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Roger Chatier
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A ordem dos livros
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entre os séculos XIV e XVIII
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Tradução
Mary DeI Priori
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COMUNIDADES DE LEITORES
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14 Roger Chartier A ordem dos livros 15
pos designados, nos séculos XVI e XVII, como 'iluminados', proveito dessa constatação de diversas maneiras: indicando os con-
'místicos', ou 'espirituais'".4 Nessa comunidade minoritãria, marginal, trastes maiores que distinguem os modos de leitura; caracterizando as
dispersa que é o meio místico, a leitura, tal como regulamentam nor- práticas mais populares dos leitores; ou prestando atenção às fórmu-
mas e costumes, investe o livro de funções originais: substituir a ins- las editoriais que textos antigos oferecem a novos compradores, mais
tituição eclesiástica tida por enfraquecida, tomar possível uma pa- numerosos e mais humildes.
lavra (aquela da oração, da comunicação com Deus, do conversar), Uma tal perspectiva traduz a dupla insatisfação frente à histó-
indicar as práticas através das quais se constrói a experiência espiri- ria do livro feita na França nos últimos trinta anos. Esta, durante
tual. A relação mística com o livro pode, também, ser compreendida muito tempo, se dera por objeto a desigual medida da presença do li-
como uma trajetória onde se sucedem vários "momentos" da leitura: vro entre os grupos que compunham a sociedade do Antigo Regime.
a instauração de uma alteridade que fundamenta a busca subjetiva, o Daí, a construção (que continua, aliás, necessária) de indicadores
desdobramento de um prazer, o suplício do corpo reagindo à aptos a revelar as distâncias culturais; assim, para determinado tempo
"manducação" do texto, e, ao fim desse percurso, a interrupção da e espaço, a porcentagem de inventários póstumos mencionando a
leitura, o abandono do livro, o absoluto desprendimento. Observar, posse de livros, a classificação de coleções segundo o número de
assim, as redes de práticas e as regras de leituras próprias às diversas obras que comportassem, ou ainda, a caracterização temática das bi-
comunidades de leitores (espirituais, intelectuais, profissionais, etc.) bliotecas privadas em função da parte que nelas têm as diferentes ca- .< ".
é uma primeira tarefa para se chegar a uma história da leitura preocu- tegorias bibliOgráfiCaS,'Ness,a,p,erspectiva, reconhecer as leituras dos ',:.
pada em compreender, nas suas diferenças, a figura paradigmática
desse leitor que é um furtivo caçador.>
Mas ler é sempre ler alguma coisa. Por certo que a condição
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franceses entre os séculos XVI e XVIII era, antes de qualquer outra ,,: \'\' '.;'
coisa, constituir séries de dados numerados, estabelecer pisos quanti-
tativos e observar as-irã~u~.~~~~uitüralSdasdiferenças .s~~iais. ~)
de existência da história do livro é radicalmente distinta de uma his- Essa abordagem, CõIetívamenteassuffiiaã(indüsi.ve pelo au~or·, IJ
tória do que é lido: deste texto), fez acumular um saber sem o qual outras mterrogaçoes' '/./
seriam impensáveis. Todavia, tal não se deu sem problema. Ela se ba- !.,! (.
o leitor emerge da história do livro, na qual ele esteve por um seia em uma concepção de caráter acentuadamente sociográfico que ~ ,
"~ longo tempo confundido, indistinto. (...) O leitor era considerado postula, de forma implícita, que as clivagens culturais são organiza- '~
".. , um efeito do livro. Hoje ele se destaca desses livros dos quais se das se~ndo um recorte social Pré-~iõ~E-preCis(;,·creio··eü:-fecusar.J
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_; julgava ser ele um reflexo harmonioso. ~is-'ll!.~,.2...!ç~~li-
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j neia, ganha o seu relevo, adquire uma independência.P
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issa depelldênCiãque-áfficülifasmstancias, construídas a priori entre
as práticas culturais e oposições sociais, seja na escala de contrastes
macroscópicos (entre os dominantes e os dominados - entre as elites
\ Esta independência fundadora não é, todavia, uma liberdade e o povo), seja na escala de diferenciações mais miúdas (por exern- )
:~ f ~~a. Ela é limitada pelos c.2?~~~se C?!!.,,:~ões que regem as pio, entre os grupos sociais hierarquizados pela distinção de condição)'
l' ! práticas Qe~~~.g~~~~:~g~~,~,~,~,cJ~J'-~E.?~a. Ela é limitada, também, de ofício ou de níveis de fortuna).
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pelas f?~~~~.~~~~~Esivas e !!lateti-ªis"-~~s,,.!.~~t~s.!~s.
