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TÓPICOS AVANÇADOS EM EDUCAÇÃO FINANCEIRA

VOLUME 5

COMO MUDAR
HÁBITOS FINANCEIROS
PROF. ELISSON DE ANDRADE

WWW.PROFELISSON.COM.BR
VOLUME 5: COMO MUDAR HÁBITOS FINANCEIROS
1

Direitos Autorais
Copyright© by Elisson Augusto Pires de Andrade
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1988.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito do autor, poderá ser reproduzida ou
transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,
gravação ou quaisquer outros.

Autor: Professor Elisson de Andrade


Site: www.profelisson.com.br
Design e revisão de texto: Phillip Souza (www.criterionbr.com)

Andrade, Elisson de
Como mudar hábitos financeiros. [recurso eletrônico]. In: Tópicos Avançados
em Educação Financeira. Vol 5 / Elisson de Andrade. -- Piracicaba: O Autor,
2013.
68 p.
Modo de acesso: World Wide Web
Disponível em: http://profelisson.com.br/e-books/
ISBN: 978-85-913916-5-3
1. Mudança de hábitos 2. Comportamento 3. Educação Financeira
VOLUME 5: COMO MUDAR HÁBITOS FINANCEIROS
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SOBRE O AUTOR

O Professor Elisson de Andrade é Mestre e Doutor em Economia Aplicada pela


Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), professor de ensino superior em
cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de matemática financeira,
mercado de capitais, derivativos e faz palestras sobre finanças pessoais.
Blog: www.profelisson.com.br
Twitter: @Prof_Elisson

APOIO
VOLUME 5: COMO MUDAR HÁBITOS FINANCEIROS
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PREFÁCIO: VOLUME 5

O tema deste Volume 5 foi o último a ser escolhido, dentre os cinco da série “Tópicos
avançados em educação financeira”. Isso ocorreu não pela sua menor importância dentro do
contexto das finanças pessoais (longe disso!), mas devido ao fato de ser uma bibliografia
bastante recente em meu rol de leituras.
A ideia de dedicar este eBook ao tema Mudança de Hábitos se deu após eu realizar um
excelente curso online, denominado Produtividade Ninja, do inigualável Seiiti Arata. Apesar
de esse programa focar em Produtividade, as bibliografias sugeridas pelo amigo Seiiti
transformaram a forma como hoje enxergo o mundo à minha volta. Graças ao curso, tenho
conseguido eliminar diversos hábitos ruins e incorporar outros bastante úteis, não só no que
se refere à produtividade, mas também em relação às minhas finanças, saúde e
relacionamento com familiares e amigos.
VOLUME 5: COMO MUDAR HÁBITOS FINANCEIROS
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Dessa forma, gostaria de deixar claro que a inspiração deste eBook e a grande maioria
do referencial teórico utilizado, tem como sua origem o Produtividade Ninja (créditos
merecidíssimos). Após devorar os livros citados, minha contribuição está em buscar
enquadrar os conceitos a exemplos relativos a finanças pessoais. Mudar hábitos, portanto,
mostra-se como algo bastante poderoso e transformador, não apenas quando o assunto é
Educação Financeira, mas quando pensamos em todo o conjunto da obra que um ser
humano pode construir.
Boa leitura!

Prof. Elisson de Andrade


VOLUME 5: COMO MUDAR HÁBITOS FINANCEIROS
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................6

REVENDO PARADIGMAS........................................................................................................9

AS QUATRO DIMENSÕES DO SER HUMANO ....................................................................... 14

EM BUSCA DE UM PROPÓSITO ............................................................................................ 20

MUDANDO COM ESFORÇO E COM O TEMPO ...................................................................... 28

A IMPORTÂNCIA DO FOCO E DA CONCENTRAÇÃO ............................................................. 38

ADMINISTRE SUA ENERGIA ................................................................................................. 44

COMO MUDAR OS HÁBITOS FINANCEIROS ......................................................................... 50

A ÚLTIMA BARREIRA: HOMEOSTASE................................................................................... 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 67


VOLUME 5: COMO MUDAR HÁBITOS FINANCEIROS
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INTRODUÇÃO
VOLUME 5: COMO MUDAR HÁBITOS FINANCEIROS
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No Volume 2, desta série Tópicos Avançados em Educação Financeira, foi apresentada a


importância do desenvolvimento de Competência Financeira por parte dos consumidores. Os
argumentos utilizados foram na direção de que apenas o conhecimento não seria suficiente para a
boa administração do próprio dinheiro, sendo também necessário fazer um bom uso dos
conhecimentos adquiridos (desenvolvimento de habilidades e atitudes). Talvez esse seja um dos
maiores desafios a ser enfrentado por educadores financeiros, atualmente: as informações sobre
finanças pessoais existem, mas como assegurar que os indivíduos realmente mudem seus hábitos
financeiros para melhor?
Não há uma única resposta para essa complexa questão. Porém, muitos pesquisadores têm
buscado desenvolver técnicas e profundas reflexões, de forma a auxiliar os diversos agentes
econômicos na difícil missão de mudança de hábitos. Neste Volume 5 será apresentada uma
sequência de bibliografias voltadas à questão comportamental, de tal maneira que permita a
construção de um processo de mudanças, que vai desde a necessidade do autoconhecimento e
revisão de paradigmas, até regras práticas sobre como mudar hábitos de consumo.
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Portanto, este eBook irá oferecer ao leitor a oportunidade de experimentar saborosas


reflexões, elaboradas por pesquisadores de altíssimo nível, que tratam sobre o comportamento
humano. O objetivo é contribuir com a construção de uma base psicológica sólida, tornando
possível a aquisição de hábitos financeiros mais saudáveis, que auxiliem na melhoria do bem estar
pessoal.
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1
REVENDO PARADIGMAS

