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A “Terceira Via” e a redefinição do papel do Estado na


Educação Brasileira*
Gabriel Gomes Ferreira**

Resumo

O presente artigo trata do conceito da Terceira Via, uma das estratégias do capitalismo para a
superação da crise no modelo estatal, e seus desdobramentos no contexto das políticas
educacionais brasileiras. Através de um apanhado histórico geral, busca-se entender como se
deu processo de formação do Estado Brasileiro, relacionando suas influências diretas na
função social da escola, da gestão democrática do ensino e na formação do indivíduo perante
a sociedade atual.

Palavras-chave: Terceira Via, Políticas educacionais, Redefinição do papel do Estado.

The "Third Way" and the redefinition of the role of the


State in Brazilian Education

Abstract

This article deals with the concept of the Third Way, one of the strategies of capitalism to
overcome the crisis in the state model, and its developments in the context of Brazilian
educational policies. Through a general historical overview, it is sought to understand how the
process of formation of the Brazilian State occurred, relating its direct influences on the social
function of the school, on the democratic management of education and on the formation of
the individual before the present society.

*
Este artigo constitui-se no trabalho final da disciplina Organização dos Sistemas Educacionais II, do Curso de
Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, cursada no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense campus Campos-Centro, no 1º semestre do ano letivo de 2017.
**
Licenciando em Letras pelo Instituto Federal Fluminense. E-mail:gabrigomez15@gmail.com.
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Key words: Third Way, Educational Policies, Redefiniton of the Role of the State

INTRODUÇÃO

As discussões inerentes ao papel da escola e a sua função social conduzem a


observação de vários aspectos historicamente construídos e assimilados em uma determinada
sociedade, como a forma organizacional em que essa se dispõe e as relações de poder entre as
classes que as constitui.
De acordo com Vera Maria Vidal Peroni (2008), a formação do Estado nacional
liberal brasileiro esteve em contradição com os próprios preceitos capitalistas, uma vez que
conviveu com o escravismo e o latifúndio. Diferentemente de outros países latino-americanos,
as mudanças decorrentes no Brasil possibilitaram a permanência de grupos mais
conservadores no poder, constituindo um Estado nacional liberal apenas em suas bases
formais. Além disso, as relações sociais de exploração no Brasil também se deram via
“ideologia do favor”. Tais marcas histórias estão enraizadas na nossa cultura, e contrapõe-se a
visão da política social como um direito.
O processo educacional no Brasil esteve em consonância com as transformações
políticas e sociais durante todo o seu período de sua implementação, sendo parte integrante da
redefinição do papel do Estado. A proposição capitalista de um modelo Estatal em crise e a
suposta necessidade de reforma em sua gama de atuação trazem diversas estratégias de
superação em seus discursos. Portanto, mesmo que tenham ocorridos avanços numa
configuração mais democrática da sociedade e da gestão educacional, através da luta de
movimentos sociais, o cenário imposto pela redefinição do papel do Estado obstrui a
implementação efetiva destes direitos conquistados. (PERONI, 2008).
Se, em um primeiro momento, buscou-se a ampliação da oferta de ensino para uma
maior parcela da população, através de medidas com caráter predominantemente inclusivo, a
perspectiva atual reflete sobre a qualidade da educação ofertada e sua finalidade social. O
acesso ao conhecimento não se configura apenas como acesso a escola, mas sim em como
esse processo se constitui e de como o indivíduo adquire sua autonomia intelectual de forma
plena, possibilitando de fato uma formação educacional efetiva. Diante desse aspecto, faz-se
necessário a reflexão de como e por quais caminhos são direcionados o processo pedagógico
em vigor nas políticas educacionais brasileiras na atualidade (PERONI, 2008).
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A Terceira Via defende a transferência da execução do papel social do Estado para a


sociedade, apelando para a subjetividade individual por meio da solidariedade e filantropia,
através do terceiro setor, na medida em que o dinheiro público dos impostos é direcionado
para a esfera financeira. No âmbito educacional, as parcerias oriundas desse conceito refletem
em uma reestruturação da gestão das escolas, tomando como parâmetro o conceito de que o
privado mercantil possui um padrão de excelência frente aos moldes do modelo público,
implicando diretamente na gestão mais democrática da Educação (PERONI, 2013).
Este artigo visa em sua primeira parte, examinar como se deu a construção histórica
do processo educacional brasileiro e como suas nuances estiveram diretamente ligadas ao
modo de atuação do Estado, bem como suas diferentes formas de organização. A segunda
parte traz a perspectiva da Terceira Via, diante da conjuntura atual em que o Estado Brasileiro
encontra-se constituído, destacando seu formato de funcionamento e de que maneira isto se
reflete na gestão educacional.

