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A IDÉIA DE CONFORTO
reflexões sobre o ambiente construído
Curitiba
2005
Direitos autorais protegidos pela Fundação Biblioteca Nacional.
Certificado com número de registro: 350.514 Livro: 646 Folha:
174, emitido em 17/08/2005
ISBN 85-99403-01-X
CDD 720.47
Sumário
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
1
Edição em livro de bolso da Penguin Books (1987). Lançado no Brasil, posterior-
mente, pela Editora Record.
INTRODUÇÃO 3
2
Katherine Kolcaba e Linda Wilson, Comfort Care: A Framework for Perianesthe-
sia Nursing, Journal of PeriAnesthesia Nursing, Vol 17, N° 2, pp 102-114 (2002).
Tradução do autor.
3
Peter Thornton, Authentic décor: the Domestic Interior 1620 – 1920, Seven Dials,
Londres (1993).
INTRODUÇÃO 5
4
É, ainda, curioso saber que hale (saudável) tem a mesma origem.
5
Fritjof Capra, op. cit.
6 A IDÉIA DE CONFORTO
6
Charles Edouard Jeanneret (1887 – 1965), arquiteto e pintor franco-suíço.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 11
7
Reyner Banham, The Architecture of the Well-tempered Environment, 2nd Edition,
The Univ. of Chicago Press, Chicago (1984).
12 A IDÉIA DE CONFORTO
8
Projeto de Renzo Piano, Richard Rogers e Pietro Franchini (1977)
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 13
11
Gaston Bachelard (1884 – 1962), filósofo francês que, com rigorosa formação
científica, abraçou uma forma pessoal de fenomenologia, a do estudo da imagem
poética.
12
Pitágoras (570 A.C.), filósofo grego que prestou importante contribuição à mate-
mática. Propunha uma doutrina reencarnacionista.
13
Simon Blackburn, The Oxford Dictionary of Philosophy, Oxford University Press,
Oxford (1994).
14
Na mesma linha, opõem-se transparência (yang) e mistério (yin) e, respectivamen-
te, mobilidade e enraizamento, esquecimento e lembrança, luz e escuridão, superfí-
cie e cavidade, nomadismo e sedentarismo, sociedade e comunidade, em Gert Mat-
tenklott - Material – Hoffnung der Enterbten, Daidalos Architektur, Kunst, Kultur,
16 A IDÉIA DE CONFORTO
56, pp.44-49, Berlim (1995). Ainda, uma maior generalização ainda associa yin e
yang, respectivamente, aos deuses gregos Dionísio e Apolo (Capítulo 2).
15
René Descartes (1596 – 1650), filósofo e matemático francês. Primeira tentativa
racional de fundamentação da filosofia, na dúvida absoluta, que não pode ser posta
em dúvida. Fundador da Geometria Analítica. (Knaurs Lexicon).
16
Fritjof Capra, The Turning Point – Science, Society and the Rising Culture, Fla-
mingo, Londres (1982).
17
João Francisco Duarte Jr., O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível, Criar
edições, Curitiba (2003).
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 17
18
Ashley Montagu, Tocar: o significado humano da pele, Summus Editorial, São
Paulo (1988).
19
Hermann Czech, Komfort – ein Gegenstand der Architekturtheorie? Werk, Bauen
+ Wohnen 3 (2003). Tradução do autor.
18 A IDÉIA DE CONFORTO
20
Gaston Bachelard, op. cit., tradução do autor.
21
Fred e Barbro Thomson, Unity of Time and Space: The Japanese Concept of Ma”,
revista Arkkitehti, fev. De 1981, Helsinki, p. 68, apud. João Rodolfo Stroeter, op.
cit.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 19
22
João Francisco Duarte Jr., op. cit.
23
Heinrich Engel, The Japanese House: a Tradition for Contemporary Architecture,
primeira edição – 1964, 12a. reimpressão Charles E. Tuttle Publishing Company,
Inc., Rutland, Vermont, E.U.A. (1985). Tradução do autor.
20 A IDÉIA DE CONFORTO
24
Editorial, Werk, Bauen + Wohnen, 3 (2003). Tradução do autor.
25
Alexander Schwab, citado por Gert Mattenklott , op. cit. Tradução do autor.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 21
26
Katharine Kolcaba & Linda Wilson, Comfort Care: A Framework for Perianesthe-
sia Nursing, Journal of PeriAnesthesia Nursing, Vol 17, N° 2, pp 102-114 (2002).
Tradução do autor.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 23
27
Wolfgang Marshall: Komfort: ethnologische Splitter aus Asien. Werk, Bauen +
Wohnen 3, pp.42-47 (2003). Tradução pelo autor.
24 A IDÉIA DE CONFORTO
28
Nota do autor: aqui poderia ser incluída a visita de animais de estimação.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 25
29
Enfermeira inglesa (1820-1910) que teve importante papel na reforma das condi-
ções hospitalares no seu país.
26 A IDÉIA DE CONFORTO
31
Este filme, apresentado em 2003, dá seqüência ao Declínio do Império America-
no, de 1986. Ganhou dois prêmios no festival de Cannes e o Oscar de melhor filme
estrangeiro.
32
Este assunto é tratado em detalhe por Witold Rybczynski em Casa – pequena
história de uma idéia, Edgard Blücher Editora (1995).
28 A IDÉIA DE CONFORTO
33
Marshall, op. cit.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 29
35
Jane Austen (1775 – 1817), romancista inglesa, autora de uma obra reduzida, mas
muito popular. A obra de Jane Austen está integralmente disponível, em inglês, nas
páginas do Projeto Gutenberg na Internet: http://promo.net/pg.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 33
36
Witold Rybczynski, op. cit.
37
A simples escassez de espaço que, guardadas as proporções também ocorria nos
sobrados urbanos brasileiros, ao exemplo da cidade baixa de Salvador, não se
mostrou suficiente para que aqui tivesse surgido, espontaneamente, idéia equivalente
– o demonstra a literatura dos viajantes do século XIX pelo Brasil, discutida mais
adiante.
38
George Orwell (1903-1950), cujo nome verdadeiro era Eric Arthur Blair, escritor
inglês, profetizou o fim da privacidade em sua obra 1984, em que os cidadãos eram
monitorados por olhos mecânicos em suas próprias casas pelo big brother. Sob tal
circunstância, o autor conseguiu destruir a noção de conforto, caracterizando uma
sociedade totalitária.
34 A IDÉIA DE CONFORTO
39
Peter Thornton, op. cit.. Tradução do autor.
40
Verena Huber & Stefan Swicky. Der Mensch ist die Basis des Komforts, Werk,
Bauen + Wohnen 3, pp.60-61 (2003). Tradução do autor.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 35
42
Gaston Bachelard, op. cit., tradução do autor.
43
Witold Rybczynski, op. cit.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 37
44
Armando de Andrade Pinto, Valores Arquitetônicos, Dissertação de Mestrado,
UnB, (1965); grifo do autor.
38 A IDÉIA DE CONFORTO
45
É curioso o fato de que, adepto do princípio do revestimento, Loos criou interiores
reconhecidos como muito aconchegantes. Por exemplo, utilizava painéis de madeira
escura e luminárias em cores quentes, e até mesmo padrões decorativos. Sua célebre
crítica do conforto deve ser entendida, em boa parte, como retórica, dirigida à bur-
guesia recém-radicada em Viena que, por desenraizada, ostentava uma pretensa
nobreza, por exemplo, através dos adornos em suas fachadas.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 41
46
Gaston Bachelard, op. cit., tradução do autor.
47
Fryderyk Franciszek Chopin (1810 - 1849), compositor polonês do Romantismo,
com admirável produção para o piano, prestando contribuição essencial para o
desenvolvimento da expressividade e técnica no instrumento.
42 A IDÉIA DE CONFORTO
52
Hermann Czech, op. cit., tradução pelo autor.
53
Monteiro Pinto, op.cit.
O SIGNIFICADO DE CONFORTO 45
54
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), filósofo e fenomenólogo francês.
55
Evaldo Coutinho, O espaço da Arquitetura, 2a. edição, Ed. Perspectiva, São Paulo
(1998).
The final solution must be appealing, both rationally and
emotionally. (A solução final deve atrair, tanto racional como
emocionalmente)
Richard Neutra, Survival through Design
56
Sigimund Freud (1856-1939), médico austríaco, autor da Interpretação dos so-
nhos, considerado o fundador da psicanálise.
48 A IDÉIA DE CONFORTO
57
Grant Hildebrand, op. cit.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 49
58
Witold Rybczynski, op. cit.
59
Paolo Portoghese, Depois da arquitetura moderna, Martins Fontes, São Paulo
(1998).
50 A IDÉIA DE CONFORTO
60
Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969), arquiteto alemão, dos mais importantes
no Modernismo.
61
No Brasil, um fato semelhante já havia ocorrido no século XIX, quando da mo-
dernização dos sobrados coloniais. Os muxarabis eram grades de madeira em trama
diagonal, de influência moura, que protegiam os rostos das mulheres da visão dos
pedestres. No Rio, D. João VI ordenou que fossem retirados das janelas. Rejeitava
seu aspecto bárbaro. Gilberto Freyre relatou como o ferro e o vidro – produtos da
pauta de exportação britânica – substituíram as esquadrias de madeira nacionais,
com prejuízo da qualidade ambiental. Mais informações em Gilberto Freyre, Cultura
e Museus, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico do Pernambuco, Recife
(1985). Ainda, Eduardo Bueno: História do Brasil, Folha de São Paulo, São Paulo
(1997).
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 51
62
Evaldo Coutinho, op. cit.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 53
63
Étienne de Condillac, Tratado das sensações, trad. Denise Bottmann, Editora da
Unicamp (1993).
54 A IDÉIA DE CONFORTO
64
Friederik Nietzsche (1844 – 1900), filósofo e filólogo alemão, nascido na antiga
Prússia.
65
Aurélio Buarque de Holanda, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Nova
Fronteira (1975).
66
Simon Blackburn, The Oxford Dictionary of Philosophy, Oxford (1994).
67
Ariano Suassuna, Iniciação à Estética. 4a. ed. UFPE, Recife (1996).
68
Holanda, ibid.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 55
2.3 Inocência
Há sinais convincentes de que o conforto tenha sido
por muito tempo ignorado. Segundo Benjamin,70 ao menos
69
Hans Kohlhoff e J. e Ph. Von Bruchhausen, Werk, Bauen und Wohnen 3, pp.16-
20 (2003). Tradução pelo autor.
