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Escola Politécnica – Fundações - 2014

Capítulo 6 - FUNDAÇÕES PROFUNDAS

6.1 – Generalidades

Conforme mencionado no item 1.2, fundações profundas são geralmente peças de


comprimento muito maior que a largura ou diâmetro, embora a NBR 6122/2010
especifique o critério de Df>2B, sendo Df não menor do que 3 metros. Quanto ao modo de
transferência de carga ao terreno, as fundações profundas podem transmiti-la através tanto
da base (resistência de ponta) como da superfície lateral (resistência de fuste) (ver figura
1.4, item 1.2).

Existem dois tipos de fundações profundas: as estacas (mais comuns) e os tubulões1.

A distinção entre estacas e tubulões no passado era simples, de vez que as estacas eram
elementos de seção muito menor que os tubulões. Estes possuíam diâmetro mínimo da
ordem de 70-80 cm, que se constituía o menor diâmetro possível para que um operário
pudesse trabalhar em seu interior. Com o advento das estacas de grande diâmetro,
principalmente estacas escavadas (em São Paulo chamadas de estacões), a questão da seção
passou a não ser um elemento de diferenciação entre um e outro tipo de fundação profunda.
Assim, a distinção feita hoje pela norma brasileira entre estaca e tubulão consiste em que no
caso do tubulão há, pelo menos em sua etapa final de execução, descida de operário,
enquanto que a estaca é executada inteiramente por equipamento mecânico. O tubulão pode
ser executado com ou sem revestimento, podendo ser este de concreto ou metálico. Pode
ainda ser executado a céu aberto ou com a presença de ar comprimido (tubulão
pneumático).

No que concerne às estacas, constituem o tipo mais empregado de fundação profunda, e o


item seguinte descreve aspectos relacionados à classificação, projeto e execução de vários
tipos de estacas empregadas em nosso país.

6.2 Estacas

6.2.1 Classificação

Várias classificações existem, e a relativa ao deslocamento de solo associado ao processo


de instalação da estaca é apresentado na figura 6.1 (Velloso e Lopes, 2001). Nessa
classificação estão incluídos os principais tipos de estacas executados em nosso país.

1
A versão anterior da Norma de Fundações, a NBR 6122:1996 incluía um terceiro tipo, os caixões, que foram
retirados, por desuso, da versão atual.

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Grande deslocamento Pequeno deslocamento Sem deslocamento

Moldadas “in- Pré-fabricadas: O furo é executado por


situ” cravando maciças ou perfuração ou escavação; o
um tubo com ocas, fechadas Vários sistemas furo é preenchido com
ponta fechada na ponta, concreto. As paredes da
para formar um cravadas no perfuração são:
vazio que é terreno e
preenchido deixadas em Perfis metálicos, Estacas
com concreto à posição I, H, tubos aparafu-
medida que o abertos (desde sadas
tubo é retirado que não haja
embuchamento) Não Suportadas
suportadas

Maciças Ocas (ponta


Temporariamente Permanente (por
fechada, cheias
encamisamento)
ou não, após a
Madeira Pré-moldadas cravação)
Por Por lama
de concreto
encamisamento

Tubulares de aço Tubulares


de concreto

Figura 6.1 – Classificação de estacas quanto ao deslocamento induzido pela estaca no solo
(Velloso e Lopes 2001).

Uma segunda classificação é relativa ao tipo de material empregado. Assim, as estacas


seriam classificadas em estacas de madeira, de aço, de concreto e mistas (mais de um tipo
de material). Entretanto, no caso das estacas de concreto existem vários modos de
execução, e acaba-se recaindo na simples denominação da estaca, a qual traz implícito o
processo de execução.

No caso de estacas de madeira e aço – fala-se portanto no material –, o processo de


execução pressupõe cravação por percussão. O mesmo ocorre com as estacas pré-moldadas
de concreto. Quando o processo de instalação não envolve cravação por percussão nas
estacas metálicas e pré-moldadas de concreto, as estacas passam a ter designação específica
(ver itens seguintes).

A seguir são descritos alguns tipos de estacas utilizadas em nosso país.

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6.2.2 Estacas de madeira

As estacas de madeira têm sido usadas pelo homem desde épocas pré-históricas, em vales e
áreas alagadas. Para esse propósito, os pinheiros forneciam excelente material (Kézdi,
19752).

Segundo Tomlinson (19773), sob muitos aspectos a madeira é um material ideal para
estacas. Possui uma elevada relação resistência/peso, é fácil de manusear, de cortar e de
arrasar. De uma maneira geral, as estacas de madeira − mesmo sem qualquer tratamento −
possuem vida útil infinita, desde que permanentemente imersas, ou seja, integralmente
abaixo do lençol freático. Nessa condição, a madeira é imune a ataques de fungos, sendo
susceptível apenas a ataques de organismos como brocas, sobretudo em ambientes
marinhos. Nestes casos, é recomendável o uso de creosoto em madeiras moles (reduz o
ataque de alguma forma) ou madeira dura de espécies resistentes ao ataque de tais
organismos. Acima do lençol, é importante um tratamento à base de creosoto que aumenta
(embora não indefinidamente) a vida útil da madeira.

Danos às estacas de madeira decorrentes de ação de cravação ocorrem principalmente no


topo e na ponta. No topo é recomendável o uso de anel metálico simplesmente enfiado ou
aparafusado. Na ponta, pode-se apenas utilizar uma forma de tronco de cone (caso de ponta
assente em solos não muito rígidos) ou prover-se a estaca com uma ponteira metálica (caso
de cravação em solos compactos ou muito rígidos, Tomlinson, 1977 − ver figura 6.2). De
forma a minimizar os danos provenientes da cravação, Tomlinson (1977) sugere reduzir o
número de golpes e a altura de queda do pilão. Sugere ele que o peso do pilão seja no
mínimo igual à metade do peso da estaca em cravações difíceis.

Quanto às tensões de trabalho, aquele autor apresenta valores para diversas espécies de
madeira. Para tensão de compressão paralela à fibra e madeiras moles, os valores variam de
cerca de 3 a 9 MN/m2, enquanto que no caso de madeiras duras a faixa é de 5 a 20 MN/m2.

