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Ab r i l d e 2 0 1 1

61
boletim

Novas estratégias Especial DVDteca


As muitas possibilidades de ver, Arte na Escola
pensar e ensinar arte a partir
Documentários sobre arte brasileira e materiais
da DVDteca.
educativos com tecnologia inovadora para o ensino
da Arte chegam a 100 mil escolas públicas.
Ricardo Basbaum, sur, sul, south, 2010 - No alto esquerda: diagrama (passagens), 2001, dimensões variáveis

Inventores
Como professores estão utilizando
o acervo da DVDteca em suas
práticas pedagógicas.
editorial FalaProfessor
Trinta documentários da DVDteca Que vídeo você já usou em suas aulas de arte
Arte na Escola foram selecionados e gostaria de indicar? Por quê?
pela Secretaria de Educação a Distância
do MEC para compor a caixa do projeto > Utilizei os vídeos de Mestre Didi e Nazareth Pacheco.
DVD Escola/Arte que chegaram a 100.000 Gosto da possibilidade de apresentar nas aulas a obra de
artistas que possam suscitar múltiplas discussões. Eles
escolas Brasil afora. Entre eles, estão
são representantes da produção contemporânea brasileira,
títulos como “Isto é arte?”, “A cor da
vivos, e se expressam por meio de suportes pouco conven-
criação (Paulo Pasta)” e “Nuno Ramos:
cionais. O vídeo permite o acesso ao lado humano implí-
arte sem limites”. O envio gratuito des- cito nos objetos artísticos. É como se, por alguns minutos,
tas mídias acompanhadas de material participássemos da intimidade de seus criadores, acompa-
educativo para o professor talvez seja a nhássemos a rotina dos ateliês, compreendêssemos
maior difusão já feita de recursos peda- melhor suas ideias, os processos de trabalho, a relação
gógicos para as aulas de Arte. Produzido imprescindível entre vida e obra.
pelo Instituto Arte na Escola, os mate- Nilton Xavier Bezerra / Apodi (RN)
riais seguem uma abordagem rizomática
baseada em Delleuze e Gattari que > Trabalhei com o DVD "Ilusões fotográficas", de Vik Muniz.
mapeia nove territórios da O documentário fala desse processo de criação e trajeto pro-
fissional do artista. Os alunos podem compreender o concei-
arte.Concebido para atender a diferentes
to da arte contemporânea gerando reflexão e discussão
níveis de ensino, conteúdos e currículos,
sobre o que são arte, fotografia e arte efêmera. Os exercícios
o material é capaz de subsidiar o pro-
são diversos: construção de imagens com açúcar, café e
fessor em sua difícil tarefa de dar aulas terra, construção de imagens com olhar, fotografando luga-
de arte com arte. res inusitados da escola. O que mais chamou a atenção dos
Este boletim mapeia, justamente, dife- alunos foi o "light paint" – pintura com luz fazendo uso da
rentes possibilidades e direções variadas máquina fotográfica. O DVD é simplesmente completo.
de ensino para que o professor possa Recomendo.
se inspirar nas melhores práticas e Helen Cardoso / Santo André (SP)
venha nos contar, via e-mail, a sua
experiência em sala de aula. > Usei o DVD "Trajetória da Luz na Arte Brasileira", de Paulo
Herkenhoff. Gosto de pensar neste DVD como uma introdução
às Artes Visuais, com novos alunos e sondagem de seus
Bom proveito!
conhecimentos. Começo por desmistificar alguns conceitos. O

2 Evelyn Berg Ioschpe


Presidente do Instituto Arte na Escola
evelyn@artenaescola.org.br
primeiro é que, sim, existe uma produção intensa e forte de
arte brasileira. Neste vídeo podemos introduzir esse pensa-
mento e valorizar os distintos aspectos da nossa cultura.
Isaac Kassardjian II / São Paulo (SP)

