O artigo traz a consciência da importância das artes negras na
construção histórica da sociedade brasileira nas suas diversas formas de expressão: dança, teatro, música, literatura, poesia, objetos. Recuperando fatos do passado para tentar entender o presente, inicia com a denominação do que é “artes cênicas negras”, segundo a autora, é o conjunto de repertórios, iniciativas, poéticas, dramaturgias de formas expressivas, criadas e difundidas enquanto teatro e dança produzidos por pessoas negras e pessoas que se identificam, engajam e descendem da cultura africana no Brasil. Mesmo com a colonização e escravidão branco-europeia, os povos negros africanos conseguiram manter suas práticas, jogos, danças, músicas, lutas, ritualidades que permanecem nos dias atuais com modos reinventados e novos significados. O texto busca entender os motivos que o conhecimento afro-brasileiro na formação acadêmica, sobretudo em Salvador no estado da Bahia, ainda é pouco incorporado. A autoria aponta que ainda há uma relação de poder, discriminação e preconceito à presença negra no ambiente acadêmico e a necessidade de buscarmos instrumentos para superar e mudar o que, de alguma forma, está estabelecido. Ela traz referências do I Fórum Negro das Artes Cênicas, que ocorreu na Universidade Federal da Bahia – UFBA, que trouxe diversos nomes expressivos e/ou desconhecidos que se somam à construção desta epistemologia e metodologia das artes cênicas negras na Bahia e no Brasil. Traz também referências de personalidades negras que deveriam ser lembrados pelas gerações atuais e futuras, tais como: Abdias do Nascimento, Grande Otelo, Léa Garcia, entre outros.
1 MOVIMENTO NEGRO E A LUTA POR POLÍTICAS AFIRMATIVAS EM UNIVIVERSIDADES
Esta parte do artigo elucida algumas iniciativas que acontecem na UFBA
e em outras instituições de ensino superior para conquista das políticas afirmativas. Fica constatado que há avanços nos processos de mudança, mas ainda existem posturas contrárias e resistência de professores que carregam ainda o pensamento racista, o qual precisa ser eliminado e combatido.
DANÇA CÊNICA NOS CURRÍCULOS DAS UNIVERSIDADES,
QUAL O SEU LUGAR?
É realizada uma pesquisa sobre os cursos de dança nas universidades
da Bahia e verifica-se a deficiência de estudos sobre a as artes negras, que muitas vezes são oferecidas como optativas, quando deveriam ser, a na visão da autora, obrigatórias. A intensificação da política de ação afirmativa nos espaços de formação torna-se cada vez mais urgente no sentido de melhorar as práticas, convivências e diminuição do fosso existente entre o que os bens os quais a ciência privilegia, distantes da realidade social. A contribuição negra na dança e no teatro aponta para o que se tem a conhecer, reconhecer e referenciar nos espaços de educação em todos os níveis, incluindo-se a instância superior. Conclui-se que as artes negras passam por dificuldades e requerem uma política de regionalização, cultura e identidade, de forma a exercer uma distribuição de recursos públicos, equitativa e justa, superando a concentração aos chamados “grandes centros”, “polos econômicos” ou “grupos de elites”. Fica registrado a trajetória de luta de artistas negros e pessoas engajadas no movimento, que perseguem o direito de ingressarem ao espaço científico/acadêmico.