As estacas de madeira foram muito usadas no passado, mas hoje o custo não é
compensador. O autor destas notas de aula teve experiência com fundações em estacas de
madeira em projeto industrial no Amapá. Neste caso, o cliente iria desmatar uma grande
área e pediu para que fossem usados os troncos das árvores como estacas; o projeto foi feito
baseando-se nos diâmetros medidos fornecidos pelo cliente.

Obras provisórias às vezes ainda são realizadas com estacas de madeira, sem tratamento.
Nestes casos, há que se tomar cuidados, pois no nosso país é comum as obras provisórias
não serem tão provisórias assim, havendo sérios riscos de colapso por deterioração.

2
Kézdi, A. (1975), "Pile Foundations", in Foundation Engineering Handbook, Winterkorn e Fang, Cap. 19,
pp. 556- 600.
3
Tomlinson, M.J. (1977), "Pile Design and Construction Practice", View Point Publ.

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Figura 6.2 -Proteção do topo e da ponta de estacas de madeira (Tomlinson, 1977).

Quanto a obras definitivas, tornou-se clássico o caso do Teatro Municipal do Rio de


Janeiro, com estacas de maçaranduba de seções variando de 30 cm x 30 cm até 40 cm x 40
cm, em perfeito estado de conservação, vistoriadas por ocasião da construção do Metrô, em
fins da década de 60 (Barata, 19694).

4
Barata, F.E. (1969), "Relatório descritivo e conclusivo sobre exame das fundações do Teatro Municipal do
Rio de Janeiro", relatório Sondotécnica EG-620/69.

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6.2.3 Estacas Pré-Moldada de Concreto, Metálicas e Tipo Franki

6.2.3.1 Generalidades

Os três tipos de estacas, pré-moldadas de concreto, metálicas e tipo Franki, constituem os


casos mais comuns de utilização no Rio de Janeiro e em outras regiões do Brasil.
Abrangem cargas de trabalho∗ desde valores pequenos (200 - 250 kN) até valores não
excepcionalmente elevados (1700 - 2500 kN).

Em princípio, estes três tipos de estacas devem ser cogitados como alternativas possíveis de
obras tanto residenciais como industriais. A escolha de um dentre os três tipos depende de
aspectos técnico-econômicos, sendo os mais importantes descritos nos itens seguintes.

Vale salientar que em todos os três tipos ocorre cravação por percussão e, portanto,
deslocamento do solo para que a estaca ou tubo-molde (caso de estaca tipo Franki) penetre
no solo. Quando elementos de estacas pré-moldadas ou metálicas são cravados
estaticamente (prensados) no terreno, estes recebem a denominação não mais pelo material
da estaca, mas pelo processo de execução. Assim, são denominadas estacas mega com
elementos pré-moldados ou metálicos. As estacas mega são utilizadas, hoje, praticamente
apenas no caso de reforço de fundações, em que a reação é fornecida pelo peso da estrutura.

6.2.3.2 Estacas Metálicas

As estacas metálicas são usualmente perfis laminados, os mais comuns até algum tempo
atrás (quando eram fabricadas pela CSN) estão relacionados na tabela 6.1. Algumas das
estacas metálicas hoje fabricadas pela Gerdau estão incluídas na tabela 6.2. São utilizados
às vezes perfis soldados e tubos, mas constituem geralmente uma opção mais cara. São
também empregados trilhos, muito caros quando novos, mas de custo bem menor quando
adquiridos como refugo de estradas de ferro por não atenderem aos requisitos necessários
para o material rodante. É importante, nesse caso, verificar as dimensões finais dos trilhos
para uso em projeto (o que, infelizmente, muitas vezes não é feito). Na tabela 6.3 estão
relacionados os trilhos usualmente empregados.

As estacas metálicas podem ser utilizadas, ainda, como elementos múltiplos (duplos ou
mesmo triplos - ver figuras 6.3 a 6.5), os quais constituem-se de soldagem de elementos
individuais.


NOTA: Neste caso, a referência diz respeito a cargas admissíveis estruturais, ou seja, ao dimensionamento
estrutural da seção da estaca.

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Tabela 6.1 - Perfis laminados que eram fabricados pela CSN.


Distância Mínima entre
Tipo*1
*
Carga Nominal (kN) 2
Estacas (cm) *3
H6” (perfil simples) 400 80
I10” (perfil simples) 400 80
I12” (perfil simples) 700 80
II10” (perfil duplo) 800 100
II12” (perfil duplo) 1400 100
*1
- Empregados normalmente perfis de primeira alma; ver características do perfil na tabela da CSN em anexo. Quanto ao uso de polegadas, ainda faz parte da denominação
do perfil na prática.
*2
- Carga admissível estrutural
*3- Valores utilizados na prática de tal forma que se admite não haver interferência de um sobre o outro, nem no que toca à capacidade de carga nem aos recalques. Cuidados
devem ser tomados na utilização de tais valores quando as estacas tiverem suas pontas distantes de camada muito resistente. Nos casos em que isto não ocorrer, a análise
da influência entre estacas (efeito de grupo) precisa ser considerada.

Tabela 6.2 – Perfis metálicos fabricados pela Gerdau.


ASTM Relação Carga
MASSA PESO d bf tw tf h A 2P A' 2P`
PERFIL DESIGNATION
(kg/m) (N/m) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (cm2) (cm) (cm2) (cm)
A'/A 2P'/massa nominal
(mm x kg/m) (m/kg/m) (KN)
I W 360 x 64,0 64.0 627.8 347 203 7.7 13.5 320 81.64 146.31 59.81 144.85 73.26 0.0226 1017
H W 250 x 73,0 73.0 716.1 253 254 8.6 14.2 225 92.64 148.45 70.49 147.00 76.09 0.0201 1120
I W 410 x 67,0 67.0 657.3 410 179 8.8 14.4 381 86.35 149.76 64.00 148.30 74.12 0.0221 1088
I W 410 x 60,0 60.0 588.6 407 178 7.7 12.8 381 76.21 148.96 53.98 147.51 70.83 0.0246 918
H HP 250 x 62,0 62.0 608.2 246 256 10.5 10.7 225 79.56 147.47 57.55 146.02 72.34 0.0236 978
H W 250 x 80,0 80.0 784.8 256 255 9.4 15.6 225 101.91 149.28 79.62 147.82 78.13 0.0185 1354
H HP 250 x 85,0 85.0 833.9 254 260 14.4 14.4 225 108.56 149.84 86.20 148.38 79.40 0.0175 1465
H W 250 x 89,0 89.0 873.1 260 256 10.7 17.3 225 113.95 150.18 91.53 148.72 80.32 0.0167 1556
H W 250 x 101,0 101.0 990.8 264 257 11.9 19.6 225 128.71 151.18 106.14 149.72 82.46 0.0148 1804
H W 250 x 115,0 115.0 1128.2 269 259 13.5 22.1 225 146.04 152.66 123.25 151.2 84.39 0.0131 2095

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Tabela 6.3 - Trilhos mais comumente empregados.