70
Walter Benjamin (1892-1940), filósofo alemão da escola de Frankfurt, perseguido
pelos nazistas durante a segunda guerra até o suicídio.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 57
71
John Crowley, The Invention of Comfort: Sensibilities and Design in Early Mod-
ern Britain and Early America, Johns Hopkins University Press (2001) resenhado
por Richard Lyman Bushman em Business History Review, resenha eletrônica
(2002).
58 A IDÉIA DE CONFORTO
72
Por exemplo, os cães procuram superfícies para se deitar onde haja adequada
combinação, no mínimo, da transmissão de calor do corpo para o solo, e da insola-
ção.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 59
73
J.P.Huizinga, apud. W. Rybczynski, op. cit. Tradução do autor.
60 A IDÉIA DE CONFORTO
74
J. Lukacs, ibid.
75
Norbert Elias, O processo civilizador. Trad. Ruy Jungmann. R. de Janeiro: Jorge
Zahar, 1990/93,
76
John Crowley, op. cit.
77
Witold Rybczynski, op. cit.
78
Termo em uso desde o século XI na França.
62 A IDÉIA DE CONFORTO
79
Witold Rybczynski, op. cit.
80
John E. Crowley, op. cit., tradução pelo autor.
81
Rybczynski confirma indícios religiosos no conforto nascente: a severidade dos
móveis que foram sendo adotados pela burguesia trai a origem eclesiástica (as
Igrejas funcionavam como as grandes corporações hoje, e muito da inovação na
forma de vida derivava delas).
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 63
82
John Crowley, op.cit.
64 A IDÉIA DE CONFORTO
83
Henry David Thoreau (1817-1862) escritor e poeta americano notabilizado pelo
ensaio Desobediência Civil.
84
Tradução do autor: Minha habitação era pequena, e eu quase não podia manter
nela um eco; mas parecia grande por ser uma única morada e afastada de vizinhos.
Todas as atrações de uma casa estavam concentradas num ambiente; cozinha,
despensa, sala-de-visitas, e oficina; e toda a satisfação que teriam pai ou criança,
senhor ou empregado, de morar em tal casa, eu desfrutava. Catão diz que o chefe
da família (patremfamilias) deve ter em sua casa de campo "cellam oleariam,
vinariam, dolia multa, uti lubeat caritatem expectare, et rei, et virtuti, et gloriae
erit", isto é, “uma adega para azeite e vinho, muitos barris de modo a tornar praze-
rosa a espera por tempos difíceis; tudo o que redundará em sua vantagem, virtude e
glória”. Eu tinha em meu porão cerca de oito galões de batatas, cerca de dois
litros de ervilhas com brocas, e numa prateleira um pouco de arroz, um pote de
melado, e centeio e farinha de milho, uma porção de cada.
85
Nota original: Na ladeira do Ascurra, Cosme Velho. Uma pedra comemorativa foi
colocada no jardim dessa casa durante a primeira administração Vargas.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 65
86
T. von Leithold e L. von Rango, O Rio de Janeiro visto por dois prussianos em
1819, tradução e anotações de Joaquim de Souza Leão Filho, Brasiliana, 328 (1966).
87
Witold Rybczynski, op. cit., tradução pelo autor.
88
John E. Crowley, The Invention of Comfort: Sensibilities and Design in Early
Modern Britain and Early America, Johns Hopkins University Press, Baltimore
(2001).
66 A IDÉIA DE CONFORTO
89
Uma obra-chave nesta análise, surgida nos anos 60, é de Edward Hall, The Hidden
Dimension, reimpressão, Anchor Books, Nova Iorque (1990).
90
John Lukacs, The Bourgeois Interior, apud W. Rybczynski, op. cit., tradução do
autor.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 67
91
John E. Crowley, op.cit.
68 A IDÉIA DE CONFORTO
Holanda
92
William Morris, Hopes and Fears for Art, produzido por David Price a partir da
edição de Longmans, Green and Co. (1919), e disponibilizado no Projeto Gutenberg.
Tradução do autor.
93
John Crowley, op. cit.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 69
94
Steen Eiler Rasmussen, arquitetura vivenciada, ed. Martins Fontes, São Paulo
(2002).
95
Annette Stott, The Dutch Dining Room in Turn-of-the-Century America,
Wintherthur Portfolio 37: 4 (2002).
70 A IDÉIA DE CONFORTO
Escandinávia
96
Witold Rybczynski, op. cit.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 71
97
Michelle Facos, The Ideal Swedish Home: Carl Larsson’s Lylla Hyttnäs, in Chris-
topher Reed, op. cit. Tradução do autor.
98
Ibid.
72 A IDÉIA DE CONFORTO
França
99
Escola superior de construção e composição na Alemanha, fundada pelo arquiteto
Walter Gropius em 1919, inicialmente estatal e a partir de 1926, privada. Esteve até
1925 em Weimar, mudou-se para Dessau e em 1932, finalmente, para Berlin, sob a
direção do arquiteto Mies van der Rohe. Foi dissolvida em 1933. Teve professores
ilustres como Kandinsky, Klee e Schlemmer. Pregava a volta da arte e do artesanato
às formas mais elementares, uma estética da utilidade e ausência de ornamentos.
100
Peter Thornton, op. cit.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 73
Inglaterra
101
John Crowley, In Happier Mansions: The Invention of the Cot-
tage as the Comfortable House, em Winterthur Portfolio 32, N° 2/3 (1997) .
102
Que congele lá fora, estamos confortáveis aqui dentro.
74 A IDÉIA DE CONFORTO
103
Nada tenham em suas casas que você não saiba ser útil ou acredite ser belo.
76 A IDÉIA DE CONFORTO
104
Museu ao ar livre Ballenberg, Brienz, Suíça: placa informativa numa das casas,
fotografada pelo autor.
105
Material das disciplinas de História da Universidade de Münster, Alemanha,
disponíveis na Internet sob o endereço: http://www.uni-
muenster.de/GeschichtePhilosophie/Geschichte/hist-sem/SW-G/Scripte/ Alltag/
s09wohn.htm
106
Matthias Henkel, Der Kachelofen: Ein Gegenstand der Wohnkultur im Wandel,
eine volkskundlich-archäologische Studie auf der Basis der Hildesheimer Quellen,
Dissertação, Georg-August-Universität, zu Göttingen (1999).
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 77
107
Museu ao ar livre de Ballenberg, Führer durch das Schweizerische Freilichtmu-
seum, Brienz, Suíça (2002).
108
Conforto é como um chinelo velho: aquilo que fazemos exclusivamente por nós
mesmos. A demonstração de status é um sapato feminino de salto alto e bicudo:
feito para os outros.
109
Estes gastos dependem muito da renda, ao contrário dos gastos com alimentação
básica ou saúde: têm aquilo que os economistas chamam de uma alta elasticidade-
renda.
78 A IDÉIA DE CONFORTO
110
Fonte: http://archiv.tagesspiegel.de/archiv/13.10.2002/251403.asp
111
Franz Schubert (1797 – 1828), compositor austríaco, somente igualado por
Mozart na inventividade melódica. Chamado o “clássico dos românticos”.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 79
112
O Biedermeier teve um ressurgimento no século XX. Imagine-se uma decoração
comumente encontrada num restaurante “típico alemão”, com cortinas em renda, ou
80 A IDÉIA DE CONFORTO
Brasil
116
Enquanto a mulher passava a maior parte do seu tempo dentro, o homem – o
homem urbano – passava a maior parte do seu, fora – na rua, na praça, à porta de
algum hotel francês, ou em seu escritório, um armazém. (...) O sentimento de casa
não era forte entre os homens brasileiros à época em que a família patriarcal estava
em seu pleno vigor. (...) A rua era seu clube. Isto pode servir como uma explicação
ao fato de que os brasileiros urbanos dos anos 50 não pareciam ter casas atraentes.
Vinte anos antes, um viajante francês, Louis de Freycinet, tinha observado que os
brasileiros passavam a maior parte de seu tempo dormindo, ou fora, ou, ainda,
recebendo seus amigos; portanto eles somente precisavam – o francês pensou – um
ambiente de recepção e dormitórios. De: Gilberto Freyre, Social Life in Brazil in the
Middle of the 19th Century (ensaio de mestrado), Nova Iorque (1922), tradução do
autor.
117
Luís Norton, A Corte de Portugal no Brasil, Brasiliana, vol. 124.
118
Du Petit-Thouars, citado por Melo Leitão, Visitantes do primeiro império, Brasi-
liana, vol. 32, 1934, apud Luís Norton, op. cit.
119
Miguel Antônio Leoni Gaissler, comunicação pessoal (2003); W. Rybczynski,
op. cit., p.25.
120
C. de Mello Leitão, op. cit.
121
Oliveira Lima, D. João VI no Brasil, t. I, apud Luís Norton, op. cit.
82 A IDÉIA DE CONFORTO
122
Thomaz Lindley, Relato de uma viagem ao Brasil, Brasiliana, 343 (1803) tradu-
zido do Narrative of a Voyage to Brazil por Thomaz Newlands Neto (1969).
123
Considerando que um profícuo escritor contemporâneo – José de Alencar – quase
não usa a palavra, e nunca o faz no sentido de bem-estar físico. Ao que parece, é
somente na virada do século que um escritor brasileiro, Aluízio de Azevedo, empre-
ga, na sua obra “o Mulato”, a expressão “apartamento confortável”.
124
Thomaz Lindley, op. cit.
125
Kátia Queiroz Mattoso – Bahia Século XIX – Uma Província no Império, Nova
Fronteira, Rio de Janeiro (1992).
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 83
126
C. de Mello Leitão , op. cit.
127
Du Petit-Thouars, op. cit.
128
Kátia Queiroz Mattoso, op. cit.
129
Thomaz Lindley, op. cit.
130
T. von Leithold e L. von Rango, op. cit.
131
C. de Mello Leitão, op. cit.
132
Tradução do autor para trecho de Gilberto Freyre, Social life in Brazil in the
middle of the 19th century (ensaio de mestrado), Nova Iorque (1922).
133
As casas são totalmente desprovidas de caixilhos para suas janelas, exceto uma
cortina de varetas de bambu.
84 A IDÉIA DE CONFORTO
134
Kátia Queiroz Mattoso , op. cit.
135
Gilberto Freyre, Casas de residência no Brasil, Revista do Serviço Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, 7, Rio de Janeiro (1943), in Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional n°26 (1997).
136
T. von Leithold e L. von Rango, op. cit.
137
Ibid.
