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por
Orientada por
Faculdade de Economia
Universidade do Porto
2000
Marketing para Crianças
Biografia
Experiência Profissional:
Abril 2000 - ... Responsável pelas áreas Financeira e Marketing de PME de
representações em Portugal de marcas internacionais em
aparelhos de teste e medida (marcas Fluke, Wavetek, Robin e
Hewlett Packard), da qual é sócio-gerente.
Julho 1998 – Março 2000 Gestora de Produto na Optimus Telecomunicações, S.A., na área
de Marketing de Particulares, sendo responsável pelo
Desenvolvimento e Gestão de Gama de produtos pré-pagos e
estando associada aos lançamentos dos produtos Boomerang,
Boomerang Life, Recarregamentos Flexíveis, Boomerang
Aventura, Boomerang Swatch e Boomerang Júnior;
Abril 1997 – Junho 1998 Controlo de Gestão no Banco Universo, S.A., responsável pela
elaboração de Relatórios de Gestão e Processo de Orçamentação;
Julho 1994 – Outubro 1995 Área de “Research” da Corretora Atlântico, S.A., sendo
responsável pela análise das empresas dos sectores de
Alimentação, Bebidas e Tabaco, Construção e Distribuição;
i
Marketing para Crianças
Agradecimentos
Tendo iniciado o estudo do tema Marketing para Crianças a partir de uma base escassa
de conhecimento, gostaríamos de aproveitar este espaço para agradecer a todos os que
contribuíram para o aumento do nosso conhecimento, em geral, e para a realização
deste trabalho, em particular.
Em segundo lugar, o nosso especial agradecimento aos Pais das Crianças e Docentes
que participaram neste estudo, sem os quais não poderíamos ter recolhido todas as
informações e que foram incomensuravelmente compreensivos com a nossa falta de
experiência. O seu contributo e envolvimento neste trabalho permitem-nos estar
confortáveis com as conclusões retiradas, para além de estarmos cientes da necessidade
de os envolver ainda mais em futuros estudos.
Apesar de não as podermos citar por uma questão de confidencialidade de dados, não
queríamos deixar de agradecer a todas as Escolas, Colégios e Centros de ATL pelo seu
apoio incondicional e abdicação dos tempos lectivos para a realização deste
questionário, assim como a forma cuidadosa com que o entregaram a cada criança
incutindo-lhes o espírito de missão, sem o qual não nos teria sido possível reunir uma
amostra tão significativa.
ii
Marketing para Crianças
rigor, ainda que o tema fosse diverso daqueles em que habitualmente realiza a sua
investigação.
Não queríamos deixar de agradecer a todos os nossos amigos, cujos filhos ou episódios
de infância são os actores principais desta tese e que permitiram conferir uma certa
familiaridade e proximidade, mesmo aos temas mais inóspitos.
Por fim, gostaríamos de agradecer à nossa família e amigos, por todo o tempo que
dedicámos a esta tese, e alguns (poucos) momentos de mau humor, que acompanharam
e suportaram com uma infindável paciência.
A todos,
Muito Obrigada!
iii
Marketing para Crianças
Resumo
Sob a égide do tema Marketing para Crianças muito foi e poderá ser escrito,
constituindo-se uma fonte inesgotável de assuntos para trabalhos de investigação.
A tese que a seguir apresentamos visa, em primeiro lugar, a compilação de uma grande
diversidade de assuntos relacionados com o tema principal, analisando-os de uma forma
assaz sucinta.
Em toda a tese houve o esforço de, por um lado, organizar e apresentar as principais
contribuições teóricas conhecidas até à data e por outro, analisar algumas dessas teorias
à luz da realidade portuguesa, nomeadamente a influência dos factores Idade e Sexo
sobre uma diversidade de características que vão desde o Rendimento ao nível de “co-
shopping”.
iv
Marketing para Crianças
Índice
Introdução 1
1.1. Definição 6
1.2. Desenvolvimento das Crianças enquanto Consumidores 10
1.3. Tripla Dimensão do Mercado das Crianças 16
1.4. Elementos Caracterizadores dos Três Mercados 17
1.4.1. Mercado Primário 17
1.4.1.1. O Rendimento das Crianças 18
1.4.1.2. As Poupanças das Crianças 24
1.4.1.3. Os Gastos das Crianças 27
1.4.1.4. Crianças Privilegiadas 29
1.4.1.5. Os Produtos Comprados pelas Crianças 30
1.4.1.6. As Lojas Preferidas pelas Crianças 33
1.4.1.7. As Visitas das Crianças às Lojas para Compras 35
Independentes
1.4.1.8. O Significado de Compras e Gastos para as Crianças 37
1.4.2. Mercado De Influência 45
1.4.2.1. Nível de Influência das Crianças 46
1.4.2.2. Os Pedidos das Crianças 47
1.4.2.3. Origem do Pedido 48
1.4.2.4. Frequência do Pedido 52
1.4.2.5. O Estilo e a Forma dos Pedidos das Crianças 55
1.4.2.6. As Respostas dos Pais aos Pedidos das Crianças 58
1.4.2.7. Efeitos das Respostas dos Pais sobre as Crianças 60
1.4.3. Mercado Futuro 66
v
Marketing para Crianças
vi
Marketing para Crianças
vii
Marketing para Crianças
5. Conclusão 267
Anexos 287
viii
Marketing para Crianças
Índice de Quadros
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Marketing para Crianças
x
Marketing para Crianças
E.U.A
Quadro 3.6. Crianças e adolescentes na internet nos E.U.A. em 1998 e 171
estimativas para 2002
Quadro 3.7. Motivos para a utilização da internet pelas crianças e 171
adolescentes nos E.U.A. em 1998
xi
Marketing para Crianças
Índice de Figuras
Figura 1.1. Fonte dos Rendimentos das crianças em Valor nos E.U.A. 20
em 1989
Figura 1.2. Nível de influência por idade 46
Figura 1.3. Modelo das solicitações da criança e das reacções dos pais 47
Figura 1.4. Influência da publicidade segundo a idade 51
Figura 1.5. Modelo de actuação de uma marca nas crianças para 68
construção de um mercado futuro
Figura 2.1. Bases para uma segmentação de mercado 71
Figura 2.2. Os seis estádios de desenvolvimento da criança entre o 89
nascimento e os 2 anos de idade
Figura 2.3. As diversas Janelas de Oportunidade 107
Figura 2.4. Ciclos de desenvolvimento da criança e respectivas fases de 108
equilíbrio/desequilíbrio
Figura 2.5. Representação da fórmula “Ever-Coll” 109
Figura 4.1. Representação gráfica da Função Discriminante e 259
posicionamento dos grupos na Função Discriminante
xii
Marketing para Crianças
Índice de Tabelas
xiii
Marketing para Crianças
xiv
Marketing para Crianças
amostra
Tabela 4.46. Penetração dos Telemóveis nos elementos do Lar 237
Tabela 4.47. Número de Irmãos das crianças da amostra 238
Tabela 4.48. Posição da Criança face aos irmãos 238
Tabela 4.49. Resultados de Mann-Whitney sobre Rendimento Semanal e 239
Fase Psicológica
Tabela 4.50. Resultados do Coeficiente de Correlação de Spearman sobre 240
as variáveis Rendimento Semanal e Fase Psicológica
Tabela 4.51. Resultados dos testes de Qui-quadrado acerca da influência 242
dos factores Idade e Sexo sobre as variáveis Gastos de Bens,
Prendas Especiais, Prendas Normais, Programas TV, Heróis,
Cantores/Grupos de Música, Desportos, Passatempos
Tabela 4.52. Resultados do teste de Kruskal-Wallis sobre as variáveis 244
Rendimento Semanal e Poupança para os diferentes níveis
etários
Tabela 4.53. Resultados do Coeficiente de Correlação de Spearman sobre 245
as variáveis Rendimento Semanal e Idade
Tabela 4.54. Valores de Rendimento, Poupança e Gasto semanal por 245
Idade em Portugal
Tabela 4.55. Valores médios amostrais de Rendimento e Poupança 246
semanal, e Número alunos da População em Portugal
Continental em alunos de 1º e 2º ciclo por zona da escola
Tabela 4.56. Valores estimados de Rendimento, Poupança e Gastos 247
Anuais em Portugal Continental em alunos de 1º e 2º ciclo
por zona da escola
Tabela 4.57. Comparação das Fontes de Rendimento das crianças em 248
Portugal e nos E.U.A.
Tabela 4.58. Análise comparativa de Gastos de Bens das crianças em 249
Portugal e nos E.U.A.
Tabela 4.59. Resultados do teste de Kruskal-Wallis sobre influência do 250
factor Idade sobre as variáveis Lojas Sozinho e Lojas
xv
Marketing para Crianças
Acompanhado
Tabela 4.60. Realização de Compras Independentes Sozinhos e 251
Acompanhados dos Pais em Portugal
Tabela 4.61. Resultados do teste de Mann-Whitney sobre influência do 252
factor Sexo sobre as variáveis Compras Casa
Acompanhamento e Outras Compras Acompanhamento
Tabela 4.62. Resultados do teste de Qui-quadrado sobre influência do 253
factor Idade sobre a variável Posse de Telemóvel Próprio
Tabela 4.63. Análise das Variáveis explicativas – comparação das médias 255
e desvios padrões
Tabela 4.64. Análise das Variáveis explicativas – matriz de correlações 256
entre as variáveis explicativas
Tabela 4.65. Análise das Variáveis explicativas – Lambda de Wilks 256
Tabela 4.66. Estimação da Função Discriminante 257
Tabela 4.67. Coeficientes estandardizados e correlações entre cada 258
variável e a função discriminante
Tabela 4.68. Centroides de cada grupo 259
Tabela 4.69. Resultados do processo de classificação 260
Tabela 4.70. Resultados dos testes não paramétricos efectuados às 261
variáveis explicativas da função discriminante
Tabela 4.71. Resultados do teste de Qui-quadrado sobre influência do 262
factor Posse de Telemóvel sobre as variáveis Conhecimento
TMN, Conhecimento Telecel e Conhecimento Optimus
Tabela 4.72. Resultados do teste de Qui-quadrado sobre influência do 263
factor Operador Posse sobre as variáveis Conhecimento
TMN, Conhecimento Telecel e Conhecimento Optimus
Tabela 4.73. Resultados do teste de Kruskal-Wallis sobre influência do 263
factor Operador Posse sobre as variáveis Nota TMN, Nota
Telecel e Nota Optimus
Tabela 4.74. Notas Médias das Operadoras com base no Operador da 264
Rede de Relações da criança
xvi
Marketing para Crianças
Tabela 4.75. Conjunto das três palavras mais associadas a cada uma das 265
operadoras por operador da rede de relações da criança e
número de palavras associadas
xvii
Introdução
Introdução
Desde o momento em que Piaget registou esta reflexão aos dias de hoje, em que nos
deparamos com o fenómeno “Pokémon”, muito foi dito e escrito sobre o Mercado das
Crianças e o Marketing para Crianças e inúmeras as organizações que se têm vindo a
interessar pelo tema. A este propósito, John (1999) realizou uma retrospectiva sobre os
últimos vinte e cinco anos de pesquisa acerca do processo de socialização das crianças
enquanto consumidores.
Com este trabalho pretendemos concretizar uma compilação alargada e sucinta do que
se compreende por Marketing para Crianças. Alargada, porque versa uma grande
diversidade de temas e sucinta, na medida em que cada um desses temas é focado nos
seus aspectos essenciais.
Na sua fase inicial esta tese propõe-se analisar o Mercado das Crianças nas suas três
vertentes: Mercado Primário, no qual as crianças possuem um rendimento próprio
dispendendo-o numa série de bens e poupando o restante; Mercado de Influência,
porque as crianças solicitam produtos aos pais ou exercem influência sobre as compras
destes e, consequentemente, sobre as suas escolhas de marcas, lojas a visitar, etc; e, por
fim, Mercado Futuro, na medida em que as crianças serão no futuro consumidores de
todo o tipo de bens e iniciam o seu processo de formação de preferências antes mesmo
de iniciarem o consumo propriamente dito. A nossa análise centrar-se-á em exemplos
2
Introdução
Esses dados demográficos, e outros que adicionamos, são apresentados na fase seguinte
da tese, na qual pretendemos estimar, com a proximidade possível, a Dimensão do
Mercado das Crianças por duas vias: Análise Demográfica e Análise da População
Escolar.
O ponto três, último capítulo da nossa exposição teórica focará, sem pretender tecer
qualquer juízo de valor, os temas de Ética e Legislação. Nele veremos que as crianças,
por insuficiente desenvolvimento cognitivo, são mais vulneráveis às estratégias de
marketing, e discutiremos, de um ponto de vista ético as técnicas usadas por algumas
empresas para atingir este mercado. Adicionalmente, analisaremos de forma sumária, a
3
Introdução
Ainda que pontualmente sejam dados exemplos com crianças em idade pré-escolar e
adolescentes, sublinhamos a nossa intenção de manter a base do nosso trabalho no
conhecimento das crianças entre os 6 e os 12 anos, servindo os referidos exemplos
apenas como ilustração, ora da precocidade de certas manifestações (anteriores à nossa
faixa etária em estudo), ora da permanência de determinadas características em fases
posteriores.
Esperamos com este trabalho suscitar um maior interesse para o tema, quer de
profissionais de marketing, quer da comunidade académica em especial. Esperamos
ainda contribuir activamente para a criação de propostas de trabalho inovadoras nesta
área, e para uma melhor investigação e intervenção no Marketing para Crianças que, ao
reunir características únicas deveria ser ao limite, trabalhado por especialistas, cientes
da complexidade e sensibilidade que o tema comporta.
4
Capítulo 1.
1.1. Definição
O mercado infantil ou a visão das crianças como consumidores surgiu no período Pós-
Guerra, associado ao “baby-boom” e algumas alterações sociológicas que veremos
adiante (McNeal, 1992).
De um ponto de vista do marketing, para que o mercado das crianças possa constituir
um mercado de consumidores, terá que preencher três requisitos básicos: as crianças
têm que ter, em primeiro lugar, Necessidades e Vontades, em segundo lugar Dinheiro
para gastar e, por último, Dimensão suficiente para que valha a pena realizar um esforço
(McNeal, 1992).
É neste contexto que os pais começaram a dar mais dinheiro aos seus filhos para estes
gastarem, numa tentativa de os fazer felizes, de lhes proporcionar uma boa vida,
tentando apagar desta forma as tristezas e misérias do período de guerra.
6
1. O Mercado das Crianças
McNeal (1992) organiza a evolução do mercado infantil nos E.U.A. em quatro grandes
períodos:
Década de 70: As crianças desta década não são mais do que os filhos da geração baby-
boom de modo que todo o espírito consumista que foi incutido e alimentado pelos baby
boomers é passado integralmente para os seus filhos (McNeal, 1992).
É nesta década que surge a cadeia McDonald’s com menus especialmente desenhados
para crianças, a grande cadeia de brinquedos Toys’R’Us e as pastilhas elásticas
coloridas, com sabores e embalagens especialmente concebidas a pensar nas crianças.
É também nesta época que surgem os primeiros grandes estudos sobre o mercado
infantil, de entre os quais deve destacar-se o de Ward (1974), sobre a socialização do
consumidor.
Década de 80: Considerada como a que legitimou o mercado das crianças, consolidou
toda a evolução das décadas anteriores: Década 50 – Dimensão; Década 60 - Dinheiro
ou Poder De Compra; Década 70 - Variedade de Produtos e Serviços.
Década de 90: O aumento do conhecimento sobre este mercado, a par da sua crescente
competitividade, obriga a que os responsáveis de marketing adoptem estratégias
7
1. O Mercado das Crianças
• Redução do número de filhos por casal: as cada vez maiores exigências no campo
profissional, acompanhadas por uma maior focagem nas prioridades de carreira,
reduzem o tempo disponível para a paternidade/maternidade, logo, à redução do
número de filhos por casal. Em consequência, o dinheiro gasto com cada filho tende
a aumentar, quer na aquisição de um maior número de bens, quer na disponibilização
de mais dinheiro para gastos correntes;
8
1. O Mercado das Crianças
Tal como acontece nas famílias com apenas um pai ou mãe, aos filhos são dadas
maiores responsabilidades mais cedo, e também se antecipa a idade em que começam
a lidar com dinheiro.
Relativamente ao mercado Europeu, Sellers (1989) refere que os pais colocam maiores
entraves à acção do marketing sobre as suas crianças e classifica-os como tendo uma
atitude típica dos anos cinquenta. Comparativamente, as crianças nos E.U.A. têm
liberdade para gastar o seu próprio dinheiro dois ou três anos mais cedo do que as
crianças europeias. A autora refere ainda que apenas 15% das crianças na Europa entre
os 6 e os 17 anos têm a sua própria TV contra uma cifra de 40% nos E.U.A.. Estas
disparidades são maiores nas crianças mais novas do que nos adolescentes devido, em
parte, à linguagem universal dos vídeos e ao fenómeno MTV.
9
1. O Mercado das Crianças
Segundo Ward (1974, p. 2), a socialização dos consumidores consiste no processo “pelo
qual os mais novos adquirem capacidades, conhecimentos e atitudes relevantes para
funcionarem no mercado”.
Para McNeal (1992) a aprendizagem feita pelas crianças sobre o que é ser consumidor é
mais circunstancial do que propriamente planeada ou mesmo intencional. Basicamente
esta aprendizagem é feita com os pais e também com os responsáveis de marketing.
Com os pais, este é um processo mais complexo através do qual a criança aprende qual
o seu estatuto na sociedade e como deve desempenhar cada um dos seus papeis, seja o
de filho, de aluno, de neto e também de consumidor. Do lado dos responsáveis de
marketing, o crescente interesse demonstrado por este mercado multiplica as suas
intervenções no processo de aprendizagem das crianças.
O estudo junto de 451 mães com filhos do ensino pré-escolar1, classificou-as, consoante
a sua frequência de “co-shopping”, em três grupos: elevada, moderada e reduzida,
obtendo os seguintes resultados:
1
Para efeitos de análise utilizou-se o filho mais novo, ou seja, caso existissem dois irmãos na mesma
escola o questionário deveria ser preenchido com o mais novo.
2
Por famílias orientadas para o conceito ou “concept-oriented” entende-se serem aquelas nas quais existe
um tipo de comunicação familiar que impõe restrições à criança, restrições essas cujo único objectivo é
ajudar a criança a desenvolver a sua própria visão do mundo.
Relativamente aos produtos compreende encorajar a criança a ponderar todas as alternativas antes de
tomar uma decisão, ou expor a criança à controvérsia, seja discutindo assuntos directamente com ela ou
permitindo que ela assista a discussões em casa, por exemplo, discussões de temas com visitas.
10
1. O Mercado das Crianças
11
1. O Mercado das Crianças
12
1. O Mercado das Crianças
De qualquer modo, após passar por todas estas fases a criança irá continuar a sua
aprendizagem ao longo da infância e adolescência. Ela continuará a acompanhar os pais
ao mesmo tempo que faz algumas compras sozinha. Observando os pais ou solicitando
marcas específicas, estará sempre atenta às mensagens publicitárias, às quais é bastante
sensível, pelo que é grande a preocupação do marketing e dos sistemas legais com a
publicidade feita para, por e com crianças.
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1. O Mercado das Crianças
As autoras sugerem inclusive, que a menor sensibilidade das crianças mais novas aos
custos de pesquisa de informação se pode dever à existência de diferentes motivações
de compra. As crianças mais novas não teriam como objectivo realizar boas escolhas ou
escolhas eficientes, mas apenas de prosseguir objectivos de exploração.
Dado o enorme impacto que a publicidade e todo o marketing provocam nas crianças, é
pois necessário dispor de uma estratégia bem delineada para este mercado, a qual irá dar
os seus frutos no futuro. De facto, cerca de um quinto dos adultos não gostam de fazer
compras ou não retiram nenhuma satisfação desse processo, sendo possível que essa
atitude negativa resulte de más experiências ou maus processos de aprendizagem
quando eram crianças (McNeal, 1992).
14
1. O Mercado das Crianças
15
1. O Mercado das Crianças
Este é um mercado muito particular já que pode ser analisado segundo três dimensões,
ou seja, as crianças constituem três mercados num só:
De Influência: Pela influência que exercem nas compras dos pais, as crianças devem
também ser consideradas como um mercado distinto do mercado primário. Com uma
dimensão superior à do mercado primário, decorre de dois tipos de influência (McNeal,
1992):
• Directa, na medida em que as crianças solicitam aos pais bens específicos e marcas, e
conseguem convencer os pais a adquiri-los.
• Indirecta, na medida em que, ainda que não haja uma formulação de um pedido aos
pais, a opinião e preferência dos filhos é tida em conta pelos pais na sua decisão de
compra. Este tipo de influência pode compreender todo o tipo de bens, desde cereais
até um carro ou mesmo uma casa.
16
1. O Mercado das Crianças
Quando nos referimos ao mercado das crianças como um mercado primário, estamos a
falar de como elas gastam o seu dinheiro em bens, os quais visam satisfazer as suas
necessidades. Tal designação não deve ser confundida com outra, a de mercado
secundário, no qual elas são utilizadoras ou recebedoras de bens oferecidos por outras
pessoas, regra geral, os pais (McNeal, 1992).
17
1. O Mercado das Crianças
Quadro 1.1.: Rendimentos, Gastos e Poupanças das crianças nos E.U.A. em 1984 e
1989
Semanalmente Anualmente Estimativas nacionais
1984 1989 1984 1989 1984 1989
Rendimento $3,03 $4,42 $157,56 $229,84 $4.729.793.640 $8.641.984.000
18
1. O Mercado das Crianças
Quadro 1.2.: Rendimentos, Gastos e Poupanças das crianças nos E.U.A. em 1984 e
1989 por idade
Rendimento Gastos Poupança
Idade 1984 (1) 1989 (2) 1984 (3) 1989 (4) 1984 (5) 1989 (6)
4 $1,08 $1,78 $0,49 $0,83 $0,59 $0,95
5 $1,12 $1,98 $0,90 $1,31 $0,22 $0,67
6 $1,28 $2,71 $1,25 $1,98 $0,03 $0,73
7 $1,85 $3,12 $1,80 $2,59 $0,05 $0,53
8 $2,50 $3,41 $2,31 $2,66 $0,19 $0,75
9 $3,52 $4,83 $3,19 $3,20 $0,33 $1,63
10 $4,05 $4,88 $3,39 $3,28 $0,66 $1,60
11 $4,79 $7,69 $4,33 $5,05 $0,46 $2,64
12 $5,49 $9,83 $5,26 $6,90 $0,23 $2,93
Fonte: McNeal, 1992, p. 26
19
1. O Mercado das Crianças
Quadro 1.3.: Taxa de Crescimento do Rendimento e Taxa de Gasto das crianças nos
E.U.A. em 1984 e 1989 por idade
Idade Taxa de crescimento do Taxa de Gasto 1984 Taxa de Gasto 1989
Rendimento {(2)/(1) - 1} {(3)/(1)} {(4)/(2)}
4 65% 45% 47%
5 77% 80% 66%
6 112% 98% 73%
7 68% 97% 83%
8 36% 92% 78%
9 37% 91% 66%
10 20% 84% 67%
11 61% 90% 66%
12 79% 96% 70%
Fonte: adaptado de McNeal, 1992
5%
12% Dinheiro disponibilizado pelo pais
periodicamente
Pagamento pelo desempenho de tarefas
domésticas
15% Presentes dos pais
53%
Trabalhos desempenhados (fora de casa)
Figura 1.1.: Fonte dos Rendimentos das crianças em Valor nos E.U.A. em 1989
Fonte: adaptado de McNeal, 1992
20
1. O Mercado das Crianças
A generalidade dos pais que declararam dar “semanadas” aos seus filhos apresentava
como principais razões o facto de as crianças poderem aprender a gerir o seu dinheiro,
assim como para poderem comprar bens para elas próprias. Foi também referido que
muitas vezes a “semanada” estava associada ao desempenho de tarefas no lar sem ter
sido clara a ligação entre estas actividades e a remuneração auferida pelas crianças.
21
1. O Mercado das Crianças
Por fim, uma pequena parte dos rendimentos provêm de presentes de outras pessoas,
regra geral familiares (avós ou outros), estando estes associados a ocasiões especiais
(aniversários ou Natal), ou a determinados feitos (terminar a escola primária, ganhar um
torneio em desporto, etc).
Pese embora o nível de remuneração auferido pelas crianças seja muito variável de lar
para lar e de família para família, do estudo realizado concluiu-se que o padrão geral
corresponde a uma determinada “semanada” (ou “mesada”), algum dinheiro extra
fornecido pelos pais principalmente pelo desempenho de tarefas domésticas e algum
dinheiro proveniente de prendas de familiares.
O dinheiro auferido pelas crianças era visto, pelos pais, como uma forma de elas
aprenderem a gerir dinheiro, visando providenciar para que as crianças pudessem
comprar coisas, serem consumidores.
Do ponto de vista dos pais, as crianças não sabiam gerir dinheiro na medida em que o
gastavam quase todo, os seus gastos eram descuidados e cometiam muitos erros nas
compras que faziam3. Do lado das crianças, exceptuando as de 4 e 5 anos, o dinheiro
que recebiam não era suficiente já que havia imensas coisas que elas gostariam de
comprar e não podiam.
3
Um caso que gerou o descontentamento dos pais foi o lançamento pela Mattel e pela MasterCard de um
cartão a imitar um cartão de crédito para as crianças que tivessem Barbies, o qual, quando passava numa
caixa registadora das lojas da Mattel gerava uma frase “Crédito Aprovado”. Após os pais reclamarem que
isso potenciaria um comportamento irresponsável nas crianças, a Mattel alterou a sua estratégia e incluiu
uma frase na caixa da Barbie dizendo “Seja um comprador com cartão de crédito inteligente: fixe um
orçamento e siga-o”. (http://www.ama.org/pubs/article.asp?id=650 em 25/2/2000)
22
1. O Mercado das Crianças
Se esta necessidade resulta, por um lado, da enorme pressão dos meios publicitários e
do marketing em geral anunciando sistematicamente novos produtos muito apelativos,
por outro, também os pais incutem nos filhos uma forma de pensar e de agir
extremamente materialista pela qual cada pessoa é uma função dos bens que possui, ou
seja, a posse de um maior ou menor número de bens confere um maior ou menor valor a
quem os detém.
23
1. O Mercado das Crianças
Na análise já referida, McNeal (1992) realizou uma extrapolação dos dados para a
população dos 4 aos 12 anos nos EUA tendo verificado que de um total de $8,6 biliões
de dólares recebidos anualmente, cerca de 30% são poupados. Mais recentemente, Del
Vechio (1997) estima os rendimentos anuais das crianças entre os 4 e os 12 anos em
$15 biliões de dólares, dos quais cerca de $4 biliões são poupados. Aliás, já no Sports
Illustrated for Kids Omnibus Study (1989), referido por McNeal (1992), se demonstrou
que cerca de três quartos das crianças poupavam uma parte do seu rendimento.
