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Políticas educacionais: reflexões


Angelo P. Campos1

Quando se fala em políticas públicas importa clarear a ideia de que esta referência diz
respeito, no âmbito das ações do Estado ou de um governo, ao que se faz – bem como
ao que se deixa de fazer –, invariavelmente produzindo efeitos singulares no
enfrentamento das questões públicas. No arranjo das instituições democráticas, a
deliberação sobre o campo de atuação do Estado ganha maior preponderância
mediante a necessidade contemporânea de manutenção da estabilidade econômica e
social, sob o entendimento da governabilidade.
Uma política pública é a expressão posta em ação dos propósitos estabelecidos nos
vários segmentos dessa governabilidade, ou seja, diz respeito especificamente às
funções e ações do governo.
A participação da sociedade civil na construção do quadro comunitário se dá através do
delineamento das necessidades e interesses de grupos distintos buscando efetivar junto
ao governo o estabelecimento de políticas públicas a seu favor. Quanto maior a
participação e a pressão exercida, maiores possibilidades de resultados efetivos,
capazes de impactar os compromissos regulatórios, revogando ou formulando novas
leis.
De modo ainda mais específico e preciso, as políticas públicas educacionais
representam o campo da ação do Estado no terreno da formação escolar. O foco se faz
necessário em razão da amplitude do conceito de educação, que atravessa todas as
etapas da vida e da experiência humana.
O domínio “escolar” é este passível de delimitação ao campo de execução das ações
do Estado e da expressão das políticas públicas. Seu ambiente próprio, para a prática
do ensino-aprendizagem, é o espaço da escola. Bem entendido, a escola é a instituição
social articuladora do amplo e complexo campo das relações que congregam a
sociedade civil e o Estado no processo do fazer educacional, do qual se espera, ao
menos em tese, o acolhimento de todos os grupos sociais.
Evidentemente o processo histórico do estabelecimento e consolidação das práticas
educacionais no mundo moderno resulta das articulações políticas e das demandas
econômicas ensejadas mundialmente a partir do século XIX, no bojo da mecanização
das formas de produção. Destarte, os modelos educacionais correlacionam-se aos
movimentos da esfera econômica.
No transcurso do tempo, a escola vem sendo moldada no cumprimento de um papel
paradoxal, servindo, por um lado, ao atendimento da demanda de mão de obra
tecnicamente preparada para a produção industrial, o funcionalismo, com nítido teor de
direcionamento e gestão de grandes massas de trabalhadores e, por outro, a proposição
de fomento à superação das condições estabelecidas, ao pensamento livre e à
criatividade como práxis pedagógica.

1Angelo P. Campos. Filósofo (UFMG) e psicanalista (GREP), especialista em Abordagem


Transdisciplinar (FACISA). Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Consultor
educacional. Autor de Sociologia da coleção de livros didáticos A Vida é Mais.
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Esse duplo papel, ou essa contradição fundamental, caracteriza o campo educacional


contemporâneo, palco e raiz das transformações sociais, da luta por reconhecimento e
da conscientização por uma configuração social efetivamente inclusiva.
O modelo de formação educacional revelado no primeiro eixo da contradição está a
serviço das exigências do mundo globalizado, o Estado atuando como guia da
educação, especificando as competências profissionais como garantia de colocação no
mercado de trabalho.
A rigor, o alto nível de investimento tecnológico e científico, com onerosos recursos,
torna seletiva a formação educacional, propiciando o fenômeno da segregação de
classes para acesso ao ensino de maior qualificação. Assegurar somente essa faceta
faria do Estado um reprodutor das relações de produção, como apontavam Louis
Althusser (1918-1990) e Pierre Bourdieu (1930-2002), na esteira do pensamento crítico,
assinalando a inviabilidade da mobilidade social2.
Nesse caso, os modelos pedagógicos em voga seriam o tradicionalista e o
comportamentalista.
No segundo eixo da contradição, quando o sistema educacional propõe garantir a
liberdade de expressão e o livre pensamento, pretende-se fazer da prática educacional
uma ferramenta libertadora. O conhecimento é assumido como construção do sujeito,
destacando a criatividade, a inovação, a autonomia e o favorecimento de visões críticas
acerca do meio cultural e dos processos sócio-histórico-políticos.
Nesse caso, os modelos pedagógicos em voga são os de tendência democrática, o
construtivista e o freiriano.
No entrecruzamento dessa dinâmica são gestadas as demandas cidadãs e sua possível
transformação em políticas educacionais.

