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LUBRAL

LUSO
BRASILEIRO
ALEMÃO

II SIMPÓSIO
INTERNACIONAL
DE FILOSOFIA
E COMUNICAÇÃO
COMUNICAÇÃO
E ESPAÇOS PÚBLICOS:
DECLÍNIO OU
TRANSFORMAÇÃO?

BOOK OF ABSTRACTS

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 1


2 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO
COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 3
ORGANIZATION Frederico Vanderberghe
Gérson Pereira Filho
Anabela Gradim Gil Ferreira
André Barata Giseli do Prado Siqueira
Catarina Moura Jesus Adrian Escudero
Elisa Zwick João Carlos Correia
Gérson Pereira Filho João Pissara Esteves
João Carlos Correia José Manuel Santos
Paulo Denisar Fraga Luís Antonio Groppo
Soraya Guimarães Hoepfner Marcos Palacios
Bolseiros de pós-doc Maria João Silveirinha
Pela parte de Filosofia: Miroslav Milovic
Bruno Serra, Raquel Loio Moisés Lemos Martins
Paulo Denisar Fraga
EXECUTIVE COMMITTEE Paulo Serra
Sibélius Cefas Pereira
Mércia Pires Soraya Guimarães Hoepfner
Secretariado
Cefas Garcia Pereira INSTITUTIONAL ORGANIZATION
Logomarca, Arte
Cristina Lopes Universidade da Beira Interior
Design LabCom – Comunicação e Artes
Sara Constante Doutoramento em Ciências da
Design Comunicação
Marcela Silva Doutoramento em Filosofia
Web & Tech Pontifícia Universidade Católica
LabCom.IFP de Minas Gerais – PUC Minas -
Apoio Logístico Campus Poços de Caldas
Núcleo de Ciências Humanas /
SCIENTIFIC COMMITTEE Pós graduação em Filosofia
Grupo de Pesquisa Filosofia, Reli-
Anabela Gradim giosidade e suas interfaces/CNPq
André Barata Universidade Federal de Alfenas –
Antonio Florentino Neto Unifal - MG
Catarina Moura Grupo de Pesquisa Filosofia, His-
Christoph Türcke tória e Teoria Social / Unifal-MG /
Elisa Zwick CNPq
Filipe Carreira da Silva
Flademir Roberto Williges
Francisco Rogério Bonatto
Francisco Xarão
PROGRAM
PROGRAMA
27 JUNHO

9:30 14:00
Abertura Sessões Paralelas I / II
Anfiteatro da Parada / Cinubiteca
Sessão Paralela I
Reitor da UBI Comunicação e espaço públicos:
Presidente da Faculdade FAL problematização de impactos políti-
Coordenador do LabCom.IFP cos e sociais
Coordenadores do evento Sala dos Conselhos
Moderação: Milena Albuquerque
10:00
Conferência de abertura André Barata e Anabela Gradim
Anfiteatro da Parada / Cinubiteca Aceleração Social, Pós-Verdade e
Moderação: José Manuel Santos Comunicação Pública

Jesús Adrián Escudero Carolina Miranda Danelli e


The End of the Workplace: Leandro Marlon Barbosa Assis
From the Productive Subject to O cotidiano midiatizado dos Evil-
the Entrepreneur of the Self bots: debates sobre Educação,
pensamento crítico e marketing
Coffee Break político

11:00 Bruno Rafael Gueiros Barbosa


Conferências da manhã Descartabilidade das notícias:
Anfiteatro da Parada / Cinubiteca a obsolescência do conteúdo in-
Moderação de Paulo Denisar Fraga formativo na hipermodernidade

Gérson Pereira Filho Patrícia Fernandes


A Cidade enquanto espaço pú- Gente que não sabe estar: ou de
blico: pensar a cidade, pensar como temos de perceber que há
a política coisas que não se podem dizer

João Carlos Correia Ricardo Morais


Comunicação e partilha se- Os social media e as formas
lectiva: a verdade à medida do alternativas de participação: o
telemóvel caso do movimento dos coletes
amarelos

6 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


15:00
Sessões Paralelas III / IV

Sessão Paralela II Sessão Paralela III


Espaços públicos, teoria social e Comunicação e espaço públicos:
pensamento filosófico problematização de impactos políti-
Sala 2.01 cos e sociais
Moderação: Urbano Sidoncha Sala dos Conselhos
Moderação: Ricardo Morais
David Gonçalves Borges
A terceira e a quarta revoluções Vinicius Barbosa Albernaz
industriais teriam contribuído Análise das características do
para a ascensão da “nova di- discurso populista de Jair Bolso-
reita”? Uma análise a partir da naro nas eleições brasileiras de
teoria crítica do valor 2018

Teresa Duarte Martinho José Nuno Matos


Dilemas do cruzamento entre Para uma sociologia dos ex-jor-
ciências sociais e engenharia nalistas
computacional: o caso da investi-
gação em cultura com recurso a Júlia Lourenço Costa
big data #EleNão: linguagem e ativismo
digital feminista no Brasil
Luís Filipe Fernandes Mendes
Revisitando Kierkegaard: a Jorge Holguera
hipertrofia do espaço público e a Atores, fontes e temas para o
pulverização do indivíduo na era estudo de informação jornalística
das redes sociais ambiental da Serra de la Estrela

Eduardo Ramalho Rotstein Eula Lôbo Netto Vila Verde


O Estado Mundial de Ernst Jün- Comunicação ambiental: um es-
ger: Uma leitura sessenta anos tudo sobre a problemática do uso
depois dos agrotóxicos no Brasil

Luísa Maria Rutka Dezopi


O trabalho intelectual, a Teoria
Crítica e a denúncia da racionali-
dade instrumental

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 7


Sessão Paralela IV
Espaços públicos, teoria social e
pensamento filosófico
Sala 2.01
Moderação: Bruno Serra

Tiago Quiroga Fausto Neto


Por uma epistemologia da comu-
nicação e das humanidades no
tempo presente

Hugo Mendes Amaral


Comunicação em desconstrução

Luísa Maria Rutka Dezopi


O trabalho intelectual, a Teoria
Crítica e a denúncia da racionali-
dade instrumental

Luiz de Camargo Pires Neto


Para além dos espaços públicos,
heterotopias

Coffee break

16:00
Conferência de fecho do dia
Anfiteatro da Parada / Cinubiteca
Moderação de André Barata

Slavko Splichal
A farewell to the public? Trans-
formations of the public sphere in
the age of integrated public-pri-
vate communication networks

8 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


28 JUNHO

9:30 14:00
Conferência de início do dia Sessões Paralelas V / VI
Anfiteatro da Parada / Cinubiteca
Moderação de Anabela Gradim Sessão Paralela V
Transições e transformações da co-
António Fidalgo municação pública e do espaço pú-
A Decadência do Ocidente blico
Sala dos Conselhos
Coffee break Moderação: Celene Ferreira

10:30 Janilce Silva Praseres


Conferências da manhã A crise da cultura: uma leitura
Moderação de Elisa Zwick henryana da ciência moderna

Hartmut Wessler Leslye Revely dos Santos Arguello


Three entry points for a delibera- Projeto Escola Fazenda Canuanã
tive theory of emotions - Brasil: Trabalho colaborativo e
beleza no espaço público
Maria João Silveirinha
Lágrimas de crocodilo, zanga e Gil Ferreira e Joana Fernandes
outras emoções: Por uma re- Liberdade de Expressão na era
construção feminista do espaço digital: a relevância do artigo
público 19º e a formação superior em
comunicação

Andrés Buzzone
Transições e transformações da
comunicação pública e do espaço
público

Elaine Santos
(Re) criando elos e espaços:
um exercício sócio-político da
loucura

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 9


14:00 15:00
Sessão Paralela VI Conferências da tarde
Comunicação e espaço públicos: Moderação de Catarina Moura
problematização de impactos políti-
cos e sociais Henning Teschke
Sala 2.01 Ataraxia estóica e indiferenca
Moderação: Gil Ferreira pós-moderna

Paulo Antônio de Sousa Marquêz Moisés de Lemos Martins


O Poder Legislativo Municipal O espaço público à prova das nar-
visto como espaço midiático de rativas transmediáticas
Transparência, Participação So-
cial e Educação Cidadã

Gil Ferreira e Susana Borges


Informado pelos pares: sobre o
Faebook como fonte e a satisfa-
ção com a democracia

João Duarte Borges Martins de


Vasconcelos Simão
Lobbying e Comunicação Estra-
tégica: Contributos para uma me-
lhor Participação Política

Danielle de Gois Santos Caldeira,


Elza Dutra e Irene Borges-Duarte
Refletindo sobre femenícidio: éti-
ca como estratégia na articulação
comunicação e espaços públicos

Júlia Teixeira de Carvalho e


Maria Teresa Mariano
A percepção dos formandos em
Administração na Puc Minas cam-
pus Poços de Caldas sobre ética e
suas concepções

Coffee break

10 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


29 JUNHO

9:00 Milena Albuquerque, Janilce Silva


Sessões Paralelas VII / VIII Prazeres e Paulo Serra
“QR Code: O Código para Vida
Sessão Paralela VII Eterna”
Transições e transformações da co-
municação pública e do espaço pú- Celene Fidelis Frias Ferreira
blico Por uma Comunicação Decolonial
Sala dos Conselhos
Moderação: Catarina Rodrigues

Heitor Costa Lima da Rocha e Ana-


bela Gradim
Jornalismo objetivista, construti-
vismo e filosofia: do discurso au-
toritário à interpelação dialógica
da diversidade de interpretações
da comunidade de comunicação

Ana Maria Emaides, María Liliana


Salerno, Maria Daniela Paredes,
Juan Balussi, Frederico Weissbein
Uma marca estrutural das indús-
trias culturais: a flexibilidade do
trabalho no espetáculo musical

Cláudia Liz de Castro Pacheco


A comunicação autárquica e a sua
relação com os jornalistas – O
caso das salas de imprensa onli-
ne dos municípios portugueses

Iolanda Soares de Barros


A imagem do negro na mídia baia-
na

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 11


Sessão Paralela VIII 10:00
Espaços públicos, teoria social e Conferências da manhã
pensamento filosófico Anfiteatro da Parada / Cinubiteca
Sala 2.01 Moderação de João Correia
Moderação: André Barata
Francisco Xarão
Rodolfo Victor Cancio Evangelista A tendência à destruição do do-
e Gérson Pereira Filho mínio público pela hegemonia da
A generalidade do eu: reflexões razão neoliberal
sobre o impessoal

 João Pissarra Esteves
Bruno Serra Breve Diagnóstico Geriátrico so-
A onda invisível: dinâmicas de bre o Estado dos Novos Media
grupo e opinião pública na era das
redes sociais 11:30
Sessão de Encerramento
Flávio Henrique da Silva e Anfiteatro da Parada / Cinubiteca
Ronny Francy Campos
ENVELHESER: “Numa certa épo- Coordenadores e representantes
ca da sua vida, você não tem que das universidades parceiras
justificar mais nada” (Estudo de
caso acerca do envelhecimento
de um homem homossexual)

Marivania Cristina Bocca e


Daniel Marcio Pereira Melo
Abordgem Biográfica: a psicaná-
lise existencial e o método pro-
gressivo-regressivo como pos-
sibilidades para uma práxis em
psicoterapia on-line

Coffee break

12 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


KEYNOTES SPEAKERS
ORADORES CONVIDADOS
optimismo de Steven Pinker, mas foi
sendo duramente questionada na po-
lítica com as duas guerras mundiais,
na ciência com a sua transformação
em empreendimento provisório e
revisível (Heisenberg, Godel, Kuhn,
Popper), e no campo social com as
crises cíclicas do capitalismo, hoje
marcadas na sociedade pós-indus-
António Fidalgo trial pelas plutocracias, globalização,
Universidade da Beira Interior, Portugal automação e fim do trabalho. Na lite-
ratura são prolíficas as visões distóp-
A Decadência do Ocidente ticas do futuro, de Huxley, Orwell, ou
A nostalgia de uma idade do ouro Atwood, até Raspail ou Houellebeck.
perdida acompanhou a civilização E este ethos de perda do pós-moder-
ocidental desde os gregos até ao nismo não mais deixará a Europa.
final da Idade Média. Para esse Estará o programa da modernidade
passado mítico olhava-se com um esgotado, e o Ocidente, mormente
misto de perda, gratidão e melan- a civilização europeia, a entrar num
colia. Nem o saber nem a virtude ciclo de regressão próprio de todos
dos antigos poderiam alguma vez grandes Impérios? O inverno demo-
ser emulados pelos modernos, gráfico e a pujança vital dos bárbaros
anões aos ombros de gigantes às portas do Império não o desmen-
como cria João de Salisbúria. tem. E este é um mal-estar anti-
O racionalismo iluminista, de que go. Antero analisara-o localmente,
Kant foi arauto, inverteu este qua- centrando-se na realidade Ibérica
dro mental com uma vontade de nas Causas da Decadência dos Po-
superação que coloca confiança vos Peninsulares, mas é Spengler
ilimitada na ciência, no progres- que, meio século mais tarde, aponta
so e na técnica. Este programa de a organicidade das civilizações: não
emancipação das Luzes prosse- são máquinas, mas entidades orgâ-
gue na Ciência com o positivismo nicas que nascem, crescem, vivem e
e neo-positivismo, e na história morrem. A “decadência” não é mais
das ideias com Hegel e todos os do que evolução e desenvolvimen-
pós-hegelianos, de Marx a Peir- to natural do orgânico, cujo destino
ce, passando por Heidegger, pela é a dissolução. Entre estes dois pó-
escola de Frankfurt e todos os los, Hegel e Nietzsche permanecem
habermasianos. A História da hu- como as figuras tutelares da reflexão
manidade tem um sentido ascen- sobre o destino da civilização euro-
dente, orientando-se para o pro- peia, o nosso.
gresso. Esta corrente persiste no

14 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Francisco Xarão
Universidade Federal de Alfenas – MG, Brasil