Tal como já vimos são as crianças em idade pré-escolar (4 e 5 anos), bem como os “pré-
teens” (9, 10 e 11 anos), aquelas que poupam uma maior parcela do rendimento que
auferem. Este facto resulta, no caso dos pré escolares de não haver ainda um grande
conhecimento dos produtos existentes, nem uma grande febre consumista que se revela
com a entrada para a escola e com a interacção com as outras crianças e os professores.
No caso dos “pré-teens”, este aumento da taxa de poupança estará relacionada com a
fase atingida de grande responsabilidade e preocupação com o dinheiro recebido.
A análise de McNeal (1992) demonstrou haver um incentivo por parte dos pais à
poupança dos filhos motivado por duas razões distintas:
• cerca de metade das famílias via a poupança como um hábito salutar, uma virtude
que deveria ser incutidas nas crianças;
• a outra metade encarava a poupança como uma forma de aumentar o poder
aquisitivo no futuro, ou seja, educava os seus filhos a pouparem uma parte do seu
rendimento actual de modo a poderem adquirir mais tarde bens mais caros
(bicicletas, computadores, etc).
Na sua concretização a poupança das crianças divide-se entre a poupança em casa sob a
forma de mealheiro, e a poupança em bancos, sendo a primeira a utilizada por
praticamente todas as crianças em idade pré escolar, enquanto que a segunda se começa
a generalizar na fase “pré-teens”. Uma minoria declarou ter outro tipo de contas
bancárias que não os depósitos a prazo ou à ordem, mais do tipo de investimento mas,
24
1. O Mercado das Crianças
como veremos, correspondem a um nicho dentro do mercado das crianças (ver capítulo
1.4.1.4. Crianças Privilegiadas). Na maioria dos casos o dinheiro poupado é utilizado
mais tarde (esporadicamente) na compra de bens mais caros, sendo frequente a sua
utilização na época de Natal.
25
1. O Mercado das Crianças
26
1. O Mercado das Crianças
Como já observámos nos dados da análise de McNeal (1992), é a partir da entrada das
crianças na escola primária que se inicia o ciclo consumista das crianças.
As crianças em idade pré escolar referiram que os seus gastos eram realizados quase
exclusivamente quando acompanhavam os pais nas compras.
De facto, é a partir dos 6 anos de idade que se iniciam os gastos propriamente ditos
fruto da tomada de consciência da existência de necessidades (resultado da interacção
com outras crianças e com os professores) bem como da existência de oportunidades
(v.g. no caminho para a escola).
Analisando os gastos das crianças de 1968 a 1989 nos EUA (Quadro 1.4.) vemos que é
a partir da década de 80 que se verifica um grande aumento dos gastos das crianças em
consequência de uma maior disponibilidade financeira criada pelos pais.
Quadro 1.4.: Evolução dos Gastos das crianças nos E.U.A. entre 1968 e 1989
Ano Gasto (biliões de dólares) Variação Relativa
1968 $2,2
1978 $2,8 +27%
1984 $4,2 +50%
1989 $6,1 +45%
Fonte: McNeal, 1992, p. 32
Instala-se, nesta década, um ciclo virtuoso para o marketing de crianças: por um lado os
pais tendem a aumentar o dinheiro detido pelos seus filhos gerando um mercado
apetecível; por outro, a atractividade deste mercado leva a que cada vez mais empresas
nele invistam, aumentando a publicidade e o número de produtos apelativos, induzindo
as crianças a pedir mais dinheiro aos pais para os poderem adquirir. Subsequentemente
assistimos ora à crítica muito forte dos pais contra a manipulação e exagerada pressão
publicitária sobre os seus filhos, ora ao refinamento das estratégias visando este
mercado, por parte dos responsáveis de marketing.
27
1. O Mercado das Crianças
De notar que os gastos das crianças têm a particularidade de serem gastos em qualquer
tipo de bens, dependendo apenas da vontade e das necessidades instantâneas (McNeal,
1992). O volume de poupanças gerado torna também este mercado muito atractivo para
empresas produtoras de bens de preço mais elevado, no pressuposto já referido que a
poupança tende a transformar-se em consumo futuro. Finalmente, se tivermos em conta
este mercado como mercado secundário (bens oferecidos pelos pais) compreendemos a
cada vez maior atenção e dedicação do marketing de que é alvo.
28
1. O Mercado das Crianças
As suas poupanças são duas vezes e meia superiores às da média do mercado e tendem
a utilizar mais os bancos por oposição à poupança caseira. Aliás, os casos encontrados
de poupanças em contas de investimento eram de crianças privilegiadas.
Estas crianças gastam duas vezes mais do que a média do mercado, adquirindo bens de
preço unitário elevado; consomem mais roupa de marca, bens electrónicos e bens de
desporto do que a média (para cada escalão etário).
Participam nas decisões e nas responsabilidades caseiras mais do que as outras crianças.
Tratam mais de animais, aspiram e limpam mais, envolvendo-se mais em decisões do
tipo de férias, fins de semana, compra de barcos e actividades extracurriculares.
29
1. O Mercado das Crianças
Quadro 1.5.: Tipo de produtos adquiridos pelas crianças com o seu dinheiro nos E.U.A.
em 1984 e 1989
Gastos 1984 Gastos 1989
Produtos/Serviços Valor (em % Valor (em %
dólares) dólares)
Snacks/Doces $1.440.600.000 33,9 $2.076.852.544 34,6
Brinquedos/Jogos $1.104.100.000 26,0 $1.878.771.232 31,3
Roupa n.d. $690.283.360 11,5
Filmes/Desporto $771.200.000 18,2 $606.248.864 10,1
Cassetes Vídeo $765.900.000 18,1 $486.199.584 8,1
Outros $162.300.000 3,8 $264.108.416 4,4
TOTAL $4.244.029.967 100,0 $6.002.464.504 100,0
Fonte: McNeal, 1992, p. 40
Tal como seria de esperar, a maior parte dos gastos concretiza-se em “doces” e
“snacks”, ou seja, guloseimas em geral e aperitivos salgados. Este tipo de gastos
manteve a sua importância entre 1984 e 1989 tendo crescido ligeiramente (em
percentagem, já que, em valor, aumentou no período de 44%).
30
1. O Mercado das Crianças
Os gastos em roupa, no caso dos adolescentes, constituem 34% do total sendo o restante
despendido em produtos de entretenimento (22%) e em comida (16%). (Junior News,
Inc., 1999)
31
1. O Mercado das Crianças
A categoria “Outros” engloba uma série de produtos sem expressão suficiente para
serem autonomizados, sendo regra geral, produtos de maior preço unitário e cujo
objectivo, grande parte das vezes, é a oferta. Os gastos nestes bens estão muito
dependentes das condições de oferta, sendo por isso variáveis e influenciáveis. Um
exemplo é o crescimento em 1989 das referências a ofertas de plantas e flores frescas, o
qual resulta da existência e surgimento de um cada vez maior número de lojas
especializadas neste sector.
32
1. O Mercado das Crianças
Regra geral, as crianças preferem lojas que possuam três atributos (McNeal, 1992;
Henriques, 1999):
33
1. O Mercado das Crianças
Deste modo, no Quadro 1.6. podemos ver que as crianças mais jovens preferem as
“lojas de conveniência” e os “supermercados” (muito porque só fazem compras com o
seu dinheiro se for perto de casa ou quando vão com os pais às compras). As crianças
mais velhas já preferem as lojas especializadas (diversidade) e as lojas de desconto
(grandes quantidades e preços atractivos).
Por outro lado, existem lojas que ainda contendo diversidade e abundância de produtos,
não são referenciadas por elas já que ou não são atractivas para as crianças, ou não
costumam entrar nas rotinas de compras dos pais. Neste tipo estão “department stores” e
as “drugstores”.
No entanto, é importante notar que a preferência das crianças se concentra nas lojas
onde desejariam fazer as suas compras, não sendo muitas vezes o local onde elas o
fazem, já que os factores conveniência e oportunidade pesam substancialmente nas suas
opções.
4
Para tipologias de lojas, consultar o Anexo III
34
1. O Mercado das Crianças
35
1. O Mercado das Crianças
Assim,
• No caso das compras em visitas acompanhando os pais, elas iniciam-se aos 4 anos
de idade (cerca de 30% das crianças já o faz) e generalizam-se a partir dos 8 anos de
idade, aumentando significativamente de ano para ano (entre os 4 e os 8) e
estabilizando a partir dessa idade;
• O número de visitas e as lojas visitadas tendem também a aumentar com a idade até
aos 8 anos. Aos 12 anos nota-se um recuo destas cifras motivado pela proximidade
aos “teens” e o normal afastamento das rotinas dos pais. Neste tipo de visitas as
lojas e o número de visitas são determinadas pelos pais mas as crianças têm uma
forte influência a qual é crescente com a idade (Del Vechio, 1997).
• As compras quando visita sozinha a loja, iniciam-se por volta dos 6 anos de idade
para a maioria das crianças, generalizando-se a sua prática a partir dos 9, 10 anos.
• O número de visitas sozinho e lojas visitadas são inferiores aos das visitas
acompanhando os pais devido à reduzida mobilidade das crianças e ao controlo e
restrições impostas pelos pais. Isto já não é verdade no caso das crianças de 12 anos
já que por um lado elas tendem a reduzir o número de visitas com os pais, como já
vimos, e por outro, já têm bastante liberdade para se movimentarem sozinhas.
Apenas o número de lojas continua a ser inferior ao visitado com os pais mas
superior ao das crianças das outras idades.
36
1. O Mercado das Crianças
Para compreender o significado das compras para a criança, McNeal (1992) realizou um
estudo com 112 crianças, recorrendo à técnica de desenho com aplicação de regras
categoriais “a posteriori”, para o qual foram seleccionados aleatoriamente grupos de
crianças de turmas do 2º ao 4º anos de uma escola de classe média.
Após vários testes, verificou-se ser a instrução “Desenha aquilo que te vem à cabeça
quando pensas em ir às compras”, a que produzia os melhores resultados, em termos de
abrangência das respostas recolhidas.
A análise dos diversos desenhos permitiu-lhe retirar diversas conclusões sobre o tipo de
ambiente de loja que tinham na cabeça; a fase ou estágio das compras; o tipo de
produtos em que pensavam (alimentar e não alimentar); a sua tomada de consciência
acerca dos preços dos produtos; o seu grau de consciência sobre marcas; as percepções
sobre o ambiente interno e externo das lojas; a envolvente emocional da criança; e,
finalmente, o nível de independência/acompanhamento dos pais nas compras.
A análise dos desenhos realizados pelas crianças (Quadro 1.9.) permitiu concluir que de
entre os ambientes caracterizados5, o “supermercado” é o mais característico para as
crianças quando elas pensam em ir às compras o que é natural, dado ser o ambiente em
que elas se iniciam e aquele no qual passaram mais tempo, se tivermos em conta as
fases de desenvolvimento em que acompanharam os pais.
5
Para tipologias de lojas, consultar o Anexo III
37
1. O Mercado das Crianças
referência a “supermercados” era mais frequente do que nos lares onde só um dos
familiares trabalhava.
As “lojas especializadas” são classificadas em segundo lugar, sendo mais frequentes nas
crianças mais velhas e nas crianças em que ambos os pais trabalhavam. Por ordem de
importância, surgem lojas de brinquedos, música, desporto, gelados e computadores.
38
1. O Mercado das Crianças
• Para a generalidade das crianças “ir às compras” significa estar no processo de fazer
compras, ou seja, escolher, procurar os produtos, e ir enchendo o carrinho de
compras;
• No caso das crianças em que ambos os pais trabalhavam, quase nenhuma desenhou
o início ou o fim do processo;
39
1. O Mercado das Crianças
face aos não alimentares já que, como vimos, o espaço referencial é o supermercado
onde predominam este tipo de bens (os resultados completos constam do Anexo I).
40
1. O Mercado das Crianças
Analisada a frequência das referências aos preços dos produtos, ou seja, do nível de
preocupação das crianças com este item, verificou-se que, dos 112 desenhos, apenas
16%, ou seja, dezoito deles tinham referência a preço, sendo que dez deles mostravam
explicitamente preços afixados sobre artigos, enquanto que os restantes oito continham
expressões associadas a preço tais como “Saldos”, “Especial” ou “Super Compra”.
Segundo McNeal (1992) esta constatação deriva do baixo valor unitário dos produtos
alimentares e ao elevado preço dos itens como brinquedos ou roupa, relativamente aos
quais é incutida na criança a preocupação com os preços, seja pelos pais
(recomendações e respostas aos seus pedidos), seja por elas próprias terem de fazer
algum esforço para adquirir estes bens (exemplo: poupar na semanada para comprar um
brinquedo).
Em virtude de serem as marcas dos produtos valorizadas pelas crianças (McNeal, 1992),
e não estando as mesmas explicitamente relacionadas com a instrução fornecida6,
verifica-se ser a sua associação espontânea, pois do estudo resulta que 38% dos
desenhos continham menção a marcas, 53% das categorias de produtos estavam
41
1. O Mercado das Crianças
representadas por marcas e 32% dos 271 produtos apresentados tinham uma marca
associada. De salientar que não foram consideradas as referências a marcas de
distribuição, embora elas estivessem presentes em muitos desenhos.
Tais resultados atestam a importância das marcas para as crianças em geral e o seu
elevado grau de conhecimento das mesmas (um dos exemplos paradigmáticos citados
pelo autor é o desenho do logotipo da Toys’R’Us com o pormenor do R ao contrário).
Esta forte presença das marcas nos desenhos é consistente com o modo como as
crianças aprendem a distinguir as marcas, aprendizagem que é realizada através de
pistas visuais e não propriamente via o nome da marca (Macklin, 1996).
A análise efectuada aos desenhos das crianças permitiu ainda concluir que, em termos
de ambiente externo da loja, quando este era desenhado, era-o sempre com cores muito
duras e figuras estereotipadas, transmitindo uma imagem de rigidez e pouca
atractividade. A identificação e diferenciação das lojas era feita apenas pelos nomes
afixados, contendo o nome genérico da loja (exemplo: lojas de brinquedos ou loja de
roupa) ou a marca/cadeia que se pretendia referenciar.
Inversamente, o interior das lojas foi representado, na maioria dos casos como um
ambiente muito agradável - cores alegres, vitalidade e variedade, características comuns
aos diversos desenhos. O trabalho de Teresa Roseta (1999) sobre a forma como as
crianças percepcionam o ponto de venda, mostra que as cores percepcionadas são, por
ordem decrescente de importância, o encarnado, o verde, o azul e o laranja.
6
A instrução dada às crianças foi no sentido de “Desenha aquilo que te vem à cabeça quando pensas em
42
1. O Mercado das Crianças
Por último, o nível de conhecimento e envolvimento das crianças com as lojas pode ser
deduzido do grau de detalhe com que estas são desenhadas - repetidas menções a
vestiários, bancos de descanso, máquinas de bebidas em lojas de desporto ou de música,
telefones públicos, extintores, caixotes do lixo, luzes de tecto e música da loja
(representada por notas musicais a sair de uma coluna ou do tecto).
ir às compras”, na qual não são explicitamente referidos nem produtos nem marcas.
43
1. O Mercado das Crianças
fascínio e excitação, naturalmente pela forma como a generalidade das crianças salienta
e enobrece o interior das lojas (McNeal, 1992).
Das cerca de 30% de crianças representadas não satisfeitas, quase todas tinham um ar
assustado, o que pode ser indicativo de algum receio com as compras, seja pelos altos
lineares, pessoal da loja ou aglomerado de pessoas dentro do mesmo espaço - eventuais
futuros adultos sem qualquer prazer nas compras.
Genericamente, a actividade compras foi vista pelas crianças como uma actividade
independente, na qual a criança se envolve sozinha e praticamente não implica
interacção com outras pessoas.
Com efeito, dos desenhos analisados, 72% apresentavam crianças sozinhas; em cerca de
17% a criança estava acompanhada da mãe, mas a fazer compras independentes; e
apenas em 11%, sobretudo crianças mais novas, acompanhavam a mãe e faziam
compras com ela.
44
1. O Mercado das Crianças
Segundo McNeal (1992), a influência das crianças nas compras dos pais abarca as
seguintes categorias:
• Bens para a criança: snacks, brinquedos, produtos electrónicos, roupa, entre outros;
• Bens para a casa: compras como mobiliário, artigos para o lar, TV’s, aparelhagens e
alimentação;
• Bens e serviços para a família: férias, automóveis, roupa, refeições no restaurante e
artigos de recreação;
• Outros: prendas para familiares, casas de férias, lojas a visitar, centros comerciais,
etc.
45
1. O Mercado das Crianças
Uma pesquisa realizada por McNeal (1992) permitiu estimar o mercado de influência
das crianças nos E.U.A., como atingindo os $131 biliões de dólares. Significativamente
superior aos 6 biliões de gastos como mercado primário, ou mesmo aos 8,6 biliões, se
considerarmos o mercado primário como composto por todos os rendimentos das
crianças, representa 2,1% do PIB norte-americano em 1992. Em 1997 este mercado
atingia já os $160 biliões de dólares (Del Vechio, 1997).
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Idade (anos)
46
1. O Mercado das Crianças
Figura 1.3.: Modelo das solicitações da criança e das reacções dos pais
Aceita
Origens do desejo
•pura e simplesmente
•comenta
•Televisão Pedido da Reacção da Resposta da
•substitui
•Revista ilustrada criança à mãe criança mãe
•Amigos
Resposta da mãe
•Pais •Simples •OK •Repete
•Estabelecimento de •Argumentado •Satisfeita •Ignora
Recusa
venda •Negociado •Decepcionada •Ralha
•Catálogos •Imperativo •Furiosa •Aceita
•pura e simplesmente
•Necessidade do
•comenta
produto
•substitui
Factores moderadores
A formulação do pedido dará origem a uma resposta por parte do pai/mãe, a qual gerará
uma reacção da criança e, no caso de uma primeira recusa, poderá haver uma segunda
resposta da mãe (confirmando ou alterando a primeira decisão).
47
1. O Mercado das Crianças
Segundo um estudo de Caron Andre (1975), as origens do pedido são múltiplas e com
pesoso relativos diversos – “publicidade na TV” (27%), “os amigos” (26%), “as
próprias lojas” (22%) e “catálogos” (15%).
Dada a diversidade actual de fontes de informação, esta distribuição poderá ser bastante
diferente, de que é exemplo a Athletic Shoes, a qual descobriu que cerca de 46% da
informação sobre os novos modelos de sapatos provinha de “informações de outras
crianças”, regra geral crianças mais velhas, seguindo-se “as lojas” (25%), “catálogos”
(15%) e apenas por fim a “TV” com 10% (McNeal, 1992).
Num estudo posterior Ludwig (1981), confirma a perda de primazia da televisão como
veículo principal de informação e de fonte dos pedidos. Assim, num conjunto de 31
pares de pais/filhos, foi perguntado separadamente às crianças e aos pais a origem do
desejo dos produtos, tendo sido obtidos os resultados apresentados no Quadro 1.11..
Quadro 1.11.: De onde veio à criança a ideia dos produtos que solicita?
Origens Mencionadas pela criança Referidas pelos pais
Televisão 22% 33%
Imprensa infantil - 9%
Em casa, a família 44% 25%
Companheiros 22% 33%
Montras, balcões dos 12% -
estabelecimentos de venda
TOTAL 100% 100%
Fonte: Kapferer, 1992, p. 173
Desde logo podemos observar que as respostas das crianças não são idênticas às dos
pais, sendo que estes enfatizam a influência da publicidade na TV e dos companheiros,
enquanto aquelas declaram solicitar regra geral produtos que já conhecem, com os quais
já tiveram alguma experiência em casa. Este é um factor todavia minimizado pelos pais,
que associam o pedido da criança não a uma experiência anterior proporcionada por si
próprios, mas sim a efeitos directos da publicidade e influência dos companheiros.
48
1. O Mercado das Crianças
Por outro lado, os pais não referem a influência do merchandising nos pedidos das
crianças, apesar de ele ser mencionado pelas próprias como fonte do desejo em 12% dos
casos. Esta constatação poderá ser muito importante no desenho de estratégias de
marketing, na medida em que se consiga um efeito positivo na influência das crianças
sobre as compras dos pais, sem que os pais se apercebam desse efeito nos seus filhos,
atribuindo-o erradamente à publicidade na TV. Ou seja, com menores custos do que os
associados aos investimentos em televisão consegue-se influenciar o comportamento
das crianças, não sendo essa influência percebida pelos pais.
A menor referência dos efeitos da TV pelas crianças poderá provir de uma de duas
situações: ou a criança não se apercebe do efeito que a publicidade tem sobre os seus
comportamentos atribuindo-lhes outras causas, ou os pais empolam em demasia este
meio transformando-o em “bode expiatório” das atitudes consumistas dos seus filhos.
Esta divergência encontrada entre as respostas dos filhos e dos pais é consistente com os
resultados obtidos por outros estudos sobre a unidade familiar, nos quais se verifica
serem díspares as respostas de uns e outros relativamente à influência das crianças (Kim
e Lee, 1997).
Segundo um inquérito realizado em 1981 a 816 pais sobre as razões pelas quais a
criança tinha solicitado um determinado brinquedo para lhe ser oferecido nesse Natal
49
1. O Mercado das Crianças
Quadro 1.12.: De onde veio à criança a ideia do brinquedo que ela pede no Natal por
idade da criança
Origem -2 anos 2/4 5/7 7/9 10/11 anos
Viu num catálogo (a) 66% 58% 54% 53% 49%
Viu na televisão 37% 35% 47% 41% 40%
Um colega teve a 35% 42% 35% 36% 45%
mesma ideia
Viu na loja 23% 25% 25% 24% 19%
(a) Deverá ler-se: 66% dos brinquedos pedidos pelas crianças com menos de 2 anos resultam da leitura de
um catálogo.
Fonte: Kapferer, 1992, p. 176
Quadro 1.13.: De onde veio à criança a ideia do brinquedo que ela pede no Natal por
profissão dos pais
Origem Agricultor Pequeno Quadro Quadro Operário
comercian superior Médio de
te uma
empresa
Viu num catálogo (a) 72% 54% 55% 49% 45%
Viu na televisão 55% 34% 40% 40% 42%
Um colega teve a 39% 47% 53% 45% 30%
mesma ideia
Viu na loja 19% 22% 36% 21% 27%
Fonte: Kapferer, 1992, p. 176
A origem dos pedidos é portanto muito diversa, importando salientar que são as
crianças mais novas as mais influenciadas pelos catálogos. A televisão, por seu turno,
afecta principalmente as crianças em início da fase escolar (5/7 anos). Kapferer (1992)
também mostrou que a influência da publicidade atingia o seu expoente máximo nestas
idades (considerando como influência, a capacidade que a publicidade tem de gerar
50
1. O Mercado das Crianças
O poder de influência dos colegas nota-se nas crianças em idade infantil (2/4 anos) e
posteriormente com grande intensidade nas crianças de 10/11 anos, enquanto a loja é,
em todas as idades, o factor com menor influência, tendo maior incidência entre os 2 e
os 7 anos de idade.
Por outro lado, os catálogos e a televisão exercem a sua maior influência em crianças
dos meios rurais, ao passo que os filhos de quadros superiores são os mais propensos a
procurar informações junto dos amigos e colegas, e das lojas. Finalmente, os filhos dos
operários, embora também tenham uma elevada influência das lojas, são os que menor
relevância dão aos brinquedos dos amigos.
51
1. O Mercado das Crianças
Ao constituir o pedido uma forma que a criança tem de obter os bens influenciando a
compra dos pais7, a frequência com que é formulado varia segundo Kapferer (1992) em
função:
Da idade da criança: Segundo o autor, quanto mais velha for, menor será o número de
pedidos que faz, relação consistente com a observada por Ward e Wackman (1972).
Isler, Popper e Ward (1987) num estudo junto de 250 famílias com crianças entre os 3 e
os 11 anos, analisaram durante quatro semanas os pedidos realizados. Os seus
resultados revelam que as crianças de 3-4 anos efectuaram 24,9 pedidos, enquanto nas
faixas de 5-7 e 9-11 anos esse valor apenas atinge, 13,3 e 10,4, respectivamente. Para
Kapferer a explicação deste fenómeno residirá:
- Na menor contenção verbal das crianças mais novas, o que as leva a exteriorizar
todos os pensamentos;
- No maior tempo passado com a mãe pelas crianças mais novas;
- Na maior estabilidade das preferências nas crianças mais velhas e no seu
conhecimento por parte dos pais, evitando assim o pedido;
- Na maior diversidade de opções de compra à disposição da criança mais velha (o
pedido é apenas uma das formas);
- E, finalmente, na maior racionalidade e consciencialização da criança mais velha
das limitações de posse (inversamente, as crianças mais novas apresentam uma
baixa sensibilidade à variável preço).
Do tipo de produto: São mais frequentes os pedidos de itens alimentares para consumo
próprio e de baixo valor, enquanto que os itens mais caros são solicitados menos
frequentemente e em ocasiões especiais (Natal, Aniversário, boas notas, etc). Por outro
lado, com a elevação da idade da criança, reduzem-se os pedidos de bens alimentares e
7
A outra alternativa, é a compra com o próprio dinheiro, um poder de compra 10 a 15 vezes inferior ($8
biliões em $131biliões ou $15 biliões em $160 biliões)
52
1. O Mercado das Crianças
aumenta a intensidade dos pedidos de outros bens como roupa, calçado, livros. Isler et
al. (1987) assinalam que os bens mais solicitados eram os “snacks” (23,9%) e os
“doces” (16,8%), sendo que os bens alimentares constituem um total de 60,8% do total
de bens pedidos.
Analisando o tipo de produtos por idade, vemos ainda que o total de bens alimentares
decresce dos 88,1% nos 3-4 anos, para 61,4% nas crianças de 5-7 anos e 58,6% nas de
9-11 anos. De entre todos os bens alimentares, os que sofrem maior redução são os
“doces” (de 25,5% nos 3-4 anos para 17,4% nos 5-7 anos e 10,6% nos 9-11 anos).
No que diz respeito aos bens não alimentares solicitados pelas crianças, ganham peso a
“roupa” (de 3,8% nos 3-4 anos para 8,1% nos 5-7 anos e 17,4% nos 9-11 anos) e os
“equipamentos desportivos” (de 3,1% nos 3-4 anos para 4,7% nos 5-7 anos e 7,9% nos
9-11 anos), enquanto que os “brinquedos” sofrem uma forte redução, isto é dos 25,5%
nos 3-4 anos para 17,2% nos 5-7 anos e 4,5% nos 9-11 anos.
Do sexo da criança: Segundo o autor, as raparigas tendem a fazer mais pedidos do que
os rapazes, sendo também diferentes os objectos solicitados. Assim, enquanto que as
raparigas pedem sobretudo livros, discos, roupa, calçado, vestuário interior, mobílias de
quarto, papéis pintados e produtos caseiros, os rapazes inclinam-se mais para jogos e
brinquedos caros (Kapferer, 1992).