138
Oliveira Lima, op. cit.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 85
139
C. de Mello Leitão, op. cit.
140
Ibid.
141
Kátia Queiroz Mattoso, op. cit.
142
Auguste de Saint-Hilaire, Viagem à Comarca de Curitiba, Brasiliana, 315
(1820).
86 A IDÉIA DE CONFORTO
Estados Unidos
2.5 Descaso
A supressão da domesticidade na arte e arquitetura do
Modernismo foi detectada pelo filósofo Walter Benjamin,
para quem foi no início do século XIX que, “pela primeira
vez, o espaço de moradia foi distinguido do espaço de traba-
148
Aymar Embury, The Dutch Colonial House (New York: McBride, Nast, 1913),
apud Annette Stott, op. cit.
92 A IDÉIA DE CONFORTO
149
Christopher Reed, (editor e co-autor), Not at Home: The Suppression of Domesti-
city in Modern Art and Architecture, Thames and Hudson, Londres (1996).
150
Key Imaguire Jr, Treze Limiares espaciais em Walter Benjamin, ensaio, UFPR
(2005)
151
Christopher Reed, op. cit.
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 93
152
Christopher Reed, op. cit., tradução do autor.
153
Key Imaguire Jr., revista Coisa Paralela, Vol. 2, Curitiba (2002).
154
Griselda Pollock, in Reed, op. cit.
155
Key Imaguire Jr. O espaço burguês; arquitetura eclética em Machado de Assis,
tese de doutorado, Universidade Federal do Paraná (1998).
94 A IDÉIA DE CONFORTO
156
Marshall Berman. Tudo que é sólido desmancha no ar, a aventura da moderni-
dade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. Key Imaguire Jr, comunicação
pessoal (2004).
157
Christopher Reed, op. cit.
158
Le Corbusier, Por uma arquitetura, trad. Brasileira, 4a. edição, Perspectiva, São
Paulo (1989).
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 95
159
Joseph Rykwert, A Casa de Adão no Paraíso, ed. Perspectiva, São Paulo (2002).
160
Loos se referia à cidade de Potemkin, na Criméia, onde um general, tendo
conquistado a região, teria procurado ludibriar a imperatriz Catarina II, criando um
cenário de precoce prosperidade econômica.
96 A IDÉIA DE CONFORTO
161
Venturi &Scott Brown, Functionalism, yes, but, Revista a+u n°47, pp.33 (1974)
apud João Rodolfo Stroeter, Arquitetura & Teorias, Nobel, São Paulo (1986).
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 97
162
Michael Brawn, apud Domingos Henrique Bongestabs, op.cit.
163
Richard Neutra, Survival through Design, Oxford University Press, Nova Iorque
(1954).
164
Ariano Suassuna, Iniciação à Estética, UFPE, Recife (1996).
165
Antonio Gaudi y Cornet (1852 – 1926), arquiteto espanhol, construtor da igreja
da Sagrada Família, em Barcelona.
98 A IDÉIA DE CONFORTO
166
Paolo Portoghese, Depois da arquitetura moderna, Martins Fontes, São Paulo
(1998).
INOCÊNCIA, EXAGERO, DESCASO, BUROCRATISMO 99
3.1 Os sentidos
A escola nos ensinou que temos cinco sentidos - vi-
são, audição, paladar, olfato e tato. Além destes, tradicionais,
a ciência hoje reconhece a existência de vários outros. Asso-
ciados ao tato, estão os sentidos da pressão, da dor, de frio e
de calor. Há ainda a propriocepção, que é o sentido que loca-
liza no espaço tridimensional as partes do próprio corpo. E
outro sentido funciona associado à audição: o equilíbrio, que
utiliza o labirinto, o órgão que informa o que é em cima e o
que é embaixo, estejamos de pé ou deitados. E existem ainda
outros sentidos, menos conhecidos.
Alguns sentidos são complexos, produzindo efeitos
cuja explicação não é trivial. Por exemplo, ao assistir em
vídeo a um avião fazendo piruetas, podemos sentir tontura.
Assim também, num ambiente cujas paredes na sua metade
inferior sejam brancas e, no restante, negras, recebemos uma
104 A IDÉIA DE CONFORTO
167
Alfred Maelicke, op. cit.
A EXPRESSIVIDADE NÃO-VISUAL DO ESPAÇO 105
170
Cheshire Calhoun & Robert C. Solomon (organizadores), ¿Que es una emoción?
Lecturas clásicas de psicología filosófica, trad. do original por Mariluz Caso, 380
pp., Biblioteca de Psicología y Psicoanálisis, Fondo de Cultura Económica, México
(1996).
108 A IDÉIA DE CONFORTO
171
Charles Darwin (1809 - 1882), biólogo inglês, autor da Origem das espécies.
172
Jean Baptiste Pierre Antoine de Monet de Lamarck (1744 – 1829), naturalista
francês cuja obra foi muito extensa.
A EXPRESSIVIDADE NÃO-VISUAL DO ESPAÇO 109
173
www.heartmath.org/research/science-of-the-heart/soh_6.html
A EXPRESSIVIDADE NÃO-VISUAL DO ESPAÇO 111
174
Octavio Ianni, O reencantamento do mundo. Revista Polis, edição especial,
pp.79-86 (2001).
A EXPRESSIVIDADE NÃO-VISUAL DO ESPAÇO 113
175
Este posteriormente ganhou o centro das discussões, tendo em vista o abismo
com que se separaram as camadas mais ricas e as mais pobres da população mundi-
al, e se tentou entender, de alguma maneira, o que seria o mais importante para estas
últimas. As políticas públicas de reforço à segurança alimentar estão nesta linha.
Uma das muitas obras de referência a respeito é a de Dieter Nohlen, Lexikon Dritter
Welt, Rohwolt, Alemanha (1993).
176
Armando de Andrade Pinto, op. cit.
116 A IDÉIA DE CONFORTO
177
Ibid.
178
Evaldo Coutinho, op. cit.
A EXPRESSIVIDADE NÃO-VISUAL DO ESPAÇO 117
179
Ibid.
118 A IDÉIA DE CONFORTO
180
Idéia proposta por Hermann Czech, Komfort: Gegenstand der Architekturtheo-
rie? Werk, Bauen, Wohnen 3 (2003).
181
Diane Ackerman, A Natural History of the Senses, Vintage Books, Nova Iorque e
Toronto (1990), tradução do autor.
A EXPRESSIVIDADE NÃO-VISUAL DO ESPAÇO 119
182
Este assunto é tratado com riqueza por Christopher Alexander, que fala da paisa-
gem zen como um dos padrões mais importantes em sua obra A Pattern Language.
Para ele, é como aquela vista por alguém que sobe uma montanha por um caminho
protegido por alto muro e, já bastante alto, encontra uma rachadura no muro pela
qual pode desfrutar da paisagem. Logo, diferente de quem vive numa casa com uma
varanda aberta para a mesma paisagem.
183
Grant Hildebrand, op. cit.
120 A IDÉIA DE CONFORTO
184
Heinrich Engel, op.cit.
185
Maurice Merleau-Ponty, Fenomenologia da percepção. Martins Fontes, São
Paulo (1999).
186
Ibid.
A EXPRESSIVIDADE NÃO-VISUAL DO ESPAÇO 121
189
Gaston Bachelard, La Poetica del Espacio, Breviarios, Fondo de Cultura Econo-
mica. Cidade do México, México (1994). Tradução do autor.
126 A IDÉIA DE CONFORTO
190
Alberto Vásquez-Figueroa, Tuareg, Tradução do espanhol de Remy Gorga Filho,
L&M Pocket, Porto Alegre (1988).
191
Otto Friedrich Bollnow (1903 – 1991), filósofo alemão.
128 A IDÉIA DE CONFORTO
192
Nold Egenter, Otto Friedrich Bollnow’s Anthropological Concept of Space:
A revolutionary new paradigm is under way, em
http://home.worldcom.ch/~negenter/index.html
A EXPRESSIVIDADE NÃO-VISUAL DO ESPAÇO 129
196
Rainer Maria Rilke (1875-1926) poeta alemão cuja obra é associada ao impressi-
onismo.
197
Hermann Hesse (1877 – 1962), poeta e ensaísta alemão, autor de Contos, Lobo da
Estepe, Demian e Siddharta, entre outros.
A EXPRESSIVIDADE NÃO-VISUAL DO ESPAÇO 131
couve, milho e esterco seco. Algo que não cheirava mal nem
bem, mas bem do seu modo, e me pergunto por quê? É um
mistério: tudo dali se foi, mas muito ali ficou.
A memória também é tátil. Numa visita à casa dos meus
pais, onde vivi dos oito aos vinte e oito, descobri um material
quase à prova do tempo: os azulejos do banheiro. Se as tor-
neiras se oxidavam e a madeira da janela sofria o efeito da
umidade, aqueles pouco se alteraram. Percorri os mesmos
arabescos dourados sobre fundo verde, como o fiz durante
anos, em minutos distraídos no banho, ou sentado no vaso.
Saí disposto a encontrar outros registros do passado. Desci a
escada de tábua querendo ouvir cada passo. Fui olhar os li-
vros na estante. O pó agitado me levou mais para o fundo do
poço das lembranças. Foi sem dúvida esta, para mim, a casa
eleita a que se refere Bachelard: o abrigo dos devaneios. Ain-
da, a origem das coordenadas segundo Bollnow.
A culinária realça as emoções normalmente associadas à
reunião entre pessoas. Comer e beber bem na presença de
amigos reforça a amizade, e na presença de estranhos desper-
ta simpatia recíproca. Não esqueço um almoço em particular,
na casa de um amigo, em que apesar dos hóspedes pouco se
conhecerem, havia como elementos niveladores uma preciosa
feijoada, regada a vinho tinto seco, e na sobremesa pudim de
queijo com calda quente de goiaba e raspas de limão e anis.
Ao som dos preciosos discos da coleção do anfitrião, um
diálogo através de temas aleatórios crescia em euforia.
A culinária também realça uma experiência de conforto
no ambiente. No período em que vivi em Salvador, saí às
quatro da tarde de sábado para almoçar com minha esposa.
Eu vinha do encerramento de um curso intensivo e estava
desgastado. Decidimo-nos por um resturante único, uma
construção em caixa de vidro que se projeta sobre o mar. Ao
longe se avista a Ilha de Itaparica. O estabelecimento estava
aberto, apesar de vazio. Fomos atendidos pelo maitre. A de-
coração com mesas e cadeiras brancas e flores tropicais, ape-
sar das marcas do tempo, tinha efeito nostálgico. Durante o
aperitivo, a paisagem da janela mudou como que numa de-
monstração de efeitos especiais. Formou-se uma tempestade
impressionante sobre o mar ao redor. Em questão de dez
136 A IDÉIA DE CONFORTO
198
Roland de Candé, As obras-primas da música, vol. 1, Edições ASA, Lisboa
(1994).