A tendência à destruição do
domínio público pela hegemonia
da razão neoliberal
Partindo das distinções Aren- contemporâneo em termos de ten-
dtianas do conceito de público dência por que a total destruição do
enquanto aparência, exposição domínio público significaria também
e publicidade e público como a extinção das sociedades humanas
compartilhamento de um mundo como agregação social e política, o
comum tentarei mostrar como que já foi tentado nos regimes totali-
nossa percepção da realidade tários e fracassou.
é dependente do senso comum.
Essa característica própria da
condição humana submete todas
as sociedades ao desafio de criar
e manter um domínio público, em
que as distintas opiniões possam,
ao confrontar-se umas com as
outras e ambas com o mundo per-
cebido, elevar-se do nível da opi-
nião própria ao patamar de visão
comum da realidade, tornando,
assim, o mundo partilhável. Em
seguida apresento as característi-
cas da razão neoliberal para con-
cluir que ela não pode fundar um
domínio público e até necessita de
sua destruição. Apresento essa
ameaça da hegemonia da razão
neoliberal sobre o senso comum

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 15


Gérson Pereira Filho
Pontifícia Universidade Católica – MG, Brasil

A Cidade enquanto espaço


público: pensar a cidade, pensar
a política
Pretendo desenvolver minha fala de um certo grupo, ainda que majori-
neste simpósio, em correlação ao tário, os interesses de um ou mais
tema proposto, com uma aborda- “demos”, a koinonia busca assegurar
gem em torno da “cidade” enquan- o bem integralizado entre todas as
to espaço público e de políticas pú- partes. E tal possibilidade é dialética,
blicas. Minha referência principal, por expor diretamente as contradi-
enquanto tal, remonta às origens ções de interesses e segmentos den-
da filosofia e às origens da noção tre as “partes” que dividem o espaço
de “espaço público” a partir “pó- público e que se interpõem pela con-
lis”, a cidade-estado grega e sua tradição das ideias e discursos; po-
representação. A pólis enquanto rém, pela intermediação da filosofia
espaço de koinonia, isto é, o espa- que deve ser dialógica, e pela práxis
ço da comunicação e do convívio política, é possível realizar essa “co-
comum; comunicação no sentido munhão” entre as partes; o lógos filo-
das relações cotidianas que são sófico que pensa o bem coletivo e se
asseguradas pelas necessidades sobrepõe à doxa que pauta as vonta-
organizativas da vida, porém, mui- des particulares.
to mais, pela busca de propósitos
que visem o bem comum, o bem-
-estar coletivo, no espírito da “are-
té” e da “eudaimonia” (a excelência
virtuosa e a felicidade, bem estar),
conceitos tão caros à boa parte
da filosofia grega. A koinonia está
acima da democracia. Enquanto a
democracia assegura o bem-estar

16 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Hartmut Wessler
Universidade de Mannheim, Alemanha

Three entry points for a


deliberative theory of emotions
Conventional wisdom has it that tive orientations. Positive self-cen-
there is no room for emotions in tered emotions like amazement and
Habermas’s work. But, as Michael hope, finally, can open up discursive
Neblo has aptly remarked, for de- spaces, particularly in pre-revolutio-
liberativists the antonym of reason nary situations, as they mark an ac-
is not emotion, but power. Thus, celeration of societal learning. I then
instead of denying the importan- call for more sophisticated analysis
ce of emotion, deliberative theory of both the emotional basis of delibe-
asks which emotions support de- rative qualities in mediated discour-
liberative qualities of debate that se and the rational interpretation of
reign in the unabashed exercise emotions in public debates.
of power, and which emotions do
not. In this talk I reconstruct three
complementary entry points for
a nascent deliberative theory of
emotions. First, in “The inclusion
of the other” (1998) Habermas
himself grants moral feelings like
abhorrence, contempt, shame or
guilt the function of justifications
in situations of perceived mo-
ral transgression. Second, self-
-transcending emotions like pity,
gratitude, and respect open dis-
cussions to the concerns and fee-
lings of formerly neglected others
and thus support more delibera-

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 17


Henning Teschke
Universidade Técnica de Dortmund, Alemanha

Ataraxia estóica e indiferenca


pós-moderna
Desde sempre, a teoria do conhe-
cimento indica a forma histórica
particular da antinomia do poder e
do saber remetendo para o fundo
comum da política e da epistemo-
logia. No que diz respeito a cons-
telacao do estoicismo e da atitude
pós-moderna, essa dialética se
manifesta no par da interioridade
subjetiva e da exterioridade ob-
jetiva. Conforme à lógica de dife-
renca e repeticao, esses conceitos
permitem de relacionar o presen-
te coma antiguidade tardia, duas
épocas que alteram a posicao do
Eu em frente do mundo.

18 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


opposing it to the formation of infor-
mation bubbles and the political po-
larization worked long ago by authors
like Gitlin or Cass Sunstein.
The hypo-
thesis presented at this conference in-
troduces the concept of selective sha-
ring, following the studies on selective
exposure and selective perception
developed in the 1950s and 1960s. At
João Carlos Correia the time, it was understood that citi-
Universidade da Beira Interior, Portugal zens were preferentially exposed to
the messages with which they agreed
The public sphere and selective ( selective exposure) that also percei-
sharing: as the truth is tailored ved better (selective perception). To-
to the cell phone day, the issue has returned because
The work of psychologist David of social networks, and the hypothesis
Stilwell, from the Center for Psy- advocated by me is limited to adding
chometrics Studies in Cambridge, that people share the messages they
has more accurately analyzed Fa- agree with more easily: the fake news
cebook’s potential for predictions themselves are the product of a se-
about users’ attributes. Some- lective sharing in which the partisan
thing that was known empirically shares the messages thanks to their
or intuitively through the meta- agreement with their meaning and not
phors of vigilance since the panop- according to the adequacy to the reali-
ticism from Bentham to Foucault ty. Unlike Stilwell, it is believed that
to the great observer brotherhood this phenomenon is not the opposite
of George Orwell, became the of the one he studied: predicting user
object of systematic work on the characteristics and detecting perso-
possibilities of evaluation of the nality patterns allows narrowing the
personality through the use of the messages into niches such as, con-
networks social and mobile de- versely, user feedback is useful for to
vices by users. This contribution consolidate these niches marked by
gave analytical support to studies effective adhesion in the function of
of such uses in “human resource detected personality traits. In this way,
management” in a perverse sense we see the destruction of publicness
(the human resource as a func- and its transformation through a logic
tion of instrumental interests) in of stimulus-response and desire-gra-
areas such as politics, advertising, tification in a public space functionali-
and manipulation.
The hypotheses zed in a way that recalls the (more cri-
developed in the work of Stilwell tical) descriptions of Habermas’s early
have privileged this dimension, works and Herbert Marcuse.

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 19


João Pissarra Esteves
Universidade Nova de Lisboa, Portugal

Breve Diagnóstico Geriátrico


sobre o Estado dos Novos Media
Como alternativa à dicotomia no-
vos media/media tradicionais e,
igualmente, ao determinismo das
visões utópicas e distópicas so-
bre o novo espaço público virtual,
discutimos as vantagens de equa-
cionar uma nova ecologia dos me-
dia. Um conceito que se abre às
tensões e ambivalências da atual
comunicação pública, com o qual
pretendemos dar forma, nestes
tempos sombrios para as nossas
democracias, a uma perspetiva
crítica construtivista sobre o pre-
sente tecno-sistema.

20 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Maria João Silveirinha
Universidade de Coimbra, Portugal

Crocodile tears, anger and


other emotions: For a feminist
reconstruction of the public
sphere
Christine Blasey Ford and Brett
Kavanaugh’s testimony in the
hearings of the US Senate Judiciary
Committee in order to help US
Senators decide whether to
confirm Kavanaugh’s appointment
to the Supreme Court echoed in
the media space far beyond from
United States. The occasion allows
us to think about how emotions
are part of collective life and their
place in the public sphere as well
as in the deliberation processes
that it shapes. To that end, we
will explore how emotional life
have often been overlooked in
thinking about the public sphere
and how we can move beyond
this silencing. We shall look at
the insights of John Dewey and
Janes Addams as we move on to
a feminist understanding of the
emotions that can help us rebuild
a more embodied and experiential
public sphere.

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 21


tam na repetição, como por exemplo
as sequelas de videojogos, não são
verdadeiramente criativas, tendo um
valor artístico diminuto. E é também
uma travessia o facto de nas narra-
tivas transmediáticas permanecer
uma tendência para a gamificação,
que se verifica não apenas nos con-
teúdos, mas também na inclusão de
Moisés de Lemos Martins experiências lúdico-imersivas, como
Universidade do Minho, Portugal acontece com os jogos de realidade
alternativa.
O espaço público à prova das A simulação e o simulacro nunca fo-
narrativas transmediáticas ram tão poderosos. Mas é também
Estabelecendo-se no meio de nós por essa razão que vemos a comuni-
como um acontecimento maior, dade humana sucumbir, de modo tão
as tecnologias digitais e criativas, rotundo, ao fascínio emocional, ao
multimodais, híbridas, inovado- espetáculo extático e à alienação do
ras e interativas, convocam para consumo.
a mesma “galáxia semântica”, a Neste contexto, como funciona o es-
indústria, a arte, a academia e as paço público, ele que é um espaço de
comunidades humanas, permitin- liberdade ao serviço da cidadania,
do-lhes uma navegação universal, reforçando e aprofundando a demo-
por novos territórios, novos am- cracia?
bientes, novas paisagens e novas A travessia que importa fazer, pela
atmosferas. abertura aos territórios, ambientes,
Esta circum-navegação tecnoló- paisagens e atmosferas da nova cul-
gica, que se apoia no computador tura tecnológica, de que as narrativas
e faz convergir no mesmo ecrã, a transmediáticas são uma expressão,
máquina fotográfica, a máquina de é uma travessia apoiada na “imagi-
filmar, a programação informá- nação simbólica”, uma travessia que
tica e o design gráfico, não deixa, combina técnica e emoção, e também
todavia, de constituir uma traves- o novo e o arcaico. Mas é, igualmen-
sia. Porque muitas das práticas te, uma travessia que não dispensa o
transmediáticas, enquanto práti- logos argumentativo, aplicado às li-
cas de imitação e propagação de teracias digitais. São estas literacias
histórias não passam de artifícios que expandem a nossa capacidade de
de marketing, ao serviço da com- narrar, ao tornarem possível a pes-
petição, que concretiza a ideologia quisa de informação online, a inter-
de mercado. Além disso, as prá- pretação e a avaliação de conteúdos
ticas transmediáticas que assen- digitais, e mesmo a sua produção.

22 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Dadas estas circunstâncias, por mui-
tas que sejam as dificuldades a en-
frentar nesta travessia pelos novos
mares das narrativas transmediáti-
cas, é legítimo pensar num horizonte
de democratização da inovação e da
criatividade, em que cada um possa
expressar e comunicar o que a sua
imaginação consiga criar. Por outras
palavras, embora esta circum-na-
vegação seja uma travessia, é um
facto que as comunidades humanas
participam nela largamente, razão
pela qual a criatividade em rede e a
partilha da criação não podem deixar
de constituir um forte impulso à ci-
dadania.

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 23


Jesus Adrian Escudero
Universidade Autónoma de Barcelona, Espanha

The End of the Workplace:


From the Productive Subject
to the Entrepreneur of the Self
The classical industrial model of
the XXth century based upon the
hiring of physical and bodily work-
force is increasingly becoming re-
placed in the current digital socie-
ty by a new kind of ¨worker¨: the
entrepreneur of the self. In other
words, we are witnessing how the
figure of the productive subject of
industrial society enters in concur-
rence with the entrepreneur of the
self. Here we would like to further
contrast both models and analyze
how those changes are modifying
the very notion of the workplace
and giving rise to the new concept
of psycho-politics.

24 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Slavko Splichal
Universidade de Ljubljana, Eslovênia

A farewell to the public?


Transformations of the public
sphere in the age of integrated
public-private communication
networks
The paper addresses historical
tendencies in reconceptualiza-
tions of publicness and related
concepts -- the public, public opi-
nion and the public sphere –, whi-
ch have attempted at ‘expanding’
the concepts to new empirical se-
ttings (e.g. new technologies, bu-
siness models, political regimes)
rather than introducing genuine
normative/theoretical innova-
tions. These endeavours involve
risks of bringing back into the con-
ceptualization of the public/sphere
characteristics and ideas that had
initially been excluded or opposed
to the concept (e.g. mass vs. public
– ‘mass public’) and, thus, abando-
ning the elementary critical string
of publicness as a critical concept,
which alone can identify research
on social phenomena that refer to
the critical idea of the public.