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Capítulo baseado nas ideias de Covey (2012), porém, com diversas contribuições do autor deste eBook.
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Uma primeira questão a ser reconhecida é que mudar hábitos financeiros não é tarefa trivial.
Isso talvez ocorra porque estamos acostumados a construir nossas convicções (que refletem em
nossos hábitos) a partir do que aprendemos com as gerações anteriores (pais e avós) e, ao focar
apenas na construção de nossa personalidade, acabamos por esquecer sobre quais bases estamos
alicerçados. Atualmente, existe uma percepção errônea de que o mais relevante pauta-se sobre o
que dizemos e fazemos, enquanto, na verdade, deveríamos nos preocupar, primeiramente, com
quem somos. Isso significa que sem uma profunda e clara reflexão sobre os princípios e valores que
deveriam nortear nossas vidas, qualquer tipo de transformação tende a ser infrutífera ou pouco
duradoura.
Dessa forma, ao distanciar o foco sobre o que fazemos e dizemos, e direcionar as lentes para
nosso interior, tal procedimento resultará numa revisão de paradigmas, em que os princípios que
norteiam nossas ações assumirão papel central. Ao mudar de paradigmas, fatalmente será
transformada a forma como percebemos e interpretamos o mundo ao nosso redor. E será somente
nesse nível de complexidade que uma efetiva mudança de hábitos se mostrará eficaz.
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Existem muitos livros de autoajuda que possuem o objetivo de modificar a vida do leitor para
melhor, focando na questão da motivação, pensamento positivo e atitude. Todavia, esse deveria ser
um passo posterior, pois se não houver um claro entendimento sobre quais paradigmas sua vida se
baseia, corre-se o risco de alocar muita energia para seguir o caminho errado. Fazendo uma
analogia, é como ter uma grande força de vontade de chegar a um destino, porém, com o mapa
incorreto.
Portanto, antes de pensar em formas de mudanças de hábitos, sejam eles financeiros ou não, é
determinante reconhecer que nossos comportamentos derivam dos nossos princípios, da pessoa
que realmente somos. Será apenas compreendendo a origem do problema que se tornará possível
saná-lo. Se algo estiver errado na raiz, é nela que primeiramente deveremos focar.
Existem muitos casos em que pessoas mudam (reveem) seus paradigmas quando se defrontam
eventos de alta complexidade, como uma doença grave ou chegada do primeiro filho. O que se nota
é que, a partir desses momentos marcantes, a maneira como se interpreta a vida e,
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consequentemente, a forma como irão agir a partir daquele momento, muda. Nesses casos há,
claramente, uma revisão das prioridades, uma nova visão de mundo.
Mas a boa notícia é que não se mostra necessário ocorrer situações extremas para que seja
possível rever os próprios paradigmas. Ao término deste eBook, possuindo problemas financeiros ou
não, convido o(a) prezado(a) leitor(a) a fazer uma reflexão interna, em que será possível avaliar se
suas ações diárias estão condizentes com seus princípios mais fundamentais. Apesar de não ser
nada fácil quebrar paradigmas profundamente arraigados, tal transformação é essencial, pois
mudanças de hábitos devem partir de uma nova forma de ver o mundo, que, no entanto,
depende de um ser diferente.
Pessoas que buscam a solução de fora para dentro, geralmente, são infelizes. Concentram-se
nas fraquezas dos outros e formulam explicações nas circunstâncias para justificar seu fracasso. Por
outro lado, quando a mudança se origina de dentro para fora, surge a capacidade de criar uma vasta
gama de ações práticas, capazes de lidar com diversas situações. Assim, ao criarmos hábitos
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baseados nos paradigmas corretos, conseguimos externar nosso caráter e eficiência, sendo essa
uma poderosa ferramenta de transformação e criadora de certa ordem e coerência em nossas vidas.
Por fim, é preciso reconhecer que verdadeiras mudanças exigirão esforço e dedicação, além de
não acontecerem da noite para o dia. Além disso, o poder transformador está dentro de cada um de
nós, não sendo possível mudar apenas por pressões externas – através de argumentos ou pressões
emocionais. A porta da mudança só se abre pelo lado de dentro e somente você tem a chave.
Portanto, mãos à obra e caminhemos rumo à aquisição de bons hábitos financeiros.
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AS QUATRO DIMENSÕES DO
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SER HUMANO

2
Tópico inspirado nas ideias de Covey (2005).
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No capítulo anterior foi discutida a importância de se construir um paradigma centrado na


pessoa que somos, em nossos princípios e valores. Nesse contexto, em que o autoconhecimento
assume papel de destaque, serão apresentadas quatro dimensões que nos tornam um ser integral. A
relevância de tal entendimento é que dessas dimensões é que surgem nossa capacidade
(inteligência) para a mudança de hábitos financeiros, desde que estejam alinhadas aos objetivos
traçados. A seguir, vejamos cada uma delas:

Inteligência física: refere-se aos cuidados necessários com nosso corpo físico, ou seja, com a
saúde. Uma pessoa, para assumir um compromisso de mudança, precisa estar disposta,
fisicamente, para tal (atender às necessidades básicas do corpo). Cuidados com a alimentação,
dormir bem, fazer exercícios físicos regulares, são hábitos primários a serem adquiridos, que
fornecerão a energia necessária para uma transformação do comportamento e aquisição de
disciplina. Se, por exemplo, em determinado período de tempo for necessário aumentar a receita
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familiar, trabalhando mais (hora extra, bicos aos finais de semana), será preciso disposição física
para cumprir esse objetivo.

Inteligência mental: é nossa capacidade de analisar, raciocinar, pensar abstratamente, usar a


linguagem, visualizar e entender. Em se tratando de finanças pessoais, a Educação Financeira,
enquanto um processo de aprendizado, possui como objetivo maior aprimorar essas capacidades
e, por consequência, as tomadas de decisões de investimento e consumo. É preciso aumentar o
campo de visão, o leque de possibilidades. Assim, para que haja uma mudança de hábitos que nos
leve ao destino desejado, será preciso desenvolver a inteligência mental, através de leituras,
cursos, diálogos com pessoas que agreguem valor, além de reservar momentos para reflexões
sobre os objetivos a serem alcançados. Desenvolver o lado mental também possibilita o
estabelecimento de foco e prioridades, algo que será aprofundado posteriormente neste
material.
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Inteligência emocional: significa o autoconhecimento, a autoconsciência, nossa sensibilidade


social, a capacidade de comunicação com as outras pessoas. Em relação à mudança
comportamental, é importante saber que é a partir da inteligência emocional que emana a paixão
por fazer algo, a empolgação e a determinação. Pessoas com tal capacidade bem desenvolvida
aprendem a reconhecer as fraquezas pessoais e adquirir respeito pelas diferenças. Acreditam que
a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Conseguem encontrar inspiração, motivação, para
executar desde as tarefas mais triviais, às mais complexas.

Inteligência espiritual: é a mais fundamental de todas, pois é a fonte de orientação das outras
três inteligências. Representa o sentido que damos à nossa vida, sendo o pilar de todos os hábitos
a serem incorporados. É nossa consciência, nossa lei moral interior, uma bússola que ajuda a
descobrir os verdadeiros princípios. Tem a ver com a necessidade de transcender, deixar um
legado para a humanidade. É a subordinação de nosso eu a um propósito, sacrificando abrir mão
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de algo bom, para conquistar objetivos muito maiores. É a partir dessa capacidade que
deveremos decidir quais hábitos eliminar e quais adquirir.

O que se pode notar, até este ponto da leitura, é que uma mudança de hábitos financeiros deve
passar por uma revisão de paradigmas, estabelecimento de um sentido claro na vida e uma atenção
especial com as quatro inteligências apresentadas. E se você dispôs a ler este material, certamente
existe certa consciência sobre a importância de seu comportamento em relação às suas finanças
pessoais. Portanto, de forma a permitir algumas reflexões iniciais, antes de prosseguir com a leitura,
responda às seguintes questões:

IMPORTANTE
Essas quatro perguntas serão novamente mencionadas em capítulos posteriores.
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1) Qual a importância do dinheiro em sua vida?


2) Com qual finalidade pretende administrar melhor suas finanças?
3) Quais sacrifícios e quanto de esforço está disposto(a) a encarar a partir de agora, em prol de uma
vida financeira mais saudável no futuro?
4) Como seus hábitos atuais estão alinhados com um bom desenvolvimento de suas inteligências
física, mental, emocional e espiritual?

