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Ananindeua, 2019
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900
NUNES, Francivaldo Alves; GUIMARÃES, Athos Matheus da
Silva [orgs.] I Simpósio Online de História dos Ananins:
ensino, pesquisa, extensão. Ananindeua [PA]: Editora
Cordovil E-books, 2019.
ISBN: 978-65-80307-00-5
Disponível em: simpoananindepe.blogspot.com
Sumário
Uma História Dialógica – Apresentação ............................................................................................................... 7
PREFÁCIO ................................................................................................................................................................ 10
HISTÓRIA ORAL E MEMÓRIA: UM DIÁLOGO NECESSÁRIO ............................................................... 13
Nikolas Corrent
MAURA LOPES CANÇADO E A SUA BUSCA DO “NÃO SEI O QUE É, MAS É MARAVILHOSO”
(1929-1993)............................................................................................................................................................... 116
Edivaldo Rafael de Souza
A PERFEITA MULHER CASADA NAS INSTRUÇÕES DO FREI LUIS DE LEÓN NO SÉCULO XVI,
REFLEXÕES PARA UM DEBATE ..................................................................................................................... 129
Lidiana Emidio Justo da Costa
NAS CERCANIAS: GENTE, PAISAGEM E OCUPAÇÃO EM TERRAS ANANI (PARÁ, SÉCULO XIX)
.................................................................................................................................................................................. 167
Paulo Henrique Santos; Francivaldo Alves Nunes
DEUSES E HOMENS: A LINHA TÊNUE ENTRE O TEMPO MÍTICO E O TEMPO HISTÓRICO .... 244
Lidiana Emidio Justo da Costa
Para facilitar a compreensão da proposta, o livro foi dividido em sete partes, que
aproximam os artigos, considerando suas temáticas de observação e análise.
Sobre a parte três “ História e eventos históricos”, esta constitui a com maior
quantidade de artigos e diversidade de temáticas, que perpassam pela compreensão
da atuação do Império português, quanto a navegação e escravidão, as experiências
de trabalho e produção no Brasil do século XIX, tendo como foco a fronteira do
Maranhão com o Pará até a cultura cafeeira ao Sudeste do país, no século XX.
Pensamento político, ações nacionalistas, trajetórias familiares, experiências de
PREFÁCIO
Os textos que neste livro estão são consequência do I Simpósio Online de História
dos Ananins: Ensino, Pesquisa e Extensão1, que ocorreu de 10 a 14 de dezembro de
2018. Como no próprio título do simpósio, ele ocorreu totalmente de forma digital.
Essa característica do evento possibilitou o envolvimento de diversos pesquisadores
das várias regiões do Brasil e suas pesquisas sobre seus locais de origem. É uma
nova característica de realizar eventos acadêmicos e proporcionar intensos debates,
com novas perspectivas de pesquisa.
PARTE 1:
HISTÓRIA,
MEMÓRIA E
IDENTIDADE
1 INTRODUÇÃO
Pegando o que foi exposto pode-se dizer que as vozes desses assuntos, às vezes
relegados em busca de uma história construída de cima, trazem certos espaços de
natureza privada, "as esferas ocultas". Essas esferas, que de outra forma seriam
fechadas a qualquer tipo de pesquisa científica, oferecem uma nova visão dos
diferentes e imaginários espaços das sociedades. Também pode-se saber como a
vida de uma pessoa influencia o que é narrado. (THOMPSON, 1992).
“Não há articulação do social que é de uma vez por todas, nem na superfície, ou em
profundidade [...] que está articulação, tanto em termos diz respeito às partes que
possui, bem como às relações que estabelece entre os partidos e entre eles e o todo, é
a todo momento uma criação da sociedade em pergunta. A sociedade é estabelecida
como modo e tipo de convivência.” (HALBWACHS, 2003, p. 101).
No entanto, o fato, como tal, não muda, apenas modifica o que significa que dá
quem se lembra. Então, uma primeira conclusão é que a interpretação desses fatos,
através da "purificação" da memória e da busca por pontos comuns nas memórias
individuais permite construir uma visão generalizada de vários eventos que
poderiam dar origem a uma memória coletiva.
Pelo exposto, para que a coleção de memórias possa efetivamente tornam-se fontes
para a história oral, o papel do entrevistador é vital importância, já que é ele quem,
através da interação com o outro em um momento e espaço definido, conseguirá
que o assunto "rememore".
Nesse sentido, para alcançar uma coleção de memórias, devemos levar em conta os
quadros de memória proposta por Halbwachs, que nos permitiu articular o tipo de
perguntas a serem feitas aos entrevistados, em primeira instância.
A História Oral busca criar novos registros documentários que permitam construir
uma nova forma de historiografia baseada em pesquisa de campo. Nesse sentido, a
história oral realiza uma busca e compilação das histórias (narrativas), geralmente a
partir da pessoa comum ou da classe popular, pois são essas pessoas que, na
maioria das vezes, não possuem documentos escritos ou não são mencionados nos
documentos que o historiador usa como fonte. Daí deriva a importância desta
compilação, pois compõe uma história articulada em um processo narrativo, de
igual caminho em uma fonte adequada para o trabalho do historiador.
Dentro das dificuldades que existem no trabalho com fontes de tipo oral, pode-se
mencionar o problema da confiabilidade da fonte e seu caráter de objetividade.
Nesse sentido, Bossi (1994), ressalta que esse não é um problema exclusivo da
história oral, é apresentado em qualquer fonte consultada, para qualquer forma de
história.
Nesse sentido, Thompson (1992) considera que a memória da vida em geral de uma
pessoa ou informante (como ele será chamado a partir de agora) a partir de sua
própria perspectiva dentro do que ele considera importante, gera uma história e, em
consequência, o documento mais confiável que pode ser encontrado, já que
memórias trazem com detalhes que não podem ser encontrados de outra forma e
permitir a construção de histórias em pequena escala. (ALBERTI, 2004).
Para mergulhar neste assunto, para finalmente entender o que é memória individual
e o que é memória coletiva, a primeira coisa é explicar a noção de memória do que é
lembrado e a quem está memória pertence.
Bossi (1994), explica que os gregos tinham duas palavras para se referir a "memória",
"mneme" e "anamnesis", para designar a memória e o exercício de recordar a
memória, respectivamente. Seguindo esta explicação simples, pode-se dizer que há
uma imagem do passado, que é chamado como uma memória e um exercício
pessoal que é lembrar, em que a memória de cada um é usada para "lembrar-se",
isto é, ter uma memória de si mesmo.
Explana-se que a pessoa explica os eventos e suas ações neles, a partir da maneira
pela qual se percebe no território e em sua sociedade. Então, voltando para os
limites de amplitude e precisão que foram definidos como o limite entre a memória
e esquecimento, pode-se afirmar que, por um lado, a dificuldade de amplitude tem
relação com o âmbito da temporalidade e da espacialidade e, por outro lado, na
precisão, influencia a profundidade da memória e a clareza de sua representação,
típica da capacidade humana de "lembrar". (ALBERTI, 2004).
De qualquer forma, o entrevistador tem uma tarefa de importância vital, uma vez
que o assunto lembra pela interação com o outro.
Nesse sentido, propõe-se que, para "lembrar-se", é necessário ter a opinião dos
outros, isto é, as pessoas não se lembram sozinhas, e a partir dessa ideia é possível
dizer que lembrar uma única pessoa é um ponto de vista da memória coletiva.
Então o "outro" não é apenas um facilitador de memória, mas age como uma
estrutura social para ela.
“Além disso, deve ser entendido que a estrutura para memória, além de ser social, é
também espacial e temporal, de modo que a memória será modificada pelos
contextos espaciais e temporais em que o sujeito está inserido.” (HALBWACHS,
2003, p. 100).
Embora possa ser dito que é difícil através da história oral poder reconstruir os
eventos históricos concretos (exceto em casos que são as únicas fontes de informação
sobre um período histórico) constitui uma documentação inestimável na
reconstrução da atmosfera, ambiente de eventos, subjetividade, práxis individual e
coletiva de um grupo social.
Ao trabalhar com histórias orais, estas nem sempre são coincidem com as diferentes
"visões" dos que testemunharam um fato do passado. Quando se investiga sobre a
vida cotidiana de uma sociedade pode-se encontrar versões dissimilar e até o oposto
do mesmo fato histórico. Ao ouvir de uma pessoa um conto, lenda ou simplesmente
“determinada” versão em um determinado assunto encontra-se antes de um caso
único de interpretação histórica, já que "aquele" momento de diálogo é irrepetível.
Entende-se que no caso da história oral a fonte é construída pelo mesmo
pesquisador o material obtido das entrevistas que devem ser corroborados com
outros documentos da época, na medida em que existam.
A riqueza inegável das fontes de declarações orais é que em numerosas ocasiões elas
revelam fatos ou aspectos desconhecidos ignorados sobre fatos desconhecidos para
certos grupos populacionais ou para regiões que não é possível investigar através da
documentação existente na história tradicional.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história que depende da memória pode não ser melhor do que a memória em que
se baseia. Porque a história oral depende quase exclusivamente na memória, pode-
se argumentar que a história oral serve para reiterar o que é, melhor, uma
lembrança distorcida do passado.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERTI, V. Ouvir contar textos em história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
ALBERTI, V. Manual de história oral. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.
FERREIRA, M. de M.; AMADO J. (Orgs.) Usos e abusos da história oral. 8 ed. Rio
de Janeiro: Editora FGV, 2006.
HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2003.
LE GOFF, J. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1996.
THOMPSON, P. A voz do passado: História Oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
INTRODUÇÃO
É imperioso dizer então que neste artigo, a identidade é entendida pelos seus
aspectos constitutivos de pertencimento (nós) e de alteridade (outro). Ou seja, como
as representações que fazemos de nós mesmos e dos outros, assim como a memória
que construímos, para nós mesmos e para os outros. Por esse ângulo, a historiadora
Sandra Jatahy Pesavento (2004) foi quem melhor explicitou esta ideia:
De acordo com o teórico da cultura Stuart Hall, não se pode pensar a construção da
identidade como algo puramente individual ou coletivo, mas como uma
permanente negociação entre indivíduo e sociedade. E, principalmente, não
podemos tomar tal construção como algo estático ou pronto, mas entendê-la como
um processo permanente de interação. Ora, assim, a identidade é construída,
arquitetada socialmente e se redefine nas escolhas e ações dos grupos sociais.
Nessa lógica, é necessário levar em conta este entendimento para compreender que
não podemos falar de uma só identidade, uma única e isolada forma, mas sim na
configuração de múltiplas identidades, por vezes convergentes, em outras
divergentes, mas sempre fluidas e movendo-se a partir de fronteiras interativas.
Assim, “[...] a construção da identidade se faz no interior de contextos sociais que
determinam a posição dos agentes e por isso mesmo orientam suas representações e
suas escolhas” (CUCHE, 2002, p.192).
“[...] não estamos ainda habituados a falar da memória de um grupo. Mesmo por
metáfora. Parece que uma tal faculdade não possa existir e durar a não ser na
medida em que está ligada a um corpo ou a um cérebro individual. Haveria então
memórias individuais e, se o quisermos, memórias coletivas”. (HALBWACHS, 2003,
p.36).
Diante dessas proposições, faz cumprir que para Stuart Hall (2006), as
determinadas identidades existentes correspondentes a um determinado mundo
social estão em declínio, visto que a sociedade não pode mais ser vista como
determinada, mas em contínua mutação e movimento, fazendo com que novas
identidades surjam continuamente, em um processo de fragmentação do indivíduo
moderno.
Ainda, de acordo com a condução teórica proposta por Hall, com a identidade que
se mostra na pós-modernidade “[...] somos confrontados por uma gama de
diferentes identidades (cada qual no afazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a
diferentes partes de nós)” (2006, p.75).
Assim, pontua de forma assertiva que estaria ocorrendo uma mudança no conceito
de identidade e de sujeito, já que as identidades modernas estão sendo
“descentradas”, ou seja, deslocadas e fragmentadas e, como consequência, não é
possível oferecer afirmações conclusivas sobre que é identidade, visto tratar-se de
um aspecto complexo, que envolve múltiplos fatores. Destarte, em linhas gerais,
“[...] dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes
direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente
deslocadas” (HALL, 2006, p. 13). Ele ainda argumenta que:
Ora, Stuart Hall salienta que as identidades modernas passam por um processo de
fragmentação e mutação cotidiana, não se mantêm fechadas, mas abertas à novas
condições sociais que possam surgir com o tempo. De modo assim que:
“As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão
em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo
moderno, até aqui visto como um sujeito unificado.” (HALL, 2006, p. 7).
Nesse sentido, Barros afirma que “[...] toda vida cotidiana está inquestionavelmente
mergulhada no mundo da cultura. Ao existir, qualquer indivíduo já está
produzindo cultura automaticamente, sem que para isto seja preciso ser um artista,
um intelectual ou um artesão” (BARROS, 2005, p. 3). Diante deste quadro, pode-se
expor que todo simbolismo é fator de identidade e toda a cultura é cultura de um
“As lutas de representações têm tanta importância como as lutas econômicas para
compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua
concepção do mundo social, os valores que são os seus, e o seu domínio.”
(CHARTIER, 1990, p.17).
“Só por um impulso forte para formar um “povo” é que cidadãos de um país se
tornaram uma espécie de comunidade, embora uma comunidade imaginada, e seus
membros, portanto, passaram a procurar (e consequentemente a achar) coisas em
comum, lugares, práticas, personagens, lembranças, sinais e símbolo”.
(HOBSBAWM, 2008, p. 111).
Isto se dá, cabe ressaltar, pelas condições históricas, não há como tratar nenhum
assunto dentro da historiografia sem levar em consideração as subjetividades
implícitas nas formações identitárias dos sujeitos, suas formas e ações. José Carlos
Reis expõe que “a história é o discurso que representa as identidades de indivíduos,
de grupos e nacionais, e a crítica historiográfica é a própria ‘vida do espírito’ de uma
nação” (REIS, 2006, p.20).
É possível dizer ainda, que um dos maiores desafios dentro da historiografia atual
se dá pela instabilidade das identidades, mutáveis e múltiplas, que se cruzam,
entrelaçam, misturando histórias, discursos, cultural, representações sociais. De
forma que a “[...] identidade torna-se celebração móvel, formada e transformada”
(HALL, 2006, p. 11-12).
Por fim, resta dizer que a “produção” de uma identidade está imbricada a outras
ciências e saberes, uma vez colocado que o desafio epistemológico em lidar com a
identidade implica uma articulação entre a história e as demais ciências humanas,
visto sua complexidade e amplitude teórica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À guisa de conclusão, trabalhar o conceito de identidade cultural no curso
da história da vida humana, tem-se sua ligação direta com os aspectos
socioculturais que impactam o modo como as identidades se formam e convivem
entre si.
Portanto, por tudo que fora exposto, as identidades estando presentes em todos os
espaços e tempos condicionam as relações sociais históricas implicando a
redefinição do modo de viver e fazer dos seres humanos.
O que podemos notar é que a memória coletiva realiza um relevante papel nos
processos de construções identitárias. Desta forma, ela proporciona mais vitalidade
à cultura, uma vez que guarda o passado para grupos sociais, valorizando os
momentos significativos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O contexto do texto
Ser ou não ser. Existir ou não existir. Finalmente, viver ou morrer, eis a questão!
Lanço mão de uma das mais famosas frases da literatura mundial, subtraída da
peça A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare, para
provocar intencionalmente uma reflexão que talvez seja percebida como conteúdo
complexo, profundo e, quiçá, da psicologia social. No entanto, parafraseando
Shakespeare, pretendo apenas constituir um pano de fundo para uma crônica
recente.
catapultou o negro na sarjeta, afinal, “[...] para serem livres, eles tiveram de arcar
com a opção de se tornarem ‘vagabundos’, ‘boêmios’, ‘parasitas de suas
companheiras’, ‘bêbados’, ‘desordeiros’, ‘ladrões’ etc.” (FERNANDES, 2017, p. 80).
“‘Somos daqui’, ‘somos deste lugar’, pertencemos a este lugar” (BAUMAN, 2005, p.
24). No caso da Cozza, o veredito para sua questão identitária veio pelo “outro”
que, por fim, a decretou como não sendo “uma pessoa deste lugar”, isto é, para
interpretar Dona Ivone Lara, faltava-lhe a negritude correspondente, logo, negra de
política e “em termos de cor”. No entanto, o que não mudou foi a discriminação
que, fazendo-se uma comparação entre negros e mulatos, percebe-se uma
discriminação em favor do mulato.
Referências
(ABPN), [S.l.], v. 6, n. 13, p. 01-04, jun. 2014. ISSN 2177-2770. Disponível em:
<http://abpnrevista.org.br/revista/index.php/revistaabpn1/article/view/145>. Acesso
em: 21 jun. 2018.
MUNANGA, K. Negritude: usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2012.
SILVA, T. D. da.; SANTOS, M. R. dos. A abolição e a manutenção das injustiças: a
luta dos negros na Primeira República brasileira. Cadernos Imbondeiro, João
Pessoa, v. 2, n. 1, 2012.
SOUZA, A. J. de. Identidades e cultura afro-brasileira na docência da
roça: documento de referência para educação básica. 2016. 147 f. Dissertação
(Mestrado em Educação e Diversidade) – Universidade do Estado da Bahia, UNEB,
Jacobina - BA, 2016.
SOUZA, N. S. Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em
ascensão social. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.
WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In:
SILVA, T. T. da. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos
culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 7-72.
Uma das vias de acesso a comunidade é a estrada do Aurá, que fica na divisa entre
os municípios de Ananindeua e Marituba. Os moradores necessariamente precisam
passar por este caminho, porém, a via de acesso não está em boas condições para se
trafegar, visto que, há muitos buracos e no período de inverno a lama é constante. A
população sofre com todos esses problemas, pois em dias de sábado trazem seus
produtos para serem comercializados na feira de Ananindeua. Os alimentos
produzidos pela própria comunidade é um dos recursos na renda familiar. Os mais
produzidos são frutos regionais, como açaí, pupunha, cupuaçu, laranja, etc. A
produção agrícola é um dos meios de sobrevivência para a comunidade. Há
também de ressaltar que muitos que ali residem constituem outra profissão, por
isso, a necessidade de virem para o centro da cidade em busca de alternativas de
trabalho profissional.
O autor ao discutir a questão da identidade como algo que está ligado ao processo
de representações, deixa claro que na sociedade pós-moderna esse fenômeno se
expressa de diferentes formas, pois no sujeito não existe uma única identidade,
como já foi discutido anteriormente. Ainda sobre esse elemento presente na
sociedade, Stuart Hall diz o seguinte:
A comunidade nesses últimos tempos vem sofrendo diversas ameaças, entre elas, é
a passagem da ferrovia que afetará o modo de vida desses sujeitos. Por isso, o
quilombo preocupado com a sobrevivência das futuras gerações, vem discutindo e
propondo estratégias de como continuar vivendo sem essas interferências externas
que afetará o modo de vida desta população. A esses embates que se configuram em
torno da mesma, a Associação de Moradores e Produtores de Abacatal e Aurá
(AMPQUA), elaborou um protocolo de consulta, aprovado em assembleia geral no
dia 10 de julho de 2017. Este recurso foi baseado na Convenção 169, da Organização
Internacional do Trabalho, que assegura o direito de serem consultados
previamente. Neste protocolo o quilombo apresenta como deve ser assegurado este
direito e de que forma deve ser realizado a consulta.
Esses projetos que estão sendo pensados para a comunidade, nem sequer foram
consultados, mas que pode atingir seriamente o território, sobretudo com a
instalação de indústrias, rodovias e ferrovias. Esses tipos de empreendimentos
causam uma série de impactos a identidade cultural, que foi repassada por seus
ancestrais, através da memória e da oralidade, que é a maior riqueza desses sujeitos.
A perda de sua cultura pode os colocar numa situação de vulnerabilidade social,
ambiental, cultural e econômica. Portanto, a decisão do protocolo de consulta está
pautada na busca de reconhecimento e de seus direitos respeitados.
Esses grandes projetos trouxeram conflitos para a comunidade, tendo presente que
por ser uma comunidade quilombola a terra é de direito dos que ali residem. As
lutas empreendidas foram as mais diversas, como reuniões para organizar a
Nos estudos que estão sendo feito a área de Abacatal será atingida, visto que, alguns
moradores já tomaram conhecimento deste projeto. A comunidade recebe
orientações da defensoria pública, na figura de Johny Giffoni do Núcleo de Defesa
dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Pará. Segundo ele, “para
que o processo de licitação do empreendimento já estivesse avançado ao ponto que
está, as populações tradicionais deveriam ter sido consultadas previamente,
conforme prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
decretada no Brasil em 2004”. Johny é um dos defensores públicos do Pará que
contribui significativamente nas discussões e combate a esses projetos. É
interessante lembrar que não é apenas Abacatal enquanto comunidade tradicional
que será afetada, mas 23 municípios paraenses.
O pertencimento quanto a cor da pele ainda continua muito presente até hoje na
comunidade, tudo isso deriva de suas origens culturais que via o negro como pessoa
inferior. Alguns estereótipos relacionados a sua ancestralidade faz com que ainda
haja uma não aceitação de suas origens. Neste sentido, o trabalho sobre a identidade
no quilombo é extremamente importante, para que as futuras gerações se apoderem
do ser negro na sociedade.
A conquista desses territórios continua até hoje como formas de resistir a qualquer
tipo de ameaça que impeça as comunidades tradicionais de viverem de forma
harmoniosamente, construindo valores, sendo sujeitos sociais num mundo
fragmentado e dando visibilidade a sua africanidade de um passado no qual foi
incorporado elementos relacionados a questão da etnicidade não muito positivo.
Segundo Simone e Lisângela, “ao negro foi-lhe negada uma cidadania real mesmo
após a abolição da escravatura”. Desta forma, é compreensível o estabelecimento
que se deu na composição de suas lutas, com suas bases de sobrevivência na
agricultura, a resistência que foi empreendida contra os ataques externos, bem como
a formação de uma territorialidade negra, com suas especificidades, construindo
uma identidade peculiar nos quilombos.
Nesta luta pela terra os conflitos são os mais diversos, visto que as relações sociais
quase sempre são conflituosas. O reconhecimento de sua identidade quilombola é
REFERÊNCIAS:
Vânia Maria Carvalho de Sousa possui graduação em História pela Universidade Vale do
Acaraú (2007). Especialização em Estudos Bíblicos pelo IESPES. Mestra em Ciências da
Religião pela UEPa. Especialização em andamento em História Agrária na Amazônia
Contemporânea pela UFPa.
PARTE 2:
HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO
E DO ENSINO DE
HISTÓRIA
Introdução
No contexto de transformações econômicas e culturais que marcam a sociedade do
novo milênio com exigentes padrões tecnológicos e valorização da diversidade de
gênero, étnica e cultural, a escola converteu-se em espaço de um saber em constante
mutação. As pesquisas no campo da História da Educação tendem a se consolidar
como lugar de reflexão dessa diversidade de experiências no tempo e abrem
perspectivas para a discussão dos desafios enfrentados atualmente pelas escolas.
Algumas técnicas naturalizadas como a separação em classes, intervalos de recreio,
a segmentação do ensino, dentre algumas práticas, pode ser problematizada a partir
do levantamento no passado de sua implantação. Ao considerar historicidade de
fazeres e saberes, as fronteiras da história vivida, da história escolar e da história
acadêmica podem se transformar em espaços de diálogos e reflexões.
fato de uma instituição ser pública e a outra particular, interferia nas notícias
publicadas pelos redatores.
Contexto histórico
Júlia (2001) também argumenta que existem três eixos para entender a cultura
escolar, um deles é a avaliação do papel desempenhado pelo educador. Assim, no
final do processo educacional sempre é o docente que escolhe o que será ensinado,
pois ele não é uma simples massa de manobra – apesar das inúmeras leis e
regimentos que comandam a escola, mas vale ressaltar que cabe ao aluno a
Assim, a cultura escolar não pode ser pensada como uma ‘coisa’, como um
programa ou curso de estudos e, sim, como um ambiente simbólico, material e
humano que é constantemente reconstruído – envolve aspectos técnicos, estéticos,
éticos e políticos – respondendo tanto ao nível individual/pessoal como social. Ou
seja, envolve compromissos relacionados ao discurso político e ideológico, às
políticas de Estado, ao conhecimento que é ensinado nas escolas, às atividades
diárias de professores e estudantes nas salas de aula e, de como entendemos tudo
isso. Nesse sentido, não são compromissos que se dão entre ou no meio de iguais.
Ela não é alguma coisa que se traduz num movimento estático, e sim dinâmico:
entre estratégias e táticas; entre espaço e lugar – a vida é dinâmica; a vida da escola é
dinâmica. Então, pensar no ambiente escolar significa pensar uma cultura que se
reorganiza cotidianamente, que se faz e refaz, entre estratégias e táticas cotidianas, e
que se reconstrói a cada dia, a cada momento, considerando o conjunto de
educadores que se apropriam dele. A cultura da/na escola tem uma representação
oficial, mas também se apresenta em sua materialização cotidiana de cada escola,
num movimento das táticas, “lance por lance” (CERTEAU, 1994, p. 100).
Sobre as fontes utilizadas, esse trabalho pautará nos jornais em circulação pelas
províncias do Ceará e Espírito Santo na década de 1870. Para o tratamento dessas
fontes é essencial à análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin (2004). A
autora (2004, p.15) ao descrever a importância da metodologia da análise de
conteúdo, assevera que a apreciação estatística comungada a categorização - a
técnica de classificação de elementos por diferenciação a partir de um conjunto e
pelo seu posterior reagrupamento em pequenos grupos - permite a melhor
apreensão da realidade, já que oferece uma técnica sistemática de objetividade do
material analisado e uma apreensão clínica do conteúdo. Nessa perspectiva o
paradigma indiciário, metodologia desenvolvida pela escola histórica italiana,
também auxilia no trabalho com as fontes, pois torna possível a investigação dos
pequenos indícios fornecidos pela documentação e a percepção da atuação política e
cultural dos colégios analisados nas terras capixabas e cearenses.
Sobre o uso dos jornais como fonte histórica, Tania Regina de Luca (2008),
argumenta que até a década 1970 ainda havia uma aversão por parte dos
historiadores quanto a sua utilização. Essa modificação terá início com a Escolas dos
A impressa escrita
Para Régia Agostinho Silva (2011), o final de 1870 no Ceará, foi marcado por uma
grave seca, que prejudicou a economia provincial e abalou o discurso progressista.
Em relação ao Espírito Santo, Karulinny Silveiro Siqueira (2016) argumenta que
essas novas ideias em voga no Brasil Império também chegaram. Até 1870, não
existiam claras manifestações contra o poder imperial. O radicalismo presente na
Corte não atravessou as fronteiras provinciais até esse momento. Esses pensamentos
reformistas somente encontraram terreno propício quando as novas gerações de
políticos e intelectuais, formados na Corte, retornaram para a terra natal e
encontraram um mercado literário mais amplo que na década anterior.
O Atheneu Cearense foi criado em 1863 para formar a elite intelectual de Fortaleza,
que poderia pagar pelos estudos, e fechou as portar 23 anos depois, em 1886. De
acordo com Karolynne Barrozo de Paula e Antonio Germano Magalhães Junior
(2012), a instituição se destinava a educação religiosa e preparatória para o ingresso
nos cursos superior do Império, admitindo alunos internos e meio pensionistas de
todas as faixas etárias. Em sua grade curricular, de acordo com os autores citados
anteriormente, podemos observar matérias ligadas aos estudos humanísticos, como
a língua francesa, latim, geografia e história.
terem mais de uma função pública, questão impedida por lei. Sobre os alunos, foi
publicado a baderna realizada em praça pública, que recebeu advertência do
Presidente da Província (A Actualidade, 1878, ed. 64, p. 8). Tal confusão dizia respeito
as caricaturas, que tinha como tema os professores e funcionários da instituição,
feita pelos alunos e pregadas em ruas da cidade. Em outro momento, um jornal
publicou uma série de notícias sobre a acumulação de cargos públicos pelos
professores (O Espírito Santense, 1876, ed. 1, p. 3). Mas o mesmo jornal que criticava,
também elogiava em outros momentos. Um ano antes que criticar a acumulo de
cargos pelos professores, O Espírito Santense (1875, ed. 8, p. 4) enalteceu os
profissionais, argumentando que com a organização escolar estabelecida pela
administração, tornado os alunos “discípulos distinto”, a comunidade capixaba já
estava colhendo os frutos e os esforços seriam compensados com a gloria de
encontrar na futura inteligências do Espírito Santo “essas luzes”, ou seja, na
instituição estavam sendo formada os futuros dirigente da província.
Referências Bibliográficas
Nas escolas dos núcleos coloniais do Pará, predominavam o que se poderia chamar
de escolas primárias, ou seja, eram instituições de ensino dedicadas ao ensinamento
elementar que consistia na leitura, escrita, quatro operações aritméticas, noções
práticas do sistema métrico, doutrina cristã e da religião do Estado, e costura para as
meninas. No caso de ensinamentos mais adiantados como a gramática portuguesa,
caligrafia, desenho linear, aritmética avançada, elementos de geometria, de
geografia e de história estes eram ministrados somente nas escolas públicas da
capital ou nas sedes dos municípios mais populosos. Caso houvesse interesse de
continuar os estudos era necessário que os filhos dos colonos se deslocassem para
essas localidades, o que quase sempre não acontecia.
A casa utilizada como escola era alugada pelo professor ou professora, que neste
mesmo espaço morava com a família, reservando um dos cômodos para a função
pública; o que não deixava de se constituir enquanto locais improvisados. A escolha
da casa cabia ao mestre, o que levava os visitadores das escolas, responsáveis pela
fiscalização destes estabelecimentos, à denúncia de que, em geral, as residências
eram acanhadas, anti-higiênicas e sem ventilação. No interior, faltavam habitações
apropriadas, levando, em alguns casos, à instalação de escolas em verdadeiras
Nos dizeres dos administradores a prática extrativa era o principal obstáculo para a
propagação do ensino na região. Dentre as atividades extrativas, a borracha aparecia
com a grande vilã, por afastar as crianças das escolas durante o verão, ou seja, no
segundo semestre de cada ano, quando intensificava os trabalhos de extração do
látex. Nesse caso, o diretor de instrução pública do Pará em 1877, Joaquim Pedro
Corrêa de Freitas, lamentava que em boa parte das escolas fosse pouco concorrido à
frequência de alunos devido o período de colheita da borracha, quando os povoados
eram abandonados por muitos de seus habitantes.
Ao que tudo indica, até o final do século XIX, a "vida nômade" provocada pela
extração e fabricação da goma elástica, assim como a colheita de vários produtos,
em muito importunará os gestores de instrução pública no Pará. Nesse caso, a
população é acusada de viver embrenhada nas matas, onde "as vistas do governo, a
ação benéfica e a regular administração da justiça dificilmente podem
chegar" (Falla da presidência do Pará de 15 de fevereiro de 1877, anexo 3, p. XLI).
Julião Honorato Miranda e Antonio Manuel Gonçalves Tocantins, engenheiros na
época à serviço da província do Pará, identificam na criação de estradas e a
consequente facilitação da comunicação entre as localidades, como uma das
soluções para este isolamento; sendo ainda defendido a fixação dos "errantes
habitantes da Pará" em espaços de colonização agrícola; o que em parte "facilitaria a
educação de seus filhos" (Relatório da presidência do Pará de 15 de fevereiro de 1872,
anexo 1).
