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PORTUGUES
EXAME
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Sebenta português 12 ano
10º ano
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Sebenta português 12 ano
Poesia Trovadoresca
• Cantigas de amigo
- A variedade do sentimento amoroso (amor, saudade, alegria, raiva,
tristeza…);
- O drama sentimental da donzela (aparentemente espontâneo e natural);
- A confidência amorosa (amigas, mãe, Natureza).
• Cantigas de amor
- A coita de amor (sofrimento amoroso) e o amor cortês: a “senhor” e o
sofrimento do poeta;
- O elogio cortês.
• Cantigas de escárnio e maldizer
- A crítica individual ou social de recorte caricatural;
- A dimensão satírica: a crítica de costumes, a paródia ao código de amor
cortês.
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Cantigas de amor
A Provença, a partir do séc. XI, foi o berço de um encantador lirismo, que concebia o
amor como um culto.
Este lirismo difundiu-se na Península Ibérica nos séc. XII e XIII, dando origem à
chamada Cantiga de Amor que segue o modelo provençal.
De carácter aristocrático dá expressão à coita de amor (raramente à alegria) fazendo
do amor um preito de vassalagem à “senhor”.
Quem nestas cantigas fala é um homem (sujeito poético) que se dirige ou se refere a
uma dona, oriunda de um estrato social superior ( residindo em ambientes
palacianos).
O trovador imaginava a “dona” como um “suserano” a quem “servia” numa atitude
submissa de “vassalo”
o Elogio superlativo da dama (de elevada estirpe social);
o Amor cortês (distância respeitosa do trovador em relação à Senhora, cuja identidade, por
princípio, não revelará);
o Vassalagem amorosa;
o Queixume pela desgraça de amor devido aos rigores, indiferença ou desamor da dama; (A
dama não deixa, por esse motivo, de ser, a todos os títulos, digna de amor e louvor).
o Quem nestas cantigas fala é um homem (sujeito poético) que se dirige ou se refere a uma
dona, oriunda de um estrato social superior (residindo em ambientes palacianos).
o O trovador imaginava a “dona” como um “suserano” a quem “servia” numa atitude
submissa de “vassalo”.
Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher
amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor
não correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do
feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (suserana) e espera receber um
benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não
correspondido).
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Cantigas de Amigo
O trovador usa o artifício de falar como uma menina enamorada, do povo, que se
dirige ao amigo ou amado, que fala dele à própria mãe, às irmãs, às companheiras ou
ao Santo da sua devoção.
Estas cantigas são postas na boca de uma mulher solteira (sujeito poético), donzela,
que exprime os seus pequenos dramas e situações da vida amorosa.
Nas cantigas de amigo nota-se: o eu-lírico é feminino, apesar de escritas por homens;
ao contrário da cantiga de amor, onde o sentimento não se realiza fisicamente, na
cantiga de amigo (entende-se por amigo, o amado) há nítidas referências à saudade
física do amigo ausente.
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A data de sua morte é incerta, mas consta-se que terá morrido com cerca de 80m
anos de idade.
Das crónicas que escreveu sobre a história de Portugal restam-nos apenas três
identificadas com segurança: a Crónica de D. Pedro, a Crónica de D. Fernando e
a Crónica de D. João I.
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Povo:
Papel decisivo na fase de nomeação do Mestre (cap. 11).
Preparação para o cerco, de forma empenhada e valorosa (cap. 115).
Vivência da miséria associada à falta de mantimentos durante o cerco (cap.
148).
Atores individuais e atores coletivos
Personagens históricas – Mestre de Avis, Álvaro Pais, D. Leonor, D. Nun’Álvares
Pereira, entre outros.
Povo, massa anónima, a “arraia miúda”, a população das cidades, em especial a de
Lisboa. Mesmo em caso de diálogo, são vozes, normalmente não identificadas, que
saem da multidão, representando-a, ou dirigindo-se a outros companheiros.
Estilo
Objetividade vs subjetividade
Objetividade presente no rigor da pormenorização (cf. Descrições
pormenorizadas com valor descritivo e informativo).
Subjetividade: presente na apreciação crítica e emotiva dos factos
relatados (interrogação retórica, frase exclamativa). “pensa alto,
comenta, interpela”
Conjugação de planos – planos gerais (focalização da cidade e dos atores coletivos
que nela intervêm) e planos de pormenor (incidência em grupos de personagens e/ou
situações particulares).
Visualismo – recursos (comparação, personificação, enumeração, hipérbole) e
vocábulos que marcam o sensorialismo da linguagem (atos de ver e ouvir). Uso da
técnica da reportagem: o leitor "vê" e "sente" os acontecimentos, está no centro da
ação.
Coloquialismo – recursos expressivos (interrogação retórica, apóstrofe) e
interpelação do interlocutor, recorrendo à 2ª pessoa do plural.
Dinamismo – recriação dos acontecimentos de forma dinâmica.
Uso do discurso direto e indireto, misturados, com períodos longos e curtos e
alternados.
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A crise de 1383-1385
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D. João, Mestre de Avis, apoiado por um grupo de nobres, entre os quais Álvaro Pais e
o jovem Nuno Álvares Pereira, foi incentivado pelo descontentamento geral a
assassinar o conde Andeiro. A ação ocorreu no paço, a 6 de dezembro de 1383.
Com a vitória do partido do Mestre de Avis na guerra civil e contra Castela, este
tornou-se regente e depois rei. D. João I de Castela, genro de Leonor, logo em 1384,
pouco depois dela ter renunciado à regência, havia-a internado no Mosteiro de
Tordesilhas, perto de Valhadolide, onde, segundo alguns historiadores, faleceu em
1386. No entanto, referências do cronista castelhano Lopez de Ayala, seu
contemporâneo, dão-na como viva em 1390 e em data ainda mais tardia1.
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonor_Teles
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Síntese da obra:
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Capítulo 11
Assunto do capítulo
Título
«Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o mestre, e como aló foi
Alvoro Paez e muitas gentes com ele»
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Estrutura interna2
Momentos Delimitação Personagen Ação Espaço
s
O Pajem do
Pelas
Mestre deixa o
ruas
Paço da Rainha
da
e cavalga
Pajem cidade
Convocação / Linhas 1 a velozmente
Álvaro até à
Apelo 5 pelas ruas, em
Pais casa
direção à casa
de
de Álvaro Pais,
Álvaro
gritando que
Pais.
Introdução mata, o Mestre.
Desenvolvimento Álvaro Pais sai
com os seus
homens e grita Pela
Pajem
Movimentaçã pela cidade que cidade,
Álvaro
o é necessário a partir
Pais
Linhas 6 a acudir ao Mestre, da
Aliados de
+ 21 por ser filho de casa
Álvaro
D. Pedro. de
Pais
Concentração O povo junta-se Álvaro
Povo
a Álvaro Pais e Pais
avança em
direção ao Paço.
O povo chega ao
Paço e mostra-
se gradualmente
furioso e
impaciente por
Às
saber o que
Linhas 22 portas
Manifestação Povo sucedeu ao
a 43 do
Mestre e planeia
Paço.
invadi-lo. É o
momento em
que a ação
atinge o seu
clímax.
Convencido
pelos que o
rodeiam, o
Mestre dirige-se
à janela e À
Linhas 44 Povo mostra-se ao janela
Aclamação
a 59 Mestre povo, do
tranquilizando-o Paço
(pois está vivo e
o conde morto) e
sendo por ele
aclamado.
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http://portugues-fcr.blogspot.com/2017/11/capitulo-xi-da-cronica-de-d-joao-i.html
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O Mestre sai do
Paço e convence
o povo a Paço
dispersar. Pelas
Linhas 59 Mestre
Dispersão O Mestre ruas
a 80 Povo
atravessa a da
cidade e dirige- cidade
se ao Paço do
Conclusão Almirante.
Alexandre Dias Pinto e Patrícia Nunes (in Entre nós e as Palavras 10,
Santillana, p. 75) propôs outra divisão do capítulo.
. 1.ª parte (de “O Page do Meestre que estava aa porta…” a “… que matam sem por
quê.”) – Os partidários do Mestre percorrem Lisboa para mobilizar a população (a
favor do Mestre), que os segue.
. 3.ª parte (de “Entom os do Meestre veendo…” a “E assi forom pera os Paaços u
pousava o Conde.”) – O Mestre mostra-se à janela, abandona o Paço e pede à
multidão que disperse.
. 4.ª parte (de “E estando eles por se assentar…” a “… desta guisa que se segue.”) – D.
João é informado de que o Bispo de Lisboa está em perigo, mas é aconselhado a não
intervir.
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GRUPO I
Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Mestre, e como aló foi
Alvoro Paez e muitas gentes com ele.
E assi chegou a casa d’ Alvoro Paez que era dali grande espaço.
As gentes que esto ouviam, saíam aa rua veer que cousa era; e começando de falar
u~us com os outros, alvoraçavom-se nas vontades, e começavom de tomar armas
cada u~u como melhor e mais asinha podia. Alvoro Paez que estava prestes e armado
com ~ua coifa na cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em
cima du~u cavalo que anos havia que nom cavalgara; e todos seus aliados com ele,
bradando a quaesquer que achava dizendo:
Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos bradar que matavom o Mestre;
e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de marido, se
moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u deziam que se esto fazia,
por lhe darem vida e escusar morte. Alvoro Paez nom quedava d'ir pera alá, bradando
a todos:
– Acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre que matam sem por quê!
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom
cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom logares escusos, desejando cada u~u
de seer o primeiro; e preguntando u~us aos outros quem matava o Mestre, nom
minguava quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da
Rainha. Crónica de D. João I de Fernão Lopes (ed. Teresa Amado), Lisboa,
Comunicação, 1992 (Texto com algumas alterações, feitas de acordo com a grafia
atual.)
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Notas
aló (l. 1): então.
alvoraçavom-se nas vontades (l. 9):
excitavam-se os ânimos.
arroido (l. 15): ruído.
asinha (l. 10): depressa.
coifa (l. 10): parte da armadura que
cobria a cabeça.
com mão armada (l. 17): com armas na
mão.
em logo de (l. 16): em lugar de.
era dali grande espaço (l. 7): era longe
dali.
escusar (l. 18): evitar.
escusos (l. 21): escondidos ou pouco
frequentados.
minguava (l. 22): faltava.
nom quedava d'ir pera alá (l. 18): não
parava de ir para lá; continuava a
dirigir-se para lá.
percebido (l. 4): combinado.
prestes (l. 9): pronto; preparado.
rijamente (l. 4): energicamente;
depressa.
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Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens.
3. Descreva três das reações das «gentes» aos apelos lançados pelo Pajem e por Álvaro
Pais.
4. Explique a relação de sentido que se estabelece entre o texto e a frase que lhe serve de
título.
5. O narrador vai alternando entre discurso direto e discurso indireto ao longo da narração.
Capítulo 115
Assunto do capítulo
A cidade de Lisboa estava organizada para resistir ao cerco. As muralhas com as suas 67
torres, foram divididas em setores, cada um dos quais confiado a um capitão e a certo grupo de
defensores. Apesar do cerco, continuou a trabalhar-se na construção da barbacã ( é um muro
anteposto às muralhas, de menor altura do que estas, com a função de proteger as muralhas
dos impactos da artilharia), do lado do acampamento castelhano. As moças, sem nenhum
medo, andavam pelas terras a apanhar pedra para as obras e cantavam em alta voz dizendo:
«Esta é a Lisboa prezada – mira-la e deixa-
la…»
Título
Título
Capítulo 148
Das tribulações que Lisboa padecia per míngua de mantimentos.
