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Hannah Arendt – As Origens do Totalitarismo – Parte III: Totalitarismo –

capítulo 2: movimento totalitário


1. A propaganda totalitária
• Sob um governo constitucional e havendo liberdade de opinião, os
movimentos totalitários que lutam pelo poder podem usar o terror somente até
certo ponto e, como qualquer outro partido, necessitam granjear aderentes e
parecer plausíveis aos olhos de um público que ainda não está rigorosamente
isolado de todas as outras fontes de informação. (p. 390)
• Por existirem num mundo que não é totalitário, os movimentos totalitários são
forçados a recorrer ao que comumente chamamos de propaganda. Mas essa
propaganda é sempre dirigida a um público de fora - sejam as camadas não
totalitárias da população do próprio país, sejam os países não totalitários do
exterior. Essa área externa à qual a propaganda totalitária dirige o seu apelo
pode variar grandemente; mesmo depois da tomado do poder, a propaganda
totalitária pode ainda dirigir-se àqueles segmentos da própria população cuja
coordenação não foi seguida de doutrinação suficiente. Nesse ponto, os
discursos de Hitler aos seus generais, durante a guerra, são verdadeiros
modelos de propaganda, caracterizados principalmente pelas monstruosas
mentiras com que o Führer entretinha os seus convidados na tentativa de
conquistá-los. [NECESSIDADE DA PROPAGANDA PARA ASCENSÃO
DE MOVIMENTOS TOTALITÁRIOS. FUNÇÃO DA PROPAGANDA:
DOUTRINAÇÃO. ELA PODE SE UTILIZAR DE MENTIRAS PARA TAL
FIM] (p. 391, 392)
• A relação entre a propaganda e a doutrinação depende do tamanho do
movimento e da pressão externa. Quanto menor o movimento, mais energia
despenderá em sua propaganda. Quanto maior for a pressão exercida pelo
mundo exterior sobre os regimes totalitários - pressão que não é possível
ignorar totalmente mesmo atrás da "cortina de ferro" - mais ativa será a
propaganda totalitária. O fato essencial é que as necessidades da propaganda
são sempre ditadas pelo mundo exterior; por si mesmos, os movimentos não
propagam, e sim doutrinam. Por outro lado, a doutrinação, inevitavelmente
aliada ao terror, cresce na razão direta da força dos movimentos ou do
isolamento dos governantes totalitários que os protege da interferência
externa. [AS NECESSIDADES DA PROPAGANDA SÃO SEMPRE
DITADAS PELO MUNDO EXTERIOR] (p. 392, 393)
• A propaganda é, de fato, parte integrante da "guerra psicológica"; mas o terror
o é mais. Mesmo depois de ter atingido o seu objetivo psicológico, o regime
totalitário continua a empregar o terror; o verdadeiro drama é que ele é
aplicado contra uma população já completamente subjugada. Onde o reino do
terror atinge a perfeição, como nos campos de concentração, a propaganda
desaparece; na Alemanha nazista, chegou a ser expressamente proibida. Em
outras palavras, a propaganda é um instrumento do totalitarismo,
possivelmente o mais importante, para enfrentar o mundo não-totalitário; o
terror, ao contrário, é a própria essência da sua forma de governo. Sua
existência não depende do número de pessoas que a infringem. [NO
TOTALITARISMO, A PROPAGANDA É UMA FERRAMENTA, O
TERROR SUA ESSÊNCIA] (p. 393)
• Esse tipo de terror dirigido contra a massa era valioso no sentido daquilo que
um autor nazista chamou adequadamente de "propaganda de força", e
aumentou progressivamente porque nem a polícia nem os tribunais
processavam seriamente os criminosos políticos da chamada Direita. Para a
população em geral, tornava-se claro que o poder dos nazistas era maior que
o das autoridades, e que era mais seguro pertencer a uma organização
paramilitar nazista do que ser um republicano leal. Essa impressão foi
grandemente reforçada pelo uso específico que os nazistas fizeram dos seus
crimes políticos. [PROPAGANDA DE FORÇA] (p. 393)
• Contudo, o que caracteriza a propaganda totalitária melhor do que as ameaças
diretas e os crimes contra indivíduos é o uso de insinuações indiretas, veladas
e ameaçadoras contra todos os que não derem ouvidos aos seus ensinamentos,
seguidas de assassinato em massa perpetrado igualmente contra "culpados" e
"inocentes". (...) A forte ênfase que a propaganda totalitária dá à natureza
“científica" das suas afirmações tem sido comparada a certas técnicas
publicitárias igualmente dirigidas às massas. (...) Tanto no caso da publicidade
comercial quanto no da propaganda totalitária, a ciência é apenas um
substituto do poder. A obsessão dos movimentos totalitários pelas
demonstrações "científicas" desaparece assim que eles assumem o poder. (...)