"Novos leitores criam textos novos, cujas significações depen-
Não há o que obrigue as partilhas culturais a se ordenarem de
acordo com uma grade única de recorte do social, recorte esse que
I dem diretamente de suas novas formas."? Assim D.F. McKenzie de- supostamente comandaria a desigual presença de objetos culturais,
I finiu com grande acuidade o duplo conjunto de variações - variações bem como as diferenças de conduta em relação a eles. A perspectiva
na disposição dos leitores, variações nos dispositivos textuais e for- deve ser modificada, preocupando-se em desenhar, primeiro, as áreas
mais - que toda a história, desejosa de restituir a significação move- sociais nas quais circulam cada corpus de textos e cada gênero de im-
1 diça e plural dos textos, deve levar em consideração. Podemos tirar presso. Partir" então, dos objetos e pão das classes ,.o. u dos grupos,
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16 Roger Chartier A ordem dos livros 17
leva-nos a considerar que a história sócio-cultural à francesa viveu igualmente em símbolos de' privacidade - a intimidade familiar, a
rmuito tempo sob uma concepção mutilada do social. Privilegiando convivência mundana, a conivência letrada. Uma história da leitura
'\ j apenas a classificação sócio-profissional, ela esqueceu que outros não deve, pois, limitar-se à genealogia única da nossa maneira con-
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: princípios de diferenciação, eles também plenamente sociais, poderi-
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temporânea de ler em silêncio e com os olhos. Ela tem, também e so-
! am dar, com maior pertinência, razão a outras distâncias culturais: bretudo, a tarefa de encontrar os gestos esquecidos, os hábitos desa-
•/": .. pertencer a um sexo ou a uma geração, adesões religiosas, solidarie- parecidos. Essa iniciativa é muito importante, pois revela, além da
" dades comunitárias, tradições educativas e corporativas, etc. distante estranheza de práticas antigamente comuns, estruturas es-
Em sua definição social e serial, a história do livro visava ca- pecíficas de textos compostos para usos que não são mais os mesmos
racterizar as configurações culturais a partir de categorias de textos dos leitores de hoje. Ainda nos séculos XVI e XVII, a leitura
supostamente específicas. Tal operação revelou-se duplamente redu- implícita do texto, literário ou não, constituía-se numa oralização, e
tora. Por um lado, ela assemelha a identificação de diferenças às úni- seu "leitor" aparecia como o ouvinte de uma palavra lida. Dirigida
cas desigualdades de repartição; por outro, ela ignora os processos tanto ao ouvido quanto ao olho, a obra brinca com formas e proce-
através dos quais um texto faz sentido para aqueles que o lêem. Con- dimentos aptos a submeter o texto às exigências próprias da perfor-
e tra tais postulados é preciso propor vários deslocamentos. O primeiro mance oral. Dos temas do Don Quixote às estruturas de textos que
i situa o reconhecimento das distâncias mais arraigadas socialmente participam da bibliothêque bleue, numerosos são os exemplos desta
\, !\ nos usos contrastados de materiais partilhados. Mais do que nunca, ligação entre o texto e a voz.?
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foi dito que nas sociedades do Antigo Regime os mesmos textos são _, "Seja o que quer que façam, os autores não escrevem livros.
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7/i apropriados, quer pelo leitor popular, quer por aqueles que não esta- (Os livros não são absolutamente escritos. Eles são fabricados por co-
/' í vam incluídos nessa categoria. Seja porque leitores de condição hu- \pistas e outros artífices, por operários e outros técnicos, por prensas e
; milde tiveram a posse de livros que não lhes eram particularmente \outras
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máquinas."!" Essa observação pode introduzir o_ .....terceiro dos
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O segundo deslocamento incide sobre a reconstrução das redes decisões de editore~ ou de !~c~!~çQ!!.s_impQstas por oficin~ im~~~s-,!
." de práticas que organizam, histórica e socialmente, os modos dife- \.~s.