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 25


ABSTRACTS
RESUMOS
André Barata e Anabela Gradim Carolina Miranda Danelli e
Universidade da Beira Interior / LabCom Leandro Marlon Barbosa Assis
Universidade Europeia
Aceleração Social, Pós-Verdade
e Comunicação Pública O cotidiano midiatizado dos Evil-
Esta comunicação é composta bots: debates sobre Educação,
por três momentos. Em primeiro pensamento crítico e marketing
lugar, é feita uma breve revisão da político
literatura sobre a modificação da O artigo visa analisar a utilização
percepção moderna e contempo- de social bots nas redes sociais
rânea do tempo social, com par- na eleição presidencial brasi-
ticular enfoque no fenómeno da leira de 2018 e, em paralelo, o
aceleração social. Em segundo papel da Educação Crítica para
lugar, é explorada uma conexão a Mídias frente à este cotidiano
entre esta modificação e outro fe- atravessado por tecnologias. O
nómeno contemporâneo, vulgar- objetivo é perceber se os bots fo-
mente designado por pós-verdade ram capazes de influenciar o po-
e que se propõe aqui definir como sicionamento da população nas
desvalorização do valor social da redes sociais, buscando perce-
diferença entre verdade e falsida- ber a influência dessa atuação na
de. Essa desvalorização encontra propagação de notícias falsas e o
causa seja de ordem social seja papel da Educação neste cenário.
de ordem epistemológica. Em ter- Para basear a pesquisa e a aná-
ceiro lugar, são avaliadas as con- lise dos resultados, foram utili-
sequências desta crescente si- zados referenciais teóricos sobre
tuação contemporânea para uma o cotidiano, pensado a partir das
compreensão das possibilidades interpretações de Agnes Heller e
e limites da comunicação pública Karel Kosik, e sobre a Educação
hoje. Crítica para as Mídias, orientada
pelas análises de Leandro Assis e
Alexandre Farbiarz, para dialogar
com as obras de engenharia so-
cial, bots, fake news, social media,
pós-verdade e marketing político.
A investigação dos dados é rea-
lizada através de estudo de caso
e análise de resultados retirados
do projeto Trending Bots, do site
Congresso em Foco. Ao finalizar-
mos o estudo, percebemos que a
afirmação de que os bots influen-

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 27


ciaram a campanha de Jair Bolso- racional que enseja uma hipercul-
naro é verdadeira e que, além dis- tura, em que a rede se transforma
so, é uma ameaça à democracia e num espaço envolvente. A onipre-
é necessário traçar normas para sença das telas e a abundância de
a utilização e regulação desta es- informação geram
tratégia que está ganhando forças desorientação generalizada e os
no marketing político e, evidente- laços humanos são enfraqueci-
mente, reforçar o processo edu- dos frente à interconexão global
cacional proposto na sociedade e à hibridização do mundo (Bau-
contemporânea. man, 2013). Num ambiente onde
Palavras-chave : marketing po- realidade e virtualidade se con-
lítico, cotidiano, educação, bots, fundem, a rapidez dos dados e a
fake news sobrecarga de informação aca-
bam por fragilizar o pensamento
Bruno Rafael Gueiros Barbosa e a capacidade de reflexão crítica
(Canclini, 2008), sobretudo nas
Descartabilidade das notícias: redes sociais digitais, nas quais
a obsolescência do conteúdo in- a argumentação racional não en-
formativo na hipermodernidade contra tempo na discussão públi-
Este artigo tem como objetivo ca. Se, ao que a literatura indica, o
oferecer uma interpretação a res- modelo das mídias sociais orien-
peito do que denominamos des- tado pela lógica da obsolescên-
cartabilidade das notícias. Para cia instantânea afeta significati-
tanto, realizamos uma revisão vamente o consumo, é possível
bibliográfica a partir de teóricos concluir que essa realidade se faz
da sociedade pós-moderna, da presente de forma semelhante no
cibercultura e da sociedade con- consumo de novidades, gerando
temporânea, que pavimentam a descartabilidade das notícias:
conceitualmente o caminho para conteúdo noticioso que não é efe-
a hipermodernidade (Lipovetsky tivamente consumido e
e Serroy, 2011). Esse tempo é está sujeito a constantes desatua-
permeado por uma teia comple- lizações.
xa de conexões descentralizadas Palavras-chave: descartabilidade
(Castells, 2009) que afeta o ser das notícias, conteúdo noticioso,
humano, já não mais um sujei- mídias sociais, sociedade do de-
to disciplinar, mas um sujeito do sempenho, obsolescência instan-
desempenho e da produção (Han, tânea.
2017). O que o cerca é, de forma
geral, a ampliação sem preceden-
tes do universo da comunicação e
uma nova estrutura técnico-ope-

28 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Patrícia Fernandes Estas regras, valendo para o es-
Universidade da Beira Interior paço público, têm como objetivo
introduzir-se, com o tempo, na
Gente que não sabe estar: ou de esfera privada, e é nesse sentido
como temos de perceber que há que podemos referir a dimensão
coisas que não se podem dizer totalitária do movimento. Se as
Partindo de um título irónico, a consequências se têm feito sen-
nossa comunicação assenta num tir nos países anglo-saxónicos
pressuposto assumidamente po- há já vários anos, em Portugal o
lémico: o de que o espaço público seu impacto começa a assumir
dos nossos dias é alvo de contínua contornos relevantes, pelo que
intervenção por parte de forças importa discutir os seus pressu-
políticas e sociais que pretendem postos e as suas consequências.
condicionar e limitar as palavras Nesse sentido, desenvolveremos
que podem ser usadas e os as- as seguintes linhas de análise: 1)
suntos que podem ser debatidos, que legitimidade epistemológica
visando, com isso, impor uma de acesso privilegiado à verdade
linguagem e uma visão do mun- pode este movimento reivindicar
do. O nosso trabalho procurará para impor a sua visão do mundo?
delinear a génese deste movi- 2) quais as consequências para
mento – geralmente designado o domínio académico quando as
como “politicamente correto” (PC) discussões são promovidas com
– identificando a dinâmica que base em princípios de ativismo
marca a lógica dos discursos: se sem que haja espaço para o con-
eles inicialmente se apresentam traditório? 3) como compatibilizar
como libertadores (como ‘paro- este movimento com os valores
les’ violentas), o sucesso do seu de sociedades democráticas, que
empreendimento conduz à sua tradicionalmente se afirmaram
transformação em dinâmicas contra regimes autoritários por
opressivas (como ‘langues’ sisté- haver liberdade de pensamento e
micas). Assim, se inicialmente as expressão? 4) qual a relação entre
motivações do PC passavam pelo este movimento e os movimentos
reconhecimento do modo como a populistas e de direita radical que
linguagem pode constituir um fa- surgem agora como vozes liber-
tor de opressão e discriminação tadoras?

e pela promoção da inclusão, a Palavras-chave : Politicamente
evolução do movimento conduziu- correto, ‘paroles’ violentas, liber-
-nos hoje a um contexto de vigi- dade de pensamento e de expres-
lância constante sobre o que não são

se pode dizer – o mesmo é dizer,
sobre o que não se pode pensar.

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 29


Ricardo Morais cas neoliberais (Dahlgren, 2014).
Universidade da Beira Interior / LabCom É nesse contexto que os cidadãos
começam a utilizar estes sites de
Os social media e as formas al- redes sociais para reivindicarem
ternativas de participação: o os seus direitos, e é neste âmbi-
caso do movimento dos coletes to que surgem, aos poucos, o que
amarelos muitos consideram novas formas
No ambiente digital contempo- de cidadania (Coleman, 2017).
râneo os media sociais têm-se Distanciando-se dos partidos tra-
destacado pela sua utilização en- dicionais, surgem novos atores
quanto meios alternativos para políticos nas redes, que desen-
a participação política um pou- volvem formas distintas de mo-
co por todo o mundo (Dahlgren, bilização social e cívica, “porque
2013). São vários os exemplos de fundamentalmente reticulares,
manifestações e movimentos de fluidas e espontâneas - em virtu-
protesto, que têm na sua base de do papel que nelas assumem
uma organização centrada nas as novas tecnologias de informa-
potencialidades dos social me- ção e comunicação...” (Teixeira,
dia. Basta pensarmos nos mo- 2018, p. 105). 
Os sites de redes
vimentos Occupy, nos EUA, nos sociais promoveram assim novas
Indignados em Espanha, ou no formas de mobilizar o apoio popu-
movimento Que se Lixe a Troika, lar, mas os antigos métodos pre-
em Portugal (Figueiras & Espíri- senciais da política institucional,
to Santo, 2016; Figueiras, Espírito com a participação nas ruas, con-
Santo & Cunha, 2015), para refe- tinuaram a fazer parte da equa-
rir apenas alguns. As possibili- ção (Esposito, Sonn & Voll, 2016).
dades em termos comunicativos, Partindo desta ideia, procuramos
nomeadamente a facilidade em analisar o recente movimento dos
fazer circular a informação, alia- “Coletes Amarelos” em França,
da ao carácter interativo destes mas sobretudo a importação da
meios fazem deles ferramentas ideia para Portugal, numa ten-
únicas que muitos têm sabido tativa de ocupação das ruas que,
utilizar. 
O período de expansão apesar de ter no seu momento
dos sites de redes sociais acabou organizativo, a conexão e interli-
por corresponder ao momento de gação nas redes digitais, não teve
maior questionamento do siste- a mesma efetividade nas ruas. O
ma político, devido à desconfiança objetivo é refletir sobre as trans-
crescente dos cidadãos, resultado formações do espaço público e a
das crises de representação, da emergência de novos ativismos
aplicação das medidas de auste- digitais enquanto formas de auto-
ridade e como resposta às políti- -representação.

30 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Palavras-chave : Social media; tegorias como “pós-verdade” ou
Participação; Crise de represen- “pós-política”, que apontariam
tação; Ativistas digitais; Coletes para configurações sociais com-
Amarelos

 pletamente novas e, até mesmo,
inesperadas. No entanto, é per-
David Gonçalves Borges ceptível que apesar de ter adap-
Universidade Federal do PIauí / Universidade tado seus métodos à tecnologia
da Beira Interior existente, a “nova direita” encon-
tra-se profundamente compro-
A terceira e a quarta revoluções metida com a defesa de teses
industriais teriam contribuído que remontam aos primórdios
para a ascensão da “nova direi- da modernidade, não sendo pru-
ta”? Uma análise a partir da teo- dente, portanto, analisá-la como
ria crítica do valor um fenômeno social qualitativa-
A terceira e a quarta revoluções mente distinto do assim chama-
industriais teriam contribuído do “paleoconservadorismo”. A
para a ascensão da “nova direi- teoria crítica do valor, elaborada
ta”? Uma análise a partir da teoria ao longo das décadas de 1980 e
crítica do valor.

A emergência de 1990 pelos intelectuais ligados
uma “direita alternativa” a partir às revistas Krisis e EXIT!, na Ale-
da crise econômica de 2008, que manha, prognosticou adequa-
levou à ascensão de governantes damente inúmeros fatores que
como Jair Bolsonaro (no Bra- contribuíram para a o surgimen-
sil), Donald Trump (nos EUA) e to da “nova direita” duas décadas
Viktor Orbán (na Hungria), entre antes de sua concretização; entre
outros, tem sido frequentemente eles, a crise econômica mundial,
interpretada como epifenôme- o crescimento do desemprego es-
no político decorrente do avanço trutural ocasionado pela revolu-
tecnológico proporcionado pela ção microeletrônica, a renovação
microeletrônica e pelas novas do populismo nos estados da pe-
tecnologias informacionais – que riferia geopolítica, as migrações
teria levado ao surgimento de em massa, a militarização das
novos métodos de propaganda e questões sociais e as “guerras de
comunicação política, tais como ordenamento mundial” – todos
as “fake news”, os “bots”, o jor- eles, indícios de uma crise latente
nalismo ideologicamente engaja- no modo de reprodução econômi-
do centrado na internet, e assim ca e social vigente. Desta forma,
sucessivamente. Tais fenômenos resgatando-se alguns conceitos-
receberam alguma atenção dos -chave desta teoria, não apenas
acadêmicos, que têm procurado torna-se possível analisar o cres-
analisá-los utilizando-se de ca- cimento global da “nova direita”

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 31


sem necessariamente recorrer à tituição do conhecimento cientí-
criação de categorias filosóficas, fico. Conclui-se que as análises
sociológicas ou antropológicas in- de extensos corpora apoiadas na
teiramente novas, como também computação podem apontar pis-
passa a ser viável conjecturar a tas e tendências importantes para
respeito do comportamento e do as investigações sobre cultura
desenvolvimento futuros de tais e outras áreas da esfera social.
grupos ideológicos. Ao mesmo tempo, ficou percep-
Palavras-chave : Nova direita; Al- tível que, na confluência com as
t-right; Crítica do Valor; Neopopu- engenharias computacionais, as
lismo ciências humanas e sociais preci-
sam poder continuar a praticar a
Teresa Duarte Martinho sua aptidão para problematizar o
Instituto de Ciências Sociais da Universidade social, contextualizar e situar ob-
de Lisboa jetos de análise, discutir significa-
dos simbólicos de muito extensos
Dilemas do cruzamento entre universos de artefactos e discur-
ciências sociais e engenharia sos. Poderão, assim, contribuir
computacional: o caso da inves- para superar limitações deteta-
tigação em cultura com recurso das nas análises de larga escala,
a big data como a subvalorização da teoria
O surgimento de ‘big data’ e da e o alcance diminuto dos agen-
data science está a colocar as tes individuais e dos sentidos das
ciências humanas e sociais numa suas acções.
fase de questionamento e re- Palavras-chave : big data; ciên-
consideração de objectivos, teo- cias humanas e sociais; engenha-
rias e métodos. Neste cenário, ria computacional; cultura; teoria
emergiram novos programas de
investigação do sector cultural,
reconfigurando as abordagens
quantitativas e a ligação entre
teoria e trabalho empírico. A co-
municação toma como ponto de
partida principal duas propostas
apoiadas na articulação com as
engenharias computacionais para
estudar os fenómenos culturais
em larga escala: ‘distant reading’
e ‘cultural analytics’. A finalidade
é mostrar as suas possibilidades
e limitações no processo de cons-

32 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Luís Filipe Fernandes Mendes de Kierkegaard se aplicam per-
Universidade da Beira Interior / LabCom feitamente ao modo como a he-
gemonia das redes sociais trans-
Revisitando Kierkegaard: a hi- formou o espaço público hodierno.
pertrofia do espaço público e a A diferença reside, sobretudo, na
pulverização do indivíduo na era circunstância de as redes sociais
das redes sociais elevarem a uma escala comple-
Actualmente, observamos um de- tamente descontrolada aquilo que
clínio dos espaços públicos tradi- ainda ocorria de modo incipiente
cionais e a emergência de novos na imprensa do seu tempo. A no-
espaços públicos mediatizados. vidade está na dimensão, na ex-
O espaço público contemporâ- tensão e na rapidez que as redes
neo consiste, fundamentalmente, sociais de hoje alcançam – e, con-
no universo criado pela Internet sequentemente, na amplitude dos
através das mais diversas redes seus efeitos. Assim, as críticas de
sociais. A sociabilidade virtual Kierkegaard à sua época pare-
teve um crescimento vertiginoso. cem adequar-se ainda melhor à
Hoje, o espaço público é global e nossa. Aquilo que imaginou como
influencia acontecimentos sociais consequência da massificação da
e políticos à escala local, regio- imprensa está agora plenamente
nal e global.
Nesta comunicação concretizado pelas redes sociais
pretendemos estudar as trans- virtuais. 
Finalmente, as análises
formações ocorridas no espaço de Kierkegaard sugerem que o po-
público, justamente, em virtude der das redes sociais e da “opinião
da hegemonia das redes sociais pública” delas decorrentes, longe
virtuais, tendo como referência de representar um instrumento ao
a análise da imprensa realizada serviço da democratização ou um
por Kierkegaard, em especial, na triunfo dos ideais democráticos,
obra Two Ages: A Literary Review, configura uma verdadeira ameaça
de 1846. Segundo ele, a impren- à Democracia. No entanto, Kierke-
sa é um modo de constituição da gaard adverte que não há como
comunicação fora da oposição assegurar as virtudes éticas e po-
verdade-falsidade, e o resultado líticas da esfera pública, pois esta
da sua massificação é o “público”. é, desde o início, a própria fonte do
Para Kierkegaard, o “público” é perigo. Na sua perspectiva, a so-
uma (não-)entidade abstracta e lução só poderá encontrar-se no
anónima que absorve e pulveriza indivíduo.