O que para os professores poderia ser uma opção dos pais, no caso da cearense
Maria Francisca do Espírito Santo, de 44 anos e moradora de Benevides desde 1878,
tratava-se da necessidade de mais braços para o trabalho no roçado. Afinal os seus
três filhos ajudavam nas atividades de capina e plantio; auxílio necessário, pois era
preciso abreviar o quanto antes o trabalho de cultivo, uma vez que, o auxílio do
governo para os colonos recém-chegados a Benevides se estenderia apenas por seis
meses (APEP. Auto de Inquérito da Chefatura de Polícia de 13 de junho de 1879).
Nos dizeres das autoridades provinciais, a indiferença dos pais pela instrução dos
filhos seria uma das principais causas atribuídas ao "atraso da instrução" na região,
em todo o Segundo Reinado. De acordo com Irma Rizzini, quase sempre, os pais do
interior eram lembrados pelos governantes, principalmente por este descuido,
explicado pela "indiferença, senão repugnância pela instrução da infância" nos
lugares distantes e pouco povoados. Já nos grandes povoados, habitados por uma
"população mais desenvolvida pela educação", haveria maior recepção dos pais à
instrução da infância, podendo-se ampliar o ensino público (RIZZINI, 2004, p. 113).
No caso dos núcleos coloniais, a necessidade de se garantir as atividades de cultivo
exigia o uso quase constante do trabalho das crianças, o que inviabilizava a sua
frequência na escola.
Diríamos, portanto, que a agricultura embora fixasse o homem a terra, a esta era
ainda atribuída à capacidade de facilitar a propagação do modelo de educação
pensada pelas autoridades imperiais. Em outras palavras, seria justamente a
capacidade de fixar as populações em uma dada região o elemento facilitador de
implantação de um ensino regular e oficial. No entanto, há de se considerar que a
identificação dos colonos com o modelo proposto de ensino e a dinâmica de
trabalho dos colonos parecem se constituir como elementos decisivos nesta questão,
seja para facilitar a implementação dessas proposições de ensino, seja para negá-la;
pelo menos é o que mostra a experiência da escola de primeiras letras da Colônia
Benevides.
Agradecimentos
Referências
ARAÚJO, Teresa Corrêa de; DABAT, Cristiane & DOURADO, Ana. "Crianças e
adolescentes nos canaviais de Pernambuco". In: DEL PRIORE, Mary (org.). História
das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2000, 407-436.
AZAMBUJA, Joaquim Maria Nascentes de. Doutrinas pedagógicas e elementos de
instrucção publica organisadas pelo Conselheiro D'Azambuja para uso das
escolas de ensino primario especialmente das Províncias do Amazonas e do
Pará. Pará: Typ. do Livro do Commercio, s.d. [1884].
FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Instrução elementar no século XIX. In: LOPES,
Eliane Marta et al (orgs.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte:
Autêntica, 2000.
RIZZINI, Irma. O cidadão polido e o selvagem bruto: a educação dos meninos
desvalidos na Amazônia Imperial. Rio de Janeiro: UFRJ/IFCS/PPGHIS, 2004. Tese
de Doutorado.
PARTE 3:
HISTÓRIA E
EVENTOS
HISTÓRICOS
1 INTRODUÇÃO
A entrada dos europeus na corrida pelo comércio africano data do século XIV,
através da Península Ibérica, esforçavam-se para competir com as rotas árabes e
fazer suas trocas com o mundo desconhecido e mítico. Mesmo antes deste século já
havia negros escravizados na Europa, vindos do Cáucaso ou dos litorais africanos,
onde já estava sendo aprimorada a tese da inferioridade negra, conferindo “um
conjunto de imagens particularmente degradante”, preparavam o mundo para o
tráfico transatlântico. (M’BOKOLO, 2008, p. 252)
A corrida expansionista iniciada tanto por Portugal e Espanha no século XIV, foi
caracterizada pelo envio de várias embarcações na tentativa de descobrir novas
terras para o comércio ou domínio da região. Podemos evidenciar esta corrida pela
tomada das Ilhas Canárias, as tentativas de conquista são marcadas já nos primeiros
anos de 1310. Os ibéricos faziam comércio, através do estreito de Gibraltar, com a
Fica evidente quando analisamos os motivos de Infante Dom Henrique de Avis para
suas navegações: 1º conhecer as terras além das Canárias; 2º achando terras com
cristãos ou sem perigo para navegar, trariam mercadorias e fariam comércio; 3º
conhecer as forças dos mouros; 4º verificar se se achavam terras com cristãos e se
algum príncipe necessitasse de ajuda contra os infiéis; 5º conversão ao cristianismo.
Não o fizeram antes por medo das correntes, do desconhecido e de não achar terras
possíveis de abastecer os navegadores. (AZURARA, 1841, p.50)
Iniciada no reinado de Dom Affonso IV, a corrida para descobrir novas terras é
incentivada e pesadamente investida pela coroa. São inúmeras as tentativas de
ultrapassar os pontos navegáveis conhecidos mais ao sul da Costa Africana. O
primeiro deste, conhecido como Cabo Não, foi vencido em 1417, o segundo o cabo
Bojador somente em 1433. Várias empreitadas foram lançadas até 1441, data em que
foi feito os primeiros raptos registrados por portugueses em terras africanas não
conhecidas, na localidade de Rio do Ouro, por Antam Gonçalvez – este, captura
duas pessoas na sua incursão, um homem e uma mulher. (AZURARA, 1841, p.79).
Em 1472 e 1473, Fernão de Póo e Lopes Gonçalves chegam as ilhas Formosa e Gabão
(AXEL, 2017, s/p). Somente em 1483, ano em que alcançam o reino do Congo, com
sua capital, Banza Congo, é que iniciará o comércio português. As primeiras trocas
são de manilhas de cobre e marfim congolês, por mercadorias portuguesas e
serviços de conselheiros técnicos. Três anos após, nas ilhas de São Tomé e no Golfo
da Guiné é que os portugueses vão desenvolver a indústria açucareira.
Demandando mão de obra, na década de 1490, os portugueses, exigirão escravos
para seus engenhos (HALL, 2017, p. 252).
“[...] a abertura do Atlântico foi uma operação de grande folego durante a qual a
sede de ouro e a busca por especiarias, a audácia de navegadores portugueses,
assim como de espanhóis e de italianos, interessados no lucro das operações [...]”
(M’BOKOLO, 2008, p. 257)
Dos fins do século XV até o século XVI, a captura de escravizados não era, nem de
longe, a atividade principal de renda portuguesa, onde a maioria dos cativos era
adquirido pelo rapto. Contudo, no final do século XVI, ao menos dez por cento dos
habitantes de Lisboa eram escravos (CARVALHO, 1999, p. 233). A regularidade do
comércio aumentava entre estes séculos, assim: “A partir de 1644, as importações
anuais de escravos capturados na Guiné tornaram-se regulares.” (M’BOKOLO, 2008,
p. 261)
“E aquy avees de notar que estes negros postoque sejam Mouros como os outros,
som porem servos daqueles, per antiigo costume, o qual creo que seja por causa da
maldiçom, que despois do deluvyo lançou Noe sobre seu filho Caym, pella qual o
maldisse, que sua geeraçom fosse sogeita todallas outras geeraçooes do mundo, da
qual estes descendem, segundo screve o arcebispo dom Rodrigo de Tolledo, e assy
Josepho no livro das antiguidades dos judeus, e ainda Gualtero, com outros autores
que fallarom das geeraçooes de Noe depois do saimento da arca. “
A visão do lucro que poderia surgir do cativo, fazia com que leituras tendenciosas
das escrituras sagradas, de ambas religiões, justificassem a escravidão do negro.
(M’BOKOLO, 2008, p. 262).
3 ESCRAVIDÃO
Autores como Wlamyra Albuquerque e Fraga Filho (2006, p. 14) caracterizam esta
prática como escravidão doméstica, onde o aprisionamento de vencidos em conflitos
era comum. Trabalhando no campo e auxiliando no sustento do grupo, os
escravizados representavam prestígio para os possuidores, as mulheres eram a
preferência, pois seguidamente tinham filhos com os senhores. A linhagem das
escravas que nasciam no círculo familiar dos senhores, com o tempo, era
incorporada ao grupo perdendo a condição servil. As crianças também eram
buscadas, por facilidade de assimilação das regras do grupo raptor e por criar
vínculo afetivo com a nova família. (ALBUQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006, p. 15).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
território brasileiro, sendo nossa sociedade fruto deste trânsito de vidas humanas.
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Devido à influência dos ingleses através do Lord Lovat que esteve à frente da
Companhia de Terras do Norte do Paraná, que se encontra desde 1925 no Paraná
envolvida diretamente com a colonização do norte, “a iniciativa da Companhia de
Terras e de outras companhias colonizadoras, particulares, fez povoar densamente a
região” (WESTPHALEN, 1968, p. 19).
A trabalhadora entrevistada Maria (2017) nos diz que chegou a São Pedro do Ivaí
ainda bebê, trabalhou desde criança na lavoura de café comenta sobre os momentos
que marcaram a sua infância.
“[...] então o meu pai fez um tipo de rastelinho assim, de 3 dentes, que era pra enfia
bem no meio da cova do café, pra vê primeiro né? Se não tinha nenhuma aranha
perigosa, um bicho ali, uma cobra, se tinha chamava ele, se não tinha a gente ai
limpava bem o tronco do café e naquele tempo tinha aquelas toras grandonas que
atravessava as ruas de café e tinha que limpar em volta porque o café caia em cima
em volta, ai eles faziam uma vassorinha de bambu pra gente ir varrendo tudo,
varrer a lera que fala, que assim aquele cordão de terra que o café caia em cima e
tinha aquele matinho do tempo do frio que dá muito aquele matinho e o café fica ali
enfiado no meio, tinha que pega aquela vassorinha de bambu e trazia ele tudo pra
baixo assim, pra depois passar rastelando, né?”
Assim, Maria aprendeu a trabalhar nas lavouras de café que foi relevante para a
formação do município. Ao ouvir Maria, percebemos a satisfação ao rememorar esse
período e conforme o pensamento dela, de alguma maneira ela contribuía com as
tarefas da família nos trabalhos de manutenção dos cafezais. Nesse período nos
trabalhos das lavouras cafeeiras todos os membros das famílias eram envolvidos no
cultivo do café, pois, a lavoura tem vários processos como nos apresenta o sr.
Aparecido que está em São Pedro do Ivaí desde 1952 quando tinha dez anos de
idade.
“[...] antigamente não era como hoje que o cara planta café de enxadão, naquele
tempo as cova de café era 30 por 40, 30 de fundura e 40 de espessura, né. Então,
ponhava a semente, cobria de madeira com 45 dias ele nascia. Nasceu orelhinha de
onça, raleava, e deixava seis mudas, quatro a seis, quatro a seis por cova, era
plantado de três metros por quatro de espessura de rua por cova de café né?”
Ele nos explica como era o plantio do café, conforme o depoente a maneira atual do
cultivo mudou. Mas, reforça que o cultivo da lavoura é bem trabalhoso e que muitas
vezes a família não dava conta dos trabalhos precisando contratar mão-de-obra de
fora, no caso os trabalhadores moradores das cidades que trabalham nas áreas
rurais, “os volantes” popularmente conhecidos como os “boias-frias” (NETO, 1993,
p.145).
“[...] olhava na lavoura de café, que foi varrido nós tinha café rastelado pra catar no
outro dia, portanto você olhava os montes nos pés de café, aquilo estava tudo
crivado parecia um porco espinho, o gelo tudo pinicado assim, o chão branquinho,
virou tudo biju, poça d’água no carreador virou biju, tão forte que foi”.
“O problema para recuperar aquilo não tinha nem como recuperar. A solução foi
cortar, veio aquela geada brutal todo mundo ficou abalado porque você sabe uma
lavoura produtiva vir ao chão, para começar tirar de novo, não é fácil não, né? Não
foi um nem dois, todo mundo ficou apavorado, assim abalado, o remédio foi o que?
Ergue a cabeça e trabalhar, cortar o café no chão e espera vir a brota e conservar
aquela plantinha e a brota veio, porque as terras aqui são muito boa”.
Em meio à desolação dos prejuízos causados pela geada, Aparecido ainda reforça a
qualidade das terras, haja vista, ser esta um atrativo para a colonização do norte do
Paraná e também do município em questão.
“[...] todo sábado, difícil o sábado que não tinha uma brincadeira com cavaquinho e
violão, não era sanfona porque naquele tempo quase não tinha sanfoneiro, era
cavaquinho e violão. O cara armava quatro a cinco furquia, uma no meio e quatro
em volta com quatro a cinco lampiãozinho desse daqui, (nos mostra o lampião que
No caso de Augusto ele rememora como a sua família vivia no período de cultivo
da lavoura diz ele, ainda bem que aconteceu a geada, pois, foi por causa dela que
decidimos dar fim ao cultivo do café. Conforme esse depoente com o cultivo da soja
e do trigo eles só progrediram. Com a lavoura do café eles tinham sofrimento e
preocupação.
Maria (2017) também cita como foi à reação de seus familiares diante os prejuízos
causados pela geada de 1975. Em anos passados já tinha geado, em 1953, 1955 e
1968, porém, somente a geada de 1975 contribuiu com o fim da lavoura no estado do
Paraná, deixando os agricultores completamente sem esperança.
De acordo, o depoente Edmundo (2015), no ano de 1980 para evitar uma evasão
maior da população, um grupo de pessoas se reúnem e decidem visitar uma Usina
de açúcar e Álcool.
“Foi juntado na época vários associados, pessoal da fazenda Bulha, que era o Seu
Junqueira, seu Antônio Campanholi, também entrou seu Silvério Seco e também a
fazenda Barbacena através do seu Jaime Longo, que São Pedro do Ivaí deve muito,
muito, muito, três vezes eu falei, é o Seu Jaime Longo, São Pedro do Ivaí deve muito
pra esse homem”.
Dessa maneira, conseguiu-se frear a evasão da população que era uma preocupação
aos governantes locais. A Usina instalada no município empregou e emprega
pessoas da cidade e região, teve época que muitos sonhavam em trabalhar na Usina
de Açúcar Álcool Vale do Ivaí.
CONSIDERAÇÕES
Insistimos na ideia que os munícipes de São Pedro do Ivaí necessitam ter acesso aos
fatos que consideramos importante para a construção dessa comunidade. Dessa
maneira, a história oral através dos depoimentos dos entrevistados é de suma
relevância. O que os trabalhadores e produtores da lavoura de café viveram faz
parte do constructo dessa localidade. Cada situação vivida por esses trabalhadores e
Fontes Orais:
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Essa comunicação aborda desde de 1840 com o debate do projeto de lei para a
legalização da terra e se entende até 1853 quando se funda uma colônia militar no
rio Gurupi. O objetivo é demonstrar como foi o processo de ocupação na fronteira
entre o Pará e Maranhão a partir da criação de gado em campos de uso comum em
um contexto brasileiro de debate e publicação da lei de terras de 1850, buscando
entender os seus impactos na utilização das terras destinadas às pastagens de gado.
A criação de gado era uma atividade que se concentrava nos interiores do Maranhão
e junto à agricultura constituíam as principais fontes econômicas da Província no
século XIX. Por isso, as terras utilizadas para pastagem formavam um terço do
território maranhense, do qual não se faltava em uma comarca sequer “campos de
crear” de menor ou maior extensão. Entretanto, evidenciava-se um problema de
abastecimento desse gado; a criação no Maranhão e mais as cabeças importadas do
Piauí não eram o suficiente para suprir o consumo local. Um dos motivos era
justamente a dinâmica de criação de gado, a qual era feita “à lei da natureza”,
dependente dos aspectos naturais do espaço (RELATÓRIO DE PRESIDENTE...1854,
p. 37). E os rigores climáticos ao longo do ano faziam com que o manejo dos animais
fosse penoso.
Boa parte dos pastos dos interiores do Maranhão tinham uma dinâmica marcada
por períodos de excessos e de carência de chuvas. Isso colocava em risco a
sobrevivência do gado que provavelmente ora sofria com a falta de água ora com o
alagamento quando rios pequenos se transformavam em grandes. Assim, deixando
o solo impróprio para alimenta-lo, o que diminuía sua presença no mercado.
Nas palavras da autora “o mais forte era quem conseguia impor a sua autoridade e
domínio sobre os que ameaçam seus interesses e posses de terra “(Ibid, p.127), ao
Na tabela acima podemos identificar alguns possíveis donos de gado que poderiam
fazer uso dos campos comuns, tendo posses ou negócios naquelas paragens. Desses
nomes destaca-se a Baronesa de Bagé, herdeira de um morgado estabelecido por seu
pai José Gonçalves da Silva, conhecido como o barateiro e no qual estava vinculado
todos os bens acumulados pelo negociante. Dentre os bens constatamos nos dados
apresentados por Ariadne Costa (2011) duas fazendas de lavoura e duas de gado
situadas em Cururupu e Guimarães. Outro destaque tem Franco de Sá pela sua
importância política, afirma ele ter estabelecimentos no Maranhão durante uma
sessão sobre a questão territorial de Turiaçu:
“Sr. Dias de Carvalho: [...] pelo interior do pais sabemos bem o que são as fazendas
de criação: terrenos extensos, abertos por todos os lados, onde o gado esta
espalhado de maneira que os donos muitas vezes não sabem a quantidade que
possuem; muitas vezes não o conhecem, e isso é causa de frequentes disputas entre
os mesmos fazendeiros, porque um marca a rez que encontrou em sua propriedade,
quando o outro diz pertence-lhe. Há, portanto, a dificuldade de se conhecer quem
são os autores dos crimes, é esse o primeiro obstáculo que se encontra na sua
punição” (Ibidem, 18 de julho de 1850, p.227)
“Os senhores de engenho, que possuem uma grande porção de terras, e que
precisão de uma grande porção de terras para a criação de gado e para cultura, esses
principalmente que não tiverem títulos legítimos, ficarão todos assustados temendo
que se toque em seus interesses. Eu creio, como acabei de dizer, que o governo não
tenha força necessária para traze-los aos seus deveres” (Ibidem, 30 de agosto de
1850, p.743)
De acordo com Souza (2016, p.128-131), o projeto de lei que regulamentaria a terra
foi amplamente debatido por Senadores na década de 1840. Em uma das sessões que
era debatida, o Senador Costa Ferreira, representando o Maranhão, levanta
questionamentos sobre a condição dos campos comuns na fronteira se a lei fosse
aprovada como se encontrava no texto do projeto. Para Souza, as preocupações do
Senador estavam diretamente ligadas aos seus interesses próprios, uma vez que era
um dos que possuíam gado ali.
e quando este último era atingido pelas chuvas do inverno, o gado retornava para os
do Maranhão para serem alimentados. Com isso, fazia com que as habitações
construídas nos campos comuns fossem temporárias, assim como o próprio
estabelecimento do gado (SOUZA,2016, p.130). Neste sentido, os campos comuns
poderiam se tornar terras devolutas para serem demarcados e vendidos porque não
cumpriam com o artigo 6º, o qual não legitimava a posse em campos que “não
sendo acompanhados da cultura effectiva e morada habitual exigidas no artigo
antecedente”. (LEI Nº 601, DE 18 DE SETEMBRO DE 1850).
Portanto, após a publicação da lei de terras de 1850 não tivemos mais referências a
essas terras de uso comum na fronteira, presumimos então que foram denominadas
como devolutas. Possivelmente foram demarcadas e postas à venda recebendo
donos definidos, assim afetando diretamente a ocupação na região. Além disso, as
fontes de anos posteriores mostram que a criação de gado ainda se faz como uma
economia existente no Turiaçu, assim como suas terras ganham outras ocupações
como a fundação em 1853 da Colônia militar do Gurupi na fronteira. Após a
anexação da região de Turiaçu ao Maranhão em 1852 e o deslocamento do limite
entre as províncias para o rio Gurupi, a fronteira então é ocupada por essa política
agrária que faria a defesa da terra contra quilombolas e índios visto que esses foram
apresentados em muitos discursos como “perturbadores” da propriedade privada.
A lei de terras de 1850 não só motivou experiências pelo direito de utilização da
terra envolvendo homens abonados, de grande influência política no Império, mas
também nesse momento garantiu a construção de novos embates a partir de
diferentes interesses sobre a fronteira.
Notas
Referências
Documentos
Feito estas considerações, apontamos que o texto foi organizado em três partes. Na
primeira parte, discorremos acerca da chegada da capoeira na capital. Já na segunda
parte, tratamos dela no processo de difusão pelas demais cidades paranaense. E,
finalmente, na última parte, realizamos um apanhado das discussões e apontamos
para a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre assunto, em busca de
encontrarmos outras determinações.
Mestre Sergipe (Antônio Rodrigues Santos), natural de Boquin-SE, foi sem dúvida, o
pioneiro na escrita sobre a capoeira paranaense. Em em seu livro O Poder da
Capoeira(2006), ele realizou uma abordagem geral a respeito da capoeira e dedicou
um dos capítulos para tratar da capoeira paranaense. Sergipe utilizou de sua
memória como base para a construção do enredo, no qual ele descreve a chega da
capoeira em Curitiba e seu desdobramento para outras cidades.
O quarto mestre a chegar, já no ano de 1974, foi Mestre Monsueto. Depois veio, em
1975, mais três mestres: Mestre Belisco, Mestre Diabo Loiro e Mestre Burguês. Em
1975, Mestre Burguês fundou a Associação de Capoeira Netos da Muzenza e
Federação Paranaense de Capoeira (FEPARCA) que, conforme Karen Quimelli
(2017, p. 60), foi uma necessidade, “pois devido à falta deste, os capoeiristas
inicialmente se vinculavam à Federação de Pugilismo”. Nos primeiros anos Mestre
Burguês foi presidente daFEPARCA, depois o cargo passou para Mestre Sergipe.
Mestre Sergipe ficou quatro anos como presidente, sendo que devido a
desentendimentos políticos ele acabou por deixar o cargo e criar outra instituição: a
Liga Brasileira de Capoeira (QUIMELLI, 2017). Mestre Burguês respondeu essa
Vale apontar que principalmente dentro da capoeira curitibana, estes dois agentes
do campo da capoeira (Mestre Sergipe e Mestre Burguês) e seus respectivos grupos
(bem como os grupos pertencentes a estas linhagens) possuem grande importância
na configuração do campo e na dinâmica do mesmo, logo que eles formam a elite da
capoeira paranaense e, assim sendo, estar próximo deles significa potencializar o
seu capital social, que no entender de Pierre Bourdieu, trata-se do
[...] conjunto dos recursos reais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede
durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de
inter-reconhecimentos mútuos, ou, em outros termos, à vinculação a um grupo,
como o conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns
(passíveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros e por eles mesmos),
mas também que são unidos por ligações permanentes e úteis. (BOURDIEU, 1998, p.
67).
Em suma, não pertencer a esses grupos e não estar associado a nenhuma instituição
fundada pelos mesmos, significa que vai ter maior dificuldade para acessar os
capitais acumulados e, portanto, menor poder de luta dentro da capoeira.
Desta forma, podemos dizer que a capoeira curitibana teve forte impacto sobre
outras regiões, sendo que em alguns casos ela foi diretamente responsável pela sua
difusão. No entanto, como veremos mais adiante, nem sempre foram os capoeiristas
curitibanos que levaram a capoeira até as cidades interioranas, pelo contrário, a
maioria delas receberam mestres de capoeira vindo de outros Estados, o que não
exclui o poder de influência que Curitiba passou a ter posteriormente.
Em Apucarana
Logo mais, no ano de 1980, Mestre Silveira (Gideone Silveira) já com o Grupo
ACAPRAS (Academia de Capoeira Praia de São Salvador) prosseguiu as aulas na
cidade. Também passara pela cidade outros grupos. São eles: Grupo Ilha da Maré
(1978-1984), fundado pelo Mestre Fernando que veio de Salvador da Praia Ilha da
Maré e passou a dar aulas na cidade; Grupo Besouro Dourado, liderado pelo Mestre
Shut (Francisco Barbosa) que veio de Maringá em 1985; Grupo Filhos do Valtinho da
Senzala (1986), que foi trazido pelo Contramestre Ventania; Grupo Lendas do
Abaeté (1987), trazido pelo Mestre Pessoa (Manoel Souza Pessoa); Grupo Muzenza
(1995), que foi fundado em Apucarana pelo professor Quati (Airton Manfrini) e no
ano de 2010 (ano que foi realizado a pesquisa) estava sob coordenação do
Contramestre Carneiro; Grupo Maculelê (2002), trazido pelo professor Celsinho
(Celso de Souza); Geração Brasil (2006), liderado pelo Professor Fião (Mario
Brandino) e Projeto Pedagoginga (2009), conduzido por Cristiano Mário Machado,
Professor Skada (MAREZE, 2010).
Em Londrina
Assim foi e por meados de 1980 ele fundou a Associação de Capoeira Flor do Mar,
que funcionou por 12 anos no centro de Maringá. Os praticantes, em geral, eram de
classe trabalhadora e periférica, fato esse que explica a existência de vários formados
de Lampião dando aulas nas periferias da cidade desde o final dos aos 1980
(CALDAS, 2012). Essa relação da capoeira e os trabalhadores é um fenômeno antigo,
uma vez que a capoeira emergiu justamente com os trabalhadores negros, que
naquele momento estavam cativos do regime colonial português. Conforme João da
Matta (2015, p.1):
deve-se notar que a capoeira não é uma prática exclusiva de uma classe. Todavia, de
modo geral, a capoeira possui grande articulação com a classe pobre, expressando
suas contradições e anseios.
Mestre Lampião construiu toda uma linhagem e, conforme pondera Caldas (2010,
p.142):
Para Caldas (2012), outro mestre importante para a capoeira londrinense foi Mestre
Fran, que chegou em Londrina no ano de 1982 e fundou o grupo Conceição da
Praia, que estava subordinado ao Mestre Bradesco de São Paulo. Este grupo logo
tem seu nome alterado para Maculelê. Mestre Fran começou a treinar capoeira
desde seus 10 anos, com Mestre Bradesco em São Paulo e em Londrina, assim como
Mestre Lampião, construiu uma grande linhagem. Seu prestigio era significativo, o
que contribuiu para que na gestão do prefeito Luiz Eduardo Cheida (1993-1996) e no
mandato de Antônio Bellinati (1997-200), a capoeira de Fran conseguisse um projeto
para oferecer aulas gratuitas à população, servindo como fonte de renda para
muitos capoeiristas (CALDAS, 2012).
Mestre Fran - diferente de Mestre Lampião que não via problemas em seus
formados criarem novos grupos – não aceitava ter seus formados como
concorrentes, pois isso afetaria sua renda, logo que diferente de Lampião que não
tinha na capoeira sua única atividade profissional, Mestre Fran vivia somente da
capoeira. Isso acarretou em alguns episódio onde o Mestre Fran foi fechar as
academia de seus formados. Num desfile cívico de 7 de setembro da década de
1990, chegou a ocorrer um confronto entre formados que tiveram suas academias
fechadas e Mestre Fran (CALDAS, 2012). Caldas ainda aponta que:
Depois que Fran fechou as academias de seus formados, estes se aliaram para
confrontar seu mestre realizando uma roda bem ao lado de onde ocorria o desfile
militar em comemoração ao dia da independência brasileira. Em resposta a roda,
Fran reuniu seus alunos mais experientes e se dirigiu até ao local. Lá chegando,
formaram uma roda circunscrevendo à que era comandada pelos rebeldes [...].
Tendo perdido a o confronto marcial, os discípulos rebeldes dirigiram-se para a
delegacia. (CALDAS, 2012, p. 146)
Depois que Mestre Fran se estabeleceu na cidade, alguns alunos de Lampião foram
treinar com Fran, dando início a rivalidade depois de surgirem boatos, vindo destes
ex-alunos, que Fran teria dito que iria dominar a capoeira londrinense (CALDAS,
2012). O primeiro conflito ocorreu no calçadão londrinense, quando Mestre Fran
realizava uma roda com seus alunos e entraram nela dois alunos de Lampião e um
deles teria jogado com Cidinho, como o mesmo narra:
Eu dei uma chapa na barriga do cara, ele nem mexeu. Aí fiz um aú e ele deu uma
cabeçada, eu caí. Aí o Fran comprou o jogo, o cara saiu na volta do mundo atrás dele
[movimento de circunscrever a roda andando], o Fran do jeito que tava rodando
abaixou e virou de cabeça pro lado [golpe de cabeça] pegou na cara do cara que caiu
pra trás, daí ele levantou e foi de soco pra cima do mestre que afastou e tropeçou.
[Neste momento, outro aluno Fran interveio e] quebrou o berimbau na cabeça do
discípulo de Lampião (CIDINHO apud CALDAS, 2012, p. 149).
Depois deste conflito aconteceram outros quatro. O segundo foi semelhante a esse
primeiro, ocorrendo novamente no calçadão. O terceiro aconteceu na academia de
Fran, quando alunos de Mestre Lampião, desgostosos por não terem sido
convidados para um evento cultural sobre capoeira que Fran participou, foram até
lá e desafiaram Fran. Ele não aceitou o desafio, pois estavam em minoria, e então
houve somente bate-boca (CALDAS, 2012).
Em Ponta Grossa
No município de Ponta Grossa a capoeira foi trazida pelo grupo Muzenza, no ano
de 1982, através do professor Periquito. Em 1983 quem assumiu o grupo foi
professor Jabá, que ficou dando aulas até 1991, quando voltou para sua cidade
(Natal). Professor Jabá deixou o grupo sob direção de Mestre Polaco, o qual atua até
hoje na cidade. Mestre Polaco conta, em relação a este início, que
Soube que existia uma academia de capoeira aqui em Ponta Grossa, que era a
CAPOARTE, na época, só que eu não tive a oportunidade de ir. Quando eu fiquei
sabendo que a Muzenza abriu uma academia aqui eu fui assistir um treino, foi onde
eu me encantei com a capoeira e comecei a treinar. Isso foi em 24 de agosto de 82
(MESTRE POLACO, 2018).
Mestre Polaco relata que esse início foi bem conturbado, pois “a capoeira ainda é
descriminada, mas na época era bem mais forte essa [...] E o pessoal confundia
muito com religião: com o candomblé, com atos religiosos africanos” (MESTRE
POLACO, 2018). Ou seja, havia um grande problema da capoeira em relação a
sociedade pontagrossense. Devemos lembrar que a cidade de Ponta Grossa teve
forte influência da ideologia Paranista o que pode ter contribuído para esta
dificuldade inicial. Devemos pontuar que, apesar de haver uma grande mudança da
cidade dos anos 80 à atualidade, Mestre Polaco nos coloca que “hoje em dia mudou
bastante, mas ainda assim tem muitos pastores... [...] muitas pessoas ainda acham
que tem alguma coisa a ver, a capoeira ligada a religião africana e tudo mais”
(MESTRE POLACO, 2018).
Em Matinhos
Antes de Mestre Bacico chegar a cidade ele já tinha vasta trajetória e experiência na
capoeira. No ano de 1998 ele ingressou no Centro Paranaense de Capoeira, do
Mestre Sergipe. Mais tarde (1984-1986) passou dar aulas na Escola de formação de
soldados da Policia Militar do Estado do Paraná, no município de Pontal do Paraná.