A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS


EDUCACIONAIS DO BRASIL

A compreensão dos reflexos das atuais políticas educacionais, passa pela análise de
como o processo de implementação da Educação se deu no Brasil, país de dimensões
continentais e que, por conseguinte tem dificuldades nas atribuições de políticas públicas,
diante de ações que consigam subsidiar um “desenvolvimento” educacional1 no processo de
consolidação da economia nacional.
Observar esse processo é quase como observar uma contradição no que diz respeito
ao desenvolvimento perante a construção de bases sólidas, e a educação em momento algum
fica fora dessa análise. Segundo Araújo (2011), no princípio, a organização escolar era
designada objetivando aos interesses das classes privilegiadas, cabendo não ao Estado
Nacional, mas sim às províncias e, posteriormente, aos estados, a tarefa de fomento a
educação.

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Destarte, referencia-se a noção de “desenvolvimento educacional”, em um primeiro momento, a uma ideia de
democratização do ensino público, visto que mais a frente os autores retomam a noção de democratização
enfocando sua matriz de qualidade e não apenas de atendimento de massa. Pois nessa seara de ampliação das
bases nacionais é que se constroem as fronteiras da desigualdade no processo educativo que atende as classes
privilegiadas. A princípio, a organização escolar era designada objetivando os interesses seletivos, cabendo não
ao Estado Nacional, mas sim ás províncias e, posteriormente, aos estados, a tarefa de fomento a educação
(ARAÚJO, 2011).
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A ideia de intervenção do Estado na prática de tais políticas configurou-se um


processo defasado, apenas ganhando incorporações maciças a partir da criação do Ministério
Público da Educação e Saúde em 1930. Ao se constituir a educação como questão nacional,
observou-se uma acentuação do papel do Estado, sobretudo pela necessidade da transição de
uma economia predominantemente agrária para uma industrial, buscando a incorporação das
grandes massas de trabalho no processo produtivo apoiado na perspectiva de um Estado
Nacionalista, durante o período do Governo de Getúlio Vargas. (ARAÚJO, 2011).
Assim, são modificadas as aspirações sociais em relação à educação, agora voltada
ao capitalismo industrial emergente no Brasil, que preconizava novas exigências de instrução
a uma maior parcela da população, ampliando consideravelmente a oferta de ensino.
(LIBANÊO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2012).
Vale ressaltar que a implantação do modelo de Estado Nacionalista não corroborava
exatamente os objetivos propostos pelas políticas keynesianas, para provimento do chamado
bem estar social.
O objetivo principal desse modelo de Estado não era tanto a redistribuição de renda
e de provimento do bem-estar social como foi o caso de muitos países Europeus,
mas a transição de uma economia eminentemente agrária para uma industrial. Daí a
adoção da concepção de que o Estado seria a grande Alavanca do progresso
econômico e social do país. Posição que foi reforçada pelas políticas keynesianas
aplicadas em diversas partes do mundo a partir de 1930 (ARAÚJO, 2011).

No período que compreendeu dos anos de 1935 a 1945, instaurou-se o chamado


Estado Novo de Getúlio Vargas, marcado pela centralização do poder, que também viria a se
refletir na organização educacional. Atreladas a este processo, surgem participações mais
presentes da sociedade civil em relação à discussão sobre o tema da educação, representadas
nas disputas ideológicas entre católicos e liberais, que resultariam em contribuições de ambas
as partes na Constituição Federal de 1934, através de uma parte significante da proposta
educacional contida no Manifesto dos pioneiros da Educação Nova, de 1932. (LIBANÊO,
OLIVEIRA e TOSCHI, 2012).
Ainda que fossem dados os primeiros passos em relação a políticas mais efetivas na
educação, propulsionada pela pressão social objetivando um ensino mais democrático, a
oposição conservadora de: católicos e integralistas, conferiu a criação de um sistema de
ensino que se expandia e tornava a oferta mais abrangente, mas ainda sob o controle das
elites. (LIBANÊO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2012).
Com a implementação das leis orgânicas, editadas entre os anos de 1942 e 1946, o
Estado abdica-se da manutenção e expansão do ensino público, ao mesmo tempo em que
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determina, reafirmando o caráter centralizador de sua política educacional, as reformas do