expediente
O Boletim Arte na Escola é ISSN 1809-9254
> Como coordenadora pedagógica, assisti a todos os vídeos.
Acho-os muito importantes para uso em sala de aula. Trabalho
em duas escolas – uma estadual e outra municipal – e sei que
uma publicação da rede Arte Artigos, comentários e as duas têm a caixa do projeto DVD Escola/Arte (leia nas págs
na Escola, produzido com o opiniões para este informativo 4 e 5). Todo professor de arte deveria ter este material, que
patrocínio da devem ser enviadas para: julgo excelente.
Fundação Iochpe. Instituto Arte na Escola;
Conselho Editorial Alameda Tietê, 618 – casa 3 Ana Maria Santos / Cruzeiro (SP)
Evelyn Berg Ioschpe, Helânia CEP 01417-020, São Paulo, SP
Cunha de Sousa Cardoso, Fone (11) 3103.8080
Erinaldo Alves do Nascimento, contato@artenaescola.org.br
Silvia Sell Duarte Pillotto ILUSTRADOR CONVIDADO
Editora
Silvana Claudio Ricardo Basbaum
Jornalista responsável Ilustram esta edição imagens de
Fábio Galvão MTB 20.168/SP obras do artista multimídia, professor,
Redação curador e crítico Ricardo Basbaum.
Fábio Galvão, Cecília Galvão e
Raquel Zardetto (CGC
Educação)
Projeto Gráfico Zozi

diagrama (série love songs), 1996


Iº Circuito Nacional de Art-Door, Goiânia
Celeiro de Ideia s
Juliana Carnasciali e Eliana Tumolo Dias Leite, ambas arte-educadoras
na cidade de São Paulo, têm também em comum o uso da DVDteca Arte
na Escola em suas práticas pedagógicas. Integrante de um grupo de
estudos cujo foco era a Tecnologia Rizomática do Ensino da Arte, que
embasa os materiais educativos (leia nas págs 4 e 5), Juliana fala das
“infinitas possibilidades” de trabalho a partir dela. Eliana, que conheceu o
material educativo em um seminário de dois dias, conta como a
cartografia dos territórios da Arte passou a integrar a sua prática docente.
diagrama (série arte&vida), 1994 Coleção Museu de Arte Contemporânea de Niterói

FORMAÇÃO > Falar da DVDteca Arte na Escola e de PRÁTICA > Conheci o material em maio de 2006 no
sua proposta rizomática é poder sentir, em todo meu “Seminário Cartografias para o Ensino da Arte: Provocando
corpo de arte- educadora, a aproximação de infinitas Estalos para mover uma DVDteca”. Foram dois dias ines-
possibilidades de trabalho. quecíveis a convite do Instituto Arte na Escola, quando
Uma proposta que intriga o professor, deslocando o seu arte-educadoras apresentaram o material educativo e os
olhar, desde o início da apresentação. Na verdade, há um DVDs, junto às autoras Miriam Celeste Martins e Gisa
convite para o professor deixar o mundo por alguns Picosque. Na época fiquei com gostinho de quero mais,
minutos e entrar no universo da arte por inteiro, para, esperando ansiosamente poder utilizar esse rico meio de
após certo passeio, experimentar uma espécie de transi- pesquisa e aprendizado por meio do Rizoma das
ção metafórica. Convida a pesquisar, a conhecer, a inves- Cartografias para o ensino da arte. O material educativo
tigar, conectar, expandir, relacionar, ir e voltar, fazer esco- que acompanha os DVDs possui palavras-chave, proporcio-
lhas, quantas vezes for necessário ou desejar. nando-nos caminhos diversos rumo ao fazer artístico e as
Aliás, o desejo é fator essencial para lidar com este mate- experiências com e na arte.
rial, pois ele oferece muitas entradas e as direções e deci- Trabalho com os cadernos do professor e do aluno referen-
sões de percurso a partir dele ou com ele devem ser rea- tes à Proposta Curricular do Estado de São Paulo – que uti-
lizadas como o sujeito que os manipula. Uma das funções lizam a Tecnologia Rizomática do Ensino da Arte – desde a
fundamentais da DVDteca é colocar o sujeito a “proposi- sua implantação e sempre utilizo os links e indicações de
tar”. Ou seja, propor dispositivos, agenciamentos criado- livros, glossário e títulos da DVDteca Arte na Escola para
res de novas subjetividades. Afinal, a beleza destes DVDs pesquisas. No início foi difícil por não ter acesso aos DVDs
é agir sobre ele e, a seguir, propor inventivamente. que ampliam possibilidades de conhecimento da arte e dos
É fazer com que nós, professores, nos sintamos, como os artistas contemporâneos, tanto para nós, professores, pro-
artistas, cada vez mais libertos para inventar nossos per- positores e pesquisadores, como para nossos alunos,
cursos dentro da sala de aula, preenchendo de sentido o
ato de arte educar, aproximando-o cada vez mais de sua
essência.
carentes de contato com a arte. Antes de recebê-los na
escola, pedia-os emprestados no Polo da Rede Arte na
Escola, apesar das dificuldades para buscá-los e devolvê-
3
O material nos dá sempre um ponto de partida e expan- los. Agora, com a caixa do projeto DVD Escola/Arte à dis-
de-se de modo heterogêneo, propondo também expan- posição nas escolas tudo fica mais fácil (leia nas págs 4 e
são a quem com ele se encontra. 5). Antes de dar os conteúdos, procuro sempre pesquisar
Embora feito para espaços pedagógicos, é artístico como possibilidades no site www.artenaescola.org.br, para que
um todo, desde sua concepção, pois propõe diversas ano a ano possa melhorar e adequar mais as necessidades
possibilidades a partir de potencialidades a se trabalhar. de nossos alunos e condições físicas da escola.
Propõe ir muito além das tradicionais práticas pedagógi- A Cartografia dos territórios da arte fica muito mais clara
cas que, por muitas vezes, focam a história da arte e com uso do material educativo, possibilitando aos alunos
suas linguagens no fazer. Assim como na Arte e na vida, terem contato com os artistas, ainda que apenas por docu-
os DVDs nos apontam “atenções”, as quais nós profes- mentários, mas também os incentivando a conhecer e visi-
sores podemos transformar em “intenções”. tar exposições e assistir a espetáculos de dança e teatro.
Além disso, contam-nos muito sobre todo o vasto terri- Durante esses anos todos, tenho ministrado aulas no ensi-
tório da arte na educação, de modo que estudá-los é no médio regular e EJA, e vou anotando no diário de bordo
conhecer cada vez mais sobre o Território Arte e Cultura, o que deu ou não certo, replanejando novas possibilida-
conhecer e dominar seu movimento, sua flexível disposi- des. Com as anotações dos resultados vou mudando estra-
ção para se conectar! tégias para que o conteúdo seja sempre motivador.

