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Resumo
Quando ouvimos ou lemos a palavra daimon, nosso sentido filosófico nos
leva a Sócrates, que Platão imortalizou com seus diálogos, nos quais, um
intermediário divino e pessoal orientava algumas de suas ações. O lúcido
discípulo de Sócrates apresenta interessantes interferências desse ser
extracorpóreo, nas interlocuções socráticas, e entre elas, no apócrifo Teages,
encontramos seu mestre expondo o que chamo de apologia do seu protetor
individual. Mas, nossa tarefa aqui segue o objetivo responder as questões: o
daimon já era conhecido antes de Sócrates? Quem antes de Sócrates deixou
suas impressões sobre essa personagem estranha? Quais os principais
significados para o termo daimon na antiguidade grega? O que o daimon
representava para o meio filosófico-religioso envolvente da sociedade grega dos
séculos VII, VI e V a.C.? Não aprofundaremos nas origens etimológicas do termo
e, obviamente, também não faremos comparações com termos gregos que
serviam de correlatos ou de significação ambígua como moira, teos e outros.
Objetivamos, portanto, o nosso trabalho à interpretação da representatividade
religiosa do daimon, e onde pudemos encontrar referências suas, desde Homero
e Hesíodo até o período clássico grego. Focando ocorrências desse ‘ser’, e
orientados pelo nosso entendimento de sê-lo personagem intermediária entre as
divindades panteônicas e os gregos. Neste perfil, notamos suas manifestações
nos movimentos filosóficos-religiosos direcionando os cidadãos em algumas
decisões comportamentais. Tais registros aparecem em textos com diversas
concepções temáticas como: divindade particular, gênio vingador, orientador do
destino do seu protegido, e até como alma de um morto. E é interessante anotar
que na maioria das abordagens que detectamos, o daimon mostra um vínculo
com a religiosidade dos pré-socráticos, e do período clássico, nosso foco
histórico do momento. Mostraremos que esse intermediário divino perambulou
pelos escritos antigos com conotações variadas nas nuances interpretativas
1
Faz doutorado em Filosofia na Universidade de Coimbra. Mestre em Filosofia Antiga pela UFU.
Pesquisador em Filosofia Antiga (NEFAH - UFU). Especialista em Filosofia Clínica pelo Instituto Packter.
Bacharel em Filosofia pela Faculdade Católica de Uberlândia.
lfbandeirademelo@gmail.com.
mencionadas, mas temos a certeza que a responsabilidade textual platônica se
tornou inestimável quanto ao conhecimento que temos hoje sobre a natureza e
funções que o daimon se apresentou na época clássica. Apontando o
comportamento do mestre de Platão no diálogo Teages, tentaremos consolidar
o que interpretamos do daimon de Sócrates. Apesar de elencar alguns autores
que abordam o tema aqui delimitado, privilegiaremos a base das pesquisas no
segundo capítulo da obra de Andrei Timotin, La démonologie platonicienne,
acrescida pela nossa interpretação dessa fenomenologia que chamamos de
daimonologia.
INTRODUÇÃO
Existe uma grande dificuldade para definir a noção religiosa e filosófica do
termo daimon (δαιμων2), mas, de maneira geral, em concordância com o que
encontramos já em Homero e Hesíodo, podemos caracterizá-lo como um
intermediário divino que, na maioria de suas interferências tem uma proximidade
com a ideia de destino (μοιρα – moira)3, ou de vingança, como as Erínias
(Ερινυς)4. Assim, as interpretações de daimon estão inteiramente ligadas a
sistemas de referências religiosas. Apropriei o cuidado na interpretação que
demonstramos neste trabalho, atendendo o conselho de Andrei Timotin: “Essas
assimilações favorecem as contaminações conceituais e as superposições de
representações religiosas”. (TIMOTIN, 2012, p.1).
Para estabelecer uma fundamentação histórica, filosófica e religiosa, nos
restringiremos às analogias possíveis entre os textos antigos e às condições
interpretativas que podemos colher de diálogos platônicos como no Teages que
priorizamos aqui.
