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Unidade I
Lavagem de Dinheiro
Unidade 01
Lavagem de Dinheiro
Objetivos: apresentar conceitos, aspectos materiais e processuais
e os mecanismos nacionais e internacionais de combate à
lavagem de dinheiro e crimes correspondentes.
APRESENTAÇÃO
Nesta Unidade 1 do curso de Alinhamento Conceitual do Programa
Nacional de Capacitação e Treinamento no combate à Corrupção e à
Lavagem de Dinheiro (PNLD), falaremos sobre lavagem de dinheiro e
apresentaremos a magnitude, os efeitos e as principais estratégias mundiais
de combate a esse crime, importantes para o entendimento da evolução
histórica e conceitual do termo no cenário nacional e internacional.
Apresentaremos, também, os principais organismos, convenções e
resoluções criadas a fim de trocar experiências, discutir políticas e,
principalmente, promover ações para combater a lavagem de dinheiro.
Daremos ênfase aos conceitos relacionados a esse crime no cenário
internacional, visando ao esclarecimento do funcionamento das chamadas
Unidades de Inteligência Financeira (UIFs), porém sem deixar de lado a
apresentação dos instrumentos e planos de ação inseridos no cenário
nacional, relevantes para a compreensão das dinâmicas de combate aos
crimes financeiros elaboradas pelo Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF).
Além dos tópicos descritos acima, comentaremos conceitos relativos
aos aspectos materiais e processuais da lavagem de dinheiro que apontam
como criminosas as condutas relacionadas a essa prática, bem como
facilitam o entendimento relativo à produção de provas e crimes
antecedentes.
Todas as abordagens aqui propostas objetivam o entendimento da
prática e do dinamismo da lavagem de dinheiro, todas de extrema
importância para o estudo deste crime que tem tomado grandes proporções
ao longo do tempo em razão das técnicas criminosas cada vez mais
elaboradas e complexas, motivo pelo qual se tornou uma grande
preocupação mundial.
Bom estudo!
Lição 1
O que é Lavagem de Dinheiro?
1
No idioma original: Financial Crimes Enforcement Network (FinCen).
2
Contrariando a crença popular, não é possível guardar um milhão de libras em uma
pasta de executivo. Um monte de um milhão nessa moeda, em notas de 50, tem
aproximadamente três metros de altura.
3
De uma maneira geral, as ações de repressão ao tráfico de drogas estão sempre na vanguarda
das técnicas inovadoras de investigação desenvolvidas pelas agências de execução da lei.
4
Uma das características do deslocamento das prioridades norte-americanas está no maior
enfoque às transferências informais de recursos ou sistema bancários paralelos, conhecidas
como hawalas (ANDREAS e NADELMANN, 2005).
Figura 1
Tipos de UIF
Ao longo dos anos, os países têm estabelecido UIFs com a finalidade
geral de combater a lavagem de dinheiro e atribuíram a elas três funções
básicas que são parte da definição de UIF. Entretanto, os arranjos
administrativos pelos quais essas funções são desempenhadas variam
consideravelmente de país para país. Essas variações surgem de diferentes
circunstâncias nacionais, juntamente com a falta de um modelo
internacionalmente aceito para as funções da UIF no início da década de
1990, quando as primeiras dessas unidades foram estabelecidas.
Por fim, a categoria tipo misto ou “híbrido” reúne UIFs que contém
diferentes combinações dos arranjos descritos anteriormente. Esse tipo
híbrido de organização é uma tentativa de obter as vantagens de todos os
elementos ao mesmo tempo. Algumas UIFs combinam características das
UIFS de tipo administrativo e coercitivo, enquanto outras combinam os
poderes das autoridades aduaneiras com aqueles da polícia. Para alguns
países, esse foi o resultado da fusão de dois órgãos que estavam envolvidos
no combate à lavagem de dinheiro.
Apesar de variarem em diversos aspectos, a UIFs compartilham
uma definição comum no que se refere às funções básicas: servir como um
centro nacional para receber, analisar e disseminar informações relativas
à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Essas três funções
são as funções básicas compartilhadas por todas as UIFs reconhecidas pelo
Grupo de Egmont. A definição de uma UIF baseada em suas funções
principais foi formalizada pela primeira vez, em 1996, pelo Grupo de
Egmont. Definições semelhantes, também baseadas nas três funções
principais, foram agora incorporadas às Recomendações revisadas do GAFI,
de junho de 2003, e em duas convenções internacionais.
