesmas
com o mundo do trabalho. Embora haja um grande número de estudos que abordem
a atuação das quitandeiras no abastecimento alimentar da capitania mineira no
século XVIII, observamos que há uma falta de estudos sobre essas agentes
202
comerciais no período que abrange a decadência da produção aurífera até o final
do século XIX. Sabemos que há uma ampla bibliografia sobre as quitandeiras dos
Oitocentos para as cidades de Salvador, São Luís do Maranhão, Rio de Janeiro e
São Paulo. Contudo, a historiografia mineira dedicou-se exclusivamente ao estudo
das quitandeiras no contexto da mineração, deixando a incerteza sobre a presença
delas nos Oitocentos. Em vista disso, elaboramos três hipóteses sobre o destino das
quitandeiras no século XIX, baseando-nos nos estudos sobre a economia mineira,
nos documentos históricos, nos relatos memorialísticos e nas bases de dados
Poplin-Minas 1830 e o Recenseamento Populacional de 1872. Para o ano de 1804,
contamos com as informações do estudo realizado por Luna & Costa (1982), no
qual os autores analisaram os dados empíricos de Herculano Gomes Mathias
relativos ao levantamento populacional efetuado em Minas Gerais naquele ano, na
área que corresponderia, atualmente, ao perímetro urbano de Ouro Preto.
Encontramos outras informações, para a década de 1830, na base de dados Poplin-
Minas 1830, compilada pela pesquisadora Clotilde Paiva do CEDEPLAR/UFMG.
Baseada nas Listas Nominativas de 1830/1832, a base de dados revelou-se uma
fonte confiável e fundamental para atestarmos não só a presença das quitandeiras
em grande parte da província mineira, como também a inserção de mulheres
brancas e homens nessa atividade, ainda que a participação deles fosse pequena.
No total, foram encontradas 111 quitandeiras vivendo em Minas Gerais na década
de 1830. Outra fonte utilizada foi o Recenseamento Imperial de 1872, através do
qual foi possível apreender as ocupações dos escravos e ex-escravos a uma década
e meia da abolição da escravatura, o que nos ajudou a levantar uma discussão sobre
o destino das quitandeiras no final do século XIX. Relatos memorialísticos como
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a ama de leite no início do século XX,
chamando atenção para a presença e circulação de mulheres que trabalhavam com
a venda do leite materno. Um dos objetivos deste trabalho é a construção do perfil
desta mulher que ofertava seus serviços como ama em um momento caracterizado
pela mobilização política em prol da fiscalização do leite, enquanto atividade
doméstica, e de médicos e intelectuais preocupados com a saúde infantil. As fontes
para este trabalho são censos, plantas da cidade, discursos médicos, anúncios de
amas de leite em periódicos correntes como o Jornal do Brasil, além de teses de
alunos da Faculdade de Medicina (FMRJ) que se apresentam como documentos
importantes para compreender o cenário. Em fins do século XIX a utilização de
amas era um hábito corriqueiro entre as camadas médias e altas na cidade do Rio
de Janeiro. Esta época foi marcada por uma geração de intelectuais preocupados
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
e tinha por objetivo defender os interesses dos tipógrafos, entretanto acaba por se
inserir nos principais assuntos políticos e sociais da época. Desde seus primeiros
números mostra o apoio a abolição e retrata com entusiasmo os festejos após o 13
de maio, destacando a participação dos tipógrafos e sua relação com a imprensa. O
seu dono e redator principal era Luiz da França e Silva, que seria personagem
importante na criação dos primeiros partidos operários. Podemos observar pela
Revista a trajetória de lutas, que começa na abolição e se estende até os debates
sobre a República, representação e papel dos trabalhadores no novo sistema
político. Pretendemos nos limitar a analisar os últimos números da Revista, em
dezembro de 1889, momento em que houve um debate entre Silva e Elpidio de
Castro – secretário do Centro Tipográfico Treze de Maio – sobre a posição dos
operários diante o novo regime que se inaugurava.
O presente trabalho tem por objetivo o estudo da relação entre raça e classe em um
dos grandes centros industriais do pós-guerra brasileiro, analisando o lugar desta
questão no sistema político populista. Propomos que para a localidade de Volta
Redonda os ideais do nacional desenvolvimentismo e do desenvolvimentismo
utilizaram do discurso racial, positivando e ou negativando determinados grupos.
Em determinados momentos o contexto foi agudizado por questões de caráter mais
econômico que cultural (como o desmonte da Família Siderúrgica), ajudando na
formatação de determinadas identidades que se mesclaram à de classe trabalhadora,
tal qual a de trabalhadores negros. Ademais, à época, mesmo tendo em Volta
Redonda um símbolo de cidade de novo tipo (urbanizada, planejada e repleta do
“novo” trabalhador brasileiro) e o centro da cadeia produtiva do aço, a pesquisa
demonstra que outras áreas geográficas foram envolvidas tanto na produção como
na disseminação de determinados ideais. A constante, para além do processo
migratório e da transformação de trabalhadores rurais em urbanos, era que na
cadeia produtiva da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) a disparidade racial
era estrutural entre grupos de trabalhadores.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
209
ST 19. Habitação e direito à cidade:
favelas, subúrbios, periferias e
assentamentos informais no Brasil
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O uso da expressão cultura urbana, em nosso título, procura balizar o que este
estudo centralmente se propõe a interpretar. Tendo como foco as relações de
sociabilidade estabelecidas em meio aos espaços públicos e privados dos Subúrbios
cariocas. Para tal, compreendemos o conceito de cultura como o conjunto de modos
de vida, tradições, costumes e experiências vivenciadas por um determinado grupo
social dentro de um contexto histórico. Esta proposta de pesquisa tem como
objetivo aproximar-se, por meio da História da Cidade e do Urbanismo, de uma
investigação da vida social e das experiências cotidianas de um grande número de
moradores dos arrabaldes da cidade do Rio de Janeiro. Buscando promover uma
análise mais detalhada dos particulares mecanismos de habitação e sociabilidade,
pretendemos nos aprofundar no cotidiano de parte dos agentes sociais que
edificaram suas moradias nos bairros suburbanos, entre 1900 e 1960. Priorizando
analisar o processo de edificação de residências populares, assim como, da
formação de redes de identidade e sociabilidade suburbanas e visando propiciar os
limites territoriais necessários a esta investigação histórica, delimitamos
espacialmente nosso foco em parte do bairro do Engenho Novo, que compunham
a antiga freguesia de Inhaúma. Adotaremos como corte temporal um grande
período da história republicana, em que a cidade do Rio de Janeiro foi sede da
capital federal, pois sabemos que neste contexto estudado um profundo conjunto
de transformações socioespaciais estiveram em curso. Contribuindo para a
210
intensificação de um processo de deslocamento populacional em direção às áreas
tidas com periféricas. De fato, acreditamos que nosso trabalho poderá revelar que
os subúrbios cariocas são multifacetados e plurais, pois cada área chamada de
subúrbio deve ter suas particularidades, assim como suas próprias relações
socioculturais.Acreditamos que as edificações suburbanas, principalmente as casas
populares, podem ser objetos legítimos para a compreensão da história da cidade.
Assim, admitimos que a arquitetura suburbana nos proporciona um vasto campo
de estudo das representações, ou seja, das formas como as pessoas compreendem
a sua sociedade.
Esse bairro passa por intensas transformações, e as populações que ali vivem,
destacando nesse contexto os pescadores artesanais, por problemas e dificuldades
ocasionados por essas atividades. Diferentes forças e leituras estão presentes e
atuantes no mesmo recorte territorial, caracterizando assim, uma situação de tensão
e conflito. A leitura hegemônica das empresas e a lógica de trabalho e vida dos
pescadores artesanais marcam a presença do conflito entre os diferentes modos de
ler o espaço e produzi-lo. A Ilha da Madeira passou por momentos de intensas
transformações, no que concerne aos processos de modernização: na década de
1960, com a construção da Ingá; na década de 1980, com a construção do Porto de
Sepetiba (atualmente, Porto de Itaguaí), e a partir dos anos 2000, com a
modernização do Porto de Itaguaí, a instalação da Usiminas (onde anteriormente
funcionava a Ingá), a construção do Estaleiro e Base Naval da Marinha e do Porto
Sudeste. Em todos esses momentos, a população teve seu modo de vida e trabalho
alterados, em especial, como é o caso da pesquisa desse trabalho, os pescadores
artesanais. Impactos ambientais, desapropriações e zonas de restrição de pesca são
alguns dos problemas/impactos que permeiam o cotidiano desses pescadores
artesanais. Diante desse contexto, esse trabalho tem como objetivo analisar os
processos de modernização na Ilha da Madeira, partindo das ações do Porto
Sudeste, e seus impactos no cotidiano dos pescadores artesanais, a partir de 2010,
ano de inicio da construção do Porto. Nesse trabalho a atenção será concentrada
para a questão das zonas de restrição de pesca, pois verifica-se claramente uma
sobreposição de usos territoriais. Para tanto, serão usados entrevistas realizadas em
estudos de campo, documentos e dados secundários oficiais (estudos de impacto
212
ambiental, dados do IBGE, entre outros) e analise bibliográfica.
O artigo apresenta a hipótese que nos últimos anos jovens lideranças de favelas do
Rio e Grande Rio, sob impacto de várias transformações econômicas, sociais e
tecnológicas, vêm desenvolvendo novos eixos de lutas e novas formas de
mobilização, configurando uma ‘nova geração’ de lideranças e/ou ativistas que se
distingue radicalmente das anteriores. Sem pretender tomar isso como uma
classificação rígida ou estática, aprofundamos-nos nos discursos dessas jovens
lideranças (a própria classificação como jovem de algumas é discutível) que,
diferente das gerações que a precederam, lidam como uma nova forma de
sociabilidade na cidade, em que a presença do tráfico de drogas como fator de
estigmatização põe as favelas como territórios em que o controle através da
violência do Estado sem se importar com a vida dos seus moradores,
principalmente os mais jovens. Se isso não constitui em si uma novidade, a
distância entre o discurso de cidadania a partir do fim da década de 1970, e
principalmente sob os governos petistas, e o cotidiano real de violência estatal e
estigmatização social, é o contexto em que essas novas lideranças se deparam e
reivindicam o direito de serem moradores de favela em discurso aos seus
semelhantes (articulando para isso diversas ações pedagógicas), enquanto exigem
da sociedade que respeitem seu direito à vida.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre os acontecimentos que envolvem o
processo de “consolidação” de uma habitação irregular. Tratando como
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
219
ST 20. História & Educação –
Abordagens Gramscianas
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho visa analisar a participação ativa da holding Itáu, através do Centro
de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), na
formulação e difusão de um modelo de educação de tempo integral, materializado
no o Programa Mais Educação, instituído pela Portaria nº17 de 24 de abril de 2007
e regulamentado pelo Decreto 7.083/10. O CENPEC se define como uma
organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com ações voltadas para escola
pública, espaços educativos e políticas públicas destinadas à resolução de
problemas sociais. Esta organização, criada em 1987, reúne atualmente um
conjunto de associados que vêm influindo nas principais políticas públicas
direcionadas à Educação Básica e, destacadamente, aquelas que se referem à
Educação de tempo integral. O CENPEC compõe a estratégia de atuação do Banco
Itaú que, desde o recente processo de fusão com outra entidade financeira, passou
a ser denominado como Itaú Holding S/A. Com presença em mais de vinte países
e um lucro superior aos quinze bilhões de reais em 2014, a holding multinacional
promoveu ao longo nos últimos anos uma intensa atuação junto às políticas
públicas educacionais, destacadamente através do CENPEC, produzindo inúmeros
documentos de referência visando à gestão pública, utilizados por diversos
municípios e estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, São Paulo e
Belo Horizonte. Desde 2000, o CENPEC passou a cumprir o papel de entidade
responsável pela coordenação técnica de todos os projetos da Fundação Itaú Social,
220
criada no mesmo ano. O objetivo deste artigo é verificar a capacidade da entidade
em organizar politicamente a atuação empresarial e inserir seus interesses no
interior do Estado Ampliado, especialmente na formulação das políticas
educacionais direcionadas a ampliação do tempo escolar. São utilizados como
fonte desta investigação a produção intelectual do CENPEC e de instituições da
sociedade política, como o Ministério da Educação. O recorte temporal deste
trabalho abrange o momento da fundação do CENPEC, em 1987 e o ano de 2015,
que antecede a reformulação do programa Mais Educação e sua transformação no
“Novo Mais Educação”. Sob a luz do referencial teórico metodológico
desenvolvido pelo marxista italiano Antônio Gramsci, buscou-se verificar a
capacidade da entidade em organizar politicamente a atuação empresarial e inserir
seus interesses no interior da Sociedade Política, especialmente na formulação das
políticas educacionais direcionadas a Educação de Tempo Integral. Concluímos
que a holding Itaú Unibanco, através do CENPEC não só integrou o bloco no poder
que define e redefine as políticas educativas, como dirigiu as politicas de fomento
a ampliação do tempo escolar.
desenvolvimento das escolas técnicas industriais no país, uma vez que a opção pela
substituição de importações gerou a demanda pela formação de mão de obra
qualificada. Com representantes de ambos os países, a comissão investiu na
formação técnica e ideológica dos recursos humanos que tiveram vínculo direto
com o ensino nestas escolas. Por meio de seu periódico mensal – o Boletim da
CBAI – o grupo difundiu o escolanovismo e a proposta de democracia liberal
apregoada pelos intelectuais orgânicos da burguesia, cujo princípio fundamental
era a diferenciação unificadora, com o fim último de manter a ordenação social
baseada na divisão em classes. A CBAI atuou como um partido interessado em
ampliar o Estado brasileiro, de modo que a somatória da sociedade civil com a
sociedade política no Brasil, se estendesse em articulação com a burguesia norte-
americana. As elites brasileiras consentiram a interferência estadunidense nos
negócios do Estado brasileiro, colocando-se em posição periférica no
desenvolvimento do modo de produção capitalista – situação dada pelos contornos
que assume o Estado no país e no seu comportamento a nível internacional. Sob o
ponto de vista do materialismo histórico e dialético, pretende-se identificar a CBAI
como um dos partidos a operar a ampliação do Estado brasileiro por meio da
educação técnica industrial, ao mesmo tempo em que se identificam os intelectuais
orgânicos que se empenharam com a manutenção da hegemonia burguesa. Para
tanto, propõe-se a análise de alguns dos Boletins da CBAI, tomados, neste caso,
como fonte histórica.
capazes de introduzir no seio das classes subalternas não apenas a aceitação, mas
adesão espontânea aos princípios ideológicos das classes dominantes. Por tal razão,
faz-se imperiosa a tarefa de aprofundamento dos estudos sobre os mecanismos
ideológicos de dominação, uma vez que é na superestrutura onde a luta de classes
se desvela. Assim, o presente trabalho pretende apresentar um breve estudo sobre
o projeto de educação da Fundação Roberto Marinho, um Aparelho Privado de
Hegemonia da principal rede de telecomunicações do país, conectado às novas
demandas de mão-de-obra do capitalismo de tipo dependente, tal qual o brasileiro.
Para cumprir tal tarefa, será discutida a influência do referencial marxiano na obra
de Gramsci e as principais adequações ao contexto italiano do início do século XX.
Serão abordados também elementos da reestruturação produtiva pós 1970 e o
desdobramento no neoliberalismo de terceira via típico dos anos 1990/2000.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
afirmação hegemônica da ABAG. Mais que isso, eles contam com aquilo que
Antonio Gramsci sinaliza como fulcral para esta tarefa: o caráter pedagógico –
logo, educativo – da construção do consenso. Sob tal ótica e seguindo o filósofo
italiano, a Educação extrapola sua dimensão escolar - formal e formalista -
constituindo-se em noção estruturante da hegemonia de uma dada classe ou fração
dela.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Instituto Ayrton Senna: Uma análise da sua atuação como Aparelho Privado
de Hegemonia - Aline Carla Batista de Laia (UFRRJ)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Esse trabalho trata do Movimento Escola Sem Partido (MESP), da história de sua
criação e desenvolvimento e dos interesses político-ideológico que ele representa.
O objetivo aqui é reconstituir como o movimento se tornou um veículo para
difundir junto à sociedade civil de discursos e perspectivas conservadoras sobre a
educação escolar e a função social da escola. A proposta que guia esse trabalho é a
de que o MESP, através da sua associação com outros partidos, aparelhos privados
e intelectuais orgânicos, visa consolidar um consenso hegemônico em torno do
papel da escola e das relações de ensino-aprendizagem com o objetivo de converter
esses espaços em ferramentas para a reprodução de valores e paradigmas político-
ideológicos conservadores
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho tem como tema as relações raciais e a formação da classe trabalhadora
brasileira, em especial a carioca, entre os anos 1906 e 1930. Pretendemos aqui nos
aprofundar em dois espaços de sociabilidade dos trabalhadores no Rio de Janeiro,
suas redes de solidariedade e de sociabilidade: A Sociedade de Resistência dos
Trabalhadores de Trapiche e Café, fundada em 1906 e a Tenda Espírita Cabana de
Xangô, situada no subúrbio da cidade, que tinha como mãe de santo Vovó Maria
Joana Rezadeira, que se mudou para Madureira no ano de 1916. Neste trabalho nos
interessa investigar de que maneira os conceitos de raça e classe, no Brasil, se
mostram indissociáveis. Além disso, nos interessa buscar compreender como as
organizações da classe trabalhadora podem contribuir para a formação de
consensos contra-hegemônicos, seja na manutenção de tradições, seja em suas
redes de solidariedade, nos fazer-se dessas entidades. Desse modo, tanto o
sindicato, como o terreiro se apresentam como organizações das classes subalternas
em disputa por trabalhadores negros, na luta pela consolidação e pela formulação
de consensos. Diversos sócios do sindicato frequentavam o terreiro de Vovó Maria
Joana, um espaço também dedicado ao Jongo e à manutenção da tradição jongueira
como elementos de resistência, dentre eles Mano Elói, Sebastião Molequinho e
João Grandim. Mano Elói, foi um importante quadro da Resistência, tendo seu
nome em destaque no atual Sindicato dos Arrumadores do Rio de Janeiro, foi
frequentador do terreiro de Vovó Maria Joana e um dos fundadores do Império
Serrano, escola de samba localizada em Madureira. Os que haviam sido
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
241
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
242
ST 21. História & Teatro
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Cunha levada a cabo pelo Teatro Oficina), pretende-se evidenciar o diálogo deste
com a estética do cineasta Glauber Rocha. O gosto pela alegoria, o anseio de
totalização, o ritual entre o mito e a história, o sagrado e profano nos trabalhos do
Oficina e de Glauber. Essas aproximações são elaboradas a partir de um mergulho
imanente nos procedimentos de montagem de Luta II que, como se verá, dialoga e
reflexiona o trabalho de montagem da filmografia glauberiana. Proponho exercitar
um olhar crítico que escave as especificidades fílmicas de uma obra magnífica: A
Luta II – O Desmassacre. Um livro que vira peça que vira filme que vira DVD
sobre aquilo que foi, na significação integral da palavra, um crime. Ou melhor, uma
tragédia. Um ato de tragédia. De 2001 a 2007, o Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona
dedicou-se à épica adaptação, ou melhor, transcriação de Os Sertões de Euclides
da Cunha. Dividida em cinco partes, A Terra, O Homem I, O Homem II, A Luta I
e A Luta II – O Desmassacre, o espetáculo durava ao todo 26 horas. Um feito
artístico extraordinário. As cinco partes construídas sob direção geral de Zé Celso
Martinez Corrêa e com a colaboração de mais de 60 técnicos e atuadores viraram
também filmes, exibidos poucas vezes nas salas de cinema e agora disponíveis em
DVD. A Luta II - O Desmassacre narra a quarta e derradeira expedição do exército
brasileiro ao sertão nordestino, com o envio de 12 mil soldados, canhões, armas
modernas e estrategistas, como o Marechal Bittencourt, que pela primeira vez na
história do exército brasileiro criou uma base de operações distante do front, de
onde comandou as manobras, chefiadas pelo general Arthur Oscar e secundada
pelo sanguinário general Barbosa. O filme discorre sobre os últimos dias da guerra
civil de Canudos, que resultou no massacre de mais de 25 mil sertanejos.
246
Carlo Goldoni e a Commedia Dell'Arte: Modos de produção de
comicidade - Elza Maria Ferraz de Andrade (UNIRIO E UNESA)
a companhia para expor suas teorias sobre a arte dramática e responder aos críticos.
Em O teatro cômico aparecem propostas para um teatro “reformado”, uma nova
comédia, e também indicações para uma reforma da postura do intérprete. Uma
espécie de “comédia de tese”, onde o autor expõe uma outra maneira de
compreender a comédia. Este trabalho pretende destacar e comentar algumas destas
novas propostas goldonianas sobre o modo de produzir a comédia, contidas no seu
texto O teatro cômico.
moderna, tal como aponta Gerard Messadié, um dos maiores estudiosos desta
questão. Os tempos modernos, iniciados a partir dos séculos XV/XV trariam a
população judaica européia novos ares persecutórios e genocidários, ilustrados nos
guetos italianos, no isolamento dos vilarejos judaicos posteriores (sthetls) e
culminando com os libelos de sangue e Pogroms de fins do século XIX e inícios
do XX na Boêmia e no sul da Rússia. Entre os anos de 1596 a 1599 a peça O
Mercador de Veneza foi escrita por um dos maiores dramaturgos de todos os
tempos: William Shakespeare. O vilão da trama desta peça, o judeu Shylok,
provocou e provoca ainda hoje um sério debate sobre a questão do antissemitismo
presente na obra shakespereana, mas também na apropriação do mesmo para
manifestações de natureza antissemita por parte de grupos de extrema direita no
presente. Este trabalho pretende analisar as imagens estereotípicas que o
personagem expressa na construção de suas falas, e de que maneira será possível
relacionar a trama do texto onde ele aparece com um subjacente discurso
antissemita difuso na sociedade européia dos tempos do autor de Romeu e Julieta.
Luzes e formas animadas, teatro na Belle Epoque carioca - Ana Paula Brasil
de Matos Guedes (Faetec)
O Parateatro foi uma das fases do percurso de Jerzy Grotowski iniciada em 1970.
O foco desta fase está no encontro, na reunião de pessoas com diferentes culturas
que possuíam o objetivo de ultrapassar seus limites pessoais. Este trabalho pretende
estudar a continuidade do Parateatro liderado não mais por Grotowski e sim por
Rena Mirecka. Rena Mirecka, foi atriz do Teatro Laboratório e esteve ao lado de
Grotowski desde 1959, quando se juntou ao grupo no Teatro das Treze Fileiras em
250
Opole. Durante muito tempo Rena Mirecka foi a única atriz do Teatro Laboratório,
e a única atriz que se manteve desde o início da Companhia. Mirecka teve uma
participação fundamental na construção do Teatro Laboratório. Em 1970, Mirecka
passou a ser assistente de Grotowski e começou a acompanhá-lo em sua nova fase,
o Parateatro. Segundo Grotowski, os primeiros anos do Parateatro, onde o grupo
trabalhava minuciosamente durante horas na floresta, aconteciam coisas que
estavam como que na fronteira de um milagre. Mirecka explicou que “para”, em
sânscrito, significa alto, então Parateatro seria um alto teatro, um nível mais
elevado de teatro, perto da origem, um teatro ainda ritualizado. Com o fim do
Teatro Laboratório em 1984, Mirecka deu início a um novo momento, desta vez
sem Grotowski. Para ela, era extremamente necessário dar continuidade à pesquisa
que haviam começado. Em uma entrevista ela diz que as experiências ainda viviam
nela. Mirecka montou um grupo com Ewa Benesz. Elas se conheceram quando
Benesz participou do Teatro Laboratório entre 1966 e 1968 no trabalho “The
Gospels (Ewangelie)”. Ela voltou a colaborar com o grupo em 1981 durante as
experiências parateatrais. Segundo ela, Grotowski a chamou de volta para o grupo,
pois tinha medo que ela fosse pega pela “lei marcial” que conduziu vários
opositores do governo socialista à prisão. Quando Grotowski deixou o grupo, as
duas continuaram as experiências parateatrais. Os primeiros encontros começaram
em Brzezinka, floresta perto de Wroclaw, cidade sede do Teatro Laboratório.
Depois foram para uma casa de campo chamada Casa Blanca na Sardenha, Itália,
essa casa recebeu o nome de uma flor que Rena Mirecka ganhou dos participantes
do laboratório, os italianos chamavam a flor de casa blanca, por isso batizaram o
lugar com o mesmo nome. Lá criaram um centro de estudo chamado “International
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Center Prema Sãyi”. Este nome tem origem na filosofia de Sri Sathya Say Baba.
Mirecka havia estado na Índia onde conheceu o mestre Say Baba e segue sua
filosofia até hoje. O objetivo deste trabalho é colocar em foco o Parateatro
desenvolvido por Rena Mirecka, pensando não só a importância destes encontros
no momento histórico em que eles estão inseridos, como também o que reverbera
ao teatro contemporâneo.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A capital pernambucana foi palco de uma profusão de novos espaços teatrais nos
anos 1930, exatamente quando o teatro profissional local galgou ocupar a mais
importante casa de espetáculos da cidade, o Teatro de Santa Isabel, com o
surgimento do Grupo Gente Nossa, intimamente atrelado àquele palco. Em
paralelo, os chamados “teatros dos arrabaldes”, espalhados por bairros do subúrbio,
dinamizaram ainda mais o campo teatral recifense, ampliando a geografia do fazer
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Esta comunicação propõe uma reflexão sobre as escolhas dos repertórios pelas
sociedades dramáticas amadoras procurando compreender critérios e motivações
envolvidas na montagem dos espetáculos teatrais encenados e apresentados pelos
amadores. Os caminhos traçados após a decisão sobre o texto teatral a ser encenado,
os atores e atrizes que tiveram destaque nos periódicos, a dedicação dos amadores
nos ensaios, o que diziam os críticos teatrais sobre seus cenários e figurinos e, por
fim, a estreia, demonstram a dedicação e a paixão pelo teatro daqueles que, muitas
vezes, trabalhavam durante o dia e faziam teatro à noite. Busco traçar o caminho
dos textos teatrais aos palcos e, dessa forma, entender o teatro como uma prática
254
social tanto do grupo que atua, como de quem assiste, e perceber se e em que
medida essa prática se constituía como um elemento identitário daquele grupo.