Nessa mesma época (1985) Bacico levou a capoeira para os Balneários de Pontal do
Sul, Ipanema e Praia do Leste em Pontal do Paraná e também concluiu o estágio de
instrutor, sendo reconhecido como contramestre pela FEPARCA. Dois anos depois
instituiu e constituiu a diretoria da Associação de Capoeira Ayê Raça em Liberdade,
em Paranaguá. Ainda em 1987 Bacico coordenou a capoeira em Itajaí, na Casa da
Cultura e orientou a inserção dela nos munícipios de Morretes e Antonina (SILVA,
2014).
Em Matinhos, o primeiro local onde Mestre Bacico deu aulas foi no MainShwartz.
Mas ficaram pouco tempo neste local, pois como a esposa do proprietário não
gostava de capoeira eles procuraram mudar de local e assim foram para o clube
Caravelas (SENTONE, 2013). No ano de 1996 Mestre Bacico contava com o apoio de
outros professores, como Praia Grande, Cesar. Além dos instrutores Marcelo, China
e Edson que davam aulas nos bairros Tabuleiros e Rio da Onça (SENTONE, 2013).
Em 1988, Bacico fundou o Grupo de Capoeira Zoeira Nagô em 1999 organizou a
diretoria da Associação de Capoeira Zoeira Nagô (ACZN), no ano de 1998 (SILVA,
2014).
Em Imbituva
Conforme relata Borgo, foi durante um intervalo para o café que ele conheceu a
capoeira:
Um dia na hora do café ele fez um macaquinho. [...] Perguntei para ele o que era e
ele disse: isso é capoeira, isso é uma luta baiana. Então falei para ele me ensinar, e
ele não queria ensinar. Fiquei mais ou menos uma semana falando pra ele me
ensinar, até que ele cedeu. Foi então que começamos a treinar (BORGO, 2016).
Assim que professor Borgo começou a aprender a capoeira ele passou a fazer
demonstrações nas praças e nos colégios, o que contribuiu para aguçar a curiosidade
dos imbituvense. Não demorou para que o público passasse a incentivar professor
Borgo a ensinar capoeira, e assim, aos poucos ele começou a dar aulas. Inicialmente
as aulas eram na pra Theodoro Newton Diedrich, no centro da cidade. No entanto,
quando o número de praticantes aumentou, atingindo um número de quarenta e
cinco alunos ele optou por buscar um espaço fechado e filiou-se ao grupo
pontagrossense de capoeira Vôo Livre.
Desde o início da prática da capoeira, no ano de 1990, até os dias atuais, existiram
cinco grupos de capoeira oficiais: Vôo Livre (grupo de Mestre Valdeci, já extinto),
que manteve atividades de 1995 a 1999; Salve Brasil (grupo criado por Valdeci,
tendo Prof. Daniel como Mestre, que também já é extinto), o qual ficou ativo do
ano 2000 a 2001; Berimbau de Prata (grupo de Mestre Samuca, já falecido, e que
permanece ativo na cidade de Curitiba, tendo como liderança o Contramestre Jesus),
que atuou de 2001 a 2002; ACAPRAS (grupo de Mestre Silveira), que iniciou seus
trabalhos em 2000 e encerrou somente em 2013 e Guerreiros dos Palmares (grupo de
Mestre Pop Lyne, que é o atual grupo de capoeira na cidade e tem como professor
Nogosek Ferreira dos Santos).
A capoeira imbituvense também foi palco de algumas tensões. A principal delas foi
o empasse ocorrido entre dois grupos da cidade: ACAPRAS (filiado a FEPARCA) e
Salve Brasil (não filiado a FEPARCA). O conflito aconteceu durante os primeiros
seis meses do ano de 2001, chegando inclusive a conflitos físicos. Em alguns
momentos, alunos da ACAPRAS chegaram a invadir rodas do Salve Brasil, tentando
impedir que acontecesse o jogo “ilegal” de capoeira. Depois professor Borgo, que
era o criador do Salve Brasil desfez o grupo e passou para o Berimbau de Prata,
grupo de Mestre Samuca. No entanto, as rivalidades continuaram. Como aponta
Josni Ferreira Santos,
Teve um batizado deles aqui. E a gente foi assistir o batizado deles. [...] desceu todo
mundo que era da ACAPRAS, só que só era aluno [...] E daí o mestre permitiu,
agente jogou lá, no começo foi de boa, depois o pau comeu. (risos) Na verdade lá foi
só eles que bateram (SANTOS, 2015).
Professor Valdecir Borgo conta que esse fato ocorreu devido a um desentendimento
anterior, no qual “foi só o Magrão. Daí o Magrão foi lá e aconteceu dele levar umas
rasteiras lá na roda e o Magrão saiu bravo. E daí depois que veio toda a turma do
mestre Silveira”. Professor Borgo narra que
Veio o pessoal de Ponta Grossa pra dizer – você não pode dar aula de capoeira, aqui
é só o Magrão [...] Só que depois o Magrão abandonou eles. E ai depois eles vieram
conversar comigo pra eu dar aula [...] e ai o Fábio Galvão pediu desculpas (BORGO,
2016).
O fato de terem vindo falar com ele talvez esteja relacionado com a hegemonia do
grupo, pois com a saída de Magrão abria-se a possibilidade de Borgo dar
continuidade e dominar o mercado cultural (BOURDIEU, 2017) da capoeira
imbituvense, ou seja, o grupo ACAPRAS se aproximou de Borgo estrategicamente,
buscando se perpetuar enquanto grupo dominante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em geral, objetivamos ao longo deste texto dar uma contribuição para aqueles
interessados no estudo sobre a capoeira paranaense. Assim, buscamos organizar as
ideias que estavam dispersas, realocando em uma narrativa introdutória sobre o
tema. Desta forma, esperamos que o texto instigue eventuais interessados e possa
servir de suporte para uma primeira aproximação do tema.
REFERÊNCIAS
Este projeto visa estudar trajetórias das famílias alforriadas pelo Barão Steiger, na
freguesia de São Jorge dos Ilhéus a partir (da execução) do Fundo de Emancipação
de escravos naquela região (1874-1887). Partimos da premissa de que Fernando von
Steiger-Mussinger veio para o Brasil no ano de 1846, onde comprou à sesmaria
Vitória que ficava na freguesia de Ilhéus às margens do Cachoeira seguindo em
direção ao oeste (RIBEIRO, 2017, p.48).
pessoais para evitar o risco do anacronismo. Visto como falta de sintonia com o
contexto histórico em análise. Em suma, a opinião do historiador será sempre um
direcionamento (ou criação) de (novos) valores (THOMPSON, 54-62).
Para Thompson, a história deve ser pensada a partir de uma relação dialógica, entre
ação, instante e reflexão. Essa relação trás à tona a experiência de que todo o
historiador precisa para compreensões das realidades históricas.
Outro manancial singular para esse estudo será a análise dos documentos pessoais
do Barão Steiger. São correspondências (cartas alemãs e francesas) trocadas com a
sua família na Europa, além de um pequeno registro administrativo
da plantation Vitória.
No total existem 49 cartas, numa série entre 1855-1887. Mas, analisaremos neste
estudo apenas cartas referentes às décadas 1870-1887 (marco temporal dessa
pesquisa). Ao todo serão investigadas 18 correspondências (cartas) pessoais do
Barão Steiger.
Aliado a isso, existe também uma biografia do ano de 1893, elaborada por Abert
irmão de Steiger, que trás informações valiosas sobre a experiência do Barão na
sesmaria Vitória. Essas fontes (de cunho pessoal do Barão) trazem informações
sobre a relação de Steiger com seus escravos e da administração da sesmaria.
Abordam, principalmente, a inquietude de Steiger com a possibilidade do fim da
escravidão. Enfim, será por meio do entrecruzamento dessas fontes que
pretendemos encontrar respostas para essa pesquisa.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Jonis. Escravidão e família escrava na Zona da Mata Mineira oitocentista. São
Paulo: Alamenda, 2014.
______. Os andarilhos do bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. São
Paulo: Companhia das Letras, 1988.
METCALF, Alida. Vida familiar dos escravos em São Paulo no século XVIII: o caso
de Santana de Parnaíba. Estudos Econômicos, n.2, v.17, p.229-243, 1987.
NEGRO, Antonio Luigi; GOMES, Flávio. Além de senzalas e fábricas: uma história
social do trabalho. Tempo Social (revista de sociologia da USP), v.18, n.1, p.218-220.
JUNHO/2006.
REIS, Isabel Cristina Ferreira. A família negra no tempo da escravidão: Bahia, 1850-
1888. Tese doutorado. Campinas-SP, 2007.
Esta comunicação sobre Maura Lopes Cançado (1929-1993) tem como principal
objetivo reconstituir a trajetória de vida da escritora desde o nascimento até a sua
morte. Para tanto, será apresentado um perfil biográfico. Assim, este trabalho
justifica-se na tentativa de que haja um maior reconhecimento da autora no meio
acadêmico, objetivando, principalmente, identificar os aspectos da vida e da obra da
autora em questão. Utilizou-se, desse modo, de alguns textos para estudo, bem
como também os dois livros da escritora supracitada, a saber: Hospício é Deus – diário
I (1965) e O sofredor do ver (1968).
Desde a infância a autora sofria com problemas psicológicos, e tal constatação era
apurada segundo os próprios relatos de Maura: “[a]os sete anos fui vítima de um
ataque convulsivo que muito preocupou meus pais. Deu-se enquanto eu dormia, e
não sofri. Apenas dor de cabeça ao acordar.”(Cançado, 1978, p. 22). Posteriormente,
a escritora passou a sofrer frequentemente com tais crises e desmaios. Todavia, isso
não foi empecilho para que ela, no ano de 1944, aos quinze anos de idade, se
matriculasse em um aeroclube na cidade de Bom Despacho - MG, onde aprendeu a
pilotar.
Outro fato relevante sobre Maura é que a autora descreve em seus livros que sempre
que conseguia algo, rapidamente se desinteressava por aquilo; daí o que ela
descreve como sendo a sua busca pelo “não sei o que é, mas é maravilhoso”. É
justamente nesse período que a futura escritora casa-se com um colega do aeroclube,
Jair Praxedes. Ainda no mesmo ano o casal teve um filho, que foi batizado com o
nome de Cesarion Cançado Praxedes.
Em 1949, internou-se por conta própria na Casa de Saúde Santa Maria, na cidade de
Belo Horizonte, alegando estar sentindo-se muito angustiada e extremamente
deprimida. Adiante, ela decidiu ir morar na cidade do Rio de Janeiro.
Em 1958, Maura Lopes Cançado escreve alguns contos e envia para o escritor
Ferreira Gullar que, de imediato, interessa-se pela escrita da autora. Decidindo ir ao
encontro da jovem, ao conhecê-la, percebe que ela está com problemas. O autor
então decide dar-lhe uma vaga de assistente no Suplemento Dominical do Jornal do
Brasil. Por conseguinte, Ferreira Gullar publica em 1958 o primeiro conto da
escritora, intitulado “No quadrado de Joana”.
A escrita de Maura foi muito elogiada por críticos literários, leitores do jornal e por
nomes consagrados como Clarice Lispector. No conto publicado, percebe-se
Em 1968, é lançado o seu outro livro, “O sofredor do ver”, contando com uma
coletânea de doze contos que haviam sido publicados em jornais, além de outros
inéditos. É importante destacar que existem alguns textos que não foram publicados
no seu livro, “[s]ão eles: ‘Cabeleireiro de senhoras’, ‘Passagem-passaporte’ e ‘Carta a
Mao Tsé-Tung’.” (SOUZA; SILVA, 2018, p. 350).
Em 11 de abril de 1972, Maura estava internada na Clínica Dr. Eiras. Nesse local
matou estrangulada com um lençol uma interna de dezenove anos, a qual estava
grávida de quatro meses. Quando os médicos chegaram, a escritora estava
perturbada, tendo recordado o assassínio apenas na penitenciária, relatando ter tido
uma amnésia e não lembrar-se direito do ocorrido. Depois disso, a autora passou
por alguns presídios cariocas, até ser considerada inimputável pela justiça. Após tal
ocorrido, passou a viver com seu filho Cesarion. Nunca mais quis escrever, vindo a
falecer em 19 de dezembro de 1993, vítima de um ataque cardíaco.
Com este trabalho conclui-se que a escritora, além de carregar uma trajetória
peculiar, configura um importante nome para a literatura brasileira, visto que não
apenas escreveu diversos contos, mas ainda expressou em suas obras o fruto do
I SIMPÓSIO ONLINE DE HISTÓRIA DOS ANANINS: ENSINO, PESQUISA, EXTENSÃO
119
olhar de quem estava dentro dos muros dos hospícios, apresentando uma
perspectiva singular de quem se encontra do lado oposto ao lado dos “sãos”. É
essencial, portanto, o desenvolvimento de estudos sobre a autora mineira no meio
acadêmico. Ademais, a sua vida e obra estão em constantes aproximações e
distanciamentos, de sorte que esta comunicação aborda e fomenta uma questão
fundamental, a saber, a necessidade de um maior entendimento sobre a trajetória de
vida e a obra de Maura Lopes Cançado.
REFERÊNCIAS:
Dando sequencia aos seus estudos sobre a identidade nacional o autor ainda afirma
que esta é “vinculada a modernização legitimadora e ao ecletismo, ao positivismo e
ao evolucionismo” (idem, p.25), tendências que são conciliadas nas bases da cultura
historiográfica da virada do século e suas consequências até meados da década de
1920.
Pensar a ciência e história foi uma característica marcante na metade do século XIX e
princípios do século XX, visto que escrever e problematizar a nação se caracterizava
como um momento histórico e preciso da sua construção, prerrogativa que movia o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) como um lugar de onde
emanavam, as problemáticas legitimadores de uma cultura historiográfica, uma
maneira própria, “eminentemente restrita” e “excludente”, de sistematizar e definir
uma história para a nação brasileira. (GUIMARÃES, 1988).
Nosso estudo se deu a partir da leitura dos Boletins do IHGP – as três primeiras
publicações da agremiação entre os anos de 1918 e 1925 – importante fonte de
estudo da história da historiografia, que ganha sentido quando submetida aos
processos da prática histórica, ou do que CERTEAU(2002) chama de operação
historiográfica. Vale destacar que, de acordo com o autor, são as operações que
regulam a escrita da história e seu caráter científico, tais como: a fabricação de um
objeto, a organização de espaço de tempo e a encenação de um relato. Nessa mesma
direção o conceito de história remete-nos ao significado de: verdade, documento e
estilo.
Uma história que concedesse significância e significado ao Paraná era, sem dúvida,
o que movia a produção da escrita da história paranaense no IHGP em princípios do
século XX. A imprensa foi de fundamental importância para a difusão dos ideais da
época, assim como os escritos do Boletim que analisaremos em futuros estudos. A
modernidade, pensamento esse advindo das concepções europeias do século XIX,
também esteve representada nas páginas dos periódicos emanado dos corredores do
Instituto Histórico e Geográfico Paranaense e que devem ter suas análises
aprofundadas no decorrer dos estudos que por ora estamos desenvolvendo.
Sendo assim, ao trazer à cena a produção dos homens da primeira metade do século
XX, demonstra como ocorreram modificações na configuração da história do
Paraná:
Assim, nas propostas desta agremiação era possível averiguar que tal perspectiva
era uma prática que atravessava tanto a escrita da geografia quanto a escrita da
história. Estudos do discurso historiográfico paranaense de princípios do século XX
podem ser reveladores de algumas práticas desencadeadas no Paraná, pois se
apresentam como um espaço profícuo para debates sobre este tipo de produção
histórica.
(...), civilizar o Brasil era como branquear, a cultura era subjugada a uma natureza.
(...) A naturalização do destino é então uma temática que percorre o boletim
histórico o período de 1917-1940, momento em que o Boletim estava sob a direção
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um novo Paraná começou a ser escrito a partir do ano de 1900 de forma que este
passou a ser apresentado segundo os parâmetros da modernidade que se alargava
no processo de reestruturação dos padrões da sociedade brasileira de princípios do
século XX. Os debates sobre a institucionalização de uma cultura histórica no Brasil
nos despertou interesse sobre a importância dos procedimentos do conhecimento e
da pesquisa histórica desencadeada no Paraná.
Neste sentido, nos coube refletir sobre quais compromissos foram assumidos e
também sobre qual tradição cultural esses homens que frequentavam o IHGP
buscavam pertencer e preservar através de suas práticas culturais, à exemplo da
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS:
A obra A Perfeita Mulher Casada foi publicada em 1583, sendo uma espécie de
manual de instrução para Maria Varela Osório por ocasião de seu matrimônio.
Tratava-se de uma senhora pertencente a uma elite local da cidade de Salamanca
(Espanha). O Frei Luis de León, baseando-se em textos bíblicos sobre o
comportamento da mulher no lar e no meio social, acabou construindo e
reafirmando naquele momento, a postura da Igreja Católica tridentina sobre sua
concepção sobre o modelo feminino ideal.
Com vistas à compreender o seu tempo é necessário recordar que a Igreja Católica
introduziu na sociedade a mentalidade da castidade e continência, e no que tange ao
universo feminino, construiu uma série de regras de comportamentos pelas quais
toda mulher dita “decente” deveria se orientar e as que não atentassem para os
aconselhamentos seriam consideradas pecadoras e perigosas (PRIORE, 1993).
Portanto, como se pode perceber pelo teor dos discursos desses religiosos, as
mulheres precisavam ser “adestradas”, pois, grande perigo advinha de alguém tão
encantadora e ao mesmo tempo considerada pelas vozes masculinas- desviantes.
Assim, como contraponto à mulher “perigosa”, vista como a própria encarnação de
Eva, a igreja irá exaltar a mulher casada, doadora e submissa como foi a construção
da imagem de Maria, ícone de mãe devotada e abnegada.
Percebe-se essa visão dualista nas recomendações do frei à Maria Varela Osório, ele
deixou transparecer nas linhas endereçadas a esta senhora, o que sentia em relação
àquelas mulheres que não se enquadravam nas prédicas normatizadoras da igreja:
“Porque servir ao marido, governar a família, a criação dos filhos, a conta que junto
com tudo isso se deve ao temor a Deus, a guarda da limpeza da consciência, tudo o
que pertence ao estado e ao oficio da mulher casada, são obras que requerem cada
uma por si muito cuidado” (LEÓN, 1996, p. 13).
Essa mulher atenta ao seu lar, devotada à família, criação de seus filhos, bem como
dedicada em servir ao marido e temente a Deus, fazia parte do projeto reformista da
Igreja Católica, que enxergou na figura feminina uma aliada, no que tange à
transmissão dos valores cristãos a uma futura geração.
Este ideal feminino ressuscitado pelo cristianismo fez com que surgissem códigos de
condutas severos para a mulher, os quais podem ser percebidos no teor do discurso
do Frei León.
“Para que se enfeita a mulher casada? Porque, para dizer a verdade, a resposta é
amor próprio desordenado, apetite insaciável de vã excelência, cobiça feia,
desonestidade arraigada no coração, adultério, baixeza, delito que jamais cessa [...]
Oh, nojo, oh fedor, oh torpeza!” (León, 2006, p. 60).
Pontos de vistas como este, mostram que o corpo feminino é, desde muito tempo,
objeto de encantamento, atração e prazer. Um corpo que, por vezes, tendia a ser
chave para a perdição, e outras, devoção.
Nesse sentido, é importante ressaltar que o estudo sobre mulheres, abundou em
meados da década de 1970. Momento fértil no campo das pesquisas, tendo em vista
que foi um contexto no qual avançaram os protestos e questionamentos das
feministas ao redor do mundo, promovendo debates plurais no meio acadêmico, a
respeito de temas, como- cultura/raça/etnia.
Notadamente sem desconsiderar suas produções teóricas, mas pô-las à prova não as
tendo como verdades inquestionáveis. Partindo do pressuposto de que: “A história
que se ‘aprende’ não é aquela ensinada nos bancos escolares. Não há verdades
absolutas, nem conhecimento histórico eterno ou imutável” (SINOTI, 2005, p.37).
Alguns pesquisadores que se debruçaram sobre a temática avançaram em alguns
questionamentos, desconstruindo pressupostos arraigados, bem como trazendo
outras problemáticas para o debate.
Nessa mesma linha analítica cabe destacar outros estudos relevantes sobre o tema.
EmRebeldia e submissão: estudos sobre a condição feminina, de Albertina Costa e Cristina
Bruschini (1989), as autoras fizeram uma reflexão sobre a condição feminina e as
tramas sociais que as mesmas estavam inseridas. Para isso, apropriam-se de
Na mesma direção, na obra: Gênero: uma categoria útil para a análise histórica, de Joan
W. Scott (1989), a pesquisadora trouxe, na década de 1980, muitas reflexões para o
debate, ao questionar a clássica concepção ocidental a respeito da oposição tida
como universal e atemporal entre homem e mulher (PISCITELLI, 2002).
Embora não negando as diferenças entre os dois sexos, Scott inovou ao procurar
trazer para o centro dos debates as relações culturais construídas nas sociedades ao
longo do tempo sobre o homem e a mulher. Ela observou ainda que as relações
entre gênero e poder estão imbricadas, levando à reflexão de que as relações de
gênero passam pelo crivo da vigilância. É importante salientar que a autora foi
muito influenciada pelos estudos de Michel Foucault (1988) sobre sexualidade.
Já nas obras O corpo feminino em debate, de Maria Izilda S. Matos e Rachel Soihet
(2003);Gênero e História: homens, mulheres e a prática histórica, de Bonnie G. Smith
(2003);Traduzindo o debate: o uso da categoria de gênero na pesquisa histórica, de Joana
Maria Pedro (2005), pode-se perceber a preocupação dessas autoras em melhor
problematizar as perspectivas de gênero.
I SIMPÓSIO ONLINE DE HISTÓRIA DOS ANANINS: ENSINO, PESQUISA, EXTENSÃO
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Nota-se, nos trabalhos mencionados, que houve uma preocupação em trazer para o
debate os discursos dos sujeitos masculinos e as continuidades ao longo dos séculos-
da visão preconceituosa sobre as mulheres, caracterizando-a muitas vezes como
o sexo frágil, razão que justificaria sua submissão na família ao patriarca ou até seu
baixo salário em relação aos homens. Afinal o corpo feminino, dito frágil/sensível,
nesses discursos, destoavam e burlavam as respectivas concepções, seja
demonstrando uma falsa sujeição ou mesmo rompendo os paradigmas (PRIORE,
1993).
Tal compreensão nos possibilita atentar para os meios utilizados para confinar o
corpo feminino, que, segundo o medievalista, levariam a “ruína dos reinos”, ou a
perdição do homem. A solução dos doutrinadores católicos, era impor à mulher a
sentença de nulidade, adestrando seu corpo, que era fonte de atração, pelo dito sexo
forte (o homem). Corpo que exalava odores e apresentava secreção menstrual, por
fim, um corpo que tinha a capacidade de gerar um outro ser Delumeau (1989).
Roy Porter (1998) diz que na antiguidade Aristóteles e seus seguidores, afirmaram
que as mulheres “eram machos defeituosos e monstruosos, seres nos quais a
genitália (designada para ser do lado exterior do corpo), “por falta de calor e de
força, falhou na extrusão” (1998, p.130).
Com sua natureza mais fria e mais fraca, e sua genitália contida internamente, “as
mulheres eram essencialmente equipadas para a criação dos filhos, não para uma
vida racional e ativa dentro do fórum cívico” (1998, p.130). Como temos discutido
até o momento, ao longo dos séculos construiu-se um imaginário no qual o corpo
feminino era concebido de diversas formas pejorativas, inclusive visto como
“homens imperfeitos”, uma cópia mal formada do homem. Justificativa biológica
que só veio a ser questionada em séculos vindouros.
Sendo assim, não é de se estranhar o discurso de ojeriza do Frei Luís de León (não
custa recordar, marcado por uma visão de mundo ao qual estava inserido) sobre a
mulher que se negava a ser a boa-esposa-mãe-dona-de-casa- “Oh, nojo, oh fedor, oh
torpeza!” (2006, p. 60). Tendo em vista que a representação que se construiu sobre a
mulher sempre foi marcada pela inferiorização ou demonização. Dessa maneira,
àquelas que não se adequassem ao padrão normativo cristão-católico, eram
rechaçadas e vítimas de mexericos e olhares enviesados.
Fazendo com que não poucas mulheres ou se adaptassem às regras impostas por
um discurso disciplinador ou fingissem uma acomodação. As que burlavam tais
prédicas, muitas vezes aproveitavam-se das brechas cotidianas para viver segundo
suas próprias regras, ainda que sob alguns disfarces ou não.
Teria Maria Varela Osório, destinatária dos conselhos do Frei Adalberon de León,
escolhido seguir qual itinerário de vida, o da Perfeita Mulher Casada ou mascarar sua
conduta “imperfeita” nas intricadas teias das relações sociais do seiscentos?
Referências
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COSTA, Albertina; BRUSCHINI, Cristina (Orgs.). Rebeldia e submissão: estudos sobre
a condição feminina. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1989.
DELUMEAU, Jean. O medo no Ocidente: 1300 – 1800. São Paulo: companhia das
letras, 1989.
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XIX. Vol. São Paulo: EBRADIL, 1991.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro:
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LEMOS, Fernanda. "Se Deus é homem, o demônio é [a] mulher!": a influência da
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Ártemis, v. 6, p. 114-124, 2007.
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PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o debate: o uso da categoria de gênero na pesquisa
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PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da História. São Paulo: EDUSC,
2005.
PISCITELLI, Adriana. "Recriando a (categoria) mulher?" In: ALGRANTI, Leila
(Org.). A prática feminista e o conceito de gênero. Campinas: IFCH-Unicamp, 2002.
(Textos Didáticos, n. 48).
PORTER, Roy; TEICH, Mikulás. Conhecimento sexual, ciência sexual. A história das
atitudes em relação a sexualidade. São Paulo: Unesp, 1998.
Para a análise nessa comunicação, além do livro da escritora em foco, lançou-se mão
também de obras que discorrem sobre as instituições para doentes mentais no
Brasil.
acordo com Sêrro (2006, p. 16) esse foi “[...] o marco institucional da assistência
psiquiátrica no Brasil, exatamente por ter sido o momento histórico em que se
inaugurava o primeiro espaço especificamente destinado aos loucos”.
Posteriormente surgiriam diversas outras instituições, principalmente durante o
período inicial da Primeira República.
No livro Hospício é Deus – diário I, Maura começa descrevendo o hospício como uma
cidade triste, onde pessoas eram retiradas de sua identidade, seja visual, seja
comportamental. Todas as internas utilizavam a mesma vestimenta com uma
numeração para que ficasse mais fácil a identificação e a contagem das internas.
Considerando isso
Cançado (1979, p. 33) descreve que a instituição em que estava internada “se
compõe de seis edifícios, abrigando, normalmente, creio, dois mil e quinhentos
habitantes (não estou bem certa do número)”. É importante notar que tais locais de
internações, comumente, possuíam um grande número de pessoas. Visto que, como
já foi dito aqui nesse texto o espaço era utilizado para o “tratamento” de vários tipos
de pacientes.
Ela denuncia que os médicos quase não compareciam ao local, deixando quase tudo
a cargo das enfermeiras e também dos outros funcionários. Em uma passagem
Maura conta que “Os médicos são de uma incoerência escandalosa; por mais que
queiram negar, estão de acordo com os ‘castigos’, aprovam-nos ou mandam até
mesmo aplicá-los (CANÇADO, 1979, p. 85). Entrementes,
Em sua narrativa, Maura também dá voz a pessoas que estavam ali esquecidas por
tudo e por todos, sempre discorrendo sobre outras pacientes e o que acontecia com
elas dentro do hospício, em um trecho de seu livro, Maura fala de Durvaldina.
“Durvaldina tem um olho roxo. Está toda contundida. Não sei como alguém não
toma providência para que as doentes não sejam de tal maneira brutalizadas. Ainda
mais que Durvaldina se acha completamente inconsciente. Hoje fui ao quarto-forte
vê-la. (...) Durvaldina abraçou-me chorando, pediu-me que a tirasse de lá. O quarto
é abafadíssimo e sujo. Fiquei mortificada, perguntei-lhe se sabia quem lhe batera, e
ela: ‘- Não. Alguém me bateu?’.” (CANÇADO, 1979, p. 127).
“(...) à hora do almoço o refeitório vibra, frenético e nauseante. Uma, rasgada, dança
com o prato na cabeça. Outra come ávida, mastigando de boca aberta, a gordura
escorrendo-lhe pelo queixo. Falam, cantam, brigam, riem” (CANÇADO, 1979, p. 78).
Maura Lopes Cançado encerra o livro com uma frase em que desabafa sobre tudo
aquilo que estava enfrentando. “Como é desolador perder a fé nas pessoas a quem
amamos. Como é terrível ficar sozinha. E como é desgraçado estar na situação em
que estou” (CANÇADO, 1979, p. 201).
REFERÊNCIAS:
ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro. 4. ed. São Paulo: Geração Editorial, 2013.
CANÇADO, Maura Lopes. Hospício é Deus: diário I. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
1979.
_____. O sofredor do ver. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
LOUGON, Maurício. Psiquiatria institucional: do hospício à reforma psiquiátrica. 20.
ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006. (Coleção Loucura e Civilização).
MACHADO, Roberto. et al. Danação da norma: medicina social e constituição da
psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1978.
SÊRRO, Raquel Brandão do. Maura Lopes Cançado: lúcida, lírica e louca. 2006. 44p.
Monografia de Graduação em Letras, Centro Universitário de Patos de Minas
(UNIPAM), Patos de Minas – MG, 2006.
Lei Nº 10.216, 6 de abril de 2001: Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
mental. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm>. Acesso em: 28
nov. 2018.
RESUMO
Para uns, as Índias das sedas e das especiarias. Para outros, um paraíso na Terra. As
primeiras descrições da América portuguesa refletiam, na Europa, as maravilhas de
um novo mundo descoberto no além-mar, o qual era possuidor das mais
extraordinárias matas e de promissoras riquezas naturais. Ao longo dos anos,
contudo, o homem viu que era necessário se adaptar ao clima e às condições da
terra para que ali pudesse fixar residência. Dos vários empecilhos que por aqui
encontrou a microfauna, representada por milhares de espécies de insetos,
mostrava-se como um dos mais difíceis de vencer. É nossa intenção expor através
deste artigo e utilizando-nos de memórias e outros relatos históricos a relação do ser
vivente na América portuguesa para com o universo entomológico que o cercava de
modo a verificar como o mundo natural foi apropriado nos momentos convenientes
ou admoestado, como o foi na maioria das vezes.
Por mais boçal ou letrado que o homem europeu residente na América fosse, o
mundo que descortinava à sua frente era visto, na maioria das vezes, como ímpar e
belo, e deveras deveria fazer surgir na mente daqueles que estavam prestes a
adentra-lo sentimentos de admiração e de curiosidade. A possibilidade do
enriquecimento era, como dito, a força motriz que moveu milhares de colonizadores
nos primeiros três séculos, e não por poucas vezes as terras do Novo mundo foram
descritas de forma onírica, “uma verdadeira geografia das maravilhas” (FURTADO,
2008, p. 21), sendo o relato de Pero Vaz de Caminha, o primeiro dos muitos que
funcionavam como combustível para as grandes levas de aventureiros que aqui
aportavam.
