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Brasília
2006
Universidade de Brasília
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação - FACE
Departamento de Ciência da Informação - CID
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCInf
Brasília
2006
Universidade de Brasília
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação - FACE
Departamento de Ciência da Informação - CID
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCInf
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aprovado por:
________________________________________________
Profª. Drª. Sely Maria de Souza Costa
Presidente - Orientador (UnB/PPGCInf)
_________________________________________
Profª. Drª. Suzana Pinheiro Machado Mueller
Membro Interno - (UnB/PPGCInf)
________________________________________________
Prof. Dr. Tomás de Aquino Guimarães
Membro externo - (UnB/ADM)
________________________________________________
Profª. Drª. Marisa Bräscher Basilio Medeiros
Suplente - (UnB/PPGCInf)
Edifício da Biblioteca Central (BCE), Entrada Leste, Mezanino, Sala 211, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília, DF –
CEP: 70910-900 – Telefax: +55 (61) 3307-2842 / Tel: +55 (61) 3307-2410 / E-mail: pgcinf@unb.br
Em memória de meu pai
Nada como o firmamento
para trazer ao pensamento
a certeza de que estou sólido
em toda a área que ocupo
e a imensidão aérea
é ter o espaço do firmamento no pensamento
e acreditar em voar algum dia
Agradeço primeiramente a Deus, a minha sustentação, razão de tudo. Sou grato por todas as
coisas!
Gostaria de agradecer a minha família, que desde sempre me incentivou, e, mesmo de longe,
vela por mim! Agradeço ao meu pai, que recentemente nos deixou, por sempre ter acreditado,
incentivado e, embora não compartilhe, é vitorioso também nessa conquista! Eliseu, obrigado
por tudo!
Toda a gratidão devo a minha orientadora Sely Costa, por muitos motivos. Primeiro pela
orientação acima de tudo visionária, inteligente, competente, segura e digna das melhores
universidades do mundo. Segundo pela confiança quase incondicional (para mim, assustadora
em alguns momentos) que depositou em meu trabalho e capacidade. Terceiro pela essencial
liberdade de criação que me proporcionou, sempre incentivando vôos mais ousados!
Agradeço também pelo exemplo de profissionalismo acadêmico, o qual me influenciou e
influenciará na longa estrada ainda por trilhar, e pelas oportunidades que me tem concedido!
Obrigado por tudo!
Agradeço a Capes pelo apoio concedido por meio de bolsas de estudos que me proporcionou
dedicação exclusiva, isso certamente refletiu a qualidade do trabalho! Agradeço a
Universidade de Brasília que ao longo desses anos de graduação e mestrado me concedeu
suporte e condições para o crescimento intelectual. Agradeço também a professora Suzana
Mueller, por segurar minha mão nos primeiros passos ainda na graduação e suas contribuições
durante o mestrado. Ao professor Tomás de Aquino Guimarães pela contribuição honrosa e
segura. A professora Marisa Brascher por suas sugestões durante a qualificação. Aos
funcionários do CID, especialmente ao time da pós-graduação.
Por fim, sou grato aos meus amigos e companheiros, pelas angústias compartilhadas e pelos
bons momentos ao longo desse percurso. Especialmente (não em ordem de importância)
Fernanda Moreno, Miguel Angel, Luciana Chagas e José Antônio. Greyciane, desde sempre
obrigado! Agradeço a Ana Cristina por sua valiosa contribuição. Aqueles que não citei por
serem muitos, mas tão importantes quanto, a minha gratidão.
F!
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS ix
LISTA DE FIGURAS x
LISTA DE SIGLAS xi
RESUMO xii
ABSTRACT xiii
CAPÍTULO 1 14
INTRODUÇÃO 14
1 - APRESENTAÇÃO 14
1.1 - DEFINIÇÃO DO PROBLEMA 17
1.2 - OBJETIVOS 18
1.3 - JUSTIFICATIVA 19
1.4 - CONTEXTO DA PESQUISA 21
1.4.1 - UNIVERSIDADES E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO 21
CAPÍTULO 2 26
INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO 26
2 - INTRODUÇÃO 26
2.1 - CONCEITOS DOS TERMOS “INFORMAÇÃO” E “CONHECIMENTO” 28
2.2 - INFORMAÇÃO → CONHECIMENTO: UMA RELAÇÃO 34
2.3 - CONHECIMENTO CIENTÍFICO 40
2.3.1 - O AMBIENTE CIENTÍFICO: O CONTEXTO E A CULTURA DA CIÊNCIA E DO CONHECIMENTO
CIENTÍFICO 40
2.3.2 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO DO PONTO DE VISTA DA CIENTIFICIDADE 45
2.3.3 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO DO PONTO DE VISTA DE SUA PRODUÇÃO E DO SEU CONTEXTO 47
2.4 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO TÁCITO 50
2.4.1 - A DIMENSÃO TÁCITA DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO 51
CAPÍTULO 3 61
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA 61
3 - INTRODUÇÃO 61
3.1 - MODELOS DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO 62
3.2 - O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA 66
3.3 - COMUNIDADES CIENTÍFICAS 73
3.4 - COLÉGIOS INVISÍVEIS 74
3.5 - MUDANÇAS NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA 78
3.6 - O LIVRE ACESSO À INFORMAÇÃO E OS REPOSITÓRIOS INSTITUCIONAIS NO CONTEXTO DA
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA 84
CAPÍTULO 4 90
GESTÃO DO CONHECIMENTO 90
4 - INTRODUÇÃO 90
4.1 - ASPECTOS CONCEITUAIS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO 92
4.2 - ETAPAS DO PROCESSO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO 99
4.3 - MODELOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO 102
4.3.1 - MODELO DE CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL 102
4.3.2 - MODELO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO DE PROBST 110
4.3.3 - MODELO ESTRATÉGICO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO 112
4.3.4 - MODELO GENÉRICO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO 114
4.3.5 - CICLO DA EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL DE WIIG 117
CAPÍTULO 5 119
METODOLOGIA 119
5 - INTRODUÇÃO 119
5.1 - REFERENCIAL TEÓRICO 119
5.2 - CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 128
5.2.1 - O RACIOCÍNIO ABDUTIVO E O PARADIGMA INDICIÁRIO 130
5.3 - DESENHO DA PESQUISA 133
5.3.1 - LITERATURA PERTINENTE AOS TÓPICOS RELACIONADOS AO TEMA DA PESQUISA 134
5.3.2 - ENTREVISTAS REALIZADAS COM PESQUISADORES DOCENTES 136
CAPÍTULO 6 139
CAPÍTULO 7 211
CONCLUSÕES 211
7 - INTRODUÇÃO 211
7.1 - MODELO CONCEITUAL DE GESTÃO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO 211
7.2 - CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS RESULTADOS DA PESQUISA 213
7.3 - SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS 217
ix
LISTA DE FIGURAS
x
LISTA DE SIGLAS
xi
RESUMO
A gestão do conhecimento tem se desenvolvido no ambiente das organizações empresariais e tem suas
pesquisas e aplicações voltadas para a perspectiva do conhecimento organizacional. No entanto,
existem outros contextos nos quais a gestão do conhecimento pode ser estudada, como, por exemplo, o
contexto acadêmico, voltado para a perspectiva do conhecimento científico. Independentemente do
contexto em que se inserem, os processos de comunicação constituem uma questão fundamental a ser
levada em consideração em estudos sobre gestão do conhecimento. O fato é que a relação entre a
comunicação e a gestão do conhecimento é recorrentemente abordada na literatura sob a perspectiva
das tecnologias, e raramente do ponto de vista de seus processos propriamente ditos. No ambiente
acadêmico, da mesma forma, a comunicação científica é um elemento crucial para a gestão do
conhecimento científico. Contudo, estudos sobre a gestão do conhecimento científico e mais ainda
estudos sobre gestão do conhecimento científico levando em consideração os processos de
comunicação científica são raros. Esta pesquisa se propôs a investigar a relação, em nível conceitual,
entre a gestão do conhecimento e os processos de comunicação científica, tendo em vista as
peculiaridades do contexto e do conhecimento científico. Mais especificamente, referiu-se a uma
proposta teórica de construção de um modelo conceitual de gestão do conhecimento científico no
contexto acadêmico, tendo por base processos de comunicação científica. De natureza teórica,
exploratória e de orientação qualitativa, esta pesquisa fundamentou-se no raciocínio abdutivo e no
paradigma indiciário. Os objetivos foram alcançados por meio da combinação de duas linhas de ação:
a primeira disse respeito à construção teórica realizada com base na literatura, e a segunda constituiu-
se de entrevistas realizadas com pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. Com base nos
métodos empregados, foi possível: a. associar os princípios da gestão do conhecimento à perspectiva
dos processos de comunicação, e, mais especificamente, aos processos de comunicação científica;
b. identificar indícios que revelaram a existência e a relação entre conhecimento científico tácito,
conhecimento científico explícito e a criação do conhecimento científico no contexto acadêmico;
c. identificar os elementos que constituem o processo de gestão do conhecimento científico no âmbito
da universidade; e d. identificar os processos relacionados à gestão do conhecimento científico sob a
abordagem do acesso livre. A partir desses resultados, foi possível delinear um modelo conceitual de
gestão do conhecimento científico em sua vertente tácita e explícita no contexto acadêmico.
xii
ABSTRACT
Knowledge management has been developed in the context of enterprises and has its research and
applications related to the organisational knowledge perspective. Nevertheless, there are other contexts
within which knowledge management can be studied, such as the academic context, which is
concerned with the scientific knowledge perspective. Whatever is the context in which knowledge
management is studied, communication processes constitute a fundamental issue to be taken into
account. As a matter of fact, the relationship between communication and knowledge management has
recurrently been approached in the literature, under the technological perspective, having the processes
themselves being apparently neglected. Within the academic environment, scholarly communication is
also a crucial constituent of knowledge management. However, studies on scientific knowledge
management that take account of the scholarly communication process are rare. This piece of research,
therefore, aimed to investigate the relationship between knowledge management and the scholarly
communication process at a conceptual level, bearing in mind the peculiarities of the scientific
knowledge and the academic context. The study is particularly concerned with a theoretical
construction of a conceptual model for the knowledge management in the academic context, having
the scholarly communication process as its foundation. This theoretical, exploratory, qualitative
research is based on the abducting reasoning and the evidential paradigm. Research objectives have
been achieved through the combination of two different strategies. The first one consisted of the
theoretical construction built upon the literature. The second, via interviews carried out with
researchers from different divisions of knowledge. Based on the methods applied, it was possible to
draw conclusions. The first one was to associate knowledge management principles to the
communication process perspective, particularly to the scholarly communication process. The second
was the identification of clues that point to the relationship between tacit scientific knowledge, explicit
scientific knowledge and the creation of scientific knowledge in the academic context. The third was
to identify the constituents of the knowledge management process within a university environment.
The forth was to identify processes related to scientific knowledge management under the open access
approach. From these results it was possible to build a conceptual model of the scientific knowledge
management, on its tacit and explicit aspects, in the academic context.
xiii
LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1 - Apresentação
1
No Brasil, o Programa de Pós-graduação da Escola de Ciência da Informação da UFMG, Programa de Pós-graduação em
Ciência da Informação da UnB, Programa de Pós-graduação da Escola de Ciência da Informação UFBA.
14
LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
tecnologias, técnicas e melhores práticas de lidar com o conhecimento, e que este seja ao
máximo aproveitado e reaproveitado a fim de que se cumpram os objetivos e se obtenham
vantagens nas organizações, constituem preocupações centrais da gestão do conhecimento.
A grande maioria dos conceitos de gestão do conhecimento encontrados na literatura
enfatiza as organizações como ambiente natural da gestão do conhecimento, e o conhecimento
organizacional como objeto de interesse. Como exemplo, Wiig (1993) define que a gestão do
conhecimento é a “construção sistemática, explícita e intencional do conhecimento e sua
aplicação para maximizar a eficiência e o retorno sobre ativos de conhecimento da
organização”. Murray (2005), por sua vez, a vê como “uma estratégia que transforma bens
intelectuais da organização - informações registradas e o talento dos seus membros - em
maior produtividade, novos valores e aumento de competitividade”.
Contudo, independentemente do contexto, os processos de comunicação constituem
uma questão fundamental a ser levada em consideração em estudos sobre gestão do
conhecimento. A comunicação pode ser vista como o substrato no qual todas as atividades
organizacionais ocorrem, portanto, é inerente à estrutura da organização. Logo, a gestão do
conhecimento, principalmente, não se viabiliza sem que ocorra comunicação. Em qualquer
ambiente, a comunicação pode ser considerada um fator crítico da gestão do conhecimento.
Sharp (2003) listou os fatores-chave para o sucesso de projetos de gestão do conhecimento -
dentre eles está a comunicação dentro da organização. Theunissen (2004), por seu turno, em
artigo intitulado Communication: the cornerstone of knowledge management, acredita que há
um considerável escopo e potencial para a gestão do conhecimento encontrar morada na
disciplina de comunicação, mais especificamente dentro da comunicação organizacional.
Em relação à comunicação organizacional, Teixeira Filho (2001) menciona que não se
refere somente ao ato de fazer com que o público interno e externo da organização esteja bem
informado, mas, sobretudo, fazer com que o conhecimento útil chegue à pessoa certa, em
tempo hábil, de forma compreensível. O autor enfatiza ainda que a comunicação é um
componente crucial da gestão do conhecimento.
É importante destacar que as características do contexto influenciam diretamente todos
os fluxos de informação e conhecimento. A natureza da informação e do conhecimento é
determinada pelas características sociais e culturais do ambiente no qual são criados e
utilizados. Logo, o contexto no qual se dá o processo da comunicação influencia o
comportamento dos indivíduos em relação ao conhecimento e os seus padrões e hábitos de
comunicação. Sendo assim, o processo de comunicação, como o que o veicula, influencia e é
influenciado por essas características. Desta maneira, sob a perspectiva das organizações, a
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
comunicação organizacional pode ser vista como o substrato da organização, estando ela
inexoravelmente ligada aos processos organizacionais, especialmente à gestão do
conhecimento (TEIXEIRA FILHO, 2001). Embora haja pouca ou nenhuma reflexão a
respeito, parece que a comunicação científica, por outro lado, sob a perspectiva do ambiente
acadêmico e das comunidades científicas, parece exercer função similar. A comunicação
científica parece ser, da mesma forma, o elemento crucial do processo de gestão do
conhecimento próprio desse contexto, o conhecimento científico.
Tradicionalmente, as universidades são reconhecidas como espaços de produção e
transferência de conhecimento científico por excelência. Embora seja possível encontrar na
literatura especializada estudos sobre gestão do conhecimento no âmbito de universidades ou
no contexto acadêmico, esses estudos, via de regra, lidam com o conhecimento científico sob
a perspectiva do desenvolvimento de tecnologias de informação, ou então na mesma
perspectiva do conhecimento organizacional2. Entretanto, a natureza do conhecimento
científico é peculiar, bem como as condições e o ambiente no qual se dão sua criação,
compartilhamento e uso. Além do mais, os estudos sobre gestão do conhecimento em
universidades não levam em consideração a estrutura comunicacional - processos de
comunicação científica - existente, por meio da qual o conhecimento é produzido e
compartilhado. Parecem, até o momento, ser raras as iniciativas sobre a gestão do
conhecimento científico resultante de atividades de ensino e pesquisa no ambiente acadêmico
que levam em consideração os processos de comunicação científica.
Da mesma forma, tanto o sistema de comunicação científica quanto uma iniciativa de
gestão do conhecimento científico pressupõem, na mesma intensidade, uma orientação para a
transferência ou compartilhamento do conhecimento. Certamente, a transferência do
conhecimento é um dos pontos convergentes entre as duas práticas. Portanto, é mister
ressaltar, em concordância com Jacobson et al (2004), que o status da prioridade das
atividades de transferência do conhecimento dos indivíduos de uma universidade é, em parte,
resultado de prioridades organizacionais como as manifestadas em políticas e práticas. Desta
maneira, é imprescindível que as universidades desenvolvam políticas institucionais que
estimulem a transferência do conhecimento internamente, e isto deve ser realizado de forma
visível e tangível. O sistema de comunicação científica, no contexto de uma universidade, de
forma descompromissada, torna isso parcialmente possível. Porém, é necessária a explicitação
de políticas e diretrizes institucionais que fundamentem uma orientação e cultura direcionada
2
Ver Freitas Júnior (2003); Felix (2003); Martens et al (2003), Oliveira et al (2003) e outros.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Gestão Conhecimento
do Científico
conhecimento Gestão do
conhecimento
científico
Comunicação
científica
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
1.2 - Objetivos
Objetivo Geral:
Objetivos Específicos:
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
1.3 - Justificativa
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
3
Os parâmetros utilizados no levantamento são descritos no capítulo de metodologia.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Esta seção tem por finalidade apresentar o contexto no qual se insere e será
investigado o problema da pesquisa. A caracterização do ambiente do estudo se faz necessária
para uma melhor compreensão e contextualização tanto das questões e discussões envolvidas
no estudo quanto das nuances que direta ou indiretamente influenciam o objeto em
construção. Portanto, dado o objetivo maior deste estudo, o qual é representar, em um modelo
conceitual, a gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico, tendo como substrato
os processos de comunicação científica, faz-se necessário caracterizar o contexto das
universidades brasileiras, especialmente no que diz respeito às suas atividades de pesquisa
científica e produção do conhecimento. Schuster (1990) dá respaldo a isso ao afirmar que “o
processo de comunicação científica pode ser entendido somente no contexto em que a
comunicação entre pesquisadores é originada: o mundo da educação superior a da profissão
acadêmica”.
Portanto, serão abordadas as questões relacionadas às atividades de produção do
conhecimento desempenhadas pelos principais atores envolvidos em todo o sistema de
pesquisa científica universitária, os pesquisadores, bem como o locus dentro do qual eles
atuam.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
como linha de ação. Isso se concretizou principalmente com a Reforma do Ensino Superior de
1968, onde foram entrelaçadas por lei as atividades de ensino e pesquisa.
De fato, na maioria dos países a produção do conhecimento científico ocorre
principalmente nas universidades. São elas que detêm uma grande concentração de
pesquisadores de alto nível, responsáveis pela realização de pesquisas científicas e avanço do
conhecimento. Schwartzman (1986) afirma que a concepção de que a pesquisa científica e o
sistema universitário estão necessariamente ligados é uma suposição difundida e adotada
como princípio básico das políticas educacionais em muitos países. É importante notar que o
conceito das universidades como protagonistas dentro do cenário de produção do
conhecimento parece constituir uma questão global.
Em linha com o que observa Schwartzman (1986), Godin e Gingras (2000, p. 274),
com base em resultado de pesquisa realizado no Canadá, afirmam que “a despeito de uma
diversificação real dos loci de produção, universidades ainda estão no coração do sistema e
todos os outros atores contam pesadamente com a expertise delas”. Entenda-se que outros
atores incluem institutos de pesquisa privados ou públicos, as indústrias, os laboratórios,
hospitais e outras instituições participantes do sistema de produção do conhecimento. Nesse
sentido, Godin e Gingras (2000) apresentam uma série de dados que indicam o aumento da
quantidade de trabalhos científicos, em relação ao total de trabalhos científicos publicados no
Canadá, cuja autoria provém de universidades. Em 1980, 75% do total de trabalhos científicos
publicados no Canadá eram provenientes de universidades, enquanto que no ano de 1995 esse
percentual era de 81.9%. Os autores ressaltam que, embora seus dados limitem-se ao sistema
científico canadense, a tendência observada é similar à de outros países, como, por exemplo,
no Reino Unido (HICKS e KATZ, 1996 apud GODIN e GINGRAS, 2000), onde a
porcentagem de trabalhos publicados oriundos de universidades em relação ao total de
trabalhos científicos publicados aumentou de 59.2%, em 1981, para 64.3% no ano de 1994.
Os autores, portanto, têm razão ao concluírem que a diversificação dos loci onde o
conhecimento é produzido, em vez de diminuir a atuação das universidades, estimula a sua
presença no sistema de produção científica, especialmente por meio da parceria e colaboração
entre instituições ou pesquisadores.
No contexto brasileiro, de acordo com o censo realizado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq)4, as universidades públicas concentram
80% da pesquisa científica que é realizada no Brasil5. O censo sobre a atividade científica,
4
Todas informações sobre o censo estão disponível no endereço < http://dgp.cnpq.br/censo2002/>
5
Informação disponível em http://150.162.51.30/Produtos_dos_Projetos_CNPq/Portal_de_Ciencia_e_Tecnologia/
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
realizado em 2000, indica que dos 11.760 grupos de pesquisas existentes no País, até a data do
levantamento, 80% estão em universidades públicas. O CNPq coletou informações de 224
universidades públicas e privadas, centros e institutos de pesquisa. O levantamento realizado
conseguiu cobrir 90% de toda a atividade científica realizada em território nacional.
Um censo sobre a atividade científica brasileira realizado no ano de 2004 pelo CNPq
cobriu aproximadamente 85% de toda a pesquisa realizada no país6. O censo revelou um total
de 19.470 grupos de pesquisa distribuídos nas 335 instituições que participaram do
levantamento (instituições de ensino superior públicas e privadas, institutos de pesquisa,
fundações e outros). Do total de grupos de pesquisa, 95% encontra-se em instituições de
ensino superior. Apenas 5% são grupos de pesquisa provenientes de outros tipos de
instituição.
Nesse sentido, os programas de pós-graduação no Brasil, especificamente mestrados e
doutorados, exercem um importante papel. A maior parte da pesquisa científica produzida
pelas universidades está diretamente vinculada aos programas de pós-graduação. Ao mesmo
tempo em que esses programas constituem o sistema educacional brasileiro, sendo
responsáveis pela formação dos recursos humanos qualificados em ciência e tecnologia,
respondem pela maior quantidade de pesquisa realizada no país.
Levantamentos realizados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - CAPES7, e pelo CNPq, sugerem que é principalmente no interior do Sistema
Nacional de Pós-Graduação que ocorre a atividade de pesquisa científica e tecnológica
brasileira. Comunicado veiculado no sítio da CAPES8 afirma que, de acordo com
levantamento da CAPES, cerca de 85% do total da produção científica nacional é realizada
pela pós-graduação. Muito embora não existam análises estatísticas ou estudos que permitam
separar claramente a produção científica dos programas de pós-graduação brasileiros da
produção científica de outras instituições, é possível perceber a forte relação entre o
desenvolvimento científico e tecnológico e os programas de pós-graduação. Contudo, essa
relação não ocorre necessariamente de forma homogênea em todo o sistema universitário
nacional, havendo variações muitas vezes decorrentes das discrepâncias regionais ou mesmo
da natureza das instituições (instituições privadas em sua grande maioria não possuem
programas de pós-graduação, mestrado e doutorado, e nem tão pouco empreendem esforços à
pesquisa).
6
Essas informações foram elaborados a partir do cruzamento de dados obtidos em planilhas fornecidas pelo CNPq.
7
Plano Nacional de Pós-Graduação – PNPG 2005-2010. Disponível em
http://www.capes.gov.br/capes/portal/conteudo/10/PNPG.htm
8
Para ler notícia acesso http://www.capes.gov.br/capes/portal/conteudo/10/N01_14032006S.htm
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Uma vez que as universidades brasileiras, por meio dos programas de pós-graduação,
são as responsáveis pela produção do conhecimento científico e tecnológico nacional, tem-se
por conseqüência que os seus pesquisadores e alunos de mestrado e doutorado constituem os
protagonistas do processo de criação do conhecimento científico. Desta forma, dentre as
atividades que mais intensamente estão relacionadas à criação de novos conhecimentos
científicos, pode-se relacionar: pesquisas científicas realizadas por pesquisadores docentes,
atividades e pesquisas realizadas por grupos de pesquisa, orientação e desenvolvimento de
teses e dissertações. Todas essas atividades envolvem um elevado grau de compartilhamento
de conhecimento, tanto o conhecimento tácito quanto o conhecimento explícito.
A produção do conhecimento científico não é um processo individual, pelo contrário, é
resultado da colaboração e interação entre cientistas. Assim, os grupos de pesquisa podem ser
compreendidos como células onde um conjunto de pesquisadores se organiza em torno de um
determinado tópico, pelo qual nutrem interesse comum. Os grupos de pesquisa reúnem
pesquisadores experientes, alunos de doutorado e mestrado e alunos de graduação envolvidos
em projetos de pesquisa, ambiente no qual há um intenso e constante compartilhamento de
conhecimento científico. Normalmente, as atividades científicas em uma universidade estão
vinculadas a esses grupos de pesquisa.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
9
Ver http://lattes.cnpq.br/pl/diretorio/faq.jsp#4
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
CAPÍTULO 2
INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO
2 - Introdução
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Belkin e Robertson (1976) definem informação como “aquilo que é capaz de mudar
estruturas”, sendo o termo estrutura aplicado no mesmo entendimento de estruturas utilizado
por Wersig e Neveling (1975), entretanto, no sentido da visão que temos do nosso meio
ambiente (ou estrutura de conceitos), não como a estrutura propriamente dita. A informação,
assim, só existe no momento em que a informação potencial modifica a estrutura cognitiva do
receptor. Com base em Belkin e Robertson (1976), informação pode ser entendida como todo
estímulo externo que altera a estrutura cognitiva do indivíduo.
É comum definirem informação como um conjunto de dados estruturados, carregados
de sentido. Nesta linha, o termo pode ser visto como um agrupamento de dados organizados e
dotados de sentido, facilmente comunicável e capaz de reduzir incerteza. Silva e Ribeiro
(2002, p. 25) utilizam a definição oferecida por Hayes (1986) ao afirmarem que a informação
é “uma propriedade dos dados resultante de ou produzida por um processo realizado sobre
dados”. Setzer (1999) apresenta a definição de informação fazendo uma associação entre dado
e informação, a qual seria uma
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Os autores japoneses ainda citam Dretske (1981), ao argumentar a informação como “um
produto capaz de gerar conhecimento e a informação que um sinal transmite é o que podemos
aprender com ela... O conhecimento é identificado com a crença produzida (ou sustentada)
pela informação”. Destaca-se que esta dissertação, no que diz respeito ao entendimento do
que seja informação, insere-se na abordagem da informação como um produto do
conhecimento, ou ainda como uma estrutura que tenciona gerar conhecimento no indivíduo ou
em um grupo.