Dos serões da corte às festas litúrgicas, o teatro foi parte importante das principais
celebrações em Portugal ao longo do século XVI. Gil Vicente, maior expoente
desse teatro, colocou em evidência os costumes e o cotidiano da sociedade
portuguesa. Entre os poetas quinhentistas classificados pela historiografia
tradicional como continuadores ou imitadores do teatro de Gil Vicente, destacam-
se nomes como Afonso Álvares, António Prestes, António Ribeiro Chiado e
Baltasar Dias. A chamada Escola Vicentina explorou temas de fundo religioso,
como a fixação de condutas cristãs ideais e as cenas de martírio dos santos, e temas
da vida doméstica e familiar, como o casamento, a gravidez, as doenças. Seus
personagens eram tipos construídos a partir de características atribuídas a um
determinado grupo social e, portanto, facilmente reconhecidos pelo público, fosse
pela linguagem, pelo gestual ou pela vestimenta. Considerando a importância das
representações do cotidiano no teatro quinhentista, o objetivo deste trabalho é
analisar as referências ao corpo e ao vestuário em peças da Escola Vicentina.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A performance "Um demo malpensante cai sobre ti" foi criada no ano de 2017
pelas artistas Larissa Elias, Marília Martins e Vanessa Teixeira de Oliveira, com o
objetivo de integrar a ocupação cultural "Que Legado", realizada nos espaços
culturais Oduvaldo Vianna Filho (Castelinho do Flamengo) e Sérgio Porto, e nas
universidades PUC e UERJ, na cidade do Rio de Janeiro, durante o mesmo ano de
2017. A performance tem como estrutura básica três faixas cênico-sonoras: 1. voz
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
da atriz em cena, que fala textos de três personagens trágicas ficcionais, cujo traço
em comum é o caráter profético de seus discursos – Cassandra, da "Oresteia" de
Ésquilo (458 a.C.), Calpúrnia, de "Júlio Cesar" de William Shakespeate (1599), e
Camila, de "Horácio" de Pierre Corneille (1640); 2. vozes e músicas gravadas e
reproduzidas eletronicamente, sendo estas vozes, em sua maioria, vozes do “mundo
real”, captadas em “situações reais”, de natureza diagnóstica ou prognóstica sobre
o Brasil, o mundo e a política; 3. voz gravada da atriz, ouvida apenas por ela, que
funciona como uma espécie de ponto eletrônico. O conceito chave da cena é a
interseção entre estas três instâncias, realizada pela atriz, através da manipulação
de dois celulares e de uma mesa de som. Se poderia considerar que a performance
se organiza por meio de uma série de subestruturas formadas por esta inter-relação
entre voz da atriz/textos trágicos versus conjunto sonoro de gravações. A trama
entre as vozes dramáticas ficcionais e as vozes discursivas reais, como em uma
montagem, forma, por assim dizer, uma espécie de tecido histórico. As gravações
redimensionam e atualizam as tragédias, expandindo-as para fora dos limites do
drama. As tragédias, por sua vez, impregnam as gravações de sentidos além do
ordinário. A dramaturgia cênica coloca em relevância a sonoridade e as vozes
coralizadas, procurando evidenciar uma articulação histórica, mas não uma
cronologia. Como se do confrontamento entre os textos trágicos e o conjunto
sonoro das gravações emergisse a “imagem mesma da história”, valendo-me do
entendimento do ensaísta e crítico teatral Jan Kott acerca das crônicas históricas de
Shakespeare. A partir destes imbricamentos convida-se o espectador a visitar o
passado para dali lançar-se de volta para o presente e, na trilha das visões
256
premonitórias das personagens reais e fictícias, projetar o futuro, dimensionando
historicamente os temas tratados. Esta comunicação objetiva decompor os
elementos em jogo nesta performance e pensar a relação entre sua engenharia
cênica e a produção de uma percepção e de um pensamento históricos.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
257
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
258
ST 22. História Comparada enquanto
método: suas abordagens, limites e
possibilidades.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho tem por objetivo analisar a possibilidade de se tomar a literatura como
fonte histórica, tendo em vista que alguns romances fornecem uma incisiva
interpretação de acontecimentos sociais, culturais e políticos no Brasil. Este é o
caso da obra "Chão do Apa: contos e memórias da fronteira" de Brígido Ibanhes,
objeto de estudo desta pesquisa. O autor constrói uma representação histórico-
literária desde o início da obra através de fatos, processos e detalhes históricos que
deixam entrever de forma ficcional, uma interpretação da história. Ibanhes constrói
uma espécie de informações históricas no tecido textual da obra ao representar a
Guerra do Paraguai, abordando os aspectos sociais e culturais da fronteira entre
Brasil e Paraguai. Desta forma, à luz de uma bibliografia teórica dedicada ao
assunto entende-se que a presente obra traça abordagens comparativas neste
diferentes campos do saber que é a História e a Literatura, permitindo-nos um
intenso diálogo entre a ficção e a História na literatura brasileira.
261
Identidade Nacional: As interpretações de Oliveira Vianna, Gilberto Freyre e
Sérgio Buarque de Holanda - Iara Andrade Senra (UFRJ)
Este estudo tem como objetivo a análise comparada de dois eventos esportivos. O
primeiro, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, foi
organizado no contexto de festejos do centenário da independência do país e ficou
conhecido como Jogos Olímpicos Latino-Americanos (ou Jogos do Centenário de
1922). Já o segundo, ocorrido em 1938 em Bogotá, capital da Colômbia, foi
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho propõe uma análise comparativa dos processos de criação de dois
parques nacionais na América Latina, o Parque Nacional Nauhel Huapi, na
Argentina, e o Parque Nacional de Itatiaia, no Brasil. O objetivo principal é
compreender a criação destas duas áreas de proteção em contextos de
desenvolvimento regional e nacional. O primeiro, apontado como o primeiro
parque nacional latino americano, foi criado em 1903, porém, efetivado por uma
política oficial de parques nacionais, apenas em 1934. Está localizado no Noroeste
262
da Patagônia argentina, na divisa com o Chile e a região na qual foi criado era
habitada até fins do século XIX somente por índios nativos e animais selvagens.
Na ocasião de sua consolidação, na década de 1930, a região remota e pouco
habitada ainda representava um risco para o governo e a consolidação do parque
ocorreu como estratégia de ocupação do território e desenvolvimento de alternativa
econômica a partir da associação entre conservação e turismo. O segundo, primeiro
parque nacional brasileiro, foi criado em 1937. Está localizado na divisa entre os
Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, em uma área de extrema
raridade ecológica e paisagística. A criação do Parque Nacional de Itatiaia deve ser
compreendida a partir de suas relações com a política governamental de gestão da
natureza então implementada e atrelada ao projeto de desenvolvimento da Era
Vargas. Sigo uma tendência de trabalhos recentes que sugerem a necessidade de
abandonar o modelo de exportação do parque nacional americano e considerar a
proteção da natureza como um produto de imperativos nacionais. A análise de
outras experiências nacionais, como a que proponho nesse trabalho, permitem a
complexificação e o entendimento de como diferentes países atentaram para
resolver algumas das tensões na proteção da natureza- como um balanceamento
entre turismo, pesquisa científica, interesses locais e nacionais, democracia e
autoritarismo ou preservação e conservação. Deste modo, pretendo, a partir da
análise comparativa proposta, discutir essas duas experiências históricas,
identificar aproximações e distanciamentos entre elas e estabelecer especificidades
que configurariam a criação dessas áreas protegidas na América Latina.
Problematizar a história da criação de parques nacionais e demais medidas
conservacionistas permite escapar da visão romantizada de proteção da natureza
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
263
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
264
ST 23. História da alimentação, da
gastronomia e suas interfaces
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
se muitas vezes apenas aos locais de origem. A cozinha brasileira se mescla nesse
elemento cultural, a panela de barro, ao mesmo tempo que organiza e elabora a
celebração da comensalidade. São vários os sítios que ainda produzem essas
panelas como: as Cerâmicas de Coqueiros em Maragogipe que preparam as panelas
de barro para servir as moquecas, as panelas de Pasmado e Pasmadinho no norte
de Minas que servem o frango com quiabo, em Morretes no Paraná com as panelas
que acondicionam e cozinham o barreado, em Irará na Bahia com seu barro
vermelho para preparar o ensopado de carne seca, e em outros locais que continuam
a produzir suas panelas, feitas ainda por mulheres. A pesquisa será desenvolvida a
partir de inventários dos sítios, o tipo de utensilio culinário que é confeccionado e
a receita que é preparada nessa panela.
Essa comunicação pretende, a partir das cartas trocadas entre Luis da Câmara
Cascudo e Josué de Castro, olhar a formação epistemológica e a linguagem
utilizada na pesquisa sobre alimentação em dois campos de estudo que estavam
ainda incipientes no Brasil na primeira década do século XX - respectivamente a
etnografia e a nutrição. As correspondências, de conteúdo inédito, são utilizadas
para jogar luz sobre a vida e obra de cada autor, delimitar suas áreas de atuação e
os termos utilizados em seus textos. Quem conhece os dois autores não imagina
quão próxima parece ser esta relação intelectual. Apesar das nítidas diferenças de
suas bases de estudo, os dois aparentemente mantiveram contato maior do que nos
mostram suas obras. Essa conclusão se dá depois de analisar as cartas trocadas que
perpetuaram ao longo do tempo e estão disponíveis no Instituto Câmara Cascudo,
em Natal, e na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife. Para tal análise será utilizada
a base teórica da escola dos conceitos alemã, principalmente as ideias de Reinhardt
Koselleck. A conversa travada ao longo dos anos explicita que os pontos de vistas
eram mutuamente articulados. Assim, a linguagem no campo da alimentação,
apesar de mostrar as diferentes áreas do pensamento que estavam em formação
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
período que a busca pelo espaço público como local de vivência social e
valorização das atividades de lazer começou a melhor se conformar, inclusive com
o crescimento e diversificação do mercado do entretenimento. Dentre estes se
destacam os teatros, circos, bailes, práticas esportivas e ginásticas e uma estrutura
pública de alimentação que também se relacionava com esta nova configuração
urbana, como as confeitarias. Estas casas disponibilizavam frequentemente
atividades de diversão para seus clientes através de exposições de retratos, plantas,
animais e bebidas, campeonatos de tiro ao alvo, jogos como xadrez, bilhares,
bagatelas e espaços com jardim. As confeitarias, em geral, exerciam funções muito
mais amplas que o simples preparo e venda de doces, se portando também como
padarias e até armazéns, com comércio de frutas, bebidas, pães, biscoitos,
guloseimas e até presentes. Da mesma forma, atendiam a outro segmento, que era
o fornecimento de gêneros alimentícios prontos, sem serem preparados no interior
dos seus espaços e que poderiam ser adquiridos e consumidos nas residências.
Acreditamos que os maiores frequentadores destas eram os integrantes de camadas
sociais de maior poder aquisitivo, ou componentes de fatias medianas em ascensão.
No entanto, não é possível descartar que houvesse clientes menos remediados que
comparecessem a esses lugares cada vez mais comuns e diversos. Frequentar
confeitarias poderia ser interpretado como a representação de hábitos modernos,
evoluídos e requintados, adequados a um país e a uma cidade que buscavam
progredir, se civilizar. Este estudo tem por objetivo apresentar o perfil destes
espaços de alimentação no Rio de Janeiro do Segundo Império (1850-1889). Para
alcance do objetivo foram utilizados como fontes, periódicos publicados no
269
período estudado na cidade do Rio de Janeiro. Este trabalho é fruto da minha tese
de doutorado.
A proposta desse trabalho é fazer uma breve análise sobre o surgimento da nutrição
enquanto um campo de conhecimento e profissional específico no Brasil,
destacando os principais fatores que contribuíram para tal processo, assim como os
atores e instituições que surgiram e fizeram surgir nesse contexto. Sobretudo nos
anos de 1940, a nutrição como um saber ganhou contornos mais definidos com o
surgimento dos primeiros cursos e das primeiras políticas de melhoria da condição
de alimentação do trabalhador. Nesse contexto surgiu a revista Arquivos
Brasileiros de Nutrição, considerada como o veículo de difusão das ideias e
propostas de nutricionistas e nutrólogos a respeito da alimentação dos brasileiros.
270
Buscaremos nesse trabalho identificar e analisar as principais ideias e propostas
dos intelectuais ligados à revista, bem como suas leituras sobre os problemas da
alimentação no Brasil.
Este trabalho é sobre o acidente com o césio 137 que ocorreu em Goiânia em 1987.
Por conta do abandono de uma cápsula contendo césio-137, de aparelho de
radioterapia em um prédio abandonado, antes hospital, onde pessoas puderam ter
contato com essa cápsula e ao manuseá-la, fez causar todo esse transtorno para as
vítimas e também os moradores da cidade e estado. Pretende-se, explicar como
ocorreu o acidente bem como o processo de descontaminação do material
radioativo e da descontaminação simbólica.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A associação entre comida e sexo enquanto fonte de diversos prazeres está presente
em diversas culturas. Da mesma forma, a definição dos papéis sexuais diante do
272
espaço da cozinha nos remete a uma análise da construção histórica cultural entre
os sexos. Nesse sentido, pretende-se analisar a relação entre alimentação,
sexualidade e prazer, a partir de referências bibliográficas que abordam essa
temática e das percepções de gênero dos alunos de um curso de gastronomia da
cidade de Goiânia. Foi realizada uma pesquisa com questionários abertos e
fechados, na qual, discentes de gastronomia responderam sobre a definição dos
papéis sexuais na cozinha e a relação entre sexualidade e comida. A pesquisa tem
como objetivo contribuir para a produção científica de trabalhos que associam
gênero e alimentação.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
273
ST 24. História da Baixada
Fluminense: pesquisa, ensino e
parcerias no Rio de Janeiro
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho tem como proposta desenvolver um estudo sobre a Vila de Santo
Antonio de Sá, dentro do período iniciado com a fundação da Vila, em 1697, até a
sua dissolução definitiva em 1877. Através da análise da configuração político-
territorial desta Vila, e de sua população, busca-se dialogar com os trabalhos dos
memorialistas da década de 1930, como José Matoso Maia Forte, e com as
pesquisas atuais que sustentam suas hipóteses. O presente estudo apresenta novas
interpretações sobre os fatos principais desta Vila, inserindo este espaço no âmbito
das mudanças da Capitania, e posteriormente Província, do Rio de Janeiro. Entre
as fontes primárias utilizadas destacam-se as anotações dos viajantes, relatórios dos
Vice Reis, decretos, estatísticas demográficas, periódicos, anotações de visitas
pastorais e descrições oficiais da produção da Vila. No início do último quartel do
século XVIII, a Vila de Santo Antonio de Sá era composta por seis freguesias, são
elas: Santo Antônio de Sá (sede da Vila); Santíssima Trindade; Nossa Senhora da
Ajuda de Cernambitigba (Guapimirim); Nossa Senhora da Conceição do Rio
Bonito; São João Batista de Itaboraí e Nossa Senhora do Desterro de Itambi. A
Vila, com suas seis freguesias, possuía uma dimensão territorial tão extensa, que
ao ser desmembrada no decorrer do século XIX se dividiu nos atuais municípios
de Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Itaboraí e Guapimirim. Por fim, esta
pesquisa apresenta um estudo que prioriza a desconstrução da história única e
aponta novos caminhos para o entendimento da decadência da região que um dia
274
foi chamada de Vila de Santo Antonio de Sá.
Este texto é parte inicial da pesquisa que se propõe a analisar 244 páginas
manuscritas com histórias de orisás, Ìtàn, coletadas nos cotidianos de terreiros de
candomblé por uma mãe de santo e a produção de conhecimentos nos
espaçostempos em que esses Ìtàn circulam. Esses escritos de Aṣé, recebidos como
herança por seu filho de santo (hoje pai de santo) e as influências dessas heranças
servem como fio condutor para essas reflexões iniciais, que tem como base
fundante as dinâmicas de repasse e ressignificações dos saberes contidos nessas
fontes e na sua própria constituição, tecendo redes de saberes muito além dos muros
do terreiro, tendo em vista principalmente as crianças e jovens candomblecistas,
que levam consigo esses saberes para as escolas e, especificamente nos interessa
275
nesse texto, para as aulas de história. Construções orais e escritas realizadas em um
terreiro de candomblé, no município de Duque de Caxias - RJ, que dialogam com
oralidades e escritas desses espaçostempos.
Este artigo toma como objeto a história da primeira escola municipal alojada dentro
da comunidade Dois Irmãos, localizada no Parque Beira-Mar, Primeiro Distrito da
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este texto apresenta o projeto Pibid Uninter – Pedagogia. Que está vinculado ao
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid, junto a Capes –
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior. O programa tem
como objetivo a valorização do magistério, portanto, para que isso ocorra é
fundamental o aperfeiçoamento e a elevação da qualidade na formação dos
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
do programa na formação docente, bem como analisar como está sendo conduzida
a formação inicial dos professores. Optou-se em descrever o PIBID e apresentar os
dados de desempenho do programa entre os anos de 2007 a 2013, de forma a
ilustrar os benefícios do Programa. Como fonte de pesquisa foram utilizados os
estudos de Gatti, Pimenta, Saviani, Severino e Tardif, que tratam de forma
específica como se encontra a estrutura da formação inicial dos professores de
licenciatura, relacionada à prática docente. A partir da análise documental das
Portarias 038/2007, 122/2009, 096/2013, do Edital 061/2013, do Decreto
7.219/2010, do Relatório de Gestão (2009-2013) e do Relatório de Gestão (2009-
2014), os resultados apresentados revelam que uma política pública bem
estruturada, valoriza e fortalece a formação docente, traz melhoria em relação a
qualidade nas escolas de rede pública, integrando as universidades e escolas, e ao
mesmo tempo propicia a formação continuada dos professores da IES e dos
Supervisores da escola. O programa proporciona a articulação entre a teoria e a
prática, trazendo consigo a oportunidade do estudante se aproximar da realidade do
cotidiano escolar, e ao mesmo tempo incentiva a pesquisa, cria condições de uma
formação consequente, para que de fato os licenciandos possam participar
efetivamente do processo de formação, de maneira emancipadora por meio da
apropriação do conhecimento e dos saberes necessários para uma formação
transformadora. O século XXI tem discutido de forma bastante enfática, visto a
trajetória histórica da educação no Brasil, a formação de professores. Essas novas
discussões são motivadas pelo quadro desafiador em que se encontra a qualidade
da formação inicial docente, principalmente em relação as limitações na preparação
287
desse profissional em relação à prática. A formação inicial docente possui lacunas
que devem ser preenchidas. Uma delas é a falta de formação prática do docente,
diante dessa realidade é preciso desenvolver ações que ajudem a solucionar essa
situação. Diante destes debates, entra em cena o PIBID, como política pública para
a formação inicial de professores.
A inclusão de crianças ciganas e de sua cultura em escolas regulares tem sido tema
de muitas reportagens em Goiás e em algumas outras regiões isoladas de nosso
país, em alguns locais não se encontra um estudo organizado sobre o tema voltado
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
para as Políticas Públicas Educacionais aplicadas nessas regiões. Aqui vai uma
crítica ao meio acadêmico, tão engajado em políticas sociais como o que temos no
Brasil, não podemos “desmemoriar” uma população que têm tanto a contribuir com
nosso crescimento como nação. Antes, além da professora e da Equipe Gestora não
saberem como lidar com as características das crianças, elas não demonstravam
conhecimento o suficiente para entenderem a melhor forma de se trabalhar esse
aluno, o que foi compreendido e desenvolvido ao longo do processo. O maior
exemplo disso será abordado mais pra frente, quando for esmiuçar como funciona
e o dia-a-dia desses alunos. Sempre vi a educação como um objeto de mudanças
em nossa sociedade, o poder que exerce no combate da desigualdade e na melhoria
da qualidade de vida da população, mas, entendendo, é claro, que a mesma sozinha
não possui o poder de salvar a tudo e a todos, devemos então ter a ajuda e a
iniciativa de pessoas, como os profissionais da Escola Municipal Dom Velloso.
Dependemos também da ajuda familiar, ajuda essa que no caso estudado por nós,
não é de fácil percepção, já que os responsáveis Ciganos não fazem parte desta
sociedade letrada, vivendo assim na Marginalidade Social. Não ajudam a suprir as
necessidades afetivas e colaborativa que seus filhos precisam, fazendo com que a
escola cumpra com o além do papel de transmissão de conteúdos necessários para
a formação do cidadão e com uma visão voltada para o meio profissional. Não
devemos ter um olhar apenas “micro”, mas, também “macro” ao ver um exemplo
em uma região de baixo poder aquisitivo, dando um grande exemplo educacional
como este que estudamos que pode ser exportado para grandes capitais e/ou
grandes polos educacionais em nosso país. Se seguirmos as leis e/ou
289
acrescentarmos ao nosso dia a dia um pouco de amor e bom senso, podemos junto
a educação mudarmos o mundo e a sociedade em que vivemos. Daí vem a
necessidade de investir em uma formação continuada voltada para os profissionais
da educação. Formação essa que deve contemplar cada vez mais a necessidade de
sermos plurais em nossas ideias e também em nossa forma de agir para com o outro,
seja ele de origem não igual, de outra classe social, de uma cultura não igual e de
uma visão político-social diferente da nossa. Não podemos mais permitirmos que
dentro de uma sociedade tão plural, como a Brasileira, se encontre pessoas que vive
na marginalidade (à margem da nossa sociedade) como vemos ainda nos dias de
hoje.
Escola Normal (1836) e da Diretoria Geral dos Estudos – DGE (1849). O Conselho
e a DGE eram os órgãos responsáveis pela fiscalização do ensino público, portanto,
porta-vozes do Governo para a efetiva implementação dos Regulamentos que
instituíam as normas quanto ao ingresso e trabalho dos professores. Por outro lado,
a Escola Normal era regida pelos mesmos órgãos e a despeito da intermitência das
políticas para formação de professores no período, cumpria – sobretudo na segunda
metade do XIX – papel fundamental, porque formava os normalistas visando a uma
disciplina de trabalho requerida e acompanhada pelas instituições supracitadas. A
análise do ordenamento jurídico permite verificar ações do Estado, já os usos
costumeiros, nos moldes da análise de E. Thompson quanto ao fato de que o direito
consuetudinário deriva dos costumes, possibilita inferir efeitos desse sobre a
constituição das legislações. É nesse sentido que acompanhar a trajetória de
professores permite o cotejamento entre o instituído e o vivido na instrução. Por
meio da metodologia indiciária e nominativa (micro-história) nas análises das
fontes sobre os sujeitos (inventários, batismo, processos, correspondências) e o
entrecruzamento com as Leis, Regulamentos e Relatórios da Instrução é possível
identificar atuações de professores fora do magistério e suas trajetórias revelam
oposição entre o prescrito e o praticado. Os professores condensavam e recriavam
os programas escolares, atuavam em outras atividades, faziam horários
convenientes à realidade da aula. A duplicidade de atividades – usualmente o
magistério e um ofício ou atividade urbana/rural – resultava na existência de um
único turno de aula. A instituição do turno único para as aulas em regiões mais
afastadas da capital elucida essas negociações e demonstra que tais reformas
291
acatam as práticas costumeiras, com intuito, dentre outras coisas, de efetuar o
controle. A disciplinarização através do estabelecimento das normas e fiscalização
do trabalho dos professores não ocorreu em mão única. As táticas e as atividades
costumeiras iam moldando, reconstruindo e resistindo a esse processo.
Como professora da Educação Básica, nosso objetivo nesse texto é a discussão dos
Referenciais do Ensino Médio da Paraíba (RCEM-PB/2007), constituindo-se no
caso de História como uma proposta com avanços no seu programa de ensino, já
que pela primeira vez rompia com a estrutura cronológica dos programas até então
em volga, programas esses seguidos pela maioria dos professores(as) através do
livro didático na maior parte do país, como ainda é muito comum, restringindo às
discussões em sala de aula, limitando a criatividade dos docentes e discentes. A
partir da proposta dos Referencias, foi elaborado um programa para o Processo
Seletivo Seriado (PSS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), forma de
ingresso nessa Universidade entre os anos de 1999-2014, que orientou o estudo de
História para o vestibubar. Na elaboração dos Referenciais as professoras-autoras,
Rosa Maria Godoy Silveira e Maria Luciana Calissi, partiram de uma reflexão
sobre os objetivos do ensino médio, sendo essa uma discussão importante no
sentido de construir uma proposta para o ensino de História nessa fase. O objetivo
da proposta formulada foi o de facilitar uma compreensão mais abrangente de
problemáticas sociais marcantes de cada momento histórico, procurando auxiliar
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
292
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
293
ST 26. História da Educação:
fronteiras entre o local, o regional, o
nacional e o global
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
partida “identificando seu significado à luz de seu próprio contexto” (LEVI, 1992:
pp. 136-154). Para reconstituir esse processo de escolarização é realizado um
diálogo entre as seguintes fontes: os Relatórios de Presidentes de Província; censos
do IBGE; Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro; e
artigos de jornal, como “O Popular”, que estão na Hemeroteca. Os primeiros
resultados com a pesquisa foram: ter a possibilidade de tornar inteligíveis questões
sobre a escolarização no município que até então estavam retidas nos arquivos e
mostrar como estava, possivelmente, se delineando a constituição de uma rede de
escolas naquele município.
