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Convém esclarecer que o padrão das indicações de duplicatas mercantis utilizado pelas
instituições financeiras faz constar, ainda, a pessoa do cedente. Problemas não existem
quando esta pessoa se confunde com a do sacador. Outrossim, há casos em que a pessoa do
cedente não coincide com a do sacador e aí pode começar a ser gerada certa insegurança. Isto
porque é necessário que se saiba (i) quem é esta pessoa estranha à relação que deu causa à
emissão do referido título de crédito – o cedente, e (ii) se houve alteração na titularidade do
crédito?
Procurando suscitar a questão para discussão, mas não encerrá-la, realizam-se as seguintes
ponderações:
1ª. PRINCÍPIO DA LITERALIDADE: Este princípio está previsto no art. 887 do Código
Civil e significa que só tem valor o que consta do título e tudo o que dele consta tem um
significado.
Para melhor situar a matéria, vale-se dos ensinamentos de OLIVEIRA 1, o qual afirma que a
literalidade tem a ver com a forma do título, da adequação à forma legal, considerada como o
ponto máximo atingido pelo formalismo dentro do direito. Para o renomado jurista, a
literalidade importa em caracterizar como título de crédito o documento adequado ao modelo
legal. Ao revés, a ausência de um requisito essencial o desnatura e lhe retira a condição de
cambial, não passando de mero princípio de prova, não ensejando o exercício do direito
creditício por si só.
Ainda, por literalidade compreende-se que o direito que emana da cártula tem seu conteúdo e
seu limite estabelecidos no que dela consta expressamente, nem mais, nem menos. Isto serve
para dar segurança aos envolvidos no título e a terceiros. Assim, a todos aqueles a quem o
título for apresentado poderá ser dado conhecer da relação creditícia.
Através desta idéia, constata-se que o Tabelião de Protesto, no momento em que verifica os
requisitos do título a ele apresentado, precisa definir, também, quem é o obrigado pelo
cumprimento da obrigação (devedor) e quem é o beneficiado (credor).
Neste caso, nas duplicatas mercantis onde consta como sacador uma pessoa e como cedente
outra, é preciso que se defina, com precisão, quem é o credor. Pondera-se que a Lei das
1
OLIVEIRA, Jorge Alcibíades Perrone de. Títulos de crédito: doutrina e jurisprudência. Vol. 1, 2. ed. rev. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 20.
Duplicatas (Lei nº 5.474/68) não prevê a figura do cedente. De conseqüência, apenas a
aposição desta pessoa no título não tem o condão de alterar a relação creditícia original,
continuando a serem considerados o sacado como o devedor, e o sacador como o credor e isto
deverá ser levado em consideração no momento do cancelamento do protesto.
2ª. ENDOSSO: Cabe, aqui, esclarecer que a principal forma de transferência do crédito
representado por uma duplicata mercantil é o endosso, aliás, a mais usual, e que ocorre pela
simples aposição da assinatura do sacador no verso do título, se em branco, ou até mesmo no
anverso, se em preto.
É permitido o endosso de duplicatas porque são títulos de crédito à ordem (art. 2º, §1º, VII da
Lei nº 5.474/68 c/c arts. 910 ao 920, do Código Civil). Logo, se efetivamente ocorreu a
transferência do crédito, da duplicata (original) apresentada no Tabelionato de Protesto de
Títulos deverá constar o endosso, ou, se apresentada por indicação, que conste referência ao
endossou ou à figura do endossatário, mas não a do cedente. Não é possível, porém, equiparar
o endossatário ao cedente, porque não há definição legal ou normativa neste sentido.
3ª. CESSÃO DE CRÉDITO: Outra forma através da qual alguém transfere um crédito para
outrém é a cessão de crédito, a qual está prevista nos arts. 286 e seguintes do Código Civil.
Ocorre que, para que este negócio jurídico tenha eficácia perante terceiros, e torna-se
fundamental esta eficácia para que seja levado ao protesto, uma vez que dele será gerada
publicidade erga omnes, é necessária a observância do art. 288 do Código Civil, que exige ou
a escritura pública, ou o instrumento particular que contenha a indicação do lugar onde foi
feita a cessão, a qualificação do cedente e do cessionário, a data e o objetivo do negócio e as
assinaturas das partes. Observa-se que o art. 288 não exigiu o registro do instrumento da
cessão no Registro de Títulos e Documentos (art. 127, I da Lei nº 6.015/73) para que a
eficácia seja gerada perante terceiros, mas apenas a existência de um contrato formal.
Com isso, dos instrumentos de protestos lavrados, de duplicatas mercantis que apresentem
estas características (sacador uma pessoa e cedente outra), salvo melhor juízo, não é correto
fazer constar como credor a pessoa do cedente. Sugere-se que, nestes casos, se faça constar
2
Op. cit., p. 88.
que o credor originário é o sacador, e que o cedente é a pessoa indicada no título (apenas
indicar o seu nome ou denominação), mas sem declarar que o credor é o cedente. Assim, o
registro do protesto informará a mesma coisa que o título, ou seja, o cedente será apenas o
cedente. O que ele representa somente o apresentante ou o sacador poderão afirmar e, se for o
caso, comprovar através do endosso ou da cessão de crédito.
Conclui-se afirmando que não é correta a exigência da obtenção de anuência de quem não seja
efetivamente o credor, fazendo com que se exija o prévio conhecimento de quem é
efetivamente esta pessoa. Ressalta-se que, pela lei, o credor de uma duplicata mercantil só
pode ser ou o sacador, ou o endossatário, ou o cessionário.
BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, Jorge Alcebíades Perrone de. Títulos de Crédito: doutrina e jurisprudência. Vol.
1. 2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996.