o indivíduo. Uma época dominada Palavras-chave : Ameaça à demo-
pelo “público” anula a personali- cracia, anulação da diferença en-
dade dos indivíduos. 
Ora, procu- tre verdade e falsidade, espaço pú-
ramos mostrar que as análises blico, Kierkegaard, redes sociais



COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 33


Eduardo Ramalho Rotstein ganização? Deve-se enxergar um
Universidade Federal do Rio de Janeiro / processo inexorável no movimen-
PPGF to acelerado de transformação
por que passa a humanidade? Pa-
O Estado Mundial de Ernst Jün- ralelamente, a resposta oferecida
ger: Uma leitura sessenta anos pelo próprio Jünger será subme-
depois tida ao crivo dos acontecimentos
Em O Estado Mundial (1960), Ernst mais recentes: afinal, seria a ex-
Jünger nota uma profunda afini- pansão material em curso, mais
dade entre os principais oponen- que o resultado dos esforços hu-
tes na Guerra Fria. Na semelhan- manos de bem-estar e seguran-
ça de seus símbolos e motes, de ça, o signo de um movimento cós-
suas técnicas e práticas, eviden- mico, de uma transição da Terra
ciava-se a existência de um estilo para uma nova era?
global, ele próprio, prenúncio da Palavras-chave : filosofia política;
absorção das nações históricas novas tecnologias; revolução digi-
numa única e inédita organização tal; globalismo
planetária. Hoje, sessenta anos
após sua publicação, o ensaio de Luísa Maria Rutka Dezopi
Jünger desperta atenção por cau- Pesquisadora de mestrado do Programa de
sa do surgimento de uma cons- Pós-Graduação em Sociologia da Unicamp
telação análoga no panorama
geopolítico: em meio à crescente O trabalho intelectual, a Teoria
unificação do globo, promovida Crítica e a denúncia da racionali-
sobretudo com as novas tecnolo- dade instrumental
gias da informação, recrudesce o A partir de Dialética do Esclare-
conflito milenar entre Ocidente e cimento (1944) e Eclipse da Razão
Oriente. Sob o ensejo da analogia (1947), de Theodor Adorno e Max
entre ontem e hoje, procuramos Horkheimer, a presente proposta
n’O Estado Mundial um eixo para de pesquisa tem por objetivo cen-
o exame da situação atual e, in- tral estudar como a Teoria Crítica
versamente, fazemos desta uma confere entendimento a categoria
pedra de toque de suas principais de trabalho intelectual tendo em
formulações teóricas. Pergunta- vista o cenário da indústria cultu-
mos: Como o progresso da técni- ral norte americana. Isso implica
ca afeta o quadro tradicional das no desdobramento da imagem do
instituições? É possível que as cientista tradicional através da
segmentações radicadas na bio- crise da razão e do sacrifício das
logia do homem,
 ou no passado contradições e complexidade de
remoto das culturas, sejam abo- pensamento, em confronto com
lidas por exigência da grande or- a função intelectual crítica que

34 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


promove diagnósticos de época estudo atento e aproximado da
transpostos de juízo existencial questão de pesquisa via reflexões
e contradições conscientes. Para filosóficas e interdisciplinares,
isso, como horizonte de preocu- que promoverão critérios ineren-
pação e problemas faz-se ne- tes dela mesma para considerar,
cessária a revisão da Filosofia da julgar e entender as unidades de
Ilustração, imagem do cientista análise. 


tradicional, crítica ao conceito Palavras-chave : Trabalho inte-
de Iluminismo, e dualidade mi- lectual; Teoria Crítica; Theodor
to-razão; tendo separação entre Adorno; Max Horkheimer; Positi-
sujeito e objeto, indústria cultu- vismo Lógico e Teoria Tradicional
ral, dominação, racionalidade
instrumental e paranoica como Vinicius Barbosa Albernaz
as principais unidades de análi- Mestrando em Ciência Política - Universida-
se em vista nesta pesquisa. As- de da Beira Interior
sim sendo, defendo a hipótese
de que a categoria ocupada pelo Análise das características do
intelectual crítico, para esses au- discurso populista de Jair Bolso-
tores, encontra-se numa posição naro nas eleições brasileiras de
privilegiada no capitalismo tar- 2018
dio, estabelecendo-se de forma Este trabalho busca analisar as
antagônica e sólida em relação a principais características do dis-
racionalidade instrumental. E por curso político do presidente do
isso é um elemento de extraordi- Brasil, Jair Bolsonaro nas elei-
nária importância para sustentar ções de 2018 e o seu impacto na
o sistema explicativo da Teoria sociedade brasileira. A metodolo-
Crítica e compreender os fenô- gia utilizada na presente investi-
menos sociais desencadeados gação se dá através da pesquisa
pela racionalidade instrumental. teórica, exploratória com revisão
Nesse sentido, tenho como refe- bibliográfica e utilização do mé-
renciais bibliográficos, para essa todo de análise do discurso de
tentativa de crítica imanente à gê- Vargas et al (2018). Este trabalho
nese e características do trabalho divide-se em três grandes eixos
intelectual, obras selecionadas de sendo apresentado: 1- o percurso
Adorno e Horkheimer e de seus crítico do populismo, 2- populis-
comentadores, como Martin Jay, mo e neopopulismo na América
Bárbara Freitag, Sergio Rouanet, Latina e 3- as caraterísticas do
Marcos Nobre, Robert Sinner- discurso populista do candidato
brink, Seyla Benhabib, e Rolf Wig- Jair Bolsonaro. Ao final do arti-
gershaus. E os resultados obtidos go, apresenta-se a ideia central
serão entendidos através de um acerca dos principais pontos do

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 35


discurso de Jair Bolsonaro que transformações a partir dos per-
conduzem a análise crítica, leva- cursos socioprofissionais de ex-
-nos a concluir que o seu discurso -jornalistas, procurando-se com-
caracteriza-se fundamentalmen- preender o que motivou o fim da
te por um discurso político popu- atividade, a condição de trabalho
lista contemporâneo na América posteriormente alcançada e, por
Latina. fim, a sua perceção do jornalismo.

Palavras-chave : populismo; dis- Palavras-chave : jornalismo, ex-
curso; jair bolsonaro; eleições; -jornalistas, precariedade, de-
brasil
 semprego



José Nuno Matos Júlia Lourenço Costa


ICS-ULisboa
E FAPESP - UFSCar/Univ.Paris13

Para uma sociologia dos ex-jor- #EleNão: linguagem e ativismo


nalistas digital feminista no Brasil
Para uma sociologia dos ex-jor- #EleNão: linguagem e ativismo
nalistas

O jornalismo atravessa digital feminista no Brasil

O Bra-
um período de turbulência, visí- sil testemunha contemporanea-
vel no encerramento de publica- mente o ressurgimento de valores
ções impressas e, por contraste, conservadores que já circulavam
no surgimento de novos tipos de em nossa sociedade, mas que fo-
media. A configuração de um novo ram maximizados com a eleição
mapeamento ocupacional, mo- do atual presidente, Jair Bolso-
bilizado por novas competências naro. Em sua campanha eleitoral
associadas ao digitalismo, exige de 2018, o então candidato vo-
um novo tipo de jornalista, tor- ciferou sua compreensão sobre
nando obsoletos os velhos perfis temas sociais e políticos: como
da ocupação. Ao mesmo tempo, o o papel da mulher na sociedade
acesso gratuito à informação e as brasileira; sua visão da homos-
novas oportunidades de negócio sexualidade; sua compreensão
ao nível das indústrias de publi- sobre o lugar social da comunida-
cidade originam a diminuição de de negra no Brasil, entre outros.
receitas das empresas de comu- As declarações estavam, e ainda
nicação social. Face a isto, as em- estão, baseadas em preconceito e
presas têm recorrido a processos conservadorismo atroz. Embora
de despedimento coletivo e aos eleito, grande parte da socieda-
mais variados instrumentos de de brasileira busca formar uma
regulação laboral, do estágio ao resistência ao sistema atual, aos
«recibo-verde». O objetivo des- valores pregados pelo presidente
ta apresentação é analisar estas brasileiro eleito e pela comuni-

36 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


dade que o elegeu. Em 2018, por cante ao ativismo digital feminista
exemplo, assistimos no Brasil a em contexto brasileiro e sua for-
ascensão de um movimento so- ma argumentativa marcadamente
cial, marcadamente feminista, verbo-icônica.



chamado #EleNão, que demarca Palavras-chave : Linguística; fe-
a negação à Bolsonaro e tudo o minismo digital; movimento so-
que ele representa. Partindo do cial; #EleNão 


pressuposto de Castells (2017) de
que presenciamos contempora- Jorge Holguera
neamente a assunção dos movi- Doctorando Universidade da Beira Interior,
mentos sociais na internet como Universidad de Salamanca
forma de manifestação do dese-
jo de mudança, analisaremos, a Atores, fontes e temas para o es-
partir de uma perspectiva discur- tudo de informação jornalística
siva/linguística, a manifestação ambiental da Serra de la Estrela

do movimento feminista brasi- Resumo: Atores, fontes e temas
leiro #EleNão, explorando, por para o estudo de informação jor-
exemplo, o uso de tecnografismos nalística ambiental da Serra de
e memes (Paveau, 2017) como ex- la Estrela
Se apresenta uma pro-
pressão da indignação e do desejo posta para o estudo da informa-
de mudança social e política, que ção sobre jornalismo ambiental
se iniciaram em ambiente digital, na Serra da Estrela, na qual os
mas que também ocupou as ruas atores, fontes e temas serão di-
das principais cidades do Brasil vulgados.
Em resumo, esta é a
em 2018. A partir das análises abordagem de um trabalho que
pudemos verificar que a hashtag, contempla diferentes fases e que
que marcou o referido movimento faz parte do tempo de doutora-
iniciado nas redes sociais - Twi- mento na Universidade do Interior
tter, Facebook e Instagram, por da Beira dentro de um programa
exemplo -, sofre uma mudança do doutoramento na Universida-
quando passa a estampar tam- de de Salamanca.
Este trabalho
bém os cartazes que foram cria- pretende complementar ou enri-
dos para a manifestação; a invadir quecer a tese focada na análise
os muros da cidade - com grafites de informação ambiental na im-
e pichações -; e o próprio corpo prensa com um estudo do caso
dos cidadãos indignados. A abor- da Serra da Estrela.
Através da
dagem discursiva do movimen- presente contribuição na forma
to #EleNão nos permitiu refletir de um cartel ou comunicação, se-
sobre as possibilidades técnicas rão oferecidas as bases deste es-
da Web 2.0 na produção de novos tudo. Nele se tentarão fornecer as
discursos, especificamente no to- fontes, os atores e os principais

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 37


temas no campo da informação tudo, cuja missão é saber como os
ambiental relacionada com a Ser- meios de comunicação social ofe-
ra da Estrela.
Dois fatores foram recem as informações ambientais
decisivos para tomar esse espa- da Serra da Estrela.

ço como referência. Uma delas Palavras-chave : informação am-
é a proximidade com a Universi- biental, Serra da Estrela, fontes,
dade da Beira Interior. Esta aca- temas, atores
demia tem grande envolvimento
e comprometimento com esta Eula Lôbo Netto Vila Verde
área do interior de Portugal. Por Doutoranda em Ciências da Comunicação -
outro lado, a grande importância UBI
deste declarado Parque Natural,
que é notável por ter o ponto do Comunicação ambiental: um es-
Portugal continental localizado tudo sobre a problemática do uso
em maior altitude acima do nível dos agrotóxicos no Brasil
do mar.
Este trabalho contempla O Brasil alcançou o consumo de
diferentes fases. Na concepção mais de 500 mil toneladas de con-
do projecto foi vital a ideia de um sumo de agrotóxicos e afins (Iba-
profesor natural da área que pro- ma, 2017). Um crescimento que
pôs estudar: como os jornais re- corresponde a mais de 150% em
flectem as informações ambien- menos de 20 anos. Um dos for-
tais da Serra da Estrela nas suas tes indicativos deste uso extremo
páginas? A fase seguinte, que é a está nos ingredientes ativos per-
de preparação contempla a docu- mitidos. No Brasil, estão regis-
mentação e revisão de literatura, trados 180 ingredientes ativos de
na qual se busca reunir informa- agrotóxicos que não tem licença
ções do território (Serra da Estre- de uso na Austrália, 286 no Ca-
la) e orientações para a realização nadá, 271 na Comunidade Euro-
do trabalho. Uma terceira fase é péia; e 181 sem licença de uso nos
proposta com base em entrevis- EUA. (AMAZONAS, Juliana; et al.
tas para abordar dois grupos de 2018). 

Em 1962, Rachel Carson
atores, por um lado, membros do lançava a primeira versão da sua
público representado em associa- obra “Primavera Silenciosa”. A
ções, por outro, instituições públi- mídia abriu espaço para a discus-
cas que garantam a conservação são de Carson– o que é registro
da área. Na quarta fase, o estu- sobre o envolvimento da comu-
do de uma amostra de notícias é nicação na geração de informa-
contemplado, em princípio, atra- ção sobre os estudos pesticidas.
vés da metodologia de análise de “No verão de 1962, a revista New
conteúdo. O resultado final será Yorker publicou três edições se-
baseado nos resultados deste es- guidas com trechos de Primavera

38 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


silenciosa, quarto livro de Rachel webjornalismo (Canavilhas, 2001)
Carson” (BONZI, 2013).