O cientificismo da propaganda totalitária é caracterizado por sua insistência
quase exclusiva na profecia "científica", em contraposição com o apelo ao
passado, já fora de moda. [CIÊNCIA ENQUANTO PODER] (p. 394)
• A propaganda totalitária aperfeiçoou o cientificismo ideológico e a técnica de
afirmações proféticas a um ponto antes ignorado de eficiência metódica e
absurdo de conteúdo porque, do ponto de vista demagógico, a melhor maneira
de evitar discussão é tornar o argumento independente de verificação no
presente e afirmar que só o futuro lhe revelará os méritos. (p. 395)
• O fanatismo dos membros dos movimentos totalitários, cuja intensidade difere
tão claramente da lealdade dos membros dos partidos comuns, resulta
exatamente da falta de egoísmo interesseiro dos indivíduos que formam as
massas e que estão perfeitamente dispostos a se sacrificarem pela ideia. Os
nazistas demonstraram que se pode levar todo um povo à guerra com o lema
"de outra forma pereceremos" (o que a propaganda de guerra evidentemente
evitou em 1914), mesmo em época que não seja de miséria, de desemprego ou
de frustradas ambições nacionais. [FALTA DE EGOÍSMO DA MASSA >>
FANATISMO DOS MEMBROS DO MOVIMENTO TOTALITÁRIO] (p.
397)
• A principal qualificação de um líder de massa é a sua infinita infabilidade;
jamais pode admitir que errou. Além disso, a pressuposição de infalibilidade
baseia-se não tanto na inteligência superior quanto na correta interpretação de
forças históricas ou naturais essencialmente seguras, forças que nem a derrota
nem a ruína podem invalidar porque, a longo prazo, tendem a prevalecer. Uma
vez no poder, os líderes da massa cuidam de algo que está acima de quaisquer
considerações utilitárias: fazer com que as suas predições se tornem
verdadeiras. [CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE INFABILIDADE] (p. 398)
• O efeito propagandístico da infabilidade, o extraordinário sucesso que decorre
da humilde pose de mero agente interpretador de forças previsíveis, estimulou
nos ditadores totalitários o hábito de anunciar as suas intenções políticas sob
a forma de profecias. (p. 398)
• o extermínio vira processo histórico no qual o homem apenas faz ou sofre
aquilo que, de acordo com leis imutáveis, sucederia de qualquer modo. Assim
que as vítimas são executadas, a "profecia" transforma-se em álibi
retrospectivo: o que sucedeu foi apenas o que havia sido predito.
[CONSTRUÇÃO DE PROFECIAS E LEIS IMUTÁVEIS] (p. 399)
• Antes que os líderes das massas tomem o poder para fazer com que a realidade
se ajuste às mentiras que proclamam, sua propaganda exibe extremo desprezo
pelos fatos em si, pois, na sua opinião, os fatos dependem exclusivamente do
poder do homem que os inventa.(...) Em outras palavras, o método da predição
infalível, mais que qualquer outro expediente da propaganda totalitária, revela
o seu objetivo último de conquista mundial, pois somente num mundo
inteiramente sob o seu controle pode o governante totalitário dar realidade
prática às suas mentiras e tornar verdadeiras todas as suas profecias.