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
Gil Vicente havia sido acusado de plagiar obras do teatro espanhol de Juan del Encina.
Em vista disso, pediu para que aqueles que o acusavam dessem um tema para que ele
pudesse, sobre ele, escrever uma peça.
Deram-lhe o seguinte ditado popular como tema:
Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube.
No auge de sua carreira dramática, sobre este tema, Gil Vicente criou A Farsa de Inês Pereira,
respondendo assim àqueles que o acusavam de plágio.
A peça foi apresentada pela primeira vez para o rei D. João III, em 1523.
Ao apresentá-la, o teatrólogo português diz:
"A seguinte farsa de folgar foi representada ao muito alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro
do nome em Portugal, no seu Convento de Tomar, na era do Senhor 1523. O seu argumento é
que, porquanto duvidavam certos homens de bom saber, se o Autor fazia de si mesmo estas
obras, ou se as furtava de outros autores, lhe deram este tema sobre que fizesse: é um
exemplo comum que dizem:
Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube.
E sobre este motivo se fez esta farsa.
A Farsa de Inês Pereira é também considerada a peça mais divertida e humanista de Gil
Vicente. O aspecto humanístico da obra vê-se pelo fato de que a protagonista trai o marido e
não recebe por isso nenhuma punição ou censura, diferentemente de personagens de O Auto
da Barca do Inferno e O Velho da Horta, que são castigadas por fatos moralmente parecidos.
Estrutura da obra
Estrutura externa e estrutura interna – esta é a obra mais extensa de Gil Vicente, sendo
considerada a sua obra-prima.
o Estrutura externa: embora não tenha divisões em atos e cenas, é possível
estabelecer três cenas, com a entrada e a saída das personagens, como é típico no
teatro vicentino.
o Estrutura interna: a farsa estrutura-se a partir de episódios que podem ser
organizados da seguinte forma:
vida de Inês, ainda solteira, com a mãe;
conselhos de Lianor Vaz sobre o casamento;
apresentação e entrada de Pero Marques;
recusa da proposta de casamento por Inês;
anúncio e entrada de um novo pretendente;
casamento de Inês com o Escudeiro;
desencanto com o casamento;
viuvez de Inês Pereira;
nova vida de casada com Pero Marques;
Concretização do desejo de Inês.
Assim:
Nesta farsa não existem divisões cénicas, mas é possível dividi-la em 3 atos. De assinalar a
importância da divisão em espaço interior e exterior. De notar o paralelismo presente nos
contrastes que Gil Vicente estabelece na construção do monólogo e diálogo inicial da peça, e
no monólogo e diálogo ocorridos após a noticia da morte de Braz da Mata. É através destes
paralelismos e contrastes que Gil Vicente expressa a mudança ocorrida com Inês.
Não há, do modo tradicional, um narrador; em geral, há rubricas, isto é, anotações à parte da
narrativa que servem de orientação para os atores ou para o leitor. São elas que esclarecem,
geralmente, as questões de vestimenta, cenário, tempo, posição das personagens etc. As
peças de Gil Vicente não trazem rubricas muito específicas.
Outra grande característica presente no gênero dramático é a predominância do discurso direto.
Como as personagens são representadas concretamente, elas mesmas têm direito à fala,
sendo o diálogo o meio usado para criar a trama narrativa.
Uma vez que as personagens falam diretamente, Gil Vicente, muito habilmente, soube usar
essa artimanha para garantir o humor. Na fala de cada uma encontramos marcas importantes
na delimitação de suas características: a ingenuidade de Pero Marques, o descaso e a argúcia
de Inês, a malandragem do Escudeiro e daí em diante.
Gil Vicente seguiu a Medida Velha, característica da poesia medieval. Todas as falas foram
compostas em verso redondilhos maiores, isto é, com sete sílabas poéticas, e sempre rimados.
Personagens
Inês: representa a moça casadoira, fútil, muito preguiçosa e interesseira, que se casa duas
vezes, apenas para se livrar do tédio da vida de solteira. Não conseguindo casar-se na
primeira tentativa, garante-se na segunda, com o marido ingénuo. Apesar de seu
comportamento impróprio, consegue até mesmo a simpatia do público pela inteligência com
que planeja seus passos. Principal personagem da peça. Moça bonita, solteira, pequena-
burguesa. Seu cotidiano é enfadonho: passa os dias bordando, fiando, costurando. Sonha
casar-se, vendo no casamento uma libertação dos trabalhos domésticos. Despreza o
casamento com um homem simples, preferindo um marido de comportamento refinado.
Idealiza-o como um fino cavalheiro que soubesse cantar e dançar. Contraria as
recomendações maternas rejeitando Pero Marques e casando-se com Brás da Mata, frustra-
se com a experiência e aprende que a vida pode ser boa ao lado de um humilde camponês.
Inês deixa-se levar pelas aparências e ridiculariza Pero Marques despedindo-o de sua casa
para receber Brás da Mata. Casa-se com ele, mas sua vida torna-se uma prisão, ela não pode
sair e é constantemente vigiada por um moço. Inês sofre e chega a desejar a morte do
marido. Ele morre covardemente na guerra e Inês casa-se com Pero Marques. Ele satisfaz
todos os seus desejos e chega até a carregá-la nas costas para um encontro com um amante
(sem saber, porém, que era para isso).
Lianor Vaz: é a alcoviteira (fofoqueira), mulher na época assim chamada que arrumava
casamentos, revelando que a base da família está corrompida. É o esterótipo da comadre
casamenteira que sabe seu ofício e dele se desincumbe com desenvoltura. Sabe valorizar
seu produto com argumentos práticos de quem tem a experiência e o senso das coisas da
vida.
Mãe: apesar de dar conselhos à filha, acha importante que ela não fique solteira e torna-se
cúmplice das atitudes dela. Mulher de boa condição econômica, que sonha casar Inês com
um homem de posses. É a típica dona de casa pequeno-burguesa e provinciana. Preocupada
com a educação e o futuro da filha em idade de casar. Dá conselhos prudentes, inspirada por
uma sabedoria popular imemorial. Chega a ser comovente em sua singela ternura pela filha, a
quem presenteia com uma casa por ocasião das núpcias.
Pero Marques: é o marido bobo mas um lavrador abastado. Apesar de ser ridicularizado por
Inês, ele casa-se como ela e deixa que ela o maltrate e o traía. Primeiro pretendente de Inês
rejeitado por ser grosseiro e simplório, apesar da boa condição financeira. Foi seu segundo
marido. Camponês simples, não conhece os costumes das pessoas da cidade. É uma
personagem ambígüa, ao mesmo tempo que é ridicularizado pela ingenuidade, é valorizado
pela integridade de caráter. Fiel e dedicado, revela se um gentil e carinhoso marido.
É tão simples que não sabe para que serve uma cadeira. É teimoso como um asno e diz que
não se casará até que Inês o aceite um dia.
Escudeiro (Brás da Mata): Preocupado em encontrar uma esposa, finge, e engana, criando
uma imagem de "bom moço" que depois se revela um tirano, e deixa Inês presa na sua casa
mas ele é morto por um mouro. índole má, primeiro marido de Inês. Interesseiro e dissimulado
é a representação da esperteza das classes superiores. É um nobre empobrecido que não
perde o orgulho e pretende aproveitar-se economicamente de Inês através do dote. Brás da
Mata é um escudeiro, isto é, homem das armas que auxiliava os cavaleiros fidalgos. Na
mudança do feudalismo para o capitalismo, a maioria permaneceu numa condição subalterna,
procurando imitar a aristocracia.
Moço: era um amigo do primeiro marido de Inês, que o ajuda a mentir para se casar com ela.
criado de Brás. Pobre coitado, explorado por um amo infame. Humilde, deixa-se explorar e
acredita ingenuamente nas promessas do Escudeiro. Cumpre sua obrigação sem ver
recompensa, mas é capaz de, em suas queixas, insinuar as farpas com que cutuca o mau
patrão.
Ermitão: era o amante de Inês que depois se torna num padre. antigo pretendente de Inês e
amante depois de seu casamento com Pero. É um falso monge que veste o hábito para
conseguir realizar seu propósito de possuir Inês.
Latão e Vidal: judeus casamenteiros, assim como Leonor. Os judeus casamenteiros são
muito parecidos, têm as mesmas características, na verdade são o mesmo repartido em dois.
São a caricatura do judeu hábil no comércio. Faladores, insinuantes, humildes, serviçais e
maliciosos, são o estereótipo de que a literatura às vezes se serviu, como, por exemplo, no
caso desta peça de Gil Vicente.
Inês Pereira é uma jovem casadoira, muito fantasiosa, idealista, culta (pois sabe ler e
escrever), é filha de uma mulher de baixa condição social, a qual pretende, no entanto, numa
atitude materialista e calculista, vir a casar com um jovem avisado, bem-falante e tocador de
viola, pois recusa uma vida de submissão e de clausura. A sua Mãe representa o papel de
confidente e a voz da experiência que Inês ignora. Pelas mãos de Lianor Vaz, alcoviteira e
amiga da mãe, chega Pero Marques, homem rico e de idade, ingénuo, que não faz furor junto
da rapariga. Vêm a seguir os judeus casamenteiros, interesseiros e oportunistas, com a
proposta de um homem discreto. Trata-se do escudeiro Brás da Mata, esse sim, talhado ao
gosto da rapariga. Embora pobre e pelado, fala bem ao coração e sabe tocar viola. Consumado
o casamento, logo o marido se revela um déspota autoritário, que deixa Inês em grande mágoa.
A acrescentar ao drama, decide o escudeiro partir para as terras d’além, onde buscará fama e
glória. O pobre Moço, esfomeado e desgraçado, fica responsável por mantê-la fechada em
casa. Passado algum tempo, chegam notícias d’além. O escudeiro é morto na guerra, embora
por um mouro pastor. Nasce de novo a alegria de Inês, nasce a liberdade do Moço e consuma-
se o primeiro projeto de casamento. Pero Marques será doravante o marido ingénuo, enganado
e subserviente, pois mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube. Virá por último um
certo Ermitão, homem pobre e apaixonado, um falso religioso, o qual bem se lembra de uma
admiração antiga por Inês; ela também se lembra, pelos vistos, que ele lhe mandava
camarinhas, ainda era ela Inesinha e na altura já falava espanhol. Ao chegarmos ao fim, parece
traçado o destino… Inês, bem casada com Pero Marques, cavalga às suas costas ao encontro
do Ermitão.
Enredo
A peça tem início com a entrada de Inês Pereira cantando e fingindo que trabalha em um
bordado. Logo começa a reclamar do tédio deste serviço e da vida que leva, sempre fechada
em casa. A mãe, ouvindo suas reclamações, aconselha-a a ter paciência. Inês é uma jovem
solteira que sofre a pressão constante do casamento. Imagina Inês casar-se com um homem
que ao mesmo tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e cantar, o
que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas
duas têm uma visão mais prática do matrimonio: o que importa é que o marido cumpra suas
obrigações financeiras, enquanto que Inês está apenas preocupada com o lado prazeroso,
cortesão.
Lianor Vaz aproxima-se contando que um padre a assediou no caminho. Depois de contar suas
aventuras, diz que veio trazer uma proposta de casamento para Inês e lhe entrega uma carta de
seu pretendente, Pero Marques, filho de lavrador rico, o que satisfazia a idéia de marido na
visão de sua mãe. Inês aceita conhecê-lo apesar de não ter se interessado pela carta.