O daimon sempre aparece textualmente vinculado a um sistema que se
reporta à religiosidade expressa nas obras do mundo antigo ocidental, que
chegaram até a contemporaneidade. Em Atenas, os deuses do Olimpo eram
2 O uso da palavra grega nos permitirá evitar a consequente confusão com o termo "demônio"
como nós entendemos hoje, cujo significado pejorativo a cultura cristã tem atribuído a ele, desde
a antiguidade, noção essa, estranha à tradição platônica.
3 Moira é “a personificação do destino individual da parcela que toca a cada um. Originalmente,
cada ser humano tinha a sua moira, ‘sua parte, seu quinhão’, de vida, de felicidade, de
desventura” (BRANDÃO, 2014, p.432). Ver ainda (BRANDÃO, 2009, Vol.I).
4 Entidades aladas que personificavam a vingança dos crimes. Ver BRANDÃO, 2014, pp.
210/211.
referenciados por cultos de mistérios dos quais diversos autores apresentam um
relacionamento específico entre os homens e os emissários divinos que traziam,
através de indivíduos com dons especiais, recados e orientações para as ações
terrenas dos gregos. Tais personagens ficaram conhecidas como pitonisas, e as
orientações olímpicas se popularizaram como oráculos, verdadeiros conselhos
de interpretações ambíguas, muitas das vezes.
Segundo Timotin, a tradição platônica mostra uma história que exemplifica
de forma pungente a noção daimonológica vinculada à filosofia que conhecemos
como socrática. Não hesitaremos em afirmar que essa noção existiu
anteriormente propagada por Homero, Hesíodo e Pitágoras, cujos ritos
apresentados traziam informações de ações dos atenienses dirigidas pelas
diretrizes divinas que eram recebidas por daimones, nos eventos particulares de
seitas e ritualidades ocultas ou de mistérios5. A história dessa daimonologia
“poderia servir para uma melhor compreensão do esforço sistemático de
racionalização e de definição do fenômeno religioso no mundo greco-romano,
que acompanha e apoia as especulações” (TIMOTIN, 2012, p.2)6.
As diversas interpretações do daimon histórico e/ou temático provêm da
Antiguidade e período clássico grego, cuja exegese está pautada em sistemas
de pensamentos que aliam textos daquela filosofia, imbricados com Platão.
Timotin entende que a daimonologia tem uma conjuntura que tenta “conciliar a
noção de daimon da República e do Fédon com a teoria do daimon-νους do
Timeu, exegese que conduziu à elaboração de doutrinas de demonológicas
originais, como a de Plotino e que suscitou abordagens críticas e a formulação
de novas teorias” (TIMOTIN, 2012, p.2)7.
O daimon pode ser visto em relação à religião do mundo grego antigo como
um agente de consulta e aconselhamentos para os cidadãos que viam nos
5 Ver Alberto Bernabé, Eric Robertson Dodds, Gabriele Cornelli, Jean-Pierre Vernant, Marcel
Detienne, Mircea Eliade, Monique Dixsaut e Walter Burkert, entre outros.
6 La presente histoire de la demonologie platonicienne est donc, en grande partie, une histoire
de la notion philosophique de δαιμων et, en meme temps, une contribution a l’etude des
categories religieuses de la pensee philosophique. Dans cette perspective, elle pourrait servir a
une meilleure comprehension de l’effort systematique de rationalisation et de definition du
phenomene religieux dans le monde greco-romain qui accompagne et soutient les speculations
demonologiques.
7 Une tentative pour concilier la notion de daimon de la Republique et du Phedon avec la theorie
8 Do grego Αιδης, região denominada indevidamente por ‘invisível’ tenebroso’. Ver mais no
primeiro volume de Mitologia Grega de Junito de Souza Brandão, capítulo XIII (pp.329 a 333).
9 Terceiro capítulo: LES FIGURES PLATONICIENNES DU DAIMON, pp.37 a 84.
A vida após a morte do corpo está propagada desde milênios na literatura10.
