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CONVENIO
SECRETARIA DE ENSINO DE 1º E 2º GRAUS/MEC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FUNDAÇÃO CEARENSE DE PESQUISA E CULTURA

PARTICIPAÇÃO: FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS

AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO RURAL BASICA


NO NORDESTE BRASILEIRO

COMPARAÇÕES BASICAS
RELATÓRIO TÉCNICO N° 4
1982
EQUIPE TECNICA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
ANGELA TERESINHA DE SOUZA THERRIEN
HELENA MARIA DE SDUZA FERREIRA
JACQUES THERRIEN
MARIA CONSUELO LINS DE MATOS
MARIA LÚCIA LOPES DALLAGO
MEIRECELE CALÍOPE LEITINHO SOARES
RAIMUNDO HÉLIO LEITE [Coordenador)
ROSEMARY CONTI FURTADO
SILENE BARROCAS TAVARES

EPUIRE DE PROCESSANDO DE DADOS


JOÃO BATISTA GOMES FERREIRA NETO
ROBERTO CLAUDIO FROTA BEZERRA

EPUIPE DE APOIO
ANA NERY BEZERRA PARA
ENÛE DE JESUS CUNHA MORAES
INDICE

INTRODUÇÃO - 01
1. DADOS SOBRE A ESCOLA - os
1.1. RECURSOS HUMANOS - 03
1.2. ASSISTÊNCIA ADMINISTRATIVA - 05
1.3. ASSISTÊNCIA AO ALUNO - 05
1.4 CONDIÇÕES FÍSICAS DA ESCOLA - 07

2. DADOS SOBRE O(A) PROFESSORE - 17


2.1. SALÁRIO E SITUAÇÃO FUNCIONAL - 18
2.2. ATIVIDADE DOCENTE - 19
2.2.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM CLASSE - 19
2.2.2. RECURSOS MATERIAIS - 26
2.2.3. TIPO E FREQÜÊNCIA DE DEVERES DE CASA - 29
2.2.4. MODOS DE AVALIAR A APRENDIZAGEM - 33
2.3. ATITUDE E DESEMPENHO DO[A] PROFESSOR[A] FACE À SUPERVISÃO - 35
2.4. ATITUDE DOS PROFESSORES QUANTO A IMPORTÂNCIA E DIFICULDA-
DE DAS DISCIPLINAS DO CURRÍCULO - 41

3. DADOS SOBRE 0 ALUNO - 53


3.1. TIPOS DE CLASSE! MULTISSERIADA E SERIADA - 53
3.2. IDADE DE INGRESSO E INTERRUPÇÃO NOS ESTADOS - 54
3.3. ASSISTÊNCIA AO ALUNO - 59
3.4. TAREFAS ESCOLARES FORA DE SALA DE AULA, - 64
3.5. TRABALHO DO ALUNO - 69
3.6. ASSIDUIDADE ÀS AULAS - 73
3.7. DISTÂNCIA DA CASA DO ALUNO À ESCOLA - 74

4. DADOS SOBRE A FAMILIA - 78


4.1. ASPECTO ECONÔMICO - 80
'4,2, A QUESTÃO DA MIGRAÇÃO - 86
4.3. PARTICIPAÇÃO EM SINDICATOS E COOPERATIVAS - 89
4.4. O PERFIL ESCOLAR DA FAMÍLIA - 91
TABELAS
01 - Recursos humanos das Escolas Dor Estado e tipo de programa. 1981 -
- 04
02 - Orientação Administrativa cada às escolas, por Estado e tipo de pro
grama - 06
03 - Suprimento de material de consumo, didático e merenda escolar, por
Estado e tipo de programa. 1981 - 08
04 - Construção e Ampliação do prédio escolar, por Estado e tipo de pro-
grama. 1981 - 09
05 - Infra-estrutura física e material das escolas, por Estado e tipo de
programa. 1981 - 12
06 - Características de salubridade dos prédios, por Estado e tipo de pro
grama. 1981 - 13
07 - Mediana do salário e da gratificação dos professores, de acordo com
o tipo de programa, segundo o Estado, 1981 - 14
08 - Características da Situação Funcional dos Professores, por Estado e
tipo de programa. 1981 - 20
09 - Tipos de atividades em classe desenvolvidas pelos professores, por
Estado e tipo de programa. 1981 - 21
10 - Tipos de atividades em classe desenvolvidas pelos docentes dos muni-
cípios assistidos pelo EDURURAL, por Estado e tipo de classe. 1981 -
24
11 - Tipos de atividades em classe desenvolvidas pelos docentes dos muni-
cípios assistidos por OUTROS Programas, por Estado e tipo de classe.
1981. - 25
12 - Tipos de recursos materiais usados pelos professores, por Estado e
tipo de programa. 1981 - 27
13 - Atividades de deveres de casa pedidos pelos professores, por Estado
e tipo de programa. 1981 - 30
14 - Freqüência dos deveres de casa pedidos pelos professores, por Esta-
do e tipo de programa. 1981 - 32
15 - Modos dos professores avaliarem a aprendizagem, por Estado e tipo de
programa. 1981 - 34
16 - Atitudes dos professores face à Supervisão, por Estado e tipo de pro
grama. 1981 - 36
17 - Formas de preparação de aulas, por Estado e tipo de programa. 1981 -
40.
18 - Atitude dos professores quanto à importância das disciplinas do cur-
rículo, por Estado e tipo de programa. 1981 - 42
19 - Atitude dos professores quanto à dificuldade das disciplinas do cur-
rículo, por Estado e tipo de programa. 1981 - 46
20 - Atitude dos professores quanto ã irrelevância das disciplinas do cur_
rículo, por Estado e tipo de programa. 1981 - 48
21 - Tipo de classe em que estudam os alunos, por Estado, tipo de progra-
ma e série. 1981 - 55
22 - Idade média de ingresso na escola dos alunos de 2a. e 4a. séries,por
Estado e tipo de programa. 1981 - 56
23 - Alunos de 2a. e 4a. séries que deixaram de estudar, durante um ano
ou mais, por Estado, e tipo de programa. 1981 - 58
24 - Média em anos de interrupção de estudos dos alunos de 2a. e 4a. sé-
ries, por Estado e tipo de programa. 1981 - 59
25 - Forma de obtenção do Iivro didático pelos alunos, por Estado,tipo de
programa e série. 1981. - 60
26 - Freqüência com que os alunos recebem merenda escolar, por Estado,ti-
po de programa e série. 1981 - 63
27 - Freqüência com que os alunos recebem deveres de casa, por Estado, ti
po de programa e série - 1981 - 65
28 - Freqüência com que os alunos recebem ajuda nos deveres de casa ,
por Estado,- tipo de programa e série. 1981 - 67
29 - Ajuda da professora aos alunos fora de aula, por Estado, tipo de
programa e série. 1981 - 7 0
30 - Freqüência dos alunos ao trabalho, por Estado, tipo de programa ,
série e sexo. 1981 - 71
31 - Médias de faltas dos alunos, nos meses de agosto e setembro,por Es
tado, tipo de programa e série. 1981 - 73
32 - Distância da casa dos alunos à escola,por Estado, tipo de programa
e série. 1981 - 75
33 - Situação de posse da terra, por Estado, tipo de programa e série .
1981 - 81
34 - Estrato de área, por Estado, tipo de programa e série. 1981 - 82
35 - Forma de trabalho das famílias, por Estado, tipo de programa e sé-
rie. 1981 - 85
36 - Local de residência da família, na ocasião do nascimento do aluno,
por Estado, tipo de programa a série. 1981 - 87
37 - Tempo mediano de residência das famílias no município, por tipo de
programa e série. 1981 - 88
38 - Participação das famílias em sindicatos e cooperativas, por Estado,
tipo de programa e série. 1981 - 92
39 - Escolaridade do pai, por Estado, tipo de programa e série. 1981
93
40 - Escolaridade da mãe, por Estado, tipo de programa e série. 1981
94
41 - Crianças em idade escolar (7-14 anos), residentes na casa do aluno
e freqüentando a escola, por Estado, tipo de programa e série.1981
- 97
42 - Crianças em idade escolar (7-14 anos), residentes na casa do aluno
a
. que não freqüentam a escola, por Estado, tipo de programa e sé-
rie. 1981 - 98
INTRODUÇÃO

O presente Relatório (nº 4) — Comparações Básicas —


da seqüência à apresentação e discussão dos dados coletados pe_
lo Projeto de Avaliação da Educação Rural Básica, no Nordeste
Brasileiro.

Os elementos, objeto de estudo, foram a escola, o pro_


fessor, o aluno e sua família. Poder-se-ia dizer que o profes_
sor respondendo, inicialmente sobre si mesmo, sua qualifica—
ção, situação funcional, atividade profissional e, depois, so_
bre a situação e funcionamento da escola, — o fazia, a par-
tir de sua percepção como agente de educação, isto é, de uma
perspectiva institucional. Enquanto isto, aluno e familia se
expressavam do ponto de vista de sujeitos da educação.

0 confronto das informações fornecidas pelos docentes


e pelos alunos deverá conferir mais consistencia à análise dos
dados.
Este Relatório reúne algumas comparações que serão es_
tabelecidas entre as características contidas, em cada elemen_
to, de per si, e, na medida do possivel, relacionando-se as
informações obtidas, entre os 'elementos em estudo.

As comprações visam a verificar como os elementos con_


siderados e suas caracteristicas se apresentam em cada um dos
Estados, segundo o tipo de programa e série.
Ao mesmo tempo em que se tentava uma análise da esco-
la, do professor, do aluno e da família, questões foram sendo
levantadas para posterior averiguação e/ou aprofundamento.

Ao final, pretende-se traçar um perfil dos elementos,


a partir das maiores freqüências observadas. Ter-se-á, assim,
uma visão geral do universo que compõe a amostra. Foram esco_
Ihidas, para cada um desses elementos, caracteristicas julga-
das significativas na determinação do perfil que deverá ser-
vir para comparações com dados, a serem coletados futuramente,
1. DADOS SOBRE A ESCOLA

No total das escolas da amostra (603), pode-se desta

car a municipalização dos predios e da administração,como tra_

ço marcante das escolas dos municípios assistidos ou não pelo

EDURURAL.

1.1, RECURSOS HUMANOS

Tomando-se para análise os dados relativos aos recur-

sos humanos da escola, constata-se [Tabela 1) que em mais de

50% destas atua apenas um(a) professor(a]. Acrescentando-se a

parcela de 22% de unidades que contam com dois prof essores,ca

racteriza-se uma situação que justifica, em parte a ausência

do diretor na maioria (86%) dos estabelecimentos. Desta for-

ma, na escola rural as funções do administrador escolar se

acham diluídas nos encargos dota] prof essor(a] . Nos tris Esta

dos, nas escolas das municípios atendidos pelo EDURURAL, ob-

serva-se uma proporção maior de casos com apenas um(a) prof es

sorta), dispensando obviamente a presença do diretor.

Na mesma Tabela 1, diante dos altos percentuais, indi_

cando a ausência de secretário (95%] e merendeira (acima de

7 0 % ] , nos três Estados, presume-se que o professor assume,tam

bém, essas atividades. No caso de substituir a merendeira, o

encargo torna-se maior por ser a própria professora também

responsável, muitas vezes, pelo recebimento e transporte da


TABELA 1 - Recursos humanos das E s c o l a s , por Estado e t i p o de Programa. 1981,

PIAUÍ CEARA PERNAMBUCO SUB-TOTAL TOTAL


RECURSOS EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS
HUMANOS
F % F % F %
F % F % F % F % F % F %

DIRETOR
Tem 18 14 11 23 17 10 14 17 7 6 5 8 42 10 30. 15 ,72: .12..
Não há 111 86 37 77 151 90 67 83 103 94 62 92 365 90 166 85 531 88
SUBTOTAL 129 100 48 100 168 100 81 100 110 100 67 100 407 100 196 100 603 100
Nº DE PROFESSORES
01 67 52 9 19 100 60 29 36 62 56 38 57 229 • 56 76 39 305 51
02 29 23 10 21 24 14 23 27 34 31 15 22 87 22 48 24 135 22
03 9 7 9 19 14 8 10 12 11 10 4 6 34 8 23 11 57 9
04 12 9 8 17 17 10 10 12 2 2 4 6 31 8 22 11 53 9
05 1 1 2 4 7 4 3 4 -- — 4 6 8 2 9 5 17 3
06 .6 5 4 8 1 1 2 3 1 1 2 3 8 2 8 4 16 3
07 3 2 5 10 2 1 2 3 5 1 7 4 12 2
Nao respondeu 2 1 1 2 3 2 2 3 5 1 3 2 8 1
SUBTOTAL 129 100 48 100 168 100 81 100 110 100 67 100 407 100 196 100 603 100
SECRETARIO
Tem 5 4 1 2 8 5 3 4 6 5 2 3 19 5 6 3 25 4
Não há 124 96 47 98 160 95 78 96 104 95 65 97 388 95 190 97 578 96
SUBTOTAL 129 100 48 100 168 100 81 100 110 100 67 100 407 100 196 100 603 100
Nº DE MERENDEIRAS
01 53 41 26 54 36 21 34 42 12 11 24 36 101 25 84 43 185 31
02 3 2 -- -- 8 5 2 2 1 1 -- -- 12 3 2 1 14 2
03 2 2 -- 1 1 3 1 -- -- 3 0,5
Não há 71 55 22 46 123 73 45 56 97 88 43 64 291 71 110 56 401 66,5
SUBTOTAL 129 100 48 100 168 100 81 100 110 100 67 100 407 100 196 100 603 100
Nº DE ZELADORES
01 35 27 29 61 23 14 16 20 21 19 23 79 20 68 35 147 24
34
02 3 2 4 8 5 3 1 1 -- -- 1 82 2 6 3 14 3
03 4 3 -- -- 2 1 6 1 -- -- 6 1
Não há 87 68 15 31 138 82 64 79 89 81 43 64 314 77 122 62 436 72
SUBTOTAL 129 100 48 100 168 100 81 100 110 100 67 100 407 100 196 100 603 100
Nº DE VIGIAS -
01 9 7 5 10 6 4 2 2 1 1 2 3 16 4 9 5 25 4
02 2 2 -- -- 3 2 5 1 — -- 5 1
Não há 118 91 43 90 159 94 79 98 109 99 65 97 386 95 187 95 573 95
SUBTOTAL 129 100 48 100 168 100 81 100 110 100 67 100 407 100 196 100 603 100
merenda escolar, desde a sede municipal ao local da escola.