Essas são perguntas aparentemente simples, mas que talvez você se surpreenda como as
respostas ainda são relativamente vagas. De forma a ajudar em tais formulações, comecemos com
uma reflexão mais profunda sobre o lado espiritual. Mais especificamente, trataremos de discutir
sobre os verdadeiros propósitos que deverão inspirar e permitir transformações comportamentais
baseadas em um sólido alicerce.
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EM BUSCA DE UM PROPÓSITO
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Quando algumas pessoas vêm me perguntar onde podem investir seu capital, na busca de bons
retornos, costumo responder com outra questão: “mas para que deseja guardar dinheiro?”.
Geralmente soltam a famosa interjeição “Ahhh”, na busca de dar um tempo ao cérebro para que
encontrem um sentido que justifique a pergunta feita, mas não têm uma resposta baseada em um
desejo realmente genuíno e claro.
Nesses casos, o que se pode notar é que a decisão de guardar dinheiro é bastante nebulosa. As
respostas que se seguem ao “Ahhh” são as mais variadas, porém, na maioria das vezes desprovidas
de um propósito que realmente justifique o esforço e disciplina, necessários para o ato de investir.
Menciono as palavras esforço e disciplina porque investir significa abrir mão de algo hoje, para
conseguir algo melhor no futuro.
Isto é, sair do hábito de gastar toda a receita e passar para um comportamento poupador,
exige renúncia, lidar bem com sentimentos derivados do ato de privar-se, sendo que isso só será
possível se houver um propósito bastante claro que inspire a não se desviar do caminho ao longo da
jornada.
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Comprar a ideia de administrar o dinheiro sem se endividar requer muita força de vontade. Mas
como citado no magnífico livro de Frankl (2008), “quem tem por que viver aguenta quase todo
como”3. Tal frase significa a importância de termos propósitos bem definidos na vida, que nos farão
suportar quaisquer intempéries com sabedoria e naturalidade. Voltando para o exemplo de
investimentos citados no início deste capítulo, se houver um sentido verdadeiro, que justifique o
investimento a ser realizado, será possível suportar qualquer restrição de consumo atual.
Esse tipo de problema ocorre, usando as palavras de Frankl (2008), porque algumas pessoas
não possuem um motivo bem definido, pelo qual valha a pena viver: é o chamado “vazio
existencial”. Nessa situação, não sabem ao certo o que se deseja fazer, ou fazem o mesmo que as
outras pessoas, ou apenas recebem ordens sobre o que fazer. Ainda citando Frankl (2008), em
alguns casos, o vazio existencial se traduz numa sede de poder, que pode ser vista como uma
vontade desenfreada por dinheiro. Outras vezes, o vazio dá lugar à busca de prazer, compensando

3
Segundo Frankl (2008) tal frase é atribuída a Nietzsche.
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essa situação incômoda com, por exemplo, consumismo desenfreado. Em ambos os casos, de
ganância ou total desprezo ao dinheiro, está se gastando muita energia, porém, na direção errada.
Csikszentmihalyi (1990) alerta que os propósitos dão direção a nossos esforços, mas não
fazem, necessariamente, a vida ser mais fácil. Os objetivos que devemos traçar para atingir nossos
sonhos acarretam uma série de consequências e precisamos estar prontos para enfrentá-las, para
que não percam seu significado. Ainda segundo o autor, sem propósito, até a mente mais
consciente, se vê desprovida de significado. Nas palavras de Frankl (2008), a felicidade não pode
ser buscada, mas precisa ser decorrência de algo, ou seja, é preciso ter uma razão para “ser
feliz”. E continua: os propósitos são únicos porque cada ser é único, em que a pessoa decide o que
realmente será; a busca de sentido para a vida geralmente causa tensão, ao invés de equilíbrio
interior, mas essa tensão é pré-requisito para a saúde mental.
Em se tratando de finanças pessoais, podemos verificar que incorporar hábitos que
tecnicamente sejam preferíveis a outros, exige uma mola propulsora baseada em um sentido na
vida. Gastar menos do que se ganha, uma regra básica ensinada pelos educadores financeiros, passa
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por uma série de reflexões internas que justifiquem as privações de consumo. Como já citado, é
preciso mudar a pessoa que você é, de forma a ver o mundo de maneira diferente e que isso possa se
refletir nas atitudes do dia a dia.
Para tal, compreender qual a importância do dinheiro em nossas vidas é essencial. De acordo
com Csikszentmihalyi (1990), muitos usam o argumento de que é difícil “ser feliz” quando existem
sérios problemas financeiros. Todavia, segundo o mesmo autor, em uma visão ampla do ser
humano, as questões financeiras devem ser encaradas como secundárias, quando comparadas à
própria experiência. Em outras palavras, dinheiro pode melhorar ou não a vida dos indivíduos,
enquanto o controle da própria energia psíquica é condição fundamental para a felicidade. E
completa: ter boas experiências não é uma dimensão da vida, mas ela própria.
Csikszentmihalyi (1990) ensina que quando tratamos da questão de definir o que os seres
humanos são e o que eles querem, é possível encaixá-los em quatro diferentes níveis:
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1) O primeiro significado da vida é bastante simples: a pessoas querem sobreviver, com um


mínimo de conforto e prazer.

2) Quando a segurança física é assegurada, expande-se o significado para questões ligadas às


pessoas à sua volta: família, comunidade, religião ou raça étnica. Nessa etapa aumenta-se o
grau de complexidade de significado da vida, implicando em saber conviver com normas de
conduta.

3) O próximo passo configura-se em desenvolver a si, construindo uma consciência autônoma.


Nesse ponto, os principais objetivos da vida são de crescimento e melhoria dos próprios
potenciais.

4) O quarto passo, que é construído com base nos três primeiros, é um distanciamento de si,
voltando suas aspirações à integração com outras pessoas e valores (transcendência).
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Nessa escala de evolução, sugerida por Csikszentmihalyi (1990), é possível notar que ao atingir
um alto grau de significação da vida, existe uma alternância de foco de dentro para fora. Segundo o
autor, muitas pessoas não passam do primeiro passo. A maioria delas encontra-se no segundo
estágio, em que família, comunidade, e até a nação, acabam sendo as principais fontes de
significado da vida. Sendo que poucos atingem o terceiro e quarto níveis, que são baseados em
propósito e valores universais. Atingir tal complexidade requer investimento de energia para
desenvolver habilidades natas, tornando-nos autônomos, autoconfiantes, conscientes de nossa
singularidade e limitações.
Essa forma de encarar a vida, portanto, baseada em propósitos e em um grau cada vez maior
de evolução do ser humano, certamente contribui para uma vida baseada em hábitos financeiros
cada vez mais saudáveis. Citando Frankl (2008), é preciso:
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ter consciência de que não importa o que temos a esperar da vida, mas sim o que ela espera de
nós;

saber que a vida nos dirige perguntas diariamente e a cada hora, e que viver significa arcar com a
responsabilidade de responder às suas perguntas;

ter responsabilidade com nossa existência: as pessoas que dão conta dessa responsabilidade não
jogam a vida fora.

