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Quando se fala em políticas públicas importa clarear a ideia de que esta referência diz
respeito, no âmbito das ações do Estado ou de um governo, ao que se faz – bem como
ao que se deixa de fazer –, invariavelmente produzindo efeitos singulares no
enfrentamento das questões públicas. No arranjo das instituições democráticas, a
deliberação sobre o campo de atuação do Estado ganha maior preponderância
mediante a necessidade contemporânea de manutenção da estabilidade econômica e
social, sob o entendimento da governabilidade.
Uma política pública é a expressão posta em ação dos propósitos estabelecidos nos
vários segmentos dessa governabilidade, ou seja, diz respeito especificamente às
funções e ações do governo.
A participação da sociedade civil na construção do quadro comunitário se dá através do
delineamento das necessidades e interesses de grupos distintos buscando efetivar junto
ao governo o estabelecimento de políticas públicas a seu favor. Quanto maior a
participação e a pressão exercida, maiores possibilidades de resultados efetivos,
capazes de impactar os compromissos regulatórios, revogando ou formulando novas
leis.
De modo ainda mais específico e preciso, as políticas públicas educacionais
representam o campo da ação do Estado no terreno da formação escolar. O foco se faz
necessário em razão da amplitude do conceito de educação, que atravessa todas as
etapas da vida e da experiência humana.
O domínio “escolar” é este passível de delimitação ao campo de execução das ações
do Estado e da expressão das políticas públicas. Seu ambiente próprio, para a prática
do ensino-aprendizagem, é o espaço da escola. Bem entendido, a escola é a instituição
social articuladora do amplo e complexo campo das relações que congregam a
sociedade civil e o Estado no processo do fazer educacional, do qual se espera, ao
menos em tese, o acolhimento de todos os grupos sociais.
Evidentemente o processo histórico do estabelecimento e consolidação das práticas
educacionais no mundo moderno resulta das articulações políticas e das demandas
econômicas ensejadas mundialmente a partir do século XIX, no bojo da mecanização
das formas de produção. Destarte, os modelos educacionais correlacionam-se aos
movimentos da esfera econômica.
No transcurso do tempo, a escola vem sendo moldada no cumprimento de um papel
paradoxal, servindo, por um lado, ao atendimento da demanda de mão de obra
tecnicamente preparada para a produção industrial, o funcionalismo, com nítido teor de
direcionamento e gestão de grandes massas de trabalhadores e, por outro, a proposição
de fomento à superação das condições estabelecidas, ao pensamento livre e à
criatividade como práxis pedagógica.
Ideários
Novos ideais para a educação surgem no Brasil a partir da Independência (1822),
momento em que se discute pela primeira vez na Assembleia Constituinte a relevância
da educação popular. Contudo, mesmo a determinação em forma de lei, a 15 de outubro
de 1827, para criação das escolas de primeiras letras (vigente até 1946 como única lei
geral para o ensino fundamental), não foi suficiente para concretizar o atendimento à
população (naquela época, aos súditos). Ainda assim foi motivo para tornar incipiente a
ideia de um sistema educacional, padronizado uma década depois com a criação do
Colégio Pedro II.
De certo modo, nas décadas seguintes, o sistema foi (des)caracterizado pelo descaso,
fazendo prosperar iniciativas particulares para atendimento das elites. Até meados do
século XX a situação pouco se altera.
No nível secundário, dada a completa ausência de política públicas, coube à iniciativa
privada assumir a tarefa, respondendo às transformações dos setores econômicos.
2ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. Trad. Walter José Evangelista; Maria
Laura Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985. BOURDIEU, Pierre. Economia
das trocas simbólicas. 5ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2001.
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Foram nos anos de maior crise do sistema capitalista (a partir de 1929) que o
desenvolvimento industrial impulsionado por Vargas fez surgir uma nova organização
no seio dos movimentos educacionais, buscando a democratização do ensino. Nesse
período destacam-se as discussões em torno das propostas de Dewey, e do trabalho
de Anísio Teixeira (1900-1971), tomando a escola como a principal instituição
republicana, visando o pensamento livre e a autonomia do sujeito.
A partir dessa base surgem inúmeras propostas em defesa da escola pública e do
desenvolvimento integral (Darcy Ribeiro); alfabetização de adultos, integração do
conhecimento popular à pedagogia e discussão sobre os direitos dos profissionais da
educação (Paulo Freire); defesa do direito irrestrito de estudar e combate às várias
formas de exclusão (Florestan Fernandes).
Tais ideários e ações influenciaram o poder público, resultando na criação da Lei n.
9.394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), reconhecendo em seu texto
outros espaços formativos além da escola, tais como a família, o trabalho, a sociedade
civil e as manifestações culturais, fundada nos princípios da liberdade e da solidariedade
humana. Sua repercussão atinge todo o sistema escolar. Através dela o governo
assume as políticas educacionais como sua competência.
Em meio às transformações mundiais ocorridas nas duas últimas décadas, sucessivas
crises no sistema capitalista e retomada do neoliberalismo, verifica-se, na prática, o
enfraquecimento das políticas educacionais e a incapacidade de os programas
existentes no país atenderem com êxito a demanda e o direito à educação consolidado
nas leis.
O ensino ofertado ainda é insatisfatório e insuficiente perante o observado em padrões
internacionais. Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos
(PISA), por exemplo, o Brasil figura entre os dez últimos classificados, num total de
setenta países. O Programa visa produzir indicadores para discutir a qualidade da
educação entre os países participantes e considera escolas públicas e particulares,
considerando variáveis demográficas e socioeconômicas. Os quantificadores são de
utilidade para a implementação de novas políticas públicas educacionais.
REFERÊNCIAS
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