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KARL-OTTO APEL: IN MEMORIAM

Paulo César Carbonari

No dia 15 de maio de 2017, aos 95 anos, morreu em sua casa, na região de Hessen,
Alemanha, Karl-Otto Apel, filósofo, nascido em Dusseldorf, Alemanha, em 15 de março de
1922. Sua vida foi dedicada à filosofia crítica como professor na Universidade de Kiel, onde
iniciou, e na Universidade de Frankfurt, onde se aposentou, em 1990.
Apel foi responsável pela construção de uma proposta de “Transformação da Filosofia”,
aliás este é o nome de sua mais conhecida obra (de 1973, traduzida no Brasil pela Loyola), na
qual advogava a fundamentação crítica última de uma filosofia primeira linguisticamente
mediada. A rigor, sua construção se deve ao encontro profundamente transformador que ele
promove entre a filosofia kantiana e a pragmática peirceana, de modo que o eu transcendental
kantiano, responsável pela síntese transcendental, passaria a dar lugar a uma comunidade de
comunicação (ideal e real), na qual se daria o acordo linguisticamente mediado pela prática do
melhor argumento.
A nova filosofia primeira faz nascer também uma proposta ética, conhecida como “ética
do discurso” ou também como “ética da responsabilidade solidária”. Nela diagnostica o nosso
tempo que, segundo ele, tem como marca central a proeminência da ciência e da tecnologia
que, em nome do objetivismo, afastam a ética a parâmetros subjetivistas, sem força
universalista. Ele diagnostica uma situação paradoxal que caracteriza da seguinte maneira: “[...]
de um lado, a carência de uma ética universal, isto é, vinculadora para toda a sociedade humana,
nunca foi tão premente como em nossa era, que se constitui numa civilização unitária, em
função das consequências tecnológicas promovidas pela ciência. Por outro lado, a tarefa
filosófica de uma fundamentação racional de uma ética universal jamais parece ter sido tão
complexa, e mesmo sem perspectiva, do que na idade da ciência. Isto porque a ideia de validez
intersubjetiva é, nesta era, igualmente prejudicada pela ciência: a saber, pela ideia cientificista
da ‘objetividade’ normativamente neutra ou isenta de valoração” (TdF II, 359). Ou seja, “uma
ética universal, i. é, intersubjetivamente válida, de responsabilidade solidária, parece [...], ser
ao mesmo tempo necessária e impossível” (TdF II, 363). Superar este paradoxo e oferecer uma
proposta capaz de afirmar uma norma ética com validade universal e que seja a condição de
todo processo argumentativo e também produto dele foi seu empenho mais ardente. Entre as
obras nas quais trata deste tema está “Discurso e Responsabilidade” (1988, traduzida em
Portugal).
Uma das principais características de sua proposta filosófica é, além da defesa do diálogo,
sua realização efetiva. Entre os mais produtivos e influentes diálogos está a estreita colaboração
critica entre ele e seu colega Jürgen Habermas. Além desta está seu diálogo com filósofos do
terceiro mundo, conhecido como “Diálogo Norte-Sul” do qual participaram vários filósofos
latino-americanos, entre os quais Enrique Dussel, expoente da filosofia da libertação.
Acima de tudo, o filósofo Karl-Otto Apel ensinou que o filosofar é uma construção em
diálogo profundo com a realidade na qual se vive e com a tradição filosófica. Quando postas
em relação, haveriam de resultar na transformação tanto da filosofia quanto da realidade. Uma
filosofia que não transforma não valeria a pena, diria Apel parafraseando a orientação socrática.


Doutor em filosofia (Unisinos), Mestre em filosofia (UFG), professor no Instituto Berthier (IFIBE), militante de
direitos humanos (CDHPF/MNDH), trabalhou a ética de Apel no mestrado e publicou o livro “Ética da
responsabilidade solidária: estudo a partir de Karl-Otto Apel” (Passo Fundo: IFIBE, 2002).

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