Pessoalmente, acha Pero ainda mais desinteressante ainda e recusa o casamento. Sua
esperança agora está nos Judeus casamenteiros a quem encomendou o noivo de seus sonhos.
Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal, que
somente se interessam no dinheiro que o casamento arranjado pode lhes render, não dando
importância ao bem-estar da moça. Então lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro, que
mostra-se exatamente do jeito que Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe. Antes
de vir conhecê-la, porém, o tal Escudeiro, na verdade, pretensioso e falido, combina com seu
mal-humorado pajem as mentiras que dirá para enganar Inês.
O plano dá certo e eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido,
mostra ser tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas para que
Inês não olhasse para a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher
obediente e discreta.
Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura pouco
pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a guerra, onde morre nas mãos de um mouro
quando fugia de forma covarde.
Finalmente em liberdade, a moça não perde tempo.Viúva e mais experiente, fingindo tristeza
pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pero Marques, seu antigo pretendente.
Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o trai descaradamente quando é procurada por um
ermitão que tinha sido um antigo apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige
que Pero, seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada em
suas costas e levando Inês ao encontro do amante.
Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um asno que nos
carregue do que um cavalo que nos derrube"
A representação do quotidiano
O quotidiano representado refere-se à época de Gil Vicente, ao primeiro quartel do século XVI,
pois esta farsa foi levada a cena em 1523. Não faltam exemplos, ao longo da farsa, de hábitos
de vida e de costumes do dia a dia da época e Mestre Gil soube dar-lhes uma segunda
dimensão, ao associá-los a personagens-tipo (estas sintetizam em si funções sociais, estilos de
vida, trejeitos… típicos de um grupo social, profissional ou outro), concretizando assim também
a intenção satírica da obra.
Assim:
modo de vida popular (Pêro Marques) vs. Modo de vida cortês (Escudeiro);
cerimónia do casamento e o hábito de recorrer a casamenteiros;
conceções de vida e de casamento (Mãe e Lianor Vaz vs. Inês Pereira);
episódio relatado por Lianor Vaz (devassidão do clero);
prática religiosa – ida à missa;
falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe;
a ocupação da mulher solteira em tarefas domésticas (coser, bordar, …);
adultério; …
Em suma, verificamos:
Tempo
Cómico
A DIMENSÃO SATÍRICA
Concluindo
Desta ação pode extrair-se que o que Inês mais queria, acabou por conseguir: a sua
liberdade, encontrada junto de Pero Marquez. A unidade da ação é dada pelo tema e pela
personagem principal, Inês Pereira.
Não há dúvida de que Gil Vicente demonstrou aos contemporâneos que nele não
acreditavam, e com esta peça, ser de facto, o grande criador das obras que fazia
representar.
Luís de Camões, Rimas (X)
• A representação da amada:
• A representação da Natureza;
• O tema do desconcerto:
• O tema da mudança:
Para além de Os Lusíadas, Camões foi também um dos grandes poetas líricos do
Renascimento. Na sua poesia, coexistiram duas correntes: medida velha (trovadoresca
- Cancioneiros) e medida nova (petrarquismo).
Características principais:
Amor platónico - qualquer tipo de relação afetuosa ou idealizada em que se abstrai o
elemento sexual. Pode ser um amor impossível, difícil ou que não é correspondido.
Petrarquismo – amor ideal. Petrarca cantou nos seus poemas líricos o amor-paixão, o
amor ideal, concebido como uma contemplação espiritual que exclui a sensualidade, o
desejo ou até mesmo a presença física da amada (amor platónico). Esta filosofia amorosa
provoca contradições no ser humano: prazer e sofrimento, esperança e desespero. A
mulher amada é a representação de um ideal de Beleza e Perfeição. Luís de Camões
retratou a mulher nos mesmos moldes que Petrarca – longos cabelos «de ouro»,
ondulados, pele branca e delicada, olhos claros e cintilantes que refletem um
temperamento sereno, uma alegria discreta. Esta mulher perfeita e inatingível enquadra-se
na harmonia da natureza.
Influência tradicional Influência clássica renascentista
Temas Da tradição popular Amor platónico e petrarquista
O amor simples da menina que vai à Sofrimento devido ao desejo
fonte Saudade
Sofrimento A mulher bela fisicamente e caracterizada de uma
Amor platónico forma bastante sensual
Beleza feminina O desconcerto do mundo
Saudade
A mulher como deusa
Brevidade da vida
Natureza valorizada
A mulher é ideal de beleza, apresentada ora como símbolo de pureza, ora como símbolo do
amor físico e sensual:
Ideal de mulher petrarquista: a mulher é apresentada como uma figura angelical, a
celeste fermosura, a Circe que pôde transformar o pensamento do que por ela sofre, um
ser superior de perfeição moral e inacessível e intocável. Remete para a dimensão
espiritual do amor. O modelo de mulher petrarquista é Laura, a musa inspiradora de
Petrarca (1304 - 1374).
Ideal de Vénus: a mulher é apresentada como uma figura individualizada, uma mulher
de perfeição física, descrita como ser sensual, simbolizada por Vénus. Evidencia uma
exaltação da dimensão terrena do amor. A sensualidade da mulher é uma inovação de
Camões, em relação aos poetas do Renascimento italiano.
No modelo renascentista, a mulher apresenta fisicamente cabelo louro, pele branca, olhos
azuis, sorriso longínquo, gesto suave, pensar maduro, alegria saudosa, algo de incorpóreo,
como no soneto Um mover d’olhos brando e piadoso.
A REPRESENTAÇÃO DA NATUREZA
A Natureza aparece associada à poesia amorosa como expressão de estados de alma ou por
contraste entre o estado de espírito do sujeito poético; apresenta-se como objeto de
contemplação, cenário ou pretexto para a reflexão do eu poético; é geralmente uma paisagem
diurna, natural, harmoniosa e agradável – descrição do tipo locus amoenus -, um espaço
propício ao amor, plasmada em composições como o soneto A fermosura desta fresca serra.
A poesia lírica de Camões constitui uma reflexão sobre a sua vida pessoal. De facto, o poeta
evoca um itinerário pessoal, em que o sujeito lírico expressa a sua vivência íntima, referindo a
experiência infeliz do amor, a amargura do desconcerto, a revolta, a vingança, a culpa, a
recordação do bem passado, a tentação da morte, a instabilidade ou o desnorte (Tudo passei:
mas tenho tão presente / A grande dor das cousas que passaram / Que as magoadas iras me
ensinaram / A não querer já nunca ser contente.)
O DESCONCERTO
A MUDANÇA
O tema da mudança aparece associada à temática do desconcerto e à temática do destino. O
poeta reflete sobre a mudança na Natureza e a mudança no ser humano.
A mudança é cíclica na Natureza (reversível) e é linear (irreversível) no homem. A
existência humana muda, mas é imprevisível e marcada pela adversidade, com
consequências negativas (pessimismo e morte). O poete reflete ainda sobre a mudança
da própria mudança, de que o soneto Mudam-se os tempos, mudam-se os vontades é
exemplo.
FORMAS POÉTICAS / MEDIDA VELHA MEDIDA NOVA
MÉTRICA (tradicional) (clássica)
Métrica Redondilha menor (5 As formas poéticas mais
sílabas métricas) e frequentes são o
redondilha maior (7 vilancete, a cantiga, a
sílabas métricas). esparsa, a trova, a
endecha.
Variedade estrófica Verso decassilábico As formas poéticas mais
(predominante). frequentes são o soneto, a
canção, a écloga, a ode, a
elegia.
Luís de Camões, Os Lusíadas (X)
• Imaginário épico:
- matéria épica – feitos heroicos e viagem;
- sublimidade do canto;
- mitificação e dimensão simbólica do herói, representante da coletividade;
• Reflexões do poeta (visão antiépica):
- considerações ideológicas e propósitos moralizadores e didáticos;
- críticas: à falta de cultura nacional, que despreza as artes e as letras; à ingratidão e à
falta de reconhecimento do mérito; ao poder do dinheiro e aos meios indignos de
atingir a fama; à decadência moral do país;
• Linguagem estilo e estrutura:
- a epopeia: natureza e estrutura da obra;
- os quatro planos narrativos: viagem, mitologia, História de Portugal e reflexões do
poeta;
- distribuição estrófica, métrica e esquema rimático: oitavas em verso decassilábico,
com esquema rimático abababcc;
- recursos expressivos mais frequentes: a anáfora, a anástrofe, a apóstrofe, a comparação, a
enumeração, a hipérbole, a metonímia, a interrogação retórica.
História Trágico-Marítima
• As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565; excertos);
• Aventuras e desventuras dos Descobrimentos portugueses;
• O imaginário épico:
- matéria épica: feitos históricos e viagem (as desventuras dos Descobrimentos);
- enaltecimento do(s) herói(s);
• “Epopeia de morte e de pavor” por oposição à “epopeia de glória” de Os Lusíadas;
• A crítica às causas humanas de muitos dos naufrágios (ambição desmedida, desleixo na
construção e carregamento dos barcos, desrespeito pelos ciclos naturais e condições
atmosféricas adequadas, ataques de corsários).
CONCEITO DE EPOPEIA
ESRUTURA EXTERNA
ESTRUTURA INTERNA
O poema está organizado em quatro partes: Proposição (I, 1-3); Invocação (I, 4-5); Dedicatória
(I, 6-18 e X, 145-156); Narração (I-X).
O Plano Mitológico é dado pela intervenção dos deuses pagãos na ação, simbolizando por
um lado, as diversas adversidades superadas pelos heróis, por outro, o estatuto do herói
português a quem Neptuno e Marte obedeceram.
O Plano da História de Portugal é assegurado por diversas vozes (Vasco da Gama, Paulo da
Gama, figuras mitológicas) e encaixado por analepses e prolepses em diversos momentos da
ação. São narrativas secundárias que se inserem no propósito inicial do poeta sem perder a
unidade de ação: o louvor dos feitos valorosos dos portugueses.
O Plano das Considerações do Poeta revela-nos um autor atento ao seu tempo e com uma
intenção pedagógica e cívica que acompanha os diversos relatos. Assim, maioritariamente nos
finais dos cantos, a narração é interrompida e o poeta lança críticas, tece lamentos e
desabafos ou exorta os portugueses a seguirem o exemplo dos verdadeiros heróis, o caminho
da imortalidade, que é, como afirma, o Caminho da virtude, alto e fragoso / Mas, no fim, alegre
e deleitoso (VI, 90).
O léxico
A mitificação do herói
A epopeia Humanista
Sínteses intercalares
Canto I
• Navegação no Índico/ concílio dos Deuses no Olimpo: confronto entre Vénus e Baco;
• Decisão favorável aos Portugueses;
• Chegada à Ilha de Moçambique;
Contraste entre negros e brancos;
Curiosidade dos Moçambicanos, diálogo;
Visita do Régulo às Naus;
Constatação das diferenças religiosas;
Ódio dissimulação do Rei mouro;
Instigações de Baco contra os Portugueses;
Cilada;
Simulação de arrependimento por parte do Rei e oferta traiçoeira de um
falso piloto;
• Partida em direção a Quílola;
• Intervenção providencial de Vénus: desvio da frota com o auxílio de ventos contrários,
impedindo a entrada em Quílola;
• Novas tentativas do falso piloto;
• Chegada a Monbaça;
• Novas ciladas instigadas por Baco;
• Exclamações de Camões.