Tipo Carga Nominal (kN)*1 Distância Mínima entre
Estacas (cm)*2
TR-25 200 80
TR-32 250 80
TR-37 300 80
TR-45 350 80
TR-50 400 80
TR-53 450 80
*1
- Carga admissível estrutural.
*2- Valores utilizados na prática de tal forma que se admite não haver interferência de um sobre o outro.

Figura 6.3 – Seção de perfil metálico, II 12” (duplo I de 12”).

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Figura 6.4 – Cravação de estaca metálica, duplo I de 12”.

Figura 6.5 – Duplo trilho TR-32.

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As principais vantagens das estacas metálicas são:

a) Facilidade de cravação em terrenos os mais diversos, argilosos ou arenosos, nos mais


diferentes graus de consistência ou compacidade. No caso de terrenos arenosos
resistentes é recomendável o uso de água sob pressão (processo denominado de
lançagem) para auxiliar a cravação (figura 6.6).
b) Corte e emenda, atividades relacionados a estacas pré-fabricadas, são fáceis de serem
realizadas com estacas metálicas. O corte é feito com um maçarico e utilizam-se
normalmente talas metálicas soldadas como emenda (ver figura 6.7). Embora na figura
sejam ilustradas 4 talas por emenda, é comum empregarem-se apenas as duas telas da
alma do perfil.
c) Resistem bem a manuseio e transporte, mesmo em condições desfavoráveis.
d) Nos pilares de divisa, a presença de prédios com empena na divisa não impede a
possibilidade de perfis praticamente faceando a divisa, o que dispensa a necessidade de
vigas de equilíbrio (ou minimiza suas dimensões).
e) No caso de subsolos ou estacas posicionadas nas divisas podem ser utilizadas também
como elementos de escoramento.
f) No caso de pequenas excentricidades construtivas ou desvios durante o processo de
cravação, os esforços de flexão correspondentes são absorvidos geralmente sem
quaisquer problemas.
g) Dentre todas as estacas em que ocorre cravação por percussão, são as que geram
menores problemas relativos a danos em vizinhos, sobretudo porque apresentam menor
deslocamento de solo (por unidade de carga) do que os outros tipos de estaca durante o
processo de cravação.

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Figura 6.6 – Cravação de estaca metálica em areia com auxílio de jato d’água.

No que diz respeito a corrosão, quando a estaca trabalhar total e permanente enterrada em
solo natural, deve-se descontar de sua espessura 1,5mm por face em contato com o solo
(item 7.8.2.3.2 da NBR 6122/1996 - ver ainda figura 6.8). Nesta condição, de corrosão
limitada, há a formação de uma película de ferrugem que, como não é retirada, protege o
interior da estaca. As cargas nominais das tabelas 6.1 a 6.3 levam em conta a recomendação
acima. A figura 6.9 mostra a seção nominal de uma estaca metálica de fabricação Gerdau e
a mesma seção após redução de 1,5 mm para levar em conta a corrosão. Os dados
correspondentes de área e de perímetro da seção sem o desconto de corrosão e com o
desconto de estacas de fabricação Gerdau estão indicadas na tabela 6.2. Pode-se observar
que a redução de área é significativa (de 15 a 30%), redução que é associada à carga
nominal (estrutural admissível). Já a redução de perímetro (associada à carga de atrito
lateral) é muito pequena.

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obs.: dimensões em mm, espessura das talas de 8 mm (5/16”)

Figura 6.7 – Solda, com talas, de perfil metálico I 10”.

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Fig. 6.8 - Desconto de 1,5mm na seção da estaca de modo a considerar a formação de


película de corrosão.

LEGENDA:
A = ÁREA SEM CORROSÃO
2P = PERÍMETRO SEM CORROSÃO
A’= ÁREA COM CORROSÃO (DESCONTO DE 1,5 mm DE SUAS FACES)
2P’= PERÍMETRO COM CORROSÃO (DESCONTO DE 1,5 mm DE SUAS FACES)
A’/A = 73%

Figura 6.9 – Ilustração do desconto de 1,5 mm na seção de estaca metálica (seção plena à
esquerda e seção após desconto à direita).

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No caso de estacas metálicas com trecho desenterrado (fora do solo), ou em solo


sabidamente agressivo ao aço, ou em águas livres (rios, mares, etc.), deve-se promover uma
proteção especial contra a corrosão, que pode ser, por exemplo, um encamisamento com
concreto neste trecho (tendo-se assim uma estaca mista), pintura à base de epoxi ou
proteção catódica. A proteção catódica é particularmente indicada a estacas de portos, piers,
dolfins e pontes. Para detalhes desse tipo de proteção, ver Sacor (1975).

A principal desvantagem da estaca metálica em relação aos outros tipos de estacas é o custo
(por unidade de carga), geralmente superior.

6.2.3.3 Estacas Pré-Moldadas de Concreto

As estacas pré-moldadas são na maioria dos casos de concreto armado, sendo nos casos de
grandes comprimentos de estacas adotado o concreto protendido (comum em portos, por
exemplo).

De uma maneira geral, as estacas pré-moldadas constituem a opção de menor custo nos
casos em que sua utilização não possui alguma contra-indicação.

A seção transversal das estacas pré-moldadas é geralmente constante ao longo do seu


comprimento, e pode ser quadrada, octogonal ou circular, vazada ou não. No caso de seção
circular, a concretagem pode envolver o processo de centrifugação. Alguns fabricantes
empregam o processo de cura a vapor.

As estacas pré-moldadas são produzidas em fábricas ou, eventualmente, no próprio


canteiro, quando o porte da obra assim o permite.