Da pessoa a quem é feito o pedido: A generalidade dos pedidos são feitos à mãe
enquanto que ao pai são pedidos os artigos mais dispendiosos. Como estes são menos
frequentes, o número de pedidos feito à mãe deverá ser superior. Curiosamente, e apesar
de McNeal (1992) não referir a possibilidade de abordagem simultânea mas apenas
separada, Kapferer (1992) sublinha que, no caso dos bens mais caros e especiais como
bicicletas, relógios, etc, a criança aborda ambos, podendo utilizar duas tácticas:
abordagem simultânea ou abordagem sucessiva.
53
1. O Mercado das Crianças
Da classe Social: Segundo Kapferer (1992) a frequência dos pedidos tende a ser menor
quanto mais elevada for a classe social da família, o que pode ser explicado pelo facto
de as crianças de classes mais elevadas possuírem mais bens, daí não necessitarem tanto
de os pedir, tenderem a ser educadas no pressuposto de que não se devem realizar
pedidos e interiorizam essa norma e, contrariamente às crianças de classes mais baixas,
demonstrarem ser menos influenciáveis pela publicidade.
Da natureza das relações entre a mãe e a criança: Neste âmbito, o tipo de mãe/filho e as
suas diversas reacções e interacções justificam um maior ou menor número de pedidos.
Kapferer (1983) identificou quatro tipos de mães e sete tipos de filhos, existindo por
isso múltiplas combinações possíveis de relações. Algumas combinações são mais
frequentes, como por exemplo, mães permissivas associadas a crianças importunas.
Em geral os pedidos são feitos mais em casa do que na loja, principalmente nas crianças
mais velhas. No estudo de Isler et al. (1987) cerca de 56% dos pedidos eram feitos em
casa e apenas 30% na loja, sendo os restantes realizados no percurso entre ambos. A
percentagem de pedidos feitos em casa foi de 45% nas crianças de 3-4 anos, 56% nas de
5-7 anos e 63% nos 9-11 anos.
8
Os autores associam o nível de memorização da publicidade ao nível de inteligência da mãe, concluindo
que as mães mais inteligentes eram as que tinham mais pedidos por parte dos seus filhos
54
1. O Mercado das Crianças
Quando a criança formula os pedidos aos pais ela utiliza diversas formas e estilos, os
quais variam com a idade da criança, com o tipo de produto solicitado e também com a
experiência acumulada da interacção com os pais (a criança sabe que tipo de pedidos
resultam melhor com os seus pais). Assim, do simples gesto apontando um produto até
ao pedido racional e fundamentado, existem várias formas de a criança tentar obter o
produto desejado (McNeal, 1992).
O estudo realizado por Palan e Wilkes (1997) com 100 famílias com adolescentes entre
os 12 e os 15 anos revelou que o estilo utilizado para os pedidos não é todavia,
semelhante ao quadro apresentado por McNeal para as crianças mais novas. As técnicas
utilizadas e a maior utilização de um outro estilo é diversa, na medida em que o historial
de interacção com os pais e a sua maior sofisticação cognitiva levam-nos a utilizar
formas diferentes de influenciarem os seus pais. Concretamente Palan e Wilkes (1997)
identificam quatro tipos de estratégias:
Negociação:
- Envolvendo dinheiro - se o pai comprar o produto, o adolescente paga uma
parte ou desconta dinheiro em futuras mesadas;
55
1. O Mercado das Crianças
Persuasão
- Persistência no pedido:
- Súplica (com repetição extensa por vezes);
- Doçura (alteração do tom de voz para o tipo “mel”);
- Utilizando como argumento os comentários dos colegas (Ex: “Vão fazer
troça de mim” ou “Falam das minhas sapatilhas porque estão ‘out’ enquanto
que as novas Jordans estão ‘in’”);
- Utilizando subterfúgios (Ex: pedir à avó e à tia para pedirem à mãe, ou
meter os produtos às escondidas no carro das compras e esperar que não
notem);
Estratégias emocionais:
- Fúria - é usada principalmente como uma reacção à recusa de um pedido,
sabendo os adolescentes que esta estratégia quase nunca consegue alterar a
decisão dos pais;
- Birra ou silêncio (ex: “Vou para o meu quarto, fecho a porta e ignoro os
meus pais, mas eles também me ignoram”, afirmação de um rapaz de 12
anos);
- Comportamento do tipo “falinhas mansas”, verbal ou não verbal - pôr uma
“cara de anjo”, chamar “mamã” à mãe e abraçá-la;
- Culpa - utilizado, no caso dos lares com mais de um filho, nos quais os
filhos fazem comparações. Ex: “Compraste à/ao ______ dois pares de
sapatilhas, logo, eu ainda tenho um a haver”;
56
1. O Mercado das Crianças
57
1. O Mercado das Crianças
Para McNeal (1992) e Kapferer (1992) as respostas dos pais assumem genericamente
uma das seguintes formas:
3. Adiamento da compra
Neste caso o pai adia a satisfação do pedido invocando um determinado motivo seja
ele financeiro, saúde, etc (McNeal, 1992). Esta foi a forma utilizada em 40,6% das
recusas da compra (Isler et al., 1987).
58
1. O Mercado das Crianças
Ward e Wackman (1972) identificaram diversas relações entre o nível de aceitação dos
pedidos dos filhos e:
• A idade da criança: quanto mais velha for, maior o nível de aceitação;
• O nível de restrições à assistência da TV impostas pelas mães: quanto mais
restrições as mães impuserem menor a probabilidade de aceitarem os pedidos;
• O tempo passado pela mãe a ver TV: quanto mais tempo, maior é a probabilidade de
aceitação dos pedidos;
• A atitude da mãe face à publicidade: quanto mais positiva for a sua atitude maior a
probabilidade de aceitar os pedidos.
• O nível de memorização da publicidade pela mãe: não foi verificada nenhuma
diferença entre as mães consoante o seu nível de inteligência;
59
1. O Mercado das Crianças
Deste modo, é através das respostas dos pais, do nível de aceitação dos produtos e dos
motivos invocados por estes para a não aceitação, que a criança aprende a distinguir os
produtos “bons” dos “maus” e aqueles que pode ou não adquirir. Existem produtos que,
apesar de não serem “maus”, a criança não pode adquirir devido v.g. a indisponibilidade
financeira. Kapferer (1992, p. 185) considera, a propósito, que “É todavia mercê dessas
experiências, embora por vezes frustrantes, que a criança é socializada, isto é, que vai
lentamente adquirindo as competências e práticas relacionadas com o consumo.”.
Segundo McNeal (1992), as respostas dos pais variam consoante o tipo de pai mais
frequentemente do que com as condições económicas do lar (motivo apontado
frequentemente para a recusa). O autor classifica os pais em quatro categorias: os
negligentes, os autoritários, os permissivos e os autoritivos (de “authoritive”, McNeal,
1992, p.80), ou seja, aqueles que combinam diferentes graus de autoridade e
permissividade consoante a situação. No fundo, estes últimos serão os pais menos
extremados e que se adaptam às diferentes necessidades, assumindo o papel
conveniente para cada uma das situações.
A principal diferença apontada entre as várias categorias não seria o nível de aceitação
dos pedidos mas sim o estímulo dado à formulação dos mesmos. Assim, enquanto que
os pais autoritários desencorajariam os seus filhos a fazerem pedidos, no pressuposto de
que as crianças não devem ser independentes e os pais é que devem tomar todas as
decisões, os permissivos e os autoritivos tenderiam, por seu turno, a encorajar os
pedidos, ainda que ambos os tipos de pais, por diferentes motivos. Por último, os
negligentes não assumiriam qualquer tipo de atitude explícita face aos pedidos.
60
1. O Mercado das Crianças
Avaliando as famílias com base nestes dois tipos de comunicação, Moschis identifica
quatro tipos de famílias, a saber:
1. “Laissez-faire”: são famílias nas quais não existem os dois tipos de comunicação,
havendo aliás muito pouca comunicação entre pais e filhos;
2. Protectoras: Valorizam a comunicação orientada socialmente, não havendo
preocupação com a comunicação orientada para o conceito;
3. Pluralísticas: encorajam a comunicação aberta e a discussão de ideias sem insistirem
na obediência ou autoridade. A criança é incentivada a explorar e
exprimir novas ideias sem recear qualquer retaliação sendo o ênfase
dado ao respeito mútuo e aos interesses de cada um;
4. Consensuais: valorizam os dois tipos de comunicação, ou seja, a criança é
encorajada a interessar-se por novas ideias, mas deve habituar-se a
fazê-lo sem perturbar a hierarquia familiar e a sua harmonia interna.
61
1. O Mercado das Crianças
Todavia assistimos à compra de novidades pelas crianças de modo que se acredita que
as crianças gostam de tudo o que é novo. De qualquer modo, segundo Rust as crianças,
ou os pais, sozinhos nunca comprariam novidades, pelo que a compra de novidades
pelos mais novos resulta da interacção existente entre pais e filhos e de ambos estarem
presentes no momento da compra. Na verdade, quando pai e filho estão
juntos/presentes, a criança sente segurança (sabe que o pai analisa o produto e faz boas
escolhas) e o pai pode sentir o prazer e a excitação da criança com o produto (tem
sensações que não consegue ter quando está sozinho).
62
1. O Mercado das Crianças
Assim, mais do que os diferentes tipos de pais de McNeal (1992), existem diferentes
tipos de famílias, o que justifica a existência de diferentes tipos de interacções. No
Quadro 1.14. apresentam-se os sete tipos de famílias descritos por Rust.
Exploradores • Regra geral são antigos jovens exploradores que já têm uma ou mais
crianças mais velhas;
Reformados
• Têm os mesmos gostos que os jovens exploradores e compram maiores
(“Retired
quantidades de produtos;
Explorers”) • As preferências da família estão mais estabilizadas, nomeadamente os
filhos já sabem de que produtos gostam e os pais conhecem as suas
preferências;
• Os filhos já não acompanham tanto os pais nas compras como nos Jovens
Exploradores;
• Tendem a ser leais às marcas que consomem (já realizaram todas as
experiências e sabem que produtos são bons para a sua família);
• O enfoque das estratégias de marketing deve ser dado aos pais e menos às
crianças.
Guardiões • Regra geral são famílias em que os pais assumem um papel protector dos
seus filhos, traduzindo isso nas escolhas que fazem dos produtos;
(“Guardians”)
• As crianças destas famílias tendem a fazer menos pedidos aos seus pais,
não sendo isso sinónimo de um ambiente familiar repressivo, já que estas
crianças estão tão satisfeitas quanto as outras crianças.
Guardiões - Regra geral são famílias com poucas crianças e crianças mais
novas;
Controladores
- São as mães que têm maior poder e tiram prazer do seu papel
(“High Control
dominante (sentem-se bem na função de mães protectoras);
Guardians”) - Tendem a escolher um número restrito de produtos não estando
receptivas a novidades.
63
1. O Mercado das Crianças
Guardiões - Regra geral são famílias com poucas crianças e crianças mais
novas;
Recompensadores
- Nestas famílias os pedidos das crianças têm um papel mais
(“Treat-Giving
importante do que os Guardiões Controladores sendo que os
Guardians”) produtos alimentares são utilizados como sinal de aprovação dos
pais;
- A compra de produtos para as crianças é vista pelos pais como
uma forma de demonstrar afecto e carinho;
- Tendem a comprar uma maior variedade de produtos do que os
Guardiões Controladores, mas mantêm a tendência para a não
compra de produtos considerados não saudáveis (assim como os
seus filhos também não pedem estes produtos).
Liberais • Os pais destas famílias actuam de uma forma desligada face aos produtos
que compram para os seus filhos, não tendo nenhum interesse ou
Descomprometidos
entusiasmo com estas compras;
(“Uninvolved
• As escolhas são feitas pelos filhos não havendo oposição por parte dos
Permissives”) pais;
• As crianças destas famílias tendem a ser muito conservadoras não
demonstrando interesse em adquirir novos produtos.
Perseguidores de • Nestas famílias o factor primordial de escolha dos produtos é o preço, não
sendo influenciadas pelo factor novidade, pelos pedidos dos filhos ou
Negócios (“Deal
pelo valor nutritivo dos produtos;
Stalkers”)
• Compram novidades desde que estejam associadas a um bom negócio, ou
seja, desde que tenha oferta de amostras ou cupões de desconto;
• Não demonstram fidelidade às marcas já que estão sempre à procura do
melhor negócio.
Para o autor “as famílias utilizam as compras e o consumo para exprimir quem são e o
que sentem sobre si próprios e sobre cada um deles” (Rust, 1994, p. 9-10). Deste modo,
a forma como reagem aos produtos e às estratégias irá ser necessariamente diferente de
64
1. O Mercado das Crianças
família para família pelo que o autor apresenta o efeito provável de algumas estratégias
nas reacções das famílias:
9
Sobre este tipo de famílias e as suas preferências em produtos para crianças ver também o artigo sobre
“Comfort Brands”, em http://www.small-talk.com/research.html em 26/2/2000.
65
1. O Mercado das Crianças
A consideração do mercado das crianças também como mercado futuro está associada
ao crescimento da criança até à idade adulta, ou seja, consumidor de todo o tipo de bens.
Tais estratégias farão sentido se, como lembra McNeal (1992), convirmos que só
existem duas formas de captar novos clientes: ou provocando o “churn” da
concorrência, ou captando potenciais clientes (actuais não utilizadores do produto). As
crianças não são mais do que potenciais clientes nos quais podemos desenvolver
lealdade à marca, enquanto que os clientes da concorrência terão um menor grau de
lealdade à marca, visto que um cliente que muda de marca uma vez pode fazê-lo
novamente.
Poderão ser desenvolvidas ainda estratégias tendo como objectivo os três mercados:
primário, de influência e futuro. A cadeia norte-americana de restaurantes Legal (Smith,
1999), entendendo os seus clientes como actuais e potenciais, assume que nos seus
menus não basta apenas satisfazer os desejos actuais mas também excitá-los e estimulá-
los. Por este motivo, nestes restaurantes são oferecidos pratos que habitualmente não
66
1. O Mercado das Crianças
constam em menus para crianças. Nas palavras de Jasper White, chef do restaurante,
“As crianças têm um sentido apurado de gosto e olfacto e a comida deve ser preparada
tendo isso em conta.” (Smith, 1999). Um exemplo é a lagosta, prato que as crianças
adoram e de enorme sucesso no Legal, mas que a generalidade dos restaurantes nunca
serviria a crianças. A diferença está no modo como o prato é confeccionado - retiram
todo o conteúdo da lagosta, cortam-no em pedaços e voltam a colocá-lo na carapaça
pronto a servir.
67
1. O Mercado das Crianças
McNeal defende que, se uma marca pretende atingir as crianças como seus futuros
consumidores, ela deve criar com as crianças uma relação duradoura, a qual poderá ser
alcançada segundo o seguinte modelo:
Figura 1.5.: Modelo de actuação de uma marca nas crianças para construção de um
mercado futuro
Sequencialmente, e para obter uma acção no futuro, isto é quando a criança for
consumidor do tipo de produto/serviço, a empresa tem que conseguir notoriedade junto
68
1. O Mercado das Crianças
das crianças (conhecer a empresa, os seus produtos e a sua missão), criar nelas um
interesse sustentado, para que elas confiem na empresa como proporcionadora de
satisfação (McNeal, 1992).
Relativamente à confiança depositada na marca pela criança, ela pode surgir quer da
confiança já depositada pelos pais, quer da implementação de estratégias específicas
para as crianças (caso da AT&T ou das diversas empresas portuguesas produtoras de
manuais educativos), quer ainda por associação das empresas a valores universais, os
quais são percepcionados e valorizados pelas crianças, como são exemplo a protecção
do ambiente, o patriotismo, a saúde, etc. Esta última estratégia é adequada apenas para
crianças mais velhas já que a necessária conceptualização destes valores só ocorre após
os 7, 8 anos de idade (McNeal, 1992).
O autor insiste todavia que a acção das crianças deve ser procurada o mais cedo
possível, ou mesmo antecipada. As empresas devem procurar tornar as crianças seus
clientes, directamente ou por influência na compra, tão rápido quanto possível. Um
exemplo desta tentativa de antecipação é o caso da margarina Planta, em cuja
publicidade são retratadas sempre famílias felizes (de acordo com o “target” de Planta
que são as famílias de classe média/baixa) e, simultaneamente introduziu livros de
receitas para que as crianças se iniciassem no mundo da culinária.
69
Capítulo 2.
71
2. Segmentação do Mercado das Crianças
No que respeita ao mercado das crianças a abordagem é realizada, regra geral, de uma
forma massificada, ou utilizando factores demográficos como a idade (o mais utilizado)
e o sexo.
72
2. Segmentação do Mercado das Crianças
10-12 “Groupies” • Idade dos grupos e grande importância dada à opinião dos
outros sobre eles próprios;
• Incremento ainda maior da competição entre os sexos;
• Importância crescente das marcas consoante os produtos
predilectos (rapazes, internet e raparigas, roupa);
• Menor crença na publicidade e atracção pela sofisticação e
racionalidade dos spots, embora tenham respostas emocionais;
• Não identificação com a publicidade dirigida à sua idade;
• Grande receptividade a promoções.
Fonte: Henriques, 1999, p. 21
73
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Este estudo envolveu três reuniões de grupo com vinte e cinco crianças dos 8 aos 14
anos de Lisboa e Porto e dezassete mães com filhos entre os 10 e os 15 anos de ambas
as localidades, para além de entrevistas individuais a dois técnicos de educação e
algumas mães e crianças.
Após a identificação das três fases principais, o estudo dividiu os segmentos em termos
de característica principal de cada um (Quadro 2.3.).
74
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Começam a ter
alguns
conhecimentos.
2 10/12 Têm Têm responsabilidade Têm noção da marca e Dispõem de
comportament sobre a compra de utilizam-na como uma
os similares alguns produtos; identificação social; determinada
aos adultos e quantia que é
adolescentes; A sua opinião é Valorizam as ofertas da sua
pedida no caso de imediatas e concursos em responsa-
Consolidam o produtos para a que a oferta é garantida; bilidade.
conhecimento família (ex: electro-
físico dos domésticos); Têm uma noção absoluta e
produtos. relativa dos preços.
Fazem visitas
sozinhos a partes da
loja.
3 12/14 Afirmação do Visitam sozinhos Forte percepção da marca Dispõem de
individualis- todas as zonas da loja e utilização das marcas uma
mo; se o pretenderem; como projecção social; determinada
quantia que é
Necessidade Têm autonomia Forte influência dos da sua
de também na escolha amigos na escolha dos responsa-
diferenciação dos produtos podendo produtos; bilidade.
face às haver categorias que
crianças. são da sua São sensíveis a ofertas
responsabilidade. imediatas e, principal-
mente, a promoções do
tipo “Pague 1 Leve 2”,
Descontos de preço e
Vales;
75
2. Segmentação do Mercado das Crianças
FASE
RAPAZES RAPARIGAS
IDADE ASPIRAÇÃO ASPIRAÇÃO IDADE
CENTRAÇÃO
Até aos 7 “Pós-bébés” Fantasia “Pós-bébés” Até aos 6
8/9 “Super- Magia “Barbies” 7/8
Homens”
IDENTIFICAÇÃO
10/11 “Meninos” Regresso à “Meninas” 9/10
realidade
12/13 “Homenzinhos Exercícios de “Mulherzinhas 11/12
” Papel ”
DIFERENCIAÇÃO
A partir dos 14 “Hormonas” Definir-se “Idade do A partir dos 13
como diferente Príncipe
do adulto e encantado”
igual aos seus
pares
Fonte: adaptado de estudo de distribuição (1997)
No Quadro 2.3. podemos verificar que, embora sejam identificadas cinco etapas comuns
a rapazes e raparigas, assumem diferentes formas e aspirações consoante o sexo já que:
• Em termos de idade ocorrem mais cedo nas raparigas, as quais se desenvolvem
psicologicamente mais precocemente do que os rapazes (Gesell et al., 1996; Del
Vechio, 1997);
• Relativamente à vertente aspiracional ela é também diferenciada consoante o sexo da
criança, embora seja reveladora do mesmo factor. Assim, por exemplo, a fase da
magia, comum a ambos os sexos, nos rapazes exterioriza-se em demonstrações de
Força - ser o mais forte do grupo, o mais rápido, etc -, enquanto que nas raparigas
está associada a exibições de beleza e “glamour” (ter a boneca mais bonita, os
sapatos mais giros do grupo, etc) (Del Vechio, 1997).
76
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Del Vechio (1997) divide o mercado das crianças com base na sua atitude perante o
mundo. Segundo o autor, o menor sucesso de algumas estratégias de marketing deve-se
a não considerarem a atitude específica de cada segmento, pelo que as campanhas
delineadas não conseguem captar realmente “o que as crianças sentem por dentro” (Del
Vechio, 1997, p. 105).
77
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Após termos analisado as várias vertentes do mercado das crianças e exposto alguns
exemplos de segmentação do mesmo, pretendemos neste capítulo quantificá-lo em
Portugal. Para o efeito vamos verificar o número de crianças existente em Portugal
actualmente e sua perspectiva de evolução.
Relativamente à sua quantificação monetária, ela será realizada na parte prática deste
trabalho, na qual iremos fornecer uma medida da dimensão em escudos das crianças
como mercado primário e avaliar o seu potencial como mercado de influência e futuro
no mercado das telecomunicações.
78
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Segundo as estimativas do INE para o final de 1998, as crianças até aos 14 anos em
Portugal totalizavam 1.681,5 milhares de pessoas, ou seja, 16,8% da população total, a
qual atingia os 9.979,5 milhares.
Quadro 2.5: População residente por grandes grupos etários, em 31/12/98 (estimativas)
Descrição População % População % Peso do escalão
Total (103) 0-14 anos 0-14 no total (%)
(103)
Portugal 9.979,5 100% 1.681,5 100% 16,8%
Continente 9.474,1 94,9% 1.573,7 93,4% 16,6%
Norte 3.578,3 35,9% 658,3 39,1% 18,4%
Centro 1.710,3 17,1% 267,7 15,9% 15,7%
Lisboa e Vale do 3.326,5 33,3% 518,7 30,8% 15,6%
Tejo
Alentejo 510,3 5,1% 73,0 4,3% 14,3%
Algarve 348,7 3,5% 56,1 3,3% 16,1%
Açores 244,9 2,5% 55,8 3,3% 22,8%
Madeira 260,4 2,6% 52,0 3,1% 20,0%
Fonte: adaptado de INE, http://www.ine.pt/prodserv/area04/presiden.html em 23/7/99
Como podemos ver da análise do Quadro 2.5., cerca de 70% das crianças até aos 14
anos concentram-se nas áreas Norte e Lisboa e Vale do Tejo, representando a área Norte
cerca de 40% do total.
Em todo o Continente, é na região Norte que as crianças representam uma maior fatia
da população total (18,4%), superior à média nacional de 16,8% e superior ainda ao seu
peso na região de Lisboa e Vale do Tejo (15,6%), expressão apenas seguida pela região
do Alentejo.
As regiões autónomas dos Açores e da Madeira são as que apresentam a maior
proporção de crianças na população total com pesos de 22,8% e 20,0%,
respectivamente.
79
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Quadro 2.6.: População residente segundo o sexo e por idades – Portugal (estimativas)
Grupo Em 31/12/95 % 2000 (103) % 2005 (103) %
(103)
Da análise do Quadro 2.6. pode-se observar que a faixa dos 0-14 anos tem vindo a
diminuir face à população total, esperando-se um ligeiro crescimento nos primeiros
cinco anos do século (de 16,9% da população para os 17,1%). Analisando a distribuição
da população por sexos vemos que, em primeiro lugar ela tende a manter-se estável nos
dez anos apresentados e, em segundo lugar, é diferente consoante considerarmos a
população total ou a faixa dos 0-14 anos. Assim, enquanto que na população total a
maioria é do sexo feminino (51,8% vs. 48,2%), na faixa dos 0-14 anos esta situação
inverte-se com 51,2% de peso do sexo masculino, em todas as regiões de Portugal.
A tabela completa, com todos os escalões etários é representada no anexo IV, na qual
podemos verificar que a predominância de pessoas do sexo masculino é uma constante
até à faixa dos 30-34 anos, sendo que a partir dessa faixa a maioria da população é
feminina. Dentro da faixa 0-14, o escalão 10-14 terá uma forte redução até ao ano 2000,
aumentando apenas no ano de 2005 mas não atingindo os níveis de 1995, enquanto se
estimam grandes crescimentos para as faixas mais jovens nos anos 2000 e 2005
(escalões 0-4 e 5-9).
80
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Quadro 2.7.: Evolução da população por faixa etária por região, em Portugal
(estimativas)
Região Escalão 31/12/95 (1) 2000 2005 (2) Δ
(2)/(1)
Etário 103 % 103 % 103 % (%)
Norte 0-4 217,8 31,8% 231,1 34,7% 227,8 33,5% +4,6%
5-9 214,6 31,4% 218,9 32,9% 232,3 34,1% +8,2%
10-14 251,7 36,8% 216,1 32,4% 220,5 32,4% -12,4%
Total 0-14 684,2 666,1 680,6 -0,5%
Centro 0-4 86,5 30,5% 91,1 34,1% 92,6 34,1% +7,1%
5-9 88,1 31,2% 86,9 32,6% 91,6 33,7% +3,9%
10-14 108,8 38,4% 88,7 33,3% 87,6 32,2% -19,5%
Total 0-14 283,4 266,8 271,8 -4,1%
Lisboa e Vale 0-4 174,8 33,1% 179,8 34,5% 178,4 33,3% +2,1%
do Tejo
5-9 161,3 30,6% 175,9 33,9% 180,9 33,7% +12,1%
10-14 191,5 36,3% 162,7 31,4% 177,2 33,0% -7,5%
Total 0-14 527,7 518,3 536,6 +1,7%
Alentejo 0-4 23,2 29,1% 24,6 33,7% 25,0 34,3% +7,9%
5-9 25,2 31,7% 23,2 31,7% 24,6 33,8% -2,3%
10-14 31,3 39,3% 25,3 34,6% 23,3 31,9% -25,7%
Total 0-14 79,6 73,0 72,9 -8,5%
Algarve 0-4 18,9 33,2% 19,7 35,0% 19,7 33,6% +4,6%
5-9 17,4 30,6% 19,0 33,8% 19,8 33,8% +14,0%
10-14 20,5 36,2% 17,5 31,2% 19,1 32,6% -6,8%
Total 0-14 56,8 56,2 58,7 +3,3%
Açores 0-4 18,1 31,3% 19,8 34,8% 21,0 35,9% +15,9%
5-9 19,2 33,2% 17,9 31,6% 19,7 33,6% +2,3%
10-14 20,5 35,5% 19,1 33,6% 17,8 30,5% -13,1%
Total 0-14 57,8 56,8 58,5 +1,1%
Madeira Total 0-14 55,1 53,3 55,0 -0,3%
Fonte: adaptado de INE, http://infoline.ine.pt/pt_infoline/tema02/sb0201/htm/00302000.htm a
http://infoline.ine.pt/pt_infoline/tema02/sb0201/htm/01602000.htm (exceptuando a página 01502000.htm
por indisponibilidade permanente), em 23/7/99
81
2. Segmentação do Mercado das Crianças
• Erro tipo I: não consideraremos as crianças mais novas que ainda não frequentam
nenhum estabelecimento de ensino (ensino pré escolar) e que também fazem parte
do mercado;
• Erro tipo II: estaremos a negligenciar as crianças que não frequentam qualquer
escola, apesar de ser obrigatória a frequência do ensino até aos 14 anos ou 9º ano de
escolaridade.
