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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

BACHARELADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS


DISCIPLINA “POLÍTICAS E SISTEMAS CONTEMPORÂNEOS DE JUSTIÇA
CRIMINAL”
ALUNA: CÁSSIA L DA FONSECA FERNANDES

Porto Alegre, 18 de junho de 2019

Resenha da dissertação de mestrado: UPP: A redução da favela a três letras: uma análise
da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, de Marielle Franco

A autora desta dissertação, nascida em 1979, foi uma foi uma socióloga graduada pela
PUC-Rio, negra, política e feminista. Como assessora parlamentar do deputado Marcelo Freixo,
eleito em 2006, teve efetiva participação na Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e
Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro no ano de 2009, onde prestou auxílio
jurídico e psicológico a familiares de vítimas de homicídios ou policiais vitimados. Eleita
vereadora na cidade do Rio de Janeiro, em 2016, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL),
foi uma figura intensamente participativa na defesa dos direitos humanos, especialmente
relacionados aos casos de abusos de violência praticados pela polícia contra moradores das
favelas do Rio de Janeiro. Defendeu sua dissertação de mestrado na Universidade Federal
Fluminense em 2014, sob o título de UPP: A redução da favela a três letras: uma análise da
política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Durante o cumprimento de seu
mandato como vereadora, foi assassinada a tiros em 14 de março de 2018, junto de seu
motorista, Anderson Pedro Mathias Gomes, no Estácio, Região Central do Rio de Janeiro. Em
2018 a dissertação de Marielle foi lançada como livro que levou o mesmo nome. A investigação
pelo assassinato da vereadora ainda não foi concluída, tampouco os responsáveis identificados.

Introdução
A autora, em sua dissertação, apresenta uma pesquisa com análise das políticas de
segurança pública do Rio de Janeiro, especificamente sobre as Unidades de Polícia
Pacificadoras (UPPS) como estratégia de segurança e controle perante a ação do tráfico de
drogas nas favelas cariocas. O trabalho também busca demonstrar que as UPPs se enquadram
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perfeitamente no projeto neoliberal, caracterizado por políticas criminais de caráter punitivo,
bem como redutor da ação de proteção social, que evidenciam e que reforçam o modelo de
Estado Penal – conceito criado pelo sociólogo francês Loïc Wacquant cujo principal aspecto é
a criminalização da pobreza, aumento do encarceramento para contenção dos insatisfeitos pelo
desmantelamento dos serviços sociais.
Entre os objetivos do trabalho, estão a comprovação de que o projeto das UPPs tem
como principal ação promover uma política reforçadora da estratificação e exclusão social dos
pobres; e que a implantação das unidades não logrou êxito na redução dos índices da violência
decorrentes da ação do tráfico de drogas nas favelas. O objeto do estudo foi a implementação
das UPPs no município do Rio de Janeiro no período de 2008 a 2013, com acompanhamento
mais específico dos resultados obtidos na Favela da Maré. A autora ressalta que durante a
realização da pesquisa, a implementação da UPP nesse território ainda estava em curso, não
sendo possível aprofundar suas atuais condições.
Inicialmente, a autora contextualiza historicamente o surgimento do Estado Penal,
através do percurso do capitalismo desde o florescimento dos ideais liberalistas no século XVIII
até o pensamento neoliberal na atualidade.
Em um segundo momento é apresentado o principal objeto do trabalho, as UPPs, e as
trajetórias de implementação do programa.
Na sequência, são apresentados o processo de militarização da favela e os dados da
pesquisa de campo.
O último capítulo destaca a iniciativa coletiva através da organização popular para
esclarecimento dos direitos, bem como deveres dos cidadãos frente a ação das abordagens
policiais.
Por fim, a autora propõe uma reflexão sobre os desdobramentos das incursões policiais,
bem como os resultados do processo de “pacificação”.

1 – Do Liberalismo ao atual Estado Penal


A autora contextualiza a temática relembrando brevemente o surgimento do liberalismo,
tanto a nível mundial como a sua apresentação na atualidade do cenário brasileiro. O
liberalismo aflora seus ideais em um período marcado pelas intensas mudanças sociais
ocorridas no século XVIII, entre a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. Essas
mudanças eram caracterizadas por um forte sentimento de liberdade individual que refletia na
organização econômica da sociedade, estimulando o desenvolvimento do capitalismo e a busca