Juliana Carnasciali - Juliana Carnasciali – arte-educadora e artista mul- Eliana Tumolo Dias Leite - arte-educadora, Professora-Coordenadora
timídia (artes plásticas, música e poesia) da EE. Zulmira Cavalheiro Faustino, Dona, em São Paulo, leciona na EE. Rev.
www.poptchuras.blogspot.com Jacques Orlando Caminha D’Ávila.

www.pappaspalace.com
As novas raízes do
ensino da arte

diagrama (transatravessamento), 2002


Rizoma – caule rico em reservas; comum em plantas vivazes,
capazes de emitir ramos floríferos; base sólida que legitima
alguma coisa; o que é enraizado, arraigado, raiz.

>> Esta definição de rizoma, descrita no Dicionário Currículos


Houaiss da Língua Portuguesa sob o aspecto estrita-
mente botânico, foi transportada para a filosofia pelos A presidente do Instituto Arte na Escola, Evelyn
franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari no final do Ioschpe, destaca que o Brasil está passando por um
século passado. Deleuze explica: "O que chamamos momento muito rico na área educacional e o Guia é
rizoma é precisamente um caso de sistema aberto. Um um ótimo instrumento para as redes de ensino. "O
sistema é um conjunto de conceitos. Mas os concei- Brasil atravessa um período de concepção de currícu-
tos não são dados prontos, eles não pré-existem: é los em Arte. Assim, o material do Guia do MEC é
preciso inventar, criar os conceitos, e há aí tanta muito importante para ajudar a suprir a necessidade
invenção e criação quanto na arte ou na ciência." crescente de referências neste sentido.”