“Noticiá- que se propõe a escrever sobre a
rios de TV, rádio e jornais locais temática agrícola brasileira neste
são o instrumento de divulgação recorte.



dos ambientalistas, a ponto de Palavras-chave : agrotóxicos,
existirem reclamações por parte Brasil, jornalismo, construção de
dos políticos e das grandes corpo- sentido, comunidade noticiosa

rações de que é a mídia, e não os
ambientalistas, a grande respon- Tiago Quiroga Fausto Neto
sável pela mobilização em torno
da questão do meio ambiente” Por uma epistemologia da comu-
(CASTELLS, 1999, p. 161)

É inegá- nicação e das humanidades no
vel a presença do assunto “uso de tempo presente
agrotóxicos no Brasil” nos prin- Entre os resultados mais emble-
cipais jornais do país, principal- máticos da chamada sociedade
mente diante de acontecimentos de informação estaria a condição
como foram: a aprovação de 57 histórica do conhecimento como
novos registros de agrotóxicos importante agente de acumula-
aos 47 dias de governo do presi- ção da economia pós-industrial.
dente Jair Bolsonaro, ou, em se- Trata-se da ocasião em que as
tembro de 2018, com a votação universidades, como organiza-
do projeto de lei 6.299, de 2002, ções, passam a ser orientadas
que busca flexibilizar os proces- por lógicas de aperfeiçoamento
sos para regulamentação das de si mesmas como espécies de
substâncias agrotóxicas no Bra- hubs fundamentais à produção e
sil.

Descortinar como é realiza- distribuição do capital global da
da a cobertura jornalística sobre educação. De fato, na nova econo-
o fato do Brasil ser o maior con- mia do conhecimento, altera-se a
sumidor de agrotóxicos do mun- própria natureza da ciência, das
do é uma questão pertinente aos instituições pedagógicas e das
interesses acadêmicos e inves- diferentes formas de consciência
tigativos da comunicação. 

A ob- individual, tornadas, doravante,
servação da reportagem https:// investimentos rentáveis que po-
portrasdoalimento.info/ pode nos dem e devem ser mensurados.
trazer quais são as construções Dentre os resultados da mudança
de sentido e representações so- tem-se a progressiva fragilização
ciais (Guareshi, 2000) quando há da “relação dialética entre formas
elaboração destes conteúdos jor- sociais e formas de conhecimen-
nalísticos. E também entender se to” (Ouellet e Martin, 2018, p.81).
há comunidades noticiosa (COR- Como organizações, já não situa-
REIA, 2013, P.16) nas práticas de mos as universidades como es-

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 39


pécies de efeito-instrumento de singularidade de diferentes sabe-
seu próprio tempo, ou seja, como res. No âmbito das humanidades,
instituições que, ao passo que for- a retirada do importante princípio
necem os fundamentos epistemo- exercido pelo tempo não apenas
lógicos das atuais regulações so- as priva de qualquer alteridade
cioeconômicas, têm também sua possível, mas também as impe-
base material inteiramente defi- de de cultivar diferentes ideais de
nida por tais determinações. Dis- liberdade que não os da eficácia
cute-se a hipótese de que, histo- organizacional.
ricamente, o vínculo entre formas Palavras-chave : Tempo presente,
sociais e formas de conhecimen- Epistemologia, Comunicação, Hu-
to esteve dado pelo advento do manidades
tempo presente, como categoria
político-epistemológica central. Hugo Mendes Amaral
Trata-se do consagrado pres- FLUC
suposto, especialmente caro às
humanidades, de que foi o tempo, Comunicação em desconstrução
em particular o tempo presente, Comunicação em desconstru-
a virtualidade que lhes permitiu ção
Ao termo comunicação pa-
o elo com determinados projetos rece corresponder um conceito
de liberdade. Em outras palavras, quase unívoco, rigorosamente de-
teria sido a própria conquista da finível ou transmissível, numa pa-
virtualidade do tempo presente o lavra, comunicável. Na sua acep-
que teria permitido o vínculo do ção tradicional, «comunicação»
conhecimento com diferentes for- seria o veículo de um sentido, uno
mas sociais, entre elas a própria e indivisível. Dos modelos de base
democracia. Entretanto, hoje, no linear até aos modelos de base ci-
contexto do tempo real, tal cate- bernética, circular ou de massas,
goria parece evanescer. Através a comunicação foi sempre pensa-
da entronização da velocidade da como troca de informação en-
como juízo puro (Virilio, 1997), as tre dois e mais indivíduos, segun-
formas contemporâneas do capi- do a qual o sentido é apropriado
tal fixam a ausência de duração através de um sistema que trans-
como novo pressuposto ao fun- mite ou traduz a intenção de am-
cionamento social, reduzindo a bas as partes. O próprio modelo
experiência do tempo presente clássico de comunicação (inten-
ao signo da disponibilidade (Han, ção -> representação da intenção
2014a). A mudança aponta à per- -> iteração) determina que uma
da da dimensão emancipatória determinada interpretação esteja
que teria tido o tempo presente errada e outra certa porquanto é
(Bloch, 2001) na constituição e fundada no mito de que a intenção

40 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


é transmitida de consciência para municação como comunicação
consciência. Se falha o gesto de a das consciências ou das presen-
mensagem ser decifrada ou men- ças, assim introduzindo uma cer-
talmente legível, todo o processo ta espectralidade na linguagem e
de comunicação parece derrotar no mundo.


o seu propósito. Ora, seria então Palavras-chave : comunicação,
preciso questionar se a «comuni- desconstrução, desvio, différance
cação» comunica qualquer coisa
como um c
 onteúdo determinado, Luísa Maria Rutka Dezopi
um sentido identificável ou um va- Pesquisadora de mestrado do Programa de
lor descritível tendo em conta que Pós-Graduação em Sociologia da Unicamp
a iteração não é uma representa-
ção da intenção nem uma mera O trabalho intelectual, a Teoria
transmissão de consciência para Crítica e a denúncia da racionali-
consciência. Com efeito, para que dade instrumental
haja linguagem e comunicação, A partir de Dialética do Esclare-
todo o signo deve poder demar- cimento (1944) e Eclipse da Razão
car-se da intenção presente da (1947), de Theodor Adorno e Max
sua produção. Em suma, estará Horkheimer, a presente proposta
assim em questão pensar, de novo de pesquisa tem por objetivo cen-
e diferentemente, a partir do idio- tral estudar como a Teoria Crítica
ma filosófico da Desconstrução confere entendimento a categoria
derridiana, as concepções estru- de trabalho intelectual tendo em
turalistas e tradicionais sobre co- vista o cenário da indústria cultu-
municação, inclusive as teorias e ral norte americana. Isso implica
os modelos de linguagem que, na no desdobramento da imagem do
singularidade das duas diferen- cientista tradicional através da
ças, pensam a comunicação como crise da razão e do sacrifício das
mera passagem ou transmissão contradições e complexidade de
de um sentido que daria acesso a pensamento, em confronto com
«qualquer coisa». Sublinhar-se- a função intelectual crítica que
-á assim que, em todo o gesto ou promove diagnósticos de época
acto de comunicação, há a mar- transpostos de juízo existencial
ca de um desvio que continua a e contradições conscientes. Para
produzir efeitos ad infinitum para isso, como horizonte de preocu-
além da actualidade presente da pação e problemas faz-se ne-
intenção do seu «querer-dizer»: cessária a revisão da Filosofia da
um desvio que, ao mesmo tempo Ilustração, imagem do cientista
que dita a comunicação (e esta co- tradicional, crítica ao conceito de
municação em particular),
 marca Iluminismo, e dualidade mito-ra-
a ruptura com o horizonte da co- zão; tendo separação entre sujeito

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 41


e objeto, indústria cultural, domi- Luiz de Camargo Pires Neto
nação, racionalidade instrumen- FAPCOM / FECAP / PUC-SP
tal e paranoica como as principais
unidades de análise em vista nes- Para além dos espaços públicos,
ta pesquisa. Assim sendo, defendo heterotopias
a hipótese de que a categoria ocu- O presente trabalho pretende
pada pelo intelectual crítico, para aproximar experiências sociais
esses autores, encontra-se numa relacionadas à comunicação e
posição privilegiada no capitalis- o conceito de heterotopia. Este
mo tardio, estabelecendo-se de conceito foi cunhado pelo filósofo
forma antagônica e sólida em re- francês Michel Foucault (1926-
lação a racionalidade instrumen- 1984) no prefácio de “As Palavras
tal. E por isso é um elemento de e as Coisas” e desenvolvido tan-
extraordinária importância para to em 7 de dezembro de 1966, no
sustentar o sistema explicativo quadro de uma série radiofônica
da Teoria Crítica e compreender denominada “Cultura France-
os fenômenos sociais desenca- sa”, dedicada à utopia, quanto na
deados pela racionalidade ins- conferência intitulada “Outros
trumental. Nesse sentido, tenho espaços”, proferida no Círculo de
como referenciais bibliográficos, Estudos Arquitetônicos em 14 de
para essa tentativa de crítica ima- março de 1967 e publicada apenas
nente à gênese e características em 1984. A palavra heterotopia é
do trabalho intelectual, obras se- formada pelo prefixo heteros, que
lecionadas de Adorno e Horkhei- tem origem no grego e significa
mer e de seus comentadores, “o diferente” ou “o outro”, e pelo
como Martin Jay, Bárbara Freitag, termo topia, que significa “lugar”
Sergio Rouanet, Marcos Nobre, ou “espaço”. Neste sentido, a he-
Robert Sinnerbrink, Seyla Be- terotopia pode ser compreendida
nhabib, e Rolf Wiggershaus. E os como o “espaço diferente”, ou,
resultados obtidos serão entendi- melhor, o “espaço outro”. No pen-
dos através de um estudo atento samento de Foucault, as hetero-
e aproximado da questão de pes- topias são definidas em paralelo
quisa via reflexões filosóficas e in- às utopias. Estas são considera-
terdisciplinares, que promoverão das “posicionamentos sem lugar
critérios inerentes dela mesma real”, “espaços que fundamen-
para considerar, julgar e entender talmente são essencialmente ir-
as unidades de análise. 

 reais”, “o que verdadeiramente
Palavras-chave : Trabalho inte- não tem lugar algum”, enquanto
lectual; Teoria Crítica; Theodor as primeiras “são como que con-
Adorno; Max Horkheimer; Positi- traespaços”, “utopias localiza-
vismo Lógico e Teoria Tradicional das”, “utopias que têm um lugar

42 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


preciso e real, um lugar que pode- Janilce Silva Praseres
mos situar no mapa; utopias que Universidade da Beira Interior
têm um tempo determinado, um
tempo que podemos fixar e medir A crise da cultura: uma leitura
conforme o calendário de todos henryana da ciência moderna
os dias”. De acordo com Foucault, A crise da cultura: uma leitu-
todas as culturas criam suas pró- ra henryana da ciência moder-
prias heterotopias, elas se confi- na

Michel Henry (1922-2002) é
guram em uma constante de to- um filósofo francês cuja trajetória
dos os grupos humanos, tomando abrange uma diversidade de te-
formas diversas e variadas. Elas mas, a incluir ainda a autoria de
cumprem uma função em relação quatro romances que também de-
ao espaço restante, e essa função monstram suas inquietações filo-
se estende entre polos extremos. sóficas, seu intinerário é permea-
Ou elas criam um espaço de ilu- do pela sua peocupação principal:
são que evidencia todo o espaço a vida real das pessoas. Em 1987,
real, todas as alocações onde a Michel Henry concebe a análise
vida humana acontece ou, ao con- da crise da civilização ocidental,
trário, criam espaços reais meti- fomentada pelos efeitos de ideo-
culosamente organizados, perfei- logia dominante na época, em fa-
tos, que colocam em evidência o vor da hegemonia do saber cientí-
restante dos espaços como mal fico, análise que culmina em uma
organizados e desordenados. obra de grande sucesso e críti-
Uma sociedade, no curso de sua cas: La Barbarie. O pensamento
história, faz funcionar de manei- henryano, ao salvaguardar e de-
ras muito diferentes uma mesma fender aquilo que imediatamente
heterotopia que existe e não ces- nos é mais certo; estamos vivos!,
sou de e
 xistir. A partir deste con- ou seja, a Vida (não em sentido
ceito, esta pesquisa versa sobre biológico, mas fenomenológico),
“outros espaços” que emergem põe à prova o que é o modo como
em nossa cultura e os impactos a Ciência moderna fala da vida,
por eles causados nas relações denunciando aí o que ele chamou
estabelecidas entre os seres hu- de «redução galileana», já que
manos e ecossistema mediático Galileu terá sido o precursor de
contemporâneo. 

 um certo «desprezo» epocal pela
Palavras-chave : Michel Foucault; Vida, ao afirmar que era preciso
espaço; heterotopias; cultura
 não atender às «propriedades se-
cundárias» dos objectos (s
 ons,
sabores, cores, odores, impres-
sões tácteis) ou seja, deixar de
lado e desconsiderar das impres-

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 43


sões sensível e as sensações, não Leslye Revely dos Santos Arguello
matematicamente controláveis, Universidade Presbiteriana Mackenzie Upm
em suma, por fora do circuito do
saber certo tudo aquilo que era Projeto Escola Fazenda Canuanã
relativo à esfera da subjetividade - Brasil: Trabalho colaborativo e
humana. Mas, insiste M. Henry, beleza no espaço público
o ser humano determina-se-se O Projeto Escola Fazenda Ca-
em primeiro lugar por essa sub- nuanã em Tocantins, no Brasil,
jetividade «absoluta», no sentido é um espaço público criado para
em que não se deixa dissolver em abrigar 540 crianças no concei-
nada, e por esse conjunto impres- to de arquitetura humana, com o
sões que decorrem da nossa con- propósito de escola mais moradia,
dição material e corpórea. O que destinado para crianças de uma
assim está posto em questão é, zona rural brasileira. O projeto foi
então, a interpretação ontológica idealizado pelo Designer Brasilei-
da redução galileana ao consi- ro Marcelo Rosembaum e a Aleph
derar o humano, com tudo o que Zero, patrocinado pela Fundação
pensa e experiencia, determinado Bradesco, e o estudo tem como
por elementos que lhe são estra- foco investigar os valores e re-
nhos: partículas microfísicas. O flexões da construção desse es-
diagnóstico henryano assinala, paço, considerando seus aspec-
num arco mais amplo, a crise do tos culturais, sociais e artísticos.
sujeito moderno, crise afinal do O espaço está associado a uma
humanismo, notando uma contra- estética diferenciada no que diz
dição na cultura onde «racionali- respeito a escolas, moradias e co-
dade ética», colocada como «uma munidades na cultura brasileira.
ética com pretensões a ser ciência Esse projeto teve um caráter de
da ação, depende de sempre uma co-criação com as pessoas ao re-
“meta
 física representativa” que dor, considerando seus valores e
determina finalidades e objectivos desejos. O “saber fazer” também
exteriores, fora da subjectividade foi um atributo imprescindível na
radical da vida». Denuncia ainda a criação desse espaço, ou seja,
supremacia da abordagem «téc- técnicas utilizadas pelos locais
nica», da utilização do saber «la- foram incorporadas ao processo
boratorial» da vida em detrimento e na linguagem do resultado final.
da valorização da vida ela própria O abrigo tem características das
na sua auto-fruição, i.e., do Le- culturas locais de diferentes et-
benswelt. 