Canto II
Canto III
• Camões pede a Calíope, musa inspiradora da poesia épica, que o ajude em tarefa tão
exigente;
• Vasco da gama inicia o seu longo discurso ao Rei de Melinde:
- Primeiro fala do seu país e da situação geográfica;
- Depois refere a História de Portugal:
∞ História primitiva – do Luso a Viriato;
∞ Conde D. Henrique: formação do condado Portucalense;
∞ Reis da 1ª Dinastia.
Canto IV
Canto V
O poeta começa por mostrar como o canto, o louvor, incita à realização dos feitos; dá
em seguida exemplos do apreso dos antigos pelos seus poetas, bem como da importância
dada ao conhecimento e à cultura, que levava a que as armas não fossem incompatíveis com
o saber.
Não é, infelizmente, o que se passa com os portugueses: não se pode amar o que não
se conhece, e a falta de cultura dos heróis nacionais é responsável pela indiferença que
manifestam pela divulgação dos seus feitos.
Apesar disso, o poeta, movido pelo amor à pátria, reitera o seu propósito de continuar a
engrandecer, com os seus versos, as “grandes obras” realizadas.
Desta forma, manifesta a vertente pedagógica da sua epopeia, na defesa da realização
plena do homem em todas as suas capacidades.
Canto VI
Canto VII
• Chegada a Calecute;
• Camões elogia o espírito de cruzada e critica os outros países que não seguem o
mesmo exemplo;
• Descrição da Índia;
• Vasco da Gama manda um mensageiro anunciar a sua chegada a Calecute;
• O mensageiro desperta a curiosidade entre as gentes da Índia, pelo seu tom de pele e
modo de trajar;
• Monçaide, um mouro do norte que conhece a fama dos portugueses e fala hispânico,
recebe-o em sua casa e fala da Índia e das suas gentes;
• Gama decide desembarcar e visitar o Samorim;
• O capitão Português é recebido pelo Catual, governados da cidade, e passeia-se pelas
ruas de Calecute;
• Vasco da Gama é recebido pelo Samorim no seu palácio e expõe-lhe o objetivo da sua
viagem: levá-lo a fazer um pacto de Paz, Amizade e Comércio com El-Rei D. Manuel I;
• O Catual quer informações sobre os portugueses e Monçaide aconselha-o a ir visitar as
naus;
• O Catual é recebido a bordo e pede a Paulo da Gama que lhe fale da bandeira que tem
cenas históricas pintadas;
• Camões pede inspiração, desta vez às ninfas do Tejo e do Mondego e lamenta-se da
ingratidão dos seus contemporâneos que não lhe dão o valor que ele julga merecer.
Est. 2 a 14 – Percorrido tão longo e difícil caminho, é momento para que, na chegada a
Calecute, o poeta faça novos louvores aos Portugueses. Exalta, então, o seu espírito de
cruzada, a incansável divulgação da Fé por África, Ásia, América “E se mais mundos houver,
lá chegará”, inserindo, assim, a viagem à Índia na missão transcendente que assumiram e que
é marca da sua identidade nacional.
Por oposição, critica duramente as outras nações europeias – os Alemães “soberbo
gado”, o “duro Inglês”, o “Galo indigno”, os italianos que, “em delicias/ Que o vil ócio que no
mundo traz consigo,/ Gastam as vida” – por não seguirem o seu exemplo no combate aos
infiéis.
Est. 78 a 87 – Numa reflexão de tom marcadamente autobiográfico, o Poeta exprime
um estado de espírito bem diferente daquele que caracterizava, no Canto I, a invocação às
Tágides – “ cego, / (…) insano e temerário”, percorre um caminho “árduo, longo e vário”, e
precisa de auxílio porque, segundo diz, teme que o barco da sua vida e da sua obra não
chegue a bom porto. Uma vida que tem sido cheia de adversidades, que enumera: a pobreza,
a desilusão, o desterro, os perigos do mar e da guerra, entre outros. Em retribuição, recebe
novas contrariedades – de novo a crítica aos contemporâneos e o alerta para a inevitável
inibição do surgimento de outros poetas em consequência de tais exemplos.
Porém, a critica aumenta de tom na parte final, quando são enumerados aqueles que
nunca cantará e, implicitamente, denuncia abundarem na sociedade do seu tempo: os
ambiciosos, os que sobrepõem os seus interesses aos do “bem comum e do seu Rei”, os
dissimulados, os exploradores do povo, que não defendam “que se pague o suor da servil
gente”.
No final, retoma à definição do seu herói – o que arrisca a vida “por seu Deus, por seu
Rei”.
Nota: A definição como anti-heroicos dos atos de quem se serve do poder para seu interesse
pessoal, bem como dos que exploram e oprimem o povo, mesmo que servindo diligentemente
o rei, é uma crítica social e política de grande coragem e frontalidade.
Canto VIII
Canto IX
• Os dois feitores que tinham vindo a terra com o resgate são aprisionados para retardar
a partida, pois uma poderosa armada turca está a chegar;
• Monçaide avisa o Gama e este mantém a bordo dois mercadores importantes indianos;
• A família destes intercede junto do Samorim e faz-se a troca de reféns;
• Monçaide consegue as especiarias para o Gama e parte com os portugueses;
• Partida: regresso à Pátria – missão cumprida;
• Vénus prepara uma merecida recompensa para os descobridores: uma ilha onde
repousem da sua árdua tarefa e, simultaneamente, satisfação os sentidos, numa perspetiva
carnal;
• Na Ilha dos Amores: confraternização amorosa entre os marinheiros e as ninfas;
• Conselhos de Camões aos que aspiram à imortalidade.
Canto X
3
Maria Leonor Carvalhão Buescu, «Literatura de Catástrofe: a História Trágico-Marítima», in Literatura
Portuguesa Clássica.
4
Ibidem.
Resumo por capítulos
1. Naufrágio de Sepúlveda (1522)
Conta a história daqueles que embarcaram no galeão “S. João”, saídos da Índia. Aí seguiam
Sepúlveda, capitão, com a sua mulher e respetivos filhos. Cinco semanas após terem partido,
passaram por uma tempestade junto ao cabo da Boa Esperança. Só alguns tripulantes e
passageiros conseguiram chegar a terra (25 dos 500). Aí começaram uma longa caminhada
até ao Rio Lourenço Marques, em Moçambique, resistindo à caminhada e aos perigos.
Tipo de texto
Síntese
O Sermão é uma obra que procura advertir para um conjunto de comportamentos humanos e
motivar para a sua alteração. Ao longo do Sermão, Vieira começa a louvar as virtudes dos
peixes para, de seguida, repreender com ironia, os seus defeitos. Neste sermão, Padre
António Vieira, através da identificação das virtudes e dos defeitos dos peixes, aproveita para
dar lições aos homens. O pregador destaca o vício que mais o escandaliza nos ei xes: o facto
de os peixes se comerem uns aos outros, o que é agravado pelo facto de serem os peixes
grandes a comerem os pequenos. Recorrendo à metáfora, Vieira denuncia a traição, o roubo,
a exploração, todas as ações criminosas cometidas pelos colonos do Brasil. Ou seja:
tanto os peixes como os homens não se devem aproveitar dos mais fracos, das
suas desgraças e misérias, sob pena de serem amaldiçoados. Para ele, a grande
qualidade dos peixes resume-se à expressão: “Ouvem e não falam”. O que
sobressai de todo o Sermão é a censura ao comportamento dos homens,
nomeadamente nas terras de missão onde observa “falsidades, enganos,
fingimentos, embustes, ciladas, e muito maiores e mais perniciosas traições”…
Razões para o título
Homenagear Santo António (por ter sido pregado no dia de Santo António);
Aproveitar o exemplo do sermão pregado aos peixes por Santo António;
Tal como Santo António tentou converter os hereges (para que conseguissem expulsar
os demónios dentro de si), também o Padre António Vieira tenta convencer os colonos
portugueses no Brasil a mudar o seu comportamento.
Agitar as consciências;
Conduzir à reflexão;
Evitar o mal;
Preservar o bem.
O capítulo I (exórdio) inicia-se com o conceito predicável – Vos estis sal terrae. A partir deste
conceito, e tendo como modelo Santo António, o Padre António Vieira vai desenvolver o seu
sermão provando que a “terra” está corrupta, mas que o mal não está só do lado dos
pregadores, pois os seres humanos também têm culpa.
E, para concluir, o capítulo VI (peroração): Com esta última advertência vos despido, ou me
despido de vós, meus peixes. E para que voades consolados do sermão, que não sei quando
ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma desconsolação mui antiga, com que todos ficastes
desde o tempo em que se publicou o Levítico. Há um apelo, incitamento à ação, elevação dos
peixes, que estão acima dos outros animais e até do próprio pregador.
CRÍTICA SOCIAL E ALEGORIA
Em suma, o sermão é uma sátira social em que o Padre António Vieira tece duras críticas à
exploração e à ganância humana, particularmente aquela que é exercida pelos colonos sobre
os índios. Por outro lado, o sermão é uma longa alegoria (em que se apresentam ideias
através de imagens ou figuras concretas), funcionando os peixes como uma metáfora dos
homens. Deste modo, as virtudes dos peixes são pretexto para denunciar os vícios humanos,
da mesma forma que os defeitos dos seres marinhos são motivo para criticar os defeitos
morais e sociais dos homens.
Contudo, pode-se afirmar que o sermão aborda um assunto intemporal na medida em que os
homens procuram constantemente a ascensão social, ainda que de forma imprópria,
revelando atitudes moralmente condenáveis.
Estrutura do Sermão
A partir do conceito predicável "vós sois o sal da terra": "Santo António foi sal da terra e foi sal
do mar."
"(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois
pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os
vossos vícios."
"o fel era bom para curar da cegueira"; "o coração para lançar fora os demónios"
2.1.2.2. RÉMORA
"(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas
âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante."
2.1.2.3. TORPEDO
"Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe
picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e
mais admirável efeito?"
2.1.2.4. QUATRO-OLHOS
"e como têm inimigos no mar e inimigos no ar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas e deu-
lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves, e outros
dois que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes."
2.2. REPREENSÃO DOS VÍCIOS
"Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora
as vossas repreensões."
2.2.2.1. RONCADORES
"É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?"
2.2.2.2. PEGADORES
"Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo
pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos
costados, que jamais os desferram."
2.2.2.3. VOADORES
"Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves?
(...) Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes."
2.2.2.4. POLVO
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o
maior traidor do mar."
"Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que
vades consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma
desconsolação mui antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o
Levítico.”
Cultismo
Concetismo
Conceitos Predicáveis
Apóstrofes:
Estes e outros louvores, estas e outras excelências de vossa geração e grandeza vos pudera
dizer, ó peixes..."
"Ah moradores do Maranhão..."
"Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador (...)"
"Peixes, contente-se cada um com o seu elemento."
"Oh alma de António, que só vós tivestes asas e voastes sem perigo (...)"
"Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade (...)"
Antíteses:
Tanto pescar e tão pouco tremer!"
"No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (...)"
"(...) deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima (...) e outros dois que
direitamente olhassem para baixo (...)"
Comparações:
Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia um retrato
marítimo de Santo António."
"O que é a baleia entre os peixes, era o gigante Golias entre os homens."
"(...) com aquele seu capelo na cabeça,
parece um monge; com aqueles seus
raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)"
"As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia (...)"
"(...) e o salteador, que está de emboscada (...) lança-lhe os braços de repente, e fá-lo
prisioneiro. Fizera mais Judas?"
"Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos
traidor
Paralelismos e Anáforas:
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes...
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes...
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes..."
"Deixa as praças, vai-se
às praias; deixa a terra,
vai-se ao mar..."