Conclui-se, pois, que a precariedade dos recursos hu

manos é comum às escolas dos Estados focalizados, sendo maior

nas escolas dos municípios incluídos no EDURURAL.

1.2. ASSISTÊNCIA ADMINISTRATIVA

A orientação para registrar a matrícula, controlar a

freqüência e anotar os resultados das provas é constatada, pe

los dados obtidos (Tabela 2), como uma ação que já se efetiva

nas escolas da amostra, tendo maior ênfase no Estado do Pi-

auí, independente da escola pertencer ou não aos municípios

incluídos no EDURURAL. No Ceará, o número de escolas que nao

recebe este tipo de orientação é mais elevado e se situa en-

tre as escolas dos municípios incluídos no EDURURAL, conforme

se' vã na Tabela 2. Novas intervenções parecem, pois, necessá-

rias a nível desse Estácio. Igualmente, mereceria maior esfor-

ço o registro de freqüência, por ser um componente imprescin-

dível ao controle da eficiência do ensino.

1.3, ASSISTÊNCIA AO ALUNO

A assistência ao aluno, no caso, pode assumir a for-

ma direta, quando se tratar de material escolar e de merenda,

ou ainda a forma indireta através do provimento de material pa_

ra secretaria e de giz.

As pessoas, que nas escolas da amostra responderam so_

bre o suprimento de material de consumo para secretaria ates-


TABELA 2 - Orientação Administrativa dada às escolas, por Estado e tipo de programa. 1981.
taram, em sua maioria, nue nao recebem o referido material.

Neste aspecto, as escolas localizadas nos municípios do EDURU

RAL apresentam situação pior que as escolas dos municípios in

cluídos em outros programas. Estão em Pernambuco, as escolas

mais desassistidas. Quanto ao recebimento de giz, constatou —

-se que, mais de 50% do total das escolas estão servidas, ten

do as escolas dos municípios assistidos pelo EDURURAL, no Cea

rá, apresentando a situação mais precária, com 62% delas rece

bendo giz em quantidade insuficiente ou não recebendo. (Tabe

la 3] .

Atinge 80% o percentual dos que declararam receber ma_

terial para alunos em quantidade insuficiente e dos que afir-

maram não receber. A situação se apresenta mais grave em Per-

nambuco, onde esse percentual chega a 90%.

Em relação ã merenda escolar, 72% dos declarantes res

ponderam que não a recebem ou a recebem em quantidade insufi-

ciente .

Observou-se, ainda informalmente, que é comum o rece-

bimento de gêneros para o preparo da merenda escolar em esta-

do deteriorado.

1 . 4 CONDIÇÕES FÍSICAS DA ESCOLA

Foram visitados 603 prédios escolares, 62% dos quais

foram construídos especialmente para o funcionamento de esco-

las. Dos restantes, 10% são prédios não construídos para abri-

gar escolas e 2B% ("não se aplica"] são escolas que funcionam

na casa da professora (Tabela 4 ) .


TABELA 3 - Suprimento de material de consumo, didático e merenda escolar, por Estado e tipo dé programa. 1981.
TABELA 4 - Construção e Ampliação do prédio escolar, por Estado e tipo de programa. 1981.
Os municípios nao incluídos no EDURURAL apresentam o

maior percentual de escolas funcionando em prédios construí-

dos para tal (73%) e o menor percentual de escolas funcionan-

do na casa da professora (17%). 0 mesmo ocorre nos três Esta-

dos que compõem a amostra.

Do total de escolas da amostra excluindo a casa da pro

fessora, apenas 18% sofreram ampliação, segundo os d e c l a r a n —

tes. Esse percentual se eleva para 38% nas escolas de municí-

pios incluídos em OUTROS Programas, enquanto nos municípios

abrangidos pelo EDURURAL, apenas 8% dos prédios escolares fo-

ram ampliados.

Nos aspectos investigados referentes à infra-estrutu-

ra física e material, vale notar que, em 28% do total dos ca-

sos observados, a sala de aula faz parte da casa da professo-

ra. Conhecendo-se diretamente as condições da casa em que a

professora mora, muitas vezes de chão batido, sem janelas su-

ficientes e com espaço reduzido, pode-se afirmar que nao exis

te uma infra-estrutura física, para que se processe a ativi-

dade de ensino. Ademais, considere-se o fato de que, ao fun-

cionar na casa da professora, a aula passa a sofrer interfe —

rancias das ocorrências domésticas, impondo à professora o con

trole simultâneo de atividades diversas.

Na questão que verifica a existência de cantina/cozi-

nha, observou-se percentual mais elevado (38%) nas escolas

dos municípios que não participam do EDURURAL, comparando-se

àquelas que pertencem a municípios do EDURURAL (29%).Tais per

centuais, entretanto, são superados por aqueles que indicam


não existir cantina (42%, EDURURAL; 46%, OUTROS]. Acrescente-

-se a esses a percentagem de escolas funcionando na casa da

professora e que nao dispõem de cantina ou cozinha própria da

escola.

Msreae atenção o fato de que aproximadamente 1/3 das

escolas nos Estados focalizados nao dispõem de equipamento pa

ra o aluno sentar ou escrever (Tabela 5 ) . A essa carência so-

ma-se o agravante ria qualidade do equipamento, quando este

existe.

Finalmente, os dados relativos às condições de salu-

bridade dos prédios escolares revelam que as escolas que pos-

suem banheiros se encontram situadas, em maior percentagem,

nos municípios que não participam do EDURURAL, situação esta

que se repete nos três Estados. Vê-se na Tabela 6 que há maior

número de fossas do que de banheiros, o que provavelmente se

deve ã orientação dada no questionário, para que se omitisse

a informação, quando se tratasse da casa da professora.

A situação da água para beber revela-se precária, em-

bora a maioria das escolas (acima de 7 0 % ] , nos três Estados

analisados, tenha declarado dispor de água. Considera-se, en

tretanto, que a proporção de escolas que não têm água para be

ber pode ser considerada bastante elevada (cerca de 3 0 % ) ; ten-

do em vista as dificuldades evidentes que a ausência da água

acarreta, além de implicar em prejuízos para a implementação

do Programa da Merenda Escolar. Obeerva-se que não obstante

os dados acima, 54% das escolas não tem água para o preparo

da merenda escolar. Em relação à disponibilidade de água para


TABELA 5 - Infra-estrutura física e material das escolas, por Estado e tipo de programa. 1981.
TABELA 6 - Características de salubridade dos prédios por Estado e tipo de programa. 1981.
a merenda, as escolas situadas em municípios contemplados pe-

lo EDURURAL estão em situação mais difícil.

Reunindo as características mais salientes das esco-

las descritas, vemos pouca diferenciação entre as escolas que

se situam em municípios assistidos pelo EDURURAL ou assisti-

dos por OUTROS Programas. Nos dois tipos de programa, há pre-

cariedade em quase todos os tópicos pesquisados. Estas esco-

las contam, freqüentemente, com uma única professora, que re-

cebe material para secretaria e material didático, para uso

próprio e para distribuir com os alunos, em quantidade insufi

ciente, com o agravante de haver, também, escassez de equipa-

mentos para o aluno sentar e escrever.

As condições de salubridade revelam-se, também, defi-

citárias. As escolas raramente dispõem de sanitários e água

suficiente até para o preparo da merenda escolar. O recebimen

to da merenda escolar é outro insumo que é declarado insufici

ente pela maioria das escolas.

Somente a assistência administrativa, expressa na ori-

entação para registro de matrícula, no controle de freqüência

e anotações de resultados das provas, se efetiva de forma mais

ou menos regular, pois uma quantidade ponderável de escolas

afirmou recebê-la, de forma clara.

Um pouco mais da metade das escolas pesquisadas per-

tence ao Município e se encontra sob sua dependência adminis-

trativa. Ressalte-se, todavia, que 28% destas escolas funcio-

nam na casa da professora, ondo as condições de funcionamento

se revelam de extrema precariedade, sem arejamento, luz ou um


mínimo de equipamento necessário.

A seguir, são fornecidos dados mais precisos sobre as

pectos relevantes da situação dos prédios escolares da amos-

tra .

como em 51% dos casos, as escolas dispõem somente de

um professor, este acumula funções de administrador, secretá-

rio e merendeiro, somando-se a estas atividades, a interfere^

cia dos ^fazeres domésticos, quando a escola se situa na casa

da professora.

No aspecto administrativo, a orientação para regis-

tros de matrícula, controle de freqüência e anotação dos re-

sultados das provas, se efetiva em mais de 85% do total das es

colas pesquisadas.

com relação ã assistência proporcionada ao aluno pela

escola, observou-se, em 45% da amostra, que o material para o

aluno é insuficiente e que a merenda escolar, não é recebida

por 38% das escolas ou é recebida, insuficientemente, em 34%

delas.

Quanto às condições físicas de funcionamento, requer

atenção o fato de que pouco mais de 1/3 (208) das escolas p e_s_

quisadas não dispõem de equipamento para o aluno sentar ou es

crever. Apesar deste dado, observou-se, todavia, que mais de

62% (372) destes prédios foram construídos para serem escolas

Esta constatação revela certa inconsistência na política de

criação de escolas rurais, pois, eventualmente, quando lhe é

assegurado o espaço físico (como um bem público), não se lhes

proporcionam as condições mínimas de funcionamento.


As condições sanitárias também são insatisfatórias ,

pois somente 40% da amostra dispõem de banheiros e 55% contam

com fossas sépticas, em condições precárias de higiene.A água

para beber nao existe em 29% das escolas e é insuficiente pa-

ra preparar merenda em 46% das mesmas.


2. DADOS SOBRE O(A) PROFESSOR(A)

De acordo com a caracterização dos professores descri_

ta no Relatório da Amostra, a maioria dos docentes pertence

ao sexo feminino, com idade mediana "de 20 anos e com

nível educacional que dificilmente ultrapassa a 4a. série do

1º grau. A mediana de anos de serviço dos professores i 8

anos.

Para as comparações básicas dos dados sobre o(a) pro-

fsssor(a), foram escolhidas as seguintes características:

1) Salário e situação funcional;

2) Atividades docentes (atividades desenvolvidas em

classe, recursos materiais usados, tipo e freqüên-

cia de deveres de casa e modos de avaliar a apren-

dizagem) ;

3) Atitude e desempenho do(a) professor(a) face à su-

pervisão;

4) Atitude dota) professore a) quanto à importância ,

dificuldade e irrelevância das disciplinas de cur-

rículo.

A seguir, são discutidos os dados referentes a cada

uma das características mencionadas acima para as comparações

básicas.
2.1. SALÀRIO E SITUAÇÃO FUNCIONAL

Ao considerar o nível salarial dos professores, nota-

damente quanto o(a) professor(a) recebe por mês, sem incluir

gratificação, interessava ao presente estudo constatar qual a

situação atual, de modo a servir como referência a estudos po_s

teriores.

A situação genérica, apresentada na Tabela 7, revela

a desvalorização salarial do magistério, com conotações alar-

mantes no Estado do Ceará, especialmente nas escolas que se

situam em municípios assistidos pelo EDURURAL. Para maior pre_

cisão no conhecimento da situação salarial dos professores da

amostra, procurou-se investigar, também, o recebimento ou não

de gratificação pelos mesmos. Os dados aparecem na Tabela 7,

embora não ofereçam confiabilidade pelo fato da maioria dos

professores não haver registrado o montante da gratificação.

TABELA 7 - Mediana do salario e da gratificação dos professores de acordo


com o tipo de programa, segundo o Estado. 1981

SALARIO GRATIFICAÇÃO
ESTADO
EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS

PIAUÍ 4.651,00 6179,25 1.129,85 1.140,00


CEARA 600,26 1.399,63 800,00 504,28
PERNAMBUCO 2.500,00 5.999,37 250,00 2.225,00

Supõe-se que, em muitos casos não há, no ato do pagamento ,

uma distinção precisa do que corresponde a salário, daquilo

que representa uma gratificação, ficando, assim, prejudicada

a informação.

Ainda a respeito de salário, entre 25% a 40% dos pro-


fessares informaram não receber o salário em dia, não havendo

diferença entre as escolas que se situam em municípios parti-

cipantes ou não do EDURURAL.

Quanto a situação funcional (Tabela 8 ) , a maior inci-

dência recaiu na categoria "Contratada" com 65% do total dos

casos. Superficialmente, essa situação pareceria bastante sa-

tisfatória; o que ela sugere, ao invés, é que se procure in-

vestigar a natureza dos contratos, uma vez que no questioná-

rio não foi dada a oportunidade para melhor explicitar as di-

ferentes formas de contrato. De igual forma poder-se-ia ten-

tar conhecer 'melhor os processos de interferência política na

determinação dos contratos, o que parece influenciar a insta-

bilidade e mobilidade dos professores.

2.2. ATIVIDADES DOCENTES

2.2.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM CLASSE

De acordo com a Tabela 9, cujas respostas não são ex-

clusivamente para cada item, pode-se constatar que, em geral,

as atividades mais exploradas em salas de aula são "Festas Co_

memorativas" contando com 582 escolhas (72%]. Vem, em segui-

da, as "Aulas de Religião" e "Estudo em grupo" com 457 (57%)

e 454 (56%) escolhas, respectivamente.

