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Reabilitação e Reparação do Dano

I– Considerando nas consequências gravíssimas que lhe advêm da


sentença penal condenatória, é de razão busque o réu, a todo o poder
que possa, elidi-las, não o acompanhem — nefando espectro! — pela
vida fora. Ninguém põe em dúvida quanto importam ao nosso futuro
os fatos e notícias que nos ocorreram em dias pretéritos. A falar lisa e
sinceramente, somos o que fomos(1); donde o recurso aos meios legais
que nos sirvam de expungir as máculas do passado.
Se ainda não transitou em julgado a decisão condenatória
definitiva, poderá o acusado guerrear-lhe os efeitos, dela interpondo
apelação para a superior instância. No caso de já se achar sob o selo da
“res judicata”, mediante revisão do processo é que o réu haverá de
buscar a reparação da injustiça da sentença. Não raro, do próprio
“habeas corpus”, “remédio jurídico processual mais eficaz, em todos os tempos”(2),
é que ele se valerá para debelar os gravibundos efeitos do decreto
condenatório. Para redimir-se da falta passada e, pois, melhor
acreditar-se para o futuro, ou porque lhe é próprio o querer subir
sempre de ponto na estimação pública(3), todo homem procura com
veemência delir os estigmas da condenação.
Dado que se frustrem os mais instrumentos que lhe assina a
lei, é o instituto da reabilitação o que certamente haverá deparar ao
condenado algum refúgio ou lenitivo.

II – Reabilitação, como a definiu o doutíssimo Eliézer Rosa, é “pedido


de declaração, por sentença, do desaparecimento da temibilidade do réu, em
consequência da mudança de sua personalidade, com a finalidade de cancelar na
biografia penal do reabilitado as anotações penais”(4).
O deferimento da reabilitação (a qual, segundo a regra do art. 94
do Código Penal, “poderá ser requerida, decorridos dois anos do dia em que for
extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução”) produz esta
notável consequência: obriga ao sigilo o processo e a condenação que
o réu sofreu. Valha a verdade que isto mesmo já constara do art. 202 da
Lei de Execução Penal, pelo que entendem insignes autores seja o seu
2

tanto inútil a figura da reabilitação(5).


Mas, posto semelhantes (se não idênticos) esses efeitos, mui
diversas lhes são todavia as causas determinantes: a um, dá-lhe origem
o mesmo cumprimento da pena; a outro, uma sentença, na qual se
declara que certo indivíduo, que atendeu deveras aos requisitos da lei,
foi reputado apto a reintegrar-se na comunhão social e, por isso,
digno do respeito e estima dos bons.
Esta diferença há, pois, entre as duas hipóteses: na primeira, o
sigilo quanto ao processo a que o acusado respondeu e respectiva
condenação decorre de haver já expiado seu castigo; na outra, o que
torna defesa a menção ou notícia de tais fatos em folha corrida,
certidões ou atestados, será comparecer o condenado perante a
sociedade qual homem novo, protestando-lhe que se emendou da
falta cometida, aborreceu a vida do crime e, a essa conta, pede que o
admita em o número de seus membros exemplares e prestantes.
Do simples contraste das razões ou motivos que militam em
prol de um e outro efeito deixa-se entender, além de toda a dúvida,
que os derivados da reabilitação acham-se tão longe daqueles a que se
refere a disposição do art. 202 da Lei nº 7.210, de 11.7.84 (Lei de
Execução Penal), como o céu da terra. Logo, não parece bem dar inútil
à reabilitação!

III – O assento legal da matéria são os arts. 94 e seguintes do Código


Penal e 743 e seguintes do Código de Processo Penal. Demais dos
requisitos do “domicílio no País” e do “bom comportamento público e
privado”, há de satisfazer o reabilitando ao do ressarcimento do dano
causado pelo crime. É a notar, entretanto, que desta exigência nem
todos os julgados têm feito caso e cabedal; ao contrário, alguns
a houveram até por francamente despicienda, como se colhe das
ementas abaixo transcritas(6):
a) “As finalidades do instituto da reabilitação recomendam que o julgador
não se prenda a um esquema de rígido formalismo na verificação dos
requisitos secundários ao seu deferimento e entre estes se inclui o do
ressarcimento do dano” (Rev. Tribs., vol. 511, p. 405);
3

b) “Admissível a concessão de reabilitação, ainda que não tenha sido


ressarcido o dano causado pelo crime, pois seria injusto obrigar o
condenado a aguardar a prescrição da ação indenizatória para
deferimento do pedido (…)” (RJDTACrimSP, vol. 4, p. 205).
Em suma: não só desagravo da sociedade (a que ofendera com a
prática do delito) e alívio de sua consciência(7), também é a reabilitação
o modo mais solene e cabal de o infrator demonstrar que se restituiu
integralmente à condição de homem de honra. O que, não se nega, é
matéria superior a todo o elogio.

Notas

(1) É fama que, levado perante o tribunal revolucionário, sob a


alegação de que maquinava a ruína de sua pátria, Danton,
fitando os olhos em seus acusadores, prorrompeu em
memoráveis palavras que, tiradas em linguagem, têm esta
substância: “Com quê então a mim é que acusais de trair a pátria?
Que meu passado se levante e me defenda!”.
(2) Pontes de Miranda, História e Prática do “Habeas Corpus”, 4a. ed.,
p. 3.
(3) Faz muito para o nosso caso aquilo do grande Vieira: “A razão de
ser tão natural ao homem o encobrir e esconder o pecado, deu Quintiliano,
e é porque ninguém é tão mau, que o queira parecer: Non quisquam tam
malus, ut malus videri velit” (Sermões, 1959, t. VIII, p. 188).
(4) Dicionário de Processo Penal, 1975, pp. 175-176.
(5) Celso Delmanto, Código Penal Comentado, 3a. ed., p. 144.
(6) Com este parecer vão escritores de boa nota, como Evaristo
Toledo: “No que tange à reparação do dano, é razoável que se considere o
interesse da vítima, uma vez que a lei põe o problema como faculdade e
não como obrigação (art. 63 do CPP). De qualquer forma, tal requisito
deve ser apreciado com certa elasticidade” (Curso de Processo Penal, 1992,
p. 347).
4

(7) “… é preciso que a Justiça seja solícita em ouvir o seu reclamo (do
ex-presidiário), dando o primeiro testemunho de que ele tem direito à
reintegração social. Não se pode admitir que marcas de Caim o persigam
até o túmulo” (João Baptista Herkenhoff, Uma Porta para o Homem
no Direito Criminal, 1988, p. 196).

Carlos Biasotti
Desembargador aposentado do TJSP e ex-presidente da Acrimesp

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