Uma usual sistematização foi feita por Urdaneta (1992), que distinguiu claramente as
particularidades entre categorias de “informação”, seriam elas: dado, informação,
conhecimento e inteligência. Essa abordagem de níveis hierárquicos da informação ou da
pirâmide informacional é comumente utilizada na ciência da informação, especialmente em
estudos voltados para a gestão da informação e do conhecimento. Parte dos conceitos
apresentados anteriormente está refletida nessa sistematização. Davenport (1998, p.18)
estruturou características das três primeiras categorias de informação (quadro 1), da mesma
forma que Urdaneta.
Por fim, dentro do escopo desta dissertação, entende-se informação como sendo o
conhecimento explícito constituído de estruturas dotadas de sentido em potencial,
resultado da externalização de parte do conhecimento tácito, comunicável por sistemas
estruturados, capaz de gerar conhecimento.
No que diz respeito ao termo conhecimento, várias acepções vêm sendo propostas.
Nonaka e Takeuchi (1997) adotam a definição tradicional de conhecimento como “crença
verdadeira e justificada”, diferentemente da tradição ocidental, que sobressalta a natureza
absoluta, estática e não humana do conhecimento. Os autores o consideram como um
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processo dinâmico do homem com o fim de justificar a crença pessoal com relação à
“verdade”. Segundo Miranda (2004, p.11), os autores estabelecem uma conotação de algo que
se crê verdadeiro, justificado em função da percepção continuada ou da experimentação, o
que encerraria a preocupação em determinar o elo entre informação e conhecimento. Portanto,
conclui que nem toda informação ou conjuntos de informações, por si só, tornam-se
conhecimento.
Nonaka e Takeuchi (1997, p. 64), em tentativa de distinguir informação e
conhecimento, argumentam que a informação “é um fluxo de mensagens, enquanto que o
conhecimento é criado por esse próprio fluxo de informação, ancorado nas crenças e
compromissos de seu detentor”. Uma constatação bastante evidente nos argumentos de muitos
autores é a idéia de que tanto o conhecimento como a informação estão ligados a um contexto
e sua determinação relacionada a uma conjuntura. Como sugerem os autores, a informação e o
conhecimento “são específicos ao contexto e relacionais na medida em que dependem da
situação e são criados de forma dinâmica na interação social entre as pessoas”.
Sobre o conhecimento, Setzer (1999) apresenta uma argumentação bastante utilizada.
O conhecimento seria uma abstração do indivíduo, particular, de algo experimentado por
alguém, portanto, não pode ser descrito inteiramente, pois, caso o fosse, seria apenas dado ou
informação. O conhecimento, segundo o autor, não depende apenas de uma interpretação
pessoal, não pode ser inserido em um computador por meio de uma representação, e caso o
fosse, seria primeiro reduzido a uma informação. Portanto, o conhecimento é puramente
subjetivo e cada um tem a experiência de algo de forma diferente.
Davenport e Prusak (1999 p. 6) definem conhecimento como uma “mistura fluida de
experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual
proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e
informações”. Segundo os autores, o conhecimento tem origem e é aplicado na mente do
indivíduo. Por outro lado, nas organizações, ele freqüentemente está embutido não só em
documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas
organizacionais. Davenport e Prusak mencionam também que o conhecimento é derivado da
informação na mesma medida em que a informação deriva dos dados, ficando evidente mais
uma vez a indissociável relação entre informação e conhecimento. Por não deixarem claro, ou
por não constituir o pensamento de Davenport e Prusak, o autor desta dissertação acrescenta
que a natureza do conhecimento embutido em documentos ou em repositórios, por exemplo, é
explícita (trata-se de informação), diferentemente da natureza do conhecimento individual e
subjetivo, residente na mente indivíduo.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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processo mais dinâmico que estático. Além do mais, o conhecimento pode ser
visto como centrado no indivíduo. Comparado à informação, o conhecimento
implica um processo muito mais amplo que envolve estruturas cognitivas
capazes de assimilar a informação e de situá-la num contexto mais amplo,
permitindo ações que podem ser empreendidas a partir dela” (BOISOT apud
ROBERTS, 2000, p. 2).
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que se relaciona corretamente com a informação recebida. Por fim, sugere que o
conhecimento seja uma alteração provocada no estado cognitivo do indivíduo.
Assim, o processo de incorporação de uma informação e modificação de uma estrutura
ou acervo de conhecimento existente foi representado por Brookes (1980), na intitulada
equação fundamental da ciência da informação:
K (S) + δK = K (S + δS)
δI
de uma informação δI, sendo que δS indica o efeito dessa modificação no estado inicial de
conhecimento. Depreende-se da sistematização acima a presença de quatro elementos
fundamentais: 1) um acervo de conhecimento preexistente (estado de conhecimento); 2) um
conhecimento disparado a partir de uma informação (externa ao indivíduo) comunicada e
assimilada; e 3) um novo estado de conhecimento (estado inicial de conhecimento
modificado). Porém, é importante sublinhar nesta equação o processo de comunicação
existente, o qual permite a veiculação de uma determinada informação que, por sua vez, será
transformada em conhecimento. Da mesma forma, poderia ser representado na figura 2.
+ CONHECIMENTO =
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Cérebro Humano
Entradas Processador de
Informação sensoriais informação
Novo Conhecimento
conhecimento prévio
Memória
(acervo de conhecimento)
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Cérebro Humano
Saídas: Processador de
Informação Linguagem informação
e/ou
demonstrações Conhecimento
prévio
Memória
(acervo de conhecimento)
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Início
não sim
Foi Pode ser
articulado? articulado? IMPLÍCITO
sim não
EXPLÍCITO TÁCITO
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Início
sim não
EXPLÍCITO TÁCITO
Fatos e Habilidades
coisas motoras
Atividades e Habilidades
métodos mentais
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As normas mertonianas, hoje, não são universalmente nem totalmente aceitas como
imperativos da ciência. De uma maneira geral, os enunciados de Merton incitam discussões e
questionamentos. O grande questionamento aos imperativos da ciência de Merton reside no
fato de que eles não são verificáveis em sua totalidade no comportamento das comunidades
científicas. O processo de avaliação pelos pares, por exemplo, é influenciado por critérios
subjetivos e implícitos relacionados à autoridade científica, da mesma forma que o aspecto
geográfico também influencia. Sendo assim, determinados indivíduos, instituições ou países,
revestidos de autoridade e prestígio, gozam da predisposição de serem aceitas como verdades,
com um menor rigor na avaliação, a sua produção científica. Por outro lado, pesquisadores em
início de carreira ou provenientes de instituições ou países de menor prestígio são sistemática
e rigorosamente avaliados.
Por outro lado, Zarur (1994) reconhece que as contribuições de Merton ao estudo da
sociologia da ciência podem ser resumidas nos seguintes pontos:
Pierre Bourdieu (1983, p. 122), por sua vez, introduziu o conceito de campo científico,
referindo-se ao espaço de jogo de uma luta concorrencial, sendo o ambiente no qual ocorre a
criação do conhecimento científico. O autor afirma que o campo científico é um espaço de
jogo e luta, onde o que se disputa é o “monopólio da autoridade científica”, definida como
capacidade técnica e poder social, ou “competência científica”, compreendida como a
capacidade de falar e agir de maneira autorizada e com autoridade.
Bourdieu afirma que todas as práticas científicas estão orientadas para aquisição da
autoridade científica, esta, por seu turno, é traduzida em prestígio, reconhecimento,
celebridade e outros. O interesse por uma determinada atividade científica é munido de duas
faces, como também ocorre com a força que assegura a satisfação desse interesse. Ao citar a
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descrição de Fred Reif (1961), Bourdieu (1983, p. 125) esclarece o quanto é superficial e
quase impossível delimitar o interesse intrínseco e interesse extrínseco, entre o que é relevante
para um determinado pesquisador e o que é relevante para outros,
Para ser importante e interessante, o tema da pesquisa deve trazer possibilidade de ser
notado como importante e interessante pelos outros, o que, por outro lado, tem chance de
trazer visibilidade e reconhecimento ao cientista. A luta pela acumulação do capital intelectual
envolve a busca pelo prestígio, reconhecimento e pelo posto de líder na ciência por meio de
projetos, publicações, a participação em comissões, o acesso às cartas de financiamento.
Entretanto, o interesse do pesquisador vai além das atividades científicas. A autoridade
científica oferece ao pesquisador o capital social, este proporciona poder sobre mecanismos
constitutivos e influencia as trocas na arena científica. O capital social no campo científico é a
moeda que pode ser convertida em outras espécies de capital.
Uma contribuição importante do autor é situar o mundo científico como um
subsistema da sociedade, e, por esta razão, influencia e é por ela influenciada. Esta concepção
permite a visualização da interação do campo científico com os demais sistemas sociais, por
exemplo, a economia e a política.
Em outra perspectiva, o modelo teórico de Michael Gibbons et al (1994) talvez seja o
que mais se aproxima da realidade do atual modo de produção do conhecimento. Sua obra
The new production of knowledge explora mudanças substanciais no modo de produção do
conhecimento na sociedade contemporânea. De maneira geral, essas mudanças envolvem
também a concepção mertoniana da ciência, a qual, ao longo dos anos, tem perdido terreno e
aplicação, e suas bases têm sido cada vez mais questionadas. Tais transformações no modo
como o conhecimento é produzido são exploradas levando em consideração o modo
tradicional de produção do conhecimento, o modo 1, em contraste com o novo modo, o
modo 2. O modo 2 de produção é resultado das transformações que restabelecem ou
redefinem a ordem, forma e prioridades das estruturas e elementos do sistema de produção do
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Dados dessa pesquisa foram mencionados na seção “Contexto da Pesquisa”, do Capítulo 1.
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O conhecimento científico aspira à formulação Idéias matemáticas como base para observação,
de leis à luz de regularidades observadas para para os instrumentos de análise, para a lógica da
prever o comportamento futuro investigação.
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Demo relaciona os cuidados metodológicos mais comuns aos princípios da objetivação: espírito crítico, rigor no tratamento
do objeto, atitude distanciada, profundidade de análise, ordem na exposição, vocação, abertura incondicional ao teste alheio,
assídua leitura dos clássicos, dedicação ao estudo das principais teorias.
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propriamente dito. A isto, segundo o autor, é agregado, no caso de a ciência estar constituída,
o recurso do corpo teórico existente. Uma ciência avança dentro desse processo complexo e
não de forma isolada e fragmentária.
Embora se tenha em mente a extensão da construção teórica e complexidade que
envolve o conceito de conhecimento científico, para efeitos dessa dissertação, e norteado pelo
conceito de conhecimento e informação adotados anteriormente, entende-se por conhecimento
científico o conjunto de saberes baseados na experiência, proveniente das atividades de
pesquisa, e na informação científica, natural do ambiente acadêmico, contextual e
relacional, composto de duas vertentes: a tácita, própria do indivíduo, proveniente da
experiência, relacionada às habilidades e competências, parte de sua estrutura cognitiva,
portanto, subjetiva; e a explícita (ou codificada), externa ao indivíduo (informação),
proveniente da externalização do conhecimento tácito.
O conceito de conhecimento tácito aplicado ao contexto do conhecimento científico
tem sido pouco discutido na literatura. Falar em conhecimento científico tácito pode muitas
vezes soar como um atentado aos mais básicos princípios da ciência: a objetividade e a
replicabilidade. Torna-se uma curiosidade então o fato de Michael Polanyi, quem primeiro
sinalizou o componente tácito de todo o conhecimento e a díade tácito/explícito, ter tido em
mente o conhecimento científico quando elaborou suas reflexões acerca do conhecimento
tácito e explícito. No prefácio de uma de suas mais importantes obras, Personal Knowledge
(1958), Polanyi inicia a primeira frase afirmando que “esta é primeiramente uma investigação
sobre a natureza e justificação do conhecimento científico”. Os argumentos desta dissertação
em favor da existência do conhecimento científico tácito diz respeito ao conhecimento que
reside na mente dos pesquisadores, que não é facilmente comunicado por meios formais de
comunicação, relacionados às suas habilidades, experiência e competências aplicadas às suas
atividades como pesquisador e professor. Assim, o ponto de vista adotado é o do contexto,
trata-se de conhecimento científico por que está relacionado e é produto de atividades
científicas, como a pesquisa.
O conhecimento científico tácito é pessoal, proveniente da experiência do indivíduo. É
dependente do contexto no qual é produzido e relacional na medida em que não pode ser
dissociado da experiência e vivência anteriores do indivíduo. É o conhecimento adquirido e
relacionado com as atividades de ensino e, principalmente, pesquisa exercida pelo indivíduo,
sendo parte da sua estrutura cognitiva e somente em parte pode ser explicitado. De forma
complementar, adota-se nesta dissertação o sentido da definição cunhada por Collins (2001, p.
72), no contexto científico, em que o conhecimento tácito pode ser entendido como o
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conhecimento ou habilidade que pode ser passada entre cientistas por contatos pessoais,
mas não pode ser exposto ou passado em fórmulas, diagramas, descrições verbais ou
instruções para ação.
A parcela do conhecimento tácito científico suscetível de explicitação (ou codificação)
corresponde ao conhecimento científico explícito, e pode ser transferido pelos meios formais
de comunicação, ou seja, formalizado em publicações científicas (livros, artigos de
periódicos, anais de congressos, etc). Sobre a codificação do conhecimento para sua
transferência, Roberts (2000, p.4) salienta que convém ter sempre presente que a extensão em
que o conhecimento pode ser facilmente transferido depende da medida em que a codificação
processa e captura com sucesso a essência do conhecimento a ser transferido.
O conhecimento científico explícito, portanto, é formal, estruturado, proveniente das
atividades de ensino e, principalmente, pesquisas exercidas pelo indivíduo. Pode ser
facilmente transmitido por diversos meios, armazenado e recuperado. O conhecimento
científico explícito é o resultado da codificação de parte do conhecimento científico tácito,
portanto, refere-se a toda forma de conhecimento científico codificado, facilmente
estruturável e que tem possibilidade de ser transferido ou veiculado por sistemas ou
meios formais de comunicação científica. Compreende, então, todas as formas de
literatura científica, avaliadas ou não.
O conhecimento explícito, de uma forma geral, tem suas raízes no conhecimento
tácito, e por esta ocasião, é importante resgatar a afirmação de Polanyi (1966), ao dizer que
enquanto o conhecimento tácito pode ser incorporado de per se, o conhecimento explícito
deve se fundamentar no fato de ser tacitamente entendido e aplicado. Assim, o conhecimento
ou é tácito ou enraizado e dependente do conhecimento tácito. Um conhecimento totalmente
explícito é impensável.
O autor desta dissertação acrescenta que a dimensão do conhecimento explícito inicia-
se na dimensão tácita. Isso diz respeito ao fato de que a assimilação do conhecimento
explícito (informação) como conhecimento se dá a partir do acervo de conhecimento
preexistente no indivíduo ou instrumental tácito. Ou seja, para uma estrutura de informação
qualquer fazer sentido para um determinado indivíduo, é necessário que isso ocorra mediante
um processo baseado no conhecimento tácito prévio residente na estrutura cognitiva do
indivíduo. Caso não haja uma correspondência entre o conhecimento prévio e a estrutura de
informação que permita o reconhecimento de algo como informação, esta representará, no
máximo, dados. Por outro lado, a criação do conhecimento tácito é possibilitada também por
aquilo que é explicitado em outros momentos.
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Um olhar mais atento à literatura da área revela que a ciência da informação muito
pouco se dedica ao estudo de questões relacionadas ao conhecimento tácito. Não se pretende
entrar na questão sobre esse tópico pertencer ou não ao leque de interesse da área, o fato é que
há, por parte da ciência da informação, um crescente interesse pela gestão do conhecimento -
e esta, por sua vez, não pode prescindir da preocupação com o conhecimento tácito.
Por outro lado, muito embora a ciência da informação, ao longo de sua existência, não
tenha atentado explicitamente para o conhecimento não registrado, implicitamente e de
maneira bastante acanhada, estudos de comunicação científica ressaltaram a importância das
interações sociais nas comunidades científicas e do papel da comunicação informal na
construção da ciência. Isso, de certa forma, indicava que a comunicação formal por si só não
era capaz de suprir as demandas do fazer científico, e que, de alguma maneira um outro tipo
de conhecimento, que não o explícito (ou a informação científica), estaria de forma
inexoravelmente subjacente às atividades científicas.
Falar sobre conhecimento tácito no contexto das organizações empresariais, por
exemplo, é, de certa forma, possível sem levantar maiores contra-argumentos. Contudo, falar
em conhecimento científico tácito pode soar estranhamente, a priori. A razão disso talvez
esteja no fato que o status de cientificidade atribuído a um determinado conhecimento requer
que este seja necessariamente avaliado pelos pares e publicado formalmente. De fato, do
ponto de vista da cientificidade, em seu mais estrito sentido, para poder apropriar-se do
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adjetivo científico, conforme os princípios que regem o que é e o que não é ciência, um
determinado conhecimento deve atingir patamares de controlabilidade e credibilidade
alcançados por meio do método científico. Porém, parte do referencial teórico empregado
nesse estudo sugere que a publicação de um artigo científico, por exemplo, não faz com que o
conhecimento adquirido e desenvolvido durante uma pesquisa deixe de existir no acervo
cognitivo do autor do artigo. Ou seja, essa última instância, o conhecimento científico
validado e objetivo, depende de um corpo de conhecimento científico e tácito, pois está
relacionado às atividades e ao contexto científico, e reside na mente dos pesquisadores. Do
ponto de vista de sua produção e do seu contexto, o conhecimento científico permanece, e de
forma bastante valiosa, na mente do pesquisador. Obviamente, muito embora não tenha sido
avaliado ou publicado formalmente, trata-se de conhecimento científico (do ponto de vista de
sua produção e contexto), o qual é extremamente imprescindível para o desenvolvimento
científico. A este conhecimento, relacionado às habilidades, experiências, e competências de
um pesquisador, empregado no desenvolvimento de suas atividades científicas e difícil de ser
comunicado formalmente, denominamos conhecimento científico tácito.
O objetivo desta seção é sublinhar a existência da dimensão tácita do conhecimento
científico. Para tanto, inicialmente, o capítulo está fundamentado nas reflexões de Michael
Polanyi, um dos responsáveis pela sistematização e divulgação do tema conhecimento tácito,
e suas reflexões sobre a dimensão tácita do conhecimento no contexto da ciência. Logo mais,
especificamente sobre o tópico conhecimento tácito na ciência, a discussão será pautada
principalmente nos textos do sociólogo inglês Harry Collins, pesquisador de renome e autor
dos estudos mais relevantes acerca do tema. Muito embora todos os originais tenham sido
consultados, verificou-se que, coincidentemente, parte dos argumentos deste capítulo
apresenta similaridades com os argumentos de Oliveira (1998). Desse modo, buscou-se
fundamentação também em determinadas questões exploradas pela a autora, apesar dos seus
objetivos serem distintos dos objetivos do presente estudo. Por fim, Collins e Oliveira
parecem constituir, até o momento e de acordo com os levantamentos exaustivos em bases de
dados, as principais autoridades no tema, respectivamente no mundo e no Brasil.
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conhecimento. Tal questão tem suscitado cada vez mais interesse de pesquisadores e
profissionais, principalmente no contexto da gestão do conhecimento organizacional.
Polanyi (1983) foi quem primeiro introduziu a idéia de conhecimento tácito na ciência.
O autor considera que todo conhecimento começa a partir de um coeficiente tácito. Essa
dimensão tácita do conhecimento, segundo o autor, é difícil de ser explicitada, diz respeito a
aquilo que nos possibilita saber mais do que podemos dizer (POLANYI, 1966, p. 4). Dessa
maneira, Polanyi vê a inteligência sob dois aspectos: inteligência-articulada e inteligência
não-articulada. A inteligência não-articulada vem primeiro e a partilhamos com os animais. A
inteligência articulada é resultado da aquisição da linguagem, é própria do ser humano, o que
o torna superior aos demais seres. A dimensão tácita do conhecimento é relacionada à
inteligência não-articulada.
Polanyi ressalta que da aquisição de linguagem, por exemplo, como uma forma de se
instrumentalizar, decorre o aumento das capacidades cognitivas do ser humano, e isso, por sua
vez, é contraposto ao fato de que o ato de conhecer está relacionado a uma forma não-
articulada. Portanto, da idéia de uma inteligência não-articulada criando um conhecimento
tácito, o autor destaca a raiz tácita de todo conhecimento, que, a partir de cada um,
individualmente, é gerado. Para o autor, o conhecimento tácito compreende a relação entre
dois tipos: um conhecimento de dimensão técnica, como a utilização e uma ferramenta ou um
instrumento musical, e um outro relacionado aos modelos mentais, crenças, esquemas que
modelam a forma como percebemos o mundo.
Mesmo sob abordagens distintas, o uso da expressão ‘conhecimento tácito’ nas mais
variadas disciplinas preserva um sentido comum, que de forma abrangente está relacionado ao
conhecimento pessoal, próprio do indivíduo, adquirido a partir da experiência, de difícil
formalização, portanto difícil de ser comunicado, especialmente por meios formais.
Diferentemente do explícito, que é facilmente sistematizado e transmitido por meios
estruturados, o tácito é um conhecimento não formalizado (ou não codificado), que é
adquirido a partir da incorporação informal de outros conhecimentos que se relacionam com a
experiência, contexto, comportamentos, normas, valores e procedimentos. Essa incorporação
dá-se essencialmente por meio da interação social.
Do ponto de vista da gestão do conhecimento, o conceito de conhecimento tácito foi
popularizado na área por Nonaka e Takeuchi (1997), com base nos trabalhos de Michael
Polanyi, e ainda continuam sendo a principal referência para o tema. Os autores consideram o
conhecimento tácito altamente pessoal e difícil de formalizar, o que dificulta seu
compartilhamento e transmissão para outros indivíduos. Os autores ressaltam que estão
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Em artigo mais recente, Collins (2001) volta a explorar as dificuldades dos cientistas
em replicar experimentos de sucesso realizados por outros cientistas. O autor apresenta uma
nova categorização do conhecimento tácito não somente com o intuito de aprofundar o
entendimento da questão no nível filosófico, mas para explicar claramente a idéia e
compreender melhor as implicações para a prática científica. Em seu artigo, define
conhecimento tácito como o conhecimento ou habilidade que pode ser passada entre
cientistas por contatos pessoais, mas não pode ser exposto ou passado em fórmulas,
diagramas, ou descrições verbais e instruções para ação.
Um outro trabalho relevante sobre a importância do conhecimento tácito na construção
científica foi realizado por Mackenzie e Spinardi (1995), em que enfatizaram a importância
do conhecimento tácito na construção de armas nucleares. Os autores conceituam o
conhecimento tácito como o conhecimento que não foi (ou talvez não possa ser)
formulado explicitamente e, portanto, não pode ser efetivamente armazenado ou
inteiramente transferido por meios impessoais. O conhecimento explícito, por sua via, é
definido como a informação ou instruções que podem ser formulados em palavras e
símbolos, e, portanto, podem ser armazenadas, replicadas e transferidas por meios
impessoais tais como meios impressos ou computadores. Mackenzie e Spinardi
exemplificam dizendo que as habilidades motoras sempre fornecem um conjunto
paradigmático de exemplos de conhecimento tácito no dia-a-dia, e apresentam o clássico
exemplo de como se aprende a andar de bicicleta.
Em termos de conhecimento científico, Mackenzie e Spinardi ressaltam, no entanto,
que o foco no método da tradicional visão de ciência diminui o papel do conhecimento tácito
nesse contexto, muito embora, como eles, vários autores tenham sugerido que o conhecimento
tácito é vital para a ciência e tecnologia. Os autores salientam que o conhecimento explícito,
se amplamente difundido e armazenado, não se perde. O conhecimento tácito, por seu turno,
pode se perder, pois está incorporado à pessoa, e se as pessoas desaparecem, o conhecimento
será perdido. Habilidades, se não praticadas, desaparecem. Se não houver novas gerações de
profissionais para quem o conhecimento tácito possa ser transmitido, ele pode morrer
totalmente.
Ao realizarem um estudo com físicos responsáveis por projetar armas nucleares,
Mackenzie e Spinardi evidenciaram que parte do conhecimento que era preciso para que os
físicos fossem capazes de construir as armas era essencialmente tácito, logo, difícil de ser
transmitido de forma explícita. Realizaram uma pesquisa minuciosa, incluindo como sujeitos
de sua pesquisa cientistas que construíram a primeira arma nuclear em Los Alamos até os
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Os parâmetros utilizados na busca são descritos no capítulo de metodologia.
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em um laboratório transferem informação entre si e com outros grupos, como fazem o uso de
base de dados e a literatura especializada. Os métodos utilizados foram entrevistas longas,
observação e convívio no laboratório, durante seis meses. A autora pode observar como se
dava a transmissão de conhecimento e informação ressaltando seu aspecto tácito por meio de
dois blocos de perguntas, o primeiro contemplando o comportamento informacional
(freqüência, busca, uso, intercalação entre pesquisa e leituras, etc). O segundo bloco
privilegiava perguntas relacionadas ao processo de socialização do cientista e do que ele saber
(como aprendeu o que fazia, como ensina o que faz, como lida com a quantidade de
informação, como seria se todos ligados à área desaparecessem, etc).