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renciados de acesso aos textos. A leitura não é somente uma operação ,, Os autores não escrevem livros: não, eles escrevem textos que
abstrata de intelecção; ela é engajamento do corpo, inscrição num es- \. se tomam objetos escritos, manuscritos, gravados, impressos e, hoje,
.:-1 paço, relação consigo e com os outros. Eis por que deve-se voltar a " informatizados. Essa clivagem, espaço onde, aliás, constrói-se um
atenção particularmente para as maneiras de ler que desapareceram , ' sentido, foi, durante muito tempo, esquecida. A história literária clás-
em nosso mundo contemporâneo. Por exemplo, a leitura em voz alta, I J. sica percebia a obra como um texto abstrato cujas formas tipográficas
em sua dupla função: comunicar o texto aos que não o sabem deci- /1 \ não importavam. O mesmo ocorreu com a "estética de recepção", que
frar, mas também cimentar as formas de sociabilidade imbricadas ~postula - malgrado o seu desejo de "~istoricizar" a experiência que os
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"l demonstrou como transformações formais aparentemente insignifi- :';,~,. gitimidade sobre os fragmentos da Escritura que mais lhe pareçam
;4 cantes (a passagem do in-quarto para in-octavo, a numeração das .~~ "
confortáveis:
./.) cenas, a presença de ornamentos entre elas, a indicação nas margens ~;~1.;:
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~ um cânone clássico - aquele que levou o autor a depurar,.aqui e ~~o
ad~tando-o a es~a,"-~~~_:~~idade~a,12
riações das modalidades mais formais de apresentação dos textos
• puderam, então, modificá-los, assim como mudaram E'2.. seu~..:~~is.!!.os
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. crituras em versículos que, rapidamente, tornar-se-ão aforismos
independentes.14
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gina pela multiplicação dos parágrafos que quebram ã~é(;ntinüidade porque ele parecia fornecer um acesso direto à "cultura popular" do
ininterrupta do texto, e aquela das alíneas, que entre idas e vindas à
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Antigo Regime, cultura essa supostamente expressa e alimentada por
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tais livros, difundidos em massa para o mais humilde dos leítores." ~~~ci_J!l~J]1Q. dO-9.Y~-Y.~[<!~~~!],.Jt~§.ç2.~~~a. É,
Parece claro que a quase totalidade das obras que compõem o fundo portanto, nas p~ridad.ed.ot:mªi.~..9J!~_ediç.õ.es ..e nas'E2~~.Q~~ções
francês da livraria de colportage" não foi escrita para um tal fim. que elas il1!põem às obras das quais se apoderam que se pode reco-
A bibliothêque bleue é uma fórmula editorial que vai beber no nhecer o·~arátê-r·iipopülã?
repertório de textos já publicados, aqueles que mais parecem convir Ao propor essa reavaliação da bibliothêque bleue, nossa inten-
}"às expectativas do grande público que ela quer atingir. Donde duas ção não é apenas compreender o mais poderoso instrumento de acul-
\!\'(':precauções necessárias: não tomar os livros de capa azul como turação escrita na França do Antigo Regime.l'' É, também, mostrar
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:\J '. "populares" em si mesmos, pois eles pertencem a todos o~ gê~eros ~a que a indicação das diferenças sócio-culturais e o estudo dos disposi-
I t, i literatura erudita; considerar que eles já possuíam uma primeira exis- tivos formais ~;~~~lõõg~"d~;x-êfufre~-se reciprocamente, es-
i tência editorial, às vezes muito antiga, antes de ter ingressado no re- !ªº~ç.c.~~iªnªmi_º~)!~~~s. E isso não apenas porque as formas' se-
i pertório de livros para um grande número de leitores. modelam graças ~expect~~iYas e c.s!lli3r~ias .'l1rj_s 1l.2..p.!:Íl:>li.<::0
O estudo dos títulos do catálogo "popular" permitiu observar ~ vi~a.~o, mas, sobretudo, porque as obras e objetos produzem
como disposições formais e materiais podem encerrar em si mesmas o seu nicho social de receQÇão, tanto mais quanto não forem produzi-
os índices de diferenciação cultural. Com efeito, a especificidade fun-
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das por divisões cristalizadas e prévias.
damental da bibliothêque bleue remete às intervenções editoriais ope- Recentemente, Lawrence W. Levine fez uma bela demonstra-
radas sobre os textos a fim de tomã-los legíveis para as largas clien- ção disso.'? Analisando a forma como eram encenadas as peças de
telas a que são destinados. Todo esse trabalho de adaptação - que Shakespeare na América do século XIX (isto é, misturadas a outros
diminui, simplifica, recorta e ilustra os textos - é comandado pela gêneros: o melodrama, a farsa, o circo, a dança, etc.), ele revelou
maneira através da qual os livreiros e impressores especializados como esse tipo de representação criou um público numeroso,
nesse mercado representam as competências e expectativas de seus "popular", que não estava reduzido à elite letrada e que era partici-
compradores. Assim, as próprias estruturas do livro são dirigidas pelo pante ativo do espetáculo, através de reações e emoções. No final do
modo de leitura que os editores pensam ser o da clientela almejada. século, a estrita partilha estabelecida entre os gêneros, os estilos e os
Esta última - trata-sede uma terceira constatação - é sempre pensada lugares dividiu esse público "universal", reservando para uns o
como uma leitura que exige sinais visíveis (títulos antecipados ou Shakespeare "legítimo", e destinando aos outros um divertimento
resumos sintéticos e recapitulativos, ou ainda gravuras em madeir~ "popular". Na constituição dessa bifureated eu/fure, as transforma-
\ que funcionam como protocolos de leitura ou lugares de memória). E ções na apresentação das peças de Shakespeare (mas também da mú-
'\j uma leitura agradável, se utilizadas seqüências breves e fechadas, sica sinfônica, da ópera, das obras de arte) tiveram um papel decisi-
).. separadas umas das outras; uma leitura que parece se contentar com vo, fazendo suceder a um tempo de mistura e de partilha, um outro,
uma coerência mínima, uma maneira de ler que não é a das elites le- no quallY:?Iºç~e,Ss.Q_de..distinçãosocial produzia a separação ~ral.