Qual era o mapa do ensino básico em Minas colonial? Como era a sua distribuição
ao longo da rede urbana da capitania? A presente comunicação analisa as reformas
pombalinas dos estudos sob uma perspectiva transatlântica que conecta o local e o
global. As reformas modificaram, de modo heterogêneo, as estruturas educacionais
em Portugal e seus territórios ultramarinos. O ponto latino-americano dessa trama
atlântica são as Minas Gerais durante os séculos dezoito e dezenove. As “geraes”
tornaram-se o centro do Império português após a descoberta de metais preciosos,
atraindo um número significativo de imigrantes. Nesse cenário, a instrução básica
era um dos meios mais eficazes de ascensão social e, ocasionalmente, de
296
renegociação das regras excludentes de pureza de sangue. Esta pesquisa busca nas
fontes primárias, principalmente nos inventários post-mortem de professores,
traços de um cotidiano escolar que revele os modos de convivialidade entre
mestres, alunos e seus familiares. Convivialidade, de modo geral, refere-se à
dinâmicas, práticas e representações do “viver junto” em um determinado contexto
histórico. Assim, convivialidade, enquanto conceito analítico, nos permite
compreender melhor como diversos atores partilhavam um mesmo espaço, ora
renegociando, ora subvertendo, através de redes de solidariedade e conflito, as
normas sociais vigentes. A cultura material nos permite apreender a convivialidade
engendrada pelas reformas pombalinas do ensino em Minas Gerais e será analisada
em três aspectos. Em primeiro lugar, a materialidade em si: a presença de bancos,
tinteiros e estantes de livros, por exemplo, nos permite reconstruir a infraestrutura
escolar colonial. Em seguida, serão analisados os livros inventariados. O exame
das bibliotecas pessoais dos professores elucida possíveis conteúdos administrados
nas salas de aula, bem como as teorias pedagógicas vigentes na época. Além disso,
uma comparação entre os livros listados e a bibliografia recomendada pelas
reformas nos permite avaliar até que ponto os professores mineiros aderiram às
reformas no que tange ao material didático. Finalmente, a materialidade da
convivialidade escolar possibilita a reconstrução dos laços entre professores e
alunos, tanto por meio do empréstimo de livros, quanto do rol de credores e
devedores. Ao final da apresentação, espera-se ter contribuído com o debate sobre
a história da educação no Brasil, cultura material, convivialidade e urbanidade.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O educador Jan Amos Comenius foi um dos importantes pensadores que ajudaram
a pensar em uma educação para todos. Opondo-se a práticas educacionais presentes
em seu tempo, mas seguindo o pensamento metódico da ciência moderna, propôs
uma Didática que tinha por objetivo central formar o bom cristão, ter fé verdadeira
em Deus, praticar ações virtuosas e preparar-se para uma outra vida, estendendo
esse objetivo a todos: os pobres, ricos, deficientes e mulheres. Almejamos abarcar
o desenvolvimento de alguns conceitos comenianos ao longo do amadurecimento
de seu pensamento. Na análise das obras comenianas, é possível perceber que
alguns temas e conceitos receberam um novo tratamento em seus textos mais
maduros. Aqui, apresentaremos o desenvolvimento do significado da noção de
“todos” nas obras comenianas. O educador tcheco viveu entre os séculos XVI e
XVII, um período de transição entre o medievo e a modernidade. Buscamos
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
apresentar Comenius como um homem de seu tempo, que, por isso, forja um
pensamento fortemente impregnado de religiosidade, como também fundado no
ideário da nova ciência moderna e já ocupado com a valorização da infância e da
família. Procuramos também indicar de que modo alguns acontecimentos da vida
pessoal de Comenius influenciaram, em alguma medida, o desenvolvimento do seu
pensamento. Ao final, esperamos, ainda, ter esclarecido que Comenius ainda que
não almejasse a educação para todos no sentido de ascensão social no sentido
capitalista, ou ainda que tivesse cunho religioso a sua luta, ele buscava por uma
educação para todos, porque assim pretendia. Esta comunicação trará, portanto, à
luz, as especificidades da visão trazida por Comenius, em diálogo com João Luiz
Gasparin, Maria Lúcia Spedo Hilsdorf e Frances Yates. Nossa leitura das obras de
Comenius traduzidas para o português foram feitas nas reflexões metodológicas do
historiador Carlo Ginzburg. E, para isso, foram analisadas algumas obras dele
(Queijo e os Vermes e O fio e os rastros), tomadas como fonte e tratadas segundo
o paradigma indiciário (Ginzburg, 1976; 2001).
desenvolvimento dos estudos do seu filho, o que fazia por meio de cartas. A
parceria firmada entre a Condessa de Belmonte e D. Pedro I foi fundamental para
a formação educacional de D. Pedro II, pois nota-se a dedicação da preceptora,
como por exemplo, na preparação do livro denominado “Introdução do Pequeno
Catecismo Histórico”, com a finalidade exclusiva de “tomar as lições” do príncipe,
cujo original, ainda não estudado, encontra-se em poder do seu descendente, e será
analisado, como fonte, neste estudo.
Este autor é bem conhecido como um dispensário das leis e debates ocorridos no
parlamento brasileiro, lugar de onde operou por mais de 30 anos. Seu modo de
escrita dos acontecimentos da História da Educação no Brasil abrange desde a
instrução no Império à instrução na República até 1930, não sem antes pincelar
sobre a educação jesuítica. Apresenta os acontecimentos em ordem cronológica,
utilizando-se de classificação por províncias, ou por reformas e códigos. Lançou
seu primeiro livro em 1916 e os últimos no ano de sua morte (1942), totalizando
16 volumes. Tem sido considerado um sujeito partidário do governo brasileiro,
esfera política na qual trabalhou e organizou a série dos Documentos
Parlamentares. Entretanto, em contato direto com familiares se pode perceber
traços distintos dos até então apresentados, e entre estes o de sua viagem à Rússia
em 1926 com a clara intenção de avaliar as mudanças ocorridas com a revolução
301
bolchevistas. Tal viagem se tornou foco de 2 grandes reportagens em jornais de sua
época e que serão apresentadas nesta ocasião. Seu modo de compreender as
mudanças operadas naquele país são surpreendentes se considerarmos o seu locus
e também a compreensão de latinidade que o Brasil se inscrevia, ou seja, não
pertencente à chamada América Latina e sim mais próximo dos americanos do
Norte. Enfim, uma nova perspectiva se apresenta como revolucionária para este
sujeito que passa a se tornar polemico a partir dessa descoberta.
302
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
303
ST 27. História Pública e Educação:
saberes compartilhados
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Como trabalhar com rigor histórico nas aulas do ensino básico? - Verena
Alberti (Uerj)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
no filme referências à sua própria experiência social, a história narrada na tela passa
a ser lida de maneira documentarizante e não ficcionalizante (na qual o expectador
observa o enredo como parte de um mundo que não é o seu próprio). O roteiro foi
desenvolvido a partir de um diálogo constante e verossímil para a construção da
estrutura narrativa e dos conflitos dramáticos. A pesquisa histórica, a partir de
estudos acadêmicos e audiovisuais, entrevistas e artigos de jornais, colabora na
construção de uma dramaturgia mais rica e coerente. O elemento chave, mas não o
único, do processo de pesquisa está relacionado ao processo histórico de
configuração dos espaços da etnia Bororo, sua cosmologia, a concepção de
feminino e masculino, a relação entre vida e morte, laços familiares e, acima de
tudo, a riqueza estética e existencial do funeral bororo. O estreitamento da relação
entre cinema e história, enfocando também a potencialidade dos audiovisuais nos
processos de ensino e aprendizagem, começa, no nosso entendimento, na
construção do roteiro cinematográfico e a relação estabelecida com a produção do
conhecimento sobre o assunto abordado.
Lutas sociais para a consciência racial como prática de História Pública: Uma
inspiração em Mundinha Araújo - Geraldyne Mendonça de Souza (UFF)
Este trabalho tem como objetivo realizar um estudo biográfico, voltado para a
formação de Lygia de Oliveira dos Santos (1934-). Uma mulher negra de classe
média, que dedicou sua atuação nas questões culturais, integrando educação,
música popular e questões museológicas. O trabalho se estrutura a partir da
pesquisa de Sônia Giacomini, “A Alma da Festa”, e o conceito de “projeto” de
Gilberto Velho. A autora ao estudar o Clube Renascença, um espaço de
socialização construídos por e para negros, em que Lygia Santos foi uma de suas
entrevistadas, acaba por enquadra-la nos três principais projetos sociais coletivos
identificados no trabalho: o primeiro “Flor de Liz”, que se estrutura a partir da
construção de padrões de distinções sociais de uma elite negra, que ascendeu em
bairros do subúrbio do Rio de Janeiro; o segundo referente as questões da beleza
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
313
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
314
ST 28. História do crime, da polícia e
da justiça criminal
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O presente artigo busca refletir acerca das representações sobre o “menor de idade”
na década de 1920. Nosso objetivo é investigar em que medida os discursos jurídico
e midiático contribuem na construção de sentidos que estigmatizam jovens negros
e pobres. Nosso recorte recobre as notícias do jornal A Manhã, veiculadas nos anos
de 1926, 1927 e 1928, concentrando a nossa análise em narrativas importantes ao
tema. Nossa hipótese aponta para um discurso midiático que trata todos os meninos
como "menores", mas que contribui na estigmatização do negro e pobre por meio
dos artifícios sensacionalistas, seja pelo texto ou pelas fotos. Enquanto isso, o
discurso jurídico traz a "situação irregular do menor" para "cuidar" dos meninos
abandonados e/ou delinquentes com o Primeiro Código de Menores, promulgado
em 1927, que parece segregar e categorizar os menos favorecidos, vulneráveis
frente ao sistema penal.
Natal da Portela pode ser considerado como o primeiro banqueiro do jogo do bicho
a ter se envolvido diretamente com uma escola de samba. Esta aproximação fez-se
de modo mais intenso a partir da década de 1970 quando outros banqueiros de
bicho, por diversos motivos, aproximaram-se e apropriaram-se de outras escolas
ou, se quisermos, do próprio desfile das escolas de samba, sendo a criação da
LIESA (Liga das Escolas de Samba) um marco deste processo. Para Natalino José
do Nascimento (Natal) o envolvimento com o Grêmio Recreativo Escola de Samba
Portela foi construído desde os primeiros momentos da escola. Ele viu a escola
nascer e crescer no quintal de sua casa. No ano de 1974 na cidade do Rio de Janeiro
ocorreu um evento que parece ter ligações diretas com o processo descrito acima.
Vários banqueiros do jogo do bicho se reuniram num estabelecimento chamado de
Ilha dos Pescadores para decretar a paz entre eles e delimitar a respectiva área de
atuação de cada um, na cidade, no Estado do Rio de Janeiro e, quiçá, no Brasil. O
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
324
ST 31. História e Ciências Humanas –
dimensões epistêmicas, éticas e
estéticas
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Epidemias são fenômenos que contêm uma certa carga dramática. Iniciam em
determinado tempo e local e, como se estivessem seguindo um roteiro, crescem,
após um período de negação, se revelam em crise coletiva e individual, depois se
encerram. Assim, mobilizam comunidades para a ação, explicitam valores sociais;
cada sociedade constrói suas respostas, alianças e parcerias. Cientistas se
mobilizam para encontrar explicações e possíveis estratégias de combate, enquanto
as consequências da doença e muitas vezes das medidas para seu controle se
refletem na produção cultural de uma época. No entanto, a própria construção da
325
ciência, fruto de práticas cotidianas de cientistas, está situada histórica e
geograficamente, o que se evidencia ainda mais em momentos de controvérsias,
nos quais muitas vezes ocorre uma disputa de diferentes estilos de pensamentos.
Por outro lado, a ciências, seus conceitos e impactos permeiam as produções
culturais. O presente trabalho busca capturar através de manifestações culturais -
romances, contos e marchinhas - a teia de relações, as texturas e percepções sobre
a febre amarela e seu combate no Rio de Janeiro. O período selecionado está entre
o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX; período no qual
surgiram controvérsias sobre a forma de transmissão da febre amarela e no qual se
estabilizou o Aedes aegypti (à época, Stegomya fasciata) como seu vetor. As
consequências deste consenso acarretaram mudanças intensas nas ações públicas,
na vida cotidiana das pessoas e na própria percepção da doença. Traremos
produções de autores da época nas quais a febre amarela foi incorporada como
elemento central ou apenas incidental: um romance, uma marchinha de carnaval e
um conto. Nestas obras, as dimensões de vivência da febre amarela no cotidiano
são abordadas; estas vão do drama individual até mesmo a um diálogo entre um
humano e o mosquito Aedes aegypti sobre as respostas coletivas à doença. A
análise realizada busca trazer como, nas narrativas selecionadas, estão refletidos
tanto a mudança de percepção da doença, de sua forma de transmissão e das
medidas de controle adotadas, quanto os elementos e acontecimentos da época.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Conhecida, já no século XVII, como “querela dos Antigos e dos Modernos”, a série
de debates entre eruditos da Academia e da alta sociedade francesa opôs, em pleno
reinado de Luís XIV, os defensores da exemplaridade da Antiguidade e os
partidários da legitimidade do gosto e das técnicas modernas na produção artística
e literária do período. Entre aqueles que deram ensejo a tal embate, Charles Perrault
se destacou não apenas como porta-voz dos autointitulados Modernos, mas
também como o estopim da querela através da leitura solene de seu poema “Le
siècle de Louis, le Grand” (1687), onde ousou destacar, de forma passional e
parcial, a superioridade das diferentes áreas do conhecimento e das artes de seu
tempo em comparação ao legado da Era Clássica. De fato, reconhecendo o direito
ao gosto pessoal dos artistas modernos, bem como de um público em expansão, o
poeta e escritor francês esboçou em seus escritos publicados sob tal contexto uma
forte defesa da subjetividade na criação e no julgamento das artes e da literatura do
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Assim como um tapete, a pesquisa histórica também é composta por fios, que vão
forjando uma tessitura que aumenta sua complexidade e caráter homogêneo ao
passo que os sinais vão sendo interpretados, como teorizou Ginzburg em “O Fio e
os Rastros”. E a direção do olhar define diferentes resultados, pois assim como num
tapete que com desenhos estampados trazem uma infinitude de leituras sobre si,
assim também é a história, ou seja, para compreensão da trama que a compôs é
necessário o entrecruzamento dos resultados desse olhar nessas diferentes direções.
327
Se quisermos ler os testemunhos históricos contra as intenções de quem os
produziu, ainda que seja fundamental levar em consideração suas intenções, é
imprescindível reconhecer que todo texto detém elementos incontrolados. Trata-se
de conjecturar (o que está dentro do documento, também está fora) o invisível a
partir do visível, dos indícios, do rastro. Atentando para o discurso ali contido
enquanto arma ideológica, com o cuidado para a não tomada das palavras textuais
como verdades, mas sim buscar elementos para indagar aos documentos, exteriores
ao próprio, entretanto que o compõem, como por exemplo: o contexto, quem o
escreveu, etc. Sendo caro para o Historiador construir sua metodologia com
princípios fundamentados na inquirição profunda que possibilite a transcendência
do aparente contido no documento. Como manifestou Ginzburg na sua obra
“Relações de Força”, é preciso aprender a ler os testemunhos às avessas. Só dessa
maneira será possível levar em conta tanto as relações de força quanto aquilo que
é irredutível a elas. Em “Combates pela História”, Lucien Febvre disse com todas
as letras o que hoje parece tão evidente, mas que não o era à época de seus escritos
e da Fundação da Escola dos Annales, pôr um problema é o começo e o fim de toda
história. Se não há problemas não há história. Assumindo a escrita da história como
uma narrativa resultante das tensões entre as fontes e as questões postas pelo
historiador, estamos convencidos, como tantos outros historiadores, que a
mediação desse processo criativo deve contar com o valioso auxílio de outras áreas
- tais como a antropologia e a literatura - sem por isso confundir-se com elas, afinal
o discurso histórico disciplinado da prova consiste no diálogo entre conceito e
evidencia, como alertou Thompson na sua obra “A Miséria da Teoria”. Pretendo
neste trabalho tratar desta questão da interdisciplinaridade no oficio do Historiador,
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A crítica literária costuma considerar que, a partir dos anos 1940, surge um novo
momento da literatura latino-americana, em que ficcionistas de diferentes países
passam a tratar, com profundidade e amplitude de enfoque originais, a herança
colonial e a violência da realidade histórica e social – revoluções, religião, luta pela
terra, miséria, explosões do crescimento das cidades – do continente americano no
329
século XX. Escritores como Miguel Ángel Asturias, Alejo Carpentier, Juan Rulfo,
García Márquez, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges e João Guimarães Rosa, foram
conhecidos por explorar em suas ficções, cada um a sua maneira, o que o crítico
brasileiro Davi Arrigucci chamou de “oscilação ambígua entre real e irreal em suas
narrativas”. Logo nos anos 1950, Ángel Flores considerou esse contexto como
sendo o da emergência de um “realismo mágico” genuinamente latino-americano.
Antonio Candido, por sua vez, entendeu que o “realismo mágico” de Guimarães
Rosa, por exemplo, deveria ser interpretado como um realismo. Ou seja, para
Candido, o “realismo mágico” de Rosa garantia um “sentimento de realidade” mais
eficaz ou profundo do que todas as técnicas que a literatura realista dispunha para
estabelecer uma impressão de real. Também vale mencionar, com Carlos Fuentes,
que a obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, considerada por muitos críticos
como fundadora do romance moderno, guarda fortes traços de parentesco literário
com o que se fez na América Latina em meados do século XX. Interessa-nos,
portanto, perguntar em que medida o “realismo mágico” pode servir como um
gênero definidor para se pensar uma literatura de vanguarda latino-americana a
partir dos anos 1940. Mas, para além de uma questão de gênero literário ou de
estilo, queremos pensar como uma literatura não-realista comunica experiências
históricas concretas. Em outras palavras, nossa intenção é investigar como, ao
transformar a opacidade que marca as relações entre não-ficção e ficção em matéria
literária, os escritores latino-americanos passaram a apresentar novas maneiras de
relacionar literatura e experiência histórica. Contudo, em vez de uma “dialética da
colonização”, marcada por relações de “diferença e repetição” da literatura latino-
americana com a literatura produzida na Europa, como já interpretou Alfredo Bosi,
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A história cultural poderia remontar, como demonstra Robert Darnton, até mesmo
a Heródoto, uma vez que a análise da cultura sempre esteve presente no trabalho
dos historiadores. Porém, como um paradigma acadêmico, ela se desenvolveu com
mais força a partir da segunda metade do século XX, tendo sua popularidade
institucionalizada com o movimento historiográfico da chamada “Nova História
Cultural”. Seu desenvolvimento liga-se com a história da historiografia, uma vez
que estudar certas correntes e autores é uma forma de buscar caminhos a respeito
das concepções teórico-metodológicas do fazer historiográfico. Dessa forma, este
trabalho tem como objetivo analisar a trajetória intelectual e acadêmica do
historiador americano Robert Darnton, a fim de compreender o desenvolvimento
de seu pensamento e de seu trabalho enquanto produtor do conhecimento histórico,
e suas contribuições para o campo da história cultural. Buscou-se analisar as obras
produzidas por Darnton, mais especificamente os livros O grande massacre de
330
gatos, e outros episódios da história cultural francesa, e O beijo de Lamourette –
mídia, cultura e revolução. Utiliza-se da perspectiva estabelecida pelo historiador
Michel de Certeau (2013), que trata da operação historiográfica com base em três
elementos: o lugar do historiador, suas práticas e sua escrita – este estudo foca nos
dois primeiros elementos, o lugar e as práticas. Através da análise de suas obras, e
relacionando-as com seu percurso profissional (instituições de trabalho), procurou-
se estabelecer a interpretação de seu pensamento. A partir dessa perspectiva,
observou-se, como um dos elementos principais, a influência da antropologia no
trabalho de Darnton, principalmente a desenvolvida pelo antropólogo também
americano Clifford Geertz.
O século XX trouxe consigo não uma, mas várias pequenas (e grandes) revoluções
epistemológicas que varreram diversos campos de saber. Se ele parece começar
pendendo para uma excessiva profissionalização dos saberes, que pareciam
distanciar-se uns dos outros isolando-se dentro dos limites quadros e referências
teóricas de legitimação e diferenciação, logo foi possível observar o
atravessamento de saberes e disciplinas e a criação de novos espaços de
conhecimento que desestabilizaram muitas noções de verdade consideradas sólidas
e estáveis. Nas ciências humanas e sociais, a renovação veio encabeçada pela
331
antropologia e a literatura, que deslocaram o dito “real” para a criação de sentidos,
tendo a linguagem como espaço privilegiado para isso. Na história, a necessária
relação com o real e com o paradigma da verdade fez com que a renovação se
manifestasse sobretudo na escolha de objetos não tradicionalmente trabalhados
pelo historiador, mantendo-se, muitas vezes, uma abordagem ainda conservadora.
É o caso de muitos trabalhos históricos que usam a literatura ou textos literários
como representação ou documento. Este trabalho se propõe a pensar nas relações
entre história e literatura, do ponto de vista da história e do ofício do historiador,
para além da representação. Isso significa rejeitar aproximar-se do texto literário
como documento, buscando encontrar nele traços de seu tempo, mas encará-lo
como um corpo de experiências capazes de provocar no leitor percepções e
inspirações que incitem a produção de conhecimento sobre os vários tempos do
texto, desde sua produção até sua recepção. Nesse sentido, a noção de diálogo, de
Dominick Lacapra, parece especialmente cara. O papel da literatura para o
conhecimento histórico deve ser o de proporcionar o diálogo com o presente, na
medida em que apresenta outras perspectivas e sensibilidades que aproximam ou
tencionam aspectos da instável relação entre presente e passado.
historiografia europeia até 1930 foi singular; tendo ainda, inspirado muitas
reflexões na segunda metade do século XX. A cidade antiga de Fustel, que começa
a ser delineada por volta do século VIII a.C., são as instituições citadinas que
incorporaram a religião, tornando-a, assim, esse binômio: estado-religião, ou, como
preferiu Fustel: uma cidade que era uma igreja. O que subsiste em grande parte dos
historiadores contemporâneos, ao se falar genericamente sobre a obra de Fustel, é
um entendimento correto, porém demasiado breve, a síntese: família-religião-
propriedade. Abertamente influenciado por Fustel, há o historiador suíço, Jacob
Burckhardt. Em sua História da Cultura Grega, Burckhardt abordou a emergência
da polis na Grécia antiga a partir de diálogos com a teoria política inerentes ao
decurso do século XIX. A Atenas de Burckhardt é caracterizada por meio de uma
avaliação francamente negativa para a democracia dos séculos V e IV a.C, uma
cidade-estado que foi degenerada por um governo popular corrompido. Em
Economia e Sociedade, Max Weber definiu a sua cidade a partir de três princípios:
da existência de uma sede senhorial, da realização de troca de bens regular e da
existência de um mercado. Ainda no século XIX, em 1857, Karl Marx escreveu os
Grundrisse, dos quais nos interessam as Formações econômicas pré-capitalistas.
Marx rompeu com a dicotomia gregos versus romanos e avaliou a origem das
comunidades tribais e cidades-estados em torno da guerra como a grande tarefa
partilhada entre os seus membros. A partir da guerra e da estrutura tribal, surgem
diferenciações e hierarquizações no tecido social. Em seu modelo para o mundo
antigo grego e romano, Marx tentou demonstrar que, a falta da necessidade de um
trabalho coletivo para se cultivar a terra fez surgir os proprietários privados em uma
332
sociedade de pequenos camponeses.
protestos que tomam Paris em maio daquele ano, frente aos quais manteve posição
simpática, aprofundando um conjunto de reflexões relativamente autônomas ao
campo teológico e aos preceitos institucionais da Companhia de Jesus. No interior
desse processo, qual a função exercida pelos problemas relativos às ciências
humanas nas reflexões sobre a experiência religiosa? As rupturas do mundo
moderno acarretam novas dinâmicas sociais e culturais nas quais os cristãos são
constituídos e dos quais não podem se furtar. Desse modo, as disciplinas que tratam
dessas novas realidades informam sobre aspectos da experiência humana essenciais
à experiência religiosa. Segundo Certeau, a tradição religiosa, ao longo da história
do cristianismo, sempre esteve conectada à linguagem do presente. Em outras
palavras, na experiência religiosa, a presença do passado se atualiza num processo
de constante diferenciação. Portanto, essa condição histórica da renovação da vida
espiritual fundamenta-se num princípio eminentemente ético de abertura à
alteridade e de associação da caridade cristã ao clamor moderno por
democratização e justiça social.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Entre 1941 e 1959, período que residira nos Estados Unidos, Vladimir Nabókov
fora professor universitário de literatura e, antes de se tornar mundialmente
conhecido como o autor de Lolita (1955), ministrara cursos que se debruçavam
sobre contos e romances de língua inglesa, russa, francesa e alemã do século XIX
e XX, que seriam posteriormente editadas e transformadas nas Lições de Literatura
(1982). Dando especial atenção para “aos talentos individuais” dos escritores e “a
questões de estrutura" dos contos e romances analisados, e fundamentalmente
baseado em suas próprias experiências como romancista, Nabókov expunha em
suas aulas o que pensava ser indispensável sobre as obras discutidas, priorizando
uma análise desenvolvida concretamente na e através da forma e estrutura
daquelas, e percebendo as ferramentas de cada autor para alcançar determinados
efeitos estéticos ele delineia a “arquitetura” das obras. Grandemente influenciado
pelos movimentos simbolista e formalista russo, o presente artigo busca ressaltar a
influência da epistemologia formalista na crítica que Nabókov exerce durante a sua
crítica. Se por um lado, o émigrè russo propõe uma análise da estrutura que
despreza a historicidade das obras, por outro percebemos que, ao forjar seu cânone
pessoal, Nabókov, pelo contrário, não deixa de estar inserido nas dinâmicas do
campo literário e sobretudo, nas dinâmicas da Literatura Mundial, com suas disputa
de poder, hierarquias e determinações de valor estético, criados por atores social e
334
historicamente definidos.
capazes de fazer emergir sob a condição de coisa algo cuja clarividência não foi
manifesta? Nossa tarefa está próxima do que seria uma “topografia das condições
de possibilidade” para a elaboração de um dispositivo higienista que preencheu,
disputou narrativas, transmitiu ou procurou naturalizar nexos causais mais ou
menos notáveis. A questão é, portanto, refinando aqui os objetivos: como foi
possível que se assumisse de forma (aparentemente) irrefletida a ligação, o nexo
causal, entre o desalinho das ruas coloniais (a disposição, a fisionomia das nossas
ruas) e insalubridade pública (o anti-estético, o mau cheiro)? Ou: o que permitiu
que o traçado urbano herdado do período colonial fosse considerado insalubre pelo
discurso higenista da segunda metade do XIX? Propomos que não foram os
higienistas que lançariam as bases de percepção da rua como causa intransigente
da uma conveniência com mau cheiro da cidade. Interessa-nos de que modo o a
priori histórico que ativou a sensibilidade para a condição defeituosa da cidade de
S. Sebastião já estaria sendo preparado para que o discurso higienista objetivasse a
cidade como um campo potencial de intervenção. No máximo, a importância
preliminar do dispositivo médico-higienista foi ter institucionalizado, capturado
um ramo de competências em torno da rua e do cortiço como formas de
problematização quase que exclusivas, no contexto das epidemias de febre amarela
da década de 1870.