A chegada à América era precedida de uma longa viajem, a qual poderia facilmente
demorar três meses, de acordo com a vontade dos ventos e das marés. O mar-
oceano, ainda muito desconhecido até finais do século XVI parecia mostrar, a
muitos dos marujos, um misto de grandiosidade, fúria e perigos transfigurados em
monstros e serpentes marinhas, sereias, fossas oceânicas e tempestades que
facilmente poderiam fazer naufragar toda uma armada.
Já na América, o contato com o mundo natural deveria ser tão magnífico quanto os
relatos paradisíacos de Cabral, Mestre João ou do Piloto Anônimo. A natureza que
se descortinava, apesar de bela e grandiosa, também faziam despertar no europeu
recém-chegado sentimentos de medo e repulsa, a exemplo dos muitos relatos de
agruras por que passaram vários destes durante suas estadas em nossas terras. Das
frondosas matas poderia surgir o perigo do encontro com onças e com índios
bravios. Serpentes peçonhentas despertavam o medo e o asco. Os insetos, muitos
dos quais não menos perigosos, igualmente eram vistos como grandes empecilhos à
permanência e ao sucesso do homem europeu na América.
Este artigo tem como objetivo avaliar como se deu o contato da população europeia
com o mundo dos insetos na América portuguesa. Utilizaremos, para tanto, crônicas
e relatos escritos após o descobrimento da América portuguesa, pela importância dos
mesmos enquanto “certidões de nascimento” da terra, através dos quais eram
reveladas não apenas suas maravilhas, mas também os fatores que atemorizavam os
europeus.
“coberta de formigas pequenas e grandes, estas fazem algum dano às parreiras dos
moradores, e às laranjeiras que têm nos quintais; e se não foram estas formigas
houvera porventura muitas vinhas no Brasil ainda que lá são pouco necessárias
porque deste Reino vai tanto vinho que sempre a terra dele está provida. Também
há muita infinidade de mosquitos, principalmente ao longo de algum rio entre umas
árvores que se chamam mangues” (GÂNDAVO, 2008, p. 72).
Jean de Lery (1536-1613), em sua Viagem à terra do Brasil, também deixou escritos
sobre o que chamou de tú, “pequenos insetos que vivem na terra e não são maiores
do que as pulgas. Entretanto, depois que penetram na carne, em geral sob as unhas
pé e da mão, provocam forte comichão e faz-se mister extirpá-los imediatamente”,
relato que, assim como aquele pronunciado por Staden, remete-nos ao mesmo bicho
de pé (LERY, 1951, p. 143). Curiosamente, assim como Staden, este autor também
teceu comentários sobre as propriedades das abelhas americanas e o modo como os
selvagens aproveitavam seus produtos, o mel e a cera (LERY, 1951, p. 142).
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, com a efetiva colonização do território pelos
europeus, é possível constatar por meio de seus relatos que o interior do território,
ainda pouco explorado, era possuidor de uma diversidade de insetos muito mais
plural do que aquela encontrada no litoral. Os integrantes das monções paulistas,
expedições responsáveis pela interiorização da colonização do território e pelo
descobrimento das minas de ouro do Mato Grosso, na fronteira do Vice-Reinado do
Peru, também não deixaram de sofrer as agruras que as matas e os rios causavam
em função da grande diversidade entomológica ali existente, principalmente
quando em percurso na região alagável do Pantanal.
e mantido preso durante, quase quinze anos, período que utilizou para transpor ao
papel suas memórias na forma do supracitado livro.
Descreveu ainda o religioso outra praga amazônica, considerada por ele a mais
“enfadonha e caseira”, e que era conhecida na região como tombura, os já
comentados bichos-de-pé. A “admiração” do autor para com esta espécie era devida
a sua capacidade de “furar a roupa e a pele sem se sentir”, podendo migrar pelo
corpo sem que o hospedeiro sentisse sua presença. Para ele, os que andavam
descalços estavam mais sujeitos a esta praga e, ainda assim, eram os que menos
experimentavam os seus efeitos “por se banharem e lavarem repetidas vezes ao
dia” (DANIEL, 2004, p. 212-213).Ressalte-se que outros males semelhantes também
foram observados pelo religioso, como as bernes, que vão comendo a carne e
fazendo-a apodrecer; as bicheiras, descritas como “a maior praga do Amazonas”, e
que poderiam originar-se a partir de qualquer ferida acometendo humanos e,
principalmente, os rebanhos. As baratas também não foram esquecidas e, “sendo tal
sua multidão”, “parece ser aquela região [amazônica] a sua própria terra, e amada
pátria”, e causavam sérios danos como “roerem os papeis e pastas de alguns livros”
e roupas, além de lhes agradarem a “tinta de nanquim”(DANIEL, 2004, p. 212-214).
“De dia, nem sinal davam de si, mas ao anoitecer, saem em tanta multidão que
parecem chuveiros sobre os navegantes e passageiros, e tem tal astucia que não só
acometem a cara, mãos, cabeça, e toda a parte que acham descoberta, mas metendo-
se pelas aberturas dos vestidos, investem ao peito, braços, pernas, e todo o
corpo” (DANIEL,2004, p. 212-213).
possível influência na fauna local já havia sido estudada por outro religioso da
Companhia de Jesus, o padre José de Anchieta (1534-1597), que chegou a afirmar
que o clima parecia “influir na peçonha nos animais e serpentes, e assim cria muitos
[animais] imundos, como ratões, morcegos e aranhas muito peçonhosas”
(ANCHIERA, 1984, p. 440).
Conclusão
Como conclusão parcial de um estudo que merece maior atenção, procurei colocar
em debate através deste artigo o quanto as relações humanas para com o mundo
natural, especialmente na América portuguesa, estão aquém de serem
compreendidas, pelo que o diálogo acadêmico passível de ser construído a partir
das fontes que tratam dessa especificidade de nossa história pode ser visto como um
grande campo a ser explorado. Se expandirmos nossa cartografia e tomarmos a
América espanhola, ou seja, o Novo Mundo enquanto cenário desta qualidade de
estudo, veremos que tal mote reserva ao pesquisador um grande leque de
possibilidades a serem construídas, tamanho o silêncio da historiografia para com
essa área de estudo.
Consideramos, assim, que a continuidade desta pesquisa poderá contribuir para que
novos dados sejam iluminados no que se refere à vivência do homem europeu e de
seus descendentes americanos para com a pequena fauna local. Saber conhecer os
insetos que habitavam o solo era, mais do que uma estratégia de sobrevivência e
autodefesa, um modo de tomar para si o que o mundo natural oferecia, valendo-se
do que era positivo, mas padecendo sob as agruras da praga volátil e das tungas e tús.
Referências:
ANCHIETA, (Padre) José de. As coisas naturais de São Vicente, ao General P. Diogo
Laínes. São Vicente, 31 de maio de 1560. In: Viotti, (Padre) Hélio Abranches
(Org.).Cartas: correspondência ativa e passiva. São Paulo: Edições Loyola, 1984.
CANTARINO, Geraldo. Uma ilha chamada Brasil: o paraíso irlandês no passado
brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2004.
DANIEL, João (Padre). Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas, vol. 1. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2004.
FURTADO, Júnia Ferreira. “Os sons e os silêncios nas minas do ouro”. In: Furtado,
Júnia Ferreira. Sons, formas, cores e movimentos na modernidade atlântica: Europa,
América e África. São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: Fapemig; PPGH-UFMG,
2008.
GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: história da província
Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial, 2008.
LERY, Jean de. Viagem à terra do Brasil. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1951.
MACHADO, Paulo de Almeida. O homem e os insetos: passado, presente,
futuro.Revista de Saúde Pública, vol. 21, n. 6, 1987.
STADEN, Hans. Viagem ao Brasil. São Paulo: Martin Claret, 2006.
TAUNAY, Afonso de. História das Bandeiras Paulistas, Vol. III. São Paulo:
Melhoramentos, S/D.
Uma das exigências do pensamento nacionalista foi o de cada vez mais exigir a
glorificação do passado nacional. As apreensões que envolvem a escrita da história
indicam que na elaboração e realização de seus procedimentos científicos a relação
temporal estabelecida entre presente/passado/futuro se caracteriza como ponto
crucial para a compreensão da construção de uma consciência para determinada
coletividade humana. A modernidade, ao perder sua referência, passa por um novo
O cenário da ascensão de Adolf Hitler contou com a mobilização das massas que
buscavam um líder, e que em consonância com suas reivindicações pudesse -
através de estratégias bélicas e diplomáticas - sanar suas necessidades comuns. A
massa de trabalhadores participou amplamente desse movimento que também
incluía, inicialmente, a participação de numerosos sujeitos, dentre eles: judeus,
negros e ciganos, estes, por sua vez foram expurgados do regime quando a
degenerescência se tornou uma preocupação para a manutenção da pureza racial,
quando se passou exigir a comprovação da ancestralidade e da hereditariedade, ou
seja, as “linhas contínuas de descendência” ariana tornando crítica a situação destes
sujeitos (ELIAS, 1997, p. 25).
Considerações Finais
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
ELIAS, Norbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e
XX.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição semântica dos tempos
históricos. Rio de Janeiro: Contraponto –PUC/Rio, 2006.
O Partido Conservador aparece na cena nacional a partir dos anos de 1830 a 1840. É
fruto da fusão de várias visões compartilhadas de personagens políticos, como
Bernardo Pereira de Vasconcelos. O princípio basilar dessa estrutura partidária é
manter a unidade nacional do Império, a partir da figura do Imperador. Em outras
palavras, existe um respeito a Constituição de 1824 com o instrumento do Poder
Moderador, como o núcleo que mantém a coesão e a ordem no país. Assim, diz
Torres (2017), ao analisar os axiomas e finalidades que caracterizam a atuação
política do chamados Saquaremas. Ele diz que:
Deputados, na coleção dos Anais. Aqui, vale lembrar três dos seus discursos
políticos catalogados numa coleção da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG)
nos nãos de 1869 e 1870. Neles, são abordados dois temas de sua agenda política: a
questão de limites entre as províncias de Mato Grosso e Goiás e a reforma do
regimento interno da Câmara. (FUNAG, 2012)
“[...] Eis a missão deste jornal. Arauto do progresso reflectido, que é a grande
aspiração da nossa epocha, guarda das bem entendidas liberdades, da ordem social
e das instituições juradas, a Nação aparece na imprensa diária como órgão do
generoso partido, que extinguio o trafico de africanos, acabou com a tyrania de
Rozas e Oribe, promoveu a livre navegação do Prata e seus affluentes, fez sulcar
pelo vapor as aguas do majestoso Amazonas até o Perú, traçou as primeiras linhas
da rede de estradas de ferro que ha de ligar um dia os quatro angulos do Imperio,
fundou o credito publico, reorganizou o exercito e a armada, pôz termo com honra e
gloria á guerra do Paraguay, decretou a reforma judiciaria, e escreveu a sua
bandeira a santa legenda de 28 de setembro de 1871; do partido, enfim, que
sustentou sempre a monarchia constitucional representativa, associando as
recordações de sua passagem pelo poder a idéa dos grandes melhoramentos
politicos e administrativos, que hão feito à felicidade do Brazil.” (Grifo nosso, A
Nação, 1872, p. 1)
A frase citada acima demonstra os fins do A Nação, como o defensor das causas
políticas implementadas pelo Partido Conservador em seus momentos no poder do
Conselho de Estado. Como diz o periódico, escrito por Rio Branco, essa defesa
ocorre em grande medida por considerar esse partido político aquele que melhor
representa aos anseios de unidade nacional e a defesa da Constituição. Essa ideia se
coaduna com o expresso pelo autor Torres (2017) acerca dos fins e objetivos do
Partido Conservador no Brasil. São defendidas as principais ações políticas dessa
agremiação partidária desde 1830, com a extinção do tráfico de escravos, até os dois
eventos mais recentes como a Guerra do Paraguai e a “legenda de 28 de setembro de
1871”.
O ano referenciado no jornal a Nação tem que ver com o momento de aprovação da
Lei do Ventre Livre. Aprovada durante a gestão de Rio Branco, considera-se pelos
defensores do Partido Conservador um importante passo para a libertação dos
escravos de forma equilibrada, lenta e gradual. A lei positivada garante a seguinte
condição aos escravos nascidos a partir daquela data que aos 8 anos, o escravo
menor tinha duas possibilidades. Primeiro, ser livre, com uma indenização paga
pelo Estado de 600$000. Segundo, continuar trabalhando para o senhor até os 21
anos. É importante perceber que nesses dois casos não é a mão de obra escrava que
decide o seu destino, mas sim o senhor de escravos. Portanto, a lei de 1871 é uma
mudança no universo da escravidão bem pequeno, onde não há muito espaço para
autonomia do cativo menor.
“Desgarrada como vai entre nós-a imprensa opposicionista, que tem preferido os
trilhos escorrogadios da calumnia ás sendas brilhantes da verdade, destinamo-nos a
ennobrocer a polemica, norteando-a pela rota por que om todos os tempos se
encaminharam todos aquelles quo têm sabido elevar a imprensa a um honroso e
fecundo mister. Amamos de coração as pugnas da intelligencia, e diante dos
inefáveis júbilos que podem ser fruidos pelo estudo, é para lamentar que homens do
notório talento se tenham dado ao fadigoso labor de subirem ás fragas de paixões
detestaveis, que não podem produzir nada de serio ou succulento. A situação, que
corre, tem titulos legitimos á adhesão publica, e no muito que já tem feito o
patriótico gabinete de 7 de Março, ha seguros pennhores e sério abono de que
outros muitos melhoramentos virão completar as legitimas aspirações de que se
acham possuidos os respeitaveis cidadãos, que acham-se no poder. [...]” (A Nação,
1872, p. 1)
O editorial faz uma crítica a postura da imprensa oposicionista, ligada aos outros
partidos, como o Liberal. Além do mais, faz uma valorização do “patriótico gabinete
“[...] Encarado sob este ponto do vista, nosso abençoado paiz pareçe fadado
aos'melhores destinos; modeladas as instituições pelas que vigoram na Inglaterra,
berço feliz da liberdade moderna, possuindo uma legislação do conformidade com
os habitos pacificos da população, rico de favores do céo, e opulentado tambem pelo
trabalho de seus filhos, o Império prospera a olhos vistos e parece aspirar no
ambiento puro, que o envolve, a saude do corpo, o saude d'alma, tambem. [...]”
(Ibid)
Branco, tal como a Lei do Ventre Livre. Essas interpretações históricas iniciais
revelam que o sujeito histórico é fruto de um contexto histórico e familiar carregado
pelos Saquaremas. Na sequência desse ensaio, o debate bibliográfico mais
aprofundado e das fontes primárias, como os Anais da Câmara dos Deputados entre
1869-1875, podem revelar novos aspectos do pensamento político do Barão do Rio
Branco.
Referências
<https://cienciapolitica.org.br/system/files/documentos/eventos/2017/03/esfinge-
desvelada-pensamento-politico-barao-rio-branco-649.pdf>. Acesso: 11/11/2018.
SORATO, D. Silêncios que falam, palavras que nada explicam: as narrativas
históricas comparadas sobre a Questão do Amapá. Dissertação (Mestrado em
Ensino de História), Universidade Federal do Amapá, Macapá, 2018.
TORRES, J. Os construtores do Império – Ideias e lutas do Partido Conservador
Brasileiro. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Especiais, 2017. Disponível em:
http://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/36280>. Acesso em: 11/11/2018.
Ao falar de uma região tão rica quanto a amazônica, pensar a forma como as
ocupações de terra foram submetidas é de enorme importância, pois, desse modo, é
possível compreender as mudanças socioambientais de várias maneiras e relacioná-
las à atualidade. Feito isso, essa pesquisa gira em torno de espaços rurais, porém, de
modo onde encontramos o foco na constituição de propriedade rural, ou seja, na
forma como se deu essa posse de terra e sua origem. Para se trabalhar com esse
tema, é necessário, pelo historiador, um levantamento documental analisando os
meios de apropriação de terra e, neste projeto, nossa proposta foi fazer o
levantamento de documentos que abrangem esse meio e que estão associados à
possibilidade de estudos sobre os aspectos fundiários da província do Pará como:
Inventários, relatos de viajantes, correspondências governamentais e documentação
cartorária. Como já foi dito, o foco, especialmente voltado para terras nas cercanias
de Belém, como exemplo, Ananindeua.
“No período colonial vários sítios e povoados são formados às margens de rios e
igarapés (Guamá, Capim e Moju) por homens livres, brancos, cafuzos, índios e
mamelucos. No século XIX, a população rural era representada por 45% de negros,
fixados em fazendas, engenhos, pequenas vilas e na cidade. Na origem histórica de
Abacatal há dois protagonistas: o Conde Coma de Mello e a escrava Olímpia,
segundo informações orais das atuais gerações, da união desses dois personagens
em 1790 nasceu uma menina. O senhor de escravo não tinha filhos e reconheceu as
três filhas que teve com a escrava Olímpia deixando como herança as terras do
Abacatal” (FURTADO, 2011, p. 3).
Desse modo, o autor retrata uma possível teoria sobre o início de Ananindeua,
porém, ainda não foi encontrado registros sobre o Conde Coma de Mello para
analisar com mais propriedade essa ideia. Este sujeito também é mencionado em
sua dissertação “Ananindeua e a sua identidade cultural”, de 2006. Assim como boa
parte dos autores analisados durante a pesquisa, Adrielson Furtado utiliza fontes
orais para estabelecer seu trabalho sobre o Abacatal, já que é uma comunidade que
não possui muitos registros documentais do seu período de fundação, apenas a
história repassada de geração em geração. É possível notar grande interesse dos
acadêmicos em gerar conteúdo sobre essa comunidade pouco conhecida pelos
moradores do centro de Ananindeua e Belém.
Quanto ao que cabe à historiografia, não foi possível encontrar muitos trabalhos
feitos retratando essa temática sobre o município de Ananindeua, ainda que haja
livros escritos sobre a estrada de ferro e a comunidade do abacatal, como o do
historiador José Leôncio Siqueira “Trilhos: o caminho dos sonhos” (2008) e o da
Socióloga Edna Maria Ramos de Castro e Rosa Cevedo Marin “No caminho de
pedras de Abacatal: Experiência social de grupos negros no Pará” (2004). Observa-se
uma necessidade de trabalhos que retratem a fundação e desenvolvimento
populacional/urbano no âmbito da historiografia.
Documentação cartorária
- Cartório Odon (2° vara cível). Inventários post-mortem, 1843/44 de Olavo Marthius
e Maonel Caxias de Souza.
- Cartório Odon (2° vara cível). Inventários post-mortem, 1846/47/48 Elídio Felgueira
Nascimento.
- Cartório Odon (2° vara cível). Inventários post-mortem, 1851.
- Cartório Odon (2° vara cível). Inventários post-mortem, 1853/54/55.
- Cartório Odon (2° vara cível). Inventários post-mortem, 1859 de João Manoel
Batista.
- Cartório Odon (2° vara cível). Inventários post-mortem, 1859 de Capitão Manoel
Monteiro de Azevedo.
- Cartório Odon Rhossard (2ª Vara Cível). Inventários post-mortem, 1860/61/62, João
Ferreira Guimarães
- Cartório Odon Rhossard (2ª Vara Cível). Inventários post-mortem, 1872 de Elíbia
Eufrosina Corrêa de Miranda.
Desse modo, fica visível a influência dessa construção tanto para a região amazônica
quanto para o desenvolvimento populacional de Ananindeua. Além disso, um dos
fatores interessantes para o desenvolvimento populacional, de acordo com Emmi
(2010), foi auge da exploração da borracha onde se foi visto um enorme fluxo
O contato com este tipo de leitura nos possibilitou uma outra perspectiva na análise
documental, passando a buscar vestígios sobre essas informações. Ainda é possível
agregar a questão os relatos de viajantes. Outra questão a agregar são algumas
imagens de expedições de estrangeiros na Amazônia, que ainda buscamos maiores
informações sobre os perímetros que estes sujeitos circularam, pois são várias
imagens do século XIX onde se pode perceber a presença de seringueiros, indígenas
e a mata.
Outras considerações
A partir dessa pesquisa percebemos mais ainda o quão importante pode ser a
produção de materiais que envolvem esse município de Ananindeua. Estes breves
estudos têm se refletido no ensino de História, onde os alunos pouco recebem
informações sobre o município, algo que seria muito importante para a valorização
da história da região.
Agradecimentos
Referências
Com o passar dos séculos, esses conflitos não cessaram, ao contrário, multiplicaram-
se. A própria divisão, por exemplo, de grandes extensões territoriais no episódio
histórico brasileiro que ficou registrado como Capitanias Hereditárias, garantiu que
grandes concentrações de terra continuassem a estar sob domínio de uma minoria
elitizada e dominante, enquanto a maioria da sociedade da época, composta por
pessoas comuns, tinha que se contentar com poucas ou nenhuma área para
sobrevivência.
No entanto, aquela atualização da Amazônia para esse olhar ao novo, tido como
moderno, de progresso e futuro - heranças de um pensamento construído ao longo
dos últimos cinco séculos, contrastou com a resistência do tradicional, do que a
região já continha em si há muito mais tempo. Nesta perspectiva, a dualidade
tradição e modernização expõe um viés contraditório que deixa a mostra desde
distintas ideologias de pensamentos até verdadeiros conflitos armados em defesa de
interesses próprios, como as lutas pela terra.
Essa dualidade secular, marcada pela violência cultural e física, que deveria ter o
Estado brasileiro como responsável pela minimização ou definitiva tomada de
decisão quanto aos conflitos, acaba por encontrar nas instituições estatais uma
configuração político-administrativa caracterizada pela forte representação que
defende exatamente os interesses daqueles que, como a própria história registrou,
sempre foram os detentores do poder e o transmitiram aos seus herdeiros próximos,
ou ainda aqueles que encontram afinidades no modelo capitalista e a ele juntam-se.
Isso é perceptível, por exemplo, nas eleições brasileiras nos últimos anos, em que
houve um aumento considerável do que chama-se hoje de bancada ruralista,
bancada do agronegócio, e também a bancada evangélica, com características
conservadoras e que àqueles junta-se, fortalecendo-os.
No entanto, embora o movimento seja fortalecido com tais redes sociais que
conectam grupos em diferentes regiões, o Estado brasileiro, por sua vez, tem
adotado uma política de assentamentos que acaba por se tornar mais uma estratégia
camuflada de reforma do que realmente uma política que se proponha a realizar
uma reforma agrária mais ampla.
Percebe-se, portanto, que o próprio Estado cria políticas de reforma que não
atendem às verdadeiras necessidades da questão agrária no Brasil e, principalmente,
não atende àqueles que mais necessitam dela, o que acaba por manter e reverberar
antigos conflitos.
Um detalhe que merece ser colocado em evidência aqui, nesse momento apenas em
termos de instigar a reflexão, é a representação do próprio Estado, na figura dos
policiais, envolvido de algum modo na morte desses trabalhadores: Aquele que
deveria proporcionar segurança e bem-estar aos cidadãos foi o mesmo que ceifou-
lhes a vida?
A luta pela terra é, como já dito, um fenômeno histórico no Brasil. Lutar para se ter
um “pedaço de chão”, como comumente se ouve entre a população, é um trabalho
árduo; A burocracia e o jogo de interesses tem dificultado essas conquistas de
direitos por parte dos menos favorecidos e, na maioria das vezes, beneficiado os
grandes proprietários. Se levada em consideração a leitura e análise de outros
direitos garantidos em tratados, acordos, constituições nacionais e/ou internacionais,
o direito à terra pode muito bem ser visto como um direito humano, na medida em
que pra se viver, o direito à vida, à cultura, à alimentação, à moradia, remete
Dessa maneira, o que se pretende evidenciar é a forma como está sendo e como
deveria ser tratada a questão da luta e do direito à terra no Brasil. No entanto,
felizmente, essa é também uma luta que se fortalece a nível mundial, envolvendo
diversos agrupamentos espalhados pelo mundo em prol dos direitos humanos. A
busca pela conquista de direitos sobre território, nesse sentido, não se limita à posse
da terra, mas se destaca também num movimento dialógico com a luta em combate
à antigas mazelas que assolam a humanidade. Assim, conforme aponta os estudos
de Reis (2012, p. 120-121):
Diante do que foi exposto, entendemos, portanto, que a questão agrária no Brasil -
com suas características de transformação e permanência histórica dos conflitos,
envolvendo diferentes sujeitos e interesses - encontra na dualidade tradição e
modernidade, na “indecisa” atuação do Estado frente as reformas, na demora e
reviravoltas dos casos judiciais, e na contínua ênfase dada pela mídia aos
tradicionais sujeitos tidos como mais potencialmente representativos deixando
outros à margem, uma forte combinação de fatores que contribuem para a
continuidade de violentos confrontos pela terra.
O que se tem esquecido, dentro disso tudo, é que essas lutas para se conquistar um
território mínimo que seja não se resume ao “chão pelo chão”, mas sim a uma
“relação [que] não é tão somente da terra em si mesma, mas do que ela representa
para esse povo” (CANUTO; GORSDORF, 2007, p.170).
Agradecimentos
Referências
Rafael Souza Ferreira atualmente está vinculado à Universidade Federal do Pará,
como discente da graduação em Licenciatura em História (UFPA-Campus
Ananindeua), onde também vem atuando como bolsista financiado pelo Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação Científica, PIBIC/CNPq. Já possui também
formação na área de Artes, com graduação em Licenciatura em Dança, pela Escola
de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (ETDUFPA), tendo participado,
como bolsista, de projetos artístico-culturais, de extensão e pesquisa, da referida
área. Já atuou como professor na rede particular de ensino de Belém-PA, e também
ministrou oficinas na Fundação Cultural do Estado do Pará. Tem interesse por
pesquisas que tracem diálogos entre a História, as Ciências Sociais, as Artes e a
Filosofia, tendo afinidades com temáticas relacionados à História Cultural, História
e Cultura dos povos tradicionais da Amazônia, História Contemporânea, História
do Tempo presente, Conflitos e Movimentos Sociais na contemporaneidade,
História da Arte, História da Dança, Dança e Cultura Popular, Arte/Dança
contemporânea, Modernidade e Modernismo, Pós-modernidade e Pós-modernismo.
Já participou (como convidado, ouvinte, performer, avaliador, organizador...) de
diversos eventos, encontros, seminários, fóruns e festivais da área da História e das
Artes. Outras informações podem ser obtidas
em http://lattes.cnpq.br/2517421889553842
LOERA. Nashieli C. Rangel. Para além da barraca de lona preta: redes sociais e
trocas em acampamentos e assentamentos do MST. In: FERNANDES, Bernardo
Mançano, MEDEIROS, Leonilde Servolo, PAULILO, Maria Ignez (Orgs.). Lutas
camponesas contemporâneas: condições, dilemas e conquistas - a diversidade das
formas das lutas no campo. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 73-93.
REIS, Rossana Rocha. O direito à terra como um direito humano: a luta pela
reforma agrária e o movimento de direitos humanos no Brasil. Lua Nova, São
Paulo , n. 86, p. 89-122, 2012.
O território que conhecemos hoje como Nordeste brasileiro, desde o período de sua
colonização, a partir do século XVI, foi uma região submetida a interesses políticos e
econômicos dos povos europeus. Muito antes da ocupação de fato, as terras que
correspondem hoje a Pernambuco já serviam como ponto de apoio às negociações
dos portugueses com a população nativa através de entrepostos comerciais
(feitorias) que também se encarregavam de armazenar os produtos levados à
metrópole. Desta forma, a colônia portuguesa foi integrada a uma estrutura que
Wallerstein (1985) denominou economia-mundo. Através da mão de obra
escravizada e integrada ao mercado internacional, a região subsidiou boa parte dos
lucros da metrópole, tanto no período colonial quanto nos subsequentes, sobretudo
com a produção de cana-de-açúcar.
“Em 1914, por exemplo, a região norte tinha 391 engenhos e a região sul, 973. O sul
também adotou, mais cedo e com mais vigor, a produção baseada nas grandes
usinas. Das 36 usinas construídas antes do início do século XX, 34 se localizavam na
parte sul da região do açúcar. Essa tendência persistiu nas décadas seguintes: mais
usinas construídas no sul, mais engenhos pequenos resistindo no norte. Em 1935, o
sul tinha 54 usinas e 180 engenhos, enquanto no norte havia 13 usinas e 316
engenhos” (ROGERS, 2017, p. 189).
Na medida em que as usinas foram ampliando sua atuação no mercado, houve uma
necessidade maior de produção da cana que recaia diretamente nos domínios das
áreas das usinas. Paulatinamente, os usineiros adquiriam novas terras para atender
a demanda nas moendas e, desta forma, aumentaram a concentração fundiária. O
crescimento da produção gerou reflexos nas atividades daqueles que se dedicavam
ao trabalho nos canaviais.
Os trabalhadores que muitas vezes moravam em pequenos casebres nos “sítios” das
propriedades, praticavam agricultura de subsistência como forma complementar de
alimentação e renda. Com o aumento da produção, esses canavieiros passaram a
não ter mais tempo para estas atividades extras, pois eram solicitados pelo usineiro
mais dias por semana. A este processo, Manuel Correia de Andrade chamou de
“proletarização do trabalhador rural”.
“À proporção que o processo usineiro evolui, a área cultivada com cana vai
aumentando e os proprietários não só restringem os sítios dos moradores, tirando-
lhes as áreas mais favoráveis, como exigem dos mesmos cinco ou seis dias por
semana nos seus canaviais, o que impede os trabalhadores de cuidarem dos seus
roçados. Vai então se processando gradativamente a proletarização da massa
camponesa” (ANDRADE, 2011, p. 129).
Alguns exemplos clássicos nos mostram de que forma esta violência foi exercida
sobre os grupos que tentaram, através de organizações coletivas, promover a defesa
de seus interesses em torno da terra. Os casos de Canudos e do Contestado
exemplificam bem este aspecto, pois percebemos uma forte intervenção do aparato
policial e do Exército brasileiro com a finalidade de aniquilar qualquer forma de
O descaso em relação aos crimes contra estes trabalhadores pode ser constatado não
apenas pelo resultado das sentenças judiciais ou pela forma como a imprensa se
refere a eles, mas, sobretudo pela escassez de dados policiais. Seja por negligência
ou por ação intencional das autoridades da época, não há informações precisas para
determinar o número de camponeses e trabalhadores rurais que foram presos,
mortos ou sofreram retaliações físicas e morais de seus patrões ou da polícia local.
Um silenciamento que impõe dificuldades aos pesquisadores que hoje se debruçam
sobre o tema.
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denunciavam os abusos nas delegacias locais eram muitas vezes silenciados pelos
agentes e delegados que, ao notificarem os casos, omitiam informações que
pudessem responsabilizar os agressores.
Na página inicial do inquérito não consta uma ementa com a descrição do caso. Não
existe um detalhamento de informações relevantes sobre as partes envolvidas, tais
como a idade, a profissão, etc. (o que é de praxe neste tipo documentação). O
escrivão também não pontua quais seriam as circunstâncias duvidosas que levaram
ao assassinato de Amaro Paulino, mas esclarece que após 30 dias de sua morte, o
corpo foi exumado para uma perícia tanatoscópica por peritos do Instituto de
Medicina Legal (IML). O laudo é enfático:
“SINAIS DE VIOLÊNCIA: Aberto o crânio: a abobada apresenta fratura, no perietal
esquerdo, que se propaga no ardar médio da base (...) choque decorrente de fratura
das abobadas e crânio, por instrumento contundente.”