Dessa forma, completa o autor, sabendo o “porquê” de sua existência o indivíduo poderá
suportar qualquer “como”. Isso quer dizer que só estaremos dispostos a mudar nossos hábitos se
houver um sentido claro. Portanto, antes de prosseguir, busque responder novamente às quatro
questões sugeridas no tópico anterior e encontre um propósito para se guardar dinheiro, que
transcenda à pura questão financeira.
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MUDANDO COM ESFORÇO E


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COM O TEMPO

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Todo este tópico é inspirado no excelente livro de Leonard (1992)
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Compreendidos os papéis dos paradigmas e dos propósitos, a partir deste tópico será dado
destaque especial ao processo de se colocar em prática hábitos financeiramente saudáveis. Para
isso, mostra-se necessário aprender como aprender, ou seja, como tornar algo aparentemente
difícil em uma tarefa prazerosa, através de conhecimento e prática. Em resumo, pode se dizer que o
objetivo dos próximos capítulos é aprender como incorporar hábitos saudáveis e colocá-los no
piloto automático.
Uma primeira questão que se deve ter em mente é que novos hábitos financeiros demandam
certo tempo para serem adquiridos e exigem boa dose de esforço. Por exemplo, um consumista
contumaz não conseguirá gastar menos do que ganha e começar a investir, da noite para o dia. Essa
pessoa, após rever seus paradigmas e compreender seus propósitos, deverá traçar uma estratégia
que consista na aquisição de novos hábitos financeiros, condizentes com seus objetivos. E isso
deverá ser feito aos poucos, vencendo um obstáculo de cada vez, com base em muita disciplina.
Nesse contexto, denominaremos cada desafio comportamental a ser superado como uma
jornada rumo à maestria financeira. Tal jornada se inicia sempre que alguém se propõe a
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desenvolver uma nova habilidade, como por exemplo: fazer controle do orçamento diário, estudar
modalidades de investimentos uma vez por semana, e por aí vai. Se a nova habilidade a ser
conquistada for muito complexa, será interessante desmembrá-la em partes, para que o caminho
torne-se mais claro e exequível.
Posto isso, serão apesentados dois requisitos essenciais para se atingir a maestria financeira.
Primeiramente, é preciso conscientizar-se que alguns termos como gratificação imediata, sucesso
instantâneo, rapidez, alívio rápido, dentre vários outros, são totalmente contrários à aquisição de
hábitos duradouros, pois chocam com a ideia de que as conquistas vêm com o tempo e à base de
esforço. Em segundo lugar, para iniciar a jornada é preciso estar receptivo a mudanças, a novas
informações e pontos de vistas, de forma a eliminar hábitos nocivos no presente.
Feitos tais esclarecimentos, concentremo-nos na jornada rumo à maestria financeira. De
forma a compreender como se dá esse caminho a ser percorrido, tomemos como exemplo o caso de
um investidor iniciante. Em geral, ao iniciar seu contato com o mundo dos investimentos, existe
uma insaciável sede por informações que o leve a conseguir bons retornos. Torna-se, assim, um
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ávido consumidor de livros e artigos sobre o tema, investe quantias cada vez maiores em ativos de
maior risco, tomando contato com operações mais complexas.
Contudo, para que esse investidor apresente um significativo salto em seu nível de
compreensão sobre aplicações financeiras, demorará certo tempo. Como qualquer processo de
aprendizado humano, existirão períodos em que grandes esforços serão feitos, sem se aumentar a
habilidade de maneira perceptível. Essa jornada pode ser representada na figura a seguir, que
relaciona tempo a grau de maestria.

GRAU DE MAESTRIA

TEMPO
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O que se pode observar é que ao iniciar qualquer atividade, seja em uma arte marcial, aprender
a tocar um instrumento, compreender física quântica, ou melhorar seu nível de conhecimento
financeiro, começa-se em um grau de maestria baixo. Conforme a pessoa se esforça, ao longo do
tempo, não se percebe grandes avanços. A esse período daremos o nome de platô. Somente após
algum tempo, verifica-se um ganho perceptível na habilidade (maestria) que se está querendo
adquirir, porém, entra-se novamente em outro platô. Tal movimento é algo inerente ao ser humano
e, quase sempre, não é possível pular etapas, sendo nesse ponto que os problemas surgem.
Nossa sociedade está cada vez mais cultuando a possibilidade (inexistente) de altos ganhos de
performance de maneira instantânea e simples. Não nos é ensinado a curtir o platô. Desde cedo nos
dizem: estude muito, assim você poderá tirar boas notas, tendo como consequência entrar numa boa
faculdade, o que lhe permitirá arrumar um bom emprego, e dessa forma poderá comprar uma bela
casa. Perceba que existe uma sequência de objetivos, mas não é mencionado que tal caminho pode
ser extremamente prazeroso. Na verdade, passamos a maior parte do tempo no platô, tendo como
consequência que se ele não for apreciado, a vida será bastante aborrecedora.
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Focando as lentes para o campo financeiro, por não se possuir a paciência necessária para
conquistar os objetivos aos poucos, as pessoas se endividam excessivamente na busca de pular
etapas (querem consumir hoje com um dinheiro que não possuem). E o mesmo se dá com dietas
milagrosas em que se pretende perder peso em poucas semanas, ou cursos rápidos que
supostamente darão a oportunidade de aprender algo complexo em poucos dias.
Ter objetivos é essencial, mas é necessário curtir o processo, senão desistimos durante a fase
de platô. O mais interessante é compreender que a jornada será árdua, emocionante e ela nunca
chegará ao fim – sempre será possível melhorar algo. Dessa forma, amar o platô é amar o agora.
Isso porque ou os objetivos existem no passado (já foram conquistados) ou no futuro (serão
atingidos). Já a prática existe no presente, você pode senti-la. Resumindo: amar o platô é amar a
vida.
Atingir a maestria nas finanças pessoais, portanto, é ter prazer na jornada rumo às suas
conquistas financeiras (e é sempre bom relembrar, embasadas nos paradigmas certos e em
propósitos que transcendam à questão financeira). É preciso ter paciência para adquirir bons hábitos
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financeiros. Voltando ao caso do investidor iniciante, melhorar seu conhecimento e colocá-los em


prática levará tempo, e será preciso apreciar todo o processo, como uma construção pessoal que
viabilize ganhos cada vez maiores de bem estar.
Para demonstrar o quanto tal percepção é importante, a seguir serão apresentados três tipos
de comportamento bastante comuns, responsáveis por fazer algumas pessoas desistirem do platô,
interrompendo a jornada rumo à maestria financeira.

