Os mecanismos da sensação química, que originalmente se desenvolveram para detectar
substâncias do ambiente, servem, agora, como base da comunicação química entre as células e os órgãos, utilizando hormônios e neurotransmissores. Cada célula em cada organismo é sensível a muitas substâncias químicas. Muitos tipos de células sensíveis a substâncias químicas, os quimiorreceptores, estão distribuídos por todas as partes do corpo. Por exemplo, alguns terminais nervosos na pele e em membranas mucosas nos avisam de substâncias químicas irritantes. Uma vasta gama de quimiorreceptores sinaliza nosso estado interno, subconsciente e conscientemente: as terminações nervosas nos órgãos digestórios detectam muitos tipos de substâncias ingeridas, os receptores em artérias do pescoço medem níveis sanguíneos de dióxido de carbono e de oxigênio e as terminações sensoriais nos músculos respondem a pH ácido, dando-nos a sensação de queimação decorrente do exercício e da falta de oxigênio. Gustação e olfato têm uma função similar: detectar substâncias químicas do ambiente. Na verdade, o sistema nervoso pode detectar sabor com o uso dos dois sentidos juntos. Eles têm uma conexão forte e direta com as nossas mais básicas necessidades internas, incluindo sede, fome, emoção, sexo e certas formas de memória. Entretanto, os sistemas de gustação e olfato são separados e diferentes, desde as estruturas e os mecanismos de seus quimiorreceptores até a organização geral de suas conexões centrais e seus efeitos sobre o comportamento. As informações neurais de cada sistema são processadas em paralelo e mescladas posteriormente em níveis superiores no córtex cerebral. 1) GUSTAÇÃO Temos uma preferência inata para o sabor doce, provido pelo leite materno. Substâncias amargas são instintivamente rejeitadas: de fato, muitos tipos de venenos são amargos. No entanto, a experiência pode modificar fortemente nossos instintos, e podemos aprender a tolerar e mesmo a gostar do amargor de substâncias, como o café e o quinino. O corpo tem a capacidade para reconhecer a deficiência de certos nutrientes-chave e desenvolver um apetite por eles. Por exemplo, quando privados de sal, ansiamos por comidas salgadas. Os Sabores Básicos Os quatro sabores básicos são salgado, azedo (ácido), doce e amargo. O quinto sabor básico é o umami, que significa “delicioso” em japonês, definido pelo gosto saboroso do aminoácido glutamato; glutamato monossódico, ou GMS, é a forma culinária usual. Como podemos perceber os inúmeros sabores dos alimentos, como chocolate, morangos e molho de churrasco, se temos apenas um pequeno conjunto de tipos básicos para a detecção olfatória? - Primeiro, cada alimento ativa uma diferente combinação de sabores básicos, ajudando a torná-lo único. - Segundo, a maioria dos alimentos apresenta um sabor característico, como resultado da combinação simultânea de seu aroma e de seu gosto. - Terceiro, outras modalidades sensoriais podem contribuir para uma experiên cia gustatória única. Textura e temperatura são importantes, e a sensação de dor é essencial para se perceber o sabor picante e estimulante dos alimentos preparados com capsaicina, o ingrediente-chave nas pimentas. Portanto, para distinguir o sabor único de um alimento, nosso cérebro combina informações sensoriais acerca de seu sabor, aroma e tato. Os Órgãos da Gustação A experiência nos diz que degustamos com a língua, mas outras áreas da boca, como o palato, a faringe e a epiglote, também estão envolvidas. Os aromas do alimento que estamos consumindo também passam pela faringe rumo à cavidade nasal, onde podem ser detectados pelos receptores olfatórios. A ponta da língua é a mais sensível para o sabor doce, o fundo para o amargo, e as bordas laterais para o salgado e o azedo. Entretanto, isso não significa que sentimos o sabor “doce” apenas na ponta da língua. A maior parte da língua é sensível a todos os sabores básicos. Espalhadas sobre a superfície da língua, estão pequenas projeções, denominadas papilas. As papilas podem ter forma de: - cristas (papilas foliadas) - espinhas (papilas valadas) - cogumelos (papilas fungiformes) Cada papila tem de um a várias centenas de botões gustatórios. Cada botão tem de 50 a 150 células receptoras gustatórias, arranjadas como os gomos de uma laranja. Em concentrações imediatamente acima do limiar, a maioria das papilas tende a ser sensível a apenas um sabor básico: há papilas sensíveis ao azedo (ácido) e papilas sensíveis ao doce, por exemplo. Entretanto, quando as concentrações dos estímulos gustatórios aumentam, a maioria das papilas torna-se menos seletiva. Embora uma papila possa responder apenas ao doce quando os estímulos são fracos, ela poderia também responder ao ácido e ao salgado se os estímulos se tornam mais fortes. Sabemos, agora, que cada papila tem vários tipos de células receptoras gustatórias e que cada tipo de receptor é especializado para uma categoria diferente de sabor. As Células Receptoras Gustatórias A parte quimicamente sensível de uma célula receptora é a sua pequena região de membrana, chamada de extremidade apical, próxima da superfície da língua. As extremidades apicais têm extensões finas, chamadas de microvilosidades, que se projetam para o poro gustatório, uma pequena abertura na superfície da língua, onde a célula gustatória é exposta ao conteúdo da boca. As células receptoras gustatórias não são neurônios. Entretanto, elas fazem sinapses com os terminais axonais gustatórios aferentes, na base dos botões gustatórios.