A preferência dos professores por atividade do tipo

"Festas Comemorativas" parece refletir, ã primeira vista, uma

tendência destes docentes de considerar a função socializante

da escola como mais relevante do que sua função como transmi_s_

sora de conhecimentos. Outras interpretações, entretanto, po-


TABELA 8 - Características da situação funcional rios professores por Estado e tipo de programa. 1981.
TABELA 9 - Tipos de atividades em classe desenvolvidas pelos professores por Estado e tipo de programa. 1981.
deriam ser exploradas, focalizando-se, por exemplo, os obje-

tivos destas festividades. As "Festas Comemorativas" pode-

riam estar revestidas de objetivo puramente "pitoresco" ou

"ornamental", em vez de serem desenvolvidas com a finalidade

de promover a integração da Escola, Familia e Cornunidade(Dia

das Mães, Dia da Criança, e t c ) , ou, ainda, como meio de trans

mitir conhecimentos referentes, especialmente, ã área de Es-

tudos Sociais (fatos históricos). Indaga-se, entretanto, so-

bre a validade de ensinar fatos históricos, a partir de da-

tas previamente estabelecidas no calendário escolar. Talvez,

dessa forma, o processo histórico passe a ser visto como fa-

tos isolados, sem uma seqüência lógica no tempo e sem um pos

sível relacionamento de causa e efeito entre eles. com essa

disfunção histórica o que restaria seria uma simples memori-

zação de nomes e datas.

Dada a forma como o item "Estudo em Grupo" foi men-

cionado no questionário, sem outros esclarecimentos acerca

do objetivo dessa atividade, não se sabe se a relativa inci-

dência de respostas a esse item deve-se a uma interpretação,

pelos entrevistados, de que "Estudo em Grupo" corresponderia

a simples momentos em que os alunos, "agrupados",elaboram car

tazes ou participam de comemorações ou jogos. Teoricamente ,

"Estudo em Grupo" corresponderia a situações planejadas com

o intuito de desenvolver habilidades e atitudes sociais no

aluno.

Independentemente do Estado em que ensinam, os pro-

fessores, cujas escolas se encontram em municípios atendidos

pelo EDURURAL desenvolvem, por ordem de prioridade, as se-


guintes atividades em sala de aula: "Festas Comemorativas"

(68%), "Aulas de Religião" (56%) e "Estudo em Grupo" (52%) .

Os professores, cujas escolas se acham em municípios que são

atendidos por OUTROS Programas, preferem "Festas Comemorati-

vas" ( 8 1 % ) , "Canto" (63%), e "Aula de Religião" (58%). A di-

vergência entre esses dois grupos de municípios foi apenas

referente ã ordem de prioridade atribuída às "Aulas de Reli-

gião", além da inclusão de "Estudo de Grupo" e "Canto", no

primeiro e segundo grupos, respectivamente.

Tentando-se verificar se o tipo de classe que o pro-

fessor ensina influenciaria na preferência por uma ou outra

atividade, foi feita uma analise cujos resultados aparecem

na Tabela 10 (referente ao EDURURAL) e Tabela 11 (referente

a OUTROS). Os dados indicaram que os professores que lecio-

nam em classes multisseriadas (EDURURAL 67%, OUTROS 82%) e

seriadas (EDURURAL 71%, OUTROS 8 0 % ) , independente de suas e_s

colas serem ou não assistidas pelo EDURURAL, desenvolvem com

maior freqüência atividade do tipo "Festas Comemorativas".

Entre os Estados (vide Tabela 9 ) , a grande freqüên-

cia de "Festas Comemorativas" é encontrada entre os professo

res dos Estados do Piauí e Pernambuco, independentemente de

suas escolas pertencerem a municípios que são assistidos ou

não pelo EDURURAL. No Ceará, entretanto, apenas os professo-

res das escolas cujos municípios estão incluídos em OUTROS

Programas indicaram "Festas Comemorativas" 081%) como a ati-

vidade mais desenvolvida em sala de aula. Os docentes que l_e

cionam em municípios assistidos pelo EDURURAL preferem"Au la s

de Religião" (51%), embora, como segunda opção, tenham men-


TABELA 10 - Tipos de atividades em classe desenvolvidas pelos docentes dos municípios assistidos pelo EDURURAL, por
Estado e tipo de classe, 19B1.
TABELA 11 - Tipos de atividades em classe desenvolvidas pelos docentes dos municípios assistidos por OUTROS Programas,
por Estado e tipo de classe. 1981.
clonado "Festas Comemorativas" (49%). A ênfase no ensino re-

ligioso nesse grupo poderia ser explicada pela localização

das escolas nesses municípios, as quais, em sua grande maio-

ria, concentram-se em áreas próximas às cidades de Juazeiro

do Norte e Canindé. Estas cidades são conhecidas pela sua re

ligiosidade e romarias ao Pe. Cícero e São Francisco das Cha

gas, respectivamente.

A segunda atividade mais freqüente no Estado do Pi-

auí é "Estudo em Grupo" (EDURURAL, 6B%; OUTROS, 71%) que tarn

bém foi mencionada por 66% dos professores do Ceará que le-

cionam em escolas localizadas em municípios assistidos por

OUTROS Programas. Em Pernambuco, entretanto, 71% dos profes-

sores dos municípios assistidos pelo EDURURAL preferem de-

sensolver, em classe, atividades religiosas e atividades re-

lativas ã "Limpeza da Escola". Nesse último Estado, os pro-

fessores dos municípios assistidos por OUTROS programas uti-

lizam "Canto" como segunda atividade (65%).

2.2.2. RECURSOS MATERIAIS

Entre os materiais didáticos utilizados pela amostra

de professores, o "Livro Adotado em Classe" foi o mais cita-

do, com 693 respostas (86%), seguido de "Livros Diferentes

para Completar Lições", com 455 casos (56%) (Vide Tabela 12

cujas respostas não são mutuamente exclusivas). Estes recur_

sos foram mencionados na mesma ordem de prioridade pelos pro_

fessores que lecionam em municípios atendidos ou nao pelo

EDURURAL.
TABELA 12 - Tipos de recursos materiais usados pelos professores por Estado e tipo de programa. 1981.
A grande utilização do "Livro adotado em classe" pe-

los professores da amostra revela a importância que o livro-

-texto pode ter na organização curricular e no tipo de exer-

cícios, desenvolvidos em classe e em casa. Sabe-se que, em

alguns casos, os livros adotados em classe constituem o ver-

dadeiro guia curricular do(a) professor(a) que os segue, pá-

gina após página, sem muitas vezes fazer adaptação e análise

crítica das informações, conceitos ou do tipo de valores trans_

mitidos nos textos. Assim, a determinação do que é ou não ini

portante para uma determinada clientela de alunos passa a ser

estabelecida, via de regra, pelos autores de livros.

Vi-se, portanto, que se, por um lado, é extremamente

importante levar o aluno a 1er e ter pelo menos "UM" Iivro

para estudar, por outro lado, pergunta-se "Sobre o quê,como,

por quê e para quê a criança lê?"

Nos três Estados (Piauí, Ceará, Pernambuco), o Iivro

texto adotado em classe constitui o recurso mais usado em

ambos os tipos de municípios. Algumas divergências entre os

Estados foram, entretanto, encontradas, quando foi feita uma

análise do segundo tipo de recurso material mais presente

nas escolas. No Estado rio Ceará, os dados encontrados sao os

mesmos da amostra como um todo. Entretanto, Piauí e Pernambu-

co apresentam algumas variações. No Piauí, livros suplementa_

res para completar lições são a segunda opção entre os 97 pro

fessores ( 5 5 % ) , cujas escolas se acham em municípios que sao

atendidos pelo EDURURAL, enquanto que a utilização de "Carta_

zes" foi mencionaria por 39 professores (52%), cujas escolas

se localizam em municípios que recebem recursos de OUTROS


Programas. Em Pernambuco, os dados são inversos daqueles en-

contrados no Piauí. 0 segundo recurso material mais usado

nos municípios assistidos pelo EDURURAL são "Cartazes"(60%),

enquanto que nos municípios nao assistidos por esses progra-

mas são livros suplementares (63%].

Sabendo-se que "Material Didático" para as escolas

constitui um dos insumos do programo EDURURAL, espera-se que

tais recursos ensejem a aquisição e/ou elaboração de materi-

al que venha, de fato, atender as necessidades, caracteristi_

cas e valores daqueles que serão seus usuários.

2.2.3. TIPO E FREQÜÊNCIA DE DEVERES DE CASA

Procurou-se conhecer quais as atividades que o(a) pro

fessor(a) pede às crianças, nos deveres de casa (Tabela 13 ,

cujas respostas não são mutuamente exclusivas]. Os resulta-

dos indicaram a preferência dos professores da amostra por

"Exercícios Contidos no Livro" (92%], seguindo-se "Desenho"

(61%] e "Bilhete" (56%]. Essa mesma preferência e prioridade

por tipo de atividades de deveres de casa foi encontrada en-

tre os professores que lecionam em municípios assistidos ou

não pelo EDURURAL, quando o critério Estado não foi levado

em consideração.

Em relação à incidência da utilização de "Exercícios

Contidos no Livro" como deveres de casa, observou-se a utili

zação do livro-texto de classe como recurso fundamental de e_n

sino. Quanto à freqüência de "Bilhetes", nota-se o aproveita_

mento, pela(a) professor(a), de um meio comumente utilizado

na comunidade rural para fins de comunicação.


TABELA 13 - Atividades de deveres de 'casa pedidas pelos professores por Estado e tipo de programa. 1981.
Outra observação geral que merece atenção é o fato de

que os percentuais mais baixos na amostra correspondem àque-

las atividades que ou exigem maior tempo disponível da parte

do(a) professor(a), como é o caso de "Versos e Histórias"(18%)

e "Descrição" ( 2 2 % ) , ou maior disponibilidade de recursos ma-

teriais, nesse caso, os "Recortes/Colagem" (27%) e "Cartazes"

( 3 1 % ) . 0 quadro descrito parece, pois, indicar que a rotina e

a carência de recursos direcionam o tipo de deveres de casa

mais usados pelos professores.

Feita uma comparação entre os 3 Estados, observa-se

que os mais altos percentuais encontrados, em ordem decrescen

te, para os deveres de casa, referem-se aos itens "Exercícios

Contidos no Livro", "Desenhos" e "Bilhetes".A única exceção

foi encontrada entre os professores que lecionam em municí-

pios assistidos pelo EDURURAL no Estado do Ceará que indica-

ram "Bilhete" (63%) como segunda opção e "Desenho" (55%)como

terceira.

com relação à freqüência com que são pedidos os deve

res de casa (Tabela 1 4 ) , o resultado geral é bastante satis-

fatório, pelo elevado percentual (60%) que correspondeu aos

deveres diários, seguindo-se aqueles que pedem deveres algu-

mas vezes por semana, no caso, 33%. Dados semelhantes quanto

ã freqüência dos deveres de casa foi encontrado entre os muni

cípios assistidos pelo EDURURAL e assistidos por OUTROS pro-

gramas, independentemente do critério Estado, com os primei-

ros indicando deveres "Todos os dias", num total de 56% e os

do segundo grupo 66%.


TABELA 14 - Freqüência dos deveres de casa pedidos pelos professores, por Estado e tipo de programa. 1981.
Entro os Estadas, os mais altos percentuais foram man

tidos constantes para os deveres diários, seguidos de deve-

res, algumas vêzes por semana.

2.2.4. MODUS DE AVALIAR A APRENDIZAGEM

De maneira geral, observou-se que 736 (91%] dos pro-

fessores pesquisados avaliam seus alunos através de 'provas

mensais ' (Vid e Tabela 15, cujas escolhas não sao mutuamente ex_

elusivas). A análise desses dados suscita preocupações, tanto

de natureza técnica (elaboração adequada de provas), como de

natureza valorativa, pois confirma a ênfase dada ao aspecto

cognitivo, bem como a tradicional soberania das provas como

instrumento fundamental na avaliação final do processo de

aprendizagem. 0 uso do "Comportamento do Aluno" como critério

de avaliação, segue em seguido lugar, com 347 escolhas (43%) .

Esta modalidade de avaliação é considerada na literatura peda

gógica como válida e desejada, quando apropriadamente usada .

Pergunta-se, entretanto, até que ponto os professores pesqui-

sados a utilizam com propriedade.

Estabelecida, ainda, uma comparação entre os professo

res que lecionam em municípios assistidos ou não pelo EDURU-

RAL, independentemente do Estado onde residem, os dados indi

caram que, nesses dois grupos de municípios, as formas de ava

liaçãc usadas por seus professores são idênticas:"Provas Men-

sais" (EDURURAL, 89%; OUTROS, 95%) e "Comportamento do Alu-

no" (EDURURAL, 42%; OUTROS, 45%) foram mencionados como pri-

meira e segunda formas mais utilizadas no processo de avalia-

ção .
TABELA 15 - Modos dos professores avaliarem a aprendizagem, por Estado e tipo de programa. 1981.
Análises das formas de avaliação mais usadas em cada

um dos Estados envolvidos neste Projeto mostraram que os pro-

fessores usam "Provas Mensais" para avaliar seus alunos, inde

pendentemente do fato desses professores lecionarem ou não,em

municípios assistidos pelo EDURURAL. Entretanto, encontram-se

diferenças entre os Estados, quando se compara a segunda moda

lidade de avaliação mais usada em cada um deles.

Os professores que lecionam em municípios assistidos

pelo EDURURAL, no Estado do Piauí, preferem o "Comportamento

do Aluno", correspondendo ao total de 74 casos [42%). No Cea-

rá e Pernambuco, os professores desse mesmo tipo de município

indicaram "Exercícios Freqüentes" (45%) e "Interesse do Alu-

no" (46%), respectivamente.