A pesquisa de Oliveira trouxe inúmeras contribuições para o tema. A mais geral foi a de
inaugurar a discussão no Brasil sobre a importância do componente tácito na construção
científica, pois, como dito anteriormente, as buscas em bases de dados não recuperaram
nenhum documento que versasse sobre o tópico. Dentre outras, uma questão relevante
suscitada pelo estudo foi o redimensionamento do conceito de informação, trazendo à tona
sua obscura faceta tácita. Um outro ponto relevante, e considerado pelo autor desta
dissertação como a principal contribuição, foi a ênfase dada à socialização imprescindível aos
processos de transferência da informação e do conhecimento, justamente por levar em conta o
aspecto tácito presente nos dois.
Especificamente sobre esse tópico, Oliveira (1998, p.173) considera que, a partir do
momento em que estudantes são submetidos a treinamentos em uma nova área de estudo, eles
começam a construir o que ela denominou de termos de referência. Segundo Oliveira, em seu
estudo de caso, por estarem em um departamento de Biologia Molecular, os estudantes
iniciam tendo que saber o que é um átomo, uma molécula, uma proteína, etc. E, por meio de
uma junção de teoria, observação, experimentos e convivência, um processo de socialização
ocorre e eles aprendem uma ‘forma de vida’ e começam a compartilhar e construir juntos um
processo extremamente dinâmico entendido por um conjunto de conhecimentos de uma área.
Uma nova informação ou conhecimento é entendido, portanto, pela contraposição com a
estrutura cognitiva ou referencial que se adquiriu, e Oliveira chamou este referencial de limiar
(com base em Bateson, 1988), sem o qual nada faria sentido. E colocando de outra forma suas
palavras, ressalta que
“Para ser capaz de detectar dados, ou para que um dado seja capaz de
desencadear uma informação em um aluno, aquele aluno precisa de um
filtro, de um limiar. Esse filtro ou limiar precisa ser ao mesmo tempo rígido
e flexível, e este é o paradoxo da aprendizagem. Se o filtro se torna muito
rígido, informações novas não podem ser desencadeadas. Se o filtro se torna
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A autora afirma que o fato de um cientista interagir com um computador ou com outro
cientista ou ler um livro, por exemplo, não significa que esteja havendo de fato transferência
de informação, pois isto se dá em dependência do estado do outro.
É muito importante destacar que os estudos de Collins, Oliveira, Mackenzie e Spinardi
foram direcionados para as ciências rígidas. Portanto, uma série de considerações deveriam
ser feitas acerca das diferenças disciplinares, especialmente diferenças que influenciam o i)
processo de comunicação, ii) o tipo de conhecimento que buscam e iii) as metodologias
empregadas na busca do conhecimento e outros. Certamente, alguns pontos ressaltados pelos
autores poderiam ser generalizados para todas as áreas do conhecimento, como por exemplo,
a importância da comunicação informal na constituição de redes de compartilhamento de
conhecimento entre cientistas.
Diante dos estudos pontuais, nos quais os autores se dedicaram a compreender a
importância do conhecimento tácito no exercício científico, percebe-se a importante presença
da interação social no processo de transferência do conhecimento científico, certamente
devido à sua própria natureza tácita. Estudos advindos da ciência da informação sobre os
processos de comunicação científica há um bom tempo ressaltam a relevância da
comunicação informal para o desenvolvimento científico. Tal concepção está relacionada às
condições proporcionadas pelo meio para que haja uma socialização de fato e, como
conseqüência, uma maior transferência do conhecimento científico tácito.
Não se pretende afirmar aqui que o sistema de comunicação informal encarrega-se
somente do conhecimento tácito e o sistema formal do conhecimento explícito. Sabe-se que o
conhecimento explícito é veiculado também em meios informais e o elemento tácito também
pode ser estimulado por meios formais. No entanto, quando há o compartilhamento do
conhecimento tácito isso se dá necessariamente por meios informais. É necessário salientar
que, sobre essa questão em particular, a introdução cada vez mais intensa de tecnologias na
comunicação científica tem de certa forma tornado o limite entre os meios formais e informais
confuso; contudo, tem gerado e aumentado cada vez mais possibilidades de transferência do
conhecimento, seja ele tácito ou explícito.
É oportuno ressaltar a importância da socialização em todo esse processo de
transferência do conhecimento, seja tácito ou explícito. Todas as formas pressupõem uma
socialização em algum momento. No que diz respeito ao conhecimento tácito, sua
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transferência dá-se principalmente por meio da socialização entre as partes envolvidas, uma
vez que maior parte de conhecimento tácito é transferido por meio do compartilhamento de
experiência, observação e prática.
A transferência do conhecimento explícito, por sua vez, requer também a socialização,
entretanto, em um momento anterior, como uma forma de instrumentalização, para que
realmente haja a assimilação efetiva de um determinado conhecimento explícito (informação).
Ou seja, para que determinada informação seja reconhecida como tal é necessário que o
indivíduo tenha, em algum momento anterior, vivenciado uma forma de vida (sala de aula,
treinamentos, orientação, etc) que lhe permita nesse momento estar apto a assimilar de fato tal
informação e agregá-la a seu acervo de conhecimentos. Nesse sentido, as tecnologias de
informação e comunicação demonstram grande aplicabilidade ao proporcionarem ambientes
de comunicação instantânea e interativa, com inúmeras possibilidades para o conhecimento
explícito, e especialmente para o tácito.
Quanto mais rígido, padronizado e submetido a regras formais for o meio de
comunicação, provavelmente menor será o coeficiente tácito do conhecimento veiculado. Ou,
também, menores são as condições proporcionadas pelo meio para que haja a socialização e
conseqüentemente uma maior transferência do conhecimento tácito.
Quanto maior a socialização e flexibilidade proporcionada pelo meio, maiores serão as
condições para a veiculação e transferência do conhecimento tácito. E nesse raciocínio apóia-
se o entendimento de que a comunicação informal está mais próxima do conhecimento tácito
e a comunicação formal do conhecimento explícito.
A relação entre os meios formais e informais, o conhecimento tácito e explícito e a
dinâmica da pesquisa, produção e comunicação científica discutidos até o momento, sugerem
uma seqüência de idéias interdependentes. A criação, compartilhamento e uso do
conhecimento científico, seja ele explícito ou tácito, dependem necessariamente dos processos
de comunicação científica, tema da próxima seção. Desta forma, é oportuno finalizar este
capítulo com Meadows (1999)
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CAPÍTULO 3
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
3 - Introdução
Stachowiac (apud SAYÃO, 2001), por seu turno, apresenta três características básicas
dos modelos:
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Belkin e Robertson (1976) não tenham justificado ou feito distinção alguma entre os termos
informação e conhecimento, a afirmativa parece atrair certo consenso, o que a torna
razoavelmente aceita até os dias de hoje.
A comunicação estará presente, portanto, em algum momento, em boa parte das
questões passíveis de serem investigadas sob a luz da ciência da informação. Ademais, desde
a sua gênese, a área apresentou seus problemas entrelaçados com o processo de comunicação,
pois a comunicação da informação técnica e científica esteve entre os fatores que deram início
ao seu desenvolvimento e até hoje pousa como um dos ramos mais bem consolidados da área.
Torna-se oportuno então desenvolver uma breve introdução acerca do entendimento de
processo de comunicação, tal como concebido nesta dissertação.
A idéia de processo está ligada a um encadeamento de ações ou operações contínuas,
uma sucessão de acontecimentos dinâmicos e inter-relacionados. Os elementos de um
processo sofrem uma constante influência do ambiente no qual estão inseridos, tornando-o
assim suscetível a mudanças. Berlo (1999, p.23) afirma que, se aceitarmos o conceito de
processo como “qualquer fenômeno que apresente uma contínua mudança no tempo” ou
“qualquer operação ou tratamento contínuo”, perceberemos os acontecimentos e as relações
como dinâmicos, em evolução, contínuos. Assinala ainda que, ao chamarmos algo de
processo, “queremos dizer também que não tem um começo, um fim, uma seqüência fixa de
eventos. Não é coisa estática, parada. É móvel. Os ingredientes do processo agem uns sobre
os outros, cada um afeta os demais”.
O conceito de comunicação está diretamente ligado ao de processo, uma vez que a
existência de comunicação pressupõe um intercâmbio entre os diversos elementos que
interagem entre si e participam de um processo.
Berlo (1999, p.29) faz menção a Aristóteles, em sua obra Retórica, ao dizer que
devemos olhar para três ingredientes na comunicação: quem fala, o discurso e a audiência, a
saber, “1) a pessoa que fala; 2) o discurso que faz e 3) a pessoa que ouve”. Do ponto de vista
dos papéis desempenhados por cada um dos elementos do modelo aristotélico de
comunicação, percebem-se muitas limitações, no sentido, por exemplo, de que quem fala
somente fala, quem ouve somente ouve. Entretanto, a maioria dos modelos de processo de
comunicação é similar ao do Aristóteles, embora um tanto quanto mais complexos. A
comparação dos muitos modelos de processo de comunicação nos revela características
comuns, e boa parte deles difere principalmente em questões terminológicas e na presença ou
ausência de determinados elementos.
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Shannon e Weaver (1972) criaram o modelo de processo de comunicação que foi mais
propalado por diferentes áreas do conhecimento. O estudo dos autores, publicado no artigo
“The Mathematical Theory of Communication”, extrapolou os limites técnicos do contexto no
qual foi criado, e tem permeado os estudos em diferentes disciplinas. Sabe-se, entretanto, que
o objetivo do estudo era tornar melhor os problemas relacionados à transmissão de dados por
meio de sistemas de rádio, tv, etc. Shannon e Weaver acreditavam que a informação podia ser
quantificada, porém, ao falar de informação, na realidade estavam se referindo a sinais ou
mensagens que podiam ser transmitidas por telégrafo, rádio telefone ou televisão. Muito
embora tenham mencionado no início de seu trabalho que os aspectos semânticos da
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comunicação eram irrelevantes para o problema da engenharia, a reflexão foi apropriada por
estudiosos dos contextos humanos da comunicação. O modelo do processo de comunicação é
assim representado (figura 8):
Mensagem Mensagem
Ruído
Dispositivo de
comunicação de massa
Ruído
Dispositivo de
retroalimentação
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a sua disseminação e uso. Pode ser entendida como o processo dinâmico e complexo por meio
do qual o conhecimento científico é veiculado, além de proporcionar os meios de interação
dentro e entre as comunidades científicas, possibilitando a criação, compartilhamento, e
utilização de conhecimento.
O conhecimento científico é produto das atividades relacionadas com a investigação
científica, e esta última tem no processo de comunicação um elemento inerente à sua própria
natureza. Comunicar o conhecimento científico significa compartilhar o conhecimento
produzido por meio da investigação científica. Pressupõe um fluxo de conhecimento (tácito
ou explícito) entre uma fonte e um receptor por meio de um determinado canal. Nesse sentido,
os canais de comunicação são os mecanismos pelo qual o conhecimento produzido é
veiculado, formal ou informalmente.
É comum, nos estudos sobre comunicação científica, a delimitação entre a
comunicação formal e informal. Embora a introdução de tecnologias mais avançadas no
processo de comunicação científica tenha tornado esses limites um tanto quanto nebulosos,
ainda sim prevalece certa divisão. As diferenças entre os sistemas de comunicação formal e
informal são definidas por Garvey e Griffith (1979), onde os canais formais implicam que a
informação seja pública e continue permanentemente armazenada, enquanto que nos canais
informais a informação é veiculada a audiências restritas e sua armazenagem é relativamente
temporária.
O limite da comunicação informal abrange todas as relações e contatos pessoais entre
pesquisadores como, por exemplo, os colégios invisíveis, conversas, sala de aula, orientações,
palestras, visitas, reuniões de grupos de pesquisa, reuniões científicas e outros mecanismos.
Por esta razão, os canais informais são responsáveis pelo compartilhamento da experiência do
cientista e do conhecimento científico principalmente em sua vertente tácita, especialmente
por proporcionarem uma maior interação os sujeitos, além de potencializar o feedback entre
emissor e receptor.
Shearer e Birdsall (2002) afirmam que a comunicação formal é o processo por meio do
qual o conhecimento de novas descobertas é refinado, certificado, distribuído e preservado
para pesquisadores, professores, estudantes. Assim, a comunicação formal compreende todas
as formas de representações da literatura científica, desfruta de maior confiabilidade pelo fato
do conhecimento ter sido fixado em forma de documento e submetido ao crivo da avaliação
por outros cientistas. Desse modo, representam a parte visível do sistema de comunicação
científica, pois lidam essencialmente com o conhecimento científico explícito, ou seja, o
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FORMAIS INFORMAIS
Público potencialmente grande Privada, publico restrito
Informação permanentemente armazenada e Informação não-armazenada e não recuperável
recuperável
Informação relativamente antiga Informação recente e atualizada
O fluxo da informação é orientado pelo usuário O fluxo da informação é orientado pelo seu produtor
Disseminação uniforme Direção do fluxo escolhida pelo produtor
Redundância moderada Redundância às vezes muito importante
Pouco feedback para o autor, a interação é indireta Feedback significativo para o autor, a interação é
direta
13
Le Coadic (2004, p. 27) considera a informação científica e técnica como o sangue do processo de criação científica. “As
atividades cientificas e técnicas são o manancial de onde fluem os conhecimentos científicos e técnicos que se transformarão,
depois de registrados, em informações científicas e técnicas. Mas, de modo, inverso, essas atividades só existem, só se
concretizam, mediante essas informações. A informação é a seiva da ciência. Sem informação, a ciência não pode se
desenvolver e viver. Sem informação a pesquisa seria inútil e não haveria o conhecimento. Fluido precioso, continuamente
produzido e renovado, a informação só interessa se circula, e, sobretudo, se circula livremente”. É possível notar a relevância
e o papel da comunicação formal no desenvolvimento científico. Porém, é importante ressaltar que a informação, ou o
conhecimento científico explícito é enraizado e dependente do conhecimento tácito, e por esta razão, a afirmação de Polanyi
(1966) é adequada, o conhecimento explícito deve se fundamentar no fato de ser tacitamente entendido e aplicado. Assim, o
conhecimento ou é tácito ou enraizado e dependente do conhecimento tácito. Um conhecimento totalmente explícito é
impensável.
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INFORMAL FORMAL
TÁCITO EXPLÍCITO
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modelo (figura 11). Em seus estudos, os autores procuravam evidenciar que, no momento em
que a informação era veiculada pelos canais formais, boa parte dos membros da comunidade
científica estudada já tinha conhecimento da pesquisa e de seus resultados, uma vez que a
interação informal entre os pesquisadores durante todo o seu desenvolvimento proporcionava
essa antecipação.
Seminários,
Colóquios, etc.
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comunicação científica como qualquer ação ou atitude que contribui para a elaboração e troca
de informação entre cientistas e, o conjunto das relações existentes entre indivíduos que
compartilham objetivos comuns e informações do mesmo nível. Com base nesses conceitos,
Lievrouw (1992, apud TARGINO, p. 64) sistematiza o ciclo de comunicação da informação
científica em três estágios:
• Concepção: os cientistas buscam refinar e aprofundar suas idéias dentro do grupo restrito,
informalmente, por meio de conversas de corredor, correio eletrônico, telefonemas,
encontros em laboratórios. A estrutura comunicacional é constituída de cientistas
individuais que compartilham suas dúvidas e experiências com amigos, colegas,
assessores ou pessoas próximas, é o encontro entre co-autores, membros de grupos de
pesquisa, orientadores e orientandos.
• Documentação: o processo comunicacional é mais elaborado, as pesquisas são
registradas de forma precisa e completa. Por conseqüência, as estruturas são abrangentes
e se estendem as associações, departamentos de universidades, membros de uma mesma
disciplina e aos colégios invisíveis, mediante a divulgação de artigos, livros e
comunicações de relatos de pesquisa.
• Popularização: os conhecimentos recém-adquiridos são divulgados com o objetivo de
alcançar o grande público, a fim de que este aceite novas idéias, adote novas posturas,
instale novas instituições, premie novos cientistas, torne a ciência mais acessível à
população. Neste estágio, outros atores são incorporados no processo, como jornalistas,
editores e outros intermediários que se interpõem entre o pesquisador e a população.
Mesmo que não seja de maneira explícita, o modelo de Lievrouw torna-se interessante
para este estudo na medida em que destaca pontos importantes relacionados ao conhecimento
científico tácito. Especialmente no estágio da concepção e ainda no estágio da documentação,
há uma forte presença do conhecimento, e não somente da informação, como insumo do
processo de criação. As idéias compartilhadas em conversas de corredor, encontros e em
trocas de experiências com outros pesquisadores são instâncias férteis para a criação,
compartilhamento e uso do conhecimento científico tácito.
É importante destacar que o processo de comunicação em questão ocorre no seio das
comunidades científicas. Embora o conceito de comunidades científicas seja objeto de
discussão por um grupo variado de áreas do conhecimento, é necessário trazer à tona e
esclarecer questões fundamentais que dizem respeito a essa temática, as quais influenciam o
desenvolvimento do presente estudo.
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Comunidade científica Z
COMUNIDADE ACADÊMICA
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para esta dissertação, uma vez que esta, por um lado, preocupa-se tanto com a gestão do
conhecimento quanto com a comunicação científica.
Ziman (1981), sobre a ciência e o conhecimento científico, salienta que, dada a sua
natureza, a ciência
“Constitui um conjunto de conhecimentos públicos, aos quais cada
pesquisador acrescenta sua contribuição pessoal, corrigida e purificada
pela crítica recíproca. É uma atividade coletiva, na qual cada um de nós
vai construindo sua parte por cima do trabalho realizado por seus
predecessores, numa colaboração competitiva com a dos nossos
contemporâneos” (ZIMAN, 1981, p. 105)
Price, portanto, concorda com Garvey e Griffith (1979) quando, em seus estudos,
procuravam tornar claro que no momento em que o conhecimento era veiculado por meio dos
mecanismos formais, boa parte dos membros da comunidade científica já tinha ciência da
pesquisa e de seus resultados, pois a interação informal entre os pesquisadores durante todo o
desenvolvimento da pesquisa permitia essa antecipação. Price percebeu a importância dessas
redes informais para o crescimento e disseminação do conhecimento científico e, resgatando o
termo, chamou de colégios invisíveis as comunidades informais estabelecidas entre cientistas
de uma mesma especialização. Desde então, a comunicação e a colaboração informal
existente dentro dos colégios invisíveis passou a ser vista como um processo essencial para a
produtividade e difusão dos avanços no conhecimento científico.
Uma das principais contribuições para o tema colégios invisíveis sem dúvida alguma
foi oferecida por Crane (1972). A autora definiu os colégios invisíveis como uma rede
interpessoal informal baseada no compartilhamento de interesses científicos, sendo que
membros de um mesmo colégio lêem a mesma literatura, publicam em co-autoria, encontram-
se informalmente para discutir os trabalhos em desenvolvimento. Os colégios invisíveis,
segundo a autora, são caracterizados por sua alta produtividade, o compartilhamento de
prioridades de pesquisa, o treinamento de estudantes, a produção e monitoração do
conhecimento em seu campo (CRANE, 1972).
Por outro lado, Hurd (1996, p. 15) ressalta que quando Crane, Garvey e outros
estudiosos descreveram a comunicação científica, os atores do processo (pesquisadores)
dispunham, para se comunicar, de, por exemplo, conversas ao telefone, correspondências
pessoais, visitas em laboratórios e encontros em congressos. Em contrapartida, hoje, o
desenvolvimento e utilização de repositórios eletrônicos, o correio eletrônico, listas de
discussão e outras formas de comunicação mediada por computador, de qualquer forma,
trouxeram oportunidades significantes para a comunicação informal. Acrescente-se a isso o
fato de que a aplicação das tecnologias no processo de comunicação entre cientistas tem
provocado transformações paradigmáticas nesse processo.
Por conseguinte, Cronin (1982, p. 232), em sua revisão sobre a importância dos
colégios invisíveis para a transferência do conhecimento científico, especulou sobre o impacto
das tecnologias de comunicação emergentes. Suas conclusões refletem por demais o atual
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sistemas sociais eletrônicos dão suporte à criação de novos conhecimentos científicos, bem
como a distribuição e uso de conhecimentos existentes. Por meio de uma metodologia
apropriada, uma das conclusões do autor, após a análise de um número significante de
discussões nos fóruns, é que as redes eletrônicas estão sendo usadas como auxiliares e canais
informais de compartilhamento de conhecimentos técnicos e científicos já existentes.
Entretanto, tais conhecimentos possuem uma natureza mais tácita.
Hoyos (1980) afirma que os colégios invisíveis exercem função importante no
domínio da comunicação informal uma vez que: estimulam a comunicação pessoal entre
pesquisadores da mesma área, tanto em nível nacional quanto em nível internacional; evitam a
duplicação de pesquisas semelhantes; facilitam a organização de núcleos de comunicação
científica, em nível microorganizacional; aproveitam a capacidade e o potencial dos cientistas
mais experientes; incentivam as novas gerações de cientistas, por meio do compartilhamento
de descobertas; possibilitam o contato direto, a fim de facilitar o avanço de pesquisas em
andamento e permitem um fluxo contínuo de transferências de informações científicas. É
importante ressaltar que o autor não menciona o termo conhecimento em suas colocações. No
entanto, acredita-se que o termo informação é utilizado como sinônimo, uma vez que os
colégios invisíveis compartilham intensamente, além de informação propriamente dita, o
conhecimento.
A interação social e as trocas informais, proporcionadas pelos colégios invisíveis e
pelas redes informais de comunicação (seja nas comunidades científicas, seja nas
comunidades acadêmicas), veiculam muito do conhecimento tácito científico. Logo, esse tipo
de conhecimento é freqüentemente comunicado, compartilhado e transferido, sobretudo de
maneira informal, por meio da estrutura e do sistema de comunicação informal inerente e
inexorável ao processo de criação científica.
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em resultados de outras pesquisas. A autora afirma que a existência concomitante dos meios
impresso e eletrônico constitui, de fato, o novo paradigma no sistema de comunicação
científica. Segundo ela, o meio impresso coexiste com meio eletrônico e este constitui,
tendendo a permanecer dessa forma muito tempo ainda, um complemento para o meio
impresso.
Em determinado momento, Costa (1999) discute questões referentes à substituição ou
complementação do meio eletrônico em relação ao meio impresso. Suas conclusões apontam
que, embora algumas fases do processo de comunicação científica devam ser totalmente
substituídas pelo meio eletrônico, o processo como um todo deve permanecer híbrido por
muito tempo, mesmo em áreas como as ciências naturais, em que o uso de tecnologias de
informação vem sendo adotado de forma crescente e intensa. A autora acrescenta ainda
comentários acerca de quatro principais diferenças observadas em cada estágio do processo de
comunicação científica (COSTA, 2001):
• Mudanças significativas nas fases iniciais do processo, onde os contatos informais são
predominantes. A aceitação e utilização do correio eletrônico como recurso de
comunicação já está bem estabelecida independentemente da área do conhecimento.
• Mudanças na elaboração e submissão de manuscritos para a publicação. Cada vez mais
recursos eletrônicos e em rede estão irreversivelmente substituindo tarefas como
preparação de textos, compilação de dados, cálculos, análises estatísticas. Além de
permitir a discussão e troca de manuscritos eletrônicos. A submissão de versões
eletrônicas para publicação também é percebida.
• Mudanças no processo de revisão pelos pares. Com a utilização da comunicação
eletrônica, principalmente no que diz respeito às facilidades e redução do tempo
despendido nas atividades de impressão, reprodução, postagem, etc, o processo é
otimizado. Mesmo no meio eletrônico, é indispensável a avaliação pelos pares.
• Mudanças na publicação do produto final: livros e periódicos. No contexto e na época da
realização do estudo, a autora relata que a preferência por essas fontes de informação em
meio impresso prevalece. Possíveis explicações referem-se à preferência por fontes de
informação familiares e bem estabelecidas dentro da comunidade científica, ou ainda, aos
aspectos ergonômicos relacionados à utilização de fontes formais de informação.
Costa (2000) conclui observando uma mudança de paradigma no sistema de
comunicação da ciência como conseqüência da utilização crescente de tecnologias de
informação. No entanto, a autora ressalta que as mudanças possíveis de serem observadas no
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Programação de Notificação de
conferências aceitação
Anais de
conferências
Impresso
Eletrônico
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O acesso livre (open access) a resultados de pesquisa tem sido visto como fator que
maximiza o acesso à pesquisa propriamente dita. Assim, maximiza e acelera o impacto das
pesquisas e, conseqüentemente, sua produtividade, progresso e recompensas, conforme Brody
e Harnad (2004). Resultados de uma pesquisa realizada por Lawrence (2001), por exemplo,
estão em acordo com o que preconizam Brody e Harnad, pois mostraram um crescimento de
336%, em média, nas citações a artigos disponíveis online, em relação a artigos publicados
offline, na mesma fonte. Como observa Lawrence, “para maximizar o impacto, minimizar a
redundância e acelerar o progresso científico, autores e editores deveriam visar a tornar a
pesquisa fácil de ser acessada”. Sem dúvida nenhuma, um dos meios mais eficazes de facilitar
o acesso à pesquisa é torná-las disponíveis livremente.
Isso, por sua vez, tem sido ampla e calorosamente discutido, na última década, na
literatura especializada de diversos campos do conhecimento, em função do modelo de
publicação da pesquisa que domina o cenário mundial. No modelo tradicional de publicação,
editores comerciais atribuem preços excessivos e impõem barreiras de permissão sobre
publicações de pesquisas que são amplamente financiadas com recursos públicos. De fato, o
sistema de comunicação científica atual “limita, mais do que expande, a disponibilidade e
legibilidade (readership) da maior parte da pesquisa científica (ao tempo que obscurece suas
origens institucionais)” (JOHNSON, 2002). É fundamental, portanto, considerar o que
observa Alberts (2002), ao afirmar que a informação científica e técnica é, fundamentalmente,
um bem público global, que deve estar livremente disponível para o benefício de todos. E,
nesse contexto, conforme Johnson (2002) “o papel de modelos alternativos de comunicação
científica, tais como repositórios institucionais, ao quebrar monopólios de editores e aumentar
a awareness a respeito da produção intelectual das universidades, cresce claramente”.