Ideários
Novos ideais para a educação surgem no Brasil a partir da Independência (1822),
momento em que se discute pela primeira vez na Assembleia Constituinte a relevância
da educação popular. Contudo, mesmo a determinação em forma de lei, a 15 de outubro
de 1827, para criação das escolas de primeiras letras (vigente até 1946 como única lei
geral para o ensino fundamental), não foi suficiente para concretizar o atendimento à
população (naquela época, aos súditos). Ainda assim foi motivo para tornar incipiente a
ideia de um sistema educacional, padronizado uma década depois com a criação do
Colégio Pedro II.
De certo modo, nas décadas seguintes, o sistema foi (des)caracterizado pelo descaso,
fazendo prosperar iniciativas particulares para atendimento das elites. Até meados do
século XX a situação pouco se altera.
No nível secundário, dada a completa ausência de política públicas, coube à iniciativa
privada assumir a tarefa, respondendo às transformações dos setores econômicos.

2ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. Trad. Walter José Evangelista; Maria
Laura Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985. BOURDIEU, Pierre. Economia
das trocas simbólicas. 5ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2001.
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Foram nos anos de maior crise do sistema capitalista (a partir de 1929) que o
desenvolvimento industrial impulsionado por Vargas fez surgir uma nova organização
no seio dos movimentos educacionais, buscando a democratização do ensino. Nesse
período destacam-se as discussões em torno das propostas de Dewey, e do trabalho
de Anísio Teixeira (1900-1971), tomando a escola como a principal instituição
republicana, visando o pensamento livre e a autonomia do sujeito.
A partir dessa base surgem inúmeras propostas em defesa da escola pública e do
desenvolvimento integral (Darcy Ribeiro); alfabetização de adultos, integração do
conhecimento popular à pedagogia e discussão sobre os direitos dos profissionais da
educação (Paulo Freire); defesa do direito irrestrito de estudar e combate às várias
formas de exclusão (Florestan Fernandes).
Tais ideários e ações influenciaram o poder público, resultando na criação da Lei n.
9.394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), reconhecendo em seu texto
outros espaços formativos além da escola, tais como a família, o trabalho, a sociedade
civil e as manifestações culturais, fundada nos princípios da liberdade e da solidariedade
humana. Sua repercussão atinge todo o sistema escolar. Através dela o governo
assume as políticas educacionais como sua competência.
Em meio às transformações mundiais ocorridas nas duas últimas décadas, sucessivas
crises no sistema capitalista e retomada do neoliberalismo, verifica-se, na prática, o
enfraquecimento das políticas educacionais e a incapacidade de os programas
existentes no país atenderem com êxito a demanda e o direito à educação consolidado
nas leis.
O ensino ofertado ainda é insatisfatório e insuficiente perante o observado em padrões
internacionais. Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos
(PISA), por exemplo, o Brasil figura entre os dez últimos classificados, num total de
setenta países. O Programa visa produzir indicadores para discutir a qualidade da
educação entre os países participantes e considera escolas públicas e particulares,
considerando variáveis demográficas e socioeconômicas. Os quantificadores são de
utilidade para a implementação de novas políticas públicas educacionais.

Aspectos relevantes para cogitar


Para a qualificação de uma política educacional são muitas variáveis a se considerar,
na vastidão dos anseios e necessidades do cidadão. Contudo, algumas práticas são
essenciais e urgentes.
A primeira necessidade a se destacar é o fato de que o estabelecimento escolar precisa
assegurar acesso a todos os cidadãos, com estrutura física, logística e corpo docente
preparado. Essa necessidade envolve a ampliação e manutenção das redes escolares
existentes em todos os níveis da administração pública. Para os aspectos cogitados
existe a possibilidade de ampliação do alcance através de recursos informacionais e
dos modelos de educação a distância, ressalvando a gravidade ética de gestores
públicos que optam por esse meio como forma de desviar-se da responsabilidade de
fazer valer em igual medida os meios presenciais.
Uma segunda necessidade, quase tornada lugar-comum, é a garantia do ensino de
qualidade. Na atualidade, implica em amplo investimento tecnológico para as escolas,
sob risco de melindrar o país e as futuras gerações no atraso das práticas repetitivas.
Já se diz tantas vezes que o estudante do século XXI encontra em seus educadores
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uma formação do século XX atuando em um modelo criado no século XIX. Queremos