Por que produzimos conhecimento? Como isso é feito? Afinal, o que é conhecer?
A pesquisa de pós-doutorado que venho desenvolvendo tem como objetivo
promover uma reflexão sobre o ato de conhecer, dando especial atenção às questões
sobre a produção e usos das imagens. Focando, inicialmente, no processo de
trabalho do artista Francis Bacon (1909-1992), proponho analisar de que forma
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
esse artista usou referências da cultura visual científica de sua época em suas
pinturas. Suas pinturas devem ser compreendidas tendo em vista o
desenvolvimento da cultura visual do século XX que foi permeada pelas “imagens
mecânicas”. Essa nova cultura visual mudou a forma que o corpo humano era
representado até então, tanto nas artes, quanto nas ciências. Daston e Galison
(2007) buscaram demonstrar de que forma o que eles chamaram de objetividade
mecânica foi uma virtude epistêmica de meados do século XIX, que recorrendo à
fotografia ou aos métodos gráficos, supunha produzir conhecimentos científicos
independentes das subjetividades individuais. Como foi demonstrado recentemente
por Brain (2016), essas formas científicas de conhecer influenciavam artistas que
usavam algumas dessas práticas para os seus próprios objetivos. Quando eu tomei
conhecimento das fontes que o pintor Francis Bacon usava para pintar (imagens
retiradas de manuais médicos, de atlas científicos e de revistas de ampla
circulação), considerei que o processo de trabalho desse pintor poderia ser
analisado de forma mais detalhada. O chamado “realismo perturbador” de Bacon
poderia demonstrar como algumas imagens consideradas “imagens objetivas”
poderiam ser usadas como fontes para um artista que procurava expressar
sensações e “reinventar o realismo”. Qual virtude epistêmica esse processo de
trabalho revela? Procuro, portanto, analisar de que forma a produção de
conhecimento pode ocorrer no entrecruzamento de diferentes campos disciplinares
como as artes, as ciências e as tecnologias, enquanto um posicionamento
epistemológico, ético e estético. Os trabalhos de Georges Didi-Huberman sobre a
produção de conhecimento por montagem serão particularmente uteis para esse
337
debate, assim como uma produção crescente no campo da história das ciências
sobre a questão das imagens.
339
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
340
ST 32. História e Direito
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Busca-se com este artigo discutir às relações de gênero dentro dos estudos da
escravidão do sudeste brasileiro. Ao analisar a produção historiográfica desde os
anos de 1970 até o presente momento, observa-se intenso debate a respeito do papel
das mulheres negras e escravas, dentro da estrutura paternalista e provinciana da
sociedade brasileira em tempos coloniais e imperiais. Viver, amar e casar são
categorias de análise que nem sempre foram sinônimos para muitas mulheres que
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
345
ST 34. História e memória das
periferias brasileiras, africanas e
latino americanas: cidadania,
invisibilidade social e silêncio.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O presente artigo tem como objetivo descrever de que modo os rituais religiosos
conhecidos como “Encantaria” e a “Pajelança” eram interpretados no Estado do
Maranhão. Para o desenvolvimento da pesquisa foi realizado em fevereiro de 2018
o levantamento documental dos Periódicos Nacionais localizados na Hemeroteca
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
No século XVI, Cabo Verde tornou-se o coração responsável pelo percurso das
ideias, pessoas, mercadorias e conhecimentos através de todo o Império colonial
português, envolvendo várias heranças e tradições culturais. Foi um lugar de
transplantação de inúmeras espécies vegetais e animais, um verdadeiro campo de
347
experimentação e um lugar estratégico no cruzamento das mais importantes rotas
marítimas. Tudo o que foi enviado de África para a América ou para a Ásia, passou
por um processo de adaptação em Cabo Verde. Plantas e animais foram sendo aí
preparados para a reexportação, enquanto os escravos foram submetidos a um
processo de adaptação, sendo batizados no porto da Ribeira Grande, sede da missão
cristã em África, onde lhes era ensinada a língua portuguesa e onde eram obrigados
a aceitar as matrizes culturais básicas dos Europeus. As novas circunstâncias
permitiram o nascimento de uma sociedade distinta e mista, que foi obrigada a
aprender tudo a partir do zero. Surpreendentemente rápido, conseguiram
ultrapassar as suas fronteiras, contribuindo para a difusão cultural e comercial da
Europa, da América, da África e da Ásia, sendo o Cabo Verde um ponto de
encontro de quatro continentes. Na fronteira de vários mundos, aproveitou um
pouco de cada um deles. Cabo Verde é um pedacinho do Brasil ou o Brasil é um
pedação de Cabo Verde? Cabo Verde foi um espaço de oportunidade para ideias
místicas, permanecendo o local favorito para os sonhos e medos ocidentais. Porém,
foi verdadeiramente um paraíso para todos?
Hip Hop de leste a oeste de Manaus: quatro cabeças de uma Hidra Urbana e
um bumerangue africano - Sidney Barata de Aguiar (UFAM)
Este artigo tem por objetivo principal resgatar a história recente do Hip Hop
organizado na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, através da
trajetória de quatro personagens exponenciais. Para tanto, coletei os depoimentos
destes fundadores e protagonistas do que chamamos M.H.M. (Movimento Hip Hop
Manaus). Com uma escrita didática, apresento e represento esta cultura gestada,
criada e desenvolvida nas ruas como uma Hidra Urbana, pela sua capacidade de
348
renovação e envolto pela teoria do Bumerangue Africano que subsidia com a
circularidade de informações regionais e culturais e que contribui com o
enfrentamento dos problemas sociais e políticos das periferias locais e que utiliza
os espaços urbanos para sobreviver, criar-se e recriar-se nas “quebradas”, nas vielas
e arrabaldes manauaras.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
351
ST 35. História econômico-social nos
séculos XIX/XXI: diálogos
interdisciplinares entre História,
Economia e Relações Internacionais
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O presente trabalho busca tratar de parte dos eventos transcorridos nas indústrias
química e farmacêutica brasileira entre as décadas de 1970 e 1980, destacando
principalmente as áreas de pesquisa biológica estratégica, desenvolvimento
356
tecnológico e produção de medicamentos. Nestas áreas, historicamente relevantes
para a integração política e econômica das regiões mais recônditas do território
brasileiro, ocorreram importantes reordenamentos produtivos, tendo o governo
militar chefiado pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici passado a utilizar
variados instrumentos econômicos e políticos a fim de reduzir o domínio das
referidas áreas por empresas multinacionais. Tal intervenção do Estado visava
estabilizar o rápido processo de desnacionalização do setor iniciado em 1964 e que
acabou por entregar noventa por cento do mercado brasileiro de medicamentos aos
oligopólios farmacêuticos internacionais. Neste contexto a Central de
Medicamentos - CEME –, empresa estatal criada em 1971, foi uma das mais
importantes ferramentas utilizadas pela ditadura civil-militar a fim de frear a
ampliação da participação estrangeira na referida indústria e evitar a total
dependência tecnológica brasileira em relação ao capital multinacional,
problemática que o presente estudo intenta abordar. Sendo financiada inicialmente
com verbas de origem pública, a Central de Medicamentos era considerada pelos
técnicos do Ministério da Previdência e Assistência Social como “produto da
constatação de que a indústria farmacêutica nacional encontrava-se em franca
desnacionalização e que era necessário conter ou mesmo reverter este processo”.
O governo brasileiro buscou ressaltar o caráter pretensamente nacionalista de sua
intervenção, visto que uma das justificativas mais coerentes para a criação da
CEME era o interesse de auxiliar na reconstrução econômica e produtiva da
indústria nacional especializada no campo da química e da farmacologia. É
possível perceber assim a importância da CEME como instrumento de mediação
dos interesses entre o Estado e uma fração do setor industrial nacional e
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
multinacional presente no Brasil entre os anos 1970 e 1980. O órgão traz consigo
a temática das disputas políticas e empresariais entre diversos setores do capital
brasileiro e estrangeiro, no intuito de construir através do intermédio do Estado um
consenso entre a iniciativa privada do setor farmacêutico, sendo necessário relevar
nessa conjuntura variáveis que considerem a condição periférica ocupada pelo país
no sistema capitalista e na divisão internacional do trabalho.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
e do próprio caráter autoritário do regime, que garantia, dentre outras coisas, uma
alta exploração da força de trabalho e elevadas margens de lucro aos empresários.
países, como no caso do México e Chile, uma série de políticas de cunho neoliberal,
onde se realizaram aberturas comerciais e de fluxo de capitais, múltiplas
privatizações e desregulamentações de diversos setores. Tendo em mente estas
grandes mudanças nas economias latino-americanas, o presente trabalho objetiva
explorar a dinâmica e o funcionamento das experiências de integração econômica
na América Latina, no contexto de liberalização financeira pós 1990, com ênfase
no novo bloco Aliança do Pacífico. O projeto visa também ser um subsídio para
identificar o significado da criação do bloco e seus reflexos na América Latina. A
pesquisa é realizada a partir de um levantamento bibliográfico em livros,
publicações, revistas, artigos e sites especializados para fundamentação teórica
sobre integração regional e de produções analíticas, ao mesmo que se realiza a
análise de dados econômicos e estatísticos dos países-membros e do bloco em si.
Como resultados preliminares, podemos apontar que é visível o efeito positivo da
formação do bloco para os países envolvidos. Os países-membros do bloco ocupam
as primeiras posições no ranking de facilidade para fazer negócios na América
Latina. Também, na medida em que outros blocos da região, como o MERCOSUL,
perdem força, a Aliança do Pacífico vai ganhando espaço. Em relação ao
aprofundamento da integração intra-bloco, em 2016, entrou em vigor Protocolo
Comercial, este aplicando uma redução das tarifas de 92% dos produtos
comercializados entre os participantes. Esse conjunto de fatores tem dado ao bloco
ganhos, tanto pela possibilidade de diversificação das pautas de exportações, como
também pela atração de investimentos externos diretos. Por fim, a Aliança do
Pacífico continua avançando na implementação de seus acordos e aprofundando
359
sua integração.
Esta comunicação pretende levantar alguns pontos que contribuam para uma
discussão mais ampla a respeito do crédito por penhor e o mercado de segunda mão
na cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1820 a 1850. Apesar de tema pouco
analisado pela historiografia brasileira, algumas pesquisas têm, recentemente,
chamado a atenção para importância das operações de penhor para as economias
urbanas do XIX. Se aliarmos isto ao já conhecido incremento das atividades
comerciais e crescimento urbano da capital Fluminense no mesmo período, uma
investigação mais detalhada sobre o tema se faz pertinente e necessária. Através de
uma análise dos bens apreendindos pelo não pagamento de dívidas, dos leilões
judiciais e dos anúncios de jornais é possível percebermos que o penhor era
operação corriqueira na vida financeira das classes populares cariocas ao longo do
século XIX. A venda, troca e empenho de bens usados e e venda por consignação
da produção doméstica, faziam parte do dia a dia dos trabalhadores cariocas e
foram, ao que tudo indica, uma das formas mais comuns de acesso ao crédito
durante o período estudado. Durante períodos de recessão e escassez de emprego,
empenhar alguns parcos objetos de valor em troca de insumos destinados a
produção doméstica voltada ao mercado foi, muita vezes, uma das poucas opções
de trabalho disponível à libertos e livres pobres. A busca por crédito junto à
armazéns de secos e molhados e casas de penhor criou o que poderíamos chamar
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Esta pesquisa irá analisar as "relações perigosas" entre o Brasil e os Estados Unidos
durante o governo Lula a partir dos documentos da embaixada e dos consulados
estadunidenses no Brasil de 2003 e 2010, publicados pela Wikileaks em 2010 no
vazamento de telegramas secretos que ficou conhecido como Cablegate.
Analisaremos a construção das relações dos diplomatas e businessmen
estadunidenses com os agentes estatais brasileiros, com o objetivo de mapear as
redes associativas tecidas entre estes atores e traçar os interesses, táticas e
estratégias dos agentes do imperialismo estadunidense, a fim de compreender o
papel desempenhado pelo Estado norte-americano no processo histórico de
subordinação do capital-imperialismo brasileiro ao "império do capital".
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este projeto constitui-se num instrumento de reflexão sobre Turismo de Base Local
(TBL), uma modalidade turística que propõe a geração de emprego e renda, em
pequenas comunidades, utilizando-se dos recursos disponíveis, com a minimização
dos impactos. Observou-se que grande parte dos estudos publicados no Brasil,
acerca desta temática, assenta-se sobre Estudos de Caso, muitas vezes, limitados
às suas peculiaridades. Houve, por parte do governo federal, a implantação de dois
programas relacionados à municipalização e a regionalização do Turismo, porém
ambos ocorreram sem o devido monitoramento e foram desvinculados da
implementação do programa desenvolvido pelo Ministério do Turismo conhecido
como “65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico” (2007-20014), que
timidamente apoiaram a promoção das comunidades do entorno turístico. Desta
forma, a pesquisa, pretende apresentar uma análise bibliográfica sobre o TBL no
Brasil, no período de 1990-2010, ponderando-o como uma alternativa de
desenvolvimento econômico e social. O estudo se justifica na medida em que
364
reconhece a importância econômica do turismo e de seus impactos, apontando o
TBL como uma alternativa de desenvolvimento, em comunidades que,
normalmente, iriam usufruir apenas dos aspectos negativos da dimensão turística.
A pesquisa, ainda em desenvolvimento, tem apresentado uma análise
crítica/reflexiva do turismo e do TBL, nos destinos turísticos e nas comunidades
quem compõem o seu entorno.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
365
ST 36. História Militar: Práticas e
saberes.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A formação dos Corpos de Saúde dos exércitos e marinhas aparece como fenômeno
tardio em praticamente todo o mundo ocidental, isto é, por volta da segunda metade
do XIX. O objetivo do trabalho é apresentar aproximação ao tema com vistas à
Dissertação. O papel desempenhado pelos físicos e cirurgiões militares é conhecido
na formação da Assistência no Brasil; ligados a dispositivos tais como a Fisicatura-
367
mor; a Junta do Protomedicato; docentes nas escolas médicas e suas relações com
as Misericórdias; sobretudo a partir da vinda de 1808; na Academia Imperial de
Medicina e Junta Central de Higiene; além dos conflitos militares – em particular
a Guerra da Tríplice Aliança e de Canudos. O recorte deste trabalho, contudo,
restringe-se à Corte no Rio de Janeiro, no período entre 1849, quando o primeira
chefia do corpo de saúde naval é conferida ao Dr. Soares de Meirelles, cargo que
exerceu até 1868, ano de sua morte. Não dirigiu o Hospital Central da Marinha,
mas conduziu uma enfermaria no O Hospital Militar da Corte, no alto do Morro do
Castelo. Apenas a partir de 1890, ano do terceiro Regulamento dos Corpos de
Saúde do Exército e da Armada, é que configurariam de cada qual as suas políticas
de saúde. O Cirurgião-Mor da Armada Joaquim Cândido Soares de Meirelles foi
um dos fundadores da Academia Imperial de Medicina, ao lado do médico
brasileiro Cruz Jobim (que seria diretor da Faculdade de Medicina por cerca de três
décadas), dos médicos franceses Fauvre e Sigaud e do médico italiano De-Simoni.
Mais tarde Soares de Meirelles seria partrono tanto da Academia Nacional de
Medicina quanto do Corpo de Saúde da Marinha. Sua trajetória é representativa da
medicina dos Oitocentos: formado na Academia Médico-cirúrgica do Rio de
Janeiro em 1823, em seguida doutorou-se em Paris em medicina e em cirurgia. Sua
prática foi marcada pelo sistema médico climatológico, pela anatomopatologia e
pelo higienismo. Enquanto o Exército tem sido atenção de diversos estudos, o
mesmo não ocorre com a Marinha; bem como Soares de Meirelles ainda não tenha
tido tratamento acadêmico; o que justifica o trabalho.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As guerras são, essencialmente, fenômenos políticos, o que significa dizer que por
trás de uma disputa violenta entre duas sociedades há alguma expectativa de
resultado político (seja de expansão, ou de manutenção das condições materiais das
sociedades em conflito) que justifica sua execução. Por sua vez, esse fenômeno
político não ocorre no éter, pois quem faz a guerra são pessoas. Mais
especificamente, a motivação política encontra-se assentada sobre um leito
biológico, posto que os seres humanos são animais e compartilham uma herança
evolutiva, assim como todas as criaturas vivas. Por mais que as interpretações
tradicionais da guerra tendam a enfatizar um aspecto técnico e cultural como
elemento explicativo das causas e dos direcionamentos tomados pelos conflitos, os
avanços nas ciências biológicas nos colocam face a um desafio: uma vez que a
natureza humana existe e que nossas ações sejam em grande medida condicionadas
(embora não sejam completamente determinadas) por estímulos oriundos da nossa
condição biológica, como formular o problema fundamental da guerra? A resposta
para essa pergunta precisa levar em conta tanto os avanços na nossa compreensão
sobre a natureza humana quanto os condicionantes políticos e culturais aos quais
as sociedades encontram-se historicamente submetidas. O objetivo desse trabalho
é explorar a interface entre esses dois elementos, partindo de uma abordagem geral
sobre a chamada ‘guerra primitiva’ e seu contraponto, a ‘guerra estatal’, e de uma
leitura focada sobre as guerras tupi e seus elementos sócio-políticos. A ideia de
368
uma racionalidade profunda busca compreender como o universo instintivo
(subjacente à arquitetura mental humana) se faz presente no campo político da
guerra, associado ao pensamento racional, no qual meios e fins encontram-se
constantemente relacionados. Dito de outra forma, a racionalidade profunda traz a
ideia de que a guerra pode funcionar como uma solução técnica, politicamente
viável, para problemas oriundos das nossas limitações humanas. Assim, busca-se
construir uma narrativa que se aproxima da Grande História e que adiciona uma
dimensão ao problema da guerra, transformando-o simultaneamente em uma
questão biológica, social e política.
seus nacionais. Em resposta, a Câmara dos Comuns autorizou o envio de uma série
de navios e submarinos ao Atlântico Sul. A partir deste momento a margem de ação
da junta militar argentina ficou bastante reduzida. Se recuasse sua já debilitada
imagem seria profundamente abalada. Por outro lado, se atacasse as
Malvinas/Falkland poderia manter o ânimo de sua população, mas teria de
antecipar os planos, o que prejudicaria sua estratégia. Apesar dos contras decidiu-
se pela segunda opção. Às 9h e 15min do dia 2 de abril de 1982 os soldados
britânicos se renderam e o arquipélago passou às mãos argentinas. Ao ser
informada do que ocorrera em seu território além-mar, Margaret Thatcher
discursou à Câmara dos Comuns que autorizou o envio de uma força tarefa de 93
navios, entre embarcações de guerra e logísticas. No dia 1º de maio o combate pelas
ilhas começou. Setenta e quatro dias após a realização da Operação Rosário e 49
dias de intensos combates, chegou ao fim a Guerra das Malvinas, com o saldo de:
890 mortos; 1.845 feridos; 97 aviões abatidos; e 17 navios afundados (FORÇA
AÉREA ARGENTINA). Observando a sequência de acontecimentos que levou a
eclosão do conflito, concluiu-se que esta foi a principal causa da eclosão do conflito
e não fruto exclusivo do desejo do governo argentino de se manter no poder, como
habitualmente se crê.
Durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), quando Portugal se viu invadido
371
pelos exércitos do Pacto de Família, abriram-se discussões acerca da situação
militar no reino e nas conquistas ultramarinas. Em virtude da situação de extrema
fragilidade das tropas regulares portuguesas, o então secretário de Estado do Reino
e Mercês, Sebastião José de Carvalho e Melo, viu-se na necessidade de reformular
os quadros militares em Portugal, com base nos novos padrões modernos de
disciplina e organização dos exércitos da Europa. Essas reformas ficaram sob a
responsabilidade do conde de Lippe, de origem austríaca, contratado pelo governo
português para tornar o Exército mais profissional e técnico. Como consequência
dessas reformulações, o governo de Lisboa enviou ao Brasil em 1767 chefes
militares estrangeiros, entre eles o tenente-general alemão João Henrique de Böhm,
visando adaptar os regimentos da colônia aos novos padrões europeus. O objetivo
deste paper consiste em narrar os avanços e retrocessos das experiências militares
na luta contra os espanhóis pelas possessões meridionais na América portuguesa.
As fontes que servem a esse trabalho consistem na comunicação materializada nos
ofícios enviados pelo vice-rei da época, o 2° marquês do Lavradio, a Lisboa com
destaque para as ações empreendidas pelo general Böhm.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Qual a relação entre helenos e o mar? Não poderemos cuidar de tão complexa tarefa
sem trazer a luz de nossas reflexões a atuação política do segmento social ateniense
thete, como agente ativo na idealização das fronteiras marítimas atenienses. A
concepção de fronteira marítima passou a interagir entre os cidadãos atenienses a
partir do século V a.C., no recorte temporal de 483 a 404 a.C., houve uma prática
cotidiana permitindo proximidade com a thalassa. Através de documentações
escrita e cultura material do período Clássico, buscamos nessa abordagem destacar
o processo de especialização guerreira do nautai (marinheiro) ateniense e sua
contribuição na manutenção das fronteiras marítimas atenienses.
Sunzi (544-496 a.C.?), mais conhecido no Ocidente como Sun Tzu, autor de "A
Arte da Guerra" (孫子兵法 "Bingfa", mais apropriadamente "A Lei da Guerra") e
Publius Flavius Vegetius Renatus, mais comumente Vegetius ou Vegécio, autor do
"Epitoma rei militaris" ou "De re militari", o "Compêndio da Arte Militar", escrito
muito provavelmente em torno de 390 d.C., tiveram com as suas obras tal sucesso 372
que atravessaram as épocas, chegando até os nossos dias ainda com aplicação e
estudo no campo das ciências militares. Frequentemente este caráter prático tem
suscitado comparações entre estas obras tomando-as como comparáveis em
detrimento de suas singularidades mais profundas. O nosso propósito aqui é
justamente acentuar estas singularidades, destacando o clássico chinês e o romano
como obras incomparáveis a partir de suas marcas civilizacionais.
Quem frequenta o centro do Rio de Janeiro já viu ou ouviu falar da sede do Batalhão
de Polícia de Choque sediado ao lado do Sambódromo. Muitos admiram sua
arquitetura e desconhecem a importância que aquele aquartelamento teve no
período da República Velha e até hoje desempenha relevante serviço na segurança
pública de nosso Estado. Nossa análise parte do contexto histórico da função de
Polícia atribuída ao Corpo Policial do então Distrito Federal numa jovem
República, passando pelo fastígio da Ditadura Militar e encerrando com o
enfrentamento ao poder dos narcotraficantes no início da década de 80. Intenciona-
373
se demonstrar através de análise documental e pesquisa bibliográfica a mutação do
imaginário policial militar fluminense desde a República Velha e Ditadura Militar,
sendo nesses dois momentos, caracterizados pela forte beligerância na garantia do
status cor do Governo e nos anos 80 o início da narcoguerrilha que perdura até
hoje. Demonstraremos as mudanças com análise da tática empregada em assuntos
militares e a estética policial militar personificada em uniformes e veículos,
gerando consequentemente o afastamento do ethos militar e a aproximação com
meio civil já na segunda metade do século XX.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Após a Segunda Guerra Mundial a questão da energia nuclear tomou boa parte dos
debates e das ações em torno desse novo tema. Sua relevância está inclusive no
fato da ONU ter criado através de sua primeira resolução estabelecida pela
Assembléia Geral, a Comissão de Energia Atômica para mediar os problemas
causados com a descoberta da energia atômica. A Operação Crossroads consiste
nos preparativos da Joint Task Force One dos Estados Unidos para a realização de
duas explosões atômicas que ocorreram em julho de 1946, na região hoje conhecida
como Atol de Bikini, nas Ilhas Marshall. Estas ainda eram a 4º e 5º explosões
atômicas realizadas no mundo e geraram um custo que ultrapassou 5 bilhões de
dólares. Esse acontecimento teve grande repercussão em todo mundo na época e
21 representantes dos países da Comissão de Energia Atômica da ONU
acompanharam os testes. Entre esses, dois militares brasileiros: o Capitão de
Fragata Carlos Almeida da Silva e o Major do Exército Orlando Rangel. Orlando
da Fonseca Rangel sobrinho Rangel (1907-1976) foi um engenheiro químico
militar que chegou ao posto de General, tendo uma formação ampla e exercido
diversos cargos importantes no Ministério da Guerra, na Comissão de
Planejamento Econômico e na Comissão de Energia Atômica da ONU. Participou
da fundação do CNPq, ocupando o cargo de diretor na área de Pesquisas Químicas
de 1951 a 1956. Após esse período, foi presidente da Academia Brasileira de
Ciências e diretor da Vale do Rio Doce, além de participar ativamente dos debates
374
sobre Energia, Indústria Química e Defesa Nacional. O cientista acumulou no
decorrer das observações em seu arquivo pessoal um conjunto variado de registros
sobre essa experiência, sendo estes que comporão as fontes para realizar o resgate
desse acontecimento. Tem se buscado com base nessa documentação entender o
interesse e a participação dos brasileiros nos testes nucleares, questões que não
foram sequer apontadas em outras investigações. Entende-se que Rangel pertenceu
a um contexto social amplo, partindo para o conhecimento e interpretação de suas
redes de relações e obrigações, inclusive fora do meio no qual estava inserido.