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da maximização dos lucros individuais à maximização do bem-estar geral (SANTOS, 1978, PG
67). A visão econômica do liberalismo trazia como um de seus principais pilares o direito à
propriedade privada e ao livre comércio. O Estado não deveria intervir na economia, a não ser
para defender o direito do cidadão e o seu patrimônio, podendo para este fim agir através de
seus mecanismos de controle e repressão. As ideias liberais seguiram predominando por todo o
século XIX e fortaleceram de forma inquestionável a ideologia capitalista.
No século XX, as duas Guerras Mundiais promoveram crises econômicas nos países da
Europa, e desenvolveram nos países capitalistas um forte receio de expansão socialista, devido
à grande atuação da antiga União Soviética, que proporcionou a vitória sobre a Alemanha
nazista. A fim de atenuar os impactos sociais e econômicos gerados pela guerra, diversos países,
e de maneiras diferentes, adotaram um modelo de Bem-Estar Social caracterizado pela
intervenção do Estado atuando e desenvolvendo políticas de proteção social. Na América Latina
a implementação do Estado de Bem-Estar Social não ocorreu como nos demais países. No
Brasil se observou a criação de um modelo próprio, conhecido como desenvolvimentismo, no
qual os direitos sociais foram assimilados pela intervenção do Estado, a partir da Era Vargas
(1930-1945) até o fim da ditadura militar (1964-1985). Cumpre lembrar que a concessão desses
direitos visava mais inibir movimentos sociais do que propriamente assegurar benefícios e
combater desigualdades. Esse processo permaneceu até o início dos anos 80, período que o
restante do mundo observou o declínio do modelo de Estado de Bem-Estar Social, sob
alegações de que os investimentos do Estado em benefícios sociais paralisavam a economia; e
a consequente ascensão do modelo econômico neoliberal. No Brasil, os governos que
sucederam a ditadura militar promoveram uma abertura da economia ao capital externo, com a
consolidação do neoliberalismo na segunda metade da década de 90.
O neoliberalismo se caracteriza pelo resgate dos ideais liberalistas de livre mercado e
modernização dos serviços, não competindo ao Estado regular o processo econômico,
tampouco manter amplas ações sociais. O projeto de expansão do neoliberalismo teve como
principais impulsionadores a primeira-ministra britânica Margareth Thatcher (1970-1990) e o
presidente americano Ronald Reagan (1981-1989) que empreenderam sólidos esforços na
desestabilização e redução do Estado de Bem-Estar Social.
No Brasil, as diretrizes neoliberais encontram ressonância no Plano Diretor de Reforma
do Aparelho do Estado (PDRAE). O PDRAE criado em 1995 no primeiro mandato do ex-
presidente Fernando Henrique Cardoso, entre outras ações previa a introdução da
Administração Pública Gerencial. O novo modelo era visto como a melhor alternativa para a

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eficiência do Estado, e um de seus principais objetivos era a transferência da propriedade
pública para entes privados, promovendo a privatização de parcela dos bens públicos. Nesse
contexto, é possível perceber a intenção do modelo neoliberal de implementar mudanças para
aumento vantajoso dos lucros das instituições privadas, bem como promover a perda de um
grupo de direitos sociais e trabalhistas. O encolhimento do Estado desregulamentou o mercado
de trabalho, gerou um aumento na desigualdade social e consequentemente repercutiu em um
crescimento da miséria. A fim de conter a insatisfação dos excluídos com a nova realidade
social, o Estado promove um aumento vertiginoso do aparato repressivo, configurando a
passagem ao chamado Estado Penal, transferindo à esfera criminal a tarefa de gestão da miséria
gerada pelo neoliberalismo. Esse modelo de controle social, incrementado pelo punitivismo, é
marcado pelo policiamento repressivo nas periferias, pelo aumento de encarceramento de
pobres e negros, em com condições desumanas nos estabelecimentos prisionais e pela política
de extermínio dos excluídos e indesejados na sociedade. Nesse arcabouço, as UPPs surgiram
como uma resposta possível para os problemas urbanos e de segurança na cidade do Rio de
Janeiro.