O fogo de palha: é aquele que se envolve em diversas atividades com bastante entusiasmo
inicial. Qualquer pequeno progresso é comemorado à exaustão. Não tem paciência para esperar
os próximos passos. Seguir no platô é inconcebível e logo desiste do objetivo, procurando outro.
Geralmente sua mente é cheia de argumentos como: será que todo esse sacrifício vale a pena?
Será que não ganho pouco dinheiro? Será que não vou morrer cedo? Ou seja, procura diversas
desculpas para justificar sua desistência. Tenta, diversas vezes, guardar dinheiro, mas sempre
desiste.
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O obsessivo: é uma pessoa que quer sempre ser a melhor no que faz. É movida a resultados
rápidos. Busca ter total controle de suas finanças em pouco tempo. Compra vários livros sobre o
assunto, faz diversos questionamentos a especialistas, inicia seu orçamento doméstico, quer
aplicar algum dinheiro em investimentos mais complexos, ou seja, tenta mudar toda sua vida
financeira em um curto espaço de tempo. Faz um grande progresso no início. Mas em algum
momento ela se verá no platô e não aceitará esperar. Trabalha desesperadamente para sair das
dívidas, buscando atalhos para sair da situação financeira ruim. Não aceita o platô e acaba se
estressando e desistindo quando todos seus esforços não são acompanhados de grandes
progressos.
O acomodado: depois de certo progresso, a pessoa deseja ficar no platô indefinidamente. Não se
importa em não seguir adiante, principalmente se encontrar outras pessoas acomodadas para
compartilhar suas agonias. São pessoas que conseguem um emprego “estável”, com alguns
benefícios, e não faz muita força para progredir, tanto pessoalmente, como financeiramente.
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Se você se identificou com algum desses perfis, não se desespere. Encontrar o motivo que faz
suas finanças não evoluírem é o primeiro passo para a mudança. Também é preciso compreender
que a preocupação com objetivos e resultados rápidos nos afasta de nossa própria experiência,
passando uma vida toda “entre” bons momentos. A chave é considerar todos os momentos
como parte da jornada rumo à maestria financeira. A vida não pode ser considerada como um
“entre”, mas como um fio que une todas suas ações, todos seus pensamentos, e sem um fim
definido.
Portanto, sugiro que dê uma pausa em sua leitura e identifique qual sua relação com o platô.
Seria você um fogo de palha, um obsessivo ou um acomodado? Faça uma reflexão profunda sobre
como seu comportamento atual pode estar afetando suas escolhas financeiras do dia a dia. Com
base em um novo paradigma e em seus propósitos, busque identificar quais hábitos atuais são ruins
e quais seriam aqueles interessantes de serem incorporados. Reflita, mais uma vez, sobre as quatro
perguntas do capítulo As quatro dimensões que compõem o ser humano e veja como elas se
relacionam com a necessidade de curtir o platô. Quanto de tempo e esforço está disposto(a) a
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encarar para mudar sua vida financeira? E para quê isso é importante? Sem essas respostas, uma
mudança de hábito consistente será difícil de ser verificada:

1) Qual a importância do dinheiro em sua vida?


2) Com qual finalidade pretende administrar melhor suas finanças?
3) Quais sacrifícios e quanto de esforço está disposto(a) a encarar a partir de agora, em prol de uma
vida financeira mais saudável no futuro?
4) Como seus hábitos atuais estão alinhados com um bom desenvolvimento de suas inteligências
física, mental, emocional e espiritual?
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A IMPORTÂNCIA DO FOCO E DA
5
CONCENTRAÇÃO

5
Capítulo totalmente baseado nas ideias de Csikszentmihalyi (1990), com contribuições aplicadas às finanças pessoais
elaboradas pelo autor deste eBook.
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Ao discutir as peculiaridades intrínsecas a um processo de mudança de hábitos financeiros,


rumo à maestria nas finanças pessoais, fatalmente chega-se ao ponto de tratar sobre duas questões
bastante importantes: foco e concentração. Não irei me furtar a repetir, sempre que necessário,
que estamos construindo um processo de mudança de hábitos, sendo que até agora podemos
resumi-lo em: revisão de paradigmas, definição de propósitos que sirvam como molas propulsoras à
transformação, e necessidade de tempo e esforço para colocar em prática novos hábitos. A partir de
tal compreensão, o que será argumentado a seguir é que, dentro desse processo, foco e
concentração exercem papel crucial.
Para tal, iniciemos a exposição tratando do termo: felicidade. Ser feliz não é um evento
aleatório ou de pura sorte, muito menos algo que pode ser “comprado” por qualquer quantia de
dinheiro. Além disso, a felicidade é algo que está em nosso interior e não depende de eventos
externos - mas de como o interpretamos. Precisamos nos preparar e estarmos prontos para
sermos felizes, e isso só será possível se soubermos controlar nossas experiências. Não existe um
roteiro pré-definido, mas é condição necessária ter controle da própria consciência.
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Apesar de não conseguirmos controlar tudo a nossa volta, experimentamos alguns momentos
em nossa vida os quais sentimos total controle das ações realizadas e donos do próprio destino.
Esses raros momentos tornam-se referência de como a vida deveria ser e os denominaremos de
experiência ótima. Para melhor compreender o que isso significa, pense em um evento marcante de
sua vida, digno de ser lembrado como um dos melhores. Provavelmente, não foi uma situação
passiva, mas sim um trabalho árduo (pintar um quadro, cuidar de um filho, escalar uma montanha,
escrever um livro), em que corpo ou mente foram exigidos em seu limite para concretizar algo difícil.
Logo, é possível afirmar que uma experiência ótima ocorre quando fazemos acontecer.
Importante observar que nem todas as experiências ótimas foram prazerosas quando
ocorreram, mesmo assim, são lembradas como um dos melhores momentos da vida. Isso porque
tomar controle da própria vida não é nada fácil e, muitas vezes, mostra-se como um processo
doloroso. Mas no longo prazo, a sensação de domínio, de real participação em eventos relevantes, é
algo muito próximo ao que chamamos de felicidade. São essas experiências ótimas que nos levam
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ao estado de fluxo, definido como aqueles momentos em que nos encontramos tão envolvidos
com algo que nada mais parece interessar.
O estado de fluxo é prazeroso por si só. E muitas pessoas buscam experimentá-lo mesmo
quando há um alto custo físico/mental para isso, movidos pela paixão por executar determinada
atividade. Mas como atingir o estado de fluxo? Primeiramente isso não é possível de ser
diretamente ensinado, pois depende da habilidade de cada um em controlar o que acontece na
própria consciência, em cada situação vivida. Cada pessoa deve atingir o fluxo através de seus
próprios esforços e criatividade. O objetivo, neste eBook, é apenas demonstrar como funciona o
estado de fluxo e, a partir desse ponto, viabilizar que cada um chegue à sua própria conclusão sobre
o que fazer.
De início, é interessante deixar claro que toda experiência é registrada na mente como uma
informação. Se nos tornamos aptos a controlar tais informações, podemos decidir como será
nossa vida. Isso significa que o estado de fluxo exige a construção de certa ordem na consciência,
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que ocorre quando nossa atenção6 é direcionada para objetivos concretos e as habilidades
adquiridas permitem executar certa tarefa. Dessa forma, atingir um objetivo proposto exige
concentração, em que é preciso esquecer-se de todas as outras coisas para focar na atividade
desejada.
Voltando essa análise para o campo das finanças pessoais, já foi mencionado que a jornada
rumo à maestria financeira exige tempo e esforço. Mas também foi indicada a necessidade de se
curtir o platô, ou seja, de apreciar cada momento ao longo do caminho chamado vida. Assim, ao
entrar em estado de fluxo em relação aos novos hábitos financeiros a serem adquiridos, que exige
foco e concentração, é possível tornar toda a caminhada como uma experiência ótima.
Para ilustrar toda essa construção, imaginemos que uma família tem o objetivo de fazer “a
viagem dos sonhos”. Tudo será mais fácil se toda a jornada que antecede à viagem também for
prazerosa. Separar alguns momentos para planejar o roteiro, decidir quais sacrifícios deverão ser
feitos para reservar dinheiro para a viagem, onde esse dinheiro será investido, dentre outras tarefas,