tradas do período, mesmo que certos notáveis não vejam com maus Os dispositivos tradicionais de representação do repertório
olhos a compra dos livros de capa azul. As obras impressas para um "shakespeareano" na América são da mesma ordem das transforma-
maior número de leitores apostam no pré-conhecimento desses leito- ções "tipográficas" operadas péÍos editores da bibliothêque bleue nas
res. Pela recorrência de formas muito codificadas, pela repetição de obras de que se apropriaram. Tanto uns quanto os outros objetivam
temas semelhantes de um título ao outro, pelo reemprego das mes- inscrever o texto numa matriz cultural que não é a dos seus destina-
mas imagens, o conhecimento do texto já visto é utilizado para a tários originais, per~rir;;do, a;sr;;;,~~;l~Ú~;~s'::·"S~.Pr.~.~.!ls..§~..§"e·iíSõ~.
compreensão de novas leituras. O catálogo azul toma-se, assim, uma E,Ps§ivelmente d~qu~!1~5!l2?~"p'?~,0!ltros hábitos intelectuais.
Os dois exemplos levam a considerar as distâncias culturais
• Colportage: venda ambulante dejjomais, livros e diferentes mercadorias. (N. do E.)
não como mera
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divisões estáticas e imóveis, mas como
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efeito de processos dinâmicos. Por um lado, a transformação das for- aqui (mesmo se a cronologia é discutível) a observação de Michel de
mas e dos dispositivos através dos quais um texto é proposto pode Certeau, associando a liberdade do leitor e a leitura em silêncio:
criar novos públicos e novos usos; por outro, a partilha dos mesmos
objetos por toda umã sociedade suscita ~~.l.1~~a~~_novas diferenças, A leitura tomou-se, depois de três séculos, um gesto do olho. Ela
aptas a ~J)linhar as distâncias existentes. A trajetória do impresso, no não é mais acompanhada, como antes, pelo rumor de uma articu-
~ Regim~1rãiicês,Põ(fe-SêrvTr'cõmõ testemunha disso. Tudo se lação vocal, nem pelo movimento de manducação .muscular. Ler
passa como se as ~.!.s~!~~~~E!!.e_~~!!l~~_~~~~.~~}er fossem ,reforça- sem pronunciar em voz alta ou à meia-voz é uma experiência
das à..m~ºillª...9.l!e._º_~~çJi.1Q..imQ~.sso
tornava-s~!L~ro, menos "moderna", desconhecida durante milênios. Antigamente, o leitor
comiºlªQ.º,)l!..~i.~_fQm~!!~; Enquanto a simples posse do livro signifi- interiorizava o texto; ele fazia de sua voz o corpo do outro; ele
cou, durante tanto tempo, uma clivagem cultural, a conquista do im- era, ao mesmo tempo, autor. Hoje o texto não impõe o seu ritmo
presso iEvestiu progressivamente as posturas de leitura e os objetos' ao indivíduo, ele não se manifesta mais pela voz do leitor. Essa
t!pográflcos ~e uma tal função. As leituras distintas e os livros re- suspensão do emprego do corpo, condição de sua autonomia,
I quintados se opõem, desde então, aos impressos prematuros e aos equivale a um distanciamento do texto. Ela é o habeas-corpus do
~decifradores ineptos. leitor.21
Mas, tanto uns quanto os outros, lembremo-nos, lêem recor-
rentemente os mesmos textos, cujas significações múltiplas e contra- A seguir, passemos à clivagem entre uma leitura "intensiva" -
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ditórias se inventam à luz de contrastados usos. A questão toma-se, confrontada a livros pouco numerosos, apoill9-ª--~~e!!!U~..Jla_~-
desde já, aquela da escolha: por que alguns textos se prestam melhor mória, reverencial e respeitosa - e uma leitura "extensiva", consumi-
do que outros a esses reempregos duráveis e multiplicados'il'' Ou por .QQrã- de. mUít~-tex·~s.~· pãsiãndo·.com·~~~~;QYº~~!i:dê··-~~-~()_~~~~o,
que os produtores de livros se consideram capazes de ganhar públicos sem conferir ggalQ.!!..ersacralidade à coisa lida;22 enfim, entre a leitura
tão diversos? A resposta reside nas relações sutis estabelecidas entre dã'i~timidade, da cl~"ü'~u~ll;"dasoiidão;'~considerada como um dos
as estruturas mesmas das obras, desigualmente abertas a reapropria- suportes essenciais da constituição de uma esfera do privado, e leitu-
ções, e nas determinações múltiplas - tanto institucionais, quanto ras coletivas, disciplinadas ou rebeldes, feitas nos espaços comunitá-
formais - que regulam a possível "aplicação" delas (no sentido her- rioS.23
menêutico) a situações muito diferentes. Esboçando uma primeira trama cronológica, que contém como
Da relação entre texto, impresso e leitura, surge uma terceira mutação maior os avanços progressivos da leitura silenciosa na Idade
figura quando um texto, estável na sua leitura e fixo em sua forma, é
\ apreendido por novos leitores que o lêem diferentemente de seus pre-
Média e a entrada no mundo da leitura extensiva no fim do século
XVIII, tais oposições, tomadas clássicas, conduzem a várias refle-
5;· decessores. "Um livro muda pelo fato de que ele não muda quando o xões. Umas tendem a tomar menos simples as dicotomias apresenta-
mundo muda'"? - e para tomar a proposição compatível com a escala das, chamando a atenção para os deslocamentos, embaralhando os
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do nosso trabalho, acrescentemos - "enquanto o seu modo de leitura critérios que diferenciam de maneira abrupta os estilos de leituras,
muda". A observação é suficiente para justificar o projeto de uma invertendo as figuras que associam espontaneamente o coletivo e o
história das práticas de leitura, tendo como meta a indicação dos con- popular, a elite e o privado.ê" outras, convidam a articular três séries
. trastes mais importantes que se pode extrair dos sentidos diversos de de transformações cujos efeitos foram, muitas vezes, mal deslinda-
~um mesmo texto. Já é tempo de questionar três dessas clivagens fun- dos. Por um lado, as "revoluções" ocorridas nas técnicas de reprodu-
damentais, tidas por certas. Em primeiro lugar, aquela entre uma lei- ;.