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O primeiro contato com as recomendações que constam no Manifesto Brasileiro de Apoio ao Livre Acesso à Informação
Científica foi informalmente obtidos anteriormente à sua redação e publicação em conversas, slides e palestras proferidas por
Costa (2005), uma das elaboradoras do Manifesto.
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Conferências, Repositórios
Institucionais, Repositórios
Temáticos Usuários
Usuários
Editores
Gatekeepers
Publicações científicas
Comercialização, Transferência do
conhecimento, outros meios de difusão
Biblioteca
Pesquisadores
Educação
Usuários
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CAPÍTULO 4
GESTÃO DO CONHECIMENTO
4 - Introdução
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Qauntidade de artigos
100
80
60
40
20
0
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano de publicação
Fonte: Elaboração própria
Fonte: Web a partir de
of Science dados coletados no Web of Science (2005)
(2005)
Management 55
Computer Science, Artificial Intelligence 40
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Sveiby (2001a) delineia uma outra perspectiva para a observação da construção dos
conceitos de gestão do conhecimento. O autor salienta duas abordagens ou tendências sobre
os quais o conceito e a prática da gestão do conhecimento são desenvolvidos. A primeira
tendência é voltada para o gerenciamento da informação, em que pesquisadores e
profissionais da área geralmente possuem formação na área tecnológica ou em ciência da
informação, estão envolvidos na construção de sistemas de gestão da informação, inteligência
artificial, reengenharia, etc. Segundo o autor, tal abordagem é nova e no momento está em
rápido crescimento devido ao desenvolvimento das tecnologias de informação. O
conhecimento, nessa abordagem, é visto como objetos que podem ser identificados e
manipulados em sistemas de informação. A segunda tendência, mais antiga e de crescimento
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mais contido, está voltada ao gerenciamento de pessoas. Os seus adeptos, em geral, são
provenientes de áreas como a filosofia, sociologia, psicologia e administração. Suas ações são
direcionadas para a avaliação, mudança e desenvolvimento das habilidades humanas
individuais e do comportamento. Por sua vez, o conhecimento é visto como um processo, um
conjunto complexo de habilidades dinâmicas em constante mutação. Tal abordagem é
tradicionalmente envolvida com a aprendizagem e a gestão de competências. O raciocínio de
Sveiby possui similaridades com o de Wilson (2002), analisado logo mais, muito embora este
último seja contundente em suas colocações.
Em um outro momento, Sveiby (2001b), em resposta à questão “Por que o
conhecimento deve ser gerenciado?”, apresenta os seguintes argumentos:
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Em seguida, Miranda cita trecho de Owen (1999), que põe em relevo a distinção entre
as duas práticas no momento em que diz que
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manter ou aumentar a posição competitiva de uma organização. De acordo com o autor, isto
tem produzido um movimento social e empresarial baseado na crença de que a globalização
no século XXI conduzirá para a Era do Conhecimento, onde o fator competitivo fundamental
é o capital intelectual, quando efetivamente utilizado e aplicado. A ênfase desta visão não é
somente a competição, mas também o aumento da qualidade de vida, valores pessoais e o
aumento das responsabilidades e valores empresariais.
O autor desta dissertação concorda e endossa as considerações de Sveiby (2001b), ao
afirmar que não acredita que o conhecimento de fato possa ser gerenciado. Se a ‘gestão’
pressupõe manipulação ou controle, é impossível gerenciar conhecimento, especialmente o
tácito. No máximo a informação é gerenciada. Entretanto, acredita-se que o que se quer dizer
com ‘gestão do conhecimento’, e nesse momento é revelada a pobreza da expressão, é algo
relacionado com a criação de condições férteis, a condução de situações ótimas,
viabilizadoras para que o conhecimento seja criado, compartilhado, assimilado e
convertido em benefícios aplicáveis à consecução dos objetivos de uma determinada
organização. Portanto, o conhecimento como uma estrutura cognitiva dos seres humanos não
pode ser gerido, contudo, os processos que exercem algum tipo de controle sobre as condições
de criação, compartilhamento e uso desse conhecimento são o objeto da gestão do
conhecimento.
Entretanto, há que se ressaltar que a gestão do conhecimento engloba as práticas e
metodologias de gestão da informação quando diz respeito principalmente aos processos
relacionados à captura, armazenamento, recuperação de uma parcela do conhecimento tácito,
o qual neste momento é reduzido a estruturas de informação. Muito embora isso aconteça, a
gestão do conhecimento não pode ser reduzida à gestão da informação, nem tão pouco
confundida, mesmo que ela se aproprie desta. No momento em que, por exemplo, o tipo de
compartilhamento do conhecimento exige que ele seja veiculado por meio de sistemas
formais (que permitem o seu ‘armazenamento e recuperação’), o conhecimento, na realidade,
é reduzido a estruturas de informação. Esta por sua vez, poderá vir a disparar ou desencadear
conhecimento no indivíduo.
A gestão do conhecimento é envolvida por uma intencionalidade diferenciada e maior
do que a gestão da informação propriamente dita, pois ela é voltada para criação e agregação
de valor ao conhecimento. A gestão da informação, por seu turno, lida com a parcela do
conhecimento tácito que foi explicitado e passível de ser comunicado por meio de sistemas
formais de comunicação, e, sendo assim, faz-se de veículo para o alcance das pretensões da
gestão do conhecimento.
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GESTÃO DO CONHECIMENTO
Conhecimento
Gestão da Informação
explícito Conhecimento
(informação) tácito
Foi possível perceber, com base nos definições de gestão do conhecimento e com base
em leituras mais aprofundadas, que a literatura costuma explicitar as relações entre conceitos
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Dimensão
epistemológica
Conhecimento
explícito
Conhecimento
tácito
Dimensão
ontológica
Nível do conhecimento
Conhecimento
tácito Socialização Externalização
do
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Diálogo
Socialização Externalização
Construção Associação
do campo do
conheciment
o explícito
Internalização Combinação
Aprender fazendo
(Socialização) (Externalização)
Conhecimento
tácito Conhecimento Conhecimento
compartilhado conceitual
do
Entende-se por:
• Conhecimento compartilhado: produzido a partir dos processos de socialização, na forma
de modelos mentais ou habilidades técnicas compartilhadas.
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Dimensão
epistemológica
Externalização
Conhecimento
explícito Combinação
Socialização
Internalização
Dimensão
ontológica
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Condições capacitadoras
Intenção
Autonomia
Flutuação / Caos criativo
Redundância
Conhecimento tácito na Variedade de Requisitos Conhecimento explícito na
organização organização
Compartilhamento Difusão
do conhecimento Criação de Justificação de Construção de interativa do
tácito conceitos conceitos um arquétipo conhecimento
Internalização
Mercado
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Feedback Avaliação do
Metas de
conhecimento
conhecimento
Identificação do Retenção do
conhecimento conhecimento
Aquisição do
conhecimento Utilização do
conhecimento
Desenvolvimento do Partilha/distribuição
conhecimento do conhecimento
Os autores ressaltam que os processos essenciais, tal como descritos, geram um quadro
amplo dos problemas operacionais que podem surgir ao considerar o conhecimento como um
recurso, e, da mesma forma, podem surgir dificuldades se a organização desconsiderar a
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ATIVOS INTANGÍVEIS
CONVERSÃO
AÇÕES
ESTRUTURA
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Estratégia organizacional
Sistematizar Conceituar
Competência
Tecnologia
Estrutura
Ações
Conversão do conhecimento
Ativos intangíveis
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Liderança
Criação
Identificação
Aplicação
Cultura
Conhecimento
Medição e
recompensa
organizacional
Captura
Compartilhamento
Seleção e
Organização e validação
armazenagem
Tecnologia
Processos de
Fatores gestão do
facilitadores conhecimento
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Wiig (1999), por seu turno, afirma que, na prática, a gestão do conhecimento estrutura
suas atividades e prioridades por meio do ele chamou de ‘Ciclo da Evolução do
Conhecimento Organizacional’, representado na figura 29.
Criação do
conhecimento
Captura e
armazenagem
do
Aplicação do conhecimento
conhecimento
Organização e
Distribuição transformação
do do
conhecimento conhecimento
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CAPÍTULO 5
METODOLOGIA
5 - Introdução
Este capítulo tem por finalidade a exposição dos princípios teóricos e operacionais que
nortearam o desenvolvimento do estudo. A metodologia será abordada, a princípio, do ponto
de vista teórico, levando em consideração a abordagem sob a qual será observado e discutido
o problema proposto. O referencial teórico apresentado constitui o filtro por meio do qual é
delineada a abordagem metodológica e a fundamentação dos procedimentos operacionais da
pesquisa.
Esta seção apresenta os elementos que direcionam a base teórica fundamental a ser
levada em consideração em um estudo sobre gestão do conhecimento científico no contexto
acadêmico. O referencial teórico é necessário para explicar as relações entre os elementos que
podem ser identificados como importantes. Além disso, constituem a lente por meio do qual o
problema é compreendido e investigado. Devido à dificuldade de encontrar estudos sobre
gestão do conhecimento que levem em consideração a natureza do ambiente acadêmico, do
conhecimento científico e dos processos de comunicação científica, quer se destacar que um
dos esforços desta pesquisa é a sinalização das questões que envolvem a gestão desse tipo
particular de conhecimento, bem como as implicações do ambiente acadêmico, da própria
natureza do conhecimento e dos seus processos de comunicação.
Tendo em vista o problema proposto nesse estudo - a representação, por meio de um
modelo teórico, da gestão do conhecimento científico em sua vertente tácita e explícita, no
contexto acadêmico - apresenta-se, a seguir, de maneira breve, a discussão de conceitos e
abordagens pertinentes à pesquisa sobre i) aspectos da informação e do conhecimento
científico, ii) comunicação científica e iii) gestão do conhecimento. O objetivo é constituir o
referencial teórico por meio do qual será desenhada a pesquisa.
119
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Comunicação científica
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15
Essa questão torna-se clara na afirmação de Ziman (1981, p. 105), em que a ciência “constitui um conjunto de
conhecimentos públicos, aos quais cada pesquisador acrescenta sua contribuição pessoal, corrigida e purificada pela crítica
recíproca. É uma atividade coletiva, qual cada um de nós vai construindo sua parte por cima do trabalho realizado pelos
nossos predecessores, numa colaboração competitiva com a dos nossos contemporâneos. A natureza do sistema de
comunicação, portanto, é vital para a Ciência, situando-se virtualmente no âmago do ‘método científico’ ”.
16
Nesta dissertação entende-se por ‘ciclo do conhecimento’ todos os processos compreendidos entre a criação a
internalização do conhecimento por outros indivíduos.
17
Estudos e pesquisas feitas por um cientista devem ser submetidos aos seus pares para que haja consenso sobre ele, pois o
objetivo da ciência não é somente acumular conhecimento, mas sim atingir um consenso no julgamento racional sobre o
maior número de áreas possíveis. Mueller (2000).
121
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18 Sobre a questão das transformações ocorridas no processo de comunicação científica com a introdução de
novas tecnologias ver Crawford, Hurd, Weller (1996).
19 Ver principalmente Crane (1972).
122
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p.321), o relevante não é saber se gerentes, por exemplo, utilizam ou não a comunicação, pois
esta é inerente à organização. A questão fundamental é saber se os gerentes se comunicam
bem ou mal.
Gestão do conhecimento
124
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contexto possui características culturais próprias que o difere de outros contextos. Essas
características culturais estão relacionadas a valores, pressupostos e crenças são partilhados
entre os indivíduos que vivem no ambiente e são reafirmados cotidianamente, pois estão
embrenhados em suas atividades e relações sociais. A cultura e o contexto da ciência e do
conhecimento científico moldam as dinâmicas das interações dentro das comunidades, sejam
elas científicas ou acadêmicas, e legitimam comportamentos, práticas e processos. Assim,
tanto os processos relacionados à criação do conhecimento científico, quanto os processos de
comunicação do conhecimento científico, por exemplo, são moldados e adequados a cultura
proveniente do ambiente científico. Sobre essa questão, Meadows (1999, p. 245) destaca que
os pesquisadores trabalham, muitas vezes de modo inconsciente, com base nas práticas
instituídas da comunidade científica, estas são determinadas por sua história e suas normas
sociais. Por esta razão, a gestão do conhecimento proveniente do contexto científico deve
levar em consideração as características culturais próprias desse ambiente.
No contexto da ciência, os pressupostos científicos, bem como aspectos da visão
metorniana da ciência, as concepções do campo científico de Bourdieu e aspectos do novo
modo de produção do conhecimento de Gibbons, contribuem para a formação de uma cultura
científica. Essa cultura científica, no nível das instituições acadêmicas, como por exemplo, as
universidades, certamente é refletida na cultura da organização. Assim, por cultura
organizacional, entende-se, a partir do conceito de Schein (2001, p. 10) o padrão de
pressupostos básicos partilhados aprendidos por um grupo à medida que foi capaz de
solucionar seus problemas, que têm funcionado bem o suficiente para serem considerados
como válidos e, por essa razão, ensinados aos novos membros como sendo o modo correto de
perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas. Isso significa dizer, em outras
palavras, que a cultura organizacional de uma universidade reflete aspectos de uma cultura
científica - que são partilhados entre os membros das comunidades científicas - uma vez que
está inserida em um sistema científico maior. Essa cultura científica/organizacional regula as
interações, influencia a percepção, e forma os valores próprios de uma instituição acadêmica.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
COMUNIDADE ACADÊMICA
GESTÃO DO CONHECIMENTO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
GESTÃO DO
CONHECIMENTO
CIENTÍFICO
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
COMUNIDADES CIENTÍFICAS
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Nesse sentido, a ciência da informação, tal como uma ciência social, emprega uma
variedade de métodos de pesquisa, cada um apropriado a determinados tipos de problemas. O
tipo de problema, por seu turno, apontará para uma abordagem quantitativa ou qualitativa, ou
ainda a utilização concomitante das duas abordagens. O foco, os objetivos e o referencial
teórico desta dissertação apontam para uma abordagem metodológica essencialmente
qualitativa, pois fundamenta-se na interpretação da literatura e da percepção dos sujeitos para
formulação teórica a que se propôs.
Demo (1988, p. 23) distingue, de forma genérica, quatro tipos básicos de pesquisa
científica, dentre estes está a pesquisa teórica. A pesquisa teórica volta-se para a formulação e
o esclarecimento de quadros teóricos de referência, os quais podem ser entendidos como os
contextos essenciais para o pesquisador movimentar-se. Desta forma, o autor descreve
procedimentos fundamentais para a construção de quadros teóricos de referência, o primeiro
diz respeito ao domínio dos clássicos de uma determinada disciplina, onde a literatura carrega
consigo a acumulação já feita de conhecimento, os conflitos de correntes de pensamentos, a
cristalização de certas práticas de investigação, o ambiente atual da discussão em torno do
assunto e outros. O segundo procedimento é o domínio da literatura fundamental, por meio da
qual toma-se conhecimento da produção existente, estimulando a criatividade do pesquisador
o diálogo crítico. O terceiro procedimento é o vigor crítico, por meio do qual instala-se a
discussão aberta como o meio para o crescimento científico. Portanto, dado o seu objetivo, a
proposta de investigação que ora é apresentada constitui-se em uma pesquisa teórica por
buscar delineamento de um quadro teórico de referência, uma vez que propõe desenvolver um
modelo teórico que represente a relação entre duas abordagens distintas (gestão do
conhecimento e comunicação científica) as quais, juntas, suportarão, em termos teóricos e
conceituais, o que se denomina nesta dissertação de gestão do conhecimento científico.
As buscas realizadas nas principais bases de dados mostraram uma significativa
ausência de pesquisas ou reflexões que tenham contemplado a abordagem que se pretende
desenvolver. Portanto, o problema em questão carece de pressupostos teóricos, e, logo, o
esforço empreendido relaciona-se principalmente com a proposição de fundamentos teóricos
que sustentem a abordagem em construção. Nesse sentido, a intenção é elaborar e obter
conhecimentos que permitam a estruturação de pressupostos teóricos que subsidiem a
realização de estudos futuros sobre gestão do conhecimento científico. Desta maneira, a
natureza do estudo aponta para uma pesquisa exploratória.
Pesquisas exploratórias, de uma maneira geral, pretendem expor, criar ou aperfeiçoar
conceitos e idéias sobre um determinado fenômeno. Assim, tais estudos buscam elucidar
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Ginzburg, embora o paradigma venha sendo amplamente utilizado, até agora não recebeu a
devida atenção (GINZBURG, 1989, p. 89).
O modelo epistemológico do que Ginzburg chamou de paradigma indiciário tem raízes
por demais antigas, que remeteriam à própria evolução da humanidade20. É baseado em um
saber do ‘tipo venatório’, que se caracteriza pela capacidade de, a partir de dados
aparentemente negligenciáveis, reconstruir ou descrever uma realidade complexa que não
seria experimentável cientificamente (GINZBURG, 1989, p. 152).
Os argumentos de Ginzburg revelam a importância das minúcias ou pormenores que
são desprezados na investigação de fenômenos, pois, segundo o autor, quanto mais os traços
individuais são considerados pertinentes tanto mais se esvai a possibilidade de um
conhecimento científico rigoroso. Ao longo de seu texto, o autor descreve o modelo como um
procedimento conjectural que se baseia na interpretação de pistas e sintomas. Com base
em muitos outros autores, Ginzburg mostra como o paradigma indiciário vem sendo utilizado
ao longo da história da humanidade. Porém, “esse paradigma permaneceu implícito,
esmagado pelo prestigioso (e socialmente mais elevado) modelo de conhecimento elaborado
por Platão” (GINZBURG, 1989, p. 155)21.
Contrapondo-se ao modelo no qual se fundamenta a ciência moderna, Ginzburg põe
em relevo a unidade, o individual, uma vez que a ciência moderna se opõe ao estudo dos
fenômenos singulares, tendo estes como empecilhos para um conhecimento científico
rigoroso. Segundo Góes (2000), o ponto principal do paradigma de Ginzburg é a superposição
do singular, pois as formas de saber mais assumidas implicam uma atitude orientada para
casos individuais. Estes, por sua vez, devem ser reconstruídos, compreendidos por meio de
sinais, signos, pistas ou indícios. Embora ressalte o particular, o paradigma indiciário não
renega a totalidade, pois o fim desse modelo epistemológico é a interconexão de fenômenos e
não o indício no seu significado como conhecimento isolado (GÓES, 2000). Segundo
Ginzburg (1989) “se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas - sinais, indícios que
permitem decifrá-la”. O paradigma indiciário se firma nos pormenores - fundamentais no
20
“Por milênios o homem foi caçador. [...] Aprendeu a farejar, registrar, interpretar e classificar pistas infinitesimais como
fios de barba. Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou
numa clareira cheia de ciladas. Gerações e gerações de caçadores enriqueceram e transmitiram esse patrimônio
cognoscitivo...” (Ginzburg, 1989, p.151)
21
“[...] como é óbvio, a cesura decisiva nesse sentido é constituída pelo aparecimento de um paradigma científico centrado na
física galileana, mas que se revelou mais duradouro que ela. Ainda que a física moderna não se possa definir como
‘galileana’, o significado epistemológico de Galileu para a ciência em geral permaneceu intacto. Ora, é claro que o grupo de
disciplinas que chamamos indiciárias (incluída a medicina) não entra absolutamente nos critérios de cientificidade deduzíveis
do paradigma galileano. Trata-se, de fato, de disciplinas eminentemente qualitativas, que têm por objeto casos, situações,
documentos individuais, enquanto individuais [...]” (GINZBURG, 1989, p. 156)
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22
“Torna-se necessário [...] o estabelecimento de um rigor metodológico diferenciado daquele instaurado pelas metodologias
experimentais, uma vez que o olhar do pesquisador está voltado, neste paradigma, para a singularidade dos dados. No interior
desse ‘rigor flexível’ (tal como o denomina em Ginzburg) entram em jogo outros elementos, como a intuição do investigador
na observação do singular, do idiossincrático, bem como sua capacidade de, com base no caráter iluminador desses dados
singulares - tal como expõe o paradigma indiciário - formular hipóteses explicativas interessantes para aspectos da realidade
que não foram captados diretamente, mas, sobretudo, são recuperados através dos sintomas, de indícios” Quartarolla (1994
apud DUARTE, 1998, p. 41).
23
Harrowitz (1991, p. 204) une a perspectiva do paradigma indiciário ao raciocínio abdutivo ao afirmar que “a importância
do modelo conjectural não se encontra na noção de leitura de signos codificados tais como os impressos, mas principalmente,
no fato de os sistemas debatidos por Ginzburg serem desenvolvidos e investidos de sentido através de um processo que muito
se assemelha à abdução. As regras foram postuladas para explicar os fatos observados até que se pudesse uma causalidade,
testar uma hipótese. Como na abdução, é preciso um reconhecimento cultural ou experencial para codificar um sistema. A
abdução é, literalmente, a base necessária que antecede a codificação de um signo. Como diz Peirce, a abdução cria uma nova
idéia [...]”.
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Selltiz et al (1975, p.70) sugerem, como técnicas de coleta de dados para estudos
exploratórios, dentre outras, o exame de registros de conhecimentos existentes e a entrevista
não estruturada. A partir dessas recomendações, e, partindo de uma abordagem
essencialmente qualitativa, cada objetivo deste estudo necessitou de métodos e técnicas
adequadas, como descrito no quadro 8.
Os objetivos deste estudo foram alcançados por meio da convergência de duas linhas
de ação. A primeira diz respeito à construção teórica realizada com base na literatura e na
reflexão do autor, presente também ao longo dos capítulos. A segunda se constitui de
entrevistas realizadas com os atores que estão diretamente relacionados ao problema,
definidos logo a seguir.
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A análise da literatura publicada permitiu o alcance de três dos quatro objetivos deste
estudo. Certamente isso ocorreu devido à natureza teórica e ao caráter exploratório da
investigação, onde a aproximação com o tema pouco explorado requer, quase sempre, a
prospecção de fontes que possam servir ao pesquisador como indícios que o auxiliem
explicitar a nova temática.
Adicionalmente, foi utilizado método de levantamento, por meio da técnica de
entrevista, o intuito foi obter indícios e percepções relevantes fornecidas por pesquisadores e
acerca da relação entre conhecimento científico tácito e explícito, a sua criação e transferência
no âmbito de uma instituição acadêmica, a saber, uma universidade. Inicialmente o
levantamento foi planejado para subsidiar a realização do segundo objetivo, porém, a
contribuição dos dados coletados por meios das entrevistas pôde ser extrapolada, devido à sua
abrangência e qualidade, para a fundamentar a construção do modelo conceitual de gestão do
conhecimento científico proposto.
Portanto, o estudo é constituído de reflexões e construções teóricas realizadas com
base na investigação qualitativa voltada para o exame extensivo e crítico da literatura
relacionada aos tópicos do estudo. Constitui-se, igualmente, de dados coletados via entrevistas
realizadas com os principais atores do sistema de produção e comunicação do conhecimento
científico: os docentes pesquisadores.
24
Eventualmente, após o período de buscas foram incluídos textos publicados a posteriori. A decisão de incluir ou não um
determinado texto foi baseada na sua relevância para a pesquisa.
* Acessados por meio do Portal de Periódicos da Capes (www.periodicos.capes.gov.br)
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recomendadas por Poland (1995) que foram seguidas, com adaptações, para a garantia da
qualidade do registro das entrevistas foram:
• Equipamento: as baterias foram verificadas antes do início das entrevistas; baterias extras
no caso de imprevisto; a memória do gravador digital foi certificada como suficiente
muito tempo de entrevista.
• Antes das entrevistas: o local de trabalho dos pesquisadores foi escolhido como local
apropriado; o gravador foi posto próximo ao entrevistado e sobre a mesa; o gravador foi
checado antes do início.
• Durante as entrevistas: o entrevistador de maneira clara e pausada; um teste foi feito com
cada entrevista no início da entrevista, para a garantia de que o gravador estivesse
funcionando corretamente e que tanto os entrevistado quanto o entrevistador estivessem
ouvindo bem.
• Depois das entrevistas: os arquivos digitais foram nomeados com o nome do entrevistado
e a sua área do conhecimento e copiado para a memória do computador; o gravador foi
formatado para eliminar possibilidade de erro durante uma nova entrevista.
Recomendações seguidas por Costa (1999, p. 133) foram adotadas durante as
entrevistas:
• Seguir o roteiro da entrevista de maneira informal;
• Conduzir a entrevista em uma atmosfera relaxada;
• Fazer as perguntas nos mesmos termos como feitas no roteiro;
• As perguntas foram feitas aos entrevistados sempre nos mesmos termos do roteiro;
• Questões que não ficaram claras ou foram mal entendidas foram repetidas e esclarecidas.
As entrevistas foram pré-testadas em 3 pesquisadores (física, geociências e educação)
que não constituem o total do universo selecionado para a análise. O objetivo foi verificar a
consistência do instrumento de coleta de dados, verificar o entendimento das questões por
parte do entrevistado e realizar pequenos ajustes no roteiro. O único ajuste feito foi a
eliminação de uma questão percebida como redundante após a verificação das respostas dadas
pelos entrevistados selecionados para o pré-teste.
As entrevistas duraram em média 25 minutos. Kvale (1996) sugere, para análise de
dados coletados em entrevistas, a técnica de condensação. Resumidamente, a técnica implica
em uma abreviação das idéias expressas pelos entrevistados em formulações mais curtas.
Enunciados longos são condensados em sentenças mais curtas nas quais a essência e o sentido
principal do que foi dito são mantidos, porém reformulados em poucas palavras. O objetivo
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CAPÍTULO 6
6.1 - Introdução
A análise da literatura realizada ao longo dos capítulos anteriores bem como a análise
das entrevistas, permitiu identificar indícios que subsidiaram a construção dos resultados
apresentados nesta seção. Em um primeiro momento, a construção teórica realizada a partir da
análise da literatura, permitiu apresentar, como resultado, o delineamento de uma
sistematização genérica dos elementos necessários para o norteamento de estudos sobre
gestão do conhecimento, tendo como base a associação da perspectiva da gestão do
conhecimento à perspectiva dos processos de comunicação. Em seguida, os elementos do
processo de comunicação científica e suas relações com a gestão do conhecimento nesse
ambiente são discutidos. Logo mais, são analisados e discutidos os dados obtidos por meio de
entrevistas com pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento de uma universidade
sobre a percepção acerca do relacionamento entre conhecimento científico tácito e explícito.