138 A IDÉIA DE CONFORTO
199
Alfredo Lage, A revolução da arte moderna, Agir, Rio de Janeiro (1969).
Die Augen sind die Wege des Menschen, die Nase ist sein
Verstand.
(Os olhos são os caminhos do ser; o nariz, seu entendimento)
Hildegard von Bingen
4 - O ideal de ar puro e o primitivismo
do olfato
4.1 Introdução
O filósofo Étienne de Condillac, no século XVIII, lan-
çou-se a um exercício extenuante. Queria imaginar quais
seriam as impressões de uma estátua que fosse ganhando
sentidos, um a um, até tornar-se viva. Iniciou pelo olfato.
Decidiu assim porque entendeu ser este o sentido mais primi-
tivo, mais fundamental, menos dispendioso para diferenciar
um ser vivo de uma estátua.
Podemos fechar os olhos e tapar os ouvidos; mas seria
difícil suprimir o olfato, pois respiramos o tempo todo. É o
primeiro sentido que adquirimos ao nascer: palmadas do
parteiro estimulam a primeira respiração. De uma perspectiva
evolucionista, o olfato é também um sentido muito antigo,
presente nas criaturas aquáticas menos evoluídas.
O tipo de informação transmitida pelo olfato é simples:
diz sobre a presença e concentração de substâncias químicas
144 A IDÉIA DE CONFORTO
200
Richard Neutra, op. cit.
O IDEAL DE AR PURO E O PRIMITIVISMO DO OLFATO 145
201
Discute-se também a inclusão do picante entre os sabores básicos.
146 A IDÉIA DE CONFORTO
202
Diane Ackerman, op. cit.
148 A IDÉIA DE CONFORTO
203
Michael Berry, An article on flavour, Sciencenet, (1994), disponível em
http://www.sciencenet.org.uk/database/soc/senses/s00129b.html
O IDEAL DE AR PURO E O PRIMITIVISMO DO OLFATO 149
207
Manfred Fritsch, Handbuch des gesunden Bauen und Wohnen, Dtv Taschenbuch
Verlag, Munique (1996).
156 A IDÉIA DE CONFORTO
208
Peter du Pont, &John Morrill, Residential Indoor Air Quality and Energy Effi-
ciency, ACEEE, Washington (1989).
O IDEAL DE AR PURO E O PRIMITIVISMO DO OLFATO 157
211
Brian G. Shelton, Kimberly H. Kirkland, W. Dana Flanders, e George K. Morris
Profiles of Airborne Fungi in Buildings and Outdoor Environments in the United
States Applied and Environmental Microbiology, Vol. 68, No. 4, p. 1743-1753
(2002).
212
J. Peltola et al., Toxic-Metabolite-Producing Bacteria and Fungus in an Indoor
Environment Applied and Environmental Microbiology, Vol. 67, No. 7, p. 3269-
3274 (2001).
160 A IDÉIA DE CONFORTO
4.4 Expressividade
Por vital que seja o ar, há situações em que sua pureza
deixa de ser a opção unanimemente preferida.
213 Anne Korpi, Anna-Liisa Pasanen, and Pertti Pasanen, Volatile Compounds
Originating from Mixed Microbial Cultures on Building Materials under Various
Humidity Conditions, Applied and Environmental Microbiology, Vol. 64, No. 8,
p. 2914-2919 (1998).
O IDEAL DE AR PURO E O PRIMITIVISMO DO OLFATO 161
216
Ingrid Andres, op. cit.
166 A IDÉIA DE CONFORTO
217
Rachel Herz et al., op. cit.
218
Diane Ackerman, op. cit.
O IDEAL DE AR PURO E O PRIMITIVISMO DO OLFATO 167
220
Diane Ackerman, op. cit., tradução do autor.
221
O restante desta secção utiliza como fonte os trabalhos de Inge Andres, Duftbera-
tung: Pflanzen, ätherische Öle und Essenzen, 159 pp., Bassermann, Alemanha
(2000), e Simone Lenz, Mit allen Sinnen Wohnen – Ein Zuhause zum Wohlfühlen,
Inspiration für Geist und Seele, Tosa Verlag, Viena (2000).
174 A IDÉIA DE CONFORTO
222
Hieronymus Brunschwig (1450 – 1512), químico da região da Alsácia, hoje
França. Autor do Liber de arte distillandi.
223
apud Inge Andres, op. cit.
O IDEAL DE AR PURO E O PRIMITIVISMO DO OLFATO 175
224
Diane Ackerman, op. cit., tradução do autor.
... sem o tato, eu sempre consideraria meus os odores, os sa-
bores, as cores e os sons, nunca teria julgado que existem
corpos odoríferos, sonoros, coloridos, saborosos. (Étienne de
Condillac, Tratado das Sensações Humanas)
5.1 Introdução
O tato é o sentido que sinaliza a interação concreta das
pessoas com o mundo físico: não é uma percepção baseada
em representações como a contemplação de imagens, ou a
audição de gravações. O tato instrumentaliza a lei da física
que proíbe dois corpos de ocuparem o mesmo lugar no espa-
ço. Tem um caráter muito concreto. Com um beliscão nos
convencemos de que estamos conscientes.
A interação do tato se incorpora à memória como uma
consciência de limites. Nós a tomamos de modo espontâneo,
acidental ou à força, em experiências que podem variar de
suaves a ríspidas. O tato orienta nossa existência dentro dos
ambientes de vida e trabalho. Relaciona-se a um aspecto tão
inevitável do ambiente quanto o ar que respiramos pois, a
principiar pelo solo, estamos permanentemente em contato
físico com a matéria.
178 A IDÉIA DE CONFORTO
225
Bettina Kohler, Nichts als Illusionen? Werk, Bauen und Wohnen 3, pp.4-8
(2003).
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 179
226
Para esta diferença de hábitos existe uma explicação térmica relacionada à estrati-
ficação do ar nos ambientes, o ar frio estando próximo ao chão e o ar quente próxi-
mo ao teto. Esta explicação é apresentada por diversos autores.
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 183
5.4 Expressividade
Acima, foi proposta a idéia do toque como teste de vera-
cidade, como o beliscão para sabermos que não estamos so-
186 A IDÉIA DE CONFORTO
227
Otto Friedrich Bollnow, op. cit.
228
Kun Chang, Touch – The Forgotten Sense, Max Films Television, exibido na TV
Nacional em janeiro de 2004.
229
Diane Ackerman, op. cit.
188 A IDÉIA DE CONFORTO
230
Peter Thornton, op. cit., prancha 525.
231
Hans Kohlhoff et al., op. cit.
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 189
232
Peter Thornton, op. cit., pranchas 515, 532.
190 A IDÉIA DE CONFORTO
233
Adolf Loos, Das Prinzip der Bekleidung (1898), citado por Franz Glück (editor),
Adolf Loos Sämtliche Schriften, Vol. 1, Viena, Munique, pp. 105-120 (1962), ainda
em Hermann Czech, Komfort – ein Gegenstand der Architekturtheorie?, Werk,
Bauen, Wohnen 3 (2003). Tradução do autor.
234
Witold Rybczynski, op. cit.
235
Peter Thornton, op. cit., prancha 531.
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 191
236
Ibid, pranchas 340, 343, 344, 345, 350, 361, 362, 365, 369, 370, 372.
237
Junichiro Tanizaki, El elogio de la sombra,Tradução espanhola de Julia Escobar,
Biblioteca de Ensayo, Ediciones Siruela. Madrid (1997). Tradução para o português
pelo autor.
192 A IDÉIA DE CONFORTO
238
Grant Hildebrand, op. cit.
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 193
239
Kun Chang, op. cit.
194 A IDÉIA DE CONFORTO
240
Steen Eiler Rasmussen, op. cit.
241
Ibid.
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 195
242
Junichiro Tanizaki, op. cit., tradução do autor.
243
Ibid.
196 A IDÉIA DE CONFORTO
244
Christopher Alexander, op. cit. (padrão 197).
245
Ibid.
246
Ibid. (padrão 207).
198 A IDÉIA DE CONFORTO
247
Apud Hans Kohlhoff et al., op. cit.
248
Octavio Paz. El uso y la contemplación. In: México en la obra de Octavio Paz.
III. Los Privilegios de la vista. Arte de Mexico. Letras Mexicanas. Fondo de Cultura
Economica. Mexico (1987).
249
O autor, enfim, formula que a obra de artesanato é um objeto útil mas que também
é belo; um objeto que dura mas que se acaba e se resigna a acabar-se; um objeto
que não é único como a obra de arte e que pode ser substituído por outro objeto
parecido, mas não idêntico. O artesanato nos ensina a morrer e assim nos ensina a
viver. Esta situação intermediária do artesanato ajuda a compreender a situação da
arquitetura, que não se reduz a arte, nem a utilidade.
200 A IDÉIA DE CONFORTO
250
Verena Huber & Stefan Zwicky, Der Mensch ist die Basis des Komforts, Werk,
Bauen + Wohnen 3, pp.60-61 (2003).
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 201
251
Christopher Alexander, op. cit. (padrão 257).
252
O fabuloso destino de Amélie Poulain, filme de Jean-Pierre Jeunet (2001)
253
José Teixeira Coelho Netto, op. cit.
202 A IDÉIA DE CONFORTO
254
Walter Benjamin, Obras Escolhidas II – Rua de mão única, Editora Brasiliense,
São Paulo (1987).
255
Peter Thornton, op. cit., prancha 415.
256
Ibid, prancha 416.
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 203
257
Ibid., padrões 412, 413 e 498.
258
A origem, relacionada a palha, é confirmada pelo Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa.
204 A IDÉIA DE CONFORTO
259
Peter Thornton, op. cit., prancha 429.
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 205
260
Ibid, prancha 519 (exemplo da ausência do elemento curvilíneo).
261
Ibid., prancha 520.
262
Ibid., pranchas 366, 365.
263
Ibid., prancha 488.
264
Ibid., prancha 518
206 A IDÉIA DE CONFORTO
265
Estas idéias e resultados de estudos foram apresentados num programa do Natio-
nal Geographic Channel sobre toque, exibido pela TV Nacional (Radiobrás) em
janeiro de 2004.