ção de textos (com a passagem da seribal eulture para a print cul-
tura onde a compreensão pressupõe uma necessária oralização - em lure); por outro, as mutações das formas específicas do livro. A
voz alta ou baixa - e uma outra, possivelmente vísúal.ê? Lembramos substituição do livro em rolo (volumen) pelo livro em cadernos
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24 Roger Chartier A ordem dos livros 25
(codex) nos primeiros séculos da era cristã foi a mais importante; po- Mesmo que pareça ser impossível estabelecer o número desses
rém, outras, certamente mais discretas, modificaram os dispositivos leitores que não sabiam sequer assinar, ou o dos leitores que não pos-
visuais da página impressa entre o século XVI e o XVIII).25 Enfim, suíam um livro sequer (pelo menos não um livro que fosse digno de
as mudanças em larga escala, tanto das competências quanto dos mo- ser anotado pelo notário que fazia o inventário de bens) mas que, as-
dos de leitura. Existem aí diferentes conjunturas, que não surgiram no sim mesmo, liam panfletos e cartazes, folhas volantes e jornais, é
~ \ mesmo ritmo e que não foram cadenciadas pelas mesmas censuras. A preciso pensar neles como tendo sido numerosos, para compreender o
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i0 mais interessante pergunta formulada pela história da leitura hoje é, impacto do escrito impresso sobre as formas antigas de uma cultura
I~jl sem nenhuma dúvida, aquela que diz respeito às relações entre esses que ainda era bastante oral, gestual e iconográfica. Entre os dois mo-
três conjuntos de mutações: ~~~~())_~gicas~~~S>!fllais e as culturais. dos de expressão e de co~Càção,-ãS-T~ções são múltiplas.
Da resposta que lhe dermos depende a reavaliação das trajetó- Primeiramente, entre o escrito e o gesto: não apenas o escrito está no
rias e recortes culturais que caracterizam a sociedade do Antigo Re- centro das festas urbanas e das cerimônias religiosas como também
gime. Mais do que se diz, tais trajetórias e recortes se ordenam a par- numerosos textos continham a intenção de anular-se como discurso,
tir da presença do escríto impresso. Durante muito tempo, essa socie- produzindo, sob o ponto de vista prático, condutas reconhecidas
dade só foi avaliada de acordo com duas séries de medidas: aquelas como conformes às normas sociais ou religiosas. É o caso, por exem-
que, graças à contagem das assinaturas, visavam estabelecer as per- plo, dos tratados de civilidade que visavam fazer os indivíduos incor-
centagens de alfabetização - logo, as variações na capacidade de ler porarem as regras da polidez mundana ou da decência cristã.28
segundo as épocas, os lugares, os sexos e as condições - e as outras Imbricação, igualmente, entre palavra e escrito, e de duas ma-
que, examinando os inventários de bibliotecas organizadas por notá- neiras: por um lado, os textos destinados pelo autor - e, mais corren-
rios ou livreiros, tendiam a medir a circulação do livro e as tradições temente, pelo editor - ao público mais popular encobrem com fre-
de leitura. qüência fórmulas ou temas que são os mesmos da cultura do conto e
Todavia, não mais nas sociedades do Antigo Regime do que da recitação (a escrita de certos folhetos, valorizando as maneiras de
na nossa, o acesso ao impresso não pode ser reduzido à exclusiva dizer dos contadores, ou as variantes introduzidas nas edições volan-
posse do livro: nem todo livro lido é necessariamente possuído, e tes dos contos de fada, estes sempre inspirados nas coletâneas erudi-
nem todo impresso mantido no foro privado é necessariamente um li- tas, são bons exemplos do afloramento da oralidade no impressoj.ê?