“Os indícios da autoria também aparecem com evidente clareza. João Amaro Renato
foi visto por trabalhadores do Engenho “Dois Mundos” e que depuseram (...)
quando esbordoava a Amaro Paulino da Silva que foi encontrado morto momentos
depois, tendo mesmo João Amaro Renato em suas declarações dito que dera
“lapadas” (grifo no original) em Amaro Paulino quando este, por qualquer motivo,
se recusara ir para o trabalho”.
Pela primeira vez nos autos há uma menção à palavra “trabalho” evidenciando as
motivações que levaram ao crime. As testemunhas ainda relatam que a vítima pedia
para que “não mais o acusado lhe espancasse” sendo ignorado diante da fúria do
agressor. O escrivão ainda atesta que em face dos fundamentos expostos seria
decretada a prisão preventiva de João Amaro Renato.
Algumas lacunas, entretanto, permaneciam em aberto. João Amaro Renato teria sido
preso preventivamente conforme a recomendação judicial? Quais os argumentos
utilizados pela vítima para justificar a indisposição ao trabalho? Em quais
“circunstâncias duvidosas” teria acontecido o crime? E por último, mas não menos
importante, qual seria a relação estabelecida entre o acusado e a vítima? As
respostas viriam meses após a notificação de inquérito quando o juiz sentenciou o
caso.
aquele dia por motivos de saúde”. Considerando as limitações nas condições básicas
de alimentação e assistência médica desses trabalhadores, atrelada ao desempenho
exaustivo das atividades laborais, seria possivelmente verdadeira a justificativa da
recusa ao trabalho.
Através deste estudo de caso e dos demais relatos apresentados, observamos alguns
dos aspectos que motivaram as mais diversas formas de violência os trabalhadores
rurais da Zona da Mata de Pernambuco. Os processos judiciais são de suma
importância para este estudo, tendo em vista que boa parte do material detalha
condutas abusivas em torno do patronato e dos canavieiros. Ancorados nos relatos
da imprensa e nos depoimentos de muitos desses trabalhadores, acreditamos ser
possível compreender marcas do enraizamento de uma cultura da violência que se
reproduz através de práticas e relações de poder recorrentes ao longo do tempo.
Referências
CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto como o caso foi – Da coluna Preste à queda
de Arraes: memórias. São Paulo: Editora Alfa-Omega. 1978.
PARTE 4:
HISTÓRIA
E OUTROS
DIÁLOGOS
1 INTRODUÇÃO
O sistema proposto pelo Professor Achile Mbembe (2016) explica em partes nosso
sistema de exploração atual, nosso Sistema Mundo. A necropolítica e o necropoder
são formas eficazes das novas ocupações neocoloniais. O que podemos
compreender por necropoder é uma forma de poder que tem características
especiais como dinâmica de fragmentação territorial, acesso proibido e expansão de
assentamentos, visa o controle social e a segregação.
A tensão entre a aplicação desta fração teórica de Mbembe para as camadas pobres e
miseráveis é que para o autor, que citando Eyal Weizman, acredita que os espaços
ou territórios escolhidos para os assentamentos, como os da Palestina e na
Cisjordânia, são “dispositivos ópticos de controle social”, enquanto que as favelas e
as periferias são locais de esquecimento. Na margem, há a possibilidade de controle
social pela exclusão não pela vigia. Consoante, novamente entre teorias, nessa
exclusão está o controle, separação e, mais importante, reclusão. Não basta estar
excluído, deve-se ficar na periferia, não circular os locais sociais das classes.
“como el conjunto de relaciones que unen nuestra época con las prácticas,
discursivas o no, que se originan de ésta, creando ciertas figuras epistemológicas
contemporáneas que no guardan relación directa con lo que se había venido
conociendo como los modelos adecuados de interpretación de la realidad; creando
así una fisura en los pactos éticos occidentales y en la aplicabilidad del discurso
filosófico occidental ante las condiciones económicas, sociales, políticas y culturales
del mundo actual.” (VALENCIA, 2010, p.27)
Uma boa pista pode ser encontrada em Franz Fanon. Como indivíduo colonizado
sofre um aprisionamento pela violência a “[...]não ultrapassar o seu limite [...]”
(FANON, 1968, p. 39) todo o psicológico do colonizado, do autóctone, do indígena é
“muscular”, visceral, violento. O colonizado, apesar de toda a hostilidade, inveja o
colonizador (FANON, 1968, p. 39) é natural que quando assume o papel do
colonizador na gerência do novo Estado-Nação, garanta sua permanência no poder,
seus benefícios, seus lucros e a experiência própria de ser colonizador. Age em prol
de seus interesses e por querer ser colonizador.
Neste contexto as classes oprimidas em todo o Sul global podem ser vistas como
subalternos, na instância de que quando não sofre da colonização clássica, sofre de
neocolonialismo ou de colonização interna. A subalternização das classes baixas
ocorre no ato da colonização, como o mito da modernidade. Porém antes devemos
ver o mecanismo de dominação da classe dirigente ou da elite: a hegemonia.
A modernidade traz uma nova forma de ver o Outro. Para Dussel (1993) a
modernidade nasce quando o europeu se vê como portador do direito sobre o
Outro, além disso, justifica a violência é justificada pelo mito da modernidade onde
o conquistador define sua cultura como superior, mais desenvolvida, o vencido é o
bárbaro, inferior, rude, subdesenvolvida, imatura, culpável. A violência empregada
na conquista foi necessária, para emancipar, tem utilidade de civilizar de trazer a
modernidade. O mito da modernidade é vitimar o inocente, culpando-o por isso e o
sofrimento é o preço por se modernizar. “Segue-se a mesma lógica na Conquista da
América como na Guerra do Golfo” (DUSSEL, 1993, p. 76).
3 OS INTELECTUAIS COLONIZADOS
Conclui o autor:
“Ao colonialismo não basta encerrar o povo em suas malhas, esvaziar o cérebro
colonizado de toda forma e todo conteúdo. Por uma espécie de perversão da lógica,
êle (SIC) se orienta para o passado do povo oprimido, deforma-o, desfigura-o.
aniquila-o. Essa tarefa de desvalorização da história do período anterior à
colonização adquire hoje sua significação dialética.” (FANON, 1968, p. 175)
tendência a considerar todos como inferiores, iguais, com cultura sem valor, feia,
pobres.
A história desvelada, não é aquela onde citamos os agentes históricos. Antes disso, é
realmente seu papel na história. Usamos o exemplo de Dussel: “Os povos e etnias
indígenas americanas não entram na história mundial como contexto do
descobrimento da América [...]” (DUSSEL, 1993, p.90) aparecem como parte da
paisagem, não como atores, com suas convicções, ações, resistência e
interesses. Sartre diria: “Las masas de Pekín y ele Shanghai no hacen la Historia; la
sufren.” (SARTRE, 1965, p. 16).
“As veces también la utilización del pasado es menos directa, menos explícita. Si se
llama a la historia em defensa del orden estabelecido y de los intereses de las clases
dirigentes, es por el rodeo de la ideología difusa: manales escolares, filmes y
television, imaginería […]” (CHESNEAUX, 1981, p. 31)
Ou seja, não podemos ser inocentes ao tratar da história, devemos ser críticos,
lembrando de Zizek quado ele define ideologia: “"Ideologia" pode designar
qualquer coisa […] desde o meio essencial em que os indivíduos vivenciam suas
relações com uma estrutura social até as ideias falsas que legitimam um poder
político dominante.” (ZIZEK, 1996, p. 7). Assim, todo o projeto social atual está
envolto na camada ideológica da classe dominante, para, acima de tudo, manter a
classe baixa, baixa e a classe dirigente no poder.
O uso das Redes Intelectuais através da circulação das ideias, tem a função básica de
transmitir o conhecimento produzido por intelectuais do Sul – conhecedores da
causa e da decoloneidade. Para os propósitos de descolonização do saber é
imprescindível a valorização dos intelectuais do Sul. A manifestação, através de
iniciativas e movimentos de globalização contra-hegemônica é o que Boaventura
(2009) chama de Cosmopolitismo Subalterno. Para o autor faz parte de uma rede
extensas e de movimentos contra a exclusão social, política e cultural (SANTOS,
2009, p. 180). Citado como exemplo por Boaventura, o Fórum Social Mundial seria
um movimento de cosmopolitismo subalterno ou na teoria de Déves-Valdés,
exportação eidética, formando uma rede intelectual.
REFERÊNCIAS
CHESNEAUX, Jean. Hacemos Tabla Rasa Del Pasado? España: Siglo Veintiuno,
1981.
DUSSEL, Enrique. 1492 O Encobrimento do outro: A Origem do “mito da
modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993
FIGUEIREDO, Carlos V. S. Estudos subalternos: Uma introdução. v. 4, n. 7, p. 83-92,
jan./jun. 2010.
FANON, Frantz. Os condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1968.
_______________. Pele Negra, máscaras brancas. Salvador: Editora da Universidade
Federal da Bahia: 2008.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1999.
PROST, Antoine & VINCENT, Gérard (org). História da Vida Privada V.
MBEMBE, Achile. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Antígona, 2014.
_______________. Necropolítica. Arte & Ensaios, Rio de Janeiro, n. 32, p. 122 – 151,
dez. 2016.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. En
libro: La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas
Latinoamericanas. Edgardo Lander (comp.) CLACSO, Consejo Latinoamericano de
Ciencias Sociales, Buenos Aires, Argentina. Julio de 2000. p. 246
SANTOS, Boaventura de S. Una Epistemología del Sur: la reivencíon del
conocimento y la emancipacion social. México: Siglo XXI – CLACSO, 2009.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2010.
VALENCIA, Sayak. Capitalismo Gore. España: Melusina, 2010.
ZIZEK, Slavoj. Um mapa da ideologia. Rio de janeiro: Contraponto, 1996.
_______________. Violência: Seis reflexões laterais. São Paulo: Boitempo, 2014.
perceber que o principal motivo do nascimento dessa alcunha de uma arte pós-
moderna está ligado no modo que a mesma foge das classificações tradicionais
encontradas no período que a obra fora criado, e que suscita um diálogo de
característica de diversas escolas artísticas (como por exemplo: a clássica,
modernista, vanguardista, expressionista, surrealista, etc.) não podendo ser definido
em um único termo, pois não apresenta uma única especificidade. Porém o principal
elemento implantado foi à cultura de massa em suas expressões, como vemos na
arquitetura e os seus edifícios (que incluíam as representações culturais artísticas
das escolas tradicionais mais os elementos culturais locais) e nas artes plásticas com
seu pop art (com o figurativismo e o abstracionismo) rivalizando ambos com a arte
moderna. Compreendemos essa evolução e diferenciação da arte nos períodos
históricos: Média (saber não é nada); Moderna (saber é poder), e; contemporânea
(não se sabe).
O objetivo de criação dessa nova tecnologia está no fator tempo que a pós-
modernidade criou como problema. Pela quantidade elevada de funções e a
fragilidade cultural do presente, não havendo mais uma uniformidade e divisão de
tarefas, a dinâmica do tempo necessitou ser controlada com maior “qualidade”.
Vivemos num eterno presente, não havendo tempo para o passado. Por isso o autor
trata que “Os Replicantes existem, em resumo, na corrida esquizofrênica do tempo
que Jameson, Deleuze e Guattari e outros vêem como algo tão central na vida pós-
moderna [...]”. E continua: “[...] Eles também se movem num espaço com uma
fluidez que lhes dá um imenso arcabouço de experiência. Sua persona equivale em
muitos aspectos ao tempo e ao espaço das comunicações globais e instantâneas”
(Harvey, 1993. P278). E com a constante valorização do presente não
havendo tempo para um passado, a foto digital – ou o novo Fenômeno, selfie –
cristaliza um momento que Historiciza o evento na sua história – oulinha do tempo –
e traz importância social para seu autor. Sem essa ferramenta, não há como
constatar e provar tais fatos. Sem o registro, o autor não obtém seu valor e
reconhecimento em seu meio. Na pós-modernidade, a memória se perde e vivemos
no eterno presente. Como Harvey fala que “[...] as fotografias são feitas agora como
provas de uma história real, pouco importando qual possa ter sido a verdade dessa
historia. A imagem é, em resumo, prova da realidade, e as imagens podem ser
criadas e manipuladas” (HARVEY, 1993. P280) assim como alertava Benjamin sobre
a aura do momento que se perdeu na modernidade. O real se perde como fator
humano.
Referências
Sobre o autor:
-Lattes: http://lattes.cnpq.br/3502540684102644
Introdução
Desse modo, a partir do século XVI, áreas que anteriormente estavam povoadas por
etnias indígenas foram cobiçadas e ocupadas pela empresa colonial portuguesa,
assentando-se atividades de exploração econômica no território através da criação
de gado. No final do século XVII, com o advento da exploração de minas de ouro no
Alto São Francisco, dinamizou-se a ocupação populacional entre o Rio Paraguaçu e
o Rio São Francisco, no trajeto por onde se estabelecia uma rota do comércio de
gado e o acesso para as minas auríferas (SEI, 2017).
É válido reconhecer que muitos dos saberes tradicionais relacionados aos povos do
campo guardam uma estreita relação com povos indígenas e africanos que
estiveram presentes ao longo da formação histórica brasileira.
Considerações finais
Referências
Fontes orais
RESUMO
A vida do autor é a sua fonte de inspiração, pelos momentos que viveu o artista é
capaz de idealizar a sua produção, sua inspiração é o que vê, ouve, toca, o que sente
e o que contempla. Uma vez terminada, a obra de arte passa a possuir uma Aura
que comunica algo ao seu interlocutor. Entretanto, a arte é uma produção humana,
sujeita à forma humana de existir e encontra no capitalismo uma nova forma de ser
(ou deixar de sê-lo).
INTRODUÇÃO
Por maior que sejam as diferenças entre épocas ou culturas, o ser humano
compartilha a mesma estrutura cerebral e psíquica, não atoa, em todos os cantos do
mundo temos pensamentos semelhantes com duvidas sobre a origem e destino do
ser humano, crenças religiosas que pregam a existência de criaturas e divindades
fantásticas. Esse sentimento de insegurança e desconhecimento sobre as incógnitas
do universo é trazido a nós por Freud, este seria o alicerce das religiões e concepção
humana sobre o mundo. Essa concepção humana da realidade se materializa no
momento em que é representada por meio de estátuas de deuses, músicas sobre
sentimentos, histórias sobre ocorridos míticos, explicações místicas, entre outros.
Mas todas essas produções estão sujeitas à inspiração e talento do seu autor, estão
ligadas a ele bem como ele está ligado ao momento de sua concepção.
A arte é uma síntese entre o que o autor inspira do mundo e expira, essa devolução
que ele faz do ar respirado carrega toda sua interpretação do mundo e junto dela
sua produção, essa relação se liga com o que Freud diz sobre o id de uma criança
que torna-se adulta: “o embrião não pode ser descoberto no adulto” (1974, pg. 84),
Freud refere-se tanto ao corpo que com o tempo muda quanto a psique humana que
se desenvolve conforme passamos pelos mais diferentes momentos em nossa vida.
Esse desenvolvimento mental e emocional é o que vai dar vazão à produção
artística.
As buscas por explicações para o sentido da vida também são de total importância,
“a vida humana baseia-se em duas metas, a meta positiva que é a busca pelo
aumento do prazer e a busca negativa, que é a diminuição do sofrimento” (Freud,
1974), são momentos distintos, mas dialogam entre si para tornar a vida
“suportável” ou “explicável”, ambos elementos tendem a articular-se com a
Para tanto, Freud alega que o artista se destaca das pessoas “comuns” (1974, pg. 93),
ou aqueles que possuem apenas a religião como forma de interpretação da sua
realidade. O artista tem o dom de criar, de desenvolver algo que não existia, torná-lo
acessível a todos. Quando a arte, através da sua Aura toca interlocutor, ela produz
uma narcose que consegue, ao menos momentaneamente, afastar os pensamentos
que afligem a vida de quem a admira; para além do ópio do povo (na religião), a
produção artística é o ópio do artista e do seu interlocutor.
“por mais perfeita que uma reprodução se apresente, ela sempre estará desprovida
da característica de autenticidade, de seu hic et nunc (aqui e agora), descrita como a
unidade de sua presença no próprio local onde se encontra, presença que lhe
confere toda sua história.”
De toda essa situação que permeia o humano temos a sua forma de externar o que
ele sente e vive, Benjamin alega que o surgimento da arte deu-se na antiguidade,
onde o Homem a produzia com o intuito religioso (2017, pg.). Assim, a inspiração
do seu autor, o esforço gasto na sua produção, o seu valor simbólico, o seu uso como
Independente do que é, quando munido de Aura, nos toca, é o caso de obras como
Monalisa, David, de Michelangelo, das Quatro Estações de Vivaldi, elas se impõe e
nós contemplamos, então, para a pergunta “O que é a Aura?”, Benjamin responde:
“É uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição
única de uma coisa distante por mais perto que ela esteja.” (ARAÚJO, 2010, pg. 125).
O cinema em sua produção e consumo é uno. Uma atividade de grupo voltada para
o consumo em massa. Além do que, é feito por atores que não são,
obrigatoriamente, os mesmos do teatro, por edição, sem necessariamente seguir
uma linha causal em sua confecção.
Temos as ações do ator de cinema que, por mais que sejam sinceras e verdadeiras,
são balizadas por inúmeros profissionais que o guiam. A idealização do filme, não
pertence, necessariamente, ao ator ou corpo técnico que o produz, por tanto, toda a
construção, produção e distribuição fílmica seriam desprovidas de Aura.
Ou seja, a ação do ator de cinema não encontra um Hic et Nunc pois o momento é
montado de forma artificial. Sobre a diferença entre o ator de teatro e o de cinema:
“Este distingue-se do ator teatral pelo fato de sua performance artística, em sua
forma original, a partir da qual se realiza a reprodução, não ocorrer diante de um
público aleatório, mas diante de um comitê de especialistas, os quais, na qualidade
de diretos de produção, diretor, operador de câmera, engenheiro acústico,
iluminador etc., podem tomar a todo tempo a atitude de interferir em sua
performance artística.” (Benjamin, 2017, pg. 72)
Assim, com uma nova forma de se desenvolver um trabalho artístico e com uma
facilidade muito maior em sua exposição, o véu da Aura é retirado do objeto, uma
vez que no seu intuito primário as obras não seriam feitas para serem consumidas
pelo grande público, (lembremos do caráter ritualístico/religioso das peças) apenas
pessoas escolhidas interagiam com as peças. Uma fotografia original é idêntica a
uma cópia, ela perda a sua unicidade, com o filme dá-se o mesmo processo, não
somos capazes de identificar a peça original. Torna-se irrelevante a distinção uma
vez que todas as peças se assemelham na linha de produção. Assim é com qualquer
produção artística.
A popularização torna acessível a todos a posse da obra e retira dela o seu carácter
originário (religioso) e o adapta para as novas formas artísticas e consumistas da
época. Ora, à grande oferta de réplicas existe um grande público consumidor. Surge
a arte ao alcance de todos, a arte que recebe na indústria uma nova forma de
quantificação e significação, advém a indústria da produção artística para as massas.
Agora todos podem ter uma peça exatamente igual à cobiçada, contudo, por mais
semelhante que seja a réplica, ela não é a obra original.
Por isso, o fechamento em si das formas artísticas dá-se às elites, uma vez que a arte
buscaria refúgio em nichos para poderem se manter originais:
Abre-se mão do valor conceitual e histórico das peças uma vez que as produções
remetem apenas a comercialização fetichista da obra, baseando todo o cerne de sua
produção na obtenção de lucro e não na relação dialética entre ser e universo.
CONCLUSÃO
A reprodução das obras abrem mão do Hic et Nunc, pois as replicas não são obras
inspiradas nas vivências humanas, nas tentativas de interpretação de mundo ou em
qualquer outra situação em que o ser humano se depara com as conclusões (ou
perguntas) que chegou ao observar a sua situação enquanto ser limitado e
temporário. As réplicas das indústrias são simulacros que se apropriam da imagem
externa das obras, voltados à satisfazer o desejo estético do comprador. A produção
em massa dos simulacros não prevê a satisfação do autor (religiosa, contemplativa,
etc.), mas o retorno financeiro.
REFERÊNCIAS
<https://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2012/trabalhos/6622_Paes
_Paulo%20Cesar.pdf>
Ser lembrado por seus feitos é a glória de um herói homérico. Aquiles, um dos
exemplos mais marcantes da Ilíada, optou pela morte, pois sabia que a partir do
momento que matasse Heitor morreria e receberia as exéquias de honra. Optou pela
morte visando a gloria do por vir ao ser cantado como herói pelos Aedos. Ser
lembrado por seus feitos é também um peso por toda a vida. Helena, personagem
que arrebata amor e ódio, além de ser importantíssima na ilíada, sem ela o ápice
para a guerra não teria existido, ao proferir as palavras acima se referia a toda a
desgraça que adveio de suas ações guiadas por Afrodite e que no futuro seria
perpassada quando esses versos fossem cantados pelos poetas.
Cantos que a mais de 2.500 anos atrás serviam como instrumentos para a educação
social e política do povo grego, exercendo uma influência importante no dia a dia.
Conforme vemos na seguinte passagem de Souza (2007, p. 196):
É a partir disso que o presente trabalho tem como objetivo trazer uma reflexão a
respeito de como esses versos podem refletir valores que contribuíram para um
ideal de masculinidade que, através da Paidéia, provavelmente, foi fundamental
para a formação de uma identidade masculina.
Como Souza acima cita, os valores presentes na ilíada, que eram os modelos bases
adotados nas relações sociais do cotidiano, mostra uma obra demasiadamente
humana. No decorrer de suas descrições Homero pontua, nos feitos dos heróis, uma
sensibilidade nobre como por exemplo, o encontro entre Andrômaca e Heitor, a
morte de Pátroclo e o misto de dor e raiva de Aquiles, criando uma relação íntima
com as vivências particulares de cada espectador. Dessa forma, podemos fazer uma
análise de diversos tipos de valores e relações através dessa obra. Relações sociais,
relações de poder, relações de gênero e, o que vem a ser o cerne desse trabalho, a
masculinidade na representação de Heitor.
A BOA MASCULINIDADE
Por este motivo, o corpo do guerreiro era valorizado e deveria ser preparado e
treinado para jamais fugir ao combate. Outro ponto ligado ao corpo é sua
equiparação com os deuses. Durante diversas descrições feitas por Homero ele
compara as características de seus personagens à dos deuses. Por causa dessas
comparações, muitas vezes, os heróis eram vistos como semideuses. Eventualmente,
por conta da fama e da glória, se ocorresse a morte o corpo deveria ser tratado com
admiração e respeito a memória e feitos do herói. “N’A Ilíada, o perfil do herói
retratado por Homero se equipara a um semi-deus, suas conquistas e façanhas são
fruto de sua índole guerreira e da bravura ostentada por um corpo condizente com
tal perfil.”(SANTOS, p. 74, 1997)
Além dos atributos físicos ligados ao corpo, as armas do guerreiro era um ponto
importante para a formação do homem. No canto XVIII é narrado à busca de uma
nova armadura para Aquiles. Sua armadura fora emprestada a Pátroclo, mas a
mesma é roubada por Heitor após matá-lo em combate. Tétis - deusa nereida, mãe
de Aquiles - sobe ao Olimpo na tentativa de convencer Hefesto a construir uma
nova couraça para seu filho. O ponto crucial a ser observado são as descrições do
escudo e consequentemente a importância da armadura para a formação do homem.
"Pós ter falado, na frente de Aquiles a deusa coloca a refulgente armadura; ressoam
as armas divinas. Os valorosos Mirmídones ficam tomados de medo, sem que
nenhum se atrevesse a fixá-la, a tremer afastando-se" (HOMERO, Ilíada, XIX, v.v 12-
14).
A coragem de Aquiles foi reanimada diante do esplendor emitido pelas obras das
mãos de Hefesto. Sendo assim, percebe-se uma sociedade em que os valores
guerreiros de força, virilidade e coragem sobrepujam quaisquer outros. Indivíduos
que não possuíam esses traços estavam "estagnados", para eles restavam apenas
duras palavras, como pode ser visto na passagem na qual os guerreiros riem do
personagem Páris, por ele não atender a alguns desses padrões: "Páris funesto, de
belas feições, sedutor de mulheres! Bem melhor fora se nunca tivesses nascido, (...)
O corpo do guerreiro era retratado como belo, forte, imponente, com fortes e largos
membros, de caráter impecável, experto tanto no manejo das armas quanto nas
estratégias de guerra. A "boa masculinidade", entretanto, era garantida por corpos
regidos pela ANDRÉIA , palavra que remetia a virilidade, a capacidade de dominar,
persuadir e se impor perante os outros sendo possuidor de extrema coragem. Sem
esses requisitos, implícitos no cotidiano, o homem era em partes desvalorizados.
A coragem era uma premissa básica para o guerreiro. Demonstrar falta de ânimo era
demonstrar fraqueza. A valentia na Ilíada é mostrada como um dos valores
formadores do guerreiro. Numa sociedade em que o homem é treinado para a
guerra, a coragem deve ser uma qualidade inata. Item que facilmente é percebido
durante as descrições de Homero que, ao relatar os feitos heroicos, destacava as
características que o formavam como homem: "Deram-te os deuses, Ajaz, estatura
magnífica, força e coragem sem-par. Dos Aqueus és o mais destemido." (HOMERO,
Ilíada, VII, v.v 288-289).
A coragem, retratada como um dom primoroso, é descrita como dádiva dos deuses.
Algumas passagens na ilíada mostram as ações dos deuses na concessão da
coragem. "Grande e indomável coragem, depois de falar, ela infunde-lhe (...)."
(HOMERO, Ilíada, XIX, v.v 38). Sendo um presente dos deuses sua ausência
simboliza, em certas circunstâncias, a falta de proteção aos humanos em suas
empreitadas. Porém, Viegas afirma que a conquista da glória do herói tem seu ponto
alto na morte em batalha. Então, seu nome estaria gravado na memória social, seus
AS NUANCES DE HEITOR
A Ilíada, vista como o poema da fúria de Aquiles, ganha uma nova leitura, como
diz Milton Marques Júnior, ao chegar no canto XXII. A glória de Heitor através de
sua morte. Heitor vindo de uma nobreza guerreira, filho do grande Príamo, rei de
Tróia, foi o maior lutador em oposição a invasão grega.
Liderando, ao lado de seus irmãos, o exército em defesa das muralhas de Troia, sem
dúvida, possuía uma bela armadura e instrumentos de guerra de qualidade. Possuía
um belo corpo, assim como uma belíssima e afetuosa esposa e filho. Durante boa
parte das descrições do combate notamos um personagem forte e corajoso em meio
ao campo de batalha. O quadro muda, entretanto, no canto XXII, intitulado como a
retirada de Heitor.
Essa nova face que Homero traz para Heitor é sensível, como em seu encontro com
Andrômaca, é covarde, como se deu ao fugir do combate com Aquiles. É, porém,
demasiadamente humana e inspiradora. Isso por que, em meio a uma leitura de
guerra, onde Homero traz a violência no combate como pano de fundo de sua
narrativa, a imagem de Heitor aproxima seu personagem cada vez mais de uma
realidade humana.
A questão que move esse breve texto, entretanto, é a inquietante contrariedade que
Heitor causa visto em comparação ao ideal que Aquiles mostra. Afinal, muito
embora Heitor não fosse o modelo a ser seguido quando realçamos a sua fuga no
embate, ele estava lá no meio de uma obra que foi perpassada e usada na paidéia.
No meio dos heróis troianos ele mostra sua face humana e não deixa de ser
glorificado por seus feitos.
A morte de Heitor, de acordo com Viegas, pode ser trabalhada como a bela morte
que torna o herói imortal. Vernant, que cunhou esse termo – bela morte do guerreiro
- mostra pelo que essa sociedade prima, como a força e a coragem, mesmo em meio
a violência.
“As exéquias de honra que são dadas a Heitor, o domador de cavalos” (XXIV, 804).
Heitor, portanto, recebe esse enterro de honra por sua vida exemplar como
guerreiro e pela morte em combate recebe glória imperecível. (VIEGAS, p. 102)
REFERÊNCIAS
CARTLEDGE, Paul. Resumo histórico. In: Grécia Antiga, 2 ed., São Paulo, Ediouro,
2009, cap. 1, p. 99.
HALL, Edith. Literatura e Romance. In: CARTLEDGE, Grécia Antiga, 2 ed., São
Paulo, Ediouro, 2009, cap. 9, p. 315.
HOMERO, Odisséia. Trad. Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
2015.
LOPES, João J., A Ilíada e a Odisseia: dois pilares da civilização grega e legado
para a posteridade, revista memento, V.4, n.1, jan.-jun. 2013, 118 – 127.
SOUZA, Jovelina M. R. de, A Poesia Grega Como Paidéia. Princípios, Natal, v. 14,
n. 21, jan./jun. 2007, p. 195-213.
VERNANT, J.-P. La belle mort et le cadavre outragé. In: Idem. L’individu, la mort,
l’amour:soi-même et l’autre en Grèce ancienne. Paris: Gallimard, 1989, p. 41-79.
Introdução:
Como um meio de comunicação muito eficaz, os jornais eram utilizados para além
de apenas informar e levar noticia aos leitores, era usado também para propagar
ideias, fazer reivindicações e serviu de instrumento para dar voz a grupos que eram
silenciados e a ideias que muitas vezes, iam contra a ideia da maioria.
Nesse trabalho será discutido a primeira edição do jornal O Sexo Feminino, fazendo
uma análise partindo da perspectiva de gênero e ao fim, será apresentado uma
proposta didático pedagógica da utilização da fonte em sala de aula.
No decorrer da página, traz uma matéria sobre a educação da mulher, onde critica a
educação voltada para o lar e o tratamento dado a mulher. Na segunda página, há
uma nota tratando sobre a independência, em tom de comemoração aos 51 anos da
independência; com o tom ufanista, a autora rememora este dia e associa a
independência do brasil, com a independência das mulheres, que agora, se fazem
ouvir na imprensa, através do jornal. Ainda na mesma página, há um espaço onde
contém a notícia que as jovens da cidade poderão estudar em uma escola normal, e
as matérias serão gramatica, aritmética, história, geografia, entre outras, e segue a
lista de normalista que frequentarão a escola até a página seguinte, onde ao final da
lista, é dado algumas informações sobre a escola e a autora trata sobre a importância
das mulheres estudarem para ser professoras e saírem da educação restrita ao lar.
Logo em seguida, há a seção que contém uma música, seguida de uma seção com
um texto sobre religião, e abaixo, há o noticiário, onde está escrito sobre a aprovação
de uma mulher para reger interinamente uma escola pública; e abaixo, há a seção de
avisos.
“Nesta época, um jornal de mainstream, o The New York Sun, publicou uma crítica
severa ao The Revolution, sugerindo que a senhora Staton “prestasse um pouco
mais de atenção aos seus deveres domésticos e um pouco menos para os assuntos de
interesse público”. (CASADEI, 2011)
ter um emprego e até mesmo ser vista como cidadã e pessoa, quando era vista
sempre como posse do pai ou marido.