Esta ideia pode ter surgido com o medo do desconhecido, ou do que poderia
acontecer após a morte. Os pesquisadores apontam o conhecimento da
imortalidade da alma desde os primórdios das civilizações. O saber dessa vida
e o medo de encará-la se encontra de forma insofismável no Livro dos Mortos
dos antigos egípcios11, encontrado numa secção do “Papiro de Nani”, cuja data
está entre 1040 e 945 a.C., mas que apresenta textos anteriores ao século XVI
a.C.
Nas mais antigas seitas oriundas da religião védica, praticada entre os
indianos, já eram conhecidos os princípios da imortalidade da alma. Destacando-
se esses conhecimentos no hinduísmo bramânico, no jainismo e no budismo,
três grandes grupos que representaram as principais ideologias religiosas da
Antiguidade na Índia.
Encontramos na Antiguidade e Período Clássico da Grécia, berço da
civilização ocidental, grupos religiosos como os órficos, os pitagóricos e os cultos
de mistérios, que, juntamente com os épicos de Homero e Hesíodo,
apresentavam experiências religiosas mostrando ritos envoltos em questões
relacionadas à vida após a morte do corpo.
10 Ver nosso texto Alguns Princípios Espíritas antes de Sócrates, apresentado no ENLIPHE de
2015.
11 Segundo Luiz Carlos Teixeira de Freitas que prefacia a tradução de Edith de Carvalho
Negraes, editada em 2005 pela Hemus, O Livro dos Mortos, cujo nome verdadeiro era Saída
para o Dia (ou para a Luz), teve “sua primeira versão em 1842 por Ricardo Lepsius”, tendo sido
descoberto pelo arqueólogo francês Champollion, no Papiro do Nani. (O Livro dos Mortos, 2005,
p.12).
12 Historiquement, le δαιμων est souvent lié, à l’epoque archaïque et classique, à la sphère des
grecque ancienne.
Antonio Tovar também mostra a diversificação dos significados do termo
daimon, e é coincidente com Timotin na interpretação de uma personagem que
representa o destino: “O sentido de destino parece o dominante na primitiva ideia
que os gregos designaram com o nome de daimon” (TOVAR, 1953, p.250).
Ambos os autores são concludentes na afirmação de designações como “alma
de mortos”, “gênio vingativo”, “seres superiores”, “doadores de bens”, “gênio
pessoal” e “intermediários entre homens e deuses”. Utilizaremos a noção de
daimon exposta por Edson Bini14:
14 Nota 16, na Apologia de Sócrates, pp.149/150, Volume III da coleção Diálogos da Edipro. Ver
também: Nota 3 do XI Capítulo do Volume I de Mitologia Grega de Junito de Souza Brandão
(BRANDÃO, 2009, p.197).
15 Sugiro uma leitura na descrição do verbete daimon elaborada pelo Professor Dr. João Ferreira,
16 Τοὶ μὲν δαίμονές εἰσι Διὸς μεγάλου διὰ βουλάς ἐσθλοί, ἐπιχθόνιοι, φύλακες θνητῶν ἀνθρώπων,
{οἵ ῥα φυλάσσουσίν τε δίκας καὶ σχέτλια ἔργα ἠέρα ἑσσάμενοι, πάντῃ φοιτῶντες ἐπ' αἶαν,}
πλουτοδόται· καὶ τοῦτο γέρας βασιλήιον ἔσχον. (Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, 122 a 126).
17 Assim escreveu Hesíodo: Depois também esta raça sob a terra ele ocultou e são chamados
hipoctônicos, venturosos pelos mortais, segundos, mas ainda assim honra os acompanha.
(HESÍODO, 2008, P.31) – Αὐτὰρ ἐπεὶ καὶ τοῦτο γένος κατὰ γαῖα κάλυψεν, τοὶ μὲν ὑποχθόνιοι
μάκαρες θνητοὶ καλέονται, δεύτεροι, ἀλλ' ἔμπης τιμὴ καὶ τοῖσιν ὀπηδεῖ. (Hesíodo, Os Trabalhos e
os Dias, 140 a 142).