vro. Além disso, o escrito está mesmo instalado no coração da cultura por outro lado, já o dissemos, numerosos "leitores" só apreendiam os
dos analfabetos, presente nos rituais, nos espaços públicos, nos es- textos graças à mediação de uma voz que os lia. Compreender a es-n I
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sura que deveria apartar tudo o que pusesse em perigo a ordem, a, r~- vros) a marca de um ~to significaJiy.?. da ex~~, ~~ória
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ligião ou a moral. Michel de Certeau convida a r~onh~ce~ a.e~cacla de uma em~.!....~igno de uma identida~. Ao contrário do imaginá- \ j
dessas limitações, tanto mais quanto é forte a adesao à instítuiçao que rio clássico, produzido na Idade Moderna, o povo não é sempre \ \1;)
as edita ("A criatividade do leitor cresce à medida que decresce a ins- sinônimo de plural, e é preciso reencontrar em sua solidão secreta as i 51,•.•
tituição que a controlava'P"), bem como as suas modalidades, que práticas humildes daqueles que recortavam as imagens das gazetas, l
vão de censuras exteriores (administrativas, judiciárias, inquisitoriais, coloriam gravuras impressas, liam por exclusivo prazer os livros!
escolares, etc.) aos dispositivos que, no interior do próprio livro, pa- azuis.
recem refrear a interpretação do leitor. Firmada em um t~~!l2.J)~cular (~:fra!!ç<l~nt~e.0~ .~~.culos_
Pelas possíveis utilizações do escrito, através dos diversos ma- l~:Y1..~AYlli), vinculada a um PJ91>k!pa específico (os ~f~!10L4ª.Qe-
nejos do impresso, os textos antigos constroem representações onde netraç!o do escrito im"presso sobre .11 cultur~ d~ muitõ~umerosos1, a
. se reconhecem clivagens tidas como decisivas para os produtores de abordagem proposta nesse texto (e cOlocad;"em-prátiC-ã"'em"ôutros
\ ) livros. Tais percepções são essenciais na medida em que fun~am es- tantos) deseja tomar operantes duas proposições de Michel de
•• tratégias de ~~daç~.2.E...Q~ edição, reguladas pelas ~sta~es Certeau. A primeira delas lembra, ~ todas as reduções gue anu-
.!'_eJS:pectativasdos diferentes públicos visados. Elas adquirem, as.slm, Em a força criativa e inventiva dos uS.Qs,~_,ll_~ei~~~_l!.ã.':>é ja~is
uma eficácia da qual encontramos vestígios nos protocolos de leitura liIl!.ilªda, não--P9-ºendo, assim, ser deduzida.9,mU~~QS..dü.S..q!,illi~.eJ-ª .>J
explícita, nas formas dadas aos objetos tipográficos, ou nas transfo~- s~Rropria. A segunda sublinha que as táticas dos leitores, insinuadas :'"
mações que modificam um texto quando ele é dado a ler a novos lei- nesse "lugar próprio" produzido pelas estratégias da escrita, obede-
; "
tores numa nova fórmula editorial. É' a partir de diversas representa- cem a regras. lógicas. !1l~lQ.~. Fica, assim, enunciado o paradoxo
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.\ ,\ ções da leitura e de ~icotomi~s construíd.as na Ida~e Mod~rna (ent~e fundador de toda a história da leitura, qy~Q~..Y_~J:~ºH",JªJ.:~, libe!~~e
. ,. !lleitura do texto e leitura da Imagem, leitura erudita e leitura vaci- de uma prática da qual sÓ podemo.s..c.,!!pturaras determinações. Cons-
. lllante, leitura íntima e leitura comunitária) que é preciso compreender truir comunidades de leitores como séndo interpretive 'Cõinmunities
os arranjos e empregos de impressos mais humildes que o livro, po- (para retomar a expressão de Stanley Fish), observar como as formas
rém mais presentes, cuja variedade abarca de folhas volantes e car- materiais afetam os seus sentidos, localizar a diferença social nas
tazes (sempre acompanhados de textos) a gazetas e livretos azuis práticas mais do que nas ~!lÇ.as estatísticas, são muitas das vias
(quase sempre ilustrados com imagens). . possíveis para quem quer entender, como historiador, essa "prod~o ../
Representações de antigas leituras e de suas diferença~, tal silenciosa" que é a "atividade leitora't.U __ o
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como as revela o trabalho prático da impressão, ou, em sua finalidade
normativa, as representações literárias, pictóricas ou autobiográfica~.
constituem dados essenciais para uma arqueologia das práticas de lei-
tura. Todavia, se elas enunciam contrastes mais presentes ao espírito
Notas
de seus contemporâneos. não devem mascarar outras clivagens,
1'" ' menos claras. É certo - por exemplo - que são numerosas as práticas
que invertem os tE!~da _QP9siS!q, tantas v~zes e~~oçada, ent~~!e.i~ I. Michel de Certeau, L'invention du quotidien.T CArts de faire"), 1980, nova edição
tura solitá!@...ill<...fu.tQ..p.ti'iado....b.urgu.ês~.QU..ao.s..tQÇ.!!HÇo
•..«;_.ªsJelt!!~aS
revista e apresentada por Luce Giard, Paris, Gallimard, 1990, p. 251.