Alguns países confiam à UIF funções adicionais. Outras UIFs têm o
poder de bloquear por um tempo limitado transações suspeitas
comunicadas. As recomendações do GAFI definem como padrão que os
países devem estabelecer UIFs com as três funções principais e contém
outras disposições relacionadas ao exercício dessas funções. Em contraste,
não existe norma internacional ou padrão lidando com as funções não
principais de uma UIF.
Objetivos Estratégicos:
produzir inteligência financeira de modo eficiente
e eficaz;
supervisionar e regular os segmentos econômicos de modo eficiente
e eficaz;
utilizar tecnologia da informação eficiente
e eficaz;
gerir a instituição de forma impessoal, transparente e
desburocratizada;
gerir pessoas assegurando oportunidade profissional e liberdade de
expressão, com respeito e responsabilidade, em um ambiente pluri-
institucional e multidisciplinar;
desempenhar papel ativo e cooperativo no plano
internacional.
Lição 2
Aspectos materiais da lavagem de dinheiro
Nesta lição do curso, comentaremos os aspectos materiais do crime de
lavagem de dinheiro, importantes para o entendimento de seu dinamismo e
de suas relações complexas, que esclarecerão a tipificação desta prática na
Lei.
No que diz respeito ao inciso II, Prado diz que o legislador buscou
evitar a reconstrução da trilha de vestígios materiais que vincula o ativo
ao crime que o
gerou. Por sua vez, o inciso III prevê a tipificação da conduta daquele que
importa (introduz no território nacional) ou exporta (faz sair do território do
país) bens com valores não correspondentes aos verdadeiros, ou seja, pune-
se o subfaturamento ou superfaturamento de bens, entre o valor real em
relação ao valor fictício. Com relação ao inciso I, § 2º, do artigo 1º, optou-
se por punir aquele que “utiliza na atividade econômica ou financeira,
bens, direitos e valores que sabe serem provenientes de qualquer dos
crimes antecedentes referidos neste artigo”.
Segundo Prado, “caracteriza o ilícito a mera utilização, sem ter por
objetivo a ocultação ou a dissimulação da origem dos bens, diretos ou
valores, uma vez que o agente saiba de tal origem” (p. 1170). O agente que
participa de um escritório, cuja atividade principal ou secundária é a prática
da ocultação e dissimulação de bens, responderá pelo crime de lavagem
desde que haja a unidade de desígnios, entre a conduta praticada pelo
agente e a sua vontade, de forma a evitar a responsabilidade objetiva, vetada
pelo Direito Penal brasileiro.
O crime de lavagem de dinheiro envolve dinamismo e relações
complexas, que não só dificultam a identificação do produto do crime, como
também a visualização da própria conduta do agente do crime.
Além da dificuldade de vincular os ativos ao crime antecedente, como
requisito necessário à incriminação pelo crime de lavagem, notamos que,
cada vez mais, os criminosos buscam atividades econômicas lícitas para
dissimular ou ocultar a natureza dos recursos originados da atividade ilícita.
A constituição de empresas de fachada, o envio de dinheiro para
paraísos fiscais ou empresas offshores, a dissimulação de negócios e
operações financeiras, a introdução de ativos na economia formal, entre
outras atividades voltadas para conversão dos ativos ilícitos em “lícitos”,
tornam a identificação da lavagem de dinheiro uma atividade cada vez
mais complexa por parte dos órgãos de repressão do Estado, como também
O mesmo artigo, traz no seu §1º, que a “denúncia será instruída com
indícios suficientes da existência da infração penal, sendo puníveis os fatos
previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou
extinta a punibilidade da infração penal antecedente”.
Conforme a vontade do legislador de aplicar os dispositivos da lei
mesmo quando “desconhecido ou isento de pena o autor” do crime
antecedente (autonomia material), as evidências do crime prévio devem, ao
menos, demonstrar o ilícito como fato típico e antijurídico, sem necessidade
de demonstrar a culpabilidade. Portanto, pese a doutrina majoritária defender
que crime é a ação ou omissão típica, antijurídica e culpável, o dispositivo
acima transcrito dispensa a comprovação da culpabilidade do crime
antecedente para a aplicação da lavagem. O legislador, nesse caso, por
política criminal, preferiu adotar a teoria da acessoriedade limitada.
Ocorre, por exemplo, se o autor do crime antecedente for inimputável, os
autores e/ou participantes da lavagem responderão pelos crimes previstos
na Lei 9.613/1998.