18 Deusa panteônica grega que representa o amor, a beleza e a sexualidade. (BRANDÃO, 2009,
p.146). Ver versos 383 a 436 do Canto III da Ilíada. (HOMERO, 2008, p.104 a 106).
19 Páris – Παρίσ – um dos filhos do rei de Tróia, Príamo (BRANDÃO, 2009, P.146).
20 “Vai, meu filho Apolo, Ao nobre Heitor...” (HOMERO, 2008, p.341)
21 HOMERO, 2008, p.347.
22 HOMERO, 2008, p.348. O autor utiliza o termo nume em vários versos dando a conotação de
atual poder, o poder sendo exercido, o poder dinâmico [...] em contraste, o conceito de θεος não
implica um deus que está sempre exercendo poder”. Ver também Nilsson (1941), p.20.
32 Il est tentant de voir dans cette formule l’expression figee d’ne conception très ancienne
associant la notion de δαιμων à la pr[εsence active, dynamique d’une puissance divine, à son
intervention imprévue et irrésistible dans les affaires humaines (par opposition au θεος qui peut
[εtre associe à ce type de manifestations, mais non pas de mani{εre nécessaire). Cette
conception, courante dans les poèmes homeriques, trahit l’effort de rationalisation d’une
experiénce religieuse commune qui tend à reconnaître la présence divine dans tout événement
a caractere extraordinaire et imprévisible.
33 HESÍODO, 2008, p.45.
forma Timotin comenta essas passagens do poema homérico (TIMOTIN, 2012,
p.19):
34 Dans ces contextes, le daimõn n’est plus une divinité se manifestant de manière spontanée
par des actions fortuites, mais une divinité responsable de l’ensemble des événements, en
général défavorables, qui caractérisent la vie humaine.Ce qui est essentiel dans cette
représentation, c’est l’idée de sort individuel, de destin morcellé, idée constitutive à la notion de
daimõn.
35 L’idee de “destin” est clairement exprimée par l’association fréquente de la notion de δαίμων
ῥα φυλάσσουσίν τε δίκας καὶ σχέτλια ἔργα, ἠέρα ἑσσάμενοι, πάντῃ φοιτῶντες ἐπ' αἶαν. (Hesíodo,
Trabalhos, versos 253 s 255).
46 Isocrate evoque la tradition poetique concernant les hommes devenus daimones apres la mort.
professant en même temps la conviction du retour à sa condition divine au terme d’une longue
série de reincarnations. (Empédocles, fr. B 115.5-6 e 13 DK (= Hippolyte, Ref., VII, 29); cf. fr. B
119 DK). (Empédocles, fr. B 146 DK (= Clement, Stromates, IV, 150).
Diels-Kranz (DIELS-KRANZ, 1903, p.216) como δαίμονες μαχραίωνες cuja
tradução de Isidro Pereira é espírito/gênio que dura muito tempo, imortal
(PEREIRA, 1998, pp.118 e 355).
Também observamos a divinização e imortalização do termo daimõn em
Pitágoras, quando os discípulos do filósofo de Samos colocava-o como um deus
panteônico, ou como um habitante da lua, assim expõe Timotin (TIMOTIN, 2012,
p.33)48:
48 Selon un fragment du Περι τῶν Πυθαγορεὶιων d’Aristote, “Certains (de ses disciples) mettaient
Pythagore aux côtés des dieux, en tant que daimõn bon et plein d’amour pour les hommes (ἀγαθ
τινα δαίμονα χαὶ φιλανθρωπὸτατον)”, tandis que d’autres le tenaient pour un des daimones qui
habitent la lune .
49 Jamblique, Vida de Pitágoras, 30.14-15 (= Aristóteles, fr. 192): καί μετὰ τῶν θεῶν τὸν
Laercio.
52 D’une part, le processus de rationalisation de la notion de δαίμων devance les débuts de la
philosophie grecque; il commence avec Homère et Hésiode. La philosophie ne fera que prolonger
et achever cette tendance. D’autre part, la notion de δαίμων préserve chez les philosophes
“présocratiques”, comme chez Platon et ses successeurs, un contenu religieux inaliénable et
c’est précisément en raison de ce contenu qu’elle a pu servir d’instrument pour rationnaliser et
systématiser l’expérience religieuse. La démarche philosophique n’a pas elimine les valeurs
“religieuses” de la notion et n’a pas supprimé son “indetermination”.