Em princípio, as estacas pré-moldadas podem ser fabricadas em dimensões as mais


variadas, seja no que diz respeito à largura (ou diâmetro), seja quanto ao comprimento. As
dimensões utilizadas por dois fabricantes constam das tabelas 6.3 e 6.4. Estacas vazadas são
apresentadas na figura 6.9.

Tabela 6.3 - Dimensões de estacas de seção quadrada.


Largura (cm) Carga Nominal* (kN)
20 300
25 500
30 700
* - Carga admissível estrutural (à compressão)
Obs.: comprimento dos elementos padronizados: 4, 6, 8, 10 e 12m.

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Tabela 6.4 - Dimensões de estacas de seção circular.


Diâmetro Externo Espessura de Parede (cm) *
Carga Nominal (kN)
20 6 250
23 6 300
26 6 400
33 7 600
38 7 750
42 8 900
50 9 1300
50 10 1400
60 10 1700
60 11 1800
70 11 2300
70 12 2500
* - Carga admissível estrutural (à compressão)
Obs.: comprimento dos elementos padronizados: 4 a 12m.

Figura 6. 9 – Estacas pré-moldadas de seção circular, vazadas.

A principal vantagem da estaca pré-moldada é a possibilidade de se trabalhar com concreto


de boa qualidade, em função das condições de concretagem, bastante mais fáceis do que
aquelas correspondentes a estacas de concreto moldadas in situ.

Por outro lado, a possibilidade de obtenção de concreto de alta resistência fez com que
tensões elevadas (de 15 MPa ou mais) fossem utilizadas pelos fabricantes. Dessa forma,
naturalmente as seções das estacas foram reduzidas. A conseqüência geotécnica, advinda
desta questão estrutural, é que as estacas para uma determinada carga de trabalho passaram

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a necessitar de comprimentos maiores do que no passado. De modo a tentar evitar


problemas, a NBR 6122:1996 estabeleceu a necessidade de realização de provas de carga
estática ou dinâmica, no caso de tensão de trabalho superior a 6 MPa. De fato, o item
7.8.3.6.1 é enunciado da seguinte forma: “Nas estacas comprimidas, quando não é feita a
verificação da capacidade de carga através de prova de carga ou de instrumentação, pode-se
adotar como carga de trabalho aquela obtida a partir da tensão média atuante na seção de
concreto, limitada ao máximo de 6 MPa.” O item 7.8.3.6.2 daquela norma estabelece ainda:
“Nas estacas comprimidas, quando é feita a verificação da capacidade de carga através de
prova de carga ou de instrumentação, a carga de trabalho máxima é aquela calculada como
peça estrutural de concreto armado ou protendido, restringindo-se a 35 MPa a resistência
característica do concreto.”

A versão da NBR-6122:2010 alterou o valor de fck limite para 40 MPa. Também alterou a
tensão de trabalho limite, sem a realização de provas de carga, para 7 MPa.

As estacas pré-moldadas devem ser dimensionadas para os esforços de trabalho, cravação e


manipulação (manuseio, transporte, levantamento, etc). Os esforços de manipulação
correspondem à ação do peso próprio da estaca entre os apoios nos pontos de içamento.

A armação deve ser distribuída igualmente na estaca de forma a poder ser levantada com
qualquer face para baixo ou para cima. A armação longitudinal não deve atingir o topo da
estaca (deve-se manter distância de 3 a 5 cm) , pois durante a cravação a estaca pode ser
esfacelada na cabeça. Deve-se concentrar os estribos no topo e na ponta.

Quanto à emenda, deve ser feita através de solda dos anéis metálicos localizados nas
extremidades das estacas (figura 6.10). As emendas por luvas, incapazes de resistirem a
solicitações de tração durante a cravação, devem ser evitadas.

Figura 6.10 – Detalhe de emenda de estaca pré-moldada.

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6.2.3.4 Estacas tipo Franki

A estaca Franki foi criada por um jovem técnico belga, executor de estacas, Edgard
Frankignoul. Comparando dois sistemas de execução existentes, ele teve a idéia de executar
uma estaca cravando no terreno um tubo com a ponta fechada por uma bucha de concreto,
na qual batia um pilão de queda livre. O desenvolvimento da estaca durou de 1908 a 1910,
quando foi executada a primeira obra. A estaca é hoje utilizada em todo o mundo (Franki,
19755).

No Brasil, a empresa criada na Bélgica a partir do desenvolvimento da estaca chegou em


1935, com o nome Estacas Franki. Esta empresa teve importante participação na história
das fundações no Brasil, e por ela passaram engenheiros de destaque, como Antonio José
da Costa Nunes, Dirceu de Alencar Velloso, Nelson Aoki e muitos outros. A empresa hoje
executa não apenas estacas Franki, como muitos outros tipos de estaca.

Por outro lado, a patente correspondente à estaca Franki deixou de valer no Brasil em
meados da década de 50, e hoje não apenas a empresa Estacas Franki a executa, como
várias outras empresas, e a estaca hoje é também conhecida como estaca tipo Franki. O
processo de execução da estaca pode ter diferentes variantes, mas o processo tradicional –
correspondente ao que se denomina estaca Franki Standard – é descrito a seguir.

i) Posicionamento do tubo

O primeiro passo consiste em posicionar o tubo em relação ao piquete de locação, e em


seguida acertar a sua verticalidade, bem como a do bate-estacas.

ii) Preparo da bucha

Uma vez posicionado o tubo, é lançado em seu interior uma mistura de areia e brita, que irá
formar a bucha na base do tubo. No interior do tubo, um pilão bate neste material, de tal
forma que são desenvolvidas elevadas tensões de compressão entre este material e o tubo.
O atrito que surge então é capaz de fazer com que o tubo seja cravado pela ação dos golpes
do pilão sobre a bucha.

iii) Cravação do tubo

O tubo é portanto cravado pela ação dos golpes do pilão sobre a bucha, a qual garante a
estanqueidade do tubo durante a cravação. A energia durante a cravação do tubo pode ser
bastante elevada, sendo freqüentemente empregadas alturas de queda de vários metros.

Os pilões empregados para a cravação do tubo devem ter os pesos e diâmetros mínimos
indicados na tabela 4.5 para cada diâmetro de estaca.