2) O objeto e o campo
Nesse capítulo a autora disserta acerca das bases gerais da implementação das UPPs na
cidade do Rio de Janeiro, com destaque para a favela da Maré, objeto principal do estudo.
UPP é a sigla para Unidade de Polícia Pacificadora e faz parte de uma política
implementada Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro, a partir do ano de 2008, com
o objetivo de combater e desarticular o crime organizado do tráfico de drogas nas favelas do
referido estado. O projeto inicial previa uma alteração e reforma da realidade social nas
comunidades a partir do desenvolvimento de três elementos fundamentais: a mudança na
segurança pública com retomada dos territórios “sequestrados” pelo tráfico; a entrada dos
serviços públicos e a UPP Social, a participação da “sociedade civil” na integração almejada.
A autora apresenta dados que demonstram a inconsistência na implementação do
programa, como por exemplo, a divergência entre os números das unidades instaladas exibidos
pela Secretaria de Segurança Pública e os números exibidos pelo site das UPPs. O estudo
também discorre sobre as informações incompletas e a regulamentação legal que legitimam a
operacionalização do programa.
Um importante obstáculo apresentado pela autora, para o desenvolvimento do projeto é
a estigmatização da favela, até mesmo pelos próprios moradores, como um território em

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oposição ao conjunto da cidade. Carolina Maria de Jesus, escritora brasileira, negra e moradora
da favela do Canindé, em São Paulo, em seu livro “Quarto de Despejo” de 1960, descreveu
perfeitamente esse sentimento:
Em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios,
nós, os pobres que residíamos nas habitações coletivas, fomos despejados e ficamos
residindo debaixo das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de
despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos. (JESUS, Carolina
Maria, 1962, p.171)

Passado mais de meio século, podemos observar com a multiplicação de favelas e a


predominância de negros e pobres nas comunidades, que não houve mudança com relação a
essa percepção de que a favela é o depositório dos indesejados e excluídos. A negligência e
abandono do Estado nesses territórios, de certa forma facilita a entrada de traficantes de drogas
e grupos de milícias, que acabam por impor, de forma violenta e sob a ação do medo, a sua
própria ordem; obstaculizando a ação dos programas de desenvolvimento humano e social. A
ação desses grupos gera na sociedade, como um todo, uma ideia preconceituosa de que todo
morador da favela tem ligação com os grupos criminosos. Tal pensamento ocasionou nas
autoridades ações, como por exemplo, a sugestão pelo vice-governador do Estado do Rio de
Janeiro em 2004, da construção de muros de concreto em torno de algumas favelas para
contenção da violência; consequentemente promovendo mais criminalização da pobreza.
Em que pese a “imagem” das favelas estar relacionada a atividades criminosas, diversos
grupos constituíram movimentos que militam em prol de projetos educacionais, culturais,
políticos, esportivos entre outros que visam promover inclusão social e minimização dos
principais problemas. A autora afirma que a ação dos movimentos sociais possibilitou à favela
da Maré um avanço superior em termos de direitos públicos.
A autora busca uma definição para o conceito de favela, seu reconhecimento pelo
Estado, bem como o desafio que ele enfrenta para implementar o projeto das UPPs como
política diferenciada na guerra e enfrentamento ao tráfico. Ao afirmar que a verdadeira guerra
é a declarada aos pobres, a autora lembra-nos que nem as drogas ilícitas, nem os armamentos
são produzidos nas comunidades, logo as operações realizadas na favela não apresentam
efetividade na desmobilização do comércio de drogas.
A sequência do trabalho é a organização de uma UPP Social, que nada mais é do que
uma extensão dos serviços militares para outras áreas além da segurança pública, com serviços
comunitários a fim de garantir à população das comunidades acesso a elementos sociais básicos,
como deslocamento, educação e saúde.

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No decorrer de sua análise, a autora questiona a efetividade do desenho da política de
segurança, baseada em um modelo de “retomada de território” com o apoio das forças militares
seguida de ocupação permanente acompanhada de iniciativas sociais. Diversos dados coletados
em pesquisa de campo apontam que as políticas sociais, no mínimo, chegaram em segundo
plano e em determinadas regiões nem chegaram; logo, as UPPs não representaram uma
transformação profunda com a forma de lidar com as favelas. Umas das principais dificuldades
apontadas pela autora para o bom andamento da implementação das ações sociais, é a
fragmentação institucional e a falta de coordenação e comunicação entre as diferentes parcerias
e iniciativas. As ações ficaram restritas a um conjunto de eventos artísticos e esportivos,
deixando de lado outras necessidades como serviços e políticas sociais permanentes.
Em uma seção do segundo capítulo, são abordadas questões relativas aos
desdobramentos econômicos da implementação das UPPs. Entre os impactos causados pela
pacificação, estão a valorização imobiliária da região, que ocasionou um elevado aumento no
custo de vida dos moradores. A regularização fundiária de algumas áreas promoveu uma
elevação de valores para venda ou locação de imóveis em torno da região ocupada pelas UPPs;
porém em alguns casos o impacto dos custos de regularização culminou com o fechamento de
alguns estabelecimentos comerciais. Novamente aqui se evidencia a tese da autora de que o
Programa das Polícias Pacificadoras reforçou o modelo neoliberal de controle econômico, à
medida que a formalização dos imóveis e atividades empresariais permitiu ao mercado acesso
a essas zonas informais, estabelecendo bases jurídicas da propriedade territorial.