Porém, não desconsideramos que sua atuação se fez presente num determinado
sistema social e político que era culturalmente e socialmente determinado, que
indicava suas ações, mas possibilitava brechas para suas pretensões. Os elementos
biográficos sevem para a compreensão das atitudes individuais dentro de um
contexto mais complexo, indicando o posicionamento destes indivíduos frente a
sua realidade. Esses registros devem estar inseridos nas contradições que nascem
entre as normas e práticas efetivas, entre o indivíduo e seu grupo, entre limitação e
liberdade.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
375
ST 37. História, Arquivologia e
Biblioteconomia: fronteiras, embates
e diálogos
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A presente comunicação se insere numa pesquisa mais ampla que aborda o caso da
doação da coleção Benedicto Ottoni, em 1911, para a Biblioteca Nacional a partir
de um olhar que explora a biografia de coleções. O caso em pauta se caracteriza
por um longo e multifacetado processo, a saber: a formação da coleção ao longo de
décadas e o que ela significava para a “escrita de si” do colecionador, José Carlos
Rodrigues, homem ligado à imprensa periódica e com profundo lastro de relações
com o campo da política; sua simultânea venda e doação – dando à coleção uma
dupla “paternidade”; e os frutos simbólicos obtidos pelo destino dado ao capital
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
“Nenhum dia sem linha”: experiência cristã e sua memorialização nos diários
de Thomas Merton - Marcelo Timotheo da Costa (PPGH em História da
UNIVERSO)
384
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
385
ST 39. História, Educação e Memória:
interfaces e diálogos
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O trabalho tem como objetivo traçar a trajetória das disputas pela memória da
região do Campo de Santana no Centro do Rio de Janeiro. De arrabalde depósito
de detritos no século XVIII ao Jardim romântico amputado por Vargas utilizado
como passagem e despertador dos temores dos transeuntes contemporâneos, o
Campo de Santana mudou inúmeras vezes sua toponímia. No entanto, a memória
do Carioca jamais incorporou os nomes para além daquele que remete a pequena
igreja construída por escravos em devoção à avó de Jesus. Atualmente seu nome
oficial é Praça da República, porém muitos visitantes não reconhecem o como tal
e seguem perdidos em seu entorno buscando o Campo de Santana. Diante de tal
impasse, esta pesquisa, além de analisar as tensões acerca do lugar de memória, as
múltiplas camadas de tempo sobrepostas no espaço, é proposta também uma
atividade pedagógica a fim de se apropriar do patrimônio histórico urbano. A partir
da crítica às demandas memoriais e apropriação do conhecimento histórico é
oferecido subsídios para a forma de uma identidade para o estudante do ensino
médio, sobretudo os moradores das comunidades vizinhas, em especial o Morro da
Providência, tão visceralmente ligado a história republicana.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
progresso da Nação. Este trabalho tem como objetivo traçar a trajetória do Instituto
Profissional Masculino João Alfredo dedicado a meninos/rapazes pobres e
desvalidos no Rio de Janeiro da virada do século XIX até 1940. O objetivo consiste
em analisar através dos documentos disponíveis, tais como: atas de diretores,
cadernetas de alunos, currículos, fotografias e arquitetura, a forma como o governo
da capital da república geria a formação de crianças e jovens a partir do sistema
sexo/gênero. Buscamos por meio desses documentos compreendidos como fontes
históricas, analisar a forma como se engendrava ideias de masculinidades. A
história do Instituto Profissional Masculino João Alfredo contribui para a reflexão
sobre o governo dos corpos e das almas a partir do sistema sexo/gênero.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
393
ST 40. Histórias das mulheres negras
no Brasil Republicano (1889-2017)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A biografia tem retornando ao debate da história com muita ênfase desde os anos
setenta da centúria passada. No entanto, os autores que têm se dedicado a esse
gênero não tem descolado o indivíduo da sociedade, dessa forma é percebido que
o indivíduo esta inserido em um emaranhado social, mas que também há espaço
para o acaso e escolhas individuais. Um alerta sobre o fazer biografia é pontuado
por Pierre Bourdieu, sobre buscar o todo no individuo e as razões para as escolhas
dos mesmos. A biografia também precisa ser conduzida por um problema,
seguindo a tradição da terceira geração dos Annales. Belmonte é uma cidade
localizada ao sul/extremo sul da Bahia que ainda possui alguns grupos de samba
liderados por mulheres e em sua maioria por mulheres negras. Ressalta-se que há
registros de samba na antiga Vila de Belmonte desde o final dos Oitocentos. E é
nesse cenário que vive a nossa biografada, a “D. Dezinha”. Essa pesquisa objetiva
traçar aspectos da biografia da líder do grupo de samba, as nagôs, a citada D.
Dezinha. Partindo das aproximações que essa personagem tem e teve com as
manifestações afro culturais, principalmente o samba. Para isso será utilizado
entrevistas, recortes de jornais, poemas, memórias dentre outros. Esses documentos
serão analisados e cruzados entre si, incluindo as entrevistas. Também operaremos
com o conceito de gênero para analisar alguns aspectos da trajetória dessa líder.
Ela narra que desde a sua infância convive com o samba através da sua mãe,
descreve rodas de samba com usos de instrumentos que se assemelham aos citados
394
em um processo crime do século XIX. Essas memórias remetem a primeira metade
do século XX. Em suma, através da biografia de D. Dezinha, conheceremos a líder
de uma manifestação afro cultural de grande importância de Belmonte e
perceberemos as estratégias que ela utilizou e utiliza para a sua sobrevivência bem
como a do grupo das nagôs.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
condição de mulher, negra e qual o significado deste momento para cada uma delas.
Conhecer as memórias das professoras que fizeram parte de um universo comum,
e compartilharam um momento histórico significativo para sua profissionalização,
um universo de significados que conduziram suas experiências na condição de
grupo social e instituição e mesmo agentes da memória, possibilita compreender o
processo de profissionalização dessas professoras, as lutas e embates que travaram
para formar novos profissionais.
“E a trabalhadora negra, cumé que fica?”: uma análise dos escritos de Lélia
González no jornal Mulherio (1981-1983) - Marjorie Nogueira
Chaves (Universidade de Brasília)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
398
ST 41. Igreja, Sociedade e Poder na
Alta Idade Média
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O amplo corpus documental de Cesário de Arles figura como uma das principais
referências para o estudo da atividade pastoral e do poder episcopal na região da
Gália na Alta/Primeira Idade Média, ao lado de figuras como Martinho e Gregório
de Tours. Contudo, no que se refere ao estudo de sua pregação, relativamente pouca
atenção foi dada a seu conjunto de sermões exegéticos, em comparação com a
maior ênfase conferida aos sermões ad populum e de tempore. O interesse por essas
parcelas do corpus é compreensível, já que delas podem-se extrair indícios sobre o
("mau") comportamento das comunidades cristãs, evidências da continuidade de
práticas pagãs, dentre outros temas. Porém, atentando para o fato de que mais que
um terço da produção homilética atribuída ao bispo consiste em trabalhos
exegéticos, optamos por nos centrar no estudo dos sermones de scriptura - com isso
buscamos explorar a maneira como o bispo se vale do texto bíblico para organizar
a comunidade cristã em torno de si e de sua instituição. A partir deste recorte
documental definimos um recorte temático: a condenação aos judeus, que
pretendemos analisar a partir do conjunto de sermões baseados no livro de Êxodo
(sc. 95-104). Neste trabalho pretendemos fazer breves indicações sobre a
documentação utilizada, seu contexto de produção e questões de autoria. Em
seguida nos voltaremos para a pregação de Cesário, buscando analisar seu papel
em nível mais amplo, assim como o lugar da condenação aos judeus em meio ao
399
projeto de poder episcopal.
pungente e que deixou muitas de suas marcas nas tradições literárias posteriores.
Esta comunicação, que ainda é a fase inicial de nossa pesquisa, visa analisar e
mapear as representações literárias referentes aos aspectos da dominação islâmica
na península ibérica paragonando as representações de tradição portuguesa e
espanhola, que representaram a invasão e o heroísmo, com as de tradições ibéricas
medievais, buscando realizar o levantamento e as relevâncias das percepções destas
tradições, investigando os discursos literários em contrapartida com os fatos
historicamente consagrados. Para isso iremos estudar textos literários que contam
as batalhas árabes e suas conquistas, assim como os que possuem como plano de
fundo os acontecimentos que se passam neste mesmo período, buscando traçar um
perfil histórico e literário dos acontecimentos.
As hagiografias irlandesas mais antigas que sobreviveram até os dias atuais datam
da segunda metade do século VII. Sua produção está relacionada à disputas
territoriais e políticas entre grandes comunidades monásticas locais, como Kildare,
Armagh e Iona. Em um cenário marcado por conflitos eclesiásticos, glorificar o
santo patrono significava também engrandecer o monastério cuja fundação lhe era
atribuída. Nesse contexto foi escrita a Vita Sanctae Brigitae, cuja autoria é atribuída
ao hagiógrafo Cogitosus e é considerada a mais antiga das hagiografias conhecidas
sobre Brígida de Kildare. Esse documento foi bastante estudado pela historiografia,
de forma a ampliar o conhecimento sobre a Alta Idade Média irlandesa, o que
incluía temas como santidade, monacato, o papel social da mulher e relações entre
igreja e sociedade. O objetivo desta comunicação é analisar a santidade de Brígida
a partir da vita de Cogitosus. Devemos considerar que a tradição hagiográfica
esteve relacionada com o fenômeno do culto aos santos, uma das características
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
mais expressivas da religiosidade medieval. Os santos são mortais que atuam como
intermediários do divino junto às comunidades, e por isso são capazes de realizar
obras extraordinárias, como milagres, profecias e visões. São homens e mulheres
que levavam uma vida religiosa exemplar, e assim se constituíam como modelos
de perfeição cristã. Dessa forma, a construção da figura do santo pelo hagiógrafo
perpassa uma seleção de fatos, temas e topoi literários, de forma a construir uma
mensagem não apenas edificante, mas também política, relacionada com as
motivações do autor que fomentaram a produção de sua obra. Para além da análise
da hagiografia de Cogitosus, pretendemos discutir, à luz da historiografia, sobre a
maneira com que os temas, milagres e estereótipos contribuem para construir a
imagem da santa e como se articulam com o contexto no qual a obra foi produzida.
A corte imperial tardo romana era formada por um agrupamento social e político
composto por pessoas heterogêneas. Suas diferenças não estavam marcadas apenas
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
em seus credos, etnias e línguas, mas estava também nos diferentes postos
ocupados por eles dentro do espaço cortesão, quer fossem membros da
administração civil, militar ou da esfera religiosa, porém algo unificava esses atores
políticos, todos orbitavam ao redor daquele que era a figura central para onde todos
convergiam, qual seja o imperador. Dentro dessa complexa malha cortesã, essa
grande profusão de agentes, sejam burocratas palatinos, componentes do exército
ou homens da igreja buscavam não apenas exercer seus ofícios, mas também buscar
benefícios, ascensão social e prestígio, o que tornava esse ambiente um lugar de
constante efervescência política. Entre as inúmeras figuras que circulavam ao redor
do imperador, pretendemos nesse trabalho discutir a respeito do papel
desempenhado pelos membros da Igreja Cristã, em especial as figuras dos bispos
e dos homens santos. À medida que o Império Romano se cristianiza, sobretudo
após o Édito de Milão em 313, temos um crescimento dos privilégios da religião e
consequentemente o aumento do poder de seus membros, assim cada vez mais
temos a presença de bispos e monges transitando e exercendo influência dentro do
ambiente cortesão, bem como junto ao monarca. Diante disso pretendemos expor
o papel que desempenhavam os bispos e os homens santos e qual era a performance
desses religiosos no cenário político romano tardio.
No Ocidente, o mais imediato contato papal com o poder imperial deu-se por
405
intermédio das relações com os funcionários imperiais. Frequentemente, esses
pareciam ter atuado com um objetivo em vista, ou seja, aqueles que foram
nomeados para governar pretendiam obter o máximo de lucro possível. Gregório
percebeu que, como bispo de Roma, deveria exercer algum grau de hegemonia
sobre tais indivíduos. Os postos do exarca da Itália e da África foram
essencialmente novas criações imperiais, durante a segunda metade do sexto
século. Fundamentalmente, o cargo de exarca reunia a administração civil, jurídica
e religiosa. Tal cargo era ocupado, em geral, por um combatente de alta patente.
Por conseguinte, sempre havia grande possibilidade, ainda mais considerando tais
características – grande concentração de poder hegemônico gerido por uma pessoa
com perfil militar –, de o exarca atuar de maneira despótica. Somam-se a esse
quadro as invasões vândalas no Norte da África e as invasões lombardas na
Península Itálica. O permanente estado de guerra naquele tempo, em muitas
daquelas conturbadas províncias ocidentais, impelia o Império, se quisesse reter
parte ou todo o território, a adotar medidas ainda mais centralizadoras, usando,
portanto, os principais mecanismos da sociedade política. Roma estava dentro da
jurisdição estatal do exarca da Itália. Enquanto Gregório foi papa, houve três
ocupantes desse cargo: Romanum (590-596) , Callinico (596-603) e Smaragdo
(603-608) . No exarcado da África, o conhecimento é escasso, mas dois exarcas
podem ser identificados: Gennadio (591-598) e Heraclio. Porém, Gregório I não se
corresponde com esse último.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O rito batismal nas atas conciliares visigóticas (619- 653) - Nathália Serenado
da Silva (Programa de Pós-Graduação em História Comparada-UFRJ)
410
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
411
ST 42. Igreja, Sociedade e Poder na
Baixa Idade Média (séculos XI-XV)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Inocêncio III (1198-1216) não foi o primeiro papa que enfrentou a heresia dos
cátaros, porém foi em seu pontificado que foi instituída uma cruzada espiritual na
região de Albi. A perseguição aos hereges não era nenhuma novidade, mas o
papado de Inocêncio estabeleceu uma forte ligação entre o poder papal e a
repressão ao herege. Cabia ao líder da cristandade, e vigário do próprio Cristo,
eliminar os males das heresias e inimigos da fé. Para isso acontecer seria necessário
extirpar do mundo as lideranças do mundo que não cumprissem a vontade do
sucessor de Pedro e não seguissem corretamente as palavras dirigidas pela Igreja.
Nesse sentido a cruzada albigense foi um modelo do que este papa tentou realizar
em seu pontificado, destituindo hereges de suas terras e livrando seus vassalos de
suas obrigações, pois nenhum poder temporal poderia existir se este fosse de
contrário a ortodoxia romana. A perseguição herética em Albi, dava inicio a
teocracia papal de Inocêncio III.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
pagã, através das relações entre a origem do homem e o universo, sobre a doutrina
cristã.
As práticas religiosas dos povos da Guiné por meio das narrativas de cronistas
e viajantes (século XV e início do XVI). - Kátia Brasilino Michelan (IPHAN)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Durante a Idade Média a literatura tipificada como espelho dos príncipes passou a
ser difundia entre os monarcas. Como forma de conselhos e manuais de etiquetas,
esses espelhos ensinavam como um rei deveria agir e se comportar para governar
e manter seu poder. O Leal Conselheiro, escrito por D. Duarte (1391-1438) é um
desses manuais, mas seu caso se torna um tanto singular, pois a pedido de sua
esposa Leonor de Aragão, o próprio monarca escreve o manual direcionando-o aos
seus súditos. Nele temos um compilado de conselhos sobre, por exemplo a soberba,
a inveja e o amor. D. Duarte justifica a guerra em “A guerra contra os mouros” e
descreve a sua própria experiência contra a melancolia, em o “Humor
melancólico”. Este trabalho busca fazer uma pesquisa inicial sobre o Leal
Conselheiro, discutindo sua singularidade e a relação com o gênero literário
espelho dos príncipes, tentando perceber as potencialidades de pesquisa que esta
fonte pode oferecer aos seus estudiosos.
O Livro das Bestas, escrito pelo religioso Raimundo Lúlio, é considerado um dos
melhores textos de prosa catalã medieval. Compõe a sétima parte da obra chamada
Livro das Maravilhas do Mundo, constituído pelos temas: Deus, Anjos, Céu,
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A obra Carmina Burana é considerada uma das maiores representações das poesias
goliárdicas e foi escrito entre os séculos XII e XIII, momento marcado por intensas
transformações sociais, culturais, comerciais e religiosas que muito influenciaram
o pensamento desse grupo. Oriundos do ambiente universitário, sendo clérigos em
sua maioria, os goliardos se destacam pelo estilo de vida boêmio e pelos escritos
profanos, que iam de encontro à moral e aos bons costumes pregados pela Igreja.
O objetivo deste trabalho consiste em apresentar o manuscrito Carmina Burana,
analisando seu contexto de produção e algumas de suas poesias com vias de melhor
compreender o pensamento goliárdico e sua influência na sociedade medieval.
Santo Antônio, nascido em Lisboa, mas sendo Pádua seu local de atuação
missionária, viveu entre 1191 e 1231, estudou nos centros de ensino mais
proeminentes de Portugal em sua época, Mosteiro de São Vicente e Mosteiro de
Santa Cruz de Coimbra, o que lhe possibilitou assimilar vasto conhecimento que
seria usado posteriormente na pregação e no combate aos hereges, sobretudo os
cátaros. Em uma época de efervescência religiosa, em que os fiéis exigiam maior
participação na vida eclesiástica, e de crescentes críticas, os movimentos
mendicantes foram o sustentáculo de Roma: os dominicanos com os estudos e com
a pregação, e os franciscanos com a pregação por meio sobretudo da vida exemplar.
É também nesse período que tem início o estabelecimento de uma arte de pregar
medieval, que possui como referência a própria prédica dos primórdios do
Cristianismo, baseando-se principalmente em Jesus Cristo e no apóstolo Paulo; nos
420
Padres da Igreja, sobretudo Santo Agostinho e Gregório Magno; e, enfim, em
diversos preceptores do século XIII. Santo Antônio valeu-se de todo o
conhecimento adquirido nos mosteiros pelos quais passou e da ars praedicandi do
período, mostrando-se bastante familiarizado com as questões de seu tempo.
Critica severamente aos sacerdotes iníquos, organiza de forma sistemática a
teologia da Trindade e se põe como eco estrondoso do IV Concílio de Latrão. Em
seus sermões é possível verificar a presença de vários elementos persuasivos que
possuem como objetivo alcançar a benevolência do ouvinte e, assim, atingir o
propósito máximo, no dizer de Santo Agostinho: instruir para convencer e
comover. Para alcançar tal propósito, fez amplo uso das cláusulas, das Ciências
Naturais, dos Pais da Igreja, de escritores pagãos e dos bestiários medievais. Este
último foi de vital importância principalmente na pregação contra os hereges
cátaros, que negligenciavam a natureza como algo puro e de onde se poderia retirar
preceitos espirituais ocultos. São esses os objetos, textuais e contextuais, a serem
observados no presente artigo.
comuns ao seu povo. Esta obra foi realizada durante o séc. XII e contém valiosas
informações a respeito de diferentes regiões na qual se encontra as comunidades
judaicas, no entanto é interessante notar que a atenção de Benjamin não é voltada
apenas para a observação do seu povo, já que existem muitos detalhes em seu diário
de bordo sobre as diversas comunidades com as quais teve contato comercial. O
presente trabalho traz uma análise de O Itinerário de Benjamin Tudela, visando
entender o contexto de sua produção e as pesquisas atualmente levantadas em torno
dela, reconhecendo o seu potencial analítico em relação à história das comunidades
judaicas.
421
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
422
ST 43. Imagens da Morte: saberes e
investigações interdisciplinares sobre
a morte, os mortos e o morrer
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O artigo tem como objetivo discutir a morte e o morrer a partir da presença dos
comerciantes fúnebres no interior fluminense, em especial na cidade de Piraí, no
Segundo Império. Para tal intento, utilizaremos a metodologia micro
historiográfica para analisarmos a casa fúnebre do comerciante Antonio Alexandre
Manoel. A partir desse caso singular podemos reconstruir suas redes de comércio,
mas, principalmente sua dinâmica comercial, no centro da cidade de Piraí. Por
outro lado, podemos perceber que tal prática comercial estava difundida tão
somente entre os cidadãos piraienses, mas, sobretudo, pelo interior fluminense.
Assim, trazer à baila esses agentes históricos da morte ajuda-nos a compreender
através da cultura material as sensibilidades mortuárias e suas respectivas práticas
fúnebres entre os viventes.
pública que tais cerimônias e cortejos teriam suscitado no reino. Na análise a ser
empreendida, centraremos nossas atenções sobre os mecanismos envolvidos no
processo de legitimação do poder régio durante a fase inicial da Dinastia de Avis,
entre os séculos XIV e XV, momento que, para diversos historiadores, representa
uma crise geral na Cristandade europeia ocidental, mas em que, ao mesmo tempo,
estava em curso a formação do estado português. Assim, os cerimoniais fúnebres,
bem como as crônicas régias, são elementos que adquirem grande importância, ao
promoverem o culto a figuras da monarquia e se prestarem à construção de uma
memória do reino. A partir da Crônica da Tomada de Ceuta por El-Rei D. João I,
de Gomes Eanes de Zurara, e da Crônica de El-Rei D. Duarte, de Rui de Pina,
procuraremos verificar como os dois cronistas relatam o episódio da morte de D.
João I, de forma a investigar como os funerais régios foram utilizados como
maneiras de consolidar o poder e a sacralidade da Dinastia de Avis.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O espaço cemiterial público conquistou seu lugar definitivo no Brasil após décadas
de debate e muito esforço do discurso médico higienista. A proibição do
sepultamento intramuros, prática herdada dos colonizadores portugueses, foi o
motivo principal para o surgimento dos cemitérios, uma vez que impôs a
427
transferência do espaço de enterro da igreja para o campo santo a partir de 1850. A
transferência da moradia dos mortos implicou a configuração de um novo espaço
da morte dentro da cultura funerária dos vivos e, consequentemente, a perda do
domínio eclesiástico sobre a morte, uma vez que, durante séculos, os mortos foram
inumados no interior de igrejas ou em suas circunjacências, prática adotada por
grande parte da população brasileira no século XIX. O presente estudo visa
reconstruir a trajetória dos mortos no período em questão, com especial atenção ao
esforço eclesiástico de manutenção do monopólio da morte no interior de seus
espaços intramuros.
A cidade de São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do Brasil, fundada por
Cristóvão de Barros no ano de 1590 é localiza-se em Sergipe, estado em que foi
capital até o dia 17 de março de 1855, quando o presidente da província de Sergipe,
Inácio Barbosa elevou o povoado Santo Antônio do Aracaju a posição de cidade
de Aracaju e realizou a mudança da capital da província. O presente trabalho faz
parte da pesquisa em andamento “Morte em São Cristóvão: Estudo sobre a história
da morte na Cidade de São Cristóvão de 1864 a 1886.” (título provisório) do
mestrado Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de
Sergipe e tem como objetivo apontar as primeiras impressões da morte e do morrer
na cidade de São Cristóvão no século XIX (1864-1886), pontuando temas como
principais causas de morte, rituais fúnebres e locais de inumação. Para tal, serão
utilizados testamentos, inventários e o livro de assentamento óbito número 1 da
Paróquia Nossa Senhora da Vitória, que é a Igreja Matriz da cidade.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho esta sendo desenvolvido a orientação da Profª Drª Claudia Rodrigues
e esta vinculado ao projeto “As reformas pombalinas e a prática testamentária no
Rio de Janeiro colonial”, desenvolvida pela mesma professora. O papel das
Irmandades religiosas no período colonial no contexto da morte era cuidar do corpo
do irmão falecido, prepararem o velório de acordo com seus pedidos, realizarem
procissões em sua memória, entre outras atividades requisitadas pelo morto. A
justificativa de todo esse aparato era a necessidade daquele, cuja morte se
429
aproximava, de buscar a salvação de sua alma no além-túmulo, quando esta partisse
do seu corpo. Em minha pesquisa terei como foco a relação de homens de cor com
as suas Irmandades. Farei isto a partir da análise de óbitos e testamentos, onde
consigo encontrar passagens que transmitem direitos e deveres de ambas as partes.
É possível, através destas fontes, determinar vários aspectos desta relação, como o
pagamento de anuidades, o pedido e a execução de Missas e demais sufrágios em
nome do confrade, a necessidade de o corpo ser acompanhado por membros da
associação no cortejo fúnebre, entre outras disposições. É importante também para
o prosseguimento do trabalho entender a devoção desses irmãos. A devoção aos
santos nos mostram tendências que expressam também relações com uma
africanidade na relação dos membros com os mortos por meio de suas confrarias.
A partir disso, através da perspectiva do testador, é possível estabelecer perfis de
membros de determinadas Irmandades, ou seja, grupos que se identificam por
alguma razão as devoções que as ligavam as ditas confrarias e assim entender a
relação entre libertos e as Irmandades de homens de cor na iminência da morte.
conseguir dispor de suas últimas vontades, tendo em vista obter a salvação da alma.