Os docentes dos municípios assistidos por OUTROS pro-

gramas, nos Estados do Ceará e Pernambuco, avaliam seus alu-

nos através da observação de seus comportamentos (53% 4 44% ,

respectivamente). No Piauí, entretanto, os docentes dessa

mesma categoria de municípios preferem "Exercícios Freqüen-

tes" (47%).

2,3. ATITUDES E DESEMPENHO DOÍA) PROFESSOR(A) FACE À SUPERVISÃO

De acordo com os dados apresentadas na Tabela 16, 311

(38%) dos professores da amostra indicaram preferência pelo

item "Seria bom se tivesse supervisão", sugerindo, pois, a n_e

cessidade de implantação desse serviço.


TABELA 16 - Atitudes dos professores face à supervisão, por Estado e tipo de programa. 1981.
O segundo item mais apontado, com 283 opções C 3 5% 3 ,

mostrou a necessidade de uma maior assistência da supervisão

já existente nas escolas.

Quando a análise ê feita, levando-se em considera-

ção apenas o fato das escolas pertencerem a municípios que

são ou nao assistidos pelo EDURURAL, verifica-se que os pri-

meiros sentem a necessidade da implantação dos serviços de

supervisão em suas escolas [43%}, enquanto os últimos pedem

uma continuação com maior assistência desse pessoal técni-

co (41%) .

Os dados acima apresentados reafirmam, portanto, que

o serviço de supervisão ainda não atingiu a grande totalida-

de das escolas rurais, não obstante os professores dessa

amostra terem demonstrado uma atitude positiva para com esse

tipo de assistência prestada ao processo ensino-aprendizagem

Fica a indagação se tal fato não é decorrente da: 1) carência

de recursos para contratação de supervisores para atuar na

zona rural: 2) falta de pessoal especializado para exercer

tal função; 3) condições de vida [inclusive baixo salário) ,

que o meio rural oferece, desencorajando aqueles capacitados

para desempenhar tal atividade; 4) dificuldade de acesso do

supervisor às escolas, quer por distância das mesmas, quer

por deficiências de estradas ou transportes; 5) falta de um

programa a nível de Órgão Municipal COME) em que fosse esti-

mulada, através de reuniões periódicas, a iniciativa dos pro

fessores para um planejamento voltado para a realidade de

suas escolas. Essas reuniões poderiam ser realizadas em dias

de pagamento. Evitar-se-ia, dessa forma, que os professores


tivessem quo se deslocar amiúde para a sede como também se

eliminaria ônus para o professor e para o município, caso

este ultimo se responsabilizasse pelo custeio de transporte.

com base nos comentários acima expostos, espera-se que a im-

plantação e/ou implementação do sistema de supervisão nos Or

gãos Municipais dos Estados envolvidos neste estudo,venha dar

ao supervisor condições, para que possa exercer uma ação ati-

va no processo de transformação da prática educacional, em

vez de se tornar um mero "fiscal multifacetado do estabeleci

do" [ 1 ) .

Feita uma análise por Estado, verifica-se que, no Pi

auí, 69 (39%) professores, cujos municípios são assistidos

pelo programa EDURURAL, optaram pela continuação do trabalho

de supervisão com maior assistência as escolas,enquanto que

38 (51%) professores, cujos municípios não são assistidos por

esse programa, acreditam que seria bom, se esse serviço fos-

se desenvolvido em suas escolas.

Os dados referentes ao Estado do Ceará foram inver-

sos daqueles obtidos no Piauí, com a grande maioria dos pro-

fessores das escolas dos municípios no EDURURAL (61%) mencio

nando a necessidade da implantação do serviço de supervisão.

Ao contrário, os professores, cujas escolas são assistidas

por OUTROS programas, preferiram a continuação mais atuante

do trabalho supervisionado (43%).

0 Estado de Pernambuco foi aquele em que os professo

1
( ) Ver: SILVA JUNIOR, Celestino Alves da. A supervisão e o ensino.Revis
ta da Associação Nacional de Educação. IM* 3, 1962,p.39-40.—
res nao divergiram em suas escolhas, independentemente das

escolas se situarem em municípios assistidos ou não pelo EDU

RURAL. Ambos os grupos acreditam que a supervisão deve cont_i_

nuar, porém, dando-se maior assistência (EDURURAL, 47%; OU-

TROS, 4 8 % ) ,

Sabe-se que, de acordo com os resultados da Tabela

17, 529 (87%) professores da amostra fazem seu planejamento

sem a ajuda de ninguém.

Comparando-se a amostra de professores das escolas

pertencentes a municípios assistidas ou nao pelo EDURURAL ,

verifica-se que em ambos os grupos o maior percentual encon-

trado ficou na categoria que se refera à "preparação de au-

las apenas pela própria Professora" (item "Só por Você"),com

68% e 59,5%, respectivamente.

Os professores dos Estado do Piauí (EDURURAL, 55% ;

OUTROS, 77%), Pernambuco (EDURURAL, 74%; OUTROS, 76%) e Cea-

rá (EDURURAL, 77%) elaboram, com maior freqüência, seus pla-

nos de aulas, sozinhos. A única exceção encontrada foi en-

tre as escolas assistidas por OUTROS programas no Estado do

Ceara, quando 56% dos professores desse grupo de municípios

executam seu planejamento com a assistência de supervisores

municipais.

A ajuda do supervisor municipal na elaboração de pla_

nos de aulas foi a segunda modalidade de planejamento mais

freqüente nos Estados do Piauí (EDURURAL, 35%; OUTROS, 1 9 % ) ,

Pernambuco (EDURURAL, 24%; OUTROS, 16%) e municípios incluí-

dos no programa EDURURAL do Ceará (13%).


TABELA 17 - Formas de preparação de aulas, por Estado e tipo de programa. 1981.
2A ATITUDE DOS PROFESSORES QUANTO À IMPORTÂNCIA,DIFICULDADE
E IRRELEVÂNCIA DAS DISCIPLINAS DO CURRÍCULO

A Tabela 18 (cujas respostas não são mutuamente exclu_

sivas) revela a importância que os prof essores da amostra atri

buem às disciplinas que compõem o currículo escolar. De acor-

do com as respostas dadas às 3 disciplinas apontadas, por or-

dem de prioridade, como mais importantes de serem ensinadas ã

criança são Matemática, Leitura e Estudos Sociais, com 615

(76%), 323 (40%) e 300 (37%) escolhas, respectivamente.

Os professores dos municípios atendidos pelo EDURU-

RAL, num total de 424 (79%) e 191 (70%) professores de municí_

pios assistidos por OUTROS programas foram unânimes em atribu_

ir o primeiro lugar, em importância, ao ensino da Matemática.

Os professores desses dois grupos de município divergiram ,

apenas, quanto ã 2a. e 3a. disciplinas mais importantes. Para

o primeiro grupo de docentes. Estudos Sociais e Leitura foram

classificados em 2º e 3º lugares, com 215 (40%) e 192(36%) es

colhas, respectivamente. Mas, para os professores cujos muni-

cípios são assistidos por OUTROS programas, a ordem foi inver

sa, com Leitura ficando em 2a. posição (131 escolhas, 48%) e

Estudos Sociais em 3º (85 escolhas, 3 1 % ) .

Os dados são interessantes e sugerem algumas possí-

veis interpretações. uma delas refere-se à diferença marcante

(quase o dobro) encontrada entre o grau de relevância mencio-

nado para o ensino de Matemática em comparação com o Ensino

de Leitura. Tal fato surpreende, uma vez que o domínio das

técnicas de leitura e interpretação de idéias é fundamental

paro que o aluno adquira informações nas demais áreas do cur-


TABELA 18 - Atitude dos professores quanto ã importância das disciplinas do currículo, por Estado e tipo de Programa. 1981
rículo. Possivelmente, os presentes dados refletem o estágio

de desenvolvimento em que se encontram as comunidades rurais

investigadas, apegadas, ainda, a muitos comportamentos e val£

res típicos de uma sociedade de tradição oral. A isto, se acres

ce o possível impacto que os meios de comunicação de massa,es-

pecialmente rádio e TV, possam estar exercendo em tais comuni

dades, trazendo de volta algumas das características e esta-

dos emocionais, associados a era da tradição oral.

Assim, a Leitura parece não ter sido, ainda, compree_n

dida como meio de libertação e ascensão social, permitindo aque

lea que a dominam condições de busca de novas emoções e refle

xão sobre respostas alternativas e soluções para seus proble-

mas, tornando-os atentos ao tempo e orientados para o futuro

móvel.

Já a ênfase no ensino de Matemática pode ser atribuí-

da ao tipo de atividade desenvolvida pela criança do meio ru-

ral, a qual, via de regra, antes mesmo de ir à escola, é ex-

posta a situações que envolvem a utilização de conceitos mate

máticos. Isto decorre do próprio estilo de vida do homem do

campo, o qual, na sua labuta diária, necessita manipular vá-

rios princípios matemáticos. Em geral, o agricultor,mesmo se_n

do analfabeto, tem noção das 4 operações, de medida, do que

seja lucro e perda, etc. Assim, os objetivos práticos da Mate

mática parecem ter influenciado a atitude dos professores em

relação a essa disciplina.

Feita uma análise entre os Estados, verifica-se que a

opinião dos professores do Piauí, Ceará e Pernambuco foi a

mesma quanto à relevância do ensino da Matemática, o que fica


evidente pelos altos percentuais encontrados, nesta discipli-

na, na amostra rie cada um desses Estados (Piauí: EDURURAL

78%; OUTROS, 67%; Ceará: EDURURAL, 77%; OUTROS, 70%; Pernambu_

co: EDURURAL, 83%; OUTROS, 7 4 % ] .

No Piauí, 39% dos professores dos municípios assisti-

dos pelo EDURURAL e 40% dos docentes de municípios atendidos

por OUTROS programas escolheram Estudos Sociais em 29 lugar .

"Higiene" foi mencionada em 3º lugar por 63 (36%) professores

de municípios assistidos pelo EDURURAL, enquanto 27 (36%) do-

centes dos municípios atendidos por OUTROS Programas preferi-

ram Leitura.

Os professores do Ceará lotados, em municípios incluí_

dos no EDURURAL, mencionaram "Estudos Sociais" (42%) e "Leitu_

ra" (39%) como o 2º e 3º tópicos mais importantes de serem en_

sinados. Já os professores que ensinam em municípios assisti-

dos por OUTROS programas preferiram Leitura (39%) e Higie-

ne (31%).

Em Pernambuco, os professores cujas escolas sao assis

tidas pelo EDURURAL indicaram Estudos Sociais (39%) e Leitu_

ra (36%) em 2º e 3º lugares, em ordem de importância. Dados

opostos foram encontrados para os professores de Pernambuoo ,

que lecionam em municípios atendidos por OUTROS programas.Es-

tes docentes mencionaram, por ordem de importância, Leitura

(69%) e Estudos Sociais (28%).

Os dados, entretanto, revelam que a Matemática foi,

também, considerada como a disciplina, que 360 (45%) professe^

res da amostra apontaram como sendo mais difícil de ensinar


(Vide Tabela 19, com respostas que não são mutuamente exclu-

sivas). Logo em seguida, foram mencionados o ensino de "Grama_

tica" (42%) e "Desenvolvimento da Comunidade" (40%).

Os dados expostos também revelam que, sem levar em

ccnsideração o critério Estado, 241 (45%) professores que exer

cem docência em municípios assistidos pelo EDURURAL e 119

(44%) professores que ensinam em municípios atendidos por OU-

TROS programas acreditam ser a Matemática a disciplina mais

fácil de ser ensinada.

Entre os Estados, Matemática foi considerada difícil

pelos professores que lecionam em municípios assistidos pelo

EDURURAL do Ceará (93 casos, 4 7 % ) , Pernambuco (83 casos, 51%)

e pelos professores dos municípios nao atendidos pelo EDURU-

RAL de Pernambuco (43 casos, 46%) e Piauí (40 casos, 53%).Nes_

te Estado, 82 professores ( 4 7 % ) , cujas escolas sao localiza-

das em áreas atendidas pelo EDURURAL, mencionaram a dificulda_

de do ensino de Gramática.

A disciplina Estudos Sociais foi considerada difícil

na opinião de 47 (46%) professores cearenses que lecionam em

municípios situados em localidades atendidas por OUTROS pro —

gramas.

Os resultados apresentados neste estudo podem ser úteis

às Secretarias de Educação dos Estados envolvidos neste proje

to de avaliação. As dificuldades sentidas pelos professores

talvez possam' ser usadas como critérios para a realização de

futuros treinamentos de docentes do meio rural, especialmente

com referência à Matemática, a qual tem sido vista tanto como


TABELA 19 - Atitude dos professores quanto à dificuldade das disciplinas do currículo, por Estado e tipo de Programa. 1981.
importante, como difícil de ensinar. As dificuldades sentidas

no ensino desta disciplina talvez seja fruto de um círculo vi

cioso onde aquele que tendo aprendido mal Matemática tende,no

futuro, a ensiná-la da mesma forma.

Na maioria de nossas escolas, o ensino compreensível

de conceitos matemáticos cede lugar ã pura mecânica de opera-

ções e uso de fórmulas. Para tornar as coisas ainda mais difí

ceis, muitas vezes as atividades levadas a efeito durante os

ensinamentos de conceitos matemáticos nao levam em apreço o

desenvolvimento cognitivo e a experiência anterior do aluno .

É comum exigir-se de um aluno que se encontra no período de

operações concretas a utilização de formas de pensar do está-

gio formal do pensamento.

Diante de tal quadro, espera-se que recursos proveni-

entes do programa EDURURAL, com a finalidade de promover o

preparo de docentes, venham, realmente, atender aos objetivos

a que se propõem.