Enumeração:
No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (e tanta sorte de varas); pescam as
ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões e até os ceptros pescam (...)"
"(...) que também nelas há falsidades, enganos, fingimentos, embustes, ciladas e muito
maiores e mais perniciosas traições."
"Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com palavras; eu lembro-me, mas não ofendeis a
Deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu
quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade."
Metáforas
"Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi rémora vossa,
enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (...) se vêem e choram na terra tantos
naufrágios."
"(...) pois às águias, que são os linces do ar (...) e aos linces que são as águias da terra (...)"
"(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de
gentes há tantos séculos?!" " (...) vestir ou pintar as mesmas cores (...)"
"(...) e o polvo dos próprios braços faz as cordas
Paradoxos:
a terra e o mar tudo era mar."
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito
polvo é o maior traidor do mar." "hipocrisia tão santa"
Trocadilhos
Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a
Jonas, para o levar vivo à terra." "E porque nem aqui o deixavam os que o tinham deixado,
primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra, e finalmente Portugal." "(...) o peixe abriu a boca
contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não queriam lavar."
Interrogações retóricas
qual será, ou qual pode ser, a causa
desta corrupção?" "Não é tudo isto
verdade?"
"(...) que se há-de fazer a este sal, e que se há-de fazer a esta terra?"
"Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? (...) Que faria logo? Retirar-
se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo?"
"(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos
séculos?!"
Ironia
Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes."
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o
maior traidor do mar."
Capítulo I
Conceito Predicável: texto bíblico que serve de tema e que irá ser desenvolvido de acordo
com a intenção e o objectivo do autor "Vos estis sal terrae".
Para atingir a inteligência dos ouvintes, o orador usa argumentos lógicos, sucessivas
interrogações retóricas e a autoridade dos exemplos de Cristo, Santo António e da Bíblia. Para
atingir o coração dos ouvintes, usa interjeições e exclamações.
Ao relatar o que fez Santo António quando foi perseguido em Arimino usa frases curtas (Deixa
as praças, vai-se às praias…), ritmo binário, anáforas, enumeração.
É evidente que os tipos de frase têm relação directa com a entoação. A frase interrogativa
termina num tom mais alto, a declarativa num tom mais baixo, etc.
O titulo do Sermão foi retirado do milagre ou lenda que se conta a respeito de Santo António.
Este terá sido mal recebido numa pregação em Arimino, mesmo perseguido, e ter-se-á dirigido
à praia e pregado o sermão aos peixes que o terão escutado atentamente, contrastando com
os homens.
O pregador invocou Nossa Senhora porque era habitual fazê-lo e ainda porque o nome Maria
quer dizer Senhora do mar; os ouvintes do sermão eram pescadores que A invocavam na faina
da pesca.
Capítulo II
O sermão é uma alegoria porque os peixes são metáfora dos homens, as suas virtudes são
por contraste metáfora dos defeitos dos homens e os seus vícios são directamente metáfora
dos vícios dos homens. 0 pregador fala aos peixes, mas quem escuta são os homens.
O pregador argumenta de forma muito lógica. Partindo de duas propriedades do sal, divide o
sermão em duas partes: o sal conserva o são, o pregador louva as virtudes dos peixes; o sal
preserva da corrupção, o pregador repreende os vícios dos peixes. Para que fique claro que
todo o sermão é uma alegoria, o pregador refere frequentemente os homens. Utiliza
articuladores do discurso (assim, pois…), interrogações retóricas, anáforas, gradações
crescentes, antíteses, etc. Demonstra as afirmações que faz tirando partido do contraste entre
o bem e o mal, referindo palavras de S. Basílio, de Cristo, de Moisés, de Aristóteles e de St.
Ambrósio, todas referidas aos louvores dos peixes. Confirma-as com vários exemplos: o
dilúvio, o de Santo António, o de Jonas e o dos animais que se domesticam.
Virtudes que Virtudes
dependem naturais
sobretudo de dos
Deus peixes
• foram as primeiras
criaturas criadas por
Deus
• nã
• foram as primeiras
o
criaturas nomeadas pelo se
homem do
ma
• são os mais m
numerosos e os
maiores
• não
3. obediência, se
quietação, atenção, respeito dom
e devoção com que
estic
ouviram a
pregação de am
Santo António
- escaparam todos do
dilúvio porque não tinham
pecado
Os peixes não foram castigados por Deus no dilúvio, sendo, Animais que vivem presos
por isso, exemplo para os homens que pouco ouvem e
falam muito, pouco respeito têm pela palavra de Deus. rouxinol, papagaio, açor, bugio, cão, boi, cavalo, tigres e leões
- A antítese Céu/lnferno, que repete semanticamente a antítese bem/mal, está ligada quer à
divisão do Sermão em duas partes, quer às duas finalidades globais do mesmo.
- A apóstrofe refere directamente o destinatário da mensagem e do pregador,
aproximando os dois pólos da comunicação: emissor e receptor.
- A interrogação retórica como meio de convencer os ouvintes.
- A personificação dos peixes associada à apóstrofe e às atitudes dos mesmos.
- A gradação crescente na enumeração dos animais que vivem próximos dos homens mas presos.
- A comparação, "como peixes na água", tem o carácter de um provérbio que significa viver livremente.
Santo António foi muito humilde, aceitando sem revolta o abandono a que foi votado por todos, ele que conhecia a
sua sabedoria. O pregador pretende condenar os homens que possuem vícios opostos às virtudes dos peixes.
Capítulo III
O pregador usa o imperativo verbal, a repetição anafórica, a exclamação, a apóstrofe, a leve ironia
("Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes!").
A língua de Santo António teve a força de dominar as paixões humanas, guiando a razão pelos caminhos do
bem; foi o freio do cavalo porque impediu tantas pessoas de caírem nas mais variadas desgraças
ua de S.
António
Im Nau Soberba
ag Finalidad
en e das
s interroga • velas, vento
El ções • inchadas
eComentário • desfazer, rebentavam
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sobre
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o
s
d
o
p
o
d
e
r
d
a
lí
n
g
A língua de Santo António foi a rémora dos ouvintes enquanto estes ouviram; quando o não
ouvem, são atingidos por muitos naufrágios (desgraças morais).
Recursos estilísticos:
Conclusão: os homens pescam muito e tremem pouco; 2ª. conclusão: "Se eu pregara aos
homens e tivera a língua de Santo António, eu os fizera tremer." (Deve salientar-se que o
verbo pescar é também metáfora de guerra; crítica aos holandeses.); 3ª. conclusão: "… se
tenho fé e uso da razão, só devo olhar direitamente para cima, e só direitamente para baixo".
Os peixes são o sustento dos membros de várias ordens religiosas. Há peixes para os ricos e
peixes para os pobres. Esta distinção tem por finalidade criticar a exploração dos ricos sobre
os pobres.
Capítulo IV
Para comprovar a tese de que os homens se comem uns aos outros, o orador usa uma lógica
implacável, apelando para os conhecimentos dos ouvintes e dando exemplos concretos. Os
seus ouvintes sabiam a verdade do que ele afirmava, pois conheciam que os peixes se
comem uns aos outros, os maiores comem os mais pequenos. Além disso, cita
frequentemente a Sagrada Escritura, em que se apoia. Lendo hoje este capitulo, assim como
todo o Sermão, não se pode ficar indiferente à lógica da argumentação.
As conclusões são implacáveis, pois são fruto claríssimo dos argumentos usados.
O ritmo é variado: lento, rápido e muito rápido. Quando as frases são longas, o ritmo é
repousado; quando as frases são curtas, quando se usam sucessivas anáforas nessas frases,
o ritmo torna-se vivo, como acontece no exemplo do defunto e do réu. O discurso deste
sermão, como doutros, é semelhante ao ondular das águas do mar: revoltas e vivas,
espraiam-se depois pela areia como que espreguiçando-se. Uma das características
maravilhosas do discurso de Vieira é a mudança de ritmo, que prende facilmente os ouvintes.
A repetição da forma verbal "vedes", que deverá ser acompanhada de um gesto expressivo,
serve para criar na mente dos ouvintes (e dos leitores) um forte visualismo do espectáculo
descrito.
O uso dos deícticos demonstrativos tem por objectivo localizar os actos referidos, levando os
ouvintes a revê-los nos espaços onde acontecem. A substantivação do infinitivo verbal está
também ao serviço do visualismo. O verbo deixa de indicar acção limitada para se transformar
numa situação alargada.
O orador expõe a repreensão e depois comprova-a como fez com a primeira repreensão: dá o
exemplo dos peixes que caem tão facilmente no engodo da isca, passa em seguida para o
exemplo dos homens que enganam facilmente os indígenas e para a facilidade com que estes
se deixam enganar. A crítica à exploração dos negros é cerrada e implacável. Conclui,
respondendo à interrogação que fez, afirmando que os peixes são muito cegos e ignorantes e
apresenta, em contraste, o exemplo de Santo António, que nunca se deixou enganar pela
vaidade do mundo, fazendo-se pobre e simples, e assim pescou muitos para salvação.
20
Capítulo V
Episódio do Polvo
Divisão em partes:
Neste capítulo do sermão, o pregador censura quatro criaturas marinhas em particular; estas
simbolizam os pecados ou vícios humanos condenáveis.
Os Roncadores, peixes pequenos e que emitem um som grave, são sempre facilmente
pescados e apesar de serem pequenos têm muita língua («É possível que sendo vós uns
peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?»). Representam a arrogância e o
orgulhoso.
Os Pegadores/ Rémoras, pequenos e que se fixam a peixes grandes ou ao leme dos navios
(«Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo
pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados,
que jamais os desferram.»). Representam o oportunismo, o parasitismo social e a
subserviência. Uma vez que vivem na dependência dos grandes e morrem com eles, Vieira
argumenta que os grandes morrem porque comeram, os pequenos morrem sem terem
comido.
Os Voadores, peixes de grandes barbatanas que saltam para fora de água como se voassem.
Representam o defeito da presunção e da ambição desmedida e desse modo, porque não se
contentam com o seu elemento, são pescados como peixes e caçados como aves («Dizei-me,
voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves?
[...] Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes.») . Simão
Mago e Ícaro exemplificam-no entre os homens. Por contraste, Santo António tinha sabedoria
e poder, mas não se vangloriou.
O mimetismo é o que o polvo usa para enganar: faz-se da cor do local ou dos objectos onde
se instala.
O orador refere a lenda de Proteu para contrapor o mito à realidade: Proteu metamorfoseava-
se para se defender de quem o perseguia; o polvo, ao contrário, usa essa qualidade para
atacar.
Os verbos que se referem ao polvo estão no presente do indicativo, traduzindo uma realidade
permanente e imutável; a forma "vai passando" gerúndio perifrástico, acentua a forma
despreocupada dos outros peixes que lentamente passam pelo local onde se encontra o
traidor; os verbos que se referem a Judas estão no pretérito perfeito do indicativo porque
referem acções do passado. Há ainda o imperativo "Vê", que traduz uma interpelação directa
ao polvo, tornando o discurso mais vivo.
O polvo nunca ataca frontalmente, mas sempre à traição: primeiro, cria um engano, que
consiste em fazer-se das cores onde se encontra; depois, ataca os inocentes.
O texto deste capítulo segue a variedade de ritmos dos outros capítulos e apresenta os
mesmos recursos para conseguir tal objectivo. Basta atentar no parágrafo que começa por
"Rodeia a nau o tubarão… " e no texto referente ao polvo.
Elemento comum entre Judas e o polvo: a traição. Ambos foram vítimas deste defeito.