6
Também chamada de energia psíquica.
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deverão ser tão prazerosas quanto o próprio objetivo em si. E esses momentos requerem atenção
exclusiva, em que a família se concentrará e focará apenas na viagem, como se nada mais tivesse
importância. Portanto, atingir o estado de fluxo naquelas horas planejadas para pensar em um
objetivo único, será de grande valia para que este hábito perdure.
O que se pode notar, é que para atingir o estado de fluxo mostra-se necessário controlar a
energia psíquica para investi-la conscientemente em objetivos. Esse exercício nos faz expandir
enquanto seres humanos. Ao mesmo tempo, se exercitarmos nossas habilidades (leituras sobre os
possíveis destinos, onde aplicar o dinheiro, etc.), será possível aumentar os desafios, melhorando
nossa experiência do estado de fluxo e curtindo, realmente, os platôs que a jornada nos impõe.
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7
ADMINISTRE SUA ENERGIA

7
Capítulo baseado nas ideias de Loehr e Schwartz (2003).
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Para se tomar a decisão de incorporar novos hábitos financeiros, nos capítulos anteriores
sugeriu-se que houvesse paciência e esforço para cumprir a jornada de aquisição de novas
habilidades. Destacou-se também o papel da concentração e foco (estado de fluxo), em que seria
preciso reservar momentos específicos para que as atividades financeiras pudessem se configurar
em experiências ótimas. Por fim, este capítulo irá acrescentar mais um fator importante a ser
considerado, nesse contexto: a administração da energia. Basicamente, isso significa que para se
atingir o estado de fluxo, será necessário reservar energia suficiente para curtir esse momento de
forma que o cansaço físico, mental ou emocional não atrapalhem a concentração e o foco.
Atualmente, existe uma percepção, quase geral, de que o número de atividades a serem
executadas é muito maior que nossa capacidade de resolvê-las. Dentro do ambiente de trabalho as
demandas são crescentes, é preciso cuidar da família, reservar tempo para lazer e atividades físicas,
visitar os amigos, e por aí vai. E com essa “agenda” repleta de afazeres, dorme-se pouco, come-se
mal, abusa-se de remédios e outros componentes que “aliviam” o estresse (álcool, café,
medicamentos, etc.), facilmente a pessoa se vê irritada e dispersa, além de os momentos que
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deveriam ser de prazer (ex.: cuidar dos filhos após a volta do trabalho) acabarem sendo encarados
como apenas mais uma das fontes de demandas diárias.
No ambiente de trabalho e fora dele, surgem cada vez mais ferramentas computacionais para
se ganhar TEMPO. Muitas pessoas se orgulham da capacidade de realizar múltiplas tarefas
concomitantemente. Sentir-se sobrecarregado tornou-se normal: queremos dar conta do máximo
de atividades possíveis no dia. Todavia, administrar eficientemente o tempo não é garantia de
uma boa execução das tarefas agendadas, pois nada garante que se terá energia suficiente para
executá-las conforme o planejado.
Dessa forma, todo novo comportamento a ser adotado exigirá uma demanda por energia, e
esta nos é limitada. Conseguir a exata dosagem de quanta energia será gasta por cada novo hábito
(e também a que será economizada com o expurgo de hábitos financeiramente prejudiciais), é a
administração que mais importa. A quantidade de tempo é fixa, mas a quantidade e qualidade de
energia que utilizamos irão variar conforme nossas escolhas. De tal percepção decorre a
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argumentação de que o correto gerenciamento de energia mostra-se mais importante que a


administração do tempo.
Para realmente mudar os hábitos financeiros, é preciso estar totalmente engajado, e isso
requer estar fisicamente preparado, emocionalmente conectado, mentalmente focado e
espiritualmente alinhado com os propósitos pessoais. Esse engajamento significa acordar de manhã
ansiando por mais um dia de trabalho, voltar para casa igualmente feliz e saber separar esses dois
momentos. É estar imerso em cada uma das atividades diárias (estado de fluxo), seja ela um desafio
no trabalho ou brincar com os filhos à noite. Para alguns céticos, isso parece algo inatingível, porém,
a chave para solucionar tal questão passa por uma grande mudança no estilo de vida, que decorre
diretamente da forma com que se gerencia a energia.
De forma a ilustrar tal argumentação, pense o quanto está engajado(a) e satisfeito(a) com seu
trabalho? E também sobre qual o seu nível de comprometimento com a família e amigos? Se essas
respostas possuírem sentido negativo, provavelmente estará gerenciando de maneira equivocada
sua energia. E os motivos para tal podem ter sua origem, por exemplo, em maus hábitos
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alimentares (não conseguindo tempo para se recompor de atividades que exigiram grande consumo
de energia), ou até mesmo focando em atividades que não inspiram e trazem pouca dose de
satisfação pessoal.
Desse modo, em se tratando de finanças pessoais, ao iniciar sua jornada rumo à maestria
financeira, é preciso ter em mente que não será possível realizar muitas atividades ao mesmo
tempo, pois não terá energia para tal. É preciso elencar sua lista de prioridades. Eleja quais serão os
hábitos a serem incorporados mais importantes dentro de seu contexto e esqueça (ou adie)
questões menos relevantes no momento atual de sua vida. Ao realizar essas novas tarefas, se
entregue de corpo e alma, dando toda a atenção necessária para que elas sejam executadas a
contento, possibilitando entrar no estado de fluxo.
Como uma última ressalva, lembre-se que a energia destinada a novos hábitos financeiros não
poderão acabar com a reserva destinada a outras dimensões igualmente (ou mais) importantes. Pois
de nada adianta aumentar o patrimônio financeiro, se as relações familiares e de amizade, ou até a
própria saúde, forem penalizadas. Toda transformação de comportamento financeiro deve vir
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acompanhada de um propósito que transcenda à pura questão do dinheiro. E são esses propósitos
que deverão guiar o correto gerenciamento de energia, destinando sua escassa disponibilidade de
maneira inteligente e sensata.
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COMO MUDAR OS HÁBITOS