Lição 3
Aspectos processuais da lavagem de dinheiro
Os crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores no
direito brasileiro estão previstos na Lei n. 9.613/1998, que traz um capítulo
(II) de cunho processual penal.
Tais ilícitos, com alguma contenda doutrinária, têm como bem jurídico
tutelado a administração da justiça, à medida que a conduta em apreço
dificulta a reparação esperada na via judicial pela repressão aos delitos
antecedentes. Há, ainda, quem sustente a inexistência de autonomia do
bem jurídico da lavagem, como sendo o mesmo do delito antecedente.
O crime de lavagem de dinheiro possui autonomia processual, ou seja,
não há necessidade de que o crime antecedente tenha sido apurado e
julgado, pois o delito antecedente pode ter sido até mesmo praticado em outro
país.
Dessa maneira, predomina a teoria da acessoriedade limitada, que,
em algumas palavras, implica dizer que não é necessário provar
cabalmente a prática do crime antecedente para a configuração do
delito de lavagem de dinheiro.
O aspecto relativo à acessoriedade encontra-se ainda no §1º do artigo
segundo da lei, ao definir que a denúncia será instruída com indícios
suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os
fatos previstos na lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou
extinta a punibilidade da infração penal antecedente.
Na hipótese de ocorrer absolvição no crime antecedente, não
ocorrerá, necessariamente, a absolvição do delito de lavagem de capitais.
Tal circunstância será verificada, efetivamente, se houver a hipótese de a
absolvição pautar-se em uma causa excludente da tipicidade ou ilicitude.
Caso a absolvição funde-se em uma causa excludente da culpabilidade ou
extintiva da punibilidade, nada impede a condenação pelo delito de lavagem
de capitais. Havendo abolito criminis do crime antecedente, faltará um
pressuposto lógico para a configuração do delito de lavagem de capitais e o
fato anteriormente típico, não mais seria.
3.1 Competências
Em relação à competência os delitos de lavagem de dinheiro são
pautados pelo delito antecedente e pelos interesses envolvidos. Em regra, o
delito de lavagem é estadual. Contudo, em consonância com o art. 109 da
Constituição Federal, o art. 2º, III da Lei 9.613/1998 estabelece que são da
3.2 Denúncia
Devido à peculiaridade do crime antecedente, nos delitos de
lavagem de dinheiro a denúncia deverá conter além dos requisitos do art.
41 do CPP, a descrição dos indícios suficientes da materialidade do crime
anterior, um substrato probatório circunstanciador de sua ocorrência.
Deve-se ter cuidado com a individualização das condutas,
mormente, nos chamados delitos societários, em que permanece, mas
com viés cada vez mais restritivo, a discussão entre a denúncia genérica e
a denúncia geral.
3.4 Revelia
De acordo com o artigo 2º, parágrafo 2º, da Lei 9.613/1998, no
processo por crime previsto nesta lei, não se aplica o disposto no art. 366 do
Código de Processo Penal. Essa disposição implica a conclusão de que,
diferentemente do processo comum, em não comparecendo o acusado,
mesmo citado edital, ou, ainda, não tendo constituído advogado, não ficará
suspenso o processo, que deverá ter prosseguimento à revelia do acusado,
não se suspendendo, por via de consequência o curso do prazo
prescricional, descabendo falar em produção antecipada das provas, já que
se tratará da marcha normal do processo.
Essa questão ainda não foi submetida a uma considerável reflexão
jurisprudencial, mas os parcos julgados encontrados são no sentido de
conferir aplicabilidade a essa disposição.
Lição 4
Produção de prova
A investigação da lavagem de ativos, em um primeiro momento,
segue a rotina da apuração relacionada a qualquer outro delito, sendo
necessária a instauração de um procedimento investigatório adequado, seja
ele inquérito policial, seja procedimento de investigação criminal a cargo do
Ministério Público. A distinção, por certo, ocorre em relação às linhas
investigativas, uma vez que os delitos de lavagem, em regra, são mais
complexos, o que redunda a aferição em concreto e, nem sempre usual, de
se chegar à autoria e à materialidade delitivas.
Nesse aspecto, dada a dificuldade na formação da prova e, sobretudo,
dada a complexidade dos atos de lavagem e que se justifica o artigo 6, 2, “f”,
da Convenção de Palermo (“O conhecimento, a intenção ou a motivação,
enquanto elementos constitutivos de uma infração enunciada no parágrafo 1
do presente Artigo [lavagem do produto de crime], poderão inferir-se de
circunstâncias fatuais objetivas”), em outras palavras, as possíveis
tipologias de lavagem, atreladas a indícios da prática delitiva, podem, a
depender da casuística, render o aprofundamento de investigações e, até
mesmo, servir de lastro para a formalização de denúncia ou de sentença
condenatória.