3)Militarização da favela
O terceiro capítulo é dedicado a explorar o delicado processo de ocupação das
comunidades por meio da ação coercitiva, bem como apresentar dados que comprovam que em
diversas situações houve abuso de autoridade, com violação dos direitos humanos e até mesmo
homicídios.
Conforme já mencionado, o processo de pacificação, em tese, envolve um primeiro
momento de ocupação militar de um determinado território dominado por facções criminosas,
um segundo de instalação de uma unidade de polícia comunitária permanente no território e um
terceiro que trataria de estabelecer um diálogo entre os moradores, abrindo caminhos para
entrada de serviços públicos do Estado e implementação de políticas de inclusão social. No
entanto, as incursões da polícia ocorreram em um processo extremamente traumatizante para a
comunidade, que se viu constantemente sob alvo de invasões violentas, inclusive em suas casas,

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trocas de tiros, agressões físicas e verbais e até casos de moradores assassinados durante as
operações.
A autora ilustra essas situações com a narrativa do caso ocorrido em 2 de maio de 2013,
no qual o BOPE realizou uma operação com alto grau de violência, onde um fotógrafo e um
professor da rede municipal sofreram abusos de autoridade por terem feito denúncias acerca
das ações violentas praticadas durante a operação. Ambos sofreram inúmeras ameaças e um
dos denunciantes foi obrigado a deixar o território, como medida de proteção de sua integridade
física. O caso estaria sendo acompanhado pela Comissão de Defesa de Direitos Humanos e
Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A autora também afirma que até a
conclusão do estudo, ocorriam confrontos seguidos de execuções sumárias, decorrentes de uma
operação realizada no dia 24 de junho de 2013. A operação resultou na morte de um morador e
de um sargento do BOPE, e em um conflito que durou a noite toda, culminado com a morte de
mais nove suspeitos de envolvimento com o tráfico. Novamente a autora ratifica o objetivo
principal de seu trabalho, afirmando que a ação de violar direitos e principalmente eliminar os
suspeitos reforça a tese de que as ações das UPPs fortalecem o Estado Penal.
A fim de comprovar as práticas de extrema violência, são apresentados dados que
demonstram que desde o início das UPPs alguns moradores das favelas foram assassinados.
Segundo o Instituto de Segurança Pública, ao ano de 2013, ocorreu o aumento de 16,7% nas
mortes por homicídio, 4.081 em 2012 e 4.0761 em 2013. Em que pese os números do aumento
dos índices de violência serem maiores em relação aos moradores, também houve casos de
policiais vitimados em serviço, como por exemplo o policial Alexsander de Oliveira que perdeu
as duas pernas ao ser atingido pela explosão de uma granada arremessada por traficantes.
Um dos casos de maior repercussão e amplamente divulgados foi o do pedreiro
Amarildo Dias de Souza, que desapareceu no dia 14 de julho de 2013, após ter sido detido por
policiais militares e conduzido da porta de sua casa, na Favela da Rocinha, em direção a sede
da Unidade de Polícia Pacificadora do bairro. A autora chama atenção para o fato de que não
compete à polícia militar levar suspeito para averiguação na sede de uma UPP. Seu
desaparecimento tornou-se símbolo de casos de desaparecimentos não elucidados, de abuso de
autoridade e violência policial. Uma intensa campanha se formou, com passeatas e a
participação de personalidades púbicas e certamente foi de grande importância para pressionar
as autoridades a instaurarem um processo investigativo para apuração do desaparecimento. O
MPF pediu a expulsão de quatro policiais e do comandante da UPP por improbidade
administrativa na operação Paz Armada, que resultou no desaparecimento de Amarildo. A

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repercussão do caso foi tamanha que a OAB lançou uma campanha para elucidação dos casos
de desaparecimento de pessoas, inclusive pelos desaparecidos políticos durante a ditadura.
Segundo dados do ISP entre os anos de 2007 e 2012 houve um total de 32.073 casos de
desaparecimento de pessoas, e coincidentemente o crescimento dos casos foi registrado em
áreas com UPPs.