A análise do Quadro 2.8. poderá dar-nos uma estimativa dos dois tipos de erros,
verificando-se serem correctas as hipóteses à partida relativamente ao erro tipo I o qual
é muito elevado1. No entanto, dados os resultados obtidos, nada se pode concluir
relativamente ao erro tipo II já que o total da população escolar é superior ao da
população total. Para isto contribui, não o facto de estarmos a considerar anos
diferentes2 mas, principalmente, devido a existirem nos 1º a 3º ciclos crianças com mais
de 14 anos. Pensamos que o número de crianças nestes ciclos com idade superior a 14
1
O valor encontrado é similar a outros valores internacionais, nomeadamente num estudo de Mizerski
(1995) no qual se verificou que a percentagem de crianças em idade pré-escolar que não frequentavam
uma escola de ensino pré-escolar ou outro tipo de estabelecimento de cuidados de dia era de,
respectivamente, 42,7% e 32%.
2
Foram feitos os testes com outros anos relativamente à população total e os resultados foram os
mesmos.
82
2. Segmentação do Mercado das Crianças
anos não será muito elevado pelo que podemos considerar o erro tipo II como
negligenciável, como faremos daqui para a frente.3
Salvaguardando o impacto dos dois tipos de erros que acabámos de referir, vamos então
analisar a distribuição da população escolar por região e por nível de ensino a partir dos
dados do Quadro 2.9..
3
Segundo o Ministério da Educação (1998, p.5), no ano de 92/93, “a taxa de abandono das crianças entre
os 10 e os 14 anos situava-se nos 12% e, nos 2º e 3º ciclos, só 72% e 64% dos alunos se encontravam na
idade normal de frequência, respectivamente. Ao mesmo tempo, apenas transitavam de ano com sucesso a
todas as disciplinas 64% dos alunos do 2º ciclo e 48% do 3º ciclo”.
83
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Comparando estes dados com os do Quadro 2.7. vemos que o número de crianças entre
os 0 e os 4 anos que não frequentam a educação pré escolar é mais significativo nas
regiões Norte, Algarve e dos Açores, sendo que nas restantes o rácio entre população
em educação pré-escolar e população total é muito superior à média nacional de 38,8%,
como se pode ver no Quadro 2.10..
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Importa ainda saber como se distribui a população escolar por tipo de estabelecimento
(Público vs. Privado), a partir dos dados do Quadro 2.11..
Podemos verificar que o ensino privado tem uma reduzida expressão em todos os níveis
de ensino, exceptuando o pré escolar, no qual a maioria dos alunos frequenta
estabelecimentos privados (54,1%). No ensino básico, que corresponde à escolaridade
obrigatória, o ensino privado não ultrapassa os 10% em número de alunos, sendo essa
cifra todavia já superior no ensino secundário. Globalmente, o ensino público atinge
84,1% do total da população escolar no Continente.
No anexo V são apresentados os valores para o ensino básico por distrito. Podemos
verificar que o ensino privado se encontra presente apenas num reduzido número de
distritos, regra geral na faixa litoral (representa 92% do total de alunos do ensino
particular contra 83% no ensino público). Em termos da distribuição dos alunos por
distrito, aqueles que apresentam uma concentração do ensino privado superior à do
ensino público são os distritos de Lisboa, Leiria e Coimbra.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Qualquer estratégia de marketing direccionada para o mercado das crianças deve ter em
conta o seu estádio de desenvolvimento físico, psicológico e sociológico, já que com ele
variam as necessidades da criança e toda a sua estrutura de pensamento, as suas
preferências, etc. É por esse motivo que, Solomon, directora da área de investigação da
J. Walter Thompson, e membro da Advertising Research Foundation’s Youth Council,
assinala haver uma quantidade enorme de agências publicitárias e de empresas de
marketing para crianças que integram psicólogos nos seus quadros (Lindorf, 1999).
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
4
veja-se por exemplo o artigo de John (1999) que referencia os trabalhos de Roedder, Selman e
Barenboim’s
87
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Desde o nascimento até aos 2 anos, a criança exibe aquilo que tradicionalmente se
designa de inteligência sensório-motora. Precedendo a aprendizagem da linguagem, este
tipo de inteligência é de cariz prático, ou seja, visa a resolução dos “problemas” com
que a criança se depara ao nível da acção (Piaget e Inhelder, 1995; Acuff e Reiher,
1997).
A aprendizagem que a criança efectua nesta fase é descrita por Piaget como consistindo
no binómio estímulo-resposta e assimilação. Segundo Greenfield (1984) a criança vai
organizando a sua estrutura neurológica a partir dos estímulos que recebe, da repetição
desses estímulos e da sua correcta classificação ou integração na estrutura.
Assim, por exemplo, a primeira vez que a criança vê o carro do pai ela irá memorizar
esse estímulo na sua estrutura. Após sucessivos encontros com o mesmo estímulo,
durante os quais a criança vai enriquecendo a sua estrutura neuronal com mais detalhes
sobre esse estímulo, ela poderá ser confrontada com estímulos similares (outros carros),
descobrindo o conceito de género, isto é, a palavra carro pronunciada pelos pais já não
significa apenas o carro do pai mas sim qualquer objecto com quatro rodas.
O mesmo sucede com os processos, como por exemplo, a mecânica de abrir e fechar
portas - primeiro a criança aprende com as dos armários da cozinha e depois percebe
que o mesmo se passa com várias portas da sua casa.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Segundo Piaget e Inhelder (1995) e Gesell et al. (1996) os dois primeiros anos da
criança podem ser divididos em estádios menores de desenvolvimento em cada um dos
quais a criança adquire novas competências e se prepara para o estádio seguinte. A sua
classificação por Piaget é apresentada na Figura 2.2., abstendo-nos de apresentar, em
pormenor, cada um dos estádios e referindo apenas as principais
características/conceitos desta fase e o estádio em que ocorrem. Mais uma vez, as idades
são meramente indicativas e médias.
I II III IV V VI
0 2 4/5 7/8 11/12 18 24 meses
Fonte: adaptado de Piaget e Inhelder (1995)
2. No estádio III a criança coordena, pela primeira vez, dois sentidos essenciais, a
visão (que adquiriu com 4 semanas) e a preensão (que começou a exercitar no
estádio II), começando a interagir com os objectos que a rodeiam. No entanto, até
este estádio as coisas só existem enquanto estiverem no raio de visão da criança.
89
2. Segmentação do Mercado das Crianças
5. Também no estádio IV, ainda que não haja a conceptualização dos objectos, dá-se o
início da denominada fase do “objecto permanente” (Piaget e Inhelder, 1995),
querendo isto significar que, ao contrário do que acontecia até agora, a criança já
procura um objecto escondido, não necessitando este de estar visível para existir. De
salientar que, neste estádio, a verificação do objecto permanente é ainda um pouco
primitiva, na medida em que a criança não acompanha os movimentos autónomos
do objecto, mas sim, age com base nos hábitos adquiridos - se o biberão costuma
estar escondido debaixo da almofada, a criança vai aí procurá-lo e não debaixo da
fralda onde nos viu a escondê-lo. O acompanhamento dos movimentos do objecto
far-se-á apenas a partir do estádio V.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Como a criança ainda não compreende e não se consegue ajustar ao mundo dos adultos,
ao qual é obrigada a adaptar-se, ela procura a sua autonomia utilizando a função
semiótica, i.e. recorrendo à magia e à imaginação, e realizando inúmeras brincadeiras
com muita fantasia, surpresa e “faz de conta” (Piaget e Inhelder, 1995; Acuff e Reiher,
1997).
93
2. Segmentação do Mercado das Crianças
1º. A imitação diferida que consiste na repetição de algo sem presença do modelo
original, o que a distingue da imitação sensório-motora. Quando a criança imita um
gesto que um adulto lhe faz (o que acontece, regra gera, após algumas, repetições do
mesmo) trata-se de uma imitação sensório-motora. Se, no entanto, num contexto
diferenciado sem presença do estímulo a criança imita o gesto, estamos já na presença
de um reflexo do desenvolvimento da função semiótica.
É o caso, por exemplo, de uma criança cuja parte do programa do “Batatoon” que gosta
é quando este manda o “Batatinha” para a “portinha” com um pontapé. No período
sensório-motor a criança, ao ver o programa, dá pontapés no ar e corre de satisfação a
imitar o “Batatinha”. Contudo, quando mais tarde repete esta cena pedindo a um adulto
que faça de “Batatinha”, e até invertendo os papéis, estamos a falar de imitação diferida,
que é o mesmo que dizer, estamos em presença de um indício de desenvolvimento da
função semiótica.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
De salientar que, nesta fase, todos os símbolos são materiais, i.e., a criança ainda não é
capaz de realizar um jogo mental (a não ser nos sonhos), e materializa tudo, mesmo
sentimentos que para nós não passam de abstracções. A criança consegue materializar a
tristeza, a alegria, e justificar as suas escolhas de símbolos com explicações para nós
absurdas.
Por exemplo, a mesma criança pode agora pegar em dois paus e fazer a cena do
“Batatinha” sem necessitar de pessoas. Se lhe perguntarmos o que são ou quem são os
paus, responderá prontamente que o grande é o “Batatoon” e o pequeno é o “Batatinha”.
Esta explicação poderá ser acompanhada de um certo tom, como que a dizer-nos “Não
estás a ver que o Batatinha tem o cabelo em pé”, o que não é possível por não dominar
ainda a linguagem. Mais tarde, mas ainda nesta fase, poderá representar uma cena em
que um pau é a mãe e o outro é ele, e a mãe também o manda para a portinha com um
pontapé porque não comeu a sopa toda, sendo isso já um jogo simbólico puro, sem
imitação e num contexto completamente diferenciado.
3º. O desenho representa a fase intermédia entre o jogo simbólico e a imagem mental.
Iniciando-se por volta dos 2 anos, 2 e meio, o desenho da criança nesta fase é simbólico
na sua essência, por oposição ao desenho realista das crianças da fase seguinte. A
criança entre os 2 e os 7 anos não desenha o que vê e observa. Não pretende o desenho
desta ser uma cópia do real, mas sim uma forma de exteriorização daquilo que sabe ou
que sente; é uma imagem do modelo que a criança interiorizou, a sua realidade (Piaget e
Inhelder, 1995). Cabe aqui recordar a história de Saint Exupéry (1995), “O
Principezinho”, no qual a criança tentava mostrar que o seu desenho não era um chapéu
mas sim uma jibóia digerindo um elefante.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Dada a simbologia dos desenhos nestas idades, é frequente a sua utilização como
método de pesquisa com crianças em idade pré-escolar, naturalmente acompanhados de
notas do entrevistador sobre a explicação que a criança faz do desenho.
Os sonhos das crianças não são mais do que manifestações destas imagens mentais pelo
que são típicos durante toda esta fase de desenvolvimento da função semiótica e
atingindo o seu apogeu por volta dos 5 anos de idade (Gesell et al., 1996). Não obstante,
os objectos dos sonhos vão se alterando ao longo de todo este período.
Predominantemente fantasmagóricos e povoados de animais até aos 6 anos, já incluem
pessoas e cenas da vida quotidiana a partir dessa idade. Segundo os autores, por volta
dos 7 anos quando a criança já anda na escola e inicia a sua integração social, os seus
sonhos são, regra geral, sobre ela própria (já não sonha com animais e quase não tem
pesadelos) e muito sobre situações embaraçosas (estar na rua sem calças, ou sem roupa;
ir para a escola de chinelos, etc) (Gesell et al., 1996).
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
No exemplo anterior, para denominar toda a cena do “Batatoon”, a criança utiliza uma
única palavra “po”ou “pota”, sendo a que a criança reteve de todas as que ouve (é a que
tem, para ela, significância) e exagerando-a na medida em que serve para descrever toda
a cena e não apenas o objecto porta.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Intuição: dado situar-se numa fase pré-operacional, pré-lógica, a criança nesta fase é
impulsiva, espontânea, assumindo um comportamento por vezes ilógico, e
não fazendo uma análise “a priori” da situação (Acuff e Reiher, 1997).
Autonomia: nova necessidade sentida nesta fase (a partir dos três anos) resulta da
dificuldade de compreensão do mundo dos adultos e da constante imposição
por estes de normas e regras as quais são exteriores às crianças. A
necessidade de autonomia revela-se também na vertente aspiracional da
criança através dos seus objectos de idolatração que possuem, regra geral,
poder e autonomia - heróis, adultos ou crianças mais velhas (Piaget e
Inhelder, 1995; Acuff e Reiher, 1997).
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Moralidade: Nesta fase a criança encara as normas como externas e aceita-as como um
dever ou uma obrigação pois são oriundas de pessoas que ela respeita e às
quais confere poderes (os pais e educadores). No entanto, a criança não
distingue, para já, a moralidade das normas pelo que uma regra como “não
mentir” é, para ela, similar a outra “não comer chicletes com açúcar”, não
distinguindo a moralidade de uma ou de outra e obrigando-se a cumprir
ambas (Piaget e Inhelder, 1995; Acuff e Reiher, 1997).
Na medida em que a criança é passiva na recepção das normas será necessária
redobrada atenção na construção de heróis para estas idades, já que eles são
também modelos comportamentais. Se não assumirem uma postura moral
correcta, poderão influenciar negativamente o sistema de normas e valores da
criança, pese embora o papel muito importante da mediação dos pais, que
auxiliam a criança na descodificação destas mensagens - filtrando as boas das
más influências (Acuff e Reiher, 1997).
Humor Visual: Nesta fase as crianças apreciam o humor físico, visual, envolvendo
acção e surpresa. Por oposição, o humor verbal ainda não encontra nestas
idades muitos adeptos já que requer da criança uma estrutura cognitiva capaz
de o entender. O mesmo é válido para o humor abstracto, não bipolarizado
(Acuff e Reiher, 1997).
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
A fase dos 7/8 anos até aos 11/12, denominada por Piaget (1995) como a das
“operações concretas”, caracteriza-se pelo desenvolvimento do lado esquerdo do
cérebro, responsável pelas capacidades lógicas e racionais (e consequente compreensão
de toda uma série de novas noções), pelo desenvolvimento das relações interindividuais
e comportamentos cooperativos, a par da interiorização, compreensão e sistematização
dos sistemas de normas e valores.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Do conjunto das operações, ou seja, das construções das representações do real num
plano abstracto, mental, as operações concretas são assim denominadas pelo facto de se
basearem “directamente nos objectos e não ainda nas hipóteses enunciadas verbalmente,
como será o caso das operações proposicionais” (Piaget e Inhelder, 1995, p. XX).
Dentro das operações concretas, a criança apreenderá, durante esta fase, as noções de
seriação, classificação, número, espaço, tempo e velocidade.
101
2. Segmentação do Mercado das Crianças
É devido à aquisição desta capacidade que são muito características desta fase as
actividades de coleccionismo. As crianças da fase anterior, embora pareça, por vezes,
que realizam colecções, não praticam um verdadeiro espírito de coleccionismo, sendo
antes manifestações de acumulativismo (podem, por exemplo, ter muitos cromos de
cadernetas mas não os sabem analisar e classificar correctamente, ou, se os classificam
correctamente, não conseguem analisar a colecção em toda a sua plenitude,
nomeadamente não efectuam o encaixe das classes em extensão).
102
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Autonomia: Com a maior cooperação social, as normas e valores que eram, para a
criança pré-operatória, externas e válidos apenas porque oriundas de uma
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
entidade por ela respeitada, passam agora, para a criança dos 7-12 anos a ter
uma significância própria. A sua consciência, primeiro das regras do jogo, e
posteriormente das outras, permite-lhe apreender o conceito de respeito
mútuo e, por último, a noção de justiça. Apreendendo estas duas noções, a
criança já é autónoma na medida em que distingue os comportamentos
correctos com base no seu conceito de justiça (este já um conceito abstracto
cuja representação conceptual a criança já interiorizou).
Conformismo: Nesta fase, das regras, a criança forma a sua estrutura cognitiva sobre
todo o tipo de regras, normas, valores e papéis, fazendo-o de uma forma
passiva. Ela é receptora de regras e não as contesta. Aceita as regras dos pais,
em primeiro lugar, e, em segundo, as do seu grupo de referência, os colegas.
Apenas na fase seguinte a criança assumirá uma posição crítica face às
normas, contestando algumas delas, mas, por agora, apenas as recebe e adapta
na sua estrutura cognitiva.
Sucesso: A criança, nesta fase, tem necessidade de ser bem sucedida, não numa
perspectiva irrealista ou fantasiada, como a criança pré-operatória, mas sim o
sucesso em termos práticos, nos “problemas” do dia a dia (ter boas notas,
conseguir impressionar uma rapariga na escola, etc). Para o conseguir ela
utiliza duas vias: ora a experimentação, ora a imitação de heróis/modelos
mais ou menos próximos.
104
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Note-se que este tipo de humor, esta predilecção pelo rompimento de regras,
surge na observação de outros (nos filmes, revistas, etc) e não na sua conduta
(isso deixamos para a adolescência) (Acuff e Reiher, 1997).
105
2. Segmentação do Mercado das Crianças
A criança está então a edificar as suas estruturas básicas, as quais serão utilizadas para
sempre (Acuff e Reiher, 1997), e fá-lo, não de uma forma linear, pois segundo Gesell et
al. (1996, p. 34) “a marcha do desenvolvimento é irregular (mais numas crianças do que
noutras). Faz-se aos ziguezagues e, por vezes, também numa espiral que, vindo atrás,
sugere recuo e regressão. Mas, se a criança é normal, a tendência geral e final é em
direcção a um nível de maturidade mais elevado. O desenvolvimento é como um rio;
escava sempre o melhor leito possível; corre para diante; atinge um objectivo”.
106
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Segundo esta teoria (Acuff e Reiher, 1997) a construção da estrutura básica da criança
assenta no desenvolvimento de inteligências ou capacidades nucleares, as quais têm um
momento exacto para ocorrer, findo o qual a criança tem essas capacidades devidamente
estruturadas ou, caso contrário, ficará para sempre debilitada nessa capacidade
específica. O período de desenvolvimento de cada capacidade é denominado por estes
autores de Janela de Oportunidades.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Gesell et al. (1996) explica o desenvolvimento da criança como composto por cinco
ciclos fundamentais, cada um deles dividido em diversas fases.
1º 4 semanas 6-12 sem. 16 semanas 20 semanas 24-28 sem. 32 semanas 0-8 meses
2º 40 semanas 44-48 sem. 52-56 sem. 15 meses 18 meses 21 meses 1-2 anos
108
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Para que uma marca ou produto para crianças tenha sucesso sustentado, terá que
satisfazer permanentemente uma ou mais necessidades das crianças (Del Vechio, 1997).
Todavia, as necessidades das crianças são de vários tipos, como já vimos no capítulo
anterior (Fisiológicas: comida, abrigo, segurança; Sociológicas: amor, pertença,
aceitação, apreciação e amizade; Psicológicas: ego, auto-estima, orgulho). Dada a
reduzida margem de manobra de acção, devida à sua dependência dos pais, elas têm
também necessidade de independência, controlo, aspirações e fantasias. Deste modo,
Del Vechio (1997) sublinha que, uma marca tem de preencher uma destas necessidades
para atingir o coração das crianças.
109
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Como já vimos no capítulo anterior, as necessidades das crianças variam com a idade,
dependendo do estado de desenvolvimento psicológico em que a criança se encontra.
Para além destas diferenças a nível etário, encontramos também diferenças ao nível do
sexo, as quais resultam de uma combinação de factores biológicos e sociológicos
(Guber e Berry, 1993; Acuff e Reiher, 1997).
Importa pois analisar as características específicas dos rapazes e raparigas que permitam
a uma marca conseguir a excelência com crianças se baseada numa necessidade de um
determinado sexo.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
McDonald’s: Esta cadeia de fast food criou a Happy Meal, a qual preenche a
necessidade intemporal que as crianças têm de uma refeição que as satisfaça
(necessidade sensorial). Para manter a marca permanentemente renovada a McDonald’s
actualiza os brindes da Happy Meal nos quais utiliza personagens reveladores da
moda/tendência actual.
111
2. Segmentação do Mercado das Crianças
O Poder
Esta necessidade dos rapazes assenta na possibilidade de serem os melhores em algum
aspecto; no orgulho que sentem quando possuem o poder da força, quando são os mais
fortes, os mais rápidos, os mais ágeis, os mais inteligentes (Del Vechio, 1997). Deste
modo, um produto ou marca que confira força, poder a um rapaz terá um lugar no seu
coração. Casos de sucesso são a Nike, os cereais Wheaties (utilizavam figuras do
desporto e intitulavam-se o pequeno almoço dos campeões).
Grosserias
Os rapazes têm uma atracção especial por tudo o que possa ser grosseiro, ordinário,
ofensivo, de mau gosto, ou seja, tudo o que pode chocar as outras pessoas, já que isto é
entendido como “cool” dentro das crianças. (Del Vechio, 1997)
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Segundo o autor algumas empresas utilizaram esta característica a seu favor como é o
caso do produto “S.N.O.T.” (Super Nauseating Obnoxious Treat) o qual é um doce de
cor verde cujo recipiente tem a forma de um nariz e em que o doce sai por uma das
narinas (é um doce líquido); outro caso de sucesso foi um livro de cozinha (“Gross
Grub” no título original) o qual se autointitulava como um livro de receitas horrorosas
que sabem muito bem (Del Vechio, 1997).
Outro caso de sucesso, com crianças mais velhas, os personagens Beavis e Buthead da
MTV causaram polémica junto dos pais e adultos devido ao mau efeito que poderiam
causar nas crianças mas que eram adorados por todos os adolescentes devido a serem
grosseiros, dizerem asneiras e utilizarem expressões de mau gosto mesmo, ordinárias.
Estupidez
Os rapazes apreciam todas as situações e exposições de estupidez as quais, regra geral,
assumem a forma de humor físico. Este tipo de humor é apreciado por ambos os sexos
mas muito mais intensamente pelos rapazes do que pelas raparigas. Exemplos destas
situações são “uma pessoa a escorregar numa banana”, “atirar uma tarte à cara de uma
pessoa”, ou expressões faciais como no filme “A Máscara” (Del Vechio, 1997).
Bravura
A demonstração de coragem, o ultrapassar situações difíceis com bravura é algo muito
querido pelos rapazes os quais adoram situações de perigo e ultrapassá-las (Del Vechio,
1997).
Para explorar esta característica, a marca deve então oferecer experiências
recompensadoras, as quais comportem um gesto de coragem (ainda que perfeitamente
seguras). Um exemplo foi a bebida Kicks, em cuja garrafa dizia “Cuidado: Contém
substâncias que você não vai sequer querer saber” (Del Vechio, 1997, p. 44).
Ter sucesso
Para o rapaz é muito importante ser bem sucedido. O corolário do poder e da bravura é
atingir algo que se pretendia. Atingir uma meta é extremamente gratificante na medida
em que traduz a posse das capacidades necessárias. Os rapazes entendem perfeitamente
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Amor
Todas as crianças necessitam de afecto, de carinho. No entanto, no caso dos rapazes, a
partir de uma determinada idade, sentem que não devem ter demonstrações de afecto e
carinho pois isso já não é aceite pelos seus colegas. Esta alteração ocorre, regra geral,
por volta dos 5, 6 anos de idade quando aparecem os grupos de referência na escola, os
quais ditam as normas de conduta. Assim, o rapaz sente “obrigação” de ser forte, de ser
valente, e se alguém lhe descobrir uma reacção mais carinhosa, será considerado
“mimado” ou “menino da mamã” (Del Vechio, 1997).
Contudo, a criança continua a ter essa necessidade apesar de não o poder demonstrar
pelo que há espaço para que as marcas, de forma subtil, introduzam este factor,
apelando à bondade e necessidade de carinho dos rapazes. Um bom exemplo de
aproveitamento desta característica foi o filme E.T., o qual tocou o coração de todas as
crianças ao apresentar um extraterrestre afável e carinhoso que precisa dos cuidados de
uma criança para sobreviver.
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2. Segmentação do Mercado das Crianças
Beleza
As raparigas dão muita importância ao aspecto físico, a estarem bonitas, bem
apresentadas. Desde tenra idade (a partir dos 5 anos de idade) elas começam a observar
as suas mães e tentam imitá-las, v.g. utilizando maquilhagem. A utilização da
maquilhagem responde não só à necessidade de se sentirem bonitas mas também porque
concretiza a aspiração de serem mais velhas, desejo que é partilhado pela generalidade
das crianças (independentemente do sexo).
O culto da beleza, nas raparigas, manifesta-se nos objectos que elas utilizam (roupa,
sapatos, meias), na forma de arranjar o cabelo, bem como nos desenhos que criam. Com
vista a satisfazer esta necessidade muitas marcas efectuam promoções nas quais, com a
compra do produto, são oferecidos objectos como colares, pulseiras, brincos, etc.
Encanto/sedução
Segundo Del Vechio (1997), mais do que a beleza física, as raparigas dão grande
importância a tudo o que envolva charme, romance e uma vida excitante. Assim elas
fantasiam imenso sobre o que será a sua vida futura e imaginam-na sempre como
reunindo todos estes condimentos, seja na prática de um desporto, como astronauta,
como médica, etc.
O exemplo mais paradigmático de preenchimento desta necessidade é a boneca da
Mattel, a Barbie a qual, em todas as suas facetas, permite que as raparigas fantasiem e
desenvolvam as suas aspirações de uma forma “glamourosa”.
Espírito maternal
Algo que todas as raparigas gostam é de demonstrar o seu espírito maternal, ou seja,
tomar conta ou prestar cuidados a alguém. Esta necessidade ainda que seja inata, é
muito desenvolvida pelo próprio processo de socialização no qual elas observam as suas
próprias mães assumindo este papel. (Del Vechio, 1997)
O objecto deste espírito maternal pode ser tão variado quanto dirigido a um irmão mais
novo, uma boneca ou um animal de estimação, mas reveste sempre os mesmos
contornos: existe alguém/algo que precisa delas para sobreviver.
115
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Estupidez
As raparigas também gostam de situações estúpidas, tal como os rapazes. No entanto,
enquanto que os rapazes apreciam sobretudo o humor/ridículo físico, as raparigas
preferem o ridículo/estúpido em termos sociais, pese embora também apreciem o humor
físico mas não tanto como os rapazes (Del Vechio, 1997).
São exemplos de situações ridículas que as raparigas apreciem e as faça rir: ver adultos
a beijarem-se, os disparates feitos pelos rapazes, criticar as roupas de outras raparigas
(Del Vechio, 1997).