5
Franki (1975), Catálogo no 7.

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Tabela 6.5 – Diâmetros de estacas Franki, pesos e diâmetros dos pilões.


Diâmetro da estaca (mm) Peso mínimo do pilão (kgf) Diâmetro mínimo do pilão (mm)
350 1700 220
400 2000 250
450 2500 280
520 2800 310
600 3000 380

Durante todo o processo de cravação, a altura da bucha é controlada através da marca do


cabo, sendo seu valor mínimo da ordem de 1,5 vezes o diâmetro do tubo. Esta marca é feita
de tal forma que corresponde ao comprimento do tubo. Ou seja, a distância entre a marca
do cabo e o topo do tubo corresponde ao comprimento da bucha no interior do tubo. Se a
bucha, durante a cravação, estiver reduzindo de altura, mais material é lançado a partir do
topo do tubo de modo a se garantir a altura da bucha.

Dentre as estacas em que se emprega cravação por percussão na execução, a estaca Franki
é, nos casos de obras correntes, a que pode utilizar maior energia.

O tubo é cravado até o comprimento previsto em projeto, quando se tomam as medidas de


nega. Atendidos a ambos os requisitos, interrompe-se a cravação do tubo.

É recomendável a medida da nega segundo duas condições:


a) Para 10 golpes de 1 metro de altura de queda;
b) Para 1 golpe de 5 metros de altura de queda.

Cabe salientar ainda que, no caso de áreas urbanas – em que as vibrações podem causar
problemas com as construções vizinhas –, é comum se atravessar camadas resistentes por
meio de perfuração prévia ou cravando-se o tubo, numa primeira etapa, estaticamente e
com a ponta aberta (com o auxílio dos cabos do bate-estacas). Após se atravessar a camada
resistente, faz-se a bucha e procede-se à cravação com o processo anteriormente
mencionado.

iv) Execução da base

Para se executar a base alargada da estaca, inicialmente procede-se a um pequeno


levantamento do tubo e à sua fixação no bate-estacas, através dos cabos de tração, de modo
a impedir que desça. Em seguida, lança-se concreto aos poucos no interior do tubo, o qual é
apiloado, mas o tubo não desce, uma vez estar fixo ao bate-estacas. O concreto, sob os
golpes do pilão, vai assim expulsando a bucha, e formando a base alargada da estaca. Os
volumes mínimos de concreto da base da estaca, para cada diâmetro, estão incluídos na
tabela 6.6.

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Tabela 6.6 – Volumes mínimos de concreto da base de estacas Franki e áreas da projeção
da esfera admitida.
Diâmetro da estaca (mm) Volume mínimo da base (l) Área da projeção da esfera (m2)
350 90 0,243
400 180 0,386
450 270 0,505
520 300 0,542
600 450 0,710

Os últimos 150 litros de concreto da base devem ser introduzidos com uma energia mínima
de 250 tfm para as estacas de diâmetro inferior ou igual a 450 mm e 500 tfm para as estacas
de diâmetro 450 mm a 600 mm.

A base alargada é admitida geralmente esférica para cálculo da área projetada e da


resistência de ponta, mas pode assumir formas diversas, dependendo de aspectos executivos
e de características do terreno. A figura 6.11 ilustra uma base desenterrada.

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Figura 6.11 – Aspectos de estacas Franki desenterradas (Franki, 1975).

v) Colocação da armação

A armação da estaca pode ser colocada logo após a conclusão da base ou ainda durante a
sua execução. Neste caso, o objetivo é ancorar a armação na base, o que é importante no
caso de estacas que serão submetidas a esforços de tração ou em casos em que pode ocorrer
levantamento de estacas. Estes últimos casos estão associados principalmente a solos
argilosos saturados, os quais sofrem deformação a volume constante.

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A armação é geralmente composta por 4 barras longitudinais, com pés, e espiras ao longo
de seu comprimento.

vi) Concretagem do fuste

A concretagem do fuste é feita simultaneamente à retirada do tubo, da seguinte forma:


lança-se inicialmente uma caçamba de concreto no interior do tubo. Este concreto é seco,
uma vez que sua densificação se dá pela ação dos golpes do pilão. Levanta-se em seguida o
tubo, com o cuidado de manter uma altura de concreto em seu interior (também nesta
operação a marca do cabo desempenha papel fundamental). Este procedimento é efetuado
com o pilão repousando sobre o concreto, de modo a impedir que o concreto também suba,
juntamente com o tubo. Em seguida o concreto recém lançado é apiloado com 3 pancadas,
de altura de queda da ordem de 1 metro. Durante este processo a armação sofre um
encurtamento, que deve ser controlado, durante a concretagem, através de um cabo de aço
preso à armação, o qual passa por uma roldana fixada na cabeça da máquina, e tendo na
extremidade um contrapeso. Caso haja um levantamento brusco do contrapeso deve-se
verificar o ocorrido e eventualmente recravar-se a estaca.

A concretagem da estaca deve ser levada até um pouco acima da cota de arrasamento da
estaca, algo em torno de 30 cm no mínimo (ABEF, 19996).

O processo de concretagem faz com que o fuste da estaca acabe tendo uma superfície
externa bastante irregular – que gera um efeito benéfico quanto à capacidade de carga da
estaca –, tal como mostrado na figura 6.11.

As cargas nominais (admissíveis estruturais) das estacas Franki, no caso comum de


carregamentos verticais à compressão apenas, estão relacionadas na tabela 6.7. Na mesma
tabela estão incluídas as distâncias mínimas entre estacas, adotadas de modo a se poder
admitir que não haja interferência entre as estacas.

Tabela 6.7 – Cargas nominais de estacas Franki7 e distâncias mínimas entre eixos.
Carga nominal Distância mínima entre eixos de
Diâmetro da estaca (mm)
(tf) (kN) estacas (m)
350 55 550 1,20
400 70 700 1,30
450 90 900 1,40
520 130 1300 1,50
600 170 1700 1,70

Um esquema do processo executivo descrito é apresentado na figura 6.12. Os blocos de


coroamento de estacas Franki empregados usualmente encontram-se em anexo.

6
Manual de especificações de produtos e procedimentos ABEF (1999).
7
Existem algumas tabelas que propõem cargas algo maiores, mas os valores da tabela 4.7 são os mais
tradicionais.