4) A organização popular e as resistências possíveis


Na última seção de seu trabalho, Marielle destaca a organização popular através de
associações de moradores e movimentos sociais como forma de oferecer resistência aos abusos
de autoridade cometidos pelos agentes de segurança atuantes nas UPPs.
A ação de movimentos sociais como o Visão da Favela Brasil, atuante no Morro Santa
Marta, que elaborou a “Cartilha Popular de Abordagem Policial” foi de sumária importância na
orientação dos moradores sobre seus direitos e deveres durante a ocupação policial. Os
moradores da Favela da Maré também se organizaram e criaram a campanha “Somos Todos da
Maré e temos Direitos”, que orientava os moradores nos casos de violações a acionarem a
Corregedoria Militar e a Comissão de Direitos Humanos da Alerj.
A autora também levanta a questão das mudanças necessárias na política de segurança
pública, especialmente em relação à necessidade de se avaliar a desmilitarização da sociedade,
e do Estado do Rio de Janeiro em suas esferas municipal, estadual e federal. Desvincular a ação
da polícia das forças armadas, com a supressão da utilização de aparatos bélicos, como tanques,
helicópteros e drones entre outros no nas atividades de controle é de vital importância para a
manutenção dos princípios do Estado de Direito, que parece perder espaço para as ações que
caracterizam o Estado Penal. A aprovação da PEC 51 que propõe a reestruturação do modelo
de segurança pública a partir da desmilitarização do modelo policial, com possibilidade de
unificação das polícias, é apontada como um passo fundamental para promover as mudanças
necessárias para a verdadeira pacificação que a sociedade tanto almeja.

Em suas considerações finais, Marielle reafirma que até o encerramento do presente


estudo, as UPPs não se mostraram como políticas adequadas para controle da criminalidade
associada à atividade do tráfico de drogas nas comunidades. A ocupação do território não
cumpriu com os objetivos iniciais, uma vez que uma das etapas mais importantes – a
implantação da UPP Social – não saiu do papel. O despreparo das forças de segurança foi um
fator limitante muito contributivo para o aparente fracasso do programa. Todas as ações

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observadas, somente indicaram a manutenção dos princípios do Estado Penal e o reforço da
lógica do modelo neoliberal preconizado pela obtenção do lucro acima dos valores sociais.

Considerações Pessoais
Após análise do estudo da autora sobre o processo de implantação das UPPs, no período
de 2008 a 2013, é possível concluir que passados mais de cinco anos após o encerramento da
pesquisa, efetivamente não ocorreram as mudanças esperadas.
Desde o início de 2019, com a posse do governador Witzel – assumidamente apoiador
de práticas policiais violentas - os noticiários informam a ocorrência de confrontos quase que
diários. As Polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro mataram 434 pessoas de janeiro a março
deste ano, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). Foram quase cinco (4,82) mortos
por dia, recorde para o período na série estatística de 21 anos, iniciada em 1998; configurando
uma verdadeira “política de extermínio”. (Revista Exame, 14 de maio de 2019).
As estatísticas servem para corroborar a tese de Marielle, de que as atuais políticas de
segurança precisam urgentemente serem reavaliadas, uma vez que os números da violência,
principalmente de mortes só tem aumentado. Estratégias como o pacote anticrimes proposto
pelo atual presidente, cujo texto autoriza o policial a atirar contra suspeitos sob "violenta
emoção”, estimula o recrudescimento no aumento de penas entre outras medidas, e apenas
reforçam o punitivismo penal, aumentado a repressão contra o cidadão e não oferecem
expectativa de redução da criminalidade e índices da violência.
Portanto, a participação dos atores sociais, utilizando seus recursos de poder e exercendo
pressão sobre as autoridades, é imperativo para o reforço da democracia e para construção de
uma sociedade baseada em princípios de solidariedade e justiça social.

REFERÊNCIAS:

FRANCO, Marielle. UPP: A redução da favela a três letras: uma análise da política de
segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Mestrado em Administração da
Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Turismo, Universidade Federal
Fluminense, 2014
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo – diário de uma favelada. São Paulo:
Francisco Alves, 1962

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SANTOS, Wanderley G. Ordem Burguesa e Liberalismo Políticos. São Paulo: Duas Cidades,
1978, p. 106
WACQUANT, Loic. A ascensão do Estado Penal nos EUA. Discursos sediciosos: crime,
direito e sociedade. Rio de Janeiro: Revan, a. 7, n.º 11, jan-jun, 2002.
Polícia do RJ matou 5 pessoas por dia em 2019, recorde dos últimos 21 anos. Exame, 2019.
Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/letalidade-policial-no-rio-e-a-maior-
dos-ultimos-21-anos/

SITES CONSULTADOS:
https://www.mariellefranco.com.br/quem-e-marielle-franco-vereadora

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