Para uma melhor configuração da atitude dos professo-

res, face aos aspectos do currículo, foi feita uma analise de

quais assuntos eles consideram menos importantes ensinar. Es-

tes resultados aparecem na Tabela 20 (observe-se que as res-

postas nao são mutuamente exclusivas). Os dados indicam que

os professores da amostra atribuem menos importância aos se-

guintes itens: Desenvolvimento da Comunidade C434 casos, 54%),

Orientação para a vida C362 casos, 45%) e Catecismo (302 ca-

sos, 3 7 % ) . Este mesmo tipo de reação, quanto aos aspectos e

hierarquia de irrelevância, foi encontrado entre os docentes


TABELA 20 - Atitude dos professores quanto à irrelevância das disciplinas do currículo por Estado e tipo de programa. 1981.
que lecionam em municípios assistidos pelo EDURURAL e por OU-

TROS programas. Neste último grupo, foi também mencionado Ini-

ciação ã Ciência em 2 9 lugar, como disciplina menos importan-

te (107 casos, 39%) .

Tais resultados parecem indicar que os professores não

vêem as atividades desenvolvidas na escola como meio de inte-

gração do aluno no seu meio social e menos como um agente ati

vo de possíveis transformações políticas, sociais e econômi-

cas. Assim, a função formativa da escola parece não estar pr_e

sente na consciência dos professores, fazendo com que as exp_e

riências desenvolvidas no ambiente escolar fiquem restritas ã

transmissão de simples mecanismos de leitura, escrita e cálcu_

Io, as quais não chegam a atingir níveis de maior complexida-

de (2) .

Os resultados são muito semelhantes entre os Estados

com o item Desenvolvimento da Comunidade, liderando a lista

de menor importância, seguido ora por Orientação para a Vida,

Catecismo ou Iniciação à Ciência.

Ao término da análise relativa às características do

professor, verifica-se que, de maneira geral e independente do

tipo de programa (EDURURAL e OUTROS), as situações sao seme-

lhantes, quanto ao sexo, ã idade, ao tempo de serviço, ao ní-

vel salarial, a condição funcional, às atividades docentes ,

incluindo-se nesta categoria atividades desenvolvidas em clas

(2) Vide Relatório nº 5 "Relatório Tecnico do Estudo do Rendimento Esco-


lar dos Alunos" Fundação Carlos Chagas.
se, recursos materiais usados, tipo e freqüência de deveres
de casa e modos de avaliação; à atitude e desempenhe; face a
supervisão e a atitude quanto à importância, dificuldade e
irrelevância das disciplinas do currículo.

A seguir, relata (m)-se, resumidamente, a ( s ) freqüên-


cia(s) predominante(s) encontrada(s) em cada característica
mencionada acima. Quando estas forem comuns aos dois progra
mas, não serão feitas observações, de vez que esses dados es
tão explicitados neste relatório.

A presença do sexo feminino foi marcante entre os do-


centes da amostra.
com referência ã idade, constata-se que a idade medi-
ana dos docentes é de 28 anos.
0 nível educacional dos professores, em sua grande ma
loria, fica entre a 4a. e 8a. séries do 1' grau.

Quanto aos anos de serviço, vale ressaltar que o tem-


po mediano na função docente é de 8 anos.

A considerar o nível salarial dos docentes, observa-


se que, entre os Estados, a mediana variou de Cr$600,26 a ...
Cr$ 6 . 379,, 25 . A mais baixa mediana foi encontrada nos municí-
pios assistidos pelo EDURURAL no Ceará, enquanto que a mais al_
ta pertence aos municípios atendidos por OUTROS Programas, no
Piauí.
Observa-se que a maioria dos professores são contrata_
dos. CEDURURAL, 65%; OUTROS, 7 0 % ) .

As atividades de classe mais comuns aos docentes da


amostra são as "Festas Comemorativas" (EDURURAL 68%, OUTROS,
8 1 % ) . A segunda atividade de classe mais desenvolvida pelos
professores dos municípios atendidos pelo EDURURAL é "Aula de
Religião" (56%),enquanto que entre os professores dos municí-
pios assistidos por OUTROS Programas é o "Canto" (63%).

Entre os materiais didáticos utilizados pela amostra


de professores, o "Livro adotado em classe" foi o mais citado
(EDURURAL 8 4 % , OUTROS 9 0 % ) . 0 segundo recurso mais usado, nos
municipios assistidos ou não pelo EDURURAL, é "Livro diferen-

te para completar lições" (EDURURAL 54%; OUTROS 6 1 % ) .

A atividade de dever de casa mais solicitado pelos pro

fessores recaiu no item "Exercícios Contidos no Livro",(EDURU

RAL 91%, OUTROS 9 2 % ) , seguindo-se "Desenhos" (EDURURAL 63%

OUTROS 59%) .

No tópico referente ã freqüência de deveres de casa ,

o item deveres "Todos os dias" apresentou o percentual mais

alto (EDURURAL 56%, OUTROS 6 6 % ) .

As formas de avaliação mais usadas pelos professores

que lecionam em municípios ou não assistidos pelo EDURURAL são

"Provas Mensais" (EDURURAL 89%, OUTROS 95%) s "Comportamento do

Aluno" (EDURURAL 4 2 % , OUTROS 4 5 % ) .

Quanto a atitude face ã supervisão, observa-se que ,

nos municípios atendidos pelo EDURURAL, os professores sentem

a necessidade de implantação dos serviços de supervisão em

suas escolas (43%), enquanto que nos municípios assistidos por

OUTROS Programas, os professores sugerem a intensificação da

prática de supervisão atualmente em vigor (41%).

Em relação ao planejamento diário, os dados indicam ,

que o professor atua sozinho no preparo das aulas (EDURURAL..

68%, OUTROS 5 9 , 5 % ) . A participação do supervisor municipal na

preparação das aulas é a segunda modalidade mais mencionada

(EDURURAL 24%, OUTROS 3 2 % ) .

As três disciplinas consideradas mais importantes, pa_

ra serem ensinadas ã criança pelos docentes dos municípios as


RAL 39%, OUTROS 41%).

Os aspectos dos currículo considerados menos importan

tes para a formação do educando são: Desenvolvimento da Comu-

nidade (EDURURAL 56%, OUTROS 44%); Orientação para a Vida(EDL)

RURAL 46%, OUTROS 39%) e Catecismo (EDURURAL 39%, OUTROS 34%).

A Iniciação à Ciência foi considerada, também, em 29 lugar

como menos importante pelos professores, que lecionam em muni

cípios assistidos por OUTROS Programas (39%).


3. DADOS SOBRE OS ALUNOS

Para se delinear o perfil do aluno, foram escolhidas

as características: 1] seco; 2) idade dos alunos, ambos tra-

tados no Relatório da Amostra e as seguintes, objeto do pre-

sente relatório; 3) tipo de classe freqüentada; 4) idade de

ingresso na escola; 5] interrupção nos estudos; 6) assistên-

cia aos alunos em classe; 7) freqüência com que os alunos re

cebem deveres de casa; 8) assistência aos alunos fora da sa-

la de aula; 9] trabalho dos alunos em casa ou fora de casa;

10) faltas dos alunos às aulas; 11) distância ente acasa dos

alunos e a escola.

A seguir, sao apresentados os dados de cada urna das

características mencionadas acima e as respectivas tabelas.

3.1, TIPOS DE CLASSES: MULTISSERIADA E SERIADA

Do total de alunos da amostra [7.041), aproximadame_n

te 2/3 freqüentam a 2a. série e 1/3 está matriculado na 4a.

série. Distribuídos os alunos em classes seriadas e multisse

riadas, essa proporção se mantém nos municípios da amostra,

a exceção da amostra do Ceará que tem menos alunos matricula_

dos na 4a. série que as demais.

Nos três Estados em questão, independentemente do ti


pò de programa que os atinge, ha predominância de alunos,fre

quentando classes multisseriadas, 58% na 2e. série, enquan-

to 14% estão em classes seriadas; 21% na 4a. série, para 7%

nas classes seriadas. Essas classes caracterizam-se pelo fa-

to de uma única professora ensinar, na mesma classe e ao mes_

mo tempo, alunos de séries diferentes (Vide Tabela 2 1 ) .

Comparando-se a matrícula nas classes multisseriadas

nas duas categorias de municípios, constata-se que os municí_

pios incluídos no EDURURAL apresentam percentuais um pouco

superiores. Já os percentuais mais elevados de alunos fre-

qüentando classes seriadas estão nos municípios incluídos em

OUTROS Programas. Esse mesmo paradigma se repete a nível de

cada Estado .

Posteriormente, poderá ser verificada a existência

ou não de correlação entre o tipo de classe que o aluno fr_e

quenta e o resultado obtido nos testes de rendimento esco-

lar.

3.2. IDADE DE INGRESSO E INTERRUPÇÃO DOS ESTADOS

com relação ã idade de ingresso na escola, observa-

-se um descompasso entre o início de escolarização e a ida-

de cronológica. Isto vem se verificando especialmente no 1º

grau, embora medidas visando a sua redução venham sendo tenta

das. A Tabela 22 mostra onde essa defasagem se inicia. Cons-

tata-se que, entre os alunos amostrados, o atraso de ingres-

so na escola é de um ano, independentemente de série, Estado

ou tipo de Programa existente nos municípios.


TABELA 21 '- Tipo de classe em que estudam os alunos por Estado, tipo de Programa e serie. 1981.
O problema serio nao está tanto no atraso de um ano
no início de escolarização do aluno, como no fato de ele le-
var, em média 4 anos, para atingir a 2a. série.

TABELA 22 - Idade média de ingresso na escola dos alunos de 2a. e 4a.sJ_


ries por Estado e tipo de programa. 1981

I I DADE MÉDI IA DE ING RESSO NA ESCOLA


PIA UÍ CEAR/2 PERNAM BUCO MÉDIA GLOBAL
SÉRIE
EDURURAL OUTROS EEDURURAL OUTROS EDURURAL. OUTROS ElDURURAL. OUTROS

2a. 8,0 8,0 8,0 7,8 8,1 8,0 8,0 7,9

4a. 8.4 8,5 8,2 7,5 8,1 7,6 8,2 7,8

0 que estaria contribuindo, para que os alunos que

ingressam na escola, com 8 anos somente, aos 12 anos estejam

cursando a 2a. série, como se viu na descrição da amostra?

Não existe uma causa única e os fatores responsáveis

podem ser, para efeito de estudo, agrupados em duas catego-

rias. De um lado, estão os resultantes da origem sócio-econô_

mica e cultural dos alunos e suas famílias, como: baixa ren-

da, desemprego, condições precárias de habitação, saneamento

básico, saúde, etc... Fatores esses que, não considerados ,

contribuirão para agravar as condições gerais de sobrevivên-

cia das populações rurais e impedirão o equacionamento dos

problemas educacionais das referidas populações. De outro la_

do e intimamente relacionados com essa primeira categoria

estão os fatores resultantes da estrutura, organização e fun

cionamento dos sistemas de ensino, definidos pela política

educacional vigente. Sao eles a qualificação e salário dos

professores; programas de educação básica, livros-textos e


cartilhas; jornada diaria de trabalho escolar efetivo; mate-

rial escolar indispensável, equipamentos e salas de aulas em

número compatível com demanda.

A questão que se coloca é; saber até que ponto a in-

terferência sobre esses fatores, decorrentes da estrutura e

funcionamento dos sistemas de ensino por parte de seus res

pectivos administradores, resultará em melhora qualitativa

na aprendizagem dos alunos, no aumento da eficiência e na

democratização do acesso ã escola.

A situação sócio-econômica das famílias rurais nas

áreas amostradas pode ser uma das principais causas do afas

tamento da escola, da clientela do sexo masculino(1). Obrigados,

desde cedo,a trabalhar para colaborar no sustento da família,e_s_

sa parcela da população em idade escolar está ou sempre esteve fora da escola

Esta mesma situação pode ser responsabilizada pela interrup-

ção nos estudos constatada entre os alunos da amostra. Cerca

de 1/4 dos alunos declarou ter interrompido os estudos du-

rante um ano ou mais. Entre os alunos das 2a. séries o per-

centual dos que interromperam é levemente inferior aos dos

da 4a. série. 0 mesmo quadro se repete nos três Estados, in-

dependentemente do tipo de programa existente (Vide Tabela

2 3 ) , com exceção das escolas dos municípios incluídos no

EDURURAL, no Ceará, onde 25% e 30% dos alunos de 2a.e 4a.sé-

ries respectivamente, declararam ter interrompido os estudos.

A média em anos de interrupção nos estudos foi cal-

culada sobre os 916 (18%) alunos de 2a. série e os 395 (20%)

da 4a. série que responderam afirmativamente. Os dados da Ta

1
( ) Ver Relatório "Descrição da Amostra", Tabela 8.
TABELA 23 - Alunos de 2a. e 4a. series que deixaram de estudar durante um ano ou mais por Estado, e tipo de programa. 1981.
bela 24 indicam que, no total, os alunos de municípios in-

cluídos em OUTROS Programas detém médias em anos de interrup_

pção de estudos de 1,6 (2a. séris) e 1,5 (4a. série),ou s e_

ja, inferiores às dos alunos, cujos municípios são abrangi-

dos pelo EDURURAL e que apresentam médias de 1,9 (2a.série )

e 1,6 (4a. série). Observe-se que as médias, em anos, de alu

nos de 2a. série que declararam ter interrompido seus estu-

dos é superior às mesmas médias dos alunos de 4a. série.

TABELA 24 - Média em anos de interrupção de estudos dos alunos de 2a. e


4a. séries por Estado e tipo de programa. 1981.

MÉDIA EM ANOS DE INTERRUPÇÃO DOS ESTUDOS


MÉDIA GLOBAL
SÉRIE PIAUÍ CEARA PERNAMBUCO
EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS

2a. 2,1 1,6 2,0 1,7 1,6 1,6 1,9 1.6


4a. 1,9 1,6 2,0 1,2 1,0 1,6 1,6 1,5

3,3, ASSISTÊNCIA AO ALUNO

uma das ações previstas no programa EDURURAL, a ní-

vel do aluno, é a distribuição do Iivro didático, por ser

considerado um instrumento indispensável ao processo de apren

dizagem. Os dados sobre a forma como os estudantes obtém li-

vro aparecem na Tabela 25.