8
FINANCEIROS
“Aprender e não fazer, na verdade,
não é aprender. Saber e não fazer,
na verdade, é não saber”.9

8
Tópico baseado nas ideias apresentadas em Duhigg (2012).
9
Citação contida no prefácio de Covey (2012).
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A maneira como alocamos nossos recursos financeiros, no dia a dia, é bastante influenciada por
fatores que pouco compreendemos. Muitas vezes nem lembramos como alguns hábitos foram
adquiridos no passado, mas eles acabam sendo decisivos na maneira como as finanças pessoais são
geridas. Esses hábitos são criados, inconscientemente, e nosso corpo funciona automaticamente,
enquanto qualquer julgamento racional fica “adormecido”. Nesses casos, o cérebro não participa
das decisões tomadas e isso pode ser bastante prejudicial.
De maneira geral, os hábitos são muito importantes na evolução dos seres humanos, pois se
mostraram como uma forma eficiente de nosso corpo poupar energia. Explico: quando, todos os
dias, acordamos, escovamos os dentes, escolhemos qual sapato colocar primeiro, tiramos o carro da
garagem, além de outras rotinas, perceba que realizamos essas tarefas quase sem pensar. Essa
maneira de decidir demanda pouca utilização do cérebro, que armazena energia para situações mais
complexas.
No campo das finanças pessoais, diversas vezes nos deparamos com situações em que
gastamos dinheiro sem mesmo pensar se aquilo é realmente necessário. São comportamentos de
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consumo que, ao longo do tempo, tornaram-se parte da rotina diária, e nem nos damos conta de
seu caráter benéfico ou maléfico em relação ao orçamento doméstico. Sendo assim, o principal
objetivo desse capítulo é fazer uma análise sobre como nossos hábitos são criados e oferecer
uma estratégia de como transformá-los, quando forem prejudiciais.
Para iniciarmos tal exposição, serão apresentadas quatro características que compõe um
hábito:
Deixa: é um estímulo que faz com que seu cérebro entre no modo automático;
Rotina: é algo que você faz, podendo ser físico, mental ou emocional;
Recompensa: ajuda seu cérebro a memorizar certa atitude, para que seja novamente realizada no
futuro;
Anseio: é o “motor” que faz os passos anteriores ocorrerem, ou seja, é algo que impulsiona os
hábitos.
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Para exemplificar como se dá esse processo, consideremos o caso de alguém que deseja criar o
hábito de ir à academia, todos os dias. Para isso, será necessário fixar uma deixa, que poderá ser “a
hora que eu acordar” ou “ao sair do trabalho”. A rotina significa ir para a academia e será preciso
vincular essa ida a uma recompensa ao seu final, que poderá ser uma tigela de açaí ou um banho
demorado. Então, pense em sua recompensa antecipadamente, fazendo com que haja um anseio
que lhe impulsione a malhar. Dessa forma, compreendendo como um hábito é composto, torna-se
possível programar quais deles desenvolver e quais deixar de lado.
Tal esquematização se mostra necessária, porque nosso cérebro não consegue diferenciar um
hábito bom de um ruim. Como são ações automáticas e inconscientes, basta que haja a deixa certa
para que elas apareçam. Veja o seguinte exemplo: toda vez que uma pessoa se sente estressada
(deixa), vai ao shopping (rotina) comprar algumas coisas (recompensa), buscando aliviar os
problemas emocionais (anseios). E como mudar isso? Aprendendo a identificar as deixas, as
recompensas, e os anseios que estão gerando certo comportamento, podemos mudar nossas
rotinas.
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Entretanto, é importante reconhecer que não é fácil para erradicar totalmente hábitos ruins.
Portanto, para alterá-los, é preciso manter a deixa e a recompensa, e inserir uma nova rotina. Para
isso, crie uma lista com todas as possibilidades (deixas) que impulsionam o hábito negativo.
Compreenda as recompensas que o hábito que está querendo mudar proporciona. Aí, troque a
rotina, fundada nos antigos estímulos que forneciam o alívio já conhecido. É o denominado
“treinamento da consciência”, partindo-se do pressuposto que o cérebro pode ser reprogramado. É
importante destacar que apenas compreender deixas e anseios não acarretará numa mudança
automática, mas vai lhe oferecer um meio para que possa mudar de padrão.
A seguir, seguindo tal ideia, será proposta uma estratégia sobre como mudar um hábito de
consumo. Suponha que certa pessoa, todos os dias que sai do trabalho, passa no supermercado, e
compra diversos produtos desnecessários, gastando mais do que deveria. Para superar esse
problema financeiro, verifique os seguintes passos:
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1) IDENTIFICAR A ROTINA: esse é o passo mais simples, sendo, neste caso, ir ao supermercado
e comprar itens desnecessários;

2) EXPERIMENTAR RECOMPENSAS: identificar anseios pode ser bastante complicado, por


isso, um exercício bastante útil é o de experimentar diversas recompensas, pois, sendo elas
as responsáveis pelos anseios, poderemos descobrir o que realmente move nossos hábitos.
Isso talvez demore um bom tempo e não pode haver pressão, nesse período, para mudar o
hábito em si. Dessa forma, toda vez que sair do trabalho, essa pessoa deverá testar
diferentes rotinas: caminhar durante esse tempo; ir ao shopping ver roupas; chegar em casa
e descansar; chegar em casa para ver televisão e comer um lanche etc. O que se está
tentando aqui é verificar a origem do anseio de ir ao supermercado: vai porque não tem
outra coisa para fazer? Quer apenas encontrar outras pessoas e se distrair? Precisa fazer
alguma atividade física depois de horas sentada no trabalho? E por aí vai. Todos os dias, ao
chegar em casa, anote as 3 primeiras palavras que surgirem em sua cabeça. Depois de 15
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minutos, ela deve se perguntar se ainda ficou com vontade de ter passado no supermercado.
As anotações serão boa fonte de pesquisa depois de alguns dias de experimento, pois
ajudarão a relembrar as sensações vividas após não ter ido ao supermercado. Já os 15
minutos servem para determinar qual a recompensa que se estava ansiando: se foi caminhar
e ainda ficou com vontade de ir ao supermercado, não era exercício físico que estava
procurando; se a pessoa foi ao shopping e isso a satisfez, talvez a questão seja de encontrar
outras pessoas depois do trabalho. Identificado qual a real recompensa, será possível
identificar o anseio. No nosso exemplo: ver outras pessoas.

3) ISOLAR A DEIXA: a tarefa de identificar as deixas pode não ser algo fácil, pois há muitas
informações no momento que o comportamento ruim se manifesta: seria o ato de sair do
trabalho? Ou talvez o caminho percorrido que passa em frente ao supermercado? Ou talvez
a própria mente, ao terminar o expediente, está condicionada a pensar se falta alguma coisa
em casa? A questão é descobrir a deixa que a faz ir ao supermercado. Os cientistas
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identificaram cinco deixas habituais que a pessoa pode testar: lugar, hora, estado
emocional, outras pessoas, ação imediatamente anterior. Assim, anote, diariamente, onde
você está, a que horas, como se sente emocionalmente, quem está por perto e qual foi a
última coisa que fez antes de ter o impulso. Depois de três a quatro dias, será mais fácil
identificar o padrão de deixa que leva a pessoa a ir ao supermercado.

4) FAZER UM PLANO: depois de identificado todo o processo (deixa, rotina, recompensa e


anseio), torna-se possível mudar o comportamento. Muda-se para uma rotina melhor,
planejando-se para o momento da deixa e oferecendo a recompensa pela qual está
ansiando. Por exemplo: se a deixa era o caminho, mude a rota, faça a rotina de passar num
parque onde não haja muito a se consumir, e receba a recompensa da socialização com
outras pessoas. Isso fará com que a pessoa se sinta bem e tenha um hábito mais saudável.
Depois de certo tempo, não sente mais a necessidade de ir ao supermercado e cria-se um
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hábito de andar no parque. Muitas vezes isso não é fácil, mas depois de alguns experimentos
e alguns fracassos, se ganha poder sobre os próprios hábitos.