4 Partindo deste pensamento filosófico, o Instituto Arte


na Escola construiu, em 2004, uma nova transposição
O diretor de Produção de Conteúdos e Formação em
Educação a Distância do MEC, Demerval Guilarducci
do rizoma, desta vez para o mundo das Artes. Nascia Bruzzi, ressalta o fato das escolas receberem a cole-
a Tecnologia Rizomática do Ensino da Arte, metodo- ção de títulos da DVDteca do Arte na Escola com o
logia que embasou o material educativo criado para material educativo. "O MEC sempre procura o mate-
o uso da DVDteca Arte na Escola em sala de aula. rial da melhor qualidade e considerou o material do
Em 2010, este novo conceito começou a se espalhar Arte na Escola de altíssimo nível por valorizar a arte
e a se enraizar pelo Brasil. Uma parceria do Instituto brasileira". Segundo ele, "não havia material espe-
Arte na Escola com o Ministério da Educação garan- cializado no Brasil" sobre o ensino da arte contem-
tiu a distribuição, para 100 mil escolas públicas de porânea brasileira.
todo o País, de caixas contendo 30 DVDs seleciona- Evelyn Ioschpe frisa a importância da parceria com o
dos entre os 162 títulos do acervo da DVDteca Arte Ministério da Educação, mas lembra que o mais valio-
na Escola. Cada DVD é acompanhado do seu respec- so é o apoio do professor. "Além do MEC distribuir o
tivo livreto da Tecnologia Rizomática. material, também o validou com o seu selo, tornan-
Além disso, o Ministério da Educação incluiu a do-o disponível para a escola brasileira. Mas, na ver-
Tecnologia Rizomática do Ensino da Arte no seu Guia dade, a genuína credibilidade é conferida pelo pro-
de Tecnologia Educacionais. Um dos objetivos lista- fessor, na medida em que o usa e mostra resulta-
dos pelo MEC para a confecção do Guia é "dissemi- dos", afirma.
nar padrões de qualidade de tecnologia educacionais Segundo ela, o retorno dos professores tem sido
que orientem a organização do trabalho dos profis- muito positivo. Evidências deste resultado estão pre-
sionais e contribuam para elevar a qualidade da edu- sentes em comentários como o da professora da rede
cação básica". estadual de São Paulo, Rosa Maria Marciano, publica-
do no hotsite da DVDteca: “Toda a coleção é uma fer- >>
>> ramenta muito especial de ajuda ao desenvolvimen- qualquer, e também retoma segundo uma ou outra
to de conteúdo na escola, de acordo com a propos- de suas linhas e segundo outras linhas; 5) cartogra-
ta curricular. É tudo o que eu queria pra incrementar fia - pode ser mapeado, cartografado e tal cartogra-
as minhas aulas”. fia mostra que o rizoma pode ser acessado de infini-
A distribuição da DVDteca Arte na Escola pelo MEC tos pontos, podendo daí remeter a quaisquer outros
faz parte do projeto DVD Escola, que oferece às esco- pontos em seu território.
las públicas de educação básica caixas com DVDs e a
programação produzida pela TV Escola. O diferencial Receita de bolo
da DVDteca Arte na Escola é ser a única com DVDs
acompanhados de material educativo. Na opinião de Evelyn Ioschpe, a Tecnologia
Outro diferencial é o rico acervo da DVDteca, todo Rizomática oferece muitas possibilidades ao profes-
dedicado à arte brasileira. Estão presentes desde
artistas modernistas, como Lasar Segall e Anita
sor. "A diferença desta Tecnologia Rizomática é que
ela não é hierárquica como uma receita de bolo",
5
Malfatti, até os contemporâneos Leda Catunda, Nuno compara. Ela diz que o Instituto Arte na Escola tem
Ramos e Vik Muniz. Os DVDs possuem uma temática uma preocupação muito grande em habilitar os pro-
ampla e privilegiam tanto a obra individual dos artis- fessores para a utilização da proposta. "Nós sempre Clique abaixo
tas, como também oferecem uma reflexão sobre recomendamos que seja feita uma capacitação. Não e conheça:
temas variados, sendo importante fonte documental tenho a menor dúvida de que, quando esta possibi-
para pesquisar a história da arte brasileira. lidade existe, os resultados são muito melhores", A lista de títulos
As arte-educadoras Gisa Picosque e Mirian Celeste afirma. disponíveis no proje-
Martins, consultoras responsáveis pela concepção Por isso, o próximo passo do Arte na Escola é criar to DVD Escola/MEC
conceitual do material educativo que acompanha a um modelo de curso a distância para formar profes-
DVDteca, listam os cinco saberes do rizoma das sores. "Este é o grande desafio. Temos estudado O Guia de Tecnologia
artes: 1) conexão - qualquer ponto de um rizoma uma parceria direta com as universidades a fim de Educacionais do MEC
pode ser conectado a qualquer outro e deve sê-lo; 2) viabilizar esta proposta", diz Evelyn.
heterogeneidade - qualquer conexão é possível, mar- Demerval Bruzzi informa que o Ministério da Clipes dos documen-
cando um arranjamento por elementos e ordenações Educação poderá ajudar o Arte na Escola nesta estra- tários e seus mate-
distintas; 3) multiplicidade - não há noção de unida- tégia para aprimorar o ensino da arte. "Vamos esti- riais educativos
de, há um arranjamento de linhas que se definem mular parcerias com as universidades federais para o
pelo fora, pela desterritorialização segundo a qual as ensino à distância", afirma. "Não só para os cursos
linhas mudam de natureza ao se conectarem às de licenciatura, mas para os de especialização em
outras; 4) ruptura de hierarquização - não há uma português, história, artes etc." <<
única direção, pode ser rompido, quebrado em lugar
Como um andarilho,
vesti as sandálias de um
professor pesquisador
diagrama (série paisagens), 1999
A DVDteca Arte na Escola reúne um material rico
e muito bem pensado, que pode dar suporte aos
professores de Arte e também a todos os professores
dispostos a criar novas estratégias em suas aulas.