Por fim, a gestão do conhecimento científico é discutida, apresentando o modelo conceitual
que a representa, destacando os principais conceitos, elementos e os seus relacionamentos.
25
“Studies have shown that tacit knowledge [what we know but not yet ‘captured’ in script - or database-format] is still best
transferred during…communication. It’s estimated that 50% to 95% of transferred knowledge…occurs during oral
communication”.
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GESTÃO DO CONHECIMENTO
COMUNICAÇÃO CONTEXTO OU
CULTURA
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Especificamente atendendo ao objetivo de associar os princípios da gestão do conhecimento à perspectiva dos processos de
comunicação, e mais especificamente à comunicação científica.
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Como pode ser observado no modelo, dois elementos podem ser considerados como
estruturais de qualquer sistema de gestão do conhecimento: os processos de comunicação e o
contexto e a cultura da organização. Pouco se tem dito a respeito da comunicação, do ponto
de vista de seus processos, como um elemento da gestão do conhecimento. Muito embora a
questão da comunicação seja ressaltada como importante no âmbito da gestão do
conhecimento, especialmente a comunicação organizacional, parecem ser raras as iniciativas
de gestão do conhecimento que, de fato, levam em consideração os processos de
comunicação, e não somente as tecnologias, como uma camada essencial de um projeto de
gestão do conhecimento.
Ao considerar a comunicação sob o aspecto das tecnologias, o discurso da gestão do
conhecimento torna-se reducionista. De outro modo, a comunicação deve ser vista como um
elemento de forte influência no desempenho das atividades organizacionais, sobretudo na
gestão do conhecimento, uma vez que é responsável pelo compartilhamento do conhecimento,
da aprendizagem e pela difusão da cultura da organização.
Como se pode observar, ao se discutir a gestão do conhecimento e o processo de
comunicação propriamente dito, é inevitável inserir no debate o contexto e a cultura do
ambiente no qual a comunicação está sendo estudada. A cultura é entendida, nesse caso, na
perspectiva de Schein (2001) como um
De fato, a análise da literatura permitiu tecer argumentos para sugerir que, seja no
contexto das organizações empresariais ou no ambiente acadêmico, é possível perceber uma
estreita relação entre os processos de gestão do conhecimento, os processos de comunicação e
a cultura do meio. Parece haver, portanto, uma complementaridade indissociável entre seus
elementos e dinâmicas.
O primeiro argumento é que todos os fluxos de informação e conhecimento de uma
determinada organização efetivam-se mediante um sistema de comunicação subjacente, o qual
influencia e é influenciado pela cultura da organização. O segundo argumento é que a cultura
e a comunicação, por sua vez, contribuem para criação das condições necessárias para a
implementação da gestão do conhecimento. O terceiro argumento, por seu turno, diz respeito
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ao fato de que a cultura influencia os processos de comunicação, uma vez que determina
hábitos, valores, normas, condutas e outos fatores. Estes, por sua vez, influenciam os
processos comunicacionais. Logo, os meios utilizados, o momento adequado, a intensidade e
a forma como os indivíduos se comunicam são legitimados a partir da cultura e do contexto
onde elas atuam.
Por outo lado, a comunicação influencia a cultura da organização, pois ela é
responsável pela disseminação de valores, crenças e pressupostos, os quais permitem o
questionamento, reavaliação e o estabelecimento dos comportamentos a serem seguidos.
Miller (2006) parece concordar com isso ao afirmar que a cultura organizacional é
socialmente criada por meio da interação entre os membros de uma organização, e acrescenta,
com base em outros autores, que o estudo da cultura organizacional devem estar direcionados
para a comunicação, processo por meio do qual a cultura é criada. Segundo a autora, a cultura
organizacional é criada e mantida por meio de interações comunicativas entre os membros da
organização. Os argumentos de Alves (1997) estão de acordo com as considerações de Miller,
pois ressaltam a relevância da comunicação como um elemento de disseminação da cultura na
organização. Alves afirma que a cultura é um conjunto complexo de crenças, valores,
símbolos, artefatos, conhecimentos e normas, que são disseminados na organização pelos
sistemas de comunicação. A comunicação, nesse sentido, é considerada um veículo da
construção da cultura organizacional.
Portanto, como sugere o modelo representado na figura 31, numa relação mútua de
influência, o contexto e a cultura, e os processos de comunicação são responsáveis pela
criação de condições necessárias para a realização dos processos de gestão do conhecimento.
Isso se dá pois, primeiro, a comunicação viabiliza a criação de novos conhecimentos, uma vez
que nenhum processo de criação parte do nada, mas sim daquilo que já foi criado
anteriormente, requerendo, portanto, o compartilhamento de idéias, conhecimentos e
informações. Para se ter acesso ao conhecimento existente (tanto tácito quanto explícito) é
necessário um processo de comunicação, tanto no que diz respeito a sistemas humanos de
informação quanto a sistemas de informação artificiais. Segundo, a adoção de novos modelos
de gestão, tal como a gestão do conhecimento, é dependente de um processo de reavaliação da
cultura organizacional. Ou seja, os valores, normas, pressupostos e crenças arraigados nas
práticas organizacionais devem estar de acordo ou adequadas ao novo modelo. Assim, a
cultura é responsável pela criação de um ambiente favorável ao conhecimento, um ambiente
em que seja valorizado o conhecimento e seu compartilhamento. Davenport e Prusak (1999,
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p.184) afirmam que uma cultura amiga do conhecimento é formada por uma série de
componentes diferentes, dentre eles:
• Uma orientação positiva em relação ao conhecimento: os membros da organização são
inteligentes, possuem curiosidade intelectual e estão à vontade para explorar essas
condições. Suas atividades de criação de conhecimento contam com a credibilidade de
seus superiores;
• A ausência de inibidores do conhecimento na cultura: os indivíduos não devem ter
ressentimentos em relação à organização nem tão pouco temer que o compartilhamento de
seu conhecimento possa lhe prejudicar;
• O tipo de iniciativa de gestão do conhecimento deve estar de acordo com a cultura.
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conhecimento é criado por meio de diálogo. Isto é, segundo Theunissen, comunicação entre
dois pontos de vista.
Smoliar (2003) por seu turno, apresenta argumentos os quais, do mesmo modo, dão
respaldo à construção teórica feita. O autor argumenta que há a necessidade de mudança do
termo gestão do conhecimento para gestão da interação, uma vez que o conhecimento é criado
por meio da interação social, e não somente a partir de trocas de informação. Dessa maneira,
tornam-se imprescindíveis processos de comunicação efetivos. O autor afirma que a gestão do
conhecimento tem sido gradualmente assimilada nos ambientes de trabalho, embora sua
perspectiva tenda a ser limitada a modelos simplistas de trocas de informação. Smoliar
ressalta ainda que, no contexto das organizações empresariais, a agitação em favor do
conhecimento foi útil em seus esforços para reviver nossa consciência do significado da
comunicação organizacional.
A construção teórica de Kuhlen (2003) fundamenta o pressuposto deste estudo, e os
relacionamentos construídos acima entre: i) processos de comunicação, ii) contexto e cultura
do ambiente e iii) gestão do conhecimento. O autor discute duas abordagens para a gestão do
conhecimento: o Knowledge Warehouse Paradigm e Communicative Paradigm. O
Knowledge Warehouse Paradigm27 estaria relacionado às abordagens de gestão do
conhecimento que não levam em consideração os processos de comunicação. Assim,
frequentemente o conhecimento é coletado; o tácito é transformado em explícito ao ser
representado e estruturado; é armazenado em bases de dados ou de conhecimento; é
disponibilizado por meio de linguagens tradicionais de recuperação ou ainda por meio de
técnicas de mineração de dados. Por fim, o conhecimento é apresentado de maneira amigável
a adaptável às necessidades de diferentes usuários, graças às flexíveis e sofisticadas formas de
visualização.
No entanto, como sugere Kuhlen, um dos problemas da abordagem do Knowledge
Warehouse Paradigm é que o conhecimento é recuperado fora do seu contexto de produção.
Segundo ele, a criação do conhecimento dá-se sob circunstâncias específicas, tal como os
resultados de um experimento específico, como uma generalização de dados empíricos, com
aplicações específicas ou tendo em mente objetivos específicos. Dessa maneira, as
circunstâncias específicas, os fatores ambientais que condicionaram, o contexto ou cultura do
ambiente no qual o conhecimento é produzido não podem ser mantidos quando o
conhecimento é representado em um sistema de processamento eletrônico de informação, pelo
27
Kuhlen menciona os modelos Nonaka e Takeuchi (1997), Wiig (1999) e Probst, Raub e Romhardt (2002) como
representantes do Knowledge Warehouse Paradigm.
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menos não de forma adequada. O ideal seria que houvesse a criação de condições que
possibilitassem a junção de recursos tangíveis de conhecimento a especialistas, pois estes
podem relacionar fragmentos de conhecimento existentes a novos contextos e novos
problemas. Essa seria, em suas palavras, a mudança comunicativa (KUHLEN, 2003).
Obviamente que, como afirma Theunissen (2004), a visão do conhecimento socialmente
construído reflete os fundamentos do processo de comunicação.
Kuhlen (2003) afirma que com o advento das tecnologias de comunicação em grande
escala é possível observar uma mudança de paradigma, de uma visão mais estática da
produção, disseminação e uso do conhecimento e da informação, para uma visão dinâmica e
colaborativa desses processos, principalmente no que diz respeito à geração e troca do
conhecimento. Esta nova visão o autor denomina de paradigma comunicativo da gestão do
conhecimento.
Na abordagem do Paradigma Comunicativo, além de ser levado em consideração o
uso das fontes de informação existentes, são enfatizados os efeitos da combinação de
indivíduos com diferentes backgrounds e diferentes níveis de expertise, além da manutenção
do contexto ou da re-contextualização do conhecimento que é compartilhado. A interação
social entre indivíduos, a experiência compartilhada e as trocas de conhecimento são tão
importantes quanto os próprios estoques de conhecimento. Esse seria o entendimento
essencial do paradigma comunicativo, que tem nas tecnologias de comunicação,
especialmente as tecnologias de comunicação eletrônica informal (fóruns eletrônicos,
comunidades virtuais e outros) uma forte aliada.
A gestão do conhecimento que é tratada neste estudo está inserida no contexto do
Paradigma Comunicativo. Isso porque considera tanto as atividades que culminam nos
estoques de conhecimento, quanto os processos de comunicação que permitem as trocas
informais de experiência, idéias e habilidades.
É possível concluir, portanto, que, em qualquer contexto os processos de comunicação
influenciarão e serão influenciados pelo contexto e cultura do ambiente. Estes, por sua vez,
como se pode observar, são elementos que exercem influência direta sobre as ações de gestão
do conhecimento. Especificamente, este modelo pode ser aplicado ao contexto do
conhecimento científico, como tratado na próxima seção.
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ambiente de produção do
As tecnologias de comunicação, conhecimento científico prevê
CONHECIMENTO
Figura 32: Modelo que ilustra as relações entre comunicação científica, cultura científica
e gestão do conhecimento científico.
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28
Associar os princípios da gestão do conhecimento à perspectiva dos processos de comunicação, e mais especificamente à
comunicação científica.
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da literatura, principalmente o estudo realizado por Stollenwerk (2001), que sintetiza de modo
interessante a maioria dos modelos encontrados na literatura, são úteis para sugerir que
identificação, captura ou aquisição, validação, organização e armazengem,
compartilhamento/disseminação e criação do conhecimento constituem os processos básicos
para a gestão do conhecimento.
O pressuposto de que a gestão do conhecimento não é viabilizada sem que processos
de comunicação efetivos ocorram pode se apoiar na sugestão de que a gestão do
conhecimento científico, no contexto acadêmico, está intimamente ligada aos processos de
comunicação científica. Como resultados, e fundamentadas i) na descrição das funções ou
processos de comunicação científica e dos processos básicos de gestão do conhecimento
realizada na análise da literatura, e ii) nas reflexões construídas ao longo do trabalho é
possível apontar similaridades entre as duas abordagens, conforme o quadro 9.
IDENTIFICAÇÃO
CAPTURA /AQUISIÇÃO
VALIDAÇÃO
Atividade com o fim de filtrar o conhecimento, avaliar sua No que diz respeito ao sistema de comunicação formal, por meio
qualidade, confiabilidade, sintetizá-lo para fins de aplicação em do sistema de avaliação pelos pares e pelo processo editorial, o
um outro momento. conhecimento é avaliado e validado. Da mesma forma, em
relação aos meios informais de comunicação, os pesquisadores
carregam consigo o receio de tornar público um determinado
conhecimento que não esteja minimanete fundamentado em
argumentos sólidos da literatura ou da percepção proveniente da
experiência. Portanto, o próprio sistema científico se encarrega,
naturalmente, em manter padrões de qualidade e confiabilidade ao
conhecimento científico produzido e compartilhado.
29
A descrição de cada conceito foi retirada dos seguintes autores: Probst et al (2002), Despres e Chauvel (1999), Wiig (2002)
e Stollenwerk (2001)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
ORGANIZAÇÃO/ARMAZENAGEM
Tem por objetivo a garantia da recuperação rápida, fácil e correta As bibliotecas são as principais instâncias onde os registros do
do conhecimento por meio de sistemas efetivos. As etapas desse conhecimento científico são organizados e armazenados. Com o
processo compreendem a classificação do conhecimento desenvolvimento e aplicação de tecnologias de comunicação
validado; definição da arquitetura de tecnologias a serem alternativas como os repositórios institucionais, repositórios
utilizadas; criação e gerenciamento de bancos de dados, temáticos, periódicos científicos eletrônicos, todos baseados no
informações e conhecimentos. Indivíduos e organizações estocam OAI-PMH, que permitem maior efetividade na organização,
informação em sistemas de memória de vários tipos, como no armazenagem e compartilhamento da informação.
cérebro, em discos rígidos, arquivos, bibliotecas e armazém de
dados.
COMPARTILHAMENTO/DISSEMINAÇÃO
Pressuposto básico e primordial para a transformação de O conhecimento científico é compartilhado pelos meios de
informações e experiências isoladas em algo que toda a comunicação formais e informais. O sistema de comunicação
organização possa utilizar. Diz respeito ao processo de formal veicula os registros do conhecimento por meio de livros,
compartilhamento e disseminação do conhecimento que já está na periódicos científicos, relatórios de pesquisa, anais de
organização. Compreende questões importantes em todo o conferências, teses, dissertações e outros. Esses meios lidam
processo tais como distribuição do conhecimento de forma especialmente com o conhecimento científico explícito, e
seletiva, ao maior número de usuários possível, em tempo hábil e possuem um público amplo, tanto da instituição quanto da
local apropriado. A utilização de tecnologias se dá com maior comunidade científica. Estão nesse contexto os serviços de
intensidade nesse processo. informação, bibliotecas, serviços de disseminação seletiva,
bibliotecas digitais, e outros. O sistema de comunicação informal
compartilha também conhecimento explícito, porém lida com
mais eficiência com o conhecimento científico tácito. O
conhecimento nesse caso é compartilhado por meio das atividades
de ensino, tanto em nível de graduação quanto pós-graduação,
reuniões de grupos de pesquisa, reuniões de orientação de alunos
de doutorado, mestrado e iniciação científica, conferências,
seminários, contatos pessoais na própria instituição, contatos
informais com membros da mesma comunidade científica,
interação nos colégios invisívies, grupos de discussão, ambientes
de aprendizagem não presencial e outros.
CRIAÇÃO
Relacionado a criação de novas habilidades, novos produtos, O processo de criação do conhecimento científico dá-se por meio
idéias melhores e processos mais eficientes. Inclui esforços da realização de pesquisas científicas, garalmente realizadas em
propositados para criar capacidades as quais ainda não se grupos de pesquisa. Além disso, o conhecimento é criado também
encontram presentes na organização. O conhecimento é por meio da formação de pesquisadores em nível de pós-
desenvolvido por meio da aprendizagem, inovação, criatividade e graduação. Nesse sentido, os programas de pós-graduação
da importação de conhecimento do ambiente externo à constituem a principal fonte de criação do conhecimento,
organização. Este processo envolve as seguintes dimensões: a capacidades, competências e habilidades relacioandas à ciência.
aprendizagem, externalização, lições aprendidas, criatividade,
pesquisa, experimentação, descoberta e inovação.
Por outro lado, no que diz respeito à criação do conhecimento científico, é possível
também observar que os processos de comunicação científica permitem a realização dos
modos de conversão de Nonaka e Takeuchi (1997). Sabe-se, porém, que a teoria dos modos
de conversão está relacionada à perspectiva da criação do conhecimento organizacional.
Contudo, respeitando suas especificidades, é possível extrapolar a contribuição e descrever os
seus processos no contexto da criação do conhecimento científico com base em processos de
comunicação científica. Desse modo, a análise da literatura sobre processos de comunicação
científica e gestão do conhecimento permitiu identificar indícios de que os modos de
conversão, socialização, externalização, combinação e internalização, no contexto e na
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
SOCIALIZAÇÃO
Transformação do conhecimento tácito em conhecimento tácito Os canais de comunicação científica informais proporcionam os
meios para que parte do conhecimento científico tácito de um
determinado pesquisador seja comunicado e transformado em
conhecimento científico tácito de outro pesquisador. As
comunidades científicas, por meio da interação social entre
pesquisadores nos colégios invisíveis, são um dos meios para que
isso ocorra. O intercâmbio de pesquisadores de diferentes
instituições, contatos informais em congressos, seminários
costumam veicular támbém conhecimento tácito. As atividades
científicas como reunião de grupos de pesquisa, reunião de
orientação de alunos, ensino e vivência em laboratórios costumam
ser meios privilegiados de compartilhamento do conhecimento
científico tácito.
EXTERNALIZAÇÃO
Transformação do conhecimento tácito em conhecimento As publicações científicas (artigos, pré-printes, livros, teses,
explícito dissertações, trabalhos de congressos, textos para discussão,
relatórios de pesquisa e outros) são resultado da externalização da
experiência adquirida, das habilidades e do conhecimento
desenvolvido e adquirido durante as atividades científicas do
pesquisador. Ou seja, o pesquisador isola parte de sua estrutura
cognitiva e o transforma em uma estrutura comunicável - em
conhecimento explícito. Esse conhecimento explícito, a
informação, é armazenado, recuperado e veiculado
principalmente por meio dos canais formais de comunicação.
INTERNALIZAÇÃO
Transformação do conhecimento explícito em conhecimento tácito Os registros do conhecimento científico, a informação científica,
para existir como tal, necessita ser comunicada. Os meios para
que isso ocorra são estruturados de tal modo que permita sua
organização, armazenagem, recuperação e disseminação. Dessa
forma, as bibliotecas, as biblitoecas digitais, portais, repositórios
e serviços de informação dispõem de meios para que a
informação científica certa, no formato adequado, no momento
certo chegue à pessoa certa. Assim, todo esse sistema funciona
para que um determinado conhecimento científico explícito
comunicado por um pesquisador seja utilizado e internalizado,
para então passar a constituir a estrutura cognitiva de um outro
pesquisador. Esse processo pode ser percebido no estágio de
formulação do problema de pesquisa, no momento em que o
pesquisador busca fontes de informação e analisa a literatura
científica tanto da sua área como de áreas correlatas. Um dos
objetivos desse processo é aprender mais sobre o tópico
específico. Nesse instante há a internalização de conhecimento
científico explícito.
COMBINAÇÃO
Transformação do conhecimento explícito em conhecimento O sistema de comunicação científica formal provê condições para
explícito que um pesquisador tenha acesso à literatura científica que ele
necessita, ou seja, que tenha acesso ao conhecimento científico
explícito. As informações que um determinado pesquisador
acessa serão combinadas, reagrupadas, reorganizadas de forma a
agregar valor e acrescentar ao novo conjunto de informações um
novo conhecimento explícito, gerando um novo conhecimento. É
o que acontece com as revisões de literatura, por exemplo. De
outro modo, as informações coletadas durante a realização de
uma pesquisa podem passar por um rearranjo e serem utilizadas
em outra situação ou pesquisa.
Fonte: Elaboração própria
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
1. Por favor, descreva fatos e processos que contribuíram para que o(a) senhor(a) adquirisse o conhecimento e a
experiência que possui hoje. É possível o(a) senhor(a) enumerá-los em ordem de importância?
2. Gostaria de ouvi-lo(a) falar um pouco sobre com quem, em que circunstâncias, e de que maneira se dá o
compartilhamento do seu conhecimento científico.
3. Se todos os pesquisadores de sua área desaparecessem, de uma só vez, seria possível que futuros pesquisadores
dessem continuidade ao desenvolvimento do conhecimento somente a partir da literatura científica? Por favor,
justifique sua resposta.
4. Por outro lado, caso toda a literatura científica de sua área desaparecesse, de uma só vez, e restasse somente os
pesquisadores experientes, seria possível que novos pesquisadores dessem continuidade ao desenvolvimento do
conhecimento a partir do que eles sabem? Por favor, justifique sua resposta.
5. Quais são, segundo seu ponto de vista, as dificuldades que um pesquisador em início de carreira enfrentaria se
tivesse como referência somente a literatura científica da área?
6. Ficaria grato se o(a) senhor(a) pudesse falar um pouco sobre se considera possível ou não expor em uma
publicação científica todo o conhecimento e a experiência que criou e adquiriu durante uma pesquisa.
7. Gostaria que o(a) senhor(a) falasse a respeito de coisas que faz ou fala, e que, embora não estejam ou não sejam
possíveis de ser publicadas formalmente, são importantes durante orientações, reuniões de grupos de pesquisa,
aulas, palestras ou outras atividades que realiza.
8. De acordo com sua percepção, gostaria que o(a) senhor(a) falasse do papel que, tanto os registros formais do
conhecimento (literatura) quanto o conhecimento compartilhado informalmente, exercem no desenvolvimento de
suas atividades como pesquisador e/ou professor.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
9. Como o(a) senhor(a) percebe o papel da organização ao qual o(a) senhor(a) está vinculado(a) exerce ou deveria
exercer nos processos de criação e compartilhamento do conhecimento científico?
10. O que uma tecnologia de informação disponível em sua instituição necessitaria oferecer para que o(a) senhor(a)
pudesse utilizar e compartilhar o máximo de conhecimento científico possível?
O texto a seguir destaca e ilustra, por meio de citações das entrevistas, os principais
aspectos abordados pelos entrevistados a respeito da aquisição de conhecimento e
experiência.
A formação
Dentre os processos que mais contribuíram para a aquisição do conhecimento
individual e da experiência, segundo a percepção dos pesquisadores entrevistados, estão
aqueles relacionados principalmente com aspectos da formação (graduação, mestrado e
doutorado). Todos os entrevistados destacaram a formação como um processo importante
para a aquisição de conhecimento. Na graduação iniciam-se os primeiros processos de
aquisição de conhecimento do pesquisador em uma determinada área do conhecimento pelo
contato inicial com teorias, fundamentos e a assimilação dos paradigmas. Relatos de
entrevistados atribuem à pesquisa durante a graduação a influência na aquisição de
conhecimento e experiência.
30
A edição consistiu na supressão de repetições de palavras ou frases e correção gramatical.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“É a tradição oral da minha área: conversar com pessoas, orientadores e pesquisadores mais
experientes, além da formação. É fundamental para um jovem pesquisador ter acesso a pessoas mais
experientes e conversa., É uma das coisas mais fundamentais. É fundamental a presença de pessoas
mais experientes que possam, principalmente quando você é estudante, te orientar. Isso é um fator
fundamental”. (Físico)
Como se pode notar nas citações, a percepção dos entrevistados está em acordo com
resultados obtidos por Oliveira (1998). Uma das conclusões da autora foi ter identificado, em
entrevistas realizadas com pesquisadores de um laboratório, que a habilidade de saber
distinguir o que é e o que não é relevante na literatura, como solução para lidar com a enorme
quantidade de informações publicadas, é difícil de ser ensinada. Porém, o aprendiz adquire
essa habilidade por meio da experiência, ao longo do tempo, sob orientação de cientistas
experientes. Oliveira afirma que a relevância é uma das habilidades principais que o cientista
utiliza para não se afogar no mar de dados que o circundam. É uma habilidade tácita, difícil de
ser explicada através de palavras, que é aprendida também tacitamente. É através da
experiência, do conhecimento e do tempo que se aprende a detectar relevância.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“Muitas vezes me vi falando certas coisas e descobrindo outras ao mesmo tempo. Ou, a partir de
questões de alunos, tenho idéias para outras coisas”. (Sociólogo 1)
Embora o ensino seja visto como uma atividade formal do ponto de vista do seu
planejamento, é importante destacar que se trata de ser um espaço privilegiado de
compartilhamento do conhecimento. Além disso, constitui também um elemento importante
na sua produção, conforme constatado nas entrevistas. A experiência de um pesquisador está
relacionada ao seu know-how, à sua prática, à perícia com que lida com as situações
problema. De acordo com os elementos ressaltados nos depoimentos, possivelmente um
cientista adquire e transfere conhecimento científico tácito principalmente por meio de
processos informais de comunicação do conhecimento.