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Figura 6.12 – Etapas de execução de uma estaca Franki.

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6.2.4 Estacas escavadas

As estacas escavadas são estacas de grandes dimensões, utilizadas no limite superior das
cargas de trabalho usuais de estacas. Por esse motivo, são empregadas, no caso de
edificações, quando estas têm alturas elevadas, o que gera cargas atuantes significativas por
pilar. Como o próprio nome indica, para a sua execução o solo é removido, diferentemente
dos casos vistos até então, em que o solo era deslocado para a penetração da estaca (casos
da estacas de madeira, pré-moldadas e metálicas) ou do tubo de revestimento (estaca tipo
Franki). O suporte da escavação pode ser provido por um revestimento metálico (menos
comum hoje em dia) ou por lama de bentonita. O processo de execução com lama de
bentonita (baseado em Velloso e Lopes, 1978) é descrito a seguir.

Em primeiro lugar, executam-se no terreno muretas-guias, cuja finalidade é guiar a descida


do equipamento de escavação (clam-shell), bem como manter o nível da lama
aproximadamente no nível do terreno original. Em seguida procede-se à escavação, com o
clam-shell, o qual pode ser acionado por sistema mecânico (cabos de aço) ou hidráulico
(figura 4.13). Uma vez atingida a profundidade especificada em projeto, a escavação é
interrompida, e a lama trocada (pois se encontra contaminada por resíduos da escavação). O
passo seguinte consiste na introdução da armação, a qual deve ser constituída por uma
gaiola rígida, de modo a não danificar as paredes da escavação a qual, conforme
mencionado, é não revestida (figura 4.14). Finalmente procede-se à concretagem, com o
auxílio de um tubo tremonha introduzido dentro da lama. O concreto é lançado no interior
do tubo (figura 4.15) e expulsa, de baixo para cima, a lama. A este processo dá-se o nome
de concretagem submersa. O concreto deve ser bem fluido, pois não sofre qualquer
processo de adensamento durante a execução da estaca. Um cuidado muito importante diz
respeito à garantia do suprimento do concreto (usinado), de modo a não ocorrer a perda da
continuidade do processo de concretagem, o que geraria uma junta e a perda da estaca.

A questão das dúvidas da concretagem da ponta da estaca e aos possíveis elevados valores
de deslocamento para mobilizar a ponta faz com a norma obrigue a que o atrito lateral seja
responsável por pelo menos 80% da carga de trabalho da estaca (item 7.1.2.c).

Uma grande vantagem das estacas escavadas diz respeito à inexistência de choques, o que a
torna particularmente indicada em prédios altos em regiões densamente construídas.

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Figura 6.13 – Escavação com clam-shell.

Figura 6.14 – Introdução da armação. Figura 6.15 – Concretagem submersa.

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As cargas de trabalho de algumas estacas de seção retangular e circular estão indicadas nas
tabelas 6.8 e 6.9, de acordo com o catálogo de um dos executores.

Tabela 6.8 - Cargas de estacas escavadas de seção retangular (barrete).


Seção da estaca Carga de trabalho (tf)
1,5 m x 0,4 m 240
2,0 m x 0,6 m 480
2,5 m x 0,6 m 600
2,5 m x 0,8 m 800
2,5 m x 1,0 m 1000
2,5 m x 1,2 m 1200

Tabela 6.9 - Cargas de estacas escavadas de seção circular.


Diâmetro (cm) Carga de trabalho (tf)
80 200
100 300
120 450
140 600
160 800
180 1000
200 1250
250 1950

6.2.5 Estaca Raiz

A estaca raiz surgiu na Itália, com a designação “pali radice”, tendo sido desenvolvida por
F. Lizzi8, empregada originalmente para reforço de fundações. Assim, os primeiros
equipamentos eram de pequeno porte, possibilitando a execução de fundações em locais de
pouco espaço para o trabalho (incluindo-se baixo pé direito) e de acesso difícil. No Brasil, a
estaca raiz chegou através da subsidiária da empresa italiana Fondedile, denominada
Brasfond. Posteriormente, outras empresas passaram a executar a estaca raiz.

Um esquema da execução da estaca raiz é mostrado na figura 4.16. A execução inicia-se


através da perfuração do terreno com o auxílio de um tubo de revestimento metálico
submetido a processo de rotação, ao mesmo tempo em que água sob pressão é injetada no
interior do tubo. Assim, o solo removido durante a perfuração sai por fora do tubo,
misturado com a água injetada. Uma vez atingida a profundidade estabelecida em projeto, a
perfuração é interrompida, e a etapa seguinte consiste em inserir a armação da estaca no
interior do furo. A armação é constituída por uma barra única, no caso das estacas de menor
diâmetro, ou um conjunto de barras ou ainda um tubo, no caso das de maior diâmetro. Ao
término desta etapa, encontra-se portanto o revestimento com água e a armação colocada. O
passo seguinte consiste na concretagem da estaca (ou argamassagem, uma vez que se

8
Lizzi, F. (1980), “The use of Pali Radice (root pattern piles) in the underpinning of monuments and old
buildings and in the consolidation of historic centers.” Publicação Fondedile S.p.A. 86.

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emprega argamassa ao invés de concreto, pelo pequeno diâmetro da estaca), o que é feito
segundo o processo de concretagem submersa, semelhantemente ao que já foi descrito para
as estacas escavadas. Assim, um tubo tremonha é introduzido no interior do furo, e
argamassa é lançada no interior do tubo, e a argamassa então expulsa, de baixo para cima, a
água existente. Tem-se ao final desta etapa o furo ainda revestido, com a argamassa e a
armação em seu interior. O próximo passo consiste em se retirar o tubo de revestimento, o
que é feito em segmentos de 1 a 3 metros, com o auxílio de um pequeno macaco hidráulico
(obras menores ou em espaço reduzido) ou de um guindaste. A cada remoção, a argamassa
desce no interior da perfuração, em função da ocupação dos espaços anteriormente
preenchidos pelo tubo e pelos vazios existentes atrás do revestimento. Assim, o nível da
argamassa é completado no interior do tubo, e uma tampa rosqueada é colocada no topo.
Esta tampa possui um orifício pelo qual insere-se ar comprimido, a uma pressão entre 1 a 3
kgf/cm2 (100 a 300 kPa), e a argamassa desce então um pouco mais no tubo, e é novamente
completada, sendo então repetido o processo até a completa retirada do tubo.