5
Sem contar, evidentemente, os bens insuscetíveis de restituição, conforme o art. 119 do
mesmo Código.
6
“Proceder-se-á ao seqüestro dos bens móveis se, verificadas as condições previstas no
art. 126, não for cabível a medida regulada no Capítulo XI do Título Vll deste Livro”, ou
seja, a busca e apreensão.
Nada mais correto, haja vista que a fixação do prazo é feita para a
contenção de possíveis abusos estatais, consistente em inércia deliberada
sobre uma investigação com o bem constrito. Havendo diligências sobre os
bens em questão, ainda que com considerável prazo, o que é comum,
principalmente em casos de grande complexidade, como, em regra, são os de
lavagem de ativos, não há como se aplicar uma efetiva sanção ao autor da
ação penal por suposta desídia.
parte postulante e a parte investigada. Em tese, é legítimo tal pleito, até porque
admitir o contrário seria defender a inaceitável transcendência dos efeitos
sancionatórios da persecução penal a uma parte alheia ao fato que lhe rendeu
ensejo. Essa constatação, todavia, não se estende aos bens adquiridos por
meio de atividade criminosa, haja vista que a meação não os torna menos
produto de crime. O que importará nessa ocasião, com inevitável exame das
circunstâncias concretas, é a aptidão da parte requerente (cônjuge) em ter
renda para ter aquele bem, é a sua ciência ou não da atividade ilícita e,
sobretudo, o aproveitamento do patrimônio eventualmente amealhado por
meio de atos criminosos.
Não raramente, também é invocada a impenhorabilidade do bem de
família, ou, ainda, a sua insuscetibilidade a sofrer constrições com base na
Lei 8.009/1990. Essa tese, na verdade, não encontra abrigo nem mesmo na
legislação em apreço. Com efeito, o artigo 3º, inciso VI do aludido diploma
pontua que se exclui a oponibilidade dessa garantia familiar na hipótese de
o bem “[...] ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de
sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de
bens”.
Outra demanda frequente que se insurge contra medidas de
sequestro é veiculada por meio de credores fiduciários, haja vista que,
sobretudo em se tratando de automóveis, não raramente os bens
sequestrados estão sendo adquiridos por meio de financiamento, o que não
é de se estranhar, a despeito das vultosas somas das movimentações ilícitas,
em razão da possibilidade que esses bens têm de ser apreendidos (logo, o
prejuízo é minimizado) e como forma de não ostentar, ou de minorar a
ostentação da formação patrimonial oriunda de atividade criminosa.
Alheia a isso, em regra, está a instituição financeira, que, com a sua
propriedade resolúvel e com a garantia no bem em questão, visa à sua
recuperação para posterior alienação e, assim, recuperar o prejuízo da
inadimplência do investigado, que, empiricamente faz-se tal afirmação,
praticamente em todos os casos, não continua a pagar o financiamento do
bem sequestrado ou mesmo apreendido.
O direito do credor fiduciário, em regra é claro, sendo que o motivo de
maior controvérsia recai na necessidade de se prestar caução para a
retirada do bem, equivalente ao valor pago pelo investigado. Tal medida vem
encontrando forte respaldo jurisprudencial, sobretudo, por pretender evitar o
enriquecimento sem causa da instituição financeira e é útil também para se
evitar a responsabilidade civil do Estado na hipótese de o sequestro ser
levantado, sobretudo, em caso de absolvição. Nessa hipótese, os valores
pagos ao denunciado, agora, absolvido seriam a ele restituídos, com a devida
correção.
Tendo em vista o atual panorama jurisprudencial é possível constatar
Lição 5
A Lei nº 12.683/2012 e o fortalecimento do
combate à lavagem de dinheiro
A Lei n 12.683/2012 modificou significativamente a lei brasileira de
combate à lavagem de dinheiro.
Tal fato gera uma situação inusitada. Isso porque diversas empresas de
concessão de crédito ou mesmo pessoas jurídicas que assinam determinados
serviços a elas disponibilizados têm acesso aos dados cadastrais de clientes
ou potenciais clientes; de outro lado, as autoridades públicas não dispunham
desse acesso direto, necessitando de autorização judicial para tanto.
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