Davenport e Prusak (1999, p. 115) consideram que a transferência do conhecimento
tácito, de uma maneira geral, requer intenso contato pessoal. Assim, o relacionamento de
transferência desse tipo de conhecimento pode ser uma parceria, uma relação de orientação ou
uma relação de aprendizado. Segundo os autores, esses tipos de relação tendem a envolver a
transferência de vários tipos de conhecimento, do explícito ao tácito. Como mencionado na
seção 3.2 do capítulo 3, e de acordo com os autores, nem todo o conhecimento comunicado
informalmente será complexo e intuitivo, mas é o conhecimento tácito que não é possível ser
transferido prontamente de qualquer outra forma.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“Primeiro com meus alunos, tento compartilhar a minha vivência. O conhecimento técnico não me
interessa muito. Ele está nos livros e nos artigos. É mais fácil o aluno adquirir. O mais importante é o
conhecimento de como trabalhar esse conhecimento técnico, o metaconhecimento que é passado por
minhas aulas, na minha vivência com os alunos”. (Engenheiro)
“Com meus alunos, a minha atividade docente é extremamente focada na minha atividade de
pesquisa. Ela constitui realmente um vetor de disseminação do conhecimento que eu produzo como
pesquisador”. (Educador 2)
“A vertente professor decorre da vertente pesquisador. Eu entendo que não pode haver uma sem a
outra. Você só pode ensinar aquilo que sabe ou aquilo que descobre. Então, ensinar é um fruto
natural da pesquisa”. (Historiador)
“Certamente quando você leciona você expõe boa parte daquilo que você gostaria de expor, que é
parte de seu conhecimento. Também quando você orienta uma monografia, dissertação ou tese,
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
certamente você encaminha para aquilo que lhe interessa, então você compartilha a sua experiência.
Você aprende no processo também, são pessoas bem dotadas, alunos de qualidade”. (Economista)
“Eu tenho cada vez mais compartilhado com meus colegas e, principalmente com meus estudantes de
pós-graduação”. (Físico)
“Como pesquisador e como professor o primeiro lado é a equipe que é estruturada para ajudar, para
fazer a pesquisa, em geral estudantes que estão no seu tópico”. (Sociólogo 2)
“A discussão com colegas da instituição é constante. Quando alguém já trabalhou com o que eu
estou trabalhando eu busco detalhes que não estão explícitos na literatura. Encontros com outros
colegas, de outras instituições em congressos. O compartilhamento é oral e escrito”. (Químico)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“Grande parte de meu trabalho é compartilhado em eventos, e nos últimos tempos em eventos
internacionais, em colóquios, em encontros com os amigos. Eu vou lá, discuto com o pessoal e vira
uma espécie de grupos de camaradas”. (Economista)
Crane (1972) ressalta que as interações sociais são fundamentais para o crescimento do
conhecimento científico. As instâncias informais de compartilhamento, recorrentemente
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“É que a pesquisa é apresentada pelo seu criador, que pode chamar atenção
para itens de importância ou dificuldade especial de maneira mais útil do
que seria possível com um texto impresso. A vantagem esmagadora,
entretanto, é que as apresentações orais permitem retroalimentação [...] De
fato, a utilidade desse feedback torna-se cada vez mais evidente à medida
que o contato se torna mais informal” (MEADOWS, 1999, p. 136)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Por outro lado, as publicações científicas foram citadas como veículo por meio dos
qual o conhecimento científico é comunicado, contudo, em segundo plano e em menor
intensidade. A razão da menor intensidade talvez seja o fato de parecer óbvio que o
conhecimento científico seja disseminado por meio de artigos e livros principalmente. As
publicações, especialmente o artigos de periódicos e os livros, constituem a camada visível do
sistema de comunicação na ciência. Dentre outras funções, o sistema formal de comunicação
na ciência é responsável pela certificação, registro, armazenamento, preservação, recuperação
e ampla disseminação do registro do conhecimento científico (ROOSENDAAL; GEURTS
1998).
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Goh (2002) afirma que o conhecimento explícito é aquele que é escrito ou registrado
em manuais, patentes, relatórios, documentos e bases de dados pode ser codificado, articulado
e capturado. O autor sugere que esse conhecimento pode ser compartilhado por processos
mais estruturados, como os sistemas de informação ou mecanismos similares.
“Seria possível. No entanto, haveria uma interrupção, pois existe uma tradição oral que é
fundamental, passada de geração para geração. São discussões sobre o que é importante ou não.
Essa tradição seria perdida. Mas seriam reconstruídas, principalmente as que fossem necessárias
para o dia a dia. Porém, levam-se anos apara restaurar isso. Se os pesquisadores desaparecessem, as
coisas voltariam devagar, com muitos problemas, pois a solução pode desaparecer, mas os problemas
continuam.”. (Físico)
“Seria possível, só que com muita dificuldade. Seria o surgimento de uma nova geração sem contato
com a que tinha o conhecimento acumulado. Levaria tempo”. (Químico)
“Sim, porém com dificuldades, pois certas coisas não estão escritas nos trabalhos, é necessário a
vivência do dia a dia”. (Biólogo)
“Uma boa universidade não é feita só por excelentes professores e pesquisadores produtivos. A
transmissão oral, a tradição também é importante. Cambridge e Harvard são boas instituições
também por que eles têm uma tradição oral, passada de geração para geração. Se todos morressem e
nascesse uma geração de pesquisadores sem essa história na cabeça muito seria perdido. Certamente
haveria uma grande perda, e muitas coisas não seriam retomadas”. (Economista)
Em princípio sim. Nós aprendemos o que os gregos pensavam sobre filosofia a partir dos escritos
deles. Seria possível, claro que com muito mais dificuldade. Há o papel do professor como formador,
transmissor de conhecimentos, e também é um motivador e indutor de futuros pesquisadores.
(Sociólogo 2)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“Não. É preciso que haja pessoas para discutir, para trabalhar. Todo trabalho precisa de um mínimo
de interação. É muito difícil, apesar de a literatura ser muito importante, mas é preciso a discussão.
Trabalhar só é muito complicado. Mesmo tendo a literatura, ela se esgota, e é importante para a
produção do conhecimento uma atualização bibliográfica. Se morre todo mundo eu fico com a
bibliografia antiga ou a que eu estou produzindo e isso é muito pouco”. (Sociólogo 1)
“Não. Em área nenhuma, nem na cozinha. A minha experiência com os alunos mostra isso. Eu
trabalho com uma metodologia hermética, com programas de computador. Quando eu comecei, a
gente não sabia nada disso. Então escrevemos uma série de coisas para facilitar a vida dos alunos,
para queimar etapas para eles crescerem. Não funciona, a pessoa tem que viver. O conhecimento pela
leitura é um tipo de conhecimento, mas eu diria que ele é pouco. Que outro conhecimento é esse que
não é passado pela leitura? É de vivenciar, de fazer as coisas. De produzir os bastidores, de produzir o
conhecimento e não só receber”. (Lingüista)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
que é composto por instruções e informações que podem ser formuladas através de palavras e
símbolos, os quais, por sua vez, podem ser transferidos por meio impessoais tais como
documentos escritos e arquivos de computador. Em contraposição, o conhecimento tácito não
pode ser formulado explicitamente, e, muito menos transferido ou armazenado por meios
impessoais, uma vez que é propriedade das pessoas. Por esta razão é transferido
compartilhado por meio da comunicação informal.
Os entrevistados apontaram as principais dificuldades enfrentadas por um
pesquisador novato se tivesse como referência somente a literatura científica para dar
continuidade ao desenvolvimento do conhecimento científico. As dificuldades mencionadas
giram em torno de duas questões principais. A primeira é o fato de haver conhecimentos que
são adquiridos e compartilhados na interação social com outros pesquisadores e não são
compartilhados por meio da literatura. A segunda questão está relacionada ao tempo
necessário para retomar o desenvolvimento do conhecimento.
• Com a literatura você não troca. Nas conversas com colegas, nas aulas, você contrapõe,
interpreta de outra forma, observa outras versões, outras interpretações. A interação com outras
pessoas é mais rica que a interação com um texto. (Sociólogo 1).
• Para você desenvolver processos cognitivos, é necessário você receber feedback de outras
pessoas em situações sociais. (Psicólogo)
• Não ter um orientador traria grandes dificuldades, pois ele possui experiência. Na orientação há
uma troca, o contato humano é muito importante. (Economista)
• A dificuldade seria saber o que pesquisar, pois dentro das comunidades científicas sempre há os
paradigmas. Na minha área não tem como os alunos começarem sozinhos, a relação oral
orientador-aluno é muito forte. Nas ciências da natureza, esse tipo de conversa, diálogo,
discussão é fundamental. A tradição oral tem primeiro o papel de filtro. O aluno sem isso teria
dificuldade de se encontrar em um mundo de coisas. (Físico)
• Existem ‘informações’ que não são explícitas. A dificuldade seria de criar, aprender a fazer
aquilo sem ter essa ‘informação’. Igual o papel professor - estudante: o estudante pega uma
literatura e reproduz, o resultado vai ser diferente quando ele tem um orientador que já trabalhou
com aquele material, pois tem dicas de como contornar dificuldades. Existem conhecimentos que
são compartilhados em determinadas situações e não são compartilhados em publicações? Sim, em
princípio parece uma coisa supérflua. Quando você muda um material, o resultado não se
reproduz sem que você acrescente alguns macetes que você desenvolve ao longo de sua formação
e anos de trabalho. Esse conhecimento é passado através desse contato pessoal. (Químico)
• Nuances da pesquisa, certos detalhes são passados boca a boca, pois nem sempre estão
publicados. É um conhecimento intrínseco de cada laboratório que é passado para os alunos. É
algo que facilita a pesquisa científica. (Biólogo)
• Na sala de aula eu passo informações, passo técnicas, tecnologias, passo conhecimento científico.
Mas como pessoa, ao transmitir esse conhecimento científico eu transmito cultura também. Se o
conhecimento científico fosse transmitido somente pela leitura de artigos e livros o aluno sairia
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
mais pobre, sairia vazio de cultura e sem o conhecimento de como utilizar aquele conhecimento
científico. Essa transmissão necessita do homem.(Engenheiro)
• Teriam que criar e gerar grupos de discussão desse conhecimento produzido, digo,os espaços da
pós-graduação, dos eventos científicos, dos debates são espaços importantes. Por que essa
importância? Há conhecimento científico comunicado sem ser por meio de publicações? Existe o
que está escrito, mas existe também um processo de apropriação do que está escrito que é a partir
dele, mas que vai além dele. Isso implica em um debate e uma interlocução como autor e com
outros espaços de reflexão, de crítica, de interlocução viva, não só com o texto. (Educador 1)
• A principal dificuldade seria o contato com os interlocutores, com as fontes dessas informações,
que poderiam refinar mais o conhecimento, aprofundá-lo ou explicar melhor o caminho que levou
aquele conhecimento. Se fosse ao contrário, se tivéssemos como fonte somente os pesquisadores, a
principal dificuldade seria fazê-lo exteriorizar o conhecimento de maneira mais pontual, por que
a literatura vem acumulando conhecimento ao longo do tempo. (Educador 2)
• Uma das grandes dificuldades é o grau de tecnicidade dos textos. Eu diria que quanto mais
formalizada a área mais dificuldade há. (Lingüista)
De fato, a partir das citações das entrevistas, é perceptível que a interação social com
outros pesquisadores (orientadores, colegas, estudantes) traz em seu bojo conhecimentos
importantes para a ciência, os quais não são embutíveis ou não estão embutidos em
publicações científicas. Assim, a interação do pesquisador que consome o conhecimento com
outros pesquisadores que o produzem é muito intensa e mais rica, em determinados aspectos,
do que quando a relação é entre o leitor e o texto. Por esta razão, para a ciência, a interação
social é tão importante quanto a própria literatura, como corrobora Meadows (1999).
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
entrevistados revelam indícios possíveis para responder essas perguntas. As citações incluem
termos ou expressões equivalentes às expressões diálogo, discussão, troca, flexibilidade,
detalhe implícito, experiência, habilidade, know-how, cultura, contexto e outros elementos
que têm relação ou caracterizam aquilo que se entende por conhecimento tácito (ver capítulo
2).
Tanto os entrevistados que afirmaram ser possível, embora com dificuldades, quanto
os que acham que não seria possível dar continuidade do desenvolvimento do conhecimento
somente a partir da literatura, ressaltam, necessariamente, o aspecto da interação social entre
pesquisadores como algo fundamental para a criação do conhecimento. A comunicação
informal subjacente à interação social, é tida como fundamental, e certamente por esses meios
informais não está sendo compartilhada prioritariamente a informação científica. Contudo,
muito provavelmente, e com base na percepção dos pesquisadores, é possível sugerir que está
sendo compartilhado conhecimento científico tácito, porém não de maneira exclusiva.
Observou-se que, na interação social mencionada nas entrevistas, está a possibilidade do
diálogo, a discussão, a externalização e comunicação de parte do conhecimento adquirido
com a vivência do pesquisador, bem como as trocas de experiências. Isso nos leva a crer que
muito conhecimento produzido por meio da pesquisa científica e necessário para produzi-la
não é comunicado por meio de livros e artigos de periódicos. Parte desse conhecimento
compartilhado informalmente, portanto, diz respeito ao conhecimento científico tácito.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“Seria dificílimo. Seria uma situação super crítica, pois é impossível que os pesquisadores tenham em
suas cabeças todo o conhecimento acumulado. É impossível reescrever isso. Parte desse
conhecimento se construiu historicamente e fica acumulado. Mas há um processo em ação, em
inovação e de produção do conhecimento, que implica tanto no processo histórico quanto no seu
processo vivo e humano, de produção científica humana”. (Educador 1)
“Seria possível, porém seria mais difícil ainda, pois a troca de ‘informação’ seria limitada a um
espaço geográfico, limitada a um contato. A ‘informação escrita’ é mais fácil de ser procurada e
encontrada. Nesse caso a ‘informação escrita’ passa a ser mais importante que a informação oral”.
(Químico)
“A situação se torna mais difícil, pois mesmo você não passando tudo pelo texto escrito, você passa
alguma coisa. A situação piora por que aí não há onde ver o que foi produzido, o conhecimento tem
que ir para o papel. Só se eu tivesse outro modo de baixar, de fazer um download da mente da
pessoa”. (Lingüista)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“Seria mais fácil, por que quem estaria passando o conhecimento estaria passando conhecimento, e
não dados ou informação, e viria carregado de cultura, assim seria mais fácil haver a construção.
Seria mais fácil que a situação anterior”. (Engenheiro)
“Os caminhos seriam muito diferentes, muita coisa iria se perder. Muita coisa que em algum
momento da história foi considerada importante deixaria de ser importante, pois determinadas coisas
são válidas num dado momento histórico. Você recupera muitas coisas por meio de vestígios. Você
iria reconstruir a partir de que? Da memória de alguém que leu e que não faleceu? Primeiro você não
tem tempo de recapitular todas as coisas; segundo você esquece ao longo do processo. Então, haveria
uma perda lamentável”. (Economista)
“Boa parte do trabalho dos pesquisadores seria a dedicação para reescrever a literatura. Na física
seria mais fácil, pois a partir dos fundamentos as coisas poderiam ser reescritas e refeitas. Mas
sempre seria um prejuízo. Desaparecer os pesquisadores seria pior que desaparecer a literatura. Os
pesquisadores poderiam dar aulas, cursos etc e formar novos pesquisadores”. (Físico)
“Seria possível, mas levaria tempo, não seria imediato, levaria até décadas para retomarem”.
(Biólogo)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
tanto uma forma de conhecimento quanto a outra são imprescindíveis para o desenvolvimento
científico.
“Não, o artigo é muito sucinto. Em um trabalho de quatro ou cinco páginas é difícil você colocar
tudo o que você fez, dizer como chegou aonde chegou”. (Físico)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Na opinião dos entrevistados, nem tudo o que se criou e aprendeu é possível de ser
compartilhado por meio das publicações. A publicação científica, especialmente o artigo de
periódico, diz respeito a uma parcela de todo o conhecimento e experiência que pode ser
explicitado e comunicado por meios formais. Isso está de acordo com o conceito de
informação definido no capítulo 2, no qual informação diz respeito ao conhecimento explícito
constituído de estruturas dotadas de sentido em potencial, resultado da externalização de parte
do conhecimento tácito, comunicável por sistemas estruturados, capaz de gerar conhecimento.
“Não é possível. O processo de pesquisa transcende o que pode depois ficar como resultados
científicos de um artigo, capítulo de um livro, um livro. Uma publicação é um recorte de toda essa
experiência, de toda essa reflexão e de tudo que foi de alguma forma produzido nesse espaço, é um
recorte do que se aprende”. (Educador 1)
“Possível é. Provável, não. Simplesmente por que o âmbito da reflexão abstrata no interior da
capacidade cerebral e intelectual do indivíduo é infinitamente superior ao que cabe no papel, ou no
suporte digital, ou eletromagnético, ou visual.. A publicação é sempre apenas o reflexo cristalizado no
momento em que você decidiu colocar naquele suporte, do estado acerca de cujo conhecimento você
parecia ter suficiente segurança para dizer que ele pode ser veiculado por que parece ser confiável.
Qual a natureza desse conhecimento e dessa capacidade? A mesma que haveria se você tentasse
colocar o oceano num copo. O que está publicado é o conteúdo do copo, o oceano é muito maior que
o copo, não existe um copo, em termos de conhecimento, que possa receber a totalidade do fluxo de
produção. Esse conhecimento que fica de fora, o senhor considera científico? Certamente, e,
sobretudo quando o cientista é um pesquisador, o fato de estar publicado não quer dizer que o
científico se esgotou, o que está publicado é mensurabilidade extrínseca”. (Historiador)
“Todo a gente nunca consegue. É muito difícil. Só aspectos importantes. A parcela de conhecimento
que não completa o todo, do que se trata? É um conhecimento empírico que a gente não passa assim.
Para eu ter chegado a um determinado ponto eu tive que ler milhões de livros, tive milhões de aulas,
orientei vários alunos. Desse conhecimento eu só exponho extratos”. (Sociólogo 1)
“Não considero possível. Por mais que houvesse técnicas de captação do meu conhecimento tácito, do
meu conhecimento intrínseco, esse conhecimento é muito subjetivo e depende das vivências pessoais.
Primeiro eu não sei que ele existe, por que ele não está estruturado. Eu simplesmente uso”.
(Engenheiro)
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
adquiridos nem tão pouco compartilhados por meio de publicações científicas. Em outras
palavras, as atividades de pesquisa criam e dependem de conhecimentos tácitos que não são
adquiridos e passados por meio de conhecimento explícito. As citações a seguir ilustram a
percepção dos entrevistados acerca dessa questão.
“Um projeto de pesquisa dá margem a diversos artigos, e os artigos jamais contém tudo que se
aprendeu durante o processo” (Economista)
“Não. Por diversas razões, entre elas a limitação de espaço. Em um texto mais longo é possível você
dar uma idéia, uma visão conjunta das diversas etapas do processo. Às vezes, no artigo não dá para
explicitar esse caminho: você cita só o seu instrumental teórico. Mas se você tivesse mais espaço é
possível dar uma idéia. Você não tem jeito de passar para o outro os erros pelos quais você passou.
Isso é importante? Eu acho, por que às vezes você gasta horas e horas com erros que você cometeu,
então eu acho importante passar isso para os alunos. Uma vez eu dei um mini-curso assim, em que eu
simulei para eles todos os erros que eu tinha cometido para ver se facilitava à vida deles. Mas depois
eu achei que você tinha só que ilustrar e dizer que ele vai errar e a hora que ele vai errar, ele tem que
tentar resolver, procurar uma pessoa que tenha conhecimento”. (Lingüista)
Por outro lado, outros entrevistados afirmaram ser possível explicitar em publicações
científicas tudo o que se criou e aprendeu durante a realização de uma pesquisa, como se pode
observar nas citações a seguir. A impressão do entrevistador é que a questão não ficou
suficientemente clara para esses dois pesquisadores, especificamente.
“É perfeitamente possível. Eu acabei de publicar um livro que faz exatamente isso: eu explicito o
conhecimento que eu produzi ao longo de um projeto de pesquisa”. (Educador 2)
“Em geral isso é feito. O produto de uma pesquisa está refletido nisso em geral. De uma forma bem
objetiva um relatório de pesquisa mostra o processo da pesquisa, uma tese, uma dissertação. Não só é
possível fazer isso como cientificamente é necessário”. (Sociólogo 2)
A percepção dos entrevistados está em acordo com o referencial teórico deste estudo,
ao considerar que boa parte do conhecimento científico explícito é fruto da externalização de
uma parcela daquilo que se criou e aprendeu durante a realização de uma pesquisa. Essa
parcela diz respeito ao conhecimento tácito que é possível de ser explicita, ou seja, reduzido à
informação para poder ser efetivamente e amplamente comunicado.
Foi pedido aos entrevistados que falassem a respeito de coisas que fazem ou falam e
que, embora não estivessem publicadas ou não fossem possíveis de ser publicadas
formalmente, são consideradas importantes para o desenvolvimento de suas atividades
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
científicas. Sobre essa questão, de uma maneira geral os respondentes afirmaram que há
conhecimentos importantes, não estruturados, que são utilizados e comunicados durante
reuniões de grupos de pesquisa, orientação de alunos e sala de aula.
“Muitas vezes eu consigo passar mais conhecimento falando do que escrevendo”. (Sociólogo 1)
“Sala de aula, reuniões de grupos de pesquisa, reuniões informais, encontros informais, eu dou um
peso muito grande às trocas de conhecimento em ambientes informais. Qual a diferença entre o
conhecimento compartilhado assim e o das publicações? Nos artigos é muito mais seco, é muito mais
técnico, é a parte tecnológica da minha ciência. Nos artigos eu disponibilizo informação, nas minhas
conversas informais ou formais, nas reuniões eu compartilho conhecimento, ou seja, as minhas
informações científicas com parte de minha cultura”. (Engenheiro)
“Em sala de aula você fala muita coisa que vem da sua experiência, das leituras que você fez, dos
rumos da sua vida, de reflexões e coisa parecida, coisas que você fala naquele contexto. E às vezes
você até fala sem a formalidade necessária. É uma relação humana muito intensa. Então existe essa
possibilidade”. (Economista)
“Sempre tento passar o que deu certo e o que não deu, mesmo nas publicações, onde isso não é muito
comum, pois elas só colocam o que deu certo”. (Químico)
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Probst et al (2002, p. 186) acreditam que a palavra falada é mais poderosa que registros
escritos. Segundo os autores, é a melhor maneira de preservar e fixar experiências de grupo,
pois a fala está mais perto de nós que a palavra escrita. O conhecimento não estruturado
presente nas interações em grupos de pesquisas, conversas informais, e atividades de ensino
(orientação e sala de aula), de acordo com a opinião dos entrevistados, é muito importante
para a realização de suas atividades. Esse conhecimento não estruturado não está disponível
para armazenamento e recuperação da mesma forma que as publicações científicas estão. Por
esta razão, ele é adquirido e compartilhado informalmente, por meio da palavra falada, de
demonstrações práticas, observação e outros. A partir de suas experiências, como
pesquisadores docentes, os entrevistados afirmaram que muito conhecimento não está ou não
é possível de ser publicado. Senge (1998) por sua vez, ilustra a importância do conhecimento
compartilhado e utilizado informalmente ao afirmar que
Ao ser questionado sobre conhecimentos que não estão ou não podem ser publicados,
mas são úteis às suas atividades, o psicólogo falou especificamente a respeito do
conhecimento tácito. O entrevistado foi incisivo ao afirmar que possivelmente há muito pouco
conhecimento tácito na ciência. Seus argumentos giram em torno do aspecto da
replicabilidade do processo de construção do conhecimento científico. O fato do
conhecimento científico garantir e demonstrar todas as condições necessárias para que o
experimento seja replicado por outro cientista, basta-lhe para entender que nesse contexto haja
pouco ou nenhum conhecimento tácito. Isso por que o conhecimento tácito está relacionado
ao conhecimento que não pode ser facilmente comunicado, explicitado, portanto, não atende
às exigências dos pressupostos científicos.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“Você ta falando de conhecimento tácito, não é? Em ciência eu acho complicado. Acho que tem
certas coisas que a gente às vezes não escreve, mas que outros já escreveram sobre elas, certos
cuidados, para a produção do conhecimento. É complicado dizer que na ciência tem conhecimento
tácito, em grande quantidade, por que se não você estará negando o processo de descrição do
processo de construção do conhecimento. Se você publicou para dizer como o fez e permitir que seja
refeito, e você assume que há conhecimento tácito nisso, você não descreveu com precisão e não
permitiu que outros repliquem o que você fez. Quando você garante condições de replicabilidade você
reduz a zero o conhecimento tácito, pode ser que você não reduza como pesquisador, mas outros que
já fizeram e quem vai ler vai conseguir recuperar tudo. A ciência gostaria que não houvesse
conhecimento tácito. Qual a natureza do conhecimento que circula por meios informais? O que não
está escrito é tácito, de natureza cultural, ritos, símbolos, coisas da cultura organizacional, de equipe,
mas ele não é fundamental para a produção do conhecimento e sim para a sobrevivência do indivíduo
como ser social”. (Psicólogo)
Para o entrevistado, o conhecimento que circula por meios informais, em grupos de pesquisa,
e em conversas com colegas, e não está escrito, é tácito. Contudo, sua natureza não é
científica, mas sim cultural.
Uma outra questão abordada nas entrevistas foi sobre a importância que tanto o
registro do conhecimento quanto o conhecimento adquirido e compartilhado informalmente
exercem nas atividades científicas do pesquisador. Foi possível observar que os respondentes
sentiram certa dificuldade para atribuir peso de importância à literatura e ao conhecimento
científico não estruturado.