Elementos diferentes entre Judas e o polvo: Judas apenas abraçou Cristo, outros o
prenderam; o polvo abraça e prende. Judas atraiçoou Cristo à luz das lanternas; o polvo
escurece-se, roubando a luz para que os outros peixes não vejam as suas cores. A traição de
Judas é de grau inferior à do polvo.
Capítulo VI
Orador Peixes
tem inveja dos peixes
• têm mais vantagens do que o pregador
ofende a Deus com palavras
• a sua bruteza é melhor do que a razão do orador
tem memória
• não ofendem a Deus com a memória
ofende a Deus com o pensamento
• o seu instinto é melhor que o livre arbítrio do orador; não
falam; não ofendem a Deus com o pensamento; não ofendem a
ofende a Deus com a vontade
Deus com a vontade; atingem sempre o fim para que Deus os
criou
não atinge o fim para que Deus o criou
• não ofendem a Deus
ofende a Deus
A repetição do som /ai/ (11 vezes) cria uma atmosfera sonora cada vez mais intensa e
optimista; a repetição das palavras "Louvai" e "Deus" apontam para a finalidade global do
sermão: o louvor de Deus, que todos devem prestar. O verbo no imperativo realiza a função
apelativa da linguagem: depois de ter inventariado os louvores e os defeitos dos
peixes/homens, não poderia deixar de apelar aos ouvintes para que louvem a Deus. A escolha
do hino Benedicite cumpre fielmente esse objectivo, encerrando o Sermão com um tom
festivo, adequado à comemoração de Santo António, cuja festa se celebrava. A palavra Ámen
significa "Assim seja", "que todos louvem a Deus". O quiasmo realizado na colocação em
ordem inversa das palavras glória e graça sugere a transposição dos peixes para os homens:
já que os peixes não são capazes de nenhuma dessas virtudes, sejam-no os homens. Sugere
também uma mudança: a conversão (metanóia), porque só em graça os homens podem dar
glória a Deus.
Peroração – Utilização de um desfecho forte para impressionar o auditório
Conclusão – Com uma última advertência aos peixes; retrato dele próprio como pecador; hino
de louvor
O capítulo VI é a conclusão de todo “O Sermão de Santo António aos Peixes”, e Santo António
tem como objetivo a conversão dos homens á Fé de Deus.
Santo António revela que tem inveja dos Peixes, pois estes não ofendem Deus com a sua
memória e cumprem o objetivo da sua criação, enquanto que os Homens ofendem Deus com
as suas palavras, com os seus pensamentos e com a sua vontade, não atingindo o objetivo da
sua criação.
Assim, Santo António reflete sobre os Peixes e os Homens e conclui que os Peixes são
melhores que os Homens, e que a única solução para o Homem é a conversão, porque só
assim é que os Homens podem dar glória a Deus.
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa (X)
1. Acção dramática
Frei Luís de Sousa contém o drama que se abate sobre a família de Manuel de Sousa
Coutinho e D. Madalena de Vilhena. As apreensões e pressentimentos de Madalena de que a
paz e a felicidade familiar possam estar em perigo tornam-se gradualmente numa realidade.
O incêndio no final do Ato I permite uma mutação dos acontecimentos e precipita a tensão
dramática. No palácio que fora de D. João de Portugal, a ação atinge o seu clímax, quer
pelas recordações de imagens e de vivências, quer pela possibilidade que dá ao Romeiro de
reconhecer a sua antiga casa e de se identificar a Frei Jorge.
Se se pretender fazer uma aproximação entre esta obra e a tragédia clássica, poder-se-á
dizer que é possível encontrar quase todos os elementos da tragédia, embora nem
sempre obedeça à sua estruturação objectiva.
Manuel de Sousa Coutinho também comete a sua hybris ao incendiar o palácio para não
receber os governadores. A hybris manifesta-se em muitas outras atitudes das
personagens.
O conflito que nasce da hybris, desenvolve-se através da peripécia (súbita alteração dos
acontecimentos que modifica a ação e conduz ao desfecho), do reconhecimento (agnórise)
imprevisto que provoca a catástrofe. O desencadear da ação dá-nos conta do sofrimento
(páthos) que se intensifica (clímax) e conduz ao desenlace. O sofrimento age sobre os
espectadores, através dos sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixões
(catarse). A reflexão catártica é também dada pelas palavras do Prior, quando na última fala
afirma: "Meus irmãos, Deus aflige neste mundo àqueles que ama. A coroa da glória não se dá
senão no céu".
Tal como na tragédia clássica, também o fatalismo é uma presença constante. O destino
acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como um força
que as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não deixa que a felicidade daquela
família possa durar muito.
2. Tempo
A ação dramática de Frei Luís de Sousa acontece em 1599, durante o domínio filipino, 21
anos após a batalha de Alcácer-Quibir. Esta aconteceu a 4 de Agosto de 1578.
"A que se apega esta vossa credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e un anos?",
pergunta D. Madalena a Telmo (Ato I, cena II).
"Faz hoje anos que… que casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D.
Sebastião, e faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa", afirma D.
Madalena (Ato II, cena X).
"Morei lá vinte anos cumpridos" (…) "faz hoje um ano… quando me libertaram", diz o Romeiro
(Ato II, cena XIV).
Madalena de Vilhena é a primeira personagem que aparece na obra, mas pode-se afirmar
que toda a família tem um relevo significativo. São as relações entre esposos, pais e filha, o
escudeiro e os seus amos ou mesmo o apoio de Frei Jorge que estão em causa. Um drama
abate-se sobre esta família e enquanto Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena se
refugiam na vida religiosa, Maria morre como vítima inocente. D. Madalena tinha 17 anos
quando D. João de Portugal desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir. Durante 7 anos
procurou-o. Há catorze anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho. Tem agora 38 anos
(17 + 21). Mulher bela, de carácter nobre, vive uma felicidade efémera, pressentindo a
desventura e a tragédia do seu amor. Racionalmente, não acredita no mito sebastianista que
lhe pode trazer D. João de Portugal, mas teme a possibilidade da sua vinda. É com medo que
a encontramos a reflectir sobre os versos de Camões e a sentir, como que em pesadelo, a
ideia de que a sobrevivência de D. João destrua a felicidade da sua família. No imaginário de
D. Madalena, a apreensão torna-se pressentimento, dor e angústia. É neste terror que se vê
na necessidade de voltar para a habitação onde com ele viveu.
Manuel de Sousa Coutinho (mais tarde Frei Luís de Sousa) é um nobre e honrado fidalgo,
que queima o seu próprio palácio, para não receber os governadores. Embora apresente a
razão a dominar os sentimentos, por vezes, estes sobrepõem-se quando se preocupa com a
doença da filha. É um bom pai e um bom marido.
Maria de Noronha tem 13 anos, é uma menina bela, mas frágil, com tuberculose, e
acredita com fervor que D. Sebastião regressará. Tem uma grande curiosidade e espírito
idealista. Ao pressentir a hipótese de ser filha ilegítima sofre moralmente. Será ela a vítima
sacrificada no drama.
Telmo Pais, o velho escudeiro, confidente privilegiado, define-se pela lealdade e fidelidade.
Não quer magoar nem pretende a desgraça da família de D. Madalena e Manuel de Sousa.
Mas, ao acreditar no mito sebastianista, acredita que D. João de Portugal há-de regressar. No
fim, acaba por trair um pouco a lealdade de escudeiro pelo amor que o une à filha daquele
casal, D. Maria de Noronha. Representa um pouco o papel de coro da tragédia grega, com os
seus diálogos, os seus agoiros ou os seus apartes.
Frei Jorge Coutinho, irmão de Manuel de Sousa, amigo da família e confidente nas horas de
angústia, ouve a confissão angustiada de D. Madalena. Vai ter um papel importante na
identificação do Romeiro, que na sua presença indicará o quadro de D. João de Portugal.
5. Cenário
O ambiente fechado, sem janelas, com os quadros grandes das figuras de D. João,
Camões e D. Sebastião revelam uma presença indesejada e uma família mais abatida
(algo está para vir);
D. Madalena apresenta-se muito fraca; com a chegada de D. Manuel (que teve de fugir
devido à afronta aos governantes) e a indicação de que estes o tinham perdoado, D.
Madalena fica mais descansada, mas ao saber por Frei Jorge, um frei do convento dos
Domínicos, que este terá que partir para Lisboa para se apresentar, fica de novo
desassossegada;
D. Manuel parte para Lisboa na companhia de Maria e Telmo, deixando em casa D.
Madalena e Frei Jorge;
Aparece um Romeiro que não se quer identificar ao princípio, mas dá indícios de ser D.
João de Portugal, que voltaria exatamente 21 anos depois da batalha de Alcácer-Quibir (7
para procurar o corpo + 14 casamento de D. Madalena e D. Manuel);
TERCEIRO ATO - DECORRE NA PARTE BAIXA DO PALÁCIO DE D. JOÃO DE
PORTUGAL
Um ambiente muito fechado, representando a falta de saída da família que, caso o romeiro fosse D.
João, estaria perante um casamento (D. Madalena e D. Manuel) e uma filha (D. Maria) ilegítimos (a
morte era a única forma de “divórcio”);
O Romeiro encontra-se a sós com Telmo (que entretanto volta com Maria e D. Manuel) e
este imediatamente reconhece o antigo amo, mas a sua lealdade não é certa (entre D.
João e Maria, a sua nova ama apesar de ter criado ambos); o Romeiro pede-lhe que minta
por ele, que diga que é um impostor, que salve a família (momento em que a audiência
acredita que possa haver salvação);
Telmo vai pedir conselhos a Frei Jorge, que lhe diz que, se tem a certeza ser D. João, a
verdade não deve ser escondida (mostra uma faceta obediente e inflexível desta
personagem);
Por fim, não tendo outra salvação, Maria morre de desgosto (de ser filha ilegítima; de
tuberculose) e os pais (D. Madalena e D. Manuel) vão para um convento (a religião como
consolação), tornando-se D. Manuel, Frei Luís de Sousa.
6. A Atmosfera
7. Simbologia
• A leitura dos versos de Camões referem-se ao trágico fim dos amores de D. Inês de Castro
que, como D. Madalena, também vivia uma felicidade aparente quando a desgraça se abateu
sobre ela.
• O tempo dos principais momentos da ação sugere o dia aziago: sexta-feira, fim da tarde e noite
(Ato I), sexta-feira, tarde (Ato II), sexta-feira, alta noite (Ato III); e à sexta-feira D. Madalena
casou-se pela primeira vez; à sexta-feira viu Manuel pela primeira vez; à sexta-feira dá-se o
regresso de D. João de Portugal; à sexta-feira morreu D. Sebastião, vinte e um anos antes.
• A numerologia (1) parece ter sido escolhida intencionalmente. Madalena casou 7 anos depois
de D. João haver desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir; há 14 anos que vive com Manuel
de Sousa Coutinho; a desgraça, com o aparecimento do
Romeiro, sucede 21 anos depois da batalha (21=3x7). 0 número 7 é um número primo que se
liga ao ciclo lunar (cada fase da Lua dura cerca de sete dias) e ao ciclo vital (as células
humanas renovam-se de sete em sete anos), representa o descanso no fim da criação e
pode-se encontrar em muitas representações da vida, do universo, do homem ou da religião;
o número 7 indica o fim de um ciclo periódico. O número 3 é o número da criação e
representa o círculo perfeito. Exprime o percurso da vida: nascimento, crescimento e morte. O
número 21 corresponde a 3x7, ou seja, ao nascimento de uma nova realidade (7 anos foi o
ciclo da busca de notícias sobre D. João de Portugal e o descanso após tanta procura); 14
anos foi o tempo de vida com Manuel de Sousa (2x7, o crescimento de uma dupla felicidade:
como esposa de Manuel e como mãe de Maria; 14 é gerado por 1+4=5, apresentando-se
como símbolo da relação sexual, do ato de amor); 21 anos completa a tríade de 7
apresentando-se como a morte, como o encerrar do círculo dos 3 ciclos periódicos. O número
7 aparece, por vezes, a significar destino, fatalidade (imagem do completar obrigatório do
ciclo da vida), enquanto o 3 indica perfeição; o 21 significa, então, a fatalidade perfeita.