266
Ashley Montagu, Touching – the Human Significance of the Skin, Perennial
(1986).
O ENTORNO PALPÁVEL: FORMAS E TEXTURAS 207
267
José de Alencar, Diva, cap. X. Obra integral do autor disponível na biblioteca
virtual do estudante brasileiro (Universidade de São Paulo) em
http://www.bibvirt.futuro.usp.br.
...it is so much pleasanter and wholesomer to be warmed by
the sun while you can be, than by an artificial fire.
6.1 Introdução
O conforto térmico é objeto de uma busca incessante.
Uma pessoa qualquer, muitas vezes ao dia, abre e fecha bo-
tões da gola e das mangas, que sobe e desce. Retira seu pale-
tó e o veste novamente. Abre e fecha janelas. Ajusta as persi-
anas. Sai pelos corredores ora em busca de café quente, ora
de água gelada. Caminhando pela rua sob o sol escaldante,
prefere o lado sob um beiral ou ao longo de um muro alto. Já
no frio de inverno, deverá inverter tal escolha, e chegando em
casa numa tarde fria, procura uma xícara de chá. Troca-se e
encontra no fundo da gaveta aquelas meias de lã muito velhas
- nesta hora, não há peça mais importante no guarda-roupa. E
no meio da noite, é comum que jogue longe as cobertas da
cama para, horas depois, amanhecer encolhido de frio. São
gestos irrefletidos que fazem parte da rotina das pessoas,
independendo de sua classe social ou atividade profissional.
212 A IDÉIA DE CONFORTO
268
David Kuchta. The Three-Piece Suit and Modern Masculinity: England, 1550-
1850. Studies in the History of Society and Culture. Berkeley and London: Universi-
ty of California Press ( 2002). Resenha por David Turner em http://www.h-net.org
(2003).
O AMBIENTE TERMICAMENTE PERCEPTÍVEL 213
269
Françoise Chaille, La Grande Histoire de la Cravate, Flamarion, Paris (1994).
214 A IDÉIA DE CONFORTO
272
A rigor, todos os corpos acima de –273,16°C, que não sejam perfeitamente
reflexivos, emitem radiação eletromagnética. Mais a respeito no capítulo sobre
visão.
O AMBIENTE TERMICAMENTE PERCEPTÍVEL 217
275
Richard M. Goody e J.C.G. Walker, Atmosferas Planetárias, Ed. Edgard Blücher,
São Paulo (1996).
222 A IDÉIA DE CONFORTO
280
Parametrização feita de acordo com Peter Ole Fanger, Thermal Comfort,
Robert E. Krieger Publishing Company, Malabar, Florida (1982).
224 A IDÉIA DE CONFORTO
6.4 Expressividade
Nos anos setenta, Lisa Heschong281 defendeu a idéia de
que o conforto térmico não somente é necessário, mas tam-
bém é motivo de prazer, afeto e referências simbólicas na
arquitetura. Para a autora, as qualidades térmicas – quente,
frio, úmido, arejado, radiante, aconchegante – são uma parte
importante de nossa experiência do espaço; não somente
influenciam o que escolhemos para fazer no espaço, mas
também nossa sensação nele.
281
Lisa Heschong, Thermal Delight in Architecture, the MIT Press, Cambridge
(EUA) e Londres (1979).
O AMBIENTE TERMICAMENTE PERCEPTÍVEL 225
282
Vitruvio, Os dez livros da Arquitetura, apud Heschong, op. cit.
O AMBIENTE TERMICAMENTE PERCEPTÍVEL 227
283
Frank Lloyd Wright, The Natural House, Mentor Books, Nova Iorque (1963).
284
Christopher Alexander, op. cit. padrão 144.
230 A IDÉIA DE CONFORTO
285
Alison G. Kwok, Thermal Boredom, Passive and Low Energy Architecture
Conference - PLEA 2000, PLEA: July 2-5, 2000, Cambridge, Reino Unido.
286
Lisa Heschong, op.cit.
O AMBIENTE TERMICAMENTE PERCEPTÍVEL 231
287
Georges Bizet (1838 – 1875), compositor francês.
288
Maurice Ravel (1875-1937), compositor francês.
289
Lisa Heschong, op.cit..
232 A IDÉIA DE CONFORTO
290
James Joyce (1882 - 1941 ), escritor irlandês, autor de Ulisses.
291
(As paredes altas de seu quarto sem carpete eram livres de figuras) J. Joyce,
Dubliners.
O AMBIENTE TERMICAMENTE PERCEPTÍVEL 233
nagre, como se, frios, lhes faltasse sabor. O calor afeta o sa-
bor ativando as papilas gustativas. Ao mesmo tempo, diminui
a viscosidade das gorduras.
À mesa, o contraste em temperatura aprofunda o con-
traste gustativo e, certamente, aumenta o prazer da comida.
Café quente e nata gelada; manteiga dura sobre torradas
quentes; tortas de maçã saída do forno e sorvete de creme.
Lisa Heschong, em seus exemplos, reforça a hipótese
apresentada no capítulo 1, do caráter holístico do conforto
ambiental. Imagine-se um sistema de climatização que fosse
todo embutido nas paredes e lajes, baseado no princípio da
irradiação: traria o grave inconveniente de não ser percebido
e, portanto, não nos despertar nenhum afeto. É o contrário de
instalações visíveis que existem para o nosso conforto e,
refletindo a importância que lhe atribuímos, recebem especial
destaque e ornamentos: o gazebo; o balanço do jardim e o
canto da lareira (de que muito se comentou no capítulo 2). Os
belos tapetes que conhecemos da Índia e da Pérsia também
seriam manifestações, naqueles locais, do afeto que desper-
tam nas pessoas, que tanto dependem do seu poder de isola-
mento térmico para sobreviver. Estes instrumentos são cele-
brados por nos proporcionarem conforto, que não é somente
relacionado a frio ou calor; pois, como a autora enfatiza, não
somos capazes de nos lembrar da sensação térmica em si,
mas de sua qualidade, associada à experiência total do local.
E esta experiência também se dá num contexto social, pois o
conforto térmico é uma experiência que tendemos a compar-
tilhar. Não é difícil encontrar exemplos de como um proble-
ma térmico serve de pretexto para aproximar pessoas. Quem
nunca convidou, ou foi convidado a uma caminhada na praia,
a tomar um refrigerante, dividir um guarda-chuvas, ou a to-
mar carona? As práticas ligadas ao ambiente térmico se in-
corporam à vida das pessoas, aos lugares que freqüentam:
atingem significado ritual Como exposto no capítulo 1, a
expressividade é um nível de conforto em que seus diferentes
contextos – corporal, ambiental, psico-espiritual, sócio-
cultural – tendem a fundir-se.
A sensação térmica tem implicações sobre a privaci-
dade. As cobertas pesadas, esticadas, aguardam a pessoa
234 A IDÉIA DE CONFORTO
292
Lisa Heschong, op.cit.
293
Gilberto Freyre, A favor das túnicas para homens nos trópicos: para ser homem
não é preciso vestir calças. O Cruzeiro. Rio de Janeiro, 29 de junho (1963)
O AMBIENTE TERMICAMENTE PERCEPTÍVEL 235
294
Gilberto Freyre. Social life in Brazil in the middle of the 19th century. Nova
Iorque. Edição do autor (1922) .
236 A IDÉIA DE CONFORTO
295
Gaston Bachelard, op. cit.
O AMBIENTE TERMICAMENTE PERCEPTÍVEL 237
7.1 Introdução
A audição nos traz informações muito compactas sobre
o ambiente. Ao telefone, reconhecemos pessoas pela voz,
quase imediatamente. Nomes curtos, de memorização fácil,
designam quase tudo quanto conhecemos bem e usamos com
freqüência. Mas a influência da audição não é apenas objeti-
va. Se ouvimos atentos a entonação de quem fala, sabemos
seu estado de espírito: é como se tivéssemos visto sua ex-
pressão facial. É mais fácil descrever, enfatizando impres-
sões, que desenhar. E ouvimos dormindo – se fosse diferente,
não teria utilidade o despertador.
Os sons revelam idéias sem que tenhamos de nos mexer
para conhecê-las. O ruído do motor anuncia alguém chegan-
do; o gotejar de água, que alguém ainda está no banho; o
silêncio numa casa onde moram crianças, que as mesmas
dormem, ou estão entretidas com alguma novidade, dando
aos pais o que pensar.
242 A IDÉIA DE CONFORTO
298
Richard Neutra, op. cit.
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 243
299
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), compositor austríaco, tinha inventivi-
dade melódica genial. Nas três décadas em que atuou, escreveu quase tanta música
quanto um ser humano seria capaz de copiar no mesmo tempo.
300
Joseph Haydn (1732-1809), compositor austríaco.
301
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827), compositor alemão.
302
É comum que os movimentos artísticos sejam reconhecidos, na música, mais
tarde que na arquitetura. Fator de alguma relevância é a longa duração dos edifícios,
fazendo com que a música que neles surja, décadas depois, venha impregnada de
suas idéias.
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 245
303
Quando menino, Mozart ouviu no Vaticano o Miserere Mei Deus de Gregório
Allegri, uma peça para coro a nove vozes e, chegando em casa, escreveu de memória
a música no papel, praticamente completa. Ao divulgar o fato, foi repreendido, pois
se tratava de uma partitura de uso restrito à Capela Sistina.
250 A IDÉIA DE CONFORTO
304
Um orquestrador famoso foi Leopold Stokowski, que transcreveu para orquestra
a célebre Toccata e Fuga em Ré menor de Bach, para a trilha sonora do filme Fanta-
sia, de Walt Disney.
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 251
305
Alternância muito rápida e repetida entre duas notas vizinhas, imitando o canto
de um pássaro.
306
Claude Debussy (1862-1918), compositor francês.
307
Otto Maria Carpeaux, Uma nova história da música, Ediouro, Rio de Janeiro
(1999).
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 253
7.4 Expressividade
O som pode ser condicionado de modo a não inco-
modar (comodidade) e ainda permitir a realização de uma
atividade (adequação). Além disto, participa da maneira co-
mo identificamos, lembramos e julgamos os ambientes. Estes
têm aqui sua expressividade audível, chamada expressividade
sonora ou acústica.
