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Vivido que se conta vivendo: veracidade da informação, liberdade da escrita – por mais que haja
influência social na escrita, entender a obra literária a partir de tal gênero não exclui a compreensão
contextual dos objetos de pesquisa, mas acrescenta variáveis e, porque não, créditos a figura do
escritor;
Autoficção como textos em primeira pessoa: “aos textos que desenvolvem, em pleno conhecimento
de causa, a tendência natural a se ficcionalizar, própria à narrativa de si” (Gasparini);
1973: Declaração do autor quando ao gênero da obra e o nome dado ao personagem principal;
1977: “Um gênero é como se fosse um hábito: só começa na segunda vez” (p. 23) – em relação ao
segundo livro de Serge Doubrovsky.
“Uma autoficção é uma obra literária através da qual um escritor inventa para si uma
personalidade e uma existência, embora conservando sua identidade real (seu nome
verdadeiro) […] Essas obras compartilham, entretando, a propriedade de serem fictícias e de
inscrever seus autores no mundo imaginário que lhes é próprio (p. 26);
“É como se a palavra autoficção fosse um catalisador. Ou uma partícula traçante, cuja trajetória
revela as linhas de força de um campo antes de se esvanecer. Talvez não exista realmente um
‘gênero’ que corresponda a essa palavra, mas no rastro deixado por sua passagem, nossos
problemas se esclarecem, nossas diferenças se exprimem” – encontro teórico!;
Nossa escrita não faz com que o mundo cesse de pesar sobre nós (p. 31, A condição humana,
Malraux);
“Para o autobiográfico, como para qualquer escritor, nada, nem mesmo sua própria vida, existe
antes de seu texto; mas a vida de seu texto é sua vida dentro de seu texto. Para qualquer escritor […]
o movimento e a própria forma da escrita são a única inscrição de si possível, o verdadeiro
‘vestígio’, indelével e arbitrário, ao mesmo tempo inteiramente fabricado e fiel” (p. 34);
Autoficção: nome de um gênero literário ou de uma categoria genérica, e se aplica a textos literários
contemporâneos;
“O texto que resulta propõe dois contratos incompatíveis que levam o leitor a uma caça aos indícios
de referencialidade e de ficcionalidade” (p. 182): a leitura da autoficção instiga a quem lê a
procura pela verdade ou pela mentira; pela ‘ilusão biográfica” (será?);
Autoficção é o nome atual de um gênero ou o nome de um gênero atual? – Carolina Maria de Jesus
(autobiografia) / Ricardo Lísias (romance autobiográfico);
“O conceito de autoficção teve inicialmente como base uma ontologia e uma ética da escrita do eu.
Ele postulava que não é possível se contar sem construir um personagem para si, sem elaborar um
roteiro, ser ‘dar feição’ a uma história”. Postulava que não existe narrativa retrospectiva sem
seleção, amplificação, reconstrução, invenção” (p. 187);
“O sujeito está situado em uma linha de ficção” – Lacan, a respeito da (re)construção de nossas
memórias;
“É impossível que o sujeito se divida para determinar, dentre seus comportamentos, quais resultam
do artifício e quais resultam da espontaneidade. De outro, nossa noção de natural é
fundamentalmente cultural (e social). Quando acreditamos optar por uma linguagem ‘natural’,
sustenta Valéry, apenas ‘defendemo-nos de uma afetação por meio de outra’. Pois ‘o verdadeiro que
escolhemos se transforma […] insensivelmente quando escrito no verdadeiro que é feito para
parecer verdadeiro” (p. 188) – Ilusão autobiográfica, Bourdieu;
PONTO: “A partir do momento que contamos o que nos ocorreu, criamos um personagem com o
qual nos identificamos e construímos uma história, um roteiro, uma fábula”, uma narrativa.
“Percebe-se, pois, que foi como se a palavra autoficção tivesse surgido no momento oportuno para
traduzir e cristalizar as inúmeras dúvidas levantadas desde o início do século XX, pelas noções de
sujeito, identidade, verdade, sinceridade, escrita do eu. O novo conceito […] postulava a
perempção da autobiografia enquanto promessa de narrativa verídica, sua relegação a um
passado definitivamente acabado, sua substituição por um novo gênero” (p. 189). Entretanto,
tal consideração ainda não “definia a autobiografia pela intenção do autor, por seu compromisso
em buscar e retranscrever os rastro de sua experiência pessoal. Há um pacto autobiográfico a
partir do momento em que o leitor reconhece a autenticidade desse esforço de reconstituição e
interpretação” (p. 190) – quais são os critérios que culminam no reconhecimento do leitor? Análise
tanto social (prática social da escrita) como individual (quem escreve);
Paul Nizon, noção de identidade: “A autobiografia é uma reconstrução do passado, algo que não me
interessa. O que me interessa é que o eu é uma coisa muito fluida, inatingível. Trata-se, ao escrever,
de mergulhar em direção a esse eu desconhecido a fim de constituí-lo de uma maneira ou de outra
como personagem. O ‘eu’ não é, portanto, o ponto de partida, como na autobiografia, mas o
ponto de chegada” (p. 205);
Primo Levi: “responsabilidade de testemunhar pelos náufragos que o sofrimento privou da palavra”
(p. 210);
Autoficção tem “uma função ética e, em sentido amplo, política. Diante das ‘ficções coletivas’ que
são as fábulas “religiosas, sociais, econômicas, políticas, culturais, as ficções empresarias, o story
telling, os escritores devem, em sua opinião, contar os fatos, ‘e em tom maior’. A autoficção
constituiria assim um polo de resistência ao travestimento dos fatos e à reificação dos indivíduos”
(p. 211);
Anne Ernaux – “Ir além do estágio narcisista da escrita do eu para atingir uma perspectiva de
universabilidade. É por isso que a autora propôs, para caracterizar seus textos, o termo narrativa
transpessoal. E também a expressão narrativa auto-socio-biográfica: entre auto e biográfica, o
morfema sócio notifica que o testemunho pessoal deve se inscrever em um contexto social e
histórico, que ele contribui senão para elucidar, pelo menos para descrever” (p. 212) –
ENCONTRO DE MEMÓRIA PESSOAL E COLETIVA
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