 nias (como índios e filhos de agri-
Palavras-chave : Cultura. Barbá- cultores), com a ideia de promover
rie. Ciência. Michel Henry educação, socialização, beleza e
espaço integrado com a nature-

44 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


za. Além disso, a ideia de Design tal pode ser editor de si mesmo,
Essencial, criada pelo idealizador, e pode publicar os seus pensa-
onde a estética tem compromisso mentos online, onde teoricamen-
com um todo: a natureza, que é te poderão ser vistos por qualquer
grande ao seu redor, a ancestra- uma de milhares de milhões de
lidade, o fortalecimento de grupo outras pessoas. Paradoxalmente,
e a produção local. Com conceitos os males da liberdade expressão
de Massimo Cacciari, A cidade, a são hoje tão fortemente assina-
respeito de moradia, acolhimen- lados, desde discursos de ódio e
to e comunidade; Richard Senett, discriminação à manipulação, à
a importância do Fazer com as desinformação e ao crescimento
próprias mãos e a ideia de cultu- de extremismos, a que acresce a
ra e socialização de Milton San- sensação de impotência para or-
tos, esse estudo pretende trazer ganizar e dar ordem à multiplici-
indagações sobre a importância dade de informações e perspeti-
de pensar a linguagem artística vas que coexistem. As promessas
dos espaços públicos como forças contidas nas potencialidades de
para o desenvolvimento social. 
 interação via redes sociais (re-
Palavras-chave : espaço público; lação empresa-consumidores)
escola; moradia; comunidade; sa- não estão a ser plenamente uti-
ber fazer; cultura brasileira
 lizadas, conduzindo a uma frag-
mentação de um grupo de desti-
Gil Ferreira e Joana Fernandes natários por defeito fragilizado,
Instituto Politécnico de Coimbra / Escola atomizando a relação consumi-
Superior de Educação dor/empresa e abalando as estru-
turas de uma comunidade. Este
Liberdade de Expressão na era novo estado tem consequências
digital: a relevância do artigo 19º imediatas e profundas na forma
e a formação superior em comu- como jornalistas, publicitários e
nicação
 profissionais de relações públicas
Partimos da perceção de que constroem ou destroem o “espaço
nunca na história da humanidade público comunicacional” (Ilhen &
existiram tantas possibilidades Ruler, 2011, p. 245). Sendo a es-
para a liberdade de expressão fera pública como um espaço de
como as que existem hoje. Num dinâmicas de co criação da reali-
tempo marcado pela abundância dade simbólica, debruçamo-nos
de tecnologias e plataformas de- nos modelos de formação que
dicadas à participação discursiva, estão a ser privilegiados, questio-
com alcance global e caracteriza- nando se contribuem para a con-
das pela abertura, a maior parte solidação de um pensamento e de
dos indivíduos no mundo ociden- uma atuação na polis que reforce

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 45


o espírito fundamental inscrito Andrés Buzzone
no Art. 19º da DUDH, de 1948, e Universidade de São Paulo
incorporado em 1966 no Art. 19º
do Pacto dos Direitos Civis e Po- Transições e transformações da
líticos. Os valores associados à comunicação pública e do espaço
liberdade de expressão perma- público
necem importantes, são uma exi- A força performativa do prono-
gência inalienável. O que mudou me plural na primeira pessoa se
foi o contexto tecnológico em que faz particularmente visível toda
tentamos perceber esses valores, vez que um inimigo interno serve
e as transformações que esse como vetor para aglutinar vonta-
contexto trouxe aos diversos ato- des em torno de um discurso de
res sociais, desde os indivíduos exclusão. O “nós” se constitui e
comuns, antes definidos como au- se fortalece, então, por oposição
diência (Rosen), aos profissionais a um “eles” que não deixa espa-
dos media (assessores, jornalis- ços para um “vocês”, que fecha
tas), que antes detinham o qua- espaços ao diálogo e cerceia pos-
se monopólio da intermediação. sibilidades de empatia. Comuni-
Propomo-nos partir dos modelos cação hipostasiada. Imigrantes e
de educação para os direitos hu- refugiados, nordestinos, índios,
manos para enquadrar as formas gays, petralhas, marxistas cul-
assumidas na formação dos es- turais servem à identidade de
tudantes de Comunicação Social grupos dominantes cujo discurso
e Organizacional para a concre- hegemónico tem no diálogo uma
tização do art. 19º, denominador ameaça real. Nossa pesquisa
comum dos dois profissionais. tem seus alicerces numa com-
Uma contextualização na realida- preensão da comunicação não
de portuguesa será fundamental com base num esquema redutor
para perceber os obstáculos polí- “emissor-mensagem-receptor”
ticos, económicos e culturais que mas em termos de um sujeito
podem conflituar com propostas plural, de um tecido de narrativas
de intervenção no(s) discurso(s) que se alimenta em trocas per-
sobre os direitos humanos. manentes. É a condição plural do
Palavras-chave : Espaço público, ser do homem que está presente,
art. 19ª DUDH, Comunicação So- de maneira nem sempre explíci-
cial, Comunicação Organizacio- ta, ao longo da obra de Ricoeur.
nal, Formação

 A comunicação se coloca, assim,
como fundante da identidade nar-
rativa que surge como resposta
às perguntas: Quem fala? Quem
é o sujeito da ação? Quem é res-

46 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


ponsável? A identidade narrativa Elaine Santos
pode ser individual ou coletiva. O USP
sujeito plural de uma cultura, de
uma sociedade, se constitui num (Re) criando elos e espaços: um
tecido de narrativas individuais, exercício sócio-político da loucu-
mas também no jogo de conver- ra
gências e de divergências entre Diante de um contexto social ba-
sujeitos plurais. Muitos destes seado na hiperconectividade e na
atores/autores convivem sem se expansão de uma globalização
excluírem -mas nem todos, nem perversa questionamos os rumos
sempre. Questão de pronomes. da nossa civilização. Por ora, é
Discursos que se sustentam na possível afirmar apenas que se
negação da interlocução exigem trata de uma transição histórica
o enfraquecimento da segunda profunda e a análise desse com-
do plural junto com a expulsão do plexo e crítico mosaico de trans-
território da primeira. Todo diálo- formações pode se dar de inú-
go exige que o forasteiro seja re- meras maneiras. No caso deste
conhecido na sua outridade como estudo, faremos uma articulação
interlocutor competente, e isso do conceito de “cidadania mutila-
começa na passagem do “eles” da” do geógrafo brasileiro Milton
(bárbaros, o outro absoluto in- Santos e a ideia de “loucura” des-
digno ou incapaz de palavra) para crita pela psicanalise, para pen-
o “vocês” que abre passo à inte- sar os processos de descolamen-
gração em um “nós” dialogal. Nós to entre o público e privado e as
que falamos, nós que pensamos, tensões existentes entre o mundo
nós que somos. No horizonte de interno e externo. Para o autor,
nossa reflexão estão os desafios vivemos uma violência perturba-
colocados pelo surgimento de no- dora do dinheiro e da informação,
vos atores políticos (ou o renascer que traz como consequência, o
de alguns bem antigos) cuja força atrofiamento do conhecimento e
está na fratura do “nós” coletivo da consciência em três níveis: da
pela exclusão e a negação do re- corporalidade (que remete a uma
conhecimento do outro -como é objetividade por meio da objeti-
o caso do Brasil na ascensão do ficação); da individualidade (que
fanatismo de extrema direita ao se refere a um empobrecimento
poder. da subjetividade) e da cidadania
Palavras-chave : Filosofia da co- (que envolve aspectos políticos e
municação, nós, sujeito plural, jurídicos, que dizem respeito ao
identidade narrativa campo dos direitos). Levando em
consideração essa construção
teórica, iremos discorrer sobre o

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 47


modelo cívico nacional, herdado Paulo Antônio de Sousa Marquêz
pela escravidão, que organiza os Universidade de Sorocaba - UNISO
espaços públicos a partir de uma
dimensão do privado, no qual uma O Poder Legislativo Municipal
economia corporativa exerce um visto como espaço midiático de
domínio sobre o ser e perten- Transparência, Participação So-
cer social. Essa democracia de cial e Educação Cidadã
mercado, estaria se utilizando da Este trabalho investiga práticas
técnica para assassinar a ideia dialógicas e interativas nas Câ-
de conjunto e de nação. Por ou- maras Municipais – sob o olhar
tro lado, existem desvios dessa da comunicação pública e de inte-
tendência, quando paramos para resse público – que levam os cida-
observar a manifestação de micro dãos a perceberem estas institui-
e poderosas ações que aconte- ções como espaços midiáticos de
cem dentro do contexto da cidade. transparência, participação social
Essa retomada publica de espa- e educação cidadã. A discussão
ços privatizados a partir de dife- se dá pela identificação de canais
rentes linguagens pode ser no- de informação, comunicação e
meada como loucura, na medida educação cidadã, para ampliar
em que, diante daquilo que se co- a participação e o envolvimento
loca como normatizado, o sujeito é dos cidadãos no processo deci-
demandado a assumir a condição sório e da análise de como estes
de desviante para se apropriar de espaços promovem a interação,
seu papel de cidadão. Apesar das o diálogo e a compreensão entre
tensões e discordâncias de Michel os atores sociais – objetivo prin-
Foucault em relação ao campo cipal deste estudo. Por metodo-
psicanalítico, essa proposta mul- logia, uma pesquisa documental
tifacetada pretende aproximar e bibliográfica para apontar pro-
esses pensamentos, para ampliar váveis práticas comunicacionais,
o olhar sobre as dimensões do o que implica avaliar os portais
poder institucionalizado. institucionais, para um diagnós-
Palavras-chave : espaço - público tico sob o aspecto das dimensões
- privado - loucura

 “transparência legislativa e admi-
nistrativa, participação e controle
social e aderência à Lei de Acesso
à Informação”, culminando num
estudo descritivo, que requer
análise de produtos e veículos de
comunicação. Como base teóri-
ca, os conceitos de comunicação
pública de Pierre Zémor, Jorge

48 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Duarte e Elisabeth Brandão; de da coisa pública mais transparen-
informação, de Gonçal Mayos te e democrática.
e Chun Wei Choo; participação Palavras-chave : Comunicação
social, de Cris Ferri e Ladislaw Pública. Transparência. Partici-
Dowbor; e educação cidadã, de pação Social. Educação Cidadã
Humberto Dantas e Rildo Cosson.
Essa fase da pesquisa aponta que Gil Ferreira e Susana Borges
as Câmaras Municipais: 1) divul- Escola Superior de Educação de Coimbra
gam informações, promovem de-
bates de interesse da sociedade, Informado pelos pares: sobre o
mas adotam poucos mecanismos Faebook como fonte e a satisfa-
de participação popular; 2) seus ção com a democracia
espaços de comunicação refle- A comunicação questiona o im-
tem, em grande parte, somente pacto da informação pelo Fa-
a posição dos parlamentares; 3) cebook na formação de opinião
se colocam como fonte de infor- sobre assuntos políticos, entre
mação de interesse público para jovens portugueses estudantes
cidade, o que implica vários des- do ensino superior. Pretende ava-
dobramentos práticos, como a liar a utilização do Facebook como
existência de ouvidorias legislati- instrumento para a expressão de
vas que estreitam a relação entre opiniões e para a obtenção de in-
a sociedade mas, na prática, não formação. Procura ainda carate-
garantem a participação popular; rizar o ambiente discursivo so-
e 4) desenvolvem ações de edu- bre assuntos políticos é comum
cação cidadã, permitindo maior nessa rede social. A partir de um
acesso ao conhecimento legisla- questionário aplicado a 160 es-
tivo. Considera-se, portanto, que tudantes do ensino superior em
nesses espaços midiáticos há um Portugal, o estudo constata que
processo que favorece o compar- pouco mais de um terço dos estu-
tilhamento de informações rele- dantes publica na rede Facebook,
vantes ao cidadão, favorecendo a qual é, por sua vez, consultada
o exercício da cidadania. Porém, pela quase totalidade dos estu-
informação apenas não basta, é dantes todos os dias, para quem
preciso transparência para ga- é a forma online mais utilizada
rantir o diálogo e incentivar a par- para obter informação. O estudo
ticipação do cidadão na vida públi- verifica a existência, nesse espa-
ca. Finalmente, lançar bases para ço, de um ambiente marcado pela
promover boas práticas e aper- negatividade e pela insatisfação
feiçoar as funções de informar, em relação ao funcionamento da
comunicar e educar das Câmaras democracia. Os dados recolhidos
Municipais, pode tornar a gestão permitem sugerir a existência de

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 49


um fenómeno de informação pe- ção da organização e dos públicos.
los pares (consistente com um Importa também perceber de que
modelo de two-step flow of forma se estabelece o diálogo entre
communication), em que uma diferentes actores no sistema polí-
maioria é exposta a um ambiente tico (Ikeda, 2013), de forma a que se
hegemónico alimentado por uma alcancem diferentes entendimen-
minoria (gerando um fenómeno tos face a diferentes conflitos de in-
de espiral do silêncio), criando as teresses. Assim, é objectivo deste
condições para a existência de um artigo importante analisar de que
pseudo-ambiente de negatividade forma a Comunicação Estratégica,
e insatisfação, que poderá favore- e em particular o Lobbying, podem
cer uma perceção pública hostil permitir a discussão em prol des-
ao funcionamento da democracia. ses mesmos entendimentos junto
Palavras-chave : Two-step flow of da Sociedade Civil.
Esta realidade
communication; Espiral do Silên- de espaços participativos emer-
cio; Facebook; Democracia gentes traz novos mecanismos de
participação cidadã, para além do
João Duarte Borges Martins de voto, na elaboração de políticas
Vasconcelos Simão públicas. É pertinente ressalvar
ESCS-IPL que sem uma contínua participa-
ção cidadã toda a representação
Lobbying e Comunicação Estra- política passa a basear-se numa
tégica: Contributos para uma lógica de comunicação assimétri-
melhor Participação Política 

 ca – ora, quanto mais complexas
A Comunicação Estratégica é uma as sociedades, mais complexo e
função organizacional vital para a menos categórico será o papel de
defesa e promoção de interesses um profissional de Comunicação
de uma organização. Defende-se Estratégica, pois irão colocar-se
a actividade de Lobbying como vários problemas de eficácia co-
uma componente integrante da municacional. Uma maior partici-
Comunicação Estratégica, com pação e uma maior eficiência são
profissionais próprios, e legitima- complementares, porém torna-se
mente orientada para a defesa e necessário experimentar novas
representação de interesses. 
É vias de participação. 
Pretende-se,
função principal da Comunicação então, analisar neste artigo de que
Estratégica, enquanto Comunica- forma se cruzam os conceitos de
ção Aplicada, desenvolver diferen- Lobbying, Comunicação Estratégi-
tes estratégias de comunicação ca e Participação Política, de forma
em prol da gestão e resolução de a que se consiga perceber que van-
diferentes conflitos, de forma a tagens daí se advém na defesa de
influenciar intencionalmente a ac- diferentes interesses.