[DESPREZO PELOS FATOS; OBJETIVO DE CONQUISTA MUNDIAL]
(p. 399)
• A eficácia desse tipo de propaganda evidencia uma das principais
características das massas modernas. Não acreditam em nada visível, nem na
realidade da sua própria experiência; não confiam em seus olhos e ouvidos,
mas apenas em sua imaginação, que pode ser seduzida por qualquer coisa ao
mesmo tempo universal e congruente em si. O que convence as massas não
são os fatos, mesmo que sejam fatos inventados, mas apenas a coerência com
o sistema do qual esses fatos fazem parte. [AS MASSAS ACREDITAM
APENAS EM SUA IMAGINAÇÃO] (p. 401)
• A propaganda totalitária prospera nesse clima de fuga da realidade para a
ficção, da coincidência para a coerência. [FUGA DA REALIDADE] (p. 401)
• (...), as massas, sedentas de coerência, aceitam a ficção como prova suprema
da veracidade dos fatos; (...). (p. 401)
• Em outras palavras, embora seja verdade que as massas são obcecadas pelo
desejo de fugirem da realidade porque, privadas de um lugar no mundo, já não
podem suportar os aspectos acidentais e incompreensíveis dessa situação,
também é verdade que a sua ânsia pela ficção tem algo a ver com aquelas
faculdades do espírito humano cuja coerência estrutural transcende a mera
ocorrência. Fugindo à realidade, as massas pronunciam um veredicto contra
um mundo no qual são forçadas a viver e onde não podem existir, uma vez
que o acaso é o senhor supremo deste mundo e os seres humanos necessitam
transformar constantemente as condições do caos e do acidente num padrão
humano de relativa coerência. [FUGA DA REALIDADE DAS MASSAS;
NECESSIDADE DE COERÊNCIA NUM MUNDO DOMINADO PELO
ACASO] (p. 401)
• Entre enfrentar a crescente decadência, com a sua anarquia e total
arbitrariedade, e curvar-se ante a coerência mais rígida e fantasticamente
fictícia de uma ideologia, as massas provavelmente escolherão este último
caminho, dispostas a pagar por isso com sacrifícios individuais - não porque
sejam estúpidas ou perversas, mas porque, no desastre geral, essa fuga lhes
permite manter um mínimo de respeito próprio. (p. 402)
• Antes de tomarem o poder e criarem um mundo à imagem da sua doutrina, os
movimentos totalitários invocam esse falso mundo de coerências, que é mais
adequado às necessidades da mente humana do que a própria realidade; nele,
através de pura imaginação, as massas desarraigadas podem sentir-se à
vontade e evitar os eternos golpes que a vida e as experiências verdadeiras
infligem aos seres humanos e às suas expectativas. A força da propaganda
totalitária - (...) - reside na sua capacidade de isolar as massas do mundo real.
[OS MOVIMENTO TOTALITÁRIOS INVOCAM UM FALSO MUNDO
DE COERÊNCIAS, PARA SE ADEQUAREM À NECESSIDADE DE
COERÊNCIA DAS MASSAS] (p. 402)
• A propaganda nazista foi suficientemente engenhosa para transformar o anti-
semitismo em princípio de autodefinição, libertando-o assim da inconstância
de uma mera opinião. (...). Isso deu às massas de indivíduos atomizados,
indefiníveis, instáveis e fúteis um meio de se autodefinirem e identificarem,
não somente restaurando a dignidade que antes lhes advinha da sua função na
sociedade, como também criando uma espécie de falsa estabilidade que fazia
deles melhores candidatos à participação ativa. [INDIVÍDUOS
ATOMIZADOS] (p. 406)
• O verdadeiro objetivo da propaganda totalitária não é a persuasão mas a
organização - o "acúmulo da força sem a posse dos meios de violência". Para
esse fim, a originalidade do conteúdo ideológico só pode ser considerada
como dificuldade desnecessária. (...) O que distingue os líderes e ditadores
totalitários é a obstinada e simplória determinação com que, entre as
ideologias existentes, escolhem os elementos que mais se prestam como
fundamentos para a criação de um mundo inteiramente fictício. (...) Sua arte
consiste em usar e, ao mesmo tempo, transcender o que há de real, de
experiência demonstrável na ficção escolhida, generalizando tudo num
artifício que passa a estar definitivamente fora de qualquer controle possível
por parte do indivíduo. Com tais generalizações, a propaganda totalitária cria
um mundo fictício capaz de competir com o mundo real, cuja principal
desvantagem é não ser lógico, coerente e organizado. A coerência da ficção e
o rigor organizacional permitem que a generalização sobreviva ao
desmascaramento de certas mentiras específicas - (...). [PROPAGANDA
TOTALITÁRIA >> CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO FICTÍCIO
COERENTE, QUE COMPETE COM O MUNDO REAL] (p. 411)
• O motivo fundamental da superioridade da propaganda totalitária em
comparação com a propaganda de outros partidos e movimentos é que o seu
conteúdo, pelo menos para os membros do movimento, não é mais uma
questão objetiva a respeito da qual as pessoas possam ter opiniões, mas
tornou-se parte tão real e intocável de sua vida como as regras da aritmética.