O processo de execução faz com que o diâmetro da estaca acabada fique maior que o
diâmetro do tubo de perfuração. A tabela 4.10 fornece os diâmetros de estacas raiz, e as
cargas de trabalho correspondentes.

Tabela 6.10 – Diâmetros e cargas de trabalho de estacas raiz (adaptado de Brasfond, 19909)
Diâmetro da perfuração Diâmetro nominal acabado Carga de trabalho (tf)
(mm) (mm)
83 100 até 10
101 120 até 15
114 140 até 20
127 150 até 25
140 160 até 35
168 200 até 50
220 250 até 70
355 400 até 130

Conforme se observa na tabela, a maioria das estacas refere-se a pequenas cargas, o que se
constitui na maioria das aplicações na prática deste tipo de estaca. As principais vantagens
da estaca raiz são a sua possibilidade de vencer obstáculos quaisquer (tais como matacões e
blocos de rocha, ou ainda partes de fundações existentes em concreto), pelo emprego de
ferramenta especial, e a inexistência de impacto, o que a torna uma solução particularmente
indicada quando se quer evitar ao máximo problemas relacionados a construções
adjacentes.

9
Brasfond (1990), “Catálogo de estacas raiz”.

74
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Figura 6.16 – Esquema de execução de estaca raiz (Brasfond, 1990).

6.2.6 Estacas Tipo Hélice Contínua

A estaca hélice contínua é uma estaca de concreto moldada in situ, caracterizada pela
escavação do solo através de um trado contínuo, constituído por um tubo central vazado
envolvido por hélices. O tubo central é dotado de uma tampa metálica, perdida, cuja
finalidade é evitar o ingresso de água e solo no tubo durante o processo de escavação com o
trado. Atingida a profundidade de projeto, o trado é extraído (sem rotação) ao mesmo
tempo que concreto é bombeado através do tubo, o qual desloca a tampa e preenche o vazio
da escavação. Após a concretagem é introduzida a armação, com o emprego de um
guindaste, a qual geralmente tem comprimento pequeno, pois no caso de estacas de
compressão não há em tese necessidade de armação, a qual se destina principalmente a se
evitar fissuração no concreto em caso de choques de equipamentos quando o solo em torno
da estaca é escavado para execução do bloco de coroamento das estacas.

A monitoração das estacas fornece uma série de elementos associados à sua execução, tais
como seção média da estaca (a partir do volume de concreto), torque durante escavação e
velocidade de avanço da hélice.

Uma das principais vantagens da estaca hélice contínua é a sua alta velocidade de
execução, com elevada produtividade.

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Os primeiros equipamentos eram capazes de operar com diâmetros pequenos, mas hoje no
Brasil existem equipamentos capazes de realizar estacas com diâmetro da ordem de 1 m e
comprimentos atingindo cerca de 30 m. Naturalmente, esses valores, para serem atingidos,
dependerão da capacidade de torque do equipamento e do tipo de solo.

Figura 6.17 – Esquema de execução de estaca hélice contínua (Mandolini, 2001).

6.3 Capacidade de carga de estacas

A capacidade de carga (carga de ruptura) de estacas pode ser estimada por meio de
fórmulas estáticas, fórmulas dinâmicas e métodos empíricos.

Nas fórmulas estáticas e nos métodos empíricos a capacidade de carga Qrup da estaca é
estimada pela expressão

Qrup = QAL + QP

sendo
QAL = carga (resistência) de atrito lateral
QP = carga (resistência) de ponta

A carga de atrito lateral é resultante das resistências do solo por atrito lateral atuantes ao
longo da superfície lateral da estaca, podendo ser dada por:
n
QAL = ∑ alat ( i ) ⋅ si
i =1

sendo

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alat (i) = área lateral no trecho i considerado;


si = atrito lateral unitário no trecho i considerado

A resistência de ponta é o produto da resistência de ponta unitária pela área da base da


estaca, ou seja,

QP = Ap . rp

sendo
Ap = área da base ou ponta da estaca
rp = resistência de ponta unitária (ou pressão de ruptura)

A diferença entre as fórmulas estáticas e os métodos empíricos é que no caso das fórmulas
estáticas o atrito lateral unitário e a resistência de ponta unitária (ambos com unidade de
pressão) são obtidos através de princípios de Mecânica dos Solos, tal como no caso de
fundações superficiais, em que as fórmulas de Terzaghi e de Vesic foram introduzidas. A
principal dificuldade do emprego das fórmulas estáticas consiste na estimativa dos
parâmetros geotécnicos das diversas camadas do terreno atravessadas pelas estacas com
base nas investigações geotécnicas usuais, no caso do Brasil apenas as sondagens à
percussão.

Já os métodos empíricos empregam os valores obtidos nos ensaios de campo diretamente


para a estimativa do atrito lateral unitário e da resistência de ponta unitária, ou seja, sem
passar pelos parâmetros geotécnicos. Pode-se dizer que esta é uma tendência mundial e, no
Brasil, métodos semi-empíricos têm sido propostos desde o final da década de 70 e início
da década de 80.

Dois dos métodos brasileiros são descritos a seguir.

6.3.1.Métodos empíricos

6.3.1.1 Método de Aoki e Velloso (1975)

O método de Aoki e Velloso (1975) constitui experiência adquirida pelos autores quando
de sua atuação na então Companhia de Estacas Franki. O método surgiu a partir de
correlações entre resultados de provas de carga em estacas, resultados de ensaios de cone
(CPT) e sondagens à percussão. Foram empregadas correlações existentes na empresa,
desenvolvidas por Costa Nunes e Fonseca (1959) entre a resistência de ponta do cone q c e o
N do SPT.