A arquitetura pode ser ouvida? Para Rasmussen,309
recebemos uma impressão total da coisa para a qual estamos
olhando e não prestamos atenção aos vários sentidos que
contribuíram para essa impressão. Ao afirmar que uma sala
é fria e formal, raramente nos referimos à temperatura em si,
308
E. Odum, Ecologia, é uma obra que aborda cidades como ecossistemas. O autor
propõe como tamanho máximo de uma cidade 500 mil habitantes, medida a partir da
qual as economias de escala desaparecem e se tornam deseconomias de escala: a
partir daquele tamanho, é melhor para cada habitante da cidade que a população não
aumente.
309
Op. cit..
256 A IDÉIA DE CONFORTO
310
Diane Ackerman, op. cit.
311
Na poesia grega e latina, chamava-se jambo o verso composto de duas sílabas, a
primeira breve e a segunda, longa.
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 259
312
Richard Neutra, op.cit.
260 A IDÉIA DE CONFORTO
313
Christopher Alexander, op. cit.
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 261
314
O austríaco Franz Schubert (1797-1828), comparado a Mozart em sua inventivi-
dade melódica, é chamado o “clássico dos românticos”.
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 263
317
Antonio Vivaldi (1678 – 1741), compositor italiano, conhecido como o padre
vermelho pela cor dos seus cabelos.
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 265
318
Richard Strauss (1864 – 1949), compositor alemão.
319
Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), compositor brasileiro.
320
Johannes Brahms (1833-1897), compositor alemão.
266 A IDÉIA DE CONFORTO
321
Georg Friedrich Haendel (1685-1759), compositor alemão.
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 267
322
Leo Beranek, Music Hall Acoustics, J. Wiley, Nova Iorque (1966).
323
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750), compositor alemão.
268 A IDÉIA DE CONFORTO
324
Hope Bagenal, organista norte-americano atuante no início do séc..XX, apud
Steen Eiler Rasmussen, op. cit.
325
Leo Beranek, op. cit..
O CANAL ECONÔMICO DO AUDÍVEL 269
326
Hennig Stieve e Irene Wiecke, Wie unsere Augen sehen, in Alfred Maelicke, op.
cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 273
327
Euclides (cerca de 300 A.C.), matemático grego.
328
Platão (427 a 347 A.C.), filósofo grego, aluno de Sócrates e professor de Aristó-
teles, fundador do idealismo. Autor dos Diálogos.
329
Hero de Alexandria (cerca de 120 A.C.), matemático e físico grego.
330
René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês. Fundador da geome-
tria analítica.
331
Pierre de Fermat (1601-1665), matemático francês, pioneiro do cálculo infinite-
simal e probabilístico.
332
Isaac Newton (1643-1727), cientista inglês, cuja atuação abriu caminhos na
matemática, física e astronomia, através da descoberta do cálculo diferencial e
integral, leis da gravitação e do especto, marés e movimentos planetários, e ação e
reação.
e em velocidade constante nos meios homogêneos. Com isto,
explicava a reflexão, a refração, a dispersão e a difusão a luz.
Huygens,333 seu contemporâneo, propôs que a luz se
propaga por meio de ondas. Isto acrescentou à explicação as
interferências luminosas e a difração. Young334 propôs as
ondas de luz como transversais à direção de propagação. Em
1865, Maxwell335 desenvolveu sua teoria da eletricidade e do
magnetismo. Verificou que as ondas eletromagnéticas se
propagavam com a velocidade da luz e introduziu a teoria
eletromagnética da luz. Hertz,336 em 1888, mostrou que as
ondas eletromagnéticas possuíam propriedades semelhantes
às da luz. Faltava explicar a diferença do índice de refração
das diferentes cores. Depois das contribuições de diversos
outros pesquisadores chegamos até Einstein.337 Ele chamou
de fóton ao quantum da energia luminosa.
Ironicamente, hoje se reconhece que a propagação retilí-
nea não é absolutamente correta, pois a luz pode dobrar a
esquina através da difração, como explica a teoria da relativi-
dade geral.
Tanto a luz como o som são ondas. Ambos se propagam,
para efeitos práticos, de forma retilínea e de acordo com a lei
dos quadrados: a potência por área transversal cai a um quar-
to ao se duplicar a distância. Ambos têm sua reflexão de
acordo com as mesmas regras. Ambos têm uma definição que
combina condições físicas e fisiológicas. Todavia, a luz se
propaga no vácuo, enquanto o som somente se propaga num
meio material.
É possível emitir um raio de luz, enquanto é difícil tratar
direcionalmente o som – especialmente as baixas freqüên-
333
Christiaan Huygens (1629-1695), físico holandês, encontrou leis do choque, do
movimento pendular e força centrífuga, e a teoria ondulatória da luz.
334
Thomas Young (1773-1829), médico e matemático inglês.
335
James Clerk Maxwell (1831-1879), físico inglês. Fundador da teoria cinética dos
gases. Previu a supercondução.
336
Heinrich Hertz (1857-1894), físico alemão.
337
Albert Einstein (1879-1955), físico alemão naturalizado americano, descobridor
da teoria da relatividade específica e geral.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 277
338
Reiner Wolf e Dorothea Wolf, Vom Sehen zum Wahrnehmen: Aus Illusionen
entsteht ein Bild der Wirklichkeit, in Alfred Maelicke, op. cit.
Apesar de o campo visual abranger quase um hemisfé-
rio, a visão é somente nítida ao redor do eixo visual. Ela se
dá a despeito do ponto cego da retina (entrada do nervo no
globo ocular) e a percepção de cores somente ocorre próxima
ao eixo visual. Não se pode fazer uma interpolação na curva
de sensibilidade espectral. É possível, ainda, enganar os
olhos com relação à cor.
Tais fatos sugerem que o olho humano não se com-
porta com a regularidade e previsibilidade de um instrumen-
to, mas manda para a consciência uma imagem melhorada
daquela que ele vê.
Daí a afirmação que percepções são hipóteses de nosso
cérebro, e ilusões de ótica são hipóteses falsas. Isto é um
motivo para não se procurar, para a visão, parâmetros absolu-
tos de comodidade.
Outro motivo é dado pelo fato de que a luz do dia se
altera constantemente. Rasmussen observa, a respeito, que os
outros elementos de arquitetura que consideramos podem ser
exatamente determinados. O arquiteto pode fixar dimensões
de sólidos e cavidades, pode estabelecer a orientação de seu
edifício, especificar os materiais e o modo como estes serão
tratados; pode descrever precisamente as quantidades e qua-
lidades que deseja em seu edifício, antes de ser colocada a
primeira pedra. Ele só não pode controlar a luz do dia. Ela
altera-se da manhã para a tarde, de dia para dia, em inten-
sidade e cor. Como é possível trabalhar com um fator tão
caprichoso?339
E por que, pois, trabalhar com uma iluminação arti-
ficial constante? Pois o mesmo autor lembra que os olhos
registram muito mais o contraste que os valores absolutos de
brilho. A quantidade de luz refletida por uma superfície
branca no inverno é inferior à refletida por uma superfície
preta de mesmo tamanho no verão, mas, ainda assim, vemos
o branco como branco e o preto como preto. E podemos
distinguir claramente uma letra preta sobre um fundo bran-
339
Steen Eiler Rasmussen, op. cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 283
340
Ibid.
341
Maurice Merleau-Ponty, op.cit.
Por sua vez, a adequação está relacionada aos objeti-
vos distintos do repouso. Reúne critérios qualitativos e quan-
titativos.
Uma lanchonete, local onde as pessoas normalmente
permanecem bem despertas, pode ser imersa em tensão visu-
al, dada por desproporções (formas agressivas: pontas), in-
tensidade, descontinuidades e contraste. Este, com os efeitos
objetivos e subjetivos que vêm associados, poderia ser explo-
rado na iluminação de um bar de uso noturno. E numa dance-
teria a iluminação se desenvolve na dimensão temporal, se-
guindo o ritmo da música. Já um ambiente destinado ao sono
deve ser quase estático, de maneira tal a não provocar estímu-
los – comumente se quer admitir a luz do dia, motivo natural
para despertar. O conforto visual advém daquilo que a pessoa
busca no ambiente.
Pouco ajuda a luz de um lampião decorativo e acon-
chegante se alguém, aguardando no ponto de ônibus, tenta ler
um livro de bolso. E pouco vale a perfeita iluminação de uma
sala de estar se o que eu mais quero é cochilar no sofá. Nesta
condição, conforto visual para mim consiste no escuro. Mas
não se trata da escuridão completa. Da cama, pode ser útil
enxergar a janela, o interruptor, o relógio, o batente e a ma-
çaneta da porta. Existe, portanto, a conveniência de ver certas
coisas, e outras não.
Um primeiro critério quantitativo para que a visão se
processe com o nível de detalhe pretendido é o contraste. É a
diferença relativa entre os valores do maior brilho e do menor
brilho no campo visual.342 Para cada patamar de brilho má-
ximo no campo visual, o contraste determina qual o mínimo
detalhe que pode ser percebido e, por conseguinte, qual a
acuidade visual: uma alta acuidade significa que se enxerga
um pequeno detalhe. Saindo de uma situação de penumbra
para outra de um campo visual bastante iluminado, cada au-
342
Embora não seja fundamental à compreensão das condições de conforto visual, a
definição de brilho corresponde à de luminância, medida em blondel (símbolo bl),
que é a intensidade dividida pela área da fonte de luz (primária ou secundária). A
intensidade é a potência radiante visível (medida em lumens, símbolo lm) emitida
por uma fonte por unidade de ângulo sólido (um estéreo-radiano, símbolo ster) e
medida em lm/ster ou ainda candela (cd).
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 285
343
M. Schäfer, Licht in unserer Umwelt, comentários em OTTI Technologie-Kolleg,
Innovative Lichttechnik in der Architektur, Seminário, pág. 163, Karlsruhe,
Alemanha (1994).
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 287
344
Hopkinson, Longmore, Peterbridge, Iluminação Natural, Fund. Calouste Gulben-
kian, Lisboa (1969).
345
Op. cit..
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 289
8.3 Expressividade
Para além do sentir-se bem e enxergar, é essencialmente
pela visão que se comunica a poesia implícita na disposição
dos elementos no espaço: forma, cores, brilho, sombras e seu
movimento. Assim, através da luz é que adquirem sentido a
fotografia; o cinema e o teatro; a pintura e a escultura, e em
parcela apreciável a arquitetura. As artes plásticas são apreci-
adas em geral com os olhos – é o que estabelecem os regula-
mentos das galerias de arte com seus avisos de proibido to-
car.
Dentro deste estudo da visão, expressividade não se re-
fere às formas, pois a este respeito já foram escritas dezenas
de milhares de páginas sobre pintura, arquitetura e escultura.
