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Diferente
de trabalhos de ficção científica, o longa mostra algo que realmente existe e pode
nos afetar, se não pessoalmente, a um familiar próximo. É uma doença que traz
um desgaste emocional e psicológico muito forte àqueles que estão ao redor do
afetado e é com pequenas indicações de esquecimentos esporádicos que
descobrimos os primeiros sintomas de Alice.
Em uma conversa com seus filhos, John chega a dizer "que já faz dois meses",
mas essa é uma das poucas menções à passagem temporal do longa. Não é
possível dizer quanto tempo levou para Alice chegar de seu diagnóstico ao último
momento do filme, se passaram meses ou anos.
Na tentativa de explorar com mais ênfase a manifestação do Alzheimer, construindo
uma cena de alguns minutos para mostrar que Alice esqueceu onde fica o banheiro,
o longa deixa também de criar situações nas quais ela aproveita seus últimos anos
sãos. Fica sempre subentendido que esses momentos existem, mas não os vemos
em tela com tanta frequência quanto seus dolorosos problemas ligados à doença.
Nossa deficiência acaba sendo o primeiro atributo que vem à mente de alguém
quando pensa em nós ou quando se refere a nós em variadas circunstâncias.
Neste sentido, o desafio de cada pessoa com deficiência é o de deixar de ser “isto”,
e passar a ser “esta”. A marca da deficiência não pode prevalecer sobre a totalidade
da pessoa. Para além de ser um cego, por exemplo, um determinado rapaz que
não enxerga pode ser visto como profissional, como pai, como irmão, como filho,
entre tantos papéis que desempenha.
Em um terceiro ponto, Alice alerta para que seus amigos e parentes próximos não
vejam seus erros como ofensas pessoais. Nesse caso, ela se referia aos
constantes lapsos de memória característicos do Alzheimer, que, de acordo com
sua fala, não deveriam causar embaraço e constrangimento.
Por fim, em um terceiro ponto, Alice pede a todos que capacitem os portadores de
Alzheimer, ao invés de limitá-los. Este parece ser também um pedido
constantemente feito por nós que temos deficiência. Desejamos que os que estão
à nossa volta sejam uma ponte para nos prover recursos e soluções que facilitem
nossas vidas, ao invés de reforçarem e alimentarem nossa dependência.
Eis então a voz de Alice, que, ecoa por todo o mundo, refletindo a tão consagrada
frase: “Nada sobre nós, sem nós!”
É difícil acalmar um coração aflito que nesse momento bate forte e acelerado por
emoções das quais você mesmo proporcionou. É a adrenalina, a incerteza do que
está por vir, a insegurança do que se irá descobrir dentro de si. São sonhos que
poderiam ser reinventados, novas perspectivas e com certeza uma nova
identidade. É difícil se permitir e se redescobrir.