“O seculo XIX, seculo das luzes, não se findará sem que os homens se convenção de
que mais de metade dos male que os oprimem é devida ao descuido, que elles tem
tido da educação das mulheres. e ao falso supposto de pensarem que a mulher não
passa de umtraste de casa” (Jornal O Sexo Feminino, 7/9/1873:1)
“Pois bem, esse dia marcará tambem em nossa historia pátria uma época não menos
memoravel – a independencia da mulher, cujo echo se faz ouvir na imprensa por
um órgão – O Sexo Feminino. E pois,
O jornal O Sexo Feminino foi de fundamental importância para que, aos poucos,
novos espaços no mercado de trabalho fossem reivindicados pelas mulheres;
defendia a emancipação das mulheres, o desenvolvimento de todas as suas
potencialidades e a educação adequada e de qualidade para mulheres. Diante do
discurso da diferença entre os gêneros, e de uma posição de superioridade do
homem “Francisca Diniz se coloca em igualdade com os homens, questionando a
construção da mulher como sexo frágil” (RIBEIRO et al., 2007). Ao analisar esse
período, não se pode ignorar a existência desse – e de outros – periódico, uma vez
que ele se mostrou de fundamental importância na compreensão a partir de uma
perspectiva de gênero
O jornal é uma ótima fonte para se entender uma sociedade e os processos que ela
sofreu; O Sexo Feminino é um jornal que, mesmo sendo do século XIX, algumas
questões ainda perpassam no nosso cotidiano. Tendo em vista que o assunto gênero
é de suma importância e pouco abordado, minha proposta, para a turma do ensino
médio, é levar a imagem do jornal para sala de aula, e entender o Brasil Império a
partir da mulher, colocar a mulher como ponto central na discussão. Tendo como
um dos objetivos fazer os alunos refletirem sobre o porquê uma mulher não poderia
comandar um jornal e trazer a reflexão para os dias atuais, pois ainda hoje, se pensa
em homens quando se é mencionado cargos de liderança. Como Adichie escreve, e
levando para o século XIX, se as mulheres não começassem a tomar os cargos de
liderança nos jornais, continuaria sendo considerado normal os cargos serem
ocupados apenas por homens:
Para além de apenas uma discussão, uma proposta de atividade seria os alunos
pegarem jornais atuais e analisarem a nossa sociedade a partir deles, desta forma,
eles poderão visualizar e ter uma maior compreensão, pois o assunto e forma que
está sendo trabalhada vai estar se adequando a realidade dos alunos, e trabalhará
fonte em sala de aula, ensinando os alunos a analisar e ter um pensamento crítico
acerca das mesmas.
Referências bibliográficas:
COSTA, Emília Viotti. Políticas de terras no Brasil e nos Estados Unidos. In:___. Da
monarquia a república: momentos decisivos. 7ed. São Paulo: Fundação Editora da
UNESP, 1999, p.169-193.
NASCIMENTO, Cecília Vieira; OLIVEIRA, Bernardo. O Sexo Feminino em
campanha pela emancipação da mulher. In: Cadernos Pagu, n. 29, 2007, p. 429-457,
RIBEIRO, J. P. et al. Líderes, pioneiras e sonhadoras: o sexo feminino (1873-1889) em
busca da emancipação. In: Encontro Internacional de Produção Científica
Cesumar. Anais eletrônicos do V EPCC. Maringá, 2007.
Chegada do Capitão Cook ao Hawai. Inicialmente foi recebido com honrarias e euforia por parte
dos nativos. Disponível em: http://cookmultimidia.blogspot.com/2014/11/resumo-da-aula-23-
sahlins-leitura-2-0411.html. Acesso em: 3/dez./2018.
Foi durante sua guinada estruturalista que Marshall Sahlins escreveu Ilhas da
História. A mesma foi dividida pelo autor em 5 capítulos, dentre os quais será
destacado neste texto aquele intitulado- Capitão James Cook ou o Deus agonizante,
uma narrativa na qual é possível perceber o diálogo entre estrutura e história, bem
como refletir sobre a relação entre os homens e seus deuses numa constante
interação entre o tempo mítico e o tempo histórico, que, por vezes, entrecruzam-se
na explanação apresentada pelo autor.
Cabe destacar que a obra de Sahlins é referenciada por François Hartog (2015) no
livroRegimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Para este historiador,
as ordens do tempo, que se apresentam de formas diversas em diferentes lugares e
épocas, imprimem um movimento de comando, pois são
“[...] tão imperiosas, em todo o caso, que nos submetemos a elas sem nem mesmo
perceber: sem querer ou até não querendo, sem saber ou sabendo. [...] As relações
que uma sociedade estabelece com o tempo parecem ser, de fato, pouco discutíveis
ou nada negociáveis” (HARTOG, 2015, p. 17).
O capitão inglês, James Cook, fora recebido como o deus Lono pelos habitantes das
ilhas polinésias, um deus local vinculado à reprodução humana e ao incremento
natural. E, assim como Lono, seu destino seria morrer para poder ressurgir. Dessa
forma, Cook, após um acidente meteorológico desastroso que fez sua embarcação se
afastar da ilha, teve que lidar com o constrangimento de ter sido mal recebido pelas
lideranças tribais. Esse fato foi analisado por Marshall Sahlins como “a metáfora
histórica dentro de uma realidade mítica” (1990, p.141), porquanto, sua vida estava
por um fio.
Outra peculiaridade, no mito de criação desses povos, diz respeito ao fato de que a
mulher, “La'ila'i”, irmã mais velha de deus e do homem e disputada por ambos, era
a herdeira legítima da criação, capaz de transformar a vida divina em vida humana.
Tal explicação mítica lança luz sobre o fato histórico anteriormente mencionado,
sobre as mulheres havaianas que se diziam geradoras de filhos dos deuses (o deus
Lono, diga-se de passagem, nascia anualmente da conjunção/união entre o deus e as
mulheres do povo). Assim como faz lembrar a atitude da esposa do rei Kalaniopu'u,
quando interviu para que ele não acompanhasse Cook. Sua atitude, conforme
atentou Sahlins, faz retornar a tríade – deus, homens e mulher, saindo em vantagem
o posicionamento da mulher.
Quando James Cook, conforme relato de Samwel, chegou à ilha durante a estação
do Makahiki, as jovens havaianas passavam a maior parte de seu tempo cantando e
dançando – no plano simbólico “a dança despertaria o deus: um tipo de cópula
cósmica entre mulheres mortais e o progenitor divino” (1999, p.152). Dessa maneira,
sua morte, para os havaianos, assim como a morte do deus Lono, teria o papel de
frutificar a terra, torná-la próspera e fértil.
REFERÊNCIAS
Numa época de repressão, os diários servem, muitas vezes, como válvulas de escape
para sublimar os impulsos libidinosos; em diários se registram desejos sexuais ou os
atos realmente praticados que poderiam destruir uma vida ao vir a público; homens
descrevem as lindas pernas de suas amadas em alusões a pernas de caríssimos
pianos, cobertas por volumosos e delicados vestidos que salientam suas curvaturas,
mulheres, ainda, registravam seus mais íntimos desejos, suas experiências nos
saraus ou as escapadas no denso jardim dos fundos da casa, em uma técnica que
era passada de mãe para filha. Lembremos ainda que a privacidade estava recém
surgindo, logo, alguns locais públicos ainda eram dominados pelas atividades
privadas, como já citei, o quintal da casa e como acrescenta Priori (2014, p. 27) sobre
as igrejas: “Nos dias de missas e festas religiosas, ou quando estavam vazias, eram
ideais para a troca de beliscões, pisadelas e beijos furtivos por trás de colunas e
altares.”
Em referência a época discutida, Priori (2014, p. 64) considera o século como “Século
hipócrita que reprimiu o sexo, mas foi por ele obcecado. Vigiava a nudez, mas
espiava pelos buracos da fechadura. Impunha regras ao casal, mas liberava os
bordéis.” Evocamos a uma época de protagonismo masculino, o controle que se
buscava na modernidade quanto a privacidade era a segurança para mulher
frequentar a igreja, segurança para os saraus, segurança para as visitas, segurança
na família, uma segurança repressora, de mulher só se esperava delicadeza e
amabilidade, retomando Priori (2014, p. 65) “As mulheres não deviam se olhar no
espelho, nem mesmo na água das banheiras. Em compensação, espelhos forravam
as paredes dos bordéis. As mulheres conheciam mal o próprio corpo, e toda
evocação de feminilidade era malvista.” Todo reflexo da imagem do corpo feminino
a si própria era proibido, cabia ao homem definir, estimar e categorizar a sua
mulher, sua propriedade, o medo do espelho é a percepção do próprio corpo, é a
tomada de consciência. Isso porque o homem universal descreve (e escreve) a
história a partir do seu viés, tendo o mundo feminino como um ambiente incerto,
totalmente invisibilizado, vulgar e ao mesmo tempo imaculado. Essa própria
universalização da figura masculina que contribuiu para a diferenciação
socialmente imposta entre os gêneros (COLLING, 2004), assim como o modo como
cada um é visto diante dos olhos de quem o analisa, contribuindo com a construção
da relação de poder entre os gêneros.
Foi a partir do século XIX que a mulher (sobretudo branca) não tem apenas como
reconhecimento o seu encargo de prover a vida, conquistando, assim, espaços, como
no mercado de trabalho, e passa a reconhecer e a compreender o seu direito à
liberdade e autonomia. Entretanto, a figura masculina esteve (e está) mais presente
na esfera pública do que as mulheres, afinal são grandes representações da gestão
econômica e administrativa seja do ambiente de trabalho e do lar. Ou seja, na esfera
privada o homem também apresenta o mesmo caráter de autoridade. Apesar da
mulher ter naturalizada a sua responsabilidade na educação dos filhos, na
atribuição de afeto, não é ela quem aplica as ordens mais severas, isso porque ela se
encontra numa posição abaixo daquele que tem total domínio familiar de aplicar
poder e controle.
REFERÊNCIAS
Considerações Iniciais
Para nossas observações tomarem corpo, foi realizada uma pesquisa de campo, nos
moldes da proposta por OLIVEIRA (2000), com observação participante, elaboração
de diário e caderno de campo e produção de fotografias e vídeos.
Sua formação teve início com “o êxodo do índio José Antônio do Nascimento (Zé
Carapina) para a região de Alagoas em 1893, em decorrência da ocupação
territorial” (SANTOS, 2015, p. 10). Esse movimento se dá em virtude da lei de terras
de 1850, que devolvia às municipalidades todas as terras sem registro de compra
lavrado em cartório, com isso os territórios indígenas em todo o Brasil e
principalmente na região Nordeste sofreram diversas invasões do não-índio.
Com o passar do tempo, alguns parentes foram fazendo o mesmo trajeto realizado
por Zé Carapina e Izabel. Tal movimento é explicado por ARRUTI (1996) como:
No caso dos Jiripankó, essa viagem seria realizada ao povo Pankararu, tronco
formador e detentor da tradição religiosa. De acordo o Sr. Genésio Miranda,
Cacique da Aldeia, na década de 1930, duas irmãs – Chica e Vitalina – vindas de
Pankararu foram responsáveis pelas transmissões de alguns conhecimentos. Sobre
esse aprendizado, SANTOS (2015) afirma que
“As regras que foram trazidas para o Ouricuri-Comunidade do povo Jiripancó por
Chica Gonçala e sua irmã Vitalina (responsáveis pela continuidade da tradição),
mesmo sem a intensão de recriar outra aldeia fora de Pankararú, era natural cantar e
dançar o toré ir para o retiro na mata para as experiências onde acreditavam receber
a força dos “encantados”. Era comum ir a Pankararú, às escondidas, dançar com os
praiás e usar os dons da cura e ervas medicinais para curar os índios, era/é parte dos
ensinamentos da tradição. (SANTOS, 2015, p.44)”
O ritual de pagamento de promessa ou Menino do Rancho, não tem data certa para
acontecer, pois é uma festa em que a família do menino curado tem que oferecer um
“prato” a quem curou e a comunidade, isso requer uma condição financeira
favorável para sua realização.
Se após, esse procedimento a criança não melhorar os pais fazem uma promessa aos
Encantados - entidades do mundo espiritual ligadas aos antepassados, atualmente
servem como orientadores e protetores da aldeia. Dessa forma, o menino é levado à
mesa no Poró, “[...] espaço simples e pequeno, mas que assume grandes proporções
enquanto elemento simbólico da religião indígena”. (GUEIROS; PEIXOTO, 2016, p.
3). O Pajé por intermédio de alguma entidade Encantada realiza o tratamento da
doença; depois de constatado a efetivação da cura, acontece à segunda parte do
ritual que é o pagamento da promessa pela família do menino que foi curado, como
isso requer gastos financeiros e o período entre a cura e festa pode demorar anos, ou
até décadas.
Nesse espaço é muito comum encontrar pessoas das mais variadas idades, de
crianças até anciãos, o que se configura em excelente oportunidade para
compartilhamento da tradição. Segundo GUEIROS (2017):
entregue a primeira refeição do dia, o café da manhã – arroz, pirão e carne de bode
cozida.
Por volta de duas horas da tarde é servido o almoço, nesse momento o público do
evento gira em torno de mil pessoas, é oferecida a refeição com o mesmo sistema
hierárquico da primeira. Ocorre uma pausa de aproximadamente uma hora nas
atividades do ritual, pelo menos ao público, pois em algum ambiente próximo os
Padrinhos traçam as melhores estratégias para proteção do menino.
Depois de constatado que algum Praiá tocou em qualquer peça de roupa da criança,
a brincadeira se encerra e simbolicamente a criança é entregue ao Praiá/Encantado
que a pegou. Essa entrega acontece no meio do Terreiro, sendo visível ao público
presente, é um momento de muita emoção por parte da família e do zelador do
Praiá - responsável por zelar da vestimenta e do moço que a utiliza, tem
determinadas obrigações dentro dos rituais. Esse momento é permeado de
conselhos dos anciãos ao Moço - individuo do sexo masculino responsável por
vestir a indumentária sagrada - pois ele será responsável pelo menino e lhe
orientará na inserção do mesmo na vida religiosa.
A Tapera é um ambiente bem simples como se pode ver na fotografia, chão de terra
batida, os tijolos expostos, aberturas do lado para circulação de ar, tornando o lugar
mais arejado, a comida é feita a partir de um fogareiro, montado a partir de três
pedras que servem de base para colocar as panelas e entre as quais se coloca a lenha.
Tal estrutura é denominada de trempe e é bem comum na zona rural da região
Nordeste e bastante usada pelas populações indígenas dessa localidade.
Considerações Finais
Perceber a participação feminina nos rituais Jiripankó é excitar o olhar para além
daquilo que está visível no primeiro plano, pois sua presença e participação nesses
eventos que configuram o mundo religioso da aldeia, ultrapassa os limites do
Terreiro, se entendendo a Tapera; a confecção da roupa do menino do rancho; aos
cuidados com as vestimentas sagradas – defumação, encruzamento e outros
procedimentos; na limpeza do Terreiro – realizada antes de iniciar o ritual. A lista
dos lugares ocupados pela participação da mulher no aldeamento é longa. Outro
importante destaque para o sexo feminino é que, em períodos de corte de cana-de-
açúcar, onde os homens viajam para as regiões da Zona da Mata do estado, ou até
para o estado Sergipe, as mulheres assumem a criação dos filhos e o “controle” da
aldeia.
Esse trabalho – que ainda se encontra em andamento - não pretende suscitar uma
tomada de poder por parte das mulheres, discutir questões de gênero ou lutar pela
posição de destaque dentro do universo dos rituais e sim tornar a atuação da
mulher visível aos olhos dos observadores. Pois, entende-se que a ação das
entidades Encantadas é abrangente, tanto para os homens quanto para as mulheres.
Mas, se pretende lançar um olhar mais apurado sobre a participação delas nos
meios que compõem qualquer evento religioso Jiripankó.
Referencial Bibliográfico
PARTE 5:
HISTÓRIA E
ENSINO DE
HISTÓRIA
Manuela Carneiro da Cunha (1992) em seu livro História dos Índios no Brasil aborda a
mesma temática proposta por Raminelli, discutindo a falta de documentos que
comprovem com exatidão a história indígena. Segundo Manuela Carneiro, sabe-se
muito pouco, ainda hoje, sobre os aborígenes que habitavam as terras brasileiras.
Faltam registros feitos pelos próprios índios e pelos colonos que viveram nessas
terras. A pouca documentação da época foi feita por alguns jesuítas que adentravam
as terras e se sentiam na obrigação de relatar aquilo que viam e viviam, como ainda
pelas cartas dos colonos enviadas à Coroa, a fim de transformar os índios em
Para Manuela Carneiro, a briga pelo controle dos nativos da terra no período
colonial estava além dos jesuítas e dos colonos e colocava-se centrada na Coroa. O
sistema de padroado em funcionamento na época colonial fez com que o poder do
clero aumentasse e fosse imprescindível a catequização dos índios para o
funcionamento da metrópole. De acordo com a autora, o sistema de padroado
baseava-se no poder do rei de Portugal, onde o mesmo possuía poderes tanto de
estado quanto religiosos, pois o papa havia delegado várias imputações do poder
religioso, ocasionando em um poder extraordinário à Coroa, no que diz respeito à
religião. Para que o rei pudesse usufruir de todo esse poder, era necessário que o
mesmo tornasse a evangelização em suas colônias obrigatória, pois essa era a
condição imposta pela Igreja. Com isso, o clero ganhou espaço para a realização de
suas “missões” e, consequentemente, a revolta dos colonos.
Outra forte alteração nesse período é a mudança de foco da população, pois o índio
apenas como mão-de-obra não é mais necessário e a preocupação agora se dá pelas
terras. Se antes, na colônia o índio era altamente requisitado por ser uma mão-de-
obra de fácil alcance, onde se podia usar e, em seguida, dispensar sem o mínimo de
cuidado, agora se debatia a questão da ocupação das terras.
“[...] para caracterizar o século como um todo, pode-se dizer que a questão indígena
deixou de ser essencialmente uma questão de mão-de-obra para se tornar uma
questão de terras. [...] A mão-de-obra indígena só é ainda fundamental como uma
alternativa local e transitória diante de novas oportunidades.” (CUNHA, 1992, p.
133)
De acordo com Manuela Carneiro, o século XIX teve, para a população, dois tipos de
grupos indígenas: os Tupi-Guarani e os Botocudos.
No século XX, de acordo com Antônio Carlos de Souza Lima (1992, p. 159), ocorrem
fortes manifestações de grupos indígenas em prol de uma política de terras que os
favoreça, e a criação do SPI - Serviço de Proteção aos Índios, datado de 1910. O SPI
foi criado com o intuito de preservar terras para os diversos grupos indígenas e
transformá-los em pequenos produtores rurais capazes de se auto sustentarem.
Devido às várias visões do índio por parte dos governantes – alguns acreditavam
que os mesmos continuavam em seu estado inferior, adquirido no período colonial,
outros tinham no índio a “origem” da nacionalidade brasileira – e as políticas de
proteção ao índio não foram bem sucedidas neste momento. A preocupação dos
governantes do século XX era colonizar cada vez mais terras, mesmo que para isso
fosse necessário “tomar” a terra que pertencia ao índio. Os militares usavam de uma
estratégia denominada pacificação, onde a ideia geral era “atrair e pacificar”, ou
seja, conquistar as terras, mas sem destruir os grupos indígenas que a ocupavam.
Podemos notar uma grande diferença no pensamento da população civil e de seus
governantes no posicionamento perante os índios. Não há um desejo de extermínio
das populações indígenas, mas sim de uma realocação dos mesmos.
Essa história, passada ao longo dos anos, fez com que o estudo da história e da
cultura indígena não obtivesse o valor devido, pois ao passar uma história de
“atores coadjuvantes” perde-se a curiosidade e o desejo de aprofundar no tema.
A ideia de uso dos índios de forma inadequada por parte dos “colonizadores” e sua
opressão esmagadora, fez triunfar uma história dos “derrotados”, uma história dos
fracos, dos despossuídos de direitos, que após a derrota não ofereciam mais
empecilhos para a ocupação das terras.
“Em essência, o argumento é o seguinte: as velhas identidades, que por tanto tempo
estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e
fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A
assim chamada “crise de identidade” é vista como parte de um processo mais amplo
de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades
modernas a abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma
ancoragem estável no mundo social.” (HALL, 2006, p. 7)
As autoras Cecília Azevedo e Maria Regina Celestino de Almeida (2003) fazem uma
discussão sobre a revalorização das identidades, principalmente indígena, dentro da
De acordo com o texto inicial da LDB/96, “o ensino da História do Brasil deve levar
em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo
brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia”. (BRASIL,
LDB, 1996, p. 11)
Assim concluímos que devido ao menor envolvimento dos índios nas questões
sociais, ocorreu uma demora na regularização da lei acerca da obrigatoriedade do
professor de história de inserir a história e a cultura indígena em seu cotidiano
escolar. O foco do ensino escolar, a partir da busca pela história indígena realizada
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Cecília; ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Identidades plurais. IN:
ABREU, Martha; SOIHET, Raquel (orgs.). Ensino de História – conceitos, temáticas
e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da palavra/Faperj, 2003, p. 25-26.
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Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, p. 133-154.
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CUNHA, Manuela Carneiro da. (org.) História dos Índios no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, p. 155-172.
O real é construído por várias vertentes, porém aqui defino como sendo três
estágios. O primeiro é a fase da criação do universo. Enquanto criança, somos
estimulados pelo meio que vivemos, os objetos e o desenvolvimento de nossa
inteligência a significar o espaço em que estamos chegando à concepção objetiva de
um universo fora de nós. A segunda fase seria a midiática, em que (como proponho
em meu artigo) o filme seria um catalisador de ideias que podem significar uma
consciência histórica e de tempo aos adolescentes, já que o recurso de leitura é
limitado pela falta de imagem. A terceira fase é o Real histórico, que consiste no
fatual, aquilo que aconteceu e que devemos interpretá-lo em sua concepção. Esse
contexto nos indica que vivemos em vários reais presentes e devemos, a todo o
momento, interferir, como críticos na área da educação, ou como ressignificadores.
A definição de Real que é proposto pela hipótese do artigo é o primeiro ponto a ser
desenvolvido. Objetivamente quero elucidar a concepção em três estágios: 1-
Criança; 2- Midiático; 3- Histórico. Isto é, na construção do fenômeno percebemos a
interferência de vertentes que conduzem à totalidade. O que será demonstrado é a
forma que se é formado na consciência histórica do aluno, precisando ser
intermediado e ressignificado pelo professor de história em sala de aula.
Percebemos que a noção de Real para a criança se define na interação e experiência
Piaget (1996) nos possibilita a primeira noção de Real para o sujeito, dizendo que
sua resolução está na: construção, objeto, causalidade, tempo e espaço. A
solidariedade destas estruturas compreende a totalidade do fenômeno da primeira
fase do Real, como sendo o sujeito, em seu meio, com os objetos a sua volta,
significa-os e os apropria, para que interprete o mundo a sua volta. Portanto
conclui-se como sendo a primeira fase do Real, a elaboração do Universo.
Em seus estudos da “história das ideias”, o Filósofo Berlin propõe um debate a cerca
do que se tem como o sentido de realidade, afirmando que, além do fato histórico, a
análise do contexto e da tessitura da contemporaneidade dos fatos é que irá
determinar a possibilidade de tradução e projeção do real já passado. Não há
possibilidades de recriar o contexto passado, a conjuntura estrutural e
superestrutural que um dia já formara nossa sociedade, porém através das escolas
analíticas das ciências naturais, poderíamos formular uma ampliação daquilo que
“teria sido” o real. Portanto o resultado seria a análise dos “fios de uma tessitura
mais ampla, formando as partes de um todo mais abrangente” (BERLIN, 1999. P6),
sendo possível através das “ideias do passado (achava ele) [que] só poderiam ser
trazidas à vida se ‘entrássemos’ nas mentes e pontos de vista das pessoas que as
sustentaram, e nos contextos sociais ou culturais aos quais pertenceram” (BERLIN,
1999. P6-7).
Nesse ponto de partida a reflexão inicial que deve ser feita é que “acaso a critica da
ideologia não implica um lugar privilegiado, como que isento das perturbações da
vida social, que faculta a um sujeito-agente perceber o mecanismo oculto que regula
a visibilidade e a invisibilidade sociais?” (ADORNO, 1996. p9), isto é, como perceber
uma conexão de ideias, totalizante e particular? Zizek responde que “Ela parece
surgir exatamente quando tentamos evitá-la e deixa de aparecer onde claramente se
esperaria que existisse” (ADORNO, 1996. p9).
A História no cinema não tem como função a objetividade dos fatos, muito menos
sua constatação da exatidão histórica. A relação entre filme e a história tem muito
mais razão com o contexto histórico: a formação do Real está no fato em si, porém a
realidade relatada não tem conexão entre o fato acontecido e o narrado. Isto é, o
filme histórico toma o papel de representação dos fatos que aconteceram no
passado, porém a narrativa contada, o roteiro criado, possui como enfoque a trama
principal satisfazendo as vontades do grande público.
A conclusão é que, em primeira instância, o filme tem como rigor projetar uma
realidade interpretada, no qual não se tem reflexões nem ambiguidades, mas sim o
imediatismo, onde o discurso formado final é o que fomenta a formação da
consciência Histórica, ou no caso, uma falsa-consciência Histórica. E a posição do
público é, segundo Sayles, que “As plateias gostam do fato de aquilo aconteceu de
verdade. aconteceu ou não aconteceu, mas elas [o público] pensam que aconteceu,
ou sabem que aconteceu. Isto dá à história uma certa legitimidade na mente da
plateia” e continua, “na mente do cineasta, ao passo que, quando a gente [os
diretores] inventa tudo, não é a mesma coisa.” (CARNES, 1997. P17), pois a tela do
cinema é a formação de um novo mundo, um universo que se completa em si.
de sua época. Isso nos permite afirmar que todo filme é passível de ser utilizado
enquanto documento.” (NOVA, 2015. P2).
A autora Fonseca aborda em seu estudo a maneira que impactou as escolas e sala de
aula a utilização e o fenômeno cinema. Partindo de uma análise do início do cinema
no Brasil, a autora aponta ao tratar sobre cinema e ensino de história, com uma
afirmação de Ferro, que “o filme, imagem ou não da realidade, documento ou
ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é história” (FONSECA, 2009. P152) e a
importância pedagógica da discussão estaria na “defesa da renovação das práticas
pedagógicas com o uso do cinema, a motivação, o despertar do aluno, o
desenvolvimento do gosto pela história, o rompimento com as aulas expositivas e
enfadonhas” (FONSECA, 2009. P154). Seu método de aplicação do filme em sala de
aula como instrumento didático e motivador pelo professor consiste em cinco
passos. São eles:
Referências
Sobre o autor:
-Graduado em Licenciatura em História pela Faculdade Porto Alegrense (2018)
-Membro fundador do Grupo Autônomo de Pesquisa Sair da Grande
Noite. Site:https://sairdagrandenoite.com/
-Lattes: http://lattes.cnpq.br/3502540684102644
A partir dos anos 1990 e do governo FHC temos forte expansão do pensamento
neoliberal, que marca profundamente as políticas educacionais até a atualidade.
Trata-se, de uma constante adequação da legislação educacional com o objetivo de
atender às demandas econômicas, acatando recomendações de organismos
internacionais. Nesse cenário temos a ascensão da tendência pedagógica baseada em
competências e habilidades. Os governos do PT, por sua vez, embora tivessem
amplo apoio popular, não implementaram as reformas estruturais esperadas. O
diferencial em relação aos anos 1990 se deu nas políticas de alívio à pobreza e
expansão do ensino médio técnico e superior, “Mas, nestes dois casos, isso ocorreu
deslocando-se recursos públicos para os setores privados.” (FRIGOTTO;
CIAVATTA, 2011, p.633)
“O governo Dilma, antes mesmo do golpe forjado por uma farsa parlamentar-
judicial que usurpou seu mandato, já agonizava desde 2015, inclusive por
incompetências e erros. Foi sangrado até o último suspiro por seus algozes
entrincheirados no Congresso Nacional e em amplos setores do Judiciário (com a
aquiescência do douto STF) que contaram com as armas de uma Polícia Federal
completamente partidarizada e, sobretudo, com as poderosas armas ideológicas da
grande mídia burguesa. Criou-se uma situação, deliberada e irresponsavelmente,
que afundou não apenas Dilma e seu governo, mas o próprio país foi levado a uma
crise monumental que, para além de seus determinantes econômicos principais, foi
piorada conscientemente pelas classes dominantes para que atingissem a qualquer
custo seus objetivos políticos.” (2017, p.88)
“O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular
e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de
diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a
possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
I - linguagens e suas tecnologias;
II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
V - formação técnica e profissional.
§ 1º A organização das áreas de que trata o caput e das respectivas competências e
habilidades será feita de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema de
ensino.” (BRASIL, 2017)
REFERÊNCIAS
Resumo
Abstract
The present work seeks to make some reflections about the representation of
Ancient Egypt in the audiovisual media and the possibilities of using these
productions as a didactic tool in the teaching and learning of History. Taking into
account the great contact that the students have with the historical knowledge with
the help of new information Technologies and communication demands of the
historians and History teachers the appropriation and critical analysis of materials
that students have daily contact with.
O Egito Antigo, com toda grandiosidade e longevidade que teve no passado, talvez
seja umas das civilizações mais representadas nas mídias audiovisuais que chegam
ao domínio da sociedade, sendo através de filmes, telenovelas, minisséries entre
Ciro Flamarion Cardozo cita este grande interesse, não só dos especialistas, em
torno da civilização egípcia, muitos deles destinados ao grande público:
Esta massiva representação acaba por colocar aos historiadores e especialmente aos
professores de história do ensino básico, a tarefa de problematização em torno da
forma como este povo é representado, e para além disso, observar os impactos que
tais representações causam na forma como os alunos absorvem estas representações,
sem as devidas críticas, construindo conhecimentos não condizentes com a
realidade histórica do passado, estas questões, são desafios que os professores
devem encarar e buscar meios para superar no processo de ensino-aprendizagem da
História.
Para Sagredo, as seguintes novelas são duas fontes que apresentam um forte
Orientalismo nos moldes apontados pelo autor Edward Said, como no modo de
perceber este povo, criado e legitimado por determinadas instituições Ocidentais
que acaba por construir uma visão em torno das civilizações Orientais, passando a
ser representadas de uma forma repleta de estereótipos, exotismo e superstições,
além de sofrerem uma inferiorização se comparada ao Ocidente. Bem como,
também é marcada por um forte Eurocentrismo que se torna evidente quando se
atenta para os fenótipos dos atores e atrizes que interpretam os egípcios e egípcias,
em grande medida, todos embranquecidos. Este último ponto é problemático visto
ainda as grandes dificuldades que os professores de história encontram para inserir
e debater as questões previstas na Lei 10.639, que busca a obrigatoriedade das
discussões étnico-raciais dentro do ensino de história. Como coloca Sagredo, ainda é
difícil romper com a visão eurocêntrica dentro da História Antiga, e tais
representações, que não tem compromisso e preocupação alguma de buscar
enquadrar suas narrativas a partir dos saberes mais atuais aceitos dentro do meio
historiográfico, possuindo visivelmente um discurso extremante evangelizador em
suas produções, acabam por contribuir ainda mais de modo negativo para essas
dificuldades.