Como se pode notar, ao compreender os fatores que compõe um hábito, é possível não só
modificar rotinas, como também inserir novos comportamentos interessantes. Basta que, para isso,
crie-se uma deixa, a atividade a ser executada, uma recompensa e um anseio. Com esses
componentes em mãos, tornar-se-á mais eficiente a aquisição de algo bastante importante em
finanças pessoais: disciplina.
Portanto, fazendo um resumo de tudo o que foi exposto, é possível dizer que podemos
comandar nossos hábitos financeiros, através do conhecimento sobre como ele surge e
funciona. Isso permitirá focar em momentos que correspondam ao estado de fluxo, que exige
concentração, foco, esforço, energia, tempo e definição de prioridades. Quando fazemos dessas
condições, hábitos, estaremos colocando boas ações no piloto automático e colhendo os frutos
alicerçados nos propósitos corretos.
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A ÚLTIMA BARREIRA:
10
HOMEOSTASE

10
Texto baseado em Leonard (1992).
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Ao longo do Volume 5, foram apresentadas as bases para uma mudança de comportamento


rumo à maestria financeira. Todavia, antes de encerrar essa discussão, é importante atentar-se a
um perigo que pode afetar a todos nós: a homeostase. Para que esse termo seja entendido de
maneira mais clara, leia os três casos a seguir:

1) Jorge decide fazer o controle de seu orçamento doméstico, anotando suas receitas e despesas
diariamente. Passadas duas semanas, ele DESISTE.
2) Angélica toma a decisão de ser uma pessoa mais organizada, passa o dia arrumando suas
coisas, etiquetando, criando diversas pastas e deixa tudo em ordem. Depois de um mês de dedicação,
DESISTE, sendo que semanas depois volta tudo à mesma bagunça de sempre.
3) Paulão, um obeso desde muito jovem, inicia uma dieta rigorosa, na busca de perder vários
quilos. Sonha com comida, se esforça para manter a rotina de alimentação saudável e exercícios e,
numa primeira crise de estresse, DESISTE, joga tudo para o ar e volta a comer de maneira contumaz.
VOLUME 5: COMO MUDAR HÁBITOS FINANCEIROS
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Pois bem, em todos os casos temos as mesmas características: a tentativa de uma mudança
abrupta nos hábitos diários e um fracasso ao seu final. Mas qual seria o motivo desse
comportamento tão usual? Alguns diriam: FALTA DE FORÇA DE VONTADE. Até pode acontecer,
mas talvez não seja apenas isso, e sim, o efeito da homeostase.
Homeo significa igual e stasia estado. Logo, homeostase pode ser entendida como uma
tendência dos sistemas biológicos em resistir a mudanças, ou seja, é uma busca ao equilíbrio (à
estabilidade). Isso implica que por questões fisiológicas, os seres humanos tendem a oferecer
equilíbrio ao corpo, mesmo que inconscientemente. Atualmente, pesquisadores também têm usado
o termo homeostase social, em que o próprio meio em que o indivíduo vive, através de normas,
conselhos, punições, privilégios, etc., acabam por fazer com que o indivíduo se sinta inibido a
quaisquer tipos de mudanças bruscas.
Portanto, uma característica biológica, que extrapola para outros campos, como o social, acaba
fazendo com que muitas pessoas se acomodem e aceitem as coisas como elas são. Sendo assim e
voltando aos exemplos do início do texto, devido à homeostase, Jorge aceitaria sua “sina” de nunca
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conseguir guardar dinheiro, Angélica sua característica “imutável” de desorganizada e Paulão seu
“destino” de obeso. Com tais pontos de vista, aceitar o fracasso torna-se mais cômodo e as
mudanças perdem sua justificativa.
O problema de tudo isso é que, apesar de a homeostase ser fundamental para a manutenção da
vida dos seres vivos, ela não faz distinção se permanecer no status quo é benéfico para nossas vidas
ou não. Ela simplesmente diz DESISTA, toda vez que uma mudança brusca é delineada pelo
indivíduo, mesmo que essa atitude seja algo positivo. É o próprio corpo/mente sabotando a si.
Dessa forma, chega-se a conclusão de que mudar, realmente, não é nada fácil. Existirão
sempre barreiras fisiológicas e psíquicas a lhe atormentar: é a homeostase agindo. E esse fenômeno
será ainda mais danoso às tentativas de mudanças, se o perfil da pessoa colaborar com a
manutenção desse estado, digamos, “normal”. Ser uma pessoa acomodada, por exemplo, apenas
potencializa os efeitos.
Mas como ser livrar dessa característica inerente ao ser humano, quando a mudança desejada
é, claramente, positiva para ele. Veja algumas dicas:
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1) Compreenda como a homeostase funciona, e quando sentir algum sinal que pareça lhe
empurrar para traz, fique feliz, você realmente está mudando.

2) Negocie com sua resistência a mudanças, dando um passo para trás, sempre que desejar
dar dois a frente. Tenha determinação sem perder a consciência de suas limitações. Não importa de
onde venha a resistência (do corpo, família ou sociedade), esteja firme e preparado para negociar.

3) Desenvolva um sistema que lhe auxilie na mudança. É sempre bom ter alguém para avaliar
se a mudança está caminhando para o rumo certo e dar incentivos.

4) Pratique, pratique e pratique. Ganhamos estabilidade na mudança quando praticamos. A


prática é a base para tornar uma ação um hábito, que não exija esforço, nem dispêndio de energia
desnecessariamente. Ao criar o hábito de praticar, novas mudanças serão mais fáceis de serem
implementadas.
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5) Dedique-se ao aprendizado, SEMPRE. Aprender é muito mais que ler um livro. Aprender é
MUDAR, pois educação é um processo de mudança. Um aprendiz vitalício é aquele que aprende a
conviver com a homeostase, simplesmente porque aprende o tempo todo.

Portanto, reconheça as barreiras que lhe impedem de começar a guardar dinheiro, enfrente-as
e crie hábitos financeiros saudáveis. O objetivo de todo este material é exatamente abrir as portas
de sua consciência para uma melhor compreensão de seus comportamentos, permitindo-lhe
comandar seu próprio destino.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Se você chegou até este ponto do eBook, espero que o conteúdo apresentado tenha lhe
ajudado a compreender a importância do dinheiro em sua vida, por que seria interessante melhor
administrá-lo, os esforços necessários para atingir tal objetivo e, é óbvio, quais hábitos deverão ser
incorporados e eliminados do seu dia a dia.
Note que todo esse processo é uma construção complexa, mas imprescindível para que suas
decisões não se desviem dos verdadeiros propósitos almejados. O dinheiro nada mais é que um
meio facilitador, para atingir certos objetivos, no mundo atual (capitalista). Ele trás liberdade de
escolhas para quem se propõe a gerenciá-lo adequadamente, permitindo focar em questões que são
realmente prioritárias.
Porém, o caminho não será fácil, mas é possível apreciar a jornada. Isso poderá ser conseguido
através de planejamento, concentração, administração de energia e bons hábitos (disciplina). O
objetivo foi demonstrar ser possível colocar boas atitudes no piloto automático, permitindo que
cada indivíduo prospere financeiramente e possa curtir cada momento de suas vidas de maneira
intensa e única.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COVEY, S. R. O 8o hábito: da eficácia à grandeza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.


COVEY, S. R. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes. Rio de Janeiro: BestSeller, 46ª. Ed.,
2012.
CSIKSZENTMIHALYI, M. Flow: the psychology of optimal experience. New York:
HarperCollins Publishers. 1990.
DUHIGG, C. O poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios? Rio
de Janeiro: editora objetiva, 2012.
FRANKL, V. E. Em busca de sentido. São Leopoldo: Editora Sinodal. 32ª ed. 2008.
LEONARD, G. Mastery: the to success and long-term fulfillment. New York: Plume Printing,
1992.
LOEHR, J.; SCHWARTZ, T. The power of full engagement. New York: The Free Press, 2003.

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