Ter sucesso
As raparigas também gostam de ter sucesso, também sonham em ser as melhores em
algo. Enquanto que há alguns anos atrás as raparigas não praticavam desporto, sendo
considerada uma actividade masculina (as raparigas deveriam concentrar-se noutras
actividades que lhes eram destinadas como pintar, bordar, ou quando muito praticar
ballet), actualmente elas estão presentes em praticamente todos os desportos e também
ambicionam o sucesso como desportistas. (Del Vechio, 1997)
De qualquer modo, para atingir esta característica nas raparigas uma marca deve
salientar as características poderosas, desportistas e de sucesso mas de uma forma
feminina, ou seja, com graciosidade.
Veja-se o exemplo do ténis, no qual as marcas decidiram apostar apenas quando
surgiram uma série de jogadoras no top do ranking mundial mas que mantinham toda a
sua feminilidade. Assim, enquanto que antes apenas era utilizada a jogadora Gabriela
Sabatini, agora são utilizadas pelas marcas jogadoras como Martina Hingins, Lindsay
Davenport, Mary Pierce, Monica Seles, etc.
116
2. Segmentação do Mercado das Crianças
2.6.3. Os Medos
As crianças enfrentam vários medos, os quais dependem da sua idade. Ao mesmo tempo
que começam a descobrir novos mundos fora do seu lar protector, e se apercebem do
seu fraco poder de controlo sobre o exterior, começam a ter receios (Del Vechio, 1997).
Enquanto a criança é pequena (até aos 5 anos), as suas preocupações centram-se no seu
mundo próximo e sobretudo nas figuras paternais. Durante a escola primária, quando se
insere pela primeira vez em grupos de outras crianças, as suas preocupações são já de
tipo social ou de integração, e pessoal ou de ameaça à sua integridade física
(decorrentes de um maior conhecimento sobre o mundo e os seus problemas).
No Quadro 2.12. Del Vechio (1997) resume os principais medos/receios por escalão
etário da criança:
Para que uma marca utilize os medos das crianças a seu favor, terá que os não explorar,
mas sim ajudar a criança a resolvê-los. Para isso ou a marca providencia a criança com
117
2. Segmentação do Mercado das Crianças
118
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Dado o diminuto controlo que as crianças têm sobre as suas vidas, visto estarem
condicionadas e receberem “ordens”/instruções dos adultos (pais, professores, etc),
sentem-se inferiorizadas neste mundo. Por este motivo adoram qualquer possibilidade
de ter controlo que lhes seja oferecida. Ter alternativas ou poder tomar decisões, são
situações adoradas pelos miúdos, e que os divertem, visto conferirem-lhes a sensação de
poder. (Del Vechio, 1997; Mathews, 1995)
Esta necessidade explica também a atracção e fascínio que a internet exerce sobre elas,
dado o seu carácter interactivo, a possibilidade de navegar por onde quiserem,
seleccionar as páginas que pretendem visitar, e ainda pela multiplicidade de
experiências sensoriais que lhes são proporcionadas (http://www.small-talk.com/feature7.html
em 26/2/2000).
Controlo sobre as pessoas: De todas as pessoas com que as crianças interagem, aquelas
que mais adoram controlar são os seus pais, sobre os quais gostam de exercer influência
(ex: poder escolher o restaurante onde vão jantar, ou pedir para parar no McDonald’s e
os pais aceitarem) ou derrotá-los (ex: são muito apreciadas pelas crianças as cenas dos
Simpsons onde o Bart desempenha uma tarefa melhor do que o seu pai).
119
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Controlo sobre as escolhas: Todas as crianças gostam de poder escolher as coisas, de ter
algo único que reflicta totalmente as suas preferências. Um caso de sucesso neste campo
foi um software lançado pela Mattel com o qual as raparigas podiam desenhar, colorir e
escolher as roupas da Barbie no seu computador e posteriormente imprimir.
Controlo sobre os objectos: Outra forma que as crianças adoram de exercer controlo é
sobre os objectos que a rodeiam, daí o sucesso dos carros telecomandados e das pistas
de automóveis.
120
2. Segmentação do Mercado das Crianças
2.6.5. Fantasia
Todas as pessoas têm fantasias, sonhos em que imaginam serem outras pessoas,
viverem situações que gostavam, etc. No caso das crianças, já vimos que,
principalmente entre os 3 e os 7 anos de idade a criança tem tendência a viver no mundo
da fantasia, jogando ao “faz de conta” inúmeras vezes.
De acordo com Del Vechio (1997) as crianças gostam de fantasiar muito mais do que os
adultos porque têm um menor controlo sobre aquilo que fazem, ou seja, como não
podem controlar as pessoas, as coisas que os rodeiam, o seu único recurso é fantasiar
que o conseguem. No fundo para elas no mundo da fantasia tudo é possível, e por isso é
frequente vermos as crianças a sonharem acordadas, alheadas do mundo real que as
rodeia (a escola, os trabalhos de casa, o seu quarto) e a viverem as suas fantasias.
Também segundo o autor, o sonho da criança revela aquilo que lhe vai no coração e na
alma já que representa aquilo que a criança mais deseja atingir: controlo, realização,
orgulho, reconhecimento, amor e aceitação. Neste sentido, uma análise dos principais
desejos das crianças entre os 8 e os 12 anos (Quadro 2.13) reflectirá os sonhos mais
profundos dessas crianças.
121
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Alguns dos desejos das crianças são intemporais, enquanto que outros estão
relacionados com a realidade social vigente. Dos primeiros os mais comuns são ser rico,
ser grande e ser famoso, enquanto que dos segundos os mais típicos são os respeitantes
à família e ao mundo (desejos como sonhar que a família está toda reunida ou que o
mundo vive em paz, etc). (Del Vechio, 1997)
A partir do conhecimento dos desejos das crianças uma marca pode conseguir o
sucesso, atingindo o coração das crianças se conseguir, ou recriar essas fantasias
transportando as crianças para outro mundo, ou realizando as próprias fantasias e
desejos. Apresentam-se no Quadro 2.14. alguns exemplos de marcas/produtos que
conseguiram utilizar o conhecimento dos sonhos/aspirações das crianças.
Quadro 2.14.: Marcas que utilizaram os desejos das crianças para o sucesso dos seus
produtos
Desejo Marca/produto Estratégia
Ser Rico Disney Filme Cinderela no qual uma rapariga pobre e mal tratada
pela madrasta se transforma numa princesa.
Riquinho Personagem criado pela Harvey Famous Comics que
principiou por ser uma figura de BD e posteriormente se
transformou numa série de desenhos animados para TV e
num filme.
Monopólio Jogo que permite à criança possuir ruas, casas, hotéis e que se
torna diferente consoante a estratégia adoptada pela criança e
os seus parceiros no jogo.
Ser Grande5 Filme “Big” História em que um rapaz de 12 anos se transforma num
adulto.
Jogos de Permitem que as raparigas se sintam mais velhas.
cosmética
Ser famoso McDonald’s Lançou uma campanha sobre o tema “Se as crianças
governassem o mundo” onde aparecia um rapaz que dizia que
pertenceria à NBA.
Heinz Ketchup Introduziu um concurso “Heinz Ketchup Creative Design
Awards” no qual as crianças tinham que criar uma etiqueta
para os frascos e o vencedor veria a sua criação tornar-se
realidade pois era feita uma edição limitada de frascos com
essa etiqueta.
Fonte: Adaptado de Del Vechio, 1997, p. 84-89
5
Um dos exemplos que ilustra bem o desejo das crianças de serem mais velhas é o sucesso nas crianças
do Reino Unido das séries australianas as quais são exibidas entre as 5.30 e as 6.30 da tarde. Assim, as
hotlines da Sega e da Nintendo (existem para resolver problemas com os jogos), as quais estão sempre
muito ocupadas entre as 12 e as 8 da tarde, não têm quase tráfego nenhum entre as 17.30 e as 18.30, altura
em que passam essas séries como a Home and Away ou Neighbours (Mathews, 1995).
122
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Para que uma marca consiga entrar no mundo da fantasia das crianças, segundo o autor
deve existir sempre um aspecto essencial que é a transformação, ou seja, a realização da
fantasia e a sua credibilização dependem da forma como essa transformação é
apresentada à criança e do facto de a criança acreditar ou não nela (ex: uma máquina
que confere superpoderes ou uma pedra que dá inteligência, etc).
123
2. Segmentação do Mercado das Crianças
As crianças estão mais predispostas para experiências sensoriais do que os adultos, pelo
que mais facilmente se encantarão com experiências que as consigam surpreender
estimulando os seus sentidos. Esta maior predisposição das crianças decorre da falta de
atenção que caracteriza a generalidade dos adultos: habituados que estão aos seus rituais
quotidianos e dada a multiplicidade de experiências que já viveram, quando comparados
com uma criança, estarão menos receptivos para percepcionar estímulos sensoriais. (Del
Vechio, 1997)
VISÃO • Jogos de vídeo: tentam atingir um nível cada vez mais sofisticado de qualidade
gráfica de modo a conferirem maior realismo ou surrealismo aos jogos;
• Sapatilhas L.A. Lights que introduziram luzes que brilhavam nas solas das
sapatilhas;
OLFACTO • Boneca introduzida em 1980 (Strawberry Shortcake Doll) com cheiro a morango a
qual foi um sucesso nos EUA
TACTO • Gelatina Jell-O Jigglers a qual é mais concentrada, podendo ser cortada em diversas
formas e colocada nas mãos, antes de ser comida. Os moldes oferecidos variam
bastante consoante os temas: Natal, Parque Jurássico, Letras do alfabeto, etc;
SABOR • Gelados Baskin-Robbins com os seus múltiplos sabores desde o simples chocolate
até a um evocando o agente James Bond (0031-Secret Bonded Flavor).
Fonte: Adaptado de Del Vechio, 1997, p. 96-103
124
2. Segmentação do Mercado das Crianças
125
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Para que uma marca consiga atingir as crianças é necessário que entenda a importância
dos grupos de referência, que os identifique e que os utilize de forma a conseguir
accionar os mecanismos aspiracionais da criança. No fundo é uma técnica similar à da
utilização de líderes de opinião nos adultos (embora eles também sejam utilizados com
crianças).
Como nos diz Del Vechio (1997, p. 117), “os amigos são o ponto de referência mais
próximo da criança” e são estas amizades que dão conforto e conferem identidade à
criança.
As relações de amizade são ao mesmo tempo muito fortes e muito ténues na medida em
que, enquanto existem, a sua pressão é considerável, ainda que possam variar bastante
(à medida que a criança vai ficando mais velha, as suas relações de amizade ficam mais
estáveis, não mudando de melhor amigo todos os meses). (Del Vechio, 1997)
126
2. Segmentação do Mercado das Crianças
os adultos (Del Vechio, 1997). São constantes as exigências feitas aos pais, baseadas em
comparações com os amigos, do género:
A forma como os pais reagem e lidam com estas pequenas exigências é determinante no
seu relacionamento com os filhos, sendo muito comum a resposta “Se o/a _____ se
atirasse da ponte, tu também te atiravas?”, sendo um “cliché” em termos de reacção dos
pais. (Del Vechio, 1997)
Os amigos, para além de serem o ponto de referência mais próximo são também os
maiores concorrentes da criança, estando constantemente em competição seja pelas
notas, por ter o melhor brinquedo, por ser o mais rápido, o mais forte, pelos
namorados/as, etc. (Del Vechio, 1997)
As referências de uma criança não se esgotam nos amigos mais próximos atingindo uma
multiplicidade de figuras. Basicamente será referência para a criança algo ou alguém
que possua um determinado atributo que a criança deseja possuir e que, por esse
motivo, é considerado “cool” pela criança, tentando esta, através da adopção da sua
forma de vestir, dos seus comportamentos, etc, também ser “cool”. (Del Vechio, 1997)
Referências de idade: Um desejo normal das crianças é serem mais velhas do que aquilo
que são, já que associam uma maior idade com uma maior independência. Assim,
127
2. Segmentação do Mercado das Crianças
aquilo que o grupo mais velho (não muito mais velho mas 1 a 2 anos) ditar como “cool”
influenciará a criança mais nova.
Estas crianças para além de serem referências para as outras crianças são também muito
vigiadas por elas já que todas as crianças pretendem ser populares (exemplo: uma
criança que encontra o mais destemido da escola a chorar terá grandes probabilidades de
também se tornar popular).
Ser “cool”, estar na moda, ou ser ambicionado pelas crianças é algo muito ténue,
intangível e muito variável, dependendo da idade da criança, do grupo em questão e
variando de ano para ano ou de estação para estação.
Não é possível existir uma noção de “cool” para todas as crianças já que muitas vezes
ser “cool” é ser diferente dos outros (as crianças mais velhas nunca utilizariam algo que
as crianças mais novas gostassem muito) (Del Vechio, 1997), ou como descreve Carol
Hill, account da agência Leo Burnett no artigo de Sellers (1989, p. 92), “Cool significa
ter confiança, ser respeitado e saber sempre dizer a coisa certa”.
128
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Ser “cool” é ter algo que a criança gosta ou deseja, tem uma forte vertente aspiracional e
deve ser dificilmente alcançável, ou seja, exclusivo. (Del Vechio, 1997)
Para que uma marca consiga ser “cool”, aos olhos das crianças, ela deve possuir
atributos superiores que satisfaçam necessidades emocionais (supra-produto) e
conseguir reinventar-se constantemente de modo a estar sempre nova, fresca, na última
moda, “cool”. (Del Vechio, 1997)
129
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Segundo Del Vechio (1997), enquanto que o consumo de televisão por um adulto era
em 1960 de 65 minutos/semana, em meados da década de 90 era já de 330 minutos. Ou
seja, a probabilidade de a criança ouvir ou assistir a um programa dos seu pais é muito
maior actualmente. Adicionalmente nos trajectos para a escola as crianças também
ouvem as emissões de rádio, as quais transmitem frequentemente notícias6.
Dado que as crianças apenas ouvem fragmentos de notícias e não possuem ainda uma
estrutura cognitiva que as permita descodificar e enquadrar aquilo que ouvem, podem
criar receios e medos face a esses acontecimentos.
• 39% das crianças lêem livros de BD, sendo mais populares nas famílias de
rendimentos baixos e nas grandes cidades;
130
2. Segmentação do Mercado das Crianças
• 57% das crianças lêem revistas frequentemente, sendo mais populares nas famílias
de rendimento mais elevado;
• 20% das crianças lêem jornais diários, sendo que destas 74% têm menos de 10 anos.
Para que uma marca, nos dias de hoje, se dirija ao público mais jovem, ela deve
entender primeiro que as crianças estão informadas e conhecem os factos do mundo
pelo que a marca pode tirar partido deste conhecimento adaptando-se às contingências
actuais, seja introduzindo produtos que incorporem estas mudanças de forma não nociva
para a criança, seja reduzindo os seus medos e receios. Isto porque com tantas notícias
sobre poluição, crimes, guerra e conflitos étnicos, é natural que as crianças vivam muito
mais assustadas do que há uns anos atrás.
São aliás os próprios pais que sensibilizam as crianças para estes problemas na medida
das recomendações que lhes fazem quando eles vão sozinhos para algum lado (mesmo
que seja apenas sair do carro e ir para a escola). Deste modo, e como nos diz Del
Vechio “Não é surpreendente que o Zandl Report de 1995 tenha descoberto que o local
preferido das crianças para estar seja a sua casa. Esta não era apenas a primeira escolha
entre os 8 e os 12 anos mas também se aplicava aos teenagers. Parece que as crianças
querem ser crianças mais do que nunca. Se o mundo não parece muito convidativo,
então eles preferem ficar em casa.” (Del Vechio, 1997, p.135)
6
Verificou-se também que as crianças sozinhas também ouvem rádio, principalmente música conhecendo
perfeitamente as estações, os artistas e sabendo de cor as músicas. As maiores audiências são
principalmente de manhã e após as aulas (Burke, 1991).
131
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Quadro 2.16.: Marcas que utilizaram o conhecimento dos factos do mundo pelas
crianças
Tema Exemplo
AMBIENTE/ A Olá tem levado a cabo todos os anos a acção “Praias Limpas” na
/POLUIÇÃO
qual visita praias durante o Verão e fornece sacos às crianças para
estas apanharem o lixo da praia, oferecendo brindes na troca de sacos
cheios de lixo.
CRIME A Mattel criou um brinquedo, o “My Watch Dog” o qual ladrava
sempre que alguém entrava no quarto da criança (Del Vechio, 1997,
p.132)
GUERRA Em 1990 a Mattel organizou uma conferência em Nova Iorque com
raparigas de todo o mundo, na qual elas decidiram qual a causa
mundial que deveria ter o apoio da Mattel. Esse apoio
consubstanciou-se num donativo por cada boneca vendida durante
um mês. (Del Vechio, 1997, p. 134)
CONFLITOS Cada vez mais as marcas introduzem nos seus produtos e
ÉTNICOS
comunicação uma multiplicidade de origens como é o caso da
Benneton, as bonecas Barriguitas (de todas as raças), e os filmes da
Disney como o Pocahontas ou o Aladino (Del Vechio, 1997, p.134).
Fonte: adaptado de Del Vechio, 1997, p. 132-134 e casos conhecidos em Portugal
132
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Segundo Del Vechio (1997) estas alterações na estrutura familiar originaram que:
Enquanto que há uns anos atrás ser mãe/pai era uma tarefa normal que se aprendia
com a experiência e com os mais velhos, actualmente os futuros pais/mães
documentam-se e tentam-se preparar o melhor possível para a sua função,
assumindo-a de forma o mais responsável possível. Isto é também consequência do
aumento da idade da paternidade na medida em que os pais mais velhos estão mais
responsáveis e querem estar o mais preparados possível para terem a criança.
133
2. Segmentação do Mercado das Crianças
• Os avós têm cada vez mais um papel muito importante: Nesta sociedade em
mudança, a par de uma maior complexidade na vida dos adultos, não lhes
permitindo ter disponibilidade para estarem com os seus filhos durante o dia, surge
uma nova geração de avós com disponibilidade e com vontade de apoiarem os seus
filhos, assumindo a responsabilidade dos netos, seja para tomar conta deles durante
o dia, ou apenas levá-los à escola, dar o almoço, etc.
Apesar de todas estas alterações na estrutura familiar, o autor salienta que há aspectos
que se mantêm. Assim, os pais continuam a ser as pessoas mais importantes para as
crianças, as relações entre irmãos continuam a ser das mais fortes e com maior
longevidade, e os animais domésticos continuam a ser os grandes companheiros das
crianças em casa.
Um marca pode então aproveitar este conhecimento da estrutura familiar vigente para
atingir o coração da criança já que com ela emergiram novas necessidades ou foram
reforçadas necessidades que já existiam.
Podemos ver, por exemplo, nas séries e filmes actuais como as famílias são retratadas
contemporaneamente, ou seja, com um misto de famílias completas e “novas” famílias
(caso de telenovelas retratando os tempos actuais, séries como “Saved by the Bell”,
“Beverly Hills” ou ainda “Marés Vivas”).
134
2. Segmentação do Mercado das Crianças
2.6.10. A Educação
Para trabalhar nesta vertente da vida da criança, o autor propõe uma de duas
abordagens: ou introduzir produtos/marcas que apoiem a educação propriamente dita,
ou satisfazer necessidades decorrentes do dia a dia escolar da criança.
Também nesta área tem-se destacado a Porto Editora com diversos lançamentos de
softwares educativos, desde o dicionário até à enciclopédia (a Diciopédia), a qual é
anualmente actualizada. Recentemente, numa parceria com a Telecel, lançaram um site
para crianças, o clickin (http://www.clickin.pt/), o qual é já uma referência em termos
de sites educativos. Um outro exemplo é o do programa Encarta da Microsoft, o qual é
utilizado pelas crianças nas suas pesquisas para trabalhos de casa.
Um outro caso de sucesso a nível internacional nesta área educativa é o programa “Rua
Sésamo” (Del Vechio, 1997, p.152) o qual existe há muitos anos em diversos países e
que apoia as crianças de várias idades na sua aprendizagem. Segundo Del Vechio
(1997) este programa já educou mais de 120 milhões de crianças em 130 países, ao
longo de vários anos, tornando-o num exemplo de longevidade dentro do marketing
para crianças.
135
2. Segmentação do Mercado das Crianças
A educação é uma parte tão central da vida de uma criança que grande parte dos filmes
e séries recriam este ritual, como é o caso das já referidas séries “Beverly Hills” e
“Saved by the Bell”.
Esta recriação é feita tendo em conta as diversas facetas do dia escolar, bem como
introduzindo as personagens típicas de cada escola (Del Vechio, 1997), ou vivendo
situações fantasiadas pelas crianças, como foi o caso do filme “Ferris Bueller’s Day
Off” (Del Vechio, 1997, p. 157) no qual um adolescente consegue enganar tudo e todos
de modo a não ter que ir às aulas nesse dia e poder fazer o que lhe apetecia.
A incursão do marketing na vida escolar das crianças tem tido resultados positivos,
segundo Del Vechio (1997) a atestar pelo aumento do nível médio do QI nos EUA de
136
2. Segmentação do Mercado das Crianças
137
2. Segmentação do Mercado das Crianças
2.6.11. As Brincadeiras
As crianças passam também uma grande parte do seu tempo a brincar. Para elas é o
momento mais desejado, é a única altura em que não têm obrigações e podem dar asas à
sua imaginação.
Num estudo realizado com crianças entre os 8 e os 12 anos foi-lhes pedido que
descrevessem o que era para eles passar uns momentos agradáveis, ou seja, quais as
brincadeiras/actividades que mais gostavam de fazer, tendo-se obtido os resultados da
Quadro 2.18..
138
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Como se pode verificar da análise dos dados, as diferenças entre os dois sexos são
grandes estando os rapazes mais focados em actividades desportivas e as raparigas em
actividades sociais como estar com as amigas.
Alguns temas, por outro lado, atraem ambos os sexos como é o caso dos parques
temáticos, viajar e festas. O resultado mais surpreendente, segundo Del Vechio (1997)
foi a ausência de referências à televisão o que pode sugerir que não passa de um mero
entretenimento/passatempo na ausência de actividades mais atractivas, sendo que está a
perder terreno para os computadores e os jogos de vídeo.
139
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Vemos então que em muitas categorias as marcas preferidas por ambos os sexos
coincidem (caso das bebidas desportivas, sapatos, jeans, férias, restaurantes, e jogos),
sendo apenas totalmente diferentes no caso dos jogos de vídeo/computador, na Música e
nas Revistas, já que nas outras categorias aparecem referências idênticas e outras
distintas.
140
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Por exemplo, no caso dos actores preferidos, rapazes e raparigas sentem-se atraídos pelo
mesmo actor Jim Carrey dado que o humor que ele representa é algo que toca as
crianças dos dois sexos (como também se pode ver pela coincidência nas preferências
para o filme A Máscara). As restantes preferências, no caso dos rapazes vão para os
actores de filmes de acção, o que está de acordo com as suas aspirações de serem fortes
e a atracção pelo desporto, enquanto que as raparigas preferem outro tipo de actores
como o Brad Pitt.
141
2. Segmentação do Mercado das Crianças
As crianças vivem num mundo muito próprio, rodeadas de pessoas e objectos com
significados próprios (os quais são atribuídos por elas) e vivem experiências, muitas
vezes são as primeiras experiências de algo, as quais tocam o mais íntimo e pessoal da
criança. Por vezes estas experiências são tão marcantes que perduram por toda a vida e
são recordadas de quando em quando com nostalgia e com sentimentos muito fortes
(bons ou maus dependendo do tipo de experiência vivida).
Os exemplos são vários, do cheiro a café com leite que a professora de inglês trazia
todas as manhãs à festa de aniversário em que a mãe organizou uma caça ao tesouro, ou
a prova de natação em que se ficou num último lugar (e por isso nunca mais se gostou
de natação).
Existem símbolos, locais, objectos que para os adultos são banais, ou pelo menos não
são vistos como especiais, e que para as crianças têm uma simbologia poderosa, algo de
místico que os envolve e que faz deles especiais, únicos.
Símbolos Especiais
Desejos: São para a criança algo de muito especial, na medida em que representam
aquilo que de mais profundo e entranhado no seu coração ela pretende atingir. Por outro
lado, após a formulação de um desejo existe também uma ansiedade e uma expectativa
para ver se o desejo se realiza.
Isto também acontece com os adultos para quem os desejos são muito importantes,
como podemos ver por exemplo nos rituais de Ano Novo (um desejo por cada uva
passa), ou o sucesso das pulseiras brasileiras do Sr. Da Bahia.
142
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Beijos e abraços: Estes símbolos são para a criança sinónimo de carinho, conforto e
pertença. Um simples abraço pode ser muito reconfortante para uma criança. Por
exemplo, um abraço da mãe apaga o medo que se sentiu no pesadelo, ou o abraço do pai
após ter marcado um golo é a melhor recompensa que uma criança pode ter.
Lágrimas: São, segundo Del Vechio (1997, p. 172) “a manifestação física do coração e
da mente humana”. Quando uma criança chora ela revela aos outros o que sente, daí que
tendam a ser controladas à medida que a criança cresce e tenta esconder os seus
sentimentos mais profundos.
Segredos: São especiais para a criança porque lhe dão a sensação de poder e controlo
por saber algo que as outras pessoas não sabem. Os segredos são excitantes para a
criança, principalmente quando chega a altura de os revelar, um momento de
popularidade para a criança que os sabia antecipadamente.
São também importantes os objectos/hábitos rodeados de secretismo, como por exemplo
os Diários Secretos (Mathews, 1995).
Sítios Especiais
O Quarto: é o sítio mais importante para a criança, o seu “santuário” como lhe chama
Del Vechio (1997, p. 173) e Mathews (1995). Para a criança o seu quarto é o local onde
ela se sente mais confortável, em segurança, e onde pode dar largas à sua imaginação
fazendo dele o que lhe apetecer.
Sótãos e Caves: São sítios que a criança aprende a evitar porque os seus pais lho dizem
para fazer, utilizando simbologias como monstros, fantasmas, etc. São sítios escuros nos
143
2. Segmentação do Mercado das Crianças
quais as crianças acreditam existirem as mais estranhas criaturas e que qualquer criança
deseja um dia conquistar, desafiando os monstros. No entanto, até esse dia ela tem medo
e receio destes locais.
Casas nas árvores ou fortes: Este tipo de sítios são especiais para a criança na medida
em que esta pode fazer o que lhe apetece, e só os conhece quem a criança quiser.
Nos tempos actuais, não sendo fácil a uma criança ter uma casa na árvore temos as
cabanas as quais podem ser feitas de qualquer material, desde um lençol a um monte de
madeira, sendo muitas vezes utilizadas para reuniões de “clubes privados”.
Um exemplo de utilização deste local especial é o Clube do Bolinha da banda
desenhada Luluzinha, o qual tem uma placa à entrada “Menina não entra”, ou seja,
simbolizando o carácter restrito destes locais e a forma como as crianças estão dispostas
a defendê-los dos “invasores”.