Para além das características físicas, a autora também coloca problemas nas
representações do trato com a religião, que não são representativas do modo como
os egípcios a encaravam. Bem como, os figurinos que os personagens vestem,
principalmente os femininos, que carregam um grande exotismo, sempre presente
na representação desses povos. Muitos desses figurinos apresentam cores fortes e
vibrantes, quando a realidade do povo egípcio, que se pode perceber a partir das
fontes arqueológicas é muito diferente. Há também figurinos femininos que
possuem decotes, não condizentes com a realidade, isto acaba por sensualizar as
personagens femininas, questão esta, que não pretende-se aprofundar neste
trabalho.
Para além das novelas brasileiras que perpassaram pela história do povo egípcio,
podemos também analisar outras produções cinematográficas, principalmente
Hollywoodianas, que representaram a antiga civilização egípcia. Filmes estes que
em grande medidas são populares entre o público. Dentre as diversas produções,
Todas estas mídias audiovisuais, podem ser apropriadas tanto por historiadores
quanto por professores de história, como fontes para pesquisa ou para serem
problematizadas dentro de sala de aula pois, “As imagens audiovisuais dinamizam
o conteúdo histórico em sala de aula, gerando questionamentos em relação ao lido,
ao debatido [...]” (FONTES; ALVES, 2013, p. 14). Ao serem utilizadas como uma
ferramenta didática, estas mídias poderão auxiliar os professores e facilitar o
aprendizado dos alunos em torno de determinados conteúdos, neste caso, a respeito
da civilização egípcia, de modo a trazer ganhos ao processo de ensino-
aprendizagem de história, e desconstruindo visões do passado que os alunos
acabam por adquirir por outros meios que tem contato diariamente, como é o caso
das mídias audiovisuais.
fora. Com o advento da História Pública, bem como da História Digital, o que está
havendo nas últimas décadas são constantes produções referentes a história
mundial de muita popularidade entre o grande público. Emissoras de TV de canais
abertos ou fechados, como por exemplo o canal History Channel, tem produções que
se tornam populares entre o grande público. A história desta forma, rompe os
muros do saber apenas produzidos dentro da academia, para se tornar de domínio
geral. (LUCCHESI; CARVALHO, 2016).
Quando se fala especificamente das produções fílmicas, pode-se dizer que este é um
dos meios que maior tem despertado interesse dos professores para compor suas
aulas. Entre os fatores podemos citar a grande atração e interesse que os alunos tem
por estes meios, bem como a acessibilidade e facilidade para se ter contato com tais
materiais. Contudo, mesmo esse grande interesse não tem levado a
problematizações em torno do cinema nas escolas e de uma metodologia para os
seus usos no ensino de História (ABUD, 2003).
É importante observar, que o cinema passou a ser encarado como uma ferramenta
útil ao ensino de história dentro de um contexto de renovação das concepções
historiográficas. As décadas de 70 e 80 representaram grandes mudanças nas
pesquisas históricas a partir da difusão da Nova História, e seus interesses em novos
temas, a partir de outras perspectivas e de novas metodologias, se interessando e
utilizando novas fontes para estas pesquisas, estas novas concepções refletiram
também no ensino de história, que passou a ter outras visões sobre o processo de
ensino-aprendizagem de história, passando a incorporar novos métodos, novos
objetos, novas fontes (ABUD, 2003).
Ainda assim, esse estudo parece distante das ideias de África, enraizados em nossa
formação. O Egito não parece fazer parte da África, uma vez que este foi - no seu
processo de construção - um grande império. Alheio a isso, o resto do continente se
torna um grande vazio cultural e econômico.
Ensinar História Antiga é uma tarefa árdua ao se pensar a História como processos
de continuidades e rupturas. Fazer o aluno perceber aspectos históricos antigos no
seu cotidiano requer sensibilidade e cuidados. A problemática expande quando se
pretende relacionar aos estudos de África antiga. Um assunto distante e pouco
debatido, comercializado em livros fictícios e recursos midiáticos abre brechas para
estereótipos e disparidades históricas. Utilizar recursos multimídias para ensinar
África e, mais especificamente, Egito antigo, torna-se perigoso quando não há uma
reflexão prévia sobre alguns aspectos:
Qual a finalidade do diretor em produzir esse filme? Por que os personagens são ou
agem de determinada maneira? Houve uma preocupação com relação a veracidade
dos fatos? Qual o público que pretende-se alcançar com tal produção? Essas
problemáticas podem nortear o uso de filmes para o ensino, independente do
recorte que queira utilizar.
são uma importante ferramenta para isto. Desta feita, nota-se a importância desses
recursos para o processo de ensino-aprendizagem de História, e não somente
apropriação destes recursos como um reforço do conteúdo estudado se faz
necessário, mas também uma crítica em torno destas produções, suas narrativas etc.
que acabam por influenciar as concepções dos alunos sobre o passado, nem sempre
de forma positiva.
Bibligrafia:
***
Considerações iniciais
Esses objetivos e outros vêm sendo trilhados pelo Subprojeto do Curso de História
da Universidade Estadual de Alagoas, Campus III - Palmeira dos Índios. Tal projeto
estimula, através de suas ações no ensino de história, o diálogo entre memória,
imagem, oralidade e patrimônio cultural. E com isso, apresenta discussões sobre
grupos marginalizados ou silenciados pela história oficial.
Essa pesquisa tem como âncora as experiências enquanto bolsista do PIBID em sala
de aula, porém, a escolha pela temática indígena, partiu de situações anteriores,
como a definição para objeto de estudo no Trabalho de Conclusão de Curso – TCC,
o que contribuiu para articulação junto a outros colegas na aplicação do ensino da
história e cultura indígena nas ações do PIBID. Vale ressaltar que através de
reuniões, conversas informais e planejamentos, ficou decidido que iríamos ter como
foco central as histórias de lutas, protagonismos e reivindicações por direitos do
povo indígena Xucuru-Kariri que tradicionalmente habitam no município de
Palmeira dos Índios.
Dessa maneira, surgiu a pretensão de estimular a inserção dos alunos dos cursos
presenciais de graduação no ambiente escolar desde os primeiros anos de ingresso
na Universidade, proporcionando com isso aprimoramentos das práticas
pedagógicas. Esse programa tenciona também impulsionar a nota do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB. Tais propostas promoviam uma
articulação entre Governo Federal, Estados e Municípios para avanço na qualidade
da Educação.
O PIBID tem sua própria estrutura de organização, está divido nas seguintes
áreas:Coordenação institucional, responsável pela coordenação do projeto
institucional;Coordenador de área, docente de licenciatura da instituição que está à
frente dos subprojetos; Professor supervisor, educadores das escolas básicas que
orientam os graduandos nas visitas as respectivas unidades de ensino; graduando
de iniciação à docência, discentes que participam dos subprojetos, respectivamente
em seus cursos de licenciatura. Essa divisão auxilia na manutenção e controle do
programa.
No planejamento geral da disciplina, ficou decido que iríamos fazer visitas aos
museus da cidade – Museu Xucuru de História, Artes e Costumes e Casa Museu
Graciliano Ramos – ambos de fácil acesso. Nosso intuito inicial era o de discutir a
questão patrimonial e como ela se encontrava inserida na memória, na oralidade e
nas imagens de grupos tradicionais.
“Em Alagoas existe uma produção acadêmica significativa sobre a história indígena,
sobretudo a partir das décadas de 1980. Esses estudos porém, não tem interagido
com a elaboração dos livros didáticos de História de Alagoas, nem na formação de
professoras/es, na medida em que o ensino persiste em deslocar os indígenas para o
passado colonial. O que implica num distanciamento entre produção acadêmica o
Ensino de História na Educação Básica em Alagoas onde os principais sujeitos
interessados nessas histórias são os povos indígenas.” (FERREIRA, 2016, p. 113)
Com isso, ficou evidenciado que a história indígena era marginalizada e silenciada
por grupos que não tem interesse que tais populações alcancem o lugar de
protagonistas no palco principal sobre a história de Alagoas e do Brasil. Por isso, foi
apresentado aos alunos um panorama geral das comunidades indígenas,
evidenciando a história do povo Xucuru-Kariri.
Esse trabalho serviu como base para as aulas, pois nele pudemos encontrar
caminhos para resolver as indagações iniciais, tanto dos pibidianos quanto dos
alunos. Porém, vale ressaltar que não nos detemos apenas a essa pesquisa. Também
foram discutidos trabalhos que faziam referência a conflitos territoriais, identidade,
estereótipos, preconceitos, invisibilidade e religião - ver Santos (2017); Neves (2017);
Mendonça (2018); Santos (2018) e Silva (2018).
Considerações finais
Referências
ALMEIDA, Maria Regina de. Os índios na História do Brasil. Rio de Janeiro: FGV,
2010.
BRASIL. Decreto Nº 6.094 de 24 de abril de 2007. Disponivel em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6094.htm.
Acesso em: 10 de fevereiro de 2018.
________. Portaria normativa Nº 38. Diário Oficial de União de 13 de dezembro de
2007, seção 1, p. 39. Brasília: Impressa Nacional, 2007.
O texto que segue é fruto das discussões das aulas no mestrado profissional em
ensino de historia pela UFPA junto com aulas ministradas no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA) no campus Paragominas no qual sou
professor. Neste foi realizada uma atividade nas aulas ministradas para o 2ª ano do
ensino médio com o objetivo de debater a Conquista da América e o Genocídio dos
povos indígenas.
Desta feita, apesar deste trabalho ter como principal objetivo apontar um caminho
metodológico para o ensino de historia é necessário deixar explícito a concepção da
educação defendida, uma educação para a vida e para a emancipação, sem a qual a
metodologia torna-se sem sentido, esta concepção acima do conteúdo, técnicas e
métodos (que são importantes) é nevrálgica para uma educação emancipadora.
O Instituto Federal é reconhecido por oferecer uma educação que integra o Ensino
Regular e o Ensino Técnico em diversas áreas, tendo como foco uma formação
integral, valorizando o Ensino a Pesquisa e a Extensão, criando no educando uma
capacidade de executar operações, mas também de pensar e refletir sobre sua
atividade enxergando a comunidade e os diversos fatores que os cercam. O campus
Paragominas foi fundado em 2015 e situa-se na avenida Fortaleza no bairro Bela
Vista, que apesar de ser próximo do centro é considerado um bairro periférico pela
sua estrutura. O campus ainda não tem uma estrutura própria e funciona em prédio
alugado, que apesar de não ser o ideal, supre momentaneamente as necessidades,
contendo além das salas de aulas, uma biblioteca, refeitório, banheiros, laboratórios
de informática e alguns recursos de mídia.
bauxita dos rios da região, 41,3% da população ganha até meio salário mínimo
(números de 2016). E mais de 80% da população é cristã, sendo aproximadamente
45% católicas e 35% evangélicas das diferentes matrizes. Existe uma grande
proximidade nas atividades cotidianas dos alunos com a realidade rural, o agro
negócio e a produção rural são outras atividades da região.
No campus Paragominas mais de 70% dos alunos recebem auxílio estudantil, que
segundo o site do IFPA:
A atividade teve 6 aulas para ser executada, nas duas primeiras foi feita uma
discussão geral falando sobre o contexto da expansão europeia evidenciando-se as
motivações e justificativas para tal. No segundo momento foi feito um debate a
partir de um roteiro entregue para a pesquisa, onde também ocorreram os
encaminhamentos e explicações necessárias da atividade e no último momento
ocorreu o júri simulado. O tema central do júri foi o genocídio sofrido pela
população indígena, foram entregues materiais bibliográficos, indicados sites para a
pesquisa e autores. A fundamentação do júri foi um debate semelhante que ocorreu
I SIMPÓSIO ONLINE DE HISTÓRIA DOS ANANINS: ENSINO, PESQUISA, EXTENSÃO
323
entre Bartolomeu de Las Casas e Juan Ginés de Sepúlveda no século XVI, logo a
questão central era a justificação ou não do genocídio indígena.
A partir de uma concepção de educação libertadora, para além do capital, que tem
como objetivo desenvolver o ser humano como um todo, o júri simulado serviu
como meio para tal fim. Gerando questionamento, autonomia, debate, produção de
conhecimento, alteridade, e outros elementos que nos possibilitam pensar a vida.
REFERÊNCIAS
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http://paragominas.ifpa.edu.br/component/content/article?id=194
Havia uma ressalva, era necessário que toda turma trabalhasse em conjunto. Não
haveriam grupos com temáticas ou trabalhos distintos e todos estariam engajados
em atingir o mesmo resultado, desenvolvendo as etapas da peça em um único
grupo. Algumas falas que emergiram naquele primeiro encontro foram: “Isso nunca
vai dar certo!”; “Todo mundo junto? Como vamos fazer isso?”. Foi um momento
repleto de tensão, mas também um pouco cômico, pelas expressões que surgiram
em diversos estudantes. Cada estudante teria a grande tarefa de buscar ajudar ao
próximo e ao mesmo tempo respeitar as limitações que cada indivíduo iria
apresentar.
Mas porque uma peça teatral? Ao longo do período escolar uma da preocupações
está na tentativa de identificar as diferentes habilidades e conhecimentos, bem como
as dificuldades que cada estudante carrega consigo. Neste caso havia constatado
que alguns estudantes apresentavam grandes dificuldades na forma de se expressar
oralmente em público, outros com ampla desenvoltura para a oratória, não se
engajavam na leitura dos conteúdos propostos. Havia também aqueles que eram
muito bons em conteúdo, mas que de alguma maneira não se relacionavam com os
demais colegas e por fim, aqueles que pouco realizavam ou participavam das aulas,
ou seja, não faziam atividades e nem mesmo as tarefas. Como atingir todos essas
diferenças na tentativa de conciliá-las no processo de aprendizagem?
Com relação aos capítulos dos livros, os estudantes fizeram uso do aparelho celular
para fotografar as páginas selecionadas e compartilhar com os demais colegas em
um aplicativo, permitindo a circulação do material e demonstrando organização e
capacidade de gerenciamento. As novas tecnologias proporcionaram maior
agilidade e economicidade na divulgação dos materiais bem como, facilitaram a
capacidade de organização da turma proporcionando rápida comunicação em um
curto espaço de tempo.
Para dar maior suporte teórico ao tema utilizamos a obra do historiador britânico
Eric J. Hobsbawm, A Era das Revoluções 1789-1848. Foram selecionados alguns
capítulos para que servissem de material de leitura e posteriormente fossem
apresentados e discutidos em sala por meio de rodas de conversa. Entre estes estão:
Capítulo 1 - O mundo na década de 1780 e Capítulo 3 – A Revolução Francesa. Cabe
destacar que para cada capítulo as rodas de conversas funcionaram como momentos
quase informais onde os estudantes tiveram a oportunidade de esboçar suas
dúvidas e entendimentos. Infelizmente nem todos se posicionaram e os que
apresentavam dificuldades de fazer uma explanação oral em público continuaram
em silêncio. Um desafio que se colocou desde o início mas que seria superado.
Outra obra utilizada como base teórica foi Origens Culturais da revolução Francesa, do
historiador francês Roger Chartier. Nesta por sua vez, quatro capítulos foram
selecionados: Introdução; Iluminismo e revolução - Revolução e Iluminismo; Será
que livros fazem revoluções?; e por fim, Um nova política cultural. Assim como na
obra de Hosbbawm, para cada capítulo foi destinado um momento de debate em
rodas de conversa que permitiram a troca de conhecimentos.
As duas etapas seguintes, apesar de acontecerem com maior ênfase nas semanas
finais, foram sendo construídas de maneira intrínseca durante os momentos de
leituras e debates propostos na primeira etapa. A confecção do cenário e figurino,
bem como a elaboração do roteiro, lentamente foi sendo inserida nas rodas de
conversas.
A última etapa foi marcada pela apresentação da peça. Tendo em vista todo o
público escolar que iriamos receber, entre estes, técnicos administrativos,
professores, demais estudantes que não estivessem em horário de avaliação e
trabalhadores terceirizados, optamos por realizar esta etapa final em um espaço da
biblioteca, um local amplo, bem iluminado e com disponibilidade de inserção de
cadeiras. A escolha foi definida em conjunto durante as aulas e os próprios
estudantes fizeram a indicação do local.
Para muitos pode parecer algo simples, entretanto, aquele momento marcou todo o
esforço desenvolvido, todo suor que cada aluno cedeu, todo enfrentamento e tensão
que cada debate gerou e mesmo assim, diante de todas as diferenças e
particularidades tornaram-se uma força em conjunto a qual, trabalhou por um bem
comum. Aquele brado, as risadas que se sucederam posteriormente, as vozes
exaltadas, a necessidade de contar ao outro o nervosismo vivenciado, foram
mensagens que marcaram e definiram que a atividade havia cumprido o seu papel.
Restava para todos nós apenas contemplar as emoções em que estávamos
envolvidos.
Além disso, foi possível compreender que a prática pedagógica deve ser também
pautada pelos desafios e que muitas vezes, o mais sensato a ser feito é fugir das
zonas de conforto para que possamos alcançar os objetivos traçados. Sair da rotina
de sala de aula, organizar os estudantes em grupo, traçar métodos e referenciais
teóricos, permitir espaços de debate e divergência, são situações que muitas vezes
vão além da formação de muitos professores, e por isso, são deixadas de lado, pois
demandam tempo e empenho. Fico feliz em dizer que cada segundo de trabalho
desempenhado nesta atividade foi extremamente enriquecedor e que demonstrou
melhores resultados do que qualquer aula expositiva outrora realizada na turma em
questão.
Cabe destacar que apesar do sucesso obtido, deve ser levado em consideração todos
os aspectos culturais, sociais e econômicos presentes no espaço escolar. A réplica de
metodologias nem sempre alcança os mesmo objetivos ou colhe os mesmos
resultados, pois deve ser adaptada para cada ambiente encontrado. Não se trata de
uma receita que deve ser seguida, apenas de experiências que poderão ser pensadas
e utilizadas como modelos para outras formas de avaliação.
Por fim, acredito que esta prática pedagógica foi capaz de demonstrar como a
relação professor e aluno pode ser construída de maneira horizontal e democrática.
Estabelecemos diálogos, traçamos estratégias e definimos cenários, figurino e local
de apresentação tudo por meio dos debates e quando não havia um consenso,
estabelecíamos uma votação que era respeitada. Foi um processo transparente,
democrático e que proporcionou autonomia aos estudantes colocando-os como
sujeitos provedores de mudanças no espaço escolar. Ainda hoje me pego refletindo
sobre as relações recíprocas e mútuas desenvolvidas, algo que me deixa
completamente feliz por simplesmente ter tentado.
Referências
VENCATTO, Rudy Nick. Doutor em História Cultural pela Universidade Federal de
Santa Catarina – UFSC. Docente do Instituto Federal do Paraná – IFPR.
ARAUJO, Franciele Aparecida de. Doutora em História Social pela Universidade
Federal de Uberlândia – UFU. Docente da Secretaria de Estado da Educação do
Paraná – SEED/PR.
CHARTIER, Roger. Origens Culturais da revolução Francesa. UNESP, 2009.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções 1789-1848. Paz e Terra,2009.
HISTORY CHANNEL. A Revolução Francesa. Disponível
em:https://www.youtube.com/watch?v=xV5g84ROXbE
Este texto relata uma experiência de sala de aula como parte do conteúdo
programático ministrado à turma de 7º ano, do Instituto Educacional Zion (IE
Zion), localizado no bairro Piranema, em Itaguaí (RJ). O conteúdo em questão
deveria versar sobre a Educação Patrimonial. Foi quando se pensou a própria
realidade dos alunos como tema. Diante disso, eis que irrompeu a questão: Teria
aqueles alunos um conhecimento cultural da realidade na qual estão inseridos? Daí
que, se valendo da história local, foi decidido de estudar o prédio da escola – que
antes fora uma igreja evangélica e atuara como referência na localidade. Por
extensão, se estudou um pouco da história do bairro de Piranema. Dado a dimensão
memorial do conteúdo abordado foi pensada a presença de um antigo morador
como forma de ‘presentificação viva’ do passado. O Madonnaro marcara presença
como conteúdo de arte e ferramenta de apropriação cultural.
Assim sendo, como fazer para funcionar a engrenagem que poderia facilitar a
apropriação do patrimônio cultural – no caso a história da própria escola em
consonância com a localidade como um bem cultural comum? O IE Zion tem por
metodologia a Abordagem Educacional por Princípios (AEP). Enquanto uma escola
de pedagogia confessional, o IE Zion recorre à AEP como um método de propulsão
do potencial individual que auxilia na formação de um caráter baseado nos
princípios cristãos e ainda estimula a cooperação e a interação (SOUZA, 2015). Uma
rápida panorâmica sobre essa abordagem de ensino mostra que nos anos 1930, nos
EUA, Verna Hall iniciou suas pesquisas sobre os princípios cristãos aplicados à
política. As conclusões dessas pesquisas na formação de caráter e estabelecimento
de governo foram fundamentais para que, em 1965, fosse fundada a Fundação para
Educação Cristã Americana (FACE), por Hall e Rosalie Slater. No Brasil, a então
Educação por Princípios chegou, em 1989, na cidade de Belo Horizonte, por
iniciativa de Cida Mattar (ALVES, 2012).
Figura 1: Infográfico
Ainda foi possível descobrir que a palavra “Piranema” era de origem tupi e
significava “terra de peixe podre”. A região era inundada com frequência pelas
marés. Alguns peixes, não conseguindo retornar ao mar, acabavam morrendo e
causando o forte odor que predominava na região (SOUZA, 2005). Hoje, o peixe
também é conhecido como “olho de cão” ou “vermelho”. Uma iguaria nos
restaurantes, o carnívoro piranema mede em torno de 35 cm e vive em
profundidades marinhas que vão de 10m a mais de 200m (CPEABRASIL, 2014).
Fig. 02 – Desenho de um aluno representando a visita do Sr. Wilson. Uma breve descrição do
desenho conta do ambiente de sala de aula com o quadro ao fundo e as carteiras com alguns
alunos. Como no dia, o Sr. Wilson porta um boné, uma bengala e está assentado em uma cadeira.
A presença do Sr. Wilson abriu espaço para trabalhar com a turma o conceito de
Homem-memória. Os homens memórias eram ‘responsáveis’ por compartilhar com
A partir do que foi abordado em sala de aula os alunos tiveram contato com um
repertório de imagens mentais que lhes serviriam mais tarde, quando da fase do
registro, para a produção do Madonnaro. O Madonnaro é uma técnica italiana de
pintura no chão que remete ao século XVI. Alguns marginalizados sociais viram na
reprodução de imagens da Virgem Maria – Madonna, em italiano; daí o nome
“Madonnaro” – a oportunidade de ganhar um dinheiro com as ofertas lançadas
sobre as pinturas e ainda propagar a fé cristã. Esses ‘artistas’, dado sua condição
social e econômica, lançavam mão do que tinham por perto (COELHO, 2015). Então,
os primeiros Madonnaros – tratados por Naalin (2000) como Madonnaro Storico –
foram feitos com cacos de tijolos, carvão, giz e terra colorida. Essa praticidade
material, a oportunidade de realizar uma atividade externa e ainda a
incogitabilidade de utilizar o chão para desenhar são fatores que contribuíram para
a exploração do Madonnaro.
Embora essa ‘conversa’ com a Filosofia tenha tido uma ressonância transversal de
respeito ao idoso, o que ficou frisado como transversalidade foi a questão da
conservação do patrimônio cultural. A conservação do Patrimônio é questão chave
na preservação cultural de um grupo. Assim, a conservação é um ato de
mordomia. Foi então que, recorrendo à AEP, se fez relação com o princípio da
mordomia. Segundo Souza (2015, p. 62), a mordomia é “cuidar com
responsabilidade do que lhe pertence ou do que lhe foi confiado”. Portanto, a
mordomia envolve a gestão. Durante as conversas foi posto aos alunos que o
patrimônio cultural é algo que pertence ao indivíduo enquanto bem coletivo.
Ninguém é dono das histórias que são de todos. Respeitar os idosos, preservar o
prédio da escola, criar Madonnaros que não sujam o chão... São apenas algumas das
oportunidades de exercer mordomia tanto cuidando do espaço físico quanto
preservando a memória. Gerir o patrimônio cultural é tão preservá-lo de maneira
que possa aos outros que virão depois. Essa gerência acaba se constituindo também
em uma das ferramentas da AEP: oportunidade de serviço. Uma oportunidade de
servir ao outro no sentido de que também fruir do patrimônio cultural.
O espaço externo, ainda que extensão da sala de aula, sugere um novo ambiente. O
que antes era histórico, pedagógico também se faz cultural e artístico. A produção-
exposição das obras desencadeia relações e interpretações. Os alunos-artistas
conversam e trocam ideias sobre os trabalhos; o público (funcionários, colegas,
professores, etc) dialoga com o aluno-artista; o público comenta entre si sobre o que
está acontecendo. O clima de interação e compartilhamento é total. Tanto que, uma
das funcionárias da escola, vendo a agitação dos alunos-artistas, reativa a memória –
até certo momento afetiva, percebida na entonação de sua voz – e comenta de
quando tinha de andar ‘pela noite’ adentro tendo em mãos apenas o lampião de
querosene.
Sem dúvida, como antes manifestado no bate-papo com o Sr. Wilson e provocando
ostart mnemônico da funcionária mencionada acima, o lampião foi a imagem que
predominou nos trabalhos. Um deles, se valendo de uma composição poética, trazia
no lugar da chama um ‘coração’ (Fig. 04). Ao total, cinco alunos (as) pintaram
lampiões. Outros cinco alunos (as) fizeram peixes em alusão ao significado da
palavra ‘Piranema’ (Fig. 05). Uma aluna criou uma composição onde aparecia um
pescador lembrando as pescarias do Sr. Wilson pelos rios da região que não mais
servem à atividade por conta da poluição (Fig. 06). O prédio da igreja tendo ao lado
Fig. 06 – O pescador
REFERÊNCIAS:
A BÍBLIA VIDA NOVA. Editor resp. Russell P. Shedd; trad. em português João
Ferreira de Almeida. Ed. rev. e atual. no Brasil. S. Paulo: Vida Nova; Brasília:
Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
ALVES, Monica Pinz. Educação por princípios bíblicos: um método cristão de
ensinar?Congresso Internacional da Faculdades EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais
do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 2012,
p.157-179.
BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em:
11 de fevereiro de 2017.
COELHO, Marcelo A. Madonnaro: gênero, técnica e linguagem pictórica. 2015.
Monografia (Graduação em Licenciatura em Belas Artes) – Instituto de Ciências
Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica (RJ).
CPEABRASIL. Peixe vermelho ou Olho de Cão. 19 de abril de 2014. Disponível em:
<http://www.cpeabrasil.com.br/ospeixes/index.php?controller=post&action=view&i
d_post=22>. Acesso em: 18 de outubro de 2017.
FARIA, Ernesto et al. (Org.).Dicionário Escolar Latino-Português. 3ª ed. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação e Cultura – Departamento Nacional de Educação,
1962.
A partir das vivências na escola que esse trabalho proporcionou, a reflexão sobre o
corpo do aluno se fez necessária na medida em que este é atravessado pelas linhas
de controle estabelecedoras de um ideal de corpo para se aprender. Os conteúdos se
movimentam do professor para o aluno que por sua vez constrói conexões com a
caneta, o lápis, a cadeira, o livro e o caderno. Conexões medidoras da atenção nas
aulas e seu nível em ser um “aluno ideal”.
Aluno A: Nas aulas com o prof. Felipe foi muito legal porque era a coisa diferente
na escola e não tem apresentação de danças e tals sem ser de festas. Na dança do
artesanato fizemos sobre sapato, comparamos as coisas como o sapato é feito, e
outras coisas. Na dança sobre o filme “Tempos Modernos” fizemos baseado no
filme, no mesmo tinha movimentos repetitivos e fizemos o mesmo. Me senti naquele
tempo, não conseguindo para de fazer os movimentos, etc.
Vale ressaltar que nesta turma foi passado um questionário com três perguntas: Que
relação você conseguiu perceber entre o conteúdo de grandes navegações e a peça? O que você
achou interessante? A peça facilitou a sua compreensão sobre o assunto? De 29 alunos
(interpretes e plateia) 21 responderam às perguntas positivamente.
Enfim, o que pode ser concluído das experiências junto aos relatórios, ainda em fase
de estudo, é que as artes cênicas possuem um grande potencial para estimular os
alunos à reflexão prática sobre o processo histórico que discutimos em sala e a
aprender a partir de sua percepção crítica em relação ao que é apresentado em sala
de aula. Não apenas aqueles que se envolvem enquanto intérpretes, mas também
aos que assistem e estabelecem as relações peça-conteúdo. A busca por um ensino
da história que desperte a curiosidade ou interesse do aluno permeia as inovações
metodológicas nas práticas educativas.
- O Audiovisual e o Ensinar.
história” possibilitou ter a vivência de duas turmas diferentes (6° e 7° ano) com
diferentes conteúdos programáticos e faixa etária onde a diversidade nos levou a
utilizar duas mídias diferentes.
Vale ressaltar que nesta turma foi passado um questionário com três perguntas: Que
relação você conseguiu perceber entre o conteúdo de grandes navegações e a peça? O que você
achou interessante? A peça facilitou a sua compreensão sobre o assunto? De 29 alunos
(interpretes e plateia) 21 responderam às perguntas positivamente.
Enfim, o que pode ser concluído das experiências junto aos relatórios, ainda em fase
de estudo, é que as artes cênicas possuem um grande potencial para estimular os
alunos à reflexão prática sobre o processo histórico que discutimos em sala e a
aprender a partir de sua percepção crítica em relação ao que é apresentado em sala
de aula. Não apenas aqueles que se envolvem enquanto intérpretes, mas também
aos que assistem e estabelecem as relações peça-conteúdo. A busca por um ensino
da história que desperte a curiosidade ou interesse do aluno permeia as inovações
metodológicas nas práticas educativas.
- O Audiovisual e o Ensinar.
possibilidade de uma reflexão que muitas vezes não aparecem no livro didático.
Comumente temos filmes que são verdadeiras releituras da História, seja ele um
filme clássico ou uma animação o professor sempre pode retirar do enredo de um
filme algo que possa interligar com o seu conteúdo programático. Destaco que
documentários ou vídeo aulas voltadas para o público infantil também podem ser
exploradas dentro das salas de aula.
A partir da articulação entre a teoria e a prática que se desenvolve por meio de uma
constante reflexão sobre o ambiente escolar e o seu cotidiano pedagógico, também
foi possível diagnosticar alguns problemas vivenciados pela escola e na sala de aula,
percepções que serão tratadas em momento oportuno. Mas reforçamos que essa
experiência está nos possibilitando olhar para o cotidiano escolar também como
objeto de pesquisa. Essa vivência nos oportunizará também construir subsídios para
refletir sobre a nossa formação inicial e refletir sobre a importância de construir
nossos materiais e recursos pedagógicos para fundamentar a nossa prática
profissional.