>> De forma rizomática, o conteúdo dos documentários Voltei, então, às minhas buscas. Nossa escola havia
e o material educativo para o professor propositor recebido a caixa do projeto DVD Escola/Arte (leia nas
vão abrindo espaços para novos olhares, possibilida- págs 4 e 5) que foi passada para mim e para todos
des para a construção do conhecimento, tanto do os outros professores. Foi em contato com este mate-
professor, como do aluno. rial que me deparei com o aquarelista Rubens Matuck,
O material, assim como o rizoma de forma inversa à um artista contemporâneo, vivo, e com um material
definição arbórea e suas raízes, conecta-se de um de alta qualidade, que possibilita uma infinidade de
ponto qualquer a outro (flexibilidade de interpreta- caminhos a serem percorridos com os alunos e que
ção) que, segundo Deleuze e Guattari (1995, v.1, subsidia o professor a construir um mapa rizomático
p.15), “põe em jogo regimes de signos muito diferen- [“se refere a um mapa que deve ser produzido, cons-
tes. Parece feito de linhas: tanto linhas de continui- truído, sempre desmontável, coletável, modificável,
dade quanto linhas de fuga, sugerindo dimensão com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de
máxima, segundo a qual, em sua multiplicidade meta- fuga”, Deleuze e Guattari (1995, v.1, p.32-33)].
morfoseia-se, mudando de natureza. Rubens Matuck nos remete à água do mar, às corti-
Assim, como professora de arte, eu deveria propor nas imaginárias que usamos na infância. Não havia
aos alunos uma atividade rica nas linguagens da arte, mais dúvidas. Estava decidido o artista e o material
levando em conta, porém, os questionamentos perce- a ser usado nas aulas: a aquarela de Matuck.
bidos por mim ao longo dos anos de magistério. Ao Comecei a estudar as possibilidades que esse artista
serem apresentados a um artista, por exemplo, os me apresentava. Esta estrutura rizomática, flexível ou
alunos logo questionavam se este estaria vivo ou já instável, era uma importante aliada para encaminhar