Disneylândia: É um sítio onde todas as crianças gostariam de ir e que para elas tem o
significado de um local de magia e fantasia onde estão os seus heróis favoritos.
Parques de Diversões: São sítios especiais com imensos desafios para superar, seja o
carrocel que parece andar muito rápido, ou o martelo para testar a força, ou ainda a
barraca onde a criança pode ganhar um boneco de peluche.
Jardim Zoológico: É um local especial para as crianças já que lhes revela espécies e
realidades de animais de todos os cantos do mundo, ou seja, deixam-na curiosa sobre o
que existirá para além do mundo que a rodeia.
Centros Comerciais: Para uma criança um centro comercial não é apenas um local onde
se podem comprar coisas, mas sim um sítio onde ela pode viver aventuras, passar por
toda uma série de emoções, desde a loja dos brinquedos onde ela pode ver e tocar em
144
2. Segmentação do Mercado das Crianças
todos os brinquedos, até à loja de roupa onde se pode sentir bonita e imaginar-se a ir
para a escola com qualquer uma das roupas, até à loja de desporto onde se imaginam a
ser campeões de uma qualquer modalidade.
Lojas de brinquedos, doces e gelados: São as lojas que contêm os produtos mais
desejados e mais adquiridos pelas crianças de modo que representam para elas dois
tipos de emoções – em primeiro lugar a ansiedade e antecipação do momento da visita à
loja e, em segundo lugar, a satisfação ou frustração por terem ou não conseguido
adquirir um produto nessa loja.
Acontecimentos especiais
Natal: É uma data muito especial para as crianças sendo a mais importante do seu
calendário. Para elas significa festa, presentes, doces, histórias, de modo que é
aguardada com muita expectativa e é-lhe atribuída uma grande importância.
Aniversário: Para além da alegria da criança por receber presentes, significa que a
criança está mais velha o que é muito importante para ela e, como já vimos, é um dos
desejos de toda e qualquer criança.
Carnaval: Nesta altura a criança pode dar largas à sua imaginação e encarnar qualquer
figura ou personagem, seja o seu herói favorito (o Super Homem, o Zorro, ou o Homem
Aranha) ou um personagem dos livros e filmes (Branca de Neve, um Anjo, o Drácula,
etc).
O primeiro dia de qualquer actividade é também muito especial para a criança, seja o
primeiro dia na escola, o primeiro dia de férias. São também muito importantes as
primeiras experiências como a primeira viagem de autocarro sozinha, o primeiro beijo,
a primeira noite que acampa, etc.
145
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Coisas especiais
Festas e presentes: São algo que qualquer criança gosta; as festas porque são sinónimo
de diversão e maior liberdade (por exemplo poder ir para a cama mais tarde); e os
presentes porque as crianças adoram receber coisas (assim como os adultos)
principalmente se forem únicas (o brinquedo que ainda ninguém tem, por exemplo).
(Mathews, 1995)
Relatórios de avaliação: São aguardados pela criança com expectativa, podendo estar
associados a orgulho ou frustração, consoante os resultados obtidos.
Temas especiais
Existem temas que são muito especiais para as crianças pela simbologia e misticismo a
eles associada, sejam histórias de animais (daí o sucesso dos programas Vida Selvagem
da BBC), episódios históricos (como os Vikings, o Rei Artur, Índios e Cowboys) e o
desconhecido (extraterrestres, monstros, a natureza, o corpo humano, etc).
146
2. Segmentação do Mercado das Crianças
Uma marca/produto que aborde um ou mais destes objectos, locais, temas, etc, que são
tão especiais para as crianças, estabelecerá mais facilmente uma relação emocional com
as crianças, ou seja, a marca conseguirá atingir o coração da criança sendo isso, regra
geral, sinónimo de lucratividade da mesma, como se pode comprovar pelo sucesso das
marcas consideradas “Ever-Cool” como a Barbie, Disney, Nike, McDonald’s, etc.
147
Capítulo 3.
Ética e Legislação
3. Ética e Legislação
Num trabalho sobre Marketing para Crianças é imprescindível falarmos das questões
relativamente à ética, ou seja, o que é que será eticamente correcto desenvolver dentro
do marketing para crianças, bem como sobre a legislação existente, i.e., que
mecanismos legais existem para proteger a criança de comportamentos menos éticos
que algumas empresas/pessoas possam adoptar no marketing para crianças.
Por todos estes motivos, é essencial que haja o maior profissionalismo por parte
daqueles que trabalham com este mercado (Hawkins, Best e Coney, 1998), ou seja, por
um lado, e como nos diz Acuff e Reiher (1997, p. 17), o marketing deve-se interessar
apenas por desenvolver produtos bons para crianças, produtos que lhes confiram
poderes e que ajudem o seu desenvolvimento, devendo-se evitar qualquer produto com
potencial para causar um impacto negativo tal como “conceitos excessivamente
violentos, conceitos sexistas, conceitos estereotipados, que prejudiquem alguma cultura
149
3. Ética e Legislação
Veja-se por exemplo o caso da Lego a qual nos anos 90 lançou um produto para
crianças pequenas, o qual se descobriu ter uma peça que saía facilmente e que as
crianças poderiam engolir e ficar sufocadas. Mal se apercebeu desse erro, a Lego lançou
uma massiva campanha de modo a recolher todos os brinquedos que tinham sido
vendidos. Desta acção apenas 10% dos brinquedos foram devolvidos, mas a reputação
da Lego não foi manchada nem tão pouco foi abalada a confiança que os pais
depositavam na segurança dos produtos Lego.
150
3. Ética e Legislação
Como iremos ver ao longo de todo o capítulo, os temas sobre os quais mais se discute a
ética no marketing para crianças são o álcool, o tabaco, a internet, a violência, o “fast
food” e o materialismo.
151
3. Ética e Legislação
Por último iremos ver os efeitos da publicidade na criança, ou seja, analisaremos por um
lado o efeito potenciador do desejo na criança, bem como o potencial de frustração da
criança.
152
3. Ética e Legislação
153
3. Ética e Legislação
Num outro estudo (Ward et al., 1977), à pergunta se os anúncios publicitários diziam
sempre a verdade responderam afirmativamente 50% das crianças de 5 anos, 12% com
8 anos e 3% com 11 anos. O estudo também revelou que das crianças que responderam
pela negativa à mesma pergunta, apenas as crianças a partir dos 8 anos indicavam
motivos específicos e precisos relacionados com a função persuasiva (Kapferer, 1992).
154
3. Ética e Legislação
No entanto, e tal como conclui Kapferer (1992), à medida que aumenta a idade da
criança, vão sendo diferentes as suas atitudes face à publicidade havendo crianças com
atitudes mais negativas que outras (isto apesar de ambas terem já percepção das
1
O mesmo foi verificado num outro estudo realizado com crianças entre os 8 e os 12 anos (Derbaix,
Blondeau e Pecheaux, 1999).
155
3. Ética e Legislação
Não sendo o maior desenvolvimento cognitivo da criança uma defesa contra o efeito
criador do desejo, será ela potenciadora da frustração da criança (nomeadamente
através das recusas de compra por parte dos pais e sentimentos de exclusão).
Como já vimos no capítulo 1. no estudo de Isler et al. (1987), apenas 5% das recusas
dos pais dão azo à fúria (1%) e à insistência (4%). Kapferer (1992) faz notar também
que a frustração da criança estará não propriamente relacionada com a recusa em si mas
com outros factores nomeadamente a classe social, o nível de explicação dado pelos
pais para a recusa, e o próprio ambiente em casa, ou seja, o nível geral de conflito
existente no lar.
2
Ainda sobre os efeitos da repetição da exposição da criança à publicidade sobre as opiniões e
preferências veja-se, por exemplo, o artigo de Mizerski (1995, p. 59-60).
156
3. Ética e Legislação
Quanto mais apetecível é um mercado, maior a atenção dos marketeers sobre ele.
Neste capítulo vamos analisar algumas das estratégias que são usualmente utilizadas e
de que forma é que elas são influenciadoras do comportamento das crianças.
Nos E.U.A. cerca de 4/5 dos pais acredita que o marketing pressiona os seus filhos para
que adquiram produtos maus; 2/3 dos pais dizem que os seus filhos definem a sua
identidade e auto-estima em termos dos bens que possuem; e 87% dos pais afirma que a
publicidade torna as crianças materialistas (C.N.A.D., 1999).
Não é objecto deste capítulo tecer juízos de valor sobre as diversas técnicas utilizadas
mas sim apresentar os principais argumentos pró e contra a utilização dessas mesmas
técnicas.
157
3. Ética e Legislação
Estima-se que nos E.U.A. os materiais educativos fornecidos por empresas atinjam os
20 milhões de estudantes, enquanto que as amostras de produtos e cupões distribuídos
nas escolas cheguem a mais de 2 milhões de estudantes (Consumers Union). Sendo
diversos os exemplos deste género como iremos ver ao longo deste capítulo, dois deles
têm gerado grande controvérsia (Consumers Union) e (C.N.A.D., 1998):
• Channel One: Promoção realizada pela Channel One Network na qual as escolas
recebem cassetes com material educativo e equipamento grátis (TV e Vídeo), tendo
em contrapartida que garantir que as crianças na escola assistem todos os dias a um
programa de doze minutos no qual estão incluídos dois minutos de publicidade. Os
pais das crianças têm a opção de retirar os seus filhos deste programa, ou seja, não
serem obrigados a assistir às emissões diárias. Introduzido pela Whittle
Communications em 1989 já gerou 200 milhões de dólares de publicidade e é visto
diariamente por cerca de 6 milhões de estudantes.
• Zap Me!: Uma promoção da Zap Me! Corporation, pelo qual as escolas recebem 15
computadores pessoais, mobiliário, acesso à internet e uma série de programas
informáticos, tudo gratuito. Em contrapartida a Zap Me! Pode colocar anúncios na
rede utilizada pela escola e monitorizar os hábitos de navegação das crianças na net,
obtendo segmentações por idade, sexo e códigos postais.
158
3. Ética e Legislação
Existem agências dedicadas à comunicação nas escolas. Já foi referido o caso da Sair da
Casca em Portugal, e nos E.U.A. temos as seguintes agências (Consumers Union):
159
3. Ética e Legislação
160
3. Ética e Legislação
Deste modo, para atingir um determinado “target” a marca utiliza um ídolo desse
“target” como veículo de comunicação. Por exemplo, a utilização da cantora Paula
Abdul pela Reebook permitiu posicionar a marca muito bem junto das raparigas
adolescentes porque a cantora era para elas um ídolo, como nos diz John Mahoney da
WeinStock Marketing (Consumers Union).
161
3. Ética e Legislação
Para além de utilizarem celebridades, as marcas também colocam esta publicidade onde
as crianças estão e não onde seria esperado ver esta publicidade. Por este motivo é
superior a pressão publicitária que as marcas de desporto colocam na MTV e em canais
de desenhos animados por comparação com canais desportivos (Consumers Union).
162
3. Ética e Legislação
Diversas marcas lançaram clubes para crianças como uma forma de as fidelizar à marca.
Como também já vimos, as crianças, principalmente a partir dos 8 anos de idade
necessitam de se sentir aceites, pelo que o facto de pertencerem a um clube satisfaz essa
necessidade de pertença e aceitação (ver capítulo 2.5. sobre desenvolvimento
psicológico). Adicionalmente também já vimos que as crianças adoram receber
correspondência (ver capítulo 2.6.), veículo de comunicação normalmente utilizado por
estes clubes.
Para as marcas organizadoras destes clubes, para além de constituírem bases de dados
poderosas, as quais podem utilizar e vender a outras empresas, têm ainda uma forma
prática e eficaz de promoverem os seus produtos e de potenciarem as suas vendas
através de promoções, brindes, etc.
Em Portugal algumas empresas também lançaram clubes para crianças como é o caso
do Clube Rik & Rok do Jumbo, o Clube do Gil, Clube Sega e Clube do Quicky.
163
3. Ética e Legislação
Devido à cada vez maior saturação do espaço publicitário em TV, a qual reduz o efeito
da publicidade, as empresas procuram outras formas mais subtis de introduzir a
publicidade ao seu produto/marca.
De modo a obviar este problema muitas marcas optaram por entrar na própria
programação, ou seja, introduzir os seus produtos em filmes/séries de modo a que eles
sejam expostos ao público no momento em que este presta maior atenção, o que
produzirá bons níveis de recordação, para além de permitir a criação de uma ligação
emocional entre o produto/marca e o espectador via as emoções despertadas pela
série/filme. À medida que se foi generalizando a utilização desta técnica os valores
envolvidos foram aumentando consideravelmente.
No caso dos filmes, nos E.U.A., os pagamentos feitos pelas marcas às produtoras
oscilam entre os $10.000 dólares e um milhão de dólares. No caso do filme “Mr.
Destiny” a Disney cobrava por marca entre 20 a 60 mil dólares consoante o produto
fosse utilizado pela personagem principal ou não (Consumers Union).
Em Portugal, a título de exemplo, para um produto aparecer numa série em prime time
(por exemplo no Médico de Família da SIC) os valores cobrados por episódio rondam
os 550 contos, equivalendo regra geral a dois planos do produto com a duração de dois a
três segundos cada plano.
164
3. Ética e Legislação
165
3. Ética e Legislação
Exemplificando algumas das estratégias utilizadas por estas indústrias vemos que:
• Nos E.U.A. os cigarros são colocados nas lojas ao nível dos olhos das crianças e
onde elas possam chegar com as mãos. Para compensar as lojas dos eventuais
roubos, as marcas de tabaco substituem gratuitamente os maços roubados
(http://www.tobaccofreezone.com/marketing.htm, em 26/2/2000);
• Junto da escolas muitos quiosques vendem tabaco avulso;
• Muitas marcas de tabaco fazem promoções em bares e discotecas onde oferecem
gratuitamente cigarros;
• Muitas marcas de bebidas realizam festas promocionais em bares e discotecas onde
oferecem merchandising, promoções tipo “pague 1 leve 2” e descontos nas bebidas.
166
3. Ética e Legislação
167
3. Ética e Legislação
No “cross-selling” pode também haver lugar a pagamentos entre as duas marcas mas há
uma coordenação de estratégias, enquanto que no licenciamento o único acordo consiste
na empresa que utiliza o personagem ter que respeitar as normas de utilização desse
mesmo personagem consoante o contrato de licenciamento.
168
3. Ética e Legislação
Outras vezes a utilização do personagem noutros materiais é feita pela própria empresa
que cria o personagem ou mascote, como é o caso das lojas Disney que vendem todo o
tipo de merchandising com as figuras dos filmes Disney, ou a linha Zuki que a Compal
pretende lançar após os sumos. Um outro exemplo foi a utilização feita do Gil, símbolo
da Expo 98, o qual apareceu em diversas peças de merchandising, e o Hugo,
personagem criado pela RTP e que tem também toda uma série de artigos de
merchandising.
169
3. Ética e Legislação
utilizar os heróis do momento tenta-se que a criança pretenda adquirir a cada momento
os produtos do herói da actualidade, havendo por parte das empresas uma obsolescência
planeada dos produtos a qual não é percebida pelas crianças (Consumers Union). Ou
seja, a criança, que há um ou dois anos pedia insistentemente a t-shirt do “Dragon Ball”
agora já não a quer para nada e pretende é algo do “Pokémon” ou de outro herói
qualquer.
Num estudo de Mizerski (1995) com crianças entre os 3 e os 6 anos verificou-se que o
reconhecimento da associação do personagem à marca que o utiliza é crescente com a
idade e que as avaliações positivas ou negativas do produto tendem a aumentar também
com a idade, ou seja, a exposição prolongada a um estímulo ao longo dos anos tende a
aumentar a sua notoriedade bem como a reforçar as percepções positivas ou negativas
do mesmo.
170
3. Ética e Legislação
À medida que aumenta a penetração da internet na população e que cada vez mais as
crianças utilizam este meio, a atenção dos marketeers vira-se também para a internet e
para as formas de atingir o seu “target” on-line, num mundo em explosão e ainda não
devidamente regulamentado.
Quadro 3.6.: Crianças e adolescentes na internet nos E.U.A. em 1998 e estimativas para
2002
Nº de crianças (milhões)
1998 2002 Δ
Crianças (5-12) 8,6 21,9 +155%
Adolescentes (13-18) 8,4 16,6 +97%
Fonte: adaptado de Pastore, 1999
Quadro 3.7.: Motivos para a utilização da internet pelas crianças e adolescentes nos
E.U.A. em 1998
Motivo % de crianças
Trabalhos de casa ou projectos da escola 73%
Jogar jogos 70%
Actualização de informação sobre desportos 30%
Saber mais sobre filmes 26%
Informação sobre programas TV 25%
Notícias e eventos actuais 22%
Fonte: http://www.morebusiness.com/running_your_business/marketing/d933888696.bre em 26/2/2000
171
3. Ética e Legislação
2. Interacção directa com personagens: nalguns sites são utilizados personagens que
estão presentes em todo o site e que interagem com a criança através de
brincadeiras ou jogos, sendo símbolos de marcas, ou seja, promovem o
envolvimento da criança com o personagem de modo a criar elevados níveis de
recordação e de estima pelo personagem e marca associada;
172
3. Ética e Legislação
173
3. Ética e Legislação
3.3. Legislação
174
3. Ética e Legislação
“Artigo 9º
Publicidade oculta ou dissimulada
175
3. Ética e Legislação
Relativamente aos menores é feita uma chamada de atenção especial no caso da saúde e
segurança do consumidor, através do nº 3 do artigo 13º o qual diz que “O disposto nos
números anteriores deve ser particularmente acautelado no caso da publicidade
especialmente dirigida a crianças, adolescentes, idosos ou deficientes.”
“Artigo 14º
Menores
176
3. Ética e Legislação
“Artigo 8º
Princípio da identificabilidade
1- A publicidade tem de ser inequivocamente identificada como tal, qualquer que seja o
meio de difusão utilizado.
2- A publicidade efectuada na rádio e na televisão deve ser claramente separada da
restante programação, através da introdução de um separador no início e no fim do
espaço publicitário.
177
3. Ética e Legislação
No caso de programas para crianças com duração inferior a 30 minutos estes não podem
ser interrompidos por publicidade como dispõe o nº 4 do artigo 25º sobre inserção de
publicidade na televisão.
Existem ainda outras restrições ao espaço ocupado pela publicidade tais como:
“Entre duas interrupções sucessivas do mesmo programa, para emissão de publicidade,
deve mediar um período igual ou superior a 20 minutos” (nº 6, artigo 25º)
“1- O tempo consagrado à publicidade não pode ultrapassar 15% do período diário de
transmissão, salvo no caso de incluir formas de publicidade referidas no número
seguinte, caso em que essa percentagem pode ir até 20%, desde que o volume das
mensagens publicitárias propriamente ditas não exceda 15%.
2- As ofertas directas ao público com vista à venda, compra ou aluguer de produtos, ou
à prestação de serviços, não podem exceder uma hora por dia.
3- O tempo de emissão consagrado às mensagens publicitárias em cada período de uma
hora não pode exceder 20%.” (nº 1, 2 e 3 do artigo 26º)
O entendimento do legislador sobre a gravidade de cada um dos actos pode ser visto
pela coima aplicada à violação das respectivas normas.
Assim, se atentarmos nas sanções aplicadas (artigo 34º) podemos ver que as violações
do artigo 14º sobre menores, 17º sobre álcool e 18º sobre tabaco têm as menores coimas
aplicadas, não podendo ultrapassar os mil contos.
As coimas de valor mais elevado, dos casos que referimos, apenas são aplicáveis no
caso das inserções de publicidade de álcool, tabaco ou materiais pornográficos em
estabelecimentos de ensino (artigo 20º) ou no caso de patrocínios (artigo 24º).
178
3. Ética e Legislação
“Artigo 6º
Direito à formação e à educação
179
3. Ética e Legislação
Por último, em termos de posição assumida pelas escolas, o Documento Orientador das
Políticas para o Ensino Básico de Março de 1998 do Ministério da Educação estabelece
os 3 princípios orientadores da acção das escolas, os quais são a Autonomia, a
Diversificação e a Abertura Institucional, traduzindo-se este último em “as escolas
devem poder aprofundar o seu relacionamento com outras instituições, abrir-se à
participação dos diferentes agentes sociais, culturais e económicos e promover formas
de mobilidade e parcerias educativas que contribuam para o reforço de dinâmicas de
inovação.” (Ministério da Educação, 1998, p.16)
Vemos então que a nossa lei, incorporando já a legislação comunitária, trata dos
problemas como álcool, tabaco e violência banindo-os da publicidade para crianças (no
caso do álcool através das restrições horárias), mas ainda não refere outros temas como
sejam os hábitos nutritivos das crianças, a educação do materialismo e a internet,
embora esta última seja considerada um meio de difusão similar à televisão e rádio.
180
3. Ética e Legislação
Kapferer (1992) analisou diversos estudos sobre o efeito da publicidade nos hábitos
nutritivos das crianças tendo concluído que ela não influencia as crenças e opiniões das
crianças, as quais lhes são inculcadas pelos pais e educadores, mas tem influência “no
comportamento da criança, desenvolvendo nela, por exemplo, a auto-indulgência ou
dificultando-lhe o respeito por uma disciplina pessoal” (Kapferer, 1992, p.193).
Por todos estes motivos no Quebec, o qual representa 25% do mercado canadiano, é
proibida toda e qualquer publicidade dirigida a crianças até aos 13 anos de idade,
mesmo que esta não lhe seja inteiramente dirigida pelo que se devem observar algumas
normas restritivas também no caso dos chamados produtos familiares como cereais,
hambúrgueres, shampôs ou pasta dos dentes
(http://kidsmarketing.com/!pages/issue013.htm, em 26/2/2000).
181
3. Ética e Legislação
que, por um lado via internet têm acesso a todos os sites do mundo e, por outro lado, a
TV por cabo dá-lhes acesso a outros canais sobre os quais incidem outras legislações
como é o caso do Cartoon Network, do Canal Panda e da MTV.
182
Capítulo 4.
4.1. Objectivos
A crescente importância do mercado das crianças nas suas diversas acepções como
mercado primário, de influência e futuro, tem justificado o interesse dos marketeers no
mesmo, sendo cada vez maior o número de empresas que direccionam as suas
estratégias para ele.
Em Portugal, pese embora o também elevado interesse das empresas neste mercado,
ainda não existe um grupo de investigação especialmente dedicado a este tema havendo
apenas, ou estudos de empresas sobre aspectos específicos (os quais dificilmente são
divulgados pela sua confidencialidade), ou ensaios sobre aspectos específicos e não
globalizantes em trabalhos de alunos (vide por exemplo Roseta, 1999).
Deste modo, entendendo esta tese de mestrado como o primeiro trabalho dentro desta
área, com vista a um percurso de investigação posterior, o objectivo principal centra-se
numa correcta caracterização do mercado das crianças em Portugal e mensuração do
mesmo em termos de mercado primário.
Numa segunda fase do nosso trabalho, à luz dos resultados já obtidos em estudos
semelhantes nos E.U.A., principalmente os apresentados de McNeal (1992), iremos ver
até que ponto esses mesmos resultados se aplicam na realidade portuguesa.
184
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Nestas duas fases do trabalho, relativamente à variável Idade a qual, como já vimos,
desempenha um factor primordial de diferenciação neste mercado (McNeal, 1992; Del
Vechio, 1997, Acuff e Reiher, 1997; John, 1999), iremos separar as crianças segundo as
fases Piagetianas o que, no nosso estudo, corresponde a dois grupos, 3-7 e 8-12 1.
Para esta última fase do trabalho iremos utilizar, para além das noções de conhecimento
do mercado das crianças em geral (já apresentados nesta tese e também os resultantes da
primeira e segunda fases do trabalho), os adquiridos ao longo de quase dois anos de
trabalho no sector, ainda que predominantemente sobre o mercado dos adultos.
1 Apesar de terem surgido na amostra casos de crianças com mais de 12 anos, considerámo-las como
casos desviantes não sendo pois considerados em termos de faixa etária.
185
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
186
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Para realizar o estudo exploratório a que nos propúnhamos foram definidas como
populações em estudo os alunos do 1º e 2º ciclo do ensino básico, ou seja, 1º a 6º anos,
o que, em termos etários, corresponde sensivelmente a crianças entre os 6 e os 11 anos.
A análise das populações pré-escolares e adolescentes foi remetida para uma abordagem
posterior.
Para as diversas fases de trabalho propostas e para testar as hipóteses em estudo foram
definidas como informaçõa necessárias a retirar da amostra as seguintes:
187
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
188
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Para esta fase foi seleccionado um Método Directo (Miquel et al., 1997), realizando-se
uma reunião de grupo com oito crianças do ensino básico sendo duas de cada ano
escolar e tendo uma composição mista (quatro elementos de cada sexo).
Foi escolhida uma escola particular do Grande Porto (escolha de conveniência) tendo a
directora da escola seleccionado os participantes respeitando os critérios acima
descritos.
A reunião teve lugar na própria escola, ambiente familiar aos alunos, numa sala da
biblioteca, em mesa redonda, tendo os alunos do 1º ano ficado ao lado do entrevistador
de modo a serem monitorizados de perto (seriam os que, à partida, teriam maiores
problemas de compreensão). Houve lugar à gravação de voz de toda a reunião a qual
teve uma duração total de 15 minutos.
1º Aquecimento:
- apresentação do entrevistador;
- apresentação das crianças (nome e ano escolar apenas) e numeração
de cada uma delas (número que foi utilizado em toda a reunião).
189
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
B)
- após a recolha de todos os cartões, promoveu-se a discussão no grupo
até que as crianças identificassem as três operadoras existentes em
Portugal;
- posteriormente a discussão de grupo orientou-se para associação das
cores das operadoras aos seus nomes (sem sugestão de cores) de modo
a comprovar o conhecimento das mesmas. A ideia subjacente é a de
que, como já vimos, a aprendizagem das marcas é realizada, em
primeiro lugar, através de pistas visuais (Macklin, 1996).
190
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.1.: Composição da Amostra por Localidade, Ano Escolar e Zona da Escola
191
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
1ª Presencial com Preenchimento feito pelo Próprio: utilizada nas crianças do 2º ciclo
com preenchimento na sala de aula, já que as informações a recolher são do
conhecimento das crianças desta idade, havendo o apoio do entrevistador para
classificação da Ocupação dos Pais na grelha proposta e outras dúvidas que pudessem
surgir. O preenchimento integral do questionário ocupou uma hora lectiva (50 minutos)
na generalidade dos casos.
192
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
193
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Deste modo foi a seguinte a opção tomada para cada um dos factores a analisar:
194
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
195
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
196
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
197
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
198
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Para avaliar a relação entre Número de Lojas Visitadas e Idade utilizámos, mais uma
vez, o teste de Kruskal-Wallis sobre a influência da Idade sobre o Número de Lojas
Visitadas Sozinho e Acompanhado.