Por meio dos testamentos desses alforriados, tornar-se-á possível analisar os
vestígios de suas preocupações em vida com o momento da morte, especialmente
no que tange os preparativos para o sepultamento, pois uma morte inesperada era
o medo que motivou muitos a planejarem seus momentos finais. A Igreja, desde o
Concílio de Trento, orientava seus fiéis a redigirem os testamentos em perfeita
saúde como forma de refletirem sobre o derradeiro momento. Todavia, boa parte
dos testadores solicitavam suas disposições testamentais estando de proximidade
com a morte – mas em perfeito juízo e entendimento – por estarem com alguma
moléstia ou ferimento grave. Essa escolha, de preparar-se para a morte nas horas
finais, era devido à crença de que, por estarem mais fragilizados e ameaçados pelo
Demônio, seria mais adequada a realização dos ritos e solicitações à Corte Celestial
contra a condenação eterna, no Inferno. Devido à necessidade de realizar tal prática
por almejarem uma “boa morte”, esses indivíduos agiram conforme seus interesses,
recursos e orientações valorativas, com o intuito de lograrem sucesso em suas
ações. Acreditamos que as estratégias desses alforriados nesses documentos de
últimas vontades não estavam somente restritas à salvação da alma. Podendo
demarcar as hierarquias presentes em vida e na morte, a prática testamentária
também se constituiu como um importante discurso de poder no Antigo Regime,
frente às características de uma sociedade estamental e escravista – como era a
América Portuguesa –, viabilizando o estudo de outros subtemas inseridos tanto na
fonte testamental, quanto na temática da história da morte. Nesta apresentação,
apontaremos os rumos que esta pesquisa de mestrado tem seguido, bem como as
430
possibilidades que podemos ainda percorrer nos estudos sobre a prática
testamentária e os ritos fúnebres, envolvendo os alforriados, nas minas
setecentistas.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
432
ST 44. Indígenas, camponeses e
quilombolas: caminhos para os
(des)encontros com novas e outras
narrativas
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho tem como intuito analisar as abordagens historiográficas acerca dos
povos indígenas brasileiros, do processo de formação do mundo colonial ao pós-
colonial. Produzido através de pesquisas bibliográficas, o mesmo visa fomentar
uma análise historiográfica que compreende o indígena como personagem histórico
ativo na construção da história do Brasil. Dando enfoque as novas perspectivas
históricas acerca das relações de poder entre nativos e colonizadores, far-se-á uma
análise sobre a visão obsoleta e errônea de que os povos indígenas eram totalmente
sem interesses e sempre submissos ao colonizador. Nas novas abordagens, a
perspectiva do indígena acerca das relações travadas com o colonizador é objeto
de interesse, o aldeamento, por exemplo, passa a ser analisado também sobre a
visão do indígena. O aldeamento era importante para a manutenção da colônia e
para os índios, os quais, a partir desse espaço, construíam uma relação de
pertencimento à colônia, além, é claro, de espaço de resistência. As novas
abordagens históricas percebe que a cultura dos povos indígenas não foi eliminada,
apesar de toda a violência no processo de colonização, muitas foram
ressignificadas.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Desde o século XIX, os grupos Tupi que habitavam a costa litorânea de São Paulo
foram considerados extintos por pesquisadores e autoridades políticas. Mas, no
limiar do século XXI, eis que surgem famílias indígenas que se autodenominam,
como também são assim identificadas, como Tupi ou Tupi Guarani. A presente
comunicação versa sobre as possibilidades de uma etnografia histórica acerca do
processo de identidade destes Tupi que vivem na costa meridional atlântica do
continente. Para isso, parte-se de uma articulação entre a memória oral destes
indígenas, bem como os documentos escritos que podem ser encontrados nos
acervos do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), na Fundação Nacional do Índio
(FUNAI), Arquivo Público do Estado de São Paulo e nos arquivos municipais e
cartórios particulares das cidades litorâneas paulistas. Deste modo, partindo de uma
crítica à etnonímia compósita Tupi, Guarani e Tupi Guarani, trata de apontar os
caminhos para uma reconstituição genealógica das relações entre parentelas e
grupos locais Tupi, Guarani e Tupi Guarani em suas múltiplas articulações
identitárias nuançadas no tempo e no espaço. Para isso, a reconstituição remonta
ao final do século XIX, referenciada ao alcance da memória oral Tupi e Tupi
Guarani, por um lado e, por outro, aos primeiros registros destes etnônimos nas
fontes documentais disponíveis, e abrange o processo de retomada territorial que
culmina na primeira década do século XXI. Tem como marcador temporal a
memória oral dos Tupi e Tupi Guarani quanto ao processo de retomada e o
439
momento em que surgem os primeiros registros documentais relacionados ao uso
dos mencionados etnônimos.
A etnia indígena Kinikinau, que após ter sido declarada extinta habita hoje a Aldeia
São João, no Mato Grosso do Sul, tem uma etno-história que remonta à ocupação
de diversos territórios nas regiões denominadas como Chaco e Pantanal. Sua
origem identitária é associada aos Chané (Guaná), povo indígena que migrou em
tempos pré-coloniais para as regiões supracitadas e esteve intricada nas lógicas
coloniais inerentes a elas, como nas disputas fronteiriças entre Portugal e Espanha,
por exemplo. O presente artigo pretende, através de uma primeira abordagem,
compreender as redes de relações estabelecidas pelos Chané-Guaná/Kinikinau com
os diferentes sujeitos históricos em variados contextos sociais, que marcam os
trânsitos e deslocamentos da etnia do Chaco para o Pantanal entre os séculos XVIII
e XIX. Tal perspectiva de análise permite colocar em evidência o protagonismo
Kinikinau frente à história da região e compreender aspectos fundamentais acerca
do seu processo de etnificação. A pesquisa, portanto, está baseada em uma
incipiente análise acerca da ocupação da região pantaneira pelos Chané-
Guaná/Kinikinau, investigação acerca das redes de relações estabelecidas por eles
e do processo de etnificação Kinikinau, entre a expulsão dos Jesuítas da América
Espanhola (1767) e o início da Guerra do Paraguai (1864).
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Nos últimos anos a relação entre literatura e política vem ganhando destaque nas
pesquisas de cunho histórico. Nesse texto pretenderemos realizar um esboço a
partir da análise do poema Martim Cererê escrito pelo poeta paulista Cassiano
Ricardo. Essa análise crítica torna-se importante para demonstrar como o escritor
insere o negro em seu texto com o intuito de estabelecer a formação do brasileiro
a partir da união entre três raças. Uma segunda importância desse estudo de cunho
comparativo é a análise das três primeiras versões dessa obra. Por último, esse
estudo pode levantar questões no campo do Ensino de Literatura e na formação de
professores para comunidades quilombolas, não no sentido de que esse poema seja
uma obra de exaltação do negro, mas como esse sujeito coletivo foi apropriado em
uma produção literária modernista. Por mais que o poeta fundamente a “fusão” das
441
raças e a criação de algo novo nas três versões analisadas, somente a ação do branco
– trazer a “noite africana” para o “país das palmeiras” – insere o país das palmeiras
no tempo histórico. O poema deixa entrever que, se não fosse a chegada do branco,
o “país das palmeiras” continuaria em um “tempo mítico” e permaneceria na
barbárie, assim como não se daria o encontro racial que formaria o tipo brasileiro.
Ao abordar a “fusão racial” no poema, não podemos apontá-la como uma visão
menos (ou mais) racista do que as teorias do branqueamento, isso porque – reitero
− Cassiano Ricardo está em diálogo com seu tempo. O que permeia a miscigenação
racial proposta pelo poeta é a desqualificação das outras raças e a valorização do
branco como o grande responsável pela Nação, pois a posição do branco é
fundamental em todos os momentos de conflitos na trama elaborada por Cassiano
Ricardo. Como podemos perceber, Cassiano Ricardo apropria-se do negro na
formação da sociedade brasileira enquadrando-o como elemento subalterno e de
pouca contribuição, a não ser pelo trabalho servil. Essa constatação é de suma
importância para que o professor de Literatura possa demonstrar aos seus alunos
como em obras literárias modernistas o negro foi construído imaginariamente e,
não como elemento real. Sendo assim, cabe uma análise crítica para problematizar
as distorções produzidas por autores que pretendiam construir representação
identitárias do brasileiro a partir do viés racista dos primeiros anos do século XX.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Por uma história das ruínas: levantamento de fontes sobre a região do Sahy
nos periódicos da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional – (Mangartiba/
XIX-XXI) - Daniela Paiva Yabeta de Moraes (Universidade Federal de
Rondônia)
técnicas e saberes que fazem parte da trajetória ou história de vida das gerações
antepassadas, mas que, numa perspectiva sincrônica, ainda permanecem vivos por
meio da oralidade e do próprio registro escrito das novas gerações que passaram a
ter acesso à escola/educação formal. Nesse sentido, esses sujeitos têm buscado
muito mais do que seu sustento material, oriundo do trabalho na terra, mas em
processo de luta pela garantia de seus direitos e melhores condições de vida em seu
território. Cumpre ressaltar que o reconhecimento e a valorização dos saberes dos
povos tradicionais evidenciam a necessidade de novas metodologias, estudos e
pesquisas que estejam, de alguma forma, associados às atividades
transdisciplinares e mais participativas, assim como protagonizadas pelos próprios
sujeitos históricos desse processo: indígenas, camponeses e, para fins deste
trabalho, os quilombolas. Diante disso, este estudo busca investigar se a “roça de
toco”, uma das práticas de produção agrícola empregada pela comunidade
quilombola Engenho II, permanece presente no cotidiano das gerações atuais (mais
jovens) e qual a visão desses sujeitos a respeito dos saberes que envolvem tal
técnica. A metodologia utilizada na pesquisa é de base qualitativa, apoiada,
sobretudo, na etnografia (observação, registro, geração e análise dos dados a partir
da vivência em campo). Como resultado, temos o registro das práticas vivenciadas
pelos jovens kalunga, assim como o relato de experiência da própria pesquisadora,
graduanda do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade
Federal do Tocantins/Campus Arraias, quilombola e membro da comunidade em
pauta. O trabalho fundamenta-se nos pressupostos da Educação do Campo, vista
aqui como área do saber que tem possibilitado o reconhecimento e a ampliação do
445
olhar para as práticas sociais dos povos do campo, como sujeitos responsáveis pela
sua própria trajetória, mesmo diante do permanente cenário de esquecimento que
as comunidades tradicionais vivenciam no âmbito do contexto político-econômico
brasileiro.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
448
ST 45. Livros, bibliotecas, cartas e
outros escritos: apropriações e
representações
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O ambiente que recebeu a Corte Portuguesa em 1808 era uma sociedade em que
predominavam os laços de cordialidade e muitos aspectos funcionavam mediante
uma política de troca de favores, da qual os elogios como forma de atrair as boas
graças foram essência. A América Portuguesa apresentava-se geográfica, política
e economicamente fragmentada e, com a chegada de D. João, aconteceram
tentativas de unificação para a construção de um império luso-brasileiro. O Rio de
Janeiro que recebeu a Família Real, por sua vez, estava longe de ser uma notável
sede de monarquia, apresentando-se como o de uma simples colônia, carente de
uma ampla reorganização administrativa. Como foi dito por Oliveira Lima, o Rio
de Janeiro era “capital mais no nome do que de fato". A presença da Corte
contribuía, assim, decisivamente para alterar o estilo de vida no Brasil, uma vez
que trazia grande parte da administração portuguesa, personalidades e funcionários
que continuaram a desembarcar nos anos seguintes, contabilizando milhares de
pessoas chegadas ao Brasil ao longo desse período. A transferência da burocracia
real precisou contar com medidas diversas, como a nomeação de ministérios e a
instalação de secretarias e repartições vindas de Lisboa. A recriação do aparelho
central do Estado português em terras americanas despertou a antiga colônia para
uma modernização segundo padrões europeus. Inaugurava-se, em 1808, um novo
cenário no Rio de Janeiro, no qual não estava ausente a necessidade básica de
criação de uma sociedade culta e ilustrada ao seu redor. A abertura de tipografias,
449
antes proibidas, foi marco representativo de mudanças, ao mesmo tempo em que
abriu espaço para a perpetuação de hábitos e costumes europeus. Ávida pelo que a
cultura europeia poderia oferecer, a nova corte se fez campo fértil para o caráter
espetacular das sociedades do Antigo Regime, cultural e politicamente. Sendo
assim, com a permissão de funcionamento de duas casas impressoras, uma oficial
e uma particular, houve um despertar da vida cultural da colônia. Além dos
inevitáveis documentos oficiais, cuidaram da publicação de jornais, folhetos
políticos e de muitas obras de cunho científico e literário. Com isso, fervilhou
também a prática das dedicatórias impressas, representativas das relações de
mecenato, símbolos das relações políticas apoiadas na hierarquia vigente, e das
trocas efetuadas na busca por poder e influência. É proposta do presente trabalho
analisá-las nos primeiros anos da presença da Família Real no Brasil, trabalhando
assim questões da política no Brasil oitocentista, além de contribuir para os estudos
de história do livro e da imprensa.
exemplo de fontes jornais de outros países e cartas escritas a bordo dos navios.
Essas informações formavam um circuito da comunicação. Publicavam fatos,
notícias de interesse a Coroa Portuguesa e assim formaram um sistema de
comunicação na cidade do Rio de Janeiro. O fim do monopólio da Impressão Régia
no Rio de Janeiro, em 1821, abriu espaço para um maior número de editores e
ofertas de impressão. A história dos livros e da leitura no Brasil, após a vinda da
família real, proporcionou de forma mais intensa a circulação de pensamentos e
ideias no século XIX.
desempenhar com afinco algumas de suas funções, a saber: a de “Editar toda a sorte
de obras raras ou preciosas para a cultura nacional” e “promover medidas para
aumentar, melhorar e baratear a edição de livros”, dois lemas que movimentaram
a Instituição. No entanto o que se procura nesta apresentação é a análise da
circulação de algumas de suas coleções bibliográficas que se intitularam
“Biblioteca de divulgação cultural” e “Biblioteca popular brasileira”, destacando-
se de que maneira estruturaram publicações responsáveis por canonizar uma visão
acerca dos conceitos de “popular” e “cultural” no Brasil.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho propõe fazer uma análise da produção crítica de Machado de Assis,
especialmente os textos dedicados a discutir os significados da crítica, o papel do
crítico, e a expressão da nacionalidade na literatura brasileira de final dos
Oitocentos. O período no qual Machado escreve o coloca em posição privilegiada
para observar a passagem do predomínio do pensamento romântico para um novo
conjunto de ideias que procurassem dar conta de entender e explicar a modernidade
vivida e sentida naquele tempo e contexto. Os artigos de crítica de Machado são
preciosos porque revelam a visão de um autor particularmente atento e sensível às
mudanças e com rara capacidade de observação e articulação do pensamento com
o tempo vivido. Machado é um dos primeiros a observar e registrar que a formação
da literatura nacional brasileira não se daria tal como a independência, com um
“grito do Ipiranga”. Seu argumento foi sendo desenvolvido com a publicação de
textos como “O passado, o presente e o futuro da literatura brasileira” (1858), “O
ideal do crítico” (1865), “Notícia da atual literatura brasileira: instinto de
nacionalidade” (1873), e “A nova geração” (1879), só para citar alguns, nos quais
discutia a constituição da literatura brasileira e qual o sentido de nacionalidade que
essa deveria expressar. Esse seria um processo lento que não havia muito começara
a se desenvolver, e merecia incentivo, análises e discussão, para estabelecer as
bases de uma tradição literária nacional. No Brasil recém-independente, o
Romantismo foi o sistema de ideias que favoreceu a organização de um projeto
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
o ensino? Como responder esta pergunta? Existe uma única pergunta, uma única
resposta? Assim, o nexo entre as perguntas e suas respostas pode ajudar o
pesquisador a articular saberes, expandindo as possibilidades de análise, de
compreensão e de visibilidade das fontes, com aproximação ou não das correntes
filosóficas que alicerçaram esta pesquisa e, desse modo, apresentar nova narrativa
dessa organização.
como uma representação do vivido, como um ato desenvolvido por uma prática,
onde o oficial do exército, diarista e memorialista, registrou aspectos do real.
em que foram realizadas? Qual a relação entre estas traduções e a recepção das
ideias do poeta inglês no mundo luso-brasileiro do primeiro quarto do século XIX?
Quais as intenções de Fernando José de Portugal ao traduzi-las? Para respondê-las,
serão utilizadas, principalmente, as traduções de Fernando José de Portugal, os
pedidos de licenças e pareceres de censores da Mesa do Desembargo do Paço,
referências alusivas e anúncios de vendas em periódicos e obras de referências.
O que liam as mulheres? O que ler para as mulheres? Como educá-las? Essas
464
questões, dentre outras, movimentam a pesquisa de mestrado em curso, que
objetiva compreender formas de educação postas em circulação, por meio dos
impressos, e nesse estudo a fonte privilegiada é a Revista Popular. Primeiro
empreendimento no ramo dos periódicos do francês Baptiste Louis Garnier no
Brasil, circulou quinzenalmente entre os anos de 1859 a 1862, podendo ser
considerado um importante registro do pensamento científico e literário dos
intelectuais que residiram no Rio de Janeiro (PINHEIRO, 2002). Trouxe uma
pluralidade de seções que pretendiam satisfazer e instruir um público diverso,
dentre ele, as mulheres, que por volta dos anos de 1830, puderam contar com alguns
periódicos como “O Espelho Diamantino (1827)”, “Correio das Modas (1839)”, “
O Espelho das Brasileiras (1831)”, “Novo Correio de Modas (1852)”, “ A Marmota
(1857)”. Vale ressaltar que em meados dos oitocentos, a relação entre o universo
feminino, a literatura e a imprensa foram se tornando mais próximas (OLIVEIRA,
2011). Sendo assim, interessa para esse trabalho, a partir da compreensão do
cenário da época, evidenciar e analisar os modelos de educação e conduta
recomendados ou sugestionados à mulher do Rio de Janeiro, de modo direto e
indireto, apresentados pelo periódico, na segunda metade do século XIX, com
aporte teórico assentado no âmbito da História Cultural em diálogo com o campo
educacional e os estudos históricos sobre Mulheres. Nessa percepção, tomamos
para exame as seções “Crônicas da Quinzena”, “Instrução e Educação”, bem como
a seção de biografias “Brasileiras Célebres”. A seção de “Instrução e Educação”
constituiu-se, em parte, de conselhos sobre a educação das moças e crianças. Já a
seção “Crônicas da Quinzena”, de possível autoria de Carlos José do Rosário e
Joaquim Manuel de Macedo, trouxe figurinos femininos acompanhados de sua
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
465
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
466
ST 47. Militares, poder e sociedade:
métodos de história e parcerias
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Percebida por muitos como um evento de impacto regional, por ter ocorrido em
terras do Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, poucos pesquisadores
reconheceram que a Guerra do Contestado (1912-1916) promoveu desdobramentos
de repercussão mais ampla. Dos esforços para a modernização do Exército
brasileiro as políticas no âmbito nacional e internacional no campo militar, muitos
foram os assuntos onde a Campanha Militar do Contestado foi lembrada para a
tomada de decisões. O objetivo da apresentação é discutir o papel da Guerra do
Contestado nas políticas de reorganização do Exército no séc. XX e seus possíveis
desdobramentos no campo das políticas de guerra/defesa adotadas pelo Estado
brasileiro para com seus vizinhos sul-americanos. Visando subsidiar a reflexão
proposta, foram consultados documentos do Congresso Nacional brasileiro, do
Ministério da Guerra e do Estado-Maior do Exército, jornais, revistas e obras de
época, em particular as produzidas por observadores do conflito. No tocante ao
estado da arte atual sobre o tema, destacam-se as produções de Frank McCann e
Rogério R. Rodrigues. O propósito mais amplo da apresentação é promover
discussões sobre em que medida o Contestado repercutiu para a tomada de decisões
estratégicas no campo militar e das relações internacionais.
O fim da guerra fria, com a dissolução do chamado “campo socialista”, retirou dos
militares a missão de combate à “ameaça comunista”, em torno da qual os militares
brasileiros foram doutrinados desde, ao menos, a década de 1930, após a
denominada Intentona Comunista de 1935. Na consolidação do anticomunismo
como ideologia unificadora das correntes militares, papel destacado coube à Escola
Superior de Guerra. Após a “queda do comunismo” os militares passaram a viver
uma dupla “crise de identidade”. Por um lado, a falta de um inimigo a ser
combatido, a ausência de uma missão e de uma doutrina unificadora; por outro, a
sensação de desprestigio à medida que o modelo macroeconômico de cariz
neoliberal posto em prática pelo Estado desde o início da década de 1990 implicou
em restrições orçamentárias que, nos discursos de vários representantes da cúpula
militar, estavam levando ao sucateamento das FFAA e submetendo os militares a
dificuldades financeiras pela compressão dos salários. Simultaneamente o Estado
passou a demandar a intervenção das FFAA na repressão a movimentos e protestos
sociais e, mais diretamente, no combate ao chamado crime organizado em centros
urbanos como o Rio de Janeiro, por meio das ações de GLO. Se inicialmente alguns
representantes da cúpula militar expressaram preocupações e mesmo oposição ao
emprego das FFAA no combate à criminalidade, com o tempo as resistências
diminuíram. Constatou-se a boa receptividade da opinião pública à presença dos
militares nas ruas, auxiliando os aparelhos repressivos estaduais. As ações de GLO
tornaram-se frequentes o que tem levantando preocupações quanto a essa
recorrente intervenção das FFAA em uma questão de ordem interna: a segurança
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
pública, que se tornou uma questão sensível na agenda política dado seu impacto
na opinião pública. Serão as ações de GLO a nova missão, a nova base doutrinária,
o novo sentido para a existência das FFAA em um país periférico como o Brasil?
Que consequências podem advir para a democracia e para as relações entre o poder
civil e os militares dessa presença frequente dos militares em assuntos internos
como a segurança pública? Pode a autorização presidencial para o emprego da
GLO tornar-se uma ferramenta de barganha política entre o Executivo Nacional e
os governos estaduais que recorrem ao seu uso? A recorrência das missões de GLO
pode levar a uma nova doutrina militar onde os grupos criminosos e movimentos
sociais substituam os comunistas como o “inimigo interno”? O trabalho que
proponho para é parte da pesquisa de estágio pós-doutoral que realizo no Instituto
de História da UFRJ e no qual busco perquirir como a ESG se coloca diante dessa
crescente presença das FFAA em missões de segurança pública.
Com a derrota de Juan Manoel de Rosas em 1852 pelas tropas aliadas do Império
do Brasil, Corrientes e Entre-Ríos, e Montevidéu, a monarquia sul-americana
passou a disputar protagonismo e supremacia regional com as grandes potências da
época. Passou o Império a contar com uma estação naval no Rio da Prata, passou
a ser credor da Confederação Argentina e da República Oriental do Uruguai. Os
Tratados de 1851 impostos à República Oriental mediante ameaça de guerra
469
colocaram aquele estado sob a tutela do Império. Tal situação não passou
desapercebida pelos governos europeus que buscaram neutralizar a influência
política adquirida pelo Império. No tocante ao Paraguai, mais de uma década antes
de rebentar a guerra foi iniciado um período de pax armada caracterizado por
relações políticas beligerantes e pela iminência constante de conflito armado
devido ao impasse em torno da navegação fluvial brasileira no Rio Paraguai.
Justamente nesse período houve uma forte associação entre os ministérios da
Marinha e dos Negócios Estrangeiros sendo em diversos períodos as duas pastas
cumuladas pelo mesmo ministro.
influência sobre boa parte das localidades sul-rio-grandenses após sua atuação na
Guerra do Paraguai. Correa da Câmara, homem de confiança de Osório, também
alcançou cargos políticos importantes no governo imperial após seu retorno do
conflito em terras paraguaias. Sua ascensão política levou-o a ocupar posição de
liderança e de prestígio na sociedade política local e dentro do Partido Liberal.
Acredita-se que, após esse largo período convivendo e atuando em conflitos
bélicos, especialmente na Guerra do Paraguai (1864-1870), mediando situações,
organizando tropas e estratégias militares, o crescimento dos vínculos sociais entre
esses indivíduos aumentaram seus respectivos núcleos de sociabilidade dentro e
fora de suas localidades, levando-os a ascender ao estreito cenário político
imperial. Partindo-se da relevância dos vínculos estabelecidos por esses dois
indivíduos, o problema que norteia esta pesquisa é conhecer quais as estratégias e
os fatores que permitiram a ascensão de Correa da Câmara à esfera política e a sua
atuação como mediador político entre a província do Rio Grande do Sul e o Império
a partir dos vínculos constituídos em sua relação com Manuel Luís Osório. Em
outras palavras, esse estudo tem por objetivo, portanto, compreender as formas de
inserção política e as estratégias articuladas pela elite sul-rio-grandense no
processo de ascensão à esfera política imperial, analisando-se os diálogos
epistolares estabelecidos entre José Antônio Correa da Câmara (Visconde de
Pelotas) e Manuel Luís Osório (Marquês do Herval).
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O marco dos 50 anos do Golpe Militar trouxe à tona o tema do Golpe e da Ditadura
Militar para a ordem do dia. Diversas reações têm sido externalizadas, sejam
críticas ou saudosistas. Nas últimas décadas um debate revisionista vem, inclusive,
contestando a denominação do regime instaurado no Brasil no período de 1964 à
473
1985, e em detrimento da denominação ditadura militar, se achando conveniente o
uso do termo "ditadura civil-militar". Por outro lado, o esporte, quanto fenômeno
social, não passa a margem dos contextos sociais, políticos e econômicos que
compõem as sociedades que o acolhem. Tendo ele capacidade de penetrar
diferentes estruturas sociais, o esporte comporta interesses que envolvem o Estado,
o mercado e as organizações sociais ou sociedade civil, estando por vezes no
centro, como motivo ou como condutor, de determinados conflitos. O presente
trabalho trata das políticas púbicas de esporte durante a ditadura militar no Estado
de São Paulo, visto que o esporte foi um dos bastiões de busca de apoio popular ao
regime vigente no país. No Estado de São Paulo o Departamento dos Desportos
esteve sob o comando militar, e neste período houve um aumento significativo na
interferência do Estado no esporte, como o aumento substancial de equipamentos
públicos de Esporte. Também abordaremos a intersecção de agentes públicos e
dirigentes de entidades esportivas no Estado.
O regime político que emergiu após o golpe de 1964 apresenta uma característica
marcante: o poder de decisão que as Forças Armadas adquiriram e expandiram em
relação aos outros atores políticos. Diferentemente das intervenções militares em
1945 e 1954, quando os governos foram depostos e o poder civil restaurado, o golpe
em 1964 redefiniu o papel das Forças Armadas. A organização militar, pela
liderança do Exército, passou a impor sua concepção do Estado Nacional.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
475
ST 48. Mundos do trabalho e
ditaduras no Brasil republicano
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este resumo tem como objetivo apresentar uma pesquisa sobre os ferroviários da
cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, e seu papel nas lutas sociais e políticas
travadas na cidade, entre os anos de 1960 e 1969, com base na interpretação de
documentos de época da polícia política e da 67ª Delegacia de Polícia, livros de
memórias, entrevistas orais e também da imprensa local e carioca, além da
literatura acadêmica que tem relação com o assunto. A pesquisa concentra-se em
duas fases contíguas porém distintas: de fins de 1960 a abril de 1964 e daí até 1969.