(...) Na Alemanha nazista, duvidar da validade do racismo e do
antisemistismo, (...), era como colocar em dúvida a própria existência do
mundo. (p. 412)
• É no momento da derrota que a fraqueza inerente da propaganda totalitária se
torna visível. Sem a força do movimento, seus membros cessam
imediatamente de acreditar no dogma pelo qual ainda ontem estavam
dispostos a sacrificar a vida. Logo que o movimento, isto é, o mundo fictício
que as abrigou, é destruído, as massas revertem ao seu antigo status de
indivíduos isolados que aceitam de bom grado uma nova função num mundo
novo ou mergulham novamente em sua antiga e desesperada superfluidade.
Os membros dos movimentos totalitários, inteiramente fanáticos, enquanto o
movimento existe, não seguem o exemplo dos fanáticos religiosos morrendo
como mártires, embora estivessem antes tão dispostos a morrer como rôbos,
mas abandonam calmamente o movimento como algo que não deu certo e
procuram em torno de si outra ficção promissora, ou esperam até que a velha
ficção recupere força suficiente para criar novo movimento de massa. [A
FRAQUEZA DA PROPAGANDA TOTALITÁRIA APENAS MOSTRA-SE
NO MOMENTO DE DERROTA DO MOVIMENTO] (p. 413)

2. A organização totalitária
• O caráter totalitário do princípio de liderança advém unicamente da posição
em que o movimento totalitário, graças à sua peculiar organização, coloca o
líder, ou seja, da importância funcional do líder para o movimento. (p. 414)
• As organizações de simpatizantes dão aos movimentos totalitários uma
aparência de normalidade e respeitabilidade que engana os seus membros
quanto à verdadeira natureza do mundo exterior, da mesma forma que engana
o mundo exterior quanto ao verdadeiro caráter do movimento. As
organizações de vanguarda funcionam nas duas direções: como fachada do
movimento totalitário para o mundo não totalitário, e como fachada deste
mundo para a hierarquia interna do movimento. [TRABALHO
“COOPERATIVO” ENTRE MEMBROS E SIMPATIZANTES DO
MOVIMENTO; ORGANIZAÇÕES DE VANGUARDA, É ASSIM QUE
ARENDT CHAMA ESSE TIPO DE ESTRUTURA, ONDE MEMBROS E
SIMPATIZANTES CONSEGUEM, A PARTIR DE SUA RELAÇÃO,
ENGANAR O MUNDO EXTERNO, E, AO MESMO TEMPO, SE
ENGANAREM QUANTO AO MUNDO] (p. 416)
• Assim como os simpatizantes constituem um muro de proteção em torno dos
membros do movimento e representam para eles o mundo exterior, também
os membros comuns envolvem os grupos militantes e representam para estes
o mundo exterior normal. (p. 417)
• O importante para os movimentos totalitários é, antes mesmo de tomarem o
poder, darem a impressão de que todos os elementos da sociedade estão
representados em seus escalões: o fim último da propaganda nazista era
organizar todos os alemães como simpatizantes. [ASPECTO
TOTALIZANTE] (p. 421)
• (...) a função das formações de elite é exatamente oposta aquela das
organizações de vanguarda: enquanto as últimas emprestam ao movimento um
ar de respeitabilidade e inspiram confiança, as primeiras, disseminando a
cumplicidade, fazem com que cada membro do partido sinta que abandonou
para sempre o mundo normal onde o assassinato é colocado fora da lei,e que
será responsabilizado por todos os crimes da elite. (p. 422)
• A suprema tarefa do Líder é personificar a dupla função que caracteriza cada
camada do movimento - agir como a defesa mágica do movimento contra o
mundo exterior e ao mesmo tempo, ser a ponte direta através da qual o