199
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
200
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
4.3. Resultados
1º Conhecimento do sector:
201
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Como o objectivo da reunião não era obter a percepção das operadoras mas sim o nível
de compreensão do vocabulário a aplicar na fase quantitativa, este enviesamento não
afectou a estrutura da reunião. De qualquer forma, e a título meramente indicativo, a
análise de percepção do grupo via aplicação dos adjectivos em estudo é também ela
confirmadora deste enviesamento do grupo.
2º Associação de adjectivos:
Relativamente à associação com sugestão de adjectivos foi muito mais fácil para os
participantes não tendo estes dificuldade em associar espontaneamente os adjectivos a
cada operadora e discutindo apenas quando era procurado um consenso4 . Todavia
alguns adjectivos revelaram-se de difícil percepção até pelas crianças mais velhas, a
saber “Fria”, “Transparente”, “Grande” e “Pequena”.
4 O consenso só foi procurado nos casos em que houve dúvidas por parte do entrevistador se as diferentes
avaliações resultavam de diferentes imagens das operadoras ou de diferente compreensão do adjectivo, ou
seja, o objectivo último da busca de consenso foi a clarificação do nível de compreensão do adjectivo.
202
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Deste modo, a opção para o questionário foi de associação sugerida, tendo sido retirados
os adjectivos de compreensão difícil. A construção dos três mundos realizada na reunião
de grupo é apresentada, a título indicativo, na Tabela 4.5..
203
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
204
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
205
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
De qualquer forma, no caso dos Amigos, a informação recolhida deve ser tratada
com muito cuidado já que muitas crianças tiveram a tentação de procurar amigos
que tivessem telemóvel para preencherem a grelha com muitas pessoas com
telemóvel. No entanto, esta consequência da grelha ser tipo jogo também se revelou
interessante, do ponto de vista de podermos analisar até que ponto é que as
percepções que a criança tem dos operadores são influenciadas por agentes externos
ao agregado familiar (caso em que os pais não possuem telemóvel).
206
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Em termos etários, a amostra recolhida, como seria de esperar, concentra-se nas crianças
entre os 6 e os 11 anos, ou seja, os nascidos entre 1988 e 1993 (tinham 6 e 11 anos no
início deste ano), apresentando uma média de 8,73 anos (Tabela 4.6.).
Ainda que tenham sido estabelecidas as mesmas quotas para todos os anos escolares,
podemos ver na Tabela 4.7. que o maior número de crianças se concentra nos anos mais
elevados, o que se pode dever:
207
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
- por um lado à diferente forma de recolha dos dados, sendo presencial em muitas
turmas do 2º ciclo, o que influencia a taxa de resposta (apenas não responderam os
alunos ausentes nesse tempo lectivo e um aluno cujos pais não permitiam o
preenchimento de questionários não monitorizados por eles);
- por outro, à menor dimensão das turmas do 1º ciclo (mais notória no Ensino Público
que no Ensino Privado).
Como se pode verificar da Tabela 4.9., a grande maioria das crianças, da nossa amostra,
utiliza o carro como meio de transporte para a escola e cerca de ¼ delas “vai a pé”
indicando que residem relativamente perto da escola.
208
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
O estabelecimento de quotas mínimas para recolha dos dados (uma turma por cada ano
de cada tipo de escola de cada localidade) justifica que a amostra contivesse um peso do
Ensino Particular muito superior ao verificado na realidade do ensino básico no 1º e 2º
ciclos (como vimos no capítulo 2.4., o peso do Ensino Privado era de 9,1% no 1º ciclo e
de 10,6% no 2º ciclo) o que decorre apenas da natureza não probabilística do método
amostral utilizado.
209
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
do mesmo (ou pelo menos os testes efectuados não permitiram detectar qualquer tipo de
relação com significância estatística).
Como se pode observar na Tabela 4.11., as crianças passam entre 5 a 7 horas nas aulas,
devendo-se os valores inferiores e superiores a estes, provavelmente, a erros de cálculo
de horas totais lectivas, já que por comparação com os valores de alunos da mesma
turma, estes não são idênticos, não tendo havido correcção dos mesmos. O total de
horas lectivas é, no ensino público, inferior no 1º ciclo face ao 2º ciclo e, no ensino
particular, por vezes, superior ao ensino público.
Por outro lado, a grande maioria dos alunos da nossa amostra (68%) não frequenta
qualquer tipo de ATL, sendo que os restantes passam, em média, 2,3 horas em centros
de ATL ou em ATL’s da própria escola (Tabela 4.12.).
210
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Relativamente às Horas passadas em Transportes, quase metade dos alunos dão esse
valor como negligenciável (46,1% indicaram 0 horas), enquanto que os restantes
apresentam um valor médio de 42 minutos. Para a sua interpretação, o valor que
pretendíamos observar era o valor total (compreende as viagens de ida e volta até à
escola) mas muitas crianças apresentaram apenas o tempo que demoram a chegar à
escola (uma única viagem) pelo que não podemos saber se este é o verdadeiro valor
passado em transportes ou se será superior (Tabela 4.13.).
211
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Uma alternativa ao “ATL”, como sabemos, são “os familiares”. Na nossa amostra
(Tabela 4.14.), apenas 31,4% das crianças “fica em casa de familiares” (em média, por
2,3 horas). Para observarmos se as “casas de familiares” eram uma forma complementar
ou substituta do “ATL”, foram cruzadas as duas variáveis tendo-se obtido os resultados
da Tabela 4.15., da qual podemos verificar que ambos se apresentam como actividades
substitutas, provavelmente recorrendo os pais ao ATL quando não possuem familiares a
quem possam entregar as crianças.
212
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.15.: Distribuição da amostra por Horas em ATL vs. Casa de Familiares
Apenas 12,1% das crianças da nossa amostra praticam uma actividade desportiva extra
curricular, ocupando nessa actividade, em média, 54 minutos. Relativamente à
interpretação do tempo passado, muitas crianças tiveram dificuldade em calcular uma
213
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
O mesmo é válido para as actividades Música (33% das crianças têm esta actividade) e
Informática (1,3% das crianças) cujas médias diárias de horas que os alunos que
praticam estas actividades despendem são de, respectivamente, 47 e 52 minutos.
As Outras Actividades foram referidas por 35,9% das crianças. Destas, um número
muito reduzido (inferior a cinco crianças), refere-se a Institutos de Línguas (o Inglês
predominantemente), não havendo qualquer referência nos restantes casos.
Este valor deve ser interpretado com muito cuidado, já que foram excluídas as
actividades Música e Informática, com codificação própria, as referências em que as
crianças indicavam um Desporto (remetidas para a categoria própria) ou actividades
realizadas em casa (como estudar, brincar, jogar computador, as quais não foram
consideradas), sendo estas as referências mais frequentes. Deste modo, a percentagem
de crianças com outras actividades, para além das já codificadas, pensamos que poderá
estar sobrestimada.
214
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Cerca de 54% das crianças da nossa amostra recebem periodicamente dinheiro dos pais,
sendo a “semanada” a periodicidade mais típica (64% das crianças declararam ter este
tipo de periodicidade), valores consistentes com os observados por McNeal nos lares
norte-americanos. Das crianças que recebem periodicamente dinheiro, o mais frequente
é receberem cerca de 2.000$ por mês, sendo que, em média, recebem 2.334$
mensalmente (Tabela 4.16).
215
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.18.: Análise do Rendimento por Tarefas das crianças (valores mensais)
Uma significativa percentagem das crianças recebe Prendas em Dinheiro, quer dos Pais
(37% das crianças), quer de Outras Pessoas (25% das crianças), sendo esses valores
anuais, em média, de 6.989$ e de 7.246$, respectivamente. É maior a variabilidade das
Prendas em Dinheiro oferecidas por Outras Pessoas comparativamente à dos Pais
(Tabela 4.19.).
Tabela 4.19.: Análise das Prendas em Dinheiro dos Pais e de Outras Pessoas (valores
anuais)
216
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
217
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.22.: Fontes de rendimento das crianças em valor (valores anuais em escudos)
218
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
O Rendimento Semanal das crianças situou-se, em média, nos 507$, apesar de 23,1%
das crianças declararem não receber qualquer dinheiro (das que identificaram o seu
nível de rendimento), e em 12,7% dos casos desconhecemos o valor dos rendimentos
das crianças (Tabela 4.23.).
219
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Relativamente aos Gastos das crianças, ou seja, compras com o seu próprio dinheiro, a
predominância vai para os produtos típicos de crianças como os “Brinquedos/
Jogos” (23,2%) e os “Bolos, Chocolates, Rebuçados e Gomas” (22,7%) seguidos da
“Roupa” (16%), “Livros” (12,9%) e “CD’s de música” (12,2%). Das 13,1% de crianças
que indicaram gastos noutros bens, a maioria não os especificou. Entretanto, das
referências encontradas, a utilização do dinheiro próprio para compra das prendas para a
família ou outras pessoas foi a mais saliente. Algumas crianças indicaram a compra de
vários tipos de bens (“missing” do tipo multi-resposta). (Tabela 4.24.)
Relativamente aos Produtos Solicitados aos Pais em Ocasiões Especiais a maioria das
crianças referiu os “Brinquedos/Jogos” (54%) seguidos dos “CD’s” (16%),
“Roupa” (14%) e “Livros” (10%). Apenas 1% das crianças solicita “Bolos, Chocolates,
Rebuçados ou Gomas”. Nesta questão, apesar de ter sido advertido que apenas podiam
indicar uma opção, a multi-resposta foi muito frequente (15,7% do total de crianças da
amostra). (Tabela 4.25.)
220
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
221
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
No que respeita aos programas TV preferidos das crianças, foram identificadas setenta e
duas referências, com preferência para o “Médico de Família” e o “Pokémon”, série que
destronou o famoso “Dragon Ball”. Apresentamos na Tabela 4.27 as primeiras
preferências da nossa amostra.
Dos Heróis referidos pelas crianças a preferência vai mais uma vez para os
“Pokémon’s” que obtêm as 1ª, 2ª e 4ª posições totalizando 30,9% das referências. Os
222
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
bonecos mais adorados dos “Pokémon’s” são o “Pikachu” (1º lugar com 12,5%) e o
“Ash” (4º lugar com 7,2%).
Uma prova inequívoca da intemporalidade de alguns heróis é o “Super Homem”,
referido em 3º lugar por 9,6% das crianças, sugerindo que o podemos classificar como
um típico “Ever-Cool”. Outro exemplo ainda é o “Zorro”, o qual surge em 5ª lugar
sendo referido por 4,7% das crianças (Tabela 4.28.).
223
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
224
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
225
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
destacasse, não havendo, na maioria dos casos, nenhuma especificação ou sendo tão
diversa quanto estudar, brincar, jogar andebol, etc.
226
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
De modo a melhor avaliarmos a nossa amostra, e por surgirem casos em que a criança
indicava o falecimento de um dos pais, foram criadas duas variáveis instrumentais cujo
preenchimento dependia da avaliação de todo o questionário, as quais indicavam se o
pai/mãe existia ou não. A aferição desta variável dependia da indicação de Ocupação, de
Idade ou de Posse de Telemóvel, sinais considerados como de “Existência de pai/mãe”.
Apenas não foi possível identificar essa existência em nove casos relativamente à mãe e
quinze casos relativamente ao pai. Nos restantes casos verificou-se que, na
generalidade, ambos os pais eram vivos (Tabela 4.32.).
227
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Por outro lado (Tabela 4.34.), verifica-se uma elevada taxa de ocupação, principalmente
nos pais, com o número de desempregados (2,7% no caso das mães e 2,3% no caso dos
pais) abaixo da taxa de desemprego nacional de 4,4% em final de 1999 (http://
www.ine.pt/prodserv/tema04/estemp.html em 15/5/2000).
O número reduzido de “reformados” é natural, se atentarmos na idade média dos pais e
mães da nossa amostra, a qual se situa nos 37 anos no caso das mães, e 40 no caso dos
pais.
228
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Para as Compras da Casa, rotineiras por definição, a quase totalidade da amostra prefere
os “supermercados” (49%) e os “hipermercados” (46%). Várias crianças indicaram não
haver um padrão definido de loja específica (13,8% com missing do tipo multi-
resposta). No caso das Outras Compras, a preferência vai para as “lojas especializadas”
e os “centros comerciais”, sendo superior a multi-resposta face às Compras para Casa
(Tabela 4.35.).
No que respeita mais especificamente o “co-shopping”, ele é muito elevado quer nas
Compras da Casa, quer nas Outras Compras, com as crianças a acompanharem os pais
“Sempre” ou “Normalmente” em, respectivamente, 53% e 50% das vezes.
229
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.36.: Nível de Acompanhamento das crianças nas Compras da Casa e Outras
Compras
230
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Não podemos saber se os telemóveis possuídos por estas crianças são tipicamente de
adultos ou se são produtos específicos para crianças (duas das operadoras têm produtos
para crianças, o Vitamina K da Telecel, e o Boomerang Júnior da Optimus), mas a
grande maioria deverão ser produtos normais de adultos.
No caso dos Pais das Crianças, a generalidade já possui telemóvel (87% dos pais e 78%
das mães), o que indica um possível enviesamento da amostra. No entanto, devemos
considerar que, dado o nível etário (pais e mães relativamente jovens) e a escolaridade
média (indiciando um grande peso da classe média/alta) não serão tão surpreendentes
estes níveis de Penetração nos Pais.
No caso dos Avós, o grau de penetração dos telemóveis na amostra em estudo ronda os
40% (43% no caso dos avós maternos e 37% nos avós paternos), valor abaixo do nível
actual de penetração.
Tabela 4.38.: Idade Média e Penetração dos Telemóveis nos Irmãos das crianças da
amostra
Irmão Idade Média Valid % com telemóvel Valid
Irmão 1 12 405 40% 473
Irmão 2 12 117 37% 147
Irmão 3 15 28 35% 51
Nota: Dado o reduzido número de casos observados de existência de um 4º irmão, não apresentamos
esses valores.
231
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.39.: Idade Média e Penetração dos Telemóveis nos Amigos das crianças da
amostra
Tabela 4.40.: Operador possuído pela totalidade ou pela maioria dos elementos da rede
de contactos da criança
232
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
1999 as quotas da TMN, Telecel e Optimus eram de, respectivamente, 45,3%, 37,2% e
17,5%).
De ressalvar, no entanto, que os dados por nós obtidos não são directamente
comparáveis com os números do ICP já que este trata do número de subscritores e quota
de mercado no total dos subscritores, enquanto que, no nosso estudo, estamos a falar de
quota de mercado de lares, o que não é o mesmo mas que assumimos não ter resultados
divergentes5.
Analisando a Origem dos Telemóveis dos Pais vemos que 15,4% (no caso dos pais) e
5,3% (no caso das mães) dos telemóveis pertencem à empresa onde estes trabalham.
Visto que considerámos esta variável como “proxy” da Entidade Pagadora dos
Telemóveis do lar, os seus valores não serão muito distantes dos valores observados na
realidade. O facto de esta percentagem ser inferior no caso das mães poder-se-á dever à
também menor Taxa de Ocupação destas, já que 13,3% das mães da nossa amostra são
domésticas (Tabela 4.41.).
5 Nomeadamente, foi testada a hipótese de serem diferentes as dimensões médias do agregado familiar
das famílias de cada operador, hipótese que foi rejeitada, pelo que será praticamente indistinto falarmos,
na nossa amostra, de quota de subscritores ou de quota de lares.
233
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.42.: Nível de Conhecimento e Número de Palavras Associadas a cada uma das
operadoras
Tal como normalmente acontece com crianças (Derbaix e Pecheaux, 1997), as palavras
associadas a cada uma das operadoras seguiram de perto a ordem apresentada dos
adjectivos, sendo referidos na Palavra 1 os primeiros da lista e percorrendo a lista à
medida que avançavam nas palavras. Podemos verificá-lo a partir da análise da Tabela
4.43. na qual são apresentados os três adjectivos mais referidos em cada uma das
posições.
234
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.43.: Palavras Associadas com maior frequência a cada uma das operadoras
Operador Palavra 1 Palavra 2 Palavra 3 Palavra 4
TMN 1ª Organizada (34%) 1ª Simples (17%) 1ª Com qualidade 1ª Colorida (16%)
2ª Carinhosa e Com 2ª Com qualidade (19%) 2ª Com qualidade
qualidade (11%) (15%) 2ª Simples (12%) (11%)
3ª Divertida (8%) 3ª Divertida (14%) 3ª Divertida (9%)3ª Inovadora (9%)
Telecel 1ª Organizada (26%) 1ª Divertida (17%) 1ª Com qualidade 1ª Simples (12%)
2ª Carinhosa (11%) 2ª Com qualidade (14%) 2ª Com qualidade
3ª Divertida (9%) (14%) 2ª Colorida (14%)(12%)
3ª Organizada e Gira 3ª Gira (12%) 3ª Organizada e Gira
(10%) (10%)
Optimus 1ª Organizada (24%) 1ª Divertida (14%) 1ª Com qualidade 1ª Com qualidade
2ª Inovadora (10%) 2ª Simples (13%) (15%) (16%)
3ª Divertida (8%) 3ª Gira (12%) 2ª Colorida (14%) 2ª Inovadora (12%)
3ª Organizada (10%) 3ª Colorida (11%)
NOTA: As percentagens entre parêntesis indicam a percentagem do total de palavras utilizadas pelas
crianças, para cada caso
As notas médias obtidas, mais uma vez, respeitam o “ranking” das operadoras em
termos de quota de mercado, assumindo os valores de 0,77, 0,59 e 0,51 para,
respectivamente, TMN, Telecel e Optimus.
235
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Com base nos dados referentes ao mercado das telecomunicações foram ainda
construídas outras variáveis instrumentais as quais tentam quantificar o Número de
Telemóveis total na Família e a sua Penetração no Lar.
Com base nestes pressupostos, o Agregado Familiar Presumido, na nossa amostra, teria
a composição apresentada na Tabela 4.45., sendo o caso mais frequente e o valor médio
de quatro elementos.
236
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Também com base nos dados recolhidos, construímos duas outras variáveis
instrumentais, a saber, o Número de Irmãos da criança em análise e a Posição da
Criança na Família relativamente aos irmãos.
No que concerne à primeira variável, e como seria de supor face à Dimensão Média do
Agregado Familiar e ao facto de a generalidade das crianças ter ambos os pais vivos, em
média, as crianças da nossa amostra têm um irmão(ã), e apenas 20% das crianças têm
mais do que um irmão (Tabela 4.47.).
237
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Em termos de Posição da Criança, para além dos 35% de “filhos únicos” que já
tínhamos identificado, cerca de 32% das crianças são os “filhos mais novos” do
agregado familiar, consistente com a média de idades indicada em todos os irmãos:
superior à média etária da nossa amostra (Tabela 4.47.).
238
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
A série de testes de hipóteses por nós realizada teve sempre por base testes não
paramétricos dada a natureza das variáveis em teste: ordinais e nominais, ou de escala
não normais (os testes de Kolmogorov-Smirnov realizados sobre todas as variáveis de
escala sugerem a rejeição da hipótese destas variáveis seguirem uma distribuição
normal).
239
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Relativamente às restantes hipóteses, quer no que toca à influência do factor Idade quer
do factor Sexo, foram realizados testes de Qui-quadrado de independência das variáveis,
sendo que em alguns casos, dado termos células com dimensão inferior a cinco em
número superior ao recomendado neste teste, foi necessário proceder ao cálculo do nível
de significância através da estatística de Monte Carlo, a qual “fornece uma estimativa
não enviesada do nível exacto de significância, calculado através de repetidas
amostragens de diversas Tabelas com as mesmas dimensões e margens de linhas e
colunas das da Tabela observada. O método de Monte Carlo permite estimar uma
240
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
241
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.51.: Resultados dos testes de Qui-quadrado acerca da influência dos factores
Idade e Sexo sobre as variáveis Gastos de Bens, Prendas Especiais, Prendas Normais,
Programas TV, Heróis, Cantores/Grupos de Música, Desportos, Passatempos
Nível de Nível de
Hip Variáveis Qui-quadrado df significância significância de
de Pearson assimptótico Monte Carlo
(2-sided) (2-sided)
H1b Gastos de Bens*Fase Psicológica 13,201 5 0,022
H1c Prendas Especiais*Fase Psicológica 36,968 5 0,000 0,000
H1d Prendas Normais*Fase Psicológica 35,276 5 0,000
H1e Programas TV*Fase Psicológica 185,938 66 0,000 0,000
H1f Heróis*Fase Psicológica 159,824 91 0,000 0,000
H1g Grupo Musica*Fase Psicológica 156,935 91 0,000 0,000
H1h Desporto*Fase Psicológica 11,736 9 0,229
H1i Passatempo*Fase Psicológica 21,752 10 0,016 0,015
H1j Gastos de Bens*Sexo 49,410 5 0,000
H1k Prendas Especiais*Sexo 66,731 5 0,000 0,000
H1l Prendas Normais*Sexo 61,484 5 0,000
H1m Programas TV*Sexo 181,237 69 0,000 0,000
H1n Heróis*Sexo 157,087 92 0,000 0,000
H1o Grupo Musica*Sexo 183,016 95 0,000 0,000
H1p Desporto*Sexo 242,933 9 0,000
H1q Passatempo*Sexo 172,069 10 0,000 0,000
A análise da Tabela 4.51., sugere a confirmação das hipóteses 1c, 1d, 1e, 1f, 1g, 1j, 1k,
1l, 1m, 1n, 1o, 1p e 1q com um nível de confiança de 99% dada a significância
estatística do teste de Qui-quadrado. De facto, existe evidência estatística da relação da
Idade com os Produtos Solicitados em Ocasiões Especiais e em Ocasiões Normais, com
os Programas TV, Heróis e Grupos de Música Favoritos, assim como das relações do
242
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
A única hipótese não confirmada pelos nossos dados foi a hipótese 1h, pelo que não
parece existir relação entre a Idade da criança e as suas preferências de Desportos, ou
seja, estas preferências parecem ser independentes da idade da criança.
243
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
A primeira das nossas comparações, refere-se ao estudo de McNeal (1992) com crianças
entre os 4 e os 12 anos (vide capítulo 1.4.1.1. sobre o Rendimento das Crianças), a qual
demonstrou ser o Rendimento crescente com a Idade da criança e analisou o nível de
Poupança e de Gastos por Idade.
De notar que foram retiradas as crianças de 5 anos e de idade superior a 11 anos dado
não possuirmos um número significativo de crianças dessas idades, o que poderia
enviesar a análise.
244
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.54: Valores de Rendimento, Poupança e Gasto semanal por Idade em Portugal
Idade Rendimento Poupança Gastos semanais Taxa de Gasto
semanal semanal (3) (3)/(1)
(1) (2)
6 109 $ 32 $ 77 $ 71%
7 218 $ 48 $ 171 $ 78%
8 317 $ 141 $ 176 $ 55%
9 554 $ 162 $ 392 $ 71%
10 876 $ 289 $ 587 $ 67%
11 746 $ 321 $ 425 $ 57%
245
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Dado não possuirmos os valores da população por Ano Escolar e sim apenas valores
agregados para o 1º e 2º ciclo, aplicámos as médias observadas na nossa amostra às
respectivas zonas da população, tendo-se considerado o distrito de Viseu como
representativa do resto do Continente (todos os distritos com excepção de Porto e
Lisboa).
246
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Com efeito, o valor do mercado das crianças, em Portugal, como Mercado Primário,
será de 12,1 milhões de contos, valor que se considerarmos as poupanças realizadas
como consumos futuros, atinge uma dimensão de 18,2 milhões de contos.
Uma outra análise comparativa a realizar dizia respeito à Origem dos Rendimentos das
crianças. No caso da nossa amostra vimos esta composição na caracterização geral que
realizámos sobre o mercado pelo que se apresenta agora a Tabela 4.57., o qual nos
permite comparar essa composição com a observada por McNeal:
247
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.57.: Comparação das Fontes de Rendimento das crianças em Portugal e nos
E.U.A.
Fonte Em Portugal (%) Nos E.U.A. (%)
Rendimento periódico 66% 53%
Desempenho de tarefas domésticas 12% 15%
Presentes dos pais 11% 15%
Presentes de outras pessoas 8% 5%
Trabalhos desempenhados 3% 12%
Relativamente à análise dos Gastos em Bens e Serviços realizada pelas crianças com o
seu próprio dinheiro, os dados do nosso inquérito apenas nos permitem afirmar quantas
crianças indicaram gastar o seu dinheiro em determinado tipo de bens, e não qual o
248
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
valor total gasto nesses bens, ao contrário dos dados de McNeal que indicam o valor
gasto em cada tipo de bem.
Tabela 4.58.: Análise comparativa de Gastos de Bens das crianças em Portugal e nos
E.U.A.
Produtos/Serviços % do valor gasto em Produtos/Serviços % do valor gasto em
1989 nos EUA 2000 em Portugal
Snacks/Doces 34,6 Snacks/Doces 21,5
Brinquedos/Jogos 31,3 Brinquedos/Jogos 20,4
Roupa 11,5 Roupa 19,1
Filmes/Desporto 10,1 CD’s de música 12,7
Cassetes Vídeo 8,1 Livros 11,6
Outros 4,4 Outros 14,8
Como podemos verificar o “ranking” de gastos é similar nas três primeiras categorias,
não podendo todavia comparar os pesos de cada uma delas, já que elas não são
directamente comparáveis. Daí que uma análise mais aprofundada seja remetida para
estudos posteriores.
249
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Para testar estas hipóteses, mais uma vez, considerámos apenas as crianças entre os 6 e
os 11 anos de idade, e efectuámos o teste de Kruskal-Wallis, tendo obtido a estatística
do nível de significância através do método de Monte Carlo.
Os dados apresentados sugerem existir uma relação entre a Idade da criança e o Número
de Lojas Visitadas Sozinho e Acompanhado, dada a significância do teste a um nível de
confiança de 99% (χ2obs=71,345 e 71,399 > χ20,995 (df=5)=16,7496).
Deste modo, com vista à comparação com os dados de McNeal, calculámos o Número
Médio de Lojas Visitadas pelas crianças por Nível Etário e verificámos quantas delas
indicavam já realizar visitas às lojas (sozinhos e/ou acompanhados), tendo-se obtido os
resultados da Tabela 4.60., os quais são comparáveis com os quadros 1.7. e 1.8..
250
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
A comparação dos dados obtidos com os dados dos E.U.A. parece indicar um menor
número de crianças a visitar regularmente lojas no nosso país, sendo semelhante o
número de lojas visitadas por aqueles que o fazem. Apenas as crianças de 6 anos, na
nossa amostra, apresentam um nível de Visitas Acompanhados superior ao das crianças
nos E.U.A. (92% já frequentam lojas acompanhados, face a 65% no estudo de McNeal).
251
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
relação apenas num tipo de compras, as compras não rotineiras, já que nas compras
rotineiras é maior a probabilidade de o acompanhamento da criança se dever a outros
factores que não o sexo (impossibilidade de ter com quem deixar os filhos), motivo
apresentado pelos autores como justificativo da não existência de relação (Grossbart et
al., 1991).