- Maria vive apenas 13 anos. Na crença popular o 13 indica azar. Embora como número ímpar
deva apresentar uma conotação positiva, em numerologia é gerado pelo 1+3=4, um número
par, de influências negativas, que representa limites naturais. Maria vê limitados os seus
momentos de vida.
Romantismo
• O individualismo – O “eu” é o valor máximo para os românticos. Por isso, o romântico afirma o
culto da personalidade (egocentrismo), da expressão espontânea de sentimentos, do
confessionalismo e a subjectividade.
• O idealismo – O romântico aspira ao infinito e a um ideal que nunca é atingido. Por isso,
valoriza o devaneio e o sonho.
• A inadaptação social – Por isso, mantém uma atitude de constante desprezo e rebeldia face à
realidade e às normas estabelecidas, considerando-se inadaptado e vítima do destino.
• A atracção pela melancolia, pela solidão e pela morte como solução para todos os males.
• O gosto pela natureza nocturna – Para os românticos, a natureza é a projecção do seu estado
de alma, em geral tumultuoso e depressivo. Assim, esta é representada de forma invernosa,
sombria, agreste, solitária e melancólica (“locus horrendus”), contrariamente ao “locus
amoenus” dos clássicos, que é uma natureza luminosa, harmoniosa e primaveril. Esta
natureza nocturna traduz a atracção que o romântico tem pela própria morte.
• O amor a tudo o que é popular e nacional – Para o romântico, é no povo que reside a alma
nacional. Daí o gosto pela Idade Média, pelas lendas, pelas tradições, pelo folclore, por tudo o
que é nacional.
• Na tragédia antiga, o Homem é um mero joguete do Destino. Este é uma força superior
que age de forma inexorável sobre o protagonista, sem que ele tenha qualquer culpa.
• Dividia-se em prólogo, três actos e epílogo.
• Tem poucas personagens. Estas são nobres de sentimentos ou de condição social.
• A ação dispõe-se sempre em gradação crescente, terminando num clímax.
• Contém sempre vários elementos essenciais – o desafio, o sofrimento, o combate, o
destino, a peripécia, o reconhecimento, a catástrofe e a catarse.
• Existia um coro que tinha como função comentar e anunciar o desenrolar dos
acontecimentos.
• A tragédia clássica obedece à lei das três unidades – unidade de espaço (não há em
geral mudança de cenário e os acontecimentos passam-se todos no mesmo lugar),
unidade de tempo (todos os acontecimentos têm de se desenrolar no espaço de 24
horas, mostrando que a ação do Destino é imperativa e fulminante) e unidade de ação (a
tragédia antiga exige que o espectador se centre apenas no problema central, sem desvio
para ações secundárias).
• A linguagem da tragédia é em verso.
• Manuel de Sousa Coutinho, nascido em 1556, era fidalgo de linhagem e levou uma vida
acidentada por terras de África e de Ásia. Consta que lançara fogo ao seu palácio de Almada,
em 1599, por divergências políticas ou pessoais com os governadores do Reino em nome dos
Filipes. Casara com D. Madalena de Vilhena, anteriormente mulher de D. João de Portugal,
que morreu em Alcácer Quibir, em 4 de agosto de 1578. O seu biógrafo Frei António da
Encarnação regista a tradição segundo a qual a entrada de ambos os cônjuges na ordem
dominicana, em 1612, se deveria ao regresso inesperado de D. João de Portugal.
• Na Memória do Conservatório Real, Garrett afirma conhecer bem a tradição literária sobre Frei
Luís de Sousa. Ora as principais fontes que tinha lido eram a “Memória do Sr. Bispo de Viseu,
D. Francisco Alexandre Lobo”, e a “romanesca mas sincera narrativa do padre Frei António da
Encarnação”. Afirma Garrett na referida Memória que “discorrendo um verão pela deliciosa
beira-mar da província do Minho, fui dar com um teatro ambulante de atores castelhanos
fazendo suas récitas numa tenda de lona no areal da Póvoa do Varzim. (…) Fomos à noite ao
teatro: davam a comédia famosa não sei de quem, mas o assunto era este mesmo de Frei
Luís de Sousa.” Esta representação teve lugar na Póvoa em 1818.
• Garrett consultou ainda muitas coleções de “comédias famosas” mas não encontrou mais
nada a respeito de Frei Luís de Sousa.
Ouviu na sala do Conservatório, a leitura do relatório sobre o drama O Cativo de Fez. Nessa
altura, Garrett sentiu a diferença entre a fábula engenhosa e complicada desse drama e a
história tão simples de Frei Luís de Sousa. Tal facto inspirou-lhe a vontade de fazer o seu
drama.
• Tem-se escrito que este drama é a projeção poética da sua própria vida. Não se devendo
confundir a obra e autor, não deixa de ser curioso mostrar as coincidências entre ambos.
•
A representação da peça foi precedida da sua leitura feita pelo próprio autor em 6 de
maio de 1843 no Conservatório Real de Lisboa perante um auditório muito exigente.
A 1ª representação foi feita num teatro particular na Quinta do Pinheiro em 4 de julho
de 1843, por oito atores. Por impossibilidade de um ator, o próprio Garrett fez o papel de
Telmo. A censura terá cortado certas partes, sendo o texto integral representado apenas em
1850 no Teatro Nacional D. Maria II, num momento em que já não havia censura.
A memória ao Conservatório é um texto teorizador que acompanhará para sempre a
própria peça, da qual é anúncio, justificação e interpretação. Dado o seu grande valor,
apresentamos aqui as grandes linhas do seu conteúdo.
• A história de Frei Luís de Sousa, legada pela tradição, contém toda a simplicidade de uma
fábula trágica antiga, com a vantagem de ser perpassada pela delicada
sensibilidade da esperança cristã. Ali não há desespero pagão.
5
• Frei Luís de Sousa é uma verdadeira tragédia:
“Não lhe dei todavia esse nome porque não quis romper de viseira com os estafermos
respeitados dos séculos que, formados de peças que nem ofendem nem defendem no
atual guerrear, inanimados, ocos, e postos ao canto da sala para onde ninguém vai de
propósito – ainda têm contudo a nossa veneração, ainda nos inclinamos diante deles
quando ali passamos por acaso.
Demais, posto que eu não creia no verso como língua dramática possível para assuntos
tão modernos, também não sou tão desabusado, contudo, que me atreva a dar uma
composição em prosa o título solene que as musas gregas deixaram consagrado à mais
sublime e difícil de todas as composições poéticas.(…)
Contento-me para a minha obra com o título modesto de drama: só peço que não a
julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa composição de forma e índole
nova; porque a minha, se na forma desmerece da categoria, pela índole há de ficar
pertencendo sempre ao antigo género trágico.”
• A simplicidade e a não-violência, tentativas dum teatro novo, são capazes de provocar nas
plateias, gastas pelos dramas ultrarromânticos, a piedade e o terror.
• “O drama é a expressão literária mais verdadeira do estado da sociedade”. Garrett afirma
que as suas teorias de arte se reduzem a
“pintar do vivo, desenhar do nu, e a não buscar poesia nenhuma nem de invenção nem de
estilo fora da verdade e do natural.”
• Não segue a cronologia
“Escuso dizer-vos, Senhores, que me não julguei obrigado a ser escravo da cronologia nem
a rejeitar por impróprio da cena tudo quanto a severa crítica moderna indigitou como
arriscado de se apurar para a história. Eu sacrifico às musas de Homero, não às de
Heródoto: e quem sabe, por fim, em qual dos dois altares arde o fogo de melhor verdade!»
• A missão do escritor é “falar ao coração e ao ânimo do povo pelo romance e pelo drama”.
“Este é um século democrático; tudo o que se fizer há de ser pelo povo e com o povo... ou
não se faz. (...)
Os sonetos e os madrigais eram para as assembleias perfumadas dessas damas que
pagavam versos a sorrisos: – era talvez a melhor e mais segura letra que se vencia na
carteira do poeta. Os leitores e espectadores de hoje querem pasto mais forte, menos
condimentado e mais substancial: é povo, quer verdade. Dai-lhe a verdade do passado no
romance e no drama histórico - no drama e na novela de atualidade oferecei-lhe o espelho
em que se mire a si e ao seu tempo, a sociedade que lhe está por cima, abaixo, ao seu
nível, – e o povo há de aplaudir porque entende: é preciso entender para apreciar e gostar.”
Estrutura externa e
interna
Atos Estrutura externa
Cenas I-IV
Informações sobre o passado das
personagens
Ato I Cenas V-VIII
Decisão de incendiar o palácio
Ação: incêndio do palácio
Cenas IX-XII
Cenas I-III
Informações sobre o que se passou
depois do incêndio
Cenas IV-VIII
Ato II Preparação da ação: ida de Manuel
de Sousa Coutinho a Lisboa
Ação: chegada do romeiro
Cenas IX-XV
A obra Frei Luís de Sousa, em termos de estrutura externa está dividida em três atos (I, II e III; à
semelhança dos dramas românticos, ver mais à frente) e em cenas dentro dos atos.
Quanto à estrutura interna da obra dividimo-la em
Exposição (ato I, cena I - acto 1 cena IV);
Conflito (ato I cena V - acto III cena IX);
Desenlace (ato III cena X - acto III cena XII).
Conclusão:
Garrett construiu o seu drama, realizando o que tinha anunciado na Memória ao Conservatório Real.
São notáveis a simplicidade de construção e a harmonia dos três atos.
Elementos essenciais da ação dramática
Ação
Toda a ação se passa nos finais do séc. XVI, após o desaparecimento de D. Sebastião
na Batalha de Alcácer-Quibir. Com ele parte D. João de Portugal, personagem vital que
desaparece também desencadeando toda a ação dramática em Frei Luís de Sousa. Todos
estes acontecimentos decorrem sob domínio Filipino.
Personagens
D. Madalena de Vilhena
• Nobre: família e sangue dos Vilhenas (I,8)
• Sentimental: deixa-se arrastar pelos sentimentos muito mais do que pela razão
• Pecadora
• Torturada pelo remorso do passado: não chega a viver o presente por impossibilidade de
abandonar o passado
• Redimida pela purificação no convento: saída romântica para solução de conflitos
• Modelo da mulher romântica: para os românticos, a mulher ou é anjo ou é diabo
• Personagem modelada: profundidade psicológica evidente; capacidade de gerir conflitos (I,7)
• Marcada pelo destino: amor fatal
• Apesar de ser uma heroína romântica, D. Madalena não luta por nenhuma ordem de
valores superiores, nem por nenhum idealismo generoso, pois nela não se evidencia de
forma particular a luta por qualquer ideal
• O que nela transparece acima de tudo é a sua natureza feminina, o seu amor de mulher a
que prioritariamente se entrega, pois há nela um conceito ou um desejo de felicidade que
assenta numa vida objetiva, concreta à dimensão humana
• De qualquer modo, D. Madalena é uma personagem que se impõe à compreensão, à
estima e à simpatia do leitor, talvez pela espontaneidade com que vive a sua vida
sentimental e moral. Embora procure no segundo casamento uma proteção para a sua
instabilidade, mantém sempre uma integridade moral em relação à sua própria condição e
até uma dignidade de classe que naturalmente a impõe
• Marcas psicológicas: angústia, remorso, inquietação, insegurança, amor, medo e
horror à solidão e é uma personagem tendencialmente modelada porque apresenta
bastante densidade psicológica.