Para o cálculo do atrito lateral unitário, a expressão empregada é

α KN
si =
F2

A resistência de ponta unitária é dada por

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K N
rp =
F1

sendo
α e K = fatores que correlacionam os resultados do ensaio de cone com o SPT, os quais são
dados na tabela 4.11
N = número de golpes do SPT
F1 e F2 = fatores de correlação, dados na Tabela 4.12, os quais dependem do tipo de estaca

Tabela 6.11 − Valores de α e K a serem empregados no método de Aoki e Velloso (1975)


Tipo de solo k (kgf/cm2) α
Areia 10,0 0,014
Areia siltosa 8,0 0,020
Areia s1lto-argilosa 7,0 0,024
Areia argilosa 6,0 0,030
Areia argilo-siltosa 5,0 0,028
S1lte 4,0 0,030
S1lte arenoso 5,5 0,022
S1lte areno-argiloso 4,5 0,028
S1lte argiloso 2,3 0,034
Silte argilo-arenoso 2,5 0,030
Argila 2,0 0,060
Argila arenosa 3,5 0,024
Argila areno-siltosa 3,0 0,028
Argila siltosa 2,2 0,040
Argila silto-arenosa 3,3 0,030
Obs.: 1 kgf/cm ≅ 100 kN/m
2 2

Tabela 6.12 − Valores de F1 e F2.


Valores de
Tipo de estaca
F1 F2
Metálica e pré-moldada 1,75 3,5
Tipo Franki 2,50 5,0
Escavada 3,0 6,0

6.3.1.2 Método de Décourt e Quaresma (1982)

O método de Décourt e Quaresma, ou simplesmente método de Décourt, pois este último


autor apresentou uma série de atualizações do método, emprega apenas os resultados de
sondagens à percussão. Os valores de atrito lateral unitário si podem ser estimados a partir
da expressão

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_
si = N /3 + 1 (tf/m2)

_
sendo N o valor médio de N ao longo do fuste, calculado sem levar em conta os valores de
N considerados no cálculo da resistência de ponta.

No caso de N menor que 3, considerar N=3; no caso de N>50, considerar N=50, exceto nos
casos de estacas Strauss e tubulões, em que o limite para N deve ser de 15.

Para o cálculo da resistência de ponta unitária rp a expressão a ser empregada é

rp = C N

sendo os valores de C, função do tipo de solo, obtidos da Tabela 4.13.

Tabela 6.13 − Valores de C a serem empregados no método de Décourt


Tipo de solo C (tf/m2)
Argilas 12
Siltes argilosos (alteração de rocha) 20
Siltes arenosos (alteração de rocha) 25
Areias 40
Obs.: 1 tf/m ≅ 10 kN/m
2 2

A tabela deve ser utilizada para estacas em que há cravação por percussão.

Para o valor de N, deve ser tomada uma média entre três valores: o correspondente ao nível
da ponta da estaca, o imediatamente anterior e o imediatamente posterior.

Observações para os dois métodos descritos:

1) Para o cálculo da resistência de ponta, deve ser considerado o valor do contorno da seção
(seção cheia), em função do embuchamento, exceto no caso de estacas cuja ponta se assenta
sobre rocha. Para o cálculo do atrito lateral, existem autores que consideram o perímetro
(externo) real da seção, e outros que consideram o perímetro correspondente à seção
embuchada.

2) Não se deve considerar, no cálculo do atrito lateral, o comprimento desde o nível do


terreno até a cota de arrasamento da estaca.

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6.3.2 Fórmulas Dinâmicas

Como o processo de cravação dinâmica de uma estaca envolve a ruptura do solo, surgiu daí
a idéia da utilização dos registros obtidos durante a cravação para a estimativa da
capacidade de carga de estacas cravadas (por percussão). Dessa idéia surgiram as fórmulas
dinâmicas, baseadas nos princípios da conservação da energia e da quantidade de
movimento.

O princípio da conservação da energia estabelece que o peso do martelo multiplicado pela


altura de queda é igual à resistência dinâmica da estaca (carga de ruptura) multiplicada pela
nega (o produto é o trabalho realizado) e somada às perdas, ou seja,

Wr h = Ru s + z

Sendo

Wr = peso do martelo
h = altura de queda
Ru = carga de ruptura da estaca
s = deslocamento permanente, ou nega
z = perdas diversas no sistema (incluindo as correspondentes às deformações elásticas da
estaca e do solo)

Uma das principais limitações das fórmulas dinâmicas consiste na hipótese de que a carga
de ruptura dinâmica é igual à carga de ruptura estática, o que é algo bastante questionável.
Portanto, as fórmulas dinâmicas são hoje empregadas fundamentalmente como controle de
uniformidade de execução.

Além disso, o fenômeno associado à cravação de estacas é mais semelhante ao processo de


propagação de ondas em barras (analisado pela equação da onda) do que ao relacionado ao
choque entre corpos.

Existem várias fórmulas dinâmicas, oriundas de experiências de autores diversos. As duas


que se seguem são muito utilizadas para estacas pré-moldadas, metálicas e estacas tipo
Franki.

Cabe salientar que cada fórmula dinâmica tem um fator de segurança associado, relativo à
dispersão das previsões obtidas por cada fórmula.

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Fórmulas dinâmicas muito empregadas:

Fórmula de Brix (para estacas tipo Franki)

a) Para o tubo (parte cravada)

W2 P h
Qruptubo =
( W + P )2 s

b) para a estaca

Ae
Qrupestaca = 0 ,75 Qruptubo ( 0 ,3 + 0 ,6 )
At

sendo

P = peso do tubo (função naturalmente do seu comprimento)


h = altura de queda
s = nega
At = área da seção transversal do tubo (ver figura abaixo)
Ae = área da seção transversal da base alargada, na parte central (ver figura abaixo); para
efeito de cálculo, considerar base esférica e calcular o raio da esfera a partir do volume
correspondente. No caso de execução dos volumes usuais, a tabela 6.6 fornece a área da
projeção da esfera, que é o valor a ser empregado.

Usar F.S. = 2,5

Corresponde a At

Corresponde a Ae

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Fórmula dinamarquesa (para perfis metálicos e estacas pré-moldadas)

ηhG
Qrup =
s

s0
s = s1 +
2

2ηhG L
s0 =
AE

sendo

η = fator de eficiência – na falta de melhores dados, usar 0,7 para martelos de queda livre
h = altura de queda
G = peso do martelo
L = comprimento da estaca
A= área da seção transversal da estaca
E = módulo de elasticidade do material da estaca
s1 = nega
s0 = recalque elástico do elemento estrutural estaca

Usar F.S. = 2,0

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