6 teria falecido.
Minha escolha, então, deveria recair sobre um artista
contemporâneo. Outra condição seria encontrar um
as aulas e elaborar conteúdos que poderiam ser
modificados ou não.
Apresentei aos alunos o nosso artista e suas tintas.
artista que tivesse uma proposta poética leve, fluída, Quando apresentei o documentário, quase unanime-
a fim de tornar o trabalho prazeroso aos alunos da 4ª mente eles perceberam os vidros transparentes em seu
série, já que nesta fase há muita apreensão diante ateliê e questionaram como conseguiríamos as cores.
das mudanças que ocorrerão em suas vidas escolares. Foi aí que, aos poucos, fui introduzindo os alunos na
Assim, teve início o trabalho na Escola Estadual obra de Matuck. E eles foram percebendo a preferência
Alcides da Costa Vidigal no ano de 2010. do artista pelas transparências, o porquê dos vidros,
quase que um modelo a ser perseguido, numa busca
Andanças constante pela transparência, pela luz e pelas cores.
Mas como conseguir que as cores gerassem a trans-
parência? O que usaríamos? Como resposta disse que
Como um “andarilho, vesti as sandálias de um profes-
esta busca constante é que motiva o artista a conti-
sor pesquisador” (Martins e Picosque, 2008) e saí em
nuar pesquisando, que o faz continuar a caminhar.
busca de um artista que se encaixasse neste perfil.
Desde os tempos mais remotos os artistas buscam
Um artista contemporâneo, que pudesse levar os alu-
formas e materiais para se expressar, e era isto que
nos a um sentimento de “êxtase”, transformando o
também faríamos. Foi uma agitação total.
momento de fruição em momento de prazer.
Em minhas andanças, acabei por encontrar
Kandinsky. Sua poética é fluída, suas cores são gene- Experiência que transforma
rosas, há um prazer enorme em entrar em contato
com sua obra. Mas pesava contra esta escolha o fato Com a leitura do capítulo “Ampliando o olhar” do
dele não ser um artista vivo, embora Kandinsky per- material educativo que acompanha o DVD, percebi a
maneça vivo por meio de suas obras. importância da pesquisa sobre pigmentos. Ao assis- >>
>> tirem ao DVD, os alunos também se interessaram que usava como modelo as fotos de uma bailarina
muito pelo tema. Propus, então, a produção de nos- para criar movimento a partir das linhas de contorno
sos próprios pigmentos. Angariei vários potes e pedi de seu corpo dançando, conhecimento este adquiri-
que trouxessem tudo que tivessem em casa que fosse do ao assistirem ao vídeo.
relacionado à pintura. Apareceu de tudo: pó xadrez, Em outra aula fizemos nossos desenhos ao som de
sombras, blush, tintas de parede, tintas de tecido, músicas clássicas que escolhi antecipadamente. Bibliografia
etc. Ofereci também alguns estojos de aquarela, mate- Handel, Vivaldi, Bach e Albinoni do CD The Best of
rial comprado pela escola, tintas acrílicas e guaches. Baroque Music. Livros:
Neste processo experimental, ficou claro para os alu- Infelizmente não tive tempo suficiente para contex-
nos que encontrar as cores e a transparência deseja- tualizar a música, mas conversamos sobre os sons. DELEUZE, Gilles;
da não era tarefa fácil. Em um número significativo Quis saber se eles já tinham ouvido alguma música GUATTARI, Felix.
das produções dos pigmentos, os resultados foram parecida com aquelas que eu havia trazido ou se Mil platôs: capita-
cores não muito definidas, ou não desejáveis. Ou achavam que a pintura de Rubens Matuck e a de lismo e esquizo-
frenia. Rio de
seja, o refazer ou fazer de novo foi necessário. Kandinsky tinham aquele ritmo. Mas tive que parar
Janeiro: Ed. 34,
Acredito que conseguimos uma experiência enrique- por aí. O fim do ano se aproximava e tínhamos que 1995. v.1. (Trans).
cedora, considerando a sua definição na Proposta terminar nossa proposta, até porque já estavam
Curricular do Estado São Paulo, no Caderno do Aluno, muito ansiosos para isto. MARTINS, Mirian
na página 11, 1º bimestre – 5ª série, que a define Chegou o momento de realizar o trabalho, fruto da Celeste; PICOS-
como: “A experiência é aquilo que nos passa, ou que pesquisa/experimentos com as tintas. Já tínhamos QUE, Gisa.
nos toca ou que nos acontece, e ao passar-nos nos várias cores prontas, que fomos fazendo e guardan- Mediação cultural
forma e transforma”. “Este acontecimento no espa- do. Utilizei para o fechamento dessa proposta uma para professores
andarilhos na cul-
ço sala de aula os transformou, pois gerou motivos tela de 30x40 cm, material que havia pedido no
tura. São Paulo:
para novos e significativos experimentos e muita dis- começo do ano aos pais dos alunos. Arte por Escrito:
cussão acerca de cores e transparência, possibilitan- Assim fomos escolher o desenho para colocar na tela. Rizoma Cultural:
do novos fazeres em “Arte”. A única recomendação foi para que todos pensassem Content Stuff,
A partir daí devíamos pensar em nossos desenhos, nas escolhas, principalmente em relação ao que gos- 2008.
ou melhor, na criação da proposta visual que cada tariam de representar em seu trabalho. Sempre tive o
um deveria realizar. Foi então que lancei mão de um cuidado de lembrá-los de que estavam realizando um DVDs:
DVD sobre Kandinsky e sua produção. trabalho para eles mesmos, que este deveria estar
No entanto, havia me esquecido que esse DVD era impregnado de sua identidade, como um autorretra- LES INÉDITS: La
Dame à la
narrado em espanhol. Fiquei pasma! E, antes mesmo to plástico de suas poéticas.
Licorne, Wassily
de desculpar-me ou encontrar soluções para resolver Na etapa seguinte, começamos a pintura e o uso das tin- Kandinsky,
o problema, constatei que, mesmo sendo em outra tas, sem minha interferência direta. Pedi apenas para Francis Bacon.
língua, as crianças estavam interessadas e compreen- que tomassem cuidado com as novas misturas de tintas, Dir. Alain Jaubert.
dendo o trabalho de Kandinsky e a sua forma de abs- pois já havíamos testado algumas não aprovadas. S.l.: Editions
trair as imagens, certificando-me, mais uma vez, que Foram disponibilizadas todas as cores que eles pesqui- Montparnasse:
“a arte é universal”. saram e criaram, alguns tubos a mais de tinta acrílica, Arte Vidéo, 2007.
1 DVD (90 min.)
Outro fator levantado na obra de Kandinsky foi a sua
ligação com a música. Após a apresentação, de forma
“democrática”, propus a todos que desenhássemos
estojos de aquarela, guache, tinta para tecido, tinta para
artesanato e, principalmente, um tempo sem cobrança.
As manchas e transparências foram acontecendo.
(Palettes).