“Ambos são importantes. Os meus conhecimentos, as minhas habilidades são tão importantes quanto
o que eu tenho de registro da literatura. A literatura passa a ser mais importante por que é mais
facilmente disseminada. A minha ‘informação’ e a do meu colega é mais restrita, nesse caso há
dificuldade de acesso”. (Químico)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“A produção científica consolidada em publicações e isso para mim tem um peso fundamental. E
existe esse outro elemento humano que perpassa os grupos que é importante por que muitas vezes a
novidade aparece aí, as pistas para a novidade aparecem aí, nessas reflexões que são informais que
são cara a cara. Mas sem dúvida a produção humana em textos é importante”. (Educador 1)
“Eu daria peso quase iguais. Tem um conhecimento acumulado aí super importante que não é
explicitado o tempo todo. E esse conhecimento é científico? Tem uma parte que é científico sim, faz
parte da sua formação, nem todo ele, mas é sim”. (Sociólogo 1)
“Os dois são fundamentais, não dá para ter um sem ter o outro. Uma metáfora, não estou igualando a
ciência a isso, mas é como se você dissesse que é possível rezar uma missa sem ter o evangelho. Uma
missa tem uma série de rituais, mas tem um roteiro a ser seguido, tem um evangelho a ser seguido. Na
ciência é assim, como nos processos sociais, você tem o que está escrito e o que não está escrito. No
caso da ciência, o que não está escrito varia de grupo para grupo de pesquisa. Claro que há rituais
típicos às ciências”. (Psicólogo)
Com base nas citações é necessário tecer algumas considerações. A importância atribuída
tanto ao conhecimento científico formal quanto ao conhecimento científico não estruturado
responde, distintamente, e de maneira complementar, a conjuntos de necessidades específicas
da ciência. O primeiro conjunto de necessidades é descrito por Roosendaal e Geurts (1998)
como funções da comunicação científica: o registro da autoria, a certificação, a awareness¸ o
armazenamento e a preservação. Essas funções permitem que o conhecimento científico seja
acumulado, além de tornar a sua audiência potencialmente ampla, e o seu permanente
armazenamento e recuperação (MEADOWS, 1999).
Por outro lado, o segundo conjunto de necessidades está relacionado a outras
finalidades atendidas pelo conhecimento científico não estruturado para a construção do
mesmo objeto. A ciência e a produção do conhecimento científico, conforme análise e
discussão da literatura realizada no capítulo 2 e ao longo do presente capítulo, fundamentam-
se, também, em um corpo de conhecimentos que não está ou não pode ser necessariamente
explicitado nas publicações científicas (ver MACKENZIE, SPINARDI 1995; OLIVEIRA,
1998; COLLINS, 2001, 1974; RAVETZ, 1971). Logo, a maneira de se compartilhar esse
conhecimento científico não estruturado é por meio das diversos meios de comunicação
informal. Parte desse conhecimento está relacionado, por exemplo, à experiência, habilidades,
competências do pesquisador. Em outras palavras, diz respeito ao conhecimento científico
tácito.
Na abordagem de Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento explícito e
conhecimento tácito são entidades que não se excluem. Pelo contrário, a relação é de
complementaridade. O conhecimento tácito e o conhecimento explícito interagem um com o
outro e ao mesmo tempo realizam trocas nas atividades criativas desempenhadas pelos seres
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“Eu diria que às vezes encanta mais as pessoas esse conhecimento mais informal. Ele é um elemento
importante no sentido de você até motivar a pessoa, porque às vezes o conhecimento que está ali é
aparentemente frio. Ele dá uma moldura interessante, na minha área, ou para mim, que eu acho que a
gente está levando pouco para os textos acadêmicos. Ele é importante para suas atividades como
pesquisadora? É desse conhecimento que muitas vezes aparece um grande projeto. Às vezes um
grande projeto pode surgir de uma situação em princípio trivial, um insight”. (Lingüista)
“Eu acho que o formal. Não haveria ciência se não houvesse essa forma de você divulgar o que faz. O
informal, aquelas conversas, trocas de idéias estão nos congressos, encontros, reuniões científicas. Às
vezes você acha que o seminário foi chato, mas valeu por ter conversado com muita gente, encontrou
muita gente, escutou fulano falar etc. As reuniões científicas gozam de uma importância crucial para
a divulgação e para a transformação dos resultados da ciência em algo mais compartilhado”.
(Sociólogo 2)
“A parte da cultura informal é muito mais importante. A técnica está aí, mas sem a parte informal ela
não avança”. (Engenheiro)
Mesmo que, por vezes, as citações insinuem que um tipo de conhecimento é mais
importante que o outro, a percepção dos entrevistados expressa a idéia de que o conhecimento
adquirido e comunicado informalmente complementa o conhecimento científico explícito e
vice-versa.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Um outro tema abordado foi sobre a percepção que o entrevistado tinha a respeito da
influência que a organização com a qual ele mantém vínculo exerce ou deveria exercer sobre
processos de criação e compartilhamento do conhecimento científico. Abordar esse tema foi
importante pois, de certa forma, revelou-se aquilo que o pesquisador considera como
elementos organizacionais que influenciam ou deveriam influenciar os processos de criação e
compartilhamento do conhecimento científico em sua instituição. Dentre os elementos
destacados está o apoio para participação em eventos científicos, as barreiras culturais
impostas, infra-estrutura, a questão da tecnologia, dentre outros.
O subsídio para a participação em eventos científicos foi destacado como uma questão
importante. Em congressos científicos há um alto grau de interação social entre
pesquisadores, o que implica em um intenso compartilhamento de idéias e experiências,
elementos relacionados ao conhecimento científico tácito. A ocorrência dessa questão é
reflexa da relevância atribuída a comunicação informal, tanto para o compartilhamento do que
o pesquisador produziu quanto para a aquisição de novos conhecimentos.
“Poderia fazer isso mais na medida em que subsidiasse a realização de eventos, de congressos, da
vinda de pesquisadores estrangeiros, que subsidiasse com mais intensidade o intercâmbio com outros
setores de outras universidades. Isso também acaba acontecendo nas bancas de mestrado e
doutorado, onde sempre tem colegas de fora que vêem. É um modo de se comunicar, de exteriorizar o
que a gente faz”. (Educador 2)
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
“A universidade tenta apoiar através de congressos internos, mas ainda é de forma limitada. A
deficiência está em existir pessoas que se sentem bem em reter o conhecimento e dificilmente
compartilhá-lo. Via de regra, o contato pessoal e as trocas com colegas são bem efetivos. Qual a
importância desse conhecimento? É extremamente importante. Por exemplo, se eu vou trabalhar com
algo que ele já trabalhou, logo eu vou perguntar quais são os conhecimentos dele a respeito;
conhecimentos do cotidiano dele. Os periódicos não trazem esse detalhamento, eu olho neles também.
Mas as dúvidas vão surgindo, e o caminho para saná-las é pessoal”. (Químico)
“A nossa universidade é uma instituição flexível e tem abertura para a criação do conhecimento, no
sentido geral. Existem poucos espaços de trabalho coletivo. Não existe uma cultura de
compartilhamento com os pares no interior da universidade. É necessário incentivar essas relações. A
universidade deveria agir nesse sentido. A universidade poderia estimular, mas defendendo uma
cultura de outro tipo, uma cultura em que as reuniões não fossem administrativas. O colegiado se
reúne para discutir e deliberar questões administrativas, mas pouco para deliberar sobre ciência, a
não ser nos eventos científicos que a universidade promove. Fora isso não existe mais nada. A
instituição deveria mudar essa cultura, trata-se de uma mudança de cultura organizacional. De ser
um espaço de maior intercâmbio científico, de colocar a ciência em um plano mais evidente no
cotidiano da instituição. Não há uma cultura de trabalho coletivo, os grupos são fechados, separados
e sem vínculos. Fica muito na espontaneidade do pesquisador, nas suas próprias forças de se
articular com outros. É preciso uma cultura em favor disso”. (Educador 1)
“Na universidade, a departamentalização tem alguns pontos positivos, pois você convive com os
economistas, com pessoas com interesses comuns. Mas a departamentalização tem também um lado
muito negativo. Você começa a fazer só aquilo que pensa um economista, porém a economia é
baseada em psicologia, sociologia, ciência política e outras áreas. O lado negativo é que você fica
cada vez mais especialista em coisas específicas. Eu gosto muito da idéia de compartilhar idéias com
pessoas que pensam de modo diferente, que têm outra visão de mundo, mas estão dispostas a
conversar de modo civilizado”. (Economista)
“Ao lado das publicações mais formais têm de haver textos mais informais. Além disso, tem de haver
contato da Universidade com os professores das escolas. Um contato com diversos profissionais da
área. Contato tanto com os professores e profissionais fora da universidade quanto dentro do mesmo
departamento. No departamento você tem áreas teóricas diferentes, eu acho que as áreas teóricas
ficam muito voltadas para o seu próprio arsenal. A senhora acha que aliado à publicação científica
formal deveria haver outro tipo de publicação? É, um outro tipo de texto, um outro tipo de publicação
que não exigisse que o leitor tivesse que ter o conhecimento do jargão usado”. (Lingüista)
Davenport e Prusak (1999) afirmam que há muitos fatores culturais que inibem a transferência
do conhecimento. Esses inibidores ou ‘atritos’, segundo os autores, retardam ou impedem a
transferência do conhecimento. Ao mesmo tempo, esses atritos tendem a erodir parte do
conhecimento na medida em que ele tenta se movimentar pela organização. Os atritos e suas
respectivas soluções estão descritos no quadro 12.
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O enfoque multidisciplinar
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Infra-estrutura
“A universidade é ágil, moderna, e nossa estrutura é acima da média das universidades brasileiras.
Apoio financeiro para pesquisa tem que buscar fora da universidade. Ela dá infra-estrutura, salas,
computador”. (Sociólogo 2)
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“Rapidez e comunicação em tempo real. Internet II, alta velocidade. O núcleo da investigação
científica é computação. Eu passo a maior parte do tempo em computador, e meus alunos na
bancada, agora todas as idéias surgem com o auxílio do computador. A forma de comunicar essas
idéias está boa ou poderia ser aperfeiçoada? Pode melhorar, hoje já está muito bom. Você não
depende mais da biblioteca. Só quero internet que me dê acesso a periódicos. O Portal de Periódicos
da Capes é uma revolução copérnica, fantástico. Antes demorava até 6 meses para conseguir um
artigo, hoje com um clique eu tenho em mãos”. (Biólogo)
“A gente tem que ter infra-estrutura. A infra-estrutura que a universidade nos oferece é muito
pequena, eu falo que você tem que pegar o milho, plantar, regar, colher, moer e distribuir. O
pesquisador tem que fazer tudo dentro da universidade, na universidade pública pelo menos.
Computador e livro ninguém deveria precisar pedir, tem que ter. Precisamos de dinheiro para bons
laboratórios, infra-estrutura material, suporte administrativo, que é mínimo”. (Lingüista)
“Em termos de tecnologia aqui já tem bastante coisa, como aquela plataforma produzida pelos
colegas da matemática, o Moodle. Você tem um computador e acaba utilizando o mínimo que ele pode
oferecer. Você não sabe usar muito do que ele pode oferecer”. (Historiador)
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A satisfação percebida está relacionada principalmente serviços de informação eletrônicos e com iniciativas como o Portal
de Periódicos Capes.
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“Eu raramente leio um trabalho, um texto no computador. Eu mando imprimir. Eu sinto falta
sentimental do livro, eu gosto de marcar, de ter um contato físico com o livro ou artigo. É uma coisa
física. Eu acho que se você tiver uma boa biblioteca, um bom computador que faça, que possibilite
você acessar artigos ou livros em outros lugares é muito importante. Eu acho que há uma
supervalorização da tecnologia, a pessoa começa a ter muita informação e pouca organização do
conhecimento. A UnB não precisa dar muito não, eu honraria que tivesse na biblioteca alguns
volumes de revistas mais atualizados, a Capes já faz isso com o Portal. É importante você ter
equipamentos mais eficientes, os da UnB não são, nosso setor de informática precisa ter mais
investimentos”. (Economista)
“Uma rede mais rápida. A disponibilização de cursos também ajuda. Hoje em dia a internet
disponibiliza a imagem que só a televisão disponibilizava, mas com a facilidade de interação. Porém,
esses cursos, essas tecnologias sincronizadas necessitam da conversa do dia a dia. Eu falei da
tradição, da cultura do ponto de vista do orientador, mas tem a discussão entre os alunos. Todas
essas disponibilidades da mídia são boas, no sentido em que favorecem isso, mas ela cria a falta de
comunicação, a tradição oral de discussão com alunos e entre alunos.” (Físico)
“É difícil colocar no papel esse conhecimento que é de habilidades do cotidiano. Com relação ao
conhecimento científico, essa parte do conhecimento tácito é muito difícil, por que é difícil de você
escrever e as revistas não aceitariam com um nível de detalhamento. Mas em termos de informação, a
gente tem melhorado muito com a internet, periódicos on line, então o conhecimento está indo e vindo
muito rápido. A existência, na universidade, de meios de comunicação mais flexíveis ajudaria? Seria
bastante interessante e trabalhoso. Talvez não tivesse muita adesão por isso e por que muitas pessoas
teriam dificuldade de compartilhar esse conhecimento individual”. (Químico)
Acho que nós temos ferramentas muito poderosas que já permitem que a gente esteja falando à
distancia, esteja em contato com muita gente na hora que for necessário, já tem ferramentas bastante
poderosas de arrumação da informação, do resgate dessa informação. Não existe, e não creio que
deva existir, nenhuma ferramenta que resgate ou que tente resgatar esse conhecimento que é preso à
pessoa, por que toda ferramenta é limitada na sua forma de compartimentar o mundo real. Não deve
existir ferramenta que pode captar o conhecimento intrínseco das pessoas”. (Engenheiro)
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“Poderiam existir redes que utilizassem os próprios recursos da universidade, que aparecessem
emails de pesquisadores que trabalham com isso ou com aquilo para que as pessoas pudessem se
localizar. Há como se apropriar da literatura, o Portal de Periódicos da Capes, tudo isso. Mas para
divulgar, eu acho que deveriam ser feitos sistemas de informação mais amigáveis que permitissem ter
uma idéia maior do interior da própria universidade, do que está fazendo cada um e como cada um
pode se conectar com outro. Por exemplo, se eu quero saber, em termos de pesquisa, o que estão
fazendo os professores da lingüística, eu não tenho uma coisa amigável, não significa que não exista,
existe uma relação de professores da lingüística, o currículo lattes, se eu quero acessar vou lá na
plataforma lattes como você fez. Mas eu estou falando de um sistema amigável, simples, concreto, que
permitisse isso por exemplo.” (Educador 1)
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“Internet e as grandes bases de dados que estão nela. Os periódicos científicos vão desaparecer com
o tempo. Eu me pego buscando na internet um artigo que está na minha estante, às minhas costas. A
internet com os grandes bancos de informação como Portal da Capes e Scielo”. (Psicólogo)
“O acesso a periódicos poderia ser facilitado. A biblioteca, de uma forma geral, também. Cada vez
mais acesso periódicos e livros, de forma mais rápida. Acontece o seguinte: já existe muito acesso,
mas é um processo muito lento, demorado e precisa ser mais rápido”. (Sociólogo 1)
É possível sugerir, tendo por base os indícios oferecidos pelas percepções dos
entrevistados, que a construção da ciência não está fundamentada só no estoque de
conhecimento -a literatura científica. Na verdade, está também fundamentada em um corpo de
conhecimento científico não estruturado. Mais que isso, foi possível, igualmente, identificar
os mesmos indícios pela análise da literatura. Portanto, como sugerem os indícios
identificados nesta pesquisa, parte do conhecimento científico não estruturado diz respeito ao
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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Universidade de Brasília.
à O
AÇ
IZ
AL
CI
SOCIALIZAÇÃO Investigação
SO
Novo conhecimento Publicação científica. Parte do
científico tácito. Resultado conhecimento tácito é explicitado, é
de processos cognitivos reduzido à informação, enquadrado em um
formato (regras), para poder ser veiculado
por meios formais à uma audiência mais
ampla. Neste contexto, a publicação
Criação de científica formal é uma é um estágio para
novos a atribuição de cientificidade do
conhecimentos conhecimento. Tal comunicação, e,
Início da pesquisa especialmente a eletrônica, é
EXTERNALIZAÇÃO extremamente importante por muitas
razões, dentre elas por que alcança um
público potencialmente maior.
EX
TE Parte do conhecimento tácito é reduzido à
SO
R estruturas de informação para poder ser
INTERNALIZAÇÃO / COMBINAÇÃO N comunicado por meio de repositórios
C
A
IA
LI digitais de acesso livre. As oportunidades,
LI
ZA flexibilidade, como a combinação de
ZA
Ç mídias, e a não-formalidade do meio
Ã
Ç
O
Ã
permitem uma maior interação entre
O
emissor e receptor, o que estimula e
Buscas de estudos realizados anteriormente, a literatura científica, o permite uma maior veiculação de
conhecimento científico registrado, certificado, armazenado e recuperável. elementos tácitos do conhecimento que as
Internalização e combinação. Conhecimento científico explícito. publicações científicas formais permitem.
Pode-se dizer que essa forma de
comunicação esteja entre o formal e o
O conhecimento científico tácito e o conhecimento científico explícito realimentarão um novo processo de informal, reunindo vantagens dos dois
meios.
construção de novos conhecimentos científicos
• A capacidade cerebral e intelectual do indivíduo é infinitamente superior ao que cabe em qualquer suporte.
• A ciência está cheia de outras coisas que vão em um processo de discussão.
• A conversa, o diálogo e a discussão são fundamentais.
• A interação com outras pessoas é mais rica que a interação com um texto.
• A narrativa de um grupo de pesquisa pode ser extremamente interessante em termos de experiência para outros cientistas.
• A partir de questões de alunos surgem idéias para outras coisas.
• A publicação é sempre apenas o reflexo cristalizado no momento em que você decidiu colocar naquele suporte.
• A transmissão oral e a tradição é importante.
• Acesso a pessoas mais experientes.
• Certas coisas não estão escritas nos trabalhos, é necessário a vivência do dia a dia.
• Colocar todo o conhecimento produzido em um artigo é a mesma coisa de tentar colocar o oceano num copo. O que está publicado é o conteúdo do
CONHECIMENTO CIENTÍFICO TÁCITO
copo, o oceano é muito maior que o copo, não existe um copo, em termos de conhecimento, que possa receber a totalidade do fluxo de produção.
• Com a literatura você não troca.
• Com relação ao conhecimento científico, essa parte do conhecimento tácito é muito difícil, por que é difícil de você escrever.
• Compartilhamento da vivência, da experiência.
• Compartilhar idéias com pessoas que pensam de modo diferente.
• Conhecimento de como trabalhar o conhecimento técnico, o meta conhecimento.
• Contato com os interlocutores.
• Conversa do dia a dia.
• Debate e interlocução com autor, espaços de reflexão, de crítica, de interlocução viva, não só como texto.
• Dicas de como contornar dificuldades.
• Download da mente da pessoa.
• É algo que facilita a pesquisa científica.
• É desse conhecimento que muitas vezes aparece um grande projeto. Às vezes um grande projeto pode surgir de uma situação em princípio trivial, um
insight.
• É difícil colocar no papel esse conhecimento que é de habilidades do cotidiano
• É um conhecimento intrínseco de cada laboratório.
• Em relação às publicações científicas, determinadas regras e normas socialmente compartilhadas implicam em um filtro às vezes muito cruel para a
própria produção científica.
• Em sala de aula fala-se muita coisa que vem da sua experiência, das leituras que foram feitas, dos rumos da vida, de reflexões.
• Esse conhecimento é extremamente importante. Se eu vou trabalhar com algo que outro pesquisador já trabalhou, logo eu vou perguntar quais são os
conhecimentos dele a respeito, os conhecimentos do cotidiano dele. Os periódicos não trazem esse detalhamento. As dúvidas vão surgindo, e o caminho
para saná-las é pessoal.
• Existe o elemento humano que perpassa nos grupos que é importante que muitas vezes provoca novidades. As pistas para a novidade aparecem nas
reflexões que são informais que são cara a cara.
• Existem conhecimentos que não são explícitos.
• Experiência, a prática.
• Há um conhecimento acumulado que é super importante que não é explicitado o tempo todo. Tem uma parte dele que é científico, que faz parte da sua
formação, nem todo ele.
• Macetes que são desenvolvidos ao longo de sua formação e anos de trabalho. Esse conhecimento é passado através desse contato pessoal.
• Muitas vezes eu consigo passar mais conhecimento falando do que escrevendo.
• Na orientação há uma troca, o contato humano é muito importante.
• Na tradição oral há discussão, há mais liberdade de discutir coisas que já são conhecidas, que todo mundo já sabe. Percebe-se se o outro está entendendo
ou não. Há a liberdade de passar sua experiência.
• Não deve existir ferramenta que permita captar o conhecimento intrínseco das pessoas.
• Não é possível explicitar todo o conhecimento, é muito difícil.
• Narrativas do funcionamento do trabalho entre orientadores e orientandos são importantes.
• Nem tudo é possível ser publicado, mas existem outras formas de explicitar mais conhecimento, mas não tudo.
• No laboratório eu ensino a minha linguagem, e eles serão multiplicadores.
• Nos artigos eu disponibilizo informação, nas minhas conversas informais ou formais, nas reuniões eu compartilho conhecimento.
• Nos artigos o conhecimento é muito mais seco, é muito mais técnico.
• Nuances da pesquisa, certos detalhes são passados boca a boca, pois nem sempre estão publicados.
• O conhecimento adquirido pela leitura é um tipo de conhecimento, mas ele é pouco.
• O conhecimento informal é importante, eu sou reflexo disso, pois recebi instruções informais, dicas, truques que me ajudam no dia a dia.
• O conhecimento que vai à publicação é um conhecimento empírico que a gente não passa assim. Para eu ter chegado a um determinado ponto eu tive
que ler milhões de livros, tive milhões de aulas, orientei vários alunos. Desse conhecimento eu só exponho extratos.
• O ensino permite a exposição de boa parte daquilo que você gostaria de expor, que é parte de seu conhecimento.
• O fato de estar publicado não quer dizer que o científico se esgotou, o que está publicado é mensurabilidade extrínseca.
• O processo de pesquisa transcende o que pode depois ficar como resultados científicos de um artigo, capítulo de um livro, um livro.
• Observação.
• Os artigos jamais contêm tudo que se aprendeu durante o processo de pesquisa.
• Os criadores do conhecimento podem refinar mais o conhecimento, aprofundá-lo ou explicar melhor o caminho que levou àquele conhecimento.
• Os meus conhecimentos, as minhas habilidades são tão importantes quanto o que eu tenho de registro da literatura.
• Por mais que houvesse técnicas de captação do conhecimento tácito, do conhecimento intrínseco, esse conhecimento é tão subjetivo que depende tanto
das vivências pessoais.
• Quando alguém já trabalhou com o que eu estou trabalhando eu busco detalhes que não estão explícitos na literatura.
• Sala de aula, reuniões de grupos de pesquisa, reuniões informais, encontros informais, eu dou um peso muito grande às trocas de conhecimento em
ambientes informais.
• Se o conhecimento científico for transmitido somente pela leitura de artigos e livros o aluno sai mais pobre.
• Trabalhar só é muito complicado.
• Trabalho coletivo.
• Tradição oral da minha área é passada de geração para geração, como conversar com pessoas, orientadores e pesquisadores mais experientes
• Um dos maiores processos para a minha produção do conhecimento é o ensino.
• Uma publicação é um recorte da experiência, da reflexão e de tudo que foi de alguma forma produzido na pesquisa, é um recorte do que se aprende
• Vivência com os alunos.
• Vivência em laboratório.
• Você só forma um cientista fazendo ciência, e não somente lendo a literatura.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
Comunidade acadêmica 1
Comunidade científica Y
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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Universidade de Brasília.
COMUNIDADES CIENTÍFICAS
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
IDENTIFICAÇÃO
COMUNIDADE ACADÊMICA (universidade)
(Mapeamento)
Conhecimento
COMUNIDADES CIENTÍFICAS
COMUNIDADES CIENTÍFICAS
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
científico tácito
CRIAÇÃO
AQUISIÇÃO ORGANIZAÇÃO/ COMPARTILHAMENTO (socialização, externalização,
ARMAZENAGEM combinação, internalização)
Conhecimento
científico explícito
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
COMUNIDADES CIENTÍFICAS
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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Cabe ressaltar que no modelo conceitual não é levado em consideração como processo
de gestão do conhecimento, a validação. Esse processo está presente em muitos modelos da
literatura. Porém, no contexto da gestão do conhecimento científico, considera-se que o
próprio sistema científico exerce naturalmente a função de validação do conhecimento, seja
pelo receio do pesquisador em tornar público, mesmo que informalmente, conhecimentos com
padrões mínimos de confiabilidade e qualidade.
Embora receba influência externa, a gestão do conhecimento científico ocorre nos limites da
comunidade acadêmica, no caso uma universidade. Essa relação se fundamenta na discussão
apresentada na seção 6.4.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
modelo proposto apresente uma abordagem geral dos conceitos, a gestão do conhecimento
científico em uma universidade - com base no modelo - poderá ocorrer de maneira distinta e
gradativamente em cada área do conhecimento. Por outro lado, no que diz respeito à cultura
organizacional é necessário levar em conta duas questões. A primeira é que o modelo
proposto considera os padrões preconizados pela iniciativa dos arquivos abertos e o acesso
livre. Como preconiza Lawrence (2001), o acesso livre a resultados de pesquisa pode ser
considerado um fator que maximiza o acesso à pesquisa e acelera seus impactos,
produtividade, progresso e recompensas. As universidades, portanto, devem agir no sentido de
incentivar seus membros a adotar uma atitude de disseminação fundamentada nesses padrões.
A segunda questão, decorrente da primeira, diz respeito ao desenvolvimento de políticas
internas que estimulem um ambiente favorável ao compartilhamento interno de
conhecimento, tanto por meios estruturados quanto por meios informais, conforme
mencionado na análise e discussão dos dados das entrevistas, onde as barreiras culturais que
inibem o compartilhamento sejam transpostas ou minimizadas (seção 6.3.8).