;m-~mum dos auditórios poRYl~ De fato, a leituxa em voz alta,
par;-~~, continua sendo um dos cimentos da soc~a~!lid~d~ ~a l
~-
2. lbid., p. 247. Sobre a dupla leitura/escrita, ver nesse livro de Miche1 de Certeau o
~e; por outro lado, a ~netração do impresso ~o coraçao da mtun~-
artigo de Anne-Marie Chartier e Jean Hébrard, "L'invention du quotidien, une
dade popular .r~em obJetos modestos (que estao longe de serem li-
lecture des usages", Le Débat, 49, mar.vabr, 1988, pp. 97-108. '.
28 Roger Chartier A ordem dos livros 29
3. Paul Ricoeur, Temps et récit, tomo 11I, Le temps racontê, Paris, Éditions du Seuil, Giles Barber und Bernhard Fabian, Hamburgo, Dr. Emest Hauswedell und Co.,
1985, pp. 228-263. 1981, pp. 81-126.
4. Michel de Certeau, "La lecture absolue (Théorie et pratique des mystiques chréti- 13. Henri-Jean Martin, Histoire et pouvoirs de I'écrít, com a colaboração de Bruno ".,,
ens: xvr=xvn- siêcles)", Problêmes actuels de Ia lecture, sob a direção de Delmas, Paris, Librairie Académique Perrin, 1988, pp. 295-299.
Lucien Dãllenbach e Jean Ricardou, Paris, Éditions Clancier-Guénaud, 1982, pp.
65-79 (citação à p. 67). As sugestões desse ensaio são retomadas na grande obra de 14. McKenzie, Bibliography and the soeiology of texts, op. cit., pp. 46-47.
Michel de Certeau, La fable mystique, Paris, Gallimard, 1982, em particular na sua
terceira parte, "La scêne de l'énonciation", pp. 209-273. 15. Livro essencial, porém discutível, é o de Robert Mandrou, De Ia culture populaire
aux XV/f! et xvur siêcles. La bibliothêque bleue de Troyes, Paris, Stock, 1964.
5. Ver, a título de exemplo, o estudo de Lisa Jardine e Anthony Grafton "'Studied for Entre as críticas dirigidas a esse livro, ver o artigo de Michel de Certeau, Dornini-
action': how Gabriel Harvey read bis Livy", Past and Present, 129, novo 1990, pp. que Ju!ia e Jacques Revel, "La beauté du morto Le concept de 'culture populaire''',
30-78. Politique Aujourd'hui, dez. de 1970, pp. 3·23, retomado por Michel de Certeau em
La culture au pluriel (1974), 21 ed., Paris, Christian Bourgois, 1980, pp. 49-80.
6. Michel de Certeau, "La lecture absolue", art. cit. pp. 66-67.
16. Roger Chartier, "Les livres bleus" e '~téraires et expériences sociales: Ia
7. McKenzie, Bibliography and lhe soeiology of texts, The Panizzi Lectures 1985, Iitterature de Ia gueuserie dans Ia bibliothêque bk~~~'~-Le-;;t~;es·-~ti~~t~~~s dan~ Ia
Londres, The British Library, 1986, p. 20. France d'Ancien Régime, Paris, Éditions du Seuil, 1987, pp. 247-270 e pp. 271-
351. (Trad, em português: Reger Chartier, "Textos e edições: 'literatura de cordel''',
8. Carlo Ginzburg, Il formaggio e i vermi. Il cosmo di un mugnaio de/'500, Turim, A hlstária cultural entre práticas e representações, Lisboa, Difel, 1988, pp. 165-
Giulio Einaudi Editore, 1976; Jean Hébrard, "Comment Valentin Jamerey-Duval 187.)
apprit-il à !ire? L'autodidaxie exemplaire", Pratiques de Ia lecture, sob a direção de 'I
Roger Chartier, Marselha, Rivages, 1985, pp. 24-60; Journal de ma vie. Jacques- 17. Lawrence W. Levine, '!William Shakespeare and the American people: a study in \\\1~
Lauis Ménétra, compagnon vltrier au XVIIf! siêcle, apresentação de Daniel Roche, cultural transformation", American Historical Review, vol. 89, fev. de 1984, pp. 'l \\;,C}7
Paris, Montalba, 1992. 34-66 e Highbrow/lowbrow. Theemergence of cultural hierarchy in America,
Cambridge (MA)/Londres, Harvard University Press, 1988.