Do total da amostra (7.041), cerca de 2,7% dos alu-

nas declararam não possuir livros. A partir daí, não podemos

concluir que a situação do Iivro está melhor do que se espe-

rava .
TABELA 25 - Forma de obtenção do Iivro didático pelos alunos por Estado, tipo de programa e série. 1981.
Muito pelo contrário, a questão da distribuição do li_

vro didático está longe de ser equacionada. Em termos de

quantidade, é elevado o numere de alunos que declara possuir

Iivro, obtido através da compra, ou seja, 41% no total da

amostra. Isso não deixa de representar um encargo econômico a

maia1, considerando-se a minguada renda familiar e o número de

filhos na escola.

Embora 45% do total de alunos tenham declarado usar

livros dados pela professora, sabe-se que, geralmente, são

enviados, para os municípios, livros que sobraram da distri-

buição feita nas escolas urbanas. Daí terem sido encontrados

alunos, numa sala de aula, utilizando, na mesma série,livros

didáticos diferentes.

A qualidade do ensino fica, assim, comprometida, não

só pela diversidade de livros, como também pelo seu conteú-

do (as mais das vezes inadequado a realidade das pessoas que

o utilizam) .

Nos municípios nao atingidos pelo EDURURAL, destacara

-se as percentagens dos alunos que recebem livros através da

professora, notadamente nos Estados do Piauí e Ceará. Nesse

último, são beneficiados 78% dos alunos de 2a. série e 81%

dos de 4a. série, enquanto, no primeiro, cerca de 72%dosalju_

nos das duas séries em questão utilizam livros dados pela pro_

fessora. Embora o questionário tenha usado a expressão"dados

pela professora", constatou-se, informalmente, a formação de

pequenos estoques de livros, que a professora empresta para

os alunos estudarem e os recolhe ao final do ano letivo. Em


Pernambuco, vem funcionando o chamado "banco de livros" nas

escolas municipais e estaduais. Através do "banco", os alu-

nos alugam livros por um periodo determinado.

Por outro lado, nos municípios incluídos no EDURURAL,

principalmente em Pernambuco, é expressivo o número de pais

que adquirem livros didáticos, atingindo uma média de 61%.

Outro tipo de ajuda a que se propõe o Programa ë a

oferta de merenda escolar que, nos municípios incluídos,apre_

senta os índices mais baixos. com efeito, chega a 48& a per-

centagem de alunos das duas séries que nunca recebem merenda

escolar, enquanto somente 33% dos alunos dos OUTROS Progra-

mas tiveram idêntico tratamento (Vide Tabela 2 6 ) .

Entre os Estados, a situação é praticamente a mes-

ma. Pertence a Pernambuco a maior freqüência de alunos inclu_

idos no Programa que nao recebem merenda escolar, atingindo

nas 2a. e 4a. séries, percentuais de 51% e 55%, respectiva —

mente.

Por sua vez, os alunos dos municípios abrangidos por

OUTROS Programas se encontram em situação melhor, tendo 43%

declarado receber merenda todos os dias da semana. Dentre es

ses, cabe destacar o Ceará, com percentuais acima de 50%, se

guindo-se Pernambuco, enquanto no Piauí, apenas 21% dos alu-

nos, em média, informaram receber merenda, diariamente.

0 que se deve ter em mente, de um lado, é a extrema

necessidade que os alunos têm de receberem esse tipo de aju-

da, em virtude do estado de subnutrição em que vivem.E de ou

tro, que as condições de saúde e nutrição da população em ida


TABELA 26 - Freqüência com que os alunos recebem merenda escolar por Estado, tipo de programa e série. 1981
de escolar nas áreas rurais nao serão alteradas substancial-

mente, mesmo com a distribuição de merenda escolar. Os danos

de ordem biopsicológica sofridos pelos escolares na etapa pré

-natal e nos primeiros e decisivos anos de vida, são pratica

mente irremediáveis.

3.4, TAREFAS ESCOLARES FORA DA SALA DE AULA

Saber se os alunos recebem ou não deveres para fazer

em casa e sua periodicidade está entre as informações possí-

veis de obter dos mesmos e que auxiliarão na elaboração de um

quadro geral sobre a prática educativa, nas escolas rurais

atuais .

Constata-se, a partir das informações dos alunos da

amostra, que cerca de 60% dos mesmos recebem tarefas para ca_

sa, diariamente. Já 32% dos alunos declara receber tarefas

de casa "algumas vezes por semana" (Vide Tabela 2 7 ) .

Não chega a 2% o percentual de alunos que informa nun_

ca receber deveres para casa.

Comparativamente, Pernambuco é o Estado que apresen-

ta índices mais elevados de alunos que recebem todos os dias

tarefas para realizar em casa, chegando a 79% para os de 2a.

série e 77% para os de 4a. série, nos municípios do EDURURAL.

Segue-se o Ceará, onde os percentuais mais elevados cabem aos

alunos de municípios que se incluem em OUTROS Programas, com

76% e 69% para as 2a. e 4a. séries, respectivamente.


TABELA 27 - Freqüência com que os alunos recebem deveres de casa por Estado, tipo de programa e série. 1981.
D Piauí apresenta os percentuais mais baixos de alu-

nos que recebem tarefas para casa, diariamente.

Isso demonstra que os professores das escolas rurais

pesquisadas vêm utilizando, com freqüência, esse recurso pe-

dagógico que, teoricamente, objetiva a melhor fixação dos

conteúdos aprendidos em sala de aula. Seu valor como recurso

pedagógico é muito discutido, dependendo, em grande parte

da reação que provoca no aluno. Se esse, por exemplo,tem con-

dições de desempenhar suas tarefas de casa de forma autônoma

e com certo interesse, poder-se-ia dizer que vale a pena in-

sistir nu seu uso. Se, pelo contrário, a tarefa for cumprida

como penosa obrigação para fugir a uma possivel penalidade ou

se exigir, constantemente, a ajuda de outros, para bem r e a l i

za-la, suas consequências são predominantemente negativas

não contribuindo para melhor aprendizagem.

Mesmo em se tratando de ascola rural, com uma jorna-

da diária inferior a das escolas urbanas, o emprego desse re

curso teria que seguir certos critérios (que não cabe discu-

ti-los agora), para ser considerado "pedagógico" e influir

positivamente no rendimento do aluno.

0 fato de que na amostra, 55% dos alunos de 2a. sé-

rie e 65% dos de 4a. série declararam "trabalhar todos os dia

as da semana" é outro ponto a ser considerado, quando se tra_

ta de tarefas de casa e não pode ser omitido pelos que se pro_

põem melhorar a qualidade da aprendizagem na zona rural (Vi-

de Tabela 3 0 ) .
Fica a indagação que se aspera seja esclarecida opor

tunamente, sobre os resultados do emprego desse recurso no

rendimenti escolar dos alunos da amostra.

0 fato de que os alunos, em sua maioria, não contam

com auxílio de familiares ou de outras pessoas, para reali-

zar os deveres de casa é certo e vem sendo confirmado pelo

presente estudo (Vide Tabela 2 8 ] ,

TABELA 28 - freqüência com que os alunos recebem ajuda nos deveres de ca_
sa por Estado, tipo de programa e série. 1981.

RECEBE A J U D
NOS DEVERES
DE CASA

Do P a l :
.Nao
.Sim
.Nao res
pondeu

Da M ã e :
.Nao
.Sim
.Nao r e s
pondeu

De Irmão:
.Nao
.Sim
.Nao r e s
pondeu

De Outros:
'. Nao
.Sim
.Nao res
pondeu

Faz só:
.Nao
.Sim
.Nao res
pondeu

T O T A L
As informações disponíveis nao permitem se afirmar que

os alunos nao receban ajuda, porque nao tem necessidade, isto

é, as tarefas que recebem foram compreendidas, restando ape-

nas fixar melhor os conteúdos nelas contidos através do exer-

cício caseiro. Acrescente-se que, mesmo havendo necessidade ,

os familiares, em sua maioria, nao têm condições de prestar

tal auxílio, por não possuírem conhecimentos que os permitam

fazê-lo.

Um fato sabido e referendado pelos dados obtidos da

"Família" é que os seus componentes possuem, em geral,um bai-

xo nível de escolaridade.

Atinge a 74% o percentual de alunos da amostra que de_

ciaram fazer as tarefas de casa sem ajuda. A ajuda que os de-

mais recebem é atribuída, em primeiro lugar, ã categoria "Ir-

mão", cuja freqüência é a mais elevada, isto é, está em tor-

no de 26% entre os alunos de ?a. série das duas categorias de

municípios. Em segundo lugar, está a ajuda da mãe ou por es-

tar ela mais tempo em contato com c aluno e/ou possuir um me_

lhor nível de conhecimentos, com um percentual de 16%. Já a

ajuda de "irmão" pode ser devida ao fato de ter ele deixado a

escola mais recentemente ou ainda freqüentá-la, reunindo por

isso mais condições de prestar tal auxílio.

Por sua vez, os alunos da 4a. série contam menos com

ajuda para arealizar os deveres de casa que os da 2a. série ,

provavelmente porque são poucos os que, tendo alcançado esse

nível de instrução, ainda permanecem na zona rural.

Os dados sobre a freqüência com que os alunos recebem


ajuda nos deveres de casa se apresentam semelhantes nos Esta-

dos, não justificando comentários comparativos. Por este moti-

vo, a Tab s la 28 apresenta apenas os totais por tipo de Pro-

grama e Série.

Numa análise comparativa, entre os Estados, das res-

postas que os alunos dos municípios, incluídos ou não no EDU-

RURAL, deram ã questão "Recebe ajuda da professora fora de au_

la" foram em grande parte negativas, perfazendo, em média 65% ,

conforme a Tabela 29.

Essa pesquisa, entretanto, não procurou saber se a aju

da é negada aos alunos ou se lhes não ocorre a lembrança de

solicitá-la dos professores.

Entretanto, 42% dos alunos de 2a. série dos municí-

pios abrangidos pele EDURURAL, nos Estados do Ceará e Pernam-

buco, declararam receber ajuda da professora às tarefas escola-

res fora da sala de aula.

3,5, TRABALHO DO ALUNO

Analisando o aspecto "trabalho do aluno em casa ou fo_

ra de casa", vê-se que, na 2a. série, independentemente de se_

xo, 74% do total de alunos desta série declararam "trabalhar

todos os dias e alguns dias da semana". Essas mesmas duas ca-

tegorias perfazem, do total de alunos da 4a. série, 81%. Pre-

domina ainda o trabalho diário para 59% da clientela do sexo

feminino e 49% da clientela masculina da 2a. série, bem como

para 69% e 58% das clientelas do sexo feminino e masculino da

4a. série, respectivamente (Vide Tabela 3 0 ) .


TABELA 29 - Ajuda da professora aos alunos fora de aula por Estado, tipo de programa e série. 1981.
TABELA 30 - Freqüência dos alunos ao trabalho por Estado, tipo de programa, serie e sexo. 1981.
Os dados acima citados, de certa forma, referendam o

fato de que as crianças, na zona rural, desde cedo, passam a

fazer parte da força de trabalho da fami lia,contribuindo na


~ 3

produção de subsistencia. Segundo Joao Bosco Pinte ( )"a ati-

vidade material do trabalho, pela sua direta relevancia para

a subsistencia se constitui no processo fundamental de socia-

lização; através dele é que as crianças e adolescentes apre_n_

dem os conhecimentos, habilidades e destrezas necessários pa-

ra ser parte integrante da sociedade camponesa; (...) a crian

ça é parte da unidade de trabalho e ela tem que participar na

produção da subsistência."

Cerca de 10% do total de alunos de 2a. série e de 5 %

do total de 4a. série declararam não trabalhar, o que signifi

ca uma exceção, dado que no meio rural, como foi dito,a crian-

ça, desde cedo, é chamada a colaborar nas atividades domésti-

cas, na agricultura, no cuidado dos animais, entre outros.

Sem levar em consideração o sexo, são inferiores os per_

centuais de alunos das 2a. e 4a. séries que responderam "tra-

balhar todos os dias" e "alguns dias da semana", nos municí-

pios incluídos no EDURURAL.

0 mesmo se constatou na amostra dos Estados nos muni-

cípios dessa categoria, entre os alunos das 2a. séries.

Já um percentual maior dos alunos da 4a. série nos mu-

nicípios incluídos no Programa nos Estados do Ceará e

Pernambuco declarou "trabalhar todos os dias da semana" e "al

_
(3) Ver PINTO, Joao Bosco. "Percepções da População Rural sobre a Escola",
In: "Meio Rural e Educação", Achiamé, ANPED, CNPq, 1981.
guns dias".

3.6. ASSIDUIDADE ÀS AULAS

A assiduidade às aulas foi verificada pelo aplicador,

consultando a freqüência dos alunos nos meses de agosto e se-

tembro, registrado pela professora no livre de chamada.

Constatou-se a partir da amostra uma média de seis fa-

tas para os alunos de 2a. série e de cinco faltas no bimestre

para os alunos do 4a. série, independentemente do tipo de pro_

grama. A situação nos Estados apresenta-se semelhante ã situ£

ção geral (Vide Tabela 3 1 ) .

TABELA 31 - Médias de faltas dos alunos nos meses de agosto e setembro


por Estado, tipo de programa e série. 1961.

MÉDIA DE FALTAS MÉDIA GLOBAL


SÉRIE PIAUÍ CEARA PERNAMBUCO DE FALTAS
EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS EDURURAL OUTROS

2a. 6 6 5 5 8 7 6 6

4a. 5 5 4 6 7 5 5 5

Caso esta média se mantenha durante o ano letivo, os

alunos podem chegar a uma média de 24 e 20 faltas anuais para

as2a. e 4a. séries respectivamente, correspondendo a um mis de

trabalho letivo.