O marco divisor na periodização da pesquisa é o golpe de 1964. O primeiro
momento estudado vai, portanto, de novembro de 1960, quando da Greve da
Paridade e criação do Pacto de Unidade e Ação, até o golpe de abril de 1964; e a
segunda fase, do golpe ao ano de 1969, em que ocorreram cassações de direitos
políticos como uma espécie de última etapa de perseguição a militantes
petropolitanos de esquerda envolvidos nas lutas do “pré-64” – entre eles,
ferroviários. Nesses marcos, a pesquisa dá maior ênfase ao período entre 1960 e
1964, buscando entender a importância dos ferroviários no processo de
radicalização política que culminou no golpe de 1964, como eles eram monitorados
pela polícia política e como essa vigilância acarretou em prisões e perseguições
logo após o golpe, supondo-se que a categoria tenha tido considerável importância
no processo descrito, sabendo-se que foi duramente impactada pelo golpe e pela
ditadura subsequente. As fontes levantadas têm permitido analisar o papel e a
476
relevância da categoria no processo descrito, bem como o monitoramento policial
sobre os sindicalistas ferroviários e em suas relações com outros ativistas políticos
no pré-1964, demonstrando a importância dessa vigilância prévia para as prisões e
indiciamentos após o golpe. Além disso, esses documentos são elementos para se
avaliar o impacto do golpe e da Ditadura Militar sobre o sindicalismo petropolitano,
especificamente quanto à categoria dos ferroviários, demonstrando a existência de
prisões, atos de violência física e psicológica, além de cassações de mandatos e
direitos políticos de ferroviários e suas lideranças; considerando ainda a extinção
da ferrovia em Petrópolis pela Ditadura, em 1964, e as consequências desses
diversos impactos para a categoria dos ferroviários.
projeto, apresentando também uma breve análise de como estas questões aparecem
nas no jornal A Comarca de Guariba.
Este trabalho tem como objetivo analisar como a experiência da carestia vivenciada
por milhares de trabalhadores durante a Segunda Guerra Mundial, acabou
colocando essa discussão no patamar do debate político nacional e da conquista de
direitos. Tratando-se de um período marcado por mobilizações populares em prol
da entrada do Brasil na guerra, aqueles anos também foram marcados por
sacrifícios impostos aos trabalhadores que foram convocados a servir na linha de
frente da “batalha da produção”. Desta maneira, se por um lado, o discurso
patriótico motivado pela conjuntura de guerra buscou justificar medidas como a
478
ampliação da jornada de trabalho, suspensão de direitos trabalhistas e espoliação
salarial; por outro, este também forneceu material discursivo para àqueles que se
engajaram nas lutas por melhores condições de vida e trabalho durante a guerra e
no período imediatamente posterior a esta. Em Niterói, o “esforço de guerra”
elevou os custos com alimentação a tal ponto, que a capital fluminense chegou a
registrar a maior alta de preços de gêneros alimentícios em relação às demais
capitais da região sudeste e até mesmo, das demais capitais brasileiras em alguns
períodos entre 1942 e 1944. No campo de batalha interno da cidade, a luta dos
preços X salários motivava denúncias contra os açambarcadores, os “tubarões” do
mercado negro e os antipatriotas que aumentavam preços e adulteravam produtos
vendidos à população. Neste cenário, as lutas contra a carestia e da alta no custo de
vida tiveram um impacto significativo na experiência de luta e na consciência de
classe dos trabalhadores da capital fluminense nos anos 1940 e também na década
seguinte. Logicamente, que esta não era uma exclusividade da cidade de Niterói e
nem tampouco uma novidade na vida dos trabalhadores brasileiros que com
frequência, precisam “esticar” o salário ao final do mês para garantir o mínimo
necessário para a sua sobrevivência e da sua família. Outras pesquisas ambientadas
em Santos, São Paulo, Amazonas e Rio Grande do Sul, ainda que não estejam
necessariamente centradas na temática da guerra, enfatizam a importância daqueles
anos para a experiência dos trabalhadores, seja pelas consequências da
superexploração ou pelas possibilidades de ação e/ ou (re)formulação do repertório
de lutas dos trabalhadores a partir das mudanças ocasionadas pela entrada do Brasil
na guerra. Desta maneira, buscaremos a partir de um estudo espacialmente
localizado – Niterói – perceber como as lutas e medidas tomadas contra a carestia
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Cinquenta anos depois do golpe civil-militar, essa pesquisa colabora com as demais
pesquisas quando constata que as relações estabelecidas entre o Poder Executivo e
o Poder Judiciário colocou um peso enorme nas decisões proferidas pela Justiça do
Trabalho. Nesse sentido, proponho entender a Justiça do Trabalho como um espaço
de debates e ações jurídicas que possuem um apelo social imprescindível na
sociedade brasileira. Em momentos, de crise e golpes de Estado, os tribunais
trabalhistas atuam em defesa de um ramo do Direito que deve servir ao equilíbrio
de forças entre o capital e o trabalho. A análise buscou perceber como uma
instituição com características democráticas, o Tribunal Regional do Trabalho da
Primeira Região, sofreu intervenções através do Provimento n. 20/64 e viu suas
atividades serem atingidas com as leis, os decretos e os prejulgados que alteraram
sua estrutura atingindo aqueles que a utilizavam. Os caminhos para apresentar a
atuação da Justiça do Trabalho e dos sindicatos patronais e dos trabalhadores na
cidade do Rio de Janeiro ainda tem muito a esclarecer, mas proponho aqui resumir
um importante diagnóstico das ações coletivas peticionadas pelas entidades de
classe durante o período de 1964 e 1979. A atuação das turmas de magistrados no
Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região mostrou-se bastante
heterogênea ao longo desse período. Nesse sentido, o debate acerca do Direito do
Trabalho no tribunal, por um lado esbarrou em decisões mais ousadas em vista de
480
uma certa autonomia conquistada nas sentenças coletivas que fugiam das
orientações do regime, por outro lado, em momentos específicos, acatou a
legislação e atos administrativos impostos ao longo desse período.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
483
ST 49. Novos temas e debates sobre a
imprensa e circulação de impressos no
século XIX: interseções entre a
história cultural e a cultura política
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A mulher por ela mesma: vozes femininas no jornal "A Família" - Lívia
Assumpção Vairo dos Santos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Umas das obras ficcionais de Aluísio Azevedo que mais geraram controvérsia entre
os intelectuais de seu tempo foi certamente O mulato; primeiro romance de cunho
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este trabalho objetiva apresentar resultados parciais de pesquisa Doutoral que trata
de mapear e analisar aspectos da Biografia do político, militar e redator Luís
Augusto May. Seus periódicos foram A Malagueta e A Malagueta Extraordinária
circulados na Corte do Rio de Janeiro e constam das principais fontes para nossa
investigação que traz como recorte os anos de 1782 – nascimento de May – e 1850,
ano de sua morte.
Este trabalho tem como objetivo principal analisar os sentidos que eram atribuídos
488
à palavra república e os projetos de república que veiculavam nos periódicos de
oposição à monarquia que circulavam na corte entre os anos 1875 e 1879. Aqui
apresentaremos um mapeamento de periódicos, entre jornais, folhas e folhetos, de
oposição ao regime monárquico, que foram levantados para serem analisadas ao
longo do doutorado. Portanto, este trabalho aqui apresentado é um breve recorte do
que desenvolverei nestes anos de pesquisa. A leitura e análise destas fontes
permitirá compreender não somente o discurso político circulante na imprensa
deste período e os projetos de república que eram propostos por estes homens em
um período de baixa atividade política liberal, mas trará ao debate historiográfico
fontes de pesquisa praticamente inéditas, e estes periódicos são três delas. Cânones
que estudaram a história da imprensa como Nelson Werneck Sodré e Rizzini não
citam em suas obras tais periódicos. Além do mais, este trabalho possibilitará a
descoberta de novos atores políticos atuantes na imprensa da corte de um período
crucial para a história do Brasil que é o da crise do segundo reinado. Parte-se do
pressuposto de que a fala contida nestes periódicos discute não apenas o conceito
de república, mas conceitos como democracia, liberalismo, cidadania, aí incluindo
o debate sobre a participação política e relações de trabalho. A análise do discurso
proferido nestes periódicos enfatizará as propostas políticas dos redatores em
substituição à monarquia e aprofundará a investigação dos sentidos que tais
conceitos ganharam nesse período. Acredita-se que estas expressões tiveram seu
sentido ampliado no âmbito das manifestações políticas que marcaram estes anos,
uma vez que a sociedade vinha sofrendo mudanças estruturais, oriundas da intensa
atividade econômica do período, quando surgiram bancos, indústrias, empresas de
navegação a vapor, e o país ia em direção a uma modernização capitalista.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
diversos assuntos, qual público leitor pretendia alcançar, como circulava na cidade
e no Estado, observando as diferenças regionais, partidárias e de classe, sem perder
de vista os contextos envolvidos e de que forma o espaço do jornal era utilizado
para polemizar e influenciar a opinião pública.
A proposta de trabalho a ser exposto tem como tema principal a análise dos
impressos de tipo Penny Blood que circularam durante a década de 1840, nos
primeiros anos da Era Vitoriana. Tais impressos compreenderam uma nova forma
literária, identificada como subgênero do romance, inovadora tanto pelos seus
temas quanto pelo potencial de veiculação de ideias. Vieram ao público nos moldes
de narrativas sensacionais, serializadas em partes, frequentemente semanais, de
oito ou dezesseis páginas cada, contando com uma xilogravura em cada número,
vendidas a preços módicos de um penny e tendo o objetivo de alcançar, sobretudo,
os trabalhadores das camadas inferiores da sociedade. Deste modo, volta-se o olhar
para alguns penny bloods que alcançaram o sucesso e despertaram a atenção das
classes dirigentes por sua tônica radical, são eles: The Mysteries of London (1844-
1848) e Wagner, the Wehr-Wolf (1846-1847), ambos de autoria de George William
MacArthur Reynolds (1814-1879). Diversos outros autores ingleses também
tiveram seu espaço e produziram trabalhos expressivos, em grande medida
inspirados por diversas publicações estrangeiras. A década de 1840, em que os
penny bloods se afirmam e se multiplicam, deve ser tomada como momento
sensível no que tange às transformações da própria sociedade - a revolução
494
industrial inglesa deixava à mostra suas contradições, a miséria e a condição
degradante da working class são pontos relevantes -, mas foi ainda um momento
que experimentou o aumento das taxas de instrução (literacy) dos trabalhadores,
impulsionada pela profusão de impressos baratos. G. W. M. Reynolds, nesse
sentido, é pensado em um quadro de autores que enxergaram o potencial desta nova
forma como instrumento privilegiado de difusão de conceitos, fazendo uso deste
veículo para a exposição das condições de vida dos menos afortunados e
alimentando uma imprensa radical alinhada ao movimento Cartista.
Este trabalho se propõe fazer uma análise da censura durante o período joanino
(1808-1821), priorizando o papel dos censores régios no processo da censura. As
fontes utilizadas serão os pareceres dos censores referentes aos pedidos de licenças
encaminhados à Mesa do Desembargo do Paço, presentes no Arquivo Nacional do
Rio de Janeiro. Nesse trabalho, mais importante do que explorar os procedimentos
censórios serão abordados os embates, identificados a partir da leitura dos
pareceres, nos bastidores da censura, ou seja, objetiva-se compreender a atuação
dos censores dentro de tal local e as possíveis divergências entre eles e com o
escrivão da Mesa do Desembargo do Paço. A chegada da corte joanina ao Rio de
Janeiro acarretou em inúmeras mudanças para a cidade, a qual passa por
transformações no âmbito social, político e cultural. Adaptações estruturais passam
a ser fundamentais para acolher os novos habitantes, como aponta Kirsten Schultz
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
497
ST 51. O Vale do Paraíba, a Segunda
Escravidão e a Civilização Imperial
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A defesa por uma ideia de colonização africana nos jornais A Patria e O Paiz
pós abolição do tráfico de escravos na província do Rio de Janeiro, 1850 a
1860 - Alessandro Mendonça dos Reis (PPGH Universo)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
pelos empresários têxteis para disciplinar e controlar sua mão de obra através da
chamada moralização pelo trabalho.
A colonização das terras que dariam origem a vila de Vassouras foi incrementada
no início do século XIX e foi seguida de perto pelo desenvolvimento da cultura do
café. A abertura das áreas florestais permitiu que houvesse a fixação de indivíduos
e ramos familiares, oriundos de diversas atividades econômicas, que investiram
seus capitais na construção de um complexo sistema cafeeiro que se tornaria um
dos mais destacados na produção do café ao longo daquele século. Nosso objetivo
com o presente trabalho é reconstruir a trajetória de alguns desses indivíduos e
ramos familiares, atentando para suas estratégias de reprodução social e de riqueza.
Entre eles, observaremos com especial atenção os Teixeira Leite, os Werneck, os
Ribeiro de Avellar e os Correia e Castro.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
509
ST 52. Pesquisas em estudos
africanos: parcerias e perspectivas
interdisciplinares
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Este texto discorrerá sobre o funcionamento de alguns tributos e taxas que eram
cobrados pelos capitães de presídios, moradores e demais agentes portugueses que
atuavam na Angola portuguesa dos séculos XVI e XVII. Para tal, analisaremos as
definições esboçadas para algumas práticas tributárias e taxativas que foram
incorporadas pelo oficialato régio, amiúde de maneira ilícita, durante o governo de
512
Fernão de Sousa (1624-1630). A princípio, essas práticas eram de origem mbundu,
sendo identificadas na escrita administrativa com os nomes de “infuta”, “loanda”,
“ocamba”, “infuca”, “baculamento” e outros mais. Nossas principais considerações
estão divididas em duas partes. Na primeira, argumentaremos que a experiência
histórica dos contatos luso-africanos atesta para a tentativa de fortalecer o sistema
tributário e os mecanismos de controle e fiscalização portugueses, cristalizando
com isso um espaço de ordenação judiciário gerido a partir de Luanda e dos
presídios do interior. Na segunda parte, comentaremos que o processo de tradução
e explanação dessas práticas, na medida que também eram vocábulos incorporados,
girava em torno da comparação semântica, da polissemia e da imposição de um
significado renovado ao empréstimo lexical, de sorte que o processo de
significação acabava infundido pela experiência colonial de dominação.
Concluiremos que as práticas de “infuta”, “loanda”, “ocamba”, “infuca” e
“baculamento” estavam relacionados à formação de uma nova tessitura
sociopolítica na Angola portuguesa, incontornavelmente influenciada pela situação
assimétrica dos contatos luso-africanos e pela imposição do avassalamento aos
sobas (chefes). No final das contas, os sobas vassalos acabavam relegados a um
contrato de comprometimento que, por um lado, abarcá-los-ia em uma só Justiça,
operante em função do Governo do corpo místico do rei; por outro lado, esse
mesmo contrato relegava-os ao estatuto de membros dessemelhantes e inferiores
da sociedade hierárquica e desigual da Angola portuguesa.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Para Pepetela a fronteira racial existente em Angola teria ficado mais evidente
quando deixou Benguela e foi dar continuidade aos seus estudos em Lubango,
cidade de maioria branca. De acordo com o escritor, lá as crianças negras ‘recebiam
tratamento diferenciado, sendo mais vigiadas e castigadas em sua disciplina”.
Portanto, para o escritor angolano, a vivência frente à essas diferenciações raciais
existentes em seu país, vão marcar as suas posições como intelectual. Os debates
acerca da questão racial estarão presentes na maior parte de suas obras, ressaltando,
sobretudo, o racismo do período colonial, mas apontando para os problemas
enfrentados pela sociedade angolana no período anterior e posterior a
independência. Essas primeiras percepções sobre o social influenciarão a sua
escrita, trazendo problemáticas que levarão ao desenvolvimento de uma concepção
nacionalista baseada na integração racial. A partir destas questões, o objetivo da
presente comunicação é problematizar as representações sobre raça e nação em
Angola a partir de alguns romances de Pepetela, destacando, sobretudo, a complexa
relação social que envolve os seus personagens.
518
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
519
ST 53. Políticas públicas no Brasil:
trajetórias e debates
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Neste trabalho busca-se realizar uma análise crítica acerca do instituto da tutela
jurídica no ordenamento brasileiro destinado aos “loucos” e, mais especificamente,
avaliar as possibilidades e limites do Programa de Atenção Integral ao Louco
Infrator (PAILI) em Goiás no período compreendido entre 2006 e 2019. Segundo
a Portaria Nº 019/2006-GAB/SES, o PAILI foi criado considerando a Lei nº
10.216/01, a resolução nº 5 do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, de 4 de maio de 2004, as propostas da III Conferência Nacional de
521
Saúde Mental e o relatório do Seminário Nacional para Reorientação do Hospital
de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. Nessa linha de tempo, a problemática
subjacente ao tema central diz respeito à própria regularidade do serviço, dinâmica
e funcionamento do PAILI. Então, caberia perguntar: O modelo tradicional de
tutela jurídica do louco infrator foi superado? Os interesses individuais e coletivos
foram respeitados? E a pergunta-chave: que benefícios reais o PAILI trouxe para
pacientes e familiares? A hipótese é que a inserção de direitos fundamentais sociais
tem por base a igualdade real de oportunidades aos diversos segmentos sociais,
inclusive do louco infrator, vindicando a realização de políticas públicas como
instâncias de acesso e de bem estar psicofísico social da pessoa. Para fundamentar
teoricamente esta pesquisa recorreu-se a Delgado (1992), As razões da tutela;
Gonçalves (2012), Tutela de interesses difusos e coletivos; Silva (2010), O desafio
colocado pelas pessoas em medida de segurança no âmbito do Sistema Único de
Saúde: a experiência do PAILI-GO; Soares e Diniz (2016), Os serviços
substitutivos em Saúde Mental e as alternativas à lógica manicomial: O Programa
de Atenção Integral ao Louco Infrator (PAI-LI) como prática inovadora; entre
outros. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa teórico-empírica
realizada a partir de diversas fontes bibliográficas, documentais e eletrônicas por
meio de uma abordagem multidisciplinar abrangendo tanto os aspectos históricos
quanto os jurídicos. Entre os resultados, espera-se que o acompanhamento de casos
concretos possa evidenciar – ou não – a necessidade de adequação das políticas
públicas.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O objetivo deste texto é analisar o decreto 8469 de 2015 que se trata da justificativa
para a implantação da gestão da educação básica compartilhada com Organizações
Sociais em Goiás. O governador do estado, Marconi Perillo (PSDB) apresenta, no
referido decreto, um discurso que eleva a educação privada e reduz a educação
pública. Nesse discurso aponta que a educação básica tem muito o que melhorar e
a iniciativa privada torna-se um exemplo a seguir ou pode prestar o devido serviço
para a melhoria do segmento público. Constatamos que, em vários casos, os
mesmos professores atuam nas instituições públicas e privadas. Também, que a
precariedade da escola pública, que sofre com a falta de valorização do professor,
falta de incentivo para gestores, falta de estímulo para alunos e professores, falta
de material que possa atender às necessidades educacionais e melhores estruturas
físicas da escola é responsabilidade do Estado que se exime da responsabilidade e
sinaliza para uma culpabilização dos profissionais do segmento público. A questão
metodológica que conduz essa pesquisa é a análise documental com vistas a uma
crítica social e análise do discurso de profissionais que atuam nos dois segmentos,
público e privado, para uma comparação com o discurso do governo.
Até o início do século XX a surdez era vista apenas por uma perspectiva clínica, o
surdo era pensado como incapaz de adquirir autonomia, moralmente incompleto,
do qual era necessário tutelar e ensinar a pensar e comportar se. Nos anos
subsequentes houve grandes avanços quanto ao entendimento do surdo e da surdez
como uma diferença, lutas foram travadas em diversos meios: acadêmico, escolar
e social, buscando incorporar uma nova ótica que perceba o surdo como indivíduo
ativo na sociedade, porém, este ainda é um espaço em disputa. Se de um lado a
virada do século XX para o XXI é um marco da confirmação hegemônica do
capitalismo neoliberal que precariza os direitos trabalhistas e sociais e
consequentemente amplia a exclusão; por outro, este foi o momento de crescimento
do debate acerca do diferente na educação, do direito ao acesso e permanência de
grupos historicamente marginalizados ao ensino, incluindo os Surdos. As
Declarações Mundial de Educação para todos e de Salamanca, assinadas por
diversos países incluindo o Brasil, são marcos da significativa ampliação do
discurso em prol da inclusão. Em meio ao crescimento desse discurso e da
visibilidade internacional dos movimentos de universalização do acesso ao ensino
básico, o Brasil inicia um processo legislativo em diferentes setores da educação:
gestão, currículo, avaliação entre outros, incluindo o que aqui referenciamos: a
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A presente pesquisa se propõe, numa vertente geral, navegar sob a crise política
governamental e sob o sistema político nacional brasileiro contemporâneo, de
forma clara e objetiva, exibindo seus efeitos e suas configurações na política social,
institucional e principalmente, na política educacional (âmbito este que se encontra
visivelmente assoberbado e inserto). Com isso, será possível sinalizar a influência
da mídia a partir da segunda metade do século XX, principalmente a televisiva, que
se mantém incisiva neste tortuoso período em relação as questões políticas, e assim,
como essas informações são absorvidas pelos diferentes grupos que compõe a
sociedade brasileira. Por fim, analisar como as crianças e jovens de uma faixa etária
de 10 a 15 anos assimilam e filtram as informações explícitas e divulgadas
diariamente pelos diferentes tipos de mídias, nos grupos familiares e nas
instituições de ensino sobre a atual situação política do Brasil contemporâneo, esse
estudo será desenvolvido num recorte temporal de 10 anos (2008 a 2018). Como
metodologia geral, será realizado inicialmente um levantamento bibliográfico, com
leituras de teses, artigos e livros referenciados a proposta de estudo, em sequência,
será realizado ainda um estudo de campo, com aplicação de questionários a alunos
de 8º e 9°ano, com perguntas básicas sobre o atual cenário político do Brasil do
século XXI.
526
Uma floresta dentro da disputa do legal e ilegal: as várias facetas e desafios do
Mutirão de Reflorestamento na recuperação ambiental da Mata
Atlântica - Caroline dos Santos Souza (UERJ-FFP)
Este trabalho tem por objetivo analisar os desafios que englobam o Mutirão de
Reflorestamento, projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro, tendo em vista o processo
de recomposição da Mata Atlântica. A relação entre comunidade e Estado, os
deslizamentos de encostas, as relações de trabalho e o ecoturismo são peças
norteadoras da discussão. Neste trabalho usaremos como fontes as tabelas de
produtividade, gráficos e depoimentos tanto dos técnicos da prefeitura quanto dos
mutirantes que vão ilustrar o projeto na comunidade.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
527
ST 54. Por um século XIX ampliado:
constituições e modernizações de
práticas e saberes diversos
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
lançou mão da distopia futurista para tratar de temas e questões relacionadas ao seu
tempo histórico e às suas próprias idiossincrasias. Nesse sentido, as distopias
alegóricas de Wells contribuem para interrogar epistemologicamente as aspirações
utópicas de alguns dos chamados “neologismos” da modernidade, como o
capitalismo e o comunismo, e sua inevitável relação com a dimensão temporal. Na
ficção de Wells, pode-se compreender que esses termos e ideias são empregados
de forma paradoxal, ora como um modelo de utopia, ora como o seu avesso, a
distopia, sendo ambos localizados no futuro.
Em meio a curiosidade que rege o ser humano, estava Ladislau de Souza Mello e
Netto. Ao longo de sua jornada como diretor do Museu Nacional, o botânico
revelava alto interesse pela ciência em outros campos que não aquele de sua
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
534
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
535
ST 55. Práticas de parcerias e
epistemologia interdisciplinar: sobre
história do poder, das instituições e
das ideias políticas
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
II e a leitura mais amena, embora transpassada por interesses estratégicos, que ele
faz do império e reverbera em seu país, sobretudo a partir do La Nación, jornal por
ele fundado em 1870. No Brasil, o Jornal do Commercio, envolvido na defesa dos
interesses do império no Prata, também noticia o episódio em tom ácido contra o
país vizinho. É nesse sentido que os periódicos ganham destaque neste breve artigo,
em especial entre os anos de 1871 e 1872, embora outras fontes também possam
ser utilizadas. Pensamos, assim, de um lado, o olhar de Mitre sobre o Império e seu
papel neste momento de acirradas disputas políticas e territoriais, e de outro, a
forma como o Jornal do Commercio entende o conflito com a Argentina e a
chegada do seu representante no país. Lembrando que, por aqui, o jornal também
apresentou nas últimas décadas da monarquia um tom mais ameno nas referências
à república vizinha, como fez o La Nación no mesmo período em relação ao
império brasileiro. Acreditamos que estas relações e a aproximação de Mitre com
o Brasil tenham possibilitado que, décadas depois, ele fosse apropriado como
argumento de autoridade na defesa da ruptura com antigas rivalidades e da
integração entre Brasil e Argentina por meios diplomáticos, institucionais e
históricos.
diametralmente opostas. Não por acaso, e em pouco tempo, Les Temps modernes
constituíram-se como privilegiado observatório mundial das publicações da
intelectualidade de esquerda dedicada ao estudo crítico de temas e problemas
contemporâneos da literatura, da filosofia, da história e da política. No entanto,
neste trabalho, objetiva-se estabelecer as posições políticas de Les Temps
modernes relacionadas ao Terceiro Mundo, a partir da análise de seus editoriais e
dossiês temáticos. A principal hipótese de trabalho considera que as posições
políticas de Les Temps modernes sobre o Terceiro Mundo têm um fundamento
histórico-social (segundo a perspectiva goldmanniana). Nessa esteira, pode-se
distinguir duas fases bem distintas na evolução da revista. A primeira fase
corresponde à trajetória de Sartre e, historicamente, com o processo de
descolonização, a emergência do Terceiro Mundo e as expectativas da revolução
social tricontinental. Eis o “período sartriano” (1945-1980), anti-colonialista e anti-
imperialista, sem dúvida, o mais engajado do periódico. A segunda fase
corresponde à direção assumida por Claude Lanzmann, após a morte de Sartre e,
do ponto de vista do contexto histórico, com o fim do “terceiro mundismo” e do
“socialismo real” e a imposição da agenda neoliberal em escala global. Eis,
portanto, o “período lanzmanniano” (1980-2016) durante o qual uma mudança na
periodicidade da publicação da revista terá impacto decisivo. Anteriormente
mensal, seus números serão bimestrais, trimestrais e até quadrimestrais. Na prática,
isso significa que ela se torna incapaz de registrar e de se posicionar sobre os
eventos históricos no momento em que eles se manifestam. Sendo assim, o
periódico adotará uma linha político-editorial que abandona suas características
539
originais e contradiz os objetivos inicialmente projetados por Sartre e pelo seu
núcleo diretor.