9. Roger Chartier, "Loisir et sociabilité: !ire a haute-voix dans l'Europe modeme", Li-
ttératures Classiques, 12, 1990, pp. 127-147. 18. Para uma recente reformulação dessa questão ver David Harlan, "Intellectual his-
tory and the retum of Iiterature", American Historical Review, vol. 94, jun.
10. Roger E. Stoddard, "Morphology and the book from an American perspective", 1989, pp. 581-609.
Printing History, 17,1987, pp. 2-14.
19. Pierre Bourdieu e Roger Chartier, "La lecture: une pratique culturelle", Pratiques
11. Para uma definição programática da Rezeptionstheoríe, ver Hans Robert Jauss, Li- de Ia lecture, op. cit., pp. 217-239.
teraturgeschichte ais Provokation, Frankfurt-sobre-o-Meno, Suhrkamp Verlag,
1974. 20. Paul Saenger, "Silent reading: its impact on late medieval script and society", Via.
tor. Medieval and Renaissance Studies, 13, 1982, pp. 367-414 e "Phisiologie de Ia
12. McKenzie, "Typography and meaning: the case of William Congreve", Buch und lecture et séparation des mots", Annales E.S.C" 1989, pp. 939-952.
Buchhandel in Europa im achtzehnten Jahrhundert, Vortrâge herausgegeben von
1
30 Roger Chartier A ordem dos livros 31
21. Michel de Certeau, L'invention du quotidien, op. cit., pp. 253-254. zation et ses livres", Lectures et lecteurs dans Ia France d'Ancien Régime, op. cit.,
pp.45-86.
22. Rolf Engelsing, "Die Perioden der Lesergeschichte in der Neuzeit. Das statistische
Ausmass und die soziokulturelle Bedeung der Lektüre", Archiv for Geschichte des 29. Cf., a título de exemplo, dois estudos publicados na coleção Les usages de
Buchwesens, 10, 1970, pp. 945-1002 e Eric Schõn, Der Yerlust der Sinnlichkeit l'imprimé, op. cit., por Roger Chartier, "La pendue miraculeusement sauvée. Étude
oder Die Verwandlungen des Lesers. Memalitõtswandel um 1800, Stuttgart, Klett- d'un occasionel", pp. 83-127, e por Catherine Velay-Vallantin, "Le miroir des con-
Cotta, 1987. tes. PerrauIt dans les bíbliothêques bleues", pp. 129-155.
23. Philippe Ariês, "Pour une histoire de Ia vie privée" e Roger Chartier, "Les prati- 30. Michel de Certeau, L'invention du quotidien, op. cit., p. 249.
ques de l'écrit", Histoire de Ia vie privée, sob a direção de Philippe Ariês e Georges
Duby, tomo 11I, De Ia Renaissance aux Lumiêres, volume dirigido por Roger 31. Stanley Fish, Is there a text in this class? The authority of interpretive communi-
Chartier, Paris, Éditions du Seuil, 1986, pp. 7-19 e pp. 112-161. (Trad, emportu- fies, Cambridge (MA)/Londres, Harvard University Press, 1980.
guês: Philippe Aries, "Por uma história da vida privada" e Roger Chartier, "As prá-
ticas da escrita", História da vida privada, coleção dirigida por Philippe Aríes e
Georges Duby, vols S, Da Renascença ao Século das Luzes, organizado por
Philippe Ariês e Roger Chartier, São Paulo, Cia. das Letras, 1991, pp.7-19 e pp.
113-161.)
24. Ver as proposições de Robert Darnton, "First steps toward a history of reading",
Australian Joumal of French Studies, vol. 23, nº I, 1986, pp. 5-30.
25. Roger Laufer, "L'espace visuel du livre ancien", Histoire de l'éditionfrançaise, sob
a direção de Roger Chartier e Henri-Jean Martin, tomo I, Le livre conquérant. Du
Moyen Age au milieu du XVI!! siêcle, Paris, Promodis, 1982, pp. 478-497 (reed.
Paris, FayardlCercle de Ia Librairie, 1989, pp. 579-601), "Les espaces du livre",
ibid., tomo Il, Le livre triomphant: 1660-1830, 1984, pp. 128-139 (reed. Paris,
FayardlCercIe de Ia Librairie, 1990, pp. 156-172).
26. Cf. os estudos reunidos. em Les usages de l'imprimé (Xve-Xlxe siêcle}, sob a dire-
ção de Roger Chartier, Paris, Fayard, 1987.
27. Margaret Spufford, "First steps in Iiteracy: the reading and writing experiences of
the humblest seventeenth-century autobiographers", Social History, vol. 4, nº 23,
28. Giorgio Patrizi, "li libro dei cortegiano e Ia trattatistica sul comportamento", Lette-
ratura Italiana, vol. 3, Le forme dei testo (2. - La prosa), Turim, Giulio Einaudi
Editore, 1984, pp. 855-890 e Roger Chartier, "Distinction et divulgation: Ia civili-
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