50 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Danielle de Gois Santos Caldeira, do-as a um grupo vulnerável. Por
Elza Dutra e Irene Borges-Duarte espaços públicos, entendemos
Universidade Federal do Rio Grande do agrupamentos das esferas pes-
Norte e Universidade de Évora soal, intelectual e social compos-
tos por diversas experiências. A
Refletindo sobre femenícidio: ética, no espaço público, mobiliza
ética como estratégia na articu- questões contrárias à resignação
lação comunicação e espaços pú- quanto às restrições de liberdade,
blicos cuidado e responsabilidade: como
O presente trabalho evidencia convivermos e, inclusive, como
a ética como temática central e nos comunicamos diante de expe-
instigante de circularidade com- riências de opressão? Quais ati-
preensiva envolvendo entes hu- tudes adotar diante de encontros
manos, comunicação e espaços envolvidos por violência e desres-
públicos. A proposta reflete e peito ao gênero feminino? Como
constrói estratégias para forta- lidarmos com a artificialidade que
lecer leituras e posicionamentos conjuga democracia e ações con-
tendo em vista convivência har- trárias aos direitos humanos? Os
mônica entre seus pares. A ética sofrimentos emocionais estão de
resgatada apoia-se na noção de forma alargada, notificados so-
ethos grego, como o filósofo Mar- cialmente e revelam-se evidên-
tin Heidegger expôs Heidegger cias cotidianas. A comunicação
(1946/2005), (1927/2012) e (2009). se insere como demonstrativo de
Ética retomando ethos remete a processo social. Entretanto, o in-
lugar de morada e é aqui encarada teresse por informação se distin-
como cotidiana. O caminho elei- gue do exercício de comunicação,
to para evidenciar a ética foi o da as relações entre entes humanos
existência, assim, adotamos mé- e técnicas nem sempre são volta-
todo fenomenológico hermenêuti- das a refletirmos sobre responsa-
co heideggeriano, principalmente, bilidades e trocas discursivas que
tomando a noção de circularidade respeitem e
 xperiências coleti-
ratificando e aproximando-nos de vas. Muitos desses sofrimentos
experiências coletivas. Neste tra- são denominados por aqui que a
balho, evidenciamos o modo como ONU denominou sofrimento em
nos relacionamos com os espaços silêncio onde entes humanos são
públicos em situações singulares, obrigados a experimentar coa-
nas quais presenciamos desres- ção, deslocamento, restrição de
peito aos direitos humanos, des- liberdade sem precisão de tempo
taque aos crimes de feminícidio, para seu término. Paralelamente,
que dizem respeito à violência ressaltamos uma aparente ética
dirigi da às mulheres restringin- que atravessa as sociedades e,

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 51


igualmente, aparece silenciada grande anuência em relação às
colocando em jogo democracias teorias dos principais pensado-
e direitos humanos. A instabilida- res do tema, principalmente às
de e a mutabilidade referentes às ideias de responsabilidade, des-
experiências são oportunidades burocratização e democratiza-
para reintegrar entes humanos e ção para a formação de valores.
natureza requisitando-nos, convi- Nesse sentido, a pesquisa revela
ver e, ao mesmo tempo, admitir e que os formandos possuem uma
exercitar cuidados. percepção da ética reflexiva e li-
Palavras-chave : ética; feminicí- vre de preconceitos. Assim como
dio; comunicação; espaços públi- a ideia de valores afirmativos da
cos vida e desconstrução de valores
vigentes. A ética utilitarista tam-
Júlia Teixeira de Carvalho e bém tem grande anuência. Por
Maria Teresa Mariano fim, em caráter principal segundo
Pontifícia Universidade Católica de Minas a pesquisa, a percepção da socie-
Gerais dade racionalizada, instrumental
e voltada aos códigos. Eles per-
A percepção dos formandos em cebem a importância de se cons-
Administração na Puc Minas tituir relacionamentos e intera-
campus Poços de Caldas sobre ção nos meios sociais, de acordo
ética e suas concepções com a ética discursiva e, por isso,
Pode-se dizer que a ética é uma emancipados e não dominados
prática para a construção de uma pelo racionalismo. A ética para
sociedade mais justa e respon- os futuros gestores pressupõe
sável. Sendo assim, o presente responsabilidade e abertura para
estudo teve como objetivo identi- discussão na esfera pública de
ficar a percepção de alunos for- forma democrática. Isso implica
mandos do Curso de Adminis- um caminho voltado às pessoas e
tração da Pontifícia Universidade não apenas aos avanços da técni-
Católica de Minas Gerais campus ca e da ciência.

Poços de Caldas sobre a ética e Palavras-chave : Ética; Organiza-
suas concepções, contemplando ções; Gestão
o seu conceito e sua abordagem
na história da Filosofia. Para tan-
to, foi feita revisão da literatura
e aplicado questionário em um
universo de cinquenta e um alu-
nos matriculados no oitavo e úl-
timo período do curso. O estudo
mostra que os formandos têm

52 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Heitor Costa Lima da Rocha e bility of a philosophical contra-
Anabela Gradim diction with Peirce’s conceptions
Universidade Federal de Pernambuco / of the incompleteness of the pro-
Universidade da Beira Interior cess of semiosis and fallibilism
in the face of the prescriptions of
Objectivist journalism, construc- Robert Park, Elizabeth Noelle-
tivism and philosophy: from the -Neuman, Robert Entman and Mi-
authoritarian discourse to the chael Schudson, will be evaluated.
dialogical interpellation of the journalism, in addition to ensuring
diversity of interpretations of the the diversity of versions on social
communication community issues, gives a judgment on the
This paper intends, in a first mo- actions of those responsible and
ment, to elaborate the compara- possible solutions to problems.
tive table of the foundations of the The paper presents the argument
conception of objectivist journa- that there is no contradiction in
lism, based on the theory of the the collection of journalism to de-
correspondence of the represen- velop an ethical and moral evalua-
tation with the reality, with the tion of the subjects treated with
constructivist conception of jour- the philosophical notions of Peir-
nalism, based on the consensual ce, because in them the closure of
theory of the truth. In the positi- the subjects is foreseen for defi-
vist notion of objectivity, it presu- nition of the meanings, even if of
pposes authoritarian journalistic provisional form, without commit-
discourse, which intends to self- ment of the character ad infinitum
-validate, given the presumption of the process of semiosis. Thus,
of complete and perfect knowle- in order to be consistent with the
dge of reality through the verifi- peirceanas philosophical bases
cation of the absolute distinction of the consensual theory of truth,
between fact and opinion, while in the journalistic discourse must in
the constructivist notion identifies fact make a moral judgment defi-
the commitment of journalistic ning the meaning of the problems
discourse to represent the signifi- addressed, but without giving up
cant diversity of the existing inter- the fallibilist conscience to pre-
pretations in the communication sent this position as one more
community through the meaning position that is put to the scrutiny
of the provisional consensuses of the communication community
established on the thematic is- that, ideally, embraces the whole
sues and the deliberations taken society.
to face concrete problems expe- Keywords: Journalism; Positi-
rienced at each historical moment vism; Constructivism; Philosophy;
by society. In a second, the possi- Deliberative Democracy.

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 53


Cláudia Liz de Castro Pacheco a técnica de análise de conteúdo
Instituto Politécnico de Portalegre tendo construído uma grelha que
pretendeu observar categorias
A comunicação autárquica e a como a Identificação e tipologia
sua relação com os jornalistas – das salas de imprensa, o seu en-
O caso das salas de imprensa on- quadramento e estrutura no site
line dos municípios portugueses do município, as atividades diri-
A comunicação autárquica e a gidas aos meios de comunicação
sua relação com os jornalistas social, a exploração e potencia-
– O caso das salas de imprensa lização das ferramentas no meio
online dos municípios portugue- web e ainda a
interatividade aí
ses.

Este estudo procura, numa oferecida. 
Dos resultados apu-
primeira abordagem, fazer uma rados podemos concluir que a
incursão sobre algumas questões sala de imprensa online, se cum-
que estão na ordem do dia quando prir a sua função com eficácia,
se fala sobre comunicação autár- pode ser um contributo efetivo
quica digital no que concerne à para ajudar a uma maior trans-
realidade municipal portuguesa. parência e independência entre
Desta forma, pretende-se discu- os agentes envolvidos na comuni-
tir temáticas que cruzam as áreas cação municipal. Ganha, assim, o
da comunicação autárquica, do município, na gestão da sua ima-
digital e da assessoria de im- gem e estratégias comunicativas,
prensa, não esquecendo também e o jornalista no exercício da sua
as necessidades dos jornalistas função e, por último, o munícipe
no exercício diário da sua profis- enquanto cidadão.



são, sobretudo quando falamos Palavras-chave : Comunicação
de imprensa local e regional.
En- autárquica, salas de imprensa
tendendo as salas de imprensa online, assessoria de imprensa


online como “espaços exclusivos
de interação com os media, ex-
plicitamente identificados no site
da organização” (Bueno e Pimen-
ta:2006), fomos observá-las nos
sites oficiais dos municípios por-
tugueses, procurando perceber
as suas principais características
e funcionalidades, bem como que
instrumentos ou ferramentas são
utilizados nesses espaços online
para fomentar a relação com os
media.
Para esse fim, utilizámos

54 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


Iolanda Soares de Barros exposição da imagem da presen-
Doutoranda da Universidade Salvador - UNI- ça negra rompe e recria padrões
FACS de comunicação influentes. Para
o alcance do objetivo proposto,
A imagem do negro na mídia se faz necessário a busca do co-
baiana nhecimento mínimo da composi-
Ainda que a cidade de Salvador, ção histórico-temporal sobre o
na Bahia, comporte a maior po- tema, dessa forma a metodologia
pulação negra entre as todas as adotada para o desenvolvimento
cidades brasileiras, a imagem do deste artigo, se deu através de
negro, esteve durante séculos um estudo de caso, com a utili-
associada a pobreza, demérito e zação de pesquisa bibliográfica
subserviência, ignorar a existên- e documental. Nesse contexto os
cia desse público era a máxima resultados dos estudos apontam
abordagem dispendida pela mídia que a representatividade econô-
da capital baiana, que destacava mica expressiva da população
em suas campanhas publicitárias negra em Salvador, demandou o
cenas do cotidiano, predominan- uso da sua imagem, ao mesmo
temente com pessoas brancas, in- tempo que o uso da sua imagem
dependente do produto ou serviço em campanhas de marketing,
que estivesse no alvo das estra- rompe padrões hegemônicos de
tégias de marketing. Entretanto beleza, promovendo a consolida-
nos últimos anos, com a popula- ção do negro como consumidor e
rização da internet, a criação de participante ativo da sociedade, e
novos produtos, o surgimento de fortalecendo a consciência cole-
uma nova classe média, e o aces- tiva plena do direito de seu lugar
so a bens de consumo e serviços, no mundo, onde a vergonha, cede
faz surgir diversos movimentos lugar ao orgulho da sua imagem.

sociais, campanhas comerciais e Palavras-chave : Imagem do ne-
publicitárias, com a utilização da gro, marketing, beleza negra,
imagem de modelos negros em mudança comportamental


diferentes tipos de mídia, trazen-
do a luz, a força da expressão da
beleza negra. Diante de tal fato
esta pesquisa analisa de que for-
ma as campanhas publicitárias,
influenciam comportamentos,
que, representados através de
expressões, vestimentas e aces-
sórios configuram uma mudança
na sociedade, à medida que essa

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 55


Milena Albuquerque, Janilce Silva e local de nascimento, história de
Prazeres e Paulo Serra vida e profissional, entre outras
informações.
“QR Code: O Código para Vida Palavras-chave : QR CODE, Mor-
Eterna” te, Tecnologia, Cemitério
Apesar de não nos sentirmos con-
fortáveis em falar sobre a morte, Celene Fidelis Frias Ferreira
a consciência de sabermos que Universidade da Beira Interior
um dia vamos morrer e que este
acontecimento é incerto, parece- Por uma Comunicação Decolo-
-nos essencial para estabelecer- nial
mos o debate sobre a morte fren- Os processos são dinâmicos e
te a sacralidade da vida humana. estão sempre em elaboração,
O temor da morte gera diversos construção e reconstrução. Por
sentimentos e discussões em vá- acreditar que não se deve incor-
rias áreas do saber a fazer com porar um padrão hegemônico a
que o homem busque formas em ser seguido, o que reduz a com-
lidar com suas perdas e seus re- preensão do mundo e invizibiliza
ceios. A tecnologia digital surge, uma pluralidade de outras expe-
neste cenário, como infraestru- riências possíveis, saberes que
tura do ciberespaço, que trans- podem conduzir a outros modos
mite a informação em tempo real de dar sentido ao mundo, e con-
e invade o cotidiano das pessoas tribuir para as soluções de pro-
e das empresas, reconfigurando blemas, no mínimo particulares,
os ambientes sociais e domésti- fora da racionalidade monolítica
cos. Nesse contexto, nosso traba- da modernidade, é que considera-
lho pretende mostrar a eficiência mos relevante apresentar os fun-
da tecnologia digital do QR Code damentos do pensamento (Des)
como meio de comunicação e su- colonialidade ou Decolonialismo,
porte na ressignificação dos ritos concepção epistemológica latino-
fúnebres. Deste modo, o objeto de -americana que vem se afirmando
nossa investigação é o Cemitério como uma perspectiva alternativa
dos Prazeres, localizado em Lis- e contra hegemônica de constru-
boa, que apesar da existência de ção social, política, econômica,
um turismo cemiterial, por meio cultural, educacional e comuni-
de visitas guiadas, ainda não dis- cacional no alcance por socieda-
põe da tecnologia digital do QR des mais democráticas, plurais,
Code, o que proporcionaria aos humanas e inclusivas; o que sim-
visitantes acesso instantâneo boliza maior justiça social. Este
das informações sobre as pes- artigo é uma aproximação des-
soas sepultadas, como foto, data sas discussões para o campo da