252
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Como já vimos na nossa análise descritiva, este mercado apresenta uma Taxa de
Penetração Global de 20%, a qual é inferior ao total de penetração em Portugal. Vamos
agora observar como é que se comporta essa Penetração com a Idade da criança, sendo a
nossa expectativa conforme a hipótese 23.
Como podemos observar na Tabela de cruzamento das duas variáveis a penetração dos
telemóveis na população apresenta uma grande oscilação, desde os 7% no caso das
crianças de 6 anos, até aos 30% no caso das de 11 anos.
253
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Para testarmos esta hipótese efectuámos uma análise discriminante sobre a variável
categorial Posse de Telemóvel Próprio, tomando como variáveis explicativas a Idade, o
Rendimento Semanal, a Penetração de Telemóveis no Lar, o Nível de Ocupação dos
Pais, o Nível Médio de Escolaridade dos Pais, e o Número de Horas Passadas Fora de
Casa. Apesar de sabermos à partida que as nossas variáveis de escala não seguiam a
distribuição normal, e que algumas das variáveis explicativas eram do tipo ordinal,
avançámos com a análise discriminante, tendo validado todas as relações encontradas
com testes não paramétricos.
Para aferir o nível de Ocupação dos Pais, foi criada uma variável instrumental, a partir
das variáveis Ocupação da Mãe e Ocupação do Pai, com três níveis: 1) “os dois
activos”, 2) “um inactivo” e 3) os “dois inactivos”. Como níveis de inactividade
considerámos os casos 8 a 12 da escala de Ocupação Pai/Mãe, ou seja, considerámos o
parente como “inactivo” nos casos em que a sua ocupação fosse “Doméstica”,
“Estudante”, “Reformado”, “Desempregado” ou “Outro”. Os valores “missing” desta
nova variável (104) correspondem a situações em que um ou ambos os casos são
desconhecidos, assim como aqueles em que um ou ambos tinham uma multi-resposta.
H3b.1: As crianças que possuem telemóvel são, regra geral, mais velhas do que as
outras (hipótese sugerida da confirmação da hipótese 23);
H3b.2: As crianças que possuem telemóvel tendem a possuir um maior rendimento
do que as outras;
254
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
H3b.3: Os lares das crianças com telemóvel evidenciam uma maior taxa de
penetração dos telemóveis;
H3b.4: Os pais das crianças com telemóvel constituem normalmente casais em que
os dois exerciam uma actividade;
H3b.5: Os pais das crianças com telemóvel possuem um nível de escolaridade
superior;
H3b.6: As crianças que possuem telemóvel tendem a passar mais horas fora de
casa do que as restantes crianças.
Tabela 4.63.: Análise das Variáveis explicativas – comparação das médias e desvios
padrões
Em termos da comparação entre médias das diversas variáveis, as crianças que possuem
telemóvel apresentam um valor médio de Horas Passadas Fora de Casa superior, um
Nível Médio de Escolaridade dos Pais ligeiramente inferior, uma maior Taxa de
Penetração dos Telemóveis no Lar, uma Idade superior, um Nível de Ocupação dos Pais
ligeiramente inferior (relembramos que valores mais baixos desta variável
correspondem a níveis de ocupação superior dos pais), e um Rendimento superior.
255
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
6 O coeficiente de correlação apresentado na matriz não é comparável com o obtido por nós no teste da
hipótese 2a já que o utilizado na análise discriminante é o Coeficiente de Correlação de Pearson
(coeficiente paramétrico). O verdadeiro valor é então de 0,545 (Coeficiente de Correlação de Spearman).
256
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
A análise dos valores do Lambda de Wilks7 obtidos sugere ser a variável Penetração de
Telemóveis no Lar a que apresenta valores mais distintos entre os dois grupos de
crianças já que os restantes valores são muito próximos da unidade, sugerindo haver
pouca diferença entre os dois grupos. Os valores de significância das várias variáveis
sugerem como variáveis com maior poder explicativo, para além da Penetração dos
Telemóveis no Lar, a variável Idade, Rendimento Semanal e Total Horas Passadas Fora
de Casa.
7 Coeficiente assumindo valores entre 0 e 1, e que “indica em que medida os valores médios de uma
variável explicativa são distintos em cada um dos grupos da variável a explicar”. “O valor máximo que
pode tomar o Lambda de Wilks é de 1 e obtém-se quando as médias da variável explicativa em todos os
grupos são iguais” (PRM Internacional, 2000).
257
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
258
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Analisando agora os centroides de cada grupo (Tabela 4.68.), podemos obter uma
representação gráfica da nossa função discriminante e do posicionamento dos grupos na
função discriminante, face às variáveis que se apresentam com maior poder explicativo,
a saber, a Penetração dos Telemóveis no Lar e a Idade.
-1 0 1
NOTA: O grupo “Sim” indica as crianças que possuem telemóvel próprio e o grupo “Não” representa as
que não possuem telemóvel próprio.
Para validarmos a nossa função discriminante, assumimos que ela teria resultados
robustos se classificasse correctamente uma percentagem de casos superior, em 25% ao
que se conseguiria aleatoriamente. No caso de dois grupos, considera-se que a função
discriminante será razoável se o número de casos correctamente classificados por ela for
superior a 62,5% (PRM Internacional, 2000).
Por este motivo, assumimos como hipótese “a priori” um número igual de indivíduos
em cada grupo (“worst case scenario”) já que, se utilizássemos as proporções da
amostra, estaríamos a condicionar os resultados.
259
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Deste modo concluímos que face às hipóteses de partida, os dados sugerem podermos
aceitar as hipóteses 3b.1 e 3b.3, ou seja, que se verifica uma relação linear positiva entre
a Posse de Telemóvel pelas crianças e os factores Idade da criança e Taxa de Penetração
dos Telemóveis no Agregado Familiar. Não foi encontrada evidência estatística que
suporte as restantes hipóteses, ou seja, que sustente existir uma relação entre a Posse de
Telemóvel pela criança e as variáveis Rendimento da criança, Escolaridade dos Pais8,
Nível de Ocupação dos Pais e Número de Horas Passadas Fora de Casa.
8Apesar de ela ter sido incluída na Função Discriminante através do método “stepwise”, a sua correlação
com a Função Discriminante é muito baixa sugerindo a sua não consideração como variável explicativa,
evidência corroborada pelos testes não paramétricos.
260
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Relativamente à percepção que as crianças têm das operadoras, o nosso objectivo era
averiguar até que ponto a Imagem que as crianças elaboram é influenciada pela
Operadora detida pela rede de relações Familiares bem como se existiria uma segunda
operadora, para além da operadora familiar, pela qual as crianças manifestassem
empatia.
Inicialmente, indagámos também até que ponto a Posse de Telemóvel pelas crianças
lhes permite ter um maior nível de conhecimento das operadoras.
261
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
De modo a testarmos a hipótese 3c, foram efectuados testes de Qui-quadrado para aferir
a relação entre a variável Posse de Telemóvel Próprio e as variáveis Conhecimento
TMN, Telecel e Optimus, tendo-se obtido os resultados da Tabela 4.71..
262
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Deste modo, parece confirmar-se a hipótese segundo a qual o grau de conhecimento das
operadoras pelas crianças depende da posse de telemóvel pelas crianças e do operador
posse das crianças.
263
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Os dados apresentados sugerem existir de facto uma relação entre o Operador Posse e a
valoração dada a esse operador, a um nível de confiança de 99%. Podemos observar as
Notas médias de cada Operadora a partir de uma análise da Tabela 4.74., a qual será
ainda mais esclarecedora. Ou seja, podemos confirmar que as notas mais elevadas são
dadas ao operador da rede de relações.
De salientar que, caso se verifique a hipótese 3d, então, a partir do ranking de notas
dadas a cada operador, os dados sugerem-nos que o 2º operador com o qual as crianças
sentem alguma empatia será a Optimus (caso das crianças cuja rede de relações é a
TMN), a TMN (caso das crianças cuja rede de relações é a Telecel) e a Telecel (caso das
crianças cuja rede de relações é a Optimus). No caso das crianças cuja rede de relações
não possui um único operador ou em que este é desconhecido, a operadora com maior
nível de empatia seria a TMN.
Tabela 4.74.: Notas Médias das Operadoras com base no Operador da Rede de Relações
da criança
Operador da Rede Nota Nota Nota
de Relações TMN Telecel Optimus
TMN 1,36 0,15 0,28
264
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
Tabela 4.75.: Conjunto das três palavras mais associadas a cada uma das operadoras por
operador da rede de relações da criança e número de palavras associadas
Operadora Associações à TMN Associações à Telecel Associações à Optimus
TMN 1ª Organizada (17%) 1ª Organizada (10%) 1ª Divertida (10%)
2ª C/ qualidade (17%) 2ª C/ qualidade (10%) 2ª Inovadora (10%)
3ª Simples (13%) 3ª Lenta (9%) 3ª Organizada (10%)
3,35 2,66 2,60
Telecel 1ª Organizada (16%) 1ª Organizada (16%) 1ª Organizada (12%)
2ª C/ qualidade (10%) 2ª C/ qualidade (14%) 2ª Inovadora (12%)
3ª Simples (9%) 3ª Simples (13%) 3ª Colorida (10%)
3,09 3,39 2,89
Optimus 1ª Organizada (14%) 1ª Organizada (11%) 1ª C/ qualidade (16%)
2ª Colorida (11%) 2ª Divertida (11%) 2ª Organizada (15%)
3ª C/ qualidade (10%) 3ª Gira (11%) 3ª Divertida (12%)
2,89 3,05 3,29
NE/NS/NR 1ª Organizada (15%) 1ª Organizada (17%) 1ª Organizada (15%)
2ª C/ qualidade (13%) 2ª Divertida (11%) 2ª Divertida (13%)
3ª Divertida (12%) 3ª C/ qualidade (10%) 3ª Colorida (12%)
3,05 2,72 2,88
Total 1ª Organizada (16%) 1ª Organizada (14%) 1ª Organizada (13%)
2ª C/ qualidade (14%) 2ª C/ qualidade (12%) 2ª C/ qualidade (12%)
3ª Simples (10%) 3ª Simples (10%) 3ª Inovadora (10%)
3,16 3,01 2,91
NOTA:
(1) As percentagens entre parêntesis indicam a percentagem do total de palavras utilizadas pelas
crianças, para cada caso.
(2) Os números no final de cada quadrado representam o número médio de palavras indicado pelas
crianças que declaram conhecer a operadora em causa.
265
4. Estudo sobre o Mercado das Crianças em Portugal
266
Conclusão
Conclusão
Para o efeito, numa primeira fase do nosso trabalho realizámos uma compilação
alargada e sucinta dos principais temas associados à eventual justificação de um
Marketing específico para Crianças. As indicações que recolhemos da literatura
mostram:
1. A importância do Mercado das Crianças nas suas três vertentes - nos E.U.A., as
crianças representam um Mercado Primário de 6 biliões de dólares, e cerca de 130 a
160 biliões de dólares como Mercado de Influência;
2. Que as crianças formam desde cedo preferências sobre lojas e marcas, tornando-as
muito importantes como Mercado Futuro, o que tem suscitado um cada vez maior
interesse das empresas neste mercado;
3. Quão diversa pode ser a segmentação do Mercado das Crianças, assentando, regra
geral, sobre a idade como factor primordial de classificação. Assentes apenas na
observação qualitativa das crianças e nas suas diferenças em termos de
desenvolvimento psicológico, são necessários trabalhos mais exaustivos de
segmentação, com a inclusão de outras variáveis, e correcta quantificação dos
segmentos.
268
Conclusão
Abordámos ainda os vários aspectos da vida das crianças, que devem ser considerados
na definição de uma estratégia de marketing direccionada para o Mercado das Crianças.
Em concreto, descrevemos a especificidade de cada um dos sexos, e aspectos tão
diversos como a importância da Fantasia, da Necessidade de Controlo e dos Grupos de
Referência. Introduzimos também o Crescente Conhecimento dos Factos do Mundo que
caracteriza as crianças de hoje, as quais se apercebem muito cedo de temas como a
Poluição, o Crime, as Guerras e os Conflitos Étnicos.
269
Conclusão
270
Conclusão
Dado que a última parte do nosso estudo pretendia constituir uma aplicação prática ao
Mercado das Telecomunicações, de entre as indicações mais salientes deve destacar-se
que:
271
Conclusão
2. Nos Pais das crianças (com idades médias baixas) e nos irmãos, observámos
também uma elevada Penetração, a qual se consubstancia numa Penetração Média
nos Lares de 50%;
3. A Posse de Telemóvel é também valorizada pelas crianças já que estas mostraram
tentar escolher amigos que possuíssem telemóveis para “se saírem bem” no jogo;
4. Há neste mercado um considerável Grau de Conhecimento das Operadoras e uma
percepção diferenciada de cada uma delas. Os resultados sugerem que essa
percepção é fortemente influenciada pelo Operador Familiar;
5. Por último, a Posse de Telemóvel pelas crianças depende da Penetração dos
Telemóveis no Lar e da Idade da Criança, sendo que estes dois factores explicam
44% da variância total desta variável. Será importante que estudos posteriores mais
enfocados nas perspectivas dos pais e nas suas atitudes possam explicar melhor o
comportamento desta variável.
1. Em estudos futuros será importante, sempre que se pretenda fazer uma análise por
associação de palavras, realizar uma fase exploratória prévia para confirmar a
correcta interpretação semântica das mesmas.
2. Previamente cientes da importância dos pais e educadores e da necessidade de os
envolver em tudo o que esteja relacionado com as crianças, constatámos que esse
envolvimento deve ocorrer o mais cedo possível, inclusive na elaboração do próprio
questionário que deve ser sujeito a um pré-teste. Dada a grande colaboração dos pais
neste estudo aprendemos também que podemos separar o questionário em duas
partes, uma para os pais e uma para as crianças, transferindo muitas das nossas
questões ora colocadas às crianças para os pais.
3. Em futuros questionários será também útil harmonizar a recolha dos dados. Face à
necessária colaboração dos pais julgamos mais correcto optar pela recolha diferida
em todos os casos.
4. Pudemos observar que o “tabu” das perguntas abertas para crianças pode
efectivamente não passar disso mesmo e que, num estudo exploratório, podem
272
Conclusão
Com a conclusão deste trabalho, temos a sensação de termos coberto uma grande
diversidade de temas, todos eles de fulcral importância para a compreensão deste
mercado, e de termos realizado um estudo inicial e abrangente sobre o Mercado das
Crianças em Portugal, mas dotado ainda de lacunas, as quais poderão servir de base
para trabalhos posteriores de investigação nesta área:
1. No caso das Lojas Visitadas, aprofundar o conhecimento que as crianças têm das
marcas e efectuar uma análise separada entre as Lojas de que elas mais Gostam e as
Lojas que Visitam, verificando simultaneamente a convergência/divergência entre
os dois tipos, e o número de marcas reconhecido numas e noutras (o que, no caso de
absoluta convergência, será idêntico);
2. Dado constatarmos, na nossa amostra, um nível ainda elevado de “Domésticas”
(13% das mães), conviria monitorizar a evolução da taxa de actividade das mães e,
caso aumente, verificar qual a opção/alternativa dos pais, se o “ATL”, se os
“familiares”. De notar que, em termos de estratégia de uma marca, são muito
diferentes os dois tipos de ocupação: enquanto que o “ATL” é uma forma similar à
escola, onde subsiste o contacto entre as crianças, em “casa de familiares” a criança
está sozinha ou em família, sendo apenas accionável via media (TV, rádio, etc);
3. Ainda relacionado com o ponto anterior, e estratégias possíveis das empresas, no
nosso estudo não analisámos hábitos de crianças relativamente a outros media como
Rádio, Jornais, Revistas e, não menos importante, a Internet. Este último, pela sua
importância e expectativa de crescimento futuro, pensamos que deveria ser alvo de
273
Conclusão
um estudo autónomo (supomos já haver alguns estudos nesta área em Portugal dada
a criação recente de vários “sites” para crianças, mas não tivemos acesso a nenhum
deles);
4. A nossa análise de Gastos de Bens e Produtos Solicitados foi genérica e sucinta,
pois que integrada num estudo bastante diverso e abrangente. Pela relevância do
tema e sua pertinência seria útil uma análise mais exaustiva, em termos de
categorias e sub-itens, e mais completa, analisando v.g. o Nível de Aceitação dos
vários Pedidos por Tipo de Produto, por Ocasião, e comparando esses resultados
com os obtidos noutros estudos (Isler et al., 1987);
5. Como já referimos levantámos a hipótese de, em futuros estudos, realizar as
perguntas sobre Desportos e Passatempos de forma aberta. No caso dos
passatempos, uma outra forma de abordar a questão seria efectuar um estudo sobre o
que elas mais gostam de fazer, utilizando desenhos, e comparando o nível de
socialização patente nesses desenhos (separar actividades solitárias de colectivas e,
dentro destas, as realizadas com colegas e com os pais). Isto porque, por exemplo,
um dos nossos casos de passatempo era “Ir ao cinema” e não sabemos até que ponto
a criança efectua essa actividade ou deseja realizá-la com os Colegas ou com os
Pais;
6. No nosso estudo sobre os Rendimentos das crianças verificámos que o nível médio
de rendimento, embora globalmente crescente com a Idade, tinha uma redução do 5º
para o 6º ano, a qual, apesar de exaustivamente analisada, não conseguimos
explicar, mas que julgamos dever-se a uma mera coincidência amostral. De toda a
forma, e a título de comparação, uma nova avaliação do mercado, podendo incluir
níveis etários mais elevados, poderá confirmar a nossa hipótese de acidente
amostral;
7. Ao nível da Poupança, o nosso estudo limitou-se a determinar o nível da mesma não
tendo realizado uma análise qualitativa das formas de poupança, o que também seria
comparável com o estudo de McNeal;
8. O nosso estudo, pensamos, não conseguiu avaliar com precisão o Número de Visitas
Independentes às Lojas na medida em que o conceito retirado foi de Lojas
Acompanhando os Pais, sem clarificação se a criança explora sozinho a loja ou se se
274
Conclusão
275
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286
Anexos
Anexos
Produto Frequência %
Vegetais 25 17,6
Frutas 19 13,4
Refrigerantes 10 7,0
Cereais 10 7,0
Vegetais em lata 8 5,6
Carne 8 5,6
Leite 8 5,6
Gelados 7 4,9
Mercearias 6 4,2
Detergentes 6 4,2
Ovos 5 3,5
Manteiga de amendoim 5 3,5
Manteiga 4 2,8
Bolachas 4 2,8
Doces 3 2,1
Batatas fritas 3 2,1
Sumo de fruta 3 2,1
Café 2 1,4
Pipocas 2 1,4
Sopa 2 1,4
Água engarrafada 1 0,7
Peixe 1 0,7
Fonte: McNeal (1992), p. 52
288
Anexos
Produto Frequência %
Brinquedos 30 23,3
Roupa 18 13,6
Jogos video 12 9,3
Produtos cosmética 10 7,8
Skates 8 6,2
Artigos desporto 8 6,2
Discos/cassetes 6 4,7
Aparelhagens 6 4,7
Livros 5 3,9
Sapatos 5 3,9
Bicicletas 4 3,1
Jóias 4 3,1
Computadores 4 3,1
Autocolantes 4 3,1
TV’s 3 2,4
Telefones 2 1,6
Fonte: McNeal (1992), p. 52
289
Anexos
290
Anexos
291
Anexos
292
Anexos
Exemplos:
Lojas de conveniência: 7-eleven, Lojas Extra;
Drugstores: Vips e Bobs.
Lojas de Sortido: Reduzido mas muito profundo com produtos de elevada qualidade tendo uma
Especialidade grande variedade de marcas para o mesmo produto.
Exemplo: Simago.
Dimensão: Regra geral pequena, similar a supermercados;
Localização: Zonas residenciais;
Sortido: Reduzido, com produtos alimentar e não alimentar mas focando-se sobretudo
Lojas de no alimentar. Comercializam principalmente produtos marca própria havendo outras
Desconto marcas (pouca variedade). A característica principal é o reduzido preço dos produtos,
vantagem competitiva destas lojas, o qual é conseguido via redução do serviço ao
cliente para os níveis mínimos (pouco pessoal, poucas caixas registadoras e menor
número de funcionalidades tais como parque de estacionamento ou pagamento dos
sacos de plástico) e elevada rotação dos produtos (daí o sortido reduzido e pouco
profundo assentando apenas nestes produtos de elevada rotação).
Exemplos: Dia, Mini-Preço e Lidl (esta sendo considerada uma subcategoria, o hard
293
Anexos
discount).
Lojas Sortido: Especializado, ou seja, assente numa única linha de produtos mas profundo.
Especializadas Os produtos apresentados são de qualidade e de preço elevado sendo a diferenciação
baseada na marca.
294
Anexos
Anexo IV População total por escalão etário em 31/12/95, e estimativas para 2000 e 2005
Grupos de
Ida de s 31-12-1995 2000 2005
Tota l Hom e ns Mulhe re s Tota l Hom e ns Mulhe re s Tota l Hom e ns Mulhe re s
Tota l 9.920.760 4.777.480 5.143.280 10.023.175 4.829.092 5.194.083 10.111.863 4.873.232 5.238.631
0-4 555.730 285.560 270.170 584.400 298.813 285.587 583.476 298.427 285.049
5-9 543.660 277.570 266.090 558.679 286.901 271.778 587.676 300.371 287.305
10-14 645.210 329.950 315.260 547.461 279.325 268.136 562.746 288.833 273.913
15-19 778.470 395.310 383.160 647.600 330.182 317.418 550.558 280.108 270.450
20-24 841.350 423.340 418.010 779.920 394.357 385.563 650.259 330.219 320.040
25-29 763.820 383.990 379.830 842.467 422.364 420.103 781.875 394.045 387.830
30-34 725.300 357.450 367.850 764.785 383.071 381.714 843.154 421.296 421.858
35-39 691.580 338.180 353.400 725.618 356.624 368.994 764.865 382.118 382.747
40-44 656.650 318.670 337.980 690.572 336.982 353.590 724.425 355.336 369.089
45-49 626.950 302.990 323.960 652.530 315.745 336.785 686.222 334.003 352.219
50-54 558.640 264.680 293.960 618.253 296.913 321.340 643.473 309.494 333.979
55-59 542.150 254.310 287.840 544.907 255.217 289.690 602.660 286.042 316.618
60-64 534.700 245.350 289.350 518.686 238.390 280.296 522.118 239.504 282.614
65-69 491.140 218.260 272.880 494.934 219.581 275.353 481.484 213.826 267.658
70-74 409.360 175.370 233.990 431.634 182.603 249.031 438.378 185.292 253.086
75-79 273.720 110.200 163.520 326.122 130.298 195.824 348.129 137.271 210.858
80-84 179.100 65.290 113.810 183.028 66.695 116.333 222.163 79.647 142.516
>85 103.230 31.010 72.220 111.579 35.031 76.548 118.202 37.400 80.802
295
Anexos
Anexo V – Alunos matriculados, segundo o ciclo de estudo e natureza institucional por distrito no ano lectivo de
1998/99
296
Anexos
Nomes
• ________________________
• ________________________
• ________________________
297
Anexos
Adj
ect
TMN
ivo
s
Telecel
3
Optimus
298
Anexos
Fria/Carinhosa
Organizada/Desorganizada
Divertida/Aborrecida
Transparente/Não Transparente
Complicada/Simples
Lenta/Mexida
Grande/Pequena
Com qualidade/Falta de qualidade
Inovadora/Antiquada
Gira/Feia
Colorida/Sem cor
299
Anexos
300
Anexos
Olá
Gostaríamos de saber alguns dados sobre ti. Pedimos-te então que preenchas, por favor os seguintes
campos:
P1: És,
Um rapaz Uma rapariga
P7: Num dia normal de aulas, desde que sais de casa até voltares, quantas horas costumas passar em cada
uma das seguintes actividades?
horas nas aulas horas em transportes horas na actividade
_____________
horas em actividades horas em casa de horas na actividade
de tempos livres (ATL) familiares _____________
301
Anexos
P9: Do dinheiro que costumas receber, guardas normalmente .$ por mês/semana
(risca o que não interessa).
P10: O restante dinheiro, costumas gastar em (escolhe apenas uma das opções que são indicadas):
P11: Que prendas costumas pedir no teu Aniversário e no Natal (escolhe apenas uma das opções que são
indicadas)?
P12: Que prendas costumas pedir noutras ocasiões (escolhe apenas uma das opções que são indicadas)?
302
Anexos
Vamos agora pedir-te que nos dês alguma informação sobre os teus pais. Para isso responde, por favor ao
seguinte grupo de questões:
Vamos agora pedir-te que nos respondas a algumas questões sobre compras (sejam as compras que os
teus pais fazem para a casa ou outras).
P22.1: Para as compras da casa (sejam feitas todos os dias, todas as semanas ou meses), os teus pais
costumam ir:
P22.2: Neste tipo de compras para a casa costumas acompanhar os teus pais (colocar uma bola na
resposta correcta)?
303
Anexos
P23.1: Para as outras compras (roupa, electrodomésticos, etc), os teus pais costumam ir:
Ao hipermercado Ao centro comercial A lojas especializadas
A lojas de rua
P23.2: Nestas outras compras costumas acompanhar os teus pais (colocar uma bola na resposta
correcta)?
Sempre Normalmente Às vezes Raramente Nunca
P24.2: Quantas lojas costumas visitar com os teus pais por semana?
0 1 2 3 4
Para finalizar gostaríamos que respondesses a algumas perguntas relacionadas com telemóveis.
P26: Das pessoas que tu conheces (família e amigos), quais deles já possuem telemóvel? Assinala com
uma cruz na tabela seguinte por baixo das colunas Já tem telemóvel ou Não tem telemóvel. Precisávamos
ainda de saber a idade dos teus Pais, Irmãos e Amigos (preenche por favor a última coluna da tabela)?
Nome Já tem Não tem Idade
telemóvel telemóvel
Pai
Mãe
Avós maternos
Avós paternos
Irmão
Irmão
Irmão
Amigo
Amigo
Amigo
Amigo
P27: Das pessoas que tu conheces que têm telemóvel qual o operador que elas têm (escolhe apenas uma
das opções)?
Todas têm o mesmo operador que é
TMN Telecel Optimus
304
Anexos
P29: Gostaríamos agora que nos dissesses quais as palavras/expressões que achas que mais servem para
caracterizar cada uma das operadoras (escolhe 4 da lista que te fornecemos). Caso não conheças alguma
delas coloca uma cruz na coluna “Não conheço a operadora” e não atribuas nenhuma palavra/expressão.
Lista de palavras/expressões:
Carinhosa, Organizada, Desorganizada, Divertida, Aborrecida, Complicada, Simples, Lenta, Mexida,
Com qualidade, Sem qualidade, Inovadora, Antiquada, Gira, Feia, Colorida, Sem cor
Telecel 1. __________________
2. __________________
3. __________________
4. __________________
Optimus 1. __________________
2. __________________
3. __________________
4. __________________
305
Anexos
306
Anexos
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Anexos
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Anexos
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Anexos
310