Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
ANTEPROJETO DE DISSERTAÇÃO
RIO DE JANEIRO – RJ
2019
João Paulo Ovidio
RIO DE JANEIRO – RJ
2019
Por uma antologia crítica: o álbum Antologia Gráfica de Renina Katz
posto em questão.
Renina conquistou a atenção da crítica de arte especializada ainda quando era uma
jovem artista, recém-formada na ENBA, com pouquíssima experiência profissional,
porém, já inserida no circuito artístico oficial de exposições. 1 Destacava-se por sua
personalidade forte, dedicação ao trabalho e determinação de ideias, características
exigidas a uma artista engajada. O termo engagé é recorrente nos textos sobre o trabalho
da jovem artista, desse modo, precisa ser compreendido dentro do contexto histórico.
Na década de 1970, a promessa de um futuro promissor de outrora se apresenta como
uma referência consolidada, posição vitoriosa alcançada devido anos a fio dedicados à
arte, outra definição possível para engajamento.
1
Expôs de 1947 a 1951 na Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes, no entanto, com o decreto
da Lei 1512, de 19 de dezembro de 1951, cria-se o Salão Nacional de Arte Moderna, onde a artista passou
a expor ininterruptamente até 1959, ano de sua última participação como artista neste certame.
De todo modo, apesar do segundo não possuir instrumentais necessários para analisar as
obras a partir de suas especificidades, contribui por produzir escritos de época, os quais
nos permitem acessar outro tipo de informação, sobretudo os bastidores do cenário
artístico. Os textos de ambos os agentes nos permitem contrapor com as análises feitas
posteriormente, colaborando para construção de uma revisão crítica.
Na década de 1950 destacamos o nome dos críticos de arte de Fernando Pedreira, José
Geraldo Vieira, Mario Barata e Quirino Campofiorito, ao passo que na década de 1970
merece nossa atenção os escritos de Flávio Motta, Jacob Klintowitz, Olivio Tavares de
Araújo e Radha Abramo. As reavaliações ocorrem tanto por autores revisitando a obra,
como os aqui citados, quanto por teóricos propondo novas leituras à conceitos antigos,
depoimentos da própria artista em entrevistas, além de produções de pesquisas
acadêmicas: artigos, dissertações, teses.
O objeto de pesquisa deste projeto, álbum Antologia Gráfica (1977), foi concebido duas
décadas após a produção dessas peças, no final da década de 1970, durante a Ditadura
Militar no Brasil. O caráter da publicação incentiva à produção de novas reflexões,
adotando como referência o momento presente tanto para debater as temáticas da
gravura a partir de uma perspectiva contemporânea, como para construir um balanço de
mudanças e permanências dessas questões. Assim sendo, ao trazê-las à luz novamente,
passam a integrar um contexto histórico diferente da primeira tiragem, apesar de tratar
da mesma imagem, a obra é completamente diferente, das tintas e papéis utilizados aos
propósitos da impressão. Estudar o álbum implica em se debruçar sobre o resgaste da
produção do início da carreira de Renina Katz, que faz questão de divulgá-los com uma
publicação de qualidade, ainda que nesse momento a sua produção artística se apresenta
na contramão da arte figurativa de caráter social, numa verdadeira imersão no estudo de
cor e luz (KATZ, 1997, 30).
2
ANDRADE, M. A. P.. Álbuns de gravura editados por Julio Pacello na coleção do Museu Universitário
de Arte da UFU. REVISTA MUSEOLOGIA E INTERDISCIPLINARIDADE, v. 5, p. 186-195, 2016.
gravuras de Renina Katz, contemplando determinados aspectos de sua biografia, os
quais provocam ecos no discurso de na imagem.
3
Ver TAVORA, Maria Luisa Luz. Tematizando a história da gravura no Brasil: no território da crítica de
arte - 1950 /60. In: 19 Encontro da ANPAP, 2010, Cachoeira /Bahia. Anais do Encontro Nacional da
ANPAP. Bahia: Universidade Federal da Bahia /Centro de Artes, Humanidades e Letras, 2010.
4
Ver LUZ, Angela Ancora. Uma breve história dos salões de arte da Europa ao Brasil. Rio de Janeiro:
Ed. Caligrama, 2006.
do povo, uma vez que subsidia as tendências abstratas, vistas como um desvio das
causas humanas, tão importantes naquele momento. Portanto, o segundo recorte tem
como objetivo verificar a recepção do público e perspectiva do crítico frente a nova
inserção dessas gravuras no circuito, contrastando a diferença nos embates e a essência,
isto é, o que permanece igual.
Fora do eixo Rio-São Paulo, em 1950, no Rio Grande do Sul foi fundado o Clube de
Gravura, formado por um grupo de artistas interessados em desenvolver um projeto
semelhante ao Taller de Gráfica Popular, ou seja, usar a gravura como instrumento
acessível para tratar de questões das classes menos abastadas, isto é, as pessoas pobres e
a condição de miséria em que tais estavam inseridas. Iniciativa semelhante foi tomada
em outras cidades, mas sem grandes êxito (AMARAL, 1984, p. 187). Os estudos
referentes à produção inicial de Renina Katz costumam ser associados ao Clube de
Gravura (RS) e aos seus membros, sendo raros os escritos que se dedicam
exclusivamente a produção da artista nesse período. Não se pretende omitir a relação
com esses artistas, no entanto, pensar as gravuras da artista de modo crítico fora da
perspectiva de coletividade, contemplando as sua singularidade poética.