Esse trabalho busca analisar a construção mítica da figura de Rui Barbosa tendo
como fonte histórica primaria as imagens de seu enterro em 1923. As imagens de
arquivo serão trazidas para demonstrar o esforço de manutenção da memória de
Rui Barbosa e em seguida vamos localizar este personagem na história nacional e
avançar nas interpretações históricas no que tange a sua contribuição para a
formatação do Brasil republicano contidas na Constituição republicana escrita por
ele em 1891 e outorgada pelo Marechal Floriano. A hipótese de trabalho é observar
no culto da memória de Rui Barbosa o escamoteamento da permanência dos
mecanismos políticos autoritários de dominação por ele defendido e transmutado
em normas jurídicas.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O presente trabalho tem como objetivo central discutir até que ponto a Constituição
de 1988 marca o fim da censura no Brasil. Recortando o período compreendido
entre 2000 e 2010 e utilizando como fonte o Jornal do Brasil, além da legislação
da Classificação indicativa instituída no lugar da censura e em vigência até hoje,
buscamos mostrar que ao contrário dos períodos em que vivíamos uma ditadura, e
que contávamos com uma censura pública, acreditamos que na Nova República
foram desenvolvidos novos mecanismos, mais discretos e indiretos, de censura.
Essas práticas se manifestam na perseguição a autores e obras sob forma de
processos judiciais, em leis de regulamentação do que pode ser ou não considerado
um insulto, no controle dos incentivos culturais e artísticos, que impedem amadores
de produzir sem apoio governamental, e cumprem o papel de definir o que é “moral
e correto” para a sociedade e/ou governantes. Tais práticas configuram uma
censura insubstancial, indireta.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
província. Naquele momento, o Ceará que era considerado como periferia - como
analisamos a partir da relação de centro e periferia trabalhada por Carlo Ginzburg-
passa a ser o centro das atenções do Império, tornando-se exemplo a ser seguido
não só pelas províncias próximas mas também pelas províncias do Sul, com seus
abolicionistas mantendo contato constante com os abolicionistas da Corte, com
trocas de informações e táticas de atuação próprias dos movimentos sociais de
então, como analisamos a partir de Tzvetan Todorov e Angela Alonso. Dessa
forma, o Ceará de certa forma dita o percurso do movimento abolicionista, que as
outras províncias buscam seguir, invertendo a relação de centro e periferia ao longo
do movimento e em seu desfecho, quando torna-se realmente um exemplo a ser
seguido pela forma pacífica com a qual se deu, ponto inclusive ressaltado pelos
próprios abolicionistas cearenses. Posteriormente, a historiografia cearense,
principalmente aquela escrita pelo Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico
do Ceará, buscou destacar aquele fato como o principal acontecimento da sua
história, baseando boa parte da sua identidade regional no fato de ter sido a primeira
província a libertar os escravos no Brasil. Dessa forma, buscamos entender todo
esse processo de escrita da história e formação dessa identidade regional cearense
baseada no movimento abolicionista, desde seu princípio, no desenrolar dos
acontecimentos, quando os abolicionistas já buscavam definir a memória que
desejavam que fosse legitimada para a posteridade; até o trabalho do próprio
Intituto do Ceará em reforçar esses elementos e costituir de fato a imagem da Terra
da Luz.
549
Pensamento político e econômico no Império Luso-Brasileiro: José Acúrsio
das Neves e José da Silva Lisboa (1798-1832). - Jônatas Roque Mendes
Gomes (UFF)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
consideração o diálogo entre a obra e seu tempo, bem como as relações que
marcaram a subjetividade do seu autor. O fato de José de Alencar ter sido filho de
padre, que lhe custou tal apelido, está ligado ao fato de seu pai ter se mantido padre
com os poderes que a batina lhe dava, e também pela Igreja ter poder de estabelecer
que tipo de relação poderia ser considerada matrimônio. Entendemos que não foi
obra do acaso Alencar ter lutado contra o celibato, por exemplo. Para as peças que
ora analisamos, questionamos o seguinte: José de Alencar tentou de alguma
maneira desafiar o jogo social no tocante ao casamento? Essa pergunta nos ajudará
na condução dessa primeira incursão nesses textos, sobretudo pelo fato de o Brasil
ter experimentado durante o século XIX algumas vivências da modernidade
europeia, com relevo para aquelas pertinentes aos bens materiais. É preciso dizer
nessa parte introdutória que há uma defesa da cultura jurídica brasileira (com
ênfase no direito penal que privilegia o fato de a própria pessoa confessar seu crime
como parte da punição - penitência) e seu caráter autoritário, excludente, fundado
em práticas inquisitoriais (que também usavam a tortura física como instrumento
de obtenção de prova). Queremos, com isso dar espaço para investigarmos tais
peças como possíveis leituras do direito no Brasil. Essa observação se faz
necessária pelo fato de a peça fazer um julgamento de uma personagem em praça
pública. Há uma defesa por parte do autor da seguinte questão: punir uma pessoa
faria bem a ela, derivando daí uma suposta busca pela recuperação de uma pena
interminável e intermitente.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
553
ST 56. Rural no Brasil: História &
Parcerias
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
João Goulart (1961-1964). Para isso, se concentra nas representações sobre a noção
de "cubanização" do Brasil e sua relação com o mundo rural, a partir da análise de
temas como as Ligas Camponesas e as visões sobre a região Nordeste. Tal discurso
serviu para desqualificar movimentos sociais no campo e foi utilizado para
legitimar o golpe de 1964.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O sistema de morada é analisado dentro das ciências sociais como um conceito para
denominar a complexa relação entre patrões e trabalhadores rurais assalariados que
estabeleciam sua moradia dentro das propriedades dos empregadores. Em parte da
historiografia convencionou-se falar que este sistema perpetuou-se, na Zona da
Mata de Pernambuco, até a década de 1950, momento no qual se deu início o
processo de contínua expulsão dos trabalhadores de suas casas. Tais trabalhadores,
instalados precariamente em cidades próximas às fazendas, passaram então a ser
chamados de pontas de rua. Contudo, outros estudos, especialmente na área da
antropologia, apontam que grande parte dos trabalhadores dos engenhos e usinas
de cana permanecia, ainda da década de 1970, morando nos locais onde
trabalhavam. Este artigo tem como objetivo discutir o tipo de morada observado na
Zona da Mata de Pernambuco, especificamente nos engenhos da cidade de Goiana,
em meados e fins da década de 1970. Tal fenômeno, apesar de guardar semelhanças
com o sistema de morada que existiu até a década de 1950, apresenta características
e questões muito específicas, que explicita um tipo específico de exploração
patronal e que está ligado também ao contexto de autoritarismo político pelo qual
passava o Brasil. A partir da análise de processos trabalhistas da Junta de
Conciliação e Julgamento do município de Goiana e de entrevistas com
trabalhadores rurais realizadas na década de 1970 pela antropóloga Lygia Sigaud,
é possível apontar questões e debater sobre as similitudes e diferenças entre estes
dois acontecimentos, criando assim novas interpretações e novos entendimentos
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O objetivo do trabalho é apresentar fontes que foram produzidas pelo SNI entre
1968 a 1985 e que apresentam questões de conflitos relativos a posse da terra na
Amazônia a partir do olhar da espionagem do governo. Nesse período a Amazônia
foi alvo de múltiplas intervenções dentro de um projeto de integração nacional que
a pensava com um olhar de fora, mobilizando excedentes populacionais de diversos
estados e abrindo a região aos interesses do grande capital nacional e internacional.
Dentro de um cenário de conflitos no mundo rural que se espalhavam por todas as
regiões do país, parcerias foram firmadas no governo com a intenção de propor
soluções e tentar dirimir problemas. Tal parceria ficou conhecida no alto escalão
do governo como “Grupo de Trabalho Interministerial” (GTI) instituído através da
Portaria Secreta 325-B/74 e composto por funcionários indicados pelos ministros
das principais pastas. Os trabalhos eram coordenados pelo Ministro da Justiça e a
coleção de 51 atas de reuniões fazem parte do fundo de “Questões Fundiárias”,
uma vez que grande parte delas discutem questões relativas ao mundo rural
brasileiro e questões fundiárias. Em síntese, é possível afirmar que o principal
objetivo do GTI era a elaboração de um diagnóstico preliminar, a fim de que fossem
traçadas linhas de ação do respectivo programa e que fosse realizado o
levantamento das áreas onde ocorriam com maior frequência e de forma mais grave
os conflitos sobre a propriedade de terras. Entre outras questões levantadas através
da parceria entre os ministérios é possível citar o registro de um processo, datado
559
de 05/09/1974, que foi encaminhado por Ronaldo Rabello de Brito Poletti ao
Ministério da Justiça, abordando questões referentes à atuação de grupos
econômicos que se empenhavam, desabridamente, na venda de terras de domínio
da União, segundo essa documentação, tais grupos mantinham escritórios, filiais
ou agentes que operavam em vários pontos do território nacional, captando uma
clientela incauta constituída em imensa maioria por lavradores, anunciavam e
vendiam lotes e glebas que não lhes pertenciam, situadas em maior parte na
Amazônia legal, estimulando migração tumultuária e a ocupação irregular de
extensas áreas, provocando um sem número de problemas, a começar pela
perturbação da atividade dos órgãos de governo, o que inviabilizava toda tentativa
de racionalização do uso da terra. Outras documentações correlatas que fazem
referências a questões envolvendo a região amazônica, e que foram produzidas fora
do GTI, no ano de 1974, também compõem a série de “Questões Fundiárias”,
denotando a capilaridade de atuação dos órgãos de investigação junto à
administração pública, firmada a partir de parcerias que muito falam sobre o rural
no Brasil e em especial na região amazônica.
Este trabalho visa analisar a conquista territorial nos sertões à oeste da Comarca do
Rio das Mortes, Capitania de Minas Gerais, entre os anos de 1740 a 1808. A partir
da descoberta dos veios auríferos, esta região atraiu um número significativo de
indivíduos desejosos pelo metal precioso. Entretanto, outras práticas foram se
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Por meio das reflexões do engenheiro militar Henrique Beaurepaire Rohan (1812-
1894), este trabalho discute como as propostas para a organização do espaço rural
no Oitocentos estavam relacionadas com tentativas de reforma na lavoura brasileira
e na estrutura da grande propriedade. O Visconde de Beaurepaire Rohan atuou ao
longo de todo o Segundo Império na direção de obras públicas, na construção de
estradas, em atividades de mapeamento e exploração do território em diferentes
regiões. Assumiu ainda funções administrativas no governo Imperial e no
Comando do Exército, além de participar de agremiações e sociedades como o
IHGB e a Sociedade Central da imigração. A partir de suas experiências, elaborou
uma série de textos e relatórios que versaram principalmente sobre temas ligados
ao campo da engenharia e ao território, discutiu também questões como a
escravidão, a lavoura e a imigração. Nesta comunicação, pretende-se analisar como
as propostas elaboradas pelo autor, direcionadas para o abolicionismo, para a
assimilação de trabalhadores livres e criação de colônias agrícolas, eram pensadas
de acordo com a organização do território, a modernização das técnicas agrícolas e
modificações na estrutura da grande propriedade. Matérias examinadas por ele em
trabalhos como “O futuro da Grande lavoura e da grande propriedade no Brasil”
(1878) e “Emancipação do elemento servil considerada em suas relações morais e
econômicas” (1883), nos quais o argumento moral era fundamental. Busca-se ainda
relacionar estas questões com seu ofício de engenheiro, considerando seu
engajamento político enquanto membro desta categoria de profissionais. O que nos
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A Lei nº 601, de 18 de set. de 1850, que dispôs sobre as terras devolutas do Império,
promulgou em seu 13º artigo a obrigatoriedade do registro das terras possuídas no
Brasil; e o capítulo IX do Decreto nº 1.318, de 30 de jan. de 1854, regulamentou
sua execução por freguesia nas paróquias do Império. Atualmente, estes registros
tornaram-se fontes indispensáveis para a pesquisa em História da Propriedade
Brasileira e encontram-se conservados em Arquivos do Poder Público. Proponho
568
realizar uma investigação sobre suas dimensões teórica e metodológica, e
apresentarei os resultados iniciais da pesquisa sobre os registros das terras
possuídas de Lages, município correspondente à região do Planalto de Santa
Catarina no século XIX.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
569
ST 57. Uma Idade Média para o
século XXI – parcerias e colaborações
acadêmicas na escrita da História
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O culto ao menino de dois anos e meio, que morreu na cidade de Trento na semana
santa do ano de 1475, se formou a partir de uma estrutura narrativa da lenda de
570
crime ritual. As relações de conflito entre cristãos e judeus tornam-se mais
frequentes a partir do século IXI e alcançam o seu ápice na Baixa Idade Média.
Esta apresentação demonstrará como a importância atribuída ao dogma da
transubstanciação está associada com a devoção do beato Simão de Trento. Bisca-
se provar também como a narrativa escrita e imagética se constituíam como um
meio de rememoração das dores simonianas aos fiéis deste pequeno mártir
Esta apresentação contempla uma análise das livrarias dos dois mosteiros mais
influentes, no que diz respeito à cultura letrada, durante a Idade Média portuguesa,
o de Santa Cruz de Coimbra e o de Santa Maria de Alcobaça. Busca-se um
inventário pormenorizado das obras com o objetivo de compreender quais eram os
exemplares e que alcance eles tiveram dentro de um reino português que
necessitava, cada vez mais, de preservar sua história, honrar seus monarcas e a
família real e reafirmar seu poder e sabedoria. Pretende-se demonstrar como este
tipo de pesquisa cuja temporalidade é a Idade Média jamais seria possível sem um
trabalho interdisciplinar. As áreas de Comunicação, Sociologia, Letras, Filosofia,
Arquivologia e Biblioteconomia são de suma importância para o estudo dos livros
na passagem do período medieval para o período moderno e constituem importante
exemplo de como é necessário mais parcerias e colaborações acadêmicas na área
de ciências sociais e humanas.
em 1415, que garantiu a legitimação da nova dinastia ao trono. Após sua morte em
1422, seu filho Henrique VI com apenas nove meses de idade torna-se rei, iniciando
um contexto de extremas instabilidades, primeiro pelas brigas em torno da regência
e mais tarde, a eclosão da Guerra das Rosas entre Lancaster e York. O contexto
Lancaster foi marcado pelas guerras e embates pela legitimação do poder régio,
autoridade real e manutenção da ordem, sendo também uma era privilegiada para
a construção da imagem régia e construção da identidade inglesa. Em meio a tais
questões, multiplicou-se o número de crônicas, biografias sobre reis, contos e
poemas, muitos também feitos sob solicitação da monarquia. Nessas fontes
observamos os usos de narrativas do passado como instrumento de justificação do
presente, predileções de um futuro, como também uma forma de legitimar ou não
reis. O passado tornou-se um instrumento essencial na construção da imagem régia
inglesa no final da Idade Média, une elementos de uma tradição regional, histórica
e mitológica acerca da Inglaterra. Engloba ainda o passado da Cristandade e suas
heranças greco-romanas e céltico-germânicas, além, é claro, da influência das
narrativas bíblicas. Nesta comunicação, visamos apresentar as primeiras reflexões
acerca da importância das narrativas do passado para os cronistas do século XV,
na construção de uma memória de uma dinastia. É parte dos primeiros
questionamentos de uma pesquisa de Doutorado em fase embrionária. Tem-se um
foco teórico-metodológico em autores, sobretudo britânicos, que discutem de
alguma forma a questão do tempo e o poder régio na região no final do medievo.
Além claro, primordialmente, as crônicas do século XV. Discute-se os diálogos, as
possibilidades e novas formas de pensar o poder régio inglês.
573
Ensaios sobre uma Idade Média Oriental: Diálogos e parcerias acadêmicas na
construção de uma historiografia árabe medieval no século XXI - Dandara
Arsi Prenda (Universidade Federal Fluminense)
Lugar de troca, de grandes festas, dos especialistas, das feiras, do acúmulo, dos
negócios e do ócio, berço de uma nova lógica que foge a muitos valores feudais, a
cidade medieval é prenhe de significados e sentidos. Projeção do que se entende
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Ao longo das transformações profundas que tem lugar nos séculos XII e XIII, na
Europa, uma delas pode ser atestada em sua concretude: a mudança arquitetônica.
Nesse período, para além da intensificação no uso da pedra para a construção dos
edifícios de culto, há uma mudança muito mais sensível, de estilo, o advento do
gótico. A proposta do estudo é, portanto, tomar a Catedral de Chartres - um
exemplar do estilo gótico medieval e que abriga o maior conjunto de vitrais do
século XIII - em sua materialidade e, focalizando as representações dos ofícios
medievais nos vitrais doados pelas corporações da cidade, estabelecer relações
identificáveis entre a construção arquitetônica e as ideologias e mentalidades do
período e aproximar-se dos mecanismos internos de organização da sociedade, de
como ela se pensa, organiza, age e muda, concebendo a sociedade como produto
da ação humana e, portanto, as formas segundo as quais o homem continuamente
cria e recria a sua realidade. Considera-se a catedral em sua totalidade, como um
575
objeto, um artefato, uma fonte material dessa pesquisa. Sua construção “é o
resultado inegável da ação humana sobre a realidade física” inseparável de seu
contexto. Portanto, as representações contidas em seus vitrais são “uma espécie de
resíduo físico das relações sociais” . A catedral é o coração dentro do corpo
citadino, o locus da Concórdia, ela também uma representação do corpo, mas o de
Cristo. A relação da cidade com a catedral é a da Eucaristia, do corpo de Cristo no
corpo do homem, da catedral no corpo da cidade. Essa relação tem a marca da
transcendência, da comunhão entre o céu e a terra, do encontro da Jerusalém celeste
com a cidade dos homens, onde tem lugar a Eucaristia, a comunhão do material e
o imaterial que é o ponto máximo dessa relação entre o físico e o espiritual. A
catedral além de representar um espaço ordenado do Cosmos segundo dons,
hierarquias e lugares, mostra também através dos ofícios o aspecto funcional deste
espaço de trocas, o corpo unitário da cidade.
Afonso X, rei de Castela e Leão (1252-1284), foi um dos monarcas mais marcantes
do medievo e seu legado perdura até hoje – principalmente no campo da cultura
escrita. Mas nem sempre o rei sábio foi um tema historiográfico popular como nas
últimas décadas, nas quais diversos trabalhos (sobre os mais variados aspectos de
sua biografia e de seu reinado) vêm sendo desenvolvidos não apenas na Península
Ibérica, e com menos força em França e Inglaterra, mas também no além-mar da
Europa, como no Brasil e na Argentina. Assim, esse trabalho visa debater o mito
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
afonsino que foi construído pela historiografia sobre o rei sábio, muitas vezes
buscando consolidar conceitos contemporâneos como propaganda régia,
tolerância, alteridade, poder simbólico e identidade nacional – um legado polêmico
e de longuíssima duração.
No campo da História, a parceira com outras áreas do saber têm sido uma constante
na tentativa de encontrar novas evidências e questionamentos sobre documentos e
fatos já conhecidos. Assim sendo, conceitos como tempo, espaço e a visão da
cidade estão em pauta por meio da conversa da História com disciplinas tais como
a Filosofia, Geografia, Antropologia e Arquitetura. Pesquisadores sustentam-se na
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
afirmativa de que tempo e espaço são categorias que devem ser analisadas como
termos pertencentes a processos históricos. Sob o ponto de vista de tais categorias,
os eventos encontram a sua raiz e só podem ser separados por via de abstração.
Deste modo, identificamos na cidade um denominador importante de tais
discussões pois, na medida em que se efetivam as relações humanas em ambientes
que os antepassados construíram monumentos, em que destacaram fatos históricos
e edificaram o cotidiano, coloca-se em cena a ferramenta da memória, tão essencial
para a construção dos conhecimentos históricos. Nesta comunicação temos por
objetivo demonstrar como as demais áreas do saber têm ajudado historiadores a
compreenderem e ressignificarem categorias já conhecidas dos estudos históricos,
em especial em relação à Idade Média. Apresentaremos como Jacques Le Goff,
Aaron Gourevitch, Jean-Claude Schmitt, Henri Pirenne, Luís Krus e outros já se
lançaram na tentativa de ressignificar os acontecimentos e as memórias por meio
da investigação das temporalidades e do espaço na medievalidade. Por fim,
apresentaremos como tais pesquisas encontram terreno fértil de análise nas
conjecturas sobre a cidade medieval e nas ações dos segmentos sociais que a
compunham nos séculos XIV e XV.
Uma Idade Média 2.0: Parcerias virtuais para o ensino de história medieval
no Brasil - Douglas Mota Xavier de Lima (Universidade do Oeste do
Pará), Mariana Bonat Trevisan (UNINTER/UNIANDRADE)
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
579
ST 58. “A classe trabalhadora vai ao
paraíso?” O Ensino de História e
diferentes sujeitos em processos
formais e não formais de
escolarização.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Com base em entrevistas feitas durante e depois das ocupações da rede estadual do
Rio de Janeiro, busco compreender quais modelos de escola foram propostos pelos
estudantes e o que mudou após aquela experiência. O conceito de Skolé pensado
por Masschelein e Simons e a ideia de espectro de Derrida são os pontos de partida
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
para essa reflexão. Nos interessa discutir sobre as transformações que ocorreram
para os estudantes e professores dessas escolas, pensando sobre liberdade e
autonomia para ambos dentro do espaço escolar.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O elemento motivador para a escolha desse tema partiu da minha experiência como
professora de História num Centro de Educação de Jovens e Adultos, a Rede CEJA,
na cidade do Rio de Janeiro. Essa rede consiste em unidades escolares estaduais
que oferecem o ensino Fundamental (anos finais) e Médio, em regime
semipresencial na modalidade de Educação a Distância. A origem do CEJA
remonta aos Centros de Ensino Supletivos (CES) que foram fundados a partir de
1970. Os CES pretendiam ser uma alternativa para que alunos trabalhadores que
tinham abandonado o universo escolar ou nem mesmo iniciado a sua vida escolar
pudessem concluir seus estudos. Assim esses alunos encontravam no ensino
supletivo uma via compensatória para o ensino seriado regular. Essa concepção de
suplência ou de reposição a partir da Nova LDB – Lei n 9394/96 cai em desuso. A
constituição de 1988 reforça o conceito de Educação como um direito assegurado.
A história recente desses Centros reforça essa reformulação pois a Resolução n◦
4673/2011 publicada 25 de fevereiro de 2011, pela Secretaria de Educação do
Estado do Rio de Janeiro, SEEDUC-RJ que alterou a nomenclatura Centro de
Estudos Supletivos (CES) para Centro de Estudos de Jovens e Adultos (CEJA) e
estabeleceu uma parceria entre o Centro de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio
de Janeiro, Fundação CECIERJ e a SEEDUC-RJ para a gestão da referida Rede.
Um dos aspectos inovadores dessa reformulação foi a questão da tecnologia que
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
passou a estar presente no cotidiano escolar da Rede CEJA, por exemplo, quando
professor utiliza o Sistema Acadêmico , ou quando um aluno se conecta com um
professor através de um fórum de duvidas disponível CEJA virtual – Plataforma
on-line, na qual se localiza o Ambiente Virtual de Aprendizagem, instalado na
Plataforma Moodle. Contudo, deve se analisar até que ponto essa mudança tornou
possível uma ressignificação da concepção inicial desses Centros de Estudo.
práticas de oralidade e letramento neste processo formativo dos alunos. Para este
artigo analisaremos a produção da monografia de conclusão de curso. Utilizaremos
como indício as entrevistas realizadas com os professores/alunos que concluíram o
curso em 2016.2. O Decreto n.º 6.775, 29 de janeiro de 2009, instituiu a Política
Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica e
disciplinou a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), no fomento a programas de formação inicial e continuada. O
PARFOR possibilitou a entrada de um perfil de professores/alunos possuidores de
marcas identitárias e saberes acumulados ao longo de seus percursos no mundo da
vida e do trabalho sobre práticas de letramento diferenciadas dos alunos que
tradicionalmente ingressam na universidade. Esses professores/alunos carregam,
portanto, saberes que possuem concepções sobre validade e pertinência relativas às
práticas de oralidade, leitura e escrita. No processo de formação na graduação,
essas pretensões são questionadas e tensionam as tradições letradas constituídas na
universidade, abalando as certezas cristalizadas em alguns segmentos acadêmicos.
As tensões geram verdadeiras rachaduras epistémicas-pedagógicas, mais
evidenciadas em algumas licenciaturas que outras. Vale ressaltar que as práticas
pedagógicas, no âmbito acadêmico e nas Ciências Humanas, são marcadas pela
fala, pela leitura e pela escrita. No entanto, diferente das produzidas pelos
professores/alunos, são práticas de letramento que, ao longo do tempo, se
constituíram como legítimas e válidas na difusão do conhecimento gerado na
universidade e na formação por ela efetivada. Nesse sentido, a pesquisa que
fundamenta este artigo busca dialogar com os dois níveis da educação brasileira, a
586
Educação Básica e a Superior, já que a formação de professores se caracteriza como
um lugar de transmissão e consolidação de práticas letradas, as quais podem ora
promover a emancipação de indivíduos e grupos sociais, ora agravar as concepções
de letramento de caráter elitista e excludente e se configurar como um instrumento
de manutenção hegemônica do status quo.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Índice de autores
A
------------------------------------------------------------------------------------------------------------