Ao se relacionar o tempo de permanência do aluno na

escola, ao longo do semestre letivo, com a eficiência e o re_n_

dimento sscolar, não se pode deixar de levar em conta a redu-

zida jornada diária de trabalho a que estão submetidas grande


parte das escolas rurais, a média de faltas dos alunos e os

dias que a professora deixou de ensinar (não levantados neste

estudo).

3,7, DISTÂNCIA DA CASA DO ALUNO Ã ESCOLA

Sobre a distância da casa do aluno à escola, tentou-

-se, no pré-teste, determiná-la através de uma medida a ser

expressa em quilômetros ou léguas, por exemplo. como as res-

postas nao ofereceram dados fidedignos, resolveu-se formular

uma questão que, mesmo subjetiva, fosse capaz de dar uma idéia

da percepção do aluno acerca da distância de sua casa ã esco-

la.

Vê-se que, de modo geral, as escolas se situam, segun

do os alunos, perto de suas casas, girando em torno de 50% o

percentual dos que se encontram nessa situação, nos municí-

pios incluídos e não incluídos no EDURURAL (Vide Tabela 3 2 ) .

0 fato de expressivo número de escolas funcionar na

"casa da professora" pode ser responsável por esses índices,

visto que a própria professara, ou melhor, seu grupo famili-

ar, tende a se localizar junto aos núcleos populacionais des

sas áreas, por estarem integrados ã produção.

A guisa de conclusão pode-se dizer que de modo geral

os alunos das escolas rurais pesquisadas são, basicamente, do

sexo feminino, freqüentam classes multisseriadas e iniciaram

sua escolarização com a idade média de 8 anos. Atualmente, che_


TABELA 32 - Distância da casa dos alunos à escola por Estado, tipo de programa e série. 1981.
gam à 2a. série aos 12 anos e, a 4a. série, aos 14 anos,em m_é

dia. São, portanto, alunos que levam cerca de 4 anos para ati_n

gir a 2a. série, sendo esse um dos impasses mais graves da es

cola rural e que esta a exigir uma resposta do Estado e dos

municípios, responsáveis mais diretos pela educação nas áreas

rurais. como são alunos oriundos de famílias cuja atividade

econômica principal é agrícola, com renda mensal baixa, eles

apresentam como característica o fator de trabalhar em casa ou

fora de casa.

Examinando-se a composição do alunado por sexo, inde-

pendentemente do tipo de programa e Estado, observa-se o pre-

domínio do sexo feminino, concorrendo com 62%, sendo que na

4a. série, esse percentual se eleva para 68%.

Nesse estudo, 79% dos alunos encontrados freqüentam

classes multisseriadas, que funcionam, em 26% dos casos, na

casa da professora.

Cerca de 2,7% dos alunos declararam não possuir ma-

terial didático. Todavia, 46% e 50% dos alunos de 2a. e 4 a . s |

ries, nos municípios do EDURURAL, obtiveram livros didáticos

comprados pelos pais, enquanto 57% e 51% dos alunos de 2a. e

4a. séries, nos municípios incluídos em OUTROS Programas, rece_

beram o Iivro da professora.

Em relação ã merenda escolar, 48% dos alunos dos muni_

cípios do EDURURAL informaram que não a receberam e 35% dis-

seram tê-la recebido todos os dias da semana. Já nos municí-

pios incluídos em OUTROS Programas, 43% afirmaram terem rece-

bido merenda escolar todos os dias da semana e 34% não a te-

rem recebido.
Ao serem perguntados sobre a freqüência com que rece-

bem deveres de casa, mais de 50% dos alunos de municípios in-

cluídos no EDURURAL e em OUTROS Programas responderam que re-

cebem deveres todos os dias, e 32% dos mesmos disseram que

recebem algumas vezes por semana. Foram unânimes em responder

que não recebem ajuda nos deveres de casa: e 65% informaram

que não recebem ajuda da professora às tarefas esco lares,fora

da sala de aula.

Do total de 7.041 alunos da amostra, 74% (2a. série) e

81% (4a. série] declararam trabalhar todos os dias e alguns

dias da semana. Observa-se que o trabalho do menor nas áreas

rurais é constante, desenvolvendo, principalmente, atividades

ligadas às de suas famílias.


'4, DADOS SOBRE A FAMILIA

No relatório do descrição da amostra, foram apresen-

tadas algumas características das famílias. Observou-se, en-

tão, que a maioria delas é composta de 5 a 8 pessoas. 0 che-

fe da família está engajado economicamente em atividades agrí^

colas e, durante o ano de 1981, a renda mensal não ultrapas-

sou 1 salário mínimo.

Pretende-se agora analisar outras características ,

relacionando-as com aquelas e esboçar um perfil mais abran-

gente do universo com o qual a criança está convivendo. É

dentro dele que ela aprende a perceber e lidar com a comple-

xidade e heterogeneidade das relações econômicas, políticas

e culturais que permeiam e constituem o seu cotidiano. Tam-

bém é a partir dele que novas alternativas de vida são gera-

das como projeto coletivo.

Não se pretende apresentar um quadro que aponte cau-

sas do fracasso escolar, cujos resíduos deveriam estar, ne-

cessariamente, presentes na constelação familiar. Objetiva-

-se reforçar a condição da família mais como uma observadora

ativa do processo de aprendizagem escolar, do que como sua

co-autora, sem com isso isentá-la da sua responsabilidade.

Vê-se a família como observadora, na medida em que

está fora dela o domínio dos conteúdos,métodos e técnicas que

um serviço especializado de ensino deve oferecer. Ao mesmo


tempo, é uma condição ativa porque, manifestamente, a famí-

lia coloca para a escola suas expectativas, vigia sua prati-

ca cotidiana e a avalla.

A postura da analise é tentar inverter o sinal: reco

locar a questão sobre como o grupo social investigado vive ,

sob forma de problemas a que a sscola necessariamente deve

responder, ou seja, endereçar a questão a quem ela de fato

pertence.

As características, analisadas a seguir, referem-se

a informações coletadas sobre:

1) Aspectos econômicos da unidade familiar: ter ou

não posse da terra, qual o tamanho desta e a for-

ma de trabalho;

2) questões relacionadas a situação de permanência

ou deslocamento geográfico da família: se já mora


va no município, quando o aluno nasceu e o tempo

mediano de moradia no mesmo;

3) a participação ou não de membros da família em as_

sociações, como sindicatos e cooperativas;

4) o perfil escolar da família: o nível de escolari-

dade do pai e da mãe, além da freqüência ou nao ã

escola de outros membros que estejam em idade es-

colar.
4.1
, ASPECTOS ECONÔMICOS

A maioria dos chefes de família da amostra (90%] de-

clararam exercer atividades agrícolas como forma de obter o

4
sustento familiar ( ). Quando indagados sobre a sua situa-
ção em relação à posse, ou não da terra, 3.262 (51%) decla-
ram serem proprietários (Tabela 3 3 ) , Em Pernambuco, esta si-
tuação é mais acentuada, atingindo um total de 73% (413 famí
lias), no caso des alunos de 4a. série da área do EDURURAL .
Nos demais Estados, menos da metade des chefes de famílias
são proprietários, sendo que na área do EDURURAL (2a. série)
do Piauí, apenas 38% possuem a terra.

Entre os proprietários, mais da metade (53%) dispõem

de menos de 11 hectares de terra, chegando a 84% o grupo que

possui até 50 hectares (Tabela 3 4 ) . Merece destaque o Estado

de Pernambuco, onde se concentram os menores estratos de área

(0-10), chegando a 79% de proprietários na área não atendida

pelo EDURURAL (2a. série). 0 Piauí, por sua vez, apresenta

uma distribuição mais equilibrada de propriedades, numa fai-

xa entre 0 e 100 hectares, chegando a 10% o número de famí-

lias que possuom até 200 hectares. Observa-se, portanto, que

em Pernambuco há um maior número de proprietários, mas com

menos área, enquanto no Piauí, a situação é inversa.

Embora os resultados da investigação, com relação ao

tamanho da propriedade, sejam apresentadas agrupadamente, é

necessário ter-se presente que há diversidade de zonas ecoló

(4) Ver Relatório de Descrição da Amostra.


TABELA 33 - Situação de posse da terra por Estado, tipo de programa e série. 1981.
TABELA 34 - Estrato de área, por Estado, tipo de programa e série. 1981.
gicas (serra, sertão, e t c ) , o que gera formas diferentes de

exploração da terra e tipos de atividades. Além disso, deve-

-se consioarar também as especificidades econômicas de cada

área investigada, ainda que estando organicamente articula —

das entre si. Neste sentido, será importante analisar esta

característica em relação ao que ocorre em cada Estado, embo_

ra a região Nordeste, como um todo, se distinga pelo deseqü_i_

líbrio na distribuição da terra.

0 pré-diagnõstico realizado pela CEPA (Comissão Esta_

dual de Planejamento Agricola) para a elaboração do "Progra-

ma Nacional de Promoção de Pequenos Produtores Rurais" reve

la que, no Nordeste, "um em oito trabalhadores agrícolas têm

acesso ã terra, enquanto 50% da terra está nas mãos de somejn

te 4 % de agricultores" C ) .

0 mesmo diagnóstico apresenta os módulos rurais ( )

médios por Estado. No Piauí, este valor é de 35,8 ha; no Cea_

rã, 128 ha e, em Pernambuco, 26,4 ha. Tomando-se estes valo_

res e os aplicando aos dados coletados, conclui-se que gran_

de parte das famílias não chega a possuir sequer um módulo

rural.

Dados coletados na presente investigação revelam que

a maioria das famílias (96%) trabalha diretamente na terra,

( ) M i n i s t é r i o da A g r i c u l t u r a . Programa Nacional de Promoção de Pequenos


P r o d u t o r e s R u r a i s , 1979, p . 2 3 .
(6) "Entende-se como módulo rural a área fixada do imóvel rural que, di-
reta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família,lhe ab-
sorve tôda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o
progresso social econômico, com área máxima fixada para cada região
e o tipo de exploração, e eventualmente trabalhando com a ajuda de
terceiros" (Estatuto da Terra, Lei 4.504 de 30 de novembro de 1964.
Art. 4º, II e III, pag. 15).
ou seja, o processo produtivo i desenvolvido, predominante-

mente, pela mão-de-obra familiar, ao invés do proprietário e_n

tregar o estabelecimento para outros (parceiros e arrendatá-

rios] cultivarem (Tabela 3 5 ) .

0 relacionamento das características até aqui discu-

tidas permite concluir que os alunos dos três Estados, inde-

pendente de tipo de programa e série, na sua maioria, provêm

de famíliasque podem ser chamadas de pequenos produtores. E_s_

ta análise baseou-se na renda mensal identificada e nos diag_

nósticos agropecuários da região Nordeste. A sobrevivência

dos pequenos produtores depende, quase que exclusivamente ,

do trabalho aplicado à terra que, em muitos casos, não lhes

pertence, além de empregar, quase que exclusivamente, a mão-

-de-obra familiar, incluindo as crianças.

A literatura sobre a agricultura nordestina descre-

ve estes agricultores, pequenos e não proprietários,como re_s

ponsãveis por grande parte da produção de bens de subsistên-

cia. Um aspecto importante ligado ã produção destes bens "é

que esta parece estar articulada de forma a proporcionar um

volume de produção ao custo equivalente ã sobrevivência do

produtor. Por isso mesmo, o excedente daquilo que é consumi-

do exclui a apropriação de lucros e acumulação de renda pelo

pequeno produtor, haja vista que há todo um contexto de rel_a

ções sociais que definem a apropriação externa desse exceden

te" ( 7 ) .

(7) Ibidem, pag. 7.


TABELA 35 - Forma de trabalho das famílias por Estado, tipo de programa e série. 1981
Nao podendo acumular capital, o pequeno produtor não

consegue gerar uma renda líquida familiar mínima que o ajude

a viver, além do nível de sobrevivência.

4,2. A QUESTÃO DA MIGRAÇÃO

A mobilidade geográfica das populações rurais duran-

te as últimas décadas tem demandado várias questões ao ensi-

no, as quais merecem investigação mais cuidadosa.

Pensava-se, inicialmente, que a dificuldade da crian

ça acompanhar o processo escolar pudesse decorrer, pelo me-

nos em parte, das mudanças constantes de residência pela fa-

mília.

0 universo pesquisado revela que, contrariamente àque

la suposição, a maioria dos alunos (84%) nasceu no municí-

pio onde atualmente reside, sendo que as famílias moram lá

um tempo mediano que varia entre 19,21 e 33,50 anos (Tabelas

36 e 3 7 ] . Isso ocorre independente de Estado, tipo de progra_

ma e série. Somente nos municípios cearenses não incluídos

no EDURURAL, há maior freqüência de alunos de 2a. série ,

cujas famílias não moravam no município, quando a criança nas_

ceu (24,5%) .

A pesquisa não coletou informações sobre a possibili-

dade de que, mesmo o aluno tendo nascido no município da amo_s

tra, a família tenha migrado e retornado, ou que algum mem-

bro da família o fize$se.


TABELA 36 - Local de residência da família na ocasião do nascimento do aluno, por Estado, tipo de programa e série. 1981.
TABELA 37 - Tempo mediano de residência das famílias no município, por ti_
po de programa e sério. 1901.

EDURURAL OUTROS
ESTADOS 23. 4a. 2a. 4a.

Piauí 29,95 30,48 26,70 33,50

Ceará 25,53 21,28 19,21 24,16

Pernambuco 29,50 30,31 20,38 22,03

Estudos ; secantes (8) mostram que, dada a política agrí-

cola que utiliza tecnologia poupadora de mão-de-obra, aliada

e viabilizada pela concentração fundiária, a tendência migra_

tória é encontrada constantemente nas famílias de pequenos

produtores, como é o caso da população investigada. De seus

membros, no entanto, os mais jovens são aqueles que tendem

a partir, procurando trabalho e melhores condições de vida .