frisar com isso a urgência de contextualizar as linguagens educativas no tempo
presente, atentando às novas práticas culturais, à influência e celeridade dos meios
informacionais, da transformação da natureza e das paisagens sociais.
Necessidade de combater a evasão escolar, considerado um problema grave, de
múltiplas raízes sociais, traço de mazelas econômicas. Trata-se de um enfrentamento
para as políticas públicas, em geral, transcendendo o aspecto meramente escolar. O
escopo é amplo e carece de dedicação em outros pontos da gestão pública, tais como
moradia, alimentação, trabalho e distribuição de renda, sobre os quais gravitam nossos
contratempos educacionais.
Necessidade de praticar novos saberes. No mundo globalizado as relações sociais
caminham para uma maior complexidade, há que se pensar nas novas elaborações do
direito, da educação financeira, da eficiência da produtividade e do amadurecimento
emocional. O espaço escolar é capaz de oferecer, ao longo do ano letivo, essas e outras
competências de utilidade prática e de consciência social, carregadas de sentido para
a vida moderna.
Por fim, necessidade de promover engajamento escolar. Na prática, significa dizer da
serventia da escola, da capacidade de abrigar projetos de vida, sonhos e utopias.
Estudantes, em todos os níveis, sabem de sua importância para o mundo? Pode a
escola ou um sistema pedagógico abrigar o sonho? Sobressalta a emergência de
concretizar uma educação participativa, dialógica e afetiva. Isto é o sabidamente “não
pronto”, o reconhecimento de que estamos permanentemente em construção,
especialmente movidos pela paixão em socializar o conhecimento.

Uma palavra final


Problemas, sim, são vários, às vezes assustam. Não vamos esmorecer diante deles,
estão aí para nos “lançar adiante”, motivação de travessia.
Sempre bom lembrar do descaso com que se tem tratado a educação em nosso país,
com acirrados procedimentos de desqualificação de professores e das abordagens
metodológicas. As recentes tentativas para pontuar projetos de vigilância ou de controle
social de práticas educativas, a pretexto de supostos traquejos ideológicos, funcionam
a reboque como predicados desmotivadores do exercício docente e ao mesmo tempo
revelam os prejuízos de uma sociedade fragmentada, em uma onda de inculturação
exacerbada expondo anseios de grupos exclusivistas.
Professor(a), didaskalos, mestre, é aquele que declara publicamente sua competência,
assim revela a etimologia. Mais do que um étimo, o que se declara é um fazer próprio
sem o qual não nos constituímos como seres sociais, falantes, pensantes.
No momento presente, urge convocar as vozes da beleza, da leveza e da inteligência
contra as tendências de vulgarização do ensino e da própria vida. Para além das
demandas transformadas em políticas públicas educacionais, urge a ética.
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REFERÊNCIAS

FERREIRA, Luiz Antônio Miguel; NOGUEIRA, Flávia Maria de Barros. Impactos das
políticas educacionais no cotidiano das escolas públicas – Plano Nacional de
Educação. Disponível em:
<http://pne.mec.gov.br/images/pdf/Noticias/impactos_politicas_educacionais_cotidiano
_escolas_publica_PNE.pdf>. Acesso em 02 fev. 2019.
LIBÂNEO, José Carlos. Políticas educacionais no Brasil: desfiguramento da escola
e do conhecimento escolar. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v46n159/1980-
5314-cp-46-159-00038.pdf>. Acesso em 02 fev. 2019.
OLIVEIRA, Adão Francisco. Políticas públicas educacionais: conceito e
contextualização numa perspectiva didática. In: OLIVEIRA, Adão Francisco; PIZZIO,
Alex; FRANÇA, George (Orgs) Fronteiras da Educação: desigualdades, tecnologias
e políticas. Goiás: Editora da Puc Goiás, 2010.
PIANA, Maria Cristina. A construção do perfil do assistente social no cenário
educacional. Editora UNESP. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009, pp 57 e ss.
Resultados e metas IDEB. Disponível em: <http://ideb.inep.gov.br/Site/>. Acesso em:
01 fev. 2019.
RI, Neusa Maria Dal; BRABO, Tânia Suely Antonelli Marcelino (Orgs). Políticas
Educacionais, Gestão Democrática e Movimentos Sociais: Argentina, Brasil,
Espanha e Portugal. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica,
2015.
SAVIANI, Dermeval. PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação: análise crítica
das políticas do MEC. Campinas: Autores Associados, 2009.

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