Bibliografia
Introdução:
Apesar de Bittencourt (1997) ter afirmado que a formação dos docentes, em sua
maioria, inicia e termina na graduação, hoje percebemos que os programas de pós-
graduação profissional vieram para assegurar uma qualificação docente continuada
em que pesa a reflexão sobre o seu espaço de atuação e a sua prática docente. Para
Lüdke (1998), a constante “mudança na própria cultura do trabalho de pesquisa” e a
apresentação de novas abordagens e perspectivas de ensino são alguns dos desafios
que os professores se deparam em seus espaços de atuação, pois a diversidade de
propostas de pesquisa e o espaço escolar onde possam desenvolver suas pesquisas
possibilitam ao professor-pesquisador atentar para as tensões e os problemas
vivenciados no espaço escolar como objeto de pesquisa. Pensado nessa importância
e necessidade de reflexão sobre a prática docente no seu lócus de atuação que o
projeto de monitoria visa focar.
pensado foi reforçar a ideia de que o domínio sobre os conceitos históricos deve ser
articulado com a fundamentação da disciplina para o ensino, mas buscar questionar
sobre como se apresenta a consciência histórica predominante no ensino
fundamental e médio.
Considerações iniciais
Bibliografia
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1997.
LUDK, Menga. Pesquisa em educação: conceitos, políticas e práticas. In: GERALDI,
Corinta Maria Grisolia; FIORENTINI, Dario e PEREIRA, Elisabeth Monteiro de
Aguiar (orgs). Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil –
ALB. 1998. (Coleção Leitura do Brasil). Pp.23-32
RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e Competência. São Paulo: Cortez, 1994.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 8ª ed.
Rio de Janeiro: paz e Terra, 1998.
ZEICHNNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores: ideias e práticas. Lisboa:
Educa, 1993.
PARTE 6:
HISTÓRIA E
PATRIMÔNIO
“A cultura permite ao homem não somente adaptar-se a seu meio, mas também
adaptar este meio ao próprio homem, a suas necessidades e seus projetos” (CUCHE,
2002). Para Cuche (2002), a noção de cultura inerente as relações sociais é necessária
para se pensar a unidade da humanidade na diversidade além dos termos
biológicos, pois é o que fornece uma resposta mais satisfatória a questão da
diferença na história dos povos. Desta forma a vida em sociedade no cotidiano de
grupos humanos é marcada por suas diferenças e traduzida como cultura.
Segundo Heller (2008) essas relações se dão de forma orgânica através da vida
cotidiana, sendo esta a vida do homem como um todo: a organização do trabalho e
da vida privada, lazer, descanso, atividade social, intercambio e purificação. Vida
cotidiana é heterogênea em sua maioria, sobretudo no que se refere ao conteúdo e a
significação.
Figura 1: Complexo Fabril - Companhia Têxtil Brasil Indústria. Fonte: KELLER, 2006
Nesse contexto, as cotidianidades nas fábricas com vila operária contem uma ordem
hierárquica especifica e determinada historicamente pelo modo de produção
capitalista, onde a organização do trabalho ocupa uma posição central. Desta forma
a hierarquia da fábrica se sobrepõe e organiza as relações pessoais na vila operária
KELLER (2006). No estudo de Keller (2006) sobre a vida cotidiana do operário têxtil
da fábrica de Paracambi, RJ, a vida cotidiana é abordada através do complexo
fábrica com vila operária tanto nas suas formas específicas, em termos de educação
nas escolas operárias, de consumo nos armazéns e nos armarinhos, quanto
investigando de que forma o operariado se apropriou desses aparatos institucionais
estabelecendo neles relações sociais próprias dotadas de sentido. Assim, o autor
afirma que a cotidianidade está inter-relacionada com a noção de complexo, não
sendo possível falar em complexo fabril sem investigar o cotidiano operário e seus
múltiplos significados.
“Já vinha com emprego garantido, com casa pra morar, com colégio, porque a
fábrica tinha médico, tinha ambulatório, tinha leite, tudo dela. Até compramos
muito leite lá. Tinha o clube dançante, tinha o futebol, porque a fábrica também
dava o campo, dava a sede. Pegava um operário para limpar o campo, um zelador
para pintar, para limpar. Todos operários também. Admitia a gente por que... Não
tinha outra coisa aqui... Pagava uma taxa. O Cassino lá tinha dança, teatrinho, tinha
aqueles bailes, domingueiras, essas coisas também feitas por ela. Praticamente a
fábrica era a que fazia a vida de toda a cidade. A limpeza das ruas, eram as carroças,
eram tudo dela. A prefeitura não tinha nada. Nada, nada. Tudo da fábrica. Ela é que
tirava areia, consertava a ponte que a enchente carregava, ela botava outra. Tudo era
a fábrica” (KELLER, 1997).
patrões, na educação profissional e, ainda, nos processos de escolha das famílias que
morariam nas casas da vila operária, indicadas por alguém que já trabalhasse na
fábrica e as quais quanto mais numerosas melhor.
“O paternalismo industrial presente nas fábricas com vila operária nessa região teve
por base tanto o oferecimento das casas e sua extensa rede de serviços quanto o
sentimento de pertença a uma “grande família” que as relações paternais vigentes
proporcionavam. Mas é preciso enfatizar, os operários têxteis apropriaram-se dos
aparatos institucionais neles colocando seus próprios sentimentos. Se as fábricas
com vila operária eram propriedade dos industriais têxteis, as vilas eram lar dos
Keller (2006) ainda exemplifica esta relação quando aponta sobre a pratica religiosa,
a qual no complexo fabril em questão a mais importante era a capela
católica, Capela São José Operário da Cascata, dedicada a Nossa Senhora da
Conceição construída em homenagem à padroeira da fabrica e dos seus operários.
Neste contexto os operários se apropriaram do catolicismo participando ativamente
da construção da capela e instituíram de forma autônoma seu padroeiro, São Jorge.
Pode-se afirmar então que a relação das práticas religiosas do operário têxtil e do
patrono fabril assume um aspecto ambíguo e contraditório, na medida em que tanto
legitima a ordem estabelecida quanto são apropriadas pelos operários tornando-se
uma expressão de seus sentimentos e de sua cultural (KELLER, 2006). Já em um
aspecto da coletividade, Heller (1994) propõe que na medida em que a
individualidade “constrói” o grupo a que pertenço, “meus” grupos convertem-se
paulatinamente em comunidades, ou seja, a partir do momento que propostas
individuais, como são citadas a cima a questão religiosa, se unem e formam
costumes e identificações, ou seja, uma analogia de interesses e objetivos, entre os
indivíduos, esses podem ser considerados como sendo uma mesma comunidade.
Ainda sobre identidade coletiva e sua preservação, Cuche (2002) afirma que a defesa
da autonomia cultural é muito ligada à preservação da identidade coletiva. O autor
destaca a importância de se diferenciar cultura de identidade, onde a identidade é
uma construção social e a cultura depende de processos inconscientes, onde o
homem se adapta em meio ao próprio homem.
cultural de uma sociedade, uma vez que reflete a sua formação sociocultural. O
patrimônio cultural preservado tem o poder de estimular a sociedade a conhecer a
sua história e a dos outros.
“Com o declínio das antigas áreas industriais ocorrem grandes mudanças físico-
territoriais nas cidades que se desenvolveram sob forte influência da
industrialização. Estas áreas costumam estar bem localizadas dentro da malha
urbana, são dotadas de infraestrutura e são consideradas, pela comunidade em que
estão inseridos, registros históricos, entretanto ficam as margens das mudanças de
uso e ocupação da cidade, e muitas vezes, se deparam com processos de degradação
e subutilização” (DEZEN-KEPTER, 2011).
Para Dezen-Kempter (2011) o lugar industrial nos dias de hoje remete, ou contém
elementos que remetem, a algo externo a ele: valores, idéias e imaginários. Neste
contexto, a imagem urbana, construída na fase de crescimento das cidades em razão
da industrialização, no final do século XVIII e início do XIX, ainda permanecem em
sua estrutura, na forma das ruas, nas instituições e no próprio conceito de cidade: a
cidade moderna.
O objeto de proteção está materializado na coisa, mas não é a coisa em si: é o seu
significado simbólico, traduzido pelo valor cultural que ela representa, ou seja, seu
valor cultural para determinado grupo. De esta forma compreender o patrimônio
cultural é abranger o bem (objeto) como parte de um conjunto maior de bens e
valores que envolvem processos múltiplos e diferenciados de apropriação, recriação
e representação constituídos e reconhecidos culturalmente, historicamente e
cotidianamente, portanto anterior a própria concepção e produção daquele bem.
Assim o conceito de bem histórico se traduz na noção de valor cultural (CASTRO,
2009).
REFERÊNCIAS
CHOAY, Françoise. Alegoria do Patrimônio. 6. Edi. São Paulo: Estação Liberdade: Ed.
UNESP, 2017.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. 2ª Ed. Bauru: EDUSC, 2002.
DEZEN-KEMPTER, Eloisa. O lugar da indústria no patrimônio cultural. Revista Labor
& Engenho. V.5, n.1, 2011.
GONÇALVES, José Reginaldo Santos. O patrimônio como categoria de pensamento. In:
ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (Orgs). Memória e patrimônio: ensaios
contemporâneos. Rio de Janeiro: DP& A, 2003. P. 21-29.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. 10 edição. DP&A Editora.
2004.
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
KELLER, Paulo Fernandes. Cotidiano operário & complexo fabril: fabrica com vila
operária em Paracambi – RJ. Revista eletrônica enfoques. Rio de Janeiro, 2006.
__________. Fábrica e vila operária: a vida cotidiana dos operários têxteis em
Paracambi/RJ.Engenheiro Paulo de Frontein: Solon Ribeiro, 1997.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. 3. Ed. Campinas: Editora UNICAMP, 1994.
SILVA, Ronaldo A. Rodrigues. Perspectivas para Reutilização, Reconversão e
Recuperação de Patrimônio Industrial no Brasil. 4 Encontro Internacional
Arquimemória. Salvador, 2013.
SANTOS, Joanilda Maria dos. Paracambi: estudo de caso do processo de reconversão de
uma fábrica de tecidos em “fábrica do conhecimento”. Rio de Janeiro, 2017.
Partindo desses conceitos, o enfoque principal dos tempos atuais é mostrar para a
sociedade a importância da preservação do Patrimônio Cultural, tendo como
suporte primordial os processos educativos, pois por meio de integração de todos
que pertencem a um meio, crianças, jovens, adultos e entidades públicas é possível
reflexões e deliberações para a conservação, preservação e restauro de bens culturais
de toda a sociedade.
Para que esse procedimento aconteça, há critérios a serem seguidos, entre eles fazer
o levantamento da história da comunidade, depois os critérios de tombamento
conforme os órgãos competentes, e posteriormente fazer a comunicação desses
projetos educativos de interpretação e preservação, para que haja intervenções
pessoais e coletivas nas mudanças de atitudes de todos que pertencem à um
determinado local, sendo ele urbano ou rural.
Os bens intangíveis podem ser classificados em: ideias, costumes, tradição oral,
danças folclóricas dentre outros e os bens tangíveis podem ser classificados em bens
imóveis (monumentos, edifícios, templos, sítios arqueológicos, etc.). Os bens móveis
são: (objetos de arte, livros, documentos, objetos litúrgicos, fósseis dentre outros.
No passado, a restauração era realizada, em geral, por artistas ou por pessoas com
"habilidade manual", essa prática gerou danos, por vezes, irreparáveis! O respeito
pela autenticidade da obra e a noção de ser a restauração um momento
de interpretação crítica é um conceito moderno.
Cesare Brandi (2013), grande teórico da restauração, chama a atenção para as duas
polaridades a serem consideradas na obra de arte: a estética e a histórica. Como
princípio, estabelece que:
A escola deve privilegiar experiências novas para despertar nos alunos o interesse
pelo conhecimento e preservação dos bens culturais, discutindo e articulando a
noção de patrimônio histórico ao ensino de história.
“[...] toda e qualquer cidade tem sua história e seus significados representativos do
processo de construção local e, diante disso, seus valores e testemunhos podem e
devem ser preservados. [...] As comunidades podem construir e buscar apoio para
construção de seu auto conhecimento, para conhecimento de sua história, com base
na leitura e no entendimento no espaço urbano”. (MOTTA, 2015, p. 3)
É importante destacar a questão do turismo que nos dias atuais vem crescendo
desordenadamente, a falta de estrutura e planejamento faz com que haja maior
À medida que o litoral foi sendo ocupado e o interior vasculhado por bandeirantes
que fincaram seus currais para criarem gado, surgiram novos arraiais e vilas que
hoje são consideradas históricas. Esse período, no entanto, permitiu que se
conservasse a bela arquitetura colonial.
É a partir desse contexto que o poema de Carlos Drummond de Andrade nos revela
e desvela o sentimento de pertencimento, história, patrimônio, bens culturais e
preservação e conservação das memoriais sociais.
O HISTORIADOR
Veio para ressuscitar o tempo
E escalpelar os mortos,
As condecorações, as liturgias, as espadas,
O espectro das fazendas submergidas,
O muro de pedra entre membros da família,
O ardido queixume das solteironas,
Os negócios de trapaça, as ilusões jamais confirmadas
Nem desfeitas.
Veio para contar
O que não faz jus a ser glorificado
E se deposita, grânulo,
No poço vazio da memória.
É importuno,
Sabe-se importuno e insiste,
Rancoroso, fiel.
Para preservar, conservar e restaurar os bens culturais que são significativos para
toda a sociedade, saber ser importuno e insistir deve fazer parte da trajetória
educativa da sociedade.
Referências
ANDRADE, Carlos Drummond. Nova Reunião 19 livros de poesia. 3 ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1987.
SILVA, Marcos A. História: o prazer ensino e pesquisa. São Paulo: Brasiliense, 2003.
Ananindeua chegou ao século XXI com mais de três séculos de histórias, com
personagens importantes, alguns até anônimos, mas que deram brilho aos fatos que
marcaram época e que ajudam a contar a história e origem de Ananindeua, que ao
longo dos anos consegui se desenvolver com dignidade, provando que uma cidade
se constrói com a história de seu povo.
Após essa introdução iremos explanar sobre a Igreja Matriz de Ananindeua, pois de
acordo com fontes historiográficas foi no ano de 1920, que começou a ser construído
o primeiro núcleo religioso urbano do município, a época chamada de Capela de
Nossa Senhora das Graças. Observamos também, que já em 1935, inicia a construção
da atual igreja Matriz Nossa Senhora das Graças, com sua estrutura imponente que
se implantava onde hoje temos a Praça Matriz de Ananindeua, neste momento já se
consegue notadamente observar a presença marcante da religiosidade no município.
Em decorrências desses fatos e com um rápido crescimento populacional no
munícipio começaram a ter algumas modificações em torno da igreja católica
implantada naquele local.
De acordo com nossa pesquisa de campo, constatamos que ao lado da igreja matriz
foram construídas, na década de 80, duas escolas: EEEF Armando Fajardo e EEEFM
Walter Bezerra Falcão, tendo suas entradas principais com acessos diretos à Praça
Matriz de Ananindeua, até então chamada de Praça Raimundo Vera Cruz, um local
bastante arborizados e com muitos bancos para sentarem e prosear os alunos na
saída das escolas, também houve na praça naqueles tempos áureos uma belíssima
quadra esportiva na qual eram realizadas as atividades de Educação Física das duas
escolas e também serviam de lazer à população.
Percebe-se que toda a praça com seus monumentos e suas modificações ocorridas ao
longo do tempo e que ficava ao entorno da igreja serviam como uma grande área de
lazer à população. Segundo dados históricos o monumento acima era um dos
símbolos representativos de Ananindeua e que foi demolido no final da década de
1990 para reestruturação da praça, na visão de um novo governante municipal.
Também para corrobora com esses estudos a colocação de Guimarães (2001) nos
remete a constatação que
“Portanto, refletir sobre patrimônio pode e deve ser uma das preocupações do
campo historiográfico, submetendo-o a uma investigação que sublinhe a dimensão
histórica de sua invenção. Como toda escrita histórica, a reflexão em torno do
patrimônio deve considerar as situações históricas de sua emergência – dos
discursos e narrativas acerca do patrimônio – como forma de compreender a
patrimonialização do passado.”
Foi muito proveitoso gravarmos esses relatos que serviram de base para este artigo,
uma vez que colhidas os relatos, conseguimos elaborar um painel com imagens que
retratam o antes e o agora da praça matriz. Também foi possível resgatar ou saber
que houve um plesbicito para saber quem tomaria conta da praça matriz, o poder
público ou a igreja católica? E que neste plesbicito foi decidido que a igreja católica
assumiria a praça matriz, porém acreditamos que houve um grande
A Praça Matriz de Ananindeua sempre foi palco de devoção religiosa, onde diversas
comunidades do município de Ananindeua realizam suas procissões religiosas neste
local. Deveria ser um espaço público para ser utilizado por todos os cidadãos,
porém em virtude de questões políticas, a Praça Matriz que é um patrimônio
público foi cedida para que a Igreja Católica administre a praça, que hoje se torna
um patrimônio privado, uma vez que foi toda cercada e tem horário para abrir e
fechar tudo sob o comando da igreja católica que existe na praça matriz.
Notadamente, observa-se que em nossos dias atuais constatamos que a praça está
cercada por grades fazendo o isolamento da igreja, tendo hora para abrir e hora para
fechar, não sendo permitido ficar livre para a população uma praça pública a noite
toda, percebe-se nisso que há uma intransigência de determinado setor da
sociedade.
Dessa maneira, que o historiador precisa narrar e apresentar os fatos históricos para
que se tornem significativos a toda uma coletividade humana que sempre
apreciaram e desfrutaram deste patrimônio cultural, pois ainda assim percebe-se
que há uma grande incógnita sobre nossos estudos a serem mais aprofundados, com
isso deixamos aqui o seguinte questionamento: A Praça Matriz de Ananindeua é um
Patrimônio Histórico Cultural ou uma Propriedade da Igreja Católica? Com a
palavra nossos historiadores ou quem possa interessar os estudos sobre patrimônio
histórico e cultural de nossa cidade.
Referência Bibliográfica
PARTE 7:
HISTÓRIA E
NOVAS
TECNOLOGIAS
Para a geração que nasceu e cresceu sem tantos desenvolvimentos desta tecnologia,
essas sentem as dificuldades na adequação a esses processos que muda
continuamente, precisando se adaptar a tudo isso pelo movimento que está sendo
produzido e, muitas vezes, sendo forçados a se adequar o mais rápido possível a
esse meio. Segundo Kenski:
É necessário que a escola parta, de forma adequada, para essa nova realidade, pois
os próprios discentes não “dependem” exclusivamente da escola para os informa-
los. A expansão das redes acarreta a expansão de informações e o acesso mais
rápido aos mais diversos conteúdos presentes na internet. Os alunos não chegam, e
nunca chegaram, desinformados na sala de aula, o conteúdo que a escola aplica
pode ser visto de várias formas em questões de segundos. Para a professora Kenski:
diversas produções com fundo histórico e sendo mais atrativas para o público. O
professor e/ou professora de história pode se aproveitar deste meio para construir
uma aula que envolva a todos, com suas devidas proporções na utilização destes
meios digitais e explicando essas experiências que os alunos vivenciam, na tentativa
de transforma um ensino mais atraente para o discente. Para Bruno Amorim
Pantoja: “[…] despertar a criticidade por meio das tecnologias que são próprias de
seu cotidiano, ou seja, novas abordagens no processo de ensinar, mas
especificamente de ensinar história”. (PANTOJA, 2018, p.61). Aproveitar
esse meio digital para desenvolver uma aula atrativa para todos, aproveitar dessas
experiências e propiciar aos discentes de sentirem partes importantes no processo de
construção das aulas.
Conclusão
Referências:
Para VAN DAL (2013, p. 2), ao longo da história da humanidade, o homem sempre
procurou desenvolver métodos e técnicas de comunicação. Assim, desde a invenção
das primeiras formas de comunicação em gestos, em pinturas nas paredes e nas
primeiras formas de escrita o homem vem aperfeiçoando suas técnicas. Este
aperfeiçoamento torna-se possível, concomitante ao surgimento de novas
tecnologias.
É importante pensar que os usos das tecnologias em sala de aula tem como papel
fundamental, potencializar a aprendizagem dos discentes, promovendo uma maior
interação entre alunos, professores e a produção do conhecimento. Além disso, é
Os alunos estão cada vez mais conectados às mídias: celulares, tablets, nootbooks,
internet e redes sociais fazem parte do seu cotidiano, inclusive do cotidiano dos
professores. Entretanto, é possível observar no dia-a-dia em sala de aula que estas
ferramentas tecnológicas, de um modo geral, não fazem parte do cotidiano na
escola, nem dos professores, muito menos dos alunos. Inclusive, em algumas escolas
é proibido o uso de celulares durante o horário de aula.
Uma das perguntas que se deve elaborar para reflexão acerca da prática pedagógica
é sobre o papel da escola diante desta realidade. A atuação da escola neste processo
é de auxiliar os discentes na melhor utilização das mídias e das tecnologias
ensinando-os a interpretá-las com criticidade, principalmente conteúdos da internet
e redes sociais, oferecendo subsídios para que sejam utilizadas a favor da educação
e, não contra ela.
“Nativos digitais são aqueles que nasceram num mundo imerso em tecnologias
digitais e desde sua infância convivem com aparatos diversos e associam um botão
de mousecomo porta para um grande mundo virtual. Enquanto seus professores
observam omouse como recurso a ser transposto, com habilidades a serem
construídas, causando sérios problemas por não assumirem a necessidade de se
criar modelos pedagógicos inovadores que incorporem essas possibilidades
ofertadas pelo ciberespaço. (CAMPOS; GIRAFFA, 2011, p.9).”
Embora a expressão “nativos digitais” seja uma expressão datada por este autor no
início do século XXI, refletir sobre os discentes hoje, inseridos nesta perspectiva,
Um dos desafios do professor é encontrar uma forma para lidar com a diversidade
das diferentes visões de pensamento e das realidades sociais existentes dentro da
sala de aula. Em alguns momentos o professor encontrará turmas em que boa parte
dos discentes estarão excluídos do universo digital e precisará rearticular suas
estratégias em sala de aula, em outras, encontrará turmas que dominam o uso destas
ferramentas com facilidade. Uma das formas de superar este desafio é conhecer a
realidade socioeconômica e a partir disto, planejar e elaborar as metodologias a
serem utilizadas, encontrando uma saída para que todos os alunos, mesmo os que
não têm acesso às tecnologias consigam desenvolver as atividades e se sintam parte
do processo educativo.
É um grande desafio para nós, professores. Entretanto, é um desafio que deve ser
superado com a busca constante pelo aperfeiçoamento pedagógico para conseguir
fazer esta mediação do conhecimento e promover um ensino/aprendizagem crítico
em que aluno e professor sejam capazes de utilizar as mídias para a construção do
conhecimento.
A reflexão que devemos nos propor é sobre quais formas de abordagens estamos
utilizando para chamar atenção dos nossos alunos e tornar as aulas de História
prazerosas e motivadoras? Quais metodologias e ferramentas podemos fazer uso
para atingir estes objetivos? Segundo a perspectiva de Cano (et.al., 2009):
No entanto, quando conteúdos “velhos” são tratados com ferramentas novas, com
uma linguagem acessível e elementos que fazem parte da cultura juvenil, temos aí o
“frescor” do conhecimento, o cheiro do novo no ambiente escolar que pode fazer a
diferença no desenvolvimento das aulas e proporcionar aos alunos um aprendizado
que vai além dos livros didáticos, contribuindo para a constituição de um sujeito
crítico em relação ao meio social em que vive e autônomo para a produção do
conhecimento.
É importante frisar que não existe uma “receita pronta” para uma boa aula de
História, pois este é um caminho de descoberta trilhado pelo docente ao longo de
sua prática. Entretanto, sugerimos a seguir alguns exemplos e propostas de
atividades que podem ser realizadas utilizando variadas ferramentas tecnológicas,
potencialmente úteis para tornar a disciplina de História, uma área do
conhecimento atraente e inserida na nova era digital.
2)Rádio na Escola: Esta ferramenta tecnológica, embora não seja uma tecnologia
recente, pode contribuir em diversos aspectos para a disciplina de História. A
proposta é que se desenvolva pelo menos por algum período uma rádio na escola,
para alegrar e tornar os intervalos mais divertidos. Promover uma visita de campo à
uma rádio da cidade para que os alunos conheçam seu funcionamento. Após a
visita, organizar os grupos para que elaborem uma programação e executem a rádio
na escola durante o intervalo.
3) História em Quadrinhos (HQ): Esta ferramenta é uma ótima opção para trabalhar
com os alunos diferentes conteúdos. Uma das características marcantes dessa
ferramenta é a comunicação clara, direta e linguagem de fácil entendimento. Com
um pouco de dedicação, o docente de História pode criar diversas HQ para ilustrar
e tornar suas aulas mais dinâmicas.
Referências
TRÍADE, Revolução Francesa. Este jogo é um arquivo que pode ser facilmente
baixado no computador. Basta acessar o site e clicar no link indicado. Disponível
em:https://historiadigital.org/jogos/revolucao-francesa-no-triade/. Acesso em
10/05/2017.
Resumo:
O presente artigo pretende dar conta da reflexão sobre o uso de tecnologia no ensino
de história, a partir da perspectiva do recente avanço tecnológico e da massificação
do uso de dispositivos de telefonia móvel, como os smartphones, assim como o uso
de internet de alta velocidade, interatividade em rede e mídias sociais. Vê-se a
necessidade de reformular a pratica de ensino de história, diante dessa crescente
evolução tecnológica, que permeia o cotidiano do aluno, e que está totalmente
impregnada na sociedade atual, nesse contexto será abordado no texto as novas
práticas de ensino voltada para a utilização de tecnologias no espaço escolar.
Introdução
A humanidade desde seus primórdios possui práticas que utiliza certas técnicas,
como fazer pinturas nas paredes das cavernas, manipulação do fogo e utilizar ossos,
madeira e pedras para confeccionar ferramentas de forma a melhorar sua vida,
nasce nessa época o processo, que perdurou junto com a espécie humana desde os
primeiros hominídeos, até o homem moderno, a tecnologia foi o fator que vez o ser
humano se sobressair na escala evolutiva, desde o primeiro machado de pedra
lascada e que progrediu até a criação da escrita, arco e flecha, catapultas,
embarcações a vela, navios a vapor, aviões e computadores (seguindo uma
concepção evolucionista do progresso da História). Essa evolução tem dado avanços
consideráveis e vive em simbiose com a espécie humana (intima interação). Cada
vez mais a tecnologia avançada tem estado no cotidiano das pessoas, no trabalho,
nas casas e no espaço escolar e acadêmico, dessa forma é interessante analisar o
quanto evoluiu essa dinâmica no espaço escolar, com as novas abordagens
pedagógicas, nas novas práticas docentes e nas dificuldades que se tem em
determinados momentos devido as limitações no espaço escolar e o discurso sobre o
mal-uso da tecnologia no ensino e na internet.
Pratica docente
É interessante observar a forma de como é feito ensino nos dias atuais, uma série de
fatores que vai desde a elaboração do currículo escolar, falta de estrutura e de
repasse de verbas acabam tornando a escola o mesmo padrão de ensino do século
XIX, aulas expositivas, morosas, em um espaço sem estrutura e opressivo, que tem
como configuração salas muito semelhantes a celas, onde o professor é a figura
central e os alunos são apenas armazenadores de conteúdo, apesar dessa ser uma
característica da sociedade oral. Kenski nos diz que “Na escola os professores e
alunos usam a fala como recurso para interagir, ensinar e verificar a aprendizagem.
Em muitos casos, o aluno é o que menos fala. (KENSKI,2012, p.29) ”. Apesar da
Linguagem oral ser a pratica fundamental da interação humana, ainda ocorre essa
limitação na participação do aluno no ato da aula. Todavia, apesar das resistências
de modelos tradicionais, já se observa um crescente avanço devido a mudança da
sociedade para esse contexto mais tecnológico, já se tem elaboração de oficinas
voltada para o ensino e tecnologia, recursos de programação para melhorar a pratica
do ensino, entre outros. É importante compreender que, essas novas abordagens
(pedagógicas e da pratica de ensino) constitui-se nas necessidades que se
apresentam na atual conjuntura do processo social, no qual a escola está inserida,
cada vez mais as pessoas do meio social, tanto da cidade quanto do campo estão
aderindo ao meio informacional, que se apresenta de uma forma mais dinâmica e
“simples”, diferente das formas tradicionais que possuem linguagem difícil e
burocrática.
A linguagem digital é simples, baseada em códigos binários, por meio dos quais é
possível informar, comunicar, interagir e aprender. É uma linguagem de síntese,
que engloba aspectos da oralidade e da escrita em novos contextos. A tecnologia
digital rompe com as formas narrativas circulares e repetidas da oralidade e com o
encaminhamento contínuo e sequencial da escrita e se apresenta como um
fenômeno descontínuo, fragmentado e, ao mesmo tempo, dinâmico, aberto e veloz.
Com isso, levar em conta que grande parte do meio discente possui aparelhos de
telefonia móvel, como também tem uma participação ativa nas redes sociais e
Para além dos filmes e séries, temos recursos mais interativos para ser aplicados no
ensino, hoje muitas escolas já dispõem de laboratório de informática, e pode ser um
recurso (Quando bem utilizado) muito produtiva no plano de aula, nele permite
trabalhar a interatividade em rede para de forma mais dinâmica, o laboratório nos
permite trabalhar por exemplo os arquivos de acervos digitais, onde podem ser
baixados fontes de pesquisas, para ser usados em oficinas, trabalhos em sala de aula
e seminários, ou para ser vetor de debates críticos durante as aulas. Outros tipos de
sites permitem trabalhar outras dinâmicas de ensino, como as páginas que fazem
webquests, e outras formas de interatividade relacionada a investigação voltadas
para história. Nas outras mídias sociais como o facebook e sites de postagem de
vídeos como, o youtube também podem ser utilizar para incrementar uma aula de
História, os memes é uma abordagem bem curiosa, devido sua linguagem ser bem
fácil, e o conteúdo ter um tom mais descontraído e de certa forma irônico, a
inúmeras páginas no Facebook que pode ser utilizada, pois possuem uma temática
especificamente mais histórica, assim como o professor pode se utilizar desse espaço
que faz parte da vida do aluno, para fazer com que ele mesmo produza memes de
conteúdo histórico, uniria o conteúdo absorvido pelo mesmo, com algo da vivencia,
nesse caso, dinamizaria a pratica do ensino, assim como a utilização dos vídeos do
youtube (na produção ou utilizar vídeos já existentes) da mesma forma que o meme.
Problemáticas
2) Riscos: O mundo vive nos dias atuais uma avalanche informacional, a internet
desde sua invenção na década de 60, mais que tomou grande proporção nos anos de
1995, vem tomando o espaço social em alta escala, cada vez mais pessoas no mundo
tem utilizado os recursos da rede informacional, porém esse recurso também tem se
mostrado um risco para os usuários.
Com o avanço também veio os males dessa avalanche, ações criminosas como
ataques de hackers, falta de moderadores que, possibilitam o acesso ao público para
material de impróprio. No âmbito do ensino, existem certas problemáticas
relacionadas ao uso da rede, hoje em dia é comum a pratica de Ciberbullying, que é
muito comum hoje em dia no meio escolar.
Considerações finais
Bibliografia