INTERFERÊNCIA DAIMÔNICA EM SÓCRATES
Um deus com um homem não se mistura, mas é através desse ser que se
faz todo o convívio e diálogo dos deuses com os homens, tanto quando
despertos como quando dormindo; e aquele que em tais questões é sábio é
um homem de gênio111, enquanto o sábio em qualquer outra coisa, arte ou
ofício, é um artesão. E esses gênios, é certo, são muitos e diversos, e um
deles é justamente o Amor.
53 PLATON, 2007, p.46. De ce fait, il faut considérer Éros comme un daímōn, c'est-à-dire comme
un être intermédiaire entre les dieux et les hommes.
54 PLATON, 2007, p.48. Pour Socrate en effet, Éros est ce daímōn, c'est-à-dire cet être
intermédiaire qui permet de s'élever du sensible vers l'intelligible, où l'on peut contempler le Beau
et le Bien en soi.
Platão alia em O Banquete as figuras comumente lembradas pelas
tradições religiosas e poéticas nos momentos de aflições que o homem grego
suportava: as paixões humanas e a questões divinas, representadas pelo Éros
e o daimõn. Para tanto Timotin esclarece: “Fazendo do daimõn Éros o patrono
da religião (iniciações, adivinhação, oração, etc.) equivale colocar este último
sob a autoridade de uma racionalidade normativa, ou seja, para integrar a
religião dentro dos limites da razão”55.
Considerando o primeiro texto escrito por Platão, encontramos na Apologia
de Sócrates duas citações que trazem a noção do daimõn como um protetor
divino do filósofo, dito categoricamente pelo ateniense. Lembro a que ele se
reporta ao seu orientador divino, quando explica que em nenhum momento foi
interrompido a se expor no julgamento que o levou à condenação, assentando
que tal comportamento não era um erro: “A inspiração costumada, a da
divindade, sempre foi rigorosamente assídua em opor-se mesmo a ações
mínimas, quando eu ia cometer um erro” (PLATÃO, 1972, p.32) E ao explicar-se
por sua abstenção em participações na política, Sócrates confessa ser sempre
orientado pela inspiração divina que o acompanha desde a infância:
55 Faire du daimõn Éros le patron de la religion (initiations, divination, prière, etc.) revient à placer
cette dernière sous l’autorité d’une rationalité normative, à savoir à intégrer la religion dans les
limites de la raison.
56 “Il semble bien que le fameux ‘signal divin’ (sêmeîon daimónion) de Socrate, signal qui se
manifeste depuis son encance et qui intervient uniquement pour l’empêcher de faire quelque
chose”.
Em outro diálogo, o Fédon, Platão relata quando Sócrates explica a
chegada das almas ao Hades, para serem julgadas pelos seus atos quando vida
tinham nos corpos dos homens: “Eis, agora, os mortos chegados ao lugar para
onde cada um foi conduzido por seu daimon tutelar. Aí, antes do mais, todos são
julgados, tanto os que tiveram uma vida sã e piedosa como os outros.” (PLATÃO,
1972a, p.127). Aqui existe um ‘gênio tutelar’ que protege a alma dos mortos até
em seu julgamento no Hades57.
Outras são as apresentações do daimon em Platão, e várias são as noções
que esta personagem assume nos diálogos do principal discípulo de Sócrates,
em especial na forma de ‘gênio protetor’. O mito platônico é um dos mais
importantes meios que Platão usa para demonstrar essas manifestações
daimônicas que Sócrates demonstra, e que tem como objetivo, também,
comprovar a necessidade de o homem viver filosoficamente. É o que Timotin
afirma (TIMOTIN, 2012, p.83):
Já no terceiro caso que Sócrates mostra a Teages, sugere que este pode
se informar sobre a destruição do exército àqueles que foram às batalhas, e que
seriam conhecedores dos fatos (PLATÃO, 2011, p.177):