ensino industrial, comercial e secundário, criando assim o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai). A partir disto, tornam-se mais presentes as discussões sobre o centralismo
Estatal, objetivando a construção de caminhos mais democráticos e da melhoria da proposta
de ensino. Com os debates entorno da votação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), promulgada em 20 de dezembro de 1961, começa a se desenhar
um processo de descentralização do ensino, ao se transferir a organização educacional do
sistema de ensino para cada estado. Porém, com a instauração do Golpe militar de 1964,
novamente se estabelece o fortalecimento do Executivo e a centralização das políticas
educacionais, que também ecoaria na Segunda LDB, de 11 de agosto de 1971, destacando a
concentração de recursos na esfera federal, medidas centralizadoras e distanciamento da
participação da sociedade, em face ao enfraquecimento do poder Legislativo (LIBANÊO,
OLIVEIRA e TOSCHI, 2012).
O Regime Militar buscou a síntese das influências das correntes nacionalista e
liberal, na tentativa de implementação de um projeto nacional, que acabou não possuindo a
popularidade das décadas de 1940 e 1950, visto a abertura do país ao capital e aos interesses
estrangeiros. Esse modelo de Estado começaria a se desgastar no início da década de 1980,
face ao colapso da União Soviética e ao fortalecimento do Capitalismo Norte-americano. Esse
cenário contribuiu para o crescimento dos princípios da doutrina Neoliberal no Brasil, o que
impactaria diretamente em diversas políticas de desenvolvimento até então praticadas no
momento (ARAÚJO, 2011).
O Neoliberalismo propõe a ideia de que a crise encontra-se no modelo de Estado e
não no Capitalismo. Assim, a reforma do Estado, através da diminuição de sua participação e
o prevalecimento da lógica do mercado em seu funcionamento seriam as soluções para a
superação desta crise. São nestes termos que se baseiam a reestruturação a figura estatal, que
culminam em novas políticas educacionais iniciadas a partir década de 1990 (PERONI, 2008).

A TERCEIRA VIA NO HORIZONTE EDUCACIONAL BRASILEIRO

O reconhecimento da crise no modelo Estatal e a sua redefinição a partir das lógicas


de funcionamento do mercado, proposto pela corrente neoliberal, é partilhada pela Terceira
Via. A partir da Constituição de 1988, caminha-se em direção a políticas sociais que em tese,
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apresentam a possibilidade de democratização da sociedade e de uma gestão democrática da


educação. Contudo, a crise do sistema capitalista e as suas proposições de superação (dentre
elas, a Terceira Via) alteram o papel do Estado frente as políticas sociais. Neste cenário,
ganham força as correntes neoliberais no Brasil, sobretudo no Governo de Fernando Henrique
Cardoso, a partir de 1994 (PERONI, 2008).

O diagnóstico apontado pelo Neoliberalismo é baseado no pressuposto de que a crise


do Estado é reflexo dos gastos exacerbados praticados pelo mesmo objetivando sua
legitimação, através do atendimento das demandas sociais e da regulamentação da economia,
atrapalhando o andamento de um livre mercado. Portanto, a alternativa para a superação deste
quadro é através da reconfiguração do Estado, com o redirecionamento das políticas sociais
para a sociedade: na visão neoliberal, através da privatização; para a Terceira Via através do
Terceiro Setor (PERONI, 2013).

A proposição da Terceira Via é de uma participação mais presente da sociedade, em


funções que a princípio caberiam ao Estado. Com isso, não estaria se confrontando
diretamente os princípios democráticos, como supõe a lógica da privatização do
neoliberalismo, uma vez que em tese, a participação social no processo estaria garantida na
execução de funções que a princípio seriam de incumbência do Estado. Ao se transferir a
responsabilidade de implementação das políticas públicas para a sociedade, o Estado limita-se
a repassar parte dos recursos e a atuar num papel predominantemente avaliativo. No que tange
as políticas educacionais, a atuação avaliativa do Estado reflete num distanciamento na
elaboração e na execução do plano educacional, pois todo este processo passa a ser de
responsabilidade das instituições do Terceiro Setor, o que causa impacto também na gestão
democrática da escola. Essa política, assim como alguns preceitos neoliberais, foi difundida
no Plano de Reforma do Estado Brasileiro, iniciativa proposta no Governo Fernando
Henrique Cardoso, intelectual ligado a Terceira Via e filiado ao Partido da Social-Democracia
Brasileira. Vale ressaltar que, apesar dos governos posteriores ao de Fernando Henrique não
possuírem filiação, a proposta do plano não foi revogada e ainda se encontra em vigor
(PERONI, 2008).