Antes, são tratados os condicionantes ambientais percebidos
através da visão: o claro e o escuro, bem como o uso das
cores. Quanto aos materiais de revestimento, também inte-
grantes da expressividade visual, são complementados no
capítulo sobre tato.
Lê-se um livro, preto no branco, sob uma iluminação de
qualquer cor; já uma pintura requer iluminação cromatica-
mente fiel à luz natural – embora Goya346 pintasse à noite,
pois preferia suas cores mais dramáticas; provavelmente,
com iluminação a tochas, enxergava tons quentes em todas as
tintas.
346
Francisco Goya (1746 – 1828), pintor espanhol.
Inicialmente, considere-se que a luz, em si, tem expres-
sividade. Luz dirigida e sombras projetadas modificam a
percepção dos objetos. Contribuem para a forma plástica. À
luz do sol, as formas são arredondadas e tridimensionais, mas
se tornam mais planas sob luz tênue ou influenciada pela
atmosfera. Detalhe, textura, redondeza, a sensação de estrutu-
ra e solidez permitem a distinção dos objetos próximos, en-
quanto que uma relativa constância e planeza caracterizam os
objetos distantes.
347
Steen Eiler Rasmussen, op. cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 291
348
U. Belzner & C. Hoesch, Sulla Luce, Ensaio, Domus Dossier, 4, pág. 65 (1997).
349
Christopher Alexander, op. cit.; padrão 107.
iluminação não são espaços saudáveis para se passar o
dia.350
A luz natural é referência. Durante uma sessão de cine-
ma ou teatro cortam-se os vínculos com o ambiente lumínico
externo. Se antes da sessão era dia, claro e quente, depois
dela tudo pode ser noite, chuva ou frio. Desconcertante é este
efeito num planetário, em que condições externas são simu-
ladas, conduzindo os espectadores à sensação de envolvimen-
to físico. O desligamento da realidade, nestes casos, é propo-
sital. Mas o que dizer dos ambientes de processamento ban-
cário, quase que na sua maioria privados da luz natural? E
das salas de concertos, em que se convencionou a recriação
do ambiente lumínico como atribuição indiscutível do espaço
arquitetônico? Não teria a música um caráter diferente, uma
outra cor, se fosse ouvida à luz natural?
O escuro da noite não deveria ser dispensado do projeto
dos interiores. O que dizer de uma mesa de jantar iluminada
com holofotes, como num teatro? Se a habitação procura
algum caráter de esconderijo, ela o será tão mais segura se de
dentro houver visibilidade para o meio externo. Com abun-
dante iluminação dentro de casa, haverá vulnerabilidade a
observadores externos, a não ser que usemos cortinas opacas.
Mas se dentro de casa for mantido baixo o valor de brilho
máximo, será possível enxergar melhor o que se passa do
lado de fora através da janela. Isto traz segurança.
Estou sentado à minha sala, às sete da manhã, no mo-
mento em que o sol se eleva acima do edifício à frente e entra
pela porta da varanda. A luz, neste exato momento, deixa de
ser somente difusa, para ser também direta. É como se um
visitante tivesse chegado. A sensação de calor, mesmo que
ainda insuficiente para meu conforto, é imediata. Surgem de
súbito tons quentes. Os contornos ganham consistência. Al-
guns deles parecem querer ser transbordados pelas cores que
delimitam, como o amarelo da mesa em pinho. Ressurge a
consciência de estar entre objetos com formas e texturas. Um
componente dinâmico, que posso quase tocar (a projeção do
sol sobre o chão) entrou e é como se eu tivesse companhia.
350
Evaldo Coutinho, op. cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 293
351
Junichiro Tanizaki, op. cit.. Tradução do autor.
352
Junichiro Tanizaki, op.cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 295
353
José de Alencar, Lucíola, cap. XVI. Obra integral do autor disponível na Biblio-
teca Virtual do Estudante Brasileiro (Universidade de São Paulo) em
http://www.bibvirt.usp.br.
354
Peter Thornton, op. cit., pranchas 531 e 532.
Alguns pequenos objetos coloridos e cintilantes, que são
efetivamente integrados aos ambientes, como o azulejo azul e
branco Delftware, que no século XIX tornou-se popular junto
às lareiras burguesas, ou os objetos colocados com destaque
sobre os móveis e prateleiras, não deixam de surpreender em
sua constância. Na China, a crença popular leva à prática de
se cobrir os espelhos dentro dos quartos, à noite, com uma
capa de pano.
355
Steen Eiler Rasmussen, op. cit.
356
Junichiro Tanizaki, op. cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 297
358
Junichiro Tanizaki, op.cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 299
359
Peter Thornton, op. cit., prancha 526.
360
Christopher Alexander, op. cit., padrão 238.
361
Unidade de área retangular correspondendo a aproximadamente 0,85 m x 1,70 m.
como os de um tanque, um novo encanto totalmente diferen-
te. Soube então que se nossos antepassados haviam encon-
trado este verniz chamado laca, e haviam se deixado enfeiti-
çar pelas cores e brilho dos utensílios não era, em absoluto,
por azar. O autor conclui com uma observação específica aos
utensílios tradicionais de mesa no seu país: substituamos a
luz solar ou elétrica pela luz de uma única lâmpada de azeite
ou de uma vela, e veremos imediatamente que estes chamati-
vos objetos cobram profundidade, sobriedade e densidade.
E ainda observa: Se há dito que na culinária japonesa
não se come mas se vê; num caso assim eu me atreveria a
acrescentar: se vê, mas, além disto, se pensa! Tal é, com
efeito, o resultado da silenciosa harmonia entre o brilho das
velas que piscam na sombra e o reflexo das lacas (...) em
qualquer caso, se a cozinha japonesa se serve num lugar
demasiado iluminado, numa vasilha predominantemente
branca, perde a metade do seu atrativo.
Para Tanizaki, a sombra intensifica a cor. Refere-se a
produtos típicos da culinária japonesa, não necessariamente
aqueles mais populares fora do Japão. Por exemplo, o doce
de feijão (yokan), a que chama de harmonia colorida. Numa
bandeja em laca, submergindo-o numa sombra tal que ape-
nas se possa distinguir sua cor, se tornará muito mais propí-
cio à contemplação. E quando, por fim, levamos à boca esta
matéria fresca e lisa, sentiremos fundir-se na ponta da língua
algo assim como uma parcela da obscuridade da sala, solidi-
ficada numa massa açucarada e a este yokan, que na verda-
de é bastante insípido, encontraremos uma estranha profun-
didade que realça seu gosto. O molho shoyu apresenta um
semelhante encanto disperso sobre o peixe e os legumes:
harmoniza com a escuridão.
E os alimentos de cor branca – o tofu (queijo de soja), o
kamaboko (pudim salgado) e os peixes brancos, enfim, não
podem ser realçados ao se iluminar seu entorno. Para come-
çar, o arroz, somente apresentado numa caixa de laca negra
e brilhante colocada num canto escuro é que satisfaz nosso
sentido estético e por sua vez estimula nosso apetite. Quem
já aceitou a privação inicial de provar do arroz cozido sem
gordura nem sal e já procurou, assim mesmo, seu sabor, e o
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 301
Expressividade da noite
362
Maurice Merleau-Ponty, op. cit.
363
N. Egenter, op. cit.
audição. Entre eles existe um espectro diferenciado de espa-
ços de meia-luz, anoitecer e semi-escuridão: o caráter para-
doxal dos bosques, livre para ir-se a qualquer lugar mas
intimamente limitado com respeito à visão, que, como um
espaço estreito acompanha o caminhante. Cita Goethe,364
para quem a noite criou mil monstros.
Mas a noite também é de uma calma ancestral; é acolhe-
dora; permite a cada um encontrar-se consigo mesmo: o es-
paço da escuridão “não se expande à minha frente” como no
claramente reconhecível espaço do dia, “mas toca-me dire-
tamente, me envolve...me penetra e me atravessa...tanto que
poderíamos dizer quase que sou transparente para a escuri-
dão, enquanto não o sou para a luz”.365 À noite, “o espaço
perde o caráter de espaço de ação”366 e passa a ser antes um
espaço de reflexão. Sinto-me mesmo recebido pela proteção
deste espaço.
A luz que adentra um ambiente escuro deveria vir de
uma direção que não ofusca: num quarto, de um lado pouco
visível pela pessoa deitada na cama; nos outros ambientes, do
alto.
Dentro das instalações domésticas, um simples toque de
interruptor faz o dia aparecer diante dos olhos. Há ocasiões
em que um efeito de luz do dia é necessário e, de fato, obti-
do; é o que ocorre sobre a mesa de leitura, debaixo de uma
lâmpada incandescente. Em outros casos, ainda, a luz elétrica
cria situações próprias, irreais. Por exemplo, num ambiente
inteiro quando a distribuição da luz deixa de simular aquela
verificada durante o dia: ilumina-se quadros na parede, obje-
tos sobre os balcões; neste caso, criou-se propositadamente o
antinatural. Ou ao iluminar-se um corredor sem janelas com
tubos fluorescentes uniformemente distribuídos. Ou ainda o
acesso lateral das fileiras do cinema, depois que o filme co-
meçou. Normalmente, a luz do dia não provoca semelhantes
efeitos. Entretanto, a iluminação pode ser concebida e desen-
364
Johannes Wolfgang von Goethe (1749 – 1832), escritor e poeta alemão.
365
E. Minkowski, Le temps vecú p. 393, Paris (1933), apud Bollnow, op. cit..
366
Otto Friedrich Bollnow, op. cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 303
Expressividade da cor
369
Daniel Katz, citado em F. Birren, Color, Form and Space, Reinhold Publishing
Corp., Nova Iorque (1961).
de-limão. Daí o freqüente emprego destas cores na sinaliza-
ção, em contraste com fundos negros. São dois efeitos fisio-
lógicos das cores.
Numerosos efeitos decorrem das associações, algumas
muito simples, baseadas em evocações da natureza. O azul
lembrando céu, mar, imaterialidade, infinito. O verde, calma
e frescor. O vermelho, sangue. O laranja, fogo.
Outras associações têm um vinculo mais fortemente cul-
tural. No Ocidente, a cor da morte é o negro; na China, é o
branco. Estas duas modalidades de associações abrem uma
extensa discussão. Melville370 diz que o terror é branco, don-
de a personagem Moby Dick ser uma baleia branca.