56 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


comunicação buscando sustentar ontológico para nossa investiga-
teoricamente a argumentação de
 ção. Para isso contemplaremos
que há oportunidade para a inser- alguns dos pensamentos heideg-
ção da perspectiva decolonial aos gerianos em relação à impessoa-
estudos da comunicação.
 lidade do Dasein (ser-aí), como
Palavras-chave : Decolonialismo; uma condição do ser-no-mundo.
decolonialidade da comunicação; A construção do Dasein enquanto
descolonialidade; epistemologia impessoal ocorre como um modo
da comunicação de ser neste mundo, onde é reti-
rada a possibilidade de ser quem
Rodolfo Victor Cancio Evangelista e realmente se é, em nome de uma
Gérson Pereira Filho impessoalidade do ser. Após ser
PUC Minas - Poços de Caldas edificada uma base filosófica para
sustentar nossa reflexão, aí então
A generalidade do eu: reflexões nos empenharemos na tarefa de
sobre o impessoal
 analisar essa impessoalidade em
O caminho a ser percorrido por relação às nossas próprias vivên-
nosso projeto deve tecer refle- cias. Iremos tecer reflexões sobre
xões em relação ao modo de ser a relação do sujeito enquanto uni-
impessoal e de como tal impes- dade singular e enquanto dimen-
soalidade emerge em nossas são coletiva, sob a perspectiva da
próprias vivências. Revisitaremos sociedade contemporânea, dita
o filósofo alemão Wilhelm Dilthey “pós-moderna”, de “massas”, do
(1833 – 1911) em sua postulação “espetáculo”, do “consumo”, onde
referente à distinção entre o es- a validação e o reconhecimento do
tudo das ciências da natureza e outro, tem se manifestado em sua
o estudo das ciências do espirito, negatividade, uma vez que as re-
para que a partir dessa perspec- lações de alteridade são medidas
tiva possamos compreender o su- por pseudo-identidades constituí-
jeito enquanto uma unidade psi- das pela aparência midiática, vir-
cofísica singular, porém também tual, efêmera, na mera ostenta-
pertencente a um corpo social, ção de “sujeitos” que se reduzem
uma vez que atua conjuntamente ao valor e modismo visuais dos
com outras unidades psicofísi- bens de consumo do seu tempo,
cas, quais sejam, outros sujeitos onde se anula qualquer dimen-
individuais, conectados entre si, são singular de uma pessoalidade
o que assegura a dimensão cole- autêntica, assim como se distan-
tiva e histórica da existência hu- cia de um sentido de coletividade
mana. Em seguida partiremos em humana. Neste contexto, o modo
direção à Martín Heidegger (1889 de existência na contemporanei-
- 1976) a fim de buscar um solo dade, em certo sentido, vem a

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 57


ser a negação do sujeito em sua bito da teoria política e das ciên-
possível identidade pessoal, bem cias da comunicação já não como
como a negação do sujeito coleti- uma provável fonte de disrupção,
vo, histórico, social, em nome de mas sim como uma potencial
uma impessoalidade massificada. vantagem para o processo polí-
Palavras-chave : Impessoalidade; tico: obras como The Wisdom of
Sujeito; Dilthey; Heidegger the Crowds (2004), de James Su-

 rowiecki, Infotopia (2005), de Cass
Bruno Serra Sustein, e Crowdsourcing (2009),
Universidade da Beira Interior de Jeff Howe, apesar de não se
terem tornado na ortodoxia domi-
A onda invisível: dinâmicas de nante acerca destes assuntos, as-
grupo e opinião pública na era sinalam ainda assim inequivoca-
das redes sociais mente uma viragem optimista na
O problema da psicologia de mas- análise dos mesmos que assumiu
sas, com todos os seus epifenó- uma certa preponderância desde
menos, constituiu séria preocupa- então.
 No momento presente,
ção de alguns dos mais brilhantes contudo, a realidade política que
pensadores contemporâneos do se nos apresenta – dominada por
século XX, entre os quais Gustave personagens como Trump, Bolso-
Le Bon, Gabriel Tarde, Sigmund naro e Salvini – parece determi-
Freud, William McDougall e Elias nada a retirar legitimidade a esse
Canetti. Laborando em torno de optimismo, ao mesmo tempo que
dois momentos históricos fulcrais restitui pertinência e actualida-
– o pós-Revolução Francesa e o de às abordagens inegavelmente
pós-Segunda Guerra Mundial –, a mais pessimistas daqueles pen-
sua preocupação era a de elucidar sadores mencionados acima. Com
a essência dos fenómenos na ori- isso em mente, o presente traba-
gem das pulsões atrozes que ha- lho propõe-se a recuperar essas
viam caracterizado precisamente abordagens e a utilizá-las para
os momentos históricos que os iluminar os desafios colocados
antecederam, essência essa que pelos mass media convencionais
parecia iludir de forma cabal to- e, particularmente, não-conven-
dos os pressupostos acerca da cionais – as redes sociais como o
natureza e moralidade humanas Facebook e o Twitter, por exem-
que constituíam um dos legados plo – às sociedades democráticas
fundamentais do racionalismo contemporâneas, inquirindo até
Iluminista. Quase um século vol- que ponto a crescente preemi-
tado, as questões da psicologia de nência de um processo político
massas e da dinâmica de grupo paradoxalmente mediatizado e
ressurgiram timidamente no âm- não-mediado estará a potenciar

58 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


dinâmicas de grupo perniciosas tativo, desenvolvida por meio de
a uma escala inaudita – ainda que estudo de caso. Realizamos en-
não de todo imprevisível.
 trevistas semiestruturadas, re-
Palavras-chave : Dinâmicas de correndo a técnica de entrevista
grupo; Opinião pública; Mediati- guiada e, através dela, coletamos
zação; Emoções

 os dados para o desenvolvimento
desse estudo. Essa proposta de
Flávio Henrique da Silva e trabalho possibilitou ao entrevis-
Ronny Francy Campos tado que discorresse livremente,
Pontifícia Universidade Católica de Minas do seu próprio modo, sobre o seu
Gerais - PUC Minas próprio percurso existencial. (In)
conclusão, constatamos – com
ENVELHESER: “Numa certa épo- esse trabalho - que o envelhe-
ca da sua vida, você não tem que cimento de um homem homos-
justificar mais nada” (Estudo de sexual é um processo bastan-
caso acerca do envelhecimento te singular, contendo (como em
de um homem homossexual) qualquer outra situação huma-
Esta pesquisa parte da narrativa na) perdas e ganhos tendo ine-
de um homem homossexual ido- vitáveis mudanças em diversas
so. O objetivo foi refletir sobre o dimensões da subjetividade hu-
envelhecimento de uma pessoa mana. Percebemos também que
nessa condição existencial. Bus- o envelhecimento de um homem
camos – através de entrevistas homossexual pode acontecer de
- levantar as particularidades do modo bastante natural, espontâ-
processo de envelhecimento de neo e sem maiores adversidades,
um homem idoso e homossexual coerente, inclusive, com o que até
partindo prioritariamente de suas o momento vem sendo indicado
próprias vivências e experiências. na literatura especializada. 


Contatamos uma pessoa, com 68 Palavras-chave : Homossexuali-
anos de idade, aposentado e re- dade. Envelhecimento. Narrativa.
sidente em uma cidade no sul de Existência.
Minas Gerais. Optamos por uma
metodologia fenomenológica e Marivania Cristina Bocca e Daniel
existencial, sob a perspectiva da Marcio Pereira Melo
historiobiografia, que segundo Universidade da Beira Interior
Critelli (2012), é o relato de um
narrador sobre sua existência Abordgem Biográfica: a psicaná-
através do tempo, na tentativa lise existencial e o método pro-
de reconstituir acontecimentos gressivo-regressivo como pos-
e transmitir as suas vivências. É sibilidades para uma práxis em
uma pesquisa de caráter quali- psicoterapia on-line

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 59


O pensamento ontofenomenoló- o método progressivo-regressi-
gico de Jean-Paul Sartre (1943) vo a partir de Sartre, busca-se
apresenta um caminho de investi- compreender a condição humana
gação e de compreensão da cons- mediante o reconhecimento de
tituição do psíquico. Para tanto, um sujeito que se cria a partir da
Sartre propõe dois prismas me- sua biografia. Sartre (1960/1966)
todológicos, quais sejam: a psica- propõe a noção de método bio-
nálise existencial, na qual pode- gráfico, presente em sua psica-
mos encontrar uma abordagem nálise existencial, onde se busca
biográfica, e o método progressi- uma compreensão da vida do su-
vo-regressivo que atende a uma jeito a partir de uma perspectiva
abordagem biográfica. A psicaná- de temporalidade como totalida-
lise existencial atende aos princí- de. Fica claro que o interesse de
pios do método fenomenológico Sartre com sua ampla e complexa
de investigação e compreensão filosofia, foi o de tecer reflexões
da experiência psicológica, a par- voltadas para a compreensão dos
tir de uma crítica dirigida às ba- fenômenos psíquicos, elaborando
ses ontológicas e epistemológicas um programa metodológico es-
nas quais a psicanálise freudiana pecífico para a psicologia clínica.
edificou-se, e a partir da proposi- Tais reflexões sempre se deram
ção de um diálogo desta psicaná- de maneira crítica. Fica claro,
lise com o marxismo. O método também, que o que ele pretende é
progressivo-regressivo por sua uma abordagem biográfica a par-
vez, surgiu da necessidade de tir dos caminhos metodológicos
“encontrar um método e consti- indicados, a psicanálise existen-
tuir a ciência” (SARTRE, 1960, p. cial e o método progressivo-re-
33; 2002, p. 41), que atendesse a gressivo. Com essa comunica-
uma investigação dialética sobre ção, pretendemos mostrar que a
a condição singular-universal perspectiva teórica-metodológica
do sujeito: “universal singular de Jean-Paul Sartre, uma abor-
sobre universais singulares, e dagem biográfica através da psi-
deve se fazer primeiro no concre- canálise existencial e do método
to, depois no abstrato” (Sartre, progressivo-regressivo, contribui
1972/1994, p. 34-35). Esse método para uma práxis de psicoterapia
foi encontrado em um marxista, na contemporaneidade. A busca
assevera Sartre. Foi Henri Lefe- por tal práxis tem alcançado, com
bvre quem nos deu esse método sucesso, vários ‘espaços’ através
simples e irrepreensível para po- dos quais têm se tornado possí-
der integrar a sociologia, a filo- vel a realização da psicoterapia.
sofia, a psicologia e a história em A internet é um desses ‘espaços’.
uma perspectiva dialética. Com Ante as várias demandas surgidas

60 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO


na contemporaneidade, a internet nhos metodológicos propostos
tem se mostrado como uma al- por Sartre? Essas são algumas
ternativa de comunicação. Esse reflexões sobre as quais 
 que-
tipo de comunicação já atraves- remos discutir com esse estudo.
sa a experiência de subjetivação, Parte-se da experiência de dois
por exemplo, através do que se psicoterapeutas que atuam na
chama “redes sociais”. Questões clínica com psicoterapia on-line
importantes ainda precisam ser buscando uma abordagem bio-
discutidas e pesquisas ainda pre- gráfica à partir da psicanálise
cisam ser feitas sobre o proces- existencial e do método progres-
so de subjetivação que se dá pela sivo-regressivo, propostos por
experiência nas redes sociais. É Sartre para uma prática clínica
tentando levantar reflexões sobre em psicologia. Faz-se uma narra-
as implicações da experiência do tiva ou relato sobre tal experiên-
sujeito contemporâneo que usa cia de prática – nesse caso uma
a internet como via de expres- psicoterapia on-line – e, discute-
são subjetiva, que este estudo se -se tal narrativa via pressupostos
apresenta. Quais as vantagens teóricos-metodológicos da onto-
e desvantagens de se utilizar as fenomenologia sartriana.
redes sociais pela internet, em Palavras-chave : Método Pro-
especial pelo Skype e WhatsApp, gressivo-Regressivo; Psicanálise
como recurso para o processo de Existencial; Psicologia Clínica;
psicoterapia? Essa prática de psi- Serviços Psicológicos On-line.
coterapia on-line já está regula-
mentada no Brasil – por meio da
resolução de 11 de maio de 2018,
que em seu Artigo 1º diz: “Regu-
lamenta a prestação de serviços
psicológicos realizados por meio
de tecnologias da informação e da
comunicação” (CFP, 2018). Será
que tal práxis se apresenta, como
uma forma segura e efetiva, de
estabelecer o sentido de aproxi-
mação do paciente/cliente com
o psicoterapeuta? Este tipo de
psicoterapia se revela em “tem-
po real” mesmo considerando a
distância efetiva entre paciente e
psicoterapeuta? Como pensar tais
questões sob o prisma dos cami-

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 61


62 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO
COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS PÚBLICOS: DECLÍNIO OU TRANSFORMAÇÃO? 63
LABCOM.IFP
COMUNICAÇÃO, FILOSOFIA E HUMANIDADES
UNIDADE DE INVESTIGAÇÃO
UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

64 LUBRAL – II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E COMUNICAÇÃO

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