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
análise se sobrepõe aos dois anteriores, uma vez que contempla tanto a comunicação
formal quanto a comunicação informal. A iniciativa dos arquivos abertos e o movimento
do acesso livre, sobre os quais se fundamentou também a construção do modelo
conceitual proposto, lança mão de uma série de características que permitem ao modelo
representar tanto a comunicação formal quanto a informal. Reflete, também, a
potencialização da interação entre os pares, permitindo assim o aumento da comunicação
informal. Quer se destacar que as duas formas de comunicação são igualmente
beneficiadas por recursos próprios da iniciativa dos arquivos abertos e movimento do
acesso livre, com especial destaque para a questão da interoperabilidade. A principal
questão que liga o elemento macro comunidades científicas ao processo de gestão do
conhecimento compartilhamento é a oportunidade e o aumento da visibilidade,
disponibilidade e acessibilidade do conhecimento produzido na comunidade acadêmica.
• Criação: Um novo conhecimento científico é criado a partir da interação entre os estoques
de conhecimentos existentes e as habilidades e competências dos pesquisadores (seção
6.3.10, figura 33). Assim, os modos de conversão de Nonaka e Takeuchi (1997) ilustram
as relações possíveis entre os conhecimentos registrados e o conhecimento que é
relacionado ao que os pesquisadores sabem. No modelo conceitual de gestão do
conhecimento proposto, a relação entre o processo de criação e o elemento macro
comunidades científicas dá-se em razão de que o input de conhecimento para a gestão do
conhecimento além de ser interno, no âmbito da própria comunidade acadêmica, é
externo, tendo em vista que cada vez mais pesquisadores vinculados a diferentes
instituições produzem cada vez mais em colaboração. Além do mais, esse processo tem
sido facilitado não só no domínio dos processos formais de comunicação do
conhecimento, mas, sobretudo no domínio da comunicação informal, haja vista a
emergência de poderosas ferramentas tecnológicas multimídia. No modelo proposto,
consideram-se os mecanismos de interação entre pesquisadores, a variedade de tipos de
documentos que podem ser armazenados bem como a integração em um sistema global de
repositórios interoperáveis, como recursos que ao mesmo tempo em que possibilitam a
busca e recuperação facilitada de informação e conhecimentos externos à comunidade
acadêmica em nível global. Possibilitam também a disponibilidade, acessibilidade e
visibilidade de toda a produção científica dela própria. Assim, a conversão do
conhecimento conta com as comunidades científicas como fontes de conhecimentos
externos à comunidade acadêmica, uma vez que ao se realizar uma busca no repositório da
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília.
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transferir o conhecimento tácito pode ser observado nos esforços de várias organizações em
registrar em vídeo ou CD-Rom as histórias e a experiência de seus membros mais antigos
antes que eles deixem a organização.
Assim, os repositórios institucionais e temáticos possibilitam, conforme os
pressupostos de Kuhlen, a combinação de indivíduos com diferentes backgrounds e diferentes
níveis de expertise - ou seja, a comunicação entre esses indivíduos. Além disso, agregam
valor tanto ao conhecimento quanto à informação, por possibilitarem a manutenção do
contexto ou a re-contextualização do conhecimento ou da informação que são compartilhados.
Logo, os repositórios institucionais valorizam não só os estoques de conhecimento registrado,
mas também agregam valor ao conhecimento não registrado na medida em que a interação
entre indivíduos, o compartilhamento de experiências e as trocas de conhecimento também
são considerados.
A caracterização das funções de um repositório institucional que estão relacionadas a
processos inerentes à gestão do conhecimento reforça que iniciativas de gestão do
conhecimento devem estar inexoravelmente ligadas aos processos de comunicação, os quais
são o substrato por meio do qual todas as atividades de uma organização se efetivam.
Especificamente no contexto das universidades, o sistema de comunicação científica constitui
uma camada indispensável e crucial para a implementação de ações de gestão do
conhecimento científico. Diferentemente de bibliotecas digitais, as quais contemplam
especialmente processos de comunicação formal, os repositórios institucionais, além de
auxiliar a comunicação formal, potencializam a comunicação informal. Nesse sentido, sugere-
se que os repositórios institucionais podem ser vistos como ferramentas adequadas para a
gestão do conhecimento científico.
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CAPÍTULO 7
CONCLUSÕES
7 - Introdução
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É importante ressaltar que este estudo, ao combinar duas perspectivas teóricas distintas
- a comunicação científica e a gestão do conhecimento - pretendeu, em última análise, servir à
construção de uma base teórica para o desenvolvimento de estudos futuros, uma vez que a
literatura de ambos os campos está voltada para os seus próprios arsenais. Portanto, de modo
amplo, o esforço principal, ao propor um modelo conceitual de gestão do conhecimento
científico para o ambiente acadêmico tendo por base os processos de comunicação científica,
foi delinear e estabelecer a convergência teórica entre os dois tópicos de estudo.
Um resultado desse esforço foi a estruturação de conceitos que buscam sustentar a
abordagem da gestão do conhecimento científico. A exploração dos aspectos do
conhecimento tácito na ciência, por exemplo, tanto com o aporte da literatura quando do
levantamento realizado, constitui agora passos já percorridos para o aprofundamento da
questão em outros estudos e a formulação e teste de hipóteses.
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para o seu compartilhamento. Isso pode soar de maneira óbvia, no entanto a literatura em
ciência da informação de uma maneira geral, e, principalmente na comunicação científica,
raramente considera essa questão. Portanto, com base em dados empíricos, a relação entre
meios formais/conhecimento científico explícito e meios informais/conhecimento
científico tácito pôde ser investigada e observada.
• A comunicação científica influencia e é influenciada pela cultura científica/organizacional,
as quais, por sua vez, influenciam os processos de gestão do conhecimento científico no
contexto acadêmico.
• Há similaridades ou complementaridades entre as funções/processos da comunicação
científica e os processos de gestão do conhecimento.
• Indícios revelaram que os pesquisadores, no contexto de uma universidade, adquirem
conhecimento e experiência, principalmente ao longo de sua formação, a partir da
interação social com colegas e o ensino (aulas e orientação de alunos).
• Indícios revelaram que os pesquisadores compartilham conhecimento principalmente por
meios informais, onde o ensino (aulas e orientação) e a interação com colegas representam
as principais instâncias de compartilhamento. Por esses meios, parte do conhecimento
científico tácito é compartilhado. Por outro lado, conforme a literatura aponta, as
publicações científicas constituem o principal canal de compartilhamento do
conhecimento científico explícito.
• Indícios revelaram que a realização da pesquisa científica depende tanto do conhecimento
científico explícito, quanto do conhecimento científico tácito - conhecimento relacionado
às competências, habilidades que são compartilhadas informalmente por meio da interação
social entre pesquisadores.
• O formato e as regras próprias das publicações científicas contribuem para que muito
conhecimento que foi produzido e a experiência adquirida - considerados relevantes - não
seja explicitado.
• Foi possível constatar que as publicações científicas constituem um recorte de todo o
conhecimento científico produzido ao longo da realização de um projeto de pesquisa.
• Há conhecimentos científicos relevantes para a criação de novos conhecimentos
científicos que são utilizados e compartilhados informalmente em grupos de pesquisa,
conversas, orientação e aulas.
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não limitada a uma disciplina específica, mas sim ao conjunto de conhecimentos de uma
instituição.
• As perspectivas vertical e horizontal para abordagem da gestão do conhecimento científico
estão inter-relacionadas. Embora seja possível e necessário definir o ângulo de análise, não
é possível uma abordagem excluir a outra. A razão disso está em dois argumentos: i)
membros de comunidades científicas, de uma maneira geral, possuem vínculo com
instituições de ensino ou pesquisa; e ii) pesquisadores membros das comunidades
acadêmicas pertencem individualmente a comunidades científicas específicas.
• Os principais elementos intervenientes dos processos de gestão do conhecimento científico
- considerados no modelo conceitual como elementos macro - são comunidades
científicas, comunidades acadêmicas, comunicação científica, cultura
científica/organizacional. Cada um desses elementos exerce influência sobre os processos
de gestão do conhecimento propriamente ditos.
• O modelo conceitual de gestão do conhecimento científico proposto, além de prover as
necessidades de gestão, por levar em consideração os processos de comunicação
científica, mais especificamente a abordagem do movimento do livre acesso ao
conhecimento científico, oferece grande visibilidade a produção científica da comunidade
acadêmica.
• Os repositórios institucionais podem ser considerados como ferramentas apropriadas para
o auxílio na gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico pois ao mesmo
tempo em que agilizam os processos de comunicação científica, potencializam também a
condução de processos que maximizam a criação, o compartilhamento, a disseminação e o
uso do conhecimento científico.
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• Embora o modelo proposto tenha sido amplo o suficiente para contemplar aspectos da
ciência que são comuns à todas as áreas do conhecimento, no que diz respeito aos
processos de comunicação, em função dos processos de gestão do conhecimento, é
necessário verificar se os padrões de comunicação e as diferenças disciplinares apontam
para modelos diferentes de gestão para diferentes áreas do conhecimento.
• Devido ao seu caráter exploratório, a pesquisa limitou-se ao desenvolvimento de quadro
teórico de referência, sem necessariamente testar hipóteses ou verificar correlação entre
variáveis. Mesmo que o modelo tenha se fundamentado também em dados empíricos -
provenientes da realização de entrevistas - como tópico para estudo futuro sugere-se a
verificação, com base na realidade, dos relacionamentos entre os elementos macro do
modelo.
• O estudo dos obstáculos e fatores que contribuem para compartilhamento do
conhecimento científico tácito e explícito em nível institucional é relevante para o
entendimento o aperfeiçoamento do modelo proposto em estudos futuros.
• Com vistas ao aprofundamento e aplicação de conceitos e teorias embutidos no modelo
conceitual de gestão do conhecimento científico sugere-se a utilização concomitante de
métodos de pesquisa de abordagens diferenciadas. A triangulação de métodos
qualitativos e quantitativos oferecerá outros subsídios para o entendimento da questão.
• Com relação ao tópico conhecimento científico na ciência, é necessária a realização de
estudos que enfoquem especificamente essa questão. As pesquisas devem utilizar
métodos etnográficos. A convivência com pesquisadores e estudantes nos seus ambientes
de produção do conhecimento como os laboratórios e reuniões de grupos de pesquisa
oferecerão dados importantes sobre a dinâmica do conhecimento tácito na ciência.
• A maneira como os padrões da cultura científica influenciam a cultura organizacional no
contexto de uma universidade merece ser investigada.
• O estudo da gestão do conhecimento científico na perspectiva vertical das comunidades
científicas justifica-se como tema para um estudo futuro.
• A verificação da aplicabilidade dos repositórios temáticos como ferramenta de gestão do
conhecimento científico em comunidades científicas pode ser explorada em outra
pesquisa.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado
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Anexo 1
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Apêndice
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Universidade de Brasília.
Tem coisas de reuniões, de discussões que você não publica. Sempre tento passar o que deu certo e o que não deu, mesmo Coisas sigilosas, relacionadas à patentes eu não posso Sala de aula, reuniões de grupos de pesquisa, reuniões
nas publicações, onde isso não é muito comum, pois elas só divulgar, muito menos em congresso. informais, encontros informais, eu dou um peso muito grande às
7- UTILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO colocam o que deu certo. trocas de conhecimento em ambientes informais. Qual a
COMPARTILHADO INFORMALMENTE diferença entre o conhecimento compartilhado assim e o
das publicações? Nos artigos é muito mais seco, é muito mais
técnico, é a parte tecnológica da minha ciência. Nos artigos eu
disponibilizo informação, nas minhas conversas informais ou
formais, nas reuniões eu compartilho conhecimento, ou seja, as
minha informações científicas com parte de minha cultura.
É difícil quantificar isso. Se eu fosse responder levianamente eu Ambos são importantes, os meus conhecimentos, as minhas O conhecimento formal é sempre um avanço, um degrau a A parte cultura, informal e muita mais importante. A técnica está
diria que q tradição oral é mais importante, é fundamental. habilidades são tão importantes quanto o que eu tenho de mais. Compartilhar o conhecimento formalmente, através de aí, mas sem aparte informal ela não avança.
Agora por trás dela tem uma literatura. As duas coisas pesam e registro da literatura. A literatura passa a ser mais importante publicações mostra o que você tá fazendo e faz com que outros
8- IMPORTÂNCIA DA LITERATURA E são muito amarradas. É possível comunicar o conhecimento por que é mais facilmente disseminado. A minha ‘informação’ e setores progredirem. O conhecimento informal é importante, sou
da tradição oral por meio de publicações? As publicações a do meu colega é mais restrita, tem dificuldade de acesso. reflexo disso, pois recebi instruções informais, dicas, truques
IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO são muito sucintas. Na tradição oral você vai discutindo, você que me ajudam no dia a dia e eu tento passar para outros. Esse
COMPARTILHADO INFORMALMENTE tem mais liberdade de discutir coisas que já são conhecidas, conhecimento poderia ser compartilhado por meio de
que todo mundo já sabe. Você vê se o outro está entendendo publicações? Até é possível, mas não é interessante por que
ou não, você tem liberdade de passar sua experiência. E isso é não é algo inovador ou relevante para ser publicado.
importante? É fundamental. Você só forma um cientista
fazendo ciência, e não somente lendo a literatura. A ciência está
cheia de outras coisas que vão em um processo de discussão.
A coisa fundamental é o apoio para a participação de A universidade tenta apoiar através de congressos internos, Apoio de infra-estrutura, de computador, de internet. As Em todos os aspectos que eu mencionei anteriormente a
seminários, os professores devem participar, eles só participam mas ainda é limitado. A deficiência está em existirem pessoas comunicações são pela internet. Isso é básico. universidade é importante. Ela contém o conhecimento técnico
9- PAPEL DA ORGANIZAÇÃO NOS quando têm interesses exclusivos. Às vezes um não vai no que se sentem bem em reter o conhecimento e dificilmente estruturado, informação, e utiliza ferramentas modernas para a
PROCESSOS DE CRIAÇÃO E seminário do outro por questões pessoais. Na medida em que compartilham o seu conhecimento. Via de regra o contato sua transmissão. A transmissão se dá por meio das pessoas
essas barreiras forem transpostas você cria instituições mais pessoal e as trocas com colegas é bem efetiva. Qual a que estão integradas de diferentes formas na universidade.
COMPARTILHAMENTO DO sólidas. importância desse conhecimento? É extremamente
CONHECIMENTO CIENTÍFICO importante, eu vou trabalhar com algo que ele já trabalhou
então eu vou perguntar quais são esse conhecimentos, do
cotidiano dele. Os periódicos não trazem esse detalhamento, eu
olho nas neles também, mas as dúvidas vão surgindo, e o
caminho para saná-las é pessoal.
Uma rede mais rápida. A disponibilização de cursos também É difícil colocar no papel esse conhecimento que é de Rapidez e comunicação em tempo real. Internet II, alta Acho que nós temos ferramentas muito poderosas que já
ajuda. Hoje em dia a internet disponibiliza a imagem que só a habilidades do cotidiano. Com relação ao conhecimento velocidade. O núcleo da investigação científica é computação. permitem que a gente esteja falando a distancia, esteja em
10- TECNOLOGIA PARA MAIOR USO E televisão disponibilizava, mas com a facilidade de interação, científico, essa parte do conhecimento tácito é muito difícil, por Eu passo a maior parte do tempo em computador, e meus contato com muita gente na hora que for necessário, tem já
COMPARTILHAMENTO porém esses cursos, essas tecnologias sincronizadas que é difícil de você escrever e as revistas não aceitariam com alunos na bancada, agora todas as idéias surgem com o auxílio ferramentas bastante poderosas de arrumação da informação,
necessitam da conversa do dia a dia. Eu falei da tradição, da um nível de detalhamento. Mas em termos de informação a do computador. A forma de comunicar essas idéias está boa do resgate dessa informação. Não existe e não creio que deva
cultura do ponto de vista do orientador, mas tem a discussão gente tem melhorado muito com a internet, periódicos on line, ou poderia ser aperfeiçoada? Pode melhor, hoje já está muito existir nenhuma ferramenta que resgate ou que tente resgatar
entre os alunos. Toda essa disponibilidade da mídia são boas, então o conhecimento está indo e vindo muito rápido. A bom. Você não depende mais da biblioteca. Só quero internet esse conhecimento que é preso à pessoa, por que toda
no sentido em que favorecem isso, mas ela cria a falta de existência, na universidade, de meios de comunicação mais que me dê acesso a periódicos. O Portal de Periódicos da ferramenta é limitada na sua forma de compartimentar o mundo
comunicação, a tradição oral de discussão com alunos e entre flexíveis, ajudaria? Seria bastante interessante e trabalhoso. Capes é uma revolução copérnica, fantástico. Antes demorava real. Não deve existir ferramenta que pode captar o
alunos. Talvez não tivesse muita adesão por isso e por que muitas até 6 meses para conseguir um artigo, hoje com um clique eu conhecimento intrínseco das pessoas.
pessoas teriam dificuldade de compartilhar esse conhecimento tenho em mãos.
individual.
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Universidade de Brasília.
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Universidade de Brasília.
A nossa universidade é uma instituição flexível e tem abertura A instituição de maneira mais ou menos ótima, dependendo da O conhecimento científico depende quase que exclusivamente Ao lado das publicações mais formais têm de haver textos mais
para a criação do conhecimento, no sentido geral. Existem perspectiva, tem feito. Ela tem a sua editora, é um canal do fomento do Estado, um dos fomentos mais clássicos é criar informais e tem de haver um contato da UnB junto com, eu não
9- PAPEL DA ORGANIZAÇÃO NOS poucos espaços de trabalho coletivo, não existe uma cultura de disponibilizado pela instituição para a divulgação de universidades. Como todas as universidades públicas diria o povo de forma geral, porque eu não sei se é por aí, mas
PROCESSOS DE CRIAÇÃO E compartilhamento com os pares no interior da universidade, é conhecimento que ela produz. Nós temos a assessoria de brasileiras, a nossa universidade sofre de falta de recursos. Mas assim, junto com os professores. Junto com os diversos
necessário incentivar essas relações. A universidade deveria comunicação da UnB que tem tido um papel muito importante fundações de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico profissionais da área. Tanto com os professores e profissionais
COMPARTILHAMENTO DO agir nesse sentido... Poderia estimular mas defendendo um nisso, eles têm buscado os pesquisadores, encontrado coisas da universidade deram uma agilidade, viabilizaram muitas quanto dentro do mesmo departamento, você tem ali áreas
CONHECIMENTO CIENTÍFICO cultura de outro tipo, uma cultura que as reuniões não fossem que eles fazem e criado uma pauta de notícias, divulgado essa coisas. E a questão não é oferecer capacitação, e sim pessoal teóricas diferentes, eu acho que as áreas teóricas ficam muito
administrativas. O colegiado se reúne para discutir e deliberar pauta pelo Brasil inteiro. Eu já dei várias entrevistas sobre o de apoio com capacidade para operar as ferramentas. Eu tenho voltadas para o seu arsenal. A senhora acha que aliado à
questões administrativas, mas pouco para deliberar sobre meu trabalho provocados por ações da assessoria de que fazer tudo, existe falta de pessoal, até na secretaria. publicação científica formal deveria haver outro tipo de
ciência, a não ser nos eventos científicos que a universidade comunicação social, que tem esse papel também, de ser um Existem equipamentos, instrumentos de interação, porém falta publicação? É, um outro tipo de texto, um outro tipo de
promove. Fora isso não existe, a instituição deveria mudar essa canal de comunicação à sociedade do que a gente faz aqui infra-estrutura humana, o que eu chamaria de escalão publicação que não exigisse que o leitor tivesse que ter o
cultura, é uma mudança de cultura organizacional. De ser um dentro. Poderia fazer isso mais na medida em que subsidiasse intermediário entre aluno e pesquisador. conhecimento do jargão usado.
espaço de maior intercâmbio científico e de colocar a ciência a realização de eventos, de congressos, da vinda de
em um plano mais evidente no cotidiano da instituição. Não há pesquisadores estrangeiros, que subsidiasse com mais
uma cultura de trabalho coletivo, os grupos são fechados, intensidade o intercâmbio com outros setores de outras
separados sem vínculos. Fica muito na espontaneidade do universidades, o que também acaba acontecendo nas bancas
pesquisador, as suas próprias forças de se articular com outros. de mestrado e doutorado sempre tem colegas de fora que vem.
É preciso uma cultura em favor disso. É um modo de se comunicar, de exteriorizar o que a gente faz.
Poderiam existir redes que utilizassem os próprios recursos da As tecnologias de comunicação já avançaram muito, elas Em tecnologia aqui já tem bastante coisa, como aquela A gente ter que ter infra-estrutura. A infra-estrutura que a
universidade, que aparecessem emails de pesquisadores que oferecem muitas possibilidades de compartilhamento, o que plataforma produzida pelos colegas da matemática, o Moodle. universidade nos oferece é muito pequena, eu falo que você
10- TECNOLOGIA PARA MAIOR USO E trabalham com isso ou com aquilo para que as pessoas falta é uma cultura dos usuários para usar essas possibilidades Você tem um computador e acaba utilizando o mínimo que ele tem que pegar o milho, plantar, regar, colher, moer e distribuir.
COMPARTILHAMENTO pudessem de localizar. Há como se apropriar da literatura, o e saber explorá-las adequadamente. Nós precisaríamos pode oferecer, você não sabe usar muito do que ele pode O pesquisador tem que fazer tudo dentro da universidade, na
Portal de Periódicos da Capes, tudo isso. Mas de divulgar eu desenvolver essa cultura, uma cultura do uso da tecnologia em oferecer. pública pelo, menos. Computador e livro ninguém deveria
acho que deveriam ser feitos sistemas de informação mais prol do compartilhamento, da divulgação do conhecimento precisar pedir, tem que ter. Precisamos de dinheiro para bons
amigáveis que permitissem ter uma idéia maior do interior da científico. Já há muito avanço, a participação em redes virtuais, laboratórios, infra-estrutura material, suporte administrativo, que
própria universidade, do que está fazendo cada um e como já existe muito suporte para redes virtuais, mas a gente tem é mínimo.
cada um pode se conectar com outro. Por exemplo, se eu quero pouca cultura de usar, de compartilhar, de participar disso aí,
saber, em termos de pesquisa, o que estão fazendo os como os fóruns não tradicionais de vídeo conferências. Eu acho
professores da lingüística, eu não tenho uma coisa amigável, que nós deveríamos mais focar na cultura do usuário.
não significa que não exista, por existe uma relação de
professores da lingüística, o currículo lattes, se eu quero
acessar vou lá na plataforma lattes como você fez, mas eu
estou falando de um sistema amigável, simples, concreto, que
permitisse isso por exemplo.
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LEITE, F. C. L. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. Brasília, 2006. 240p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação,
Universidade de Brasília.
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Universidade de Brasília.
A universidade influencia na medida em que me dá condições A universidade é ágil, moderna, e nossa estrutura é acima da É complicado. As universidades, do ponto de vista político, A departamentalização tem alguns pontos positivos, pois você
para ensinar e pesquisar. Um dos maiores processo para a média das universidades brasileiras. Apoio financeiro para perderam o controle sobre isso. O controle está nas mãos dos convive com os economistas aqui, com pessoas com interesses
9- PAPEL DA ORGANIZAÇÃO NOS minha produção do conhecimento é o ensino quem me pesquisa tem que buscar fora da universidade. Ela dá infra- editores científicos, dos órgãos de fomento, das comissões comuns. Mas tem o lado muito negativo, você começa a fazer
PROCESSOS DE CRIAÇÃO E proporciona isso é a universidade. Ensino e pesquisa só se estrutura, salas, computador. desses órgãos. O governo só passa recurso para o ensino, só aquilo que pensa um economista, porém a economia é
consegue fazer juntos. Aquele professor que é só professor vai recursos para pesquisa são as agências, portanto não há baseada em psicologia, sociologia, ciência política, etc. O lado
COMPARTILHAMENTO DO repetir a literatura, você tem que fazer um pouco das duas autonomia na universidade como muitos dizem, e assim ela não negativo é que você fica cada vez mais especialista em coisas
CONHECIMENTO CIENTÍFICO coisas. Financiamento é nas agências. A universidade tem poder de decisão. Elas não têm avaliação da ciência, tem específicas. Eu gosto muito da idéia de compartilhar idéias com
proporciona infra-estrutura, ela garante condições mínimas, avaliação do ensino. Um sistema externo é que determina pessoas que pensam de modo diferente, que têm outra visão de
gostaria que fosse mais. essas políticas e que faz executar. mundo, mas estão dispostas a conversar de modo civilizado. A
vantagem da UnB é que você tem alunos muito bons.
Acesso a periódicos poderia ser facilitado, a biblioteca de uma A internet é suficiente na minha área. Tenho acesso ao Portal Internet e as grandes bases de dados que estão nela. Os Eu raramente leio um trabalho, um texto no computador, eu
forma geral. Cada vez mais acesso a periódicos e a livros, de de Periódicos da Capes, tenho acesso à todos os livros e periódicos científicos vão desaparecer com o tempo. Eu me mando imprimir. Eu sinto falta sentimental do livro, eu gosto de
10- TECNOLOGIA PARA MAIOR USO E forma mais rápida. Acontece o seguinte: já existe muito acesso, periódicos sem precisar viajar. Posso me conectar com pessoas pego buscando na internet um artigo que está na minha estante marcar, de ter um contato físico com o livro ou artigo. É uma
COMPARTILHAMENTO mas é um processo muito lento, demorado e precisa ser mais as mais diferentes. Eu gostaria que tivéssemos um prédio, uma às minhas costas. A internet com os grandes bancos de coisa física. Eu acho que se você ter uma boa biblioteca, um
rápido. biblioteca setorial, sala maior, infra-estrutura. informação como Portal da Capes e Scielo. bom computador que faça, que possibilite você acessar artigos
ou livros em outros lugares é muito importante. Eu acho que há
uma supervalorização da tecnologia, a pessoa começa a ter
muita informação e pouca organização do conhecimento. A UnB
não precisa dar muito não, eu honraria que tivesse na biblioteca
alguns volumes de revistas mais atualizados, a Capes já faz
isso com o Portal. É importante você ter equipamentos mais
eficientes, os da UnB não são, nosso setor de informática
precisa ter mais investimentos.
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