As cores escuras parecem mais pesadas que as cores cla-
ras: se pintado de negro, o teto de um corredor de paredes
brancas parece mais baixo. O efeito é incômodo, especial-
mente se as paredes forem também, na sua metade superior,
negras, pois isto contraria uma percepção corriqueira de que
a luz vem do céu, ou seja, do sentido oposto ao de onde atua
a força da gravidade.
Um corredor com paredes negras e forro branco parece-
rá mais alto. Se as paredes forem tomando, com a altura, cor
cada vez mais clara, em direção ao branco na porção mais
alta, o forro parecerá estar flutuando.
As cores claras e quentes parecem mais próximas que as
cores cinzentas e frias: ao pintar-se de amarelo uma parede
que sempre foi cinzenta, temos a impressão de que a parede
deu um passo à frente, encolhendo o espaço. Uma cor quente
como o laranja, aplicada em mais de uma parede, pode tor-
nar-se sufocante.371 O couro e a madeira, nos seus tons natu-
rais, reforçam a associação de calor tátil e calor visual. Esta
impressão é ainda mais intensa sob uma luz de cor quente.372
Uma parede pintada de azul escuro é presença pouco in-
sistente, não é logo notada. O azul num carpete, na extensão
370
Herman Melville (1819-1891), poeta americano.
371
Peter Thornton, op. cit., prancha 390.
372
Ibid., prancha 525.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 307
373
Peter Thornton, op. cit., prancha 392.
374
Maurice Merleau-Ponty, Fenomenologia da Percepção, tradução de Carlos
Alberto Ribeiro de Moura, Martins Fontes, São Paulo (1999).
375
Wassily Kandinsky (1866-1944), pintor russo, professor na Bauhaus.
376
Peter Thornton, op. cit., prancha 408.
de alguma tensão – como os padrões naturais – preenchem os
vazios, trazendo complexidade ao ambiente; padrões obses-
sivamente geométricos ou cromáticos introduzem tensão e,
com ela, podem comprometer a comodidade.377
O concreto aparente tem, em sua cor natural, a expressi-
vidade adequada a certos ambientes onde é priorizado. Em
Curitiba, o Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
tinha a cobertura em imensa cúpula internamente revestida,
por razões acústicas, em concreto chapiscado, na cor natural.
Numa reforma, a mesma foi pintada em azul claro. Preferiu-
se uma alusão barata ao céu à ambiência circunspecta, pre-
tendida pelo autor, Koso Kasai.
O pintor Ferdinand Léger escreveu páginas valiosas
sobre as funções da cor.378 Considera-a uma necessidade
vital, matéria-prima indispensável à vida, como a água e o
fogo. Não é possível conceber a existência dos homens sem
um ambiente colorido. As plantas, os animais se colorem
naturalmente; o homem se veste com cores. Sua ação não é
só decorativa, é psicológica. Ligada à luz, ela se torna inten-
sidade, se torna uma necessidade social e humana. O senti-
mento de alegria, de emulação, de força, de ação se acha
fortalecido, ampliado pela cor.
E suas recomendações não se limitam às tintas: Léger
reconhece a função espacial da pintura, não da pintura encer-
rada aos limites da tela, mas da pintura integrada ao espaço.
O problema não está solucionado, mas podemos conceber
uma satisfação real por esse procedimento novo e moderno.
(...)
Uma arquitetura se compõe de superfícies vivas e de
superfícies mortas. As superfícies mortas são as reservas de
repouso – não se tocará nelas. As superfícies vivas devem ser
postas à disposição da forma, do pintor e do escultor. Os
arquitetos do Renascimento italiano careceram de vontade e
se deixaram invadir pelos pintores e pelos escultores. Certos
palácios e monumentos romanos são inabitáveis devido ao
377
Peter Thornton, op. cit., padrões 459, 513 e 528.
378
Ferdinand Leger, As funções da pintura, Nobel, São Paulo (1989).
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 309
379
Erik Satie (1866 - 1925), compositor francês.
convém a ela e a determina com precisão. E, sobre a visão,
afirma que é um pensamento sujeito a um certo campo e é
isso que chamamos de um sentido.
Rasmussen expôs algumas contradições que surgem
ao se tentar formular teorias sobre como deve ser a cor na
arquitetura.380 Não existem regras definitivas nem diretrizes
que, se forem estritamente obedecidas, garantam uma boa
arquitetura. A cor pode ser um poderoso meio de expressão
para o arquiteto que tem algo a dizer. Um pode achar que o
teto deve ser escuro e pesado; um outro, que deve ser leve e
incorpóreo.
Mostrou-se contrário ao emprego da cor como maquia-
gem do tamanho ou das sensações térmicas dos cômodos.
Propõe, antes, que a cor intensifique: é irritante descobrir
que a coisa não é o que esperamos. Na arquitetura conscien-
temente projetada, a sala pequena parece pequena, a sala
grande parece grande e, em vez de disfarçar essas caracte-
rísticas, elas devem ser enfatizadas pelo uso judicioso da
cor. O quarto pequeno deve ser pintado em tons profundos,
saturados, para que sintamos realmente a intimidade de qua-
tro paredes próximas à nossa volta. E o esquema cromático
do quarto ou sala grande deve ser leve e arejado, para fi-
carmos duplamente conscientes da amplidão de espaço de
parede a parede.
E identificou um princípio gerador de cores quentes:
não é a cor das coisas, a superfície, que torna um lugar
quente ou frio, mas a cor da luz. Escolha superficies que,
juntas com a cor da luz natural, reflitam a luz e luzes artifi-
ciais, crie uma luz quente nos ambientes.
380
Steen Eiler Rasmussen, op. cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 311
381
Christopher Alexander, op. cit., padrão 239
382
Peter Thornton, op. cit., prancha 389.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 313
383
Ibid., pranchas 414 e 527.
384
Ibid., prancha 406.
385
Ibid., prancha 520.
go. Assim também as partes elevadas, a cama engastada de
um adolescente, acessível somente por escada, dá-lhe um
domínio espacial que não tem quem dorme quase ao nível do
solo. É como o observatório sobre o telhado, ou numa árvore.
Segundo Hildebrand,386 advém como herança genética desde
o período em que os macacos procuravam por caça de cima
das árvores, período em que a visão teve seu maior desenvol-
vimento, tanto para perto e de modo estereoscópico, como
para longe e em detalhe.
O sofá é muito mais aconchegante quando envolve as
pessoas com seus braços, formando um nicho. Os braços do
sofá servem para que as pessoas apóiem os seus, mas tam-
bém para abraçar as pessoas.
Em algumas disposições particulares, os móveis se reve-
lam importantes fatores do conforto. Sua utilidade fica mais
evidente: por exemplo, uma confortável poltrona, de lado,
junto à janela ensolarada com um livro sobre ela e, à sua
frente, um apoio para os pés.
Algumas considerações podem ser feitas com relação à
ordem como um elemento do ambiente visual. Por exemplo,
o revestimento das paredes em painéis, com molduras em
frisos, cornijas e adornos de gesso, supõe estabilidade, uma
institucionalidade do ambiente, especialmente com a lareira
em mármore e peças de culto ocupando um lugar de desta-
que. A observação de muitos ambientes sugere que a ordem
tenha de ser percebida, mas não deva ser excessivamente
óbvia, traindo artificialidade. A simplicidade evidente de
uma ordem facilmente apreensível poderia sugerir sua fragi-
lidade e, dela, inconsistência. Seria uma ordem que não resis-
tiria a um olhar crítico, uma ordem que facilmente alguém
romperia. Um exemplo de ordem simples porque elaborada,
porém consistente, é encontrado nos padrões retangulares da
casa japonesa tradicional. Integram a estrutura os revestimen-
386
Grant Hildebrand, op. cit.
LUZES E CORES: O ENTORNO PELA VIA RACIONAL 315
387
Heinrich Engel, The Japanese House: a Tradition for Contemporary Architec-
ture, primeira edição – 1964, 12a. reimpressão Charles E. Tuttle Publishing Compa-
ny, Inc., Rutland, Vermont, E.U.A. (1985). Tradução do autor.
388
Peter Thornton, op. cit., prancha 480; Charles Boyle, editor, O mundo doméstico,
História em Revista, Abril Coleções, São Paulo (1993).
Quando a luz é perfeitamente plana, a função social do es-
paço se destrói sonoramente: é mesmo difícil às pessoas
formarem grupos humanos.(...) Propõe que os grupos se for-
mam debaixo de “piscinas de luz”: como seria, num amplo
salão, um grupo de poltronas iluminado por abajur, o que dá
uma coesão física ao grupo. Todos os bons restaurantes se-
param cada mesa da outra como uma piscina de luz separa-
da, sabendo que isto contribui para sua ambiência privada e
íntima.
Portanto, recomenda luzes baixas e separadas, para for-
mar piscinas de luz individuais, que compreendem cadeiras e
mesas tais quais bolhas para reforçar o caráter social dos
espaços que elas formam. Lembra que não se formam pisci-
nas de luz sem os locais escuros entre as mesmas. E com uma
só forte lâmpada no teto, no seu centro geométrico, isto não é
possível.
8.4 A simplicidade
O caráter excessivamente pitoresco de uma moradia
pode ocultar sua intimidade. É uma preocupação de Bache-
lard. Para ele, as verdadeiras casas da lembrança, as casas
onde nosso sonho volta a conduzir-nos, as casas enriqueci-
das por um onirismo fiel, resistem a toda descrição.
No capítulo sobre olfato, foi mencionada a dificulda-
de de explicar aromas sem lançar mão de aromas conhecidos
como exemplos, ou das impressões importadas dos outros
sentidos, como um “aroma penetrante” ou “cálido”. Descre-
ver as casas oníricas equivaleria a ensiná-las. Talvez se pos-
sa dizer tudo do presente, mas e do passado? A primeira e
oniricamente definitiva casa deve conservar sua penumbra.
Bachelard compara este exercício com a literatura profunda,
quer dizer, com a poesia, e não com a literatura dissertativa
que necessita das novelas alheias para analisar a intimidade.
Bachelard parece consciente do risco de a visão ocu-
par uma predominância sobre os outros sentidos. Argumenta
que só devo dizer da casa de minha infância o necessário
para pôr-me eu mesmo em situação onírica, para situar-me
no umbral de um devaneio de onde vou descansar em meu
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389
Étienne de Condillac, op. cit.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 323
390
Gaston Bachelard, op. cit.
391
Miguel Brada, Notas à Teoria da arquitetura, São Paulo, ed. Anhembi, p. 25,
1957, apud Armando Pinto, op. cit.
392
Gaston Bachelard, op. cit.
393
Junichiro Tanizaki, op. cit.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 325