Isso é compreensível, na medida em que, ao mesmo tempo em

que há a concentração de terras nas mãos de poucos, há a frag_

mentação do pequeno imóvel rural que é incapaz de absorver a

força de trabalho reproduzida.

Segundo Peloso (8) que realizou pesquisas na Serra

da Ibiapaba, Ceará, há uma tendência "dos produtores chefes

de famílias migrarem a curta distância, ou seja, locais do

mesmo município ou municípios vizinhos. Já os membros de fa-

mílias que migraram, a fizeram quase sempre para locais dis-

tantes" .

o
(8) Peloso, Emani de Morais. -"Organização da Produção Aqrícola e Mi-
grações" - Tese de Mestrado, maio de 1982, pag. 126, mimeografa-
do. Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento Agrícola da Uni-
versidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Essa afirmativa, dentro do contexto em que foi escivi

ta, suscita questões que interessam a este estudo: em que me_

dida o deslocamento mais restrito, geograficamente, do chefe

de família implica em mudança de residência do núcleo fami-

liar? Estaria a r criança acompanhando o pai e abandonando a

escola, ou permaneceria no mesmo local com outros familiares?

Embora não podendo responder a estas questões, a pe_s_

quisa contém dados mostrando que o tempo médio de interrup-

ção dos alunos na escola esta em torno de 6 meses. Essa in-

formação, relacionada com o aspecto da migração familiar ,

não deixa margem a muitas dúvidas sobre a possibilidade de

que, mesmo tendo havido mobilidade geográfica, as crianças

nao deixaram de freqüentar a escola. Essa constatação leva a

concluir que, pelo menos para as áreas pesquisadas, as ra-

zões pela permanência, ou não, das crianças que estão atual-

mente na escola não são necessariamente explicadas pela mobi

lidade geográfica de seus familiares.

4,3, PARTICIPAÇÃO EM SINDICATOS E COOPERATIVAS

Dadas as características das famílias da amostra que,

na sua maioria, desempenham atividades agrícolas e, destas ,

mais da metade poder ser considerada pequenos produtores, a

declaração de participar, ou não, de sindicato e c o o p e r a t i —

vas toma conotações específicas. Esta participação deve ser

vista, desde qualquer forma de usufruto dos benefícios ofere_

eidos pelas agências, até o envolvimento dos associados nas

decisões da entidade.
No caso dos sindicatos, todos aqueles que nao sao pro

prietários de terra, ou, sendo," possuem até 1 módulo rural _,

como a o caso da amostra, podem se associar aos sindicatos de

trabalhadores rurais. Esta associação tem se caracterizado ,

nos últimos 20 anos, mais como uma forma de obtenção de segu_

ro previdenciário (já que a assistência médico-hospitalar do

FUNRURAL é executada através dos sindicatos) do aue como or-

ganização classista de característica reivindicatoría.

Participação, nesta situação, pode ser entendida co_

mo o pagamento das contribuições mensais, obtenção das con-

sultas médicas, remédios, internações hospitalares e orienta_

ção jurídica, presença em reuniões sindicais, como também a

representação sindical.

As cooperativas, da forma como são organizadas, ten-

dem a não incentivar a adesão de pequenos produtores, de um

modo geral, Participar nelas é colocar a produção para a ven

da, condição a que os agricultores não estão livres para aten-

õer. Em geral, as cooperativas são utilizadas pelos médios

e grandes proprietários que recebem a produção dos pequenos

produtores como pagamento a empréstimos.

Diferentemente dos sindicatos que existem quase que

em todos os municípios, as cooperativas tendem a estar loca-

lizadas em determinadas regiões, de acordo com a importância

econômica e o volume da produção.

As famílias da amostra declararam participar mais fre_

qüentemente de sindicatos, do que de coopérât iva s: enquanto

foram registradas 51% de respostas positivas ã participação


nos primeiro s, apenas 14% das famílias o fizeram com relação

às cooperativas (Tabela 3 8 ) .

Dos que declararam não participar, embora sabendo da

existência, 41% c fizeram em relação a sindicatos. Esta ten-

dência é mais representativa nos municípios pernambucanos ,

cuja freqüência varia entre 46% e 51%, independente do tipo

de programa e série, e em municípios piauienses não Incluí —

dos no EDURURAL, onde 45% das famílias de alunos de 2a.série

não participam de atividades sindicais. As cooperativas não

têm a participação de 51% das famílias que sabem da sua exi_s_

tência e de 35% das que as conhecem.

Do total da amostra, 8% (537] das famílias declara-

ram não saber da existência dos sindicatos. Talvez seja este

número representativo daquelas famílias que não exercem ati

vidades agrícolas e cujas categorias ocupacionais não estão

organizadas sindicalmente em municípios do interior.

4.4, 0 PERFIL ESCOLAR DA FAMÍLIA

0 Programa de Educação Rural Básica no Nordeste vol-

ta-se para a educação formal das populações em idade escolar.

O controle do nível educacional do núcleo familiar a que per

tence o aluno justifica-se no pressuposto que um ambiente fa_

miliar de maior nível de escolarização possui maior poten-

cial de motivação para o desempenho do aluno. O apoio dado

pela família pode manifestar-se seja na ajuda para a execução

das tarefas escolares, seja, principalmente, na permanência

e tu progresso da criança na escola. As Tabelas 39 e 40 apre_

sentam os dados relativos à escolaridade du pai e da mãe.


TABELA 38 - Participação das famílias em sindicatos e cooperativas, por Estado, tipo de programa e série. 1981.
TABELA 39 - Escolaridade do pai por Estado, tipo de programa e série. 1881,
TABELA 40 - Escolaridade da mãe por Estado, tipo de programa e série. 1981
De modo geral, configura-se uma maior concentração

de pais na categoria de analfabetos, com 28% dos casos. Em

seguida, aproximadamente 17% declararam ter cursado o MOBRAL

ou a Cartilha, enquanto 27% têm a 1a. ou 2a. séries. Observa_

-se, pois, que 72% dos pais dos alunos de 2a. e 4a. séries

não tiveram escolaridade além da 2a. série. Essa média tende_

ria a ser mais elevada, caso nao fossem incluídos no calculo

os casos de pais ausentes da casa ("não se aplica"),os quais

perfazem um total de 10% na Tabela 39 (pai) e 6% na Tabela

40 (mãe). De qualquer forma, caracteriza-se uma situação que

vem limitar a expectativa de participação formal dos pais


no processo de ensino-aprendizagem. Resta, contudo, o fato

de que os pais mandam os filhos para a escola, consistindo

isso num estímulo, para que obtenham a formação escolar que

lhes foi negada.

Comparando os Estados entre si, Pernambuco concentra

o maior contingente da categor'.a "Analfabeto", alcançando um

total de 35% (pai) e 36%(mãe), para os alunos de 2a. série

do EDURURAL. Por outro lado, é no Ceará que se encontra o me_

nor número de mães analfabetas, chegando a 10% no grupo de

alunos de 4a. série dos municípios não atendidos pelo EDURU-

RAL.

Quanto aos pais que cursaram apenas o MOBRAL ou a

Cartilha do ABC, uma maior proporção localiza-se no Piauí ,

enquanto em Pernambuco essa condição não atingiu grandes po-

pulações.

Em todos os Estados, o nível de escolaridade da mãe


tende a ser mais elevado que o do pai. De fato, 23% das mu-

lheres ultrapassaram a 3a. série, enquanto apenas 17% dos h£

mens o fizeram. Este fato esclarece as observações anterio-

res de que o aluno recebe mais ajuda da mãe do que do pai ,

na execução dos deveres de casa.

A análise dos dados revela também que, na área aten-

dida pelo EDURURAL, o nível de escolaridade dos pais tende a

ser mais baixo. Em resumo, qualquer que seja o Estado, ou o

tipo de programa, esta escolaridade nao ultrapassa a 4a. sé-

rie de 1 9 grau menor.

A discussão das questões de acesso a escola, d e s e n —

volvida especificamente em relatório proprio (9), encontra

subsídios nos dados das Tabelas 41 e 42, relativas às crian

ças em idade escolar, residentes na casa do aluno, e freqüen

tando, ou não, a escola. Convém lembrar que as informações

colhidas referem-se à famílias de crianças que já alcançaram

a 2a. e 4a. séries do 1º grau. O presente relatório não dis-

cute dados de acesso de crianças que não ultrapassaram a 1a.

série, ou daqueles que não chegam ã escola.

Tanto a nível de Estado, como de tipo de programa,

não se destacam variações na distribuição das proporções e_n_

tre as categorias em estudo. De modo geral, aproximadamente

66% dos alunos têm entre 1 e 3 pessoas, em idade escolar,que

moram na sua residência e que freqüentam a escola com eles.

Dos restantes, cerca de 10% têm entre 4 e 5 companheiros de

estudo, enquanto 24% freqüentam sozinhos a escola.

(9) Ver: Relatório Técnico nº 4 - "Acesso e Eficiência na Escola Rural"


TABELA 41 - Crianças em idade escolar (7-14 anos), residentes na casa do aluno e freqüentando a escola, por Estado, tipo de Progra
ma e série. 1981.
TABELA 42 - Crianças em idade escolar (7-14 anos), residentes na casa do aluno e que não freqüentam a escola, por Estado, tipo de
programa e série. 1961.
Considerando que 62% declararam não haver ninguém de

sua residência, em idade escolar, que nao freqüentasse a es-

cola, deduz-se que, no caso cits famílias da amostra, a fre-

qüência ã escola é um fator importante. Isto, contudo,nao de_

ve esconder a realidade dos 1.241 alunos, num total de 16%,

que têm entre 1 e 3 companheiros fora da escola. A Tabela 42

não informa, todavia, se estas últimas crianças são analfabe_

tas ou não. Outros estudos poderão prosseguir, a partir dos

dados da pesquisa. Em Pernambuco, por exemplo, observa-se uma

pequena tendência a ter mais crianças fora da escola.

uma dimensão que merece ser realçada nas informações

das tabelas refere-se ao ambiente de excelente motivação pa-

ra freqüentar a escola, considerando o fator participação ,

nas famílias da amostra. De fato, são relativamente poucos

os casos onde alguém da família (em idade escolar) não fre-

qüenta a escola, sendo que a maior parte dos alunos tem di-

versos companheiros de estudo. Neste sentido, o Piauí se de_s_

taca por ter um maior número de pessoas da mesma família

freqüentando a escola.

Ao concluir esta caracterização, observa-se que, de

modo geral e independentemente de Estado, tipo de programa e

série, as famílias apresentam a mesma situação: sao pobres ,

de tamanho médio, empregando sua força de trabalho na agri —

cultura. Embora a escolaridade dos pais não ultrapasse em

muito a 2a. série do 1* grau, a maioria das crianças em ida-

de escolar que residem na casa do aluno estão freqüentando a


escola. Os dados indicam que, possivelmente, as crianças que

estão nas 2a. e 4a. series fazem parte de familias que, sob

o ponto du vista de migração, já tem uma certa estabilidade

de vida no local de moradia. Em relação ã sua participação em

grupos, há uma forte tendência de estar associada a sindica-

to s.

A seguir, apresenta-se um resumo das freqüências ob-

servadas em cada característica, anteriormente comentada

Quando não há menção, a situação descrita é comum a todos os

Estados, tipo de programa e séries.

A maior parte das famílias (53%) é composta de 5 a

8 pessoas, estando a mediana em torno de 7 indivíduos por fa_

mília. A segunda maior freqüência corresponde a famílias cuja

tamanho é de 9 a 12 pessoas (29%).

A atividade econômica principal é a agricultura, em

91% dos casos. Embora seguindo a tendência geral, os municí-

pios de Pernambuco não incluídos no EDURURAL apresentam fre-

qüência maior em atividades nao-agricolas (13,7% g 15%, 2a.e

4a. séries, respectivamente). Dentre aqueles que trabalham na

agricultura, 51% sao proprietários e 49% não são. Em Pernam-

buco, esta situação é mais acentuada, atingindo um total de

73% de proprietários no caso do aluno de 4a. série na área

do EDURURAL. Nos demais Estados, menos da metade dos chefes

de família são proprietários, sendo que na área do EDURURAL

(2a. série) do Piauí, apenas 38% possuem terra. Entre os pro

prietários, mais da metade (53%) dispõem de até 11 hectares

de terra, chegando a 84% o grupo que possui até 50 hectares.


Observa-se que em Pernambuco há um maior número de proprietá

rios, mas com menos área, enquanto que no Piauí, a situação

i inversa. 0 processo produtivo é desenvolvido predominante-

mente pela mão-de-obra familiar, ao invés do agricultor en-

tregar o estabelecimento para outros cultivarem, já que em

96% dos casos, as famílias trabalham diretamente na terra.

A renda mensal da maioria das famílias [68%) não ul-

trapassou 1 Cum) salário mínimo, estando incluídos aí aque-

las que declararam não ter ganho nada no ano da pesquisa. So

mente 16% obtiveram proveitos além de 2 salários mínimos.

De um moda geral, a família já morava no município on

de reside atualmente quando o aluno nasceu [84% dos casos) .

Apenas os municípios cearenses nao incluídos no EDURURAL apre

sentaram um máximo de 24,5% de casos de alunos nascidos fora

do atual município. 0 tempo mediano de moradia varia entre

19,21 e 33, 50 anos.

As famílias da amostra declararam participar mais

freqüentemente de sindicatos [51%) do que de cooperativas ..

(14%).

0 nível de escolaridade tanto do pai, como da mãe e_s_

tá concentrado nos intervalos que vão até a 2a. série (73% e

71% respectivamente). Aproximadamente, 66% dos alunos têm en

tre 1 a 3 pessoas em idade escolar que moram em sua residên-

cia e que freqüentam a escola com ele; dos restantes, cerca

de 10% tem entre 4 e 5 companheiros de estudo, enquanto 24%

freqüentam sozinhos a escola.

/jer.-

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