RUBENS Matuck:
7
ouvindo música. Outra opção seria irmos até o pátio Algumas pensadas, outras por intuição ou acaso, ele- a aquarela no
da escola em busca de inspiração, fazendo uso da mentos importantes na obra de vários artistas con- Brasil. Dir. Maria
natureza. Em nossa roda de conversa, onde todos temporâneos. Ester Rabello. São
tinham a liberdade para manifestarem-se de forma Durante o projeto, a leitura das obras dos alunos foi Paulo: Rede
ordenada, eles expressaram o desejo de experimen- acontecendo, feita por mim, por eles mesmos e pelos SescSenac de
tar as duas formas do fazer “artístico”. colegas. Alguns se depararam com elementos formais Televisão, 2000. 1
DVD (23 min.).
parecidos com as obras dos artistas apresentados,
(O mundo da
Exercitando o olhar outros se davam conta de que conseguiram cores arte). Acompanha
semelhantes. Sem nos aprofundarmos em uma leitu- material educativo
De posse de três folhas sulfite, lápis e, tendo como ra técnica das obras, ela foi se dando de forma fluí- para professor-
apoio as capas de proteção do bloco de papel can- da, como, aliás, todo o projeto. propositor.
son (que tenho o hábito de guardar), saímos para a Com essa experiência de sala de aula posso afirmar, DVDteca Arte na
nossa pesquisa de campo em busca de descobertas com convicção, que o resultado foi rico tanto para os Escola.
com ou sobre a natureza. Não foi permitido o uso da alunos, como também para mim, que relato com
borracha, ferramenta que, em muitos casos, é preju- orgulho, prazer e entusiasmo esta vivência. E, para
dicial, pois pode gerar a desatenção e nosso objeti- finalizar, no dia da formatura das 4ª séries montamos
vo era exatamente o oposto. Ou seja, exercitar o uma grande exposição para mostrar a todos os tra-
olhar diferenciado, atento e cuidadoso sobre a natu- balhos realizados pelos alunos.
reza. Então, com atenção redobrada, os alunos esco-
lheram o que gostariam, de fato, de representar em Hânia Cecília Pilan - Mestre e Doutoranda em Educação, Arte e
História da Cultura pelo Mackenzie, professora Efetiva do Estado de
seus trabalhos.
Ao desenhar, alguns alunos lembraram Kandinsky,
São Paulo das Universidades Uniban e Uniítalo. <<
diagrama (série membranosa), 2009