movimento se liga a este mundo. O Líder representa o movimento de um modo
totalmente diferente de todos os líderes de partidos comuns, já que proclama
a sua responsabilidade pessoal por todos os atos, proezas e crimes cometidos
por qualquer membro ou funcionário em sua qualidade oficial. Essa
responsabilidade total é o aspecto organizacional mais importante do chamado
princípio de liderança, segundo o qual cada funcionário não é apenas
designado pelo Líder, mas é a sua própria encarnação viva, e toda ordem
emana supostamente dessa única fonte onipresente. Essa completa
identificação do Líder com todo sublíder nomeado por ele e esse monopólio
de responsabilidade centralizado por tudo o que foi, está sendo ou virá a ser
feito são também os sinais mais visíveis da grande diferença entre o líder
totalitário e o ditador ou désposta comum. Um tirano jamais se identificaria
com os seus subordinados, e muito menos com cada um dos seus atos; poderia
usá-los como bodes expiatórios, deixando, com prazer, que fossem criticados
para colocar-se a salvo da ira do povo, mas sempre manteria uma distância
absoluta de todos os seus subordinados e súditos. O Líder, ao contrário, não
pode tolerar críticas aos seus subordinados, uma vez que todos agem em seu
nome; se deseja corrigir os próprios erros, tem que liquidar aqueles que os
cometeram por ele; se deseja inculpar a outros por esses erros, tem de matá-
los. Pois, nessa estrutura organizacional, o erro só pode ser uma fraude: o
Líder estava sendo representado por um impostor. [COMPLETA
IDENTIFICAÇÃO DO LÍDER COM OS SÚDITOS] (p. 424)
• Essa responsabilidade total por tudo o que o movimento faz e essa
identificação total com cada um dos funcionários têm a consequência muito
prática de que ninguém se vê numa situação em que tem de se responsabilizar
por suas ações ou explicar os motivos que levaram a elas. Uma vez que o Líder
monopoliza o direito e a possibilidade de explicação, ele é, para o mundo
exterior, a única pessoa que sabe o que está fazendo, isto é, o único
representante do movimento com quem ainda é possível conversar em termos
não-totalitários e que, em caso de censura ou de oposição, não dirá: não me
pergunte, pergunte ao Líder. Estando no centro do movimento, o Líder pode
agir como se estivesse acima dele. (...). O verdadeiro mistério do Líder
totalitário reside na organização que lhe permite assumir a responsabilidade
total por todos os crimes cometidos pelas formações de elite e, ao mesmo
tempo, adotar a honesta e inocente respeitabilidade do mais ingênuo
simpatizante. [PODER ABSOLUTO DO LÍDER; RESPONSABILIDADE
TOTAL DO LÍDER] [ELE ESTÁ NO CENTRO E ACIMA DO
MOVIMENTO] (p. 425)
• As sociedades secretas formam também hierarquias de acordo com o grau de
"iniciação", regulam a vida dos seus membros segundo um pressuposto
secreto e fictício que faz com que cada coisa pareça ser outra coisa diferente;
adotam uma estratégia de mentiras coerentes para iludir as massas de fora,
não-iniciadas; exigem obediência irrestrita dos seus membros, que são
mantidos coesos pela fidelidade de um líder frequentemente desconhecido e
sempre misterioso, rodeado, ou supostamente rodeado, por um pequeno
círculo de iniciados; e estes, por sua vez, são rodeados por semi-iniciados que
constituem uma espécie de "amortecedor" contra o mundo profano e hostil.