Assim, questões inerentes ao processo pedagógico ficam concentradas em


instituições da iniciativa privada, que passa a prestar um serviço de caráter público. O caso do
Sistema do Programa Rede Vencer do Instituto Ayrton Senna, que realiza parcerias com redes
públicas de ensino no País, demonstra a lógica de funcionamento do Terceiro Setor:
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Neste caso, as redes públicas não recebem investimentos do Instituto, ao contrário,


pagam por este monitoramento. É também o caso de outros programas do Instituto,
como as Classes de Aceleração e a Alfabetização, em que os municípios pagam
pelos Kits, e o pior é que têm a proposta pronta passo a passo, determinando assim o
currículo da escola pública. São dois questionamentos: O Instituto vive
principalmente de dinheiro das empresas que deixam de pagar os impostos e entrar
nos 25% da educação e, além de perderem esse dinheiro, os municípios pagam o
material, e ainda envolvem toda a rede de ensino público (PERONI, 2008).

Toda a constituição pedagógica do plano de ensino é definida a partir das diretrizes


determinadas pelo Instituto. Com isso, as atividades educativas praticadas pelos agentes do
processo educativo, como professores e diretores, passam a ter sua autonomia atrelada às
determinações desta figura privada, que executa uma função que, a princípio, seria de
responsabilidade do estado, interferindo na gestão democrática e contribuindo para a
culpabilização da figura individual ao invés do sistema público, pelo sucesso ou fracasso
escolar (PERONI, 2008). Ademais, cria-se a ideia de uma participação ativa da sociedade
civil, quando na verdade o processo educacional encontra-se centralizado em determinadas
instituições privadas, aumentando a distância do diálogo e da participação democrática nas
políticas de ensino público (PERONI, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão da transferência de responsabilidades inerentes ao Estado para a sociedade


civil traz reflexões sobre como estão sendo construídos os caminhos educacionais no Brasil e
de como isso interfere na formação do cidadão para exercício de sua plenitude intelectual. A
influência da Terceira Via, através da participação do Terceiro Setor, preconiza a participação
da sociedade em relação a funções que caberiam ser executadas pela figura do Estatal. A
utilização da lógica do mercado como fator comprovador de qualidade, a interferência direta
do setor privado em políticas alimentadas em parte com dinheiro público, a diminuição da
participação efetiva da gestão democrática, ao se planejar toda a execução do plano
pedagógico em torno de modelos pré-estabelecidos pelas instituições do Terceiro Setor e
abstenção do papel estatal conciliada a transferência de responsabilidade para a figura
individual, são alguns dos pontos que tornam mais relevante a reflexão sobre o papel social da
escola e de como este está sendo idealizado.
A busca pela Educação que de fato leve o conhecimento de maneira efetiva ao aluno
dialoga necessariamente com a configuração do Estado, sua forma de atuação perante a
necessidades impostas pela sociedade e como as relações de poder são construídas. É
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importante que haja diálogo entre todos os segmentos envolvidos no processo educativo. A
construção de medidas que fortaleçam o sistema como um todo, solidificando a oferta ao
ensino, permanência e êxito escolar são essenciais, assim como a atuação presente no Estado
no que diz respeito a práticas que, em tese, devem ser garantidas por ele.
As proposições neoliberais e as influências da Terceira Via consentem diretamente
com a proposição capitalista de reforma do Estado, em oposição a ideia de que a real crise
encontra-se justamente no capitalismo. O desejo de participação mais democrática da
sociedade, de superação dos cenários de desigualdade e da Educação como catalisadora de
transformações sociais, suscitam um debate mais amplo sobre como se configuram os
interesses políticos no país. Portanto, a identificação de um Estado que se exime das políticas
sociais deve ser observada de perto pela sociedade civil, a fim de se construir esteios em
busca de uma participação de fato mais democrática nas políticas públicas e em consequência,
nos rumos da educação brasileira.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Gilda Cardoso de. Estado, política educacional e direito à educação no Brasil:
"o problema maior é o de estudar". Educ. rev. 2011, n.39, pp.279-292. Disponível em <
http://www.scielo.br/pdf/er/n39/n39a18.pdf>. Acesso em 16 ago. 2017.

LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação
Escolar: políticas, estrutura e organização. 10° Ed., São Paulo: Cortez, 2012.

PERONI, Vera Maria Vidal. Redefinições no papel do estado: parcerias público/privadas


e a gestão da educação.
Disponível em http://www.anpae.org.br/iberolusobrasileiro2010/cdrom/123.pdf. Acesso em
16 ago. 2017.

PERONI, Vera Maria Vidal. Políticas públicas e gestão da educação em tempos de


redefinição do papel do estado. Texto apresentado na Anped Sul, 2008. Disponível em
9

<http://cristinasiqueira.pbworks.com/f/pol%25EDticas_publicas_e%2520gestao_da_educacao
_veraperoni.pdf> Acesso em 16 ago.2017.

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