• Nobre: cavaleiro de Malta (só os nobres é que ingressavam nessa ordem religiosa)
(I,2 e 4)
• Racional: deixa-se conduzir pela razão no que contrasta com a sua mulher
• Bom marido e pai terno (I,4; II,7)
• Corajoso, audaz e decidido (I,7, 8, 9, 10, 11, 12; III, 8)
• Marcado pelo destino (I, 11; II, 3 e 8)
• Encarna o mito romântico do escritor: refúgio no convento, que lhe proporciona o
isolamento necessário à escrita
- Até à vinda do romeiro, representa o herói clássico racional, equilibrado e sereno.
A razão domina os sentimentos pela ação da vontade
-Tem como ideal de vida o culto pela honra, pelo dever, pela nobreza de ações (daí o
seu nacionalismo e o incêndio do palácio)
•Porém, no início do ato III, após o aparecimento do romeiro, Manuel de Sousa perde
a serenidade e o equilíbrio clássico que sempre teve e adquire características
românticas. A razão deixa de lhe disciplinar os seus sentimentos, e estes manifestam-
se com descontrolada violência. Exemplos:
• Revela sentimentos contraditórios (deseja simultaneamente a morte e a vida da filha)
• Utiliza um vocabulário trágico e repetitivo, próprio do código romântico (“desgraça”,
“vergonha”, “escárnio”, “desonra”, “sepultura”, “infâmia”, etc.)
• Opta por atitudes extremas (a ida para o convento) como solução para uma situação
socialmente condenável
• Ao optar por esta atitude, encarna o mito do escritor romântico, como um ser de exceção, que
se refugia na solidão para se dedicar à escrita
• Embora esteja ausente, de uma forma expressa, de todo o mito sebastianista que atravessa o
drama, Manuel de Sousa insere-se nele pela defesa dos valores nacionalistas
D. João de Portugal:
Telmo Pais
Frei Jorge
Capela
Tempo
Tempo da ação Tempo simbólico
Ato I Visão de Manuel de Sousa Coutinho pela
28/07/1599 primeira vez, à sexta-feira
Sexta-feira Alcácer-Quibir
Fim da tarde 04/08/1578
Noite Sexta-feira
Ato II Casamento com Manuel de Sousa Coutinho: 7
04/08/1599 anos depois da batalha
Sexta-feira
Tarde Sexta-feira
Ato III • Regresso de D. João de Portugal
04/08/1599 no 21º aniversário da batalha
Sexta-feira 04/08/1599
Alta noite Sexta-feira
Integração da obra na lei das três unidades
Ação Os acontecimentos encadeiam-se extrínseca e intrinsecamente
Nada está deslocado nem pode ser suprimido
O conflito aumenta progressivamente provocando um sofrimento cada vez mais atroz
A catástrofe é o desenlace esperado
A verosimilhança é perfeita
A unidade da ação é superiormente conseguida
Tempo 1599 Julho Agosto
Sábado, Domingo, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª,
29 30 31 1 2 3 4
6ª feira, 28
Ato II
Ato I
Tarde
Fim da tarde
Ato
Noite
III
Alta
noite
Uma semana
Ato I: Palácio de Manuel de Sousa Coutinho: luxo, grandes janelas sobre o Tejo – felicidade aparente
Ato II: Palácio de D. João de Portugal: melancólico, pesado, escuro – peso da fatalidade, a desgraça
Ato III: Parte baixa do palácio de D. João: casarão sem ornato algum – abandono dos bens deste mundo.
A cruz: elemento conotador de morte e de esperança.
• A crença no Sebastianismo
• O patriotismo e o nacionalismo – tais sentimentos estão bem patentes no comportamento de
Manuel de Sousa Coutinho e no idealismo de Maria
• As crenças – Agoiros, superstições, as visões e os sonhos, bem evidentes em Madalena,
Telmo e Maria
• A religiosidade – A permanente referência ao cristianismo e ao culto
• O individualismo
• O tema da morte
A LINGUAGEM NA OBRA
A linguagem em Frei Luís de Sousa é no geral cuidada, encontramos léxico erudito, repleto de
recursos estilísticos, interjeições e atos ilocutórios expressivos. A presença de muitas
reticências representa algo mau, algo de que a personagem tem medo, com que esta está
inquietada. As frases curtas conferem um tom incisivo nas partes em que são usadas. As
repetições são muito frequentes e representam ansiedade, inquietação ou afeto, dependendo
de quem as profere.
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição
• Introdução e conclusão; Capítulos I, IV, X e XIX;
• A obra como crónica de mudança social:
- a revolta e o desencanto face ao país;
- o herói romântico em conflito com os valores morais e as convenções sociais
vigentes;
• O amor paixão: forte, transcendente (realizando-se na morte) e de carácter
quase sagrado, absoluto;
• A mulher-anjo romântica, demasiado perfeita para ser deste mundo;
• O amor ligado à união física e, sobretudo, espiritual;
• O amor subjugado às convenções sociais.
Eça de Queirós, Os Maias (X) (Obra de opção)
• Realismo/Naturalismo e influência do Romantismo e da Tragédia Clássica;
• Explicação do título e do subtítulo;
• O amor-paixão e a instabilidade emocional (Pedro da Maia);
• A volubilidade amorosa (Carlos da Maia, antes do envolvimento com Maria Eduarda);
• O amor-paixão e a tragédia (Carlos da Maia);
• A sensibilidade romântica e o erotismo (João da Ega);
• Características trágicas dos protagonistas (Afonso da Maia, Carlos da Maia e
Maria Eduarda);
• A crítica social na crónica de costumes (personagens-tipo e episódios
representativos da segunda metade do século XIX): jantar no Hotel Central;
corridas do Hipódromo, em Belém; jantar dos Gouvarinhos; episódios dos
jornais “A Corneta do Diabo” e “A Tarde”; sarau no Teatro da Trindade; o
Passeio Final;
• O papel da hereditariedade, da educação e do meio na formação da
personalidade, conforme os princípios da estética realista;
• Linguagem, estilo e estrutura:
- o romance: pluralidade de ações; complexidade de tempo (utilização da
analepse), do espaço (físico, social e psicológico) e dos protagonistas;
extensão;
- recursos expressivos mais frequentes: a comparação, a ironia, a metáfora, a
sinestesia, uso expressivo do adjetivo e do advérbio, utilização do diminutivo
com valor irónico e/ou pejorativo;
- utilização do discurso indireto livre.
Antero de Quental
• A angústia existencial;
• O pessimismo;
• A necessidade de evasão e a morte;
• Linguagem estilo e estrutura:
- o discurso
conceptual; - o
soneto;
- recursos expressivos mais frequentes: a apóstrofe, a metáfora, a personificação.
Cesário Verde (X)
• A representação da cidade (binómio campo/cidade) e dos tipos sociais;
• Deambulação e imaginação: o observador acidental;
• Perceção sensorial e transfiguração poética do real (parnasianismo);
• O imaginário épico (em Sentimento dum Ocidental):
- o poeta denuncia a realidade decadente e antiépica do final do século XIX;
- a viagem pela cidade como atualização da viagem marítima (o desfasamento
entre a realidade desejada e a realidade efetiva); cruzamento de tempos e
espaços ao longo do poema (viagem e história, o século XVI e o século XIX);
- o confronto entre as figuras épicas celebradas por Camões e as personagens
(anti-heroicas) que o poeta encontra na sua deambulação noturna;
• A mulher, objeto de sentimentos diversos:
- a mulher natural, frágil, que desperta admiração e carinho;
- a mulher fatal, bela e fria, que seduz e se associa (negativamente) à cidade;
• Recursos expressivos frequentes: a comparação, a enumeração, a hipérbole, a
metáfora, a sinestesia, o uso expressivo do adjetivo e do advérbio.
12º ano
Fernando Pessoa – Ortónimo e Heterónimos (X)
• Poesia do ortónimo
- O fingimento artístico;
- A dor de pensar;
- A fragmentação do “eu”;
- O sonho em confronto com a realidade;
- O tédio existencial, a introspeção e a autoanálise;
- A nostalgia da infância;
-As dicotomias sentir/pensar, consciência/inconsciência, felicidade/infelicidade,
emoção/razão, sinceridade/fingimento;
- Recursos expressivos mais frequentes: a anáfora, a antítese, a apóstrofe, a
enumeração, a gradação, a metáfora e a personificação.
• Alberto Caeiro
- O fingimento artístico: Alberto Caeiro, o poeta bucólico;
- Reflexão existencial: o primado das sensações (com ênfase especial na visão) por
oposição à negação da utilidade ou valor do pensamento (Sensacionismo vs carácter
anti-metafísico).
• Ricardo Reis
- O fingimento artístico: Ricardo Reis, o poeta “clássico”.
- Reflexão existencial: a consciência e a encenação da mortalidade.
- A noção da efemeridade da vida e da inexorabilidade da morte.
- O epicurismo, o estoicismo, a ataraxia e o conceito clássico do carpe diem horaciano.
- O individualismo e a dimensão doutrinária da poesia.
• Álvaro de Campos
- O fingimento artístico: Álvaro de Campos, o poeta da modernidade.
- Reflexão existencial: sujeito, consciência e tempo; nostalgia da infância.
- A fase decadentista (Opiário): o enfado, o cansaço, a náusea, a necessidade de novas
emoções, a vontade de fuga à monotonia.
- A fase modernista (o imaginário épico): a exaltação do Moderno; o arrebatamento do
canto; o turbilhão de sensações (Futurismo e Sensacionismo).
- A fase intimista: abulia, apatia, desencanto, desesperança e tédio.
• Livro do Desassossego, Bernardo Soares
(NOTA – Apenas lecionado no novo programa)
- O imaginário urbano.
- O quotidiano.
- Deambulação e sonho: o observador acidental.
- Perceção e transfiguração poética do real.
- A natureza fragmentária da obra: espécie de diário sem qualquer fio condutor.
Fernando Pessoa, Mensagem (X)
• O Sebastianismo.
• O imaginário épico:
- a natureza épico-lírica da obra;
- a dimensão simbólica do herói, representante do coletivo;
- a exaltação patriótica;
- o sonho do Quinto Império: o percurso simbólico do império material ao
império espiritual.
• A estrutura simbólica da obra.
• Recursos expressivos mais frequentes: a apóstrofe, a enumeração, a gradação,
a interrogação retórica e a metáfora.
Poetas contemporâneos (X)
NOTA – No antigo programa não estavam previstas os poetas a estudar.
Miguel Torga
Jorge de Sena
Eugénio de Andrade
Alexandre O’Neill
António Ramos Rosa
Herberto Helder
Ruy Belo
Manuel Alegre
Luiza Neto Jorge
Vasco Graça Moura
Nuno Júdice
Ana Luísa Amaral
• Representações do contemporâneo.
• Tradição literária.
• Figurações do poeta.
• Arte poética.
• Linguagem, estilo e estrutura.
Contos (X)
NOTA – No antigo programa não estavam previstas as obras a lecionar.