Os movimentos totalitários têm ainda em comum com as sociedades secretas
a divisão dicotômica do mundo entre "irmãos jurados de sangue" e uma massa
indistinta e inarticulada de inimigos jurados. Essa distinção, baseada na
absoluta hostilidade contra o mundo que os rodeia, é muito diferente da
tendência dos partidos comuns de dividir o povo entre os que pertencem e os
que não pertencem à organização. [COMPARAÇÃO DO MOVIMENTO
TOTALITÁRIO E SOCIEDADES SECRETAS] (p. 426)
• O que é notável nas organizações totalitárias é que saibam adotar expedientes
organizacionais das sociedades secretas sem jamais manter em segredo o seu
próprio objetivo. (...). Em outras palavras, os movimentos totalitários imitam
todos os acessórios das sociedades secretas, mas esvaziam-nas do único
elemento que poderia justificar os seus métodos: a necessidade de manter
segredo. [EM QUE O MOVIMENTO TOTALITÁRIO SE DIFERENCIA
DAS SOCIEDADES SECRETAS] (p. 428)
• É devido à afinidade fundamental entre o funcionamento de uma sociedade
secreta de conspiradores e a polícia secreta organizada para combatê-la que os
regimes totalitários, baseados na ficção de uma conspiração global e visando
ao domínio global, passam a concentrar todo o poder nas mãos da polícia.
[PAPEL FUNDAMENTAL DA POLÍCIA] (p. 430)
• Do ponto de vista da organização que funciona segundo o princípio de que
quem não está incluído está excluído, e quem não está comigo está contra
mim, o mundo perde todas as nuances, diferenciações e aspectos pluralísticos
- coisas que, afinal, se haviam tornado confusas e insuportáveis para as massas
que perderam o seu lugar e a sua orientação dentro dele. [PERCA DA
PLURALIDADE DO MUNDO] (p. 430)
• A afirmação fundamental da organização totalitária é que tudo o que está fora
do movimento está "morrendo", afirmação que é drasticamente posta em
prática no clima assassino do regime totalitário, mas que, mesmo no estágio
anterior ao poder, parece plausível a massas que fugiram da desintegração e
da desorientação para o fictício abrigo do movimento. [CLIMA ASSASSINO
DO REGIME TOTALITÁRIO] (p. 431)
• Enquanto o movimento existe, a sua forma peculiar de organização faz com
que pelo menos as formações de elite não possam conceber a vida fora do
grupo fechado de homens que, mesmo condenados, ainda se sentem superiores
ao resto do mundo não-iniciado. E, como o fim único dessa organização
sempre foi burlar, combater e finalmente conquistar o mundo exterior, os seus
membros pagam de bom grado com a própria vida, contanto que isso ajude a
burlar o mundo mais uma vez. (p. 431)
• Mas o principal valor da estrutura organizacional e dos padrões morais das
organizações secretas ou conspiratórias para fins de organização da massa não
está na garantia intrínseca de participação incondicional e lealdade
incondicional, nem na manifestação organizacional de hostilidade cega contra
o mundo exterior, mas na incomparável capacidade de estabelecer e proteger
o mundo fictício por meio de constantes mentiras. [PRINCIPAL VALOR:
CONSTANTES MENTIRAS PARA PROTEGER O MUNDO FICTÍCIO] (p.
431, 432)
• Toda a estrutura hierárquica dos movimentos totalitários, desde os ingênuos
simpatizantes até os membros do partido, as formações de elite, o círculo
íntimo que rodeia o Líder e o próprio Líder, pode ser descrita em termos da
mistura curiosamente variada de credulidade e cinismo com que se espera que
cada membro, dependendo do seu grau e da posição que ocupa no movimento,
reaja às diversas declarações mentirosas do Líder e à ficção ideológica central
e imutável do movimento. [CREDULIDADE E CINISMO DIANTE DA
MENTIRA E FICÇÃO IDEOLÓGICA] (p. 432)
• A propaganda de massa descobriu que o seu público estava sempre disposto a
acreditar no pior, por mais absurdo que fosse, sem objetar contra o fato de ser
enganado, uma vez que achava que toda afirmação, afinal de contas, não
passava de mentira. Os líderes totalitários basearam a sua propaganda no
pressuposto psicológico correto de que, em tais condições, era possível fazer
com que as pessoas acreditassem nas mais fantásticas afirmações em
determinado dia, na certeza de que, se recebessem no dia seguinte a prova
irrefutável da sua inverdade, apelariam para o cinismo; em lugar de
abandonarem os líderes que lhes haviam mentido, diriam que sempre
souberam que a afirmação era falsa, e admirariam os líderes pela grande
esperteza tática. [PROPAGANDA DE MASSA: A MENTIRA SE
SUSTENTA, POR CONTA DO CINISMO] (p. 432)

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