Professor propositor, pesquisador e inventor


>> A professora Amanda Bastos, da Escola Municipal trabalhado nos diversos cursos de formação, como o
Domingos Fernandes, em São João da Barra (RJ), frequen- Programa de Desenvolvimento Educacional, Plano
ta o Polo do Arte na Escola da Universidade Estadual do Nacional de Formação de Professores de Educação Básica
Norte Fluminense (UENF), na cidade vizinha de Campos e o Seminário de Arte e Ensino, realizado anualmente em
dos Goytacazes, desde 2009. Após estudar o acervo da parceria com o Arte na Escola. "Há ainda o ciclo de deba-
DVDteca e a Tecnologia Rizomática do Ensino da Arte, ela tes sobre arte contemporânea brasileira, que, a cada
tomou coragem e se ofereceu para ministrar oficinas de encontro, parte de um dos DVDs ", diz.
formação de professores. A experiência mudou o modo
de Amanda ver, pensar e ensinar arte. "Além de utilizar Conceitos
melhor o DVD e o folheto que o acompanha, eu mesma Solange Utuari, do Polo Unicsul, destaca que os DVDs são
crio outros mapas para o DVD e para minhas aulas. Eles trabalhados no Grupo de Estudo Rizomas e Territórios da
me permitiram desenvolver um olhar cada vez mais dife- Arte (GERTA). "Sempre trazemos a questão de que as
renciado e crítico na sala de aula e na vida", diz. aulas de artes precisam ter como objeto o ensino de con-
Maria de Fátima Basílio é professora em Guaianases, na ceitos em arte e não apenas trabalhos temáticos. A
zona leste de São Paulo. Trabalha na Escola Estadual DVDteca pode contribuir porque foi construída com os
Professora Inês Cordeiro e faz sua formação continuada focos em conceitos que são explorados nos territórios de
no Polo Unicsul. Após trabalhar com os alunos os DVDs arte e cultura", afirma. Na visão dela, o professor mudou
O acervo da de Rubem Valentim e Mestre Didi, ela encontrou diversos o modo de ensinar e hoje "propõe percursos poéticos,
DVDteca está caminhos para transmitir seu conhecimento aos alunos. estéticos e criativos e se torna autor do seu projeto didá-
disponível para "O estudo das imagens e algumas informações a respeito tico ao convidar os alunos a fazer parte de uma trajetó-
empréstimo na da vida de cada um desses artistas nos levaram a uma ria de aprendizagem".
Rede Arte na conversa acerca de religiosidade e de Arte africana, visita- A coordenadora do Polo na UENF, Danuza Rangel, diz que
Escola. mos o Museu Afro Brasil, fizemos uma produção e encerra- a DVDteca é utilizada durante o ano todo em oficinas prá-
mos o processo, que poderia ter ido além, pois vejo o fato ticas-reflexivas. Ela relata que o Polo incentiva o registro
de não esgotar o assunto como fator positivo", afirma. das atividades. "Temos estimulado muito a elaboração
Estas duas experiências em sala de aula demonstram destes relatos escritos, inclusive em função do Prêmio
como o acervo da DVDteca e a Tecnologia Rizomática Arte na Escola Cidadã", diz.
estão criando uma nova forma de ensinar a Arte contem-
porânea brasileira nas escolas. Elas também revelam a Livro
relevância da formação contínua. O professor de artes Em Londrina, o trabalho com a DVDteca vai virar livro. "A
está se transformando de um mero expositor em um pro- intenção é publicar um livro a partir das atividades pro-
fessor propositor, pesquisador, inventor. postas pelo grupo e dos DVDs assistidos", conta Laura
Cabral Cava, assessora de arte da Secretaria Municipal de
Sessão Pipoca Educação, parceira do Arte na Escola.
8 Esta nova visão do ensino da arte vem ganhando força
após a parceria do Instituto Arte na Escola com o
Na Unicsul, Solange Utuari revela que o Polo pretende
identificar como o professor está usando a DVDteca.
Ministério da Educação (leia nas págs 4 e 5). A coordena- "Estamos finalizando uma pesquisa para saber como os
dora do Polo na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), materiais e formações oferecidas pelo Polo tem contribuí-
Ursula Rosa, destaca que intensificou a formação assim do para a prática dos educadores e aprendizados dos
que soube que o MEC estava fazendo a distribuição da alunos em Arte", afirma.
caixa do projeto DVD Escola/Arte para 100 mil escolas de Amanda Bastos observa que os DVDs estão ajudando os
todo o Brasil. "A estratégia é discutir as metodologias alunos a mudar a visão da arte. "Por tratarem de assuntos
nos grupos de estudo e dar ênfase para que os profes- e artistas atuais, os DVDs facilitam a conexão com a vida
sores trabalhem com o conteúdo e a criatividade na sala dos alunos, tornando a aprendizagem significativa", afirma.
de aula. Fizemos uma Sessão Pipoca com mostras quin- Maria de Fátima concorda que os DVDs são uma ótima
zenais de DVDs e debates sobre como utilizar o material estratégia para "conversar" com o cotidiano dos alunos. "A
em aula", conta. TV e o telão são muito mais próximos ao aluno que a lousa.
Na Universidade Estadual de Londrina, a coordenadora do O aluno atual é ágil e quer ser participativo. Os DVDs pos-
Polo, Carla Galvão, informa que o material da DVDteca é sibilitam uma dinâmica em que o aluno se expressa", diz. <<

Os endereços e dados para contato com os Polos e parceiros da


Rede Arte na Escola estão no site www.artenaescola.org.br Patrocínio

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