Portanto, o diferencial da pesquisa consiste em tratar a obra da artista presente em duas
temporalidades distintas, primeiro concebida como unidade, depois publicada como
álbum. Com essa pesquisa também me questiono se a crítica da época realmente
compreendia a proposta de Renina Katz ou se tal foi alcançado somente anos mais tarde
com os textos frente ao álbum, uma investigação interessada em construir sua antologia
crítica.
OBJETIVOS:
Objetivo Geral:
Objetivos específicos:
METODOLOGIA:
Quanto aos teóricos, tais serão selecionados dando preferência aos de origem brasileira
ou latino-americana, escolha que parte da iniciativa de valorizar determinados autores,
de modo que o compreendo aptos devido a maior proximidade com as questões aqui
abordadas. Os textos da crítica de arte Aracy Amaral referentes a esse período cumprem
a função de leitura básica, servindo para compreender determinados conceitos e ficar a
par de diversos acontecimentos no circuito artístico de político, a nível nacional e
internacional. Os escritos de Annateresa Fabris sobre Portinari permite entendermos o
que se compreendeu como arte social, as aproximações e distanciamentos em relação
aos gravadores, especialmente, Renina Katz. Também farei uso dos artigos acadêmicos
da historiadora da arte Maria Luisa Tavora, posto que tal pesquisadora é referência para
o estudo da gravura moderna no Brasil, contemplando em seus textos questões que
perpassam a presente pesquisa.
CRONOGRAMA:
1º Semestre – 2019.2:
Pretendo me dedicar às leituras fundamentais pré-estabelecidas, assim como a revisão
bibliográfica, acrescentando novas referências e eliminando outras. Realizarei
fichamentos e resenhas do material lido, para que tal possa orientar o desenvolvimento
do trabalho. O período será dedicado à revisão do projeto de pesquisa, a orientação
acadêmica e cumprimento dos créditos de disciplinas sugeridos pelo programa de pós-
graduação.
2º Semestre – 2020.1:
Após a entrega das monografias de conclusão das disciplinas, pretendo dar início a
leitura dos novos textos sugeridos pela orientadora, a fim de dar continuidade à
formação da bibliografia. Farei visitas ao Museu Nacional de Belas Artes e Biblioteca
Nacional, visto que já fiz o levantamento de material referente à artista nas demais
instituições cariocas. Se possível, gostaria de viajar para São Paulo com o intuito de
recolher mais materiais na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no Museu de Arte
Moderna, além de visitar o atelier Glatt & Ymagos para entrevistar Patricia Motta,
representante legal da artista. Dedico-me também a escrita da redação para a
qualificação do mestrado. Assim como o primeiro período cumprirei o número de
créditos exigidos pelo programa de pós-graduação. Compreendo a importância de
escrever nesse período artigos acadêmicos para os congressos em História da Arte.
3º Semestre – 2020.2:
No início do semestre apresentarei a qualificação, após a avaliação da banca farei as
correções necessárias, reforçarei as leituras, bem como espero completar os
mapeamentos em acervos e tabelas referente às exposições no âmbito nacional e
internacional. Já existe uma tabela com informações completa sobre a participação da
artista no salões cariocas e paulistas. Pretendo cursar as disciplinas restantes, de modo
que fique somente a escrita da dissertação para o último período. O deslocamento para
São Paulo durante o período de recesso também será útil para pesquisar nas instituições
paulistas, principalmente no Arquivo Renina Katz, onde se encontram os diários e fotos
pessoais da artista. Intento realizar um número de matérias que não prejudique minha
produtividade.
4º Semestre – 2021.1:
Período dedicado exclusivamente à conclusão da dissertação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ABRAMO, Radhá. Renina Katz e sua arte. Estudos Avançados. São Paulo, v.
17, n. 49, set/dez. 2003.
AMARAL, Aracy. Arte para quê? A preocupação social na arte brasileira 1930-
1970. São Paulo: Studio Nobel, 2003.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte e Crítica de Arte. Lisboa, Editorial Estampa, 1988.
GRAVURA: arte brasileira do século XX. Apres. Ricardo Ribenboim. Textos Leon
Kossovitch, Mayra Laudanna, Ricardo Resende. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac &
Naify, 2000.
KATZ, Renina. Álbum Antologia Gráfica. São Paulo, Ed. Julio Pacello, 1977.
LUZ, Angela Ancora. Uma breve história dos salões de arte da Europa ao Brasil.
Rio de Janeiro: Ed. Caligrama, 2006.
MINDLIN, José. Julio Pacello. In: Julio Pacello e sua obra editorial. São Paulo: MASP,
1979. Catálogo da exposição realizada pelo Ministério de Relações Exteriores.
SIMONE, Eliana de Sá Porto de. Kathe Kollwitz. São Paulo: Ed. USP, 2004.